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Geógrafo. Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Geografia – PPGEOG na Universidade
Federal do Amazonas – UFAM. E-mail: franciscoigosaid@gmail.com ou igosaidd@gmail.com
atuação transformava o mercado em agente de si mesmo, sem interferências
externas, especialmente do Estado.
Ao contrário da potência dada ao Estado no liberalismo, o papel estatal sob a
égide neoliberal seria outro. Primeiramente, no campo político a democracia
neoliberal ofertaria bases legais para a ontologia do discurso de coletivização e
intervencionismo político-econômico através da criação de leis que fossem
regidas pelo Estado na promoção da justiça entre os homens, isto é, partindo
para o campo das ações individuais como estratégia regulatória da sociedade
(DARDOT & LAVAL, 2014).
Em seguida, instituiria a ideologização do consumo em massa através das
subjetividades, construção de narrativas consumistas utilizando-se de grandes
veículos de comunicação capitalista para concretizá-la. Os princípios do
utilitarismo apoiaram-se na ideia de “utilidade marginal” defendida por Carl
Menger, a qual preconizava a liberdade individual focada no consumo, ao
mesmo tempo que buscava compreender as motivações por trás de cada
compra (valor de uso). Pode-se dizer que as “pesquisas de mercado” nascem
dessas ideias, dessa maneira, tornaram-se tentáculos da atuação autônoma do
mercado para sustentar as leis de atração, oferta, demanda e competitividade e
outros mecanismos de atuação. (MAGALHAES, 2016).
Nesse sentido, o mercado se torna o grande ente solucionador de
problemas humanos, pois se tudo puder ser comprado e vendido
sempre haverá um encontro entre oferta e demanda em que
indivíduos, agindo estritamente em função de seu interesse individual
e de suas necessidades subjetivamente determinadas promoverão
trocas mutuamente benéficas que, em seu conjunto, necessariamente
redundam no bem-estar coletivo (através de um agregado de
utilidade/satisfação mais elevado para todos) (MAGALHÃES, 2016).
“O capital não se realiza sem a existência de diversos pré-requisitos providos
pela autoridade violenta do aparato estatal”, tal afirmação descrita por
Magalhães (2016) se respalda nas formas de produção e reprodução histórico-
geográfica a qual o capitalismo operado pelas estruturas de poder criam
adornos para sua dinamização. David Harvey (2011) chama essas estruturas
de poder de “esferas de atividade” após incansáveis análises sobre diferentes
formas de organicidade das estruturas econômicas, diante disso, propôs a
existência de sete esferas que se retroalimentam e materializam o Estado
neoliberal: “tecnologias e formas de organização, relações sociais, arranjos
institucionais e administrativos, processos de produção e de trabalho, relações
com a natureza, reprodução da vida cotidiana e da espécie, e concepções
mentais do mundo” (p.104).
Essas estruturas de poder dão escopo legal para sua atuação através do
“direito de propriedade privada, garantia de contratos, leis, polícia e prisões,
moeda única, infraestrutura física e institucional, fronteiras etc.” (MAGALHAES,
2016). Em linhas gerais, o capital se estabelece por diferentes formas de
governabilidade. Henri Lefebvre (2009) exemplifica bem essa conjunção do
Estado e do capital ao indicar que o aparelho estatal após fundir-se aos meios
econômicos de produção criará diferentes subsídios para a manutenção dos
mesmos, isto é, tornando-se agentes do próprio desenvolvimento ampliado,
mundializado, instituindo politicas espaciais que também refletem a dinâmica
social das sociedades, tal como superprojetos de infraestrutura urbana,
regional como provimento das condições gerais de produção.
Para Ferrão (2010) o Estado também se articula internamente dada as
circunstancias de mudanças histórico-geográficas, evocando soluções que
viessem do aparelhamento político-administrativo e jurídico-constitucional.