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RESUMO
Para alguns a operação Mãos Limpas significou um divisor de águas que alterou
drasticamente a política, a sociedade e a cultura italiana uma vez que o partido comunista fora
dissolvido. Para outros a operação significou a perpetuação da corrupção na Itália, já que
falhou no cumprimento de seu objetivo e acabou possibilitando que se instaurassem medidas
que facilitariam a corrupção. Ambas as visões possuem coerência, mas não necessariamente
eliminam as argumentações da outra. Uma operação monumental na qual as autoridades
investigaram mais de 6.000 pessoas e emitiram quase 3.000 mandados de prisão no decorrer
de dois anos, trouxe a tona subornos pagos e uma articulação corrupta entre políticos e
empresas, onde o primeiro ministro também se viu no meio das investigações. Para o juiz
Sérgio Moro, foi um marco na história do Judiciário e teve uma relevância somente antes
vista no combate ao terrorismo e à máfia, um verdadeiro divisor de águas no que tange o
combate da corrupção, servindo de inspiração para que ele desse início a Operação Lava-Jato
no Brasil. O objetivo seria apurar um grande esquema de lavagem de dinheiro, que vinha
sendo investigado há algum tempo, e que envolvia grandes empresas do ramo de combustível
no Brasil, a principal delas, a Petrobrás, além da vinculação com grandes empreiteiras
envolvidos em um esquema de lavagem de dinheiro que movimentou bilhões de reais em
propina de pessoas em cargos públicos no Brasil, e utilizou diversas organizações, públicas e
privadas, para a realização de seus crimes. Tal esquema de corrupção e lavagem de dinheiro,
entre outros delitos perpetrados, teve duração de mais de dez anos, e movimentou quantias e
valores altíssimos. Neste ano, sete anos após sua deflagração, a operação foi oficialmente
encerrada deixando grandes descontentamentos pela sua falta de efetividade, que não
alcançou o patamar desejado.
ABSTRACT
For some, Operation Clean Hands (Mani Pulite) meant a turning point that drastically
altered Italian politics, society and culture once the Communist party was dissolved. For
others, the operation meant the perpetuation of corruption in Italy, since it failed to achieve its
goal and ended up enabling measures to be taken that would facilitate corruption. Both views
are coherent, but they do not necessarily exclude the arguments of the other. A monumental
operation in which the authorities investigated more than 6,000 people and issued nearly
3,000 arrest warrants over the course of two years, brought to light bribes and a corrupt
articulation between politicians and companies, where the prime minister also found himself
in the middle of the investigations. For judge Sérgio Moro, it was a milestone in the history
of the Judiciary and had a relevance only before seen in the fight against terrorism and the
mafia, a true game changer in the fight against corruption, serving as an inspiration for him to
start the Operation Lava-Jato in Brazil. The objective would be to investigate a large money
laundering scheme, which had been investigated for some time, and which involved large
companies in the fuel industry in Brazil, the main one, Petrobrás, in addition to the link with
large contractors involved in a money laundering that moved billions of reais in bribes to
people in public positions in Brazil, and that used several organizations, both public and
private, to carry out their crimes. Such a scheme of corruption and money laundering, among
other crimes perpetrated, lasted for more than ten years, and moved very high amounts and
values. This year, seven years after its start, the operation was officially terminated, leaving
great displeasure due to its lack of effectiveness, which did not reach the desired level.
PALAVRAS CHAVE
Corrupção; Mãos-Limpas; Lava-Jato; lavagem de dinheiro; governo; crime organizado
1
De acordo com o dicionário, “corrupção” pode ser definida como: “ação ou efeito de
corromper, de adulterar o conteúdo original de algo; ação ou resultado de subornar, de
oferecer dinheiro a uma ou várias pessoas, buscando obter algo em benefício próprio ou em
nome de uma outra pessoa; suborno; utilização de recursos que, para ter acesso a informações
confidenciais, podem ser usados em benefício próprio; alteração das propriedades originais de
alguma coisa; ação de decompor ou deteriorar; desvirtuamento de hábitos; devassidão de
costumes; devassidão”. Durante entrevista em 2006, o então presidente do Banco Mundial,
Paul Wolfowitz, classificou a corrupção como "um grande tema" no Brasil e também como
sendo "endêmica e profundamente enraizada" ao falar sobre as denúncias de corrupção no
Brasil envolvendo o Congresso Nacional e o governo federal.
A operação Lava-Jato, deflagrada pela Polícia Federal em 2014 para apurar um grande
esquema de lavagem de dinheiro envolvendo empresas públicas e privadas, sendo a maior
operação anticorrupção na história do Brasil, onde dezenas de pessoas foram presas ou
indiciadas na aludida operação, que até então era de competência da Justiça Federal e que
pelo entendimento recente do Tribunal pátrio deveria ser enviado para a Justiça Eleitoral, que
passaria a deter competência exclusiva.
A Operação Lava Jato foi iniciada há cinco anos, em março de 2014, e conta,
atualmente, com 57 fases. Considerando o lapso temporal, nos questionamos se ela
seria uma consequência da promulgação da Lei Anticorrupção (Lei nº 12.846/13),
em 1º de agosto de 2013. No entanto, embora haja semelhança semântica entre a
ideologia da operação e o nome dado à lei, a atuação das duas são juridicamente
distintas.2
1
FILGUEIRAS, Fernando. A tolerância à corrupção no Brasil: uma antinomia entre as normas morais e prática
social. Opin. Publica , Campinas, v. 15, n. 2, p. 386-421, novembro de 2009.
2
FERRARI, Ana Carolina; MACEDO, Isabella Nascimento. Justiça Eleitoral: a Lei Anticorrupção e a
competência da Lava Jato. Instituto de Estudos Avançados em Direito. 2019.
3
BARROS, Mariana. Análise da ‘Operação Lava Jato’ a luz dos conceitos da Governança Corporativa. 2015.
4
BARROS, Mariana. Análise da ‘Operação Lava Jato’ a luz dos conceitos da Governança Corporativa. 2015.
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duração de mais de dez anos, e movimentou quantias e valores altíssimos, envolveu centenas
e centenas de pessoas, tanto ativa como passivamente, assim como utilizou de diversas
empresas, públicas e privadas, para a prática de seus fins delituosos, inclusive organizações
públicas ou mistas como é o caso da Petrobrás. Não obstante, escândalos e ações penais
anteriores como no caso conhecido como Mensalão, a Operação Lava-Jato se tratou de uma
esquema contra a corrupção nunca visto na história do Brasil, tendo envolvido uma força
tarefa de uma equipe numerosa e especializada, formada por cerca de 14 procuradores e
apoiada por mais de 50 profissionais entre assessores, técnicos e especialistas, que com muita
maestria ao longo dos anos ajudaram a colocar na prisão muitos políticos condenados por atos
de corrupção.5 As consequências advindas da Operação Lava-Jato também nunca antes
ocorreram em tais proporções no Brasil, com a condenação de inúmeros agentes de corrupção
e a recuperação de enormes somas desviadas de órgãos e empresas públicas, que foram
devolvidas aos cofres públicos.
5
BORGES, Bruno. Urgente! É o fim da Lava Jato? 2019.
6
GONCALVES, Vinícius Batista; ANDRADE, Daniela Meirelles. A corrupção na perspectiva durkheimiana:
um estudo de caso da Operação Lava Jato. Rev. Adm. Pública, Rio de Janeiro , v. 53, n. 2, p. 279. Apr. 2019.
7
FERRARI, Ana Carolina; MACEDO, Isabella Nascimento. Justiça Eleitoral: a Lei Anticorrupção e a
competência da Lava Jato. Instituto de Estudos Avançados em Direito. 2019.
4
Para entender esse impacto que estamos vendo com a operação, é preciso ir até a raiz
da rede de influência da Operação Lava-Jato que coincide com uma Operação similar, em
quase tudo, porém ocorrida na Itália, chamada Mãos Limpas, Essa operação, segundo
PEDERZOLI; ANIA (2004) começa na Constituição de 1948, promulgada logo após o
regime fascista, porém com viés democrático.
Em 1992 teve início em Milão a operação conhecida como “Mãos Limpas” (Mani
Pulite), após a prisão de Mario Chiesa, o diretor de uma instituição filantrópica associado ao
partido socialista italiano. Em dois anos de investigação, quase 3000 mandados de prisão
foram expedidos e mais de 6000 pessoas estavam sendo investigadas, dentre as quais se
encontravam diversas figuras públicas – quase 500 parlamentares, 872 empresários e 1978
administradores locais. A operação se estendeu então para o resto do país e mais de 1.223
pessoas foram condenadas.
Para uns, a operação significou uma nova era para a política e a sociedade italiana,
enquanto outros enxergam a operação como tendo sido uma perpetuação da corrupção, uma
5
vez que o tema foi sendo deixado de lado nas agendas políticas e que, as mudanças sociais,
políticas e culturais favoreceram a instauração medidas que potencialmente facilitavam a
corrupção e um sistema que falhou em combatê-la. As tensões teriam então somente escalado
e ao poder havia chegado o primeiro ministro Silvio Berlusconi, envolvido em diversas
investigações de corrupção e que obteve sucesso em instaurar medidas onde ficava definido
que ele não poderia ser investigado.
A Operação Mãos Limpas (Mani Pulite), foi uma operação monumental, na qual as
autoridades investigaram mais de 6.000 pessoas e emitiram quase 3.000 mandados de prisão
no decorrer de dois anos, trazendo a tona subornos pagos e uma articulação corrupta entre
políticos e empresas, inclusive o primeiro ministro. Tendo sido inspiração ou não para a
operação Lava-Jato em curso no Brasil, a Operação Mãos Limpas tem admiradores e críticos,
uns afirmando que o cenário político e social foi drasticamente alterado e que a operação
cumpriu seu objetivo ao condenar grandes empresários e políticos de alto escalão italianos,
tornando-se exemplo de combate a corrupção, enquanto outros afirmam que a operação
apenas perpetuou o cenário de corrupção italiano e que serviu de ferramenta para que se
instalasse um governo corrupto e protegido por medidas instauradas na reestruturação da
política italiana, desconstruída após a conclusão da operação.
Há também um segundo ponto de vista, dos críticos da operação. Em seu artigo “The
Controversial Legacy of ‘Mani Pulite’: A critical analysis of Italian corruption and anti-
corruption policies” (2009), Alberto Vannucci aponta que a corrupção se tornou um grande
problema político na Itália na década de 1990, quando a operação teve inicio, e ao longo dos
próximos anos foi desaparecendo da agenda política. A operação contra a corrupção teria
servido de instrumento para a perpetuação dos governos corruptos. Após a operação que
resultou em mudanças drásticas e a dissolução do partido comunista italiano, havia um vácuo
de poder a ser preenchido e o primeiro ministro eleito foi Silvio Berlusconi, um dos
investigados na operação e também em diversas outras investigações sobre corrupção.
Medidas implementadas pelo governo seriam facilitadoras da corrupção e a operação teria
sido um fracasso em seu objetivo.
Para alguns a operação Mãos Limpas (Mani Pulite) significou um divisor de águas que
alterou drasticamente a política, a sociedade e a cultura italiana uma vez que o partido
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Dez anos depois, acredita-se que a operação foi inspiradora para Moro, que acreditou ter
encontrado o melhor momento politicamente para colocar em prática suas observações
acadêmicas em prática. Ele lidera um grupo de jovens investigadores, alguns capacitados pelo
FBI, que se utilizando das mesmas ferramentas estão desarticulando esquemas que atingem
hierarquias antes vistas como intocáveis, fato já apontado por Semler em sua entrevista.
Essa operação teve um impacto gigante na opinião popular, que era expectadora da
operação, e que se tornava cada vez mais um parâmetro de medida para as futuras ações de
Magistrados, Ministério Público, Advocacia e demais participantes dos processos em massa
que seriam travados durante essa Mega Operação.
Em 2019, cinco anos após o início dessa Operação, o então Ministro do Supremo
Tribunal Federal Edson Fachin divulgou um balanço geral8 dos números de 2019 referentes a
Inquéritos, ações penais, petições, colaborações premiadas, ações cautelares denúncias e
Recursos que foram sendo apresentados durante os desdobramentos da Operação Lava-Jato.
• 418 decisões;
• 1.696 Despachos;
8
Disponível em <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=432874> Acesso em 29
de maio de 2020.
9
• 1 inquérito redistribuído.
Esses números se referem apenas ao ano de 2019, porém, não deixa de ser impactante
notar que uma Operação Policial sozinha, já perdurou por mais de 5 anos e não teve todos os
seus desdobramentos concluídos. Mas, o mais relevante a essa Operação, porém, está muito
mais relacionado ao seu impacto social gigantesco, que movimentou inclusive prisões de
políticos importantes, e um processo de impeachment, a que alguns defendem a legitimidade e
outros o questionam se não teria sido um golpe.
Ele afirma que o Brasil possuía condições institucionais para uma ação judicial
parecida, fazendo um diagnóstico do sentimento da população (“grande frustração pela
quantidade de promessas não cumpridas após a restauração democrática”) que os dados de
2004 e o resultado das eleições seguintes pareciam não corroborar. Em 2004, a economia
havia crescido 5,7% e, em 2006, 11 milhões de famílias já estavam sendo beneficiadas pelo
Bolsa Família (mesmo o programa sendo atribuído ao governo de FHC, e que seja dito que o
governo Lula unificou uma série de benefícios já existentes e renomeou de Bolsa Família, é
inegável que sua expansão ocorreu no governo Lula, fazendo do programa o maior em
distribuição de renda do mundo). Após a eleição de Lula em 2003, os brasileiros não só o
reelegeram para um segundo mandato, como a candidata do Partido dos Trabalhadores, Dilma
Roussef, também foi eleita por dois mandatos. Além disso, pesquisas do Ibope apontam que a
aprovação dos brasileiros à democracia estava em elevação crescente durante os governos
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Lula e Dilma, fatos que vão na contramão do diagnóstico de Moro. Nos dois últimos anos do
governo FHC, em 2000, 52% dos brasileiros afirmaram que iam as urnas apenas por serem
obrigados, porcentagem que caiu para 36% em 2010, durante governo do PT.
As semelhanças vistas por Moro, frente aos dados e pesquisas, seriam mais a tentativa
de construção da situação favorável através do discurso de agitação política, do que uma
situação real vivida pela sociedade brasileira. Desde o pós Guerra, a Itália vivia uma situação
política instável, sendo que no período de 46 anos entre 1946 e 1992, ano que foi deflagrada a
Operação Mãos Limpas, a Itália teve 28 governos diferentes, poucos durando mais de 4 anos e
um deles, o de Amintore Fanfani, durando apenas 20 dias. A intervenção dos Estados Unidos
era clara e decisiva para a política italiana, mantendo o Partido Comunista sob controle,
permitindo que participassem da política e das eleições, porém o mantendo fora do poder. O
texto de Sérgio Moro nos leva a concluir que a situação favorável que se buscava era a de
“deslegitimação do sistema político brasileiro”, algo difícil de se acreditar tendo em vista que
o país passou por um regime militar de 20 anos e agora promoveria a “deslegitimação” das
suas instituições democráticas.
Para Moro, o sucesso das ações judiciais na Operação Mãos Limpas foi devido a
“maior legitimação da magistratura em relação aos políticos profissionais”, ou seja, apresentar
os políticos como criminosos, profissionais comprometidos apenas com o benefício próprio,
generalizando o comportamento criminoso para caracterizar a “profissão” inteira. Outro
agente importante na construção do cenário oportuno foi a mídia, tendo suas publicações
apontadas como “opinião pública”. Porém seria “opinião pública” ou “opinião publicada”? As
empresas jornalísticas não deixam de ser instituições privadas, com preferências políticas, que
buscam sustentação no mercado publicitário, determinando o que publicar e o que eliminar, e
que podem sim direcionar a real opinião pública para um ou outro lado. Moro atribui
participação da mídia na punição de agentes públicos, que por vezes não se pode fazer no
âmbito judicial, devido a dificuldade de se obter a carga de provas necessária para uma
condenação. O papel punitivo da mídia à agentes corruptos se dá por meio do ostracismo. Ou
seja, Moro acredita na utilização da mídia para punir agentes públicos mesmo quando o
sistema judiciário não consegue encontrar provas suficientes para corroborar com a prática
criminosa atribuída.
Em suas decisões quanto a prisão de João Vaccari Neto e sua cunhada, Marice Correia
de Lima, Moro autoriza prisões sem demonstrar a postura de um juiz, antecipando a pena sem
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o devido processo legal e o direito a defesa, o famoso “inocente até que se prove o contrário”.
Contra Marice Correia não havia evidência nenhuma que justificasse a prisão. A prisão de
Vaccari se baseia em depoimento sob delação premiada de Augusto Mendonça, sendo que na
definição das regras para a delação premiada está estabelecido que não haverá condenação
baseada apenas em declarações do colaborador (artigo 6, parágrafo 16 da lei 12.850), ou seja,
as declarações devem estar acompanhadas de provas concretas. De acordo com Paulo Moreira
Leite (2015):
No Brasil de 2015, Sérgio Moro é a autoridade que autoriza prender e soltar, castigar
e punir, vigiar e perseguir. Controla o poder de estado em seu grau máximo, que diz
respeito à liberdade dos cidadãos. Estabelece as duas fronteiras do mando – aquilo
que se exerce por consenso, quando a sociedade aceita o que o Supremo mandatário
deseja, e aquilo que se cumpre por coerção, que envolve o uso da força.
Mais uma evidência da articulação política de Moro para colocar a magistratura acima
dos poderes estatais, se encontra em mais um artigo acadêmico de sua autoria, agora no ano
de 2001, “Caso Exemplar: Considerações sobre o Caso Warren”, no qual faz considerações
sobre a atuação de Earl Warren, influente juiz da Suprema Corte norte-americana, Moro
oferece argumentos que poderiam ser usados como justificativa para a soltura de João Vaccari
Neto e outros muitos presos da Lava-Jato. O caso específico do qual estamos falando é o de
Miranda versus Arizona, onde Ernesto Miranda, acusado de raptar e estuprar uma jovem no
Arizona foi coagido, após horas de interrogatório, a confessar o crime de rapto e estupro além
mais dois crimes. De acordo com o artigo de Moro, a Suprema Corte então se envolveu no
caso para que Miranda pudesse ter seu direito de proteção contra autoincriminação garantido
(5ª Emenda da Constituição dos Estados Unidos), uma vez que em uma delegacia e sob
pressão de interrogatório a chance de um acusado confessar atos criminosos, tenham sido
cometidos por ele ou não, aumentam. Outro motivo do envolvimento da Suprema Corte seria
para que confissões de atos criminosos não fossem extraídas forçosamente por meios físicos e
psicológicos. A decisão da Suprema Corte foi favorável a Miranda, pois no seu entendimento,
suspeitos em interrogatórios sob custódia não podem ser pressionados para ir contra sua
vontade individual de resistir a autoincriminação e compelido a confessar algo que não o faria
em outra circunstância, ele deve ter seus direitos fundamentais garantidos. No código penal
Brasileiro, a prisão preventiva só pode ocorrer “quando houver prova da existência do crime e
indício suficiente da autoria”, o que não foi o caso da prisão de João Vaccari Neto, sua
cunhada e outros acusados, ou seja, em seu próprio artigo, Moro criticava atitudes do
judiciário que ele mesmo viria a repetir anos depois.
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Além das irregularidades e contradições nas prisões preventivas de João Vaccari Neto
e outros presos da Lava-Jato, outras irregularidades chamaram a atenção no decorrer da
Operação. A Polícia Federal admite que seja difícil distinguir o que se trata de propina e o que
seria doação de campanha, afirmando que possui “elementos iniciais” que indicam que
doações foram utilizadas como forma de corrupção, mas que há necessidade de “aprofundar
as análises”, trocando em miúdos, pode ser que tenha sido corrupção, mas pode ser que não e
a Polícia Federal não pode provar o que foi ou deixou de ser.
Outro ponto no qual houve irregularidade, algo gravíssimo, foi o caso das escutas
telefônicas na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Delegados foram pegos em atos de
desrespeito às leis, em declarações de seus próprios colegas, por tentativas de incriminar
inocentes para encobrir os verdadeiros culpados, mirando a oposição, os inimigos da
administração, ao invés dos reais criminosos. Em abril de 2014, o doleiro Alberto Youssef,
denunciou uma escuta colocada na cela da carceragem que dividiu com Paulo Roberto Costa,
ex-diretor de abastecimento da Petrobrás. A Polícia Federal negou que tivesse plantado
escutas ilegais na carceragem e que o aparelho que Youssef encontrou estava fora de uso e
havia sido legalmente utilizado quando o traficante Fernandinho Beira Mar ocupou aquela
mesma cela. A PF também negou que Youssef houvesse encontrado o dispositivo e que na
verdade a própria PF havia retirado o aparelho da cela. Um despacho do juiz Odilon de
Oliveira, corrobora a versão de que a escuta na cela de Fernandinho Beira Mar havia sido feita
de forma legal e autorizada.
A versão da PF foi aceita e ganhou credibilidade com a mídia, porém, os dados não
batiam. Ao examinar mais a fundo os registros da Polícia Federal do Paraná, o delegado
Mário Renato Castanheira Fanton constatou, através de uma nota fiscal eletrônica, que o
aparelho de escuta recuperado na cela de Youssef foi adquirido pela PF seis meses após
Fernandinho Beira Mar ser transferido para cumprir sua pena em um presídio, ou seja, a PF
não tinha em sua posse o equipamento em questão, tornando impossível que o mesmo
estivesse na cela 5 desde a época em que Fernandinho Beira Mar se encontrava na carceragem
da Polícia Federal de Curitiba. Não havia autorização da justiça para uma escuta na cela de
Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa.
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A escuta em questão havia sido instalada por Dalmey Fernando Werlang, a pedido dos
delegados Igor Romário de Paula, chefe da Operação Lava-Jato, Márcio Adriano Anselmo,
envolvido diretamente na operação, e Rosalvo Franco, superintendente da Polícia Federal no
Paraná. Após a foto de Youssef, visivelmente abatido por conta do encarceramento,
segurando a escuta, foi vinculada pelos jornais, Dalmey contatou o delegado Igor para saber
se havia autorização judicial para a escuta, onde Igor afirmou que não. De acordo com
Dalmey, em seu “Termo de Depoimento”, afirmou que somente neste momento tomou
consciência de que a escuta era ilegal. Os dados obtidos com a escuta eram colocados em pen-
drives e entregues diretamente ao delegado Márcio Anselmo, a cada 24 ou 48 horas.
Um pedido de abertura de inquérito foi feito pelo procurador Valtan Timbó Martins
Mendes Furtado, em 2015, para investigar “tráfico de influência” do ex-presidente Lula em
favorecimento da construtora Odebrecht, sem a apresentação de provas que justificassem o
pedido. Os advogados de Lula apontaram que houve um desvio de função e irregularidade na
atuação do procurador, que estaria interferido com a apuração preliminar, a qual estava sob
responsabilidade da procuradora Mirella de Carvalho Aguiar, que havia sido sorteada para
atuar no caso e que assim que o recebeu afirmou em seu despacho que os elementos
apresentados nos autos não eram suficientes para se iniciar uma investigação formal, no
entanto, ela ainda solicitou esclarecimentos por parte do Instituto Lula, Polícia Federal e
BNDS. O prazo concedido para apresentar os devidos esclarecimentos era 10 de julho, assim
a procuradora teria até 18 de setembro para analisar as explicações fornecidas e decidir se
haveria instauração de inquérito ou se o caso seria arquivado. Então, no dia 08 de julho, antes
mesmo do final do prazo para a defesa apresentar os esclarecimentos, Valtan Timbó
determinou em despacho que a investigação deveria ser iniciada. O próprio procurador Valtan
Timbó foi alvo de investigação de negligência na condução de 245 processos que estavam sob
sua responsabilidade.
IMPEACHMENT OU GOLPE?
O que Temer usou como defesa quando a assinatura dos decretos veio à tona, foi o
argumento de que ele simplesmente cumpriu uma “rotina burocrática”, afirmando que o vice-
presidente “não formula a política econômica ou fiscal”. Ora, se o chefe de Estado estava
ausente e o vice-presidente interino possuía decretos para assinar antes que o prazo expirasse,
este apenas assina os decretos, mesmo que contenham conteúdo considerado crime de
responsabilidade? O vice-presidente como chefe de Estado interino, em exercício, não possui
a capacidade de analisar um decreto e determinar se fere as leis? E mesmo que a formulação
de políticas econômicas e fiscais caiba ao presidente da república, o que faz o presidente
interino acreditar que mesmo contendo conteúdos que ferem as leis, ao retornar, o presidente
eleito assinaria os decretos como parte de “rotina burocrática”? Vamos pensar na vida
cotidiana, como quando desempenhamos certo cargo em uma empresa, por exemplo, se nos é
apresentada uma situação que sabemos ser errada, caso não tenhamos orientação do nosso
superior para não dar seguimento a tal situação nós faremos o que sabemos que é errado
somente porque é uma “rotina burocrática”? Acredito que a esmagadora maioria das pessoas
ao se depararem com uma situação similar, não faria algo que sabem que é errado. O mesmo
16
se espera de alguém que foi eleito para defender a Constituição de um país, que haja da
maneira correta dentro da lei. Não houve grandes consequências no caso de Michel Temer.
Tanto magistrados renomados internacionalmente quanto grandes periódicos mundo a
fora, concordam que o afastamento da presidente Dilma, sem provas consistentes, tratava-se
de uma articulação política para a mudança do governo, em resposta as investigações
perpetradas pela operação Lava-Jato, que ameaçava ministros, grandes empresários,
senadores, etc. Em momento algum, enquanto foi vice-presidente de Dilma, Michel Temer fez
forte oposição ou manifestou divergências sérias à administração da presidente, apenas de
fazerem parte de partidos de oposição um ao outro. A partir de 2015, no segundo mandato de
Dilma, Temer começou uma movimentação para ampliar sua base política, buscando se
aproximar cada vez mais dos setores de oposição à presidente. Isolado politicamente, sem
contar com um serviço de inteligência confiável que pudesse monitorar qualquer tentativa de
sabotagem, o Planalto estava fragilizado. Alguns ministros de Dilma, em 2015, conseguiam
notar certa estranheza no comportamento de ministros indicados por Temer, que não
buscavam se envolver na elaboração de políticas, não faziam sugestões nem críticas. Um
silêncio que preocupava mas não indicava o que iria acontecer.
Entre 2014 e 2016, o movimento que se formava era o de “deslegitimação” da
instituição democrática que é o Poder Executivo, na busca de colocar o Poder Judiciário
acima dos partidos e dos outros Poderes, utilizando a mídia para vincular sua agenda, para
ofuscar e contrariar o que as pesquisas mostravam, criando uma conjuntura política que não
existia para cumprir os objetivos políticos da oposição. O governo de Dilma Rousseff
alcançara níveis de aprovação altíssimos, que nem Lula havia alcançado, não havia
insatisfação como a mídia estava vinculando. Apesar de um golpe como o de 1964 ser algo
distante da realidade atual, a articulação política para se criar uma conjuntura favorável para a
manipulação do poder, alteração da hierarquia determinada na Constituição, não deixa de ser
considerado um golpe.
Art. 16. A denúncia assinada pelo denunciante e com a firma reconhecida, deve ser
acompanhada dos documentos que a comprovem, ou da declaração de
impossibilidade de apresentá-los, com a indicação do local onde possam ser
encontrados. Nos crimes de que haja prova testemunhal, a denúncia deverá conter
rol das testemunhas, em número de cinco, no mínimo.
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A denúncia contra a presidente Dilma foi aceita em 2016, pelo então presidente da
Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que no decorrer do processo agiu de forma
imparcial, incompatível com a posição que ocupava, tanto do que se espera de alguém no
cargo em que ocupava quanto do que se espera de um magistrado. Em certo ponto, ele chegou
a apontar alterações que deveriam ser feitas na denúncia para evitar questionamentos que
poderiam surgir nos tribunais. Condenado em 2017 a 15 anos e quatro meses de prisão pelos
crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, Eduardo Cunha se
encontra preso, um dos condenados como consequência das investigações da Operação Lava-
Jato. O silêncio dos ministros do Supremo Tribunal Federal frente as irregularidades no
processo de impeachment da presidente Dilma, demonstrou falha no cumprimento de seu
objetivo, de defender a Constituição e os direitos dos brasileiros. Como esclarece Paulo
Moreira Leite, o que é facilmente compreendido, “autoridades sob suspeita não deve ser
responsável pela apuração de crimes, nem por seu julgamento...se as acusações forem
comprovadas, as decisões terão de ser revistas e, conforme o caso, anuladas” (MOREIRA
LEITE, 2015), portanto, Cunha sequer poderia ter analisado e aceitado a denúncia contra
Dilma Rousseff. No entanto, em algo que aparenta ser uma articulação política proposital e
não apenas obra do acaso, Eduardo Cunha, frente sua capacidade de mobilização de apoio que
o fez aliado importantíssimo e indispensável para que afastasse ou mantivesse um presidente
no posto, mesmo tendo sido denunciado em dezembro de 2015, apenas em maio de 2016, foi
determinado seu afastamento da presidência da Câmara dos Deputados. Nesse período, a
qualquer momento, baseado em fatos concretos e depoimentos consistentes. As contas
secretas em bancos na Suíça não só eram reais, como foram bloqueadas pela justiça,
depoimentos em delações premiadas que eram suportados pelas existência das contas no
exterior acusavam o deputado de recebimento de propina, desde a época de Fernando Collor o
nome de Eduardo Cunha estava nas listas de autoridades suspeitas de corrupção, etc. De
acordo com a lei nº 1.709, haviam evidências mais do que suficientes para o afastamento de
Cunha de suas funções e para o impedi-lo de analisar e julgar processos de autoridades
suspeitas de atos ilícitos.
Em 31 de agosto de 2016, Michel Temer era empossado como Presidente da
República do Brasil, após a condenação de Dilma Rousseff pelas “pedaladas fiscais”, conceito
vago e criado pela imprensa. O presidente Temer, sob quem também pesavam acusações da
mesma natureza que custaram a Dilma o seu mandato, nunca foi julgado ou chamado a prestar
esclarecimentos sobre os R$10,7 bilhões e era condenado por crime eleitoral. Uma denúncia
feita em investigações da Operação Lava-Jato, Temer era acusado de solicitar pagamento de
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O sistema que vigorava na Itália foi elaborado de forma que o Judiciário e o Ministério
Público possuíssem ligações intimas. Assim, um indivíduo que adentrasse o sistema de justiça
por meio do concurso público, poderia durante a sua carreira exercer tanto a função de juiz
como a função de promotor. O objetivo desse sistema era que “o público em geral não
perceba mais a diferença entre os dois papéis” (DI FEDERICO, 1995).
Nesse mesmo contexto, foi criado o Alto Conselho da Magistratura, que se consolidou
dentro da sociedade como um órgão de autogoverno (SBERNA & VANNUCCI, 2013).
Formado por dois terços de membros eleitos pelos próprios juízes, e um terço pelo parlamento
(NELKEN, 1996). O papel desse Conselho, apesar de protuberante, se limita a proteção que
juízes e promotores possuem pelo controle das instâncias superiores do próprio Poder
Judiciário.
Esse tipo de circunstância foi o quadro institucional que permitiu aos magistrados
italianos que tivessem amplitude e liberdade de atuação dentro dessa Operação chamada
Mãos Limpas. A estratégia utilizada pelos decanos consistia em dois pontos principais:
delações dos investigados e a busca por apoio da opinião pública (GUARNIERI, 2015).
São pontos estrategicamente relevantes para entender a força que o Supremo Tribunal
Federal fomentou a si mesmo durante os desdobramentos da Operação Lava-Jato. A mídia,
durante a Operação Mãos Limpas, foi estrategicamente utilizada pela magistratura como
forma de aumentar o apoio a investigação (SBERNA & NANNUCCI, 2013).
“[…] algumas vezes fizeram uso estratégico de suas habilidades para tornar públicas
informações sobre acusações criminais, às vezes (ilegalmente) vazando a história
para um jornalista aliado. Essa oferta não apenas era uma oportunidade para
aumentar o prestígio, mas também possíveis vantagens para as investigações que
eles estavam conduzindo” (NELKEN, 1996).”
No início, esse tipo de articulação midiática era um jogo para disputar, entre juízes e
políticos, quem possuía maior influência entre a sociedade e gozava de maior prestígio. Isso
se tornou tão claro que muitos juízes e promotores abandonaram a carreira de dentro do
sistema de justiça, para levar essa disputa a uma luta partidária, com a disputa de eleições e
fundações de novos partidos (GUARNIERI, 2015).
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No Brasil, esse tipo de consequência direta, se deu de maneira mais evidente, com a
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saída do então juiz Sergio Moro, figura singular dentro dessa Operação Lava-Jato, para ser o
então Ministro da Justiça do governo de Jair Messias Bolsonaro, cargo, inclusive, que
deixou10 recente em meio a um vendaval de denúncias que seguem sendo investigadas pelo
Supremo Tribunal Federal, contra o então presidente da República, Jair Messias Bolsonaro. O
apoio popular, conforme pode ser observado no caso em tela tem muita proeminência dentro
do Poder Judiciário em momentos ímpares como essas duas Operações da História.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse clamor popular por justiça e por processos mais transparentes no Brasil teve seu
auge em 2014, com a aclamação de Juízes, principalmente a figura do ex-Juiz Sergio Moro, e
da Cúpula de 11 Ministros do Supremo Tribunal Federal, porém, como todo movimento
repentino e intenso, aos poucos essa chama foi se apagando e foi dando espaço a movimentos
menos guiados pelo senso justiça, com a disseminação de conceitos muitos mais raivosos, de
fato.
O importante é destacar que esse período, marcou a história, pois foi a partir dele que
houve uma mudança estrutural do modo como a sociedade brasileira se comportava em
relação à política. Como também, ficou muito mais claro o quanto a política pode estar
relacionada com o Poder Judiciário, e toda estrutura do Processo Penal de forma muito íntima.
Os frutos desse período ainda estão sendo evidenciados, porém, é importante entender
que, a influência social, também pode se modificar de maneira brusca. Isso ocorre, ocorreu e
ocorrerá em processos tão miscigenados como a Operação Lava-Jato. E normalmente, tende a
ser motivado pelas figuras mais expoentes no decorrer de toda essa influência e manifestação.
9
Disponível em < https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/04/24/juiz-da-lava-jato-moro-deixou-a-
magistratura-para-assumir-ministerio-da-justica-no-governo-bolsonaro-veja-perfil.ghtml. > Acesso em 29 de
maio de 2020.
10
Disponível em <https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/04/24/moro-anuncia-demissao-do-ministerio-da-
justica-e-deixa-o-governo-bolsonaro.ghtml> Acesso em 29 de maio de 2020.
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Como disse o próprio ex-juiz Sergio Moro:
“A estratégia de ação adotada pelos magistrados incentivava os investigados a colaborar com a justiça: A
estratégia de investigação adotada desde o início do inquérito submetia os suspeitos à pressão de tomar decisão
quanto a confessar, espalhando a suspeita de que outros já teriam confessado e levantando a perspectiva de
permanência na prisão pelo menos pelo período da custódia preventiva no caso da manutenção do silêncio ou,
vice-versa, de soltura imediata no caso de uma confissão (…)” (MORO, 2004)
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A eleição de Jair Messias Bolsonaro, em 2018, teve muito a ver com o movimento
anticorrupção que a Operação Lava-Jato propagou no pensamento dos brasileiros, falando o
que o eleitor queria ouvir, prometendo “acabar com as indicações políticas no governo em
troca de apoio”, realização de privatizações, apoio total a Lava-Jato e a luta contra a
corrupção, etc. Após eleito, fez exatamente o oposto, nomeou Augusto Aras para Procurador
Geral da República, cargo que lhe dá o poder de criar, ampliar ou encerrar forças-tarefa.
Crítico da Lava-Jato, a nomeação de Aras já foi um sinal de alerta do que poderia se
desenrolar nos anos seguintes, tendo recentemente se referido as investigações como “caixa
de segredos” dos procuradores, afirmando que era necessário “corrigir rumos” para que o
“lavajatismo” não continue. Na contramão do que afirmava em campanha sobre o combate a
corrupção, Bolsonaro foi acusado de tentar interferir em investigações ativas da Polícia
Federal e também de tentar impedir o início de novas investigações, por envolverem os nomes
de seus filhos, que também possuem cargos públicos. Enquanto o país buscava enfrentar uma
pandemia mundial avassaladora, o presidente se coloca como negacionista e oportunista,
aproveitando-se do momento de fragilidade e do deslocamento do foco da imprensa na
cobertura de suas irregularidades e insanidades para o combate pandemia, para aprovar
medidas que não tinham apoio popular, como no caso de medidas que aumentariam a
destruição ambiental. E como não mencionar os 89 mil reais depositados por Fabrício Queiroz
e sua esposa na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro? Até o hoje o presidente não
soube explicar o valor e tem atitudes desrespeitosas e de ameaças de violência contra a
imprensa quando questionado sobre o assunto. O famoso Queiroz é ex-assessor do senador
Flávio Bolsonaro, filho número 1 do presidente, e apontado pelo Ministério Público do Rio de
Janeiro como o operador do esquema de desvios de verbas públicas do gabinete de Flávio,
que na época era deputado estadual. Ao que parece, após os esforços da Operação nos últimos
7 anos, o que teremos é mais do mesmo, o que tanto foi criticado pela população, com o
presidente em exercício institucionalizando a corrupção e determinando o que será
investigado ou não.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Frederico de. Justiça, combate à corrupção e política: uma análise a partir da
operação Lava Jato. Revista Pensata, v. 5, n. 2, 2016, pp. 69-82.
ARANTES, Rogério Bastos. Direito e política: o Ministério Público e a defesa dos direitos
coletivos. Rev. Brasileira de Ciências Sociais, v. 14, n. 39, 1999, pp. 83-102.
BARROS, Mariana. Análise da ‘Operação Lava Jato’ a luz dos conceitos da Governança
Corporativa. 2015. Congresso Nacional de Excelência em Gestão. Disponível em:
<http://www.inovarse.org/sites/default/files/T_15_149_2.pdf>. Acesso em: janeiro/2021.
MORO, Sérgio Fernando. Considerações sobre a operação manipulite. R. CEJ, n. 26, 2004,
pp. 56-62.
NELKEN, David. The judges and political corruption in Italy. Journal of Law and Society,
v. 23, n. 1, 1996, pp. 95-112.
PEDERZOLI, Patrizia; ANIA, G. The reform of the judiciary. Italian Politics, Vol. 20,
2004, pp. 153-171.
SBERNA, Salvatore; VANNUCCI, Alberto. 2013. ‘It´s the politics, stupid!’: The
politicization of anti-corruption in Italy”. Crime Law Soc. Change, v. 60, pp. 565-593.
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ANEXO - A
Prisões em Flagrante 6
Repatriados R$ 745.100.000,00
Documento contábil 96
Documento (Outros) 96
Material (Outros) 24
Embalagem 5
Arma de fogo 3
Documento (IPL) 2
Munição 1