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COLUNAS

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A Lava Jato e o capital-imperialismo


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      Publicado em: 30/06/2021 01h50

(https://esquerdaonline.com.br/colunistas/andar-de-cima/)

Andar de cima
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Acompanhamento sistemático da ação organizativa, política, social e ideológica das
classes dominantes no Brasil, a partir de uma leitura marxista e gramsciana realizada
no GTO, sob coordenação de Virgínia Fontes. Coluna organizada por Rejane Hoeveler.

 (http://grupodetrabalhoeorientacao.com.br/)

O tema da corrupção, colocado no centro do debate político brasileiro e latino-


americano pela Lava Jato, é uma questão sobre a qual a esquerda ainda precisa

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construir muitas sínteses. Como apontou Peter Bratsis (https://www.ifch.unicamp.br


/criticamarxista/arquivos_biblioteca/artigo2017_10_01_17_45_53.pdf), ele tem
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passado despercebido pelo marxismo, que sem essa análise, não tem conseguido
formular uma política acertada para enfrentar o debate público sobre a corrupção.
Para contribuir com essa reflexão, essa série investiga a rede que conecta a Lava
Jato na América Latina aos aparelhos estatais e privados de hegemonia
estadunidenses que promovem o que chamam de “guerra global à corrupção”
(Global War on Corruption – GWC). Analisamos quais os objetivos estratégicos da
agenda anticorrupção e através de quais táticas ela é construída, examinando
especialmente a teia que costurou relações entre juízes, promotores e policiais
estadunidenses com suas contrapartes latino-americanas. Para isso, dividimos a
série em cinco textos: o primeiro analisa as principais características da GWC,
apontando o colonialismo dos seus discursos e as consequências da sua aplicação
na política latino-americana, como as privatizações e desnacionalizações; o
segundo investiga a ossatura do Estado norte-americano que vertebrou a formação
dessa agenda anticorrupção; o terceiro investiga os aparelhos privados de
hegemonia que, em conjunto com as agências estatais, formularam e concretizaram
os programas da GWC; o quarto observa como o lavajatismo está inserido na
dinâmica capital-imperialista, analisando sua relação com o ascenso protofascista;
e o quinto discute a atual tentativa do governo argentino de Alberto Fernandez de
barrar os ataques que recebe dos agentes da GWC, apontando laços entre juízes
argentinos e estadunidenses que corroboram nossa tese.

A agenda anticorrupção é um processo global, forjado por uma rede de


"
conexões judiciais coordenada pelo Estado norte-americano e por aparatos

"
empresariais privados.

A agenda anticorrupção é um processo global, forjado por uma rede de conexões


judiciais coordenada pelo Estado norte-americano e por aparatos empresariais
privados. Apenas para dar um exemplo e mostrar nosso ponto de partida,
destacamos que uma das linhas que costurou essa teia foi o Bridges Project

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(Projeto Pontes), criado em 2009 pela Embaixada dos Estados Unidos em Brasília
para promover treinamentos para o “combate ao terrorismo e à corrupção” para
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juízes, promotores e policiais brasileiros, dos quais Sérgio Moro foi o participante de
destaque. Os treinamentos focaram em métodos que foram centrais para a atuação
da Lava Jato, como a “cooperação internacional formal e informal”, delações
premiadas (uma das bases do lavajatismo, mecanismo que alivia as penas de
empresários corruptos em troca da acusação contra o alvo político da equipe
judicial) e, principalmente, o “modelo de task force” (força-tarefa) – o que já não é
nenhum segredo, como deixa nítido o evento “Uso de Ferramentas Americanas pela
Lava Jato (https://web.law.columbia.edu/public-integrity/conferences-and-events
/Brazil-Justice)” organizado em 2019 pelo Centro para o Avanço da Integridade
Pública da Columbia Law School. O Projeto Pontes planejou detalhadamente a
formação da task force da Lava Jato em Curitiba, onde havia “comprovado apoio
judicial” ao projeto, o que iria, nas palavras da vice-Embaixadora Lisa Kubiske,
“permitir o acesso a especialistas dos EUA para orientação e apoio contínuos
(https://wikileaks.org/plusd/cables/09BRASILIA1282_a.html)”.

Puxando a linha do Projeto Pontes, nos enredamos em uma teia continental de


juízes, procuradores e policiais envolvidos na malha de agências que promovem a
chamada guerra global à corrupção, sempre articulada à guerra global ao terrorismo
(Global War on Terrorism – GWT) e à guerra global às drogas (Global War on Drugs
– GWD). Vimos que essas agências investem pesado na formação de quadros
(“lideranças”) para assumir funções “técnicas” no Estado e definir políticas públicas
“anticorrupção” que sirvam para fortalecer a “rule of law”, como chamam, grosso
modo, os aparatos legais que garantem a reprodução do capital. Buscando avançar
no entendimento dessa estratégia capital-imperialista ainda tão incompreendida na
esquerda, investigamos a malha da GWC que envolve tanto agências estatais, das
escolas de formação das Embaixadas norte-americanas aos programas de
cooperação dos Ministérios Públicos latino-americanos; como agências privadas,
dos escritórios de advocacia de compliance (estar em “conformidade” com as leis
anticorrupção) às organizações “sem fins lucrativos” de combate à lavagem de
dinheiro. E por fim, refletimos sobre como a desestabilização política gerada pelo
lavajatismo abriu caminho para a ascensão de governos protofascistas, que foram

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apoiados pelos agentes da GWC, mas em alguns casos geraram atritos com eles.

Habitualmente, análises historiográficas que investigam o papel de agentes


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estrangeiros em processos históricos de outros países são acusadas de


conspiratórias ou de negligenciar a ação dos agentes domésticos. Por isso, é
preciso destacar logo de início que não argumentamos que a intervenção dos EUA
foi determinante para os golpes que derrubaram os governos da maré rosa (os
governos à esquerda na América Latina). Apenas ajustamos o zoom do nosso olhar
para a escala continental com o objetivo de mapear o papel dos Estados Unidos
nesse processo, com o intuito de contribuir com sínteses totalizantes sobre a
ascensão do bonapartismo de toga (https://esquerdaonline.com.br/2018/01/25/o-
bonapartismo-de-toga-golpe-contrarreformas-e-o-protagonismo-politico-do-poder-
judiciario-no-brasil-atual/) na América Latina. Observando o emaranhado de
articulações entre os poderes judiciários do continente a partir de uma perspectiva
gramsciana, que não encapsula as lutas de classes nos espaços nacionais, a
própria divisão entre agentes domésticos e estrangeiros é vista por nós como
apenas uma das ferramentas metodológicas disponíveis.

Para início de conversa, é preciso sempre destacar que, ao investigar a relação da


Lava Jato com os Estados Unidos e denunciar a sua atuação arbitrária – que,
movida por objetivos políticos, condena sem provas, faz conluios com a mídia e se
reúne ilegalmente com agentes estrangeiros – não significa defender os dirigentes
do PT ou dos partidos à esquerda no continente. E que denunciar os inegáveis
interesses norte-americanos em derrubar o governo do PT e desestruturar a
(https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/204529)Petrobras, a Embraer e as
mega construtoras brasileiras (https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789
/204529), não significa dizer que os governos Lula e Dilma tenham mobilizado uma
luta anti-imperialista.

Menos ainda, significa que alguma burguesia latino-americana tenha aderido a


algum projeto “nacional-desenvolvimentista”. Discutiremos essa tese na parte 4
desta série, cabendo aqui apenas lembrar que as próprias mega empresas que a
Lava Jato desestruturou estão articuladas ao empresariado estadunidense em

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diversas entidades empresariais, e se submeteram ao sistema legal dos Estados


Unidos quando colocaram suas ações na bolsa de valores de Nova York. Também
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não se pode esquecer que quando avançou a ofensiva golpista da média e grande
burguesia contra o governo assim chamado “neodesenvolvimentista” de Dilma, tais
mega empresas sustentadas pela política petista no BNDES não titubearam em se
unir ao bloco golpista em torno da retirada de direitos. E que os que estavam presos
não titubearam em delatar todos nomes do petismo pedidos pelos juízes.

No entanto, de dentro do campo da oposição de esquerda ao petismo, é preciso


polemizar com as versões do “Fora todos corruptos (https://www.pstu.org.br/chega-
de-roubalheira-fora-todos-os-corruptos-e-corruptores/)” – bandeira levantada pelo
PSTU enquanto a Lava Jato atuava para derrubar Dilma – que igualam os governos
da maré rosa com a direita tradicional. Ignoram a primazia das conexões da direita
tradicional com o capital-imperialismo, bem como as tensões geopolíticas dos
governos da maré rosa com os Estados Unidos. Essa perspectiva analisava, em
2013, que “o imperialismo estadunidense não quer um golpe”.

Infelizmente, tal bandeira também foi empunhada dentro do PSOL pelo Movimento
Esquerda Socialista (MES) e pela Corrente Socialista dos Trabalhadores (CST),
como está analisando Vitor Prudêncio em “Que se vayan todos: dilemas da
esquerda morenista diante dos governos do PT e do tema da corrupção”, ainda no
prelo. Ao mesmo tempo em que camaradas destas organizações reforçam a
necessidade de disputarmos o senso comum sobre a questão da corrupção, a
incompreensão da agenda da guerra global à corrupção impede a formulação de
uma política acertada, tendo os levado a defender políticas desastrosas como o
apoio à iniciativa burguesa da Lava Jato, apoio dado com a justificativa de “disputar
a base” (udenista…) das manifestações verde-amarelas.

Mesmo entre as tendências da esquerda que se opõe frontalmente à Lava Jato, a


ideologia da GWC entra pelas frestas. Um exemplo é o apoio de Boulos – que em
sua campanha sempre focou em denunciar as raízes empresariais da corrupção –
ao documento Novas medidas contra a corrupção
(https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:sU3-vQPufPAJ:https:

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//piaui.folha.uol.com.br/lupa/wp-content/uploads/2018/08
/2018.08.29_release_presidenciaveis2.pdf+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br&
(https://esquerdaonline.com.br/)
client=ubuntu). Tal proposta indicava 70 projetos de lei e emendas constitucionais
afinadas com o discurso que foca na corrupção dos políticos, e não dos
empresários, promovido pelas entidades empresariais que organizaram a
campanha, a Transparência Internacional (TI) e Instituto Ethos. Como revelou a Vaza
Jato (https://apublica.org/2020/09/a-alianca-da-lava-jato-com-a-transparencia-
internacional/), o próprio Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato,
pensou o documento junto com o diretor da TI. Criticando o udenismo, nos vimos no
mesmo campo do empresariado e do lavajatismo junto com o PSDB, Rede, MDB e
PDT, que também apoiaram as medidas, enquanto Haddad e Bolsonaro ignoraram
os pedidos (https://noticias.uol.com.br/politica/eleicoes/2018/noticias/2018/10
/27/bolsonaro-e-haddad-nao-assinam-apoio-a-novas-medidas-contra-
a-corrupcao.htm) para discuti-las.

Para pensarmos formas de enfrentar o debate público sobre a corrupção e


denunciar a falsidade da agenda anticorrupção do empresariado, analisaremos
neste texto as três principais características do uso político e econômico da GWC: o
privatismo, o colonialismo e o golpismo.

A assim chamada guerra global à corrupção

parte 1 de A Lava Jato e o capital-imperialismo

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(https://gabrielkanaan.files.wordpress.com/2021/07/image-1.png)

“Índice da corrupção 2019”, mapa desenhado pela Transparência Internacional


dividindo o mundo entre o centro transparente e a periferia corrupta. Imagem: LEC
(https://lec.com.br/blog/novo-indice-de-percepcao-da-corrupcao-da-transparencia-
internacional-traz-o-brasil-em-92o-sua-pior-posicao-ate-hoje/)

Na última década, o tema da corrupção assumiu a centralidade da política latino-


americana, sendo o discurso motor da derrubada de diversos governos pelo
continente +

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O discurso colonialista de agências estadunidenses e europeias associou a


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corrupção à cultura corrupta dos povos periféricos para justificar intervenções na


política e economia desses países +

Como consequência da cruzada do bonapartismo de toga, se aprofundaram as


privatizações e desnacionalizações, apresentadas como a saída para o problema do
“Estado corrupto” +

Sem a compreensão da agenda anticorrupção da burguesia, a social-democracia


contribuiu para gestar o monstro que a engoliu estimulando os programas
anticorrupção burgueses, enquanto a esquerda socialista não conseguiu enfrentar o
debate, chegando a fortalecer, em alguns casos, as mobilizações da direita +

“Nossa meta é enfrentar a corrupção ao redor de todo o globo”

Jason Marczak, Diretor do Center for Latin America do Atlantic Council

O raio privatizador e desnacionalizador da GWC

Com o objetivo de tirar o foco da corrupção empresarial, a maioria dos programas


que estamos analisando são sobre a “corrupção pública” dos políticos,
desvinculando-os das empresas que os compram. Mais que isso, focam na
“corrupção burocrática”, ou seja, a compra de políticos para não aplicarem a lei do
jeito que ela é, e não na “corrupção política”, ou seja, a compra de políticos para
formular novas leis, reduzindo a noção de corrupção a suborno.

O comentário do então diretor da Proética (a Transparência Internacional no Peru),

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em artigo (https://www.americasquarterly.org/fulltextarticle/time-to-clean-up-
a-case-for-greater-transparency-in-the-americas/) para a Americas Quarterly, é
ilustrativo de como o foco não(https://esquerdaonline.com.br/)
é a punição de empresários. Em um parágrafo sobre
o combate à corrupção dos políticos defende a tática da “humilhação pública”, mas
no parágrafo seguinte sobre o combate à corrupção empresarial sugere
“consultorias que apresentem seus resultados para os acionistas”, e não, para a
sociedade. Além de ser emblemático de como a concepção capital-imperialista
reduz a democracia a uma assembleia de acionistas (http://www.epsjv.fiocruz.br
/sites/default/files/brasil_capital_imperialismo.pdf), essa visão ressalta como aqui
a transparência e suas medidas são pensadas estritamente do ponto de vista do e
para o empresariado, o oposto da concepção de transparência de organizações
como a WikiLeaks, que trabalham para que todos tenham acesso e ferramentas
para analisar os documentos do Estado.

O discurso ideológico da GWC, como analisou Boito Jr (https://www.ifch.unicamp.br


/criticamarxista/arquivos_biblioteca/artigo2017_10_01_17_43_21.pdf), separa o
Estado corrupto do mercado racional, com base na divisão entre o público e o
privado típica do Estado capitalista, que camufla o Estado como representante do
interesse de todos. Isso estimula, como aponta Silvina Romano
(https://www.academia.edu/41105048/Portada_e_INTRO_LAWFARE), a substituição
dos quadros políticos pelos “técnicos”, intelectuais formados no combate à
corrupção por Aparelhos Privados de Hegemonia (APHs) empresariais que, como
veremos, comandam cada vez mais espaços nas estruturas estatais latino-
americanas. Além das agências governamentais serem ocupadas por quadros do
empresariado, elas próprias, instituições da democracia representativa vinculadas
em alguma escala às eleições, perdem poder para as estruturas “técnicas” judiciais.
Esse processo, que Ran Hirschl (https://www.oxfordhandbooks.com/view/10.1093
/oxfordhb/9780199604456.001.0001/oxfordhb-9780199604456-e-013) chamou de
“juristocracia”, faz parte do deslocamento de funções no interior dos Estados
capitalistas para impedir que eleições interfiram na política econômica, processo
que foi observado por Poulantzas já na década de 1980.

Além disso, tal separação fornece as bases ideológicas para o avanço das

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privatizações, como tem analisado o especialista em corrupção Marcos Bezerra


(http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/rpcsoc/article/view/6407
(https://esquerdaonline.com.br/)
/4095). Formuladores dessa ideologia, os programas de transparência do Banco
Mundial apresentam as parcerias público-privadas como o caminho para coibir a
“propensão à corrupção dos funcionários do Estado”, como levantou a pesquisa de
João Pereira (https://www.historia.uff.br/stricto/teses/Tese-
2009_PEREIRA_Joao_Marcio_Mendes-S.pdf) nos relatórios do Banco. A Lava Jato é
outro exemplo disso: mesmo que o conteúdo da rede de compra de políticos pelas
mega construtoras investigada pela Lava Jato seja essencialmente sobre a
corrupção empresarial, Moro e Dallagnol, atuando em conjunto com a mídia,
miraram sua artilharia no Estado corrupto, preparando assim – como analisaram
Pedro Campos (http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/mediacoes/article
/view/35617), Laura Carvalho (http://libgen.rs
/book/index.php?md5=754A363E8162B470E997C3731C4949DA) e muitos outros –
o terreno para acelerar as privatizações.

A Lava Jato é outro exemplo disso: mesmo que o conteúdo da rede de compra
"
de políticos pelas mega construtoras investigada pela Lava Jato seja
essencialmente sobre a corrupção empresarial, Moro e Dallagnol, atuando em
conjunto com a mídia, miraram sua artilharia no Estado corrupto, preparando
assim – como analisaram Pedro Campos (http://www.uel.br/revistas
/uel/index.php/mediacoes/article/view/35617), Laura Carvalho (http://libgen.rs
/book/index.php?md5=754A363E8162B470E997C3731C4949DA) e muitos

"
outros – o terreno para acelerar as privatizações.

Dessa forma, o discurso da transparência serve para modificar as legislações dos


Estados de forma a atender os interesses de livre circulação do capital, bloqueando
nacionalizações, estimulando privatizações e principalmente, garantindo a
“previsibilidade necessária” para a análise do “custo-benefício” de investir em
determinado país (no vocabulário do empresariado, “garantir a rule of law”). Como
analisa Atílio Borón e o grupo da CELAG (https://www.celag.org/eeuu-y-la-

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asistencia-juridica-para-america-latina/), a agenda da reforma judicial anticorrupção


estava presente desde os anos 1980 nos programas de ajuste estrutural do
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neoliberalismo na América Latina.

Como levantou a pesquisa de Bratsis (https://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista


/arquivos_biblioteca/artigo2017_10_01_17_45_53.pdf) – que buscamos expandir
empiricamente nesta série – desde o fim da guerra fria, organizações como o Fundo
Monetário Internacional (FMI) e a Transparência Internacional (TI) começaram a
promover uma agenda global anticorrupção. De acordo com o autor, a
implementação dessa pauta tem como um dos seus objetivos quebrar as ligações
entre os capitais locais e os aparelhos dos Estados dos países periféricos, e acaba
servindo para a abertura dos mercados desses países para o capital transnacional.

Esse foi exatamente o caso do desmonte da Petrobras e das empreiteiras


brasileiras pela Lava Jato, que foi seguido, como tem demonstrado as pesquisas de
Pedro Campos (http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/mediacoes/article
/view/35617), pela desnacionalização dos setores da indústria pesada no Brasil, que
competia com transnacionais nos mercados latino-americanos, africanos e árabes.
É emblemático desse interesse estadunidense na desestruturação de suas
competidoras que o próprio ex-Embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Thomas
Shannon (2010-2013), chegou a admitir, em entrevista para a Bribery Divison
(https://www.poder360.com.br/bribery-division/ex-embaixador-mostra-visao-dos-
eua-sobre-lava-jato-e-projeto-de-poder-do-pt/) no ano passado, que eles viam a
Odebrecht como parte do “projeto de poder do governo Lula” para concretizar uma
“integração progressista” na América Latina.

É verdade que as indústrias brasileiras já vinham em queda antes da Lava Jato.


Comparando a rentabilidade (https://www.ie.ufrj.br/images/IE/TDS
/2017/TD_IE_006_2017_PINTO%20et%20al.pdf) delas no período de 2007-2010 com
o período de 2011-2014, as 500 maiores empresas caíram de 10% a 5%, as 6
maiores construtoras de 15% a 10%, o setor de automóveis de 64% a 32%, petróleo e
gás de 18% a 4%, e as siderúrgicas de 21% a 1,5%. Só o lucro dos bancos cresceu,
de 20% para 21%. No entanto, conforme demonstra a pesquisa de Campos, esse

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processo se aprofundou na conjuntura de crise impulsionada pela Lava Jato, e as


principais hidrelétricas, portos, aeroportos, estádios e rodovias foram vendidos para
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empresas estrangeiras. Utilizando o conceito de Basualdo
(http://legacy.flacso.org.ar/uploaded_files/Publicaciones/mep_dt01.pdf), Campos
analisa que a burguesia brasileira optou por vender seus investimentos produtivos
para capitais externos e aumentar suas aplicações em bancos, intensificando no
Brasil o padrão de acumulação de capital predominantemente financeiro.

Segundo os relatórios anuais da Transactional Track Record (TTR), o número de


empresas brasileiras vendidas para empresas estrangeiras (e estadunidenses) foi,
respectivamente, de 202 (133) em 2012 (http://www.ttrecord.com/xms/files
/06_ReportsLegacy/2013/Brazil_Reports/11.Nov
/TTR_Monthly_Report_Brazil_Nov_2013.pdf), 252 (http://www.ttrecord.com
/xms/files/06_ReportsLegacy/2013/Brazil_Reports/11.Nov
/TTR_Monthly_Report_Brazil_Nov_2013.pdf)(104) em 2013
(http://www.ttrecord.com/xms/files/06_ReportsLegacy/2013/Brazil_Reports/11.Nov
/TTR_Monthly_Report_Brazil_Nov_2013.pdf), sem dados para 2014, 261 (95) em
2015 (http://www.ttrecord.com/xms/files/06_ReportsLegacy/2015/Brazil_Reports
/12.Q4/TTR_Quarterly_Report_Brazil_T4_2015.pdf), 239 (85) em 2016
(http://www.ttrecord.com/xms/files/06_ReportsLegacy/2016/Brazil_Reports
/TTR_Quarterly_Report_Brazil_4Q_2016.pdf), 236 (87) em 2017
(http://www.ttrecord.com/xms/files/06_ReportsLegacy/2017/12_DIC/01_BR
/Report_TTR_Brazil_December_2017.pdf), 288 (109) em 2018
(http://www.ttrecord.com/xms/files/06_Reports/02.Brazil/2018_Report_Samples
/12_04Q_DEC/Relatorio_TTR_Brasil_4T_2018_Sample.pdf), 328 em 2019
(http://www.ttrecord.com/xms/files/06_Reports/02.Brazil/2019_Report_Samples
/12_4Q_Dec/Report_TTR_Brazil_4Q_2019_Sample_version.pdf). Aparentemente, as
vendas aumentaram mais significativamente a partir de 2018, em nossa hipótese
como desdobramento do desmonte provocado pela Lava Jato. Como o número
absoluto de empresas vendidas não nos dá toda dimensão do tamanho da
desnacionalização (vender 100 pequenas empresas pode ser menos prejudicial que
vender uma grande empresa como a Petrobras, por exemplo), vejamos também o
valor dessas vendas. Para o mesmo período, segundo os dados da UNCTADStat

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(https://unctadstat.unctad.org/wds/TableViewer/tableView.aspx?ReportId=96740),
os Investimentos Externos Diretos (IEDs) no Brasil – ou seja, os investimentos
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estrangeiros na estrutura produtiva, que compraram ou abriram empresas – foram
de US$ 82 bilhões em 2012, 59 em 2013, 63 em 2014, 49 em 2015, 53 em 2016, 66
em 2017, 59 em 2018, 71 em 2019. Ou seja, enquanto a indústria brasileira vinha em
queda, os investimentos estrangeiros mantinham-se enormes.

Frente a esse cenário de desnacionalizações, a narrativa midiática lavajatista


buscava mascarar a destruição da indústria brasileira. Como revelou a Vaza Jato
(https://apublica.org/2020/09/a-alianca-da-lava-jato-com-a-transparencia-
internacional/), Dallagnol, preocupado em responder às críticas que a Lava Jato
recebia por destruir e desnacionalizar a economia brasileira, pediu ajuda para o
diretor da Transparência Internacional no Brasil, Bruno Brandão. Dallagnol queria
uma declaração sobre a relação da operação com o desenvolvimento econômico.
Simbolicamente, Brandão respondeu que realizaria então uma pesquisa apenas com
os investidores estrangeiros sobre o que pensavam da Lava Jato, comentando que
duvidava que dissessem que ela não era boa para a economia. “Colocando isso na
boca do investidor estrangeiro daria muita credibilidade – e desmontaria um dos
argumentos que os críticos mais repetem”, pontuou Brandão. Meses depois,
Dallagnol compartilhava (https://www.facebook.com/deltandallagnol/posts
/1681516645225371/) o estudo da Transparência Internacional
(https://transparenciacorporativa.org.br/TI-TRAC-2018.pdf) mostrando como o
legado da Lava Jato era positivo para a economia brasileira. Vale lembrar ainda que
no ano do golpe contra Dilma, a TI já havia ajudado a Lava Jato dando à operação o
prêmio internacional anticorrupção (https://www.dw.com/pt-br/lava-jato-ganha-
pr%C3%AAmio-anticorrup%C3%A7%C3%A3o-da-transpar%C3%AAncia-internacional
/a-36631097).

Além da disputa entre as construtoras brasileiras e as estadunidenses no mercado


global, os bancos estadunidenses disputavam com o BNDES o financiamento das
obras. Como levantou a pesquisa de Romano (https://www.celag.org/la-corrupcion-
problema-america-latina-2/), na análise do empresariado estadunidense
(https://americasmi.com/insights/the-future-of-infrastructure-investment-in-latin-

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america/) “a próxima geração de infraestruturas latino-americanas será financiada


pelo setor privado, incluindo bancos, fundos de pensão e acionistas estrangeiros”
(https://esquerdaonline.com.br/)
(ao contrário da geração anterior financiada pelo BNDES), como disse o diretor de
Infraestrutura do Americas Market Intelligence. E como observou a pesquisa de Luís
Fernandes (http://www.entropia.slg.br/index.php/entropia/article/view/141/139)
sobre a Lava Jato e o imperialismo – fundamental na escrita desta série – ao
mesmo tempo que a Lava Jato desestruturava a indústria brasileira, bancos
estadunidenses articulavam o financiamento em infraestrutura no continente latino-
americano. Fizeram isso através do “BUILD ACT”, promovido pela Corporação
Financeira Internacional para o Desenvolvimento (IFC), uma organização criada em
2018 que une os orçamentos da Agência dos Estados Unidos para o
Desenvolvimento Internacional (USAID) e da Corporação de Investimento Privado
Internacional (OPIC), e do “America Crece” – uma articulação dos investimentos
estadunidenses no setor energético. E, como levantou Romano
(https://www.celag.org/la-corrupcion-problema-america-latina-2/), para promover
politicamente esses programas, Mike Pence visitou diversos países da América
Latina (https://www.whitehouse.gov/briefings-statements/vice-president-mike-
pence-travel-central-south-america/) com o objetivo de articular o financiamento
estadunidense da infraestrutura do continente.

O colonialismo da GWC

Como vem denunciando a organização Aproximações Terceiro-Mundistas à Lei


Internacional (TWAIL (https://scihub.wikicn.top/https://www.jstor.org/stable
/25659346?seq=1)), fundada pelos movimentos de descolonização da década de
1950, a GWC promove um discurso colonialista que culpa a cultura “corrupta” dos
povos dos países periféricos pela pobreza. Dessa forma, justifica a intervenção nos
sistemas jurídicos desses países, realizada para expandir o modelo da rule of law
pelo globo em prol dos interesses do capital transnacional. Comaroff
(http://libgen.rs/book/index.php?md5=FAADAF04D6A69BDCA05607006371EADB),
na mesma linha, destaca como os estudos da TI focam nos recebedores de propina,
não nos pagadores, e assim definem os países “em desenvolvimento” como os mais

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corruptos, como mostra o mapa no início deste texto. No entanto, as pesquisas do


TWAIL e outros estudos realizados por países da América do Sul e África citados
(https://esquerdaonline.com.br/)
por Comaroff, demonstram como os principais pagadores de propinas são dos
países centrais, mas operam seus esquemas através de paraísos fiscais para
esconder suas origens.

Estamos acostumados a ouvir o discurso que opõe o “jeitinho brasileiro” e a


“malandragem carioca” à “aplicação alemã” e à “pontualidade inglesa”, mas pode
soar como novidade ler uma advogada argentina, formada pela TI, culpando a
cultura corrupta dos argentinos pela “decadência do país mais rico do mundo no
século XIX à nação em crise de hoje”, em recente coletânea acadêmica de debates
sobre a corrupção (https://www.researchgate.net/profile/Fernando_Forattini
/publication
/340754167_Corruption_what_it_is_how_it_affects_us_and_ways_to_fight_it_English
_version_free_for_download/links/5e9e1c3ea6fdcca7892bca66/Corruption-what-it-
is-how-it-affects-us-and-ways-to-fight-it-English-version-free-for-download.pdf). Ela
seguia a definição do fundador da Transparência Internacional Peter Eigen, para
quem a corrupção “distorce mercados competitivos e onera desproporcionalmente
os mais pobres (https://eiti.org/files/documents/itgg2e20082e32e22e19.pdf)”. Esse
discurso é ecoado por organizações como a TI até o Comando Sul do Exército dos
EUA, que na Estratégia de 2018 (http://latinamericacurrentevents.com/united-states-
southern-command-strategy-2018-latin-america/38670/) destacou a corrupção
como um dos principais fatores da insegurança na América Latina.

Tal discurso é reproduzido incontavelmente pelos advogados alinhados ao capital-


imperialismo, como os juízes e procuradores brasileiros, guatemaltecos, peruanos e
mexicanos que publicaram artigos na Americas Quarterly, revista publicada pelo
think tank estadunidense Conselho das Américas. Nesta edição, a AQ homenageou
os “caçadores de corruptos” latino-americanos, onde argumentam como “a
corrupção é um obstáculo para o desenvolvimento da América Latina”, “causa
desigualdade e pobreza”, etc. Infelizmente, até intelectuais da esquerda como
Reinaldo Gonçalves (https://www.ie.ufrj.br/images/IE/TDS
/2017/TD_IE_008%20RECORTADO_2017_GONCALVESv.3.pdf) reproduzem

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diretamente a definição de corrupção da “insuspeita” (nas palavras dele)


Transparência Internacional como “abuso do poder delegado para ganho privado”,
(https://esquerdaonline.com.br/)
definição que como estamos argumentando foca apenas na corrupção política.
Gonçalves ainda reproduz a ideia de que as empreiteiras brasileiras são as mais
corruptas do mundo. Tal cegueira teve suas consequências práticas no apoio
(https://www.ie.ufrj.br/images/IE/TDS
/2015/TD_IE_015_2015_PINTO_FILGUEIRAS_GON%C3%87ALVES.pdf) de Gonçalves
à política desastrosa do PSTU, MES e CST de disputar as “bases populares” das
manifestações verde-amarelas.

Esse colonialismo introjetado não enxerga, como observou Danilo Martuscelli


(http://www.seer.ufu.br/index.php/criticasociedade/article/view/37826), que o
centro do capital-imperialismo está emaranhado em casos de corrupção, de
Watergate aos Panama Papers, passando por esquemas de malandragem que
causam inveja às rachadinhas do baixo clero brasileiro. Exemplo disso é o caso
analisado por João Pereira (https://www.historia.uff.br/stricto/teses/Tese-
2009_PEREIRA_Joao_Marcio_Mendes-S.pdf) sobre o diretor do Banco Mundial que
aumentou o salário da esposa ilegalmente. Além disso, não enxerga como tal
discurso puramente ideológico é empiricamente vazio. Bratsis
(https://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista/arquivos_biblioteca
/artigo2017_10_01_17_45_53.pdf) dá dois exemplos de como há uma contradição
no discurso capital-imperialista que aponta a corrupção como causa do
subdesenvolvimento: China e Índia, 78º e 87º no índice de percepção de corrupção
da Transparência Internacional de 2010, são os países que mais cresceram naquela
década; e que a crise atribuída aos PIGS (Portugal, Itália, Grécia e Espanha) como
sendo resultado da índole corrupta dos latinos atingiu países do leste e norte
europeu com a mesma intensidade.

Como diz Bratsis (https://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista/arquivos_biblioteca


/artigo2017_10_01_17_45_53.pdf), hoje a ideia de corrupção é usada para justificar
desigualdades globais da mesma forma que a ideia de raça foi usada no passado.
Mas não é novidade que intelectuais latino-americanos reproduzam e criem
estereótipos da própria cultura como corrupta para culpar a pobreza e a

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Como diz Bratsis (https://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista


(https://esquerdaonline.com.br/)
"
/arquivos_biblioteca/artigo2017_10_01_17_45_53.pdf), hoje a ideia de
corrupção é usada para justificar desigualdades globais da mesma forma que a

"
ideia de raça foi usada no passado.

desigualdade. Como recupera a análise de Luís Fernandes


(http://www.entropia.slg.br/index.php/entropia/article/view/141/139), intelectuais
como Sergio Buarque de Hollanda e Raymundo Faoro, seguindo o conceito
weberiano de patrimonialismo, diziam como a corrupção era resultado da
“cordialidade” do brasileiro, que favorece seus chegados porque não consegue ser
impessoal na “esfera pública”, ou que a corrupção era culpa dos “estamentos” de
políticos que aparelham os órgãos estatais. Se o discurso do latino-americano
corrupto não é novidade, também não é coisa do passado discursos racistas
legitimando a desigualdade. As falas de Mourão
(https://congressoemfoco.uol.com.br/eleicoes/mourao-diz-que-pais-herdou-
indolencia-do-indio-e-malandragem-do-negro/) explicando como o continente
permanece subdesenvolvido por causa da “herança do privilégio dos ibéricos, da
malandragem dos negros, e da preguiça dos índios” simboliza o entrelaçamento
entre o discurso racista e o discurso anticorrupção.

Golpismo de toga

Além de abrir as fronteiras para a livre circulação do capital transnacional pelo globo
e justificar as desigualdades globais, a GWC também foi mobilizada na estratégia
golpista do capital-imperialismo para derrubar governos vistos como hostis.
Exemplo de como a agenda anticorrupção foi usada politicamente é o fato de os
golpes sofridos pelos governos da maré rosa terem tido como força motriz
acusações de corrupção e um papel central dos Judiciários – o presidente
hondurenho Manuel Zelaya em 2009, o presidente paraguaio Fernando Lugo em
2012, Dilma em 2016 e o presidente boliviano Evo Morales em 2019. Zelaya, em
meio a denúncias de corrupção (https://www.laprensa.hn/honduras/511568-97

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/escandalos-y-polemica-en-3-anos-de-gobierno) pela mídia e por ONGs de combate


à corrupção, que mobilizaram uma escalada de manifestações, foi raptado pelos
(https://esquerdaonline.com.br/)
militares hondurenhos a mando do Judiciário (http://bit.ly/2NDQbG2). Lugo foi, ao
arrepio da Constituição, derrubado pelo Congresso em apenas um dia de
deliberações, processo que foi bizarramente legitimado pelo Judiciário. O caso
paraguaio é emblemático, pois lá uma versão do Projeto Pontes foi conduzida pela
Embaixadora Liliana Ayalde (a mesma que viria a ser Embaixadora no Brasil durante
o golpe de 2016) sob o nome de Programa Umbral. Como revelou a pesquisa da
Agência Pública (https://apublica.org/2012/11/bispo-seus-tubaroes/) nos arquivos
norte-americanos, depois do golpe a Embaixadora e o diretor dessa “iniciativa de
luta contra corrupção” financiada pela Millenium Corporation Challenge (MCC) e
administrada pela USAID, que recebeu mais de US$ 60 milhões de 2004 a 2009,
comemoravam como os novos quadros do governo golpista eram todos parceiros
do Programa.

As mesmas acusações perseguiram todos/as ex-presidentes da maré rosa: Álvaro


Colom e Sandra Torres foram presos na Guatemala (https://noticias.uol.com.br
/ultimas-noticias/afp/2019/09/02/ex-primeira-dama-da-guatemala-e-presa-por-
corrupcao.htm), Cristina Kirchner quase (https://webcache.googleusercontent.com
/search?q=cache:0KVZHqCuqUQJ:https://www.em.com.br/app/noticia
/internacional/2020/02/10/interna_internacional,1120920/justica-argentina-anula-
ordem-prisao-contra-vice-cristina-kirchner.shtml&client=ubuntu&hl=pt-BR&gl=br&
strip=1&vwsrc=0) (o vice já foi (https://webcache.googleusercontent.com
/search?q=cache:ZgQQdLjSkWAJ:https://brasil.elpais.com/brasil/2019/02
/19/internacional/1550538405_925907.html+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br&
client=ubuntu)), Rafael Correa se asilou na Bélgica após ser condenado pela justiça
equatoriana (https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:BzqbFGmt-
8gJ:https://oglobo.globo.com/mundo/justica-do-equador-condena-rafael-correa-
oito-anos-de-prisao-por-corrupcao-24356924&client=ubuntu&hl=pt-BR&gl=br&
strip=1&vwsrc=0), Maurício Funes se asilou na Nicarágua após ser condenado em El
Salvador (https://webcache.googleusercontent.com
/search?q=cache:Sslcyk0bwbgJ:https://oglobo.globo.com/mundo/ex-presidente-de-
el-salvador-asilado-na-nicaragua-tem-prisao-decretada-22760496&client=ubuntu&

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hl=pt-BR&gl=br&strip=1&vwsrc=0), e 592 funcionários do governo de Evo


(https://www.aa.com.tr/es/mundo/bolivia-investiga-a-592-exfuncionarios-de-evo-
(https://esquerdaonline.com.br/)
morales-por-presuntos-actos-de-corrupci%C3%B3n/1697066)foram
(https://www.aa.com.tr/es/mundo/bolivia-investiga-a-592-exfuncionarios-de-evo-
morales-por-presuntos-actos-de-corrupci%C3%B3n/1697066) processados por
(https://www.aa.com.tr/es/mundo/bolivia-investiga-a-592-exfuncionarios-de-evo-
morales-por-presuntos-actos-de-corrupci%C3%B3n/1697066)corrupção
(https://www.aa.com.tr/es/mundo/bolivia-investiga-a-592-exfuncionarios-de-evo-
morales-por-presuntos-actos-de-corrupci%C3%B3n/1697066) pelo governo golpista.
Na Nicarágua, Daniel Ortega, que enfrenta as medidas anticorrupção do
Departamento de Tesouro dos EUA (https://webcache.googleusercontent.com
/search?q=cache:wtEebLmF3aAJ:https://brasil.elpais.com/brasil/2019/12
/16/internacional/1576457941_905226.html+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br&
client=ubuntu), ainda resiste ao golpismo de toga, assim como Nicolás Maduro, na
Venezuela, caso emblemático de como as acusações de corrupção se mesclam
com as de narcotráfico e terrorismo, feitas publicamente pelo Procurador Geral dos
EUA William Barr (https://www.justice.gov/opa/pr/nicol-s-maduro-moros-and-14-
current-and-former-venezuelan-officials-charged-narco-terrorism%5D) (como
revelaram os telegramas vazados pela WikiLeaks, tais associações também eram
feitas em off ao gabinete de Kirchner (https://search.wikileaks.org/plusd/cables
/09BUENOSAIRES1017_a.html) e ao de Ortega
(https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:ob5esB4EALsJ:https:
//elpais.com/internacional/2010/12/06/actualidad/1291590036_850215.html+&
cd=5&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br&client=ubuntu)).

Como está pesquisando Carlos Tautz (https://esquerdaonline.com.br/2020/05


/04/porque-moro-e-mais-perigoso-ate-do-que-bolsonaro/), essas perseguições
jurídico-políticas são conduzidas em conjunto com a mídia, especialmente, como
observou a pesquisa de Silvina Romano (https://www.academia.edu/41105048
/Portada_e_INTRO_LAWFARE), nos períodos eleitorais. Vale lembrar como o uso da
mídia para deslegitimar políticos já era apresentado como uma estratégia por Moro
em artigo de 2004 (https://jornalggn.com.br/sites/default/files/documentos
/artigo09.pdf) sobre a Operação Mãos Limpas. Tais perseguições foram decisivas

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para as derrotas eleitorais das desmoralizadas frentes formadas pelas forças da


maré rosa citadas acima.
(https://esquerdaonline.com.br/)

Mas não apenas elas foram desmoralizadas. Todos os sistemas políticos latino-
americanos o foram. Se nem todos os políticos perseguidos se identificam com a
maré rosa, todos tiveram relações com a expansão do capital-imperialismo
brasileiro. Por desdobramentos das investigações da Lava Jato sobre o
financiamento de campanhas eleitorais pela Odebrecht, foram presos os últimos 4
ex-presidentes (neoliberais) peruanos e o presidente direitista panamenho Ricardo
Martinelli (2009-2014), e investigados os ex-presidentes Danilo Medina, na
República Dominicana (do Partido da Libertação Dominicana, 2004-2020, quando o
partido, desmoralizado pelas acusações, perdeu as eleições), Manuel Torrijos, no
Panamá (2004-2009), Michele Bachelet, no Chile (do neoliberal Partido Socialista,
2006-2010, 2014-2018), Horacio Cartes, no Paraguai (do direitista Partido Colorado,
2013-2018), Juan Manuel Santos, na Colômbia (do direitista Partido da Unidade,
2010-2018) e ex-presidentes mexicanos (https://webcache.googleusercontent.com
/search?q=cache:E8i_DWx_iUQJ:https://brasil.elpais.com/internacional/2020-08-20
/operacao-lava-jato-sacode-a-politica-mexicana.html+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&
gl=br&client=ubuntu) dos dois maiores partidos do país. É simbólico que João
Santana, o marqueteiro das campanhas de Lula e Dilma preso em 2016 pela Lava
Jato, coordenou as campanhas de Chávez, Maduro, Funes e Medina.

Como analisou Eduardo Pinto e o Grupo de Análise Marxista Aplicada, a crise


econômica, política e social que atingiu o Brasil durante o governo Dilma criou uma
separação, nos termos de Marx, entre o poder de classe e o poder de Estado,
abrindo espaço para frações do bloco no poder, como o lavajatismo, aspirarem a
direção hegemônica do conjunto das frações burguesas. No pós-golpe, os juízes e
procuradores brasileiros foram, segundo o Interamerican Dialogue
(http://www.thedialogue.org/wp-content/uploads/2017/02/LAA170208.pdf), “a joia
da coroa das instituições brasileiras, a única vista como honesta pela população”.
Mas, nutrida pela crise, a estratégia de “balançar o barco”
(https://www.academia.edu/38869632
/STF_LAVA_JATO_E_A_GUERRA_DE_TODOS_CONTRA_TODOS_O_CA

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%C3%87ADOR_QUE_VIROU_CA%C3%87A) do lavajatismo aprofundou ainda mais a


desestabilização e acabou abrindo espaço para a eleição de políticos fascistas no
(https://esquerdaonline.com.br/)
Brasil, Honduras (Juan Orlando, 2014-), Guatemala (Jimmy Morales, 2016-2020 e
Alejandro Giammattei, 2020-) e El Salvador (Nayib Bukele, 2019-), o que está gerando
tensões com parte dos próprios paladinos da guerra global à corrupção. Como disse
Pinto, o caçador virou caça (https://www.academia.edu/38869632
/STF_LAVA_JATO_E_A_GUERRA_DE_TODOS_CONTRA_TODOS_O_CA
%C3%87ADOR_QUE_VIROU_CA%C3%87A). Na parte 4 deste série, discutiremos as
conexões e tensões entre a GWC e a ascensão protofascista.

Na história do Brasil, a prática de usar denúncias de corrupção como uma arma


"
política – hoje mais conhecida por lawfare (guerra jurídica) – foi apelidada de

"
“udenismo” desde as acusações da UDN contra Vargas

É verdade que não é nenhuma novidade denúncias de corrupção serem usadas


como arma política. E, como sublinha o documentário Lava Jato entre quatro
paredes (https://www.youtube.com/watch?v=ygnKKWoJv0E&
ab_channel=NORMOSE), a corrupção acompanhou a história das grandes
construtoras desde a ditadura, bem como a da Petrobras e do petróleo. Na história
do Brasil, a prática de usar denúncias de corrupção como uma arma política – hoje
mais conhecida por lawfare (guerra jurídica) – foi apelidada de “udenismo” desde as
acusações da UDN contra Vargas. E foi da “caça aos comunistas e corruptos”, que
embasou o golpe de 1964 e a ditadura, ao “caçador de marajás” antes de chegar à
Lava Jato. Mas se em 1964 a corrupção foi a bandeira auxiliar do combate ao
comunismo, em 2016 ela foi a pauta que centralizou o golpismo. Hoje a escala da
expansão dos aparatos hegemônicos de combate à corrupção atingiu um novo
patamar. A lawfare promovida por essa GWC, geralmente definida como “o uso da
lei como arma política”, na verdade mobiliza toda estrutura judicial, e não se
restringe a objetivos políticos, pois como discutiremos, também molda as estruturas
institucionais para atender os interesses econômicos do capital.

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Para caracterizar o golpismo nesta nova escala, enfatizamos o caráter judicial dos
golpes que listamos com o conceito “golpismo de toga” (sem dúvida, articulados ao
parlamento e à mídia, embora (https://esquerdaonline.com.br/)
“golpe parlamentar” ou “golpe midiático” não parecem
definir a essência dessas investidas). Vale refletir, no entanto, sobre conceitos como
“neogolpismo” ou “golpe branco/brando”, que apontam a ênfase dos golpistas do
século XXI em manter o funcionamento das instituições, pois isso também não é
tão neo assim. Até o golpe de 1964 tentou manter as aparências de um Congresso e
STF funcionando. Mas vale observar, como fez Fabrício Silva
(https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rsulacp/article/viewFile/14207
/9147), que uma concepção hegemônica de democracia, que a reduz a “nada mais
que instituições e procedimentos que devem se reproduzir globalmente”, embasa
esse “neogolpismo”. Como a noção do latino-americano corrupto, essa concepção
demofóbica de democracia é “imposta a partir dos países centrais às ciências
sociais das periferias, mas ao mesmo tempo é abraçada com gosto por estas”.

Como estamos argumentando nessa série, as táticas das batalhas jurídicas


lavajatistas são traçadas em conjunto com agências estrangeiras, estatais e
privadas, que comandam a estratégia da guerra global à corrupção. No entanto, um
complicador que contribui para deslegitimar análises sobre como articulações
golpistas envolvem agentes estrangeiros é a proliferação de teorias conspiratórias,
as quais apontam o imperialismo como causa única dos golpes. Destas, a mais em
voga é a do livro de Andrew Korybko “Guerras híbridas: das revoluções coloridas aos
golpes”, que merece algumas linhas de crítica. Embora traga elementos empíricos
sobre as táticas da estratégia de regime change (golpe) do capital-imperialismo
estadunidense, sua análise é uma propaganda barata do imperialismo russo.
Korybko trabalha para o “Instituto de Estudos e Previsões Estratégicas”, que tem
como missão “promover o fortalecimento da posição internacional da Rússia e a
formação de uma imagem positiva do país no exterior (http://isip.su/ru/about)”.
Como apontou Medeiros (https://passapalavra.info/2020/01/129676/), a
perspectiva teórica do autor ecoa a linha de Alexsandr Dugin, assessor de Putin e
criador da escola conservadora “neoeruasiana”: Korybko defende a Hungria do
fascista Orban, o partido alemão de extrema-direita AfD, e torceu para Trump ganhar
as eleições de 2016.

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Tal alinhamento o leva a defender que qualquer manifestação na Rússia ou nos seus
Estados aliados é uma iniciativa promovida pela guerra híbrida estadunidense para
gerar desestabilização. Como (https://esquerdaonline.com.br/)
toda teoria conspiratória, Korybko apaga as
contradições sociais que engendram mobilizações de massas para enquadrá-las em
uma perspectiva mecânica e conspiratória onde um onipotente imperialismo
externo controla tudo por controle remoto. O autor pensa as massas mobilizadas
como, literalmente, um “enxame (http://libgen.rs
/book/index.php?md5=BE5B4B6199FA3CE0A63C6680F6DA568D)de abelhas
(http://libgen.rs/book/index.php?md5=BE5B4B6199FA3CE0A63C6680F6DA568D)”.
Recentemente, Korybko (http://www.oneworld.press/?module=articles&
action=view&id=1128) sugeriu que as manifestações chilenas contra o governo
neoliberal e alinhado aos Estados Unidos de Sebastián Pinẽra eram guerras híbridas
invertidas, demonstrando a fraqueza da forma como utiliza o conceito. Assim, como
analisou Simone Kawakami (https://seer.ufrgs.br/ConjunturaAustral/article
/view/94624), Korybko apenas inverte o conceito proposto pelo general James
Mattis e pelo coronel Frank Hoffman, militares estadunidenses que escreveram
Future Warfare: The Rise of Hybrid Wars (http://milnewstbay.pbworks.com
/f/MattisFourBlockWarUSNINov2005.pdf) em 2005 para denunciar as “guerras
híbridas russas”.

Mas, se a redução da História a teorias conspiracionistas é uma mistificação,


também o são as noções que reduzem a política às ações oficiais e institucionais.
Foi o que argumentaram Hoeveler e Melo (http://saber.unioeste.br/index.php
/temposhistoricos/article/view/11096/7916) em resposta aos liberais que tentaram
deslegitimar como “conspiracionista” a análise de René Dreifuss sobre a
participação estadunidense no golpe de 1964. Conspiratórias não são as análises, e
sim as articulações políticas que não passam pelos canais oficiais, uma prática
comum a quem participa da luta política (https://diplomatique.org.br/conspiracao-
e-corrupcao-uma-hipotese-muito-provavel/).

O bonapartismo de toga e a esquerda

Bonapartismo de toga (https://esquerdaonline.com.br/2018/01/25/o-bonapartismo-

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de-toga-golpe-contrarreformas-e-o-protagonismo-politico-do-poder-judiciario-no-
brasil-atual/) é o processo em que uma força social, como o lavajatismo dos juízes
(https://esquerdaonline.com.br/)
que vestem toga, assume relativa autonomia das classes sociais que compõe o
bloco no poder – geralmente em uma conjuntura de crise – e se projeta na disputa
pela direção hegemônica do bloco aumentando seu poder político. A capacidade
que um juiz de um Tribunal Regional assumiu para condenar sem provas o
candidato que liderava as pesquisas para a presidência em 2018 exemplifica esse
avanço bonapartista. Mas enfrentar as investidas do bonapartismo de toga vai
muito além de defender pontualmente direções da social-democracia latino-
americana: é lutar para que existam garantias democráticas que impeçam alguém
de ser sumariamente condenado, uma luta fundamental das organizações da classe
trabalhadora. Tal luta se torna ainda mais crucial no contexto em que vivemos hoje,
onde os fascistas avançam, como nos tempos de Gramsci, de braços dados com os
juízes (https://esquerdaonline.com.br/2018/09/23/gramsci-e-o-fascismo-
a-cumplicidade-do-estado-e-da-justica/), agindo para destruir as poucas garantias
legais que temos e exacerbar o genocídio ao povo negro e indígena, periférico e
camponês, genocídios que o Estado capitalista e as milícias da burguesia nunca
pararam de promover.

Como exposto, a guerra global à corrupção é uma agenda privatista, colonialista e


golpista do capital-imperialismo. Para nos opormos a essa agenda da direita e do
empresariado, expressa no Brasil pelo lavajatismo, nossa política de denúncia da
corrupção não pode assumir acriticamente a bandeira do “Fora todos corruptos”.
Por outro lado, o polo petista – de quem se esperaria uma posição firme de
denúncia do caráter burguês do poder judiciário (não por iniciativa própria, mas por
terem sido empurrados pela realidade) – não propõe nenhuma estratégia para
enfrentar o bonapartismo de toga. O jornalista petista Luis Nassif, que tem
acompanhado de perto as articulações da Lava Jato com os Estados Unidos, tem
problematizado a questão nos termos de “como o PT pôde deixar as articulações de
juízes, promotores e policiais brasileiros com suas contrapartes estadunidenses
irem tão longe (https://jornalggn.com.br/noticia/como-se-deixou-a-lava-jato-ir-tao-
longe-por-luis-nassif/)”. Em referência ao Projeto Pontes, Nassif afirma que “é
inacreditável que um evento tão ostensivo como este tenha passado despercebido

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do governo Lula (https://jornalggn.com.br/justica/como-o-doj-preparou-a-lava-jato-


e-cooptou-a-justica-brasileira-por-luis-nassif/)”.
(https://esquerdaonline.com.br/)

No entanto, segundo o destaque dos próprios telegramas


(https://search.wikileaks.org/plusd/cables/05BRASILIA61_a.html#efmDEVDIr) da
Embaixada norte-americana, foi o governo Lula que começou a promover a agenda
de combate à lavagem de dinheiro em 2003. Como analisou a pesquisa de Eurelino
Coelho (https://portalseer.ufba.br/index.php/revistagerminal/article/view/18056), o
PT transformou seu discurso classista dos anos 1980 no discurso da ética na
política nos anos 1990. A Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem
de Dinheiro (ENCCLA (http://enccla.camara.leg.br/reunioes)), que articulou essa
rede de “aplicadores da lei”, foi lançada em 2003 pelo Departamento de
Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI) do Ministério da
Justiça (MJ) de Lula – o mesmo que depois seria escanteado pela Lava Jato.
Segundo seu site, a ENCCLA treinou mais de 18 mil agentes
(http://enccla.camara.leg.br/resultados) públicos no combate à corrupção; desde
2003, organizou 17 eventos nacionais; e apenas de 2016 a 2020, realizou mais de
1.000 reuniões (http://enccla.camara.leg.br/reunioes).

Além disso, a lei anticorrupção (https://www.planalto.gov.br/ccivil_03


/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12846.htm) escrita por Dilma em abril de 2013 foi
baseada em uma convenção da OCDE (https://youtu.be/X7rzUEjKVos?t=312), a qual
foi tecida pela Foreign Corrupt Practices Act (FCPA), uma lei norte-americana que
estabeleceu as bases para os EUA poderem processar empresas estrangeiras
(como analisaremos na parte 2). Dessa forma, partindo do argumento de punir não
apenas os corruptos mas também os corruptores, Dilma importou práticas como os
acordos de leniência, abrindo caminho para o uso da tática ensinada nos
treinamentos do Projeto Pontes de estimular delações premiando empresários
corruptos.

O problema aqui obviamente não é um tratamento “muito duro” aos empresários, e


sim ao fato da palavra de bandidos ser tomada como prova, e, pior ainda, apenas
quando ela diz o que os procuradores e juízes querem. Emblemático da hipocrisia

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lavajatista é a recusa em ouvir Tacla Durán, o advogado da Odebrecht que


denunciou (https://www.poder360.com.br/justica/arsenal-de-duran-inclui-supostas-
(https://esquerdaonline.com.br/)
mensagens-de-zucolotto-e-texto-da-interpol/) os advogados Carlos Zucolotto
(padrinho de casamento de Moro e sócio da sua esposa) e Marlus Arns (também
sócio de Rosângela Moro) por oferecerem um acordo em troca de propina. Moro
descartou o depoimento dizendo que Durán era um conhecido lavador de dinheiro. E
os doleiros que o paladino da Lava Jato deixou livres em troca de delações, não
eram? Além de corruptos, tais empresários partilham a repulsa classista a qualquer
político com alguma base popular, e ainda por cima são estimulados a delatar tais
políticos por prêmios milionários de agências estadunidenses
(https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:M721jd126FIJ:https:
//economia.estadao.com.br/noticias/governanca,site-nos-eua-oferece-recompensa-
por-denuncias-contra-a-petrobras,1587849&client=ubuntu&hs=Ws&hl=pt-BR&gl=br&
strip=1&vwsrc=0). Sob pressão das ameaças e sob a guia dos advogados do
compliance, os delatores da Lava Jato mudaram diversas vezes seus depoimentos.
Como destacou o documentário Lava Jato entre quatro (https://www.youtube.com
/watch?v=A7uE26IKDvE&ab_channel=NORMOSE)paredes
(https://www.youtube.com/watch?v=A7uE26IKDvE&ab_channel=NORMOSE), é
notório o caso da delação do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que no
início afirmou que a empresa pagava mais caro por contratos para desviar dinheiro
(superfaturava), mas depois negou que isso acontecia – e foi com base na denúncia
de superfaturamento que acionistas estadunidenses processaram a Petrobras.

Na época da lei anticorrupção de 2013, como observou Luís Fernandes


(http://www.entropia.slg.br/index.php/entropia/article/view/141/139), o Instituto
Ethos comemorou a vitória e agradeceu (https://www.ethos.org.br/cedoc/lei-
anticorrupcao-empresarial-e-sancionada-e-ja-esta-em-vigor/) ao Escritório das
Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), ao Pacto Global, à Patri Políticas
Públicas, ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e ao
Fórum Econômico Mundial pela articulação. Segundo a explicação do presidente do
Instituto Ethos, Ricardo Young, relatada em um telegrama da Embaixada norte-
americana de 2008 (https://search.wikileaks.org/plusd/cables
/08BRASILIA41_a.html), a articulação foi realizada através do Pacto Empresarial

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pela Integridade e Contra a Corrupção, lançado em 2005. Equivocadamente, a lei


anticorrupção é muitas vezes atribuída à pressão das jornadas de junho
(https://esquerdaonline.com.br/)
(https://youtu.be/A7uE26IKDvE?t=114) (o que não faz sentido, pois foi apresentada
por Dilma em abril), quando na verdade foi mais um capítulo da reforma do Estado
impulsionada pelos APHs empresariais da GWC. Quer dizer, os governos do PT
aprofundaram as reformas anticorrupção do Estado brasileiro por uma perspectiva
empresarial, as quais foram iniciadas pelo PSDB, por exemplo quando FHC criou a
Controladoria Geral da União (CGU) em 2001.

Vale observar, porém, que embora os documentos da ENCCLA


(http://enccla.camara.leg.br/acoes
/ENCCLA2018Ao01PlanodeDiretrizesdeCombateCorrupo.pdf/view) apontem como
base das suas atividades as diretrizes de APHs empresariais como a Transparência
Internacional, eles dizem que a ENCCLA recusou os convites desses APHs para
formarem uma parceria de trabalho. E que mesmo tendo se submetido à legislação
internacional anticorrupção e estimulado sua difusão no Brasil, o governo do PT
tomou algumas iniciativas contrárias à GWC, como quando se recusou
(https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:JQZ8w0FOz_EJ:https:
//politica.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-fica-fora-de-tratado-
anticorrupcao,811491&client=ubuntu&hs=06p&hl=pt-BR&gl=br&strip=1&
vwsrc=0%5B), em 2011, a assinar um tratado na OMC que apontava pela
necessidade de maior transparência nas licitações públicas. O caso é emblemático
da contradição entre a agenda anticorrupção e o estímulo às “campeãs nacionais”,
pois, como aponta Luís Fernandes (http://www.entropia.slg.br/index.php/entropia
/article/view/141/139), o tratado tinha como um dos seus objetivos “viabilizar a
participação competitiva de empresas norte-americanas e europeias nas licitações
para prestação de serviços na Copa do Mundo de Futebol, em 2014, e nos Jogos
Olímpicos, em 2016”, o que prejudicaria as construtoras do capital-imperialismo
brasileiro.

Poderia-se dizer, como argumenta (https://www.americasquarterly.org/fulltextarticle


/aq-top-5-corruption-busters-sergio-moro/) o diretor do Conselho das Américas,
Matias Spektor (crítico à direita dos governos petistas), que o PT foi “compelido”

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pela economia internacional a aceitar o compliance. Se Bratsis


(https://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista/arquivos_biblioteca
(https://esquerdaonline.com.br/)
/artigo2017_10_01_17_45_53.pdf) tem razão quando comenta como o “ímpeto em
direção à ‘transparência’ tornou-se sagrado, e nenhum regime ou líder mundial ousa
sequer argumentar contra ela”, é preciso não cair no pessimismo de que tal
compulsão é uma força invencível. A aceitação de bom grado da agenda
anticorrupção foi resultado do abandono de qualquer postura crítica do partido ao
“livre mercado” e às instituições internacionais. Hoeveler e Melo
(https://esquerdaonline.com.br/2015/04/22/a-agenda-anticorrupcao-e-as-
armadilhas-da-pequena-politica/) destacaram como Dilma, para atrair investimentos,
fazia coro ao discurso de Obama, nos encontros da Organização dos Estados
Americanos (OEA), relacionando corrupção e ineficiência. E, ao mesmo tempo em
que abria o Estado para os técnicos anticorrupção do capital, abria seus flancos
para as críticas anticorrupção ao escolher governar através de acordos com a direita
mais parasita e tecer relações com o empresariado mais corrupto.

O erro do PT nesse campo foi (além, evidentemente, de se emaranhar com o


empresariado brasileiro e emaranhar o Brasil no mercado global) acreditar que as
frações pequeno-burguesas do Judiciário iriam enfrentar a corrupção de forma
“técnica e neutra”. Como mostra a pesquisa de Hoeveler, uma das maiores
preocupações do APH estadunidense Conselho das Américas era manter os altos
salários dos juízes (https://www.as-coa.org/sites/default/files
/Rule%20of%20Law.pdf), para que esses mantivessem sua identificação de classe
com o empresariado.

Esse erro do PT reflete o erro fundamental da sua estratégia conciliatória, que


acreditou poder resolver o problema da corrupção reformando o Estado por dentro,
sem enfrentar o empresariado, ou melhor, se articulando a setores “progressistas”
dele. Ainda hoje, Lula defende que a Lava Jato é corrupta, mas que “o Ministério
Público é uma instituição séria”. Mesmo em comparação ao moderado
kirchnerismo, que como discutiremos na parte 5 ao menos tenta alguma
movimentação contra o bonapartismo de toga, o PT bate a cabeça contra a
correnteza da realidade para continuar crente na institucionalidade burguesa.

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É verdade que a batalha para democratizar os poderes judiciários, uma das últimas
fortalezas do capital, não é fácil. Como veremos na análise sobre o caso argentino,
(https://esquerdaonline.com.br/)
mesmo depois de conseguir aprovar no Congresso a lei para parte do Judiciário ser
eleita, o STF argentino simplesmente barrou a proposta. Até na Bolívia, onde a
Constituição de Evo instaurou eleições para todas as Cortes, o Tribunal
Constitucional Plurinacional (o STF boliviano), que até então era alinhado ao MAS
(partido de Evo), acabou aprovando a posse d (https://www.infobae.com/america
/america-latina/2019/11/13/el-tribunal-constitucional-avalo-a-jeanine-anez-como-
presidenta-interina-de-bolivia/)a golpista (https://www.infobae.com/america
/america-latina/2019/11/13/el-tribunal-constitucional-avalo-a-jeanine-anez-como-
presidenta-interina-de-bolivia/) Jeanine Áñez (https://www.infobae.com/america
/america-latina/2019/11/13/el-tribunal-constitucional-avalo-a-jeanine-anez-como-
presidenta-interina-de-bolivia/). Sob pressão das milícias, da polícia e das Forças
Armadas, dias depois da renúncia de Evo, do seu vice, da presidenta do Senado e do
presidente da Câmara de Deputados, pode-se dizer que o Judiciário não teve muita
escolha, afinal, depois deles, a fortaleza armada é a que, “em última instância”,
decide. Assim, logo depois do golpe, a polícia, a mando do Ministério Público,
prendeu vários juízes e procuradores (https://www.infobae.com/america/america-
latina/2019/11/13/el-tribunal-constitucional-avalo-a-jeanine-anez-como-presidenta-
interina-de-bolivia/), eleitos para formar os tribunais bolivianos, que se posicionaram
contra o golpe. E, na Venezuela, onde a Constituição da Revolução Bolivariana de
1999 atribuiu a escolha dos juízes do Tribunal Supremo de Justicia (TSJ, o STF
venezuelano) ao Congresso, Chávez teve que, para garantir um Judiciário não
golpista, aumentar o número de magistrados de 20 para 32 depois do TSJ defender
a tentativa fracassada de golpe apoiada por Bush em 2002. Como consequência,
hoje o Departamento de Estado dos EUA oferece um prêmio de US$ 5 milhões
(https://www.poder360.com.br/internacional/eua-oferecem-us-5-milhoes-pela-
prisao-do-presidente-do-stf-da-venezuela/) pela cabeça do presidente do TSJ Maikel
Moreno, acusado de corrupção, e há anos a Venezuela é colocada pela
Transparência Internacional como o país mais corrupto da América
(https://noticias.r7.com/internacional/venezuela-e-nicaragua-sao-paises-mais-
corruptos-da-america-latina-29012019).

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Para contribuir nessa complexa formulação de uma política socialista que denuncie
a corrupção intrínseca ao capitalismo e ao mesmo tempo enfrente o bonapartismo
(https://esquerdaonline.com.br/)
de toga, os próximos textos irão analisar alguns fios da teia de agências do Estado
norte-americano (parte 2) e da malha de aparelhos privados (parte 3) que
promovem a guerra global anticorrupção.

Marcado como:
LAVA JATO (HTTPS://ESQUERDAONLINE.COM.BR/TAG/LAVA-JATO/) /
OPERAÇÃO LAVA JATO (HTTPS://ESQUERDAONLINE.COM.BR/TAG/OPERACAO-LAVA-JATO/) /
SERGIO MORO (HTTPS://ESQUERDAONLINE.COM.BR/TAG/SERGIO-MORO/) /
SÉRIE LAVA JATO (HTTPS://ESQUERDAONLINE.COM.BR/TAG/SERIE-LAVA-JATO/)

Publicado em: 30/06/2021 01h50 Modificado em: 17/07/2021 11h20

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(https://esquerdaonline.com.br/2023/03/27/moro-em-busca-de-justica-enfim-a-hipocrisia/)

Moro em busca de justiça: enfim, a hipocrisia


(https://esquerdaonline.com.br/2023/03/27/moro-em-busca-de-justica-enfim-a-hipocrisia/)
27 DE MARÇO DE 2023 • HENRIQUE CANARY, DE SÃO PAULO (SP) ()

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(https://esquerdaonline.com.br/2023/01/24/damares-e-moro-envolvidos-ate-o-pescoco-na-tragedia-
yanomami/)

Damares e Moro envolvidos até o pescoço na tragédia yanomami


(https://esquerdaonline.com.br/2023/01/24/damares-e-moro-envolvidos-ate-o-pescoco-na-tragedia-
yanomami/)
24 DE JANEIRO DE 2023 • HENRIQUE CANARY, DE SÃO PAULO (SP) ()

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(https://esquerdaonline.com.br/2022/04/01/a-desistencia-de-moro-e-a-decadencia-da-juventude-liberal/)

A desistência de Moro e a decadência da juventude liberal


(https://esquerdaonline.com.br/2022/04/01/a-desistencia-de-moro-e-a-decadencia-da-juventude-
liberal/)
01 DE ABRIL DE 2022 • ADEMAR LOURENÇO ()

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(https://esquerdaonline.com.br/2021/08/29/a-reforma-judicial-na-argentina/)

A reforma judicial na Argentina


(https://esquerdaonline.com.br/2021/08/29/a-reforma-judicial-na-argentina/)
Leia o último artigo da série Lava Jato e o capital-imperialismo

29 DE AGOSTO DE 2021 • GABRIEL KANAAN, DE NITERÓI, RJ ()

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(https://esquerdaonline.com.br/2021/08/17/o-cacador-que-virou-caca-conexoes-e-tensoes-entre-a-guerra-
global-a-corrupcao-e-o-ascenso-protofascista/)

O caçador que virou caça: conexões e tensões entre a guerra global à


corrupção e o ascenso protofascista
(https://esquerdaonline.com.br/2021/08/17/o-cacador-que-virou-caca-conexoes-e-tensoes-entre-
a-guerra-global-a-corrupcao-e-o-ascenso-protofascista/)
O bonapartismo de toga, insuflado pela guerra global à corrupção, regou as raízes do protofascismo e
o protegeu durante seu crescimento, mas agora está sendo devorado pela própria criatura

17 DE AGOSTO DE 2021 ()

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A Lava Jato e o capital-imperialismo - Esquerda Online https://esquerdaonline.com.br/2021/06/30/a-lava-jato-e...

(https://esquerdaonline.com.br/)

(https://esquerdaonline.com.br/2021/07/17/o-fantastico-mundo-da-transparencia-e-outros-contos-de-fada-
dos-aparelhos-privados-de-hegemonia-empresariais-anticorrupcao/)

O fantástico mundo da transparência e outros contos de fada dos


Aparelhos Privados de Hegemonia Empresariais anticorrupção
(https://esquerdaonline.com.br/2021/07/17/o-fantastico-mundo-da-transparencia-e-outros-contos-de-
fada-dos-aparelhos-privados-de-hegemonia-empresariais-anticorrupcao/)
Parte 3 da série A Lava Jato e o capital-imperialismo

17 DE JULHO DE 2021 • GABRIEL KANAAN*, DE NITERÓI, RJ ()

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