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Acusação

→ O deputado foi condenado por quais crimes?

1. Condenado pelos crimes de incitação à abolição violenta do Estado


Democrático de Direito (artigo 23, inciso IV, combinado com o artigo 18
da Lei 7.170/1983) e coação no curso do processo (artigo 344 do Código
Penal). Entre os efeitos da condenação, determinou a suspensão dos
direitos políticos e a perda do mandato parlamentar.

“ Art. 18 - Tentar impedir, com emprego de violência ou grave ameaça, o


livre exercício de qualquer dos Poderes da União ou dos Estados.

Art. 359-L. Tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o


Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos
poderes constitucionais:         (Incluído pela Lei nº 14.197, de 2021)       
(Vigência)

   Art. 344 - Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer


interesse próprio ou alheio, contra autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa
que funciona ou é chamada a intervir em processo judicial, policial ou
administrativo, ou em juízo arbitral:

CONTRADIÇÃO

1. Vítima, promotor, juiz e executor

O STF estaria agindo como um tribunal político ao ser "vítima e juiz". O


parlamentar não fez ameaças aos integrantes do Supremo, mas sim críticas e
ironias sobre a atuação deles na Corte.
O Judiciário não pode se defender por si, aliás, a proibição de ser juiz
em casos em que se é vítima é um dos pilares do Estado democrático. Logo,
fazer subir a investigação não sendo competente para conhecer da ação penal
é um profundo equívoco. Não seria da competência para julgamento do STF.
Julgar o caso em que seus ministros são vítimas é um casuísmo
absurdo, autoritário e preocupante. O respeito às regras do jogo e do juiz
natural é fundamental. É fácil defendê-las para quem gostamos, mas o
compromisso com a democracia impõe a sua defesa principalmente em favor
daqueles de quem não gostamos. Não custa lembrar: "democracia
seletiva" não existe.
A Corte foi responsável tanto pelo julgamento, como pela acusação de
Silveira. E até por investigá-lo, se se levar em conta que o chamado inquérito
das fake News, foi aberto pelo próprio STF em 2019 para investigar supostos
ataques aos ministros, inclusive os vídeos de Silveira.

Além disso, os vídeos do deputado tinham como alvo direto os ministros


e o próprio STF, tornando a Corte também a vítima dos supostos crimes. A
separação entre essas instâncias, investigação, acusação e julgamento é
necessária para que a sentença seja feita com base em fatos, sempre
obedecendo o que diz a Constituição e o ordenamento jurídico, e impedindo
que as sentenças acabem sendo instrumentos de vingança ou represália.

2. Flagrante Permanente

É certo de que há o Código de Processo Penal prevê em seu artigo 303


que há "infrações permanentes", isto é, que não se dão só em um dado
momento, mas se perpetuam no tempo.

“Flagrante permanente é aquele onde os efeitos e os elementos do


crime perpetuam no tempo. Então, com a manutenção do vídeo, a modalidade
de flagrante permanece”, explica o advogado Acácio Miranda, especialista em
Direito Constitucional.

Mas qual é o problema principal nisto? É que não houve crime. É o


absurdo do absurdo, mas chegou a esse nível porque já começou como
absurdo.

Por meio de uma manobra jurídica, Moraes inovou ao trazer para a


internet o conceito de infração permanente. “O que veio depois [da publicação
do vídeo] é mera disponibilização. Vamos dizer que é um 'flagrante fictício'. O
que ele fez foi ajustar uma interpretação, estendendo a noção de flagrante para
um ambiente virtual”.

Está decisão de Moraes “abre um precedente perigoso”. “Se eu pegar


um vídeo de anos atrás, talvez nem seja mais a opinião da pessoa, mas ainda
se encaixaria nessa permanência do flagrante”. A última decisão de Moraes é
“mais uma mazela do ativismo judicial que tomou conta do STF”.

Ele classifica a Lei de Segurança Nacional, citada como justificativa para


a prisão de Silveira, como “altamente duvidosa”. “Ela é feita sob uma égide de
valores completamente díspares aos da Carta de 1988”, afirma.

3. Decretação da prisão decretada dentro do polêmico Inquérito das Fake


News

Uma decisão com peso tão grande como a prisão de um parlamentar


deveria ocorrer a partir da provocação da PGR e em manifestação do plenário
da Corte, em vez de um ato de ofício de um ministro apenas.

(embora, depois da confirmação da prisão pelo plenário do STF, a PGR


tenha apresentado uma denúncia contra o Silveira.)

Para resolução desse caso seria plenamente possível a adoção de


medidas menos drásticas, como determinar a retirada do vídeo da internet. A
prisão, pode ter o efeito político de dar mais notoriedade a Silveira, transformá-
lo em um "mártir" entre seus apoiadores e estimular o espírito corporativo dos
deputados, unindo a Câmara contra o Supremo.

4. Competência

PGR já ofereceu no STF, em tempo recorde e nunca visto, a denúncia


contra o deputado federal. Mas compete ao STF processar e julgar, já que o
réu tem prerrogativa de função? Não! Conforme entendimento consolidado pelo
próprio STF na AP 937, somente será julgado no STF se o crime for praticado
durante o exercício do mandato e tiver relação com o exercício das funções,
isto é, propter officium. E, nesse caso, a própria denúncia já ofertada no STF
afirma categoricamente que não há imunidade material pelas palavras porque
as declarações dele não têm relação com o mandato. Em todos os casos
similares, diante da ausência da prática de ato vinculado ao cargo, o STF
declinou a competência para o primeiro grau.

5. Imunidade parlamentar

Em vídeos posteriores, o deputado usou palavras de baixo calão para se


referir aos integrantes do STF, faz acusações de que eles venderiam
sentenças, acusou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de fraudar as eleições,
entre outras afirmações. Mesmo questionáveis, segundo juristas, essas
declarações são protegidas pela imunidade parlamentar, prevista no artigo 53
da Constituição, pelo fato de Silveira ser deputado federal.

De acordo com o artigo 53 da Constituição, “os deputados e senadores


são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e
votos”. Isso significa que, independentemente do que expressem por meio de
palavras ou de votos, os parlamentares não podem ser criminalizados durante
o exercício de seus mandatos.

O artigo constitucional não especifica em quais cenários essa


imputabilidade se dá. Com a palavra “quaisquer” indica-se qualquer situação,
seja a de discursos proferidos dentro do ambiente legislativo quanto ao
ambiente privado e, por extensão, nos meios de comunicação e redes sociais.
No caso de Silveira, seriam os próprios deputados a abrir um processo contra
ele, se entendessem que ele quebrou o chamado “decoro parlamentar”.

A Câmara dos Deputados, assim como outras casas legislativas, possui


um código de ética específico que deve ser seguido pelos parlamentares.
Casos de omissão ou descumprimento são julgados pela Comissão de Ética da
Câmara e podem culminar na cassação de mandato. Por causa dos vídeos,
Daniel Silveira foi alvo de uma representação no Conselho de Ética que em 7
de julho do ano passado recomendou a suspensão do mandato de Silveira por
seis meses.
6. “Prisão de ofício”

Outro ponto controverso foi a prisão de Silveira por ordem direta do


ministro Alexandre de Moraes. Segundo o mesmo artigo 53 da Constituição,
“os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em
flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro
de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de
seus membros, resolva sobre a prisão”.

Em 16 de fevereiro do ano passado, Silveira foi preso por ordem do


ministro Alexandre de Moraes, que justificou sua decisão afirmando que o
parlamentar estaria em "infração permanente" ao ter disponibilizado o vídeo em
suas redes sociais, e que, por isso, poderia ser preso em flagrante. O Código
de Processo Penal prevê em seu artigo 303 que há "infrações permanentes",
isto é, que não se dão só em um dado momento, mas se perpetuam no tempo.
Moraes utilizou esse dispositivo para usar a expressão “flagrante permanente”
para vídeos publicados na internet.

Na época, o jurista Ives Gandra da Silva Martins, que participou das


audiências públicas da Assembleia Nacional Constituinte em 1987 e 1988,
disse em diversas entrevistas que a interpretação de que se poderia fazer a
prisão antes da comunicação à Câmara era equivocada. “O ministro teria que
pedir autorização para a Câmara dos Deputados para prender o deputado,
como a Constituição determina. Sem autorização do Congresso, insisto, ele
não poderia mandar prender, por manifestação, um deputado, que é inviolado
em suas manifestações. Isso, a meu ver, pode representar cerceamento da
livre expressão dos deputados”, afirmou ao O Antagonista.

Outro ponto importante foi o que o pedido de prisão foi uma iniciativa do
próprio Moraes. Não houve provocação de órgãos como a Procuradoria-Geral
da República (PGR) ou da Polícia Federal, como ocorre normalmente. A prisão
feita dessa forma – por iniciativa direta de um magistrado – costuma-se chamar
de “prisão de ofício”. Apenas depois disso é que a PGR apresentou uma
denúncia ao STF contra Silveira.
7. Lei revogada

Também na tentativa de configurar um crime inafiançável, Moraes citou


artigos da Lei de Segurança Nacional, da época da ditadura militar. Os itens da
lei usados falavam em “tentar mudar, com emprego de violência ou grave
ameaça, a ordem, o regime vigente ou o Estado de Direito” e “de processos
violentos ou ilegais para alteração da ordem política ou social”. Como explicou
o professor de Direito Constitucional André Borges Uliano à Gazeta do Povo,
Moraes fez uma interpretação forçada da lei.

“Em primeiro lugar, houve um enquadramento forçado em delitos contra


a Segurança Nacional a fim de contornar o fato de que o Código de Processo
Penal só admite as medidas cautelares mais severas a delitos graves. Em
segundo lugar, houve a ficção de flagrante e um contorcionismo jurídico para
enquadrá-lo inafiançável, visto que esse é o único caso em que cabe prisão em
flagrante contra parlamentares”, afirma Uliano.

A Lei de Segurança Nacional acabou revogada em setembro do ano


passado, mas as acusações contra Silveira foram mantidas. Na sentença
proferida pelo STF, Silveira acabou condenado com base na lei 14.197,
promulgada em 1 de setembro de 2021 em substituição à legislação da época
da ditadura.

8. Ampla defesa

Um dia antes do julgamento de Silveira, Alexandre de Moraes negou


seis pedidos feitos pela defesa do deputado. Além disso, Moraes classificou de
má-fé as requisições do advogado de Silveira, Paulo Faria, e aplicou multas
que chegam a R$ 10 mil reais. "Considerada a interposição de sucessivos
recursos manifestamente inadmissíveis, improcedentes, ou meramente
protelatórios, com objetivo de postergar o julgamento de mérito desta Ação
Penal, fixo multa no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais) em desfavor do
advogado", diz em mais de uma das decisões.

Moraes negou pedidos de extinção da pena de Silveira, da possibilidade


de o investigado dar entrevistas, de participar de eventos sociais e usar redes
sociais. Em publicação no Twitter o advogado lembrou que a defesa do ex-
presidente Lula chegou a enviar 400 recursos em uma ação. "O que os
advogados do Lula têm que eu não tenho? Eles fizeram mais de 400 recursos,
e não soube que tomaram qualquer multa. Alguém poderia explicar?",
perguntou.

Já no dia do julgamento, o advogado chegou a ser impedido de entrar


por não apresentar o comprovante de vacinação contra Covid-19. Ele acabou
liberado após fazer um teste rápido e comprovar estar sem a doença. Já o réu,
Daniel Silveira, foi barrado do tribunal devido a uma resolução da corte que
permite a entrada no plenário apenas de advogados, ministros e seus
auxiliares e procurador-geral da República. Todo réu possui o direito
constitucional de acompanhar o próprio julgamento, mas isso não foi aplicado
ao caso de Silveira.

9. Multa e bloqueio de contas

Em 1º de abril, a maioria dos ministros referendou a aplicação de multa


diária de R$ 15 mil a Daniel Silveira, além do bloqueio de todas as suas conta
bancárias, para forçá-lo a colocar a tornozeleira eletrônica. O parlamentar se
recusava a instalar o equipamento para ser monitorado, por considerar que a
medida afetava o exercício de seu mandato e, por isso, deveria ser autorizada
pela maioria dos deputados federais, como ocorre em caso de prisão.

Para alguns dos principais penalistas do país, a Corte criou uma


inovação, em matéria penal, não prevista na legislação. A medida também
chamou a atenção dentro do Ministério Público que, até o momento, não via
essa possibilidade. Procuradores ouvidos pela reportagem estranharam a
decisão e consideram que esse precedente questionável poderá agora ser
aplicado a qualquer pessoa.
Primeiro ponto que devemos deixar claro: “A ordem emanada pelo
Supremo Tribunal Federal é inconstitucional e ilegal.”

Artigo 220, da CF garante que a liberdade de expressão é ampla, por


todos os meios de comunicação. O deputado não representa apenas ele em
suas manifestações, mas, sim, todos seus eleitores. Puni-lo é punir todos os
seus os seus eleitores.

A decisão fora de uma inconstitucionalidade manifesta. Está presente o


fumus boni iuris (fumaça do bom direito) é tão grande que não ele não poderia
ter punido, que nós quase não conseguimentos ver rostos do outro lado.

Extrapolou a liberdade parlamentar? Não fora pensado isso na


Constituinte. Senão, haveria a previsão legislativa na própria Constituição
Federal, de que as opiniões, palavras e votos, serão invioláveis civil e
penalmente de maneira relativa. Ela é plena. Não é parcial.

Cabe a Câmara do Deputados fazer juízo de valor por meio do conselho


de ética o julgamento da imunidade material parlamentar caso haja excesso em
suas falas, opiniões e votos.

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