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APOIAM ESTA
PUBLICAÇÃO
SERVIDORES PÚBLICOS
CIVIS COLABORADORES
ORGANIZADORES: Bráulio
Santiago Cerqueira e José Celso
Cardoso Jr.
COLABORADORES: Cleandro
Krause, Emílio Chernavsky,
Eugênio Santos, Félix Lopez,
Fernando Gaiger, Jorge
Abrahão de Castro, José Carlos
dos Santos, Otávio Ventura,
Wilnês Henrique.
EDITORIAL APD
Advogadas e Advogados Públicos para a Democracia
PROJETO GRÁFICO,
DIAGRAMAÇÃO, GRÁFICOS
E TABELAS: Lucivam Queiroz e padrão cromático #be1622 #432918 #575756
Marcelo Rubartelly
R: 189 R: 66 R: 87
AGRADECIMENTOS: Humberto G: 22 G: 41 G: 87
B: 44 B: 24 B: 86
Leite e Matheus Dutra
C: 15 C: 50 C: 0
M: 100 M:70 M: 0
Y: 90 Y: 80 Y: 0
K: 10 K: 70 K: 80
SUMÁRIO
1 Introdução 7
Contornos da Reforma Administrativa Bolsonaro
5
1 INTRODUÇÃO
Contornos da Reforma
Administrativa Bolsonaro
E
stá em curso o anúncio e desdobramen- timento social. Tudo, inclusive estatais lucra-
to da chamada Reforma Administrativa. tivas, está ou será posto à venda. Já o teto de
Seu contexto mais amplo remete à crise gastos primários constitucional (juros e dívida
econômica-fiscal-política-institucional pela excluídos) implantado em 2017 por 20 anos,
qual passa o país desde 2015 e às tentativas que desestrutura a máquina pública e impede
de respostas dos governos que se sucederam os investimentos sociais de acompanharem
orientadas por: o crescimento da população e das receitas,
A redução do tamanho/papel do Estado deverá ser mantido a qualquer custo por meio
na economia e na proteção social; e da quebra do piso das despesas obrigatórias2.
B compressão do gasto público.
A Reforma da Previdência, PEC 6/2019, cen-
No discurso oficial, a melhoria do ambiente trada na postergação da aposentação e na
de negócios e o ajuste fiscal resgatariam a redução de benefícios, que no Regime Geral
confiança e o investimento privado, nacional alcançam em média R$ 1.280,003, responde
e estrangeiro, recolocando a economia bra- a esta lógica. Isoladamente o maior item de
sileira na trilha da eficiência, produtividade e despesa do Governo Federal, a previdência
crescimento.1 pública, como outras políticas sociais previs-
tas na Constituição de 1988, “não cabe mais
Insensível aos efeitos reais de tal estratégia, no orçamento”, de acordo com o discurso
dentre os quais a estagnação econômica, o conservador. O governo atual, aliás, com a
desemprego elevado, o aumento da pobreza proposta de capitalização, pretendia privatizar
e a volta do país ao mapa da fome, além dos a Seguridade Social, no que foi impedido pelo
próprios resultados fiscais que não melho- Congresso. O achatamento dos benefícios, no
ram, a política econômica hoje dobra a aposta entanto, passou na Câmara e no Senado.
na agenda de venda/entrega do patrimônio
público e de contenção do gasto e do inves- E agora a Reforma Administrativa. Depois do
1 Esta ideia do ajuste fiscal expansionista ecoa na cartilha Uma Ponte para o Futuro do MDB elaborada em 2015 e no
Programa de Governo do PSL vencedor das eleições presidenciais de 2018. Para uma reatualização da ideia em um
contexto em que já surgem dúvidas sobre a viabilidade do teto de gastos, Por que o governo deve cortar gastos para
o Brasil crescer, de Marcos Lisboa, Marcos Mendes e Marcelo Gazzano, Folha de São Paulo, 08/09/2019.
2 Para críticas recentes à visão oficial da política fiscal orientada pela austeridade ver Por que cortar gastos não é a
solução para o Brasil ter crescimento vigoroso de Esther Dweck, Fernando Maccari Lara, Guilherme Mello, Julia Braga
e Pedro Rossi, Folha de São Paulo, 14/09/2019, e O dinheiro não acabou nem irá acabar, mas a democracia corre
riscos de Bráulio Santiago Cerqueira, Congresso em Foco, 08/09/2019.
7
Reforma Administrativa do Governo Federal
Regime Geral de Previdência Social, o segun- pacote de medidas sobre o tema. No entanto,
do maior item de gasto primário do Gover- suas linhas mestras foram explicitadas em uma
no Federal são as despesas com pessoal e série de entrevistas de autoridades, artigos de
encargos, que englobam salários de civis e opinião, documentos oficiais e até mesmo por
militares dos três Poderes, incluindo ativos, meio de publicações de órgãos multilaterais
aposentados e pensionistas. Como frear ou propagadores das reformas para o mercado7.
reduzir o gasto com pessoal, em torno de R$ Quatro eixos podem ser delineados:
300 bilhões anuais4, se atualmente vigora a
estabilidade no funcionalismo e a irreduti- i reduzir despesas com o funcionalis-
bilidade salarial? Esta é a questão central a mo civil, o que envolve: adiamento por
orientar as propostas de Reforma Adminis- tempo indefinido de concursos; prio-
trativa desde o início da crise e, em particular, rização de formas de contratação via
nos governos Temer e Bolsonaro. terceirização e contratos temporários
(Decreto 9.507/2018); rebaixamento
Uma primeira parte da resposta é encontra- dos salários de entrada com alinha-
da na própria Reforma da Previdência (PEC mento em relação ao setor privado;
6/2019) que atinge duramente os servido- revisão das tabelas de progressão no
res civis federais do Regime Próprio (RPPS). sentido se estendê-las no tempo e im-
Primeiro com a elevação da contribuição pedir que todos os servidores cheguem
previdenciária, que na margem, para maiores ao topo remuneratório; possibilidade de
remunerações, chega a 22% do salário. De- redução forçada de jornada com dimi-
pois com regras de transição que, em alguns nuição proporcional de salários (PEC
casos, amplia em 10 vezes o tempo faltante 438/2018);
para se aposentar. Finalmente, com o rebai-
xamento dos benefícios dos que ingressaram ii flexibilizar a estabilidade: nova regula-
entre 2004 e 2013 no serviço público. So- mentação da demissão por insuficiência
mando-se tudo, as perdas na aposentadoria de desempenho (PLS 116/2017);
futura irão variar entre 10% e 50%5. O curioso
é que, como veremos adiante, as necessida- iii enxugar radicalmente o número de
des de financiamento do RPPS Civil Federal carreiras: reduzir o número de carreiras
já foram equacionadas no médio prazo pela do Executivo das cerca de 310 atuais
introdução da Previdência Complementar em para 20 ou 30; centralizar a gestão do
2013. Enquanto isso, as reservas remuneradas RH ampliando a disciplina sobre a força
e pensões militares, pela proposta do governo, de trabalho; facilitar a mobilidade entre
passarão por ajuste brando, mais do que com- órgãos;
pensado pelos benefícios advindos de nova
estrutura remuneratória a ser implantada6. iv obstaculizar a organização e a atua-
ção sindical: proibição do desconto em
Já os detalhes específicos da Reforma Ad- folha da contribuição voluntária sin-
ministrativa ainda não são conhecidos – o dical e associativa dos servidores (MP
Executivo promete o envio ao Congresso de um 873/2019, que não prosperou no Con-
7 Ver, por exemplo: i. MPDG, Transição de Governo 2018-2019; ii. A Reforma do RH do Governo Federal, de Ana Carla
Abrão Costa, Armínio Fraga e Carlos Ari Sundfeld, Série Panorama Brasil, Oliver Wyman, 2018; iii. Ofício Circular
2/2019 SGDP/ME.; iv. Gestão de pessoas e folha de pagamentos no setor público brasileiro: o que os dados dizem,
Banco Mundial, 2019.
8
Contornos, mitos e alternativas
gresso, mas que ensejou a apresentação pelas políticas de austeridade centradas nos
do PL 3.814/2019 no mesmo sentido); cortes de despesa que dificultam a retomada
exigência de compensação do ponto em dos investimentos e do crescimento, des-
caso de ausência motivada por ativida- protegem quem mais precisa dos serviços
de sindical (Instrução Normativa 2 SGP/ públicos de saúde, educação e assistência,
MPDG/2018). e desorganizam, ao invés de aperfeiçoar, a
administração governamental.
A nova orientação do RH do serviço público,
afirma-se, visa incrementar a produtividade (Des)informada por mitos, a profecia liberal
por meio de estímulos individuais à concor- parece se confirmar: Estado e servidores não
rência no interior da máquina, e ao mesmo cuidam do que fazem ou fazem mal o que se
tempo combater supostos privilégios, tais propõem. Oculta-se, assim, a contribuição
como a estabilidade no emprego. das próprias reformas liberais e da auste-
ridade para a desestruturação das políticas
Na prática, a Reforma Administrativa é con- públicas por elas combatidas.
dicionada pela ideologia do Estado mínimo e
9
2 MITOS LIBERAIS SOBRE
O ESTADO BRASILEIRO
A
s respostas governamentais à crise a Reforma Administrativa em curso, quais
brasileira bem como as linhas mestras sejam:
da Reforma Administrativa se apoiam,
implícita ou explicitamente, em visão distor- •• o Estado é muito grande e a máquina
cida do Estado brasileiro, da máquina pública pública está inchada;
e dos servidores. •• as despesas com pessoal na União são
muito altas e estão descontroladas;
É imperioso, por conseguinte, apresentar ao •• o Regime Próprio de Previdência dos Ser-
conjunto da sociedade – que é quem usufrui vidores (RPPS) federal é insustentável;
serviços públicos e se beneficia ou sofre com •• o Estado é intrinsecamente ineficiente;
as falhas de desenho, implementação e ava- •• a estabilidade do funcionalismo é um
liação das políticas públicas – informações e privilégio e é absoluta;
dados qualificados sobre o tamanho, funcio- •• o dinheiro do governo acabou;
namento e produção da máquina pública. •• as reformas da previdência, administra-
tiva e microeconômicas vão recuperar a
Na sequência, tratamos dos mitos mais confiança dos investidores privados, o
frequentes sobre o setor público e a econo- crescimento e o emprego.
mia que, das mais variadas formas, orientam
MEDIR E AVALIAR O TAMANHO DO ESTADO chamada “questão social” era tratada como
requer, antes de tudo, considerar o projeto de caso de polícia na República Velha. Nessas
desenvolvimento pretendido e a sociedade e o condições, a tributação concentrava-se sobre
país que se almeja construir. Afinal, o Estado importações, não chegando a 10% do PIB, e
é grande em relação a quê? o principal corpo burocrático no interior do
Estado dizia respeito ao Exército. Educação,
No séc. XIX e princípios do século XX, o Brasil saúde, assistência e previdência públicas não
era uma economia primário-exportadora vol- compunham a agenda de governo.
tada à produção de poucos produtos agrícolas
e minerais para os países industrializados. Ao longo do processo de industrialização no
A população concentrava-se no campo e a século XX, a estrutura produtiva se diversifi-
11
Reforma Administrativa do Governo Federal
cou, o país se urbanizou e o papel do Estado EUA e Japão no pós-II Guerra Mundial.
na economia e sociedade se complexificou,
seja na coordenação dos investimentos, na Tomando por referência estes países, grosso
provisão de infraestrutura, na regulação do modo o núcleo da Organização para Coopera-
trabalho etc. Com avanços e retrocessos, à ção e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e
consolidação das leis do trabalho em pleno mesmo em meio ao declínio das políticas do
Estado Novo nos anos 1940, seguiram-se o Estado de Bem-Estar Social praticadas nas dé-
restabelecimento dos direitos civis e políti- cadas anteriores, o Estado brasileiro tributa e
cos entre 1945 e 1964, novo fechamento do emprega menos do que a média internacional:
regime entre 1964 e 1985, e finalmente a A em 2015, a carga tributária bruta no
redemocratização daí em diante. Brasil, três níveis de governo, chegou a
35,6% do PIB contra 42,4% da média
Foi somente com a volta da democracia e com da OCDE;
a Constituição Federal de 1988 que se incor- B enquanto isso, os empregados no setor
porou explícita e tardiamente entre os direitos público brasileiro, novamente nos três
fundamentais brasileiros o conjunto dos di- níveis da federação, somaram 12,1% da
reitos sociais, na linha dos direitos de segunda população ocupada contra uma média
geração consolidados nos países europeus, de 21,3% na OCDE.
49,6
55,4
55,2
53,0
51,9
51,5
48,0
47,8
47,3
45,2
45,2
44,5
44,5
44,4
43,3
42,4
42,0
41,2
40,7
39,8
38,4
38,2
39,7
38,5
38,0
37,5
37,2
35,6
35,3
34,9
34,4
34,0
33,9
33,6
33,1
33,1
24,5
19,8
MÉDIA DA OCDE
REPÚBLICA TCHECA
INDONÉSIA
GRÃ-BRETANHA
MÉDIA DA OCDE
CORÉIA DO SUL
LUXEMBURGO
DINAMARCA
FINLÂNDIA
HOLANDA
ESPANHA
IRLANDA
POLÔNIA
ÁUSTRIA
ÁUSTRIA
ESTÔNIA
GRÉCIA
SUÉCIA
BRASIL
CHILE
PRT
12,1
11,8
24,7
23,5
22,9
22,6
21,7
21,5
21,3
20,4
19,8
18,4
17,3
12,4
17,1
16,4
15,4
12,9
10,7
7,9
7,6
NOVA ZELÂNDIA
CORÉIA DO SUL
MÉDIA DA OCDE
REPÚBLICA TCHECA
GRÃ-BRETANHA
MÉDIA DA OCDE
LUXEMBURGO
ESLOVÁQUIA
DINAMARCA
ALEMANHA
ESLOVÊNIA
AUSTRÁLIA
PORTUGAL
NORUEGA
ESPANHA
HUNGRIA
UCRÂNIA
IRLANDA
POLÔNIA
TURQUIA
BÉLGICA
ESTÔNIA
CANADÁ
FRANÇA
MÉXICO
GRÉCIA
SUÉCIA
BRASIL
LÁTVIA
JAPÃO
ITÁLIA
CHILE
12
Contornos, mitos e alternativas
Em estudos publicados desde o início dos suficiente para repor o mesmo esto-
anos 2000 no Brasil, vários deles pelo IPEA e que e percentual de servidores ativos
listados na Plataforma Atlas do Estado Bra- existentes em meados da década de
sileiro8, uma gama atualizada de informações 1990. Seja sobre a população residente,
sobre pessoal empregado, remunerações, população em idade ativa ou sobre a
diferenças territoriais e de gênero, despe- população ocupada, o crescimento do
sa global de pessoal no setor público, etc. percentual de servidores dos três entes
para os três níveis federativos e para os três até 2018 é leve. Na verdade, ocorreu
poderes da República, vem destacando alguns um crescimento mais que proporcional
fatos empíricos relevantes, tais como: do emprego no setor privado do que no
setor público. No caso dos servidores
i O movimento de recomposição de federais ativos, o quantitativo total em
pessoal no setor público brasileiro, ob- 2018 (655 mil) é inferior ao quantitati-
servado desde o início dos anos 2000, vo observado em 1991.
não foi explosivo e se mostrou apenas
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
70.000.000 4.0
50.000.000 3.4
Crescimento Privado
3.2
40.000.000
3.0
2.6
20.000.000
2.4
10.000.000 2.2
2.0
700.000
650.000
600.000
550.000
500.000
450.000
400.000
1991
1992
1993
1994
2001
2002
2004
2008
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2003
2005
2006
2007
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
8 http://www.ipea.gov.br/atlasestado/
13
Reforma Administrativa do Governo Federal
14
Contornos, mitos e alternativas
com pessoal caem para terceiro lugar entre as nor ritmo de contratação, o percentual da folha
maiores do Governo Central: Benefícios do RGPS, em relação ao PIB caiu para 3,8% em 2014,
R$ 586 bilhões; Juros Nominais, R$ 310 bilhões; voltando a subir no período recente em razão:
e Pessoal e Encargos Sociais, R$ 298 bilhões9. a do desempenho sofrível do PIB en-
tre 2015 e 2018; e
A descontextualização reside na apresenta- b da recomposição parcial de remu-
ção do número sem qualquer parâmetro de nerações entre 2016 e 2019.
referência. “Gasta-se cerca de R$ 300 bilhões
com pessoal e isto é muito”. Novamente cabe Tampouco se deduz dos dados analisados que
a pergunta: muito em relação ao quê? Ou os gastos com pessoal ativo da União tenham
muito em relação a quem? saído do controle. Também aí, em termos de
participação no PIB, essa rubrica permaneceu
// GRÁFICO 6: EVOLUÇÃO DAS DESPESAS praticamente constante ao longo da primeira
COM PESSOAL E ENCARGOS NA UNIÃO década de 2000, em um contexto de reto-
(% PIB) mada do crescimento econômico e também
da arrecadação tributária. Mesmo depois de
2014, já em um cenário de estagnação eco-
4,4%
4,5%
4,8%
4,8%
4,5%
4,3%
4,3%
4,4%
4,3%
4,3%
4,6%
4,3%
4,1%
3,9%
3,8%
3,8%
4,0%
4,1%
4,3%
4,4%
20% 3,0%
2001
2002
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2000
2003
2015
2016
2017
2018
1999
% do PIB 2,5%
Fonte: STN/Resultado do Tesouro
15%
2,0%
Observando-se a trajetória do gasto global
com pessoal na União, chega-se à conclusão
de que, em relação ao passado, o gasto atual, 10% 1,5%
medido em proporção do PIB, está próximo
da média histórica sem apresentar tendência PODER EXECUTIVO
1,0%
alguma à explosão ou descontrole. Em 2018
as despesas com pessoal e encargos na União, 5%
incluindo-se civis, militares, ativos, aposen- 0,5%
tados e pensionistas, somaram 4,4% do PIB,
PODER JUDICIÁRIO
o mesmo percentual verificado duas décadas
atrás e menor do que a cifra alcançada em 0% OUTROS 0,0%
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
15
Reforma Administrativa do Governo Federal
2024
2030
2036
2042
2048
2054
2060
2066
2072
2078
2084
2090
10 Para uma análise em detalhes destas mutações, ver Nota Técnica Dieese n. 181/2017
16
Contornos, mitos e alternativas
150
100
50
2106
2018
2110
2058
2070
2078
2080
2082
2084
2086
2088
2090
2092
2094
2096
2098
2100
2102
2104
2018
2020
2022
2024
2026
2028
2030
2032
2034
2036
2038
2040
2042
2044
2046
2048
2050
2052
2054
2056
2060
2062
2064
2066
2068
2072
2074
2076
Fonte: MF/Relatório da Avaliação Atuarial do RPPS da União, 2018. // * Sem reposição de servidores. Em valores correntes
projetados de acordo com a grade de parâmetros da SPE/ME. Sem desconto de taxas de juros.
17
Reforma Administrativa do Governo Federal
crescimento populacional no período12. En- passou para 30,3 milhões em 2018; o BPC sal-
quanto isso, desde então, foram ampliadas a tou de 2,3 milhões para 4,6 milhões no período;
cobertura e o acesso da população a inúmeras os procedimentos ambulatoriais do SUS chega-
políticas públicas de âmbito federal. ram a 3,8 bilhões em 2013 contra 1,8 bilhão em
2002; as matrículas na educação profissional
Por exemplo: a previdência pública, que conta- de nível médio saltaram de 279 mil em 2002
va com 18,9 milhões de beneficiários em 2002, para 1,8 milhão em 2018, e assim por diante.
Famílias beneficiárias do Bolsa Família 3,6 milhões 2003 14,1 milhões 13,9 milhões
Beneficiários do Abono Salarial 6,5 milhões 21,4 milhões 2012 22,4 milhões
PNLD - Livros Didáticos Adquiridos 96 milhões 2005 133 milhões 144 milhões
Matrículas na Educação
279.143 749.675 1.791.806
Profissional de Nível Médio
12 IBGE
18
Contornos, mitos e alternativas
dito público. Insuficientes para a resolução acesso à banda larga, de 21 mil em 2002
dos gargalos da área, os investimentos em para 62 mil em 2013.
infraestrutura ainda assim adquirem elo-
quência neste século quando observamos Dessa discussão não se depreende que fazer
o salto da movimentação de passageiros mais com menos não seja importante – como
nos aeroportos brasileiros, de 71 milhões vimos, aliás, em várias áreas faz-se mais
em 2002 para 215 milhões em 2018; ou atualmente do que no passado com a mesma
da movimentação de carga nos portos, de quantidade de servidores públicos. Não obs-
529 milhões de toneladas para 1,1 bilhão no tante, a crise atual das políticas públicas, em
mesmo intervalo; ou da capacidade instala- sua essência, não é de eficiência, que sempre
da de geração de energia, que variou de 82 deve ser buscada, mas remonta à crise eco-
mil MW em 2002 para 127 mil em 2013; ou nômica-fiscal-política-institucional porque
do número de escolas públicas urbanas com passa a sociedade brasileira desde 2015
Carga transportada em ferrovias (tu) 389 mil 2006 463 mil 570 mil
Extensão da malha rodoviária pavimentada (km) 156,4 mil 202,6 mil 213,452 2017
Extensão concedida (km) 11,96 mil 2008 15,4 mil 20,7 mil
Extensão da malha ferroviária (km) 28,8 mil 2004 29,6 mil 30,5 2015
Escolas públicas urbanas com banda larga 21,3 mil 2008 62,5 mil
19
Reforma Administrativa do Governo Federal
A estabilidade do funcionalismo é
O REGIME JURÍDICO DOS SERVIDORES PÚ- Por meio do Cadastro de Expulsões da Ad-
blicos civis (RJU) consiste em um conjunto de ministração Federal (CEAF), a Controladoria
regras de direito público que trata dos meios Geral da União (CGU) organiza e disponibiliza
de acessibilidade aos cargos públicos, da dados mantidos desde 2004 sobre os servi-
investidura em cargo efetivo e em comissão, dores civis do Poder Executivo Federal, que
das nomeações para funções de confiança, dos são considerados “expulsos”, ou seja, puni-
deveres e direitos dos servidores, da promoção dos com demissão, destituição ou cassação
e respectivos critérios, do sistema remune- de aposentadoria. Entre 2003 e 2019 (da-
ratório, das penalidades e sua aplicação, do dos consolidados até o mês de julho) foram
processo administrativo e da aposentadoria. contabilizadas 7.588 punições expulsivas
aplicadas a servidores estatutários do Poder
A estabilidade do servidor no cargo para o Executivo Federal, cerca de 500 ao ano. 66%
qual ingressou via concurso público é um dessas expulsões deveram-se a atos rela-
direito fixado no arranjo jurídico brasileiro. cionados a corrupção; 24% por abandono de
Um direito, uma prerrogativa que busca a cargo, inassiduidade ou acumulação ilícita de
preservação no tempo das próprias funções cargos; os demais 10% dividiram-se entre
de Estado e a proteção do servidor contra o desídia (3%), participação em gerência ou ad-
arbítrio político indevido. A estabilidade visa ministração de empresas (1%) e ainda outras
antes de tudo o interesse público13. razões e motivos variados (6%).
20
Contornos, mitos e alternativas
21
Reforma Administrativa do Governo Federal
379
1.201 386
350
1.010 336
870
300
261
250
549
200
2014
2015
2016
2017
2018
2019
190
As reformas da previdência,
administrativa e microeconômicas vão
recuperar a confiança dos investidores
MITO 7 privados, o crescimento e o emprego
22
Contornos, mitos e alternativas
CRESCIMENTO
foi imposta de fora para dentro, uma vez que Holanda 1996
Noruega 1996
na união monetária os países abrem mão Suécia 2004
da gestão da moeda e da dívida tornando-
-se dependentes de decisões do bloco. Por Noruega 1979 Finlândia 1973
aqui, onde temos moeda própria e reservas Finlândia 2000 Irlanda 2000
Grécia 2005, 2006 Noruega 1980
internacionais em abundância, caminhamos
por decisão própria na direção dos cortes de
direitos sociais e de despesas. AUSTERIDADE
Política fiscal Política fiscal
contracionista expansionista
Em verdade, cada vez mais vão se avoluman- retração, esterilização expansão, reorientação
do gasto real do gasto real
do opiniões e evidências contrárias à ideia de
que cortes de despesas públicas num contex- Fonte: Alesina e Ardagna (2010), apud “Economia polí-
to recessivo gerem recuperação14. Na teoria, tica da Austeridade”, Pedro Rossi, Esther Dweck e Flávio
14 No Brasil, ver “Economia para poucos: impactos sociais da austeridade e alternativas para o Brasil”, Pedro Rossi,
Esther Dweck e Ana Luíza Matos de Oliveira (org.), São Paulo: Autonomia Literária, 2018
23
Reforma Administrativa do Governo Federal
Nada assegura que Reformas da Previdên- vem agravá-lo, ou na melhor das hipóteses
cia e Administrativa centradas na redução instaurar a estagnação com retrocesso social
de direitos, arrocho salarial e em demissões como o novo normal brasileiro.
melhorem este quadro. Pelo contrário, de-
ATIVIDADE
ECONÔMICA
90
PRODUÇÃO
INDUSTRIAL
80
70 CONFIANÇA
EMPRESARIAL
60
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
JUL
AGO
SET
OUT
NOV
DEZ
JAN
FEV
MAR
ABR
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
MAI
JUN
JUL
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SET
OUT
NOV
DEZ
JAN
FEV
MAR
ABR
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JUN
JUL
AGO
SET
OUT
NOV
DEZ
JUN
2016 2017 2018 2019
24
3 BASES PARA UM SERVIÇO
PÚBLICO DE QUALIDADE
A
Reforma Administrativa do Governo b carece de compreensão sistêmica sobre
Federal, como visto nas partes 1 e 2 os condicionantes e determinantes do
deste documento: desempenho estatal no campo das po-
líticas públicas.
a centra-se fundamentalmente na redu-
ção do tamanho do Estado e na com- Em linha oposta, é necessário um contra-
pressão do gasto público, daí derivando ponto de índole republicano e democrático,
as medidas de congelamento/redução voltado tanto para um serviço público de
da remuneração, avaliação do desem- qualidade como ao próprio desenvolvimen-
penho individual para demissão de to nacional em suas múltiplas dimensões
servidores, redução radical do número (geopolítica, econômica, social, ambiental e
de carreiras e cerceamento da atividade institucional).
sindical no serviço público; e
25
Reforma Administrativa do Governo Federal
educação, assistência social, segurança públi- requer a consideração cuidadosa das áreas
ca, transporte público, dentre outras. indelegáveis de atuação do governo, ou seja,
das atividades típicas de Estado relacionadas
Além disso, a conformação de capacidades ao desempenho das seguintes funções discri-
estatais orientadas pelo interesse público minadas no quadro abaixo:
Tanto na Declaração Universal dos Direitos puas dos respectivos cargos e organiza-
Humanos (1948) quanto na Constituição ções; e
Federal Brasileira (1988), o direito ao tra- 4 cooperação interpessoal e intra/inter
balho digno aparece como elemento central organizacional como critério de atua-
e estruturante da sociedade. Neste sentido, ção e método primordial de trabalho no
ao falarmos do emprego público, estamos setor público.
na realidade falando de parcela significati-
va de postos de trabalho criados por decisão O reforço destes fundamentos deve consti-
e demanda da sociedade e do Estado com tuir as bases de uma Reforma Administrativa
vistas tanto à gestão dos monopólios estatais republicana e democrática.
quanto à oferta de bens e serviços públicos à
população. A estabilidade na ocupação remonta a uma
época na qual os Estados nacionais, ainda em
Historicamente, o emprego público nos Es- formação, precisaram, para sua própria exis-
tados Modernos, em oposição aos Estados tência e perpetuação, transitar da situação de
absolutistas e totalitários, apresenta quatro recrutamento mercenário e esporádico para
fundamentos presentes em maior ou menor uma situação de recrutamento, remuneração,
medida nos Estados Nacionais contemporâ- capacitação e cooperação impessoal/profis-
neos, a saber: sional. Assim, o corpo funcional foi deixando
1 estabilidade na ocupação, conquistada de estar submetido exclusivamente às ordens
por critérios impessoais e meritocráti- feudais e reais para assumir, crescentemente,
cos para a proteção contra arbitrarie- funções estatais permanentes e previsíveis.
dades cometidas pelo Estado-empre-
gador; Na direção inversa, como visto, a Reforma
2 remuneração adequada e previsível ao Administrativa do Governo Federal propõe a
longo do ciclo laboral; flexibilidade quantitativa como norma geral,
3 qualificação elevada e capacitação per- por meio da possibilidade de contratações e
manente no âmbito das funções precí- demissões rápidas e fáceis no setor público,
26
Contornos, mitos e alternativas
Além dos fatores históricos mencionados, As demais linhas mestras de uma reforma
outra razão para a estabilidade relativa dos centrada na republicanização e democrati-
servidores reside na preocupação em se evitar zação do Estado derivam das considerações
o comando tirânico e o patrimonialismo na anteriores.
administração em detrimento do interes-
se público. Ou seja, a estabilidade funcional A remuneração adequada e previsível no
dos servidores está atrelada à distinção entre tempo é condição de segurança financeira e
público e privado e à separação do adminis- emocional dos servidores, fatores necessários
trador do político. a qualquer pessoa inserida em uma relação
de trabalho que apenas existe e se realiza em
No caso brasileiro, a Constituição Federal de função do Estado, em favor da coletividade e
1988 promoveu significativo avanço com o in- em caráter permanente. Remuneração ade-
gresso exclusivo via concurso no serviço públi- quada e previsível também para dificultar ao
co, estabilidade funcional, garantia de plurali- máximo qualquer tipo de assédio moral, cap-
dade de formações, vocações e de preferências tura externa, tentativa de extorsão ou outro
ideológicas dentro do Estado, bem como pro- tipo de corrupção.
teção plena do exercício de funções movidas
pelo interesse público universal e sob controle Por seu turno, a qualificação elevada desde o
tanto estatal-burocrático (Lei nº 8.112/1990 início da carreira e o processo contínuo de ca-
e controles interno e externo) como contro- pacitação pessoal e organizacional se impõem
le social direto por meio da Lei de Acesso a no serviço público, devido tanto à amplitude
Informações (LAI), entre outros mecanismos. dos temas abarcados pelas políticas públicas,
À sociedade e à democracia seguramente não como à sua complexidade em contextos onde
interessam a fragilização desse arcabouço. heterogeneidade e mudanças são as normas.
Ambas as exigências colocam grandes desa-
27
Reforma Administrativa do Governo Federal
fios às políticas públicas de pessoal e sugerem invés da competição – como critério subs-
atrelamento de fases e tratamento orgâni- tancial de atuação da administração pública e
co dos novos servidores desde a seleção por método primordial de gestão do trabalho no
concurso, passando por trilhas de capacitação setor público. No setor privado, a competi-
e alocação funcional que combinem as voca- ção, disfarçada de cooperação, é incentivada
ções e interesses individuais com as exigên- por meio de penalidades e estímulos indivi-
cias organizacionais de profissionalização da duais pecuniários (mas não só) no ambiente
função pública, além do estabelecimento de de trabalho, em função da facilidade relativa
critérios objetivos de avaliação e desempe- com a qual se pode individualizar o cálcu-
nho tanto dos servidores quanto das chefias e lo privado da produtividade, dos custos e
dos órgãos e repartições. A complexidade da ganhos monetários por trabalhador. No setor
gestão de pessoal no serviço público, portan- público, ao contrário, a operação de indi-
to, não se presta ao simplismo da proposta vidualização das entregas (bens e serviços)
governamental de reforma do RH centrada na voltadas direta e indiretamente para a cole-
oferta de incentivos individuais, induzindo o tividade é tarefa metodologicamente difícil,
servidor a um processo de especialização des- ao mesmo tempo controversa, pelo fato de
contextualizado e a uma concorrência nefasta que a função-objetivo do setor público não é
à cooperação e ao interesse público. gerar lucro, mas sim valor social, cidadania e
bem-estar para o conjunto da população. Por
Por fim, a cooperação interpessoal e intra/in- esta e outras razões, a cooperação (ao invés
ter organizacional emerge como corolário dos da competição) é que precisa ser incentivada
fundamentos anteriores, colocando-se – ao e valorizada no setor público.
28
4 DIRETRIZES PARA UMA
REFORMA ADMINISTRATIVA
REPUBLICANA E DEMOCRÁTICA
D
iante do exposto, e visando alargar o conselhos e outras instâncias de com-
horizonte de discussões e de proposi- partilhamento de poder no âmbito dos
ções sobre o tema, indicamos abaixo três poderes constitucionais (e Minis-
algumas diretrizes gerais para uma Reforma tério Público) é condição fundamental
Administrativa de índole republicana e de- para o reequilíbrio de poder e valoriza-
mocrática, voltada para um serviço público ção da esfera pública no país.
efetivo e de qualidade, condição sine qua non
para o próprio desenvolvimento nacional, •• Medidas de recuperação e ativação das
soberano, includente e sustentável. capacidades estatais de planejamen-
to governamental e de coordenação
•• Medidas para conferir mais e melhor estratégica dos investimentos e demais
transparência dos processos decisórios decisões das empresas estatais. Neste
intragovernamentais e nas relações en- particular, é preciso compatibilizar a
tre entes estatais e privados, bem como sustentabilidade empresarial de longo
sobre resultados intermediários e finais prazo com a função social pública das
dos atos de governo e das políticas estatais, já que a eficiência microeco-
públicas de modo geral. Este é um dos nômica de curto prazo não pode estar
principais campos de atuação republi- acima da eficácia macroeconômica e
cana contra a visão moralista e puniti- da efetividade social no médio e longo
vista de combate à corrupção no país. prazos.
29
Reforma Administrativa do Governo Federal
APD
Advogadas e Advogados Públicos para a Democracia CONTRAF, CTB, CUT, FENAE,
FNP, FUP, NCST, e UGT.
AACE,
R: 189ADB, R:
ADPF,
66 AFIPEA-SINDICAL,
R: 87 Fundação Cláudio Campos (PPL),
G: 22 G: 41 G: 87 ANAPE,
ANADEF, ANADEP, ANAFE, Fundação Lauro Campos e Marielle
B: 44 B: 24 B: 86
ANESP, ANFFA SINDICAL, ANFIP, ANPM, Franco (PSOL), Fundação João
C: 15
ANPPREV, C: 50 APCF,
AOFI, C:ASSECOR,
0 Mangabeira (PSB), Fundação Leonel
M: 100 M:70 M: 0
AUDITAR,
Y: 90 CONAMP,
Y: 80
FEBRAFITE, Brizola – Alberto Pasqualini (PDT),
Y: 0
FENAFIM,
K: 10 FENAFISCO,
K: 70 K:SINAGÊNCIAS,
80 Fundação Maurício Grabois (PCdoB),
SINAIT, SINAL, SINDCVM, SINDIFISCO Fundação da Ordem Social (PROS) e
NACIONAL, SINDILEGIS, SINDPFA, Fundação Perseu Abramo (PT).
SINDSUSEP, SINPROFAZ, UNACON
SINDICAL e UNAFISCO NACIONAL.
30
FRENTE PARLAMENTAR
MISTA EM DEFESA
DO SERVIÇO PÚBLICO
APD
Advogadas e Advogados Públicos para a Democracia
R: 189 R: 66 R: 87
G: 22 G: 41 G: 87
B: 44 B: 24 B: 86
C: 15 C: 50 C: 0
M: 100 M:70 M: 0
Y: 90 Y: 80 Y: 0
K: 10 K: 70 K: 80