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ADEUS AO TRABALHO?

ENSAIO SOBRE AS METAMORFOSES E A


CENTRALIDADE DO MUNDO DO TRABALHO
ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a
centralidade do mundo do trabalho. São Paulo: Cortez, 2006.
O trabalho deixou a centralidade da sociabilidade humana? O trabalhador perdeu
sua essencialidade para o capital?
CAPÍTULO I
A década de 1980 foi marcada pelo momento de maior crise enfrentada pelo
mundo do trabalho, crise esta que mudou tanto a materialidade do trabalhador, quanto a
sua subjetividade, de um modo geral, a sua forma de ser.
“Em uma década de grande salto tecnológico, a automação, a robótica e a
microeletrônica invadiram o universo fabril, inserindo-se e desenvolvendo-se nas
relações de trabalho e de produção do capital”. (p. 13).
O fordismo, junto ao cronômetro e a produção em massa são substituídos pela
produção e acumulação flexível. Gestam-se os Círculos de Controle de Qualidade
(CCQs), onde a qualidade dos produtos é o almejado, em detrimento da quantidade, o
toyotismo se mescla ou substitui o fordismo na maioria dos países capitalistas.
O trabalho é atingido frontalmente pelo desmonte de direitos, pela sua eminente
descartabilidade.
As crises do capital foram atribuídas aos excessos da produção em massa: “A
crise do fordismo não é nada de novo; é apenas a mais recente manifestação da crise
permanente do capitalismo”. (p. 15).
Os sindicatos e unidades de luta dos trabalhadores tem apresentado maiores
dificuldade em unir os trabalhadores, pelo alto grau de fracionamento das atividades
desenvolvidas.
Nos países de capitalismo central, até 1973 os trabalhadores mantinham um
relativo grau de estabilidade perante a forma de produção e de sua condição particular
de vida, após a crise de 1973, com o período de recessão, o processo de acumulação
passa pelo processo de transição, alterando todo esse escopo.
Essa transição, é acompanhada pelo surgimento de setores de produção
inteiramente novos: novos modos de fornecimento de serviços, novos mercados, uma
diversidade intensa de inovação comercial, tecnológica e organizacional.
O aumento da competitividade e a flexibilidade quanto a força de trabalho, é o
que mais diferencia esse novo modelo do fordismo (ainda que se trate de um
neofordismo). Nesse modelo, as formas industriais são inteiramente novas.
Esse processo de acumulação flexível possui três características: ele é voltado
para o crescimento; esse crescimento se dá pela exploração do trabalho vivo no universo
da produção; e o capitalismo detém uma intrínseca dinâmica tecnológica e
organizacional.
“Em contradições de acumulação flexível, parece que sistemas de trabalho
alternativos podem existir lado a lado, no mesmo espaço, de uma maneira que permita
que os empreendedores capitalistas escolham à vontade entre eles”. (p. 17).
O advento do fordismo foi optado através de quatro fases:
1. A introdução da experiência do ramo têxtil de operar várias máquinas ao
mesmo tempo na indústria automobilística;
2. Como resposta à crise financeira: aumentar a produção sem aumentar os
trabalhadores;
3. A introdução das técnicas de supermercados dos EUA, originando o kanban:
produzir só o necessário no menor tempo possível;
4. Expansão da técnica de kanban para as empresas contratadas e fornecedoras.
O toyotismo enfrentou uma série de lutas sindicais para conseguir se instaurar
hegemônico no Japão, embora tenha saído vitorioso da maioria delas, teve de fazer
algumas concessões e estratégias, entre elas: a criação do sindicalismo de empresa.
“Combinando repressão com cooptação, o sindicalismo de empresa teve, como
contrapartida à sua subordinação patronal, a obtenção do emprego vitalício para uma
parcela dos trabalhadores das grandes empresas [...] e também ganhos salariais
decorrentes da produtividade”. (p. 18).
Características do toyotismo: produção conduzida pela demanda; produção
variada e diversificada, pronta para suprir o consumo; é o consumo quem determina o
que será produzido e não o contrário; estoque mínimo; just in time; kanban; menor
tempo e melhor qualidade; produção flexível; um homem e diversas máquinas;
trabalhador polivalente; trabalhador multifuncional.
O sistema toyotista de produção intensifica a exploração do trabalho, tanto pela
exigência de que os trabalhadores consigam operar em diversas máquinas, quanto pelo
sistema de luzes (verde = funcionamento normal; laranja = intensidade máxima e
vermelha = problemas, é preciso interromper). Esse mecanismo permite intensificar o
trabalho sem estrangular o processo de produção.
O número de trabalhadores efetivos das empresas é mínimo, o aumento se dá
pela contratação temporária, subcontratação e a terceirização de empresas, além das
horas extras.
O toyotismo amplia a exploração, embora conte com maior participação do
trabalhador, ele se classifica como um sistema mais consensual, mais envolvente, mais
participativo, mais manipulatório.
“O resultado do processo de trabalho corporificado no produto permanece alheio
e estranho ao produtor, preservando sob todos os aspectos o fetichismo da mercadoria”,
(p. 23).
CAPÍTULO II
O capitalismo contemporâneo reduziu o número do operariado industrial
tradicional. Em contrapartida, houve um aumento de trabalhadores assalariados na
ampliação do setor de serviços.
Vivencia-se um processo de subproletarização, pela ampliação do trabalho
precário, da terceirização, subcontratação, marcando a dualidade da sociedade
capitalista atual.
Houve uma redução significativa doa indústria manufatureira e dos setores
agrícolas. Um dos pontos que justifica essa redução, está no projeto japonês de eliminar
completamente o trabalho manual da indústria.
“A atual tendência dos mercados de trabalho é reduzir o número de
trabalhadores ‘centrais’ e empregar cada vez mais uma força de trabalho que entra
facilmente e é demitida sem custos”. (p. 28).
Outra tendência do capitalismo contemporâneo é a expansão do contingente de
mulheres empregadas, não só em postos majoritariamente ocupados pelo sexo feminino,
mas por todos os setores de serviços, incluindo a indústria microeletrônica. Isso expõe
um aumento da exploração da força de trabalho, além da sobrecarga doméstica atribuída
como natural à mulher.
Ergue-se uma era baseada no aumento exponencial do setor terciário, ou seja, do
setor de serviços. “O setor de serviços permanece dependente da acumulação industrial
propriamente dita e, com isso, da capacidade das indústrias correspondentes de realizar
mais-valia nos mercados mundiais”. (p. 29).
Além da redução quantitativa dos trabalhadores atuantes no mercado, há uma
impulsão contraditória desses trabalhadores para a qualificação e para a desqualificação.
Com relação a qualificação, Marx disse que o trabalhador se tornaria um “supervisor e
regulação em relação do processo de produção”.
[...] A tendência apontada por Marx [...] deixa evidenciado que,
enquanto perdurar o modo de produção capitalista, não pode se
concretizar a eliminação do trabalho como fonte criadora de valor,
mas, isto sim, uma mudança no interior do processo de trabalho, que
decorre do avanço científico e tecnológico e que se configura pelo
peso crescente da dimensão mais qualificada do trabalho, pela
intelectualização do trabalho social. (p. 31).
Não haverá a eliminação do trabalho dos postos de trabalho do capital, o que
ocorrerá é a intelectualização de uma parcela da classe trabalhadora (crescente e cada
vez mais expressiva).
A generalização da robótica não pode substituir o trabalhador porque robô não
consome, não constitui clientela, portanto, não consegue fazer a economia girar.
CAPÍTULO III

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