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seja isto considerado uma ficta confessio ou não dentro da lógica indiciária.
A recusa de um periciando menor de idade à realização de um exame médico-legal presume
também um princípio de que esta determinação deve ser respeitada. Há quem defenda este fato em
determinadas circunstâncias, principalmente quando o examinando não tem a devida compreensão do
que se quer apurar, como, por exemplo, em uma perícia dos chamados crimes sexuais. Em casos
desta natureza, acredito que os pais ou responsáveis legais não têm permissão para autorizar a
realização da perícia contra a vontade do menor. O correto será encaminhar o caso ao Conselho
Tutelar da Criança e do Adolescente ou diretamente ao Juizado de Menores.
O limite da idade do menor deve ser aquele em que ele entenda a gravidade da ofensa recebida, o
alcance de sua decisão e a responsabilização dos autores. A idade, portanto, não é o único parâmetro
avaliado, devendo-se levar em conta que o menor tem o direito à reserva de intimidade de sua vida
privada.
Caso a autoridade competente entenda que a perícia deve ser feita no legítimo interesse do menor
e da própria sociedade, tudo deve ser feito de maneira que não coloque em risco o seu bem-estar, o
interesse da ordem pública e, principalmente, o superior interesse do examinado.
Honorários periciais
Os peritos oficiais que trabalham em instituições públicas não podem cobrar honorários, pois já
está incluso em seus vencimentos e em seu contrato de trabalho.
Por outro lado, quanto aos médicos não peritos oficiais quando nomeados pela autoridade
competente para realizarem perícia em casos de Inquérito Policial, o Conselho Federal de Medicina,
em seu Parecer CFM no 08/1990 (baseado no Parecer Jurídico CFM no 08, de 18 de janeiro de
1990), estabelece que eles estão obrigados a aceitar o ônus de perito, exceto nos casos previstos no
Código de Processo Penal, devendo, entretanto, se assim for o seu entendimento, cobrar do órgão
público solicitante e não da vítima a justa remuneração pelo ato médico realizado.
Diz ainda o Parecer: “Não há dúvidas quanto à obrigatoriedade do médico em aceitar o múnus de
perito quando nomeado pela autoridade competente, em observância ao disposto no art. 277 do
Código de Processo Penal. O perito nomeado pela autoridade será obrigado a aceitar o encargo, sob
pena de multa de duzentos cruzeiros a mil cruzeiros, salvo escusa atendível. Parágrafo Único –
Incorrerá na mesma multa o perito que, sem justa causa, provada imediatamente: a) deixar de acudir
à intimação ou ao chamamento de autoridade; b) não der o laudo, ou concorrer para que a perícia não
seja feita, nos prazos estabelecidos, sob pena de responder judicialmente pela recusa ou omissão”. E
mais: “Assim procedendo, estar-se-ia cumprindo os princípios do Direito Público e o interesse
maior em não estancar a justiça no cumprimento do imperativo legal, vez que tais exames, além de se
constituírem em peças processuais de relevante valor técnico no julgamento do mérito das causas que
a determinaram, revestem-se de importância social indiscutível para o conhecimento da verdade e
para a garantia dos direitos de cidadania”.
Não é sem motivo dizer que o Estado tem a responsabilidade em aparelhar adequadamente a
administração da justiça no sentido de que esta tenha condições mínimas de arcar com a realização
de tais exames e não a vítima, a quem não cabe qualquer despesa por procedimentos médicos
realizados por médicos peritos nomeados, vez que os indivíduos submetidos a tais exames não
preenchem, nessa relação, a condição de um paciente que celebra com o médico um contrato de
trabalho.
No caso dos que funcionam em ações de direito privado e quando nomeados pelo juiz em casos
de beneficiários da justiça gratuita, mesmo assim, sua função não pode ser honorífica. O Conselho da
Justiça Federal do Superior Tribunal de Justiça (STJ) editou a Resolução no 227/2000 reconhecendo
isso quando trata do pagamento de honorários periciais prestados nessas condições. Essa norma
estabelece os parâmetros mínimos e máximos de remuneração em diversas áreas de atuação. Isso
também caberia às entidades civis de classe estabelecerem parâmetros de remuneração dentro de
cada área profissional e da complexidade de cada perícia.
No que diz respeito aos honorários do assistente técnico, “cada parte pagará a remuneração do
assistente técnico que houver indicado (…).”
Nos casos em que as partes têm condições de efetuar o pagamento do perito, diz ainda o artigo
supracitado: “(…) a do perito será paga pela parte que houver requerido o exame, ou pelo autor,
quando requerido por ambas as partes ou determinado de ofício pelo juiz.”
Ainda tratando-se da justiça gratuita, o juiz poderá determinar que o pagamento seja feito após o
término do prazo para que as partes se manifestem sobre o laudo respectivo, ou, havendo solicitação
de esclarecimentos a serem prestados às partes, logo depois desses. É a regra do artigo 2o da
Resolução no 227, de 15 de dezembro de 2000, do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Nossa jurisprudência já se pronunciou a respeito: “Ao Estado foi imposto o dever de prestar
assistência jurídica e integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos, inclusive
pagamento de advogados (…) e honorários do perito” (STJ – 3o T. – Respe. 25.841-1/RJ – Rel. Min.
Cláudio Santos – ementário STJ, no 9/551).
Na Justiça Trabalhista a questão dos honorários é tratada no artigo 790-B da Consolidação das
Leis do Trabalho assim redigido: “A responsabilidade pelo pagamento dos honorários periciais é da
parte sucumbente na pretensão objeto da perícia, salvo se beneficiário da justiça gratuita”. A
Resolução no 35, de 19 de abril de 2007, do Conselho Superior da Justiça do Trabalho determina
destinação orçamentária para honorários periciais da justiça gratuita por parte dos Tribunais
Regionais do Trabalho fixando um teto de R$ 1.000,00 mediante fundamento, e fixa o limite mínimo
de R$ 350,00 como antecipação de despesas iniciais.
Com as modificações advindas do Código de Processo Penal, “Serão facultadas ao Ministério
Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação de quesitos
e indicação de assistente técnico”. Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes,
quanto à perícia: (…); II – indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em prazo a
ser fixado pelo juiz ou ser inquiridos em audiência. Tratando-se de perícia complexa que abranja
mais de uma área de conhecimento especializado, poder-se-á designar a atuação de mais de um
perito oficial, e a parte indicar mais de um assistente técnico.
Como tal, não há que negar o direito do assistente técnico quando convidado durante o curso do
processo judicial a oferecer pareceres ou ser inquirido em juízo cobrar seus honorários à parte que o
indicou.
Para alguns a situação mais delicada é a quantificação dos honorários. Vieira (in O perito
judicial – aspectos legais e técnicos, São Paulo: LTr, 2006) aponta alguns critérios a serem
relevados: 1) Carga dos Autos, que compreende o deslocamento e a distância da residência do perito
aos Cartórios; 2) Visita técnica ao local ou locais dos fatos; 3) Exigências técnicas especializadas,
quando o perito judicial deverá fixar a complexidade do trabalho que estiver enfrentando para a
elaboração do laudo. 4) Número de partes; 5) Utilização de equipamentos especiais e análises
laboratoriais extraordinários exigida para a perícia; 6) Translado em veículo próprio para a resposta
às impugnações e participação em audiências.
Assédio pericial
Denomina-se assédio pericial a situação em que uma das partes ou alguém hierarquicamente
acima do perito utiliza-se de recursos ou meios abusivos, no sentido de orientar condutas ou
artifícios, que possam alterar o resultado da prova, ou exige práticas que não estão na função regular
e específica da legisperícia. Alguns entendem como uma das muitas modalidades de assédio moral.
Todavia, no assédio pericial não existe o comportamento que leva a desqualificação do profissional
e sua consequente desestabilização emocional e moral, mas tão só a exigência caprichosa e
desmedida de procedimentos que se afastam do que é habitual ou que traga benefícios para quem
exerce o “poder de mando”.
O termo “assédio pericial” aqui utilizado está mais associado ao sentido comum, e não ao
técnico, quando fica evidente uma determinação de conduta de maneira contínua e deliberada de uma
ação funcional irregular ou abusiva a um perito ou equipes de perícia, o que se constitui em ato
atentatório à dignidade da justiça,