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Evolução Produtiva e “Uberização”

Profª Giseli Tartaro Ho


Breve Histórico - Direito do Trabalho

Origem – Revolução Industrial


Questão Social
Dignidade do Trabalho Humano
Evolução Produtiva e as
Relações de Trabalho na atualidade

O estudo da evolução produtiva é


importante, visto que possui ligação direta
com as questões relacionadas à legislação
trabalhista.
Sistemas Produtivos
a) Sistema familiar: verificou-se no início da Idade Média. Os membros da família produziam artigos para
consumo próprio, não para atender o mercado.

b) Sistema de corporações : ocorreu durante toda a Idade Média. Os mestres artesãos produziam para atender
um pequeno e estável mercado. Trabalhavam de maneira independente ou com dois ou três empregados. Eram
donos da matéria-prima e das ferramentas.

c) Sistema doméstico: prevaleceu do século XVI ao XVIII. Os mestres artesãos passaram a ser tarefeiros
assalariados, trabalhavam em casa para um mercado emergente, deixaram de possuir a matéria prima para o
seu trabalho.

d) Sistema fabril : em vigor desde o século XIX. Os trabalhadores não possuem independência, trabalham para o
empregador e sob a vigilância deste. A habilidade deixa de ser importante, ante a maior utilização da máquina.
Quando os trabalhadores foram destituídos dos meios de produção, passaram a vender o que lhes restava, ou
seja, a sua força de trabalho. Foi após a introdução da máquina a vapor, que o trabalhador manual foi liquidado,
e assim, surgiu a classe operária. O sistema fabril é fruto da evolução dos modos de produção e troca,
verificados pela transição do feudalismo para o capitalismo.
Adam Smith e a divisão do trabalho
ADAM SMITH viveu entre 1723 a 1790 e foi o precursor do liberalismo ( liberdade perfeita) e
da ideia de aumentar a produtividade, assim desenvolveu o conceito de divisão de trabalho.

Em 1776, já entendia que a divisão do trabalho era essencial para o melhoramento da
capacidade produtiva, compreendendo a divisão como especialização, para tanto o trabalhador
permanecia na mesma função até se tornar perito na atividade.

Célebre é o exemplo sobre a manufatura de alfinetes : Na divisão da tarefa de produzir alfinetes,


dividida em 18 etapas, 10 trabalhadores poderiam confeccionar 48 mil alfinetes por dia, pois cada
qual realizando a décima parte da operação seria responsável pela produção de 4.800 alfinetes, mas
se estivessem trabalhando de forma individual seriam responsáveis apenas pela produção de 20
alfinetes, ou que talvez não resultasse sequer nem um por dia.
DO TAYLORISMO AO FORDISMO

FREDERICK WINSLOW TAYLOR foi


responsável pelo método científico
conhecido por taylorismo.
• O sistema taylorista = divisão do trabalho e
controle rígido do ritmo da produção e do
tempo gasto em cada tarefa.
DO TAYLORISMO AO FORDISMO
Henry Ford implantou, em sua empresa automobilística sediada nos
Estados Unidos, o método taylorista de produção, razão por que o
método que marca a gerência produtiva das antigas empresas e
fábricas ficou também conhecido como fordismo.

A novidade ocorrida com o fordismo, em relação ao taylorismo, foi a


implantação industrial da linha de montagem, consistente na
implantação de uma esteira móvel que, com a sua velocidade
combinada com a fragmentação do trabalho, possibilitou a redução do
tempo de produção de um veículo.
DO TAYLORISMO AO
FORDISMO

Para ilustrar, importante saber que


antes de Taylor, a indústria produzia um
veículo em doze horas e trinta minutos.
Com o taylorismo, o tempo caiu para
cinco horas e cinqüenta minutos. Com
treinamento, para duas horas e trinta e
oito minutos. Com a linha de montagem
de Ford, para uma hora e meia.
(GOUNET,1999,p.19)
Fordismo
O Modelo fordista imperava mundialmente, no período em que o
governo de Getúlio Vargas consolidava e sistematizava as normas
trabalhistas na Consolidação das Leis do Trabalho, em 1943.
• Mas foi após 1945 que o Brasil implementou o método taylorista/fordista, que se desenvolveu
nos anos 50, durante o governo de Juscelino Kubitschek, com a instalação de várias fábricas
estrangeiras em nosso país.

• Exemplo da Volkswagem que foi fundada em SBCampo em 1959.

• Esse modelo vigou absoluto por muito tempo, sendo abalado pelo novo modelo produtivo.

• Qual seria esse novo modelo?


Carro mais vendido !!!

Fonte: https://autopapo.uol.com.br/noticia/10-carros-mais-vendidos-do-mundo-em-2020/
O mundo globalizado, ao suscitar cada vez mais
uma acirrada concorrência internacional,
estava também a tornar obsoleto o modelo de
DO produção taylorista e fordista.
FORDISMO
AO
TOYOTISM O avanço tecnológico, com o advento da
O automação, não mais poderia conceber uma
empresa, tradicionalista, fundada em
estratificação de tarefas, em trabalhadores
com especializações rígidas, em atividades
repetitivas e sincronizadas, em um tempo
controlado para a aceleração da produção e,
ainda, com a redução de custos.
DO FORDISMO
AO TOYOTISMO
 Nessa seara, o Japão foi precursor de um novo
sistema de produção, em decorrência de
circunstâncias e adversidades especiais próprias
ao povo japonês.

 Como fruto dessa necessidade concreta nasceu


um novo sistema produtivo introduzido
progressivamente pela empresa automobilística
Toyota, entre 1950 a 1970, sob a presidência de
Kiichiro Toyota.
Toyotismo ou Acumulação Flexível
O trabalho geralmente é feito por equipes de trabalhadores operando um sistema de máquinas
automatizadas. Rompe-se com a verticalização do fordismo e instaura-se a horizontalização, em
que a empresa diminui suas atividades, sendo algumas delas terceirizadas.

Essa nova forma de organização do trabalho requer estruturas mais flexíveis, trabalhadores
receptivos a mudanças nas relações de trabalho, legislação flexível, o máximo de aproveitamento
de tempo garantido pelo sistema just in time que introduz a questão do estoque mínimo. Suas
características associadas às inovações tecnológicas, da automação e da informatização
predominante na década de 80, proporcionam um aumento da exploração do trabalho com a
diminuição da porosidade na produção.
REFLEXOS DA ACUMULAÇÃO FLEXÍVEL

 - reestruturação produtiva
 - transferência da produção para locais com mão de obra mais barata.
 - redução de custos
 - redução da mão e obra
 - implantação de novas tecnologias

processo de globalização + novas tecnologias =

impacto direito nas relações de trabalho


CLT rígida ( modelo fordista )

 Assim, necessário ressaltar a tendência atual de abrandamento da


rigidez dos princípios que informam o Direito do Trabalho, em especial
o que consagra o protecionismo do trabalhador.

 Princípio da Proteção na mira da Reforma Trabalhista que pretendeu


flexibilizar os direitos trabalhistas.
Trecho Russomano
“Quando alguém pegar com suas mãos o código trabalhista
de um país, saiba que ali estão séculos de sofrimentos calados
ou de revoltas e que aquelas páginas, nas entrelinhas da
composição em linotipo, foram escritas a sangue a fogo,
porque, até hoje, infelizmente, nenhuma classe dominante
abriu mão de seus privilégios apenas por um ideal de
fraternidade ou por espírito de amor aos homens”

( RUSSOMANO, Mozart Victor. O Empregado e o Empregador no Direito Brasileiro, Ed.


LTr, 6ª edição, SP, 1978. P.18 )
Novas Formas de Trabalho

A nova ordem, que visa a redução de custos,


impõe que as empresas adotem mecanismos
no sentido de terem um número reduzido de
trabalhadores, buscando a complementação
dos serviços com a contratação de
trabalhadores a tempo parcial, temporários,
terceirizados, cooperados e outras formas
alternativas.(MARQUES,1997, p.48)
Novas Tecnologias e Novas Formas de Trabalho

 Além disso, as novas tecnologias exigem uma


espécie de trabalhador cada vez mais qualificado.
Em decorrência dessa assertiva, diz-se que o
empregado que não se conscientizar dessa
realidade estará fora do mercado de trabalho; em
se tratando de empresa, esta não terá nenhuma
possibilidade de fazer frente à acirrada
concorrência que se impõe.
Indústria 4.0 - Quarta Revolução Industrial
Conceito que engloba um amplo sistema de tecnologias avançadas :

 Inteligência artificial;
 Robótica;
 Internet das coisas ;
 Computação em nuvem ;
 Sistemas em Rede

Promovem mudanças nas formas de produção, nos modelos de negócios e nas relações de trabalho no
mundo todo. (Globalização)

O economista austríaco Joseph Schumpeter denomina tal processo revolucionário como destruição
criadora e complementa apontando que tal processo é de substancial importância ao capitalismo e,
ademais, toda empresa capitalista deve se adaptar a ele caso queria sobreviver ( obsolescência
programada)
Evolução – Revoluções Industriais -
Para recordar:
 1ª Revolução – Carvão – Máquina à Vapor

 2ª Revolução – Eletricidade

 3ª Revolução – Energia nuclear e computadores

 4ª Revolução – Internet – inteligência artificial


Novas Formas de Trabalho
 Nesse contexto da Indústria 4.0, da automação e do uso da inteligência
artificial que surge uma nova modalidade de trabalho = O Trabalho por
plataforma digital

 Com o uso por aplicativos tecnológicos ocorre aproximação entre o prestador


do trabalho e o usuário

 Ocorre a RUPTURA DA RELAÇÃO TRADICIONAL do Direito do Trabalho


( empregado x empregador e classe operária)

 É a TECNOLOGIA DISRUPTIVA = desloca uma tecnologia que estava


estabelecida e abala o mercado ou gera um produto inovador e, assim, cria uma
indústria completamente nova. ( computador, smartphone,IA, IoT etc)
“ Uberização” do Trabalho
 As relações de trabalho mediadas por aplicativos
tornaram-se a mais dinâmica força de geração de
emprego precário no País.

 Segundo pesquisa do Instituto Locomotiva, apps como


Uber, iFood e Rappi seriam os maiores “empregadores”
brasileiros caso se unissem em uma única companhia.

 Nos últimos anos, diante do aprofundamento da crise


econômica e da destruição das vagas formais, esse grupo
de empresas virtuais, em geral sediadas no exterior,
passou a intermediar a oferta de trabalho.
SUBORDINAÇÃO POR ALGORITMO*

Hoje o que se discute em outros países é a chamada


subordinação por algoritmo, na qual os trabalhadores
não seguem mais ordens de superiores, mas sim as
regras dos aplicativos.

 “Uber” = o aplicativo controla o cliente e o


prestador de serviço.

 O algoritmo escolhe : qual cliente o motorista vai


atender e vice-versa, o destino, distribui os
passageiros segundo a demanda e impõe o preço, de
acordo com a oferta e demanda.
* Conceito de algoritmo
Significa uma sequência de raciocínios, instruções ou operações para
alcançar um objetivo, sendo necessário que os passos sejam finitos e
operados sistematicamente.

Algoritmos são a base do processo de desenvolvimento de software e


fazem parte das ferramentas pelas quais programadores criam
estratégias para fracionar problemas em etapas e processos que podem
ser traduzidos computacionalmente.
( ex : algoritmo de busca do Google, facebook, spotify)
SUBORDINAÇÃO POR ALGORITMO
NAS RELAÇÕES DE TRABALHO

Outros exemplos que podem ser citados, muito


presentes no dia-a-dia de todos, são os aplicativos
Rappi e Ifood.

Mesma ideia do Uber = as pessoas que se


cadastram para realizar as entregas de pedidos
feitas através dos referidos aplicativos não são
empregados.
Em tese, possuem autonomia, independência, podem
escolher quando vão estar disponíveis. Mas a partir do
momento que ficam disponíveis, estariam
subordinados às empresas, através de seus algoritmos?
Uberização
 Essa modalidade de trabalho é famosa no mundo inteiro. Muitos
trabalhadores recorrem aos aplicativos para poder gerar renda e
conseguir manter a saúde financeira de suas famílias.

 Ao tempo que falam que são seus próprios chefes e fazem seus próprios
horários, os motoristas e entregadores de app se veem obrigados a
trabalhar de 10 a 14 horas por dia para que consigam ter uma renda
razoável e digna.

Dicas de filmes sobre o tema:


 Você não estava aqui
 GIG - A Uberização do Trabalho ( Documentário)
 Vidas Entregues ( documentário)
Livros sobre o tema
Link vídeo : Gig economy

ASSISTIR : https://www.youtube.com/watch?v=eZfdM16ORY0
Links – repertório sobre o tema
Assistir : * https://www.youtube.com/watch?v=gbSaTJ_7Zfk
* https://www.youtube.com/watch?v=8nH8dbZqU0E

 https://querobolsa.com.br/revista/atualidades-enem-uberizacao-do-t
rabalho
 https://www.youtube.com/watch?v=qqAsnupNKG8&t=1s

Para leitura :
 https://economia.uol.com.br/empregos-e-carreiras/noticias/redacao/
2019/09/14/entrevista-sociologo-ricardo-antunes-trabalho-emprego-
empreendedorismo.htm
Dúvidas???

Perguntas???

Comentários???
REFERÊNCIAS:
 BELTRAN, Ari Possidonio. Dilemas do Trabalho e do Emprego na Atualidade. Editora Ltr. SP. 2001.

 ________________. Os impactos da integração econômica no Direito do Trabalho, Globalização e Direitos Sociais. Editora
LTr . SP. 1998.

 CACCIAMALI, Maria Cristina. Artigo : A Globalização e suas relações com o mercado de trabalho. Mercado de Trabalho e
Estabilização. In Cadernos PUC Economia. vol. 4 EDUC. Organizadora:Rosa Maria Marques. SP. 1997.

 CASTIONI, Remi. Artigo : Reestruturação Produtiva e (re) qualificação profissional: empregabilidade e competências. In
Reestruturação Industrial Organizadora Cristina H. P de Mello.Cadernos PUC de Economia. v. 6. Editora EDUC. SP. 1998.

 FRANÇA, Ana Cristina Limongi. Comportamento Organizacional. Ed. Saraiva- SP, 2005

 FRANCO FILHO, Georgernor de Sousa. Globalização, Desemprego : Mudanças nas Relações de Trabalho. Editora LTr. SP.
1998.

 _______________. (coord.) Presente e Futuro das Relações de Trabalho. Estudos em Homenagem a Roberto Araújo de
Oliveira Santos. Editora LTr. SP. 2000.

 GOUNET, Thomas. Fordismo e Toyotismo na civilização do automóvel. Editorial Boitempo. 1ª ed. SP. 1999.
REFERÊNCIAS:
 GORZ, André. Artigo: O despotismo de fábrica e suas conseqüências. In Critica da Divisão do Trabalho.
Tradução de Estela dos Santos Abreu. Editora Martins Fontes. 3ª ed. SP 2001.

 ________________. (coordenador) Critica da Divisão do Trabalho. Tradução de Estela dos Santos Abreu.
Editora Martins Fontes. Artigo : Origem e funções do parcelamento das tarefas. Para que servem os
patrões?, por Stephen A . Marglin. 3ª ed. SP 2001
 ________________. (coordenador) Critica da Divisão do Trabalho. Tradução de Estela dos Santos
Abreu .Editora Martins Fontes. Artigo : Ditadura e domocracia na produção, por Dominique Pignon e
Jean Querzola. SP 3ª ed. 2001.
HUBERMAN, Leo. História da Riqueza do Homem. Editora Guanabara. 21ª ed. rev. RJ. 1986.
 MARQUES, Rosa Maria. Artigo : O mundo do trabalho de pernas para o ar. In Mercado de Trabalho e
Estabilização. Rosa Maria Marques. Cadernos PUC Economia. v. 4 EDUC. Organizadora : Rosa Maria
Marques. SP.1997.

 MEIRELLES, David Furtado. Negociação Coletiva no local de trabalho. A experiência dos Metalúrgicos do
ABC. LTr Editora/SP, 2008
REFERÊNCIAS:
 NASCIMENTO, Teoria Jurídica do Salário. Editora LTr. 2ª ed. 1997.

 PROSCURCIN, Pedro. O Trabalho na Reestruturação Produtiva : Análise Jurídica dos


Impactos no Posto de Trabalho. Editora LTr. 2001.

 ROBORTELLA, Luiz Carlos Amorim. O Moderno Direito do Trabalho. Editora LTr. SP.1994.

 RUSSOMANO, Mozart Victor. O Empregado e o Empregador no Direito Brasileiro, Ed. LTr,


6ª edição, SP, 1978

 SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. Ed. Record/SP, 2011

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