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Resenha do livro "A Sociedade Desigual - Racismo e Branquitude na

formação do Brasil", de Mário Theodoro, 1a. Edição; editora Zahar; 2022.

Rosalvo de Oliveira Júnior1

O livro em referência tem 447 páginas com prefácio, introdução, 6 (seis)


capítulos, um epílogo, agradecimentos, notas e bibliografia. O argumento
principal do livro é que as desigualdades no Brasil só podem ser enfrentadas se
considerada a questão racial, sendo essa central para o desenvolvimento da
sociedade brasileira e do Brasil.
Já no "prefácio", de Hélio Santos, este coloca que Mário Theodoro
identifica o racismo “como elemento organizador da desigualdade no Brasil e
que os estudos sobre este tema têm pouca contribuição explicativa como
fundamento da desigualdade em um país de maioria populacional negra”. (p.
10).
Na "introdução", em seu primeiro parágrafo, o autor do livro coloca que
“tanto a pobreza quanto a miséria, e principalmente a desigualdade tem raízes
na questão racial desde o descobrimento do Brasil” (p. 15). E após citar algumas
temáticas especificas de diversos estudos conduzidos por Wanderley Guilherme
dos Santos, Milton Santos, Raymundo Faoro, Sérgio Buarque de Holanda e
Celso Furtado conclui com a necessidade de avançar na reflexão e no esforço de
melhor compreender como a questão racial afeta a dinâmica da desigualdade
brasileira (p. 17).
Discorre sobre o significado de sociedade desigual (p. 17), branquitude (p.
20), necropolítica e biopoder (p. 22). E ressalta que trabalhos acadêmicos da
temática racial voltaram à cena e ganharam outra roupagem, destacando os
estudos e obras de Silvio Almeida, Sueli Carneiro, Cida Bento, Marcelo Paixão e
Djamila Ribeiro.

1 Rosalvo de Oliveira Junior é especialista em Meio Ambiente e Recursos Hídricos do estado da Bahia
(quadro efetivo), graduado em ciências do mar e engenharia agronômica, com mestrado em
Desenvolvimento Sustentável e Políticas Públicas. Trabalha na Secretaria do Meio Ambiente da Bahia /
Diretoria de Planejamento e Política Ambiental - DIPPA; e-mail: rosalvo.junior@sema.ba.gov.br e
rosalvojr@gmail.com ; telefone: 71/99660-3942. Endereço: SEMA/SPA-DIPPA (5° andar); Avenida Luís
Viana Filho, 6 a. Avenida, n° 600, CAB, Salvador-Bahia; CEP.: 41.745-90.
E embora existam muitos elementos na reprodução da sociedade desigual,
o autor centra o conteúdo do livro naqueles que considerou como principais
potencializadores, tais como o “mercado de trabalho, os sistemas de saúde e
educação, a distribuição espacial da população e a ação da justiça e segurança
pública” (p. 27). Esses temas terão seus conteúdos aprofundados nos capítulos de
2 à 6 do livro, precedido das discussões teóricas e metodológicas do capítulo 1 e
finalizado no "epílogo".
No "Capítulo 1", de título "O desafio de se estudar o racismo como
elemento organizador da sociedade desigual: aspectos teóricos e
metodológico" (p.31), é abordado questões tais como a desigualdade e o racismo
na teoria econômica (p.34); o racismo e reprodução das desigualdades (p.48); os
mecanismos de reprodução da desigualdade (p.54); a construção do instrumental
teórico (p.63) e sobre a sociedade anômala (p.87).
No "Capítulo 2", de título "Mercado de trabalho, desigualdade e
racismo" (p.90), é iniciado discorrendo sobre as origens do mercado de trabalho
desigual no Brasil (p.97); a consolidação do mercado de trabalho no Brasil no
período pós-1930 (p.122); o final do século XX e as duas décadas perdidas
(p.139); a virada do século: um novo país emergente? (p.150) e o preconceito,
exclusão e subalternidade (p.166). Este capítulo coloca como o racismo se
expressa no mercado de trabalho, reproduzindo as desigualdades, que
secularmente afeta o Brasil, onde o “país escravista aboliu a escravidão formal,
embora nunca tenha abolido a desigualdade herdada do escravismo” (p.96).
No "Capítulo 3", de título "O papel da educação e da saúde na
construção da desigualdade" (p.171), o autor analisa com exemplos, ao longo
da história, como as políticas públicas de educação e saúde são transmissoras da
desigualdade e reprodução do racismo, mostrando os seus desdobramentos.
Discorre sobre tais questões iniciando o texto com os primeiros tempos da
política social: a raiz africana em questão (p.173); pela eugenia no período
Vargas: O Brasil em questão (p.181); com o pós-guerra e o desenvolvimento:
saúde e educação segmentada (p.198) e o Brasil pós-Constituição de 1988:
Novos caminhos, velhos desafios (p.207). Conclui o capítulo com o fim do sonho
inclusivo (p.230).
No "Capítulo 4", de título "Quilombos, favelas, alagados, mocambos,
palafitas e a periferia: a ocupação do espaço na construção da
desigualdade"(p.233), o autor demonstra que “o local de moradia é uma história
de exclusão e de apartação territorial” (p. 234). E inicia este capítulo com as
questões do espaço no Brasil Colônia e no Brasil Império: Quilombos, quintais e
quitandas (p.235); prossegue sobre o século XX e o combate às áreas urbanas
insalubres: favelas, mocambos, alagados e periferias (p.243); chegando ao século
XXI com a consolidação da desigualdade e da pobreza: violência e impunidade
(p.263). Finaliza o capítulo discorrendo sobre o apartheid espacial (p.274).
No "Capítulo 5", de título "Violência e ausência de justiça: a
consolidação da sociedade desigual" (p.277), o autor expõe textualmente como
a questão do racismo é operada pelas instituições judiciárias e de segurança
pública. E como essa forma de atuar destas instituições põe em evidência o
funcionamento da sociedade desigual, tornando-se um “elemento aglutinador, a
amálgama, o sedimento da sociedade desigual e seu principal sustentáculo”
(p.278). Neste capítulo discorre sobre a violência racial como forma de
sedimentação da sociedade desigual (p.279); o estado policial e a expansão da
violência (p.292); o judiciário e a desigualdade racial (p.308) e a violência
multifacetada contra os negros (p.320).
No "Capítulo 6", de título "Juntando as partes: as bases gerais da
sociedade desigual" (p.323), é realizada uma síntese do que foi escrito em
capítulos anteriores, realizando considerações sobre a sociedade desigual, que se
expressa como,
o racismo e seus desdobramentos, em níveis macro e micro,
forjam, ao longo do tempo, uma institucionalidade
discricionária, que reforça a desigualdade e ao mesmo
tempo a legitima...em resumo, o racismo se desdobra em
discriminação e preconceito no cotidiano, nas relações
pessoais, no trabalho, nas escolas, nas repartições públicas,
nos hospitais e postos de saúde, nos bares e nas esquinas e
o combustível para esses comportamentos é a vigência em
nível macro de outras facetas desse mesmo racismo: a
branquitude, que legitima a ideia de superioridade de poder
do branco; o biopoder, que desincumbe o estado de
qualquer obrigação ou responsabilidade social para com a
população negra; e por fim, e mais diretamente letal, a
necropolítica, que faz o Estado o executor de uma política
de morte e genocídio. (p. 335)

O conteúdo do "Epílogo", de título "O papel do ativismo negro, um


contraponto necessário" (p.363), enfatiza a importância do movimento negro na
desconstrução da desigualdade, que permanece na história brasileira.
Diante do exposto, a contribuição da publicação para o tema da
desigualdade consiste em que:
"a preservação da desigualdade racial, no caso brasileiro,
não significa apenas a convivência com disparidades
consistentes e permanentes em diversas áreas. O quadro
socioeconômico historicamente construído molda a
existência de diferenciais raciais que organizam a profunda
desigualdade que caracteriza o país, permitindo que, lado a
lado, convivam grupos de alta e média renda, sobretudo
brancos, assistidos por políticas públicas e pelo chamado
Estado de direito, e populações sem plenas condições de
trabalho decente, negras em sua maioria, destituídas de uma
renda minimamente capaz de lhes proporcionar qualidade
de vida e privadas de garantias relacionadas à cidadania
social ou civil" (p. 372).

E, também, que:
"o fim do racismo como elemento estruturante é condição
incontornável para a construção de uma sociedade mais
igual e para o desenvolvimento inclusivo. Enfrentar a
desigualdade depende de reconstruir valores comuns e
democráticos ligados à alteridade, à diversidade, à
solidariedade e à garantia da lei e dos direitos individuais e
sociais” (p. 377).

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