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ENSINAMENTO DA AULA 2 - CAPÍTULO 1

CONSCIENTIZAÇÃO DE SUA MISSÃO DIVINA

O fundador, que retornara à Omoto após o grande terremoto ocorrido na Região


Kanto em 1923, lia os livros dessa igreja, especialmente o “Ofudessaki”, empenhando-
se em pesquisar o Mundo do Mistério. Em contato com um grupo que fazia pesquisa
parapsicológica, leu diversas obras sobre o assunto e dedicou-se ao estudo da existência
do Espírito Divino, da relação entre Deus e o homem, dos princípios fundamentais da fé
e outras questões. A esse respeito ele escreveu:

“Minha vida sofreu uma mudança de 180 graus. Fiquei sabendo que o ser humano
recebe a proteção de Deus e que, se ele não reconhece a existência do espírito, não passa
de um ente vazio. Mesmo nas pregações morais, caso não o façamos reconhecer essa
existência, as pregações não passarão de sermões sem valor.”

Entre os livros que o Fundador leu nessa época figuram “The Survival of Man”
(Londres, 1909) e “ Gone West: Three Narratives of After-Death Experiences” ( Londres,
1917), da autoria dos ingleses Sir Oliver Lodge e John Sebastian Marlow Ward,
respectivamente. Neles se registram diversos fenômenos espirituais de forma objetiva
e experimental, mostrando claramente a realidade do Mundo Espiritual do Ocidente. O
Fundador, que não gostava de recorrer ao subjetivismo e atribuía muita importância às
provas objetivas, deu grande valor a essa forma de pesquisa parapsicológica, tendo
aprendido bastante com os referidos livros.
Para o Fundador, a emoção de ver abrir-se o Mundo do Espírito Divino, um
campo até então totalmente desconhecido, pelo qual o seu interesse aumentava cada
vez mais, era algo semelhante à paixão. A atração que ele sentia pelo mistério
encerrado no âmago das religiões, assemelhava-se à atração por um namorado a quem
se ama infinitamente. Ele voltou-se para o Mundo do Espírito Divino com o mesmo
ardente desejo que leva alguém a se aproximar da pessoa amada para conhecê-la de
forma ainda mais profunda. A partir de sua experiência, o Fundador escreveu: “ O ponto
culminante da fé é a paixão por Deus”.
A palavra japonesa shukyo significa religião, e essa é uma tradução dos termos
em inglês e alemão provenientes do latim religio, cujo sentido é “ estar ligado”, “pensar
sempre em uma mesma coisa”, “ficar fascinado”. A paixão é a mais simples expressão
desse conceito.
O Fundador expressa esse sentimento nos seguintes poemas:

É possuindo uma paixão calorosa pelo ser humano


Que é possível apaixonar-se por Deus
A ponto de se Lhe entregar a vida.

Conheci uma paixão que supera as paixões


Às quais doei minha vida.

Foi por volta do Período Taisho que fatos misteriosos começaram a ocorrer à sua
volta. Quando isso se verificou, ele ainda não tinha se conscientizado claramente de sua
afinidade e missão, mas a atuação do Mundo Divino já havia começado silenciosamente.
O fato que se segue teria se passado em 1924, quando Hidemassa Noguti, que
trabalhava com cartografia, foi visitá-lo e pediu que lhe falasse sobre a Oomoto.
Conversaram sobre a fé e, durante a conversa, olhando para o rosto do Fundador, de
repente Noguti lhe perguntou: “A Oomoto tem relação com Kannon?”.
Naquele momento, repentinamente, Noguti tivera a visão espiritual da figura de
Kanzeon Bossatsu ( Kannon) e contara ao Fundador.
Assim, vez por outra, Kannon surgia perto do Fundador e as pessoas a
enxergavam.
Relembrando diversos fatos que vieram ocorrendo desde sua infância, o
Fundador conscientizou-se da grande afinidade que tinha com Kannon desde suas vidas
anteriores.

”Conscientização de sua missão divina”,Luz do Oriente,vol.1, p. 301-305, 4ª ed,


TRECHOS.
ENSINAMENTO DA AULA 2 - CAPÍTULO 1

A LOJA DE MIUDEZAS KORIN-DO

Graças ao amor e aos cuidados do pai, o Fundador não ficou em dificuldades no


que se referia ao capital para abrir a loja de antiguidades. Agora que Kissaburo já não
existia, administrar a loja de antiguidades sozinho e com tão pouca experiência, parecia-
lhe uma grande aventura. Não tendo conseguido tornar-se pintor e vendo também
fechado o caminho dos negócios, que deveria fazer?
Um dia, um conhecido que frequentava sua casa, foi visitá-los e disse: “Na Rua
Nishinaka, no bairro de Oke-tyo, está à venda uma loja de miudezas. Que tal?
As lojas de miudezas vendiam batom, pó de arroz, pentes, adornos para o cabelo
e outros artigos femininos. Indeciso, alegando que nada entendia a respeito do assunto,
o Fundador recusou o oferecimento, mas sua mãe, que estava presente, incentivou-o:
”Não se preocupe. Cuidarei do que você não souber.”
Movido pela perspectiva de contar com a ajuda da mãe, o Fundador decidiu-se,
adquirindo os direitos sobre a loja. Isso se deu após a realização do ofício religioso de
quarenta e nove dias do falecimento de Kissaburo, quando fazia pouco tempo que a vida
da família Okada voltara à normalidade.
A loja era pequena e ficava em um imóvel alugado, com uma entrada que media
aproximadamente três metros. O Fundador deu-lhe o nome de Korin-do, em
homenagem a Korin Ogata – um dos pintores representativos do Japão - , cujas obras
ele apreciava há muito tempo, considerando-as como manifestação da mais elevada
arte. Mesmo ao aprender “maki-e” e ao criar as próprias obras, o Fundador tinha por
objetivo vivificar a arte de Korin na atualidade. Assim, quando abriu a loja de miudezas,
concretizando um desejo acalentado há tantos anos, colocou à venda suas peças de
maki-e e deu ao novo estabelecimento o nome daquele pintor, que ele admirava
profundamente.
Apesar de se sentir confuso no início, uma vez que o negócio caminhava, o
Fundador se dedicou a ele de corpo e alma. Acordava bem cedo, fazia a limpeza da loja,
saía para comprar mercadorias e, depois que voltava, começava a atender os clientes.
Era assim todos os dias.
A loja prosperava cada vez mais. Em pouco tempo, o movimento era tão grande
que faltava mão de obra.
Nessa época, um parente seu, com muita experiência na vida, fez-lhe uma
advertência.. A propósito dessas orientações , o Fundador escreveu:

“ Ele dizia reiteradamente: “ Um indivíduo tão honesto como você nunca vai
conseguir sucesso neste mundo. Os bem-sucedidos de agora pregam boas mentiras;
portanto, é preciso que você proceda de acordo com o “princípio triangular”1. Achei que
ele tinha razão e, depois que me tornei independente, esforcei-me bastante para mentir
com habilidade. Contudo, nada ia bem; além disso, eu sempre sentia o coração apertado.
Como resultado pensei: “Mentir não é para mim. Mesmo que eu não alcance o sucesso,
vou voltar a agir com a honestidade de sempre.
Assim decidi, assim fiz. Inesperadamente, as coisas melhoraram. Eu me sentia
bem, e as pessoas confiavam em mim. Fui prosperando rapidamente.
Dez anos depois de ter começado como um pequeno comerciante quase sem
nenhum capital, já era considerado um dos poucos bem-sucedidos, coisa muito rara na
época.”

Apesar do progresso da loja, o Fundador passou por mais uma decepção: teve
de desistir da produção de “maki-e”.
Conforme narramos, o Fundador também vendia peças de maki-e ; não só as que
ele criava, mas também as que ele desenhava e pedia para outros artesãos confeccionar.
Um dia, cortou o nervo do dedo indicador da mão direita e não conseguiu mais dobrá-
lo. Assim, o Fundador não teve outro jeito senão desistir da produção dessas peças.
Na época, sendo muito jovem ainda e tendo grandes aspirações em relação a
essa arte, ele devia sentir muita angústia e tristeza olhando para o dedo direito, que
perdera o movimento.

“ A loja de miudezas Korin-do “,Luz do Oriente, vol. 1, p.163- 167, 4ª ed, TRECHOS

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1– Método de procedimento no qual faltam o senso de justiça, o calor humano e a amizade.
ENSINAMENTO DA AULA 2 - CAPÍTULO 1

UMA ADMINISTRAÇÃO RACIONAL

Uma das razões pelas quais a Loja Okada teve um grande crescimento em curto
espaço de tempo, foi o dom excepcional que o Fundador tinha para o desenho. Da
mesma maneira, sua forma de administração, sempre avançada em relação à época,
contribuiu muito para essa expansão.
Nas lojas tradicionais do Japão, adotava-se o sistema de aprendizes. Após o
jovem terminar esse período de aprendizagem, em que não recebia remuneração,
quando ele atingia a idade de 17 ou 18 anos, finalmente, passava a ser remunerado.
Aproximadamente depois de dez anos de serviço, era promovido a gerente. Quando a
pessoa já tinha muito tempo de serviço, era-lhe atribuído um capital e fregueses, para
que se tornasse independente e abrisse uma loja com o mesmo nome. Por trás dessa
tradição, havia o conceito de família, que constituía e sustentava a sociedade japonesa
desde os tempos antigos. Entretanto, a rápida ocidentalização ocorrida a partir do
Período Meiji foi modificando bastante a estrutura tradicional da sociedade japonesa.
Chegara a época em que, pouco a pouco , iria desaparecer, nas casas comerciais, a
rigorosa relação entre superior e subalterno, a qual estava baseada no conceito de
família.
Entre 1913 e 1914, o Fundador aprendeu claramente essa mudança e, embora
isto fosse uma exceção no mundo das lojas de miudezas, adotou, em seu
estabelecimento, uma forma mais prática de administração, o que há muito tempo
planejava fazer.
Em primeiro lugar, modificou o sistema de aprendizes que adotara até o
momento e instalou departamentos de contabilidade, de administração, de vendas,
colocando neles as pessoas adequadas. Planejava também a promoção dos
funcionários. Trabalhando de acordo com seu propósito, os empregados, que eram de
sua confiança, esforçavam-se pelo progresso dos negócios, dando o máximo de si para
corresponder às expectativas do patrão.
Na ocasião de designar os empregados, o Fundador não levava em conta se eram
parentes ou amigos; escolhia os melhores, de maneira justa.
A segunda medida de racionalização, foi tornar mensal a remuneração dos
empregados e introduzir o sistema de comissão. Cada funcionário passou a ter um
salário fixo, ao qual era acrescentada comissão sobre as vendas concretizadas.
O salário fixo não diferia muito do que era pago pelas outras lojas. Todavia, como
a ele se acrescentava a comissão sobre as vendas, tornava-se muito superior.
Consequentemente, não havia uma única pessoa que pensasse em deixar a Loja Okada.
No sistema de comissão, os rendimentos variam de acordo com a capacidade e
o esforço da pessoa. Assim, esta se entusiasma com o trabalho, e a loja prospera.
A terceira medida de administração racional da Loja Okada referia-se aos dias de
descanso e aos benefícios dos funcionários. O Fundador adotou o sistema de descanso
semanal, muito raro no comércio de miudezas. Os comerciantes comuns só fechavam
seus estabelecimentos nos Dias de Finados e no Ano-Novo.
No início do Período Taisho, o Fundador alugou um terreno e aí construiu duas
casas térreas. O lugar era chamado de Kanazawa Hakkei e possuía uma paisagem
pitoresca: atrás estava a região montanhosa da Península Miura, e avistava-se até a
longínqua Península Boso, que ficava do outro lado de uma pequena baía.
Ele gostava muito dessa paisagem. Foi nessa casa de veraneio que lhe ocorreu a
ideia do Diamante Asahi, ao ver o sininho balançando ao vento, após um cochilo à tarde.
E ele não sentia prazer em desfrutar desse belo ambiente apenas com familiares;
por essa razão, deixava seus funcionários usar a casa.
E não era só. Quando os funcionários da loja e até os amigos deles adoeciam, o
Fundador os levava para essa casa, a fim de que se restabelecessem.
Dessa forma, o Fundador oferecia sua casa para servir ao maior número de
pessoas.
Como administrador, ele controlava os planos mais importantes; todavia,
confiando nos empregados, deixava o máximo que podia nas mãos deles. Uma vez que
lhes delegava responsabilidades, não se intrometia no trabalho por qualquer motivo.
Dirigia a loja de forma bem aberta, favorecendo os que obtinham bons resultados.
Assim, os funcionários trabalhavam honestamente e sem preocupações, e o ambiente
da loja era sempre animado.

“ Uma administração racional “, Luz do Oriente, vol. 1,p.220 a 225,4ª ed, TRECHOS
ENSINAMENTO DA AULA 2 – CAPÍTULO 1

ESPÍRITO DE SERVIR AO PRÓXIMO

A Loja Okada parecia um barco navegando com vento favorável. Seria bem
adequado dizer que ela ia “ de vento em popa”. Visto que o empreendimento que
iniciara sozinho obteve um grande sucesso em pouco tempo, é natural que o Fundador
tenha sentido uma grande confiança em seu talento e competência, tornando mais
sólida a crença de que a felicidade ou a infelicidade dependem totalmente do esforço e
da capacidade da própria pessoa. Ao mesmo tempo, o pensamento materialista e ateu
que tinha desde jovem se fortalecia cada vez mais.
Até por volta dos 40 anos, o Fundador nunca tinha rezado. Além de não rezar,
achava tolas as pessoas que professavam alguma religião. Para ele, as imagens dos
santuários eram simples espelhos, pedras ou letras escritas em papel; portanto, não
fazia sentido adorá-las.
Seu pensamento ateísta evoluiu mais ainda. A constatação de que os países que
possuem muitas igrejas antigas, como a Itália, por exemplo, estavam em decadência, e
que, países como os Estados Unidos, vinham alcançando um grande progresso, levou-o
a pensar que os templos e os santuários eram um obstáculo para o progresso do Japão.
Entretanto, nessa época, o Fundador fazia doações regularmente ao Exército da
Salvação 1. Certa vez, um pastor visitou-o e perguntou-lhe: “ As pessoas que contribuem
para o Exército da Salvação geralmente são cristãs. Por que o senhor contribui, se não é
cristão?” Ele respondeu claramente:

“ O Exército da Salvação trabalha para a recuperação de ex-presidiários, transformando-


os em pessoas de bem. Se ele não existisse, talvez um desses ex-detentos já tivesse
invadido a minha casa para me roubar. Portanto, se o Exército da Salvação está
impedindo que isso ocorra, é natural que eu seja agradecido e colabore com suas obras.”

( Coletânea Alicerce do Paraíso, volume 1 – “ Existem divindades?”)

Dessa forma, o Fundador era ateu convicto, mas tinha um profundo desejo de
praticar boas ações em favor do próximo.
Muitos episódios dessa época mostram seu grande exemplo em servir aos
homens e ao mundo.
A história a seguir refere-se a uma moça de cerca de 16 anos que trabalhou por
uns tempos na casa do Fundador. Tendo ela ficado doente, ele a mandou de volta para
a casa, na província de Tiba. Entretanto, pouco tempo depois, a moça apareceu
inesperadamente, muito pálida. Indagada sobre o que se passou, respondeu que, a
doença se agravara, tendo sido diagnosticada com tuberculose em estado avançado.
Pelo fato de seu lar ser muito pobre, ela não conseguia cuidar da saúde. Olhando
comovido para a jovem, que falava em prantos, o Fundador lhe disse: “ É um absurdo
você trabalhar nessas condições. Volte imediatamente para casa, pois, enquanto você
estiver viva, eu lhe enviarei a quantia necessária para o seu sustento e tratamento
médico.”
Os parentes e amigos do Fundador, desaprovando sua atitude, recriminaram-no:
“ Se essa moça tivesse possibilidade de se curar, ainda vá lá. Do jeito que está, é certo
que vai morrer. O que adianta ajudar alguém que está condenado à morte? Se ela
pudesse retribuir-lhe o favor, trabalhando, depois que ficasse boa, ainda bem ... mas
não é o caso.” Como havia tomado aquela iniciativa, sem pensar em lucros ou perdas, o
Fundador lhes respondeu:

“ Não tenho a mínima intenção de ser recompensado pelo que estou fazendo. Ajudar as
pessoas visando à recompensa é uma espécie de troca. É como vender favores. Eu ajudo
essa moça porque tenho pena dela e não posso deixa-la desamparada. É um sentimento
que surge naturalmente em mim.”

Conta-se, também, que, certo dia, o Fundador se acomodou em um jinriquixá e,


mal este começou a andar, percebeu que o condutor era um novato, sem nenhuma
prática. Percebendo isso, o Fundador perguntou: “ Você ainda é novato nesse serviço,
não é? O rapaz, continuando a puxar o jinriquixá, respondeu: “Sim, faz pouco tempo que
comecei. Na verdade, eu sou estudante e não queria estar fazendo esse serviço, mas
pretendo continuar até me formar.” O Fundador deu então seu endereço e disse-lhe
que fosse à sua casa, pois gostaria de ajudá-lo. O Fundador prometeu que lhe enviaria a
quantia para ele pagar as despesas escolares até se formar. Ouvindo isso, a alegria do
estudante foi tão grande que ele se levantou da cadeira e, sentando-se no tapete à
maneira japonesa, fez uma profunda reverência em agradecimento.
O Fundador sofrera com a pobreza desde a infância e conhecia bem a infelicidade
que ela acarretava. Graças ao seu contínuo esforço e à sua capacidade , tornara-se um
homem rico, mas jamais esqueceu as circunstâncias por que passara em tempos antigos.
Ao ouvir a história de vida do estudante, não conseguiu abandoná-lo, como se o caso
não lhe dissesse respeito.

“Espírito de servir ao próximo”, Luz do Oriente, vol.1, p.238-244, 4ª ed, TRECHOS


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SEGUNDO NASCIMENTO

Depois de recuperar a tranquilidade em sua vida pessoal com o segundo


matrimônio, o Fundador empreendeu todas as suas forças para recuperar-se nos
negócios. Aparentemente, sua vida de empresário não mudara. No entanto, devido às
amargas experiências que passara com a morte da esposa e das filhas e com a falência,
começava, bem no seu íntimo, uma grande mudança de pensamento.
Desde cedo, sempre negara a existência de Deus. Para ele, as imagens dos
santuários xintoístas, as estátuas budistas e as cruzes cristãs eram objetos feitos pelo
ser humano; razão pela qual, parecia-lhe por demais irracional adorar o que ele próprio
criou. O Fundador achava que a vida era algo que se construía com o esforço e o talento
de cada um, crença que também aplicava à vida cotidiana. Em suma, tinha absoluta
confiança em seu potencial e acreditava que, se somasse esforços e vivesse
corretamente, não havia nada no mundo que pudesse sair em desacordo com os seus
desejos. Entretanto, chegou à época em que essa autoconfiança desmoronou
facilmente.
Os seguidos e sérios infortúnios que o atingiam – a falência nos negócios e a
morte da esposa e filhas -, levaram-no a sentir de forma intensa a insignificância da força
humana e a insondável profundidade do destino. A visão que, até aquele momento, o
Fundador tinha da vida e do mundo, mudou por completo, e ele, que era ateu, como se
não fosse a mesma pessoa, passou a pesquisar diversas religiões, em busca do caminho
da salvação, isto é, de uma forma para se livrar dos infortúnios.
Na ocasião em que ele estava buscando o caminho da salvação, desenvolviam-
se muitas atividades religiosas em Tóquio.
Embora fosse comerciante, ele não era uma pessoa que avaliasse as coisas pelas
vantagens ou desvantagens que elas proporcionavam. Não negligenciava esse aspecto,
mas não tinha pena de gastar dinheiro naquilo que acreditava ser correto. Uma vez que
sempre fora uma pessoa muito ativa desde jovem, o Fundador orgulhava-se de ter
somado boas ações dentro do que lhe era possível fazer. Apesar de tudo isso, o que o
destino lhe lançava era muito trágico. Assim, quanto mais ele pensava na razão pela qual
era atormentado por tantos sofrimentos, menos entendia. Perguntou-se, então, se não
seria possível esclarecer essas dúvidas entrando para a fé. Todavia, seu desejo de
encontrar uma religião que o atraísse realmente, não se concretizava.
Nessa época, a religião Oomoto se desenvolvia ativamente, fazendo muita
propaganda em jornais e realizava palestras em diversas regiões do país. Certo dia, o
Fundador foi a uma das conferências. Sentiu, então, que algo o atraía fortemente. Para
ele, que, devido aos constantes sofrimentos, viera perguntando a si mesmo o significado
da vida, era uma luz em meio às trevas. Assim, decidiu ingressar naquela religião. Isso
ocorreu em junho de 1920.
O que o fez sentir-se atraído pela Oomoto, entre tantas religiões, foi
principalmente o propósito que ela mantinha de reformar o mundo. Todas as partes do
Ofudesaki referem-se a essa reforma e reconstrução, bem como afirmam que, com a “
grande limpeza e lavagem” do universo, a Terra se converterá no Reino de Deus. O
Fundador tinha um inato sentimento de justiça, muito mais forte que o das pessoas
comuns. Levado por esse sentimento, pensara em fundar uma empresa jornalística,
objetivando a construção de uma sociedade sem maldade.
O segundo motivo pelo qual o Fundador se sentiu atraído pela Oomoto foi o
ensinamento relacionado aos tóxicos contidos nos remédios.
Ele, que era doentio desde criança, confiava na medicina. Mais tarde, devido à
experiência que teve com as dores de dentes, sentiu na pele o terrível mal que era o
remédio e entendeu com profundidade sua toxicidade. O remédio, que deveria curar a
doença, na verdade, era a causa dela. Isso se deu por volta de 1914 ou 1915. Anos
depois, ele teve ainda mais convicção ao ver expostas as mesmas ideias no Ofudesaki.
O Fundador penetrou no mundo da fé como se estivesse sendo atraído por um
imã.
No verão de 1920, sucedeu-se um fato inesperado: Hikoitiro, sobrinho do qual
ele vinha cuidando há longo tempo como se fosse seu filho, faleceu, vítima de um
acidente.
Por tratar de um fato ocorrido durante a viagem de aprimoramento, foi um
grande choque para o Fundador, que tinha um carinho especial pelo sobrinho.
Depois desse acontecimento, e com as expectativas de recuperação dos
negócios, o Fundador acabou afastando-se da Oomoto por aproximadamente três anos.
Entretanto, os olhos que uma vez foram abertos para o mundo invisível, nunca mais se
fecharam. Com a morte de seu amado sobrinho, ele sentiu que o destino do homem é
movido por uma força invisível e então se concentrou no mundo da religião,
pesquisando o Ofudesaki, os fenômenos parapsicológicos, entre outros temas. Aquele
homem que sempre fora completamente ateu, tornou-se teísta, o que mostra ter-se
operado nele uma mudança de 180 graus. É a chamada conversão. Relembrando essa
época, em que despertou para a existência do Mundo Espiritual e mudou sua visão sobre
a vida, o próprio Fundador disse claramente: “ Foi meu segundo nascimento nesta vida.”

“ O segundo nascimento”, Luz do Oriente, vol.1 , p. 272/278, 4ª ed, TRECHOS

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