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Introdução
O Brasil foi o último país a pôr fim ao regime escravagista, e mesmo no pós-
abolição os negros continuaram segregados da modernização do país à luz do
referencial europeu (ALMEIDA, 2017). O processo de tentativa de branqueamento,
com a iniciativa de trazer imigrantes europeus para os trabalhos remunerados nas
plantações, além da negação ao trabalho assalariado aos negros alforriados,
reiterou o processo de negação de identidade e empurrou os negros e negras para a
marginalização ao negar-lhes o direito ao trabalho e subsistência. Este projeto
colonizador europeu foi de forma veloz e silenciosa deslocando os (as) negros (as)
dos espaços de visibilidade que foram por eles conquistados a duras penas em sua
trajetória individual e coletiva no período que antecedeu a República (ALMEIDA,
2017, p.34).
Para entender a questão racial no Brasil é necessária uma lente crítica, que
considere a constituição das condições econômicas, sociais, culturais e políticas dos
negros e as representações do escravismo e da abolição inconclusa com suas
reedições cotidianas, “ na formação social em termos de produção econômica e
reprodução da cultura, das subjetividades e do pertencimento racial” (Madeira, 2017,
p.25). Este saldo do colonialismo se reedita na política sobre drogas e no
encarceramento da população negra e periférica brasileira. Assim pretende-se
apresentar algumas contribuições para o debate intersecional entre raça, classe e o
proibicionismo das drogas, ainda que sem o aprofundamento necessário
considerando o limite desta escrita de artigo.
Cabe referir que as drogas nem sempre foram combatidas e que o alçar da
questão como uma problemática social importante é uma construção social do
século XX que chega ao século XXI como uma das maiores questões para a
sociedade. Pode-se inferir que cada pessoa se perguntada sobre o que pensa sobre
a questão das drogas poderia emitir uma opinião, um depoimento, uma história.
Embora a discussão ainda se situe numa polarização entre contra e a favor, proibir
ou regulamentar, algumas questões importantes ainda não estão devidamente
colocadas no debate.
No Brasil o proibicionismo das drogas sempre esteve pautado pelo racismo
institucional, as marcas escravocratas da constituição da democracia brasileira
sempre foi uma constante, embora fosse se transformando guardava a essência
racista e classista em seu bojo. Precisa ser demarcado que, por ser o racismo
estrutural, se constitui como elemento alicerçante das divisões de classe,
permanente na sociedade capitalista, assim não ficou restrito ao modo de produção
escravista colonial (MADEIRA, 2017, p.27). Associada a essa discussão destaca-se
que na última década o Brasil promoveu políticas compensatórias e ações
afirmativas a fim de:
aliviar e remediar as condições resultantes de um passado de discriminação
cumprem uma finalidade pública decisiva para o projeto democrático:
assegurar a diversidade e a pluralidade social. Constituem medidas
concretas que viabilizam o direito à igualdade, com a crença de que a
igualdade deve moldar-se no respeito à diferença e à diversidade. Por meio
delas transita-se da igualdade formal para a igualdade material e
substantiva (Piovesan, 2005. P.49)
Em 2006, o Brasil editou uma “nova” Lei de Drogas, no 11.343/06, que traz
avanços formais no reconhecimento de direitos de usuários e na estratégia
de redução de danos prevista. Esta lei, apesar de ter previsto a
despenalização do usuário (artigo 28), 15 aumentou a pena mínima do
delito de tráfico (artigo 33), de três para cinco anos, o que é apontado como
a principal causa do superencarceramento brasileiro. O país ocupa o 4o
lugar em números absolutos de presos, atrás somente dos EUA, da China e
da Rússia, com mais de 500 mil presos no total, sendo o tráfico a segunda
maior causa de encarceramento (cerca de 26%). (2015, p.02)
Referências