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06/10/2022 15:16 Sérgio Moro subterrâneo e antinacional | Grupo Prerrogativas

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Sérgio Moro subterrâneo e antinacional


POR CAROL PRONER, LARISSA LIZ ODRESKI RAMINA E GISELE RICOBOM
| 04/09/2020

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“Desde que alçou voo no cenário nacional, atuou de forma diametralmente contrária ao direito e já
é conhecido como um célebre artífice de lawfare”

No último dia 25 de agosto, ausente o Ministro Celso de Mello e com um placar de empate que
beneficiou o réu, a 2ª Turma do STF anulou pela primeira vez uma sentença que havia sido
proferida pelo ex-juiz Sérgio Moro. A decisão, envolvendo o caso Banestado e o doleiro Paulo
Roberto Krug, traz uma novidade: a correição por parte da Suprema Corte em casos mal conduzidos
pelo ex-juiz, especificamente quanto à forma da coleta de depoimentos durante a verificação da
delação premiada e a irregular juntada de documentos aos autos depois das alegações finais da
defesa.

Dada a expectativa de outros inúmeros réus e processos diante da forma displicente com que o juiz
e o MPF atuaram no contexto da Lava Jato, distorcendo o devido processo legal nas diferentes
fases, podemos chegar ao menos a três lamentáveis conclusões: primeiro, a Lava Jato, sob
comando de Sérgio Moro, foi uma grande perda de oportunidade histórica para se combater a
corrupção dentro da legalidade; segunda: a Lava Jato, sob o comando de Sérgio Moro, perseguiu,
processou e condenou inocentes, provocando um sem-número de consequência nos projetos de
vida e na biografia de diversos acusados; a terceira grande conclusão vem sendo descoberta aos
poucos e com cada vez mais escandalosas revelações: uma imensa trama de colaboração
internacional foi usada para afastar forças políticas, líderes e um projeto nacional de
desenvolvimento que passava pelas principais empresas e setores estratégicos do Brasil.

E o direito internacional público não pode estar alheio a essa imensa trama que passou
substancialmente pela violação explícita e sorrateira de tratados internacionais. Ainda pouco se

sabe desse imenso iceberg encoberto, mas não é segredo que Sergio Moro manteve relações
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íntimas com integrantes da Lava Jato e esteve frequentemente nos Estados Unidos visitando
entidades públicas e privadas dedicadas a usar o “combate à corrupção” como ativos estratégicos
regionais, passando pelo uso da extraterritorialidade.

Um dos fatos mais graves revelados pelo site The Intercept Brasil e pela Agencia Pública, foi a
colaboração ilegal dos integrantes do MPF de Curitiba com agentes do FBI e do Departamento de
justiça dos Estados Unidos (DOJ) a partir dos anos de 2015, incluindo a violação flagrante do
Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal, o MLAT (Mutual Legal Assistance Treaty), e
violando o acordo bilateral de colaboração em matéria judiciária penal. Em suma, o MPF de Curitiba
surrupiou a competência do Ministério da Justiça na coordenação da referida cooperação
internacional, colaborando efetivamente com o avanço das investigações que, mais adiante,
resultaram em acordos de confissão de suborno e o acionamento de mecanismos de jurisdição
extraterritorial.

O convencimento da impunidade era tanta entre o Procuradores da Lava Jato de Curitiba, em


especial o líder, Deltan Dallagnol, que o levou a cometer a mais escandalosa ilegalidade ao criar
uma fundação privada com fins de interesse público, gerida por ele mesmo e fomentada com 2,5
bilhões de reais que teriam sido recuperados pelo acordo de leniência entre a justiça dos Estados
Unidos e a Petrobras. E aqui devem ser levantadas muitas aspas em “recuperados”, porque o
acordo de leniência, assim como o da Odebrecht e de outras empresas investigadas, permanecem
encobertos por sigilo e guardam segredos soturnos. Além do MLAT, outros compromissos
internacionais certamente foram “esquecidos”, onerando o patrimônio nacional sem qualquer
formalidade, ferindo inclusive competência do Congresso Nacional em acordos bilionários sem os
devidos cuidados políticos e legais, uma mácula incalculável para a soberania brasileira.

Se vamos ao direito, como professoras, sabemos que o juiz, ao conduzir um processo e ditar uma
sentença, o faz representando o Estado, e é por isso que o princípio da imparcialidade do julgador
é condição fundamental para que se cumpra o devido processo legal, a ampla defesa e o
contraditório, bem como o princípio da presunção de inocência. É um princípio que decorre de
conquista civilizatória, constando no artigo 10 da Declaração Universal dos Direitos do Homem:
“Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte de
um tribunal independente e imparcial, para decidir sobre seus direitos e deveres ou do fundamento
de qualquer acusação criminal contra ele”.

E a imparcialidade, a contrário senso, é também a garantia do próprio juiz, para que não venha a
ter, mais adiante, o dissabor de um decisum anulado. No caso de Sérgio Moro, é muito mais que
isso. O ex-juiz e ex-Ministro do Governo Bolsonaro, se desintegra aos poucos. Este que ocupou
posição central na desestabilização política do país vem sendo compreendido aos poucos nas
atitudes subterrâneas e antinacionais.

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Desde que alçou voo no cenário nacional, atuou de forma diametralmente contrária ao direito e já é
conhecido como um célebre artífice de lawfare. As revelações trazidas pela Vaza Jato apenas
confirmaram o que muitos juristas já deduziam. Dos grampos ilegais à relação complementar com
veículos da mídia, a Lava Jato se valeu de tudo para afastar o candidato favorito às eleições de
2018. O próprio ex-juiz tem ajudado a revelar detalhes sórdidos. Gaba-se da relação como o
delegado Maurício Valeixo e de ter conseguido barrar a decisão do desembargador Favreto que
poderia ter soltado Lula em julho de 2018. Gaba-se do “ringue” contra Lula. Talvez movido pelo
mesmo sentimento de impunidade que levou seus colegas do MPF de Curitiba a criarem uma
Fundação com dinheiro público, não perceba que já caminha ladeira abaixo, e que a quebrada é
íngreme.

Recentemente o Supremo reconheceu o uso abusivo de dados falsos na delação de Antonio Palocci
às vésperas das eleições de 2018, indubitavelmente prejudicando o pleito eleitoral e, portanto,
ferindo ainda mais a já desrespeitada democracia brasileira. Ao violar o princípio da imparcialidade
a esse nível de comprometimento democrático, Sérgio Moro não se deu conta de que viria a se
tornar um dos personagens mais nefastos da história recente do país.

É o que, de certa forma, demonstraram os resultados do Projeto “Suspeição em Suspenso”,


coordenado por importantes Centros de pesquisa em direito do país. Para 97,8% dos professores
de direito consultados na base amostral, incluídas as principais universidades do Brasil, Sérgio
Moro foi absolutamente parcial nos julgamentos contra Lula. O resultado demonstra um amplo
consenso, demonstra o que todos sabem. E mesmo com as artimanhas de última hora, tentando
mudar as regras do jogo quanto ao in dubio pro reo, aproxima-se o dia em que a mesma 2ª Turma
do STF deverá proferir a decisão que consagrará o que todos sabem, que o Brasil foi traído pela
maior farsa jurídica de sua história.

Artigo publicado originalmente na Revista Fórum.

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Carol Proner

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Carol Proner é advogada, professora e Doutora em Direito pela Universidade Pablo de Olavide na
Espanha. É autora de artigos e livros sobre temas de direitos humanos, direitos fundamentais e
democracia, direito internacional público e direito internacional. É sócia e fundadora da Carol
Proner Consultoria Jurídica. Veja todos os posts de Carol Proner.

Larissa Liz Odreski Ramina

Larissa Liz Odreski Ramina é professora de Direito Internacional Público da Universidade Federal do
Paraná (UFPR) e coordenadora de Iniciação Científica da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação
da mesma instituição. É pós-doutora pela Université Paris Ouest Nanterre La Défense, doutora pela
Universidade de São Paulo (USP) e membro da Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD). Veja
todos os posts de Larissa Liz Odreski Ramina.

Gisele Ricobom

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Gisele Ricobom é professora e advogada, mestre em Direito com foco em Relações Internacionais
pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e doutora em Direitos Humanos e
Desenvolvimento pela Universidade Pablo de Olavide. É professora associada de Relações
Internacionais e Integração da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) e foi
Pró-Reitora de Relações Institucionais e Internacionais da mesma instituição. Veja todos os posts
de Gisele Ricobom.

PUBLICADO EM ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO • MARCADO COMO CASO BANESTADO, ESTADO


DEMOCRÁTICO DE DIREITO, EX-JUIZ, INTERNACIONAL, LAVA JATO, LAWFARE, MPF, REVISTA FÓRUM, SEGUNDA
TURMA, SÉRGIO MORO

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