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Diário de Natal.
1
Licenciada em História pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.
2
Professor e doutor em História Social na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.
(LUCA, 2005, p. 111). De acordo com Luca, por questões, em partes, ligadas a
tradição, acreditava-se que as fontes eram elementos essenciais para se chegar a
verdade buscada pelo pesquisador, e nesse caso os jornais eram julgados como pouco
efetivos para se estudar passado (LUCA, 2005, p. 112).
Somente no final do século XX, novas abordagens sobre o uso de fontes,
metodologias e objetos de pesquisas passaram a ser problematizadas e o trabalho
historiográfico foi visto sob novos olhares. Desse modo, de acordo com a discussão
historiadora Maria Helena Capelato (2015) sobre essas novas abordagens acerca do
uso dos impressos como fonte histórica, ela assevera que
a imprensa oferece amplas possibilidades para o estudo da história
porque nela fica registrada a vida cotidiana de uma sociedade em
seus múltiplos aspectos, o que permite ao historiador compreender
como viveram os indivíduos de outras épocas, não só os “ilustres”,
mas também os sujeitos anônimos. (CAPELATO, 2015, p. 115).
A passeata dos Cem mil pode ser compreendida como uma expressão maior
adesão popular a favor dos estudantes, juntamente com o apoio de representantes do
clero, artistas e intelectuais, que se constituíam como agentes influentes da população,
expondo assim, a oposição a violência da ditadura contra os estudantes.
Entretanto, o regime intensifica suas ações repressivas contra o movimento
estudantil, como a violenta invasão policial na Universidade de Brasília em 29 de
julho de 1968 que foi amplamente noticiada pelos jornais do país. Segundo a matéria
vinculada pelo jornal Diário de Natal, a invasão na universidade foi motivada para
cumprir o mandado de prisão do líder estudantil Honestino Guimarães e mais quatro
estudantes universitários, contando com a presença de agentes do Departamento de
Ordem Política e Social (Dops) (INVASÃO... 1968, p. 6).
Segundo a matéria do Diário de Natal, os policiais usaram bala, bomba e gás
lacrimogênio para investir contra os estudantes, que logo reagiram a ação com
pedradas e pedaços de pau (INVASÃO... 1968, p. 6). Vários estudantes foram feridos
pela ofensiva policial, assim como professores e funcionários da universidade, sendo
alguns, com ferimentos graves, como o estudante de engenharia Waldemir Alves
Silva Filho, que foi agredido e ferido violentamente com um tiro no supercílio
esquerdo (INVASÃO... 1968, p. 6).
Ainda de acordo o jornal, segundo um relatório encaminhado por
parlamentares do MDB, algumas ocorrências que ocorreram durante a invasão
policial, demonstraram que os danos causados pela violência policial não foram
apenas a integridade física dos estudantes, mas também materiais:
O episódio que seria de fato a gota d’água para os militares foi protagonizado
pelo parlamentar emedebista Márcio Moreira Alves em discurso que antecedeu as
comemorações da independência:
Senhor presidente, Senhores deputados. Todos reconhecem, ou
dizem reconhecer, que a maioria das Forças Armadas não
compactua com a cúpula militarista, que perpetra violências e
mantem este país sob regime de opressão. Creio haver chegado,
após os acontecimentos de Brasília, o grande momento da união
pela democracia. Este é também o momento do boicote. As mães
brasileiras já se manifestaram. Todas as classes sociais clamam por
esse repúdio à violência. No entanto, isso não basta. É preciso que
se estabeleça, sobretudo por parte das mulheres, como já começou a
se estabelecer nesta Casa por parte das mulheres parlamentares da
Arena, o boicote ao militarismo. Vem aí o Sete de Setembro. As
cúpulas militaristas procuram explorar o sentimento profundo de
patriotismo do povo e pedirão aos colégios que desfilem juntos com
os algozes dos estudantes. Seria necessário que cada pai e cada mãe
se compenetrasse de que a presença de seus filhos nesse desfile é
um auxílio aos carrascos que os espancam e metralham nas ruas.
Portanto, que cada um boicote esse desfile. (Rádio Câmara, 1968).
O discurso resultou na solicitação da cassação de seu mandato a partir da
acusação de ofensa às Forças Armadas, no entanto, “o discurso do parlamentar não
teve grande notoriedade nos veículos de informação, entretanto, foi o suficiente para
os militares usar como alegação para o endurecimento do regime” (AQUINO, 1999,
p. 206).
De acordo com o jornal Diário de Natal, em Natal, os políticos locais eram
contrários a cassação do parlamentar (EM NATAL... 1968, p.3). Nas palavras do
deputado arenista, Asclepíades Fernandes: “um desrespeito à vontade soberana do
povo, pois se foi eleito em pleito democrático, foi escolhido conforme os ideais desta
população, merecendo, portanto, a sua confiança” (EM NATAL... 1968, p.3).
Segundo o Diário de Natal, o pedido de cassação parlamentar de Márcio
Moreira chegaria no dia 5 de novembro, mas já havendo uma prévia conclusão,
segundo o deputado arenista Fernando Magalhães, de que o pedido seria negado.
Informou que de acordo com levantamento que procedeu, chegou à
conclusão de que a Câmara não concederá a medida solicitada, até
porque antes de pensar no caso de um parlamentar ameaçado de
perda do mandato, deve manter incólume o princípio da
inviolabilidade parlamentar com o que está resguardado o Poder
Legislativo e pugnando pela sua própria sobrevivência. (PEDIDO...
1968, p.1).
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