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História
Anais - Artigos Ciências Humanas - História 4762
RESUMO: O principal objetivo deste trabalho é expo uma deficiência no ensino de história
durante o nível fundamental, em relação à Primeira Guerra Mundial, este tema muitas vezes é
deixado de lado e não é trabalhado com a importância que deveria, para mudar esse cenário
esse trabalho objetiva mostrar a importância desse tema para a vida acadêmica dos alunos e
em meio uma parceria com a secretaria de municipal educação, elabora uma proposta para
inclusão de maneira efetiva desse tema durante o ensino fundamental, para a execução desse
trabalho foi aplicado um questionário sobre o ensino de história durante o nível fundamental,
aos alunos do ensino médio integrado, do IFRN campus Nova Cruz, os resultados
impressionam quase 40% dos entrevistados afirmaram não ter estudado esse tema no ensino
fundamental, e os que estudaram este assunto, mais de 40% afirmaram que este conteúdo foi
lecionado de forma superficial, esse tema é de suma importância pelo fato de servi como base
para demais assuntos e facilitar aprendizagem de temas como Segunda Guerra e Guerra fria, a
inclusão deste assunto de maneira efetiva no ensino fundamental é algo essencial para o
desenvolvimento do aluno, temos que evita que este tipo de situação continue acontecendo
esse é apenas o primeiro passo de uma reforma de extrema importância.
Palavras-chave: carência, ensino fundamental, primeira guerra mundial.
INTRODUÇÃO
A primeira guerra mundial teve inicio em 1914, podemos dizer que vários motivos
culminaram para o acontecimento da guerra, varias potências européias estavam descontentes
e indignadas com a partilha das colônias da África e Ásia, na qual a Alemanha e Itália se
sentiram prejudicadas e a França e Inglaterra foram beneficiada, com as colônias com maior
Como foi visto na citação acima este assunto é tido justamente como indispensável,
porém na atual realidade do ensino brasileiro é deixado de lado, levando se em conta que
durante essa etapa acadêmica é estudado de forma repetitiva assuntos como feudalismo,
segunda guerra mundial e guerra fria, algo inadmissível é estudar a Segunda guerra sem ter
visto de forma considerável o conteúdo da primeira, pois uma está diretamente relacionada à
outra, segundo alguns historiadores as duas guerras podem ser vista com uma só guerra que
teve um cessar-fogo de pouco mais de vinte anos. Sem contar o fato de que tratasse de um
assunto extremamente dinâmico que oferece diferentes maneiras de serem estudados através
de filmes, series, analise de imagens entre outros modos.
MATERIAL E MÉTODOS
Para a elaboração desse trabalho foi feita uma pesquisa através de um questionário
fechado, aplicado virtualmente com o suporte do Google formulário, aonde o questionário foi
destinado a uma amostra de alunos que cursam o ensino médio integrado do IFRN campus
Nova Cruz, o formulário é composto por quatro questões múltiplas escolha referente ao
ensino sobre a primeira guerra mundial durante o ginásio.
Questionário aplicado com o propósito de obter dados para analise dos resultados, a onde
estão presentes as seguintes perguntas, “você estudou o assunto da primeira guerra mundial no
ensino fundamental?”, a onde foi deixada duas opções de respostas são elas: sim e não, segunda
pergunta “se sim, como avalia a maneira que ele foi lecionado?”, e desta vez foi dado três
alternativas de resposta, bom, razoável ou superficial, a terceira pergunta foi “Independentemente
de ter estudado ou não, este assunto no ensino fundamental, como você avalia seu conhecimento
sobre a primeira guerra?” nesta pergunta temos três opções de respostas que são: bom, razoável e
péssimo, a quarta e ultima pergunta, “Você considera este tema como algo imprescindível no
ensino de história, durante o ginásio?” com duas alternativas sim e não.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Abaixo estão exibidos os resultados obtidos através da pesquisa com os alunos do
ensino media integrado do IFRN campus, Nova Cruz, o questionário é referente ao ensino da
primeira guerra mundial no nível fundamental sendo respondido por quarenta alunos.
A primeira questão busca saber quantos entrevistados estudaram esse assunto no ensino
fundamental, 62,5% disseram que estudaram já 37,5 afirmaram não ter visto esse assunto no
nível fundamental de ensino.
De acordo com esse resultado podemos reforça a idéia de que este assunto é pouco
trabalhado não apenas quantitativamente, mas, também em relação à intensidade com que é
lecionado, podemos perceber isto facilmente ao vermos que 42,3% dos entrevistados
alegaram ter estudado de maneira superficial.
A terceira pergunta tem o objetivo de saber o quanto os entrevistados, avaliam seu
conhecimento sobre a primeira guerra mundial, com três opções de respostas que equivalem
em nível de conhecimento sobre este tema, são eles, bom, razoável e péssimo, aonde apenas
12,5% dos entrevistados marcaram como bom 70% como razoável e 17,5 % como péssimo,
assusta saber que o numero de pessoas que classificam o conhecimento como péssimo é
superior aos que classificam como bom.
Partindo do ponto que esse tema é considerado um dos pilares do ensino de História no
nível fundamental, deveríamos chegar à conclusão que a grande maioria deveria considerar
seu conhecimento neste assunto como algo bom, porém não é isso que acontece apenas 12,5%
consideram seu conhecimento como bom em relação a este assunto.
A última questão consiste em saber a opinião dos entrevistados sobre o ensino da primeira
guerra mundial durante o nível fundamental, o resultado impressiona para 95% dos
entrevistados, afirmam que o ensino desse tema deveria ser algo imprescindível, na disciplina
de historia durante o nível fundamental, porém como vemos não é isso que acontece na pratica.
Podemos ver que quase uma unanimidade na resposta dessa questão, 95% dos
entrevistados disse que esse assunto é de suma importância, sabendo disto podemos ver uma
grande contradição entre como deveria ser feito o ensino da primeira guerra nas escolas de
nível fundamental e como realmente ele é abordado, de maneira vaga e pouco trabalhado.
CONCLUSÃO
Como foi visto nos resultados obtidos através do questionário, o assunto da primeira
guerra mundial não é lecionado com a efetividade que merece, um percentual significativo
dos entrevistados disse que este assunto deve ser tido como algo de grande importância para a
formação acadêmica dos alunos, porém, não é trabalhado com a importância que deveria,
espero que esse trabalho exponha essa deficiência no ensino deste tema, para que futuramente
possamos evita que este tipo de situação aconteça, evitando que muitos estudantes sejam
prejudicados e facilitando seu aprendizado nos níveis mais elevados de ensino.
Podemos afirma que ao falarmos da primeira guerra mundial, estamos falando de um
dos episódios mais importantes da historia da humanidade, devido a sua contribuição para as a
sociedade, podemos dizer que a historia eu como uma torre de cartas aonde todas as cartas são
de extrema importância para forma a base, que ira suportar as outras cartas que ainda estão
por serem montadas, muitos dos avanços da humanidade nasceu da necessidade do campo de
batalha, novos meios de se conservar alimentos, remédios, a primeira cirurgia plástica ocorreu
durante a primeira guerra, também temos que lembra os milhões de soldados que lutaram de
forma patriótica para defender os interesses e a segurança do seu país, lamentar os milhões de
inocentes que morreram, compreendendo os fatores sociais, políticos e econômicos que
provocaram a guerra, é essencial que a escola ensine de maneira significativa e completa,
temas de grande relevância como este, pois a historia não se resume apenas a quando
aconteceu, mas sim a o porque aconteceu, como aconteceu é o que esse acontecido implica na
nossa atual realidade.
REFERÊNCIAS
CAIME, F. Por que os alunos (não) aprendem História? Reflexões sobre ensino,
aprendizagem e formação de professores de História, Niterói. Tempo, V. 11. 2006.
SONDHAUS, L. A Primeira Guerra Mundial História completa. São Paulo. 2013. 550 p.
RESUMO: No período colonial aqui no Brasil existia uma a grande demanda de mão de obra
para os trabalhos mais “pesados”, os donos de terra necessitavam de pessoas capazes para
suprir essas necessidades e, assim, trouxeram, forçadamente, escravos da África. Após a
abolição da escravatura muitos desses escravos retornaram para a sua terra de origem ou a terra
de onde vieram seus ancestrais próximos e lá muitas vezes sofriam preconceito. Os agudás,
assim denominados os africanos libertos que retornavam para o Benin, África, eram vistos por
alguns como se fossem pessoas que não se encaixavam mais nos padrões daquela cultura, ou
seja, além de todo sofrimento suportado por eles enquanto escravos, ainda tinham que lidar
com o preconceito sofrido ao tentarem retornar à sua casa. Levando em consideração a
problemática da aceitação desse povo, o presente projeto teve como objetivo a investigação do
processo de migração de africanos e afro-brasileiros que atravessaram o Atlântico em busca de
suas raízes e de sua ancestralidade em território africano, no contexto da movimentação
abolicionista e da extinção oficial da escravidão no Brasil – nos séculos XIX e XX.
Palavras-chave: agudás, afrobrasileiros, benin, brasil, escravos.
INTRODUÇÃO
O Brasil, enquanto Estado Nação, é produto da expansão comercial e territorial da
Europa, levada a cabo pelo projeto das Grandes Navegações. Nesse contexto, o
expansionismo português chegou a essa parte do território da América (posteriormente
denominado Brasil) que se tornou colônia de Portugal. Com a montagem da estrutura colonial
no Novo Mundo, um elemento era, peculiarmente, importante para o progresso do projeto
colonizador: a oferta de mão de obra. Por razões que não cabe, nesse texto, fazer-se um
aprofundamento, a obtenção do trabalho das populações nativas não foi suficiente para o
adequado implemento da colonização. Diante desse fato, o dirigente português optou por
[...] O grande tráfico iniciou-se pouco menos de uns 50 anos após a descoberta do
Brasil com alguns navios, por particulares, enviados à África. Ainda assim, o
problema étnico devia surgir aos poucos e muito depois, que nos primeiros tempos
não havia povo brasileiro, mas europeus que estendiam ao Brasil uma parte da nação
portuguesa, para a qual os negros, sem laços de sangue, nem de outras comunhões
sociais, ainda estrangeiros na América, mais não eram do que simples máquinas ou
instrumentos de trabalho.2
Ora, é importante perceber que Nina Rodrigues, à sua época, já apontava para a falta de
uniformidade étnica do homem africano. Ele lembra ainda que nos Estados Unidos, a
necessidade de justificar o processo discriminatório deu lugar ao aparecimento de curiosos
estudos – sobre os negros norte americanos – frutos do “simples interesse científico”. Com
relação ao Brasil, o autor afirma: “[...] não consta que, no Brasil, se tivesse empreendido nesse
sentido a tentativa mais desvalorizada.”3 Contudo, o que se observa é que a questão étnica no
Brasil é um problema econômico, social, político e cultural.
Há muito vem se discutindo as diversas representações das tensões envolvendo a
questão étnica e como produto dessas discussões e análises o governo brasileiro aprovou, em
janeiro de 2003, a Lei Nº 10.6394 (que trata da obrigatoriedade de implementação nos
estabelecimentos de ensino – da rede oficial – públicos ou privados, da temática que
contempla o Ensino de “História e Cultura Afro-Brasileira e História da África e dos
Africanos no Brasil”) e, em março de 2008, a Lei Nº 11.645 (que estabelece as diretrizes e
bases da educação nacional para incluir no currículo oficial da rede de ensino a
obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”). As referidas
1
Nina RODRIGUES. Os africanos no Brasil. 1982, p. 13-14.
2
Idem, p. 14.
3
Idem, p. 15-16.
4
A Lei Nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996, que foi modificada pela Lei Nº 10.639 de 9 de janeiro de 2003 –
que determina a inclusão no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e
Cultura Afro-Brasileira” –, foi novamente alterada pela Lei Nº 11.645 de 10 março de 2008 – que
estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a
obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.
leis têm como objetivo subsidiar as instituições de ensino no trabalho com as múltiplas
identidades do povo brasileiro. Nesse sentido, a compreensão da cultura como patrimônio
universal da humanidade cria a necessidade de se fortalecer e afirmar a identidade cultural do
educando. Desse modo, entende-se como relevante e necessário estreitar as distâncias entre o
referencial teórico e a vivência cultural concreta. A partir dessa necessidade de se
implementar (no currículo escolar) os conteúdos propostos pelas leis supracitadas, bem como,
de se discutir (no espaço escolar) a temática da etnicidade, surgiu o interesse em se buscar
elementos que possam subsidiar o trabalho com a temática da “Educação para as relações
étnico raciais” em âmbito local e objetivando por meio desse processo fazer dos educandos
participantes (sujeitos ativos) no processo de pesquisa e criação de novos conhecimentos de
forma que eles adquiram mais informações sobre a presença dos afrodescendentes no Brasil e
também adquiram maior consciência do seu pertencimento social, ético e étnico-cultural.
Diante do exposto, a presente pesquisa tem como objetivo a investigação do processo de
migração de africanos e afro-brasileiros que atravessaram o Atlântico em busca de suas raízes
e de sua ancestralidade em território africano, no contexto da movimentação abolicionista e da
extinção oficial da escravidão no Brasil – nos séculos XIX e XX.
MATERIAL E MÉTODOS
A palavra pesquisa, quando entendida em sua acepção mais geral indica “[...] o conjunto
de atividades que tem como finalidade descobrir novos conhecimentos, seja em que área ou
em que nível for.5” Maria Lúcia de M. Prestes, em suas notas introdutórias sobre “Pesquisa”,
apresenta como conceito de pesquisa científica:
5
Maria Lucia de Mesquita PRESTES. A pesquisa e a construção do conhecimento científico: do planejamento
aos textos, da escola à academia. 2008, p. 24.
6
Idem, p. 24-25
7
Pedro DEMO. Pesquisa: princípio científico e educativo. 1999, p. 11-12.
8
Idem, p. 77.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A proposta de analisar o processo de migração de africanos e afro-brasileiros para o
continente africano – no contexto da movimentação abolicionista e da extinção (oficial) da
escravidão no Brasil – nos séculos XIX e XX, contempla a orientação das Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico Raciais.
Quando da primeira fase de levantamento das referências sobre o tema, a maioria do
material encontrado foi de natureza webliográficos (matérias audiovisuais, artigos, etc), quase
sempre dos mesmos autores. A grande referência até aquele momento era a indicação do livro
de Milton Guran. Contudo, só mais recentemente foi possível a aquisição dessa obra, a qual
continua sendo estudada com mais atenção. Além disso, foi possível, por meio da mesma,
tomar-se conhecimento de várias outras obras que já trataram sobre o assunto.
No desenvolvimento do trabalho de análise e realização de apontamentos do material de
consulta procurou-se:
Primeiro, identificar de quais regiões do Brasil houve maior número de migrantes para a
África. As referências consultadas apontam a Bahia como um dos estados de onde ocorreu
maior número de migrantes para a África, principalmente a região conhecida como “antiga
costa dos escravos”, na regia do golfo do Benin, África Ocidental. Segundo Milton Guran,
A antiga Costa dos Escravos, sobretudo o Benin, parece constituir o único exemplo
no mundo de implantação de uma cultura de origem realmente brasileira que
conseguiu levar uma vida própria e independente. De fato, a presença brasileira foi
tão forte nesta região entre os séculos XVIII e XIX que poderíamos falar de uma
colonização informal. Foi principalmente por intermédio dos brasileiros – em
consequência direta do tráfico de escravos – que esta região teve acesso, de forma
sistemática, a bens manufaturados, como as armas de fogo, e a uma língua de
expressão universal [...].9
Terceiro, refletir sobre os possíveis fatores que levaram “um” grupo de africanos e seus
descendentes brasileiros a promoverem a travessia do Atlântico com destino à África. Essa é
9
Milton GURAN. Os Agudás: os “brasileiros” do Benim. 2000, p. 02.
uma das questões mais complexa nesse processo de interpretação dos anseios daqueles que
desejaram voltar. Mas em linhas gerais, a busca pela referência no aspecto da identidade e do
pertencimento, parece ter sido um dos fatores mais fortes nesse tomada de decisão. Para Guran,
Quarto, apresentar noções de como se deu o processo de inserção dos migrantes entre
os grupos locais, atentando para a percepção desses sobre os “estrangeiros” e, destes
últimos, para com seus “anfitriões”. Essa é uma das questões bem interessante desse
fenômeno. De acordo com a literatura consultada, o principal fato que marcou esse encontro
foi o elemento do estranhamento. Observa-se que tantos os africanos foram resistentes aos
retornados, quanto estes outros em relação aos nativos. No propósito de se apresentar uma
melhor representação desse fenômeno, recorre-se novamente a Guran, que trabalhou essa
questão com bastante clareza.
Quinto, refletir porque alguns povos migrantes, os agudás do Benin, têm lutado para
preservar práticas e saberes da cultura brasileira em território africano. Trata-se de uma
questão bem interessante dentro desse cenário, pois pode parecer estranho, mas existem
retornados (brasileiros) que ainda procuram manter as tradições de sua vivência (ou de seus
antepassados não muito distantes) no Brasil em solo africano. Uma leitura, ainda não
conclusiva, demonstra que a falta de identificação com a cultura local, promovei a
necessidade dessa prática, ou seja, o culto às tradições da cultura colonial brasileira.
CONCLUSÕES
Esse estudo faz se importante, à luz das leis 10.639/2003 e 11.645/2008 e das
“Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico Raciais e para o
Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana”, primeiro por ter sido uma proposta
em que se coloca o educando como agente nesse processo de investigação. Segundo porque,
10
___________. Agudás, de africanos no Brasil a brasileiros na África. P. 01.
11
Milton GURAN. Agudás, de africanos no Brasil a brasileiros na África. P. 02
REFERÊNCIAS
DEMO, Pedro. Pesquisa: princípio científico e educativo. São Paulo: Cortez, 1999.
HERNANDEZ, Leila Maria Gonçalves Leite. A África na sala de aula: visita à história
contemporânea. São Paulo: Selo Negro, 2005.
OLIVEIRA, Luiz Fernandes de. História da África e dos africanos na escola. Rio de
Janeiro: Império Novo Milênio, 2012.
RODRIGUES, Nina. Os africanos no Brasil. 6. ed. São Paulo: Ed. Nacional; Ed.
Universidade de Brasília, 1982.
RESUMO: Este artigo buscou articular uma manifestação cultural, a Festa do Mandin em
Sena Madureira no Estado do Acre com um conjunto maior de festas populares existente no
Brasil e para, além disso, apresenta uma proposta pedagógica para o currículo do Ensino
Médio em escolas do município que tenha como ponto de partida a própria festa. A hipótese é
que a inserção da Festa do Mandin no currículo potencializará o intercâmbio entre os diversos
componentes curriculares de modo que as dinâmicas estruturais e identitárias no interior e
fora da escola possam ser visibilizadas de maneira mais concreta. O artigo foi brotado a partir
das análises de textos discutidos nas aulas da disciplina de Educação Intercultural, de
documentos legais como a Lei 12. 796/2013, as Diretrizes Curriculares Nacionais para o
Ensino Médio (DCNEM-2011), os PCNs (1997), leituras sobre Currículo e a articulação
destas com a pesquisa de tese em andamento.
Palavras-chave: currículo, escola, festa do mandin.
INTRODUÇÃO
O currículo como objeto de estudo há muito tempo vem sendo discutido no Brasil.
Existe inclusive, uma vasta literatura tratando das mais variadas dimensões deste no âmbito
dos sistemas educacionais. Já há bastante tempo o currículo deixou de ser uma área
meramente técnica, voltada para questões relativas a procedimentos técnicas e métodos para,
tornar-se um campo em permanente investigação crítica. Passa a ser visto como um artefato
social e cultural refletindo em muitos aspectos as dinâmicas estruturais e conjunturais da
sociedade e seus conteúdos, em grande medida, definidos pelas forças políticas, ideológicas e
pelas pressões do contexto histórico vigente.
O estudo das festas populares por sua vez, tem adquirido nas duas últimas décadas uma
importância considerável e, independente dos interesses em jogo, aproximou instituições e
grupos sociais. Segundo Del Priore (2000), as festas tradicionais brasileiras não “nasceram” no
MATERIAL E MÉTODOS
Para o artigo foram utilizados leituras e análises de textos, livros e legislação educacional
além de consulta às bases de dados da Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível
Superior- CAPES. Como instrumento de coleta de dados primários forma utilizados diário de
bordo, câmera fotográfica para registro de áudio e vídeo, questionários e entrevistas semi
estruturadas com alunos, pescadores, ex- pescadores, feirantes, professores e autoridades locais.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em pesquisa preliminar no Banco de teses e dissertações da CAPES em setembro de
2014 foram encontrados apenas (dois registros) de Festa popular no currículo; Cultura e
currículo no Ensino Médio (sessenta e três registros); cultura local no currículo escolar
(trinta e dois registros); Cultura local e escola (90 registros) e Currículo interdisciplinar
(cento e onze registros). Utilizando os mesmos descritores foi realizada recentemente uma
busca na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações – BDTD ligada a IBICT –
Instituto Brasileiro de Informação em Ciências e Tecnologia com os seguintes dados: Festa
popular no currículo (dois registros); Cultura e currículo no Ensino Médio (setenta e quatro
registros); cultura local no currículo escolar (trinta e oito registros); Cultura local e escola
(quinhentos e oitenta e dois registros) e Currículo interdisciplinar (cento e noventa
registros). Esses dados certamente serão revistos, sobretudo, em razão da disparidade no
penúltimo descritor da busca que traz 90 e 582 resultados respectivamente. Esse
levantamento prévio mostra que os temas envolvendo cultura popular e currículo parece ser
bastante fecundo para um redesenho curricular.
O currículo não é um elemento inocente e neutro de transmissão desinteressada do
conhecimento social e, exatamente por isso cabe considerar a importância dos fazeres e
saberes populares no mesmo. O currículo está imerso em relações de poder, transmitindo as
visões particulares e interessadas de grupos dominantes com as incontáveis resistências e
contradições. Não é também um elemento transcendente e atemporal – ele tem uma história
vinculada a formas específicas e contingentes de organização da sociedade e da educação
(MOREIRA & TADEU, 2011). Ao inserir uma manifestação da cultura local no currículo
escolar não apenas se faz cumprir um dispositivo legal, mas, sobretudo, possibilita ao nosso
estudante confrontar diferentes temporalidades e espacialidades, valores e visões de mundo.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (2011) em seu Art. 7º, afirmam:
Tomando o Art. supracitado, como ponto de partida, acredita-se que, introduzir uma
manifestação da cultura local ou regional no currículo do Ensino Médio constitui-se numa
importante oportunidade dos estudantes conhecerem e dialogar com sua própria cultura. E, do
ponto de vista do currículo, uma possibilidade de contraposição aos valores da cultura
dominante na formação das identidades locais.
A Lei 12. 796/2013, no art. 26, afirma que os currículos da educação básica devem ter
base nacional comum, a ser completada pelas características regionais e locais da sociedade,
da cultura e da economia dos educandos. Ainda nesta direção, os Parâmetros Curriculares
Nacionais PCNs (1997) nos ditos temas transversais – “Pluralidade Cultural”, no item,
“Temas Locais” pretendem contemplar os temas de interesse específico de uma determinada
realidade a serem definidos no âmbito do Estado, da cidade e/ou da escola.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (Resolução CMNE/CEB nº
02 de 30 de janeiro de 2012) reforçam essa tendência ao propor a necessidade de redesenho
curricular. Com este redesenho curricular a unidade escolar poderá direcionar seus currículos
a atividades que busquem garantir o direito à aprendizagem e ao desenvolvimento dos
estudantes, reconhecendo e valorizando as especificidades regionais e a cultura local. Situar a
Festa do Mandin num conjunto maior de festas e eventos tradicionais é também uma
oportunidade de compreender a festa para além da festa. De percebê-la como momentos de
grande importância social, cultural e simbólico, pois as festas são instantes especiais, cíclicos,
da vida coletiva, em que as atividades comuns do dia-a-dia dão lugar às práticas diferenciadas
que as transcendem, com múltiplas funções e significados sempre atualizados (IKEDA e
PELLEGRINI, 2008).
CULTURA E INTERCULTURALIDADE
A centralidade que o tema cultura vem ocupando nos debates e abordagens nos últimos
anos é um fato quase indiscutível. A carga de complexidade, fluidez e nuances trazido por sua
dimensão, permite encontrá-la em quase todos os aspectos da vida humana e a sensação que
se tem é a de que, ao mesmo tempo em que através dela podemos explicar quase tudo, não
conseguimos explicar quase nada. Hall (1997) esclarece que reconhecer a centralidade da
cultura nas sociedades de hoje não significa reduzir toda e qualquer atividade a cultura, mas
entender que os significados produzidos nas práticas sociais trazem uma dimensão cultural.
Em outras palavras, práticas políticas e práticas econômicas distinguem-se claramente da
cultura, mas todas dependem da maneira como os indivíduos as entendem e as definem. O que
teria então tornado o campo dos estudos culturais tão proeminentes assim?
A resposta a esta pergunta talvez esteja relacionada aos intensos processos de
deslocamentos humanos vividos nos últimos sessenta anos provocados, principalmente, pelos
desdobramentos do fim da Segunda Guerra Mundial e da descolonização de colônias
africanas e asiáticas que, colocaram em contato direto povos, sociedades e culturas de
distintas regiões do planeta. Esses contatos nem sempre são pacífico, pelo contrário,
geralmente são marcados por tensões e hostilidades mesmo que veladas e silenciosas. Junto a
isso, a globalização em seu acelerado movimento de massificação cultural, tende a
transformar todas as culturas e uma só cultura, diluindo as diferenças em padrões
uniformizados de gostos, vestimentas, falas, símbolos e outros acessórios.
Globalizar nesta perspectiva significa diluir identidades, extinguir linguagens e códigos
das culturas consideradas inferiores. Para Fleuri (2013), nesse final de milênio, trata-se não
mais de lutar pela sobrevivência física ou material dos grupos marginalizados, mas lutar pela
própria possibilidade de sua existência no campo do simbólico. Ainda sobre essa discussão,
Candau & Moreira afirmam que:
exemplo, foi possível relacionar o Mandin no conjunto das demais espécies de pescado da
região e seu ambiente natural, identificando semelhanças e diferenças tanto do ponto de vista
de sua fisiologia quanto de seu habitat. Como elemento da economia local, permite-nos situá-
lo no contexto das atividades econômicas da cidade, mostrando dentre outros aspectos que,
embora a pesca de açude tenha ganhado força nos últimos anos, e que a pecuária tenha
despontado como mais importante atividade econômica local, o Mandin como pesca artesanal,
continua no topo da preferência do consumidor. Sua pesca mobiliza um considerável número
de pessoas, que sobrevivem inclusive dessa prática cotidiana. Foram apontadas aqui apenas
duas possibilidades pedagógicas com a apropriação da festa confirmada pelo estudo, isto é,
biológica e econômica. Estão em andamento análises no campo da história e cultura local, da
geografia, da matemática e outras.
CONCLUSÕES
Embora ainda pouco amadurecida e com mais dúvidas que certeza, teceu-se algumas
considerações em torno da relação currículo e cultura popular. Por meio de revisão literária,
de dados preliminares da tese e da experiência docente apresentou-se uma proposta de ensino
que articulam dimensões curriculares, manifestações da cultura popular e educação
intercultural.
O interesse que direcionou a escrita deste artigo teve como ponto de partida, indagações
oriundas do projeto de tese relacionadas ao currículo do Ensino Médio. A hipótese proposta
como foi apontado é a de que a Festa do Mandin poderá constituir-se num importante canal de
comunicação entre escola e práticas sociais locais materializando-se na relação dialógica entre
os diversos atores do processo educativo. Sua inserção no currículo permitirá ainda um
diálogo com a interculturalidade ao confrontar universalidade com diversidade. Este
confronto visa ampliar zonas de contato, indo mais fundo em direção ao encontro com o
outro, com o diverso. Importante também neste estudo ver a festa como resultado de práticas
cotidianas e não como realidades impostas. Festa é sempre uma produção do cotidiano, uma
ação coletiva, que se dá em tempo e lugar definido, implicando a concentração de afetos e
emoções em torno de um objeto que é celebrado e comemorado, e cujo produto principal é a
simbolização da unidade dos participantes na esfera de uma determinada identidade.
Dessa forma, trabalhar a Festa do Mandin junto a crianças e jovens nas escolas pode ser
um meio fecundo de apropriação da história. Pode ser ainda, uma oportunidade para os alunos
compreenderem que seu movimento não é linear, nem feito apenas de grandes homens ou de
grandes eventos, mas também de personagens “anônimos” com suas “pequenas” histórias
nem por isso menos importantes, marcadas por continuidades e rupturas.
REFERÊNCIAS
Bdtd.ibict.br/acesso em 09/04/2015
DEL PRIORE, M. Festas e utopias no Brasil colonial. 2 ed. São Paulo: Brasiliense, 2000.
GUARINELLO, N. L. Festa Trabalho e Cotidiano. In: Jancsó, Istvan e Kkantor, Íris Festa:
Cultura e Sociabilidade na América Portuguesa. V.II. São Paulo: Hucitec; Editora
Universidade de São Paulo/Fapesp: Imprensa Oficial, 2001.
MOREIRA, A.F; TADEU, T. Currículo, cultura e sociedade. 12. Ed – São Paulo: Cortez,
2011.
INTRODUÇÃO
Vibra Lagarto cheia de glórias. Que através da tua história. É esta grandeza
envolvida em ternura. Assuero Cardoso
Boa parte das cidades, sobretudo do interior, tem seu memorialista, ou memorialistas.
Eles cumprem a função de escrever a história do lugar sem a preocupação do rigor acadêmico
e epistemológico. Com isso, são importantes fontes de estudo para a historiografia, pois
guardam as memórias que vivenciaram e que construíram sobre a cidade. Adalberto Fonseca,
natural de Campo do Brito-Sergipe, mas, lagartense de coração, nasceu em 1917, e
transcorreu sua vida pelas paragens baianas e cariocas até chegar em Lagarto1 onde casou-se e
constituiu família pelos anos de 1940. Ele mesmo nos diz da importância do seu livro História
de Lagarto, que começou a escrever em 1960, mas que somente fora publicado décadas
depois. Assim relata, Adalberto Fonseca, que “Não quis fazer apenas um livro de História,
mas penetrar nas entranhas de um povo e colher o melhor por ele produzido. Conhecer seus
costumes, narrar fatos que ao longo do tempo poderiam ser esquecidos por estarem apenas na
memória de alguns poucos mais atentos” (FONSECA, 2002:326)
Sua obra, portanto, cumpre, a nosso ver, uma dupla função, a primeira de salvaguarda
da memória local, como disse o historiador Eric Hobsbawm, “uma das tarefas do historiador é
lembrar o que os outros esquecem” (HOBSBAWM, 1995); e a segunda, a constituição de um
corpus documental para pesquisas futuras, haja vista, além do acionamento de sua própria
memória, Adalberto Fonseca nos disponibiliza em seu texto as fontes nas quais pesquisou a
história de Lagarto.
Adalberto Fonseca nos informa que outro memorialista deixou seu testemunho sobre
Lagarto. Tratava-se do Desembargador Gervásio de Carvalho Prata, que no início do século
XX havia deixado para a posteridade, a brochura “O Lagarto que eu vi”, obra que não
tivemos acesso. Porém, optamos, mesmo sabendo da existência deste memorialista, pela
escolha de “História de Lagarto” de Adalberto Fonseca, livro de memórias que nos
contempla com um quadro cronológico dos sujeitos políticos locais, dos sujeitos jurídicos,
personalidades de destaque da cidade, como os notáveis Silvio Romero e Laudelino Freire 2,
com um mapeamento das manifestações artístico/culturais de Lagarto, das imagens e
iconografia, desde freguesia, passando por vila no Século XVIII até chegar ao status de cidade
em fins do XIX. Relatou as particularidades, falou dos “causos”, das taieiras, dos parafusos
aos fragmentos e relatos da presença da escravidão em Lagarto, mesmo deixando em um
plano secundário a presença negra na cidade. Para quem nunca ouviu falar de Lagarto, como
foi o caso deste pesquisador logo de início, ler Adalberto suscita o interesse em conhecer
mais, ter uma idéia geral do que a cidade representou para o estado de Sergipe e para o Brasil,
fato que o sujeito mais famoso de Lagarto não se preocupou em compilar de forma específica.
Na visão do memorialista:
Como é sabido, Lagarto foi celeiro da cultura brasileira de onde saíram valores dos
mais variados, tendo como exemplo, o imortal Silvio Romero. Este, porém, jamais
se preocupou em dar a Lagarto, contada em livros, a narrativa de um povo nascente
dos mais tradicionais motivos que o fizeram publicar a maior obra até hoje no
1 Cidade localizada a 78 km da capital Aracaju, na região Centro-Sul de Sergipe e que conta com pouco mais de
100 mil habitantes.
2 Sílvio Vasconcelos da Silveira Ramos Romero (Vila do Lagarto, atual Lagarto, SE 1851 - Rio de Janeiro RJ
1914). Crítico literário, poeta, ensaísta, pesquisador de folclore e filósofo. Cursa a Faculdade de Direito do
Recife, entre 1868 e 1873. Nesse período, colabora como crítico em jornais pernambucanos e cariocas. Em 1878,
estreia como poeta com Cantos do Fim do Século e publica o livro A Filosofia no Brasil. Membro da
chamada Escola de Recife, é influenciado pelo positivismo e pelo pensamento de Kant, em seguida pelas ideias
evolucionistas de Herbert Spencer e por fim pela Escola de Ciência Social.. É um dos membros-fundadores da
Academia Brasileira de Letras (ABL).Extraído de< http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa1871/silvio-
romero> Acesso em 30/01/2015.
Laudelino de Oliveira Freire, escritor, filólogo e lexicógrafo brasileiro, nasceu em Lagarto/SE, em 26 de janeiro
de 1873 e faleceu no Rio de Janeiro, em 19 de junho de 1937.
Advogado, Catedrático de Geometria no Colégio Militar do Rio de Janeiro, Deputado Estadual em Sergipe
(1894, 1896 e 1898). Foi membro e presidente da Academia Brasileira de Letras. De sua vasta produção,
destacam-se as obras: Escritos diversos (1895), Corografia de Sergipe (1900), Sílvio Romero (1900), Os
próceres da crítica (1911), Estudos de filosofia e moral (1912), Introdução ao curso de Psicologia e Lógica
(1919), Clássicos brasileiros (1923) e Verbos portugueses (1934).
Extraído de< http://lagartonet.com/2011/04/05/laudelino-freire/> Acesso em 30/01/2015.
gênero, História da literatura brasileira. Por que nenhum dos valores apontados no
dicionário do Dr. Armindo Guaraná tiveram a lembrança de fazer isto. Coube a
mim, homem sem cultura, sem diploma, sem anel, essa tarefa de realizar.
(FONSECA, 2002:16)
A partir deste depoimento, percebemos que Adalberto Fonseca iconiza Silvio Romero
como um dos referenciais que dão vida à cidade, nacional e internacionalmente (Hoje também
representada pelo jogador lagartense Diego Costa que atua no futebol europeu), mas também
se coloca como um dos que, mesmo sem a “legitimidade” acadêmica, escreveu sobre e para
Lagarto.
MATERIAL E MÉTODOS
Além do livro de memória de Adalberto Fonseca foram registradas várias entrevistas a
partir do método da História oral, além da coleta de materiais impressos e iconográficos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A obra de Adalberto para nós cristaliza muitas memórias sobre a identidade local,
mesmo sabendo que as identidades na contemporaneidade são fragmentadas, segundo Hall,
sobretudo pelos processos da globalização. Então pomos em xeque as identidades fixas, e
estamos nos reelaborando constantemente. Isto acontece com Lagarto, em um misto de cidade
rural com os ventos modernos, que representa a perda gradativa de suas características mais
tradicionais com a ressignificação de novos valores. (HALL, 1999)
Estas características mais recorrentes de Lagarto, percebidas na obra de Adalberto, nos
faz pensar que o mesmo institui mitos de fundação. Adalberto Fonseca inventa seu Lagarto -
algo parecido com o que Marilena Chauí chamou de mito fundador -, para depois muitos a
inventarem do seu jeito e consoante seus interesses. A idéia de mito como momento
imaginário da vida dos lagartenses que se legitima como início, como algo que fosse perene,
pois aconteceu num dado período de tempo e se perpetua como uma representação constante
na cabeça da população. (CHAUÍ, 2000)
Adalberto promove o debate, por exemplo, sobre a chegada dos primeiros colonizadores
e o porquê da designação Lagarto, apontando duas vertentes explicativas e instituindo um
debate ainda recorrente hoje em dia na cidade. (FONSECA, 2002:66-67)3 Adalberto Fonseca
se autoproclama detentor da cultura de Lagarto, desta lagartinidade, quando perguntado sobre
sua participação na vida política da cidade afirma:
Certo dia, uma terça ou quarta, eu ia passando pela porta da prefeitura, que eu não
exerço função política nenhuma, não preciso. Mas eles sabem que as coisas que
Lagarto tem... se tem uma bandeira fui eu que fiz, se tem um hino fui eu que fiz, se
tem uma denominação fui eu que pesquisei. O que Lagarto tem culturalmente foi
feito por mim. (SANTOS, 2008:149)4
Nesta mesma entrevista se refere à sua importância no surgimento das Taieiras dos
Parafusos e dos Cangaceiros, grupos folclóricos que o mesmo julga ter incentivado e levado
para conhecimento além das fronteiras da cidade de Lagarto. Além, do hino, da bandeira e do
brasão, ícones identitários, conformam-se numa comunidade imaginada5 ao seu gosto e que,
3 A primeira Hipótese seria um brasão das primeiras famílias colonizadoras que tinha um símbolo de Lagarto e a
segunda, seria uma pedra de granito com forma de lagarto encravadas no rio homônimo que percorria os
arredores da cidade.
4 Entrevista concedida por Adalberto Fonseca aos autores em 22/12/1997.
5 A região, comparativamente com idéia de nação, obviamente que em menor escala, é também
intencionalmente imaginada resguardados os seus limites e sua soberania. Uma imagem de comunhão foi
ao lado dos eventos cívicos nacionais como o 7 de Setembro, dos grupos folclóricos,
sobretudo os parafusos, caracterizariam uma cidade de intensa vida cultural. (ANDERSON,
2008) Adalberto atribui suma importância à religiosidade católica lagartense como fragmento
importante de sua identidade. Na sua obra, traça a religiosidade católica como fio condutor de
outras manifestações a ela agregadas e como a comunidade se integrava, desde à época do
festejado Monsenhor Daltro6 até em despedidas de religiosos exaltando Lagarto e seu povo
como um importante centro religioso do estado:
Aqui chegando em 1968 Mário Rino Silvieri, quando foi nomeado coadjutor da
Paróquia de Nossa senhora da piedade, como bem faz constar em seu curriculum
vitae, 29 anos foram passados e a mesma predestinada cidade de Lagarto que com
26 anos de idade, com a missão de bem conduzir ou ajudar a conduzir a maior
unidade católica do interior do estado.(FONSECA, 2002:299)
Notamos aí a ausência de políticas públicas municipais para custeio e apoio aos grupos
folclóricos, mesmo em nível nacional o folclore ter sido prioridade durante a política cultural
da ditadura militar (CARVALHO, 2013)8. Segundo Adalberto Fonseca foi na gestão do
prefeito José Ribeiro de Souza (1970-1972), que obteve ajuda para fixar o marco de Santo
Antonio, Cruz das almas, como núcleo fundador da cidade cuja placa leva seu nome como
idealizador, e que teve apoio ao seu livro. Talvez, influenciado pelo momento cultural do país,
vigência da ditadura militar, marcada pelo civismo e pela construção de uma identidade
nacional homogeneizadora. Inclusive, numa parte de seu livro de memórias relata a passagem
do ditador Figueiredo na cidade de Lagarto e o entusiasmo com que o povo o recebera. Isto
ratifica, portanto, as influências indiretas na escrita do nosso memorialista que se preocupou
em firmar marcos que instituem a história de Lagarto.
pensada para a Lagarto e conformada para os lagartenses, mesmo que, a maioria destes não se conhecessem na
sua totalidade.
6 SANTOS, Claudefranklin Monteiro.(Org). Monsenhor de Carvalho Daltro- Apontamenos e fragmentos
biográficos.Lagarto, Prefeitura Municipal, Faculdades AGES,2011.
7 Sobre Folclore Lagartense e sobre a ida destes grupos citados ao Décimo oitavo festival do Folclore de
Olímpia São Paulo em 1982. Ainda na página 221, o autor ratifica a originalidade dos parafusos e a sua
especificidade como sendo de Lagarto em debate narrado pelo autor com uma pesquisadora da cidade de
Laranjeiras-SE.
8 Ver o primeiro capítulo que versa sobre a prioridade do Conselho Federal de Cultura dada ao folclore.
10 Por exemplo, os lugares materiais elencados na obra como as praças, as escolas, as ruas com nome dos
notáveis, os funcionais como o marco fundamental da cidade e os simbólicos como o nome de lagarto, os grupos
folclóricos etc.
11 Captaneado, sobretudo, pelo grupo teatral Cobras & Lagartos.
12 Ver o GUIA DO COMERCIO DE LAGARTO. Lagarto: 2 ed Editora Info graphics, 2010-2011. A
vaquejada aparece no Box “Shows e eventos/ Atrativos turísticos” onde é ressaltada a sua existência há 50 anos
atraindo muitos visitantes que se concentram no Parque Zezé Rocha, de propriedade do ex- prefeito da cidade e
idealizador do evento.
13 SANTOS, Claudefranklin Monteiro & CARDOSO, Assuero (Org). Nos Bailes da vida. Aracaju: J Andrade,
2013. Livro que conta a saga da banda Los Guaranis, talvez a maior expressão musical da cidade.
14 Destaco aqui a obra que tivemos acesso. CARDOSO, Assuero. Lagarto em verso & trova. Aracaju: J
Andrade, 2013
15 Ver site. http://allsergipe.com/ A ACADEMIA LAGARTENSE DE LETRAS, também designada pela
sigla ALL, fundada em 16 de fevereiro e instalada em 19 de abril de 2013, é pessoa jurídica de direito privado,
associação de fins não econômicos e de duração por tempo indeterminado, sediada no prédio da OACI Idiomas
Romero e Laudelino, como um lugar de produção literária, mas buscando ressignificar outros
valores como aponta um acadêmico alertando que, “o intuito da Academia de Letras é
preservar a memória, congregar uma entidade que se possa discutir essas questões voltadas
aos interesses da comunidade, notadamente os interesses culturais”.16
Para a juventude atual, a Lagarto de Adalberto Fonseca está muito longe, até mesmo
por conta da distancia temporal stricto sensu, mas, sobretudo pela ressignificação dos espaços,
das atitudes e das apropriações do passado. Quando perguntado sobre Sílvio Romero e
Adalberto Fonseca, o que eles representavam? O jovem responde sobre o primeiro “ Em mim
nada. Até porque ele não fala de Lagarto. E era totalmente conservador” e sobre o segundo
“pouco conhecia”.17 Mas também, carregam consigo também as influências, num misto entre
passado e presente:
CONCLUSÕES
Ao tratar de temas referentes às identidades culturais nos remetemos às formas como
uma sociedade se manifesta através da cultura, dos sujeitos históricos e de suas impressões
deixadas no tempo e no espaço. Sendo assim, a cidade de Lagarto é marcada por esta
lagartinidade que se configura no tempo, mas que também vai se adaptando e se
transformando, assim como o réptil lagarto, cuja existência é atrevida em muitos habitats na
natureza. Decerto, é uma memória assentada na produção cultural intensa, seja ela letrada – da
qual recorremos- ou, das expressões orais que refletem as mais variadas construções
memorialísticas.
AGRADECIMENTOS
À Propex IFS que financiou a pesquisa e a todos que colaboraram direta e
indiretamente, em especial os entrevistados e bolsistas.
REFERÊNCIAS
(Espaço das Letras), localizado na Rua Cel. Souza Freire, 54, Centro, com sede e foro no município de Lagarto,
Estado de Sergipe.
16. Depoente 03. Entrevista concedida ao pesquisador Anselmo Machado em 12/01/2015.
17 Depoente 07. Pedro Cazoy.Entrevista concedida ao pesquisador Anselmo Ferreira Machado Carvalho.
Lagarto, 13/01/2015.
18 Todo fim de mês acontece o Sarau, espaço de sociabilidade onde jovens lagartenses se reúnem na praça da
Caixa D’água para recitar, tocar e cantar. Como relata uma depoente “Bom, eu venho aqui poucas vezes, mas
todas as vezes que eu venho, eu sempre dou de cara com essa questão poética. Toda vez que eu venho eu sempre
vou ver o que? Tem um grupo que se junta lá caixa d’água (baixo da caixa d’água, não sei se é isso) que é uma
praça aqui, e eles sempre fazem isso, poesia, música, eles exploram muito essa questão poética” Depoente 12.
Tina Thais. Entrevista concedida ao pesquisador Anselmo Ferreira Machado Carvalho. Lagarto, 15 de dezembro
de 2014.
ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas. São Paulo: Cia das Letras, 2008.
CARVALHO, Anselmo F. M. A Bahia Constrói o seu futuro sem destruir o seu passado.
Feira de Santana: EDUEFS, 2013.
CHARTIER, Roger. “Por uma sociologia histórica das práticas culturais” IN: A história
cultural: entre práticas e representações Lisboa: DIFEL; Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
1990.
CHAUI, Marilena. Brasil: mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo: Editora
Perseu Abramo, 2000.
HOBSBAWM, Eric. A era dos extremos: o breve século XX. — São Paulo: Companhia das
Letras, 1995.
HOBSBAWN, Eric & RANGER, Terence (org.). Introdução. In: A invenção das tradições.
Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1984, p. 09-23.
NORA, Pierre. Entre história e memória: a problemática dos lugares. Revista Projeto
História. São Paulo, v. 10, p. 7-28, 1993.
SANTOS, Claudefranklin Monteiro & CARDOSO, Assuero (Org). Nos Bailes da vida.
Aracaju: J Andrade, 2013.
INTRODUÇÃO
O movimento operário no Nordeste durante muito tempo não foi alvo das pesquisas na
historiografia nacional e durante décadas, em virtude do “avanço” do capitalismo, o eixo
Rio – São Paulo foi considerado pela historiografia tradicional, como sendo os únicos
estados que de fato tiveram movimento operário. No entanto, hoje, as pesquisas vêm
trazendo contribuições consideráveis que não sejam apenas restritas a esse eixo e esse
remodelamento da historiografia vem ampliando os conhecimentos acerca de outras
contribuições para o movimento operário no Brasil. Neste sentido, a descrição da trajetória
do militante Antonio Bernardo Canellas em Viçosa –AL, no Nordeste, busca revelar o
contexto dos acontecimentos e mostrar que houve de fato movimento operário em Alagoas
nas primeiras décadas do século XX (1916-1917), enriquecendo a história do movimento
operário no Brasil, no referido corte temporal.
MATERIAL E MÉTODOS
Para contemplar o referido estudo, utilizou-se como fonte primária, o periódico Tribuna
do Povo, editado por Antonio Bernardo Canellas no período de 1916 à 1917 em Viçosa – AL.
Outras fontes foram pesquisadas, para ampliar as possibilidades de conhecimento, de atuação
e prática do militante e do contexto histórico em que ocorreram as mobilizações operárias.
Para entender e analisar tais fatos, foi acrescentado as seguintes fontes: relatórios do
governador da época, jornais da “grande impressa”, autobiografias de militantes que atuaram
e conviveram com Canellas e bibliografias acerca da temática.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O militante Antonio Bernardo Canellas nasceu e viveu em Niterói, no estado do Rio de
Janeiro, no dia 18 de abril de 1898. A sua vinda para o estado de Alagoas ocorreu quando este
ainda era jovem, com apenas 17 anos de idade. Não são precisamente conhecidos os motivos
de sua vinda para Viçosa - AL, mas de acordo com Iza Sales, a migração foi motivada em
face da campanha dos Libertários contra a Guerra e a autora comenta ainda que segundo
amigo de Canellas, Everardo Dias, em seu livro de memórias, o militante migrou a fim de
participar da organização sindical naquele estado e também, como ocorreu posteriormente, no
estado de Pernambuco. Já para Sílvia Petersen, o motivo de sua vinda para o Nordeste se deu
por conta de perseguições, fato comum aos militantes do movimento operário.
Em Viçosa, o militante e tipógrafo, publicou o periódico Tribuna do Povo, sendo este,
seu primeiro jornal voltado para a classe operária, posteriormente e até o final de sua vida,
publicou pelo menos mais quatro jornais. Em Viçosa – AL, foram publicadas 18 edições com
início em 17 de agosto de 1916, sendo a última publicação em 8 de janeiro de 1917. Viçosa
era nesta época, a maior economia do interior e a segunda maior cidade do estado de Alagoas
e com grande desenvolvimento econômico e de uma vida cultural fervorosa. Em virtude desse
desenvolvimento a cidade abrigava problemáticas quanto às questões políticas (política
conservadora típica do período: nepotismo, utilização do bem público em detrimento de
benefícios pessoais, autoritarismo, etc.), sociais e de trabalho, por ser naquela época uma
cidade com características feudais, com uma sociedade bastante complexa, abarcando
diversos grupos, classes e tipos sociais.
É importante frisar o expressivo papel desempenhado por Canellas em sua militância
com a publicação e divulgação desse periódico. Ao longo das edições, Canellas incorporou a
defesa pelas classes menos favorecidas, mencionando a falta de apoio aos trabalhadores do
meio rural, relatando as horas excessivas de trabalho, acrescentando os casos de denúncia de
desvio de verbas e as ações dos congressistas voltadas para a criação e aumento de impostos.
Denuncia as fraudes nas eleições e em suas publicações há alguns editoriais chamando a
atenção para necessidade de uma organização classista, com divulgação de notícias referentes
à exploração dos trabalhadores em Viçosa e em outras cidades do estado (Maceió, Pilar, etc.).
Em suas publicações Canellas divulgava e chamava a atenção para os altos índices de
analfabetismo, já elevados naquela época, comentava sobre a precariedade da infraestrutura
do município, mencionando, ainda, a política oligárquica, implantada em Alagoas.
Através de seu jornal, Canellas, militou por uma sociedade mais justa e igualitária,
divulgando o anarquismo, quando em uma de suas publicações (além de outras) ele indica que
a classe trabalhadora deve utilizar uma agitação extra parlamentar (princípio anarquista) para
conseguir mudanças efetivas na luta contra a exploração capitalista. Chama atenção também a
receptividade aos ideais anarquistas pelo redator tipógrafo quando da escolha de seus
colaboradores, em sua maioria, com posicionamentos anarquistas, embora este aspecto não
esteja de forma muito evidenciada seus artigos. Entretanto, considera-se exequível abordar
este aspecto da divulgação do anarquismo, tendo em vista, a defesa e divulgação majoritária
da referida ideologia por Canellas.
CONCLUSÕES
A trajetória de Antonio Bernardo Canellas em Viçosa-AL foi marcada por experiências
e atuações através da publicação do periódico Tribuna do Povo, que teve repercussão
evidente, sendo vendido, inclusive, em Maceió. Outro detalhe em relação ao percurso do
militante, diz respeito a seu posicionamento ideológico, com a divulgação do anarquismo
enquanto meio para se ter uma sociedade mais justa e igualitária.
A atuação do militante, não foi somente de divulgação de ideologias, mas também, de
incentivos para mobilizações classistas, da necessidade de participação e organizações
classistas, inclusive de agricultores, algo não comum para o período, sem falar da divulgação
dos males do sistema político vigente, ou seja, chamando a atenção para os problemas
advindos da política oligárquica e consequentemente social.
Através da trajetória de Canellas e das publicações do periódico, foi possível, também,
visualizar características da sociedade, economia e da cultura de Viçosa – AL, inclusive,
inter-relacionado a outras cidades de Alagoas, como por exemplo, Maceió, Pilar, União dos
Palmares, etc.
Enfim, um estudo que possibilitou novos conhecimentos e informações acerca do
movimento operário fora do eixo Rio- São Paulo, acrescentando, ainda, a experiência de
Canellas e de sujeitos anônimos, que foram partícipes das mobilizações classistas ocorridas
em todo país, sendo, muitas vezes, pouco conhecidas em suas especificidades e regionalidades
acerca do estudo/ensino sobre o movimento operário no Brasil.
REFERÊNCIAS
DIAS, Everardo. História das lutas sociais no Brasil. 2. ed. São Paulo, Alfa – Omega, 1977.
INTRODUÇÃO
O presente artigo é uma análise preliminar da Questão Agrária no Cone Sul de
Rondônia tendo como base a investigação dos conflitos agrários nos últimos cinco anos
(2011-2015) associando-os ao processo de organização e resistência dos acampados da
fazenda Santa Elina (Corumbiara) como fator mobilizador na região. A região do Cone Sul de
Rondônia, foi cenário do maior conflito agrário do Estado, conhecido como “Massacre de
Corumbiara”, ocorrido há 20 anos (09 de agosto de 1995) e que resultou na morte de 10
camponeses e 02 policiais militares. O Estado de Rondônia, figura como um dos Estados com
maior incidência de conflitos agrários, ficando apenas atrás do Estado do Pará. Por essa razão,
nossa pesquisa, ainda em andamento, quer investigar a situação atual dos camponeses que
vivem e trabalham na antiga fazenda Santa Elina, hoje área de assentamento, bem como
identificar novas ocupações de terra e conflitos agrários no Cone Sul de Rondônia.
MATERIAL E MÉTODOS
Nossa opção metodológica é pelo Materialismo Histórico-Dialético que nos permite
entender as contradições internas da estrutura social do período a ser estudado, a relação entre
estrutura e superestrutura, considerando que a história é um processo contínuo. O
materialismo histórico-dialético é o método para, interpretar e mudar o mundo ao mesmo
tempo (HOBSBAWM, 1998) e implica numa “vinculação epistemológica dialética entre
presente e passado” (CARDOSO, 1997, p. 25). Nossa preocupação é com a constante
integração empírico-teórica de forma a estabelecer conexões, mediações e contradições dos
fatos que constituem a problemática que nos propomos pesquisar.
Nosso campo de pesquisa está relacionado ao Cone Sul do Estado de Rondônia, em
áreas de conflito. Realizaremos um levantamento preliminar das áreas onde ocorreram os
maiores conflitos agrários nos municípios de Corumbiara, Cerejeiras, Vilhena, Colorado
D’Oeste, Cabixi e Chupinguaia.
Para esta pesquisa utilizamos como fontes de dados: pesquisa bibliográfica, análise
documental e fotográfica. O uso destes instrumentos será detalhado nos procedimentos de
pesquisa, a seguir.
A coleta de dados é desenvolvida utilizando-se os seguintes instrumentos:
a) Levantamento bibliográfico: Buscaremos as produções bibliográficas sobre a história
agrária de Rondônia, articulando-as aos estudos mais amplos sobre a questão agrária no país.
b) Análise documental: Serão objetos de análise os documentos sobre os conflitos
agrários, como: manifestos e declarações dos Movimentos Sociais; relatórios e
pronunciamentos da Ouvidoria Agrária Nacional, INCRA e CPT além de matérias
jornalísticas de sites e jornais da região.
c) Análise de fotografias: Será feito registros fotográficos nas áreas camponesas pelos
pesquisadores, coleta de registros fotográficos feitos pelos Movimentos e Sindicatos e
registros de arquivos pessoais.
Na análise dos dados, buscamos interpretar a realidade objetiva e subjetiva em termos
de categorias básicas: totalidade e contradição, A análise será realizada em dois níveis:
O primeiro nível tem por eixo a questão agrária, que procura analisar o contexto da
exclusão dos camponeses da terra e o monopólio da propriedade da terra na Amazônia e suas
raízes históricas, evidenciando o projeto de sociedade implícito ou explicito construído pelos
movimentos sociais do campo e os conflitos ideológicos apresentados pelos camponeses em
relação à luta e seus objetivos estratégicos.
No segundo nível utilizaremos a categoria totalidade e contradição para analisar os
aspectos históricos econômicos e políticos onde se dá a luta pela terra em Rondônia.
Entendemos que a problemática que envolve a luta pela terra é complexa e deve ser
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Sendo a concentração de terras o problema central da Questão Agrária, observamos que
a estrutura agrária brasileira mantém-se na mesma lógica da grande propriedade fundada na
semifeudalidade. Buscaremos discutir a Questão Agrária a partir de um marco teórico e
metodológico que orienta o Movimento Camponês na luta que se trava no campo pela
democratização da terra. O debate acerca do desaparecimento ou reprodução do campesinato
ainda se mantém no espaço acadêmico, contudo, compartilhamos com Wanderley (1996) de
que o campesinato se reproduz nas sociedades atuais integradas ao mundo moderno,
mantendo uma tradição camponesa, sendo que sua história no Brasil pode ser definida como
registro das lutas para conseguir um espaço próprio na economia e na sociedade, sendo que
este campesinato mundial, no século XXI supera a metade da população, milhões destes,
camponeses pobres sem terra, desenvolvem lutas, por meios pacíficos ou armados, para
garantir a posse da terra (MARTIN MARTIN, 2007).
Partimos do pressuposto de que o campesinato – em que pese o debate sobre seu fim ou
sua reprodução – é uma classe revolucionária e de que este está inserido num recorte espacial
de objeto de pesquisa a ser estudado, nossa análise se dá num espaço de conflitos sociais no
campo, partindo da premissa de que o espaço é cenário “por excelência, da luta de classes”
(LINHARES, 1995, p. 19).
Mais do que uma análise dos conflitos territoriais na expansão da fronteira agrícola na
Amazônia ou da análise descritiva das organizações camponesas, esta pesquisa se propõe a
oferecer uma contribuição sobre as experiências de resistência camponesa, em contraposição
às ações da grande propriedade latifundiária, já que consideramos ser esta, a principal
contradição existente no campo brasileiro. Nosso papel busca propiciar um debate sobre a
necessidade de investigação apontando os principais fatos que compõem a história recente de
Rondônia, de forma mais precisa a região do Cone Sul, com base em levantamento
bibliográfico sobre a ocupação e conflitos agrários.
Conforme Oliveira “a estrutura agrária concentradora de terra, poder e renda, torna
inviável a categoria histórica dos camponeses como elemento dinamizador do processo
histórico, além de manter sobre eles constante ameaça de violência e morte” (OLIVEIRA,
2007, p. 23). Com o acirramento das contradições no campo, os camponeses se organizam
contra o latifúndio e o Estado “pela simples razão de que já não podiam mais aguentar porque
não se resignavam a morrer calada e mansamente” (LÊNIN, 1979, p. 71).
A luta contra o latifúndio é feita na maioria dos casos de forma organizada na forma de
Movimento Social, que pode ser compreendido nas ações de sujeitos sociais articulados em
um espaço de um país ou região e que se estrutura a partir de “temas e problemas em conflito,
litígios e disputas vivenciados pelo grupo na sociedade” por meio de uma identidade coletiva
No ano de 2011, Rondônia destaca-se como um dos Estados com maior incidência de
despejos e ameaças de morte acompanhando o percentual de 85% das ameaças de morte que
estão concentradas na região Norte. Do total de conflitos registrados em Rondônia, 27%
concentra-se na região do Cone Sul. Do total de famílias envolvidas (acampados, posseiros,
assentados, etc.), 24% são desta região de Rondônia.
e Rondônia concentram 66,66% do total registrado em todo o Brasil. A região norte também
lidera as ocorrências de pistolagem com 49% do total nacional (CPT, 2014).
A pesquisa, ainda, está organizando um banco de dados com base nas informações de
Jornais impressos e online sobre os conflitos agrários na região, além dos dados coletados junto
aos Movimentos Sociais e Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTRs).
CONCLUSÕES
A presente pesquisa ainda está na sua fase de conclusão, portanto, apenas com
resultados preliminares. Constatamos um crescente processo de mobilização de famílias
camponesas na região do Cone Sul de Rondônia. Como é parte do nosso objeto de pesquisa
junto aos Movimentos Sociais, conseguimos um banco de dados de mais de 1.000 fotografias
para análise, além do registro fotográfico de acampamentos e famílias mobilizadas. Há um
fator de dificuldades quanto aos registros oficiais de conflitos agrários, considerando que a
Ouvidoria Agrária Nacional, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA),
responsável por acompanhar e dirimir conflitos agrários não tem disponibilizado seus
relatórios nos últimos anos. Será preciso uma análise in loco nos arquivos do Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA e da Ouvidoria Agrária Regional para
um melhor detalhamento dos dados da pesquisa, confrontando com dados disponibilizados
pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), Movimentos Sociais e Meios de Comunicação. A
previsão para a conclusão da pesquisa é para julho de 2016.
A pesquisa aponta para um crescente processo organizativo dos camponeses da região
do Cone Sul de Rondônia a partir de 2011, um ano após a retomada da antiga fazenda Santa
Elina, palco do conflito agrário conhecido como “Massacre de Corumbiara” ou “Combate da
Fazenda Santa Elina” no ano de 1995 (MARTINS, 2009). A área, ocupada por camponeses
em 2010, foi progressivamente sendo ocupada por famílias camponesas de vários municípios
da região e motivou inúmeras novas tomadas de terra. Contudo, nossa pesquisa ainda
encontra-se em fase preliminar, sendo necessários mais elementos para que apontem para a
vinculação direta entre esta ocupação e as demais que têm mobilizado camponeses na região
do Cone Sul de Rondônia.
AGRADECIMENTOS
Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia - IFRO, por
oportunizar o desenvolvimento desta pesquisa.
REFERÊNCIAS
_____. Conflitos no Campo – Brasil 2013. Goiânia: CPT Nacional, 2014. 198p.
_____. Conflitos no Campo – Brasil 2012. Goiânia: CPT Nacional, 2013. 188p.
_____. Conflitos no Campo – Brasil 2011. Goiânia: CPT Nacional, 2012. 182p.
HOBSBAWM, E. J. Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. 344p.
_____. Teoria e prática das guerras camponesas no marxismo do século XXI. Campinas:
UNICAMP, V Colóquio do CERMARX, novembro de 2007. Disponível em:
http://www.unicamp.br/cemarx/anais_v_coloquio_arquivos/arquivos/comunicacoes/gt7/sessa
o2/Victor_Martin.pdf. Acesso em 20 de jun. 2015.
INTRODUÇÃO
A maioria das pessoas sofre, em algum grau, com o ato de esquecer. O que comumente
chamamos de “branco”. É comum não lembrarmos de algumas coisas que temos para fazer ou
onde pusemos determinados objetos. Aliás, nunca se cobrou tanto da memória quanto nessa
“sociedade da informação”. Há tantas coisas a lembrar: nomes, lugares, situações que o
cérebro não comporta, tantas informações a serem disponibilizadas em qualquer momento.
Entretanto, naturalmente, a perda de memória é, muitas vezes, mais séria do que isso.
O cérebro, como o restante de nosso organismo, passa por modificações com o
envelhecimento, o que faz com que, em muitos casos, a perda de memória seja normal. O
psiquiatra Samuel Gershon afirmou que
perdermos cabelo, ficamos grisalho, nossa pele perde elasticidade, não conseguimos
manter a velocidade na corrida, nossos olhos não vêem com a mesma nitidez. Tudo
isso faz parte do processo normal de envelhecimento. No sistema nervoso central,
ocorrem também, mudanças características. Células nervosas morrem. Estabelece-se
menor número de conexões. Reduz-se o peso do cérebro, em conseqüência da perda
de certos tipos de célula nervosas. Tudo isso faz parte do envelhecimento normal”.
(Cershon Appud Defelice, 1989, p.12).
MATERIAL E MÉTODOS
De acordo com Sonia Brucki (2007), as demências ligadas à memória acontecem se
ocorrerem várias pequenos derrames ou um derrame grande em uma área importante do
cérebro ou um traumatismo craniano. Contudo, a demência mais freqüente que atinge as
pessoas na velhice é a doença de Alzheimer, onde as informações novas não são aprendidas, e
com a progressão da doença, o paciente vai perdendo a memória recente, até o esquecimento
das habilidades cotidianas, sociais e motoras.
Por ser uma doença degenerativa cerebral progressiva, o Alzheimer incide diretamente
na perda de habilidades como pensar, memorizar, raciocinar. Essa perda de habilidades se dá
pela formação de feixes de uma proteína chamada betaamilóide nos neurônios, diminuição da
estrutura interna dos neurônios, diminuição do neurotransmissor chamado acetilcolina no
cérebro e aumento da concentração de alumínio no cérebro (SONIA BRUCKI, 2007).
As várias experiências com a memória cristalizam os conhecimentos e os tornam
fluídos. À capacidade de utilizar o conhecimento acumulado chamamos de “inteligência
cristalizada”, enquanto à capacidade de lidar com a informação ou utiliza-la de forma
diferente da utilização antiga, comumente agindo em elaboração de juízos e resolução de
problemas, chamamos de “inteligência fluida”. Ambas são necessárias em um ou outro
momento da vida e às vezes, em ambos como por exemplo, ao tentar entender uma notícia de
jornal (Defelice, 1989).
Às vezes nos sentimos traídos pela memória, por lapsos comuns que na quase
totalidade, não deveriam nos preocupar. É comum esquecer o nome das pessoas que foram
recentemente apresentadas, ou acordar, pela manhã, e não lembrar do sonho que tivemos, ou,
ainda, planejar uma palestra e esquecer de citar pontos que consideramos argumentos fortes.
Para Defelice (1989), nossa percepção sofre com as deficiências ocasionadas pela
distração durante o momento de apreensão da informação, como também pelo estresse
ocasionado pela preocupação com a possível perda de memória. Com isso, a falta de interesse
pelas situações nos rodeiam, com o álcool que inibe temporariamente o cérebro, o nervosismo
ocasionado pela ansiedade que mina toda a mente, a desorganização, o medo da senilidade, a
repreensão a algo que se quer esquecer, excesso de televisão e até uma vida de desafios.
Defelice afirma que:
Marion Perlmutter (1989) afirmou que o cérebro começa a envelhecer no início da idade
adulta, embora as pessoas só percebam essa perda bem mais tarde. O fato de associar a
velhice com a perda de memória, em muitos dos casos, é exagerada, porque é colocada de
muito medo. Muitas pessoas não levam em consideração o fato de a forma de processamento
da informação estar intimamente ligada com a fixação da memória ou a falta dela quando do
armazenamento das informações.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Compreendemos que a memória não é algo do passado. Ela é o passado representado no
tempo contínuo da lembrança; e só é possível se lembrar no presente, portanto a memória é a
lembrança presente da representação do que se supõe, ou pressupõe passado, mas que na
verdade não findou porque é atualizado.
Ao analisar as lembranças expressas nas entrevistas, percebemos, nos sujeitos
lembrantes, que a sensação de conhecimento obtuso dos lugares exala a experiência da ideia
de não pertencimento. É como se eles conhecessem intimamente um lugar e depois, da mesma
forma, vissem intimamente o outro lugar, mas tivessem sensação de não pertencer
completamente a nenhum dos dois. O enigma de uma “chegada” sempre adiada é a sensação
de trânsito que perpassa os corações e mentes desses moradores.
Além da perda de memória considerada comum ou reversível, existem as perdas
irreversíveis de memória que são ocasionadas por distúrbios, demências ou doenças que
ocasionam perda ou bloqueio permanente de capacidades mentais. Embora não tenhamos
acesso aos exames mentais, a família de dona Nena constantemente afirma que ela está doente
ou demente. E isso fica claro no final do período de entrevistas executadas com ela.
Passamos quatro anos acompanhando o estado de dona Nena. Sua memória, sua saúde,
seu desejo de viver foram gradativamente sendo tomados pelas demências e doenças que ela
sofre. Abaixo, colocaremos alguns trechos de entrevistas, alguns produzidos em 2003, dois
períodos em 2004 (quando do agravamento da demência) e outros em 2007 para compararmos
as dificuldades pelas quais ela passa.
Dona Nena falou de suas lembranças em 2003:
(...) Quando minha irmã morreu eu tinha quatro anos e ela [irmã] tinha três, mas
ainda hoje eu me lembro da minha irmã como se fosse hoje (...)
(...) Meu padrasto não me dava uma caixa de fósforo, um palito... Aí ela [mãe] foi
comprar, um metro e não sei quanto de uma fazenda. Eu ainda me lembro o nome
dessa fazenda... fazenda ainda vermelha, com umas pintinha branca... (...)
(...) [Durante o inverno] A gente andava pelo meio do campo pra não ficar atolado.
Quando eu cheguei aqui, em 70 ... em 71... alagou, que a água veio até aí a escola.
Eu me lembro que meu menino que tava ontem aqui, ele tinha uma canoa.
Quando conhecemos dona Nena, ainda era uma senhora lúcida. Tinha orgulho de
“arrumar a própria casa sem precisar de empregada”. Cultivava dezenas de plantas em seu
“quintal”. Uma senhora doente e solitária que ainda andava, trabalhava e se orgulhava de ter
sua casa limpa e pronta a receber visitas.
O tempo passou e, em fins de 2004, as dezenas de caixas de remédios pareciam não
ajudá-la como antes.A casa já não tão arrumada. Algumas plantas morreram, o “quintal” já
não tão limpo. Não tinha forças para encher uma garrafa de água. A demência já parecia estar
influindo mais incisivamente em seu corpo e sua memória.
(...) A reunião aqui da comunidade era na igreja mesmo. Aí, eu não sei mais... (...)
(...) Quando eu cheguei aqui não tinha Igreja, o pessoal se reunia pra ir pro bairro
da... aquele bairro que vai pro rumo daculá... Eu sou tão esquecida... (...)
A família se aproximou mais dela, mas as doenças também. No início de 2007, quando
do fim da coleta e transcriação do corpus das entrevistas, pudemos perceber frases inteiras
como as que se seguem:
(...) Eu nasci em... Não me lembro o nome da colocação, sei que nasci em
Tabatinga, no Seringal Novo Tabatinga, que eu nasci... (...)
(...) Eu não me lembro mais... Olha, depois que passou pela minha cabeça, aí
pronto... (...)
(...) Eu não sei mais em que ano nós começamos... Eu não me lembro mais que
ano eu cheguei aqui... Eu não me lembro mais de nada, meu filho. Eu fiquei
assim tão esquecida... (Nena, grifo nosso em todas as falas).
Como dona Nena, outros entrevistados sofrem de perda de memória irreversível, muitos
delas acompanhadas de depressão.
Algumas demências são afetadas e agravadas pelo excesso de remédios. Dona Nena
afirma que o médico já trocou sua medicação várias vezes porque ela passava mal ao ingerir
determinados medicamentos. E quando ela ia para o hospital, consultar um médico “que
estivesse de plantão”, ele passava mais remédios, nem perguntava o que ela estava tomando
“só passava mais remédio”. O que alguns médicos que atenderam dona Nena e outros sujeitos
lembrantes parecem não saber ou não atentar é o que Gershon chama de primeiro erro clínico.
Ele afirma que:
O primeiro erro clínico consiste em não verificar quais as drogas que o paciente
idoso está tomando. Alguns pacientes tomam de dez a vinte remédios diferentes. É
de fato possível que a medicação esteja causando desequilíbrio cognitivo
significativo (SAMUEL GERSHON apud DEFELICE, 1989).
Daí eu me casei com, viche nem me lembro mais a idade, tenho nem idéia. Passei
trinta anos casada, meu marido morreu em [mil novecentos e] noventa e quatro,
deixa eu ver... me ajuda... [treze anos, mais ou menos]. É acho que foi isso, por aí
assim (Laura – colchetes são intervenções do pesquisador).
A maior parte das lembranças de dona Laura são tristes. Ao analisar suas falas,
percebemos os momentos felizes sendo postos à tona com menor intensidade que os tristes. À
frente, teremos um contraponto de lembranças felizes e tristes em uma mesma fala. Nela
percebemos a ênfase dada às tristezas:
Daí nós tivemos seis filhos, mas criou-se só dois, aí um mataram, né? Tiraram a vida
do meu filho, ficou só um que é o pai do Dario. Só criou-se dois, nascia e morria,
né? Aí criou-se dois, que era o Jorge, que mataram, e ficou o Ribamar, que é o pai
dessa galera. Hoje só tenho um filho.
Suas tristezas não são apenas pela família, mas pelo próprio lar em que queria
transformar sua humilde casa.
Minha casinha era coberta de palha, fechada de palha, não tinha piso, era só o chão
mesmo. Só cabia a cama, um fogãozinho, era bem pequenininha. Era uns três por
cinco, acho.
Então, ele... aconteceu isso... Eu ainda não sei por que e nem me interessa mais,
porque meu menino não vai voltar mais, né? Então eu não quero saber mais de nada.
Ele tinha dezesseis anos na época. Mataram ele em 1984 (Laura, entrevista no início
de 2005).
(...)No fundo, eu não vivo feliz... O meu menino, às vezes eu penso... ele, com uma
paciência, beijando a mão de Deus, que Deus é o juiz. Eu não tenho notícia desse
moço nem nada, que Deus faça sua justiça (Laura, entrevista em fins de 2006).
CONCLUSÕES
Existem lapsos normais de memória e a perda anormal de memória – como no caso da
doença de Alzheimer. Além da perda de memória considerada comum ou reversível, existem
as perdas irreversíveis de memória que são ocasionadas por distúrbios, demências ou doenças
que ocasionam perda ou bloqueio permanente de capacidades mentais.
Os sonhos se misturam com os pesares e a depressão parece envolver os sujeitos
lembrantes. As demências que parecem não ter atingido a memória, atingem o corpo e
influenciam diretamente o modo de pensar e as relações que se têm com as pessoas próximas.
É como se um pedido de socorro emanasse de seus corpos cansados. Buscam insistentemente
melhorias que, em muitos dos casos, não vêm. Então, eles choram suas lágrimas vertidas, por
seus sonhos não realizados e pela possibilidade de melhoria se tornar cada vez mais distante.
Ao ver seu filho e seus netos passarem por dificuldades, dona Laura bem representa os outros
sujeitos lembrantes que tentam melhorar a vida de seus familiares. Entretanto, em seu caso
específico, ela só consegue prover o básico e, às vezes, nem isso:
Tem vez que eu vejo algum chorando com fome aqui, dou roupas, porque minha
nora, ela não tem emprego, meu filho trabalha assim... serviço hoje, amanhã, às
vezes... recebe... às vezes, não recebe... Aí aperta...
Eu sou uma mulher que sente mais tristeza que alegria. A gente não consegue o que
quer. Eu tô viva, porque Deus que multiplica, porque eu mesma não posso fazer
nada pra viver. Eu tenho um Deus, que pela misericórdia dEle, Ele me faz viva,
conserva as minhas crianças com saúde, meu filho com saúde, minha nora... É ele
quem cuida de nós (Laura).
A esperança de dona Laura está em Deus. Ele é seu socorro presente, embora em sua
fala fique demonstrado que esse socorro nem sempre é como ela gostaria que fosse. Contudo,
fica-nos a impressão de que a esperança em Deus é uma unanimidade entre os entrevistados.
Eles crêem que podem melhorar suas vivências a partir de suas atuações e com a permissão de
Deus. Muitos deles têm sofrido demências, depressões e apatias. Muitas de suas doenças são
consideradas incuráveis pela medicina moderna, mas eles permanecem com sua fé em Deus
como alicerce a partir do qual estabelecem a busca para uma vida melhor.
A memória autobiográfica é um construto que se refere à habilidade de recordar
conscientemente as experiências individuais vividas no passado. A maioria das pessoas sofre,
em algum grau, com o ato de esquecer, o que comumente chamamos de “branco”.
É comum não nos lembrarmos de algumas coisas que temos para fazer ou onde
pusemos determinados objetos. Aliás, nunca se cobrou tanto da memória quanto nessa
“sociedade da informação”. Há tantas coisas a lembrar: nomes, lugares, situações que o
cérebro não comporta, tantas informações a serem disponibilizadas a qualquer momento.
Entretanto, naturalmente, a perda de memória é, muitas vezes, mais séria que isso.
A memória, como qualquer outra parte do corpo, necessita de exercícios e ambientes
que favoreçam conforto e situações nas quais se possam exercer atividades que levem ao
processamento das informações. É necessário manter-se mentalmente ativo, evitar tensões e
manter contato social. O ato de fazer novos amigos e comentar as vivências traz à tona as
lembranças há muito guardadas na memória, além de possibilitar novas perspectivas ao fluir
da memória na aplicabilidade prática do cotidiano.
REFERÊNCIAS
BOSI, E. Memória e sociedade. São Paulo: T.A. Queiroz - Editora da Universidade de São
Paulo, 1987.
DEFELICE, Stephen L. Perda de Memória. Trad. Maria Pia Brito de Macedo. São Paulo:
Nobel, 1989.
PERLMUTTER, Marion; HALL, Elizabeth. Adult development and aging. 2nd ed. New
York, Publisher: Wiley, 1992.
THOMPSON, Paul. A voz do passado - História Oral. 4 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
2002.
RESUMO: No Brasil o direito ao voto só foi concedido às mulheres em 1932, por meio do
Decreto-Lei 21.076 pelo presidente Getúlio Vargas, no entanto no ano de 1927 a professora
Celina Guimarães Viana, residente na cidade de Mossoró/RN, apresentou um ação inovadora
ao requerer junto ao juiz do município que o seu nome fosse incluído na lista de eleitores da
cidade, tornando-se assim a primeira mulher a exercer o voto não apenas no estado do Rio
Grande do Norte como também no Brasil. Essa ação empreendedora de Celina abriu as portas
para uma crescente participação feminina não apenas da política local como também da política
nacional. O presente estudo objetiva identificar como a professora Celina Guimarães
influenciou na política nacional e na conquista das brasileiras pelo direito ao voto, buscando
compreender qual a herança deixada do ponto de vista histórico e social para o estado, além de
analisar a representatividade feminina no atual cenário político do Rio Grande do Norte.
Palavras-chave: Participação feminina, política, Rio Grande do Norte, voto.
INTRODUÇÃO
A sociedade carrega dentro de si inúmeros preconceitos estabelecidos erroneamente a
respeito de diversos temas, tornando o convívio social difícil para algumas classes, como é o
caso dos índios, negros e mulheres. Esses preconceitos são estabelecidos antes mesmo do
nascimento de novos indivíduos, estando arraigados na cultura local que passa a enxergá-los
com normalidade.
No entanto, com o passar dos anos, é natural que tais conceitos sejam questionados e que
a classe oprimida passe a sentir a necessidade de reivindicar seus direitos como é o caso do
Gênero Feminino, que ao longo dos anos se viu alvo de diversas formas de exclusão e
inferioridade, desenvolvendo uma vontade de lutar por um mundo mais justo, onde pudessem
ter representatividade para enfim, deixar de ser tratado como o “Outro” e passar a ser tratado
como “Um” também.
Ao longo deste estudo será destacada uma das mais importantes conquistas da mulher: o
direito ao voto, pois é a partir dessa conquista que o ser humano passa a escolher seus
representantes e sente-se responsável pelo destino da comunidade e do ambiente em que vive.
O voto feminino foi assegurado no Brasil apenas no ano de 1932, através de uma reforma no
Código Eleitoral com a assinatura do Decreto-Lei 21.076 pelo Presidente Getúlio Vargas, mas
apesar da conquista, apenas as mulheres casadas – e devidamente autorizadas por seus maridos
–, as viúvas e solteiras que tivessem renda própria poderiam votar.
Porém, vale destacar que apesar do voto feminino ter sido assegurado através de uma lei
em 1932, no Rio Grande do Norte esse direito foi obtido alguns anos antes pela professora
Celina Guimarães Viana, que - segundo Rocha Neto; Carvalho (2011) -, requereu no dia 25 de
novembro de 1927 o registro como eleitora na cidade de Mossoró. O requerimento da
professora – ainda segundo Rocha Neto e Carvalho – constava da seguinte solicitação:
Celina Guimarães, [...] residente nesta cidade, achando-se habilitada, como prova com
os documentos juntos, para se alistar como eleitora, requer a V. Exa, que se digne
mandar incluí-la no rol dos eleitores deste município [...]. Na mesma data, um
despacho do juiz interino do município, Sr. Israel Ferreira Nunes, defere o pleito,
torna-se ela a primeira brasileira com direito a votar. (RODRIGUES, 2003, p. 72 apud
ROCHA NETO; CARVALHO, 2011, p. 04).
MATERIAL E MÉTODOS
Para alcançar os objetivos propostos anteriormente se fará uso de diversas fontes, como
artigos científicos, artigos presentes em sites, dados do Tribunal Superior Eleitoral e
depoimentos orais realizados com três moradores locais, sendo eles: Maria de Fátima da Costa,
professora e vereadora da cidade de Nova Cruz – RN, Olivar Viana Barbosa, auxiliar do poder
legislativo e funcionário há 35 anos da Câmara Municipal de Nova Cruz – RN, e Abílio Alves
de Lima, fotógrafo e um dos moradores mais antigos da cidade, tendo um rico conhecimento
não apenas da política local, bem como da política do estado, tendo participado de inúmeros
fatos marcantes da cidade. A partir das informações coletadas se fará um confronto entre elas
para uma melhor compreensão e visão do tema abordado.
No decorrer do estudo também será apresentada uma breve análise com relação aos
aspectos abordados pela socióloga francesa Simone de Beauvoir através do livro O Segundo Sexo
– A Experiência Vivida, que traz ao longo de seu conteúdo constatações a respeito do destino
tradicional das mulheres na sociedade, demostrando o estreito universo em que estão inseridas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para entender as lutas femininas por direitos e igualdade de gênero, é importante que
todos os leitores entendam um pouco a respeito dessas lutas, observando através de Beauvoir
que tais lutas não são recentes na sociedade, mas que já existem há muitos séculos e ainda
continuam a ocorrer.
Com o movimento feminista e na esteira das reivindicações pelo voto, o que lhes
possibilitaria maior atuação política e social, a domesticidade foi invadida e as
mulheres passaram a atuar no espaço público exigindo igualdade de direitos, de
educação e profissionalização. (ALMEIDA, 1998, p. 27 apud ROCHA NETO;
CARVALHO, 2011, p. 02).
A mulher sustentada — esposa ou cortesã — não se liberta do homem por ter na mão
uma cédula de voto; [...]. Foi pelo trabalho que a mulher cobriu em grande parte a
distância que a separava do homem; só o trabalho pode assegurar-lhe uma liberdade
concreta. Desde que ela deixe de ser uma parasita, o sistema baseado em sua
dependência desmorona; entre o universo e ela não há mais necessidade de um
mediador masculino. (BEAUVOIR, 1967, p. 449).
Com os trechos citados acima é possível observar como dois autores de épocas diferentes
podem dialogar através de seus escritos: Almeida (apud ROCHA NETO; CARVALHO) aponta
uma sociedade marcada pela luta feminina na busca por direitos, como a profissionalização. Já
Beauvoir aponta a profissionalização como sendo uma possível solução acerca da distância
existente entre o masculino e o feminino, destacando que de nada adianta o direito ao voto se a
mulher continuar cercada de costumes que a colocam na condição de submissa.
A História Potiguar foi formada através da colaboração de inúmeros sujeitos históricos
que participaram de forma positiva para a construção de uma sociedade melhor, dentre eles
encontra-se a professora Celina Guimarães Viana que através de suas lutas em prol da
participação feminina na sociedade norte-rio-grandense, conquistou o direito de escolher seus
representantes através do voto, o que levou várias outras brasileiras da época a reivindicarem o
mesmo direito. Celina buscou também assegurar que as gerações futuras pudessem exercer uma
participação maior e mais igualitária no âmbito social, não só no estado do Rio Grande do
Norte, como no Brasil.
Segundo Rocha Neto; Carvalho (2011), Celina Guimarães – portadora do título de
eleitora na cidade de Mossoró/RN – solicitou junto ao Senado Federal a aprovação de um
projeto que regulamentasse de uma vez por todas a situação feminina perante o direito ao voto,
sendo amparada pela Constituição vigente na década de 1920. A partir dessa solicitação se
percebe a importância de Celina que, além de ser a pioneira no que diz respeito ao voto
feminino, não se contentou apenas com o seu próprio voto, pois queria garantir também que
outras mulheres pudessem alcançar tal direito.
Celina Guimarães Viana foi muito importante para o desenvolvimento do cenário político
do Rio Grande do Norte na década de 1920, mas vale acrescentar que inúmeras outras mulheres
fizeram História posteriormente nesse âmbito e continuam a fazer constantemente, sobretudo
durante o século XXI, demonstrando dessa forma que – com o passar dos anos – esse desejo
feminino pela participação continua vivo. Daí a importância de mencionar durante esta pesquisa
figuras como Wilma de Faria, Fátima Bezerra, Micarla de Souza e Rosalba Ciarlini, que
desempenharam papeis importantes no cenário estadual por terem ocupado cargos públicos
geralmente ocupados apenas por homens.
Todavia, apesar das mulheres estarem tomando cada vez mais para si um espaço
anteriormente destinado apenas aos homens, muita coisa ainda precisa ser feita. Como
destacado através do depoimento oral da Vereadora Fátima Costa – da cidade de Nova Cruz/RN
– a mulher, ao assumir um cargo público, se depara com situações de preconceito, onde pessoas
com pensamento machista fazem questão de não abdicar ao seu espaço, pressionando e
dificultando ao máximo suas vidas no plenário. Segue um trecho da entrevista:
[...] Ainda existe uma discriminação, se não existisse nós teríamos mais mulheres na
câmara de vereadores, hoje só temos uma representação [...]. No meu primeiro
mandato em 2000 eu me candidatei a presidente e teve um vereador - um homem -
que disse que não ia votar em mim porque não se via administrado por uma mulher
[...]. (COSTA, 2014.)
A Figura 1 destaca que da quantidade total de eleitores do RN, mais de 50% são mulheres,
mas a quantidade de candidatas continua baixa (Figuras 2). Outro depoimento oral colhido,
dessa vez com Abílio Alves, que é natural da cidade de Nova Cruz/RN e residente na mesma,
demonstra a opinião do mesmo a respeito da representatividade feminina nos cargos públicos.
O entrevistado considera que o número de representantes femininas no poder tende a aumentar,
justamente pelo fato das mulheres ocuparem uma porção superior à dos homens no que diz
respeito à quantidade de eleitores.
está abandonando certos preconceitos tidos antes como normais, e passando a reconhecer a
contribuição feminina no meio social.
CONCLUSÕES
A participação feminina no âmbito social é uma temática importante para a construção de
uma sociedade mais justa e igualitária. Através das fontes utilizadas foi possível observar a
importância e correspondência que obras escritas em épocas diferentes podem ter com o
contexto social de épocas anteriores – como o contexto em que foi concedido o direito ao
primeiro voto feminino – bem como com épocas atuais – como o caso em que se encontra
Fátima Costa.
Celina Guimarães pode ser considerada como uma importante figura, pois além de
contribuir para uma conquista das mulheres de sua época, deixou uma grande herança para
aquelas que vieram a nascer após o seu primeiro voto, instigando dessa forma outras mulheres
a participarem de forma mais ativa na construção da política do Rio Grande do Norte, que com
o passar dos anos, passou a ter não apenas um número de eleitoras superior ao de eleitores,
como também um número considerável de representantes femininas.
Neste artigo procurou-se evidenciar a importância da desconstrução do mito de que a
função da mulher se baseia apenas nas atividades relacionadas ao lar, além de demonstrar que
está havendo ao longo dos anos a quebra de algumas barreiras. Em 1927 ocorreu o primeiro
voto, em 2014, já se observa na esfera estadual mais de 50% dos eleitores sendo do sexo
feminino, além do aumento significativo nas candidaturas efetuadas pelas mulheres.
Entretanto, vale ressaltar que o número de candidatas ainda é pouco se comparado com o
número de candidatos, ou seja, mesmo com o sexo feminino ocupando mais da metade do
número total de eleitores ainda é de extrema importância que esse interesse por ocupar cargos
públicos seja incentivado, para que no futuro se possa ter uma representação mais efetiva.
Dentre os vários fatores incutidos na sociedade e que atribuíram ao gênero feminino à
condição de inferior, se observa a cultura como sendo uma enorme barreira, pois é a partir do
contato com ela que o indivíduo começa a agregar em seu interior inúmeros preconceitos.
Para acabar com tais preconceitos é imprescindível que todos os seres humanos – de
ambos os sexos – reconheçam desde sua infância que nenhum dos gêneros tem um papel
específico e isolado na sociedade, mas sim, que ambos desempenham papéis indispensáveis e
complementares.
REFERÊNCIAS
ABÍLIO ALVES DE LIMA. Mulheres na Política potiguar. 10 set. 2014. Nova Cruz/RN.
Entrevista concedida a João Marcos da Cunha Silva e Taynara Ewerlyn Barbosa Ramalho.
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa busca romper com a história cronológica centrada em datas, tempo e heróis.
Para tanto buscou criticar fontes primárias jornalísticas no intuito de uma história vista por
“baixo”, por outra ótica que não aquela ligada ao mito dos “desbravadores” e “pioneiros” tão
em voga na Amazônia. Por meio da análise da inserção de conflitos sociais - neste caso pelas
representações dos povos indígenas e a ampliação das fronteiras econômicas, geográficas,
sociais entre outras – na qual se utilizou e se utiliza, em larga escala, a propaganda midiática
que geralmente confirma tais discursos e silencia aspectos importantes de minorias locais. A
imprensa local potencializou imagens estereotipadas e por vezes até preconceituosas contra os
nativos, cuja preocupação no início dos anos 1980, centrava-se em narrar e promover a
instalação do novo estado com símbolos de progresso representados pela Hidrelétrica de
Samuel, a pavimentação da BR-364 e o desenvolvimento urbano acelerado.
MATERIAL E MÉTODOS
Utilizou-se o método serial com técnicas de análise de conteúdo para o tratamento,
sistematização e manuseio das fontes jornalísticas (jornal Estadão de Rondônia). O recorte
temporal abrange 1981 a 1985 (fase de criação e estruturação do estado de Rondônia e de forte
processo migratório). Nortearam a pesquisa os conceitos de hegemonia e manipulação da
imprensa na busca de entendimento dos consensos dentro das notícias, pontuando os locais das
falas e silêncios a cerca do fenômeno estudado. Todas as reportagens foram selecionadas e
digitalizadas de um universo amostral de 244 reportagens. Depois de lidas com maior
profundidade, construiu-se um quadro serial que facilitou a investigação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nas reportagens analisadas, percebe-se três elementos simbólicos de representação
indígena reverberada na imprensa: 1) a imagem ufanista de primeiro “brasileiro”; 2) o selvagem
integrado a natureza; 3) O primitivo/arcaico que impede a chegada do “progresso”.
As comemorações cívicas foram reverberações pela qual a imprensa se utilizou e se utiliza
quando trata a figura indígena de forma geralmente genérica, distante e muitas vezes
romantizada da realidade da colonização e criação do estado de Rondônia. As reportagens
utilizaram o “índio” por esta forma ufanista, ligada às comemorações alusivas ao seu “dia” e/ou
a sua “semana” que se comemora no Brasil a partir do dia 19 de abril. O índio era lembrado
como representação nacionalista de “primeiro brasileiro”. Havia muitos concursos de redações
nas escolas públicas, geralmente atrelados ao ato cívico de hasteamento da bandeira nacional.
Em reportagem de 20 de abril de 1982, o jornal Estadão destaca em sua capa uma imagem
que reforça a representação ufanista, índios Suruí e Karipuna hasteando a bandeira nacional,
junto a alunos de escola pública numa espécie de conciliação imagética e simbólica entre índios
e civilização longe das disputas trágicas que ocorriam no interior da floresta em quase todo o
estado (figura 01).
Esse simples ato de hasteamento da bandeira por “representantes” indígenas era algo
relativamente importante naqueles períodos de criação e implantação do estado no qual a grande
migração precisava de consensos que identificassem os migrantes com Rondônia. Não era fácil
criar o Novo Eldorado ou a “Terra da Providência” em meio à repercussão de violências
factuais. A comunhão entre índios e brancos se fazia necessária - ainda que simbólica - em
certos momentos pelas páginas da imprensa.
O dilema daquelas representações seguidas por atos cívicos simbólicos era justamente a
tentativa arbitrária de unir mundos diferentes com signos representativos de uma nação que
avançava de forma violenta sobre aqueles povos. A imagem representava por duas etnias locais
e que se apresentavam no processo colonizador paradoxalmente como os “atrasados” que
dificultavam o “progresso” ao mesmo tempo em que reverenciavam um símbolo (a bandeira)
que era arbitrariamente inserido dentro de seus campos simbólicos tradicionais.
Não escapam a um primeiro olhar o fato de que, à medida que a colonização se ampliava
- e isso significava um real avanço cronológico de 1981 a 1985 - a questão indígena ia se
tornando um assunto espinhoso para o jornal, preocupado que estava em reverberar as imagens
do Eldorado e da Terra da Providência.
A tônica jornalística era centrar sua pauta sem parcimônia nas ideias de progresso para a
região com interesses hegemônicos múltiplos, inclusive ligados ao sucesso de
empreendimentos aplicados na instalação e ampliação do próprio jornal Estadão que se tornaria
o primeiro do Estado a trabalhar com máquina off set, acelerando sua produção e
consequentemente aumentando seu número de leitores se tornando altamente rentável
comercialmente.
O desmazelo com questões da vida cotidiana indígena se evidencia em tais reportagens
pela despreocupação com a temática ligada, entre outras, à questão da saúde daqueles povos.
Constatamos no universo amostral pesquisado que havia pouca divulgação e/ou ocultação. Não
por acaso reportagens sobre as questões de saúde indígena somam menos de 2,7 por cento das
reportagens. Mesmo este número pequeno de notícias, dava conta dos fracassos da intervenção
estatal junto à situação de contato com o mundo civilizado.
De maneira geral o que se destaca de forma mais preeminente nas reportagens é a
percepção do aspecto trágico como elemento central. A maioria das abordagens do jornal não
produz o “índio”, mas reproduz imagens - com raras exceções - que por múltiplas que pareçam
ser geralmente se cristalizam numa dicotomia de longa duração que renasce na epopeia pela
qual passou o Território Federal de Rondônia para se transformar em estado.
Pode-se apontar, em consonância com o sociólogo, experiente em etnologia indígena
Rinaldo S. V. Arruda (2001), duas representações recorrentes no jornal Estadão: 1) O índio
como metáfora de liberdade natural; 2) O índio como imagem de “atraso” a ser superada. De
forma diversa e por vezes subdividida nas clássicas imagens de selvagens, primitivos e/ou
primeiros habitantes. Muitas delas presentes nas representações analisadas.
O índio como o selvagem que ataca seringais.
No último sábado, os índios Uru Eu Wau Wau voltaram a visitar o posto de atração
da Funai, denominado Alta Lídia. Segundo o Delegado da Funai, Apoena Meireles,
“agora só esperamos o convite, para que possamos ir até a aldeia, o que não deverá
demorar, pois as visitas estão constantes” (O Estadão de Rondônia, 08/12/1981, p.03).
Será comemorado amanhã, dia 19 em todo o país o “Dia Nacional do Índio”, data
consagrada àqueles que são considerados os primeiros habitantes da Terra, antes da
civilização. Aqui em Porto Velho, no período de 19 a 23 do corrente mês, a 8ª
Delegacia Regional da FUNAI estará desenvolvendo vasta programação sobre o
evento, objetivando principalmente a divulgação da cultura dos índios de Rondônia
(O Estadão de Rondônia, 18/04/1982, p.03).
Nas entrelinhas dessas reportagens, encontramos sem muito esforço o aspecto que não
aparece de forma clara ou oficial na ideia de “atraso”, diante de novos tempos e da construção
de novos espaços, os povos indígenas vão se isolando cada vez mais em terras menores, pois
os grandes espaços de locomoção e morada já não lhes pertencem, a não ser que se adaptem as
novas paisagens com café, arroz e, posteriormente, gado.
Essa visão sobre a modernidade se retroalimentando da expropriação do outro é mais bem
trabalhada por Hanna Arendt (1995) em sua crítica a Modernidade, quando localiza nas origens
do capitalismo a exploração do outro como algo retroalimentar que continua na
contemporaneidade.
Tal visão cultural cristalizada e imutável de sociedade em relação aos povos indígenas se
torna a-histórica e, de certa forma, e por vezes camufladas de “boas intenções” se reproduzem
pelas páginas do jornal. É claro que essas visões não ocorrem em todas as reportagens, porém,
imagens jornalísticas que respeitem à alteridade indígena são realmente exceções nas produções
aqui estudadas.
CONCLUSÃO
Fato concreto é que as etnias indígenas geralmente passam a existir para o jornal a partir
de algum tipo de conflito advindo do contato com alguma frente de expansão, sendo esse
aspecto trágico de exploração o que os lança de forma inicial a Modernidade.
Ambas as visões sobre os índios, a de “liberdade natural” ou a de “atraso”, estão presentes
pelos padrões de manipulação em busca de hegemonias, provocadas pelos múltiplos interesses
da mídia jornalística impressa.
A desnaturalização da grande imprensa nesta pesquisa se fez pela constatação das
intenções múltiplas do veículo impresso que não são outras se não aquelas ligadas aos interesses
corporativistas da empresa de mídia escrita. Ao estar ligado à criação do estado de Rondônia,
o jornal buscou constantemente equilibrar suas arbitrariedades com o que julgava “vontades
coletivas”, ajudadas pelo contexto da época que, em última instância, trabalhava na manutenção
de um status quo que buscava significação sobre um local que deveria se negar em seus espaços
naturais e de memória para receber o “novo”.
REFERÊNCIAS
Dia do índio comemorado ontem em Porto Velho, O Estadão de Rondônia. Porto Velho, 20
de abril 1982, Capa.
Índios Uru Eu Wau Wau fizeram nova visita ao posto Alta Lídia. O Estadão de Rondônia,
Porto Velho, 8 de dez. 1981, p.3.
Rondônia possui cerca de 4 mil índios. O Estadão de Rondônia, Porto Velho, 18 de abril 1982,
p.03.
RESUMO: Este trabalho teve como objetivo a realização de um estudo acerca das “trocas
patológicas” entre indígenas e não indígenas no município de Eirunepé – AM. Sabe-se que os
contatos entre europeus e indígenas trouxe uma série de doenças para os nativos, ao passo que
também ocorreu o movimento inverso. Neste estudo, realizamos uma análise (a) dos casos de
malária entre os não indígenas do município de Eirunepé – AM em 2014 e (b) os casos de
gripe registrados entre os indígenas deste município. Metodologicamente, realizamos uma
pesquisa de campo – através de entrevista e busca em banco de dados da saúde – e uma
pesquisa bibliográfica, das quais resultaram uma análise comparativa. Com a realização deste
trabalho, pode-se constatar que, assim como no passado, os contatos interétnicos entre
indígenas e não indígenas acarretam num intercâmbio patológico prejudicial a todos, sendo
necessárias medidas profiláticas mais efetivas e eficazes para a redução dos problemas de
saúde entre aqueles grupos.
Palavras-chave: doenças, relações interétnicas, indígenas, não indígenas, Eirunepé – AM.
INTRODUÇÃO
As relações interétnicas estabelecidas entre os indígenas americanos e os europeus, a
partir do século XVI, trouxeram uma série de mudanças significativas na vida de ambos os
grupos sociais, pautadas especialmente nas diferenças entre estes grupos. Tais relações
sempre se mostraram bastante problemáticas, especialmente para os indígenas, que foram
tomados como passíveis de (a) escravização, (b) catequização, (c) expropriação, todas estas
tomadas como formas de dominação política, econômica e cultural. Todavia, não se pode
perder de vista o domínio biológico empreendido contra estes nativos americanos, algo que se
deu principalmente através da introdução – acidental ou propositada – de doenças.
O isolamento em que viviam os indígenas americanos desde quando chegaram no
continente fez com que estes sujeitos não tivessem imunidade contra os vírus e bactérias
oriundas de outros continentes. Esta condição os tornavam deficientes de resposta imune Th2
para microorganismos causadores de doenças como a gripe, o sarampo, a varíola e as
disenterias (GURGEL, 2009, p. 7). Daí, tem-se registros significativos nas Américas de que
entre os séculos XVI e XIX, a varíola, o sarampo e a gripe teriam sido responsáveis pela
morte de cerca de 80% das populações indígenas no continente (UJVARI, 2012).
Se, por um lado, os europeus foram os responsáveis pela introdução destas doenças e de
suas terríveis consequências nas Américas, por outro também foram afetados por patologias
que ocorriam aqui. A priori, conforme os primeiros relatos produzidos sobre o Novo Mundo,
acreditava-se que os indígenas eram sujeitos “sadios” e “robustos”, na medida em que eram
vistos no contexto de uma natureza exuberante. Todavia, um exemplo bastante significativo
de que aqui haviam doenças ainda não conhecidas pelos europeus é a sífilis, que foi contraída
nas Américas e levada para a Europa, de onde se espalhou pelo resto do mundo (BAIDA;
CHAMORRO, 2011, p. 2). Conforme observamos as “trocas patológicas” fazem parte da
história tanto dos nativos americanos contactados a partir do século XVI quanto dos europeus
que os contactaram, o que torna a relação entre ambos os grupos étnicos um tanto complexa.
Diante do exposto acima, este trabalho teve como principal objetivo atentar para a
malária e a gripe enquanto patologias que são “trocadas” entre não indígenas e indígenas,
respectivamente, no contexto das relações estabelecidas entre estes dois grupos na cidade de
Eirunepé - AM. Tendo surgido a partir da execução do projeto de pesquisa “VISITANDO A
CIDADE: Motivações das Visitas de Indígenas Aldeados à cidade de Eirunepé – AM” -
vinculado ao Departamento de Ensino, Pesquisa e Extensão do IFAM/Campus Eirunepé - o
presente trabalho pretende - ao discutir a relação entre doenças, indígenas e não indígenas -
oferecer subsídios para pesquisas futuras, em cujos objetivos estejam a busca de soluções para
as questões da saúde pública no município de Eirunepé - AM.
MATERIAL E MÉTODOS
O A partir dos objetivos elencados neste trabalho, fizemos uso da modalidade de
pesquisa chamada “pesquisa de campo” (TOZONI-REIS, 2007). No que diz respeito às
técnicas e instrumentos de pesquisa, realizaremos: a) observação; b) registro etnográfico; c)
entrevista e questionário; d) transcrição de entrevista; e) pesquisa documental; f) análise de
conteúdo; e g) produção textual. Sobre a pesquisa de campo, diz-se que “é a observação dos
fatos tal como ocorrem e não permite isolar e controlar as variáveis, mas perceber e estudar as
relações estabelecidas” (RODRIGUES, 2007, p. 4). Considerando as proposições de
Gonçalves (2011, p. 18) a respeito da pesquisa de campo – quando atenta para o “como?”, o
“onde?” e o “como?” – fizemos observações e registro in loco com os sujeitos elencados,
além de realizar entrevistas temáticas. Sobre as entrevistas, tomamos como base os preceitos
das Ciências Sociais naquilo que diz respeito às “entrevistas temáticas”, entendidas como
aquelas “que versam prioritariamente sobre a participação do entrevistado no tema escolhido”
(ALBERTI, 2005, p. 175). Feitas as entrevistas, passou-se para a produção documental, tanto
em áudio e vídeo quanto na forma textual, daquele material produzido. Para a realização das
entrevistas, foram utilizados gravador de voz e câmera contidos em nossos aparelhos
celulares, a fim de registrar em áudio e vídeo, os depoimentos durante as entrevistas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A cidade de Eirunepé sedia um dos municípios mais distantes da capital do Estado do
Amazonas, na medida em que está localizada a cerca de 1.160 km de distância em linha reta e
a cerca de 3.800 km, quando medida a distância pela via fluvial. O município ocupa uma área
de 15.832 km², ao passo que o perímetro urbano ocupa apenas 4,3172 km². A população do
município está estimada em 33.580 pessoas, de acordo com o censo de 2014, realizado pelo
IBGE. Daí, conclui-se ser este o vigésimo município mais populoso do Amazonas e o
primeiro mais populoso da microrregião do Juruá, além de ser um centro sub-regional do
estado (FUNAI, s/d, s/p.).
Dos 33.580 habitantes do município de Eirunepé, 2.200 são indígenas, distribuídos em
38 aldeias, sendo que destas 18 são da etnia kanamari e 20 da etnia kulina. Estas aldeias estão
localizadas nas (a) terras indígenas Kanamari, do Rio Juruá, (b) Kulina, do Médio Juruá e (c)
Mawetek, constituindo cerca de 7.000 km². Além destas, há cerca de 15 famílias residentes na
sede do município, o que constitui um grupo de cerca de 50 pessoas (FUNAI, s/d, s/p.).
Apesar de a grande maioria dos indígenas neste município viverem como os seus
ancestrais pré-cabralinos – nas aldeias, retirando seu sustento da agricultura, da coleta de
frutos silvestres, da pesca artesanal, e da caça. Alguns também vivem do comércio de
artesanato, vendendo principalmente nos centros urbanos. Também tem-se um número de
aproximadamente 50 indígenas que trabalham no serviço público de educação e saúde, 116
famílias cadastradas no Programa Bolsa Família e aproximadamente 80 indígenas que são
beneficiários de aposentadoria por idade e/ou invalidez (FUNAI, s/d, s/p.). Daí, tem-se uma
das principais motivações para o contato destes indígenas aldeados com os grupos não
indígenas e urbanos.
Uma outra motivação para a vinda dos indígenas aldeados ao centro urbano de
Eirunepé é a busca de atendimento à saúde. Sabe-se que o atendimento à saúde indígena
dar-se tanto “em aldeia” quanto na cidade. O atendimento urbano é realizado no âmbito da
Casa de Saúde Indígena – CASAI, que é o centro de atendimento à saúde indígena daqueles
sujeitos que se deslocam das aldeias para serem atendidos no centro urbano de Eirunepé.
Além do atendimento na CASAI, estes indígenas são alocados na Casa do Índio, localizada
no centro da cidade, onde podem morar o tempo que acharem necessário (TISS;
HERNANDES, [2007], p. 2).
Se no passado, os contatos interétnicos ocorriam motivados pelos não indígenas,
durante o processo de colonização da região, nos dias atuais – com os não indígenas já
estabelecidos – o processo ocorre de maneira inversa: são os indígenas que adentram a
sociedade não indígena, em busca (a) de trabalho e renda (b) de benefícios sociais fornecidos
pelo Estado e (c) de atendimento à saúde, também fornecido pelas instituições do Estado
Brasileiro. Nisto, detectamos as “trocas patológicas” neste novo contexto.
Sobre este fenômeno, o Diretor da CASAI de Eirunepé – AM, quando perguntado
acerca das doenças que afetam os indígenas, nos diz o seguinte: “diarreias, pneumonia,
tuberculose, malária, desnutrição, essas são as principais patologias que nós tratamos na
CASAI”. Dito isto, perguntamos se as doenças tratadas nos indígenas diferiam daquelas que
afetam os não indígenas, da qual obtivemos a seguinte resposta: “(...) não muito, porque as
patologias (...) não divergem muito (...) não é muito diferente. Geralmente elas se associam,
principalmente com os que passam muito tempo na cidade, como eles falam, contraem as
doenças do branco, vem pra cá, aí pegam gripe e tal aí adoecem e levam doença do branco
pra lá [para a aldeia] (...)”.
Em estudo realizado entre setembro de 2000 e agosto de 2001, Tiss e Hernandes
([2007]) nos apresentam dados bastante significativos, se atentarmos para a relação entre a
gripe e a malária que afetam os indígenas. Os dados apresentados pelas autoras dão conta de
que – no período – foram registrados 90 casos das Infecções Respiratórias Altas – IRAS – nas
quais estão incluídos os casos de gripe - e apenas 13 casos de malária entre os indígenas
atendidos pelo serviço de saúde indígena no município de Eirunepé, tanto o atendimento
realizado “em área” – diga-se, nas aldeias – quanto o atendimento realizado na CASAI. Num
olhar comparativo entre (a) o atendimento em área e (b) o atendimento na casa de saúde,
sendo que 53 casos ocorreram em área e 37 na CASAI, respectivamente (TISS;
HERNANDES, [2007], p. 3).
A gripe é uma doença contagiosa resultante da infecção pelo vírus influenza, que ataca o
nariz, os seios nasais, a garganta, os pulmões e os ouvidos. Nos seres humanos, o vírus se liga
à mucosa do aparelho respiratório e é mais perigosa em crianças, idosos e pessoas com
resposta imunológica deficiente (ROCHE, 2013). Já afirmamos que a gripe foi uma daquelas
doenças introduzidas pelos europeus nas Américas, tendo sido responsável pela morte de
parcela significativa da população nativa, que não dispunha de resposta imunológica ao
ataque dos vírus. Ademais, a gripe – bem como outras “doenças de brancos” que afetam os
indígenas - destaca-se como uma patologia que possui como características principais (a) o
alto poder de contágio e (b) a ação coletiva sobre todo o grupo, atacando as populações
indígenas em grande escala (CARNELO; BUCHILLET, 2006, p. 253).
A (a) gripe tem se tornado uma patologia cada vez mais “comum” - quando tomada
como uma “doença externa” (dsamacoma) entre os indígenas da etnia Kulina, ao lado (b) da
diarreia, (c) das doenças dermatológicas, (d) de ferimentos e (e) de mordidas de animais -
sendo percebida como uma patologia “fugaz” (POLLOCK apud TISS; HERNANDES,
[2007], p. 15). Todavia, o vírus influenza (causador da gripe) tem sido alvo das políticas
públicas na área da saúde indígena, na medida em que – até maio de 2015 - 183 mil dozes
foram aplicadas aos indígenas em todo o país e, até o final do ano, se pretende alcançar a
universalização desta vacinação em todo o país (BRASIL, 2015).
No que tange à questão da malária, perguntamos acerca da transmissão da doença dos
indígenas para os não indígenas, na medida em que seriam os indígenas os responsáveis por
“trazerem a malária para a cidade”, no sentido de que o vírus estaria encubado nos seus
corpos e o mosquito transmissor, picaria o indígena infectado e, a posteriori, picaria o não
indígena, infectando-o. Para esta questão, o Diretor da CASAI disse: “(...) é comum, nós
temos relatos que aqui na cidade não tinha nem um caso de malária. Quando os indígenas
começaram a vir, já vieram infectados e na cidade tinha o transmissor, o anofelino. Então ele
infectou o anofelino e o anofelino se encarregou de infectar a população, os moradores do
bairro (...) mas é comum isso (...) já aconteceu sim (...) antigamente o branco transmitia pro
índio, mas nesse sentido aí é outro né [?!] porque eles [os indígenas] “levam” [a gripe], mas
também trazem”.
Sabe-se que a malária é uma doença causada pelo parasito do gênero Plasmodium, um
agente etiológico que provoca malária humana a partir de quatro espécies, sejam (a) o
Plasmodium falciparum, responsável pela forma mais grave e letal da doença, (b) P. vivax, (c)
P. marariae e (d) P. ovale, sendo que esta última só foi registrada, até o momento, na África.
Sobre a transmissão desta doença, a mesma “(...) ocorre por meio da picada de fêmeas
infectadas de mosquitos do gênero Anopheles, sendo mais importante a espécie Anopheles
darlingi, cujos criadouros preferenciais são coleções de água limpa, quente, sombreada e de
baixo fluxo, muito frequentes na Amazônia brasileira” (BRASIL, 2010, p. 9).
Dentre os principais sintomas, destacam-se (a) dores de cabeça e no corpo, (b) fraqueza,
(c) febre alta, (d) calafrios, (e) dores abdominais e ainda (f) dores nas costas, (g) tontura, (h)
náuseas e (i) vômito (BRASIL, 2010).
Os casos de malária no Brasil têm diminuído gradativamente. Entre 2000 e 2010, houve
uma redução de cerca de 70% dos óbitos no Brasil, mesmo sendo a malária considerada a
quinta doença que mais mata no mundo (BRASIL, 2012). Entre as principais estratégias para
a redução destes números está (1) o diagnóstico precoce, (2) o tratamento oportuno e eficaz
dos casos e (3) a promoção de medidas específicas de controle do mosquito transmissor.
Todavia, há – ainda – um quadro preocupante da doença, na medida que, em 2008, foram
registrados cerca de 300 mil casos da doença, sendo que 99,9% destes ocorreram na
Amazônia Legal. Deste total, cerca de 90% dos casos foram provocados pelo Plasmodium
vivax (BRASIL, 2010, p. 7). Para o estado do Amazonas, foram registrados 62.416 casos de
janeiro a novembro de 2014, enquanto que o município de Eirunepé registrou um total de
5.201 casos, o que representa 8,33% do total de casos no estado, ficando apenas atrás do
município de Lábrea – com 7.016 casos – e à frente de Manaus, que registrou 5.025 casos no
mesmo período (G1, 2015).
Quando analisamos os casos de malária registrados em Eirunepé – AM, percebemos o
quão preocupante é a situação de risco para os grupos sociais, tanto os indígenas quanto os
não indígenas. Se aqueles possuem uma resposta imunológica significativa daquela doença, os
não indígenas acabam por serem mais afetados. Daí, serem necessárias medidas profiláticas
que reduzam os danos desta patologia naquele município.
Dada a existência de populações indígenas que vivem no município de Eirunepé – AM
e que mantém contatos com grupos não indígenas – especialmente no núcleo urbano e em
contatos motivados (a) pelo trabalho, seja no serviço público, seja no comércio de artesanatos,
(b) pelo recebimento de benefícios sociais e (c) pelos tratamentos de saúde – são criadas
condições insatisfatórias de transmissão de doenças entre estes dois grupos étnicos, sejam
indígenas e não indígenas.
CONCLUSÕES
Com a realização deste trabalho, pode-se perceber que as “trocas patológicas” entre
indígenas e não indígenas ainda são bastante significativas, tendo se constituído enquanto um
fenômeno histórico que persiste até os dias de hoje.
Pode-se perceber, ainda, que as idas dos indígenas à cidade acabam por propiciar o
contato dos indígenas com as chamadas “doenças de branco” – notadamente a gripe – doenças
estas que são contraídas e “levadas” para as aldeias, o que acaba por acarretar num contágio
coletivo daqueles indígenas que não tinham tido contato com a doença.
Se, por um lado, há um contágio dos indígenas com as “doenças de branco”, estes
também sofrem com aquelas patologias trazidas das aldeias para a cidade, como é o caso da
malária, que tem afetado parcela significativa da população de Eirunepé – AM.
Por fim, concluímos que este trabalho atenta para os contatos interétnicos e o
intercâmbio patológico que se mostra bastante prejudicial a todos. Desta forma, o trabalho –
ainda que limitado – inaugura uma discussão que precisa desembocar em medidas profiláticas
mais efetivas e eficazes para a redução dos problemas de saúde entre os indígenas e os não
indígenas.
AGRADECIMENTOS
Agradecimentos ao Chefe da CASAI de Eirunepé, o Senhor Deuzimar, que nos
concedeu entrevista e nos forneceu dados acerca do atendimento à saúde indígena.
Agradecimentos também aos Diretores do IFAM/Campus Eirunepé - o Professor
Orlando (Diretor de Ensino), o Professor Feitosa (Diretor Administrativo) e o Roquelane
(Diretor Geral) - pelo apoio dado à pesquisa.
REFERÊNCIAS
ALBERTI, V. História dentro da história. In: PINSKY, C. B. (org.). Fontes Históricas. São
Paulo, 2005. 223 p.
BAIDA, R.; CHAMORRO, C. G. A. Doenças entre indígenas do Brasil nos séculos XVI e
XVII. Revista História em Reflexão. Dourados, v. 5, n. 9, p. 1-24, jan./jun. 2011. Disponível
em: <www.ufgd.edu.br:8080/.../ARTIGO_DoençasEntreInd...>. Acesso em: 23 jun. 2015.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portal Brasil. Ministério da Saúde inicia vacinação de 120
mil indígenas. [2015]. Disponível em:<http://www.brasil.gov.br/saude/2015/04/ministerio-
da-saude-inicia-vacinacao-de-120-...>. Acesso em: 23 jun. 2015.
______. Casos de malária no País caem mais da metade em seis anos. [2012]. Disponível
em:<http://www.brasil.gov.br/saude/2012/10/casos-de-malaria-no-pais-caem-mais-da-
metadeem-seis-anos>. Acesso em: 23 jun. 2015.
GARNELO, L.; BUCHILLET, D. Taxonomias das doenças entre os índios Baniwa (Arawak)
e Desana (Tukano Oriental) do Alto Rio Negro (Brasil). Horizontes Antropológicos. Porto
Alegre, ano 12, n. 26, p. 231-260, jul./dez. 2006. Disponível em: <www.scielo.br>. Acesso
em: 23 jun. 2015.
G1. Casos de malária caem 14% em onze meses no Amazonas. [2015]. Disponível
em:<http://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2015/01/casos-de-malaria-caem-14-em-
onzemeses-no-amazonas-aponta-fvs.html>. Acesso em: 23 jun. 2015.
INTRODUÇÃO
O presente artigo tem a pretensão de divulgar parte do estudo elaborado pelos bolsistas
do Programa de Institucional de Bolsas de Iniciação a docência (PIBID) da Coordenação de
Aperfeiçoamento do Pessoal da Educação Superior (CAPES), do Curso de Licenciatura em
Ciências Humanas do Campus VII da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), no
período de três anos e dez meses (agosto/2011 a junho/2015) de atuação como bolsistas, cuja
parte em destaque trata da implantação da Pedagogia da Alternância (PA) na Escola Família
Agrícola Irmã Rita Lore Wicklein, conhecida como EFA Codó, estando localizada na
MATERIAL E MÉTODOS
A análise teórico-empírica partiu das observações, registros infográficos e relatórios de
mais de três anos como bolsista do PIBID/CAPES do curso de Licenciatura Interdisciplinar
em Ciências Humanas - História, durante as práticas pedagógicas realizadas na Escola Família
Agrícolas (EFA) Irmã Rita Lore Wicklein na comunidade quilombola do povoado Monte
Cristo, zona rural de Codó – MA (SOUZA, 2015).
Para o levantamento de dados que abordou o histórico da EFA fez-se uso de pesquisas
no Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola em questão, de entrevista com o
docente/monitor Pedro Auri Lopes, por se tratar de um dos monitores que está na instituição
desde sua fundação, relatório da instituição e de busca de referencial bibliográfico. A seguir
realizou-se uma série de entrevistas com os pais dos discentes buscando saber sua motivação
da escolha da EFA Codó para matricularem seus filhos. Esta última etapa encontra-se ainda
em andamento, não tendo sido possível relatar seus resultados preliminares (SOUZA, 2015).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Pedagogia da Alternância (PA) é um movimento educativo que vem se aprimorando
ao longo do tempo e do espaço, tendo nascido no seio da comunidade camponesa na França,
como resposta à ausência de uma escola no meio rural que oferecesse uma educação, onde a
sua prática de ensino partisse do tangível, da realidade do camponês, da sua vida familiar, em
comunidade e das suas atividades cotidianas, para o global, valorizando e dando sentidos ao
sujeito em formação, seu trabalho e suas tradições locais. De acordo com Wolochen (2008), a
PA é um modelo de educação que nasceu da insatisfação dos jovens franceses.
1
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/estadosat_censodemog2010 Acessado 11/02/2015 às 16h20min.
Nessa pedagogia os agentes são os diferentes atores, “alternantes 2”, sendo esses os
discentes. Seus pais, os monitores e monitoras, a associação, etc. completam o time que
culmina nesse projeto, onde a ênfase maior recai logicamente nos ombros dos jovens em
formação. Segundo Gimonet (2007, p. 19) esses “jovens (pré-adolescentes, adolescentes ou
jovens adultos)” não se tratam de alunos convencionais, eles são atores protagonistas nesse
processo de ensino-aprendizagem, inseridos numa dada conjuntura de vida e em um dado
território.
Observou-se que nas pesquisas realizadas sobre a Pedagogia da Alternância, o monitor
(nome dado aqueles que exercem a função de lecionar as disciplinas, visitar as famílias,
interagir diretamente com os discentes, ser o motor motivacional no grupo, etc.), têm suas
funções ampliadas, ao se comparar aos professores das demais instituições de ensino, seja
pública ou privada, localizadas independentemente da sede ou Zona Rural da cidade, de
acordo com Gimonet (2007, p.20) “os ‘monitores’ têm uma função e papeis bem mais amplos
que aqueles de um docente ou professor.”
“A formação por alternância [...] parte da experiência da vida quotidiana (familiar,
profissional, social) para ir em direção à teoria, aos saberes dos programas acadêmicos, para
em seguida, voltar à experiência, e assim sucessivamente” (GIMONET, 2007, p. 16). A esse
processo dar-se o nome de tempo escola - tempo comunidade.
Segundo Silva (2006, p. 6), “a alternância, enquanto princípio pedagógico, mais que
característica de sucessões repetidas de seqüências, visa desenvolver na formação dos jovens
situações em que o mundo escolar se posiciona em interação com o mundo que o rodeia”, ou
seja, alternância não se traduz em tempos onde, um dedica-se ao trabalho enquanto o outro ao
estudo, ela diz respeito à forma de interação desses tempos para produção de conhecimento.
É inegável que a pedagogia da alternância tem metodologia e instrumentos pedagógicos
próprios para aplicação e desenvolvimento de sua ação educativa, onde o discente traz de casa
o conhecimento empírico. Esse se torna objeto de problematização no ambiente escolar
(tempo escola). Durante o convívio com os demais agentes alternantes e logo após esse
período na escola, esse discente retorna à sua localidade buscando agir sobre a sua realidade
com uma compreensão da causa bem maior (tempo comunidade). Fazendo uso desses
instrumentos metodológicos, ao que Gimonet (2007, p. 29) relata que “a experiência deve ser
considerada, ao mesmo tempo, como suporte de formação, reservatório de saberes e cadinho
educativo3”.
Além disso, pode-se perceber que a Pedagogia da alternância está fundamentada sobre
“quatro pilares”, segundo Gimonet (2007, p. 15) os dois pilares de ordem das Finalidades:
formação integral (projeto pessoal) e Desenvolvimento do meio (socioeconômico, humano,
político...) e dois pilares de ordem dos Meios: Alternância (um método pedagógico) e a
Associação (pais, famílias, profissionais, instituições).
É notório que a pesar dessa metodologia pedagógica se parecer de fácil compreensão e
simples aplicabilidade, a PA é complexa e, essa complexidade exige de seus agentes um
grande comprometimento com a causa. A Pedagogia da Alternância (PA) é um movimento
pedagógico que prognostica a Pedagogia da Complexidade, como qualifica Gimonet (1998, p.
47), ser ela:
2
Termo usado por Juan Cano para designar os atores desse movimento - Presidente da Associação Internacional
dos Movimentos Familiares de Formação Rural - MFR, no prefácio do Livro de Jean-Claude Gimonet – Praticar
e Compreender a Pedagogia da Alternância dos CEFFAS.
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Lugar onde coisas ou pessoas se misturam – Dicionário Informal. Disponível em
<www.dicionarioinformal.com.br>. Acessado em 22/07/2015.
uma necessária educação sistêmica que considera a pessoa nas suas diferentes
dimensões, na sua trajetória de vida, no seu meio ambiente; que considere a
multiplicidade e diversidade das fontes do saber e seus meios e difusão, que coloca o
aprendiz mais como um produtor do seu saber do que como consumidor como
sujeito de sua formação.
Em consonância com esse método pedagógico, Edgar Morin (2003, p. 13) propõe uma
reforma no pensamento, uma mudança que transforme radicalmente a maneira de pensar,
ensinar e aprender. Além de defender a valorização de um pensamento não fragmentado
(ensinamento interdisciplinar), que permita que homens e mulheres enxerguem o mundo e a
humanidade de maneira contextualizada, abrangente e completa (sistêmica).
Para tratarmos da implantação da Pedagogia da Alternância na cidade de Codó, achou-
se por bem realizar-se uma abordagem espaço-temporal linear desde a chegada desse método
inovador ao país.
Nestes termos o projeto das EFA começou a ser constituído no Brasil partir de 1968,
sob liderança do padre jesuíta Humberto Pietogrande, da Companhia de Jesus, que se
solidarizou com a população empobrecida daquele Estado e notou a necessidade da
implantação da Pedagogia da Alternância no Espírito Santo, local de sua missão pastoral onde
havia chegado em 1965, em virtude do enorme êxodo rural, aumento crescente do
desemprego e criminalidade nos centros urbanos, à mão-de-obra não qualificada da maioria
dos migrantes alemães e italianos desta região (PESSOTI, 1978).
Funda-se assim sob coordenação de pároco Pietogrande, o MEPES (Movimento de
Educação Promocional do Espírito Santo) em 1968, instituição civil e que se tornaria a
mantenedora da EFA e com o apoio financeiro de outras entidades, dentre elas a Associação
dos Amigos do Estado do Espírito Santo (AES), organização não governamental (ONG)
criada na Itália para ajudar na implantação e manutenção da PA no Brasil (NOSELLA, 1977).
Já no Maranhão para compreendermos o porquê da adoção dessa pedagogia precisamos
destacar alguns dados que ainda se fazem atuais nesta conjuntura. O Estado do Maranhão
destaca-se pelas questões fundiárias e uma intensa disputa por terras, levando a um grande
índice de violência no campo registrada e denunciada por pesquisadores e lideranças de
movimentos sociais deste estado.
Hoje, o Estado do Maranhão conta com exatos vinte e uma (21) EFAs, porém uma
(1) encontra-se fechada, por conta do tempo e da limitação da pesquisa, ficou
inviável a investigação das principais motivações que resultaram no fechamento da
instituição, assim como um levantamento mais aprofundado se faz necessários sobre
as demais EFAs do Estado (SOUZA, 2015).
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LOPES, Pedro Auri. Constituição da EFA – CODÓ na cidade. Escola Família Agrícola Irmã Rita Lore
Wicklein. 16 de março de 2015 - Com monitor mais antigo da instituição, o qual vivenciou os dez anos de
existência da EFA e tendo 10 anos de EFA, este monitor tem dedicado boa parte de sua vida a essa escola, que é
um exemplo de resistência das populações campesinas aos modelos de educação impostos no campo.
CONCLUSÕES
Essa pesquisa tornou possível conhecer, ainda que superficialmente, a formação por
alternância desenvolvida na Escola Família Agrícola, escola onde se busca uma formação
integral do ser humano, que visa um cidadão comprometido com as questões sociais,
ambientais, econômicas, intelectuais, etc., sem, contudo, um desses se sobrepor aos outros.
Por fim, temos uma escola construída pela própria comunidade quilombola organizada,
que consciente de seus direitos assume a educação de seus filhos e luta por melhorias no
IDEB, além da busca de qualidade de vida tanto no ambiente escolar quanto no convívio no
campo. E por fim se faz necessário enfatizar as limitações que persistem nesse artigo, uma vez
que a situação das EFAs no estado do Maranhão, assim como no país ainda carecem de
estudos mais aprofundados.
AGRADECIMENTOS
Essa pesquisa só foi possível com o apoio das seguintes instituições CAPES - PIBID –
UFMA; Grato ao prof. Dr. José Carlos Aragão Silva, diretor do Campus VII da Universidade
Federal do Maranhão - UFMA, e coordenador do Subprojeto do PIBID de Ciências Humanas;
Grato ao IFMA Campus Codó/MA, com o auxílio do Prof. Me. Alvaro Itauna Schalcher
Pereira, doutorando em Engenharia em Ciências de Alimentos pela UNESP – Campus São
José do Rio Preto.
REFERÊNCIAS
LOPES, Pedro Auri. Constituição da EFA – CODÓ na cidade. Escola Família Agrícola
Irmã Rita Lore Wicklein. 16 de março de 2015 - Com monitor mais antigo da instituição, o
qual vivenciou os dez anos de existência da EFA e tem 10 anos de EFA.
PESSOTTI, Alda Luzia. A Escola Família Agrícola: uma alternativa para o ensino rural.
1978. 194 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Mestrado em Educação) – Fundação Getúlio
Vargas, Rio de Janeiro, 1978.
Projeto Político Pedagógico (PPP) da Escola Família Agrícola Irmã Rita Lore Wickein.
SOUZA, A. C. A Escola Família Agrícola Irmã Rita Lore Wicklein na Perspectiva dos
Pais dos Discentes. 2015. 78p. Trabalho de Conclusão do Curso (Graduação em Ciências
Humanas/História) – UFMA Universidade Federal do Maranhão, Codó, 2015.
¹Discente de Manutenção e Suporte em Informática – IFAM – Campus Coari. Bolsista do Pibic jr.
*ivanelisonmelodesouza@gmail.com; ²Mestre em História Social da Amazônia (PPGH/UFAM), discente do
curso de Especialização em Psicologia Clínica e Psicanálise (PPG/UNIARA); Chefe de Departamento de
Ensino, Pesquisa e Extensão – IFAM - Campus Coari. ygor.cavalcante@ifam.edu.br
RESUMO: A pesquisa vai estudar como as crianças negras e índias nascidas na Manaus nos
anos de 1814 a 1834 estavam colocadas na sociedade manauara através dos registros de
batismos, serão levantadas questões sobre a legitimidade, sistema de compadrio, redes de
poderes e como eles se transformaram em ferramentas para os escravos saírem da escravidão.
Palavras-chave: infância negra e índia, registros de batismo, redes de compadrio.
INTRODUÇÃO
A presente comunicação tem como objetivo apresentar os registros de batismos de
crianças negras e índias, nos anos de 1814 a 1834, como uma fonte que possibilita a
identificação de vestígios dos processos educativos e de elementos do cotidiano privado das
crianças negras e índias nascidas na Manaus oitocentista. Os escravos da Manaus do século
XIX utilizaram o batismo como ferramenta contra a escravidão, eles criaram redes de
apadrinhamentos. O sistema de compadrio é uma das formas que as famílias escravas
acharam para que seus filhos pudessem transitar entre o mundo livre e o escravo. Os livros de
batismos também revelam a presença de diferentes etnias na cidade de Manaus naquela época.
Algumas dessas etnias viviam em rios muito distantes da cidade de Manaus, colocando em
questão situações de migrações forçada e escravização ilegal.
MATERIAL E MÉTODOS
Os métodos consistem em alguns aspectos teóricos e técnicos, através de conceitos e
procedimentos de abordagem. O primeiro conceito utilizado para a realização da pesquisa é o
de “redes de poderes” que, de acordo com a historiadora Hebe Mattos, subsidiada pela
reflexão de Michel Foucault, é a prática relacional que espelha objetivos precisos, individuais
ou de grupos, que se podem observar a partir de suas relações de continuidade no que se
refere aos principais grupos econômicos do período – os grandes negociantes e proprietários
de terras e de escravos – e as antigas famílias que controlavam os poderes locais e estendiam
sua esfera de influência não só para além dos próprios limites provinciais como em direção ao
poder central, cobrindo a geopolítica de antigas redes comerciais. As configurações de redes
de poderes acabavam por organizar uma determinada estrutura social onde a própria
identidade individual ainda se encontrava fortemente vinculada às relações familiares e às
redes sociais às quais estavam associadas. O que fazia com que, com frequência, antes de
serem homens públicos, fossem os representantes dos interesses e negócios dos grupos e
famílias que os aproximaram do poder.
Vários escravos recorriam a essas pessoas para serem padrinhos de seus filhos, para que
eles tivessem melhor chance de entrar no tecido social. Essa estratégia de criar melhores
condições sociais para as famílias escravizadas, que os pais escravos usavam, era chamada de
“sistema de compadrio”. Os escravos da Manaus do século XIX utilizaram o batismo como
ferramenta contra a escravidão, eles criaram a redes de apadrinhamentos. O sistema de
compadrio é uma das formas que as famílias escravas acharam para que seus filhos pudessem
transitar entre o mundo livre e o escravo. Isso nos leva ao terceiro aspecto metodológico que é
a construção do “parentesco espiritual”, isto é, as relações sócio-parentais dos envolvidos a
partir da celebração do batismo que davam condições de solidificar convivências mais íntimas
entre todos os segmentos sociais. Na lógica católica, o padrinho é o “segundo pai”, e por isso
era aspirado por diversos indivíduos na medida em que poderia assegurar melhores condições
de vida. O quarto aspecto refere-se às abordagens propriamente antropológicas dos sujeitos
históricos investigados nos registros de batismo. Assim, o conceito de etnias é relevante, pois
os índios trazidos para a cidade de Manaus no século XIX eram diferentes social e
culturalmente. A questão da legitimidade das uniões parentais no século XIX também pode
ser observada nos registros e é importante para compreendermos, nos termos daquele
momento histórico, a situação de vulnerabilidade social da criança. Segundo estudos recentes,
que abarcam um período posterior ao estudado aqui, a legitimidade está presente em toda a
Manaus oitocentista e perpassa sujeitos de diferentes cores e origens sociais.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O livro de batismo da cúria metropolitana de Manaus permite aprofundar discussões
teóricas já abordadas na historiografia sobre o sistema de compadrio, revelando as estratégias
utilizadas pelos escravizados para sair da escravidão. O registro de batismo revela algumas
crianças escravas que foram batizadas como adultas aos oito anos de idade, mostrando que a
pia batismal era algo importante para definir o que a criança iria ser. Esses dados indicam
noções diferentes para a infância no século XIX, pois muitos batizados, ao completarem sete
anos de idade, eram registradas como adultas, isto é, habilitadas para a vida religiosa, bem
como para as responsabilidades do mundo do trabalho. Dessa forma, a pia batismal era um
espaço simbólico importante para definir como a criança escrava e índia viveria na sociedade.
Nesse sentido, as crianças negras e índias (de diferentes etnias: como os Muras, Baniwas,
Pixunas, Guaupés, Jurunas, Catuquinas, Macus e Miranhas, Catauxis, Juris, Buca Preta,
Uratuás, Ararás, Pafoés, Passés, Marahãos, Muinanbús, Macunãs, Miraiãs, Urainunrãs,
Marahãs, Maraús) que tinham padrinhos livres estavam mais protegidas de situações de
preconceito e de discriminação, assegurando, assim, melhor convivência na sociedade, pois,
sendo os padrinhos envolvidos em redes de poderes, seus afilhados estavam inseridos em
poderosas redes de colaboração e proteção. Por outro lado, a situação das crianças negras e
índias batizadas sejam por pessoas livres pobres, seja por pessoas escravizadas certamente
enfrentavam situações de maior vulnerabilidade social, isto é, essas crianças viveriam uma
liberdade precária, ou seja, elas podiam ser vendidas e sequestradas.
CONCLUSÕES
Portanto, as relações sócio-parentais dos envolvidos a partir da celebração do batismo,
davam condições de solidificar convivências mais íntimas entre todos os segmentos sociais,
por isso era aspirado por diversos indivíduos, que buscavam melhores condições de vidas.
Com os dados que os vigários anotaram nos livros de batismos, hoje é possível estudar melhor
os indivíduos que viveram no século XIX na sociedade manauara, incluindo a infância das
crianças negras e índias da Manaus oitocentista e seus relacionamentos com os indivíduos que
pertenciam a redes de poderes.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu professor Ygor Olinto, que me ajudou nessa pesquisa, e a minha
amiga Thaiza Colares, que me auxiliou com conselhos do que deveria fazer, a Bianca
Kynsseng que sempre me animava quando eu estava muito estressado e aos meus pais, que
me motivam nos meus estudos e nunca desistem de mim.
REFERÊNCIAS
MATTOS, Hebe. Guerra Preta: cultura políticas e hierarquias sociais no mundo atlântico. In.
João Fragoso e Maria de Fátima Gouvêa (org.). Na trama das redes: política e negócios no
império português, século XVI-XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.
MARTINS, Maria Fernanda. In. João Luís Fragoso, Carla Maria Carvalho de Almeida e
Antonio Carlos Jucá de Sampaio (org.). Conquistadores e Negociantes: História de elites no
Antigo Regimentos nos trópicos, América Lusa, século XVI a XVIII. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2007.
INTRODUÇÃO
A cidade de Salgueiro está localizada no entroncamento das BR’s 116 e 232, o que lhe
garante uma localização geográfica privilegiada. Como muitas cidades da região tinha sua
economia pautada na agricultura e pecuária de subsistência, e no pequeno comercio varejista.
A implementação das grandes obras federais, Transposição das águas do São Francisco e
Transnordestina, ampliaram o leque de oportunidades de emprego na região, alavancando os
setores da construção civil e hotelaria, principalmente. No aspecto educacional a implantação
do campus da UPE bem como o próprio Instituto Federal, contribuem para que haja uma
qualificação profissional que busca atender a essas novas demandas. O município é rico em
tradições características da vida do sertanejo nordestino, mas também abriga inúmeros
referencias pertinentes a história brasileira e a memória do mundo. A área rural abriga sítios
arqueológicos e paleontológicos datados do período pleistocênico. A área urbana,
especialmente a do quadrante da praça da antiga igreja matriz, hoje Catedral, mantem
construções do final do século XIX e início de século XX que estão protegidas por força de
uma lei municipal, segundo informações da prefeitura Municipal de Salgueiro. No entanto
temos outras áreas urbanas e rurais as quais não há estudos ou caracterizações a respeito.
Além desse patrimônio arquitetônico, ainda há as comunidades remanescentes de quilombo
de Conceição das Crioulas e Santana, e a aldeia indígena dos Atikum, que até onde há
registros, concentra um dos últimos refúgios indígenas do semiárido pernambucano. Diante
dessa gama de material patrimonial disponível, o projeto visa identificar o patrimônio cultural
existente no município para daí tentar traçar estratégias que garantam a conservação do acervo
em parceria com órgãos responsáveis no poder público.
MATERIAL E MÉTODOS
O projeto seguiu as seguintes etapas metodológicas: Revisão bibliográfica, visitas de
campo para a identificação dos locais, coleta da coordenada geográfica do local utilizando o
GPS, coleta de imagens dos locais georreferenciados.
1. Revisão Bibliográfica A Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e
Natural da UNESCO de 1972 define o patrimônio cultural como sendo compostos por
monumentos, grupos de edifícios ou sítios que tenham um excepcional e universal valor
histórico, estético, arqueológico, científico, etnológico ou antropológico. Quando analisado o
que há sobre o patrimônio cultural do município de salgueiro, há apenas uma lei municipal que
garante preservação do casario da Praça da Igreja, que contempla um número muito pequeno de
residências que mantem características arquitetônicas do final do século XIX e início do século
XX. Outros espaços de destacada representatividade encontram-se fora da abrangência da lei.
As áreas compreendidas como sítios arqueológicos em Conceição das Crioulas e Serra das
Letras, foram registradas pelo pesquisador da UFPE Marcos Galindo entre 1993 e 1994, os
trabalhos resultaram em sua dissertação de mestrado que foi publicado sob o título de Caminhos
do Passado na Terra Nova. Apesar de registrado as áreas encontram-se ainda sem devida
proteção e sem estudos mais aprofundados. A salvo as referências contidas na obra de Galindo,
o site da prefeitura (http://www.salgueiro.pe.gov.br/munic_guia_turistico.htm) se propõem a
apresentar um guia turístico da cidade, no entanto não aponta localização ou meios de acesso
das áreas. A gama de acervo cultural que compreende hoje o município é de uma riqueza
histórica ímpar. Visando a preservação do patrimônio histórico cultural do município, o projeto
se empenhou em identificar e catalogar os bens, possibilitando que se concretize aquilo que
preconiza a Convenção, no que concerne proteger, conservar, valorizar e transmitir às gerações
futuras o patrimônio cultural e natural situado em seu território. O Instituto Federal também
cumpre o seu papel no sentido de cooperar nos aspectos científico e técnico na preservação e
catalogação deste acervo representativo da história local e nacional. Dada a gama de bens
culturais disponíveis e das especificidades técnicas dos cursos oferecidos pelo campus, nos
deteremos mais nos bens arquitetônicos e sítios arqueológicos e paleontológicos. Esperava-se
que a partir dessa ação pudesse se dar o tombamento formal desses bens, garantindo os aspectos
legais da preservação por parte do Estado e o despertar a consciência cidadã para a constituição
das identidades e memória coletivas, tarefa da educação patrimonial. Além disso, a
possibilidade de colocar o município no roteiro turístico do Estado de Pernambuco, gerando
novas fontes de renda para a população que convive com os rigores do semiárido. Ao fazer o
geoprocessamento busca-se associar o patrimônio ao conjunto de novas tecnologias capazes de
coletar e tratar informações georreferenciadas. Neste sentido, as tecnologias que são englobadas
nesta concepção, e que a cada momento fazem cada vez mais parte do nosso dia-a-dia, são o
Sensoriamento Remoto (SR), o Sistema de Informação Geográfica (SIG) e o Sistema de
Posicionamento Global (GPS), este último mais conhecido pela sua sigla em inglês. Em janeiro
de 2004, a revista britânica Nature indicou que os negócios relativos ao Geoprocessamento
estão entre os três mercados emergentes mais importantes da atualidade, junto com a
apontam uma estrutura moderna para meados do século XX na região, já dispunha de poço e
tanque para armazenamento de água, movidos por bombas a diesel, roldanas que desfiavam e
beneficiava o caroá, no entanto a extração e o transporte dos fardos, que chegavam a pesar
quase 100kg, era feito por mão de obra braçal. Um trabalho árduo e arriscado, que por não ser
registrado não contava com nenhum tipo de proteção do estado. A comunidade quilombola de
Conceição Das Crioulas conta com uma diversidade de patrimônios que vão desde o
edificado, à sítios arqueológicos e paleontológicos, numa mescla de cultura, tradições e
memórias dos africanos e indígenas, que ainda hoje dividem os espaço, sendo limítrofe da
comunidade o território da aldeia indígena dos Atikuns. A pedra da abelha e a pedra da mão,
apresentam pinturas rupestres que devido a exposição as intemperes e a falta de proteção
encontram- se ameaçadas. O caldeirão dos ossos, onde foram encontrados fosseis de animais
da megafauna, abriga ainda locais de possíveis estudos. O material encontrado está espalhado
desde a casa de moradores, que o guardaram por acreditar que sendo valioso conteria ouro,
um osso está no museu da cidade e os demais estão, até onde se sabe, entre o Espaço Ciência
em Recife a um museu na Holanda. A vila abriga inúmeras construções com a fachada com as
características muito próximas as do quadrante da Igreja, no entanto em escala simplificada. O
último local visitado foi o distrito de Umãs. Não há registros formais conhecidos sobre a
fundação da Vila, mas os relatos descrevem a ocupação da área, antes território indígena,
pelos descendentes dos colonizadores portugueses. Os depoimentos indicam a existência de
um cemitério que pertenceu a uma antiga tribo indígena que habitava a região. Como a
própria cidade, o distrito se organiza com a expulsão dos nativos e da edificação de casas. Um
fato que chama a atenção é que a data oficial de surgimento da vila remonta a primeira feira
organizada na área central, no entorno da primeira capela. O casario antigo, apresenta também
características semelhantes a de outros locais visitados, alguns já em fase de demolição para
abrigar novos ambientes, outros reformados mas mantendo as fachadas originais.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As informações obtidas nesta pesquisa, deveriam ser organizadas em um mapa digital o
qual conteria: localização, imagens e uma ficha descritiva de cada patrimônio. Em virtude da
espera pelo recurso do auxílio ao pesquisador, as visitas da área rural foram atrasadas e de
acordo com a disponibilidade de veículo institucional. Esse atraso comprometeu a visita de
algumas áreas que constavam no cronograma e automaticamente a geração do mapa. A
caracterização arquitetônica do patrimônio edificado foi substituída por um olhar sobre as
memorias dos espaços. Percebeu-se que esta caracterização não teria tanta relevância, já que
desde o tempo da construção do patrimônio até os dias atuais os métodos construtivos não
sofreram tantas modificações, daí seria equivalente a explicar a execução de uma obra
comum, o que não é interessante para a pesquisa.
A pesquisa revelou a existência de um grande acervo patrimonial, que se encontra nas
mais diversas situações: desde aqueles que encontram-se tombados e protegidos pela força da
lei, aqueles que se encontram protegidos pela consciência dos proprietários, como é o caso da
edificação número 24 do quadrante da igreja matriz, vista na Imagem 1. Ainda há aqueles que
num processo de “melhoria” vão gradualmente perdendo suas singularidades históricas.
Outros ainda encontram-se abandonados, a mercê das intempéries e das ações depreciativas
daqueles que ainda não despertaram para a consciência e valorização do patrimônio histórico
e edificado da cidade, como é o caso do grafismo rupestre da pedra da mão, localizada no
distrito de Conceição das crioulas, mostrada na Imagem 2. Percebeu-se que poucas pessoas
têm consciência da importância da preservação. Estas habitam o centro da cidade e possuem
educação formal elevada, de modo que essa consciência para a preservação vem de família,
diferentemente das pessoas que habitam a zona rural e que não tiveram essa instrução. Ficou
evidente que o patrimônio edificado que está preservado, é aquele que pertence a uma elite
Figura 1. Casa número 24 do quadrante da igreja matriz cuja fachada está protegida por
lei municipal segundo a secretaria de cultura de Salgueiro (a pesquisa não teve acesso a
lei). Preservada por iniciativa da viúva do proprietário. IF Sertão PE, 2014.
Foto: Márcia Farias.
CONCLUSÕES
Urge um trabalho de educação patrimonial como política pública para a população do
município despertando a consciência de preservação e valorização histórica das memórias
individuais e coletivas. Devido a riqueza dos bens até então referenciados e do estado em que
se encontram atualmente, é reforçada a necessidade de ações no sentido de garantir a
preservação tanto governamental por meio dos tombamentos, bem como conscientizar cada
pessoa do seu papel na preservação do patrimônio, enquanto cidadão salgueirense. Cada
vestígio é um marco concreto da história do município e dos seus habitantes, retratam seus
traços primordiais e que ainda são possíveis de se identificar, contam histórias daqueles que
antecederam no tempo, constroem espaços de memória coletiva e dão sentido a existência.
REFERÊNCIAS
GOMES, Marcos A.A. o que é e para que serve o geoprocessamento? UNIFAI. Disponível
em
http://www3.unifai.edu.br/pesquisa/publica%c3%a7%c3%b5es/artigoscient%c3%adficos/prof
essores/sequenciais/o-que-%c3%a9-e-para-que-serve-o Acesso em: 17 mar. 2014.
ABSTRACT: The research seeks to understand the trajectory of workers who made their
knowledge and crafts a form of survival in the backwoods of Maranhão, and contributed to
the development of the city of São João dos Patos. Thus, we intend to develop a
memorialistic collection through interviews that demonstrate the patoenses experiences with
aged seventy- five years. From the perspective of the elder sought to reconstruct the history
of work in the region.
Keywords: labour, memory, history.
INTRODUÇÃO
O sertão nordestino já serviu de fonte de inspiração para alguns escritores da ficção, no
entanto, historicamente existe uma escassez de informações sobre como era a vida do
sertanejo, seus trabalhos, suas aspirações e suas dificuldades no dia a dia para manter a
sobrevivência mediante uma vida de muitas privações como falta de infraestrutura,
dificuldades ao acesso à educação, saúde, lazer e até mesmo informação. Buscando
compreender o mundo sertanejo e resgatar sua história, a pesquisa utilizou o método da
memória oral como forma de conhecer os saberes e ofícios de trabalhadores do sexo
masculino e feminino, com idade igual ou superior a setenta e cinco anos, que contribuíram
para o desenvolvimento da cidade de São João dos Patos-MA.
O livro “Memória e Sociedade – Lembranças de Velhos” de Ecléa Bosi, no qual a
pesquisadora utilizou-se da memória oral como método de pesquisa, é um bom exemplo de
como o tema “trabalho” é determinante na produção das lembranças dos recordadores e de
como essas memórias são capazes de contribuir para a construção da história. Através das
narrativas o leitor consegue visualizar, conhecer fatos históricos, e até mesmo entender como
foi o desenvolvimento da cidade de São Paulo.
Segundo Barbosa, “o que define a classe social é a posição ocupada pelo sujeito nas
relações objetivas de trabalho”. (BOSI, 1998 apud BARBOSA, 1998, p. 11). Mas mesmo
tendo como temática “o trabalho”, foi elaborado um questionário com o intuito de conhecer
toda a história de vida dos entrevistados, pois as lembranças da infância, por exemplo, podem
demonstrar como era o trabalho de terceiros e suas classes sociais, traçando assim uma visão
mais concreta e ampla da vida dos patoenses na primeira metade do século XX.
Com relação ao ato de lembrar, Barbosa faz também uma observação: “[...] o tempo de
lembrar traduz-se, enfim, pelo tempo de trabalhar. ” (BOSI, 1998 apud BARBOSA, p. 15).
Portanto, a memória só se concretiza e pode ser explorada quando encontra a existência vivida
através do trabalho.
Através da memória oral foi possível traçar a história da sociedade patoense da primeira
metade do século XX e preservá-la para gerações futuras. A narrativa é, portanto, a
transformação de lembranças vivas em história. Para Bosi, “a história deve reproduzir-se de
geração a geração, gerar muitas outras, cujos fios se cruzem, prologando o original, puxados
por outros dedos.” (BOSI, 1998, p. 90).
METODOLOGIA
Para o bom desenvolvimento da história oral é preciso um projeto que guie todos os
procedimentos do começo ao fim. Além da escolha do tema (Memórias Sertanejas), definição
da colônia (trabalhadores da cidade de São João dos Patos), formação da rede (homens e
mulheres com idade igual ou superior a setenta e cinco anos), a produção de documentos
através de entrevistas seguiu técnicas e métodos específicos que englobam um questionário
previamente elaborado, local, tempo de gravação, transcrição, edição e carta de cessão.
A princípio, a idade escolhida era igual ou superior a oitenta anos, mas no decorrer da
pesquisa foi feita a mudança na formação de rede. Questões como filho com idade de setenta
e cinco anos e pai de noventa e sete no qual o filho complementava as informações colhidas
pelo pai, patoenses com rica memória oral com idades inferiores a oitenta anos e a fragilidade
de algumas personalidades previamente escolhidas fizeram com que essa mudança em relação
a idade fosse indispensável.
Para a concretização deste trabalho de investigação foram utilizados um gravador
digital, câmera fotográfica, colhimento de fotografias e livros. Quanto a estratégia
metodológica, foram seguidos os seguintes passos:
- Estudo bibliográfico com o objetivo de apropriar-se dos métodos e técnicas de história
oral. “O objetivo é registrar a voz e, através dela, a vida e o pensamento de seres que já
trabalharam por seus contemporâneos e por nós. ” (BOSI, 1998, p. 37);
- Elaboração de questionário, previamente elaborado para ser aplicado junto aos
entrevistados. Segundo Meihy (2000), mesmo com o questionário estruturado, o primeiro
entrevistado servirá de guia capaz de orientar as demais entrevistas. Sendo assim, as questões
acerca da temática não foram fechadas, de modo a não limitar o trabalho de rememoração dos
entrevistados e também existiu uma flexibilidade em relação às perguntas devido a fatos
importantes expostos pelos primeiros entrevistados. Ou seja, de acordo com o andamento da
pesquisa, novos questionamentos surgiram, sendo necessário novas entrevistas com pessoas já
abordadas;
- Realização de entrevistas com os perfis previamente selecionados de modo a atender
os critérios previamente instituídos no projeto de pesquisa. Segundo o método, é
indispensável a escolha de uma colônia e rede. E conforme orientação de Bosi, “antes de
iniciar a entrevista é preciso explicar com bastante clareza aos entrevistados o motivo da
pesquisa para que eles tenham autoridade sobre o registro de suas lembranças e consciência
de sua obra.” (1998, p. 37). Esta precaução inicial evitou possíveis transtornos e até mesmo
contribuiu para melhores resultados;
- Transcrição das entrevistas de modo a compor um banco de entrevistas. Este passo
refere-se a passagem da gravação para o escrito. Alguns grupos defendam a transcrição
absoluta, que significa a passagem total dos diálogos. Mas visto com olhos no receptador, a
transcrição destina-se a dar visibilidade ao tema proposto. Cada entrevista durou em média 1
hora e meia, e para cada hora gravada foi preciso 5 horas de transcrição.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A iniciativa de entrevistar cidadãos de diversos tipos de profissões e de registrar a
história de São João dos Patos se deu pela necessidade de repensarmos a História de modo a
ampliar nossa perspectiva sobre a mesma, fazendo com que esta vá além de nomes de líderes
políticos, mártires, cidades onde se concentrava o poder, datas comemorativas, entre outros.
Conhecer o dia-a-dia de pequenas cidades, pessoas e trabalhadores comuns é uma forma de
compreender claramente que fatores ocasionaram as mudanças que levaram aos fatos
históricos. Tudo isso vai de encontro as ideias de Montenegro quando diz que a
[...] história aprendida nos bancos escolares decorre do fato de esta expulsar os
homens e as mulheres comuns da história. Ou seja, o conhecimento da história
resume-se de forma predominante a um ato de memorização de nomes de diferentes
categorias de líderes e datas de acontecimentos denominados históricos. Dessa
forma, o operar cotidiano e coletivo não pertenceria à história. Em outros termos,
esse tipo de história escolar ensina uma maneira de pensar, de sentir, de imaginar,
em que o social e miúdo não tem nenhuma relação com a história da sociedade.
(MONTENEGRO, 2006, p.97)
Sendo assim, a pesquisa teve como função a inserção do sertão maranhense na história e
de promover uma fonte de conhecimento, buscando nos mais jovens o interesse pela
informação acerca do que já passou na sua terra natal, e demonstrar como todos são
construtores da História.
A história oral tem como finalidade a reconstrução do passado através de fontes orais,
seja de forma direta ou após uma análise mais elaborada, segundo James Fentress e Chris
Wickham (1994, p. 9). Sendo assim, a discussão sobre tal método é a respeito da veracidade
das fontes orais, mas ao mesmo tempo não se pode descartar a memória social de um
indivíduo pelo fato de não sabermos se é algo verdadeiro ou não.
O significado social da memória, tal como a sua estrutura interna e o seu modo de
transmissão, é pouco afectado pela sua verdade; o que interessa é que se acredite,
pelo menos até certo ponto – pois há que não desprezar os contos populares, que
também são comemorações do passado, embora muitas vezes não sejam sequer
narrados como rigorosamente críveis. (FENTRESS; WICKHAM, 1994, p. 10)
A história vivida não tem mais a exigência de ser pensada em termos de totalidade
única. As fontes documentais escritas, orais, iconográficas, arqueológicas não são
mais consideradas como reflexos verdadeiros ou falsos do passado. Antes,
representam formas de certos grupos, segmentos, classes se permitiram pensar,
sentir, sonhar, desejar determinados acontecimentos, algumas experiências, certos
períodos. (MONTENEGRO, 2006, p. 108-109)
Os relatos orais podem ser sobre a história de vida ou temático. Nesta pesquisa temos
como tema o trabalho, mas as entrevistas seguiram um roteiro dos dois tipos de relatos de
forma simultânea. O trabalhador ao lembrar da sua infância, lembrou dos seus pais e do que
eles fizeram para sustentar a família, na sua vida escolar lembrou dos seus melhores e piores
professores, na iniciação ao trabalho teve a pessoa que o ensinou o ofício, ao lembrar da vida
conjugal lembrou sobre o trabalho do cônjuge, ou seja, não existe forma de separar história de
vida da temática trabalho. Nessa perspectiva,
[...] grande parte da memória está ligada à inclusão em grupos sociais de diversos
tipos. Com efeito, Maurice Halbwachs, o primeiro teórico do que chamamos
memória <<colectiva>>, afirmou que toda a memória se estrutura em identidades de
grupos: recordamos a nossa infância como membros da família, o nosso bairro como
membros da comunidade local, a nossa vida profissional em função da comunidade
da fábrica ou do escritório e/ou de um partido político ou de um sindicato, e assim
por diante; que estas recordações são essencialmente memórias de grupo e que a
memória do indivíduo só existe na medida em que este indivíduo é um produto
provavelmente único de determinada intersecção de grupos (Halbwachs 1925; 1950)
(FENTRESS; WICKHAM, 1994, p. 7)
Um mundo social que possui uma riqueza e uma diversidade que não conhecemos
pode chegar-nos pela memória dos velhos. Momentos deste mundo perdido podem
ser compreendidos por quem não os viveu e até humanizar o presente. A conversa
evocativa de um velho é sempre uma experiência profunda: repassada de nostalgia,
revolta, resignação pelo desfiguramento das paisagens caras, pela desaparição de
entes amados, é semelhante a uma obra de arte. (BOSI, 1998, p. 82)
O ato de lembrar não é um processo simples, pois a memória não segue um roteiro e
também não é concisa em relação ao que se viveu, “na maior parte das vezes, lembrar
não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar, com imagens e ideias de hoje, as
experiências do passado. A memória não é sonho, é trabalho.” (BOSI, 1998, p. 55)
acompanhava o filho no gosto pela música. Tocou bastante nos carnavais da região, hoje é
aposentado, mas ainda faz alguns serviços como marceneiro.
O entrevistado 8 nasceu no dia 26 de setembro de 1930 em Matões, atualmente povoado
de Sucupira do Riachão. Foi lavrador e desde a década de 70, quando passou a morar em São
João dos Patos, exerce a atividade de comerciante. Sua família foi produtora de rapadura,
produto muito importante na época. Com muito trabalho conseguiu dar uma educação de
qualidade para os filhos.
O entrevistado 9 nasceu em 26 de maio de 1926 na cidade de São João dos Patos.
Trabalhou bem jovem como lavrador, foi “carregador de água” na mesma época do
entrevistado 4, e depois de um tempo passou a exercer a função de motorista e funcionário da
família “Rocha Santos”, bastante tradicional da cidade. Em 1950 adoeceu com problemas no
pulmão e foi trabalhar nas máquinas de algodão também propriedade dos seus patrões.
O entrevistado 10 nasceu em Floriano – PI no dia 15 de fevereiro de 1929. Aos 15 anos
de idade veio tentar ganhar a vida na cidade de São João dos Patos, acolhido pela família
Rocha Santos aprendeu a profissão de motorista e mecânico.
A entrevistada 11 nasceu em Guadalupe – PI no dia 04 de janeiro de 1928. Foi a
segunda esposa de um grande empresário da região. Aos 23 anos começou a trabalhar na
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, e trabalhou nessa instituição durante 30 anos.
Chegou a exercer função de gestora na área da saúde no município de São João dos Patos.
O entrevistado 12 é bastante carismático, costuma dizer que na época dele era
“cangaceira” a vida, ou seja, muito difícil, e exalta as facilidades da atualidade. Nasceu no dia
07 de julho de 1931, no povoado Malhada da Areia. Embora tivesse aptidão como lavrador,
até mesmo por ter sido criado por um pai que acreditava que o homem só tinha respeito
quando tinha um cavalo para montar e uma terra para cuidar, foi também um grande
carpinteiro, profissão que aprendeu sozinho e que fez dela outro fonte de renda para o sustento
da família. O entrevistado é um exímio contador de causos.
A entrevistada 13 nasceu no dia 18 de julho de 1924, no povoado Baixão do Coco,
município de São João dos Patos. Sua família tinha um padrão de vida razoavelmente
confortável em relação à muita família da época, pois possuía sítio e roça e empregava
algumas pessoas na época da colheita, vindo até mesmo pessoas de outros estados para
conseguir o sustento através do trabalho nas terras de seus pais. A entrevista foi modista e
comerciante.
O entrevistado 14 nasceu no dia 23 de dezembro de 1934 em União-PI, antes povoado,
atualmente é uma cidade. Foi sacristão, fez trabalhos na lavoura, trabalhou em padaria,
mercearia e bar até conseguir ter seu próprio negócio.
O entrevistado 15 nasceu na cidade de São João dos Patos, no dia 29 de maio de 1921.
Estudou o suficiente apenas para aprender a ler e escrever. Exerceu a função de alfaiate, mas
atualmente administra o próprio aviamento.
Cada recordador trouxe consigo uma bagagem riquíssima de história, emocionam, nos
fizeram refletir, viajar no tempo e no espaço. Em algumas narrativas foi possível vivenciar
situações como as alegrias da infância, as tristezas pelas idas de entes queridos, as viagens
demoradas de outrora, as travessuras da infância, as brigas de valentões da época, os sonhos,
festas, amores, dores, dificuldades, trabalhos árduos da infância, alegrias devido o primeiro
salário, vidas inteiras. A cada entrevista ficou nítido todo o sofrimento do povo nordestino,
um povo esquecido pelo Estado, pessoas que construíram suas vidas com muito suor e muita
vontade de vencer e de proteger seus descendentes, que encontraram em São João dos Patos
seu porto seguro.
CONCLUSÃO
Foi possível constatar com a riqueza de detalhes colhidas através dos entrevistados uma
compreensão sobre como era a vida dos nordestinos do sertão maranhense. Suas dificuldades
na maior parte dos relatos eram devido à falta de infraestrutura, informação, e perspectiva de
vida. As profissões escolhidas eram impostas muitas vezes como único meio de
sobrevivência. Os que tiveram acesso à educação contaram com a ajuda de pais conscientes
que, assim como alguns pais atualmente, possuem como riqueza apenas a vontade e força para
lutar por um futuro melhor para seus filhos. Os pais de outrora que tiveram esse discernimento
foram os que conseguiram formar filhos professores, ou cidadãos que alcançaram melhor
desempenho econômico na vida. Em casos como o do alfaiate, o entrevistado 1, foi questão de
aptidão, vocação esta que lhe garantiu a sobrevivência no sertão maranhense.
As histórias se complementaram, se entrelaçaram e ganharam cada vez mais força em
relação ao que foi lembrado por cada um, formando com o decorrer das entrevistas um
mosaico de detalhes que somados formaram um todo. É um interessante processo de
construção onde peças se encaixam cada vez melhor, e onde a história de toda uma cidade
ganha forma e sentido cada vez mais concretos.
REFERÊNCIAS
BOSI, Ecléa. Memória e sociedade - lembranças de velhos. 3ed. São Paulo: Cia das Letras,
1994.
FREITAS, Sônia Maria de. História Oral: possibilidades e procedimentos. São Paulo:
Humanitas/FFLCH/USP: Imprensa Oficial do Estado, 2002.
MEIHY. José Carlos Sebe Bom. Manual de História oral. São Paulo: Editora Loyola. 2000.
RESUMO: Esta pesquisa tem como base as cartas escritas pelo Bispo da Prelazia
Acrepuruense da Igreja Católica, publicadas no Boletim Informativo “Nós, Irmãos”, criado
durante a Ditadura Militar brasileira. A metodologia constou de leitura de materiais de
referencial teórico e crítico que serviram como base de conhecimentos para a elaboração do
subprojeto. Foi realizado um estudo dirigido sobre a formulação das epístolas que
fundamentaram o trabalho realizado. O referencial teórico está embasado na história
representativa, de Roger Chartier e nos pressupostos de memória e identidade baseados nos
escritos de Joël Candau. O Boletim “Nós, Irmãos”, nas décadas de 1970 e 1980, tinha um
papel social: desde sua primeira edição, publicada no ano de 1971, teve como um de seus
objetivos informar a população acreana sobre notícias da Igreja Católica, bem como
orientações do Bispo sobre questões sociais como o conflito pela posse das terras no Acre.
Palavras-chave: boletim informativo, ditadura militar, igreja católica.
INTRODUÇÃO
O Brasil no período de 1964 a 1985 sofreu um golpe militar, neste golpe os militares
tomaram o poder politico em todo o país. A igreja católica no inicio havia aprovado o
Regime Militar, e com o tempo passou a se posicionar contra o Regime Militar devido às
injustiças que eram visíveis contra as pessoas. Em 1961 houve o concílio do Vaticano II,
onde a igreja se reuniu com o objetivo de estruturar uma atuação maior do clero nos
assuntos relacionados a sociedade e também a construção de uma igreja mais voltada para
os pobres e como a censura já estava estabelecida nos meios de comunicação e jornais
presentes no Acre, a igreja católica já não mais tão conservadora resolveu agir através de
meios de informativos, com a criação de boletins.
“Em dezembro de 1971, foi lançado o Boletim Informativo intitulado “Nós Irmãos”,
que divulgava a ação religiosa e orientava as CEBs sobre as formas de trabalho e as
noticias de várias comunidades” (LIMA, Reginâmio Bonifácio de. 2006).
No Boletim “Nós Irmãos” a igreja inseriu vários temas relacionados aos seus grupos e
movimentos sociais, principalmente constantes avisos e notícias sobre suas paróquias, suas
comunidades eclesiais de base, textos do evangelho para que fossem analisados e refletidos
por seus leitores mensalmente. A igreja católica demonstrou a sua opção pelo auxílio das
pessoas e prioritariamente pelas mais carentes, o que em pleno período de ditadura militar
veio a ser considerada de certa maneira como “subversão” e, através de seu boletim “Nós
Irmãos”, veio a servir de instrumento de comunicação social.
Um Boletim é uma espécie de publicação regular que tem como objetivo noticiar seus
leitores sobre assuntos determinados, podendo conter em seu conteúdo cartas e em algumas
de suas edições o Boletim “Nós Irmãos” continha cartas, sendo eles de líderes das
comunidades, Padres e também do Bispo Dom Moacyr Grechi. Dentre as cartas destacam-se
as cartas episcopais publicadas por Dom Moacyr Grechi por serem um método de orientação
que existiu para guiar as pessoas em suas ações. As cartas eram destinadas as pessoas das
comunidades eclesiais de base, o Boletim serviu de instrumento de comunicação social e por
tal importância das comunicações escritas pelo Bispo Dom Moacyr Grechi, que há a
importância para esse projeto ser executado outro motivo para que o projeto seja realizado é o
simples fato de fazer com que a história das comunidades de base e paróquias não seja
esquecida, pois,
Com todos esse problemas relacionados à posse das terras o Boletim Informativo
“Nós Irmãos” adquiriu seus métodos de difundir suas orientações e informações a sociedade
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa começou com um estudo dirigido sobre a formulação de cartas e missivas,
antes mesmo de partir para o referencial teórico, foi necessário ampliar a base de
conhecimento sobre o tema a ser estudado. O referencial teórico que embasa o projeto é
embasado na história representativa, de Roger Chartier. A pesquisa se dará em três etapas.
Em sua primeira etapa a pesquisa teve como ponto de partida a solicitação ante a
Diocese de Rio Branco para uma reunião com o atual Bispo da Igreja Católica do Acre Dom
Joaquín Pertíñes Fernández durante a reunião com o Bispo foi lhe dito a importância do
Boletim Informativo “Nós Irmãos” para a sociedade acreana, pelo fato do mesmo conter
informações sobre movimentos sociais, ações sociais da prelazia da Igreja, informações
sobre as comunidades eclesiais de base e orientações do Bispo Dom Moacyr Grechi e dos
líderes das comunidades para o trabalhador rural. os Boletins Informativos foram lhe
solicitados para que a pesquisa pudesse ser continuada, O Bispo Dom Joaquín Pertiñes
permitiu que o “Nós, Irmãos” fosse utilizado gerando então uma série de determinados
processos que compõem o projeto.
Os processos que compõem o projeto são a digitalização de todos os Boletins
Informativos “Nós, Irmãos”, a seleção dos Boletins a serem trabalhados, a catalogação dos
Boletins Informativos e a digitação dos Boletins “Nós, Irmãos”. A etapa da digitalização teve
como ponto de inicio a solicitação de material de digitalização(scanner, computador e sala
para manuseio dos arquivos a serem digitalizados) ao Arquivo Central da Universidade
Federal do Acre que em resposta ao pedido nos cedeu o material solicitado de bom grado, o
processo de digitalização é metódico, as páginas do Boletim Informativo devido serem muito
frágeis devido ao tempo de existência rasgam-se e amassam-se com mais facilidade em
relação as páginas de livros atuais.
Devido a esta fragilidade das páginas os jornais tem que ter suas páginas digitalizadas
uma a uma manualmente e com cuidado para que não seja danificado por ser um documento
antigo e estar com suas folhas em condições não tão adequadas ao manuseio constante teve
todas as suas edições digitalizadas para que fosse utilizado com mais facilidade e também
como meio de preservar os originais. Ainda durante este processo há a necessidade de editar
as páginas digitalizadas, tendo em vista que algumas delas ficam de cabeça para baixo devido
os boletins terem sido encadernados em forma de livro e com o fim da edição tem que salvar
o arquivo em PDF para que seja guardado para a próxima parte do processo.
A próxima etapa do processo foi a seleção dos boletins a serem trabalhados dentre as
mais diferentes seções do interior do “Nós, Irmãos” dentre as quais para a realização do
projeto foi selecionado as cartas do Bispo Dom Moacyr Grechi, em seguida da seleção veio a
catalogação dos Boletins Informativos “Nós, Irmãos”. Este processo que também constitui a
primeira etapa do projeto foi tão complexo quando a digitalização, nela se deu por necessário
realizar a leitura de todas as edições dos Boletins e fazer uma espécie de sumário dos itens
que constituem uma edição do Boletim, numerá-los de acordo com o ano, edição e mês.
Processo com o objetivo de agilizar a busca por assuntos no interior das edições e economizar
tempo durante o decorrer da pesquisa.
O processo de digitação se deu sobre as Cartas do Bispo Dom Moacyr Grechi, das quais
foram digitadas todas desde 1971, quando surgiu o Boletim Informativo até o fim de 1985
com o fim da Ditadura Militar, cada carta tem em média uma página e meia, mas existem
cartas que chegam a ter três páginas em edições especiais.
Cartas, missivas, editoriais, avisos, textos do evangelho, escritos de mulheres, todos
estes eram membros que compunham os Boletins “Nós Irmãos” e em nossa pesquisa foi
necessário realizar uma separação de tais membros de acordo com seus estilos, gêneros,
contexto, ano, assunto e projeção social.
Ainda na terceira etapa a pesquisa tem inicio com a análise das Cartas do Bispo Dom
Moacyr Grechi, na análise se busca descobrir determinados pontos de relação do Bispo Dom
Moacyr com a prelazia da Igreja Católica do Acre, a representação social do Bispo perante a
sociedade, o significado de suas ações e as contribuições sociais das cartas escritas por Dom
Moacyr durante o período do Regime Militar.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com todos os processos realizados no percorrer do projeto foram obtidos resultados que
fazem jus ao pesquisado, com todas as digitalizações dos Boletins Informativos “Nós,
Irmãos” foram digitalizados um total de 158 Boletins Informativos que se compreendem do
período de 1971 à 1985. Relacionados a catalogação dos Boletins foram catalogados também
um total de 158 boletins, gerando um total de 158 fichas técnicas ainda dentro do período da
pesquisa e foram digitadas um total de 120 Cartas do Bispo Dom Moacyr Grechi, um número
um pouco menor, pois, nem em todas as edições mensais do Boletim Informativo existem
cartas escritas pelo Bispo Dom Moacyr Grechi que foi bispo da Prelazia Acrepuruense.
E com base nos estudos, os resultados obtidos foram compreender como se dá a relação
do Bispo Dom Moacyr a sua prelazia, através de suas cartas, tais cartas eram enviadas nas
homilias para sua comunidade, as cartas de Dom Moacyr tinham em seu contexto assuntos de
cunho religioso e social, o Bispo é um líder e lidera ante as necessidades do povo, pois ele
dizia aos fiéis resistirem aos abusos sofridos, também sabia como orientar as pessoas estavam
sendo exploradas, expropriadas de suas terras e orientava estas pessoas com o Boletim “Nós
Irmãos” que continha seções de orientação ao trabalhador.
Nas cartas escritas pelo Bispo Dom Moacyr Grechi existia, mensagens e algumas destas
mensagens eram voltadas para os governantes, para que os governantes possam visualizar que
a Igreja tinha relações com o povo e para que também pudesse esclarecer ao povo que eles são
os donos das terras, e um destes meios de demonstrar que o povo era o dono das terras foi
através da Pastoral da Terra contida em algumas edições do Boletim Informativo “Nós
Irmãos” que falam de assuntos da área religiosa, mas também na área social saber como o
Bispo se relaciona com a prelazia da Igreja Católica.
A relação do Bispo com a prelazia da Igreja Católica é uma questão de importância,
pois, através do Bispo que pessoas das comunidades eclesiais de base tem um líder, um líder
que os orienta e guia em suas ações, auxiliando as pessoas que necessitam de apoio, exibindo
assim uma abnegação essencial em um convívio social, principalmente em sua relação com a
comunidade. Sendo que o Bispo Dom Moacyr foi um líder que levou seu povo a lutar de
forma pacífica por seus direitos, através de suas orientações presentes no Boletim Informativo
“Nós Irmãos”, foi um Bispo que também deixou claro que a Igreja Católica faz preferência
pelos pobres.
CONCLUSÕES
Com todo o projeto de pesquisa foi possível concluir que é possível ter acesso a
documentos da Igreja Católica, porque o Boletim Informativo “Nós Irmãos” é acessível a nós,
embora haja atualmente apenas duas cópias existentes. O Boletim Informativo “Nós Irmãos”
não era apenas uma homilia de domingo, mas sim um boletim que trazia dados sobre politica,
sobre sociedades e os modos de vivencia.
O material digitalizado existente é um material de boa qualidade, sendo que foi possível
fazer a digitalização de todas as edições do Boletim “Nós Irmãos” de forma que possam ser
preservados ao longo do tempo possibilitando futuros estudos, os jornais também tiveram
todas as suas edições digitadas de forma a preservá-lo e facilitar estudos. Pode-se concluir
também que existiam algumas dezenas de cartas do Bispo Dom Moacyr Grechi, tais cartas
continham mensagens de liderança, mensagens para os governantes, orientações para a
prelazia e comunidades eclesiais de base.
O Boletim Informativo “Nós Irmãos” da prelazia Acre e Purus da Igreja Católica por ser
um boletim que foi criado com o objetivo de informar a população sobre: os mais diversos
acontecimentos, dar as noticias sobre as comunidades eclesiais de base, paróquias, cursos de
formação de monitores da Igreja Católica, conter cartas de padres, do Bispo, dos lideres
comunitários e até mesmo servir de orientador para os colonos e pessoas que enfrentam
problemas com a posse da terra foi um instrumento social essencial para a comunicação da
sociedade acreana no período em que foi publicado. O mesmo serviu de meio alternativo, já
que censura que estava acontecendo no período ditatorial no Acre chegou até mesmo interferir
na publicação de jornais de Rio Branco.
“Um dos fatos que influenciaram esta nova fase da imprensa da capital acreana, a
qual estendeu-se até 1985, foi o golpe militar de 1964, quando a imprensa passou a
estar sob vigilância permanente dos órgãos de censura. O surgimento do primeiro
jornal-empresa da capital acreana, o jornal O Rio Branco, em 1969, marcou na
prática transformação do jornalismo riobranquense segundo os padrões na nova
imprensa”. (BONIFÁCIO, 2007).
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à Universidade Federal do Acre e ao CNPq pelo apoio para a realização
da pesquisa.
REFERÊNCIAS
ASSMAR, Olinda Batista. BONIFÁCIO, Maria Iracilda Gomes Cavalcante. LIMA, Gleyson
Moura de. O imaginário social: estudo dos editoriais nos jornais de Rio Branco – Século
XX. Olinda Batista Assmar, Maria Iracilda Gomes Cavalcante Bonifácio, Gleyson Moura de
Lima. Vol. 1. João Pessoa: Idéia: 2007.
CHARTIER, Roger. Práticas de leitura. Trad, Cristiane Nascimento. São Paulo. Estação
Liberdade, 1996.
LIMA, Reginâmio Bonifácio de. Sobre terras e gentes: o terceiro eixo ocupacional de Rio
Branco / Reginâmio Bonifácio de Lima. João Pessoa: Idéia, 2006.
INTRODUÇÃO
A globalização do mundo permitiu que as peculiaridades de cada lugar em distintos
tempos pudessem ser estudadas e compreendidas por todos, independentemente de sua
origem. Porém pode-se destacar que a sua função principal foi ter sido o maior influenciador
para que essas mudanças acontecessem. Junto com a globalização temos fatores religiosos,
culturais, políticos e financeiros que influenciam diretamente naquilo que vai para a nossa
mesa todos os dias. Por se tratar de uma das mais básicas necessidades do homem, a
alimentação assume um papel não só biológico para a sobrevivência, mas também funções
sociais e culturais em todos os âmbitos de nossa sociedade desde seus primórdios. Tal fato é
evidenciado nos costumes e rituais que envolvem a comida e as pessoas no mundo inteiro,
como por exemplo, as festas de rua, quermesses, festas de padroeiro (os eventos mais
importantes dos calendários de cidades interioranas), além de festivais, dentre outras festas
em que a comida é inerente ao próprio evento.
Ao falar em alimentação é indispensável chegar ao assunto saúde, nos dias de hoje cada
vez mais as pessoas demonstram preocupação com aquilo de que se alimentam. O consumo dos
alimentos ditos funcionais é cada vez maior, e todos os dias pode-se observar novos produtos
nessa linha, que atendem a necessidade cada dia maior desse mercado em ascensão. Porém
sempre existiu o pensamento de que aquilo que comemos tem relação direta com nossa saúde,
e que alguns alimentos podem até mesmo curar doenças, sendo os alimentos, os primeiros
modelos de fármacos que as civilizações conheceram. O Brasil é muito heterogêneo
culturalmente, e a alimentação muda bastante de região para região.
MATERIAL E MÉTODOS
Os estudos foram encaminhados a partir de uma revisão bibliográfica de obras, entre
livros e artigos, que tem como tema a cultura alimentar em diferentes épocas da história e
lugares do mundo. Além de uma entrevista realizada na cidade de Currais Novos, interior do
Rio Grande do Norte, no dia 02 de Dezembro de 2014, com uma turma da EJA (Educação
Jovens e Adultos), no turno noturno da Escola municipal professora Trindade Campelo. Que
contemplou alunos com idades entre 43 e 63 anos, estabelecendo um total de 19 entrevistados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No Brasil, os hábitos alimentares formaram-se a partir da miscigenação das culinárias
indígena, portuguesa e africana e, com o decorrer do tempo, foram adquirindo características e
peculiaridades. Cada região do país desenvolveu uma cultura popular rica e diversificada, onde
figura uma culinária própria, devido à influência das correntes migratórias e adaptações ao
clima e disponibilidade de alimentos.
Em seu livro “Casa: Pequena História de uma ideia” (2002), o historiador escocês Witold
Rybczynski afirma que até o Século XVII, nas casas do Ocidente, eram raros os ambientes com
funções específicas. A especialização dos cômodos está atrelada ao desejo por privacidade, uma
inovação do século XVIII. As famílias passam a fazer refeições em salas fechadas, onde podem
conversar tranquilamente. A partir do século XIX a alimentação oriunda do continente Europeu
começa a influenciar diretamente os hábitos alimentares Ocidentais.
Em sua obra “História da alimentação” Ulpiano T. Bezerra de Meneses e Henrique
Carneiro (1997) explicam que o tomate, a batata, o milho entre outras espécies alimentares
americanas começaram a se desenvolver no modo de produção agrícola Ocidental. Esse
intercâmbio cultural possibilitou aos Europeus conhecer e adotar para sua dieta alimentos ditos
exóticos, como o cacau, pimentão, café, e o chocolate, por exemplo. Nesse momento o açúcar
passa a desenvolver um papel imprescindível na economia e cultura Europeia.
Muitos fatores auxiliaram no processo de transformação do sistema alimentar, a Reforma
protestante, por exemplo, desestruturou uma regulamentação eclesiástica que detinha uma
unidade da alimentação ocidental na Idade Média pois “[…] os grãos vendidos no mercado
provinham principalmente dos eclesiásticos beneficiários do dízimo…” (MENESES;
CARNEIRO, 1997, p. 53), sendo assim, a reforma não diversificou somente os modos de
pensar, mas também teve papel fundamental na diversificação da cozinha. Outro exemplo a ser
citado é a dominação econômica dos países do norte da Europa, tal fator favoreceu a produção
e o consumo de álcool. O desenvolvimento científico, mais especificamente da química,
auxiliou o progresso também em termos alimentares, “…que interrompe por um tempo a
tradicional relação da cozinha com a dietética”. (IDEM, p. 512), e por fim, o desenvolvimento
da imprensa, que difundiu as ideias, mudanças e os livros de cozinha, a partir da escrita, que
nesse momento passa a ser mais socializada.
A mudança de estilo de produção acarretado pelo crescimento acelerado e contínuo das
cidades, de uma agricultura de subsistência para uma agricultura de mercado que gerou um
aumento significativo de terras que seriam destinadas ao plantio, a demanda crescia junto com
as terras, além de que nesse momento passava-se pela volta do crescimento demográfico, já que
“A população da Europa, estimada em 90 milhões [...] passou para 125 milhões no início do
século XVIII e, em seguida, cresceu [...]145 milhões em meados do século e 195 no final.”
(IDEM, p. 533). Isso somado ao fato de que as elites conquistavam cada dia mais as terras
aráveis gerou um refinamento da culinária para as camadas mais altas da sociedade, e um
aumento da desnutrição para os camponeses, esses fatores aceleraram o processo de
transformação desses países para economia de mercado
A falta de alimentos foi responsável por inúmeras crises mundiais, matando milhares de
pessoas no mundo todo, na França, Alemanha, Inglaterra, Espanha e Itália, por exemplo. No
século XIX a época industrial possibilitou uma revolução nos meios de produção dos alimentos,
o que gerou uma oferta ainda maior de comida, e isso estruturou a balança comercial de países
em franco desenvolvimento, como a Inglaterra, por exemplo. Porém, representou a morte de
milhares de pessoas em colônias como o Marrocos (um quarto da população) e a China (20
milhões de mortos).
No balanço geral do final do século XIX, o sacrifício total de seres humanos dessas
três ondas de seca, fome e epidemias não deve ter sido inferior a 30 milhões de
vítimas. Cinqüenta [sic] milhões de mortes é considerado como um cálculo mais
realista. (IDEM, p. 33)
seco era visto como o modelo ideal, e, portanto, característico do homem. A mulher seria fria e
úmida.” (IDEM, p.8). Só a partir do século XIX os estudos relacionados à ciência e a nutrição
passaram a se modernizar, sendo tratado de forma interdisciplinar, somando os conhecimentos
de várias áreas, pois
A atualização dos estudos passou a assumir uma função moderadora da alimentação para
determinadas pessoas da sociedade
Os alimentos quentes também eram perigosos pela sua suposta propensão afrodisíaca,
devendo ser estritamente controlados, especialmente entre os jovens, a quem conviria
sempre uma dieta insípida, pouco condimentada, para não aumentar o calor já
naturalmente elevado... Ostras, chocolate e cebolas excitariam os "ardores de Vênus",
devendo ser evitadas, especialmente pelas mulheres castas (IDEM, p.10).
No mundo inteiro a alimentação sempre requereu um ritual para ser feito, desde o
momento em que é preparada até a sua ingestão propriamente dita. Cada lugar possui um modo
peculiar de se alimentar e esses modos nos dizem muito sobre a história e a cultura de cada
região. Em “O inventário da cultura do Seridó (RN) ou como dar conta do patrimônio imaterial
de uma região.”, publicado na revista Memória em Rede, Pelotas, v.2, n.4, dez.2010 / mar.
2011, após pesquisas realizadas na região Seridó do Nordeste Brasileiro, pôde-se concluir que
os festejos típicos da região, sejam eles de cunho religioso, ou festas de rua, exercem função
imprescindível na vida social relacionada à cidade, “momentos importantes da sociabilidade
local que são também marcos identitários fortes.” (CAVIGNAC; MACEDO; BRITO;
DANTAS, 2011, p. 16).
As festas de cunho religioso tem força tão grande relacionado a sociedade que em Caicó,
por exemplo, abre-se o calendário religioso ao final de Julho, com a tradicional festa de
Sant’Ana, e o mesmo só tem fim ao final do ano com os festejos em comemoração as
irmandades negras em louvor a N. Sra. do Rosário. Durante os festejos em homenagem a
Sant’Ana ocorre o ciclo de “Santa´Ana Peregrina” em que 47 imagens da santa passam de casa
em casa, na zona rural e urbana. Na cidade ocorre uma novena, e após isso, um lanche ofertado
pelo dono da casa. O que ressalta a importância da comida nos festejos. Na zona rural a comida
exerce papel ainda mais importante na articulação da festa, após a novena, ocorre um leilão,
onde são oferecidas comidas e bebidas que reverterão lucros para a paróquia investir na festa
da padroeira.
No Seridó Potiguar, a alimentação recebe fortes influências de uma economia doméstica,
ligada a produção agrícola e pecuária. Durante as festividades a comida mais típica é ainda mais
requisitada, pois exerce uma função de mostrar a cultura da cidade a seus visitantes.
Pratos salgados e doces que servem as refeições das famílias são elaborados com mais
frequência no ensejo de festas de padroeiro: para recepcionar parentes que moram
longe da cidade natal, para comemorar aniversários, casamentos e batizados e em
outras datas especiais, como as festas de fim de ano e Natal. (CAVIGNAC, J;
MACEDO, M; BRITO, P; DANTAS, 2011, p. 73),
Essa atividade, antes caseira e rudimentar, evoluiu até se tornar um comércio lucrativo
não só para quem produz, mas também para a cidade
CONCLUSÕES
Desde os primórdios a alimentação é fundamental não só nos aspectos físicos e de saúde
do homem. A alimentação traz consigo uma carga cultural muito forte e insubstituível em todas
as esferas da vida em sociedade.
Compondo a parte principal de um conjunto de rituais que formam nossa identidade social
e dão características marcantes aos povos. Além disso, a saúde está de fato intrinsecamente
ligada aos hábitos alimentares, desde os primeiros alimentos usados com funções medicinais
até os alimentos funcionais que temos hoje.
Nesse sentido, a alimentação tem estereótipos que relacionam a comida e a saúde,
principalmente no Nordeste, formados desde a época da escravidão que permanecem até hoje
no imaginário das pessoas dessa região.
REFERÊNCIAS
JOANNÈS, F. A função social do banquete nas primeiras civilizações. In: FLANDRIN, J.L.;
MONTANARI, M. (Orgs.). História da alimentação. São Paulo: Estação Liberdade, 1998
RYBCZYNSKI, W. Casa: pequena história de uma idéia 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 2002.
226 p.
INTRODUÇÃO
O uso de substâncias psicoativas tem se mostrado, ao longo da história, uma
prerrogativa quase que universal, ocorrendo nas mais variadas culturas. Em face de uma
significativa variedade e quantidade, destaca-se o álcool, consumido na forma de bebida. O
álcool – percebido a partir da psicologia – é uma substância utilizada ora como um meio de
fuga da realidade, ora como um caminho na busca pelo prazer, o que o torna um fenômeno
MATERIAL E MÉTODOS
A partir dos objetivos elencados neste trabalho, fizemos uso da modalidade de pesquisa
chamada “pesquisa de campo” (TOZONI-REIS, 2007). No que diz respeito às técnicas e
instrumentos de pesquisa, realizaremos: a) observação; b) registro etnográfico; c) entrevista e
questionário; d) transcrição das entrevistas; e) análise de conteúdo; e e) produção textual.
Sobre a pesquisa de campo, diz-se que “é a observação dos fatos tal como ocorrem e não
permite isolar e controlar as variáveis, mas perceber e estudar as relações estabelecidas”
(RODRIGUES, 2007, p. 4). Considerando as proposições de Gonçalves (2011, p. 18) a
respeito da pesquisa de campo – quando atenta para o “como?”, o “onde?” e o “como?” –
fizemos observações e registro in loco com os sujeitos elencados, além de realizar entrevistas
temáticas. Sobre as entrevistas, tomamos como base os preceitos das Ciências Sociais naquilo
que diz respeito às “entrevistas temáticas”, entendidas como aquelas “que versam
prioritariamente sobre a participação do entrevistado no tema escolhido” (ALBERTI, 2005, p.
175). Feitas as entrevistas, passou-se para a produção documental, tanto em áudio e vídeo
quanto na forma textual, daquele material produzido. Para a realização das entrevistas, foram
utilizados gravador de voz e câmera contidos em nossos aparelhos celulares, a fim de registrar
em áudio e vídeo, os depoimentos dos nossos entrevistados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A cidade de Eirunepé sedia um dos municípios mais distantes da capital do Estado do
Amazonas, na medida em que está localizada a cerca de 1.160 km de distância em linha reta e
a cerca de 3.800 km, quando medida a distância pela via fluvial. O município ocupa uma área
de 15.832 km², ao passo que o perímetro urbano ocupa apenas 4,3172 km². A população do
município está estimada em 33.580 pessoas, de acordo com o censo de 2014, realizado pelo
IBGE. Daí, conclui-se ser este o vigésimo município mais populoso do Amazonas e o
primeiro mais populoso da microrregião do Juruá, além de ser um centro sub-regional do
estado (FUNAI, s/d, s/p.).
Dos 33.580 habitantes do município de Eirunepé, 2.200 são indígenas, distribuídos em
38 aldeias, sendo que destas 18 são da etnia kanamari e 20 da etnia kulina. Estas aldeias estão
localizadas nas (a) terras indígenas Kanamari, do Rio Juruá, (b) Kulina, do Médio Juruá e (c)
Mawetek, constituindo cerca de 7.000 km². Além destas, há cerca de 15 famílias residentes na
sede do município, o que constitui um grupo de cerca de 50 pessoas (FUNAI, s/d, s/p.).
CONCLUSÕES
Com a realização deste trabalho, pode-se perceber o quanto o alcoolismo é prejudicial
para os indígenas que visitam a cidade de Eirunepé – AM, na medida em que encerra uma
série de outros problemas graves para aqueles sujeitos.
Pode-se perceber, ainda, que as visitas dos indígenas à cidade – seja para tratarem de
problemas de saúde, seja para receberem os benefícios sociais pagos – acabam por pô-los em
contato com as bebidas alcóolicas comercializadas no centro urbano, o que acaba por criar
condições para o consumo de álcool e, consequentemente, para o alcoolismo.
Por fim, concluímos que este trabalho - apesar de limitado – contribui para a discussão
acerca da problemática do alcoolismo entre os indígenas no município de Eirunepé – AM, e,
ao fazê-lo, atenta para a urgente necessidade de soluções para este grave problema.
AGRADECIMENTOS
Agradecimentos ao Chefe da CASAI de Eirunepé, o Senhor Deuzimar, que nos
concedeu entrevista e nos forneceu dados acerca do atendimento à saúde indígena.
REFERÊNCIAS
ALBERTI, V. História dentro da história. In: PINSKY, C. B. (org.). Fontes Históricas. São
Paulo, 2005. 223 p.
RESUMO: Neste artigo foi possível analisar a rotulação feita por uma sociedade na qual
criou uma utopia de dominação cultural e econômica em relação ao Nordeste. Das
ambiguidades conceituais que têm definido o termo xenofobia, o mesmo pode ser conceituado
como sendo uma discriminação étnica e racial, caracterizada como uma forma de preconceito
e até mesmo como um transtorno psíquico. Buscando mostrar a presença evidente deste
comportamento que geralmente se manifesta através de ações discriminatórias, foi feita uma
interligação da xenofobia regional com o nazismo, no qual também houve a prática da
xenofobia em relação aos judeus. Ao longo deste trabalho foi feita uma breve abordagem
histórica do conceito, mostrando o surgimento deste preconceito no Brasil, contra nordestinos,
desde a época do regime militar através do jornal semanário O Pasquim, até os dias atuais
com casos bastante repercutidos em todo o país. Por último, objetivou-se quebrar essa
definição do que é Nordeste e destacar a real presença da xenofobia, que é marcada por
estereótipos desde a ditadura até os dias atuais, e mostrar que o maior índice de pessoas que
praticam este ato é, geralmente, os habitantes da região Sudeste do Brasil, especificamente do
estado de São Paulo e que suas maiores vítimas, em sua maioria, são os nordestinos.
Palavras–chave: xenofobia, nazismo, o pasquim, nordestinos
ABSTRACT: In this article, you can analyze a labeling made by the society creates a utopia
of cultural and economic domination in relation to the northeast. The conceptual ambiguities
that have defined the term xenophobia, it has the setting is an ethnic and racial discrimination,
characterized as a form of prejudice and even as a psychiatric disorder. Trying to show the
clear presence of this behavior usually manifests itself through discriminatory actions and
hate, an interconnection of regional xenophobia was made with Nazism, where there was also
the practice of xenophobia toward Jews. Throughout this work, is made a brief historical
approach concept showing the emergence of this prejudice in Brazil against Northeastern,
since the days of the military regime, through the weekly newspaper The Quibbler, to the
present day with cases fairly reflected across the country. Finally, the objective is to break this
definition of what is northeast and highlight the real presence of xenophobia, which is marked
by stereotypes from the dictatorship to the present day, and show that the highest rate of
people who practice this act, it is usually the inhabitants of southeastern Brazil, specifically
the state of São Paulo, and that its main victims are mostly the Northeast.
KEYWORDS: xenophobia, nazism, o pasquim, northeastern
INTRODUÇÃO
Xenofobia, termo de origem grega é formado a partir das palavras “xénos” (estrangeiro)
e “phobos” (medo). Seu significado dependerá do contexto em que ela estiver sendo usada,
tendo sua definição como uma forma de preconceito e racismo que segundo a OAB-CE
(2011) é considerada uma doença de caráter psicológico gravíssimo.
O nazismo teve seu surgimento na década de 20, na Alemanha, a partir do líder político
Adolf Hitler, que acreditava e pregava o racismo, a partir da ideia da existência de apenas
uma raça pura: a ariana. E através dele e dessa corrente de pensamento, vários judeus foram
executados e daí que vem a intertextualidade do título deste artigo com o livro O Menino do
Pijama Listrado, onde é retratado o nazismo e tudo o que o mesmo trouxe consigo, como a
morte de vários judeus nos campos de concentração. Sendo este um exemplo típico de
preconceito, a xenofobia.
O artigo busca definir o que é xenofobia, apresentar algumas ideologias sobre esse
termo e exemplificar, demonstrando a sua existência no Brasil. Abordar a problemática da
xenofobia implica em tentar explicar de onde ela surgiu inicialmente. O preconceito sem
necessariamente ser ligado às questões xenofóbicas sempre existiu na sociedade, mas tendo
como foco o Brasil, tal discriminação surgiu no período da Ditadura Militar (1964-1985).
Retrato disso eram os jornais brasileiros de mais destaque em meados dos anos 70, onde
o termo xenofobia era desconhecido, mas já era transpassado, retratando o Nordeste como
uma região problemática e de muitas secas, constatando assim, os primeiros indícios de tal
preconceito.
Esse conceito é perceptível ainda nos dias atuais, onde foi feita uma comparação da
xenofobia contra os nordestinos no período militar, com casos mais recentes dessa prática.
Sendo possível visualizar que o nordestino ainda é percebido de forma inferiorizada ao
nascido da região Sudeste e que essa discriminação é praticada atualmente de forma mais
violenta e demasiada, como no caso abordado da jovem Mayara Petruso.
Contudo, através deste trabalho, será possível perceber a presença deste tipo de
discriminação e ressaltar sua amplitude em território nacional, apontando os meios de
propagação do preconceito e as leis que defendem as vítimas. Possuindo ainda, cunho
conscientizador para mostrar que essa forma de racismo, ou separatismo, é uma afronta à
legislação vigente no país e que, consequentemente, surja uma melhoria no Brasil,
acarretando, assim, um melhor desenvolvimento “conceitual ou mesmo cultural” do Brasil.
MATERIAL E MÉTODOS
Para análise, foram realizadas pesquisas bibliográficas e explicativas com foco em um
problema de caráter psicológico que está presente entre pessoas de regiões diferentes: a
xenofobia regional. Este problema vem crescendo gradativamente, principalmente ao falar
dos nordestinos (as principais vítimas).
Com isso, há uma análise sobre a xenofobia na época da Ditadura no Brasil, mostrando
o contraste e ao mesmo tempo a semelhança com casos mais recentes e que, hoje, o maior
veículo de propagação desse tipo de discriminação são as redes sociais, em que Mayara expôs
seu preconceito em relação aos nordestinos. Para este, é utilizado uma ilustração do perfil do
twitter da mesma, onde foi publicada mensagens de teor xenofóbico, tornando-se perceptível
a presença explícita da mesma problemática no contexto regional brasileiro apresentado nos
recursos da mídia social.
A pesquisa é constituída por definições e idealizações de alguns autores acerca do tema.
Para conduzir a análise, o artigo teve como fundamentação várias obras de autores como:
Albuquerque Junior com seu livro Preconceito Contra a Origem Geográfica e de Lugar – As
Fronteiras da Discórdia; Martin Heidegger, com sua obra O que é isto – a filosofia?
Identidade e Diferença; Sendo consultada também a obra Convite à Estética de Adolfo
Sánchez Vasquez onde é possível entender o jornal O Pasquim, que disseminava a xenofobia
usando da comicidade para mascarar esse tipo de preconceito, tendo também base em textos
jornalísticos e artigos científicos, além de uma referência da OAB-CE referente ao ato
xenofóbico de Mayara Petruso.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Um ser humano é feito de mãos, pés, braços, pernas, boca, costumes, jeito e rejeito.
Rejeito é uma palavra familiar e conhecida no vocabulário nordestino. Em busca de uma vida
melhor (emprego), os nordestinos saem de sua terra natal para viver na região Sudeste do
Brasil. A partir da instalação da ditadura, tornou-se mais visível a xenofobia contra o
nordestino. Em relevância a esses momentos históricos, o descaso e preconceito com os
mesmo só aumentou e, ao longo do tempo, as pessoas permaneceram com a mesma forma de
enxergar a região. Deste modo, a xenofobia pode ser compreendida como reflexo da exclusão
histórica regional que se manteve.
Com o sistema republicano, houve um grande desfavorecimento na região Nordeste,
comparando-a aos investimentos que as demais regiões do Brasil receberam, pois sempre
tiveram um maior favorecimento, tanto econômico, quanto social, desde épocas passadas.
Essa imagem, apesar de ser ultrapassada, ainda continuou na mente dos que residem fora do
Nordeste, penetrando a cada dia mais nas esferas sociais.
Como a palavra já diz, “preconceito é conceito prévio sobre algo do qual não se domina
o conhecimento” (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2007, p.9). Nesta ótica, é percebido que cada
pessoa assume uma identidade que segundo Heiddeger (1971, p.50) “[...] o ato de afirmar a
identidade e a unidade cultural de um grupo humano implica, muitas vezes, na rejeição de
culturas diferentes que potencialmente possam ameaça-la”.
Um dos símbolos dessa discriminação eram os jornais da ditadura, como O Pasquim.
Através de publicações de textos, o jornal descrevia de modo estereotipado os nordestinos,
com palavras pejorativas de denominação, com ênfase no semiárido do sertão. As charges
humorísticas retratava a imagem do cangaceiro, o retirante da seca, destacando uma miséria
inerente ao Nordeste. O jornal foi o pioneiro no Brasil na prática de uma xenofobia maquiada
pelo humor, para disfarçar seu teor ofensivo, contrastando com a violência das palavras
pronunciadas hoje, nas quais as pessoas não só as pronunciam como também incitam práticas
violentas contra os nordestinos.
A xenofobia era perceptível em várias seções do semanário O Pasquim, entre elas a
sessão Cartas, que tinham a função de interagir com os leitores com uma tentativa de
responder alguns de seus questionamentos. Na edição de julho de 1977, nº 48, um leitor
residente do estado da Paraíba fez a seguinte indagação: “[...] por que não divulgam o nosso
estado? Que faz parte do Brasil”. Em resposta, O Pasquim disse:
Olha aí leitores, essa besta aí chama Paraíba de estado!!! E acha que o Pasquim
deveria dar mais – se segurem agora! – cobertura a tal Paraíba, rá! Só rindo mesmo!
Com sorte, ô cabeça chata, esse troço aí pode chegar a golfo e mais nada! Encher de
iate, patinho e peixe em vez dessa paisagem horrorenda repleta de pobres e miseráveis
emporcalhando tudo [...]. Por essas e outras que o Brasil não está indo pra frente tão
depressa quanto poderia [...].
O trecho apresenta a visão depreciativa que o jornal tinha sobre o Nordeste e seus
respectivos habitantes. Notam-se também algumas expressões que são utilizadas até hoje para
se referir aos nordestinos: “Paraíba” e “cabeça chata”. É de fácil percepção que a resposta
dada pelo jornal tem um grande teor xenofóbico, falando-se ainda da paisagem horrenda,
especulando que o Nordeste possui um cenário inerente à miséria, onde a população
nordestina é composta apenas por pessoas de classe social baixa.
Outro exemplo que pode ser encontrado em O Pasquim, está na seção Gip! Gip!, cujos
textos são de autoria de Ivan Lessa e os desenhos de Redi, nº 387, p.32: “No Nordeste quem
tem 40 quilos é rei momo”. Neste trecho, é perceptível a xenofobia regional, pois sinaliza um
estado de inferioridade, onde ambas as frases se referem ao estado de pobreza e miséria onde
foi citado também na outra resposta da seção Cartas.
Para Adolfo Sánchez (1999, p. 272), essa análise precisa ser minuciosa, pois:
CONCLUSÕES
A existência da xenofobia contra os nordestinos no Brasil é fruto de uma construção
histórica, iniciada na decadência econômica do Nordeste a partir da Republica no Brasil,
fortalecida no período militar e presente nos dias atuais.
A xenofobia e essas demais formas de opressões ainda existem, principalmente pelo
fato de serem tratadas como tabus pela sociedade. As pessoas praticam-na, porém negam.
Reconhecer a existência do preconceito é o primeiro passo para a tomada de ações de
conscientização visando desconstruir estereótipos enraizados e discursos de ódio. Essas ações
devem ser voltadas para toda a população, com enfoque especial nos jovens, a fim de evitar
que os mesmos destilem comentários xenofóbicos na internet.
A migração de pessoas de todas as regiões do Brasil e do mundo contribuiu para a
formação do cosmopolitismo de São Paulo e para a formação da mesma. Portanto, negar o
imigrante nordestino e ser xenofóbico em nome de uma suposta “identidade paulista pura”
assim como os nazistas foram, é, na verdade, negar São Paulo e esquecer que a identidade
paulistana é o conjunto de povos e culturas que acolheram essa cidade como lar.
REFERÊNCIAS
ANGHER, A. J. Vade Mecum acadêmico de Direito. 4 ed. São Paulo: RIDEEL, 2007, 1142 p.
BOYNE, J. O menino do pijama listrado: a fábula. 1 ed. São Paulo: COMPANHIA DAS
LETRAS, 2007, 192 p.
HEIDGGER, M. O que é isto – filosofia? Identidade e diferença. 1 ed. São Paulo: VOZES,
2006, 78 p.
RESUMO: O presente artigo visa apresentar uma experiência de 7 anos como professora
orientadora na Olimpíada Nacional Em História do Brasil (2009-2015), relacionando-a com o
ensino e aprendizagem em história na sala de aula. Concepção inovadora, esta olimpíada
possibilita, de distintas maneiras, que o conhecimento atualizado da academia chegue à sala
de aula e instiga alunos e professores a refletir sobre temas atuais, utilizando-se de uma
infinidade de documentos históricos e experimentando um pouco do trabalho de historiador.
Palavras-chave: educação à distância, ensino de história, olimpíada de história.
1
Docente do IFAC. Mestre em História Social pela UFAM e presidente do NEABI, campus Cruzeiro do Sul.
E-mail: blenda.moura@ifac.edu.br
produção, além de permitir uma interação privilegiada entre alunos e professores, dentro e
fora da sala de aula. Nem alunos, nem professores saem tal como entraram na competição.
Amplifica-se o olhar sobre o mundo que nos cerca. Passamos a exercer nossa cidadania com
mais propriedade dentro de um Brasil diverso e, pouco a pouco, mais claramente conhecido.
Encarar este desafio significa perder a inocência, deixar nosso confortável e seguro nicho e,
ao mesmo tempo, desfazermo-nos de medos que pairam sobre nós ao pensarmos o outro. Por
tudo isso, me pareceu necessário contar um pouco do trabalho de orientação na ONHB, no
intuito de divulgar a competição e com isso ganhar mais adeptos à causa.
2
É possível realizar cadastro individual no site, como professor ou estudante, a qualquer momento do ano. Isso
facilita a inscrição das equipes depois. www.olimpiadadehistoria.com.br
social ou de classe, entre outros. Os alunos deveriam entrevistar uma pessoa que já sofreu
preconceito e produzir um jornal, com texto e imagens que bem representassem o preconceito.
Trabalhos excelentes foram produzidos pelas equipes do IFAC, campus Cruzeiro do Sul, este ano.
Foram entrevistados indígenas, vendedores ambulantes e até mesmo a diretora de ensino da nossa
unidade. Os alunos ficaram surpresos por perceber que os estereótipos acerca das pessoas podem
ser variados e também mais sutis do que a princípio se supõe ao ouvir a palavra “preconceito”.
Invariavelmente, terminaram por rever seus próprios conceitos.
Já a 5ª fase, disponibiliza nas salas das equipes 10 trabalhos produzidos por estudantes
de outros estados. Segundo uma enorme lista de critérios, esses trabalhos devem ser
corrigidos; é a chamada “Correção por pares”, que acaba por fazer com que os alunos reflitam
também sobre o complexo processo de avaliar.
As equipes que chegam à final presencial, tem cerca de dois meses para organizar sua ida
à Unicamp, onde realizam uma prova escrita, baseada em documentos históricos que tratam de
temas já vistos ao longo das 5 fases. São premiadas com medalhas de ouro, prata ou bronze as
75 equipes com melhor desempenho, somando-se fases online e prova presencial. As demais
finalistas recebem a carinhosamente chamada medalha de cristal, a de honra ao mérito.
A quem interessar maiores detalhes da concepção da olimpíada e de sua estrutura, é
imprescindível ler o artigo apresentado à ANPUH pela coordenadora Cristina Meneguello,
“Olimpíada Nacional em História do Brasil – Uma aventura intelectual? ”. Neste artigo
também é traçado um histórico das olimpíadas científicas ou de conhecimento no mundo e no
Brasil. Meneguello (2012, p.7) assevera:
Assim, tanto alunos quanto professores se tornam aprendizes e considero esta, sem
dúvida, uma das partes mais gratas da ONHB.
produção de um bem cultural está necessariamente inscrita em um universo dirigido por esses
dois polos. Tal noção estaria entranhada na sociedade, perpassando todos os seus aspectos;
envolvendo processos de percepção, identificação, reconhecimento, classificação, legitimação
e exclusão. Dessa forma, as representações agregam toda a percepção que o homem tem da
vida cotidiana. No entanto, a representação nunca se configura como um retrato fiel da
realidade, ela faz parte de esquemas intelectuais de apreensão do mundo. “As representações
do mundo social assim construídas, embora aspirem à universalidade de um diagnóstico
fundado na razão, são sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam. [...]”
(CHARTIER, 1998, p. 15)
Classificar e perceber seriam como verdadeiras instituições sociais, assim, incorporam,
sob a forma de categorias mentais e representações coletivas, demarcações da própria
organização social. Nesse quadro, as representações são matrizes de discursos e de práticas
diferenciadas que constroem o mundo social. As noções de representação coletiva são
elaboradas a partir da conciliação de imagens mentais acreditadas pelo indivíduo como claras
com os esquemas propositadamente construídos para serem interiorizados (produzidos por
grupos dominantes que os produzem e estruturam). Esses esquemas “descrevem a sociedade
tal como pensam que ela é, ou como gostariam que fosse.” (CHARTIER, 1998, p. 19). As
representações agregariam toda a percepção que o homem tem da vida cotidiana. Note-se que
a representação faz parte de construções intelectuais que visam apreender o mundo. Para
Chartier, (1998, p. 21), “As representações do mundo social assim construídas, embora
aspirem à universalidade de um diagnóstico fundado na razão, são sempre determinadas pelos
interesses de grupo que as forjam.”
Todas essas noções historiográficas, e outras mais, servem de base para a análise das provas
da ONHB. Vejamos um dos documentos que mais marcou minhas equipes este ano –
provavelmente por conta do ambiente que nos cerca – apresentado na 17ª questão, segunda fase.
C. A carne humana consumida pelos índios tupi era exclusivamente de inimigos mortos
em combate e se dava em ritual com participação de toda a tribo.
D. A expressão da barbárie indígena, presente no desenho de Theodor de Bry, revela o
imaginário europeu do século XVI.
Os pesos atribuídos a cada assertiva foram, respectivamente, 0, 1, 4 e 5. A primeira
alternativa requer o entendimento de que o documento seja verdadeiro e imparcial. Não há,
portanto, questionamento da produção desta imagem por um artista que apenas leu relatos do
famoso holandês aprisionado pelos Tupinambá. Pedi que os alunos começassem por
investigar a diferença entre canibalismo e antropofagia. Pelo título da obra, o artista
evidentemente faz uma leitura da cultura indígena a parte dos significados de seus rituais e
diretamente ligada à condição de animalidade, irracionalidade, o que remete ao conceito de
canibalismo. Acreditar nesta noção é cometer um erro histórico e antropológico. A segunda
alternativa apenas descreve a gravura, portanto não demanda maiores interpretações. Possui
maior valor identificar o significado por trás da gravura. Entretanto, mais relevante ainda, era
compreender como se conformou o imaginário europeu acerca dos indígenas; um imaginário
preconceituoso que opõe civilização à barbárie e que, infelizmente, persiste até os dias atuais.
É difícil mensurar com precisão os resultados obtidos pela participação na ONHB. A
olimpíada me moldou como professora, me fez entender que ensinar é, antes de tudo,
estimular a busca pelo conhecimento. Minha posição de “bússola” está mais que estabelecida;
posso dizer que entendo melhor o que significa mediar o aprendizado, ainda que isso se dê de
maneira distinta de acordo com a variação do público que atendo, inevitável.
Para maior clareza dos resultados da olimpíada, me permito apresentar o relato da aluna
Tainá Nogueira, que participou até a 5ª fase da competição este ano e, ainda que sua equipe
não tenha chegado à fase final, registrou este depoimento:
A visão alcançada por Tainá é partilhada por todos que experimentam a ONHB e, além
de inspiradora para o engajamento de professores e alunos, confere a certeza de que o
aprendizado a que esta olimpíada se propõe foi cumprido com muito sucesso.
Seguramente, o projeto da Olimpíada põe em prática aquilo que todo curso universitário
tem por finalidade: criar meios para que a academia retorne seu saber à sociedade fora dela.
Talvez daqui há alguns anos esse mérito seja reconhecido à sua real altura.
A Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, versa sobre os objetivos a serem atingidos nas diferentes etapas de ensino.
A exemplo, temos como pilares estabelecidos para o Ensino Médio:
3
Tainá Nogueira, do 1º ano do curso Técnico de Meio Ambiente Integrado ao Ensino Médio, IFAC, campus
Cruzeiro do Sul, publicou este depoimento na sua página do facebook em 12/06/2015.
Não há aluno de licenciatura ou professor que desconheça, ainda que de forma genérica,
os conteúdos da LDB e dos PCNs. É evidente, portanto, que a cada parágrafo lido da LDB ou
dos PCNs, podemos com tranquilidade acenar positivamente para o seu cumprimento, a partir
do trabalho com a Olimpíada Nacional em História do Brasil.
reiterar palavras do jornalista Leonardo Sakamoto: “Falta amor no mundo. Falta interpretação
de texto.”4 E acrescento: Falta participar da ONHB.
REFERÊNCIAS
4
Leonardo Sakamoto assim finaliza alguns de seus textos publicados via facebook.
https://www.facebook.com/leonardo.sakamoto?fref=ts
RESUMO: Este projeto tem por objetivo perscrutar os principais periódicos alagoanos no
período de crise da escravidão. Abordamos o papel da imprensa provincial e o seu
posicionamento diante das diferentes opções aventadas para nova organização do mundo do
trabalho. Analisamos jornais de diferentes facções políticas; conservadores, liberais e
republicanos; que apresentaram diferentes posturas frente às transformações no mundo do
trabalho. Desta forma, podemos observar como a elite proprietária oscilou entre os diferentes
projetos para solucionar a crise da mão de obra. Com esse método ressaltamos os diferentes
posicionamentos da elite estadual diante da questão e as representações do escravo nos
periódicos locais.
Palavras-chave: Alagoas, escravidão, periódicos.
INTRODUÇÃO
A transição da mão de obra foi um dos temas mais presente na imprensa nacional do final
do século XIX. Desde 1870 os periódicos de todo o país repercutiam questões referentes ao
final do escravismo e as novas formas de trabalho que deveriam surgir nas lavouras. Com o
iminente final do regime escravista um novo braço precisava ser arregimento para dar
prosseguimento à produção nacional. Diante deste problema diversas propostas foram
discutidas, passando da importação de trabalhadores estrangeiros, principalmente vindos da
Europa, ao aproveitamento do trabalhador nacional, embora muitas vezes olhado com
desconfiança devido aos discursos racistas, como o darwinismo social, em voga na época. A
classe produtora precisava resolver este intrincado problema posicionando-se diante da
imperiosa crise da mão de obra que se agravava no país com o final da escravidão.
Dentro dessa temática nosso escopo foi de analisar o discurso da elite proprietária
alagoana sobre a transição da mão de obra e sendo assim, as representações do cativo nos
periódicos. Este prisma ressalta a opinião dos editores do século XIX e sua visão sobre a mão
de obra que trabalhava suas lavouras. Trata-se de uma opção metodológica, de voltar-se
primordialmente para as fontes primárias dando voz aos protagonistas do acontecimento
histórico analisado.
MATERIAL E MÉTODOS
Nossa metodologia consistiu em pesquisar periódicos alagoanos no portal da Hemeroteca
Digital Brasileira (http://hemerotecadigital.bn.br/). Este portal, disponibilizado pela Fundação
Biblioteca Nacional, proporciona fácil consulta ao seu amplo acervo de periódicos a todos os
pesquisadores.
No portal da Hemeroteca Digital Brasileira encontramos para a província de Alagoas mais
de uma centena de periódicos que estão disponibilizados para pesquisa, tanto folhas que foram
redigidas em Maceió como no interior da província. Para maior compreensão do processo de
abolição da escravatura no estado destacamos os seguintes periódicos: O Liberal (1869-1884),
Jornal do Penedo (1875-1881), Jornal do Pilar (1874-1879) e O Orbe (1879-1900).
Selecionamos estes periódicos para a presente pesquisa porque os mesmos circularam por um
período mais extenso, condição fundamental para identificarmos o discurso da elite, melhor
conhecer o posicionamento de seus editores e perceber as possíveis alterações no discurso do
periódico à medida que a crise da mão de obra se agravava no país.
Uma série de cuidados específicos devem ser tomados quando se utiliza a imprensa
periodista como fonte histórica. Tivemos como base à pressuposição que o jornalismo, através
da seleção e divulgação de todo o material redacional, não só espelha a realidade como também
constrói a realidade social. Desta forma, estamos convencidos de que a mídia não espelha
simplesmente a realidade, mas constitui versões da realidade que dependem de posições sociais,
interesses e objetivos daqueles que a produzem. Isso se caracteriza por meio de escolhas que
são feitas nos vários níveis no processo de produção dos textos, desde as escolhas lexicais até
os vários tipos de discurso que se inter-relacionam na construção do sentido (PALHA, 2000).
Desta forma, o jornalismo não tem a função apenas de comunicar a outrem o conhecimento da
realidade, mas também a produz e reproduz. A representação, na imprensa e em todos os outros
tipos de mídia e discurso, é uma prática construtiva. Os acontecimentos e as ideias não são
comunicados de maneira neutra, ao contrário, são transmitidos com suas próprias características
e essas características são impregnadas de valores sociais que dão uma perspectiva potencial
para os acontecimentos (MELO, 2003).
A seleção significa, portanto, a ótica através da qual a empresa jornalística vê o mundo.
Essa visão decorre do que se decide publicar em cada edição privilegiando certos assuntos,
destacando determinadas passagens, obscurecendo alguns e ainda omitindo diversos
(PALHA, 2000). Pois, como salienta Pierre Nora, a mídia tem a capacidade de alterar a
percepção do receptor podendo até mesmo modificar o fato em questão, além de interferir na
sua percepção e na sua construção, difundindo versões e consolidando as mais diversas
interpretações (NORA, 1995).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao longo das últimas décadas uma extensa bibliografia se debruçou sobre o tema da
escravidão no país. Tal bibliografia enfatizou a subjetividade da mão de obra escrava, estes
trabalhos se preocuparam em desmistificar a imagem do escravo-coisa, visto como simples
mercadoria e teve como resultado a construção de uma nova perspectiva das relações entre
senhor e escravo, num contexto de constantes negociações no qual o cativo também aparece na
condição de sujeito histórico e possuidor de espaços de autonomia (Cf. FREYRE, 2001;
FERNANDES, 1981; MATTOSO, 1990; GORENDER, 1992; LARA, 1988; FLORENTINO,
1997; MATTOS, 1998; CHALHOUB, 1990; FARIA, 1998 e REIS, 2003).
Neste tópico centramos nossa análise na representação dos escravos nos periódicos por
considerarmos tal apreciação reveladora da visão que os editores possuíam dos escravos e de
como os cativos eram encarados naquela sociedade. Compomos também um panorama da
transição da mão de obra na ótica dos proprietários, salientando as diferentes visões políticas e,
consequentemente, diferentes soluções para a crise. No levantamento realizado até aqui
encontramos nos periódicos analisados o discurso da elite provincial e percebemos suas
estratégias para realizar a transição da mão de obra com o menor abalo político, econômico e
social possível. Esta opção nos conduziu a duas questões: primeiramente foi possível conhecer
o posicionamento político da elite proprietária diante do tema da transição da mão de obra,
perceber a força de seu discurso e seus instrumentos de argumentação e convencimento. Em
segundo lugar pudemos averiguar como se deu na província diversos processos, como o avanço
abolicionista e os preconceitos quanto à condição dos indivíduos, demonstrando o ajustamento
social do período, em especial em artigos que descrevem a condição do elemento servil naquela
sociedade. São muitos os exemplos de artigos encontrados que desvendam a crise do
escravismo e a situação do escravo:
“Fugiu no dia 31 de Janeiro, o escravo de nome Maximo, mulato, altura regular, barba
serrada e preta (pode ter cortado a barba, olhos pretos, cabelos crespos, dentadura
perfeita, tem em uma das costelas a qual não me recordo uma cicatriz, sendo dito o
escravo propriedade do abaixo assinado. Quem o pegar dirija-se ao sitio Turrões, á
ser entregue a seu senhor, e o terá do mesmo a gratificação de cem mil réis.”
(Jornal do Penedo, 8 de Fevereiro de 1875; João Caetano dos Santos;8ª edição)
“José Maria Gonçalves Perreira, precisa comprar escravos para serviço assim como
para uma encomenda, e sendo boas peças paga-os por bom preço.”
(Jornal do Penedo, 13 de agosto de 1875. Edição 00032, pág. 4)
Analisando estas notas e muitas outras encontradas nos periódicos perscrutados podemos
observar que os escravos eram tratados de forma brutal, sem o mínimo de respeito e para sua
identificação eram dadas características que, geralmente, seriam usadas para referirem-se a
algum animal. Por vezes, os mesmos só eram reconhecidos pelas suas cicatrizes adquiridas ao
longo do tempo.
Com efeito, nos periódicos analisados os escravos passam a adquirir o status de agente
ativo da sua própria história apenas na década de 1880 com o agravamento da crise da mão de
obra, quando passou a majorar nas páginas desses jornais notícias de crimes violentos
cometidos por escravos.
desregrada e que o levava a se revoltar e cometer tais crimes. Outra posição defendia maior
rigidez das leis para combater esses assassinos. Cada grupo, com suas diferentes soluções,
compuseram o debate que se formou em torno da transição da mão de obra.
Encontramos nos periódicos de Alagoas duas correntes mais fortes: a emancipacionista,
defendida por liberais e conservadores proprietários de terras e escravos. E a visão dos
abolicionistas republicanos, que eram contrários ao regime servil e se valeram tanto de
argumentos humanitários como de ideias racistas para justificar o fim do regime. A proposta
imigrantista invariavelmente aparece em ambos os lados, ora como salvação diante da
vadiagem dos libertos, ora como risco para a unidade nacional e, principalmente, medida por
demais onerosa aos cofres públicos.
Neste momento de ruptura e reorganização social, o trabalho passou a ser dignificado e o
nacional que o realizava foi valorizado na sua condição de trabalhador experimentado e
acostumado com a lavoura. O discurso referente ao trabalho teve de ser mudado para adaptar-
se ao modelo capitalista que se expandia por todo o país, neste processo a desacreditada mão
de obra nacional foi transformada em eficiente braço trabalhador.
Além de demonstrar um olhar extremamente preconceituoso, nos jornais analisados
podemos percebemos a visão que os proprietários possuíam dos nacionais, enxergando no
elemento servil uma massa ignorante e flexível, fácil de ser manipulada e útil apenas para o
trabalho pesado das lavouras.
Outras duas importantes questões que preocupavam a elite e os editores dos periódicos
alagoanos era a necessidade de educar a população, a fim de formar cidadãos mais regrados, e
de realizar uma reforma criminal para impedir a ociosidade e punir os “vadios, vagabundos e
turbulentos” (Jornal de Penedo, 1881). Na visão do periódico, para combater tais males cabia
ao poder público a iniciativa de realizar a recuperação do braço recém-liberto e transformá-lo
em cidadão por meio da educação e de punições quando esta se fizesse necessária.
Os editores de O Jornal de Penedo também exigiam do poder público a criação de
bancos agrícolas, favorecimentos à imigração, e aconselhava aos grandes proprietários o
retalhamento de suas terras “aos colonos estrangeiros e principalmente ao nacional”,
inaugurando a era da “regeneração na província”. Neste balanço esperava que pelo uso útil
da liberdade, os recém-libertos se mostrassem dignos da condição de cidadãos e lembrava
que a liberdade impunha deveres.
CONCLUSÕES
Nos periódicos analisados encontramos o discurso da elite e percebemos suas estratégias
para realizar a transição da mão de obra com o menor abalo político, econômico e social
possível. Ao mesmo tempo observamos as representações dos cativos nesses periódicos.
Essa análise contribuiu com nosso escopo ao longo do projeto pois demonstrou a
complexidade das relações entre senhores e escravos e as muitas outras maneiras de
relacionamento que advieram com a extinção da escravidão no mundo do trabalho.
A descrição de crimes e assassinatos cometidos por cativos convinha para amedrontar a
elite e pressionar a mesma para encaminhar o fim do escravismo. Por outro lado, o crime contra
escravos demonstra que esses eram as maiores vítimas do regime bárbaro, e por último, um
universo de negociações nos é revelado com a leitura do ponto de vista dos cativos.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Célia Maria Marinho. Onda negra, medo branco: o negro no imaginário das
elites século XIX. 2ª edição. São Paulo: Annablume, 2004.
CHALHOUB, Sidney. Visões da liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão
na Corte. São Paulo: Cia das Letras, 1990.
FLORENTINO, M. e GÓES, J.R. A paz das senzalas: famílias escravas e tráfico atlântico, Rio
de Janeiro, 1790-1850. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997.
MELO, José Marques de. Jornalismo opinativo: gêneros no jornalismo brasileiro. Campos do
Jordão: Mantiqueira, 2003.
NORA, Pierre. O retorno do fato. IN.: LE GOFF, Jacques & NORA, Pierre (orgs.). História:
Novos problemas. Tradução: Theó Santiago. 4ª edição. Rio de Janeiro: Francisco Alves; 1995.
REIS, João José. Rebelião Escrava no Brasil. A história do levante dos malês em 1835. São
Paulo: Companhia das Letras, 2003.
SCHWARCZ, Lilian Moritz, O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial
no Brasil, 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
identity and citizenship. Conclusively, the experience with the evidence raised in this
interactive process and direct with equity, enabled them to better enjoyment of these goods,
enabling the production of new knowledge and meaning.
KEYWORDS: Culture, education, heritage education, São Luís (MA).
INTRODUÇÃO
Criados pela Lei nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008 Os Institutos Federais1 possuem
como princípios norteadores o ensino, a pesquisa e a extensão que são colocados no mesmo
plano de relevância2.
Entende-se que é por meio da extensão que os Institutos Federais articulam uma relação
dialógica com a sociedade local. Por um lado, democratiza o acesso aos saberes produzido
nos Institutos e, por outro, abre espaço para o contato com o conhecimento de saberes
populares, favorecendo a produção de novos conhecimentos.
Nesse sentido, vale destacar que a:
1
Lei nº 11.892, de 29/12/2008, Capítulo I, Art. 1º - Fica instituída, no âmbito do sistema federal de ensino, a
Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, vinculada ao Ministério da Educação (...).
2
Lei nº 11.892, de 29/12/2008, Art. 6o Os Institutos Federais têm por finalidades e características: VII -
desenvolver programas de extensão e de divulgação científica e tecnológica; Art. 7 o Observadas as finalidades e
características definidas no art. 6o desta Lei, são objetivos dos Institutos Federais: IV - desenvolver atividades de
extensão de acordo com os princípios e finalidades da educação profissional e tecnológica, em articulação com o
mundo do trabalho e os segmentos sociais, e com ênfase na produção, desenvolvimento e difusão de
conhecimentos científicos e tecnológicos.
passado pulsavam no burburinho das carruagens dos senhores, nos salões de sarau, no vai-e-
vem de homens e mulheres, livres e escravos na lida cotidiana de sobrevivência, no grito das
negras de tabuleiro, hoje ajudam a compor um cenário degradante formado por um número
expressivo de prédios históricos abandonados, muitos em ruínas e utilizados como abrigo por
marginais, usuários e traficantes de drogas. Nessa mesma paisagem do descaso, encontram-se
várias famílias de baixa renda, com filhos adolescentes, que no desenrolar da vida cotidiana
acabam por dividir com esses atores sociais as ruas do centro antigo de São Luís.
Nesses termos, consciente da sua responsabilidade social para com essa comunidade, e
considerando a complexidade desse tecido social, o Campus São Luís – Centro Histórico vem
buscando contribuir com ações que atendam aos anseios e necessidades desses moradores,
carentes de políticas eficazes. A concepção do projeto Kitanda dos Saberes foi, assim,
direcionada a jovens carentes da área do Centro Histórico, oriundos de escolas de ensino
fundamental deficitárias, como forma de sanar ou diminuir perdas acumuladas ao longo de
ensino básico, capacitando-os para concorrer às vagas oferecidas por boas escolas públicas de
Ensino Médio ofertadas através de processos seletivos.
Em consonância com este propósito, o projeto baseou-se ainda em uma educação
voltada para a valorização do patrimônio3 cultural, aqui entendido como um conjunto de
manifestações, realizações e representações de uma determinada sociedade. É o modo de ser
e de viver de um povo4. Assim, podemos afirmar que o patrimonio cultural esta presente em
todos os lugares – cidade ou campo – onde o sujeito realiza seus afazeres cotidianos e também
suas manifestações artisticas culturais, religiosas e intelectuais.
Autores como Fonseca (2005) entendem que patrimônio é o conjunto de bens
materiais e imaterias que fazem referência á história de um povo e sua relação com o meio
ambiente. É o legado das sociedades passadas que são transmitidas às gerações futuras e
pode ser classificado em Histórico, Cultural e Ambiental. O patrimônio histórico é aquele
que conta a história de uma determinada sociedade através de seus monumentos,
vestimentas, mobílias, documentos, obras de arte e demais utensílios produzidos por essa
sociedade. Nessa direção, vale lembrar o conceito definido pelo Estado brasileiro no início
do século XX para quem patrimônio histórico e artístico nacional “é o conjunto de bens
móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por
sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor
arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico” (BRASIL, Decreto Lei, nº 25, de
30 de novembro de 1937).
Isto posto, é mais fácil compreender o significado da expressão Educação Patrimonial,
usada pela primeira vez no Brasil pela museóloga Maria de Lurdes Horta em 1983, para quem
a educação patrimonial é: “um processo permanente e sistemático de trabalho educacional
centrado no Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento
individual e coletivo”. Assim, o patrimônio existente no Centro Histórico de São Luís foi
tomado como elemento de produção do conhecimento. Monumentos, paisagens urbanas e
edificações de um modo geral, foram utilizados como documentos patrimoniais5 tornando-se
instrumentos para discussão e compreensão da identidade histórica das sociedades passadas
que ali viveram (HORTA 1999, p. 6).
3
O conceito de “patrimônio” deriva de uma palavra latina, pater, que na sua “origem está ligada às estruturas
familiares econômicas e jurídicas de uma sociedade estável, enraizada no espaço e no tempo” (CHOAY, 2001, p.
11).
4
Conceito baseado na Constituição de 1988.
5
São aqueles que carregam informações/vestígios sobre os mecanismos por meio dos quais uma sociedade se
organizava.
MATERIAL E MÉTODOS
O Kitanda dos Saberes foi executado na sede do IFMA – Campus São Luís - Centro
Histórico entre os anos de 2012 e 2014, durante os quais foram oferecidos um curso de
Educação Patrimonial, ofertado em duas turmas subsequentes, cada uma com 30 alunos. Este
foi composto por aulas teóricas, oficinas, palestras e visitas técnicas com carga horária total
de 120h.
A metodologia aplicada para a educação patrimonial dos jovens incluiu toda e qualquer
evidência material ou manifestação artística e cultural que viesse a contribuir para a formação
crítica destes. Nesse entendimento, utilizou-se desde a própria paisagem do Centro Histórico
até as manifestações de cultura popular maranhense de caráter folclórico ou ritual e qualquer
outra expressão de saberes popular local resultante da relação de produção de novos
conhecimentos, contínuo e sistemático.
A matriz curricular do projeto contemplou os componentes curriculares Língua
Portuguesa, Matemática, História de São Luís, Ciências Humanas, Educação das Relações
Étnicos Raciais, Educação Ambiental, Oficina de Fotografia, Oficina de Papel e Oficina de
Ritmos Afro-maranhenses e seus aportes teóricos. As vivências contemplaram ainda palestras
e visitas técnicas aos atrativos culturais do Centro Histórico (museus, casas de cultura, praças,
igrejas, dentre outros). O desenvolvimento das atividades foi conduzido por profissionais
servidores do IFMA em suas diversas áreas do conhecimento.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em função da proposta concebida, considera-se que o Projeto de Educação Patrimonial
Kitanda dos Saberes gerou impactos positivos para os jovens selecionados, oportunizando,
dentre outros aspectos, sanar ou diminuir as perdas acumuladas ao longo do ensino
fundamental preparando-os para concorrerem às vagas oferecidas por boas escolas públicas de
Ensino Médio de São Luís, através de processos seletivos, sobretudo, do IFMA.
6 Formado pelos bairros Madre Deus, Goiabal, Lira, Coreia, Vila Passos, Fabril, Apicum, Diamante, Desterro,
Praia Grande e Camboa.
CONCLUSÕES
A importância do projeto Kitanda dos Saberes deu-se pelo desenvolvimento de ações
essenciais para o exercício do direito à cultura, para a defesa dos valores históricos e
artísticos, com vistas à formação de uma nova mentalidade cultural e ao estímulo das práticas
culturais de identificação, reconhecimento e preservação do patrimônio cultural maranhense.
Embora o objetivo de promover maior inserção de alunos oriundos do ensino
fundamental em escolas da rede pública para o ensino médio, prioritariamente a admissão na
instituição IFMA, não tenha sido alcançada da forma desejada em termos quantitativos,
enfatiza-se como o retorno mais positivo alcançado com a experiência a questão de que a
educação patrimonial possibilitou a esses alunos uma visão mais ampla dos bens que os
cercam e de seus papeis para com esse patrimônio. Como multiplicadores, os alunos podem
levar adiante todo o conhecimento que obtiveram por meio dessas experiências bem como
habilidades descobertas ou aprimoradas com as artes.
Enfim, acredita-se que alguns déficits foram sanados ao longo do curso e que nenhum
dos jovens saiu da mesma forma que entrou; além do mais o vínculo com eles permanece e a
possibilidade de inserirem-se no instituto também, pois se criou uma ponte de saber e
conhecimento que permanece, no diálogo com os professores e com as turmas vindouras.
AGRADECIMENTOS
Aos alunos bolsistas e servidores do IFMA envolvidos no projeto; à Fundação de
Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão/FAPEMA.
REFERÊNCIAS
RESUMO: No mês de junho do ano de 2010 fortes chuvas provocaram grandes estragos
nos estados de Alagoas e Pernambuco e a cidade de Murici, localizada na zona da mata
alagoana, foi uma das mais afetadas. O projeto de extensão ‘’Resgate histórico de Murici a
partir da enchente de 2010’’ busca resgatar essa história passados cinco anos dessa grande
catástrofe. Realizamos levantamento do número de vítimas e prejuízos matérias junto da
Defesa Civil e diante do cenário observado realizamos entrevistas com a população dos
conjuntos habitacionais Olavo Calheiros e Pedro Tenório Raposo, bairros planejados para
receber os afetados da enchente de 2010. A metodologia consistiu na formulação de
questionários tendo por base a história oral e foram feitas entrevistas com os moradores e
comerciantes do município, afetados pela enchente de 2010. Por se tratar de um projeto de
extensão os bolsistas do projeto também buscaram inserção nas escolas municipais,
distribuindo panfletos informativos e realizou palestras almejando esclarecer e conscientizar
a população. Por último, concluímos que a população pode desempenhar importante papel
realizando medidas simples de cuidado e preservação, evitando a repetição de catástrofes
como a observada em Murici em 2010.
Palavras-chave: Alagoas, enchente de 2010, história oral.
INTRODUÇÃO
No ano de 2010 fortes chuvas atingiram os estados de Alagoas e Pernambuco causando
uma grande catástrofe. As águas pluviais provocaram o vazamento do rio Mundaú e a represa
Maria Maior na cidade de Murici foi devastada. A forte tempestade destruiu cerca de 60% da
área urbana do município, segundo a Defesa Civil, e afetou a população e o comércio da
cidade, provocando desemprego e instabilidade no munícipio.
O projeto “Resgate histórico de Murici a partir da enchente de 2010” tem o caráter de
resgatar a história do município de Murici (cidade da microrregião da mata atlântica alagoana,
que possui uma população aproximada de 26.706 habitantes – censo IBGE-2010), a partir da
catástrofe por qual passou o município em junho de 2010. A enchente de 2010 destruiu casas
e logradouros públicos e afetou também aspectos socioculturais da cidade.
Por meio deste projeto de extensão fizemos um levantamento dos prejuízos materiais da
população e também um resgate da memória do município. Procuramos diagnosticar os efeitos
considerando os aspectos físicos, ambientais, produtivos e emocionais da população, buscando
um envolvimento direto da comunidade acadêmica ao inserir o Instituto Federal de Alagoas
na realidade local. Por último, almejamos contribuir para o processo de aprendizagem e
conscientização da população com a difusão de medidas que evitam novas enchentes.
MATERIAL E MÉTODOS
No primeiro momento foram feitas pesquisas digitais com a finalidade de conhecermos
melhor o fenômeno da enchente municipal de 2010 e para maior assimilação do escopo
principal do projeto. Buscamos também definições e números oficiais na Defensoria Civil do
município, órgão responsável pelo monitoramento das zonas de risco da cidade e por adotar
medidas para prevenção de tragédias. Nesta instituição tivemos acesso aos números da
tragédia, como a quantidade de famílias afetadas, os prejuízos materiais e as ações dos órgãos
públicos para alojar os afetados e para reconstruir a cidade. Segundo dados da Defesa Civil do
município cerca de 15.000 pessoas foram afetadas, sendo 10.000 desalojadas e 5.000
desabrigadas.
A partir desses dados elaboramos questionários e realizamos entrevistas orais com
famílias afetadas pela enchente de 2010, em especial nos Conjuntos Habitacionais Pedro
Tenório Raposo e Olavo Calheiros, conjuntos que foram construídos para alojamento da
população atingida pelas fortes chuvas, segue abaixo momentos da pesquisa:
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir da aplicação do questionário voltado especificamente para a população
afetada obteve-se dados importantes para elaboração e execução do projeto. Nosso
questionário buscou atender dois aspectos, primeiramente quantificarmos o número de
famílias afetadas e o seu prejuízo através de perguntas técnicas e diretas. Em segundo lugar
elaboramos questões mais subjetivas, que procuravam promover o resgate histórico
municipal questionando acerca da vida em comunidade e as alterações sofridas depois da
mudança de bairro (DELGADO, 2006).
De acordo com o gráfico 1, a maioria dos entrevistados abrigou-se em casas de
aluguel, onde os mesmos tinham condições financeiras para arcar com a sua moradia. Por
outro lado, cerca de 11% dos entrevistados tiveram que se abrigar nas barracas de lona
disponibilizadas pela Defesa Civil, enquanto os mesmos não eram beneficiados com o
programa de moradia do governo.
CONCLUSÕES
Com a elaboração do projeto nas partes afetadas da cidade e nos conjuntos habitacionais
Olavo Calheiros e Pedro Tenório Raposo, pudemos observar o impacto socioeconômico da
enchente de 2010 na cidade de Murici, Alagoas.
Atuando como um veículo de informação, o projeto procurou compilar os dados da
Defesa Civil do município auferindo os prejuízos com a enchente de 2010 e posteriormente
buscou, por meio de entrevistas realizadas, conhecer a impressão da população mais afetada
pela enchente, como comerciantes e moradores dos conjuntos habitacionais. Também foram
feitos registros fotográficos dos prédios públicos e logradores reconstruídos. Esses resultados
foram levados à população por meio de folhetos informativos com a intenção de informá-la
dos riscos e difundir os cuidados que devemos ter para evitar tragédias semelhantes numa
tentativa de promover a conscientização da população mostrando porque a enchente
aconteceu.
Assim, a população de Murici, pôde saber como a cidade está caminhando após cinco
anos da catástrofe, tendo o conhecimento da importância da prevenção e conservação do meio
ambiente para que não aconteça mais uma catástrofe como a que aconteceu em 2010.
REFERÊNCIAS
DELGADO, Lucília de Almeida Neves. História Oral, Memória. Tempo, Identidade. Belo
Horizonte: Autentica, 2006.
VISCARDI, Cláudia Maria Ribeiro; DELGADO, Lucília de Almeida Neves. História oral:
teoria, educação e sociedade. Editora UFJF, 2006.