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1 Macroeconomia Marginalista

Lembrando que o “Modelo Clássico” é o modelo que explica o funcionamento da


economia no longo prazo, de acordo com todas as correntes marginalistas
1
neoclássicas. A principal conclusão macroeconômica dele é que, em um ambiente de
concorrência perfeita, os mercados de fatores de produção operam de modo a que
tendam ao pleno emprego dos mesmos.

Dados: Variáveis Endógenas:

Tecnologia; Emprego dos fatores;


Determinam
Preferências dos Preços relativos (dos bens e dos
consumidores; fatores);
Dotações de Fatores. Produto e composição do mesmo.

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1 Macroeconomia Marginalista

Lembrando que, em um sistema de equilíbrio geral, todos os mercados operam


simultaneamente, de modo que cada um dos mercados influencia, direta ou
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indiretamente, todos os outros.
A lógica por trás do modelo, simplificadamente, é:
1. A Tecnologia, que apresenta produto marginal decrescente, explica as curvas de
demanda por cada fator e, dados os preços dos fatores, as curvas de oferta de cada
indústria;
2. As preferências (bem comportadas) dos consumidores, dadas as dotações de fatores,
explicam as curvas de oferta de cada fator e as curvas de demanda em cada indústria;
3. Os mercados se equilibram, com excesso de demanda nula em cada um dos mercados de
bens e de fatores.

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1 Macroeconomia Marginalista

Do ponto de vista Macro, de especial interesse são os mercados de fatores:

W LD LS r I S 3

Mercado de Trabalho Mercado de Capital (Fluxo)


L ΔK
LS: vem das preferências entre consumo e lazer
LD: vem da produtividade marginal do trabalho
S: vem das preferências entre consumo presente e consumo futuro
I: vem do produto marginal do capital
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1 Macroeconomia Marginalista

Os impactos de políticas fiscais são observados de forma mais simples no mercado de


capital enquanto fluxo (ou mercado de poupança e investimento):
𝐼 = 𝑆 ; 𝐼 = 𝑆 𝑝𝑟𝑖 + 𝑆𝑔𝑜𝑣 ; 𝐼 = 𝑆 𝑝𝑟𝑖 + 𝑇 − 𝐺 4

No exemplo ao lado, o governo fez uma


r I+G1 Spri+T
política expansionista, elevando os gastos
públicos sem alterar os tributos. Isso pressiona
I+G0 G1>G0
o mercado de bens, elevando a taxa de juros. A
maior taxa de juros faz com que o investimento
caia, contrabalançando parte do aumento dos
gastos. A maior taxa de juros também reduz o
consumo, contrabalançando o restante do
A B C aumento dos gastos governamentais.
A =I0+G0 – velho equilíbrio A =Spri0+ T – velho equilíbrio
B = I1+G1 – novo equilíbrio, I1<I0 B = Spri1+ T – novo equilíbrio, Spri1>Spri0
C = I0 + G1 – seria equilíbrio sem crowding-out |Δ𝐺 | = |Δ𝐼 | + |Δ𝐶 | → ∆𝑌 = 0
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1 Macroeconomia Marginalista

Acima vimos que políticas fiscais apenas alteram a composição do produto, mas não
sua magnitude. Com a política monetária se dá algo semelhante: ela alterará apenas o
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nível de preços. Vemos isso através da TQM:
P
No exemplo ao lado, o governo fez uma
DA DA’ OA
política expansionista, elevando a oferta
monetária. A renda agregada real está dada
pelo pleno emprego, pois todos os fatores estão
empregados. A velocidade de circulação de
moeda está também dada. Portanto, o único
impacto do aumento da oferta nominal de
moeda é a elevação do nível de preços P.
YPE Y
𝑀𝑉 𝑀𝑉̅ ′ ′
𝑀′𝑉̅ ′
𝐷𝐴: 𝑀𝑉 = 𝑃𝑌 → 𝑃 = = , 𝐷𝐴 : 𝑀 𝑉 = 𝑃𝑌, 𝑀 > 𝑀 → 𝑃 =
𝑌 𝑌 𝑌
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1 Macroeconomia Marginalista

Notem que a macroeconomia marginalista neoclássica de longo prazo não é a mesma


coisa que a “Lei de Say”, embora muitos economistas (tanto marginalistas quanto
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heterodoxos) cometam este erro.
Na Escola Clássica, segundo a “Lei de Say”, a demanda agregada e a oferta agregada
são idênticas no longo prazo, isto é, são a mesma função. O emprego não vem,
portanto, de seu equilíbrio, mas sim do ritmo de acumulação de capital, sendo a
situação normal a existência de desemprego estrutural.
Na macroeconomia marginalista neoclássica, demanda agregada e oferta agregada não
possuem os mesmos determinantes. Assim, o emprego advém do equilíbrio entre as
duas, sendo que, no longo prazo, esse equilíbrio se dará com plena utilização dos
fatores de produção. Neste ponto, é que podemos observar a principal diferença nas
conclusões da macroeconomia da Demanda Efetiva em relação ao marginalismo.
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1 Críticas da Heterodoxia PDE à Macroeconomia do Marginalismo Neoclássico

Existem duas formas de se criticar uma teoria. A crítica externa é aquela em que se
pode aceitar a lógica da teoria, mas ataca-se seus pressupostos. A crítica interna é
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aquela em que se aceita os pressupostos da teoria, mas ataca-se a lógica da mesma.
A crítica externa mais importante é aquela levada a cabo por Keynes e seguidores. Ela
diz que a forma com que empresários, trabalhadores e consumidores tomam decisões
no mundo real torna impossível com que os mercados de fatores vistos no slide (3)
possam explicar o emprego dos mesmos.
A crítica interna mais importante é aquela levada a cabo por Sraffa e seguidores.
Através dela pode-se demonstrar que os mercados de fatores do slide (3) tem as
curvas necessariamente naqueles formatos apenas quando existe um único bem de
capital que entra como insumo direta ou indiretamente na produção de todos os bens.

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1 Críticas da Heterodoxia PDE à Macroeconomia do Marginalismo Neoclássico

Caso haja vários bens de capital básicos (que entram na produção de todos os bens direta ou
indiretamente), as curvas podem adquirir esses formatos, por exemplo:
w r r 8

LD KD
? KS
• Crítica sraffiana: se o emprego fosse explicado por esses mercados, veríamos instabilidades que não são
observadas.
• Resposta neoclássica: a possibilidade é apenas teórica e não ocorre na prática, dado que não vemos
instabilidades deste tipo na economia.
• Contra-resposta sraffiana: não vemos essas instabilidades porque não são estes mercados de fatores que
explicam a distribuição de renda e o emprego.
• Resposta neoclássica: mas isso só pode ocorrer em modelo agregados, que são simplificações.
• Contra-resposta sraffiana: a macroeconomia neoclássica depende desses modelos agregados, posto que suas
discussões não podem ser derivadas de modelos de equilíbrio geral walrasianos.
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1 Diferenças entre Heterodoxia PDE e Marginalismo Neoclássico

Marginalismo Neoclássico Heterodoxia do PDE


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Método Individualismo Holismo

Epistemologia Instrumentalismo Realismo

Processo Decisório
Indivíduos Maximizadores Racionalidade Limitada
dos Agentes

Universalizante Específica para cada fenômeno ou


Base Teórica
(utilizada para todos os fenômenos) objeto

Instituições, Geradoras de imperfeições de Explicativas de variáveis que não


História mercado resultam do mecanismo de mercado

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2 Princípio da Demanda Efetiva

Lógica da determinação da renda e emprego na versão Keynes

Y W/P 10

OA
Y* DA PMAL

(W/P)*

L* L L* L
DA: mostra o quanto as firmas esperam conseguir vender dado o emprego total da economia.
OA: Mostra o quanto o quanto o conjunto de firmas exige vender de bens finais para
continuar empregando aquela quantidade de trabalho, incluindo custos e lucro normal.

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2 Princípio da Demanda Efetiva

Multiplicador na versão pós-keynesiana “fundamentalista”:


No exemplo, c=0,5, h=0, CA=0, G=0, T=0
t Y=C+I cY+I C cY I=S sY Δest 11

0 200 200 100 100 100 100 0


1 300 350 100 150 200 150 0
2 350 375 150 175 200 175 0
3 375 387.5 175 187.5 200 187.5 0
4 388 394 188 194 200 194 0
5 394 397 194 197 200 197 0
… … … … … 200 … 0
n 400 400 200 200 200 200 0

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2 Princípio da Demanda Efetiva

D.A.d Multiplicador na versão pós- OA=DA(eq)


keynesiana “fundamentalista” I+cY
. pg = c 12

eq
I1+cY2
S2>sY2
I1+cY1
OA2=DA2=I1+cY1
A= I1 S1>sY1
No exemplo: h=CA=G=T=0
A: gastos autônomos
OA1=DA1=I1+cY0
pg: propensão marginal a
gastar
A= I0 OA0=DA0= I0+cY0
45º Y (Produto; OA; DA)

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2 Princípio da Demanda Efetiva

Multiplicador na versão keynesiana “tradicional” (compatível com contas nacionais):


No exemplo, c=0,5, h=0, CA=0, G=0, T=0
t Y=DA+ΔEi DA=cY+I Produto ΔEi=Prod–DA C = cY I S=sY=I+ ΔE
i 13

0 200 200 200 0 100 100 100


1 200 300 200 -100 100 200 100
2 300 350 300 -50 150 200 150
3 350 375 350 -25 175 200 175
4 375 387.5 375 -12.5 187.5 200 187.5
5 387.5 393.8 387.5 -6.25 193.8 200 193.8
… … … … … … 200 …
n 400 400 400 0 200 200 200

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2 Princípio da Demanda Efetiva

D.A. Multiplicador na versão OA


keynesiana “tradicional” DA
(compatível com contas . pg = c 14

nacionais) eq

DA2
Δest<0
DA1
A= I1 OA2 No exemplo: h=CA=G=T=0
Δest<0 A: gastos autônomos
pg: propensão marginal a
OA1=OA0=DA0 gastar
A= I0
45º Y (Produto; OA)

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2 Princípio da Demanda Efetiva

Multiplicador na versão kaleckiana: (Modelo Kaleckiano Simples)

Economia fechada e sem governo 15

𝑌 =𝐶+𝐼 𝐼𝐴 + ̅̅
𝐶̅̅
𝐾
𝑌=
1 − 𝑐𝑊 𝜔 − 𝑐𝑘 𝜋 − ℎ
𝐼 = 𝐼𝐴 + ℎ𝑌
𝐶 = 𝐶𝑊 + 𝐶𝐾 Por simplificação supõe-se que 𝑐𝑊 = 1 e 𝑐𝐾 = 0, logo:

𝐶𝐾 = ̅̅
𝐶̅̅ ̅̅̅̅ 𝐼𝐴 + 𝐶𝐾
𝐾 + 𝑐𝑘 𝑟𝐾 = 𝐶𝐾 + 𝑐𝑘 𝜋𝑌 𝑌=
𝜋−ℎ
𝐶𝑊 = 𝑐𝑊 𝑊𝐿 = 𝑐𝑊 𝜔𝑌
Daí o aforismo de Kalecki, “os trabalhadores gastam o
𝐿 = 𝑎𝑌
que ganham e os capitalistas ganham o que gastam”:
𝑊𝐿
𝜔= → 𝜔 = 𝑊𝑎 𝑊𝐿 =
⃗⃗ 𝐶𝑊
𝑌
𝑟𝐾 𝑟𝐾 =
⃖⃗⃗ 𝐶𝐾 + 𝐼
𝜋= =1−𝜔
𝑌
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2 Princípio da Demanda Efetiva

No exemplo abaixo, ℎ = 0, 𝐶𝐾 = 0, 𝑐𝑊 = 1, 𝑊 = 2, 𝑎 = 0,25:


O processo multiplicador, aqui, dá
t Y=WL+I I CW=WL L aY especial ênfase à questão do
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emprego. Conforme a demanda e


0 200 100 100 50 50 as vendas se elevam, as firmas
1 300 200 100 50 75 têm a necessidade de aumentar a
produção e, com ela, o emprego.
2 350 200 150 75 87.5 Conforme elas empregam mais,
3 375 200 175 87.5 93.75 mais trabalhadores recebem
salários, que serão convertidos em
4 387.5 200 187.5 93.75 96.88 consumo, elevando novamente as
5 393.75 200 194 96.875 98.44 vendas. As firmas contratarão
para dar conta desse aumento das
… … 200 … … …
vendas, logo novo aumento no
n 400 200 200 100 100 consumo, e assim sucessivamente.

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2 Princípio da Demanda Efetiva

Graficamente, voltando à simplificação tradicional 𝑐𝑊 = 1, 𝑐𝐾 = 0:


𝑊
Ao modificarmos o salário real da
1⁄𝑎 17
economia, caminhamos sobre a curva,
(1 − ℎ)⁄𝑎
conforme o multiplicador se altera.
O ponto 1⁄𝑎 é o máximo salário real
𝑊0 que a tecnologia comporta, caso em que
o lucro seria zero.
O ponto (1 − ℎ)⁄𝑎 é o máximo
salário real compatível com o processo
multiplicador. Salário acima desse
levaria a uma economia restrita pela
𝐶𝐾 + 𝐼𝐴 𝑌0 𝑌 oferta, em uma espécie de Lei de Say.
1−ℎ
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2 Princípio da Demanda Efetiva

Mudanças nos gastos autônomos:


𝑊 O exemplo aqui segue a mesma lógica
do exemplo da tabela da página 14. Um 18

(1 − ℎ)⁄𝑎 aumento nos gastos autônomos provoca,


na renda, um impacto inicial igual a este
aumento. Porém haverá necessidade de
𝑊0 mais trabalhadores, os quais elevarão
seu consumo de acordo com o salário
𝐼𝐴 ↑
vigente, levando a novas contratações, e
𝐶𝐾 ↑
assim por diante.
Graficamente, mudanças nos gastos
autônomos levam a deslocamentos da
𝑌0 𝑌1 𝑌 curva para a esquerda ou para a direita.

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2 Princípio da Demanda Efetiva

Melhora na Produtividade e Desemprego “Tecnológico”:


𝑊 Caso haja uma melhora na produtividade do
(1 − ℎ)⁄𝑎′ trabalho, o coeficiente 𝑎 cai, como no 19

(1 − ℎ)⁄𝑎 exemplo ao lado. Caso o salário real se


mantenha constante (𝑊0 ), o produto cairá.
Isso se deve a que, agora, são necessários
𝑊1
menos trabalhadores para realizar a mesma
𝑊0
produção, portanto o multiplicador diminuiu.
𝑎′ < 𝑎 É necessário que o salário real cresça na
mesma proporção que a produtividade (por
exemplo para 𝑊1 ) para que o Produto se
mantenha constante. Note, porém que caso
isso ocorra, o emprego continuará caindo, já
𝑌1 𝑌0 𝑌 que 𝐿 = 𝑎𝑌. No mundo real, não vemos, nor-
malmente, algo dessa magnitude porque os gastos autônomos (graficamente o ponto de partida da curva)
tendem a crescer com essa melhora tecnológica (ainda que o crescimento não seja causado por ela)
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2 Princípio da Demanda Efetiva

Caso o Salário Real 𝑊 seja função do Produto


𝑊 𝑊
Caso para
20
alguns dos
economistas
kaldorianos
Caso para a
maioria dos
economistas
kaleckianos

Y Y
No primeiro caso, o crescimento do produto, ao gerar menor desemprego, aumenta o poder de
barganha dos sindicatos, que então conseguem maiores salários reais.
No segundo caso, temos um mecanismo de “poupança forçada”, onde um maior produto
pressiona a utilização de capacidade instalada; esta pressão faz as firmas elevarem os preços
em relação aos salários nominais.
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2 Princípio da Demanda Efetiva

Introduzindo comércio internacional:


(1 − 𝑚𝐼 )𝐼𝐴 + (1 − 𝑚𝐾 )̅̅
𝐶̅̅
𝐾+𝑋
𝑀 = 𝑚𝑊 𝐶𝑊 + 𝑚𝐾 𝐶𝐾 + 𝑚𝐼 𝐼 → 𝑌 =
1 − (1 − 𝑚𝑊 )𝑐𝑊 𝜔 − (1 − 𝑚𝐾 )𝑐𝐾 𝜋 − (1 − 𝑚𝐼 )ℎ 21

De forma simplificada:
𝐼𝐴 + 𝐶𝐾 + 𝑋
𝑀 = 𝑚𝑌, 𝑐𝑊 = 𝑠𝐾 = 1 → 𝑌 =
1+𝑚−𝜔−ℎ
Introduzindo Governo, na forma simplificada de acima (e ignorando juros da dívida):
𝐼𝐴 + 𝐶𝐾 + 𝑋 + 𝐺
𝐺 = 𝐺̅ , 𝑇 = 𝑡𝑌 → 𝑌 =
1 + 𝑚 − (1 − 𝑡)𝜔 − ℎ
Se existe meta de superávit primário 𝜖:

𝑒 𝑒
𝐼𝐴 + 𝐶𝐾 + 𝑋 + (𝑡 − 𝜖 )𝑌 𝑒
𝑡𝑌 − 𝐺 = 𝜖𝑌 → 𝑌=
1 + 𝑚 − (1 − 𝑡)𝜔 − ℎ
Se o governo acerta seu produto esperado:
𝐼𝐴 + 𝐶𝐾 + 𝑋 𝐼𝐴 + 𝐶𝐾 + 𝑋
𝑡𝑌 − 𝐺 = 𝜖𝑌 → 𝑌 = =
1 + 𝑚 − (1 − 𝑡)𝜔 − ℎ − 𝑡 + 𝜖 𝑚 + (1 − 𝑡)𝜋 − ℎ + 𝜖
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2 Princípio da Demanda Efetiva

Dúvidas Comuns a respeito do Princípio da Demanda Efetiva

1. Como é possível os gastos determinarem a renda se é necessário renda para que se gaste? 22

Na verdade, para financiar gastos não há necessidade de renda, mas de poder de compra. Este
pode vir na forma de renda corrente, mas também pode vir a partir de crédito e de riqueza.
(“Consumir riqueza” quer dizer que ativos são vendidos para financiar gastos correntes; para
um agente isto é sempre válido; para o agregado, é sempre válido se a riqueza for vendida a
agentes de outro país; caso seja vendida para agentes do mesmo país, o resultado líquido
depende das propensões a gastar do comprador e do vendedor).

2. A massa de salários ser determinada pelas decisões de produzir não mostra que a Produção
determina a Renda?
No caso dos salários, é verdade que, em um ponto qualquer do tempo, as decisões de produzir
por parte das firmas determinam a renda salarial. Mas, para que esta seja sustentável ao longo
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2 Princípio da Demanda Efetiva

do tempo, é necessário que o produto gerado por esses trabalhadores seja vendido, ou seja, o
emprego que gera a massa de salários será justificável de acordo com a magnitude dos gastos.
No caso dos lucros no agregado, mesmo em um ponto específico do tempo, os gastos são os 23

determinantes, pois a massa de lucros é determinada pelas vendas e não pelas decisões de
produção.

3. Como é possível os gastos agregados não serem restritos pela Oferta?


É possível porque, em condições normais, a economia opera com recursos ociosos. De parte da
capacidade produtiva, as firmas operam, normalmente, com algum grau de ociosidade (fora os
estoques, em alguns setores, que podem atender flutuações de demanda no curtíssimo prazo).
Do ponto de vista da força de trabalho, ela só será plenamente empregada caso os gastos sejam
altos o suficiente para fazer o emprego de equilíbrio ser pleno. No curto prazo, gastos elevados
poderiam levar a economia a alguma restrição. No longo prazo, gastos elevados induziriam a

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2 Princípio da Demanda Efetiva

um maior crescimento da capacidade de oferta, tanto do lado do capital quanto do lado do


trabalho, dentro de certos limites, principalmente do ponto de vista de solvência externa.
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4. O governo poderia “empurrar” a demanda agregada até que houvesse pleno emprego?
Para Keynes, Kalecki e a maioria dos economistas da macroeconomia da demanda efetiva, sim.
Mas a questão que se colocava para Kalecki, assim como para vários outros economistas
heterodoxos e cientistas políticos, seria a capacidade política de o governo tomar as melhores
decisões a respeito de sua política econômica. Na visão de Kalecki (ignorando aqui a questão
do balanço de pagamentos e da dívida, a serem discutidos em aulas futuras), o governo teria a
capacidade de, via política fiscal, alcançar o pleno emprego se desejasse. O porém é que, em
geral, o governo não desejaria fazê-lo, devido a uma série de condicionantes políticos. Por
exemplo, haveria quatro formas básicas (para Kalecki) de se buscar o pleno emprego:
i) Induzindo aumento no investimento, com redução na tributação e nos juros;
ii) Induzindo aumento no consumo, através de transferências aos mais pobres;
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2 Princípio da Demanda Efetiva

iii) Induzindo aumento no consumo, através de mudança na distribuição de renda;


iv) Elevando diretamente a demanda agregada, via gastos governamentais.
A opção mais eficiente seria a opção iv, via gastos diretos do governo, ao passo que a opção 25

socialmente mais impactante seria a opção iii, redistribuindo a renda. No entanto, politicamente,
a opção mais viável ao governo é sempre a opção i, que ao mesmo tempo é a que apresentaria
menor chance de sucesso.
Por que isso? Uma série de fatores explicaria:
i) Defesa, por parte dos grandes capitalistas, de um sistema de laissez-faire;
ii) Oposição, pelos mesmos, a um direcionamento do gasto público;
iii) Oposição, pelos mesmos, à redistribuição de renda;
iv) Oposição, pelos mesmos, às mudanças sociais advindas da existência continuada do
pleno emprego.

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3 Consumo

Por que representar o consumo dos capitalistas como autônomo?

Devido à posição das firmas no processo produtivo determinar que o consumo dos capitalistas, enquanto
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classe, não pode ser completamente financiado por rende corrente, sabendo que a renda capitalista é oriunda
dos lucros distribuídos pelas firmas. Suponha que, por extrema simplificação, dêem-se concomitantemente
as produções de todas as firmas, a venda dos bens produzidos, o pagamento de salários e o aferimento de
lucro. Em um primeiro momento, as firmas decidem o quanto irão contratar de trabalhadores, o quanto irão
produzir e o quanto planejarão investir. Em um segundo momento, os trabalhadores contratados realizam o
processo produtivo e, ao final, recebem seus salários. Em um terceiro momento, os bens são levados a
mercado, os consumidores compram os bens de consumo, as firmas repõem seus bens de capital circulante
e compram seus bens de capital fixo. Em um quarto momento, as firmas comparam as receitas obtidas no
terceiro momento com os custos do segundo momento, aferem seus lucros e os distribuem aos capitalistas.
Percebe-se que, no caso dos trabalhadores, a renda deste período foi usada para financiar seus gastos deste
período. No caso dos capitalistas enquanto classe (não necessariamente de cada um deles individualmente),
a renda (lucro distribuído) é recebida apenas depois de realizados os gastos. Portanto seus gastos no terceiro
momento, e os gastos das firmas no segundo momento, não foram financiados pelos lucros deste período,
mas sim por crédito ou por poupanças de períodos anteriores.
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3 Consumo

E se os trabalhadores puderem financiar consumo com crédito?

Neste caso, eles também terão um consumo autônomo tal qual os capitalistas. Este consumo autônomo
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gerará dívida, que configurará pagamentos de juros e amortizações no futuro. Por exemplo:
𝐶𝑊 = 𝐴 + 𝑐𝑊 (𝜔𝑌)𝑑
Onde (𝜔𝑌)𝑑 é a massa salarial que é disponível para consumo após pagamentos dos serviços da dívida:
𝐶𝑊 = 𝐴 + 𝑐𝑊 (𝜔𝑌 − 𝑖𝐷 − 𝜃𝐷)
Onde 𝑖 é a taxa de juros, 𝜃 é o quanto se amortiza da dívida e 𝐷 é o estoque de dívida. É de se esperar que a
dívida contratada tenha algum ritmo de amortização 𝜃̅ estipulado pelos bancos. Não necessariamente o
conjunto dos trabalhadores conseguirá honrá-lo. Se:
𝜃 = 𝜃̅, os trabalhadores amortizam no ritmo combinado com os bancos;
0 < 𝜃 < 𝜃̅ , os trabalhadores atrasam seus pagamentos, mas ainda assim pagam suas dívidas;
𝜃 = 0, os trabalhadores apenas pagam os juros, não amortizam a dívida e “rolam” a mesma;
−𝑖 < 𝜃 < 0, os trabalhadores não conseguem pagar todos os juros, fazendo a dívida antiga aumentar;
𝜃 = −𝑖, os trabalhadores não pagam nada dos juros.
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3 Consumo

A dívida dos trabalhadores crescerá necessariamente ao longo do tempo de acordo com:


𝜕𝐷
= 𝐴 − 𝜃𝐷
𝜕𝑡 28

Se os trabalhadores amortizam suas dívidas antigas, então a dívida 𝐷 crescerá, no longo prazo, ao ritmo da
contratação de novas dívidas 𝐴. Ou seja, a taxa de crescimento de 𝐴 dará a taxa de crescimento de 𝐷 no
longo prazo.
Caso os trabalhadores não consigam pagar todos os juros, o crescimento da dívida ao longo do tempo
dependerá dos juros não pagos. Especificamente no caso em que nenhum juros é pago:
𝜕𝐷
= 𝐴 + 𝑖𝐷
𝜕𝑡
Aqui, a dívida crescerá puxada tanto pelas novas dívidas quanto pelos juros das dívidas anteriores. No
longo prazo, sua taxa de crescimento será igual à taxa de crescimento de 𝐴 ou será igual à taxa de juros 𝑖,
dependendo de quem for maior.

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3 Consumo

Os capitalistas são donos das firmas e dos bancos. Supondo que os bancos distribuem todos os seus ganhos
para os capitalistas, teremos que além do lucro que recebem via produção, também ganharão os juros pagos
pelos trabalhadores. Caso os capitalistas tenham consumo induzido, teremos: 29

̅̅̅̅
𝐶𝐾 = 𝐶 𝐾 + 𝑐𝐾 (𝜋𝑌 + 𝑖𝐷 ) , 𝑠𝑒 𝜃 > 0
𝐶𝐾 = ̅̅
𝐶̅̅
𝐾 + 𝑐𝐾 [𝜋𝑌 + (𝑖 + 𝜃 )𝐷 ] , 𝑠𝑒 𝜃 < 0

Supondo que os trabalhadores amortizem suas dívidas antigas e economia fechada e sem governo:
𝐼𝐴 + ̅̅
𝐶̅̅
𝐾 + 𝐴 − (𝑐𝑊 − 𝑐𝐾 )𝑖𝐷 − 𝑐𝑊 𝜃𝐷
𝑌=
1 − 𝑐𝑊 𝜔 − 𝑐𝑘 𝜋 − ℎ
1. No curto prazo, os trabalhadores se endividarem terá um impacto positivo no produto e no emprego.
2. No longo prazo, o impacto dependerá de o impacto positivo dos novos empréstimos 𝐴 ser mais forte que
o impacto negativo das dívidas anteriores 𝐷, isto é, 𝐴 não crescer mais devagar que 𝐷.
3. Para 𝐴 continuar crescendo, a dívida deve ser sustentável, isto é, a massa salarial (crescendo ao ritmo do
produto 𝑌) não pode crescer mais devagar que as dívidas dos trabalhadores, ou os bancos cortarão 𝐴.

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3 Consumo

Renda Relativa

Nos anos 40 o economista James Duesenberry desenvolveu a hipótese de que o consumo de um indivíduo
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dependeria não apenas de sua renda, mas também da renda típica do grupo social a que pertence. Isso quer
dizer que, se um indivíduo se identifica com determinada camada social, ele tentará ter seu consumo
relativamente próximo ao do indivíduo médio deste grupo caso sua renda caia, ao invés de ter seu consumo
caindo na mesma velocidade da renda. Para aumentos de renda, isso também significa que seu consumo não
crescerá à mesma taxa, mas a uma menor:
𝐶𝑗 = 𝑐1 𝑌𝑗 + 𝑐2 𝑌𝑔𝑟𝑢𝑝𝑜−𝑗 , 𝑐1 + 𝑐2 ≤ 1
Quando se usa essa idéia como base para o consumo agregado, normalmente se considera que o consumo
dependerá não apenas da renda corrente, mas também da renda de pico anterior, pois a mesma determinou
certo padrão de consumo que não se quer perder. No caso dos trabalhadores:
𝐶𝑊 = 𝑐𝑊,1 𝜔𝑌 + 𝑐𝑊,2 (𝜔𝑌)𝑚𝑎𝑥 , 𝑐𝑊,1 + 𝑐𝑊,2 ≤ 1
Nesse caso, a mera flutuação da renda faz com que o consumo tenha tendência de crescimento, o que
explicaria a tendência do Produto para alguns. Note que talvez seja necessário usar o modelo com crédito

UFRRJ / IM / 2021.1 – Macroeconomia 4 – Professor Leandro Fagundes


5 Crescimento

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