Você está na página 1de 25

UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

FACULDADE DE DIREITO

Disciplina: História do Direito Moçambicano

Tema: Direito Criminal Tradicional

Docente: Me. Joaquim Fumo

Discentes: CHIVITE, Eva; CUMBANE, Salva; DOMBO, Fátima Tomás; FRANÇA, Yurika
Dália; INGUANE, Edna Carlos; MATOLA, Nicolle Duarte; PEQUENINO, Florinda;
PONDZA, Ana Francisco; TEMBE, Hubert Albert; e WADE, José António.

Maputo, Março de 2023


2

Índice
1 Introdução.................................................................................................................................3

2 Sentido aproximado do Direito Criminal Tradicional..............................................................3

2.1 Tribunal do chefe..............................................................................................................4

2.2 Sentido de justiça-Geral....................................................................................................5

3 Casos de processo civil.............................................................................................................6

4 Casos de processo penal...........................................................................................................7

4.1 Crime de Agressão verbal e corporal................................................................................7

4.1.1 O sentido da justiça para os Bantu.............................................................................7

4.1.2 Manifestação ou crime de agressão...........................................................................8

4.2 O Roubo............................................................................................................................9

4.3 Adultério.........................................................................................................................10

4.4 O incesto.........................................................................................................................13

4.5 Crimes sexuais................................................................................................................14

4.5.1 Sentido de justiça.....................................................................................................14

4.5.2 Tabus envolvendo crimes sexuais...........................................................................15

4.6 Crime do homicídio........................................................................................................17

4.6.1 Homicídio involuntário............................................................................................17

4.7 Crime de Feitiçaria..........................................................................................................19

4.7.1 Os crimes dos feiticeiros..........................................................................................20

4.7.2 A punição.................................................................................................................21

4.8 Feitiçaria..........................................................................................................................22

5 Conclusão...............................................................................................................................24

6 Referências Bibliográficas.....................................................................................................25
3

1 Introdução

Os nossos antepassados, diferentemente de nós cuja Ideologia é dominada pela razão, tinham
uma grande crença nos espíritos e a sua ideologia era dominada pelos costumes.

Desde o princípio dos tempos, ou melhor dizendo, nas autoridades tradicionais, que o Direito é
aplicado porque com a sedentarização das comunidades surge a sociedade e onde há sociedade
existe o Direito. Nesta tese, iremos buscar entender como é que funcionava o direito nas
comunidades tradicionais Tsonga e outras similares, ou seja, como é que se resolvia os conflitos,
quem resolvia, aonde e como, por um lado. Por outo lado, vamos buscar entender como
funcionavam os casos de processo civil e os casos de processos penal das comunidades
tradicionais.

É certo que definir o Direito criminal tradicional seria algo forçado, mas devemos relacionar os
factos e compreender ao máximo as ditas leis, normas e legislações que as comunidades usavam
para regular a sociedades e suas relações.

Em suma, esta tese serve para nos fazer entender as diferenças existentes entre o Direito aplicado
na atualidade e no passado das tribos sedentárias.

2 Sentido aproximado do Direito Criminal Tradicional

Segundo Galvão Telles, “Direito Penal ( Direito Criminal) é um conjunto de normas jurídicas
que regulam a defesa contra os actos ofensivos das condições essenciais da vida social, pela
imposição de certas penas e, eventualmente, de medidas de segurança, as primeiras destinadas
a reprimir comportamentos ético-juridicamente censuráveis, as segundas aplicáveis sobretudo
a inimputáveis que se mostrem socialmente perigosos.”1. Assim, podemos concluir que o
Direito criminal tradicional são normas que regulam ou regulavam a criminalidade na sociedade
1
, TELLES Inocêncio Galvão, Introdução ao estudo do Direito, vol I, 11 a Edição, Comibra Editora, p. 173, 2010.
4

mas através das regras impostas pelo chefe quanto a resolução de litígios. A seguir veremos
como era feita a resolução dos conflitos.

2.1 Tribunal do chefe

Na sociedade ou na corte tsonga não há separação de poderes. O chefe, ajudado pelos seus
conselheiros, conserva em suas mãos o poder legislativo, o poder executivo e o poder judicial. É
a autoridade suprema e das suas decisões não há apelos.

Nos negócios legislativos, o chefe promulga as leis e preside as discussões assistido dos seus
conselheiros.

Um debate entre os indígenas é conduzido duma maneira muito diferente dos dias atuais, porque
nada se submete a votação. As propostas são feitas em frases curtas por um conselheiro,
geralmente sobre a forma de interrogação. A assembleia escuta de forma silenciosa, até que
aquele que fez a proposta conclua.

Muitas vezes o chefe não pronuncia nem uma palavra. A decisão dos conselheiros é a sua
decisão e exprimia o seu assentimento inclinando a sua cabeça. Se os conselheiros não
chegassem todavia a um acordo, remetem a questão ao chefe, e ele depois de ter escutado os
argumentos pros e contra, dizia “Corta negócio” podemos assim dizer ( Kutrema mhaka) 2com
algumas frases curtas.

Se um estranho deseja falar com o chefe ou levar lhe algum requerimento, é acompanhado por
um conselheiro. O chefe recebe o visitante na palhota, se este se conforma com as leis da
verdadeira etiqueta, explica o assento ao conselheiro, que passa para o conselheiro chefe e este
para o chefe.

2
Palavra Tsonga.
5

2.2 Sentido de justiça-Geral

Segundo John Rawls, 3“A justiça é a primeira virtude das instituições sociais.”, e segundo
Adeodato4, 1996, “É a virtude moral que rege o ser espiritual no combate ao egoísmo biológico
e orgânico do indivíduo.”.

Mas os Bantu têm um sentido muito forte de justiça. Creem na ordem social e no cumprimento
da lei, que, embora não seja escrita, é conhecida por todos. A lei é o costume, o que sempre se
fez. Todos são bem-vindos no Huvu5, onde se debatem as questões em cujas discussões mesmo
os estrangeiros podem tomar parte. “Ninguém é excluído, se fala com bom senso, só os loucos,
que não sabem nada” (Mankhelo6).

A participação de todos no Huvu desenvolveu entre eles, num grau espantoso, o sentido da lei.
Nascem todos advogados e juízes, e todos têm interesse por esta atividade. Precisamente por isso
que o vocabulário Tsonga tem vários termos judiciários como Newu que designa a lei e o
costume, Kutlula Nawu, “Salta por cima da lei”, designa a transgressão, Kuriha, Kudriha
significavam “Pagar multa” e Kurihisa que significa “Impor uma multa”.

Este sentido de justiça é diferente do sentido europeu em certos pontos. Por exemplo, os Bantu,
por causa das suas noções colectivas consideram os parentes como responsáveis pelas dívidas
contraídas por qualquer membro da família e existem outros casos em que as suas ideias parecem
estranhas ou bizarras.

Claro que existem diferenças entre as concepções indígenas e as condições europeias da justiça e
os Bantu não tiram sempre das premissas dadas as mesmas conclusões que nós. Mas
conseguimos perceber que o sentido de justiça dos Bantu é um caracter impressionante porque os
Bantu são geralmente pessoas pacificas e respeitadoras da lei, pelo menos em circunstâncias
normais.

3
John Rawls, autor da Teoria da justice.

4
Adeodato, filho de Santo Agostinho de Hipona.
5
Huvu, uma espécie de tribunal para os Bantu.
6
Mankhelo, um dos medicos indígena mais distintos.
6

3 Casos de processo civil

Não sabemos se os Tsongas conheciam a diferença entre casos de processo civil e casos de
processo penal porque todos são julgados num só tribunal e todos os casos são designados
Milandru. Devemos antes diferenciar casos privados dos casos oficiais:

Os Casos privados são aqueles que são regulados pelas duas partes a que dizem respeito e não há
intervenção do chefe.

Os casos oficiais são aqueles que foram levados à capital (Mhaka).

Os chefes das aldeias procuram resolver os problemas e se conseguem, a multa é reduzida mas se
vão ao dito tribunal, a multa é duplicada e metade vai para o chefe.

90% dos casos envolvem o lovolo7 ( Lobolo).

Os casos de divórcio são também frequentes. Quando uma mulher deixa definitivamente o
domicílio conjugal, os seus pais têm de restituir o dinheiro do lovolo. O chefe Mubvêcha,
conhecido pela sua avareza, costumava prender o marido, se fosse culpado, e o obrigava a pagar
25 Libras, 15 destinadas aos pais da mulher e 10 para o chefe.

Também temos questões sobre questões de animais, como por exemplo se o dono duma vaca,
dum porco ou duma cabra entrega dinheiro ao dono do rebanho grande, os vitelos, os porcos e
cabritos que viriam a nascer eram da sua pertença.

Elaborado por WADE, José António.

7
Conhecido por lobolo, ou o ditto Dote que existe como um método de subordinação e de compra da mulher.
JUNOD, Henry, Usos e Costumes Bantu, vol I
7

4 Casos de processo penal

4.1 Crime de Agressão verbal e corporal

4.1.1 O sentido da justiça para os Bantu


O sentimento da Justiça para os povos primitivos é muito peculiar comparado com o
conhecimento que temos hoje, visto que se baseava nos costumes e tradições de cada religião
específica. A Justiça é tida como imaterial e está fundamentada na crença de cada comunidade,
com o dever de zelar pela harmonia e concórdia no seio da comunidade.
O pensamento do Direito criminal tradicional é muito singular e restrito, razão pela qual existem
crimes que não eram punidos pelas leis primatas.
Todas as culturas têm um aspeto normativo, cabendo-lhes delimitar a existencialidade de regras,
padrões, normas e costumes que institucionalizam modelos de conduta, e como Moçambique não
é uma exceção, passarei já a mencionar alguns dos crimes que eram puníveis no âmbito das leis
do Direito arcaico.
Antes de avançar, gostava de explicar a expressão 'arcaico'. Direito arcaico e/ou primitivo são
expressões com o mesmo significado, levando em consideração que ambos tratam da pré-
história, de todas as regras, normas dos povos antes da escrita, antecedidos do Direito positivo.
Mas, John Gilissen entende que o Direito arcaico tem um alcance mais abrangente para
contemplar as múltiplas sociedades que passaram por uma evolução social, política e jurídica,
mas que não chegaram a dominar a escrita. Segundo ele, o termo que melhor se enquadra é
primitivo.
8

4.1.2 Manifestação ou crime de agressão.

Kurhuketelana ou simplesmente kurhukana são termos tsongas que significam "insultar-se


reciprocamente". Este é um facto que ocorre frequentemente entre os tsongas, mas só é levado
como acção jurídica quando é acompanhada de ferimentos ou lesões.
Contudo, existem actos injuriosos que os tsongas consideram crimes graves. Como por exemplo,
quando alguém coloca sangue ou saliva na boca de uma criança, os tsongas julgam o crime pelo
tribunal e a pena ou multa corresponde a um lobolo inteiro. Consideram eles ainda que, o
agressor não deve ser deixado impune porque tal acto é de total e tremendo desrespeito para com
a cultura deles e esse é um meio cabível para que actos semelhantes não tornem a suceder. Um
outro acto que os tsongas entendem por insulto grave e apontar o dedo a alguém pois acreditam
eles que seja um acto de estreita relação com a feitiçaria. Não esquecendo que tal acto é de total
desrespeito aos cidadãos, visto que, segundo fontes científicas apontar o dedo a alguém é
sinónimo de sintonizar.
A acção de ofender e difamar a reputação e a honra dos cidadãos também era punida pela lei
daquele tempo. Tomando como exemplo de partida a circunscrição de Tungue em que o régulo
mandava chicotear o culpado, sendo esse obrigado ainda a pagar uma indemnização a vítima.
Mas na região de Imala, a punição era mais "leve" porque o agressor só pagava a vítima duas ou
três galinhas pelo ocorrido, dependendo dos danos causados ao lesado.

Ainda na região de Imala, existiam pessoas que consideravam essa punição demasiado leve, por
assim dizer, julgavam eles que, os agressores feriam as vítimas e não tinham se preocupavam
com a lei.
No âmbito das ofensas corporais, na maioria dos casos, o agressor tinha a obrigação civil de
pagar indemnização ao lesado. Nas províncias de Manica, Sofala e a sul do rio Save, o agressor
pagava uma multa ao chefe da localidade, que era o órgão com o dever de cuidar da reintegração
dos danos da vítima. Já em Tete, o agressor tinha de pagar panos ao ofendido e cortar lenha até
que o mesmo se sentisse apto para voltar as suas tarefas. A lenha cortada era para o ofendido, os
chefes e os pais da vítima.
Elaborado por CHIVITE, Eva.
9

GILISSEN, John, Introdução ao Direito, 2a Edição.

JUNOD, Henry, Usos e Costumes dos Bantu, Vol. I

4.2 O Roubo

O roubo, ou kuwiya, é condenado universalmente pelo seu carácter imoral e


principalmente porque torna a vida social impossível. A propriedade individual (direito de posse
e usufruto exclusivo de um bem ou espaço por alguém) mesmo que não tão desenvolvida como
nas nações civilizadas, esteve na base do sistema dos Bantu. Os Bantu eram agricultores,
acreditavam que os produtos do seu trabalho lhes pertenciam e ninguém tinha o direito de
apoderar-se deles.

Não se roubava o milho que desabrochava. O ladrão arrancava a maçaroca do caule


enquanto que o dono arrancava o caule e colhia as maçarocas depois. Se um amigo passasse pelo
campo e desejasse arrancar uma maçaroca, tinha autorização para tal, desde que arrancasse
também o caule, o escondesse na borda do caminho e traçasse um risco no chão desde o lugar em
que se encontrava o caule até onde o tivesse deixado. Um mês é o tempo que passava até o dono
descobrir que a planta foi arrancada. Ao questionar ao amigo, o mesmo rebatia perguntando se o
dono não teria visto o risco e faziam graça disso porque os ladrões andavam tão apressados que
não teriam tempo para fazer o risco.

Alguns remédios mágicos eram usados por algumas pessoas para untar os caules de
milho e assim caso alguém tentasse entrar em seus campos para roubar, as suas mãos ficariam
presas e não poderia largar a planta. À pessoa lesada ficava sempre o recurso ao tribunal.

Se o ladrão fosse apanhado em flagrante delito 1 o seu campo era confiscado pelo
proprietário do milho roubado e era pago na multa de um boi. Não o fazendo, a queixa era levada
ao tribunal e a multa passava a ser de dois ou três bois, um ficando nas mãos do chefe.

Se o ladrão fosse hábil ao ponto de não ser descoberto e se por exemplo tiver roubado
num celeiro, é, em geral descoberto porque os indígenas são excelentes detetives, e ao lado disso
10

os celeiros são construídos no meio do campo ou nas florestas que rodeavam a povoação, em
local onde a erva foi arrancada e a areia era lisa, deixando visíveis os rastros do ladrão.

Depois que este era descoberto, caso o chefe da sua povoação não conseguisse regular a
questão, devia ser levado ao chefe da região roubada. Os culpados pagavam multas que iam até
2,3 ou 5 esterlinas Tovana. Quando não conseguissem encontrar o ladrão, os chefes optavam por
dar a resposta filosófica “Esperem algum tempo, um ladrão não rouba só uma vez, agarrá-lo-
emos na primeira.“

Outros casos, como roubo de galinhas ou melancias por parte dos jovens rapazes, não
eram questão de multa, estes roubos não eram considerados sérios.

Elaborado por MATOLA, Nicolle Duarte

1
Pego no momento em que cometia o crime
JUNOD, Henri-Alexander, Usos e Costumes Bantu. Tomo I. Imprensa Nacional de
Moçambique, p. 178.
JUNOD, Henri-Alexander, Usos e Costumes Bantu. Tomo II
https://www.brasilparalelo.com.br

4.3 Adultério

Adultério é a prática da infidelidade conjugal.

Para os Tsongas, o verdadeiro adultério, para um homem, casado ou não, consiste em ter
relações com mulher casada. Ninguém o reprovará , se ela não ficar gravida , se ela tiver um
filho o homem será obrigado a casar com ela , que passa a ser a sua segunda mulher. A sua
primeira esposa não o quer de modo nenhum por causa da sua má conduta , e por vezes ela
procura a rapariga que o esposo desejou e engravidou , não a nada no seu coração que não seja o
que se pareça aa dignidade de uma esposa europeia.

Guarda todos os ciúmes (vukwele) de que é capaz para que quando a segunda mulher chega a
aldeia e partilha com ela a afeição do marido comum. O adultério com uma mulher solteira não é
mais que kugangisa.
11

Se um homem seduziu uma mulher casada , uma que tem um dono (n'winyi) , que foi paga nesse
caso a questão torna-se muito séria. O marido consegue descobrir a má conduta da esposa , logo
que começa a ter dúvidas sobre a fidelidade da sua mulher, escolhe um amigo e pede-lhe que a
vigie. Ela muito astuta assim como o amante também , mas o amigo espreita-os e acaba talvez
por surpreende-los no mato , quando ela vai buscar lenha , ou junto ao charco, quando vai tirar
água. Então , conta ao marido que os surpreendeu em flagrante delito. O amante provavelmente
deu , presentes á mulher . Se não o fez , o marido manda a mulher tirar algum objecto da palhota
do sedutor.

Este permite-lhe que o faça. Ela traz o cobertor ou qualquer outro objecto que lhe pertença. Na
posse desta peça comprovativa , o marido acareação . A mulher é interrogada e conta tudo :
quantas vezes se encontraram , onde ele a seduziu entre outras. Se ela nega , mostram –lhe o
objecto que prova o delito. A mulher mostra-lho : « Não foste tu que me deste isto? Bem te tinha
dito que eu pertencia a um dono ( wa n'winyi) , tu dizias-me : não faz mal. Agora aqui tens, 15-
20 libras esterlinas , e acompanha o seu julgamento das seguintes considerações : «Como
pudeste fazer semelhante coisa?» Bem se sabe que a mulher não recusa nunca as tentativas de
um homem . Mas estamos prevenidos , sabemos que o adultério arrasta o processo (tindrava).
Por que não arranjaste uma rapariga , se querias? Não terias cometido nenhuma falta. Agora ,
vais aprender o que custa ofender uma mulher casada!»

Pronunciada a sentença , o conselheiro do marido enganado vai encontrar- se com o conselheiro


do amante para reclamar a multa , e nunca deve faltar dinheiro para pagar uma divida de
adultério (Nandru wa vumbuye awupfumali).

O infeliz paga a multa e junta, mesmo , uma enxada para enxotar (kuhlongola) o conselheiro que
fez executar a sentença. Este guarda-a como preço do seu trabalho!

Os parentes do condenado repreendem asperamente o adultéro , insultam-no. Se o sedutor não


tem com que pagar a multa deve reunir toda a família e suplicar-lhe ajuda.

No Novo Testamento , Jesus estende adultério a uma intenção potencialmente escondida dentro
do coração : "Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometeras adultério." Mas eu vos digo que
todo aquele que olhar para uma mulher com luxúria por ela , já cometeu adultério com ela no seu
coração " ( Mateus 5: 27-28) Ele também enfatiza a atitude extrema se deve tomar para evitar tal
12

pecado : "Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti , pois é mais rentável para
você que um dos teus membros, do que todo o teu corpo seja lançado no inferno. E se a tua mão
direita te faz tropeçar , corta-a e lança-o de ti, pois é mais rentável para você que um dos teus
membros , do que todo o seu corpo para ser lançado no inferno"(Mateus 5:29-30). A Bíblia
condena claramente este ato:" Não cometeras adultério "(Êxodo 20:14) isso viola o compromisso
assumido em casamento a ser fiel a um parceiro de casamento.

O ato do adultério sempre foi encarado de maneiras distintas por diversas sociedades , sendo
tratado com o mais extremo rigor por algumas e considerado como um ato totalmente aceitável
por outras.

Na antiga Babilônia , por exemplo , a esposa era privada de um dos olhos para que só pudesse
enxergar o seu amo e senhor , já para os Hebreus , era permitido ao marido sacrificar a esposa
que não sangrasse em sua primeira relação sexual após o casamento , mas, também podemos
encontrar exemplos de sociedade onde o adultério era aceite como uma prática comum , como e
o caso das mulheres de Savóia , região na França onde os maridos permitiam que suas mulheres
se reunissem uma vez por ano e se dirigissem as tabernas com a finalidade de se relacionarem
com outros homens. O adultério torna-se uma razão jurídica porque trata-se de um roubo .

No entanto , devemos destacar que estes antagonismo culturais não se restringem ao passado.
Ainda hoje podemos encontrar exemplos dos dois extremos , como os países de maioria
muçulmana que adotam a Sharia , a lei islâmica segundo a qual o adultério é um crime punível
com a pena de morte , em contrapartida , observamos na cultura ocidental ,notadamente , que o
adultério vem sendo tratado cada vez mais com tolerância pela sociedade ,não que o ato do
adultério deixe de ser visto como uma falta grave , mas a medida que a sociedade se torna menos
dogmática e mais liberal , consequentemente , tendemos a admitir certos comportamentos que
antes considerávamos intoleráveis

Elaborado por CUMBANE , Salva e PONDZA, Ana Francisco.

→Relatório exploratório do projecto piloto das distritos das províncias de Cabo Delgado,
Nampula,Niassa,Maputo, Junho de 2020,pp227.
13

→HENRI A.Junod,Uso e costumes bantu,Maputo ,Junho de 1996,pp185.

→https://www.infoescola.com/sociologia/adulterio/amp/

→Bíblia , Novo Testamento MATEUS 5, versículo 27-30 ,pp654.

4.4 O incesto

A palavra incesto provém do latim incestu que significa (impuro, impudico).

Incesto é a conjugação carnal entre parentes por consanguinidade ou afinidade, que se acham, em
grau, interditado só proibidos para as justas núpcias.

Por outras palavras incesto é o acto de manter relações sexuais com pessoas da mesma família
com laços sanguíneos.

O incesto, ou seja, o casamento entre membros da mesma família não era visto como um crime ,
mas sim como um tabu.

Para os Rhonga o casamento entre tatana (pai), manana (mãe), rharhana (tia), enwana (filho),
entre vamakwawu (irmãos) descendentes do mesmo antepassado paterno era visto como um
acto proibido e repugnante.

"Em geral o casamento é proibido entre tatana, mamana, rharhana, enwana, entre
vamakwawu.

A proibição é praticamente severa pelo lado paterno. Entre os Rhonga é tabu o rapaz casar com a
rapariga quando atribuísse passado comum da linha paterna".

Para os clãs do norte o incesto só era visto como tabu quando praticado por indivíduos com o
mesmo avô paterno.
14

"Parece que a regra não é tão severa nos clãs do norte. Segundo Mankhelu, o casamento é
absolutamente proibido entre descendentes do mesmo avô , isto é, entre primo e primas do
primeiro grau".

Do lado materno, o casamento por incesto era proibido quando as mães eram irmãs legitimas,
tendo saído do mesmo ventre e bebido do mesmo leite.

"Do lado materno esta proibição estendia-se aos primos germanos quando as mamães beberam
do mesmo leite".

A Bíblia sagrada também repudia o casamento entre parentes próximos com lanços sanguíneos e
vê o incesto como um acto de maldade.

" Não descobrirás a nudez duma mulher e de sua filha.

Não tomarás a filha de seu filho, nem a filha da sua filha, para descobrir a sua nudez; são
parentes chegados; é maldade."

Elaborado por PEQUENINO, Florinda.

4.5 Crimes sexuais

Para se fazer uma análise sobre os crimes sexuais no direito criminal tradicional é necessário que
primeiro se olhe para a visão de justiça para os povos bantu, com vista a compreender a ideologia
sobre justiça desses mesmos povos de língua bantu.

4.5.1 Sentido de justiça

O sentido de justiça para os povos bantu é bastante diferente do que conhecemos hoje, pois ele é
baseado no costume e na tradição de cada região determinada (assim o sentido de justiça pode
15

variar de região para região porque a dado momento os usos e costumes são diferentes para cada
região), passa-se a citar: “A lei é o costume, o que sempre se faz” 8¹ Os bantus acreditam muito
na intervenção do mundo dos mortos na sua comunidade, “No direito Ubuntu, as pessoas que o
ferem devem acertar as contas com o tempo e a memória da comunidade” 9², por isso, a justiça
é imaterial e baseada na crença da comunidade, tendo o dever de zelar pela harmonia, paz e bom
funcionamento da comunidade.

A tradição dos povos moçambicanos foi herdada dos povos bantu (povos que chegaram em
moçambique durante os seculos 200-300 d.C. e se desenvolveram no país), deste modo, estes
povos herdaram todo o mosaico etnolinguístico, cultural, seus costumes e consequentemente a
sua visão de direito. O pensamento do direito criminal tradicional é muito singular e restrito, por
exemplo, alguns crimes estão ligados a imoralidade que abarcam os tabus da comunidade, por
isso, e imperioso olhar para estes crimes quanto a este aspeto.

4.5.2 Tabus envolvendo crimes sexuais

Os crimes sexuais estão diretamente ligados aos tabus visto que os últimos fazem parte da
cultura e das crenças, por isso, deve-se destacar que a noção dos crimes sexuais era bastante
diferente daquela que temos hoje no direto positivo, pois, para o direito positivo o crime sexual e
todo e qualquer acto que viola o direito a integridade física, tanto quanto os princípios de
liberdade sexual que todo o Homem tem. O direito criminal tradicional era imposto por alguém
de autoridade visto como ser sobrenatural e suas decisões eram irrefutáveis apesar de que alguns
membros da comunidade como os conselheiros e os mais velhos do clã tinham direito a dar
opiniões. Assim dizendo, na maior parte das vezes, na sociedade tradicional para ser considerado
crime sexual era necessário ser primeiro tabu. São eles alguns exemplos de crimes sexuais:

Uma mulher não deve ver as folhas que os rapazes circuncisos aplicam sobre as suas partes
íntimas (o xondlo) e que também são o seu único vestuário, se por qualquer eventualidade for a
ver, a pena desta mulher e a morte.
8
Usos e Costume dos Bantu, Henry Junod, p.387.
9
Kalunga e o Direito: A emergência de um Direito inspirado na ética afro-brasileira, Sérgio São Bernardo, p. 3.
16

Banho segregado: ao homens e mulheres devem tomar banho em locais diferentes, isto deve-se
por conta do valor do respeito na comunidade, “por que razão? (…) por xichuvu, quer dizer por
temor, por respeito” 10³. Se alguém viola esta lei, ele é censurado.

Se um jovem for considerado culpado de envolvimento com uma mulher que estabelece relações
sexuais com outro homem, ele é obrigado a assistir o enterro do seu oponente.

Com esses exemplos, e no direito criminal tradicional os crimes sexuais são mais vistos na
pespectiva de desrespeito ao pudor e a moralidade perante a comunidade, estas transgressões da
lei são puníveis com censuras e até a própria morte. É de se lembrar que nem todos os tabus
podem levar ao incumprimento da lei, passando a citar uma passagem de Henri Junod: “Se são
promulgados por agentes conscientes, deve a sua transgressão ser punida por estes mesmos
agentes” 11
⁴, ou seja, se os tabus não são promulgados por uma instância superior, o seu
incumprimento pode não ser sancionado.

Olhando para outra perspectiva dentro dos crimes sexuais, como o estupro, pode-se observar que
a violência sexual normalmente não é levada com tal seriedade que devia ser porque a sociedade
tradicional tem várias crenças que conduzem a supremacia do homem em detrimento da mulher.
Na visão dos povos herdeiros dos bantu, se acontece um crime no seio da comunidade o suposto
criminoso é levado a julgamento e responsabilizado pelos seus actos. Quanto aos crimes sexuais,
envolvendo abuso sexual,podem ser resolvidos de duas formas:

No primeiro caso, cada família resolve o problema com o individuo culpado casando a vítima
com o mesmo para manter a honra da família. Isto ocorre principalmente se a vítima tiver
engravidado durante a violência.

No segundo caso, o indivíduo culpado é intimado a pagar uma multa para compensar a família
pela tragédia.

De maneira geral, estes actos de abuso sexual não são considerados crimes, mas uma desonra
para a família pois segundo Collet, “para eles o abuso sexual não é problema, problema é
quando a menina não casa” 12⁵.
10
Usos e Costumes dos Bantu, vol. 2,Henry Junod.
11
Usos e Costumes dos Bantu, vol. 2, Henry Junod, p. 498.
12
Pesquisa de crenças e atitudes em relação à violência sexual contra a Mulher e a rapariga na província de Tete,
Angela Collet.
17

Concluindo, apesar da evolução da sociedade a sociedade tradicional tem uma maneira de ver o
mundo de forma diferente porque a sociedade tradicional e estática.

Elaborado por INGUANE, Edna Carlos.

4.6 Crime do homicídio

4.6.1 Homicídio involuntário

A penalização para este tipo de homicídio, varia de região para região, de povo para povo, tal
como os outros crimes, portanto neste caso a penalização aplicada numa primeira fase era a de
pena de morte, isto na época em que os indígenas tinham poderes de aplicação da mesma, ou seja
antes do período colonial.
Com a extinção desta pratica usou-se a prática do lobolo como forma de indemnizar a família
enlutada pela sua perda.
O problema não era levado ao chefe, caso estejamos presentes a uma relação de amizade entre as
famílias, caso não existam estas relações o problema é levado ao chefe para uma melhor
resolução do problema.
Este acto pode ocorrer durante a execução de uma actividade, tal como a caça e a pesca, perante
estas situações, a família resolvera o assunto, como forma de resolução a família do culpado
entrega uma filha, acompanhada de dez enxadas e um boi. “ A ideia base deste costume não é de
que a pessoa humana é a compensação natural que deve oferecer por meio de outra pessoa, mas a
de que isso dá a família diminuída o meio de recuperar a sua perda. Com feito logo que a
rapariga dê um filho aos pais do morto é livre.” Em determinado caso a família do homem morto
queira mantê-la, a mesma permanecera como membro sob a condição que o lobolo seja feito.
A prática do lobolo passou a ser usada como um sistema definitivo de resolução deste crime
pois por vezes a infertilidade da rapariga era posta em causa, caso ela não conseguisse dar um
filho, esta causa criava problemas no seio familiar, levando assim a falha do sistema anterior. Por
exemplo os macuas, no caso do homicídio simples a penalização era feita por meio de uma multa
18

esta que por sua vez consistia na entrega de uma pessoa da família do culpado a família da
vitima, caso a mesma não fosse paga, a pena imposta era convertida em de morte.
Tendo em conta as observações feitas acima conclui-se que no homicídio voluntario aplicação
da pena era severa variando entre os diversos povos devido a sua cultura e entre outros factores,
sendo que em certas regiões a mesma era feita com base nos pressupostos do homicídio
involuntário, havendo certas diferenças. Esta diferença verá com os tsongas e os rhongas.
Para os tsongas a pena aplicada seria a mesma que aplicava-se no homicídio involuntário
(entrega de uma mulher), havendo uma distinção entre os dois tipos de homicídio pelo simples
facto de que a família do morto não aceitava a mulher por questões de ódio e temor, portanto a
mesma era vendida pelos parentes e o dinheiro era dado ao queixoso, ou seja a família do homem
morto. “O costume selvagem que torna num dever dos pais de um homem morto vingar a morte
dele, não importa a que preço e por que meios, não existe entre os tsongas”
Nos rhongas este caso era diferente, a vingança de um homem morto tornava-se um dever do
parente, mas o mesmo era impedido pelos outros, para que a situação seja levada ao chefe, como
forma de ajudar a família enlutada a adquirir uma nova mulher, por meio dela terem novos
membros, diferentemente dos tsongas, os rhongas por sua vez, para a conservação da mulher
não havia lobolo, de acordo com a decisão do chefe a permanência da mulher era efectiva.

Elaborado por FRANÇA, Yurika Dália.


1. JUNOD, henry, usos e costumes dos bantu, p. 391 vol I.

2. JUNOD, Henry, usos e costumes dos bantu, p.393 Vol.I).

4.7 Crime de Feitiçaria

O que os indígenas do sul da africa chamam a magia negra vuloyi, são praticas magicas
criminosas dos ditadores de sorte para enfeitiçarem pessoas inocentes .o valoyi e crime .
19

Também existem os vungoma (magia branca) que são praticas contrarias ao valoyi aqui o
vunguma praticam o bem , entram em luta com as operações maléficas , sendo assim o
mungoma ( mago , curandeiro) por consequência inimigo declarado do noyi (feiticeiro).

Por vezes a sociedade confunde esses dois por possivelmente na sua origem o poder de ambos
seja da mesma natureza. mas o uso e diferente um serve se em interesse da sociedade os
mungoma e o outro contra os vuloyi.

O poder deles é hereditário mas, estranhamente, transmite se pela mãe, não pelo pai.

Este terrível poder é absorvido pela criança com o leite materno mas, para ser mas
verdadeiramente eficaz deve ser confirmado mezinhas especiais os valoyi conhecem se uns aos
outros formam uma espécie de sociedade secreta no seio da tribo reuni se de noite no mato
revestidos dos seus corpos espirituais para comer carne humana. Também existem valoyi mas
poderoso que os outros e que eles procuram constantemente suplantar se uns aos outros com
descoberta de novos feitiços mais eficazes.

A atividade dos valoyi é quase essencialmente noturna do facto de que atuam nas trevas,
estabelecem se uma relação entre eles e as aves noturnas particularmente o mocho. A ideia antiga
e original e que os feiticeiros não sabem oque fazem ate o momento em que por métodos a sua
atividade noturna e lhe descoberta.

Estas práticas surgem das crenças animistas, o canibalismo que talvez não existisse como
costume no sul de africa mas que foi esporadicamente praticado nos períodos de fome deixou no
espírito das gerações subsequentes um sentimento de repugnância e horror. o odio terrível que o
indígena e capaz.

Uma pessoa acusada de ser feiticeira representa uma ameaça a solidariedade comunitária
devendo ser descoberta e combatida através de todos os meios de que a comunidade despõe. E
esta ideia de traição ao próprio grupo um ataque a verdadeira base de estrutura social que
transforma a suspeita da pratica de feitiçaria num crime odioso. EVANS (1992:50)
20

4.7.1 Os crimes dos feiticeiros

Primeiro de tudo os valoyi são ladroes e esse e o especto menos criminoso da sua atividade o
grande crime e matar, são assassinos tanto mas de recear quando atua inconscientemente,
incógnitos e sem ser vistos.

Dois motivos os impelem ao crime, nomeadamente o odio e inveja, para chegar aos seus fins o
criminoso pode recorrer a diversos meios: apontar com o dedo o seu inimigo atirando lhe a má
sorte.

O kurhuma (enviar) consiste em mandar animais, sendo o mais frequente a serpente ao lugar em
que a pessoa detestada passara para matar ou ao menos feri-la.

Kumita (engolir, fazer engolir), o único feitiço feito em pleno dia, consiste em beber ou comer
algo envenenado.

Kuchela ( despejar) são os corpos estranhos que o feiticeiro introduz nas pessoas, como a comida
envenenada ou os sangues despejados sobre eles.

Kuchucha ( inspirar) é uma situação em que o feiticeiro inspira o seu inimigo a ideia de
abandonar o pais sem nenhum motivo.

No mpfula ( abrir) o feiticeiro possui o poder misterioso de abrir todas portas.

Entretanto, é necessário apresentar uma prova objectiva, ou evidência convencedora. Os


curandeiros é que são chamados para produzir as provas. Em Moçambique onde a legislação
nunca proibiu formalmente a prática a feitiçaria, os feiticeiros são identificados através do
recurso a medicina pela adivinhação, o que levou a identificar estes médicos curandeiros como
parte do universo da feitiçaria. (Meneses 2000,2004a, honwana ,2002).

O processo de farejamento a medida que o interrogatório se torna mais premente cada vez mais
ele se aproxima do individuo sobre qual pesam as suspeitas, as perguntas tornam-se mais
precisas. Quando o curandeiro cheira o criminoso, o faro do curandeiro Mungoma triunfa.
21

Feitas assim as provas, o caso pode ser levado ao tribunal da aldeia, sendo o chefe a autoridade
máxima, é necessário que a culpabilidade do feiticeiro seja ainda confirmada por uma derradeira
prova-o famoso ordálio do mhondro.

Ordálio do mhondro é o meio final e supremo de desmarcar os valoyi. Trata-se do procedimento


legal ordenado pelo chefe com vista a instrução judiciária do caso, fazendo-os passar por uma
prova na qual se pensa que os culpados têm de sucumbir.

Mhondro é a bebida que toda pessoa acusada de feitiçaria ou qualquer crime pode recorrer para
provar a sua inocência

4.7.2 A punição

Lembremos que a feitiçaria é um crime duplamente condenado pelo tribunal (tradicional). O


desenvolvimento e julgamento de tais acusações integram outras figuras e instituições não
estatais de prestação de justiça. O criminoso de feitiçaria incorria na pena de morte e o culpado
era prontamente enforcado. Se o crime não justificar a tal pena recorria-se a flagelação ou ao
banimento.

A defesa contra as acusações de feitiçaria foi se limitando a consulta de curandeiros, a tomar


medicamentos preventivos e eventualmente ao pagamento de multas e exílios ocasionas,
procedimentos estes que ocorriam numa semi-ilegalidade.

Centenas de feiticeiros foram submetidos a tortura e queimados vivos pelos tribunais oficiais
(tradicional). Contudo, a feitiçaria tem aumentado nos últimos anos e para solucionar esse
problema, os espírito cientifico que destrua os absurdos, conspeções animistas magicas que
foram a base destas praticas supersticiosas, a religião crista de amor e de luz que expulsa o temor
e odio.

Elaborado por DOMBO, Fátima Tomás.

4.8 Feitiçaria
22

A palavra feitiçaria advém da língua portuguesa, que significa bruxaria, magia negra etc. A
feitiçaria é uma acusação moral na sociedade, ou entre grupos sociais, que se funda na relação
social de desconfiança entre pessoas que se sentem prejudicadas por alguém que acusam
poderem lhes fazer o mal, mediante o uso de poderes mágicos

Actualmente a feitiçaria não é vista e nem reconhecida no Direito positivo propriamente dito
porem em tempos remotos, nas comunidades de origem bantu , era vista no como um grande
problema naquela sociedade, e tinham os tribunais comunitário para regular tais situações.13

A que salientar que a feitiçaria tem dois polos ,o primeiro é positivo em que o feitiço é usado
com um fim benéfico vamos tomar como exemplo a prática mágica designada por feitiço do
amor , onde se um rapaz não fosse bem sucedido nas suas kugangissa (que significa paquerar ou
conquista, convencer) ou se fosse desdenhado pelas raparigas e não houvesse nenhuma
possibilidade de ser aceite, este rito especial o ajudava a encontrar alguém no caso uma mulher.

O rito era feito da seguinte maneira, levavam um galo velho na aldeia e era colocado sobre a
cabeça do rapaz, era deixado por algum tempo, logo após o galo arranhasse o rapaz com os seus
esporões, o rapaz já poderia partir, o rapaz que era desdenhado teria a partir dali em diante
sorte , era como um galo a quem nunca faltava esposas (era designado por Mboza).14

Mas o polo da feitiçaria que nos interessa é o segundo, visto de uma maneira negativa, feita
com o objetivo de prejudicar as pessoas.

A feitiçaria no povos bantu era considerada como o maior crime que alguém podia cometer . Os
valoyi assim eram designados os feiticeiros eram ladrões de comidas nas machamba e de sorte ,
das quais contavam com a ajuda de outros valoyi de outros países para travar uma guerra caso
fossem apanhados, mas dos grandes males que predominavam, o maior crime era de matar. As
razões que normalmente levavam este a matar são, a inveja e ódio. Se um deles fosse ofendido ,
é certo que procurava se vingar optando por eliminar o seu inimigo.

Escapava-se da sua palhota durante a noite, abria as suas enormes asas e voava em direção a
residência do homem que odeia . Essa residência, porém estava muito bem protegida, a sua

13
Cetro de formação jurídica (200) ,,Relatório o projeto piloto dos distritos da província de cabo delgado, Nampula
e Niassa ,PDF
14
JUNOD, Henri (1996)usou e costumes dos bantu, tomo I
23

volta levantava-se uma barreira espiritual feita através de feitiços e remédios que fechavam
aldeia e a residência da invasão dos feiticeiros. Como poderia este penetrar para cometer o seu
crime?

Primeiro este procurava entende-se com outro moloyi, que residia naquela aldeia o qual
praticava uma pequena abertura na barreira espiritual, qualquer coisa de semelhante um pequeno
buraco da barreira material! Então entra no interior da barreira, tentava agora, penetrar pela porta
da palhota, porém sucedia que a mesma encontravam-se fechado, Este batia , porém logo após
reconhecia que não poderia entrar por meio desta, então voava para parte superior da residência,
palhota e através da coroa de ervas engraçadas, descia para dentro da casa do seu inimigo que
encontrava-se a desfrutar de um sono tranquilo na sua belíssima esteira. Procedia , então , a
operação do enfeitiçamento na qual o desgraçado, o inimigo era condenado a morte Lhe era
comido e roubado o coração e depois de alguns dias vinha a morrer. 15

Depois deste acontecimento a família procura através de nhanga, saber as causas de da morte
deste, e quando descobrissem que foi devido a feitiçaria era levado o caso ao tribunal
comunitário julgados e penalizado , a pena consistia em lavar o corpo do morte de mofo a retirar
tudo o que havia colocado e era também penalizado com a morte.

Elaborado por TEMBE, Hubert Albert.

5 Conclusão
O principal facto identificado foi que no direito criminal tradicional, diferentemente do direito
positivo, as autoridades criminais eram principalmente compostas por chefes, anciãos, os quais
eram tidos como os responsáveis pelo cumprimento da lei.

15
JUNOD, Henri (1996)usou e costumes dos bantu, tomo II
24

As penas para quem cometesse o que naquela altura era considerado crime não eram escritas,
sendo assim, havia diferença na aplicação da pena no seio dos Bantu, isto é, devido à existência
de uma vasta cultura , etnia\ no âmbito criminal a aplicação da pena dependendo do crime. era
aplicado de forma diferente.

O chefe da aldeia tinha a última palavra nas decisões, visto que possuía todos os poderes
legislativo, judiciário e religioso, no entanto, alguns anciãos também tinham direito a opinião.
Assim, pôde-se dizer que o direito tradicional era um sistema regido pelos costumes e pelas
crenças e apesar de ser um sistema pré-letrado, era um sistema organizado.

6 Referências Bibliográficas

 TELLES Inocêncio Galvão, Introdução ao estudo do Direito, vol I, 11a Edição, Comibra
Editora, p. 173, 2010.
25

 JUNOD, Henry, Usos e Costumes dos Bantu, vol I.


 JUNOD, Henry, Usos e Costumes dos Bantu, vol. II.
 GILISSEN, John, Introdução ao Direito, 2a Edição.
 https://www.brasilparalelo.com.br
 Relatório exploratório do projecto piloto das distritos das províncias de Cabo Delgado,
Nampula,Niassa,Maputo, Junho de 2020,pp227.
 https://www.infoescola.com/sociologia/adulterio/amp/
 Bíblia , Novo Testamento MATEUS 5, versículo 27-30 ,pp654.

 Kalunga e o Direito: A emergência de um Direito inspirado na ética afro-brasileira,


Sérgio São Bernardo, p. 3.
 Pesquisa de crenças e atitudes em relação à violência sexual contra a Mulher e a rapariga
na província de Tete, Angela Collet.

Você também pode gostar