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14/03/2015 O 

Século XX: as Relações Internacionais e a ascensão das questões sociais., por Rafaela Oliveira Ludolf | Boletim Mundorama

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BOLETIM MUNDORAMA
DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA EM RELAÇÕES
INTERNACIONAIS – ISSN 2175­2052

17/08/2013 / 1. Boletim Mundorama

O Século XX: as Relações Internacionais e a
ascensão das questões sociais., por Rafaela
Oliveira Ludolf
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Composta  por  processos  de  alternância  em  cooperação  e  conflito,  as  Relações  Internacionais,  se
desenvolveram  como  uma  totalidade  de  complexidades  que  se  revelam  em  um  cenário
extraterritorial  (o  sistema  internacional).  São  relações  assimétricas  de  poder  que  se  revelam  no
plano  da  inserção  e  posicionamento  estratégico  dos  atores  –  relações  assimétricas,  pois  os  atores
são essencialmente distintos. (PEDRÃO, 2012).

Essa configuração assimétrica é resultado de um processo histórico que se desenvolve desde o fim
da Segunda Guerra e é acentuado na Guerra Fria, nesse sentido se fará aqui uma retrospectiva dos
conflitos, mas especialmente dos movimentos ideológicos que esses conflitos legaram as Relações
Internacionais neste último século.

As  duas  grandes  guerras  na  abertura  do  século  XX  causaram,  na  sociedade  internacional,  um
impacto de proporções gigantescas; mas o fim da Segunda Guerra Mundial, em particular, gerou
um arranjo político fundamental para o estabelecimento do primeiro grande debate daquele século.
A “ordem” multipolar do entre­guerras e a eclosão da Segunda Guerra serviu para a solidificação
da transição de hegemonia e reconhecimento de novas potências.

Neste  período  era  possível  observar  a  formação  de  um  novo  ciclo  sistêmico  e  a  transferência  de
poder  e  de  centralidade  da  Europa  para  os  Estados  Unidos  (EUA).  As  movimentações
internacionais  seguiam  sua  lógica  de  cooperação  e  conflito,  especialmente,  impulsionadas  pelo
processo de acumulação global do sistema capitalista de produção.

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14/03/2015 O Século XX: as Relações Internacionais e a ascensão das questões sociais., por Rafaela Oliveira Ludolf | Boletim Mundorama

Com  o  fim  da  Guerra  Fria,  o  mundo  passa  a  presenciar  a  ascensão  dos  EUA  –  como  herdeiro  e
maior  representante  da  economia  capitalista  –  e  da  União  Soviética  (URSS)  –  representado  a
“oposição”,  o  comunismo.  A  política  externa  dessas  potências  passa  a  se  orientar  no  sentido  de
contenção,  ou  seja,  impedir  o  crescimento  da  outra  em  sua  área  de  influência.  E  as  Relações
Internacionais vive um debate entre os complexos teóricos do Realismo e Liberalismo.

Já nos debates que giram em torno do poder fala­se de um sistema bipolar, representado pelo poder
compartilhado entre duas polaridades, neste caso, EUA e URSS. Como parte da política estratégica
norte­americana  é  possível  perceber  uma  expansão  do  pensamento  liberal  no  sentido  de
impulsionar  processos  democráticos,  aliados  a  uma  maior  integração  do  sistema  internacional,
pelas vias econômicas; para tal observa­se o auxílio norte­americano na reconstrução da Europa,
por meio do Plano Marshall, a estruturação e solidificação da Organização das Nações Unidas, do
Banco  Mundial  e  do  Fundo  Monetário  Internacional  como  um  mecanismo  de  angariar  aliados,
estratégia política e econômico­financeira respectivamente.

O desenvolvimento do socialismo também tem sua importância, mas como ao fim da Guerra Fria o
capitalismo/liberalismo  saiu  vencedor  vamos  nos  ater  nos  processos  de  desenvolvimento
ideológico deste lado do globo. Ou seja, “a queda do muro de Berlim assinalou simbolicamente o
fim do mundo conhecido (bipolar) e a afirmação dos EUA como potência mundial e o triunfo do
mundo liberal” (GOMES, 2009, p. 29).

Fala­se  aqui  de  um  movimento  do  pensamento  em  torno  de  ideias  que  darão  base  a  política
internacional do final do século XX e inicio do XXI, sendo ligeiramente abalada pelo atentado de
11 de setembro de 2001 (“questionamentos” sobre a intocabilidade dos EUA). Segundo Sacchetti
“o fim da bipolarização política mundial e, mais importante ainda, o fim dos governos comunistas
europeus  e  a  implosão  da  URSS  permitiram  a  adesão  voluntária  de  vários  países,  um  pouco  por
todo o mundo, aos valores democráticos ocidentais”. (2009, p.157).

No  pensamento  de  Relações  Internacionais  vê­se  o  liberalismo  desenvolvendo  conceitos  de


interdependência complexa (Keohane e Nye) e de sistema mundo (Wallerstain), ou seja, as grandes
guerras “amoleceram” os homens abrindo espaço para uma entrada mais arrojada do capitalismo.
Tem­se inicio a expansão dasteorias de globalização somadas a Terceira Revolução Industrial que
significará, ao fim da Guerra Fria, uma hegemonia isolada dos EUA.

Para os adeptos da perspectiva da polaridade em Relações Internacionais, ao fim da Guerra Fria o
quadro  da  bipolaridade  vai  dar  lugar  a  uma  unipolaridadenorte­ameriana  no  plano  das  políticas
internacionais.  Dada  à  reconhecida  força  dos  EUA,  é  possível  percebê­lo  nesse  período  como  o
grande hegemon(somatório de capacidades materiais e imateriais – influência e força).


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A consolidação da agenda foi marcada pelo adensamento das redes de
interdependência entre Estados, empresas e movimentos sociais (Keohane, Nye,
2000) – fenômeno nomeado por muitos como globalização – foi responsável pela
difusão da democracia liberal, pelo domínio das forças de mercado e, finalmente,
pela integração das economias nacionais em um mercado de troca de bens e serviços
de feições globais (ESTEVES; 2003; P.71).

Porém, no plano econômico houve uma abertura de espaços estratégicos para o processo decisório,
com a inserção de economias fortes como Alemanha e Japão que mais tarde seriam reconhecidas
como G7 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e o Canadá). Pela linha
das polaridades, essa configuração que agora permitia que outras potências se apresentassem nos
processos  decisórios  da  economia  global,  abriu  espaço  para  uma  ideia  de  multipolaridade  ou,
ainda,  uni­multipolaridade;  onde  os  polos  de  poder  eram  bem  definidos  na  configuração  do
cenário, EUA no centro político e militar e as maiores economias do mundo no centro econômico.


A nova ordem mundial é marcada não mais pelo poder das armas, mas pelo poder do
dinheiro, as relações econômicas estão mais intensas e com uma nova geopolítica.
[…] A partilha do mercado mundial envolve as estratégias das grandes corporações
econômicas e as políticas dos Estados (GOMES, 2009. p. 28).

Em resumo, o período da Guerra Fria e os anos que seguem são caracterizados por forte influência
do  liberalismo,  universalização  de  princípios  de  democracia  e  cooperação  respaldados  em
organismos  internacionais  (instituições)  como  auxiliares  dos  processos  decisórios  globais.  É  o
momento onde duas percepções de mundo se confrontam, no sentindo de superação.

De um lado o atrasado representado pelo imperialismo europeu, desenvolvido com base na lógica
eurocentrista  de  negação  da  alteridade,  submissão  dos  povos  e  a  superioridade  do  branco
civilizador;  Do  outro  o  frescor  da  visão  norte­americana,  um  olhar  sobre  o  mundo  desenvolvido
pelos  padrões  do  capitalismo  americano,  caracterizando  uma  mudança  singular  nas  estruturas
globais, apoiada em um discurso de supervalorização do indivíduo e no papel central exercido por
ele no funcionamento dos sistemas (organizações e associações econômicas) fazendo com a missão
universalizadora  de  “mundialização  do  mundo”  pertença  agora  ao  “indivíduo”,  mas  sua  forma
organizacional representada pelo capital privado. Configura­se a ordem pós Guerra Fria.

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Designa­se como Nova Ordem Mundial à nova realidade emergente das relações
políticas e econômicas internacionais contemporâneas. Nela, as humanidades da
Terra percebem­se vivendo em um sistema mundial de produção de mercadorias,
articulado e em movimento, do qual as economias desenvolvidas, subdesenvolvidas,
socialistas e capitalistas fazem parte. Não há mais economias nacionais autônomas
funcionando de maneira autônoma. Criou­se uma grande economia que está por
cima da compreensão de nacionalidades. Além disso, essa Nova Ordem Mundial
vem significando também uma explosão da miséria, da desordem, da exclusão e da
fragmentação em determinados pontos do mundo (TASSARA; DAMERGIAN,
1996. p. 295).

Desde  os  tempos  de  Marx  já  se  discutia  as  contradições  internas  do  modelo  de  acumulação
promovido  pelo  capitalismo  e  é  obvio  que  agora,  organizado  internacionalmente,  ele  produzirá
contradições a nível global e a percepção desse movimento é o que fará ascender, no âmbito dos
debates  das  relações  internacionais,  as  análises  das  questões  sociais  e  da  globalidade  desses
problemas (problemas comuns a todos os Estados).


Tais problemas dizem respeito ao uso dos bens, recursos e valores raros do sistema
global; sobre os mesmos abrem­se fortes controvérsias entre os governos porque se
trata  de  problemas  aos  quais  podem  ser  dadas  diversas  soluções  alternativas.  São
eles,  entre  outros,  problemas  de  reequilíbrio  dos  desníveis  de  desenvolvimento
econômico entre os Estados e as áreas do mundo, problemas da defesa dos direitos
humanos e da democracia, problemas da autodeterminação dos povos e da proteção
dos  grupos  étnicos  minoritários,  problemas  dos  fluxos  migratórios  por  motivos
econômicos, problemas da recolocação de grandes massas de exilados por motivos
políticos,  problemas  da  regulamentação  e  regimentação  do  aproveitamento  dos
recursos naturais comuns (espaço, atmosfera, oceanos etc.) e dos recursos materiais
e  humanos  raros,  entre  os  quais  se  inclui  o  conhecimento  nos  campos  científico  e
tecnológico (TASSARA; DAMERGIAN, 1996. p. 296).

Ou seja, é no final do século XX, mas especificamente com a consolidação dos Estados Unidos e a
universalização  do  liberalismo,  que  se  observa  o  surgimento  de  novas  opções  de  análise  da
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universalização  do  liberalismo,  que  se  observa  o  surgimento  de  novas  opções  de  análise  da
realidade  internacional  e  política  mundial.  Enquanto  Fukuyama  anunciava  o  fim  da  história;  os
enfoques  humanistas  surgem  abordando  o  debate  “questões  sociais  versus  modo  de
produção/exploração capitalista” e temas como meio ambiente, gênero, identidade, pobreza, fome,
fluxos migratórios etc. passam a ganhar/conquistar algum espaço.


Referências
ESTEVES, Paulo Luiz. Instituições Internacionais. Comércio, Segurança
e Integração. EDIPUC­MG. 2003.
GOMES, Henrique Manuel Candeias. A Nova Ordem Mundial:Do fim do mundo
bipolar à emergência de novos actores internacionais. Dissertação de Mestrado
apresentada ao Mestrado em Estudos Euro­Asiáticos. Lisboa – 2009.124p.
PEDRÃO, Fernando Cardoso. A Política das Relações Internacionais. Curitiba:
Appris, 2012.
SACCHETTI, Vice­Almirante António Emílio. A Conjuntura Internacional e os
Novos Conflitos. A organização e defesa do ocidente face aos novos desafios, in
Estratégia, Vol. V, Instituto Português da Conjuntura Estratégica, Lisboa 1996.
TASSARA, Eda Terezinha De Oliveira; DAMERGIAN, Sueli. Para um novo
humanismo: contribuições da Psicologia Social. Estud. av. vol.10 no. 28 São
PauloSept./Dec. 1996. Disponível em: [http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103­
40141996000300013&script=sci_arttext].Acesso em: 14/08/2013.

Rafaela Oliveira Ludolf é Professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de
Sergipe – UFS (rafaludolf@gmail.com).

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