Você está na página 1de 18

Ceisc Concursos

Sociologia

1
Ceisc Concursos
Sociologia

Olá! Boas-Vindas!
Cada material foi preparado com muito carinho para que você
possa absorver da melhor forma possível, conteúdos de qua-
lidade!

Lembre-se: o seu sonho também é o nosso!

Bons estudos! Estamos com você até a sua aprovação!

Com carinho,

Equipe Ceisc. ♥

2
Ceisc Concursos
Sociologia

Sociologia
Prof. Douglas Azevedo

Sumário

1. Fases históricas iniciais da industrialização .......................................................................... 4


1.1. Artesanato, manufatura, maquinofatura e mecanização da produção .................................. 4
1.2. A Revolução Industrial e o capitalismo industrial .................................................................. 5
1.3. Modelos de gestão e organização do trabalho: taylorismo, fordismo, toyotismo, plataformas
digitais e seus impactos no trabalhador e na sociedade. ............................................................. 7
1.4. A organização dos trabalhadores e trabalhadoras .............................................................. 10
1.5. A crise atual da sociedade do trabalho: .............................................................................. 14

Olá, aluno(a). Este material de apoio foi organizado com base nas aulas do curso preparatório para
concursos e deve ser utilizado como um roteiro para as respectivas aulas. Além disso, recomenda-
se que o aluno assista as aulas acompanhado da legislação pertinente.

Bons estudos, Equipe Ceisc.


Atualizado em fevereiro de 2024.

3
Ceisc Concursos
Sociologia

1. Fases históricas iniciais da industrialização

Prof. Douglas Azevedo


@prof.douglasazevedo

O trabalho sempre teve um papel fundamental na vida em sociedade. Historiadores inclu-


sive apontam que a sociedade se inicia em virtude da necessidade de divisão do trabalho,
quando grupos tinham de realizar obras coletivas para benefício individual, como a construção
de córregos de irrigação ou de locais para armazenamento do excesso de colheitas. Desta forma,
as relações humanas foram se tornando mais complexas, sendo necessário realizar uma divisão
de funções, constante manutenção etc.
De qualquer sorte, o trabalho sempre foi o elemento principal de geração de riquezas de
uma sociedade. Interessante notar, também, que a forma como o trabalho é praticado se trans-
forma em cada época, em virtude das particularidades de cada sociedade.
O artesanato e a manufatura, bem como a produção agrícola, naturalmente, foram as
formas de produção mais utilizadas ao longo dos séculos, até que a revolução industrial introduz
uma nova gama de nuances, em especial pela drástica transformação dos meios de produção -
que vão também refletir na organização social. Por sua vez, os tempos contemporâneos apre-
sentam novos dilemas para o universo laboral, também introduzidos pelos rápidos avanços tec-
nológicos.

1.1. Artesanato, manufatura, maquinofatura e mecanização da produ-


ção
Vamos aqui analisar as etapas históricas da evolução da produção industrial.
Artesanato - etapa na qual o artesão executa sozinho todas as etapas da fabricação de
algo, o que pode inclusive englobar a comercialização do produto.
Manufatura - etapa na qual o produtor era responsável por uma etapa da produção, ou
seja, já existia uma divisão do trabalho, e representa a transformação do artesão em trabalhador
assalariado. Já eram utilizadas máquinas simples na produção, mas o elemento manual ainda
era majoritário.
Maquinofatura - etapa iniciada com a Revolução Industrial, no século XVIII. Aqui a utiliza-
ção de máquinas movidas à carvão e demais fontes energéticas recém descobertas é central, o
que representa um aumento massivo na produção em relação às etapas anteriores. Neste

4
Ceisc Concursos
Sociologia

período ocorre também uma maior divisão e especialização do trabalho, com setores de desta-
que sendo o têxtil e a metalurgia.

1.2. A Revolução Industrial e o capitalismo industrial


A Revolução Industrial se inicia na Inglaterra durante o século XVIII, e é marcada pela
forte mecanização da produção industrial, com destaque para o surgimento das máquinas movi-
das à vapor, máquinas de tear etc. Com o tempo, a revolução atinge os demais países.
Pouco depois, já no século XIX, temos a Segunda Revolução Industrial, que aprimora os
avanços tecnológicos e científicos voltados para a indústria. Ocorre uma forte expansão do setor
químico, elétrico, petróleo etc., bem como aprimoramento das estradas de ferro e demais meios
de transporte, além do surgimento de empresas multinacionais.
Já a terceira revolução industrial ocorre após a segunda guerra mundial, com nova revo-
lução tecnológica e científica (energia nuclear, biotecnologia etc.), marcada também pela criação
de novas tecnologias comunicacionais (internet) e de automação (como robótica).
À última etapa convencionou-se chamar de “indústria 4.0”, e é marcada pela presença do
uso de computadores na produção, o que a torna mais barata e efetiva, com meios cada vez
mais sofisticados de automação (softwares com sensores e mais inteligentes); digitalização de
processos internos garantindo maior controle e eficiência; etc.

1.2.1. Capitalismo industrial


Os efeitos da revolução industrial impulsionaram o capitalismo, o que gerou uma série de
novos efeitos sociais. Os centros de produção de riqueza passam a ser os centros urbanos, que
recebem um grande fluxo de trabalhadores buscando emprego. Com o tempo, contudo, as má-
quinas passaram a substituir o trabalho braçal.
Importante notar, portanto, que os produtos que anteriormente eram manufaturados tor-
nam-se industrializados. Isso acarreta num aumento massivo de produtividade e também passa
a gradualmente expandir o mercado consumidor global.
Como mencionado, a revolução transforma também a lógica do capitalismo - que já existia
desde a época das grandes navegações, com o chamado capitalismo mercantil, baseado no
comércio de manufaturas. Durante esse período ocorre o surgimento da classe burguesa, que
começa a acumular riquezas.

5
Ceisc Concursos
Sociologia

Após a Revolução Industrial, a classe burguesa passa a ser a detentora dos meios de
produção (máquinas e fábricas), e explora a mão de obra assalariada para obter grandes lucros.
Vale lembrar que sob a ótica do liberalismo, ideologia econômica vigente durante o início
do século XIX, o papel do Estado era mínimo, de modo que os trabalhadores, num primeiro
momento, não gozavam de direitos e garantias trabalhistas ou previdenciárias. É o período das
longas jornadas de trabalho com baixas remunerações, e os chamados exércitos de reserva
(milhares de trabalhadores desempregados aguardando uma oportunidade de trabalho, por pior
que fosse).
Naturalmente a classe dos operários (ou proletários) se organiza em assembleias e sindi-
catos e começa a reclamar por direitos e melhores condições laborais. A desigualdade neste
período era gritante, com acúmulo massivo de capital nas mãos da burguesia enquanto o traba-
lhador percebia, por vezes, valores insuficientes para sequer sobreviver. Os problemas sociais
eram acentuados pela própria estrutura das cidades, que recebiam um fluxo gigantesco de pes-
soas buscando empregos, sem qualquer preparo ou projeto estrutural. Assim, centenas de mi-
lhares de pessoas acabavam por viver em condições péssimas.
A classe proletária consegue, gradualmente, efetivar direitos de cunho social, mas o de-
senvolvimento tecnológico aplicado à indústria sempre apresenta novos desafios sociais à classe
trabalhadora - situação que persiste até hoje, como veremos em momento oportuno.

Características do Capitalismo Industrial


As principais características do Capitalismo Industrial são:
• novas formas de divisão social do trabalho;
• surgimento do proletariado e também dos sindicatos;
• o surgimento do trabalho assalariado;
• expansão dos valores liberais e da livre concorrência;
• aumento massivo da produção e redução de preços;
• desigualdade social;
• aceleração da globalização.

6
Ceisc Concursos
Sociologia

1.3. Modelos de gestão e organização do trabalho: taylorismo, for-


dismo, toyotismo, plataformas digitais e seus impactos no trabalhador e na
sociedade.
A adoção de modelos de gestão e organização representaram um aumento gigantesco na
produtividade das indústrias durante todas as revoluções industriais, por meio da divisão de
tarefas cada vez mais especializadas. Veremos agora os principais modelos desta gestão:

1.3.1. Taylorismo
Nome baseado no americano Frederick Taylor, a ideia do método consistia em organizar
as linhas de produção para que se aumentasse a produtividade num menor tempo. A conclusão
de Taylor era de que os funcionários deveriam ser treinados para exercer uma única tarefa ao
ponto de se tornar especialista naquela única função (o que aumenta a eficiência e reduz o risco
de erros).
O processo deve ser constantemente fiscalizado por gerentes em posições hierárquicas
superiores, responsáveis por monitorar o tempo de produção. Quanto mais rápido o trabalhador,
mais premiado seria.
Temos, em síntese:
• Divisão do trabalho em partes menores e mais especializadas;
• Rigor na supervisão dos princípios e métodos de trabalho;
• Remuneração baseada no desempenho.

1.3.2. Fordismo
O Fordismo foi um modelo de produção muito utilizado nos Estados Unidos, idealizado
por Henry Ford, que utiliza o modelo de Taylor com alterações para aumentar a produtividade. A
principal medida foi a adoção das esteiras rolantes na linha de montagem dos automóveis, o que
mantinha os funcionários em suas posições.
Desta forma, era a máquina que determinava o tempo de trabalho do funcionário.
Dentre as principais características do Fordismo, temos:
• divisão do trabalho;
• produção em larga escala determinada pelo ritmo das máquinas (esteiras);
• padronização dos produtos;

7
Ceisc Concursos
Sociologia

• redução de custos.

O aumento de produção visto no fordismo, contudo, gerou alguns problemas, em especial


em épocas de crimes econômicas nas quais o consumo reduzia, resultando em grandes
estoques sem perspectiva de venda.
Antes de prosseguirmos, vamos analisar os impactos destes dois métodos.
1. ambas as metodologias apresentam um grande aumento de produtividade
industrial e econômica, colocando mais produtos no mercado a preços menores,
com maior qualidade e tornando bens acessíveis a uma porção maior da
população;
• tal aumento, contudo, trouxe a chamada alienação do trabalhador (nos
séculos anteriores um trabalhador produzia todo o produto, agora, cada um
produz uma pequena parte).
• menos criatividade, pois o modelo é baseado na repetição.

2. tais métodos, naturalmente, aumentavam a pressão sobre os operários, seja pela


necessidade de trabalhar mais para obter melhores remunerações ou tentando
manter o ritmo ditado pelas esteiras industriais. O trabalho torna-se mais monótono,
repetitivo e também ocasiona maiores problemas de saúde aos operários (físicos
e mentais);
• as metas aplicadas gerou rivalidade entre trabalhadores;
• no médio longo prazo, os métodos levavam a completa exaustão física e
mental.

Muito embora o Taylorismo e o Fordismo tenham sido revolucionários para seu tempo, os
modelos não se sustentaram. Podemos citar os estoques lotados de produtos sem qualquer
demanda; a padronização de produtos era a regra, ao passo que as sociedades passaram a
exigir produtos mais diversificados que os sistemas não eram aptos a produzir; o surgimento de
técnicas melhores, como o Toyotismo e claro, a constante pressão sindical por melhores
condições.

8
Ceisc Concursos
Sociologia

1.3.3. Toyotismo
O Toyotismo surgiu no Japão, na década de 1970. Ele foi idealizado pelo engenheiro
Taiichi Ohno e implementado na montadora Toyota. Consiste em modelo revolucionário em
relação aos anteriores (tanto que se fala na grande reestruturação do capitalismo da década de
1970). O ponto central foi a aplicação do “just in time”, ou seja, produção baseada na demanda,
para evitar grandes estoques de produtos.
A produção, assim, rompeu com os modelos anteriores praticado nas linhas de produção.
Com o Toyotismo se aumentou a lucratividade e a qualidade dos produtos, com uma melhor
gestão de estoque. Para isso, os novos avanços robóticos são incluídos nas fábricas, exigindo
dos trabalhadores funções mais dinâmicas e menos mecânicas (como apenas apertar certos
parafusos). Em síntese, temos:
• melhor gestão da produção e redução nos defeitos de produtos;
• funcionários exercendo diversas funções mais complexas;
• produção baseada na demanda do mercado, reduzindo desperdícios.

O Toyotismo também é conhecido como a reestruturação produtiva ou capitalismo flexível.


Essa reestruturação só foi possível graças aos avanços tecnológicos que permitem maior
eficiência na produção. Um dos problemas, contudo, foi o aumento dos empregos temporários:
as fábricas contratavam funcionários apenas em épocas de maior demanda, com demissões em
massa após o período de alta.
Ao Toyotismo são atribuídos também o processo de desregulamentação do trabalho, ante
o aumento de terceirizações e contratos precários. Além disso, anota-se o processo de
desregulamentação do trabalho, instrumentalizado pela total desarticulação do sistema
produtivo.

1.3.4. Plataformas digitais


As atuais transformações tecnológicas também repercutem no mundo laboral, em especial
graças à chamada quarta revolução industrial (inteligência artificial, big data, internet das coisas,
etc.). Um dos fenômenos recentes criados pela atual tecnologia é o trabalho em plataformas
digitais. Os maiores exemplos são os aplicativos de transporte (Uber) e de tele-entrega de
alimentos (iFood), mas também é comum a modalidade na qual sujeitos residindo em outros
países contratam profissionais para demandas específicas pela internet.

9
Ceisc Concursos
Sociologia

Esta nova realidade apresenta vantagens financeiras e possibilidades, mas também


apresenta muitos riscos e incertezas, em especial em virtude da informalidade dos vínculos.
Surgem assim as questões: se eu trabalho para um aplicativo, eu sou autônomo ou funcionário?
Quais os meus direitos trabalhistas e garantias previdenciárias? A plataforma tem algum dever
para com o trabalhador? Como não existe legislação regrando a prática, as demandas acabam
sendo judicializadas aos tribunais, cujo entendimento é o da inexistência de vínculos trabalhistas.

1.4. A organização dos trabalhadores e trabalhadoras


1.4.1. O movimento operário
Como já trabalhamos anteriormente, a Revolução Industrial trouxe centenas de milhares
de trabalhadores do campo para as cidades (que não estavam estruturadas para mudanças tão
rápidas). A desorganização das cidades passou a ser a nova constância, agravada pelas péssi-
mas condições de trabalho e um estado liberal e mínimo, intervindo apenas para proteção das
liberdades individuais, da vida e da propriedade privada.
Nesse contexto surge uma nova classe social, a saber, a dos operários (ou proletários).
Naturalmente a classe dos operários, ao ser explorada, entra em direto confronto com a classe
exploradora - a burguesia. Surgem movimentos na Inglaterra como os ludistas (que questiona-
vam o uso das máquinas, buscando inclusive destruí-las quando possível) e os cartistas (atua-
vam mais no segmento político, visando a criação de direitos), os quais tentavam encontrar so-
luções para os problemas dos operários, em especial o desemprego causado pelos avanços
tecnológicos, já que uma máquina realizava a função de diversas pessoas.
Após um tempo, o movimento entende que o problema não residia na existência de má-
quinas, mas sim na forma como a classe dominante havia organizado os meios de produção e a
ausência de legislação protetiva. Ante a inércia do Estado e dos donos de fábrica, os operários
entendem necessário melhorar a articulação de seu movimento, muitas vezes vinculando-se a
movimentos socialistas ou anarquistas. Com o passar dos anos, o movimento atingiu grandes
conquistas como redução da jornada de trabalho, maior segurança nas linhas de produção e até
mesmo a própria legalização dos sindicatos.

1.4.2. Sindicalização e militantismo


O sindicalismo surge no contexto da revolução industrial e consolidação do capitalismo
Europeu. Como visto, o período foi marcado pela ausência de direitos sociais e severa

10
Ceisc Concursos
Sociologia

exploração dos operários. Vimos, também, a polarização da sociedade em duas classes: a bur-
guesia, detentora dos meios de produção, e o proletariado, aqueles que produziam por meio do
seu trabalho.
Ante as gritantes desigualdades, os trabalhadores passaram a se organizar, no intuito de
gerar um movimento mais eficiente na reivindicação de direitos e melhores situações laborais.
Alguns movimentos, como os ludistas, partiam do pressuposto da quebra das máquinas (que
substituíram a mão de obra humana), ao passo que outros movimentos pleiteavam, por meios
políticos, alterações legislativas.
Com o tempo, a legislação passa a permitir a associações de operários, o que origina as
trade unions (equivalente aos sindicatos). As trade unions passam a negociar em nome do con-
junto de trabalhadores, visando maiores direitos e condições de trabalho, ampliando gradual-
mente o rol de direitos.
Contudo, participar de sindicatos ou até mesmo de greves não era algo simples, pois trazia
inúmeros custos inerentes (congelamento de salários, demissões, etc.). Por esta razão, nem
mesmo dentro do movimento operário havia unanimidade sobre paralisações nas fábricas e de-
mais ações, mesmo que as mudanças pleiteadas fossem benéficas para toda a categoria.
Temos, portanto, dois grupos dentro do próprio movimento operário: aqueles que se recu-
sam a participar das ações sindicais, e aquele dos operários militantes, que participam de todo
o processo de articulação das ações sindicais. É claro que tal divisão acaba sendo, na prática,
complexa e flexível, pois um operário pode optar não participar de uma ação mas de outra, con-
forme uma análise dos riscos envolvidos, ou aderir a uma greve mas voltar ao trabalho antes de
se atingir qualquer objetivo.
O militantismo também é acompanhado de uma forte crença ideológica. No contexto pós-
revolução industrial, a maioria dos militantes aderiram a ideologias comunistas ou anarquistas.

1.4.3. A ação sindical e sua tipologia


A ação de sindicatos desempenha papel na defesa dos direitos trabalhistas, buscando
melhorias nas condições de trabalho. Para tanto, os sindicatos precisam adotar uma série de
ações, dentre as quais podemos listar:
• Negociação coletiva: negociam condições de trabalho, salários e benefícios direta-
mente com os empregadores;
• Greves e paralisações: forma de pressionar governo e empregadores;

11
Ceisc Concursos
Sociologia

• Manifestações e mobilizações: ferramenta de expressão da vontade coletiva dos


trabalhadores - gera visibilidade para as demandas e solidariedade na categoria;
• Campanhas de conscientização: educar trabalhadores sobre seus direitos (material
impresso, redes sociais etc.);
• Participação em processos legislativos: influenciar leis trabalhistas e políticas pú-
blicas;
• Atuação em acordos coletivos - local onde são estabelecidas condições de trabalho
conforme cada categoria;
• Ação Judicial: sindicatos apresentam demandas perante o poder judiciário;
• Capacitação e formação sindical: instruir os líderes sindicais.

1.4.4. A evolução do sindicalismo diante das transformações do mundo


do trabalho.
Como vimos no tópico 1.4.2., o sindicalismo surge em um contexto de Revolução Industrial
e vai gradualmente se expandindo mediante suas ações. Todavia, as constantes transformações
contemporâneas geram imensos desafios que demandam uma adaptação dos sindicatos. Afinal,
as demandas do sindicalismo clássico (conquista dos direitos básicos) se transformaram junto
do proletariado, que não é mais somente industrial ou agrário, mas também de serviços.
Contemporaneamente, contudo as transformações no sistema produtivo capitalista ocasi-
onam mudanças drásticas no mundo do trabalho, como por exemplo a redução de operários
industriais e aumento dos operários de serviços. Por sua vez, isso resulta em dificuldades para
os sindicatos coordenarem ações e realizarem articulações, resultando em uma grave crise de
representatividade.
Os próprios operários de serviços não se veem como tais, se entendendo como empre-
endedores ou parte da burguesia, o que afasta o sentimento de pertencer a classe operária,
muitas vezes, inclusive, entendendo sindicatos como algo nocivo ao mercado.
Ademais, muitos sindicatos ainda utilizam um discurso concebido no século XIX e XX,
desconsiderando elementos que se transformaram com o passar dos anos, como as próprias
questões geracionais, étnicas, racial e de gênero. Ou seja, existe uma fragmentação muito
grande dentro da própria classe operária, que afasta a noção de uma identidade de classe.

12
Ceisc Concursos
Sociologia

1.4.5. Greves e conflitos trabalhistas


As greves e conflitos desempenham um importante papel na busca por melhorias nas
condições laborais. Sua origem encontra-se relacionada aos desdobramentos da Revolução In-
dustrial e da condição dos operários da época. Num primeiro momento as greves eram raras,
pois proibidas, mas ao longo do século XX, sobretudo durante as crises econômicas, que as
greves ganham força e tornam-se efetivamente uma ferramenta dos trabalhadores na reivindica-
ção de direitos como melhores condições de trabalho, melhores salários e demais direitos soci-
ais.
Como referido, com a legalização das greves ocorre o aumento de sua incidência, orga-
nizadas pelos sindicatos da época. As maiores greves ocorrem, naturalmente, nos países mais
industrializados como Inglaterra e Estados Unidos, mas conforme a industrialização vai se ex-
pandindo pelo mundo, as greves passam a ter uma ocorrência global. Mais recentemente, as
greves são mais comuns em países de industrialização tardia e subdesenvolvidos economica-
mente.
Os modelos antigos de produção, apesar de todos os seus problemas, apresentavam um
grau maior de previsibilidade - o que permitia uma ação mais coesa dos sindicatos e demais
atores sociais. A dinâmica laboral contemporânea, contudo, é muito mais complexa, gerando
muitas dificuldades.
Como raízes destes novos problemas, podemos apontar a crise do fordismo e a reestru-
turação produtiva que se inicia na década de 1970, modelo este que prioriza a flexibilidade e
gera maior precarização e desemprego; a crise do welfare state (Estado de bem-estar social),
com redução da intervenção estatal; e a crise de “identidade” do próprio movimento operário,
com a redução de funções coletivas e aumento da individualização dos serviços, dificultado
ações coordenadas por sindicatos e afins.
Com isso temos a redução da densidade dos sindicatos, do número de greves e a queda
do número de trabalhadores sindicalizados. Os modelos industriais anteriores promoviam maior
contato e solidariedade entre os operários, já que era mais fácil se entender como membro de
uma determinada classe. O atual contexto de individualização e competitividade afasta essa no-
ção de solidariedade, prejudicando a ação sindical.

13
Ceisc Concursos
Sociologia

1.5. A crise atual da sociedade do trabalho:


Neste tópico, exploraremos as crises oriundas da atual sociedade do trabalho. Vale lem-
brar que em todas as épocas houveram crises e situações nocivas ao trabalhador, portanto esta
crise não é uma exclusividade contemporânea, mas tão somente fruto do atual contexto em que
estamos inseridos.

1.5.1. O processo de globalização, seus efeitos sociais e as novas ca-


deias produtivas
O processo de globalização é responsável por uma completa transformação das relações
sociais, incluindo também as lógicas produtivas e laborais da sociedade. Podemos citar como
exemplo a internacionalização da economia e a maior fluidez das relações comerciais.
Um dos efeitos nas relações de trabalho foi o aumento das terceirizações, ou seja, quando
uma empresa contrata outra empresa para realizar um serviço. Com isso, a empresa contratante
reduz os seus custos com encargos trabalhistas, ao passo que a empresa terceirizada, para
obter lucro, oferece salários menores para seus funcionários. Temos, aqui, um exemplo de pre-
carização do trabalho.
A produção flexível também pode ser citada, sendo um reflexo direto do toyotismo, exi-
gindo conhecimentos cada vez mais especializados dos trabalhadores, não se limitando mais a
funções mecânicas simples.
Cabe ressaltar que a superação dos modelos de produção anteriores (fordismo) não seria
possível sem o fenômeno da globalização, ou mais especificamente, da flexibilização da produ-
ção à nível global. A própria existência de agências globais como o FMI contribuiu para esta nova
realidade, junto da atuação dos Estados.
Outros aspectos que valem ser citados são a inserção da China nos fluxos de comércio
globais; o fim da União Soviética e a Terceira Revolução Industrial. A abertura das fronteiras
permitia uma maior eficiência na busca pelo lucro, com grandes empresas estabelecendo filiais
em países subdesenvolvidos para baratear os custos de produção, fazendo com que o preço
final do produto fosse ainda mais competitivo. Com isso, surgia uma interdependência econômica
global, contudo, é claro, comandadas por grandes multinacionais ocidentais.

1.5.2. O proletariado de serviços, as plataformas digitais, a inteligência


artificial e o ciberproletariado

14
Ceisc Concursos
Sociologia

O proletariado de serviços é a massa de trabalhadores oriundos da reestruturação produ-


tiva do sistema capitalista ocorrida no final do século XX. O novo cenário representa um deslo-
camento do capital industrial (que passa a empregar cada vez menos trabalhadores), obrigando
o trabalhador a buscar empregos precarizados no setor de serviços. Temos aqui precarizado
como incerto, instável, curto.
Esses trabalhadores representam uma massa fragmentada e muitas vezes terceirizada
sem qualquer consciência de classe, e que, em muitos casos, entendem-se como empreende-
dores de classe média, ou seja, que não se veem mais como proletários.
O setor de serviços vem se transformando desde a década de 1970, pois até então era
dominado por atividades públicas. Contudo, o setor vem se mercantilizando mediante iniciativas
privadas. Serviços como água e luz, internet, telefonia, fast food, rodovias, todos passam a se
tornar altamente rentáveis. Dadas as diferenças em comparação ao setor industrial, os sindicatos
acabam não atingindo estes trabalhadores, que se encontram subrepresentados.

Ciberproletariado
Trata-se dos trabalhadores do setor informacional e telecomunicações ligados a um apa-
rato tecnológico. Nota-se, portanto, uma dependência da tecnologia para permanência no mer-
cado de trabalho, como por exemplo plataformas digitais.
Este grupo de trabalhadores também geralmente está submetido a trabalhos repetitivos e
altamente alienantes (como call centers).

1.5.3. A necessidade de novas competências, qualificações e as fun-


ções em extinção.
A atual conjuntura de transformações laborais exige uma adaptação dos próprios
trabalhadores. Até mesmo os segmentos mais tradicionais, como o industrial, estão passando a
exigir conhecimentos em informática e inglês para manuseio de maquinário estrangeiro.
A automação e inteligência artificial aplicadas ao universo do trabalho também exigem
conhecimentos técnicos muito específicos (utilização de softwares, programação, etc). Ou seja,
as competências digitais começam a se tornar essenciais, mas não só, pois há também uma
necessidade de readaptação constante, conforme novas tecnologias vão surgindo.
Um dos problemas desta transformação se potencializa em países com grandes índices
de desigualdade social, pois boa parte da população não tem condições de adquirir as

15
Ceisc Concursos
Sociologia

especializações necessárias, ou mesmo de matricular os filhos em colégios ou universidades


onde estes poderão aprender as novas competências exigidas. Aqui notamos a importância de
políticas públicas inclusivas, que visem prover educação pública voltada para o novo mundo
informacional.

1.5.4. Flexibilização, informalidade, terceirização e precarização das


condições de trabalho.

Flexibilização
A flexibilização da jornada de trabalho parece, num primeiro momento, algo bom, pois
permitem que o trabalho seja realizado de casa, ou nos horários de maior conveniência para o
trabalhador, ou ainda recebendo valores maiores ao fixar vínculos como pessoa jurídica (PJ). A
flexibilização ganha força, contudo, em tempos de crise, pois permite que inúmeras pessoas
obtenham renda de formas não convencionais, sendo vista também como aproveitamento extra
de mão de obra.
Alguns pensadores, contudo, apontam se tratar de uma armadilha, em virtude da redução
de direitos. Por exemplo, podemos verificar uma grande variação no horário de entrada e saída
do turno de trabalho, a necessidade de horas extras (muitas vezes madrugada adentro), aceitar
contratos de trabalho sem direitos sociais, trabalhar fora do horário comercial, tempo parcial ou
ainda trabalho de curta duração.
Não raro encontramos relatos de motoristas de aplicativos comunicando que trabalharam
mais de 14 horas em um único dia. Ou ainda de profissionais que, após o expediente
convencional, ocupam mais horas de seu dia em outras atividades laborais flexíveis. E em caso
de algum acidente ou assalto, é o próprio trabalhador que arca com os prejuízos, sem qualquer
suporte da plataforma.
No caso brasileiro, a reforma trabalhista de 2017 ampliou a flexibilização, precarizando
ainda mais a condição de muitos trabalhadores. O projeto apresentou modalidades como o
trabalho intermitente, demissões por comum acordo e a própria prevalência dos acordos sobre
a legislação.

16
Ceisc Concursos
Sociologia

Precarização do trabalho
A precarização pode ser entendida como qualquer diminuição, redução de direitos e
benefícios trabalhistas aos trabalhadores. Hoje temos um cenário de institucionalização da
instabilidade nas relações laborais.
Situações como perda de direitos e fragilização dos vínculos são cada vez mais comuns,
sendo potencializadas em cenários de crise, nos quais ocorrem demissões em massa.
A precarização também resulta nos altos índices de pessoas exercendo atividades
informais, como venda de produtos nas ruas, seja em esquinas ou semáforos, entrega de
panfletos etc.
A terceirização, por sua vez, consiste na contratação de uma outra empresa para realizar
um determinado serviço. Serviços terceirizados como limpeza e segurança são os mais
buscados, resultando em grandes economias para o contratante, pois não fica responsável pelas
verbas trabalhistas dos funcionários. A legislação, contudo, proíbe a terceirização da atividade
fim, permitindo apenas para as atividades-meio, muito embora existam projetos de lei que
busquem autorizar inclusive a terceirização de atividade-fim.
Para este modelo ser financeiramente rentável para ambas as empresas (contratante e
contratada), por óbvio, o prejudicado será o trabalhador, que receberá salários muito mais baixos
do que aqueles que exercem a mesma função fora da lógica da terceirização.

17
Ceisc Concursos
Sociologia

18

Você também pode gostar