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Apesar de atualmente aparecer como inquestionável o seu ensino nas Faculdades de Direito a
verdade é que a disciplina de Finanças Públicas tem uma natureza interdisciplinar, situando-se na
confluência das abordagens da Ciência Económica, da Ciência Política e do Direito e que é habitualmente
definida como à ciência que estuda a atividade financeira do estado ou, se preferirmos usar as palavras de
Teixeira Ribeiro, se traduz na análise da “aquisição e utilização de meios financeiros pelas coletividades
públicas”. Trata-se assim do estudo da atividade financeira do subsetor “Administração Pública” do setor
público da economia e do “operador G”. Se houvéssemos de concluir que este “operador G” é um dos
atores da esfera económica (ou se preferirmos, do mercado) teríamos ainda que justificar qual ou quais as
razões para a autonomização do estudo desta atividade fora da disciplina da economia política.
Seguindo neste ponto Sousa Franco e Aníbal Almeida entendemos apenas do ponto de vista
epistemológico e didático as Finanças Públicas se afastam da Economia Política, mas não existe uma cisão
objetual entre as duas disciplinas, como sustenta Teixeira Ribeiro. Por um lado, porque o fenómeno social
é único e por outro lado, porque a ideia de que a economia política estudaria apenas as relações de troca e
as finanças as relações coativas, apenas pode ser entendida numa ótica radicalmente liberal, em que a
atividade estadual (ainda que exista) não é considerada como atividade de um operador económico em
sentido próprio como o é a atividade do “operador E” (empresas) e do “operador F” (famílias).
Podemos adiantar desde já que a generalidade dos autores entende que se trata de uma disciplina
que se situa na confluência de várias abordagens: a económica, a ciência política e o direito. Tenta
responder a questões económicas fundamentais: o que produzir? Como produzir? Para quem produzir?4
As Finanças Públicas tratariam das mesmas questões que a Economia Política, isto é, o problema de saber
que recursos devem ser utilizados na produção de bens, qual a melhor forma de os produzir e quem
deverá financiar essa produção. Não se estranharia por isso que a designação da disciplina pudesse em
alternativa ser, como aliás defendeu Aníbal Almeida ‘Economia Pública’, designação esta com tradição em
alguns países e também na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.
Contudo, na análise dessas questões entra em linha de conta com considerações que não são só
aquelas que o setor privado (a economia privada) tem em mente. Assume aqui uma importância central a
questão da provisão pública ou privada dos bens, isto é, quem deve suportar o encargo com a produção de
determinado tipo de bens, se os privados que deles beneficiam ou a coletividade. No fundo equivale a
referir-se se o financiamento é estritamente feito através das receitas provenientes da venda ou
comercialização dos bens (abrangendo também aqui os serviços) sendo os utilizadores os únicos a suportar
os encargos ou se ao invés se admite que esse financiamento seja repartido entre utilizadores e não
utilizadores (a comunidade) ou, também e em exclusivo, se esse financiamento será feito com recurso
exclusivo a receitas arrecadadas através dos impostos. Neste último caso podemos até ter situações em
que os beneficiários/utilizadores do bem não suportam qualquer custo financeiro direto da provisão do
bem e podemos também encontrar não utilizadores que suportam integralmente o custo da provisão do
bem.
As decisões relativas a estas matérias são tomadas em regra com base num processo político
complexo, mas que se fundamenta em argumentos que vão ser retirados quer da ciência política quer da
ciência económica. Será esta abordagem económica que analisaremos.
O objeto de estudo das finanças públicas – que se distingue apenas do objeto de estudo da economia
política porquanto é sectorialmente diverso, mas não fundamentalmente diverso (Aníbal Almeida) a outra
metade da mesma laranja – traduz-se precisamente na fundamentação económica das políticas financeiras
do setor público. Trata-se, porém, de uma análise normativa e positiva da atividade financeira e não
financeira das entidades do setor público. Estudaremos assim as formas de obtenção de receita e de
utilização da mesma pelo Estado. De notar que estudaremos essa atividade quando ela seja decorrente da
Importa assim saber: (a) quais os efeitos que as alterações nas designadas variáveis instrumentais – política
orçamental – têm na prossecução dos objetivos do estado; (b) quais os efeitos que as alterações nas
designadas variáveis estruturais – regras e instituições – têm na implementação de políticas públicas; (c)
qual deve ser a intervenção do estado na economia sobretudo através de políticas financeiras (receita e
despesa) e (d) como deve ser feita a intervenção no setor público por forma a implementar as políticas
públicas desejáveis?
Tal como sucedeu noutros períodos da história, hodiernamente debatem-se com maior intensidade as
razões que permitem justificar a necessidade de intervenção do estado na esfera económica - a escolha
das despesas e das receitas estaduais e os efeitos que as mesmas possam ter na economia - do que um
debate mais aprofundado sobre as funções do estado que está muito ligada a estoutra discussão.
De entre as várias classificações das funções do Estado na economia aquela que ainda hoje é a mais
utilizada foi formulada por Richard Musgrave em 19597. De acordo com este autor o Estado deverá
desempenhar as funções de afetação de recursos; estabilização económica e redistribuição, porquanto se
trata de falhas de mercado. A estas funções acrescentam ainda alguns autores a função de (d) proteção do
ambiente.
Esta uniformidade generalizada que atualmente existe decorre da ideia de o estado é essencial ao
funcionamento das sociedades modernas e das economias de mercado. Tal não significa que todos os
autores defendam com a mesma identidade as formas e a intensidade da intervenção estadual.
Uma das questões mais debatidas entre os economistas que se dedicam ao estudo destas questões
é precisamente a que acabamos de referir: em que situações deve o estado chamar a si a provisão de um
determinado bem. É nesta decisão (de escolha pública) que são determinantes fatores como a eficiência, a
equidade e a liberdade.
A eficiência pode definir-se como a afetação dos recursos de um modo ótimo (primeiro ótimo de
Pareto), isto é, de tal modo que não é possível melhorar o bem-estar de alguém sem prejudicar o bem-
estar de outrem. Mas, se tivermos em consideração que o estado se financia maioritariamente através de
receitas fiscais, somos levados a concluir que, ainda que as despesas estaduais (na provisão pública de
bens) vão aumentar o bem estar de todos ou apenas de alguns, alguns dos beneficiários vêm o seu bem-
estar afetado. Esta diminuição de bem-estar é representada pela impossibilidade de utilização do
montante destinado ao pagamento dos impostos (e que constituem a receita estadual destinada ao
financiamento daqueloutros bens). Assim, ao invés de poderem dispor da totalidade do seu rendimento os
privados vêem-se privados de uma parcela do rendimento, parcela essa que será transferida para o estado.
Assim, para dar cumprimento à exigência da eficiência, é necessário demonstrar que a provisão pública do
bem permitirá obter uma situação ótima na afetação dos recursos.
A equidade é muitas vezes entendida como correspondendo à justiça e à igualdade (em sentido
material). Para o que agora nos interessa, importa saber que há situações tidas como justas mas que
causam prejuízos a outrem. Importa assim determinar desde logo, de entre as várias opções, a que se
mostre menos prejudicial. Mas menos prejudicial para quem?
Estas duas dimensões podem colidir com uma outra: a da liberdade negativa, isto é, os cidadãos
devem manter uma esfera de liberdade e autonomia inviolável. Por essa razão habitualmente
encontramos a designação de liberdade negativa.
Estes três critérios são critérios normativos que podem ter uma prevalência diversa consoante o
tipo de análise que está em causa. Para os juristas, o critério preponderante deve ser a equidade.
Durante muito tempo o Estado ou Governo foi entendido como sendo um elemento exógeno da
economia. Os autores da escola clássica inglesa como Adam Smith e David Ricardo, à semelhança do que já
havia sucedido com François Quesnay, apenas configuram o Estado à margem da Economia, sem serem
capazes de lhe reconhecer qualquer outra intervenção que não seja a decorrente da cobrança dos
impostos que provocaria males à economia.
Para os autores da escola clássica inglesa o Estado comporta-se como um puro consumidor que
obtém as suas receitas através da aplicação de impostos, financiando as suas atividades diminutivas: julgar
e combater. Como pressuposto máximo da escola clássica, nas palavras do seu propulsor, Adam Smith, o
Estado deve abster-se de exercer quaisquer atividades económicas que possam ser desempenhadas pelo
mercado pois o mercado se for deixado funcionar de forma livre, possui mecanismos que permitem regular
a produção e adequá-la às necessites dos cidadãos. Esta ideia do livre funcionamento do mercado implica,
porém, aquela outra ideia de que o indivíduo se não for restringido no seu comportamento procurará
sempre atuar para melhorar a sua condição e ao fazê-lo estará também indiretamente a melhorar as
condições dos demais indivíduos da sociedade. Ao Estado cabia apenas assegurar aquelas tarefas e obras
públicas que, embora sempre vantajosas para toda a sociedade, não permitam obter um rendimento
suficiente para financiar a sua produção.
É da concorrência pura e perfeita entre os vários agentes económicos que resulta uma afetação
ótima de recursos e a autorregulação do mercado. A interferência do Estado aparece não só como
desnecessária como até indesejável. Ainda assim, defende-se a pequena intervenção do Estado na
economia mas apenas se admite que o financiamento dessa atividade seja feito através de impostos. Este
entendimento baseia-se na ideia de que os impostos são pagos maioritariamente ou quase exclusivamente
com receitas que seriam destinadas ao consumo. O Estado é um puro consumidor e por isso ao usar as
receitas que retira aos particulares está a realizar despesas de consumo. Já o financiamento através de
empréstimos representaria uma diminuição do rendimento privado que poderia ser destinado ao consumo
ou ao investimento mas que ao ser transferido para o Estado vai necessariamente ser destinado a
consumo. Esta teoria de Adam Smith acabaria por influenciar outros autores da escola clássica como David
Ricardo, Jean Baptiste Say ou Stuart Mill. David Ricardo segue precisamente a ideia de Smith mas introduz
alguns factores diferenciadores, dando especial importância à ideia do crescimento económico como
forma de controlar e compensar o aumento das despesas públicas, ou seja, o consumo estadual deve ser
compensado por igual montante no crescimento económico.
Ao classificar o Estado ainda como um puro consumidor, Ricardo preocupa-se com a forma de
financiamento desse consumo. Nas suas próprias palavras, se estivermos perante um aumento do
consumo financiado através de impostos, estes últimos terão também de aumentar. Nessa situação
importa saber se este aumento de impostos é compensado por um aumento da produção ou por uma
diminuiçao do consumo dos particulares. Nesse caso, os impostos vão incidir sobre o rendimento e não há
qualquer alteração no consumo nem no produto interno e também não será afetada a capacidade
produtiva nos períodos futuros.
Já nos casos em que não existe aumento da produção ou diminuição do consumo privado os
impostos acabarão por incidir sobre o rendimento que seria destinado ao investimento (capital) o que
afetará a capacidade produtiva do país. Esta preocupação de David Ricardo com a fonte de financiamento
e os seus efeitos é comum aos autores que se lhe seguiram. Jean Baptiste Say chega mesmo a afirmar que
o imposto é um valor fornecido pela sociedade e que lhe não é restritivo. O imposto não custa à sociedade,
apenas o valor que é entregue ao Estado mas custa também os custos de arrecadação mas também custos
pessoais (custos de cumprimento). Custa ainda o valor dos produtos que não foram produzidos. Vemos
assim que o sacrifício do pagamento do imposto afeta o contribuinte na sua qualidade de produtor porque
altera os seus lucros, afeta-o na qualidade de consumidor porque aumenta as suas despesas ao encarecer
os produtos. Resumindo numa frase, para Say o Estado é o imposto e o imposto um triplo mal. Stuart Mill
A ideia de que a intervenção do Estado na economia apenas poderia provocar uma distorção nos
mecanismos de mercado viria a ser abandonada aos poucos. Para isso, muito contribuiu a grande
depressão de 1929. Constatou-se que estávamos perante um período de forte recessão económica com
elevados níveis de desemprego, situação essa que se estava a prolongar, ou seja, contrariamente ao que
seria de esperar, o mercado não conseguiu relançar a economia. Foi neste contexto de decréscimo (de
25%) do PIB que passamos a encontrar classes sociais onde a fome e a miséria pareciam impossíveis de
eliminar. Tornou-se claro que os mercados tinham falhado e o que se pensava ser um desequilíbrio
momentâneo parecia perpetuar-se e sem fim à vista. Foi também nos anos que se seguiram à grande
depressão que surge a experiência do new deal entre 1933 e 1936. Políticas estas que contrariam toda a
teoria económica até então defendida. Foi precisamente neste contexto que Keynes defendeu a
necessidade e a utilidade da existência de políticas públicas destinadas à estabilização dos mercados.
A obra de Keynes baseia-se precisamente no estudo da realidade da época para concluir que é possível o
equilíbrio da economia sem que exista uma situação de pleno emprego de fatores, contrariando assim
aquilo que vinha sendo defendido até então. Mas mais do que isso, Keynes deixa de ver o Estado como
puro consumidor, ao defender que as despesas públicas, mesmo quando são feitas em consumo, se
comportam como despesas de investimento quanto aos efeitos que têm sobre o PIB. O mecainsmo que
ficou conhecido como o Multiplicador Keynesiano/ Multiplicador Orçamental permite precisamente
explicar este fenómeno.
Ficou até célebre uma expressão de Keynes que ilustra bem a sua teoria sobre a importância da
despesa pública. Expressão esta e passo a citar: “pagar a pessoas para tapar buracos”. Não tardaria então a
concluir-se que os rendimentos retirados a uns através dos impostos e transferidos para outros através dos
salários iriam estimular a procura e, por essa via, o crescimento económico. O Estado passa então a ser
visto como uma peça essencial do funcionamento dos mercados, justificando-se a adoção de medidas
destinadas a garantir não só a estabilização económica como também a redistribuição do rendimento.
Estava iniciado o período das finanças intervencionistas. À grande depressão seguiu-se a 2ªGM e ao fim
desta um período de forte crescimento económico. Constatou-se, porém, que muitas pessoas continuavam
a viver em condições miseráveis e pareciam estar condenadas, à partida, a não sairem dessa situação.
Estas diferenças de oportunidade impulsionaram o reconhecimento da existência de uma outra função
estadual, a redistribuição do rendimentos e a garantia de serviços básicos para os mais carenciados.
Aceita-se que o mercado não é autoregulado nem é capaz de distribuir os rendimentos de forma justa. Em
suma, o mercado tem falhas que não consegue corrigir. Caberá então ao Estado intervir para eliminar ou
corrigir estas falhas.
Esta nova ideia sobre as funções do Estado não implica necessariamente um grande aumento da despesa
pública porque nem sempre as políticas estaduais implicam gastos avultados. Ao mesmo tempo, admite-se
que o Estado possa, em situações excecionais, recorrer a receitas provenientes dos empréstimos para
financiar a despesa pública, centrando-se a preocupação dos economistas no controlo do aumento da
despesa pública, assitinassistindo-seumento progressivo que em muitos países chegaria a ultrapassar 50%
do PIB.
Foi o crescimento experimentado pela despesa pública nas décadas de 70, 80 e 90 (por vezes apelidada
de golden age da despesa pública) que levaria a que muitos se começassem a interrogar sobre a dimensão
do estado na economia. O problema não era (e é) apenas a percentagem que a despesa pública representa
em relação ao PIB mas também a forma como esta é financiada: do financiamento exclusivo através de
impostos defendido pelos autores que defendem o estado mínimo, passaríamos a ter uma despesa pública
que vai poder ser financiada, em determinadas situações, através de empréstimos. Esta conjunção de
fatores levou a que se debatesse a necessidade de serem colocados limites à intervenção do estado na
economia, e à colocação de limites às atividades estaduais através de disposições de natureza
constitucional. Foi ganhando força a ideia de que é necessário limitar a ação dos governos e das maiorias
parlamentares conjunturais. Vários países introduziram nas constituições normas relativas ao limite
máximo do saldo orçamental. Os adeptos desta corrente de pensamento advogam que a principal função
do estado na esfera económica deve ser a afetação de recursos, sendo a redistribuição feita de um modo
generalista, ou seja, levada a cabo através de princípios e regras generalistas e não dirigida a grupos
específicos. Defendem assim que deve ser limitada a concessão de benefícios fiscais e outros incentivos
fiscais que podem incentivar a elisão fiscal (rent seeking).
A definição de finanças públicas e do seu objeto não pode ser tratada sem que se tenham em conta
outras disciplinas. Estamos a referir-nos ao direito financeiro, ao direito tributário e ao direito fiscal mas
importa-nos sobretudo, aqui, o direito financeiro que é definido como conjunto de normas que regulam a
obtenção, a gestão de dispêndio dos dinheiros públicos. Apesar de este ser também o objeto das finanças
públicas não há total coincidência pois as finanças públicas estudam ainda as diferentes opções quanto ao
desenho das políticas estaduais, sobretudo daquelas que têm um forte impacto financeiro. Estuda-se ainda
a intervenção do Estado enquanto agente económico. Por estas razões, encontramos autores que
defendem que o objeto de estudo das finanças públicas e da economia política é o mesmo, havendo
apenas uma distinção setorial mas não uma autonomia de outro tipo. Contudo, entendemos que no
contexto atual esta opinião não é de seguir. Há especificidades relativas ao agente económico Estado que
justificam uma autonomia científica e didática pois embora verdadeiramente se estude o Estado enquanto
agente económico, este por ser um macrodecisor irredutivel (não pode ser fracionado), estas
características que permitiriam sustentar uma diversidade de análise vêm acompanhadas de uma outra é
que os agregados família e empresas quando se relacionam entre si fazem no tendencialmente através de
Por provisão pública de bens entende-se a definição, pelo Estado, das caraterísticas dos bens e
respetivas condições de acesso, e o financiamento parcial ou total, por parte daquele, desses mesmos
bens. Contrapõe-se, assim, à provisão privada: situação em que os produtores definem as condições de
oferta e o custo da produção é coberto pelo preço cobrado aos consumidores.
A provisão pública pode traduzir-se em duas situações distintas:
(1) Produção pública do bem (2) Produção privada do bem
Embora a produção do bem seja privada, é o Estado que fixa as condições de acesso e que financia a sua
utilização.
A decisão sobre a provisão pública de bens é irredutivelmente política e traduz-se na questão de saber:
que bens devem ser fornecidos pelo Estado, em que condições e a que custo para os consumidores. É
também um daqueles domínios em que podem ser mais extremadas as posições determinadas por
critérios político-ideológicos e morais. Estamos num campo em que são confundíveis os planos da teoria,
da doutrina e da política. Ao fazer o estudo relativo aos fundamentos económicos da provisão pública de
bens, há que ter presente que a decisão política que determina os três aspetos acima mencionados não é
necessariamente baseada em considerações da ciência económica. Como afirma Aníbal Almeida, num
Estado de Direito Democrático, todas as decisões políticas do Estado, portanto, tomadas pelo respetivo
Governo, relativas a receitas e despesas públicas são orientadas por critérios de justiça (caso contrário,
serão, a posteriori, alvo de sanção política. A análise dos fundamentos económicos para a provisão pública
de certos bens pode auxiliar o decisor político, sendo assim um contributo para a compreensão das
escolhas estaduais; mas não constitui resposta definitiva e absoluta, pois esta variará de comunidade para
comunidade, e de acordo com os circunstancialismos concretos em cada tempo.
c) Necessidades “coletivas”
A propósito de bens públicos fala-se, por vezes, de necessidades coletivas. Saliente-se que com esta
expressão não se pretende significar, necessariamente, que as necessidades são sentidas pela
comunidade, enquanto entidade distinta do conjunto de indivíduos que a constituem. De facto, a
sociedade deve ser olhada como um conjunto de indivíduos, e não como uma entidade com interesses
distintos e superiores aos dos elementos que a constituem. Na perspetiva adotada entre nós, todas as
necessidades, mesmo as que são satisfeitas mediante provisão pública de bens, devem ser consideradas
necessidades das pessoas individualmente consideradas. As necessidades coletivas são apenas
necessidades individuais partilhadas pela maioria ou totalidade dos cidadãos, e não necessidades de uma
entidade supra-individual abstrata. Apenas as pessoas têm necessidades.
Como se disse, podemos individualizar dois tipos de razões para esta provisão pública:
(1) Nas razões de eficiência integram-se aquelas situações em que se verificam falhas de mercado.
Justifica-se, desde logo, a provisão pública de bens com externalidade positivas, como será o caso do
comboio, que se comporta vantagens relativamente ao autómovel, pelo que o seu uso deverá ser
estimulado. Por outro lado, são falhas de mercado aquelas situações em que a provisão privada conduz a
um preço excessivo e consumo ineficientemente baixo. Esta justificação relativa ao poder do mercado
traduz-se, sobretudo, em casos de monopólios naturais. Os bens que assim eram produzidos por
particulares passam para as mãos do Estado que, embora também atue em monopólio, praticará preços
sociais. Uma terceira razão de eficiência para provisão pública de bens privados consiste nos elevados
custos de transação e comunicação: estes custos, relativos ao “acordo” efetuado entre utilizadores, serão
tanto mais elevados quando maior o número de utilizadores. Por fim, a assimetria de informação justifica
igualmente a provisão pública dos bens. Esta situação verifica-se particularmente no campo da saúde. Ora,
na ausência de um sistema nacional de saúde, dirigir-se-iam às seguradoras aqueles indivíduos com
problemas de saúde recorrentes. Daí que, em face da maior probabilidade de ter de suportar custos
relativos a tratamentos, as seguradoras aumentem o preço dos seus serviços. Isto porque a informação
que lhes chega é deficiente, não corresponde à realidade global. Deste modo, os cidadãos comuns ficariam
desprotegidos, pois não esperando necessitar do apoio da seguradora, optariam por não aderir aos
seguros, a elevados preços. Estamos em face de uma seleção adversa. Sendo o Estado a providenciar este
bem, todos terão de contribuir igualmente, e todos terão acesso a iguais cuidados.
Podemos ainda incluir nas razões de eficiência, mas já não nas falhas de mercado, o paternalismo do
Estado. A atuação paternalista do Estado verifica-se sempre que aquele:
Impõe proibições ou tributa de forma agravada certos bens privados;
Incentiva ao consumo dos chamados “bens de mérito”;
Pretende corrigir a afetação privada de recursos, sem finalidade de eficiência.
(2) Como se disse, a provisão pública de bens privados também se verifica por razões distributivas, que se
traduzem, sobretudo, numa questão de justiça, de correção das desigualdades. Na linha das considerações
de Robert Nozik, a função distributiva do Estado esgota-se na definição das regras, já que o Estado não
pode intervir na esfera de interesse de alguém em favor de um terceiro. A invasão de um esfera de
interesses apenas se justifica quando a intervenção é no interesse do titular dessa mesma esfera. A
redistribuição de que falamos pode, no contexto destas considerações, ser efetivada das seguintes formas:
Políticas de provisão direcionadas a questões de carência (por ex.: discriminação de preços): será o caso
paradigmático da Segurança Social, que comporta uma dimensão de seguradora (já que os beneficiários dos
serviços são contribuintes, descontando para esse serviço), e uma dimensão de prestação de serviços
(mediante um regime não contributivo, que apenas se dirige aos mais carenciados).
Políticas universais (por ex.: educação gratuita universal e sistema nacional de saúde): mediante a provisão de
bens de forma universal, permite-se que os mais carenciados tenham também acesso; além de que a
contribuição será diferente de acordo com os redimentos dos construintes (sistema de impostos progressivo).
De acordo com o art. 103º/1 da CRP, o sistema fiscal progressivo – que se traduz na aplicação de uma taxa
que aumenta de acordo com os rendimentos – tem como principal escopo a repartição justa dos
redimentos, reduzindo as desigualdades.
No âmbito dos bens semi-públicos (bens privados de provisão pública), o Estado poderá optar por fazer a
sua provisão gratuita ou não. Assim, podemos distinguir:
Bens tecnicamente semi-públicos: oferecidos pelo Estado de forma totalmente gratuita;
Bens ténica e financeiramente semi-públicos: oferecidos pelo Estado mediante o pagamento de uma taxa.
Tanto relativamente a uns como a outros, os impostos pagos pelos contribuintes assumem aqui particular
relevo. Neste contexto surgem dois princípios que poderiam estar na base do sistema fiscal. Por um lado,
poderia falar-se em “princípio da equivalência”, que determina que a intensidade da utilização determina o
valor da taxa a pagar. Quanto maior o benefício auferido, maior a taxa aplicável. Contudo, este é um
princípio impraticável em matéria de impostos. Assim, afirma-se, entre nós, o “princípio da capacidade
contributiva”, que fixa que a contribuição de cada pessoa deverá estar de acordo com a sua capacidade
para contribuir. De facto, este princípio assenta em ideais de igualdade e equidade: devem ser tratadas de
forma igual as pessoas em situações objetivas iguais e de forma desigual aqueles que se encontram em
posições diferentes, de acordo com a discrepância entre si.
Esta definição individualiza, desde logo, os três elementos de qualquer orçamento, seja ele público ou
privado:
1) previsão;
2) limitação temporal ;
3) despesas e as receitas.
A estes elementos acrescenta-se um quarto, próprio do orçamento do Estado:
4) autorização.
De facto, o orçamento é sempre um mapa de previsão. As despesas e receitas que delem constam
são sempre futuras. Tendo em conta a incerteza do futuro, tanto maior quanto mais distante é esse futuro,
o orçamento tem de confinar-se a um determinado período de tempo: daí que um dos seus elementos seja
a limitação temporal. A particularidade do orçamento do Estado reside no facto de essas despesas e
receitas previstas para um certo período de tempo carecerem, para que sejam realizadas, de autorização
da assembleias representativas.
A autorização é uma condição de legalidade da despesa e da receita. Assim, e em suma: o
orçamento do Estado é o documento onde se prevê as receitas e as despesas públicas autorizadas para o
período financeiro.
c) Princípio da transparência
Há, contudo, de chamar a atenção para o facto de a classificação da receita e da despesa dever ser feita
nao só tendo em consideração o tipo de despesa mas também a repetição ou não de um montante fixo de
despesa que vai sendo destinado à cobertura de despesas diferentes. São as designadas despesas
extraordinárias recorrentes, em que o tipo de despesa não se repete mas o seu montante repete-se,
constituindo verdadeiramente um encargo permanente do Estado e, por isso, devem ser classificadas
como despesas ordinárias.
Apesar de se saber o que são receitas e despesas ordinárias e receitas e despesas extraordinárias, há um
leque alargado de receias e despesas de classificação duvidosa e que permitem uma classificação arbitrária
por parte de quem está a elaborar o orçamento.
Exemplo: o aumento dos salários da função pública – dá jeito que seja despesa extraordinária (a principal
vantagem de ser extraordinária é que esta despesa pode ser coberta com empréstimos – receita
extraordinária -, pois é muito mais fácil cobrir despesas com empréstimos pela menor resistência pelo
público), mas não é.
Exemplo 2: o Estado cria mais 2 consultas obrigatórias pelo SNS – repete-se a mesma situação.
Se o orçamento estiver equilibrado a atividade financeira do Estado não afetará os níveis globais de
consumo e de aforro.
De acordo com esta conceção de equilíbrio é necessário tomar em consideração as receitas
correntes e as despesas correntes e as receitas de capital e despesas de capital.
Receitas correntes são aquelas que provêm do rendimento do próprio período financeiro. Como é o caso
das taxas, da generalidade dos impostos e das receitas patrimoniais.
Despesas correntes são as despesas que o Estado faz em bens consumíveis durante o período financeiro ou
que se vão traduzir na compra de bens consumíveis. São disso exemplo a aquisição de material de
escritório, o pagamento de pensões e, em certa medida, o pagamento de salários.
Este critério de equilíbrio faz do pressuposto de que as receitas correntes são receitas que diminuem o
consumo dos particulares e as despesas correntes são despesas que aumentam o consumo comum. Assim
sendo, se o orçamento estiver equilibrado, à diminuição do consumo privado corresponde o aumento do
consumo público idêntico montante, mantendo-se inalterado o consumo total. Exemplo: se o Estado
cobrar em IVA 100 euros o consumo por parte dos particulares baixa, sendo este transferido para o Estado,
que o gasta e pensões, aumentando o consumo público – assim um anula o outro.
Havendo equilíbrio, a atividade financeira do Estado não afetará os níveis globais de consumo. Ora,
se o orçamento corrente estiver equilibrado, estará também equilibrado o orçamento de capital. Isto é,
haverá uma igualdade entre as receitas de capital, que são aquelas que provêm do aforro dos particulares,
e as despesas de capital, que são aquelas que o Estado faz em bens duradouros ou que contribuem para a
formação de aforro. Se isso acontecer, a atividade financeira estadual é também neutral perante o aforro
total. Exemplo 2: se o Estado cobrar 15000 em IMT, o aforro por parte dos particulares baixa, sendo esse
valor transferido para o Estado, que o gasta na construção de um porto marítimo – um anula o outro.
Se o orçamento estiver equilibrado haverá um equilíbrio o (uma repartição justa) entre os encargos que
cada geração suporta e os benefícios que lhe são dirigidos.
Situações de desequilíbrio:
Havendo um défice no orçamento corrente, estaremos perante uma situação em que o valor das receitas
correntes é inferior ao valor das despesas correntes. Situação esta que, em termos económicos, provoca
um aumento do consumo total e uma diminuição do aforro total.
O défice do orçamento corrente, ao potenciar a utilização de receitas de capital para pagar despesas
correntes, vai provocar uma situação em que há um desaforro público com efeitos sensiveis sobre a
economia. Esta situação poderá, em circunstâncias muito especificas, ser benéfica.
Havendo superávit/superave do orçamento corrente, isto é, uma situação em que o valor das receitas
correntes é superior ao valor das despesas correntes, estaremos perante uma situação em que aumenta o
aforro total e diminui o consumo total.
Permite determinar como foi feita a gestão dos dinheiros públicos naquele exercício orçamental,
retirando do equilíbrio uma variável não discricionária (juros da dívida pública).
Os juros da divida pública são tratados como uma despesa efetiva honorária, permitindo-se que sejam
pagos com receias provenientes de empréstimos sem que isso ponha em causa o equilíbrio orçamental.
Esquema:
Receitas efetivas: impostos, taxas e receitas patrimonais: 1000;
Despesas efeitvas: saude (500), educação (500), juros (100) = 1100.
O empréstimo é assim igual a 100, sendo um orçamento deficitário ou negativo. Contudo, a despesa dos
juros, apesar de ser uma despesa efetiva, é paga como sendo não efetiva.
O equilíbrio do orçamento parte da convenção de equilíbrio efetivo e com ele compartilha as noções de
receita de despesa, mas ressalva na classificação das despesas efetivas os juros da dívida pública. Se
tivermos em consideração que a justificação encontrada pelos defensores do equilíbrio efetivo do
orçamento está relacionada não só com a necessidade de garantia do estado pouco intervencionista é mais
recentemente de um estado que vê a sua intervenção limitada do ponto de vista financeiro às receitas que
consegue arrecadar através de impostos, deixando o recurso aos empréstimos para a categoria das
receitas noa efetivas e que do orçamento equilibrado apenas puderam ser destinadas à cultura de
despesas não efetivas que correspondem quase exclusivamente à aromatizações dos empréstimos,
compreendemos as críticas que soa feitas ao equilíbrio do saldo primário.
Os defensores desta concessão de equilíbrio entendem que, ao excluir os juros da despesa efetiva para
cálculo do défice orçamental, estamos a retirar da política orçamental despesas relativamente às quais não
é possível a mesma discricionariedade que pode ser usada nas mais despesas, ou seja, ao preparar o
orçamento o governo pode escolher realizar determinado tipo de despesa e pode em regra, determinar o
seu valor, mas não o pode fazer tratando-se de juros. O seu pagamento e o seu valor são
vinculados/obrigatórios. Entendem ainda os defensores deste equilíbrio que os valores dos juros
dependem de decisões antigas que conduziram ao acumular de valores de dívida pública muito elevados e
que, por vezes, implicam o pagamento de juros também avultados que o seu valor constitui uma parcela
considerável de despesas estadual, tal como acontece atualmente. Assim, os juros da dívida pública são o
resultado de défices anteriores embora perturbem o défice presente. Uma forma de evitar esta influência
ou de tornar claro para os destinatários da informação orçamental qual é o desempenho atual consiste
A importância deste saldo orçamental reside principalmente no facto de ele constituir uma medida
adicional do endividamento. Os juros das dívidas passadas correspondem ao desenrolar normal dos défices
anteriores, por isso, se utilizarmos o saldo primário conseguimos determinar se e em que medida houve
aumento do endividamento estadual naquele exercício orçamental. Os críticos desta conceção afastam a
justificação que é lançada pelos demais autores. Encontramos neste grupo de críticos, Teixeira Ribeiro e
Aníbal Almeida, este último baseia a sua crítica a ideia de que, embora seja certo que nos termos os art.
702º do CC, os contratos legalmente celebrados devem ser cumpridos e que por isso, o governo deve
também ele cumprir os compromissos assumidos, pagando os juros acordados pelos credores e de que não
pode libertar-se unilateralmente dessa obrigação, tal não pode significar que essa realidade deixa de se
refletir no equilíbrio orçamental ou que possa deturpar a lógica normativa de um determinado critério de
equilíbrio orçamental. Como apreciação crítica final, de referir que ambas as posições têm razão em parte.
Se por um lado, é inteiramente verdade que os juros da dívida pública constituem uma variável não
discricionária da despesa pública e o seu pagamento decorre do cumprimento de uma obrigação
contratual, também o é que o seu elevado valor pode influenciar de forma significativa as execuções
orçamentais dos anos ou período financeiros em que seja necessário efetuar o pagamento dos juros. Ao
excluir apenas para cálculo de défice os juros da dívida pública das despesas efetivas, vamos obter um
indicador económico que nos permite saber se daquele exercício orçamental resultou ou não uma
contribuição para o aumento da dívida pública, isto é, conseguimos saber qual seria o saldo efetivo se não
tivessem sido herdados empréstimos dos períodos anteriores. Contudo, há que ter cautelas com a
interpretação destes dados, pois mesmo que exista um superavit primário do orçamento, existirá também
um aumento do endividamento naqueles casos em que esse superavit seja inferior ao valor dos júris da
dívida pública. Existindo o superavit primário de valor superior aos juros da dívida pública, teremos
também um superavit efetivo do orçamento. Se o superavit primário for igual aos juros, o orçamento
efetivo estará equilibrado.
O saldo primário não e atualmente o critério de equilíbrio vigente em Portugal, mas é utilizado e é
calculado todos os anos, sendo um dos indicadores analisados pela união europeia para determinar o
cumprimento e o rumo da execução orçamental por parte dos estados. Quando nos referimos ao critério
de equilíbrio vigente em Portugal é necessário ter em consideração não só a atual LEO e mais normas que
regulam esta matéria, como também as normas de direito da União Europeia. Tomando conhecimento
geral a própria elaboração do orçamento de estado obedece à CRP e a lei. Nos termos da própria CRP às
normas dos tratados e demais normas de direito derivado a cujo o cumprimento o estado português se
tenha obrigado, salientam-se o tratado sobre o funcionamento da união europeia, o designado tratado
orçamental e o pacto de estabilidade e crescimento. Assim, nos termos do art. 10º da LEO, o orçamento
deve estar equilibrado, referindo-se apenas que a estabilidade orçamental consiste numa situação de
equilíbrio ou excedente. Remetendo depois, par ao capítulo III da mesma lei a definição de equilíbrio
orçamental, ora o capítulo III integra já um conjunto de normas que ainda não estão em vigor mas que
correspondem do que a esta matéria disse respeito às normas contidas na LEO (antiga lei 91/2001). De
acordo com as normas de direito internacional, importa ter em consideração o tipo de serviço em causa.
Se na globalidade o orçamento tem de estar equilibrado de acordo com as normas definidas no pacto de
estabilidade e crescimento, optou-se em Portugal por definir, para cada tipo de défices um critério de
equilíbrio diferente. Os serviços integrados devem apresentar de acordo com o art.23 da antiga LEO um
saldo primário positivo. Os serviços ditos autônomos devem apresentar um saldo global nulo ou positivo,
sendo que o saldo global corresponde ao saldo efetivo, art. 25 da antiga LEO. E a segurança social deve
O saldo estrutural
Saldo global (saldo efetivo)
O saldo orçamental estrutural (ou de pleno emprego) tem em consideração o nível da atividade econômica
do país. Procuram determinar-se o défice orçamental que se verificaria se a economia estivesse a funcionar
em pleno emprego.
O saldo estrutural corresponde ao saldo global, tal como é definido no direito da união europeia. Trata-se
do cálculo do saldo efetivo mas, retirando este os efeitos cíclicos e os efeitos das medidas extraordinárias e
temporárias, ou seja, se um estado criar um imposto extraordinário a receita proveniente desse imposto
não é para efeitos de cálculo de saldo contabilizada como tal, pois trata-se de uma medida temporária. O
mesmo pode acontecer do lado da despesa
A escolha dos critérios de défice e da dívida pública não pode ser desligada da história da
construção da união económica e monetária, quando em 1992 foi aprovado o tratado de Maastricht
começou a ser desenhado a construção econômica e monetária, pensou-se na necessidade de serem
garantidas condições para uma convergência efetiva das econômicas dos estados membros, o que se
pretendia era uma união europeia coesa, forte e sustentável. Em 1994 entraram em vigor, algumas
medidas que condicionaram as políticas econômicas dos estados membros, estamos a falar na proibição de
concessão de crédito pelo banco central nacional ao estado. Proibiu se também a existência de condições
mais favoráveis para o acesso ao crédito junto de instituições financeiras. Por último, os estados passam a
recorrer ao crédito no mercado. As políticas orçamentais passariam então a estar fortemente
convencionadas, em 1996 com a aprovação do pacto de estabilidade e crescimento forma estabelecidos os
designados critérios de convergência que os estados teriam cumprido para entrarem na união económica
monetária. Estes critérios são: a taxa de inflação, o comportamento da moeda no sistema monetário
europeu, o nível das taxas de juro a longo prazo e a situação das finanças públicas. Este último critério,
desdobra-se no critério do défice e no critério da dívida pública e mantém se em vigor mesmo depois dos
estados entrarem na terceira fase de união economia e monetária.
Critério da taxa de inflação, a taxa de inflação aparece como um indicador imprescindível para um
fácil transição de moedas se existirem taxas de inflação muito diferentes de pais para pais gera-se uma
desconfiança relativamente à estabilidade futura do valor monetário da moeda daqueles países que
apresentem uma taxa de inflação elevada, colocando em causa no período inicial a exportação, a produção
e o emprego e em momentos posteriores, poderá gerar desequilíbrios económicos. Habitualmente
combatesse a inflação através da política monetária, ou seja, fazendo oscilar o valor da moeda mas, nesta
fase essa possibilidade era muito limitada (por causa do critério da taxa de câmbio);
Critério da taxa de juro, tem como objetivo avaliar o grau de confiança que os agentes económicos
atribuem a um determinado país ou economia e varia em função da perspectiva que esses mesmos
agentes tem sobre a evolução da económico no longo prazo, também seria possível utilizar para este efeito
a taxa de inflação mas na prática apenas é possível estimar a variação da inflação para períodos muito
próximos, contrariamente é possível estimar com elevado grau de fiabilidade o comportamento da taxa de
juro em períodos mais ou menos próximos.
Critério de finanças públicas, este critério subdivide-se em dois: Critério do défice orçamental e
critério da dívida pública.
Contrariamente ao que sucede com os demais ceríferos não existe uma ligação direta entre o critério do
défice ou o critério da dívida pública com a estabilidade cambial (objetivo principal da UEM). A dívida
pública só indiretamente afetará a estabilidade cambial. Este efeito, decorre do facto de a dívida pública
ter mais cedo ou mais tarde ter de se paga, e o seu pagamento ser feito à custa de empréstimos ou de
impostos. Dada a impossibilidade de monitorização da dívida (emissão de moeda para pagar a dívida) o
montante da dívida pública elevado pode conduzir a um aumento das taxas de juro a médio e longo prazo,
efeito este que só se consegue evitar com dívida pública baixa. Por outro lado, pretende-se evitar as
situações em que os estados fiquem insolventes, colocando em risco a própria UEM. Já o défice, é limitado
por outras razões, primeiro: pretende evitar se que a subida da taxa de juro influencie negativamente o
investimento, sobretudo o investimento privado. Por outro lado, o défice levado é um índice de
instabilidade, em terceiro lugar, a limitação do défice corresponde a uma visão atualista de intervenção do
estado na economia (esta um pouco concebida a posição dos neoliberais)
A implementação da UEM iniciada com Maastricht seria depois consolidada com o designado pacto
de estabilidade e crescimento, adotado em 1997 e constante da resolução do conselho europeu de
17.07.97 e de dois regulamentos 1466/97 e 1467/97 (CE), entrando em vigor as regras preventivas ou de
super visão em 1998 e em 1999 a vertente corretiva. Em 2005 o PEC foi alterado porque se entendeu que
deveria existir uma maior flexibilidade na aplicação do PEC, deveriam ser tomadas em consideração as
especificidades de cada país com as alterações introduzidas pelo Regulamento CE 1055/2005 e o
regulamento 1056/2006 dá-se um reforço da super visão e da coordenação das políticas orçamentais.
Tornou-se também mias claro o procedimento relativo o défices excessivos. Em 2011, foi aprovado o
designado “six pack” que é um conjunto de cinco regulamentos e um diretiva e é agregadamente,
pretendem disciplinar e reforçar o PEC, reforço este que em 2013 é complementado com o ”two pack” e
A comissão só faz recomendações, não pode obrigar ninguém a alterar o Orçamento apresentado. No
entanto, os Estados vão sofrer sanções caso aquelas normas não dêm resultado.
9. A execução do orçamento
A execução do orçamento implica o respeito pelas disposições constantes da Lei do Orçamento
mas não se resume a estas. Alarga-se também a obrigações acessórias mas essenciais para que os
objetivos de política financeira traçados e que podem implicar alterações ou ajustamentos às
previsões orçamentais ao longo da sua execução. A conjuntura macroeconómica aparece nesta fase
mais uma vez como facto capaz de condicionar a atuação do executivo que se depara habitualmente
com a necessidade de resolução de problemas não previstos – e em alguns casos não previsíveis
porquanto inesperados – tornando necessária a alteração do orçamento com a inscrição de uma nova
despesa e correspetiva diminuição do montante previsto para outra(s) despesa(s) já prevista(s) ou, em
alternativa aumento/inscrição de nova receita. Noutros casos essa mesma conjuntura pode obrigar à
Na prática tal implica o nível de envolvimento de cada Ministério e dos diversos níveis
hierárquicos depende do tipo de serviço em causa e do seu grau de autonomia mas pode ser também
dependente do tipo de despesa a realizar ou da receita a cobrar.
Princípio da tipicidade qualitativa: A execução do orçamento das receitas obedece antes de mais ao
princípio da legalidade que não se resume à conformidade legal mas assume aqui ainda a dimensão
de princípio da tipicidade qualitativa limitando a cobrança de receitas por parte dos organismos
públicos.
Este princípio tem implícita não só a necessidade de serem observadas, aquando da realização
da despesa, todas as exigências de legalidade que se colocam no quadro jurídico que regulamenta o
ato a praticar como sejam as relativas à forma como pode ser contratada a cobrança de receitas e que
são objeto de estudo noutras disciplinas, mas também impõe que em sede de execução orçamental
seja cumprido o limite orçamental decorrente da autorização dada pela Assembleia da República no
momento da aprovação da Lei do Orçamento para a cobrança de determinado tipo de receita.
Para que uma receita seja liquidada e cobrada não basta que a mesma seja legal e se encontre
regulamentada sendo ainda necessário que a cobrança daquela receita em concreto esteja prevista no
orçamento de estado em vigor no momento da liquidação. A possibilidade de liquidação e cobrança
de uma determinada receita não se basta também com a mera previsão e adequada classificação no
orçamento de estado, sendo também necessário que esta seja legal, isto é, que a liquidação e
cobrança daquela se encontrem devidamente regulamentadas e assegurado o acesso por parte do
obrigado ao seu pagamento aos meios de defesa contra a liquidação e cobrança ilegais ou abusivas –
cfr. art. 42.º, n.º 3 da ‘antiga’ LEO e art.º 52.º, n.os 1 e 2 da ‘nova’ LEO.
Princípio da unidade de tesouraria: A gestão da tesouraria do Estado tem como objetivo a promoção
da unidade de tesouraria por forma a garantir a racionalização e otimização da gestão dos dinheiros
públicos, compreendendo as disponibilidades de caixa ou equivalentes de caixa que estejam à guarda
das entidades que integram o subsetor da administração central, bem como a dívida pública direta do
Estado. De acordo com a previsão da LEO – art.º 54.º da ‘nova’ LEO e que decorria já do art.º 2.º do
Também a legalidade da despesa não se basta com o cumprimento das regras relativas à
contratação mas exige ainda que essa mesma despesa tenha sido adequadamente prevista,
classificada e autorizada a sua realização na Lei do Orçamento. Ademais apenas pode ser autorizada a
realização da despesa, autorizado o pagamento e efetuado o pagamento se o montante previsto na
dotação ou crédito orçamental disponível ainda for suficiente.
Princípio da unidade de tesouraria: (remissão para o que foi referido quanto à execução do
orçamento das receitas) - art. 54º da nova LEO
Decorre do cumprimento deste princípio que a verba fixada no orçamento para o pagamento
de uma determinada despesa não possa ser utilizada de uma só vez. Ao invés disso pretende-se que
os encargos assumidos e os pagamentos autorizados por conta das dotações orçamentais sejam feitos
de forma faseada ao longo do ano, distribuindo-se de forma tendencialmente uniforme pelos 12
meses, disponibilizando-se em cada mês 1/12 da dotação.
Este princípio não obriga a que em cada mês seja gasto 1/12 da dotação orçamental, mas
impede antes que em cada mês seja autorizada despesa que ultrapasse, em cada mês, o valor
Com esta limitação à utilização da totalidade do crédito de uma só vez pretende evitar-se a
concentração de realização de despesa logo nos meses iniciais do ano, altura em que ainda se
encontra cobrada pouca receita. A despesa deve antes distribuir-se ao longo do ano, ou concentrar-se
nos últimos meses.
Bem se compreende que apesar das virtudes que lhe são apontadas este regime pode
também colocar entraves de difícil resolução em determinadas situações concretas. Foi precisamente
tendo em consideração a necessidade de introdução de alguma flexibilização na gestão mas
sobretudo a natureza específica de determinadas despesas que na parte final da al. b) do n.º 6 do art.º
42.º da ‘velha’ LEO e que serão anualmente concretizadas no Decreto-Lei de execução orçamental (al.
a) do n.º 5 do art.º 43.º da LEO), bem como o art.º 8.º do RAFE.
Este último princípio – a execução do orçamento por duodécimos – aparece como uma
exigência acrescida à realização de despesa: o montante inscrito no orçamento para a realização de
cada despesa constitui, já o referimos, o limite máximo que pode ser utilizado para o pagamento
daquela despesa, mas em cada mês apenas pode ser utilizado 1/12 da dotação orçamental7.
Nos casos em que estejamos perante uma situação de receita consignada, a realização de
despesa apenas é possível se verificado um duplo cabimento. A despesa, para poder ser autorizada,
terá de caber não só no crédito orçamental - 1.º cabimento ou cabimento geral (art.º 42.º, n.os 5 e 6
al. b) da ‘velha’ LEO e art.º 52.º, n.º 3 al. b) da ‘nova’ LEO) – mas também no produto da receita que
lhe estava consignada – 2.º cabimento (art.º 42.º, n.º 9 da ‘velha’ LEO e art.º 55.º, n.º 4 da ‘nova’
LEO8)
Princípio da boa gestão financeira: A execução do orçamento da despesa deve, qualquer que seja o
montante envolvido, respeitar ainda o princípio da boa gestão financeira. Deve escolher-se o meio
que permita obter a maximização do resultado com a utilização do mínimo de recursos possíveis.
Usualmente encontramos este princípio subdividido em três dimensões: economia, eficiência e
eficácia. Por economia, entende-se designar aquelas situações em que a decisão tomada deve
corresponder à opção que, de entre as várias possíveis, se revele financeiramente menos dispendiosa
(ou seja, que revele ser o preço mais baixo); já a eficiência impõe que se escolha aquela opção que
maximize o resultado e, por último a eficácia, sugere que se escolha a alternativa que permita a
realização do objetivo e resultados pretendidos.
Existência, em regra, de mais importantes receitas próprias e de património próprio (cuja alienação
constitui receita própria), reduzindo (ou eliminando) a necessidade de transferência;
Controlo administrativo
Serviços com autonomia administrativa
1. Heterocontrolo interno prévio, por parte da DGO – art. 3º, nrº 3 LBCP
2. Autocontrolo interno prévio – “conferencia” – art. 26 e 53º do RAFE
3. Controlo interno sucessivo, por parte da DGO, abrangendo a legalidade e a eficiência e eficácia da
despesa- art. 10º LBCP e 53º RAFE
O controlo jurisdicional
O controlo jurisdicional da execução é feito pelo tribunal de contas mas também pelos tribunais
administrativos e fiscais, pelos tribunais judiciais e pelos outros tribunais no âmbito das suas competências.
Tendo em consideração que as competências dos demais tribunais são estabelecidas em regulamentação
própria, nomeadamente na lei penal e na lei civil, vamos estudar aqui o controlo jurisdicional feito pelo
tribunal de contas e interessa-nos, sobretudo, as disposições da lei da organização e processo do tribunal
de contas (LOPTC) constantes dos artigos 44 a 56. De acordo com estás disposições, o tribunal de contas
efetua três tipos de fiscalização:
Fiscalização prévia: prevista nos artigos 44 e ss e na qual, é verificada a legalidade do gabinete
orçamental, solução esta exercida e momento prévio ao da realização da despesa e que em alguns
casos é mesmo condição de eficácia dos contratos, eficácia essa garantida pelo visto prévio em
Fiscalização concomitante : art. 49 e ss, através da qual é realizada fiscalização aos atos e
procedimentos administrativos que impliquem despesas com o pessoal e outros contratos que não
estejam sujeitos a fiscalização prévia, art. 49/1.
Fiscalização sucessiva: art. 50 e ss, trata-se como o nome indica, de uma fiscalização feita após a
realização da despesa e em que é verificado não só a legalidade como também a economia,
eficiência e a eficácia. Sao também avaliados os limites do endividamento nas operações
financeiras de gestão da dívida pública. O tribunal de contas este ainda um parecer sobre a conta
geral do estado que realiza auditorias, estas estão agora previstas na lei de orçamento 2017.
O tribunal de contas tem assim funções de avaliação da legalidade, maxime de legalidade financeira dos
atos praticados mas avalia também na fiscalização sucessiva a economia, a eficiência, isto é avalia o mérito
da decisão e afasta-se nesta possibilidade dos demais tribunais.
Controlo político
É exercitado pela assembleia da república nos termos do art. 73º e ss da LEOe consiste na
apreciação da execução orçamental da conta geral do estado que é apresentada pelo governo à AR ate 30
de Junho do ano seguinte, o tribunal de contas apresenta também um parecer sobre a conta geral do
estado até ao dia 31 de dezembro, pronunciando se posteriormente à AR.
Os economistas e analistas vêm discutir desde há vários séculos a limitação da despesa pública, por
essa via a limitação da intervenção do estado na economia. Constatou-se que a despesa pública
apresentava uma tendência para aumentar. Aumento este não só de forma intensiva, isto é, aumento do
montante global da despesa pública, mas também a extensiva, isto é, tipo de despesa feira pelo estado. Há
várias explicações para este fenómeno, primeira representará por Adolf Wagner, a segunda por Peacock e
Wiseman e terceiro, Tanzi e Schuknecht.
Debruçou-se sobre a análise da despesa pública alemã e conclui que esta tem aumentado. Justifica
esse aumento com o simples facto do desenvolvimento industrial. Constatou também que essa tendência
é comum a vários países industrializados e conclui a sua análise com a formulação da lei de Wagner,
segundo a qual entre os povos progressivos verificam uma tendência para o aumento intensivo é extensivo
da despesa pública. Esta formulação, dificilmente pode ser vista como uma lei científica, pois trata-se de
uma mera constatação empírica, isto é, limita-se a harmonizar os factos sem encontrar uma justificação
para que tal aconteça.
São dois autores diferentes que ao organizarem o comportamento da despesa pública, avançam
com uma explicação baseada em dois efeitos: efeitos de deslocação e efeito de apreciação. Efeitos estes
ligados as convulsões sociais, ou seja, guerra, crises e etc. Estes autores preocupam se não só para o
aumento da despesa mas também com a alteração dos padrões da despesa, o tipo de despesa e concluem
que são precisamente as convulsões sociais que originam essas alterações. No primeiro momento, isto é,
no momento da ocorrência da convulsão social verificasse um aumento da despesa pública que surge
justificada pela necessidade de proteção dos cidadãos. Consegue assim vencer-se a resistência dos
contribuintes - Efeito de deslocação. Passada a convulsão, seria de pensar que a despesa que a despesa
pública regressasse aos níveis permitidos, mas isso não acontece. A despesa pública desce e pode até
descer consideravelmente mas não retorna aos valores iniciais, pois as populações já estão habituadas a
suportar níveis elevados de impostos e o estado pode aproveitar-se dessa quebra de resistência para
efetuar despesas para as quais até então não havia receita ou então para realizar novas despesas que até
então não eram tidas por necessárias - Efeitos de apreciação.
A terceira explicação, forma uma análise muito aprofundado desde 1870 até meados da década de
90 e depois até 2005. Estes autores, dividem o seu estudo me várias fases ou períodos.
1º Período - de 1870 até a primeira guerra mundial;
2º Período - o período entre guerras;
3º Período - fim da 2 guerra mundial até 1980;
4º Período - anos 80 e 90;
5º Período - meados da década de 90 até a atualidade.
Primeiro período, do sec XIX os economistas da escola clássica e os filósofos defendiam o estado
mínimo por forma a evitar as distorções que a intervenção pública podia causar na economia de que são