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Março, 2012
Índice
Índice de figuras, gráficos e tabelas ................................................................................ i
Agradecimentos ........................................................................................................... iv
Dedicatória ................................................................................................................... v
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1
3.1. Conceitos.......................................................................................................... 10
CONCLUSÃO ............................................................................................................ 41
ANEXOS .................................................................................................................... 50
ÍNDICE DE FIGURAS, GRÁFICOS E TABELAS
Tabelas
Gráficos
Figuras
i
O papel da Assembleia da República na Produção de Leis durante a VI legislatura,
(2004-2009)
O Licenciado
--------------------------------------
(Nelton Tiago Gemo)
ii
DECLARAÇÃO
Declaro que este trabalho nunca foi apresentado, na sua essência, para obtenção de
qualquer grau, e que ele constitui o resultado da minha investigação pessoal, estando
indicadas no texto e na bibliografia as fontes que utilizei.
O Licenciado
--------------------------------------
(Nelton Tiago Gemo)
iii
AGRADECIMENTOS
Em especial agradeço aos meus pais Tiago Gemo e Felizarda Mundelenguane, por me
ter posto no mundo e me dado educação, por me terem indicado e incentivado o
caminho e amor a escola. Em especial agradeço ao meu eterno e saudoso pai que tanto
me apoiou durante este percurso, que Deus o tenha.
Agradeço aos meus irmãos (Pedro, Paulo, Maria, Clementina, Cecília e Nilza), pela
força e carinho que sempre me deram, em especial ao Pedro e Clementina, que sempre
estiveram para me apoiar, o meu muito obrigado.
Agradeço aos funcionários Assembleia da República por terem dedicado parte do seu
tempo para dar contributo à esta pesquisa, em especial a Dra Elsa. Por fim, agradeço a
todos aqueles que directa ou indirectamente, tenham dado o seu contributo para o
presente trabalho.
iv
DEDICATÓRIA
Pela admiração que tinha pelo meu pai, Tiago Gemo, que partiu sem dizer adeus e
também à minha mãe que no meio de grandes dificuldades sempre soube me mostrar o
melhor caminho, dedico este trabalho.
v
LISTA DE ABREVIATURAS
AR Assembleia da República
BPF Bancada Parlamentar da FRELIMO
BPR-EU Bancada Parlamentar da RENAMO – União Eleitoral
BR Boletim da República
CACDHL Comissão dos assuntos constitucionais, direitos humanos e legalidade
CadhocRBEN Comissão Ad-Hoc para a Revisão da bandeira e emblema nacional
CadhocRLE Comissão Ad-Hoc para a Revisão da lei eleitoral
Comissão da agricultura, desenvolvimento rural, actividades
CADRAES
económicas e serviços
CAPPLCS Comissão da administração pública, poder local e comunicação social
CASGA Comissão dos assuntos sociais, género e ambiente
CDOP Comissão de defesa e ordem pública
CP Comissão de petições
CPAR Comissão Permanente da Assembleia da República
CPO Comissão do plano e orçamento
CRI Comissão das relações internacionais
CRM Constituição da República de Moçambique
EUA Estados Unidos da América
FRELIMO Frente de Libertação de Moçambique
PAR Presidente da Assembleia da República
PR Presidente da República
RENAMO Resistência Nacional de Moçambique
RIAR Regimento Interno da Assembleia da República
RM República de Moçambique
vi
RESUMO
vii
INTRODUÇÃO
O parlamento em uma democracia pode desempenhar várias funções, mas três delas são
fundamentais, designadamente: a representação, a produção de leis, e a fiscalização do
executivo (Mahler, 1995: 86).
Sustenta Girishankar (2001) que para uma organização desempenhar as suas funções
precisa de estar dotada de condições estruturais e de capacidade. Estes elementos
afectam o desempenho da organização em termos de eficácia, eficiência e
produtividade.
No caso especifico dum parlamento, funciona dentro de uma certa estrutura interna e
interage com outros actores preponderantes no sistema político, assim, o seu
desempenho pode ser afectado por factores endógenos (capacidade estrutural,
organização legislativa e divisão do poder legislativo) e por factores exógenos (sistema
eleitoral, sistema partidário e sistema de governo) (Bandeiras & Norton, 2005).
Para o caso desta pesquisa pretendemos estudar essa manifesta ineficácia do legislativo
na produção de leis e para tal, vamos analisar a produção legislativa da VI legislatura
tomando em consideração o contexto institucional dentro do qual decorreu.
1.1. Contextualização
O estudo enquadra-se no contexto da reforma política em Moçambique rumo à
democracia iniciada em finais da segunda metade da década oitenta, cujo marco
fundamental foi aprovação e adopção da Constituição de 1990 que colocou o fim ao
modelo socialista que vigorou durante os primeiros 15 anos após a independência.
2
(coligação de partidos). As segundas e terceiras eleições legislativas e presidenciais
ocorrem em 1999 e 2004, respectivamente. Nestas eleições conseguiram eleger
deputados para AR os dois partidos maiores, a FRELIMO e RENAMO, embora nas
últimas a RENAMO tenha se apresentado em coligação de partidos designada,
RENAMO-União Eleitoral.
Um aspecto comum entre esses pleitos eleitorais é que a FRELIMO sempre conquistou
a Presidência da República assim como conseguiu uma maioria parlamentar. Algo que
veio se repetir nas eleições de 2009, em que a FRELIMO conseguiu eleger o maior
número de deputados até então.
Em 2004 foi aprovada uma nova constituição que em termos de organização do poder
legislativo não teve alterações de vulto senão a introdução de algumas formas
legislativas novas, a destacar decreto-lei e leis de autorização legislativa, e atribuição de
poder de iniciativa de lei às bancadas parlamentares.
A VI legislatura que será aqui analisada atraiu certa atenção devido aos momentos de
tensão que tornaram a AR um centro de controvérsias e discussões intensas entre as
duas bancadas que geraram distúrbio ao próprio clima de trabalho e o Presidente da AR
sentiu-se obrigado a solicitar a polícia para garantir a ordem. Por outro lado esta
legislatura ocorreu numa altura em que o maior partido, a FRELIMO, experimentava
uma nova liderança e novo candidato, disposto a alterar o rumo acontecimentos no seio
do partido1 e do país.
1.2. Problema
Os estudos sobre o parlamento em Moçambique demonstram que este é um dos elos
mais fracos do sistema político no que tange ao cumprimento das suas funções,
sobretudo, na produção de leis (Azevedo, 2009; Cistac, 2008; Namburete, 2010;
AfriMAP, 2009).
1
No momento da sua eleição o Presidente Armando Guebuza notabilizou-se por discursos de carácter
renovador que exaltavam o combate ao espírito do deixa-andar, auto-estima, unidade nacional, cultura do
trabalho, etc.
3
Cistac (2008) vê o problema da fragilidade da AR na produção de leis a partir dos
poderes legislativos atribuídos ao Executivo. Para este autor o presidente detêm de
muitos meios para intervir no parlamento e do mesmo modo, o governo goza do
monopólio de iniciativa de lei o que acaba enfraquecendo o parlamento.
Por seu turno Macuane (2000) notou que a organização legislativa e o sistema eleitoral
moçambicano propiciam a preponderância do executivo na produção legislativa assim
como favorecem a instalação dum governo partidário no parlamento.
Para além dos elementos de carácter institucional, Namburete (2010); Azevedo (2009)
associam a provisão legislativa constitucional do executivo à vantagem deste possuir
recursos e pessoal mais qualificado como sendo outros elementos que explicam o seu
fortalecimento perante a AR.
2
95 Projectos e 53 Propostas de lei
4
Estes dados indicam uma prevalência do executivo na produção legislativa durante a VI
legislatura e remete-nos a reflectir se o parlamento está ou não se afirmando como
principal órgão de produção de leis dentro do sistema político.
1.3. Justificação
Em termos práticos esta pesquisa ganha relevância pelo facto de Moçambique ter uma
democracia muito nova, com um parlamento emergente cujas bases foram edificadas
dum regime centralizado que se caracterizou pela concentração dos poderes legislativo e
executivo do Estado na figura do Presidente da República.
Do ponto de vista político e académico o tema pode ser importante para perceber a
democracia em Moçambique numa altura que ocorrem fortes debates sobre a queda de
qualidade e estagnação da democracia no país, e ainda um forte debate entre políticos e
académicos sobre a revisão do texto constitucional, lei mãe que determina as normas de
organização política do país.
A escolha da Assembleia da República deve-se ao facto desta ser o mais alto órgão
legislativo do país que deve determinar as normas que vão reger o funcionamento do
Estado e a vida política, económica e social do país. Em algumas partes a análise
incluirá o executivo por este ser também um dos protagonistas do processo de produção
legislativa como um todo.
A escolha da VI legislatura deveu-se ainda ao facto de esta ter iniciado numa altura em
que, de um lado, a FRELIMO acabava de indicar um novo candidato presidencial, e por
outro lado, a FRELIMO teria consigo eleger o maior número de deputados desde as
primeiras eleições multipartidárias e ainda o facto de estar a entrar em vigor uma nova
constituição, bem como, alteração do regimento interno da AR. Daí, tornou-se
5
importante verificar se essas alterações poderiam causar algum impacto na produção
legislativa dentro da AR que se apresentava dominada pelo executivo.
1.7. Hipóteses
A ineficácia legislativa da AR durante a VI legislatura é produto da organização
legislativa e dos poderes legislativos do executivo.
6
II. METODOLOGIA
Recorrendo a tipologia colocada por Vergara (2000) a presente pesquisa pode ser
classificada quanto aos fins como explicativa e quanto aos meios de investigação como
documental, porque procuramos analisar a ineficácia da AR na produção de leis
recorrendo a meios documentais.
Escolhemos como procedimento para realizar esta pesquisa o método dedutivo, quer
dizer que, partimos dos pressupostos colocados pelas teorias para encarar realidades
específicas, neste caso, inerentes a produção legislativa durante a VI legislatura na AR.
A colecta de dados foi feita através da técnica documental que consiste na recolha de
dados preexistentes, neste caso, qualitativos e quantitativos. Extraímos os dados
qualitativos, referentes as normas que orientaram a legislatura, em alguns documentos
normativos, designadamente: a Constituição da República, o Regimento Interno da AR,
o Estatuto do Deputado, e outros instrumentos regulamentares que dirigiram a VI
legislatura.
7
O objecto ou matéria refere-se ao assunto que a proposta se dirige. Assim, quanto ao
objecto, partindo de algumas classificações de Figueredo & Limongi (2000: 86) e Neto
& Santos (2003: 674), distinguimos as seguintes categorias:
Com essa classificação vamos poder identificar o principal proponente das proposições
legislativas e as áreas do seu domínio, bem como o apoio que as bancadas
parlamentares prestam as proposições tendo em conta o seu autor.
9
III. ENQUADRAMENTO TEÓRICO-CONCEPTUAL
3.1. Conceitos
Para esta pesquisa dois conceitos são fundamentais, designadamente, contexto
institucional e ineficácia legislativa.
Para ser mais específico, o conceito é aqui tratado em duas dimensões, designadamente:
organização legislativa e poderes legislativos do executivo.
A organização legislativa é definida por Cox (2004) como sendo o conjunto de regras
que definem (1) uma ordem de órgãos legislativos as vezes executivos doptados de
poderes especiais de definição de agenda e outros recursos, (2) uma ordem de moções
especificando as acções disponíveis no gigante xadrez da manobra parlamentar, e (3)
um conjunto de procedimentos de votações nos órgãos e nas moções.
Não restam dúvidas que ambos conceitos coincidem ao definir a organização legislativa
como sendo conjunto de procedimentos internos que governam o processo legislativo.
10
Os Poderes legislativos do executivo são definidos por Mainwaring & Sughart (1997)
como sendo aqueles que permitem ao presidente colocar o seu timbre em políticas.
Constitucionalmente o presidente pode possuir os seguintes poderes legislativos: poder
de veto, poder de iniciativa de lei, poder de decreto, poder de legislar em casos de
emergência, e referendo (Shugart & Carey, 1992; Mainwaring & Shugart, 1993; e
Mainwaring & Shugart, 1997).
Assim nesta pesquisa ao falar do contexto institucional estaremos falando das suas duas
dimensões, designadamente, organização legislativa e poderes legislativos do executivo.
Ineficácia legislativa
Para entender a ineficácia devemos entender primeiro a eficácia porque esta é o
contrário daquela. O conceito de eficácia está relacionado com o alcance dos resultados.
Para Chiavenato (1991) a eficácia de uma organização refere-se à sua capacidade de
satisfazer necessidades através da utilização dos seus bens e serviços. A eficácia dá mais
ênfase em fazer coisas correctas e alcançar os resultados.
Por seu turno Kardec, Arcuri & Cabral (2002) definem a eficácia organizacional como o
grau com que uma organização alcança os seus objectivos de curto, e as suas metas de
longo prazo.
11
Sendo que o Parlamento tem três funções principais: a representação, a fiscalização do
executivo e a produção de leis, implica que a eficácia pode ser produzida em cada uma
destas áreas de actuação da mesma organização e em um certo momento.
Do ponto de vista dos estudos legislativos, a eficácia foi abordada nos estudos sobre o
Congresso dos EUA como sendo a capacidade de um legislador particular propor e
conduzir proposições legislativas dentro do processo legislativo (Volden & Weisan,
2008; Jenkins, 2010)
Para os fins desta pesquisa vamos abordar a ineficácia olhando para o Parlamento como
uma organização, mas vamos emprestar o termo legislativa na segunda perspectiva, e
desta forma vamos entender a ineficácia legislativa olhando o grau de alcance da
missão de produção de leis pelo Parlamento.
A integração das duas abordagens fornece uma visão privilegiada e adequada, porque
contém dois elementos básicos para a compreensão do processo que se pretende
analisar: a) permitirá identificar os principais pilares normativos que regem o processo
12
de produção legislativa na AR e; b) os efeitos que eles produzem sobre a produção
legislativa.
Desta forma, a teoria da escolha racional assume como unidade de análise para explicar
os fenómenos sociais o indivíduo e o pressuposto de racionalidade. A acção dum agente
social é definida como racional por Ferejohn & Pasquino (2001), quando um acto foi
escolhido porque está entre os melhores actos disponíveis para o agente, dadas as suas
crenças e os seus desejos.
Para Krehbiel (1992) a organização legislativa deve procurar agir no sentido de reduzir
a incerteza no processo de tomada de decisão sobre políticas, garantindo que as decisões
sejam tomadas utilizando a maior quantidade possível de informação. Nesse sentido, a
eficiência da organização legislativa está na sua capacidade de instituir regras e
procedimentos que incentivam os parlamentares a se especializarem e a partilhar as
informações resultantes da especialização, concorrendo deste modo para a redução da
incerteza.
Para superar este problema da incerteza, a construção de comissões deve ter em os cinco
princípios seguintes: princípio dos desviantes, princípio de heterogeneidade, princípio
do desviante informativo, princípio restritivo, e o princípio do comportamento
regimental. Para tornar as comissões informativas Krehbiel defende que estas devem
estar compostas por membros heterogéneos, as regras restritivas devem ser incentivo à
especialização, e a legislatura não deve promover formas organizacionais que
estimulam ganhos de troca.
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3.3.2.3. Modelo Partidário
Este modelo concentra-se na acção dos partidos políticos dentro do congresso e
demonstra que os partidos maioritários no parlamento são uma espécie de cartel
legislativo que usurpa o poder, teoricamente residente no parlamento, para fazer leis,
governando a estrutura e o processo legislativo. Em função disso, o processo legislativo
em geral, sujeita-se aos interesses do partido maioritário.
Um legislativo reactivo é aquele que delega a iniciativa das proposições legais mais
importantes para o Executivo. A definição da agenda, assim como as prioridades no que
15
tange à ordem de apreciação das proposições, é transferida para o governo e negociada,
posteriormente, com os parlamentares que lideram o partido ou coalizão legislativa
maioritária.
Para além destas tipologias, outras podem ser encontradas em Mezey, Packenham,
Blondel e Norton3.
3
PACKENHAM, R. Legislatures and Political Development, in Kornberg, A. & Musolf L. (eds.),
Legislatures in Developmental Perspective, Durham NC, Durham University Press, 1970, pp. 521-82.
NORTON, P. Parliament and Policy in Britain: the House of Commons as a Policy Influencer, Teaching
Politics, 13, (1984), pp. 198-221
BLONDEL,J. Legislative Behaviour: Some Steps Towards a Cross-National Measurement', Government
and Opposition, vol.5, (1), 1970, pp. 67-85
16
As limitações do modelo distributivista podem ser superadas ao integrar na nossa
análise os modelos partidário e informacional. O modelo partidário dedica a sua atenção
aos partidos maioritários no legislativo para demonstrar como é que eles formam um
governo partidário dentro do legislativo. Sendo que no nosso caso em estudo, Macuane
(2000) salientou a existência dum partido maioritário dentro do legislativo, o modelo
partidário poderá ajudar-nos a compreender a dinâmica deste fenómeno.
Como se pode compreender cada um dos modelos permite compreender apenas uma
face do problema daí que julgamos que a integração dos três modelos poderá fornecer
uma visão mais ampla do fenómeno.
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Estrutura das comissões: número de comissões, jurisdições das comissões,
membros que pertencem a mais de uma comissão, nomeação para as comissões
e chefia nas comissões, incentivo para permanecer na comissão.
18
IV. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA
19
Tabela 1: Distribuição de assentos pelos círculos eleitorais
a) Funcionamento da AR
A Assembleia da República reúne-se ordinariamente duas vezes por ano e
extraordinariamente sempre que a sua convocação for requerida pelo Presidente da
República, pela Comissão Permanente ou por um terço, pelo menos, dos deputados.
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Dentro da AR os deputados eleitos por cada Partido ou coligação podem se organizar
em bancada parlamentar, cada bancada deve possuir pelo menos 11 deputados. Ao
deputado não é permitido pertencer a mais de uma bancada e cada bancada estabelece
livremente a sua própria organização (artigos 39 e 40 do RIAR).
Órgãos da AR
O parlamento possui os seguintes órgãos: Plenário, Comissão Permanente e Comissões
de Trabalho (artigo 45 do RIAR).
a) Plenário
O plenário é constituído pelos 250 deputados reunidos em sessão da Assembleia da
República. Em geral compete ao plenário: aprovar as leis, propor realização de
referendos, deliberar sobre o programa do Governo, aprovar o Orçamento do Estado
(artigo 179 da CRM). Este é o órgão que faz a aprovação definitiva das proposições
legislativas.
b) Comissão Permanente da AR
A Comissão Permanente coordena as actividades do Plenário, das Comissões e dos
grupos nacionais. É composta pelo Presidente da Assembleia da República que a
preside também, vice - Presidentes, Chefes das Bancadas Parlamentares e por outros
deputados eleitos para a comissão Permanente e deve possuir um número mínimo de 5
membros e nunca mais de 15 (artigo 49 do RIAR).
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As suas deliberações são tomadas por maioria simples dos votos dos membros presentes
e publicadas no Boletim da Assembleia da República e diário das Actividades e
reproduzidas nas actas das sessões plenárias.
c) Comissões de trabalho
As comissões de trabalho são compostas por um mínimo de cinco e um máximo de
quinze membros eleitos em plenário, obedecendo o critério de representatividade
parlamentar. Nenhum deputado pode pertencer a mais de uma comissão de trabalho e as
bancadas podem substituir por períodos máximos de três meses renováveis, um membro
da Comissão de trabalho por si indigitado, quando esse se encontre com impedimento
justificado (artigo 56 do RIAR).
22
As comissões tem direitos para convocar membros do governo, visitar organismos
estatais, acesso a documentos confidenciais, recorrer a especialistas, podem reunir com
o povo e tem poder de tomar iniciativa de inquérito.
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Chegado ao plenário a iniciativa de lei é submetida ao processo de apreciação na
generalidade que incide sobre o conteúdo e princípios fundamentais e a sistemática do
projecto ou proposta de lei e depois avança-se para a votação na generalidade.
Fonte: adaptado pelo autor com base na CRM, RIAR e outros documentos legais
24
Durante o processo de debate os intervenientes podem no processo legislativo
apresentar propostas de emendas. As propostas de emenda do texto original são
distribuídas aos deputados, sempre que possível três dias anteriores à discussão. Para
que uma proposta de emenda de um deputado seja tomada em consideração precisa de
ser apoiada pelo menos por mais um deputado. Não carecem de apoio as propostas de
emenda apresentadas ou apoiadas pelo proponente, pela comissão, pela bancada
parlamentar ou pelo governo (artigo 112 do RIAR).
Quando uma emenda é apresentada e aceite pelo proponente e pelo plenário pode ser
incluída imediatamente na iniciativa legislativa, caso contrário deve ser submetida a
votação pelo plenário. A votação das emendas é feita começando-se pelas mais
afastadas do texto, obedecendo a seguinte ordem: propostas de eliminação, propostas de
substituição, e por fim propostas de aditamento.
Cada deputado ou bancada parlamentar pode apresentar uma declaração escrita de voto.
A rejeição duma iniciativa legislativa pode ocorrer quando esta não receber apoio da
maioria durante o processo dos debates e votações no plenário ou quando ocorrer dois
empates na votação da mesma.
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c) Procedimento legislativo especial
Consiste num conjunto de regras a serem aplicadas quando a AR discute situações
especiais tais como: processo de declaração de estado de sítio e de estado de
emergência, pronunciamento sobre a declaração da guerra e sua cessação, e efectivação
da responsabilidade criminal do Presidente.
A CRM (artigos 163 e 183) atribui a iniciativa de lei ao PR assim como ao governo,
concede também ao PR o poder de veto sobre a produção legislativa da AR. Além disso,
mediante uma autorização da AR o governo pode legislar através dos decretos-lei
(artigos 180 e 182 da CRM).
Os decretos-lei são actos legislativos aprovados pelo governo que exigem antes da sua
emissão uma prior delegação pelo parlamento através de uma lei de autorização
legislativa.
Depois de ser aprovado pelo governo o decreto-lei precisa ser ratificado pela AR,
quando não for solicitada a sua ratificação na sessão imediata, o decreto-lei é
considerado ratificado.
26
4.3. Análise do contexto institucional
a) Direitos parlamentares do deputado sobre a legislação
Os deputados da AR tem direito para propor legislação em qualquer área de políticas
que lhes interessar, contudo das propostas legislativas da VI legislatura não registamos
alguma proposta de um deputado. As propostas dentro do legislativo aparecem nas
comissões, bancadas parlamentares e gabinetes de AR. O Gabinete parlamentar do
Combate ao HIV/SIDA apresentou o projecto de defesa dos direitos, Combate e
Estigmatização de pessoas vivendo com HIV/SIDA e as comissões apresentaram 18
projectos de lei.
27
As comissões, no exercício das suas funções legislativas, contam com o apoio de um
gabinete técnico cuja missão é oferecer consultoria técnica as bancadas e aos deputados
em matérias legislativas. Porém, os deputados não possuem algum subsídio que os
permita contratar especialistas que os ajudem individualmente a esboçar ou a avaliar
legislação, somente as comissões tem essa prerrogativa.
As comissões têm poderes para auscultar a sociedade civil, podendo promover reuniões
populares nos locais de trabalho e de residência, receber contribuições sobre projectos
de legislação.
As propostas de emenda das comissões não carecem de apoio para poderem ser tomadas
em consideração, como acontece com os deputados que precisam ser secundadas.
28
Cada comissão tem amplos poderes legislativos sobre a área de sua jurisdição,
designadamente, poderes para elaborar e pronunciar-se sobre as proposições legislativas
da sua área. Porém, nenhuma comissão actua somente numa área específica de
jurisdição, as comissões acumulam jurisdição sobre vários assuntos. Isto reduz a
capacidade para o debate mais profundo e especialização das comissões nas suas áreas,
visto estarem a manusear uma diversidade de informação.
Numa comissão existem dois cargos importantes que são o de Presidente e o de Relator
eleitos pelo plenário. Para preencher esses cargos assim como para alocar lugares nas
comissões obedece-se a proporção da representatividade parlamentar, a bancada
maioritária escolhe a presidência das comissões que lhe interessam, e depois por ordem
de representatividade as outras bancadas fazem o mesmo.
Pertencer a uma comissão não dá direito a algum subsídio, apenas o presidente e relator
tem direito ao subsídio pelos cargos exercidos. Mas, pertencer a uma comissão é algo de
prestígio para os deputados, visto que ganham mais influência sobre a legislação,
demonstra maturidade, implica integração na hierarquia parlamentar e abre
possibilidade para a progressão ou ascensão aos cargos de chefia.
A fidelidade partidária nota-se pelas votações em bloco que ocorrem no plenário, cada
deputado realiza o seu voto da mesma forma que o seu colega partidário. Cox &
Mccubbins (1993) notaram que a fidelidade partidária é um dos critérios usados pelo
partido maioritário para indicar os parlamentares às comissões de modo a torná-las mais
responsáveis a liderança partidária.
As comissões tem poder para contratar especialistas que as ajudem a esboçar ou avaliar
legislação o que pode elevar a sua especialização, entretanto, são escassos os meios que
incentivam a partilha de informação entre os deputados, pelo que a decisão de voto não
tem sido tomada na base de informação, mas sim pela fidelidade partidária.
30
Raras vezes os deputados orientaram as suas decisões de voto com base na informação,
aconteceu com a proposta da revisão da bandeira e do símbolo nacional que foi rejeitado
pelas duas bancadas parlamentares, esta foi uma proposta que foi bastante contestada
pela sociedade civil.
O decreto-lei logo que aprovado pelo governo e a AR não solicitar na sessão seguinte a
sua ratificação, consideram-se ratificado. Mas a AR pode suspender num todo ou em
parte a vigência dum decreto-lei até a sua apreciação e caso AR não pronuncie até ao
fim da sessão, a suspensão caduca. Além disso, a recusa de ratificação dum decreto-lei
pela AR implica a sua revogação.
Dentro do legislativo a Bancada Parlamentar da Renamo foi quem mais projectos de lei
apresentou com 27 iniciativas, seguida da Comissão Permanente da AR que teve 6
iniciativas. Do lado do executivo, o conselho de ministros apresentou 92 contra 7 do
PR.
32
Tabela 4: Projectos de lei/autor apresentados durante a IV legislatura
Tipo de proposição
Proposta de lei Projecto de lei Total
2005 15 6 21
2006 15 6 21
Ano 2007 22 6 28
2008 29 3 32
2009 18 14 32
Total 99 35 134
33
Em nenhuma ocasião o legislativo conseguiu superar o executivo em termos de
iniciativa, porém verificou-se uma tendência crescente do lado do executivo em termos
do número de propostas levadas ao plenário nos primeiros três anos, enquanto que o
legislativo permanência estagnado e em queda em 2008. Apenas no último ano da
legislatura o legislativo subiu o número de propostas debatidas no plenário apesar de
não ter superado o executivo, tal como se observa no gráfico abaixo.
Essa tendência pode ser entendida olhando para as intenções de cada um dos actores.
Do lado do executivo, por ser inicio de um novo mandato que coincidiu com eleição
dum novo PR e consequentemente, uma grande renovação no governo e reorganização
da administração pública eram necessárias novas políticas para concretizar os planos do
novo governo.
34
Tabela 6: Proposições legislativas da VI legislatura/matéria
Cultural/
Económico e Político -
Ano Administrat. Científico e Orçamental Regimental Social Total
Financeiro institucional
Tecnológico
2005 10 5 0 2 1 1 2 21
2006 6 5 0 2 5 0 3 21
2007 9 9 0 2 4 2 2 28
2008 14 7 1 1 1 0 8 32
2009 10 5 1 0 7 2 7 32
Total 49 31 2 7 18 5 22 134
Como se pode verificar na tabela acima aparecem em grande número as leis de índole
administrativa, económico e financeiras, só para citar alguns exemplos, foi durante os
primeiros três anos de legislatura que foram deliberadas e aprovadas as leis n˚07/2005
que cria a taxa de conversão do Metical em circulação para o Metical da Nova Família;
01/2006 que cria a Autoridade Tributária de Moçambique; 02/2006 que Estabelece os
princípios e normas gerais do ordenamento jurídico tributário moçambicano; etc.
Portanto, é no princípio da legislatura que o executivo aparece com uma taxa anual
crescente de propostas deliberadas e aprovadas, com grande predomínio de matéria
administrativa, económico e financeiro, leis de grande impacto na organização do
governo, na vida social e económica do Estado.
Do lado do legislativo, o pico das proposições deliberadas foi o ano 2009, o último da
legislatura, que para além da matéria administrativa houve ascensão de proposições
legislativas nas matérias social e política.
35
Gráfico 2: Projectos de lei apresentados em 2009
Neste ano o legislativo atingiu o seu número máximo de proposições deliberadas, tendo
como matéria dominante político-institucional e administrativa. Para o legislativo este
foi o ano muito importante por várias razões, primeiro era necessário despachar alguns
projectos de lei que já passam de sessão para sessão sem debate, segundo estavam se
avizinhar as eleições presidenciais, legislativas, e das assembleias provinciais e era
necessário afinar a lei eleitoral bem como cada partido pretendia demonstrar aquilo que
foi a sua prestação durante o mandato para poder ser julgado pelo eleitorado.
Tipo de proposta
Proposta de lei Projecto de lei Total
Administrativa 7 3 10
Económico e Financeiro 3 2 5
Cultural/Científico e 1 0 1
Matéria Tecnológico
Político-institucional 2 5 7
Regimental 0 2 2
Social 5 2 7
Total 18 14 32
36
Foi em 2009 que foram deliberadas e aprovadas leis importantes para a vida política e
social do Estado assim como da organização interna da própria AR com destaque às leis
n˚. 15/2009 que estabelece o regime jurídico para a realização simultânea, das eleições
presidenciais, legislativas e das assembleias provinciais de 2009; 29/2009 lei da
violência praticada contra a mulher, no âmbito das relações domésticas e familiares e de
que não resulte da sua morte; etc.
Tipo de proposta
Proposta de lei Projecto de lei Total
Administrativa 38 11 49
Económico e Financeiro 29 2 31
Cultural/Científico e 2 0 2
Objecto/ Tecnológico
Matéria Orçamental 6 1 7
Político - institucional 6 12 18
Regimental 0 5 5
Social 18 4 22
Total 99 35 134
Para além de se afirmar como o actor que apresentou mais proposições ao plenário, o
executivo é também o actor que conseguiu facilmente fazer passar as suas proposições
37
no plenário. Para tal o executivo contou com o apoio dos seus partidários que,
praticamente não se opõem em nada nas propostas que o executivo lhes coloca no
plenário.
Das propostas deliberadas nenhuma do executivo foi reprovada, enquanto mais de 50%
das propostas do legislativo foram reprovadas pelo plenário.
Resultado
Retirada pelo Total
Aprovado Reprovado proponente
Proposta de lei 84 0 3 87
Tipo de proposta
Projecto de lei 20 11 0 31
Total 104 11 3 1184
A BPR-UE foi a que mais projectos apresentou, mas também foi a que menos sucesso
obteve em termos de aprovação. Isto deveu-se a questão da votação com base na
fidelidade partidária de que nos referimos anteriormente, ora vejamos, 85% das
propostas aprovadas foi com recurso a maioria.
Tipo de Aprovação
Consenso Maioria Unanimidade Total
7 92 5 104
Resultado = Aprovado
6.7% 88.5% 4.8% 100.0%
7 92 5 104
Total
6.7% 88.5% 4.8% 100.0%
4
Não conseguimos apurar o resultado das restantes 16 proposições legislativas que restam para completar
o total das 134 deliberadas.
38
Em termos de eficácia podemos concluir que a AR não está se afirmando como
principal actor de produção de leis na esfera política nacional. A AR apesar de iniciar
algumas proposições legislativas não consegue competir ao pé de igualdade com o
executivo nesse nível e, assim, AR apresenta-se como estando assegurada na aba da
casaca do executivo para realizar o seu papel legislativo, o que o torna um mero
carimbador das propostas do executivo.
Foi o executivo quem propôs e conseguiu fazer aprovar pelo plenário a maioria da
legislação produzida durante a VI legislatura e, das poucas vezes que o legislativo
propôs legislação, o fez pela BPR-UE e, teve um nível de reprovação bastante elevado.
A razão do tal uso substancial está num elemento comportamental que se reproduz na
relação entre os deputados e as suas bancadas, a fidelidade partidária. A fidelidade
partidária é evidente nas votações, estas acontecem em blocos que opõem uma bancada
da outra.
Não existem provisões regimentais directas que incentivam a fidelidade partidária, mas
esta se reproduz pela forma como os deputados são seleccionados, reconduzidos, e
promovidos durante a sua carreira. As bancadas têm poderes de nomeação e de agenda
que as tornam importantes na acção dos deputados e consequentemente, das comissões.
39
lei, requer urgência, e por fim colocar o seu timbre final nas leis sob forma de veto.
Contudo, notamos que esses mesmos dispositivos só entram em acção sempre que o
executivo conseguir apoio da maioria parlamentar.
Repare que o executivo, tal como as comissões e as bancadas, tem prerrogativa para
solicitar à Comissão Permanente a alteração da ordem apreciação das proposições
(artigo 21 do RIAR).
40
CONCLUSÃO
As bancadas parlamentares tem poder para iniciar legislação, solicitar o debate urgente
das proposições legislativas não agendadas, tem poder para alocar lugares e chefias nas
comissões. Estas prerrogativas colocam as bancadas em vantagem sobre a acção do
deputado e consequentemente das comissões legislativas, abrindo espaço para que a
fidelidade partidária seja um mecanismo fundamental na acção destes dois actores
legislativos.
41
em regime de urgência, poder de iniciativa de lei, poder de legislar por decreto-lei
mediante autorização, e poder de veto sobre a legislação aprovada pelo legislativo.
Sendo que os actores legislativos gozam de poder e direitos efectivos que os permitam
participar plenamente no processo legislativo e que os poderes legislativos do executivo
nunca produzem acção sem apoio da maioria, não podemos explicar a ineficácia
legislativa da AR com consequência directa do contexto institucional, apesar deste criar
oportunidade para a fidelidade partidária se afirmar.
42
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Julho de 2007 – Regimento Interno da Assembleia da República.
Boletins da República
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ANEXOS
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Anexo 2: Rol de Matérias das Sessões da VI Legislatura
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