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CULTURA
Globalização, justiça
social e cidadania
Aline Michele Nascimento Augustinho
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
A globalização pode ser definida como um processo orientado pelas práticas
econômico-produtivas no capitalismo: o sistema necessita de mercados amplos,
que apoiem a progressão de produção, acumulação e lucro que permitem sua
estabilidade. Na medida em que os Estados se formaram orientados para essas
dinâmicas, a partir do século XVIII e especialmente do século XIX, as interações
comerciais entre os países levam à reprodução de modelos produtivos, de orga-
nização social, políticos e até mesmo de estruturação das instituições do Estado.
No processo de organização e estruturação dos novos Estados, o reconheci-
mento do poder e da necessidade de participação do povo nas democracias faz
emergir o conceito de cidadania, conjunto de direitos elementares que conduz e
explica as relações entre sujeito, sociedade e Estado e torna iguais em direitos
todos os cidadãos. Essa conjuntura que torna relativamente homogêneas as
práticas econômicas e produtivas tem efeitos significativos sobre a cultura e
as formas de organização das sociedades nesses Estados. Tais efeitos, porém,
são diferentes e não homogêneos, porque são influenciados pela configuração
histórica, social, geográfica e climática de cada região. Nesse sentido, os benefí-
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Sem esquecer que essas utopias, que no limite se dissolvem em uma só, inspiram
a prática e o discurso, a publicidade e a retórica, as diretrizes e as exigências, de
uns e outros situados nas organizações, corporações, estruturas e blocos de poder
que administram as linhas básicas da globalização do mundo pelo alto.
A partir das teorias de Ianni (1998), Weffort (1990) e Santos (2000), é possível
entender que a busca pelo desenvolvimento nas relações econômico-políticas
globalizadas nem sempre mostra resultados positivos nos países periféricos,
e então as instabilidades sociais e políticas emergem. Essa configuração foi
um dos fatores que possibilitou a emergência dos conflitos bélicos e dos
regimes autoritários, especialmente na América Latina, na Ásia e na África a
partir da década de 1950. Ela acarretou, ainda, a polarização ideológica entre
comunismo/socialismo e capitalismo/democracia promovida pela Guerra Fria,
conflito indireto entre Estados Unidos e União Soviética que utilizou campos
externos de apresentação de poder e hostilidade, como a Guerra das Coreias
e a Guerra do Vietnã.
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[...] (a) cada pessoa tem o mesmo direito irrevogável a um esquema plenamente
adequado de liberdades básicas iguais que seja compatível com o mesmo esque-
ma de liberdades para todos; e (b) as desigualdades sociais e econômicas devem
satisfazer duas condições: primeiro, devem estar vinculadas a cargos e posições
acessíveis a todos em condições de igualdade equitativa de oportunidades; e, em
segundo lugar, têm de beneficiar ao máximo os membros menos favorecidos da
sociedade (o princípio de diferença).
Só na medida em que esta deixa de parecer-lhes uma realidade densa que os en-
volve, algo mais ou menos nublado em que e sob que se acham, um beco sem saída
que os angustia e a captam como situação objetivo-problemática em que estão, é
que existe o engajamento. Da imersão em que se achavam, emergem, capacitando-
-se para inserir-se na realidade que se vai desvelando (FREIRE, 1987, p. 58).
Fraser (2002, p. 8) aponta que, no bojo da busca pelos direitos que fomen-
tam a cidadania, é a luta pelo reconhecimento social das múltiplas identidades
e grupos sociais que impulsiona a busca pela justiça social:
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