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Leia o seguinte editorial, o qual envolve tema relevante sobre a economia brasileira:
Questões institucionais envolvem muito mais que direitos básicos, obrigações, forma de
governo e regras de operação dos chamados Poderes da República. Exemplo: nem todos
percebem, no dia a dia, como as normas constitucionais afetam os custos da economia
brasileira e limitam - de fato, severamente - as possibilidades de crescimento da produção e de
criação de empregos decentes e úteis.
se propõem, por exemplo, planos educacionais com metas de despesas mínimas, como se a
solução dos grandes problemas dependesse apenas do volume de despesas - ideia contrariada
pela experiência dos países mais avançados.
Eficiência e qualidade são pelo menos tão importantes quanto as somas destinadas aos vários
programas. De modo geral, determinam os graus de sucesso ou de insucesso. Comparem-se,
por exemplo, os gastos e os padrões educacionais da Coreia e do Brasil.
Os brasileiros têm mais uma oportunidade, agora, de atacar essas questões e de reconstruir o
País segundo modelos melhores para todos. Se for desperdiçada, quem sabe quando surgirá a
próxima?”
A reportagem acima discuti, dentre outros temas, sobre a Proposta de Emenda à Constituição
(PEC) nº 241, atual Emenda Constitucional nº 95, promulgada para reequilibrar as contas
públicas e viabilizar a recuperação da economia brasileira ao mudar alguns dispositivos da
Constituição Federal de 1988 para criar o chamado “Novo Regime Fiscal”. Esse regime prevê
que as despesas públicas não poderão crescer acima da inflação oficial do ano anterior, isto é,
se a inflação deste ano for de 7%, esse será o teto de crescimento da soma de todos os gastos
federais no ano seguinte.
Nesse grupo de despesas, encontram-se os gastos com a Previdência Social, que consomem
mais de 40% do orçamento federal. Assim, sobram apenas 16,7% que o governo pode mexer,
que são as chamadas despesas discricionárias. Observe, portanto, que a margem para se
decidir onde cortar gastos públicos é bastante limitada. Dito de outra forma, o espaço para
deslocar as despesas discricionárias (que podem ser cortadas) é muito pequeno, havendo ou
não reforma da Previdência Social. Como as áreas de saúde e educação têm um limite mínimo
de gastos que não podem ser alterados, então sobrariam áreas menores para cortar gastos
públicos, como investimento em infraestrutura, pesquisa, ciência e tecnologia, segurança
pública e meio ambiente, entre outros. Por sua vez, o restante das despesas, como a folha de
servidores e abono salarial, é congelado.
As áreas de saúde e educação só terão que obedecer à regra de teto dos gastos a partir de
2018. A atual equipe econômica argumenta que a referida PEC fixa apenas um piso mínimo e
que nada impede que o orçamento para educação e saúde suba acima da inflação, desde que
se respeite o teto global. Ou seja, se o governo gastar menos em outras áreas, poderá
aumentar os recursos para essas duas áreas específicas.
O gasto público alcançou um patamar insustentável e seu crescimento precisa ser contido. Por
essa razão, a Emenda Constitucional nº 95 é fundamental para o Brasil recuperar a
credibilidade entre os investidores e voltar a crescer. Um dos pontos positivos da proposta é a
reavaliação de prioridades e do tamanho do governo, pois dever-se-á utilizar os recursos
públicos escassos de forma eficiente. De forma resumida, os pontos favoráveis são:
de 2018, logo, deverão ter uma base para o teto superior. Já nos anos seguintes, o
governo ressalta ainda que os investimentos nessas duas áreas poderão crescer acima
da inflação. Para o governo, o que vale é o teto total, isto é, se o governo gastar menos
em outras áreas, poderá aumentar os recursos para as áreas de saúde e educação.
• No caso do teto estabelecido para cada um dos Três Poderes da União (“limites
individualizados”), será factível compensar um possível descumprimento desse teto
entre órgãos do mesmo Poder. Por exemplo, no Poder Judiciário, se um determinado
tribunal ultrapassar o limite de gastos em um ano, outro órgão desse mesmo Poder
que estiver com sobra poderá ceder sua parte, desde que o total de gastos públicos
não ultrapasse o teto do Poder Judiciário. Um tribunal não poderá compensar esse
limite com um órgão do Poder Legislativo, por exemplo, pois se tratam de órgãos de
Poderes diferentes.
• A Emenda Constitucional nº 95 prevê punições caso algum dos Três Poderes da União,
ou órgãos a eles vinculados, descumpram o limite de crescimento de gastos, por
exemplo, o impedimento de se reajustar salários e contratar pessoal. Explicando
melhor, caso o limite não seja respeitado, a Emenda Constitucional nº 95 prevê que o
Poder ou órgão responsável ficará proibido, a partir do ano seguinte, a:
1. dar aumentos e reajustes salariais a servidores públicos;
2. criar cargo, emprego ou função que implique aumento de despesa;
3. mudar a estrutura de carreira que implique aumento de despesa;
4. contratar pessoal, exceto para reposição de vagas;
5. abrir novos concursos públicos;
6. criar despesas obrigatórias;
7. criar ou aumentar auxílios, vantagens, bônus e abonos para servidores;
8. reajustar despesas obrigatórias acima da inflação.
• Existem cinco situações em que os gastos não precisam obedecer à regra do teto:
1. transferências constitucionais, como o repasse de recursos da exploração de
petróleo a estados e municípios; o repasse de impostos arrecadados pela
União a municípios, estados e fundos; cotas do salário-educação a estados e
municípios; despesas com a polícia civil, militar e o corpo de bombeiros militar;
2. créditos extraordinários somente em casos imprevisíveis e urgentes, como
guerra, comoção interna ou calamidade pública;
3. despesas com eleições pela justiça eleitoral;
4. outras transferências obrigatórias por lei em função de receitas vinculadas;
Contudo, para os críticos, a Emenda Constitucional nº 95 ameaça políticas sociais, pois haverá
prejuízos para a população de baixa renda e redução dos gastos sociais. Em resumo, os
principais pontos contrários à Emenda Constitucional nº 95 são:
• Falso diagnóstico do real problema fiscal do país. Esse problema está relacionado à
forte queda da arrecadação tributária e ao aumento do gasto com a dívida pública. As
principais causas para o crescimento do endividamento público seriam os gastos com
pagamento de juros da dívida pública, as renúncias fiscais e a política de acúmulo de
ativos (reservas internacionais e créditos junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social – BNDES), com remuneração menor que as taxas de juros do
mercado.
• Haverá uma redução drástica dos gastos nas áreas de saúde e educação, pois, como o
ritmo de algumas despesas obrigatórias tende a continuar a crescer, como os gastos
com a Previdência Social, o congelamento de aumento nos gastos públicos provocaria
o “estrangulamento” nessas duas áreas.
• A regra não considera mudanças demográficas e crescimento do PIB. Explicando
melhor, o teto não considera o crescimento e envelhecimento da população na regra
que corrige os gastos públicos, nem o crescimento do PIB. A mudança desses
indicadores pode trazer novas necessidades de investimento em bens e serviços
públicos. Dito de outro modo, a Emenda Constitucional nº 95 irá colocar em risco
políticas sociais.
• O prazo de vigência do teto é considerado longo demais (20 anos). Para os críticos
dessa proposta, é difícil prever as necessidades futuras do país. Não há flexibilidade
para ajustar as contas públicas e mudar a regra no futuro.
• A Emenda Constitucional nº 95 irá dificultar o investimento público e poderá prolongar
a atual crise econômica. Argumenta-se que, como a Emenda Constitucional nº 95 irá
conter o crescimento dos gastos públicos e reduzir a capacidade de investimento do
Estado, isso pode tornar ainda mais lenta a retomada do crescimento econômico.
• Embora diversos outros países tenham aprovado regras para definir o crescimento das
despesas públicas, não se tem conhecimento de modelo semelhante aplicado no
exterior. Por exemplo, na União Europeia, o limite para o gasto público está associado
à taxa de crescimento de longo prazo do PIB, e não à inflação. Como não há
referências no exterior, há incertezas dos efeitos dessa medida na economia e até
mesmo de sua viabilidade.
Referência