Você está na página 1de 15

UNIVERSIDADE ROVUMA

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS


DEPARTAMENTO DE DIREITO
HISTÓRIA DO DIREITO MOÇAMBICANO

Curso de direito/Pós – Laboral/ 1º Ano


Discentes:
Damião
Justo
Alfredo

O DIREITO ANTERIOR À COLONIZAÇÃO PORTUGUESA

Nampula, 2024
UNIVERSIDADE ROVUMA
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE DIREITO
HISTÓRIA DO DIREITO MOÇAMBICANO

Curso de direito/Pós – Laboral/ 1º Ano


Discentes:
Damião
Justo
Alfredo

O DIREITO ANTERIOR À COLONIZAÇÃO PORTUGUESA

Trabalho de carácter avaliativo da cadeira


de história do direito moçambicano,
leccionado pelo docente:

Nampula, 2024
Índice
Introdução.........................................................................................................................................1

1. Sociedades Primitivas...............................................................................................................2

2. Direito Consuetudinário............................................................................................................4

2.1. Características do Direito Consuetudinário.......................................................................4

2.1.1. Flexibilidade...............................................................................................................5

2.1.2. Adaptabilidade............................................................................................................5

2.1.3. Legitimidade...............................................................................................................5

2.2. Importância da aplicação do direito consuetudinário........................................................5

3. Direitos dos Povos sem escrita..................................................................................................6

3.1. Origem do direito...............................................................................................................6

3.1. Características e Fontes do Direito dos Povos sem Escrita...............................................7

3.1.1. Características.............................................................................................................7

3.1.2. Fontes.........................................................................................................................7

4. Características do Direito anterior a presença portuguesa em Moçambique............................8

4.1. História Pré-Colonial.........................................................................................................9

Conclusão.......................................................................................................................................11

Bibliogafia......................................................................................................................................12
Introdução
O presente trabalho cujo tema é O Direito anterior á Colonização Portuguesa em
Moçambique enquadra-se no cumprimento parcial dos requisitos exigidos pela cadeira de
História do Direito Moçambicano.
Este estudo resulta da necessidade de compreender de modo geral o História do
Direito Moçambicano, principalmente O Direito anterior á Colonização Portuguesa em
Moçambique. O interesse é suscitado pelo facto de O Direito anterior á Colonização Portuguesa
em Moçambique ser um tema de teor imprescindível no estudo de História do Direito
Moçambicano.
A importância deste estudo não se resume apenas ao conhecimento que nos traz
sobre o tema, mas também poderá influenciar o debate entre os grupos académicos.
O trabalho tem como objectivo abordar sobre O Direito anterior á Colonização Portuguesa em
Moçambique.
O trabalho está dividido em três partes: a primeira parte composta por elementos
pré-textuais, desde a capa até a introdução; a segunda parte composta pelo desenvolvimento, isto
é, a bordarem concernente sobre o tema proposto e por último a parte dos elementos pós-textuais,
composta pela conclusão e as referências bibliográficas.

1
1. Sociedades Primitivas
O Direito nas sociedades primitivas, também conhecido por direito arcaico, não
era legislado da forma como conhecemos nos dias de hoje. As regras eram mantidas e
conservadas pela tradição da população.
Basicamente, cada grupo social possuía um direito único, o direito próprio,
vivendo com autonomia e tendo pouco contacto com outros povos, a não ser quando em
condições de guerra.
Havendo tantos grupos sociais, tantas comunidades, havia também uma
diversidade de direitos não escritos partindo, em especial, dos costumes; costumes que seguem
até os dias de hoje como fontes do Direito, por ser expressão directa da comunidade/ da
população.
Além disso, como fonte criadora de normas jurídicas, certas decisões reiteradas
utilizadas pelos chefes das comunidades começavam a criar força entre seus membros para
resolver conflitos do mesmo tipo – como se fossem as jurisprudências tais como conhecemos.
Esse Direito arcaico sofreu grande influência da prática religiosa, estando totalmente
subordinado à imposição de crenças dos antepassados, ao ritualismo simbólico e à força das
divindades.
John Gilissen chama atenção para o fato de que os direitos primitivos são
“direitos em nascimento”, ou seja, ainda não ocorre uma diferenciação efectiva entre o que é
jurídico do que não é jurídico.
Niklas Luhmann classifica três grandes grupos de manifestações do direito ao longo da história:
 O direito arcaico, característico dos povos sem escrita;
 O direito antigo, que surge com as primeiras civilizações urbanas e
 O direito moderno, próprio das sociedades posteriores às Revoluções Francesa e
Americana.
Veja que a História do Direito nos traz a essência do todo. A forma de evolução
da sociedade juntamente com as regras, os costumes, os ordenamentos, cidades e organizações
nos demonstram que o conhecemos actualmente nada mais é do que desdobramentos ao longo
da história. Para o estudo da História do Direito é preciso buscar os elementos fundamentais de

2
cada civilização e, a partir dessa perspectiva, passar ao estudo do direito propriamente dito.
Afinal: “Não há direito fora da sociedade. E não há sociedade fora da história.“
Na maioria das sociedades remotas, a lei é considerada parte nuclear de controle
social, elemento material para prevenir, remediar ou castigar os desvios das regras prescritas. A
lei expressa a presença de um direito ordenado na tradição e nas práticas costumeiras que mantêm
a coesão social", no dizer de António Carlos Wolkmer (2001, pág. 20).
Assim, falar em um direito arcaico ou primitivo implica, contudo, ter presente uma
diferenciação da pré-história e da história do direito e ainda, quanto aos horizontes de diversas
civilizações, no sentido de precisar o surgimento dos primeiros textos jurídicos com o
aparecimento da escrita, tudo dependendo do grau de evolução e complexidade de cada povo.
Por isso, prossegue Wolkmer (2001, pág. 21) O direito arcaico pode ser
interpretado a partir da compreensão do tipo de sociedade que o gerou. Se a sociedade da pré-
história fundamenta-se no princípio do parentesco, nada mais considerar que a base geradora
do jurídico encontra-se, primeiramente, nos laços de consanguinidade, nas práticas do convívio
familiar de um mesmo grupo social, unido por crenças e tradições.
Relativamente aos princípios e regras que governaram a sociedade grega e a
sociedade romana, por exemplo, aduz Fustel de Coulanges (1999, pág. 13-14) que há uma
conexão íntima entre as instituições destes povos, suas crenças religiosas e o direito privado.
É que a comparação das crenças e das leis demonstra que as famílias gregas e romanas
foram constituídas por uma religião primitiva, que estabeleceu o casamento e a autoridade
paterna, fixou os graus de parentesco, consagrou o direito de propriedade e o direito de
herança. Esta mesma religião, por haver difundido e ampliado a família, formou uma associação
maior, a cidade, e nela reinou do mesmo modo que reinava na família. Desta se originaram
todas as instituições como todo o direito privado dos antigos. Foi dela que a cidade extraiu seus
princípios, suas regras, seus usos e sua magistratura [....] É mister, pois, estudar antes de tudo,
as crenças destes povos.
Coulanges está se referindo, nesta passagem, às crenças antigas sobre a Alma e
sobre a Morte; ao Culto dos Mortos: ao Fogo Sagrado e à Religião Doméstica.
Num tempo em que inexistiam legislações escritas e códigos formais, as práticas
primárias de controle são transmitidas oralmente, marcadas por revelações sagradas e divinas
(Fustel de Coulanges,1999, pág. 13-14), Vale dizer, constata-se esse caráter religioso do direito
3
arcaico, imbuído de sanções rigorosas e repressoras, fato que levou os sacerdotes-legisladores a
serem os intérpretes e executores destas leis (recebidas diretamente do Deus da cidade), onde o
ilícito se confundia com a quebra da tradição e com infração ao que a divindade havia
proclamado.
Como se vê, no dizer de Wolkmer (2001, pág. 22), não se trata, na época, de um
direito escrito mas de um conjunto disperso de usos, práticas e costumes, reiterados por um longo
período de tempo e publicamente aceitos. É o tempo do direito consuetudinário, em que não se
conheceu a invenção da escrita, em que uma casta ou aristocracia "investida do poder judicial era
o único meio que poderia conservar, com algum rigor, os costumes da raça ou tribo".
Registre-se, contudo, que a inversão e a difusão da técnica da escritura, somada à
compilação de costumes tradicionais, proporcionaram os primeiros Códigos da Antiguidade, a
saber, o de Hamurabi, o Código de Manu, a Lei das XII Tábuas e, na Grécia, as legislações de
Dracon e de Sólon.
2. Direito Consuetudinário
Segundo Summer Maine, o direito consuetudinário é o conjunto de costumes e
práticas de uma sociedade, comunidade ou agrupamento, os quais são aceitos como se fossem
leis, sem que sejam formalizados pela escrita ou por processos legislativos.
Embora essas condutas não sejam positivadas (escritas), elas são consideradas normas jurídicas
por tratarem de um comportamento adoptado há tempos por um agrupamento de pessoas (povos,
sociedades, cidades, países) (Summer Maine, Henry, 1893; pág. 23).
Desta forma, é possível afirmar que o direito consuetudinário de uma sociedade
pode estar fortemente ligado:
 À sua cultura;
 Os aspectos étnicos e religiosos;
 À localização geográfica;
 À colonização e influência estrangeira.
Esses factores podem influenciar tanto a origem quanto o desenvolvimento dos
costumes, tradições e comportamentos de um povo.
2.1. Características do Direito Consuetudinário

4
A partir do momento em que se visualiza o direito consuetudinário como um
conjunto de costumes, facilmente se pode compreender que ele sofrerá mudanças com o passar
dos anos, afinal, as sociedades evoluem e se modificam.
Com isso em mente, extraem-se três principais características do direito consuetudinário:

2.1.1. Flexibilidade
Esse atributo se relaciona com a mutabilidade dos comportamentos e pensamentos
de uma sociedade ao longo do tempo. Embora as tradições e os costumes sejam mantidos por
várias gerações, eles também são flexíveis e são passíveis de mudança.

2.1.2. Adaptabilidade
O direito consuetudinário se adapta à realidade e às novas formas de pensar de
uma sociedade. As tradições podem continuar existindo, mas podem sofrer adaptações para
melhor se adequarem aos ideais atuais da sociedade.

2.1.3. Legitimidade
O direito consuetudinário é legítimo, ou seja, é considerado norma jurídica, ainda
que não esteja escrito/positivado em alguma legislação da sociedade.
O direito consuetudinário é considerado tão antigo quanto a humanidade. Ele surgiu dos
primeiros agrupamentos organizados de pessoas, ou seja, das primeiras sociedades, as quais, por
meio da oralidade, transmitiam seus costumes para as gerações seguintes.
Desde as primeiras civilizações organizadas na Grécia Antiga, é possível encontrar
registos de povos que passavam adiante suas “leis” por meio de tradições orais, sendo que estas
serviam como base para decisões diárias e políticas.
2.2. Importância da aplicação do direito consuetudinário
O direito consuetudinário é importante na medida em que toda a sociedade se
desenvolveu a partir de costumes e práticas que foram passadas de geração em geração, sendo
que a maioria delas foi transmitida de forma oral, ou seja, não positivada.
Essas condutas, por sua vez, são equiparadas à norma jurídica, mesmo sem estarem escritas “no
papel”, pois servem para regulamentar as acções de um grupo ou comunidade de pessoas.
A partir disso, é possível verificar de que forma as sociedades surgiram e
evoluíram, a maneira como seus costumes e práticas se modificaram, bem como a forma como

5
conceitos primordiais do ser humano, como “bem”, “mal”, “moral” e “imoral”, foram se
aperfeiçoando com o tempo.
Neste cenário, pode-se compreender como a aplicação do direito consuetudinário se deu nas
diferentes comunidades, sendo possível identificar o que as levou a positivar normas, enquanto
outros grupos continuaram mantendo suas normas atreladas a costumes e comportamentos
habituais.

3. Direitos dos Povos sem escrita


3.1. Origem do direito
Existe a necessidade de se fazer uma distinção de dois momentos na origem do
direito: a pré-história do direito e a história do direito com base no conhecimento da escrita ou
não. O advento da escrita traz consigo o surgimento dos primeiros textos jurídicos em épocas
diferentes para as diversas civilizações. A origem do direito remota na época pré-histórica onde
não existe informação concreta ou quase não se tem o conhecimento.
A dificuldade de se fazer o estudo para explicar as origens do direito dos povos
sem escrita deve-se ao quadro amplo de hipóteses possíveis e proposições diferentes, onde o
direito pode ser interpretado a partir da sociedade que o gerou e também constitui uma melhor
ferramenta para entender o direito dos povos europeus.
A sociedade pré-histórica tinha como base as relações de parentesco, laços
consanguíneos e convivência do mesmo grupo social, onde as sanções legais estão directamente
associadas aos rituais sagrados.
Por certo períodos de tempo, esses direitos foram designados por “direitos
primitivos”. Esta designação não pode vincar pois numerosos povos experimentaram uma
evolução exaustiva da sua vida social e jurídica sem terem atingido o estado cultural da escrita. A
designação mais abrangente é a de “direitos arcaicos” na medida que permite fazer um
englobamento de vários sistemas sociais e jurídicos nos diversos níveis da evolução do direito,
casos dos povos da África negra, das civilizações Incas e Maias nas Américas.
Contudo a expressão “direitos dos povos sem escritas ”, tornando a ignorância da
escrita um elemento de distinção destes sistemas jurídicos dos outros. Esta tese evolucionista do
direito que aponta para da progressão dos direitos arcaicos através da comunhão de grupos,
matriarca, patriarcado, clã e tribo é muito simplista e sobejamente lógica para ser correcta, de

6
acordo com John Gilissen, pois não existem provas científicas para assegurar que a legalidade
acompanhou e reflectiu os diversos estágios das sociedades primitivas, algumas investigações
etnográficas mostram que a suposição do consenso para o respeito das normas, demonstram o
contrário, pois se o sujeito se é desvantajoso em respeitar a lei, termina muitas vezes por violando
a norma.
3.1. Características e Fontes do Direito dos Povos sem Escrita

3.1.1. Características
John Gilissen (1988; 35), nas suas lições de Introdução Histórica ao Direito,
distingue as seguintes características do direito dos povos sem escrita:
Direitos não legislados (abstractos), as populações não conheciam a escritura
formal e as suas regras de regulamentação eram mantidos e conservados pela tradição, ou seja as
regras eram decoradas e passadas de geração para geração de forma mais clara possível.
Direitos numerosos, cada comunidade possuía um direito único, que não se
confundia com os de outras. Cada comunidade tinha as suas próprias regras, vivendo com
autonomia e tendo contacto com outros povos, a não ser em situações de guerras. As
comunidades viviam isoladas no espaço e, muitas vezes, no tempo.
Direitos diversificados, existe uma multiplicidade de direitos diante de um
conjunto de sociedades actuantes. A distância no espaço e o tempo fazia com que cada
comunidade produzisse mas dissemelhanças do que semelhanças no seus direitos.
Direitos impregnados pela religião, a influência da religião sobre a sociedade e
sobre as leis, tornando-se difícil estabelecer uma diferenciação entre o preceito sobrenatural e
preceito de natureza jurídica e totalmente subordinado a imposição da crença nos antepassados, a
rituais simbólicos e à força dos deuses.
Direitos em nascimento, pois ainda não ocorre uma diferenciação efectiva entre
as regras jurídicas e não jurídicas, onde tudo que contribua para a manutenção ou união do grupo
social é justo e não o que tende para o respeito dos direitos individuais e revestidos de uma
grande severidade.

3.1.2. Fontes
Os Costumes, são a fonte mais importante e mais antiga do direito dos povos
sem escrita, que se comprova por ser uma expressão directa, quotidiana e habitual para os
7
membros de um dado grupo social, onde a religião aparece como factor determinante devido a
ameaça permanente dos poderes sobrenaturais, uma garantia do cumprimento severo dos
costumes ou seja o que era tradicional no viver e conviver das comunidades torna-se regra a ser
seguida.
Preceitos verbais não escritos (Precedente), são proferidos pelos chefes tribais
ou líderes dos clãs, que se impõe da autoridade e respeito que gozam na sociedade, ou seja as
pessoas que julgam tendem voluntariamente aplicar soluções já utilizadas anteriormente
Procedimento (“precedente judiciário”), em intervalos regulares de tempo,
muitos grupos têm as suas regras enunciadas a todos pelo chefe (ou chefes) ou anciões.
Provérbios ou Adágios, que desempenham papel decisivo na tarefa de fazer
conhecer as normas da comunidade.
4. Características do Direito anterior a presença portuguesa em Moçambique
Moçambique é um país da África Austral, situado na costa do Oceano Índico, com
cerca de 20 milhões de habitantes (2004).
Foi uma colónia portuguesa, que se tornou independente em 25 de Junho de 1975.
A história de Moçambique encontra-se documentada pelo menos a partir do século X, quando um
estudioso viajante árabe, Al Masudi descreveu uma importante actividade comercial entre as
nações da região do Golfo Pérsico e os "Zanj" (os negros) da "Bilad as Sofala", que incluía
grande parte da costa norte e centro do actual Moçambique.
No entanto, vários achados arqueológicos permitem caracterizar a "pré-história"
de Moçambique (antes da escrita) por muitos séculos antes. Provavelmente o evento mais
importante dessa pré-história ter sido a fixação nesta região dos povos Bantu que, não só eram
agricultores, mas introduziram aqui a metalurgia do ferro, entre os séculos I a IV.
A penetração portuguesa em Moçambique, iniciada no início do século XVI, só
em 1885 - com a partilha de África pelas potências europeias durante a Conferência de Berlim -
se transformou numa ocupação militar, ou seja, na submissão total dos estados ali existentes, que
levou, nos inícios do século XX a uma verdadeira administração colonial.
Antes da Chegada dos portugueses existiam no território que actualmente chama-
se Moçambique unidade políticas (Reinos Impérios e Chefaturas). O Direito nesta altura era
consuetudinário aliado ao carácter religioso.

8
O costume não é, no entanto, a única fonte de direito dos povos primitivos. Nos grupos sociais
mais evoluídos, acontece que aqueles que detêm o poder impõem regras de comportamentos,
dando ordens de carácter geral e permanente. Trata-se então de verdadeiras leis, no sentido
jurídico e moderno do termo; mas são leis não escritas, pois elas são enunciadas em grupos
sociais que não conhecem a escrita. Estas leis, enunciadas pelo chefe ou por grupo de chefes
(anciãos) do clã ou da etnia.
O precedente judiciário – pode ser também considerado uma fonte de Direito nos
povos primitivos, os que julgam sejam eles chefe ou anciãos, tendências voluntárias ou
involuntárias, para aplicar aos litígios, soluções dadas precedentemente a conflitos do mesmo
tipo.
4.1. História Pré-Colonial
Os primeiros habitantes de Moçambique foram provavelmente os Khoisan, que
eram caçadores-recolectores. Há cerca de 10.000 anos a costa de Moçambique já tinha o perfil
aproximado do que apresenta hoje em dia: uma costa baixa, cortada por planícies de aluvião e
parcialmente separada do Oceano Índico por um cordão de dunas. Esta configuração confere à
região uma grande fertilidade, ostentando ainda hoje grandes extensões de savana onde pululam
muitos animais indígenas. Havia portanto condições para a fixação de povos caçadores-
recolectores e até de agricultores.
Nos séculos I a IV, a região começou a ser invadida pelos Bantu (ver expansão
Bantu), que eram agricultores e já conheciam a metalurgia do ferro. A base da economia dos
Bantu era a agricultura, principalmente de cereais locais, como a mapira (sorgo) e a mexoeira; a
olaria, tecelagem e metalurgia encontravam-se também desenvolvidas, mas naquela época a
manufactura destinava-se a suprir as necessidades familiares e o comércio era efectuado por troca
directa. Por essa razão, a estrutura social era bastante simples - baseada na "família alargada" (ou
linhagem) à qual era reconhecido um chefe. Os nomes destas linhagens nas línguas locais são,
entre outros: em eMakua, o Nlocko, em ciYao, Liwele, em ciChewa, Pfuko e em chiTsonga,
Ndangu.
Apesar da sociedade moçambicana se ter tornado muito mais complexa, muitas
das regras tradicionais de organização ainda se encontram baseadas na "linhagem".
Entre os séculos IX e XIII começaram a fixar-se na costa oriental de África populações oriundas
da região do Golfo Pérsico, que era naquele tempo um importante centro comercial. Estes povos
9
fundaram entrepostos na costa africana e muitos geógrafos daquela época referiram-se a um
activo comércio com as "terras de Sofala", incluindo a troca de tecidos da Índia por ferro, ouro e
outros metais.
De facto, o ferro era tão importante que se pensa que as "aspas" de ferro - em
forma de X, com cerca de 30 cm de comprimento, que formam abundantes achados
arqueológicos nesta região - eram utilizadas como moeda. Mais tarde, aparentemente esta
"moeda" foi substituída por outra: tubos de penas de aves cheias de ouro em pó - os meticais cujo
nome deu origem à actual moeda de Moçambique.

10
Conclusão
O direito anterior a colonização, esta ligado quanto as características ao direito do
povos sem escrita, isto por que antes da chegada dos Portugueses encontravam-se no actual
território Moçambicano, pequenas unidades politicas (Reinos e impérios), cuja actividade jurídica
não fora registada pelo carácter oral deste direito, era basicamente um direito consuetudinário,
onde a tradição oral desempenhava um papel muito importante, o direito estava intimamente
ligado a religiosidade. Nas sociedades Primitivas, o direito está ainda impregnado de religião. A
distinção entre regra jurídica e regra religiosa é muito difícil, porque o homem vive no temor
constantes ao pode sobrenatural. Estes tipos de sociedade são caracterizados pelo que se chama
na sua indiferenciação, ou seja as diversas funções sociais que nós distinguimos nas sociedades
evoluídas – religião, moral e direito, estão ai confundidas. Moçambique é um país da África
Austral, situado na costa do Oceano Índico, com cerca de 20 milhões de habitantes (2004). Foi
uma colónia portuguesa, que se tornou independente em 25 de Junho de 1975. A história de
Moçambique encontra-se documentada pelo menos a partir do século X, quando um estudioso
viajante árabe, Al Masudi descreveu uma importante actividade comercial entre as nações da
região do Golfo Pérsico e os "Zanj" (os negros) da "Bilad as Sofala", que incluía grande parte da
costa norte e centro do actual Moçambique. No entanto, vários achados arqueológicos permitem
caracterizar a "pré-história" de Moçambique (antes da escrita) por muitos séculos antes.
Provavelmente o evento mais importante dessa pré-história ter sido a fixação nesta região dos
povos Bantu que, não só eram agricultores, mas introduziram aqui a metalurgia do ferro, entre os
séculos I a IV.

11
Bibliogafia
ALTA VILA, J. (1992) - Origem dos Direitos dos Povos. São Paulo: Ícone.
BARATA, José Fernando Nunes. (1975) - África e o Direito, Pará. Universidade do Pará.
FUSTEL DE COULANGES, Numa Denis. (1999) - A cidade antiga. Tradução de Edison Beni.
2a. ed. Bauru e São Paulo: Edipro.
GILISSEN, John. (1988) - Introdução histórica ao Direito, Calouste, Lisboa: Gulbenkian.
ISCED – Manual de Apoio de História de Direito, 1ª ano.
LEVEQUE, Pierre. (2009) - As Primeiras Civilizações. Da Idade da pedra aos povos semitas. 2.
ed. Lisboa: Edições.
WOLKMER, António Carlos (2002) – Fundamentos de história do Direito, 2ª Ed., Del Rey,
Belo Horizonte.
Wikipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Direito). Consulta em 01-03-2024.

12

Você também pode gostar