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PRINCIPAIS PONTOS DO PROJETO DE LEI DO ABUSO DE AUTORIDADE

"CONFIRA OS PRINCIPAIS PROBLEMAS APONTADOS NO PROJETO...

Perda do cargo para reincidente

O Art. 4.º trata dos efeitos da condenação por abuso de autoridade, como a obrigação de indenizar o dano causado pelo
crime. Em caso de reincidência, os efeitos da nova condenação podem ser a inabilitação para exercício de cargo,
mandato ou função pública, pelo período de um a cinco anos e a perda do cargo, mandato ou função pública.
O PSL tentou retirar o artigo já na votação do projeto, na quarta-feira (14), mas o destaque foi rejeitado por 325 a 133.
Para o deputado federal Delegado Waldir (PSL-GO), esse é o artigo mais problemático do texto aprovado. “A pessoa
na reincidência vai ser demitida sumariamente, isso é um absurdo”, reclama. O parlamentar ressalta que as penas
previstas no projeto são baixas e a demissão é uma punição desproporcional em caso de reincidência.

Prisão ilegal

O Art. 9.º do projeto estabelece como abuso de autoridade “decretar medida privativa de liberdade em manifesta
desconformidade com as hipóteses legais”. A previsão também vale para quem “deixar de relaxar a prisão
manifestamente ilegal” ou deixar de substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa ou conceder
liberdade provisória, quando manifestamente cabível”.
“Recria uma situação que estimula a Justiça a soltar bandidos. O juiz vai ficar com medo de não soltar e de mandar
prender”, diz Telho. Para ele, a medida só vai beneficiar investigados ricos e poderosos. “Os demais réus não têm
vez, é para beneficiar quem consegue se fazer ouvido pelas demais instâncias da Justiça”, afirma o procurador.

Filmar e fotografar

O Art. 14º define como abuso “fotografar ou filmar, permitir que fotografem ou filmem, divulgar ou publicar fotografia
ou filmagem de preso, internado, investigado, indiciado ou vítima, sem seu consentimento ou com autorização
obtida mediante constrangimento ilegal, com o intuito de expor a pessoa a vexame ou execração pública”.
Para Waldir, este também é um dos pontos que atrapalha o trabalho da polícia. “Como você vai fazer um
reconhecimento? Como você vai jogar em um grupo de policiais para saber qual a passagem do cara, quem
conhece”, questiona o parlamentar.

Uso de algemas

O Art. 17º torna abuso de autoridade “submeter o preso, internado ou apreendido ao uso de algemas ou de qualquer
outro objeto que lhe restrinja o movimento dos membros, quando manifestamente não houver resistência à prisão,
internação ou apreensão, ameaça de fuga ou risco à integridade física do próprio preso, internado ou apreendido,
da autoridade ou de terceiro”. A pena é de detenção de seis meses a dois anos e multa, mas pode ser aplicada em
dobro se as algemas forem usadas em menor de 18 anos, se a presa estiver grávida ou se o fato ocorrer em
penitenciária.
Para Waldir, este também é um dos pontos que atrapalha o trabalho do policial. Ele cita como exemplo uma prisão após
um tiroteio. “Naquela confusão, se você algemar o preso, pode responder a um processo”, reclama.
Neste caso, Telho dá razão à reclamação dos policiais. “Se a pessoa está presa, a algema faz parte do procedimento de
prisão”, diz. “Aqui no Brasil sempre foi assim e nunca ninguém reclamou. Isso só veio a ser objeto de reclamação
quando as algemas passaram a ser usadas em pessoas poderosas”, critica o procurador.
Já o deputado Eli Borges (Solidariedade-TO) defendeu a proposta. “A quantas cenas assistimos no Brasil de pessoas
algemadas, que depois provaram que não deviam nada em relação ao motivo por que foram algemadas? Muitos
deles eram políticos decentes, mas pagaram um preço alto”, declarou.

Prova ilícita

O Art. 25º determina que passa a ser crime de abuso de autoridade “proceder à obtenção de prova, em procedimento
de investigação ou fiscalização, por meio manifestamente ilícito”. O mesmo vale para quem “faz uso de prova, em
desfavor do investigado ou fiscalizado, tendo prévio conhecimento de sua ilicitude”.
Telho cita um caso concreto para explicar o problema no artigo. A investigação contra o então senador Demóstenes
Torres, que terminou em um processo contra ele com base em interceptações telefônicas autorizadas contra o
bicheiro Carlinhos Cachoeira. A defesa alegou que as interceptações eram ilegais, mas o argumento não foi aceito
em segunda instância, nem no Superior Tribunal de Justiça. O STF, porém, entendeu que a prova era ilegal e anulou
o processo. Em tese, quem utilizou as provas em instâncias inferiores poderia responder por abuso, segundo Telho.
“Na prática, você está estimulando as autoridades de persecução penal a não mexer com ninguém”, diz o procurador.
Investigação sem indício de crime
O Art. 27º estabelece que é abuso de autoridade “requisitar instauração ou instaurar procedimento investigatório de
infração penal ou administrativa, em desfavor de alguém, à falta de qualquer indício da prática de crime, de ilícito
funcional ou de infração administrativa”.
“O procedimento é instaurado para verificar se houve ou não crime. Todo mundo é inocente até que haja condenação
transitada em julgado”, explica Telho. “O artigo inviabiliza, vai contra a natureza da investigação criminal, que é
apurar um crime e sua autoria”, explica o procurador.

Investigar quem sabe ser inocente

Na mesma linha, o Art. 30º torna abuso de autoridade “dar início ou proceder à persecução penal, civil ou
administrativa sem justa causa fundamentada ou contra quem sabe inocente”.
“Se eu abrir uma investigação ou processar alguém e a Justiça entender que não há justa causa para aquele processo, eu
posso ser responsabilizado por abuso de autoridade”, reclama o procurador. “Isso vai me estimular a arquivar
investigações, engavetar denúncias de irregularidades, fazer vistas grossas, porque com isso eu evito correr riscos”,
analisa Telho.

Estender investigações

O Art. 31º criminaliza o ato de “estender injustificadamente a investigação, procrastinando-a em prejuízo do investigado
ou fiscalizado”.
Telho também cita um exemplo para criticar a previsão: os inquéritos que tramitam no STF com base em delação
premiada de empreiteiros. “Esses inquéritos mais complexos são mais demorados. Na prática, se eu estiver
conduzindo um inquérito desse e perceber que está complicado e vai demorar, eu vou arquivar o caso porque não
vou querer ser acusado de estar procrastinando uma investigação”, avalia o procurador.

Bloqueio de bens

O Art. 36º torna abuso de autoridade “decretar, em processo judicial, a indisponibilidade de ativos financeiros em
quantia que extrapole exacerbadamente o valor estimado para a satisfação da dívida da parte e, ante a
demonstração, pela parte, da excessividade da medida, deixar de corrigi-la”.
Para Telho, o problema nesta previsão é que em alguns casos é muito difícil determinar o valor devido pelo réu ou pelo
investigado. “Às vezes é um caso mais complexo, de recebimento de propina, superfaturamento de obra pública, de
cartel”, explica. “Para identificar exatamente o valor que esses poderosos têm que ser obrigados a ressarcir não é
tarefa muito simples”, completa.
Para ele, ao tornar crime o bloqueio de bens acima do valor estimado da dívida, a lei acaba criando impeditivos para o
ressarcimento, uma vez que os investigados podem esconder valores não bloqueados, tornando mais difícil
encontrá-los mais tarde.

Prisão temporária

O Art. 40º estabelece que, em casos de mandado de prisão temporária, o documento “ conterá necessariamente o
período de duração da prisão temporária estabelecido no caput, bem como o dia em que o preso deverá ser
libertado”.
Para Telho, isso inviabiliza a decretação e cumprimento de prisões temporárias, aquelas que têm prazo de cinco dias de
duração. “O juiz assina o mandado, mas não necessariamente a pessoa vai ser presa naquele dia da assinatura do
mandado”, explica. O procurador ressalta que em casos de grandes operações é preciso tempo para planejar a
logística de cumprimento dos mandados judiciais, como na Lava Jato.

Prerrogativas de advogados

O Art. 43º transforma em crime de abuso de autoridade a violação de direitos e prerrogativas de advogados, como o
cumprimento de mandados de busca e apreensão em escritórios de advocacia, comunicação com clientes, presença
de um representante da OAB no momento de cumprimento de mandados de prisão contra advogados, previsão de
prisão em sala de estado maior para membros da advocacia.
Para Telho, a violação desses direitos já tem consequências previstas na legislação e não é necessário tratar do tema na
lei de abuso de autoridade. “Você está criando um tipo penal para não fazer buscas e não prender advogado, ou
seja, deixar o advogado livre para cometer crimes”, reclama o procurador.
Em nota, a Ajufe também se manifestou contra o dispositivo. “Ao criminalizar supostas violações às prerrogativas dos
advogados, [o artigo] criminaliza também a própria atividade jurisdicional, o trabalho do Ministério Público, das
Polícias e, inclusive, das Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs)”, afirmou a associação.

… E OS PONTOS POSITIVOS APROVADOS

Separação de presos

O Art. 21° transforma em abuso de autoridade “manter presos de ambos os sexos na mesma cela ou espaço de
confinamento”. A pena é de um a quatro anos de detenção e multa. O mesmo vale para quem “mantém, na mesma
cela, criança ou adolescente na companhia de maior de idade ou em ambiente inadequado, observado o disposto
no Estatuto da Criança e do Adolescente”. Para Telho, a medida é positiva e deve ser mantida no texto aprovado na
Câmara.

Buscas sem autorização

O Art. 22º torna crime “invadir ou adentrar, clandestina ou astuciosamente, ou à revelia da vontade do ocupante,
imóvel alheio ou suas dependências, ou nele permanecer nas mesmas condições, sem determinação judicial ou fora
das condições estabelecidas em lei”. A pena é de um a quatro anos de prisão e multa.
O mesmo vale para quem “coage alguém, mediante violência ou grave ameaça, a franquear-lhe o acesso a imóvel ou
suas dependências”, para quem “executa mandado de busca e apreensão em imóvel alheio ou suas dependências,
mobilizando veículos, pessoal ou armamento de forma ostensiva e desproporcional, ou de qualquer modo
extrapolando os limites da autorização judicial, para expor o investigado a situação de vexame” e para cumprimento
de mandados após 21 horas ou antes das 5 horas. “Esse artigo, sim, protege pessoas que são hipossuficientes frente
à atuação do Estado”, elogia Telho.

Alterar cena do crime

O Art. 23º também torna abuso de autoridade “inovar artificiosamente, no curso de diligência, de investigação ou de
processo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de eximir-se de responsabilidade ou de
responsabilizar criminalmente alguém ou agravar-lhe a responsabilidade”.
O artigo busca coibir o comportamento de policiais que alteram a cena de crimes para influenciar perícias e escapar de
punições. “Por exemplo, o policial mata uma pessoa, coloca uma arma para dizer que pessoa reagiu e por isso ele
matou”, explica Telho. Para o procurador, o artigo deve ser mantido no texto.

Vítimas no hospital

O Art. 24º estabelece que é abuso de autoridade “constranger, sob violência ou grave ameaça, funcionário ou
empregado de instituição hospitalar pública ou privada a admitir para tratamento pessoa cujo óbito já tenha
ocorrido, com o fim de alterar local ou momento de crime, prejudicando sua apuração”.
Para Telho, a medida é positiva porque evita manipulação de causas e locais de morte em casos de confronto da polícia
com suspeitos.

Carteirada

O parágrafo único do Art. 33º estabelece uma pena de seis meses de prisão e multa para quem “ se utiliza de cargo ou
função pública ou invoca a condição de agente público para se eximir de obrigação legal ou para obter vantagem ou
privilégio indevido”.
“É a chamada carteirada”, explica Telho. “Esse é um dos pouquíssimos tipos penais que abrange qualquer categoria,
inclusive políticos”, elogia o procurador.

Pedido de vista
O Art. 37º pune com detenção de seis meses a dois anos e multa quem “demorar demasiada e injustificadamente no
exame de processo de que tenha requerido vista em órgão colegiado, com o intuito de procrastinar seu andamento
ou retardar o julgamento”.
Para Telho, a medida é positiva. É comum que em julgamentos colegiados, desembargadores ou ministros peçam vista
em um processo, ou seja, peçam mais tempo para avaliar o caso, e demorem para devolvê-lo a julgamento. Com a
previsão em lei, a demora em analisar casos complexos tende a diminuir.

Manifestação sobre investigações em andamento

O Art. 38º estabelece como abuso de autoridade “antecipar o responsável pelas investigações, por meio de
comunicação, inclusive rede social, atribuição de culpa, antes de concluídas as apurações e formalizada a acusação”.
Para Telho, esta é uma medida positiva. “Isso evita que investigador comece a dizer quem é culpado”, diz o procurador.
Para ele, isso evita que a reputação de inocentes seja abalada através de declaração de investigadores à imprensa.
O procurador cita um exemplo para defender a medida: o caso da Escola Base, em que os donos da escola foram
acusados injustamente de abuso sexual de crianças. Depois de uma exposição intensa na imprensa, descobriu-se
que os acusados eram inocentes."

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/abuso-de-autoridade-pontos-negativos-positivos-projeto/


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