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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

UMBANDA
BRANCA

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

UMBANDA BRANCA

Bem-vindo à Umbanda

A primeira lição da espiritualidade é “NÃO EXISTEM COINCIDÊNCIAS”.


Se você chegou à Umbanda, se manifestou o desejo de aprender e se você está aqui
neste momento, nada disso é coincidência.
Certamente a espiritualidade, seus guias e protetores trabalharam muito para que
este momento se tornasse realidade.
Nesse livro, venho apresentar meus estudos de teologia da umbanda e meu
aprendizado das doutrina (Umbanda Branca) que foram passados pelos meus avós,
90 anos em 2018 e uma vida toda se dedicando a umbanda. Como fui nascido e
criado dentro das doutrinas umbandistas, bisneto de umbandista, onde sua
mediunidade tinha que ser privativa pelo preconceito, estou na quarta geração.
Falarei ao decorrer dos capítulos histórias e acontecimentos reais de minha família.
Então, aproveite todo aprendizado e absorva o máximo possível.

“Alguns entram pelo amor”


“Outros pela dor”

Objetivos

Nosso objetivo é transmitir aos irmãos, informações necessárias para o


conhecimento de mais uma doutrina dentro de tantas em nossa amada Umbanda.
Sabemos que a Umbanda é uma religião que possui muita informação, mas
separamos aquelas que consideramos básicas e necessárias para que o filho possa
atuar e entender um pouco em qualquer terreiro ou instituição umbandista séria.
A forma clara e descontraída com a qual os temas serão abordados constituem
pontos fortes para o entendimento e absorção de conteúdo tão diverso e tão plural.
Como sempre digo, a dúvida é a ferrugem da fé, então, nada melhor do que
abastecer a sua mente de informação valiosa para tornar sua fé maior e melhor a
cada dia.
Lembrando que os melhores ensinamentos veem dos terreiros com os guias em
terra. A cada gira um ensinamento, a cada dia um aprendizado.
Se atente aos detalhes pois neles é que vão estar as grandes lições.

Temas a serem abordados

História da Umbanda, estrutura física e hierarquia de terreiro, preparação (preceitos)


e recomendações, postura de terreiro, liturgia (ritual) de Umbanda, doutrina

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

umbandista partes, a religião Umbanda, mediunidade, linhas de trabalho, Orixás,


ritos e fundamentos, sacramentos, linhas de trabalho, sacerdócio e recomendações
finais.
Estes são os tópicos principais que terão diversas subdivisões de acordo com a
complexidade de cada tema.

HISTÓRIA DA UMBANDA

O que é Umbanda?

É muito comum os filhos de fé não conhecerem a resposta para esta pergunta tão
simples.
Segundo o Caboclo das Sete Encruzilhadas, entidade que instituiu a religião,

Umbanda é a manifestação do espírito para a caridade.

Caso deseje uma explicação técnica, podemos dizer que:


Umbanda é uma religião espiritualista, ritmada, ritualizada, de origem euro-afro-
brasileira.
É uma religião espiritualista por se comunicar com espíritos;
É ritmada, pelo som de atabaques para o desenvolvimento dos trabalhos;
É ritualizada por adotar procedimentos e ritos próprios para seus cultos;
Tem origem europeia por partilhar os ensinamentos da doutrina espírita de Allan
Kardec que era francês; africana, pois cultua divindades dessa origem e os tambores
sempre soaram na África; e, brasileira, por ter como elementos o índio brasileiro
(caboclo) e o negro escravizado (preto-velho).

A Umbanda acredita em diversos deuses?

A Umbanda acredita no Deus único, criador de todas as coisas, onipotente (tem


poder sobre tudo), onipresente (está em todos os lugares) e onisciente (sabe de
tudo). Vale a pena lembrar que, mesmo na África, acreditava-se também em um
Deus único, que estaria mesmo acima de todos os Orixás. Zâmbi, Olorum eram
alguns dos nomes que lhe eram dados, sendo esta nomenclatura diferente de acordo
com o dialeto e região do continente africano.

A Umbanda é cristã?

Sim, pois recebe como herança influência da Igreja Católica através de preces e do
sincretismo religioso.

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As entidades incorporadas frequentemente recorrem à presença de Jesus Cristo


"Oxalá, e, também, por partilharmos a crença no Evangelho e nas regras de ouro
deixadas pelo Mestre Jesus:

“Amai a Deus sobre todas as coisas”; e,


“Amai a teu próximo como a ti mesmo”.

Como nasceu a Umbanda?

Para compreendermos o nascimento da Umbanda é necessário primeiro entender a


chegada do Espiritismo no Brasil.
Na segunda metade do século XIX, tínhamos no Brasil uma elite emergente composta
principalmente pelos barões do café. Esta elite consumia avidamente os produtos
europeus tais como roupas, joias, bebidas e perfumes. Tudo para se equiparar aos
cavaleiros e damas daquele continente.
Mas para ser considerada uma pessoa realmente “fina”, era necessário viajar ao
exterior. Naquela época, o destino mais procurado era a França, principalmente a
cidade de Paris.
Em Paris, esses ricos brasileiros deparavam-se com um frenesi de ideias, tanto
científicas e filosóficas, quanto religiosas.
Nesta época, Alan Kardec já havia publicado suas obras e causado uma revolução ao
apresentar sua doutrina espírita e o estudo do invisível. Logo se espalhou pela
Europa, mas como a França era considerada a terra da liberdade, foi principalmente
ali que a semente espírita vingou com toda sua força, principalmente pelas ideias de
reencarnação e da confirmação da existência dos espíritos.
Conhecer o espiritismo era como visitar as melhores lojas e cafés parisienses, fazia
parte do circuito turístico. E não foi diferente com nossos conterrâneos que, ao
travarem contato com estes trabalhos, muitos se maravilharam e trouxeram, desta
forma, os primeiros exemplares da doutrina para o Brasil.
Assim se iniciaram os primeiros núcleos espíritas em nosso país, fundados pela classe
econômica dominante, ainda nos tempos do Império, portanto, em um cenário ainda
escravagista.
É importante lembrar que mesmo após 1888, com a libertação dos escravos, os
sentimentos para com nossos irmãos negros ainda eram de intenso menosprezo.
É certo dizer que a manifestação de espíritos negros e indígenas já era sabido e até
comum, mas isso eram situações pontuais, casos isolados de médiuns com dons
muito aflorados, que normalmente usavam esses dons para o benzimento.
Ocorre que nos primeiros centros espíritas, muitos médiuns incorporavam espíritos
de negros e índios. Quando isso acontecia, a entidade era convidada a se retirar e o

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médium era expulso sob acusação de baixo espiritismo. E infelizmente isso continuou
por décadas.
Essa incompreensão dos dirigentes espíritas da época, com relação a estes nossos
amigos espirituais, cria um vácuo que precisava ser preenchido pela espiritualidade.
Era necessário um espaço onde todos os espíritos tivessem direito à manifestação.
RELATOS VERÍDICOS:
Em nossa família onde faço parte da 4ª geração de umbandistas (Umbanda Branca)
minha mãe de santo Dona Flora (minha avó com 87 anos) já dizia que suas tias
vinham para o Brasil fugidas, pois eram consideradas bruxas; e na Espanha os bruxos
eram queimados vivos na fogueira em praça pública.
Meu avô Antônio Augusto de origem portuguesa com 90 anos em 2018 ainda vivo
conta que seu pai já faziam trabalhos em casa porem muito descriminado por todos
onde tinham que ser de total descrição.

Zélio de Moraes e a fundação da Umbanda

Em 10 de abril de 1891 nasce, no distrito das Neves, Município de São Gonçalo, no


Rio de Janeiro, Zélio Fernandino de Moraes. Filho de Joaquim Fernandino Costa e
Leonor de Moraes.
Em 1908, o jovem Zélio, então com dezessete anos, havia concluído o ensino médio e
preparava-se para ingressar na Escola Naval, visando seguir a carreira na Marinha.
Entretanto, nesta mesma época, começou a apresentar estranho comportamento
que muito preocupava seus pais.
Por vezes arqueava o corpo e falava com um sotaque muito diferente do normal,
parecendo um ancião. Em outras assumia uma postura leve e rápida, com olhar
firme, parecendo conhecer todos os segredos da natureza.
A preocupação de seus pais aumentava conforme os “ataques” se tornavam
frequentes e quanto mais próxima se tornava a data de Zélio iniciar na escola da
Marinha. Chamaram assim o Dr. Epaminondas de Moraes, tio de Zélio e diretor do
Hospício de Vargem Grande.
O Dr. Epaminondas, após dias de observação, devolveu o rapaz à família dizendo que
loucura não se enquadrava com aquilo que o molestava. Indicou que o levassem até
um padre, pois o caso parecia mais ser de possessão. A família Moraes também
dispunha de um padre católico e, assim, outro tio de Zélio foi chamado para vê-lo.
Depois de observá-lo, decidiu fazer um exorcismo, mas sem sucesso. Tentou o

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exorcismo uma segunda vez, mas não atingiu êxito. Uma terceira tentativa foi feita,
agora com vários sacerdotes, porém as manifestações continuavam, apesar de tudo.
Depois de algum tempo, Zélio começou a sofrer de certa paralisia, o que o deixou
acamado por certo período. Em um determinado dia, sentou-se na cama e disse:
“Amanhã estarei curado”. E, no dia seguinte, levantou-se e caminhou normalmente,
são e salvo, como se nada tivesse acontecido.
Depois disso, sua mãe o levou a uma curandeira muito conhecida na região, Dona
Cândida, que incorporava o espírito de um preto-velho chamado Tio Antônio. Esta
entidade conversou com Zélio e, após suas rezas, revelou que ele possuía o dom da
mediunidade e que deveria trabalhar para a caridade.
O pai de Zélio, apesar de não ser espírita, alimentava grande simpatia pela doutrina
de Alan Kardec. Assim, no dia 15 de novembro, decide levá-lo ao município vizinho,
na Federação Espírita de Niterói. Lá chegando foram recebidos pelo presidente
daquela entidade, Sr. José de Souza, que imediatamente conduziu Zélio até a mesa
de trabalho.
Instantes depois, Zélio levantou-se e, tomado por força alheia à sua vontade, disse:
“Aqui está faltando uma flor”; e dirigiu-se imediatamente ao jardim, de onde voltou
com uma flor, que ajeitou criteriosamente no centro da mesa. Isso causou um grande
tumulto entre os presentes, principalmente porque, enquanto isso acontecia,
surpreendentes manifestações de caboclos e pretos-velhos aconteciam no recinto. O
Sr. José de Souza, médium vidente, interpelou o espírito manifestado no jovem Zélio
e, aproximadamente, foi este o diálogo ocorrido:
José de Souza: Quem é você que ocupa o corpo deste jovem?
O espírito: Sou apenas um caboclo brasileiro.
José de Souza: Você se identifica como caboclo, mas vejo em você restos de vestes
clericais.
O Espírito: O que você vê em mim são vestes de uma existência anterior. Fui padre,
meu nome era Gabriel Malagrida, e, acusado de bruxaria, fui sacrificado na fogueira
da Inquisição, por ter previsto o terremoto que destruiu Lisboa em 1775. Mas em
minha última existência física, Deus me concedeu o privilégio de ser um caboclo
brasileiro.
José de Souza: E qual é o seu nome?
O Espírito: Se é preciso que eu tenha um nome, digam que sou o Caboclo das Sete
Encruzilhadas, pois para mim não haverão caminhos fechados. Venho trazer a

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Umbanda, uma religião que harmonizará as famílias e perdurará até o fim dos
tempos.
No desenrolar dessa “entrevista” José de Souza, entre outras perguntas, interrogou
se já não bastavam as religiões existentes, fazendo menção ao Espiritismo, então
praticado, e foram estas as palavras do Caboclo das Sete Encruzilhadas:
Deus, em sua infinita bondade, estabeleceu na morte o grande nivelador universal.
Rico ou pobre, poderoso ou humilde, todos se tornaram iguais na morte. Mas vocês,
homens preconceituosos, não contentes em estabelecer diferenças entre os vivos,
procuram levar essas mesmas diferenças até mesmo além da barreira da morte. Por
que não podem nos visitar esses humildes trabalhadores do espaço, se apesar de não
haverem sido pessoas importantes na Terra, também trazem importantes mensagens
do além? Por que o não aos Caboclos e Pretos-Velhos? Acaso não foram eles filhos
do mesmo Deus?
A seguir fez uma série de revelações sobre o que estava à espera da humanidade.
Este mundo de iniquidades mais uma vez será varrido pela dor, pela ambição do
homem e pelo desrespeito às leis divinas. As mulheres perderão a honra e a
vergonha, e o vil metal comprará caráteres e o próprio homem se tornará efeminado.
Uma onda de sangue varrerá a Europa e quando todos pensarem que o pior já foi
atingido, uma outra onda, muito pior do que a primeira, voltará a envolver a
humanidade e um único engenho militar será capaz de destruir, em segundos,
milhares de pessoas. O homem será uma vítima de sua própria máquina de
destruição.
Amanhã, na casa onde o meu aparelho mora, haverá uma mesa posta a toda e
qualquer entidade que queira se manifestar, independente daquilo que haja sido em
vida, todos serão ouvidos e nós aprenderemos com aqueles espíritos que souberem
mais, ensinaremos àqueles que souberem menos e a nenhum viraremos as costas
nem diremos não, pois esta é a vontade do Pai.
José de Souza: E que nome darão à essa nova igreja?
O Caboclo: Tenda Nossa Senhora da Piedade, pois da mesma forma que Maria
amparou nos braços o filho querido, também serão amparados aqueles que se
socorrerem da Umbanda.
A denominação “Tenda” foi assim justificada pelo Caboclo: Igreja, Templo, Loja dão
um aspecto de superioridade, enquanto tenda lembra uma casa humilde. Ao final dos
trabalhos, o Caboclo das Sete Encruzilhadas pronunciou a seguinte frase:

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Levo daqui uma semente e vou plantá-la nas Neves, onde ela se transformará em
árvore frondosa.
O Sr. José de Souza fez ainda uma última pergunta: “Pensa o irmão que alguém irá
assistir ao seu culto?”
Ao que o Caboclo respondeu: “Cada colina de Niterói atuará como porta-voz,
anunciando o culto que amanhã iniciarei”.

Primeiro trabalho umbandista

No dia 16 de Novembro de 1908, às 20 horas, na Rua Floriano Peixoto nº 30, no


distrito das Neves, município de São Gonçalo, estado do Rio de Janeiro, na sala de
jantar da família Moraes, o Caboclo baixou. Um grupo de curiosos kardecistas e
dirigentes da Federação Espírita de Niterói estavam presentes para verem como
seriam essas incorporações, para eles indesejáveis ou injustificáveis.
Logo após a incorporação, o Caboclo foi atender um paralítico, curando-o
imediatamente. Várias pessoas doentes ou perturbadas tomaram passes e algumas
se disseram curadas. O diálogo do Caboclo das Sete Encruzilhadas havia provocado
muita especulação e alguns médiuns, que haviam sido banidos das mesas kardecistas
por haverem incorporado caboclos, crianças ou pretos-velhos, solidarizaram-se com
aquele jovem que parecia não estar compreendendo o que lhe acontecia e que, de
repente, via-se como líder de um grupo religioso, obra essa que só terminaria com a
sua morte, mas que suas filhas Zélia de Moraes e Zilméia de Moraes prosseguiriam
com o mesmo afã.
O Caboclo das Sete Encruzilhadas avisou que subiria para dar passagem a outra
entidade que desejava se manifestar. Zélio, então, incorpora Pai Antônio, seu preto-
velho.
Assim, manifestou-se o espírito do velho ex-escravo que parecia se sentir pouco à
vontade em meio a tanta gente. Recusando-se a permanecer na mesa onde ocorrera
a incorporação, preferia passar despercebido, humilde, curvado. Essa entidade
mostrou-se tão pouco descontraída, que logo despertou um profundo sentimento de
compaixão e solidariedade entre os presentes. Perguntado por que não se sentava à
mesa com os demais irmãos encarnados, respondeu: Nego num senta não meu
sinhô,
Nego fica aqui mesmo. Isso é coisa de sinhô branco e nego tem qui arrespeitá.

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Era a primeira manifestação deste espírito iluminado, mas a morte que não muda
ninguém, nem para o bem e nem para o mal, não havia afastado desse injustiçado, o
medo que ele tantas vezes sentiu ante a prepotência do branco escravagista, e, ante
a insistência dos presentes, disse:
Num carece preocupa não, nego fica no toco que é lugá di nego.
Procurava assim demonstrar que se contentava em ocupar um lugar mais singelo
para não melindrar nenhum dos presentes.
Indagado sobre seu nome, disse que era “Tonho”, um preto escravo que na senzala
era chamado de Pai Antônio. Surgiu, assim, a forma de chamar os pretos-velhos de
“Pai”.
Perguntado sobre como havia sido a sua morte, disse que havia ido à mata apanhar
lenha, sentiu alguma coisa estranha, sentou-se e nada mais lembrava.
Sensibilizado com tanta humildade, alguém lhe perguntou respeitosamente: “Vovô, o
senhor tem saudade de alguma coisa que deixou ficar na Terra”?
E este respondeu:
Minha cachimba, nego qué o pito qui deixô no toco... Manda mureque buscá.
Grande espanto tomou conta dos presentes. Era a primeira vez que um espírito pedia
alguma coisa de material, e a surpresa logo foi substituída pelo desejo de atender ao
pedido do velhinho. Mas ninguém tinha um cachimbo para lhe ceder.
Na reunião seguinte, muitos pensaram no pedido e uma porção de cachimbos, dos
mais variados tipos, apareceu nas mãos dos frequentadores da casa, incluindo alguns
médiuns que haviam sido afastados das mesas kardecistas, justamente porque
haviam permitido a incorporação de índios, pobres ou pretos como aquele, e que,
solidários, buscavam na nova casa, a Tenda Nossa Senhora da Piedade, a
oportunidade que lhes fora negada em seus centros de origem. A alegria do velhinho
em poder pitar novamente seu cachimbo logo seria repetida, quando os outros
médiuns já mencionados também passariam livremente a permitir a presença de
seus caboclos, de seus pretos-velhos e demais entidades consideradas não doutas
pelos kardecistas de então, pobres tolos preconceituosos que confundiam cultura
com bondade.
No final desta reunião, o Caboclo ditou algumas regras para a sequência dos
trabalhos, inclusive atendimento absolutamente gratuito, uso de roupas brancas e
simples, sem o som de atabaques e nem palmas ritmadas, sendo os cânticos baixos e
harmoniosos. A este novo culto que se estruturava nesta noite, ele denominou de
Umbanda, que seria a manifestação do espírito para a caridade.

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É importante ressaltar que inicialmente o Caboclo chamou o novo culto de Alabanda,


mas, considerando que não soava bem a sua vibração, substituiu-o por Aumbanda, e,
posteriormente, foi readaptado para Umbanda.
A história se encarregou de mostrar e provar a exatidão das previsões do Caboclo das
Sete Encruzilhadas. As duas guerras mundiais, as bombas atômicas lançadas em
Hiroshima e Nagazaki, e a grande degeneração da moral. O poder do dinheiro e o
total desrespeito à vida humana são provas incontestáveis do poder de clarividência
do Caboclo das Sete Encruzilhadas.

Raízes do culto umbandista

Da mesma forma que o cachimbo foi introduzido já na primeira sessão umbandista,


assim se seguiram outras contribuições nas sessões seguintes. Por exemplo, quando
surgiu a informação de que os índios foram quem descobriram primeiro as
propriedades do fumo. Eles elaboravam um enorme charuto para ser usado
coletivamente por todos os participantes de seu cultos religiosos, sendo, desta
forma, uma espécie de planta sagrada. Assim, foi rapidamente incorporado o charuto
para o trabalho dos caboclos.
Lembramos que o uso do fumo pelas entidades incorporadas tem efeito purificador,
quando estas atendem algum consulente com problemas espirituais. A fumaça age
como um desagregador de maus fluidos, atingindo o corpo astral dos espíritos
obsessores. Além disso, a fumaça produzida pelos charutos e cachimbos criam um
escudo de proteção para a aura do médium.
Por extensão desses novos hábitos trazidos para o culto umbandista, passou-se a
oferecer doces para as crianças incorporadas. E assim, com o passar dos tempos,
foram sendo absorvidas pelo culto tantos outros costumes como bebidas, roupas,
comidas e ferramentas. Mas, sempre com um único objetivo: tratar os visitantes
espirituais como velhos e queridos amigos, coisa que verdadeiramente o são.
Com a “liberdade” trazida pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, as pessoas
afugentadas da elitizada mesa kardecista de então, passaram a frequentar a nova
religião. Uma significativa parcela dessas pessoas era da raça negra, o que fez com
que a Umbanda passasse a contar com boa parte de médiuns dessa raça, que se
sentiram muito à vontade pela ausência de preconceitos. Esses médiuns começaram
a enriquecer o ritual umbandista com práticas dos cultos africanos, principalmente

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do Candomblé, de onde veio a prática do sincretismo dos Orixás com santos


católicos.
Foram introduzidas algumas comidas de santo, atabaques, agogôs e outros
instrumentos musicais. Esses fatos ocorreram com as tendas surgidas da Tenda
Nossa Senhora da Piedade, fundadas posteriormente com a colaboração de Zélio e o
Caboclo das Sete Encruzilhadas. Vale lembrar que na Tenda Nossa Senhora da
Piedade nunca foram admitidos nem instrumentos e nem palmas ritmadas.
Outro elemento fundamental advindo da raça negra e do Candomblé são as
oferendas (obrigações para os Orixás). Entre os africanos, o hábito de se fazer
oferendas a eles era muito comum. E este costume continuou entre os negros
escravos, que sempre prestavam uma oferta para os Orixás, normalmente alguma
coisa subtraída do dono da fazenda, e como o único horário em que os negros
podiam prestar seus cultos era a noite, eles se embrenhavam nas matas, chegando
ao leito de um rio ou pé de cachoeira, montanha ou pedreira, para assim deixarem
suas ofertas e rapidamente retornarem à senzala.
Isso explica de algumas tendas terem costume hoje de fazer obrigações aos Orixás
em domínios naturais, principalmente à noite

Caboclo das Sete Encruzilhadas

Para podermos compreender a elevação deste espírito, reproduziremos a seguir, na


íntegra, o capítulo XXIII do livro “O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de
Umbanda” do escritor Leal de Souza.
Leal de Souza era um pesquisador muito sério do Espiritismo e também muito ligado
à Tenda Nossa Senhora da Piedade e ao Caboclo das Sete Encruzilhadas.

Se alguma vez tenho estado em contato consciente com algum espírito de luz, esse
espírito é, sem dúvida, aquele que se apresenta sob o aspecto agreste e o nome
bárbaro de Caboclo das Sete Encruzilhadas.
Sentindo-o ao nosso lado, pelo bem estar espiritual que nos envolve, pressentimos a
grandeza infinita de Deus e, guiados pela sua proteção, recebemos e suportamos os
sofrimentos com uma serenidade quase ingênua, comparável ao enlevo das crianças,
nas estampas sacras, contemplando, da beira do abismo, sob as asas de um anjo, as
estrelas no céu.
O Caboclo das Sete Encruzilhadas pertence à falange de Ogum, e, sob a irradiação da
Virgem Maria, desempenha uma missão ordenada por Jesus. O seu ponto
emblemático representa uma flecha atravessando um coração, de baixo para cima. A

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flecha significa direção, o coração, sentimento, e o conjunto, orientação dos


sentimentos para o alto, para Deus.
Estava este espírito no espaço, no ponto de intersecção de sete caminhos, chorando
sem saber o rumo a tomar, quando lhe apareceu, na sua inefável doçura, Jesus, que
mostrando-lhe uma região da Terra, as tragédias da dor e os dramas da paixão
humana, indicou-lhe o caminho a seguir, como missionário de consolo e redenção. Em
lembrança desse incomparável minuto de sua eternidade e para se colocar no nível
dos trabalhadores mais humildes, o mensageiro de Cristo tirou seu nome do número
dos caminhos que o desorientavam, ficou sendo o Caboclo das Sete Encruzilhadas.
Iniciou, assim, a sua cruzada, vencendo, na ordem material, obstáculos que se
renovam quando vencidos e dos quais o maior é a qualidade das pedras com que se
deve construir o novo templo. Entre a humildade e a doçura extremas, a sua piedade
se derrama sobre quantos o procuram e, não poucas vezes, corre pela face do
médium as lágrimas que expressam a sua tristeza, diante dessas provas inevitáveis
das quais as criaturas não podem fugir.
A sua sabedoria se avizinha da onisciência. O seu profundíssimo conhecimento da
Bíblia e das obras dos doutores da igreja autorizam a suposição de que ele, em
alguma encarnação, tenha sido sacerdote, porém a medicina não lhe é mais estranha
do que a teologia.
Acidentalmente, o seu saber se revela. Uma ocasião para justificar uma falta por
esquecimento de um de seus auxiliares humanos, explicou, minucioso, o processo de
renovação das células cerebrais, descreveu os instrumentos que servem para observá-
las e contou numerosos casos de fenômenos que os atingiram e como foram tratados
na Grande Guerra escrita em 1914. Também, para fazer os seus discípulos
compreenderem o mecanismo dos sentimentos, se assim posso expressar-me,
explicou a teoria das vibrações e a dos fluidos e, numa ascensão gradativa, na mais
singela das linguagens, ensinou a homens de cultura desigual as transcendentes leis
astronômicas. De outra feita, respondendo a consulta de um espírita que é capitalista
em São Paulo e representa interesses europeus, produziu um estudo admirável da
situação financeira para a França, pela quebra do padrão ouro na Inglaterra.
A linguagem do Caboclo das Sete Encruzilhadas varia, de acordo com a mentalidade
de seu auditório. Ora chã, ora simples, sem nenhum atavio, ora fulgurante nos arrojos
da alta eloquência, nunca desce tanto, que se abastarde, nem se eleva demais, que se
torne inacessível.
A sua paciência de mestre é, como sua tolerância de chefe, ilimitada. Leva anos a
repetir, em todos os tons, por meio de parábolas, de narrativas, o mesmo conselho, a
mesma lição, até que o discípulo depois de tê-lo compreendido comece a praticá-lo.
A sua sensibilidade ou perceptibilidade é rápida, surpreende. Resolvi, certa vez,
explicar os dez mandamentos da lei de Deus para meus companheiros e, à tarde,
quando me lembrei da reunião da noite, procurei, concentrando-me, comunicar-me

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com o missionário de Jesus, pedindo-lhe uma sugestão, uma ideia, pois não sabia
como discorrer sobre o mandamento primeiro. Ao chegar à tenda, encontrei o seu
médium, que viera apressadamente das Neves, do município de São Gonçalo, por
uma ordem recebida à última hora, e o Caboclo das Sete Encruzilhadas, baixando em
nossa reunião, discorreu espontaneamente sobre aquele mandamento. Concluindo
disse-me: Agora, nas outras reuniões, podeis explicar aos outros como é o vosso
desejo.
E esse caso se repetiu: - Havia a necessidade de falar sobre as Sete Linhas de
Umbanda e, incerto sobre a de Xangô, implorei mentalmente, o auxílio desse espírito,
e, de novo, o seu médium, por ordem de última hora, compareceu à nossa reunião, na
qual o grande guia esclareceu, numa locução transparente, as nossas dúvidas sobre
essa linha.
A primeira vez em que os videntes o vislumbraram, no início de sua missão, ele se
apresentou como um homem de meia idade, a pele bronzeada, vestindo uma túnica
branca, atravessada por uma faixa que brilhava, em letras de luz, a palavra
“CARITAS”. Depois, e por muito tempo, só se mostrava como caboclo, utilizando
tanga de plumas e demais atributos dos pajés silvícolas. Passou, mais tarde, a ser
visível na alvura de sua túnica primitiva, mas há anos acreditamos que só em
algumas circunstâncias se reveste de forma corpórea, pois os videntes não o vêem, e
quando a nossa sensibilidade e outros guias assinalam a sua presença, fulge no ar
uma vibração azul e uma claridade dessa cor paira no ambiente.
Para dar desempenho à sua missão na Terra, o Caboclo das Sete Encruzilhadas
fundou quatro tendas em Niterói e nesta cidade, e, outras fora das duas capitais,
todas da Linha Branca da Umbanda e Demanda.

O legado de Pai Zélio

Não poderíamos iniciar este tópico sem as célebres palavras de W. W. da Matta e


Silva:

“Zélio de Moraes foi um médium exemplar e com o Caboclo das Sete Encruzilhadas se
conjugaram em uma brilhante missão. Foram vanguardeiros ostensivos que
plantaram as primeiras sementes de reação e do protesto doutrinário, contra as
práticas fetichistas das matanças e dos sacrifícios às divindades...”

O Caboclo das Sete Encruzilhadas, muitas vezes chamado “O Chefe” por seus
adeptos, nunca permitiu que seu médium recebesse qualquer remuneração pelos
trabalhos espirituais realizados. Zélio nunca exerceu a mediunidade como profissão,
trabalhando para sustentar a família e, diversas vezes, contribuía para a manutenção
das tendas fundadas pelo Caboclo.

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Em 1967, após 59 anos de atividade junto à Tenda nossa Senhora da Piedade, Zélio
decidiu passar a direção dos trabalhos para suas filhas Zélia e Zilméia, e passou a
viver em Boca do Mato, no município de Cachoeiras de Macacu, a 160 quilômetros
do Rio de Janeiro, com sua esposa Dona Isabel.
Nesse recanto privilegiado da Natureza continuou a atender os necessitados do
corpo e da alma, na Cabana de Pai Antônio.
O radialista, escritor e presidente da Federação Umbandista do Grande ABC, Ronaldo
Linares, foi seu amigo por muitos anos e registrou a última mensagem do Caboclo
das Sete Encruzilhadas através de seu médium:
“Meus irmãos: sejam humildes. Tragam o amor no coração para que sua
mediunidade possa receber espíritos superiores, sempre afinados com as virtudes que
Jesus pregou na Terra, para que os necessitados possam encontrar socorro nas
nossas casas de caridade. Aceitem meu voto de paz, saúde e felicidade, com
humildade, amor e carinho”.
Depois de 66 anos de mediunidade, Zélio desencarnou em um sábado, dia 3 de
setembro de 1975. Deixando como legado uma religião que socorre a todos, sem
distinção, mesmo desencarnados. E é nossa responsabilidade levar adiante a
bandeira de Oxalá que ele nos entregou, de forma que possamos ser o exemplo e a
prova da glória e da grandeza da Umbanda.

Estrutura Física do Terreiro

Todo terreiro tem uma estrutura. Uns são simples, outros mais complexos. Mas o
que todo umbandista deve ter em mente é que todos os espaços físicos de um
terreiro são sagrados, e, por isso, devem ser tratados com muito respeito por parte
do filho de fé.
É certo que alguns espaços demandam cuidados especiais e devem ser tratados
como um organismo vivo, pois são responsáveis pela firmeza, equilíbrio e
estabilidade energética da casa. O responsável pela manutenção e pelos cuidados
especiais destes espaços é o dirigente espiritual do terreiro. Por zelar dos tributos
dos Orixás, o dirigente as vezes é chamado de ‘zelador de santo’.
Antes de discorrermos sobre os espaços que podem ser encontrados em um terreiro
de Umbanda, é necessário discorrer brevemente sobre ‘assentamento vibratório’.
Podem ser conhecidos também por ‘assentamento energético’ ou ‘assentamento
cabalístico’.
Assentamento vibratório é a manifestação energética emanada pelos tributos de
cada Orixá. Esses tributos foram sistematicamente introduzidos no espaço físico.
Podem ser enterrados ou não, porém na Umbanda, o mais usual é serem enterrados

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

em local desconhecido dos filhos da casa, ou mesmo serem feitos em locais onde só
é permitida a entrada de pessoas previamente autorizadas.
Existem assentamentos de direita e de esquerda, e ambos são responsáveis pela
emanação de bons fluidos para a atividade religiosa, dando forças para os espíritos
que trabalham para a lei e para a luz, e minando as forças dos espíritos negativos. Os
assentamentos também são responsáveis pelas forças de defesa da casa, criando
uma cúpula de proteção ao redor do espaço físico ocupado pelo terreiro, impedindo
que demandas ou espíritos indesejados adentrem ao terreiro.
Um exemplo que podemos associar para tentarmos compreender os assentamentos,
é o do gerador de energia elétrica à combustível. Em um local onde a energia elétrica
não seja disponível da forma tradicional, utilizamos esses geradores. Coloca-se
combustível no tanque do motor, liga-se o motor e pronto. As lâmpadas se acendem,
os aparelhos funcionam, o sistema de defesa ou proteção funciona; isso para
melhorar, facilitar e favorecer a vida daqueles que irão habitar e desempenhar
funções naquele local.
O assentamento vibratório é como um gerador no terreiro, só que de energias
espirituais. Quando ligado propriamente, favorece o bom trabalho espiritual. Mas, da
mesma forma que um gerador, que precisa ser alimentado com combustível, o
assentamento também deverá receber ‘combustível’ periodicamente.
O zelador deverá firmar velas, fazer orações e oferecer bebidas, água, frutas,
produtos de fumo, flores, incensos ou qualquer outra oferta condizente com cada
Orixá ou com cada doutrina. Essas ofertas, ao liberarem suas energias essenciais,
reabastecerão os assentamentos de forma que continuem pulsando energias divinas.
Quanto à periodicidade dessa manutenção, ela poderá ser semanal, quinzenal ou
anterior a cada sessão do terreiro.
Vejamos agora a descrição de alguns espaços que são encontrados em terreiros e
espaços umbandistas.

Congá

Também conhecido por Pegi. É o altar sagrado dos Orixás. Na maioria das casas, é
neste local que os Orixás recebem suas ofertas e velas. E tem costumeiramente a
forma de pirâmide (triângulo), onde Oxalá sempre ocupará o ponto mais alto, logo
abaixo virão mais duas imagens, a que ficar à direita de Oxalá, normalmente
caracteriza o Orixá de frente (pai de cabeça) do dirigente. E a imagem que fica à
esquerda de Oxalá representa o Juntó (mãe de cabeça) do sacerdote. Nas linhas
inferiores do Congá são dispostos os outros Orixás, sendo que a ordem pode variar
de terreiro para terreiro, pois isso é critério do dirigente espiritual da casa.
Normalmente o Congá fica à frente do espaço onde são feitas as giras, e, por este
motivo, o local da gira também é conhecido popularmente como Congá.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

O Congá possui assentamento vibratório e deverá sempre ser respeitado, e saudado


como um ser vivo. Antes de adentrar pela primeira vez no dia neste local, devemos
nos agachar e com as costas das mãos, fazer o sinal da cruz e repetir ‘Por Olorun, por
Oxalá e por Ifá’, que vem a ser a trindade umbandista, equivalente ao ‘Pai, Filho e
Espírito Santo’ da igreja católica.
A esmagadora maioria das casas desenvolvem o trabalho de todas as linhas em
frente ao Congá, mas existem lugares onde o trabalho dos Srs. Exus é desenvolvido
em espaço diferente. Isto é definido pelo tamanho da casa, disponibilidade de
espaços e o critério do dirigente espiritual.

Tronqueira

Local onde se encontram os assentamentos de Exu e também onde este Orixá recebe
suas oferendas. Normalmente é fechado à chave, sendo que somente o dirigente e
um ou outro escolhido, tem permissão para entrar neste espaço. É construído
usualmente na parte da frente dos terreiros, para que Exu barre a entrada de
espíritos indesejados.
Em alguns terreiros, pode ser apenas a casa do Sr. Exu Tronqueira, o qual se
encarrega de fazer a primeira proteção da casa e também de amarrar em seu tronco
de trabalho, todos os espíritos e energias malfazejas. Neste caso, a tronqueira será
uma casinha similar àquelas que abrigam imagens de santos na residência de
inúmeras pessoas. A diferença principal é que quando a Tronqueira se apresenta
desta forma, somente o Sr. Tronqueira recebe suas ofertas, sendo que os Exus
receberão seus tributos em outro local.
Mesmo neste segundo caso, a tronqueira também recebe assentamento vibratório.
Em nosso chão “terreiro” nosso a direita e a esquerda ficam juntas.

HIERARQUIA DE TERREIRO

Assistência

Também chamada consulência, são as pessoas que vão ao terreiro para se tratar e se
consultar com as entidades nos trabalhos espirituais. Não possuem função nos
templos de Umbanda.

De branco

É aquele que, depois de algum tempo na assistência, busca voluntariamente entrar


para a corrente. São de estrema importância na corrente. Eles que auxiliam a

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

assistência, levando aos médiuns água, direcionando as pessoas para seus devidos
lugares. É quem cuida da organização física do local, anotações entre outras funções.

Cambone (Cambono)

Cambone é aquela pessoa que trabalha no centro prestando assistência aos


trabalhos e aos guias, sempre estão atentos as entidades em terra para dar total
assistência, acendendo charutos, traduzindo o que a assistência não compreende,
fazendo as anotações de banhos, chás, orações, pontos, geralmente não incorporam.
É o servidor das entidades

Ajudar na preparação dos trabalhos


Colocar os bancos no lugar, transportar objetos para o Congá, preparar guias para
cruzamento, oferecer flores aos médiuns, enfim, estar disponível para as tarefas
corriqueiras necessárias para a execução dos trabalhos.

Estar a serviço da corrente


Estar disposto (na medida do possível) atrás dos médiuns, alerta às possíveis
necessidades deles como servir um copo d’água ou segurar o cavalo no momento da
desincorporação. Servir sempre com fé.

Estar a serviço das entidades


Logo que as entidades que irão consultar começam a incorporar, é função do
cambone servir a bebida e o pito de cada um. Além disso, devem atender às
solicitações das entidades dentro das normas da casa. Também é função do cambone
recolher guias para limpeza, ou seja, sempre que uma entidade deixar cair uma guia
no chão, deve-se “limpar” a guia: Vai depender de doutrina mas água e sal grosso já
fará o descarrego necessário e o próprio guia ira cruzar e energizar a guia. Mas
lembre-se: basta apenas um pouco destes líquidos para a limpeza.
O cambone sempre deve dirigir-se à uma entidade com muito respeito e pedindo
licença. Muitas vezes a entidade pede ao cambone que escreva uma lista de afazeres
para o consulente, esta lista deve sempre ser legível e, caso as informações
fornecidas não forem claras, deve o cambone solicitar estes esclarecimentos à
entidade.
E como o cambone é o auxiliar em terra das entidades, é justo que guarde e zele de
seus instrumentos. Por exemplo, servir a bebida correta (normalmente trazida e
preparada pelo médium), servir no copo correto, lavar e guardar os objetos depois do
uso, providenciar cinzeiros, recolher contas de guia caso venham a arrebentar, entre
muitos outros.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Estar a serviço da assistência


É muito comum as pessoas que vão ao centro ter dúvidas. É obrigação dos cambones
orientar quando souber, buscar a informação quando não souber, ou encaminhar à
pessoa que saiba, para melhor orientar as pessoas da assistência.
Mas o mais importante de tudo é que o cambone mostre vontade de aprender. O
aprendizado se dá com a convivência com os mais experientes. Lembrar sempre que
cambonear é servir aos outros, quer pessoas ou entidades, e para isso é necessário
conhecer a todos, inclusive quais entidades possuem cada médium. O cambone não
tem privilégios por estar servindo. Caso precise de uma consulta, aguardará
pacientemente como o último a ser atendido. Caso por algum motivo grave não seja
atendido, virá conversar com o Pai de Santo ou Dirigente Espiritual da casa, fora do
dia de trabalho. E, por último, é importante registrar que o cambone não serve
apenas esta ou aquela entidade, ele servirá a todas as entidades indistintamente.
O comportamento adequado de um cambone durante as consultas, é circular e estar
atento à qualquer necessidade das entidades ou da casa.
Sabendo aproveitar, o cambone é uma das funções que oferece as maiores e
melhores possibilidades de crescimento espiritual.
O cambone nunca deve:
- sentar-se ou encostar-se na parede,
- ficar em grupos, rodinhas ou conversando,
- beber, comer ou fumar sem solicitação de alguma entidade,
- usar outra cor de roupa que não seja a branca,
- conversar com as entidades, em detrimento da assistência,
- servir bebida ou comida excessivamente às entidades,
- permitir que o consulente se demore demasiadamente na consulta,
- permitir que um consulente passe com mais de uma entidade,
- interferir ou alterar nas informações passadas pelas entidades.
Por fim, deve estar sempre disponível e de bom humor, para receber as pessoas
carinhosamente, que vão ao Centro em busca de caridade. Ele é o cartão de visitas e
deve buscar sempre exercer a caridade com humildade.

Curimbeiro

No candomblé se chama ogã pode ter diversas funções, porem na umbanda é uma
das principais funções em um trabalho. Os curimbeiros e levam o ritmo dos trabalhos
sendo intuídos pela espiritualidade. A vibração dos tambores com suas mãos é o que
ajudam na incorporação dos médiuns principalmente os iniciantes.
Os curimbeiros tem que saber alem dos toques para as entidades e orixás, pontos
diversos.
Ponto de chegada;

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Ponto de subida;
Ponto de descarrego;
Pontos de firmeza;
Pontos de cura.
Os preceitos dos curimbeiros tem que ser categóricos, pois na hora das giras, seus
toques e pontos podem tanto ajudar como atrapalhar o andamento.
Veremos mais sobre o assunto em ‘Ritos e Fundamentos’.

Pai Pequeno (Mãe Pequena)

São os grandes assistentes do dirigente espiritual. Aprendem e colaboram em todos


os trabalhos que sejam de responsabilidade do pai ou mãe-de-santo, por este
motivo, é desejado que tenham experiência de terreiro. Principalmente porquê será
ele ou ela que, na ausência do dirigente por qualquer motivo, assumirá plenamente
as funções sacerdotais, inclusive a de dirigir os trabalhos da casa.

Pai de Santo / Sacerdote / Dirigente Espiritual

É o homem que foi escolhido pela espiritualidade. Geralmente essa missão já vem de
pequeno, a informação por um guia chefe do terreiro, situações que ocorrerão ao
longo da vida que irão levando ao caminho de dirigir uma tenda e prestar a caridade.
É imprescindível que tenha vivência de terreiro, pois ao longo dessa missão
acontecerão diversas situações onde já presenciadas ficarão mais fáceis de serem
resolvidas. Um pai de santo só tem que estar pronto para tal função, pois a
espiritualidade se encarregará de mostrar o caminho.
É o responsável principal pela condução religiosa do terreiro. Pode acumular, como
acontece na maioria das casas, a função de administração material do terreiro. É a
autoridade máxima.

Preparação e Recomendações

Mais conhecidos como ‘preceitos’, na Umbanda. Preceito é tudo aquilo que deve ser
preparado antes do início de um trabalho espiritual.
São necessários para o bom desempenho da atividade religiosa e obrigatórios para
todos aqueles trabalhadores que adentrarão ao Congá. Também é desejado para a
assistência.
Existem três regras básicas fundamentais para a preparação de médiuns e cambones
para os trabalhos espirituais. Devem ser obedecidos desde a meia-noite do dia de
trabalho ou 24 horas antes do início dos trabalhos:
- não manter relações sexuais;

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

- não consumir drogas nem bebidas alcoólicas;


- não comer carne;
Estes preceitos visam “guardar” o corpo dos médiuns e cambones para as entidades
que farão uso dele nos trabalhos. Primeiro em respeito aos guias que precisam de
um corpo sadio e limpo, que emane boas energias. Em segundo, um corpo carregado
de energias viciosas dificulta o descarrego que as entidades executam antes de partir.

Banho de ervas

Aproxima o guia do médium, gerando também proteção e energia. Em dias de


trabalho torna a ligação do médium com o Orixá mais forte, permitindo que a
entidade trabalhe em plena força. O filho de fé deve observar a entidade que irá
trabalhar ou receber obrigação, para utilizar as ervas adequada daquele Orixá, como
aprenderemos no tópico ‘Ervas’. Para preparar o banho deve-se ferver uma caneca
com água, apagar o fogo após o início da fervura e só depois colocar as ervas para a
infusão, o que demora em torno de 15 minutos. Depois coa-se o preparado e as ervas
são jogadas fora (devolvidas à terra, se possível) e, após o banho de higiene, o
preparado deve ser jogado no corpo do pescoço para baixo, dando-se preferência
para o peito e as costas. Aguarda-se a absorção e enxuga-se normalmente. Isto deve
ser feito preferencialmente pouco antes de se encaminhar para o terreiro.
Outra opção para se fazer o banho é amornando apenas a água dentro de uma
caneca no fogão, joga-se as ervas na água, macerando (apertando) com as mãos,
para que a erva libere suas propriedades vegetais. Durante o processo, firma-se a
cabeça para o Orixá ou entidade correspondente; pode-se inclusive cantar pontos se
assim preferir. É importante estar com as mãos limpas. Depois coa-se, seguindo a
mesma rotina da opção anterior. Esta forma de fazer o banho deve ser usada
preferencialmente para folhas verdes e frescas.

Firmeza de velas

Fundamental. É na firmeza das velas que ocorre a transferência de energia necessária


para nossa jornada de fé. Para tanto são necessários alguns princípios: que a vela seja
dedicada a um Orixá ou entidade específica, para que nenhum outro espírito possa
ter acesso, e que seu pedido para ela seja feito de coração limpo, para que a força da
sua vontade seja impressa na vela. Conforme a vela for queimando, suas energias
serão transferidas para a entidade, que a transformará na realização do seu pedido,
dentro de seu merecimento. As velas podem ser firmadas para agradecimentos, para
pedidos e, antes do início dos trabalhos, para pedir proteção. Na firmeza da vela o
filho de fé pode utilizar oração própria (espontânea), orações tradicionais (Pai-Nosso,
Ave-Maria. etc) ou uma oração mínima, conforme o exemplo:

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

“Salve [nome da entidade] ! Salve toda a sua força e toda a sua banda!
A ti firmo esta vela com todo amor do meu coração, para agradecer-lhe tudo que
faz por mim e pedir a sua proteção, sua ajuda material e espiritual para fazer o
pedido que deseja]. Sou confiante! Salve!”
Note que utilizamos o termo firmar e não acender. Acendemos velas quando
estamos no escuro ou quando acaba a energia elétrica. O umbandista firma velas.

Orações

A oração é uma das mais importantes ferramentas do umbandista. De forma


errônea, os umbandistas acreditam que as orações devem ser feitas somente no ato
de firmeza de velas, porém não firmamos velas todos os dias, entretanto, as orações
devem ser feitas diariamente, tudo o que você precisa é de alguns minutos, boa
vontade e fé.
Tudo pode ser alcançado através da oração, isto depende apenas de quem a profere.
Feita diariamente, auxilia na desagregação de maus fluidos e na aproximação de boas
energias, resultando em um ótimo tônico para a manutenção do espírito. Lembre-se
das palavras do Mestre Jesus Cristo: ‘orai e vigiai sempre’. Este ensinamento deve ser
levado à risca por todo umbandista que se preze.
Oração é um momento de reconexão com o sagrado, de restabelecimento do
contato com Deus. Pode ser espontânea ou decorada, lembrando novamente as
palavras de Jesus; disse ele que tudo aquilo que pedirmos para ele através do Pai-
Nosso, será imediatamente recebido.
A oração pode ser silenciosa, mas se o filho de fé deseja um melhor resultado,
sugerimos que as faça em pé e em voz alta, como se estivesse ordenando algo. O
Poder do verbo irá certamente ampliar o poder da oração.

Roupa

As roupas para o trabalho devem ser condizentes com uma prática religiosa. Não
devem ser justas, curtas, decotadas, transparentes ou ostensivas. Dar preferência aos
tecidos naturais como o algodão. A cor, devera ser brancas nos trabalhos, porém é
necessário manter sempre a discrição.

Pé no chão

Tem várias simbologias: a humildade necessária para o trabalho de caridade, as


raízes e tradições da Umbanda, independente de raça, crença, situação financeira
todos deverão estar descaços, com os pés no chão, pois dentro de um terreiro todos
somos iguais. Índios e negros não usavam calçados, é o contato com o elemento

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

natural terra (afinal a Umbanda trabalha com as forças da natureza), também tem a
função de facilitar o descarrego.

Entretanto, por vários motivos culturais ou regionais, a maioria das casas não faz
disso obrigatório. Lembremos ainda que na Tenda Nossa Senhora da Piedade (tenda
mãe da Umbanda), os médiuns trabalhavam calçados.

Postura de Terreiro

É importante conhecermos o comportamento e a postura adequada dentro do


terreiro. Isto demonstra respeito ao sagrado, disciplina e organização.
Não apenas estar e sim ser presente em uma gira, ajude a cantar, bater palmas,
emanar energias positivas, assim todos estarão trabalhando em prol do seu irmão
que ali está.

Antes do início dos trabalhos

É desejado que o filho de fé se mantenha calmo durante o dia em que irá trabalhar
no terreiro e avesso à conflitos de qualquer tipo. Isso porque, quando perdemos a
calma, entramos em sintonia com espíritos e energias hostis que irão contaminar e
envenenar o seu espírito. Se caso for médium, isto dificultará a incorporação e
tornará a atividade do guia incorporado mais difícil.
Sem dizer que é comum a espiritualidade inferior ‘atacar’ o filho de fé em dias de
trabalho, tonando a tarefa ainda mais difícil. Os convites para festas e reuniões com
amigos também costumam acontecer só em dias de trabalho, tentando tirar o filho
de fé do caminho de sua missão. Dores repentinas, apatias e desejos de não ir aos
trabalhos são também extremamente comuns.
A solução para isso? Mantenha-se calmo e paciente, firme-se no seu propósito, ore e
vigie.
Por fim, lembre-se de chegar com antecedência ao terreiro para ajudar na
preparação do trabalho, seja médium, cambone ou trabalhador. Lembre-se que todo
o trabalho desenvolvido dentro de um terreiro não é para o dirigente, nem para a
assistência. É sempre para Deus, todos os Orixás, guias e protetores, os quais saberão
te recompensar de acordo com o sentimento com o qual você realizou o seu
trabalho, e o seu merecimento.

Início dos trabalhos

Depois de tudo preparado, é de bom tom que os médiuns e cambones adentrem ao


Congá ao menos 15 minutos do início dos trabalhos.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

O silêncio e a oração são primordiais para o estabelecimento da corrente que em


breve irá se formar.
Quando os trabalhos começam é importante estar alerta, respondendo às saudações
do sacerdote com firmeza e cantando os pontos com alegria e entusiasmo. Afinal de
contas, espera-se que você esteja ali de espontânea vontade, fazendo aquilo que
acredita-se ser um momento feliz da sua vida. Lembre-se que praticar uma religião é
servir com alegria.

Defumação

É a purificação. Utilizado em pessoas, ambientes e objetos, a defumação proporciona


a desagregação ou mesmo a libertação das más energias. Em dias de trabalho é
fundamental para a preparação do ambiente e a estabilidade dos trabalhos.
Para se receber a defumação, deve-se apenas ficar com os braços semiabertos para a
frente, com as mãos espalmadas para a frente em sinal de recebimento de graças.
Quando o turíbulo estiver à sua frente, dá-se uma volta inteira no sentido horário.
Lembre-se que a fumaça sobe por gravidade, não há necessidade de querer atraí-la
para si. Além disso o carvão em brasa, juntamente com a erva, tem o poder de
absorver e destruir energias negativas.

Bater cabeça

É o momento em que o filho de fé, com humildade, pede a proteção do Orixá Maior,
Oxalá, para o desenvolvimento dos trabalhos. O procedimento correto é:
O filho caminha até a esteira (sem pisar na esteira) e de frente para ela, ajoelha-se.
Com as costas da mão direita ele consagra a esteira, fazendo movimentos em sinal-
da-cruz, dizendo: “Por Olorun, por Oxalá e por Ifá”, repetindo isto por 3 vezes. Em
seguida deita de bruços (barriga para baixo), firma a testa contra a esteira e com as
mãos postadas com as palmas para cima (como quem recebe uma benção), faz sua
curta prece para Oxalá, por exemplo:
“Salve meu Pai Oxalá, peço a sua benção para a minha vida e para os trabalhos de
hoje”.
Em seguida recolhe-se, ficando ajoelhado novamente, e consagra a esteira da mesma
forma que no início. Em seguida dirige-se ao sacerdote para pedir a benção se for da
doutrina de sua casa. Todo esse processo deverá ser feito de forma rápida para que
este fundamento não atrase a continuação dos trabalhos.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Pedir a benção

O filho de fé aproxima-se da entidade ou a quem for pedir a benção de forma


humilde, pega a mão direita do mesmo em suas mãos e diz: “A benção meu pai”;
feito isto, beija mão do da entidade ou sacerdote, em seguida firma-a contra sua
testa, e, finalmente, beija-a novamente. Durante este processo a entidade ou o
sacerdote lhe responderá: “Que Oxalá te abençoe, meu filho!”.
Chegar de forma humilde é um reconhecimento de que terá ao menos naquele
momento seus ensinamentos tanto da entidade quanto do sacerdote. Os beijos
configuram um ato amor e concordância com a direção dos trabalhos pelo sacerdote.
Por fim, firmar a mão do sacerdote contra a testa significa: “que sua sabedoria seja
transferida a mim”.

Durante os trabalhos

Para os médiuns que não estejam incorporados, seja qual for o motivo, é indicado
que fiquem em pé, com as mãos dadas para frente. Para nenhum dos médiuns e
mesmo cambones, é autorizado prestar atenção no atendimento dos guias
incorporados. Sobriedade e discrição são as palavras de ordem.
É necessário salientar que um médium não pode deixar a corrente sem a prévia
autorização do sacerdote ou de seu guia incorporado. Esta autorização também pode
ser concedida pelo pai pequeno ou mãe pequena.

Encerramento

Ao encerrarem-se os trabalhos, todos os trabalhadores da casa, sejam médiuns,


cambones ou curimbeiros, têm a responsabilidade de recolher e guardar os
instrumentos de culto, recolher o lixo, lavar copos ou louças utilizadas no culto,
enfim, todos devem colaborar para que a casa esteja limpa, organizada e pronta para
o próximo trabalho.
Não se deve tomar bebidas ou comer daquilo deixado pelas entidades. Caso haja
restos, poderá ser dividido em pequenas porções entre os trabalhadores da casa. O
que sobrar deverá ser colocado como oferta para aquela entidade, em local
apropriado (conga ou tronqueira).

Após o encerramento dos trabalhos

Depois que deixamos o terreiro, nossa vida retorna à normalidade. Não há


necessidade de mais nenhum procedimento a não ser que tenha sido pedido por
uma entidade ou sugerido pelo sacerdote. Fora isso, vida normal.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Liturgia de Umbanda

Liturgia é o ritual em si. Para a Umbanda é o roteiro de atos seguido para o


desenvolvimento dos trabalhos espirituais. É o trabalho em si.
Em nossa religião não dispomos de um livro codificador, de um manual de
procedimentos para a padronização dos rituais. Desta forma, o que ocorre é que
cada dirigente transfere verbalmente o ritual para seus sucessores ou ele é absorvido
por observação, ou ainda o dirigente desenvolve o seu próprio ritual de acordo com
seus conhecimentos e experiências. Este é um dos motivos pelo qual o terreiro
sempre terá a “cara” do dirigente.
É também por este motivo que encontramos os mais diversos tipos de rituais para
uma gira de Umbanda. Em minha experiência, encontrei até mesmo terreiros que
não dispunham de ritual, ficando facultado aos médiuns os preceitos, procedimentos
e a entidade que iria se manifestar. Isto prova, mais uma vez, que a Umbanda é a
religião da liberdade, e que, por mais que haja dissidências sobre a forma ideal de
liturgia, todas devem ser respeitadas.
As orientações que se seguem dizem respeito ao trabalho dos Orixás e seus
representantes; caboclos, pretos-velhos, crianças, baianos, boiadeiros, ciganos e
marinheiros, pretos velhos, linha d’agua, pescadores, senzala e linha do oriente.
O que apresentamos a seguir é a forma mais completa de ritual. Você poderá
observar que em seu terreiro se cumprem parcial ou integralmente estas etapas
litúrgicas. Ou ainda poderá não identificar nenhuma, pelos motivos expostos no
parágrafo anterior. Uma coisa é certa, parte dos tópicos apresentados a seguir
configuram fundamento de Umbanda pela maioria dos dirigentes, e, por isso, são
mais comuns de serem encontrados nos terreiros.

Abrir a Jurema

“Jurema”, neste caso, não se trata da entidade, nem da árvore sagrada e muito
menos deve ser confundido com o outro ritual afro-brasileiro de mesmo nome. Abrir
a Jurema significa simplesmente abrir os trabalhos do dia. É executado entoando-se
um ponto cantado extremamente conhecido, o qual exalta os Orixás de Cabeça e
Juntó do dirigente. O ponto tem os seguintes dizeres:

“Vou abrir minha Jurema, vou abrir meu Juremá;


Vou abrir minha Jurema, vou abrir meu Juremá;
Com a licença de [Pai Oxalá] e de minha [Mãe Nanã];
Com a licença de [Pai Oxalá] e de minha [Mãe Nanã].”

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

No acima demonstrado, Oxalá e Nanã servem como exemplo de Orixá de Cabeça e


Juntó de um dirigente. Mas poderia ser qualquer outro par de Orixás.
Esta etapa da liturgia é muito comum nos terreiros, mas não configura fundamento.

Prece de abertura

O nome já é autoexplicativo. É o momento do ritual onde pedimos a Olorun (Deus) a


benção sobre os trabalhos. Pedimos também licença e a benção para o guia chefe e
todos os outros protetores da casa. Cada sacerdote tem a sua forma própria de
conduzir esta prece. Em muitos terreiros é o ato inicial dos trabalhos.

Saudação a Exu

Como nossas doutrinas são da umbanda Branca, os Senhores Exus serão saudados
pelo dirigente antes mesmo das chegados dos filhos na casa.
Os trabalhos já se iniciam quando o dirigente faz suas firmezas e obrigações em seu
assentamento vibratório para dar início aos trabalhos.

Para conhecimento:

Devemos saber que ao saudarmos Exu, ele deixa o Congá e assume sua posição de
vigilância. A saída de Exu é importante também para que as energias dele (que são
extremamente densas) não interfiram nas energias sutis dos Orixás e seus
representantes, que irão se manifestar no terreiro. A saudação também serve para
demonstrar nosso respeito e a importância que damos a Exu.
A saudação pode ser como ponto cantado ou saudação verbal. Em alguns terreiros
podemos encontrar até as duas formas juntas.
Em algumas casas a saudação não acontece, mas o sacerdote faz oferta ou firmeza
para Exu antes do início dos trabalhos. Isso para Exu acaba tendo o mesmo valor.
Render graças à Exu antes dos trabalhos, seja com saudação ou seja apenas com
ofertas, certamente é fundamento de Umbanda.

Convocação dos bons espíritos

Pouco comum, pois utilizamos em nossa abertura dos trabalhos. Essa doutrina está
contida no livro dos médiuns de Alan Kardec, onde se pede a vinda dos bons espíritos
para os trabalhos e a proteção contra os espíritos malfazejos.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Defumação

Um dos mais importantes fundamentos da Umbanda, a defumação é largamente


utilizada na esmagadora maioria dos terreiros. É constituída pela queima de ervas,
frescas ou secas, em um braseiro de carvão, previamente aceso em um turíbulo. A
ação da queima das ervas proporciona a desagregação das energias negativas, tanto
dos médiuns quanto da assistência. Agiliza muito o descarrego que será feito pelas
entidades incorporadas durante a consulta.
É importante lembrar que a defumação não é um fundamento apenas da Umbanda
ou das religiões afro-brasileiras. Desde tempos ancestrais, a defumação foi utilizada
por inúmeras religiões para o afastamento de maus espíritos e a reconexão com o
sagrado.

Prece de convocação da linha de trabalho

Pouco difundida nos terreiros. Porem em nossa tenda, eu a utiliza quando faço
minhas firmezas 2 horas antes do início da gira. Peço para que todos os guias de luz
que irão trabalhar naquele dia, ajudem seus cavalos para que tenham firmeza nos
trabalhos.
Porem tem algumas doutrinas que faz minutos antes de começar a incorporação de
cada linha.

Bater cabeça

Ponto alto da liturgia umbandista, principalmente para os médiuns. Ao deitar na


esteira e firmar sua cabeça na direção de Oxalá, deve-se pedir a benção para a sua
vida, mas principalmente para os trabalhos mediúnicos. Pede-se com fervor ao Pai
Oxalá para que a sua vida espiritual seja abençoada fortemente.
Em muitos terreiros, bater cabeça pode significar o único momento onde os
trabalhadores da corrente estarão envolvidos pela mais pura força do Pai Maior. É
uma das heranças do Candomblé para nossa Umbanda.
Era uma tradição, mas infelizmente tem caído em desuso. Não é um fundamento,
pois a gira acontecerá normalmente sem esta prática.
Em nossa tenda, todos de branco batem a cabeça antes mesmo de começar a gira
pedindo proteção para si e para os trabalhos do dia.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Saudação aos Orixás

Em nossa tenda, após a defumação, abertura da gira, vem as orações que saudamos
todos os orixás cultuados em nossa doutrina ( Oxalá, Ogum, Xangô, Obaluaê, Oxóssi,
Iemanjá, Iansã, Oxum e Nana Boruque), em seguida cantamos o hino da Umbanda.
É o início dos trabalhos de incorporação. A saudação a Ogum regente de nossa tenda
e nosso protetor parte importantíssima de uma gira de Umbanda cada casa saúda
seu Orixá regente. Consiste no cântico de pontos para os Orixás; a cada ponto a
energia de um Orixá envolve todo o Congá.
A saudação pode ser completa ou reduzida de acordo com o sacerdote e a tradição
da casa. O mais comum é saudar Oxalá, depois Ogum e iniciar a linha de trabalho do
dia. Entretanto, uma vez que a Umbanda tem como doutrina a força dos Orixás, é
recomendado que a saudação seja completa.
Os cânticos são breves, o suficiente para que os médiuns possam sentir as energias e
se conectarem com seus guias.

A importância de Ogum

Se considerarmos que Ogum é o grande guerreiro e protetor entre todos os Orixás,


facilmente compreenderemos sua importância.
Independente de utilizar saudação completa ou não, Ogum sempre deverá ser
invocado para que a autoridade de sua energia coordene a proteção e a estabilidade
energética para os trabalhos espirituais.
Não existe trabalho umbandista sem Ogum.

Linha de trabalho do dia

Neste ato, é invocado a 1ª linha de trabalho que irá atender a assistência da casa com
o descarrego. Em nossa tenda sempre trabalhamos com caboclos para descarrego,
mesmo porque o nosso dirigente espiritual é o Cacique Pena Vermelha sendo assim a
linha dos caboclos sempre será a primeira a ser puxada, salvo dias de festas que as
saudações são diferentes.
Os pontos cantados são diversos e deverão continuar até que o sacerdote, ou sua
entidade em terra, ateste que a energia necessária para os trabalhos já está
instaurada e a corrente já está completa, firme e estável.
Neste ponto, normalmente se aguarda que os cambones sirvam todas as entidades
com seus tributos (charuto, instrumentos da entidade), para só depois “abrir a
porteira”, que nada mais vem a ser do que permitir a entrada da assistência.
A linha de trabalho ficará em terra até que todos da assistência tenham recebido
atendimento. Isso não significa que o trabalho deverá durar tempo indeterminado;

28
A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

caso haja muitas pessoas para serem atendidas, os cambones, com todo respeito e
gentileza que as entidades merecem, deverão solicitar às mesmas que acelerem seus
atendimentos. Nunca devemos esquecer que a Umbanda é caridade, mas caridade
sem ordem e disciplina torna-se vã, uma vez que alimentará o ego e a vaidade, tanto
da assistência quanto de médiuns mal preparados. É dever de todos, dentro uma
casa de caridade, importar-se uns com os outros, sendo que o interesse de um jamais
poderá sobrepor o interesse dos outros.
Entra a 2ª linha de trabalho em nossa tenda sempre revezamos a linha d’água,
senzala ou a linha simironga (Santo Antônio, Santo Onofre), uma linha sem consulta,
para ajudar no descarrego e atender as pessoas que não estão presentes fisicamente
e sim mentalmente e ou espiritualmente.
Para finalizar vem a 3ª e ultima linha com atendimento. Nesse momento é onde a
assistência consegue conversar melhor com as entidades, pois na linha de caboclos é
difícil o entendimento da língua e nesta terceira linha sempre deixamos as linhas de
baiano, boiadeiro, preto velho, criança, marinheiro.
As giras de cigano sempre são trabalhadas individualmente, até porque a vestimenta
é diferente. Saudamos todos os orixás e damos início a gira de ciganos.

Partida da linha de trabalho

Uma vez atendidas todas as necessidades dos presentes, as entidades poderão partir.
Sem nunca antes promover o descarrego necessário no “cavalo” que ocupou. O
descarrego se faz necessário para a eliminação de energias negativas residuais que
tendem a se aderir no médium.

Hino da Umbanda

Entoar o Hino da Umbanda não só é desejado como também é imprescindível em


nossa doutrina. Se prestarmos atenção à sua letra, notaremos que todos os
sentimentos bons que a Umbanda nos desperta são citados neste cântico. Um
visitante que encontra a Umbanda pela primeira vez, compreende o verdadeiro
sentido de nossa religião ao ouvir o hino. E por último, ajuda sempre a nos lembrar o
verdadeiro motivo pelo qual nos dedicamos e nós entregamos à nossa querida
religião.
A Umbanda realmente é paz e amor e um mundo cheio de luz.

Prece de encerramento

Esta prece tem vários pontos a serem destacados. É uma ação de graças pelas graças
certamente alcançadas naquele trabalho. É também de suma importância para o

29
A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

encaminhamento dos espíritos aprisionados naquele trabalho, sendo que é de


obrigação da Umbanda encaminhar para tratamento e doutrinação os espíritos
arrependidos, bem como garantir que os espíritos malfazejos sejam aprisionados de
forma que nunca mais possam voltar ao plano físico para praticar o mal. E, por
último, é o momento maior do sacerdote na gira, quando ele derrama sobre todos os
presentes a sua benção final e agradece a todas bênçãos realizadas no dia.A prece de
encerramento é também extremamente comum nos terreiros e pode também ser
considerada fundamental.

Descarrego final

Muito pouco encontrado, este descarrego existe basicamente para recolher energias
perniciosas ainda ativas e equilibrar os médiuns, a assistência e o ambiente.
O descarrego final é executado pela ultima linha de trabalho do dia.

Fechar a Jurema

A “Jurema”, que nada mais é que o trabalho, é encerrada com o mesmo ponto
cantado, substituindo-se apenas o verbo “abrir” por “fechar”.

Doutrina Umbandista (parte 1)

Antes de iniciarmos, é necessário entender o significado da palavra doutrina, que


vem a ser o conjunto de normas ou leis, ou ainda fundamentos que compõem uma
determinada associação, podendo ser esta, entre outras, religiosa. Doutrina também
pode se referir à corrente de pensamento interpretativa dessas normas, leis ou
fundamentos.
Como já dissemos anteriormente, a Umbanda possui uma doutrina mínima de
fundamentos, que historicamente foram passados verbalmente de geração para
geração. Entretanto, já possuímos algum material escrito, como as obras de W. W. da
Mata e Silva, Rivas Neto, Ronaldo Linares e Rubens Saraceni, sendo estes os que mais
se destacam.
É necessário esclarecer que cada autor declara em sua obra a sua interpretação da
doutrina umbandista. Mas como determinar a melhor, ou a mais correta?
Infelizmente não existe melhor ou correta. Apenas o filho de fé poderá identificar
aquela que mais se afina com o seu caráter, personalidade e forma de ver nossa
religião.
Abordaremos nesta obra, nossa doutrina e deixamos claro que respeitamos todas as
doutrinas praticadas em nossa linda umbanda.

30
A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Função de uma religião

A etimologia (origem) da palavra “religião” possui diversas interpretações,


entretanto, uma das mais aceitas vem do latim “religare”, que significa religar. Ou
seja, religião é aquilo que religa com o sagrado, com Deus.
Partindo desse pressuposto, praticar religião é se reconectar com Deus com o
objetivo de que sua perfeição dirija nosso caminho terreno, e possa ajudar ou
influenciar os acontecimentos a nosso favor.
Em uma visita ao Brasil, o líder tibetano Dalai Lama, foi interpelado pelo teólogo
Leonardo Boff sobre qual seria a melhor religião. Boff esperava que ele dissesse que
era o budismo tibetano. Entretanto, ele respondeu: Aquela que te faz melhor!
Esta é, de longe, a melhor resposta para a função de uma religião. Fazer as pessoas
melhores. Assim sendo, não importa qual religião você professa, ou ainda, qual
terreiro você frequenta, desde que você esteja sendo despertado para uma vida
melhor em todos os âmbitos.

Funções da Umbanda

Segundo o Caboclo das Sete Encruzilhadas, Umbanda é uma linha de demanda para a
caridade, ou seja, um caminho aberto pela espiritualidade superior, para que os bons
espíritos possam deixar mensagem e levar o consolo e alívio espiritual para todos que
assim o desejam. Não obstante, ainda é função da Umbanda permitir a manifestação
de todo e qualquer espírito, sendo que os mais adiantados ensinarão, os mais
atrasados aprenderão, e, entre estes últimos, se desejarem mudar o curso de suas
existências para trabalhar para a Lei e para a Luz, haverão de receber o
encaminhamento da espiritualidade para que sejam doutrinados para este fim.
Como podemos ver, a função da Umbanda se aplica no ensino, resgate e tratamento
de todos os espíritos, tanto encarnados quanto desencarnados.
Por último, porém não menos importante, com relação aos espíritos desencarnados
que persistirem no caminho das trevas, também é de obrigação da Umbanda
aprisionar e encaminhar para locais onde não mais possam continuar com suas
intenções malignas.
Podemos entender a Umbanda como um exército da salvação, que prioritariamente
leva o auxílio através da caridade, mas também dispõe da força necessária para um
embate militar, caso seja preciso.

Humildade e caridade

Alan Kardec, disse através de sua obra que “fora da caridade não há salvação”,
expressão que é utilizada largamente como lema do espiritismo.

31
A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Mas para entendermos esta sentença, devemos ter claro em nossa mente a definição
dessas duas palavras: salvação e caridade.
Salvação é a libertação do espírito de suas imperfeições que o encaminham ao erro, e
da necessidade de viver em mundos materiais. É o reconhecimento dos valores e
prazeres espirituais, em detrimento aos valores e prazeres materiais.
Para propiciar e favorecer essa salvação, Deus, em sua infinita misericórdia, concede-
nos o direito da reencarnação em busca da evolução espiritual.
E caridade? Este conceito já é mais delicado.
De uma forma mais abrangente, caridade é a virtude que conduz ao amor à Deus e
ao nosso semelhante, de forma que possamos viver o “amai ao próximo com a ti
mesmo”. Para que possamos prestar ajuda aos menos favorecidos.
Mas não é só isso, a maioria das pessoas confunde caridade com doação. É comum
campanhas de solidariedade movimentarem enormes quantidades de mantimentos
e dinheiro, mas isso não é caridade, é doação.
Nos enganamos ao acreditar que toda doação de um bem material possa “limpar”
nossa consciência, por acreditarmos que estamos dessa forma praticando caridade.
Caridade implica muito mais que doação, necessita envolvimento daquele que doa. E
os “bens” distribuídos através da caridade não precisam ser obrigatoriamente
materiais. Aliás, a verdadeira caridade é a doação de tempo, dedicação, atenção,
amor, carinho e senso de bem servir.
Quanto à humildade, é indispensável para aplicação dos fundamentos da caridade. É
também a humildade que gera o envolvimento para transformar a doação em
caridade.
Somos privilegiados por fazer parte de uma religião que ensina estes fundamentos a
seus adeptos, pois é a verdadeira riqueza da espiritualidade.
“Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os
ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a
ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver
o vosso tesouro, ali também estará o vosso coração”. Mateus 6:19,21
Com estas palavras, o Mestre Jesus deixa bem claro sobre qual escolha devemos
fazer; a do mundo material, transitória e insuficiente para o alcance de bem-estar,
ou, espiritual, eterna e geradora de satisfação duradoura.
Jesus também é o grande modelo de humildade e caridade que conhecemos. Seu
comportamento e seus ensinamentos primavam pela simplicidade. Seu discurso
pacífico e espiritualizado tornou-se o foco de admiração de muitos, porém,
infelizmente, poucos seguiram seus passos.
Na Umbanda temos esta oportunidade de seguir os passos do Mestre. A humildade e
a caridade são os maiores fundamentos de nossa religião.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Tudo o que for visto sem amor, sem caridade e sem humildade não é Umbanda
Branca.
Em tudo o que for fazer em sua vida veja se tem ao menos umas dessas filosofias,
casa não tenha nenhum delas repense seus atos, pois o verdadeiro umbandista não é
apenas no dia de gira e sim quando faz de sua religião uma filosofia de vida.

A Umbanda só trabalha para o bem?

Sim. A Umbanda trabalha exclusivamente para o bem.


Por este motivo na Umbanda não fazemos amarrações, não existe sacrifícios, não
demandamos contra ninguém. Umbanda também não é magia negra como muitos
pensam e dizem.
Como já exposto pelo Caboclo da Sete Encruzilhadas, Umbanda é a manifestação do
espírito para a caridade.
Não é possível praticar a caridade causando dano ou sofrimento para qualquer
criatura, ainda mais um espírito humano.
Infelizmente, da mesma forma que a igreja católica tem seus escândalos com
sacerdotes promíscuos, as igrejas de matiz evangélica ou neopentecostal, tem seus
pastores que ostentam riquezas acumuladas pelo sofrimento de seus fiéis, também
com a Umbanda ocorrem esses desatinos.
Pessoas mal-intencionadas, cheias de segundas intenções, utilizam indevidamente o
nome de nossa sagrada religião para seus próprios interesses. Objetivam conseguir
dinheiro, poder e favores dos mais diversos tipos às custas da boa fé de pessoas
angustiadas e desesperadas por soluções a qualquer preço.
Outros ainda, por desconhecerem a verdadeira doutrina umbandista, submetem seus
filhos de fé a práticas estapafúrdias, muitas vezes extremamente prejudiciais a seus
frequentadores. Situações que nada tem a ver com a humildade e caridade
preconizadas por nossa religião.
Salientamos que este tipo de práticas nada tem a ver com a Umbanda. Por isso a
verdade sobre ela deve ser difundida para todos aqueles que possuem os ouvidos, a
mente e o coração aberto para um caminho simples, porém repleto de luz e gratas
alegrias.
O problema não esta nas religiões e sim em alguns religiosos. Todas que seguem o
Deus único é a casa de Nosso Pai, independente da religião que frequente, irá
encontrar o caminho da luz, pois Deus esta dentro de nós.

Deus único

Este tema é de extrema importância pela confusão que a maioria das pessoas, e
mesmo os filhos de fé, fazem com este assunto.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

A Umbanda acredita no Deus único, onipotente, onipresente e onisciente. Isto


inclusive é um dos parágrafos da Carta Magna da Umbanda.
A confusão acontece pelo simples desconhecimento da doutrina e pela diferente
ótica que o Candomblé tem sobre o mesmo tema: os Orixás.
No Candomblé, os Orixás carregam o título de deuses, são considerados espíritos
puros e sem mácula. Já na Umbanda, eles são considerados seres elementares, que
representam as forças da natureza, podendo esta força influir tanto no planeta
quanto nas criaturas humanas.
Do ponto de vista umbandista, o Deus sempre será único, enquanto os Orixás serão
as emanações desse Deus.
Na África, cada cidade, vila ou aldeia cultuava um único Orixá na maioria das vezes.
Poderiam ser dois ou três. Mas independente destes Orixás, os povos africanos
também acreditavam em um Deus único. Entre o povo banto era conhecido como
Zâmbi; já entre os jejes e o povo de ketu, é conhecido como Olorum.
Por estes motivos, e por nossa Umbanda ser uma religião cristã, acreditamos, pois,
no Deus único.
Deus.

Jesus Cristo na Umbanda

A obra de Jesus é incontestável e indispensável para o mundo ocidental. É ele que


nos fornece o modelo de perfeição espiritual, pois ele é um dos espíritos que
chegaram a esse nível.
Era parte da missão de Jesus levar o ensinamento espiritual, da humildade e da
caridade para os povos. Da mesma forma que Sidarta Gautama (Buda) e Confúcio,
entre tantos outros mestres que passaram pelo orbe terrestre.
É recomendado ao umbandista que se familiarize com a obra de Jesus, lendo ao
menos os quatro evangelhos contidos na Bíblia. Mais interessante é o Evangelho
Segundo o Espiritismo, obra de Alan Kardec, que além de discorrer sobre as
passagens da vida do Mestre, ainda tece comentários dos relatos sob um ponto de
vista espiritualista.
O “Sermão da Montanha” é um dos mais célebres discursos de Jesus, onde discorre e
instiga ao pacifismo, a reforma íntima, o perdão. Consiste em um conjunto de
ensinamentos fáceis de ler, mas difíceis de serem praticados. É como um guia de
orientação espiritual para o ser encarnado conseguir cumprir a sua missão terrena.
Além dos ensinamentos, Jesus pregou através do exemplo e da prática caritativa,
desafiando explicitamente os sacerdotes judaicos, que eram a maior manifestação
religiosa de sua época. Usou de seu dom de cura e libertação para levar o consolo aos
necessitados e aos menos esperados. Nunca usou seus dons de maneira vã, pois por
mais estarrecedores que fossem, sempre guardavam um ensinamento implícito.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Em suma, Jesus foi caridoso, humilde, prestava curas, libertações e ensinamentos.


Isso não se parece com o papel desempenhado por nossos amados guias e
protetores? É claro que sim. O que as entidades fazem em espírito, Ele fez
encarnado.
Se seguirmos os passos do Cristo, sempre estaremos no caminho da evolução do
espírito.
Doutrina Umbandista (parte 2)

Reencarnação e evolução espiritual

Este é o foco principal de qualquer religião ou doutrina espiritualista. Por mais óbvia
que possa ser, ainda existe uma grande quantidade de umbandistas que ainda não
compreendem o maravilhoso mecanismo da reencarnação.
O corpo carnal é limitado, envelhece e morre. É como uma “roupa” utilizada pelo
espírito enquanto estamos no mundo material. O espírito, por sua vez, é eterno, e
como tal continua sua jornada após a morte do corpo físico. Quando estamos no
corpo físico, vivendo uma vida, dizemos que estamos encarnados. Quando
despojamos o corpo físico, dizemos que estamos no mundo espiritual ou “entre
vidas”.
Como uma criança que aprende a andar, falar, pensar, ler e escrever, o espírito é um
eterno aprendiz, independente em que condição esteja, encarnado ou
desencarnado. Mas é no mundo material onde aprendemos as mais importantes
lições.
A missão de todo espírito é evoluir até atingir a perfeição. Mas, durante nosso
aprendizado, cometemos muitos erros que deverão ser resgatados para que a lição
se fixe com firmeza em nosso ser. Para que isso possa acontecer, existe a
reencarnação.
A reencarnação é a ferramenta que a providência divina desenvolveu para que
possamos repetir uma lição tantas vezes quanto necessário. Durante este
aprendizado é desejado que quitemos dívidas contraídas em encarnações passadas,
pretendendo não adquirir novas dívidas. Quando o conseguimos, isto determina a
evolução que adquirimos em uma determinada encarnação.
O mais difícil deste processo é que, quando encarnamos, nossa memória é apagada
para que os erros das vidas passadas não representem um fardo na presente.
Dispomos apenas de nossa consciência e nossa intuição para sobrepujar os
obstáculos para nós atribuídos. E é pela consciência e intuição que muitas vezes
sentimos como se conhecêssemos pessoas e lugares, e desenvolvemos facilmente
habilidades que para outros é extremamente difícil. Isto significa que já encontramos
aquelas pessoas, conhecemos aqueles seres e já dispomos, em nosso inconsciente, o
caminho para desenvolver aquela habilidade.

35
A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Isto facilita o desenvolvimento do espírito a cada nova encarnação, podendo este se


ater às lições mais avançadas, que quando aprendidas, alavanca grande
adiantamento.
Temos que ter em mente a necessidade de dedicação às tarefas do espírito. Hoje o
mundo físico nos “engole” com sua velocidade e com a necessidade, sempre
imediata, da sobrevivência. Somos bombardeados a cada instante com verdadeiras
avalanches de informação, na sua esmagadora maioria inúteis, e que causam
sofrimento ao espírito. Nossos compromissos profissionais, familiares, sociais e
escolares nos deixam muito pouco tempo para o desenvolvimento das virtudes
espirituais.
Isto acontece pelo novo momento que o planeta vive, deixamos de ser um plano de
provas e expiações para se tornar um plano de regeneração. Mais do que nunca,
seremos nós que faremos a escolha do rumo de nossas existências. Para isso é
indispensável a determinação e a disciplina para tratarmos dos assuntos espirituais.
A qualidade desta encarnação e das futuras, e mesmo de nosso entre vidas, depende
das escolhas e da forma como nos aplicaremos às tarefas do espírito. Por este
motivo, devemos lançar mãos à obra neste trabalho, sem esquecer que nunca é
tarde para começar e o momento certo é agora. Quanto antes começarmos, melhor
nos portaremos frente aos desafios de nossa missão.

Livre arbítrio

Um dos fundamentos mais sublimes da espiritualidade, o livre arbítrio é a


possibilidade da escolha. Somos nós quem definimos nossas escolhas e decisões, e
seremos julgados por elas.
Não existe nada que aconteça em nossas vidas que não tenha sido gerado por nossas
decisões. A lei espiritual é inexpugnável e se aplica a todos, independente de sua
raça, credo ou classe social. E o desafio está justamente aí.
Quando fazemos boas escolhas e tomamos boas decisões recebemos esta energia de
volta. Ou seja, quem pratica o bem, recebe o bem e vive versa. Quando erramos em
nossas escolhas e decisões, recebemos de acordo com a intensidade deste erro. Isto
não significa punição, mas sim uma forma de advertência necessária para que
possamos ‘acordar’ para a necessidade de mudança.
Muitos espíritos, tanto encarnados quanto desencarnados, encontram-se ainda
muito apegados às necessidades mundanas e a ilusões como orgulho, vaidade, ódio e
vingança, sem perceber que essas emanações só prejudicam a si mesmo. Não existe
mal que não retorne para quem o mandou, de uma forma ou de outra; como
também não existe bem que não dê a volta ao mundo e retorne para quem o enviou.
Para se ter uma ideia da importância e da seriedade do livre arbítrio, uma entidade
espiritual, mesmo que seja seu protetor, não pode ajuda-lo sem o seu pedido, a sua

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

permissão. Elas nada podem fazer sem o seu consentimento. Por isso é pedido à
assistência que relate seu problema e faça seu pedido para o guia espiritual. Dessa
forma, fica implicitamente clara sua autorização para a interferência, que só se
consumará caso seja realmente necessário.
Não somos peças em um jogo de xadrez, temos pleno controle de nossas ações e do
nosso futuro. Mas isto dependerá exclusivamente de como você usará o seu livre
arbítrio.

Lei da ação e reação

Outra grande lei espiritual universal. Também conhecida como lei da causa e efeito. É
a grande niveladora universal, que faz com que cada um receba de acordo com seus
atos.
No ditado popular ‘quem planta vento, colhe tempestade’, percebemos claramente
uma alusão à lei da ação e reação.
Não são apenas os atos, mas cada pensamento que construímos e palavras que
proferimos estão sujeitos a esta lei. Se, através de nossa mente desejarmos o mal
para alguém, independente de você julgar justo, certamente este mal retornará até
nós. Se abençoarmos um irmão com as palavras, esta benção também retornará.
As palavras do Mestre Jesus eram diferentes, mas dizem a mesma coisa: “Não
julgueis para não serdes julgados”.
Por este motivo pessoas que carregam sentimentos de vingança nunca encontram
paz em suas vidas. Como poderiam? Se tudo o que fazem é pensar em formas de
alcançar este tenebroso objetivo. Por pensarem insistentemente no mal, acabam por
receber o mal cada vez mais. Sendo assim, a conta é simples. Basta pensarmos coisas
boas, falarmos boas palavras e praticar bons atos e só receberemos o bem. Mas, para
que isso aconteça, é necessário domar a si mesmo em primeiro lugar. E isto é muito
difícil.
Quem dentre nós vai conseguir ficar calado quando for injustiçado, sorrir quando
receber uma ofensa, ficar em paz quando for humilhado ou mesmo dar a outra face
quando levarmos um tapa na cara? São apenas pequenos exemplos da dificuldade de
se manter equilibrado, pois somente assim nossa ‘boa ação’ receberá uma ‘boa
reação’ a nosso favor.
Diante disto, podemos afirmar com segurança, que a lei da ação e reação é como um
professor muito rígido que nos devolve uma situação da mesma forma que a
acarretamos. Isto não é um castigo, mas sim mais uma manifestação da providência
divina para podermos enxergar nossos erros e trabalhá-los com o objetivo de
aperfeiçoamento.
Enfim, o livre arbítrio lhe permite tomar a decisão que melhor lhe aprouver ou
interessar; entretanto, a lei da ação e reação determina o que lhe será devolvido.

37
A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Plante o amor que colherá amor.

Lei das afinidades espirituais

Esta lei determina que tudo que está a seu redor, seja perfeitamente conforme a
energia que você emana.
Podem ser situações que te acontecem, circunstâncias na qual vive e até mesmo
espíritos, tanto encarnados quanto desencarnados.
Todo ser vivente, encarnado, emana uma determinada energia. Se esta energia for
boa atrairá para si situações, circunstâncias e pessoas boas. Do contrário, receberá
situações, circunstâncias, situações e pessoas ruins.
Para melhor entendermos como isso funciona, é necessário compreender como a
energia de um ser pode ser diferente, uma das outras, e o que causa esta diferença.
Somos a somatória de tudo o que pensamos, falamos e agimos. Se no resultado
encontramos mais positividade que negatividade, emanaremos uma energia positiva,
e o oposto também é verdadeiro.
Fora isso, as experiências acumuladas nesta encarnação e nas anteriores,
determinam situações como se gostamos de esportes ou de estudos, se nos sentimos
bem no meio de pessoas mais abastadas ou mais simples, ou ainda se toleramos
pequenos delitos como jogar lixo na rua ou não.
Somando a polaridade das energias de nossos pensamentos, de nossas palavras, de
nossas ações, de nossa consciência e nossas experiências e habilidades,
determinaremos o meio em que vivemos, nossas profissões, nossos amigos e até
mesmo quais espíritos estão ao nosso redor.
Sempre atrairemos seres que possuam afinidade com nossa energia, independente
de gostarmos ou não dessa companhia. Escolheremos companheiros e
companheiras, profissões e até mesmo bens materiais em conformidade com esta
afinidade energética, ou, como é normalmente conhecida, afinidade espiritual.
Se você deseja ao seu lado espíritos evoluído, que irão te acrescentar sabedoria e lhe
ajudar para que esta encarnação seja tanto menos ‘pesada’, é necessário que
aprendamos a controlar nossos pensamentos atos e palavras. Lembre-se que toda
ação negativa atrairá ainda mais negatividade e vice-versa.
Mas a mudança para melhor sempre é possível. E a transformação contínua é o que é
esperado de um espírito encarnado.

Merecimento

Já falamos sobre livre arbítrio, lei da ação e reação, e das afinidades espirituais, mas
só agora falaremos sobre merecimento. Por quê?

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Pelo simples fato de que é necessário entender perfeitamente estes outros


princípios, antes de entendermos perfeitamente este conceito.
Merecimento é um pré-requisito indispensável para a obtenção das graças que
insistentemente apelamos a Deus e ao plano espiritual.
O merecimento pode ser adquirido através das encarnações, nas entre vidas e até
mesmo na encarnação atual. É regido pela lei da ação e reação.
Da mesma forma que um aluno para ser promovido precisa aprender as lições
daquela etapa do ensino, também somos nós no aprendizado terrestre. Sempre que
merecemos, somos promovidos à uma nova condição ou obtemos algo para a melhor
continuidade de nossas vidas.
Muitas pessoas distorcem o conceito do merecimento e acreditam piamente que
merecem sofrer, ou ainda, que não merecem alcançar nenhum tipo de graça ou
alívio. Isso simplesmente não existe.
Existe um ditado popular que diz: ‘viemos a Terra para sofrer’. Daí pergunto: De onde
tiraram essa ideia?
A espiritualidade sempre se refere ao nosso planeta como uma escola e não como
uma masmorra. Todas as torturas que sofremos são infligidas por nós mesmos. Não
existe nenhuma disposição contrária sobre ser feliz enquanto aprendemos.
Cabe também somente a nós mesmos pensar, falar e praticar boas ações, não pelo
medo da reação, mas simplesmente porque é o melhor para você e para todos.
Quando adquirimos esta consciência recebemos uma reação maravilhosa do
universo, ajustamos a lei das afinidades espirituais ao nosso favor e, quando menos
esperarmos, e mesmo sem pedir, alcançaremos tudo o que desejarmos. Pois quando
tudo isto acontece, o merecimento já está implicitamente concedido.
Mas então como fica o resgate dos nossos erros? Eles não acontecem?
Sim, acontecem. Mas mesmo o resgate pode ser feito de forma positiva.
O Mestre Jesus, em muitas de suas curas, dizia: “Seus pecados estão perdoados”. Ele
dizia isto pela simples autoridade que possuía de perdoar as dívidas por nós
contraídas anteriormente. Perdoada a dívida, não era necessário mais o resgate.
Podemos alcançar a mesma indulgência simplesmente buscando e praticando as
virtudes do espírito como a caridade e a paciência, por exemplo.
"Toda vez que a Justiça Divina nos procura para acerto de contas, se nos encontra
trabalhando em benefício dos outros, manda a Misericórdia Divina que a cobrança
seja suspensa por tempo indeterminado."
Chico Xavier

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Doutrina Umbandista (parte 3)

Anjo da guarda

É a mais importante das entidades que acompanha um ser encarnado.


Extremamente cultuado em todas as religiões espiritualistas.
A palavra anjo vem do grego e significa ‘mensageiro’. Então podemos dizer que os
anjos de guarda são os mensageiros de Deus e da espiritualidade superior enviados
até nós.
Para a Umbanda e para as religiões de cunho espiritualista, o anjo de guarda não é
como um anjo celestial, aquele ser alado que auxilia Deus em suas tarefas. Para nós,
o anjo de guarda é um espírito cuja evolução sempre será superior à do protegido.
Como parte da função do anjo de guarda é com a missão do protegido, é normal que
ele domine os desafios que serão travados por seu dirigido. No livro ‘Brasil Coração
do Mundo, Pátria do Evangelho’, obra do espírito Humberto de Campos,
psicografado por Chico Xavier, é mostrado que Tiradentes, que anos antes havia sido
martirizado por participar de uma conspiração para libertar o Brasil do julgo
português, foi o anjo da guarda de Dom Pedro I, o homem que, enfim, proclamou a
independência do nosso país.
O anjo de guarda, ao contrário de nossos outros guias, é a única entidade que é
escolhida pelo plano superior. São eles que determinam qual espírito irá ser nosso
anjo de acordo com as características e desafios de nossa missão terrena.
Como funções principais, o anjo da guarda é responsável por proteger de todo o mal,
bem como guiar seu tutelado pelos caminhos que propiciem o cumprimento de sua
missão espiritual. Além destas, o anjo de guarda é o grande coordenador dos
protetores de seu afilhado.
Por estes motivos é sempre recomendado na Umbanda que o filho de fé mantenha
uma vela branca de sete dias firmada para seu anjo de guarda; ao lado da vela
coloca-se sempre um copo com água.
Lembre-se que somente firmar a vela não é suficiente, devemos orar olhando para a
vela, ou mentalizando-a, ao menos uma vez por dia. A vela de sete dias nada mais é
que uma comodidade que evita que tenhamos que firmar uma vela todos os dias
para um mesmo objetivo. Por isso as orações diárias são necessárias.
Caso o irmão tenha uma condição financeira reduzida, deverá firmar uma vela branca
comum pelo menos uma vez por semana, mas as orações deverão continuar sendo
diárias. Neste caso de pouco recurso, é importante lembrar que podemos não firmar
velas para as entidades e os Orixás, mas jamais devemos deixar faltar vela ao anjo,
mesmo que esporadicamente.
É importante prestar atenção à vela que firmamos para nosso anjo guardião. Caso a
vela de sete dias dure cinco ou menos dias, devemos nos apegar mais ainda em

40
A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

orações. Caso a vela borre ou a chama fica vacilante ou mínima, devemos sempre
imantar a vela com nossa energia e nossas orações. Nesses casos é importantíssimo
manter uma vela sempre firme até que a energia se estabilize.
Caso o irmão de fé, em momento de angústia, não souber a quem pedir, peça ao seu
anjo da guarda, ele é o mais importante guia e também saberá convocar as entidades
necessárias para o teu auxílio. Para isso bastar fazer com humildade a oração do anjo
da guarda.
A oração tradicional do Anjo de Guarda:

Santo Anjo do Senhor,


Meu zeloso guardador,
Pois que a ti me confiou a Piedade Divina,
Hoje e sempre
Me guarde, reja, governe e ilumine
Amém

Guias e protetores

Guiar e proteger são funções de todo espírito benfeitor que nos acompanha
perenemente. Uns podem ser guias e protetores, outros podem ser apenas
protetores.
As entidades que nos acompanham, estão conosco normalmente desde o dia do
nosso nascimento, podendo que alguns tenham acompanhado até mesmo a nossa
gestação, para certificar-se de que viríamos ao mundo sem maiores problemas.
Diferente do anjo da guarda, somos nós que escolhemos nossos protetores. Quando
recebemos a autorização para reencarne, definimos nossa missão a ser cumprida.
Dessa forma procuramos sempre convidar espíritos amigos ou que respeitamos, ou
ainda que temos certeza que serão imprescindíveis para o bom andamento de nossas
tarefas. Eles podem aceitar ou negar, não tem obrigação para conosco. Dessa forma
montamos nossa guarnição espiritual.
Muitos de nossos guias e protetores podem ter compromisso com partes de nossa
missão, outros ainda deverão certificar-se de que encontremos as pessoas certas
para nos ajudar ou para que possamos efetuar nosso resgate, outros ainda são
responsáveis por garantir que certos desafios se coloquem para nós encarnados.
Com tanta proximidade, não é difícil que possamos absorver certas características de
personalidade de nossos guias, quando enfrentamos as mais diversas situações da
vida. Podemos nos sentir, eventualmente, fortes, rápidos, corajosos, sábios, velhos,
novos, entre tantas outras sensações. O importante é saber que a cada desafio,
teremos sempre um especialista à nossa disposição para nos auxiliar a superar
aquele obstáculo.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Nossas entidades podem se afastar ou podem ser afastados de nós quando estamos
desleixados quanto à nossa espiritualidade, sendo assim alvos fáceis para as hostes
negativas. Nenhuma entidade fará mal ao seu cavalo, pois ela precisa de sua
permissão para que atue em sua vida. Um trabalho de magia negra pode afetar a nós
e até mesmo nossos guias. Por isso é tão importante uma visita ao terreiro para um
passe ou exercitar a mediunidade nos trabalhos. Assim ficamos menos vulneráveis e
caso algo do gênero aconteça, poderemos rapidamente tomar providências. Nunca
se esqueça: orar e vigiar sempre!
Podem afastar-se voluntariamente de nós quando nos desviamos radicalmente do
caminho de nossa missão, ou quando abrimos portas para a negatividade. Afastam-
se muitas vezes pela dificuldade que encontram em manter-se próximos, pela
polaridade de nossa energia, por nossa energia estar muito diferente da vibração
deles. Então, é como se nós os mandássemos embora; mas, mesmo distantes, estão
nos vigiando e tentando prestar a ajuda que for possível.
Quando estamos com Deus nenhum mal nos atinge. Ninguém pode mais do que
nosso Pai Oxalá.
No caso de médiuns de corrente, esta situação é ainda mais complicada, pois além de
estarmos deixando que o plano inferior nos guie, nos dias de trabalho são estes
espíritos malfazejos que virão em terra, fazendo-se passar pelos verdadeiros guias de
luz. Neste caso cabe ao sacerdote oficiante da gira detectar a situação e encaminhar
o intruso. Também o assentamento vibratório dos terreiros é indispensável para
estes momentos, pois mina a força dos espíritos negativos.
Muitos têm dúvidas sobre se todos os encarnados possuem guias e protetores; e a
resposta é sim, independente de serem médiuns, todos possuímos nossos guias e
protetores que nos acompanham, orientam e protegem.
Não podemos esquecer de que nem todos os espíritos que nos acompanham foram
escolhidos por nós antes do reencarne, alguns se aproximam por afinidade espiritual,
e no caso dos médiuns de trabalho, podem se aproximar pela oportunidade de
prestar a caridade.
Os guias podem ser de diversas origens e falanges. Somente na Umbanda são
conhecidas as linhas de caboclos, pretos-velhos, crianças, baianos, boiadeiros,
marinheiros, ciganos, linha da simironga, linha d’agua, pescadores, linha do orientee
a senzala. As diversas correntes se aproximam da Umbanda pela oportunidade de
manifestar a caridade que a religião lhes proporciona.

Intuição

Segundo o dicionário, intuição é a faculdade de perceber, discernir ou pressentir


coisas, independentemente de raciocínio ou de análise.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Se está independente de raciocínio ou análise, isso quer dizer que ela não é
manifestada pelo mental. E isto está correto.
Para nós umbandistas, intuição é a forma que nossos protetores usam para nos
transferir informação. É o canal de comunicação da espiritualidade conosco. É feito
desta forma para nos advertir sobre perigos ou situações incômodas. Podem dizer
também sobre pessoas que fazem parte de nossa missão, seja como auxílio ou
resgate.
Nossos guias lançam mão desse recurso para não infringir nosso livre arbítrio, sendo
assim, eles nos transferem o recado, porém a decisão continua sendo nossa.
Para cada um a intuição pode ser sentida de forma diferente; para alguns é como um
lampejo, uma idéia, para outros são como sensações, e ainda há aqueles que a
sentem como um choque elétrico.
De qualquer forma, devemos ter em mente que a espiritualidade sempre atua a
nosso favor.
Quando recebemos uma intuição é importante falar ou agir imediatamente,
aproveitando a pureza dessa intuição. Se não for o caso de falar nem de agir, ao
menos tente registrá-la exatamente como você a recebeu.
Por fim, muitos perguntam se existe intuição negativa, ou seja, causada por espíritos
malfazejos. E a resposta é sim, isso certamente pode acontecer. Para evitarmos essa
situação indesejada é importante estarmos sempre nos descarregando nos terreiros,
sempre mantendo nossa energia positiva e sempre fazendo uma reflexão sobre nós
mesmos. Como diz o Mestre, orar e vigiar. O preço da liberdade é a eterna vigilância.
Mantenha-se sempre conectado com seus guias e seus mentores. Mas como ? Nas
orações onde damos permissão para que possam atuar em nossas vidas e desta
forma, todo o mal que nos cerca será encaminhado ao seu devido lugar e nossas
intuições serão as melhores.

Mundo invisível que nos cerca (parte 1)

Neste capítulo, entenderemos o mundo invisível que nos cerca e como o afetamos
através de nossas próprias energias, tanto positivamente quanto negativamente.

Energia

A palavra energia vem do grego ‘energeia’ e significa atividade, porém, em nosso


mundo material, definimos como a capacidade de um corpo de produzir ação,
trabalho ou movimento. Nosso mundo apresenta várias formas de energia como
energia luminosa, energia mecânica, energia muscular, energia calorífica, energia
nuclear, entre outras.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Do ponto de vista espiritual, energia é muito mais. É a matéria prima que constitui
tudo o que temos no universo, tanto no plano material quanto no plano espiritual.
Um princípio universal da energia é que ela não pode ser criada, apenas
transformada. Esse princípio rege muitas disciplinas como a química e a astronomia.
No universo uma estrela que ‘morre’ e explode lança milhões de partículas que, ao se
aglutinarem, darão origem à novas estrelas.
O famoso físico alemão Albert Einstein, em sua teoria da relatividade, demonstra que
energia é igual à massa multiplicada por aceleração. Difícil de entender? Explicamos
então.
Quando aceleramos as partículas de uma determinada partícula, ou grupo de
partículas, mais energia obtemos. Este princípio foi utilizado para o desenvolvimento
da bomba atômica.
Mas o que tudo isso tem a ver com o ponto de vista espiritual?
Einstein provou que tudo é composto de energia, e toda e qualquer energia pode ser
transformada.
Corpos densos como uma parede, ou nosso corpo físico, é energia em repouso ou
com baixa aceleração. Corpos menos densos ou sutis, como os gases, são compostos
de energia com maior aceleração. Neste último exemplo também se inclui o espírito.
Resumindo, do ponto de vista espiritual tudo é energia e a energia pode ser
transformada. Assim sendo, todos os espíritos podem ser afetados por outras
energias.
As energias, para o nosso estudo, dividem-se em duas categorias: energia imanente e
energia consciente.

Energia Imanente

Energia imanente é a primária, vibratória, invisível, essencial e multiforme,


totalmente impessoal, dispersa em toda a criação original, no meio ambiente,
interpenetrando tudo no Universo, portanto, universalmente difusa, onipresente,
ainda indomada pela consciência humana, e demasiadamente sutil para ser
identificada pelos atuais instrumentos tecnológicos.
A energia imanente é liberada em todos os domínios naturais com maior força, mas
também está em todos os lugares, é a energia dos sagrados Orixás. Quando vamos ao
domínio de Iemanjá, recebemos a energia imanente do mar; e o mesmo acontece
nas matas de Oxóssi, nas pedreiras de Xangô ou nas montanhas de Oxalá.
A maior fonte de energia imanente é o próprio ar que respiramos. Os hindus chamam
essa energia de “prana”. É da cultura popular dizer que estamos com “quebrante”
quando bocejamos. Isto é verdade, pois quando bocejamos aspiramos uma grande
quantidade de ar e, por conseguinte, de energia, de prana. Isto ocorre quando
estamos passando por situações de obsessão espiritual.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Exercícios respiratórios são extremamente positivos para a absorção de energia,


acalma o espírito e oxigena todo o nosso corpo. É por isso que quando vemos uma
pessoa irada ou transtornada, a primeira coisa que pedimos a ela é que respire
profundamente. No final deste tópico, ensinaremos exercícios para melhorar a
respiração e a absorção de energia.
O fato é que essa energia original e ancestral é extremamente necessária para a
manutenção da vida em nosso planeta, pois além de fonte de energia positiva
infinita, também ajuda a harmonizar nossas próprias energias que são deterioradas
pelo ego, pelo consciente e pelo subconsciente.
Energia imanente não pensa, não tem direção, apenas se derrama em todas as
direções, infinitamente. Pode harmonizar, curar e gerar bem-estar físico, mental e
espiritual.
Quando entramos em contato com a natureza, seja qual for o domínio, normalmente
nos sentimos cansados fisicamente, mas renovados. Essa sensação de renovação e
felicidade que sentimos é provocada pela energia imanente.

Energia Consciente

Energia consciente ou consciencial é a imanente modificada por nós por meio dos
nossos processos energéticos, pensamentos e sentimentos. As energias que
produzimos nos afetam, bem como a todos os nossos semelhantes e os ambientes
que frequentamos.
A energia consciente indica imediatamente a condição na qual o indivíduo se
encontra. Com um simples pensamento que emitimos, atraímos consciências que
estão no mesmo padrão energético. Por isso, precisamos ficar atentos aos ambientes
que frequentamos, às pessoas com as quais nos relacionamos e, principalmente, aos
pensamentos e sentimentos que cultivamos.
Então podemos dizer que a energia imanente é uma poderosa energia pura, porém
neutra, não possui polaridade, existe apenas pelo objetivo de cumprir sua função no
planeta, atuando sobre os seres vivos de acordo com a orientação original de seu
Orixá.
Já a energia consciente é a energia imanente por nós absorvida, entretanto, alterada
pelo que pensamos e por nossas emoções, conferindo à esta energia uma polaridade
positiva ou negativa. Energia consciente é regida pelas leis da ação e reação, bem
como a das afinidades espirituais, sendo que a energia imanente não.
A energia não pode ser criada nem destruída, mas avaliada, concentrada, bloqueada,
dispersa, transferida, captada, transformada, modulada, emitida e projetada. Para
isso basta estudo, exercício e disciplina.
Por fim, devemos ter consciência da energia irradiada por nós e pelo mundo que nos
cerca.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Exercícios

Exercício respiratório
Sente-se no chão com as pernas cruzadas (posição clássica de meditação), com a
coluna ereta. Com sua mão direita, pressione levemente abaixo do seu umbigo e
comece a respirar, inspirando pelo nariz e expirando pela boca. A inspiração deve ser
lenta e a mais profunda possível, de forma a preencher totalmente seus pulmões; a
expiração deve ser feita em sopro, como se estivesse soprando um apito (fazendo um
‘bico’ com os lábios), de forma a expulsar todo o ar de seus pulmões.
A cada respiração, é natural que as inspirações comecem a ficar mais e mais
profundas, até que alcancem a plena capacidade de seus pulmões. Assim sendo,
repita a respiração até sentir que sinta sua mão direita é empurrada para frente. Este
é o sinal que você está aproveitando ao máximo sua capacidade pulmonar.
Este é um exercício para disciplinar sua respiração e pode ser feito diariamente por
alguns minutos apenas. Você pode manter seus olhos fechados durante o exercício,
tente manter sua mente concentrada na respiração, caso não consiga, pense em algo
que te faça sentir bem.

Exercício para avaliar sua energia


Material: 01 copo descartável novo, um galho fresco de arruda, um pouco de água.
Coloque água no copo até a metade, em seguida coloque a arruda dentro e deixe o
copo próximo a você. Em seguida exercite a respiração do exercício acima por 1
minuto, em seguida pegue o copo com sua mão esquerda, em seguida poste sua mão
direita acima do copo em forma de concha (com os dedos unidos), e, pensando em
coisas positivas, tente transferir para o galho de arruda todo o seu amor e seu desejo
de que todo o bem do universo envolva aquele ramo. Faça isso por três minutos.
Depois, guarde o copo em lugar limpo e coberto, e observe o passar dos dias.
Se sua arruda durar até 3 dias Sua energia não está boa, você precisa de ajuda.
Se durar de 3 a 7 dias Normal, você está bem mas não conseguiu causar diferenças
na arruda.
Se durar de 7 a 10 dias Você conseguiu levar com êxito boas energias.
Se durar de 10 a 15 dias Você é um excelente canalizador de energia positiva.
Se durar mais de 15 dias Você provavelmente possui dons de cura.

Chakras

Agora que entendemos um pouco sobre a energia e suas características, é hora de


compreender como essa energia atua sobre nossos corpos.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Nosso corpo é permeado por meridianos e pontos de energia. As técnicas orientais


como a acupuntura, o shiatsu e a reflexologia fazem uso desses pontos há milhares
de anos.
Os pontos de energia estão por todo o nosso corpo. Podem ser centros de energia
menores, secundários ou principais. Estes últimos são conhecidos como chakras e é o
nosso objeto de estudo.
A palavra chakra vem do sânscrito e significa centro, roda. Os chakras são centros
principais por onde a energia é absorvida em nosso corpo. Desta forma eles são
percebidos por clarividentes como vórtices (redemoinhos) de energia vital, espirais
girando em alta velocidade, vibrando em pontos vitais de nosso corpo. Os chakras
são pontos de interseção entre vários planos e através deles nosso corpo espiritual se
manifesta mais intensamente no corpo físico.
São sete os principais chakras, dispostos desde a base da coluna vertebral até o alto
da cabeça, e cada um corresponde a uma das sete principais glândulas do corpo
humano. Cada um destes chakras está em estreita correspondência com certas
funções físicas, mentais, vitais ou espirituais. Num corpo saudável, todos esses
vórtices giram a uma grande velocidade, permitindo que a energia (prana) flua para o
sistema endócrino. Mas se um desses centros começa a diminuir a velocidade de
rotação, o fluxo de energia fica inibido ou bloqueado, e disso resulta o
envelhecimento, a doença e o mal-estar mental, emocional e espiritual.
Os chakras são conectados entre si por uma espécie de tubo etérico (Nadi) principal
chamado "Sushumna", ao longo do eixo central do corpo humano. As Nadis
conduzem e regulam a energia conduzida aos chakras.

Os Sete Chakras Principais

Os sete chacras principais do corpo são, de baixo para cima: Básico, Sexual, Plexo
Solar, Cardíaco, Laríngeo, Frontal e Coronário. Todos eles estão associados ao
sistema endócrino do corpo humano, e cada um deles está associado a uma glândula
específica.
Vamos nos basear aqui no estudo dos hindus, que se debruçam sobre a anatomia
sutil há pelo menos 10 mil anos, por meio da medicina ‘ayurvédica’ e das escrituras
sagradas do Hinduísmo. Eles são os pioneiros no estudo dos chakras, e representam
cada um deles com flores-de-lótus, com quantidades de pétalas diferentes. Quanto
mais sutis são os chacras, mais pétalas eles têm (com exceção do chacra frontal).
Do ponto de vista espiritual, cada chakra traz consigo uma missão a ser cumprida
pelo homem. A vibração de cada um dos chakras também indica se a pessoa está
bem ou não em cada parte do corpo e em cada setor da sua vida. Um chakra que
vibra em excesso está hiperativo, ou que vibra menos do que o normal, hipoativo,
está em desequilíbrio.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Chakra Raiz, Básico ou da Base

Ele é chamado pelos hindus de Muladhara, que em sânscrito significa suporte. Está
na base da coluna (no último osso, cóccix), mais exatamente na região do períneo.
Sua abertura está voltada para baixo, para a terra. É o responsável pela absorção da
energia telúrica e pelo estímulo direto da energia no corpo e na circulação do sangue.
Ele está ligado às glândulas suprarrenais, responsáveis pela liberação no sangue do
hormônio adrenalina, que nos impele a preservar a nossa vida diante de situações de
perigo ou de decisão.
O chacra básico apresenta a cor vermelha, é ligado ao elemento terra e rege também
os órgãos que dão estrutura ao corpo (ossos, músculos, coluna vertebral, quadris), às
pernas, e aos pés. Dessa forma, esse chakra nos oferece um suporte, uma estrutura
para vivermos no plano terrestre, pois é ele que nos conecta à terra, à existência.
É comum que pessoas com depressão ou que já atentaram contra a própria vida
estejam com esse chakra fragilizado. Pessoas muito apegadas a coisas materiais, que
acumulam coisas antigas, costumam ter problemas de intestino preso e isso reflete
um mau funcionamento do chakra básico.
Pessoas prósperas e com boa saúde costumam ter um chakra básico igualmente
saudável. A missão deste chakra é fazer com que caminhemos com equilíbrio no
planeta Terra e ele expressa a saúde do corpo físico como um todo.
Também conhecido como chakra da sobrevivência. É bloqueado principalmente pelo
medo. Se deseja que este chakra se abra, deve encarar seus medos e dissolvê-los,
deixe o medo ir embora.

Chakra Sexual

Para os hindus, é o Swadhisthana (ou cidade do prazer, em sânscrito) e encontra-se


na região do baixo ventre, abaixo do umbigo. É fisicamente ligado às gônadas –
testículos (homem) e ovários (mulher) – e à energia feminina, ao útero materno, à
procriação (à criação de outras coisas também, como projetos pessoais,
profissionais), à gravidez. É responsável pela reprodução e troca sexual durante o
sexo, e pelo controle de líquidos em todo o corpo humano.
O chacra sexual energiza toda a área genital e urinária, também cuida da filtragem e
circulação de líquidos nos rins e por expelir todas as excreções do corpo. É regido
pela Lua (por isso tão vinculado ao feminino, à sexualidade, à maternidade e à
criação) e pelo elemento água (vinculado ao líquido amniótico, às relações
interpessoais, à autoestima, ao amor-próprio).
Na gestação, dentro do ventre da nossa mãe, ficamos 9 meses ligados a ela pelo
cordão umbilical. No útero fomos abrigados e envolvidos pelo líquido amniótico,
fomos nutridos por ele; por todos esses motivos, a saúde deste chacra mede e

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

influencia a qualidade de nossa relação com a Terra, com a família, com as pessoas
em geral, e com nós mesmos. Ele representa nosso corpo emocional, armazena
emoções vividas em relacionamentos, e nos dá a missão de interagir com o mundo,
com aquilo que está ao nosso redor de forma harmoniosa.
Também pode ser chamado de chakra sacro, e apresenta a cor laranja, roxa ou
vermelha (dependendo das circunstâncias). É o chakra da troca sexual e da alegria.
Muitas escolas espirituais evitam falar sobre este chakra e colocam em seu lugar o
chakra esplênico (ou chakra do baço).
Quando está bloqueado, causa impotência sexual ou desânimo, problemas de
relacionamento, baixa autoestima. Quando hiperativo, causa intenso desejo sexual e
outras compulsões. Se o chakra sexual estiver saudável, ele estimula o melhor
funcionamento dos outros chakras e ajuda no despertar da kundalini; a pessoa tem
uma autoestima equilibrada, consegue aproveitar e apreciar os prazeres da vida.
É o chacra do prazer e é bloqueado pela culpa. Perdoe-se de seus erros, liberte-se da
culpa para ativar este chacra.

Chakra do Plexo Solar

Chamado de Manipura pelos hindus (em sânscrito, cidade das joias), fica um ou dois
dedos acima do umbigo, e está ligado ao pâncreas. Esse chakra apresenta cor
amarela, verde-forte e vermelha.
Ele influencia nossa relação com a matéria e com o poder pessoal. Neste chacra
ficam retidas emoções densas como raiva, mágoa, medo, tristeza, angústia, rancor,
ansiedade. É um dos chakras que mais precisam ser tratados e harmonizados
sempre. Representa o corpo mental.
O plexo solar controla a região das vísceras, e não é à toa que todas as emoções
densas e viscerais (como paixão e desejo) se acumulam nessa região. Ele é
responsável por absorver a energia dos alimentos e distribuí-la para todo o corpo. É
um dos chakras mais suscetíveis à nossa rotina. A maioria das pessoas sofrem com
algum problema físico nesta região, como gastrite, problemas estomacais, diabetes,
ou outros problemas digestivos.
Quando está bloqueado, o chakra umbilical causa enjoo, medo ou irritação. Quando
em harmonia, nos dá um poder de realização muito grande, é o chakra que nos
impele a agir. Esse chakra tem grande vitalidade quando saudável, e funciona como
um radar psíquico, percebendo energias ou presenças espirituais no ambiente.
Seu elemento é o fogo e representa a força de vontade. É bloqueado pela vergonha.
Para ativá-lo reflita sobre suas vergonhas e aceite que esses fatos aconteceram.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Chakra Cardíaco

Os hindus deram o nome de Anahata (Câmara secreta do coração), e, pela tradução


do sânscrito, fica fácil de saber onde ele está – na região do coração, no centro do
peito. O chakra cardíaco apresenta cor verde e amarelo-ouro, e está ligado à glândula
timo.
É responsável pela energização do sistema cardiorrespiratório, e toda a energia do
tórax. Considerado o centro do amor e canal de expressão dos sentimentos, também
está vinculado ao equilíbrio, ao amor universal, à compaixão, ao altruísmo e,
fisicamente, ao sistema imunológico.
O chakra do coração tem a função de equilibrar as energias de todos os outros
chakras, pois está no centro, tendo abaixo dele três chakras inferiores associados à
existência na Terra, e acima, três chakras superiores, mais sutis e associados ao plano
espiritual. É o coração que conecta o Céu com a Terra, é a conexão da espiritualidade
através da matéria. Representa o corpo astral.
É o chakra mais fragilizado se houver um desequilíbrio emocional. Se for bem
desenvolvido, torna-se um canal de amor para o trabalho de assistência espiritual.
Quando existe um bloqueio, a pessoa sente depressão, angústia, irritação, pontadas
no peito, é excessivamente materialista e apegada. Fisicamente, o bloqueio pode
gerar infarto, taquicardia. Nas mulheres, pode aflorar câncer de mama.
Tem como elemento o ar (que entra pelos pulmões e mantém a vida), é também
conhecido como chakra do amor incondicional, sendo bloqueado pela tristeza, pelo
pesar. Reflita sobre suas perdas e lembre-se que o amor também é uma forma de
energia que não se destrói, mas se transforma. O amor continua existindo dentro do
seu coração e poderá ser despertado novamente por outro ser ou circunstância. Ao
reativar o amor incondicional, você também ativa o chakra cardíaco.

Chakra Laríngeo

Batizado como Vishuddha (O purificador do sangue, em sânscrito). Esse nome já nos


dá algumas pistas da glândula à qual se vincula: a tireoide (e paratireoides).
A tireoide tem como função filtrar o sangue, regular os ciclos menstruais nas
mulheres.
Está localizado na garganta e é responsável pela comunicação, pela expressão das
ideias, verbalização e concretização de projetos.
Fisicamente, cuidam da boca, garganta e vias respiratórias. As mãos e os braços são
extensões físicas do chakra da garganta, pois são com eles que trazemos as ideias
para o plano material, colocando a mão na massa.
O Laríngeo representa o corpo etérico padrão e apresenta cor azul-celeste, lilás,
branco prateado ou rosa. Quando apresenta boa saúde e desenvolvimento, facilita a

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

psicofonia e a clariaudiência. É considerado também como um filtro energético que


impede que as energias emocionais cheguem até os chakras da cabeça.
Quando apresenta desequilíbrio, pode causar dor de garganta, herpes, dores de
dente e/ou gengiva, hiper ou hipotireoidismo. Uma pessoa com problemas de
adaptação, ou que aguenta tudo calada, “engole sapos”, pode ter o chakra da
garganta bloqueado.
Seu elemento também é o ar, mas no sentido de produzir som. É também conhecido
como chakra da expressão ou da verdade. É bloqueado por mentiras, principalmente
aquelas que contamos para nós mesmos. Para liberar este chakra, ponha para fora
tudo o que você deseja falar para as pessoas. Se isto não é possível, mentalize a
pessoa na sua frente e verbalize tudo o que deseja falar para ela. Reflita sobre os
pontos de sua vida e modifique sua percepção com relação às mentiras que você
conta para você mesmo. Autoafirmação verbal também ajuda bastante.

Chakra Frontal

O Ajna (Centro de controle, em sânscrito) é mais conhecido do como terceiro olho.


Isso quer dizer que ele está na testa, entre as sobrancelhas, e vinculado à glândula
pituitária ou hipófise. Apresenta cor índigo, branco-azulado, amarelo ou esverdeado.
Ele controla todos os outros chakras, é dele que saem todos os comandos para o
corpo todo; também cuida do lobo frontal, que representa a nossa porção lógica,
nossos ideais, raciocínio e pensamentos, nossa capacidade de aprendizagem,
observação e intuição. O chakra frontal também representa o corpo espiritual e é
responsável pela saúde dos olhos e do nariz.
Quando está saudável, o ajna adquire capacidade de clarividência e expande a
intuição. Ele é fácil de ser trabalhado, pois o usamos muito no dia a dia pela visão.
Geralmente a sua atividade pode ser sentida por uma vibração ou sensação de calor
na testa. Esse chakra também representa a dualidade e os dois hemisférios do nosso
cérebro, pois é desenhado com apenas duas pétalas.
Há diversas disfunções nesse chakra, como um excesso de pensamentos, ideias que
se acumulam e não são colocadas em prática, desorganização, falta de foco.
Fisicamente, a pessoa pode sofrer com sinusite, que é a somatização dessa congestão
mental. Também pode aparecer a sensação de pânico, dores de cabeça, até
problemas mentais. A meditação é uma ótima forma de esvaziar a cabeça e limpar o
chakra frontal.
Também conhecido como chakra da sabedoria ou do discernimento. A força dos
quatro elementos está neste chakra. É bloqueado pelas ilusões, principalmente pela
ilusão do ter e ilusão da separação. A compreensão e o despertar da consciência
despertam a força maior deste chakra.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Chakra da Coroa ou Coronário

O Sahashara (Lótus das mil pétalas, em sânscrito) possui exatamente 972 pétalas.
Está no topo da cabeça, ligado à pineal ou epífise, que é a glândula que fica no centro
da cabeça e é responsável pela mediunidade, funcionando como uma ‘antena’ para a
força cósmica e o mundo espiritual. O chakra forma uma coroa de luz, por isso
também é conhecido como chakra da coroa, pois está voltado para cima. Apresenta
cor violeta, branco-fluorescente ou dourado.
Através desse chakra, podemos alcançar a compreensão de tudo e é por ele que nos
conectamos com o plano espiritual, com o Eu Superior, com Deus e o divino em todas
as coisas; está ligado à nossa forma de professar nossa fé e evoluir espiritualmente.
Quando ele é trabalhado e desenvolvido, facilita a lembrança e a conscientização das
projeções da consciência. Tem muita importância na telepatia, no desenvolvimento
da mediunidade, nas expansões da consciência e na recepção de temas elevados. É o
chakra por onde penetra a energia cósmica e a energia do Sol também.
O coronário é o chakra mais importante, pois é o responsável por energizar o
cérebro, tem influência nas funções mentais e na produção de serotonina, o
hormônio do bem-estar, pois regula o sono, o apetite, o humor, entre outras
funções.
Esse chakra representa o corpo causal. A vibração dele também indica que estamos
vivos. Por esse motivo é que pessoas que dizem não acreditar em Deus, ou não
professar nenhuma fé, ou não ter alguma prática religiosa, também apresentam
atividade no chakra da coroa.
Quando está em desequilíbrio, a pessoa pode desenvolver fobias, problemas
neurológicos, falta de fé, depressão, tendências suicidas. Quando está saudável,
ativamos toda nossa sensibilidade e vivemos alinhados ao nosso propósito, com
saúde, felicidade e muita disposição.
O chakra da coroa é o mais importante de todos os chakras, e a sua missão é
compreender toda a existência e se iluminar, integrar-se com o todo. É nosso último
dever no planeta Terra.
Toda a informação de nossos guias e da espiritualidade passa por este chacra e ele
está ligado aos quatro elementos mais o éter. Pode ser conhecido também como
chakra da luz e, por estar ligando ao mundo cósmico e espiritual, é bloqueado pelas
ligações com o mundo físico. O apego em excesso a coisas ou pessoas pode causar
grandes danos a ele. Para fortalece-lo precisamos trabalhar o desapego e
compreender que esta vida é transitória, e deixar que as ligações terrenas se
dissolvam.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Kundalini
É um poder espiritual adormecido no chacra básico. Depois do despertar, a Kundalini
atravessa os seis chakras que estão acima. São eles: o sacro, plexo solar, cardíaco,
laríngeo, frontal, até chegar ao da coroa.
Ao subir pela coluna vertebral, chega-se ao sétimo chakra dando a iluminação, ou
Nirvana, para o discípulo (o Nirvana só é atingido por almas virtuosas). Esse processo
ocorre somente para pessoas de altíssimo nível espiritual, que estejam preparadas,
ou para aqueles que recebem essa bênção. É o poder espiritual primordial, ou
energia cósmica, que jaz adormecida acima do primeiro chakra, o Muladhara, o
centro de força situado na base da coluna. É a energia que transita entre os chakras
que são centros de energia no corpo físico.
Deriva de uma palavra em sânscrito que significa, literalmente, "enrolada como uma
cobra" ou "aquela que tem a forma de uma serpente". É a energia do Universo em
seu aspecto total.
Muitos a retratam como uma energia que sobe do chakra básico para o alto,
serpenteando e envolvendo cada um dos outros chakras até chegar ao coronário.
Uma lenda diz que Kundalini é a deusa geradora da terra que sobe ao céu em direção
ao seu parceiro Shiva, o princípio criador masculino. O chakra que regula o encontro
dessas forças é o cardíaco.
Ao traspassar cada chakra, limpa, desperta e desenvolve os mesmos, trazendo bem
estar e equilíbrio.

Exercício
Para despertar a kundalini e ativar os chakras
Deite-se de costas no chão, com as pernas flexionadas para assentar sua coluna,
deixe os braços ao longo do corpo com as palmas das mãos viradas para o chão.
Em seguida respire profundamente três vezes, para alcançar um certo relaxamento.
O exercício consiste em inspirar profundamente e prender a respiração, neste
momento você fecha o esfíncter anal, conta até 4, e em seguida relaxe o esfíncter ao
mesmo tempo que solta lentamente sua respiração (em sopro). Relaxe três segundos
e repita a operação 50 vezes.
Depois da primeira sequência, relaxe por pelo menos cinco minutos, sem se levantar.
O exercício termina com 4 sequências de 50.
Dor de cabeça, tontura, suor na cabeça ou nas mãos, luzes piscando são totalmente
normais.
O objetivo deste exercício é despertar a kundalini pelo movimento físico e promover
sua ascensão por todos os chakras até o coronário. Limpa, desperta e fortalece todos
os chakras.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Mundo invisível que nos cerca (parte 2)

Espírito e Perispírito

A palavra espírito tem sua raiz etimológica do Latim "spiritus", significando


"respiração" ou "sopro". Podemos associar a ideia com o sopro divino que deu,
segundo a Bíblia, a vida ao primeiro homem, Adão.
Segundo a doutrina espírita, o espírito é a individualização do princípio inteligente do
Universo. Quando encarnado - ou seja, vestido de um corpo humano - é chamado de
alma, nesta situação alma e espírito são as mesmas coisas. O espírito por si não tem
forma, sendo que o que lhe confere aspecto é o perispírito.
O termo perispírito foi cunhado por Allan Kardec e encontra seu primeiro uso no item
VI da Introdução de O Livro dos Espíritos:
"O laço ou perispírito, que une o corpo e o Espírito, é uma espécie de envoltório
semimaterial. A morte é a destruição do envoltório mais grosseiro. O Espírito
conserva o segundo, que constitui para ele um corpo etéreo, invisível para nós no
estado normal, mas que pode se tornar acidentalmente visível e mesmo tangível,
como sucede nas aparições."
Concluiu Kardec que o perispírito seria um corpo fluídico que envolve o espírito na
condição de ente "semimaterial". Mais "grosseiro" que o espírito e mais "sutil" que o
corpo, seria o responsável, entre outras funções, pela transmissão da vontade
daquele para este e das sensações do corpo para o espírito. Seria constituído a partir
de modificações particulares do "Fluido Cósmico Universal", sendo que “(...) a
natureza do envoltório fluídico está sempre em relação com o grau de adiantamento
moral do Espírito.” (A Gênese – cap. 16 - item 9)
O perispírito é a cópia fiel de nosso corpo físico, só que de forma intangível,
entretanto ele é a ponte que une o Espírito e o Corpo, sendo que qualquer influência
energética, positiva ou negativa, aplicada sobre nós, é certamente aplicada sobre o
perispírito, o qual se encarrega de transferir as energias para o corpo.

Egrégora

A palavra egrégora vem do grego ‘egregoros’, que significa "vigilante", de ‘egeiro’,


"observar".
Chamamos de egrégora uma construção astral, mental ou espiritual sustentada por
várias pessoas durante um longo tempo, dando-lhes um caráter de permanência que
independe de algum indivíduo em particular. Esse caráter de permanência faz com
que algumas egrégoras atravessem milênios, potencialmente se fortalecendo
durante todo esse tempo. Egrégoras não são coisas "místicas". Sem dúvida existe
uma egrégora católica, uma judaica, uma da Umbanda... Mas também existe a

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

egrégora da Coca-Cola, da Adidas e a da sua faculdade. Vivemos em contato com


centenas, talvez milhares de egrégoras.
Uma egrégora é criada quando uma forma astral, mental ou espiritual encontra eco
em outras formas semelhantes, e começa a "crescer". Por exemplo, quando lemos
um livro de algum mestre, criamos formas de pensamento relacionadas a ele e aos
ensinamentos de seus livros. Outras pessoas, lendo os mesmos livros, vão gerar
formas de pensamento semelhantes, que vão encontrar eco nas que foram geradas
por nós. Esse processo, se repetindo por muito tempo, e alimentado por muitas
pessoas, gera uma forma estável, com a qual entramos em sintonia sempre que
pensamos neste mestre. Que fique claro: não estamos entrando em sintonia com o
mestre propriamente dito, mas sim com a egrégora formada por todos os
pensamentos referentes a ele. Podemos até mesmo ser inspirados por ideias que
compõem essa egrégora e que não foram "imaginadas por nós".
Egrégoras normalmente não são formadas apenas de matéria astral, mental ou de
algum plano específico. O mais comum é elas serem compostas de matéria de todos
esses planos, despertando assim um misto de pensamentos e sentimentos nos que
se vinculam a elas.
E essas "construções coletivas" nos afetam o tempo todo. Quando entramos em um
ambiente e nos sentimos desconfortáveis, o que estamos vivenciando muitas vezes é
o choque entre as energias expressas pelas egrégoras do local e as nossas energias.
Se estivermos "imersos" em egrégoras que se harmonizam conosco naquele
momento, vamos nos sentir bem, e se ocorrer algum choque, vamos nos sentir mal.
De forma geral, egrégoras podem estar vinculadas a locais físicos. Uma igreja, um
terreiro, um estádio de futebol, uma delegacia. Quem nunca escutou um locutor
esportivo falando que um time tinha vantagem por estar jogando "em casa"? A
egrégora do time, fortalecida pelos seus torcedores, certamente atua mais
intensamente em seu próprio campo. É importante termos isso em mente quando
estamos buscando uma influência específica. Costuma ser melhor estudar em uma
biblioteca do que em um estádio. É dessa forma que podemos usar as egrégoras a
nosso favor.
Entretanto, as egrégoras não se encontram somente em locais físicos, pode ser uma
energia nômade que agrega seus simpatizantes onde quer que eles estejam. Como
exemplo, citamos a egrégora dos devotos de Maria que praticam o terço.
Dentro dos centros, terreiros e tendas não são diferentes. É comum ouvir um
umbandista que não se sinta bem em outra casa umbandista. Sabem porque ?
Ali se foi criado uma egrégora onde seus fundamentos são diferentes, não é porque
não se sentiu bem em um terreiro, significa que esse terreiro tem energias erradas,
quem somos nós para julgar. A justiça é divina. Porem para quem tem suas doutrinas
de umbanda mais acentuadas no candomblé sentirá uma enorme diferença quando
for em uma gira de umbanda com suas doutrinas mais Kardecista.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Em nossa tenda “Tenda de Umbanda Cacique Pena Vermelha”, não damos passagem
para a esquerda, porém, os senhores Exu e Pombo Giras fazem parte de nosso
assentamento vibratório onde sempre é firmado pelo Pai de Santo o proteção dos
portões para fora e dentro quem comanda é Ogum o nosso protetor.
Assim ao longo de mais de meio século se criou uma egrégora e muitos se sentiram
bem dentro dessas doutrinas, porem o contrário também é verdadeiro.

Campo vibracional ou energético – Aura


Se você nunca viu uma aura, certamente já sentiu, o que dá no mesmo. Lembra
aquela vez que só de passar perto de uma pessoa ficou todo arrepiado? E quando ao
entrar naquela casa sentiu um mal-estar? E aquela espécie de arrepio que certa
pessoa provoca em você, antes mesmo de tocá-lo? Essas sensações "estranhas",
aparentemente inexplicáveis, mas que lhe impressionam tanto, aconteceram na sua
aura (por causa dela), ao ter contato com outras auras e com vibrações diferentes,
talvez incompatíveis com a sua. Com o corpo você sente, com a energia mental (aura)
você pressente, e por vezes tão fortemente que todo o seu corpo reage.
Já está mais do que provado que o corpo humano tem uma espécie de campo
elétrico. Ora, a física nos ensina que "a todo campo elétrico corresponde um campo
magnético". Pois esse campo é sua aura, uma área iluminada que envolve todo o seu
corpo. Uma energia luminosa, energia do subconsciente.
Enfim, através de sua aura é que as entidades espirituais conseguem uma ‘leitura’
completa do seu momento de vida. Como se fosse um cartão energético onde
constam todas as informações referentes à sua vida que não podem ser apagadas ou
omitidas.

As 7 virtudes e os 7 defeitos capitais


Faço questão de abordar este assunto, pois somente quando tocamos em
determinados assuntos é que nos damos conta de nossos defeitos. As virtudes
correspondentes são a forma que temos para eliminar esses defeitos da nossa vida.

Castidade — opõe luxúria.


Pureza, simplicidade, sabedoria. Abraçar a moral de si próprio e alcançar pureza de
pensamento através de educação e melhorias.

Caridade — opõe avareza.


Generosidade, auto sacrifício. Dar sem esperar receber, uma notabilidade de
pensamentos.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Temperança — opõe gula.


Autocontrole, moderação, justiça. Constante demonstração de uma prática de
abstenção.

Diligência — opõe preguiça.


Persistência, ética, decisão e objetividade. Ações e trabalhos integrados com força,
disciplina e motivação.

Paciência — opõe ira.


Serenidade, calma, paz. Resistir o que é quase insuportável com paciência e
dignidade. Resolver pacificamente os conflitos e as injustiças, ao contrário de utilizar
a violência.

Bondade — opõe inveja.


Autossatisfação, compaixão, amizade. Empatia e confiança sem preconceito ou
ressentimento. Amar sem egoísmo e ser voluntariamente bom sem rancor.

Humildade — opõe vaidade.


Modéstia, respeito. Humildade não é pensar menos de si mesmo, mas pensar de si
mesmo menos. É um espírito de auto examinação. A coragem do coração necessária
para se subjugar em tarefas que são difíceis, tediosas ou humilhantes, e
graciosamente aceitar os sacrifícios envolvidos.

Exercício contínuo da positividade

Bom irmão, você aprendeu muito sobre energia e suas formas, chacras, as leis que
governam o universo e tudo o que você precisa fazer para alcançar uma vida
saudável, próspera e feliz.
Para esse objetivo, é necessária a prática contínua da positividade. Esta positividade
pode ser resumida em uma palavra pequena: fé. A fé verdadeira que não se importa
com o tamanho do problema ou a dificuldade da situação; o sorriso sempre estará
em seus lábios e nada, mas absolutamente nada, abalará a sua certeza de que tudo
está preparado para a sua vitória, não importa como ela venha.
Sei que é mais fácil resmungar, reclamar e se lamuriar, pois esta é a tendência
principal do ser humano. Mas acredito que se você está tendo acesso a estas
informações é porque é um dos escolhidos entre milhões de chamados.
Agora, ponha em prática o que aprendeu até aqui, pois será imprescindível para sua
vida.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Mundo invisível que nos cerca (parte 3)

Obsessão e desobsessão

Obsessão é a influência persistente e negativa que alguém pode exercer de forma


dominante em uma pessoa, por meio de ideias fixas, perseguição, excitação dos
sentidos, vampirismo.
Pode ser exercida por espíritos encarnados ou desencarnados, entretanto, ocorrem
mais frequentemente com os espíritos que não mais fazem parte deste plano,
conhecida como ‘obsessão espiritual’. Porém, a obsessão de seres encarnados não é
tão incomum quanto se pensa.
A desobsessão é o cessar desta atividade nefasta sobre o irmão subjugado. Na
Umbanda sempre encontraremos o consolo da desobsessão espiritual, que pode ser
feita por qualquer entidade que conheça este princípio. Sim, é possível que alguma
entidade não o faça por desconhecimento ou por preferir não praticar a
desobsessão.
Sempre é importante lembrar que o desejado é que você, praticando os
fundamentos da umbanda, fortaleça-se para não abrir portas para a obsessão. O mal
somente se conectará com você com a sua permissão, através da vibração negativa
que exaustivamente já debatemos.
Mas como agem os obsessores? Basicamente, os obsessores trabalham da mesma
forma que nossos guias e protetores. Você se lembra dos anjinhos e diabinhos que
apareciam nos ombros dos personagens de desenho animado? É uma forma
educativa de demonstração que seus guias podem ter tanto acesso a você quanto os
obsessores. No final, o que interessa é para quem você vai dar ouvidos.
Os espíritos comunicam-se conosco. Alguns podem até ouvi-los através da
mediunidade da audiência, mas o mais comum é que eles atuem sobre nossas
mentes inserindo pensamentos; e é por isso que para muitos é difícil discernir
quando é o próprio pensamento ou quando é um espírito, porque acreditamos que
somos nós os criadores daquele pensamento.
Para aqueles que exercem o silêncio, a meditação e a reflexão, é possível aprender a
distinguir seus próprios pensamentos de outros externos. Exige paciência e
determinação, mas é possível. De uma forma geral, você começa a perceber
detalhes, pequenas diferenças que indicam quando eles não te pertencem. Pode ser
pelo conteúdo da ideia, de como o pensamento se construiu, das palavras que fazem
parte do pensamento ou da energia que o pensamento vibra.
Em outros casos, o pensamento pode vir acompanhado de sensações, de emoções.
Exemplos:

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Caso 1
Você é uma pessoa extremamente limpa e preconceituosa. Subitamente você avista
uma pessoa bêbada e maltrapilha; neste instante, apesar de suas convicções, sente
um desejo incontrolável de ajudar aquela pessoa, mesmo sabendo que isto não é do
seu feitio. Como o resultado é a caridade, você certamente está sendo intuído por
espíritos superiores.

Caso 2
Você trabalha com uma pessoa há 10 anos. Ambos são casados e felizes, e nunca
faltaram com o respeito um para com o outro, ou se deixaram levar por
‘brincadeiras’ levianas. Num determinado dia, você olha para aquela pessoa e sente
interesse físico por ela, acompanhado de forte impulso sexual. Neste caso irmão,
tenha certeza de que está cedendo aos pensamentos plantados por espíritos
obsessores.
Os antigos diziam “a maldade não pega em quem tem Deus no coração”. E eles
estavam certos. Devemos nos policiar, orar e vigiar sempre.
E você pode estar se perguntando: e meus protetores não vão me ajudar caso eu
venha a ser obsedado? E a resposta é que eles nada podem fazer sem a sua
autorização. Eles tentam barrar o mal o tempo todo, mas a partir do momento que
você mesmo criar sintonia com aquele espírito, foi uma escolha sua (mesmo que
inconsciente). Seus protetores não podem interferir em seu livre arbítrio. Mas caso
você detecte a obsessão, você pode invocar para que seus guias o auxiliem na sua
libertação e somente neste momento eles poderão intervir.
Pessoas que possuam uma mediunidade aflorada podem sentir muito mais os
sintomas de uma obsessão espiritual. Esses sintomas variam de caso para caso e de
pessoa para pessoa. Os mais comuns são alteração de humor repentina, tristeza,
medo, depressão, dores nas costas, dores no pescoço, dores de cabeça, enxaqueca,
insônia, perda de apetite, desejo pela morte, dores sem motivo aparente, doenças
que os médicos não conseguem diagnosticar, ira, ansiedade, compulsão por comida,
compulsão por sexo e outros vícios, fadiga crônica, incapacidade de sentir felicidade
ou alegria, sensação de mundo em preto e branco, sensação ou mania de
perseguição.
Como podemos perceber tudo o que sai do equilíbrio pode ser causado por
obsessão. Isto não significa que toda anormalidade ou todo desequilíbrio seja culpa
de uma obsessão. Lembre-se que o maior obsessor que você pode carregar é você
mesmo.

Tipos de Obsessão
Os tipos de obsessão são três e iremos discorrer sobre todos eles para seu melhor
entendimento.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Obsessão adquirida pela própria pessoa

A mais comum de todas e que certamente o leitor já sabe do que se trata.


Esta modalidade está ligada ao pensamento negativo recorrente que a pessoa
emana, ou ainda por suas ações e palavras. Vamos à alguns exemplos.

Caso 1 - Pensamento
Uma mulher com dois filhos perde seu marido em acidente de trânsito. O fato de não
ter mais o companheiro, além de ter que arcar com as despesas da casa e com a
criação das crianças, gera dentro dela um sentimento de insatisfação profundo e o
pensamento recorrente é ‘eu queria morrer’. Quando a vibração deste pensamento
recorrente ficar forte o suficiente para ser percebido pelos espíritos inferiores, eles,
movidos apenas pelo desejo de fazer o mal, passam a acompanhar aquela pessoa.
Daí em diante o desejo de morte aumenta, a ajuda diminui (pois ninguém suporta
ficar ao seu lado), as doenças começam a aparecer, isto pode provocar muitas faltas
no trabalho, acarretando consequentemente uma demissão, até que um dia, ao
atravessar a rua perdida em pensamentos, ela é atropelada e desencarna em
decorrência dos ferimentos.

Caso 2 – Palavra
Um empresário com fixação em dinheiro passa a acreditar que todas as pessoas que
estão ao seu redor, só o fazem por interesse a seus bens materiais. Esta fixação
recorrente faz com que ele diga constantemente ‘eu não preciso de ninguém’.
Quando a energia destas palavras cresce é captada pelo plano inferior e um obsessor
passa a acompanha-lo voluntariamente, só para o que diz se cumpra. Aos poucos as
pessoas vão se afastando, até que não sobre mais ninguém, nem família, nem amigos
e nem mesmo empregados ou conhecidos. Esta pessoa certamente irá desencarnar
de um ataque cardíaco fulminante e seu corpo será encontrado apenas 4 dias depois
da morte.

Caso 3 – Ações
Um funcionário de uma empresa começa a se ressentir por acreditar que seu chefe
não reconhece seu trabalho. Dessa forma começa a acreditar que teria direito a
objetos e produtos da empresa. Fica inclinado a começar a roubar e começa a
praticar pequenos furtos. Quando isto fica recorrente e a sensação de impunidade
fica latente, um ser negativo se apossará dele, e por sua intervenção, os furtos
começam a ficar maiores até que se torna um grande roubo. No fim ele é descoberto
e preso por vários anos.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Em todas estas estórias, o responsável é o próprio protagonista, que de forma


imprudente se afastou das virtudes do espírito e, dessa forma, ‘convidou’ seres
negativos a acompanha-los.
Foram exemplos básicos que acontecem todos os dias. Por isso nosso mestre já nos
deixou algumas lições “ Orai e Vigiai” sempre que tiver pensamentos negativos como
os exemplos citados acima, peça perdão a Deus e peça ajuda a espiritualidade. Com a
nossa permissão, toda falange de luz lutará por você.

Obsessão causada pelo desejo de fazer o mal

Muitas vezes, no trânsito quando estamos dirigindo, recebemos uma “fechada” de


outro motorista. Neste momento, não é incomum que alguns de vocês gritem:
“Tomara que morra!”. A energia nociva que desprendemos neste momento é tão
forte que pode ser utilizada por um espírito malfazejo para cumprir a sua sentença.
Ou seja, um obsessor pode recolher esta sua energia para matar o outro motorista.
E assim funciona com todos os tipos de maldições e maledicências. O desejo pode ser
transitório como no exemplo anterior, ou persistente, como quando pensamos mal
de uma pessoa recorrentemente. Lembro, por fim, que não é necessário verbalizar o
pensamento para desprender este tipo de energia.

Obsessão firmada na magia negra

Poderia falar por horas sobre esse tópico e sei que muitas pessoas gostam deste
assunto. Mas em minhas doutrinas eu acredito em um Deus único. Ninguém pode
mais do que Deus, ninguém pode mais do que nosso Pai Oxalá. Tenha isso em mente
quando se diz magia negra, lembre que a força de nosso pensamento faz com que o
universo conspire em tal pensamento.
Sendo assim se você gosta e admira esse tipo de estudo, reflita sua vida. Por que
tanto interesse a magias ?
Siga o bem , siga a Olorum, siga a Oxala e seus orixás, nenhum mal lhe pegará sem a
sua permissão.

Mundo invisível que nos cerca (parte 4)

Agora que conhecemos os tipos de obsessão, vamos conhecer os tipos de


obsessores.

Tipos de Obsessores
Quando dizemos “tipo”, estamos nos referindo ao grau de malignidade do espírito.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Sofredores

Os menos nocivos para os encarnados. São espíritos desorientados, perdidos,


normalmente recém-desencarnados. Acoplam-se aos encarnados principalmente
pela necessidade de energia. Desta forma vampirizam suas vítimas, o que pode levar
a pessoa a sérios problemas de saúde se a situação se estender por muito tempo.
Mas quase nunca tem o objetivo de causar o mal. Sua energia é instável, mas são
extremamente receptivos a um encaminhamento no ato de desobsessão.

Zombeteiros

São aqueles que praticam o mal apenas para seu prazer. Aproveitam-se dos
momentos de fraqueza das pessoas para delas se aproximarem e agirem. Estão numa
escala acima dos sofredores, normalmente têm consciência da sua condição e já
começam a desenvolver certas capacidades de manipular energia, inclusive se
apresentando através da materialização para causar susto. Agem individualmente,
não estando coligados a grupos ou falanges. Eles agem espontaneamente sobre suas
vítimas, não sendo enviados através de trabalhos. Podem ser facilmente removidos
através de oração, em casas espiritualistas e no terreiro de Umbanda.

Obsessores

Esta categoria pratica o mal deliberadamente. Podem ser organizados em falanges ou


não. São eles que recolhem a energia negativa por nós liberada para promover a
obsessão. Quando organizados, normalmente são os soldados que recebem ordens
de outros espíritos hierarquicamente mais poderosos. Quanto às energias, possuem
energia densa negativa cuja intensidade pode variar. Tentam causar problemas na
hora do encaminhamento, mas invariavelmente são encaminhados sem maiores
problemas.

Trevosos

Extremamente poderosos, quase sempre organizados, sendo que hierarquicamente


em sua maioria são capitães e generais de falange. Se estiverem pessoalmente
obsedando alguém, tenha certeza de que foram extremamente bem pagos ou que se
trata de uma situação muito importante para a causa maligna. São eles normalmente
que respondem aos feiticeiros nos trabalhos de alta magia negra. São raros de serem
encontrados e quase sempre passam despercebidos. Para que a desobsessão possa
acontecer é necessária uma entrega de todo o coração da pessoa em sofrimento,
com uma fé inabalável, pois sempre estes espíritos causam imensos problemas para

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

o terreiro. São extremamente difíceis de serem encaminhados e quase sempre


pedem pagamento para deixar o obsedado. Para a desobsessão de espíritos desta
categoria, é necessário um terreiro extremamente bem assentado energeticamente.
Só para ressaltar, nós da tenda não negociamos com obsessores, ou querem ser
ajudados e estaremos a disposição para ajuda-los ou irão voltar para trevas onde
ficarão aprisionados por 7 anos.

Magos Negros

São os mais perigosos seres da espiritualidade inferior. Extremamente poderosos,


sua inteligência e capacidade magística podem ser comparados à espíritos de alta
evolução, porém, trabalham firmemente para o mal. Nunca obsedam pessoalmente e
raramente são sentidos no plano material. Ficam enclausurados em suas fortalezas
elaborando as mais refinadas estratégias para a ascensão do mal nos mundos. Dão
ordens aos outros espíritos e estão sempre em busca de espíritos de grande energia,
os quais sequestram e aprisionam para servir aos seus intentos vis, ou mesmo para
formar novos magos negros.
Como podemos ver, são inúmeras as situações de obsessão, porém todas tem
solução, dependendo apenas do obsedado desejar de todo o coração e buscar ajuda
capacitada para tanto.
O melhor caminho ainda é conhecer a si mesmo, domar e transformar seus pontos
vulneráveis e, claro, orar e vigiar.

O amor incondicional

A palavra amor é extremamente fácil de falar e seu uso está por todos os lados.
Porém, o que é realmente o amor?
Até mesmo os dicionários tem dificuldade para conceituar o amor. O conceito mais
adequado para o amor seria:
“energia positiva desprendida voluntariamente para os seres vivos da criação de
Deus com o objetivo de levar a esses seres todas as bênçãos do mundo”;
Pois,
Quando você ama uma pessoa é isso o que você deseja;
Quando você ama um animal é isso o que você deseja;
Quando você ama uma planta é isso o que você deseja.
Quando nos sentimos amados somos mais seguros, mais abertos e mais felizes. De
uma forma geral, creio que todas as pessoas já sentiram esta energia ou pelo menos
deveriam.
E amor incondicional: O que vem a ser isto?

63
A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

É a proposta de levar esta energia a tudo e a todos sem distinção de cor, credo,
condição sexual, independente de ser conhecido ou não, de ser bom ou não. Isto
porque a energia do amor é a única energia que transforma verdadeira e mais
rapidamente os corações, e espíritos doentes e embotados.
Se conseguíssemos vibrar amor o tempo todo, nenhum obsessor conseguiria ficar
perto de nós, pelo simples fato desta energia ser oposta à dele. Uma pessoa que te
odeia ficará inclinada a relevar seus sentimentos nada bons, pelo simples fato de
suas atitudes amorosas.
Para praticar o amor incondicional é fácil. Pense na pessoa que mais você ama, que
desperta em você os melhores sentimentos, que faz você sorrir sem pensar, sem
motivo aparente. Pensou? Agora imagine que todas as pessoas que você encontrar
no seu dia seja esta pessoa amada. Então você vai cumprimenta-la como
cumprimentaria aquela pessoa, vai trata-la como trataria aquela pessoa e assim por
diante. Pode ser que as primeiras experiências não sejam tão positivas assim, pois
todos ficarão admirados e curiosos com sua repentina mudança de comportamento.
Mas garanto que funciona. Garanto que o mundo passará a ser mais generoso com
você, somente pelo motivo de que você ama este mundo de todo o seu coração.
Devemos lembrar sempre que somos os pioneiros deste novo mundo de regeneração
no qual nosso planeta está se transformando e, por isso, temos por obrigação sermos
nós os primeiros a quebrar com os ciclos negativos que o mundo tem vivido até hoje.
Vivemos tão carrancudos e perdidos dentro de nós mesmos, que nos esquecemos da
boa e velha cortesia, que é uma varinha mágica para transformar sua vida.
Experimente perder alguns minutos para ouvir as pessoas.
Experimente dar bom dia com muita alegria!
Experimente ser gentil com aquele que for rude com você.
E você perceberá que o mundo e as pessoas ao seu redor se tornarão melhores e
mais iluminados. E assim seus problemas parecerão infinitamente menores.
Mas o milagre não para aí. Mesmo sem perceber você vai transformar lentamente a
vida de todos que conviverem com você.
E que acima de tudo você se ame profundamente. Ame sua vida, seu corpo, suas
qualidades e defeitos. Se assim fizer, perceberá que sua conexão com o plano
espiritual ficará melhor e mais limpa.
Agora vá. Pense firmemente num pensamento feliz e mude o mundo

A Religião Umbanda

Significado da palavra Umbanda


Não existe um consenso sobre a origem e nem do significado da palavra “Umbanda”.
Existem correntes de pensamento, algumas contemplando o ponto de vista histórico
e cultural, outras baseadas em depoimentos de espíritos considerados sábios.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

No livro “Iniciação à Umbanda”, de Ronaldo Antonio Linares, Diamantino Fernandes


Trindade e Wagner Veneziani Costa, editora Madras, em sua página 51, encontramos
o seguinte:
“A palavra Umbanda, segundo Cavalcanti Bandeira em sua grande obra “O QUE É
UMBANDA”, é originária da língua Quimbundo, encontrada em muitos dialetos
bantus, falados em Angola, Congo, Guiné, e não é segredo algum, pois, em virtude
dos interesses comerciais e do período em que Portugal manteve suas colônias na
África, foi devidamente estudada, existindo várias gramáticas de autores insuspeitos,
em que são citadas as palavras Umbanda e Quimbanda, nome comum na África. Às
vezes é citada como nação poderosa, outras vezes como o espírito dessa mesma
nação.
(...) Uma possibilidade mais remota dá a origem dessa palavra no orientalismo
iniciático, no qual o “mantra” AUMBHANDA, representa um alto significado esotérico
como foi discutido no Primeiro Congresso Brasileiro de Espiritismo de Umbanda,
realizado em 1941, no Rio de Janeiro. Neste congresso, Diamantino Coelho
Fernandes, da Tenda Mirim, apresentou uma tese intitulada “fundamentos históricos
e filosóficos”, na qual discorreu sobre o tema. Em um dos trechos da tese
encontramos:
Umbanda não é um conjunto de fetiches, seitas ou crenças originárias de povos
incultos, ou aparentemente ignorantes. Umbanda é, demonstradamente, uma das
maiores correntes do pensamento humano existentes na Terra há mais de 100
séculos, cuja raiz se perde na profundidade insondável das mais antigas filosofias.
O vocábulo UMBANDA é oriundo do sânscrito, a mais antiga e polida de todas as
línguas da Terra, a raiz mestra, por assim dizer, das demais línguas existentes no
mundo. Sua etimologia provém de AUM-BANDHÃ (Om-Bandá) em sânscrito, ou seja,
o limite do ilimitado.(...)Na gramática de Kimbundo, do professor Dr. Quintão
encontramos: Umbanda – arte de curar (de Kimbanda – Curandeiro). Algumas
deformações linguísticas atuais no Brasil, atribuem ao feiticeiro o título de
Quimbandeiro, que no país de origem, a África, é chamado de Muloji.
Resumidamente temos: Umbanda, arte de curar, ofício de ocultistas, ciência médica,
magia de curar.” (...)
Outra forte corrente, alega que o termo já era utilizado pelos índios brasileiros, antes
mesmo do descobrimento. Tribos brasileiras que falavam um dialeto do tupi,
também, segundo alguns, já utilizavam a palavra com a seguinte sonorização:
Aumbandan. Esta corrente alega ter recebido a instrução de seres de altíssima
elevação espiritual que transferiram este conhecimento. Dividindo a palavra em
termos, teremos AUM-BAN-DAN, que segundo os que adotam este conceito, estes
termos podem ser traduzidos através do alfabeto adâmico, o qual foi descoberto
pelo Marquês Alexandre Saint-Yves d’Alveydre.
A tradução então ficaria

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

AUM - “A Divindade Suprema”


BAN - “Conjunto, sistema”
DAN - “Regra ou Lei”
Por conseguinte, AUMBANDAN seria o “conjunto das leis divinas”.
Esta última, na minha humilde opinião, é a que mais tem a cara da verdadeira
Umbanda.
Sendo nação poderosa, limite do ilimitado, magia de cura, medicina do povo ou
conjunto das leis divinas, creio que nenhuma palavra ou sentença foi capaz de
traduzir tão bem o conceito da nossa religião quanto aquele dado pelo Caboclo das
Sete Encruzilhadas: “Umbanda é a manifestação do espírito para a caridade”.
Umbanda – um banda = uma só banda, todos em uma única filosofia – amor,
caridade humildade.
Salve a sua banda.

Símbolos da Umbanda

Em seus mais de cem anos de história, a Umbanda adquiriu uma iconografia própria
e oficial. Uma vez que toda nação ou mesmo uma agremiação esportiva possui
símbolo, bandeira e hino próprio, é mais do lógico que a nossa sagrada religião
dispusesse dos mesmos tributos.

Símbolo

O símbolo mais comum da Umbanda é o hexagrama ou, como é conhecido


popularmente, estrela de Davi.
Note que o hexagrama é composto por dois triângulos entrelaçados, sendo que um
aponta para cima e outro, aponta para baixo.
Desta forma estabelece-se a dualidade do nosso mundo: espiritual-material, Deus-
homem, positivo e negativo; mas também forma duas trindades (representadas
pelos vértices de ambos os triângulos), para muitos, o que aponta para cima seria a
trindade tradicionalmente conhecida por Pai, Filho e Espírito Santo, enquanto o que
aponta para baixo seria o Mundo, o homem e a mulher.
Para a nossa Umbanda, que é o que interessa, além das dualidades obviamente
representadas, teríamos a seguinte interpretação das trindades: o triângulo que
aponta para cima simbolizando a trindade umbandista: Olorun, Oxalá e Ifá (Pai, Filho
e Espírito Santo), e o triângulo que aponta para baixo simbolizaria Exu (Orixá), Exu
(representante masculino) e Pomba-Gira (representante feminina).
Alguns ainda identificam o triângulo com vértice para baixo como Exu, Pomba-Gira e
Exu-Mirim.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Este símbolo é largamente usado por muitas casas umbandistas para cerimônias
oficiais como o batismo e o casamento.

Bandeira

A ideia de uma bandeira para a Umbanda surgiu através do Babalorixá Presidente da


Associação de Umbanda de Caxias, Saul de Medeiros, o qual idealizou a bandeira,
que de imediato foi bem recebida pelo povo umbandista de Caxias do Sul e também
do Rio Grande do Sul, mas a ideia é que a bandeira se tornasse nacional. Em abril de
2008, Saul de Medeiros associou-se com a FUGABS – Federação Umbandista do
Grande ABC, e, em 1 de Junho do mesmo ano, realizaram o lançamento oficial da
Bandeira da Umbanda no Teatro Municipal Dr. Paulo Machado de Carvalho, na
presença de mais de 1.200 irmãos umbandistas.
A bandeira pelo olhar de seu criador: ”A imagem de um lindo sol radiante, e, de seu
núcleo, sai uma figura que no primeiro instante parece a de um enorme pombo
branco, mas olhando com mais atenção, a forma se modifica deixando transparecer a
de um espectro humano angelical, com enormes asas, como se dirigisse a um destino
determinado, a realizar uma missão”.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Hino da umbanda

Além da magistral letra, é a história do Hino da Umbanda que o faz mais belo.
José Manuel Alves (mais conhecido como J.M. Alves), português radicado no Brasil,
compositor reconhecido, cujas canções de sua autoria foram gravadas por cantores
conhecidos na época como as Irmãs Galvão, Grupo Piratininga, Osni Silva, Ênio
Santos, entre outros. Em 1955, a marchinha Pombinha Branca, composta em parceria
com Reinaldo Santos, foi gravada por Juanita Cavalcanti. Ainda compôs xotes,
valsinhas, baiões, maxixes e outros gêneros musicais de sua época, e realizou um
sonho ao gravar o seu único LP, disco de vinil, em 1957.
No entanto, era cego. Em busca de sua cura foi à procura da ajuda do Caboclo das
Sete Encruzilhadas. Embora não tenha conseguido seu intento, ficou apaixonado pela
religião e compôs uma canção para homenageá-la. Apresentou a letra ao Caboclo das
Sete Encruzilhadas, o qual tanto a apreciou, que resolveu nomeá-la como Hino da
Umbanda. Em 1961, durante o Segundo Congresso Brasileiro de Umbanda, presidido
por Henrique Landi Júnior, foi finalmente oficializada em todo o Brasil.
Originalmente foi composta para ser interpretada como a marcha de um hino, mas
depois de cair nas graças do povo, passou a ser cantada ao som de atabaques nos
terreiros de todo o país.
Eis aqui sua letra original:

Refletiu a luz divina


Em todo seu esplendor
Vem do Reino de Oxalá
Onde há paz e amor.
Luz que refletiu na Terra
Luz que refletiu no Mar
Luz que veio de Aruanda
Para tudo iluminar
Umbanda é paz e amor
É Um Mundo cheio de luz
É a força que nos dá vida
E à grandeza nos conduz.
Avante filhos de fé
Como a nossa lei não há
Levando ao mundo inteiro
A bandeira de Oxalá.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Influências da Umbanda

Ao adentrarmos a um terreiro umbandista, é natural que tenhamos sensações de


familiaridade com muitas passagens do rito e até mesmo com templo em si.
Os santos católicos muitas vezes presentes, os pontos cantados que muitos já
ouviram no rádio ou na internet, pelas orações, enfim, por todo esse Universo da
Umbanda.
É importante lembrar que a Umbanda não nasceu pela dissidência de outra religião
maior, mas desde o início se estabeleceu pelo amor, pelo amor de Deus aos homens,
foi-nos outorgada a religião que mais ampara os necessitados da ajuda espiritual.
Três grandes religiões colaboraram para o nascimento da Umbanda: o Candomblé, o
Espiritismo e o Catolicismo, e é essa herança que nos confere esse ar familiar, pois é
muito raro o irmão não ter conhecido ao menos uma dessas religiões.
Por ser muito flexível, a Umbanda sempre acolhe com carinho outras práticas
religiosas e esotéricas, cabendo ao sacerdote integrá-las ou não, de acordo com seus
princípios e experiências. E é por isso que dizemos que o terreiro tem a cara do Pai-
de-Santo.
Existem dois atributos muito importantes dentro da Umbanda, que fazem com que a
pessoa que chega pela primeira vez a um terreiro, acabe se sentindo muito bem
acolhida.
O primeiro é que a Umbanda não é conversionista. Você pode frequentar um terreiro
pelo tempo que desejar sem que seja convidado a se “batizar” ou coisa que o valha.
Seu livre-arbítrio sempre será respeitado. É por este motivo que muitas pessoas vão
à Umbanda tomar seu passe e sua orientação, porém permanecem fiéis às suas
religiões originais, frequentando as missas ou cultos de acordo com sua fé.
A segunda e mais importante é que enquanto na maioria das outras religiões existe
um padre ou pastor para uma multidão de fiéis, na Umbanda existe um “padre ou
pastor” para cada fiel.
Dessa forma, na nossa religião as pessoas têm a oportunidade de tratar seu problema
individual e este fator auxilia (mas não é preponderante) para que a pessoa alcance
seu objetivo mais facilmente.
Isso faz da Umbanda a religião com o maior potencial de crescimento da atualidade.

Sincretismo religioso

Para entendermos o sincretismo religioso, primeiro temos que entender o que é


sincretismo > fusão de diferentes cultos ou doutrinas religiosas, com reinterpretação
de seus elementos.
Se preferir, sincretizar é acreditar ao mesmo tempo em que uma coisa é outra.
O sincretismo religioso se dá pela associação dos santos católicos com os Orixás.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Quando um umbandista olha para a imagem de Jesus, ele imediatamente direciona


sua mente para Oxalá, o pai de todos os Orixás, sem a predominância de nem um dos
dois. Cultuamos o Jesus e Oxalá na mesma figura, essa é a base do sincretismo
religioso.
Por que isso aconteceu?
Quando os negros escravos chegaram ao Brasil, eram forçados a adotar o
catolicismo, sob pena de flagelos e privações. Ora, o negro não entendia nada
daquele culto sem sentido, onde imagens desconhecidas tinham que ser veneradas
com rezas, cuja língua muitas vezes ainda não se habituara.
Desde o início os negros praticavam seus cultos em segredo, e, pela ausência de
alguns instrumentos de culto, adaptavam outros semelhantes encontrados na
própria senzala ou subtraídos das cozinhas dos senhores.
Diante da obrigação de se cultuar os santos, o negro viu uma oportunidade de
fortalecer seu culto, utilizando as imagens dos santos, associando-as com seus
Orixás. Assim, quando eram surpreendidos pelos senhores e capatazes em seus
cultos, diziam que estavam rezando para os ”santos”.
Apesar de pouco entender, os senhores permitiam que cultuassem os santos à seu
modo, nunca imaginando que aqueles primeiros cultos seriam a semente de uma
nova religião, o Candomblé.
Mesmo após a abolição da escravatura, o costume permaneceu, pois já era praticado
há quase três séculos. E, dessa forma, foi trazido para a Umbanda pelos primeiros
médiuns da raça negra.
É importante salientar a diferença que existe entre o sincretismo na Umbanda e no
Candomblé. Enquanto no Candomblé a imposição de uma religião forçou os negros
ao sincretismo, na Umbanda ele chegou voluntariamente, sem o peso do errado, do
escondido. Chegou através do amor e foi rapidamente adotado por todos.
Na Bahia, o sincretismo é tão forte e presente, que em muitos rituais católicos se
fazem presente muitos adeptos do Candomblé e da Umbanda. Como exemplo
citamos a lavagem da escadaria da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, em Salvador,
onde o povo do Candomblé é quem faz o ritual, sob os olhos dos padres.

Sincretismo religioso

· Obaluaê – São Lázaro.


· Ogum – São Jorge.
· Iemanjá – Nossa Senhora da Conceição.
· Oxum – Nossa Senhora da Aparecida.
· Xangô – São Jerônimo.
· Oxóssi – São Sebastião.
· Iansã – Santa Bárbara.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

· Ibeji – São Cosme e Damião.


· Nanã – Santa Ana.
· Oxalá – Jesus Cristo e Nosso Senhor do Bonfim

As 7 linhas de Umbanda

Este assunto já rendeu polêmica suficiente para editar uma enciclopédia. Muitos
fecharam opinião sobre este assunto, alguns com mínimas diferenças, outros muito
distantes da maioria.
É necessário saber mais sobre a história da religião para compreendermos a
trajetória do pensamento umbandista.

Em nossas doutrinas e para nós da Tenda de Umbanda Cacique Pena Vermelha não
temos com apenas 7 linhas cultuadas e não somos nós quem vai classifica-las do
primeiro ao sétimo. Porém cultuamos as os seguintes.

Oxalá – Jesus Cristo – cor branca


Ogum – São Jorge – cor vermelha
Iemanjá – Nossa Senhora da Conceição – azul escuro
Oxóssi – São Sebastião - verde
Nanã Boruque – Santa Ana - lilás
Oxum – Nossa Senhora da Aparecida – dourado ou amarelo
Iansã – Santa Barbara – amarela
Xangô – São Jerônimo - roxo
Obaluaê – São Lázaro – preto e branco

Segue algumas doutrinas que devem ser consideradas.

Escrito por Leal de Souza, médium preparado por Zélio de Moraes, nos apresenta as
Sete Linhas de Umbanda desta forma:

1ª Linha de Oxalá – Jesus – branco


2ª Linha de Ogun – São Jorge – vermelho
3ª Linha de Euxoce – São Sebastião – verde
4ª Linha de Xangô – São Jeronymo – roxo
5ª Linha de Nhá-San – Santa Bárbara – amarela
6ª Linha de Amanjar – N. S. da Conceição – azul
7ª Linha de Santo

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Segundo o Caboclo das Sete Encruzilhadas e Zélio de Moraes:

Oxalá – Branco
Ogum – Vermelho
Oxossi – Verde
Xangô – Marrom ou Roxo
Yemanjá – Azul Claro
Iansã – Amarelo
Exu – Preto

“A LINHA BRANCA DE UMBANDA E A SUA HIERARQUIA”


“Os 7 Pontos da Linha Branca de Umbanda”
1° Grau de iniciação, ou seja o 1° Ponto – ALMAS 2° Grau de iniciação, ou seja o 2°
Ponto – XANGÔ 3° Grau de iniciação, ou seja o 3° Ponto – OGUM 4° Grau de iniciação,
ou seja o 4° Ponto – NHÃSSAN 5° Grau de iniciação, ou seja o 5° Ponto – EUXOCE 6°
Grau de iniciação, ou seja o 6° Ponto – YEMANJÁ 7° Grau de iniciação, ou seja o 7°
Ponto – OXALÁ São as mesmas Sete Linhas de Umbanda que aparece na obra de Leal
de Souza, apenas em posições diferentes.
Pai Ronaldo Linares, que também conviveu com Zélio de Moraes, apresenta as Sete
Linhas de Umbanda, fundamentado nos ensinamentos que recebeu do “Pai da
Umbanda”.
E afirma que “Zélio de Moraes esclareceu que destas Tendas originárias da Tenda
Nossa Senhora da Piedade deveriam nascer as Sete Linhas de Umbanda e que seriam
representadas por sete cores.”[1]
A saber:
“A primeira linha é caracterizada pela cor amarelo ouro bem clarinho e que seria a
cor da Tenda de Santa Bárbara. O Orixá correspondente é INHAÇÃ...”
“A segunda linha é caracterizada pela cor rosa, correspondente a Tenda Cosme e
Damião. O Orixá correspondente é IBEJI...”
“A terceira linha é caracterizada pela cor azul. Com vários Santos Católicos
sincretizados com ela, a saber: Nossa Senhora da Glória, Nossa Senhora da
Conceição, Nossa Senhora dos Navegantes e Nossa Senhora da Guia.O Orixá que
corresponde é IEMANJÁ...”
“A quarta linha é caracterizada pela cor verde, representando a Tenda São
Sebastião... O Orixá correspondente é OXOSSE...”
“A quinta linha é caracterizada pela cor vermelho, representando a Tenda São
Jorge. O orixá correspondente é OGUM.”
“A sexta linha é caracterizada pela cor marrom, representando a Tenda São
Jerônimo. Seu Orixá correspondente é XANGÔ...”

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

“A sétima linha é caracterizada pela cor violeta ou roxo, corresponde a Tenda de


Sant’Ana... O Orixá correspondente é NANÃ...”
“Finalmente temos a cor negra, corresponde a Tenda de São Lázaro (Nas Palavras
de Ronaldo Linares).
É a ausência da cor e da luz da vida. Zélio de Moraes explica que as cores branco e
preto não fazem parte das sete linhas, pois o branco que é a presença da luz, existe
em todas elas e o negro, que é justamente a ausência da luz, está justamente na
ausência delas...
O Santo Católico São Lázaro é sincretizado com o Orixá ABALUAÊ ou OMULU...
Este Orixá é conhecido ainda pelos nomes de XAPANÃ, ATOTÕ, e BABALÚ. ”

Diz quem conheceu o fundador, que a ideia das sete linhas foi mal interpretada por
muitas pessoas e a ideia das cores seria que ao entrar a luz em um prisma se cria 7
cores e assim foi falado das sete linhas porem não significa que existem somente
essas 7 linhas ou 7 Orixás.

Em nossa tenda somos presenteados pela Mãe de Santo com um guia de 21 falanges,
ou 21 linhas, ou 21 divindades . Creio que vai depender muito de cada doutrina da
casa.

Tipos de Umbanda

Após pouco mais de 100 anos de fundação da Umbanda pelo Caboclo das Sete
Encruzilhadas, essa religião cresceu e se diversificou, dando origem a diferentes
vertentes que têm a mesma essência por base: a manifestação dos espíritos para a
caridade.
O surgimento dessas diferentes vertentes é consequência do grau com que as
características de outras práticas religiosas e/ou místicas foram absorvidas pela
Umbanda em sua expansão pelo Brasil, reforçando o sincretismo que a originou e
que ainda hoje é sua principal marca.
Este material revela-se uma forma útil de condensar as diferentes práticas existentes,
possibilitando um melhor estudo das mesmas.

UMBANDA BRANCA

Outros nomes
É também conhecida como: Linha Branca de Umbanda; Umbanda Tradicional;
Umbanda Raiz.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Origem

Essa é a umbanda que praticamos dentro de nossa tenda.


Essa foi a doutrina que nos foi passado pelos meus avós, meu Pai de Santo Antonio
Augusto Alves nascido em 1928 e vive até os dias de hoje 2018 fazendo seus
trabalhos espirituais.
Sem estudos, tudo o que aprenderam foram com a espiritualidade, minha Mãe de
Santo Flora Vasques Alves nascida em 1931 sem saber ler e escrever nos apresentou
essa linda religião.
Há 4 anos atrás quando fui estudar percebi que 70 % do curso já tinha aprendido 20%
de extrema lição e 10% fugia de nossa doutrina.
A umbanda que praticamos é a Umbanda da humildade, se ajoelhe quando falar com
um preto velho, peça licença ao sentar em seu toco, não encare nos olhos com ar de
superioridade. Não tem roupas melhores do que outras, todos somos iguais.
A umbanda que praticamos é a Umbanda da caridade, não se cobra absolutamente
nada, que nosso Pai Oxalá e nossos Orixás, guias e mentores da Umbanda nos
concedera a graça de manter mais uma casa de caridade.
A umbanda que praticamos é a Umbanda do amor, independente de crenças, de cor
de estado, todos somos iguais perante a Deus. E todos em uma só voz pediremos a
misericórdia aos nossos semelhantes.

Orixás cultuados

Oxalá – Jesus Cristo – cor branca


Ogum – São Jorge – cor vermelha
Iemanjá – Nossa Senhora da Conceição – azul escuro
Oxóssi – São Sebastião - verde
Nanã Boruque – Santa Ana - lilás
Oxum – Nossa Senhora da Aparecida – dourado ou amarelo
Iansã – Santa Barbara – amarela
Xangô – São Jerônimo - roxo
Obaluaê – São Lázaro – preto e branco

Linhas de trabalho

-Linha dos caboclos;


-Linha dos baianos;
-Linha dos boiadeiros;
-Linha dos pretos velhos;
-Linha d’agua;

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

-linha dos marinheiros;


-Linha dos pescadores;
-Linha simironga (Santo Antônio – Santo Onofre);
-Linha dos pretos velhos;
-Linha da senzala;
-Linha dos ciganos;
-Linha do oriente.

Não estou aqui para a discussão de cada umbanda, mas vou deixar alguns nomes de
umbandas praticadas no Brasil.

UMBANDA DAS 7 ENCRUZILHADAS


UMBANDA KARDECISTA
UMBANDA MIRIM
UMBANDA POPULAR
UMBANDA OMOLOCÔ
UMBANDA ALMAS E ANGOLA
UMBANDOMBLÉ
UMBANDA ECLÉTICA MAIOR
AUMBHANDÃ
UMBANDA GUARACYANA
UMBANDA DOS SETE RAIOS
AUMPRAM
OMBHANDHUM
UMBANDA SAGRADA

Egum

Egum é todo e qualquer espírito que já vivenciou uma encarnação na Terra. Desta
forma, podemos dizer que qualquer ente querido que tenha desencarnado é um
egum, assim como os obsessores são eguns, Chico Xavier é um egum, e até mesmo
Jesus Cristo é um egum.
Para caracterizarmos como egum, é necessário que o espírito esteja desencarnado.
Desta forma, todos os espíritos que se manifestam em um terreiro de Umbanda são
eguns, portanto, pode-se dizer que o egum é uma das bases da religião umbandista.
Nos candomblés mais tradicionais, o culto de algumas nações representa egum como
espírito impuro, pois, para estas nações, todo espírito que viveu nesta terra estaria
contaminado por ela, e somente os Orixás teriam a mais pura energia, desejada pelo
filho de fé.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Para outras nações, cultuam o egum como o espírito sagrado de seus ancestrais,
conhecido como culto de Egungun. Promovem festas e dão obrigações a eles.
Naqueles candomblés que tratam o egum como impuro, normalmente recomendam
ao filho que utilize o contra-egum, um adorno preparado com 7 fios de palha da
costa, devidamente curtido em amaci de ervas, que é colocado no braço direito do
filho de fé, proferindo-se rezas em língua africana, para que ele surta seu efeito.
Estas várias abordagens sobre este tema gera muita confusão entre os filhos de
Umbanda e mesmo na cabeça de muitos sacerdotes, que, por desconhecerem o real
fundamento da Umbanda, acabam por utilizar o contra-egum.
Reafirmo que egum não é espírito sofredor e nem obsessor. Usar um contra-egum na
Umbanda seria o mesmo que desejar afastar nossos guardiões, pretos-velhos e
caboclos.
Quando perguntam sobre esse assunto, normalmente eu brinco que o irmão não
deseja um contra-egum e sim um contra-kiumba, contra-obsessor.
E se você me perguntar se existe um contra-kiumba, a resposta seria sim, é claro!
Basta firmar sua cabeça com pensamentos bons, falar coisas boas e praticar boas
ações que você terá o melhor contra-kiumba que alguém poderia desejar.
Mas, se mesmo assim você deseja algo em que se pegar, você pode pedir para o seu
terreiro, ou alguma entidade de sua confiança, cruzar alguns objetos que você possa
portar tais como anéis, pulseiras, pingentes, fitas, perfumes, broches, guias (fios-de-
conta), entre tantas outras coisas.
O princípio do cruzamento ou benção é bem simples. Cruzar ou abençoar um objeto
é como fixar uma energia de alta vibração (energia positiva), desse modo não se
sintoniza com as energias de baixa vibração (energia negativa) emanada pelos
kiumbas, provocando o afastamento dos mesmos. E isso também é regido pela Lei
das Afinidades Espirituais.
Só por curiosidade, conta-se que no início da Umbanda, muitas roças de Candomblé
diziam que a Umbanda não prosperaria, pois era absurdo firmar uma religião no
trabalho de eguns.
Devemos conhecer bem as diferenças entre as palavras egum, sofredor, zombeteiro,
obsessor e até mesmo kiumba (ou seria quiumba?) para melhor emprega-los. Até
mesmo o uso indevido de palavras dentro da Umbanda pode acarretar confusão,
polêmica e consequentemente, preconceito.

Orixás

A palavra “orixá” significa “dono da cabeça” (Orixá = Ori + xá – Dono da cabeça, Força
da cabeça – Luz da cabeça), mostra a relação existente entre o mundo e o indivíduo,
entre o ambiente e os seres que nele habitam.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Entender quem são os Orixás, é entender a base, o alicerce, o fundamento principal


da nossa ciência espiritual.
Como já observamos no tópico “As Sete Linhas de Umbanda”, verificamos que
independente do autor, as visões sobre as Sete Linhas são semelhantes. Todos
entendem “linha” como um fragmento da Energia Divina original. Podem dar nomes
diferentes mas a ideia de todos os autores convergem para o mesmo ponto.
Da mesma forma são os Orixás, frações desta energia divina. Seres superiores que
carregam em si uma porção de Deus, e, cada um com sua especialidade, ajuda a
construir, manter e evoluir o planeta e todos os seres que nele habitam.
Se preferir, são espíritos de altíssima vibração espiritual, que nunca encarnaram e
nunca encarnarão. Representam a Força Divina na Terra, através da natureza, que
criam, geram, mantém e recolhem a vida, transformando continuamente o planeta e
seus seres, encaminhando a todos para a evolução espiritual.
Da mesma forma que os Anjos e Arcanjos cumprem ordens diretas de Deus, os Orixás
têm suas ordens e desígnios partidos também de Deus.
Alguns os veem como seres palpáveis, como nas imagens de gesso e resina que
cultuamos no terreiro. Outros os percebem como energias. Verdadeiramente não
importa como você os vê, mas deve compreender quem são, de onde vem e quais
seus atributos; para melhor usufruir desta fonte inesgotável de Energia Divina.
Na Umbanda não incorporamos Orixás, mas sim seus representantes, que são
espíritos que já alcançaram devido adiantamento espiritual para manipular as forças
e energias destes Orixás.
Assim sendo, quando dizemos popularmente que incorporamos Iansã, o correto seria
dizer caboclo (ou cabocla) que trabalha nas forças de Iansã.
Outra situação regida pelos Orixás é o equilíbrio físico, mental e espiritual de um
indivíduo. São os conhecidos “Orixás da Coroa”, porém este e outros assuntos a eles
referentes serão discutidos em tópicos adiante.
Apresentamos a seguir uma tabela onde podemos verificar os Orixás relacionados
com seus domínios físicos e alguns dos atributos que incidem sobre os seres vivos.

ORIXÁS DOMÍNIOS ALGUNS ATRIBUTOS


Oxalá - Cumes dos montes e montanhas Fé e Fortaleza
Xangô - Pedreiras e pedras junto ao mar ou as cachoeiras Justiça e Autoridade
Ogum - Caminhos, estradas de ferro Ordem e Resistência
Oxóssi - Matas Sobrevivência e Conhecimento
Obaluaê - Cemitério Transformação e Evolução
Iemanjá - Mares e rios Família e Respeito
Iansã - Ventos e tempestades Paixão e Determinação
Nanã - Brejos, mangues e beira de rios Sabedoria e Autoconhecimento
Oxum - Rios tranquilos e cachoeira Fertilidade e Amor

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Domínios

Domínio é local de maior vibração de um Orixá.


São pontos de emanação de energia imanente, de vibração específica de acordo com
o reino natural ao qual pertence. De forma geral, todos os domínios favorecem o
descarrego de energias indesejadas, proporcionando a retomada do equilíbrio
energético por quem o visita.
Mas não é só a presença física que cria a conexão entre a energia e o ser. É
necessário repousar a mente, liberando-a de todo e qualquer pensamento
indesejado e negativo, trazer para dentro da mente e de si mesmo bons
pensamentos e bons sentimentos. Quando seu corpo, mente e espírito passarem a
vibrar positivamente como um só corpo, encontrará sintonia na energia imanente
daquele ambiente natural e, somente a partir desse instante, é que passará a receber
os benefícios desta energia.
No mar sentiremos a energia imanente de Iemanjá como um abraço de mãe, na
mata, uma sensação de “solidão coletiva”, de estar só e integrado ao mesmo tempo,
e assim acontece com os demais reinos.
Vamos discorrer brevemente sobre os domínios:

Mar
Regida por Iemanjá, também conhecida como calunga grande, onde se guardam
muitos espíritos e onde a energia é reciclada constantemente. É no mar também
onde se encontram os tesouros da humanidade. Regido por Iemanjá, é o grande foco
gerador da vida no planeta.
No mar recebemos energia de renovação da vida, que nos fornece as forças para
vencer. Todos os domínios ligados à água estão ligados ao dualismo da vida, como
corpo e espírito, vida e morte.

Pedreira
Regida por Xangô, simboliza a constância, aquilo que é imutável, a solidez.
Exatamente como as Leis Espirituais que regem o Universo.
A energia é densa, pois está associada ao peso de nossas responsabilidades. Mas
depois de algum tempo este “peso” é substituído por um senso de vitória, de força e
de poder.
Pessoas sem ânimo, que se sentem derrotadas e desamparadas, muito podem se
beneficiar deste domínio.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Rios límpidos, lagos e cachoeiras


Domínios de Oxum, refletem a calma e a transparência necessária para a condução
da vida. Está ligado à preservação da vida. Em uma cachoeira, a queda da água
simboliza contato com o ar, conferindo oxigenação.
O sentimento é literalmente o de “oxigenação” da vida, renovação e perseverança.
Pois, da mesma forma que a água molda as rochas ao seu entorno, um pouco por
vez, assim deve ser nossa posição diante da vida.

Mata
O domínio do caçador, de Oxóssi. Representa o ciclo da vida, da cadeia alimentar, da
sobrevivência. Na mata, tudo o que morre serve de alimento para um outro ser ou
elemento, em um ciclo infinito e equilibrado, sem que haja a extinção de nenhuma
das partes. Até mesmo um folha que cai de uma árvore serve para adubá-la. Os
índios, por exemplo, só caçavam aquilo que fosse suficiente para alimentar a tribo,
respeitavam o ciclo, usufruindo da mata por tempos insondáveis.
Mergulhar na mata é como adentrar ao desconhecido. Você “sente” sempre como se
estivesse sendo vigiado. Excepcional para o domínio do medo e para despertar o
poder oculto. Importante para aprender a viver de forma simples e necessária. A
mata te oferecerá tudo o que você precisa para sobreviver e evoluir.
Em tempo, o domínio mata diz respeito à mata fechada; lugares abertos ou caminhos
são regidos por outros Orixás.

Caminhos, estradas, estrada de ferro


Continuidade. A existência de um espírito ou a vida de um encarnado resume-se em
seguir sempre. Não importam as derrotas, vitórias, frustrações ou preocupações, no
fim, a única coisa que nos resta é continuar a caminhar. O caminho representa a
resistência em continuar, por este motivo é regido por Ogum.
Quando falamos caminho, é válido qualquer um deles, estradas de terra ou
asfaltadas, trilhos de trem, trilhas em meio à natureza, ruas e avenidas, e até mesmo
picadas em meio á mata. Uma curiosidade: apesar da encruzilhada ser domínio de
Exu, o centro da Encruzilhada pertence à Ogum, pois, neste ponto, é onde os
caminhos se cruzam.
Além disso, o caminho é a contínua semeadura, também é a expectativa de atingir
melhores paragens, de se concluir um projeto que foi construído no caminho. É
deixar para trás o velho e abraçar o novo. Pessoas com dificuldades em caminhar em
sua jornada, ou que sentem os caminhos fechados, devem trabalhar muito esta
energia.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Vento (local com muito vento)


O vento, domínio de Iansã. Representa força, paixão, determinação, liberdade e
espontaneidade. Sentir um forte vento passar por você ou sentir uma forte chuva no
seu rosto, reafirma a força e determinação que tanto nos é necessária.
Esta energia está ligada a se entregar sem medo à novidade, obter a determinação
para alcançar qualquer feito. A força do vento que desenha e esculpe a montanha, é
essa força e paixão (no sentido poético) que alcançamos neste domínio.

Pântano, mangue, leito de rio


Estar em volto em lama é como se fosse tragado pela terra. O barro que formou o
homem e o pó ao qual nosso corpo deverá voltar. Simboliza o início e o fim. Mas de
forma positiva, o fim de velhos conceitos e o início de momentos melhores.
O barro foi o provedor da vida na antiguidade. Dele eram feitas as casas e toda sorte
de utensílios indispensáveis para a vida. É um convite ao passado.
Domínio de Nanã, os locais de lama são um convite à reflexão, à reforma íntima e,
consequentemente, ao autoconhecimento. Também desperta as faculdades do
oculto e da mediunidade dentro de nós. Quando aprendemos a dominar nós mesmo,
não existem limites para nossos feitos.

Campos, parques e gramados (lugares onde crianças brincam)


No domínio de Cosme e Damião, a energia que sentimos é a da alegria, do pulsar da
vida, do sentimento despertado no sorriso de uma criança. Ao contrário de um
domínio natural, este domínio é criado a partir da presença de crianças brincando
continuamente. A presença dessas crianças é que criarão a energia imanente.
É importante lembrar que a energia só se estabelecerá em lugar aberto e que
contenha o mínimo de natureza. Quando falamos de energia imanente, dissemos que
se trata de energia original que ainda não foi distorcida pela mente humana,
entretanto a pureza da energia de uma criança não distorce a energia imanente, ela
absorve a amplifica esta energia.

Cemitério
O mais pesado de todos os domínios. Sendo domínio de Obaluaê, e, este, tendo sido
criado por Iemanjá, recebeu poderes para guardar os eguns.
Desta forma, o cemitério também não é um domínio natural, mas sim criado como
uma extensão do próprio mar pela necessidade latente da humanidade de guardar os
espíritos dos mortos e reciclar energias. Por isso também é conhecido como calunga
pequena.
A principal função do cemitério é absorver energias negativas de toda sorte e
transformá-las, com o auxílio da Mãe Terra, em energias positivas ou energias que

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

possam dar continuidade à vida. São extensões deste domínio os velórios, hospitais e
locais que trabalham com cura.
Pelo potencial transformador, é um domínio muito solicitado para o “despacho” de
restos de magia negra, de objetos utilizados para descarrego profundo, e até mesmo
sobras de trabalho efetuadas por entidades que promoveram trabalhos de
desobsessão. Lembrando que no meu ponto de vista existem lugares apropriados
para tal trabalho.
Muito conhecido também pelas almas. Em quase todos se não em todos os
cemitérios existe o cruzeiro, onde são o núcleo do domínio das almas benditas.
Sendo as almas uma importante linha da Umbanda, regida por Obaluaê.

Morro ou Montanha
Estes domínios são locais para reencontro com Deus, com o Divino e com o Sagrado.
Se observarmos a história, veremos que aqueles que alcançaram grande evolução
espiritual, recorriam constantemente a este domínio. Magos, mestres, monges,
eremitas e santos fazem parte deste rol. Como exemplo temos São Bento, São
Francisco, Buda e até o Mestre Jesus.
É o domínio do pai de todos, Oxalá, aquele que concentra a vibração de todos os
Orixás. Neste local você estará mais perto de Deus e certamente entrará mais
facilmente em contato com seus guias e protetores. Pessoas apegadas demais ao
plano físico, com problemas de mediunidade, dores de cabeça ou desequilíbrio
psíquico, podem se beneficiar das energias deste domínio.
Para encerrar este tópico, é necessário lembrar que para absorver a energia destes
domínios só é necessário estar presente no local. Estar de corpo e alma, se entregar
ao sagrado e sempre de coração aberto.

A religião da natureza

Depois de toda essa explicação sobre domínios, é importante uma pausa para
reflexão. Onde você está agora, qual a facilidade para chegar aos domínios dos Orixás
você tem?
O homem e o constante desenvolvimento da raça humana estão engolindo os
ambientes naturais. E quando não o fazem por expansão das cidades, acabam
provocando a contaminação e a degradação destes ambientes naturais.
Como pudemos observar, os domínios da natureza são extremamente importantes
para nós umbandistas, e, por este motivo devemos ser nós, aqueles que mais
utilizam e se beneficiam desses domínios, os primeiros a levantar a bandeira da
conservação e preservação do meio ambiente.
Nossa Religião possuía costumes incondizentes com a preservação natural. Era muito
comum chegar ao pé de uma cachoeira e encontrar restos de velas, garrafas, latas e

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

objetos plásticos. Ora, hoje em dia todos sabemos do mal que isto provoca ao meio
ambiente, além do tempo que irá demorar para isto se degradar. São centenas de
anos!
No começo da Umbanda éramos poucos e os domínios muitos. Esta relação
encontra-se agora invertida, tendo a Umbanda milhares (ou milhões) de praticantes,
contra uma redução considerável dos domínios.
Por tudo isso, pela Umbanda ser a religião da natureza, é que convido o leitor a
mudar certas práticas antes consideradas normais, para práticas mais conscientes.
1- Não firmar velas nos domínios. Velas são feitas de parafina, que é derivada do
petróleo, e isto causa grave poluição nos ambientes.
2- Pelo mesmo motivo não jogar restos de velas nos rios, jogue no lixo comum, caso
sua cidade não disponha de centros para recolhimento de lixo específico.
3- Também não jogar outros objetos nos rios, com exceção daqueles integralmente
orgânicos. Por exemplo vidro, metal, plástico ou qualquer coisa sintética ou
industrializadas não podem ser jogados no rio. Restos de comida de santo, produtos
da terra ou naturais, já podem ser jogados.
4- Não se desespere, tudo tem solução. Aqueles objetos que antigamente eram
jogados no rio, devem ser descarregados com água do mar, solução salina, marafo ou
amaci de descarrego. Depois podem ser jogadas no lixo ou queimados, se você
dispuser de lugar adequado ou se houver realmente necessidade.
5- Não leve alguidares de barro para os domínios. Apesar de serem feitos de material
integralmente inócuo ao meio ambiente, o barro cozido demora a se desmanchar. No
lugar de alguidar, utilize folhas de bananeira, folhas de costela de adão ou uma folha
que seja grande o suficiente para receber sua oferta. Hoje existem pratos feito de
plástico de origem natural, que se degradam em 30 dias. Existe na internet vídeos de
como fazer recipientes de fibras naturais, vale a pena conferir.
6- Não utilize copos descartáveis de plástico convencional. Utilize copos de plástico
de material orgânico, como citado no item 5. Outra opção é confeccionar copos de
bambu ou até mesmo coités (feitos da metade de um coco).
7- Nunca deixe garrafas, latas, sacolas plásticas, tampas, arames, isqueiros, rolhas,
plásticos de nenhum tipo e até mesmo papéis, sem necessidade, nos domínios
naturais.

Mas ainda podemos e devemos levar flores, frutas, bebidas (sem deixar a
embalagem).
Quanto às velas, firme suas velas na sua casa ou no seu terreiro antes de se dirigir
para o domínio. O Orixá vai receber a energia da vela e do pedido, e ainda lhe será
grato por preservar a morada dele. E mesmo assim se haver a necessidade de
acender uma vela no local do trabalho, ao término do trabalho a apague e leve-a
contigo e novamente firme em sua casa ou em seu terreiro se assim achar

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

necessário. Podem até mesmo deixa-las apagadas até quando houver a necessidade
de novamente acende-las para tal fim.
Além de conservar aquilo que nos é extremamente importante, também é uma
forma de divulgar a sabedoria de nossa religião.
Estas práticas simples ajudarão com o tempo, a diminuir o preconceito para com
nossa religião, além de cumprirmos a lei dos homens, pois danos ao meio ambiente é
considerado crime.
O bom umbandista respeita a lei espiritual e também a lei dos homens.

Mediunidade

Mediunidade é a capacidade dos seres encarnados de se comunicar com o mundo


espiritual.
Segundo as palavras de Alan Kardec:
“Quem sentir a influência dos espíritos, seja em que grau for, é, por isto mesmo,
médium. Esta faculdade é inerente ao homem, e por isto, não constitui privilégio
exclusivo de ninguém”.
A palavra “médium” vem do latim e significa meio, ou seja, o médium é o meio, o
instrumento pelo qual a espiritualidade se comunica com o plano físico.
Mediunidade é um dom existente em todos os seres humanos, podendo ser em
maior ou menor grau, mais ou menos perceptível para cada indivíduo, dependendo
muito da missão espiritual que cada um carrega neste plano terreno.
A mediunidade ou os fenômenos mediúnicos, não constituem premissa da Umbanda
ou de qualquer outra doutrina espiritualista moderna. Ela existe desde o início dos
tempos e a história está repleta de passagens e relatos que demonstram a atuação
dos espíritos entre os encarnados.
Profetas, apóstolos, magos, escritores, pintores, escultores, músicos, políticos, reis e
religiosos manifestaram claramente atividade mediúnica em suas vidas. E é na
religião, sem nenhuma sombra de dúvida, que a mediunidade expressa seu maior
trabalho.
Todas as religiões praticam e demonstram, direta ou indiretamente, a mediunidade.
Seja entre seus líderes ou fiéis, a manifestação mediúnica compõe a maior parte dos
trabalhos religiosos. Mesmo aquelas religiões que “abominam” a comunicação com
os espíritos refletem claramente o fenômeno.
Segundo Emmanuel, o mentor de Chico Xavier, “mediunidade não é uma benção e
nem uma maldição. Apenas mais uma atuação da Misericórdia Divina para levar o
auxílio aos necessitados e para os próprios médiuns, que na prática desta, podem
auferir o resgate de outras vidas com maior celeridade”.
Vejamos uma mensagem do mesmo espírito, a todos os médiuns:

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

"Os médiuns, em sua generalidade, não são missionários na acepção comum do


termo; são almas que fracassaram desastradamente, que contrariaram,
sobremaneira, o curso das leis divinas, e que resgatam, sob o peso de severos
compromissos e ilimitadas responsabilidades, o passado obscuro e delituoso. O seu
pretérito, muitas vezes, se encontra enodoado de graves deslizes e de erros
clamorosos. Quase sempre, são espíritos que tombaram dos cumes sociais, pelos
abusos do poder, da autoridade, da fortuna e da inteligência, e que regressam ao
orbe terráqueo para se sacrificarem em favor do grande número de almas que
desviaram das sendas luminosas da fé, da caridade e da virtude. São almas
arrependidas, que procuram arrebanhar todas as felicidades que perderam,
reorganizando, com sacrifícios, tudo quanto esfacelaram nos seus instantes de
criminosas arbitrariedades e de condenável insânia."
Do livro "Emmanuel” - Chico Xavier

Tipos de mediunidade

Estudiosos afirmam existir mais de 50 tipos de mediunidade. Não é nosso objetivo


estudar cada caso, mas sim discorrer sobre os mais comuns.
Allan Kardec diz que “Geralmente, os médiuns têm uma aptidão especial para
determinados fenômenos, do que resulta uma variedade muito grande de
manifestações”.

Vejamos alguns tipos de mediunidade:

Mediunidade de efeitos físicos


São médiuns aptos a produzir fenômenos materiais, como o movimento de corpos
inertes, ruídos, pancadas, vozes diretas, materializações, transportes, etc. A
mediunidade de efeitos físicos foi muito comum no surgimento do Espiritismo, com o
objetivo de chamar a atenção dos encarnados para as coisas do Além, tal como
ocorreu em Hydesville e depois na França, em meados do século XIX.

Mediunidade sensitiva ou impressionável


São pessoas suscetíveis de sentir a presença dos Espíritos por uma impressão vaga,
por uma espécie de leve roçadura sobre todos os seus membros, não apresentando
caráter bem definido, visto que todos os médiuns são mais ou menos sensitivos. Esta
faculdade pode adquirir tal sutileza, que aquele que a possui reconhece não só a
natureza, boa ou má, do Espírito que está ao lado, mas até a sua individualidade,
como o cego reconhece a aproximação de tal ou tal pessoa.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Psicofonia
Transmitem a mensagem espírita através da fala. Os Espíritos atuam sobre o órgão
da fala, como atuam sobre a mão dos médiuns escreventes.

Mediunidade sonambúlica
É aquele que, nos momentos de emancipação, vê, ouve e percebe, fora dos limites
dos sentidos. Muitos sonâmbulos veem perfeitamente os Espíritos e os descrevem
com precisão, como os médiuns videntes. Podem conversar com eles e transmitir-nos
seus pensamentos.

Pneumatografia
São os que produzem a escrita direta, sem tocarem no lápis ou no papel. Já os
médiuns escreventes ou psicógrafos transmitem a mensagem espiritual utilizando
lápis e papel.

Incorporação
A mediunidade de incorporação pode ser tanto parcial quanto integral.
Na incorporação parcial, o médium fica consciente, isto é, ele sabe que está ali,
sente, observa, mas não domina o corpo nem controla o raciocínio. Perde, também, a
noção de tempo e, embora tenha sido espectador de si mesmo, perde a noção de
muita coisa que se passou, ao desincorporar.
Na incorporação parcial pode haver uma quebra de sintonia ocasional, o que
permitirá ao médium interferir na comunicação.
Na incorporação integral, o médium fica totalmente inconsciente, pois há uma
perfeita sintonia com a vibração da entidade. Nesse caso, não há possibilidade de
interferência e, ao desincorporar, o médium não vai se lembrar de nada do que se
passou.
Os estudiosos da doutrina espírita ressaltam que a incorporação parcial é tão
autêntica quanto a integral. O único problema é o médium não interferir, procurando
se isolar e deixar que a entidade atue livremente. A esmagadora maioria dos médiuns
trabalha em incorporação parcial e uma pequeníssima minoria, em incorporação
integral.

Vidência
É o tipo de mediunidade que permite, àquele que a possui desenvolvida, ver as
entidades, as irradiações. Pode ser de três tipos: direta, intuitiva e focalizada.
Na Vidência Direta, o médium pode ver as entidades de quatro maneiras diferentes:
o Na projeção, o médium vê apenas um facho de luz, uma coloração que depende da
vibração atuante. Não vê forma humana, nem identifica a entidade.

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o Na parcial, o médium percebe uma forma humana ao lado de quem está


trabalhando espiritualmente, mas ainda não dá uma perfeita identificação. Vê
somente o contorno, a forma.

o No acavalamento, o médium vê a entidade por cima dos ombros de outro médium.


Já percebe se é masculina ou feminina, se é caboclo ou preto-velho ou outro
falangeiro qualquer, se os cabelos são longos ou curtos, etc. Muitos médiuns que
tiveram esse tipo de vidência afirmam, por desconhecimento, que as entidades vistas
possuíam mais de dois metros de altura, não percebendo que a entidade, vista acima
dos ombros de outro médium, produziu uma falsa impressão de altura.

o No encamisamento, o médium vê a entidade toda, perfeita. Isso acontece na


incorporação integral, quando a entidade toma conta do corpo de um outro médium.
o Na Vidência Intuitiva, o médium vê apenas com a mente. Ele se concentra e recebe
a imagem mental, por intuição.

o Na Vidência Focalizada, o médium utiliza algum objeto para a vidência, como um


copo d'água ou um cristal. As imagens aparecem no objeto de vidência.

Clarividência
É o tipo de mediunidade que permite ver fatos que ocorreram no passado e que
ocorrerão no futuro. Os clarividentes podem ver os corpos astral e mental de outras
pessoas, e tomar conhecimento da vida em outros planos espirituais. É um tipo de
mediunidade difícil de ser encontrado.

Audiência
Capacidade de ouvir a voz dos Espíritos, algumas vezes uma voz interior, que se faz
ouvir no foro íntimo, outras vezes uma voz exterior, clara e distinta, qual a de uma
pessoa viva, podendo até realizar conversação com os Espíritos, que podem ser
agradáveis ou desagradáveis, dependendo do nível do Espírito comunicante.

Mediunidade de projeção
É a capacidade de visitar espiritualmente outros lugares, enquanto o corpo físico
permanece em repouso; o espírito se desconecta do corpo podendo ir a outros
lugares físicos, mas podendo também visitar as dimensões espirituais.
A projeção pode ser voluntária ou involuntária.
Na projeção voluntária, o médium se predispõe a realizá-la. Determinando o destino.
O espírito se transporta para outros lugares, tomando conhecimento do que vê e do
que ouve.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

A projeção involuntária ocorre quase sempre durante o sono. Ao deixarmos o corpo


físico durante o sono, entramos em contato com pessoas e lugares dos quais não nos
recordamos ao acordar. Às vezes, recebemos nessas viagens soluções para os nossos
problemas que, mais tarde, nos parecerão ideias próprias. A respeito disto, diz o
ditado popular: "Para a solução de um grande problema, nada melhor que uma boa
noite de sono".
As projeções também podem nos levar à lugares onde possamos praticar a caridade
dentro do espírito ou mesmo adquirir conhecimentos necessários para nossa
caminhada rumo à evolução espiritual.

Psicografia
Tipo de mediunidade muito comum, podendo ser intuitiva, semi-mecânica ou
mecânica. É a capacidade de receber comunicações pela escrita.
Na Psicografia Intuitiva, o médium recebe as mensagens na mente e as passa para o
papel. É pura intuição.
Na Psicografia Semi-mecânica, o médium, à medida em que escreve, vai também
tomando conhecimento do conteúdo. O espírito atua, simultaneamente, na mente e
na mão do médium.
Na Psicografia Mecânica, o espírito atua somente na mão do médium, que escreve
sem tomar conhecimento da mensagem recebida. Quando, ao invés de escrever, o
espírito utiliza a mão do médium para pintar, esse tipo de mediunidade é chamado
de psicopictografia.
Sobre a psicografia, Kardec diz que, de todos os meios de comunicação, a escrita
manual é o mais simples, o mais cômodo e o mais completo. Para esse meio devem
tender todos os esforços, porquanto ele permite se estabeleçam com os Espíritos
relações continuadas e regulares, como as que existem entre nós, e é por ele que os
Espíritos revelam melhor sua natureza e o grau do seu aperfeiçoamento ou de sua
inferioridade.

Cura
São aqueles que têm o dom de curar pelo simples toque, olhar ou imposição das
mãos, sem o uso de medicação. É a ação do magnetismo animal que produz a cura,
mas essa faculdade deve ser classificada como mediunidade porque as pessoas que
possuem esse dom não agem sozinhas, mas são auxiliados por Espíritos que se
dedicam a essa tarefa.

Descarrego
Esta capacidade é inerente a todos os médiuns, cada um com seu grau. Mas, dentro
da Umbanda, é sabido que existem médiuns cujos protetores detém esta
especialidade. Esses mesmos médiuns podem efetuar um descarrego energético sem

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

a necessidade de incorporação, bastando apenas lançarem mão da concentração.


Apesar disso, afirmamos que, mesmo quando atuam desincorporados, estão sob a
tutela da espiritualidade.

Transporte espiritual
Outra categoria que aparece com maior frequência em nossa religião, mediunidade
de transporte espiritual consiste em “puxar” a entidade obsessora de um consulente,
no próprio corpo físico. Mais uma vez salientamos que a atuação é feita pelos guias e
protetores, mas é também necessário um aparelho que suporte tal ação.
Na Umbanda, sem dúvida nenhuma, os tipos de mediunidade mais utilizados são a
incorporação, a cura, o descarrego e o transporte. Isso dito durante os trabalhos
espirituais, pois é extremamente comum encontrarmos médiuns dos mais variados
tipos, porém são facetas mediúnicas que não aparecem no terreiro, mas certamente
acompanha a vida cotidiana desses irmãos.

Como saber se tenho mediunidade?

O florescimento da mediunidade causa uma série de distúrbios que sinalizam que


alguma coisa não vai bem ou não está em equilíbrio.
Isto é causado pela capacidade que todo médium tem de absorver a negatividade das
pessoas e do ambiente que o cerca, fenômeno conhecido como “efeito esponja”.
Dependendo do grau de mediunidade manifestado pela pessoa e pela sensibilidade
espiritual desenvolvida, essas energias ou espíritos negativos podem causar esses tais
sintomas antes mencionados.
Como cada ser é único, sem existir nenhuma pessoa igual a outra, os sintomas
também são manifestados de forma diferente de uns para outros.
Alguns sintomas são:

 Mal-estar em ambientes com muitas pessoas;


 Mal-estar próximo de algumas pessoas específicas, mesmo que não as
conheçam;
 Inquietação sem motivo;
 Transtornos de humor sem causa aparente e bipolaridades constantes;
 Antipatias injustificadas;
 Alterações repentinas de estados de personalidade sem causa aparente;
 Vazio no peito e sentimento, e angústia próxima da depressão;
 Agitação, hiperatividade e animosidade desproporcionais para situações
comuns;
 Raiva, estresse e chateação desproporcionais para situações comuns;

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

 Transtornos do sono;
 Transtornos de ansiedade;
 Pensamentos autodestrutivos;
 Bloqueio mental e criativo;
 Desmaios sem causa aparente;
 Doenças sem diagnóstico e dores sem causa aparente;
 Inquietação e falta de saciedade emocional;
 Perturbações espirituais, sensações de vultos e vozes que causam desconforto;
 Agudos sentimentos de menos valia e baixa estima;
 Relatos constantes de pessoas que se sentem bem depois de conversar com
você.

Se você se encontrou em muitos dos tópicos acima, significa que você pode ter
mediunidade. Para confirmação final, é necessário consultar duas ou mais entidades
que deverão concordar unanimemente com este diagnóstico. Caso positivo, é
necessário definir se você deve tratar ou desenvolver.

O médium possui "poderes" que os demais não têm?

Não, o médium não tem “poderes” que os outros não têm. Mas certamente tem
compromissos e responsabilidades que os outros não possuem.
Se portamos mediunidade, é evidente que nossa missão espiritual passa pelo
exercício dela. Através do trabalho mediúnico caritativo é que conseguiremos
diminuir nossa dívida cármica.
Além disso, o médium constantemente está em preceito, em decorrência dos
trabalhos espirituais, o que constantemente o afasta dos círculos sociais.
E, por último, mas o mais importante de todos, é que o médium sofre perseguição
ininterrupta do plano astral inferior, levando-o constantemente a ter preocupações
com firmezas, orações e recolhimentos que os demais não precisam.
Depois de tudo isso, se você deseja ingressar na vida mediúnica por status ou para
fazer bonito para as outras pessoas, creio que seja melhor repensar sua decisão. Pois
se você não cumprir com a obrigação do seu fardo será penalizado por isso, além do
que a vaidade é o pior sentimento que um médium pode cultivar. Lei da ação e
reação.

Sou obrigado a desenvolver?

Ninguém é obrigado a nada. Seu livre arbítrio sempre deverá ser respeitado.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Entretanto, caso você faça a opção pelo não desenvolvimento de suas faculdades, é
necessário advertir que deverá efetuar tratamento espiritual contínuo com a
finalidade de se desfazer das cargas que naturalmente irá absorver.
Além disso, lembre-se que a mediunidade é uma oportunidade conferida pela
Misericórdia Divina, e você poderá ser cobrado por não utilizá-la.

A importância do estudo mediúnico

Continuo achando que o maior e melhor estudo é a frequência de terreiro, onde


aprendemos com a espiritualidade com os melhores professores que possamos ter
em terra.
Porem esse tipo de estudo é um pouco mais árduo. Em meu tempo você era
colocado no meio da gira e sem sequer saber o que esta acontecendo, é girado,
agachado, levantado e assim vai, para quem não tem o mínimo de conhecimento
pode até nunca mais ir a um terreiro.
Por esse motivo, peguei toda minha vida de conhecimentos e fui estudar doutrinas
de outros terreiros e acabou me ajudando bastante, pois ao longo dos meus 39 anos
vivenciei muitos trabalhos de umbanda e consegui ver com palavras mais modernas,
maneiras mais atualizadas o que eu precisava saber. Não tenho dúvida que minhas
próprias entidades assim fizeram para minha evolução espiritual, porque aprendi até
mesmo o que não se deve fazer.
Muitos iniciantes na religião não se dedicam como deveriam. Grande engano!
É impossível alcançar um desempenho mediúnico satisfatório sem a preparação do
médium.
Os preceitos, banhos e recomendações citados pelos seus dirigentes, preparam o
corpo e a energia do médium. Mas é preciso ainda mais, é necessário preparar a
mente, pois é através dela que ocorre a incorporação como veremos em tópico
adiante.
Ser médium e não ter estudo apropriado, é como um cozinheiro ter uma faca que
não corta, um policial ter uma arma que não funciona ou um carpinteiro sem a sua
serra.
Ser médium é fácil agora ser um bom médium requer dedicação, tempo, esforço, por
várias vezes deixar de lado festas, amigos e por vezes até familiares para se dedicar a
pessoas que por muitas vezes você nunca as viu.
Ser um bom médium não é ter varias guias penduradas no pescoço, é fazer de um
simples cordão de pequenas contas, grandes milagres da espiritualidade.
Ser um bom médium é agradecer todos os dias, é rezar todos os dias, é acreditar em
suas orações é estar conectado em tempo integral com a espiritualidade.
Mas isso é muito difícil. Sim eu sei, porque também sofro por isso. Mas mesmo assim
me dedico e faço tudo o que posso para que não erre. Somos passivos de erro alias

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

somos seres-humanos mas isso não nos dá o direito de errar; Então faça com amor,
com caridade e com humildade.
Pois bem, imagine como se sente uma entidade que tenta assumir o controle do
aparelho de um médium que não se dedica. Fica limitada, pois toda vez que tentar
elaborar uma orientação mais complicada, ou mesmo falar de práticas, ervas ou
situações desconhecidas pelo médium, não encontrará nem eco e nem sintonia nesta
mente, dificultando em muito o seu trabalho. Sem dizer na interferência que o
próprio médium causará no trabalho da entidade, por sentir-se inseguro em permitir
que ela diga ou faça o que desejar.
A entidade de um médium sem preparo assemelha-se ao cozinheiro que precisa fazer
um grande jantar de última hora e quando chega na dispensa, a encontra vazia.
Estar atento e entender o que se passa em uma gira aguça a mediunidade, faz com
que o médium permita a atuação da entidade com maior segurança, além de lhe
permitir apreciar a beleza do atendimento que é prestado.
Os cambonos estão com os melhores professores, preste atenção em tudo que se
passa em sua volta. Caso tenha dúvidas, fale com seu dirigente, tenho certeza que
ele terá sua resposta e se assim não for de imediata, com certeza ela chegará quando
menos esperar.
Lembre-se ainda que suas entidades direcionam seus estudos para que você absorva
também o que eles precisam, para quando os guias tomarem uma providência, que
não lhe cause estranheza e para que isto não lhe cause dúvida ou confusão.
Eis um caso que mostra a firmeza de um médium, só alcançada pelo estudo.
Em um terreiro na cidade de São Paulo, uma mãe procurou um caboclo para pedir
ajuda para sua filha de 13 anos, que estava doente, não falava e nem comia. O
caboclo pediu para a mãe pensar na filha e, depois de alguns instantes, recomendou
que a mãe desse à filha três vezes ao dia, pelo período de três dias, um chá feito com
canela, arruda e alecrim.
No trabalho seguinte, era novamente gira de caboclos, a mesma mãe retorna, entra
no Congá sem avisar, e investe contra o caboclo, dizendo:
- Você acha que minha filha está grávida? Você acha que eu não sei que o chá que
você passou para a minha filha é abortivo?
O caboclo, impávido, mantendo os olhos fechados, pergunta se ela deu o chá para a
menina. No que a mulher responde:
- É claro que não dei!
Então o caboclo abriu os olhos e gritou fortemente com uma voz rouca, que pareceu
estremecer o ambiente:
- Então dê o chá para ela e depois você vem contar o que aconteceu.
A mulher, assustada e receosa, foi embora.
No trabalho seguinte, ela retorna e, com muita humildade, espera sua vez para falar
com o caboclo. Ele, de olhos fechados, diz:

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

- E a menina, tá melhor?
A mulher começa a chorar e pedir perdão ao caboclo, dizendo que tinha dado o chá e
a menina estava ótima. Que agora ela entendia que o chá servia para ajudar a descer
a primeira menstruação da filha, e que no segundo dia do chá a menina menstruou e
imediatamente começou a falar.
Agora pergunto: será que se o médium não fosse estudado e preparado, ele teria
permitido que o caboclo contestasse a mulher com toda a segurança e firmeza como
ele fez?
Deixo que tire suas próprias conclusões, pois não sou o dono da verdade e estou
longe de querer criar uma regra para todos.

Com que idade se inicia a manifestação mediúnica?

Não existe idade para a manifestação mediúnica. Existem casos de pessoas que
começaram a sentir a necessidade de desenvolvimento depois dos 50 anos, como
existem casos de crianças que ao começarem a falar, começam as manifestações.
Entretanto, na esmagadora maioria das vezes, é na adolescência que se fazem claros
os primeiros sintomas de mediunidade. Isto certamente está associado à explosão de
hormônios no corpo dos garotos e garotas, o que, entre outras tantas coisas,
aumenta a sensibilidade espiritual.
Entretanto não devemos esquecer o caso de crianças prodígio que, na mais tenra
idade, começam com casos de vidência e clarividência. Um caso que vou relatar é
minha filha de 10 anos que tem vidência e por mais que falamos sobre o assunto,
nascida e criada dentro da umbanda já tem esse dom mediúnico que no futuro será
de grande valia a ela se assim quiser seguir os passos do pai. Posso também falar de
meu filho que com 9 meses de idade adora as giras, quer ficar perto dos atabaques e
quer toca-los como um curimbeiro. Com apenas 9 meses de idade foi consagrado e
não tenho dúvidas nenhuma que será um grande líder espiritual em nossa tenda.
Este assunto traz em pauta mais um motivo para estar atenta a espiritualidade, pois
pessoas que se encontram em sofrimento espiritual por falta de desenvolvimento
mediúnico por muitas vezes passam despercebidos.

Qual o melhor momento para desenvolver minha mediunidade?

Este “momento” varia de pessoa para pessoa. Cada caso deve ser tratado
individualmente.
De uma forma geral, recomenda-se que o desenvolvimento mediúnico seja iniciado
em um momento de vida no qual a pessoa possa se dedicar com afinco ao estudo e à
prática. Também é necessário avaliar se a pessoa carrega a responsabilidade e o

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

comprometimento necessário para o ato. Pessoas muito novas, em geral, tendem a


desistir com certa facilidade.
Mas existem casos em que a mediunidade explode com tamanha força, causando
tanto sofrimento à vida da pessoa, que a necessidade do desenvolvimento é imediata
e não pode ser protelada.
Também, quando possível, é desejado que o novo irmão conheça bem a casa e
transite pelas diversas funções dentro do terreiro, em especial a de cambone, onde
poderá aprender muito sobre o convívio com as entidades espirituais.
De uma forma geral, a iniciação na religião e o desenvolvimento mediúnico,
preferencialmente, deverão ser lentos e graduais. Pessoas que passam por estes
processos normalmente se tornam melhores umbandistas.
Não vai ser estudando livros, cursos de internet que lhe farão um bom ou ruim
médium. Em minha concepção livros e curso abrem seus horizonte mas os grandes
ensinamentos estão no terreiro.

Mediunidade aflorada

Mediunidade aflorada é aquela que de um momento para outro, seja pela idade, seja
por um grande acontecimento na vida da pessoa, explode com todo o furor.
Quando dizemos todo o furor é dizer que a pessoa está vendo vultos ou espíritos,
apresenta dor ou doença aparentemente grave sem diagnóstico, não consegue
dormir por causa das “vozes”, por convulsões aparentemente sem motivo ou, ainda,
por já estar incorporando descontroladamente.
Em todos estes casos é necessário um tratamento espiritual intensivo que deverá ser
feito pelo dirigente do terreiro e pelas entidades espirituais, em concomitância ao
desenvolvimento mediúnico, para que se consiga trazer novamente a pessoa ao
equilíbrio.
Nestes casos, o apoio da família, conversas com um orientador espiritual
(desincorporado), e mesmo um psicólogo, podem favorecer a restauração do
equilíbrio, pois normalmente esse “florescimento” é detonado por um sentimento
dentro da pessoa, que provavelmente gera dor emocional.
Através da compreensão dos fatos e da abertura da consciência, podemos evitar as
aberturas para o plano inferior, trazendo assim uma proteção mais firme para este
irmão.

Mediunidade atrasada

Todas as pessoas encarnadas possuem uma missão espiritual como já detalhamos


anteriormente. Para se cumprir uma missão necessitamos de, no mínimo, duas
coisas: iniciar esta jornada e continuar caminhando. A mediunidade atrasada incide

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

sobre pessoas que ainda não iniciaram sua missão ou que, mesmo após o início, não
deram continuidade à essa missão. O grande regulador nestes casos é o tempo de
vida das pessoas.
Não sabemos quando vamos desencarnar, por isso é necessário iniciar a missão com
urgência. Normalmente pessoas que detém grandes manifestações mediúnicas é
porque possuem resgates com muitas pessoas, e quando o tempo passa, muitas
dessas pessoas que deveriam ser ajudadas por você mediunicamente, poderão não
mais estar presentes e nem ao seu alcance.
O mais intrigante é que em todos os casos de mediunidade atrasada, a pessoa está
em franco sofrimento em algum aspecto da vida já há um bom tempo, mas não
procura a ajuda derradeira por displicência ou (principalmente) por medo.
De uma forma geral, independente da sua idade, o necessário é começar, pois se
você recebeu a informação de que está “atrasado” no cumprimento de sua missão
espiritual, é por que ainda existe tempo para concretizar ela toda ou, ao menos,
grande parte dela.

Primeiras manifestações

Normalmente, quando falamos de primeiras manifestações, referimo-nos àquelas


que acontecem no terreiro. Mas antes de chegarmos neste ponto, cabem algumas
reflexões.
Mesmo quando o médium não está com a mediunidade aflorada, pode vivenciar
experiências extremamente confusas, quando a pessoa fica sem entender certos
comportamentos.
Se pegarmos exclusivamente o caso do Pai da Umbanda, Zélio de Moraes, fica claro
que ele já vivia experiências de incorporação mesmo antes de 15/11/1908.
Relatos de minha própria família, histórias mais antigas do que a própria umbanda.
Tias de minha avó vieram fugidas da Espanha porque eram consideradas bruxas e
naquele tempo essas pessoas eram queimadas vivas ate a morte em fogueiras em
praça pública.
Por isso, irmão, não estranhe se o comportamento de sua entidade for parecido com
algo que você já fez. Não é a sua mente tentando imprimir uma personalidade à
entidade, mas foi a entidade que transferiu para você, por aproximação, suas
características e comportamento.
Já dentro do terreiro, as duas formas mais comuns de se propiciar uma incorporação
são: girando o médium ou pela intermediação de outra entidade incorporada.

Vamos conhecê-los melhor:

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Girando o médium
Esta é a forma mais antiga de induzir uma incorporação. Uma entidade incorporada
ou um grupo delas, começa a girar o médium até que ele perca o controle sobre o
corpo físico e, dessa forma sua entidade possa assumir o controle.
Particularmente não sou muito adepto deste costume, pois não funciona para todos
e muitos ainda caem, e acabam se machucando de alguma forma. Entretanto, este
modo pode ser o mais adequado para algumas pessoas, sem a menor sombra de
dúvida. Mesmo assim, como não conseguimos distinguir qual pessoa é mais afinada
com este método, recomendo que não o utilizem, salvo raras exceções.

Intermediação de outra entidade


Neste caso, o médium se posta à frente de uma entidade incorporada, como se fosse
se consultar. A entidade, por sua vez, utiliza de métodos de energização e
aproximação do guia da pessoa. Normalmente a entidade solicita ao médium que
feche os olhos, ela pode estalar os dedos, puxar o braço, abraçar, tampar os ouvidos
da pessoa, pisar devagar no pé, ao mesmo tempo em que energiza a cabeça ou a
fronte.
Fazendo isto, o médium em desenvolvimento deve sentir alguma coisa como
mudança da energia ou da respiração, desejos como bater palmas, bater no peito,
cair de joelhos, gritar ou se curvar, entre tantos outros.
É óbvio que é necessária uma maior entrega do médium, ele deve estar calmo e com
a mente limpa, deixar-se solto e prestar atenção somente aos sentimentos. Se fizer
isso, tem grandes chances de incorporar. Ou seja, este método requer muita
participação do médium em desenvolvimento.
De forma geral, em algum momento das primeiras manifestações, o médium tem
uma incorporação firme ou forte, como preferirem. Muitos relatam a experiência
como se tivessem sido tomados por suas entidades. Mas nas experiências seguintes
isto não acontece. Por quê?
Porque no início do desenvolvimento é comum os médiuns terem dúvidas sobre a
própria mediunidade. Outros ficam reticentes quanto ao que os outros ao redor irão
pensar dele. Por este motivo, em dado momento a entidade “toma” o aparelho para
mostrar ao médium que nada daquilo é loucura.
Mas isto é uma violação do livre arbítrio, o que só pode acontecer em casos de
exceção. Mostrado isto ao médium, tudo volta a ser como era antes, cabendo ao
médium a permissão para a incorporação. Quando digo permissão, significa deixar o
corpo solto para que ele sinta a aproximação da entidade.
A etapa seguinte é executar as vontades que despertam na mente. Isto porque a
entidade em suas primeiras manifestações no terreiro assume a mente na
incorporação para controlar o aparelho. Então para a entidade levantar o braço,

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

primeiro ela ordena para a mente do médium. Nisso o médium não executa por
receio de ser coisa da cabeça dele.
Isto ocorre porque o médium não está acostumado a compartilhar sua mente, que é
o que efetivamente acontece em uma incorporação consciente.

Eis aqui um resumo de recomendações para o médium iniciante:

1- Prepare-se adequadamente para o dia do trabalho. Cumpra os preceitos, faça o


banho, firme suas velas, seja em casa ou no terreiro, e não crie expectativa, tente se
manter calmo.

2- Chegue cedo no terreiro e tente entrar no Congá 20 minutos antes do início dos
trabalhos. Ali faça suas orações e deixe todos os acontecimentos do dia saírem de
sua mente. Esvazie a mente para o trabalho espiritual.

3- Quando iniciar o cântico dos pontos para incorporação, mantenha os pés


levemente afastados, feche os olhos, solte os ombros e deixe a cabeça pender até
seu queixo atingir seu peito. Esta é posição da entrega total.

4- Preste atenção aos desejos de sua mente. Execute-os sem pestanejar. Se sentir
vontade de erguer o braço, faça. O mesmo vale para sentar no chão, gritar, bater no
peito, bater palmas, pular, chorar, curvar-se, ajoelhar-se ou qualquer outra vontade.
Tente fazer com espontaneidade.

5- Não ligue para o que os outros estão pensando de você. Incorporar é igual a
dançar, as pessoas não dançam por vergonha de achar que as pessoas estão vendo
que ele não sabe dançar. Mas ninguém liga! E com a incorporação acontece o
mesmo, ninguém liga.

6- Seja fiel à estas vontades, pois são a manifestação de suas entidades, por mais
estranhas que possam parecer.

7- Não copie o comportamento de outras entidades que você conhece. A


individualidade existe para todos os espíritos e seus guias também são únicos.

8- Não se apegue à modelos, como “caboclo tem que gritar e bater no peito”, “todo
preto velho se agacha”, e outros tantos modelos que existem por aí.

9- Não queira compreender ou racionalizar a incorporação. É um processo complexo


e pode levar tempo para se ajustar perfeitamente. Somente sinta e execute.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

10- Não se preocupe se a incorporação não acontecer, ou, caso aconteça, dure
somente alguns segundos ou minutos. Aos poucos, através do contínuo exercício da
incorporação, elas ficaram mais estáveis.

11- Não se preocupe com o tempo que está demorando em desenvolver


plenamente, cada um tem seu tempo. Não compare com o irmão que começou junto
e desenvolveu primeiro ou ainda não desenvolveu. Existem muitas variáveis que
determinam o tempo de um desenvolvimento de cada um.

12- Não deixe que a fascinação suba à sua cabeça. Uma vez na corrente, concentre-
se.

13- Não se preocupe em estar fazendo certo ou errado, o sacerdote irá dirimir
eventuais excessos ou faltas, e o resto, o tempo se encarregará de ajustar.

14- Não queira saber o nome de suas entidades. Deixe que elas mesmas façam isso
no momento oportuno. Algumas entidades levam anos para dar seu nome, sem dizer
que isto não é impeditivo para que ela trabalhe.

15- Trate suas entidades com carinho. Nunca esqueça de levar os tributos como
bebida e fumo, que eles irão utilizar na gira. Leve mesmo sem saber se eles irão
utilizar ou não. Outro detalhe, caso você não saiba o que levar, leve o óbvio. Para
preto-velho o cachimbo. Para o caboclo, charuto, para a criança refresco e doce. E
assim por diante, mas lembre-se, sem exageros.

16- Não duvide nunca. A fé movimenta e desenvolve. A dúvida emperra e paralisa.

17- Não falte aos trabalhos de desenvolvimento. A falta do exercício contínuo pode
fazer falta, podendo até causar retrocesso no seu desenvolvimento.

Se o irmão em desenvolvimento seguir estas recomendações simples, certamente irá


galgar rapidamente os degraus da escada da mediunidade.
Outra situação frequente é o médium incorporar mas não conseguir segurar a
incorporação. Isso ocorre porque no início da incorporação o médium está
concentrado em incorporar. Logo que ela ocorre, o médium passa a prestar atenção
na incorporação ou fica fascinado por ela. Passa a duvidar ou a se perder em
devaneios, com isso reassume o controle do mental mesmo sem desejar, e,
consequentemente, “quebra” a incorporação.
Somente o exercício contínuo do desenvolvimento irá corrigir essas distorções.
Para ser um médico tem a dedicação de no mínimo 8 anos;

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Para ser um engenheiro tem a dedicação de no mínimo 5 anos;


Para ser um médium não vai ser no primeiro mês que estará pronto para a
mediunidade. Até mesmo os sacerdotes estão em pleno aprendizado, pois não
conheço nenhum que diga que sabe tudo.

Como acontece uma incorporação?

Durante muito tempo, algumas doutrinas acreditavam que na incorporação, o


espírito entrava no aparelho (corpo) do médium. Hoje sabemos que não é bem
assim, mas também não descartamos essa possibilidade.
De todos os materiais que já estudei, entre eles os livros “Nos Domínios da
Mediunidade” e “Mecanismos da Mediunidade”, ambos de André Luiz, psicografados
por Chico Xavier, o trabalho que mais me causou admiração é o do Dr. Sérgio Felipe
de Oliveira, sobre a glândula pineal.
O Dr. Sérgio Felipe de Oliveira é neurocientista e acadêmico da Universidade de São
Paulo (USP), que estudou cientificamente a glândula pineal. Originalmente a glândula
pineal está localizada bem no centro de nosso cérebro e era conhecida por regular os
ciclos vitais do corpo, como o sono e a reprodução.
Ao estudar diversas pineais, entre muitas conclusões, o Dr. Sérgio verificou que havia
uma quantidade anormal de cristais em algumas delas. Verificou, a seguir, que a
pineal de médiuns atuantes possuía uma quantidade maior de cristais do que a
pineal de pessoas comuns.
Em nossa vida cotidiana, uma das maiores funções dos cristais é na transmissão e
recepção de ondas. Transmissores e receptores de TV’s e rádios tem como peça
fundamental o cristal.
A incorporação propriamente dita ocorre quando o campo espiritual de uma
entidade envolve o campo, ou ao menos a cabeça, de um médium. A partir desse
instante o espírito passa a assumir o controle do corpo físico. Comandando o sistema
nervoso central, o espírito pode controlar a fala e os movimentos, bem como a
condução de energia.
E onde a pineal se encaixa em tudo isso? A glândula pineal é a grande antena que
capta a energia do campo espiritual da entidade. Isto explica o porque de sentirmos
uma sensação de que vamos incorporar quando nossos guias se aproximam.
Todavia, o controle primário da mente continua sendo do proprietário original, ou
seja, o médium. E é exatamente por isso que precisamos nos concentrar para não
interferir no trabalho ou atuação das entidades incorporadas. Do mesmo modo que
podemos interferir na atuação do espírito, podemos romper a incorporação quando
bem desejarmos.
Por tudo isso é que dizemos que a caridade do médium é apenas permitir que a
entidade se manifeste e atue através do seu corpo, sem dúvidas e sem interferências.
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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Pode parecer simples, mas somente o exercício contínuo da mediunidade,


contemplado pela humildade, é que nos levará ao desenvolvimento definitivo de
nossa mediunidade.
Por fim, é costumeiro entre os médiuns de Umbanda, sentir um certo “choque”,
tanto na incorporação quanto na partida das entidades. Esse choque pode ser
seguido por tontura ou ausência, e até sensação de perder o chão, por alguns
segundos. Isso se deve ao acoplamento e desacoplamento energético do campo
espiritual da entidade junto da pineal.

Mediunidade consciente e inconsciente

Vamos definir os termos. Mediunidade consciente é quando o médium está


presente, assistindo todo o trabalho de sua entidade e, que após a desincorporação,
consegue recordar toda a atuação de seu guia.
Mediunidade inconsciente é quando, após a desincorporação, o médium não
consegue se lembrar do trabalho de sua entidade.
Coloco aqui ainda mais um estágio, a mediunidade semi-consciente, na qual, após a
desincorporação, o médium lembra, mesmo que vagamente, do trabalho de seu guia,
mas, após alguns minutos ou mesmo após uma noite de sono, toda a lembrança
desaparece.
O assunto consciência/inconsciência da mediunidade é um tema polêmico e desperta
muito o interesse dos irmãos de fé. A maioria dos médiuns se diz inconsciente, mas
este fato não é verídico.
A inconsciência é atingida normalmente por médiuns que trabalham há anos na
seara espiritual. Como se fosse uma medalha por serviços prestados.
Agora raramente um médium novo alcança a inconsciência. Isto por dois motivos: o
primeiro é que para se atingir a inconsciência é necessário confiança absoluta no
trabalho de seus protetores. Já o segundo é menos óbvio, o médium acompanha
conscientemente o trabalho de sua entidade para aprender com ela, e muitas coisas
que a entidade diz para a assistência também servem de aprendizado para o novato.
Pai Ronaldo Linares tem um exemplo didático para compreendermos parte do
mecanismo de inconsciência. Ele nos diz que começar a incorporar é como se você
nunca tivesse carro e de repente compra um carro zero quilometro. Ao passear com
ele quer mostrar a todos sua nova aquisição. Aí depara-se com uma pessoa que você
conhece muito pouco e ela te parabeniza pelo carro e de repente pede: - Posso
dirigir? Você, muito sem jeito de negar, concorda contrariado com o pedido, afinal de
contas você não sabe se ele dirige, se possui habilitação. Nos primeiros movimentos
você dirige junto com o motorista, procurando frear antecipadamente sempre que
acha necessário, ou seja, a tensão é visível. Entretanto, a cada novo pedido para
dirigir, conforme você verifica que ele é um bom motorista e que é cuidadoso com

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

seu carro, você começa a relaxar cada vez mais, até que um dia você até dorme no
banco do carona, tamanha é a confiança que você nele adquiriu.
As associações são óbvias. Você é o médium, o motorista é sua entidade e o carro
seu corpo físico. Este exemplo deixa bem claro como funciona o estabelecimento da
confiança entre você e seu guia, e, um dia, você irá até “dormir no banco do carona”,
que é uma alusão forte à mediunidade inconsciente.
Independente de que forma seja a sua mediunidade, nunca se esqueça de que todas
elas são salutares e que a assistência deve confiar nos médiuns de uma corrente,
independente desta condição.
Por último, quem te garante que aquele médium, cuja entidade você confia
cegamente, não era consciente? Pense nisso

Como saber se meu desenvolvimento está indo bem?

Questionamento frequente entre os médiuns em desenvolvimento.


Esta resposta pode ser obtida com uma outra pergunta: quanto você melhorou
desde o início do desenvolvimento e como você se sente?
Invariavelmente, o processo traz mudanças para a pessoa e sua vida. No início o
irmão fica fascinado pela nova experiência e não nota tão claramente o processo de
mudança interna.
Desenvolver a mediunidade é, acima de tudo, uma viagem ao centro de si mesmo.
Coloca você de frente com mágoas do passado, vergonhas, frustrações e medos. É
um processo de purificação.
Entretanto, se o filho de fé realmente despertar a consciência de que nunca andou
sozinho, e, por mais que não soubesse ou não se sentisse assim, sempre gozou da
orientação e da proteção de seus guias, este processo torna-se mais viável.
É sempre mais fácil superar obstáculos apoiado pelos amigos e entes queridos, não?
É claro que sim. Então, vamos nos deparar com nossos medos, mas sabemos que
estamos muito bem acompanhados para superar as situações negativas.
Um bom exemplo sobre o desenvolvimento é que desenvolver a mediunidade é
como remover um enxame de abelhas de dentro da sua casa. Você vê ele crescendo
dia a dia e todo dia você pensa: “preciso tirar isso daí”, mas não faz nada. Até que um
dia o enxame termina de se formar e as abelhas já começam a passear pela casa,
causando desconforto. Só neste instante você decide removê-lo. É complicado, as
abelhas ficam doidas, sua família tem que deixar a casa por algumas horas, você leva
algumas picadas, mas enfim se liberta do tormento.
Podemos associar o exemplo das abelhas ao da mediunidade. Você sabe que detém
mediunidade, sabe que deve desenvolver, mas protela. Protela até que apareça uma
doença sem diagnóstico ou quando as coisas do dia a dia passam a não dar mais
certo. Só neste momento você vai atrás de auxílio e inicia o desenvolvimento.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Desenvolver a mediunidade é como “remover o enxame de dentro de nós”. Não é


igual para todos, uns desenvolvem mais rápido, outros nem tanto. Alguns podem
demorar mais no processo de purificação, outros no desenvolvimento da confiança e
outros não vão ter a mediunidade de incorporação.
Eis alguns sentimentos que o iniciante pode ou não sentir: euforia, fascinação, medo,
vergonha, sentimento de inferioridade, ceticismo, dúvida e confusão mental,
sensação de que a vida ficou mais difícil, entre outros.
Cada etapa da abertura da mediunidade é única, trará sentimentos positivos ou
negativos, ou ambos ao mesmo tempo. A melhor sensação que o iniciante pode ter é
a de constante movimento, mudança contínua.
Toda mudança tem aspectos bons e ruins, mas independente da qual você sinta,
garanto que todos são necessários. Principalmente os ruins, pois o homem só
aprende verdadeiramente passando por uma situação desagradável, o que indicará
que ele não mais deseja passar por aquilo.
Sendo assim, todos aqueles sentimentos listados anteriormente são necessários,
cumpra cada etapa com amor. Lembre-se de que a natureza não queima etapas e
assim também deve ser a sua vida, sem queimar etapas.
Para saber se seu desenvolvimento está indo bem, basta prestar atenção a si mesmo
e aos fenômenos espirituais que o cercam. Não existe uma resposta clara, pois essa
pergunta se repete a cada etapa do desenvolvimento. Então o que pauta é
verdadeiramente a mudança contínua, mesmo que não seja o que você espera.
Entretanto, elencamos aqui algumas referências. Se você possuir três ou mais dos
atributos abaixo pode indicar com certa confiança de que você está no caminho da
boa mediunidade.
- aumento da percepção espiritual;
- medo de que a entidade cometa erros;
- sentimento de leveza e felicidade após os trabalhos;
- desenvolvimento de amor pelas próprias entidades;
- saúde física, mental e espiritual equilibradas;
- abertura da consciência para coisas simples;
- bom humor e alegria de viver;
- alegria em servir.

Por fim, lembro que a melhor pessoa para avaliar seu desenvolvimento mediúnico é
seu pai de santo ou quem assim faça suas giras de desenvolvimento. Ele poderá (e
deverá) lhe indicar seus atrasos e progressos de forma construtiva. É dele a obrigação
de orientar o irmão iniciante.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Como saber quando estou pronto para o atendimento?

Existem terreiros onde a doutrina aplicada é extremamente severa. Nestes locais,


tanto o médium quanto suas entidades passam por provas antes que o médium seja
liberado para o atendimento.
Essas provas resumem-se na capacidade da entidade falar com clareza, da entidade
informar seu nome, sua linha de trabalho e Orixá correspondente, além de riscar seu
ponto específico (ponto riscado). Isto é feito para avaliar a firmeza do médium.
Em outras doutrinas, após o dirigente confiar nas entidades do médium, ambos
também são provados, mas em situações diferentes. O médium terá sua humildade,
caridade e capacidade de viver em comunidade de maneira harmônica. Além disso o
médium pode ser tentado em situações negativas para avaliar seu compromisso com
a Umbanda.
Já as entidades são testadas com situações que somente as entidades podem
superar, tais quais andar no fogo, transpassar agulhas no corpo do médium, oferecer
três líquidos transparentes e pedir que a entidade indique o que é cada um, sem
provar ou tocá-los.
Esses métodos podem parecer cruéis para muitos, mas garantiam que os médiuns de
atendimento fossem dotados de todas as qualidades necessárias para o ato.
Mais uma vez digo que quem melhor pode indicar se você está preparado ou não é o
dirigente da casa, ou o orientador do desenvolvimento mediúnico. Porém também
existem indícios que mostram se você já está pronto.

- Firmeza da entidade
Capacidade de sustentar a incorporação, mesmo que a entidade não preste
atendimento. No caso, sustentar equivale à entidade permanecer com todas as suas
características em tempo integral.

- Equilíbrio emocional
Lembrando sempre que o sentimento do médium afeta a incorporação, direta e
indiretamente, e a capacidade do médium de manter o equilíbrio, não importa o que
aconteça. Não deixar que coisas boas atrapalhem a vibração e muito menos permitir
que coisas ruins derrubem sua vibração.

- Capacidade de descarrego
É a capacidade de encerrar um trabalho espiritual de forma a permitir que a própria
entidade remova toda a negatividade presente no médium. Desta forma ele pode
sair do trabalho sempre melhor do que entrou.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

- Estar em comunhão com suas entidades


Reconhecer a presença de suas entidades, saber distinguir quando são suas
entidades colocando pensamento na sua cabeça em detrimento de outras. Alguns
poucos começam a desenvolver audiência e vidência espiritual.

- Verificar se as pessoas que estão se consultando, estão alcançando a graça


Em nosso terreiro os médiuns em desenvolvimentos começam a dar atendimento
aos filhos de branco, assim podemos entre a corrente ajustar certos aspectos do
médium. Pois o próprio médium iniciante quando se depara com os consulentes
acabam passando por um certo nervosismo para não errar, e quando se trata de
pessoas já da base do terreiro o atendimento se torna um pouco mais fácil assim o
próprio médium consegue fazer uma alto avaliação dos atendimentos.

Mistificação, Animismo e Vaidade

Mistificação

A palavra mistificação tem por significado o ato de enganar ou induzir alguém a crer
em uma mentira, farsa.
Só pelo significado da palavra já podemos perceber o seu significado na Umbanda.
Mistificar na Umbanda é o ato de fingir estar incorporado ou de falar em nome de
uma entidade espiritual de forma negativa e proposital.
É por mim considerado o maior erro que um umbandista pode cometer contra si
mesmo e contra a espiritualidade.
Fingir estar incorporado é usar indevidamente e sem autorização o nome de uma
entidade. Isto acarreta prejuízos para a entidade, para o médium e para a Umbanda.
Para a entidade e para a Umbanda, porque a pessoa, fingindo ser quem não é, acaba
falando coisas e sugerindo receitas para a consulência, que, além de não alcançar seu
objetivo, pode prejudicar gravemente a pessoa consultada, denegrindo assim a
imagem da entidade, induzindo o irmão a acreditar que todos os espíritos atuantes
na Umbanda são uma farsa.
Agora para si mesmo, pois, ao usurpar o nome de uma entidade, o falsário autoriza a
cobrança carmática espiritual. Dá um passe livre para que a entidade ofendida cobre
uma reparação. E então a coisa se complica.
Gostaria de salientar que mistificação não é apenas fingir uma incorporação, mas
colocar palavras na boca da entidade, ou seja, mentiras, o que também induz as
pessoas ao erro, portanto, também é mistificação.
Rogo aos irmãos que nunca pratiquem tal ato e mesmo mantenham-se longe de
pessoas que praticam este mal.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Seja verdadeiro para com a espiritualidade para que a espiritualidade seja verdadeira
com você.

Animismo

Na Umbanda, animismo é o ato do médium de interferir ou de se sobrepor à atuação


da entidade, raramente é proposital e não tem o objetivo de fazer o mal.
Infelizmente este tema é muito frequente nos terreiros de Umbanda e normalmente
é praticado por pessoas emocionalmente frágeis ou que possuam a necessidade de
se auto afirmarem, por euforia ou insegurança.
Como já dissemos antes, a maioria dos médiuns é consciente, ou seja, assiste a todo
o atendimento de sua entidade. Por este motivo, muitas vezes, o médium “atropela”
a entidade.
Existem os médiuns que querem ajudar as entidades. A entidade tenta falar “Você
precisa tomar um banho de ervas”, e o médium tenta “melhorar”: “Você precisa
tomar um banho com sete ervas”. O “sete” é por conta do médium, a entidade não
queria dizer isso.
“Entidade” que pergunta as horas para o cambone ou assistência. O plano espiritual
não é dotado de tempo, uma entidade dificilmente perguntará as horas.
O médium brigou com a namorada. Quando incorpora, sua “entidade” chama a
namorada para chamar-lhe a atenção. Meu Deus, a espiritualidade não está
preocupada com briguinhas domésticas.
A “entidade” pede para o consulente tomar um analgésico e fala até o nome do
medicamento. Prefiro nem comentar.
E, infelizmente, esses e outros casos de animismo povoam muitos terreiros por aí.
Os médiuns de uma vez por todas devem entender que as entidades não estão nem
aí para a sua caminhada terrena, a não ser aquela que diz respeito à sua missão ou
evolução. Entidade não toma partido de seus problemas, quem tem a obrigação de
resolvê-los é você, médium.
As entidades não faltam com o respeito, não bebem demasiadamente, não
perguntam as horas, não falam nomes de medicamentos, não querem aparecer mais
do que as outras entidades.
Isto é coisa de médium desequilibrado, carente, eufórico, sem noção de ridículo e
sem nenhuma gota de respeito para com as entidades.
É assim que você trata seus melhores amigos? Creio que não. Ame e respeite seus
guias e protetores de todo o seu coração. Lembre-se do amor incondicional, ele
também deve ser aplicado às suas entidades.
Soube de histórias que meu avô me contou que teve pessoas que falaram da
umbanda como “Umbanda é circo de pobre”. E quando me deparo com cenas de
mistificação ou animismo, sou obrigado a concordar com elas.

104
A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Lembremos sempre as palavras do Caboclo Mirim, de Benjamim Figueiredo:


“Umbanda é uma religião séria, para pessoas sérias”.

Cuidados com a vaidade

Não existe para o umbandista, um mal maior e mais destrutivo do que a vaidade.
Este tema é amplamente abordado na Umbanda desde o início, até mesmo pelo
próprio Caboclo das Sete Encruzilhadas.
Tem como palavras semelhantes ou correlatas a soberba, a arrogância e o orgulho
excessivo. Lembremos que orgulho é um dos sete pecados capitais.
A vaidade se interpõe diretamente contra a humildade, e como já sabemos, a
humildade é uma das bases de nossa religião.
Infelizmente a vaidade ainda é encontrada com muita frequência nos terreiros de
Umbanda, tanto por praticantes, médiuns e até mesmo sacerdotes. Existe um ditado
que diz: “Subir é difícil, mas cair é extremamente fácil”.
Em minha caminhada de umbandista, já vi casos de pessoas que se perderam tanto
dentro da vaidade, do ego que não lhe restou nada, somente o orgulho e uma grande
depressão.
A vaidade começa com um sentimento bom, de alegria, de orgulho saudável e de
confiança. Até aí isto é muito bom, mas, como isto se torna vaidade? Simples,
quando deixamos a felicidade se tornar rotina, quando o orgulho se torna excessivo e
quando a confiança se torna indisciplina.
Então o praticante que é mais velho da casa começa a ignorar os mais novos; o
médium cuja entidade alcança muitos resultados para a assistência passa a se sentir
uma celebridade dentro do terreiro; quando o novato, por ter lido alguns livros,
sente-se no direito de afrontar os mais experientes, ou quando o irmão de fé
despreza os fundamentos da religião, tais como o respeito ao sagrado, preceitos e
até mesmo quando perdem a educação com os outros.
Não importa qual seja o exemplo, tenho certeza que até mesmo o leitor poderia dar
muitos exemplos de vaidade, entretanto o que mais preocupa são as manifestações
de vaidade daqueles que trabalham mediunicamente.
O médium que se enche de orgulho e vaidade pelo trabalho desempenhado pelas
entidades que se manifestam através dele, assemelha-se ao ladrão, ao usurpador
que rouba ou lança mão daquilo que não lhe pertence. Sentem-se supermédiuns e
acabam por deixar a principal condição para trabalhar na Umbanda.
Tenho consciência de que nenhum de nós foi ensinado a receber elogios,
aprendemos a nos preparar para os percalços da vida, mas nunca para receber coisas
boas. Então, quando o guia do médium começa a alcançar diversas graças para os
consulentes, é muito comum que todos venham até você dizer como o “seu”

105
A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

trabalho foi importante para elas, de como a “sua” entidade prestou auxílio e de
como “você” é importante para a vida delas.
Nas sentenças acima temos duas situações a destacar. A primeira com relação ao que
dissemos, não sabemos o que fazer quando recebemos um elogio e ficamos, dessa
forma, anestesiados e sem saber o que dizer. Digo a você irmão, caso o elogio lhe
caiba, sorria, agradeça e abençoe a pessoa que te elogia.
Mas o contrário nos leva à nossa segunda situação. O ELOGIO NÃO CABE À VOCÊ.
QUEM TRABALHOU FOI A ENTIDADE QUE SE MANIFESTA ATRAVÉS DE VOCÊ, OU
SEJA, O ELOGIO É PARA OUTRA PESSOA! NÓS MÉDIUNS SOMOS UM INSTRUMENTO
DE TRABALHO DA ESPIRITUALIDADE!
Quando então você receber um elogio que você sabe que não é seu, agradeça a
atenção e comunique a pessoa que quem merece o elogio não é você, e sim seu guia.
E que ela pode cair de joelhos ao lado da cama e agradecer, pois a gratidão terá
chegado ao guia da mesma forma.
A pior parte da vaidade é o de como ela rebaixa a vibração do Umbandista (nós já
havíamos debatido isso no item “Os Sete Pecados Capitais”). Sem esquecer que
baixas vibrações são um convite e uma porta escancarada à espiritualidade inferior. E
a todos os irmãos que se perpetrarem nessas práticas, uma cobrança cármica
gigantesca se estabelece, e, se não houver reparação durante a vida, um destino
terrível se apresentará após o desencarne.
A falta de compreensão de coisas simples leva a todas as distorções que vemos nos
terreiros de Umbanda. O próprio Chico Xavier, quando recebia elogios deste tipo,
dizia: “Não me agradeça, pois eu sou somente o carteiro. Eu não escrevo as
mensagens, apenas as entrego”.
Devemos ainda ressaltar que os grandes nomes da espiritualidade através da história
deixaram exemplos riquíssimos de simplicidade e humildade. Podemos citar Sidarta
Gautama (Buda), Confúcio, Jesus, São Francisco de Assis, no passado, e mais
contemporâneo, Gandhi, Madre Teresa de Calcutá, Irmã Dulce, Dalai Lama e Chico
Xavier. Todos eles carregaram missões espirituais extremamente difíceis de serem
cumpridas. E também provaram que seria impossível alcançar os objetivos que eles
alcançaram se não fosse pela humildade e pela caridade.
Agora pergunto a você filho da fé umbandista, você ainda duvida da necessidade da
humildade na nossa caminhada? Você ainda ignora o poder da humildade e da
caridade? Sinceramente espero que não. Pelo seu bem e pelo bem da nossa
Umbanda.

A caridade e a responsabilidade do médium

Dentro da minha experiência na Umbanda, escutei diversos umbandistas por


inúmeras vezes dizer: “Já pratiquei minha caridade de hoje”. Isso sempre era

106
A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

repetido após o encerramento dos trabalhos no terreiro. Porém, eu me perguntava,


se não sou eu quem trabalha, se foi meu guia quem fez todo o trabalho, qual a minha
caridade nisso?
A nossa caridade foi em emprestar nossa matéria para um guia praticar a caridade.
Essa confusão é extremamente comum entre os filhos de fé, mas precisamos
entender de uma vez por todas, que a caridade daquele que professa a Umbanda
deve ser contínua, em todos os dias da vida e não somente dentro do terreiro.
Justamente pelo que acabamos de destacar, no terreiro, quem faz a caridade são as
entidades espirituais, cabendo a nós um papel menor, de simples instrumentos que
colaboram sim com a caridade, entretanto não somos os protagonistas.
Caridade é uma coisa muito grande, e que jamais deve ser utilizada apenas em alguns
momentos de nossa vida. A caridade deve existir dentro da nossa família, no
exercício de nossa profissão, no contato com nossos amigos, mas principalmente
devera ser endereçada aos desconhecidos e àqueles que mais precisam do nosso
auxilio e entendimento.
O motivo disso é muito simples, prestar caridade para uma pessoa querida não é
caridade, é obrigação e mesmo um ato prazeroso. Agora, quando nos dedicamos a
pessoas que não conhecemos, doentes, seres desprovidos de recurso material,
desesperançadas e colocamos todo nosso amor com o objetivo de auxiliar ou, ao
menos, aliviar o fardo, mesmo que temporariamente, estamos praticando a
verdadeira caridade pregada pelos mestres da humanidade.
Você deve estar se perguntando, porque vou ao terreiro então?
Vamos ao terreiro para servir de intermediários, de mediadores, de elos de ligação
entre a assistência e os espíritos manifestados na Umbanda. Isto, não importa qual
sua função dentro da casa espiritual.
Se você é um trabalhador da casa, deverá praticar a caridade de deixar a casa sempre
pronta e em condições de ser utilizada por todos que ocuparão o local sagrado. Se
você é cambone deverá prestar a caridade de cumprir os preceitos preparatórios
para que bem possa servir às entidades espirituais. Lembre-se cambone que sua
energia também servirá de matéria prima para as entidades manifestantes, deverá
ainda ter a caridade de servir com humildade e simplicidade, tanto as entidades
quanto aos irmãos e à assistência do terreiro.
Agora, se você é médium de atendimento, a sua caridade e a sua responsabilidade
estão ligadas, porque você tem a incumbência de auxiliar os outros trabalhadores da
casa, além de deixar seu corpo físico, mental e espiritual, plenamente preparados e
purificados para que as entidades espirituais possam utilizá-los com plena força.
Mesmo você não sendo o protagonista, sem o seu trabalho é impossível que a trama
se desenrole.

107
A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Faço um apelo a todos os médiuns, que compreendam que, da mesma forma que a
caridade deve ser praticada em todos os dias de sua vida, também a preparação, o
preceito, deverão ocorrer com a mesma frequência.
É impossível conceber que uma pessoa desonesta, invejosa, maledicente e que não
tenha nenhuma preocupação com o próximo, possa em apenas 24 horas se purificar
e se considerar preparada para os trabalhos espirituais.
Lembro ainda aos médiuns que fora toda a preparação, é necessária a rigorosa
frequência aos trabalhos, senso de fraternidade, tolerância e, claro, a humildade.
Para que se tenha uma plena visão da imagem formada por um quebra-cabeça, é
imprescindível que todas as peças estejam presentes e no seu local adequado. Da
mesma forma, não é admissível a um médium faltar com qualquer um dos atributos
acima descritos. Faltar com eles, seria faltar com a caridade.
Para quem entende um pouco de música, sabe a necessidade e a dificuldade de se
ter um instrumento afinado, bem ajustado às necessidades do músico. Todo médium
deve compreender que é um instrumento da espiritualidade e, sendo assim, tem a
obrigação, a responsabilidade e a caridade de manter esse instrumento muito bem
afinado.

Mediunidade é para sempre?

Sim, a mediunidade é para sempre.


Essa pergunta é muito frequente entre os iniciantes na Umbanda. E a resposta que
posso dar, é que a mediunidade se estenderá por toda sua vida encarnada, porém,
poderá sofrer alterações no decorrer dos anos.
Quando jovens, temos força física e vitalidade, mas pouco conhecimento e
entendimento sobre o Sagrado. Isso pode levar a muitas experiências desagradáveis
ou a não viver a plenitude da religião, dadas as diversas distrações comuns da idade.
Como já sugeri antes, sou partidário da ideia de que o jovem deva curtir sua
juventude, formar-se, iniciar sua profissão, viver suas experiências para somente
depois iniciar sua caminhada mediúnica.
É fato que as exceções existem e que podemos encontrar jovens devotados, ou
mesmo que não consigam esperar pelo desenvolvimento mediúnico; em ambos os
casos a Umbanda sempre terá suas portas abertas.
A maturidade é o melhor momento para se viver a mediunidade. A pessoa já possui
experiência, já se desprendeu das ilusões da juventude e assume as
responsabilidades do terreiro com mais firmeza e dedicação, e, por fim, não se deixa
levar com tanta facilidade pela vaidade ou pelas graças alcançadas pelas entidades
que se manifestam através de si. Veja irmão que utilizei o termo maturidade e não
idade adulta, pois a maturidade não está diretamente relacionada a quantos anos

108
A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

você tem. Você pode ter 50 anos e ainda não ter atingido a maturidade, assim como
pode ter 22 sendo plenamente maduro e responsável.
Idade não é sinônimo de sabedoria. Não basta trabalhar mediunicamente por muitos
anos de forma inadequada e sem coerência. Também de nada vale o passar dos anos
sem que haja aprimoramento, pois, como já falamos antes, o desenvolvimento
mediúnico é para sempre. Então a prática das virtudes espirituais e o estudo
contínuo, além da pratica mediúnica, deverão acompanhar o médium por toda a sua
vida.
Já, quanto maior o tempo do correto exercício da mediunidade, novos aspectos da
espiritualidade se abrirão. A percepção espiritual, a sensibilidade energética e a
comunhão com os guias e protetores se tornam mais intensas, de forma que a
pessoa passa a viver e a exercitar a mediunidade mesmo fora do ambiente do
terreiro.
Mesmo quando o corpo físico já tiver suas limitações e a prática da incorporação for
impossível, a mediunidade poderá gerar seus frutos no médium.
Voltando ao exemplo do instrumento musical, a prática mediúnica requer constante
manutenção e exercício, para que este instrumento não emita apenas notas ou
acordes simples, mas que seja capaz de reproduzir obras muito mais complexas.

Firmeza de cabeça

Quando iniciei meus trabalhos na Umbanda, sempre ouvia: “Firma a cabeça, meu
filho!”. Mas essa expressão era tão largamente utilizada que tive muita dificuldade
em captar a ideia do que seria “firmar a cabeça”.
Essa diversidade que a sentença abrange gera muita confusão na cabeça dos filhos de
fé, de forma que, quando se pergunta o que é firmar a cabeça, ninguém consegue
colocar em palavras que se entendam.
Vamos dar uma olhada em algumas situações nas quais se pedem para firmar
cabeça:
- Quando o filho está desatento ao trabalho espiritual;
- Quando alguém da assistência está “espiritando” (quase incorporando);
- Quando estamos desenvolvendo a mediunidade;
- Quando o filho esquece de cumprir alguma tarefa solicitada pelas entidades;
- Quando o cambone esquece ou erra o atendimento à uma entidade;
- Quando um filho de fé se desvia do caminho da humildade e da caridade;
- Entre tantas outras.
De uma forma geral, qualquer erro cometido pela pessoa, seja no terreiro, em sua
vida particular ou em qualquer outro âmbito, é passível de se pedir para firmar a
cabeça.
Mas então, o que é firmar a cabeça?

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Firmar a cabeça é se entregar para a espiritualidade, comungando seus


pensamentos, atos e palavras, concentrando-se somente na espiritualidade e na sua
orientação.
Agora que você já sabe o que é, releia as sentenças acima, aquelas em que dissemos
que se aplica o firmar a cabeça. Ficou mais claro agora?
Parece simples, mas não é.
Concentrar-se na espiritualidade é um exercício duro e leva muito tempo até que
alguém possa dizer que está plenamente sintonizada com a espiritualidade superior.
Tal qual o desenvolvimento mediúnico, firmar a cabeça é um exercício contínuo e
para sempre. Até por isso esses dois fundamentos da Umbanda caminham juntos,
quanto maior a firmeza de cabeça de um médium, mais bela é sua mediunidade. A
sentença “médium firme” também é uma alusão à firmeza de cabeça.
O termo “firma a cabeça” também pode ser entendida como “presta atenção”. Como
se pedissem para que você dê mais atenção ao que a espiritualidade superior está lhe
intuindo.
O que esperar de um médium com a cabeça firmada?
- Respeito e dedicação ao Sagrado;
- Guias incorporando em plena força, sem interrupções;
- Saber a hora e o local de incorporar as entidades;
- Saber que sentir a energia dos guias não significa que eles queiram incorporar;
- Sentir a atuação da espiritualidade mesmo fora do terreiro;
- Tender sempre às virtudes que aos erros;
- Distinguir claramente uma energia boa de uma energia ruim.
Por último, quero acrescentar uma nova visão à firmeza.
Firmeza de cabeça é estar alerta ao mundo invisível que nos cerca, nunca deixando
brechas nem passagens para a espiritualidade inferior. É não dar chance e nem
espaço para que nenhum obsessor possa tomar conta de nossa cabeça.

A Umbanda é para os “fortes”

Sempre digo isso para meus filhos de fé, mas muitas vezes sou mal interpretado.
Quando dizemos que a Umbanda é para os “fortes”, não significa que não seja para
os fracos.
A Umbanda sempre foi, é e será uma religião que está acessível a todos que desejem
praticar seus fundamentos, ou simplesmente desejem alcançar a cura e a libertação
dos problemas espirituais. Entretanto, uma vez que assumimos uma postura perante
à Umbanda, perante ao Exército da Lei, da Luz e da Justiça, também assumimos a
espiritualidade inferior e negativa como inimigos.
Desse momento em diante, passamos a receber demandas constantemente em
nossas vidas, visando a perda da nossa fé e, consequentemente, o abandono da

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

religião. Pois não interessa para eles que os soldados da Umbanda estejam firmes, o
desejo deles é dizimar este exército, soldado por soldado.
Isto posto, fica clara a necessidade da vigilância contínua, da coragem sem limites, da
devoção à espiritualidade superior e de uma fé inabalável. E é sobre esta força que
me refiro.
Não há o que se temer ao abraçar a Umbanda, mas há que se ter a confiança e
firmeza para não se distrair e se perder do caminho. Uma vez a sós, somos presa fácil
para obsessores.
Entretanto, mesmo diante de tantas dificuldades, a sensação de plenitude gerada
pela alegria de um irmão que recebeu uma graça, faz valer a pena toda e qualquer
dificuldade. Saber que pudemos fazer a diferença na vida de alguém, mesmo como
personagens secundários, é algo que eleva, traz gratidão, alegria, e dá à nossa vida o
sentido que procuramos por muito tempo.
Toda esta satisfação advém do cumprimento de nossa missão, sempre nos
sentiremos felizes ao cumprir aquilo que assumimos antes mesmo de reencarnar.
Então, nossa vitória é dupla, cumprimos a nossa missão espiritual com a alegria do
bem servir.
Irmãos, sejamos fortes, oremos e vigiemos sempre. Que em nossa mente, espírito e
coração possamos fazer brotar o poder de Deus e de todos os Orixás, bem como a
força de nossos guias e protetores.
Avante filhos de Umbanda! Axé!!!

Linhas de Trabalho

Linhas de trabalho na Umbanda são as divisões ou classificações dos espíritos que


nela se manifestam, tais como os caboclos, pretos-velhos e crianças por exemplo.
Toda linha de trabalho possui um simbolismo muito forte encerrada dentro de si
mesma, sendo que cada linha tem um comportamento, uma forma de se manifestar,
uma especialidade e uma energia.
As linhas de trabalho podem ou não ter um Orixá regente, mas o que é
imprescindível saber é que qualquer linha poderá usar as forças de qualquer Orixá
em um trabalho ou atendimento. Por este motivo muitos os denominam como
falangeiros, ou simplesmente, servidores dos Orixás.
Na Umbanda, as linhas de trabalho têm um ponto em comum: as manifestações são
sempre de forma humilde, rústica ou inocente. Isto por que a religião existe
principalmente para socorrer os mais humildes, que ao se depararem com espíritos
de negros escravos, índios e matutos, sentem-se muito à vontade para abrir seu
coração por reconhecerem naquela forma manifestada, uma igualdade.
No início da Umbanda, ou seja, quando começavam a se construir as linhas de
trabalho, os espíritos de caboclos eram realmente daqueles que haviam vivido como

111
A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

índios. Da mesma forma, a linha dos pretos-velhos também era formada unicamente
por espíritos de negros escravizados. Hoje em dia, as linhas ainda carregam espíritos
dessas mesmas humildes origens, como também de outros que se identificaram com
a maneira que a Umbanda praticava a caridade.
Desta forma, outras linhas espirituais, simpatizando-se com a Umbanda, passaram a
utilizar “vestimentas fluídicas” para se manifestarem como caboclos, pretos-velhos e
outras linhas mais. Por este motivo é comum vermos pretos-velhos ou caboclos um
tanto “diferentes” do usual. Essa tese é corroborada por inúmeros relatos de
entidades que se manifestam de forma diferente, procurando melhor se colocar no
ambiente de trabalho. Quantas entidades se dizem caboclos na Umbanda e se
revelam mentores em centros espíritas? Quantos pretos-velhos da Umbanda se
dizem médicos em outros espaços espirituais?

Começamos com as linhas de trabalho da Tenda de Umbanda Cacique Pena


Vermelha

A boa nova da Umbanda foi muito bem recebida pelo plano espiritual, o qual se
encarregou de “engrossar” as fileiras de trabalhadores da religião.
Com o passar do tempo, outras tantas linhas se coligaram aos trabalhos e assim
começaram as manifestações de boiadeiros, baianos, ciganos e tantas outras.
Creio fielmente, dentro do meu humilde ponto-de-vista, que a Umbanda ainda
receberá algumas outras linhas de trabalho neste século. Mas há que se ter muito
cuidado com a abertura dada a alguns espíritos, pois a falta de rigor de alguns
sacerdotes e a mente doentia de alguns médiuns, tem causado muitas situações
desastrosas e distorcidas, tais como a manifestação de linha dos loucos, linha dos
palhaços e até mesmo, pasmem, linha dos nazistas. Não creio que isso seja da
espiritualidade.
Acima de tudo, uma linha espiritual respeita a ancestralidade e sempre agrega
conhecimentos particulares daquela cultura, sempre de forma humilde, sem causar
espanto ou desconfiança na consulência.

Caboclos

Não existe em toda a Umbanda, uma entidade que melhor a represente do que os
caboclos.
Primeiro, por serem eles os primeiros habitantes desta terra que hoje chamamos de
Brasil, por serem eles que melhor absorveram os mistérios da natureza, e, por fim,
são também os caboclos a melhor manifestação da força da nossa religião.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Tudo isso associado à informação de que a Umbanda foi iniciada pelo Caboclo das
Sete Encruzilhadas. E, da mesma forma que a Umbanda é uma autêntica religião
brasileira, assim são os caboclos, autênticos.
Representam o homem na idade adulta, em pleno vigor físico, com plenas condições
de alcançar todos os seus objetivos, sendo que nenhum obstáculo será grande ou
forte o suficiente para detê-lo.
O termo caboclo é originário da designação do mestiço do branco com índio. Na
Umbanda, caboclo está associado a todos os índios, à força, à direção, ao destemor,
ao conhecimento das ciências da natureza e à capacidade de subjugar o mal.
Se nos lembrarmos de que o Caboclo das Sete Encruzilhadas disse que em uma
encarnação anterior havia sido o padre jesuíta Gabriel Malagrida, mas que Deus lhe
havia concedido a bênção de ser um caboclo brasileiro, podemos dizer que os
espíritos indígenas aqui reencarnados, em outra época foram ilustres professores,
médicos, padres, cientistas, ou, ainda, espíritos que alcançaram a elevação para que,
como o Sete Encruzilhadas, recebessem a mesma dádiva.
Muitas correntes de pensamento consideram as sociedades indígenas extremamente
avançadas e desenvolvidas, pois sabiam viver em coletividade, detinham os mistérios
da natureza e viviam em comunhão com ela. Os índios jamais retiravam da natureza
aquilo que não fossem utilizar, não havia desperdício. Toda a tribo trabalhava para o
bem comum, viviam plenos e felizes, e sempre estavam prontos para lutar pelo que
acreditavam com todas as suas forças, de modo que mesmo o homem branco
admitiu ser impossível escraviza-los, fazendo assim opção pelo escravagismo negro.
Os caboclos podem ser guerreiros, caçadores, feiticeiros, curandeiros e justiceiros.
Chegam no terreiro bradando e lançando suas flechas espirituais em uma clara
demonstração de força e determinação. Não são tão falantes, mas são exímios
ouvintes e conselheiros responsáveis. Quebram demandas, fazem desobsessões,
receitam ervas para banhos e para uso medicinal, cantam, ensinam simpatias, e
neste ritual particular levam à consulência toda a energia necessária para efetuar o
descarrego, curas, libertações e harmonizações.
São excepcionais em trabalhos de prosperidade, abrindo caminhos e, em seus passes
magnéticos, envolvem o consulente em energias de altíssima vibração positiva,
despertando na pessoa o conhecimento e a disposição necessária para alcançar a sua
sobrevivência.
Os caboclos são espíritos simples e corajosos, e essas qualidades despertam nas
pessoas a fé necessária para que por eles possam ser auxiliadas.
São regidos pelo Orixá Oxóssi, mas podem trabalhar nas forças de qualquer Orixá. Em
nossa tendo temos Ogum como linhagem de trabalho e Orixá regente de nossa casa.
Em seus trabalhos usam folhas, ervas, essências e flores, e fazem uso de charutos.
Sua cor vai depender de seu orixá de frente, como já citado nas cores de seus orixás.
Seu domínio as matas ou o domínio de seu Orixá.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Sua forma de falar é rústica e primitiva, existem mais de 274 dialetos indígenas
catalogados no Brasil, alguns podem falar com mais entendimento do que outros
devido o grau da mediunidade de incorporação ou até mesmo o tempo em que essa
entidade estiver trabalhando em terra.

Crianças

Representam a primeira idade do ser humano. Simbolizam a pureza, a inocência e a


simplicidade.
Constituem também a mais pura e intensa energia canalizada na Umbanda, de forma
que, onde há crianças espirituais, não há espíritos malignos e nem energias
negativas, pois eles se encarregam muito bem de repelir esses males. Diz um dito
umbandista que “nem o diabo aguenta a energia de uma criança”.
Estes espíritos infantis não são tratados com o respeito e a confiança que merecem.
Representando a nós mesmos, em nossa tenra idade, refletem nossa criança interior
e forçam-nos a lembrar de como é bom ser simples e ser feliz, não existindo a
necessidade de um motivo especial para isso, somente ser feliz por ser feliz.
Você pode gostar ou não desta linha, mas é impossível se manter indiferente a eles.
Ver pessoas adultas falando como crianças, usando chupeta, bebendo na mamadeira
e fazendo aquela algazarra arranca um sorriso largo de qualquer um que observe seu
trabalho.
São bagunceiros, barulhentos, querem atenção o tempo todo chamando a todos de
“tio” ou “tia”, “vô” ou “vó”. Contam suas histórias, brincam, brigam uns com os
outros, uns chegam gritando, outros gargalhando, uns chorando, outros pedindo
brinquedo, bebida, comida, enfim, são crianças. E, como qualquer criança, precisam
de olhos adultos o tempo todo sobre eles, pelo risco de literalmente colocarem fogo
no terreiro. Além dos olhos adultos encarnados sobre as atividades das crianças,
sempre existe o espírito de um caboclo ou preto-velho (incorporado ou não) zelando
desses irrequietos trabalhadores do espaço.
Não gostam de quebrar demandas e nem de fazer descarregos, entretanto são
excelentes conselheiros e quando criam afinidade com o consulente, normalmente
atendem o seu pedido com muita rapidez. Recomenda-se que nunca se façam
promessas à uma criança, e caso as faça, cumpra-a imediatamente após alcançar seu
pedido, pois da mesma forma que a criança acolheu o seu pedido, poderá ficar
magoada com seu esquecimento e fará tudo que estiver ao alcance dela para
“lembrar” você do prometido, mas esta brincadeira pode não ser tão engraçada.
A linha das crianças é conhecida como linha de Ibeji, que significa duplo, gêmeos. É
regida no sincretismo pelos santos católicos São Cosme e São Damião, os irmãos
gêmeos e médicos que socorriam os necessitados. As crianças são conhecidas

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

também como ibejis, ibejadas, dois-dois ou erês (como os iorubas chamavam as


crianças).
Apesar de serem regidos por Cosme e Damião, podem utilizar as forças de todos os
Orixás, pois são excelentes manipuladores de energias.
Estas entidades são a verdadeira expressão da alegria e da honestidade, dessa forma,
apesar da aparência frágil, são verdadeiros magos e conseguem atingir o seu objetivo
com uma força imensa, atuam em qualquer tipo de trabalho, mas são mais
procurados para os casos de família, gravidez e doenças, sendo exímios curadores.
A falange das crianças é uma das poucas falanges que consegue dominar a magia.
Embora as crianças brinquem, dancem e cantem, exigem respeito para o seu
trabalho, pois atrás dessa vibração infantil, se escondem espíritos de extraordinários
conhecimentos. Lembre-se que apesar do aspecto infantil, estes espíritos já
passaram por inúmeras encarnações, recolhendo conhecimento e experiências em
todas elas.
Imaginem uma criança com menos de sete anos possuir a experiência e a vivência de
um homem velho e ainda gozar a imunidade própria dos inocentes. A entidade
conhecida na Umbanda por erê é assim. Faz tipo de criança, pedindo como material
de trabalho chupetas, bonecas, bolinhas de gude, doces, balas e as famosas águas de
bolinhas (refrigerante).
São espíritos que optaram por continuar sua evolução espiritual através da prática de
caridade, incorporando em médiuns nos terreiros de Umbanda. Em sua maioria,
foram espíritos que desencarnaram com pouca idade terrena, por isso trazem
características de sua última encarnação, como o trejeito e a fala de criança, o gosto
por brinquedos e doces.
Quanto à Doum, o terceiro personagem que aparece na imagem de Cosme e Damião,
a explicação é simples. Na África, quando um casal tinha filhos gêmeos, caso o
próximo filho fosse menino, era tradicional que se chamasse Doum, que significa
aquele que acompanha os gêmeos. Agora, quanto à imagem de Cosme, Damião e
Doum, a história é mais inusitada. Era comum, antigamente, a imagem dos santos
médicos Cosme e Damião estarem com uma criança ao meio, que era abençoada por
eles, por serem eles os padroeiros das crianças enfermas. Alguém muito esperto, ao
saber da história de Doum, tratou de vestir a criança como os santos e pronto! Estava
criada a imagem de Cosme, Damião e Doum.
Suas cores são o azul claro e o rosa claro. Aceitam tudo o que tiver açúcar, balas,
doces, bolos, sorvetes, sucos, groselha, refrigerantes (menos aqueles a base de cola).
Seus instrumentos são brinquedos de qualquer natureza, bola, carrinho, boneca,
bolinha de gude, chupeta, mamadeira, estilingue (bodoque) etc.
Os nomes de crianças são nomes comuns e populares, podendo estar no diminutivo
ou não, como Silvinho, Detinha, Mariazinha, José Maria, Paulinho, Rosinha, Mariana,
Bia, Joãozinho, Zezinho, Pedrinho, Guto, Flávio, etc. Podem também assumir nomes

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

associados aos Orixás como Folhinha, Pinguinho, Conchinha, Pipoquinha, Pedrinha,


entre outros.
Os meninos são mais bagunceiros e as meninas mais calmas, mas qualquer um
poderá te abençoar com a mais pura energia divina, e, tenha certeza, você não ficará
imune à alegria deles.

Pretos-velhos

A primeira manifestação observada pelos videntes, com túnica branca e a palavra


Caritas, é típica da linha do Oriente. Isto denota claramente o adiantamento desses
espíritos.
Por tudo isto, merecem os caboclos lugar de destaque em nossa religião, cabendo a
nós reverenciá-los e aprender com estes magníficos trabalhadores dos Orixás.
Para entender a linha dos pretos-velhos é necessário compreender um pouco de
história e das condições vividas pelos escravos no Brasil.
Mercadores de escravos ingleses, portugueses, espanhóis e holandeses, os maiores
interessados nos lucros do escravagismo, financiavam tribos africanas que já
possuíam uma índole para a guerra, munindo-os com armas para incitar o conflito
com outras tribos. O vencedor ficava com o território e os derrotados, que não
haviam sido mortos no embate, eram entregues como escravos aos patrocinadores
dos vitoriosos.
Entretanto, somente os mais novos ou os mais fortes eram colocados nos navios
negreiros, sendo que as famílias e as tribos eram separadas para não favorecer um
motim durante a viagem.
Aqui chegados, esses escravos, deprimidos e derrotados, eram submetidos a
trabalhos forçados de sol a sol, sempre ameaçados pela chibata do feitor. Esta vida
levava muitos negros ao desespero e eram comuns as cenas de fuga e recaptura,
bem como o de suicídio de escravos. Nestas condições, a média de vida de um
escravo era de dez anos de trabalhos. O sofrimento era tamanho que eles
procuravam evitar a reprodução, para não fazer sofrer as gerações vindouras.
Fora tudo isso, ainda tinham que engolir forçosamente o catecismo católico do
patrão branco. Era muita humilhação.
Aqueles escravos que melhor se adaptavam recebiam atividades mais nobres, como
a operação de engenhos, a carpintaria, o cuidado de animais e as tarefas domésticas
da casa grande como empregados domésticos. Entre estes estavam os poucos negros
que conseguiam chegar a uma idade mais avançada. Mas era nas noites que os
negros, escondidos e longe dos olhos do feitor e do patrão, cantavam, dançavam e
praticavam seus cultos religiosos. Era necessária muita coragem e inteligência para
não serem pegos.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

E foi por essa coragem que os negros mantiveram vivas as tradições de suas culturas.
E aqueles que conseguiam chegar a uma idade mais avançada, eram os responsáveis
de ensinar os mais novos. Os mais maduros eram chamados por tios e tias e os mais
idosos eram chamados de avô ou avó.
Dito tudo isto, já temos um desenho do que significa a linha dos pretos-velhos.
Perceba que a nossa narrativa deixa claro que um negro escravo chegar a ser velho
era quase como um título. E esses mesmos velhos eram os que consolavam os
desiludidos, desesperados e doentes.
Ser atendido por um preto-velho é a certeza de receber a palavra certa e sábia, de
quem já sofreu mazelas muito maiores do que a sua, sempre com muito carinho e
humildade. E é por esse motivo que não são raras as pessoas que se emocionam,
muitas vezes chegando às lágrimas, diante desta entidade.
A corrente dos pretos-velhos encontrou também na Umbanda uma forma de
continuar sua evolução através da prática da caridade. Simbolizam o homem no
crepúsculo da sua vida.
Uma curiosidade sobre os pretos-velhos é quanto aos seus nomes. O escravo recém-
nascido era obrigado a ser batizado dentro dos ritos católicos. No ato do batismo, ele
recebia o primeiro nome que era dado por seu senhor. Quanto ao sobrenome, era o
nome da fazenda à qual pertencia. Por exemplo:
Francisco de Martins Vaz - pertencia à fazenda Martins Vaz
Benedito de Fontana Mourão - pertencia à fazenda Fontana Mourão
João de Camargo e Barros - pertencia à fazenda Camargo e Barros
Aqueles que conseguiam alforria, e, mesmo após a Lei Áurea, continuaram usando
esses nomes para identificação. Representam a humildade, força de vontade, a
resignação, a sabedoria, o amor e a caridade. São um porto seguro para aqueles que
necessitam. Curam, ensinam, educam pessoas e espíritos sem luz. Não têm raiva ou
ódio pelas humilhações, atrocidades e torturas a que foram submetidos no passado.
Pitando seus cachimbos, com a fala pausada, tranquilidade nos gestos, eles escutam
e ajudam a todos aqueles que necessitam. Não olham sua cor, idade, sexo e religião.
São extremamente pacientes com os seus filhos e, como poucos, sabem incutir-lhes
os conceitos virtuosos da esperança e da paciência.
Não podemos dizer que todos os pretos-velhos foram escravos. Primeiro, porque
esses mesmos espíritos viveram diversas encarnações acumulando experiência e
conhecimento. Em segundo lugar, muitos espíritos usam desta “veste fluídica” para
praticar a caridade. Muitos nem negros foram.
Para muitos os pretos-velhos são os psicólogos do astral, os conselheiros fiéis que
indicam os verdadeiros caminhos para a evolução espiritual, que ensinam a verdade
do espírito para uma vida encarnada melhor. Já outros consideram-nos excelentes
em descarrego e na quebra de demandas, com suas rezas, feitiços e mirongas.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Representam, por fim, excelentes aliados contra espíritos obsessores e kiumbas,


combatendo todo tipo de negatividade.
Tem como Orixá regente Obaluaê, mas trabalham nas forças de qualquer Orixá.
A cor dos pretos-velhos é preto e branco, sendo que em alguns espaços o lilás
também é utilizado. Seus fios de contas mais comuns são os terços e rosários feitos
de contas de lágrima de Nossa Senhora, uma semente comum de se encontrar na
época da escravidão, mas que em cada semente existe uma palma em seu interior.
Aceitam como amalá bolo de fubá, tutu de feijão, bolinhos de mandioca ou tapioca.
Bebem café preto, vinho tinto, vinho moscatel ou cachaça com mel. Podem misturar
muitos outros elementos às suas bebidas como galhos de ervas, sal, alho e coisas
afins. 202

Os pretos-velhos são homenageados no dia 13 de maio, dia da libertação dos


escravos.

Senzala

Muitos não conhecem como uma linha individualizada ou até mesmo a gira da
senzala. Uma linha dentro da linha de pretos velhos que com o passar dos tempos
acabou tomando conta e assumindo sua identidade dentro do nosso terreiro.
Sempre deixamos a linha da senzala como uma linha intermediária, pois é ótima para
o descarrego dos filhos.
Nem sempre um escravo era negro e nem sempre era velho.
Escravos que mesmo sendo açoitados eram obrigados a trabalhar debaixo de chuva e
sol, serviços árduos, sem poder se quer expor uma opinião, são mais calados pois
nunca tiveram a chance da palavra. Guardaram dentro de suas vidas uma força sobre
a liberdade. Liberdade essa que por muitas vezes também não temos e não
percebemos em nosso dia a dia.
A linha da senzala dentro de nossos conhecimentos e doutrinas é composta pelos
escravos linha de frente em sua época, seus líderes, geralmente novos, pensantes,
são mais novos que os pretos velhos que conhecemos.
Os próprios guias em terra que tocam os tambores, eles que fazem suas catingas em
sua língua, seus dialetos, exatamente como cultuavam suas crenças em quanto
estavam em terra.
Ótima linha para prosperidade, pois toda a senzala sempre lutou pela sua liberdade.
Quem nunca viu uma gira da senzala, recomendamos conhecer um dia, pois, é uma
energia totalmente diferente das demais linhas de trabalho.

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Boiadeiros

A linha dos boiadeiros reúne os espíritos que, no passado, trabalharam com o gado e
com a agricultura. Pessoas que viveram em fazendas ou mesmo afastados das
grandes cidades, a personalidade do matuto em si.
Foram pessoas acostumadas a trabalhar todos os dias da semana, de sol a sol, de
forma simples e muitas vezes até rudimentar, e simbolizam a força de vontade. De
uma fé gigantesca e inabalável, esses espíritos nos ensinam que não existe obstáculo
instransponível diante da fé e do trabalho, e que é possível alcançar a felicidade
vivendo de forma simples.
Tal qual a linha dos caboclos, esses tarefeiros do espaço conhecem muito bem a
importância da natureza, trabalham com ervas, simpatias e as antigas rezas fortes.
Costumes muitas vezes esquecidos pela sociedade atual.
Usam de seus laços para amarrar toda a maldade em terra e ecaminha-las para seus
devilos lugares com a permissão de nosso Pai Oxalá.
O perfil do boiadeiro é aquele do homem que costumava tocar o gado por grandes
distâncias, debaixo de sol, chuva, frio, doenças, animais selvagens, vales e rios
enormes. Dormia ao relento, comia o que conseguia carregar, pois tinha pouco
tempo para a caça e a pesca. Mesmo diante das adversidades, sempre entregava sua
“boiada” ao destino sem perder nenhum animal.
A pele queimada de sol e o rosto vincado pelo sertão são imagens que o representam
muito bem. É a linha de Umbanda que melhor representa o povo brasileiro e sua
miscigenação que deu origem à culinária, cultura, superstições, folclore e fé, típicas
do povo brasileiro.
Quando falamos em boiadeiros é natural que o leigo pense em gaúchos e nos
pampas, mas é certo de que os boiadeiros podem ser de qualquer parte do Brasil.
Quando baixam no terreiro, chegam dançando de forma característica como os
catiras e fazendo gestos como se estivessem laçando algo. Alguns cantam ou fazem
sinais com a boca como se estivessem “chamando” animais ou tocando a boiada.
Gostam de fumo, de bebidas fortes como a cachaça, mas podem beber vinho
também. Podem usar fumo de corda, cigarro de palha ou charuto.
Podem utilizar laços, berrantes, chicotes, tiras de couro, jalecos de couro, chapéu e
bombacha como instrumentos de ritual e identificação da linha.
Como qualquer outra linha, podem trabalhar para todos os Orixás, mas têm em
Oxóssi, o Orixá das matas, seu grande regente. Algumas correntes de pensamento
umbandista dizem que Iansã também os rege e que teria dado a eles o poder sobre
os espíritos negativos. Da mesma forma que conduziam bois em vida, conduzem os
espíritos dos eguns no plano espiritual.
Costumo firmar velas laranjas quando ofereço a eles, meu dia de firmeza aos
boiadeiros é toda terça feira.

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Sua saudação popular é Geutá ou Geto, Xetruá ou Xetro, Marrumba Xetro. São
palavras que foram modificadas conforme o contexto regional, cuja tradução se
perdeu com o tempo. Muitos alegam ser apenas o som que o boiadeiro usa para
tocar os bois. Outros dizem que a expressão significa “salve aquele que tem braço
forte”.
Uma curiosidade sobre a linha dos boiadeiros é que eles começaram a se manifestar
antes mesmo da chegada da Umbanda. No final do século XIX, já era comum
encontrar boiadeiros manifestados misturados aos caboclos nos Candomblés de
Caboclos. Por este motivo também são conhecidos como caboclos boiadeiros.
Receber consulta de boiadeiro é como ser recebido pelas pessoas simples do serão,
que fazem questão de dividir tudo com o visitante. Da mesma forma o boiadeiro
sempre tem uma palavra afável para os consulentes que vai indicar a direção correta,
mesmo que a paisagem seja desconhecida. O carisma e a simplicidade dos boiadeiros
ativam nossa força de vontade, esperança e perseverança para que possamos atingir
nossos objetivos, além de proporcionar um excelente descarrego.
Vale lembrar que Nossa Senhora da Aparecida é padroeira dos boiadeiros, dentro de
nossas giras sempre cantamos um ponto em homenagem a Nossa Senhora como
padroeira dos boiadeiros.

Baianos

Esta linha traz como referência todos os pais e mães de santo de outrora, de
feiticeiros, benzedores e rezadores, além de toda a sorte de espíritos excluídos que
souberam vencer em terra e, agora, despertados para a consciência da lei e da luz,
trazem a vitória para todos aqueles que a eles recorrem.
Esta linha também simboliza o nordestino que migrou de sua terra principalmente
para as capitais do Rio de Janeiro e São Paulo, em busca de emprego. Trabalharam
nos serviços mais duros e inferiores, e ajudaram a construir estas cidades, sempre
sofrendo discriminação sem nunca perder a esperança e o bom humor.
São extremamente poderosos no desmanche da magia negativa e guerreiros
incansáveis contra as kiumbas, sendo conhecida a forma aguerrida, muitas vezes
considerada agressiva, com que lutam contra esses invasores do plano inferior.
São alegres e sorridentes gostam de dançar e, quando baixam no terreiro, mudam
até a atmosfera da casa para melhor. Entretanto, quando percebem fraqueza ou
displicência do consulente, podem ser firmes e dar broncas inesquecíveis. Mas tudo
para despertar a força e a coragem do assistido.
Simbolizam a força positiva, a coragem e a perseverança de quem não se importa
com o peso da batalha, e nem quanto tempo irá demorar a conquistar a vitória.
Baiano representa principalmente a determinação.

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Suas manifestações são sempre extremamente carregadas de regionalismo


nordestino, no sotaque cantado, na alegria de chegar, sempre abençoando a todos
que chegam a eles. Invocam constantemente o Senhor do Bonfim e o Padre Cícero,
que chamam carinhosamente de “Padrim Ciço”.
Bebem cachaça, água de coco. Fumam cigarro de palha ou charuto. Gostam de coco,
cocada, rapadura e farofa.
Sua saudação é “Salve o povo da Bahia” ou simplesmente “É da Bahia”.

Ciganos

A chegada dos ciganos em nosso terreiro é uma história muito legal.


Como já havia dito, nossas doutrinas vem dos meus avós. Em um determinado dia
meu Avô Sr. Antonio disse que estava sentindo uma entidade que não era a que se
acostumava trabalhar. Falando com minha avó Dona Flora ela disse então para dar
passagem a entidade e vamos ver o que essa entidade quer. Foi quando pela
primeira vez o Cigano Ruan (Ruanito) veio em terra, dizendo que nossa tenda era de
uma energia singular, nos parabenizou pelos trabalhos de caridade e pediu para
trazer sua tenda (falange) espiritual para nosso terreiro e assim começar a trabalhar
com os ciganos.
Pois bem meus irmãos assim começaram nossas giras de ciganos.
Eles usam lenços amarrados na cabeça, as ciganas adoram saias rendadas. Adoram
ouros, medalhas e tudo que seja dourado. Gostam de cigarros, cigarrilhas e charutos,
alguns usam até mesmo cachimbo.
Suas festas são bem animadas, muitas danças, falam um portunhol, e adoram
musicas flamencas. Suas origens são da Espanha e nessa gira em específico não
tocamos os atabaques e sim músicas ciganas em caixas de som para os trabalhos.
Adoram flores e em específico rosas de todas as cores, são galanteadores ótimos
para ajudar com o amor em todos os aspectos. Conseguem prever o futuro mas nem
sempre têm a permissão para falar. Adoram fogueiras. Com o fogo se queimam todo
o mal que nos atinge. Gostam de ler as mãos e alguns leem cartas.
O povo cigano, na Europa, sofreu com a escravização e constantes perseguições,
sendo que alguns países pagavam pela cabeça de ciganos apresentadas, estimulando
assim uma verdadeira caçada para um holocausto.
Essa aversão era fundamentada em mentiras, de que os ciganos eram ateus e
adoradores de demônios e que sequestravam crianças, que eram descendentes de
Caim e por isso eram amaldiçoados, entre outras.
Essas perseguições induziram os ciganos a não criarem raízes de nenhum tipo, e
quando chegavam a novos lugares, faziam de tudo para se adaptar à cultura local,
para passarem despercebidos. Daí vem a condição nômade do povo cigano.

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Entretanto, mesmo diante de tudo isso, faziam questão de manter as tradições,


vivendo sua cultura na sua totalidade em segredo, passando oralmente a mesma
para as novas gerações.
Isso não nos lembra de outro povo? Os negros também passaram por situações
muito parecidas.
A primeira citação a ciganos no Brasil foi em 1574, quando alguns foram deportados
para o Brasil. Mas foi em meados de 1720 que a cultura cigana se desenvolveu em
nossas terras, com descendentes ciganos migrando da Bahia para o Rio de Janeiro e
São Paulo.
A cultura cigana é muito rica em todos os aspectos. Na magia, na culinária, no
relacionamento. Tudo é muito ritualizado, sempre com muita música e muita dança.
A comida é uma coisa sagrada para o povo, sendo que toda a alimentação é tratada
também como remédio. O cigano respeita o ciclo da natureza, tendo em vista que as
fases da lua são devidamente respeitadas.
É da natureza cigana os oráculos, sendo o tarô e a quiromancia seus aspectos mais
poderosos de adivinhação do futuro.
Na Umbanda, os ciganos constituem linha forte, muito solicitada, principalmente
para a prosperidade, amor, orientação e cura. Muitos são aqueles que incluem a
linha cigana na linha do Oriente. Contudo, não são muito afeitos a descarregos.
São amáveis, alegres e se compadecem facilmente das pessoas, porém são
extremamente sinceros. Falam a verdade mesmo que isto entristeça o consulente.
Seu Orixá regente é Ogum, mas pode trabalhar na força de qualquer outro. Sua vela é
vermelha ou de acordo com o solicitado pela entidade.
Ensinam simpatias infalíveis e quando aplicam o passe magnético, esse é de uma
energia magnífica, deixando quem o recebe extremamente leve e feliz.
As festas ciganas normalmente são as mais concorridas nos terreiros, chegando
muitas vezes a dobrar a quantidade de visitantes nestas ocasiões.
Diante da história do povo cigano, é muito justo seu espaço conquistado como linha
na Umbanda, sendo de suma importância sua irradiação para os irmãos de fé.
O povo cigano representa o desapego, o oculto e a alegria de viver. Sua saudação em
muitas casas é “Optcha” .
Não podemos esquecer de Santa Sara Kali, padroeira do povo cigano.

Marinheiros

Tal qual a linha dos boiadeiros, a linha dos marinheiros teve suas primeiras
manifestações antes da fundação da Umbanda.
Me recordo mais ou menos 30 anos atrás fazíamos sempre nossa gira de fim de ano a
beira mar, trabalhando com os marinheiros e os pescadores.
Temos histórias incríveis dessa linha.

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No século XIX, alguns candomblés permitiam a manifestação de eguns para


atendimento, e foi curiosamente em um trabalho de cura que ocorreu a primeira
manifestação de marinheiros. Aconteceu na capital baiana, e este é o motivo do mais
famoso ponto cantado de marinheiros dizer em uma de suas estrofes:
“Eu não sou daqui, eu não tenho amor, eu sou da Bahia, de São Salvador”.
O perfil da entidade que se manifesta nesta linha é o do marinheiro que navegou o
mundo inteiro, conheceu muitos povos e culturas, absorvendo muito conhecimento
nessas andanças. Também denota um desapego tanto com bens materiais quanto
com pessoas. O marinheiro não tem família, e os amigos são os tripulantes do seu
navio. Ele pode até amealhar grandes posses materiais, mas não é escravo delas pois
seu bem maior é a liberdade.
Fora tudo isso, foi acostumado a passar dias em alto mar, muitas vezes com pouca
água potável e alimento, superando o medo e as dificuldades de enormes
tempestades. É muito valente e sobrevivente por natureza.
Podemos acrescentar ainda à linha dos marinheiros toda espécie de espírito que
tenha tido contato com água, com porto ou com mar. Assim podemos incluir
pescadores, estivadores, marinheiros, capitães. Toda entidade que domina ou
interage com a Calunga Grande, o mar de Iemanjá, normalmente possui grandes
poderes de descarrego, por poderem levar todo o mal para o fundo do mar.
Quando baixam nos terreiros, os marinheiros se apresentam de forma peculiar, que
muitas vezes é confundida com bebedeira. Eles andam como se estivessem
completamente bêbados, tendo dificuldades até para ficar parados em seu ponto.
Isto nada tem a ver com bebida e sim com o costume que os marinheiros tem de se
manter em pé, mesmo em decorrência dos solavancos causados pelas ondas do mar
no navio. Quem já navegou sabe o quanto é difícil se manter em pé. Com este
comportamento, os marinheiros conseguem ficar em pé para trabalhar sem sentir os
efeitos nauseantes que o mar pode lhes proporcionar.
Apesar disto, é a linha de Umbanda conhecida como grandes consumidores de
bebidas alcoólicas, mas que o fazem pelo peso de seu trabalho.
Como dito no começo, os marinheiros podem trabalhar na linha de cura, pois eram
acostumados a cuidar uns aos outros dentro do navio, onde não havia muitos
recursos. O poder de cura veio também dos inúmeros conhecimentos adquiridos de
porto em porto.
A linha dos marinheiros é regida por Iemanjá, mas assim como todos os outros
podem trabalhar com as forças de qualquer Orixá.
Podem beber cachaça, cerveja ou rum. Água de coco ou água potável também são
muito bem recebidas. Fumam de tudo, dando preferência aos charutos e palhas. As
velas são de cor azul claro.

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São extremamente alegres e adoram dar consultas. São calmos e excepcionais


conselheiros. Além de tudo isso, são excelentes na quebra de demandas e no
desmanche de magia negativa.
Em algumas correntes de pensamento são assemelhados aos Exus pela força e pelo
descarrego. Em outras, são considerados como integrantes da Linha do Oriente, por
trabalharem também com cura.
Os marinheiros são cultuados ainda no Catimbó, tendo Martim Pescador como
Mestre-Juremeiro.
As giras de marinheiros nos terreiros não são unanimidade, desta forma, são pouco
os terreiros onde marinheiro atende.

Pescadores

Muitas vezes as linhas dos pescadores são juntas com as linhas dos marinheiros.
Porém, por bons anos sempre fazíamos nossa virada de ano a beira mar na Praia
Grande em frente ao Forte e nossa gira era a dos pescadores.
Com o Guia Chega dos pescadores o Tiago Pescador incorporado em nosso Pai de
Santo, trouxe sua falange de pescadores para trabalhar em terra.
Literalmente pescadores e lutavam com uma das maiores forças da natureza em
busca de alimentos para sua família. Por muitas vezes solitários em pequenos grupos
que tinham o mar como seu lar.
Uma vida sofrida em baixo de sol e chuva em pequenos ou grandes barcos, passando
por maus bocados para fazer o que aprendeu a amar, pescar.
Tenho uma história que não posso deixar de relatar.
Em 31 de dezembro de 1988, eu tinha 9 anos de idade e estávamos lá a beira mar
como de costume para mais um trabalho dos pescadores na virada do ano. Quando
de repente o “Tiago Pescador” nos disse já recebemos 3 chamados de ajuda e temos
que subir. Sem saber de nada o que estava acontecendo eles foram embora. No dia
seguinte O Bateau Mouche naufragou na costa brasileira, mais precisamente na Baía
de Guanabara, no Rio de Janeiro, quando estava a caminho de Copacabana. Das 142
pessoas a bordo, 55 morreram porém em nossa fé ele ajudaram 87 pessoas a
sobreviver dessa tragédia.
Gosto de contar essa historio pois pra mim foi uma das maiores provas da existência
deles.
Suas giras são em menor quantidade porem de grande valia para nossa umbanda.
Hoje com as leis terrenas ficam um pouco mais difíceis de fazer os trabalhos no mar.
Porem com jeitinho a espiritualidade se encarrega de nos dar a honra em receber
esses grandes heróis em terra.
Gostam de cerveja e champanhe, fumam cigarros, palhas ou charutos. A cor de velas
podem ser brancas ou azul claro. Seu orixá regente é Iemanjá, seus domínios é o mar.

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Linha d’água

Utilizamos da linha d’água como uma linha intermediária. Dentro dessa linha vem
diversas entidades, falangeiro de Iemanjá, Oxum e Iansã. Em determinadas épocas
sereias.
Ao sentir as energias dessa linha, as emoções vão a flor da pela quase sempre
causando lagrimas nos olhos, uma ótima linha para a limpeza espiritual.
Problemas antigos, problemas de saúde, problemas emocionais, problemas com
nossos desencarnados, a linha d’água é ótima para levar tudo o que for de mal para o
fundo do mar.
Uma linha serena, mas de grande emoção e vibração.
O Orixá regente Iemanjá, mas também temos a presença das energias de Oxum e
Iansã. Não costumam beber, não costumam fumar e não dão consultas, uma linha
para cada filho mentalizar o que precisa. Suas velas de firmeza podem ser diversas,
porém a branca sempre cabe a todas as linhas.

Linha simironga

Santo Antônio, Santo Onofre, na linha simironga venha ajudar.


Esse é um pontinho que cantamos nesta linha de trabalho.
Barões, senhores feudais, são alguns dos espíritos que descem nessa linha.
Entidades que quando encarnados, enterravam seus dinheiros para que ninguém o
possuía. Hoje vem em terra e de grande valia nos trabalhos para ajudar no pataco
(dinheiro) uma linha muito forte para abertura de caminhos financeiros, ajudam a
aumento de cargo, aumento de clientes, busca do primeiro emprego.
Uma linha intermediária, para emanar as energias positivas aos quem assistem.
Danças peculiares, adoram carregar a cruz em suas mãos e de preferência em aço ou
ferro. Não utilizam de bebidas e nem fumos. Uma energia mais densa, e ao término
um alivio de imediato. A firmeza de velas branca, sempre peça a luz aos seus
caminhos.

Oriente

Chamamos assim a linha dos médicos espirituais.


Dr. Fritz, Dr. Bezerra de Menezes entre outros doutores mais conhecidos pelas
doutrinas de Allan Kardec vem raramente, somente quando solicitados para a cura,
uma cirurgia espiritual onde tenha que ser feito tal trabalho.
Uma gira totalmente diferente de todas as outras, a tranquilidade reina dentro dessa
gira, muita oração, tudo muito claro e brando, sem som dos atabaques.

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Como disse, não temos uma frequência dessa gira, podem ficar anos a ser solicitado
tal atendimento.
A particularidade desta linha é que os espíritos nela contidos carregam já um alto
nível de adiantamento evolutivo. Quem sabe por este motivo sejam discretos, não
gostem de falar muito e dediquem-se muito mais aos trabalhos de cura.
Muitos de seus componentes foram versados em artes e ciências como esoterismo,
cartomancia, quiromancia, necromancia, astronomia, astrologia, medicina,
matemática, e todas as ciências espirituais. Usam deste conhecimento, agora
potencializado no plano espiritual, para levar a caridade a todos que precisam.
Nos trabalhos de cura, não somente energizam e equilibram, como são capazes de
grandes cirurgias e indicar tratamentos que sempre levam ao resultado desejado.
Entretanto, fazem questão de explicar ao enfermo a raiz (motivo) de sua
enfermidade, mostrando que ele próprio iniciou aquela doença, e indicam o que
deve mudar naquela pessoa para que a doença não torne a se instalar.

Considerações sobre as linhas

As linhas de Caboclos, Baianos, Pretos velhos e Eres formam o que muitos chamam
de alicerce da Umbanda, sendo elas as linhas fundamentais para o trabalho da
religião. Qualquer terreiro que não contemple minimamente essas linhas não pode
se chamar de Umbanda.
É importante compreender que na Tenda Nossa Senhora da Piedade, muito do que
hoje se vê na Umbanda não acontecia e não acontece até hoje. Não havia atabaques,
nem trabalho de Exu e nem um culto ostensivo da herança africana que a Umbanda
hoje demonstra.
Zélio dizia que muitas coisas não foram possíveis no início, justamente porquê a
Umbanda era ainda uma semente que deveria se desenvolver e qualquer coisa que
chamasse a atenção, ou gerasse polêmica, ou preconceito, poderia sufocar esta
semente.
Nossas doutrinas se assemelham muito com a de Zélio de Moreia (Fundador da
Umbanda). No começo não tínhamos atabaques e nunca fizemos uma gira de Exu.
Com o passar do tempo foi incorporado os atabaques e de extrema importância para
os trabalhos, principalmente para novos médiuns a vibração do couro com as
energias dos curimbeiros são fundamentais para o desenvolvimento mediúnico.
As giras de esquerda não fazem parte de nossas doutrinas, que particularmente
(esquerda e direita) foi o ser humano quem nomeou, e para mim seria níveis mais
altos e mais terrenos. Porém fazem parte de nossas giras porem não como uma gira
específica. Sabemos também que em diversos lugares somente os Senhores Exus e
Pombo Giras conseguem entrar serem percebidos. O vale dos suicidas é um deles.

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Como temos em mente que quem rege Exu é Ogum e nossas casas são regidas por
Ogum todo e qualquer posicionamento perante aos Exus é Ogum quem comanda.
Mesmo assim temos em nossas tendas os assentamentos vibratórios, nosso ponto de
força porem sem divisão. Direita esquerda em uma única corrente. Todos espíritos de
luz são muito bem vindos para ajudar em nossos trabalhos e sabem sim que os Exus e
Pombo Giras são espíritos de luz e de grade valia para nossa doutrina.

Ancestralidade

Dos novos costumes que seriam adotados e até as outras linhas de trabalho que
surgiriam.
Afirmo isto pelo fato de que o 1º Congresso de Umbanda ocorrido no Rio de Janeiro
em 1941, onde tantas ideias diferentes foram apresentadas, ocorreu por incentivo de
Zélio de Moraes.
Na década de 50, quando muitas doutrinas diferentes surgiram, Zélio e o Chefe
estavam em plena atividade e nada fizeram para coibir ou desmentir essas doutrinas.
A Umbanda sempre foi e sempre será a religião da liberdade e da transformação, da
mesma forma que o nosso espírito e nosso planeta. A Umbanda sempre agregará
novos conceitos e linhas que desejem praticar os três únicos fundamentos imutáveis
da religião: amor, humildade e caridade.
Você já parou para pensar o por quê da manifestação de caboclos e pretos-velhos na
Umbanda?
Eles simbolizam a ancestralidade de nosso país. Os caboclos representam os índios,
os primeiros habitantes e protetores originais desta terra. Os negros representam o
povo que mais contribui para o desenvolvimento de nosso país, deixando gravado
nesta terra seu suor e seu sangue.
Assim sendo os fundamentos de caboclos/índios e negros escravizados vale para
todos os territórios com histórias similares.
Mas, como seriam as linhas de trabalho no Japão ou na Europa?
Certamente o conceito de ancestralidade seria mantido.
Os caboclos certamente se apresentarão com o arquétipo dos primeiros habitantes
daquela terra, ou como antigos e bravos guerreiros de tempos antigos. Os pretos-
velhos se apresentarão como velhos sábios, sempre manifestando o amor, a
humildade, a paciência e a sabedoria.
As outras linhas seguirão os costumes, a magia e a regionalidade típica de cada
nação. Já é sabido que no Japão, samurais se manifestam bem como anciãos.
Romanos, gauleses e bárbaros tanto quanto artistas, conselheiros e velhos sábios na
Europa.
É necessário abrir a mente para tentar compreender o máximo que conseguirmos
deste tão complexo mundo espiritual.

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Orixás

Oxalá

Apenas para rememorar, Orixás são seres de altíssima elevação espiritual que
carregam em si partes do poder supremo de Deus, que se manifestam através dos
domínios naturais e que atuam sobre toda a vida sobre o planeta.
Agora falaremos individualmente sobre eles.
A palavra Oxalá significa “O Grande Orixá” ou ainda “Senhor da Luz Divina”.
Alguns escritores dizem que os negros escravos se referiam a Oxalá pelo nome
Orixalá, que significa Orixá dos Orixás, e por contração o termo Orixalá, passou a ser
simplesmente Oxalá. Em locais da África era conhecido como Obatalá, que vem a ser
o Oxalá original.
Segundo a definição de Zélio de Moraes, trazida até nós por Ronaldo Antonio Linares,
Oxalá seria aquele que traz o poder total de Deus dentro de si, que foi dividido aos
seus filhos Orixás. Por este motivo cada Orixá tem a sua cor, e a de Oxalá é o branco,
que é a soma de todas as cores.
Contudo, é assim que devemos vê-lo; aquele que atua sobre nós o tempo todo, a
mais elevada energia divina.
Oxalá atua em todos os campos, porém é na fé e na religiosidade das pessoas que se
encontra seu ponto mais proeminente. É ele que conecta nossos espíritos com o
Orun, o céu ou plano espiritual o tempo todo. Por este motivo o chacra que o rege é
coronário (alto da cabeça) e é por ele que Oxalá aplica a sua mais pura vibração em
todos os seres. Resumindo, Oxalá é elo que nos conecta a Olorun (Deus).
Afastar-se de Oxalá é afastar-se de Deus, das virtudes, e, dessa forma, tornar-se
presa fácil para a espiritualidade inferior.
Por ser ele o regente do chacra coronário é que dizemos que banho de ervas de
Oxalá pode ser jogado no alto da cabeça, pois sendo ele pai de todos, acaba por ser
nosso pai também.
Lembramos que sobre a cabeça somente se coloca o banho de seu Orixá de frente ou
o de Oxalá. Outros banhos podem atrapalhar a sintonia com a espiritualidade.

Sincretismo: Jesus Cristo


Data de culto: 25 de Dezembro
Saudação: Epa Babá – (Salve o Pai – com admiração)
Área de atuação: A paz, a fé, o progresso e saúde
Elemento: Ar e éter
Chacra: Coronário
Metal: Ouro branco, prata e patina
Astro regente: Sol

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Nota musical: Mi
Número: 10
Dia da semana: Sexta-feira
Cor da guia: Branca leitosa
Cor da vela: Branca
Pedra: Diamante ou cristal
Bebida: Suco de uva, água e vinho doce
Amalá: Milho branco, arroz com mel, canjica doce
Frutas: Uva verde, pera, damasco, figo, polpa de coco, pêssego branco
Flores: Girassol, lírio branco e todas as flores brancas (rosas sem espinhos)
Algumas ervas: Manjericão, alfazema, arruda, erva cidreira, hortelã, alevante e salva,
folhas de laranjeira, folhas de algodoeiro
Domínios: Alto de morro, campo gramado (calmo e limpo), locais sagrados
Animais: Caramujo, pomba branca e coruja branca
Instrumentos: Opaxorô (Cajado)

Ogum

A tradução do nome Ogum já nos diz muito a respeito deste Orixá. O significado pode
ser “Senhor da Guerra” ou “Guerreiro”.
Para nós, Ogum imediatamente remete à ideia de proteção. Cavaleiro de armadura,
espada e escuto. Aquele que venceu todas suas batalhas. Protetor dos protetores.
Lider dos Exus, por esse motivo que sempre que precisamos de algo pedíamos a ele,
e Ogum se encarregará de passar ou não tal tarefa.
Forjado do aço, sempre nos protegendo a noite a luz do luar.
É muito comum ver imagem de São Jorge dentro de uma lua, pois Ogum (São Jorge)
sempre esta a nos vigiar para que nenhum mal nos alcance.
Tudo o que o ser humano faz para melhorar as atividades costumeiras é conhecido
como tecnologia. Tecnologia é inovação. E é por isso que Ogum é considerado o
Orixá patrono da tecnologia.
É o poder do sangue que corre nas veias. Como Exu, está presente no calor e na ira.
Ogum é uma força da natureza, incontrolável, que se faz presente nos momentos de
força e impacto.
Ogum é o arquétipo do guerreiro. Bastante venerado no Brasil por estar associado à
luta e à conquista. Tem como sincretismo São Jorge, figura extremamente populares
dos católicos, o que ajudou a disseminar seu culto.
Ogum rege o sangue que corre em nossas veias e talvez isso explique o
comportamento tão ativo deste Orixá, que pode ser cruel e impiedoso com os
inimigos, mas também dócil e amável para aqueles que ama. É a vida em seus
extremos.

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Ogum é aquele que adora iniciar uma conquista, mas não usufrui dela. Tão logo
alcance a vitória, busca uma nova demanda. Gosta do calor da batalha e não dos
louros da vitória.
É também o responsável por todo o conhecimento prático existente, aquele que tira
as ideias do papel e as torna reais. Da agricultura, passando pelas armas, pela
eletricidade e pelos atuais computadores, Ogum, o patrono da tecnologia, é o grande
desbravador do mundo em que vivemos. Assim sendo ele abre caminhos para a
instalação de uma rodovia ou estrada de ferro, leva energia e saneamento a lugares
carentes, favorece a instalação de indústria em locais inóspitos. É o responsável pelo
desenvolvimento. O desconhecido é seu inimigo.
Na Umbanda, é o protetor maior, sem o qual não há segurança nas giras. É também
considerado protetor contra toda e qualquer entidade masculina, encarnada ou
desencarnada.
Recorremos a Pai Ogum para a proteção de qualquer tipo de mal, nas brigas,
conflitos e desavenças é ajuda poderosa, para o desenvolvimento de empresas
ligadas à indústria, à química e à tecnologia, e, por fim, para que a lei se cumpra.

Sincretismo: São Jorge


Data de culto: 23 de Abril
Saudação: Ogunhê - (Salve Ogum)
Patakori - (Salve aquele que tem a cabeça coroada)
Área de atuação: Caminhos, guerras, demandas e tecnologia.
Elemento: Fogo
Chacra: Umbilical
Metal: Ferro (Aço)
Astro regente: Marte
Nota musical: Fá
Número: 2
Dia da semana: Terça-feira
Cor da guia: Vermelha
Cor da vela: Vermelha
Pedra: Granada, rubi e sárdio. Lápis-lazuli ou topázio azul
Bebida: Cerveja branca
Amalá: Feijoada, inhame, cará, feijão mulato ou fradinho, amendoim.
Frutas: Manga espada, banana, ameixa, maçã, uva rosé, laranja
Flores: Cravo vermelho, crista de galo, palmas vermelhas
Algumas ervas: Peregum verde, espada de São Jorge, Lança de São Jorge, Coroa de
São Jorge, folhas de romã, losna, alcachofra, jurubeba, abre-caminho, carqueja,
parietária.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Domínios: Estradas, caminhos e estradas de ferro. O meio da encruzilhada pertence à


Ogum.
Animais: Galo vermelho, cabrito malhado e cachorro
Instrumentos: Espada, faca, lança, escudo

Oxóssi

O nome Oxóssi significa “Caçador Noturno” ou “Aquele que Caça à Noite”.


Também conhecido por Odé, Oxóssi é o Orixá das matas e das florestas. Responsável
pelo sustento, conhecimento, agricultura e fartura.
Conhecido como o caçador de uma flecha só, ou aquele que não é detido pelos
caminhos fechados, Oxóssi demonstra através dessas alcunhas seu poder de atuação
que faz com que ele alcance qualquer objetivo por mais impossível que pareça.
Vive nas matas fechadas. Lá domina os espíritos da floresta. Conhece toda a fauna e
a flora, da qual também é guardião.
Muito ligado a vida, à liberdade, Oxóssi não se submete facilmente, tendo às vezes
muitos problemas com hierarquia. Suas habilidades com caça exigem qualidades
como orientação, decisão, concentração, determinação e paciência, atributos que
constantemente são transferidos para seus filhos.
É também conhecido como aquele que vive na casa de barro ou na casa de folhas, o
que denota claramente sua simplicidade.
Oxóssi é um excelente Orixá para abertura de caminhos, pois em suas matas virgens
sempre encontrará um caminho novo a percorrer.
De comportamento arredio, Oxóssi gosta de estar em contato com a natureza.
Foi provavelmente o Orixá mais difícil de sincretizar, por não haver santos católicos
com o perfil de caçador. São Sebastião, cuja imagem demonstra um tronco
possivelmente associado às matas e um homem com várias flechas (que era a arma
de Oxóssi), acabou sendo o escolhido para ser associado a este Orixá.
No Brasil, este Orixá é muito popular, sendo muito cultuado principalmente em São
Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Rio Grande do Sul.
Na Umbanda, é o grande regente da Linha dos Caboclos, que vem a ser a linha mais
ativa e importante da religião, cujo representante maior é o Caboclo das Sete
Encruzilhadas, que era diretamente um caboclo de Oxóssi.
Em qualquer refeição encontramos Oxóssi, pois é ele quem provê o alimento. Na
África, era considerado o protetor dos caçadores, pois traziam o sustento para a
tribo. Hoje em dia abençoa a todos aqueles que vão para o trabalho para defender o
sustento de suas casas.
Recorremos à Oxóssi para obter emprego, fartura e prosperidade. É protetor das
matas e florestas, da caça e dos caçadores. Objetivos extremamente difíceis de
serem alcançados (ou impossíveis) também são solicitados a ele. Rege o estudo e a

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

concentração. Pode ser invocado também como protetor de todas as manifestações


artísticas.

Sincretismo: São Sebastião


Data de culto: 20 de Janeiro
Saudação: Oke Arô - (Salve aquele que está no ponto mais alto)
Área de atuação: Subsistência, trabalho, demandas, determinação, fartura.
Elemento: Terra
Chacra: Esplênico
Metal: Cobre e latão
Astro regente: Vênus
Nota musical: Ré
Número: 6
Dia da semana: Quinta-feira
Cor da guia: Verde
Cor da vela: Verde
Pedra: Esmeralda, amazonita, calcita verde, quartzo verde
Bebida: Cerveja branca, vinho tinto, água de coco, caldo de cana
Amalá: Milho cozido, mandioca assada, frutas
Frutas: Abacate, ameixa, coco, milho verde, laranja, limão, caju, acerola
Flores: Flores do campo, palmas
Algumas ervas: Erva-doce, eucalipto, folhas de jurema, guiné caboclo, mangueira,
saião, samambaia, peregum verde, sabugueiro, malva cjeirosa, malvarisco, cipó
caboclo, dracena, taioba
Domínios: Matas (preferencialmente as virgens ou fechadas)
Animais: Porco do mato e aves malhadas
Instrumentos: Ofá (arco e flecha)

Xangô

É o Orixá da pedreira, da justiça, da administração e da política.


Excepcional soberano, é sábio juiz e administrador. Muitos o adoravam e tantos
outros o temiam. Mas ninguém era indiferente.
É um orixá muito temido e respeitado, viril e violento. Dizem que Xangô castiga os
mentirosos e malfeitores com seu raio, e, por este motivo, na África a morte por raio
é considerada infame, pois teria sido o resultado da ira de Xangô.
No mesmo raciocínio, se um raio atingir uma casa, seu proprietário estará pagando
pelas injustiças cometidas, o qual após recolher o tributo, revolve o entulho da casa
atingida em busca da pedra que foi atingida pelo raio, pois este é um dos símbolos
máximos deste orixá. Sua arma é e o machado de duas lâminas, que ora corta para

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

fazer o bem e ora corta para ceifar o mal. Outra visão sobre o machado é que cortará
a quem quer que seja para se fazer a justiça. O juiz da espiritualidade sempre tem
que olhar para os dois lados.
Xangô é a autoridade presente, e, como suas pedras, é pesado, sólido e indivisível.
Seus filhos constantemente pedem em orações que ele os ajude a não infringir a lei,
seja dos homens ou da espiritualidade, por medo da cólera de seu pai.
É certamente, ao lado de Iemanjá, um dos orixás mais conhecidos e cultuados no
Brasil, sendo que no Nordeste existe até um culto com seu nome. Não era incomum
antigamente, o nome de Xangô ser associado ao do próprio Candomblé.
Tudo o que se refere a estudos, ao conhecimento especializado, ao direito, contratos,
demandas judiciais, elaboração de normas e leis, documentos trancados e
confidenciais, pertencem a Xangô.
Está envolvido na melhora e no progresso social e cultural. No dia a dia, encontramos
Xangô nos movimentos sociais, campanhas, partidos políticos, sindicatos, repartições
públicas, fóruns judiciais, cartórios, delegacias, nas diretorias de grandes empresas.
Enfim, tudo o que se refere às relações e ciências humanas, administração e governo.
Não é a toa que estamos em 2018 ano de Xangô e estamos vivendo um ano de muita
justiça, impeachment da Ex-Presidente Dilma, Condenação e prisão do Ex-Presidente
Lula, tantas cabeças rolando. Manifestações dos caminhoneiros onde pode virar um
holocausto. Estou escrevendo esse livro e estamos no 7º dia de paralisação dos
caminhoneiros e ainda muita água vai rolar. Mas não estou aqui para falar do Brasil e
sim de uma religião brasileira, apenas citei os acontecimentos para ver de como o
ano de Xangô a justiça prevalece.
Invocamos Xangô nos casos de demandas judiciais, justiça em geral, para a
prosperidade e o dinheiro, para adquirir conhecimento (principalmente o
especializado), para o auxílio na administração, e até mesmo em desastres naturais
como terremotos, vulcões e avalanches. Muitos recorrem a ele também para
conseguir o equilíbrio, seja material, emocional ou espiritual.

Sincretismo: São Jerônimo,


Data de culto: 30 de Setembro
Saudação: Kaô Kabecilê - Venham ver e admirar o rei da casa
Área de atuação: Justiça, equilíbrio, administração, negócio, aprimoramento.
Elemento: Fogo
Chacra: Cardíaco
Metal: Estanho
Astro regente: Júpiter
Nota musical: Sol
Número: 12
Dia da semana: Quarta-feira

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Cor da guia: Roxa (marrom em algumas outras doutrinas)


Cor da vela: Roxa (marrom em algumas outras doutrinas)
Pedra: Meteorito, pirita, jaspe
Bebida: Cerveja preta
Amalá: Rabada, acarajé, quiabo
Frutas: Marmelo, caqui, fruta-do-conde, melancia, morango, manga (coração de boi)
e mamão
Flores: Lírio, cravos brancos e vermelhos
Algumas ervas: Erva de São João. Erva tostão, louro, caruru, alevante, comigo
ninguém pode, folhas de mangueira, folhas de marmeleira, folhas de seringueira,
folhas de café, folhas de figueira, aperta ruão
Pedreira: Pedreiras, pedras perto do mar e ou rios.
Animais: Porco do mato e aves malhadas
Instrumentos: Oxé (machado de duas lâminas) e balança

Iemanjá

Deusa de Egbé, nação Iorubá, onde corre o rio Yemoja, de onde vem seu nome.
Muitos ainda o traduzem por “mãe cujos filhos são peixes”.
Também é conhecida ainda pelos nomes de Rainha do Mar, Inaê, Mucunâ,
Dandalunda e Janaína.
No Brasil, é o orixá do panteão africano mais conhecida, tanto pelas festas feitas em
seu nome, que arrastam milhares de pessoas, quanto pelo costume de pular 7 ondas
na entrada do ano novo, ritual repetido em todo o litoral brasileiro e consagrado a
ela.
De seu ventre saíram os orixás. De seus enormes seios saem as água que alimentam
os rios do mundo e que por sua vez fertilizam a terra. Iemanjá é a fecundidade, a
vida. Da mesma forma que Oxalá é o princípio gerador masculino, Iemanjá é o
princípio gerador feminino.
Deusa do mar e protetora do mar e da vida marinha, das mães, das esposas e da
família, representando a procriação, encerra em si mesma o conceito primário da
mãe benevolente.
Divide com Oxum o atributo da vida, Iemanjá gera, Oxum mantém.
É Iemanjá quem ampara a cabeça dos bebês ao nascerem, e só depois entrega aos
orixás que irão regê-lo. É também conhecida como senhora de todas as cabeças e,
por isso, no Candomblé e em algumas doutrinas umbandistas, certamente seja tão
reverenciada, pois é na cabeça onde se encontram assentados os orixás da pessoa
que comandarão seu destino.
É ela quem rege as relações entre os seres. No terreiro, é responsável pelo espírito
fraterno que deve existir entre os irmãos de fé e o pai ou mãe-de-santo. Nas

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

amizades, é a lealdade. Na família, é ela quem estrutura as relações entre pais e


filhos, irmãos e irmãs, e de quaisquer entes queridos. Iemanjá é a vontade de vermos
bem e seguros todos aqueles que amamos. A mãe que sofre pelo filho é a imagem
que melhor representa este orixá.
Em resumo é o amor ao próximo e a união e harmonia da família. É a grande mãe
que sempre tem uma palavra benevolente ou um conselho para dar a qualquer filho
que a ela recorra. Sempre atende aos que dela se socorrem.
Iemanjá é o senso de educação que damos a nossos filhos, o mesmo que
aprendemos com nossos pais, que aprenderam com nossos avós. Extremamente
exigente com seus filhos, até mesmo o castigo é regido por ela.
Deusa dos mares e das águas como um todo, responsável pela fauna e flora marinha,
inclusive a reprodução dos peixes. Por este motivo é padroeira dos pescadores, para
os quais é considerada como senhora do alimento.
Muito invocada para a prosperidade e abundância. Invocamos Iemanjá para curar
problemas na cabeça (físico ou mental), para a benção e proteção da família, dos
amigos e das relações entre irmãos de fé. As festas familiares como casamentos,
aniversários, entre outras, são também abençoadas por ela.

A Calunga Grande
A palavra calunga vem do dialeto Bantu e significa “morada dos mortos”. Na
Umbanda costumamos atribuir ao cemitério o nome de Calunga Pequena, e ao mar,
Calunga Grande.
Mas como o domínio da senhora geradora da vida poderia estar relacionada com os
mortos?
Devemos lembrar que a morte não é o fim de nada e sim uma transformação da vida.
Assim como Pai Obaluaê (ou Omulu) é considerado o senhor da morte, mas, acima de
tudo, é também o grande agente transformador, que guia os espíritos da vida
material para a vida espiritual.
Da mesma forma o mar também é um agente de transformação, trazendo e
fecundando a vida em nosso planeta. Outra explicação para denominarmos o mar
como Calunga Grande seria dada pelos próprios negros que vieram escravizados nos
navios negreiros. A viagem para a América em navio negreiro, era extremamente
danosa e mortal, sendo que muitos autores dizem que apenas 1/3 dos escravos
sobreviviam diante das condições desumanas do transporte.
Dessa forma, o negro viu muitos de sua raça adoecerem e morrerem, sendo que os
corpos eram lançados ao mar. Fora isso, a viagem na condição de escravo
simbolizava a morte de sua liberdade, de sua família, de sua cidade, de sua cultura e
religião.
Para muitos o fundo do mar seria a prisão de muitos eguns, pois antigamente era
comum lançar o corpo dos mortos ao mar.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Sincretismo: Nossa Senhora da Conceição


Data de culto: 08 de Dezembro (NS Conceição)
Saudação: Odo Iá (salve a mãe)
Área de atuação: Família, relações pessoais, cura (cabeça), vida, fecundidade e
prosperidade.
Elemento: Água
Chacra: Frontal
Metal: Prata
Astro regente: Lua (no quarto cheio)
Nota musical: Si
Número: 4
Dia da semana: Sábado
Cor da guia: Azul e branco ou azul claro com contas transparentes
Cor da vela: Azul
Pedra: Pérola, água marinha, lápis-lazúli, calcedônia e turquesa
Bebida: Água mineral ou champanhe branco
Amalá: Peixe, camarão, canjica doce, arroz com mel
Frutas: Marmelo, graviola, uvas brancas, melancia, nêspera, pera
Flores: Rosas brancas ou palmas brancas
Algumas ervas: Panacéia, angélica, picão-da-praia, manacá, cânfora, chapéu de
couro, lágrima de Nossa Senhora, Erva de Santa Luzia, lavanda, mastruço
Domínios: Praias ou em alto mar
Animais: Peixe, cabra branca, ovelha branca, galinha branca
Instrumentos: Abebé, leque de metal prateado na figura de um peixe

Oxum

A mais bela, sensual e pacífica de todos os orixás. A menina moça é considerada a


rainha de todo o ouro do mundo.
O nome Oxum vem do Rio Oxum (Osún), que corre na Iorubalândia.
Oxum é o nome de um rio na região de Oxogbô, na Nigéria. As lendas dizem ser esta
a morada deste orixá. Dona das águas doces, dos lagos, das cachoeiras e dos rios
mansos e cristalinos, faz par com Iemanjá no âmbito da vida. Iemanjá gera, Oxum
mantém e desenvolve.
Na África, sua associação com a fecundidade é tão grande que não se semeava o
campo sem que antes fossem prestadas as devidas ofertas e homenagens a ela.
Entretanto, na Umbanda, Iemanjá gera a vida e depois ampara as crianças no parto,
mas toda a gestação é de Oxum. A ela também é atribuída a proteção a todas as

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

crianças até o momento de falar e andar, a partir desse ponto as crianças são regidas
por Cosme e Damião.
Apesar disto, é a Oxum que as mulheres recorrem quando não conseguem
engravidar. Oxum rege ainda a menstruação e também divide a maternidade com a
rainha do mar.
Pela fecundidade e fertilidade, gera a abundância e a fartura. Senhora da riqueza,
dona do ouro. É alegre, risonha e inteligente, dá-se aos desfrutes de menina mas
sabe também ser uma mulher nobre e generosa.
A palavra que melhor descreve este orixá é amor. É a menina-mulher que com seus
encantos a todos seduz, todos querem estar perto dela e desejam obter seus favores.
A deusa do amor e da beleza usa de todos os seus atributos para alcançar seus
objetivos, podendo chegar a medidas extremas quando se sentir ameaçada. Amante
do luxo, da fortuna, do esplendor e das altas posições, poderá usar de seu poder de
sedução para satisfazer sua ambição. Usará toda sua astúcia, malícia e determinação
contra seus inimigos e adversários.
A sedução é seu ponto forte, entretanto, apaixona-se facilmente, e nesse estado, se
entrega sem limites chegando ao ponto de submissão.
Quem precisa de dinheiro é só pedir a Oxum que ela concede.
Considerada a dona do ovo, que também é um de seus símbolos por ser a
representação máxima da fecundidade.
Em algumas nações, é considerada como aquela que cura com a água fria. Cura as
crianças e as fazem beber mel, sendo a abelha seu animal símbolo.
Sempre representada como uma moça de feições magníficas, olhando-se para um
espelho que carrega na mão direita e abanando-se com um leque que carrega na
mão esquerda.
Considerada a rainha de toda a água doce do planeta, sabemos que sem esta água, a
vida seria impossível.
Inteligente e esperta, alheia a qualquer tipo de conflito, é excepcional diplomata.
A fecundidade de Oxum é tema tão forte e recorrente que esse fundamento não
estaria ligado somente à vida dos seres, pois sem Oxum é impossível fecundar ideias
e projetos. Sem seu axé a vida não inicia e nem prospera.
Invocamos Oxum para alcançar a fertilidade de mulheres estéreis, para alcançar sorte
no amor com a conquista do par ideal, na gestação das mulheres, em problemas com
a menstruação ou aparelho reprodutor, para fecundar qualquer nova decisão ou
projeto, na agricultura, para obter riqueza ou dinheiro, para evitar conflitos e para a
diplomacia.

Sincretismo: Nossa Senhora da Aparecida


Data de culto: 12 de Outubro
Saudação: Ora iêiêô ou Aiêiêô (Salve a mãe do sorriso gentil)

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Área de atuação: Gestação, amor, fertilidade, criatividade, novos projetos e idéias,


dinheiro e riqueza, diplomacia
Elemento: Água
Chacra: Umbilical
Metal: Ouro
Astro regente: Lua (no quarto crescente)
Nota musical: Si
Número: 5
Dia da semana: Sábado
Cor da guia: Azul com contas douradas, amarela (em algumas casas)
Cor da vela: Azul escura – amarela (em algumas casas)
Pedra: Topázio amarelo ou azul
Bebida: Água mineral ou champanhe branco
Amalá: Quindim, moqueca e pirão
Frutas: pêssego amarelo, melão amarelo, damasco, ponkan, banana ouro, laranja
lima, nêspera, maçã e nectarina
Flores: Lírios, palmas brancas ou amarelas, rosas brancas ou amarelas
Algumas ervas: Oriri, jasmim, vitória-régia, arnica montana, camomila, erva de Santa
Maria, aguapé, mãe-boa, calêndula, ipê-amarelo, erva cidreira
domínios: Cachoeiras, lagos e rios calmos e limpos
Animais: Abelha e pomba
Instrumentos: Abebé, (leque ) e espelho

Iansã

Na África é conhecida apenas como Oyá, que vem a ser o mesmo nome do rio mais
importante da Nigéria, o Níger. Apesar de seu nome original ter vindo do rio, isto não
deve confundir seu elemento que é o vento.
É a orixá dos ventos, da tempestade e do raio, o qual usa com a permissão de Xangô.
Guerreira e destemida, Iansã está muito distante dos outros orixás femininos. Está
mais no campo destinado às figuras masculinas, como as frentes de batalhas e das
constantes aventuras. Está sempre longe de casa, Iansã odeia o trabalho doméstico.
Para Iansã não existe o comum, o medíocre, o regular e nem o discreto. Tudo é um
acontecimento, seu ódio é avassalador, seu arrependimento (comum para ela) é
dramático. Sempre alcança a vitória nas batalhas que trava, por isso é decisiva em
questões de proteção e de demandas.
Representa a liberdade e a liderança.
É muito parecida com Xangô. Muitos dizem que Iansã seria uma cópia feminina do
orixá da justiça.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Iansã simboliza a força e o poder feminino, a mulher em busca de seu próprio


sustento, que deseja um homem para amá-la e não para sustentá-la. É a mulher que
enfrenta tudo por seus ideais.
Iansã não aceita submissão e nem qualquer tipo de prisão. Mesmo porque é
impossível aprisionar o vento. O vento que pode soprar numa brisa suave ou se
tornar um tornado devastador. Iansã não baixa a cabeça para ninguém.
Ao contrário do que muitos dizem, é extremamente fiel se tratada adequadamente.
Iansã é o ar em movimento que atiça o fogo, que desperta as paixões, que nos move
na direção de nossos objetivos.
Também está ligada à fecundidade, mas de forma diferente. As tempestades
inundam as terras e as deixam férteis e o vento espalha as sementes para que a vida
possa sempre continuar.
Segundo a mitologia ioruba, Iansã transformava-se em búfalo e voltava à condição
feminina como queria. Por este motivo os chifres de búfalo estão ligados fortemente
ao seu culto. Foi dessa forma que Iansã foi considerada a deusa da caça e da guerra.
Seus instrumentos são a espada curta (sabre), que usa para guerrear e o eruexim,
tipo de rabo de cavalo que usa para movimentar os eguns.
Invocamos Iansã para proteção, principalmente contra entidades femininas
encarnadas ou desencarnadas. Para trazer força e disposição. Contra todo o tipo de
demanda, para proteger de tempestades. As mulheres podem invocar Iansã para
qualquer situação.

Sincretismo: Santa Bárbara


Data de culto: 04 de Dezembro
Saudação: Eparrei Iansã ou Eparrei Bela Oyá (Salve Oyá, com admiração)
Área de atuação: Proteção, demandas, quebra de magia negativa, abençoar mulheres
independentes, encaminhamento de espíritos
Elemento: Ar em movimento, chuvas e tempestades e fogo
Chacra: Frontal e cardíaco
Metal: Cobre
Astro regente: Lua (no quarto novo)
Nota musical: Si
Número: 9
Dia da semana: Quarta-feira
Cor da guia: Amarela
Cor da vela: Amarela
Pedra: Coral, rubi, granada
Bebida: Champanha branca
Amalá: Acarajé, xinxin, vatapá

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Frutas: Maçã vermelha, uva rosa, tangerina, cereja, pitanga, laranja-bahia, morango,
manga rosa
Flores: Palmas e rosas amarelas
Algumas ervas: Espada de Santa Bárbara, folhas de pitangueira, cordão de frade,
gerânio, capim santo, espinheira santa, rubi, carobinha, cipó cruz, louro
Domínios: Bambuzal e lugares onde se venta (exemplo, alto de morros)
Animais: Búfalo (força) e Borboleta (liberdade)
Instrumentos: Leque, espada e eruexim (esoanta-moscas feito de rabo de cavalo ou
boi) que ela utiliza para movimentar os espíritos

Nanã Boruque

Certamente estamos falando da mais velha Orixá cultuada no panteão africano.


Isso porque Nanã era cultuada pelo povo do Daomè, hoje República do Benin, e os
ritos e cultos deste povo eram muito antigos, vindos de uma cultura ancestral, que
muitos atribuem ser anterior à descoberta do fogo.
O nome Nanã significa “mãe” e era exatamente isso que ela significava para os
daomeanos. Da mesma forma que para os iorubas é Iemanjá quem ocupa esse papel.
Também conhecida como Nanã Buruquê, Nanã Burucu, Nanã Bukuu e Nanã Brukung,
em nossas doutrinas a chamamos de Nanã Boruque (Santa Ana). Esta última
considerada uma divindade do fundo rio Níger. Nanã também é um título que era
dado a pessoas idosas e responsáveis. Por último, era costume uma mulher viúva ou
de idade avançada ir morar ao lado do rio para ter menos dificuldade de criar os
filhos, essas mulheres também eram chamadas de Nanã ou Nenê.
Muitos acreditam que o surgimento de Nanã esteja associado à criação do mundo,
quando Oduduá separou a terra das águas, foi no contato destes dois elementos, na
lama formada pelos dois elementos e na água parada que surgiu Nanã. Por esta
antiguidade Nanã é considerada senhora de muitos mistérios, sendo que ela também
representa a memória ancestral.
Também considerada a mais antiga das iabás, senhora dos búzios, da morte, da
fecundidade e da riqueza. Entretanto, por ser representada sempre muito idosa, é
considerada por muitos também a avó de todos os orixás.
É o princípio, o meio e o fim. O nascimento, a vida e a morte.
Os cânticos de Nanã são súplicas para levar Iku (a morte) para longe. É ela quem
permite que a vida seja mantida. Representa a força natural mais temida pelos
homens, pois ninguém quer morrer. Ela é a senhora da passagem deste mundo para
outro, a dona do portal para as dimensões do além.
Nanã é a possibilidade de conhecer a morte para se valorizar a vida. É agradar a
morte para se viver em paz. Protege contra feitiços e o perigo de morte.
Dona dos pântanos sendo o lodo seu domínio natural.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Nanã é considerada a mãe ou a avó boa, compreensível, carinhosa, sensível e


bondosa, mas não reconhece ninguém quando em estado de fúria.
Foi a grande mantenedora do início da humanidade, pois quando as suas grandes
chuvas caíam enchiam os rios, e quando estes recuavam ao seu leito normal, deixava
grande faixa de terra fértil onde ocorreram as primeiras plantações. Foi do barro
também que o homem pôde construir sua primeira morada e foi a mesma argila que
forneceu diversos utensílios que tornaram mais fáceis a vida dos seres humanos.
Entre os símbolos de Nanã estão a chave, que simboliza a passagem para o plano
espiritual, e o ibiri, que é feito com palitos ou fibras do dendezeiro dobrados e
adornado com búzios, que representa a multidão de eguns. Ela é a senhora de todos
os eguns, que obedecem suas ordens, e foi quem dominou por primeiro este
mistério.
Contudo, o símbolo que melhor sintetiza o caráter de Nanã é o grão, pois ela domina
também a agricultura e todo o grão tem que morrer para germinar.
Nanã rege as águas paradas, o pântano, o mangue, a lama, o barro. O mesmo barro
que serviu de matéria prima para criar o corpo físico do homem. E como dizem: “do
pó o homem veio e ao pó retornará”. Isto também é uma alusão da terra que recolhe
o corpo físico para consumi-lo e fazê-lo retornar ao pó. Isto também é atributo de
Nanã.
Dizem que Nanã ampara o espírito do morto enquanto seu corpo é enterrado. A
responsabilidade de Nanã também rege a reencarnação, pois é ela que recolhe os
espíritos prontos para a reencarnação, e, em seu abraço, faz com que percam a
forma, assumindo a forma de uma esfera de energia para ser conectado ao óvulo
fecundado na barriga da futura mãe terrena. É Nanã também, por cuidar da memória
ancestral, quem apaga a memória dos espíritos ao reencarnarem para que isso não
atrapalhe a reencarnação vindoura.

Sincretismo: Sant’Anna
Data de culto: 26 de julho
Saudação: Saluba Nanã! (Nos refugiamos com Nanã)
Área de atuação: A vida e a morte, maternidade, amadurecimento, sabedoria.
Senhora dos espíritos.
Elemento: Água em contato com terra
Chacra: Frontal
Metal: Níquel ou latão
Astro regente: Lua (no quarto minguante)
Nota musical: Si
Número: 13
Dia da semana: Domingo
Cor da guia: Lilás ou violeta

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Cor da vela: Lilás ou violeta


Pedra: Ametista, tanzanita
Bebida: Champanha rosé, vinho licoroso, água de coco, água de chuva
Amalá: Feijão preto com purê de batata doce, pipoca, farofa de dendê
Frutas: laranja lima, figo, ameixa, uva escura, fruta do conde, coco seco, banana da
terra, melão de São Caetano, abacaxi e jaca
Flores: Rosa rubra, crisântemo roxo e violeta
Algumas ervas: Manacá, folhas de berinjela, folha da fortuna, avenca, alfavaca.
Viuvinha, cana do brejo, manjericão roxo, canela de velho
Domínios: Pântanos, lamaçais, beira de rio e cemitérios
Animais: Rã, galinha branca, pata branca
Instrumentos: Ibiri – cetro feito de cerne de dendezeiro curvado e adornado de
búzios)

Obaluaê

Também conhecido por Omulu, Xapanã. A forma gráfica Abaluaê também é bastante
comum. Entretanto, Omulu e Obaluaê são os mais utilizados.
O nome Obaluaê significa “Senhor Dono da Terra” e Omulu quer dizer “Filho do
Senhor”. Só pelos nomes já imaginamos o respeito que os africanos têm por este
orixá.
No passado foi temido por ser considerado o orixá da varíola e das doenças
epidêmicas. Em tempos de epidemias, todas as cidades faziam grandes oferendas a
este orixá, na intenção de afastar a doença.
Mas Obaluaê hoje é visto pelo que é. Um orixá bondoso que ajuda a todos com
doenças espirituais e carnais. Por um lado, recebeu o controle dos espíritos dos
mortos (eguns), e por outro, recebeu a guarda desses espíritos através da calunga.
Obaluaê rege as casas e postos de saúde, as clínicas, hospitais, necrotérios e
cemitérios, em suma, todos os lugares onde a dor, a doença, o sofrimento e a morte
se encontram. A este orixá é atribuído o dom da vida e da morte, da cura e do
alcance de toda sorte de bênçãos. Seu poder maior é a transformação, a
transmutação das coisas e dos seres, cujo símbolo máximo é a morte física, que é a
transformação da vida, passando a ser uma vida espiritual.
Atua na morte dos seres cortando o fio de prata que liga o perispírito ao corpo físico,
e também é ele quem o liga no ato da reencarnação. Ele é morte, mas também é
vida.
Obaluaê é a terra dura e quente, como a febre das doenças infecciosas, mas mesmo
nesse terreno inóspito Obaluaê faz a vida surgir, conduzindo e transformado nossos
defeitos em virtudes.
Obaluaê é a morte para uma nova vida, é a saúde, a prosperidade.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Usa um capacete e roupa feita de palha da costa que não deixa visível nem seu corpo
e nem seu semblante. Não é a toa que seja sincretizado com São Lázaro. Algumas
lendas dizem que Iemanjá preparou essa roupa para o filho, para que ele pudesse
esconder seu defeitos e, principalmente, a lepra que carrega. Outras lendas dizem
que a roupa existe para guardar os olhos de quem o vê, pois se olhássemos
diretamente para ele seríamos cegados pela energia irradiada de seu corpo,
semelhante a um sol.
Obaluaê sempre teve poder sobre os mortos, mas algumas correntes defendem que
ele conheceu todos os oruns (céus) e dominou todos os seus mistérios, de forma a
não haver entidade positiva ou negativa que o incomode em suas andanças pelo
além.
É temido por todos os espíritos por possui o dom de converter um espírito em um
ovóide, o qual cola no teto de sua caverna enquanto considerar necessário.
Este orixá cujo nome primeiro é Xapanã, divide-se em Obaluaê, o jovem e curador de
doenças, e Omulu, o velho que dominou todos os segredos dos mortos.
É também conhecido como padroeiro dos pobres, humildes e doentes. Quem pede
com respeito e humildade a Obaluaê, é prontamente atendido.
A febre, a doença (em especial as de pele e as contagiosas), cegueira e surdez,
catapora, varíola e sarampo, são consideradas manifestações deste orixá que
somente age quando existe necessidade de purificar a humanidade.
Ainda todas as dores que sentimos, sem importar a origem, o calor abafado, a
agonia, a ansiedade, a coceira e o mal funcionamento dos órgãos também
evidenciam a sua presença.
Obaluaê é a força da natureza que rege o incômodo de um modo geral.
É protetor dos aleijados, mutilados, doentes mentais e de todos os enfermos.
Enfim é o orixá da misericórdia. Está ligado ao oculto com muita força e muito temos
para desvendar dessa força da natureza.
Invocamos Obaluaê em todos os momentos, principalmente em casos de doenças.

Sincretismo: São Lázaro


Data de culto: 17 de dezembro
Saudação: Atotô (Silêncio, respeito)
Área de atuação: Vida, morte, cura e transformação
Elemento: Terra
Chacra: Básico
Metal: Chumbo
Astro regente: Saturno
Nota musical:
Número: 3
Dia da semana: Segunda-feira (almas)

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Cor da guia: Preto e branco


Cor da vela: Preto e branco
Pedra: Obsediana, ônix
Bebida: Água mineral, vinho tinto, café
Amalá: Feijão preto, pipoca, amendoim torrado e pilado (abadô)
Frutas: Abacaxi, laranja, maracujá, uva preta
Flores: Crisântemo branco, monsenhor branco, dálias escuras
Algumas ervas: Eucalipto, guiné caboclo, folha de bananeira, erva de bicho, velame,
agoniada, manjericão roxo, carobinha do campo, cordão de frade, alfazema, cinco
chagas, barba de velho
domínios: Cemitérios, grutas e praia
Animais: Cachorro, caranguejo e galinha d’angola
Instrumentos: Xaxará (cetro de palha da costa adornado com búzios)

Atabaques

O atabaque é um instrumento musical, consistindo em um cilindro de madeira, tendo


uma das bocas fechada por couro de boi, veado ou bode, podendo ser cônico ou não.
A palavra atabaque vem do árabe “al tabaq” que significa “prato”.
Atualmente é largamente utilizado no Brasil, principalmente nas religiões afro-
brasileiras como a Umbanda e o Candomblé.
Constitui, na verdade, um caminho entre os homens e os Orixás, sendo os toques
como um código de acesso para o mundo espiritual.
Normalmente os atabaques em um terreiro são três, sendo cada um de um tamanho
diferente. O maior é o Rum que emite som grave, o médio é o Rumpi que emite sons
médios e o menor é o Lê, que emite os sons mais agudos. No atabaque Rum fica com
o Curimbeiro chefe, o responsável pela condução dos trabalhos da curimba, no
Rumpi fica um Curimbeiro experiente e no Lê um Curimbeiro iniciante, mas isso não
é uma regra. Em terreiros mais ancestrais e com uma certa exigência se torna assim.
Os atabaques também têm suas obrigações, pois é natural que sejam consagrados
aos Orixás. Portanto, devem ser respeitados como uma manifestação do Orixá em
terra.
Essa configuração pode mudar de terreiro para terreiro de acordo com a doutrina
seguida. Mas uma coisa é comum a todos, o Curimbeiro chefe deve conhecer todas
as cantigas (pontos) da casa, sabendo perfeitamente o que e quando tocar, muitas
vezes tendo autonomia para tocar quando necessário.
É indiscutível que um trabalho de Umbanda com o fundamento do atabaque tem
uma energia totalmente diferente e melhor. O som do tambor auxilia na estabilidade
energética do trabalho e na chegada e partida das entidades.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

O Curimbeiro é um posto sagrado e deve ser muito respeitado pelos filhos de uma
casa, pois é através da concentração e das mãos dele que se propicia um trabalho
com energia mais intensa, favorecendo o trabalho das entidades de luz, dando força
ao descarrego e encaminhamento de entidades obsessoras. Para se considerar um
Curimbeiro não basta saber tocar, tem que se conhecer os fundamentos da casa e da
religião. O Curimbeiro coloca sua energia (força) nos couros e das vibrações dos
couros surgem um som.
Os tambores são milenares, se tratando de Brasil os índios já utilizavam para seus
Deuses, como dança da chuva entre outras tradições indígenas. Se for falar da África
o cultuo aos orixás não seria feito sem as batidas dos tambores.
A responsabilidade de um curimbeiro é tão importante de qualquer pessoa dentro de
um terreiro. Mas um detalhe que vale resoltar é que se uma pessoa que cuida dos
nomes na lista não estiver em um dia bom na gira não irá atrapalhar tanto quanto se
um curimbeiro não tenha tido suas firmezas. Isso não os faz melhore e nem pior do
que ninguém. Cada trabalhador dentro de um tenda tem a sua importância e não
somos nós a julgar qual seria a melhor. Cabe a nós nos dedicarmos ao que nos foi
impostos ou até mesmo ao que escolhemos a fazer.
Os tambores dão por muitas vezes o ritmo dos trabalhos.
Os tambores dão a densidade dos trabalhos.
Para ser um curimbeiro é muito mais do que saber tocar um atabaque ou mesmo ser
um percussionista. Para ser um curimbeiro tem que tocar a curimba com a alma, com
o coração e se entregar ao sagrado.

Ponto cantado

Outra coisa importante são os tipos de toques que se tocam em um atabaque. Cada
tipo de toque libera uma energia diferente, favorecendo um ou outro tipo de
trabalho em um terreiro.
Os tipos de toque são muitos, entre eles os mais conhecidos são o Marcação, Nagô
ou Alujá, Ijexá, Samba de Congo ou Cabula, Barravento, Angola, Congo de Ouro e
Congo Caboclo, entre muitos outros.
Os toques podem ainda estar mais ligados a uma linha de trabalho ou Orixá. Porém
em nossas doutrinas vale mais tocar com a alga e o coração do que ter técnicas de
festivais. Eu mesmo dentro de um único ponto vario entre3 ou 4 toques. O que para
alguns está errado para nossa tenda é fantástico. O mais importante é se entregar de
corpo e alma que a espiritualidade se encarregará de lhe mostrar o caminho.
Não vale de nada saber todos os toques perfeito se o Ogã como gostam de ser
chamados adoram uma conversa paralela, descansam seus braços em cima dos
atabaques e muitos nem a benção dos atabaques pedem.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Os pontos cantados são evocações, uma forma cantada de oração que aproxima o
poder dos Orixás e a força dos guias ou da linha de trabalho.
O canto sempre esteve muito associado com religião, e não é à toa que quase todas
possuem sua manifestação. O mantra hinduísta ou budista, o louvor do muçulmano,
o canto gregoriano dos católicos ou os hinos dos evangélicos. Enfim, as
manifestações musicais sempre se fizeram presentes nas atividades religiosas.
O ser humano canta para atrair a atenção de Deus ou de divindades. São Francisco de
Assis dizia que “quem canta reza duas vezes”.
Na Umbanda temos o ponto cantado como manifestação lírica. Os pontos contam
histórias das entidades ou Orixás, realçam suas qualidades ou simplesmente evocam
o auxílio deles. Não devemos entoar pontos que relatem coisas negativas ou que
destaquem palavras como castigo, morte e medo. Os pontos não devem causar
receio ou estranheza para quem os ouve. Músicas religiosas sempre devem despertar
o melhor das pessoas para que possam se conectar com a espiritualidade.
Para que o ponto cantado cumpra sua função é necessário que a letra seja
condizente com o verdadeiro valor dos Orixás e entidades de luz da nossa sagrada
religião.
Temos no Hino da Umbanda o maior exemplo de evocação de boas energias e
altruísmo. Deixo esse exemplo como referência de qualidade.
Podemos cantar pontos em todos trabalhos espirituais. Mesmo quando queremos
requisitar a presença daquela entidade ou Orixá para o nosso auxílio.
Não existe nenhum problema em se cantar pontos em casa ou no dia a dia, desde
que isto não agrida ninguém. Lembre-se, quando agredimos alguém atraímos
energias indesejadas para perto de nós.
Entretanto, da mesma forma que não recomendo firmar velas para Exu dentro de
casa, também não recomendo que se cante pontos para Exu dentro de casa pelo
mesmo motivo: a energia de Exu é densa e pode abalar pessoas sensíveis
energeticamente.
Cantar os pontos durante os trabalhos demonstra sabedoria, alegria e fé. É a
verdadeira conexão com as forças da Umbanda

Ritos e Fundamentos

Bebida e fumo na Umbanda

Bebida

Certamente esses dois fundamentos estão entre os que mais causam polêmica
quanto à aceitação da Umbanda como religião de luz.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

É, infelizmente, ainda comum se ouvir que “beber e fumar é coisa de espírito


atrasado”. Essa afirmação é uma poderosa munição nas mãos dos opositores da
Umbanda.
Antes de tudo, afirmo que tanto a bebida quanto os produtos derivados do fumo não
são utilizados para o consumo ou prazer das entidades. Mas são sim instrumentos
poderosos de trabalho que favorecem o trabalho da entidade, além de proteger
tanto o consulente quanto o médium.
Durante o tempo de incorporação, e mesmo enquanto está atendendo um
consulente, a entidade se vale muitas vezes da bebida e do fumo, seja bebendo ou
ungindo o consulente, ou simplesmente passando a bebida no consulente. Para o
leigo isto causa muita estranheza, parecendo que este comportamento é
desnecessário ou mesmo um capricho da entidade. E com o fumo não é diferente.
Nada disso. Vamos conceituar para melhor entender.
Com a bebida, a entidade pode descarregar tanto o local de trabalho (ponto da
entidade), quanto o próprio consulente. Pode ainda com a bebida, fixar energias
positivas ou harmoniosas no consulente. Quando oferece a bebida ao consulente,
está proporcionando um descarrego mais profundo que irá favorecer a limpeza da
pessoa atendida.
Por fim, a bebida poderá ser utilizada como elemento desagregador de energias, ou
para o afastamento de obsessores para que os mesmos possam ser removidos.
Também poderá ser utilizada como elemento de fixação de energia. Ou seja, a bebida
utilizada pelas entidades sempre serve de veículo energético.
As bebidas podem ser alcoólicas ou não. Isto depende da capacidade da entidade em
manipular energia e até mesmo da densidade energética do trabalho que irá praticar.

Fumo

Devemos compreender o álcool como substância volátil, e, por isso, favorece a


dissipação de energias mais densas.
De uma forma geral as entidades de energia mais densa utilizam bebidas mais fortes
e entidades de energia mais sutil utilizam bebidas mais suaves, ou mesmo sem
nenhum teor alcoólico.
É natural que as entidades tenham preferência por esta ou aquela bebida. Baianos,
aguardente, cachaça. Marinheiros preferem o rum ou aguardente. Essa escolha irá
variar de acordo com a linha de trabalho, com a falange na qual aquela entidade
trabalha, ou ainda, com a sintonia daquele espírito com as substâncias de
determinada bebida.
Entretanto nada é absoluto. Você poderá encontrar Pretos velhos que trabalhem
com café e pretos-velhos que trabalhem com aguardente ou marinheiros que
trabalhem apenas com água.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Os elementos de fumo poderão ser em forma de charutos, cigarrilhas, cachimbos,


cigarros ou cigarros de palha (palheiros).
O fumo é utilizado pela entidade como um defumador particular. Ao tragar o fumo,
mistura a fumaça com sua própria energia e em seguida sopra ou bafora,
constituindo poderoso elemento de desprendimento de energia ou entidades
negativas, seja no ambiente ou no consulente.
Fora a fumaça exalada, os artigos de fumo têm em comum a brasa sempre acesa e
atiçada. Neste caso a entidade poderá se valer do elemento fogo para queimar e
destruir energias ou entidades negativas, bem como larvas astrais, tanto nos
ambientes como nas pessoas.
Através da brasa também poderá usar o artigo de fumo como um bisturi cirúrgico
para cortar e moldar energias. Ainda poderá usar o fogo atiçado do fumo como
caneta astral, para escrever ou marcar símbolos, tanto no ambiente como nas
pessoas e objetos.

Alerta aos médiuns

Toda e qualquer quantidade utilizada de bebida ou de fumo pela entidade serão


levadas com ela no descarrego final, instantes antes da desincorporação, sem
prejuízo para o corpo físico.
Entretanto, qualquer mistificação ou episódio de animismo do médium, na qual ele
deliberadamente beba ou fume por própria vontade, poderá trazer grandes
prejuízos. Sem tocar no absurdo desses comportamentos (mistificação e animismo),
as quantidades dessas substâncias ingeridas por vontade do médium não serão
levadas embora com a entidade no fim do trabalho. É por este motivo que
infelizmente vemos muitos “médiuns” alcoolizados ao final de certas giras.
Não falte com o respeito para com a sua entidade, nem para com o seu terreiro e
nem mesmo para com a Umbanda. Isso será suficiente para livrá-lo de situações
embaraçosas. Respeito ao Sagrado em primeiro lugar.

A Umbanda sem bebida e sem fumo

Já é de conhecimento geral a existência de terreiros que aboliram o uso da bebida e


do fumo em seus rituais. E está crescendo o número de terreiros que adotam esta
abordagem.
É óbvio que as entidades espirituais não dependem da bebida e do fumo para a
prática da caridade, entretanto esses elementos são facilitadores deste trabalho.
Nosso espírito está em constante evolução e nosso planeta também. A Umbanda não
poderia ficar isenta de transformação e evolução. É natural então, que a religião que

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

mais prega a transformação, também se transforme parta melhor atender as


necessidades desse novo mundo.
O futuro da Umbanda certamente passará pelo abandono do uso da bebida e do
fumo.
Independente disso, já não são poucos os médiuns que se abstém desses elementos.
Uns por já não consumirem esses artigos em sua vida, não veem cabimento em
permitir que suas entidades o façam. Eles estão corretos, o corpo físico que
ocupamos nos foi dado como empréstimo para vivermos esta experiência na carne.
Se você não bebe e não fuma, provavelmente tenha aversão a estes produtos, não
existe o porquê de permitir que sua entidade se utilize deles.
Outros ainda já tiveram problemas com bebidas alcoólicas ou outras substâncias
ilícitas e, por vontade própria ou da família, não permitem que suas entidades façam
uso de bebidas para evitar situações indesejadas.
Em ambos os casos devemos respeitar a opinião e a postura desses irmãos.
O que se pode fazer é oferecer tanto a bebida quanto o fumo em um local
apropriado, para que, se eles necessitarem das substâncias neles contidos, possam
acessar essas ofertas sem nenhum problema.
Muitos terreiros que abriram mão do uso desse fundamento, permitem que as
entidades utilizem água e varetas de incenso para auxiliar o trabalho dos guias.
Na minha modesta opinião, a bebida e o fumo podem facilitar o trabalho dos
espíritos incorporados e principalmente dos médiuns. Em nossa tenda fazemos uso
de fumos e bebidas moderadamente. Até que a espiritualidade não nos peça mais o
uso dessas ferramentas de trabalho.

Velas

A vela é um dos mais importantes fundamentos da Umbanda e é utilizada há


milhares de anos. Quando não a vela, o fogo sagrado já era utilizados por muitos
povos da antiguidade.
O fundamento do fogo sagrado era trazer luz às trevas da ignorância e a sua chama,
sempre ascendendo ao céu, criava um elo de ligação entre o divino e o mundano.
O conceito da vela carrega esse mesmo fundamento, mas ainda é mais completo.
A vela devidamente dedicada registra em seu interior nossos pedidos, desejos, e fixa
nossa própria energia como uma carta escrita de próprio punho.
A vela firmada (acesa), também simboliza três dos quatro elementos básicos de
nosso planeta: a terra (parafina), o fogo (chama) e o ar (fumaça desprendida). Por
não conter em si mesmo água, é por este motivo que sempre devemos colocar um
pouco de água próximo de nossas velas, para simbolizar o quarto elementos. Em suas
orações sempre coloque um copo de água para Santas Almas Benditas. Com todos os

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

elementos básicos presentes, acrescidos de nossos pedidos e energia, tudo pode ser
criado, transformado e alcançado.

Como firmar uma vela?

- Segure a vela em sua mão com certa firmeza;


- Dedique a vela para o Orixá ou entidade desejada. Uma vez dedicada, só a entidade
poderá ter acesso à energia imantada na vela;
- Acenda o pavio;
- Firme a vela fixando-a em pé no local desejado. Quanto a derreter o fundo da vela
em outra chama, isso facilita bastante a firmeza.
- Coloque um copo com água ao lado da vela. Mesmo que sejam várias velas;
- Faça seus pedidos e/ou agradecimentos. Faça a sua “encomenda”.
Exemplo de oração:
“Saravá Ogum, Ogunhê meu pai. Eu dedico essa vela a ti meu Pai, para que me de
proteção nesse dia que se inicia. Proteja minha família, proteja meus amigos para
que nenhum mal nos alcance. Que a chama dessa vela nos traga luz em nossa
estrada, pois sem a luz não suportaremos a escuridão. Peço sua benção meu Pai
Ogum. Que assim seja e assim será . Ogunhê meu Pai.”.
O mesmo procedimento vale para as velas de 7 dias, entretanto as velas de 7 dias
deverão receber orações diárias até o seu término.

IMPORTANTE

De nada adianta a firmeza de velas se você não estiver em equilíbrio. Firmar velas
também é um momento de reconexão com o Sagrado. Se você estiver bem e
equilibrado, sua energia será mais pura e favorável ao pedido que plasmou na vela.
Se estiver mal ou desequilibrado, plasmará uma energia negativa e viciada, e acabará
por trazer mais problemas a você, ou tornará mais lento o processo de alcançar a sua
meta.
Por fim, lembre-se, só acendemos velas quando a energia elétrica para. Por isso na
Umbanda firmamos velas, este conceito é totalmente diferente.

Posso firmar velas dentro de casa?


Sim. Desde que tome cuidado para não deixar produtos inflamáveis próximos às suas
velas. Muito cuidado com papéis, plásticos, madeira, tecidos ou qualquer outro
produto que queime fácil, verifique sempre isso para evitar dissabores. Porque
depois vai falar que estava com mironga.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

O que fazer com os restos de velas e com a água no final?


Os restos de velas deverão ser jogados no lixo. A água poderá ser jogada na terra ou
mesmo em uma pia, debaixo de água corrente.

A MENSAGEM DAS VELAS

Não posso firmar velas em casa. O que faço?

Procure locais sagrados para firmar suas velas, como o próprio terreiro, quando
permitido, ou igrejas e capelas. Cemitério só para quem tem cabeça muito firme.
Se mesmo assim não for possível, fique somente com as orações de todo o seu
coração. Uma oração bem feita e de coração pode ter o mesmo valor de uma vela.

O tamanho ou a quantidade de velas influi?

Não! O que importa verdadeiramente não é o tamanho ou a quantidade de velas que


você firma. O que importa é a energia, o coração e a dedicação no ato.

Tenho que firmar velas coloridas ou posso firmar só brancas?

De uma forma geral, a cor da vela não influi tanto. Podemos firmar velas brancas
para todos os Orixás, guias e protetores.
O que jamais pode acontecer é firmar velas pretas para Oxalá, por exemplo. A cor
branca é bem vinda e as cores claras também.
Entretanto, quando firmamos muitas velas, para vários Orixás e guias, firmar cada um
na sua cor ajudará você a identificar qual vela está te mandando uma mensagem.
Caso a vela “chore”, isto tem um significado e precisamos identificar de quem vem a
mensagem. Se firmarmos apenas velas brancas, poderemos nos confundir e
interpretar de maneira errada a mensagem.
Quando firmamos uma vela, a forma como ela queima pode nos dizer muitas coisas.

Velas tipo palito

Quando a vela queima limpinha, sem chorar, ou deixando uma mínima sobra de
parafina, significa que tudo está bem.
Quando ela chora, significa que algo não está bem. Podem existir energias contrárias
ao seu pedido ou que existem dificuldades para que o seu pedido seja atendido.
Quanto mais sobra de parafina, mais dificuldades. Por isso é importante sabermos
para quem firmamos a vela.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

A sobra da parafina pode criar imagens que podem lhe indicar a fonte ou o que está
acontecendo. É necessário aprender a identificar cada caso. Não existe um livro de
instruções para isso, pois a gama de imagens possíveis é infinita. É preciso estar
atento. Como sempre sou intuído pelo meu querido e amado Pai Joaquim da Guiné
“Preste atenção nos pequenos detalhes, pois neles que estão as grandes lições”.
A chama da vela muito alta pode significar que aquele Orixá ou entidade está ativo
naquele momento sobre sua vida. A chama vacilante, subindo e descendo, ou
querendo apagar e retornando, pode indicar que você não foi claro ao fazer seu
pedido. Chama bipartida pode indicar que seu desejo será atendido em duas etapas.
Vela que apaga constantemente pode significar falta de equilíbrio de quem firmou a
vela, dúvida, falta de fé, ou que a entidade não quer receber o seu pedido. Neste
caso, respire e procure relaxar, alcance um melhor equilíbrio e tente firmar uma nova
vela.
Vela que queima muito rápido indica que a entidade está ativa e consumindo muita
energia.
Sempre que uma vela chorar ou queimar muito rápido, é necessário que se firme
uma nova vela, para continuar alimentando as entidades com a nossa energia, pois
ela é a matéria prima utilizada pelo plano espiritual. Chorou novamente? Firme outra
após o término desta. Se depois de três velas o choro persistir, uma oferta deverá ser
feita para aquela entidade ou Orixá.
Sempre lembramos que as velas tem qualidades e são passivas de falhas na
produção. Não podemos deixar de levar em conta também que o local da firmeza das
velas tem sua importância por se firmar uma vela em um local de muito vento a
probabilidade desta vela chorar é grande. Agora um filho firma 3 velas compradas no
mesmo local sendo que duas terminam perfeitamente e apenas uma saiu fora no
normal, preste a atenção nos detalhes.

Vela de 7 dias

Vela de anjo da guarda

A vela de 7 dias deverá ser firmada preferencialmente em um pires ou copo de vidro,


pois qualquer energia indesejada será descarregada no vidro ou louça, fazendo com
que se quebre, findando a demanda.
Este tipo de vela deverá ser firmada como as outras, porém deverá receber orações
diariamente para sua reafirmação.
Dedica-se a vela, coloca-se no pires, prato ou copo de vela, coloca-se o copo com
água e faz-se a encomenda. Não é necessário retirar-se o celofane, apenas aparar as
sobras para evitar que peguem fogo indesejadamente. O celofane fará com que a
152
A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

vela não escorra, sendo assim terá a durabilidade de 7 dias caso tudo esteja bem em
sua espiritualidade.
Caso a vela de 7 dias durar 7 ou mesmo 6 dias, tudo bem, está tudo normal. Se durar
menos de 6 dias é sinal de que algo não está bem e você poderá, inclusive, firmar
uma vela palito para aquela entidade para confirmar este pressuposto.
Caso a vela se incendeie ou quebre o pires ou copo de vela, isto significa que uma
demanda foi quebrada. Firme uma nova vela de 7 dias e observe.
Casos repetidos de velas de 7 dias que duram pouco ou que se incendeiam, tem
muita sobra de parafina ou que quebram seus invólucros protetores, pode significar
demanda pesada. Nestes casos recomendo que uma firmeza com velas palito seja
feita para todos os Orixás, no sentido de determinar qual área está sendo mais
atacada, e assim prover oferta para aquele Orixá.
Uma consulta com entidades no terreiro pode ser necessária e de grande ajuda. Se
você for médium, lembre-se de que nem sempre estamos com nossa energia em
plena força, e que um dentista não extrai o próprio dente, nem um cirurgião opera a
si mesmo. Muitas vezes precisamos de humildade para falar com o pai-de-santo ou
um outro médium de nossa confiança.
A vela de anjo da guarda é a mais importante defesa do filho de fé.
A função de nosso anjo da guarda é proteger, garantir que possamos cumprir nossa
missão e organizar o trabalho dos outros guias e protetores.

Sal Grosso

Constitui um elemento de neutralização energética. O uso do sal grosso ajuda a


captar e destruir energias negativas. O banho de sal grosso pode ser tão poderoso
que pode dissipar até mesmo energias positivas.
É importante explicar que o sal grosso mais indicado para o uso energético é aquele
sem adição de iodo, que é vendido nas casas de artigos religiosos. Na falta deste, o
sal grosso para churrasco, mesmo não sendo o melhor, também poderá ser utilizado.

Copo de água com sal grosso

Pode ser utilizado sem contra indicações, próximo a passagens, atrás de portas de
entrada principal ou dos quartos, e até mesmo embaixo de nossas camas.
Atrai e dissipa energias negativas impedindo que elas se fixem em nós ou nos
ambientes.
- pegue um copo de vidro comum
- complete com 1/3 de sal grosso
- adicione água até atingir 2/3 do espaço do copo (1/3 até a borda ficará vazio)
- coloque no local desejado

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Observe diariamente o comportamento do copo. Quando uma grande energia


negativa for absorvida, ele “ferverá”, como se tivéssemos adicionado um sal de fruta
na água. Quando isto ocorrer, retire o copo, jogue seu conteúdo sobre água corrente.
Lave o copo e repita esta operação quantas vezes desejar.

Na entrada de casa

É extremamente recomendado que deixemos um copo de água com um pouco de sal


grosso na entrada de nossas casas. Não somente para cortar fluxos negativos de
energia, mas principalmente para utilizarmos como meio de descarrego antes de
entrarmos em casa, com o objetivo de não entrarmos com companhias ou energias
indesejadas.
Muitas vezes percebemos que no final de um dia estamos carregados negativamente.
Essas cargas podem ser apenas energias ou até mesmo espíritos sofredores e
obsessores, que se acoplaram em nós de alguma forma.
Muitas vezes por um dia pesado no serviço, ou na visita de alguém extremamente
negativa, quando vamos a hospitais e funerais; nesses dias tenha certeza de que, por
mais otimistas que sejamos, passamos a carregar algo indesejado.
Então deixe um copo de água com sal grosso na entrada de sua casa. Pode ser na
garagem ou jardim, mas em local que não precisemos entrar efetivamente dentro de
nossa casa para pegá-lo.
Ao chegar em casa, pegue o copo de água com sal, vá até a calçada e, de costas para
a rua, jogue esta água para trás com a mão direita, por cima do ombro esquerdo
saudando: “Laroiê Exu”. Neste momento, mentalize que Exu está removendo toda a
carga indesejada.
Entre em casa sem olhar para trás e bata os pés no chão antes de entrar. Isso vai
fazer com que você não coloque dentro da sua casa algo que você não quer.

Como decoração

Uma forma mais elegante de se fazer uma mironga parecida é utilizando um vaso
transparente, coloca-se sal grosso até onde desejar e decora-se com três ou sete
pimentas vermelhas. Neste caso não utilizamos água e colocamos o vaso à vista das
pessoas.

O banho de sal grosso

Utilizado popularmente até por quem não é umbandista, o banho de sal grosso é
muito popular para remover as cargas negativas.
Como fazer um banho com sal grosso

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

- Em uma caneca, coloque sete punhadinhos de sal grosso;


- Adicione água morna ou a própria água quente do chuveiro e dissolva o máximo do
sal.
- Após o banho normal de higiene, jogue a solução no corpo, do pescoço para baixo,
dando preferência para a área central do corpo, tanto na parte de trás quanto da
frente. É importante também banhar os ombros.
Jamais jogue o banho de sal no alto da sua cabeça!!!
Por fim, o banho de sal grosso dissipa todas as energias, tanto positivas quanto
negativas, e por isso lhe deixa muito exposto. É necessário complementar sempre
com outro banho, seja de açúcar ou, preferencialmente, de ervas.
Outro método que eu utilizo e levar o saquinho do sal grosso para o chuveiro e ao
final de se banhar, pegue punhados de sal grosso e se lave como fosse um sabonete,
eu sempre puxo um ponto de descarrego. Lembrando que ao final de um banho de
sal grosso um banho de ervas para energizar é de extrema importância.

O banho de açúcar

O banho de açúcar ajuda a recompor nossa energia e a defesa de nosso perispírito


(para quem faltou na aula perispírito fica entre o espírito e nosso corpo), permitindo
que rapidamente uma nova proteção energética se forme a partir da nossa energia
irradiada.
Deverá ser tomado após o banho de sal grosso, e preparado da mesma forma que o
banho de sal grosso, colocando-se apenas açúcar no lugar do sal. Pode-se utilizar
tanto o açúcar cristal, mascavo ou o refinado.
O banho de açúcar não tem o mesmo efeito de um banho de ervas, mas é uma
excelente solução na falta delas. Muitos ainda defendem que o banho de açúcar
ajuda a “adoçar” a sua vida, a sua energia e até a relação com seu anjo de guarda.

Uso de ervas

Defumação

A defumação é de conhecimento da humanidade as qualidades das ervas, sendo


usadas há milênios, tanto para funções rituais como para uso medicinal.
Na Umbanda, as ervas constituem importante fundamento para defumação,
descarrego, energização e consagração.
Já sabemos que os Orixás possuem ervas específicas conforme suas atribuições.
Podemos dizer que as ervas de um Orixá carregam seu axé. Assim sendo, quando
desejamos colocar uma pessoa ou objeto na força de determinado Orixá, podemos
fazê-lo através do sumo das ervas em forma de banhos.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Em consagrações de objetos, utilizamos velas, bebidas e artigos de fumo, mas usar o


sumo das ervas daquele Orixá constitui assentar seu poder sobre tal objeto,
transformando-o em um talismã de emanação de energia.
Por tudo isto, não existe ritual na Umbanda que não dependa do uso de ervas, seja
para o trabalho das entidades, para a defumação, batismo, ou qualquer outro
fundamento ou sacramento de nossa religião.
A defumação é fundamento de Umbanda e constitui poderoso elemento
desagregador energético e espiritual.
No terreiro a defumação é obrigatória, mas o filho de fé também pode defumar sua
residência ou ambiente de trabalho, como queira ou possa.
Veja como é simples fazer uma defumação em sua casa:
• Prepare o carvão em um incensário, que pode ser feito em casa ou encontrado nas
casas de artigos religiosos;
• Acenda o carvão e deixe queimar até virar um braseiro;
• Coloque as ervam secas ou mesmo frescas no incensário;
• Abra todas as portas e janelas;
• Passe o defumador dos fundos para frente da casa, cantando um ponto de
defumação;
• Ao sair pela porta da frente, defume inclusive a calçada. Em seguida retorne e
defume todos que estiverem na casa naquele momento;
• Deixe o incensário na porta ou portão, do lado de dentro, à esquerda de quem
entra. Depois que a brasa se apagar, os resíduos deverão ser jogados diretamente na
terra.
• Mantenha as portas e janelas abertas até que a fumaça se dissipe.

Observação:

Antes de qualquer defumação que se faça. Firme uma vela ao seu anjo da guarda ou
entidade de sua preferência e peça para que lhe acompanhe na limpeza de onde será
defumado.

Banho de ervas

As ervas mais comuns utilizadas para defumação são:


Alecrim, arruda, alfazema, guiné, anis estrelado, colônia, eucalipto (folha longa),
cravo-da-índia, levante, louro, madressilva, manjericão, rosa branca, sândalo e casca
de alho.
De preferência para os banhos as ervas deverão ser frescas e se possível colhidas
pela própria pessoa que for tomar obanho. Deverão sempre ser usadas em

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

quantidade ímpar de ervas. Ou seja, 1, 3, 5, 7, ou no máximo 9 tipo de ervas


diferentes.
Como já dissemos, as ervas são fundamentos importantes para a reconexão com os
Orixás, que vem a ser a energia da natureza.
Ao prepararmos um banho de ervas, retiramos a seiva, a essência vital da planta, que
é a energia que desejamos colocar sobre nós.
Cada Orixá possui um conjunto de ervas que auxilia a se conectar com o poder
específico daquela energia.
Sendo assim, se desejamos aumentar nossa disposição para o trabalho, nossa força
ou criatividade, tomamos um banho com ervas de Ogum. Para nos entendermos
melhor com nossa família, usamos as ervas de Iemanjá. Para trazer concentração e
conhecimento, Oxóssi. Para prosperidade, Oxum e Xangô. E assim por diante.

Fazendo um banho com ervas frescas

As ervas frescas sempre serão mais desejadas que as secas. Ervas frescas possuem
mais seiva e por isso mais propriedades da natureza.
• Separe a erva ou as ervas que irá usar no banho;
• Em uma caneca aqueça água até a temperatura que seja suportada pela pele (de
morna para quente);
• Lave bem suas mãos e braços até os cotovelos;
• Coloque as ervas na água e macere com as próprias mãos;
• Durante o processo mentalize a energia ou Orixá que deseja se conectar; Pode
também mentalizar o objetivo que deseja alcançar. Eu costumo cantar um ponto que
fui intuído sempre que faço meus banhos. Colocarei a disposição no final desse
tópico;
• Depois de alguns minutos neste processo, cubra o preparado e deixe descansar por
mais alguns minutos;
• Coe o preparado e depois do banho de higiene, jogue a solução do pescoço para
baixo, dando preferência par as áreas centrais do corpo, tanto na frente quanto na
parte de trás.

IMPORTANTE

Mais uma vez, o equilíbrio energético é imprescindível. Energias negativas podem


alterar a função essencial das ervas que maceramos. Caso necessário, relaxe, faça
uma oração ou medite por alguns minutos antes de iniciar o processo.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Fazendo um banho com ervas secas

As ervas secas são mais práticas e sabemos que no mundo de hoje é muito difícil
termos acesso a canteiros de ervas. Por isso, são as mais utilizadas pelos
umbandistas.
• Separe a erva ou as ervas que irá usar no banho;
• Em uma caneca aqueça água, mas não deixe ferver. Apague o fogo antes;
• Coloque as ervas na água e misture com uma colher;
Durante o processo mentalize a energia ou Orixá que deseja se conectar; pode
também mentalizar o objetivo que deseja alcançar. Pode ser aplicado o mesmo
processo do ponto cantado;
• Cubra a caneca com uma tampa ou guardanapo para abafar o preparado;
• Coe o preparado e depois do banho de higiene, jogue a solução do pescoço para
baixo, dando preferência para as áreas centrais do corpo, tanto na frente quanto na
parte de trás.

IMPORTANTE

No caso de ervas secas, o equilíbrio pouco influi na preparação do banho.


As ervas que sobram depois de coadas, deverão ser devolvidas à terra sempre que
possível. Em último caso, jogue no lixo

Canela de Velho – Tira negatividade de obsessores.

Colônia – Descarrega e acalma.

Levante – Readquirir energia, levanta e abre caminho. Junto com o alecrim traz
clientes e dinheiro.

Macassá – Tem um perfume forte e bom. Dá uma boa levantada. A pessoa raciocina
melhor, encontra o caminho, relaxa, descarrega e fortalece a ligação com o Anjo de
Guarda e abre os caminhos amorosos. Boa também para doentes.

Manjericão – Tira mau olhado e descarrega. Excelente para crianças e adultos. Para
crianças usar somente o manjericão e a rosa branca.

Oriri – Acalma, tira perturbações e traz energia no banho de ervas. Com problemas
de nervos colocar a folha úmida na cabeça. Serve para dormir com ela.

Alecrim – Prosperidade e abertura dos caminhos.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Alfazema – Acalma, tranquiliza e relaxa.

Abre Caminho – Para questão financeira. Prosperidade. Usar do pescoço para baixo.
Da cabeça aos pés só uma vez ou outra.

Erva doce, cravo, canela e noz moscada – Prosperidade.

Rosa Branca – Descarrega, tira energia de mau olhado e quebranto. Boa para
crianças e adultos.

Aroeira – Tira toda negatividade. Descarrega. Usar do pescoço para baixo.

Barba de Velho – Tira energia negativa de obsessor. Relaxa e dá energia. A erva


Canela de Velho tem a mesma função, só que a Canela de Velho é mais forte.

Boldo e Saião – Descarrega e dá calma.

Espada de Ogum e Yansã – Quando a pessoa estiver com tudo fechado, desorientada
e negativa. Para pessoa muito negativa. Cortar em sete pedaços uma folha e
ferver. Juntar um pouco de sal grosso. Usar do pescoço para baixo.

Ervas e suas indicações:

Negócios: benjoim, canela, cravos da índia, louro.

Adivinhação: alecrim, anis estrelado, artemísia, canela, freixo, louro, noz-moscada,


rosa, sândalo.

Fertilidade: carvalho, girassol, mandrágora, noz, papoula, pinho, romã, rosa.

Cura: alecrim, arruda, canela, cardo bento, cravo, eucalipto, freixo, hortelã, lavanda,
maçã, mirra, naciso, rosa, sálvia, violeta.
Amor: alecrim, canela, cominho, coentro, jasmim, laranja, lavanda, limão, lírio,
macassá, manjericão, verbena, violeta.

Dinheiro: amêndoa, artemísia, brionia, camomila, cravo, jasmim, madressilva,


manjericão, menta, trigo.

Proteção: alecrim, angélica, arruda, boca de leão, artemísia, erva doce, freixo, louro,
peônia, verbena, visgo.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Purificação: açafrão, alfazema, alecrim, aniz, arruda, hortelã, lavanda, limão, louro,
mirra, olíbano, sabugueiro, sândalo, sangue de dragão.

Amaci

A palavra amaci vem de amaciar, tornar receptivo.


O Amaci é o líquido mais sagrado e importante da Umbanda. Pode ser preparado
apenas para um Orixá, ou para todos os Orixás, como é mais costumeiramente
conhecido.
O preparo do Amaci é um ato extremamente sagrado e só pode ser elaborado por
pessoa devidamente capacitada, ou seja, sacerdote ou sacerdotisa. Pessoas doentes,
desequilibradas mental ou emocionalmente, ou que não incorporam há muito
tempo, ou mesmo sacerdotes que se encontrem afastados de sua função há bastante
tempo, não podem elaborar Amaci.
Os ingredientes que serão utilizados deverão ser criteriosamente selecionados e,
quando possível, retirados do domínio do Orixá, sendo que só se utiliza flores e ervas
frescas. Somente as melhores e mais tenras flores e folhas poderão ser usadas no
ritual. A água também deverá ser de cachoeira, mina, regato ou de chuva, desde que
seja garantida a pureza da água. Muitas casas ainda utilizam todos os tipos de água,
inclusive água do mar. As águas sempre deverão ser frias, o Amaci jamais deverá ser
cozido.
O sacerdote deverá estar com os preceitos em dia e poderá estar com a corrente de
médiuns firmada ou não. Os cambones podem e devem auxiliar o sacerdote. Porém,
todos deverão estar de branco e com os preceitos rigorosamente em dia.
Os ingredientes selecionados deverão ser lavados com água sagrada antes do início
do ritual, e deverão ser, um a um, colocados em ordem para seu uso. Depois de
iniciado o ritual, o sacerdote começará por firmar uma vela de 7 dias para Oxalá e,
em uma bacia de ágata e com água fria, deverá macerar as ervas com suas mãos ao
som de pontos ou orações referentes àquele Orixá. Depois firmará uma vela para
Iemanjá e pedirá os elementos de Iemanjá, que também serão macerados ao som de
pontos e orações. E assim o fará sucessivamente, até chegar ao último Orixá.
Após o preparo, o Amaci é colocado em um quartilhão de louça e recolhido para
onde deverá ficar iluminado por velas dos Orixás, por 7 dias, para completar o
preparo. Após esse prazo ele será coado, para que possa ser utilizado.
Existe Amaci de apenas um Orixá. Normalmente as casas que se valem desse
fundamento utilizam-no como líquido consagrador daquele Orixá. Mesmo que seja
para um único Orixá, é necessário acrescentar as folhas e ervas de Oxalá, acrescido
das folhas e ervas do Orixá desejado.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Não existe uma receita pronta para se fazer um Amaci, cada casa poderá usar
ingredientes específicos, como o curiador de cada Orixá, por exemplo. Mas em
qualquer casa é o ritual mais sagrado que existe.
O uso mais conhecido do Amaci é como banho lustral (de purificação), lavando-se a
cabeça dos médiuns e filhos de fé. A lavagem somente poderá ser feita por sacerdote
e o Amaci jamais deverá ser diluído. Após receber a lavagem, o filho deverá
permanecer 24 horas sem lavar a cabeça, em silêncio e em relaxamento, para melhor
absorver as energias do banho.
É utilizado para:
• Batismos (iniciação do filho de fé);
• Remoção de energias negativas e assentamento do poder dos Orixás;
• Para firmar entidades (melhorar a mediunidade) de médiuns em desenvolvimento;
• Para fortalecimento do chacra coronário (por onde a espiritualidade se comunica);
• Fortalecimento do filho de fé com seu Orixá de frente e Juntó.

Nas casas onde é fundamento, uma lavagem de cabeça ou lavagem de coroa é


efetuada anualmente nos filhos de fé.
Outra qualidade de Amaci é o natural do domínio do Orixá. Banho de cachoeira é
Amaci natural de Oxum, banho de mar, Amaci de Iemanjá. Claro, desde que seja feito
de forma sagrada e ritual.
Não resta dúvida de que o Amaci restaura e fortalece a perfeita comunicação com o
plano espiritual. Por este motivo, muitos consideram o Amaci como um dos
sacramentos da Umbanda.

O estalar de dedos

Tal qual o bater de palmas, o estalar de dedos surgiu, em primeiro lugar, como
acompanhamento e marcação rítmica, mas é extremamente comum observarmos as
entidades estalarem os dedos durante um atendimento.
Não importa o momento do atendimento, pode acontecer durante o descarrego ou
mesmo na energização do consulente.
A explicação é muito simples, o estalar de dedos é uma forma de concentração de
energia pelas entidades, concentrando a energia na mão ou nos dedos do aparelho
para depois estalar esses dedos. Isso provoca algo como uma pequena explosão.
Essa pequena explosão de energia pode ser usada como fator desagregador de
negatividade e até para energização positiva.
Alguns defendem que a ponta dos nossos dedos possui pequenos chacras por onde a
energia pode ser canalizada pela entidade, e isso é verdade. As entidades possuem
conhecimentos que não temos e utilizam desses artifícios, assim como toda a rede
energética do corpo do médium, para potencializar os atendimentos.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

O estalar de dedos pode ainda ser utilizado pelo filho de fé desincorporado, sendo
necessário antes estar com as energias equilibradas, para somente depois utilizar o
estalar de dedos. Poderá fazê-lo para aplicar um passe desincorporado, ou até
mesmo como auto aplicação, com o intuito de remover energias da mente ou de
partes do seu corpo.
Podemos sim utilizar esse fundamento desincorporados e inclusive já o fazemos.
Quem nunca, ao tentar se lembrar de alguma coisa, estalou os dedos para forçar a
lembrança? E por que isso normalmente dá certo?
Pelo simples motivo de que ao estalar os dedos, movimenta-se energia e isso altera
as ondas psíquicas colaborando com a recordação daquilo que se deseja.

Significado dos números na Umbanda

É de curiosidade de muitos filhos de fé o significado dos números que são utilizados


na Umbanda. Qual o significado desses números? Para saciar a curiosidade do leitor,
apresentamos o significado dos principais números sendo do 0 ao 10.

Número 0 (Zero)

O vazio de onde tudo se originou. O circulo que contém toda a criação. Simboliza
tanto a nulidade da ignorância quanto o vazio de uma consciência plena, o nirvana
dos iluminados. O zero é onde o humano encontra o divino depois de sucessivas e
cíclicas passagens (reencarnações). Seu símbolo é um círculo vazio.

Número 1

O um pode criar tudo, pois todos os outros números derivam dele. Conhecido como
o número de Deus e de tudo o que é único, como a personalidade e o espírito. Traz
coragem, confiança e independência. Movimenta as energias, tirando-as do plano
mental e realizando no mundo físico. Tanto o ponto quanto um ponto dentro de um
círculo representam o número 1.

Número 2

Número da dualidade, da polaridade e do equilíbrio. Sempre associado às forças


opostas como bem e mal, amor e guerra, masculino e feminino, e material e
espiritual, representa a harmonia entre esses opostos. Pois apesar de contrários, são
complementares. Não haveria luz sem escuridão. Opostos que se atraem e se
complementam. Relacionado também à introspecção, ao mergulhar dentro de si
mesmo em busca da escolha entre dois caminhos. É o número dos sensitivos da

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

intuição. São símbolos deste número o círculo cortado ao meio com uma metade
branca e a outra preta, a linha (que possui duas pontas) ou ainda o Yin-Yang.

Número 3

A manifestação do poder de Deus na Terra. A união entre o masculino (1) e o


feminino (2), chegando a totalidade (Deus). Sempre foi extremamente utilizado pelas
trindades das maiores civilizações como Brahma, Vishnu e Shiva na Índia, Osíris, Ísis e
Hórus no Egito, ou ainda o Pai, Filho e Espírito Santo cristão. Sua representação tem
como símbolo o triângulo de lados iguais.

Número 4

O construtor e regulador da realidade. Tudo no mundo físico é organizado a partir do


número 4. Quatro estações do ano, quatro pontos cardeais, e quatro também são os
elementos que formam o mundo físico: água, terra, fogo e ar. Representa o mundo
concreto, a criação pronta. É a base da pirâmide, a estabilidade e o conservadorismo.
Denota construção e concretização, mas também dureza e limitação. É representado
pelo quadrado.

Número 5

O pentagrama. A introdução do espírito na matéria bruta do quatro. Insere


movimento, inspiração e ação criativa onde antes só havia massa e volume. É o
número do homem e sua busca por Deus. A transição obrigatória, o meio do
caminho.

Número 6

O hexágono (selo de Salomão). O número da perfeição manifesta, sua sexta parte (1),
mais sua terça parte (2), mais sua metade (3), somados, resultam nele mesmo, e é o
único número simples em que isso acontece. Simboliza a união do homem com Deus
e com a comunidade terrena, outros homens e natureza. Representa a harmonia, o
equilíbrio e a conciliação. Está ligado à verdade e à justiça. A estrela de seis pontas é
considerada por muitos como o símbolo da Umbanda.

Número 7

O número mais forte e mais utilizado na Umbanda. Representa a união dos


antagônicos 3 (manifestação de Deus, espiritual) e o 4 (mundo físico, material). Pode

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

ser simbolizado por um triângulo em cima de um quadrado. Muitos gostam de


interpretar o 7 como a vitória do espiritual sobre o material. No passado era o
número ligado à perfeição. Representa ainda a grande espiritualidade, busca pela paz
e pelas respostas não lógicas, a reflexão que leva à sabedoria. Simboliza a totalidade
do Universo em constante transformação e evolução. Pode ainda ser simbolizado por
uma estrela de 7 pontas.

Número 8

A harmonia das coisas. A sua forma é a de dois círculos que se equilibram


perfeitamente, por isso está associado a lei do Karma, que é a reguladora da
evolução. Também considerado o número do infinito, representando o
renascimento, a regeneração, a vitória pessoal. Pode ser também interpretado como
duas vezes o número 4 (mundo físico), por essa ótica pode trazer grande
enriquecimento material, mas também pode trazer grandes perdas pela distância do
espiritual. O oito é um número que requer muito equilíbrio. Seus símbolos são a
estrela de 8 pontas (dois quadrados sobrepostos e trançados), dois círculos unidos
um sobre o outro, ou ainda a lemniscata (oito deitado).

Número 9

Está associado ao altruísmo, à fraternidade e à máxima espiritualidade alcançada por


um Homem. Simboliza a compreensão, a realização, a universalidade, a abnegação, a
compaixão. Depois de ultrapassar seu ego, quando o Homem é capaz do amor
universal, incondicional, por tudo e por todos. Representa a sabedoria adquirida e o
poder espiritual, pois contém a experiência de todos os números anteriores. É o
auge, a plenitude espiritual, o encontro com a totalidade do ser. Entre os iorubás, são
nove os destinos possíveis de um espírito após o desencarne. Muitos se referem a
este número como o número de Jesus. É representado pela estrela de nove pontas.

Número 10

A criação (o homem, o zero) se encontra com Deus (um). O homem volta ao seu
estado de pureza divina. Unido novamente com o sagrado ele vê a vida em totalidade
e não mais separada por partes. Percebe-se como co-criador da realidade, onde um
novo ciclo pode e deve se iniciar. O dez é o um que passou por todos os outros
números (consciências) e elevou-se. Número ligado à evolução proporcionada pela
reencarnação. Também ligado a Oxalá

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Oferendas

Tal e qual a bebida e o fumo, as oferendas constituem arma nas mãos dos opositores
da Umbanda.
Muitos acreditam mesmo que os Orixás e guias bebam e comam as ofertas que lhe
são prestadas. Isso é um erro comum e, infelizmente, muitos umbandistas acreditam,
nisso.
Em primeiro lugar as ofertas são apenas meios de concentração de energia que o
filho de fé utiliza para se comunicar com os Orixás e guias. Esta energização poderá
ser para agradecimento ou para um pedido, ou simplesmente para se sintonizar
melhor com aquela fração do poder de Deus. Essa energia é absorvida pela
espiritualidade para culminar na benção daquele filho.
Independente do que vá se oferecer, é importante ter em mente que estas
recomendações não são obrigatórias. Você poderá oferecer um inhame a Oxalá ou
mesmo uma cerveja para Oxum. Se o fizer com o sentimento correto será aceito. O
melhor Pai-de-Santo não é aquele que faz um ebó (oferta) gigantesco, mas aquele
que alcança o mesmo resultado com uma vela branca e um copo d’água.
É claro que temos tradições e costumes na Umbanda, e segui-los mostra grande
respeito e amor pela espiritualidade e pela religião. Entretanto, não devemos ficar
com a visão estreita sobre esse assunto. Deixe que sua intuição o oriente sempre.
Retomando o assunto do tópico, as oferendas podem ser voluntárias ou a pedido das
entidades e mesmo do Pai ou Mãe-de-Santo.
Uma oferta poderá ser feita no terreiro, no domínio do Orixá, ou mesmo na casa do
filho de fé. Poderá ser grandiosa ou simples como a nossa religião, entretanto, assim
como as velas, é necessário estar em equilíbrio para se prestar uma oferenda.
Existe um conceito que diz que o Orixá ou guia recolherá a energia contida na
oferenda e a multiplicará milhares de vezes, caso merecido, para conceder o pedido
do filho de fé. Então, é extremamente recomendado que você esteja com os
preceitos em dia e com a vibração energética alta e positiva. Além dos objetos e
comidas que serão ofertados, a sua energia é a arte mais importante da oferta.
Nesse estado de espírito, é importante lembrar que a oferta se inicia desde a compra
dos elementos até na sua preparação. Arriar a oferenda é somente o ponto mais alto
e de finalização de uma oferta. Sempre que possível, escolher os elementos de
melhor qualidade para a oferta e não necessariamente os mais caros. Em seguida não
se deve esquecer de lavar e descarregar objetos como copos, vasos, alguidares, para
que possam receber as ofertas sem nenhuma energia indesejada. Em seguida, lavar,
cortar e preparar os alimentos com muito carinho, sempre mentalizando o Orixá ou
guia, ou mesmo cantando um ponto em seu louvor.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Sou um pouco chato em relação as oferendas despachadas onde achamos que tem
que ser. Creio que os Orixás não vão querer seus domínios sujos após os trabalhos.
Por esse motivo sempre recomendo a quem utiliza de oferendas que faça nos
devidos locais apropriados para tal. Por exemplo em São Paulo, mais precisamente
temos o Vale dos Orixás (Santuário da Umbanda) que fica localizado em São
Bernardo do Campo. Um local com quase todos os domínios naturais e os que não
são naturais o ser humano assim o fez e assentou suas vibrações. Um lindo lugar e de
muita energia boa. Um local apropriado onde semanalmente é feito uma limpeza
para recolher as ofertas.

Firmezas

Sempre que fazemos uma oferta, criamos um ponto de energia temporário naquele
local. A energia se concentra e depois vai se dissipando lentamente até ser
completamente esgotada em 7 dias.
Se fizermos nossa oferta em casa, e repetirmos sem interrupção, esta oferta,
periodicamente (de preferência semanalmente), criamos um ponto de energia
permanente que poderá ser acessado sempre que necessário.
É óbvio que a firmeza não tem a mesma força de uma oferenda em um domínio
natural, mas, com a repetição, a força da firmeza se acumulará a cada sete dias,
podendo mesmo chegar muito próxima à de um domínio natural.
Na realidade, a firmeza cria artificialmente um ponto de irradiação de energia do
domínio do Orixá.
Quanto à periodicidade, semanalmente é o mais indicado, mas também podemos
fazer a cada quinze dias ou mesmo a cada mês. Porém, o acúmulo de energia será
tanto quanto mais demorado.
Para que possamos repetir sempre a firmeza, é necessário que ela seja simples e com
elementos fáceis de encontrar. O principal é ter uma base simples, de preferência
com 3 elementos.
A firmeza clássica consiste em vela, bebida e artigo de fumo, ou vela, bebida e
incenso. Mas que você tenha condições, tanto de tempo quanto financeira, para
repeti-la sempre. Mas você poderá fazer a base da firmeza como desejar, por
exemplo, água, azeite e mel.
Eventualmente você poderá incrementar a sua oferta, porém a base sempre deverá
ser a mesma.
Esse ponto de força deverá sempre receber orações para vitalizar ainda mais a sua
energia. Você poderá colocar em sua firmeza pedidos e agradecimentos, para você
ou para pessoas próximas. Evite colocar na firmeza de sua casa, pedidos por pessoas
estranhas, ou mesmo que tenham problemas que poderão se voltar contra você.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Para fazer isso você deverá isolar um espaço para o resto da vida, e este local deverá
ser do lado de fora da sua casa.

Entregas

Caso deseje fazer um pedido para alguém que esteja com muitos problemas, procure
um campo santo ou o domínio de um Orixá.
Lembre-se sempre de pedir que a vontade de Deus se manifeste e não a sua. A
espiritualidade sempre saberá o que é melhor para nós.
Fazendo tudo certo, a firmeza é um dos fundamentos mais bonitos que o filho de fé
pode cultuar.
Ao contrário de uma oferenda, que serve para o filho de fé estar em sintonia com os
Orixás e seus guias, a entrega é um pagamento para se libertar de algo indesejado.
Ou seja, a entrega é feita para espíritos obsessores, com o intuito de livrar-se deles.
Tudo começa no atendimento de uma entidade que durante o descarrego puxa um
transporte, que vem a ser trazer o espírito obsessor para o corpo de seu cavalo, para
que ele se manifeste.
Nessa ocasião os cambones, ou mesmo o Pai-de-Santo, inicia uma conversa com o
obsessor, perguntando quem é ele e o que ele deseja obsedando aquele irmão.
O quiumba dirá então qual seu objetivo e pedirá um pagamento para ir embora em
definitivo da vida daquele irmão. A lista de pagamento também poderá ser dita pela
entidade que fez o transporte, após retornar ao aparelho. A entidade que está
prestando atendimento poderá fazer o descarrego sem puxar o transporte, somente
ditando a lista no final do atendimento.
Sempre digo. Ninguém pode mais do que Deus. Não somos adeptos em negociar com
quiumbas, porem como rege uma das leis da umbanda, ensinaremos os espíritos
menos evoluídos e aprenderemos com os espíritos mais evoluídos.
Conversaremos sim e tentaremos ajudar caso assim o queira. Todos merecem o
perdão de Deus. Caso assim não queira, pode ter certeza que toda a falange
encaminhará essa quiumba para as trevas e por lá ficará por 7 anos até aprender a
lição.
Existe outro lado da moeda. Essa quiumba ou obsessor pode estar vindo apenas
aplicar a lei do retorno, ai sim teremos uma conversa melhor, porem nunca
abandonaremos um filho de fé que busca seu perdão.

Pai e Mãe de Cabeça (Orixá de Frente e Juntó)

Sem dúvida alguma, este é o fundamento que mais desperta a curiosidade dos filhos
de fé. Todos desejam saber quem são seus Orixás de frete, mais conhecido como Pai
de cabeça, e Adjunto ou Juntó, popularmente Mãe de cabeça.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Mas, infelizmente, são poucos o que sabem o que isso realmente significa, e o que
fazer com essa informação.
Orixá de Frente e Orixá Adjunto são os Orixás que estavam presentes no ato, no
exato instante de seu nascimento. Formam um par por trabalharem em conjunto.
O Orixá de Frente é aquele se coloca à frente do filho, transferindo para ele suas
virtudes que acabarão por ajudar a formar a personalidade do filho de fé. Todo filho
de Ogum é corajoso, arrebatado e gosta de estar sempre em movimento. Os filhos de
Iemanjá são mais ligados à família, e os de Obaluaê são mais dados à introspecção.
Essas características são extremamente necessárias para que o filho possa cumprir
sua missão terrena.
Nunca devemos dizer “Pai de Cabeça” para o Orixá de Frente, pois ele pode muito
bem ser um Orixá feminino. E é óbvio que se um homem tiver um Orixá feminino de
frente, isso não orientará sua condição sexual. O mesmo vale para uma mulher que
possua um Orixá masculino à sua frente. Lembre-se de que os Orixás são frações da
energia divina, da essência da natureza, e nada tem a ver com os gêneros masculino
e feminino.
Já o Orixá Adjunto (ou Juntó), é aquele que balanceia a atuação do Orixá de Frente,
atenuando excessos ou despertando forças quando necessário. Também transmite
algumas características para o filho, mas não tanto quanto o Orixá de Frente.
Algumas correntes de pensamento atribuem ao Adjunto, como aquele que traz o
perfil da missão terrena do filho. Por exemplo, quem tem Iemanjá como Adjunto,
tem missão com as relações sociais e com a família, quem tem Obaluaê como
Adjunto deverá buscar sempre a reflexão e a espiritualidade. Ter como adjunto
Oxóssi pode significar que o conhecimento, a paciência e a responsabilidade de
conseguir o dia a dia, sejam desafios rotineiros.
Tal qual o Orixá de frente, não devemos dizer “Mãe de Cabeça” para o Orixá Adjunto,
pois ele pode ser tanto masculino quanto feminino. Caso já saiba quem seria seu
Orixá de frente e seu junto, ai sim pode dizer Pai e Mãe de cabeça.
Em geral, é natural que os filhos carreguem um Orixá masculino e outro feminino,
mas apesar de extremamente raro, não é impossível uma pessoa carregar dois Orixás
femininos ou dois masculinos.
Outro erro comum dos umbandistas é atribuir suas falhas e erros aos seus Orixás.
Sou intolerante porque sou filho de Ogum, sou infiel, pois Xangô me faz assim, ou
gosto de dormir muito por ser filho de Oxóssi. Isto é um erro crasso.
Os Orixás são frações do poder de Deus e só transmitem virtudes. Os males
atribuídos à personalidade dos Orixás nada mais é que um filho de fé em
desequilíbrio, distante da energia original de seu Orixá de Frente e Adjunto.
Outro assunto polêmico é o método utilizado para se descobrir os Orixás de uma
pessoa. Muitos defendem que só o jogo de búzios feito por sacerdote consagrado a
Ifá é que tem o dom da adivinhação (Lembrando que a umbanda branca não tem

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

búzios). Outros dizem que é através do corte do Obi na coroa do filho de fé


(Lembrando que a umbanda branca não tem corte). Existem pais e mães-de-santo
que se valem de outros oráculos como baralho comum e tarot para essa revelação. E
ainda existem sacerdotes que se dizem tocados por Ifá e que só de olhar poderiam
revelar esses Orixás. De tudo isso, posso dizer, na minha modesta opinião, que
somente um sacerdote sério, que tenha sido consagrado pela espiritualidade nos
moldes da Umbanda, poderá, através espiritualidade, prestar essa informação com
confiança e mesmo assim tudo tem seu tempo e a hora certa para que a
espiritualidade se permita a tal ponto.

Pemba

A pemba é uma espécie de giz, feito com calcário, em formato cônico arredondado,
utilizado na Umbanda para se riscar o ponto (ponto riscado) e até mesmo para
consagrar pessoas e objetos.
É encontrada em diversas cores e, quando utilizada pela entidade, pode identificar a
linha em que trabalha ou a energia que está invocando naquele momento.
É considerada de extrema pureza e, por este motivo, é um dos poucos elementos em
um terreiro que pode tocar a coroa do filho de fé.
Originalmente a pemba era produzida com caulim, uma espécie de argila branca
encontrada na África. No Brasil o caulim foi substituído pelo calcário, parte pela
dificuldade de se encontrar caulim, parte pela larga oferta de calcário e pela
facilidade na sua obtenção.
Ao calcário moído é misturado um pó resultante da torra e da moagem de nozes e
sementes como o Dandá da Costa, Noz Moscada, Aridan, Ataré (Pimenta da Costa),
Alibê, Obi e Orobô. São esses elementos que tornam o simples calcário em uma
substância sagrada, pois todas essas nozes e sementes já eram consideradas
sagradas e largamente utilizadas em rituais para os Orixás na África.
A pemba é pedra, e como Xangô, o Orixá das pedreiras, está intimamente ligada à lei
e à justiça. Assim sendo, uma entidade pode usar da pemba para fazer justiça a um
irmão necessitado, riscando um ponto ou mesmo ungindo este filho com ela.
Os sacerdotes e filhos de fé também podem usar a pemba com a mesma finalidade,
mas devem ter consciência da responsabilidade que é se trabalhar com a ela. A
pemba usada de forma errada ou displicente pode causar efeitos indesejados.
A pemba é sagrada e, como tal, é utilizada em todos os trabalhos espirituais quando
necessário, também em sacramentos como o batismo ou lavagem de cabeça. Muitas
entidades utilizam a pemba até para a cura, usando-a como se fosse um bisturi. Seu
caráter sagrado é tão grande que muitas casas diluem pembas em seus amacis,
quando da preparação deste banho. Quando o sacerdote cruza os pés, mãos, nuca e

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

a fronte do filho, está promovendo um descarrego profundo, além de purificar e


abençoar.
Em algumas doutrinas, quando chega ao terreiro a pemba recebe tratamento
especial, sendo colocada em gamela de madeira com areia do mar, onde as pembas
são fincadas. Esta gamela é colocada no congá de frete para Oxalá e iluminada com
vela por 7 dias antes de ser efetivamente utilizada como riscador sagrado.
A pemba mais utilizada, sem nenhuma dúvida, é a branca, mas existem pembas de
todas as cores. Mas, a pemba branca pode ser utilizada para todos os Orixás e linhas
de trabalho.
Outra forma muito conhecida de utilização da pemba é cruzando os quatro cantos do
terreiro ou de qualquer ambiente, para descarrego, proteção e equilíbrio energético.
A pemba é um fundamento tão importante e tão popular na Umbanda que se diz ser
impossível o nascimento de um terreiro sem o testemunho dela.
Contudo, é no ponto riscado que se observa o uso mais popular e mais poderoso da
pemba.

Pemba pilada

A pemba socada em um pilão, acrescida de elementos específicos, torna-se um pó


que será usado pelo sacerdote nos seguintes casos:
- Soprando-a nos quatro cantos de um ambiente para purificá-lo;
- Soprando-a na coroa dos filhos de fé com a mesma finalidade;
- Soprando-a na coroa dos filhos para evitar incorporações indesejadas;
- Soprando-a no corpo físico dos filhos, em locais doentes, para cura.
A pemba pilada é quase tão sagrada quanto o amaci e seu preparo também demanda
cuidados especiais.
Em um pilão devidamente consagrado à Oxalá, raspa-se as pembas até se alcançar a
quantidade desejada. Acrescenta-se aos poucos mirra, incenso, benjoim, alfazema,
anis estrelado, pitchuri e dandá da costa. Com os filhos cantando pontos para Oxalá
ou entoando rezas, o sacerdote irá socar tudo de forma ritualística até virar um pó
bem fino, o qual deverá ser peneirado em uma peneira de seda e acondicionado em
uma cumbuca de louça. Depois disso a pemba pilada ficará no congá, iluminada por
velas pelo período mínimo de 12 horas, para só então ser utilizada como fundamento
sagrado.
A pemba pilada é considerada tão pura que não se pode colocar a mão, nem durante
o preparo e nem para a transferência para a cumbuca, para isso deve-se usar uma
colher de pau. Nem mesmo o sacerdote deve tocá-la nessas ocasiões. Entretanto, no
momento de se usar a pemba pilada, a mesma deverá ser colocada com a mesma
colher de pau na mão direita do sacerdote, para que só então ele possa soprá-la para
que alcance seus fins.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Após o preparo, o sacerdote passa a mão direita dentro do pilão para recolher a
pemba retida nele, passando-a em sua própria cabeça, provando aos filhos a
qualidade do fundamento que acaba de produzir.
O fundamento da pemba pilada é importante e deve ser usado no terreiro sempre
que necessário, vindo a ser de grande valia para descarrego e purificação.
São poucos, mas ainda existem terreiros onde o sacerdote periodicamente sopra a
pemba pilada nos quatro cantos do terreiro e em seus filhos, para que encontrem
descarrego e purificação com a benção de Oxalá.

Ponto riscado

Ponto riscado é a escrita mágica da Umbanda. São símbolos e elementos gráficos que
ativam o poder dos Orixás, assim como a força das linhas de trabalho e das
entidades.
Pode ser feito pelos filhos de fé, mas neste caso será utilizado apenas para riscar
símbolos dos Orixás ou de seus guias, caso conheça o ponto riscado. O umbandista
pode riscar pontos em casos de angústia ou de necessidade, ou ainda, simplesmente,
para atrair com mais intensidade o poder de um determinado Orixá, para que possa
ativar em si mesmo uma virtude que ainda não possui.
Porém é com as entidades que o ponto riscado assume sua força plena. Para as
entidades o símbolo riscado é como se fosse sua própria assinatura mágica. Esta
assinatura é composta por símbolos como estrelas, rios, cruzes, ondas, tridente,
flecha, raio, coração, peixe, entre tantos outros.
O ponto riscado já é um fundamento poderoso e ainda possui o axé da pemba.
Através de um ponto riscado as entidades podem irradiar ou concentrar energias,
abrir ou fechar caminhos, abrir ou fechar portais, fixar ou dissipar forças como bem
seja necessário para o auxílio aos irmãos necessitados.
Através do ponto riscado as entidades podem mostrar seu grau hierárquico espiritual
e, assim, comandar espíritos e mesmo falanges que possam estar sob suas forças.
De uma forma geral, toda entidade tem um ponto de identificação que é a assinatura
da entidade. Este ponto poderá sofrer variações ou mesmo ser totalmente
substituído de acordo com o trabalho que a entidade irá desempenhar. Mas jamais
uma entidade mudará seu ponto de identificação.
Outra dúvida frequente é se o ponto deve estar ou não dentro de um círculo
(mandala). O ponto riscado dentro de um círculo é para concentrar a energia dentro
do espaço do círculo. Um ponto sem círculo irradia a energia em todas as direções.

Os Orixás possuem símbolos característicos, vamos conhecê-los:

Oxalá - triângulo, sol ou qualquer representação de luz

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Iemanjá - ondas do mar, âncora e peixe

Oxum - coração, cachoeira, lua, espelho

Ogum - espada, lança, bandeira, escudo

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Oxóssi - arco e flecha

Xangô - machado de duas lâminas, balança, coroa, raio grande

Obaluaê - cruzeiro das almas, cruz

Iansã - taça e raio pequeno

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Nanã - ibiri ou chave

Ibeji - duas colunas ou riscos, doces ou brinquedos

Exu - tridente de cantos retos para Exu

- tridente com cantos arredondados Pomba-Gira

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

As entidades podem ainda utilizar símbolos diversos para identificar sua linha de
trabalho e para a própria identificação tais como cruzes, sol, lua, chuva, árvore, raiz,
setas indicativas, correntes, estrela, círculo, olho, números, flores, letras, alfa, ômega,
lemniscata, riscos em ziguezague, espirais, entre tantos outros.
Os pontos riscados podem ser riscados no chão ou em tábuas de madeira, conforme
a orientação do terreiro. Toda entidade tem a obrigação de explicar seu ponto
riscado quando solicitado pelo sacerdote.
De uma forma geral, os pontos riscados são simples como tudo na Umbanda. Não é a
quantidade de símbolos em um ponto que faz a entidade mais forte ou fraca.
Uma entidade trabalha nas forças de um Orixá principal, mas pode trabalhar para
dois ou mais. Mas, todas elas poderão trabalhar eventualmente para qualquer Orixá,
bastando para isso grafar o símbolo do Orixá em seu ponto.

O mais famoso ponto riscado pertence ao Caboclo das Sete Encruzilhadas

O Chefe explicava que o coração significava sentimento e a flecha apontando para o


alto significava o caminho para Deus. “Sentimentos direcionados para Deus”, era
assim que ele explicava seu ponto.
Por essa explicação podemos entender que nem sempre precisamos complicar o
óbvio. Sejamos simples de coração e nossas entidades poderão manifestar-se em
plena força. Pontos muito rebuscados normalmente são mais atribuídos ao médium
que para sua entidade.
Pessoas mal intencionadas e mesmo pseudo-sacerdotes podem utilizar o poder dos
pontos riscados da Umbanda, para projetar energias contra seus inimigos ou mesmo
para saciar a sede de vingança de pessoas inescrupulosas, que pagam altas somas
para que se ativem forças contra determinadas pessoas.
Esses que praticam esse tipo de iniqüidade acreditam-se impunes e, por isso,
poderosos. Não se enganem, nada fica oculto ao poder de Deus, dos Orixás e da Lei
Maior. Essas pessoas sempre são e sempre serão cobradas com muita força pelo
plano espiritual.
A responsabilidade do filho de Umbanda é grande pelos conhecimentos que agrega.
Todo conhecimento adquirido dentro da Umbanda deverá ser utilizado
exclusivamente para a caridade e jamais deverá interferir no livre arbítrio de nenhum
irmão.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Em algumas doutrinas, o filho de fé recebe a pemba com a qual foi consagrado em


seu batismo. Em casos de necessidade, o filho poderá riscar o ponto de um Orixá
para se beneficiar de seu poder.

Sacrifícios na Umbanda

Como sempre, vamos primeiro compreender a origem da palavra sacrifício. Ela vem
da fusão de outras duas palavras “sacro” e “oficio”, ou seja, sacro ofício, ofício
sagrado.
A palavra sacrifício pode adotar várias conotações e, de vários pontos de vista, é
notório que existem muitos sacrifícios em todas as doutrinas da Umbanda. Inclusive
não existe Umbanda sem sacrifício e quando digo sacrifício é se abdicar de tempo,
festas, por vezes até mesmo amizades para um bem maior. A umbanda é para os
forte. Mas quando vem a palavra sacrifício já pensamos em sacrifício animal . Esse
sim não faz parte da umbanda. Lembre-se a Umbanda é amor. A Umbanda é
caridade. A Umbanda é humildade. .
Na caminhada umbandista, o filho de fé certamente terá que abrir mão de muitos
hábitos para se dedicar periodicamente aos interesses da Umbanda, do terreiro e do
seu próprio compromisso com a evolução espiritual.
Todos os preceitos, as constantes batalhas em dominar a si próprio, os trabalhos
espirituais, deverão sempre ser prioridade na vida do umbandista e isso acarretará
grande mudança em sua vida espiritual, mas também trará mudanças na sua vida
cotidiana e social.
Apesar de todos os pequenos e grandes sacrifícios que a vida na Umbanda trará,
jamais o filho de fé deverá entender sacrifício como algo pesado ou mesmo penoso
de se cumprir. Para que suas atividades na religião sempre alcancem os efeitos
desejados é necessário fazer tudo com amor e sempre voluntariamente.
Mas sei que não é esta a abordagem que você esperava. O sacrifício que você espera
que eu descreva é a imolação, que vem a ser matar com sentido religioso.
Hoje em dia este é o assunto que mais conflito causa entre os umbandistas,
dividindo-os entre aqueles que concordam com a imolação e outros que a rejeitam
veementemente.
Sempre que me deparo com uma situação desse tipo, volto os olhos para o início da
Umbanda, com Pai Zélio e o Caboclo das Sete Encruzilhadas.
A repórter Lília Ribeiro, ao entrevistar Zélio de Moraes, no início da década de 70,
perguntou-lhe:
Perguntei então a Zélio, a sua opinião sobre o sacrifício de animais que alguns
médiuns fazem na intenção dos Orixás. Zélio absteve-se de opinar, limitou-se a dizer:

176
A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

"- Os meus guias nunca mandaram sacrificar animais, nem permitiriam que se
cobrasse um centavo pelos trabalhos efetuados. No Espiritismo não pode pensar em
ganhar dinheiro; deve-se pensar em Deus e no preparo da vida futura."
Para muitos a resposta de Zélio foi evasiva, mas eu, na minha modesta opinião,
prefiro acreditar que se os guias do Pai da Umbanda nunca pediram sacrifício de
animais, é por que ele realmente não era necessário. E observemos a grande
quantidade de milagres operados pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, entre eles
milhares de curas de enfermos físicos e mentais, e até uma suposta ressurreição.
Existe ainda a famosa história de que o Orixá Mallet, guia de Pai Zélio na linha de
Ogum, solicitou que se conseguissem um porco para que um sarapatel pudesse ser
feito como oferenda. Muitos alegam que essa passagem confirma que os guias
fundadores da Umbanda sacrificavam animais.
Meu Deus, quanta falta de informação!
Estamos falando de costumes da década de 10 e 20 do século passado, onde era
comum comprar animais vivos para a elaboração de comidas. Isso por que não
existiam ainda geladeiras e nem açougues refrigerados, manter o animal vivo era a
forma de fazer a carne durar mais.
Mas voltando a nossa história, o porco recebido jamais foi sacrificado de forma
religiosa, inclusive o animal era morto por pessoa habilitada, fora da tenda, e que
nem umbandista era. Os miúdos eram recolhidos para o sarapatel e o restante da
carne era consumida livremente no dia a dia das pessoas, para o preparo de qualquer
outro prato.
Dona Lygia Cunha, neta de Zélio, quando ainda era a responsável pela TENSP, em
entrevista concedida no começo dos anos 2000, nos conta que o sarapatel ainda era
ofertado, mas que seus ingredientes eram comprados em qualquer açougue ou
mercado, como se faz nos dias de hoje, quando precisamos preparar um prato.
Mas ainda é preciso dizer que Orixá Mallet tinha realmente o costume de solicitar
animais para trabalhos, mas em nenhum destes trabalhos ocorreu a morte dos
bichos, eles eram usados vivos e assim eram mantidos.
Diante disto, fica muito claro que nem Zélio de Moraes e nem seus guias praticavam
a imolação de animais.
Mas com a pergunta da repórter Lilia Ribeiro, fica claro que nos anos 70 essa prática
já era comum, do contrário não teria sentido a pergunta. Então, por quê essa
constante associação da Umbanda com o sacrifício de animais?
Já dissemos, capítulos atrás, que a Umbanda foi formada por três outras religiões: o
catolicismo, o espiritismo e o candomblé. Ocorre que em muitas casas a influência
africana ficou mais acentuada por basicamente dois motivos: por candomblés que se
umbandizaram com o tempo, e nessa migração trouxeram consigo muitos
fundamentos africanos, ou por médiuns de Umbanda que, querendo se preparar

177
A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

melhor para a atividade sacerdotal, buscavam as camarinhas das roças de


candomblé, trazendo dessa forma fundamentos do culto de nação que o preparou.
Em resumo, a maior parte de criação de animais hoje são consideradas para
consumo. Até mesmo em nossa feijoada preparada para os pretos velhos, que por
sinal quem as consome somos nós do terreiro e irmãos de rua. Vai ter quem diga que
foi feito o sacrifício de animal. E sim teve o sacrifício desse animal, mas desse animal
é de onde saem os churrascos tão costumeiros na nação brasileira.
NA UMBANDA NÃO TEM SACRIFÍCIO DE ANIMAL.
Assim fica claro a todos leitores.
Sacrificamos várias coisas para se ter uma umbanda de caridade menos seres vivos.

Trabalhos de cura

É no mínimo curioso falarmos de trabalhos de cura na Umbanda, uma vez que o


primeiro ato da religião foi a cura do homem que não andava, pelo Caboclo das Sete
Encruzilhadas.
A cura, tanto espiritual quanto física, sempre esteve presente nos trabalhos de
Umbanda.
Mas, pela busca cada vez mais frequente de pessoas pela cura do corpo físico, é
muito natural que os terreiros criem sessões de trabalho espiritual específicas para
essa finalidade.
Todas as linhas de trabalho que se manifestam na Umbanda podem trabalhar com
cura, inclusive as novas linhas como baianos, boiadeiros, ciganos e marinheiros. Os
preto-velhos, nesse quesito, são muito requisitados por já trabalharem com cura
pelas forças de seu Orixá regente, Obaluaê.
Quando o sacerdote ou a sacerdotisa possuem muita sensibilidade espiritual,
poderão trabalhar com a Linha do Oriente, sendo que todos os trabalhos voltados
para a saúde estão entre as especialidades dessa linha.
Os trabalhos de cura são muito diferentes dos trabalhos tradicionais. Não usam
atabaques e nem pontos cantados, incensos e luzes coloridas podem estar presentes
de acordo com o que a entidade coordenadora desses trabalhos estabelecer.
Bebidas alcoólicas e produtos de fumo não são bem recebidos nessas sessões. A luz
deve ser branda e, caso permitido, uma música suave, própria para relaxamento
poderá ser disponibilizada, mas em volume bem baixo.
Tudo fica envolto em uma aura de energia sutil, num ambiente muito sereno e
agradável. Isto é necessário, pois os trabalhos de cura se iniciam antes mesmo do
consulente ser atendido pela entidade. Enquanto aguarda a sua vez, o consulente
está sendo energizado e preparado para o trabalho que se seguirá, podendo ser de
cirurgia espiritual ou apenas de passe e recomendação.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

De minha parte, por trabalhar com sessões de cura, posso dizer que quando a Linha
do Oriente está presente, fico com a impressão que todas as linhas de trabalho da
Umbanda estão ali auxiliando e dando todo o suporte para os trabalhos. Como se
todos os espíritos, de origens e vibração variadas, trabalhassem em perfeita sincronia
como as engrenagens de um relógio.
Costumo dizer que os trabalhos de cura manipulam energias mais pesadas que um
trabalho de Exu. Isto por que em cada pessoa, o mal que a acomete está ali há muito
tempo, sendo gerado por influências obsessoras externas ou mesmo por profundo
desequilíbrio emocional. Em qualquer dos casos é necessário que os guias de cura
promovam um descarrego completo dessa condição indesejável, para somente
depois tratar o mal propriamente dito. Remove-se a causa para depois tratar a
consequência. E é exatamente por isso que todas as linhas da Umbanda trabalham
nesses momentos, cada uma na sua especialidade.
Os espíritos que trabalham nessa senda são de extrema sabedoria e muitas vezes irão
apenas orientar os consulentes sobre como devem se preparar para um tratamento
mais profundo. Podem nesse momento solicitar banhos específicos, meditação
(reflexão) e orações que auxiliem o necessitado a compreender o que ocasionou
aquele mal físico. Isto auxilia bastante para que não ocorram recaídas após o
tratamento definitivo.
Quando fazem cirurgias, podem também solicitar restrições como o consumo de
carne e bebidas alcoólicas por períodos determinados, que podem variar de 7 a 30
dias, conforme o caso. Podem ainda solicitar que o atendido não vá a funerais, nem a
hospitais e cemitérios. Restrição de frutas ácidas e produtos industrializados também
são muito comuns.
Quando digo aqui cirurgia, deixo claro que esta cirurgia ocorre apenas a nível
perispiritual, não acontecendo cortes ou incisões de forma alguma no corpo físico.
Existem terreiros onde as entidades nada falam, somente atuam sobre o mal. Nesses
casos o consulente poderá informar previamente a um cambone sobre a doença que
lhe incomoda, sendo que este deverá escrevê-la em pedaço de papel que fica com o
consulente para ser entregue ao guia que o atenderá. Em outras casas o consulente
somente se deitará em uma maca ou esteira, onde as próprias entidades, em total
silêncio, se incumbirão de encontrar o foco do desequilíbrio.
O sucesso de um atendimento de cura depende de muitos fatores, como o
merecimento do consulente, o tempo que o consulente carrega a doença, o
cumprimento integral das recomendações dos guias e, claro, da fé que a pessoa
carrega.
Da mesma forma, o preceito dos médiuns deve ser extremamente rigoroso para que
possam ser instrumentos perfeitos das linhas que irão prestar os trabalhos. A
qualidade do ectoplasma de um médium de cura pode ser decisiva no sucesso de um
atendimento.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

O sacerdote, como em qualquer trabalho na Umbanda, deverá ficar livre para usar
elementos típicos da religião como pemba, pemba pilada, amaci ou outros dos quais
possa ser intuído.
Diante de tantas energias, linhas e entidades que são envolvidas em um trabalho
desse tipo, é importante que a pessoa responsável pela condução desses trabalhos
firme, com velas, pedidos para que todas as linhas se manifestem para levar cura e
libertação para todos os espíritos, sendo encarnados ou desencarnados, que se
apresentarem nos trabalhos daquela noite (ou dia). É importante, também, que o
responsável sempre coloque as decisões nas mãos de Deus e da espiritualidade, para
evitar assumir karmas indesejados.
Da mesma forma, é importante encaminhar através de oração todos os espíritos que
foram recolhidos nos trabalhos de cura. Aos que manifestarem desejo de
regeneração, o estudo e a doutrinação. Para aqueles espíritos que se mantiverem
inflexíveis, o aprisionamento e a impossibilidade de retornar para este plano.
Deixando, dessa forma, uma alternativa para todos os espíritos obsessores.
Graças a Olorum, são inúmeros os casos de pessoas que encontraram a cura física,
mental ou espiritual em trabalhos de cura nos terreiros de Umbanda.
Deixo aqui meu Salve Salve a todos os terreiros, sacerdotes e médiuns que se dispõe
a trabalhar com uma das maiores manifestações da caridade espiritual.

Trabalhos fora do terreiro

Os trabalhos fora do terreiro consistem em levar auxílio e axé nas casas dos filhos de
fé. Se feito de forma adequada, consiste numa das mais belas formas de se prestar a
caridade espiritual.
Esses trabalhos podem ser diversos, como uma simples evangelização no lar, uma
defumação na casa e em seus moradores, até mesmo trabalhos de desobsessão.
São Praticas feitas dentro de nossa umbanda. E são de extrema importância para
quem precisa.
Outros tipos de trabalhos fora do terreiro são as giras. Giras feitas na Praia, nas
Matas em cachoeiras e até mesmo em cemitérios.
Também são trabalhos importantes tanto para os assistidos quanto para corrente.
Onde as energias desses trabalhos são mais densas, haja visto que estarão nos
domínios dos Orixás.
Toda cautela é de extrema importância antes de se fazer um trabalho fora do
terreiro.
Toda a preparação para esse trabalho também tem que ser redobrada. Todas as
energias de sua tenda, todo ponto de força tem que se dobrar para seu ponto inicial
(sua tenda) e para o local de onde será feito o trabalho.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Em minha humilde opinião esses trabalhos são de extrema importância para um


terreiro, pelo menos uma vez por ano é de grande valia se energizar nos domínios
dos Orixás.

Consagração

Consagração é o ato de tornar sagrado. Em uma consagração dedicamos objetos para


os Orixás ou guias, e pedimos que eles os envolvam em seu poder e força.
O ato de consagração mais simples é aquele que ocorre dentro do terreiro, quando
uma entidade “cruza” alguma coisa para você. Temos também a consagração feita
pelo sacerdote, que também é muito comum nos terreiros de Umbanda.
Mas, e se não tivermos condições de ir a um terreiro? Como podemos fazer uma
consagração?
Podemos consagrar nossas coisas em nossa própria residência. Para tanto, basta
compreender os conceitos que se seguem.
Para que a consagração possa acontecer, é necessário criar um ponto de energia do
Orixá ou guia, ou seja, uma firmeza. Se você já tem uma firmeza estabelecida, poderá
fazer neste local.
Consagramos a água assistindo uma missa pela televisão. Consagramos água um
grupo de orações feitas pelo WhatsApp. Então sim é possível a consagração de
diversas ferramentas e materiais sem estar no terreiro.
Agora caso tenha essa facilidade a energização do que for consagrado é sem dúvida
melhor.

Sacramentos

Como de costume, vamos definir a palavra sacramento. Do ponto de vista religioso,


seu significado é o de aplicar, confirmar ou aumentar graça sobre uma pessoa. Pode
ser considerado também consagração ou santificação de uma pessoa no sentido de
receber uma benção divina.
Os sacramentos estão presentes em todas as religiões, mesmo que não utilizem este
termo. Na Umbanda não é diferente, com o tempo os fiéis de nossa religião
passaram a sentir a necessidade de professar certos ritos como o batismo e o
casamento, além dos constantes anseios para desenvolver ritos próprios para a
formação mediúnica e a formação sacerdotal.
Como a Umbanda possui várias doutrinas, também são diversas as formas de
aplicação e condução dos sacramentos, jamais configurando que uma esteja certa e
outra errada, bem como não existe maneira melhor ou pior.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Além das diversas doutrinas, o terreiro ainda trabalha dentro das características
ditadas pelo sacerdote, de acordo com sua crença e vivência pessoal. Isso faz com
que sejam inúmeras as formas de sacramento na religião.
Coloco aqui uma visão global sobre este tema, além das minhas impressões
particulares com relação a esta questão.

A visão espiritual e a importância do sacerdote

Em linhas gerais, os sacramentos na Umbanda são sessões rituais definidas para


bênçãos específicas dos filhos de fé.
Digo isso, pois a benção da espiritualidade poderá ser acessada pelo filho de fé em
qualquer trabalho umbandista, porém em dia de sacramento toda a espiritualidade
se dedica a irradiar uma energia específica e especial para o ato que irá se
estabelecer no terreiro. Por este motivo, tanto o sacerdote quanto os filhos que irão
receber o sacramento deverão se preparar muito bem para o ato. Neste dia, o filho
de fé deverá guardar os preceitos, fazer banho de ervas e suas orações para melhor
perceber as sutis energias que irá receber logo mais.
Também o sacerdote deverá se preparar, pois a ele cabe ser o canal pelo qual o
poder dos Orixás e a força de muitas de entidades irão se manifestar durante o
sacramento.
Sim, pode ser o sacerdote o responsável por ministrar o sacramento como uma
entidade incorporada.
Por tudo isto o papel de um verdadeiro sacerdote é indispensável para a religião, e é
por isso que um filho deve conhecer muito bem o terreiro e seu pai ou mãe-de-santo,
antes de entregar sua cabeça para qualquer sacramento.

Apresentação de crianças

Mais conhecido como batismo das crianças, é o momento em que a criança é


apresentada à comunidade umbandista para receber a benção de Olorun e o axé da
religião.
Com a presença dos pais e um casal de padrinhos, o sacerdote ungirá a criança com
as doutrinas de seu terreiro.
Esses fundamentos servem para fixar a benção de Oxalá sobre a criança, bem como
descarregar toda a negatividade e trazer a vida através da água.
O sacerdote deverá deixar claro para todos os presentes a importância do ato e
durante a celebração deverá advertir aos padrinhos das responsabilidades do
compromisso que estão assumindo.
Após a celebração é natural que os pais escolham uma entidade para que também
deixe sua benção.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Muitas doutrinas da Umbanda não praticam o batismo de crianças por acreditarem


que este sacramento só possa ser ministrado para adultos ou pessoas que
compreendam a responsabilidade de assumir a religião.
Independentemente que se façam ou não, ou de que forma façam, todas as
manifestações no sentido de trazer a benção de Oxalá sobre a criança deverão ser
respeitadas.
Entretanto, uma religião jamais poderá negar a benção para uma criança. Para
muitos, uma criança que não tenha recebido a benção religiosa poderá ser mais
suscetível a negatividade, podendo estar mais propensas a desenvolver doenças, os
famosos “pagão”.

Batismo

É certamente o momento mais importante para um iniciado na religião.


Batismo é o auge de uma recém iniciada caminhada na religião. Nesta altura o filho já
viveu experiências na religião que despertaram sua fé e sua espiritualidade, de forma
que ele mesmo, após compreender e aceitar a religião em seu coração, se entrega à
benção do Pai Maior, Oxalá.
Para muitas doutrinas o batismo é considerado a primeira obrigação verdadeira do
filho de fé, por isso é dedicada ao Orixá dos Orixás.
Da mesma forma que para as crianças, o sacerdote e o filho de fé deverão se
preparar muito bem para o ato, sendo que esta preparação pode variar de terreiro
para terreiro, sendo de três dias para alguns, ou mesmo sete dias para outros.
Muitas doutrinas da Umbanda preferem se utilizar de domínios naturais para o
batismo, sendo o batismo no mar e o batismo na cachoeira os mais conhecidos.
Entretanto, é dentro dos terreiros que o batismo é mais praticado. Seja pelo
sacerdote ou por entidades. Alguns acreditam que a linha dos preto-velhos seja a
mais adequada para o batismo, outras só a fazem pelas mãos dos caboclos.
Não importa a linha que aplica o axé nos filhos. É canalizado o poder de Oxalá.

Casamento

Da mesa forma que o batismo, toda religião tem a obrigação de abençoar a união de
dois seres perante Deus, e na Umbanda não é diferente.
Este sacramento é o que mais manifesta variações, pois em muitas doutrinas é o
casal que escolhe a linha de trabalho que abençoará a união. Neste quesito a linha
dos ciganos é, disparado, a favorita.
Existem casais que solicitam a benção de várias linhas ou entidades, transformando a
cerimônia de casamento quase em uma gira completa.
Poucas doutrinas da Umbanda possuem ritual definido para casamento.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Em primeiro lugar é importante que o sacerdote tenha ao menos um contato prévio


com os noivos para se inteirar das histórias e passagens que poderão ser utilizadas
durante a cerimônia.
Também deve-se notar a importância que este evento tem para as mulheres, sendo
de bom grado por parte do sacerdote facultar a decoração do congá (desde que não
conflite com a simplicidade da Umbanda), bem como a roupa que o casal usará na
cerimônia.

Formação sacerdotal

Sem dúvida, o sacramento de formação sacerdotal é o que mais polêmica e conflito


gera entre os irmãos umbandistas.
Enquanto ninguém assume posição definitiva com relação aos outros sacramentos,
no tocante ao sacerdócio as coisas são diferentes, sendo que muitos sacerdotes e
doutrinas da Umbanda reivindicam a melhor forma de se preparar um pai ou mãe-
de-santo.
Antes de continuar discorrendo sobre este assunto, creio ser importantíssimo
lembrar que Zélio de Moraes, o Pai da Umbanda, nunca cumpriu nenhum curso ou
ritual de preparação sacerdotal, sendo sempre orientado pelo Caboclo das Sete
Encruzilhadas. É claro que Zélio portava uma mediunidade descomunal, e que a
presença sempre intensa do Chefe sempre foi suficiente para conduzir a religião.
Infelizmente a Umbanda não é codificada, nem Zélio e nem o Chefe deixaram
regulamentações sobre este tema, o que muito contribui para especulações de todo
o tipo.
Mas a verdade é que a maioria dos pais e mães-de-santo da Umbanda não
receberam nenhuma preparação, sendo, assim como Zélio, guiados unicamente pela
espiritualidade que os assiste.
Não estou falando das Umbandas da região sudeste e muito menos me dirijo para os
grandes templos de Umbanda espalhados pelo mundo. Refiro-me aos milhares de
terreiros de garagem ou nos fundos dos quintais de todo o Brasil os quais formam a
verdadeira massa umbandista. Será que eles não tem o seu valor?
Isto não significa que acredito que não deva existir preparação, só creio que existem
muitos lugares onde esta preparação não está disponível, e, mesmo assim, muitos
médiuns corajosos continuam a permitir que a espiritualidade tenha um canal de
manifestação para o auxílio espiritual. De um jeito ou de outro a caridade é
praticada.
Mas a verdade é que a preparação sacerdotal, quando possível, faz toda a diferença
na vida de um aspirante a pai ou mãe-de-santo. A dúvida agora é: qual o melhor
caminho?

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Em minha humilde opinião, você não escolhe ser um Pai de Santo. Você é escolhido
para tal função.
Como já disse anteriormente, meus avós nem estudos tinham, e são e foram
excepcionais conselheiros espirituais em terra. E se for lembrar que nesta época
nossa religião era totalmente discriminada e rigorosamente escrachada.
Minha formação veio de terreiro e não tinha nenhuma pretensão em dirigir uma
tenda, mas assim fui escolhido pela espiritualidade e aceitei esse compromisso de
coração aberto.
Poderia falar de varias maneiras da consagração sacerdotal. Mas não escrevo esse
documentário para ensinar tais fatos e sim para compartilhar nossas doutrinas.

Ritos fúnebres

O rito fúnebre é o sacramento menos conhecido dos umbandistas, por inúmeros


motivos. Desde por impedimento da família ou até por esquecimento diante da
comoção da perda de um irmão de fé querido.
Na Umbanda, os irmãos de fé deverão apresentar-se de branco no local do velório,
desde que tudo seja permitido pela família.
Antes de irem para o funeral os filhos de fé deverão se preparar com um banho feito
com as ervas de Obaluaê.
Também poderia descrever vários ritos feitos em funerais umbandista, mas segue
cada casa com sua doutrina.
Nós por exemplo fazemos oração ao desencarnado. Pedimos que Oxalá o receba de
braços abertos. Pedimos o conforto da família.

Recomendações Finais

Orações e Preces

TODAS AS ORAÇÕES ABAIXO DEVERÃO SER FEITAS PREFERENCIALMENTE EM PÉ E


EM VOZ ALTA O SUFICIENTE PARA QUE POSSA OUVIR A PRÓPRIA ORAÇÃO.

 Pai Nosso
 Ave Maria
 Oração de São Jorge
 Oração de São Pedro das 7 chaves
 Oração a nosso anjo da guarda
 Pontos e orações cantadas aos nossos guias e protetores.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Carta Magna da Umbanda

Não utilizar e nem permitir que sejam utilizados os conhecimentos adquiridos num
terreiro, para prejudicar a quem quer que seja”.

Artigo 1º
Umbanda é uma religião espiritualista de doutrina afro-indígena-euro-brasileira.

Artigo 2º
É uma religião monoteísta, que crê na existência de um Deus único, inteligência
suprema, causa primária de todas as coisas, eterno onipotente, onipresente,
soberanamente bom e justo.

Artigo 3º
A Umbanda crê e cultua de forma própria os Orixás Africanos sincretizados com os
Santos Católicos, Guias e Mentores Espirituais que, como ministros de Deus, zelam e
O auxiliam na realização de Sua obra.

Artigo 4º
A Umbanda crê na reencarnação e na incorporação das entidades espirituais, em
vidas sucessivas, no aprimoramento espiritual e aperfeiçoamento do ser humano
para conduzi-lo a Deus.

Artigo 5º
O espírito denominado Caboclo das Sete Encruzilhadas, incorporado no médium Zélio
Fernandino de Moraes no dia 15 de novembro de 1908, em São Gonçalo das Neves /
RJ – data que reconhecemos como sendo o nascimento da Umbanda - anunciou:
“Com os espíritos evoluídos e adiantados aprenderemos; aos atrasados ensinaremos
e a nenhum negaremos uma oportunidade de comunicação”.

Artigo 6º
A Umbanda considera a natureza com tudo que ela encerra como a obra máxima do
Criador, sendo o altar de Deus – o lugar onde se pode com Ele conversar, porquanto,
preservar a natureza é obrigação de fé de cada umbandista.

Artigo 7º A Umbanda é uma religião sincrética fruto da cultura religiosa de três


segmentos: branco do elemento europeu, colonizador; negro – escravizado na África
para laborar na terra e o indígena que já ocupava esta terra, portanto, não admite
qualquer forma de preconceito, discriminação ou intolerância.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

Artigo 8º
A Umbanda tem liturgia e ritos próprios derivados da diversidade de raças e culturas
que a fundamentam. São práticas litúrgicas umbandistas:
8.1 - A preparação e formação mediúnica e sacerdotal;
8.2 – O Batismo;
8.3 – O Casamento;
8.4 – Os Ritos Fúnebres.

Artigo 9º
Constituem símbolos da Umbanda:
9.1 O Hino a Umbanda;
9.2 A Bandeira da Umbanda;
9.3 O Juramento Umbandista.

Artigo 10º
Sendo a Umbanda a manifestação do espírito para a prática da caridade deverá
sempre ser exercida sem remuneração, salvaguardada a sustentação financeira da
organização religiosa.

Artigo 11º
O adepto da religião de Umbanda deve sempre seguir a ética religiosa e a lei dos
homens.

Artigo 12º
Todo irmão umbandista que desejar fazer parte do corpo mediúnico de um Templo
deverá prestar o “Juramento Umbandista”.

Artigo 13º
A Umbanda defende uma sociedade em que todas as religiões sejam igualmente
respeitadas, a promoção da tolerância como princípio republicano e a preservação da
educação pública laica.

Artigo 14º
A Umbanda será sempre uma casa de portas abertas para todos

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

AGRADECIMENTOS

Primeiramente gostaria de agradecer a todos que dedicaram seu tempo em ler até
aqui.
Gostaria de agradecer a nosso Pai Oxalá pelas suas bênçãos.
Gostaria de agradecer a meu Pai Ogum por sempre me proteger.
Gostaria de agradecer minha mãe Iemanjá por me presentear com mais um dia de
vida. Todo Santo Dia.
Gostaria de agradecer meu guia chefe. Cacique Pena Vermelha que não tenho
dúvidas que me acompanha desde meu nascimento.
Meu anjo da guar. Meu protetor.
Agradecer também aos meus avos. Antonio Augusto Alves e Flora Vasques Alves,
quem sempre me ensinou e continua me ensinando até este momento.
Agradeço a minha mãe por tudo que faz em minha vida e por sempre estar me
apoiando.
Agradeço a minha família, pois sem ela não tenho dúvidas que não estaria onde
estou .
Obrigado Amanda, minha mulher, minha amiga e companheira para toda vida.
Agradeço a Marcio Kaim onde fiz meu curso de Teologia da Umbanda, pois lá aprendi
muito com todos.
Agradeço a todos que me apoiam e continuam me apoiando.
Gratidão a todos de um irmão que só quer passar um pouquinho de conhecimento
para que no futuro não se perca a essência.

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A UMBANDA BRANCA Por Rodrigo Alves

CONCLUSÃO

Salve, salve meus irmãos.


Em primeiro lugar gostaria de dizer que não estou aqui para criar regras e tão pouco
ir contra a qualquer doutrina de umbanda que temos em nosso país.
Antes de ir estudar um pouco sobre a umbanda não fazia ideia da diversidade que
tem nossa religião.
Gostaria de deixar bem claro que nada que se encontra aqui escrito eu criei.
Não tenho mérito nenhum sobre essa obra.
Primeiramente deixo claro que todo o conteúdo aqui escrito foi dos meus estudos,
minha vivência de terreiro e as doutrinas de quem eu sigo e vou levar a diante com
muito amor e carinho para o resto de minha vida.
A Umbanda é paz;
A umbanda é amor;
A Umbanda é humildade.
Não tenho interesse nenhum de fazer um livro desse material e sim disponibilizar a
todos que assim o queiram em “PDF” haja visto, que não terei custo algum.
O que foi me dado de graça, entrego de graça a todos meus irmãos.
Também gostaria de deixar claro que a Umbanda não é a melhor religião, mesmo
porque a melhor religião pra você meu irmão, é a que te faz melhor. Pense nisso.
Independente de suas crenças, suas convicções e pensamentos. Se tiver amor,
humildade e caridade você esta no caminho certo.
Vamos ser pessoas melhores, vamos plantar o amor para colher o amor.
O mundo esta precisando de mais pessoas que pensam em seu próximo.
Vou ficando por aqui com a sensação de dever cumprido com meus irmãos.
Coloco-me a disposição para quaisquer esclarecimentos.
E mais uma vez repito. Essa obra não é minha.

Essa obra é de todos.


Essa obra é da umbanda.
Essa obra é de nossas doutrinas.

Axé meus irmãos, fiquem todos com Deus e lembre-se . Deus esta dentro de nós. É só
querer enxergar. Dê a permissão para que ele atue em sua vida.
Que assim seja e assim será. A todos nós. Axé

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