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Universidade do Estado do Pará - Centro de Ciências Naturais e

Tecnologia

Curso de Bacharelado em Relações Internacionais

LURYELI ANDREIA COELHO REATEGUI SANTOS

RESENHA CRÍTICA

(A América Latina e os desafios da globalização: Mudando a geopolítica do sistema-


mundo: 1945-2025)

BELÉM
2023
LURYELI ANDREIA COELHO REATEGUI SANTOS

RESENHA CRÍTICA

(A América Latina e os desafios da globalização: Mudando a geopolítica do sistema-


mundo: 1945-2025)

Resenha crítica elaborada como requisito


parcial para fins de obtenção de nota na
disciplina de Teoria Clássica de Relações
Internacionais sob orientação da
professora Mayane Bento, do curso de
Relações Internacionais, do Centro de
Ciências Naturais e Tecnologia.

BELÉM
2023
WALLERSTEIN, Immanuel. Mudando a geopolítica do sistema-mundo: 1945-2025.
p. 53-79 in SADER, E.; SANTOS, T. A AMÉRICA LATINA E OS DESAFIOS DA
GLOBALIZAÇÃO, Editora PUC-Rio.

Immanuel Maurice Wallerstein, sociólogo estadunidense, nasceu em Nova


Iorque, no dia 28 de setembro de 1930 e faleceu aos 88 anos em 31 de agosto 2019.
Sua trajetória acadêmica foi marcada pelas suas contribuições aos estudos acerca do
cenário global, tendo como participação fundamental na criação da teoria do sistema-
mundo. Desde mais novo, Immanuel se interessava pela área internacional, logo, se
formou em Sociologia pela Universidade de Columbia, onde lecionou até 1971 e
também deu aulas como professor visitante em outras universidades ao redor do
mundo.

Autor de muitas obras, este trabalho dará foco a uma delas: “A América
Latina e os desafios da globalização”. O intuito é expor os argumentos presentes nas
páginas 53 a 79, o qual está localizado o seguinte título: “Mudando a geopolítica do
sistema-mundo: 1945-2025” (2009). Dividido em duas partes: Parte I, O homem e a
obra: política e revolução; e a Parte II, Globalização e dependência. O conteúdo
dessas páginas tem por objetivo explicar a retomada do declínio dos Estados Unidos
entre 2001-2025 e como as estratégias por ele usada freou e minimizou os efeitos
deste declínio durante o período de 1945 a 1970.

O primeiro intervalo de tempo é de 1945 a 1970, onde o fim da Segunda


Guerra Mundial encerrou o conflito entre os Estados Unidos e a Alemanha, o qual
venceram a guerra contra ela, obtendo a sua rendição. Como consequência, o EUA
alcançou seu objetivo de ser a única e maior potência industrial. Isto significou que,
durante, aproximadamente, os 20 anos seguintes, o governo norte-americano possuía
o monopólio dos produtos industriais produzidos a maior eficiência comparado as
outras. Abrindo, assim, condições para transformar sua dominação econômica em
primazia política. Nova Iorque substituiu Paris, tornando-se a nova capital da arte. O
governo norte-americano possuía apenas uma grande preocupação: arena militar.

Dito isso, houve uma negociação – conhecida como Yalta – dividia-se em


três partes: 1. Envolvia uma divisão do mundo em esferas de influência; 2. Era ligada
a questão econômica (atrair compradores de seus produtos); 3. Relacionado à
questão ideológica: o governo norte-americano falava sobre o mundo livre e os
Estados totalitários e a União soviética fazia essa divisão entre o mundo burguês e o
bloco socialista. Resultado disso era uma opinião pública dividida em dois campos.

Deixava de ser verdade que os EUA conseguiam vender mais que os


demais estados, o qual começou a importar produtos industrializados deles. A
combinação da economia emergente da Europa Ocidental e do Japão somados a
derrota (esgotamento econômico) final do governo norte-americano, ocasionou no
começo da mudança geopolítica pós-1945.

O segundo período 1970 a 2000, consistia, segundo Wallerstein (p. 59), foi
modelado por duas novas realidades: as transformações político-culturais trazidas
pela revolução de 1968 e as transformações econômicas realizadas pelo fim da
expansão da economia mundo, as quais ficaram estagnadas durante trinta anos. A
revolução mundial de 1968 foi uma agressiva rebelião dos estudantes universitários
contra todo tipo de autoridade.

Dois problemas globais foram trazidos à tona durantes todos os eventos


que os Estados se reuniam: primeiro deles foi a rejeição dos acordos de Yalta; o
segundo problema global foi a denúncia da “Velha Esquerda” – os partidos
comunistas, partidos socialdemocratas e os movimentos de libertação nacional e
populistas – pelos revolucionários de 1968. Pois, a Velha Esquerda prometeu que,
quando chegasse ao poder estatal, iria transformar o mundo, contudo, “o mundo
permaneceu hierárquico, não democrático e desigual” (Wallerstein, 60).

O período de 1945 a 1970 tinha como base o argumento de que qualquer


país poderia alcançar o alto padrão de vida dos países mais ricos. Tinham como
proposta a combinação da urbanização, agricultura, industrialização, educação e
protecionismo de curto prazo, os quais seriam o caminho para a “terra prometida do
desenvolvimento”. Porém, a economia-mundo, nas décadas de 70s, já tinha
alcançado seu limite quanto aos produtores nas industrias, resultando, assim em um
declínio nos níveis de lucros nos setores mais lucrativos da produção mundial. Nesse
mesmo tempo, os países do Terceiro Mundo viram as duas escaladas do preço do
petróleo, fazendo com que começassem a se endividarem excessivamente e na
década de 80s viu-se a chamada crise de dívida.
O Consenso de Washigton ficou conhecido como o novo caminho para a
terra prometida, pois o Fundo Monetário Internacional fortaleceu essa visão de
privatização de empresas consideradas ineficientes e adiamento de gastos com a
educação e saúde, tornando seus empréstimos dependentes do “ajuste estrutural”. A
geopolítica do sistema-mundo mudou radicalmente. Os países do Terceiro Mundo
perderam sua autoconfiança, nem mesmo o Bloco Comunista ficou isento da
deterioração.

A fim de se reajustar, os EUA tiveram de engolir seu orgulho e admitir a


derrota ocasionada por um país pequeno (derrota militar) e a crise política interna
foram apenas parte do cenário de um problema geopolítico mais grave desse estado.
A política externa norte-americana mudou com o intuito de diminuir a velocidade do
declínio da sua hegemonia. O programa que o governo desenvolveu apresentava 3
vertentes:

“O primeiro elemento destinava-se a manter o poder político dos Estados


Unidos. Era a oferta de uma “parceria” para a Europa Ocidental e o Japão.
[...] O maior argumento que os Estados Unidos usaram era a necessidade de
manter uma frente unida contra a União Soviética. [...] O segundo elemento
destinava-se a assegurar a vantagem militar dos Estados Unidos. [...] Os
Estados Unidos tinham já perdido o monopólio absoluto nas armas nucleares,
por volta de 1964. [...] O segundo elemento, por conseguinte, era fazer cessar
a proliferação nuclear. A razão por que esse tratado é tão crucial para os
Estados Unidos se deve a que parece claro que qualquer país, mesmo com
algumas armas nucleares, representa um tal potencial para uma ação militar
contra os Estados Unidos. [...] O terceiro elemento dessa revisada política
externa era econômico. Quando o Consenso de Washington substituiu o
desenvolvimentismo como doutrina econômica dominante no mundo”
(Wallerstein, p. 64-65).

Mesmo que essa política externa tenha tido, em partes, sucesso, o governo
norte-americano teve que dificuldades quando houve o colapso da União Soviética,
uma vez que esse evento foi negativo para os Estados Unidos. Dentre as principais
consequências geopolíticas têm-se a perda dos EUA da última coerção indireta que
tinham sobre as políticas dos países de Terceiro Mundo. Logo, esse programa
geopolítico que eles haviam adotado parecia estar paralisado.
O terceiro – e último período – apontado pelo autor (2001-2025) foi
marcado pela presidência de George Bush e, junto dele, uma nova camada surgira
nesse governo: os neoconservadores. Eles fizeram várias declarações públicas a
respeito das suas visões geopolíticas entre 1997-2000, de caráter extremamente
crítico da política externa de Clinton, acreditavam que o declínio era muito real.
Desejam recusar qualquer participação dos Estados Unidos em novos tratados que
de alguma forma limitassem a atuação do seu país. Contudo, havia uma parcela de
pessoas que viam as propostos como muito arriscadas. Anos depois, ocorre o ataque
de 11 de setembro de Osama Bin Laden às Torres Gêmeas e ao Pentágono.
Fomentou-se, então, a fala dos neoconservadores e, desta vez, eles queriam derrubar
Saddam Hussein pela força, de preferência unilateral, argumentando que, assim,
restauraria a honra dos EUA.

Entretendo, eles cometeram erros de avaliação, pois, embora as tropas


norte-americanas tivessem entrado rapidamente no Iraque, elas foram incapazes de
estabelecer a ordem no país. Mostrando, o tamanho do despreparo dos EUA quando
a complexidade da política interna do Iraque. Enquanto isso, a intimidação não
funcionou também em relação aos detentores de armas nucleares – A Coreia do Norte
e o Irã concluíram que essa invasão se deu pela ausência de armas nucleares no
Iraque.

Nos encontros da Organização Mundial do Comercio 2003, em Cancun,


Brasil juntou-se a África do Sul, a Índia e a China, formando o bloco do G-20 para
negociar com os EUA e a Europa Ocidental. A negociação consistia numa troca: G-
20 deveria abrir mais amplamente as suas fronteiras aos fluxos comercias. Enquanto
o Norte tinha de abrir mais as suas fronteiras aos fluxos de comércio do Sul.
Negociação esta que apresentou resistência por parte do Norte.

Ao contrário do esperado, a política externa de George Bush acabou por


acelerar o declínio da hegemonia norte-americana, consequentemente, houve uma
divisão política multilateral e desestruturada. Wallerstein argumenta:

“O grave declínio do poder norte-americano mais os interesses concorrentes


dos vários centros de poder virtualmente garantem que aqueles países que
encerraram esses programas no período de 1970 a 2000 vão retomá-lo, sem
dúvida junto com outros países” (Wallerstein, p.74)
Segundo o autor, na área das finanças mundiais, o domínio do dólar norte-
americano, provavelmente, desaparecerá e cederá espaço a um sistema múltiplo de
moedas: o euro e o yen. O declínio do papel central do dólar irá maiores dificuldades
econômicas para os Estados Unidos, ainda mais a respeito das suas dívidas nacional,
podendo até trazer uma redução no padrão de vida estadunidense. Ademais,
enquanto para o EUA, a insucesso quanto a invasão do Iraque corroborou para uma
Europa mais forte, mais unificada e mais autônoma. Na Ásia Oriental é diferente do
cenário europeu, pois lida-se com 3 grandes países – China, Japão e Coréia –, os
quais apresentam divisões, que ocorreram no decorrer da história, em sua política e
território. Wallerstein acredita que a reunificação entre Coreia do Sul e do Norte e
República Popular da China e Taiwan é possível até 2025. Caso o obstáculo seja
superado, a união da Ásia Oriental surgirá como o membro mais forte.

Por fim, a América do Sul tem potencial para surgir como um ator autônomo
importante, assim que consiga essa independência dos valores, da economia e
principalmente do sentimento de submissão aos Estados Unidos (principalmente o
Brasil). O autor ainda acrescenta, que caso esse continente consiga atrair o México
para seu lado, conseguirá dar gigantescos passos econômicos.

É interessante a abordagem do autor ao tentar prever o fim de uma


superpotência e de sua moeda. Seus estudos expõem a história dos Estados Unidos
por um viés mais realista, pois contraria a imagem que esse país passa para o restante
do mundo – impotente, inabalável e incapaz de cometer “deslizes”. Trouxe
argumentos que descentralizasse essa visão eurocêntrica que por muito tempo
dominou o conteúdo das obras acadêmicas publicadas.

Neste livro, mais precisamente, nas páginas trabalhadas, o autor discorre


sobre como os EUA estava inseguro a respeito de sua questão militar, propondo,
assim, o Tratado sobre não-proliferação de Armas Nucleares. Esse pensamento dos
Estados Unidos corrobora para a questões levantadas por Kenneth Waltz, em Theory
of International Politics, onde ele apresenta a relação segurança-ameaça. O governo
norte-americano, percebendo o impasse em que estava, propôs o desarmamento
nuclear, a fim de não ter a sua soberania ameaçada.
Mesmo que reste apenas 2 anos para que sua hipótese tenha sucesso ou
não. Immanuel Wallerstein fez história devido aos numerosos projetos publicados,
onde ele não focava apenas em continente ou Estado, mas procurava estudar os
pormenores de cada situação, tais pormenores constituíram suas obras que, mesmo
após sua morte e perda para as ciências sociais, ainda continuarão auxiliando
diversos outros autores. Otimismo não é um mal se tomado em doses certas, logo,
espero que algumas de suas projeções venham se realizar, mesmo que não seja
dentro do período estipulado.
REFERÊNCIAS
WALLERSTEIN, Immanuel. Mudando a geopolítica do sistema-mundo: 1945-2025.
p. 53-79 in SADER, E.; SANTOS, T. A AMÉRICA LATINA E OS DESAFIOS DA
GLOBALIZAÇÃO, Editora PUC-Rio.

SANTOS. Wallerstein, o sociólogo da descolonização - Outras Palavras. Disponível


em: <https://outraspalavras.net/descolonizacoes/wallerstein-o-sociologo-da-
descolonizacao/>

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