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Grupo Universitário IPEP

Instituto Paulista de Ensino e Pesquisa

Luis Eduardo Beiger da Luz

O emprego de cães Pastores Alemães na Segunda Guerra Mundial


no teatro de operações europeu

Marechal Cândido Rondon


2021
Luis Eduardo Beiger da Luz

O emprego de cães Pastores Alemães na Segunda Guerra Mundial no


teatro de operações europeu

Trabalho apresentado ao Instituto Paulista de


Ensino e Pesquisa – IPEP como parte dos
requisitos para a obtenção do grau de Pós-
Graduado em Cinotecnia Policial.

Coordenador do Curso: Prof. Dr. Eduardo Cava


Leanza.

Marechal Cândido Rondon


2021
2
Luis Eduardo Beiger da Luz

O emprego de cães Pastores Alemães na Segunda Guerra Mundial no teatro de


operações europeu

Data de Aprovação: ____


Nota Final: _______

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Eduardo Cava Leanza


Coordenador do Curso
Instituto Paulista de Ensino e Pesquisa

Prof. Cláudio Fudimoto


Instituto Paulista de Ensino e Pesquisa

Prof. Daniel Perroni Trentin


Instituto Paulista de Ensino e Pesquisa

Prof. Edilson Barbosa


Instituto Paulista de Ensino e Pesquisa

Prof. João Henrique Oliveira Machado


Instituto Paulista de Ensino e Pesquisa

Prof. Jorge Pereira


Instituto Paulista de Ensino e Pesquisa

Prof. Luis Galvão Peres


Instituto Paulista de Ensino e Pesquisa

Prof. Otávio Augusto Brioschi Soares


Instituto Paulista de Ensino e Pesquisa

Prof. Roberto Cesar Gonçalves da Silva


Instituto Paulista de Ensino e Pesquisa

3
RESUMO

A Segunda Guerra Mundial foi um conflito de grandes dimensões ocorrido entre os


anos de 1939 a 1945, devido às proporções desse conflito, ocorreram embates
militares na Europa, África, Ásia e nas ilhas do Oceano Pacífico. Os exércitos de
ambos os países envolvidos na guerra empregaram diversas modalidades de
combate, dessa maneira, eram realizados combates aéreos, navais, terrestres, em
cenários de áreas desertas, cidades e áreas rurais, tendo se desenvolvido ações
com emprego de tanques, artilharia, infantaria e inclusive atividades de espionagem
e contraespionagem. Além disso, conforme se debaterá no presente artigo, dentro
dos campos de batalha encontravam-se os cães de emprego militar, presentes em
todas as principais forças militares envolvidas e executando diversas missões que
foram desde a entrega de mensagens, detecção de minas e explosivos até
operações paraquedistas atrás das linhas inimigas, esses cães eram em sua maioria
advindos da sociedade civil, recrutados para emprego militar ao início dos conflitos.
Em ambos os exércitos se sobressaiu a raça Pastor Alemão, a qual possuía na
época grande prestígio e estudos desenvolvidos ao seu respeito existindo assim
diversos exemplares de cães Pastores Alemães envolvidos em missões militares
importantes. Sendo assim, esses animais foram de imensa importância para auxílio
às forças militares durante todo o período, gerando após a guerra contribuições
importantes para o ramo da Cinotecnia em virtude dos inúmeros avanços
proporcionados pelo treinamento desenvolvido para emprego desses cães no campo
de batalha.

Palavras-chave: Guerra, militar, cinotecnia, Pastor Alemão.

The Second World War was a high-dimension conflict occurred between the years of
1939 to 1945, due to this conflict dimensions, there were military fights in Europe,
Africa, Asia and in the Pacific Islands. The armies of both countries involved in war
employed a lot of combat modalities, in this way, occurred air battles, naval, land
fights, in both desert, cities and rural scenarios, there were actions using Tanks,
Artillery, Infantry and also Spying and Counter spying. Besides of that, in the way that
will be debated in the present paper, inside the battlefields, there were military
working dogs, existent in all main military forces involved in combat executing a lot of
missions since message delivering, Land Mines and explosive detections and also
paratrooper operations behind enemy lines, this dogs were in most times coming
from civil society, recruited to military employ since the start of the conflict. In both of
armies, the German Shepherd breed had a important feature, in that time there were
a lot of prestige and also developed studies about it, having a lot of German
Shepherds involved in important military tasks. So, that animals were very important
to help military forces during all war period, generating after the war important
contributions to Cinotechnics due to the outnumbered advances that come from the
training developed to employ that dogs in battlefields.

Key-words: War, military, cinotechnics, German Shepherd.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..........................................................................................................6
2. O EMPREGO DE CÃES PASTORES ALEMÃES NA II GUERRA MUNDIAL NO
TEATRO DE OPERAÇÕES EUROPEU.......................................................................8
2.1. O RECRUTAMENTO........................................................................................11
2.2. O TREINAMENTO...........................................................................................12
2.2.1 Nos Estados Unidos da América...............................................................12
2.2.2 Na Alemanha.............................................................................................15
2.2.3 Na Grã Bretanha........................................................................................18
2.2.4 Na União Soviética....................................................................................20
3. CONCLUSÃO.........................................................................................................23

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1. INTRODUÇÃO

O presente estudo se destina a apresentar e discorrer sobre o emprego de cães da raça


Pastor Alemão nos combates ocorridos durante a Segunda Guerra Mundial. O tema foi
escolhido em virtude de que tal raça de cães foi amplamente empregada por diversos exércitos
envolvidos nesse conflito. Além disso, no período entre guerras, ou seja, após a Primeira
Guerra Mundial e antes da Segunda Guerra Mundial, foram desenvolvidos estudos sobre essa
raça canina, sendo que se destacam os estudos de um militar e pesquisador alemão
denominado Max von Stephanitz, sendo criada na Alemanha por pessoas ligadas a Stephanitz
inclusive uma Associação para a raça Pastor Alemão, cujo trabalho rendeu importantes
considerações sobre o emprego policial, militar e esportivo dos Pastores Alemães.
Dessa forma, foram inicialmente estudados conceitos sobre a Segunda Guerra
Mundial, bem como sobre o legado do emprego de cães na Primeira Guerra Mundial. Foram
estudados os aspectos e as principais funções a serem desempenhadas pelos cães no serviço
militar. A seguir, foram pesquisados sobre a seleção desses cães, para possibilitar o
entendimento de onde eram advindos os cães de emprego militar na Segunda Guerra Mundial
e como se deu seu treinamento e emprego, fatos relevantes para a cultura cinotécnica.
Fora definido como objeto de estudo o teatro de operações europeu porque diversas
potências estiveram envolvidas nos conflitos nessa localidade, com diferentes modos de
aplicação de cães e ainda, diferentes táticas e materiais a disposição para o emprego na guerra.
Outro fator importante é que a área de pesquisa torna-se menos abrangente possibilitando um
aperfeiçoamento na temática nas atividades desenvolvidas em uma localidade específica.
Para tanto, foi realizada pesquisa através de artigos científicos, livros e apostilas, além
disso, foram pesquisadas notícias e extratos de artigos de revistas, visto que uma dificuldade
do estudo sobre o tema é a falta de literatura específica sobre as questões a ele atinentes,
primeiro, pois na época dos conflitos a compartimentação de informações era entendível, não
se pensava em produzir conhecimento de fácil acesso, pois era possível que tal conhecimento
fosse utilizado pelo inimigo. Segundo é que a derrota (por parte principalmente de forças do
eixo) faz com que muitos estudos realizados tenham desaparecido com o tempo, com muitos
dos seus responsáveis mortos e diversos trabalhos tendo desaparecido com o fim da guerra,
dificultando as bases de pesquisa.

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Outro aspecto a se considerar é a falta de estudos em língua portuguesa sobre esse
tema, uma vez que o Brasil, não desenvolveu as atividades de Cinotecnia durante a Segunda
Guerra Mundial, sendo tema recente na realidade brasileira, para tanto, foram buscados textos
em língua inglesa, alemã e russa, para que fosse possível conseguir fontes mais confiáveis
possíveis para trabalhar o tema.
Entretanto, apesar das dificuldades expostas buscou-se disponibilizar a futuros
pesquisadores sobre essa temática a possibilidade de possuírem bases referenciais para
aprofundarem o tema escolhido, pois, devido às dificuldades acima apresentadas, não é
possível esgotar as questões atinentes aos aspectos relacionados a essa temática. Além disso,
busca-se estimular a pesquisa sobre o passado e as atividades nele desenvolvidas para
podermos embasar nossas futuras metas e ainda, inspirar nossos objetivos para o futuro. Para
tanto, cabe citar uma frase atribuída ao pensador Heródoto trazida no século V a.C.: “Pensar o
passado, para compreender o presente e idealizar o futuro”.
Dessa maneira a área de história da Cinotecnia é composta por diversas peculiaridades
que nos permitem entender e aprimorar a nossa relação com os cães e pensar o
aperfeiçoamento das atividades já existentes e quiçá a atribuição de novas atividades a estes.

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2. O EMPREGO DE CÃES PASTORES ALEMÃES NA II GUERRA
MUNDIAL NO TEATRO DE OPERAÇÕES EUROPEU

Durante a Segunda Guerra Mundial, os cães Pastores Alemães foram empregados em


diversas ações militares sendo uma das raças de cães mais presentes no conflito. Esses cães,
tornaram-se atores importantes na guerra ao lado dos humanos, reforçando a relação entre
homem e cão, existente desde os anos de 4000 a.C. até os dias de hoje.
Na Segunda Guerra Mundial, a participação de cães foi extremamente importante
porque esses animais auxiliaram sobremaneira o emprego das forças militares durante o
conflito, compondo o “esforço de guerra” em ambos os lados envolvidos nas batalhas, a saber,
Estados Unidos da América, Canadá, Grã-Bretanha, França, União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas, que formavam os “Aliados” e Alemanha, Itália e Japão, compondo o chamado
“Eixo”.
Esse “esforço de guerra”, em ambos os países supramencionados obrigava que as
famílias enviassem os seus entes queridos para os combates alistados como soldados, além
disso, participassem na produção de armamentos e equipamentos militares, bem como na
manutenção das cidades e por fim e de modo pouco explorado na história, enviassem seus
animais domésticos para a frente de batalha, da maneira que apresentaremos a seguir.
A importância de estudar o emprego dos cães de trabalho, sobretudo Pastores Alemães,
na Segunda Guerra Mundial no teatro de operações europeu, é que esse conflito fora
desenvolvido após terem sido realizados estudos de aplicação profissional de cães de emprego
militar na Primeira Guerra Mundial, principalmente considerando a descrição pormenorizada
dessas atividades existente na obra do estudioso Max Von Stephanitz, militar alemão, cuja
obra “Der Deutsche Schäferhund in Wort und Bild” (O Pastor Alemão em palavra e imagem),
publicada em 1921, demonstrava diversas aplicações de cães em atividades militares, e que
certamente serviu de fonte de estudo das forças armadas alemãs no período pré-conflito. Até
hoje, Stephanitz é considerado como um dos primeiros criadores da raça Pastor Alemão, a
qual é utilizada até hoje em âmbito policial, militar e esportivo.

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Figura 1: Exemplo de aplicação de cães pastores Alemães em âmbito militar, durante
treinamento na Escola Alemanha de Cães de Guerra demonstrada por Max Von Stephanitz em
seu livro “Der Deutscher Schaferhund in Wort und Bild”. Na imagem o cão desempenha a
tarefa de transporte de cabos, de grande importância para a comunicação militar na época
devido a inexistência até então de rádios sem fio, considerando o ano do lançamento da obra
(1921).

Fonte: Stephanitz (1921, p. 360).

Outro aspecto relevante a ser mencionado, extraído da obra supramencionada, é a


defesa feita por esse estudioso da aplicação de cães pastores alemães como cães de trabalho
para uso militar e civil, onde eram apresentados exemplos de cães pastores alemães sendo
empregados em atividades de cães mensageiros (Meldehund), enfermeiros (Sanitätshund),
transportadores de cabos de comunicação (Kabelhund), cães de emprego policial
(Polizeihund) cães de busca e captura e, por fim, cães de transporte de munição
(Patronenhund). A obra de Stephanitz é muito abrangente, tendo demonstrado conceitos sobre
comportamento canino, história e emprego dos cães na Alemanha e proposto as definições e
vantagens da raça Pastor Alemão.

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De fato, diversos países utilizaram em suas fileiras cães pastores, especificamente os
cães Pastores Alemães em virtude de sua grande aptidão para o serviço, apesar de que, desde
o encerramento da Primeira Guerra Mundial, se evitava na Inglaterra o uso da nomenclatura
“Pastor Alemão”, sendo substituída por “Cães Alsacianos” devido ao sentimento antialemão
que se propagou naquele país desde o fim da Primeira Guerra Mundial até o ano de 1977,
quando finalmente os criadores britânicos passaram a reconhecer a denominação “Pastor
Alemão”.
Com relação ao emprego desses cães nas atividades de combate, há relatos de
utilização desses cães em ações de transporte de mensagens, atividade extremamente
funcional, pois o cão poderia percorrer territórios com a possibilidade de não ser notado ou
atingido pelo inimigo (devido às suas dimensões inferiores às de um soldado), além de sua
velocidade superior à de um ser humano, o que o favorecia. Ocorre um destaque para que na
época, já existia o advento de tecnologias de comunicação, como rádios comunicadores, que
estavam em uso inicial tanto pelos aliados quanto pelo eixo, mas eram máquinas de grandes
dimensões, o que favorecia o uso do cão, devido a sua portabilidade em combate.
Outro emprego surpreendente dos cães se definia como cães enfermeiros. Esses cães
que foram amplamente aplicados na Primeira Guerra Mundial, mas nem tanto na Segunda
Guerra Mundial, eram treinados para localizarem soldados feridos no campo de batalha,
possibilitando a localização desses (em terrenos de difícil acesso como ambientes com neve
ou matas) e possibilidade de ações de primeiros socorros uma vez que transportavam
anexados ao seu corpo materiais de primeiros socorros, o que possibilitava a autoaplicação
quando o soldado ferido ainda se encontrava consciente, essa preocupação de cuidados nos
primeiros momentos após o ferimento em combate é crucial e até hoje difundida nas forças
militares (o que é corroborado pelo surgimento de técnicas de prevenção ao trauma em
combate como o protocolo Tactical Casualty Combat Care (TCCC) na atualidade).
Como um exemplo do emprego desses cães em atividades ligadas a preservação da
vida em operações de guerra, Renger (2008) nos traz em sua tese de doutorado, um trecho de
um importante livro alemão denominado “Unsere Sanitätshunde im Feld”, que em tradução
livre seria denominado “nossos cães enfermeiros em campo”, no qual há o relato emocionante
de um soldado identificado como Kurt H. que, após sofrer um ferimento grave em combate
durante a Primeira Guerra Mundial, fora salvo devido a ação de um cão enfermeiro. “Dann
habe ich fünf Stunden draussen gelegen mit offenen Wunden; 10 Uhr 30 Min. hat mich ein

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Sanitätshund gefunden. Wenn er mich nicht gefunden hätte, wäre ich verblutet.”
(REDAKTION 1915, p. 7 apud RENGER, 2008, p. 65) em tradução livre, “então eu fiquei
cinco horas ao ar livre com feridas abertas, às 10 horas e 30 minutos, fui encontrado por um
cão médico. Se ele não tivesse me encontrado, eu teria sangrado até a morte.”

2.1. O RECRUTAMENTO

Conforme mencionado anteriormente, durante a Segunda Guerra Mundial, a grande


maioria dos países foi submetida a ações que envolviam os civis em etapas do conflito
(denominada de “esforço de guerra”), que consistiam em prestação de serviços em fábricas de
produção de armamentos e engenhos militares, cessão de meios para que os exércitos
pudessem efetuar suas ações (como empréstimo de terrenos ou áreas, material e casas por
exemplo), e ainda através da cessão de animais domésticos como cavalos e cães. Na
Alemanha essa obrigação civil na participação no “esforço de guerra” ocorreu através de
documento publicado na Deutschen Reichsgesetzblatt (diário de leis) de 1 de Setembro de
1939 intitulado “Gesetz über Sachleistungen für reichsaufgaben”, em tradução livre: (Lei
sobre concessão de objetos para as tarefas do “Reich”).
Nesse documento que previa as necessidades de repasse de diversos materiais para o
esforço de guerra, os proprietários de cães tinham obrigação de cedê-los ao governo para
serem usados em esforço de guerra, o que nos leva a crer que devido à existência de diversos
cães Pastores Alemães na Alemanha naquela época, muitos foram utilizados a serviço da
Wehrmacht (Exército Alemão) durante a guerra. Corroboram com a afirmação anterior os
pesquisadores alemães Lang e Hartmann (2002, p. 198) os quais afirmam que na Segunda
Guerra Mundial, foram empregados pelos alemães 200.000 cães, dentre os quais 30.000
Pastores.
Nos Estados Unidos, conforme o sítio eletrônico do National Museum of Army
sobretudo a partir de 1941, houve uma iniciativa de doação de cães civis para emprego nas
campanhas militares denominada “Dogs for Defense”, os cães recebidos nessas atividades,
incluindo-se Pastores Alemães, foram a partir de 1942, empregados para as ações de
sentinelas e guarnecimento de postos militares, batedores e ainda mensageiros. Há relatos
inclusive de treinamento de cães para matar militares japoneses, sem que fosse necessário um

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condutor. O “Esforço de Guerra” americano contou com o alistamento de aproximadamente
20.000 cães1. Ao final da guerra, em 1945, foram realizados esforços para o retorno desses
cães aos seus lares, sendo que aproximadamente 3.000 retornaram à vida civil, sendo
dispensados com honras do serviço militar.
Outra força a utilizar cães Pastores Alemães através do esforço de guerra (apesar de na
época serem denominados “cães alsacianos”) foram os britânicos. Segundo Bayley (2017), a
Inglaterra empregou cerca de 7.000 cães na Segunda Guerra Mundial, muitos desses cães
eram oriundos de uma propaganda que incentivava a doação de cães para as forças armadas
por parte da sociedade civil através de um pôster publicado nos jornais britânicos em 1941,
antes disso, a Inglaterra estava encerrando o emprego de cães em atividades militares pois
considerava que seriam uma ferramenta “ultrapassada”.
A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) ou União Soviética por sua
vez, requisitou em seu esforço de guerra além de cães (entre os quais utilizou também cães de
raça Pastor Alemão) ainda uma grande quantidade de pessoas que possuíssem habilidades
para a realização de treinamentos para esses animais. Essa iniciativa já era fomentada naquele
país desde os anos de 1924, através da Sociedade de Assistência à Defesa, Aeronaves e
Construção Química, conhecida por seu acrônimo OSOAVIAKHIM.
Dentro desse programa, o Exército Vermelho já contava com a agregação de cães de
trabalho em suas fileiras, incluindo Pastores Alemães (os quais não eram denominados dessa
forma, em virtude de questões políticas, mas recebiam a denominação de “Cão Pastor do
Leste Europeu”). Durante a Segunda Guerra Mundial, a URSS ficou conhecida pela utilização
de seus cães como armas antitanque (utilizando-os acoplados a explosivos para inutilizar
tanques alemães). Antes do início da Segunda Guerra Mundial, a URSS possuía cães de
combate para 11 modalidades de emprego, além disso, aproximadamente 68 mil cães 23,
distribuídos em diversas atividades dentro do Exército Vermelho.

1 Disponível em <“https://www.archives.gov/publications/prologue/1996/fall/buddies.html”>. Acesso em 28


de julho de 2021
2 Disponível em: <“http://www.dog-shkola.ru/voen_dog.htm”>. Acesso em 27 de julho de 2021.
3 Disponível em <“http://nvo.ng.ru/history/2018-10-12/10_1017_kinolog.html”>. Acesso em 28 de julho de
2021.

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2.2. O TREINAMENTO

2.2.1 Nos Estados Unidos da América

Inicialmente, conforme o National Museum of United States Army 4, os cães de guerra


americanos a partir de 1941 foram treinados através de uma iniciativa civil denominada
“Dogs for Defense, Inc.” (DFD) apoiada pelo American Kennel Club (AKC), essa instituição
era ainda supervisionada pelo Quartel General do Exército Americano e tinha como objetivo
realizar estudos acerca de possibilidades de emprego militar dos cães durante a guerra, em
virtude da falta de expertise militar no tema à época (o Exército Americano empregava seus
cães apenas em ações pontuais que não envolviam as funções a serem desenvolvidas em
combate).
Apesar da iniciativa louvável, o treinamento por parte dessa organização não foi eficaz
devido a diversos fatores, sendo assim, em 1942 coube ao Exército Americano através do US
Army Quartermaster Corps (QMC) (um serviço voltado inicialmente ao treinamento de
cavalos para emprego militar) participar conjuntamente do treinamento desenvolvido pela
DFD. A partir daí, os cães eram treinados para funções de guarda de instalações e também
missões táticas, aliando o conhecimento técnico sobre o adestramento de cães oriundo da
DFD e o conhecimento tático sobre operações militares advindo da QMC, os treinamentos
foram realizados em quatro estações de treinamento nos EUA nos estados da Virginia,
Nebraska, Montana e Califórnia.
O primeiro fruto importante desse esforço conjunto foi o desenvolvimento do manual
“TM-10-396-WAR DOGS”. Outra característica relevante no período foi o desenvolvimento
de uma seleção de raças para emprego militar devido terem identificado a propensão para o
serviço em algumas raças em maior quantidade do que em outras, foram definidas até 1944 as
seguintes raças para emprego militar como sendo: Pastor Alemão, Dobermann, Pastor Belga,
Collie, Rusky Siberiano, Malamute e Cão Esquimó. Apesar disso, a raça de cães mais
empregada pelo Exército Americano na Segunda Guerra Mundial fora a raça Pastor Alemão5.
Como mencionado anteriormente as principais atividades desenvolvidas no período
pelos cães militares foram as atividades de sentinela e segurança de instalações físicas,
4 Disponível em <“https://armyhistory.org/the-dogs-of-war-the-u-s-armys-use-of-canines-in-wwii/”> Acesso
em 28 de julho de 2021.
5 Disponível em: <“https://www.mwdtsa.org/german-shepherd-dogs-military-brief-historical-overview/”>
Acesso em 28 de julho de 2021.

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principalmente em instalações navais, em virtude da probabilidade da existência de
sabotadores que poderiam danificar a estrutura naval da marinha americana, seus depósitos de
suprimentos e ainda seus navios e submarinos, para tanto esses cães recebiam treinamento
específico para avisar os sentinelas militares da existência de pessoas nas instalações.
Outra utilização foi através de cães mensageiros, o que se deve ao fato de
principalmente as comunicações via rádio, radar e telégrafo estarem se iniciando na época
desses conflitos, portanto havia a necessidade de aplicação de outras formas de comunicação
entre as forças em campo.
Entretanto, cabe ressaltar uma atividade em particular desenvolvida no âmbito do
programa de treinamento: o emprego de cães de ataque autoguiados na guerra. A ideia foi
protagonizada por um cidadão expatriado suíço denominado William Prestre e consistia em
criar cenários para treinamento de cães para ataque a instalações “caçando” militares
japoneses. Para tanto, Prestre desenvolveu em conjunto com o governo americano simulações
dentro de uma localidade denominada Cat Island, na costa do estado americano de Mississipi,
foram utilizados na ocasião inclusive figurantes nipo-americanos. A ideia seria de emprego
desse plantel em ações de guerra nas ilhas no Oceano Pacífico contra o Exército Imperial
Japonês.
Na guerra travada nas ilhas no Oceano Pacífico, os cães americanos demonstraram
grande aptidão para a transmissão de mensagens, sendo considerados indispensáveis, fato este
que não foi corroborado em território europeu, principalmente porque durante o treinamento
militar, os cães eram expostos a sons de disparos de armas leves (fuzis e metralhadoras por
exemplo) mas não a disparos de peças de artilharia. Na Europa, devido a natureza do conflito,
canhões e obuses eram de emprego rotineiro, o que causava estranheza e receio nos cães, já
nas batalhas contra os japoneses ocorriam combates a curta distância, inclusive com lutas
corpo a corpo, dessa forma os cães foram melhores sucedidos.
Apesar dessa questão desfavorável, um dos cães americanos de emprego militar
aplicado no teatro de operações europeu foi considerado um grande destaque, tendo inclusive
sido agraciado com as Medalhas “Silver Star” e “Purple Heart”. Na ação, em 10 de julho de
1943, o cão “Chips”, um mestiço de Pastor Alemão, era conduzido pelo soldado John Rowell
e patrulhava o território italiano na Sicília, quando sua patrulha foi emboscada por uma
patrulha de militares italianos em um bunker camuflado que efetuavam diversos disparos com
uma metralhadora contra os americanos. O cão se desvencilhou de seu condutor, invadiu o

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bunker inimigo e neutralizou o operador da metralhadora, interrompendo o fogo inimigo, após
verem a ação, os demais soldados italianos se renderam, interrompendo o ataque. Chips
sofreu apenas algumas queimaduras e diversos cortes mas foi socorrido e permaneceu no
serviço militar até o ano de 1945, quando foi devolvido aos seus proprietários anteriores.
Foram realizadas ainda pelo exército americano, diversas tentativas de aplicação de
cães em detecção de minas terrestres6. Em “laboratório”, ou seja, durante os testes em
treinamento esses cães possuíam acurácia de 80% na detecção desses explosivos, entretanto, a
aplicação prática desses cães no sul da Europa demonstrou uma dificuldade na aplicação,
baixando os índices de confiabilidade para 30% e resultando na morte ou ferimentos em
diversas equipes destinadas a localizar minas terrestres, sendo tal emprego descontinuado
pelos EUA durante a Segunda Guerra, mas hoje considerada uma das mais efetivas aplicações
de cães para uso militar pelo Exército dos EUA.

2.2.2 Na Alemanha

O principal emprego dos cães de guerra a serviço do exército alemão era o de


segurança de instalações físicas de instalações militares (quarteis e depósitos de suprimento),
também eram utilizados a serviço da Schutzstaffel (tropas de assalto) para as atividades de
segurança de campos de concentração. Foram utilizados ainda para a atividade de transporte
de mensagens e munição, detecção de minas e para atividades de patrulha.
Conforme Lang e Hartmann (2002, p. 201) os cães do exército alemão eram
submetidos a rigorosos testes físicos e médicos, além disso, testes de performance com
critérios como disposição para o trabalho, aptidão física, resistência para corrida, recebendo
conceitos como muito bom, bom, suficiente, inadequado e insatisfatório além de notas de 0 a
10 para suas performances. Dessa maneira, prezava-se pela qualidade do plantel. É importante
ressaltar que independente da atividade a ser desenvolvida pelo cão, era crucial que esse fosse
avaliado por esses testes. Além disso, antes mesmo do início da Segunda Guerra Mundial,
Lang e Hartmann (2002, p. 201) afirmam sobre a existência de diversas escolas voltadas ao
treinamento de cães, através de diversas especialidades.

6 Disponível em <“https://armyhistory.org/the-dogs-of-war-the-u-s-armys-use-of-canines-in-wwii/”> Acesso


em 28 de julho de 2021.

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Uma função importante para os alemães durante a guerra era a guarda de seus campos
de prisioneiros. Os cães eram treinados para a realização dessa atividade, ressalta-se que os
prisioneiros (em sua maioria judeus) eram utilizados em trabalhos forçados que contribuíam
para a manutenção das tropas em combate, como produção de materiais e objetos. Dessa
maneira não era interessante para o sucesso nas operações militares a ocorrência de fugas
desses prisioneiros.

Figura 2: Cão utilizado para segurança física de instalações no Campo de


Concentração de Plazow (Polônia).
Fonte: <“https://fcit.usf.edu/holocaust/gallery/08870.htm”> acesso em 27
de julho de 2021.

Apesar de cães enfermeiros terem sido um sucesso durante a Primeira Guerra


Mundial, sendo inclusive defendidos por Stephanitz em sua obra, o Exército Alemão não
aprovava o emprego desse tipo de cão na Segunda Guerra Mundial, principalmente devido ao
emprego militar diferenciado nesse conflito (na Segunda Guerra Mundial os conflitos eram
travados muitas vezes em cidades). Os cães acabavam latindo para militares saudáveis e
alertavam ao inimigo da presença desses, o que gerava desgastes. Devido às avaliações
negativas do emprego desse tipo de cão, em 1944 os alemães deixaram de empregar cães
enfermeiros.
Um destaque se fez para os cães de transporte de munições, os quais foram utilizados
devido a sua eficiência e velocidade. Para tanto, muitos dos cães empregados nessas
atividades eram cães pastores alemães.

16
Figura 3: Cão pastor alemão sendo empregado pelo exército alemão para
transporte de munições.
Fonte: < "https://www.sv-og-pforzheim-sedan.de/wissenswertes/der-
deutsche-sch%C3%A4ferhund/der-deutsche-sch%C3%A4ferhund-
teil2/"> Acesso em 28 de julho de 2021.

Por fim, os cães de emprego militar eram uma grande ferramenta de propaganda e
ainda de motivação das tropas, em virtude dos grandes feitos dos cães em combate, o que é
corroborado por uma afirmação do ano de 1943, de um oficial da SS em uma revista alemã
denominada “Unser Dobermann-Pinscher”, em tradução livre: “Nosso Dobermann-Pinscher”.
“Bedenke jeder, daß Diensthunde das Leben deutscher Soldaten erhalten, ihren Dienst
erleichtern und dem Feind Schaden zufügen.” (MUELLER, 1943, p. 15 apud REGER, 2008,
p. 70). Em tradução livre: “todos considerem, que cães de serviço ajudam a vida do soldado
alemão, facilitam seu serviço e causam danos ao inimigo.”, através de tal publicação o
objetivo era incentivar o repasse de cães aptos ao trabalho para as forças militares durante a
guerra.

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Figura 4: Cães sendo utilizados pelo exército alemão para
atividade de patrulha e propaganda.
Fonte:
<"https://www.sv-og-pforzheim-sedan.de/wissenswertes/
der-deutsche-sch%C3%A4ferhund/der-deutsche-sch
%C3%A4ferhund-teil2/"> acesso em 28 de julho de
2021.

2.2.3 Na Grã-Bretanha

Os ingleses iniciaram a guerra céticos com relação ao emprego de cães nos campos de
batalha. A afirmação na época, segundo Rocha (2021) era de que o seu emprego em guerras
era algo obsoleto.
Entretanto a partir de 1941, o governo britânico passou a empregar cães na busca de
feridos e mortos nos escombros das cidades inglesas bombardeadas pela Força Aérea Alemã e
requisitar mediante chamados de rádio a doação de cães para o esforço de guerra.
Um destaque no treinamento britânico de cães de guerra foi um militar denominado
Ken Bailey, ao qual, devido a possuir uma formação veterinária, foi determinado a direção da
Escola de Treinamento de Cães de Guerra. Esse militar passou a desenvolver treinamentos7
para empregar cães paraquedistas. Bailey portanto passou a treinar três cães pastores
denominados Bing (pastor alemão mestiço com Collie), Monty e Ranee (ambos pastores
alemães) para a referida missão, utilizando para tanto de ambientação com a estrutura de
7 Disponível em <“https://www.spiegel.de/international/zeitgeist/the-parachuting-dogs-of-the-british-army-in-
world-war-ii-a-939002.html”> Acesso em 28 de julho de 2021.

18
avião de transporte de tropa bem como com os sons das hélices, cenários de combate com
sons de tiros, além de treinamento para identificação de odores de explosivos e pólvora,
rastreamento de inimigos e ainda o que fazer caso o condutor fosse capturado.
Os primeiros saltos com os cães paraquedistas ocorreram em 2 de abril de 1944,
Bailey relata que após a realização do salto, quando o cão tocava o solo, ele era
recompensado, utilizando-se portanto de reforço positivo. Ambos os três cães previamente
mencionados, treinados por Bailey, foram empregados durante a invasão aeronaval do “Dia
‘D’” como paraquedistas atrás das linhas inimigas nas praias da Normandia que eram
ocupadas por forças armadas alemãs. O destaque nessa operação foi para o cão Bing,
conduzido pelo Franco Atirador Jack Walton, desde a invasão na Normandia até a rendição
final da Alemanha em 1945. A atuação de Bing rendeu a ele uma medalha por seu serviço,
tendo permanecido no serviço militar até o final da guerra.
Além de Bing, os ingleses utilizaram cães nos últimos anos da guerra para funções
como faro de explosivos e localização de armadilhas, além de busca por inimigos através do
odor. Os militares relatam que os cães identificavam odores de explosivos e sentavam-se
aguardando para serem premiados o que auxiliava as equipes de detecção de minas.

Figura 5: Cão Bing e seu condutor, Jack Walton, foto tirada na


Alemanha. Fonte: <"https://www.dailymail.co.uk/news/article-
2131034/Bing-World-War-Two-parachuting-dog.html"> Acesso em
28 de julho de 2021.

19
2.2.4 Na União Soviética

Um dos maiores treinadores de cães na URSS durante o período da Segunda Guerra


Mundial, foi o militar e criador de cães Major General Grigory Panteleimonovich Medvedev.
Após a criação do serviço de cães de guerra no Exército Vermelho em 1924, foi formada em
1927 a primeira turma de treinadores de cães para atuar nessa atividade, dentre esses
treinadores se encontrava Medvedev. Esse militar foi um dos que desenhou o treinamento dos
cães de guerra soviéticos durante o período que antecedeu e durante a Segunda Guerra
Mundial. O batismo de fogo do serviço de cães da URSS ocorreu na Segunda Guerra
Mundial, na batalha do rio Khalkin-Gol em 1939 contra o Exército Imperial Japonês.
A partir das observações práticas do emprego de cães militares nessa batalha, foi
possível avaliar e desenvolver seu treinamento nas funções de mensageiros, enfermeiros,
transportadores de material e cães antitanque, função essa de maior destaque e de grande
importância para a URSS devido ao emprego massivo de tanques de guerra (Panzers) pela
Alemanha naquele período.
Os cães antitanques foram empregados contra a Alemanha na Segunda Guerra
Mundial e teriam destruído aproximadamente 304 tanques 8, seu treinamento era baseado no
emprego de “Reforço Positivo”, ou seja, os cães eram alimentados em treinamento sob os
blindados, dessa maneira, ao localizarem o blindado inimigo durante a batalha, já equipados
com o dispositivo explosivo (conforme ilustração a seguir) faziam com que a carga
detonadora fosse acionada e dessa maneira funcionavam como “minas móveis”.

8 Disponível em: <“http://nvo.ng.ru/history/2018-10-12/10_1017_kinolog.html”>. Acesso em 28 de julho de


2021.

20
Figura 6: Ilustração de Cão antitanque em uso contra as forças alemãs
da 2ª Guerra Mundial. Percebe-se o emprego de cães pastores na
atividade.
Fonte: <“https://www.dailymail.co.uk/news/article-2517413/The-
kamikaze-canines-blew-destroy-Nazi-tanks-WWII-photographs-
reveal-Stalins-dogs-war-explosives-strapped-them.html”> Acesso em
28 de julho de 2021.

Além disso, Medvedev anunciou em 1940 o emprego de cães como detectores de


minas, função essa utilizada a partir de 1944 pela URSS. Na época, era anunciada a eficácia
de aplicação desses cães na detecção de minas enterradas em até 2 metros de profundidade 9.
Até hoje a detecção de explosivos (inclusive minas) é uma das grandes funções
desempenhadas por cães de uso militar ao redor do mundo. Na Segunda Guerra Mundial, um
destaque importante foi o Pastor Alemão de nome “Dzhulbars”, o qual, recebeu uma medalha
em 1945 devido ao seu heroísmo na localização de 7.468 minas e 150 granadas durante o seu
serviço militar na Áustria, Tchecoslováquia, Hungria e Romênia, compondo a 14ª Brigada de
Engenharia e Combate de Assalto do Exército Soviético10.
As impressões e descobertas sobre as atividades desempenhadas com emprego de cães
em guerra, foram objeto do lançamento de um documento normativo soviético em 1958,
intitulado “manual sobre treinamento e uso de cães militares”, escrito por Medvedev após o

9 Disponível em: <“http://nvo.ng.ru/history/2018-10-12/10_1017_kinolog.html”>. Acesso em 28 de julho de


2021.
10 Disponível em <“https://ao.ww2facts.net/7056-shepherd-brave-warrior-and-faithful-friend.html”>. Acesso
em 29 de julho de 2021.

21
aperfeiçoamento e a definição de novos métodos para a aplicação de cães em atividades de
guerra.
Consoante as imagens abaixo, é possível visualizar o emprego de cães pastores (bem
como pastores alemães) que na época eram denominados “Pastores do Leste Europeu”11 pelo
Exército Vermelho durante a Segunda Guerra Mundial:

Figura 7: Militar soviético aplicando cão pastor Figura 8: Cães e seus condutores
em serviço militar. desfilando no “Desfile da Vitória” em
Fonte: <“https://www.rbth.com/history/329005- Moscou na URSS em 1945.
soviets-used-suicide-dogs”>. Acesso em 28 de Fonte : <“http://nvo.ng.ru/history/2018-
julho de 2021. 10-12/10_1017_kinolog.html”>. Acesso
em 28 de julho de 2021.

11 Disponível em <“https://ao.ww2facts.net/7056-shepherd-brave-warrior-and-faithful-friend.html”>. Acesso


em 29 de julho de 2021.

22
3. CONCLUSÃO

Diante do exposto, é possível concluir que, durante a Segunda Guerra Mundial, o


emprego de cães pastores alemães foi massivamente realizado por ambas as forças envolvidas
no conflito (as potências aliadas e as potências do eixo).
Além disso, as funções predominantes para emprego desses cães no conflito foram as
de mensageiros, transportadores de objetos (como munições e cabos de rádio), cães
farejadores e cães de proteção, além de cães suicidas voltados a destruição de tanques
inimigos (utilizados pela URSS).
Além disso, se ressalta o fato de que países que não eram adeptos ao emprego de cães
em guerra, tiveram que, durante a ocorrência do conflito mundial passar a realizar ações de
treinamento e criação de instituições e unidades para o emprego de cães de trabalho nas
atividades militares.
Ainda, um fator importante de se ressaltar é que as potências que já possuíam
treinamento com cães para emprego militar, fizeram uso dessa ferramenta de maneira
eficiente na Segunda Guerra Mundial, conflito esse que foi permeado por diversas tecnologias
que mudaram a concepção dos combates, em virtude de que essa guerra foi travada de
maneira rápida e em conflitos principalmente nos interiores de cidades, o que obrigou as
potências militares da época a mudarem suas concepções sobre o emprego de diversas
atividades.
Outro fator a ser levado em consideração é que naquela época, não havia uma seleção
de cães nos moldes que é realizada na atualidade, uma vez que muitos cães que foram
utilizados no conflito se tratavam de cães advindos do “esforço de guerra”, que eram oriundos
de doação civil, sem passar por uma seleção e avaliação, fato este que só foi observado na
Alemanha, na URSS e nos EUA (nos momentos finais do conflito). Um grande destaque é a
existência de escolas militares destinadas a seleção e treinamento desses cães.
É possível traçar um paralelo com a atualidade, em sendo observada a necessidade de
adoção de políticas de seleção e treinamento de cães não somente para emprego militar, mas
também para emprego policial, uma vez que os cães sempre se revestiram em uma ferramenta
de grande importância para o sucesso de ações. Mesmo as potências que haviam abandonado
o emprego de cães em combate, durante a Segunda Guerra Mundial se viram obrigadas a
retomar essas atividades, observando o sucesso e a disposição desses cães para o trabalho.

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Outro aspecto relevante é a aptidão indiscutível dos cães da raça Pastor Alemão para
executarem funções militares e policiais. Desde o manual publicado por Stephanitz em 1921
até os dias atuais, já se passaram 100 anos, mas algumas funções desenvolvidas e citadas por
ele em sua obra permanecem utilizadas até hoje, além de diversas outras que foram
desenvolvidas e aplicadas para os cães dessa raça, como por exemplo o faro e detecção de
explosivos, armas de fogo, munições e entorpecentes, que são preocupações dos dias atuais.
Por fim, outra lição a se retirar da presente pesquisa é que os cães, foram, são e sempre
serão capazes da realização de atividades incríveis e inimagináveis, muitas das vezes
ultrapassando as capacidades humanas, sendo indispensáveis para as funções de Cinotecnia
militar ou policial, assim como as tecnologias o são para a vida em sociedade, estando
portanto a evolução do estudo sobre os cães ocorrendo da mesma forma que a evolução das
ciências. É possível inclusive que no futuro, outras modalidades de aplicação de cães para
emprego militar e policial sejam descobertas e cães sejam empregados para atividades que
hoje nem imaginamos que seriam possíveis (assim como Stephanitz não imaginava a 100 anos
atrás).

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REFERÊNCIAS

RENGER, Julika. Debate social sobre o uso científico e psicossocial dos cães de 1870 –
1945 na Alemanha. Tradução livre.. Dissertação (Doutorado em Medicina Veterinária).
Universidade Pública de Berlim, Berlim, 2008. Disponível em:
<“https://d-nb.info/1023747235/34”> acesso em 26 de julho de 2021. Título original:
Gesellschaftliche Debatten um die wirtschaftliche und psychosoziale Nutzung des Hundes
von 1870 - 1945 in Deutschland.

ROCHA, Cássio Fernando Santos. Cinotecnia policial módulo 3: história de uso e emprego de
cães. In: Programa de Pós Graduação Lato Sensu Cinotecnia Policial. 2021. Disponível
em: <“https://ava.pepcex.com.br/moodle/course/view.php?id=13#section-3”>. Acesso em 28
de julho de 2021.

BAYLEY, Mark. Cães de guerra heroicos da Grã-Bretanha. Tradução livre. In: National
Geographic. Online. 17 de novembro de 2017. Disponível em
<“https://www.nationalgeographic.co.uk/history-and-civilisation/2017/11/britains-heroic-
dogs-war”> Acesso em 27 de julho de 2021. Título original: Britain’s heroics dogs of war.

O’DONNEL, Kimberly Brice. Paraquedista Brian, Medalha Dickins, e o futuro dos cães de
serviço militar. Tradução Livre. In: History of Government. Online. 6 de junho de 2014.
Disponível em <“https://history.blog.gov.uk/2014/06/06/paratrooper-brian-d-m-and-the-
future-of-military-working-dogs/”>. Acesso em 27 de julho de 2021. Título original:
Paratrooper Brian, D.M. and the future of military working dogs.

LANG, Sascha, HARTMANN, Dominic. O Pastor Alemão: um produto do nacionalismo


prússo-alemão?. Tradução Livre. 2002, Artigo – Instituto para Didática em Biologia,
Universidade Wilhelms Vestefália, Münster, p. 184-206. Disponível em <“https://miami.uni-
muenster.de/Record/d69ebc02-ac94-4d9c-8c98-6c345d8cd723”> acesso em 28 de julho de
2021. Título original: Der Deutsche Schäferhund : ein Produkt des preußisch-deutschen
Nationalismus?.

STEPHANITZ, Max Emil Friedrich von. O Pastor Alemão em palavra e imagem. Tradução
Livre. Munique: Verein für deutsche Schäfferhunde (SV). München. 1921. 800 p. Título
original: Der Deutscher Schäferhund in Wort und Bild

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

GRIGORY Panteleimonovich Medvedev. Disponível em:


<“http://rkf.org.ru/wp-content/uploads/2020/05/medvedev-g.p..pdf”>. Acesso em 27 de julho
de 2021.

FROM the history of dog breeding. Disponível em:


<“http://www.dog-shkola.ru/voen_dog.htm”>. Acesso em 27 de julho de 2021.

COHICK, Brad. German sheepherd dogs in the military: a brief historical overview. Military
Working Dog Team Support Association Blog. 15 de fevereiro de 2017. Disponível em:
<“https://www.mwdtsa.org/german-shepherd-dogs-military-brief-historical-overview/”>

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