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Direitos sexuais e identidade de gênero


são direitos humanos – onde está a ideologia?

Marcelo de Trói

O objetivo desse artigo é oferecer argumentos para


demonstrar que os direitos sexuais e as identidades de gênero
devem ser pensados como direitos humanos. O pesquisador inicia a
discussão sobre o conceito de ideologia, revelando o que está em jogo
quando se articula a ideia de “ideologia de gênero”, uma das bases
do Escola Sem Partido. Com apoio, na filosofia, na psicanálise, e
rememorando os marcos dos direitos humanos e suas relações com
os direitos sexuais, o artigo demonstra como discussões
relacionadas ao tema se refletem na cultura e no comportamento. O
texto revela ainda como a invenção de polêmicas a partir de temas
que dizem respeito à vida de populações minorizadas fornece uma
blindagem à implementação de políticas neoliberais.
Inicialmente, convém pensarmos que o conceito de ideologia
sofreu diversas transformações desde que surgiu em 1801. Marilena
Chauí (1980) fez uma genealogia do termo para demonstrar a
maneira como ideologia e dominação de classe estão intimamente
ligadas. O próprio Marx, criticando os ideólogos alemães, conservou
“o significado napoleônico do termo: o ideólogo é aquele que inverte
as relações entre as ideias e o real” (CHAUÍ, 1980, p.11). É de
“inversão de relações” que se trata o surgimento e ascensão do
termo “ideologia de gênero”, pois, pretende-se, com isso, confundir
a sociedade com ideias que não encontram base na realidade, ao
contrário, a realidade aponta quem são os verdadeiros ideólogos do
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gênero que exigem, não sem violência, que uma única forma de
existência seja legitimada e possuidora de direitos. Mas não basta
perpetuar a hegemonia, o que se coloca, na atualidade, é o
impedimento de que outras pessoas tenham acesso aos direitos
previstos constitucionalmente: o respeito à pessoa e aos direitos
humanos, sem distinção.
Questionando o senso comum no campo político conservador
de que os assuntos emergentes relacionados aos gêneros e as
sexualidades se tratam de “ideologia de gênero”. Ao contrário, tais
temáticas se inserem no contexto dos direitos humanos e indicam
uma mudança social em curso, sendo consequências da luta pela
visibilidade de populações historicamente marginalizadas e
minorizadas. Veremos que os/as acusadores/as são os/as
verdadeiros/as ideólogos/as de gênero, ou seja, transformam as
“ideias da classe dominante em ideias dominantes para a sociedade
como um todo” (idem, p.36). A classe a qual me refiro é a dos grupos
que atingiram hegemonia social intrinsecamente ligados a uma
maneira compulsória, colonial e histórica de lidar com tudo que se
relaciona ao gênero e à sexualidade 1. Não à toa, tais ideólogos/as se
escondem em ideias como o Escolas Sem Partido que defende uma
“isenção” falaciosa a respeito do conhecimento. A ideologia do
Escola Sem Partido, como veremos, visa o silenciamento dos/as
professores/as e do conhecimento, para garantir uma visão que não
encontra base nos fatos, nem nas Ciências.
Outra manipulação fundamental para esses grupos é a noção
de direitos humanos. Eles já se expressam sem pudor e afirmam o
lema higienista: “direitos humanos para humanos direitos”. A
sugestão do bordão punitivista é que, na sociedade, por natureza, há
bons e maus, os que são “direitos” e os merecem e os que não são. E
é evidente que, nessa lógica canhestra, quem vai definir quem está
do lado bom ou mau também são “eles”. Tais argumentos

1 Paul Preciado afirma que papéis e práticas sexuais, atribuídos “naturalmente” ao sexo masculino e
feminino, são um “conjunto arbitrário de regulações” que permite a exploração de um sexo sobre o
outro (PRECIADO, 2014, p.26).
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expressam nenhuma preocupação com os efeitos dessas falas


políticas no cotidiano, contrariando as noções de convivência,
civilidade, isonomia, laicidade e todos os princípios da Constituição
de 1988. Na visão dos que conquistaram hegemonia social, a saber,
a sociedade heterossexual branca, reprodutiva e cisgênera 2, não há
humanidade, por exemplo, nas travestis e pessoas trans, vítimas
preferenciais da violência 3 no Brasil, tão pouco nas pessoas negras,
grupo majoritário nas prisões e nos assassinatos em massa nas
periferias urbanas. Essa hegemonia congrega operários,
empresários, pobres, ricos e contraventores e outras forças
aparentemente antagônicas da estrutura social, mas que se unem a
partir do campo conservador em prol de seu mundo. Essa classe
também é responsável e guardiã de um outro tipo de produção, a
produção de subjetividades alinhadas ao ideal do patriarcado e
àquilo que visa conservar o modo paranoico da sociedade a partir de
Édipo 4 (DELEUZE, GUATTARI, 2010), ou seja, um sujeito dócil, que
deseja as forças repressoras sob as quais está assentada toda a lógica
fascista e capitalista, com alta capacidade de produção da
axiomática, em suma, produção da “verdade” incontestável, com
promessa de felicidade futura. Operando pela falta, cumprir com as
expectativas sociais desses grupos, com casamento e filhos, lhes
conferem um outro status social. E, curiosamente, segundo hipótese
da pesquisadora Mônica Barbosa, com a qual corroboro, essa classe
é movida por rancor e frustração, pois mesmo alimentando as
expectativas engendradas pela hegemonia, suas vidas são

2 Cisgênero diz respeito à pessoa que está confortável com o gênero atribuído no nascimento. Para
compreender a relação entre colonialismo, cisgeneridade e normatividade, consulte Vergueiro (2015).
3 Dados de 2008-2015 do Transgender Europe – TGEU 2017 revelam o calamitoso número de 2.190
travestis e pessoas trans assassinadas em todo o mundo, sendo o Brasil responsável por 868 mortes.
Dados disponíveis em: <http://transrespect.org/es/>. Acesso em: 14 ago. 2018.
4 O chamado Complexo de Édipo é uma das bases da psicanálise criada por Sigmund Freud e teve
como inspiração o mito de Sófocles (sec. V a.C.). Para Freud, se trata de um conceito universal para
compreender o desenvolvimento humano e a formação do inconsciente a partir da perspectiva da
“falta”. Deleuze e Guattari (2010) criticaram a universalidade do conceito e, numa longa argumentação,
demonstraram que ele é uma ficção, sendo o inconsciente uma produção incessante de fluxos e desejos.
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insuportáveis, com infelicidade, violência e depressão. Além de


cooptar esse exército ungido por deus no axioma “ide e multiplicai-
vos”, essa hegemonia também constrói discursos que retiram a
qualidade de humano de determinadas pessoas.
Ao responder a pergunta sobre “quem tem direito aos direitos
humanos”, Berenice Bento (2017) afirmou que a “humanidade” das
pessoas não é autoevidente: “Quando se mata uma travesti, a
motivação do crime está na negação daquele corpo em coabitar o
mundo humano, que é dividido em homem-pênis e mulheres-
vagina” (BENTO, 2017, p.24). Ela conclui que tensionar a
compreensão do que é direito humano evidencia as disputas
travadas para dizer quem é ou não humano.
Esse tensionamento se faz necessário nos dias atuais, quando
forças alinhadas ao autoritarismo têm rifado os direitos humanos de
determinadas pessoas. Na minha análise (e isso está sugerido por
muitos pesquisadores), o crescimento da extrema direita no Brasil,
antidemocrática, do “cidadão de bem” (SOLANO, 2018) está ligada
a uma conjuntura que aponta para a implantação de um capitalismo
de desastre (KLEIN, 2008) no Brasil, ou seja, um modelo de
mercado que explora a crise, uma doutrina de choque, que tem o
objetivo de radicalizar o neoliberalismo com a precarização da vida
e do campo social em detrimento do lucro. As questões de gênero e
sexualidade são vistas como ameaça à hegemonia e encontraram
adesão no campo social a partir da moralidade, da fragilização e
deterioração política e econômica do país, na criação de inimigos
públicos:

O fantasma da “ideologia de gênero” tem contribuído para


angariar adesão a grupos de interesses que defendem pautas que
representam o primeiro grande retrocesso em matérias de
cidadania desde a Constituição de 1988. Da citada censura ao
termo gênero nos planos de educação, à reforma trabalhista, à
tentativa de flexibilização das normas contra o trabalho escravo, às
propostas de “leis da mordaça” até as perseguições ao trabalho
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intelectual, artístico e docente que marcaram os últimos anos.


(MISKOLCI, 2018, p.11).

Se a criação do termo “ideologia de gênero” serviu para


unificar o campo conservador em aproximação com pautas
neoliberais, ele não deixa de refletir uma crise no regime de
produção da verdade e na epistemologia do gênero binário.
Voltemos ao seio familiar, onde essa história cruzada entre o campo
social e subjetivo começa. Quando a mãe vai ao médico fazer o
ultrassom, mais do que identificar problemas de saúde, ela vai para
saber se o bebê que está em sua barriga é “mulher ou homem”, o
que em tese se resume em descobrir se o feto tem vagina ou pênis.
A partir dali, uma série de procedimentos e discursos pré-
elaborados terão início, o que inclui separar o que pertence a cada
um dos “gêneros” binários. Quarto e roupas azuis para os meninos,
cor-de-rosa para as meninas, futebol para os primeiros, boneca para
as segundas. Regras sobre como se sentar, se vestir, falar como
“homem” ou “mulher” permearão toda infância e boa parte da vida
adulta. Essa construção discursiva das práticas e relações de gênero
e sexualidade é o que Judith Butler, eleita a bruxa a ser queimada na
nova inquisição pelos conservadores, chama de caráter
performativo do gênero, ou seja, maneiras de ser e práticas
expressas em “atos performativos”, discursos que estabelecem
relação de verdade, autoridade e autenticidade, e sem os quais não
existiria gênero algum (BUTLER, 2003).
Considerando que as cores vão ser impostas como
pertencentes a determinado “gênero”, que brinquedos e
brincadeiras serão interditados, que relações afetivas sexuais serão
incentivadas desde a infância em prol da “preservação” da família e
da heterossexualidade, que provas a mais serão necessárias para
afirmar tais práticas como uma “ideologia de gênero”? Dentre
muitos aspectos, o que torna a ideologia 5 impossível de se remover

5 Deleuze e Guattari (2010) consideram a ideologia um conceito ruim que ocultaria os verdadeiros
problemas que estariam na infraestrutura. O desejo, para eles está, no campo da produção social e do
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é a ideia de que ela não é produzida pelos seres humanos, mas, ao


contrário,

(…) atribuem a origem da vida social a forças ignoradas, alheias às


suas, superiores e independentes (deuses, Natureza, Razão,
Estado, destino, etc.), de sorte que as ideias cotidianas dos homens
representam a realidade de modo invertido e são conservadas
nessa inversão, vindo a construir os pilares para a construção da
ideologia. (CHAUÍ, 1980, p.33)

Essa evidente ideologia de gênero terá como ferramenta a


violência simbólica e física para os que não se adaptarem a
obrigatoriedade. São atitudes compulsórias, normatizadoras,
coerções, imposições que todos os indivíduos sofrem tão logo
nasçam, a exemplo das pessoas intersexuais, ou seja, corpos que
possuem uma ambiguidade corporal que não permitirá designá-los
como machos ou fêmeas. Muitos bebês, tão logo ocorra o
“diagnóstico”, são submetidos à cirurgia de “designação sexual”,
nem sempre por uma questão de saúde ou risco de morte, mas por
uma questão “estética” que, em última instância, se trata de
generificar compulsoriamente e rapidamente quem se encontra na
linha cruzada dos sexos. Isso é feito pelo olhar do médico, quase
sempre de maneira patologizante, como analisa Garbelotto (2016)
em sua pesquisa que se estende para o campo do Direito:

A partir do olhar do fenômeno da intersexualidade, tendo como


lente os direitos humanos, a submissão da pessoa ao “tratamento”
pela equipe multidisciplinar, ainda muito jovem, sem condições de
escolha, pode retratar uma afronta aos princípios constitucionais,
em especial aos direitos humanos, incluindo nele o direito ao
próprio corpo (autodeterminação) e o direito à história pessoal.
(GARBELOTTO, 2016, p.72)

inconsciente, não tendo a ver com ideologia, mas com o colocar em risco o inconsciente de um grupo
ou de um período.
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Se os problemas, para muitos desses corpos, começam antes


ou desde o nascimento, para os que se enveredam para os caminhos
desviantes da norma não será menos violento. Qualquer
identificação com códigos e práticas do gênero que não lhe foram
atribuídos/as ao nascimento, ou mesmo uma desidentificação com
o gênero binário, desinteresse sexual, será motivo para coerções
sociais que se estendem para adolescência e a vida adulta. No
caminho da discriminação e na violação de direitos, a escola, depois
da família, vai ser o laboratório da violência:

As inúmeras teses e pesquisas produzidas por pesquisadores (as)


de universidades brasileiras apontam que a escola é um dos
espaços mais violentos para as crianças que apresentam
comportamentos “não adequados” para os “costumes
heterossexuais”. Não basta falar de bullyng, palavra asséptica, que
não revela o heteroterrorismo a que essas crianças e adolescentes
são submetidos. A reiteração de agressões verbais e físicas contra
meninos femininos e meninas masculinas desfaz qualquer ilusão
de que a heterossexualidade é um dado natural. Desde que
nascemos, somos submetidos diariamente a um massacre:
“Comporte-se como menina, feche as pernas, seja homem, menino
não chora”. A produção da heterossexualidade é um projeto diário
e violento. (BENTO, 2017, p. 198).

Por isso, é tão importante pensar numa política pública para


educação que possa contemplar os direitos humanos, um maior
respeito às diferenças, evitando o terrorismo contra essas pessoas,
discriminação que leva a evasão escolar. Para as pessoas cisgêneras,
ou seja, que estão confortáveis com o gênero atribuído no
nascimento, o mundo está muito mais aberto, mesmo com outra
orientação sexual (e, diga-se de passagem, que não seja aparente,
que seja “discreta”; caso contrário as violências também
acontecem). Contudo, para aquelas que performam feminilidade,
para as pessoas que transitam de um gênero para outro, incidem
violências estruturais terríveis porque a cisgeneridade é vista como
padrão de normalidade (VERGUEIRO, 2015). Tudo o que está fora
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disso é patologia, amparada por boa parte da medicina e das ciências


psi, totalmente inseridas e filtradas pelos conhecimentos cis
coloniais implantados na estrutura social e em todas as suas
instituições. Contra esse poder hegemônico, o Estado é quem
deveria proteger a vida de seus cidadãos. Garantir a vida a todas as
pessoas, independente de suas orientações sexuais e identidades de
gêneros, é um pressuposto que está na base das primeiras noções de
direitos humanos.
Os direitos humanos são um conjunto de saberes, políticos,
sociais, culturais e jurídicos, que visam proteger a dignidade
humana, sem distinção, e que possuem como marco a Declaração
Universal de Direitos Humanos das Nações Unidas, que completa 70
anos em 2018. A declaração surgiu em meio ao mundo horrorizado
com a crueldade do ser humano depois de duas guerras mundiais.
As lideranças procuraram estabelecer direitos inalienáveis que
pudessem orientar a humanidade até mesmo em momentos
extremos de destemperança. Antes de 1948, outros documentos
também tiveram como base a proteção da pessoa, como a
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789 (França),
a Carta Americana de Direitos, de 1791 (EUA), a Declaração
Americana dos Direitos e Deveres do Homem, de 1948 (Colômbia).
A Declaração da ONU, de 1948, impulsionou a criação de pactos
entre os países-membros e esses direitos foram reconhecidos
constitucionalmente em várias nações (VARGAS, 2007 apud
BARBOSA, 2016). Após esse período, diversas outras conferências
internacionais foram realizadas com vistas a garantir e ampliar tais
direitos. Uma das mais emblemáticas foi a Conferência
Internacional sobre População e Desenvolvimento do Cairo, de 1994,
“precursora do tema direitos sexuais, embora o termo não apareça
em seu relatório final, senão nas ressalvas feitas pelos
representantes dos países que são contrários ao conceito”
(BARBOSA, 2015, p.60). Em 1995, na IV Conferência Mundial sobre
as Mulheres, na China, o conceito de gênero e o empoderamento
feminino foram inovações do evento, mas foi ali mesmo que se
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cunhou a noção de “ideologia de gênero” por parte de intelectuais


laicos e lideranças religiosas católicas, a partir da “divergências entre
o pensamento feminista e seus interesses” (MISKOLCI, 2018, p.4).
Para Rogério Junqueira, a categoria “ideologia de gênero” é uma
invenção católica articulada entre os meados dos anos 90 e início
dos anos 2000, uma “retórica reacionária antifeminista” fundada
pela “Teologia do Corpo” do Papa João Paulo II com a colaboração
de Joseph Ratzinger, justamente para fazer frente as conferências de
1994 e 1995: “a matriz católica do discurso antigênero, a ofensiva
contra a ‘ideologia de gênero’ passou a contar com (…) mais do que
simples adesão, as igrejas neopentecostais souberam se apropriar
dessa retórica, sobretudo na América Latina” (LOWENKRON,
MOURA, 2017, sp). Dez anos depois, já no século XXI, outros eventos
foram realizados na tentativa de avançar. Em 2009, o Brasil lançou
o Programa Nacional de Direitos Humanos:

O documento inova ao incluir em seu texto a “desconstrução da


heteronormatividade”, mas o faz atrelado a questão das
identidades homossexuais. As ações programáticas do Objetivo
Estratégico V, que visam a “garantia do respeito à livre orientação
sexual e identidade de gênero” e o reconhecimento e “inclusão nos
sistemas de informação do serviço público de todas as
configurações familiares constituídas por lésbicas, gays,
bissexuais, travestis e transexuais” geram protestos das alas
conservadoras da sociedade, especialmente da bancada dos
evangélicos na Câmara dos Deputados. (BARBOSA, 2015, p.72)

No parlamento brasileiro existem discussões acumuladas


sobre o tema e muita desinformação a partir da atuação das
bancadas evangélicas com deus, a família e seus discursos
homofóbicos. Contudo, esses grupos não podem ser considerados os
únicos responsáveis pela assimilação e divulgação do termo
pejorativo “ideologia de gênero”, como explicou Miskolci (2018). A
disseminação da falsa noção de ideologia de gênero também estaria
associada a outros grupos contrários à ampliação do direito “sexuais
e reprodutivos na América Latina”, à preocupação com as demandas
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de cidadania pela população LGBT e ao reconhecimento das uniões


estáveis na Argentina, em 2010, e no Brasil, em 2011:

Cerca de uma semana depois do reconhecimento das uniões entre


pessoas do mesmo sexo pelo Supremo Tribunal Federal brasileiro,
o deputado Jair Bolsonaro 6 encabeçou movimento contra o
material que seria distribuído nas escolas para enfrentar a
discriminação e a violência contra homossexuais, bissexuais,
travestis e transexuais. Apelidando o material de “kit gay”, o
deputado logo contou com apoio da chamada bancada evangélica
e, de forma menos visível, mas até mais numerosa, de
congressistas católicos e conservadores agnósticos. Construía-se,
segundo Fernando F. Balieiro (2018), a imagem da criança sob
ameaça, estratégia bem-sucedida para atrair a atenção da mídia,
conseguir o veto de Dilma Rousseff à distribuição do material e,
sobretudo, forjar um movimento contra o avanço dos direitos
sexuais e reprodutivos no congresso. (MISKOLCI, 2018, p.5)

Em 2013, o deputado e pastor Marcos Feliciano (PODE –


Podemos, antigo PTN – Partido Trabalhista Nacional) foi eleito
presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, com a
conivência do governo Dilma Rousseff (PT – Partido dos
Trabalhadores), interessado em manter apoio parlamentar da
bancada evangélica no Congresso. Na comissão, o deputado
Anderson Ferreira apresentou o Plano de Lei 6583/2013, que propõe
o Estatuto da Família. Nos debates sobre o novo Plano Nacional de
Educação, em 2014, o movimento Escola Sem Partido, criado em
2004, mas desconhecido até então, passa a difundir o conceito de
“ideologia de gênero” e o discurso logo é incorporado pela bancada
evangélica e por vários outros grupos (MIGUEL, 2016 apud
MISKOLCI, 2018), incluindo jornalistas e formadores de opinião.
Revertendo os discursos em prol da humanidade, eles alegavam e
ainda alegam que essa “ideologia” vai “destruir a família”, legalizar
a “pedofilia”, “transformar meninos em meninas”, o que se trata

6 Presidente eleito do Brasil para governar de 2019-2022 pelo PSL – Partido Social Liberal em 28 out.
2018.
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apenas de um discurso difamatório contra diversos movimentos que


clamam pelo direito das pessoas em relação à identidade de gênero
e a orientação sexual, coisas que comumente são embaralhadas 7
nessas discussões, pois o objetivo é apenas confundir. Em 2015, com
a discussão e votação dos planos estaduais e municipais de educação,
a ofensiva se alastrou pelo país. Na Bahia, as palavras “gênero” e
“sexualidade” foram retiradas do plano estadual de educação depois
de um acordo entre o governo de Rui Costa, (PT), e a bancada
evangélica, representada pelo deputado estadual Pastor Sargento
Isidoro (TROI, 2018).
Contra esses esforços, a educação tem sido um campo em
disputa, principalmente porque os ideólogos querem retirar da sala
de aula o sentido secular de espaço de discussão, de dúvidas, de
questionamento dos poderes instituídos. Ao advogarem pela falácia
intitulada “Escola Sem Partido”, tentam aparelhar o ambiente
educacional com ideologias voltadas para o ensino religioso, para a
demonização da política e do debate, porque assim implementa-se a
ideologia que tem por objetivo criar categorias que não são dignas
de humanidade e o condicionamento para uma política voltada para
a produção da morte, escolhendo inimigos a serem combatidos e
eliminados do convívio social. É uma tentativa evidente de
“amordaçar o trabalho docente e a tentativa de amordaçar toda e
qualquer expressão das diferenças no seio da escola, esta última
também atingindo alunos e seus familiares” (VIÉGAS; GOLDSTEIN,
2017, p.13), o que reforça a patologização docente, já que o
neoliberalismo “extrai mais produção e gozo do próprio sofrimento”
(idem, p.12). Além disso, há um sério de risco da iniciativa criar
tribunais morais, descontextualizados, com um pensamento
“incapaz de refletir a diversidade existente na sociedade brasileira”
(CARA, 2016, p.39). O ataque sistemático às pessoas, a propaganda

7 Enquanto a orientação sexual diz respeito às práticas sexuais (hetero, homo, bi e pansexual, por
exemplo), a identidade de gênero diz respeito ao modo como as pessoas se sentem e se identificam
(mulher cis, homem cis, mulher trans, homem trans, travesti, não binário, gênero fluido, dentre
outros).
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contra as dissidências de gênero e de sexualidade, o esforço dos


verdadeiros ideólogos de gênero, criaram um aparato de repressão
e silenciamento que pretende domar os corpos, seja por seu
“distúrbio”, analisado pelo saber médico, seja pelo artifício moral e
mentiroso da “destruição da família”.
Contudo, do aumento da violência e em reação aos ataques
surgiram resistências nessa verdadeira multidão que desobedece às
normas, utilizando o próprio corpo em reação, como garantia de
direitos, preservação da vida e da sanidade psíquica emocional. A
partir da cultura, outros horizontes têm surgido no que diz respeito ao
combate à discriminação e à validação de direitos. Os chamados
artivismos das dissidências sexuais e de gênero (COLLING, 2018) tem
dado contribuições quando a questão é o prolongamento da vida de
pessoas e amplificação de vozes dissonantes que não encontram apoio
na política tradicional. Dois exemplos são as artistas Linn da Quebrada
e Renata Machado. Ambas têm suscitado discussões potentes sobre as
mais variadas formas de existência corporais que não obedecem aos
padrões e normas estipuladas pelos grupos hegemônicos e, ao mesmo
tempo, colocam a arte como campo principal de expressão de suas
ideias e proteção de suas vidas (TROI, 2018). Isso demonstra uma certa
falibilidade do movimento institucional LGBT, conforme já apontado
por Leandro Colling (2015) e aqui sintetizado por Bento quando pensa
esses artivismos como,

Outras formas de pensar e fazer política, que entendem a


importância do Estado, mas não se rendem ao seu desejo de
esfinge, estão acontecendo. Conforme Leandro nos apresenta,
parte considerável do movimento institucionalizado LGBT já foi
completamente devorado. A “fé” na capacidade da lei em
transformar realidades culturais arraigadas me fez lembrar as
reflexões de Florestan Fernandes sobre a suposta democracia
racial brasileira (BENTO, 2015, p. 15)

Se a noção de “democracia racial” no Brasil não passou de


ideologia de uma elite que perpetuou as discriminações de raça,
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explorando a mão de obra daqueles que herdaram o ônus do tráfico


negreiro e da escravização no país, do mesmo modo, dizer que
vivemos uma sociedade igualitária, independente do gênero e da
sexualidade, também é uma visão ideológica e um mito que quer
esconder a violência diária praticada no Brasil em função da não
aceitação das diferenças.
O tensionamento das eleições de 2018 mostrou que a questão
dos direitos sexuais e de gênero têm servido como moeda de troca,
adesão e união do campo conservador em prol de seus projetos: a
implantação de um capitalismo de choque, neoliberal, com o
depauperamento do Estado e a drenagem dos recursos públicos que
seriam usados em benefício da população para os grupos financeiros
e o pagamento de juros da dívida pública. Sob o viés da moralidade
e da criminalização das liberdades sexuais e de gênero, essas
candidaturas ganham fácil adesão no campo social que diariamente
é submetido a uma série de propagandas ideológicas e mentirosas a
respeito da segurança, da necessidade do encarceramento em
massa, destruição da família, perversão de crianças e, com isso, vão
minando a possibilidade de diálogo entre as diferenças. Esses grupos
que defendem, em sua maioria, uma agenda ultraliberal na
economia, querem o controle do Estado quando se trata da vida
privada e da cultura, delimitando o que é humano e quem deve e
merece ser tratado com igualdade e respeito.
Contra essa tendência, que parece ser mundial, apesar de
estar muito forte na América Latina 8 , amparada pelo
neoconservadorismo e governos autoritários revestidos pela
legalidade jurídica, diversas práticas de promoção de educação livre
dos estereótipos de gênero estão sendo desenvolvidas ao redor do
planeta. Para o Conselho da Europa (2015), organização

8 Género, bajo ataque (2018) é o nome de um documentário dirigido por Jerónimo Centurión que
mostra os resultados de um “plano” que vem sendo executado de maneira estratégica. Filmado na
América Latina, em países como Peru, Costa Rica e Brasil, o documentário mostra como ativistas e
organizações contrários ao reconhecimento dos direitos sexuais e reprodutivos atuam para limitar
qualquer avanço nesse campo. Disponível em: <www.generodocumental.com>. Acesso em: 08 nov.
2018.
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internacional fundada em 1949 em defesa dos direitos humanos em


47 estados europeus, incluindo os 28 que formam a União Europeia,
a realização de boas práticas voltadas à igualdade de gênero é central
na proteção dos direitos humanos, trazendo mudanças sociais e
culturais que beneficiam a todos e todas. Numa das experiências
mais emblemáticas, estão cinco pré-escolas estaduais de Estocolmo,
na Suécia, com uma política de gênero neutro. A experiência
começou em 1998 e o ensino não está voltado para as experiências
de gênero com suas diferentes características, gostos e necessidades,
mas sim voltado para a democracia. Na escola, todas as crianças são
ensinadas a terem as mesmas oportunidades e direitos, as
brincadeiras também não são generificadas e os diretores afirmam
que estão preparando as crianças para um novo mundo (LEACH,
2016). Por mais que a escola e a produção do conhecimento nunca
sejam neutros/as em relação às visões de mundo ou das maiorias
constituídas, ela pode ter como meta a construção de um espaço
ético, no qual o valor da vida e das individualidades sejam maiores
que a vontade de eliminação da diferença. Na publicação Orientação
técnica internacional sobre educação em sexualidade, a Unesco
apresenta equidade de gênero e de direitos humanos estão na base
das metas para serem cumpridas até 2030, reafirmando “a posição
da educação em sexualidade dentro de um quadro de direitos
humanos e igualdade de gênero” (UNESCO, 2018). Uma educação
em sexualidade poderia melhorar a triste estimativa de que 20% das
mulheres e entre 5 e 10% dos homens reportaram terem sido
vítimas de violência sexual, em todo o mundo; ou a notícia de que
ao menos 200 milhões de mulheres sofreram mutilação genital.
Como explicado no início desse texto, questões discursivas
também formam o gênero e é essa a hipótese de Butler (2003), que
contribuiu com a reflexão sobre o caráter discursivo e construtivo
do gênero. Isso não equivale a dizer que o gênero é formado apenas
pelo discurso, mas que ao definir as práticas e o modo de ser de
maneira discursiva, o gênero também é formado. E por que esse
argumento incomoda tanto? Por que as práticas sexuais e as
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identidades de gênero dissidentes perturbam? Por que a maneira


como praticamos sexo, a maneira como nos vestimos, as
corporalidades que nos tornam homens, mulheres ou outros
gêneros não binários incomodam tanto? Teriam eles a possibilidade
de fazer “o mal” a outrem? Por que as feminilidades incomodam
tanto? E quando falo “feminino” estou extrapolando a
“exclusividade da experiência corpórea” (BENTO, 2017, p.23) tão
defendida pelos ideólogos e suas leis criacionistas, e pensando na
feminilidade presente em travestis, mulheres trans e cis, em homens
cis e trans femininos, sejam homo, hetero ou bissexuais.
Muitos motivos e agenciamentos estão por trás dessas questões,
mas talvez Laura Segato e sua investigação sobre o alarmante
assassinato de mulheres na fronteira com os Estados Unidos, Ciudad
Juarez, nos ajude nessa reflexão. A pesquisadora defende que o Estado
tem “dono” e ele está diretamente ligado ao patriarcado. É por isso que
os assassinatos em massa de mulheres continuam impunes e tão
pouco investigados, porque esse mesmo Estado legal permite a
existência de dispositivos ilegais que vão colocar fim justamente à vida
de mulheres que presam pela coletividade e que funcionam como
ponto de apoio para a existência de outras mulheres.
Nessa perspectiva, igualmente no Brasil, os direitos estão
muito pouco assegurados pelo Estado. Na Bahia, em 2015, a Polícia
Militar assassinou 12 jovens negros no bairro do Cabula, e a resposta
do governador Rui Costa para esse crime foi de que a Polícia “é como
artilheiro em frente ao gol”. É na gestão desse mesmo governador,
dito como progressista, que se tem destinado frequentemente
recursos para clínicas de recuperação de dependentes químicos, em
métodos bastante controversos no que diz respeito aos direitos
humanos e práticas sistematizadas e declaradas de tortura 9. Como

9 De acordo com dados da lei de transparência divulgados na imprensa, a Fundação Dr. Jesus, espaço
para tratamento de dependentes químicos, mantida pelo político, recebeu mais de R$ 12 milhões do
governo do Estado em 2013 e 2014. Um dos métodos de tratamento é a violência física e psicológica,
conforme em matéria do Grupo Metrópole, disponível em: <https://goo.gl/svJbGa>. Acesso em: 19
nov. 2018.
58 | As desigualdades de gênero e raça na América Latina no século XXI

acreditar nos marcos jurídicos e constitucionais se eles não são


respeitados no Brasil? A própria Lei Maria da Penha, criada em
2006, foi implementada, mas o número de feminicídios e os altos
índices de violência contra a mulher ainda persistem por conta da
cultura e do machismo estrutural da sociedade (RIBEIRO DA SILVA,
2014). No que diz respeito à população LGBTTQIA+ 10, o Brasil ocupa
a vergonhosa posição de um dos países que mais mata gays, lésbicas,
travestis e pessoas trans do mundo.
Essas questões nos levam a pensar que o Estado, fugindo de
sua missão moderna de proteger as populações minorizadas, tem se
transformado no principal parceiro daqueles que querem ver a
aniquilação das mulheres e dessas populações. Isso também
confirma que os marcos jurídicos são insuficientes para promover
justiça, preservação e proteção dos direitos. Como pesquisadores da
Cultura, acreditamos na importância dos aspectos culturais da
máquina social e de que tais aspectos podem se converter em vetores
de mudança.
A cultura, com outras práticas, é ponto fundamental para
modificar a sociedade, mais do que implementação de leis, que nem
sempre serão cumpridas dentro de uma estrutura colonial do
Estado; e em se tratando especificamente do Brasil, devemos
empenhar ações na criação de convivências em paralelo à disputa
nos campos jurídicos e governamentais. A cultura, seja com novas
práticas, seja em interface com as artes, funciona como um ponto de
adesão desejante, na qual produções artísticas têm servido para
problematizar a violência, expressar afeto e, sobretudo, reafirmar
outras formas de existência, quase sempre em desacordo com a
norma. Assim, pelo corpo, pelos gestos, pela poesia, pela força e
contundência de uma apresentação artística, seja ela música, teatro,
cinema, performance, estimula-se a sensibilidade do/a
espectador/a, convidando ele/ela mesmo/a a modificar seu regime

10 Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Travestis, Queer, Intersexuais, Assexuais e outras formas
subjetivas de sexualidade e identidades de gênero.
Marcelo de Trói | 59

de sensorialidade e liberar seus fluxos desejantes, ou seja, abrir-se,


desaprisionar o desejo quase sempre interrompido, bloqueado,
castrado pelas forças fascistas que mobilizam a formação de sujeitos
normalizados. “A esse fascismo do poder, nós contrapomos as linhas
de fuga ativas e positivas, porque essas linhas conduzem ao desejo,
às máquinas do desejo e à organização de um campo social do
desejo” (DELEUZE, 1992, p.30). O desejo se afirma como
possibilidade de transformação real, a partir do afeto, porque falar
do desejo será falar sobre política também (TROI, 2018, p.130).
É engano pensar que um mundo transfóbico e homofóbico
não atingirá também os corpos cis e heteros porque no regime de
diferenciação que passa pela leitura do que é aparente todos/as
podem ser violentados/as; ou não nos lembramos dos pais com seus
filhos que foram agredidos porque “pensaram que eles eram um
casal gay” ou da mulher cis que foi agredida porque “parecia uma
travesti”? Justificativas como essas que circularam, inclusive, nos
meios de comunicação, só devem aumentar nossa indignação e
mobilização para a desconstrução de padrões e a desumanização
constante e diária a que alguns corpos são submetidos. É preciso
revelar e recordar que essas violências estruturais, transfóbicas,
travestifóbicas, lesbofóbicas, homofóbicas, partem do mundo que
habitamos e que construímos como padrão de normalidade.
Parodiando Grada Kilomba (RIBEIRO, 2016), se o racismo é uma
problemática branca, a transfobia é uma problemática cisgênera.
Sem essa aliança, os direitos humanos nunca poderão se estender a
essas pessoas que continuarão sendo eliminadas.
Assim, tratar do respeito aos corpos e às identidades das
pessoas jamais poderá ser considerado uma ideologia, mas condição
essencial para o desenvolvimento humano e para a nossa localização
individual no mundo. A possibilidade de outras experiências de vida,
de outras práticas que dizem respeito aos nossos corpos, é premissa
de uma sociedade livre e realmente democrática e participativa. Ou
esse ideal é apenas retórico e axiomático? Chega de morte.
60 | As desigualdades de gênero e raça na América Latina no século XXI

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