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CAMPESINATO E (RE) EXISTENCIA – MOBILIZAÇÕES, ORGANIZAÇÕES E

POLITICA DETRÁS DOS PRIMEIROS ACORDOS DE PESCA NO


AMAZONAS
Francisco Igo Said Pinheiro1
INTERNACIONALIZAÇÃO DAS ECONOMIAS
Com a crise do socialismo ocorrida nos anos 1990 e o reordenamento
do capital à nível global, além de respostas ineficientes das políticas liberais de
base keynesiana, inaugura-se o período de dinamização das economias
globais. Passava-se, então, a digressão político-econômica baseada nas leis
do mercado financeiro tendo como principal sustentáculo o Estado. A esse
processo Oliveira (2016) definiu como “(...) uma determinada visão social do
capitalismo a partir da ótica dos capitalistas, portanto, da burguesia” (pg. 11).
Portanto, para compreendê-lo em sua totalidade é necessário compreender a
reorganização politica estatal, o nascimento das leis de mercado e o papel da
mídia.

Reorganização do Estado neoliberal


A defesa do Estado neoliberal prescindia de uma ação proativa e incisiva das
questões político-econômicas contrariando ideários intervencionistas ligados ao
liberalismo econômico keynesiano, o caso do Estado de bem-estar social.
Segundo Magalhães (2016) no período anterior a Segunda Guerra Mundial a
estrutura estatal já comportava princípios neoliberais através da conjuntura de
competências e de concessões (leis/jurisprudências), pois criava bases legais
para a atuação livre do mercado, “sem intervir diretamente na esfera das
transações econômicas”, dispondo o aparelho estatal da infraestrutura
orçamentária e material do território (megaprojetos para abertura de estradas,
portos, aeroportos, zonas de livre comércio e outros).
Ou seja, pressupunha-se a economia como derivada de leis fortes,
garantidas pela força do Estado, e de uma ordem jurídica pré-definida
tendo em vista a eficiência da operação do livre mercado, mas como
uma entidade derivada dessas leis (MAGALHÃES, 2016).
Nesse sentido, o planejamento macroeconômico oferecia adornos legais para a
atuação conjunta dos setores financeiros que, independentes em sua escala de

1
Geógrafo. Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Geografia – PPGEOG na Universidade
Federal do Amazonas – UFAM. E-mail: franciscoigosaid@gmail.com ou igosaidd@gmail.com
atuação transformava o mercado em agente de si mesmo, sem interferências
externas, especialmente do Estado.
Ao contrário da potência dada ao Estado no liberalismo, o papel estatal sob a
égide neoliberal seria outro. Primeiramente, no campo político a democracia
neoliberal ofertaria bases legais para a ontologia do discurso de coletivização e
intervencionismo político-econômico através da criação de leis que fossem
regidas pelo Estado na promoção da justiça entre os homens, isto é, partindo
para o campo das ações individuais como estratégia regulatória da sociedade
(DARDOT & LAVAL, 2014).
Em seguida, instituiria a ideologização do consumo em massa através das
subjetividades, construção de narrativas consumistas utilizando-se de grandes
veículos de comunicação capitalista para concretizá-la. Os princípios do
utilitarismo apoiaram-se na ideia de “utilidade marginal” defendida por Carl
Menger, a qual preconizava a liberdade individual focada no consumo, ao
mesmo tempo que buscava compreender as motivações por trás de cada
compra (valor de uso). Pode-se dizer que as “pesquisas de mercado” nascem
dessas ideias, dessa maneira, tornaram-se tentáculos da atuação autônoma do
mercado para sustentar as leis de atração, oferta, demanda e competitividade e
outros mecanismos de atuação. (MAGALHAES, 2016).
Nesse sentido, o mercado se torna o grande ente solucionador de
problemas humanos, pois se tudo puder ser comprado e vendido
sempre haverá um encontro entre oferta e demanda em que
indivíduos, agindo estritamente em função de seu interesse individual
e de suas necessidades subjetivamente determinadas promoverão
trocas mutuamente benéficas que, em seu conjunto, necessariamente
redundam no bem-estar coletivo (através de um agregado de
utilidade/satisfação mais elevado para todos) (MAGALHÃES, 2016).
“O capital não se realiza sem a existência de diversos pré-requisitos providos
pela autoridade violenta do aparato estatal”, tal afirmação descrita por
Magalhães (2016) se respalda nas formas de produção e reprodução histórico-
geográfica a qual o capitalismo operado pelas estruturas de poder criam
adornos para sua dinamização. David Harvey (2011) chama essas estruturas
de poder de “esferas de atividade” após incansáveis análises sobre diferentes
formas de organicidade das estruturas econômicas, diante disso, propôs a
existência de sete esferas que se retroalimentam e materializam o Estado
neoliberal: “tecnologias e formas de organização, relações sociais, arranjos
institucionais e administrativos, processos de produção e de trabalho, relações
com a natureza, reprodução da vida cotidiana e da espécie, e concepções
mentais do mundo” (p.104).
Essas estruturas de poder dão escopo legal para sua atuação através do
“direito de propriedade privada, garantia de contratos, leis, polícia e prisões,
moeda única, infraestrutura física e institucional, fronteiras etc.” (MAGALHAES,
2016). Em linhas gerais, o capital se estabelece por diferentes formas de
governabilidade. Henri Lefebvre (2009) exemplifica bem essa conjunção do
Estado e do capital ao indicar que o aparelho estatal após fundir-se aos meios
econômicos de produção criará diferentes subsídios para a manutenção dos
mesmos, isto é, tornando-se agentes do próprio desenvolvimento ampliado,
mundializado, instituindo politicas espaciais que também refletem a dinâmica
social das sociedades, tal como superprojetos de infraestrutura urbana,
regional como provimento das condições gerais de produção.
Para Ferrão (2010) o Estado também se articula internamente dada as
circunstancias de mudanças histórico-geográficas, evocando soluções que
viessem do aparelhamento político-administrativo e jurídico-constitucional.

Monopolização do território pelo capital


O termo globalização em si não foi gestado de discussões acadêmicas
profícuas, mas utilizada de forma ideológica para explicar o novo arranjo
territorial que nascera da crise do socialismo e a proliferação dos monopólios
econômicos, portanto, a economia mundializada. Diferentemente da antiga
divisão internacional do trabalho baseada na manufatura e extravio de
matérias-primas de antigas colônias, o novo arranjo reorientava a geopolítica a
partir de terminologias que separavam países emergentes em relação àqueles
em estágio avançado de desenvolvimento (OLIVEIRA, 2016).
Empresas multinacionais derivaram da monopolização do mercado e
suas economias e expandem suas fronteiras, geralmente sob o apoio das
burguesias nacionais que buscavam retroalimentar esse veículo de
acumulação tendo como horizonte a também participação na acumulação.
“Assim, o capital mundial disseminou-se pelos países emergentes,
aliançando setores das burguesias nacionais, transformando-os em
capitalistas mundiais (OLIVEIRA, 2016, pg. 12).
Apesar da “ideologização maciça” empreendida pelos veículos de
comunicação vislumbrando homogeneizar a sociedade em busca de um
pensamento único – embora com a promoção da internet e as redes sociais
contribuam a essa dinamização – vertentes idealizadas por teóricos alheios a
determinações das universidade ao contexto macroeconômico neoliberal em se
tratando de pesquisas e reflexões acadêmicas, buscaram se aprofundar nas
discussões de mundo e situar no bojo das relações materiais, a exemplo das
análises proficientes de Milton Santos (2001).
Pensamentos no campo das possibilidades, discutidas pelo autor,
orientam para uma visão de mundo contraditória a natureza das relações
sociais e de classes. A idealização de aldeias globais, do mundo a um passo
de nossas mãos, ou de estar em diferentes espaços ao mesmo tempo. Na
realidade, o que se busca promover com a ideia de “aldeia global”, ou em
qualquer serviço de marketing detrás de campanhas de publicidades, no
enredo da teledramaturgia ou na literatura (best-sellers) é o modus operandi do
capital através dos mercados globais e da consciência coletiva do “aqui” e
“agora”. Instrumentalizam ideias das quais o mercado, intrínseco ao processo,
constroem alienações, caso este do “agro é pop” constantemente difundido nas
telas da Rede Globo (SANTOS,2001).
Há uma busca de uniformidade, ao serviço dos atores hegemônicos,
mas o mundo se torna menos unido, tornando mais distante o sonho
de uma cidadania verdadeiramente universal. Enquanto isso, o culto
ao consumo é estimulado (SANTOS, 2001, pg. 9, grifo nosso).

A globalização como forma e processo da internacionalização das economias


capitalistas pressupõe a existência de sucessivas substituições no âmbito das
técnicas das quais são operadas pelo Estado ou pelas empresas
supranacionais. O avanço das técnicas decorre do avanço do trabalho em
realização, isso significa que expressam os objetivos de um dado momento
histórico em que se manifesta. Portanto, o avanço das técnicas é um processo
estritamente político e também histórico.

Nas economias feudais, os feudos eram organizados territorialmente de


maneira em que servos despusessem de certo grau de liberdade em sua
produção, cabendo-lhes o pagamento pelo uso da terra e de equipamentos ao
senhor em forma de renda em trabalho (corvéia) ou renda em produtos. Nesse
sistema o trabalho a autoprodução de equipamentos extraídos do quintal ou de
áreas de uso comum através do trabalho em parceria definiam os rumos da
economia dos senhores, por conseguinte, os feudos até chegar ao topo da
pirâmide econômica a ser homogeneizada. Na transição para o capitalismo e a
iminência da propriedade privada, dos latifúndios e da indústria rural orientada
pelo estreitamento na relação campo e cidade, esses camponeses que antes
possuíam alguma autossuficiência na economia familiar à medida em que se
pauperizavam, buscavam novas formas de inserção as novas dinâmicas que o
mercado impusera.
As técnicas se dão como famílias. Nunca, na história do homem,
aparece uma técnica isolada; o que se instala são grupos de técnicas,
verdadeiros sistemas. Um exemplo banal pode ser dado com a foice,
a enxada, o ancinho, que constituem, num dado momento, uma
família de técnicas (SANTOS, 2001, pg.12).

De igual maneira ocorreram com técnicas pesqueiras em determinados


períodos históricos dos quais o principal equipamento de pesca passou de uma
estrutura produzida a partir dos troncos de grandes árvores a canoas, velas,
navios não-motorizados e os atuais, dispondo de tecnologias avançadas.
Dado esse percurso histórico, pode-se entender o século XX como um
recorte histórico em si, compreende o período do avanço da mais significativa
técnica que orientou a produção de capital e sua fluidez nos territórios
nacionais: técnicas de informação. Sua idealização se fortalece na ideia de
mais-valia global, pois não exige fixação e centralização dos mercados globais
através dos mecanismos de competições supranacionais para abrigar
determinada empresa, circuito produtivo. Os Estados nacionais, em seu curso,
criam sistemas de regulação que favoreçam a territorialização desses
monopólios assentados as burguesias nacionais, como é o caso das
transnacionais (SANTOS, 2001).
A representação desse sistema de técnicas baseados na informação, na
cibernética e nas tecnologias artificiais acabam por reunir outras técnicas,
pressupondo dizer que há a existência de diversas técnicas em rede,
homogeneizadas ou não – caso de formas primitivas de produção, artesanato e
etc – e a supressão do tempo dada a simultaneidade com que a informação
circula, orienta as economias mundiais sob a lógica do mercado e também do
consumo da população.
Na história da humanidade é a primeira vez que tal conjunto de
técnicas envolve o planeta como um todo e faz sentir,
instantaneamente, sua presença. Isso, aliás, contamina a forma de
existência das outras técnicas, mais atrasadas. As técnicas
características do nosso tempo, presentes que sejam em um só ponto
do território, têm uma influência marcante sobre o resto do país, o que
é bem diferente das situações anteriores. Por exemplo, a estrada de
ferro instalada em regiões selecionadas, escolhidas estrategicamente,
alcançava uma parte do país, mas não tinha uma influência direta
determinante sobre o resto do território. Agora não. A técnica da
informação alcança a totalidade de cada país, direta ou indiretamente.
Cada lugar tem acesso ao acontecer dos outros. O princípio de
seletividade se dá também como princípio de hierarquia, porque todos
os outros lugares são avaliados e devem se referir àqueles dotados
das técnicas hegemônicas. Esse é um fenômeno novo na história das
técnicas e na história dos territórios. Antes havia técnica hegemônicas
e não hegemônicas; hoje, as técnicas não hegemônicas são
hegemonizadas. Na verdade, porém, a técnica não pode ser vista
como um dado absoluto, mas como técnica já relativizada, isto é, tal
como usada pelo homem. As técnicas apenas se realizam, tornando-
se história, com a intermediação da política, isto é, da política das
empresas e da política dos Estados, conjunta ou separadamente
(SANTOS, 2001, pg. 13)

Essas mesmas técnicas poderiam integrar diferentes sujeitos a partir de


outras racionalidades do Estado em relação ao acesso a tecnologia pela
população, em específico, os tipos e as finalidades de tecnologias doravante
usadas, seja nas atividades industriais, domesticas ou de produção no campo.
O que desejo levantar com isso é um quadro mais amplo de discussão paralelo
ao avanço das técnicas tanto na cidade quanto no campo. Pretendo-me
desprender da visão clássica a qual dispõe que o desenvolvimento político,
econômico e social decorre da transformação do campo em cidade, ou então
pelo movimento inverso do êxodo para o campo.
O exercício mundializado das fabulações decorrentes da globalização e de
noções de integração das culturas locais à globais predispõe o pensamento de
unidade, logo, da superação dos problemas de classe. É sabido que o/s
grande/s interessado/s nos mercados internacionais compõe a classe
sabiamente conceituada como burguesia, enquanto que aqueles cuja força de
trabalho é expropriada através do assalariamento, produz mais-valia, ou seja,
cristaliza trabalho em dinheiro não obtido ao fim dos ciclos de trabalho
(semanal, quinzenal, mensal). Com esse antagonismo baseado em diferentes
interesses que a difusão das técnicas inaugura o mais perverso momento da
história, especialmente as populações urbanas: a exclusão socioespacial.
Soma-se a isso os agravantes socioambientais que implicam em crises
sanitárias de múltiplas escalas.

Economia mundializada não significa necessariamente a queda do


desemprego. Não intervém na construção de moradias populares, pelo
contrário, através da Parceria-Público-Privada (PPP) e o sistema de
financeirização da casa própria, o regime do Minha Casa Minha Vida é
responsável pela exclusão urbana e o crescimento dos monopólios da indústria
da construção civil nas regiões norte e nordeste do Brasil. Desestrutura a
cobertura do Sistema Único de Saúde também movido pelo PPP e a
centralização da atuação, confluindo a emergência nacional pela
regionalização de atendimentos primários e complexos. Na educação, para
além da tentativa de homogeneizar o processo de ensino-aprendizagem por
meio de indicadores nacionais, observa-se a prática docente mediada por
tecnologias quer utilizadas com notebooks, smathphones, tablets e outros, ou
no emprego de jogos educativos aludindo aos videogames. O problema não
está na natureza da proposta, mas no porque mais de 14 milhões de domicílios
da região norte não possuem acesso a tv e aparelhos de informática para
acessar esses conteúdos?
No campo as relações são complexas, mas revelam os interesses da elite,
portanto resumem o papel das técnicas e da política (SANTOS, 2016). Na
economia de mercado o Estado e os agricultores capitalistas ditam as regras
do jogo. O Estado entra com os subsídios diretos através de agências de
fomento a nível estadual, expande limites de créditos junto aos conglomerados
bancários, favorecem o escoamento e estudos do solo através de organizações
institucionais e recursos humanos (pesquisadores, técnicos e etc). Ao mesmo
tempo, o sistema legislativo neoliberal deliberam sobre leis de grande impacto
socioambiental como o uso de agrotóxicos como fertilizantes dada a máxima
do mercado alinhada a produtividade. Essa lógica de produção afeta também o
pequeno agricultor familiar ou camponês que se vê dentro do sistema de
circulação e competição pela produção e ao passo que despende sua renda da
terra, reconfigura a produção, em geral, decidindo pela monocultura para a
comercialização, enquanto dispõe de outras culturas como a pesca para a
provisão das necessidades familiares.
Diante do exposto nos cabe a dúvida: De que globalização estamos
contando? Se somos todos uma “aldeia global” conectada pelas redes de
comunicação e informação que espaços produzimos e quais consumimos? A
nova configuração territorial de fato é fluida assim como a convergência de
tempos dada a crescente competitividade empresarial e do aparelho estatal
através de rankings nacionais e internacionais que medem quaisquer
parâmetros de qualidade cujos critérios apresentam-se irrisórios?
Bom, Milton Santos (2016) em sua celebre racionalidade nos ajudava a
responder essa questão com os entraves ocasionados pela recém-parida ideia
do motor único ou motor global emprestando sua força motriz a setores
financeiros de uma economia mundializada em diferentes espaços dada a
circulação global de mercadorias e a feroz competitividade na apresentação de
produtos dispondo de mais tecnologias que qualquer um outro, portando
consigo o discurso do utilitarismo mais humanizado por se valer das
necessidades do consumidor, vide comerciais de margarina, da CocaCola, ou
qualquer um outro em períodos de confraternização (Natal, Páscoa, Dia das
Mães, Pais,etc.). A conjunção de elementos que envolvem produto, dinheiro,
crédito, dívida, consumo, informação, ao mesmo tempo locais, também os são
globais.
Aldeia global tanto quanto espaço-tempo contraído permitiriam
imaginar a realização do sonho de um mundo só, já que, pelas mãos
do mercado global, coisas, relações, dinheiros, gostos largamente se
difundem por sobre continentes, raças, línguas, religiões, como se as
particularidades tecidas ao longo de séculos houvessem sido todas
esgarçadas. Tudo seria conduzido e, ao mesmo tempo,
homogeneizado pelo mercado global regulador (SANTOS, 2016, pg.
21).

Portanto, essas novas tendências criam faltas ilusões de espaços de justiça


socialmente produzidos através da atuação de setores da indústria em
detrimento a causas coletivas, seja através de fundos de investimentos,
campanha de arrecadações e etc. O que de fato acontece é a supressão das
necessidades individuais pelas fabulações planejadas pelas empresas a
população (por eles considerada como consumidores), buscando
homogeneizar o pensamento e, por consequência, o comportamento. Isso nos
leva a crer na inexistência de uma total internacionalização pelas
características que a mais-valia internacional se apresenta nos territórios
nacionais e como se comporta na atuação do Estado em termos de políticas
públicas. À medida em que o Estado empresta seus aparelhos ideológicos para
a produção de regionalizações econômicas, observa-se a disparidade social
resultante do ponto de vista endógeno e, sobretudo, exógeno. Coexiste, a
combinação de interesses produtivos espelhados pelas formas de
mundialização comercial, o que verdadeiramente não significa melhorias nos
indicadores de desenvolvimento social.

A monopolização do território do campo pelo capital decorre de múltiplos


fatores, no entanto, a presença de monopólios ligados a financeirização da
produção são características intrínsecas ao processo. Cunharemos o mesmo
conceito abordado por Oliveira (2016) de “controle monopolístico do território
(monopolistic controlo of the territory, ou seja, as empresas monopolizam a
circulação de mercadorias direta ou indiretamente.
O fato decorre da não interferencia direta do capital em territorializar-se,
portanto, nutrindo-se e tornando seu processo de acumulação mais
substancial, de formas não capitalistas de produção, embora as economias de
mercado ditem as regras do jogo sem monopolizar substancialmente parcelas
da população sob os princípios do avanço coercitivo e expropriatório das
economias de mercado. Evidentemente estamos separando dois atores de um
mesmo processo que visa acumulação: indústria rual/agroindústria/ latifúndios
do pequeno produtor familiar, camponeses e outras denominações regionais.
Esses lobbys empresariais atuam em consonância com setores do Estado,
fundamentalmente alinhado a perspectiva de exportação da produção, como
acontece no mercado doa grãos. Essa agenda especulativa – os chamados
tradings – incorporam-se as empresas nacionais e internacionais no sentido de
reconfigurar seus padrões de produção e comercialização com a finalidade de
alcançar a dinâmica global de circulação, mesmo que para isso se obtenha
arbitrariamente do discurso de “origem” do produto, mantendo a fé que aquela
foi a origem da produção (OLIVEIRA, 2016, pg. 233).
No Brasil o consequente avanço do neoliberalismo econômico e a
mundialização do capital percolaram as noções de politicas publicas para o
setor. O apoio a pequena produção camponesa através de subsídios tornou-se
cada vez mais burocrática sob a ótica tecnocrata com que se injetavam
investimentos ou se abriam para tal na emergente agricultura capitalista. De
soberania alimentar o ponto norteador ensejou a segurança alimentar,
quantificando a alimentação em classes, além de retirá-la da área de saúde
pública onde se preconizava pela qualidade da alimentação sendo substituída
pelo abastecimento alimentar. A criação da Organização Mundial do Comércio
– OMC na década de 1990 foi o pano de fundo para materializar mudanças na
composição do que se produzia pela agricultura capitalista e a oposição – e
marginalização – pela agricultura familiar.
Através da regulação da OMC, o setor agroindustrial produzira commodities de
grãos para a exportação; a formulação dos preços mundial eram intermediados
integralmente pelas bolsas de valores a qual as maiores centralizadoras de
capital alimentício é a Bolsa de Chicago, Londres e de Nova York. A brasileira
BM&FBovespa se dedica a capitalização dos preços do café, soja, milho, boi
gordo e etanol. Dentro desse arcabouço no qual grandes conglomerados
comercializavam commodities também expressaram a interface do problema a
qual a agricultura moderna se assentou, afinal, a grande indústria de
monoculturas estão entrelaçadas a outros agentes do capital, seja ele nacional
ou não, embora o que importe é estar no circuito econômico mundial.
Nesse ponto compreendemos a monipolização do território pelo capital, muito
embora hajam velhos barões de “sangue azul” perpetuando a tradição
burguesa de se reproduzirem no tempo e espaço de suas economias, a
prevalência do capital externo se materializa nas dinamicas de mercado em
que as maiores exportadoras são multinacionais de capital aberto a múltiplos
investimentos, hierarquicamente descentralizadas entre “filiais, fusões,
associações, aquisições, franquias” e outros termos neoliberais (OLIVEIRA,
2016).

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