Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Quelimane
2024
Aida Eduardo
Albertina Amela
Arménio Pinto
Shirley Fortunato
Quelimane
2024
Introdução
Exploraremos as formas como o direito penal foi usado como uma ferramenta de
controlo social e de manutenção do poder colonial, examinando também os sistemas de
justiça tradicionais e os conflitos entre as normas coloniais e os costumes locais.
Para Silva (2019), o Direito Penal pode ser entendido como conjunto de normas que
regulam o comportamento humano.
Segundo Noronha (1978), Direito Penal “é o conjunto de normas jurídicas que regulam
o poder punitivo do Estado, tendo em vista os fatos de natureza criminal e as medidas
aplicáveis a quem os pratica” (p. 12).
Na visão de Asúa, citado por Mirabete (2004) conceitua o Direito Penal como:
Dentre as bases estava a que estabelecia a divisão “tripartite” dos poderes, o que
realmente restou consagrado no Art. 30º da Constituição Monárquica: Executivo-
Rei; Legislativo- Cortes, e o Judiciário – Juízes; também restou garantida a
independência deles. Esta separação dos poderes idealizada há séculos atrás por
Montesquieu, não implicava em uma separação rígida, e sim numa divisão de
funções. As funções executivas e legislativas podiam ser exercidas tanto pelos
poderes Legislativo quanto Executivo, que, entretanto, não poderiam exercer a
função judicial.
O artigo 20º da mesma constituição, declarava que a Nação portuguesa era a união de
todos os portugueses em todos os hemisférios e compreendia as colónias africanas,
considerando todos os portugueses como cidadãos, inclusive os escravos que tivessem
sido alforriados, portanto, todos tinham direitos e deveres iguais, o que incluía o acesso
à justiça.
Com isso ficou claro que a separação dos poderes não teria, por si só, a capacidade de
fazer com que a justiça fosse igualmente distribuída a todos com a igualdade
determinada, também, pela própria Constituição, que inspirada da Declaração dos
Direitos dos Homens estabeleceu a igualdade de todos os cidadãos diante da lei.
Mas, mesmo com a edição do regimento da Justiça em 1894, as críticas não paravam de
acontecer, porquanto apesar da lei instituir o procedimento sumário e dar competência a
autoridades que não participavam do judiciário para julgar os indígenas, aplicava-se,
entretanto, as leis da metrópole. Um dos críticos mais ferrenhos à assimilação era
Mousinho de Albuquerque, que foi Comissário Régio em Moçambique no ano de 1896
e tinha as atribuições do Governador de Província, aos quais era vedado, porque não se
considerava, de acordo com a lei, urgente, Art. 15º Item 9º322 “alterar a organização do
poder judicial ou as leis do processo”.
[...] Por enquanto, é preciso, nas nossas possessões, a existência de, pelo menos,
dois estatutos civis e políticos: um europeu e o outro indígena. [...] Não tratarei
aqui de definir o que deve ser esse estatuto indígena, que ha de variar de colónia
para colónia e, em cada uma, de região para região, mas, estudando a
organização das auctoridaes encarregadas de o applicar, incidentemente irei
pondo em relevo os princípios em que esse estatuto se baseia. Em relatório por
mim apresentado ao Governador Geral de Moçambique, em 8 de Março de
1898, disse eu, referindo-me ao assumpto, o seguinte: “A divisão e a
independencia dos poderes do Estado, que fazem o ideal de tanta civilização
moderna, são absolutamente contrarias ao espirito das sociedades primitivas e
até de muito organismo social mais adeantado. Sobretudo para o barbaro ou
para o selvagem é absolutamente incomprehensível que o homem que o
administra o não possa julgar, que o encarregado de policiar o territorio não
seja, ao mesmo tempo, o que recebe os seus impostos e as suas queixas. A
auctoridade para os negros deve, pois, ser ao mesmo tempo administrativa
judicial e militar “Isto é, o característico principal do Governo das tribos
selvagens ou barbaras é o de ser Unitário.
Em 1899, ainda sob a influência de Ennes, que o elaborou juntamente com uma
comissão, é promulgado o Regulamento do Trabalho Indígena, cuja finalidade, de
acordo com o relatório de introdução era:
Evasão de indígena
Ao longo deste trabalho, examinamos como o direito penal colonial interagiu com
os sistemas de justiça tradicionais e os costumes locais, muitas vezes gerando
conflitos e tensões. Também consideramos o legado desse período no sistema
legal contemporâneo de Moçambique, que continua a enfrentar desafios em
termos de acesso à justiça, igualdade perante a lei e proteção dos direitos
humanos.
É crucial reconhecer que a herança do direito penal colonial não pode ser desfeita
sem uma análise crítica das estruturas de poder e das injustiças históricas que
persistem na sociedade moçambicana. Avançar em direção a um sistema legal
mais justo e equitativo requer o reconhecimento das injustiças do passado e o
compromisso com a promoção da justiça social e dos direitos humanos para todos
os cidadãos.
Referências bibliográficas
Almada, José de, (1943). Tratados Aplicáveis ao Ultramar, Vol. IV. Agência
Geral das Colônias Lisboa.
Azevedo, Alves de. (1932). “Cecil Rhodes e o Mapa Cor de Rosa”, Cadernos
Coloniais no.38, Lisboa, Editorial Cosmos.