Você está na página 1de 67

SETEMBRO 2023 49ª EDIÇÃO

R E V I S T A
Foto: Joedson Alves/Agência Brasil

8 de janeiro: PGR e STF


esmagam o devido processo
legal e a ampla defesa

Quem é o advogado que chamou Paula Lavigne: a “Janja do


ministros do STF de “pessoas Caetano” agora quer regular
mais odiadas do país” a internet
Índice
Editorial: PGR e STF esmagam o devido processo
03
legal e a ampla defesa

Deltan Dallagnol: Ministério da Justiça escondeu


11
provas: e agora, Toffoli?

Nikolas Ferreira: Chá revelação: o mais novo


23
fascista

Quem é o advogado que chamou ministros do


30
STF de “pessoas mais odiadas do país”

Paula Lavigne: a “Janja do Caetano” agora quer


35
regular a internet

O que o TPI fez quando a África do Sul se recusou


51
a cumprir uma ordem de prisão

Mel Gibson e Jim Caviezel já dão forma à


60
sequência de “A Paixão de Cristo”

💡 USUÁRIO DE ANDROID: PARA NAVEGAR UTILIZANDO OS


LINKS DE PÁGINA VOCÊ PRECISA DO APP ACROBAT READER

2
Plenário do STF na sessão de 13 de setembro, em que começaram a ser julgados
os réus do 8 de janeiro.| Foto: Carlos Moura/SCO/STF

EDITORIAL.

PGR e STF esmagam o devido


processo legal e a ampla defesa
A individualização da conduta é princípio básico
do Direito Penal: significa que uma pessoa só
pode ser acusada e julgada pelos crimes con-
cretos que ela tenha cometido, e que precisam

3
ser devidamente descritos na denúncia. O
Código de Processo Penal o explica quando, em
seu artigo 41, diz que “a denúncia ou queixa
conterá a exposição do fato criminoso, com
todas as suas circunstâncias, a qualificação do
acusado ou esclarecimentos pelos quais se
possa identificá-lo, a classificação do crime e,
quando necessário, o rol das testemunhas”.
Uma denúncia sem a devida individualização da
conduta precisa ser rejeitada por inépcia, como
afirmou a ministra Laurita Vaz, do STJ, em
2009, ao determinar o trancamento de uma
ação contra uma acusada em um esquema de
sonegação fiscal: “A ausência absoluta de
elementos individualizados que apontem a
relação entre os fatos delituosos e a autoria
ofende o princípio constitucional da ampla
defesa, tornando, assim, inepta a denúncia”. No
entanto, como já se temia e se podia antecipar,

4
este princípio foi jogado na lata do lixo pela
Procuradoria-Geral da República e pelo
ministro Alexandre de Moraes, do Supremo
Tribunal Federal, no início do julgamento dos
réus do 8 de janeiro, na quarta-feira.

O subprocurador-geral da República Carlos


Frederico Santos, responsável pela acusação no
julgamento de quatro invasores das sedes dos
três poderes, fez pouco do direito ao devido
processo legal ao afirmar que “o Ministério
Público Federal não tem que descrever a condu-
ta de cada um dos executores do ato criminoso,
mas o resultado dos atos praticados pela turba,
não sendo necessário descrever quem quebrou
uma porta, quem danificou uma janela, ou
quem danificou uma obra de arte”, uma afir-
mação que se choca frontalmente com o artigo
41 do CPP. Para o subprocurador, o que importa

5
é apenas o resultado, e isso legitimaria a “cole-
tivização” da culpa: “Responde pelo resultado a
multidão, a turba, aquele grupo de pessoas que
mantiveram o vínculo psicológico na busca de
estabelecer um governo deslegitimado e
inconstitucional”, continuou.

Um bom leitor haverá de identificar


no voto de Moraes não apenas o
desprezo pela necessidade de
individualização da conduta, mas
uma antecipação de seu julgamento
a respeito de todos os outros réus do
8 de janeiro

Moraes concordou com a tese. No seu voto pela


condenação do técnico de saneamento Aécio
Pereira, afirmou que “esses crimes são multitu-
dinários, e em crimes dessa natureza a

6
individualização detalhada das condutas en-
contra barreiras intransponíveis, pela própria
característica coletiva da conduta”, acrescen-
tando que “a multidão descreveu uma ação
conjunta, na qual passou a destruir bens dos
prédios, no intuito de derrubar o governo eleito,
pleiteando uma intervenção militar”. Um bom
leitor haverá de identificar no voto de Moraes
não apenas o desprezo pela necessidade de
individualização da conduta, mas uma anteci-
pação de seu julgamento a respeito de todos os
mais de mil brasileiros que foram presos, seja
na Praça dos Três Poderes, seja no acampa-
mento diante do quartel-general do Exército.

A noção da culpa coletiva está bastante explícita


no voto de Moraes, que ainda por cima faz tábu-
la rasa de uma série de nuances. Algumas delas,
já as explicamos neste espaço ao tratarmos do

7
“erro de proibição” e do “erro de tipo”; outras,
a Defensoria Pública da União fez questão de
destacar ao lembrar que havia diferenças enor-
mes de motivação mesmo entre os que efetiva-
mente foram à Praça dos Três Poderes. Um
tenente da PM que atuou nas prisões disse que
no grupo de invasores tinha pessoas que
“categoricamente assumiam que ingressaram
no prédio com o intuito de quebrar, e outras
apenas para rezar, ou ainda para acompanhar
uma manada, ou simplesmente para ver o que
ocorreu, ou seja, que as motivações eram as
mais diversas”. Um assistente do Gabinete de
Segurança Institucional afirmou que “a maior
parte dos manifestantes apenas entrou no
prédio, mas não faziam nada a não ser tirar
fotos ou orar, e uma pequena parte depredava, e
outro pequeno grupo tentava impedir a
depredação”.

8
Isso mostra que não há a menor possibilidade
de haver justiça ao se proferir condenações “por
atacado” por crimes como golpe de Estado ou
abolição violenta do Estado Democrático de
Direito, sem a análise pormenorizada do que
cada um dos acusados fez ou disse. O ministro
revisor, Nunes Marques, reconheceu esse fato
ao votar pela condenação de Pereira apenas
pelos crimes ligados à depredação, afirmando
que “os autos não reuniram elementos de
convicção suficientes para imposição de decreto
condenatório” nas acusações de associação
criminosa armada, abolição violenta do Estado
Democrático de Direito e golpe de Estado.

A ironia cruel está no fato de essa discussão ter


sido travada durante o julgamento de um réu
cuja participação no 8 de janeiro está
fartamente documentada, com direito a vídeo

9
feito pelo próprio acusado na Mesa Diretora do
Senado, o que daria ao MPF totais condições de
oferecer uma denúncia bastante detalhada, de
acordo com o que pede o artigo 41 do CPP. Se
mesmo em uma situação dessas a acusação
defende que não é necessária a individualização
da conduta, e o ministro relator acata a tese,
que chance poderão ter centenas de brasileiros
que ainda serão julgados e contra os quais a
única “evidência” que existe é o fato de estarem
no local errado, na hora errada e na companhia
errada?

Voltar ao índice

10
Ministro Dias Toffoli, do STF, que na semana passada anulou as provas do
acordo de leniência da Odebrecht. | Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

OPINIÃO.

Deltan Dallagnol

Ministério da Justiça escondeu


provas: e agora, Toffoli?
“Três coisas não podem ser escondidas por
muito tempo: o sol, a lua e a verdade”, diz a

11
famosa frase atribuída a Sidarta Gautama,
príncipe indiano que, ao deixar uma vida de
privilégios em nome da busca pela iluminação,
tornou-se mundialmente conhecido como
Buda. A verdade também é um valor cristão
fundamental, personificado em Jesus - “o
caminho, a verdade e a vida”. E a verdade, assim
como o nascer do sol ou o despontar da lua
cheia no céu noturno, veio rápido para abalar a
narrativa lulista do ministro Dias Toffoli, do
STF, que na semana passada anulou as provas
do acordo de leniência da Odebrecht.

Na minha última coluna para a Gazeta do Povo,


demonstrei por A + B porque a decisão de
Toffoli não para em pé e carece de fundamentos.
A decisão seguramente não é uma comprovação
técnica de supostas irregularidades da Lava
Jato, mas sim uma decisão política do ministro

12
para alcançar uma reconciliação com Lula. Um
dos principais argumentos adotados por Toffoli
foi o de que a Lava Jato não teria feito um
pedido de cooperação jurídica internacional
para obter as provas de corrupção da Odebrecht,
depositadas nos sistemas do departamento de
propinas da empreiteira, chamados de Drousys
e MyWebDay.

Toffoli baseou sua afirmação em um ofício


enviado pelo Departamento de Recuperação de
Ativos e Cooperação Jurídica Internacional
(DRCI), do Ministério da Justiça de Flavio Dino,
que dizia não ter encontrado no órgão registros
de cooperação internacional para trazer ao
Brasil cópias dos sistemas da Odebrecht. A
informação era falsa, como o Ministério Público
já tinha informado nos autos, contudo, Toffoli
não deu bola. No mesmo dia em que publicada a

13
decisão de Toffoli, dei entrevista em rede
nacional dizendo que a Lava Jato havia, sim,
feito pedido de cooperação internacional para a
Suíça solicitando as provas, e informei o
número do pedido: FTLJ 88/2016.

Logo após, corroborando a minha fala, a


Associação Nacional dos Procuradores da
República (ANPR) divulgou nota afirmando que
a Lava Jato fez, sim, o pedido de cooperação. A
ANPR, além disso, recorreu da decisão de
Toffoli na segunda-feira (11). Também se
manifestaram em nota a Associação dos Juízes
Federais do Brasil (Ajufe), a Transparência
Internacional e o Instituto Não Aceito
Corrupção. Os editoriais dos principais jornais
do país, inclusive da Gazeta do Povo,
repudiaram abertamente a decisão do ministro

14
e a tentativa revisionista de reescrever a
história da Lava Jato.

No fim da noite de terça-feira (12), veio a


bomba: depois da pressão das entidades, da
imprensa e da sociedade, o Ministério da Justiça
de Flavio Dino, o mesmo que até hoje não
enviou as imagens do 8 de janeiro para a CPMI
alegando que elas foram apagadas e que disse a
Dias Toffoli não ter encontrado a cooperação
jurídica internacional, informou que agora
havia “achado” o documento. Tudo depois de o
ministro ter utilizado justamente esse
argumento para anular as provas do acordo, o
que mostra que a decisão tinha um
embasamento falso.

A informação falsa, gravíssima, mostra quem de


fato mente e falta com a verdade quando o

15
assunto é a Lava Jato, já que a nossa versão
nunca mudou, sempre foi a mesma. E confirma
que a decisão esdrúxula de Dias Toffoli foi um
dos piores erros da história da Justiça, e não a
condenação de Lula, como afirmou
politicamente o ministro…

Durante todo o dia de quarta-feira (13), os


porta-vozes do lulismo e do sistema na
imprensa tentaram “vender” a informação,
também falsa, de que o pedido de cooperação
internacional só teria sido feito, formalmente,
um ano após o acordo da Odebrecht, e que com
isso os investigadores tentaram “esquentar” as
provas. O próprio ministro Flavio Dino
encampou a falsa narrativa, dizendo que a Lava
Jato utilizou “em 2016 provas que só foram
objeto de procedimento formal em 2017”.

16
Tudo mentira: a cooperação internacional foi
peticionada em 16 de maio de 2016, e o acordo
com a Odebrecht só foi firmado em 1º de
dezembro de 2016, ou seja, 7 meses depois do
pedido. Irá o Ministro da Justiça mandar a
Polícia Federal investigar a sua fake news do
mesmo modo como mandou investigar o
jornalista Alexandre Garcia, ou isso só acontece
com adversários políticos?

Os “jornalistas” (em parênteses mesmo, já que


quem se presta a ser sabujo do sistema e
porta-voz dos poderosos não merece o título de
jornalista) confundiram e embaralharam datas,
provas, a cronologia dos fatos e os próprios
conceitos de acordo e de pedido de cooperação
para tentar limpar a lambança do Ministério da
Justiça de Dino e a trapalhada de Dias Toffoli.
Apesar de antiética, a atitude dos jornalistas

17
tem o mérito de expor quem publica as versões
do sistema sem apuração e sem checagem, tudo
em nome da narrativa oficial do lulopetismo.

A cronologia dos fatos, para quem interessa, é a


seguinte:

● Em 16 de maio de 2016, o Ministério Público


Federal formulou pedido de cooperação
internacional para a Suíça, visando obter
cópia dos sistemas do pagamento de
propinas da empreiteira;
● Após tradução, o DRCI encaminhou o pedido
para as autoridades suíças em 3 de junho de
2016;
● Em 28 de setembro de 2017, após o trâmite
do pedido, o DRCI encaminhou ao MPF a
resposta das autoridades suíças ao pedido,

18
contendo as provas solicitadas pela Lava
Jato.

É preciso também relembrar que a própria


Odebrecht, com base no acordo firmado com a
Lava Jato em 1º de dezembro de 2016, entregou
voluntariamente as provas e os arquivos dos
sistemas do departamento de propina, o que
obviamente não depende, e nem se confunde,
com a cooperação internacional, que ocorreu
em paralelo ao acordo. Qualquer pessoa pode
pegar seus próprios documentos que estão em
qualquer lugar do mundo e entregar às
autoridades, e foi isso que a Odebrecht fez.

Todas essas informações constam do próprio


processo em que Toffoli declarou a nulidade das
provas da Lava Jato, mas foram
intencionalmente ignoradas pelo ministro, da

19
mesma maneira que ele ignorou, também, uma
sindicância da Corregedoria do Ministério
Público Federal que foi instaurada para apurar
se houve alguma irregularidade na cooperação
internacional e no acordo de leniência da
Odebrecht. A investigação durou mais de um
ano e concluiu, após ouvir autoridades e
examinar minuciosamente documentos e
provas, que tudo foi regular. Por qual motivo
Toffoli segue ignorando essas provas, que estão
no processo que ele mesmo decidiu? E por que o
resultado da investigação foi colocado em
sigilo, em vez de dar conhecimento dele para a
sociedade?

Todos esses fatos, ao serem examinados em


conjunto, revelam apenas uma coisa: que a Lava
Jato sempre teve razão. Tudo foi feito
regularmente, de acordo com a lei, por centenas

20
de autoridades diferentes, e todos os atos
processuais de procuradores e juízes foram
exaustivamente examinados e submetidos à
revisão dos tribunais, desde o TRF4, passando
pelo STJ e até o STF. Os investigados e réus da
Lava Jato, inclusive os colaboradores, eram
assessorados pelos melhores advogados e
bancas criminalistas do país, que
acompanharam com lupa todos os
procedimentos e não conseguiram comprovar
qualquer irregularidade.

O leitor, como ser pensante que é, tem liberdade


para examinar, ainda, quem sempre deu as
mesmas respostas de forma coerente e
convincente, amparadas em fatos, documentos
e provas, sem mudar de versões e sem fazer
contorcionismos e malabarismos na imprensa
para conseguir emplacar suas narrativas. O

21
outro lado - aquele que quer destruir a Lava Jato
a qualquer custo, reescrever a história e punir
com a prisão e a miséria os agentes da lei que
combateram a corrupção - a todo momento
muda de versão e procura “pelo em ovo”.
Quando não encontra, inventa, vivendo de
narrativas inconsistentes e especulações
fantasiosas.

Autor: Deltan Dallagnol é mestre em Direito


pela Harvard Law School e foi o deputado
federal mais votado do Paraná em 2022.
Trabalhou como procurador por 18 anos,
atuando em várias operações no combate a
crimes como corrupção e lavagem de
dinheiro. Foi coordenador da operação Lava Jato em Curitiba.
**Os textos do colunista não expressam, necessariamente, a
opinião da Gazeta do Povo.

Voltar ao índice

22
O fato que mais gerou revolta foi o “revolucionário’’ chá revelação, que agora
também está sendo taxado de fascista.| Foto: Reprodução/Instagram

OPINIÃO.

Nikolas Ferreira
Chá revelação: o mais novo
fascista
Entre diversos acontecimentos e noticiários da
semana, o que mais causou motivos para a ira

23
da esquerda? O fato de que o Lula ignorou os
estragos e ao menos 46 mortes causadas por um
ciclone no Rio Grande do Sul enquanto fazia
mais uma viagem, desta vez para a Índia? Janja
ter piorado ainda mais a situação ao postar um
vídeo comemorando e dançando ao chegar em
Nova Délhi, e excluí-lo após a repercussão
extremamente negativa? Nada disso. O que mais
gerou revolta foi o ‘’revolucionário’’ chá
revelação, que agora também está sendo taxado
de fascista e todas as demais palavras que ficam
repetindo em looping infinito.

Diferentemente da participação do Neymar no


anúncio que revelou o sexo do meu bebê, a
repercussão disso não foi em nada
surpreendente pra mim. Além do apoio
massivo, existe uma meia dúzia histérica que
trabalha fiscalizando a ideologia política alheia

24
para enfim decidir o que devem ou não apoiar.
Dessa vez tiveram trabalho dobrado. O mais
curioso é que em simplesmente todas as
narrativas levantadas, era fácil ver como a
indignação seletiva é sempre o pilar da patrulha
progressista.

A tentativa de desqualificar qualquer opositor


acusando-o de ser radical e antidemocrático é a
mais icônica, sem dúvida. Fico imaginando o
que mais pode ser pensado a partir dos dois
únicos neurônios de quem acha que isso é um
argumento coerente. Enquanto isso,
convivemos com uma esquerda que não
somente defende, como financia regimes
ditatoriais.

Tentaram transformar fumaça colorida,


beira-mar e participação de jogador de futebol

25
em ostentação, mas esbarram na missão
impossível de ter que passar pano para o
bandido de estimação que quer avião de R$ 400
milhões, gasta cerca de R$ 380 mil para
comprar móveis de luxo sem licitação, e esbanja
dinheiro público em viagens internacionais.
Mas claro, se for da mesma turma, tem que
aceitar calado até um mentiroso contumaz dizer
que é pobre, mesmo com um patrimônio
avaliado em R$7,4 milhões, isso em valores
declarados.

Azul e rosa, menino e menina. Tudo isso já


rotularam como sem graça e ofensivo demais,
coisa de conservador retrógrado e transfóbico,
segundo eles. Como foi algo relacionado a mim,
teve até quem pediu o fim do chá revelação, a
não ser que seja nos moldes tolerados por eles,
sem relevar o sexo do bebê e usando pronome

26
neutro, como na novela da Globo. Aí não é
aberração estética e nem há deformidade ética.

Esbarram na missão impossível de


ter que passar pano para o bandido
de estimação que quer avião de R$
400 milhões

Aceitável seria ocultar a verdade sobre o seu


gênero em troca de ignorar a realidade que já
estão proibindo em troca de sustentar uma
ilusão? Querem normalizar o absurdo e atacar e
censurar os que não compram a ideia, como
aconteceu recentemente com a influenciadora
Chloe Cole, ex-trans que iniciou os bloqueios
hormonais aos 13 anos, fez a destransição aos
16, e teve uma rede social bloqueada por falar da
sua rotina. Se o mesmo tempo e energia gastos
para ‘’lacrar’’ fosse usado para combater a

27
sexualização de crianças nas ruas e nas escolas,
sem dúvida seria muito mais útil.

Pra fechar “com chave de ouro” o clico da


revolta em relação ao evento, contamos com a
participação do atual maior artilheiro da
Seleção Brasileira em jogos oficiais. Atleta esse
que passou a sofrer o famoso “cancelamento”
depois de prestar apoio ao Bolsonaro e deixar
claro os seus posicionamentos políticos.

Diante de tudo isso, me apego ao que


verdadeiramente importa, como sempre.
Agradeço imensamente a Deus pelo privilégio
concedido a mim e à minha esposa de receber
essa dádiva, uma nova vida. Celebrar ao lado da
minha família e amigos, além de receber o
carinho de inúmeros seguidores nas redes
sociais, só reforça que estamos no caminho

28
certo. Para aqueles que têm tentado (como a
revista Veja, que hostilizou as famílias católicas
por serem numerosas) destruir a família por
meio de ataques diretos ou a eventos como
aconteceu comigo, temos apenas uma resposta:
não iremos parar. Festejar a vida de uma criança
ou várias nunca será algo do qual abriremos
mão. E que venha a nossa tão sonhada Aurora.

Autor:Nikolas Ferreira de Oliveira é natural de Belo Horizonte,


tem 27 anos e é formado em Direito pela PUC Minas. Foi
vereador na capital mineira e nas eleições de 2022 disputou
uma vaga para a Câmara Federal, tornando-se o deputado
mais votado do país e alcançando a maior votação da história
de Minas Gerais, com 1.492.047 milhões de votos. É autor do
best-seller O Cristão e a Política, de 2022, livro inspirado nas
palestras que ministrou no Brasil, Estados Unidos e Europa. **Os textos do
colunista não expressam, necessariamente, a opinião da Gazeta do Povo.

Voltar ao índice

29
O advogado Sebastião Coelho aposentou-se da magistratura no ano passado em
protesto contra o ministro Alexandre de Moraes| Foto: Reprodução TJFTD

SEBASTIÃO COELHO DA SILVA

Quem é o advogado que chamou


ministros do STF de “pessoas mais
odiadas do país”
Por Ana Carolina Curvello

O advogado e desembargador aposentado


Sebastião Coelho da Silva, que defendeu o

30
primeiro réu julgado pelo Supremo Tribunal
Federal (STF) por suposto envolvimento nos
atos violentos de 8 de janeiro, em Brasília, fez
duras críticas à Corte durante a sustentação oral
no julgamento da quarta-feira (13). O jurista
chegou a falar que os ministros do STF são "as
pessoas mais odiadas deste país".

“Nessas bancadas aqui, nesses dois lados,


senhores ministros, estão as pessoas mais
odiadas deste país. Infelizmente, quantas fotos
eu tenho com ministros desta corte. Muitas,
muitas. Não vim ao velório de Sepúlveda
Pertence, uma pessoa que eu amava muito, para
não dizer que estava afrontado esta Corte. Mas
vossas excelências têm que ter a consciência
que são pessoas odiadas neste país. Essa é uma
realidade que alguém tem que dizer isso

31
diretamente“, declarou o desembargador
aposentado.

Natural de Santana de Ipanema/AL, Sebastião


Coelho da Silva ingressou na magistratura do
Distrito Federal como Juiz de Direito Substituto,
em outubro de 1991.

“Nessas bancadas aqui, nesses


dois lados, senhores ministros,
estão as pessoas mais odiadas
deste país.”

Já como Juiz de Direito titular, exerceu a função


na Vara Criminal do Tribunal do Júri de
Planaltina, da Auditoria Militar do DF, na Vara
de Execuções Penais do DF e na 2ª Vara de
Precatórias. Em 2013, foi eleito para o cargo de

32
desembargador do Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT).

O jurista se aposentou do cargo de


desembargador do TJDFT e renunciou à função
de vice-presidente do Tribunal Regional
Eleitoral do Distrito Federal (TRE-DF) em
setembro de 2022, em protesto após o ministro
Alexandre de Moraes tomar posse como
presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Na ocasião, ele criticou o discurso de Moraes em
sua posse no TSE e disse que o ministro fez uma
"declaração de guerra ao país".

“O seu discurso é um discurso que inflama, é


um discurso que não agrega e eu não quero
participar disso”, declarou na época.

33
Na quarta (13), o Conselho Nacional de Justiça
(CNJ) determinou a abertura de uma reclamação
disciplinar contra o desembargador e a quebra
de sigilo bancário para apurar se houve
financiamento por parte do advogado aos atos
de vandalismo no dia 8 de janeiro.

O processo do CNJ é referente a uma fala do


desembargador proferida no dia 20 de
novembro do ano passado em que ele defendeu
a prisão de Moraes. “A solução será prender
Alexandre de Moraes. E eu dou base legal para
isso”, declarou Sebastião Coelho no QG do
Exército, em Brasília, no ano passado.

Voltar ao índice

34
Paula Lavigne, Caetano Veloso, Lula e Janja foram padrinhos do casamento do
senador Randolfe Rodrigues, realizado em julho.| Foto: Ricardo Stuckert /
Twitter @LulaOficial

LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Paula Lavigne: a “Janja do Caetano”


agora quer regular a internet
Por Omar Godoy

Os memes já podem ser considerados documentos


históricos? Se a resposta for sim, um desabafo da

35
atriz Luana Piovani que viralizou em 2019 certa-
mente vai servir como material de apoio no futuro,
quando alguém pesquisar a influência de Paula
Lavigne – empreendedora, produtora cultural e
mulher de Caetano Veloso – no meio artístico
brasileiro.

Em entrevista ao site Universa, Luana falou, entre


outros assuntos, sobre a pressão que recebia para
se engajar em causas sociais. E o seguinte trecho
bombou nas redes sociais: “Eu queria postar foto
dos meus filhos e tinha que postar o negócio da
Amazônia. Daí eu tinha que postar os golfinhos,
era o tubarão, era o Leonardo DiCaprio, era o 342,
era a Paula Lavigne dentro do nosso grupo falando
não sei o quê. Daí tem que ir para Brasília, daí não
sei o que mais, daí vamos não sei o que do gay,
vamos na manifestação a favor do GLSTUVXZ. Meu
Deus do céu, dá muito trabalho. Não estou
conseguindo postar eu bonita de biquíni”.

36
Lavigne não gostou e respondeu com ironia.
Postou uma foto sua na praia, usando roupa de
banho, com a legenda “Eu, Paula Lavigne de
biquíni, a chata dos grupos”. Em seguida, outras
artistas declararam seu apoio à empresária. E suas
seguidoras na internet promoveram um
“biquinaço” na internet para esculachar Luana
Piovani – publicando imagens em praias e piscinas
e marcando a produtora nas postagens.

A picuinha foi boba, mas ilustra bem o poder polí-


tico e de articulação da “Janja do Caetano”, que
atualmente tenta mobilizar a classe cultural, par-
lamentares e o público em torno da aprovação do
Projeto de Lei 2370. Mais conhecida como “PL dos
Direitos Autorais”, a proposta é um fatiamento do
PL 2630, o “PL das Fake News” (ou “PL da Cen-
sura”), também defendido por Lavigne e seus
“representados” antes de ser implodido. O novo
texto, de autoria da deputada federal Jandira

37
Feghali (PCdoB-RJ) e apoiado pela Janja “de
verdade”, confronta diretamente os interesses das
big techs. A proposta estabelece que serviços
como Twitter, Facebook e YouTube paguem
direitos autorais referentes à reprodução de obras
musicais e audiovisuais, além de conteúdos
jornalísticos, em postagens de seus usuários.

Resumindo vulgarmente: se você, internauta


comum, usar o trecho de uma canção qualquer
num tweet, o Elon Musk vai ter de pagar por isso. E
ele não poderá se recusar a exibir o seu post na
plataforma da qual é dono.

À primeira vista, um projeto sobre o trânsito de


informação concebido por uma parlamentar co-
munista por si só já soa, por motivos históricos,
como uma tentativa de controle da liberdade de
expressão. Além disso, a proposta foi apresentada
às pressas, seguida de pouquíssimo debate. E o

38
pior: é defendida por um grupo que já batalhou
pela censura de biografias não-autorizadas.

Para quem não se lembra, “Paulinha”, como


Caetano costuma chamá-la, também esteve à
frente do movimento ‘Procure Saber’, cuja atua-
ção, há dez anos, quase tornou o Brasil o “paraíso
dos livros chapa-branca (nas palavras do escritor
Laurentino Gomes). Apoiado no argumento do di-
reito à privacidade, o grupo exigia que biógrafos e
editoras pedissem a autorização das personalida-
des retratadas (ou de suas famílias) antes de pu-
blicar obras do gênero. O tema foi levado ao STF e,
em 2015, todos os nove ministros da corte votaram
contra a censura prévia desse tipo de material.

PL dos Direitos Autorais desagradou até


setores da esquerda

Ou seja, há motivos de sobra para a sociedade

39
desconfiar. Inclusive representantes de ambos os
lados da polarização política se manifestaram
contrariamente ao PL 2370 antes de ele “empacar”
no Congresso (como está até agora).

Para a oposição, a aprovação do projeto inviabili-


zaria a operação das big techs no Brasil, pois seria
muito difícil analisar, precificar e pagar por todos
os conteúdos previstos na lei. Sem contar que a
proposta nega a própria natureza da internet,
baseada na livre circulação e compartilhamento de
informações.

“Isso é simplesmente inviável, matematicamente


e economicamente falando. É uma bomba devas-
tadora, um plano para tornar o Brasil tão inóspito
que as grandes plataformas serão obrigadas a sair
do país”, disse, em tom alarmista, o deputado
federal Gustavo Gayer (PL-GO) em sua conta no
Instagram.

40
Já a esquerda, especialmente a militância mais
radical, aponta que o aspecto do projeto voltado
aos conteúdos jornalísticos beneficia apenas os
grandes conglomerados da imprensa. Afinal, o
texto estabelece a remuneração a partir de crité-
rios como audiência, ineditismo e qualidade – o
que esmagaria as iniciativas menores ou
independentes.

Em uma live transmitida recentemente pelo portal


esquerdista GGN, o jornalista José Arbex (cujo
currículo inclui passagens por veículos como Folha
de S. Paulo, Caros Amigos, Brasil de Fato e O
Trabalho, este último de viés trotskista) chegou a
chamar os parlamentares petistas de “débeis
mentais” por apoiarem o PL dos Direitos Autorais.

No meio da confusão, há juristas que consideram a


proposta “precária” e “vaga”, além de demons-
trarem preocupação com a menção à criação de

41
“câmaras de arbitragem”, que resolveriam
eventuais conflitos entre as partes envolvidas.

De qualquer forma, o projeto segue travado em


Brasília. Nos bastidores, há quem diga que o
presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira
(PP-AL), apenas simulou um esforço para
aprová-lo – e, no fundo, nunca se esqueceu de
quando os artistas, por meio do movimento ‘342
Artes’ (também liderado por Paula Lavigne)
fizeram campanha, em 2021, a favor de seu
adversário na disputa pelo cargo, o deputado
Baleia Rossi (MDB-SP).

Na ocasião, figuras como Fábio Porchat, Marcelo


Adnet, Ingrid Guimarães e Leandra Leal usaram a
hashtag #LiraNão para pressionar os parlamen-
tares a não votarem no candidato do
ex-presidente Jair Bolsonaro.

42
Mas o fato é que o tema não despertou o interesse
da sociedade, como comprova um estudo realizado
por pesquisadores da Escola de Comunicação,
Mídia e Informação da Fundação Getúlio Vargas.
Eles analisaram a repercussão do debate sobre o
Projeto de Lei 2370 nas principais redes sociais, e o
resultado foi um número de menções muito menor
do que o registrado durante as discussões em
torno do PL das Fake News, cujo pico aconteceu
em abril.

E o mais interessante: o relatório destaca que nem


Jandira Feghali, nem o deputado Elmar
Nascimento (União-BA), relator da proposta,
postaram sequer um “ai” acerca do assunto.

“Paulinha” declara guerra contra as big techs

Mas não pensem que Paula Lavigne assumiu a


derrota. Pelo contrário. Agora ela culpa a Meta

43
(dona do Facebook e do Instagram) e o Twitter
pela baixa adesão à causa da revisão dos direitos
autorais para os artistas.

No último dia 23, ela publicou a seguinte men-


sagem em suas redes: “Para vocês verem como é
pesado o jogo das big techs no debate (...) Foi eu
postar a matéria da CNN Brasil sobre os principais
pontos de nossa reivindicação que o alcance
orgânico foi ZERO. Isso mesmo. De maneira
inédita, praticamente nulo o alcance do post.
Estranho, não?”.

Dias depois ela emplacou um artigo no jornal O


Globo intitulado “Pelo direito do setor artístico de
reivindicar seu direito”. “É razoável entender que,
se uma plataforma fornecer e exibir um filme de
dez anos atrás, criadores envolvidos na obra
devem ser remunerados. Disponibilizou e alguém
deu play? As empresas (não quem usa a internet)

44
pagam aos criadores e artistas o fruto de um novo
ciclo de exploração econômica da obra na janela
digital”, diz o texto (que não teve muita
repercussão).

Dona de uma elogiada capacidade de gestão, res-


ponsável por organizar e multiplicar o patrimônio
de Caetano Veloso, Paula Lavigne empresaria
outros artistas e já produziu filmes como ‘Lisbela e
o Prisioneiro’, ‘Orfeu’ e ‘Dois Filhos de Francisco’.
E apesar do fracasso à frente dos movimentos
‘Procure Saber’ (agora ressuscitado com novas
pautas) e “342 Artes” (o nome vem do número de
votos necessários na Câmara para o impeachment
do ex-presidente Jair Bolsonaro), ­ela está com
tudo dentro do governo atual — o que lhe deu
força para tentar emplacar o PL 2370.

Seu grupo de influência, chamado nos bastidores


de ‘Máfia do Dendê’, puxou uma extensiva e

45
eficiente campanha pelo voto útil em Lula no
último pleito. Sabe-se que Caetano sempre
preferiu outros nomes da esquerda, como Ciro
Gomes e Marina Silva, mas se rendeu a Lula para
evitar a reeleição de Bolsonaro (cujo desprezo pela
classe artística privilegiada é notório).

Com a vitória do petista, as portas do Planalto se


abriram para a realeza baiano-carioca. A começar
pela nomeação da cantora Margareth Menezes
como ministra da Cultura, no final de 2022. Já em
abril deste ano, Lavigne desembarcou em Brasília
com uma tropa de artistas para defender a PL das
Fake News antes do seu sepultamento. Figuras
como Marisa Monte, Roberto Frejat, Glória Pires e
Caio Blat estiveram com ela na comitiva — que
voltou ao Congresso no início de maio, para propor
a versão alternativa/fatiada do projeto original.

46
Em julho, a empresária viajou novamente à capital
federal, mas para participar de um evento que
coroou essa nova fase de alinhamento com o
poder: o casamento do senador Randolfe
Rodrigues (sem partido-AP) com a advogada
Priscila Carnaúba. Paula e Caetano foram
padrinhos dos noivos, bem como Janja e Lula.

O ápice do festerê foi uma versão da música ‘Como


Nossos Pais’ (composta por Belchior e eternizada
na voz de Elis Regina), cantada em trio pelo
baiano, Orlando Morais (marido de Glória Pires) e
a primeira-dama da República. “Morri, mas passo
bem”, disse a socióloga, feliz da vida, depois da
“canja”.

Na verdade, a Janja é a Paulinha do Lula, e não o


contrário.

47
Homenagem à empresária causa tumulto na
Assembleia Legislativa do Rio

Um episódio recente que passou batido pela


imprensa nacional foi a confusão protagonizada
por parlamentares da Assembleia Legislativa do
Rio de Janeiro (Alerj) durante a votação de uma
homenagem à Paula Lavigne, realizada no final de
agosto. Apresentada pela deputada Dani Balbi
(PCdoB), a proposta de concessão de uma medalha
por seus serviços prestados à cultura fluminense
rendeu gritos, ofensas e acusações de misoginia.

O tumulto começou quando o ator e deputado pelo


PL Thiago Gagliasso (aquele que brigou com o
irmão mais famoso, Bruno, por causa de política)
tentou dificultar a realização da sessão, pedindo
verificação de quórum. Em seguida, Anderson
Moraes, também do Partido Liberal, fez uma

48
brincadeira de baixo gabarito para quem quisesse
ouvir, deixando os adversários revoltados.

“Nada pessoal, pelo contrário. O próprio deputado


Pedro Ricardo [PROS] disse que, se fosse pelas
atitudes dela de hoje, votaria contra. Mas, em
memória da juventude dele, por várias
homenagens que ele já prestou para ela, votou a
favor”, disse Moraes, dando duplo sentido à
palavra "homenagem".

Renata Souza (PSOL), presidente da Comissão de


Defesa dos Direitos da Mulher, reagiu: “Ele tratou
de objetificar Paula Lavigne. Repudio
veementemente a fala do deputado, que foi
extremamente misógina e machista. Quando nós
chegamos a lugares que esses homens não têm a
capacidade de chegar porque são misóginos e
odeiam mulheres, temos falas absurdas,
nojentas”, afirmou.

49
A sessão foi suspensa, mas o tumulto continuou
com os microfones desligados — e os deputados
de esquerda e de direita trocando acusações.
Quando os ânimos se acalmaram, a votação foi
retomada e a homenagem, aprovada.

Procurada pela reportagem da Gazeta do Povo, a


assessoria de imprensa da Uns Produções,
empresa comandada por Paula Lavigne, chegou a
sinalizar com a possibilidade de uma entrevista.
Uma série de perguntas por escrito foi enviada,
mas, segundo sua equipe, não serão respondidas
em virtude da agenda de compromissos intensa
que o casal Veloso cumpre na Europa, onde o
cantor atualmente faz uma turnê.

Voltar ao índice

50
O ex-ditador do Sudão Omar Al-Bashir, que a África do Sul se negou a prender
durante visita em 2015. | Foto: EFE/Angel Yu

CORTE DE HAIA

O que o TPI fez quando a África do


Sul se recusou a cumprir uma
ordem de prisão
Por Fábio Galão

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)


recebeu muitas críticas após dizer que seu

51
homólogo russo, Vladimir Putin, não será preso
se vier ao Brasil para a cúpula do G20 de 2024.

Em março, o Tribunal Penal Internacional (TPI)


emitiu uma ordem de prisão contra o presidente
russo devido à deportação de crianças de áreas
ocupadas da Ucrânia para a Rússia. Como mem-
bro da corte de Haia, o Brasil é obrigado a pren-
der Putin caso ele venha ao país. Após a reper-
cussão negativa da sua primeira fala, Lula disse
que a questão caberia ao Judiciário, mas afir-
mou que pode rever a participação do Brasil no
TPI – ele alegou que os Estados Unidos e a
própria Rússia não integram a corte.

Os Estados Unidos assinaram adesão ao Esta-


tuto de Roma, que estabeleceu o TPI, mas não
ratificaram essa medida. Já Moscou foi
signatária da fundação da corte em 2000, mas

52
retirou seu apoio a ela em 2016, por entender
que “o tribunal não justificou as esperanças
colocadas sobre ele”. Essa medida foi tomada
dias depois do TPI considerar que a tomada da
península ucraniana da Crimeia pela Rússia em
2014 havia sido uma ocupação.

O Brasil assinou sua adesão em 2000 e a ratifi-


cou em 2002, durante o segundo mandato de
Fernando Henrique Cardoso. Curiosamente, no
primeiro mandato de Lula, que agora questiona
a participação brasileira no TPI e diz que “nem
sabia da existência desse tribunal”, o Brasil
incluiu na sua Constituição o compromisso de
se submeter à jurisdição da corte por meio de
uma emenda constitucional, em 2004.

Foi também no seu primeiro mandato, em 2003,


que a juíza brasileira Sylvia Steiner foi eleita

53
para a corte (onde atuou por 13 anos), e Lula
enviou uma carta para parabenizá-la. Além
disso, em fevereiro deste ano, Lula disse que o
ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2022)
deveria “ser condenado em alguma corte
internacional sobre a questão do genocídio por
conta da Covid”.

Desde a criação do TPI, alguns países se recu-


saram a cumprir ordens de prisão da corte, e o
caso de maior repercussão ocorreu na África do
Sul.

Em junho de 2015, o então ditador do Sudão,


Omar Al-Bashir, que havia tido prisão decretada
pelo TPI devido a acusações de genocídio,
crimes de guerra e crimes contra a humanidade,
esteve na África do Sul, país-membro da corte
de Haia, mas este não realizou a prisão.

54
Em processo no próprio tribunal internacional,
o então procurador sul-africano Dire Tladi ale-
gou que “não havia nenhum dever, ao abrigo do
direito internacional, da África do Sul de pren-
der o líder em exercício de um país não membro
[do TPI] como o senhor Omar al-Bashir”.

Em 2017, uma câmara do TPI julgou que a África


do Sul “falhou” ao não cumprir a ordem de pri-
são contra Al-Bashir, mas alegou que não se
justificava um encaminhamento do caso à
Assembleia dos Estados Membros (ASP, na sigla
em inglês) da corte ou ao Conselho de
Segurança das Nações Unidas.

Em comunicado, a câmara justificou que


“considerou significativo que a África do Sul
tenha sido o primeiro Estado-membro a
solicitar ao tribunal uma determinação legal

55
final sobre a extensão das suas obrigações de
executar um pedido de prisão e entrega de Omar
al-Bashir”.

O colegiado também afirmou que o encaminha-


mento à ASP ou ao Conselho de Segurança da
ONU não garantiria a “cooperação” sul-africa-
na, “à luz do fato de que os tribunais nacionais
da África do Sul já concluíram que a África do
Sul não cumpriu as suas obrigações ao abrigo do
seu arcabouço jurídico interno e que qualquer
questão remanescente relativa às obrigações da
África do Sul ao abrigo do estatuto [de Roma] foi
resolvida pela câmara na decisão”.

Ou seja: na prática, fora uma bronca pública, o


TPI não impôs qualquer sanção ao governo
sul-africano por se recusar a prender o ditador
sudanês.

56
O promotor Julian Nicholls alegou à época que,
se os países-membros se recusarem a cumprir
ordens de prisão da corte, “o tribunal não será
capaz de cumprir a sua função mais básica:
levar a julgamento pessoas acusadas dos crimes
mais graves”.

Jurista aponta para possibilidade de


impeachment

Eduardo Saldanha, professor de direito interna-


cional da Pontifícia Universidade Católica do
Paraná (PUCPR), afirmou em entrevista à
Gazeta do Povo que não cumprir ordens do TPI
não gera consequências aos países na própria
corte.

“O TPI é um tribunal internacional que tem


como principal fundamento a autonomia das

57
nações, ou seja, os países são soberanos e autô-
nomos para cumprir ou não essas decisões.
Obviamente, cada país tem uma previsão legal
no seu arcabouço jurídico, na sua estrutura
normativa, quanto à aplicação das regras do
TPI, que pode gerar responsabilização interna”,
disse Saldanha. “O Estado somente entrega
[alguém que tem contra si uma ordem de
prisão] se ele quiser, é o exercício da sua
soberania.”

O jurista, entretanto, destacou que o Brasil tem


o respeito à jurisdição do TPI como cláusula
pétrea na sua Constituição, e uma eventual
recusa de cumprir uma ordem da corte pode
gerar consequências internas pelo desrespeito à
Carta Magna.

58
“Eu não posso afirmar que o desrespeito a esta
regra geraria um [processo por] crime de res-
ponsabilidade. Na minha forma de enxergar a
nossa Constituição e os crimes de responsabili-
dade, eu acho que sim, e deveria ser causa para
impeachment”, argumentou Saldanha.

“Mas a definição de uma determinada conduta


como crime de responsabilidade passa pelo
crivo do Congresso Nacional e do Judiciário, não
é uma análise meramente jurídica. E lembrando
que o STF é uma corte política, e o Congresso
nacional, um poder político”, disse o jurista.

Voltar ao índice

59
Jim Caviezel, em cena no primeiro “A Paixão de Cristo”, de 2004| Foto: Icon
Productions/Reprodução

RESSURREIÇÃO

Mel Gibson e Jim Caviezel já dão forma


à sequência de “A Paixão de Cristo”
Por Marcos Petrucelli, especial para a Gazeta do Povo

Após o furor causado pelo filme Som da


Liberdade, o ator Jim Caviezel começa a se
preparar para seu próximo trabalho. A missão

60
dele: reprisar sua interpretação de Jesus Cristo,
basilar em sua carreira. O astro foi o
responsável por encarnar a figura no
longa-metragem A Paixão de Cristo, dirigido
por Mel Gibson, em 2004, que agora ganhará
uma continuação focando no episódio da
ressurreição do salvador.

“Mel me detalhou todas as cenas e eu fiquei no


chão chorando”, afirmou Caviezel, em uma
entrevista recente ao político americano Devin
Nunes. “Será uma das melhores coisas que você
já viu. Eu não posso te dizer [quando será
lançado]. Se te contasse, teria que te matar”,
brincou o ator.

Apesar de todo esse segredo, tanto ele quanto


Gibson foram soltando outros detalhes sobre a
obra a partir de 2016, quando ela foi anunciada

61
oficialmente pela primeira vez. Isso permite
especular o que podemos encontrar na
sequência de A Paixão de Cristo.

Filmagens em 2024

Numa entrevista sobre Som da Liberdade,


Caviezel foi questionado sobre o início das
gravações do novo filme. Com a atual
paralisação de Hollywood, é esperado que
nenhuma produção seja iniciada, continuada ou
até terminada no momento. Mas isso não
parece importar ao ator, que sempre foi tratado
como outsider pela indústria. “Perguntei a
Gibson se o roteiro estaria pronto para começar
a rodar o longa em janeiro do ano que vem e ele
respondeu que ‘sim, talvez’”.

62
Na página sobre a continuação de A Paixão de
Cristo na base de dados sobre filmes IMDb,
também é informado que o início está previsto
para 2024. Mesmo sem uma confirmação oficial
de Gibson, a escolha faz sentido, considerando
que a produção original celebra 20 anos de seu
lançamento no ano que vem.

Ressurreição

Se na película de 2004 o foco estava nas 12 horas


finais de Cristo, faz total sentido que Mel
Gibson tenha confirmado que o nome de seu
novo projeto será Ressurreição [em inglês, tem
sido chamado de A Paixão de Cristo:
Ressurreição]. “É um assunto muito importante
e que precisa ser bem analisado. Não queremos
fazer uma simples tradução em imagens –
afinal, qualquer um pode ler sobre o que

63
aconteceu”, contou o diretor, em uma
entrevista de 2016.

Ácido e inferno

Com a demora para a sequência, Gibson já


escancarou que quer realizar um grande
trabalho, fugindo de algo banal. A saída
encontrada por ele foi escrever duas versões do
roteiro – ainda não se sabe qual delas será
transformada no filme. “Um deles é um roteiro
muito estruturado, forte e mais dentro do
esperado. Já o outro é como uma viagem de
ácido”, disse Gibson. “Neste, entramos em
outros reinos... Você está no inferno e vendo os
anjos caírem. É uma loucura.”

64
Duas ou três partes

A informação mais nova sobre Ressurreição veio


de Caviezel em uma entrevista para o influencer
Shawn Ryan. Após comentar sobre a
possibilidade de gravar a película em janeiro do
próximo ano, ele se aprofundou mais no
trabalho de roteiro desenvolvido por Gibson.
“Ele está mexendo nisso há muito, muito tempo
e será o maior filme da história. Podem ser dois
filmes – podem ser três, mas acho que são
dois”, diz o ator. Caso isso realmente se
confirme, é capaz de que os fãs de A Paixão de
Cristo acabem ganhando uma trilogia
cinematográfica.

Voltar ao índice

65
PARA SE APROFUNDAR

● Governo Lula opta por aumentar gastos e


impostos; corte de despesas está fora de
questão

● A queda do gigante asiático: cinco pontos para


entender a crise econômica na China

● Apenas 3% com emprego formal: a vida na


cidade mais pobre e subdesenvolvida do
Maranhão

● Elon Musk pode ter prevenido a 3ª Guerra


Mundial, mas está sendo duramente criticado

● Dívida de US$ 1,3 bi da Venezuela não foi paga


após 8 meses de Lula no poder

● Flexibilizações e estatização criam temor de


novo “petrolão” na exploração da Foz do
Amazonas

66
COMO RECEBER
As edições da Gazeta do Povo Revista vão estar disponíveis para
download em PDF pelos nossos assinantes todos os sábados pela
manhã no site do jornal. Também é possível se inscrever, para ser
lembrado de baixar o arquivo, pelo Whatsapp ou pelo Telegram. Se
preferir receber por e-mail, você pode se inscrever na newsletter
exclusiva para receber o link de download.

EXPEDIENTE
A Gazeta do Povo Revista é uma seleção de conteúdos publicados ao
longo da semana no nosso site. Curadoria e formatação: Carlos Coelho,
Glaydson Donadia e Marcela Mendes. Estagiária: Maria Eduarda Souza
Mendes. Conceito visual: Claudio Cristiano Gonçalves Alves.
Coordenação: Patrícia Künzel.

APLICATIVO
Caso seu acesso seja via aplicativo iOS, só é possível visualizar o pdf.
Para fazer o download, recomendamos o uso do navegador de internet
de seu celular.

Voltar ao índice

67

Você também pode gostar