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UNIVERSIDADE LICUNGO

DEPARTAMENTO DE LETRAS E HUMANIDADE


LICENCIATURA EM DIREITO

Direito Penal Na Era Colonial

Quelimane
2024
Aida Eduardo
Albertina Amela
Arménio Pinto
Shirley Fortunato

Direito Penal Na Era Colonial

Trabalho a ser apresentado no


departamento de letras e humanidades
na cadeira de Direito Penal,
recomendado pela:
Docente: Alberto J. Marqueza

Quelimane
2024
Introdução

O estudo do Direito Penal na Era Colonial em Moçambique é essencial para


compreendermos as raízes históricas e as influências duradouras que moldaram o
sistema legal do país. Durante séculos, Moçambique foi submetido ao domínio colonial
europeu, principalmente por Portugal, cujas políticas e práticas deixaram um impacto
profundo na estrutura jurídica e na administração da justiça. Neste trabalho de pesquisa,
investigaremos as dinâmicas complexas que caracterizaram o direito penal durante esse
período, desde a introdução das leis coloniais até as adaptações e resistências que
surgiram entre as populações locais.

Exploraremos as formas como o direito penal foi usado como uma ferramenta de
controlo social e de manutenção do poder colonial, examinando também os sistemas de
justiça tradicionais e os conflitos entre as normas coloniais e os costumes locais.

Além disso, analisaremos o legado do direito penal colonial em Moçambique,


considerando suas implicações no sistema legal contemporâneo do país e nas questões
de justiça social, igualdade e direitos humanos. Ao fazer isso, buscamos fornecer uma
análise abrangente e contextualizada do papel do direito penal na era colonial
moçambicana e suas repercussões na sociedade actual.
Conceito do Direito Penal

Segundo Mendes (2004), Direito é o sistema de princípios de conduta social assistido de


protecção criativa.

Direito pode se referir à ciência do direito ou ao conjunto de normas jurídicas vigentes


em um país (direito objectivo). Também pode ter o sentido de íntegro, honrado. É
aquilo que é justo, recto e conforme a lei. É ainda uma regalia, um privilégio, uma
prerrogativa.

Para Silva (2019), o Direito Penal pode ser entendido como conjunto de normas que
regulam o comportamento humano.

Segundo Noronha (1978), Direito Penal “é o conjunto de normas jurídicas que regulam
o poder punitivo do Estado, tendo em vista os fatos de natureza criminal e as medidas
aplicáveis a quem os pratica” (p. 12).

Na visão de Asúa, citado por Mirabete (2004) conceitua o Direito Penal como:

Direito Penal é o conjunto de normas e disposições jurídicas


que regulam o exercício do poder sancionador e preventivo do
Estado, estabelecendo o conceito de crime como pressuposto
da acção estatal, assim como a responsabilidade do sujeito
activo, e associado á infracção da norma uma pena finalista ou
uma medida de segurança (p. 23).

Contextualização do Direito Penal na era Colonial em Moçambique

Durante a era colonial em Moçambique, o domínio colonial português criou novas


identidades para os africanos. Entre estas, a categoria “indígena” definia determinados
africanos como primitivos com a versão ao trabalho. Através desse discurso, os agentes
coloniais buscaram justificar a exploração da mão-de-obra dos “indígenas”. Um dos
instrumentos de seu domínio foi a aplicação de penas de trabalho como forma de
disciplinar os povos colonizados.

Até 1890, vigoraram em Moçambique os princípios da “assimilação”, o que se


revelava pela ausência de uma distinção entre penas para “indígenas” e penas para
“não indígenas”. No final do século XIX, houve uma “ressignificação” das práticas
escravistas frente aos novos interesses capitalistas dos portugueses.

A Constituição de 1822 - Princípios e Separação dos Poderes

Após a Revolução Liberal de 1820 as Cortes Portuguesas foram convocadas para


adopção de uma Constituição, que observasse os princípios liberais originários da
Revolução Francesa, no que se refere à igualdade de todos perante a lei.

As Cortes se reuniram entre Janeiro de 1821 e Novembro do mesmo ano, período em


que as discussões sobre os princípios a serem adoptados na Constituição foram
realizadas a partir das bases que foram fixadas pelas próprias Cortes.

Dentre as bases estava a que estabelecia a divisão “tripartite” dos poderes, o que
realmente restou consagrado no Art. 30º da Constituição Monárquica: Executivo-
Rei; Legislativo- Cortes, e o Judiciário – Juízes; também restou garantida a
independência deles. Esta separação dos poderes idealizada há séculos atrás por
Montesquieu, não implicava em uma separação rígida, e sim numa divisão de
funções. As funções executivas e legislativas podiam ser exercidas tanto pelos
poderes Legislativo quanto Executivo, que, entretanto, não poderiam exercer a
função judicial.

O artigo 20º da mesma constituição, declarava que a Nação portuguesa era a união de
todos os portugueses em todos os hemisférios e compreendia as colónias africanas,
considerando todos os portugueses como cidadãos, inclusive os escravos que tivessem
sido alforriados, portanto, todos tinham direitos e deveres iguais, o que incluía o acesso
à justiça.

Com isso ficou claro que a separação dos poderes não teria, por si só, a capacidade de
fazer com que a justiça fosse igualmente distribuída a todos com a igualdade
determinada, também, pela própria Constituição, que inspirada da Declaração dos
Direitos dos Homens estabeleceu a igualdade de todos os cidadãos diante da lei.

Acontece que apesar de restar estabelecido na Constituição a divisão “tripartite”, e


constar que tudo o que ali se continha se aplicaria no território português, que
abrangia as colónias africanas e asiáticas, que agora teriam uma maior atenção da
Metrópole, conforme se comprova no relatório acima citado da autoria de Fernandes
Thomaz em que, quando a elas se reporta, diz: “[...] à vossa sabedoria não há-de
escapar que, nas críticas circunstâncias em que nos achamos é necessário dar uma
particular atenção aos nossos estabelecimentos de África e das ilhas adjacentes a
Portugal [...]” preocupação fosse económica, para que estas possessões, que nunca
tiveram a mesma atenção que o Brasil, pudessem potencialmente ocupar o lugar da
ex-colónia americana, a administração teria de passar por uma reforma, inclusive
observando o que estava estabelecido na Constituição a recém promulgada.

Medidas teriam de ser tomadas em relação à organização do próprio Judiciário; leis


deveriam ser revogadas a fim de que, realmente, um poder judiciário legitimado pela
Constituição e pelo ideário liberal se estabelecesse, inclusive com o respeito aos
direitos individuais dos cidadãos, que incluía o acesso a justiça.

Inspirada na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, a


Constituição estabelecia o princípio da liberdade e da igualdade de todos perante a
lei. O primeiro consistia em fazer tudo o que a lei não proibia; o segundo (Art. 9º)
determinava o tratamento igual de todos os cidadãos diante da lei, abolia os
privilégios de foro (foro eclesiástico e o foro militar em causas cíveis) nas causas
cíveis e criminais; o terceiro, o da legalidade, consistia em que a lei é que
fundamentava todas as ações dos três poderes, nada poderia ser feito se não estivesse
ao abrigo da lei, Arts. 2º, 3º. Em termos penais, e no qual o princípio da legalidade
em a sua aplicação mais visível, estabelece-se o princípio da “nulla crime sine lege”e
em conseqüência, “nulla poena sine lege”. Ou seja; não há crime sem lei que o defina
e não há pena que não esteja determinada na lei.

Constando na Constituição estes três princípios e, tendo sido estabelecido no Art.20º


que a Nação Portuguesa era a união de todos os portugueses de ambos os
hemisférios, temos que a lei portuguesa tinha aplicação em todo o território
português, o que significava que as colónias eram também regidas pelas leis gerais e
todos os princípios estabelecidos na Constituição teriam de ser observados, também,
nas possessões, o que implicaria, em hipótese, na igualdade entre os africanos e
portugueses.
Defesa de Justiça Especial para os Indígenas em Moçambique

Mas, mesmo com a edição do regimento da Justiça em 1894, as críticas não paravam de
acontecer, porquanto apesar da lei instituir o procedimento sumário e dar competência a
autoridades que não participavam do judiciário para julgar os indígenas, aplicava-se,
entretanto, as leis da metrópole. Um dos críticos mais ferrenhos à assimilação era
Mousinho de Albuquerque, que foi Comissário Régio em Moçambique no ano de 1896
e tinha as atribuições do Governador de Província, aos quais era vedado, porque não se
considerava, de acordo com a lei, urgente, Art. 15º Item 9º322 “alterar a organização do
poder judicial ou as leis do processo”.

Mousinho era contrário à assimilação, mui principalmente no que se refere à aplicação


da justiça aos indígenas, como se pode ver na seguinte passagem do seu relatório: Para
os negros, como para todos os povos primitivos, a autoridade é só uma derivada da
mesma fonte – a força. Quem pode, pode em todos os ramos, quem manda, manda em
todas as ocasiões. E assim não compreende que o imposto seja pago e o trabalho
prestado a individuo diferente daquele que o domina pela força, que lhe resolve os
milandos, que lhe distribui a justiça, que o protege contra os roubos e os ataques das
tribos inimigas. Contra esta mania centralizadora e contra esse espírito de simetria
constitucional que não distingue entre as mais diversas raças e os mais distanciados
estados de civilização vão esbarrar todos os esforços e quebrar-se todas as energias.

Por isso mesmo autoriza a edição da portaria de 12 de abril de 1898, invadindo a


competência do Ministério das Colônias (Governo da Metrópole), aprovando o
Regimento da Justiça para os territórios continentais do distrito de Moçambique. A
portaria aprovada por Mousinho foi publicada no “Boletim Official de Moçambique”
em 16 de abril de 1898.

Em 30 de maio de 1899 é publicada a sua não aprovação pelo Governo da Metrópole,


pelos motivos já anteriormente apontados, o que significa que continuava em vigor o
Regimento da Justiça de 1894. Outra portaria provincial, aprovada por Mousinho de
Albuquerque em relação à administração do distrito de Moçambique, também vai ser
objeto de revogação em 06 de outubro de 1900.

As portarias acima mencionadas, apesar de publicadas pelo governador interino


Balthazar Freire Cabral e aprovadas por Mousinho de Albuquerque, foram idealizadas
por Eduardo da Costa, que na sua explanação no Congresso patrocinado pela Sociedade
de Geografia, dizia:

[...] Por enquanto, é preciso, nas nossas possessões, a existência de, pelo menos,
dois estatutos civis e políticos: um europeu e o outro indígena. [...] Não tratarei
aqui de definir o que deve ser esse estatuto indígena, que ha de variar de colónia
para colónia e, em cada uma, de região para região, mas, estudando a
organização das auctoridaes encarregadas de o applicar, incidentemente irei
pondo em relevo os princípios em que esse estatuto se baseia. Em relatório por
mim apresentado ao Governador Geral de Moçambique, em 8 de Março de
1898, disse eu, referindo-me ao assumpto, o seguinte: “A divisão e a
independencia dos poderes do Estado, que fazem o ideal de tanta civilização
moderna, são absolutamente contrarias ao espirito das sociedades primitivas e
até de muito organismo social mais adeantado. Sobretudo para o barbaro ou
para o selvagem é absolutamente incomprehensível que o homem que o
administra o não possa julgar, que o encarregado de policiar o territorio não
seja, ao mesmo tempo, o que recebe os seus impostos e as suas queixas. A
auctoridade para os negros deve, pois, ser ao mesmo tempo administrativa
judicial e militar “Isto é, o característico principal do Governo das tribos
selvagens ou barbaras é o de ser Unitário.

Eduardo Costa continua, na sua fala no Congresso Colonial Nacional, a demonstrar as


vantagens da unicidade da autoridade, inclusive mostrando que desde tempos remotos,
esta unicidade era normal e adotada, dando exemplo de Roma, em que o “proconsul
romano era, simultaneamente, um magistrado judiciário, um administrador civil, um
chefe militar.”

Segue citando várias nações em diferentes momentos, em que os administradores civis


também eram os magistrados judiciais. Vê-se, pois, que a linha de pensamento de
Eduardo Costa, Mousinho de Albuquerque, Antonio Ennes, era totalmente contrária à
esboçada por Mouzinho da Silveira em 1878, que insistia em que os três poderes
deveriam ser exercidos por autoridades diferentes.

Regulamento do Trabalho Indígena- Punição das Infrações

Em 1899, ainda sob a influência de Ennes, que o elaborou juntamente com uma
comissão, é promulgado o Regulamento do Trabalho Indígena, cuja finalidade, de
acordo com o relatório de introdução era:

[...] regular devidamente, no interesse da civilisação e do progresso, as


condições de trabalho do indígena, de modo a assegurar-lhes, com efficaz
proteção e tutela, um proporcional e gradual desenvolvimento moral e
intellectual, que os torne cooperadores úteis de uma exploração mais ampla e
intensa da terra, de que essencialmente depende o augmento da nossa riqueza
colonial.

A regularização do trabalho indígena criou a obrigação moral e legal do trabalho, e


todo aquele que não estivesse, isento pela lei, Art. 3º do regulamento, podia ser
obrigado a cumprir esta obrigação, também pelos meios nela estabelecidos.

O cumprimento podia ser voluntário ou compelido; voluntário quando o indígena


contratava os seus serviços voluntariamente, com ou sem a interferência da
autoridade competente, no caso e pela lei, o Curador de serviçais e colonos e seus
delegados. Quando os contratos eram feitos com a interferência desta autoridade,
ela era a competente para julgar e punir as infrações cometidas, seja por serviçais,
seja pelos patrões, Art. 20º. Quando esta não participava da contratação, as partes
deveriam procurar defender os seus interesses junto às autoridades competentes
para conhecer dos conflitos gerais de direito civil.

A lei fixava o período máximo da contratação – 5 anos – e cláusulas que deveriam


constar nos contratos por ela regulados, fixando as obrigações de patrões e
serviçais, bem como o que era considerado infração.

A obrigação do trabalho também podia ser realizada na forma estabelecida nos


Arts. 5º à 11º através do que o Estado denominou de colonatos, sendo os indígenas
considerados como colonos do Estado.

No Art. 20º, o regulamento fixa a competência do Curador e seus delegados para o


julgamento das causas, esclarecendo que esta competência será exercida através de
processo sumario, “cujos termos serão regulados”.

As penas estabelecidas nos Regulamentos deveriam ser aplicadas pelos Curadores


dos serviçais e colonos e seus delegados, mas o regulamento traz os casos em que,
não só estes, mas como outras autoridades têm de intervir; por exemplo, os
curadores e seus delegados julgavam, sumariamente, quaisquer faltas que
contrariassem os dispositivos do regulamento, ou seja: faltas que poderiam ser
consideradas trabalhistas, art. 20º. Deste julgamento, poderia haver recurso para o
Governador em Conselho. Se as faltas cometidas não estivessem inseridas no
Regulamento, art. 20º, tanto as cometidas por empregados, quanto pelos patrões,
as questões seriam encaminhadas para o Juiz ordinário.

Também era da competência do Curador e de seus delegados o julgamento dos


casos do art. 33º: desobediência à intimação e resistência à ação compulsória, além
da evasão do indígena, oportunidade em que poderiam aplicar a pena correcional
de até 300 dias, art.53º, admitindo-se, também, a possibilidade de recurso para o
governador em conselho.

Este regulamento criou o trabalho compelido, que consistia em obrigar o indígena


que se recusasse, voluntariamente, a cumprir a obrigação moral e legal do
trabalho, a fazê-lo. Se houvesse resistência no cumprimento da obrigação, ou se o
indígena compelido se evadisse, seria condenado a trabalho correcional.

Esta condenação em trabalho correcional derivava do fato de que, o regulamento


considerava a evasão, a recusa ao trabalho, o abandono do trabalho como
“vadiagem” aplicando-se as penas estabelecidas na lei, ou seja; o trabalho
correcional. A pena de trabalho correcional não pode ser confundida com a de
trabalhos públicos, que somente pode ser aplicada por Juízes de direito e através
de sentença penal, embora, como veremos no decorrer deste trabalho, as infrações
cometidas por indígenas, seja no campo do direito civil, seja no do direito fiscal,
seja no do direito administrativo, todas eram transformadas em ilícitos penais, para
efeito da aplicação da pena de trabalho correcional.

Das infracções e das penas - indígenas

Evasão de indígena

Consiste na hipótese prevista no art. 20º do Regulamento: O indígena se evade


sem que esta evasão seja justificada por uma justa causa. A pena, que lhe é
sumariamente aplicada, é de 90 dias de trabalho correcional, que, no entanto, não é
computada no período em que prestar trabalho compelido ao mesmo patrão, o que
significa que, se ele tivesse contrato de 90 dias e se evadisse no segundo dia,
deveria trabalhar os 90 dias da pena, e mais 88 dias pelo trabalho compelido, com
um detalhe bem importante, é que a pena é contada por dia útil e não por período
corrido, Art. 45º.
Emigração clandestina

O regulamento nos Arts. 21º e 22º trata da emigração de indígenas, esclarecendo


que, esta emigração pode ser proibida a critério da autoridade, por conveniências
políticas ou económicas. Para controlar a saída dos indígenas, negando-lhes a
liberdade de ir e vir, bem como da própria liberdade de contratação, criou-se,
através da lei, a exigência de um passe, ou seja; o Estado passa a controlar a saída
dos indígenas do território. Se o indígena saísse da sua circunscrição sem o passe,
ou sem autorização, a sua conduta era considerada ilegal, o que o regulamento
tipifica como crime e, para tanto, lhe fixa uma pena.

É importante perceber que, sumariamente, o indígena que for surpreendido sem o


tal passaporte, em qualquer parte do território português, é preso e reconduzido ao
distrito da sua residência e condenado a trabalho correccional de até 1 ano.

Desobediência a intimação e resistência a acção compulsória

Nos Arts. 31º - 33º do Regulamento, consistia em o indígena desobedecer ao


“convite” para prestar trabalho ao Estado, isto porque não comprovou que o fez
voluntariamente por um dos meios estabelecidos na lei. Se o indígena intimado
não atendesse ao chamado, seria compelido a cumprir a obrigação, se
desobedecesse ou resistisse à acção, seria apresentado ao Curador para que este
lhe aplicasse a pena respectiva – de 15 dias até 300 dias de trabalho correcional,
com recurso para o governador em conselho.
Conclusão

O estudo do Direito Penal na Era Colonial em Moçambique nos permite entender


as raízes históricas profundas que influenciaram o sistema legal do país. Durante o
domínio colonial europeu, as leis penais foram usadas como instrumentos de
controle social e político, refletindo as relações desiguais entre colonizadores e
colonizados. A imposição das leis coloniais muitas vezes resultou em
discriminação e injustiça, especialmente contra as populações indígenas e
africanas.

Ao longo deste trabalho, examinamos como o direito penal colonial interagiu com
os sistemas de justiça tradicionais e os costumes locais, muitas vezes gerando
conflitos e tensões. Também consideramos o legado desse período no sistema
legal contemporâneo de Moçambique, que continua a enfrentar desafios em
termos de acesso à justiça, igualdade perante a lei e proteção dos direitos
humanos.

É crucial reconhecer que a herança do direito penal colonial não pode ser desfeita
sem uma análise crítica das estruturas de poder e das injustiças históricas que
persistem na sociedade moçambicana. Avançar em direção a um sistema legal
mais justo e equitativo requer o reconhecimento das injustiças do passado e o
compromisso com a promoção da justiça social e dos direitos humanos para todos
os cidadãos.

Portanto, ao refletirmos sobre o Direito Penal na Era Colonial em Moçambique, é


imperativo não apenas entender o passado, mas também buscar maneiras de
enfrentar os desafios presentes e construir um futuro mais justo e inclusivo para as
gerações futuras. Este trabalho é um passo na direção dessa compreensão e
compromisso.

Referências bibliográficas

Noronha, E. Magalhães, (1991). Direito Penal. São Paulo: Saraiva.

Martinez, Esmeralda Simões. (2012). Uma Justiça Especial para os indígenas


aplicação da Justiça em Moçambique (1894-1930). Tese de doutoramento em
História de África. Universidade de Lisboa.

Alexandre, Valentim. “Configurações Políticas - Nação e Império” História da


Expansão Portuguesa, Vol.4, Do Brasil para a África (1808-1930), Francisco
Bethencourt e Kirti Chaudhuri (dir.) Navarra, Círculo dos Leitores, 1998.

Almada, José de, (1943). Tratados Aplicáveis ao Ultramar, Vol. IV. Agência
Geral das Colônias Lisboa.

Araujo, Sara. (2008). Acesso a Justiça e Pluralismo Jurídico em Moçambique.


Resolução de Litigios no bairro «Jorge Dimitrov». Comunicação apresentada no
VI Congresso Português de Sociologia, Lisboa.

Azevedo, Alves de. (1932). “Cecil Rhodes e o Mapa Cor de Rosa”, Cadernos
Coloniais no.38, Lisboa, Editorial Cosmos.

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