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5 August, 2022 | created using PDF Newspaper from FiveFilters.org

Uso da Lei de Segurança arquivamento do caso, que tramita na Justiça Federal do DF.

Em agosto do ano passado, ainda quando era ministro da Justiça,


Nacional contra críticos de Mendonça também foi levado para o centro de outra polêmica,

Bolsonaro desgasta imagem envolvendo a elaboração de um dossiê contra servidores


antifascistas durante sua gestão. Naquela ocasião, por 9 a 1, o

de Mendonça no STF — plenário do Supremo decidiu suspender todo e qualquer ato


do Ministério da Justiça de produção ou compartilhamento de
Política — Estadão informações sobre cidadãos que se intitulam antifascistas.

Nenhum dos ministros, no entanto, votou pela abertura de uma


Apr 2, 2021 05:00PM
investigação para apurar a conduta do então titular da Justiça.
“Nós não podemos fazer injustiças com pessoas que dedicam a
vida pública ao Estado brasileiro”, afirmou Dias Toffoli, que à
época era presidente do STF.

O Ministério da Justiça é uma das áreas mais sensíveis aos


interesses de Bolsonaro. O presidente é alvo de um inquérito
aberto para investigar suspeitas de interferência indevida na
Polícia Federal. As acusações foram apresentadas pelo então
titular da pasta Sérgio Moro em 24 de abril do ano passado, dia
em que ele deixou o cargo.

Após a saída de Moro do governo, ministros do Supremo se


manifestaram a favor da escolha de Mendonça para substituí-lo.
Luís Roberto Barroso e Ricardo Lewandowski, expoentes de alas
opostas dentro da Corte, se uniram em elogios ao auxiliar do
presidente.

BRASÍLIA — A estratégia do Palácio do Planalto de recorrer à Lei


Genocídio
de Segurança Nacional (LSN) como instrumento para reprimir
opiniões negativas e ácidas contra o governo do presidente Jair O desgaste na imagem do atual chefe da Advocacia-Geral da União
Bolsonaro provocou desgastes à imagem do advogado-geral da veio com o uso recorrente da Lei de Segurança Nacional. Aplicada
União, André Mendonça, no Supremo Tribunal Federal (STF). por Mendonça e pela Polícia Federal, essa legislação se tornou
Criticada por integrantes da Corte, a legislação é alvo de quatro alvo de ações apresentadas no Supremo por partidos de diferentes
ações que tramitam no tribunal. Mendonça deixou o comando do matizes ideológicos, como PTB, PSDB, PSB, PT, PSOL e PC do B,
Ministério da Justiça nesta semana e é um dos nomes favoritos que desejam a derrubada, total ou parcial, do texto herdado
para a vaga que será aberta em julho no Supremo, com a da ditadura militar.
aposentadoria compulsória do decano, ministro Marco Aurélio
Mello. O relator desses processos é o ministro Gilmar Mendes, que
entrou na mira do governo após dizer, em julho do ano passado,
Bolsonaro já disse, em mais de uma ocasião, que pretende indicar que o Exército está se “associando a esse genocídio”, em uma
para a Corte um ministro “terrivelmente evangélico”. Mendonça é crítica à atuação do governo no enfrentamento da pandemia de
evangélico e, entre os principais cotados, atrai mais apoio do que o covid-19.
presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Humberto
Martins, e o ministro João Otávio de Noronha, por exemplo. Mas o A declaração de Gilmar provocou uma crise com o Ministério da
procurador-geral da República, Augusto Aras, também está nessa Defesa, que entrou com representação contra ele na
disputa. O perfil técnico do ministro da Justiça, que fez carreira Procuradoria-Geral da República (PGR). A Defesa também
como servidor na Advocacia-Geral da União (AGU), agrada aos recorreu a um dispositivo da Lei de Segurança Nacional, que
magistrados. prevê pena de até quatro anos de prisão para quem incitar “à
animosidade entre as Forças Armadas ou entre estas e as classes
Integrantes do Supremo ouvidos sob reserva pelo Estadão têm sociais ou as instituições civis”. Segundo o Estadão apurou, o caso
desaprovado, porém, a forte ofensiva do governo contra críticos de acabou arquivado pelo Supremo.
Bolsonaro, como o uso da Lei de Segurança Nacional.
Recentemente, Mendonça também se valeu do Código Penal para Ministros da Corte avaliam que a LSN precisa, sim, de ajustes e de
tentar enquadrar como crime contra a honra os autores de ser interpretada à luz da nova realidade do País – democrática, e
outdoors que divulgaram, em Tocantins, a mensagem de que não mais ditatorial. Observam, porém, que a edição de um novo
Bolsonaro “não vale um pequi roído” e que “Palmas quer texto, para substituir o atual, cabe ao Congresso.
impeachment já”. O Ministério Público Federal pediu o “Não se julga a partir de um ranço. Evidentemente nesse régime

1
(militar), houve a prática de atos positivos e negativos, e apenas Régua
estes últimos merecem glosa (supressão). Não me pronuncio ainda
sobre o fundo da questão”, disse Marco Aurélio ao Estadão. Segundo interlocutores de Bolsonaro, é importante que o Supremo
se manifeste sobre a validade da Lei de Segurança Nacional e
Fóssil normativo garanta segurança jurídica. Aliados do presidente, no entanto,
destacam que o tribunal deve criar “uma régua”, que valha não
Em uma transmissão ao vivo pelas redes sociais, no dia 20 de apenas para o uso que o governo faz da LSN, mas que sirva para o
março, Lewandowski afirmou que o tribunal tem um “encontro próprio STF. Na avaliação do governo, não há uso excessivo da
marcado” com o tema. “O Supremo precisa dizer se esse fóssil legislação.
normativo é ainda compatível, não só com a letra da Constituição
de 1988, mas com o espírito da mesma”, argumentou O número de procedimentos abertos pela Polícia Federal para
Lewandowski. apurar supostos delitos contra a segurança nacional, no entanto,
aumentou 285% nos dois primeiros anos do governo
Em maio de 2016, o plenário do Supremo anulou a condenação de Bolsonaro, quando se compara o mesmo período das gestões
um homem que havia sido enquadrado na Lei de Segurança Dilma Rousseff e Michel Temer, conforme informou o Estadão.
Nacional por ter sido preso com duas granadas de uso exclusivo do Entre 2015 e 2016 houve um total de 20 inquéritos. Na primeira
Exército. Por unanimidade, o STF entendeu que o crime não tinha metade da administração Bolsonaro, o número saltou para 77
motivação política – a intenção do réu seria roubar um banco. investigações.

“Já passou da hora de nós superarmos a Lei de Segurança “Uma lei de segurança nacional pretende proteger as instituições,
Nacional, que é de 1983, do tempo da Guerra Fria, que tem um e não as pessoas investidas nos cargos públicos. O que afronta a
conjunto de preceitos inclusive incompatíveis com a ordem segurança nacional não é ofender o presidente da República ou o
democrática brasileira”, disse Barroso na ocasião. “Há no ministro do STF ou um deputado federal. O que atenta é se
Congresso, apresentada de longa data, uma nova lei, a Lei de manifestar de forma hostil à própria instituição”, disse o advogado
Defesa do Estado Democrático e das Instituições, que a substitui Fábio Tofic, mestre em Direito Penal pela USP e vice-presidente do
de maneira apropriada. Portanto (digo isso), apenas para não Instituto Brasileiro de Ciências Criminais.
parecer que estamos cogitando aplicar a Lei de Segurança
Nacional num mundo que já não comporta mais parte da filosofia Para Tofic, o governo Bolsonaro tem usado contra opositores um
abrigada nessa lei, que era do tempo da Guerra Fria e de um certo dispositivo da lei que viola a Constituição – o artigo 26, que prevê
tratamento da oposição como adversários”, completou o pena de até quatro anos de prisão para quem “caluniar ou
magistrado. difamar” o presidente da República.

Em diferentes casos, porém, a Lei de Segurança Nacional já foi “O governo não se incomoda com aqueles que atacam as
utilizada não só pelo governo Bolsonaro, mas pelo próprio STF. A instituições, mas se incomoda quando a pessoa do presidente da
legislação serviu, por exemplo, para fundamentar a prisão do República é ofendida. É uma interpretação ainda do régime
deputado bolsonarista Daniel Silveira (PSL-RJ), após o parlamentar autoritário, uma leitura tirânica, que pede para banir ofensas
gravar um vídeo com ameaças e insultos a ministros do STF e contra o presidente, mas não contra quem prega contra o Supremo
fazer apologia ao Ato Institucional número 5 (AI-5), o instrumento e o Congresso e louva o golpe de 1964”, afirmou o advogado.
mais duro de repressão do governo militar. Silveira foi preso no
Procurados pelo Estadão, o Palácio do Planalto, a AGU e o
âmbito do inquérito das ameaças, ofensas e fake news contra
Ministério da Justiça não se manifestaram.
integrantes da Corte.

A LSN também foi usada para fechar o cerco à militância digital


bolsonarista em outro inquérito que atormenta o Planalto: o dos
atos antidemocráticos. “Qualquer atentado à democracia afronta a
Constituição e a Lei de Segurança Nacional”, escreveu Augusto
Aras, ao solicitar a abertura de investigação sobre a organização e
o financiamento das manifestações que pediam intervenção militar
e o fechamento do Congresso e do STF.

A lei serviu, ainda, para a Polícia Civil do Rio intimar o


youtuber Felipe Neto (após o influenciador digital chamar
Bolsonaro de “genocida”) e para o Ministério da Justiça pedir a
investigação da publicação de uma charge na qual Bolsonaro
aparece transformando a cruz vermelha (símbolo de hospitais) na
suástica nazista. O Ministério da Justiça também solicitou abertura
de inquérito contra o colunista Hélio Schwartsman por ele ter
escrito artigo no jornal Folha de S.Paulo intitulado “Por que torço
para que Bolsonaro morra”.

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