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Aula 5 (1/03/23)

Os EUA e a ordem neoliberal:


 Pax americana
 Refere-se ao período de influência dos EUA na arena internacional pós II Guerra Mundial
 Capacidade inigualável de projeção de poder
 Caracteriza um período de paz e prosperidade ou de domínio e violência?
 Pax americana indica uma mudança de paradigma, resultado de um longo debate. Nesse debate, a
Primeira Guerra Mundial é fulcral
 Havia duas propostas para a política externa americana: isolacionismo (isolamento dos EUA face aos
outros países – outro lado do Atlântico) vs. Intervencionismo
 A intervenção de Woodrow Wilson, a Liga das Nações e a retração dos EUA até à Segunda Guerra
Mundial
 Wilson: entrar na guerra, ao lado dos aliados, era lutar por um mundo mais seguro para a democracia
 A guerra rapidamente se torna impopular nos EUA
 Warren Harding vence as eleições presidenciais de 1920 com a promessa de deixar os EUA de fora
das questões internacionais
 O período entre guerras – anos 20 e 30 – é caracterizado por um isolamento dos EUA, que favorece
políticas de desenvolvimento nacional, expansão industrial e limitação da imigração
 A segunda guerra mundial é um marco histórico-político incontornável
 Dá início a um mundo que nos é mais familiar, com a criação de várias organizações internacionais;
a carta dos direitos humanos; o movimento de integração europeia, etc.
 Mas também à Guerra Fria e ao fim dos poderes coloniais europeus
 É o início da construção da arquitetura de poder internacional liderada pelos EUA
 Critério: valores democráticos suportados por poder militar
 Estabelecimento de domínio em áreas chave: sistema económico-financeiro; inovação tecnológica e
militar; política internacional
 O domínio daa ordem financeira e a era de ouro
 Do sistema Bretton Woods à crise petrolífera de 1973 e recessão de 1975
 O neoliberalismo: liberalização económica, desregulação, austeridade, redução da intervenção do
estado e do investimento público; aumento da participação do setor privado na economia
 Margaret Tatcher e o fim do consenso pós-guerra no Reino Unido (Tatcherism)
 Ronald Reagan (Reagonimcs) – contra a intervenção do Estado na economia (adepto do
conservadorismo)
 Domínio tecnológico e militar
 Corrida ao armamento, militarização das capacidades nucleares
 A lógica da Mutual Assured Destruction (MAD) e os tratados de limitação de armas START 1 e 2,
INF Treaty, New START
 Space race: do Sputnik (USSR, 1957) à aterragem lunar (Apollo 11, 1969)
 A OTAN (NATO)
 Expansão do sistema de programas, comandos e bases militares no estrangeiro
 Domínio da política internacional
 Competição política durante a Guerra Fria e o equilíbrio de poderes
Aula 6 (3/03/23)
Pol Pot: política de autossuficiência; fez dos genocídios mais bárbaros de sempre
Os Estados Unidos não só bloquearam as sanções a África do Sul, devido ao apartheid, tendo em conta que
nos EUA estava a acontecer muito racismo e o movimento dos direitos civis, que lutava precisamente pelo
fim do racismo ainda muito patente no país. Ronald Reagan aperta a mão ao “Contras”, que era um grupo
que praticou inúmeros assassinatos e uma forte violência sobre civis inocentes. Assim, temos uma política
externa que não parece aquilo que defende: a democracia, os direitos humanos, o desenvolvimento, a paz,
etc.; devido às razões mencionadas anteriormente.
O outro lado da pax americana:
o Fim da guerra fria:
o Com a expansão dos modelos económicos assentes na economia de mercado iria criar dependências
entre os Estados, aumentando a procura por prosperidade e, por conseguinte, a cooperação
o Os confrontos militares iriam diminuir (depois da guerra fria, com países com economia de mercado
e liberais não iriam fazer guerra). Os países mais poderosos iriam finalmente focar-se nos grandes
problemas globais – as questões ambientais; a proliferação de armas; o aumento da pobreza (ou seja,
agora que as democracias liberais venceram, poderão tratar dos problemas que pautam a atualidade
global)
o A globalização ajudaria a levantar os pobres do mundo da miséria e reduziria as disparidades
económicas que se tinham tornado mais salientes durante a guerra fria (prova, para os EUA, que o
comunismo não funcionava)
o 1990s:
o 1991: Guerra Iraque-Kuwait, “Operation Desert Storm”
o 1992/93: Somália – “Somalia Syndrome” (tinham comunidades organizadas armadas que causavam
conflito e graves problemas em termos de capacidade de distribuição alimentar)
o 1994: Ruanda (genocídio da Ruanda que faz mais de um milhão de mortos com uma catana no mês
de abril, os enviados internacionais só entram no país em agosto do mesmo ano,
o 1992/95; 1999 – Jugoslávia (desintegração da Jugoslávia, que foi, na verdade, uma questão muito
complexa, um problema que se acha que se tivesse tido intervenção da ONU teria se evitado muitas
mortes e o conflito teria terminado mais rapidamente e pacificamente)
o Fim da euforia: os Estados Unidos não conseguem resolver problemas regionais e ser o paladino da
democracia e dos direitos humanos que procura ser, pelo contrário. Os EUA contribuíram para o
agravamento de problemas regionais, através de intervenções militares, que apenas contribuíram para
reforçar o armamento e aumentar a violência
o 2000s:
o 11 de setembro e a guerra contra o terrorismo
o Após os ataques de 11 de setembro nos EUA apontaram miras ao governo do Afeganistão, cuja
derrota era essencial, já que permitiria a captura dos militantes do Al Qaeda no país. A ordem inicial
de “hand over the terrorists… or share their fate” rapidamente se transformou num plano para
derrubar o governo afegão. Do ponto de vista dos EUA, a cooperação não seria possível
o A polémica controvérsia sobre as armas de destruição maciça do Iraque. Contrariamente ao que
George Bush e o seu governo asseguravam, não foram encontradas armas de destruição maciça ou
vestígios da sua existência
o Secretária de Estado Condolezza Rice: “We don´t want the sinoking gun to be a mushroom cloud.”
o Porquê então a invasão? Uma manifestação de força na região? Tentativa de mostrar trabalho a nível
interno?
o CIA – Redention, Detention and Interrogation (RDI)
o Depois da declaração de Guerra ao terrorismo, os EUA montaram um sistema global de detenção e
prisões ilegais, conduziram a transferências ilegais de prisoneiros, e operaram técnicas e métodos de
interrogação que eram cruéis e degradantes, incluindo vários tipos de tortura
o Caso da prisão de Abu Ghraib, onde prisioneiros Iraquianos eram torturados e humilhados pelas
tropas norte americanas
o O tempo dos eufemismos “enhanced interrogations techniques” (tortura), “broad and concerted
campaign,” “broad coalition,” “tearing down the apparatus of terror,” “enforce the just demands of
the world”, “military campaign against lawless men.”
o Um tempo precisamente contrário ao que tinha sido idealizado depois do fim da Guerra Fria. Não só
a atenção dos EUA se manteve focada nos velhos problemas de sempre, como não conseguiram
evitar algumas das grandes catástrofes dos anos 90
Crises climáticas:
 Renunciar o Protocolo de Quioto dramatizou o isolamento dos EUA e revelou incapacidade em
liderar o combate às alterações climáticas. O protocolo, assinado por 83 governos em 1997,
estipulava que os países industrializados deviam reduzir as suas emissões de gases de efeito de estufa
 A administração Clinton tinha concordado em reduzir as emissões dos EUA em 7% dos níveis de
1990 até 2012. Ao rejeitar o protocolo, George Bush refuta as evidências científicas que conectavam
os gases de efeito de estufa ao aquecimento global
 Defendia que o protocolo iria desacelerar o crescimento económico e que o criava expectativas
injustas sobre os EUA ao mesmo tempo que escusava países como a China dos mesmos termos
 Donald Trump adota uma posição similar no COP23
 Trump retirou os EUA dos acordos de Paris 2020
 Os EUA não serão um líder no combate às alterações climáticas
Crises económicas:

 Crise do sub-prime de 2008. George W. Bush seguiu a perspetiva neoliberal de alivar várias das
pressões de regulação sobre a economia
 Com a implosão de vários bancos, a maior parte dos governos ocidentais seguiram a mesma fórmula:
bailout
 Só nos EUA, George W. Bush conseguiu aprovar um bailout aos bancos no valor de 700 mil
milhões, um valor sem precedentes na história do país (que é a estimativa do que custará a
reconstrução da Ucrânia...!)
 A crise de 2008 pós em causa o Consenso de Washington, a ideia de que a regulação mínima dos
mercados e a livre circulação de capital pelo mundo trazem prosperidade até aos países mais pobres
 O estilhaçar da imagem: as políticas neoliberais de Washington não serviram nem para os países
pobres, que não viram as suas economias crescer, nem para os próprios EUA
 Barack Obama: recipiente do Prémio Nobel da Paz em 2009 pelas promessas que fez e não pelo que
conseguiu
 Obama foi obrigado a focar-se na recuperação económica do país. Não conseguiu fechar o campo de
detenção de Guantanamo Bay; não conseguiu ratificação do Protocolo de Quioto
 Os EUA não serão um líder no combate às desigualdades económicas
Então vão ser líderes em que setores? Que desafios ao domínio dos EUA? Devem os EUA optar por uma
política isolacionista e permitir a intervenção de poderes regionais – China, Rússia, Brasil, África do Sul,
India? É possível uma alteração da política externa dos EUA num mundo interdependente economicamente?
Aula 7 (8/03/23)
A China no mundo:
 Fim da dinastia Qing (1644-1911)
 Revolta Boxer: anticolonial, anticristã- contra influencia estrangeira – isolamento vs.
Ocidentalização
 Kuomintag – Partido Nacionalista Chinês
 PCC (Partido Comunista Chinês): 1949 –
 Desde a fundação a 1 de outubro de 1949, a perceção da República Popular da China (RPC) sobre a
arena internacional e a sua própria posição neste sistema foi-se alterando
o Mao Zedong via o mundo em três níveis – com os EUA e a URSS no primeiro nível; a Europa, o
Canadá, Austrália e o Japão no segundo nível; os países em desenvolvimento na Ásia, África,
América Latina no terceiro nível
o Segundo Mao, uma nova Guerra Mundial iria iniciar-se entre duas superpotências hegemónicas.
Embora a RPC nunca tenha ingressado no Movimento dos Não Alinhados ou nos Grupos dos 77, a
China entendia-se como parte integrante do mundo em desenvolvimento
o No entanto, enquanto país revolucionário, apoiou forças comunistas no Sudeste Asiático entre os
anos 60 e 70. A lógica de apoios prestados pela China refletia as suas suspeitas, mas também a falta
de experiência na esfera internacional

 Nos anos 70, durante a presidência de Nixon, os EUA estabeleceram relações com o PCC.
Washington cedeu a sua oposição à entrada da RPC na ONU, tendo-se tornado membro em 1971
 Herdou o assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, a RPC juntou-se também a outras
organizações filiadas à ONU. Porém, manteve-se sempre um membro passivo, abstendo-se várias
vezes nas votações do CS e mantendo-se afastado de várias outras organizações internacionais
 Embora tivesse havido uma melhoria nas relações com os EUA e tivesse sido reconhecida por países
ocidentais como o Japão, o seu isolamento manteve-se durante os anos 70
 O princípio da autossuficiência e a relutância em estar presa a regras e regulamentos internacionais
sempre guiaram a posição da China no mundo. A mesma razão a fez não procurar alianças formais
com outros países
 Domesticamente, a Revolução Cultural ainda continuava

 A morte de Mao em 1976 leva ao fim da revolução cultural na China, abrindo caminho a uma nova
forma de governação, em 1978, com Deng Xiaoping, que deu início à era da Reforma e Abertura
 Não havia um plano específico subjacente aos processos de reforma no país. Era um plano controverso
dentro do Partido precisamente porque não se conhecia o horizonte e a natureza das reformas
 Começou com reformas agrárias e uma abertura limitada da economia chinesa ao exterior através do
estabelecimento de Zonas Económicas Especiais nas províncias costeiras da China
 Todo o processo reformista, desde 1979, caracterizou-se por vários tipos de experiências. Foi uma
abordagem de tentativa e erro ou, como descreveu Deng Xiaoping fazendo referência a um provérbio
chinês, como ‘atravessar um rio sentindo todas as pedras’

 Paralelamente ao processo de reformas internasse e de abertura económica gradual ao mundo, a China


começou cautelosamente a integrar-se no sistema internacional durante a década de 1980
 Tornou-se membro de instituições financeiras internacionais como o Banco Mundial e o Fundo
Monetário Internacional e começou a aceitar financiamento internacional para projetos de
desenvolvimento.
 Em 1986, foi um dos países fundadores do GATT – Acordo Geral de Tarifas e Comércio, que mais tarde
se tornou a Organização Mundial do Comércio, em 1995.
 Em 1992, aderiu ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP) enquanto estado detentor de
armas nucleares e, mais tarde, aderiu à maioria dos regimes sobre armas nucleares, biológicas e
químicas.
 Em 1996 a RPC - após realizar uma série final de testes nucleares - assinou o Tratado de Interdição
Completa de Ensaios Nucleares mas não o ratificou
 As lógicas de integração internacional nos anos 90 sustentavam uma crença de que as condições de
desenvolvimento e modernização da China podiam ser melhoradas com a normalização de relações
diplomáticas com os países vizinhos – Singapura, Indonésia, Coreia do Sul – e com acesso a
organizações internacionais e de cariz regional. Este esforço de abertura foi entendido como
contribuindo para a criação de um ambiente internacional pacífico
 Mas foi também motivado por eventos nacionais e internacionais específicos. A resposta dos países
ocidentais ao massacre de Tiananmen em junho de 1989 (Praça da Paz Celestial) foi de condenação e
aplicação de sanções
 A desintegração da União Soviética em vários estados independentes foi chocante para os líderes da
RPC. Não era claro que a China conseguisse evitar o efeito spillover e, por conseguinte, manter-se o
plano de reforma e abertura
 O destino da União Soviética serviu como exemplo, até aos dias de hoje, de quão perigosas as reformas
políticas podem ser

 O isolamento e a autossuficiência não estão a contribuir para o desenvolvimento e para a modernização


da China, sendo assim, o país começa a abrir-se ao exterior, contribuindo para um ambiente
internacional mais pacífico
 Com os eventos de Tiananmen e o fim da Guerra Fria, Xiaoping desenvolveu uma nova postura na
esfera internacional, que reside em manter um perfil discreto
 Durante as duas décadas seguintes esta foi a fórmula utilizada na política externa da China e na sua
abordagem à política internacional, com o objetivo de evitar conflitos, sobretudo com os EUA
 No período pós-Guerra Fria, os Cinco Princípios de Coexistência Pacífica foram predominantes na
postura da China: 1) respeito mútuo pela integridade e soberania territorial; 2) Não agressão mútua; 3)
Não interferência mútua; 4) Igualdade e benefício mútuo, 5) Coexistência pacífica
 Na década de 1990, houve reformas e tentativas de modernização das forças armadas, que vai resultar no
processo de profissionalização do Exército de Libertação do Povo e da modernização de equipamentos.
Houve reformas e tentativas de modernização das forças armadas. Testemunhar as operações militares
dos EUA e a guerra de alta tecnologia na Guerra do Golfo (1990-1) fez com que os líderes chineses se
percebessem o quão antiquados eram os seus meios militares
 Resultou num processo de profissionalização do Exército de Libertação do Povo e de modernização de
equipamentos, sobretudo na força aérea de marinha
 Na década de 90 desenvolve-se ainda o conceito de poder nacional mais abrangente, que inclui para
além das capacidades militares outros recursos económicos, políticos, tecnológicos e ideológicos

 Com um assento permanente no CS e com a sua adesão ao TPN, a RPC já tinha alcançado as mais altas
credenciais possíveis na cena mundial
 Ao aderir ao OMC, completou o processo de integração nas instituições económicas internacionais
 Em 1990 a economia chinesa ocupava a 11ª posição atrás dos EUA, Japão, os maiores países europeus,
Canadá e Brasil. Em 2000 tinha subido para a 6ª posição e em 2011 tinha-se tornado a segunda maior
economia do mundo. Começou a expandir a sua atividade económica no mundo, incluindo em África, na
Ásia e na América Latina
 Tornou-se também o maior emissor de gases com efeito de estufa em 2007
 Tornava-se difícil ‘manter um perfil discreto’. É o peso económico da China, e não necessariamente o
seu poderio militar, influência política ou capacidade tecnológica, que desencadeia o debate sobre o
papel da China no mundo
 A liderança chinesa foi obrigada a reconhecer que a China não só era muito mais visível no mundo,
como também tinha interesses em várias geografias. Tinha de se envolver ativamente nos assuntos
internacionais
 A relutância em ocupar um lugar mais central remete para a dupla identidade da China enquanto país em
desenvolvimento e potência regional
 A China hesitou em aderir ao G7/8, que considerava um clube de países ricos, mesmo tendo sido
convidada
 Os BRICS, constituído pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul foi uma solução mais apelativa:
apesar das diferenças políticas/ideológicas entre os cinco países, todos almejam uma maior participação
nos assuntos globais (principalmente económicos)
 Em contraste, a ideia de um "Grupo de Dois" em que os EUA e a China deviam gerir os assuntos
globais, ideia proposta pelo antigo conselheiro de segurança nacional Zbigniew Brzezinski (2009), foi
vista como uma armadilha para levar a China a gastar recursos em questões que não eram realmente do
seu interesse
 Recursos que deixariam de estar disponíveis para o desenvolvimento nacional da China
 A expansão da atividade económica da China no mundo, e a crise financeira de 2008, empurraram-na
para uma posição mais visível
 Sob a liderança de Xi Jinping, que se tornou Secretário-Geral do PCC e Presidente da RPC em 2012 e
2013, respetivamente, a China tem sido bastante mais direta em mostrar as suas ambições e capacidade
de moldar a política global, ou partes dela
 O que ficou da política de isolamento da RPC nas últimas sete décadas é que Beijing continuou a seguir
as suas prioridades domésticas e interesses nacionais fundamentais (não agindo fora dessa linha)
 Entre estes interesses está a manutenção do Partido Comunista e a salvaguarda da soberania e
integridade territorial do país
 Uma constante da política externa chinesa tem sido os ‘Cinco princípios de coexistência pacífica’,
desenvolvidos em 1954

 No início dos anos 2000, a China começou a investir em melhorar a sua imagem no mundo para
contrariar teorias sobre a ameaça chinesa, especialmente entre os seus vizinhos
 O sucesso económico e a modernização militar alimentaram o receio de uma China coerciva ou mesmo
agressiva na região
 A diplomacia pública e os esforços de soft power a nível mundial são evidentes no estabelecimento de
Institutos Confúciu, no apoio a meios de comunicação estatais chineses como a CCTV, a Xinhua News
Agency ou o China Daily
 O facto de a China ter acolhido os Jogos Olímpicos de 2008 em Beijing e a Expo Mundial de 2010 em
Xangai, demonstrou que o país tinha finalmente "chegado" à comunidade internacional
 Estes eventos coincidiram com a crise financeira global que empurrou a China para uma nova posição na
esfera internacional
 Com um programa de estímulos sem precedentes, a China superou a crise financeira rapidamente. Esta
crise foi interpretada na China (e não só) como prova do fracasso do sistema capitalista ocidental
 A transformação do G20 de uma reunião de Ministros das Finanças para Chefes de Estado, com a China
e outros países emergentes como membros de pleno direito, indicou uma mudança na distribuição global
do poder
 Tornou-se claro que vários dos problemas que nos afligem, desde o combate às alterações climáticas ou
a prevenção da proliferação de armas de destruição maciça, não podem ser resolvidos sem a China
 Em 2011, a China era já a segunda maior economia mundial
Aula 8 (10/03/23)
A China no mundo:
o Xi Jinping lança a Belt and Road Initiative (BRI) em 2013 com o intuito de reconstruir a Rota da
Seda e conectar as economias Euroasiáticas através de infraestrutura, comércio e investimento
o A iniciativa foi posteriormente constituída em duas vertentes, uma por terra e outra por mar, a ‘Silk
Road Economic Belt’ e a ‘Maritime Silk Road’, respetivamente
o Foi apresentada como elemento essencial na tentativa de Beijing aprofundar a reforma económica e
estimular o desenvolvimento nas regiões ocidentais da China, notoriamente menos desenvolvidas
o O esquema que deverá gerar vários biliões de dólares (multi trillion dólar scheme) gerou entusiasmo
e esperança, mas também ceticismo e desconfiança sobretudo na região e no ocidente
o O BRI tem como objetivo "promover a conectividade dos continentes asiático, europeu e africano e
dos seus mares adjacentes, estabelecer e reforçar parcerias entre os países ao longo do BRI, criar
redes de conectividade multidimensionais e realizar um desenvolvimento diversificado,
independente, equilibrado e sustentável nestes países"
o A implementação começou em março de 2015 e ocupa um lugar de destaque no 13º plano de cinco
anos da China, lançado em outubro de 2015
o A estratégia mais ambiciosa do país em matéria de comércio e investimento estrangeiro, descrita
pelo governo chinês como a "segunda abertura" do país depois do plano de Reforma e Abertura de
Deng Xiaoping que conduziu ao rápido crescimento da China ao longo de três décadas
o Xi Jinping afirmou que o BRI "deve ser construído conjuntamente para ir ao encontro dos interesses
de todos e devem ser feitos esforços para integrar as estratégias de desenvolvimento dos países ao
longo das rotas"
o Não é fechado, mas aberto e inclusivo; não é um solo da China, mas um coro de todos os países ao
longo das rotas"
Objetivos explícitos do BRI:
 Prosperidade para regiões mais subdesenvolvidas da China, particularmente as províncias ocidentais
 Maior conectividade e desenvolvimento económico em ambas as rotas através da circulação de bens,
serviços, informação e pessoas, e intercâmbio de culturas
 Maior integração entre a China e os países vizinhos
 Segurança energética através da diversificação das fontes de importação
Objetivos implícitos:
 Criar um mecanismo para escoar a elevada capacidade doméstica e criar investimento no estrangeiro
 A China tem uma elevada capacidade de produção em vários sectores, resultado do boom económico
e de construção das últimas décadas. O BRI é visto como uma interface para escoar este excesso de
capacidade produtiva
 A China acumulou vastas reservas de capital estrangeiro, que será investido e cada vez mais
diversificado
 Encontrar novos mercados para os produtos e serviços chineses: diversificar os mercados de
exportação, apontando especialmente para os países em desenvolvimento, com o intuito de atualizar
as indústrias tradicionais e desenvolver indústrias emergentes

o Oficialmente, o BRI apresenta uma fórmula de desenvolvimento win-win. O desenvolvimento da


China irá beneficiar a região e o mundo
o Há várias razões e interpretações para esta procura de equilíbrios ‘win-win’
o Tradicionalmente, a relação entre o poder hegemónico e o poder emergente é um jogo de soma zero.
O Ocidente, especialmente os EUA, temem que a Ásia e a África ficam sobre a esfera de influência
da China
o A China pretende evitar qualquer conflito, e assegura continuamente que pretende criar um mundo
de harmonia com os seus vizinhos
São os fatores domésticos mais preponderantes no planeamento do BRI?
 A necessidade de promover o seu próprio desenvolvimento, sobretudo nas províncias do centro e do
Oeste. Depois de 30 anos de rápido desenvolvimento, o sucesso económico é óbvio, mas também é
desequilibrado e desigual
 As províncias do centro e do ocidente que correspondem a 80% do território da China, onde vive
60% da sua população, têm um PIB per capita que é menor que 1/3 do nacional
 A China tem necessidade de estabilizar as suas periferias. O terrorismo que penetra na Ásia Central,
na Rússia e no Ocidente da China, zonas de pobreza extrema que são prolíficas para as lógicas do
terrorismo
 O BRI pretende promover o desenvolvimento económico dessas zonas, construindo estradas, criando
nódulos de comércio e mecanismos de combate à pobreza. A ideia é precisamente estabilizar a
periferia
 De acordo com o Banco de Desenvolvimento Asiático, existe uma lacuna de financiamento de 8
triliões de dólares para infraestruturas na Ásia. E um dos sucessos da China tem sido a rápida
construção de infraestruturas
 Uma das lógicas que subjaz o BRI – objetivos implícitos - é que a China pode utilizar esta vantagem
comparativa dar uso à sua capacidade de construção, que tem sido desencorajada nos últimos anos,
resultado das cidades-fantasmas do país, das fábricas fechadas, e autoestradas e caminhos-de-ferro
sem destino
 A liderança chinesa acredita que o BRI pretende ir além – e até mesmo sanar – as desigualdades
entre ricos e pobres criadas pela globalização europeia, enquanto promove uma paz duradoura,
segurança universidade e prosperidade comum num mundo mais harmonioso
 Bom demais para ser verdade?

 Beijing olha para a sua vizinhança como mais do que um espaço para criar oportunidades
económicas
 Procura dar uso ao seu poder económico para construir uma rede de novas instituições, criar projetos
que tragam união à Eurásia, ao Pacífico Sul e à África Oriental, numa rede de relações económicas,
culturais, políticas e estratégicas
 A estratégia é ambiciosa: utilizar a economia como alavanca para construir uma "comunidade de
destino comum”, centrada na China, que fará dela uma potência capaz de estabelecer as nomas e
regras do jogo
 Enquanto o BRI é comercializado como um projeto inclusivo, os EUA e o Japão estão
manifestamente ausentes deste plano
 Manifesta uma aspiração de mudança do que é entendido como a ordem liberal global liderada pelos
EUA para uma globalização ao estilo chinês. Faz parte da aposta de Xi refazer as normas, regras e
instituições da governação global
 Enquanto a RPC e Xi Jinping defendem que a China não cairá na "armadilha de Tucídides”, a noção
de que poder crescente desafia a ordem mundial existente, outros argumentam que Beijing tem o
dever moral de reformular as instituições globais para melhor representar os interesses das potências
emergentes e das potências não ocidentais
 Politicamente, as tensões entre a China e os Estados Unidos têm vindo a crescer, acompanhando o
aumento do poder global da China
 Beijing acredita que os Estados Unidos estão deliberadamente a conter a sua influência e expansão
económica. Disputas territoriais surgem no Mar da China Oriental e no Mar da China Meridional
(South China Sea) desde que os EUA adotaram a política de "Pivot to Asia"
 Beijing acredita que o investimento económico e militar dos EUA mais musculado na região é uma
reação à China enquanto potência regional/global. Constitui-se enquanto ferramenta estratégica para
conter e impedir a ascensão da China
 A política externa de Xi Jinping parece marcar o fim da estratégia de discrição de Deng Xiaoping
 A discussão sobre a direção da política externa chinesa segue em grande medida o debate da teoria
das relações internacionais sobre o futuro da ordem global
 É tido como certo que o momento unipolar da América já passou, e que estamos perante uma
mudança de poder do Ocidente para o Oriente
 O debate principal é entre realistas que argumentam que, enquanto potência em ascensão, a China
está estruturalmente determinada a desafiar o atual sistema internacional liderado pelos americanos,
e internacionalistas liberais que sugerem que, embora a autoridade global possa passar de
Washington para Beijing, o sistema internacional capitalista liberal não só sobreviverá a esta
transição como será reforçado por ela
 Os inquéritos do Afro barómetro em 34 países africanos em 2019/2021 mostram que os africanos
têm uma visão positiva da assistência e influência da China no continente, embora o seu nível de
influência nas economias africanas tenha diminuído ao longo dos últimos cinco anos
 As opiniões positivas sobre a influência da China não parecem afetar as atitudes dos africanos em
relação à democracia. A China permanece atrás dos Estados Unidos como o modelo de
desenvolvimento preferido
 Os que estão conscientes dos empréstimos chineses e da ajuda ao desenvolvimento aos seus países
estão preocupados em estar fortemente endividados com a China
Notas aula:
Dimensão política para a economia internacional: a relação entre o poder hegemónico e o poder emergente é
soma zero, ou seja, um perde e outro ganha. O Ocidente teme que África e Ásia fiquem sobre a esfera de
influência da China. A China pretende evitar qualquer conflito e pretende criar um mundo em harmonia com
os seus vizinhos.
Há mercado, oportunidade, para se criar desenvolvimento que poderá acrescer a 8 triliões de dólares, sendo
que um dos grandes sucessos da China tem sido a rápida construção de infraestruturas. A liderança chinesa
acredita que o BRI pode sanar as desigualdades entre ricos e pobres.
Enquanto o BRI é comercializado como um projeto inclusivo, os EUA e o Japão estão manifestamente
ausentes desse plano. Manifesta uma aspiração de mudança do que é entendido como a ordem liberal global
liderada pelos EUA para uma globalização do estilo chinês. Faz parte da aposta de Xi refazer as normas,
regras e instituições da governação global. A China senta-se no CS, o Partido Comunista é reconhecido,
assina tratados internacionais, ou seja, a China é parte integrante e fulcral nesta ordem liberal global liderada
pelos EUA, tem mais poder nesta ordem que a maior parte dos países do mundo. A ideia de refazer essa
ordem ao estilo chinês é uma aposta megalómana, não querem reformar a ordem liberal, querem refazer. O
desenvolvimento do modelo chinês centraliza-se na China e não noutros países, como potências não
ocidentais. Isto tem feito com que as tensões entre a China e os EUA aumentassem.
Aula 9 (15/03/23)
Federação russa e o antigo espaço soviético:

 Em 2005 Vladimir Putin referia que o “fim da União Soviética foi a maior catástrofe geopolítica do
século XX. Para o povo russo, constituiu um verdadeiro drama”
 A Rússia herdou o lugar permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas
 Herdou capacidade nuclear através da assinatura do Memorando de Budapeste em 1994
 Continuou a manter o estatuto de maior país em área territorial, embora perdendo 23,8% de território
 Sofreu um recuo demográfico de 48,5%
 Um recuo económico com perdas de 39,4% no produto interno bruto
 E de 44,6% de perda de capacidade militar, de acordo com fontes russas
Que nova Rússia era esta? E quão forte era?
o A construção da identidade e a recuperação do estatuto de grande potência no sistema internacional
tornaram-se fundamentais desde que Vladimir Putin chegou ao poder em 2000
o A criação da Comunidade de Estados Independentes (CEI) em dezembro de 1991, no contexto de
desagregação da União Soviética, decidida numa reunião entre os líderes da Rússia, Ucrânia e
Bielorrússia, marca um reconhecimento dos novos Estados independentes pela Rússia
o A União Económica Euroasiática – em vigor desde 2015 –, que resulta de um processo em três fases,
iniciado com a criação de uma União Aduaneira (2010) e depois de um Espaço Económico Único
(2012), envolvendo a Rússia, Cazaquistão, Bielorrússia, Arménia e Tajiquistão, e a Organização do
Tratado de Segurança Coletiva, envolvendo a Rússia, Arménia, Cazaquistão, Bielorrússia,
Quirguistão e Tajiquistão
o A visão construída na Rússia em relação ao espaço pós-soviético foi sempre enquanto espaço vital de
importância estratégica

o O alargamento da NATO é referido como ameaça externa à segurança da Rússia


o Argumentos como o da proteção de cidadãos russos fora do seu território e de não ingerência no
espaço pós-soviético por outros estados têm estado sempre presentes na narrativa que acompanha o
desenvolvimento da política externa russa
o O alargamento do ocidente cruzou linhas vermelhas consideradas fundamentais para a segurança
nacional russa, e por isso o recurso a uma resposta militarizada ao que é entendido como uma
ameaça à existência do Estado

 A política externa russa tem tido como objetivo a consolidação do estatuto de poder da Rússia no
cenário internacional
 A Rússia procurou restabelecer o seu posicionamento no sistema internacional como uma grande
potência ainda com Boris Yeltsin nos anos noventa, quando este apoia uma estrutura internacional
multipolar (e não unipolar com os EUA no comando)
 Tem sido complementada por uma matriz geográfica que organiza a política externa em áreas de
importância primordial (espaço póssoviético) e de alinhamento temático (soberania, não-
interferência)
 A política externa russa nos últimos vinte anos manteve o seu principal objetivo final - o
reconhecimento do seu estatuto de poder. O que mudou foram os meios tanto ao nível da pressão
para a mudança na ordem internacional, como ao nível dos meios mais assertivos e militarizados de
política externa que foram postos em prática, atribuindo à Rússia o rótulo de potência revisionista no
sistema internacional
 A política externa russa assenta em três grandes princípios relacionados com a ordenação da vida
internacional, nomeadamente a soberania e o respeito pela (sua) integridade territorial, o princípio da
não ingerência nos assuntos internos, e a promoção de multipolaridade
 Central na sua dimensão normativa é a conceptualização da ordem internacional como multipolar
 Cinco princípios básicos orientam a política externa: a primazia do direito internacional; uma ordem
internacional multipolar; uma política não conflituosa que evite o isolamento (virando-se para a
China depois da degradação das relações com o ocidente); a proteção dos cidadãos russos no
estrangeiro; e o reconhecimento de áreas de influência, nomeadamente as áreas fronteiriças descritas
como "regiões prioritárias"

 A recriação de uma União Soviética 2.0 numa lógica territorial, em contexto de ofensiva russa na
Ucrânia e mesmo de ameaças a outros Estados no espaço pós-soviético, como a Moldova, não parece
viável
 O objetivo de travar a perda de influência é evidente. Há uma estratégia híbrida de consolidação de
poder em curso, com um aumento de ataques cibernéticos, uso de propaganda, ou recurso a coerção,
como dependência energética e económica
 Apesar destes métodos não constituírem novidade, tornaram-se mais assertivos, em particular após
os acontecimentos de 2014, e foram cimentados com a invasão russa da Ucrânia
 A narrativa estratégica de uma ordem multipolar, que se tornou mais evidenciada após a guerra dos
cinco dias na Geórgia, ganha agora um contorno diferenciado, com um posicionamento russo numa
lógica competitiva e de sobrevivência, sublinhando a questão da segurança que é tão cara ao regime

 Uma dimensão importante da narrativa estratégica russa que ajuda a compreender esta leitura do
Ocidente como “ameaça” é o discurso da “contenção” da Rússia, de modo que o Ocidente mantenha
o seu posicionamento privilegiado no sistema internacional – a ideia de cerco
 A OTAN surge neste contexto como um instrumento ao serviço da política de contenção, com as
suas bases militares e presença de forças em torno das fronteiras russas a permitirem uma leitura de
“cerco” ou de limitação às capacidades russas, refletindo a militarização das “regiões adjacentes à
Rússia”
 Esta é uma velha questão na agenda de dissensão pós-soviética. A possibilidade da Ucrânia vir a
pertencer à Aliança Atlântica é assim também entendida como uma ameaça à segurança nacional
russa. Para a grande estratégia de Putin para o espaço pós-soviético a Ucrânia é uma peça
fundamental
 Visa criar espaços tampão entre o ocidente e as fronteiras da Rússia, pelos velhos motivos de
soberania e integridade territorial
Notas aula:
 A Rússia independente depois da revolução não tinha a mesma capacidade militar, económica e
industrial
 A construção da identidade e a recuperação do estatuto de grande potência no sistema internacional
tornaram-se fundamentais desde que Vladimir Putin chegou ao poder em 2000
 A criação da Comunidade de Estados Independentes marca um reconhecimento dos novos Estados
independentes pela Rússia
 A visão que a Rússia tem, e que sempre teve, no espaço soviético é uma relação de vital importância
estratégica, é precisamente esse espaço que a Rússia não quer perder, mas que tem vindo a perder ao
longo do tempo. Para isso tem de fortalecer a sua vontade e soberania sobre esses países do espaço
vital
 O alargamento da NATO é referido como ameaça externa à segurança da Rússia
 A Rússia procurou restabelecer o seu posicionamento no sistema internacional, mas a apoiar uma
estrutura internacional multipolar, precisamente para travar o mundo unipolar liderado pelos EUA
 A política externa russa manteve o seu objetivo final – o reconhecimento do seu estatuto de poder –
vai-lhe permitir construir uma identidade e defender a sua soberania e manter o seu estatuto de
poder. A estratégia da Rússia tem se mantido exatamente a mesma, o que mudou substancialmente
foram os meios a que a Rússia foi recorrendo para atingir os seus objetivos, mais militarizados
 A política externa russa assenta na soberania, integridade territorial, a não ingerência nos assuntos
internos e a promoção de multipolaridade
 Os cincos princípios básicos que orientam a política externa falharam por completo
 A recriação de uma União Soviética 2.0 numa lógica territorial não parece viável
Aula 10 (17/03/23)
Que pilares suportam a raison d’être desta Rússia pós-soviética?
 Autocracia
 Execionalismo
 Expansionismo
 A história primordial
 O culto do passado militarista
 Glorificação do sofrimento
 Ortodoxia
 A questão das nacionalidades
Autocracia:
o Pode a Rússia tornar-se numa democracia?
o Eltsov: a autocracia tem sido e continua a ser tão importante na cultura russa que seria mais honesto
se o Kremlin reinstituísse oficialmente a monarquia. Com exceção da eleição de Boris Ieltsin como
primeiro presidente da Rússia em junho de 1991, foi a autocracia - quer czarista quer soviética - que
sempre forneceu à Rússia um mecanismo para a transferência de poder
Excecionalismo:
 Numa op-ed publicada pelo New York Times a 11 de Setembro de 2013, Putin os EUA por
manterem a ideologia do excepcionalismo. "É extremamente perigoso encorajar as pessoas a verem-
se como excecionais, qualquer que seja a motivação."
 Na realidade, as elites russas também estão convencidas do papel excecional e messiânico da Rússia
na história
 Hoje, mais do que nunca, fundem-se várias formas de excepcionalismo russo: Moscovo como mito
da Terceira Roma, a Eslavofilia, Socialismo Soviético, Eurasianismo e, mais recentemente, o Mundo
Russo - um conceito que se destina a unir as pessoas de língua russa que vivem fora da Rússia nos
países da antiga União Soviética
 A Rússia não é única na produção de ideologias de excepcionalismo e messianismo. Mas existem
diferenças fundamentais
 O americano baseia-se no liberalismo e no individualismo; o russo promove o autoritarismo e o
coletivismo
 O americano já não justifica as anexações de terras estrangeiras
 O russo combinou as expressões de duas ideologias aparentemente irreconciliáveis de forma
complementar: o czarismo e o comunismo. A melodia do hino da União Soviética com nova letra; o
aparecimento de bustos a Joseph Stalin; as medalhas e honras
 Um exemplo simbólico desta continuidade é o restabelecimento da ordem de 'O Herói do Trabalho'
que anteriormente era chamado 'O Herói do Trabalho Socialista'
 A Rússia exibe uma ideologia imperial que pretende ser uma alternativa ao liberalismo, uma
ideologia que pode ser definida como autocracia iluminada que combina os traços do fascismo,
socialismo, nacionalismo, imperialismo e cristianismo ortodoxo
 Esta ideologia vai de acordo com o que o filósofo russo Alexander Dugin chama a Quarta Teoria
Política, sendo os três primeiros o liberalismo, o socialismo e o fascismo. Dugin sugere a remoção
das características materialistas e ateístas do socialismo e dos aspetos racistas e nacionalistas do
fascismo, criando assim uma alternativa autoritária ao liberalismo
Expansionismo:
 Dada a sua dimensão e composição multiétnica, a Rússia só pode existir enquanto império: com um
governo autocrático altamente centralizado e uma tendência perpétua para a expansão. A única outra
opção é a fragmentação territorial
 Os modelos imperiais ressurgentes - como o eurasianismo recentemente reinventado e o mundo
russo-asiático - transcendem as fronteiras da federação russa, justificando a expansão territorial. Se a
Crimeia é Rússia, a Ucrânia Oriental, Bielorrússia, Cazaquistão, Moldávia e mesmo os Estados
Bálticos também poderiam ser a Rússia. Nem o povo russo nem o governo russo sabem exatamente o
que é a Rússia em termos geográficos
A história primordial:
o A história da Rússia tornou-se vincadamente politizada
o As ações militares da Rússia na Ucrânia relacionam-se com a questão de quem detém o legado
histórico de Kyivan Rus, um estado que existiu entre os séculos IX e XIII AD
o Os russos chamam a Kyiv "a mãe das cidades russas" e Kyivan Rus "o berço da civilização russa". A
língua e a identidade ucranianas são consideradas pelos russos fenómenos criados tardiamente e
artificialmente
o O discurso de um povo ucraniano diferente que existe desde o século IX e que possui a sua própria
língua não-russa é uma falsidade recentemente inventada - Alexander Solzhenitsyn
o O governo russo promove energicamente esta versão da história
O culto do passado militarista:
 Três temas históricos são particularmente importantes para a psique militar russa: os mongóis,
Napoleão e o nazismo. Foi a Rússia, segundo os seus principais historiadores, que salvou o mundo
de cada um destes males
 Putin ressuscitou esta narrativa que é a pedra angular da sua popularidade. A propaganda soviética
não dependia tanto da sua história militar
 Hoje as crianças russas são ensinadas sobre a vitória da Rússia sobre Napoleão, uma leitura
imprecisa, já que outros países participaram na derrota do exército de Napoleão - particularmente a
Espanha e o Reino Unido. O governo russo é da opinião que a Rússia não só derrotou Napoleão no
seu território, mas que libertou o resto da Europa
O culto do passado militarista:
 A Grande Guerra Patriótica é de longe a parte mais importante da narrativa militar russa. No entanto,
a Rússia não se reconciliou com o seu papel na mesma. Tendo dividido a Europa com a Alemanha
nazi em 1939, a União Soviética detém plena responsabilidade pelo início da guerra
 As narrativas das guerras da Rússia são utilizadas pelo governo russo para consolidar o povo contra o
inimigo imaginado, o Ocidente, liderado pelos EUA. O alegado desejo do Ocidente de dividir a
Rússia é apresentado pelo governo russo como a principal ameaça à segurança nacional, desviando
assim a atenção dos cidadãos russos das suas potenciais preocupações com o seu próprio governo
A glorificação do sofrimento:
o A vontade dos russos em aceitar a primazia do Estado, das exigências do estado e das vontades
políticas nas suas vidas
o A literatura, música e arte russas compõem-se de sofrimento, de violência, de homens providência e
de autocracia
o O povo russo, segundo Putin, suportará quaisquer provações, tais como sanções económicas e
guerra, em noma da Rússia
A igreja ortodoxa:
 Desde a queda da União Soviética, a Igreja Ortodoxa Russa recuperou o seu papel na vida cultural e
política da Rússia
 A Igreja tem influência na tomada de decisões do Estado russo. Ajudou Putin a consolidar poder, a
adotar políticas antiliberais e até a expandir a esfera de Moscovo de volta ao antigo bloco soviético
 O conceito de "Santa Rússia”, amplamente utilizado na literatura russa de Alexander Pushkin,
Nikolai Gogol e Fyodor Dostoevsky., está a ser utilizada pelos representantes oficiais da Igreja
Ortodoxa
 A "Santa Rússia” não é nem uma ideia étnica, nem política, nem linguística. É uma ideia espiritual” -
Patriarca russo Kirill
 A Igreja Ortodoxa Russa interfere ativamente na política russa, incluindo nas operações militares da
Rússia. Neste contexto, a guerra na Ucrânia também carrega uma componente religiosa
A questão das nacionalidades:
 Sob eleições livres e justas, a Rússia perderia alguns dos seus territórios ou desintegrar-se-ia
totalmente. A principal razão é que o estado - czarista, soviético e pós-soviético - não conseguiu criar
uma identidade nacional partilhada por todos os seus cidadãos
 Um segmento significativo da população na Rússia (cerca de 20%, ou 30 milhões) pode não ser leal
ao Estado russo. Devido às reformas administrativas soviéticas que seguiram o princípio Leninista de
autodeterminação nacional, estas pessoas têm as suas próprias repúblicas autónomas: Tatarstan,
Chechénia, Inguchétia, Baskortostan, Buryatia e outras
 Como mostra a insurreição chechena da viragem do século XXI, estas repúblicas podem representar
uma ameaça à integridade territorial da Rússia
 Após a queda do Império Russo em 1917, houve tentativas de criar estados independentes na Sibéria,
no Extremo Oriente, nos Urais e em Kuban
 Após a queda da União Soviética em 1991, houve conversações sobre o separatismo russo nos Urais
e na Sibéria
 O Kremlin sabe que se o controlo do governo central enfraquecer a Rússia pode experimentar
separatismo tanto da sua população etnicamente russa como não russa, o que acabará por levar ao
colapso do novo antigo império russo
Eltsov:
o É provável que a Rússia venha a perder algumas das suas regiões autónomas ou a desintegrar-se nas
próximas duas ou três gerações. De certa forma, o início do fim do império russo foi a abdicação do
trono pelo Czar Nicolau II em 1917. Após uma guerra civil sangrenta, os bolcheviques conseguiram
ressuscitar o império durante 70 anos, sob um guarda-chuva ideológico diferente. Hoje, o governo
russo está a fazer o mesmo, tentando criar uma simbiose aparentemente impensável entre a Rússia de
Romanov e a Rússia de Lenin
o Devido às questões demográficas e das nacionalidades, o novo Império Russo está condenado. A
desintegração da ex-Jugoslávia constitui um exemplo sombrio, mas esclarecedor de como isso irá
acontecer: Josip Broz Tito introduziu divisões administrativas de uma forma muito semelhante à dos
governos soviéticos
o É altamente improvável que sobreviva mais do que a União Soviética

Notas aula:
As fronteiras da União Soviética criam pontos onde existe uma percentagem de elementos da etnia russa. A
ideia de ocupação do ocidente das suas fronteiras é uma ideia que não tem agradado à Rússia, como é o caso
da Ucrânia.
A política externa da Rússia tem-se mantido inalterável. O que tem mudado é os mecanismos e a
agressividade com que tem defendido os critérios que pautam a sua política externa. O primeiro é o de
autocracia, a ideia de ditadura. Se algum dia a Rússia se tornar numa democracia, deixaria de ter o território
que tem, mudaria por completo, portanto, dificilmente se tornará num país democrático.
A ideia de excepcionalismo, a ideia de que a cultura russa é secular, antiga, sólida, posicionada no meio de
várias civilizações, essa ideia de que é um país que contribuiu mais que os outros, é completamente
enraizada na Rússia. A ideia de messianismo, de potenciar e de alastrar a sua cultura. A ideia de que há uma
Rússia eslava, socialista soviética, etc. que reúne as pessoas de língua russa que vivem fora da Rússia nos
países da antiga União Soviética.
A Rússia não é a única na produção de ideologias de excepcionalismo e de messianismo, mas existem
diferenças fundamentais. Enquanto o americano baseia-se no individualismo e no liberalismo, o russo
promove o autoritarismo e o coletivismo.
A ideia de que a Rússia pugna por um mundo multipolar, no qual a Rússia teria um espaço vizinho onde
poderia patrocinar a sua ideologia imperial, que combina traços como o fascismo, socialismo, nacionalismo,
imperialismo e cristianismo ortodoxo.
Há ainda o expansionismo. Dada a sua dimensão e composição multiétnica, a Rússia só pode existir
enquanto Império, com um governo autocrático altamente centralizado e uma tendência perpétua para a
expansão. Nem o povo russo, nem o governo russo, consegue dizer o que a Rússia é em termos geográficos.
O culto do passado militarista. A grande guerra patriótica é a mais central da narrativa russa; os espetáculos
militaristas.
A igreja ortodoxa. A influencia profunda que a igreja tem na tomada de decisões do Estado Russo.
A questão das nacionalidades. Uma Rússia que era forte e que se tenta fortalecer com qualquer elemento que
exista – História, Igreja, forças armadas, etc. – e depois uma Rússia que pode desaparecer. Após a queda do
Império Russo em 1917, houve tentativas de criação de Estados independentes na Sibéria, no Extremo
Oriente, nos Urais e no Kuban. Eltsov refere que é improvável que a Rússia hoje sobreviva mais que a
União Soviética e que daqui a 40 ou 50 anos estaremos perante a desintegração da Rússia.
Aula (22/03/23)
Política externa portuguesa
Quais são os principais pilares da política externa portuguesa?
 Antes do 25 de abril: império; isolamento
 Depois do 25 de abril: descolonização; entrada na UE; entrada na NATO; comunidades; CPLP
o O colonialismo e a ditadura são períodos fulcrais para compreender o posicionamento internacional
de Portugal. Sob a ditadura, a manutenção da política colonial foi um objetivo político fundamental,
apesar do movimento de descolonização que prevaleceu no sistema internacional a partir do final dos
anos 50.
o Apesar de não democrático, Portugal seguiu uma política multilateral, alinhado com o eixo ocidental
durante a Guerra Fria. Foi membro fundador da NATO em 1949, aderiu às Nações Unidas em 1955,
consolidou a integração económica ao tornar-se parte da Associação Europeia de Comércio Livre
(EFTA) em 1960 e membro da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico
(OCDE) em 1961.
o A decisão de aderir à NATO como membro fundador assumiu um duplo papel na política externa
portuguesa: por um lado, tinha uma dimensão ideológica relativamente à luta contra o comunismo no
contexto da Guerra Fria; por outro lado, uma vez que a Espanha não se tornaria membro da Aliança
Atlântica, isto conferiria a Portugal um papel reforçado no contexto peninsular, incluindo o de um
ponto de contacto privilegiado
o A base militar das Lajes (Terceira) tornou-se fundamental para os EUA no contexto da Guerra Fria,
como parte de uma resposta integrada ao bloco soviético
o No início dos anos 70 as colónias já não eram um recurso económico fundamental para Portugal.
Porém, o regime manteve a narrativa imperial colonial, ficando cada vez mais isolado no plano
internacional
o A ditadura já carregava uma visão pragmática sobre a inserção internacional, como parte da
estratégia de sobrevivência do regime (ver revogação do ato colonial e revisão da constituição em
1951)
o A dimensão ideológica que acompanhava este pragmatismo incluía tanto o império como o ocidente
na imagética cultural. Apontava para o papel central do colonialismo na política externa, a que
somava o posicionamento anticomunista do regime e o posicionamento geopolítico estratégico do
país
o Durante a ditadura, a política externa portuguesa revelou, por um lado, um claro desejo de autonomia
relativamente a desenvolvimentos considerados contra o interesse nacional (sobretudo qualquer
discurso anticolonialista), e, por outro lado, receios de isolamento
o Após a revolução e durante o processo de consolidação das novas tendências da política externa, o
Atlântico (NATO) e a Europa tornaram-se duas pedras angulares da política externa portuguesa
o A transição para a democracia foi acompanhada pelo lema "democratização, descolonização,
desenvolvimento". O processo de descolonização permitiu o fim do isolacionismo e a consolidação
de dois vetores principais, um atlântico e outro europeu, sendo este último a grande novidade
introduzida pelo período da democratização
o A opção europeia conduziria à integração formal de Portugal nas Comunidades Europeias em 1 de
janeiro de 1986
o Nesse sentido, não foi apenas uma transição de um regime autoritário para um regime democrático.
Foi uma transição mais profunda de uma ideia de império para a de integração europeia
o Significou um redimensionamento do país em termos das suas fronteiras materiais, bem como um
novo imaginário em que Portugal já não era um país imperial
o A atual fronteira de segurança de Portugal é a da Aliança Atlântica; a fronteira económica é a da
União Europeia (UE); e a fronteira cultural visa predominantemente os países lusófonos. Este
pluralismo de fronteiras exige uma política externa plural, capaz de gerir vetores distintos que
representam o interesse nacional português: uma política externa multifacetada e com múltiplas
camadas
o A dimensão de país lusófono na política externa completa o quadro. O equilíbrio entre as dimensões
continental e marítima alterou-se fundamentalmente e as duas tornaram-se complementares. É
também acrescentada uma dimensão de valores, com a democracia e o Estado de direito a sublinhar a
formulação de políticas e a modelação das relações externas
Aula (24/03/23)
 A atual fronteira de segurança de Portugal é a da Aliança Atlântica; a fronteira económica é a da
União Europeia (UE); e a fronteira cultural visa predominantemente os países lusófonos. Este
pluralismo de fronteiras exige uma política externa plural, capaz de gerir vetores distintos que
representam o interesse nacional português: uma política externa multifacetada e com múltiplas
camadas
 A dimensão de país lusófono na política externa completa o quadro. O equilíbrio entre as dimensões
continental e marítima alterou-se fundamentalmente e as duas tornaram-se complementares. É
também acrescentada uma dimensão de valores, com a democracia e o Estado de direito a sublinhar a
formulação de políticas e a modelação das relações externas
 A participação militar em missões internacionais é elucidativa dos principais interesses da política
externa portuguesa


Na UE:
o O papel de Portugal na União Monetária Europeia ou em questões de defesa e segurança mostra o
empenho do país no projeto europeu
o Apoiou o processo de alargamento, embora houvesse um risco de Portugal se tornar mais periférico
com uma mudança nas fronteiras externas da UE orientada para Leste
o As primeiras três presidências Portuguesas do Conselho da UE, 1992, 2000, e 2007, incluíram duas
Cimeiras UE-África, a primeira Cimeira UE-Brasil, um Memorando de Entendimento entre a
Comissão Europeia e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP, na sigla em
português), e uma estreita associação entre Cabo Verde e a UE
o Com esta agenda, Portugal tornou clara a sua parceria histórica com os países lusófonos, procurando
evitar leituras menos benignas das suas relações com antigas colónias, posicionando a sua política
externa como "um intermediário privilegiado nas relações externas entre os países lusófonos e a UE".
No domínio da segurança:
 Ao lado dos EUA no contexto da intervenção no Iraque em 2003, acolheu a cimeira na base militar
das Lajes nos Açores, e apoiou a intervenção militar, decisões profundamente contestadas que
apontaram para uma política externa de curto prazo baseada em interesses estratégicos em vez de
uma política externa baseada em valores
 Portugal tem jogado com o facto da sua centralidade geográfica na comunidade transatlântica poder
compensar a sua relativa marginalidade na Europa, sublinhando a sua aliança com as democracias
atlânticas, a sua segurança assegurada pela NATO, e a autonomia estratégica da UE desenvolvida de
forma complementar
A identidade portuguesa na política externa:
 A interligação entre o europeu e o democrático depressa se tornou uma parte clara da identidade
portuguesa, com um a informar o outro num processo de co-constituição
 Portugal é tido como parceiro fiável em organizações multilaterais e em contextos bilaterais - um
bom cidadão internacional
 A identificação com a lusofonia e a cultura lusófona tornou-se uma dimensão importante da
definição do eu português e da sua "vocação africana"
Lusofonia?
o A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) foi criada em 1996 com o objetivo de
procurar a cooperação e o aprofundamento das relações diplomáticas entre os seus membros e de
organizar projetos para a promoção da língua portuguesa
o As relações com os países de língua portuguesa sempre foram fortes, e a CPLP e os PALOP (Países
Africanos de Língua Oficial Portuguesa) são uma prova disso e de uma mistura de meios bilaterais e
multilaterais de prossecução da política externa
o Medidas concretas, tais como o reforço do papel do Instituto Camões na Acão externa portuguesa, a
relevância da diáspora portuguesa e as tentativas de reforçar as redes consulares para responder à
comunidade portuguesa em todo o mundo
o O problema com a lusofonia e a cultura lusófona é que tem tendência para se misturar com as antigas
noções de vocação imperial e marítima, com a ideia de propensão portuguesa para colonizar e se
miscigenar em África e no Brasil
o Cria-se um problema na narrativa, que ao não sofrer uma rutura clara, é reaproveitada, refeita e
readaptada a tempos diferentes
o Podem países colonizadores estabelecer relações de igualdade e equidade com os antigos países
colonizados? Podem as suas populações fazê-lo?
Aula (12/04/23)
África pós-colonial:
 Dentro de 15 anos, estima-se que África terá mais de mil milhões de pessoas na sua força de
trabalho, a maior do mundo
 Em muitos países africanos, os jovens constituem hoje mais de 70% da população
 África é considerada a principal fronteira dos mercados inexplorados com um enorme potencial para
experimentar inovações de produtos e oportunidades de investimento. O continente contém enormes
recursos naturais essenciais para as economias mundiais como a China e a Índia
 Há uma nova e não menos agressiva luta pelo continente na era da produção capitalista globalizada
 Numa página de capa amplamente citada em 2000, a revista ‘The Economist’ pintou um quadro de
um continente “sem esperança”
 Pouco mais de uma década depois a mesma revista apresentava a capa “Africa Rising”
A importância da produção de conhecimento e informação:
o A ocupação colonial do continente não era apenas física e institucional. Era também, talvez de uma
forma mais insidiosa, mental e intelectual
o O influente escritor queniano Ngugi Wa Thiong'o sublinhou o impacto duradouro e debilitante do
projeto colonial no pensamento africano e na produção de conhecimento
o Teorias pós-coloniais e descoloniais
o Boaventura de Sousa Santos et.al. Epistemologias do Sul: todo o nosso pensamento teórico no Norte
global tem sido baseado na ideia de uma linha abissal. Faz uma distinção invisível entre o legal e o
ilegal, e entre conhecimentos científicos, teológicos e filosóficos. Esta distinção invisível opera
entre as sociedades metropolitanas e as sociedades coloniais
Os argumentos de Moses Khisa:
 Primeiro, a narrativa “África em ascensão” assenta sobre uma fundação instável. As economias
africanas podem ter registado um crescimento modesto nos últimos anos, mas o crescimento ou é
superficial ou não acontece nos setores mais importantes. A África em ascensão não é vista nem
sentida pela maioria dos cidadãos africanos
 Em segundo lugar, a tendência crescente para pintar um quadro cor-de-rosa do continente esconde a
sua posição marginal nas estruturas capitalistas globais de poder, dominação e exploração
 Finalmente, as tensões e pressões económicas que afligem especialmente as populações urbanas com
rápidas mudanças demográficas geraram uma ânsia por soluções rápidas. Contribui para uma nova
onda de política populista em todo o continente
Crescimento económico modesto:
 A posição marginal de África no mercado global é agravada pelos desequilíbrios estruturais internos
das economias coloniais que se caracterizam mais pela extração de renda do que pela produtividade
do valor acrescentado
 É restrita maioritariamente à extração de matérias-primas com poucos benefícios para o cidadão
africano
 Conceito: rentier states (termo usado na política para designar os países cuja renda provém de
atividades econômicas não produtivas, geralmente extração de petróleo, negligenciando o
desenvolvimento de outros setores da economia que garantam o desenvolvimento sustentável e
facilitando a destruição dos recursos naturais em busca de rentabilidade económica imediata)
 O setor de serviços, que tem sido a maior fonte de crescimento – principalmente telecomunicações,
banca, seguros, lazer e hospitalidade – é dominado por capital transnacional (frequentemente
especulativo) que goza da liberdade para repatriar lucros, sem fazer investimentos locais e a longo
prazo
Notas aula:
Potencial (recursos) vs. (in)capacidade – de utilizar esses recursos para bem próprio
Há uma diversidade de fatores que faz com que o continente africano não consiga utilizar os recursos que
detém. Esses fatores têm a ver com a história. As instituições que ficam do colonialismo não são reformadas,
não são mudadas de um dia para o outro. Outro tem a ver com o aspeto político e com a economia.
Dentro de 15 anos, estima-se que a África terá mais de mil milhões de pessoas na sua força de trabalho, a
maior do mundo. Em muitos países africanos os jovens constituem hoje mais de 70% da população. Até
2025 acredita-se que um quarto dos jovens do mundo com menos de 25 anos de idade será da África
Subsariana.
África é considerada a principal fronteira de mercados inexplorados com um enorme potencial para
experimentar inovações de produtos e oportunidades de investimento (mudança de paradigma – passou de
um país que tinha um enorme potencial de recursos para um grande potencial de investimento). O continente
contém enormes recursos naturais essências para as economias mundiais como a China e a Índia.
Há uma nova e não menos agressiva luta pelo continente na era da produção capitalista globalizada. Numa
página de capa amplamente citada, em 2000, a influente revista The Economist pintou um quadro de um
“continente sem esperança”. Pouco mais de uma década depois a mesma revista tinha uma capa de “África
em ascensão”.
A importância do conhecimento e informação. A ocupação colonial do continente não era apenas física e
institucional. Era também, talvez de forma mais insidiosa, mental e intelectual. O intelectual literário Ngugi
Wa Thiong’o sublinhou o impacto duradouro e debilitante do projeto colonial no pensamento africano e na
produção do conhecimento.
Teorias pós-coloniais e descoloniais. Boaventura de Sousa Santos et. Al. Epistemologias do Sul: todo o
nosso pensamento teórico no Norte Global tem sido baseado na ideia de uma linha abissal. Faz uma
distinção invisível entre o legal e o ilegal.
Crescimento económico modesto: a posição marginal de África no mercado global é agravada pelos
desequilíbrios estruturais internos das economias coloniais que se caracterizam mais pela extração de renda
do que pela produtividade de valor acrescentado. Rentier states: um determinado país tem vários recursos
naturais que são transformados em rendas, que ficam na elite, não sendo distribuídos e não chegam ao povo.
Os países tem as chamadas “gate keepers”, que são os portos, aeroportos, caminhos de ferro, etc. que
necessitam de ser controlados para existir produção, crescimento económico. O que acontece em África é
que não controlam as “gate keepers”, existindo assim uma incapacidade de controlar o seu potencial. É de
salientar que existe uma diferença gigantesca entre a elite e a restante população, pois a riqueza do país está
concentrada numa minoria, não sendo plenamente distribuída.
Aula (14/04/23)
Futuros em África:
o Potencial vs. Capacidade
o O quadro funciona como um grande guarda-chuva, representando democracia (de que tipo?) versus
populismo e lutas de poder das elites; desenvolvimento versus exploração de recursos; direitos
humanos versus regimes autocráticos, etc.
o O futuro em termos de democracia, desenvolvimento social e económico, direitos políticos e reforço
institucional é ainda enigmático
o Estes são os elementos que definem a maioria dos debates sobre o continente africano, dentro e fora
da academia
o A Conferência Europeia de Estudos Africanos deste ano é precisamente sobre o futuro de África
Políticas de elites e populismos:
 Na era pós-colonial, pensava-se que a liderança dos grandes homens era o antídoto para a
fragmentação social e o facciosismo político. Os líderes do tempo da independência apresentavam-se
como estadistas em torno dos quais se reuniam as massas populares na construção de estados
orientados para o desenvolvimento, desde Kwame Nkrumah e Houphouët-Boigny até Julius Nyerere
e Milton Obote
 Quase todos se tornaram governos autocráticos e enveredaram pelo caminho da instabilidade política
e da decadência económica. A década de 1980 foi uma “década perdida”, quando grande parte do
continente sofreu um crescimento económico negativo e conflitos armados em grande escala, sendo
o genocídio de Ruanda de 1994 o exemplo mais extremo de violência e grande escala
 O regresso a formas de governo modestamente democráticas e a concretização da paz relativa e da
estabilidade política na viragem do século trouxeram otimismo e sinais de transformação positiva.
Mas o cidadão africano continua insatisfeito com o valor substantivo da democracia, mesmo em
países como o Gana e o Senegal, que atingiram uma consolidação da democracia mínima
 África está a experimentar a sua própria marca de populismo, impelida pelo desespero económico
 O fascínio pelo “Big Men” que promete controlar a corrupção e o abuso excessivo de cargos
públicos parece estar a conduzir muitos cidadãos africanos para os braços de líderes quase
autoritários
 O papel dos ‘acordos políticos’ – a interação entre poder e instituições ou a forma como as
configurações institucionais são entendidas como representando a distribuição de poder subjacente.
Há uma distinção entre acordos políticos propícios ao crescimento, o tipo em que o acesso e a
utilização de rendas económicas é centralizado e gerido de forma produtiva, e o tipo em que há um
florescimento de incentivos perversos à procura de renda e de corrupção
 A incerteza política é negligenciada, especialmente nos países que enfrentam crises de sucessão da
liderança
Democratização, um dos temas principais em debate:
 Nos últimos setenta anos, o debate sobre a viabilidade da democracia em África regressou com
regularidade cíclica: primeiro, após uma série de guerras civis e de golpes de Estado nos finais dos
anos 60 e 70, que sugeriram que a política multipartidária poderia não ser benéfica em diversas
sociedades com instituições fracas, e depois, novamente, na sequência de progressos tímidos no
sentido da consolidação democrática após a reintrodução das eleições multipartidárias nos anos 90
 Em cada uma destas manifestações, a questão central tem sido a mesma – a democratização – mas o
contexto e a natureza do debate tem variado. Mais recentemente, a China tornou-se um exemplo a
seguir, enquanto o Ruanda é o poster-child dos caminhos autoritários para o desenvolvimento
 O enigma: a democracia liberal é possível e deve ser o objetivo das sociedades africanas vs. o foco
comunitário da identidade política africana não se coaduna com as noções europeias de democracia
liberal, na qual se espera que o eleitor opere como um indivíduo maximizador de utilidade
 O problema é a própria democracia ou o tipo particular de democracia que tem sido experimentada
no continente como resultado da tendência para implementar modelos americanos, britânicos e
franceses?
 A atenção tanto dos líderes políticos como dos académicos tem-se debruçado na questão de como
deve ser a democracia africana. A conclusão tem sido de que, em contraste com a democracia
ocidental, deve-se colocar uma maior ênfase na participação e no consenso e menos preocupação nos
indivíduos que votam em eleições multipartidárias
 Em forte contraste com os anos 60, muitos dos movimentos que emergiram colocaram
explicitamente os valores democráticos no centro do seu apelo e mesmo nos seus nomes: Frente
Democrática Unida na África do Sul, o Movimento para a Democracia Multipartidária na Zâmbia, a
União para o Triunfo da Renovação Democrática no Benin, etc.
 A unidade e o fervor destes movimentos não era um produto ocidental, mas antes radicava na
frustração popular com o fracasso dos regimes de partido único e militares pós-independência. Com
poucas exceções, estes sistemas políticos proporcionaram níveis dececionantes de crescimento
económico, infraestruturas fracas, serviços públicos de má qualidade, sociedades divididas e
estruturas estatais ineficientes e predatórias
OIs em África:
o União Africana (Addis Abeba, 2001): 55 estados-membros, vários órgãos diretivos.
o Substitui a Organização de Unidade Africana (1963)
o Várias organizações económicas regionais: § a União do Magrebe Árabe (AMU)
o Mercado Comum da África Oriental e austral (COMESA)
o Comunidade dos Estados do Sahel e do Sara (CEN-SAD)
o Comunidade da África Oriental (EAC)
o Comunidade Económica dos Estados da África Central (ECCAS)
o Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO)
o Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD)
o Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC)

Várias questões de sobreposição, quadros pouco claros e a consequente falta de congruência política limitam
uma maior integração. O facto de as instituições nacionais serem porosas à ingerência política complica
ainda mais a questão.
União Africana, Ato Constitutivo:
 “INSPIRADO pelos nobres ideais que guiaram os pais fundadores da nossa Organização Continental
e gerações de Pan-Africanistas na sua determinação de promover a unidade, solidariedade, coesão e
cooperação entre os povos de África e Estados Africanos”
Objetivos:
 Alcançar uma maior unidade e solidariedade entre países africanos e povos de África
 Defender a soberania, integridade territorial e independência dos seus Estados Membros
Notas aula:
Futuros em África:
 Democracia (de que tipo?) vs. Populismo e lutas de poder das elites, desenvolvimento versus
exploração de recursos, direitos humanos versus regimes autocráticos, etc.
 O futuro em termos de democracia, desenvolvimento social e económico, direitos políticos e reforço
institucional é ainda enigmático
 Estes são os elementos que definem a maioria dos debates sobre o continente africano e os vários
países africanos, dentro e fora da academia
 A Conferência Europeia de Estudos Africanos (ECAS2023) deste ano é precisamente sobre o futuro
de África
Formalidade: cobrança de impostos, normas instituídas, etc.
Informalidade: corrupção, entidades que se sobrepõem às normas instaladas, etc.
Aula (19/04/23)
Como é que sabem que há portugueses em sítios do país que nunca visitaram?
O que é o nacionalismo?
o Uma ideologia que tem por base a nação
o O que é uma nação?
o O que defende o nacionalismo?
o O que é um Estado-Nação?
o Como se constitui? O que procura criar?
o Qual é o argumento mais essencial?

Escolas de pensamento:
 Escola primordialista: Pierre van de Berge; a genética das populações, a história genética da
humanidade; as formações étnicas e as fusões e divisões de grupos; tenta identificar grupos étnicos
milenares
 Escola perenialista: as nações são versões atualizadas das comunidades étnicas que as precederam;
recusa do argumento sociobiológico da escola primordialista; para os perenialistas, as comunidades
étnicas são fenómenos sociais e humanos que sempre existiram no seio das sociedades durante a
História que se conhece
 Escola modernista: nega a existência de nações ou etnias no período pré-moderno anterior à
Revolução Francesa e Americana; a génese é o estado, que cria – imagina ou inventa – nações onde
previamente não as havia e referências a sentimentos de pertença sem ligação real ao que existia
anteriormente em determinado território. É sobretudo construtivista. Os hinos, as bandeiras, a arte,
etc. construídos e doutrinados em determinada sociedade
Que elementos contribuíram para que se tornasse dominante?
 1534: Martin Luther publica a tradução do novo testamento do grego antigo para o alemão
 A língua vernacular e o ‘print capitalism’
 Duas revoluções: Francesa e Americana
 Lutas sociais
 Guerras, conflitos religiosos, formatação de fronteiras
O que é a etnicidade?
o Conjunto de elementos que servem de denominador comum a uma dada população: língua; religião;
construção racial; cultural; tradição; ancestralidade comum; laços de sangue
Qual é a diferença entre uma nação e um grupo étnico?
 Reivindicação política
Conflitos étnicos (?):
 Dissolução da ex-Jugoslávia (1992)
 Conflito Nargono-Karabakh
 Desmembramento da União Soviética (1991)
 Genocídio no Rwanda (1994)
 Violência na África do Sul durante o fim do Apartheid (1980s – 94)
 A ETA e o País Basco § Conflito na Irlanda do Norte
 A guerra civil da Nigéria (1967-1970)
 Conflitos étnicos e/ou nacionalistas tendem a produzir consequências que se repercutem durante
décadas
Instrumentalização? The Death of a Nation – documentário
Integridade territorial:
o Que tipo de ameaça à integridade territorial? Secessão – “Separação de uma região de um estado
soberano com o intuito de criar outro”; irredentismo – “Secessão de uma região de um estado com
vista à integração noutro estado vizinho”
Métodos de resolução:
 Métodos de eliminação de diferença:
 Genocídio: “O assassínio sistemático de pessoas que partilhem características em comum, ou que
sejam conotadas como as partilhando, ou a destruição indireta de uma comunidade através da
destruição deliberada das conduções que lhes permitem uma reprodução biológica e social”
 Transferência forçada de populações: “Transferência de uma comunidade étnica transplantada do seu
país e obrigada a viver noutro lugar, por uso de força ou de aspectos burocráticos, como repatriação
forçada”
 Partição e/ou secessão (autodeterminação)
 Integração e/ou assimilação: “Adoção de políticas cujo intuito assenta em dirimir diferenças étnicas,
criando uma identidade em todos os habitantes de determinado estado se possam rever.”
 Controlo hegemónico do aparelho de poder: funciona melhor em regimes autoritários; falha em
democracia, já que existe espaço para oposição política e livre associação
 Federalização (acarreta partilha de poder): “O federalismo pode ser um acordo benéfico onde as
partes em conflito acordam legitimidade à descentralização de vários elementos administrativos e
governativos do estado central em prol das regiões”; força consensos em matérias do foro estatal e
pacífica muitas das reivindicações por autonomia ou até secessão; limites: pressupõe uma
organização geográfica da população em determinado território
 Consocionalismo (Arend Lipjhart, 1969): as democracias consensuais apresentam quatro fatores –
um governo de coligação que envolva todas as partes que procuram representação política;
representação proporcional nas decisões políticas e no setor público; autonomia das comunidades em
termos de governação; vetos constitucionais a todas as minorias. Limites: a possibilidade de
paralisação total do estado por falta de consenso
Eliminação de conflitos: genocídio; transferência forçada de populações; partição e/ou secessão
(autodeterminação); integração e/ou assimilação
Gestão de conflitos: controlo hegemónico do aparelho de poder; federalização (acarreta partilha de poder);
consocionalismo
Notas aula:
Há três escolas de pensamentos relevantes: a escola primordialista; a escola perenialista; escola modernista
Escola primordialista: a genética das populações, a história genética da humanidade, as formações étnicas e
as fusões e as fusões e divisões de grupos; tenta identificar grupos étnicos milenares
Escola perenialista: as nações são versões atualizadas das comunidades étnicas que as precederam; recusa do
argumento sociobiológico da escola primordialista; as comunidades étnicas são fenómenos sociais e
humanos que sempre existiram no seio das sociedades durante a história que se conhece.
Escola modernista: nega a existência de nações ou etnias no período pré-moderno anterior à revolução
francesa e americana; a génese é o estado, que cria – imagina ou inventa – nações onde previamente não as
havia e referências a sentimentos de pertença sem ligação real ao que existia anteriormente em determinado
território. É, sobretudo, construtivista. Os hinos, as bandeiras, arte, línguas e expressões, etc., são
construídos em determinada sociedade.
Que elementos contribuíram para que se tornasse dominante: ‘print capitalismo’ – capitalismo de imprensa,
casas de imprensa, em vez de haver um padre a passar a limpo a grego antigo e latim, há vários autores que
argumentam que este capitalismo no centro da Europa, associado às logicas do protestantismo, é o que hoje
dá vantagem de desenvolvimento e industrialização a países da Alemanha, isso é comprovado pelas elevadas
taxas de alfabetização.
O que é a etnicidade? Conjunto de elementos que servem de denominador comum a uma dada população:
língua, religião, construção racial, cultural, tradição, ancestralidade comum, laços de sangue.
Qual é a diferença entre nação e grupo étnico? Reivindicação política
Conflitos étnicos (?): estes conflitos não podem ser apenas analisados pela lente nacionalista e ética, há uma
série de fatores internos e externos que intervêm na análise destes conflitos.
Instrumentalização: documentário Beath of a Nation
Integridade territorial: que tipo de ameaça à integridade territorial? Secessão: “separação de uma região de
um estado soberano com o intuito de criar outro”; irredentismo: “secessão de uma região de um estado com
vista à integração noutro estado vizinho”
Métodos de resolução: métodos de eliminação de diferença – genocídio; integração e/ou assimilação –
adoção de políticas cujo intuito assenta em dirimir diferenças étnicas, criando uma identidade em todos os
habitantes determinado estado se possam rever; controlo hegemónico do aparelho de poder – funciona
melhor em regimes autoritários, falha em democracia; federalização (acarreta partilha de poder);
federalização – força consensos em matérias do foro estatal e pacífica muitas das reivindicações por
autonomia ou até secessão. Limites: pressupões uma organização geográfica da população em determinado
território; consocionalismo – as democracias consocionais apresentam quatro critérios: um governo de
coligação que envolva todas as partes que procuram representação política; representação proporcional nas
decisões políticas e no setor público; autonomia das comunidades em termos de governação – têm
autonomia para governar o próprio local onde vivem; vetos constitucionais a todas as minorias;; limites: a
possibilidade de total paralisação do estado por falta de consenso.
Eliminação de conflitos: genocídio; transferência forçada de populações; partição e/ou sucessão
(autodeterminação); integração e/ou assimilação.
Aula (21/04/23)
Ver doc. Responsability to protect
Responsabilidade de proteger:
 Na Cimeira Mundial das Nações Unidas, em 2005, todos os chefes de Estado e de Governo
afirmaram a responsabilidade de proteger as populações de genocídio, crimes de guerra, limpeza
étnica e crimes contra a Humanidade
 A responsabilidade de proteger recai sobre 3 pilares de igual valor:
 A responsabilidade de cada Estado de proteger as populações
 A responsabilidade da comunidade internacional de ajudar os Estados a proteger as suas
populações
 A responsabilidade da comunidade internacional em proteger quando um Estado não está
manifestamente a proteger as suas populações
Existem hoje uma série de situações em que as populações estão em risco dos crimes englobados na Rtop.
Estas crises estão a ocorrer num cenário de retrocesso do internacionalismo, de diminuição do respeito pelo
direito internacional humanitário e pelos direitos humanos, de desunião política em órgãos decisórios chave
como o Conselho de Segurança, e de um nível de derrotismo sobre a promoção de agendas ambiciosas como
a proteção.
É um facto que, apesar da emergência de grupos armados não estatais, as violações mais graves do direito
internacional humanitário e dos direitos humanos ainda são cometidas pelas forças armadas e milícias
auxiliares dos Estados.
Alguns Estados partes no Estatuto de Roma, através do qual foi criado o Tribunal Penal Internacional, ou
mesmo a tomar medidas para se retirarem do Estatuto para evitar a investigação e a acusação de crimes de
atrocidade.
No entanto…
Há acordo de que a prevenção está no centro da RtoP; que os esforços para ajudar os Estados a cumprir as
suas responsabilidades de proteção devem respeitar o princípio da propriedade nacional; que qualquer ação
coletiva internacional deve empregar toda a gama de medidas diplomáticas, políticas e humanitárias; e que a
força militar deve ser considerada apenas como uma medida de último recurso.
Os EM solicitaram mais esclarecimentos sobre a base para tomar medidas coletivas no âmbito do terceiro
pilar da RtoP, particularmente para considerar a autorização da força militar pelo Conselho de Segurança
quando os Estados não protegem as suas populações.
Qual é o problema?
Quem são os Uyghurs e porque é que a China está a ser acusada de genocídio?
 A Cinha tem sido acusada de cometer crimes contra a humanidade e possivelmente genocídio contra
a população Uyghur e outros grupos étnicos maioritariamente muçulmanos na região noroeste de
Xinjiang
 Grupos de direitos humanos acreditam que a China deteve mais de um milhão e Uyghurs contra a
sua vontade durante os últimos anos numa grande rede daquilo a que o Estado chama de “campos de
reeducação” e condenou centenas de milhares de pessoas a penas de prisão
 Os EUA estão entre os vários países que acusaram anteriormente a China de cometer genocídio em
Xinjiang. Os principais grupos de direitos humanos, a Amnistia Internacional e a Human Rights
Watch, publicaram relatórios que acusam a China de crimes contra a Humanidade
 A China nega todas as acusações de violações de direitos humanos em Xinjiang. O governo chinês
disse que a paz e a prosperidade trazidas a Xinjiang em resultado das suas medidas antiterrorismo
foram a melhor resposta a “todo o tipo de mentiras”
 Xinjiang é uma região maioritariamente deserta e produz cerca de um quinto de algodão do mundo
 Grupos de direitos humanos manifestaram preocupação pelo facto de grande parte dessa exportação
de algodão ser colhida por trabalhadores forçados, e em 2021 algumas marcas ocidentais retiraram o
algodão Xinjiang das suas cadeias de fornecimento. Há provas de que foram construídas novas
fábricas dentro dos campos de reeducação
 A região é também rica em petróleo e gás natural e devido à sua proximidade com a Ásia Central e a
Europa é vista por Pequim como um importante elo comercial
 No início do séc. XX, os Uyghurs declararam brevemente a independência da região, mas foi
colocada sob o controlo total do novo governo comunista da China, em 1949
Quais são as acusações contra a China?
o Vários países, incluindo os EUA, Reino Unido, Canadá e Holanda, acusaram a China de cometer
genocídio
o As declarações seguem relatos de que, para além de internar Uyghurs em campos, a China tem vindo
a esterilizar as mulheres Uyghur à força para suprimir a população, separando as crianças das suas
famílias e tentado quebrar as tradições culturais do grupo
o O secretário de Estado norte-americano Antony Blinken afirmou que a China está a cometer
genocídio e crimes contra a humanidade
o O parlamento britânico declarou em abril de 2021 que a China estava a cometer um genocídio em
Xinjiang
o O Instituto Australiano de Política Estratégica encontrou provas, em 2020, de mais de 380 destes
campos de reeducação em Xinjiang, um aumento de 40% em relação às estimativas anteriores
Qual foi a acumulação para a repressão?
 O sentimento anti-Han e separatista aumentou em Xinjiang, a partir da década de 90, por vezes
exaltando-se em violência. Em 2009, cerca de 200 pessoas morreram em confrontos em Xinjinag,
que os chineses culparam aos Uyghurs que queriam o seu próprio Estado. No entanto, nos últimos
anos, uma enorme quebra de segurança esmagou a dissidência
 Xinjiang está agora coberto por uma rede de vigilância generalizada, incluindo a polícia, postos de
controlo e câmaras que analisam tudo, desde placas de matrículas a rostos individuais. Segundo a
Human Rights Watch, a polícia está também a utilizar uma aplicação móvel para monitorizar o
comportamento das pessoas, tal como a quantidade de eletricidade que estão a utilizar e a frequência
com que utilizam a sua porta da frente
 Desde 2017, quando o presidente Xi Jiping emitiu uma ordem dizendo que todas as religiões na
China deveriam ser chinesas em orientação, tem havido mais crackdowns. Os ativistas dizem que a
China está a tentar erradicar a cultura Uyghur
O que diz a China?
 A China nega todas as alegações de violações dos direitos humanos em Xinjiang. Em resposta aos
Ficheiros da Polícia de Xinjiang, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês disse à
BBC que os documentos eram "o último exemplo de vozes anti China a tentar difamar a China".
Disse que Xinjiang gozava de estabilidade e prosperidade e que os residentes viviam vidas felizes e
realizadas
 A China diz que a repressão em Xinjiang é necessária para prevenir o terrorismo e erradicar o
extremismo islamita e os campos são um instrumento eficaz para reeducar os reclusos na sua luta
contra o terrorismo
 Insiste que os militantes Uyghur estão a fazer uma campanha violenta por um Estado independente,
conspirando atentados à bomba, sabotagem e agitação cívica, mas é acusada de exagerar a ameaça
para justificar a repressão contra os Uyghurs
 A China rejeitou as alegações de que está a tentar reduzir a população Uyghur através de
esterilizações em massa como "sem fundamento", e diz que as alegações de trabalhos forçados são
"completamente fabricadas"
 "A comunidade internacional, através das Nações Unidas, tem a responsabilidade de utilizar meios
diplomáticos, humanitários e outros meios pacíficos apropriados, de acordo com os Capítulos VI e
VIII da Carta, para ajudar a proteger as populações de genocídio, crimes de guerra, limpeza étnica e
crimes contra a humanidade
 Neste contexto, estamos dispostos a tomar medidas coletivas, de forma atempada e decisiva, através
do Conselho de Segurança, em conformidade com a Carta ...
 E em cooperação com as organizações regionais relevantes, se os meios pacíficos forem inadequados
e as autoridades nacionais falhem manifestamente na proteção das suas populações contra genocídio,
crimes de guerra, limpeza étnica e crimes contra a humanidade..."
 Declaração de princípios da Cimeira Mundial da ONU, 2005
Assim, quem vai tomar uma ação coletiva em cooperação com organizações internacionais relevantes…
contra a China?
Notas aula:
Responsabilidade de proteger: a responsabilidade de proteger recai sobre três pilares – a responsabilidade de
cada Estado de proteger as suas populações; a responsabilidade da comunidade internacional de ajudar os
Estados a proteger as suas populações; a responsabilidade da comunidade internacional de ajudar quando os
Estados.
Alguns Estados signatários do estatuto de Roma, não estão a cooperar com o Tribunal.
No entanto, há acordo entre as partes de que a prevenção está no centro do Rtop; que os esforços para ajudar
os Estados a cumprir as suas responsabilidades de proteção devem respeitar o princípio da propriedade
nacional; que qualquer ação coletiva internacional deve empregar toda a gama de medidas diplomáticas,
políticas e humanitárias; que a força militar deve ser considerada apenas como uma medida de último
recurso. Temos assistido ao desenvolvimento de redes regionais e globais dedicadas à responsabilidade de
proteger e prevenir crimes de genocídio. Em larga medida, são redes de comunicação que partilham
informação rapidamente.
Os EM solicitaram mais esclarecimentos sobre a possibilidade… qual é o problema? As próprias lógicas, a
própria constituição do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
A China implementou campos de reeducação contra a população Uyghur, no sentido de achar que são
propensos ao terrorismo, por serem uma população minoritária em relação à etnia maioritária – Han. Os
Uyhur, no séc., tinham declarado brevemente a independência, afetando aquela que era a integridade
territorial da China.
Acusações contra a China: acusaram a China de cometer genocídio por países ocidentais, como os EUA,
RU, Canadá e Holanda; esterilizou as mulheres, separou as crianças das famílias e tentando quebrar as
tradições culturais do grupo;
Estudo de caso:
Qual foi a acumulação contra a repressão: o sentimento anti-Han e separatista aumentou em Xinjang, por
vezes exaltando-se em violência; Xinkang está agora coberto por uma rede de vigilância generalizada; em
2017, Xi Jiping emitiu uma ordem dizendo que todas as regiões na China deveriam ser chinesas com
orientação (Han)
O que diz a China? A China nega todas as acusações, de que todos os leaks são uma tentativa de
desestabilizar a China, e de que a repressão em Xinjang são necessárias para combater o terrorismo.
Quem vai tomar a ação coletiva em cooperação com organizações regionais relevantes com a China?
Ninguém.
A verdade é que por muito que os EUA, a China, etc. fizessem genocídios, nenhum país teria capacidade
para invadir qualquer um deles.
MATÉRIA IMPORTANTE PARA A FREQUÊNCIA
Aula (26/04/23)
Guerras ‘velhas’:
 Max Weber, o Estado moderno reivindica monopólio do uso legítimo da força (importante para a
frequência)
 No sistema de Vestefália, as guerras eram travadas entre Estados; incluíam uma declaração formal de
guerra, o movimento de tropas e uma divisão clara entre combatentes e não-combatentes; e
terminavam com uma trégua ou um contrato de paz
 Todos estes elementos fazem parte do entendimento de Karl von Clausewitz da guerra como "um ato
de violência destinado a compelir o nosso adversário a cumprir a nossa vontade" e que ficou célebre
por considerar "a guerra como a continuação da política por outros meios"
 Os grupos militares privados podem complementar ou substituir esta função central do Estado,
protegendo os Estados contra a insurreição armada
Guerras novas:
o Mary Kaldor argumentou que as guerras entre estados diminuíram substancialmente em número
relativamente às guerras civis, assinalando o fim das guerras velhas entre estados
o Este facto é captado na tese das "novas guerras". Em contraste com as "velhas" guerras entre estados,
as novas guerras têm mudado pelo menos em cinco aspetos:
 São predominantemente de natureza intra-estatal
 Envolvem novos tipos de atores, como as empresas militares privadas
 São travadas devido a políticas étnicas, religiosas ou de identidades, em vez de serem
motivadas pelo alargamento territorial
 A guerra é mais brutal, visa civis e resulta numa maior perda de vidas
 São financiadas por uma economia de guerra globalizada que faz da guerra um fim em si
mesma (capitalismo consegue encontrar e criar mercados onde dantes não havia)
Private Military Companies:
o Desde o fim da guerra fria, a reformulação da política e do orçamento militar do Estado, apoiada por
uma tendência geral de privatização económica, levou à criação de um importante e lucrativo setor
privado de segurança internacional (o modelo dos países capitalistas venceu a guerra fria porque
também se espalhou por muitos outros países)
o A ascensão das empresas militares privadas (PMC) e das empresas de segurança privada (PSC) deve
ser entendida num contexto mais vasto de privatização de funções governamentais, como a
segurança e a defesa
o O setor das PMC oferece uma vasta gama de serviços, com algumas empresas a empregarem mais de
10 mil pessoas. No Iraque e no Afeganistão, o Exército dos EUA recorreu a empresas militares
privadas e a empresas de segurança privadas para atividades que vão desde o apoio logístico a tarefas
de guarda e formação, como a construção de bases militares e a preparação de alimentos para os
militares, a segurança das bases militares dos EUA e a gestão de armamento e formação das novas
forças militares e policiais iraquianas
Existem diferentes tipos de PMC, que vão da segurança às atividades militares. As suas atividades podem
ser divididas em três setores principais: empresas de prestação de serviços militares que podem incluir o
serviço em combate na linha da frente; empresas de consultoria militar que prestam aconselhamento
estratégico e formação; empresas de apoio militar que prestam serviços de logística, manutenção e
informação às forças armadas.
As operações de paz da ONU funcionam como um instrumento para manter a paz e a segurança
internacionais, sendo que o objetivo inicial e principal é o apoio à implementação de um cessar-fogo ou de
um acordo de paz após um determinado conflito. Estas operações baseiam-se em três princípios:
consentimento das partes, o que implica que uma operação de manutenção de paz só pode ser enviada se
todas as partes em conflito concordarem com ela (significa que para uma operação de paz ser enviada, tem
de haver consentimento); imparcialidade, ou seja, uma operação de manutenção de paz da ONU não pode
dar algum tipo de vantagem a uma das partes do conflito, referindo-se ao carácter pacífico da missão, mas
permitindo algumas exceções quando o uso da força é autorizado pelo Conselho de Segurança; não
utilização da força exceto em autodefesa e defesa do mandato (por exemplo, nas missões de paz da guerra
do congo foi autorizada a utilização da força).
Muitas destas operações de paz fracassam, não conseguem implementar a paz. Existem fracasso e muito
cansaço, com o prolongar da guerra. Na Bósnia, a ONU não segue evitar o genocídio. Tem-se falado
enormemente do uso da força, ou seja, até que ponto se consegue proteger os civis sem o uso da força. Se a
integridade física dos civis estiver ameaçada, a intervenção da ONU pode ser mais robusta.
A mudança para operações de manutenção de paz militarizadas envolve riscos acrescidos dos soldados
nestas missões, portanto, se criar uma coligação de tropas para o Mali ou para o Congo, com armamento, é
possível que alguns destes soldados morram em combate, isto envolve problemas políticos pela morte destes
soldados, assim, o recrutamento começa a ser mais focado, com uma intervenção militar mais robusta. Em
2015, mais de 1500 em manutenções de paz já tinham sido mortas. As robustas missões de manutenção de
paz são frequentemente prejudicadas pela falta de pessoal, de equipamento adequado e de liderança
necessários para conduzir estas operações ofensivas.
Assim, a dificuldade em recrutar pessoal para um número crescente de conflitos violentos levou a ONU a
recorrer cada vez mais a empresas militares privadas nas missões de manutenção de paz. Não só temos
exércitos formados que recorrem a empresas militares de segurança privadas. A ONU tem sido amplamente
criticada por esta prática. Em primeiro lugar, a história mostra que os funcionários destas empresas privadas
não têm responsabilidade democrática e que, por conseguinte, a aplicação de uma abordagem de “segurança
dura” conduz a uma maior insegurança no contexto específico do seu mandato, frequentemente associada a
indivíduos privados que abusam do poder. Este abuso de poder tem criado uma maior insegurança, portanto,
a ONU recorre a segurança privada para estabilizar o conflito, no entanto, muitas vezes gera mais
instabilidade. Em segundo lugar, esta abordagem manifesta-se na chamada “bunkerização”, que se refere ao
facto de o pessoal da ONU estar cada vez mais protegido e, por conseguinte, isolado da população na região
do conflito, quebrando a confiança da população, impede que a população esteja próxima da ONU, por
exemplo, deixa de dar emprego a locais. Este facto tem como consequência uma menor aceitação local do
pessoal da ONU, o que conduz a uma maior insegurança para as missões da ONU destacadas, gerando um
ciclo vicioso.
O segundo argumento contra a contratação destas empresas privadas é a falta de transparência e de
responsabilidade, porque não existem normas, um protocolo que diga o que se pode ou não se pode fazer,
demasiado problemático, porque não há capacidade para dizer o que se está a fazer, essa informação fica
dentro da elite. Há uma falta de responsabilização total, porque se não se sabe quem lá está e o que faz, não
se consegue responsabilizar as pessoas. Portanto, há muitas sombras na aplicação jurídica destas empresas
militares privadas.
Mercenários, combatentes ou civis? Nada disto parece adequar-se à variedade das suas atividades e à
complexidade dos critérios estabelecidos por lei para cada categoria. A categoria de mercenário não é grande
ajuda para regular as atividades da PMC por duas razões principais: para começar, existem muitos poucos
elementos que regulem o uso da força pelos mercenários, uma vez que o primeiro objetivo das convenções
sobre os mercenários não é regular, mas sim eliminar esta prática através da criminalização das atividades
mercenárias.
O problema da transparência e da responsabilidade vai desaguar ao problema da Black Water, uma empresa
privada, que tinha arquivos que foi comprada por um grupo financeiro, não sendo então revelados para o
público. A Reuters fez a mesma coisa, mudou o nome para Xe Services, depois das mortes que fizeram no
Iraque, de forma a esconder a atrocidade que tinham cometido. A própria ONU não consegue compreender a
filosofia destas empresas e como se pode levá-las à justiça. Não é possível levar estas empresas à justiça,
porque podem simplesmente mudar de nome para fugir à justiça.
Ppts:
Operações de paz da ONU:
 O confronto das forças de manutenção da paz com novas situações de conflito e pós-conflito
conduziu a vários casos de fracasso destas missões. Os exemplos das missões de manutenção da paz
no Ruanda e em Srebrenica, na Bósnia, ilustraram o fracasso das Nações Unidas em evitar genocídio
e em proteger civis
 Questões sobre a eficácia do não uso da força em relação à proteção dos civis. Em 1999, as Nações
Unidas introduziram pela primeira vez o mandato de Proteção dos Civis
 A doutrina da Proteção dos Civis é uma condição constante para as operações de manutenção da paz
da ONU. Consequentemente, são cada vez mais os mandatos de manutenção da paz adotados ao
abrigo do Capítulo VII da Carta das Nações Unidas, autorizados a utilizar "todas as medidas
necessárias" para cumprir o seu mandato, em especial para proteger os civis quando estão sob
ameaça iminente de violência física
 A Missão de Estabilização da Organização das Nações Unidas na RDC (MONUSCO) e a Missão
Multidimensional Integrada de Estabilização das Nações Unidas no Mali (MINUSMA) são dois
exemplos recentes em que o Conselho de Segurança autorizou operações de manutenção da paz ao
abrigo do Capítulo VII, transformando-as nas chamadas missões de manutenção da paz robustas
 A mudança para operações de manutenção da paz militarizadas envolve riscos acrescidos para os
soldados nessas missões, onde eles próprios se tornam frequentemente alvos
 Em fevereiro de 2015, o número total de vítimas mortais nas atuais missões de manutenção da paz
ascendia a 1 564. Para piorar a situação, as robustas missões de manutenção da paz são
frequentemente prejudicadas pela falta de pessoal, de equipamento adequado e de liderança
necessários para conduzir estas operações ofensivas
 A dificuldade em recrutar pessoal para um número crescente de conflitos violentos e complexos
levou a ONU a recorrer cada vez mais a empresas militares e de segurança privadas (PMSC) nas
missões de manutenção da paz. As tarefas das PMSC incluem segurança armada e desarmada,
avaliação de riscos, formação em matéria de segurança, apoio logístico e consultoria
 A ONU tem sido amplamente criticada por esta prática. Há dois argumentos principais contra a
contratação de PMSCs para fins da ONU
 Em primeiro lugar, a história mostra que os funcionários destas empresas privadas não têm
responsabilidade democrática e que, por conseguinte, a aplicação de uma abordagem de "segurança
dura" conduz a uma maior insegurança no contexto específico do seu mandato, frequentemente
associada a indivíduos privados que abusam de poder
 Além disso, esta abordagem da resolução de conflitos manifesta-se na chamada "bunkerização", que
se refere ao facto de o pessoal da ONU estar cada vez mais protegido e, por conseguinte, isolado da
população na região do conflito. Este facto tem como consequência uma menor aceitação local do
pessoal da ONU, o que, por sua vez, conduz a uma maior insegurança para as missões da ONU
destacadas - um ciclo vicioso
Transparência e responsabilização:
o O segundo argumento central contra a contratação de PMSC pela ONU é a falta de transparência e
de responsabilidade. Não existem normas a nível de todo o sistema para a utilização de empresas
privadas nos mandatos da ONU, não existe uma lista completa das empresas privadas contratadas
pela ONU e o sistema não efetuou uma análise política exaustiva do impacto desta prática
o Nem as Convenções de Genebra nem a Convenção das Nações Unidas sobre a Utilização de
Mercenários, de 1989, fornecem a regulamentação (juridicamente vinculativa) necessária para
regular o sector
o Relatórios internacionais, como o Documento de Montreux de 2009, estabeleceram que o direito
internacional se aplica às PMSC, o que implica que não existe um vazio jurídico relativamente às
suas atividades. Assim, o pessoal das PMSC não goza de imunidade de ação penal por crimes
cometidos no âmbito de uma missão da ONU
o No entanto, a realidade parece ser bem diferente, com uma cultura de impunidade para os crimes
cometidos por empresas de segurança privadas, repetidamente fomentada por governos poderosos,
bem como pela ONU, que precisam das PMSC
Aula (28/04/23)
Transparência e responsabilização:
 Pesquisa rápida na página da Wikipédia da empresa Blackwater: ‘Constellis, formerly known as
Blackwater, is an American private military contractor founded on December 26, 1996 by former
Navy SEAL officer Erik Prince. It was renamed Xe Services in 2009, and was again renamed
Academi in 2011 after it was acquired by a group of private investors. In 2014, Academi merged
with Triple Canopy, a subsidiary of Constellis Group. Later, Academi was fully integrated into the
parent company, and operates under the name Constellis. In September 2016, Constellis was bought
by Apollo.’
 Reuters: The company was founded by former U.S. Navy SEAL officer Erik Prince and changed its
name to Xe Services LLC in 2009 after the deadly 2007 shootout in Iraq tarnished the Blackwater
brand; in 2010, Prince sold the company to two private equity firms, Forte Capital Advisors and
Manhattan Strategic Ventures, who renamed the business ACADEMI and pledged to run it with
better governance; In 2014, its financial owners took another step to distance themselves from the
Blackwater brand by merging the company with another private security firm, Triple Canopy, to
form Constellis Holdings. Under Apollo’s ownership, the company has expanded through further
acquisitions.’;
Mercenários, combatentes ou civis?
 Pode ser tentador qualificar os funcionários das PMC como mercenários ou combatentes em vez de
civis. No entanto, nada disto parece adequar-se à variedade das suas atividades e à complexidade dos
critérios estabelecidos por lei para cada categoria
 A categoria de mercenário não é de grande ajuda para regular as atividades das PMC por duas razões
principais. Para começar, existem muito poucos elementos que regulem o uso da força pelos
mercenários, uma vez que o primeiro objetivo das convenções sobre mercenários (ONU) não é
regular, mas sim eliminar esta prática através da criminalização das atividades mercenárias
PSCs and PMCs:
o Distinguir as "PMCs" de um grupo mais alargado de "empresas de segurança privada" (PSCs), com
base nas suas funções
o Algumas PSC recolhem e analisam informações, atuam como guardacostas ou guardas em
instalações físicas, ou são contratantes que fornecem alimentos, serviços de limpeza e outros bens e
serviços às forças militares do Estado no terreno
o Mas um tipo muito específico de serviço é prestado por aquilo a que se chama propriamente PMCs,
que constituem uma pequena minoria do enorme número de PSCs atualmente envolvidos em
contratos militares
o Mas um tipo muito específico de serviço é prestado por aquilo a que se chama propriamente PMCs,
que constituem uma pequena minoria do enorme número de PSCs atualmente envolvidos em
contratos militares
o As PMC contratam principalmente veteranos militares, muitas vezes com experiência em forças
especiais. O Grupo Wagner é uma "empresa de conflitos expedicionários letais" e uma "empresa de
prestação de serviços militares", apesar de os seus membros também desempenharem por vezes
funções mais alargadas de CSP (como a guarda)
Grupo Wagner:
 Um debate prolongado na Duma sobre o estatuto das PMC na Rússia indica que as elites que estão
dentro ou perto do Kremlin têm estado a ponderar se e como as legalizar. No entanto, desde o início
de 2019, grupos como o Wagner não têm estatuto legal na Rússia
 Na sua conferência de imprensa anual de fim de ano, em dezembro de 2018, Putin turvou ainda mais
as águas, afirmando que "se Wagner violar alguma coisa, o Procurador-Geral deve avaliá-los. Mas se
não violarem as leis russas, podem exercer a sua atividade em qualquer parte do mundo"
 O que torna esta situação especialmente invulgar é o facto de a maioria das grandes potências do
sistema internacional terem legalizado e regulamentado as PMC
 Para a Rússia, as PMC também podem ser usadas pelos Estados para manter uma negação plausível
sobre o seu envolvimento secreto ou desonesto em aventuras no estrangeiro. Grupos de segurança
semi-estatais como Wagner são certamente uma componente da atual estratégia de "guerra de
informação" de Putin, utilizando a ofuscação na sua relação com o Estado para semear a confusão e
o caos entre os inimigos da Rússia
 No entanto, a explicação da negação plausível tem limites, especialmente quando se trata de
compreender a decisão de manter Wagner na ilegalidade
 Com tempo, a negação plausível tornou-se cada vez mais difícil de conseguir, porque os jornalistas
(russos e estrangeiros) conseguiram obter fotografias, documentos e entrevistas que contavam
histórias fiáveis do envolvimento de Wagner no estrangeiro. Seja qual for a utilidade que o grupo
Wagner continua a ter para o Estado russo, seria difícil argumentar que, nesta altura, a negação
plausível ainda é uma das principais razões para a sua utilização
 Com o passar do tempo, parece que a Wagner (ou em África, outra PMC financiada pelo patrono da
Wagner, Yevgenii Prigozhin) está a ser utilizada para outro fim: esbater a distinção entre as
atividades militares apoiadas pelo Estado no estrangeiro e o uso privado da força no estrangeiro por
um oligarca com um passado criminoso ligado a Putin
 Moscovo tem sido exigente em relação ao grupo Wagner. Yevgenii Prigozhin teve de ir a tribunal
para conseguir que o Ministério da Defesa russo pagasse os contratos que tinha assinado com ele
 No entanto, Prigozhin estava de volta ao Sudão e à RCA, com boas provas de que Wagner e outras
forças em regime PMC o acompanhavam tanto para guardar as suas concessões de mineração de
ouro e diamantes, como para treinar as forças militares do Sudão e da RCA
 Estes pontos sugerem que é a explicação referente à rede informal de corrupção que fornece uma
compreensão mais completa da utilização contínua de grupos como Wagner pela Rússia e da sua
decisão de ainda não legalizar as PMC. Sugere também que, embora por vezes Wagner possa
trabalhar em nome de interesses racionais do Estado, também envolve o Estado russo em riscos
físicos e de reputação
 Onde atua o Grupo Wagner: desde 2015, os mercenários do Grupo Wagner estão na Síria, ao lado
das forças pró-governamentais a defender os campos petrolíferos; há também mercenários do Grupo
Wagner na Líbia, apoiando as forças leais ao general Khalifa Haftar; a República Centro-Africana
convidou o Grupo Wagner para defender minas de diamantes. Pensa-se que também estejam a
guardar minas de ouro no Sudão; o governo do Mali, na África Ocidental, está a utilizar o Grupo
Wagner contra grupos militantes islâmicos
Iniciativa mercenária?
 O golpe de Estado de 2004 na Guiné Equatorial
 Organizado por agentes britânicos que foram detidos no Zimbabué em 2004, antes da conspiração
 O objetivo era destituir o presidente de longa data da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema
Mbasogo, com um novo presidente que, por sua vez, concederia direitos petrolíferos aos envolvidos
no golpe
 "Mark Thatcher admitiu o seu papel numa tentativa falhada de golpe de Estado na Guiné Equatorial
ao abrigo de um acordo judicial que o salvou da prisão. (...) O plano de golpe de Estado foi liderado
pelo antigo oficial da SAS e mercenário Simon Mann, um dos amigos e antigos vizinhos de Thatcher
na Cidade do Cabo
 Mann foi condenado a sete anos de prisão no Zimbabué pela sua participação na conspiração,
embora o seu advogado tenha revelado hoje que essa pena foi reduzida em três anos
 Cinco meses após as detenções no Zimbabué, Thatcher foi detido na sua casa na Cidade do Cabo e
acusado na África do Sul de violar a lei anti mercenários
Apontamentos aula:
Existem algumas diferenças entre as PSC e as PMC. As PMC são uma pequena minoria de um grupo
alargado de PSC e têm regimes jurídicos muito mais apertados do que as de PSC. As PMC treinam outros
para matar em ambientes estrangeiros, são em larga medida veteranos militares com muita experiência. O
grupo Wagner é uma empresa de prestação de serviços militares. As elites russas, em debates na Duma,
ponderam se legalizam a presença de empresas militares privadas. No entanto, como o parlamento decide
aquilo que as ordens superiores deliberarem. Em 2018, Putin afirmou que se o grupo respeitar as leis russas,
pode exercer a sua função militar em qualquer parte do mundo.
O que decorre nesta situação é que as potências que constituem a ONU legalizaram e regulamentar as PMC.
A Rússia mantém uma negação plausível relativamente ao envolvimento secreto das PMC no estrangeiro, ou
seja, se o líder russo não tiver supostamente conhecimento da atividade das PMC, não podem ter nada contra
ele e contra a nação russa, por não existir nada ilegal que o grupo Wagner faça. O que estas empresas
conseguiram fazer foi tomar conta do país, controlar políticos, etc.
No entanto, com tempo, a negação plausível tornou-se cada vez mais difícil de defender, também devido à
atividade jornalística que tem sido feita. A utilidade de grupos privados para o Estado russo tem sido cada
vez menor, devido à maior incapacidade de defender a sua utilização. Com o início da guerra, já não existiu
esta necessidade de defender o PMC, tendo em conta que na guerra vale tudo e, então, tem se observado o
grupo Wagner a ser o predominante na guerra.
Atualmente, o grupo Wagner tem trabalhado segundo os interesses do Estado russo, existe uma mistura
entre o exército militar russo e o grupo Wagner. O grupo Wagner atua na Síria, em Mali, na Líbia e na
República Centro-Africana. Esta relação entre as empresas de segurança privada e os Estados nem sempre
foi simbiótica, inicialmente não era. Esta relação começou-se a criar, porque os Estados e este tipo de líderes
começaram a perceber que podiam utilizar estas empresas para determinados fins, a nível jurídico por
exemplo. No entanto, uma empresa militar privada tem a sua própria política e lógicas de intervenção. Isso
foi observável no golpe de Estado na Guiné Equatorial, ou seja, o objetivo foi pegar numa empresa militar
privada, invadir um Estado pequeno, instalar um novo presidente, previamente escolhido, um “fantoche”,
que apenas tem de conceder direitos petrolíferos a uma empresa criada para fugir ao fisco. No entanto, este
plano de golpe de Estado falhou por completo, que teve a mão de Mark Thatcher (filho de Margaret
Thatcher), com o objetivo de privatizar empresas públicas petrolíferas. Foi um caso de imperialismo puro e
duro.
Aula (3/05/23)
Imperialismo: conquista; Império; guerra; domínio político, cultural, económico e militar; opressão.
 Política destinada a conquistar ou controlar povos e territórios estrangeiros
 A essência de um Estado imperial é que procura obter algum tipo de benefício dos Estados e povos
incapazes de se defenderem da sua força militar e económica superior
 Este benefício pode assumir a forma de poder, prestígio, vantagem estratégica, mão de obra barata,
recursos naturais ou acesso a novos mercados
 Os Estados imperiais atingiram os seus objetivos de várias formas. O método mais comum é a
conquista e a ocupação, mas o transporte de colonos e missionários, bem como o domínio dos
mercados, também contribuíram para manter um controlo efetivo sobre um império
 Houve impérios ao longo da história. Os egípcios, os assírios, os babilónios, os romanos e os
mongóis foram todos grandes impérios
 É habitual dividir o imperialismo europeu em duas fases. A Espanha, Portugal, a Grã-Bretanha, a
França e a Holanda constituíram a primeira vaga a partir de cerca de 1500, prosseguindo políticas
económicas amplamente mercantilistas
 A segunda vaga, por vezes designada por novo imperialismo, teve início na década de 1870 e
terminou finalmente em 1945. Foi liderada pela Grã-Bretanha, que no final do século XIX estava a
competir com grandes potências emergentes como a Alemanha e os Estados Unidos
 Existem cinco teorias principais sobre o imperialismo: lógica conservadora – acreditam que o
Imperialismo é essencial para preservar a ordem social existente nos Estados Imperiais, para conter
os conflitos do exterior; para os realistas, afirmam que o imperialismo é uma demonstração de
equilíbrio de poder, o aumento de território ajuda na manutenção do equilíbrio, se há uma lógica de
defender a comunidade, o realismo defende isso
 Cinco teorias principais sobre o imperialismo (ppts):
 Conservadores defendiam que o imperialismo era necessário para preservar a ordem social
existente nos Estados imperiais, de modo que os seus conflitos sociais internos pudessem ser
contidos e canalizados para o exterior. Este era o ponto de vista de figuras como Cecil
Rhodes e Rudyard Kipling
 Para os liberais, a crescente concentração da riqueza nos Estados imperiais conduzia ao
subconsumo das massas. A expansão imperial era uma forma de reduzir os custos de
produção e de assegurar novos mercados de consumo. O imperialismo era uma opção
política, não uma inevitabilidade
 Para os marxistas, a descrição liberal não é correta, uma vez que o Estado representa os
interesses do capital e não do trabalho. Segundo Lenine, o imperialismo representa a fase
final do capitalismo
 Os realistas, como Hans Morgenthau, defendiam que o imperialismo é, antes de mais, uma
manifestação do equilíbrio de poder e que faz parte do processo através do qual os Estados
tentam obter uma alteração favorável do status quo. O principal objetivo do imperialismo é
diminuir a vulnerabilidade política e estratégica do Estado
 Por último, há uma série de teorias sociopsicológicas que defendem que o imperialismo é
uma forma de comportamento aprendido que foi institucionalizado no Estado imperial por
uma "classe guerreira". Embora esta última tenha sido criada devido a uma necessidade
legítima de o Estado se defender, a classe guerreira dependia do imperialismo para perpetuar
a sua existência
 O “imperialismo económico” conota-se com o controlo estrangeiro de bens (o controlo da produção,
dos recursos não é assegurado pelo território onde eles existem, mas sim por um país estrangeiro) e
decisões, incluindo os casos em que esse controlo existe de facto (o que acontece verdadeiramente),
mas não de direito (o que devia acontecer)
 O imperialismo pode ser “formal” ou “informal”, “colonial” ou “pós-colonial” (como é que se
consegue exportar recursos naturais, bens de um país para outro se um país é independente), e
implica a transferência sem contrapartida do capital, trabalho ou recursos naturais de um país para o
outro
 O conceito de imperialismo tem dimensões políticas, culturais, sociológicas, ideológicas e
psicológicas distintas e incorpora múltiplas vertentes de interseção de desigualdades de classe,
género e nacionais que devem ser consideradas numa análise multidisciplinar e multivariada
(IMPORTANTE)
 Cinco modelos de imperialismo: o colonialismo, o neocolonialismo, o colonialismo de assentamento,
o imperialismo de investimento e o intercâmbio desigual, cada um deles baseado na opressão
nacional e reforçando-a. Estas noções podem ter nomes e conceptualizações diferentes, mas o seu
impacto é, em grande medida, o mesmo independentemente da nomenclatura
Imperialismo económico:
o A exportação de capitais sob a forma de investimento direto estrangeiro
o Antes da primeira guerra mundial, os países beligerantes apresentavam elevados níveis de
desigualdade de rendimentos e de riqueza (a procura da borracha, da manufatura da borracha
aumentou grandemente)
o Em vez de exportarem o seu capital excedentário, ou seja, investiram na fonte que lhes deu o
rendimento, a Grã-Bretanha, a França e, a partir de 1900, a Alemanha, drenaram capital do resto do
mundo, reimportando o rendimento dos seus investimentos anteriores
o Longe de serem prejudicados pelo seu consumo limitado, estes países consumiram parte do produto
dos outros
o O investimento estrangeiro concentra-se sobretudo nos países capitalistas mais desenvolvidos,
aqueles que têm um suposto excesso de capital. Uma parte substancial da dívida, do investimento
estrangeiro, vai para os países mais desenvolvidos. Este dinheiro não foi redirecionado para os países
tropicais de onde vinha a manufatura e de onde fomentavam este desenvolvimento. Dois terços do
dinheiro do investimento estrangeiro foram para os países do “Novo Mundo” (EUA). Assim, embora
muitos investimentos de capital no final do século XIX se tenham dirigido para países estrangeiros,
evitaram largamente as regiões tropicais que assistiram ao crescimento de impérios formais entre
1870 e 1900
o Entre 1865 e 1914, três quintos do investimento estrangeiro britânico e dois terços do investimento
estrangeiro europeu foram para regiões de colonização europeia recente, ou o "Novo Mundo", com
apenas um décimo da população mundial, enquanto pouco mais de um quarto foi para a Ásia e
África, onde viviam dois terços da população mundial
o A escassez de investimento estrangeiro nos países menos desenvolvidos acaba por refletir uma
superabundância de recursos naturais baratos. A mão-de-obra barata que substituía efetivamente o
investimento estrangeiro; os recursos naturais, economicamente vitais, abundantes e utilizados em
grandes quantidades
o Na produção de bens de exportação, os recursos naturais e a mão-de-obra tornaram-se a alternativa
mais eficaz ao capital estrangeiro
o O crescimento das filiais estrangeiras pode acelerar o desenvolvimento de países menos
desenvolvidos (cria postos de trabalho, aumenta o investimento, o rendimento). O crescimento é
inibida porque há uma concentração na sede da empresa, ou seja, por uma elevada concentração da
propriedade destas filiais por empresas transnacionais com sede num único país investidor, ou seja,
pela "concentração de filiais estrangeiras"
o O investimento estrangeiro gera uma saída líquida de capital, grande parte do rendimento gerado
nestas filiais vai para a empresa, acabando por não gerar muito investimento, podendo até gerar
pobreza, porque o ganho das filiais não é suficiente para sustentar a população
o O investimento estrangeiro gera uma saída líquida de capital sob a forma de lucros repatriados,
royalties, serviços e reembolso da dívida e dos juros através das receitas de exportação e de outros
fluxos de receitas. O que nos leva a lógicas de exploração de recursos (ppts)
Neocolonialismo:
 Os Estados são independentes, mas são suscetíveis a todas as lógicas de lógicas imperiais
 Poder dirigente (dirigentes locais, não da antiga metrópole), proporcionando vantagens (a mim e não
à própria população). Optam pelo enriquecimento pessoal e não na melhoria das condições de vida
da população
Aula (5/05/23)
Neocolonialismo:
 Kwame Nkrumah sobre neocolonialismo: "o Estado que lhe está sujeito é, em teoria, independente e
tem todos os traços exteriores de soberania internacional. Na realidade, o seu sistema económico e,
por conseguinte, a sua política, são dirigidos a partir do exterior.”
 O neocolonialismo é um sistema de dominação e exploração, investido e mantido pela antiga
potência ocidental, em que os instrumentos económicos, financeiros e militares funcionais para
manter no poder dirigentes dispostos a manter políticas favoráveis ao antigo colonizador,
proporcionando vantagens económicas e financeiras
 Se eu puser um dirigente à frente daquele país, ele vai me assinar uns contratos que eu quero que ele
assine, eu tenho uma serie de instrumentos para controlar algum tipo de revolta que possa acontecer
contra a política que ponho em prática. Há uma série de conflitos nos quais foram substituídos
inúmeros líderes. Na Costa de Marfim, o líder ao não ter compactuado com contractos económicos e
financeiros, foi organizada uma milícia para deitar o governo abaixo.
 A França foi o país dos antigos impérios coloniais que mais manteve a sua presença nas suas ex-
colónias
 Depois da independência, a presença dominante de Paris no antigo império assenta em três pilares:
 Fraca capacidade de manobra que estes dirigentes têm, por terem uma rede de peritos
franceses presentes ao nível do Estado dos países africanos, em estruturas financeiras,
institucionais e educativas
 A presença de tropas francesas estacionadas em várias bases militares em todo o continente,
bem como de numerosos conselheiros militares franceses ligados aos exércitos africanos em
funções de consultoria de alto nível
 Um pilar monetário através da CFA – porque é que há um pilar monetário se estes países se
tornaram independentes
A zona CFA:
o CFA é o nome comum das duas moedas que circulam nos 14 países membros da zona CFA
(Camarões, Costa do Marfim, Burquina Faso, Gabão, Benim, Congo, Mali, República Centro-
Africana, Togo, Níger, Chade e Senegal, GuinéBissau e Guiné Equatorial)
o Há duas comunidades económicas CEEAC e UEMOA
o As duas moedas são impressas pelo Banco de França – é essencial que o governo consiga imprimir
moeda para conseguir controlar a inflação, não tendo controlo nenhum daquilo que é a sua política
monetária
o A convertibilidade externa do CFA em ambas as comunidades é garantida pelo Tesouro francês
o Esta moeda é uma forma de manter relações de poder, económicas e militares com os seus países do
antigo império
o A própria génese do CFA é colonial e mesmo a divisão em dois CFAs diferentes segue a divisão
imperial francesa do continente
o Em 1959, foi criado o Banque Centrale des Etats de l'Afrique de l'Ouest (BCEAO), que começou a
emitir francos CFA. Foi criada uma instituição semelhante na África Central, o Banque Centrale des
Etats de l'Afrique Equatoriale et du Cameroun (BCEAEC)
o Ambos foram instituídos nas vésperas da independência da maioria das colónias africanas de França.
Embora a África Ocidental Francesa e a África Equatorial Francesa tenham desaparecido, a França
procurou manter relações políticas, culturais, económicas e militares privilegiadas e duradouras com
as antigas colónias
o O ajustamento da paridade com o euro, ou seja, se Paris disser que não quer que haja uma alteração
no valor de fixação entre o franco CFA em euro, ele assim decidirá
o Em troca da estabilidade, França retira grande fatia do seu tesouro, houve uma época que até retirava
100%, impedindo esses países de fazerem investimento público, etc. a única certeza que têm é que
nunca arrevessarão uma inflação ou deflação, pois têm uma economia estável
o Estes países têm certas obrigações por fazerem parte da CFA: são obrigados a depositar um mínimo
de 50% das suas reservas internacionais numa Conta de Operações em Paris; os membros são
obrigados a fornecer uma cobertura cambial para um mínimo de 20% das suas responsabilidades á
vista;
o Esta ideia de Conta de Operações é um aspeto muito controverso
o O valor externo do CFA é confiado à França
o A política francesa não diz onde é que investe o dinheiro que guarda no tesouro francês de todos
estes países, ou seja, esta grande fatia de dinheiro pode ser investida e lucrar muito mais, assim,
fazem dinheiro com o dinheiro da antiga colónia
o A competitividade nos preços das exportações é um dos grandes problemas destes países, devido à
taxa cambial fixa com o euro que torna o CFA uma moeda sobrevalorizada
o A maioria das economias africanas têm níveis muito baixos de diversificação, por exemplo, se o
preço do petróleo subir muito, os países que o produzem, ganham muito mais dinheiro, mas os países
que o recebem, perdem mais dinheiro pela subida do preço do gasóleo
o O valor da CFA não é económico, é político, de acesso a mercados, de manutenção de regimes, de
hierarquia de poder e de elites políticas, em prol do antigo império
o Enquanto o franco CFA estiver a ser constantemente controlado pelo tesouro francês nunca vai ver
uma relação que não seja de imperialismo e colonialismo. Assim, não é necessário existir uma
colónia e uma metrópole que exerce o seu poder para existir colonialismo
o Este é o caso mais óbvio de imperialismo económico

Ppts:
 A zona do franco CFA funciona de acordo com um número de normas operacionais:
 uma paridade fixa em relação ao euro, ajustável se necessário, mas apenas após consulta com
Paris e decisão unânime de todos os membros de cada zona monetária
 convertibilidade do franco CFA em euros
 a garantia dessa convertibilidade pela França através de cada banco central regional que
detém uma conta junto do Tesouro francês em Paris
 livre mobilidade de capitais entre as duas zonas CFA e a França
 a partilha das reservas de divisas de cada zona monetária regional
Intrínsecas ao acordo CFA estão as seguintes obrigações para os membros africanos da zona:
 Em primeiro lugar, os membros da CFA são obrigados a depositar um mínimo de 50% das suas
reservas internacionais numa Conta de Operações (compte d'opérations), localizada em Paris, no
Tesouro francês (imediatamente após a independência, este valor era de 100 por cento, e de 1973 a
2005, de 65 por cento)
 Em segundo lugar, os membros são obrigados a fornecer cobertura cambial para um mínimo de 20%
das suas responsabilidades à vista, ou seja, o total de depósitos que são reembolsáveis à vista
 Por último, os membros são obrigados a estabelecer um limite máximo para o crédito concedido a
cada país membro da CFA, equivalente a 20% das receitas públicas desse país no exercício
financeiro anterior. Desde 2001, este imperativo foi alterado e os países da CFA que necessitam de
financiamento devem recorrer ao mercado financeiro e emitir obrigações
A zona CFA:
o A Conta de Operações é um dos aspectos mais controversos da CFA. Ao estipular o depósito de uma
percentagem tão considerável das reservas externas dos membros da CFA numa conta dirigida (e
operada) pela França, localizada em Paris, os Estados membros entregaram efetivamente o controlo
da sua política monetária à França
o O valor externo do CFA é assim confiado à antiga potência colonial, na antiga capital colonial. O
resultado líquido é que o controlo sobre a oferta de moeda, os regulamentos monetários e financeiros
e, em última análise, as políticas orçamentais e económicas, estão nas mãos do antigo colonizador
o No que respeita à conta comum, nenhum país africano pode dizer que parte do capital lhe pertence.
A política francesa não permite a divulgação de informações sobre o investimento deste capital pelo
Tesouro francês
o Não se sabe ao certo onde é que os fundos são investidos, se há algum retorno lucrativo dos
investimentos e para onde vai esse lucro (se é que existe algum). No entanto, alega-se que as reservas
constituíram pelo menos uma parte da contribuição francesa para os empréstimos concedidos aos
países falidos da zona euro durante o crash financeiro de 2008
o Para agravar a situação, os Estados membros da CFA não podem utilizar este capital como garantia
para obter linhas de crédito, uma vez que as reservas cambiais são detidas em nome do Tesouro
francês
o Em todas as suas diferentes expressões, os fundamentos estruturais significativos do CFA
permanecem neocoloniais. De facto, o CFA é intrínseco à Françafrique, uma realidade que reflete o
facto de as elites dominantes francesas nunca terem equiparado a descolonização ao recuo, nem
terem aceitado plenamente a ideia da independência africana
o As economias da zona CFA enfrentam grandes problemas de competitividade nos preços das suas
exportações, devido à taxa de câmbio fixa com o euro que, como já foi referido, torna o CFA uma
moeda sobrevalorizada
o O Senegal, por exemplo, registou uma sobrevalorização da taxa de câmbio real estimada entre 10% e
35% em 2013-2014. A força do CFA funciona então como um imposto efetivo sobre as exportações
e um subsídio às importações
o O peso das exportações torna extremamente difícil alimentar indústrias nascentes que possam
contribuir para a diversificação, sem contar com o facto de que as reservas estrangeiras que podem
ser utilizadas para esse fim são mantidas na Conta de Operações em Paris
o É sabido que as economias africanas apresentam níveis muito baixos de diversificação e que,
segundo todas as medidas, a diversificação das economias africanas tem sido limitada. Os países
CFA são particularmente problemáticos a este respeito
o Os mecanismos de funcionamento e as políticas monetárias impostas a esses países são em grande
parte responsáveis pelo facto de o franco CFA não ser um instrumento de desenvolvimento. Uma
ilustração deste fracasso reflete-se na realidade económica e social destes países, quase todos
classificados como países menos desenvolvidos (PMD) ou como países pobres altamente
endividados
o O verdadeiro valor do franco CFA não é económico. É político. Com efeito, os Estados membros da
zona não têm uma política monetária nacional própria. A definição da política monetária para estes
países continua a ser da competência da França"
o Levanta questões preocupantes sobre a política francesa em África e a cumplicidade das elites da
Françafrique. De facto, as instituições e normas associadas ao CFA reproduzem uma relação
hierárquica entre a França e as suas antigas colónias

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