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OS POSSÍVEIS IMPACTOS DA RETIRADA DOS

SUBSÍDIOS AOS COMBUSTÍVEIS NA ECONOMIA


ANGOLANA

Kiangebeni Mbuta Lopes 

RESUMO

Os subsídios aos combustíveis na economia angolana são uma das garantinhas da


redução dos encargos produtivos para permitir, redução de custos de produção, maior
competitividade, maior flexibilidade nos preços, também permitem o acesso aos bens e
aumentam a reserva alimentar interna. Entretanto, para que seja possível a compreensão
mais completa e abrangente do seu impacto na economia é importante saber quais são as
variáveis fundamentais que são influenciados nesse processo. Para tanto, este artigo
objectiva apresentar uma visão sobre os impactos da possível retirada dos subsídios ao
combustível na economia de Angola, apresentando argumentos qualitativo e quantitativos
sobre a temática através de uma revisão de literatura.

Palavras-chave: Subsídio ao combustível em Angola. Preço dos combustíveis. Taxa de


câmbio. OGE 2023. Emprego. Inflação. PIB. Paridade de importação e exportação.

INTRODUÇÃO

Nas economias de mercado os preços dos derivados do petróleo flutuam,


entretanto, as suas variações significativas causam impactos ao sector produtivo e aos
consumidores. Os Combustíveis são commodities, nenhum país é formador de preço, a
sua cotação é estabelecida pelo mercado, excepto os países que adotam controles, todos
trabalham com as referências internacionais. Os preços dos derivados de petróleo devem


Finalista em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade Agostinho Neto em
2021/2022
E-mail: kiangebenimbuta553@gmail.com
ser mantidos aos valores relacionados com os do mercado e do câmbio, para garantir o
abastecimento e permite a atração de investimentos, o que possibilita a ampliação da
oferta e a redução da dependência externa. Também evita o incentivo ao consumo
excessivo e conserva a estrutura de custos da economia alinhada à das cadeias produtivas
globais.

O subsídio aos combustíveis é o mecanismo através do qual o Estado financia o


consumo do combustível com o intuito de incentivar e dinamizar as actividades produtiva
de um determinado sector. O objectivo operacional dos subsídios é o de garantir a redução
dos encargos produtivos para permitir, redução de custos de produção, maior
competitividade, maior flexibilidade nos preços, permitir o acesso aos bens e aumentar a
reserva alimentar interna.

A análise sobre o impacto da possível retirada dos subídios aos combustíveis é de


interesse de todos envolvidos na ciência económica, académicos, empresários tal como a
sociedade em geral que duma forma directa ou indirecta serão afeitados de algum modo,
seja devido às suas locomoções, produção ou poder aquisitivo. No entanto, queremos
apresentar um ponto de vista diante de um fenómeno económico recorrendo à revisão de
literatura económica, de fontes primárias afim de realizar uma análise qualitativa e
quantitativa.

O subsídio é como um imposto ao contrário, é o governo pagando às pessoas


quando fazem alguma coisa ou produzem algo que ele decide subsidiariar . Na realidade
em todas economia é contestado a noticia do aumento dos impostos, mas é encarado como
um alívio a implementação de uma política de subsídio, tanto para o produtor quanto
para o consumidor (transferências), todavia, a origem dos subsídio normalmente são os
impostos dos contribuentes. Na verdade os subsídios geram a ineficiência na economia,
quando há livre concorrência no mercado haverá a produção de quantidades correctas de
cada produto, igualando os custos de produção com as receitas, mas os subsídios
interferem neste mecanísmo gerando distorções nas quantidades produzidas, provocando
que a economia artificialmente produza um determinado produto que não deveria e
consequentemente menos de outro que deveria.

Os subsídios podem ser subsídios explícito quando é declarado e implícito quando


não é declarados, por exemplo em Angola no ano 2019 o Estado gastou cerca de USD 96
milhões em subsídios a preços pagos pelos serviços portuários (0,8 milhões), transporte
aéreo (3,46 milhões), electridade (85,17 milhões) e transporte rodoviário (6,02 milhões),
tudo isto para reduzir os preços dos bens e serviços fornecidos pelos agentes públicos e
privados à população. Podem ainda os subsídios ser aos produtores e subsídios aos
consumidores, este último, os mais popular usado pela maioria dos governos são subsídio
de energia e subsídio aos combustíveis.

Sendo o objectivo do presente artigo a apresentação de uma visão sobre os


impactos da possível retirada dos subsídios ao combustível na economia de Angola, a
través de argumentos qualitativo e quantitativos a fim de servir como contribuição
sugestiva da forma como pode ser implementado esta medida, minimizando os impactos
económicos, principalmente para camadas mais vulneráveis da população. Para tal,
abordar-se-a sobre a veracidade da informação da fonte primária; as reais implicações na
economia (em variáveis específicas caso venha ocorrer, como inflação, taxa de câmbio,
emprego e a produção) no curto, médio e longo prazo; os potenciais riscos; vantagens
comparativas entre continuar importar, criar capacidade de refinaria e retirada de
subvenção (Trilema); a probabilidade de retirada de subvenção vir aumentar ou provocar
um déficit face a projecção no OGE para 2023 de um saldo global de 0,9% em % do PIB;
o impacto dessa medida na taxa de câmbio, por exemplo e por último fazer a comparação
com o Portugal uma vez que Angola é um dos poucos país do mundo, primeiro na região
da SADC onde é mais barato o combustível.

1. A VERACIDADE DA INFORMAÇÃO.

É um erro crasso teorizar antes de ter


os dados. Imperceptivelmente, começamos a
distorcer os factos para adaptá-los à teoria,
em vez de buscar a teoria que se explique aos
factos. “Sherlock Holmes”

Segundo a Lusa a consultora Fitch Solutions alerta que a retirada gradual dos
subsídios aos combustíveis em Angola será um dos principais riscos políticos deste ano
(2023), uma vez que a possível retirada de subsídios aos combustíveis vai inevitavelmente
aumentar o preço para consumidores, uma influência directa ao poder de compra das
famílias, que provavelmente provocará ondas de protestos. Esta informação já foi
noticiada em maio de 2022 pelo Jornal Expansão como sendo uma das metas
concordadas entre o Governo de Angola e Banco Mundial, que dava conta de que a
subvenção aos combustíveis tinha que acabar, mas a forma como seria feito ainda estava
em discussão, com inclinação para forma gradual, mas a preocupação de querer saber se
ocorrer num espaço de curto tempo terá maior impacto social ou num prazo longo, mais
alargado domina ainda no seio dos tomadores de decisão. Independente da forma como
será executado ficou acordado que o arranque da eliminação dos subsídios estatais aos
combustíveis iria ocorrer a partir do início de 2023, como pode-se ler num documento da
instituição multilateral relativo ao financiamento de 500 milhões USD no âmbito do
programa de Desenvolvimento de Políticas de Crescimento e Inclusão que pressupõe
cumprir 12 metas até 2023. Esta medida faz parte das metas relativa à obrigatoriedade
dos preços de energia serem baseados em custos de mercado e tarifas de serviços públicos
baseadas no princípio da recuperação de custos, sistematicamente ajustados (JORNAL
EXPANSÃO, 13 de Maio de 2022).

As negociações sobre a Retirada da subvenção aos combustíveis começaram em


outubro de 2019, entre o Governo angolano e o Fundo Monetário Internacional (FMI),
que só seria aplicado em simultâneo com um programa de transferências sociais para as
famílias mais vulneráveis. A partir de Março do mesmo ano, já era garantido a retirada
dos subsídios aos preços dos combustíveis, mas seria feita com a devida cautela face ao
seu impacto (JORNAL DE ANGOLA, Outubro de 2019).

O Decreto Presidencial nº 283/20 de 27 de outubro estabelece o Modelo de


Definição dos Preços dos Produtos Derivados de Petróleo Bruta e do Gás Natural, na
necessidade de ajustar o preço de comercialização dos mesmos produtos em território
nacional ao preço no mercado internacional adoptando o princípio de paridade de
importação e exportação para os preços desses produtos em que Angola é importador e
exportador líquido. Este documento já deixava claro que a partir da sua entrada em vigor
em Angola seriam utilizados os Mecanismos de Ajustamentos Flexível dos Preços.
(ORGÃO OFICIAL DA REPÚBLICA DE ANGOLA, Terça-feira, 27 de Outubro de
2020).

É necessário que seja evidenciado que o Governo estava a negociar com


parceiros internacionais nomeadamente FMI e Banco Mundial, as compensações
adequadas perante a remoção dos subsídios estatais ao preço dos combustíveis, porque
estão cientes do impacto social ligado a esta medida, pode se notar pelo tempo que estão
por implementar. Do lado, o Conselho Administrativo da Sonangol afirmava desde 2020,
depois do Decreto presidencial acima referido, que já estavam concluídos o trabalho
técnico para a retirada dos subsídios aos combustíveis, só dependiam da decisão final do
Governo. Portanto, a informação é verdadeira, pois diferentes fontes públicas e privadas
revelaram a temática antes da consultora, como sendo do interesse económico e público
é necessário que todos, em particular economistas e órgãos afim, analisar a situação para
incluir nos seus planos as possíveis alterações posteriores na economia e sugerir as formas
alternativas para a aplicação da medida a fim de minimizar o impacto social, sabendo que
não haverá somente o impacto negativo.

2. AS REAIS IMPLICAÇÕES NA ECONOMIA NO CURTO, MÉDIO E


LONGO PRAZO E NAS VARIÁVEIS ECONÓMICAS

Há necessidade de saber quais serão as reais implicações na economia, caso venha


ocorrer a tirada de subvenção aos combustíveis nas variáveis económicas específicas no
curto, médio e longo prazo, pois acreditamos que o seu impacto não será proporcional ao
longo dos tempos, por outro lado sabemos também que a subvenção aos combustíveis
tem criado distorções para a economia do país, dando o espaço para o contrabando.

De acordo ao Relatório do IRDP (Instituto Regulador dos Derivados do Petróleo)


sobre os combustíveis, Angola no IIº trimestre de 2022 a sua produção dos derivados do
petróleo foi a cerca de 33% das necessidades do período, por causa da existência de
apenas uma refinaria em funcionamento, que é de Luanda. Para cobrir a necessidade
importou-se cerca de 67% do total de aquisição, isto é uma dependência de combustível,
apesar de que no período homologo havia atingido 75% do total de aquisição, quer dizer
que houve uma redução da importação fruto de aumento de produção nacional.

O decreto presidencial nº 283/20 de 27 de outubro referencia que os factores


determinantes que actualizam os preços dos derivavdos de petróleo, desde que seja
autorizado pelo Governo, tão logo que se verificar uma variação de 5% em taxa de câmbio
de referência ou no preço de barril de petróleo, ou seja, a actualização dos preços depende
da taxa de veriação de taxa de câmbio e do preço de barril de petróleo.
A comercialização dos produtos derivados do petróleo e do gás natural, aplicava-
se o regime de preços fixados, para o GPL (Gás de Petróleo Liquefeito) e o petróleo
iluminante, e o regime de preços vigiados, para a gasolina, gasóleo, Jet A1 e Jet B, nos
termos do Decreto Presidencial 206/11, de 29 de julho, como mostra a tabela 1, abaixo
dos preços de referência.

Tabela 1:Preço de Venda ao público

Fonte: IRDP/2022

Decreto Presidencial 283/20 de 27 de outubro definia preços flexível para


gasolina, gasóleo, Jet A1 e Jet B o que não aconteceu até ao momento, continuamos no
regime de preços vigiados mesmo com o Decreto já publicado e em vigor, mas em 2014
houve intenção de convergir os preços locais dos combustíveis aos preços internacionais,
atingindo pelo menos 1 USD/litro de gasolina, logo em 2015 liberalizou-se os preços de
gasolina e gasoléo, como se pode notar na tabela abaixo.

Tabela 2: Actualização de preço dos combustíveis

Gasoléo Gasolina
60 kz 75 kz 135 kz 90 kz 115 kz 160 kz
+27,8% +25% +39,1% +80%
Fonte: Elaboração própria

Angola apresenta, comparativamente a região da SADC, o preço de venda ao


público mais baixo relativamente a Gasolina e ao Gasóleo, correspondente a 0,37 Usd/Lt,
equivalente a Kz 160,00 e a 0,312 Usd/Lt, equivalente a 135 Akz, respectivamente, sendo
que o mais alto foi o do Zimbabwe correspondente a 2,002 Usd/Lt equivalente a Kz
865,574 e a 2,183 Usd/Lt, isto é, equivalente a Kz 943,724 respectivamente, como pode
ser observado na figura abaixo (IRDP, Junho/2022).
Figura 1: Preços de Combustíveis na região da SADC em USD

Fonte: IRDP/2022

Segundo o IGAPE (Instituto de Gestão de Activos e Participação do


Estado), na sua publicação trimestral dos custos com combustíveis e subsídios, Angola
suportou despesas avultado como pode-se observar na tabela a baixo.

Tabela 2: Quantidades, Custos e Subsídios aos Combustíveis (Iº, IIº e IIIº


Trimestre de 2021)

Fonte: IGAPE/2022

Foi gasto até IIIº trimestre de 2021 um total 858,11 milhares de milhões de
kwanzas, o equivalente a 2,2 mil milhões USD, para cobrir as despesas com os subsídios
aos combustíveis. A mesma publicação mostra que, no ano passado, o Estado gastou
524,56 onde 434,65 milhares de milhões de kwanzas a subsidiar o gasóleo e gasolina, o
que dá quase 1.140 milhões USD. O restante foi gasto com subsídios ao gás (LPG) e
petróleo iluminante. Quer dizer, os milhares de carros que circulam na cidade de Luanda
deveriam, em média, durante o ano ter pago cerca de 356 Kz por litro de gasolina e
somente pagaram 160 Kz e o Estado subsidiou 196,00 Kz (55%), um valor que pode ser
utilizado para investir na agricultura, na aquisição de fertilizantes, ou na reparação de
estradas. Com o gasóleo acontece precisamente o mesmo, o preço por litro rondou os 388
Kz o automobilista pagou somente 135 Kz, cabendo ao Estado assumir os 253 Kz (65,3%)
por litro. São muitos milhares de miliões de kwanzas gastos que poderiam ser muito
melhor utilizados e posteriormente proporcionar resultados favoráveis para economia.

A retirada dos subsídios aos combustíveis poderá impactar directamente os


sectores dos transportes, de agricultura, indústria transformadora, contrabando e outros
de uma forma indirecta. No sector dos transportes haverá maior incidência nos transportes
privados, na agricultura, uma vez que a rede de energia pública de barragens ainda não é
distribuída na totalidade em todo território nacional por isso esses no seu processo
produtivo usam a rede de geradores particulares que o seu funcionamento necessita de
combustíveis; da indústria transformadora também vivem uma situação quase idéntico ao
sector agrícola fazendo com que o custo de produção seja alto, concomitantemente o seu
produto seja oferecido ao preço alto e o contrabando de combustíveis tem sido alimentado
pelos preços mais baixos de venda no mercado nacional em comparação aos preços
vendidos em outros mercados, como podemos ver na figura 1 de preços de combustíveis
ao nível da região da SADC, sendo RDC o país mais próximo de Angola e cujo o mercado
tem um preço atraente por isso tornou-se no destino dos combustíveis contrabandeado,
que custou aos cofre do Estado subvenção para servir o consumo nacional.

O impacto de retirada de subvenção aos combustíveis não se pode analisar


somente nos sectores da economia directa e indirectamente, mas pode ser observado aos
agentes económicos, ou seja, quais são os beneficiários directos e indirectos dessa
medidas. Os beneficiários directo de subsídio aos combustíveis são os altos funcionários
do Estado, nomeadamente Deputados, Ministros, os PCA, Chefes dos Gabinetes e outros
que possuem uma capacidade de comprar o combustível à qualquer preço baseado na
paridade de importação e exportação. Por outro lado, há os beneficiários indirecto de
subvenção aos combustíveis que são as famílias, mesmo quem não possui uma viatura
mas utiliza um transporte para suas viagens, consome produtos que beneficiaram a
subvenção, quer dizer, os preços que pagam para esses bens ou serviços são reduzidos.

Sabemos que na nossa realidade, a circulação de pessoas e bens depende


maioritariamente pelos serviços de transportes privados, tanto nas zonas urbanas como
nas rurais e o funcionamento destes serviços tem os combustíveis como um recurso
fundamental, quer dizer a retirada de subvenção dos combustíveis vai provocar o aumento
de custo de serviços de transportes que serão incorporados no preço de serviço prestado
por eles à população, provocando uma subida de preços generalizado, o que chamamos
de Inflação, porque cada um que suportar este acrescimo de valor repassará o custo na
sua fonte de rendimento para reajustar, isto fará com que o consumo caia, a produção caia
e aumente a onda de reclamações, como os sindicatos solicitar o aumento de salário dos
seus associados mesmo sem aumento da produtividade.

A Inflação é uma das preocupações básica dos economistas e formuladores da


política económica (faz parte de quadrado mágica), porque tira o poder de compra das
famílias, ou seja, o que um Kwanza comprava antes já não pode comprar com está
situação, provocando assim uma contradição a uma das prioridades da proposta do OGE
2023 que é a defesa do consumo das famílias e a protecção das famílias mais vulneráveis,
por via da continuidade da implementação de medidas de mitigação do impacto do
aumento dos preços de amplo consumo nacional.

As reais implicações podem ser descritas resumidamente como se segue:

 No curto prazo

A possível retirada de subvenção aos combustíveis implicará numa redução dos


gastos ao Governo, aumentando a sua poupança, quer dizer terá o seu saldo orçamental
aumentado, mas um posicionamento contrário ao privado, ou seja, o consumo privado
diminuirá uma vez que será registado aumento de preços de combustíveis que provocará
aumento de preço de serviços de transportes, como já referenciado acima, culminando na
perda do poder de compra das famílias, com maior destaque para classe baixa. Podemos
concluir que no curto prazo a inflação é inevitável, mas por outro lado a poupança pública
aumentará e baixará o contrabando por conta de aumento de preços dos combustíveis que
deixará o negócio menos aliciante.

 No médio e longo prazo


Tendo o Estado uma poupança, poderá ser canalizado em diferentes tipos de
projectos em carteira que a sua realização dependia de verbas, dependendo da prioridade
que será dado a alocação desses recursos, entre esses projectos há a construção das
refinarias em Cabinda, Soyo e outras. Logo, no médio e longo prazo esta medida pode
aumentar a produção de petróleo e seus derivados a nível nacional, fazendo que diminua
a quantidade de importação deste bem ou até deixar de importar por ter uma produção
que possa suprir as necessidades nacionais e posteriormente exportar o excedente. Esta
situação pode fazer com que o país tenha uma situação positiva na balança comercial, que
poderá criar uma apreciação da moeda nacional, ou seja, impactar a taxa de câmbio.
Podem ainda, serem canalizado as poupanças para sector agrícola garantindo a produção
nacional de bens alimentares que reduziram os preços no mercado nacional e começar a
exportar, também podem redistribuir a energia da rede pública a fim de reduzir os custos
de produção do sector industrial, como última alternativa aumento de rede de transportes
público.

Ficou evidente que haverá queda de consumo privado no curto prazo e


consequente queda da produção com ondas de exigência dos sindicatos de diferentes áreas
em defesa dos seus associados para o aumento do salário afim de devolver o poder de
compra ou pelo menos ajustar, mas a verdade é que não se pode aumentar o salário sem
aumentar a produtividade porque estaríamos a aumentar a mansa monetária em circulação
sem aumentar a produção para equilibrar a situação, mas por outro lado estaríamos a
sacrificar-nos num curto prazo para, se as poupanças forem bem alocados, no médio e
longo prazo diminuir ou acabar com importação e promover a exportação dos derivados
de petróleo e aumentar a produção nacional.

3. VANTAGENS COMPARATIVAS OU TRILEMA

Analisamos a vantagem comparativa entre continuar a importar, criar capacidade


de refinação e retirar a subvenção aos combustíveis, ou seja, defrontamos um Trilema. A
vantagem comparativa é a análise de custo de produção de um determinado bem num
dado local em relação ao custo de produção do mesmo bem em outro local, ou seja,
analisa-se o custo de oportunidade deste bem.

A produção de produtos derivados do petróleo, no país, no 2.º trimestre de 2022,


cobria apenas cerca de 33% das necessidades nacionais naquele período, a razão que se
levanta é a existência de uma única refinaria, a Refinaria de Luanda. Assim sendo, o
mercado angolano de combustíveis fica dependente da importação, tendo importado cerca
de 67% para satisfazer a demanda local, porque no período em análise, a refinaria de
Luanda, a sua produção havia se fixado em 616.999 toneladas métricas (IRDP,
junho/2022).

Os projectos de aumento da capacidade da refinação nacional, com vista a saída


na dependência de importação dos produtos derivados de petróleos, definiam-se a
optimização da refinaria de Luanda para atingir a capacidade de produção anual de
450.000 TM; construção da refinaria do Lobito com uma capacidade de processamento
de 200.000 Barris por dia e da construção da refinaria de Cabinda. Todos estes projectos
para ser concluídos dependem de verbas que podem, entre várias fontes, surgir pelo corte
de subvenção aos combustíveis, assumindo impacto económico de aumento de preço no
curto prazo, mas que podem ser atenuados sob a forma da retirada e diferentes critérios,
e acelerar o processo da conclusão destes projectos que virão aumentar a capacidade de
refinação nacional, substituindo a importação pela exportação, treinar e transferência de
know-how tal como criação de postos de trabalhos e consequentemente mais
contribuintes para o Estado (Sonangol, 2022).

4. PROBABILIDADE DE RETIRADA DE SUBVENÇÃO VERSO


PROJECÇÃO DE SALDO GLOBAL DE OGE 2023 E COMPARAÇÃO
COM PORTUGAL

Foi projectado um saldo global de 0.9% em % do PIB para o OGE de 2023 qual
será o resultado que se pode esperar, ou seja, a probabilidade da retirada de subvenção
virá aumentar ou provocará um déficit, sabendo que tem como as prioridades os seguintes
pontos:

 Defesa do consumo das famílias e a protecção das famílias mais vulneráveis, por
via da continuidade da implementação de medidas de mitigação do impacto do
aumento dos preços de amplo consumo nacional;
 Apostar na diversificação da economia, impulsionando o investimento privado e
estimulando a liquidez das empresas;
 Impulsionar o Investimento Público Estruturante para acelerar o crescimento do
PIB e a recuperação dos empregos; e
 Desonerar custos na cadeia de abastecimento de bens e serviços, através de
medidas fiscais e aduaneiras.

Se observarmos atentamente as prioridades do OGE 2023 se correlacionam com os


pilares do Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN) 2018-2022:

 Agroindustrialização;
 Desenvolvimento de capital humano;
 Diversificação da economia.

De acordo ao 9º parágrafo da fonte primária comparando com o Portugal, Angola


é o quarto país do mundo onde é mais barato encher um depósito de combustível.

Portugal é um país localizado no Sudoeste da Europa com uma área territórial de


92.090 𝐾𝑚2 e uma população, segundo censo de 2021, de 10.343.066 de habitantes, em
quanto em 2021 o seu PIB nominal rondava na ordem de US$ 253,7 bilhões e um salário
mínimo de 740,83 EUR por mês equivalente em Kwanza a 400.823,11 por mês a taxa de
câmbio actual de refência do BNA. Em quanto Angola possui um território de
1.246.700 𝐾𝑚2 com uma população de mais de 32,87 milhões de habitantes, em 2021
apresentava um PIB nominal de US$ 67,4 bilhões com salário mínimo de 32.181,15.

Com estes dados podemos perceber que não podemos comparar o Portugal à
Angola por apresentar indicadores totalmente diferntes, por outro lado Portugal pertence
à UE que possui uma política monetária que vigora em todos países membros. Contudo,
ao decidir formar uma união monetaria, os países da UEM sacrificaram a soberania sobre
suas politicas monetarias, eles concordaram em desistir inteiramente de suas moedas
nacionais e entregar o controle das suas politicas monetarias para um Banco Central
Europeu (BCE) compartilhado, mas Angola não, o Governo possui a autonomia de fazer
uso a todas políticas macroeconómica e a economia angolana ainda é dominado pela
informalidade.

Para um Europeu adquirir uma vaitura faz muitas análises, entre elas a análise de
custo de oportunidade, querendo saber se vale apenas adquilo-la ou usar serviços de
transportes público, poderemos apontar o custo alto de combustível como um dos
elementos da estrutura em análise, o que não acontece em Angola, pessoas compram
viaturas sem previa análise pelo facto dos custos aos combustíveis não ser reais.

DISCUSÃO E SUGESTÃO

É ou não um risco iminente a retirada dos subsídios ao combustível em Angola?


A reposta é: Depende!

Os subsídios tem um custo elevado nos impostos, ou seja, alguém deve pagar os
subsídios concedidos. No caso dos subsídios aos comustíveis fazem com que os preços
de combustíveis sejam mais baixos nos postos de abastecimentos, logo as pessoas usam
intensamente os carros mais do que usariam na ausência dos subsídios ou na condição de
preço normal dos combustíveis, isto gera mais tránsito na via, poluiçõe e
consequentemente externalidade negativa. É necessário lembrar que os incentivos jogam
um papel fundamental no comportamento das pesssoas na economia mediante uma
decisão tomada, ou seja, os formadores de políticas públicas nunca devem se esquecer
dos incentivos, uma vez que as suas políticas alteram os custos e beneficios para as
pessoas, e portanto alteram o comportamento. O subsídio aos combustíveis é um
incentivo ao uso de carros maiores, que consomem mais gasolina, este é o motivo pelo
qual os angolanos ao comprar carros não avaliam o consumo de combustível dele,
comparando com a Europa, por exemplo, onde os custos de combustíveis são altos
fazendo com que as pessoas usam carros com menor consumo de combustíveis ou a usar
mais transporte público em outras situações a morar mais próximo do local de trabalho.
Em algumas situações os subsídios são necessário, contanto que gere uma externalidade
positiva, nomeadamente os subsídios para pesquisa científica, agricultura e pesca e
indústria transformadora.

A retirada de subsídios aos combustíveis directamente aumentará os custos de


transporte e de produção, em alguns casos de fábricas isolados, que posteriormente serão
transferidos para outros bens e serviços provocando uma subida generalizado de preço na
economia que desencadeará uma onda de exigência de aumentos salariais para reajustar
o poder de compra perdido pelas famílias, mas também cortará o espaço criado para o
contrabando e aumentará a poupança do Governo.
Todavia, esta retirada de subvenção fará com que o Governo poupe recursos que
eram canalizado nesse processo que poderá ser utilizado, se houver uma boa gestão da
coisa pública ou da poupança do governo, para realização de muitos programas que
poderão contornar a situação económica, nomeadamente a aceleração de conclusão das
refinarias em construção, aumento dos transportes públicos, reforço da reserva alimentar,
etc. Devendo o Estado somente garantir o subsídio aos combustíveis em uso na
agricultura, pescas e indústria alimentar para fazer com que desde a primeira fase não
haja aumento significativo nos bens alimentares.
REFERÊNCIAS

IRDP ( Instituto Regulador dos Derivados de Petróleo). (Junho/2022). Relatório Sobre os


Combustíveis. Luanda.

JORNAL DE ANGOLA. (Outubro de 2019). O Governo promete soluções para o fim


dos subsídios de combustíveis. ASSINE O JA.

JORNAL EXPANSÃO. (13 de Maio de 2022). METAS CONCORDADAS ENTRE O


GOVERNO E O BANCO MUNDIAL. Edição 674.

ORGÃO OFICIAL DA REPÚBLICA DE ANGOLA. (Terça-feira, 27 de Outubro de


2020). DIÁRIO DA REPÚBLICA. I Série nº171, 18.

Sonangol. (2022). Síntese das actividades desenvolvidas no âmbito da transferência.


Luanda.

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