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UNIVERSIDADE ABERTA UNISCED

FACULDADE DE DIREITO
CURSO DE LICENCIATURA EM DIREITO
DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

MÉTODOS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS


INTERNACIONAIS

Discente: Simão Monteiro Ngole


Código:81220649
UNIVERSIDADE ABERTA UNISCED
FACULDADE DE DIREITO
CURSO DE LICENCIATURA EM DIREITO
DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

MÉTODOS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS


INTERNACIONAIS

Trabalho de carácter avaliativo da


cadeira de Direito Internacional Público.

Discente: Simão Monteiro Ngole


Código:81220649
Índic

e
Introdução...................................................................................................................................1

1. Histórico Introdutório do Tema...........................................................................................2

2. Métodos de resolução de Conflitos Internacionais..............................................................4

2.1. Meios políticos ou diplomáticos..................................................................................5

2.1.1. Negociação Directa...............................................................................................5

2.1.2. Bons Ofícios..........................................................................................................6

2.1.3. Mediação...............................................................................................................6

2.1.4. Conciliação...........................................................................................................8

2.1.5. Sistema de Consultas............................................................................................9

2.1.6. Inquérito................................................................................................................9

2.2. Meios jurisdicionais.....................................................................................................9

2.2.1. Arbitragem............................................................................................................9

2.2.2. Corte Internacional de Justiça.............................................................................10

Conclusão..................................................................................................................................13

Bibliografia...............................................................................................................................14
Introdução

O presente trabalho cujo tema é Métodos de Resolução de Conflitos


Internacionais enquadra-se no cumprimento parcial dos requisitos exigidos pela cadeira de
Direito Internacional Público.
Este estudo resulta da necessidade de compreender de modo geral o Direito
Internacional Público, principalmente os Métodos de Resolução de Conflitos Internacionais.
O interesse é suscitado pelo facto de ser um tema de teor imprescindível no estudo de Direito
Internacional Público.

A importância deste estudo não se resume apenas ao conhecimento que nos traz
sobre o tema, mas também poderá influenciar o debate entre os grupos académicos.

O trabalho tem como objectivo abordar sobre Métodos de Resolução de Conflitos


Internacionais.

O trabalho está dividido em três partes: a primeira parte composta por elementos
pré-textuais, desde a capa até a introdução; a segunda parte composta pelo desenvolvimento,
isto é, a bordarem concernente ao tema proposto e por último a parte dos elementos pós-
textuais, composta pela conclusão e as referências bibliográficas.

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1. Histórico Introdutório do Tema
A busca pela resolução de conflitos através de meios que não envolvam o uso da
força remonta à antiguidade. As cidades gregas e o Império Romano, por exemplo, contavam
com mecanismos próprios de negociação, arbitragem e mesmo mediação, como veremos mais
adiante. Apesar da relevância do estudo das formas como estes métodos se foram
desenvolvendo ao longo do tempo, optamos neste trabalho delimitar o nosso marco temporal
iniciando no século XIX até a actualidade. Reforçamos que, devido à natureza deste trabalho,
não é possível fazermos uma pesquisa extensiva de cada Conferência e Tratado durante mais
de dois séculos, por isso buscaremos aqueles de maior relevância prática para serem
abordados detalhadamente, sem deixar de nos referirmos aos demais.
A discussão sobre as formas de resolução pacífica de conflitos do ordenamento
jurídico internacional é objecto de estudo de inúmeras fontes do Direito Internacional, desde o
século XIX, “com diferente valor jurídico, norteadas pelo objectivo da manutenção da paz e
de evitar, então tanto quanto possível, o recurso à força nas relações interestaduais”
(MESQUITA, 2010, p. 41).
Como demonstração destes esforços, decorreu em Londres, no ano de 1834, o
Primeiro Congresso Internacional para a Paz, no qual se discutiu um possível abandono ao
recurso da guerra como meio político e apresentou-se como alternativa para a solução dos
conflitos internacionais o recurso à arbitragem. Em sequência, decorreu em Paris o II
Congresso de Paz, com foco na problemática do desarmamento, que “enfatizou a necessidade
de se criar um tribunal de arbitragem internacional (CARIDADE DE FREITAS, 2012, p.
526).
Segundo CARIDADE DE FREITAS, (2012) é perfeitamente possível, através dos
inúmeros casos registados, assegurarmos que foi no século XIX que ocorreu o
desenvolvimento do sistema de arbitragem como uma ferramenta na busca pela resolução de
diferendos pela via pacífica. Ao longo do século, muitos países recorreram a este instituto de
forma a se evitar conflitos armados. Portanto, nas Conferências de Haia de 1899 e 1907, a
arbitragem foi definida como a solução de litígios entre os Estados por juízes da sua escolha e
tendo como base o respeito ao direito.
Ainda no início do século XX, em 1914, os tratados de arbitragem de carácter
obrigatório eram, fundamentalmente, tratados bilaterais: podemos citar 139 convenções, que
ligaram 47 Estados41. Neste momento, cabe abordarmos o Protocolo de Genebra de 1924,
que se relacionava directamente ao Pacto da Sociedade das Nações, e foi um claro insucesso,

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especialmente por querer tornar obrigatório o modo de solução a ser utilizado em cada tipo de
conflito, ao invés de deixar à livre escolha dos Estados (CARIDADE DE FREITAS, 2012, p.
528).
O período entre a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais “é marcado pela
procura da conclusão de tratados bilaterais, onde a arbitragem é muitas vezes adicionada à
conciliação e por tentativas de compromissos multilaterais”. É nesse mesmo período,
inclusive, que a Assembleia Geral da Sociedades das Nações adopta o Acto Geral sobre
Resolução Pacífica de Conflitos Internacionais, assinado a 26 de Setembro de 1928, em
Genebra, que entrou em vigor num curto espaço de tempo, abrangendo 23 Estados (DINH,
DAILLIER & PELLET, p. 768).
Todos os esforços que foram abordados até o momento, no que concerne à
tentativa de resolução de conflitos por vias pacíficas, têm em comum essa característica do
não uso da força. Desde de os Primeiros Congressos para a Paz, passando pelas Conferências
de Haia, ao Ato Geral de Arbitragem46 – revisto em 1949 – e os esforços empreendidos pelas
Nações Unidas e diversas Organizações Regionais, temos até hoje inúmeros esforços no
sentido de promover a resolução de diferendos internacionais por vias do diálogo diplomático,
negociações bilaterais, esforços de mediação e tribunais arbitrais. Para citarmos alguns
exemplos, “os progressos parecem mais sensíveis no seio de certas regiões, em particular na
América Latina e na Europa: Pacto de Bogotá de 30 de Abril de 1948, revisto pelo protocolo
de Buenos Aires de 1967; Convenção de Estrasburgo de 29 de Abril de 1957 no quadro do
Conselho da Europa; Protocolo de 21 de Julho de 1964 relativo à Comissão de Mediação, de
Conflitos e de Arbitragem no quadro da O.U.A; Pacto da Liga Árabe de 22 de Março de 1945;
C.S.C.E. – Acta Final de Helsinque de 1975, complementada pela Carta de Paris para uma
Nova Europa de 1990, e os princípios de La Valeta de 1991” (DINH, DAILLIER & PELLET,
p. 769).
No cenário contemporâneo, as pesquisas relacionadas aos meios de solução
pacífica de conflitos foram largamente financiadas em entidades e estados situados no
Hemisfério Norte e podem ser destacados dois principais eixos, sendo estes Os Estudos para
Paz e o campo da Resolução de Conflitos.
Os Estudos para Paz foi fundado por Johan Gultang em 1959 na Noruega, sendo
baseado no Internacional Peace Research Institute of Oslo (PRIO). Já o campo da Resolução
de Conflitos foi concebido nos EUA a partir da criação do periódico Journal of Conflict
Resolution, este sendo um periódico interdisciplinar que foca na análise das causas das

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guerras e das condições para a sua prevenção e resolução (HERZ & DRUMOND, 2016,
p.19).48

2. Métodos de resolução de Conflitos Internacionais


Os métodos de resolução dos conflitos internacionais são mecanismos concebidos
com o objectivo de compor os litígios internacionais. Podem ser pacíficos ou coercitivos (não
pacíficos). Entretanto, tendo em vista que o principal objectivo do Direito Internacional é
alcançar e preservar a paz mundial, é evidente que os meios não pacíficos, principalmente a
acção militar, só deverão ser utilizados quando não restar mais nenhuma outra alternativa
pacífica de solucionar o impasse. Sendo assim, em matéria de resolução de conflitos
internacionais, a primeira coisa a se ter em mente é que tem incidência o princípio da solução
pacífica dos conflitos.
Trata-se de um Princípio Geral do Direito Internacional que determina que, em
regra, os conflitos internacionais devem ser solucionados com o emprego de meios pacíficos,
a fim de se evitar que os Estados envolvidos recorram a mecanismos ilegítimos para sanar
suas controvérsias.
Nesse sentido, a mais importante organização internacional do mundo defende a
proibição do uso da força e a solução pacífica dos conflitos internacionais, conforme se
verifica no art. 2, itens 3 e 4 da Carta das Nações Unidas.
De acordo com o artigo 2º. A Organização e seus Membros, para a realização dos
propósitos mencionados no Artigo 1, agirão de acordo com os seguintes Princípios:
3. Todos os Membros deverão resolver suas controvérsias internacionais por meios
pacíficos, de modo que não sejam ameaçadas a paz, a segurança e a justiça
internacionais.
4. Todos os Membros deverão evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o uso
da força contra a integridade territorial ou a dependência política de qualquer Estado,
ou qualquer outra acção incompatível com os Propósitos das Nações Unidas.
Existem diversos meios de se resolver os conflitos que ocorrem na seara
internacional. A própria Carta das Nações Unidas prescreve que as partes em uma
controvérsia, que possa vir a constituir uma ameaça à paz e à segurança internacionais,
procurarão, antes de tudo, chegar a uma solução por negociação, inquérito, mediação,
conciliação, arbitragem, solução judicial, recurso a entidades ou acordos regionais, ou a
qualquer outro meio pacífico à sua escolha (art. 33).

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De acordo com CAMPOS e TÁVORA, este rol de meios pacíficos de solução de
controvérsias não esgota a possibilidade de as partes no conflito recorrerem a outro meio
pacífico que não esteja elencado no art. 33 da Carta de São Francisco.
Os meios pacíficos se dividem em dois grupos, os meios políticos ou diplomáticos
e os meios jurisdicionais, e caracterizam-se pela necessidade de consentimento dos Sujeitos
de Direito Internacional envolvidos no conflito para que possam actuar e pela inexistência de
hierarquia entre eles, cabendo às partes envolvidas, com base nas peculiaridades do caso
concreto, escolher o instrumento pacificador que melhor se preste a sanar a controvérsia.

2.1. Meios políticos ou diplomáticos


De acordo com GONÇALVES PORTELA (2012, p. 587) entende-se por meios
políticos ou diplomáticos aqueles em que o poder decisório não é transferido a um terceiro,
concentrando-se, portanto, nas mãos dos Sujeitos de Direito Internacional directamente
envolvidos no conflito.
Em alguns casos um terceiro pode até auxiliar na resolução do conflito.
Entretanto, mesmo assim, este terceiro não poderá impor a medida que ele julgar ser a mais
adequada para solucionar o impasse, pois, como dito, a decisão final caberá aos Estados
envolvidos directamente no conflito.
Uma característica dos meios políticos ou diplomáticos é que a solução do
conflito não precisa, necessariamente, estar fundamentada no Direito, dependendo ela,
portanto, do que ficar acordado entre as partes. O mesmo não acontece com os meios
jurisdicionais, conforme veremos mais adiante.
São meios políticos ou diplomáticos a negociação directa, os bons ofícios, a
mediação, a conciliação, as consultas e o inquérito. Entretanto, a lista em apreço não é
exaustiva e, sendo assim, não exclui outros meios pacíficos de solução de conflitos.
Como não existe hierarquia entre estes mecanismos, as partes podem escolher
livremente aquele que melhor se preste à solução do problema, podendo indicá-los
previamente em um tratado internacional ou após o surgimento do conflito.

2.1.1. Negociação Directa


Segundo GONÇALVES PORTELA (2012, p. 590) a negociação directa consiste
no meio político ou diplomático de resolução de um conflito internacional sem que haja
qualquer intervenção por parte de terceiros. Ou seja, os Estados envolvidos resolverão o
conflito de forma diplomática e com exclusividade.

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Sem dúvida, a negociação directa é o meio mais utilizado para a solução de
conflitos internacionais. Isto acontece porque ela é adaptável a vários tipos de conflitos, logo,
consegue atender de forma satisfatória a um grande rol de controvérsias. Além disso, as partes
envolvidas têm maior controle da situação já que a decisão vai ser proferida por ambas as
partes em comum (GONÇALVES PORTELA, 2012, p. 587).
Contudo, ressalte-se, mais uma vez, que não existe hierarquia entre os meios
pacíficos de solução de conflitos, cabendo aos Estados evolvidos na pendência, com base nas
características do caso concreto, eleger o mecanismo que melhor se preste a resolver o
problema.
A negociação directa nada mais é do que um acordo realizado entre os Estados
que estão em litígio. Sem dúvida, é o meio mais discreto de se solucionar uma controvérsia
internacional, já que envolve apenas os Estados em conflito. Ao mesmo tempo, é o meio que
mais atende à noção de soberania dos Estados, pois os próprios Estados evolvidos no conflito
é que encontrarão uma solução para o caso concreto.

2.1.2. Bons Ofícios


Consistem no meio político ou diplomático de resolução de um conflito
internacional em que ocorre uma pequena participação de um terceiro.
De acordo com GONÇALVES PORTELA (2012), os bons ofícios caracterizam-se pela oferta
espontânea de um terceiro, normalmente chamado “moderador”, para colaborar na solução de
controvérsias.
O moderador pode oferecer-se para prestar os bons ofícios ou pode fazê-lo a pedido das partes
em conflito. Ele pode ser um Estado, uma Organização Internacional ou uma autoridade.
Entretanto, sua actuação se restringe a aproximar pacificamente os litigantes, não podendo
interferir de nenhuma forma nas tratativas, devendo guardar posição de neutralidade e
imparcialidade (GONÇALVES PORTELA, 2012).

2.1.3. Mediação
A mediação é um instrumento de pacificação dos conflitos internacionais em que
ocorre uma participação mais intensa de um terceiro que, além de reunir as partes em conflito,
participará das tratativas e apresentará sugestões para a resolução da controvérsia.
O termo “mediação como procedente do latim mediare denota o acto de intervir,
dividir ao meio e, claro, mediar” (SPENGLER, 2010, p. 317). Em um cenário de conflito,
onde há uma necessidade de que seja estabelecida – ou reestabelecida – a comunicação (que

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pode ter sido rompida ao longo do litígio), a mediação surge como uma forma diferente de
tratar o conflito e de responder às demandas por este apresentadas (SPENGLER, 2010, p.
317).
Muito se questiona sobre onde podemos buscar as origens desta prática. Registos
dão conta de que a mediação estaria presente já na Mesopotâmia, como forma de resolver
conflitos há mais de quatro mil anos (HERZ &DRUMOND, 2016, p. 21). Porém, “apenas
recentemente ela se tornou um método difundido na administração de conflitos armados e
crises internacionais”(HERZ &DRUMOND, 2016, p. 21).
Podemos, aqui, citar alguns casos de mediação ocorridos no século XIX, bem
como artigos que já começavam a surgir em Conferências Internacionais que mencionavam o
recurso à mediação. A Conferência de Paris de 1856, por exemplo, estabeleceu em seu artigo
8.º que “nos conflitos entre as potências signatárias e a Sublime Porta se deveria recorrer à
mediação antes da força, sendo esta imposta de forma obrigatória” (CARIDADE DE
FREITAS, 2012, p. 541). Por sua vez, a Conferência de Berlim, ocorrida em 1885, impôs em
seu artigo 12.º que “as potências signatárias (deveriam) recorrer à mediação nos conflitos
surgidos sobre as possessões detidas na bacia do Congo (CARIDADE DE FREITAS, 2012, p.
541)”. Já no final do século XIX, um número significativo de mediações ocorreu e citaremos
algumas. Um conflito entre Alemanha e Espanha, que recaía sobre a posse de uma das ilhas
do arquipélago das Carolinas, pertencente ao domínio espanhol e que teve a posse tomada
pelos alemães, teve uma mediação realizada pelo Papa Leão XIII (CARIDADE DE
FREITAS, 2012, p. 541). No ano de 1893 a Santa Sé mediou um conflito que teve lugar entre
Equador e Peru, no que dizia respeito à delimitação de fronteiras. Brasil e Inglaterra tiveram
um conflito mediado por Portugal, que dizia respeito à posse da Ilha de Trindade
(CARIDADE DE FREITAS, 2012, p. 541).
Em fins do século XIX e início do século XX, as Conferências de Haia
consagraram o seu título segundo aos Bons Ofícios e à Mediação, individualizando nos arts.2º
a 8º dois tipos de mediação: a requerida ou solicitada e a espontânea. A mediação requerida
ou solicitada encontra-se consagrada no art.2º e permite que as potências em conflito
solicitem a intervenção de uma terceira potência amiga. A mediação espontânea, consagrada
no art.3º, permite que potências estrangeiras ofereçam os seus bons ofícios ou mediação a
Estados em conflito, mas nem sempre foi bem aceita pelas partes em conflito (CARIDADE
DE FREITAS, 2012, p. 541).

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O início do século XX, marcado pela Primeira Guerra Mundial, conheceu ao final
deste terrível conflito, esforços realizados para a criação de um organismo que visava garantir
a paz e que os horrores da guerra não se repetissem e que aquela tivesse sido “a guerra para
acabar com todas as guerras58”. Em Junho de 1919 foi estabelecido o Tratado de Versalhes,
que criava a Sociedade das Nações. No Pacto que a instituiu, estava presente o princípio da
resolução pacífica de diferendos (CARIDADE DE FREITAS, 2012, p. 541).
Após a Segunda Guerra Mundial, um novo esforço no sentido da manutenção da
paz e da segurança internacionais resultou na criação de uma nova organização internacional,
as Nações Unidas, que em sua Carta prevê um Capítulo – o sexto – dedicado à resolução
pacífica de diferendos. A mediação é citada como uma das opções às quais os Estados devem
recorrer para dirimir seus litígios.
A resolução de conflitos internacionais ganhou um novo fôlego com a Carta das
Nações Unidas, que serviu como base para diversas outras resoluções, da própria organização,
que vieram a seguir, como também incentivou pesquisadores a levarem adiante o debate
académico e mesmo à criação de Centros dedicados à mediação e outros meios (MESQUITA,
2010, p. 465).
Assim como ocorre com os bons ofícios, a mediação pode estar acordada em
tratado internacional anterior ao conflito ou pode ser combinada entre os sujeitos ligantes em
um momento posterior a ele (MESQUITA, 2010, p. 465).
O mediador pode ser qualquer pessoa natural, um Estado ou uma Organização
internacional, e suas actividades terminam quando o conflito é pacificado ou quando suas
propostas são recusadas.

2.1.4. Conciliação
Trata-se de mecanismo de solução pacífica de conflitos pelo qual os sujeitos
envolvidos na controvérsia constituem uma comissão de conciliação que terá, no mínimo, três
membros e que é formada por representantes das partes em conflito e por pessoas neutras
(MESQUITA, 2010, p. 470).
A comissão de conciliação analisa o conflito, colhe informações e ao final emite
um relatório ou parecer, por meio do qual ela apresenta propostas para a solução da contenda,
que as partes litigantes poderão aceitar ou não, já que o parecer não tem força vinculante.

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2.1.5. Sistema de Consultas
As consultas servem de preparação para uma negociação posterior. Utilizando-se
desse mecanismo os Estados ou Organizações Internacionais “consultam-se mutuamente
sobre os pontos de controvérsia dos seus interesses, preparando terreno para uma futura
negociação, na qual estas mesmas partes colocarão à mesa os pontos que já vinham
considerando controversos entre elas (MESQUITA, 2010, p. 470).

2.1.6. Inquérito
Tendo em vista que possui natureza investigativa, o inquérito sempre será
utilizado como um meio preliminar aos outros meios de solução de controvérsias. É aplicável
quando houver situação pendente de esclarecimento e “pode ser conduzido por um único
investigador ou por uma comissão de investigadores, que normalmente são especialistas
técnicos em determinada matéria, não se lhes exigindo imparcialidade (MAZZUOLI, 2011, p.
1050).
Vale ressaltar que tanto as consultas, quanto os inquéritos, não são propriamente
meios de solução de controvérsias, pois, como vimos, são instrumentos preparatórios para
uma futura negociação.

2.2. Meios jurisdicionais


Os meios jurisdicionais são aqueles que solucionam o conflito de interesses por
meio de uma decisão irrecorrível, fundamentada no Direito e obrigatória para as partes
envolvidas na lide (MAZZUOLI, 2011, p. 1050).
A principal distinção entre os meios jurisdicionais e os meios políticos ou
diplomáticos é que nestes o poder decisório permanece nas mãos dos sujeitos em conflito,
enquanto naqueles o poder decisório é transferido a um terceiro.
Os meios jurisdicionais são a Arbitragem e a Corte Internacional de Justiça.

2.2.1. Arbitragem
É o meio jurisdicional de solução de conflitos pelo qual os litigantes se obrigam,
por meio de uma cláusula compromissória ou de um compromisso arbitral, a submeterem suas
controvérsias, presentes ou futuras, à decisão vinculante de um terceiro (árbitro)
(MAZZUOLI, 2011, p. 1070).
A submissão do conflito à arbitragem depende de uma Convenção de Arbitragem.
Trata-se de um negócio jurídico através do qual as partes concordam em submeter o litígio à
arbitragem.
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Existem duas espécies de convenção de arbitragem:
 Cláusula compromissória: é uma cláusula presente em um tratado internacional
bilateral ou multilateral realizado antes que ocorra o conflito.
 Compromisso arbitral: é uma convenção de arbitragem relativa a um conflito já
existente.
Assim, podemos dizer que a arbitragem é voluntária e consensual, eis que as
partes só a utilizam como mecanismo de solução de conflitos por livre e espontânea vontade
(MAZZUOLI, 2011, p. 1070).
A arbitragem funciona através de um órgão conhecido como Tribunal Arbitral,
normalmente, composto por 03 (três) árbitros imparciais, escolhidos pelos litigantes entre
pessoas com notório conhecimento da matéria objecto do litígio e cujos poderes são definidos
antecipadamente no tratado em que as partes escolheram a arbitragem como o meio de
solução de conflitos.
A decisão proferida pelos árbitros é chamada de laudo ou sentença arbitral, é
fundamentada no Direito, normalmente não é passível de recurso e obriga as partes por força
do pacta sunt servanda.
O descumprimento do laudo arbitral por parte de qualquer um dos sujeitos
envolvidos no conflito configura um ilícito internacional, sujeitando-os ao cumprimento de
sanções internacionais.
A arbitragem tem carácter ad hoc, ou seja, temporário, eis que as atribuições dos
árbitros cessam no momento em que proferem a sentença arbitral. Sendo assim, os árbitros
ficam impedidos de interferir no caso, ainda que seja para obrigar as partes ao cumprimento
da decisão (MAZZUOLI, 2011, p. 1075).
Vale ressaltar que a arbitragem vem sendo muito utilizada na solução de conflitos,
tanto no âmbito internacional como no âmbito interno. Isso vem ocorrendo porque o processo
arbitral tem mais celeridade e atenção aos aspectos técnicos do que o processo judicial. Além
disso, o processo arbitral tem tudo o que um processo judicial tem, entretanto, suas regras
serão delimitadas pelas partes envolvidas no conflito. Logo, os prazos podem ser alongados
ou reduzidos, as provas podem ser limitadas e os recursos podem ser admitidos ou não
(CAMPOS, 2012, p. 232).

2.2.2. Corte Internacional de Justiça


A Corte Internacional de Justiça é o principal órgão judiciário da ONU. Foi
estabelecida pelo art. 92 da Carta de São Francisco, em 26 de Junho de 1945 e fundada em
10
1946, após a Segunda Guerra Mundial, em substituição à Corte Permanente Internacional, que
havia sido criada pela Sociedade das Nações. Sua sede é o Palácio da Paz, que fica em Haia,
nos Países Baixos.
A Corte possui competência contenciosa para decidir os litígios entre Estados e
competência consultiva para emitir parecer mediante solicitação da Assembleia Geral e do
Conselho de Segurança da ONU.
De acordo com o art. 34 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça, somente os
Estados possuem legitimidade para serem partes nas questões levadas à CIJ.
Entretanto, a submissão da causa a um julgamento pela Corte requer a anuência
dos Estados envolvidos no litígio.
Ainda que o ente estatal seja membro da ONU, só pode ser obrigado a se submeter a processo
na CIJ se houver sua anuência nesse sentido.
O art. 36 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça estabelece como meio de se
vincular à competência da CIJ a aceitação da cláusula facultativa de jurisdição obrigatória.
Acto pelo qual um Estado garante a jurisdição da CIJ em todos os conflitos internacionais em
que esteja envolvido.
Conclui-se, portanto, que a jurisdição da Corte não é automática, eis que depende da vontade
dos litigantes.
A decisão da CIJ é obrigatória e seu descumprimento pode ensejar a aplicação de sanções
pelo Conselho de Segurança da ONU a fim de forçar o Estado a cumpri-la.
Nesse sentido, o art. 94 do ECIJ prescreve o seguinte:
 Cada membro das Nações Unidas se compromete a conformar-se com a Decisão da
Corte Internacional de Justiça em qualquer caso em que for parte.
 Se uma das partes num caso deixar de cumprir as obrigações que lhe incumbem em
virtude de sentença preferida pela Corte, a outra terá direito a recorrer ao Conselho de
Segurança que poderá, se julgar necessário, fazer recomendações ou decidir sobre
medidas a serem tomadas para o cumprimento da sentença.
Este dispositivo demonstra o carácter executório das decisões da CIJ. Porém, a
imposição do cumprimento da decisão fica sujeita aos interesses dos Estados que compõem o
Conselho de Segurança, principalmente os cinco membros permanentes, já que possuem
poder de veto.

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O único recurso cabível das decisões da Corte é o recurso de revisão, que na
realidade não é um recurso propriamente dito, pois não tem o escopo de modificar a decisão,
mas sim de esclarecer pontos obscuros da mesma.
Por tudo isso, resta inegável o prestígio e a importância da Corte Internacional de Justiça
como mecanismo de resolução de conflitos internacionais, cuja actuação vem crescendo cada
vez mais.

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Conclusão
Os Métodos de Resolução de Conflitos Internacionais são mecanismos
concebidos com o objectivo de compor as lides suscitadas pelos Estados no âmbito das
relações internacionais.
Inegavelmente, são ferramentas indispensáveis à manutenção da paz e da
segurança mundial. Servem, portanto, ao principal objectivo do Direito das Gentes.
Vale ressaltar, que não existe qualquer hierarquia entre os métodos de composição
da lide, cabendo ás partes envolvidas no conflito elegerem o mecanismo que possa resolver a
contenda da melhor maneira possível.
Não se pode olvidar, ainda, que o rol de métodos de solução de conflitos previstos
neste trabalho não é exaustivo, logo, não exclui outras formas de resolução, porventura
existentes, de sanar uma controvérsia.
Contudo, apesar da importância incontestável desses instrumentos, é forçoso
reconhecer que nem sempre eles se revelam hábeis à composição das controvérsias
internacionais. Prova disso são os recentes conflitos bélicos vivenciados em diversas partes do
mundo. Sendo assim, a Sociedade Internacional deve empenhar-se em aperfeiçoar os
mecanismos de resolução de conflitos existentes e em criar outros que se mostrem ainda mais
eficientes na solução das controvérsias e na manutenção da paz mundial.

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Bibliografia
CAMPOS, Diego Araújo, e TÁVORA, Fabiano. Direito Internacional Público, Privado e
Comercial. São Paulo. Saraiva 2012. (Colecção Sinopses Jurídicas; v. 33).
CARIDADE DE FREIRAS, Pedro, Portugal e a Comunidade Internacional na segunda
metade do século XIX. Lisboa, Quid Juris, 2012.
DINH, Nguyen Quoc; DAILLIER, Patrick; PELLET, Alain, Direito Internacional Público,
4ª edição. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1999.
HERZ, Mônica; SIMAN, Maíra; DRUMOND, Paula (organizadoras), Mediação
Internacional, Rio de Janeiro, Editora Vozes, 2016.
MAZZUOLI, Valério. Curso de Direito Internacional Público. 5ª Ed. São Paulo. Revista dos
Tribunais. 2011.
MESQUITA, Maria José Rangel de, Justiça Internacional Lições, Parte I Introdução, Lisboa,
AAFDL, 2010.
PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. 4ª Ed.
Salvador: Jus Podivm, 2012.
SPENGLER, Fabiana Marion, Da Jurisdição à Mediação: por uma outra cultura no
tratamento de conflitos, 1ª edição. Ijuí, Editora Unijuí, 2010.

Internet
Carta das Nações Unidas (Decreto nº 19.841, de 22 de Outubro de 1945), disponível em:
www.planalto.gov.br. Acesso em 11.03.2023.

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