Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Século XX: as Relações Internacionais e a ascensão das questões sociais., por Rafaela Oliveira Ludolf | Boletim Mundorama
BOLETIM MUNDORAMA
DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA EM RELAÇÕES
INTERNACIONAIS – ISSN 21752052
17/08/2013 / 1. Boletim Mundorama
O Século XX: as Relações Internacionais e a
ascensão das questões sociais., por Rafaela
Oliveira Ludolf
8 Votes
Composta por processos de alternância em cooperação e conflito, as Relações Internacionais, se
desenvolveram como uma totalidade de complexidades que se revelam em um cenário
extraterritorial (o sistema internacional). São relações assimétricas de poder que se revelam no
plano da inserção e posicionamento estratégico dos atores – relações assimétricas, pois os atores
são essencialmente distintos. (PEDRÃO, 2012).
Essa configuração assimétrica é resultado de um processo histórico que se desenvolve desde o fim
da Segunda Guerra e é acentuado na Guerra Fria, nesse sentido se fará aqui uma retrospectiva dos
conflitos, mas especialmente dos movimentos ideológicos que esses conflitos legaram as Relações
Internacionais neste último século.
As duas grandes guerras na abertura do século XX causaram, na sociedade internacional, um
impacto de proporções gigantescas; mas o fim da Segunda Guerra Mundial, em particular, gerou
um arranjo político fundamental para o estabelecimento do primeiro grande debate daquele século.
A “ordem” multipolar do entreguerras e a eclosão da Segunda Guerra serviu para a solidificação
da transição de hegemonia e reconhecimento de novas potências.
Neste período era possível observar a formação de um novo ciclo sistêmico e a transferência de
poder e de centralidade da Europa para os Estados Unidos (EUA). As movimentações
internacionais seguiam sua lógica de cooperação e conflito, especialmente, impulsionadas pelo
processo de acumulação global do sistema capitalista de produção.
http://mundorama.net/2013/08/17/oseculoxxasrelacoesinternacionaiseaascensaodasquestoessociaisporrafaelaoliveiraludolf/ 1/7
14/03/2015 O Século XX: as Relações Internacionais e a ascensão das questões sociais., por Rafaela Oliveira Ludolf | Boletim Mundorama
Com o fim da Guerra Fria, o mundo passa a presenciar a ascensão dos EUA – como herdeiro e
maior representante da economia capitalista – e da União Soviética (URSS) – representado a
“oposição”, o comunismo. A política externa dessas potências passa a se orientar no sentido de
contenção, ou seja, impedir o crescimento da outra em sua área de influência. E as Relações
Internacionais vive um debate entre os complexos teóricos do Realismo e Liberalismo.
Já nos debates que giram em torno do poder falase de um sistema bipolar, representado pelo poder
compartilhado entre duas polaridades, neste caso, EUA e URSS. Como parte da política estratégica
norteamericana é possível perceber uma expansão do pensamento liberal no sentido de
impulsionar processos democráticos, aliados a uma maior integração do sistema internacional,
pelas vias econômicas; para tal observase o auxílio norteamericano na reconstrução da Europa,
por meio do Plano Marshall, a estruturação e solidificação da Organização das Nações Unidas, do
Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional como um mecanismo de angariar aliados,
estratégia política e econômicofinanceira respectivamente.
O desenvolvimento do socialismo também tem sua importância, mas como ao fim da Guerra Fria o
capitalismo/liberalismo saiu vencedor vamos nos ater nos processos de desenvolvimento
ideológico deste lado do globo. Ou seja, “a queda do muro de Berlim assinalou simbolicamente o
fim do mundo conhecido (bipolar) e a afirmação dos EUA como potência mundial e o triunfo do
mundo liberal” (GOMES, 2009, p. 29).
Falase aqui de um movimento do pensamento em torno de ideias que darão base a política
internacional do final do século XX e inicio do XXI, sendo ligeiramente abalada pelo atentado de
11 de setembro de 2001 (“questionamentos” sobre a intocabilidade dos EUA). Segundo Sacchetti
“o fim da bipolarização política mundial e, mais importante ainda, o fim dos governos comunistas
europeus e a implosão da URSS permitiram a adesão voluntária de vários países, um pouco por
todo o mundo, aos valores democráticos ocidentais”. (2009, p.157).
Para os adeptos da perspectiva da polaridade em Relações Internacionais, ao fim da Guerra Fria o
quadro da bipolaridade vai dar lugar a uma unipolaridadenorteameriana no plano das políticas
internacionais. Dada à reconhecida força dos EUA, é possível percebêlo nesse período como o
grande hegemon(somatório de capacidades materiais e imateriais – influência e força).
“
http://mundorama.net/2013/08/17/oseculoxxasrelacoesinternacionaiseaascensaodasquestoessociaisporrafaelaoliveiraludolf/ 2/7
14/03/2015 O Século XX: as Relações Internacionais e a ascensão das questões sociais., por Rafaela Oliveira Ludolf | Boletim Mundorama
A consolidação da agenda foi marcada pelo adensamento das redes de
interdependência entre Estados, empresas e movimentos sociais (Keohane, Nye,
2000) – fenômeno nomeado por muitos como globalização – foi responsável pela
difusão da democracia liberal, pelo domínio das forças de mercado e, finalmente,
pela integração das economias nacionais em um mercado de troca de bens e serviços
de feições globais (ESTEVES; 2003; P.71).
Porém, no plano econômico houve uma abertura de espaços estratégicos para o processo decisório,
com a inserção de economias fortes como Alemanha e Japão que mais tarde seriam reconhecidas
como G7 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e o Canadá). Pela linha
das polaridades, essa configuração que agora permitia que outras potências se apresentassem nos
processos decisórios da economia global, abriu espaço para uma ideia de multipolaridade ou,
ainda, unimultipolaridade; onde os polos de poder eram bem definidos na configuração do
cenário, EUA no centro político e militar e as maiores economias do mundo no centro econômico.
“
A nova ordem mundial é marcada não mais pelo poder das armas, mas pelo poder do
dinheiro, as relações econômicas estão mais intensas e com uma nova geopolítica.
[…] A partilha do mercado mundial envolve as estratégias das grandes corporações
econômicas e as políticas dos Estados (GOMES, 2009. p. 28).
Em resumo, o período da Guerra Fria e os anos que seguem são caracterizados por forte influência
do liberalismo, universalização de princípios de democracia e cooperação respaldados em
organismos internacionais (instituições) como auxiliares dos processos decisórios globais. É o
momento onde duas percepções de mundo se confrontam, no sentindo de superação.
De um lado o atrasado representado pelo imperialismo europeu, desenvolvido com base na lógica
eurocentrista de negação da alteridade, submissão dos povos e a superioridade do branco
civilizador; Do outro o frescor da visão norteamericana, um olhar sobre o mundo desenvolvido
pelos padrões do capitalismo americano, caracterizando uma mudança singular nas estruturas
globais, apoiada em um discurso de supervalorização do indivíduo e no papel central exercido por
ele no funcionamento dos sistemas (organizações e associações econômicas) fazendo com a missão
universalizadora de “mundialização do mundo” pertença agora ao “indivíduo”, mas sua forma
organizacional representada pelo capital privado. Configurase a ordem pós Guerra Fria.
http://mundorama.net/2013/08/17/oseculoxxasrelacoesinternacionaiseaascensaodasquestoessociaisporrafaelaoliveiraludolf/ 3/7
14/03/2015 O Século XX: as Relações Internacionais e a ascensão das questões sociais., por Rafaela Oliveira Ludolf | Boletim Mundorama
“
Designase como Nova Ordem Mundial à nova realidade emergente das relações
políticas e econômicas internacionais contemporâneas. Nela, as humanidades da
Terra percebemse vivendo em um sistema mundial de produção de mercadorias,
articulado e em movimento, do qual as economias desenvolvidas, subdesenvolvidas,
socialistas e capitalistas fazem parte. Não há mais economias nacionais autônomas
funcionando de maneira autônoma. Criouse uma grande economia que está por
cima da compreensão de nacionalidades. Além disso, essa Nova Ordem Mundial
vem significando também uma explosão da miséria, da desordem, da exclusão e da
fragmentação em determinados pontos do mundo (TASSARA; DAMERGIAN,
1996. p. 295).
Desde os tempos de Marx já se discutia as contradições internas do modelo de acumulação
promovido pelo capitalismo e é obvio que agora, organizado internacionalmente, ele produzirá
contradições a nível global e a percepção desse movimento é o que fará ascender, no âmbito dos
debates das relações internacionais, as análises das questões sociais e da globalidade desses
problemas (problemas comuns a todos os Estados).
“
Tais problemas dizem respeito ao uso dos bens, recursos e valores raros do sistema
global; sobre os mesmos abremse fortes controvérsias entre os governos porque se
trata de problemas aos quais podem ser dadas diversas soluções alternativas. São
eles, entre outros, problemas de reequilíbrio dos desníveis de desenvolvimento
econômico entre os Estados e as áreas do mundo, problemas da defesa dos direitos
humanos e da democracia, problemas da autodeterminação dos povos e da proteção
dos grupos étnicos minoritários, problemas dos fluxos migratórios por motivos
econômicos, problemas da recolocação de grandes massas de exilados por motivos
políticos, problemas da regulamentação e regimentação do aproveitamento dos
recursos naturais comuns (espaço, atmosfera, oceanos etc.) e dos recursos materiais
e humanos raros, entre os quais se inclui o conhecimento nos campos científico e
tecnológico (TASSARA; DAMERGIAN, 1996. p. 296).
Ou seja, é no final do século XX, mas especificamente com a consolidação dos Estados Unidos e a
universalização do liberalismo, que se observa o surgimento de novas opções de análise da
http://mundorama.net/2013/08/17/oseculoxxasrelacoesinternacionaiseaascensaodasquestoessociaisporrafaelaoliveiraludolf/ 4/7
14/03/2015 O Século XX: as Relações Internacionais e a ascensão das questões sociais., por Rafaela Oliveira Ludolf | Boletim Mundorama
universalização do liberalismo, que se observa o surgimento de novas opções de análise da
realidade internacional e política mundial. Enquanto Fukuyama anunciava o fim da história; os
enfoques humanistas surgem abordando o debate “questões sociais versus modo de
produção/exploração capitalista” e temas como meio ambiente, gênero, identidade, pobreza, fome,
fluxos migratórios etc. passam a ganhar/conquistar algum espaço.
“
Referências
ESTEVES, Paulo Luiz. Instituições Internacionais. Comércio, Segurança
e Integração. EDIPUCMG. 2003.
GOMES, Henrique Manuel Candeias. A Nova Ordem Mundial:Do fim do mundo
bipolar à emergência de novos actores internacionais. Dissertação de Mestrado
apresentada ao Mestrado em Estudos EuroAsiáticos. Lisboa – 2009.124p.
PEDRÃO, Fernando Cardoso. A Política das Relações Internacionais. Curitiba:
Appris, 2012.
SACCHETTI, ViceAlmirante António Emílio. A Conjuntura Internacional e os
Novos Conflitos. A organização e defesa do ocidente face aos novos desafios, in
Estratégia, Vol. V, Instituto Português da Conjuntura Estratégica, Lisboa 1996.
TASSARA, Eda Terezinha De Oliveira; DAMERGIAN, Sueli. Para um novo
humanismo: contribuições da Psicologia Social. Estud. av. vol.10 no. 28 São
PauloSept./Dec. 1996. Disponível em: [http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103
40141996000300013&script=sci_arttext].Acesso em: 14/08/2013.
Rafaela Oliveira Ludolf é Professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de
Sergipe – UFS (rafaludolf@gmail.com).
2 2 1
Carregando...
Relacionado
http://mundorama.net/2013/08/17/oseculoxxasrelacoesinternacionaiseaascensaodasquestoessociaisporrafaelaoliveiraludolf/ 5/7
14/03/2015 O Século XX: as Relações Internacionais e a ascensão das questões sociais., por Rafaela Oliveira Ludolf | Boletim Mundorama
Evento Lançamento do A complexidade das
livro “Uma parceria em Negociações Internacionais
construção: As relações contemporâneas como fruto
entre França e Brasil”, de do processo de
Antônio Carlos Lessa internacionalização, por
Evento III Encontro Ticiana Grecco Zanon Moura
Nacional da Associação Evento Lançamento do livro
Introdução A
Brasileira de Relações “Uma parceria em construção:
internacionalização é um dos
Internacionais ABRI As relações entre França e
pontos que distingue o mundo
Em "1. Boletim Mundorama" Brasil”, de Antônio Carlos
contemporâneo e as
Lessa Em "1. Boletim Mundorama"
Em "1. Boletim Mundorama"
Publicado em 1. Boletim Mundorama e etiquetado como fim da Guerra Fria, nova ordem mundial,
questões sociais. Favorite o permalink
i Nenhum comentário Adicione o seu
+ Deixe um comentário
Escreva o seu comentário aqui...
Pesquisa
Pesquisar … Pesquisar
Assine Mundorama
http://mundorama.net/2013/08/17/oseculoxxasrelacoesinternacionaiseaascensaodasquestoessociaisporrafaelaoliveiraludolf/ 6/7
Assine Mundorama
14/03/2015 O Século XX: as Relações Internacionais e a ascensão das questões sociais., por Rafaela Oliveira Ludolf | Boletim Mundorama
Informe o seu email
Juntese a 4.773 outros seguidores
Insira seu endereço de email
Assinar!
Realização
Pesquisar …
Digite sua pesquisa ac
Apoio
Patrocínio
Blog no WordPress.com. | O tema Hive.
Seguir
Seguir “Boletim
Mundorama”
Obtenha todo post novo
entregue na sua caixa de
entrada.
Juntese a 4.773 outros
seguidores
http://mundorama.net/2013/08/17/oseculoxxasrelacoesinternacionaiseaascensaodasquestoessociaisporrafaelaoliveiraludolf/ 7/7