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1) Segundo Kennedy (1989), a guerra de 1914 foi uma guerra total.

Explique,
com base na equação força econômica = força militar, por que a Grande
Guerra foi uma guerra total e as consequências disso para as nações
beligerantes.
As relações internacionais antecedentes à 1ª Guerra Mundial (1885-1914) podem
ser classificadas como uma transição de “anarquia ordenada” (ausência de um
governo central) para, no caso da Eurásia, “quase caos sistêmico” ( falta total de
organização, dando a oportunidade de qualquer Estado ou nação se tornar
mundialmente hegemônico), devido ao declínio da hegemonia britânica e a
ascensão dos Estados Unidos juntamente com potências correndo por fora, sendo
essas Alemanha, Japão, França, Rússia,Itália e Áustria-Hungria. Assim, esse
período foi marcado pela “Pax Armada”, ou seja, pela industrialização acelerada
juntamente com a corrida armamentista entre as potências emergentes da Europa e
da Ásia. Segundo Kennedy, as relações existentes entre essas potências eram
multipolares e, no final do século XIX, o ritmo das transformações econômicas e
políticas se intensificava, sendo essas responsáveis, em parte, pelos fatores que
levaram à 1ª Guerra: mudanças na base produtiva militar industrial; fatores
geopolíticos estratégicos e socioculturais; e modificações diplomáticas e políticas,
que determinaram a formação das futuras coalizões; a combinação destes, criaram
condições para uma guerra em escala industrial - metralhadoras, invenções bélicas,
como aviões, submarinos, armas químicas, entre outros- que levaram à equação:
“força econômica = força militar”, justificada pelo próprio sistema de alianças que,
para o autor, praticamente assegurava que a guerra não teria uma decisão rápida,
e que a vitória seria de quem utilizasse maior e melhor sua combinação de recursos
militares, navais, financeiros, industriais e tecnológicos. Para isso, as nações
inimigas deveriam não apenas derrotar umas às outras no campo de batalha, mas
também acabar com a base econômica e financeira do Estado para que o mesmo
não se restituísse.
A 1ª Guerra mundial foi uma “guerra total”, diferentemente dos conflitos existentes
na época, pois as questões referentes à hegemonia eram vistas como
irreconciliáveis, dada a quase inseparabilidade entre poder econômico (monopólio)
e poder político na época pré-Guerra. Como consequência, as nações beligerantes
se encontraram com dívidas internas e externas e com falta de recursos financeiros
para manter a população e os soldados que haviam retornado da guerra - muitos
com sequelas físicas, o que os impedia de retornar para o mercado de trabalho-
acarretando grande crise na Europa, além dos milhões de soldados e civis mortos.
Houve desenvolvimento de novos armamentos de guerra, assim como o
fortalecimento dos Estados Unidos como potência, a desintegração de impérios
Otomano e Austro-Húngaro e a imposição e diversas penalidades à Alemanha
devido ao Tratado de Versalhes. Ainda, na Alemanha, surgiu um grande sentimento
de revanchismo com exacerbação do nacionalismo, devido às penalidades, o que
acarretaria, mais pra frente, na Segunda Guerra.
2) Arrighi (1996) completa a noção de ascensão e queda de hegemonias
globais, anarquia ordenada e caos sistêmico com a ideia de ciclos sistêmicos
de acumulação capitalista. Descreva as duas fases de expansão dos ciclos de
acumulação sistêmica e exemplifique com relação à hegemonia britânica ou à
hegemonia estadunidense.
Em seu texto, Arrighi discute a passagem da hegemonia britânica (terceira
hegemonia) para a hegemonia estadunidense (quarta hegemonia), ambas com a
fusão do capitalismo e territorialismo, como a transição de um ciclo de acumulação
sistêmica para outro. Essa associação entre hegemonias do capitalismo histórico e
ciclos de acumulação sistêmica mostra a crescente importância para os governos
de liderarem não apenas voltados para a gestão do Estado e da guerra, mas
também voltados para a acumulação de capital.
Os ciclos sistêmicos de acumulação consistem em uma primeira fase de expansão
material seguida por uma segunda fase de expansão financeira. A fase de expansão
material é, em primeiro momento, a fase de ascensão da hegemonia em que o
capital é investido em desenvolvimento tecnológico e em meios de produção
industrial, aumentando a produção material e expandindo o mercado interno para,
também, aumentar a venda externa dos bens produzidos; já a fase de expansão
financeira ocorre quando a hegemonia está em declínio devido ao fato de o capital
proveniente da expansão material ser excedente e o mercado consumidor já estar
praticamente todo atingido, fazendo com que o capital passe a ser aplicado no
mercado financeiro mundial.
Como exemplo, podemos citar a ascensão da hegemonia estadunidense, iniciada
após o período de caos sistêmico da hegemonia britânica, dado na Primeira guerra
mundial (1914-1918) devido ao seu grande poderio econômico-militar e também a
vários outros fatores mundiais, tais como a Conferência de Bretton Woods que
conferiu o dólar como moeda padrão mundial, a descolonização da Ásia e da
África, que criou dificuldades econômicas para os países europeus e abriu
oportunida­des para os Estados Unidos e a crescente participação das
transnacionais norte-america­nas no exterior - período de expansão material
norte-americana. Segundo o autor, Giovanni Arrighi, a quarta hegemonia em
questão estaria em fase de declínio, pois já estaria em sua fase de expansão
financeira, investindo no mercado mundial e dando lugar a hegemonia chinesa.
3) Por que, na interpretação de Wallerstein (2000), a noção de Terceiro Mundo
continua tão atual? Em outras palavras, qual o problema que deu origem à
noção de Terceiro Mundo e que segue irresolvido na atualidade?

O período entre a 2ª Guerra mundial e a década de 90 é caracterizado pela


hegemonia norte-americana, mas isso, não significava, necessariamente, a
existência de adversários e de contestações do poder hegemônico, os EUA
conviviam com dois grandes blocos adversários: o bloco socialista e o bloco dos
países não-alinhados. Desde a 1ª Guerra Mundial- mas, sobretudo, no período
entreguerras e durante a 2ª Guerra Mundial- as periferias do sistema capitalista
tiveram um afrouxamento dos laços de dependência (econômica e política) com o
centro, o que lhes permitiu certos avanços, tais como o surgimento e
aprimoramento dos processos de substituição de importações liderados pelo Estado
(principalmente na América Latina) e o surgimento de movimentos de
independência nacional na África, no Extremo Oriente e no Sudoeste Asiático.
Assim, segundo Wallerstein, o conceito de “Terceiro Mundo” surgiu para designar
uma zona do planeta que não fazia parte de um certo tipo de alinhamento político e
econômico; ao englobar todos nessa expressão, destacavam-se as características
comuns, como alta desigualdade social, serem nações em desenvolvimento e não
estarem, necessariamente, engajados na Guerra Fria.
A noção de “Terceiro mundo”, forjado na época da Guerra Fria, é ainda muito atual
devido à polarização da economia atual do mundo capitalista e sua crise estrutural;
desse modo, há a periferização de tais nações, alta desigualdade social e desafios
externos e internos comuns, o que ainda faz com que essas nações formem um
grupo, deixando o conflito não resolvido na atualidade.

4) Se autores como Giovanni Arrighi e Immanuel Wallerstein estiverem certos


a respeito do declínio da hegemonia estadunidense e consequente ascensão
chinesa à condição de hegemonia mundial, o capitalismo histórico deslocará
seu centro dinâmico para uma nova bacia oceânica. Quais são as implicações
desse deslocamento para o Brasil? E para os EUA? Qual país reúne mais
vantagens geográficas caso esse deslocamento oceânico do centro do
capitalismo histórico de fato ocorra?
Segundo os autores Arrighi e Wallerstein, a hegemonia estadunidense estaria em
sua fase de declínio e, por consequência, a hegemonia mundial chinesa estaria em
ascensão, o que deslocaria o centro do capitalismo industrial para uma nova bacia
oceânica ( Bacia Pacífica). Assim, os Estados Unidos levariam uma maior vantagem
com relação ao Brasil por terem saída para os dois oceanos, facilitando a transição
e o transporte de recursos entre os países. Já o Brasil, por ter saída oceânica
apenas para o oceano Atlântico, teria maiores dificuldades para chegar à bacia do
Pacífico, fazendo isso através dos países-latino americanos ou com rotas que
contornem o continente Africano. Apesar disso, Brasil e China são membros de um
mesmo bloco econômico, o BRICS, o que poderia trazer certas vantagens
econômicas para o Brasil ( como, por exemplo, uma rota marítima até a África do
Sul e Índia - países também membros do bloco - facilitando as rotas comerciais).
5)Questão Geral – Obrigatória QG. Ao longo do curso, discutimos a formação
do sistema internacional a partir de um amplo conjunto de autorxs e
conceitos. Trace um quadro sintético daqueles que foram, em sua opinião, os
aspectos mais relevantes discutidos ao longo do curso. Cite pelo menos umx
autorx de cada um dos módulos do curso e apresente suas principais ideias.
De que modo o curso mudou sua forma de entender a formação do sistema
internacional?
Ao longo do curso, tivemos contato com diversos autores que, a partir de seus
pontos de vista, nos proporcionaram diversas interpretações sobre as relações
internacionais. No módulo I, Enrique Dussel apresenta crítica ao conceito de
eurocentrismo, difundido pelo romantismo alemão e pelo renascimento italiano,
afirmando que a ”Europa Moderna” é um invento ideológico do século XVIII pois,
segundo ele, toda as ideias convergem para o mundo europeu mostrando certa
superioridade mesmo após a Europa ter fracassado nas Cruzadas e , para ele,
continuar sendo uma cultura periférica, isolada e secundária. Assim como Abu-
Lughod, autora estudada também no primeiro módulo, Dussel fundamenta a
ascensão do continente por explicação extra-europeia, atribuindo fatores de fora da
europa como fundadores de tal “superioridade”.
No Módulo II, “a grande divergência” representada pela desigualdade entre os
países, ou seja, o distanciamento da Inglaterra em relação às outras nações em
diversos setores graças a Revolução Industrial. Para Pomeranz , até 1800, não
havia um centro dominante e somente a partir da industrialização do século XIX foi
possível enxergar um “núcleo” hegemônico europeu. O avanço da Europa, em
especial da Inglaterra, aconteceu por meio de fatores geográficos: acessibilidade à
terras e recursos naturais, precisamente o carvão. A Revolução Industrial
destaca-se pelo êxodo rural, o crescimento populacional (destaque ao estudo de
Thomas Malthus) e a mecanização de sistemas de produção, que transformou de
maneira profunda as sociedades europeias.
Por fim, módulo III, estudamos o quarto par conceitual explicado por Giovanni
Arrighi :fases de expansão material e expansão financeira - período de transição da
terceira para a quarta hegemonia ( britânica para estadunidense), denominado ciclo
de acumulação sistêmica, cuja primeira fase é marcada por investimentos internos,
ascensão da hegemonia, e a segunda por investimentos externos, fase de declínio
da hegemonia. Os outros três pares conceituais foram estudados no primeiro
módulo, sendo eles dominação (imposição por meio da força, da coerção e pela
falta de legitimidade) e hegemonia ( dominação com consentimento, liderança e
legitimidade); anarquia ordenada ( ausência de um governo central em que a ordem
e a hierarquia não eram formais, mas sim impostas por meio de características
econômicas, militares e culturais) e caos sistêmico ( falta total de organização,
dando oportunidade para qualquer potência se tornar hegemônica); e capitalismo
(controle de capital através do controle do território e da população) e territorialismo
(controle do território e da população através do controle do capital).
O curso de Formação do Sistema Internacional me forneceu uma visão mundial
além da perspectiva eurocêntrica, o que, de certo modo, me auxiliou na formação de
uma nova visão das relações internacionais e da interdependência das nações,
tanto no passado quanto atualmente.

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