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PARA VOCÊ
BOLSONARO E OS MILITARES
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11/05/2020 ‘Quem dará habeas corpus ao Supremo?’, questiona general - Política - Estadão
Cerimônia de inauguração do Comando de Artilharia no Forte Santa Bárbara, em Formosa (GO), para
demonstrar avanços no domínio da tecnologia para produção de mísseis e foguetes Foto: Gabriela
Biló/Estadão
Uns poucos escreveram sobre o episódio. O general Luiz Eduardo Rocha Paiva, que
tem cargo de assessor no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos ,
distribuiu aos amigos um artigo. Após afirmar que a crise entre os Poderes ruma "em
direção à ruptura" em meio a uma emergência sanitária, ele adverte: se tudo desaguar
"em convulsão social e anomia", os militares vão intervir. "Essa indesejável presença irá
acontecer para salvar o próprio Estado de Direito, a democracia e a paz interna."
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11/05/2020 ‘Quem dará habeas corpus ao Supremo?’, questiona general - Política - Estadão
Rocha Paiva continua. Enxerga excessos nas ações dos Supremo para conter os ímpetos
de Jair Bolsonaro . "Quem tem certeza da própria autoridade moral não precisa decidir
com ameaças provocativas e inúteis. Serenidade e bom senso é o que se espera das
autoridades da República, ao invés de egolatria nociva e disruptiva em momento tão
delicado." Ocorreu ao general lembrar a famosa indagação atribuída ao marechal
Floriano Peixoto, quando este soube da hipótese de ministros do Supremo soltarem os
envolvidos na Revolta da Armada. "Não sei amanhã quem lhes dará o habeas corpus de
que, por sua vez, necessitarão."
A exemplo dos generais – como Ajax Pinheiro, hoje no STF – que enxergavam uma
conspiração no Brasil para tornar o País em uma Venezuela – plano que o governo parece
executar –, Rocha Paiva e seu texto foram vistos como uma ameaça. "Os generais
precisam ler o Código de Processo Penal. Nele está o artigo 218, que autoriza, no caso de
a testemunha deixar de comparecer sem motivo justificado, o juiz a requisitar que ela seja
conduzida por oficial de Justiça, que poderá solicitar o auxílio da Força Pública", diz o
procurador de Justiça João Benedito de Azevedo Marques. Ele prossegue: "Generais não
são imperadores. São cidadãos e, como todos os demais, devem se submeter ao texto da
lei."
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É conhecido o fato de que a República nasceu sob o signo do soldado-cidadão. Era ele
que reivindicava o direito de ser ouvido e respeitado no Império, bem como contribuir para
a progresso da Nação. Se então se acumulavam os agravos aos homens das armas,
também incomodava à mocidade militar o privilégio, em todas as suas relações com a
sociedade, como se dizia à época. E entre os privilégios, o maior de todos eles: o
monástico, que se afirmava inviolável e irresponsável . A defesa da honra militar era
usada ainda pelos republicanos para galvanizar a guarnição do Rio.
Oliveiros Ferreira , em sua obra Elos Partido, aborda o tema que alguns pretendem pôr
na mesa da atual crise: o papel da honra, em vez da legalidade, na vida militar. É ela que
fez o general e deputado federal Roberto Peternelli (PSL-SP) considerar que o agravo de
Celso de Mello aos três generais-ministros atingia a todos do estamento. Um colega seu,
também general de divisão, afirmou que "cabe ao comandante do Exército, como chefe de
fato e de direito de todos os militares da ativa e da reserva do Exército Brasileiro, exigir
respeito, rejeitar os termos da convocação e, se assim for, fazê-la cumprir pelos meios
julgados adequados".
O que uns poucos militares – sob a condição de anonimato – se perguntam é por que os
generais-ministros não pensaram, antes de aceitarem o convite para participar deste
governo, que a vida pública reserva esse tipo de dissabor aos que nela se aventuram.
Nada mais longínquo das situações resolvidas pela ordem, pela disciplina e hierarquia do
que o ambiente dos embates parlamentares. Não calcularam os três que a relação com
um presidente como Bolsonaro – com sua personalidade errática, impulsiva e
indisciplinada –poderia lhes render intimações e o envolvimento em ações judiciais?
Quem preza pela sua honra, deve zelar pela suas escolhas.
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Um dos generais que se revoltara com o despacho do Supremo, lamentou: "Uma pena
que falte a Bolsonaro tato político, que ele não tem, e se comporta como um macaco na
casa de louças". Sabem, portanto, os militares as fontes dessa crise. E é sob o signo
dos princípios da República que os generais-ministros de Bolsonaro vão depor
amanhã . Trata-se da igualdade perante à lei, aquela que inexistia no Império e, assim,
vedava ao Judiciário alcançar a figura de dom Pedro II. É este o princípio que aqueles que
buscaram no passado fugir do exame dos tribunais por meio de infindáveis recursos
sempre quiseram driblar. E aqui, cada vez mais, o governo atual não só parece emular
seus antecessores. Pior, segundo Sérgio Moro , ele os ultrapassa.
Peternelli diz que amanhã será um dia de escolhas difíceis para os generais em Brasília.
Eles não têm nada contra a intimação – diz –, mas têm a honra a preservar. Há três
semanas, foi a vez de Moro. Em 2002, fora a vez de Azevedo Marques, que se
demitira da Secretaria Nacional de Justiça, porque o governo não quis
intervir no Espírito Santo para combater o crime organizado . Cumprir a ordem do
Supremo será mais um lance no xadrez dessa crise. E ele será dado por um governo que
não conta mais com o consenso que manteve na caserna, desde seu primeiro dia. Os
últimos acontecimentos, da queda de Moro à entrega de cargos e verbas ao Centrão,
romperam sua imagem de moralidade aos olhos verde-oliva. Mas não só. As críticas se
multiplicaram.
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Marcelo Godoy
Repórter especial
Jornalista formado em 1991, está no Estadão desde 1998. As relações entre o poder Civil e
o poder Militar estão na ordem do dia desse repórter, desde que escreveu o livro A Casa da
Vovó, prêmios Jabuti (2015) e Sérgio Buarque de Holanda, da Biblioteca Nacional (2015).
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‘Não vai ter Mourão e os Militares
‘Quem dará
golpe’, generais são tentam
habeas
afirmam prisioneiros minimizar
Leia outras corpus ao
generais do governo gravidade do
Supercolunas Supremo?’,
Bolsonaro ato do
questiona
presidente
general
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