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Fundamentos da Procura Agregada

Maria Costa, 5356


Miguel Moreira, 1246
Rui Valente, 5381

Trabalho apresentado ao docente: Prof. Fernando Costa


da unidade curricular:: Macroeconomia
Ano: 1º
Turma: 2
Curso: Licenciatura em Gestão de Empresas

Instituto Superior de Entre Douro e Vouga


Maio, 2020
Fundamentos da Procura Agregada

ÍNDICE

INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 3
A PROCURA AGREGADA ....................................................................................... 4
PROCURA AGREGADA VS OFERTA AGREGADA ............................................ 5
ÓTICAS DO PIB ........................................................................................................ 8
FUNDAMENTOS DA PROCURA AGREGADA ..................................................... 9
C – CONSUMO PRIVADO .................................................................................. 10
G – CONSUMO PÚBLICO .................................................................................. 16
I – INVESTIMENTO ............................................................................................ 18
(X – M) – BALANÇA COMERCIAL .................................................................. 23
CURVAS DA PROCURA AGREGADA ................................................................. 26
DESLOCAÇÕES DA CURVA DA PROCURA AGREGADA ........................... 28
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 29
BIBLIOGRAFRIA .................................................................................................... 30
WEBGRAFIA ........................................................................................................... 30

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Fundamentos da Procura Agregada

INTRODUÇÃO
“A poupança, de facto, não passa de um simples resíduo. As decisões de
consumir e as decisões de investir determinam, conjuntamente, os
rendimentos.”

– John Maynard Keynes –

Este trabalho foi proposto pelo docente Fernando Costa, no âmbito da disciplina
de Macroeconomia, do 1º ano da Licenciatura de Gestão de Empresas.

O objetivo deste trabalho passa por definir o que é a procura agregada e os seus
fundamentos.

Primeiramente é importante reconhecer as diferenças entre a Microeconomia e a


Macroeconomia, uma vez que, a primeira examina a economia de “baixo para cima”, ou
seja, esta é definida como o estudo do comportamento dos agentes económicos, dos preços,
das quantidades e dos mercados individualmente, enquanto que, a Macroeconomia,
também conhecida como "cross-section", examina a economia como um todo, "de cima
para baixo", para explicar os diversos agregados e suas interações.

A Macroeconomia analisa o produto global de um país, o emprego, os preços, o


comércio internacional e o equilíbrio das contas públicas, esta ciência traduz o resultado da
conjugação das decisões individuais que a microeconomia estuda e, portanto, o destino
político, social e militar dos países depende fundamentalmente do sucesso económico e
nenhuma área da economia é atualmente mais vital do que o sucesso de um país no seu
desempenho macroeconómico. É de salientar ainda que, o nível de vida de um país depende
fundamentalmente destas duas políticas macroeconómicas.

Por fim, para uma melhor compreensão destes fatores macroeconómicos, iremos
abordar a Procura Agregada e os seus fundamentos, onde é possível encontrar variáveis
chave como o consumo, privado e público, os investimentos e por fim a balança comercial
ou exportações líquidas, que iremos desenvolver ao longo do trabalho, facilitando deste
modo a obtenção de resultados e possíveis conclusões. Teremos similarmente em conta
outros aspetos macroeconómicos tais como, o Produto Interno Bruto nas diferentes óticas,
contudo, vamos focar-nos na ótica da despesa e finalmente traçar curvas da procura
agregada e as suas respetivas deslocações.

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Fundamentos da Procura Agregada

A PROCURA AGREGADA
A macroeconomia, enquanto disciplina autónoma da Teoria económica é
relativamente recente. Desenvolveu-se a partir dos finais dos anos 30 em virtude do
impacto provocado pela “Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda” de John
Maynard Keynes.

A “Teoria Geral” alterou a metodologia de análise económica vigente, de cariz


essencialmente microeconómico e introduziu uma metodologia diferente caracterizada
pela natureza agregada das variáveis, bem como, pela globalidade das relações
estabelecidas entre os agentes económicos.

Esta teve um grande impacto nas suas propostas de Política Económica e


consequente necessidade da intervenção do Estado vocacionada a influenciar/alterar o
funcionamento económico global. Tais propostas, decorrem da demonstração do não
automatismo dos mecanismos de mercado em assegurarem o equilíbrio macroeconómico
de pleno emprego, desde que se registe uma insuficiência da procura agregada.

Keynes contrapõe a tese clássica ou liberal, de transitoriedade das situações de


desemprego, a tese da possibilidade de desemprego involuntário elevado e persistente.

Neste contexto, só uma política de fomentação à procura agregada poderia


relançar a produção e o emprego. Deliberadamente, e não de uma forma automática, se
poderia atingir o pleno emprego, a intervenção do Estado, através da manipulação de
certos instrumentos, particularmente das Despesas Públicas e dos Impostos, seria
suscetível de encaminhar a economia para elevados níveis de emprego.

A procura agregada tem como base o pensamento do economista britânico John


Maynard Keynes.

A Procura Agregada, frequentemente designada por AD, do inglês Agregate


Demand, designa-se pela quantidade total ou agregada do produto que é possível adquirir
a um determinado nível de preços, mantendo-se tudo o resto constante.

Por outras palavras, a procura agregada mede a despesa total de todas as distintas
entidades da economia. Esta depende dos bens de consumo adquiridos pelos
consumidores, pelas empresas, pelo Estado e das exportações líquidas.

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Fundamentos da Procura Agregada

PROCURA AGREGADA VS OFERTA AGREGADA


As variáveis da política económica e as variáveis externas subdividem-se em duas
categorias, as que afetam a oferta agregada e as que afetam a procura agregada, esta
divisão é essencial para a determinação do nível de produto, os preços e o desemprego.

A oferta agregada (AS), é relativa à quantidade total de bens e serviços que as


empresas de um determinado país estão dispostas a produzir e a vender num dado período.
Esta está dependente do preço, da capacidade de produção da economia e do nível de
custos, enquanto que a procura agregada (AD), refere-se à quantidade total que os
diferentes setores da economia estão dispostos a gastar num dado período, ou seja, esta é
a soma da despesa pelos consumidores, empresas e outros agentes e também depende do
nível de preços, política monetária, fiscal e de outros fatores.

Figura 1: Procura e Oferta Agregadas (Nordhaus, 2005)

A procura agregada mede a despesa total de todas as entidades da economia.


Esta variável macroeconómica depende dos automóveis, alimentos e outros bens de
consumo adquiridos pelos consumidores; dos edifícios fabris e equipamentos adquiridos
pelas empresas; das bombas telecomandadas e computadores adquiridos pelo governo e
por fim das exportações líquidas. As compras totais são afetadas pelos preços a que os
bens são oferecidos pelas forças externas e pelas políticas governamentais.

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Por outro lado, a oferta agregada é afetada pelo nível de preços que, quanto
maior for, maior será a oferta agregada e, quanto mais se tenta controlar a inflação, menor
será o estímulo dado às empresas, logo menor será a oferta agregada.

Na teoria microeconómica, a oferta e a procura são as que descrevem, explicam e


preveem o preço e a quantidade de bens vendidos em mercados plenamente competitivos.
Este é um dos modelos económicos fundamentais, usado como base para uma série de
outros modelos económicos mais detalhados e complexos. Contudo, na macroeconomia,
conforme se evidencia na figura 1, contempla-se a interação das diferentes forças para
determinar a atividade económica global e, ainda as variáveis que afetam a oferta
agregada e a procura agregada, onde é notório a existência perfeitamente possível de
equilíbrio, isto é, o PIB e os preços deslocam-se para o nível em que os consumidores
estejam mais dispostos a consumir e a comprar, e as empresas disponíveis para produzir
e consequentemente vender.

Portanto, o produto e o nível geral de preços são determinados pela conjugação da


oferta e da procura agregada e, as curvas destas, são usadas frequentemente para auxiliar
a análise do equilíbrio macroeconómico, onde se poderá verificar de que maneira a
expansão monetária origina um aumento dos preços e um maior produto.

Figura 2 - Curva da procura agregada (AD) e oferta agregada (AS) (Nordhaus, 2005)

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O equilíbrio macroeconómico no ponto E, conforme a figura 2, mostra que nesse


nível geral de preços (150), em que as empresas estão dispostas a produzir e vender
(3000mil milhões), os consumidores estão exatamente dispostos a adquirir esse produto
total, mantendo-se constantes a oferta da moeda, a política fiscal e a disponibilidade de
capital. Ou seja, esse ponto de valores de equilíbrio da quantidade e do preço, corresponde
ao PIB real 1e o nível de preços que satisfaz tanto aos consumidores como aos vendedores.

1
PIB real consiste em escolher um ano-base para calcular a variação da produção

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ÓTICAS DO PIB
Sendo o objetivo final da atividade económica produzir bens e serviços desejados
pela população, também é importante salientar que, a medida mais abrangente do produto
de uma economia é, portanto, o produto interno bruto – o PIB, esta é a medida do valor
de mercado de todos os bens e serviços finais produzidos num determinado país durante
um dado período de tempo (tipicamente um ano ou um trimestre), e que, pode ser medido
segundo três óticas distintas. Primeiramente, segundo a ótica da oferta ou da produção,
o PIB é a soma de valor acrescentado bruto (VAB2) a preços de base dos diferentes ramos
de atividade, acrescido de impostos líquidos de subsídios sobre os produtos, por outro
lado, segundo a ótica da procura ou da despesa, o PIB corresponde à soma das despesas
de consumo final das famílias residentes ou das instituições sem fins lucrativos ao serviço
das famílias (estes dois agregados correspondem a uma designação mais simples de
consumo privado) e, das administrações públicas (neste caso, também habitualmente
designado de consumo público) com o investimento e as exportações líquidas de
importações. Por fim, na ótica do rendimento, o PIB corresponde à soma das
renumerações do trabalho, dos impostos líquidos de subsídios sobre a produção e
importação, e do excedente bruto da exploração. Portanto, o produto e o nível de preços
resultantes determinam o emprego, o desemprego e as exportações líquidas e, a análise
da procura agregada centra-se nas determinantes do consumo real.

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O VAB refere-se à produção deduzida do consumo intermédio necessário para a obter. Esta, reparte-se
em três grandes componentes: encargos salariais, impostos líquidos de subsídios e excedente bruto de
exploração (que por sua vez, pode-se dividir em impostos, juros, rendas, lucros distribuídos, nomeadamente
dividendos e lucros não distribuídos).

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FUNDAMENTOS DA PROCURA AGREGADA

Segundo a abordagem Keynesiana, a política orçamental influência a atividade


económica fundamentalmente através da procura agregada, devido a todos os seus
componentes de que é constituído, que irão ser abordados posteriormente.

• Na ótica da despesa, o valor do PIB é então medido, considerando:

Procura Agregada (AD)= 𝐂 (consumo privado) + 𝐆 (consumo público) +


𝐈 (investimento) + 𝐗 (exportações) − 𝐌 (importações)

Figura 3 - Componentes da Procura Agregada (Nordhaus, 2005)

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C – CONSUMO PRIVADO

A variável C designa o consumo privado e é a principal componente da despesa


interna e é utilizada para o cálculo do PIB. Esta variável depende essencialmente do
rendimento disponível das famílias líquido de impostos, que pode ser afetada pela
riqueza das famílias e pelo nível agregado de preços e, para além disto, esta variável
depende simultaneamente da propensão marginal ao consumo, isto é, da repartição
efetuada pelas famílias e do seu rendimento disponível entre o consumo e a poupança.

O consumo privado engloba diversos gastos, tais como a alimentação, educação,


saúde, vestuário, eletrodomésticos, automóveis, faturas com água, eletricidade, gás,
combustíveis e comunicações, no entanto, este mesmo consumo não inclui despesas em
bens duradouros como a compra/aquisição de habitação, assim sendo, é considerado um
investimento.

R = Rendimento
𝑹 =𝑪+𝑺 C = Consumo

S = Poupanças

Estudos económicos demonstraram que o rendimento é o principal determinante


do consumo e da poupança, sendo que, uma das relações mais importantes é a função
consumo, que indica a relação entre o nível de despesas de consumo e o nível de
rendimento pessoal disponível.

C = Consumo agregado

A = Consumo autónomo
𝑪 = 𝑨 + 𝒃𝒀, 𝒄𝒐𝒎 𝟎 < 𝒃 < 𝟏
b = Propensão marginal a
consumir

Y = Rendimento disponível

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Sendo que o rendimento disponível é dado por:

𝒀=𝒀 − 𝑻 T = Impostos

E a função imposto é dado por:

T = Impostos autónomos
𝑻 = 𝑻 + 𝒕𝒀, 𝒄𝒐𝒎 𝟎 < 𝒕 < 𝟏
t = Taxa de imposto

Este conceito introduzido por Keynes é baseado na hipótese de que, o rendimento


disponível das famílias pode ser utilizado sob a forma de despesas de consumo ou
poupança, o que significa que a poupança representa simplesmente a parte do rendimento
disponível não utilizada no consumo.

𝑺 = 𝒀 − 𝑪 <=> 𝑺 = 𝒀 − (𝑨 + 𝒃𝒀) <=> 𝑺 (1- b) = Propensão


= −𝑨 + (𝟏 − 𝒃)𝒀 marginal a
poupar

A relação entre o consumo e o rendimento, ilustrado na figura 4, indica que a partir


da linha de 45º, os eixos horizontal e vertical têm exatamente a mesma escala e, portanto,
a despesa com consumo é igual ao nível de rendimento disponível, designado por ponto
limiar (ponto B).

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Fundamentos da Procura Agregada

As famílias neste ponto


não recorrem ao crédito, mas
simultaneamente não poupam.

Porém, se a função
consumo se situa acimada da
linha de 45º, a família está a
utilizar poupanças passadas (o
montante das poupanças
passadas é dado pela distância
entre a função consumo e a
bissetriz) e, se se situa abaixo, Figura 4 - Função Consumo (Nordhaus, 2005)
tem uma poupança positiva.

Verifica-se ainda que, o consumo é menor do que o rendimento, pelo facto de que,
a função consumo se situar abaixo da bissetriz, no ponto E.

Por sua vez, a função poupança, ilustrada na figura 5, mostra a relação entre o
nível de poupança e o rendimento.

Esta função é
obtida através da
subtração do consumo ao
rendimento e, portanto, é
o reverso da função
consumo.

Figura 5 - Função poupança (Nordhaus, 2005)

Ainda a partir do gráfico, demonstrado na figura 5, conclui-se que, a função


poupança está abaixo da linha de poupança nula no ponto A, do mesmo modo que, a
poupança positiva ocorre para a direita do ponto B, visto que a função poupança está
acima da linha de poupança nula. Pode ainda, ocorrer um declínio na poupança devido, à
diminuição dos mercados de capitais, como por exemplo, os empréstimos a estudantes,
devido a um abrandamento ao nível do crescimento dos rendimentos, aos incentivos à
poupança, à evolução demográfica.

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Fundamentos da Procura Agregada

Outro aspeto macroeconómico é a resposta ao consumo e as variações no


rendimento, designado por propensão marginal ao consumo (PMgC), que se refere ao
montante adicional que as pessoas consomem quando recebem uma unidade monetária
adicional de rendimento e, portanto, esta é a que relaciona a variação do consumo por
cada unidade monetária de variação de rendimento, conforme a inclinação da função
consumo.

Figura 6 - Propensões Marginais ao Consumo e à Poupança (Nordhaus, 2005)

Conforme indica a figura 6, verifica-se que cada unidade monetária de rendimento


que não é consumido, é poupado, e, cada unidade monetária de rendimento adicional vai
ou, para consumo adicional ou, para poupança adicional.

É necessário ter em consideração, alguns determinantes do consumo, pois, não


basta apenas demonstrar padrões orçamentais, uma vez que, existem forças que
influenciam a despesa dos consumidores, como o facto de se se tratar de um rendimento
disponível corrente, onde, segundo uma mera observação informal e estudos estatísticos
demonstram que o nível corrente do rendimento disponível é o fator central na
determinação do consumo de um país. Os rendimentos permanentes, são outras forças
que influenciam a despesa e referem-se ao nível de rendimentos que as famílias
receberiam se fossem expurgadas as influências temporárias ou transitórias e, por fim, a
riqueza e outras influencias, que são identificadas temporalmente como determinantes
importantes da poupança e do consumo.

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A combinação destes fatores, conforme indica o cálculo abaixo, permite


determinar a propensão marginal ao consumo (PMgC) e a propensão marginal à
poupança (PMgS).

𝑪 𝑺
𝑷𝑴𝒈𝑪 = 𝑷𝑴𝒈𝑺 =
𝒀 𝒀
𝑷𝑴𝑪 + 𝑷𝑴𝑺 = 𝟏

No quadro abaixo, conseguimos retirar informação relevante acerca da variável C


(Consumo Privado), em termos monetários de 1960 até 2010 o aumento do consumo
privado foi progressivo, no entanto, após 50 anos de aumento do consumo privado, houve
uma quebra desde o ano de 2011 até 2015, após esta quebra de 5 anos, mantemos o
consumo privado alto até aos dias de hoje.

O consumo privado foi reduzido de forma significativa, devido à crise económica,


marcada pela austeridade, que ocorreu no ano de 2008/2009, graças a esta houve uma
quebra abrupta no rendimento, pois muitas pessoas foram despedidas, isto provocou uma
descida enorme no consumo das famílias portuguesas.

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Fundamentos da Procura Agregada

Tabela 1: Consumo Privado (base=2016) (PORDATA)

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G – CONSUMO PÚBLICO
A variável G designa o consumo público, consumo coletivo, gastos do Estado ou
ainda despesa pública. Esta variável é determinada diretamente pelas decisões da despesa
do Estado na vertente da Economia Política. Neste caso, estamos a fazer referência a toda
a despesa do Estado na aquisição de bens e serviços incluindo por exemplo, quando o
Estado paga o salário a um professor, está a incorrer numa despesa com a educação,
quando adquire material bélico incorre numa despesa com a Defesa Nacional, quando
paga o vencimento de um juiz incorre numa despesa com a Justiça, que deverão ser
incluídas nesta variável macroeconómica.

Não obstante ser o Estado o único interveniente neste tipo de consumo, o mesmo
terá de ter em atenção o nível de consumo a que se dispõe, pois na eventualidade de ser
exacerbado poderá incorrer num desequilíbrio das Contas Públicas colocando em causa
um dos grandes objetivos macroeconómicos que é o Equilíbrio das Contas Públicas.
Assim sendo uma política orçamental rigorosa é de enorme importância, na medida em
que se existir um rigor na sua execução na ótica da despesa, isso irá contribuir na
persecução dos grandes objetivos macroeconómicos.

No quadro abaixo, podemos ter uma melhor ideia relativamente à variável G


(Consumo Público), em termos monetários no decorrer das últimas 6 décadas.
Verificamos assim que o mesmo foi sempre crescente até 2011. Nesta fase Portugal esteve
sujeito a um maior controlo de despesa publica em função das exigências por parte do
BCE e seus parceiros, para que Portugal pudesse ser resgatado financeiramente uma vez
que se encontrava com graves problemas de financiamento.

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Fundamentos da Procura Agregada

Tabela 2: Consumo Público (base=2016) (PORDATA)

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I – INVESTIMENTO
A variável I, respeita ao investimento, sendo a 2ª maior componente da despesa
privada e desempenha 2 papeis fundamentais. Primeiro sendo uma componente de
despesa grande e volátil, variações acentuadas no investimento podem ter enorme
influência na procura agregada, afetando o produto e o emprego a curto prazo. Em
segundo lugar, conduz à acumulação de capital, aumentando o produto potencial de um
país, promovendo o crescimento económico no longo prazo.

O principal canal através do qual a política económica pode afetar o investimento


é o da política monetária.

O investimento é acima de tudo uma aposta para o futuro, fundamental para o


bem-estar social de gerações presentes e vindouras, que é decidido numa economia de
mercado pelas empresas com base na rentabilidade expectável. No entanto a sua grandeza
depende da procura do produto produzido pelo novo investimento, bem como as taxas de
juro e dos impostos que têm forte preponderância nos custos de investimento, e das
expectativas sobre o estado da economia.

I = Investimento autónomo
𝑰 = 𝑰 − 𝒌𝒓 r = taxa de juro

k = sensibilidade do investimento à taxa de


juro

A componente I desempenha um duplo papel, na afetação do produto no curto


prazo através do impacto na procura agregada, e influenciando também o crescimento do
produto a longo prazo através do impacto na formação de capital sobre o produto
potencial e da oferta agregada.
A curva da procura de investimento permite nos compreender a relação entre as
taxas de juro e o investimento, uma vez que é por força dessas mesmas taxas que o estado
aposto no investimento.

As empresas comparam as receitas anuais do investimento com o custo anual do


capital, que depende da taxa de juro. A essa diferença damos o nome de lucro ilíquido

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anual. Sendo positivo significa que estamos numa situação em que ganhamos dinheiro
com o investimento. Por contraposição se for negativo há uma perda de dinheiro.

Figura 7: Função da Procura de Investimento (Nordhaus, 2005)

O gráfico da procura de investimento, acima exposto, relaciona o montante que as


empresas investiram com cada taxa de juro. Cada degrau representa um montante de
investimento, sendo que o mais elevado é o B e, verifica-se que, a taxa de juro ao aumentar
de 5% para 10%, um novo equilíbrio ocorre em M’, com um investimento mais reduzido
do que o primeiro.

Sendo que a lucratividade do investimento varia de forma inversa à taxa de juro,


que é o custo do capital, deduzimos então uma curva de procura de investimento negativa,
em razão de que quanto mais elevada a taxa de juro menor é a propensão ao investimento.
A taxa de juro real é aquela que influencia de forma determinante a tomada de decisões
de investimento, pois esta corrige a taxa de juro nominal com a taxa de inflação.

Taxa juro real = Taxa de juro nominal – Taxa de inflação

No entanto, o investimento é também afetado por um aumento do PIB, fazendo


deslocar a curva da procura do investimento para fora. No entanto também essa mesma

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Fundamentos da Procura Agregada

curva poderá ter um deslocamento para dentro (esquerda) resultado de aumento de


impostos sobre o rendimento de capital.

Figura 8: Rendibilidade do Investimento (Nordhaus, 2005)

O investimento é uma variável de fluxo (tal como o consumo), a qual é


normalmente acumulável através de vários períodos (ao contrário do consumo). Ao
investimento acumulado atribui-se a designação de capital, o qual será, portanto uma
variável de stock ou uma variável acumulada. Dada a característica referida, ao
investimento podemos igualmente chamar formação bruta de capital (novamente, o termo
bruto refere-se ao facto de não se ter em conta a depreciação do capital acumulado, ou
seja, ao facto de esta depreciação não ser alvo de amortização).

Nas contas nacionais, o investimento ou formação de capital surge como a soma


de três componentes:

- Formação bruta de capital fixo (FBCF);

- Variação de existências ou de inventários;

- Aquisição (menos alienação) de valores.

A FBCF corresponde à aquisição (líquida de eventuais alienações) de ativos fixos


duráveis, sejam eles de natureza tangível ou intangível.

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Fundamentos da Procura Agregada

A variação de existências define-se como a entrada menos a saída de bens e


serviços em inventário, isto é, daqueles bens e serviços que tendo já sido produzidos ou
encontrando-se em fase de produção, ainda não foram objeto de transação no mercado.

Quanto à aquisição de valores, esta respeita a ativos que não são em primeira
instância para consumo ou produção, mas que servem essencialmente como reserva de
valor; são, portanto, bens que não se deterioram no tempo e para os quais é expectável
um movimento de apreciação (metais preciosos, antiguidades, objetos de arte, …).

As determinantes principais do investimento prendem se geralmente com a


obtenção de lucros futuros na conjugação dos fatores receitas conjuntamente com custos
e expetativas. No entanto o resultado do investimento é imprevisível resultante do facto
de estar dependente de vários fatores como o sucesso ou insucesso de um novo produto,
variações das taxas de impostos, comportamentos políticos entre outros fatores
igualmente instáveis da vida económica.

O consumo e investimento são complementares uma vez que são determinantes


para economia de um país. Os países que consomem apenas uma parcela dos seus
rendimentos e investem fortemente tendem a ter um crescimento rápido do rendimento e
dos salários. No entanto, os países que consomem grande parte dos seus rendimentos,
investem pouco em novas fábricas e equipamentos e apresentam taxas modestas de
crescimento de produtividade e de salários.

A relação entre a despesa e o rendimento assume um papel diferente no curto


prazo durante as expansões e contrações do ciclo económico. Quando as condições
económicas permitem o crescimento rápido do consumo e do investimento, então
aumenta a despesa total, ou a procura agregada, aumentando o produto e o emprego. Por
oposição quando o consumo diminui, devido a um aumento de imposto ou perda de
confiança dos consumidores, isso fará com que a despesa diminua, podendo conduzir a
economia para uma recessão.

Podemos concluir então que compreender o consumo e investimento ajuda no


compreender o que determina a procura agregada (AD).

O quadro em baixo permite-nos verificar a distribuição do Investimento entre o privado


e o público. Verificamos a partir da sua análise que o investimento privado sempre foi
superior ao público e foram sempre crescentes o privado até 2008 e o publico até 2010.

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Fundamentos da Procura Agregada

O fato da quebra deveu-se a crise económica que acaba por surgir no decorrer de 2010.
O investimento do privado desacelerou mais cedo por falta de confiança e de perspetiva
futura tentando o público acarretar com a diferença. Não obstante os esforços e face à
necessidade de financiamento do estado português, este viu se obrigado também a reduzir
o seu nível de investimento na ótica da despesa.

Tabela 3: Formação Bruta de Capital Fixo (base=2016) (PORDATA)

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Fundamentos da Procura Agregada

(X – M) – BALANÇA COMERCIAL
As duas últimas componentes da equação da despesa respeitam às relações da
economia com o exterior (X representa as exportações e M reflete o valor das
importações).

As exportações correspondem à transação de bens e serviços com origem em


residentes e com destino a não residentes enquanto que as importações serão a transação
de bens e serviços que têm como origem agentes não residentes e como destino agentes
residentes na economia que se está a considerar.

Utilizou-se o termo transação e não venda para definir exportações e importações


porque estas não têm de ter necessariamente como contrapartida dinheiro; a troca direta
de bens ou serviços com o exterior, por exemplo, corresponde simultaneamente a uma
exportação e a uma importação.

A diferença entre exportações e importações é vulgarmente designada por


exportações líquidas, balança comercial ou balança corrente (a designação balança
comercial é geralmente usada num sentido mais restrito – transação de bens ou
mercadorias – enquanto que o termo balança corrente engloba também a transação de
serviços, as transações sem contrapartida ou unilaterais e os fluxos de rendimentos entre
os países).

A variável importações é a única componente que surge na equação da despesa


com sinal negativo. É conveniente perceber por que razão tal acontece: quando
determinamos os valores de consumo, público ou privado, e investimento, estamos a
contabilizar tudo o que é consumido ou investido na economia, independentemente do
respetivo local de origem da produção. No entanto, não podemos esquecer o objetivo do
nosso cálculo, que é medir o valor da produção interna; desta forma, temos de subtrair ao
valor total do consumo e do investimento aquela despesa final que não corresponde a
produção doméstica; isto é feito através da subtração das importações, de modo que esta
variável corresponde à importação de todo o tipo de bens: bens de consumo e bens de
investimento.

À soma das componentes da despesa que exclui as relações com o exterior dá-se
o nome de procura interna. A procura interna é uma soma cujas parcelas são o consumo
privado, o consumo público e o investimento; desta forma, considera-se toda a despesa

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Fundamentos da Procura Agregada

efetuada em território nacional independentemente da proveniência dos bens e serviços


que possibilitam essa despesa.

A ótica da despesa para cálculo do PIB será aquela que contabiliza o valor dos
bens a posteriori, quando eles são objeto de transação no mercado. Assim sendo, o
respetivo valor do PIB que é encontrado é já um valor a preços de mercado. A preços de
mercado estarão também avaliadas cada uma das componentes da despesa que
considerámos, ou seja, tal como o PIB, consumo privado, consumo público, investimento,
exportações e importações são valores monetários que representam medidas agregadas
ou macroeconómicas.

Tabela 4: Balança Comercial - Estatísticas de Balança de Pagamentos, 2020 (PORDATA)

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Fundamentos da Procura Agregada

No quadro acima exposto podemos verificar que Portugal apresentou até ao ano
de 2010 um saldo deficitário da balança comercial. Após esse mesmo ano conseguimos
reverter para valores positivos, mas continuamos a estar muito dependentes das
importações. Num futuro próximo, i.e., no decorrer deste ano, iremos muito certamente
voltar a um estado deficitário em virtude da nossa forte exposição ás importações e
também por consequência da diminuição das exportações.

Para um melhor enquadramento da procura agregada apresentamos aqui um


quadro com a distribuição percentual dos seus fatores para melhor compreensão.

Tabela 5: PIB, na ótica da despesa (INE, 2020)

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Fundamentos da Procura Agregada

CURVAS DA PROCURA AGREGADA


A curva da procura agregada relaciona a despesa com o nível de preços.

A curva tem um declive negativo porque podemos concluir que, ao haver, uma
queda nos preços faz aumentar a quantidade total de bens e serviços procurados,
mantendo-se os outros fatores constantes.

Se os preços aumentam, o produto nominal aumenta, devido à influência pelos


preços correntes/inflação, enquanto que o produto real (que traduz o crescimento
económico) pode diminuir.

A função da procura agregada evidencia a relação de equilíbrio que tem de existir


entre o produto e a inflação.

Como o produto (rendimento) de equilíbrio a curto prazo é igual à despesa interna


(ou procura agregada de bens e serviços nacionais).

Assim:

• A curva da procura agregada é também uma relação entre despesa interna de


equilíbrio de curto prazo e inflação.

• Para uma taxa de inflação superior, só haverá equilíbrio simultâneo dos dois
mercados, se o produto for menor.

• Para uma taxa de inflação inferior, só haverá equilíbrio simultâneo dos dois
mercados, se o produto for maior.

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Fundamentos da Procura Agregada

Assim, podemos constatar que o declive da reta seja decrescente.

Figura 9: Movimentos ao longo da curva da procura agregada (Nordhaus, 2005)

Esta, tem uma inclinação decrescente, devido ao efeito da oferta da moeda, uma
vez que, com o aumento da inflação ocorre uma diminuição do poder de compra. O PIB
nominal aumenta pela ilusão monetária e, quanto maior a inflação, maior será a taxa de
juro, o que conduz a uma redução na capacidade de investimento. O aumento da inflação
também conduz a uma menor competitividade, uma vez que o aumento dos preços origina
uma estagnação do comércio com o exterior, ocorrendo um deslocamento ao longo da
curva da procura agregada, como demonstra a figura 9.

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DESLOCAÇÕES DA CURVA DA PROCURA AGREGADA


As deslocações da curva da procura agregada ocorrem sempre que existem
modificações de fatores que não o preço, pois este apenas provoca deslocações ao longo
da curva.

Figura 10 - Deslocações da curva da procura (Nordhaus, 2005)

Esses fatores vão desde a política monetária, que está relacionada com a oferta da
moeda e a taxa de juro (uma diminuição da taxa de juro origina um aumento da procura
e da concessão de crédito pelos bancos), à política orçamental, onde o aumento dos gastos
públicos faz aumentar a procura agregada, ou seja, o investimento, e, por fim, as variáveis
exógenas, como a evolução tecnológica, o rendimento externo, entre outros.

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CONCLUSÃO
Uma das variáveis mais importantes da economia: a procura agregada é
essencialmente importante para que consumidores, produtores e Estado saibam os preços
dos bens e serviços que pretendem comprar. Esta serve como parâmetro para um futuro
planeamento económico a realizar com as compras, sem comprometer o
rendimento/orçamento.

A procura agregada é a soma de cada uma das variáveis da economia, ou seja, esta
contabiliza o total de bens e serviços de uma determinada economia, em que os
consumidores, as empresas e o Estado estão dispostos a comprar. Esta representa ainda o
gasto total, o famoso Produto Interno Bruto (PIB), segundo a ótica da despesa.

Esta variante económica está diretamente interligada ao comportamento e ao


desenvolvimento da política monetária e fiscal do país, do rendimento dos consumidores
disponível para consumo, dos impostos a que estão sujeitos, dos gastos públicos efetuados
pelo Estado, entre outros.

Para que o governo consiga aumentar o crescimento da economia de um país, o


próprio deverá tomar certas decisões, primeiramente o investimento no capital humano,
isto é, deve promover a educação através de programas específicos de formação
profissional, melhoria de cuidados de Saúde Preventiva, a fim de assegurar um aumento
da assiduidade no trabalho, criar condições para assegurar o capital humano já existente,
por outro lado, deverá haver um investimento em infraestruturas públicas de grande
importância e fundamentalmente para o desenvolvimento económico do país.

Sem a infraestruturas, as empresas não conseguem desenvolver, com firmeza, os


seus negócios. Vão promover atividades que geram externalidades positivas, como o
desenvolvimento de produtos e desenvolvimento de novas tecnologias. Vão promover a
eficiência dos mercados, ou seja, a formação dos preços dos ativos no mercado de
capitais. Vão fornecer bens públicos, eliminar externalidades negativas, eliminar os
efeitos negativos provocados pela intervenção do estado e promover a poupança nacional
necessária para o financiamento de todos os investimentos acima citados.

Em suma, estes conteúdos pertencem todos ao grupo da Macroeconomia. A mesma estuda


a economia em geral, analisando a determinação e o comportamento dos grandes
agregados.

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BIBLIOGRAFRIA

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A. Samuelson Paul e D. Nordhaus William (2005). ECONOMIA (14ª edição). Mc Graw-


Hill.

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https://www.fep.up.pt/disciplinas/1g202/complementar/AS%20AD.pdf

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https://notapositiva.com/old/dicionario_economia/procuraagregada.htm

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https://www.pordata.pt/Portugal/Produto+Interno+Bruto+na+%C3%B3ptica+da+despes
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https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/28445/4/AS.AD.NOVO.pdf

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