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Nexos construídos.

Dos ventos da noite fiz furacões que arrastaram cada pedaço de palavra
pensada para bem longe. Fiz do mato trançado telhado, das gotas do orvalho sangue,
e do som dos pássaros meu canto. Chorei a dor de almas penadas, cantei as mágoas
arrastadas, presas na garganta de pessoas simples, de putas fingidas e fadas.

Fui quem deu asas ao pensamento, livre e marcado pelo sentimento.


Arrastei comigo multidões imaginárias de pensadores que filosofavam sobre o nada,
liguei o céu e a terra por uma escada com degraus tortos e base inclinada. Dancei
como louco e berrei como gente sã as canções jamais entoadas por ninguém.

Longe e perto, sempre errado e nunca certo, criei meu mundo às avessas,
produzi dúvidas e certezas, e pedi por dias melhores. Meus olhos tornaram-se
vermelhos, tão secos e amargos que já não choravam, sequer olhavam, apenas
preenchiam os espaços existentes em meu rosto.

Dei abrigo aos cães, de areia realizei grandes construções, e mergulhei no


vasto, escuro, e sórdido oceano de paixões. Tudo para provar que sou grande em
corpo miúdo, impor minha voz mesmo sendo mudo. Fui, sou, serei.

Pedro Henrique, 03/03/2012 [03:41am]

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