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DESTERRITORIALIZAÇÃO
Novembro 2019
Conceitos iniciais
Com o advento da nova onda de globalização, a relação internacional tem ganhado novas
dinâmicas que se infiltram cada vez mais nos Estados-nações, concorrendo mesmo com estes
últimos, uma vez que este movimento de globalização tem provocado a perda das referências,
sejam elas de ordem cultural, econômica ou política, reflexo do jogo de poder que opera em
escala mundial, subordinando dessa maneira o Estado-nação aos movimentos e articulações
do capital (IANNI, 1992). Isso pode ser visto de maneira clara quando olhamos para a
instauração de instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o banco Mundial
ou o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), o convênio Geral de
Tarifas e Comércio (GATT) entre muitos outros que refletem essa dinâmica que tem
contribuído para a formação de uma sociedade dita global. (IANNI, 1992)
Outro fator que tem contribuído de forma muito significativa para este movimento se dá em
razão da eficácia das telecomunicações e transportes, que tem provocado um efeito de
“encolhimento do mundo”, (IANNI, 1992) uma vez que pessoas situadas em lados opostos do
globo podem se comunicar em tempo real, o que possibilita que diferentes produtos e
serviços estejam acessíveis entre nações diferentes.
O cenário proeminente do avanço nas tecnologias de informação, o gigantesco volume de
informações de fácil acesso, tem feito que o processo de globalização contemporâneo seja
mais rápido e mais profundo, se fazendo sentir nas esferas econômica, política e cultural das
sociedades, produzindo assim novos horizontes para os modos de pensar, sentir e imaginar,
provocando um movimento de descentralização, de perda das referências. Ianni afirma que a
descentralização é algo intrínseco ao movimento de globalização, segundo ele: “A
globalização tende a desenraizar as coisas, as gentes e as ideias. Sem prejuízo de suas
origens, marcas de nascimento, determinações primordiais, adquirem algo de deslocado,
genérico e indiferente. ” (1992, p.93).
Deste movimento se desdobra um novo processo de desterritorialização, que se caracteriza
como uma característica essencial da sociedade global em formação. Este processo é muito
visível na medida que nos atentamos as estruturas de poder econômico, político, social e
cultural internacionais, mundiais ou globais descentradas, sem qualquer localização nítida
neste ou naquele lugar, região ou nação. (IANNI, 1992)
Por sua vez a desterritorialização se refere não somente às instituições e estruturas
internacionais, mas também a grupos étnicos, lealdades ideológicas e movimentos políticos
que vão além de fronteiras e identidades territoriais específicas. Deste movimento surgem
diferentes políticas públicas nos Estados, uma vez que as diferentes sociedades são afetadas
por este movimento, pois a partir das trocas culturais, econômicas, e do campo das idéias
assimilam novos conhecimentos, novas maneiras de pensar, novos horizontes, em muitos
casos produzindo um afastamento das lealdades.
O tempo e o espaço ganham novas perspectivas com uma conotação desconexa e fluida. A
desterritorialização possibilitou a superação das restrições de espaço, ocorrido graças ao
assustador aumento da capacidade de tratamento instantâneo de um gigantesco volume de
informações. (CALIXTO, 2013)
A desterritorialização em alguma medida tem tocado todos os níveis da vida social. Seja por
meio de deslocamentos ou dissoluções de fronteiras, raízes, centros decisórios, pontos de
referência (IANNI, 1992). Ianni afirma que: “As relações, os processos e as estruturas globais
fazem com que tudo se movimente em direções conhecidas e desconhecidas, conexas e
contraditórias”.
Outro impacto deste processo se faz presente também nas ciências sociais, em torno do qual
se desenvolveram as mais variadas instituições de caráter global e internacional, que atuam
nos diversos ramos de pesquisas sociológicas.
O fato é que este processo tem mudado de uma vez por todas as relações entre as nações e
mesmo as relações internas, nas palavras de Ianni: “É como se um novo tecido, outra malha,
recobrindo e impregnando o mundo, alterasse a geografia e a história”. (IANNI. p.101)
Restauração Meiji
Mesmo com o início da abertura e modernização o governo militar Xogunato não conseguiu
conter a insatisfação popular. Entre eles senhores de feudos importantes, e militares de baixa
patente, exigindo que o Xogunato renunciasse o poder político, em seguida junto com os
nobres da corte, restabeleceram o regime político imperial. Essa revolta e restauração que foi
de 1867 a 1868, chama-se Restauração Meji. Seus principais projetos eram “enriquecer o país
e fortalecer as forças armadas”.
Principais mudanças: abolição do sistema de classes e a consequente tentativa de nivelar as
classes sociais; permissão de uso de sobrenome para os plebeus; possibilidade de casamento
entre classes diferentes; livre escolha de profissão; liberdade de produção rural (sem restrição
aos produtos a serem plantados na lavoura); e liberação de venda de terrenos rurais. Iniciou a
introdução do capitalismo e o desenvolvimento industrial. Eram direcionados para melhorar a
infraestrutura física e institucional em áreas como: transporte, comunicação, finanças e
sistema monetário.
Para promover o desenvolvimento industrial e reforçar os poderes militares, assim como para
encontrar renda necessário para liquidar, paulatinamente, as antigas classes dominantes do
regime feudal (os samurais) de maneira razoável, o governo dependia ainda da arrecadação
de impostos em geral (arroz, chá, tabaco, seda etc.). Após seu poder político torna-se
razoavelmente estável, 1875, o governo Meiji lançou o plano da reforma do imposto
fundiário, que foi completado em 1881, que compreendia sua modernização e a implantação
de uma alíquota uniforme nacional, e o pagamento em dinheiro, cujo impacto foi maior na
área da agricultura.
A industrialização japonesa se iniciou com a indústria leve (denominação genuína das
indústrias de bens de consumo), inclusive a indústria têxtil, que mostrou o mais notável
desenvolvimento. O desenvolvimento da indústria pesada só se deu após a Primeira Guerra
Sino-japonesa, de 1894 a 1895. Que era a luta pelo controle da Coréia, que estava sob
domínio da China. Nessa guerra o Japão saiu vitorioso, além da posse de diversas regiões da
China, o Japão conseguiu indenização de aproximadamente 3.1 milhões de ienes (na época),
com a qual cobriu as despesas militares.
Em 1904, o Japão entra em guerra com a Rússia, disputando o domínio da região nordeste da
China. Apesar do Japão ter adquirido controle de algumas regiões da China e da Coréia, o
governo não conseguiu indenização da Rússia. Esse fato, junto com a expansão das forças
armadas, o aumento das colônias e a nacionalização da linha ferroviária, dificultou a situação
financeira do governo e o mantimento de altos impostos afetou a vida do povo.
Na véspera da primeira guerra mundial, a economia japonesa estava à beira da falência, com
dificuldades até para pagar os juros da dívida externa. Porém com início da primeira guerra
mundial, o país passou, entre 1915 até 1918, por uma fase de boom econômico motivada pelo
aumento de demanda dos bens estratégicos exigidos pelas forças aliadas, e pela exportação
exclusiva de tecidos e de materiais diversos para o mercado asiático. Até o final da guerra, o
Japão concluiu seu processo de industrialização.
Em 1937, com o incidente da ponte de Marco Polo, os dois países entraram em guerra, sendo
a segunda guerra Sino-japonesa. Com o início desta guerra, o controle da economia pelo
governo japonês foi sendo reforçado em várias áreas, como indústria, comércio e finança. No
decorrer da segunda guerra Sino-japonesa, os países das forças aliadas (principalmente os
Estados Unidos e a Inglaterra) opuseram-se fortemente à invasão da China pelo Japão,
pressionando este país a abandonar sua política expansionista. O Japão reagiu aliando-se com
a Alemanha e a Itália e entrando em guerra contra forças Aliadas. Após desgastar todas as
potencias militares e civis, o país foi forçado a aceitar a proposta de declaração de Potsdam,
que o obrigou à rendição total.
Na era Meiji (1868-1912), com o fim do isolamento do país, a imigração dos japoneses
começou a tomar impulso pela iniciativa de empresas privadas, e aumentou paulatinamente,
comprando-se esses movimentos migratórios com os de países europeus, os do Japão eram
tardios, em relação ao período em que se deram, e menores em termos de seu número. A
primeira empresa recrutadora de imigração foi fundada em 1891 no Japão. Muitas das
empresas recrutadoras de imigração visavam apenas obter a comissão e tendiam em não
oferecer as condições adequadas de vida e de trabalho para esses imigrantes. Alguns foram
enviados sem o visto do país receptor e, assim, foram deportados, outros partiram para países
com os quais o Japão não havia assinado acordo, portanto, de certa forma, foram iludidos em
seus objetivos, passando então por dificuldades extremas.
O governo japonês tomou medidas legais para proteger os imigrantes e fiscalizar as empresas
recrutadoras de imigração. Porém essas medidas não objetivavam a promoção da imigração,
porque o governo japonês, em princípio, mesmo não proibindo a saída dos japoneses, não era
a favor da imigração, motivos pelos quais um deles era que os jovens trouxessem filosofias
políticas desfavoráveis ao país. E o Ministério da guerra alegava que a migração reduziria o
número dos potenciais soldados que fossem necessários nos momentos críticos.
O primeiro país receptor dos imigrantes japoneses foi o Havaí, que recebeu 148 pessoas em
1868, no mesmo ano da Restauração Meiji. Além de ter muita demanda de mão de obra no
canavial, a Ilha serviu também como um ponto intermediário para entrada nos EUA e para o
Canadá. E por volta de 1898, quando os EUA anexaram o Reino como parte do seu território,
os japoneses representavam quase 40% da população havaiana. Porém, após a anexação, os
Estados Unidos, que não eram tolerantes à migração oriental, mudaram o tratamento dado
para os imigrantes japoneses.
A migração japonesa para os EUA, oficialmente, iniciou-se em 1880, e levou 400mil
japoneses até 1911, porém simultaneamente, com o aumento desse número, eles passaram a
sofrer várias restrições baseadas no preconceito. Em 1906, na cidade de São Francisco
aconteceu a rejeição da entrada das crianças japonesas em escolas americanas. Em 1907, a
migração através do Havaí foi proibida. Em 1908, o governo japonês procurou a melhoria da
situação, restringindo o número dos próprios imigrantes através do Gentleman Agrément:
acordo de cavalheiros realizado em 1908, entre o Ministro japonês de relações exteriores e o
Embaixador americano no Japão. Com este acordo, o governo japonês decidiu restringir o
número dos imigrantes para os EUA, exceto turistas, estudantes e famílias dos japoneses já
residentes naquele país.
Os países Anglo-Saxões, como EUA, Canadá e Austrália, que tradicionalmente recebiam
imigrantes, foram os primeiros destinos dos imigrantes japoneses. Porém, gradualmente
restrições foram impostas contra os japoneses imigrados para estes países. No Canadá foram
tomadas providências restritivas à imigração japonesa. A partir de 1907, os japoneses
passaram a ser alvo de campanhas antiorientais. Em seguida, foi assinado um acordo entre os
dois países, segundo o qual o governo japonês se comprometia a limitar a saída dos japoneses
para o Canadá (150 pessoas ao ano). Na prática, esse acordo foi uma proibição da imigração
japonesa.
Dentro do processo conhecido como estado novo na historiografia houve aqui no Brasil um
processo muito forte de imigração, para abordarmos a situação do artigo precisamos de um
breve histórico, a imigração japonesa no Brasil foi responsável pela consolidação de
diferentes colônias espalhadas pelo território brasileiro. O primeiro local de fixação dos
japoneses foi organizado pelas instituições federais que capitanearam o projeto de
colonização “Monções”. Ocupando as regiões próximas de Sorocaba e Iguape, os primeiros
imigrantes japoneses fizeram parte de bem-sucedidos projetos de colonização.
Em 1912, famílias provenientes da província de Fukushima estabeleceram parcerias com
fazendeiros do norte do Paraná. No ano de 1913, um grupo de imigrantes japoneses veio a
ocupar o Estado de Minas Gerias para participarem de atividades auríferas na região. Em um
período muito curto de tempo, a quantidade de imigrantes japoneses já ultrapassava o número
de 10 mil pessoas. Não podendo custear a vinda de mais imigrantes, o Governo de São Paulo
proibiu a entrada de novas famílias japonesas.
A região noroeste de São Paulo começou a se destacar como um dos principais focos da
colonização nipônica. No início dos anos de 1930, os japoneses fixados em São Paulo
ultrapassaram a casa dos 130 mil habitantes. De toda a população nipônica, mais de noventa
por cento estava envolvida com a pequena e média agricultura. Com a Segunda Guerra
Mundial, o alinhamento do governo brasileiro contra os países do Eixo (Japão, Alemanha e
Itália) proibiu qualquer tipo de manifestação vinculada à cultura japonesa no Brasil.
A partir daqui entramos diretamente nas questões abordadas por Rafael da Silva que com a
ajuda de um levantamento de documentação do DOPS pode se fazer interpretar e
compreender a o processo de dificuldade que eles passaram na época do estado novo, o
drama da imigração segundo Rafael inicia se a partir de 1937 quando o Brasil ganha cunho de
uma política nacionalista então os japoneses que aqui viviam começam a ser perseguidos e
suas escolas são derrubadas e fechadas a ordem era não deixar crescer esse tipo de cultura
estrangeira aqui no Brasil Getúlio Vargas passa a construir uma série de decretos para barrar
qualquer estrangeiro de expor sua cultura no Brasil Após essa medida, seguiu-se o Decreto-
lei n° 383, de 18 de abril de 1938, Art. 2°, que proibia estrangeiros de exercerem ou
interferirem em atividades públicas de forma direta ou indireta e também os impedia de se
organizar em: [...] sociedades, fundações, companhias, clubes e quaisquer estabelecimento de
caráter político, ainda que tenham por fim exclusivo a propaganda ou difusão, entre os seus
compatriotas, de idéias, programas ou normas de ação de partidos políticos do país de origem
[...].
Além de que Rafael expõe também os dados das escolas japonesas que foram fechadas dada a
informação foi recolhida também no DOPS sendo um dos momentos rigorosos para os
japoneses de Santos dentro do período. Escola Japonesa de Santos 10 visitas de inspeção
fechada em 1942. Escola Japonesa Kazushi 06 visitas de inspeção fechada em 1942. Escola
União Japonesa 08 visitas de inspeção fechada em 1942
Atingiu-se o ápice das medidas restritivas aos estrangeiros durante os anos da Segunda
Guerra Mundial, quando o Brasil rompeu definitivamente relações diplomáticas com os
países do Eixo (Japão, Alemanha e Itália) em apoio aos Aliados. Até pouco antes da Guerra,
o país procurou manter-se em estado de neutralidade, articulando diplomaticamente com
ambos os lados.
A partir desse momento, os imigrantes japoneses, alemães e italianos deixaram de representar
um problema de nacionalização para serem vistos como caso de segurança nacional ou, até
mesmo para alguns, inimigos de guerra. O envolvimento do Brasil na guerra inevitavelmente
surtiu efeitos negativos diretos e indiretos para as colônias imigrantes, principalmente se
tratando dos imigrantes japoneses que no período da segunda guerra mundial já recebiam
forte repressão por parte do governo brasileiro. O funcionamento da Escola Japonesa de
Santos e das demais escolas japonesas foi severamente dificultado.
Além de deixar de receber apoio do Governo japonês, a escola teve que nomear um diretor
com formação de professor normalista no Brasil Rafael imprime uma idéia mais voltada para
os imigrantes japoneses de Santos em certo momento do artigo, dando o contexto brasileiro
dentro do período da segunda guerra mundial O fim, contudo, foi inevitável. Em 1942, todas
as escolas de origem japonesa, alemã e italiana foram obrigadas a fechar. No caso de Santos,
além de fechar, o casarão onde funcionou a Escola Japonesa de Santos foi confiscado para o
patrimônio da união, o governo buscou restringir a ação dos imigrantes na região, alegando o
risco de espionagem de submarinos ou navios inimigos na costa brasileira. Por isso, foi
proibida a venda de combustível à japoneses, alemães e italianos.
A medida afetou diretamente aqueles que lidavam com a pesca, devido à impossibilidade de
abastecimento para mover os barcos, além desses processos havia também uma espécie de
perseguição com Japoneses relacionadas a língua ou seja os japoneses não podiam aqui no
Brasil falar em sua linguagem nativa Além de serem proibidos de executar uma série de
atividades, também não poderiam conversar normalmente na língua do país de origem.
Mesmo no final da década de trinta e início da década de quarenta, era comum encontrar
japoneses no Brasil que não dominavam plenamente o português, mantendo, assim,
comunicação em japonês, principalmente no ambiente familiar. Essa comunicação
representava risco de detenção simplesmente por pronunciar palavras em outra língua que
não fosse o português.
Sobre essas questões Rafael chega a recolher dados de relatos de pessoas que viveram a
época e como um documento de história oral serve para reforçar a ideia desses processos de
perseguições sendo ameaçados de prisão:
Teve uma vez que eu fui ser testemunha de um cara, um japonês, aí o delegado deu uma
bronca no cara, na minha frente, eu estava lá, era testemunha e começou a perguntar: “faz
tempo que o senhor conhece o seu fulano aqui, quero ver se você sabe do acontecido”. Aí eu
comecei a falar, depois foi o japonês falar com ele assim na língua deles, o delegado falou
“escute, é proibido falar a língua japonesa aqui, cala a boca, não pode falar! ” Deu um grito
na minha frente, os japoneses ficaram quietinhos, depois da Guerra não podia falar a língua
japonesa, ficou quietinho.
A situação se agravou no ano de 1943 para as situações de quem se encontrava em santos
sendo japonês imigrante pois houve um decreto no qual todos aqueles que não fossem
brasileiros de origem teriam apenas 24 horas para se descentralizar do litoral santista e partir
para outra cidade sendo ela do interior paulista, havia um certo medo de que por eles estarem
próximos ao mar poderia haver um contato estratégico de guerra com o exército japonês
Rafael trás um destaque jornalístico para esse caso em específico.
Mas o pior ainda estava por vir. Em 1943, o governo determinou a remoção de todas as
pessoas de nacionalidade do Eixo da costa litorânea do país, uma vez que toda essa região foi
considerada área de segurança nacional. Todos os japoneses presentes na cidade de Santos
tiveram menos de vinte e quatro horas para deixar a cidade rumo ao interior. Muitas famílias
foram abrigadas por parentes, outras se hospedaram em residências de estranho, prestando
serviços para arcar com suas despesas. Sem tempo hábil para se desfazer de seus pertences,
muitos venderam o que tinham a qualquer preço ou abandonaram.
O jornal A Tribuna do dia 9 de julho de 1943 registrou: Colhidos de surpresa, pela medida da
Ordem Política e Social, numerosos japoneses trataram de se desfazer de seus bens. No
Marapé, na Ponta da Praia e em Santa Maria, houve verdadeira corrida para a venda de
suínos, galináceos, muares etc. Os japoneses - quase todos proprietários de chácaras –
expuseram à venda quase tudo que possuíam. Vendiam a qualquer preço, pois não havia
tempo [...]. Sabe-se de um deles que, para se desfazer de sua chácara em Santa Maria, vendeu
três porcos, uma carroça e um muar pela quantia de mil cruzeiros. E galinhas? Essas foram
vendidas a três e dois cruzeiros a cabeça.
Para o retrato desse momento Rafael usa novamente o dado de história oral
Sobre a entrevista de uma japonesa que relata um pouco sobre esse fato quanto a remoção, a
Entrevistada MK relembra o seguinte:
Olha, a retirada foi difícil! Eles avisaram à tarde, disse que tinha que sair, aí saíram e foram
tudo para a estação Santos-Jundiaí. E a gente nem conhece nada, mas pegamos um trem para
a Imigração, imigrante e depois pegamos um outro trem para Bauru. Cada um tinha um
conhecido no interior, soube do caso e deixou. Nós tínhamos, em Bauru, aí vieram buscar a
gente na estação de Bauru. Ficamos hospedados na casa dessa família e depois cada um
arranjou um canto para ficar, chácara outra vez! Foi assim a vida.
A expulsão da região litorânea também significou o rompimento das relações de amizade e,
em alguns casos, familiares. Muitos japoneses e descendentes retomaram seus antigos
contatos somente muitos anos depois, graças aos avanços tecnológicos de comunicação e da
retomada do prédio onde funcionou a Associação Japonesa de Santos, sobre todos aqueles
que viviam no litoral santista também foram prejudicados aqueles que viviam da pesca como
cita Rafael.
Como muitos japoneses não tiveram tempo hábil para liquidar seus negócios na cidade.
Muito dos prontuários analisados, dizia respeito a pessoas que abandonaram seus negócios e
necessitavam regressar à cidade a fim de quitá-los devido às dificuldades financeiras vividas
no interior. Quando eram autorizados, recebiam permissão de regressar em um prazo de
poucos dias com a presença de um investigador.
Os mais atingidos por esses problemas foram os pescadores. Dentre os arquivos analisados,
muitos deles apresentavam solicitações de pescadores que estavam passando por severas
dificuldades devido a falta de adaptação ao trabalho encontrado no interior.
Sobretudo podemos tirar conclusões relacionadas a situações de imigrantes nesse período
como um processo de repressão nacionalista imposta por Getúlio Vargas a década de trinta
foi marcada por um forte espírito de nacionalismo por parte das autoridades, principalmente
após o Estado Novo. Pretendia-se com tais políticas erradicar as minorias étnicas e valorizar
o espírito na cultura brasileira. Contudo, tais políticas, pelo menos até certo ponto, tiveram
êxito na medida e que impôs uma série de dificuldades a essas minorias. Os japoneses, por
exemplo, foram atingidos justamente onde havia maior preocupação, na educação.
A situação foi ainda mais delicada no caso de Santos. Com a faixa de segurança nacional
durante os anos de Guerra, qualquer japonês, alemão ou italiano, poderia ser confundido com
inimigos de guerra, e serem tratados como tal. Porém, a fala dos entrevistados, assim como os
prontuários do DOPS, revela que eram apenas pessoas preocupadas com seus problemas
cotidianos e que, de uma hora para outra, viram-se em uma situação muito delicada. Uns com
a família dividida, outros sem trabalho e vivendo de favor na casa de estranhos e outros
necessitando regressar à cidade para saldar suas dívidas e negócios.
Apesar da área de segurança nacional, a qual a cidade de Santos fazia parte, não foi
encontrado nenhum prontuário cuja pessoa investigada tenha realmente participado de algum
ato de conspiração ou quinta-coluna, a exemplo da organização Shindo Reimei. Por isso
mesmo, pouco a pouco, as pessoas puderam regressar para a cidade. Infelizmente, muitas
famílias organizaram-se no interior e jamais regressaram à cidade. Outras, sem seus pertences
e com suas propriedades roubadas, a exemplo de alguns entrevistados, foi preciso recomeçar
do zero, assim quando desembarcaram no Brasil para trabalhar nas fazendas de café.
Sendo uma repressão desnecessária por parte do exército brasileiro ficando como um registro
de caso ligado a xenofobia e abuso de autoridade a todos estrangeiros que condizente com as
situações dos momentos históricos sobretudo aqueles povos de Santos não haviam segundo
os documentos analisados participado direta ou indiretamente da segunda grande guerra que
em sua maior parte aconteceu na Europa.
BIBLIOGRAFIA