Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
“Minha vida sofreu uma mudança de 180 graus. Fiquei sabendo que o ser humano
recebe a proteção de Deus e que, se ele não reconhece a existência do espírito, não passa
de um ente vazio. Mesmo nas pregações morais, caso não o façamos reconhecer essa
existência, as pregações não passarão de sermões sem valor.”
Entre os livros que o Fundador leu nessa época figuram “The Survival of Man”
(Londres, 1909) e “ Gone West: Three Narratives of After-Death Experiences” ( Londres,
1917), da autoria dos ingleses Sir Oliver Lodge e John Sebastian Marlow Ward,
respectivamente. Neles se registram diversos fenômenos espirituais de forma objetiva
e experimental, mostrando claramente a realidade do Mundo Espiritual do Ocidente. O
Fundador, que não gostava de recorrer ao subjetivismo e atribuía muita importância às
provas objetivas, deu grande valor a essa forma de pesquisa parapsicológica, tendo
aprendido bastante com os referidos livros.
Para o Fundador, a emoção de ver abrir-se o Mundo do Espírito Divino, um
campo até então totalmente desconhecido, pelo qual o seu interesse aumentava cada
vez mais, era algo semelhante à paixão. A atração que ele sentia pelo mistério
encerrado no âmago das religiões, assemelhava-se à atração por um namorado a quem
se ama infinitamente. Ele voltou-se para o Mundo do Espírito Divino com o mesmo
ardente desejo que leva alguém a se aproximar da pessoa amada para conhecê-la de
forma ainda mais profunda. A partir de sua experiência, o Fundador escreveu: “ O ponto
culminante da fé é a paixão por Deus”.
A palavra japonesa shukyo significa religião, e essa é uma tradução dos termos
em inglês e alemão provenientes do latim religio, cujo sentido é “ estar ligado”, “pensar
sempre em uma mesma coisa”, “ficar fascinado”. A paixão é a mais simples expressão
desse conceito.
O Fundador expressa esse sentimento nos seguintes poemas:
Foi por volta do Período Taisho que fatos misteriosos começaram a ocorrer à sua
volta. Quando isso se verificou, ele ainda não tinha se conscientizado claramente de sua
afinidade e missão, mas a atuação do Mundo Divino já havia começado silenciosamente.
O fato que se segue teria se passado em 1924, quando Hidemassa Noguti, que
trabalhava com cartografia, foi visitá-lo e pediu que lhe falasse sobre a Oomoto.
Conversaram sobre a fé e, durante a conversa, olhando para o rosto do Fundador, de
repente Noguti lhe perguntou: “A Oomoto tem relação com Kannon?”.
Naquele momento, repentinamente, Noguti tivera a visão espiritual da figura de
Kanzeon Bossatsu ( Kannon) e contara ao Fundador.
Assim, vez por outra, Kannon surgia perto do Fundador e as pessoas a
enxergavam.
Relembrando diversos fatos que vieram ocorrendo desde sua infância, o
Fundador conscientizou-se da grande afinidade que tinha com Kannon desde suas vidas
anteriores.
“ Ele dizia reiteradamente: “ Um indivíduo tão honesto como você nunca vai
conseguir sucesso neste mundo. Os bem-sucedidos de agora pregam boas mentiras;
portanto, é preciso que você proceda de acordo com o “princípio triangular”1. Achei que
ele tinha razão e, depois que me tornei independente, esforcei-me bastante para mentir
com habilidade. Contudo, nada ia bem; além disso, eu sempre sentia o coração apertado.
Como resultado pensei: “Mentir não é para mim. Mesmo que eu não alcance o sucesso,
vou voltar a agir com a honestidade de sempre.
Assim decidi, assim fiz. Inesperadamente, as coisas melhoraram. Eu me sentia
bem, e as pessoas confiavam em mim. Fui prosperando rapidamente.
Dez anos depois de ter começado como um pequeno comerciante quase sem
nenhum capital, já era considerado um dos poucos bem-sucedidos, coisa muito rara na
época.”
Apesar do progresso da loja, o Fundador passou por mais uma decepção: teve
de desistir da produção de “maki-e”.
Conforme narramos, o Fundador também vendia peças de maki-e ; não só as que
ele criava, mas também as que ele desenhava e pedia para outros artesãos confeccionar.
Um dia, cortou o nervo do dedo indicador da mão direita e não conseguiu mais dobrá-
lo. Assim, o Fundador não teve outro jeito senão desistir da produção dessas peças.
Na época, sendo muito jovem ainda e tendo grandes aspirações em relação a
essa arte, ele devia sentir muita angústia e tristeza olhando para o dedo direito, que
perdera o movimento.
“ A loja de miudezas Korin-do “,Luz do Oriente, vol. 1, p.163- 167, 4ª ed, TRECHOS
________________________________
1– Método de procedimento no qual faltam o senso de justiça, o calor humano e a amizade.
ENSINAMENTO DA AULA 2 - CAPÍTULO 1
Uma das razões pelas quais a Loja Okada teve um grande crescimento em curto
espaço de tempo, foi o dom excepcional que o Fundador tinha para o desenho. Da
mesma maneira, sua forma de administração, sempre avançada em relação à época,
contribuiu muito para essa expansão.
Nas lojas tradicionais do Japão, adotava-se o sistema de aprendizes. Após o
jovem terminar esse período de aprendizagem, em que não recebia remuneração,
quando ele atingia a idade de 17 ou 18 anos, finalmente, passava a ser remunerado.
Aproximadamente depois de dez anos de serviço, era promovido a gerente. Quando a
pessoa já tinha muito tempo de serviço, era-lhe atribuído um capital e fregueses, para
que se tornasse independente e abrisse uma loja com o mesmo nome. Por trás dessa
tradição, havia o conceito de família, que constituía e sustentava a sociedade japonesa
desde os tempos antigos. Entretanto, a rápida ocidentalização ocorrida a partir do
Período Meiji foi modificando bastante a estrutura tradicional da sociedade japonesa.
Chegara a época em que, pouco a pouco , iria desaparecer, nas casas comerciais, a
rigorosa relação entre superior e subalterno, a qual estava baseada no conceito de
família.
Entre 1913 e 1914, o Fundador aprendeu claramente essa mudança e, embora
isto fosse uma exceção no mundo das lojas de miudezas, adotou, em seu
estabelecimento, uma forma mais prática de administração, o que há muito tempo
planejava fazer.
Em primeiro lugar, modificou o sistema de aprendizes que adotara até o
momento e instalou departamentos de contabilidade, de administração, de vendas,
colocando neles as pessoas adequadas. Planejava também a promoção dos
funcionários. Trabalhando de acordo com seu propósito, os empregados, que eram de
sua confiança, esforçavam-se pelo progresso dos negócios, dando o máximo de si para
corresponder às expectativas do patrão.
Na ocasião de designar os empregados, o Fundador não levava em conta se eram
parentes ou amigos; escolhia os melhores, de maneira justa.
A segunda medida de racionalização, foi tornar mensal a remuneração dos
empregados e introduzir o sistema de comissão. Cada funcionário passou a ter um
salário fixo, ao qual era acrescentada comissão sobre as vendas concretizadas.
O salário fixo não diferia muito do que era pago pelas outras lojas. Todavia, como
a ele se acrescentava a comissão sobre as vendas, tornava-se muito superior.
Consequentemente, não havia uma única pessoa que pensasse em deixar a Loja Okada.
No sistema de comissão, os rendimentos variam de acordo com a capacidade e
o esforço da pessoa. Assim, esta se entusiasma com o trabalho, e a loja prospera.
A terceira medida de administração racional da Loja Okada referia-se aos dias de
descanso e aos benefícios dos funcionários. O Fundador adotou o sistema de descanso
semanal, muito raro no comércio de miudezas. Os comerciantes comuns só fechavam
seus estabelecimentos nos Dias de Finados e no Ano-Novo.
No início do Período Taisho, o Fundador alugou um terreno e aí construiu duas
casas térreas. O lugar era chamado de Kanazawa Hakkei e possuía uma paisagem
pitoresca: atrás estava a região montanhosa da Península Miura, e avistava-se até a
longínqua Península Boso, que ficava do outro lado de uma pequena baía.
Ele gostava muito dessa paisagem. Foi nessa casa de veraneio que lhe ocorreu a
ideia do Diamante Asahi, ao ver o sininho balançando ao vento, após um cochilo à tarde.
E ele não sentia prazer em desfrutar desse belo ambiente apenas com familiares;
por essa razão, deixava seus funcionários usar a casa.
E não era só. Quando os funcionários da loja e até os amigos deles adoeciam, o
Fundador os levava para essa casa, a fim de que se restabelecessem.
Dessa forma, o Fundador oferecia sua casa para servir ao maior número de
pessoas.
Como administrador, ele controlava os planos mais importantes; todavia,
confiando nos empregados, deixava o máximo que podia nas mãos deles. Uma vez que
lhes delegava responsabilidades, não se intrometia no trabalho por qualquer motivo.
Dirigia a loja de forma bem aberta, favorecendo os que obtinham bons resultados.
Assim, os funcionários trabalhavam honestamente e sem preocupações, e o ambiente
da loja era sempre animado.
“ Uma administração racional “, Luz do Oriente, vol. 1,p.220 a 225,4ª ed, TRECHOS
ENSINAMENTO DA AULA 2 – CAPÍTULO 1
A Loja Okada parecia um barco navegando com vento favorável. Seria bem
adequado dizer que ela ia “ de vento em popa”. Visto que o empreendimento que
iniciara sozinho obteve um grande sucesso em pouco tempo, é natural que o Fundador
tenha sentido uma grande confiança em seu talento e competência, tornando mais
sólida a crença de que a felicidade ou a infelicidade dependem totalmente do esforço e
da capacidade da própria pessoa. Ao mesmo tempo, o pensamento materialista e ateu
que tinha desde jovem se fortalecia cada vez mais.
Até por volta dos 40 anos, o Fundador nunca tinha rezado. Além de não rezar,
achava tolas as pessoas que professavam alguma religião. Para ele, as imagens dos
santuários eram simples espelhos, pedras ou letras escritas em papel; portanto, não
fazia sentido adorá-las.
Seu pensamento ateísta evoluiu mais ainda. A constatação de que os países que
possuem muitas igrejas antigas, como a Itália, por exemplo, estavam em decadência, e
que, países como os Estados Unidos, vinham alcançando um grande progresso, levou-o
a pensar que os templos e os santuários eram um obstáculo para o progresso do Japão.
Entretanto, nessa época, o Fundador fazia doações regularmente ao Exército da
Salvação 1. Certa vez, um pastor visitou-o e perguntou-lhe: “ As pessoas que contribuem
para o Exército da Salvação geralmente são cristãs. Por que o senhor contribui, se não é
cristão?” Ele respondeu claramente:
Dessa forma, o Fundador era ateu convicto, mas tinha um profundo desejo de
praticar boas ações em favor do próximo.
Muitos episódios dessa época mostram seu grande exemplo em servir aos
homens e ao mundo.
A história a seguir refere-se a uma moça de cerca de 16 anos que trabalhou por
uns tempos na casa do Fundador. Tendo ela ficado doente, ele a mandou de volta para
a casa, na província de Tiba. Entretanto, pouco tempo depois, a moça apareceu
inesperadamente, muito pálida. Indagada sobre o que se passou, respondeu que, a
doença se agravara, tendo sido diagnosticada com tuberculose em estado avançado.
Pelo fato de seu lar ser muito pobre, ela não conseguia cuidar da saúde. Olhando
comovido para a jovem, que falava em prantos, o Fundador lhe disse: “ É um absurdo
você trabalhar nessas condições. Volte imediatamente para casa, pois, enquanto você
estiver viva, eu lhe enviarei a quantia necessária para o seu sustento e tratamento
médico.”
Os parentes e amigos do Fundador, desaprovando sua atitude, recriminaram-no:
“ Se essa moça tivesse possibilidade de se curar, ainda vá lá. Do jeito que está, é certo
que vai morrer. O que adianta ajudar alguém que está condenado à morte? Se ela
pudesse retribuir-lhe o favor, trabalhando, depois que ficasse boa, ainda bem ... mas
não é o caso.” Como havia tomado aquela iniciativa, sem pensar em lucros ou perdas, o
Fundador lhes respondeu:
“ Não tenho a mínima intenção de ser recompensado pelo que estou fazendo. Ajudar as
pessoas visando à recompensa é uma espécie de troca. É como vender favores. Eu ajudo
essa moça porque tenho pena dela e não posso deixa-la desamparada. É um sentimento
que surge naturalmente em mim.”
SEGUNDO NASCIMENTO