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Das angústias de meu mundo fiz palavras impublicáveis, registrei-as em cadernos

velhos e joguei-os na fogueira de minha vaidade. Todo rancor, raiva e tristeza,


sentimento de culpa, tudo, largado em linhas retas que jamais serão lidas. Todo
espaço entre a minha verdade e mentira preenchido com lágrimas azuis, choradas por
uma caneta velha, em letras borradas pelo nervosismo de minhas mãos cálidas.

Sempre pensando longe, imaginando hipóteses, conjecturando possibilidades. Assim


construí o solo frágil em que piso todas as manhãs, fino feito folha de papel, marcado
pelo solado de meus pés inquietantes. Um passo de cada vez: dessa maneira cresci
imaginando trilhar o caminho certo de minha vida. Eu que nunca cheguei a
experimentar saltos que poderiam me levar longe ou me fazer quebrar por inteiro. De
maneira que qualquer desvio de conduta revela-se assustadoramente impensável. E
assim nasceram os traumas de que jamais me recuperei.

Ainda é chegado o dia, o grande dia: dia de fazer noites.

Por Pedro Henrique Leite, 10/10/2012. [20: 46pm]

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