Após o término da Guerra Fria, da derrocada da União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas (URSS), da queda do Muro de Berlim (em 1989) e, consequentemente, o fim da dominação do comunismo em expansão, houve a necessidade de uma readequação no contexto global, uma reorganização política internacional, envolvendo tanto os países que tiveram uma participação diretamente ativa na Guerra Fria quanto aqueles que assumiram uma posição mais discreta diante dos acontecimentos presentes, uma vez que, havendo o desequilíbrio entre potências, há um novo equilíbrio de poder global. Ao descartar a bipolaridade presente no mundo como uma disputa política e econômica, novos espaços são abertos à multipolaridade – ou multilateralidade –, isto é, a existência da pluralidade quanto aqueles que detém o poder, não estando concentrado em uma única nação, diferentemente do que ocorria na Guerra Fria. A União Europeia é a vanguarda do multilateralismo regional e global.
O multilateralismo é composto por arenas institucionais e temas da agenda
global, como social, econômico, político e militar. “Em Washington, o multilateralismo sempre havia sido importante, praticado em nome dos interesses dos EUA, e não como um ideal em si mesmo” (ANDERSON, 2015). Isto posto, a criação de uma Nova Ordem Mundial vem de encontro a necessidade que o mundo encontrava de novas pautas, a fim de estabelecer uma melhoria em âmbito internacional. A Organização das Nações Unidas (ONU) via uma peremptória pertinência em aprofundar-se na temática de uma certa “comunhão” entre os países, com o intuito de evitar conflitos semelhantes à Guerra Fria, a qual é erroneamente conhecida por não ter tido “conflitos diretos”, uma vez que a Guerra do Vietnã, a Guerra da Coréia e as ditaduras militares presentes a partir segunda metade do século XX na América Latina podem ser consideradas consequências diretas da Guerra Fria. Ademais, a Nova Ordem Mundial possui temáticas majoritariamente sobre governança e não sobre segurança – essa que é a temática levantada e compreendida como prioridade pela ONU –, estabelecendo a dominância dos Estados Unidos e do capitalismo. Um dos fatores que impactam diretamente na formulação e motivação para a necessidade de uma Nova Ordem Mundial, ainda que haja a teoria do “unimultilateral” – em que os Estados Unidos ainda seriam o centro das decisões tomadas, no ato de controlar outra nações, ainda que indiretamente, posicionamento muito semelhante com o que ocorreu durante a política da Boa Vizinhança –, foi o atentado ocorrido em 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos – em Nova Iorque e Washington –, fato marcante não somente pela ocorrência do atentado por si próprio, mas por ter sido o primeiro ataque aos Estados Unidos em território americano desde o ataque japonês a Pearl Harbour, ainda na Segunda Guerra Mundial – e em resposta, os Estados Unidos contra-atacam com bombas atômicas as cidades japonesas Hiroshima e Nagazaki. Houve a produção de uma agenda de segurança e, fundamentados nas políticas norte- americanas de segurança e proteção do próprio patrimônio, os principais tópicos dessa agenda são: combate ao narcotráfico, preservação do meio ambiente, contenção da imigração e combate ao terrorismo, ou doutrina anti-narcoterrorismo (NOVION, 2021).
Robert Kagan, ao estabelecer em seu discurso a autonomia previa dos Estados
Unidos, “mirou direto na autoimagem dos EUA como uma sociedade historicamente autocentrada, aventurando-se apenas com relutância e esporadicamente pelo mundo exterior” (ANDERSON, 2015). Por conseguinte, é de conhecimento público que o argumento de Kagan seja inefável, devido ao expansionismo brutal dos Estados Unidos, o histórico de violência, além da necessidade de realizar uma “limpeza étnica” – que ainda é possível observar na modernidade, com termos e movimentos como o WASP (White, Anglo-Saxon, Protestant, em tradução: Branco, Anglo-Saxônico e Protestante) – nitidamente uma herança do colonialismo britânico. “Kagan enfatizou a importância central da Guerra Civil como o modelo, não apenas para o uso norte-americano de um poder irrestrito com a aprovação divina – como Lincoln disse, “os juízos do Senhor são verdadeiros e inteiramente justos” –, mas como o padrão para futuros empreendimentos na conquista ideológica e na construção da nação” (ANDERSON, 2015). Kagan ainda defende que os antigos conflitos e questões – como o comunismo e questões motivadoras a Guerra Fria – não estão inteiramente resolvidas, como outros autores defendem. No século XXI, ainda há a recuperação da Rússia e a ascensão da China – consideradas autocracias contrarias a democracia, o que afeta grande parte do Ocidente, os Estados Unidos incluso. Desta forma, John McCain – que era aconselhado por Robert Kagan – propõe a Liga das Democracias, que diz muito sobre a postura dos Estados Unidos na Nova Ordem Mundial, possui como objetivo a contenção da Rússia e da China – no que se ocorre a globalização. Assim, os Estados Unidos entendem que é necessário “partilhar” o peso econômico de sua política externa com outros países que adotam a democracia como estrutura de poder. Em suma, os Estados Unidos ainda assumem uma posição de autoridade dentro das suas próprias relações externas que relacionam outros países. Kagan, ao defender que os Estados Unidos são a “o paraíso na terra”, desvia a atenção de políticas de extermínio determinantes no cenário global de desenvolvimento e prosperidade, ao adotar políticas agressivas e que atinge inocentes na Guerra Contra o Terror, por exemplo.