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Direito Fiscal
(Manual de Direito Fiscal – perspetiva multinível, Jónatas E. M. Machado
e Paulo N. da Costa)
1. Direito Tributário
A existência do Estado implica a mobilização de recursos financeiros, que podem ser
obtidos por diversas vias. Atualmente, a via mais importante é, sem dúvida, a fiscal, através da
cobrança de impostos. É com as receitas que arrecada, que o Estado consegue suportar um
determinado nível de despesa pública.
O conjunto de princípios e regras jurídicas que disciplinam a atividade financeira pública
constitui o direito financeiro público, que é um dos ramos do direito administrativo especial.
O direito tributário é um ramo do direito financeiro, composto pelo conjunto de normas
jurídicas que disciplinam a arrecadação de receitas coativas (tributos) pelo Estado e demais
entes públicos. Estes tributos podem assumir diversas formas, sendo as mais importantes o
imposto e a taxa. Nos termos da lei, existem três tipos básicos de tributos: os impostos, as taxas
e as contribuições financeiras.
Imposto- Nos termos do artigo 3º, nº2, LGT, os impostos são uma das espécies de
tributos, a par com as taxas e as demais contribuições financeiras a favor das
entidades públicas. Consiste numa “prestação pecuniária, coativa e unilateral, sem o
caráter de sanção, exigida pelo Estado com vista à realização de fins públicos”.
A base fundamental do Estado de Direito democrático é a vontade, tendo que ser essa
mesma vontade a fornecer os meios necessários à sua subsistência – um povo que
voluntariamente cria um Estados aceita voluntariamente a tributação necessária para o suportar
e manter. Assim, o caráter compulsório e o caráter voluntário do imposto implicam-se
mutuamente.
Os impostos têm diversas classificações, vide PowerPoint do professor Francisco, porém no
que respeita aos impostos progressivos a definição dos escalões de rendimentos para efeitos de
aplicação das taxas gerais de IRS não pode consistir numa mera operação aritmética tendente à
arrecadação do nível desejado de receita. Deve ser tida em conta, igualmente, a finalidade
redistributiva do sistema fiscal e, para esse efeito, a progressividade concretizada nos escalões
de rendimento deve ter uma base socioeconómica que os justifique, não é qualquer
progressividade que serve os objetivos constitucionais.
Contribuições financeiras- São outra espécie do género dos tributos, e podem consistir em
contribuições especiais ou em outras contribuições financeiras a favor de entidades públicas. As
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contribuições reportam-se a grupos de pessoas ligados ora “por uma particular manifestação de
capacidade contributiva decorrente do exercício de uma atividade administrativa (contribuições
especiais)” ora “pela partilha de uma específica contraprestação de natureza grupal (nas demais
contribuições financeiras)”.
São contribuições especiais as chamadas contribuições de melhoria, que se justificam pelo
facto de certos contribuintes obterem, por vezes, um determinado benefício anormal resultante
da realização de certas melhorias financiadas por recursos financeiros públicos. Mas, também,
as contribuições para maiores despesas que são legitimadas pelo facto de certas atividades
desenvolvidas ou certas coisas possuídas pelos particulares implicarem um aumento da despesa
a suportar pela administração.
Relativamente às outras contribuições financeiras, merecem destaque as tarifas e os tributos
parafiscais. A tarifa configura um tipo especial de taxa, sendo caracterizada pela existência de
uma equivalência não só jurídica, mas também económica, entre a prestação paga e o benefício
obtido e a sujeição a um regime de direito público, o que a distingue do preço. Os tributos
parafiscais são prestações obrigatórias feitas em benefício de determinadas pessoas coletivas de
direito público não territoriais, por exemplo as contribuições obrigatórias para a segurança
social e as quotas pagas às associações públicas, pelos respetivos associados.
São equiparadas às taxas, pelo que lhes é aplicável o mesmo regime jurídico.
Princípio da eficiência – decorre que o sistema tributário não deve ter efeitos
distorcionários e não deve interferir com o funcionamento dos mercados, salvo
quando, devido à existência de falhas de mercado, os mesmos não funcionem
eficientemente. Esta forma de tributação (tributação corretiva) permite,
simultaneamente, aumentar a receita tributária e incrementar a eficiência na
afetação de recursos. Este princípio diz respeito também aos impostos em especial,
sendo estes tanto mais eficientes quanto mais inelástica for a respetiva base
tributária.
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Reserva de lei
Do princípio da legalidade tributária decorrem a reserva de lei na criação de impostos e na
definição dos seus elementos essenciais, abrangendo a respetiva incidência objetiva e subjetiva,
a taxa, os benefícios fiscais e as garantias dos contribuintes. Decorre ainda a reserva de lei na
definição do regime geral das taxas e das demais contribuições financeiras a favor das entidades
públicas.
O princípio da reserva de lei remete para a existência de matérias sobre as quais a AR tem
competência legislativa exclusiva. Isto não impede a remissão para a administração da definição
de aspetos técnicos do regime jurídico em causa para os quais esta é institucionalmente mais
adequada. Assinala-se a vigência de uma reserva de lei formal da AR nas matérias nucleares da
vida financeira do Estado de Direito democrático.
Em matéria tributária, a CRP estabelece uma reserva relativa de competência legislativa
significando isso que à AR é legítimo legislar sobre esta matéria OU aprovar uma lei de
autorização que habilite o Governo a legislar sobre a mesma, mediante decreto-lei autorizado.
No entanto, as decisões fundamentais sobre os elementos da tributação devem ser tomadas pela
AR e expressas com grau razoável de determinabilidade, de forma a garantir o equilíbrio
institucional subjacente à reserva de lei, de acordo com o princípio da especialidade das
autorizações legislativas, à luz do que se exige uma definição parlamentar da orientação política
da medida legislativa a adotar.
Relativamente à criação de impostos, a CRP determina que, ao legislador assim
caracterizado, cabe estabelecer os respetivos elementos essenciais, os quais, nos termos do
art.103º, nº2, CRP, consistem na incidência, na taxa, nos benefícios fiscais e nas garantias dos
contribuintes. Estabelece-se aí uma obrigação positiva de decisão legislativa nestas matérias,
com a decorrente proibição de delegação e exigência de precisão, clareza e determinabilidade
das leis, válidas tanto nas leis de autorização como, em maior medida, no decreto-lei autorizado.
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Prevalência da lei
O princípio da prevalência da lei significa que a lei prevalece sobre todos os regulamentos,
atos administrativos e quaisquer outros atos ou omissões da administração tributária. O mesmo
tem como corolário a tipicidade das leis, que significa que os atos legislativos são tipificados
exaustivamente na constituição, não podendo ser criadas novas categorias de atos legislativos ou
equiparados por qualquer órgão estadual.
Um segundo corolário respeita ao princípio da legalidade negativa, ou proibição de
contradição ou desvio, onde nenhum ato da administração, de natureza normativa ou não, pode
ser contrário à lei ou contraditório com a lei.
Um terceiro corolário respeita à exigência de legalidade positiva, ou dever de aplicação da
lei, nos termos do qual a administração deve emanar as normas necessárias à boa execução das
leis, bem como praticar os atos administrativos legalmente devidos.
Precedência de lei
O princípio de precedência de lei afirma que toda a atividade administrativa deve ter base
legal. Ou seja, a lei deve ser anterior a toda a atuação administrativa, sendo que a falta de um
fundamento legal significa que a administração atua para além das suas competências.
No plano tributário, quando esteja em causa a definição dos elementos essenciais dos
impostos só se admitem regulamentos de mera execução, não havendo lugar para regulamentos
complementares ou independentes.
Princípio da segurança jurídica e da proteção da confiança
O princípio da segurança jurídica e da proteção da confiança é uma garantia de estabilidade,
previsibilidade e calculabilidade, essenciais ao desenvolvimento consistente da generalidade das
atividades humanas. Ele aponta para a regularidade de toda a atuação estadual e para a tutela das
expectativas legítimas, fundadas e de boa-fé desenvolvidas pelos cidadãos.
Proibição da retroatividade
Sendo esta uma dimensão do princípio anteriormente referido, respeita à proibição de
impostos que tenham natureza retroativa (art.103º, nº3, CRP). A problemática da proibição da
retroatividade encontra-se intimamente relacionada com a aplicação das leis no tempo. Em
princípio, as consequências jurídicas aplicáveis a uma dada situação de facto devem estar
previstas em normas em vigor ao tempo da referida constituição.
No entanto, admite-se a aplicação retroativa das normas jurídicas, salvo em situações de
proibição expressa, a menos que daí possa resultar a violação de princípios fundamentais da
ordem constitucional. No quadro normativo-constitucional atual, a proibição da retroatividade
em matéria fiscal deve ser vista, não apenas à luz do princípio em presença, mas também nas
relações que estabelece com os princípios da legalidade e da igualdade tributária. Na verdade,
os impostos prospetivos podem ser de facto retroativos, na medida em que alteram o valor de
investimentos realizados no passado, as resultantes expectativas e o rendimento disponível dos
particulares.
Uma questão que se coloca, a este propósito, prendesse com saber se o art.103º, nº3, CRP,
proíbe apenas a retroatividade autêntica, ou primária ou de consequência jurídica, ou a
retroatividade inautêntica, também designada por retrospetividade ou retroatividade secundária
ou de pressupostos de caso.
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Admite-se, contudo, a interpretação extensiva. Por esse motivo há que distinguir esta figura
da analogia. Neste caso, pretende-se preencher uma lacuna mediante a aplicação, a um facto não
abrangido pelos conceitos do facto tributário, de princípios aplicáveis a este. Como disse, a
mesma é incompatível com a reserva de lei. Na interpretação extensiva procura-se o verdadeiro
sentido de um conceito utilizado pelo legislador, sendo compatível com a reserva de lei.
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tributária do Estado e, a partir daí, do universo de sujeitos passivos da relação jurídica tributária.
Constitui assim um pressuposto da operacionalização do princípio da residência.
Substituição tributária: A relação jurídica tributária recorre, frequentemente, à figura da
substituição tributária, mediante a qual a prestação tributária é exigida a pessoa diferente do
contribuinte – o substituto tributário – efetivada por retenção na fonte do imposto devido
(art.20º, nº2, LGT).
A retenção na fonte consiste em entregas pecuniárias efetuadas por dedução nos
rendimentos pagos ou postos à disposição do titular do rendimento pelo substituto (art.34º,
LGT).
A substituição pode ser total ou parcial. No primeiro caso, o substituído fica dispensado do
cumprimento de qualquer obrigação acessória – é o caso das retenções na fonte a título
definitivo, previstas no art.71º, CIRS. No segundo caso, o substituído continua a ter que cumprir
algumas (ou a totalidade) das obrigações acessórias.
Responsabilidade tributária: A responsabilidade tributária pode alargar-se a outras pessoas,
a título de responsabilidade solidária ou subsidiária (art.22º, nº2, LGT). Os responsáveis
solidários e subsidiários gozam dos mesmos direitos de reclamação e impugnação da dívida
tributária de que goza o devedor principal, bem como das necessárias garantias de segurança e
proteção jurídica (art.22º, nº4, LGT). Abrange, para além da totalidade da dívida tributária, os
juros e demais encargos legais (art.22º, nº1, LGT).
Responsabilidade solidária
A responsabilidade solidária remete para a noção de obrigação solidária encontrada no
art.512º, CC, segundo a qual a solidariedade entre devedores ocorre quando cada um deles
responde pela prestação integral e esta a todos libera. Ou seja, os responsáveis solidários
respondem igual e integralmente pelo cumprimento da dívida tributária. Isso significa que a
administração tributária pode demandar apenas um dos devedores solidários, deixando para o
demandado o exercício de regresso junto dos demais. Assim acontece quando os pressupostos
do facto tributário se verifiquem em relação a mais de uma pessoa (art.21º, nº1, LGT).
Respondem solidariamente, nos termos da lei, pelos impostos em dívida, entre si e com as
entidades correspondentes, os sócios e membros nos casos de liquidação de sociedades de
responsabilidade ilimitada e outras entidades sujeitas ao mesmo regime (art.21º, nº2, LGT).
Responsabilidade subsidiária
A responsabilidade subsidiária ocorre quando ao devedor principal se segue, em segunda
linha, um outro devedor que só pode ser demandado depois de demandado o primeiro.
Vide art.22º, nº3, LGT, a responsabilidade tributária por dívidas de outrem é, em princípio,
subsidiária, salvo quando haja disposição em contrário. Efetiva-se mediante a reversão, contra o
devedor subsidiário, do processo de execução fiscal movido contra o devedor principal e os
devedores solidários que eventualmente existam (art.23º, nº1, LGT).
Essa reversão só pode ser levada a cabo uma vez demonstrada a insuficiência dos bens
penhoráveis do devedor principal ou dos devedores solidários (nº2). O devedor subsidiário goza
do benefício da excussão, ou seja, é-lhe lícito recusar o cumprimento da dívida tributária
enquanto a administração tributária não tiver excutido todos os bens do devedor sem obter a
satisfação do seu crédito, ou, não obstante a excussão de todos os bens dos mesmos, se o
devedor subsidiário provar que o crédito não foi satisfeito por culpa da administração tributária.
A reversão da execução obedece ainda a outras normas de maior relevo prático (nº4):
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Pagamento:
A relação jurídica extingue-se, em princípio, pelo pagamento (art.40º, LGT). Assim, o
mesmo pode ser realizado por meios normais: moeda corrente, cheque, débito em conta,
transferência conta a conta, vale postal, meios utilizados pelos serviços dos correios ou pelas
instituições de crédito que a lei expressamente autorize; ou pode ser por meios extraordinários:
a dação em cumprimento e a compensação de créditos, apenas nos casos previstos.
O pagamento obedece a dois requisitos essenciais, devendo indicar os tributos a pagar,
juntamente com os períodos de tributação a que se referem. No caso de ser efetuado um
pagamento de montante inferior ao devido, o montante entregue é primeiramente imputado ao
pagamento de juros moratórios e outros encargos legais. Só depois disso é que se dá a
imputação ao pagamento da dívida tributária, incluindo juros compensatórios, e em último
lugar, ao pagamento de coimas. No caso de pagamento por terceiro, admite-se que este fique
sub-rogado nos direitos da administração tributária.
Caducidade:
Um tema de maior importância diz respeito à caducidade do direito à liquidação (art.45º, e
ss., LGT). Esta vicissitude da relação jurídica tributária tem como pressuposto a ausência de
uma notificação válida da liquidação ao contribuinte. Quando seja esse o caso, o prazo de
caducidade é de quatro anos, salvo nos casos em que a lei fixar outro.
O prazo é de três anos em caso de erro evidenciado na declaração do sujeito passivo. No
caso de ter sido feita alguma dedução ou crédito de imposto, o prazo de caducidade é o do
exercício desse direito.
O prazo de caducidade é de doze anos quando o direito à liquidação seja relativo a factos
tributários conexos com paraísos fiscais, que devendo ser declarados à administração tributária
não o seja. É também de doze anos o prazo quando estejam em causa factos tributários
relacionados com contas de depósito ou títulos abertas em instituições financeiras não residentes
em Estados membros da UE.
A contagem do prazo varia consoante se trate de impostos periódicos ou de impostos de
obrigação única. Nos periódicos, o prazo conta-se a partir do termo do ano em que se verificou
o facto tributário. Nos de obrigação única, conta-se a partir da data em que o facto tributário
ocorreu.
O prazo de caducidade do direito à liquidação suspende-se com a notificação ao
contribuinte nos termos legais, da ordem de serviço ou despacho no início de ação de inspeção
externa, sem prejuízo de se atender à eventual duração da inspeção externa por prazo superior a
seis meses.
Prescrição:
Nos termos do art.48º, nº2, LGT, as dívidas tributárias prescrevem com o transcurso de oito
anos, cujo início varia consoante se esteja perante impostos periódicos ou impostos de
obrigação única. No caso dos primeiros, o prazo conta-se a partir do termo do ano em que se
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verificou o facto tributário. No caso dos segundos, o prazo conta-se a partir da data em que o
facto tributário ocorreu.
Garantia da relação jurídica tributária
O património do devedor (garantia geral) também constitui a garantia dos créditos
tributários (art.50º, nº1, LGT). Não obstante, a lei determina a existência de algumas garantias
especiais, designadamente: privilégios creditórios, direito de constituição de penhor ou hipoteca
legal e direito de retenção (nº2).
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Englobamento (art.22º)
Rendimento líquido global
Dedução de perdas (art.55º)
Rendimento coletável
Quociente familiar (art.69º)
Taxas gerais (art.68º)
Coleta
Deduções à coleta (art.78º, e ss.)
Imposto a pagar ou receber
Rendimentos de categoria A
Determinação do rendimento bruto
A categoria A de rendimentos respeita ao trabalho dependente (art.2º, CIRS). A regra geral
para a determinação dos rendimentos (brutos) do trabalho dependente encontra-se definida no
art.2º, nº1, CIRS. Nos termos desta disposição, consideram-se rendimentos do trabalho
dependente todas as remunerações pagas ou postas à disposição provenientes de trabalho por
conta de outrem prestado ao abrigo de contrato individual de trabalho ou equiparado OU
trabalho prestado ao abrigo de contrato de aquisição de serviços ou equiparado, sob autoridade e
direção da pessoa ou entidade que ocupa a posição de sujeito ativo na relação contratual
estabelecida OU exercício de função, serviço ou cargos públicos OU situações de pré-reforma,
pré-aposentação ou reserva.
Podem assumir a forma de ordenados, salários, vencimentos, gratificações, percentagens,
comissões, participações, subsídios, prémios, senhas de presença, emolumentos e participações
(nº2).
O nº3 contém regras complementares, nos termos das quais estão, ainda, sujeitas a IRS as
remunerações dos membros dos órgãos estatutários das pessoas coletivas ou entidades
equipadas (salvo naturalmente dos que neles participem como ROC’s, as vantagens acessórias,
bem como outras remunerações).
Vantagens acessórias
As vantagens acessórias compreendem “todos os direitos, benefícios ou regalias não
incluídos na remuneração principal que sejam auferidos devido à prestação de trabalho ou em
conexão com esta e constituam para o respetivo beneficiário uma vantagem económica”. Esta
tributação advém da necessidade de se respeitar o princípio da igualdade, sujeitando a tributação
às diversas formas de manifestação de capacidade contributiva. O art.2º, nº3, al. b), CIRS,
enumera, a título exemplificativo, diversas vantagens económicas que, por serem consideradas
remunerações acessórias, estão sujeitas a tributação em IRS.
Tal como já referimos esta lista de vantagens não é fechada, o que resulta desde logo da
letra da lei, mais concretamente da utilização pelo legislador do advérbio “designadamente”.
Não está, portanto, excluída a tributação de outras vantagens acessórias que, não estando
contempladas na lista da alínea b), constituam “remunerações acessórias” à luz da definição
legal constante do mesmo preceito normativo. É este o caso, por exemplo, dos subsídios de
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Rendimentos da categoria B
Determinação do rendimento bruto
Na categoria B incluem-se os rendimentos empresariais e profissionais (art.3º e 4º, CIRS).
A jurisprudência tem entendido que a determinação do conceito jurídico de atividade comercial
ou industrial deve ter por base o conceito económico de atividade comercial ou industrial, que
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Rendimentos da categoria E
A categoria E diz respeito aos rendimentos de capitais, vide arts.5º, 6º e 7º, CIRS. Nos
termos da lei, consideram-se rendimentos de capitais os frutos e demais vantagens económicas,
independentemente da forma e denominação, direta ou indiretamente derivados de elementos
patrimoniais, bens, direitos, ou situações jurídicas, de natureza mobiliária, incluindo as
vantagens económicas resultantes da respetiva modificação, transmissão ou cessação.
A sujeição às regras tem caráter subsidiário face às demais categorias de rendimentos. São
considerados rendimentos de capitas: juros, nas suas diversas modalidades; lucros distribuídos
pelos associados ou sócios de entidades sujeitas a IRC; rendimentos de unidades de participação
em fundos de investimento; rendimentos de cessão e utilização temporária de propriedade
intelectual ou industrial, ou de know-how, quando não sejam auferidos pelo respetivo autor ou
titular originário; ganhos com operações de swaps de taxas de juro.
A tributação é feita, em regra, através da técnica de retenção na fonte. Assim, e a menos que
o sujeito passivo opte pelo englobamento, estão sujeitos a retenção na fonte a título definitivo,
através da aplicação de taxas liberatórias, os rendimentos referidos no art.71º, CIRS.
Apenas é reconhecida a possibilidade englobamento no caso de titulares de rendimentos de
capitais que sejam residentes em território português, e desde que estes sejam todos obtidos fora
do âmbito do exercício de atividades empresariais e profissionais. Caso esta opção seja
exercida, a retenção na fonte que haja sido feita tem a natureza de pagamento por conta do
imposto devido a final, pelo que os montantes retidos são deduzidos à coleta do IRS, e implica
que o sujeito passivo englobe todos os rendimentos da mesma categoria.
Os rendimentos de capitais auferidos pelos respetivos titulares são já rendimentos líquidos.
Ainda no que se refere à tributação dos rendimentos de capitais, a lei estabelece, nos artigos
6º (incidência) e 40º (determinação do rendimento coletável) do CIRS, diversas presunções que,
como não podia deixar de ser, admitem prova em contrário. Os rendimentos de capitais ficam
sujeitos a tributação, consoante os casos, a partir do momento em que se vencem, se presume o
respetivo vencimento, são colocados à disposição do seu titular, são liquidados ou é apurado o
respetivo quantitativo.
Rendimentos de categoria F
Determinação do rendimento bruto
A categoria F diz respeito aos rendimentos prediais. Trata-se de rendas de prédios rústicos,
urbanos e mistos, pagas ou colocadas à disposição dos respetivos titulares, quando estes não
optarem pela sua tributação no âmbito da categoria B.
Determinação do rendimento líquido
Ao rendimento ilíquido das rendas prediais deduzem-se, relativamente a cada prédio ou
parte do prédio, todos os gastos efetivamente suportados e pagos pelo sujeito passivo para obter
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ou garantir tais rendimentos, com exceção dos gastos de natureza financeira, dos relativos a
depreciações e dos relativos a mobiliário, eletrodomésticos e artigos de conforto ou decoração,
bem como do AIMI.
Taxas
Os rendimentos de categoria F são tributados mediante a aplicação de uma taxa especial de
28% (art.72º, nº1, CIRS). Assim, aos rendimentos prediais decorrentes de contratos de
arrendamento para habitação permanente com duração igual ou superior a dois anos e inferior a
cinco anos, é aplicada uma redução de dois pontos percentuais da respetiva taxa autónoma; e
por cada renovação com igual duração, é aplicada uma redução de dois pontos percentuais até
ao limite de catorze pontos percentuais.
Rendimentos de categoria G
A categoria G refere-se aos incrementos patrimoniais que, nos termos do art.9º, CIRS,
incluem: as mais-valias (art.10º, CIRS), as indemnizações que visem a reparação de danos não
patrimoniais, de danos emergentes não comprovados e de lucros cessantes, os montantes
auferidos em virtude da assunção de obrigações de não concorrência, os acréscimos
patrimoniais injustificados, determinados com base na realização de avaliação indireta e as
indemnizações devidas por renuncia onerosa a posições contratuais ou outros direitos inerentes
a contratos relativos a bens imóveis.
Salvo no caso das mais-valias, relativamente às quais vigoram regras especiais (art.43º,
CIRS), não são admitidas deduções especificas aos rendimentos qualificados como incrementos
patrimoniais, os quais serão, em princípio, englobados. Os acréscimos patrimoniais
injustificados a que se refere o art.9º, nç1, al. d), CIRS, quando sejam de valor superior a
100.000€, são tributados à taxa especial de 60%.
Mais-valias
A lei não prevê a tributação geral das mais-valias; apenas estão sujeitas a tributação as
mais-valias tipificadas na lei (Art.10º, CIRS). A tributação das mais-valias obedece, pois, a um
critério de seletividade. A tributação das mais-valias tem caráter residual: só são tributados
como mais-valias os ganhos que não sejam qualificados como rendimentos empresariais e
profissionais, de capitais ou prediais.
Refira-se que a tributação das mais-valias obedece ao princípio da realização, ou seja, a
simples valorização de um ativo não dá lugar à tributação; só a alienação onerosa desse ativo, da
qual resulte a concretização de um ganho para o sujeito passivo, origina a tributação.
Para concluirmos quais os ganhos a serem tributados como mais-valias, vide a lista
exaustiva do art.10º, nº1, CIRS.
Em regra, os ganhos consideram-se obtidos no momento da prática dos atos previstos no
artigo suprarreferido. Nos casos de celebração de contrato-promessa de compra e venda ou
troca, a lei estabelece a presunção de que o ganho é obtido no momento da tradição ou posse
dos bens ou direitos objeto do contrato.
Determinação do rendimento líquido
Nos termos do nº1, do art.43º, CIRS, “o valor dos rendimentos qualificados como mais-
valias é o correspondente ao saldo apurado entre as mais-valias e as menos-valias realizadas no
mesmo ano…”.
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Rendimentos da categoria H
Determinação do rendimento bruto
A categoria H de rendimentos diz respeito às pensões pagas ou postas à disposição dos
respetivos titulares (art.11º, CIRS), compreendendo, em primeira linha, as pensões de
aposentação, reforma, velhice, invalidez ou sobrevivência, situações equivalentes à reforma e as
pensões de alimentos. Quanto a estas últimas, quando enquadráveis no art.83º-A, são tributados
autonomamente à taxa de 20%.
Igualmente abrangidas estão as prestações a cargo de companhias de seguros, fundos de
pensões ou quaisquer outras entidades, no quadro de regimes complementares da segurança
social em razão de contribuições da entidade patronal.
Determinação do rendimento líquido
Ao rendimento bruto deve proceder-se às deduções específicas previstas no art.53º, CIRS,
em ordem a obter-se o rendimento líquido da categoria H.
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Dedução de perdas
Ao conjunto dos rendimentos líquidos sujeitos a tributação, pode ser deduzido o resultado
líquido negativo apurado nas diversas categorias de rendimentos, vide art.55º, CIRS.
Abatimentos
Nos termos do disposto no art.56º-A, CIRS, os rendimentos brutos de cada uma das
categorias A, B e H auferidos por sujeitos passivos com deficiência são considerados, para
efeitos de IRS, apenas por 85%, nos casos das categorias A e B, e por 90%, no caso da categoria
H. Seja qual for o caso, a parte do rendimento excluída da tributação não pode ultrapassar o
montante 2500€.
Englobamento
Uma vez determinados os rendimentos líquidos das diferentes categorias, o princípio da
tributação do rendimento líquido global obriga a que se proceda ao respetivo englobamento. Um
individuo ou agregado familiar pode obter os seus rendimentos de várias fontes, no país ou no
estrangeiro. Assim sendo, importa que a determinação do rendimento coletável seja levada a
cabo através do englobamento dos rendimentos de várias categorias (art.22º e ss., CIRS).
Assim é de forma a possibilitar a tributação conjunta do rendimento global apurado, como
decorre do princípio da capacidade contributiva objetiva. Este princípio requer o apuramento do
rendimento líquido objetivo, derivado de diversas fontes, contando com as despesas incorridas
para a obtenção e manutenção dessas diferentes fontes de rendimento.
Nos termos do art.22º, nº1, CIRS, o rendimento coletável em IRS é o que resulta do
englobamento dos rendimentos das várias categorias, auferidos em cada ano, depois de feitas as
deduções e os abatimentos previstos.
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esse efeito, a progressividade concretizada nos escalões de rendimento deve ter uma base
socioeconómica que os justifique.
Atualmente existem 7 escalões, definidos por níveis de rendimento coletável, sendo que as
taxas normais a aplicar variam entre os 14.5%, para os rendimentos situados no primeiro
escalão, e os 48%, para os que se inserem no último escalão.
Taxas liberatórias
O art.71º, CIRS, determina a sujeição a retenção na fonte, a título definitivo, de diversos
rendimentos obtidos em território português, os quais são tributados às taxas liberatórias nele
previstas.
Estes, quando sejam obtidos fora do âmbito do exercício de atividades empresariais e
profissionais, por sujeitos residentes em território português, podem ser englobados para efeitos
de tributação. Neste caso, a retenção na fonte que tiver sido efetuada tem a natureza de
pagamento por conta do imposto devido a final.
As taxas liberatórias realizam diferente funções. As mesmas são particularmente adequadas
à tributação de não residentes, à tributação de rendimentos passivos dirigidos ao exterior, à
tributação mais favorável do capital e ao combate à elisão fiscal, contra um pano de fundo de
maior eficácia administrativa. As taxas liberatórias também podem favorecer uma maior
transparência fiscal e o combate à corrupção e à evasão e elisão fiscais, nomeadamente quando
o beneficiário efetivo dos pagamentos efetuados para o exterior não é conhecido.
Quociente familiar
O art.69º, CIRS, consagra o, impropriamente designado, método do “quociente familiar”.
Do que se trata é, na verdade, de um quociente conjugal, aplicável nos casos de sujeitos
passivos casados e não separados judicialmente de pessoas e bens ou unidos de facto.
Assim, previamente à aplicação das taxas, divide-se o rendimento coletável por 2,
ficcionando-se que cada um dos sujeitos passivos contribui em igual proporção para o
rendimento global. Após a aplicação das taxas, multiplica-se por 2 o resultado obtido, apurando-
se, deste modo, a coleta.
Mínimo de existência
O art.70º, CIRS, garante o chamado mínimo de existência. O nº1 desse artigo garante um
rendimento mínimo, líquido de imposto, para os titulares de rendimentos predominantemente
originados em trabalho dependente, em atividades previstas na tabela a que se refere o art.151º,
CIRS. Assim, da aplicação das taxas do art.68º não pode resultar para os referidos titulares de
rendimentos a disponibilidade de um rendimento, líquido de imposto, inferior a 1,5 x 14 x valor
de IAS.
A consagração legal de um mínimo de existência conta com um fundamento sólido na teoria
do contrato social e na dignidade da pessoa humana, valor fundante da ordem constitucional,
consagrado no art.1º, CRP. A relevância fiscal reconhecida às famílias, nº2 do art.70º, ainda que
ténue, radica, também, nos valores constitucionais e nas regras de proteção da família
consagradas na lei fundamental portuguesa.
Deduções à coleta
As deduções à coleta, previstas no art.78º e seguintes, CIRS, encontram o seu fundamento
substantivo, em boa medida, na promoção de determinados bens constitucionalmente
protegidos. Elas permitem determinar a capacidade contributiva subjetiva, concretizando por
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Rita Ribeiro de Campos
essa via o princípio da liquidez subjetiva que estrutura o IRS. As deduções são feitas pela ordem
indicada no art.78º, CIRS.
Os termos em que as referidas deduções são efetuadas, designadamente no que diz respeito
à percentagem de despesa dedutível e aos limites de dedutibilidade específicos, encontram-se
definidos nos artigos 78º-A e seguintes, CIRS.
Pagamento
Pagamento voluntário
O pagamento voluntário do IRS está sujeito aos princípios da pontualidade, da
integralidade, e da plurimodalidade. Os prazos de pagamentos estão previstos no art.97º, CIRS.
Retenção na fonte
Uma atenção especial merece a retenção na fonte, prevista no art.98º, CIRS.
A retenção na fonte pode seguir diferentes modalidades, como sejam a retenção na fonte a
título de pagamento por conta do imposto devido a final, como acontece no caso da retenção
feita pela entidade patronal na remuneração do trabalhador dependente, ou a retenção total
definitiva por taxas liberatórias em alguns rendimentos, com dispensa de declaração pelo
particular.
No primeiro caso, o substituto tributário é subsidiariamente responsável pelo imposto não
retido, suportando, ainda, os juros compensatórios devidos. No segundo caso, o substituto é
responsável originário, e o substituído responsável subsidiário, pelas importâncias não retidas na
fonte.
Obrigações acessórias
Para além da obrigação principal do pagamento de imposto, os sujeitos passivos de IRS
estão ainda sujeitos a obrigações acessórias. Entre estas contam-se a obrigação de apresentação,
de uma declaração anual de rendimentos e de uma declaração de informação contabilística e
fiscal e de comunicação de rendimentos e retenções.
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