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REFORMA TRIBUTÁRIA E O IMPOSTO SOBRE GRANDES FORTUNAS

Pablo Solano Viana Barbosa

RESUMO

O presente trabalho tem como tema “A Reforma Tributária e o imposto sobre


grande fortuna”. O mesmo foi embasado na seguinte problemática: Qual as
vantagens e desvantagens da Reforma Tributária para a sociedade menos
favorecida? Para encontrar a resposta dessa indagação foram constituídos
alguns objetivos, sendo o geral: analisar os pontos negativos e positivos dessa
reforma do sistema tributário brasileiro nas propostas da PEC 45/2019 e PEC
110/2019.Os objetivos específicos: falar a respeito dos Tributos: impostos,
taxas e contribuições de melhoria; analisar as PEC 45/2019 e PEC 110/2019 e
Projeto de Lei nº. 3887/2020 (PL 3887/2020. Debater sobre a demora da
instituição de uma Lei complementar do Imposto sobre Grandes Fortunas
trazido pela Constituição Federal de 1988, para que seja possível um sistema
tributário mais justo para redução das desigualdades. Para isto, foram
realizados os métodos: dedutivo e comparativo. A conclusão alcançada é que a
falta da aprovação dessa Lei complementar instituindo o Imposto sobre
Grandes Fortunas é uma questão politica partidária. Quanto à metodologia,
trata-se de uma pesquisa bibliográfica, a qual foi a base para a investigação
teórica, por se tratar de um assunto que é abordado em diversos materiais
publicados em livros, revistas, rede eletrônica, artigo e etc. Por ultimo conclui-
se que a reforma tributária é necessária respeitar os ditames da Constituição e
a tributação progressiva.

Palavras-chaves: Reforma Tributária. Imposto sobre Grandes Fortunas.


Justiça Social.
ABSTRACT

The present work has as its theme “The Tax Reform and the tax on great
wealth”. The same was based on the following issue: What are the advantages
and disadvantages of the Tax Reform for the less favored society? To find the
answer to this question, some objectives were established, the general one
being: to analyze the negative and positive points of this reform in the Brazilian
tax system in proposals of PEC 45/2019 and PEC 110/2019. The specific
objectives: talk about Taxes: taxes, fees and contributions for improvement;
analyze the PEC 45/2019 and PEC 110/2019 and Bill No. 3887/2020 (PL
3887/2020. Debate on the delay in the institution of a complementary Law on
the Tax on Great Fortunes brought by the Federal Constitution of 1988, so that
it is possible a fairer tax system to reduce inequalities. For this, deductive and
comparative methods were used. The conclusion reached is that the lack of
approval of this complementary law instituting the Tax on Great Fortunes is a
political party issue. it is a bibliographical research, which was the basis for
theoretical investigation, as it is a subject that is addressed in several materials
published in books, magazines, electronic network and article, etc. Finally, it is
concluded that the tax reform is necessary to respect the dictates of the
Constitution and progressive taxation.

Keywords: Tax Reform. Great Fortunes Tax. Social justice.


1 INTRODUÇÃO

A Reforma Tributária tem sido debatida continuamente no mundo dos


negócios. Dentre os fatores que tem favorecido a citada Reforma, está
relacionada a inúmeras dificuldades e desafios que as organizações
argumentam. Um fato crucial em relação a essa situação é a crescente
competição entre as empresas. Desta forma, os empresários buscam
argumentos para a Reforma Tributária, mas o que também não deve deixar de
lado é a preocupação com os contribuintes que não são da camada
empresarial.
A Constituição Federal de 1988 nos garante um modelo de um sistema
tributário justo, quando no seu artigo 145, §1º, fala do princípios como por
exemplo: a isonomia, e, no art. 150, II, a capacidade contributiva, onde cada
cidadão será tributado de acordo com sua capacidade econômica.
Convém destacar que as PEC’s analisadas querem extinguir os
seguintes tributos: (ICMS, ISS, IPI, IOF, PIS, COFINS, PASEP, CSLL, CIDE-
combustíveis e Salário-Educação), e a PEC 45/2019 visa extinguir cinco
tributos (IPI, ICMS, ISS, PIS e COFINS)
É nesse contexto que o debate na presente pesquisa se direciona a
questionar a extinção desses tributos e a não aplicação do imposto sobre
grandes fortunas, pois sabe-se que os tributos são necessários para a
manutenção do Estado para aplicar nas políticas públicas para garantir a boa
qualidade de vida da população brasileira como educação, Saúde, Moradia,
Saneamento Básico e segurança. Para isto, é necessário as diversas formas
de tributação, porém o que as PEC’s objetivam são extinguir vários tributos e
incidir na tributação no consumo (bens e serviços) extinguindo tributos sobre a
renda e patrimônio.
A escolha pelo tema surgiu no decorrer do curso de direito e alguns
problemas enfrentado pela sociedade nessa Pandemia, onde ficou evidente
que o imposto sobre grande fortuna trata-se de um elemento fundamental para
a justiça tributária.
A relevância social está centralizada a toda sociedade, por esclarecer as
características do planejamento tributário. Acredita-se que o indivíduo que
obtiver a oportunidade de conhecer o presente trabalho, constituirá uma visão
crítica e analítica sobre o assunto tratado.
Para facilitar a compreensão do trabalho o mesmo foi elaborado em 3
subcapítulos. Inicialmente o resumo faz apresentação do tema, justificativa,
objetivos, relevância, organização e a metodologia adotada para que os
objetivos fossem alcançados com êxito.
Dentre os procedimentos cabíveis ao uso de método investigativo, o
presente trabalho trata-se de uma abordagem quantitativa em aspecto
descritiva e exploratória. As informações foram coletadas através de uma
pesquisa bibliográfica com embasamento em artigos publicados, em livros,
sites, revistas entre outros.
2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Tributos: impostos, taxas e contribuições de melhoria

O tributo, de acordo com Monteiro (2006), é toda prestação pecuniária


compulsória. O valor cobrado é constituído em lei mediante atividade vinculada
a pessoa jurídica.
É importante traçar as diferenças entre os impostos e Tributos, ambos
possuem suas especificações. Os atributos são obrigações que fazem parte
dos impostos, taxas e contribuições, entretanto, impostos não determinam
retorno imediato, é uma característica que não vincula a prestação de serviço
interligado com a união do Governo Federal, Estadual e Municipal.
O governo brasileiro precisa de recursos financeiros para manter a
organização social e satisfazer as necessidades da coletividade, para isso,
utiliza o dinheiro dos tributos para tal. De acordo com o art. 3º, do CTN (código
tributário nacional)1 diz que, “tributo é toda prestação pecuniária compulsória,
em moeda ou cujo valor nela possa se exprimir que não constitua sanção por
ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa
plenamente vinculada” (BRASIL,2013). Se ocorrer à hipótese prevista em lei, o
contribuinte fica obrigado a pagar o tributo, independente de sua vontade.
O imposto é um tributo obrigatório, segundo Monteiro (2006) e uma fonte
de recursos financeiros que dar respaldo satisfatório ao Poder Público,
independente da atuação da administração e seu fator gerador.
Os impostos consistem de uma forma de captação de riqueza do
contribuinte para o Estado, respeitando a capacidade econômica do
contribuinte, de acordo com o princípio da capacidade contributiva
(MONTEIRO, 2006).
Os impostos podem ser reais e pessoais, da qual o pessoal está
integrado à idade, estado civil, número de dependentes do indivíduo entre
outros requisitos. O imposto real baseava na capacidade contributiva de cada
um.

1Lei nº 5.172 de outubro de 1966, denominado Código Tributário Nacional pelo art. 7°
do ato complementar nº 36, de março de 1967.
Entre os tributos mais complexos pode-se destacar a Taxa, a mesma
diferencia-se do imposto, pois quando paga-se uma taxa, em contrapartida tem
se a prestação de um serviço público. Significa dizer que, “As taxas são uma
espécie tributária com seu fator gerador vinculado a uma atividade estatal
específica, portanto é uma prestação pecuniária e compulsória, que pode ser
um serviço público ou o exercício do poder de polícia” (MONTEIRO, 2006,
p.17).
O código Tributário Nacional, segundo Amaro (2007), conceitua as taxas
como cobranças direcionadas pela União (Federal, Estadual e Municipal). As
taxas não devem ser baseadas em cálculo ou fator gerador corresponde a
imposto e nem mesmo a função do capital das empresas. Assim, considera-se
que taxa é como uma receita pública derivada e compulsória que
consequentemente dá ao Estado a oportunidade de ressarcir as despesas
procedentes de serviços que estão a disposição do contribuinte.
A Contribuição de Melhoria para Silva (2012) é uma espécie de tributos,
da qual podem ser arrecadadas por meio de obras públicas que resultem em
benefícios ao contribuinte, já que as ações podem valorizar imobiliária como
por exemplo pavimentação das ruas, rodovias entre outras. As cobranças
podem ser aplicadas pela União: Federal, Estadual e Municipal. Contudo, além
das Contribuições de melhoria existem a Contribuições Sociais.

2.2. Uma breve análise das PEC 45/2019 e PEC 110/2019 e Projeto de Lei
nº 3887/2020 (PL 3887/2020.
.
A reforma tributária segundo Sauders, é um dos assuntos mais
comentados no cenário político atual e é de extrema necessidade, uma reforma
tributária no nosso país. Dos mais conservadores aos mais liberais, é quase
consensual que a quantidade de tributos existentes no Brasil e a abissal carga
tributária sofrida pelos contribuintes precisam ser imediatamente revistas”.
(SAUNDERS, 2019, p. 33), porém tem que ser uma reforma justa.
Moreira; Amoni (2019, p. 125) entendem ser “de conhecimento geral que
possuímos um sistema tributário altamente complexo e oneroso, que tende a
beneficiar o abastado em detrimento ao hipossuficiente, colocando de lado os
ditames da justiça fiscal”.
As propostas de reforma tributária discutidas nas PEC’s nº. 45 e 110 dão
ênfase à simplificação do sistema tributário brasileiro, o que é confirmado pelo
estudo realizado pelos consultores legislativos da Câmara dos Deputados,
Nunes et al, que afirmam que: em ambas as proposições, a alteração do
Sistema Tributário Nacional tem como principal objetivo a simplificação e a
racionalização da tributação sobre a produção e a comercialização de bens e a
prestação de serviços, base tributável atualmente compartilhada pela União,
Estados, Distrito Federal e Municípios. Nesse sentido, ambas propõem a
extinção de uma série de tributos, consolidando as bases tributáveis em dois
novos impostos: (i) um imposto sobre bens e serviços (IBS), nos moldes dos
impostos sobre valor agregado cobrados na maioria dos países desenvolvidos;
e (ii) um imposto específico sobre alguns bens e serviços (Imposto Seletivo),
assemelhado aos excise taxes. (NUNES et al, 2019, p. 2).
Como bem disse Maia: O legislador infraconstitucional optou por
concentrar os tributos sobre o consumo (bens e serviços), de onde vem
praticamente 50% da arrecadação tributária no Brasil, em detrimento de outras
bases como renda e propriedade. Ao se concentrar a tributação no consumo,
faz-se com que a população mais pobre, pague, proporcionalmente, mais
tributos que a população mais abastada. (MAIA, 2019, p. 398).
Sander explica bem essa situação de tributação regressiva: Não
precisamos explicar muito que vivemos em um regime tributário regressivo, ou
seja, nosso sistema de tributação arrecada proporcionalmente mais de quem
ganha menos. Por exemplo: uma empregada doméstica ao comprar uma
geladeira pagará de imposto o mesmo valor que será recolhido por um
banqueiro que comprar essa mesma mercadoria. Ainda que o rendimento
deste contribuinte seja muito maior do que o montante ganho por uma
empregada, a tributação sofrida por ele é exatamente a mesma de uma pessoa
de baixa renda. Nessa (“hipotética”) situação, houve um efeito regressivo
cobrando proporcionalmente mais de quem ganha menos. (SAUNDERS, 2019,
p. 40).
Esses projetos são visíveis que eles sobrecarrega a tributação sobre
consumo e folha de salário, o que afeta a população pobre e beneficiam sobre
a renda e o património dos ricos.
O correto seria como afirma Amoni, “[…] Para que tenhamos um sistema
tributário eficiente, os impostos diretos, aqueles que levam em conta o caráter
pessoal do contribuinte, como a renda e o patrimônio, devem ter como
característica primordial a progressividade, respeitando a capacidade
econômica e atendendo políticas de distribuição de renda. Já os impostos
indiretos, aqueles incidentes sobre o consumo, devem possuir alíquotas
seletivas e diferenciadas, de acordo com a essencialidade ou não de
determinado produto” (MOREIRA; AMONI, 2019, p. 125)
O sistema tributário desenhado na Constituição de 1988 foi ignorado, e
em muitos casos frontalmente contrariado, pela legislação infraconstitucional
dos últimos 30 anos. O sistema tributário desenhado na Constituição de 1988
não é, de forma alguma, o sistema tributário regressivo, injusto, imprevisível e
caótico que se construiu ao longo das últimas três décadas. O constituinte de
1987/88 optou claramente por impostos com caráter pessoal e graduados pela
capacidade econômica do contribuinte (art. 145, §1º) […]. (GODOI, 2019, p.
722).
Nesse sentido o R7 (2020) noticiou que o Deputado Federal Aguinaldo
Ribeiro, relator da Comissão Mista da PEC nº. 45, defendeu que “vai ser
necessário avançar em uma discussão mais progressiva, de atuar em impostos
para taxar quem hoje é menos taxado, porque nosso sistema tributário é injusto
e taxa mais os mais pobres”.
Sobre a extinção dos benefícios fiscais proposta pela PEC nº. 45,
discorre Maia que: não será possível a concessão de qualquer benefício fiscal,
ou seja, aplicar o IBS, nos termos da proposta da EC 45/2019, implica em
extinguir todas as medidas extrafiscais existentes em relação ao consumo e o
fato de aplicar uma alíquota única a todos os bens e serviços impossibilita uma
tributação diferenciada para bens e serviços tidos como essenciais,
inviabilizando a aplicação da seletividade tributária. (MAIA, 2019, p. 409)
O princípio da seletividade se destina a minorar os efeitos regressivos da
tributação sobre o consumo. Deste modo, a supressão da seletividade da
tributação sobre o consumo, promovida pela proposta em comento, faz com
que a capacidade contributiva deixe de ser aplicada em relação ao IBS, uma
vez que a tributação proporcional nesse tipo de tributo gera um efeito
regressivo, agravando a iniquidade do nosso sistema, já por demais injusto
com os mais pobres, violando o princípio da capacidade contributiva. Não se
presta a salvar a validade constitucional da proposta, a previsão para que a
União institua impostos seletivos para desestimular o consumo de
determinados bens, uma vez que tal autorização se relaciona à extrafiscalidade
negativa associada aos bens nosedives ao consumerism. Em inhumane media
é ideia relacionada à capacidade contributiva ou ao implemento de políticas
públicas de Estados e Municípios. (RIBEIRO, 2019, p. 2 e 16)
uma reforma tributária no Brasil não pode ter como objetivo único a
simplificação, pois, apesar deste ser um problema relevante, temos outro
problema tão grave quanto. Julgamos que o sistema tributário também tem
como uma de suas funções ser instrumento de justiça, podendo ser aplicado
para reduzir as desigualdades existentes no país. (MAIA, 2019, p. 422).
Assim, a tributação sobre o consumo, embora dirigida à população por
inteiro, atinge mais pesadamente os mais pobres que gastam todos os seus
rendimentos na aquisição de bens e serviços essenciais à sua própria
sobrevivência. A esses, não é possível amealhar patrimônio. Já a tributação da
renda, em geral dirigida aos extratos que superem o mínimo existencial, atinge
em maior grau, em um plano ideal, os rendimentos mais elevados. Por essas
razões, a tributação sobre o consumo favorece a acumulação de capital, sendo
um meio inferior de promoção da justiça distributiva, tendo quase sempre um
efeito regressivo, na medida em que os consumidores suportam a carga
tributária sobre os bens e serviços cuja aquisição para os mais pobres, por
meio de itens essenciais à própria sobrevivência, esgota inteiramente todos os
seus recursos. Essas camadas excluídas também não conseguem poupar o
suficiente para formar patrimônio a ser tributado. Em síntese, os tributos sobre
consumo, sendo reais e indiretos, quando aplicáveis à generalidade dos
produtos sobrecarregam os preços, onerando regressivamente os mais pobres.
(RIBEIRO, 2019, p. 15-16).
No Brasil a concentração de tributação sobre o consumo é superior à
média da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE), sendo equivalente a 14,3% do PIB, enquanto em outros países a
média é 11,1% (RECEITA FEDERAL, 2020).
Segundo levantamento do IPEA em 2008, aqueles que recebem até dois
salários mínimos destinam 53,9% dos seus rendimentos para o pagamento de
tributos, já aqueles com renda superior a trinta salários mínimos essa carga
tributária é de apenas 29% sobre os rendimentos. (RODRIGUES, 2009).
Segundo estudo realizado pela Receita Federal, a tributação sobre bens
e serviços no Brasil correspondeu a 44,74% da arrecadação total do país no
ano de 2018. De acordo com dados de 2017, o Brasil é um dos países que
menos tributa sobre a renda (7% do PIB) com relação aos países da OCDE, e
a tributação sobre consumo representa 14,3% do PIB, enquanto a média dos
países da OCDE é 11,1%. (RECEITA FEDERAL, 2020)
De acordo com Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2017-2018, as
famílias brasileiras com renda de até dois salários mínimos comprometiam uma
parte maior de seu orçamento em despesas com alimentação e habitação
(correspondendo, em conjunto, 72,2% dos gastos com despesas de consumo)
do que aquelas com rendimentos superiores a 25 salários mínimos (BRASIL,
2013)
Quem paga e como se gasta no Brasil” realizado pelo IPEA em 2009, os
10% mais pobres da população brasileira destinam 32,8% da sua renda para o
pagamento de tributos, enquanto que para os 10% mais ricos, o ônus estimado
é de 22,7% da renda (IPEA, 2009)
De acordo com Relatório do Desenvolvimento Humano 2019 do
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), o Brasil é o
sétimo país mais desigual do mundo, ficando atrás apenas de nações
africanas. O relatório também traz que a parcela dos 10% mais ricos do Brasil
concentra cerca de 42% da renda total do país. (PNUD, 2019).
Marciano Buffon e Vinícius de Oliveira Barcellos (2018) defendem que:
Neste papel primordial que apresenta no Estado Democrático de Direito, a
tributação não poderia ter como base outro princípio senão o da capacidade
contributiva, no qual aqueles que possuem maiores condições devem contribuir
mais vigorosamente com os fins do Estado, e aqueles que menos, ou nada,
possuem, suportarão menores encargos tributários, ou até mesmo nenhum. Tal
princípio é uma decorrência lógica do atual modelo de Estado, oriundo do
princípio da igualdade, dotando-o de maiores condições para cumprir os
objetivos estatais. Isto porque tal princípio preserva o mínimo vital, ou seja,
aquela parcela de renda necessária para que se tenha uma vida digna,
evitando-se, também, que a tributação seja um meio de suprimir a propriedade
privada, através do confisco. O melhor formato para a concretização do
princípio da capacidade contributiva é mediante a tributação progressiva.
(BUFFON; BARCELLOS, 2018).
2.3. O Imposto sobre a grande fortuna

O nascimento do IGF portanto se deu na França sendo instituído pelo


presidente François Mitterrand em cumprimento ao que se comprometeu na
sua campanha presidencial, contrariando estudo realizado por peritos em 1978
que concluiu não se adequada a instauração do imposto pois teria
inconvenientes econômicos muito sérios. Tal imposto foi suprimido em 1º de 17
janeiro de 1987, porém voltou a ser instituído em 1º de janeiro 1989 com a
reeleição de Miterrand, chamado dessa vez de “Impôt de Solidarité sur la
Fortune” (ISF). A sua arrecadação era destinada a garantir uma renda mínima
para os mais desfavorecidos, por isso também era chamado de “Robin Hood”,
com a finalidade de diminuir as desigualdades sociais. (MOTA, 2010).
Inicialmente o projeto que previa o IGF era da Comissão do Instituto dos
Advogados de São Paulo (IASP) e da Associação Brasileira de Direito
Financeiro (ABDF), depois foi apresentado pela Comissão Afonso Arinos
(Comissão Provisória de Estudos Constitucionais). Os debates acerca da
introdução do imposto na CF/88 foram liderados pelo deputado Plínio de
Arruda Sampaio. (REGINATO; JESUS, 2014)
A Emenda Constitucional nº 31 de 2000 introduziu o art. 80 do ADCT que
no inciso III determina que o produto da arrecadação do Imposto sobre
Grandes Fortunas compõe o Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza,
com o objetivo de garantir aos cidadãos brasileiros o acesso a níveis dignos de
subsistência. Esse fundo tem um prazo indeterminado de acordo com a EC nº
67/2010. (MAIA, 2016).
Além da movimentação dos próprios governos em instituir um imposto
sobre fortuna em meio à crise econômica que estão passando pelo novo
coronavírus, 83 milionários de diversos países lançaram o projeto “Millionaries
for Humanity” no qual pedem a elevação dos impostos sobre os mais ricos para
colaborar com a recuperação dos danos causados pela pandemia. (EL PAÍS,
2020)
Pedro (2016) defende que: Não se trata de uma simples transferência de
renda, mas sim uma melhor distribuição do ônus tributário, onde se tributaria
aquele que é beneficiado pela distorção do sistema, e com os recursos ali
auferidos seria possível amenizar em parte a sobretaxação que as pessoas
com rendimentos mais baixos sofrem, devolvendo a elas parte do que lhes foi
tirada de forma desproporcional. (MAIA, 2016)
A tributação das grandes fortunas além de permitir o alcance da justiça
tributária também permite o alcance da justiça social por garantir uma maior
distribuição de renda e riqueza entre as pessoas e as regiões. A discussão
deve ser sobre uma maneira justa da carga tributária no Brasil ser distribuída
entre a população, cabendo ao Estado cumprir os valores elencados na
Constituição Federal para alcançar o bem comum. (MOTA, 2010)
Dessa forma, Pedro Eliezer Maia (2016) aponta: Apesar de
considerarmos o Imposto sobre Grandes Fortunas, como um imposto benéfico
para o nosso sistema tributário e em consequência para toda a sociedade,
sabemos que ele dificilmente será instituído. Consideramos que possuímos um
cenário jurídico, econômico e financeiro ideal para a instituição do IGF, mas
nosso cenário político não é nada favorável. Isso se deve ao fato de que, assim
como ocorre nos Estados Unidos, nossos políticos são eleitos com apoio
maciço dos grandes empresários, através dos financiamentos privados de
campanha. Com o financiamento privado de campanha, ou nossos políticos
são os detentores de “grandes fortunas” ou são representantes destes, e por
este motivo eles jamais aprovariam uma lei que os afetasse de forma negativa,
ou prejudicasse os interesses de quem eles representam. (MAIA, 2016).
Além da movimentação dos próprios governos em instituir um imposto
sobre fortuna em meio à crise econômica que estão passando pelo novo
coronavírus, 83 milionários de diversos países lançaram o projeto “Millionaries
for Humanity” no qual pedem a elevação dos impostos sobre os mais ricos para
colaborar com a recuperação dos danos causados pela pandemia. (EL PAÍS,
2020)
O Senado Federal e a Câmara de Deputados realizaram estudos que
abordam as vantagens e desvantagens sobre a implementação do IGF. De
acordo com o Estudo n° 463 de 2015, a maioria dos projetos de lei propostos
tem como objetivo que as receitas arrecadadas com esse tributo sejam
aplicadas em políticas públicas na área da saúde e educação. Assim, se 3
milhões de reais fossem considerados grande fortuna, taxados com alíquota de
1,5% sobre o excedente geraria 8 em torno de 6 bilhões de reais para essas
áreas. (PELLEGRINI; SILVA, 2015).
3. CONCLUSÃO

O nosso sistema tributário é considerado um dos sistemas tributários


mais injusto do mundo, pois ele eleva a concentração da tributação no
consumo (bens e serviços) a sociedade de menor poder aquisitivo e diminui os
tributos sobre a renda e patrimônio da população mais rica. Com estas PEC’s e
o projeto de Lei do governo Federal é notório a regressividade tributária,
tributando mais aqueles que têm menor capacidade contributiva, afrontando
mais um dispositivo da Constituição Federal de 1998,favorecendo assim, a
concentração de renda nas classes mais altas, e sobrecarregando a classe
mais baixa, aumentando a desigualdade.
O artigo 153 da Constituição Federal de 1988 dispõe a competência da
União, por intermédio do Congresso Nacional, para instituir determinados
impostos, dentre eles o imposto sobre grandes fortunas, nos termos de lei
complementar (inciso VII). No entanto, esse foi o único imposto que não foi
instituído até o momento. Embora exista mais de 53 projetos tocante ao
assunto.
Mas de acordo com a pesquisa e posicionamento de muitos
doutrinadores, são devidos os políticos terem apoio dos grandes empresários e
em troca beneficiá-los nos impostos devidos.
Os projetos analisados nessa pesquisa estão sempre beneficiando os
ricos em desfavor dos pobres, o que só vem aumentando a desigualdade
social. Pois os projetos pretendem aumentar a carga tributária sobre os bens e
consumo e aliviando sobre a renda e o patrimônio.
O sistema tributário adotado no Brasil se baseia no recolhimento de
tributos que pode ser feito sobre várias bases, como diretamente pelo Estado
sobre a propriedade e a renda (IPTU, IPVA, IR) ou indiretamente incidindo
sobre produtos e serviços que são consumidos (ICMS, ISS, IPI, PIS, COFINS).
A proposta das duas PEC’s são de extinguir esses tributos e criar outros, onde
beneficiará os ricos e prejudicará os pobres.
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