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Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Práticas Pedagógicas em Ciências Sociais I

Thaisa Nascimento Alves

Resenha
Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira

Março
2021
Em “Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira”, Lélia Gonzalez, inicia o artigo com uma
epígrafe com a intenção de provocar no leitor a indagação sobre o porquê da identificação
do dominado com o dominador, ou seja, para que se questione o que ocorreu para que o
mito da democracia racial tivesse tanta aceitação e divulgação. Além disso, a autora
também chama a atenção para o fato de que “o lugar em que nos situamos determinará
nossa interpretação sobre o duplo fenômeno do racismo e do sexismo”. A partir de
algumas reflexões, ela aponta que as noções de mulata, doméstica e mãe preta fizeram
com que o discurso abordasse a questão da mulher negra numa outra perspectiva.

A autora traz, então, uma indagação via psicanálise a partir de uma alternativa proposta
por Miller. Ela questiona “por que o negro é isso que a lógica da dominação tenta (e
consegue muitas vezes, nós o sabemos) domesticar? E o risco que assumimos aqui é o do
ato de falar com todas as implicações.” E explica que há uma naturalização do racismo
na sociedade que impõe aos negros uma série de estereótipos e preconceitos, além de
infantilizá-los e falar deles e, diz ainda, que por isso é que “neste trabalho assumimos
nossa própria fala. Ou seja, o lixo vai falar, e numa boa”.

A filósofa traz os conceitos de consciência e memória, explicando como a primeira exclui


o que a segunda inclui, ou seja, “a memória fala através das mancadas do discurso da
consciência” e esse jogo entre elas, diz Lélia, é chamado de dialética. Para exemplificar,
ela traz o Carnaval, pois é o momento de endeusamento das mulheres negras que
desfilam, o grande momento da democracia racial.

No entanto, é no dia a dia desta mulher, quando ela se transforma na empregada


doméstica, que, aponta Lélia “a culpabilidade engendrada pelo seu endeusamento se
exerce com fortes cargas de agressividade. É por aí, também, que se constata que os
termos mulata e doméstica são atribuições de um mesmo sujeito. A nomeação vai
depender da situação em que somos vistas”.

A autora traz o conceito de “mucama” através de uma série de exemplos e conclui que
foi a partir desta figura que se fez o engendramento da mulata e da doméstica, a segunda,
em outro momento, a filósofa chama de “mucama” permitida, pois tem praticamente
todas as funções que uma mucama possuía na época da escravidão. Lélia trabalha, então,
com esse jogo entre a consciência e a memória, apontando que mulheres negras são vistas
como pessoas de malemolência perturbadora ao mesmo tempo em que são vistas como
indignas de casamento pela mesma figura que “endeusa a mulata” no Carnaval: o homem
branco.

Lélia replica um trecho de um livro de Caio Prado Júnior também para exemplificar o
jogo entre memória e consciência e diz que ele “afirmou esquecidamente” que o amor da
senzala só realizou o milagre da neurose brasileira, graças a essa coisa “simplérrima” que
é o desejo.

Quando a autora traz a noção de “mãe”, ela diz que é “exatamente essa figura para a qual
se dá uma colher de chá é quem vai dar a rasteira na raça dominante”, pois é a “bá” quem
exerce todas as funções maternas para o filho do homem branco, a mulher branca é apenas
quem pariu. Portanto, escreve Lélia, “ela é a mãe nesse barato doido da cultura brasileira”.
Lélia explica que “quando a gente fala em função materna, a gente tá dizendo que a mãe
preta, ao exercê-la, passou todos os valores que lhe diziam respeito prá criança brasileira,
como diz Caio Prado Júnior. Essa criança, esse infans, é a dita cultura brasileira, cuja
língua é o pretuguês.”

A partir daí, a autora utiliza diversos exemplos para retratar que quando se evoca a figura
do pai na cultura brasileira “tá se falando de função simbólica por excelência”. A filósofa
traz o ditado popular “Filhos de minha filha, meus netos são; filhos do meu filho, serão
ou não” para cravar a função paterna na sociedade brasileira, ou seja, é muito mais questão
de assumir do que de ter certeza, ela não é outra coisa senão a função de ausentificação
que promove a castração, segundo Lélia.

A autora traz a figura dos heróis como ninguém melhor para exercer a função paterna e
cita Zumbi, Ganga-Zumba e Pelé. No rodapé, Lélia chama a atenção para a forma como
Zumbi, no imaginário popular nordestino, é aquele que faz as crianças levadas se
comportarem melhor. Devotando a este, um papel paterno, de vigilância e educação dos
filhos. Ela contrapõe, ainda, as datas comemorativas de 20 de novembro e 13 de maio e,
ao destacar que a primeira nada tem a ver com a segunda, conclui destacando que “não
deixa de ser um modo de assunção da paternidade de Zumbi e a denúncia da falsa
maternidade da Princesa Isabel. Afinal a gente sabe que a mãe-preta é que é a mãe”.

Por fim, Lélia conclui que como a batalha discursiva, em termos de cultura brasileira, foi
ganha pelo negro, ao europeu, branco e dominador, desbancado do lugar do pai, sobrou
apenas, “como diz o Magno, o papel do tio ou o corno; do mesmo modo que a européia
acabou sendo a outra”.
Referências Bibliográficas

GONZALEZ, Lélia. Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira. In: Revista Ciências


Sociais Hoje, Anpocs, 1984, p. 223-244.

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