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Texto: MARX, Karl. O Capital. In: São Paulo: Boitempo Editorial, 2011. p. 221-258.
O capitalista, o capital personificado, compra a força de trabalho por seu valor diário, baseado
na lei da troca de mercadorias, busca tirar o maior proveito do valor de uso de sua mercadoria,
portanto, exige o máximo de mais-trabalho. Porém rebate o trabalhador: sua mercadoria
vendida é distinta - por produzir mais valor - aquilo que valoriza o capital, é seu dispêndio
excedente de força de trabalho. Por meio do mais-trabalho desmedido, o capitalista rouba
diariamente do trabalhador, o que fere o contrato e a lei de troca de mercadorias. Nesta luta de
classes, a capitalista e a trabalhadora, a disputa da duração do trabalho durante a história do
modo de produção capitalista é destaque e vence quem tem mais força.
Em toda sociedade que há monopólio dos meios de produção, é possível constatar o mais-
trabalho, para subsistência do possuidor. No modo capitalista, esse prolongamento tem por
objetivo o mais-valor e se confunde com o trabalho para autoconservação. Algo semelhante
ocorreu com o Règlement organique dos Principados do Danúbio, em que a terra comunal foi
tomada e os provincianos, antes com 12 jornadas, obrigados a trabalharem nelas por 56 anos.
Já as Factory Acts inglesas, impunham limites de tempo e intervalos para a jornada, porém,
por meio de furtadelas de poucos minutos, a avidez capitalista furtava o mais-valor. Em crises
de produção o furto do mais-trabalho por vezes se intensifica, já que é preciso produzir mais
em menos tempo. O trabalhador passa a ser, portanto, a personificação do tempo de trabalho.
São apresentados dados ingleses da época que corroboram a exploração. Marx destaca
declarações de crianças trabalhadoras que atestam a excessiva exigência por mais-trabalho e
furtadelas descritas no trecho anterior. Além de relatórios e observações médicas que
descrevem a menor expectativa de vida, diminuição da condição física e doenças devido às
condições precárias de trabalho entre diversas profissões. Enquanto os capitalistas reclamam
sobre imposições da Factory Acts. Além do caso exemplar das panificadoras livres que até
serem submetidas à supervisão estatal fabricavam pães em péssimo estado sanitário e
contaminado até por minérios em jornadas abusivas. Era um problema para os trabalhadores
em geral; em alguns casos, foi possível e preciso que reivindicassem condições mais justas.
O capital constante, meios de produção, tem por objetivo absorver trabalho e em proporção
mais-trabalho. Como já observado é imanente à produção capitalista a demanda do mais-
trabalho, e ela só é freada por limites físicos, a fim de superá-los, é implantado o sistema de
revezamento das forças de trabalho. Marx, então, expõe uma série de casos de crianças que
trabalham de dia e de noite (no revezamento), por vezes atravessando o dia na fábrica e
sentindo após, o malefício das horas e esforços incessantes empenhados. Alguns capitalistas
opinam sobre a proposta de proibir o trabalho noturno para menores de 18 anos, segundo eles,
o trabalho alternado noturno dos jovens não apresenta malefícios e é essencial. Até porque, a
ociosidade das máquinas representa prejuízo ao não absorver mais-valor dos trabalhadores.
O autor relembra o balanço feito até aqui. O modo capitalista estabelece que as horas não
empenhadas ao trabalho, devido ao impulso à jornada de 24 horas, são usadas em futilidades.
A produção capitalista é a produção do mais-valor por meio do prolongamento e às custas do
encurtamento da vida, piora da saúde e esgotamento da força de trabalho do trabalhador. Já a
lógica diria que ao degradar seus meios de produção (aqui se refere ao trabalhador), os custos
para reprodução da força de trabalho cresceriam. Entretanto, essa premissa que garantiria
segurança ao trabalhador “livre” é inválida a partir do momento que ele, ao se esgotar, é
reposto, sem mais dificuldades, por outros (sejam trabalhadores rurais ou industriais de outras
regiões). É o que afirma a observação dos acontecimentos históricos apresentados.
O capitalista individual pouco pode fazer contra essa lógica apresentada no trecho anterior,
pois a livre-concorrência impõe essas leis imanentes à própria produção. A consolidação do
trabalho em jornada normal é resultado de uma longa luta entre o capitalista e o trabalhador.
O Estado foi usado para coagir o trabalhador e depois foi usado para instituir os limites a uma
jornada de trabalho normal. Em meio a essa disputa, surge em 1770, a ideia de instituir uma
casa de trabalho que trancafia e obriga seus trabalhadores a produzir o tempo todo e sem
descanso, e segundo Marx, essa “Casa de Terror” ressurge, anos mais tarde, na forma da
fábrica para a manufatura.
6. A luta pela jornada normal de trabalho. Limitação do tempo de trabalho por força de
lei. A legislação fabril inglesa de 1833 a 1864
Nesta parte, Marx usa o período de 1833 a 1864 como exemplo da luta de classes sobre a
jornada de trabalho na Inglaterra. De 1833 a 1848, com muitos esforços, a classe trabalhadora
foi capaz de conquistar leis que diminuíssem as horas da jornada para 10 horas, apesar das
tentativas de impedir o funcionamento da lei, com sistemas de revezamento ardilosos, a
implementação teve sucesso. Porém, com a queda do partido cartista e a repressão da
insurreição de julho em Paris, as classes dominantes em toda a Europa se mobilizaram em
nome da propriedade, religião e família. Os fabricantes começaram, então, a achar brechas nas
leis que limitavam a jornada, para logo depois, voltar ao antigo regime por conta própria. E
em nova resistência (data de 1850), a classe trabalhadora reconquista os direitos à jornada
normal e os expande a outras produções inglesas a partir de 1860.