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S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

DECISÃO INSTRUTÓRIA

Ricardo José Carvalho Anjos, José António Chocolate


Contradanças, Juan Carlos Fernandes Oliveira, António Paulo Cadete de
Almeida Costa, Manuel de São José Gomes, Namércio Pereira da Cunha,
Pedro Miguel Silva Laranjeiro, Manuel João Alves Espadinha Guiomar,
Manuel José Ferreira Godinho, Armando António Martins Vara, Fernando
Vítor Lopes Barreira, Vítor Manuel Antunes Machado Baptista, Fernando
Manuel dos Santos, Paulo Manuel da Costa, Manuel Nogueira da Costa,
SCI, Sociedade Comercial e Industrial Metalomecânica, S.A., O.2. –
Tratamentos Limpeza Ambientais, S.A., José Rodrigues Pereira dos
Penedos, André Manuel Barbosa Oliveira, João Manuel da Silva Valente,
João Jorge da Silva Godinho, Carlos Porral Paes de Vasconcellos, e
Jorge Paulo Pereira de Penedos, notificados da acusação pública que nestes
autos lhes foi deduzida pelo Ministério Público, vieram requerer a abertura da
instrução nos termos e com os fundamentos cujo teor aqui se dá por
integralmente reproduzido.

Procedeu-se às diligências instrutórias oportunamente requeridas, não


se vislumbrando outras que se mostrem necessárias ao conhecimento
daquelas pretensões.

Foi realizado o debate instrutório facultando-se a todos os arguidos a


possibilidade de oferecerem as suas conclusões, ex vi do disposto no art.º 302º
do CPP.

***
O Tribunal é competente.

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O processo é o próprio e não enferma de nulidades que o invalidem.

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Compulsados exaustivamente os autos, entende o JIC que deve ser


proferido despacho a que alude o artº 33º, nº1 do CPP.
Não existem assim, quaisquer actos a anular, entre os actos que foram
praticados pelo JIC de Aveiro, pois todos teriam igualmente sido praticados por
mim, neste TCIC, na mesma forma e com os mesmos fundamentos.
Entendemos, deste modo, que não existem actos que devam ser
repetidos.

Das nulidades invocadas


1. No RAI apresentado pelo arguido Jorge Paulo Martins Pereira dos
Penedos

1.1- Nulidade da Acusação

Suscita à cabeça do seu requerimento, a invocação da alegada nulidade


da acusação.
Para tanto defende que a acusação seria nula por se ter baseado em
intercepções telefónicas, que no seu entender seriam nulas.

Afirma que se verificaria a nulidade das escutas utilizadas contra si


como prova, por entender que houve falta de controlo judicial, em duas
situações distintas a saber:

Alega que em relação ao conjunto de sessões dos Alvos 39263IE e
39263M , no período compreendido entre 3-6-2009 e 14-06-2009, o controlo
judicial não foi tempestivo.

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Trata-se de uma afirmação que é expressamente contrariada pelos


elementos constantes dos autos, senão vejamos:
• Com efeito, o relatório da PJ sobre o resultado de tais
intercepções encontra-se datado de 17-06-2009- cfr. fls. 30093.
• Na mesma data, -17-06-2009- o Ministério Público apreciou e
mandou apresentar o relatório da PJ e os CD’s ao Mmº Juiz de Instrução , para
validação e apreciação do promovido a fls. 3094 a 3103 .
• Os autos foram remetidos ao Tribunal de Instrução da Comarca
do Baixo Vouga em 18-06-2009, pelas 16h06 - fls. 3104 e 3105.
• O processo foi concluso ao JIC pelas 16h25 do dia 18-06-2009-
fls. 3106
• Tendo os CD’s sido apreciados e as intercepções neles contidas,
sido validadas, por despacho de 22-06-2009.

Verifica-se assim que foi escrupulosamente respeitado o prazo de 15


dias para a PJ apresentar o resultado das últimas intercepções efectuadas ao
Ministério Público, conforme se exige no artº 188º nº 3 do CPP
Foi respeitado o prazo de 48 para a apresentação das intercepções ao
JIC, imposto pelo artº 188º nº 4 do CPP.

Corroboramos o entendimento, conforme afirma o arguido, que o artº


188º não estabelece, expressamente, qualquer prazo dentro do qual o JIC
deve ouvir, apreciar e tomar posição sobre a validação das intercepções e
sobre se existem ou não sessões que caibam na previsão do artº 188º nº 6
do CPP, e que por isso tenham que ser destruídas.

Já não faz qualquer sentido, entender-se que tal prazo tenha que ser
inferior ás 48 horas concedidas pelo legislador ao Ministério Público, para se
pronunciar sobre as mesmas questões.
De facto, o legislador conhece as dificuldades associadas ao

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fenómeno do controlo de escutas e previu até a possibilidade de o JIC


necessitar de ser coadjuvado por órgão de polícia criminal e se
necessário por perito- cfr artº 188º nº 5 do CPP.
Sendo óbvio que, nestas situações, é materialmente impossível
cumprir o prazo de 24 horas, indicado pelo arguido como sendo o
aplicável.

Como bem salienta o Ministério Público no debate, a verdade é que os


artº 268º e 269º invocados pelo arguido Paulo Penedos e onde o mesmo
assenta a sua convicção de que o prazo aplicável é de 24Horas, não são
aplicáveis aos actos materiais e decisões inerentes ao controlo judicial
previsto no artº 188º do CPP .
A situação não cabe na previsão do artº 269º e embora possa estar
abrangida na cláusula geral da al. F do artº 268 nº 1 , o certo é que, pela
própria natureza das funções de controlo, nunca a situação prevista no nº 4 do
artº 268º seria aplicável, já que o aplicador tem que admitir que o legislador
procurou as adequadas soluções que preservem o espírito do sistema.

Na verdade, o controlo judicial deve ser exercido, em regra, dentro


do prazo geral previsto para a pratica de actos em processo penal, que é
de 10 dias, nos termos previstos no art.º 105º nº 1 do CPP, podendo ser
excedido tal prazo, em situações devidamente fundamentadas- v.g. falta ou
avaria de equipamento de reprodução, inexistência de intérpretes para
determinados idiomas ou dialectos, e de um forma geral, em todas as situações
que resultem numa impossibilidade pratica de ser respeitado o prazo geral.
De todo o modo, a ultrapassagem do prazo não é sancionada com
nulidade, por o art.º 188º não o determinar expressamente, sabido como é que,
em processo penal, no que respeita a nulidades, vigora o princípio da
tipicidade.

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A segunda situação invocada pelo arguido Paulo Penedos como


determinante da nulidade de intercepções e, por arrastamento, a nulidade
da acusação, respeita ao conjunto de sessões dos Alvos 39263IE e
39263M gravadas no período compreendido entre 25-06-2009 e 02-7-2009

Neste caso o arguido veio propugnar que não se verificaria


apresentação e despacho inicial fora dos prazos legais, já que a PJ apresenta
relatório em 07-07-2009 e o JIC valida as gravações e ordena transcrições por
despacho de 10-07-2009- crfr fls. 3351.
A nulidade invocada, prender-se-ia com o facto de, depois do despacho
de validação, o mesmo ter sido rectificado, por despacho de fls. 13950,
proferido em 05-01-2010, onde foi rectificada a identificação de três
sessões/produtos a serem transcritos.

Mais uma vez, salvo melhor entendimento, o arguido não tem razão.

O raciocínio exposto parte da premissa errada de que o momento


temporal da validação das intercepções teria que ser o mesmo da
determinação da ordem de transcrição de sessões, ou seja, que tudo deve ser
efectuado aquando da apresentação das sessões - artº 188º nº 4 do CPP.

Mas, na verdade, tal não é a disciplina imposta pelo CPP, não só porque
se tratam de decisões distintas, com efeitos completamente distintos, como
ainda apenas em relação à primeira decisão- a da validação – é que o Código
estabelece prazos para o controlo judicial e formalismos cuja inobservância é
cominada com nulidade.

Actualmente, a ordem de transcrição de sessões para valerem como


meio de prova, é, em regra, da competência do Ministério Público, conforme
estipulado no artº 188º nº 9 al. A do CPP.

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Na verdade a ordem de transcrição quando dada pelo Ministério Publico,


depende apenas da prévia validação judicial das gravações efectuadas.
A ordem de transcrição apenas será da competência exclusiva do JUIZ,
mas sempre a requerimento do Ministério Público, para a situação excepcional
prevista no artº 188º nº 7 do CPP, isto é para poderem fundamentar a
aplicação de medida de coacção, a requerer ao tribunal de instrução.

Ou seja, desde que as gravações sejam previamente validadas


judicialmente, a ordem de transcrição de sessões pode ocorrer em qualquer
momento do inquérito.

Como bem salientou o Ministério Publico no debate, a ordem de


validação das intercepções respeitou escrupulosamente as exigências do
artº 188º do CPP e tal decisão não sofreu qualquer rectificação.

A decisão de transcrição, que se seguiu á validação, é que foi depois


rectificada, mas tal circunstancialismo é perfeitamente inócuo, não
acarretando qualquer tipo de invalidade das transcrições, e muito menos
a invocada nulidade.

O que é fundamental á que as intercepções e os produtos apresentados


tenham sido judicialmente validados.

È processualmente irrelevante se a transcrição foi ordenada no


mesmo dia da validação ou no final do inquérito.

Sucedendo muitas vezes que, sessões que não foram inicialmente


seleccionadas com interesse probatório, venham a sê-lo posteriormente, após
análise crítica e conjugada com outros meios de prova obtidos.

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Ora, sendo estas as duas situações de intercepções telefónicas as


únicas em relação às quais o arguido Paulo Penedos afirma estarem feridas de
nulidade, por alegada falta de controlo judicial, rebatidos que se mostram os
seus argumentos, concluímos que:
1- Não foram indicados quaisquer meios de prova, nomeadamente
intercepções telefónicas, inválidos.
2- Consequentemente, a acusação não se mostra ferida de qualquer
nulidade, ao contrário do alegado no RAI do arguido Paulo Penedos.

Das nulidades invocadas no ponto III do RAI- Competência do


STJ

Como se alcança da exaustiva compulsação dos autos verifica-se que a


competência para a apreciação das nulidades invocadas no ponto III do RAI,
cabe ao Exº Juiz Conselheiro Presidente do Supremo Tribunal de Justiça,
enquanto órgão que proferiu as decisões em relação ás quais foi suscitado o
vício de nulidade.
Esta parte do RAI foi encaminhada para apreciação, tendo já sido
tomada decisão, que indeferiu as invocadas nulidades.
Cabe-nos apenas aqui referir tal facto, não se mostrando documentadas
nos autos evidencias que permitam aferir se a respectiva decisão já transitou
em julgado.
O Ministério Público não interpôs recurso de tal decisão, junto do STJ.

Cumpre apreciar e decidir

A tese do arguido Paulo Penedos baseia-se, em parte, nos fundamentos


que constam dos Acórdãos n.º 660/2006, 450/2007 e 451/2007, todos do
Tribunal Constitucional e também no douto parecer do Prof Dr. Paulo Pinto de
Albuquerque, junto com o RAI.

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Porém, posteriormente á prolação de tais arestos, verificou-se que o


Tribunal Constitucional, em Plenário, no Acórdão n.º 70/08, (publicado no
Diário da República, 2.ª Série, de 7 de Julho de 2008 e disponível na página
Internet do Tribunal Constitucional, no endereço www.tribunalconstitucional.pt),
não seguiu a posição neles sustentada, tendo ponderado todos os argumentos
que deles constavam.
Com efeito, o Plenário do TC decidiu:

"não julgar inconstitucional a norma do art. 188.º, n.º 3, do Código de


Processo Penal, na redacção anterior à Lei n.º 48/2007, de 29 de Agosto,
quando interpretada no sentido de que o juiz de instrução pode destruir o
material coligido através de escutas telefónicas, quando considerado não
relevante, sem que antes o arguido dele tenha conhecimento e possa
pronunciar-se sobre o eventual interesse para a defesa”.

Posteriormente, este último entendimento foi reafirmado no Trib


Constitucional no Acórdão de 02-12-2009, proferido no Processo n.º 835/09 da
2.ª Secção, igualmente acessível pela Internet no referido endereço.

Perante todo o circunstancialismo em presença, forçoso é considerar que


a alegada Inconstitucionalidade da interpretação normativa do artigo 188.º,
n.º 3, do Código de Processo Penal, não será de aplicar ás ordens de
destruição de sessões interceptadas no âmbito dos presentes autos,
porquanto a disciplina legal do regime das escutas sub judice ocorre já
na plena vigência do artº 188º nº 6 da Lei n.º 48/2007, de 29 de Agosto.

Concorde-se ou não, o certo é que, agora, de lege constituto foi


expressamente fixado novo paradigma, permitindo-se expressamente, nas
restritas circunstâncias ali enunciadas, a destruição de sessões abrangidas por
tal previsão, sem que seja dado conhecimento do teor das mesmas aos sujeitos
processuais intervenientes.

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Com efeito, também assim parece ter sido entendido, no Ac. do STJ, de
18 de Dezembro de 2008, em que foi Relator o Ex Juiz Conselheiro Rodrigues
da Costa - acessível no site do ITIJ – doc ref 08P2958-
SJ200812180029585.

No referido aresto, a respeito das alterações introduzidas pela Lei n.º


48/2007, de 29 de Agosto se escreveu”…a sua solução consagrada na lei,
pressupostamente para obviar a qualquer arguição de inconstitucionalidade, não se
limita a fazer uma interpretação da norma, mas, verdadeiramente, a inovar, estatuindo
de forma substancialmente diversa do que estava prescrito no anterior n.º 3 do art. 188.º
do CPP e agora consta do seu n.º 6, complementado pelos n.ºs 12 e 13.”

Mais uma vez damos assentimento à tese do Ministério Publico segundo


a qual caso seja entendido, como entende o arguido, que em relação à nova
redacção do artº 186º nº 6 do CPP se colocam as mesmas dúvidas sobre a sua
conformidade com a CRP, estamos em crer que os argumentos que os
rebatem, invocados no referido Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 70/08 ,
mantêm-se plenamente validos. Assim como alguns dos argumentos, no
mesmo sentido do acórdão, expendidos nas declarações de voto que
ficaram consignados no mesmo.

O JIC tem perfeita noção de que o seu entendimento no âmbito do


presente processo, não é definitivo, resolvidas que estão, desta forma em 1ª
Instancia, as referidas nulidades suscitadas pelo arguido Paulo Penedos
mormente, pela decisão proferida pelo Exº Juiz Conselheiro Presidente do STJ,
que foi no sentido do seu indeferimento, o certo é que quer o arguido Paulo
Penedos quer os restantes arguidos não poderão ser prejudicados nos seus
direitos de defesa, na medida em que, caso venham a ser pronunciados,
conforme pugna o Ministério Público, o Tribunal de julgamento mantém
competência para excluir provas que sejam tidas como proibidas, conforme
dispõe expressamente o art.º 310º nº 2 do CPP.

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Em debate sobreveio outra nulidade, a saber a alegada Nulidade das


intercepções feitas ao arguido Paulo Penedos, por terem sido destruídas outras
escutas em que interveio, ele próprio ou terceiros entre os quais arguidos dos
autos e não vistas/acessíveis pelo arguido.
Acarretando tal nulidade a nulidade da própria acusação.
Trata-se, apenas, de mais uma argumento para invocar a nulidade da
acusação, com base na mesma linha de argumentação.
Já acima se referiram as razões de direito, nomeadamente a expressa
previsão legal que obriga o Juiz a destruir intercepções telefónicas que sejam
abrangidas pelo artº 188º nº 6 do CPP.
Estas são destruídas.
Só as que não forem abrangidas pelo preceito é que são guardadas,
conforme impõem os nº 12 e 13 do artº 188º do CPP.

Da nulidade suscitada pelo arguido Jorge Paulo Martins


Pereira dos Penedos

No despacho de fls. 30507, referiu-se a possibilidade de alguns dos


produtos referentes a intercepções não estarem na disponibilidade dos
arguidos, nos termos e para os efeitos do disposto no art.º 188º nº 6 do CPP,
tendo-se afirmado ter sido esta a nossa percepção, face ao despacho proferido
em 29-11-2010 pelo JIC do Juízo de Instrução Criminal da Comarca do Baixo
Vouga, constante de fls. 1301 dos autos de “extensão procedimental” destes
autos, apensos aos mesmos.

Com base em tal pressuposto, já em sede de debate instrutório, foi


suscitada pelo arguido Paulo Penedos, a nulidade decorrente da alegada
violação do disposto no artº 188º nº 8 do CPP.

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Sucede porém, numa análise mais aprofundada da questão suscitada,


que se verifica que, afinal, o determinado na parte final do despacho de 29-11-
2010, só veio a ser cumprido, definitivamente, em 15-12-2010, com a
eliminação de todas as cópias de intercepções dos arguidos que haviam sido
gravadas para computadores existentes nos serviços do Ministério Público, já
depois do termo do prazo para a apresentação de requerimentos de abertura
de instrução, conforme consta do termo de fls. 29774.

Circunstância que não constava na ponderação dos elementos


indicados no nosso despacho de fls. 30505 a 30516, onde se pretendeu,
apenas, cumprir as disposições do CPP, em matéria de notificações e não
tomar decisão sobre qualquer eventual, mas possível, violação do artº 188º do
CPP.

Pretendeu-se, tão-somente, justificar a necessidade de dar cumprimento


ás normas processuais aplicáveis em matéria de notificações, tendo-se
ordenado a notificação dos intervenientes processuais de despachos judiciais
que não lhes tinham sido comunicados - cfr- fls. 30515.

Ora, tomando agora posição sobre a nulidade suscitada, no que à


resolução desta questão importa, os autos documentam que:
• Em 26-11-2010 o Procurador da República da Comarca do Baixo
Vouga apresentou o requerimento de fls. 1294 a 1297 da
Extensão Procedimental, dando conta de que tinham sido
detectados outros produtos de intercepções telefónicas
ordenadas nos autos, em que se verificou haver a intervenção do
Exmº. Primeiro Ministro do Governo Constitucional.
• Na oportunidade, requereu que fosse determinada a
apresentação de tais produtos ao Exº Juiz Conselheiro
Presidente do STJ, nos termos dos art.º 187º a 190º do CPP,

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para que se pronunciasse ao abrigo do disposto no art.º 11º nº 2


al. b) do CPP.
• Mais foi promovido que, cautelarmente, fosse determinada a
eliminação dos referidos produtos das cópias existentes para a
consulta, pelos sujeitos processuais, até decisão superior.
• Por despacho de 29-11-2010, o JIC do Juízo de Instrução
Criminal da Comarca do Baixo Vouga, concordando com a
promoção do Ministério Público, deferiu o promovido, deixando
consignado que analisou os produtos em causa e que “ as
aludidas comunicações não apresentam qualquer interesse,
remoto que seja, para os presentes autos.”- cfr. Fls. 1301 da
Extensão Procedimental.
• Mais determinou, em despacho seguinte, que os produtos em
causa fossem eliminados das cópias criadas para consulta pelos
sujeitos processuais.
• Em 07-12-2010, as cópias dos produtos indicados, que haviam
sido gravadas num disco de computador (que terá sido afecto a
consultas pelos sujeitos processuais) foram eliminadas do disco
de computador. Cfr fls. 1312 da Extensão Procedimental.
• Contudo e após compulsação e escrutínio que agora fui forçado a
fazer não terão sido destruídos os DVD’s que serviram de fonte
de tais ficheiros copiados para o disco, pois nada se refere nesta
parte.
• Escrutinando, apurei que, só em 15-12-2010 , já depois da data
prevista para o termo do prazo para abertura de instrução, é que
foram eliminados todos os ficheiros que haviam sido copiados
dos DVD’S para discos de computadores existentes nos serviços
do Ministério Público. (cfr. Termo de fls. 29774 dos autos.)

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• Não consta que tenham sido eliminados ou destruídos os DVD’s


contendo cópias dos respectivos produtos, pelo que estes se
mantiveram sempre disponíveis.
• Por decisão de 23-12-2010, do Exº Sr. Juiz Conselheiro
Presidente do STJ, foi determinada a destruição dos produtos
aludidos no referido despacho de fls. 1301.- cfr fls- 30466.

Conforme se depreende do contexto, o segundo despacho de fls. 1301


da “Extensão Procedimental” é meramente instrumental em relação ao que fora
acima decidido quanto ao destino a dar aos produtos em causa – remessa ao
STJ para apreciação e decisão pelo Exº Sr. Juiz Conselheiro Presidente do
STJ, por ser o competente para a apreciação e validação de tais produtos,
segundo o entendimento consolidado nos autos.

Os referidos produtos só não tinham sido apresentados antes para


apreciação, tanto quanto pude aquilatar, pelas razões indicadas no despacho
do Procurador da Republica da Comarca do Baixo Vouga, de 26-11-2010, ora
inserto a fls. 1294 a 1297 da Extensão Procedimental.
Aparentemente, só naquela data é que foi verificado que afinal os
produtos indicados envolviam comunicações em que intervinha o Exmº
Primeiro Ministro.

Como tal, tratavam-se de produtos que não haviam ainda sido


submetidos á apreciação do JIC competente, e como tal, não constituíam meio
de prova validado nos autos.

Por outro lado, das listagens de consultas dos autos e das intercepções
de fls. 27060 a 27065, não consta que o ilustre mandatário do arguido Paulo
Penedos, se tenha dirigido aos serviços do Ministério Público para consultar os
autos ou as intercepções, pelo menos até ao dia 22-11-2010.

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Também não consta que, no período fixado no art.º 188º nº 8 do CPP


tivesse o mesmo arguido requerido e lhe tivesse sido negado, o acesso aos
produtos indicados no despacho de fls. 1301, ou quaisquer outros.

Falece assim a razão ao arguido, uma vez que não se mostra


documentado que o mesmo tivesse, em concreto, sido impedido de ter acesso
aos produtos, na medida em que não requereu tal acesso, ou seja não exerceu
tal faculdade .

Questão diferente é a de saber se o mesmo tinha ou não direito ao


acesso aos produtos discriminados .

Desconhece-se qual teria sido a decisão, caso fosse requerido o acesso


no período que mediou entre a prolação do despacho de fls. 1301 - 29-11-
2010- e a data em que foi determinada a destruição dos referidos produtos,
23-12-2010.
Sobre tal eventualidade, cai-se no campo puramente especulativo, pois
muitas poderiam ter sido as decisões possíveis, pese embora o decidido na 2ª
parte do despacho de fls. 1301, que como já se referiu, só foi cumprido, numa
primeira parte em 07-12-2010 e finalmente em 15-12-2010, numa altura em
que já tinha sido atingido o prazo para ser requerida a abertura de instrução.

Sendo igualmente certo que no referido período, em abstracto, poderia


ter sido requerido e hipoteticamente poderia ter sido determinado que fosse
elaborada nova cópia dos referidos produtos, para consulta, a partir dos DVD’s
e/ou dos elementos gravados no sistema de intercepções da PJ, não havendo
assim a impossibilidade pratica de tal ser ordenado.

Sendo também certo que, a partir de 23-12-2010, já não poderia ser


autorizado o acesso, por ter sido determinada a destruição dos produtos em

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causa, pelo que havia que aguardar-se pelo trânsito da decisão, não podendo
ser revelado o conteúdo das intercepções mandadas destruir.
Nestes termos entende-se que não se mostra documentado nos autos
que tenha sido violado o disposto no artº 188º nº 8 do CPP, pelo que se
indefere a referida nulidade.
***

2- Nulidades suscitadas no RAI do arguido José Rodrigues


Pereira dos Penedos

No Ponto II do RAI apresentado pelo arguido Eng. José Penedos - vem


expressamente suscitada - artº 27º a 76º a nulidade do inquérito prevista no
artº 120º nº 2 al. d) do CPP que, em seu entender, resultaria da violação das
normas do artº 272º nº 1 e as dos artº 141º nº 4, 143 nº 2, todos do CPP.

Em síntese útil, defende o arguido que havia a obrigação de ter sido


confrontado com todos os factos que acabaram por lhe ser imputados na
acusação e que tal não sucedeu no decorrer do primeiro interrogatório judicial,
nem posteriormente.

Também neste particular, corroboramos o afirmado pelo Ministério


Público que não existe fundamento legal para ser reconhecida a invocada
nulidade:
Tem o JIC signatário por comumente aceite ao presente que no que
respeita à jurisdição criminal, compete ao Ministério Público dirigir o inquérito –
artigos 53º, n.º 1, al.b) e 263º do Código de Processo Penal.
Para exercício dessas competências, goza o Ministério Público de
autonomia em relação aos demais órgãos do poder central e local,
caracterizando-se essa autonomia pela sua vinculação a critérios de legalidade
e objectividade – cfr. art.º 2º do Estatuto do Ministério Público.

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O inquérito, como é sabido, compreende o conjunto de diligências que


visam investigar a existência de um crime, determinar os seus agentes e a
responsabilidade deles e descobrir e recolher provas em ordem à decisão
sobre a acusação – art.º 262º, n.º 1 do Código de Processo Penal.

Os presentes autos começaram como uma investigação aos


negócios do arguido Manuel Godinho e das suas empresas, envolvendo,
além deste arguido, um conjunto relativamente limitado de pessoas que,
aparentemente, colaboravam com aquele arguido na actividade delituosa.

Tanto quanto perspectivámos da análise a que procedemos, à medida


que o processo foi evoluindo algumas linhas de investigação foram sendo
aprofundadas, outras não tiveram desenvolvimento por se ter entendido que as
suspeitas iniciais de crime não tinham um mínimo de suporte e outras foram
objecto de extracção de certidões para instauração de inquéritos autónomos.

Foram surgindo indícios da prática de novos crimes, em que foram


detectados, novos intervenientes e suspeitos.

A evolução das investigações permitiu que fossem sendo reunidos um


conjunto de elementos probatórios indiciários, os quais após análise, foram
considerados como sendo suficientes para fundamentar a constituição e
interrogatório, como arguidos, de diversos cidadãos, entre os quais o arguido
José Penedos.

Daí decorreu que o Eng. Penedos foi constituído como arguido em 02-11-
2009 e o seu primeiro interrogatório Judicial ocorreu no dia 17-11-2009,perante
o JIC, no Juízo de Instrução Criminal de Aveiro - Comarca do Baixo Vouga
– cfr fls, 10795 e ss., diligência que foi interrompida e continuada no dia 19-11-

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2009- cfr fls. 11450 e ss. Posteriormente, voltou a ser inquirido pelo JIC, na
qualidade de arguido, no dia 25-11-2009 - cfr. fls. 12394.

O arguido foi, assim, confrontado com os factos e meios de prova que


então eram conhecidos e que lhe foram comunicados, tendo sobre os mesmos
exercido o seu direito de contraditório, nos termos constantes de fls. 11452 a
11456, cumprindo-se deste modo o disposto artº 272º nº 1 e as dos artº 141º nº
4, 143 nº 2, todos do CPP, que o arguido afirma terem sido violados.

Compreendemos a asserção do Ministério Público no debate, quando


disse:
“O momento processual para a realização da referida diligência teve que
ser integrado na estratégia investigatória traçada para o efeito, em que tiveram
que ser ponderados diversos factores, nomeadamente a necessidade de terem
que ser interrogados outros arguidos, inquiridas inúmeras testemunhas, tudo
de forma a permitir a continuação das investigações com a recolha sistemática
de informação e meios de prova.” (sic)

Como é bom de ver toda esta actividade decorre no âmbito de uma


realidade dinâmica, complexa e que se vai transformando e consolidando,
até á dedução da acusação, altura em que o objecto do inquérito fica
definitivamente estabilizado, em termos indiciários, em termos daquilo
que habitualmente se chama thema probandum.

Atenta a estrutura acusatória do modelo de processo penal até agora


adoptado entre nós é após a acusação que os sujeitos processuais ficam a
saber toda a factualidade que lhes é imputada, bem como os meios de prova
que sustentam tais imputações.
Perante uma acusação definida pode então, exercer de forma plena o
contraditório.

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Não é apodíctico que, antes da dedução da acusação, os arguidos


tenham o direito de serem confrontados com todos os factos, que irão ser
vertidos para a acusação, como parece defender o arguido José Penedos, no
seu RAI e se proclamou, de forma grandiloquente, no debate.

Na verdade, tal pretensão não só não tem apoio legal expresso


como ainda seria impraticável, na medida em que tornaria o inquérito, que se
pretende ser célere ( celeridade que, no caso dos autos se impunha, por se
tratar de um processo com natureza urgente, por haver então um arguido em
prisão preventiva ) numa espécie de procedimento administrativo interminável,
de recolha e fornecimento de informação processual, em que, a par e passo, a
investigação teria que transmitir a cada um dos arguidos, os resultados da
informação colhida em sede indiciária, assim como a explicitação de cada facto
ou nova suspeita levantada, o que levaria a ter que se reinquirir cada arguido
em relação a cada novo elemento probatório colhido e em relação a cada novo
facto apurado e assim sucessivamente.

O inquérito serve para investigar factos criminalmente relevantes em


ordem à dedução de uma acusação ou não se indiciando suficientemente estes
oa arquivamento.
Os factos alegados na acusação constituem o objecto final do processo.
Com esse entendimento surge reforçada a estrutura acusatória do nosso
processo penal.
Só com a dedução da acusação é que ficam definidos os objectos
do processo, o thema probandum e o thema decidendum.
“ O exercício do contraditório numa audiência, cujas notas dominantes são a
oralidade e a imediação, concretizar-se-á por parte do arguido com a exposição das
suas razões e dependerá da sua participação activa, do exercício do seu direito de
audiência, do direito de dizer e a fazer ouvir os seus motivos e argumentos, e
procurando contrariar os adversos ou adoptar quiçá pelo silêncio.

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É na audiência, mediante o pleno exercício do contraditório, que o arguido pode


e deve defender-se”, conforme se escreveu no AC STJ de 07-04-2010, a
propósito do direito de audiência do arguido em julgamento.
Acessível no site ITIJ :
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/b90cf1709b2b4
d18802577120052d89c?OpenDocument&Highlight=0,audi%C3%AAncia,272)

Até à dedução da acusação não corresponde à verdade que o


arguido tenha o direito de contraditório pleno, como parece ser, em parte,
defendido no RAI.
Com efeito o legislador consagrou a existência de procedimentos, em fase
de inquérito, que afastam por completo tal pretensão
O Ministério Público salientou e bem dois pertinentes exemplos:

- A consagração da possibilidade da fase de investigação decorrer


sob segredo de justiça, conforme previsto no artº 86º nº 2 e 3 do CPP ,
procedimento que foi requerido e autorizado neste processo
- A consagração da possibilidade de, no decurso do primeiro
interrogatório, não serem comunicados nem revelados elementos do
processo que possam dificultar a descoberta da verdade, nem criar perigo
para a vida, a integridade física ou psíquica ou a liberdade dos participantes
processuais ou vítimas do crime- cfr artº 141º nº 4 al. d) .

O que acima ficou dito serve para demonstrar que, no caso concreto, por
ter sido determinada a tramitação dos autos sob segredo de justiça, tal facto
determinou que, até ao termo do prazo previsto no artº 276º do CPP, o
arguido não tivesse direito ao acesso a todos os meios de prova nem aos
depoimentos de qualquer testemunha ou co-arguido, mas apenas aos
elementos que o Ministério Público indicou aquando da apresentação ao JIC
para primeiro interrogatório Judicial e que ficaram a constar do respectivo auto.

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Quanto ao acórdão de fixação de jurisprudência citado no RAI, verifica-se


que o mesmo trata de questão que resultava da redacção dada ao artigo 272.º,
n.º 1, do Código de Processo Penal pela Lei n.º 59/98, de 25 de Agosto, por
força da qual, se passou a entender que, no inquérito, quando no mesmo se
proceda contra pessoa determinada e seja possível a sua notificação, passou a
ser obrigatório interrogá-la como arguido.
Com tal novidade jurídica se fazendo ruir bibliotecas jurídicas da tese que
defendia que não.
Antes a redacção do preceito era a seguinte:
Artigo 272.º ( versão Lei n.º 59/98)
Primeiro interrogatório e comunicações ao arguido
1 - Correndo inquérito contra pessoa determinada é obrigatório interrogá-
la como arguido. Cessa a obrigatoriedade quando não for possível a
notificação.
Actual redacção do nº 1 do artº 272 é a seguinte:
1- “Correndo inquérito contra pessoa determinada em relação á qual haja
suspeita fundada da prática de crime é obrigatório interroga-la como arguido,
salvo se não for possível notifica-la.”
A principal diferença reside no facto de que na anterior redacção era obrigatório
constituir o suspeito como arguido, desde que o inquérito corresse contra
pessoa determinada
E agora exige-se que haja suspeita fundada da prática de crime.

Continuação da redacção antiga


2 - O Ministério Público, quando proceder a interrogatório de um arguido ou a
acareação ou reconhecimento em que aquele deva participar, comunica-lhe,
pelo menos com vinte e quatro horas de antecedência, o dia, a hora e o local
da diligência.
3 - O período de antecedência referido no número anterior:

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a) É facultativo sempre que o arguido se encontrar preso;


b) Não tem lugar relativamente ao interrogatório previsto no artigo 143.º, ou,
nos casos de extrema urgência, sempre que haja fundado motivo para recear
que a demora possa prejudicar o asseguramento de meios de prova, ou ainda
quando o arguido dele prescindir.
4 - Quando haja defensor, este é notificado para a diligência com pelo menos
vinte e quatro horas de antecedência, salvo nos casos previstos na alínea b) do
número anterior.

O Acórdão do STJ , citado no RAI, fixou a seguinte jurisprudência


obrigatória:
«A falta de interrogatório como arguido, no inquérito, de pessoa
determinada contra quem o mesmo corre, sendo possível a notificação, constitui a
nulidade prevista no artigo 120.º, n.º 2, alínea d), do Código de Processo Penal»;

Ora , tal questão não se suscita nos presentes autos, na medida em que,
como se viu, o arguido foi submetido a primeiro interrogatório Judicial e, depois
disso, voltou a ser inquirido pelo JIC .

Esta realidade processual afasta-se assim , em concreto, da questão que


foi tratada no referido Acórdão de fixação de jurisprudência, fazendo com que o
mesmo não possa ser chamado á colação para solucionar a alegada nulidade
suscitada pelo arguido José Penedos no RAI – isto porque é bom de ver que ,
pelas razões indicadas, a referida jurisprudência não se aplica á situação
factual e á tramitação processual que se verificou nos autos.

Com efeito, não se pode afirmar que tenha ocorrido omissão de


interrogatório do Eng. José Penedos como arguido, porque os autos
documentam que houve lugar a tal interrogatório.

Por outro lado, o artº 272º nº 1, quer na versão anterior quer na actual,
tinha como campo de aplicação o interrogatório não judicial do arguido,
efectuado pelo MP ou pelos órgãos de polícia criminal.

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Existindo disciplina própria e até mais exigente, nos casos em que há


lugar a primeiro interrogatório Judicial, como sucedeu no caso presente -
tratam-se dos artº 141º nº 2 e 4, conjugadas com o disposto nos art.º 58º e 61,
todos do CPP, preceitos que foram escrupulosamente cumpridos pelo Mmº JIC
de Aveiro.

Não se vê assim, que tenha sido cometida qualquer irregularidade, e


muito menos a alegada omissão de interrogatório do arguido, que, a ter
ocorrido, poderia efectivamente acarretar a nulidade invocada.
Mas tal hipótese pura e simplesmente não se verifica no caso concreto.

Questão diferente é o convencimento do arguido, de que deveria ter sido


determinada pelo Ministério Público a sua reinquirição, para tomar posição
sobre os novos factos que lhe foram imputados na acusação e que afirma não
lhe terem sido referidos aquando do seu interrogatório.

Quanto a esta argumentação, apenas se reafirma que a direcção do


inquérito cabe ao Ministério Público, assistido pelos órgãos de polícia criminal -
artigo 263º, n.º 1 do CPP - o qual pratica os actos e assegura os meios de
prova necessários à realização do inquérito - artigo 267º - com as restrições do
artigo 268º e seguintes do CPP.

Tendo o arguido sido interrogado nessa qualidade no decurso do


inquérito, por duas vezes, (sempre perante o JIC) deu-se plena satisfação à
obrigatoriedade decorrente do disposto no artigo 272º n.º 1 do CPP, não sendo
cometida qualquer nulidade.

Com efeito, da leitura dos artigos 272.º, nº 1 e 58.º, nº 1, al. a), do CPP
resulta a obrigatoriedade de no inquérito se interrogar como arguido pessoa
contra a qual haja fundada suspeita da prática de um crime.

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A injunção legal de interrogatório de pessoa determinada contra quem


corre o inquérito dirige-se à entidade que conduz o inquérito mas não
compreende uma directriz sobre o momento do interrogatório do suspeito, o
qual deve ser decidido no quadro da estratégia definida em concreto para o
inquérito.

Nos termos da disciplina legalmente prevista, a efectivação do direito de


informação concretizada sobre os factos e provas contra o arguido reunidos
encontra-se reservada para o momento em que aquele vier a ser chamado a
prestar declarações.

Os arguidos e os assistentes não podem obrigar o Ministério Público a


praticar, no âmbito do inquérito, actos que a lei não indica como obrigatórios,
como é o caso da reinquirição dum arguido ou duma testemunha, pois isso
seria interferir na direcção dessa fase processual, cujo conteúdo é da exclusiva
responsabilidade do Magistrado do Ministério Público a quem o inquérito tiver
sido distribuído. ( também neste sentido cfr. AC Rel Lisboa de 09-10-2002,
proferido no Proc. 4206/02 3ª Secção, acessível via internet no site do ITIJ.)

O que o arguido poderia ter feito em sede de inquérito, mas não fez era
requerer a sua reinquirição perante o Ministério Público, tendo antes optado,
por usar tal faculdade em sede de instrução, diga-se com toda a legitimidade.

Sendo nessa altura já conhecedor da totalidade dos factos que lhe foram
imputados e dos meios de meios de prova indicados na acusação, o arguido
José Penedos prestou em sede de instrução, os esclarecimentos que entendeu
dever prestar sobre tais factos e meios de prova.

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No entender do Ministério Público, segundo posição expressa no debate


do seu depoimento, resultou apenas a reafirmação da posição que o mesmo já
assumira aquando do seu primeiro interrogatório judicial.

Com interesse, não adiantou qualquer elemento ou facto novo.


Não tendo igualmente produzido qualquer meio de prova que abale a
prova.

Inexiste, pois, qualquer nulidade, neste tocante.

3 - Da alegada Nulidade de Inquérito, por falta de


competência do DIAP de Aveiro para dirigir a investigação e da
Comarca do Baixo Vouga para a pratica dos actos
jurisdicionais necessários no decurso da fase de inquérito

Nos RAI’s apresentados pelos arguidos :


Armando Vara – fls. 27737 e ss
Manuel Godinho – fls. 27731 e ss
Fernando Lopes Barreira - fls. 28 076 e ss
O2 e SCI – fls. 28308 e ss
E agora por outros arguidos no debate, vem suscitada a:

• Incompetência do DIAP da Comarca do Baixo Vouga para a


direcção do inquérito:

• Incompetência do Juízo de Instrução Criminal de Aveiro para a


prática dos actos Jurisdicionais ordenados nos autos:

Por se tratarem das mesmas questões, mas apresentadas em


requerimentos distintos, trataremos aqui da sua apreciação, dando-se um
tratamento unificado

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S. R.

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Há que definir em primeiro ligar a Competência do DCIAP

As normas gerais que fixam os pressupostos de atribuição de


competência investigatória ao DCIAP encontram-se estabelecidas nos art.º 47º
do E.M.P.
Sobre a aplicação pratica de tais regras, nomeadamente sobre a
definição de procedimentos a considerar e adoptar para a assunção de
competência por parte do DCIAP, quer para a coordenação quer para a
direcção de inquéritos e o exercício da acção penal, foi emitida directiva,
através da Circular n.º 10/99, de 16 de Julho, da Procuradoria-Geral da
República, segundo a qual foi determinado aquela competência apenas se
verifica, directamente, relativamente a processos:
• Instaurados por factos praticados a partir de 15 de
Setembro de 1999.
• Que tenham por objecto os tipos de crime cometidos
nas circunstâncias elencadas na tabela analítica de crimes constante do
mapa integrante da referida Circular.
• Sempre que a actividade criminosa ocorra em
comarcas pertencentes a diferentes distritos judiciais e diga respeito aos
crimes genericamente enumerados no n.º 1 do artigo 47.º do Estatuto do
Ministério Público (conforme reafirmado na Circular PGR n.º 11/99, de 03-
11).
• Por seu turno, sobre as questões relacionadas com a
delegação de competências nos OPC e actividade processual do
Ministério Público, foi emitida até Circular n.º 06/2002, de 11-03-2002.
Como salientou o Ministério Publico e aqui citamos até para melhor
compreensão da exposição.
Diz o Ministério Público em debate:
“ Normalmente e ressalvadas situações excepcionais o DCIAP apenas assume a
competência para a investigação de inquéritos, verificados que estejam os pressupostos

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S. R.

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acima indicados, nomeadamente o cumprimento das comunicações previstas no


referido direito circulatório, ou, pontualmente, quando sejam detectadas pela sua
estrutura de Coordenação a necessidade imperiosa de avocação de investigações em
curso, que estejam espalhadas em diversos processo instaurados em relação aos quais
se justifique a unificação ou concentração das investigações. “ (sic)
No caso, a investigação do presente processo 362/ 08.1JAAVR terá
sido, comunicada pelo menos desde 26-06-2009, directamente á hierarquia
máxima do Ministério Público, que assim tomou genericamente conhecimento
das investigações em curso, tal como o Exmº. Juiz Conselheiro Presidente do
STJ face às questões em que foi convocada a sua intervenção e que
aparentemente foram tratadas e juntas na extensão procedimental, que se
mostra junta por apenso aos autos.

Resulta dos autos, ainda, que a investigação decorreu sempre com o


conhecimento e acompanhamento das hierarquias intermédias do Ministério
Público, competentes , atenta a Comarca onde foi instaurado e distribuído o
inquérito, sem que tivesse sido suscitado qualquer conflito de competência.

Por seu turno, como bem salientou o Ministério Público, os recursos


apresentados foram sempre tramitados e julgados no Tribunal da Relação do
Porto, que igualmente assumiu a competência como tribunal territorialmente
competente para decidir e onde também não foi suscitado pelos recorrentes
qualquer conflito de competência.
O M.P. territorialmente competente onde tiver sido registado um
inquérito crime não deixa de ser competente para prosseguir com as
investigações, até ser ordenada a remessa dos autos para outra Comarca ou
para o DCIAP.

Caso tal não se verifique, independentemente do facto de


eventualmente se poder estar perante o incumprimento de circulares que

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imponham a eventual tomada de medidas gestionárias, o certo é que não se


trata de uma situação de incompetência material, mas sim de uma situação que
em tudo se assemelha a uma incompetência territorial.

Diz o M.P./DCIAP a douta voz:


“ Aliás, já se verificaram algumas situações semelhantes, em que por vezes as
comunicações ao DCIAP ocorrem tardiamente ou já na fase final das investigações,
não sendo por isso assumida a competência do DCIAP, sendo ordenado, nestes casos a
devolução dos processos á Comarca onde foram investigados os factos, para
prosseguimento das investigações.
Outras vezes, o DCIAP assume a coordenação, mantendo-se a investigação do
processo na Comarca.”

Mas, o que nos importa é o caso presente.

O certo é que, com a remessa dos autos ao TCIC, foi assumida a


competência do DCIAP para a fase de Instrução, tendo o Exº Juiz Conselheiro
Procurador Geral da Republica determinado, por despacho de 27-12-2010 ,
cuja cópia consta a fls. 30 700, que os magistrados que foram responsáveis
pela investigação, coadjuvassem o magistrado do Ministério Público que viesse
a ser designado pelo DCIAP, para representar o Ministério Público na instrução
e debate instrutório .

Por fim, e não menos importante, realça-se o facto de, em fase de


inquérito, quando for reconhecido que a competência pertence a diferente
magistrado do Ministério Público, os autos são transmitidos ao magistrado
competente, só se repetindo actos realizados em inquérito que não puderem
ser aproveitados. Em caso de conflito sobre a competência, decide o superior
hierárquico que imediatamente superintende nos magistrados ou agentes em
conflito.
Tudo conforme disposto no artº 266º nº 1, 2 e 3 do CPP, não estando

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S. R.

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previsto para estas situações qualquer tipo de nulidade.


Não vislumbramos assim que, por este motivo ocorra nulidade, que
indeferimos.

Conforme facilmente se constatará de todo o excurso da decisão


instrutória forçoso é constatar que se encontra fortemente indiciada a comissão
pelos arguidos em referência, dos factos e ilícitos correspondentes aos tipos de
crime que lhes vêm respectivamente assacados na acusação.

Uma vez que estes arguidos apenas se defenderam em matéria de


direito e de insuficiência do inquérito, à medida que se for falando dos
segmentos factuais na análise dos diversos outros RAI’s, forçoso será concluir
pela comparticipação dos arguidos em referência.

Daí serem retirados a final os inerentes corolários.

Destarte, deverão os arguidos Manuel Godinho, João Godinho, SCI,


Sociedade Comercial e Industrial Metalomecânica, S.A., O.2. –
Tratamentos Limpeza Ambientais, S.A., ser pronunciados nos precisos
termos da acusação, por se mostrarem verificados indícios que, neste
tocante, inculcam um juízo de prognose, conducente à consideração de
que é mais forte a probabilidade das suas condenações do que a
exoneração das suas responsabilidades.

***

Da alegada Incompetência do JIC de Aveiro


Mas os arguidos, a doutos punhos e vozes, vieram ainda colocar o
problema em sede da intervenção jurisdicional.

Neste tocante cumpre assinalar que:

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Os presentes autos começaram como uma investigação aos


negócios do arguido Manuel Godinho e das suas empresas, envolvendo,
além deste arguido, um conjunto relativamente limitado de pessoas que,
aparentemente, colaboravam com aquele arguido na actividade delituosa.

À medida que o processo foi evoluindo, algumas linhas de investigação


foram sendo aprofundadas, outras não tiveram desenvolvimento por ter sido
entendido que as suspeitas iniciais de crime não tinham um mínimo de suporte,
novos crimes foram detectados, novos suspeitos foram investigados.

Esta realidade dinâmica e complexa estabilizou com a dedução da


acusação, onde se descreve todo o enredo que envolveu a actividade delituosa
dos arguidos, designadamente no que aos crimes de corrupção diz respeito.
È certo que antes da dedução da acusação existiam alguns elementos de
prova, dispersos, que apontavam para a dispersão da pratica de factos em
mais do que uma Comarca.

Mas os locais onde se verificou a consumação dos diversos crimes não


estavam claramente definidos em termos de certeza, sabendo-se apenas que o
epicentro ou núcleo da actividade criminosa, desenvolvido pela associação
criminosa em investigação se situava no centro de actividades das sociedades
geridas pelo arguido Manuel Godinho.

Só muito mais tarde, já na fase final das investigações, quando já se


encontrava analisada e tratada a informação, é que se veio a perspectivar e
determinar que existiram crimes que foram efectivamente consumados em
Aveiro (v. g. entregas de peitas como veículos e dinheiro e telemóveis) e outros
que se consumaram na área de outras Comarcas, situadas em Distritos
Judiciais distintos.

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Tal dificuldade acaba, pelo menos implicitamente, por ser reconhecida


pelos arguidos, nomeadamente os que arguiram a apontada nulidade. De facto,
tendo o segredo interno cessado em Novembro de 2009, e apesar do
conhecimento completo que, a partir dessa data, os arguidos passaram a ter do
processo, em momento algum foi arguida a incompetência do juízo de
instrução criminal de Aveiro para a prática dos actos jurisdicionais no inquérito.

E, apesar da arguição da nulidade apenas ter surgido depois de ter sido


tornada pública a posição do juízo de instrução criminal de Aveiro quanto à
competência para a presente instrução, certamente que tal omissão – arguição
de nulidade durante o inquérito - não se ficou a dever ao desconhecimento da
lei pelos ilustres mandatários dos arguidos, mas antes ao reconhecimento de
que os indícios recolhidos não permitiam concluir de forma cabal pela
incompetência daquele juízo de instrução.

Só com a dedução da acusação ficou definido o objecto do presente


processo e, por isso, só nesse momento é que se tornou evidente que a
actividade criminosa, no que aos crimes de corrupção interessa, se consumou
em comarcas pertencentes a diferentes distritos judiciais.

Donde se concluiu que, até ser suscitada a questão da incompetência do


Exº JIC da Comarca do Baixo Vouga, a fls. 29823, o Juiz de Instrução
criminal de Aveiro era de facto o competente para exercer, como exerceu,
todas as funções jurisdicionais necessárias e requeridas no âmbito do
presente inquérito.

Subsidiariamente, Relativamente às questões da Incompetência


material/territorial e suas consequências, ainda se dirá o seguinte :
Os tribunais judiciais organizam-se, de acordo com a matéria, em
tribunais de competência genérica ou especializada.

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S. R.

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Entre os juízos de competência especializada que podem ser criados


contam-se os juízos de instrução criminal – art.º 74º, n.º 2, al.a) da LOFTJ.

O Juízo de Instrução Criminal de Aveiro e o Tribunal Central de


Instrução Criminal são, ambos, juízos de instrução criminal tal como definido
no art.º 74º, n.º 2, al.a) da LOFTJ. São, por isso, tribunais da mesma
jurisdição, espécie e hierarquia.

Em regra os tribunais da mesma jurisdição, espécie e hierarquia têm


competência para decidir as mesmas matérias e processos, pelo que entre
estes tribunais, e em princípio, apenas se colocam questões de
competência territorial.

Nos presentes autos, como já referimos, a competência do Tribunal


Central de Instrução Criminal resulta da circunstâncias de alguns dos arguidos
estarem acusados da prática do crime de corrupção e de a actividade delituosa
relacionada com tais crimes se espalhar por comarcas pertencentes a distritos
judiciais diferentes.

Vale isto por dizer que o único elemento definidor da competência


deste Tribunal Central, foi o da abrangência territorial da actividade
criminosa integradora do crime de corrupção.

Não fosse o caso da dispersão por distritos diferentes, a


competência territorial seria sempre a da Comarca de Aveiro.
Assim, ainda que se entenda que era o TCIC o competente para a prática
dos actos jurisdicionais no inquérito, sempre estaríamos perante uma
incompetência territorial e não material.

Esta questão acaba, porém, por ter reflexos importantes.

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S. R.

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Se é certo que a lei comina como nulidade absoluta a violação das regras
de competência, não distinguindo entre a competência material e territorial - cfr.
art.º 119º, al.e) do Código de Processo Penal -, também é verdade que,
relativamente às consequências de tal nulidade, a incompetência territorial
afasta-se da regra do art.º 122.º.

O art.º 33.º, n.º 1 do Código de Processo Penal dispõe que, declarada


a incompetência do tribunal, o processo é remetido para o tribunal
competente, o qual anula os actos que se não teriam praticados se
perante ele tivesse corrido o processo.

Compulsados os autos não se vislumbra um único acto praticado pelo


senhor Juiz de Instrução da Comarca do Baixo-Vouga que não encontre
suporte legal ou em relação ao qual se possa afirmar que o mesmo não seria
praticado pelo Juiz titular deste tribunal, o ora signatário..

Pelo que, ainda que se concluísse que o Mmo. Juiz do juízo de instrução
criminal da comarca do Baixo-Vouga não seria o competente para, nestes
autos, praticar os actos jurisdicionais na fase de inquérito, tal decisão não
conduziria à anulação de qualquer acto ou decisão, o que declaramos
depois de os ter escrutinado par e passo e exaustivamente [ desde
17/12/10 até à presente data]

Em conclusão diremos que:


1. o Mmo. Juiz do juízo de instrução criminal da comarca do Baixo-Vouga
era competente para a prática dos actos jurisdicionais solicitados no âmbito do
presente inquérito;
2. a ser competente para tais actos o JIC/ TCIC, estaremos perante uma
questão de competência territorial ;

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S. R.

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3. as consequências do reconhecimento da incompetência territorial


do Mmo. Juiz do juízo de instrução criminal da comarca do Baixo-Vouga
são apenas as previstas no art.º 33º do Código de processo Penal, norma
especial relativamente ao regime geral do art.º 122º que, por esse motivo,
deve ser afastado.
***
Da alegada nulidade da acusação, invocada no RAI do arguido
Fernando Santos – fls. 28202 e ss.
Este arguido invoca a nulidade da acusação, alegando como causa a
falta de concretização na mesma da vantagem indevida- artº 5
Mais invoca a omissão de narração dos factos, designadamente da
motivação da prática e grau de participação do arguido.

Quanto à invocada nulidade, vejamos:


Em síntese, alegam os arguidos que a acusação deduzida viola o
disposto na al. b) do nº. 3 do Artº 283.º do CPP, porquanto: não opera uma
imputação objectiva e subjectiva fáctica individualizada, para cada um dos
arguidos e não procede à necessária articulação dos factos com as normas
consideradas infringidas pela sua prática, ou, por outras palavras, atribui factos
e culpas indeterminada e indiscriminadamente a vários arguidos, ou, ainda, a
acusação não contém a descrição dos factos que, concreta e
individualizadamente, são imputados e que de per si preencha os tipos de
crimes pelos quais os arguidos se encontram acusados.
A acusação seria omissa na descrição de condutas parciais, integradas
na alegada resolução conjunta, que, globalmente consideradas, fossem
susceptíveis de integrar cada um dos tipos legais em apreço.
Não contendo igualmente a motivação, como imposto pelo normativo
assinalado, nada se mencionando quanto às demais circunstâncias em que o
plano inicial foi acordado, sendo omissa a acusação no que respeita à
motivação da delineação de tal plano.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Analisemos:
Nos termos do disposto na alínea b) do n.º 3 do Artº 283.º do CPP: “A
acusação contém, sob pena de nulidade:
a) (…)
b) A narração, ainda que sintética, dos factos que fundamentam a
aplicação ao arguido de uma pena ou de uma medida de segurança, incluindo,
se possível, o lugar, o tempo e a motivação da sua prática, o grau de
participação que o agente neles teve e quaisquer circunstâncias relevantes
para a determinação da sanção que lhe deve ser aplicada”.

É dupla a função da norma contida neste preceito: ela caracteriza a


estrutura acusatória do processo, uma vez que é a acusação que delimita o
respectivo objecto (com as consequentes limitações impostas ao juiz de
instrução e de julgamento quanto à alteração, substancial ou não substancial,
dos factos levados para a acusação); assegura as garantias de defesa do
arguido, o qual deve encontrar no texto da acusação, uma dimensão real do
seu objecto.
Indispensável, necessário e suficiente para que uma acusação cumpra o
requisito previsto na alínea b) do n.º 3 do artigo 283.º do CPP, é que:

- esta indique os factos que fundamentam a aplicação da sanção – uma


vez que estes constituem o objecto do processo daí em diante e serão eles o
objecto da eventual instrução e do julgamento – isto é a enunciação dos factos
deve permitir a subsunção à descrição típica de um crime; e, ainda, que:
- perante o teor da acusação o arguido possa ter conhecimento dos
factos jurídicos que lhe são imputados, de forma que garanta a plenitude da
defesa, para o exercício do contraditório.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Ao nível da descrição fáctica, o que o preceito exige é, pois, uma


narração sintética, a partir da qual seja definido o objecto do processo, por
forma a que o(s) arguido(s) saiba(m) do que deve(m) defender-se, publicitando-
se os limites materiais da acusação.
A acusação deve conter esta descrição, sob pena de nulidade relativa
(sanável pelo regime previsto nos artigos 120.º e 121.º do CPP).
Por seu turno, não se pode olvidar que a presente acusação imputa aos
arguidos a prática dos factos em co-autoria e, deste modo, subscrevendo o
Acórdão da Relação de Lisboa proferido no âmbito do processo 7383/2008-3
(consultável em fonte aberta in www.dgsi.pt) importa, ainda, que,
sinteticamente, fazer uma breve referência sobre a figura da co-autoria.
“As incriminações constantes da parte especial do Código Penal, salvo quanto aos
crimes de comparticipação necessária, descrevem os comportamentos proibidos como
se eles fossem integralmente realizados por um único agente.
Se o juiz apenas aplicasse essas normas não poderia, por certo, punir pela prática de
cada um desses crimes o agente que, nomeadamente, não tivesse chegado a consumar o
crime, aquele que apenas tivesse prestado auxílio ao seu cometimento, quem tivesse
omitido o comportamento que lhe era imposto ou o que tivesse, em colaboração com
outro ou outros e por acordo com eles, realizado apenas uma parte da conduta típica,
praticando os restantes os demais actos necessários à consumação do crime.
Neste último caso, o da co-autoria (3º segmento do Artº 26º do Código Penal), nenhum
dos agentes teria, só por si, praticado os actos descritos na norma incriminadora.
Nenhum deles poderia, por isso, ser punido.
Isto não é assim porque o nosso legislador incluiu, na parte geral do Código Penal,
disposições que constituem verdadeiras cláusulas de extensão da tipicidade, ou seja,
que alargam cada uma daquelas previsões da parte especial de forma a permitir a
punição, nomeadamente, da tentativa (artigos 22º e 23º), da cumplicidade (artigo 27º),
da omissão (artigo 10º) e da co-autoria (artigo 26º).

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Se o agente praticar todos os actos previstos na norma incriminadora não se torna


necessária qualquer extensão da tipicidade. A sua conduta realiza, só por si, todos os
elementos descritos na norma da parte especial do Código.
Assim, quando se deduz uma acusação, se pronuncia ou se condena um arguido pela
prática de um crime em co-autoria torna-se necessário descrever a contribuição de
cada um dos co-autores. Cada parte do conjunto é imputada ao outro ou outros que a
não realizaram pessoalmente porque eles actuaram por acordo, assumindo todos o
domínio funcional do facto. Porque a narração foi feita desta forma, pode então
concluir-se, no plano normativo e não no da matéria de facto, que todos praticaram
aquele crime em co-autoria.
Esta forma de comparticipação não se traduz, portanto, ao contrário do que uma
deficiente técnica utilizada na elaboração de muitas peças processuais poderia fazer
crer, na realização conjunta de tudo por todos, o que, muitas vezes, se não é impossível
ter acontecido, desvirtua por completo a realidade.
Se cada um, só por si, praticou todos os actos típicos, deve ser punido como autor
imediato.
Se se limitou a praticar parte das condutas descritas no tipo e se outros, por acordo,
realizaram as restantes, todos devem ser punidos como co-autores.”

Prosseguindo o referido Acórdão, relativamente ao preenchimento do


disposto na alínea b) do n.º 3 do artigo 283.º do CPP, em situações de co-
autoria, em moldes que espelham, igualmente, a nossa opinião:

“Para narrar, ainda que de forma sintética, os factos que fundamentam a


aplicação ao arguido de uma pena, como impõe a alínea b) do n.º 3 do artigo 283º do
Código de Processo Penal, tem o Ministério Público e o assistente, num caso de co-
autoria, que descrever, com mais ou menos individualização, a participação de cada
agente e de imputar a todos uma actuação conjunta que dá execução a um acordo,
expresso ou tácito.

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Não quer isto dizer que, se tal não for feito, o acto praticado padeça da nulidade
prevista no corpo do n.º 3 do citado artigo 283º do Código de Processo Penal.
Tal só aconteceria, a nosso ver, se a acusação omitisse qualquer narração dos factos
imputados, o que não é, manifestamente, o que acontece nestes autos.”

Ora, se para a co-autoria não é indispensável que cada um dos agentes


intervenha, como se disse, em todos os actos a praticar para a obtenção do
resultado, bastando que a actuação de cada um seja elemento componente do
todo; por maioria de razão, nos casos de associação criminosa não se exige
que cada associado intervenha em cada um dos actos decididos pelo grupo ou
participe em todos os crimes praticados pelos outros associados.

À luz destes ensinamentos, importa analisar a acusação deduzida, por


forma a auscultar se se verifica ou não a nulidade invocada pelos arguidos.

Ao longo de toda a acusação, descrevem-se os factos que


permitem configurar os concretos ilícitos, especificando-se as concretas
modalidades em que a mesma se consubstanciou, em consequência da
actuação dos arguidos.
Acresce que, ao longo da acusação, foi sempre efectuada a descrição
factual dos elementos subjectivos dos tipos criminais imputados aos arguidos
(dolo e elementos especiais da ilicitude), concluindo-se a final com a indicação
precisa dos crimes que aqueles cometeram, em razão dos factos que se foram
descrevendo.
Deste modo, ao contrário do alegado pelos arguidos, a acusação
deduzida nestes autos, mostra-se, pois, devidamente articulada, com
apresentação do desenvolvimento factual lógico e cronológico das diversas
situações que a integram, revelando-se perfeitamente compreensível ao
descrever os factos e ao proceder à respectiva qualificação jurídica, o que

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satisfaz plenamente as garantias de defesa dos arguidos, facultando-lhes a


dimensão real do objecto do processo.
Não se alcança que os artigos referidos nos RAI, por si e conjugados
com os demais constantes da acusação, não permitam a apreensão concreta
dos factos que são imputados aos arguidos e, designadamente, os relativos à
existência de um acordo, sua natureza e âmbito, à respectiva execução, o
modo como foi concretizado e os objectivos pretendidos e conseguidos pelos
arguidos.
Com efeito, basta percorrer os diversos artigos da acusação, para
distinguirmos que factos são imputados aos arguidos, a forma, o lugar e o
tempo (sempre que tal foi possível indicar, considerando as especificidades da
prática dos crimes imputados), os motivos da sua prática, as operações e os
circuitos financeiros utilizados e a descrição dos procedimentos adoptados e
que permitem imputar os crimes em referência.
Mostrando-se, ainda, toda esta factualidade enquadrada numa decisão
que, em conjunto, foi formulada pelos arguidos, especificando-se os actos que
cada um praticou ou determinou que fossem praticados, na execução da
decisão acordada, tendo em vista os fins comummente partilhados.
A acusação em apreço contém, pois, uma concretização suficiente para
permitir a cada arguido, defender-se da mesma, refutando os elementos em
que assenta.
Tanto assim é que os arguidos refutaram exaustivamente, nos
respectivos RAI, os factos descritos na acusação, em moldes só possíveis a
quem da acusação tem uma ideia muito clara e precisa.
Quanto ao mais, trata-se da averiguação do suporte probatório dos
factos imputados, matéria que consubstancia uma das finalidades da fase de
Instrução requerida e que não se confunde, nem se pode confundir, com a
nulidade prevista na alínea b) do n.º 3, do artigo 283.º do CPP.
Em síntese, encontram-se verificados os requisitos enunciados na alínea
b) do n.º 3, do artigo 283.º do CPP, uma vez que a acusação indica de forma

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S. R.

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bastante os factos que integram os crimes imputados aos arguidos. Através


dela, por forma a garantir na plenitude a sua defesa, os mesmos obtiveram
conhecimento desses factos e do direito que fundamenta a imputação

A alegação do arguido não encontra suporte nas nulidades processuais


existentes no nosso sistema jurídico e entronca na alegada nulidade por
violação do disposto na al. b) do nº. 3 do Artº 283.º do CPP, já analisada e
para a qual remetemos integralmente.

Deste modo, compulsado e analisado o teor da acusação deduzida e


considerando o disposto na al. b) do nº. 3 do Artº. 283° do CPP, só podemos
julgar improcedente a invocada nulidade por violação do estatuído na alínea b)
do nº 3 do artº 283º do CPP.

É o que se decide.

No tocante à co-autoria diremos ex-abbundanti:

A questão ora em apreço, reconduz-se ao conceito de co-autoria e à


amplitude desta modalidade de comparticipação no facto criminoso.

A propósito do conceito de co-autoria importa ainda referir que:

Como se escreveu em anotação ao art. 26º do CP de Leal Henriques e


Sima Santos, “ (…) Há co-autoria material quando, embora não tenha havido
acordo prévio expresso, as circunstâncias em que os arguidos actuaram
indiciam um acordo tácito, assente na existência da consciência e vontade de
colaboração, aferidas aquelas à luz das regras da experiência comum.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Com efeito, para incorrer na co-autoria de um crime precedido de um


plano, quando nele participaram vários agentes, não é necessário que todos
eles tenham tido intervenção na elaboração desse plano. Basta que vários
agentes participem na execução de actos que integrem a conduta criminosa,
não sendo, contudo, necessário que intervenha em todos eles, desde que
actue conjugadamente e em comunhão de esforços, no sentido de alcançar o
objectivo criminoso…. (…)”.

Também Faria Costa in “Formas do crime, Jornadas de Direito Criminal,


O Novo Código Penal Português e Legislação Complementar”, pág.
170:…..escreveu: “Para definir uma decisão conjunta parece bastar a
existência da consciência e vontade de colaboração de várias pessoas na
realização de um tipo legal de crime juntamente com outros… (.)”

A este propósito, cita-se ainda o Acórdão nº 0140948 de 13-03.02 do


TRL, 2.,Recurso nº JTRP00034186, de acordo com o qual:

 “(…)Há co-autoria material quando, embora não tendo havido acordo


prévio expresso, as circunstâncias em que os arguidos actuaram indiciam um
acordo tácito, assente na existência da consciência e vontade de colaboração,
aferidas, à luz das regras da experiência comum. Da co-autoria há que
distinguir a mera actuação paralela, que ocorre quando diversos agentes
praticaram, sem prévio acordo, actos concorrentes para um resultado
criminoso, distinção de todo o interesse uma vez que na comparticipa. (…)”.

Acresce que, é também co-autor de um crime, todo aquele que deu


causa ou participou na sua concepção e na delineação do respectivo plano,
mesmo que não chegue a tomar parte directa nos seus actos de execução.
Neste sentido, veja-se Ac. STJ de 14.11.1984, in BMJ 341/202.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Nestes termos e, considerando o conceito de comparticipação acima


referido, é evidente que o arguido comparticipou na prática do referido crime,
como co-autor, nos precisos termos em que se acha acusado.

Tal asserção é porém expressamente contrariada no artº 31 e ss do


mesmo RAI, onde se vê que o arguido percebeu perfeitamente que a
imputação é feita em co-autoria, tratando-se de actos em cascata, referidos na
acusação e que foram até transcritos no RAI.

Tanto assim, que nos artigos seguintes o arguido apresentou


argumentos para rebater os factos que lhe são imputados, relacionados com a
sua intervenção em actos praticados e decisões tomadas, no decurso do
processo de desmantelamento da Central de Alto Mira.

Como se vê, o que está em causa é a análise e valoração da prova e


não a pratica de uma nulidade, por alegada omissão de descrição de factos.
A invocada nulidade deve assim ser julgada improcedente, face ao teor dos
factos descritos na acusação, o que se declara.

Outras Nulidades Suscitadas:


4 - RAI de Armando Vara
5 - RAI Lopes Barreira

Falta do requisito de Indispensabilidade das intercepções


Nos pontos 68 a 80 do Rai- fls. 2775 e ss, do arguido Armando Vara e
ponto 55 a 66 do RAO de Fernando Lopes Barreira , é suscitada a nulidade das
escutas, alegando para tanto que a prova invocada no despacho de promoção
e no despacho determinativo das intercepções ordenadas aos arguidos
Armando Vara e Lopes Barreira era suficientemente segura para sustentar a
indiciação e que, por isso, alegadamente não se verificava a indispensabilidade
do recurso a tal meio de recolha de prova.

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S. R.

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Faltando o alegado requisito de indispensabilidade, não haveria motivo


para terem sido autorizadas as intercepções que assim seriam nulas.

Os arguidos, nestes autos, vieram, a douto punho, suscitar a questão da


nulidade das intercepções telefónicas, aduzindo uma variada ordem de
fundamentos:

1º- Que as intercepções foram decretadas sem que, previamente


tivessem sido recolhidos elementos que estribassem a convicção de que a
diligência se revelaria indispensável para a descoberta da verdade ou para a
prova;

2º- que a investigação lançou mão deste meio de obtenção de prova em


clara violação do principio da necessidade, da excepcionalidade e da
subsidiariedade por, no seu entendimento, só dever usar-se quando for de todo
impossível a obtenção da prova com recurso a meios de investigação “normais”
(como vigilâncias, apreensões, etc.) (SIC) e que tal não está sequer invocado,
concretizado, factualizado, limitando-se o M.P. a promover obstinadamente as
intercepções e o JIC a autorizá-las.

3º- que a selecção das conversações gravadas e transcritas foi feita


segundo o critério do OPC, limitando-se o Juiz a mandar juntar aos autos as
transcrições nos exactos termos sugeridos pelo OPC, inexistindo imediação
entre o Juiz e a recolha de prova por escutas telefónicas.

Em consequência, tais intercepções aos alvos, mencionados são nulas,


o que se pede seja declarado, com as consequências que necessariamente,
daí advirão em termos da conhecida doutrina “fruit of poisonous free”.

O MºPº, no debate, pugnou pela improcedência da excepção.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Cumpre apreciar e decidir.

Sobre o ponto 1 – conforme flui bastamente dos autos está


concretamente contextualizado o enquadramento factual que o J.I.C.
considerou para ponderar a autorização judicial que lhe foi requerida em cada
momento dos autos.

Entendemos que o meio de obtenção de prova em causa era


proporcional à gravidade dos ilícitos indiciados e no estado da investigação se
justificava o pedido pelo que as mantemos, bem como andou o JIC no inquérito
em as autorizar, de forma sequente e cuidadosa.

Antes de mais, em matéria de intercepções telefónicas há que ter


presente o seguinte:

É consabido que as escutas telefónicas constituem derrogação ou


compressão do princípio constitucional da inviolabilidade das comunicações
privadas, assegurado pelo artº 34º, 1 e 4 da CRP, devendo ter-se em conta na
sua decretação o estatuído no artº 26º, nº 1 do CPP, aonde se comanda:

“A todos são reconhecidos os direitos à identidade pessoal, ao


desenvolvimento da personalidade, à capacidade civil, à cidadania, ao bom
nome e reputação, à imagem, à palavra, à reserva da intimidade da vida privada
e familiar e à protecção legal contra quaisquer formas de descriminação” (sic.).

«- As escutas telefónicas constituem prova de conteúdo gravado,


qualificando-se como prova documental, na modalidade de documento sonoro.

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S. R.

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Os suportes que contêm as gravações têm que estar disponíveis no


processo para que os sujeitos processuais possam atestar a veracidade das
passagens transcritas.

Esta exigência não invalida até que essa prova possa ser utilizada num
outro processo, em que se investigam factos ou sujeitos conectados com o
processo em que ela foi alcançada, desde que obtida legitimamente e de
acordo com os requisitos de proporcionalidade» - ide Acórdão da Relação de
Coimbra de 29/03/2006 in CJ – Ano 31 – Tomo 2, pág. 44 e seguintes.

As escutas telefónicas são intervenções nas comunicações telefónicas,


medidas instrumentais que supõem a restrição do direito fundamental de
segredo das comunicações e que aparecem ordenadas por um juiz de
Instrução.

A jurisprudência nesta matéria, cujo entendimento seguimos,


surpreende, com alusão a uma decisão do Supremo Tribunal de Espanha, um
conjunto de “requisitos infranqueáveis” (sic.) que devem percintar o
desencadeamento e desenvolvimento das intervenções telefónicas e as
exigências para que se possa reconhecer legitimidade e validade a este tipo de
meio de obtenção de prova.

São elas:
a) a exclusividade jurisdicional das ditas intervenções. (foi
observada)
b) A sua finalidade exclusivamente probatória. (foi cumprida)
c) A excepcionalidade da medida. (está patenteada)
d) A sua proporcionalidade. (está evidenciada)
e) A sua limitação temporal.
f) A especialidade do facto delitivo que se investigue.

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S. R.

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g) A circunstância de a medida recair unicamente sobre os


telefones das pessoas indiciariamente implicadas, sejam
titulares ou usuários dos aparelhos; (foi o caso sub-judice)
h) A existência de um procedimento de autorização da medida.
i) A existência prévia de indícios da comissão de algum facto
delitivo.
j) O rigoroso controlo judicial da medida, tanto no momento da

autorização, como nos da formação e cessação.

Por último, é mister que o despacho que autoriza tais intercepções


esteja suficientemente motivado – ex vi do artº 125º do CPP.

Respeitados estes requisitos, uma das características deste meio de


prova é a sua potencialidade de poder ser confrontada, no juízo oral, com o
directamente interceptado, a fim de perscrutar a similitude da voz, os acentos,
os giros linguísticos e a própria entoação.

Estes elementos, no caso sub júdice, foram juntos aos autos na fase de
inquérito, pelo titular dessa fase processual, “de modo a constituir com eles o
entramado de material que pode levar, ou não, à formulação da acusação” (Cfr.
Ac. citado fls. 47).

Do que vem de ser dito, verificamos que a opção tomada se revelou


acertada, já que as restantes diligências no terreno a corroboraram.

Sobre os extensos Relatórios, espelha bem que a investigação não se


poupou, no caso sub Júdice, a esforços, para conjugar os elementos obtidos
através das escutas, com outros meios de prova obtidos no terreno, tais como

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S. R.

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vigilâncias, declarações de testemunhas, prova documental, exames periciais


e, por último, apreensões e buscas.

Atentos os ilícitos sob investigação, e a forma muito “subtil” como os


arguidos engendraram todo este ardiloso esquema impossibilitava o OPC, se
quisesse abarcar toda esta “rede”, de agir de outra forma que não fosse seguir,
par e passo, todos os respectivos movimentos e, através dos contactos que
mantivessem e das razões subjacentes aos ditos, chegar á identidade e
apuramento da participação de todos os integrantes do grupo criminoso.

Neste conspecto, a utilização deste meio de obtenção de prova revelou-


se como os autos profusamente espelham, dando-se aqui por reproduzido os
relatórios neste tocante, indispensável até, para se obter a localização celular
dos telemóveis que os suspeitos usaram, até para se deslocarem a outras
localidades, onde, coincidentemente, foram praticados os autos descritos no
libelo, em horário compatível com tais deslocações.

Daí que não possamos concordar que tenha havido qualquer violação
dos princípios da necessidade e da excepcionalidade ou da subsariedade, o
que declaramos improceder.

Desde o início da vigência da alteração ao C.P.P., ocorrida em Setembro


de 2007 que não cabe ao J.I.C. proceder em exclusivo à audição dos suportes
técnicos de intercepção e deles seleccionar os relevantes para a prova.

Tal incumbência releva, agora, da esfera de competência do detentor da


acção penal, coadjuvado, eventualmente, pelo OPC.

Ao J.I.C. é defeso de se intrometer nessa matéria, cabendo-lhe apenas


“duas palavras” a saber, quando lhe for solicitada a avaliação para ordenar

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S. R.

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transcrição destinada a eventual futura aplicação de medida de coacção para


além do T.I.R. e para aquilatar se, nos trechos gravados, existem conversações
a que aludem as alíneas a), b) e c) do n.º 6 do art. 188º do C.P.P., na redacção
vigente.

Perante tudo que deixamos consignado, duvidas não temos de que, nas
autorizações que foram concedidas (tentando, ainda assim e sempre, seguir
um apanágio do TCIC, já com 11 anos, 6 dos quais sobre a insigne presidência
da ora Exm.ª Desembargadora Dr.ª Fátima Mata Mouros Aragão Soares
Homem, cujo legado de extrema exigência e rigor nas autorizações deste meio
de prova tão invasivo da privacidade das pessoas, pretendemos,
modestamente, seguir e sancionámos o entendimento de que se mostram
explicitados os fundamentos em que tal outorga se estribou e, considerando
deles ter sido feito adequada e exigente ponderação, aqui reputamos de
improcedente a arguição da nulidade das intercepções telefónicas, ora
reclamada.

Vale isto tudo para dizer que todo o constante do RAI vertente carece de
fundamento e, assim, julgamos improcedentes as nulidades arguidas.

No tocante ao RAI em apreciação, e sem fazer juízos de valor sobre o


trabalho do OPC e/ou do MºPº, forçoso é afirmar que os autos contém indícios
fortes do cometimento pelos arguidos dos ilícitos que lhe foram,
respectivamente, imputados.

Remetemos para o Relatório da PJ, o qual, com suficiência de meios,


explicita toda a actividade de controle do grupo criminoso

Por último, é mister que o despacho que autoriza tais intercepções


esteja suficientemente motivado – ex vi do artº 125º do CPP.

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S. R.

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Respeitados estes requisitos, uma das características deste meio de


prova é a sua potencialidade de poder ser confrontada, no juízo oral, com o
directamente interceptado, a fim de prescrutar a similitude da voz, os acentos,
os giros linguísticos e a própria entoação.

Outra decisão daquele alto Tribunal, que se debruçou sobre o assunto é


o constante do Acórdão nº 450/2007 de 18/09/2007, proferido no processo
452/07 (cuja relatora foi a Exma. Juiz Conselheira Maria Lúcia Amaral), no
qual:
“Disse-se atrás que o regime fixado nos artigos 187º e 188º do CPP decorria de
uma autorização constitucional expressa – conferida ao legislador – para restringir, «em
matéria de processo criminal», o direito ‘inviolável’ do sigilo dos meios de comunicação
privada (artigo 34º, nº 4 e nº 1). Disse-se também que o bem jurídico protegido por tal
direito era refracção de outros bens jurídicos, nomeadamente dos protegidos pelo
«direito à palavra» e pelo direito à «reserva de intimidade da vida privada» (artigo 26º da
CRP). A este último direito – e ao bem que ele protege – se voltará adiante. Por agora,
atenhamo-nos apenas às implicações que decorrem da garantia constitucional de um
«direito à palavra».
O direito à palavra a que se refere o artigo 26º da CRP – próximo do direito à
imagem, enquanto direito pessoal, e por isso estruturalmente distinto do direito à
liberdade de expressão (artigo 37º) – pressupõe a existência de uma «liberdade de
disposição na área da comunicação não pública», em que o que é dito – justamente por
ser dito fora do espaço público, ou seja, não com o intuito de ser escutado – faz parte da
«acção comunicativa» espontânea, «inocente e autêntica» (veja-se MANUEL DA COSTA
ANDRADE, Sobre as proibições de prova em Processo Penal, Coimbra, Coimbra Editora,
1992, p. 70). A esta esfera da comunicação humana pertencem os discursos
fragmentários, a «expressão não reflectida nem contida», ou a «formulação apenas
compreensível no contexto de uma situação especial» (Tribunal Constitucional Federal
Alemão, apud MANUEL COSTA ANDRADE, ob. e loc. cit.). Quem «escuta» um discurso
assim, feito para não ser escutado, infere sentidos. A decisão unilateral e externa (isto é,
tomada sem o conhecimento do autor do próprio discurso) quanto ao se e ao modo da
descontextualização do mesmo, permite que às inferências de sentido iniciais se
venham a sobrepor outras, numa escala potencialmente progressiva de redução da
compreensibilidade do que foi dito.

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S. R.

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Um «processo devido em direito» – ou, como diz a Constituição no nº 1 do artigo


32º, um processo que «assegura todas as garantias de defesa» –, não pode ignorar que
as coisas se passam assim. Sobretudo quando se sabe (e sabe-se porque tal já foi dito
pelo Tribunal) que não é constitucionalmente censurável que a acusação, que tem
naturalmente acesso à integralidade das gravações, sugira ao juiz quais as ‘partes’ das
gravações a transcrever, por serem essas as partes consideradas relevantes para a
prova (artigo 188º, nº 1, in fine do CPP), e que a sugestão seja acolhida «não com base
em prévia audição das mesmas [por parte do JIC] mas por leitura de textos contendo a
sua reprodução …acompanhados das fitas gravadas ou elementos análogas» (Fórmula
decisória do Acórdão nº 426/2005). Sabendo-se tudo isto, difícil é não concluir que, no
âmbito de ‘todas as garantias de defesa’ a que se refere o nº 1 do artigo 32º da CRP, se
conta também a possibilidade de acesso do arguido à integralidade das gravações
efectuadas no decurso de operações de «escutas telefónicas», antes que seja dada a
ordem da sua destruição parcial.
Sustentar-se-á em contrário que uma tal leitura das coisas desconhece que, nos
termos do nº 5 do artigo 32º da Constituição, o princípio do contraditório vale apenas
para as fases de audiência de julgamento e para os «actos instrutórios que a lei
determinar», pelo que argumentar como se argumentou implicaria uma visão
radicalmente acusatória de todo o processo penal, em que o princípio do contraditório
dominaria, também, todo o inquérito – visão essa que, como se sabe, não é aquela que a
CRP acolhe.
Note-se, no entanto, que não está aqui em causa a transposição, para a fase do
inquérito, do princípio da contraditoriedade na produção e valoração da prova –
princípio esse que só tem assento constitucional no que respeita à fase de audiência e
julgamento. O que está em causa é outra coisa. Trata-se apenas de garantir que toda a
prossecução processual se cumpra como se deve cumprir, ou seja, «de modo a fazer
ressaltar não só as razões da acusação mas também as da defesa» (assim mesmo,
JORGE DE FIGUEIREDO DIAS, Direito Processual Penal, 1ª ed., 1974, reimp. 2004,
Coimbra, Coimbra Editora, p. 150), de tal forma que o arguido tenha uma posição
processual equiparada quanto possível à do acusador (ibidem p.149).
Exigir que semelhante garantia se cumpra não equivale a transfigurar um
processo penal de estrutura mitigada em outro diverso, de estrutura radicalmente
acusatória. A exigência significa apenas que se obedece ao princípio contido no nº 1 do
artigo 32º da Constituição, pois que, «[e]m todas as garantias de defesa engloba-se
indubitavelmente todos os direitos e instrumentos necessários para o arguido defender
a sua posição e contrariar a acusação. Dada a radical desigualdade material de partida
entre acusação (normalmente apoiada pelo poder institucional do Estado) e a defesa, só

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

a compensação desta, mediante específicas garantias, pode atenuar essa desigualdade


de armas.» (J.J. GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituição da República
Portuguesa Anotada, 4ª ed., 2007, Coimbra, Coimbra Editora, p. 516. “

Sobre esta controversa questão foi nesse Acórdão exarada declaração


de voto pelo Exmo. Conselheiro Carlos Alberto Fernandes Cadilha com o
seguinte Teor:

“DECLARAÇÃO DE VOTO
As garantias de defesa, reconhecidas no texto constitucional, não vão além, na
parte que agora mais interessa considerar, da previsão de um processo criminal com
estrutura acusatória em que apenas a audiência de julgamento e certos actos
instrutórios especialmente previstos na lei é que estão subordinados ao princípio do
contraditório.
Como bem se compreende, o arguido não pode interferir na actividade de
investigação, nem discutir, nessa fase, a relevância das diligências que tenham sido
efectuadas ou a importância dos resultados probatórios alcançados. Seria, aliás,
inexequível, e inteiramente contrário aos interesses da investigação, que o arguido,
ainda na fase do inquérito, pudesse examinar e pronunciar-se sobre os registos de
gravação de escutas telefónicas, quando é certo que a autoridade policial tem de dar
imediato conhecimento ao juiz da existência das gravações para o aludido efeito de se
efectuar a transcrição em auto ou se ordenar a sua destruição. Nesse contexto, a
audição do arguido teria de ser feita em tempo útil (e, portanto, também, imediatamente),
o que lhe permitiria o acesso também imediato às provas já existentes, com a completa
inviabilização da ulterior realização de outras operações de intercepção de
comunicações.
O princípio acusatório e o reconhecimento do direito de contraditoriedade tem,
pois, o sentido de assegurar ao arguido a possibilidade de, nas fases ulteriores do
processo, contrabater as razões e as provas que tenham sido contra ele coligidas e
tomar também iniciativas instrutórias e de realização de prova que considerar
pertinentes.
No entanto, como é bem de ver, esse direito de contraditório existe em relação às
provas em que se funda a acusação, as mesmas que serão ponderadas pelo juiz de
instrução, para efeito de emitir o despacho de pronúncia, e levadas a julgamento, para
efeito a condenação do réu.

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S. R.

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É só em relação a essas provas – e não a quaisquer outras que os investigadores


tenham considerado irrelevantes ou tenham abandonado por considerarem (bem ou
mal) imprestáveis para os fins de indiciação da prática de ilícito -, que o arguido poderá
responder, alegando as razões que fragilizam os resultados probatórios ou indicando
outras provas que possam pôr em dúvida ou infirmar esses resultados.
É o exercício desse direito, nas fases processuais subsequentes à investigação,
que permite justamente equilibrar a posição jurídica da defesa em relação à acusação e
dar cumprimento ao princípio da igualdade das armas. E é esse – e apenas esse – o
sentido do princípio do acusatório que decorre do disposto no artigo 32º, n.º 5, da
Constituição.
É essa também a essência do processo equitativo ou do due process af law, que
justamente envolve como um dos seus aspectos fundamentais (para além da
independência e imparcialidade do juiz e a lealdade do procedimento) a consideração do
arguido como sujeito processual a quem devem ser asseguradas as possibilidades de
contrariar a acusação.
Todavia, o arguido não tem o direito nem interesse processual a contraditar as
provas produzidas no inquérito que foram consideradas irrelevantes (e que não servem
de fundamento à acusação), como não tem direito nem interesse processual em
conhecer todos os expedientes ou diligências de que os órgãos de polícia criminal se
serviram, segundo as estratégias de investigação que consideraram em cada momento
adequadas ao caso e que podem, entretanto, ter sido abandonados.
Acresce que a não audição do arguido relativamente à relevância das provas
recolhidas não agrava nem afecta especialmente a sua posição no processo. Na
verdade, as deficiências que puderem ser apontadas à investigação, assim como a
insuficiência ou a descontextualização das passagens das gravações, na medida em que
dificultam ou impedem a prova dos factos que constam da acusação relevam a favor do
arguido, que poderá justamente utilizar a fase de instrução e de audiência de julgamento
para fazer valer, em contraditório, as imprecisões e fragilidades das provas em que se
funda a acusação.”

Resulta à evidência dos autos que estão disponíveis os suportes


sonoros, invocados nestes autos, pelo detentor da acção penal, como prova.

Não foram destruídos.

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São relevantes para a descoberta da verdade, o que se reitera.

Os Apensos originados pelas transcrições ordenadas judicialmente


foram efectivamente apensados.

Foram e são audíveis, controláveis, contraditáveis, nesta fase de


instrução e/ou na de julgamento que, necessariamente, se lhe seguirá.

Atentas as considerações neste particular expendidas, o tribunal


sanciona o entendimento de que as intercepções telefónicas a que se referem
os requerimentos ora em apreço, não enfermam de nulidade, sendo válidas
como prova documental, na modalidade de documento sonoro, assim se
indeferindo o requerido pelos arguidos neste tocante, como prefunctóriamente
e desde já se propugna.

Destarte e sobre a falta de fundamentação suficiente: Em nosso


modesto entendimento os despachos que autorizaram as intercepções e as
validaram, ao remeterem para os indícios contidos no relatório do OPC que as
sugerem, assumem a factualidade e indícios nesse relatório contidos, como
pressupostos e fundamentos para habilitarem, ou não, à autorização judicial
solicitada.

Logo, “in casu”, tais despachos contêm elementos suficientes para se


aquilatarem, em sede de verificação dos requisitos de proporcionalidade e
adequação, para o uso deste meio de obtenção de prova, o que já foi
reconhecido por despacho da JIC de então, em que as validou.

Não reconheço pois existir neles qualquer nulidade, neste tocante,


alegação que indefiro.

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Na pendência destes autos, como de outros, quiçá onde problema de


arguição de nulidade escutas também se colocava, a Assembleia da República
já aprovou outras novas normas processuais, de aplicação imediata, mesmo
aos casos em que a legislação antecedente já regulara, desde que o
entendimento ora assente legislativamente pelo órgão máximo do poder
legiferante produzisse norma mais favorável ao arguido -vide artº 5º, nº 1 e 2
do C.P.P., na redacção aprovada a coberto da Lei 48/07, de 28/8, com a
redacção resultante da Declaração de Rectificação nº 100/A07, de 26/10, e
melhor esclarecida pela Declaração de Rectificação da Rectificação 105/07 de
9/11 e agora pela 19ª Revisão do CPP operada pela Lei 26/2010, de 30/08.

Ora, mesmo perante este novo C.P.P. e designadamente os nºs 4, 5 e 7


do artº 187º do “novíssimo” C.P.P., forçoso é reconhecer que as conversações
interceptadas resultam de intercepções de meios de comunicação utilizados
por suspeitos, arguidos, intermediários (al. b) do nº 4 do artº 187º), nos autos.

Assim sendo, muito embora não se reconheça que o controle das


intercepções, tenha sido deficiente, ou que tenha destruído sessões que
contextualizariam as aqui oferecidas como prova de acusação, estando até
validadas por decisão transitada, a circunstância de a Lei Processual ter
limitado, aquelas “categorias” de sujeitos, as pessoas cabidas interceptar e a
serem valoráveis penalmente, inculca que, no caso dos presentes autos,
reconheçamos, também à luz dos novos incisos processuais penais que, para
efeitos de utilização nos presentes autos, as intercepções telefónicas
aportadas, aos autos, são aqui e agora meio de prova válido.

O Tribunal Constitucional até já prolatou decisões sobre a questão da


validade de intercepções telefónicas no caso de, com referência aos mesmos

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indivíduos, ter sido ordenada a destruição de sessões, sem prévio contraditório


dos arguidos.

Segundo se faz constar do Acórdão nº 660/2006 (proferido no Processo


729/06 da 2ª Secção daquele alto tribunal) “o regime da destruição dos registos
magnéticos de comunicações interceptadas só foi, porém, objecto de uma
apreciação a titulo principal no Acórdão nº 4/2006 (publicado no Diário da
Republica, II Série, nº 32, de 14/02/2006),… (quanto à questão) de saber se
existe uma obrigação constitucional de se proceder à imediata
desmagnetização da gravação das intercepções consideradas sem interesse –,
tendo-se pronunciado no sentido da inexistência de inconstitucionalidade.”

Com o devido respeito transcreve-se:

“Como já se assinalou quando se referenciou a jurisprudência do


Tribunal Europeu dos Direitos do Homem e como já se consignou no Acórdão
n.º 426/2005, o que se poderia considerar como constitucionalmente
inadmissível seria, pelo contrário, a privação da possibilidade – que a imediata
desmagnetização da gravação logo após a audição pelo juiz acarretaria – de a
defesa requerer a transcrição de passagens das gravações, não seleccionadas
pelo juiz, que repute relevantes para a descoberta da verdade. Por isso, no
citado Acórdão n.º 426/2005 se consignou que “deve ser facultado à defesa (e
também à acusação) a possibilidade de requerer a transcrição de mais
passagens do que as inicialmente seleccionadas pelo juiz, quer por entenderem
que as mesmas assumem relevância própria, quer por se revelarem úteis para
esclarecer ou contextualizar o sentido de passagens anteriormente selec-
cionadas”.
Também em termos de direito comparado se assinalou (cf., supra, 2.8),
que: na Bélgica, as gravações são mantidas intactas a fim de as partes as
poderem consultar e requerer a transcrição de passagens inicialmente tidas por
irrelevantes; em França, as gravações só são destruídas no termo do prazo de
prescrição do procedimento criminal; na Alemanha, elas são mantidas e podem

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ser ouvidas na própria audiência de julgamento; em Itália, só após audição das


gravações (cuja guarda compete ao Ministério Público) pela defesa e pronúncia
dos diversos intervenientes é que o juiz manda suprimir os registos cuja
utilização é legalmente vedada e admite os que não são manifestamente
irrelevantes (artigo 268.º, n.º 6, do Código de Processo Penal), sendo os registos
conservados até ao trânsito em julgado da sentença final, a menos que, a
requerimento dos interessados, com fundamento em tutela da privacidade, o juiz
autorize a destruição antecipada (artigo 269.º, n.º 2, do mesmo Código); em
Espanha, atenta a exiguidade da regulamentação legal, a jurisprudência do
Tribunal Constitucional e do Tribunal Supremo têm insistido na necessidade de
serem os originais das fitas de gravação ou elementos análogos a serem
remetidos ao tribunal, ficando à guarda do secretário judicial, que facultará o
seu acesso às partes (e ao Ministério Público) e dirigirá a tarefa de transcrição
das partes tidas por relevantes (cf. JOSÉ LUIS RODRÍGUEZ LAINZ, obra citada
[La intervención de las comunicaciones telefónicas – Su evolución en la
jurisprudencia del Tribunal Constitucional y del Tribunal Supremo, Barcelona,
2002], pp. 179-186).
E como também já se assinalou, os projectos legislativos apresentados
na Assembleia da República, previam: a Proposta de Lei n.º 150/IX, a
conservação das fitas gravadas ou elementos análogos até ao trânsito em
julgado da decisão final, a menos que, aquando do encerramento do inquérito, o
juiz concluísse pela irrelevância da totalidade dos elementos recolhidos e o
arguido, notificado para o efeito, não se opusesse à sua imediata destruição (ar-
tigo 188.º, n.ºs 6 e 7); o Projecto de Lei n.º 519/IX, a destruição das fitas com
gravações tidas judicialmente por irrelevantes apenas após o exame concedido
ao arguido e às pessoas cujas conversações tiverem sido escutadas para
controlarem a conformidade dos autos de transcrição e de destruição que lhes
dissessem respeito (artigo 188.º, n.ºs 5 e 7); e o Projecto de Lei n.º 424/IX, a
conservação das gravações não transcritas até ao trânsito em julgado da
decisão final, podendo o arguido requerer a sua audição em sede de julgamento
ou de recurso para contextualizar as conversações transcritas (artigo 188.º, n.º
7).

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Nenhuma censura constitucional merece, pois, o critério normativo ora


em causa, tendo sobretudo em vista o acautelamento dos interesses do arguido
e das pessoas escutadas, sendo certo que, para concomitante defesa do direito
à privacidade destas, se deve enfatizar o dever de sigilo a que estão obrigados
todos os participantes na operação (artigo 188.º, n.º 3, do CPP), dever de sigilo
que, no que respeita às passagens das conversações que se consideraram
inadmissíveis ou irrelevantes e que, por isso, não chegaram a ser adquiridas
para o processo, perdura mesmo para além do termo da fase secreta do pro-
cesso.» (primeiro itálico aditado)
Não resulta, porém, claramente, desta decisão, se a referência à
inconstitucionalidade da “privação da possibilidade – que a imediata
desmagnetização da gravação logo após a audição pelo juiz acarretaria – de a
defesa requerer a transcrição de passagens das gravações, não seleccionadas
pelo juiz, que repute relevantes para a descoberta da verdade” constituiu
verdadeira ratio decidendi no sentido da inexistência de inconstitucionalidade
de uma norma que não imponha a obrigação de destruição (pois, como é óbvio,
o que é constitucionalmente proibido não pode ser constitucionalmente
imposto), ou se, até por se não chegar a tomar posição clara no sentido da
inconstitucionalidade da referida privação da possibilidade de requerer a
transcrição, pela destruição dos registos, se tratou de um mero obiter dictum.
10.Neste Acórdão n.º 4/2006, o Tribunal Constitucional, depois de recortar
o parâmetro constitucional atendível no caso, procedeu, retomando em parte
passagens do (também citado) Acórdão n.º 426/2005, a historiar a evolução
legislativa do regime das escutas e as perplexidades que suscitou e suscita, a
recordar a pertinente jurisprudência do Tribunal Constitucional e do Tribunal
Europeu dos Direitos do Homem, e a referir de forma sumária sistemas jurídicos
próximos. Fê-lo nos termos seguintes, que interessam ao presente caso e se
recordam:
«Na versão originária do CPP, o artigo 187.º condicionava a intercepção e
a gravação de conversações ou comunicações telefónicas a: (i) ordem ou
autorização por despacho judicial; (ii) estarem em causa crimes: 1) puníveis com
pena de prisão de máximo superior a três anos; 2) relativos ao tráfico de
estupefacientes; 3) relativos a armas, engenhos, matérias explosivas e análogas;

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4) de contrabando; ou 5) de injúrias, de ameaças, de coacção e de intromissão


na vida privada, quando cometidos através de telefone (o Decreto-Lei n.º 317/95,
de 28 de Novembro, substituiu a expressão “intromissão na vida privada”, usada
no artigo 180.º da versão originária do Código Penal, por “devassa da vida
privada e perturbação da paz e sossego”, em conformidade com as designações
dos ilícitos previstos nos artigos 192.º e 190.º, n.º 2, do Código Penal revisto pelo
Decreto-Lei n.º 48/95, de 15 de Março); e (iii) haver razões para crer que a
diligência se revelará de grande interesse para a descoberta da verdade ou para
a prova (n.º 1). Proibia-se, porém, a intercepção e a gravação de conversações
ou comunicações entre o arguido e o seu defensor, salvo se o juiz tivesse
fundadas razões para crer que elas constituíam objecto ou elemento do crime
(n.º 3). As formalidades das operações eram estabelecidas no artigo 188.º, que
determinava que: (i) da intercepção ou gravação fosse lavrado auto, o qual,
juntamente com as fitas gravadas ou elementos análogos, devia ser ime-
diatamente levado ao conhecimento do juiz que ordenara ou autorizara as
operações (n.º 1); (ii) o juiz, se considerasse os elementos recolhidos, ou alguns
deles, relevantes para a prova, fá-los-ia juntar ao processo, ou, caso contrário,
ordenava a sua destruição, ficando todos os participantes nas operações
ligados por dever de sigilo relativamente àquilo de que tivessem tomado
conhecimento (n.º 2); (iii) o arguido e o assistente, bem como as pessoas cujas
conversações tiverem sido escutadas, podiam examinar o auto para se
inteirarem da conformidade das gravações e obterem, à sua custa, cópia dos
elementos naquele referidos (n.º 3), excepto se, tratando-se de operações or-
denadas no decurso do inquérito ou da instrução, o juiz tivesse razões para crer
que o conhecimento do auto ou das gravações pelo arguido ou pelo assistente
podia prejudicar as finalidades do inquérito ou da instrução (n.º 4). Nos termos
do artigo 189.º, todos os requisitos e condições referidos nos artigos 187.º e
188.º eram estabelecidos sob pena de nulidade, e o artigo 190.º estendia o
disposto nos três artigos anteriores às conversações ou comunicações trans-
mitidas por qualquer meio técnico diferente do telefone.
As normas contidas nos referidos artigos 187.º, n.º 1, e 190.º foram
apreciadas, em sede de fiscalização preventiva da constitucionalidade, pelo
Tribunal Constitucional, que, no Acórdão n.º 7/87, não se pronunciou pela sua

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inconstitucionalidade, por entender que, “face à natureza e gravidade dos


crimes a que se aplicam (...) se afigura que tais restrições [ao direito à intimidade
da vida privada e familiar, consagrado no artigo 26.º, n.º 1, da CRP] não
infringem os limites da necessidade e proporcionalidade exigidos pelos citados
números [n.ºs 2 e 3] do artigo 18.º da Constituição”.
A regulamentação legal da matéria em causa na versão originária do CPP,
pelo seu relativo laconismo, suscitou diversas dúvidas de interpretação e de
aplicação: qual o prazo de duração das escutas; quem tem legitimidade para as
requerer ao juiz; qual o relacionamento entre órgão de polícia criminal,
magistrado do Ministério Público e juiz de instrução; se a proibição do n.º 3 do
artigo 187.º é extensível a conversações com pessoas que, para além do
defensor, estejam legitimadas a recusar depoimento em nome de outros tipos de
sigilo profissional (artigo 135.º) ou que, em geral, possam recusar-se a depor
como testemunhas (artigo 134.º); qual o conteúdo do auto de intercepção e
gravação; qual a oportunidade de efectivação da transcrição e da destruição;
como se efectiva o acesso do arguido, do assistente e das pessoas escutadas
ao auto e às gravações; se a nulidade referida no artigo 189.º respeita a nulidade
da prova ou a nulidade processual e se, neste caso, é sanável ou insanável, etc.
Foi neste contexto que foi emitido o Parecer (complementar) n.º 92/91, do
Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República, de 17 de Setembro de
1992 (cuja fundamentação foi integralmente transcrita no n.º 2.4. do citado
Acórdão n.º 426/2005), cuja doutrina foi sintetizada nas seguintes conclusões:
“1.ª – Da intercepção e gravação das comunicações telefónicas ou si-
milares é lavrado um auto (artigo 188.º, n.º 1, do Código de Processo Penal –
CPP);
2.ª – O referido auto deve inserir a menção do despacho judicial que or-
denou ou autorizou a intercepção e da pessoa que a ela procedeu, a identifica-
ção do telefone interceptado, o circunstancialismo de tempo, modo e lugar da
intercepção, bem como o conteúdo da gravação necessária à decisão judicial
sobre o que deverá ou não constar do processo penal respectivo;
3.ª – A transcrição do conteúdo da gravação a que se refere a alínea an-
terior deverá abranger a integralidade dos elementos da comunicação telefónica
ou similar interceptada que a entidade responsável pelas operações considere

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de interesse para a descoberta da verdade ou para a prova dos crimes previstos


no artigo 187.º, n.º 1, do CPP;
4.ª – O conteúdo da gravação, que àquela entidade se revelar destituído
de interesse para a descoberta da verdade ou para a prova dos crimes referidos
na conclusão anterior, deverá ser mencionado naquele auto, tão só de modo ge-
nérico com a mera referência à sua natureza ou tema, sob a égide do respeito do
direito à intimidade da vida privada dos cidadãos;
5.ª – Lavrado o referido auto, é imediatamente levado ao conhecimento do
juiz que tiver ordenado ou autorizado a intercepção telefónica ou similar (artigo
188.º, n.º 1, do CPP);
6.º – O juiz, por despacho, ordenará a junção ao processo dos elementos
relevantes para a prova e a destruição dos irrelevantes, incluindo a desmagneti-
zação das «cassetes» ou bandas magnéticas (artigo 188.º, n.º 2, do CPP);
7.ª – O juiz, se o entender necessário à prolação da decisão referida na
conclusão segunda, poderá ordenar a transcrição mais ampla ou integral da
parte objecto da menção referida na conclusão 4.ª;
8.ª – Os participantes nas operações de intercepção, gravação, transcri-
ção e eliminação de elementos recolhidos ficam vinculados ao dever de sigilo
quanto àquilo de que em tais diligências tomaram conhecimento (artigo 188.º, n.º
2, do CPP);
9.ª – As «cassetes» ou as bandas magnéticas cujo conteúdo seja inserido
nos autos devem a estes ser apensos ou, se isso se tornar impossível,
guardadas depois de seladas, numeradas e identificadas com o processo
respectivo (artigos 10.º, n.ºs 1 e 2, do Código Civil e 101.º, n.º 3, do CPP);
10.ª – O arguido, o assistente e as pessoas escutadas podem examinar o
referido auto a fim de controlarem a conformidade dos elementos recolhidos e
objecto de aquisição processual com os registos de som respectivos, e desses
elementos constantes do auto obterem cópias (artigo 188.º, n.º 3, do CPP);
11.ª – O arguido e o assistente não podem proceder ao exame referido na
conclusão anterior se a intercepção telefónica ou similar ocorrer no decurso do
inquérito ou da instrução e o juiz decidir que o conhecimento por eles do auto
ou das gravações é susceptível de prejudicar a respectiva finalidade (artigo
188.º, n.º 4, do CPP).”

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Nem sequer foi este o caso nos presentes autos.

A ninguém é assacado ter destruído sessões para descontextualizar as


restantes.

Com muito interesse para o caso sub júdice diga-se que, foi ainda na
vigência da redacção originária do artigo 188.º do CPP que o Tribunal
Constitucional proferiu o Acórdão n.º 407/97, que constitui a sua primeira
decisão sobre questão de constitucionalidade suscitada a propósito dessa
norma, embora centrada (como os posteriores Acórdãos n.ºs 347/2001,
528/2003, 379/2004 e 223/2005) na interpretação do conceito de
“imediatamente” reportado à apresentação, ao juiz que tiver ordenado ou
autorizado a operação, do auto de intercepção e gravação, juntamente com as
fitas gravadas ou elementos análogos. Após referências aos parâmetros
constitucionais pertinentes e ao direito comparado, o Acórdão n.º 407/97
fundou o seu juízo de inconstitucionalidade, por violação do disposto no n.º 6
(actual n.º 8) do artigo 32.º da CRP, da norma do n.º 1 do artigo 188.º do CPP –
“quando interpretado em termos de não impor que o auto da intercepção e
gravação de conversações ou comunicações telefónicas seja, de imediato,
lavrado e levado ao conhecimento do juiz, de modo a este poder decidir
atempadamente sobre a junção ao processo ou a destruição dos elementos
recolhidos, ou de alguns deles, e bem assim, também atempadamente, a
decidir, antes da junção ao processo de novo auto da mesma espécie, sobre a
manutenção ou alteração da decisão que ordenou as escutas” – nas seguintes
considerações:

“Trata-se aqui de precisar o conteúdo constitucionalmente viável do


trecho do artigo 188.º, n.º 1, do CPP, onde surge a expressão «imediatamente».
Ora, partindo do pressuposto consubstanciado na proibição de ingerência nas
telecomunicações, resultante do n.º 4 do artigo 34.º da Lei Fundamental, a pos-

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sibilidade de ocorrer diversamente (de existir ingerência nas telecomunicações),


no quadro de uma previsão legal atinente ao processo criminal (a única
constitucionalmente tolerada), carecerá sempre de ser compaginada com uma
exigente leitura à luz do princípio da proporcionalidade, subjacente ao artigo
18.º, n.º 2, da Constituição, garantindo que a restrição do direito fundamental em
causa (de qualquer direito fundamental que a escuta telefónica, na sua po-
tencialidade danosa, possa afectar) se limite ao estritamente necessário à salva-
guarda do interesse constitucional na descoberta de um concreto crime e puni-
ção do seu agente.
Nesta ordem de ideias, a imediação entre o juiz e a recolha da prova
através da escuta telefónica aparece como o meio que melhor garante que uma
medida com tão específicas características se contenha nas apertadas margens
fixadas pelo texto constitucional.
O actuar desta imediação, potenciadora de um efectivo controlo judicial
das escutas telefónicas, ocorrerá em diversos planos, sendo um deles o que
pressupõe uma busca de sentido prático para a obrigação de levar «imediata-
mente» ao juiz o auto da intercepção e «fitas gravadas ou elementos análogos»,
de que fala a lei.
13. Vejamos, a este propósito, o discurso interpretativo subjacente à de-
cisão recorrida. De sublinhar nesta, desde logo, a afirmação de que o artigo
188.º, n.º 1, do CPP, ao não fixar um prazo certo, «acaba por relativizar muito as
coisas». Há que reter esta ideia que torna patente a existência de um espaço
aberto à procura de um sentido, enfim, de um espaço aberto à interpretação.
Não obstante, mais adiante, a decisão recorrida parece apontar para uma
impossibilidade de alcançar o sentido da expressão «imediatamente» no con-
texto normativo em causa (ao dizer a fls. 102: «Não sabemos. Não dispomos de
qualquer critério para decidir sobre isso. Nem sequer é possível estabelecer e
assentar num critério de razoabilidade a tal propósito»).
Ora, já se indicou que o critério interpretativo neste campo não pode
deixar de ser aquele que assegure a menor compressão possível dos direitos
fundamentais afectados pela escuta telefónica. Também já se assentou – e im-
porta lembrá-lo de novo – que a intervenção do juiz é vista como uma garantia
de que essa compressão se situe nos apertados limites aceitáveis e que tal inter-

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venção, para que de uma intervenção substancial se trate (e não de um mero ta-
belionato), pressupõe o acompanhamento da operação de intercepção telefó-
nica. Com efeito, só acompanhando a recolha de prova, através desse método
em curso, poderá o juiz ir apercebendo os problemas que possam ir surgindo,
resolvendo-os e, assim, transformando apenas em aquisição probatória aquilo
que efectivamente pode ser. Por outro lado, só esse acompanhamento coloca a
escuta a coberto dos perigos – que sabemos serem consideráveis – de uso des-
viado.
Com isto, não se quer significar que toda a operação de escuta tenha de
ser materialmente realizada pelo juiz. Contrariamente a tal visão maximalista, do
que aqui se trata é, tão-só, de assegurar um acompanhamento contínuo e
próximo temporal e materialmente da fonte (imediato, na terminologia legal),
acompanhamento esse que comporte a possibilidade real de em função do de-
curso da escuta ser mantida ou alterada a decisão que a determinou.
14. Refere-se ainda o Acórdão a dificuldades práticas que a situação é
susceptível de criar («Sabemos, isso sim, que a Polícia Judiciária como muitos
outros departamentos do Estado, nos quais se incluem os tribunais, segura-
mente carece, cronicamente, de meios técnicos e humanos que lhe não permi-
tem cumprir, muitas vezes, as suas tarefas em tempo normal»), moldando, no
que não deixa de ter um certo sentido correctivo, o conceito de «imediatamente»
(«usado por um legislador excessivamente preocupado com a aceleração
processual, porém esquecido das grandes lacunas e dos grandes estran-
gulamentos do sistema») ao que qualifica de entendimento «em termos hábeis».
A saber: aquele em que «imediatamente» equivale a «no tempo mais rápido
possível». Ora, o «mais rápido possível» significou aqui longos períodos de
tempo em que as escutas não foram acompanhadas (igual a controladas) pelo
juiz e, mais ainda, espaços muito significativos de tempo em que as escutas já
haviam terminado e o processo continuava sem ter qualquer conhecimento do
seu teor (vejam-se as conclusões 2.ª e 4.ª de fls. 4 verso, tendo-se presente que
as datas aí indicados obtêm confirmação nos autos).
É a teorização interpretativa que sufraga esta situação que de modo al-
gum se pode ter por conforme ao disposto no artigo 34.º, n.º 4, da Constituição,
lido à luz do princípio da proporcionalidade. Se é certo que se não podem igno-

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rar, pura e simplesmente, os aspectos práticos de uma situação, designada-


mente as dificuldades técnicas que esta ou aquela opção interpretativa possa
ocasionar, não é menos verdade que o ónus dessas dificuldades técnicas, num
processo crime, sempre correrá por conta do Estado (a quem compete ultra-
passá-las), jamais por conta do arguido.
Poder-se-ia aqui relembrar o dilema, já relatado, do Juiz Holmes, sobre o
«mal maior» e o «mal menor». Obviamente que no processo criminal de um
Estado de direito democrático, face a «dificuldades técnicas», o «mal menor»
sempre será a hipotética impunidade de eventuais criminosos.
15. Trata-se, pois, de fixar a interpretação constitucionalmente conforme
do artigo 188.º, n.º 1, do CPP no segmento em que se insere a expressão
«imediatamente», sendo certo ser tal expediente possível ainda nos limites da
interpretação.
Assim sendo, «imediatamente» não poderá, desde logo, reportar-se
apenas ao momento em que as transcrições se mostrarem feitas (pois ficaria
aberto o caminho à existência de largos períodos de falta de controlo judicial à
escuta sempre que a transcrição se atrasasse).
Em qualquer dos casos, «imediatamente», no contexto normativo em que
se insere, terá de pressupor um efectivo acompanhamento e controlo da escuta
pelo juiz que a tiver ordenado, enquanto as operações em que esta se
materializa decorrerem.
De forma alguma «imediatamente» poderá significar a inexistência,
documentada nos autos, desse acompanhamento e controlo ou a existência de
largos períodos de tempo em que essa actividade do juiz não resulte do
processo.
Em qualquer caso, tendo em vista os interesses acautelados pela exi-
gência de conhecimento imediato pelo juiz, deve considerar-se inconstitucional,
por violação do n.º 6 do artigo 32.º da Constituição, uma interpretação do n.º 1
do artigo 188.º do CPP que não imponha que o auto de intercepção e gravação
de conversações ou comunicações telefónicas seja, de imediato, lavrado e
levado ao conhecimento do juiz, de modo a este poder decidir atempadamente
sobre a junção ao processo ou a destruição dos elementos recolhidos, ou de
alguns deles, e bem assim, também atempadamente, a decidir, antes da junção

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ao processo de novo auto de escutas posteriormente efectuadas, sobre a


manutenção ou alteração da decisão que ordenou as escutas.
É esta, exposta com a minúcia possível, a interpretação conforme à
Constituição. A ela importa vincular o intérprete – «juiz incluído» como este
Tribunal tem repetidamente referido em situações onde faz uso deste recurso
interpretativo.
Sublinhar-se-á apenas, como nota final, que as consequências a retirar da
interpretação da norma com o sentido apontado se encontram já fora do âmbito
da intervenção do Tribunal Constitucional, situando-se claramente no domínio
de intervenção do Tribunal recorrido.”
Considerou, assim, o Tribunal Constitucional que a especial danosidade
da intromissão traduzida pela intercepção telefónica impunha uma intervenção
substancial do juiz no decurso da mesma, através de um acompanhamento
contínuo e próximo temporal e materialmente da fonte, acompanhamento esse
que comportasse a possibilidade real de, em função do decurso da escuta, ser
mantida ou alterada a decisão que a determinou, sublinhando, contudo, que o
exigente critério assumido não significava “que toda a operação de escuta tenha
de ser materialmente realizada pelo juiz”, posição que corresponderia a uma
“visão maximalista”, que o Tribunal não subscreveu.
2.3. A nível legislativo, a primeira alteração a assinalar foi a levada a cabo
pela Lei n.º 59/98, de 25 de Agosto, que alterou a redacção, entre outros, dos
artigos 188.º e 190.º do CPP.
Estas alterações não constavam da Proposta de Lei n.º 157/VII, que esteve
na génese daquela Lei, antes resultaram de propostas de alteração apresentadas
pelo Grupo Parlamentar do Partido Socialista (cf. Código de Processo Penal –
Processo Legislativo, vol. II, tomo II, ed. Assembleia da República, Lisboa, 1999,
pp. 114-115), que viriam a ser aprovadas por unanimidade (obra citada, p. 107),
tendo as relativas ao artigo 188.º sido justificadas, na Declaração de Voto dos
Deputados do Partido Socialista relativa à votação final global dessa iniciativa
legislativa, nos seguintes termos (obra citada, p. 153):
“As alterações levam em conta o parecer da Procuradoria-Geral da Re-
pública n.º 92/91 (complementar), as dificuldades práticas da «vida judiciária», o
n.º 4 do artigo 18.º da Lei de Segurança Interna e o acórdão do Tribunal

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Constitucional n.º 407/97 (Diário da República, II Série, de 18 de Julho de 1997),


que anulou as escutas porque a transcrição não foi imediata.
Tornava-se necessário clarificar: quem selecciona os elementos a trans-
crever; se o agente de investigação pode ter contacto com a conversa (uma vez
que a operação é feita por técnico de telecomunicações, mas não pode ex-
cluir-se a presença da polícia, sob pena de a diligência não ter sentido ou eficá-
cia); o que é que o juiz ouve (sabendo-se que, não ouvindo, manda transcrever a
totalidade dos registos, o que é excessivamente moroso, oneroso e inútil); e
esclarecer o procedimento.
O n.º 1 do artigo refere que da intercepção é lavrado auto (mas não dis-
tingue entre auto de intercepção e auto de transcrição, sendo certo que importa
clarificar que são duas coisas diferentes). Assim, fica claro que uma coisa é o
auto de intercepção (n.º 1) e outra o auto de transcrição (n.º 3).
O n.º 2 permite que a polícia ouça e possa intervir de imediato, por
exemplo, para fazer uma apreensão de droga combinada telefonicamente e
«apanhar o flagrante».
Os n.ºs 3 e 4 tornam claro que é o juiz quem selecciona, que é o respon-
sável pelo conteúdo da transcrição, mas que é auxiliado materialmente pela
polícia, o que é importante em termos de execução.”
As modificações operadas pela Lei n.º 59/98 no artigo 188.º do CPP
consistiram:
– no aditamento de um novo n.º 2, do seguinte teor: “O disposto no
número anterior não impede que o órgão de polícia criminal que proceder à
investigação tome previamente conhecimento do conteúdo da comunicação
interceptada a fim de poder praticar os actos cautelares necessários e urgentes
para assegurar os meios de prova”;
– na passagem do primitivo n.º 2 a n.º 3, dispondo agora, na sua primeira
parte, que “Se o juiz considerar os elementos recolhidos, ou alguns deles,
relevantes para a prova, ordena a sua transcrição em auto e fá-lo juntar ao
processo;.”, enquanto anteriormente apenas dizia que o juiz “... fá-los juntar ao
processo;”; mantendo-se inalterada a segunda parte: “caso contrário, ordena a
sua destruição, ficando todos os participantes nas operações ligados por dever
de segredo relativamente àquilo de que tenham tomado conhecimento”;

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– no aditamento de um novo n.º 4, do seguinte teor: “Para efeitos do


disposto no número anterior, o juiz pode ser coadjuvado, quando entender
conveniente, por órgão de polícia criminal, podendo nomear, se necessário,
intérprete. À transcrição aplica-se, com as necessárias adaptações, o disposto
no artigo 101.º, n.ºs 2 e 3.”;
– na passagem do primitivo n.º 3 a n.º 5, com especificação de que o auto
cujo exame é facultado ao arguido, ao assistente e às pessoas escutadas, “para
se inteirarem da conformidade das gravações e obterem, à sua custa, cópias dos
elementos naquele referidos”, é “o auto de transcrição a que se refere o n.º 3” (a
redacção originária referia-se a “examinar o auto”, sem mais); e
– na eliminação do primitivo n.º 4 (que ressalvava “do disposto no
número anterior o caso em que as gravações tiverem sido ordenadas no
decurso do inquérito ou da instrução e o juiz que as ordenou tiver razões para
crer que o conhecimento do auto ou das gravações, pelo arguido ou pelo
assistente, poderia prejudicar as finalidades do inquérito ou da instrução”;
trata-se de eliminação algo enigmática, pois nada no debate parlamentar foi
referido para a justificar ou sequer enunciar).
No artigo 190.º, a extensão originária da aplicabilidade do disposto nos
artigos 187.º, 188.º e 189.º “às conversações ou comunicações transmitidas por
qualquer meio técnico diferente do telefone” foi complementada com o seguinte
aditamento: “designadamente correio electrónico ou outras formas de
transmissão de dados por via telemática, bem como à intercepção das
comunicações entre presentes”.
2.4. A segunda alteração legislativa com especial relevância para as
questões que constituem objecto do presente recurso resultou do Decreto-Lei
n.º 320-C/2000, de 15 de Dezembro, que aditou ao n.º 1 do artigo 188.º do CPP
(“Da intercepção e gravação a que se refere o artigo anterior é lavrado auto, o
qual, junto com as fitas gravadas ou elementos análogos, é imediatamente
levado ao conhecimento do juiz que tiver ordenado ou autorizado as
operações”) a expressão: “com a indicação das passagens das gravações ou
elementos análogos considerados relevantes para a prova”.
Este inciso final corresponde à utilização da autorização legislativa
concedida pela Lei n.º 27-A/2000, de 17 de Novembro, que autorizou o Governo a

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

rever o Código de Processo Penal, com o sentido e extensão definidos nos


artigos seguintes (artigo 1.º), entre os quais, segundo o artigo 4.º: “Permite-se
que o juiz possa limitar a audição das gravações às passagens indicadas como
relevantes para a prova, sem prejuízo de as gravações efectuadas lhe serem
integralmente remetidas”. Esta norma não constava da Proposta de Lei n.º
41/VIII (Diário da Assembleia da República, VIII Legislatura, 1.ª Sessão
Legislativa, II Série-A, n.º 59, de 15 de Julho de 2000, pp. 1891-1898), tendo
surgido no texto de substituição elaborado pela Comissão de Assuntos
Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, e aí aprovada por
unanimidade (Diário da Assembleia da República, VIII Legislatura, 2.ª Sessão
Legislativa, II Série-A, n.º 10, de 23 de Outubro de 2000, pp. 218-224), tal como no
Plenário (Diário citado, I Série, n.º 13, de 20 de Outubro de 2000, p. 498).
Para terminar a recensão do quadro legal aplicável, resta referir que a Lei
n.º 5/2002, de 11 de Janeiro, que estabeleceu um regime especial de recolha de
prova, quebra do segredo profissional e perda de bens a favor do Estado
relativa, entre outros, aos crimes de associação criminosa, lenocínio e lenocínio
e tráfico de menores, estes quando praticados de forma organizada (artigo 1.º,
n.ºs 1, alíneas f) e h), e 2), estatuiu no seu artigo 6.º (Registo de voz e de
imagem):
“1 – É admissível, quando necessário para a investigação de crimes re-
feridos no artigo 1.º, o registo de voz e de imagem, por qualquer meio, sem
consentimento do visado.
2 – A produção desses registos depende de prévia autorização ou ordem
do juiz, consoante os casos.
3 – São aplicáveis aos registos obtidos, com as necessárias adaptações,
as formalidades previstas no artigo 188.º do Código de Processo Penal.”
2.5. No que concerne à jurisprudência do Tribunal Constitucional, há a
assinalar, para além do já citado Acórdão n.º 407/97, a prolação dos Acórdãos
n.ºs 347/2001, 528/2003, 379/2004 e 223/2005 e da Decisão Sumária n.º 324/2004,
todos incidindo sobre a questão da “imediatividade” da apresentação ao juiz do
auto de intercepção e gravação prevista no artigo 188.º, n.º 1, do CPP (o primeiro
Acórdão reportado à redacção anterior à Lei n.º 59/98, o segundo à redacção
dada por esta Lei, os dois últimos quer à redacção anterior quer à posterior ao

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Decreto-Lei n.º 320-C/2000, e a Decisão Sumária a esta última redacção), e ainda


os Acórdãos n.ºs 411/2002 (que julgou inconstitucional, por violação do artigo
32.º, n.º 1, da CRP, a interpretação normativa que torna inaplicável ao prazo de
arguição de nulidade respeitante a escutas telefónicas ocorrida durante o
inquérito o que vem consagrado no artigo 120.º, n.º 3, alínea c), do CPP [até ao
encerramento do debate instrutório] e aplicável o estabelecido no artigo 105.º do
mesmo Código [dez dias a contar da notificação da acusação, terminando antes
do fim do prazo para requerer a instrução]) e 198/2004 (que não julgou in-
constitucional a norma do artigo 122.º, n.º 1, do CPP, entendida como auto-
rizando, face à nulidade/invalidade de intercepções telefónicas realizadas, a
utilização de outras provas, distintas das escutas e a elas subsequentes, quando
tais provas se traduzam nas declarações dos próprios arguidos,
designadamente quando tais declarações sejam confessórias).
Nos três primeiros Acórdãos citados (o quarto – Acórdão n.º 223/2005 –
incidiu sobre uma situação de incumprimento do Acórdão n.º 379/2004), o
Tribunal Constitucional reiterou o critério decisório definido no Acórdão n.º
407/97, que conduziu, nos casos em cada um desses arestos apreciados, à
emissão de similares juízos de inconstitucionalidade.
No Acórdão n.º 347/2001 – que julgou inconstitucional, por violação das
disposições conjugadas dos artigos 32.º, n.º 8, 34.º, n.ºs 1 e 4, e 18.º, n.º 2, da
CRP, a norma constante do artigo 188.º, n.º 1, do CPP, na redacção anterior à
que foi dada pela Lei n.º 59/98, de 25 de Agosto, quando interpretada no sentido
de não impor que o auto da intercepção e gravação de conversações e
comunicações telefónicas seja, de imediato, lavrado e levado ao conhecimento
do juiz e que, autorizada a intercepção e gravação por determinado período, seja
concedida autorização para a sua continuação sem que o juiz tome conheci-
mento do resultado da anterior –, após se sumariarem as ideias-chave do
Acórdão n.º 407/97, consignou-se:
“Ora, no caso dos autos, a norma do artigo 188.º, n.º 1, do CPP, com a
interpretação acolhida no acórdão impugnado, não se isenta do mesmo vício de
inconstitucionalidade.
Na verdade, fazer equivaler o inciso «imediatamente» ao «tempo mais
rápido possível», em termos de «cobrir» situações como a de o auto de trans-

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crição ser apresentado ao juiz meses depois de efectuadas a intercepção e gra-


vação das comunicações telefónicas, mesmo tendo em conta a gravidade do
crime investigado e a necessidade daquele meio de obtenção da prova, restringe
desproporcionadamente o direito à inviolabilidade de um meio de comunicação
privada e faculta uma ingerência neste meio para além do que se considera ser
constitucionalmente admissível.
Ficar no desconhecimento do juiz, durante tal lapso de tempo, o teor das
comunicações interceptadas, significa o desacompanhamento próximo e o
controlo judiciais do modo como a escuta se desenvolve, o que se entendeu no
citado Acórdão n.º 407/97 – como aqui se entende – colidir com os interesses
acautelados pela exigência de conhecimento imediato pelo juiz. E impede, ainda,
a destruição, em tempo necessariamente breve, dos elementos recolhidos sem
interesse relevante para a prova, a que, só por si, não obsta a fixação pelo juiz
de um prazo para a intercepção, no termo da qual esta deve findar.
Por outro lado, autorizar novos períodos de escuta, a mero requerimento
do Ministério Público, sem que a autorização seja precedida do conhecimento
judicial do resultado da intercepção anterior, continua a significar a mesma au-
sência de acompanhamento e de controlo por parte do juiz, o que pode até tra-
duzir-se em longos períodos (um dos postos telefónicos foi interceptado desde
3 de Novembro de 1995 a 15 de Novembro de 1996 e o outro desde 3 de Abril de
1996 a 12 de Novembro de 1996 e de novo entre 31 de Março de 1997 a 5 de
Setembro de 1997) de utilização deste meio de obtenção de prova na dispo-
nibilidade total dos órgãos de investigação.
É certo que, tal como a decisão recorrida no Acórdão n.º 407/97, o
acórdão impugnado faz apelo às dificuldades práticas – a reconhecida carência
de meios técnicos e humanos – para justificar o entendimento dado ao referido
inciso «imediatamente», num quadro de exigências de repressão da criminali-
dade grave, praticada por redes altamente organizadas.
A esse argumento se respondeu, ainda no Acórdão n.º 407/97, em termos
que também aqui se acolhem, que tais dificuldades constituem, num processo
crime, ónus do Estado de Direito democrático, ónus que não pode estar a cargo
do arguido, ainda que, no limite, isso signifique deixar impunes alguns
criminosos. Não é de todo admissível num Estado de Direito democrático, ca-

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racterizado pela publicização do ius puniendi, fazer reverter contra o arguido o


ónus da escassez de meios e dificuldades na obtenção de prova para o conde-
nar.
Note-se que na nova redacção dada ao artigo 188.º (em especial, no n.º 3)
pela Lei n.º 59/98 (actualmente pelo Decreto-Lei n.º 320-C/2000, de 15 de
Dezembro) se procurou obviar às alegadas dificuldades de transcrição imediata
dos elementos recolhidos, pois esta só será judicialmente ordenada depois de o
juiz considerar tais elementos relevantes para a prova.
Resta acrescentar que o Tribunal Constitucional tem apenas poderes para
verificar a constitucionalidade de normas, pelo que lhe está vedado «declarar
inválidos todos os actos que dependerem das intercepções telefónicas
realizadas, conforme os artigos 122.º e 189.º do CPP», como o recorrente
pretende.
Isto significa que é ao tribunal recorrido que compete reformar a sua
decisão em conformidade com o presente juízo de constitucionalidade, ex-
traindo dele as consequências pertinentes ao nível do direito infraconstitucional
e do concreto processo crime em causa.”
A validade da jurisprudência assim definida foi reafirmada no Acórdão n.º
528/2003 – que julgou inconstitucional, por violação das disposições conjugadas
dos artigos 32.º, n.º 8, 34.º, n.ºs 1 e 4, e 18.º, n.º 2, da CRP, a norma constante do
artigo 188.º, n.º 1, do CPP, na redacção anterior à que foi dada pelo Decreto-Lei
n.º 320-C/2000, de 15 de Dezembro, quando interpretada no sentido de não impor
que o auto da intercepção e gravação de conversações e comunicações
telefónicas seja, de imediato, lavrado e levado ao conhecimento do juiz –, o qual,
após transcrição da fundamentação relevante dos Acórdãos n.ºs 407/97 e
347/2001, acrescentou:
“Agora apenas se referirá que, mais recentemente, o Tribunal Europeu
dos Direitos do Homem voltou a ter oportunidade para reiterar a sua jurispru-
dência em matéria de escutas telefónicas. Tal aconteceu, nomeadamente, nos
casos PG e JH v. Reino Unido (acórdão de 25 de Setembro de 2001) e Prado
Bugallo v. Espanha (acórdão de 18 de Fevereiro de 2003). Neste último acórdão,
aquele Tribunal voltou a sublinhar a necessidade de preenchimento, pelas
legislações nacionais, das condições exigidas pela sua jurisprudência, designa-

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damente nos acórdãos Kruslin v. França e Huvig v. França, para evitar os abu-
sos a que podem conduzir as escutas telefónicas. Referiu-se, então, nomeada-
mente, à necessidade de definição das infracções que podem dar origem às es-
cutas, à fixação de um limite à duração de execução da medida, às condições de
estabelecimento dos autos das conversações interceptadas, bem como às
precauções a tomar para comunicar intactas e completas as gravações efectua-
das, de modo a permitir um possível controlo pelo juiz e pela defesa.
Assim sendo, verifica-se que a jurisprudência do Tribunal Constitucional
atrás referida, que, como se salientou já, mantém inteira validade e a que aqui
integralmente se adere, conduz a que, também no caso dos autos, tenha de
considerar-se inconstitucional a interpretação do n.º 1 do artigo 188.º do Código
de Processo Penal, na redacção anterior à que lhe foi dada pelo Decreto-Lei n.º
320-C/2000, de 15 de Dezembro, que foi acolhida pela decisão recorrida. Com
efeito, entender que situações como as que ocorreram no presente processo –
em que os autos de intercepção e gravação de conversações telefónicas que
tinham sido entretanto autorizadas só foram levados ao conhecimento do juiz
que as ordenou 38 dias depois de elas terem tido início – são ainda abrangidas
pela expressão imediatamente colide frontalmente com os interesses que se
pretendem acautelar com aquela exigência, na medida em que impede o seu
acompanhamento próximo pelo juiz.
Resta apenas acrescentar, de modo semelhante ao que se fez nos acór-
dãos deste Tribunal citados supra, que o Tribunal Constitucional somente tem
poderes para verificar a constitucionalidade de normas, situando-se já fora do
âmbito da sua intervenção retirar as consequências da interpretação da norma
com o sentido apontado. Isto significa que é ao tribunal recorrido que compete
reformar a sua decisão em conformidade com o presente juízo de constitucio-
nalidade, extraindo dele as consequências pertinentes ao nível do direito infra-
constitucional e do concreto processo crime em causa.”
Por seu turno, o Acórdão n.º 379/2004 – que julgou inconstitucional, por
violação das disposições conjugadas dos artigos 32.º, n.º 8, 43.º, n.ºs 1 e 4, e
18.º, n.º 2, da CRP, a norma constante do artigo 188.º, n.º 1, do CPP, quer na
redacção anterior quer na posterior à que foi dada pelo Decreto-Lei n.º
320-C/2000, de 15 de Dezembro, quer quando interpretada no sentido de uma

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intercepção telefónica, inicialmente autorizada por 60 dias, poder continuar a


processar-se, sendo prorrogada por novos períodos, ainda que de menor
duração, sem que previamente o juiz de instrução tome conhecimento do
conteúdo das conversações, quer na interpretação segundo a qual a primeira
audição, pelo juiz de instrução criminal, das gravações efectuadas pode ocorrer
mais de três meses após o início da intercepção e gravação das comunicações
telefónicas –, após sumariar as três decisões anteriormente referidas, acrescen-
tou:
“Ora, verifica-se que esta jurisprudência do Tribunal Constitucional, para
cuja fundamentação se remete e se dá aqui por reproduzida, mantém inteira
validade para o caso em apreço, o que leva a que se considere inconstitucional a
norma constante do artigo 188.º, n.º 1, do Código de Processo Penal,
interpretada no sentido de a intercepção telefónica, inicialmente autorizada por
60 dias, poder continuar a processar-se, sendo prorrogada por dois novos pe-
ríodos (de 30 dias cada um), sem que previamente o juiz de instrução controle e
tome conhecimento do conteúdo das conversações, por violação dos artigos
32.º, n.º 8, 34.º, n.ºs 1 e 4, e 18.º, n.º 2, da Constituição, bem como a mesma
norma, na interpretação segundo a qual a primeira audição da gravação das es-
cutas telefónicas pelo juiz de instrução pode ocorrer durante o aludido segundo
período de prorrogação.”
Foi a jurisprudência delineada nos Acórdãos n.ºs 407/97, 347/2001,
528/2003, e 379/2004 que a Decisão Sumária n.º 324/2004, sem considerações
complementares, invocou para julgar inconstitucional, por violação das
disposições conjugadas dos artigos 32.º, n.º 8, 43.º, n.ºs 1 e 4, e 18.º, n.º 2, da
CRP, a norma constante do n.º 1 do artigo 188.º do CPP, na redacção que lhe foi
dada pelo Decreto-Lei n.º 320-C/2000, de 15 de Dezembro, quando interpretada
no sentido de que a primeira audição, pelo juiz de instrução criminal, das
gravações efectuadas pode ocorrer seis meses após o início da intercepção e
gravação das comunicações telefónicas.
Da explanação da jurisprudência do Tribunal Constitucional (o texto
integral dos Acórdãos e Decisão Sumária anteriormente citados está disponível
em www.tribunalconstitucional.pt), cujos traços essenciais foram logo
desenhados pelo Acórdão n.º 407/97, resulta que se entendeu

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constitucionalmente justificado que a admissibilidade da intromissão nas


comunicações telefónicas fosse não só alvo de prévia autorização judicial, mas
também objecto de acompanhamento judicial ao longo da sua execução. O que
se exige é, pois, um “acompanhamento próximo” e um “controlo do conteúdo”
das conversações, com uma dupla finalidade: (i) fazer cessar, tão depressa
quanto possível, escutas que se venham a revelar injustificadas ou
desnecessárias; e (ii) submeter a um “crivo” judicial prévio a aquisição
processual das provas obtidas por esse meio (cf. JOSÉ MANUEL DAMIÃO DA
CUNHA, “A jurisprudência do Tribunal Constitucional em matéria de escutas
telefónicas”, Jurisprudência Constitucional, n.º 1, Janeiro-Março 2004, pp.
50-56). Mas – repete-se – o exigente critério assumido não significa “que toda a
operação de escuta tenha de ser materialmente realizada pelo juiz”, posição que
corresponderia a uma “visão maximalista”, que o Tribunal não subscreveu.
2.6. Da exposição precedente já resultam claramente evidenciadas as
dúvidas e perplexidades que o regime legal das escutas telefónicas tem
suscitado. Mas se, ao nível da jurisprudência constitucional, elas incidiram
quase exclusivamente sobre o tempo de acompanhamento judicial da execução
da operação (sobre o modo desse acompanhamento apenas incidiu o citado
Acórdão n.º 426/2005, que não julgou inconstitucional a norma do artigo 188.º,
n.ºs 1, 3 e 4, do CPP, “interpretado no sentido de que são válidas as provas
obtidas por escutas telefónicas cuja transcrição foi, em parte, determinada pelo
juiz de instrução, não com base em prévia audição pessoal das mesmas, mas
por leitura de textos contendo a sua reprodução, que lhe foram
espontaneamente apresentados pela Polícia Judiciária, acompanhados das fitas
gravadas ou elementos análogos”), já a nível da doutrina e da prática judiciária
elas têm também incidido sobre os requisitos da autorização da operação,
reportados ao artigo 187.º do CPP, quer na perspectiva da adequação do
“catálogo” de crimes enunciado no seu n.º 2, quer no que concerne a uma clara
definição das pessoas cujas conversações podem ser colocadas sob escuta,
quer quanto à ausência de uma definição legal da duração das escutas.
Designadamente no que respeita à execução da operação, é indefinida a forma
de articulação entre órgão de polícia criminal, Ministério Público e juiz,
registam-se oscilações quanto à definição do conteúdo do auto (ou dos autos) a

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elaborar e tem sido salientado o inconveniente da imediata destruição das


gravações que o juiz reputou irrelevantes, por assim se eliminar
irreversivelmente o aproveitamento de passagens que eventualmente seriam
consideradas importantes quer pela acusação, quer pela defesa (cf. indicações
bibliográficas constantes do n.º 2.9. do Acórdão n.º 426/2005).
Em resultado dessas perplexidades e reflexões, as iniciativas legislativas
relativas à revisão do Código de Processo Penal apresentadas na última
Legislatura – Projecto de Lei n.º 424/IX, apresentado pelo Bloco de Esquerda,
Proposta de Lei n.º 149/IX e Projecto de Lei n.º 519/IX, apresentado pelo Partido
Socialista (Diário da Assembleia da República, II Série-A, IX Legislatura, 2.ª
Sessão Legislativa, n.º 50, de 3 de Abril de 2004, pp. 2214-2219, e 3.ª Sessão
Legislativa, n.º 17, de 20 de Novembro de 2004, pp. 21-40, e n.º 20, de 3 de De-
zembro de 2004, pp. 6-118, respectivamente) – propugnam, designadamente: (i) a
elevação de 3 para 5 anos do máximo da pena de prisão aplicável aos crimes
que consentem a autorização de escutas; (ii) a restrição da admissibilidade
destas apenas quando não existir outro meio lícito para atingir a descoberta da
verdade ou se revelar de superior interesse, face aos demais meios de prova,
para esse objectivo; (iii) a definição das pessoas cujas conversações podem ser
interceptadas; (iv) a instauração de regimes especiais atenta a qualidade dos
escutados; (v) a exigência de especial fundamentação do despacho autorizador
das escutas; (vi) o estabelecimento de limites temporais para a execução das
escutas e respectivas prorrogações; (vii) o alargamento dos casos de proibição
de transcrições. Quanto aos limites temporais, a Projecto de Lei n.º 519/IX (PS)
propugnava que o despacho judicial que autorizasse ou ordenasse a
intercepção fixasse “o prazo máximo da sua duração, que, com dilação de cinco
dias após a data da prolação, não pode ultrapassar trinta dias, prorrogáveis no
limite até cinco vezes, reconhecida em cada caso essa necessidade, e desde que
cumpridas, em cada período autorizado, as formalidades exigíveis para a
operação”, não podendo o tempo da intercepção ultrapassar, “em nenhum caso,
o prazo máximo em concreto admitido para a duração do inquérito ou da
instrução” (artigo 187.º, n.º 3); enquanto a Proposta de Lei n.º 150/IX previa que o
referido despacho, além de fundamentado, fixasse “o prazo de duração máxima
das operações, por um período não superior a três meses a contar da sua

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prolação, sendo renovável por períodos idênticos até ao encerramento do


inquérito, desde que se mantenham os respectivos pressupostos de
admissibilidade” (artigo 187.º, n.º 5).
No que especificamente respeita ao acompanhamento judicial da
operação, o Projecto de Lei n.º 424/IX (BE) propõe: (i) a fixação do prazo máximo
de 24 horas para ser levado ao conhecimento do juiz o auto de intercepção e
gravação, com as fitas gravadas e a indicação das passagens consideradas
relevantes para a prova; (ii) a supervisão de todo o processo, especialmente a
transcrição em auto, pelo Ministério Público; (iii) a conservação das gravações
não transcritas até ao trânsito em julgado da decisão final, podendo o arguido
requerer a sua audição em sede de julgamento ou de recurso para contextualizar
as conversações transcritas. A Proposta de Lei n.º 150/IX estabelece,
designadamente, que: (i) os autos de intercepção e gravação, com as fitas, são
levados ao conhecimento do juiz, de 15 em 15 dias, com indicação por parte do
Ministério Público das passagens consideradas relevantes para a prova; (ii) o
Ministério Público é ouvido pelo juiz antes de este seleccionar os elementos a
consignar em suporte autónomo e a transcrever em auto; (iii) as fitas e
elementos análogos são conservados até ao trânsito em julgado da decisão
final, tendo a eles acesso o arguido para efeitos de selecção de mais excertos
que entenda relevantes. Por último, o Projecto de Lei n.º 519/IX (PS) prevê que
seja o juiz o fixar o período findo o qual o auto com as fitas é levado ao seu
conhecimento, acompanhado ou da indicação das passagens e dos dados
considerados relevantes para a prova ou mesmo da respectiva transcrição
provisória, cabendo ao juiz determinar a transformação desta transcrição
provisória em definitiva ou, se não considerar os elementos nela contidos como
relevantes, determinar a sua eliminação.
2.7. Grande parte das questões referenciadas no precedente número têm
por suporte a apreciação da adequação do sistema legal actualmente vigente
entre nós com as exigências que nesta matéria têm sido estabelecidas pela
jurisprudência do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, face ao disposto no
artigo 8.º da Convenção Europeia dos Direitos do Homem, que proclama o
direito de qualquer pessoa ao respeito da sua vida privada e familiar, do seu
domicílio e da sua correspondência (n.º 1) e proíbe ingerências da autoridade

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pública no exercício desse direito, excepto se essa exigência estiver prevista na


lei e constituir uma providência que, numa sociedade democrática, seja
necessária para a segurança nacional, para a segurança pública, para o
bem-estar económico do país, a defesa da ordem e a prevenção das infracções
penais, a protecção da saúde ou da moral, ou a protecção dos direitos e das
liberdades dos outros (n.º 2).
Na síntese apresentada por IRENEU CABRAL BARRETO (“A Investigação
criminal e os direitos humanos”, Polícia e Justiça – Revista do Instituto Superior
de Polícia Judiciária e Ciências Criminais, III Série, n.º 1, Janeiro-Junho de 2003,
pp. 43-85, em especial pp. 57-63; e “A jurisprudência do novo Tribunal Europeu
dos Direitos do Homem”, Sub Judice – Justiça e Sociedade, n.º 28,
Abril-Setembro 2004, pp. 9-32, em especial pp. 20-21; cf. ainda, do mesmo autor,
A Convenção Europeia dos Direitos do Homem Anotada, 3.ª edição, Coimbra,
2005, anotações I-3.3 e II-4. e 6.4. ao artigo 8.º, a pp. 184, 196 e 199; e JOÃO
RAMOS DE SOUSA, “Escutas telefónicas em Estrasburgo: O activismo
jurisprudencial do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem”, Sub Judice,
citada, pp. 47-55 ):
“A jurisprudência de Estrasburgo, tendo em conta a gravidade da inge-
rência na vida das pessoas que representa a escuta telefónica, precisou que não
basta uma lei a prever essa possibilidade.
Para prevenir o risco de arbítrio que o uso desta medida poderia acar-
retar, entende-se que uma tal lei deve conter uma série de garantias mínimas:
– definir as categorias de pessoas susceptíveis de serem colocadas em
escutas telefónicas;
– a natureza das infracções que podem permitir essa escuta;
– a fixação de um limite de duração dessa medida;
– as condições do estabelecimento de processos verbais de síntese con-
signando as conversas interceptadas;
– as precauções a tomar para comunicar, intactos e completos, os re-
gistos realizados, para o controlo do juiz e da defesa;
– as circunstâncias nas quais pode e deve proceder-se ao apagamento ou
destruição das fitas magnéticas, nomeadamente após uma absolvição ou o ar-
quivamento do processo.”

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Como refere GÉRARD COHEN-JONATHAN (“La Cour européenne des


droits de l’homme et les écoutes téléphoniques”, Revue Universelle des Droits
de l’Homme, vol. 2, n.º 5, 31 de Maio de 1990, pp. 185–191), impõe-se a existência
de uma lei que preveja a possibilidade de autorização de escutas, lei que deve
ser acessível e precisa, e que se estabeleçam garantias adequadas, desde logo
definindo com precisão quais as autoridades competentes para ordenar ou
autorizar as escutas, quais os crimes cuja gravidade justifica o uso deste meio
de produção de prova e o grau de suspeita exigível, não podendo a ingerência
ser meramente exploratória. Depois, o acompanhamento da operação há-de
ocorrer em três estádios: no momento da ordem ou da autorização, no decurso
da operação e após o seu termo, possibilitando às pessoas colocadas sob
escuta o direito de acesso às gravações e respectivas transcrições, o direito à
eliminação das passagens irrelevantes ou interditas e o direito à destruição ou
restituição dos respectivos suportes.
Mas para além das “escutas judiciárias”, são ainda admissíveis “escutas
administrativas”, determinadas pelo poder executivo visando objectivos de
segurança interna e externa, as quais devem oferecer igualmente garantias
adequadas que afastem o risco de utilização abusiva, garantias que serão
naturalmente diferentes das previstas para as “escutas judiciárias”, mas que
sempre exigirão a possibilidade de recurso aos tribunais, embora apenas a
posteriori. Essas garantias passam, nalguns países, pela intervenção de
entidades independentes, por vezes de origem parlamentar, que acompanham a
actuação do executivo (cf. o Acórdão Klass, de 1978, em que o Tribunal Europeu
considerou suficientes os recursos judiciais a posteriori previstos no direito
alemão em caso de intercepção de conversações determinada pelo Governo
alemão, para defesa da ordem e segurança numa sociedade democrática e para
evitar infracções, sem controlo judicial prévio, e a decisão da Comissão
Europeia dos Direitos do Homem, de 10 de Maio de 1985, relativa ao
Luxemburgo, ambos citados no artigo de GÉRARD COHEN-JONATHAN).
De particular relevância para o presente recurso (em que, como se verá, a
recorrente reclama a imediata destruição das gravações tidas por irrelevantes
pelo juiz de instrução) reveste-se a constante chamada de atenção, por parte do
Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, para a necessidade de as legislações

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nacionais tomarem precauções no sentido de assegurar “a comunicação intacta


e completa das gravações efectuadas, para efeito de controlo pelo juiz e pela
defesa” e estabelecerem as circunstâncias em que se pode operar o apaga-
mento ou a destruição das gravações, designadamente após o arquivamento
definitivo do processo ou o trânsito em julgado da condenação final (cf. n.º 34 do
Acórdão Huvig, de 24 de Abril de 1990; n.º 35 do Acórdão Kruslin, da mesma
data; n.º 59 do Acórdão Valenzuela Contreras, de 30 de Julho de 1998; e n.º 30 do
Acórdão Prado Bugallo, de 18 de Fevereiro de 2003).
2.8. A análise de ordenamentos jurídicos de países cujas normas
constitucionais relevantes na matéria são similares às portuguesas revela que o
legislador ordinário tem moldado de modo diversificado o regime das escutas
telefónicas, designadamente no que respeita à intervenção do juiz, quer na fase
de autorização, quer na fase de acompanhamento da operação (cf. MARIO
CHIAVARIO e outros, Procedure Penali d’Europa, 2.ª edição, Milão, 2001).
Na Bélgica, de acordo com as Leis de 10 de Junho de 1998 e de 10 de
Janeiro de 1999, a regra é a da autorização pelo juiz de instrução, mas, em casos
de urgência, a escuta pode ser determinada pelo Ministério Público, embora
sujeita a validação judicial. Só se procede à transcrição das passagens
consideradas relevantes, mas mantêm-se intactas as gravações, podendo as
partes consultá-las e requerer a transcrição de passagens inicialmente tidas por
irrelevantes (ob. cit., pp. 75-76).
Na França, segundo os artigos 100.º e seguintes do Código de Processo
Penal, alterados pela Lei de 10 de Julho de 1991, a ordem de intercepção é dada
pelo juiz de instrução, o qual, porém, pode delegar num oficial de polícia
judiciária o acompanhamento da operação. As gravações só são destruídas no
termo de prescrição do procedimento criminal (ob. cit., pp. 139-140).
Na Alemanha também é de regra a autorização pelo juiz, mas, em caso de
urgência, a intercepção pode ser determinada pelo Ministério Público, sujeita a
validação judicial. A ordem de intercepção implica o poder de registo. No
julgamento, o juiz pode optar entre a audição das gravações ou a leitura das
transcrições (ob. cit., p. 204).
Diversamente, na Inglaterra, as escutas são determinadas pelo Ministro
do Interior ou pelas autoridades policiais, com mandado ministerial, não tendo o

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juiz qualquer poder de controlo sobre as intercepções, existindo possibilidade


de recurso para uma comissão integrada por advogados nomeados pelo
Governo, que verifica o cumprimento das condições legais da intercepção (ob.
cit., pp. 258-259).
Na Itália, a regra é a de que compete ao juiz de instrução autorizar as
intercepções, mas em caso de urgência elas podem ser ordenadas pelo
Ministério Público, com subsequente validação judicial (ob. cit., pp. 321-322). As
comunicações interceptadas são registadas em acta, aí sendo transcrito, ainda
que sumariamente, o conteúdo da comunicação interceptada (artigo 268.º do
Código de Processo Penal italiano). O registo da intercepção e a acta são
transmitidos imediatamente ao Ministério Público, que os deposita na secretaria,
sendo de seguida dado conhecimento ao defensor, que pode escutar os registos
e examinar os actos, e só então, face às posições assumidas pelas partes
interessadas quanto à admissibilidade e relevância das comunicações
interceptadas, é que o juiz de instrução manda suprimir os registos cuja
utilização é legalmente vedada e admite os que não são manifestamente irrele-
vantes (artigo 268.º, n.º 6, do mesmo Código) – cf. J. A. MOURAZ LOPES, A
Tutela da Imparcialidade Endoprocessual no Processo Penal Português,
Coimbra, 2005, pp. 145-146, nota 388.
Em Espanha, face à natureza genérica que, mesmo após a modificação
introduzida pela Lei Orgânica n.º 4/1998, de 25 de Maio de 1988, aos artigos 553.º
e 559.º da Ley de Enjuiciamiento Criminal – que se limitam a permitir que o juiz
autorize, por decisão fundamentada, pelo prazo máximo de três meses,
susceptível de prorrogação por períodos similares, a vigilância de
comunicações telefónicas de pessoas relativamente às quais existam indícios
de responsabilidade criminal –, tem sido sobretudo obra da jurisprudência a
definição das condições de admissibilidade das interferências nas
comunicações. A jurisprudência do Tribunal Constitucional espanhol, para
utilizar a síntese feita no fundamento jurídico 5.º da Sentença n.º 171/99, tem
consignado que “uma medida restritiva do direito ao segredo das comunicações
só pode considerar-se constitucionalmente legítima na perspectiva deste direito
fundamental se, em primeiro lugar, está legalmente prevista com suficiente
precisão – princípio da legalidade formal e material (...); se, em segundo lugar, é

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autorizada por autoridade judicial no âmbito de um processo (...); e, em terceiro


lugar, se se realiza com estrita observância do princípio da proporcionalidade; é
dizer, se a medida é autorizada por ser necessária para alcançar um fim
constitucionalmente legítimo, como – entre outros –, para a defesa da ordem e
prevenção de delitos qualificáveis como infracções puníveis graves, e é idónea e
imprescindível para a investigação dos mesmos (...), e existem indícios sobre o
facto constitutivo do delito e sobre a conexão com o mesmo por parte das
pessoas investigadas. (...) A execução da intervenção telefónica deve ater-se aos
estritos termos da autorização tanto quanto aos limites materiais da mesma
como às condições da sua autorização (...) e, finalmente, deve levar-se a cabo
sob controlo judicial”.
(…)»
11.Adiantando a resposta à questão de constitucionalidade em causa no
presente recurso, entende-se resultar destes arestos (cf., sobre eles, JOSÉ
MANUEL DAMIÃO DA CUNHA, “A mais recente jurisprudência constitucional em
matéria de escutas telefónicas – mero aprofundamento de jurisprudência?
Anotação aos Acórdãos do Tribunal Constitucional n.ºs 426/2005 e 4/2006”, in
Jurisprudência Constitucional, n.º 8, 2005, pp. 46-55) que a dimensão normativa
em causa nos presentes autos não pode deixar de ser considerada
inconstitucional. É logo o que decorre da afirmação, contida no Acórdão n.º
426/2005 para justificar a possibilidade de a selecção das passagens a
transcrever ser determinada pelo juiz de instrução com base, não em prévia
audição pessoal das mesmas, mas por leitura de textos contendo a sua
reprodução que lhe foram espontaneamente apresentados pela Polícia
Judiciária, de que se trata apenas de uma “primeira selecção, dotada de
provisoriedade, podendo vir a ser reduzida ou ampliada”, pois deve “ser
facultado à defesa (e também à acusação) a possibilidade de requerer a
transcrição de mais passagens do que as inicialmente seleccionadas pelo juiz,
quer por entenderem que as mesmas assumem relevância própria, quer por se
revelarem úteis para esclarecer ou contextualizar o sentido de passagens
anteriormente seleccionadas”. Mas é também o que se disse – embora sem
tomar posição definitiva, pois era outra a questão que havia então que decidir –
no citado Acórdão n.º 4/2006, com apoio em abundante fundamentação na qual

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já se notou, designadamente: que se exige, de acordo com a jurisprudência do


Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, que a lei que prevê a possibilidade de
realização de escutas telefónicas deve definir “as precauções a tomar para
comunicar, intactos e completos, os registos realizados, para o controlo do juiz
e da defesa”, possibilitando às pessoas colocadas sob escuta o direito de
acesso às gravações e respectivas transcrições, e “as circunstâncias nas quais
pode e deve proceder-se ao apagamento ou destruição das fitas magnéticas,
nomeadamente após uma absolvição ou o arquivamento do processo”; e que o
nosso sistema, na medida em que permite a destruição dos registos das
comunicações sem conhecimento da defesa, mas apenas do Ministério Público,
e segundo a apreciação da sua relevância pelo juiz, se encontra isolado no
contexto das ordens jurídicas mais próximas.
Vejamos estes dois pontos mais em pormenor.
12.A afirmação de que as legislações nacionais devem tomar precauções
para assegurar “a comunicação intacta e completa das gravações efectuadas,
para efeito de controlo pelo juiz e pela defesa” e estabelecerem as
circunstâncias em que se pode operar o apagamento ou a destruição das
gravações, designadamente após o arquivamento definitivo do processo ou o
trânsito em julgado da condenação final, encontra-se em várias decisões do
Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.
Assim, esse Tribunal disse nos n.ºs 34 e 35 dos Acórdãos Huvig e
Kruslin, de 24 de Abril de 1990, sobre legislação francesa em matéria de escutas,
que “o sistema não oferece de momento as garantias adequadas contra diversos
abusos a recear. Por exemplo, nada define as categorias de pessoas
susceptíveis de serem colocadas sob escuta judiciária, nem a natureza das
infracções que podem dar lugar a elas; nada vincula o juiz a fixar um limite à
duração da execução da medida; e também nada precisa as condições de
realização de procedimentos verbais de síntese consignando as conversações
interceptadas, nem as precauções a tomar para comunicar intactas e completas
as gravações realizadas, com o fim de controlo eventual pelo juiz – que não
pode de todo deslocar-se ao local para verificar o número e a duração das fitas
magnéticas originais – e pela defesa, nem as circunstâncias em que pode ou

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deve realizar-se o apagamento ou a destruição das ditas fitas”, designadamente


após absolvição ou trânsito em julgado. (itálico aditado)
Tais “garantias mínimas, necessárias para evitar abusos, que devem
figurar na lei”, mencionadas no Acórdãos Kruslin e Huvig e que incluem as
“precauções a tomar para comunicar, intactas e completas, as gravações
realizadas, com o fim de controlo eventual pelo juiz e pela defesa”, foram
recordadas também no Acórdão Valenzuela Contreras, de 30 de Julho de 1998
(n.ºs 46, IV, e 59) e no Acórdão Prado Bugallo, de 18 de Fevereiro de 2003. Neste
último pode ler-se, a propósito de legislação espanhola sobre escutas
telefónicas, que o Tribunal entende “que a garantias introduzidas pela lei de
1988 não respondem a todas as condições exigidas pela jurisprudência do
Tribunal, nomeadamente nos acórdãos Kruslin c. França e Huvig c. França, para
evitar os abusos. É o caso da natureza das infracções que podem dar lugar às
escutas, da fixação de um limite para a duração da execução da medida e das
condições de realização dos procedimentos verbais de síntese consignando as
conversações interceptadas, tarefa que é deixada à competência exclusiva do
funcionário do tribunal. Estas insuficiências dizem igualmente respeito às
precauções a tomar para comunicar intactas e completas as gravações
realizadas, com o fim de um controlo eventual pelo juiz e pela defesa. A lei não
contém qualquer disposição a este respeito.” (itálico aditado)
Resulta desta jurisprudência do Tribunal Europeu dos Direitos do
Homem, referida já nos Acórdãos n.ºs 528/2003, 426/2005 e 4/2006, que a
privação da possibilidade, pela imediata destruição da gravação que o juiz
entende irrelevante (aliás, segundo o referido Acórdão n.º 426/2005,
possivelmente sem a ouvir, e apenas com base em transcrições), de a defesa
requerer a transcrição de passagens não seleccionadas pelo juiz, e que não
foram objecto de uma comunicação intacta e completa para controlo pela
defesa, corresponde a uma diminuição das garantias da defesa – o que também
já se consignou nos referidos Acórdãos n.º 426/2005 e 4/2006. Também por isso
(como se nota neste último aresto) se disse no citado Acórdão n.º 426/2005 que
“deve ser facultado à defesa (e também à acusação) a possibilidade de requerer
a transcrição de mais passagens do que as inicialmente seleccionadas pelo juiz,
quer por entenderem que as mesmas assumem relevância própria, quer por se

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revelarem úteis para esclarecer ou contextualizar o sentido de passagens


anteriormente seleccionadas”.
13.Quanto à comparação da solução que está em apreciação – repete-se:
a da destruição imediata dos suportes das escutas com base na apreciação da
sua relevância pelo juiz, sem que o arguido se possa pronunciar sobre ela – com
o regime vigente em outras ordens jurídicas europeias mais próximas da nossa,
pode igualmente remeter-se para o Acórdão n.º 4/2006 (n.º 2.8), para se verificar
que aquela solução se encontra isolada (v. também, para o que se segue,
MIREILLE DELMAS-MARTY e MÁRIO CHIAVARIO, Procedure penali d’Europa, 2.ª
ed., CEDAM, Padova, 2001).
Assim, recorde-se que, como se disse no Acórdão n.º 4/2006, na Bélgica,
as gravações são mantidas intactas a fim de as partes as poderem consultar e
requerer a transcrição de passagens inicialmente tidas por irrelevantes; em
França, as gravações só são destruídas no termo do prazo de prescrição do
procedimento criminal; em Itália, só após audição das gravações (cuja guarda
compete ao Ministério Público) pela defesa e pronúncia dos diversos
intervenientes é que o juiz manda suprimir os registos cuja utilização é
legalmente vedada e admite os que não são manifestamente irrelevantes (artigo
268.º, n.º 6, do Código de Processo Penal), sendo os registos conservados até
ao trânsito em julgado da sentença final, a menos que, a requerimento dos
interessados, com fundamento em tutela da privacidade, o juiz autorize a
destruição antecipada (artigo 269.º, n.º 2, do mesmo Código); em Espanha,
atenta a exiguidade da regulamentação legal, a jurisprudência do Tribunal
Constitucional e do Tribunal Supremo têm insistido na necessidade de serem os
originais das fitas de gravação ou elementos análogos a serem remetidos ao
tribunal, ficando à guarda do secretário judicial, que facultará o seu acesso às
partes (e ao Ministério Público) e dirigirá a tarefa de transcrição das partes tidas
por relevantes”.
Também na Alemanha os limites da possibilidade da destruição são
discutidos, apesar de o § 100b, n.º 6, da Strafprozessordnung mandar destruir
imediatamente, sob fiscalização do Ministério Público, os elementos
[Unterlagen] que já não sejam necessários para a perseguição penal (v.
GERHARD SCHÄFER, em LÖWE/ROSENBERG, Die Strafprozessordnung und

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das Gerichtsverfassungsgesetz – Grosskommentar, 25.ª ed., Berlin, W. de


Gruyter, 2003, anot. 38 ao §100b e anots. 103 e seg. ao § 100c, dizendo que só
pode destruir-se o material de prova seguramente já desnecessário, porque o
seu conteúdo está entretanto confirmado por outros meios de prova, pelo que se
o material for ainda possivelmente utilizado como meio de prova na audiência de
julgamento nunca é de considerar uma destruição, antes deve ser guardado
juntamente com os meios de prova). O Tribunal Constitucional Federal alemão já
declarou, mesmo (na decisão de 3 de Março de 2004, in Entscheidungen des
Bundesverfassungsgerichts, vol. 109, pp. 279 e ss.), a inconstitucionalidade
desse § 100b, n.º 6, embora apenas em conjugação com a remissão que para ele
fazia o § 100d, n.º 4, frase 3, que o mandava aplicar à destruição dos registos de
vigilância acústica em espaços habitacionais (o chamado “grosser
Lauschangriff”), por violação da garantia do acesso à via judiciária, que a
destruição dificultava ou tornava mesmo impossível. Salientou-se, nessa
decisão, que “pode surgir uma situação específica de conflito por, de uma parte,
corresponder à protecção de dados o apagamento de dados já não necessários,
e, por outra, com o apagamento se dificultar, quando não mesmo impossibilitar,
uma protecção jurídica efectiva, porque um controlo dos actos só é em limitada
medida possível depois do apagamento dos elementos” (v. também, já antes, a
decisão de 14 de Julho de 1999, in Entscheidungen…, cit., vol. 100, pp. 313 e ss.,
400, onde se considerou condição do respeito pela garantia do acesso à via
judiciária o facto de os registos serem conservados até seis meses depois da
notificação dos actos ao atingido). Na sequência da citada decisão de 2004, foi
aprovada uma “Lei de Aplicação da Decisão do Tribunal Constitucional Federal
de 3 de Março de 2004”, que alterou o referido §100d, passando a prever que os
dados são destruídos se não forem necessários “para a prossecução da acção
penal e para uma eventual comprovação judicial”, e que, na medida em que a
destruição seja adiada por esta última razão, “os dados devem ser encerrados e
só podem ser utilizados para esse fim”.
Aliás, também entre nós têm sido propostas várias soluções no sentido
de evitar que os registos das conversações possam ser logo destruídos, antes
sendo assegurada a possibilidade de controlo (incluindo a “contextualização” e
a descoberta de novos elementos) também pela defesa (cf. as propostas

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legislativas referidas no n.º 2.6 do citado Acórdão n.º 4/2006). E refira-se, aliás,
como mera nota marginal, que é também diferente da que está em apreciação a
solução prevista no anteprojecto de revisão do Código de Processo Penal que
foi tornado público pelo Ministério da Justiça já em 2006. Segundo o seu artigo
188.º, n.º 6, a destruição imediata apenas é determinada pelo juiz em relação a
“suportes técnicos e relatórios manifestamente estranhos ao processo” e que:
disserem respeito a conversações em que não intervenham o suspeito ou
arguido, pessoa “relativamente à qual haja fundadas razões para crer que recebe
ou transmite mensagens destinadas ou provenientes de suspeito ou arguido ou
vítima de crime, mediante o respectivo consentimento, efectivo ou presumido”;
abranjam matérias cobertas pelo segredo profissional, de funcionário ou de
Estado; ou cuja “divulgação possa afectar gravemente direitos, liberdades e
garantias”. Fora desses casos, prevê-se que, a partir do encerramento do
inquérito, o assistente e o arguido possam “examinar os suportes técnicos das
conversações ou comunicações e obter, à sua custa, cópia das partes que
pretendam transcrever para juntar ao processo”, sendo os suportes técnicos
referentes a conversações ou comunicações que não forem transcritas para
servirem como meio de prova “guardados em envelope lacrado, à ordem do
tribunal, e destruídos após o trânsito em julgado da decisão que puser termo ao
processo” (artigo 188.º, n.ºs 8 e 12, do citado anteprojecto).
14.Poderia – é certo – defender-se que estas soluções legislativas se
enquadram dentro da liberdade de conformação do legislador, sendo possíveis
várias soluções no plano infra-constitucional. Dir-se-ia, neste sentido, que
bastaria o controlo da relevância dos elementos de prova pelo juiz de instrução,
procedendo ao controlo da legalidade, da necessidade e da relevância desses
elementos.
Estes argumentos não podem, porém, considerar-se procedentes.
Na verdade, a destruição (permitida pela norma em apreço) de elementos
de prova obtidos mediante intercepção de telecomunicações, que o arguido
poderia pretender utilizar em seu benefício e que apenas foram conhecidos pelo
órgão de polícia criminal e pelo Ministério Público, com base na apreciação da
sua relevância, e na consequente ordem de destruição, apenas pelo juiz de
instrução, sem conhecimento pelo arguido, constitui logo, só por si, uma

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compressão inaceitável, e desnecessária, das garantias de defesa do arguido,


particularmente notória na comparação da sua posição com a da acusação. Com
efeito, o arguido, que já sofreu uma intervenção restritiva –determinada e
justificada apenas por razões de necessidade – nos seus direitos fundamentais
ao ser objecto de escutas telefónicas, vê destruídos os registos dessas
comunicações, de cujo conteúdo não chega a tomar conhecimento, e não pode
sequer pronunciar-se sobre a sua relevância, enquanto a acusação (rectius, o
órgão de polícia criminal e o Ministério Público) teve acesso ao conteúdo
integral e completo das comunicações e pode (deve mesmo) seleccionar e
indicar as partes que considera relevantes (artigo 188.º, n.º 1, parte final), tendo
uma intervenção substancial anterior à apreciação do juiz e à sua decisão sobre
a relevância, que pode influenciar.
Contra isto não basta argumentar, nem com o facto de a destruição dos
registos inúteis visar ela própria a protecção de direitos fundamentais de
terceiros ou do próprio arguido, nem com as garantias resultantes da
intervenção do juiz de instrução, como “juiz das garantias” do arguido, ou com
uma alegada possibilidade de contraditar a prova no momento do julgamento.
Quanto a esta última possibilidade, ela torna-se evidentemente ilusória,
quanto ao que pudesse depender das conversações cujo conteúdo o arguido
não conheceu, a partir do momento da destruição dos respectivos registos.
Aliás, repete-se que não está apenas em causa a utilização das comunicações
para enquadrar os elementos transcritos, mas igualmente com relevo autónomo.
Quanto ao primeiro ponto, recorda-se que está apenas em causa, na
dimensão normativa em apreço, a ordem de destruição dos registos com base
exclusivamente na apreciação da relevância das conversações para a prova, por
parte do juiz, e não na ilegalidade das escutas ou na protecção dos direitos de
terceiros ou do arguido (aliás, quanto a este último, sempre poderia duvidar-se
da indisponibilidade de uma tal “protecção contra si próprio”). A invocação da
protecção de terceiros – aliás, não concretizada no caso em apreço – contra
intromissão na vida privada apenas poderia, pois, situar-se no plano abstracto,
da presunção de que todas e quaisquer escutas podem (criam o risco de) pôr em
causa esses direitos de terceiros. Sem deixar de sublinhar a importância das
garantias contra a indevida circulação do conteúdo das conversações

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interceptadas, ou, até, do estabelecimento de mecanismos que tutelem o risco


da violação de direitos fundamentais como o segredo das comunicações, a
alegação de um tal risco não pode, porém, sobrepor-se aos concretos direitos
do arguido, de organizar a sua defesa controlando o conteúdo das conversações
e utilizando-as em sua defesa, seja enquadrando as transcrições existentes, seja
com relevância autónoma.
15.No que toca à intervenção do juiz, para apreciar a relevância das
comunicações interceptadas “em lugar” da apreciação que o arguido poderia
pretender efectuar, é certo que ela representa uma garantia suplementar em
relação a um sistema que deixasse a apreciação da relevância e a selecção
exclusivamente na dependência da acusação (cf., aliás, concedendo especial
importância ao parâmetro da “reserva do juiz”, e ao artigo 32.º, n.º 4, da
Constituição no regime das escutas telefónicas, J. M. DAMIÃO DA CUNHA, “A
mais recente jurisprudência…”, cit., pp. 51 e ss.).
Todavia, tal garantia não pode considerar-se suficiente sob dois pontos
de vista: por um lado, e como se referiu, enquanto o órgão de polícia criminal e o
Ministério Público podem influenciar a decisão do juiz sobre a relevância,
devendo mesmo indicar as passagens das comunicações que consideram
relevantes antes de aquele tomar uma decisão (que, recorda-se, pode, sem
inconstitucionalidade, ser tomada sem audição da integralidade das
conversações, e apenas com base em partes transcritas que lhe são facultadas,
como se decidiu no Acórdão n.º 426/2005), o arguido não chega sequer a ter
conhecimento do conteúdo das comunicações antes da sua destruição, muito
menos podendo fazer valer, ou fundamentar, a sua apreciação sobre a sua
relevância, ficando, por isso, colocado numa posição de inferioridade, ou
desigualdade, que objectivamente põe em causa as suas garantias de defesa;
por outro lado, sendo ao arguido que compete organizar a sua defesa,
contraditando os elementos invocados pela acusação e utilizando-os para se
defender, tem de lhe ser deixada a possibilidade de ser ele a ajuizar, com base
no conteúdo das conversações em causa, sobre a sua relevância, para, pelo
menos, a poder justificar (por exemplo, porque entende que dela resulta um
atenuação da sua culpa, ou até uma causa de justificação), sem que esse juízo
possa ser antecipadamente inviabilizado pela destruição dos suportes

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magnéticos com base numa apreciação alheia (ainda que do juiz de instrução).
Aliás, não está apenas em causa a possibilidade de conhecimento pelo arguido
do conteúdo das comunicações, para efectuar e fundamentar a sua apreciação
sobre a sua relevância, mas também a própria possibilidade de um controlo
judicial da decisão de destruir os registos das conversações, ou, mesmo, da
própria realização das escutas (em relação ao material destruído).
Sob este aspecto, a consideração de que a norma em causa apenas faz
sentido no pressuposto de uma total irrelevância dos registos, com
possibilidade (ou mesmo dever) de o juiz realizar esta avaliação, falha o alvo,
justamente porque o que está em causa é esta possibilidade de avaliação e a
intervenção nela do arguido – ou seja, saber se o arguido também há-de poder,
pelo menos, influenciar com devido conhecimento a apreciação da relevância
das conversações.
Não pode, aliás, excluir-se em absoluto que a apreciação pelo juiz de
instrução, na sequência dos elementos que lhe são facultados pelo órgão de
polícia criminal, e ainda que apenas de uma irrelevância clara, ou manifesta, dos
elementos em questão, possa não estar objectivamente correcta, podendo vir a
ser posta em causa pelo desenrolar futuro do processo ou por outros
acontecimentos (sendo que a destruição dos registos inviabiliza, porém, a
comprovação). E, de todo o modo, pelo menos quando não estejam em causa
situações de ilegalidade das escutas ou de outras qualificadas afectações de
direitos fundamentais justificadas em concreto, é ao arguido que tem de
competir a possibilidade de controlar essa correcção e de fundamentar a sua
própria apreciação sobre a relevância dos elementos em causa, o que só pode
ser conseguido, como tem salientado o Tribunal Europeu dos Direitos do
Homem, mediante precauções no sentido da comunicação integral e completa
das conversações interceptadas ao arguido, as quais são radicalmente
postergadas pela imediata destruição dos registos.
16.Em suma, conclui-se que é inconstitucional, por violação das garantias
de defesa do arguido, asseguradas pelo artigo 32.º, n.º 1, da Constituição, e em
particular da garantia de um processo leal e do princípio do contraditório, a
interpretação do artigo 188.º, n.º 3, do Código de Processo Penal que permite
que sejam destruídos elementos de prova obtidos mediante intercepção de

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telecomunicações, que o órgão de polícia criminal conheceu, com base na


apreciação da sua relevância efectuada e na consequente ordem dada pelo juiz
de instrução, e de cujo conteúdo o arguido não chega a tomar conhecimento,
sem poder, pois, pronunciar-se sobre a sua relevância.
Há, assim, que conceder provimento ao presente recurso, determinando-
se a reforma da decisão recorrida em conformidade com o presente juízo de
inconstitucionalidade. Sublinhar-se-á apenas, como nota final, que as
consequências a retirar do presente juízo de inconstitucionalidade para os
elementos de prova constantes dos autos, incluindo as comunicações
interceptadas aí transcritas, se encontram já fora do âmbito da intervenção do
Tribunal Constitucional, situando-se claramente no domínio de intervenção do
Tribunal recorrido.
III. Decisão
Com estes fundamentos, o Tribunal Constitucional decide:
(…)
b) Julgar inconstitucional, por violação do artigo 32.º, n.º 1, da
Constituição, a norma do artigo 188.º, n.º 3, do Código de Processo Penal, na
interpretação segundo a qual permite a destruição de elementos de prova
obtidos mediante intercepção de telecomunicações, que o órgão de polícia
criminal e o Ministério Público conheceram e que são considerados irrelevantes
pelo juiz de instrução, sem que o arguido deles tenha conhecimento e sem que
se possa pronunciar sobre a sua relevância….”.

Este acórdão tem 2 votos de vencido que, com o devido respeito se


transcrevem na integra:
“Declaração de Voto
1 – Votei vencido quanto ao conhecimento da questão de
constitucionalidade e quanto à decisão de mérito.
2 – Na parte que concerne ao conhecimento, porque entendo que o
recorrente não suscitou, nas alegações de recurso para o Tribunal da Relação
de Guimarães, a questão de constitucionalidade da dimensão normativa do art.
188.º, n.º 3, do Código de Processo Penal, de que o acórdão conheceu, pelo que
este Tribunal não curou, nem teria de curar dela, nem, tão pouco, esse preceito

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foi aplicado para decidir qualquer questão concreta relativa ao seu sentido, que
o recorrente houvesse colocado ao tribunal de recurso, concernente às escutas
concretamente não destruídas, constantes dos autos, ou a concretas escutas
que houvessem sido efectivamente destruídas, donde resulta que o juízo de
inconstitucionalidade poderá ser irrelevante para o resultado do juízo probatório
a fazer pelo tribunal sobre as escutas que não foram apagadas, após a
contradita do recorrente a efectuar com base em outros instrumentos de prova.

3 – No que importa à não suscitação.


Nas alegações para a Relação, o recorrente alegou, relativamente, à
questão de constitucionalidade, apenas o seguinte:
“[…]
7 – Acresce que, sem prescindir, o art. 32.º, n.º 5 da Constituição da
República Portuguesa, confere ao arguido A. o direito fundamental ao
contraditório relativamente aos meios de prova de que o Ministério Público se
socorre para estribar a sua acusação e para a sustentar em audiência de
julgamento.
8 – A conservação das gravações não transcritas até ao trânsito em
julgado da decisão final, podendo o arguido requerer a audição em sede de
julgamento ou de recurso para contextualizar as conversações transcritas,
constitui um direito fundamental do arguido que neste caso se encontra
irremediavelmente precludido, afectando a totalidade da prova colhida com
violação daquela norma constitucional.
[…]”.
Ora, o acórdão conheceu, segundo a sua própria formulação, da questão
de “constitucionalidade da norma do artigo 188.º, n.º 3, do Código de Processo
Penal, no entendimento de que permite a destruição de elementos de prova
obtidos mediante intercepção de telecomunicações e que o órgão de polícia
criminal conheceu, com base numa apreciação da sua relevância efectuada, e na
consequente ordem dada, pelo juiz de instrução, sem que o arguido chegue a
tomar conhecimento do seu conteúdo e sem poder, pois, pronunciar-se sobre a
sua relevância”.

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Como se constata, perante a alegação transcrita, o recorrente não


suscitou a questão de constitucionalidade de que se conheceu. E a entender-se
haver alguma alegação de uma questão de constitucionalidade, ela mostrar-se-ia
feita, relativamente ao preceito do art. 188.º, n.º 3 do CPP, em termos abstractos,
ou seja, independentemente de uma sua aplicação como ratio decidendi de uma
questão concreta relativa às escutas cuja resolução houvesse sido pedida ao
tribunal de recurso.
4 – No que tange à não aplicação da dimensão normativa conhecida.
O recorrente não colocou ao tribunal de recurso qualquer questão
concreta relativa à relevância probatória a conferir – no sentido de poder fundar
ou de não poder fundar, na elaboração do juízo judicial, um resultado de
convincência concernente a concretos e específicos factos – a determinadas e
identificadas escutas transcritas. Nomeadamente, o recorrente não questionou
perante o tribunal de recurso que as escutas transcritas, constantes dos autos,
não pudessem fundar qualquer juízo de convincência acerca da existência dos
factos afirmados com base nelas, porque o sentido com que haveriam de ser
entendidas era não aquele que lhe foi atribuído pelo juiz de instrução, mas um
outro diferente. Mais, o recorrente não alega, sequer, que a destruição das
escutas o impedisse de fazer prova destes ou daqueles factos em sede de
julgamento, mas apenas que a conservação das gravações não transcritas até
ao trânsito em julgado da decisão final constitui um direito fundamental,
“podendo o arguido requerer a sua audição em sede de julgamento ou de
recurso para contextualizar as conversações transcritas” (itálico aditado). Ou
seja, o recorrente alega a contextualização das escutas transcritas como
necessidade eventual da defesa no acto de julgamento ou no recurso, ou seja,
em nome de um direito geral de defesa que poderá, então, hipoteticamente,
traduzir-se em actos de defesa concreta, relacionados com as escutas ou não.
Isto equivale por dizer que o recorrente se apoia num princípio de que tudo o
que vai sendo adquirido pelo processo, no seu decurso, tem de permanecer nele
até ao trânsito em julgado da decisão definitiva, porque o arguido poderá,
eventualmente, detectar, nesses meios de prova, elementos factuais relativos
aos próprios meios de prova ou à realidade cuja existência os mesmos tendem a
demonstrar de que poderá beneficiar na sua defesa.

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Ora, o nosso processo penal não está estruturado sobre esse princípio,
nem decorre da Constituição penal e processual penal essa exigência de
acautelar uma hipotética, eventual e indeterminada estratégia de defesa no
exercício do direito de defesa.
A questão relativa à destruição das escutas, cuja colocação se entende
que o arguido deveria colocar para se ver nela uma aplicação do critério
normativo de cuja constitucionalidade se conheceu, não é, como se deixa
entrever do acórdão, que o «arguido justificasse a “contextualização” que
pretendia realizar» em termos equivalentes ao “exigir-lhe que avançasse
hipóteses ou que fizesse conjecturas, baseadas no conteúdo de comunicações a
que não pode aceder”, mas que, com referência às escutas transcritas, pusesse
em crise o concreto sentido com que as mesmas foram entendidas pelo tribunal,
dentro da sua liberdade de convincência e de apreciação, com base em outros
elementos de prova ou até – na total ausência de outras provas – com base em
outras leituras, racionalmente, possíveis da linguagem transcrita.
O teste de que a dimensão normativa, de cuja constitucionalidade se
conheceu, não constituiu ratio decidendi de qualquer questão concreta, relativa
à validade de uma ponderação probatória das concretas escutas transcritas,
está no facto, admitido implicitamente no final do acórdão, de que as escutas
transcritas poderão, ainda, ser objecto de alguma valoração ou ponderação
probatórias, a concretizar pelo tribunal depois do contraditório efectuado sobre
elas.
5 – No que importa ao fundo, revejo-me na fundamentação do voto de
vencido da Senhora Conselheira Fernanda Palma.
Benjamim Rodrigues

Declaração de voto

1. Votei vencida a presente decisão, pois entendo que a norma contida


no artigo 188º, nº 3, do Código de Processo Penal, nos termos da qual o juiz de
instrução pode ordenar a destruição das fitas gravadas ou de materiais similares
de conversas telefónicas interceptadas consideradas irrelevantes, não deve ser
julgada inconstitucional. Em minha opinião, tal norma consagra, em termos

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constitucionalmente admissíveis, a possibilidade de correcção pelo tribunal de


uma intromissão injustificada na reserva da intimidade da vida privada do
arguido ou de terceiros (artigo 26º, nº 2, da Constituição).
A argumentação do Acórdão parte da ideia de que, uma vez realizada a
intercepção, se tornará secundário assegurar os valores e interesses cuja
restrição foi afectada, por as garantias de defesa e o contraditório (artigo 32º, nºs
1 e 5, da Constituição) se terem tornado prevalecentes relativamente à reserva
da intimidade da vida privada do próprio arguido ou de terceiro. Em termos
simples, subjaz ao Acórdão este raciocínio: uma vez realizada a escuta, ainda
que desnecessária ou irrelevante, o eventual prejuízo que provocou já não deve
ser valorizado: por um lado, porque a reserva da intimidade da vida privada já foi
prejudicada pela intercepção e subsequente audição; por outro lado, porque o
prejuízo para a reserva da intimidade da vida privada é superado pelo eventual
benefício obtido pela defesa mediante a utilização dos respectivos elementos
probatórios.
Nesta perspectiva, seria um mal maior – e intolerável segundo a
Constituição - a devassa da reserva da intimidade da vida privada de qualquer
pessoa não poder ser usada em benefício do arguido. Porém, esta linha de
orientação, levada ao extremo, transfiguraria actos ilegítimos a priori em actos
legítimos a posteriori. Numa aplicação sui generis do chamado teorema de
Thomas, o que é errado (ilegítimo) na sua génese passaria a ser certo e legítimo
nas suas consequências, desde que não invalidado. Assim, o arguido disporia,
em última análise, de escutas ilegítimas de terceiros para sua defesa.
Acresce que o facto de uma intercepção ter sido já realizada e de a
correspondente conversação ter sido ouvida por órgãos de polícia criminal e
autoridades judiciárias não torna irrelevante o prejuízo para a reserva da
intimidade da vida privada que pode advir da conservação dos respectivos
suportes. Com efeito, essa conservação gera sempre um perigo acrescido de
reprodução e de devassa, como tem revelado a experiência recente em sede de
violação do segredo de justiça.
Uma outra ordem de considerações, que excede a esfera estrita do direito
à reserva da intimidade da vida privada, aponta para a possibilidade de as fitas
gravadas ou os materiais similares conterem elementos irrelevantes para o

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processo que estejam cobertos pelo segredo de Estado ou pelo segredo


profissional. Nesta hipótese, acautelada pela proposta de revisão do Código de
Processo Penal aprovada pelo Governo em 16 de Novembro de 2006 (artigo 188º,
nº 6), há outros interesses constitucionalmente tutelados (artigos 35º, nº 1, e 26º,
nº 1, parte final, da Constituição), que devem também ser ponderados em
confronto com as garantias de defesa e o contraditório (artigo 18º, nº 2, da
Constituição).
2. O legislador ordinário poderia solucionar o conflito de interesses
dando sempre preponderância às garantias de defesa e ao contraditório, desde
que a intercepção fosse legítima. Todavia, entender que o juiz de instrução está
proibido de ordenar a destruição de quaisquer gravações de escutas que
considere, segundo a sua análise e ponderação, manifestamente irrelevantes
constitui uma interpretação desproporcionada das exigências constitucionais no
Processo Penal.
Não se infere da Constituição que o legislador ordinário esteja impedido,
nesta situação, de procurar salvaguardar outros interesses – que também têm,
de resto, a dignidade de direitos fundamentais. Além disso, o contraditório vale
na audiência de julgamento e noutros actos que a lei determinar (artigo 32º, nº 5,
da Constituição), mas não forçosa e ilimitadamente no debate, em sede de
inquérito, de todos os meios de investigação e de obtenção de prova na fase de
inquérito.
Aliás, não está em causa, como parece transparecer do Acórdão, uma
delimitação “paternalista” dos interesses do arguido, quando se atribui ao juiz
de instrução a competência para decidir se uma gravação é irrelevante. O juiz de
instrução tem precisamente por função assegurar os direitos, liberdades
e garantias – do arguido, de outros sujeitos processuais e de quaisquer
terceiros - , como decorre do nº 4 do artigo 32º da Constituição. O Processo
Penal não é um
domínio em que, por exemplo, os direitos de terceiros se tornem
livremente disponíveis pelo arguido e por outros sujeitos.
Se assim sucedesse, a pretexto do “garantismo”, estaria aberto o
caminho para que todas as violações de direitos fundamentais (mesmo
envolvendo só terceiros) e as correspondentes actividades de investigação e de

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obtenção de prova (intercepção de comunicações e até outras) se viessem a


consolidar na Ordem Jurídica para ulterior satisfação de uma arbitrária vontade
do arguido. A efectividade da proibição dependeria sempre do arguido e a
actividade proibida tornar-se-ia processualmente vantajosa, atraiçoando-se,
desse modo, o sentido da nulidade (absoluta) cominada no nº 8 do artigo 32º da
Constituição e da “inutilizabilidade” da prova decretada no artigo 126º do Código
de Processo Penal.
É constitucionalmente aceitável que o legislador queira impedir as
violações de direitos fundamentais e acautelar interesses constitucionalmente
tutelados (artigo 18º, nº 2, da Constituição), permitindo a selecção das gravações
efectivamente relevantes, promovendo a reversibilidade de excessos cometidos
e submetendo a prova disponível pelo Tribunal a um princípio de auto-
contenção do “poder probatório” (ou de investigação) do Estado no Processo
Penal.
Pretender que, uma vez realizada, a escuta irrelevante passe a poder
servir a defesa, segundo a vontade arbitrária do arguido, implica concluir que a
Constituição impõe uma dissolução dos limites de actuação da autoridade
pública, que são limites do Estado de Direito, na recolha da prova em função de
um hipotético e não necessariamente demonstrado interesse da defesa.
3. O argumento de que a qualificação de irrelevante pelo juiz de
instrução tem de ser sempre, segundo a Constituição, sujeita a contraditório ou
até, mais radicalmente, nunca pode ser formulada, corresponde a uma leitura
excessiva do contraditório em face da estrutura acusatória “mitigada” do
Processo Penal português.
Na fase do inquérito, o juiz intervém para garantir a não violação dos
direitos fundamentais e a não ultrapassagem dos limites autorizados aos órgãos
que actuam na recolha e produção da prova (artigo 32º, nº 4, da Constituição). A
atribuição de competência para decidir da ilegitimidade ou da irrelevância de
uma escuta é, a esta luz, uma decorrência normal da estrutura acusatória
mitigada pelo princípio da investigação, que vigora no Processo Penal
português.
É claro que pode haver situações em que o arguido venha sustentar uma
necessidade concreta de contextualização ou de narrativa para a qual

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necessitaria de escutas consideradas irrelevantes entretanto destruídas.


Estaremos, então, perante uma questão diversa da que os autos configuram.
Nessa outra hipótese, uma necessidade de contextualização plausível em função
das insuficiências dos suportes não destruídos pode demonstrar que o juízo de
irrelevância do julgador foi duvidoso ou errado. O julgador pode ter utilizado até
um critério inconstitucional, na destruição das fitas gravadas ou de materiais
similares, tornando a matéria recolhida insuficiente ou incorrecta a sua
interpretação.
Mas esta questão excede o terreno da constitucionalidade normativa da
destruição de gravações de escutas irrelevantes. Ela pode referir-se à
constitucionalidade ou à legalidade da própria decisão de destruição, em si, ou
ao seu critério normativo, que assentará então numa interpretação ilegítima do
conceito de “irrelevância”. Uma tal interpretação normativa pode ser
inconstitucional e, caso afecte a validade de uma prova por a descontextualizar,
é passível de censura pelo Tribunal Constitucional nos termos gerais.
Em todo o caso, a argumentação do recorrente confronta o Tribunal
Constitucional com a norma que permite a destruição de escutas irrelevantes
sem mais, mesmo que tais escutas sejam manifestamente irrelevantes para
qualquer observador – isto é, abstraindo de qualquer fundamentação do
interesse concreto da defesa.
As escutas manifestamente irrelevantes, que ponham em causa direitos
ou interesses constitucionalmente tutelados ou que abranjam só terceiros sem
qualquer conexão com o processo passam, nesta interpretação do Tribunal
Constitucional, a ter de estar integradas no processo para que a defesa (ou,
quiçá, a acusação também, em nome do contraditório) decida, em última
instância, sobre a sua relevância.
Ora, um tal critério normativo não resulta de exigências constitucionais
do artigo 32º, nºs 1, 4 e 5. Esse critério é antes enformado por um modo de
configuração do Processo Penal radicalmente acusatório, que desvaloriza o
papel do “juiz das liberdades” e em que o princípio contraditório domina todo o
inquérito - e não apenas os “actos instrutórios que a lei determinar”, como
prescreve o artigo 32º, nº 5, da Constituição.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

4. Por seu turno, os argumentos retirados do Direito Comparado não têm


em conta a estrutura global do Processo Penal nos Ordens Jurídicas invocadas.
No caso da Alemanha, vigora uma orientação próxima do artigo 188º, nº 3,
do nosso Código. Com efeito, o § 100 b, nº 6, do Código de Processo Penal
alemão, prevê que: “Não sendo os documentos obtidos já necessários para a
prossecução da acção penal, devem ser destruídos imediatamente sob
fiscalização do Ministério Público. Da destruição deve fazer-se acta”. A
ponderação feita pelo legislador alemão dá, como se vê, prevalência a um
autêntico dever de destruição dos dados desnecessários, em função de uma
estrita contenção da intervenção da autoridade pública no círculo da esfera
privada dos cidadãos.
Por seu lado, a sentença citada do Tribunal Europeu dos Direitos do
Homem refere-se apenas à comunicação integral e completa das conversações
interceptadas ao arguido. Ainda assim, esse aresto pressupõe um nível de
relevância delimitado, pelo menos, em função do âmbito subjectivo das escutas,
não se opondo à destruição dos materiais irrelevantes referentes a
conversações em que o arguido não intervenha.
5. Por todas as razões expostas, não pude acompanhar o juízo de
inconstitucionalidade contido no Acórdão.
No plano das consequências, importa observar ainda que a única ilação a
extrair da decisão do Tribunal Constitucional seria a invalidade de todas as
provas recolhidas através das escutas, sempre que qualquer fita gravada ou
material similar fossem destruídos. Não faz qualquer sentido (e, a meu ver, será
até contraditório) que um juízo de inconstitucionalidade que radica na violação
das garantias de defesa devido à falta de oportunidade de contextualização das
transcrições (por terem sido destruídas gravações consideradas irrelevantes)
implique apenas a invalidade do despacho que ordenou essa destruição. Dessa
forma, a função do juízo de inconstitucionalidade seria totalmente defraudada, o
julgamento de inconstitucionalidade seria tendencialmente ineficaz e o requisito
processual do interesse em agir nem sequer seria tido em conta no recurso de
constitucionalidade.
Assim, também não acompanho o distanciamento preconizado no
presente Acórdão quanto às possíveis consequências do juízo de

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inconstitucionalidade. Esse “distanciamento” tem uma outra sede própria que é


a admissibilidade constitucional de destruição de fitas gravadas ou de materiais
similares manifestamente irrelevantes e cuja conservação pode afectar direitos
ou interesses constitucionalmente tutelados.
Maria Fernanda Palma”

Ainda a este respeito, no processo nº 831/07 da 2ª secção, foi proferida


em 9/08/2007, Decisão Sumária nº 454/07 pelo Exmo. Juiz Conselheiro Mário
Torres a qual, sempre se pedindo licença se transcreve:

“10.3. Decorre dos presentes autos que a ordem dada, in casu, pelo juiz de
instrução – de destruição ‘definitiva’ e ‘irremediável’ de parte das gravações efectuadas
– o foi por razões apenas atinentes ao juízo, que ele próprio fizera, de valoração das
«escutas» como meios de prova. É aliás assim, ou a partir deste pressuposto, que é
colocada ao Tribunal a questão de constitucionalidade (fls. 4612 dos autos).
Deve no entanto considerar-se que a ordem de destruição parcial das escutas
pode ainda ser justificada por outra razão, atinente à protecção da reserva da intimidade
da vida privada do próprio arguido e de terceiros. Colocar-se-á então o problema de
saber se, nesses casos, não será (precisamente ao contrário do que até agora se tem
vindo a defender) constitucionalmente devida a ordem do JIC de destruição de parte das
gravações efectuadas, por corresponder ela «à possibilidade de correcção pelo tribunal
de uma intromissão injustificada na reserva de intimidade da vida privada do arguido ou
de terceiros (artigo 26º, nº 2 da Constituição).» (DR, II série, nº 7, 10/1/2007, p. 757. Itálico
aditado)
Não existem dúvidas quanto à inevitabilidade da colocação do problema.
Por serem expressão da «liberdade de disposição da comunicação não pública»,
inscrita no exercício do «direito à palavra», as comunicações privadas que são
interceptadas pelas «escutas» não contêm só discursos potencialmente fragmentários,
cujo sentido só pode ser, para quem «escuta», apenas inferido. Faz parte também da
especial estrutura comunicativa deste tipo de discurso, com as suas fronteiras fluídas,
que ele raramente se restrinja à esfera pessoal daqueles que nele participam. Enquanto
devassa da privacidade – na sua esfera mais íntima – as «escutas» são por isso,
frequentemente, manchas que alastram: muitas vezes e por seu intermédio, «a revelação
do segredo só se torna possível com a revelação de segredos de terceiros.» (MANUEL
DA COSTA ANDRADE, ob. cit. p. 50).

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Deve por isso ter-se em conta que o problema que nos ocupa – ou seja, a
questão de saber se será constitucionalmente admissível que o Juiz de Instrução ordene
a destruição de parte do material gravado, sem que dessa parte tenha conhecimento o
arguido – poderá em certos casos (que não seguramente o agora em juízo) ser
equacionado como um problema de colisão de direitos: o direito do arguido a um
processo equitativo, com todas as garantias de defesa, e que inclui, como já vimos, a
faculdade de acesso à integralidade das gravações efectuadas, pode conflituar, no modo
concreto do seu exercício, com direito ou direitos de outrem, afectando os bens
jurídicos por estes últimos protegidos. (Sobre a colisão de direitos, em geral, J.J.
GOMES CANOTILHO, ob. cit., p. 1270). No entanto, tal em nada legitima que se conclua
que a ordem judicial de destruição de parte das gravações efectuadas será sempre
constitucionalmente devida, por corresponder à correcção, feita pelo tribunal, da
devassa da intimidade de terceiros. Uma tal conclusão só seria sustentável se os
problemas de colisão de direitos pudessem ser resolvidos através do sacrifício unilateral
de um deles – como se tivera o juiz constitucional uma habilitação genérica para
declarar, em situações de conflito, qual o direito a sacrificar e qual o direito a tutelar.
Nada permite sustentar que assim seja. O que não é de excluir é que, nas circunstâncias
em que a colisão ocorra, se deva fazer a ponderação entre o direito do arguido a um
processo devido e os direitos de terceiros ao segredo e à reserva, podendo por isso vir a
ser constitucionalmente permitida a destruição, sem a audição do arguido, daquela parte
das gravações que lesem especialmente o segredo ou a intimidade de terceiros. Em
última análise, porém, caberá ao legislador ordinário identificar os casos em que deva
ser feita a ponderação.
Face ao regime legal vigente – e tendo em conta que ele obriga que todos os
participantes nas operações de «escutas» fiquem «ligados ao dever de segredo
relativamente àquilo de que tenham tomado conhecimento» (nº 3, in fine, do artigo 188º
do Código de Processo Penal) – não pode deixar de se julgar inconstitucional, por
violação do nº 1 do artigo 32º, da Constituição, a norma contida na primeira parte do
referido preceito, quando entendida no sentido de permitir que o juiz de instrução
ordene, por considerar relevantes para a prova, a transcrição parcial das gravações de
conversas telefónicas interceptadas, e prescreva a destruição das partes restantes,
antes de o arguido as ter ouvido e controlado.(…)
(…)Sendo assim, ainda que possa considerar-se aconselhável de jure condendo
assegurar a integralidade das conversações telefónicas interceptadas, por razões de
política legislativa que considerem prevalecentes as vantagens daí advenientes para a
justiça do caso concreto, tais considerações não justificam um juízo de
inconstitucionalidade relativo à norma do artigo 188º, n.º 3, do CPP, na sua versão

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actual, que, por tudo o que foi dito, não representa uma violação das garantias de defesa
do arguido.
Ou seja, tendo em conta o sentido jurídico-constitucional do princípio acusatório
e a possibilidade de colisão entre o interesse processual em manter intactas as provas
coligidas através de intercepção e gravação de comunicações e o correspondente risco
de devassa da reserva de intimidade da vida privada, cabe na liberdade de conformação
legislativa adoptar um critério mais ou menos restritivo no que se refere ao momento em
que, no decurso do processo penal, deverá efectuar-se a destruição dos elementos de
prova considerados irrelevantes.”

Também é esta última jurisprudência que seguimos.

Feita esta resenha sem pretensão de esgotar o tema partamos para o


caso vertente:

- Face a tudo quanto supra se expôs e demonstrou, impõe-se uma


posição, no que respeita ao controlo da escutas telefónicas por parte do O.P.C.
e do JIC, no caso não colocando em causa, sem qualquer fundamento, as boas
práticas policiais, o rigor e o escrupuloso cumprimento dos requisitos legais
subjacentes ao controlo das escutas telefónicas, pois reputo o controlo feito de
exemplar.

Indefiro a nulidade arguida das escutas telefónicas nos presentes autos,


no tocante à falta de controlo judicial das mesmas que, outrossim, considero,
como disse supra, ter sido efectuado no tempo e lugar próprios e olhando-as
nesta perspectiva, considero serem meio de prova válido para os indivíduos que
a elas estiveram sujeitos, no que tange à comprovação dos ilícitos que lhes são
imputados.

Porventura, no que tange, todavia, as questões nulidades/irregularidades


aduzidas em “cascata” pela defesa destes arguidos e com adesão também de

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outros arguidos, conforme consta das actas de debate há, ainda, que tecer mais
considerações.

Mais uma vez, teremos que afirmar que é ao Ministério Público que cabe
dirigir o inquérito.

Se perante as razões avançadas na promoção for entendido, como foi,


que as escutas eram essenciais para a descoberta da verdade material, face
ás suspeitas existentes da pratica de crimes, e tratando-se de crimes que
admitem tal meio de recolha de prova nos termos previstos no artº 187º do
CPPP, a decisão de autorização das intercepções é juridicamente inatacável.

É entendimento do JIC que este tipo de crimes é de investigação muito


complexa, que não pode ser realizada com recurso aos meios de investigação
tradicionais (mera recolha de depoimentos, documentos e outras formas de
actuação muito expostas) por estas serem absolutamente ineficazes para este
tipo de criminalidade, uma vez que nestes crimes a investigação será
seriamente comprometida ao primeiro sinal de suspeita por parte dos agentes
do crime .
E suspeitando-se que a actividade desenvolvida pelos arguidos
Armando Vara e Fernando Lopes Barreira, em benefício de Manuel Godinho
não se tinha esgotado num único acto, mas antes estava a ser praticado de
forma continuada no tempo, através de vários contactos, havia toda a
conveniência e necessidade para que tivessem sido promovidas e autorizadas
intercepções telefónicas aos suspeitos envolvidos.

Qualquer investigação séria, que tenha por objecto este tipo de crimes,
teria necessariamente que contemplar, no respectivo plano e estratégia
investigatória, o recurso a intercepções telefónicas dos alvos suspeitos de
serem utilizados para o cometimento dos crimes.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Perante tais suspeita è o que sucederia em qualquer País civilizado


onde existam e sejam levadas a sério preocupações de combater o flagelo do
fenómeno da corrupção, do tráfico de influências e da actividade de
branqueamento de capitais.

Portugal assumiu compromissos Internacionais de empenho no combate


a este fenómeno, nomeadamente com a assinatura de Convenções e Tratados,
tendo tal preocupação sido expressa também nas sucessivas Leis de Política
Criminal, nomeadamente na Lei n.º 38/2009, de 20 de Julho (que define os
objectivos, prioridades e orientações de política criminal para o biénio de 2009-
2011):

A argumentação expendida pelos referidos arguidos, a este propósito


não assenta, assim, em qualquer base sólida e por isso mesmo não merece
acolhimento.

O facto de os arguidos estarem convencidos e afirmarem que as escutas


não eram necessárias vale apenas como simples opinião, de quem está
directamente interessado no resultado da anulação de escutas que
indiciariamente os comprometem.

A decisão sobre a necessidade da realização de intercepções encontra-


se reservada ás autoridades judiciais, que no caso decidiram e bem, em estrito
cumprimento da lei.

Nada havendo a apontar que possa ter como consequência a


declaração de nulidade invocada no RAI.

Termos em que se entende que também neste particular, os arguidos


Armando Vara e Lopes Barreira não têm razão, indeferindo a nulidade

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

invocada.

Da alegada nulidade da acusação


- RAI Armando Vara e Lopes Barreira

Nos pontos 83 a 146 do RAI do arguido Armando Vara, conclui este


arguido que a acusação seria em seu entender nula, por alegada insuficiência
do inquérito, uma vez que o arguido não foi confrontado em inquérito com
todos os factos.
No RAI de Fernando Lopes Barreira nos pontos 74 a 100, suscita-se a
mesma questão.
Por se tratar de uma questão jurídica que já foi abordada, a propósito da
nulidade suscitada no RAI do arguido José Rodrigues Pereira dos Penedos,
dá-se aqui por reproduzida a argumentação acima expendida a tal propósito.

Com efeito, não se pode afirmar que tenha ocorrido omissão de


interrogatório do Dr. Armando Vara como arguido, porque os autos
documentam que tal ocorreu nos dias 18-09-2009- fls. 11127 ; 27-11-2009, fls.
12553; 02-12-2009- fls. 12790 e ss,

Também o arguido foi interrogado nesta qualidade em 20-11-2009- fls.


11657.
Houve assim lugar a interrogatório judicial, onde foram expostos aos
arguidos os factos conhecidos á data, conforme documentam os respectivos
autos.

Os arguidos foram assim confrontado com os factos e meios de prova que


então eram conhecidos e que lhe foram comunicados, tendo sobre os mesmos
exercido o seu direito de contraditório, cumprindo-se deste modo o disposto
artº 272º nº 1 e as dos artº 141º nº 4, 143 nº 2, todos do CPP

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Não é imprescindível, embora seja desejável que, antes da dedução da


acusação, os arguidos tenham o direito de serem confrontados com todos os
factos, que irão ser vertidos para a acusação, como parece defender o arguido,
no seu RAI.

O inquérito serve para investigar factos criminalmente relevantes, em


ordem à dedução de uma acusação. Os factos alegados na acusação
constituem o objecto final do processo.

A conclusão surge, aliás, reforçada pela estrutura acusatória do nosso


processo penal. Por esse motivo, se verifica que só com a dedução da
acusação é que fica definido o objecto do processo, como já se salientou.

Até á dedução da acusação não corresponde à verdade que o arguido


tenha o direito de contraditório pleno, como parece ser, em parte, defendido no
RAI.

Concluindo-se, com base na argumentação e jurisprudência já acima


exposta que não foi cometida qualquer irregularidade ou nulidade que tenha
por efeito a nulidade da acusação, conforme defendido pelos arguidos
Armando Vara e Fernando Lopes Barreira.

Questão suscitada pelo arguido Armando Vara,


relacionada com a qualificação da EDP e sociedades dela
dependentes, como entidade pública, para efeitos de direito
penal.

Esta questão não é nova nos autos e já foi anteriormente suscitada pelo
arguido Armando Vara em sede de recurso interposto para o Tribunal da

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TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Relação do Porto.
Sufragamos a posição assumida pelo Ministério Público na resposta a
este recurso, a qual é do conhecimento do arguido Armando Vara.
Tal posição foi também acolhida no Acórdão de 10-11-2010, proferido
pela 1ª Secção Criminal do Tribunal da Relação do Porto, no âmbito do citado
recurso.
Entende-se que se mostra muito bem demonstrado no texto daquele
aresto porque razão Domingos José Paiva Nunes, na qualidade de quadro da
EDP- Imobiliária e Participações S.A., (sociedade que foi criada pela EDP-
Electricidade de Portugal SA e subordinada ao exercício do objecto desta
sociedade, concessionária de um serviço público) deve ser considerado
funcionário, para efeitos de aplicação do artº 335º do Código Penal.
Independentemente de se desconhecer se tal decisão transitou ou não
em julgado, acolhe-se e perfilha-se a tese defendida em tal Acórdão

Nulidade decorrente da invalidade dos reconhecimentos


fotográficos

A nulidade suscitada no RAI do arguido João Godinho é configurada, a


propósito de duas testemunhas terem sido confrontadas com fotografias dos
arguidos Hugo Godinho e João Godinho.
Insurge-se contra o facto de ter sido lançada a cota de fls. 13 do Apenso
AD6, invocando tratar-se de um meio de prova proibido.

Ora, basta a simples leitura da cota, para qualquer pessoa se aperceber


que não houve qualquer reconhecimento.
Consignou-se que as testemunhas foram peremptórias em negar a
presença dos arguidos e que também afirmaram nunca travaram conhecimento
com as pessoas retratadas.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Logo, não existe qualquer meio de prova usado contra os arguidos,


porque as testemunhas simplesmente não os reconheceram.
Só se o reconhecimento fotográfico tivesse sido positivo é que,
obrigatoriamente, teria que haver lugar ao reconhecimento pessoal e
presencial, com observância das formalidades previstas 147 do CPP.
Que sentido faria ordenar um reconhecimento pessoal, quando o
resultado fotográfico foi negativo?
Tratar-se-ia de um acto inútil, sendo certo que a lei processual penal
proíbe a pratica de actos inúteis.
Em conclusão:
Não foram obtidos ou utilizados meios de prova proibidos.
Na verdade não existe qualquer auto de reconhecimento, envolvendo as
testemunhas em causa. Nem fotográfico nem pessoal.
Pelo que o alegado em A1 e A2 do RAI do arguido João Godinho,
carece de qualquer fundamento de facto ou de direito.

Improcede pois a arguida nulidade, o que com serenidade, se declara.

Inexistem mais excepções ou questões prévias que obstem ao


conhecimento do mérito da causa, para além das que adiante e na apreciação
dos RAI’s se conhecerão.

*
***
*

Analisadas e decididas que estão as várias nulidades suscitadas, cuja


apreciação é da competência do JIC junto do TCIC, passemos á restantes
questões suscitadas nos diversos RAI , a propósito dos indícios e prova sobre
os factos

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Questões suscitadas nos RAI apresentados pelos


arguidos, que aqui se dão por integralmente reproduzidos

- Fernando Santos

- Victor Baptista

- Juan Oliveira

- José Penedos

- Paulo Penedos

Antes de uma análise dos factos envolvendo os arguidos referidos,


no âmbito desta instrução, e a pedido dos seus RAI’s, foram ouvidas as
seguintes testemunhas:

A instancias do RAI do arguido Fernando Santos:

Ernesto Manuel Pina Parracho


Trabalha na CONSULGAL.
Confirma as declarações prestadas em inquérito, excepto duas
quantidades num valor parcial de 2.661.24, estava errado em vez de 7.363,
pelo que se alegava 3.840 T, como o valor certo do que foi retirado

Um valor de betão de cimento errado e agora 1.263 toneladas.


Eram valores referidos na 1ª e 2ª avaliação em termos de saída de
materiais no desmantelamento de Alto Mira.
Referiu uma reunião entre Namércio da Cunha, a representar a 02, e um
Engenheiro da REN e a CONSULGAL apareceu, a pedido da O2, para
quantificar o que seria transportado estimadamente para o vazadouro
Foi dito pela testemunha que utilizou desenhos de construção quando foi
construído.
Referiu a presença de vestígios no terreno e informações verbais.

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Na realidade, havia diferença entre o projectado e o edificado, exemplos,


CFR. Apenso AE20 – fls. 164 e ss, AE21, fls. 193 e ss e o AE6.
Foi a primeira avaliação que fez.
Foi confrontado com o relatório da Quadrante, 700 e tal toneladas de
betão 8 alcatrão) que a Quadrantes não considerou…Mais 788.9.
Era uma parede da bacia de retenção, cujos vestígios viu no local e
resolveu reconstituir em desenho e calcular.
Diferente da Sapata, com 1472 toneladas, para a fundação de uma
vedação.
Foi o Dr. Namércio mais o encarregado e dois funcionários da REN que
acompanharam a demolição.
A testemunha não viu vestígios, já estava tapado com terra. No desenho
já não existia.
Verificou mais uma remoção de terras em 3 mil toneladas.
Está diferente do relatório inicial, na sua visão há uma diferença de 60 e
tal toneladas.

Tirar o betão maciço, fazer depois os cálculos de renovação, mas


colocar a terra a tapar os buracos.

Os volumes que ficaram duma primeira para a segunda, rectificou


mesmo agora outros valores.
Então, isto não é tão fiável assim.
Quer na primeira avaliação, quer na segunda, foi ao local onde havia um
enorme buraco aterrado na sapata.
Foi com base no que o Dr. Namércio disse mais os empregadores, que
calculou o tamanho do buraco.
O Dr. Namércio não lhe disse que andava lá a Quadrantes a fazer
cálculos.
Só estavam dois funcionários da REN que não consegue identificar.

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No tocante à vedação, quantos metros lineares?


Os funcionários da Quadrantes só calcularam o que estava no desenho
a respeito de tudo,
A sapata tinha 2mx1m, que calculou porque lá existia e não estava
desenhada. Segundo lhe disseram, quem não tivesse lá estado antes, não
conseguia dizer os limites da vedação.
O relatório da CONSULGAL foi entregue na REN, ao Eng.º Juan
Oliveira.
Ninguém lhe perguntou mais nada, só quatro anos depois, quando foi à
PJ.

Relativamente aos trabalhos na zona dos tanques, não sabe mais nada.
Em instancias da defesa de Juan Oliveira
A primeira reunião foi com Juan e Namércio da Cunha na CONSULGAL.
Juan Oliveira dizia que era impossível ter saído de lá aquilo tudo perante a
factura da O2.
Disse não saber se Juan Oliveira sabia tudo o que lá estava para ficar.
Na segunda vez em que foi ao local, não estava o Juan, só o Namércio
da Cunha e os 2 funcionários da REN (para credibilizar o que os da REN
diziam).

Foi também interrogado o arguido Fernando Santos, engenheiro


electrotécnico.

Confirmou todas as declarações prestadas no inquérito,


Ao tempo, acompanhava 35 centrais.
Era Director da Divisão Comercial do SEP – Sistema Eléctrico
Português.

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S. R.

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Foi dito pelo arguido que os centros electroprodutores facturavam cerca


de 3.180 milhões de euros anuais.

Os grupos eram máquinas gigantescas que foram vendidas para o


Iraque, que consumiam cerca de 15/20 camiões de gasóleo por dia.
Avançou-se com a informação (feita pelo seu colaborador Juan Oliveira)
de inertização e desmantelamento dos tanques, que foi feita após consulta a
5/6 empresas qualificadas, uma não respondeu.
As empresas concorrentes que responderam, foram: CESPA,
ALTOVILA, EUROPON, HYDRO QUÍMICA, O2. Ganhou a O2.
No âmbito das análises destas propostas, feita pelo Juan Oliveira,
estaria em causa a recolha de material não valorizável e de material
valorizável.
Foi perguntado ao arguido se o critério da quantidade para comparação
das propostas era relevante. Para elucidar o necessário. Utilizou (Juan Oliveira)
como referencia a quantidade de resíduos utilizada pela O2.
Quantidade prevista pelo Juan Oliveira, era de 540 toneladas por chapa,
com proveito para a REN de 17.500 euros.
O valor por tonelada da chapa foi mais valorizada pela O2.
Perguntou-se o que aconteceria se retirasse 440 toneladas.
O arguido disse que o proveito da O2 era inferior, ou seja, mesmo que
fossem zero toneladas, a O2 ganharia de qualquer maneira.
O arguido foi confrontado com o Apenso AE6.- Info. 22/2005
A Coba interveio porque era uma matéria muito perigosa, para
acompanhar.
O anterior chefe da Central era o Engenheiro Nogueira, mostrou-se
disponível para fazer acompanhamento e fiscalização dos trabalhos. A
proposta foi aprovada e começaram os trabalhos.

110
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O custo de manutenção do equilíbrio contratual - CMEC´S era de 5


milhões euros de preocupações vs 17.500 euros.

Mostrou-se necessária a limpeza das caleiras (buracos de betão onde


passam os cabos), passagem de tubagens debaixo do chão para não irem
infiltrar terrenos adjacentes e alcançarem o rio.

Na primeira fase considerou que o trabalho da O2 tinha sido bem


executado e em timings adequados.

Necessidade de fazer obras conexas com o desmantelamento da


central, para desmontar o tanque, a O2 via um espaço alisado na base com um
terreno que teve de ser feito para aceder ao interior dos tanques.
Dai a necessidade de uma 2ª fase para desmantelar as bacias de
retenção.
A Divisão de Exploração começou a colocar ali materiais.
Por isso, fez lá uma visita na presença de Juan Oliveira e Namércio da
O2, tudo isto na presença também de Manuel Patrão, chefe da subestação.
Também estavam presentes juristas para que se pudessem tirar as
bacias.
Na 2ª fase fizeram nova informação. Pediu ao chefe da gestão de
contratos, Juan Oliveira, para fazer uma minuta e com base nesta deu, a
18/05/07, 2/3 informações a apresentar a Conselho.

O arguido foi confrontado com as fls.114 do Apenso AE6. É a


informação que assumiu e remeteu.

Foi-lhe perguntado se a fiscalização estava a cargo do Engº. Nogueira.


O arguido respondeu que sim.
No que toca à O2, perguntou-se ao arguido sobre o ajuste directo da O2.

111
S. R.

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A primeira proposta foi de 60 euros por tonelada, proposta pela 02.


Consultou Jorge Liça, Director da Divisão de Equipamentos que, como disse
que era caro, Juan Oliveira arranjou 2 propostas, uma de 27,5 euros por
tonelada, apresentada pela AMBICIDA e outra por 11.5 euros, apresentada
pela MAFRE MÁQUINAS.
Como a O2 estava muito nervosa, apresentou 2 novas propostas, que
com aquele preço estavam fora de mercado, disse a REN.
A 5/05, foi encaminhada para o e-mail do arguido, uma nova proposta,
após a análise efectuada.
O e-mail da 2ª proposta na fase 2 foi directamente para o e-mail do
arguido porque o Juan Oliveira fora de férias e, por isso, Namércio enviou para
ali.
Assim, a segunda proposta foi de 28 euros por tonelada a 18/05e a
terceira proposta foi de 20 euros por tonelada a 20/05. A 2ª e 3ª propostas
foram emitidas no mesmo dia).
Os homens estavam desesperados para manter a obra e foram
baixando.
Na verdade, a O2 apresentava mais garantias de qualidade e segurança
em relação à MAFREMÁQUINAS.
Só a taxa de deposição em aterro ao tempo eram 5 euros por tonelada,
exvi DL 178/06.
A MAFREMÁQUINAS apresentou proposta com erros de português.
A O2 era uma empresa certificada, logo mais confiável.

Confrontado com AE6, fls. 116 e ss, o Engº. Vítor Baptista questiona a
quantidade de toneladas, se as empresas concorrentes são todas certificadas e
se se justifica a intervenção do Eng.º Nogueira para ganhar 3 mil euros por
mês para fiscalizar, pois tinham lá gente na subestação para ver se o camião ia
cheio ou vazio.

112
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

O Engenheiro Fernando Santos fez estimativas de tonelagem entre 200


a 300 Toneladas.
A MAFREMÁQUINAS já tinha trabalhado para a REN em obras de
construção civil.
Nestas matérias, quem lhe fornecia as informações era o Juan Oliveira.
Foi dito pelo arguido que ainda hoje a MAFREMÁQUINAS não está
certificada nem qualificada em termos de ambiente e segurança.

Em 24/05/2007, aprovaram a obra no CA e deu conhecimento na escala


descendente até ao Manuel Patrão.
[Manuel Patrão diz que desconhecia o despacho do CA, fls.118, Apenso
AE6. Diz que só tinha que assinar as guias.]
O arguido diz que não é verdade, teria de haver sempre uma estimativa
volumétrica.
Foram realizadas reuniões nas subestações para explicar o que lhes
competia fazer, o Juan Oliveira foi lá explicar e falar.
Relativamente aos varandins e a tapagem dos buracos formados pelas calhas
e pelo cascalho, foi dito que o Manuel Patrão é que pediu isto e os varandins
estavam a níveis elevados, cerca de 16 metros do tubo de ferro.
Disse não ter competência para tratar da obra, mas que foi por causa da
urgência e que achava que estava englobado na obra de descomissionamento.
O manual de procedimentos do SEP englobava a gestão desses
procedimentos.
Falou com o Eng.º Vítor Baptista sobre o assunto.
No que respeita aos incidentes dos camiões sem carga, o arguido diz ter sido
informado a 6/09/2009, fls.120.
O e-mail foi recebido formalmente no dia 14/9 pelo Eng.º Vítor Baptista.
Disse já ter a solução quando colocou o problema ao chefe, Vítor
Baptista.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Juan Oliveira, preocupado com o e-mail, foi falar com o arguido, os seus
gabinetes ficam a 4 metros, disse ao Juan para pegar no carro e ir lá parar a
obra e ele foi.
Para continuar os trabalhos, foi necessário utilizar uma báscula de
segurança da EDP, depois ia a Sacavém para ser pesada perante alguém da
REN, saía o talão onde ficaria o valor.
Entretanto, mantiveram conversações com a O2, mas sentiram-se
enganados.
No total foram 232 camiões, Passados mais de ¾ de cargas quando
detectaram o problema.
Quando começaram a controlar, acusava 24 toneladas por camião.
Tentaram chegar à carga correcta.
Procederam a reuniões com o Manuel Godinho, no dia 6/11, que
envolveu João Sandes, Luís Oliveira Pinto, Juan Oliveira e Fernando Santos e
da O2, Manuel Godinho e Namércio da Cunha.
Foi proposta uma entidade independente para avaliar a tonelagem que
foi retirada.
Manuel Godinho propôs um desconto de 20% para regularizar a
situação.
Fernando Santos disse que não aceitava, porque não eram nenhuma
empresa de descontos.

No memorando do dia 8/11 da O2. Apenso AE6, à O2, onde se queixava


de Fernando Santos e da sua perfomance com considerações lamentáveis do
Sr. Manuel Godinho.

As fls.150 surgem dois factos: omissão de factos importantes sobre


descontos comerciais. Os administradores já tinham aceite a metodologia de
utilização, 2º – o Sr. Administrador da O2 propôs desconto de 20%, que já tinha
afirmado na reunião.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

O arguido disse estar habituado a correlacionar-se com partners fiáveis


das maiores empresas e não com vigarices.
Vítor Baptista também se mostrou surpreendido.
Acabou por haver recurso a entidade independente. Cada um escolheu
a sua. O Eng.º Jorge Liça indicou e pediu valores contratou a QUADRANTE,
que apontou 1300 toneladas.
A CONSULGAL foi escolhida pela O2 que chegou a um valor 6/7 vezes
superior ao da Quadrante – mais ou menos 7.000 toneladas.
Deu uma “apitadela” para o Engenheiro Liça para esclarecerem o
fundamento da diferença.

Nas fl.s135 do Apenso AE6, Nuno Martins da Quadrante, aparecem


valores inflacionados segundo concluiu, embora diga com várias ressalvas.
Segunda vaga de problemas, uma vez que havia uma diferença de
valores muito grande, mas atentas as ressalvas, não pode garantir.
Após três meses de luta e de conflitos chegam.
Em meados de Fevereiro de 2010, a O2 apresenta 20% de desconto, já
referido, através de carta.
Ex viu correio electrónico, fls. 138 e 139 do AE6.
Em Março de 2010, o Sr. Godinho quis ir a uma reunião para tratar do
assunto.
Do Eng.º Vítor Baptista recebeu luz verde para convergir para um valor
intermédio por não haver certezas nem de um patamar nem de outro.

Fls., 150 e ss – Factura


Fls.155_ Informação a entregar formalmente as instalações a Divisão
Executiva, desta feita em Novembro de 2009.
Ninguém falou daquela questão pendente.
A foto 4 junta a informação e prova que já estava a ser usado como
depósito. Na foto 6 aparece uma das bases.

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S. R.

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Foi-lhe perguntado se recebeu algum presente da O2.


O arguido disse nunca ter recebido nenhum presente da O2.
Em instâncias da defesa de Juan Oliveira referiu
Relativamente à adjudicação da primeira fase, a informação do dia
22/05/11, confirma o anteriormente declarado.
Foi perguntado ao arguido se consultaram outras pessoas dentro da
REN.
O arguido disse não se recordar.
Confrontado com AE28, fls. 28, o Engenheiro Juan Oliveira terá
consultado, pedindo ajuda a outra divisão.
O Engenheiro Juan Oliveira também fez uma análise comparada, mas
sozinho.
Economicamente, a proposta seria a mais adequada, mas nenhuma
proposta indicava as quantidades, pelo que mesmo assim, perante qualquer
quantidade, o resultado seria o mesmo.

Confrontado com Informações, AE6, fls114 a 115. e AE27, fls. 199 a


201, de Juan Oliveira a Fernando Santos.
A informação surgiu para documentar e pedir orientação sobre o assunto
das obras a mais.
Juan manifesta preocupação com a fiscalização destes trabalhos.
Quanto à estimativa, o arguido disse que só podia ter sido o Juan,
porque ele não falou com mais ninguém.

Do AE27. fls.186 – memorando em 2010 à Inspecção das Finanças para


explicar as divergências com a O2, por indicação do empreiteiro.
O arguido admitiu que ao Juan Oliveira elas lhe tenham sido dadas,
eventualmente, por um empreiteiro, a si foi o Eng.º Juan Oliveira.

116
S. R.

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No tocante à incapacidade da MAFREMÁQUINAS, foi Juan Oliveira que


lhe informou
Admitiu que possa também ter perguntado a alguém, mas não pôde dar
certeza.

Sobre os incidentes das pesagens


A INFO 15/06 tinha vindo por ali abaixo até chegar a Manuel Patrão.
A decisão do CA não foi cumprida pelo que se viu.
Os funcionários da Divisão Ex. Não accionaram ninguém do seu
pessoal. O arguido também não o fez, ele próprio, porque isso era com os da
Ex.
Os Gestores locais de resíduos podiam ver os camiões.
O Eng.º Juan Oliveira serviu de elemento de comunicação.
Foi perguntado ao arguido se Juan Oliveira sabia objectivamente o que
foi demolido.
O arguido disse que sabia o que estava para demolir. Houve trabalhos a
mais, o Juan foi acompanhando e vendo o que estava a ser feito.

Relativamente aos contratos com a Quadrante, foi perguntado ao


arguido se só se pediu betão armado e porque é que não pediu betuminoso.
Uma vez por semana ia lá ao local.
Em Julho de 2006 esteve de férias., não foi à central de Alto Mira.
De uma forma geral, admitiu que sim, que ele acompanhou, não no
detalhe de um metro, mas de um muro.
As plantas, só, não chegavam para tratar.
Juan não contactava regularmente Vítor Baptista, talvez nos Natais.
O arguido afirmou que nunca viu o Juan Oliveira a favorecer a O2.
O Eng.º Juan Oliveira entregou desenhos e plantas à CONSULGAL e à
QUADRANTE., foram ao local com o Juan Oliveira.

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Não soube explicar a razão pela qual a Quadrante se baseou apenas


nos cálculos de betão armado.

Em instâncias do MP
Como é que dum pagamento a mais à O2 esta passou a ter dinheiro a
receber - verbas 1,2, 3, 4?!

O valor foi estimado pela O2, foi ela que efectuou os cálculos.
O valor não foi pré-orçamentado pela REN.
As empresas para a fase 2 foram consultadas pela REN para
apresentarem propostas.
Foram apresentadas 3 propostas.
A O2 apresentou até três preços diferentes, dois deles no mesmo dia.
A proposta da Mafremáquinas foi pura e simplesmente considerada não
credível (apesar de ser idónea para ser consultada).
O Eng.º Juan Oliveira foi com as duas empresas até ao local.
Quando houve divergência de valores, Juan disse-lhe que eram umas
coisas pequenas, mas afinal não!

O MP perguntou ao arguido a razão pela qual menosprezaram os


valores da Quadrante e foram mais adiante.
A CONSULGAL considerou, eventualmente, um valor generoso.
Porque existiam elementos que já lá não estavam e, que os desenhos
não continham.
Então, resolveram partir para um acordo.
Num Universo de duas centenas e tal, só 64 camiões foram controlados.
Não aplicaram o cálculo das 24 toneladas, aplicaram um valor médio às
outras 250, entre os atribuídos pela Quadrante ou Consulgal.
Não ultrapassou o CA nem a delegação de competências.
Falou com o Eng.º Vítor Baptista sobre esta questão.

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S. R.

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O Eng.º Vítor Baptista disse que ia haver uma reunião e que se o


arguido fechasse aquilo por um valor intermédio, ele aceitava.
Aprovação da acta foi o resultado.
O arguido sentiu-se com legitimidade só com aquele prévio mandato.

Voltando à questão dos Varandins, foi perguntado ao arguido o valor


deles mais a pavimentação, que dava um total de 29 mil euros.
A questão dos varandins foi uma obra que arrancou depois dos
incidentes dos camiões.
Foi pelo arguido considerado um trabalho a mais, inserido no âmbito da
gestão normal do contrato.
Comunicou ao Eng.º Vítor Baptista a questão dos buracos, pois se
alguém ali caísse, morria.
O Eng.º Vítor Baptista autorizou a obra e ele fê-la.

Antes de 9/9, Juan Oliveira nunca lhe disse da existência de suspeitos


sobre os camiões.
Foi perguntado ao arguido que se as dúvidas fossem fundadas, deveria
avisar. Ele disse que sim.

Confrontado com AE28, fls.9 e 14 – e-mail para Namércio a 23/2 com


conhecimento de Vítor Baptista e Juan Oliveira, nas fls. 14 e-mail do Eng.º
Juan Oliveira para Namércio da Cunha, fizeram um pré-acordo e comunicaram
cada um às suas hierarquias.
Depois a O2 voltou para trás e queria voltar para os 20% de desconto,
por isso o e-mail fala de vir o administrador da O2, porque tinham desconfiança
que voltava para trás.

Quanto ao circuito das guias, estas levava um mês e tal dois meses para
vir o retorno.

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Foi perguntado pelo JIC que razões teria o Dr. Namércio da Cunha para
colocar o nome do arguido na lista de nomes que receberam presentes.
O arguido disse não vê motivo para tal e que nunca recebeu presente nenhum.

João José Milheiro Baptista, Eng.º Electrotécnico

Nunca foi ouvido no âmbito deste processo.

Trabalha na REN há 24 anos, na Divisão de Mercados, que sucedeu em


algumas áreas à Divisão Comercial.
Trabalhou lá entre 1993-2007.
Trabalho com o Eng.º Fernando Santos, aproximadamente 10 anos.
Esteve na Divisão comercial até 2007 que se reparte entre REN Trading
e Divisão de mercados.

Na sua relação com o arguido Fernando Santos, a testemunha disse que


ele dava bastante autonomia aos colaboradores subordinados nas respectivas
áreas.
Trabalhavam todos em Sacavém, no mesmo piso, as portas mantinham-
se abertas, havia um ambiente de muita informalidade.

Relativamente às “Infos”, trocavam-se muitas “infos” entre todos, pelo


que é de esperar que Fernando Santos soubesse muitas coisas a esse respeito
antes de lhe chegar a Informação.

No tocante ao desmantelamento e o descomissionar a central em Alto


Mira, a testemunha ouviu falar, era uma coisa nova.
O Juan Oliveira é que ficou à frente disso porque era responsável pela
gestão dos contratos.

120
S. R.

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Soube dos problemas com os carregamentos de camiões em Alto Mira


ao mesmo tempo que Juan.
Pareceu-lhe que Juan Oliveira ficou admirado, surpreendido.
Viu as fotos dos camiões, só nessa altura é que teve conhecimento, relativo de
trajectos.
Terá falado com Fernando Santos que também ficou surpreso.
Não soube o que se passou a seguir. Disse não saber se foram lá ver e
quem deu a ordem para parar os trabalhos.

Terá Havido discussão sobre os valores de quantidade de resíduos que


foram alterados. Foram pedidas auditorias para analisar a situação.
A testemunha reforçou a ideia de que Fernando Santos estava
genuinamente surpreendido, bem como Juan Oliveira.
A solução na altura pareceu-lhe normal, pelo que recorda, andaram
muito tempo às voltas com o assunto.
A testemunha voltou a dizer que Fernando Santos não era uma pessoa
carreirista, mas sim correcto e trabalhador (fica fora de horas).
Foi superior hierárquico de Juan Oliveira algum tempo.
Foi a Testemunha que o incentivou a entrar para a REN.
É uma pessoa muito profissional, disse estar convencido que o arguido
não favoreceu a O2, até porque saiu da Divisão comercial quando ela acordou.

Relativamente aos presentes, foi perguntado à testemunha se alguma


vez recebeu presentes da O2, como saladeiras, Nespresso….
A testemunha disse nunca ter recebido qualquer presente.

Pedro Roldão, Engenheiro

Nunca foi ouvido no âmbito deste processo.


Trabalha na REN, agora está requisitado para a ERSE.
Esteve na Direcção Comercial da REN.

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S. R.

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O Engenheiro Fernando Santos foi chefe directo da testemunha durante


cerca de 3 anos.
A testemunha considera o arguido muito competente e muito honesto,
leal.
A testemunha programava as diversas centrais que existiam no país.
A sua actividade era feita com autonomia.
Elaborava propostas com suporte técnico, discutia com o Eng.º.
Fernando Santos, assinava e depois ia a CA.
Se existisse desacordo do Chefe Fernando Santos?
Norteavam-se por critérios objectivos, pelo que essas situações eram
difíceis de ocorrer.

Relativamente ao assunto de Alto Mira, a central chegou ao fim da sua


vida útil.
Foi a primeira central a ser desmantelada.
O contrato previa o destino dos materiais em causa.
Trabalhava no mesmo edifício, a 20/30 metros dos gabinetes de
Fernando Santos e Juan Oliveira (edifício b)
A testemunha soube que houve casos estranhos em Alto de Mira,
discrepâncias entre o volume do que diziam ter carregado nos camiões e o que
achava que lá existia e que fora transportado.
Tanto o Eng.º Fernando Santos como Juan Oliveira mostraram espanto
e indignação, expressões que lhe pareceram genuínas.
Afigurou-se um claro desrespeito de uma empresa relativamente à REN.
Houve a paragem de trabalho, decidida tanto pelo Fernando Santos como
PELO Juan Oliveira.
Verificaram-se várias tentativas para determinar o que é que os camiões
levavam.
Foram elaborados contratos com empresas que foram estudar e avaliar
o quantum.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Na realidade, a testemunha disse ser difícil chegar a valores objectivos,


porque muitas vezes são diferentes os valores desenhados e os existentes no
terreno, por isso é normal chegar-se a valores de bom senso.
Nos ajustes directos, não há flutuações de preços, que saiba.
Fernando Santos é ambicioso.
Agradar aos administradores superiores, é uma das suas valências.
A testemunha descreve-se como uma pessoa normal, que teve sorte e
trabalha muito.
Em instâncias da defesa de Juan Oliveira
Também apresentava drafts de informação ao Fernando Santos, era
uma prática normal e habitual.
A testemunha perguntava, por ser normal: “ Fernando, este é o meu
projecto de info, foram as conclusões a que cheguei, concordas com elas?”
Havendo acordo, a informação seguia para cima.
Estavam todos no edifício da REN- Sacavém.
Em 2006, a testemunha nunca participou em reuniões. Só ouviu isto em
conversas informais, mas percebeu que Juan Oliveira já tinha debatido isto
Com Fernando Santos.
Foi perguntado quem tinha mandado suspender os trabalhos. Ele
respondeu, dizendo que não sabe.
Em instâncias do MP
As reuniões de trabalho eram em função das necessidades.
Não havia reuniões da Divisão toda, tipo calendário.
Foi perguntado à testemunha o que sabia sobre os camiões com pouca
carga.
Ele disse que lhe mostraram fotos, não soube precisar temporalmente.
Não viu “Infos” escritas.
Relativamente às viaturas, verificou-se requisição para autorização de
serviços, para deslocações de Fernando Santos. Sem autorização, não era
entregue a viatura.

123
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Foi-lhe perguntado se sabia se Juan Oliveira se deslocava muito ao


local.
A testemunha disse que é capaz de lá ter ido algumas vezes.
O MP perguntou se a ordem de paragem foi imediata e dada por quem.
A testemunha não tinha certeza absoluta.
Confrontado com o Apenso AE6, fls. 120
3º E-mail para Manuel Patrão. A testemunha não tem certeza de quem
teria acesso ao e-mail. Era para Sacavém.
Antes, nunca ouvira falar em empresas de Manuel Godinho, só depois,
quando viu o que apareceu nos jornais.
Voltando ao assunto da deslocação de viaturas, o MP perguntou-lhe o
que aconteceria se Fernando Santos não estivesse ou não fosse possível
contactá-lo.
A testemunha disse que se fosse fundamental pedir a viatura, ele como
tinha grande confiança com Fernando Santos, punha o caso à Divisão de
Transportes.
Não sabe o que faria o Juan Oliveira.

Rodolfo Perry da Câmara, Engenheiro Civil

Nunca foi ouvido no âmbito deste processo.

Trabalha na COBA, que faz consultoria e prestação de serviços e teve


vários contratos com a REN.
Relativamente a Alto Mira, Amadora, onde colaborou juntamente com
Rita Magalhães, existiram três fases:
1ª fase – desgasificação ; lavagem e inutilização
2ª fase – desmantelamento dos tanques
3ª fase - desmonte das bacias de retenção.
Foram feitas reuniões com o Eng.º Juan Oliveira.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

A COBA, empresa que a testemunha trabalha, fez o acompanhamento


e o relatório.
Ratificaram o acompanhamento feito pelos donos da obra REN.
Perguntado sobre a limpeza das caleiras, se foi um trabalho adicional.
A testemunha disse que foi falado, mas não tem a certeza de quem foi a
iniciativa.
Quanto à lavagem das caleiras, maciços - betão, o trabalho foi
efectuado, pode ser visto no relatório da COBA.
O Eng.º. Juan Oliveira contactou a COBA para fazer proposta de preços
para a repavimentação e colocação de varandins.
Confrontado com AE28, fls.125- nunca teve conhecimento destes
trabalhos, nunca foi contactado.
A 20/03/06, constou-se que quanto às bacias de retenção, era
necessária a limpeza, que foi feita com escova mecânica.
A O2 é que ponderava e fez. Foi o funcionário de nome Carmona que
interveio na limpeza das caleiras e manutenção dos grupos
Antes de ser adjudicada à COBA, foi chamado a pronunciar-se sobre
quais os trabalhos a desenvolver.
Confrontado com fls.55 e ss.
Fls.57 - e-mail da testemunha para Juan Oliveira, resposta ao
documento da O2.
Aqui confirma que sabia do que se passava antes.
Foi-lhe perguntado se O Juan Oliveira seguiu as recomendações da
COBA.
O e-mail de Juan Oliveira para a O2 põe as mesmas questões, parece
que acatou.
No documento a fls. 70 verificou-se um e-mail para a Engº. Elsa
Almeida, no qual consta que Juan Oliveira reencaminhou e acatou as
recomendações da COBA.
Os trabalhos correram bem do ponto de vista global, quanto à O2.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

A obra iniciou-se a 23 de Janeiro de 2006 até 31 de Março de 2006.


A COBA reportava o plano de segurança e acompanhamento ambiental
ao Engenheiro Nogueira da REN ou Juan Oliveira (sempre), uma vez que era o
gestor do plano da REN para aquele contrato.
Em instâncias do MP, perguntou-se à testemunha quem seriam os
interlocutores privilegiados.
A testemunha respondeu, dizendo que os interlocutores semanais eram
o Juan Oliveira, Namércio da Cunha, Elsa Almeida da O2,o encarregado Artur
Godinho e sempre que a “Carmona” intervinha, Vítor Carmona e Carlos
Sampaio.
A testemunha esteve a rever todo o processo com a Engenheira Rita
Magalhães antes de ir ao tribunal depor.
Não foram contactados pela REN para acompanhar a 2ª fase.
A primeira fase comportava riscos maiores de segurança, requisitos
ambientais, segundo a testemunha, teria um custo de 10.513 euros em 1
meses e meio de prestação de serviço, mas como a obra demorou 3 meses -
21.026 euros.
Na segunda fase, o arguido Vítor Baptista disse que é afastado o
acompanhamento externo, seria 21.026 euros, em 4/5 meses.

Testemunhas ouvidas a instancias do RAI do arguido Vítor


Baptista:

António Albino Alencoão Marques

Confirma as declarações prestadas em inquérito.


Foi Director da Div. Ex. até ontem, dia 3/02/2011.

No que se refere ao Alto Mira, foi dito existir um acompanhamento feito


quer pela Divisão Ex., quer pelo GLR – Manuel Baía Patrão, que carregava os
resíduos saídos de Alto Mira, com sentido crítico referente à cubicagem.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Consoante a natureza do resíduo e o camião que estava a ser utilizado,


assim se apurava o volume da carga.
O Manuel Patrão não devia fazer assinaturas de cruz.
Portanto, havia decisão do CA (Vicente Martins), passava para Jorge
Martins e depois para Manuel Patrão.
Relativamente ao abate de transformadores, era feito de 4/4 anos ou 5/5
anos.
Eram máquinas de cobre, ferro, óleos, centenas de toneladas cada peça
inteira transformados.
Haviam máquinas parqueadas nas instalações e ao fim de algum tempo,
abrem-se concursos para o desmantelamento.
Em 2007, houve necessidade de preparar um concurso com um controle
ambiental mais fino (porque tinham obtido certificação ambiental).
É-lhe proposto uma IFS em que o processo de consulta era caro.
Em 2008, a IFS é sujeita a apreciação pelo administrador do pelouro,
Eng.º Vítor Baptista, que autoriza os convites. 4 Fornecedores apresentaram
propostas: 2 para a operação global de desmantelamento 2 para materiais
electromagnéticos.
As propostas eram apresentadas na Secretaria-geral da REN num
envelope fechado e lacrado.
A sua abertura era feita por pessoas da REN e uma pessoa
administrativa da Divisão Ex.
Referencialmente, o custo foi analisado sobre outro abate feito em 2004,
em que o preço em 2008 apareceu muito elevado.
Em 2008, a O2, apresentou um preço mais baixo, mas, mesmo assim,
com menos 25%, foi admitido pelo Eng.º Vítor Baptista e Francisco Soares
Carneiro que negociaram na O2 – temos do mandato para negociar.
Da negociação fez parte o Eng.º Jorge Martins, Eng.º Costa Martins e o
Eng.º Albino Marques e Namércio da Cunha da parte da O2, a testemunha

127
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

esclareceu que não costuma participar, mas que o fez por curiosidade, para ver
como as coisas ocorriam.
O resultado foi de 14%, foi o melhor que conseguiram.
Achou a decisão do CA adequada para que se alcançassem um
conjunto de objectivos, como é o caso deste concurso, em que o objectivo era
a eficiência, para fixar o mecanismo referencial da tarifa pelo regulador, a
vigorar no ano seguinte.
Surge um despacho de urgência em Janeiro de 2008, cujo target seria o
desmantelamento até ao final de 2008 e cumpririam.

No tocante ao incidente em Estarreja:


Disse ter conhecimento indirecto à posteriori do incumprimento.
A engenheira lá do sítio obrigou o fornecedor a cumprir o caderno de
encargos.
Verificou-se um incidente operacional.
Foi-lhe perguntado se o Eng.º Vítor Baptista sofreu algum tipo de
influências, pressão para favorecer alguns dos fornecedores, nega, nunca
sentiu.
É um indivíduo que delega com frequência e, por isso, a testemunha
esteve e está muito à vontade com os procedimentos.

Em instâncias da defesa de Juan Oliveira:


O controle de cargas visual sobre a cubicagem é inerente à emissão das
guias, que compreende a natureza dos resíduos, ou seja, que tipo de material
está em causa, bem como a natureza do volume. Tudo isto era controlado a
olho.
Quanto ao Contrato de Resíduos e Contrato de desmantelamento,
sabia que eram a pagar pela REN.
O Sr., Manuel Patrão dependia da comunicação que a cadeia
hierárquica lhe tivesse feito, mas era habitual neste tipo de situações está

128
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

implícito além das funções básicas, segurança, verificar o uso de capacetes,


ambiente e verificação de resíduos.
Relativamente ao episódio dos camiões vazios, foi informado que
haveriam fotos tiradas pela sua equipa local.
Informou Fernando Santos e ele disse que estava a parar as operações
e a adoptar os procedimentos.
A equipa local EX. detectou o problema e denunciou-o, fez o que lhe
competia, mas nunca soube nada que tivess3e sido falado antes desta
denúncia.
Neste dossier, a equipa EX era apenas observadora e dava colaboração
no cumprimento.
Após o incidente, a REN optou por fazer uma peritagem que avaliou o
valor total dos resíduos desmantelados.
Soube dos presentes à equipa local pela O2, tomou conhecimento no
decorrer do processo, pois antes nunca ouvira falar.

Em instâncias do MP
A equipa da EX de segurança falou com o Eng.º Juan Oliveira, que
falaria com a sua própria hierarquia.
O Eng.º Juan Oliveira era o gestor do contrato.
Assim, era recomendável que Juan reportasse à sua hierarquia própria
e, que numa óptica de boa cooperação com a EX, lhe dissesse para
prevenirem na defesa do interesse da empresa.

Desta situação de Alto Mira, ninguém foi chamado à responsabilidade.


Fizeram a peritagem e reforçaram o controle.

Henrique Gomes, Engenheiro Mecânico

Disse conhecer o arguido Vítor Baptista.

129
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Exerce funções no Departamento de Investimentos e planeamento de


Rede.
Entre 2004-2006 esteve na REN Eléctrica como administrador.
Em 2006 foi o Responsável pela área de gás.
Foi administrador de Gás de Portugal.
Com a privatização, entre 2007 e 2010 foi administrador de empresas
concessionárias de gás e electricidade.
Em Maio de 2010 recebeu convite para Director Geral, com Vítor
Baptista e mais duas pessoas – Ex- administradores.
Um deles era o Engº Jorge Borrego que vinha da GALP.
Departamentos em que tinha responsabilidade: Recursos Humanos,
P.F., EP- equipamentos.

Na agenda preparada constava:


- lista de fornecedores credenciados;
- rating e classificação de fornecedores de serviços publicado;
O CA raramente alterava o que vinha de baixo.
Os resíduos para nós eram um termo residual.
Afirmou que Vítor Baptista era um dos administradores mais
sobrecarregados.
Perguntado se haviam presentes no Natal, respondeu, dizendo que o
pessoal CA e ele próprio recebiam, pois é normal dar presentes a amigos seus.
Ele próprio nunca agradeceu as prendas!
Foi dito que Vítor Baptista é competente, reconhecido, por todo o sector,
não é um “ pára-quedista, era da casa”
Favoreceu interesses?
Não era timbre da casa.
Haviam tarefas a desenvolver, preços, meios disputados, garantia de
cumprimento dos prazos.
Haviam também discussões muito próximas e discussão no Conselho.

130
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Quanto aos resíduos, existiam vários subsectores – EX- conservação da


rede pública.
Há para aí uma dúzia de centrais em Portugal.
Tem para aí 50 estaleiros em todo o país, acompanhado por gestores da
actividade.
Gestores Locais de Resíduos encontram-se dispersos pelo país, a maior
parte são técnicos a prepará-los, confirmar as quantidades e assinar as guias.
A coordenar a Direcção Ex. no terreno estava o Eng.º Albino Marques.
Os assuntos vão a Conselho.

Incidentes em Alto Mira:


Irregularidades nas pesagens? Sim, mas isso….” Acalmar resiliências
das autoridades locais…”
Estas pesagens irregulares, no caso não iam a conselho porque eram
coisas menores…Em caso de coisas graves, o fornecedor de serviços seria
irradiado.
Quando há uma relação contínua, prolongada no tempo, há uma maior
bilateralidade, porque estão ali os dois contraentes para mais do que uma vez..
E se existisse um esquema? Se houvesse ia a Conselho.
Entre 2007/2008 verificou-se a prorrogação do “contrato de resíduos”-
estão a reorganizar os sectores.
Foi afirmado que o ambiente estava mais tenso e mais difícil na própria
empresa.
O contrato estava efectivamente a terminar.
Havia preocupação em entregar aos empreiteiros bem dividido….
Com a nova legislação em 2008, surgem : processos de certificação,
aplicação do código de contratação Pública.
Era o Departamento do F.P. que tinha que diligenciar pela renovação do
contrato de resíduos, o que também devia ter ido a Conselho.
E relativamente ao abate dos transformadores em 2008?

131
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

O Eng.º Vítor Baptista fabricou uma urgência, surge problema de


oportunidade e carta de resultados para se fechar.
A base era regulada e regularizada pela OPEX e CAPEX.

Em instancias da Defesa do Engº José Penedos


Dr. Rui Cartaxo decidiu sozinho a segunda prorrogação e não a levou a
conselho.
A renovação dos contratos prestadores foi feita de maneira a que o
primeiro e segundo tivessem duração de 3 anos, em condições iguais.
Com a mudança da lei de contratação, porque razão não se adaptaram
logo?
Isso verificou-se em 2007-2009 e a testemunha disse que estavam a
haver transições de equipa.
Nos privados, podemos falar em capitalismo popular? Não, não há
número limite de entradas.
Com o elenco igual ao Conselho de Administração da SGPS, os
administradores não representam sensibilidades, mas há pessoas que
representam accionistas privados.
Com a entrada dos privados, mais questões surgem para responder e há
pessoas que estão ali a representar os seus interesses com atenção.
No tocante ao Alto Mira, haveria hipótese de alienação?
A testemunha disse nunca ter ouvido falar .
Tem uma subestação e tem a Câmara interessada numa parte dos
terrenos.
Relativamente aos presentes, a testemunha disse serem caixas de vinho,
peças de cristal, cabaz de natal.

Em instâncias da defesa, Rui Carlos Fernandes Oliveira


Fez referência a pelouros e mais repete.

132
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

No tocante à Divisão comercial, diz nada ter a ver consigo, pois quando
chegou já havia o conceito.
Falou-se em GA- Gestores do ambiente e GLR- Gestores locais de
resíduos.
Mais referiu o facto de não ter havido concursos, mas só consultas e
propostas ao Conselho de Administração pelo Engº Rui Fernandes; excepto na
Administração da REN, em que existiram consultas, propostas e a ida ao CA,
método que não parece mau à testemunha.
Falou-se numa negociação entre Fernando Santos 8 Director da Divisão
Comercial) e Juan Oliveira (gestor local de obra) dos acertos, pois o acordo é
uma coisa normal do dia-a-dia.
A relevância do assunto é saber se há uma atitude montada e
sistemática de fazer estes acertos.
Perguntou-se se tinham poderes para fazerem aquele acordo ou se
precisavam de delegação, a que a testemunha respondeu dizendo que devia
estar no âmbito da delegação de poderes que os de baixo supostamente
tinham.
Devia ter ido a CA, então perguntou-se se o foi para o administrador do
pelouro ou o da F.P., mais, quem levou o assunto a CA,
Depois do acerto levaram a CA. No CA se fizessem isto não faziam mais
nada, Sempre a homologar.
No que respeita à acta, a testemunha disse não se lembrar, não saber
os termos da acta nem os termos da delegação de poderes em concreto
É confrontado com fls. 23.742 do Volume 70; fls.114 e 121 do AE29 e
fls.145 do AE 6.
A respeito da acta de reunião, perguntou-se se de acordo com a
peritagem receberiam mais de 3 mil e tal milhões de euros, deveria ir a CA.
A testemunha disse que já seria um valor razoável, não tendo alterado o
preço.
Quando se detectou e denunciou, parou-se!

133
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Perante dois pareceres, um com mil e tal toneladas e outro com sete mil
e tal toneladas, acha que poderia ter ido a Conselho.

Em instâncias do Dr. Shearman Macedo


Foi perguntado à testemunha se com aqueles valores tinham
legitimidade para “acordar sozinho”.
Formalmente não a teriam.
Foi confrontado com as fls.117 do Apenso AE6, concretamente com a
mensagem.
A questão após acta foi falada, se não estiver lá , o certo é que se falou
e ratificou-se informalmente, se bem que não pediu nenhuma validação, que se
lembre. Não quer com isto dizer que fosse indiferente em termos de resultado
final ter-se ratificado à posteriori ou discutido antes.
O Eng.º Vítor Baptista explicou lá pormenorizadamente o assunto da
acta…
Perante esta situação, se fosse ele o responsável, talvez tivesse levado
a Conselho.
Após a nova lei de 2008, prolongou-se o contrato com as duas
valências.

Maria José Pacheco Clara, Engenheira

Faz parte do quadro da REN, Directora da Divisão de Gestão de


mercado

Confirma as declarações prestadas em inquérito.

Como seu superior tem o administrador do pelouro, Eng.º. Vítor Baptista


e abaixo tem o Eng.º. Recto e o Eng.º. Andrade Lopes, que foi seu colaborador
no caso da central da Tapada do Outeiro, que lhe reportava directamente com
conhecimento ao Eng.º. Recto.

134
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

A dada altura, o Eng.º. Andrade Lopes elabora uma Informação 5/09 que
fala da arrumação dos resíduos.
A Kaflixa não tinha qualificação para retirar os resíduos, por isso não fez
os trabalhos , porque recebeu uma indicação de que não podia fazer uma
tarefa de levantamento.
A central térmica tinha vários resíduos espalhados por todo o lado.
A Kaflixa fazia o ajuntamento de tralhas por pessoal indiferenciado, pago
à hora, ou seja, procediam ao levantamento de resíduos e arrumavam a
“tralha”. Todavia, este tipo de trabalho só podia ser feito por pessoal qualificado
da REN, com o qual já havia contratos para cada tipo de resíduos com os
fornecedores.
Mais, a Kaflixa não fez até este tipo de ajuntamento de tralha, porque se
meteu em trabalhos na Ponte do Rio Douro e saiu.
Então pensou-se que os qualificados fizessem tudo, de fio a pavio.
Esta foi uma decisão da testemunha e do Engº Andrade Lopes.
Se o fizessem, o custo cabia na delegação competente.
O arguido Vítor Baptista não teve qualquer intervenção nesta parte do
trabalho.
Procedeu-se à consulta de três operadoras profissionais de resíduos:
CESPA, AUTOVILLA e O2.
As visitas foram feitas pelo Engº. Andrade Lopes, que é sénior, muito
autónomo e a testemunha dava-lhe autonomia para ir trabalhar, mas
informando-lhe sempre sobre tudo.
Havia na REN incerteza sobre o futuro do terreno da Tapada, terreno de
uma antiga central da EDP.
De pretérito, ficava com os sítios das velhas para ficar com o sítio para
fazer novas.
Hoje as centrais são apresentadas, pedindo uma licença à DG de
Energia e entram no mercado.

135
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Pediram o destaque do terreno da central à D. G. de Energia da


concessão, já estava em condições para o vender.
A venda estava equacionada desde 2006.
Haviam entidades interessadas e as negociações estavam a prosseguir
a nível da administração, mas que a a testemunha não esteve envolvida.
Entretanto, tem conhecimento do plano de ordenamento de Albufeira de
Crestuma este plano reserva uma faixa de 500 metros junto ao rio Douro, que
foi reservada para fins culturais, até falou com Andrade Lopes sobre a
possibilidade de fazer um museu como o museu da electricidade.
Havia interessados em comprar o terreno, Endesa e TurboGaz ,
vizinhos, teriam sempre de preservar aquela faixa.
Não se sentiam livres para demolir a central. As bacias e tanques de
retenção, não haveriam de ficar lá todos porque eram muitos., mas um ou dois
para se perceber como funcionava.
Este entendimento era pacífico, o entendimento que todos tinham era a
limpeza da central e depois o comprador é que trataria das questões da faixa
dos 500 metros.
A determinada altura, surge uma minuta de resposta, como carta de
7/3/07 , redigida por Andrade Lopes à O2, que fala nos embelezamentos da 1ª
parta, talvez haja.
Deram conhecimento ao Engº. Vítor Baptista.
Do acto contínuo, vieram as propostas em carta fechada e chegaram ás
mãos das 3 pessoas responsáveis para abri-las e fazerem a acta de abertura
de propostas.
Relativamente ao assunto dos dois montes de cinzas - aterro de cinzas,
são inertes, cinzas não perigosas, encerrado , pela lei eram obrigados a fazer a
manutenção do aterro durante 5 anos e enviar um relatório com análises
periódicas, semestrais e enviar o relatório para as autoridades competentes.

136
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

A testemunha foi confrontada com a escuta de Paulo Penedos com


Manuel Godinho- não afectação devido a problemas regulatórios.

A testemunha trabalhou na entidade reguladora e sabe que não foram


esses os motivos porque não aceitaram o que vinha na carta da O2.

Entretanto, a testemunha foi confrontada com as fls.4 do Apenso AE11,


informação elaborada pelo Engº. Andrade Lopes – encaminhamento.

O contrato tinha duas partes:


- 1º parte: triagem, limpeza e acondicionamento dos resíduos;
-2º parte: saída de resíduos era pelas mãos das três cada uma e já
preços definidos.
Já sabia a quanto ia sair o gasóleo, material informático, entre outras
coisas.
Outros não tinham preço, os 3 fornecedores punham preços nas
propostas dos concursos: euros por quilos e euros por camião.
O Engº Andrade Lopes não conseguiu comparar, mas numa análise
simplista pode ser que a O2 seja o fornecedor mais vantajoso, segundo diz.

O Engº. Vítor Baptista dá seguimento à análise simplista feita por


Andrade Lopes.
Vítor Baptista diz que quanto aos dez resíduos, é preciso ver isto melhor
até Julho.
Nunca lhes passou pela cabeça, nem a ninguém, adjudicar pela análise
do Andrade Lopes.
A urgência referida é comum na REN, O Engº. Vítor Baptista é que lhe
pediu mais gás para ir à comissão executiva esta semana, pois aquilo tem uns
timings rápidos.

137
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Andrade Lopes faz tudo muito bem, mas muito minuciosamente, com
timings muito próprios e ela compreendeu-o, porque tem que se dar tempo
para ele fazer, mas só pode andar sempre ao ritmo de Andrade Lopes.
Aquilo era um trabalho que se fazia numa hora ou duas para apresentar
às pessoas, logo, fazia-se rapidamente. Faz parte de pressões habituais que
sofria e sofre.
É recorrente perguntar “ e não consegues despachar isso?”a ver se sai
esta semana”.
Ia a despacho semanalmente com o Engº. Vítor Baptista.
Vítor Baptista perguntava “ Maria José, temos que tratar da fase 2,
desmantelamento dos tanques, deixando um ou 2 para a ideia do museu!”,
então ela disse: “ Olha que a fase 2 não inclui desmantelamento de tanques,”
A fase 2 é um chamamento interno, era a fase da retirada.

É confrontada com Apenso AE11, fls.39: é a sua informação para Vítor


Baptista.

A fase 2 teve início a 7 de Julho e terminou a 31 de Julho.


Era o arguido Vítor Baptista quem tratava de tudo na parte eléctrica da
REN.
Era um assunto que fazia parte do leque de assuntos de Vítor Baptista,
ela ( a testemunha ia de férias.
Andrade Lopes foi de férias 8 dias depois.
Em Agosto/Setembro de 2008 verifica-se o acondicionamento de
resíduos.
O Engº. Vítor Baptista não lhes demonstrou mais qualquer pressa.

Em instâncias da defesa de José Penedos


Volume 85 e Apenso AE9: Kaflixa.

138
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

O Engº. chegou a adjudicar e depois voltou para trás porque na Kaflixa


voltaram-se para os trabalhos na Ponte do Douro.
De acordo com o “Cuore Business”, queria gerir terrenos e devolver aos
consumidores (terrenos do domínio público hídrico, não outros).
Na minuta da carta falam sobre tudo, guias livres.
É confrontada com fls. 39 dp Apenso AE 9: Acordo à proposta dos
resíduos.
Em instâncias do MP
A testemunha afirmou ter recebido telefonema de Vítor Baptista, de
forma a ir à Comissão Executiva nessa semana, ela pediu para hoje.
O Engº. José Penedos nunca lhe falou em ano e meio que coabitaram
na REN.
É confrontada com fls. 150, linhas 55 das suas declarações.
A carta de resposta à O2 foi assinada pela testemunha, mas em seu
nome próprio, não em nome de ninguém (Vítor Baptista).

Vítor Baptista, Engenheiro


Idade: 60 anos, aproximadamente

Confirma as declarações prestadas em inquérito.

Disse não se recordar do Engº. Juan Oliveira, viu a foto na intranet.

Relativamente às fases do contrato, referiu que a Fase 1, quanto á


informação 10/05, enviaram-na para o CA (nunca se remetiam na análise das
propostas dos autos???)
As propostas eram recolhidas e analisadas.
Na fase 2, no tocante a Alto Mira (próximo da Amadora), tinha como
objectivo tratar ambientalmente o terreno, após o descomissionamento.
A ideia do arguido era que os trabalhos foram correndo bem.

139
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

O arguido foi confrontado com Apenso AE6, fls.114. Tratava-se de uma


demolição de infra-estruturas, uma obra muito simples.
Na verdade, alguém precisava do espaço.
A subestação tinha muitos aparelhos com pessoas (residentes?) de
manutenção e exploração.
Afirmou que precisavam de um sítio para guardar os stocks e
lembraram-se daquele.
Confrontado com as fls. 116 do mesmo Apenso, composto por um
pedido e informação, confirmou-os.
Uma vez que o arguido estava habilitado no CA, tinha de saber todos os
pormenores sobre o assunto.
Assim, tinham decidido descomissionar esta central termoeléctrica.
Foi-lhe perguntado se foram feitas questões para o pessoal de baixo no
CA : “ oh pá! Estamos a falar de quanto?”
Foi dito que o CFO faz sempre perguntas.
A avaliação era feita por estimativa volumétrica.
O arguido disse que, por questões de segurança, admite que o Engº.
Fernando Santos lhe tenha falado nos varandins e deu-lhe luz verde verbal
para dar andamento ao assunto.

Entretanto, sobre os incidentes com as paragens, falou-se do


memorando da O2 para o CA. O arguido não tinha qualquer ideia, só se
recorda de um memorando do Engº. Fernando Santos.
Confrontado com as fls. 101 do Apenso AE28, recorda-se das “
omissões de facto importante”.
Informação com trabalhos a mais para acertar os pagamentos.
Segundo o arguido, “ a rapaziada do trabalho indiferenciado quer fazer um
tanque”.
Foi dito, ainda, pelo arguido que, em 10 anos de CA, nunca
desqualificaram ninguém, apenas aplicaram penalidades

140
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Relativamente à prorrogação dos contratos, a primeira foi delineada pelo


CA e a segunda, teve conhecimento à posteriori e foi uma decisão do Dr. Rui
Cartaxo.
Quanto ao FAX CESPA…fls. 12385
Confrontado com as fls. 12385, a carta chegou ao Dr. Gerardo
Gonçalves e ele resolveu articular-se com o Engº. Jorge Liça.
O arguido disse não se lembrar da carta. Nada estava escrito.
Deu informação errada no corredor sobre o diploma legal porque se
enganou.
Sabe que metia a Abrantina, mas esta é uma ideia vaga.

Quanto ao despacho do CA, o aparecimento de problemas de regulação


para o ano seguinte ditaram a 1ª prorrogação e depois na 2ª foi uma decisão
de outro administrador, o Engº. Soares Carneiro, ratificada em Conselho.

No tocante ao caso CTO, falou-se nos terrenos electroprodutores,


relatando a história dos terrenos.
Referiu os spin offs, a transferência de equipamentos.
No tempo da REN eléctrica, 1/3 eram terrenos electroprodutores com
actualização a uma taxa de 5%- 6,5%.
Havia propostas com manifestação de interesse, sobretudo pela
ENDESA.
A TURBOGÁS queria alguns para uma extensão de uma central de gás.
Disse para falar com O Engº. Andrade Lopes.
Referiu as cinzas, inertes, não perigosas, as árvores.
Foi lá visitar aquilo com o Andrade Lopes, na Primavera, uma vez que o
outro tinha poder para fazer a proposta.

141
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

O arguido foi confrontado com AE0. fls. 140 e AE11, fls.4, informação de
11/09, em que o Engº. Andrade Lopes disse que o estavam a pressionar,
porque lhe estavam a exigir pressa.
Tomou conhecimento que andaram lá empresas a visitar o CTO.
Disse que a descontaminação fazia sentido.

Confrontado com AE9, fls.145, surge a proposta 1: acondicionamento e


recolha de resíduos prioritários,
Aceitou o (draft??) de resposta à O2, que numa fase posterior foi
proposta pela Engº. Maria José Clara, se fossem permitidas e se justificassem.

Sobre as características do Engº. Andrade Lopes, o arguido disse que


era um tipo excessivamente metódico.

O arguido Vítor Baptista disse que pelo menos os ácidos estavam


tratados, mas tinham de sair de lá.
Tratava-se da fase de triagem e acondicionamento, ou seja, da Fase 1.
Falou-se do e-mail de Maria José Clara com as fases, no dia 31/07, para
o arguido, ao qual o arguido Vítor Baptista exclamou:” ah ok! De acordo já em
Agosto, mas só para aquela parte, nada no que diz respeito a
desmantelamento”!.
Se o arguido quisesse, podia ter avançado no desmantelamento, pois cabia
nas suas competências, mas isto não avançou nem em Agosto nem em
Setembro.

Em Instâncias da defesa de José Penedos, Dr. Rui Patrício


Em 2009, no Conselho, o administrador financeiro era o Dr. Rui Cartaxo,
foi ele que decidiu a segunda prorrogação.
Manteve sempre o perfil de “tio patinhas”.

142
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

1195 acusação em 2009 em instancias do MP


Foi perguntado ao arguido pelo MP se telefonou a pedir um encontro
com Andrade Lopes.
Foi no interrogatório que lhe puseram várias questões que dizia que
tinha falado com o Engº. Andrade Lopes, mas o arguido disse que com o Engº.
Andrade Lopes não chegou a falar.
Confrontado com fls.197 do Apenso AE30.
Confrontado com a cota do telefonema de Andrade Lopes na PJ, Fls
197, do Apenso AE30.
É verdade que mantiveram este contacto telefónico, mas não no sentido
de o pressionar, diz o arguido.
O arguido disse a Andrade Lopes que o estavam , na PJ, a apertar por
causa dos resíduos perigosos.
“tenho aqui um apontamento”- disse o PJ, “…mas não lho mostraram ( lá na
polícia, aquando do interrogatório), daí que tenha querido ver o que é que o
Andrade Lopes queria dizer lá nos apontamentos.

No que diz respeito ao desacordo quanto às pesagens, isto era um


problema operacional, daí que o arguido tenha dito a Fernando Santos :”
Resolve lá isso!”
Montantes, limites, não lhe fixou, mas disse-lhe para avançar com
aquilo.
Foi uma conversa verbal. ( afirmações diferentes das do Fernando
Santos)

Testemunhas ouvidas a instâncias do RAI do arguido Juan Oliveira:

Agostinho Manuel Costa Martins

É engenheiro.

143
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Aos costumes disse nada. Prestou juramento legal.


Confirma o teor das declarações prestadas em inquérito.
A instancias da Dra. Isabel Catalão referiu.

Trabalha na REN desde 1983.


Agora é o responsável pelo Departamento de Conservação.
Direcção de Exploração estações e subestações da REN.

Incidentes Alto mira, Setembro de 2006.


Teve conhecimento mas não directamente.
Manuel Patrão era o GLR, a sua actividade eram os resíduos produzidos
na sua própria actividade normal em Alto Mira.
Mas se houver resíduos de uma obra que não é da Divisão de EX, há
uma colaboração do GLR com o gestor da obra.

Grupo de trabalho para a elaboração de um contrato de gestão de


resíduos.
Confrontado com determinação do CA da REN de 19/1/06, a fls. 152 e
ss
Coelho da Silva
fls. 166 Coelho Marques confirma que lhe foi dito apenas para validar as
guias dos camiões.

Quanto à validação
Ao assinar a guia está-se a validar o conteúdo ou seja a tonelagem.
Mas havia boa fé.
Não sabe de instruções concretas.
Não sabe de nada em concreto.
São incidentes vários com a O2.
Ninguém foi chamado à pedra??

144
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Foram problemas pontuais e os funcionários ate deram por eles.

A divisão de EX foi chamada a colaborar talvez tenham tratado mais dos


requisitos de segurança e ambiente do que da tonelagem.

Confrontado com fls. 165 do Apenso AE21 – GLR, gestor local de


resíduos vs gestor de obra, empreiteiro responsável pela obra confirmou as
razões nos termos consabidos.

Alberto Sousa Correia Costa

É engenheiro mecânico, trabalha no Departamento de Apoio Técnico,


Divisão Equipamento da REN.
Aos costumes disse nada. Prestou juramento legal.
Confirma o teor das declarações prestadas em inquérito.

A instancias da Dra. Isabel Catalão


Disse conhecer o Eng. Juan Oliveira desde que entrou na REN no seu
Departamento, à data Departamento de Qualidade, Ambiente e Segurança,
sendo que foi seu superior hierárquico desde Setembro de 2007, neste
departamento, que em 2008 se passou a denominar Departamento de Apoio
Técnico.
E que o Juan Oliveira ainda lá permanece.

Confrontado com art. 677º da Acusação, esclarece que, em Outubro de


2010, o Eng. Juan Oliveira já não pertencia à Divisão Comercial, porque
passou para o Departamento de Qualidade, Ambiente e Segurança, em
2007 e porque a Divisão Comercial já não existia.

145
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Não tem conhecimento de causa profundo das actividades que o Eng.


Juan Oliveira desempenhava antes, na Divisão Comercial, bem como não tem
conhecimento sobre as matérias concretas do Alto Mira.

Confrontado com art. 764 da Acusação, esclareceu que integrou o júri da


Comissão de Avaliação de gestão de resíduos da empresa e que o Juan
Oliveira não fez parte desta comissão.

Confrontado com o Doc. 4, junto com o RAI de Juan Oliveira, não


encontra qualquer documento referente à divisão comercial.

Esclarece que, quanto à metodologia de pesagem de resíduos, naquele


tempo não era uma grande preocupação em termos de variável, era
assegurada pela entidade que levava os resíduos, eram engenheiros do
ambiente e havia os talões de pesagem que eram devolvidos à REN.
Era feita uma observação visual do que se levava e se os camiões iam cheios,
sendo o controlo da pesagem feito pelo operador, porque têm em média 50
estaleiros abertos, não havia possibilidade de um controle mais rigoroso.
Confrontado com IFCS 15/2006, elaborada por Fernando Santos,
nomeadamente quanto aos despachos, onde se propõe o Eng. Nogueira antigo
chefe da Central Alto Mira faça a fiscalização, mas o CA decidiu que seria a
Divisão de Exploração que estava no local que fosse responsável pelo
acompanhamento operacional, a testemunha confirma.
Confirma ainda que o gestor do contrato seria o Eng. Juan Oliveira,
acompanhava e via se as especificações de adjudicação estavam a ser
observadas.
Esclarece que se deve distinguir gestão operacional de gestão documental e
de pagamento, a gestão operacional refere-se à entrada e saída dos camiões,
por exemplo, estaria certamente a cargo da Divisão de Exploração.

146
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Essa fiscalização não competia ao Eng, Juan Oliveira, está claro pelo
despacho que competia à divisão EX, e que ele, não estando no local, não
tinha meios para o fazer.

Analisando a proposta de decisão de adjudicação feita na IFCS 15/2006


acha que está perante papéis que consubstanciam um ajuste directo, mas com
consulta a três empresas, não vê nada de ilegal ou irregular nisso.
Foi um procedimento habitual e correcto, a informação foi certamente
preparada por um colaborador e assumida pelo representante desse
departamento, o director de divisão, para este enviar ao CA.
O CA deliberou adjudicar à O2.

Confrontado com Apenso AE6 a fls.145 ss., acta da reunião, pensa que
seria a divisão logística a autorizar o pagamento à O2, cujo responsável é o
Eng. Luís Oliveira Pinto e a sua superior hierárquica a Eng. Isabel Ferrão.

Confrontado com fls. 148 - disse ser o pedido de compra, feito por Maria
Manuela da área financeira, é o registo que vai ter que ser liberado para que
possa ser feito o pagamento. Mas, em face deste documento, tem dificuldade
em dizer quem autorizou o pagamento.
Isto é um acerto de contas, que vai dar origem à facturação, mas o
documento, só por si, não se sabe quem liberou.
Mais à frente há a factura da O2 já com as coisas descriminadas.
Pensa que a autonomia da decisão era do director Fernando Santos.

Pensa que Juan Oliveira é muito competente, metódico, organizado,


com vontade de aprender, com bom desempenho, sendo que já o avaliou duas
vezes, por este ser seu subordinado, sempre teve boa nota, o que demonstra
que tem sido bom profissional e uma mais valia para o departamento que
integra.

147
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Quanto ao pacto mencionado na acusação, com o intuito de dar


prevalência aos interesses ilegítimos da O2, tudo isto lhe soa a estranho,
fugindo à cultura de rigor da empresa e de uma responsabilização hierárquica.

A instancias do MP referiu ainda que:


Confrontado com Apenso AE6 a fls. 118, disse que a gestão do contrato
está ao nível do Eng. Fernando Santos e a Gestão local está ao nível da
Divisão Exploração, não vê aqui nenhum despacho directo para o Eng. Juan
Oliveira.
O Eng, Juan Oliveira não tinha nenhum tipo de competência a nível de
fiscalização, sendo que o facto de dar ordens para suspender o carregamento
de resíduos é, na sua óptica, uma competência de quem está a gerir um
contrato e, por detrás desse contrato, há uma especificação técnica, um
caderno de encargos que tem que ser observado e perante alguma situação de
incumprimento cabe ao gestor do contrato tomar uma decisão.

Perguntado que tipo de poder é esse de alguém, que perante um


contrato que foi celebrado, suspende os carregamentos, respondeu que essa
ordem de suspensão dos carregamentos tem que ser dada por um
colaborador, mas nenhum colaborador tem autonomia para o fazer sem o aval
do seu superior hierárquico.
Seria normal esta decisão ser tomada com o conhecimento do seu superior
hierárquico.

Confrontado com o Apenso AE 28 a fls. 100 e 101, disse que a fls. 100
se trata de email enviado pelo Eng, Fernando Santos para o Eng. Vítor
Baptista, com o conhecimento do Eng. Juan Oliveira.
A fls. 101, o anexo do email, relativamente ao fim da tabela “omissão de
facto importante”, tem ideia de que o director Fernando Santos estava a dar

148
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

informação ao Eng. Vítor baptista do resultado de uma analise que tinha sido
feita anteriormente, mas que não consegue contextualizar.

Francisco Dias Costa Parada

Aos costumes disse conhecer o Juan Oliveira. Prestou juramento legal.


Confirmou o teor das declarações já prestadas em inquérito.

É engenheiro e trabalha na REN desde Setembro de 1999.

Refere que Juan Oliveira desempenhava funções na Divisão Comercial


da REN – fazia a gestão de sítios – geria os locais onde estavam os resíduos a
retirar.
A instancias da ilustre defensora do arguido Juan Oliveira, a Dra. Isabel
Catalão:
Refere que o superior hierárquico de Juan Oliveira era o Engenheiro
Fernando Santos.
Foi confrontado com o Apenso AE 6, a fls. 32 ss, dizendo tratar-se de
uma informação de proposta de desmantelamento de instalações de
combustíveis, que foi um concurso lançado a cinco empresas. Sendo que,
nesta informação, o Eng. Juan Oliveira, depois de analisadas as cinco
propostas, propõe a adjudicação à empresa O2, propondo outras coisas, entre
as quais a supervisão ambiental e segurança pela empresa COBA e ainda a
supervisão e controlo da obra pelo Eng. António Nogueira.
Foi ainda confrontado com o Doc.7 do apenso AE28, junto por Juan
Olliveira quando prestou declarações na PJ, em 16 de Junho.
No tocante a este Apenso AE28, a fls.53, referiu ser um documento
elaborado pelo Departamento Ambiental, que integra, cujo teor consiste numa
análise ao impacto ambiental que o Departamento fez às cinco propostas, nele
se conclui que, do ponto de vista ambiental, era a proposta da O2 a mais

149
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

satisfatória. Não sabe se houve outras análises prévias feitas antes da


proposta de adjudicação à O2.

Confrontado com a IF 15 de 2006 de 20/05, a fls. 114 e 115 do apenso


AE6, disse não conhecer a informação, referindo que a mesma foi elaborada
pelo Eng. Fernando Santos.
Perguntado se o Fernando Santos propôs o ajuste directo, responde que
ele tinha três propostas e propôs que fosse a O2.
Perguntado se era normal o Director de Divisão na REN têm competência
própria para fazer uma proposta de adjudicação ao administrador do pelouro,
respondeu que sim. Não conhece as regras da REN mas seria normal,
decorrente da sua delegação de competências, de regras concursais,
“governance” da empresa, que estariam certamente definidas na empresa, à
altura.

Perguntado se, perante uma proposta de adjudicação do Eng. Juan


Oliveira que submete à consideração do seu director, há uma possibilidade de
verificar o crivo de legalidade dessa proposta, respondeu que, há relações
hierárquicas que estão aqui definidas formalmente, em especifico, nestes
concursos, não se recorda se haveria uma comissão de avaliação de
propostas, aqui parece que não há, e nesse caso, o Director de Divisão analisa
e pressupõe-se que concorda com ela se a manda para cima. E que até a pode
mandar mencionando parecer desfavorável.

A instâncias do ilustre defensor dos arguidos Vítor Baptista e Fernando


Santos.
Diz não se recordar de análises comparativas.
No tocante à proposta de desgasificação, desmantelamento de
instalações de combustíveis feitas com metais, os seus colegas enviaram-lhe
cópias porque ele está sediado no Porto.

150
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Referiu ainda que a O2 tinha plano ambiental e as outras não.

No tocante IF 15 de 2006 de 20/05 não sabe se houve intervenção dos


serviços da direcção comercial.
Perguntado se houve ajuste directo, no caso em concreto, responde
que, no caso, foram consultadas três empresas e ajustado a uma e é proposta
a aprovação em Conselho de Administração, apresentada pelo administrador
do pelouro.
Está convalidado pela intervenção do órgão máximo deliberativo.

Perguntado se tem conhecimento da segunda fase dos trabalhos,


desmantelamento de Alto Mira, e se sabe se, após a desmontagem dos
depósitos, os grupos geradores se encontravam assentes em maciços de
betão, respondeu que são fundações, toneladas de betão, grupos que estão
assentes para prevenir riscos sísmicos. Refere ainda que ninguém perguntou à
Direcção Comercial se era conveniente retirar também os maciços,
permanecendo ainda hoje lá.

Perguntado se existe alguma credenciação para estas tarefas de


demolição de estruturas de betão, refere que não há.
Refere que os resíduos têm que ir para um operador licenciado.
Não sabe avaliar sobre os custos de processamento por tonelada
desses resíduos.

Ainda referindo-se à IF 15/2006 – demolição de infra-estruturas, refere


que, obviamente que os resíduos tinham que ir embora no âmbito do contrato
da REN.

151
S. R.

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No tocante à fiscalização aqui o procedimento de segurança seria conferir a


saída de resíduos, contratou-se o antigo chefe da central porque conhecia a
Central Alto Mira.

O Conselho de administração acabou por entregar a fiscalização a um


departamento ao lado – Divisão EX (divisão de exploração).

Quanto à troca de informações.


Emails são normais, admite que os possa ter trocado quer com o Juan
quer com o Fernando.

Gerardo Gonçalves

Licenciado em Direito.

Aos costumes disse nada. Prestou juramento legal.


Confirmou o teor das declarações prestadas em inquérito.

Está na REN há cerca de 35 anos.

A instancias da Dra. Isabel Catalão

Em 2005/2006 era Director-adjunto da Divisão Financeira e Património.


Neste momento é director da contabilidade e fiscalidade.
O seu responsável era o Dr. Coelho da Silva.

Confrontado com fls. 145 e ss do AE 6 e fls. 114 do AE28


O responsável pela tesouraria é que está autorizado e efectuar os
pagamentos, autorizando-os.
Qualquer autorização é registada no sistema SAP e há dois tipos de
autorizações:

152
S. R.

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uma nos limites das delegações de competências (até x montante pode


liberar), outra fora do limite de delegação com autorização específica, sendo
esta a sequência para aquilo entrar em termos de pagamento.

Cfr. com fls. 150 do Apenso AE6, o valor desta factura não caberia
naquela delegação de competência do Fernando Santos, dependeria de uma
autorização do CA.

Cfr. com fls, 114 do Apenso AE28, referente ao email de Manuela Cunha
para Fernando Santos. Este é o mesmo pedido que deu origem ao processo
que supra se descreveu. O director Fernando Santos introduziu-o no sistema
SAP.

O Comprovativo documental da liberação feita no sistema SAP do


pedido 450014381, facultando-se para o efeito cópia de fls. 114, AE28 foi
requerido pela Dra. Isabel Catalão.

Referiu que a fls. 148 do Apenso AE6 está a autorização do Fernando


Santos.

Perguntado se o pedido de pagamento não tivesse a autorização do CA,


existe alguma fiscalização interna da REN, respondeu que podia ser fiscalizado
porque os elementos estão no SAP.

Refere recordar-se dos contratos de gestão de resíduos de 2008 que a


REN estabeleceu com três empresas, a CESPA, Alto Vila e O2.
Em termos gerais, a distribuição de facturação dos três operadores entre
2002 e 2009, em termos gerais foram facturados 16, 5 milhões de euros, dos
quais 14,9 milhões de euros da CESPA, 1,2 milhões de euros da O2 e Alto Vila
de 0,1 milhões de euros.

153
S. R.

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Quanto à venda de sucatas a O2 recebeu facturação da REN de 4,2


milhões de euros.

Sobre prorrogação do contrato de gestão de resíduos em Outubro de


2008:
O Pinto Oliveira e o Sandes sugeriram-lho como dirigente hierárquico,
superior porque não havia tempo de fazer outro contrato.
Consultou o Eng. Martins, então comunicou a proposta de prorrogar o
contrato até Julho de 2009 para o administrador do pelouro Vítor Baptista.

Nunca ninguém lhe pediu para fazer esta proposta.


Desde há trinta e cinco anos que ninguém lhe pergunta nada sobre
nenhum fornecedor, se faz contactos é por sua iniciativa.

A segunda prorrogação, os fundamentos estavam na mesma, tinha


havido alterações legais.
Também neste caso não houve pressões de ninguém para sugerir a
prorrogação.

Confrontado com fls. 12385, do volume 34, faz da CESPA de 9/6/2009,


que lhe foi enviado, foi-lhe exibida pela PJ na sua inquirição.
Recorda-se que os serviços foram informados que estariam a ser postos
Contentores na remodelação subestação em Setúbal.
Só para as obras a partir de 2010 é que tinham este tratamento, é que
cabia adjudicação ao empreiteiro que fazia a concessão.
A Secretaria-Geral encaminhou em 29/6 cópia para o arquivo Geral e
original para si.

Não falou com o Eng. Vítor Baptista.


Trocaram impressões também com o Eng. Martins.

154
S. R.

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Quanto a ofertas da O2, disse que, como é uma pessoa pouco


simpática, recebe poucas ofertas.

A instancias do MP:
Confirmou que na factura foi aposto o OK.
Não sabe quem fez isto nem se atreve a dizer um nome.

Confrontado com a acta de fls. 145 Apenso AE6, acta da reunião 7/3/07,
disse não saber se tinham poderes para obrigar a REN.
Opera-se pedido no SAP para receber e ele surge autorizado.
O que está para trás não é consigo.

Confrontado com fls. 146 [email de João Sandes], após a acta de 7/3/07,
refere que é a reunião para análise e proposta de solução do dito assunto.
Então a questão está ou não resolvida na acta? Perguntou-se-lhe e
disse:
Na delegação de competências nada disto estava previsto.
Teve que ser uma autorização ”intuitus personae”.
[Aos olhos do JIC a questão subsiste].
Quanto ao tempo médio do ciclo de pagamento (entre pedido de
liberação e efectivo pagamento da factura), refere que, o que está estipulado
na REN, há dois tipos de ciclos de pagamento, para facturas relativas a
serviços de gestão corrente, são 30 dias, a contar da data da recepção da
factura no serviço da REN, e no último dia do mesmo mês.
Entre a data da reunião e a data de emissão da factura não decorreu
muito tempo, “nas grandes empresas como a REN há quem seja voluntarioso”.

155
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Se o serviço estava feito e havia apenas uma discordância de valores


depende se foi no início ou no final do serviço, se foi no final seria norma ser
rápido o pagamento da factura.
Não sabe o ponto em que o serviço estava.

Houve um email da O2, a si dirigido, por causa do assunto da CESPA


que tinha um contrato com a REN, por causa do contrato de gestão de
resíduos.

Em 2008 no tempo da segunda prorrogação, foi celebrado acordo


quanto a englobar nos contratos de gestão de resíduos os resíduos de
construção civil, após 2010 expressamente.

Confirma ter conhecimento que por causa de incumprimento da O2,


pesagens cobre,
Houve decisão de interromper serviços enquanto não houvesse
regularização dos pagamentos.
Foi contactado pela O2, primeiro por telefone e depois por email de
Moisés Sousa.

Continua a REN a dever dinheiro à O2 porque há divergências ainda


hoje.

A instancias do Dr. Duarte Santana Lopes

Disse que o telefonema também era de Moisés Sousa.

A instancias da Dra. Isabel Catalão, se sabe que existe avaliação de


fornecedores, responde que

156
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Quanto à lista de fornecedores da REN, avaliação e credenciação existe,


desde pelo menos 2003.

João António Travanca Sandes

É licenciado em Sociologia, Funcionário da REN

Aos costumes disse nada. Prestou juramento legal.


Confirma o teor das declarações prestadas em inquérito.

A instancias da Dra. Isabel Catalão

Em 2005 e até hoje desempenha funções de logística na REN, gestão


de contratos, vigilância e segurança.

Não teve nenhuma relação com o contrato entre a REN e O2 que visava
o desmantelamento de Alto de Mira.
Recorda-se de ter estado numa reunião, em finais de 2006, a pedido do
Eng. Fernando Santos, por causa de divergência com a O2 por causa dos
resíduos.
Na reunião estiveram para além dele, Luís Oliveira Pinto, Fernando
Santos, Juan Oliveira e, como representantes da O2, Namércio Cunha e
Manuel Godinho.
Quem tinha feito o apuramento dos elementos pela REN foi o Juan
Oliveira.
Julga que o Juan levou para reunião um mapa, mas não se recorda
bem.

Confrontado com Apenso AE28 a fls. 92 ss - listagem preço por


toneladas, refere que são dados de pesagens de camiões e cargas, julga
serem os apanhados que o Juan fez do desmantelamento das bacias.

157
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Perguntado como se processava a recolha dos resíduos disse que esse


valor estava estipulado no contrato, por tonelada, fazendo-se uma estimativa
por cubicagem.
Sendo que, para isso, era preciso ver a carga, a cargo do gestor local de
resíduos que era responsável pelas instalações.

Pensa que a principal função do GLR era preencher a guia para as


autoridades de trânsito – guia de acompanhamento de resíduos.
O circuito das guias podia permitir o reconstruir os valores, uma das vias
ficava na REN, as outras duas seguiam com o transportador.

Os trabalhos iniciaram-se em Julho de 2006, só na segunda quinzena de


Julho de 2006 apareceram as primeiras facturas e guias.

Os resíduos tinham sido adjudicados à CESPA e esta subcontrataria à


O2 e outra firma e, no final dos meses, reconciliavam-se os talões pelo serviço
e fazia-se o encontro de compras com o operador.

O Juan foi lá aferir se era verdade o que vinha nas fotos feitas pelo Sr.
Calado, passadas ao Sr. Patrão e daí por este ao Juan.
Decidiram suspender os pagamentos à CESPA no departamento de
logística, por alerta do Juan Oliveira.

O Juan Oliveira é que teve a ideia de irem à balança EDP em Sacavém


para fazer as pesagens.

Confrontado com a acta da reunião de 7/3/07, fls.145, acordo REN/O2,


disse conhecer esta acta porque foi-lhe dado conhecimento dela, para que no
Departamento dele vissem o que se passava.

158
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Quanto a Fernando Santos não sabe se tinha autorização do Conselho


de Administração mas isto era um acto de gestão corrente.
No seu entender foi Fernando Santos que autorizaria o pagamento.

Confrontado com Apenso AE28 a fls. 114, confirma que se trata de um


email de Manuela Cunha para Fernando Santos, a pedir a liberação da
encomenda, mas não sabe, talvez as Dr. Gerardo Gonçalves.

Confrontado com Apenso AE1 a fls 38, 40, 46, 49, desmantelamento das
bacias de retenção de betão à O2, pensa que quem emitia as guias e também
tinha que fazer a visualização das cargas era a divisão EX.

Como interlocutor da REN para a gestão de resíduos, tinha que lá estar


alguém, normalmente o gestor local era o responsável da instalação.

Havia um contrato em vigor, o contrato continuou até 2008.

Em 2006 houve mais incidentes com diferenças de pesagens de cobre e


zinco. Mas não teve nada a ver com a divisão comercial.

A instancias do Dr. Shearman de Macedo:

Ao abrigo do contrato de gestão de resíduos geral, o GLR (gestor local


de resíduos) era o Sr, Manuel Patrão, o interlocutor da REN.
Mesmo sem deliberação do CA, a fiscalização dos resíduos sempre incumbiria
à divisão Ex e portanto ao Sr. Manuel Patrão.

Sobre as aprovações e pedidos de facturas sobre centros


electroprodutores não se recorda.

159
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Só soube sobre as irregularidades na carga de camiões em Alto Mira em


Setembro de 2006.

Os novos contratos de gestão de resíduos eram com a CESPA, tendo


como destino final a O2.

A informação 1/08 (da autoria da testemunha) execução e prorrogação


do contrato foi por iniciativa dos serviços que integra.
Nunca sentiu nenhuma pressão, no sentido de favorecer essa
prorrogação, as razões da mesma estão expostas.
Em Novembro de 2008 sugeriu prorrogação a Oliveira Pinto que remeteu
para o CA e que deliberou pela prorrogação do contrato por mais seis meses.

Fez contactos com o Eng Parada mas os trabalhos não tiveram, grandes
resultados.
Em Maio viram-se confrontados com o mesmo problema, e optaram por
uma segunda prorrogação, da iniciativa do departamento que integra.

Deliberação/decisão de aprovação da segunda prorrogação foi de Rui


Cartaxo.

A prorrogação foi com os três operadores, CESPA; O2 e Alto Vila.

Quanto à questão das prendas da O2 diz ter recebido peças Atlantis,


máquina Nespresso e pães-de-ló, eram prendas de Natal, não se sentiu
condicionando a praticar actos de favorecimento da empresa O2.

A instancias do MP:

Confirmou ter conhecimento dos Incidentes de 2006.

160
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Mas já havia incidentes anteriores, em 2002.


Tem conhecimento de um despacho do administrador Aníbal Santos
sobre este último caso.

Confrontado com fls. 283 do Apenso AE12, era a este despacho que se
estava a referir, recomendava que se procurassem elementos alternativos à O2
com firmas fornecedores de serviços e ver as contas com a O2.
O que motivou isto foram as oscilações de pagamentos pela O2 na
recolha de sucatas.
Em 2002 houve um concurso de sucata, os anúncios eram publicados
previamente sobre dois items, sucatas diversas e óleos usados.

Como critérios ponderava-se o valor base mais elevado e deposito de


caução.

Confrontado com fls. 284 do mesmo Apenso, na qual o Eng Penedos


pede informação aos serviços, não estranha, no limite o Presidente do CA pode
pedir informações ou mexer no que quiser.
[Esta posição displicente não consegue percutir o espírito do JIC
signatário.]

Continuaram a celebrar contratos com a O2, procuraram alternativas


todavia a O2 apresentou os melhores preços.

Houve mais diferendos sobre pagamentos e pedidos de levantamentos.

Confrontado com Apenso AE14 a fls. 51 e 52, confirma irregularidades


de cobre e de zinco.

161
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Confrontado com Apenso AE15 a fls 240, Informação subestação de


Vermoim – cobre e materiais, metais isolados
Informação carga zinco Sacavém – cobertura de um edifício, no qual ele
(testemunha) trabalhou lá, achou estranho só 600 kg

Foi corrigido, após reclamação da Ren à O2, a O2 disse que era um erro
de pesagem, pensa que “é ver isto para o futuro, prejudica a relação de
confiança entre as partes”.

Jorge Filipe Martins

É engenheiro.
Aos costumes disse nada. Prestou juramento legal.
Confirma o teor das declarações prestadas em inquérito.
A instancias da Dra. Isabel Catalão
Disse ter entrado na REN desde Março de 2001, esta na Divisão de
Exploração.
Trabalha em Vermoin – Maia.

Tomou conhecimento do acompanhamento do desmantelamento de Alto


Mira – 2ª fase.
Confrontado com fls. 114 e ss do Apenso AE6 disse que o
acompanhamento deve ser feito pela divisão EX sem recurso a entidades
externas.
Quanto ao Encaminhamento
Tudo chegou via SGD – Sistema Gestão Documental, a todos até ao
Manuel Patrão.

Entende por acompanhamento da EX, controlar os acessos, plano de


segurança para a obra, plano ambiental para a obra, reunião preparatória.
Inicio a 19/6/06 – houve reunião antes do imediato inicio dos trabalhos.

162
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

O Eng. Juan limitou-se a conjugar elementos, nada impôs.

Quanto ao papel de Manuel Patrão era situação de baixa segurança só


ver os equipamentos usados.
Emissão de guias pela subestação Alto Mira mas não iam para a
subestação, outrossim para o Departamento Central.
Guia modelo A tem três campos o produtor, transportador e destinatário
final.
Estimativa de volume transportado era a olho nú???
O camião deve sair cheio – 20 m cúbicos de betão cada camião.
Não deu indicações estritamente para visualizar todas as cargas.
Era Manuel Patrão e mais oito elementos e eram gestores locais de
resíduos, formatados desde 2003.
O valor é pelo número de camiões, vezes x toneladas cada, vezes 20
euros tonelada.
Era um trabalho tratado como tantos outros em termos gerais tinham
que visualizar mas por uma questão de rotina.
Foi lá duas vezes no espaço de vários meses para ver se as coisas
estavam a correr bem.

Sobre as instruções a Manuel Patrão aduziu: «Tinha que lhe dizer


mesmo, senão dei-lhe liberdade para o fazer por amostragem, e foi isto mesmo
que aconteceu.
Isso não desobrigava o Manuel Patrão de ver as cargas pelo menos
pontualmente» (sic).

Confrontado com fls. 223 do Apenso AE27, apontamentos que entregou


na PJ, sobre reunião de 14/6/06, reunião presenças, Jorge Martins, mais outro

163
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Engenheiro, Juan Oliveira, Namércio Cunha e Elsa Almeida – Técnica de


segurança da REN.
Nesta reunião, combinações sobre o que ia ser retirado, horários de
almoço e sanitários que usam.

Juan era o gestor do contrato disse que eram resíduos normais.


Jorge Martins disse que então emitiriam as guias e que a estimativa era
feita a olho.

A instancias do Dr. Shearman de Macedo

Tudo corrente, tudo normal nada de diferente em relação aos


escoamentos normais. Então para quê a reunião de 14/6?
Só para as outras coisas, disse.
É função do GLR verificar em geral as cargas por volumetria, por não
haver balanças no sitio.
Consoante o tipo de resíduos a escoar, assim se deve actuar.

Só em Setembro é que recebeu um telefonema do Manuel Patrão, sobre


um camião semi-cheio depois viu as fotos.

Não sabia que o Calado tirou primeiro as fotos e após disse para Manuel
Patrão ir ver o mail e depois é que se aperceberam que havia problemas.
Comunicou ao Eng. Costa Martins seu superior hierárquico.
Caberia à Divisão Comercial do Eng. Juan tomar procedimentos,
suspensão.
Volvidos meses retomaram os trabalhos com a pesagem à saída.

A estimativa de 300 tonelada a 20 euros ?? tonelada, era uma estimativa


de Juan para Fernando Santos.

164
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Zona de demolição – também soube pelo Manuel Patrão que não iria ser
abrangida mas de 300 toneladas, passou para 6.000 toneladas. ?

Incidentes 13/2
Também, soube, 2008 novas fotos do Calado, “não sabe de nada e é o
chefe directo dele”, lamenta posição de Calado.

A subestação apenas sabia que era para demolir aquilo tudo, não sabia
qual a tonelagem.

A instancias do MP

Confrontado com fls. 118


Quando é que da EX tinham de perguntar ao Juan Oliveira – por
exemplo quando houvesse mudança/alterações de material a escoar ou de
uma burla.
Passar menos material e facturar…

Quanto à questão da divida e perante a questão de saber em quantos


camiões é que existe este problema, não sabe.
Calado está ali sempre? Não o disse.
É um técnico talvez seja mais solicito.

O JIC signatário não fica num non liquet porque é-lhe forçoso conjugar
estes elementos com o conjunto de toda a prova indiciária recolhida, resultar
além do mais fortemente evidenciada a permeabilidade às actuações da O2,
confiando-se, porventura em excesso, reiteradamente.

165
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Jorge Manuel Pais Liça

É Engenheiro, trabalha na REN há 30 anos.

Aos costumes disse nada. Prestou juramento legal.


Confirmou o teor das declarações prestadas em inquérito.

A instancias de Isabel Catalão

Disse ser Director da Divisão de Equipamento desde 2000 até 3/2/11.

Hoje, 4/2/11, passou para outro sector.

Entre 2000 a 2004 participou em vários grupos de trabalho, qualidade,


ambiente e segurança.

Confrontado com fls. 152 e ss do Apenso AE21, Informação FPLJ


45/2005 de 17 de Novembro, cujos assuntos são meios de pesagem, disse ser
uma proposta à consideração do Eng. Alberto Marques, com base nos talões
de pesagem apresentados pelos operadores de resíduos, como tem sucedido
até aqui.

Normalmente, no destino, nos operadores, em alguns casos no próprio


sitio da obra.

Os seus serviços diziam que não assinavam sem pesagens com o


volume nas guias que voltava à REN com um peso de uma balança certificada.
Associar um volume a uma determinada prática.

Quanto aos resíduos de betão


Nos estaleiros têm empresas com missão de fiscalização.

166
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Sobre a demolição bacias de retenção em Alto Mira em 2006,


Cfr. IF 15/06 AE& a fls 114 e ss refere que foi decidido pelo CA:
acompanhamento sem recurso a trabalho externo.
Hierarquia inferior coube providenciar pelo acompanhamento
operacional da obra pela divisão EX.
Sobre o Gestor local de resíduos aduziu que conhece Manuel Patrão.
Há subestação com gente alocada e sem ninguém GLR.
Sobre a não verificação cargas nos camiões da O2 pelo GLR.
Admite que ele possa ter esse entendimento porque não está muito
vocacionado para isso.
Não pode falar sobre legitimidade do Manuel Patrão, ele tem uma função
de coordenação de uma equipa de operação e conservação que raramente faz
esse tipo de trabalho.

E quando o chefe directo de Manuel Patrão, o Eng. Jorge Martins lhe diz
que tem de acompanhar?
Ele diz que nas equipas obedeceriam e fariam o trabalho ipsis verbis.
Perante as assinaturas é ou não um trabalho de gestor local de
resíduos?
Admite que possa ter sido assim.

Confrontado com fls. 166, email, sabe que, Coelho da Silva, tinha
posição diversa, houve alguma desinteligências entre os dois pares.

Directores e Albino Marques tinham que validar e não validar e o próprio


Eng. Vicente Martins, também.

“Há áreas de ferrugem e outras não, como gestor de sistema e parte


comercial”.

167
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

A instancias de Dr. Shearman de Macedo

Conhece Fernando Santos.


Não se recorda se o Fernando Santos lhe perguntou alguma coisa sobre
a Central de Alto Mira (preços, para avaliar a razoabilidade de um preço por
tonelada), mas admite que possa ter acontecido.

Recorda-se de Fernando Santos o ter abordado para indicar uma firma


de engenharia para fazer um cálculo teórico dos valores de betão.
Sugeriu-lhe um dos três projectistas da sua divisão e indicou a
“Quadrante” ao Fernando Santos.

Tem conhecimento que a REN andou a investir em média 200 milhões


de euros em obras de linhas e subestações.
Na década passada foram cerca de 2 mil milhões de euros.

Sobre os Items de gestão de resíduos.

Os sistemas de qualidade, ambiente e segurança


Avançaram em 2003 para contratos de gestão de resíduos e com
utilização apoios da Divisão Logística.
Sobre se havia ambiente larvar corrupto, com centenas de outros
fornecedores a queixarem-se. Não tem muito essa ideia.
Ficaram incrédulos com as notícias quando a investigação foi noticiada.

Quanto a prendas, recebia dezenas de presentes todos os Natais, não


sabe o que é que cada um ofereceu.
Presentes sem significado, garrafas de vinho, castiçais. Não se
determina por isso.

168
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Sobre a obra de Setúbal na subestação.


Em 2009 no Verão, a logística (João Sandes) ou Vicente Martins,
alertaram-me para a possibilidade de se alterar a abordagem, sendo o
tratamento desses resíduos através dos empreiteiros de construção civil.
Agradou aos serviços deste porque era voltar a um sistema mais ágil.

Gestor de obra em Setúbal adiantou-se e mandou fazer uma proposta e


por lá os contentores.
Foi a Abrantina que pôs os contentores.
A CESPA protestou porque não tinha sido ouvida e ainda tinha um
contrato válido.
Foi ponderado superiormente.

Confrontado com fls 223 apenso AE21


[Relatório Deloitte]
Só tomou conhecimento de uma segregação de resíduos de uma obra
em concreto.
Pesagem era destino, nos operadores de resíduos.

Perguntado se era viável porque fazível ou viável porque seguro/fiável


nos valores?
Respondeu que, atento o que estava em causa, podia aceitar-se.

Disse que ninguém da REN controlava.

Se existisse intenção de fraudar podia acontecer.

169
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Questionado sobre o seu conhecimento da deliberação do CA de 2002,


para procurar outros fornecedores de serviços, em detrimento da O2, confirma-
o.
Confrontado com fls. 282, Apenso AE12, refere serem despachos,
encaminhamento de gestão.
A segunda informação, começa por ao Prof. Aníbal Santos 7/10/2002
por pedido de elementos pelo Eng. José Penedos.
Disse que não teve conhecimento de que o Eng. José Penedos tinha
pedido informações sobre a venda da sucata e especificamente da O2.

A fls. 283 do Apenso AE12, refere tratar-se de um despacho de Aníbal


Santos para o CA,. Controlo rigoroso quanto à O2, levantamento e pagamentos
e procura de alternativas à O2.

Confrontado sobre os indícios de que o Engº. Penedos se inteirou não


pode esclarecer porque é que Penedos fez as perguntas.
Ate 2002 fizeram-se concursos públicos.

Acerca dos problemas com a “Quadrante”, esta firma fez, a seu ver, uma
excelente proposta.
Admite trabalhos excelentes
Valores diferentes entre projectistas, eles Quadrante e Consulgal.

Sobre a possível arbitragem, esclareceu que sempre que há uma


tentativa de acordo, é normal acordar-se volumes e pesos.
“Acordo racha a meio” – é o que mais acontece.

José Luís Andrade Lopes

É engenheiro.

170
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Aos costumes disse nada. Prestou juramento legal.


Confirmou o teor das declarações prestadas em inquérito.

Tinha, em 2009, o caso da Tapada do Outeiro a cargo e anda tem agora


depois da reestruturação, desde Novembro de 2010.

As instalações estão encerradas, tem dois vigilantes 24 horas e tem


corpo de limpeza e uma equipa de intervenção.

A Central no período áureo chegou a ter 600 trabalhadores.


Sucedeu ao Juan Oliveira neste dossier.

A recolha de resíduos a partir de Setembro de 2008 é que foi tratada.


Faz tudo sem equipa de apoio.

Confrontado com Informação 5/09 – 31/3/09, Apenso AE9, fls. 80 a 83,


referente à empresa Caflixa, a propósito dos contactos com esta empresa,
recorda-se que era uma empresa que já trabalhava há muito tempo para a
Central, da qual tinham boas referencias, por isso fez-lhe um pedido de
orçamento para a recolha de resíduos indiferenciados, os não perigosos,
madeiras, papeis.
O objectivo era organizarem os matériais por tipo e depois seriam
removidos por outra empresa, de remoção de resíduos.

A Caflixa deu-lhe uma estimativa de preços em Dezembro e em Março


quanto aos resíduos diferenciados.
Foi determinado que se adjudicasse à Caflixa, o que não aconteceu,
porque entretanto havia um problema de resíduos perigosos e fizeram talvez,
alguma pressão à sua chefia a Engª. Maria José Clara, e foram as empresas
credenciadas da lista de fornecedores de serviços qualificados.

171
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

O trabalho acabou por ser feito pelas empresas qualificadas que faziam
o trabalho todo.

Após o concurso decidiu a REN colocar os contentores em ponto de


carregamento.

Confrontado com a Informação de 15/5/09, a fls. 85 verso,


encaminhamento, diz que ainda antes destas propostas recebeu uma carta da
O2.

Tem conhecimento de que na carta da O2, em que se propunham deitar


abaixo a Central Tapada do Outeiro.
A O2 queria tirar aquilo tudo a partir daquela altura, (a fls. 243 do pdf).

A carta da O2 foi também com o conhecimento da administração, o Eng.


Vítor Baptista é que tratou disto sem conseguir, contudo, pormenorizar.

Confrontado com Informação 8/09 a fls 140 do Apenso AE9, uma


informação que elaborou para Vítor Baptista, confirma-a.
Vítor Baptista pareceu-lhe que não teria interesse nisto.

Havia um processo de venda dos terrenos da Central.


Empresas interessadas nos terrenos porque estavam ali ao lado,
Turbogaz e Endesa.

Havia uma faixa de protecção obrigatória.


Zona de especial interesse cultural, museu?
Isto era só uma ideia dele, acarinhava-a.
Mandou uma carta e de cima disseram que iam pensar.

172
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Engª Maria José e Eng. Vítor Baptista de momento não (numa frase
gentil).
A sua ideia era preservar a Central Tapada do Outeiro.

Confirma que mais tarde recebeu uma carta da O2.


Maria Clara pede orientações superiores a 21/05/10.
Vão proceder a actividades de descontaminação e destruição/demolição.
A carta admite que tenha sido Maria José a sugerir o desmantelamento
ou o Vítor Baptista.
Ficou surpreendido porque não se debruçou sobre isto, ninguém lhe
telefonou, daí surgirem as tais cartas.

Havia um aterro de inertes. Montes de cinza central do Outeiro (porque


era uma central de carvão desde os anos 80)
Nas cinzas cresceram, ervas e arbustos, criou uma crosta de 5 cm.
A monitorização do aterro de inertes era feita desde 2007, o aterro devia
ficar imóvel por cinco anos, mas apareceu uma ideia de uma auto-estrada a
passar por ali.

Sobre as formalidades do concurso – recepção abertura (Anabela,


Gonçalves) propostas em envelopes fechados, inviolados, vinham da O2, Alto
Vila e CESPA.
A O2 apresentou a proposta mais baixa, foi o seu primeiro contrato, não
foi contactado, não quis beneficiar ninguém.

Fez a proposta de adjudicação, informação 11/09 de 2/7 a fls. 4 do AE


11,
Teve que dar um palpite, uma maratona, deram-lhe horas, por ordens
superiores.
Opinou pela O2 porque lhe deram 24 horas.

173
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Pressionou ele próprio e deu uma resposta que não era a solução que
preconizava e fazia outras coisas com prioridade.

O Engº Vítor Baptista voltou a insistir, até ao final de Julho de 2009?


Era pressão no sentido de que era um trabalho que tinha que fazer a
contra gosto.

A instancias do Dr. Duarte Santana Lopes

Confrontado com o fls. 57 Apenso AE9 email de Andrade Lopes para


João Sandes, sobre três empresas que apresentaram propostas para tirar
resíduos, CESPA, Alto Vila e O2.

A Caflixa tinha apresentado um orçamento para pôr esse material em


contentores.
A sua chefe Maria Clara disse que a Caflixa não podia ser porque não
era credenciada.
A caflixa não se importou porque tinha muito trabalho.
Em Abril tinha contactado a Caflixa para a adjudicar e depois deu o dito
por não dito face ao telefonema da Engª Maria Clara, já não se pode adjudicar
porque tem que ser às empresas qualificadas para remoção de resíduos, foram
as que o João Sandes e Eng. Parada lhe indicaram. Confrontado com fls 85
verso do Apenso AE9, 28/29 de Abril de 2009, confirma.

Sobre a ideia de alienação de terrenos.


Em 2008 andaram a falar nisso depois interveio a PJ e pararam isso
tudo.

Confrontado com fls.133 Apenso AE9, a 6/5/09, carta, confirmou.

174
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Namercio Cunha telefonou-lhe a dizer que se podia atacar o problema


de uma só vez. O assunto merece tirar, desmantelar.

Consulta à CESPA e Alto Vila.


Confrontado com fls 134-135-136
Recebeu a carta da O2 veio, sem subscrito de Anabela Moreira
(secretaria da administração do Eng. José Penedos) em 5/5/09, mandou por
correio interno.

Encaminhamentos (são duas vias)


7/5/09 Também lhe chegou por correio interno por Anabela Moreira
12/5/09 E pelo sistema de gestão documental

Só tinha pressa em responder.

A instancias do MP

Perguntado se os manuscritos, anotações que constam do Apenso AE11


e AE9 são da sua autoria, é a sua caligrafia.

Mediante a conversa com a Engª Maria José constatou que havia pressa
porque o Eng. José Penedos ia de férias e queria o assunto resolvido, para ser
submetido ao CA.
Vítor Baptista ainda estava ao serviço porque falou com ele e enviou
emails já no final de Julho.
Eng. Vítor Baptista ainda não tinha ido de férias, tendo conhecimento de
tudo.

Sobre Fase II – resíduos não abrangidos pelo contrato, Confrontado com


fls. 46 do Apenso AE11, saída de resíduos da Tapada em 31/7/09, sobre o que

175
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

é a fase II as interpretações de Andrade Lopes e Vítor Baptista são


divergentes.

Confrontado com fls 46, verso, do Apenso AE11. o Eng Vítor Baptista
pede uma analise mais detalhada dos resíduos perigosos não abrangidos pelo
contrato.

Eng Andrade Lopes tinha e tem mais volumes com anotações dispersas,
segundo referiu.

Destes elementos pôde o JIC inferir indiciar-se fortemente que houve


intervenção dos Eng. Penedos e Vítor Baptista nestas questões da CTO.

Luís Manuel de Oliveira Pinto

Foi funcionário da REN e encontra-se na pré-reforma.


Aos costumes disse nada. Prestou juramento legal.
Confirmou o teor das declarações prestadas em inquérito.
Foi colega do Eng. Juan Carlos Oliveira.
O Eng. Juan Oliveira estava na área comercial e trabalhava com o Eng.
Fernando Santos.
Referiu que, em 2005, era responsável da área de logística da REN, que
integrava a parte administrativa, área das compras administrativas, área de
transportes, manutenção de instalações e gestão de resíduos.

Sobre o processo da central de Alto Mira sabe que foi constituído um


grupo de trabalho, o qual integrou inicialmente, sendo que, nesta altura, ainda
não se sabia o encaminhamento que se ia dar ao material da central, nem o
que se iria desmantelar. Esteve em duas reuniões, também com o João
Sandes e, a partir de certa altura, deixaram de ser chamados para as reuniões,

176
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

pensa por serem já questões técnicas que não se integravam nas suas
competências.

Quanto à gestão dos resíduos refere que haviam contratos com três
operadores a O2, a CESPA e Alto Vila, para o encaminhamento dos resíduos.
Só faziam a gestão administrativa dos contratos, viam se estavam a ser
cumpridos.

Confrontado com o Doc. a fls.2 e informação a fls.32 do Apenso AE6,


refere que, quanto à informação de fls 2, se trata de uma informação de Juan
Oliveira para Fernando Santos e não vê grandes reparos a fazer.
Quanto a fls. 4 refere que não havia um critério uniforme na empresa,
havia divisões onde o colaborador mandava à hierarquia e esta propunha
alterações e só depois o documento seria passado a definitivo. Se há este
despacho é porque houve uma validação ou comentário da hierarquia para
passar a definitivo.

Foi a primeira vez que a EDP entregou uma central à REN em fim de
vida, a primeira foi a de Alto Mira, a segunda foi a Tapada do Outeiro.

Foi a primeira vez que a REN fez um desmantelamento e os


intervenientes não tinham “know-how”, mas pensa que tal facto não punha em
causa a autonomia técnica, porque perante pressões, há que saber dizer não.

Confrontado com fls. 32 do Apenso, onde se analisam os resultados do


concurso e se propõe a adjudicação, refere que, nesta fase, ainda não havia
qualificação de fornecedores para os resíduos, aquilo que já tinham feito no
primeiro concurso era a selecção de três empresas, às quais foram
adjudicadas fileiras, por que havia empresas que tinham, por exemplo,

177
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

melhores condições para os metais, para os resíduos, consoante a natureza


dos produtos em causa.
Essas três empresas eram a CESPA, Alto Vila e a O2.

Confrontado com o Apenso AE28 a fls. 28, o Sr. Juan Oliveira solicitou
informações dos fornecedores ao Eng. João Santos, apesar de isso estar no
site do instituto de resíduos, ele possivelmente não sabia. Quando alguém
domina melhor o assunto pede ajuda a colegas que sabem, é um procedimento
correcto.

Confrontado com o mapa a fls.33 refere que existem contratos com


preços unitários estabelecidos. Não sabe se os comerciais tinham
conhecimento das condições em que tinham sido firmados os contratos. Nem
sabe se o contrato de gestão de resíduos era do conhecimento do Eng.
Fernando Santos.

Confrontado com fls. 34 parece-lhe que, segundo os princípios da REN,


o Eng. Fernando Santos acabou por validar aquilo que lhe era proposto mas
não sabe ao certo.

Quanto à fase 2 Alto Mira, desmantelamento das bacias de retenção:

Confrontado com Apenso AE6 a fls.114 e 115, refere que o que está
aqui proposto não é bem um ajuste directo, muitas vezes tinham que pedir
autorização para fazer as consultas, então possivelmente já havia uma
autorização do administrador do pelouro.

Sobre o acompanhamento da obra de desmantelamento e


encaminhamento de resíduos, o que se pretendia era um apoio técnico
especializado local.

178
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

A Gestão do contrato aqui é a gestão no terreno mas como é que se


fazia se tinham prescindido do Eng. Nogueira, na fase 2?! O encaminhamento
dos resíduos é um problema da área comercial, pagou-se um serviço para o
desmantelamento, quando os resíduos estão desmantelados entra na gestão
do contrato e está no contrato que o responsável pelos resíduos é o produtor
dos resíduos.
Referiu relativamente ao despacho do conselho, que é proposta a
criação de uma terceira entidade, mas não se diz bem o que se pretende da
divisão de exploração.
O Eng. Jorge Martins só parece preocupar-se com o desmantelamento e
não com os resíduos.

Confrontado com a Info. 45/05, Apenso AE21, a fls. 152 e ss. esclareceu
que esta informação é feita por João Sandes, com o seu conhecimento.
Não havia pesagens no local desde 2003, pratica essa que se manteve até
2010.

Esclareceu que, até 2002, vendiam as sucatas através de anúncios no


jornal, era quem oferecia mais dinheiro que levava os resíduos, tinham
instalações em 20/30 sítios do país.
Vistos os talões de pesagens com certificado ambiental era acreditar
pesagens era o entendimento de (Eng. Francisco Saraiva, Helena Azevedo e
Francisco Martins.
Refere que ele e João Sandes, fizeram uma consulta ao mercado para
saber o custo das balanças. Mas a compra das balanças foi alvo de
contestação.

Foi feita uma informação ao Director, o assunto foi andando, Eng.


Vicente Martins foi contra e a proposta caiu.

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S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Confrontado com fls. 167 do Apenso AE21 refere que o Dr. Albino
Alencoão Marques decidiu comprar balanças móveis mas o seu Director
contestou e tudo se manteve.

Na reunião sobre pesagens em Alto Mira e dívidas à O2, ele esteve


presente e também João Santos, não se recorda quando foi a reunião.
Houve duas reuniões mas, na primeira, veio o Namércio Cunha e o
Fernandos Santos queria que estivesse um administrador da O2, e recusou-se
a continuar a reunião.

Confrontado com fls. 146 ss do apenso AE6, a acta da reunião, disse ter
visto pela primeira vez o Sr. Manuel Godinho, referiu ainda que esta é uma acta
trabalhada, porque não foi isto que se decidiu, isto é o que a REN e a O2
estabeleceu depois entre si.
[O JIC não consegue dilucidar com toda esta rápida mutação dos
papéis.]

O Sr. Godinho não assumiu a incorrecção nas pesagens e propôs-se


fazer um desconto. Parecia uma negociação de Marrocos, disse a testemunha.
Fernando Santos não concordava, depois houve um encontro e, no
acordo final, o grupo O2 ao invés de terem valores a pagar ainda tiveram
valores a receber.

Confrontado com o Apenso AE6 a fls 114, refere que é Manuela Cunha
a dizer ao Fernando Santos que libera o pedido, porque pediam ajuda ao
departamento de compras.
Admite que quem autorizou o pagamento possa ter sido o Eng.
Fernando Santos.

A instancias de defensor de Fernando Santos:

180
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Confrontado com fls. 200 do Apenso AE 27, e IFCS 15/2006, fls. 114 do
Apenso AE6 minuta feita pelo Juan ao Fernando Santos.
Não lhe parece que o Fernando Santos tenha feito um “copy paste” da
IFCS do Juan.
Na informação a fls 114 ficou só o mais importante, em matéria que o
Conselho de Administração tivesse que decidir, na info. a fls têm mais
informação, mas para quem vai decidir considera que não há diferenças.

Refere que não sabe da existência de um manual de procedimento


comercial do SEP.

Complementou dizendo que todas as divisões ao longo dos anos foram


sangradas em termos de recursos humanos.
Perguntado se, numa visão minimalista do papel da divisão Ex, caberia
sempre ou não à divisão Ex fiscalizar as cargas e ver as pesagens, respondeu
que não.

Lá na REN na sua divisão, ele e o Coelho da Silva eram considerados


“os burocratas da REN”.
Integrou o grupo de trabalho para a primeira certificação ambiental,
CESPA, Alto Vila e O2.

A preparação dos contratos foi da iniciativa do seu departamento.

Sobre a questão das prendas recebeu um cantil, máquina nespresso e


dois pães-de-ló, a estes preferia vinho tinto, se perguntassem as pessoas
ficavam mais satisfeitas.
As prendas não o determinaram a nada.

A instancias do MP:

181
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Confrontado com fls. 33 do Apenso AE6, mapa de análise comparativa


das propostas, disse que se a O2 apresentou uma estimativa irreal de chapa
de ferro e a REN aceitou, deve responsabilizar-se a O2 porque não foi leal.
A REN acreditou nas estimativas da O2.

Os adquirentes de resíduos em Portugal são sucateiros e cada


sucateiro, cada “vigarista”.

O Juan Oliveira não teria competência para validar aquele acordo sem
deliberação do Conselho de Administração, que no seu entender deveria ser
prévia.

Podia ter ido mas para reportar para cima e obter autorização para
celebrarem o acordo consubstanciado na tal acta trabalhada.

Nos diferendos, em que haja prejuízo de encargos para a REN, têm que
se reportar para cima.

Manuel Rosa Martins

É Engenheiro Electrotécnico e está reformado


Aos costumes disse nada. Prestou juramento legal.
A instancias da Dra. Isabel Catalão
Disse ter trabalhado na Ren, até 2001, na Divisão Comercial. Foi colega
de Juan Oliveira na Divisão Comercial desde 1995.
Tinham funções semelhantes, controlavam a eficiências dos desmontes,
do carvão, confirmou funções mencionadas no RAI.
A gestão de contratos nada tem a ver com os contratos em geral.
Ate 2001 nunca ouviu falar da gestão de sítios, depois reformou-se.
Alto de mira estava a acabar o seu ciclo de vida.

182
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Quanto ao seu superior hierárquico primeiramente foi o Eng. Eugénio de


Carvalho e depois o Eng. Fernando Santos.

Confrontado com os Docs. 1 e 3, juntos com o RAI, e que do documento


não consta o nome de Juan Oliveira como pertencente à Divisão Comercial,
refere que, no seu tempo, as pessoas fazia-se uma carreira com recurso ao
mérito, agora “aparecem lá de pára-quedas e por isso é que há estas e outras
coisas”.
O seu departamento aumenta e encolhe consoante há gente para
colocar.

Pensa que Juan Carlos Oliveira como profissional é uma pessoa calma.
Muito consciente do seu trabalho, rigoroso, bom colega, só tem a dizer bem
dele.
Quanto a Fernando Santos tem uma boa impressão dele, é boa pessoa.

Refere que podia estar aqui com o Juan Oliveira, como vitima.
O Eng, Fernando Santos era lá de dentro, do antigamente.

O Juan Oliveira mostrou-lhe peças do processo e pediu-lhe uma opinião.


Apesar da sua sinceridade, por vezes até contundente, de nada
adiantou.

Maria Elvira Borges

É advogada e pertence à Divisão Jurídica da REN desde 1994.


Aos costumes disse nada. Prestou juramento legal.

A instâncias da Dra. Isabel Catalão

183
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Conhece Juan Carlos Oliveira desde que ele entrou na REN em finais
dos anos 90.
Sabe que este esteve em Sacavém, na Divisão dos Serviços
Comerciais, mas essa divisão foi extinta em 2007, e foi criada uma nova
divisão; actualmente trabalha na divisão de equipamento da rede eléctrica
nacional, sediada na Aª dos Estados Unidos da América.

Confrontada com o Doc.1 junto com o RAI, Divisão de Recursos


Humanos, pensa que há lapso na acusação, Juan em 2007 transitou para a
Divisão de Equipamento, não é verdade que ainda lá continue agora, à data da
dedução da acusação, na Divisão Comercial.

31/12/05 Doc.5 Divisão Comercial até 2007


06/09/2007 – Divisão de equipamento – sendo o seu chefe Alberto
Costa.
Em 2006 passou a licenciado uma progressão normal.
Questionado sobre o seu conhecimento de tal aduziu que a relação
entre Vítor Baptista e Fernando Santos, não é muito compatível que houvesse
um grau de ligação com Vítor Baptista.
Quanto a “factos ocultos e redes tentaculares”, entre estes, estão todos
muito surpreendidos lá na REN, nunca desconfiaram de nada.

No tocante à relação entre o Eng. Juan Oliveira e Fernando Santos,


aquele estava na dependência directa do Eng. Fernando Santos, cada
departamento da REN tem a sua forma de trabalho, o subordinado faz um
documento e apresenta-o à consideração, estando lá dentro vai pelo sistema
documental, assume um número e data e evolui aí dentro.
Perguntado se reconhece um documento como provisório respondeu que, só
se for no encaminhamento interno que se mencione que é
provisório/temporário.

184
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Confrontada com o Apenso 6 a fls. 22/05 IFSG 02/11/2005 esclarece


que foi enviada nesta data de Juan Oliveira para Fernando Santos, referindo
“passe o texto a definitivo”, consegue também ver que foi temporária porque
inicialmente, ia sem número e voltou já numerada.
O ok do superior corresponde a uma anuência, no sentido de que aquilo
pode ser mandado assim ficando habilitado a decidir.

Vigorou delegação de competências – 1998 a 2008 (por instrucçoes da


então holding EDP)
Concentrar poderes no CA e só delegar certas competências financeiras
e não financeiras.

Confrontada com o Documento resultante da reunião de Março de 2007,


Apenso AE6 a fls. 145 , onde estiveram presentes em representação da REN o
Eng. Fernando Santos e Eng. Juan Carlos Oliveira e da O2 Manuel Godinho e
Namércio Cunha, referiu que, para estar presente nesta reunião, representando
a REN, não era necessária nenhuma delegação de competências.
Sendo que estavam tacitamente mandatados pela REN.
Esclarece que a acta relata uma negociação que houve e que
normalmente as pessoas presentes na negociação estariam previamente
instruídas, pensa que o Eng. Santos enquanto responsável desta divisão
recebeu orientações para fixar os valores.
No tocante a fls.148/49, esclareceu que se trata de um pedido de
compra feito por Manuela Cunha, da Divisão financeira e Património da Ren,
instruída por Isabel Ferrão.
Perguntado quem autorizou o pagamento a O2, respondeu que foi o
Juan Oliveira que solicitou que se cumprisse o pagamento de acordo com a
acta.
Da acta só resulta que acordaram propor quantidades e valor máximo .

185
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

O departamento financeiro devia ver quem estava habilitado.


Juan oliveira mesmo que tenha sido ele a pedir foi certamente com o
conhecimento do seu director financeiro, Fernando Santos, ele sozinho não
tinha competência para pedir o pagamento à O2.

Perguntado se teve conhecimento de que o Juan Oliveira não tenha


mantido o devido zelo no cumprimento das funções, respondeu que não tem
conhecimento nem qualquer referência a isso, tem-no até como profissional
muito competente.

A instâncias do ilustre defensor dos arguidos Vítor Baptista e Fernando


Santos, o Dr. Joaquim Shearman de Macedo.

Esclareceu que, na altura, o administrador do pelouro da divisão


comercial era o Eng. Vítor Baptista e admite que o Eng. Vítor Baptista e Eng.
Fernando Santos falavam muito porque, nesta altura, em 2006, estavam com o
processo de cessação dos contratos de aquisição de energia [CAE´s] e isso
conduzia a que tivessem que falar dados os montantes envolvidos.

Esclareceu ainda que a REN, no pacote de 1995, actuava como “single


buyer”, comprava toda a energia às centrais que a produziam e vendia-a toda à
EDP.
Em 2003 o Governo legislou no sentido da cessação antecipada dos contratos
de aquisição de energia e, por causa das directivas europeias, era preciso
acabar com esses contratos.
A maioria das centrais eram detidas pela EDP, tinham um contrato de
aquisição de energia, no qual a REN assumia a obrigação de lhes comprar
toda a energia e eles de vender e de pagar designadamente a disponibilidade.

186
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

De um lado estavam os vendedores de energia, representados pela EDP


e do outro lado a REN, representada nestas negociações, por si e pelo
Fernando Santos, vigorava à altura o Decreto-lei nº 240/2004.

Por estarem a tratar disto o Eng, Victor Baptista e Eng. Fernando Santos
reuniam e contactavam, o assunto era muito absorvente, estavam aqui
envolvidos milhões de euros, o assunto dos resíduos era residual.

Quando termina um contrato de aquisição de energia pelo decurso do


prazo, que saiba houve dois, a Central de Alto Mira e a Tapada do Outeiro, a
REN recebia as instalações e os terrenos e tinha que tratar dos centro
electroprodutores, prepará-los para venda, desmontar ou preparar para um
novo centro.
Quando as centrais eram desactivadas por caducidade dos contratos, no
decorrer destas obrigações acessórias, é que cabia à Direcção Comercial lidar
com o tema dos resíduos.
Todas as divisões lidam com os resíduos mas as que lidam mais é a
Divisão de Equipamento e a Divisão de Exploração.

Conhece o Eng. Victor Baptista desde 1996 na REN mas antes já da


EDP, onde foram ambos colaboradores.
Quanto ao seu percurso profissional conhece o seu Curriculum Vitae,
sabe que o mesmo esteve nos E.U.A, deu aulas, na EDP integrou a Direcção
Central de Planeamento, na REN esteve na Direcção de Planeamento de
Centros Produtores, exerceu o cargo de administrador da REN – Redes
eléctricas Nacionais desde Janeiro de 2001, com a alteração estrutural da
empresa, REN SGPS continuou a ocupar o cargo de administrador, em 2007.
Deixou de ser administrador da REN em Março de 2010, porque houve
um novo conselho de administração, o mandato terminou em Dezembro de
2009 e prorrogou-se o seu mandato até à Assembleia-geral anual.

187
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Até Março de 2010 manteve a categoria profissional que tinha, após


esta data passou a Director Geral, categoria esta logo abaixo dos
administrados gerais.

No tocante ao Conselho de Administração, esclareceu que cada


responsável de divisão, normalmente o director, encaminha os assuntos que
entende levar ao Conselho, aqueles que exigem decisão do CA, é tudo
digitalizado e despacham para o Administrador do pelouro, este pode dar
orientações, decidir ou agendar para Conselho. A informação que chega ao
conselho é remetida a cada um dos administradores.

Esclareceu que as três empresas principais que se dedicam a este nicho


de mercado (resíduos) são a CESPA, Alto Mira e O2.

Esclareceu que a carreira do Eng, Vítor Baptista foi feita no sector


eléctrico e que ele tinha muitos pelouros e é natural que as pessoas lhe
encaminhassem assuntos que não eram do seu pelouro.
Confiava nos técnicos abaixo, é assim que as relações na empresa se
devem pautar.
Não se punham a pensar os assuntos em termos de curar, quem deles
se devia ocupar.

Em termos profissionais pensa que o Eng, Vítor Baptista é uma pessoa


esforçadíssima, que reparte a sua actividade profissional entre o Porto e Lisboa
e isso exige um grande esforço, vai a todas as reuniões, vai para o estrangeiro
e fez negócios muito importantes, sendo responsável por relações com a
ERSE, DGE.
É uma pessoa muito inteligente, cordial, esteve nos recursos humanos.

188
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Relativamente a esta acusação ficaram todos muito surpreendidos na


REN.

No tocante a Fernando Santos também veio da EDP para a REN e


esteve com ele em muitos processos complexos, nomeadamente a aquisição
dos activos do gás, em 2006.
Há cerca de 30 anos que ele trabalha nesta área, é um homem muito
inteligente e capaz.
São ambos directores, o Fernando Santos é administrador da REN
Trading SA, pela circunstância específica de a REN precisar de gerir os dois
contratos cujas cessações antecipadas não obteve, por isso se criou a REN
Trading SA e o Fernando Santos foi nomeado porque já tinha o dossier
anteriormente.
Em 2002 foi nomeado director adjunto e em 2005 foi nomeado director,
categoria que mantém actualmente, apesar de ser administrador da REN
Trading SA mantém a posição remuneratória de director.

Perguntado em sede de instâncias do MP se a testemunha como jurista


da REN considera que a acta sozinha vincularia a REN perante a O2 e
responsabilidades do valor que foi acordado (921º Acusação), respondeu que
tem que se ir ver a delegação de competências e ver se aqueles valores cabem
ou não na delegação de competências.

Sobre o seu consentimento de que havia divergência quanto a valores


num contrato que já havia anteriormente, confirmou.
Perguntado se o facto dos pareceres, que foram solicitados a empresas
de consultadoria externas, pela REN e O2 , serem contraditórios e
inconciliáveis conduziu a um bloqueio das negociações, respondeu que, na sua
opinião, foi verificado que as coisas não estavam a correr bem na central de
Alto Mira, e a REN mostrou o seu desagrado, porque as toneladas que a O2

189
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

apresentaria não seriam as que a REN acharia correctas, então resolveram


pedir a uma entidade independente a avaliação dos resíduos com base em
plantas e fotografias e cálculos, sendo que os resultado dos pareceres eram
díspares, o que para si não consiste, numa situação de bloqueio, são passos
da negociação.
As hipóteses seriam rescindir o contrato, ir para tribunal, a REN e a O2
podiam ambas querer agarrar-se ao parecer do seu perito ou então arranjavam
outra solução e, ao que parece, na REN arranjaram outra solução.
Não sabe se já tinham falado e chegado a consenso e a reunião serviu para
formalizar.

No tocante à competência para desencadear um pedido de


consultadoria, esclarece que, sendo um recurso a uma empresa externa,
consubstancia uma prestação de serviços, então vai depender do valor dos
honorários, para se saber quem pode autorizar, depois teremos de saber até
que valores as pessoas estão mandatadas para acordar, e se o valor em causa
estiver para alem da competência do Eng. Fernando Santos, o Eng. Vítor
Baptista teria que intervir, como administrador do pelouro, frisando que na REN
as instruções são muitas vezes verbais.

[Se o não, diz o JIC, repristinam-se as duvidas quanto ao original


procedimento acordado].

Pedro Jacinto Pereira Correia

É vigilante da Prossegur.

Aos costumes disse nada. Prestou juramento legal.


Confirma o teor das declarações prestadas em inquérito.

A instancias da Dra. Isabel Catalão

190
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Foi colocado na central de Alto Mira em 2/11/05.


Foram-lhe cometidas as funções de abrir e fechar o portão, depois os
registos das pessoas e veículos de entrada e saída das pessoas que lá
trabalhavam.

Constatou em Julho de 2006 que os carros, camiões, saltavam à


passagem pela calha do portão, achou estranho e transmitiu às pessoas da
exploração, do Sr. Manuel Patrão, que os camiões tinham pouco peso ou iam
vazios.
Falou com o Sr. Eng. Juan Oliveira, pessoalmente, que disse que aquilo
estava a ser pago à tonelada e pedia-lhe para ver se os carros levavam peso,
doravante.

A testemunha foi de férias o mês de Agosto todo.


Antes de ir de férias falou com o Juan Oliveira, em Julho de 2006.
Ficou lá um colega enquanto esteve de férias e não sabe se ele
controlava.

Falou com o Sr. Raul Calado, nos primeiros dias de Setembro de 2006,
pediu-lhe que parasse os carros e viu que estavam meio carregados.

Confrontado com o Apenso AE 20 a fls. 113, refere que, a 6/09/2006 não


se recorda de quem deu ordem de suspensão dos camiões, foi o Sr. Calado
que deu ordem para não saírem mais carros sem estarem carregados ou se
saíssem assim, com pouca carga, não levavam guia.

Foi o Raul Calado que lhe transmitiu nesta segunda fase.


Apontavam os metros cúbicos.
Eram os motoristas que diziam os metros cúbicos que levavam.
Em Setembro o assunto ainda se manteve nos primeiros dias.

191
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Em 5/09/06 viu que aquilo estava praticamente na mesma.


Já conhecia o Juan Oliveira quando estivera em Sacavém a trabalhar
para a REN e ele mostrou-se muito preocupado.
Falou com Juan Oliveira, antes de ir para férias, e, a partir do dia
14/07/06, dai para a frente, estipulou-se 20 metros cúbicos por camião.
Quanto à distância para descarregar, eram 300 e tais quilómetros até
Canas de Senhorim.

Esclareceu ainda que até foi louvado pela REN, por Juan Oliveira e
Fernando Santos, pelo bom desempenho, deram-lhe os parabéns e pareceu-
lhe sincero.

Raul Jorge Ribeiro Calado

Trabalha na REN.
Aos costumes disse nada. Prestou juramento legal.
Confirmou o teor das declarações prestadas em inquérito.

A instâncias da Dra. Isabel Catalão


Disse lembrar-se dos acontecimentos de Setembro de 2006 da Central
de Alto Mira, “mesmo que não seja com aquela vírgula e com o ponto exactos”.

Supostamente o Pedro Jacinto Correia já lhe tinha dito que havia


problemas, senão não tinha tomado esta atitude.
Houve conversas, impressões sim.
Não foi muito tempo antes, mas não serão meses, foi tempo antes,
Também não se recorda quando é começaram os trabalhos de
demolição de estruturas lá no Alto Mira.
Desde Fevereiro de 2000 o seu chefe hierárquico directo era o Manuel
Patrão e acima deste o Eng. Jorge Martins.

192
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Confrontado com IFCS 15/06, refere que o serviço de Conservação de


Subestações, é o seu departamento. Não lhe foi dado conhecimento directo do
despacho, não conhece a comunicação, nunca a leu.
O Manuel Patrão não lhe deu conhecimento de que ficavam obrigados a
conferir as cargas dos camiões da O2, quando saíam.

Recebeu ordens para passar guias apesar de não ser essa a sua
função.
Estava a assinar guias que supostamente correspondiam à verdade.
Tirou fotografias e enviou um email ao Sr. Manuel Patrão porque
entendeu que as palavras desacompanhadas e oralmente, tal não poderia ser
apagado.

Confrontado com apenso AE 6 a fls. 120/121, confirmou o teor do email,


foi este email que enviou para Manuel Patrão.
O Eng. Juan Oliveira foi lá, à central de Alto Mira, ver os camiões, foi lá
para resolver o problema.
Os camiões ficaram parados até que alguém fosse lá resolver o
problema.
Os camiões voltaram para trás, a partir daí não acompanhou isto.
Confirmou o telefonema antes do almoço, do Juan Oliveira.

Noutras obras também houve mais tarde problemas com a O2, dos
quais se recorda.
Nessa altura tinha as mesmas atribuições que tinha em 2006, frisou que
não era sempre ele que fazia as guias.
Confirma que, nesta altura, deixou de pôr o seu nome nas guias e
passou a colocar GLR - gestor local de resíduos, frisa que não assina papéis
em branco, não põe a sua assinatura em papéis com os quais não concorda.

193
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

A instâncias da defesa do Vítor Baptista e Fernando Santos, (o Dr.


Joaquim Shearman de Macedo) referiu:
A estação de Alto Mira foi desmantelada, o espaço está na sua opinião
subaproveitado.
Havia dias em que era o único da REN ali no momento e respondia pela
REN dentro das suas competências, mas não tomava decisões para além
daquilo que lhe compete, nem conhece os pormenores dos contratos.
Não sabia que tinha fiscalizar, nem que tinha a gestão operacional da
obra.
Recebeu ordens para passar as guias, o que fazia, mas nem sempre
examinava porque confiava nas pessoas, sendo que mais tarde deixou de
confiar.

Testemunhas ouvidas a instancias do RAI do arguido José


Penedos:

Anabela Catraia Moreira

Trabalha na REN há 30 anos.


Foi secretária do Engº. Penedos durante os 9/10 anos em que lá esteve.
Disse que na REN havia um sistema de gestão documental há vários
anos, mas que o Eng.º Penedos despachava à mão, não gostava das novas
tecnologias.
Era a testemunha que os transcrevia e colocava no sistema de gestão
documental.
Relativamente ao assunto dos presentes, foi perguntado se o
Engenheiro recebia, sobretudo no Natal.
A testemunha disse que sim, bastantes, no Natal, mas ela não.

194
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Era a testemunha que os recepcionava. Tomava nota do remetente e


depois o Engenheiro agradecia os votos de boas festas, independentemente de
virem acompanhados de lembranças.
Os remetentes eram Empresas, bancos, entidades públicas.

Perguntou-se à testemunha se conhecia o Sr. Manuel Godinho.


A testemunha disse que antes das notícias não sabia quem ele era.
Via referências à empresa O2 no sistema de gestão documental.
O Eng.º José dos Penedos perguntou-lhe se se lembrava de algum
presente vindo da O2, mas ela disse que não se lembrava, quando isto veio a
público.
O grupo de secretariado tinha mais pessoas e às vezes substituía as
colegas que secretariavam outros administradores que também recebiam
presentes.
Viu o trânsito de presentes, mas não sabe a quem se destinava.
Os directores também recebiam prendas.
Sabia os assuntos que o Engenheiro tratava
A remuneração dos terrenos era um assunto muito importante para REN
e que o Engenheiro ocupava.
Ela disse saber que os terrenos electroprodutores eram activos da REN
e, como tal, muito importantes.
Estes eram acompanhados pelo Presidente da REN.
A venda dos terrenos a terceiros, ela recorda-se sobre uma central da
Tapada do Outeiro, o assunto da venda foi colocado, lembra-se que uma
empresa mostrou interesse em adquirir este terreno e sabe disso porque a
correspondência deste âmbito passava pela testemunha.
Era uma empresa espanhola- ENDESA, mas não sabe em que é que
isso ficou.
Era a testemunha que preparava e fazia os agendamentos do
Engenheiro.

195
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Uma das reuniões que agendou foi com o accionista público, Secretário
de Estado do Tesouro.
Também reunia com o Ministro das Finanças.
Esse agendamento também era feito por temas que alinhava por
despacho.
Um dos temas discutidos nas reuniões foi o dos terrenos
electroprodutores, em 2008/2009.
A testemunha disse julgar que o Engenheiro falaria desse tema com os
outros administradores.
Não viu correspondência dos administradores.
A matéria dos terrenos estava no pelouro também do Eng.º Vítor
Baptista.
Nas questões de resíduos, não se lembra do Eng.º penedos
acompanhar directamente esta questão.
Existiam papéis no sistema de gestão documental, mas pensa que não
era sobre o pelouro.
Havia informações sobre estes temas interligados.
Os terrenos a vender tinham que estar em certas condições, sem
resíduos.
Em instâncias do MP
As reuniões do CA, que constavam de actas, haviam quando o Conselho
apreciava e deliberava, mas nas reuniões parcelares com 2 ou 3
administradores, não haviam actas.
A testemunha não secretariava essas reuniões, nunca esteve presente.

Relativamente ao assunto dos presentes, a testemunha considera ser


um uso social, mas limitava-se a recebê-las.
Afirmou que não se retribuía também com prendas.
Havia prendas da REN numa lista institucional como empresas públicas,
bancos , algumas empresas ofereciam aos Conselhos.

196
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

O Engenheiro tinha um e-mail institucional, mas ele não utilizava, ela é


que transmitia à mão e ele depois dizia a resposta.
Assuntos da empresa, pai e filho nunca trocaram e-mails, só mesmo
sobre assuntos pessoais.
O Dr. Paulo Penedos foi lá uma vez, mas telefonava frequentemente,
nem com clientes, enquanto representante deles, lá foi.

Sabe que o Filho Fernando Penedos trabalha num banco, no estrangeiro


há anos.

António José de Castro Guerra, Economista, Professor Universitário.


Conhece o arguido Engenheiro Penedos e é amigo dele.
É presidente da CIMPOR.
Foi Secretário de Estado da Industria e Energia com tutela da energia
entre 2005/2009, sendo o Engenheiro presidente da REN, teve muitos
contactos profissionais com ele.
Os contactos ocorreram, a maior parte das vezes, por iniciativa da
testemunha e poucas vezes pelo Engenheiro, para questões que respeitavam à
condição de accionista do Estado na REN.
A testemunha tomou iniciativa de manter contacto com o engenheiro
pelo seu conhecimento na área da energia, pela sua seriedade e pelo serviço
público.
Colaborou na discussão do sector eléctrico e do gás natural, dos activos
reguláveis no gás natural e nas reuniões para concessões na área da energia.
Relativamente à remuneração dos terrenos da REN, também se falou
nisso em sede de activos reguláveis, com a preocupação de garantir que os
activos reguláveis, referindo-se aos gasodutos e cavernas em que se guarda o
gás natural, deviam ser regulados nos termos em que os activos da
electricidade o eram.

197
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

A questão era muito importante para a REN, porque a REN é uma


empresa regulada e vê a sua rendibilidade dependente de duas coisas: do
perímetro dos activos regulados, a taxa de remuneração dos activos regulados,
o que impacta negativamente nos activos da empresa, por exemplo, os centros
electroprodutores descomissionados.
Isto tinha efeitos na comparação internacional quando fosse privatizada como
aconteceu depois em 2007.
O Eng.º Penedos tinha muito interesse em melhorar os activos, nas
remunerações dos terrenos das centrais descomissionados.
Como estavam no balanço a juros, a opção de venda importava muito,
positivamente.
A questão foi tratada juridicamente em 2007 com a testemunha em
funções como Secretário de Estado, por um decreto-lei que atribuiu a ideia de
valor aos terrenos.
A testemunha advogou no Governo a atribuição de um novo valor zero
para os activos com actualização de acordo com a taxa de inflação e fez
vencimento

António Manuel Carvalho Vieira Vitorino


Conhece o arguido José dos Penedos há 30 e tal anos.
O Dr. Paulo Penedos, desde que era pequeno
O Engenheiro foi seu chefe de Gabinete quando foi Secretário de
Estado dos Assuntos Parlamentares, Governo de 1983/1985.
Foi padrinho de casamento de Paulo Penedos.
Através do contacto do pai, foi sempre sabendo informações sobre os filhos.
O testemunho mais directo acerca do Paulo Penedos era-lhe feito pelo
pai, pela diferença entre os filhos com educações iguais, mas evoluções
diferentes, porque Paulo tinha um temperamento exibicionista, ser o centro do
mundo, havia uma certa megalomania, sobretudo política, como quando se

198
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

candidatou a Secretário Geral do PS e do Ferrari, demonstrava uma atitude


desmesurada.
O pai sempre se mostrou preocupado, mas apoiante, com aquele
sentimento que um pai não se pode afastar do filho.
Conseguiu tirar o curso, o outro foi sempre um aluno exemplar e o pai
tinha apreensões quanto ao seu modo de vida e exuberância, em contraste
com a conduta do Pai de grande rigor, prudência.
Havia contraste entre o ponto de vista do pai e do filho.
Dos contactos pessoais que teve com Paulo Penedos, do ponto de vista
profissional só teve uma vez com o ele, em que representava uma empresa,
como advogado, logo não pode dar opinião, mas do ponto de vista político,
ambos eram militantes do PS, era ultra-generoso e muito empenhado e corre o
risco de pecar por excesso de zelo, voluntarismo, que a crença nas suas ideias
pode levar a perder medidas.

Relativamente aos presentes, foi perguntado à testemunha se recebeu


muitos presentes e o que se passa em Portugal, nesta matéria.
A testemunha disse ser prática corrente, se bem que tem havido
evolução, pois hoje em dia substitui-se os presentes pessoais por doações a
ONGS.
Quando estava na Comissão Europeia também se colocou esse
problema.
Definiram um critério de valores. Os que excediam, eram devolvidos.
A devolução podia ser hostil, porque em alguns países a prática não era
comum, mas sim nos do sul, daí que podia ser hostil perante a cultura dos
países de origem ofertante.
Recebeu um Nokia do governo finlandês, que recusou inicialmente pelo
valor mas que foi aceite por ter sido indicado o valor de custo.
Como exemplo de presentes, a testemunha recebeu facas de ponta para
abrir papel, fruteira em porcelana, canetas, boneca lavadeira.

199
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Em instâncias do MP
Foi perguntado à testemunha se tinha conhecimento da situação pessoal
de Paulo Penedos, isto é, se ele passou por algum tipo de dificuldade
económicas, vulnerabilidades, questão sobre a qual a testemunha disse nada
saber., porque nunca teve conversa de ordem pessoal sobre isso, mas via que
trocava de carro com frequência.
Deverá ter recebido apoio financeiro do pai, talvez tenha falado antes da
formação profissional, já formado não tem memória.

Eduardo Almeida Catroga, Professor Catedrático


Disse ser usual, no contexto português, a troca e recebimento de
prendas.
Como exerce funções executivas há mais de 40 anos, é normal que tal
aconteça sobretudo no natal, pois a actividade como professor universitário
sempre foi mais “partime”, mais espaçado ao longo destes 40 anos.
Recorda que, quando foi Ministro de Finanças, chegou a casa e tinha
imensos presentes debaixo da árvore.
Quando deixou de ser, diminuíram, mas continuou a receber.
Mesmo quando foi administrador da CUF, da SAPEC, administrador não
executivo da Sovena e do Banco Financia, sempre recebeu prendas, umas de
maior outras de menor valor.
Muitas vezes respondia a agradecer, outras não, porque se esquecia.
É uma prática corrente na vida empresarial de Portugal
Recebeu desde salvas de prata, vinhos do Porto e da Casa do Douro,
muito antigos, quando foi Ministro, porcelanas, livros.
Traduz-se num uso social, uma cortesia.
Disse saber bem receber, mas nada mais do que isso.

200
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Disse conhecer o Eng.º Penedos há muitos anos, pessoalmente, ainda


era deputado, depois, enquanto Secretário de Estado da Energia teve alguns
contactos profissionais com ele, nessa qualidade.
Depois, através de um irmão da testemunha, professor universitário em
Coimbra.
A testemunha sempre teve profissionalmente ligado ao Banco Financia,
que foi fundado pelo seu aluno António Guerreiro, como consultor do banco e
administrador não executivo, excepto quando esteve no Governo em1993. A
partir de 2000 voltou outra vez para o Banco financia nas qualidades já
referidas.
Em 2001, após a criação da REN, contactou com O engenheiro
Penedos, uma vez que a REN era uma possível cliente, almoçavam
regularmente.
Quando houve o IPO, foi Presidente da comissão de vencimentos da
REN, quando foi aberta ao capital privado, mas não continuou porque de
acordo com a CMVM, ultrapassava o número de empresas, ainda como não
executivo, órgãos sociais.

A partir de 2001, foi perguntado se alguma vez discutiram a


remuneração dos activos da REN.
A testemunha disse que não foi só com o Eng.º, mas também com o
professor Vítor Santos, administrador da REN, especialista em Regulação.
A determinada altura, a propósito da rendibilidade da REN, tem activos
regulados, tem rendibilidades garantidas, o regulador fixa remuneração ao
capital investido.
Recorda-se de lhe terem referido a problemática da regularização dos
terrenos. Aquando da criação da REN, foram destacados activos para a
formação do capital da REN, quer o Eng.º quer o Prof. Aníbal Santos, falaram
várias vezes do peso morto dos terrenos na regulação e cotação da REN. A
entidade reguladora não estava a considerar estes terrenos, era um peso os

201
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

capitais próprios da empresa, não considerados como custo económico -


técnico. Era uma luta que eles travavam.
Era uma questão estratégica para a REN, segundo a testemunha.
Suscitaram-se pressões sobre o regulador para dar um melhor valor aos
terrenos dos centros electroprodutores ou então vender, que parece como
alternativa a ser ponderada. Se a primeira situação não fosse plausível, então a
segunda revelava-se bastante atractiva.

Em instâncias do MP
O MP perguntou à testemunha se tinha conhecimento de códigos
éticos< internos, a propósito das prendas, de regulamentos internos, códigos
de adequação social, como dever dos funcionários não aceitarem
determinados tipos de prenda na REN.
A testemunha disse não ter conhecimento sobre qualquer regulamento
nesse sentido.

Dr. Jorge Fernando Branco de Sampaio


Conhece o arguido José dos Penedos há 30 anos.
O Exmo. Ex - Presidente da República e Conselheiro de Estado fez
questão de vir dizer que veio pessoalmente falar sobre factos, não é uma
testemunha abonatória, desde que entrou no PS, em 1978, conhece o Dr.
Paulo Penedos e muito bem.

Sendo pedido para a testemunha enquadrar o conhecimento do Dr.


Paulo Penedos, a testemunha disse que o Dr. Paulo Penedos foi seu apoiante
na campanha 1995/1996 (a dos oleados amarelos).
Quanto ao Eng.º José Penedos, pertenceu ao grupo do Ex-secretariado
e foi seu apoiante a Secretário - Geral do PS. Subiu a pulso na vida. Era um
profissional da electricidade, foi Secretário de Estado da Defesa, no tempo do
Ministro Veiga Simão, bem como, foi Secretário de Estado da Energia.

202
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Discutia política como muita sabedoria.


A testemunha recorria aos conselhos do arguido por ser uma pessoa
séria, competente nas situações de energia, tinha absoluta confiança naquilo
que ele dizia.

Nas palavras da testemunha, o Jovem Paulo Penedos, era uma


simpatia, um verdadeiro Public relations, tinha 2 escritórios, com os prazos e
tudo a correr, tinha qualidades, mas o pai queria que, na expressão da
testemunha “assentasse jogo”.
Fez candidatura à Câmara de Vila Nova de Poiares.
Foi candidato a Secretário - Geral do PS
A testemunha tem imensa amizade pelo jovem (Paulo Penedos).
Está grato pelo apoio, mas numerosas vezes, a testemunha e o pai
trocaram impressões acerca da correria, exibicionismo, com o Ferrari, não
estava bem adequado àquilo que deveria ser, que também transparecia no
contacto pessoal.
A testemunha deu-lhe alguns conselhos de prudência, mas nunca falou
sobre outras matérias, não faz ideia da sua vida profissional em concreto.
Era uma pessoa com imensa facilidade de falar com toda a gente. Era
um networker de primeira grandeza.
O pai defendia-o sempre.

Relativamente ao Eng.º Penedos, pela cara, que conhece muito bem, e


pelo seu jeito, via que ele estava numa posição incómoda ao não conseguir
“controlar” o filho, em termos de impetuosidade.

Ao longo da sua vida, nomeadamente nos cargos que desempenhou, foi


perguntado se foi muito presenteado na altura de épocas festivas. A
testemunha disse que depende de cada sociedade. Contou história do pai,
acerca do Chefe da Casa Civil de Ensenhower, que recebeu o primeiro

203
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

aspirador westinghouse e o Chefe da casa Civil, demitiu-se, porque tal foi


publicitado.
Diz a testemunha que em Portugal não é assim. Em Portugal os
presentes são uma prática corrente, mas ele disse “há presentes e presentes”,
como por exemplo: andar recuado, livros bonitos sobre história de arte, que os
bancos patrocinam, canetas incontáveis.
Tem dois episódios que se lembra e um ficou para memória: nunca se
sabe o que é dito pelos nossos colaboradores a nosso respeito e em nosso
nome, nunca controlamos o que as pessoas dizem. “As bocas são fatais”-
enfatizou.
Os dois episódios: o seu pai era Presidente da Comissão Inspecção às
casas de Saúde , formada por 4 pessoas que percorriam o país, um deles, o
secretário, ia à frente e teve azar de inspeccionar a casa de saúde de um
amigo/ colega de faculdade do seu pai. Pediu 100 contos, para a comissão, fez
- se inquérito disciplinar e foi e o Sr. Foi demitido da Função Pública. O seu pai
nunca deixou de viver com a dúvida, o que é que as pessoas, depois de tanto
tempo com aquele senhor a trabalhar, teriam pensado sobre a sua
honestidade.
Portanto, há presentes e presentes e sobretudo o que se faz aos
presentes à maioria infelizmente, não se faz nada.
Não compra canetas nem relógios, porque (…) quantos relógios
nacionais lhe presentearam quando estava em Belém, isso tudo aconteceu!
Às tantas é cortesia, mas a testemunha nunca se impressionou com
isso, excepto uma vez, quando teve um contributo para a sua campanha e
tinha de embargar uma obra do seu benfeitor.
Na opinião da testemunha, há presentes para os Presidentes, de
Estado, que ficam no palácio de Belém, outros são pessoais como canetas,
relógios, estes não são devolvidos, ninguém o faz, seria uma indelicadeza.
Recebeu também, quando foi eleito para a Câmara de Lisboa, ao fim do
primeiro dia de eleição, tinha uma galinha em casa, acompanhada por uma

204
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

declaração escrita por um analfabeto, “Esta é a minha galinha poedeira”, foi


enviada por Nuno Brederode Santos um seu correligionário politico.
Quadros, é muito frequente, os pintores oferecem, mas isso é
pessoalmente.
Quando visitava as fábricas, no final entregavam um produto da fábrica.
Foi dito pela testemunha ser-lhe indiferente quem é que lhe está a dar o
presente.

O JIC tomou boa nota do entendimento de S. Ex.ª acerca das


características pessoais e idiossincrasias, quer do depoente, quer do Eng.º
Penedos, quer do seu filho Paulo Penedos, que concatenou com outros
elementos indiciários constantes do processo, por forma a analisá-los
conjugada e criticamente, em prudente uso dos seus poderes de cognição.

José Ângelo Ferreira Correia, Engenheiro.


Conhece o arguido José dos Penedos e a família circunstancialmente.
São amigos, tem respeito por ele e enorme admiração.
É uma relação de amizade.
Em relação ao Fernando José, filho mais velho, ligado à banca,
conheceu-o em 1996, numa viagem comercial à Arábia Saudita e percebeu, da
parte do pai, que não queria ser responsável pelos actos dos filhos, isto porque
em reuniões com pessoas importantes foram feitas propostas de negócios e
dirigiram-se ao pai para ver se aprovava, nisto o Engenheiro José dos Penedos
levantou os braços e disse que não era com ele.

A respeito do Paulo Penedos, comentou com o Eng.º Penedos o facto


dele ter ido fazer uma campanha para a Câmara de Vila Nova de Poiares de
Ferrari, e o Pai só disse “ ai meu deus”, apercebeu-se que ficou ali um mau
estar, era incómodo!

205
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenas uma vez esteve em contacto com o Paulo Penedos, ele foi-lhe
propor um negócio legítimo, mas que achou que aquilo era “maior do que a
perna dele”, achou um negócio excessivo, tinha uma dimensão muito grande,
embora legítimo.
Achou curioso que um jovem se mostrasse interessado em manter
contacto com empresas em áreas importantes.
Era uma imprudência, um desajustamento às suas próprias
possibilidades.
Há silêncios que são muito impressivos! - Disse a testemunha.
Manteve contacto com o pai por razões profissionais, quando foi
Secretário de Estado, na EDP, na REN, da qual saiu há um ano por causa
deste acontecimento.
O Eng.º Penedos é um homem honorável !
Relativamente ao assunto dos presentes, a testemunha disse cada vez
haverem menos, por causa da crise, mas que são uma prática comum e que,
na altura do Natal, é obrigatório, é uma pratica inserida em Portugal como o
presépio.
Como exemplos de presentes, referiu livros, vinhos, cabaz, robalos,
galinhas, dentro do contexto.
As empresas dão e recebem.
Ilustrou como exemplo a relação comercial da sua empresa em Aveiro, onde
tem 190 mil postos de venda, a sua empresa dá qualquer coisa, como uma
saladeira em vista Alegre e um centro de mesa.
Este ano, foi dito pela testemunha rindo-se, que a sua empresa cortou
os funcionários públicos “para não violarmos uma legislação que saiu no ano
2010. “(sic)
O valor das prendas vai depender da categoria das pessoas, podendo
variar entre 100, 50, 25 euros.
Mas, ao longo da sua vida, assistiu a prendas de valor superior a esses.

206
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

As empresas podem ser filantrópicas com quem os ajudou, com amigos,


mas nada mais do que isso.
Quando a prenda é recebida é interpretada como cortesia.
Discorreu, ainda, a testemunha, em tese, acerca da estratificação dos
graus de decisão nas empresas.

José Escada da Costa, Engenheiro.


Quadro superior da EDP e administrador da EDA- Electricidade dos
Açores.
A testemunha é amiga De José dos Penedos há 18 anos.

Foi administrador da REN, no período de 2001-2004, quando ocorreu o


spin-off da REN com a abertura à iniciativa privada.

Foi precursor na REN das questões de resíduos.


Era o Engenheiro que dinamizava a elaboração dos procedimentos
instituídos, a sua sistematização.
A REN é uma empresa descentralizada e com muitos prestadores-tipo,
pelo que havia muitos resíduos disseminados.
A regra geral de adjudicação era o concurso e o valor material do
concurso estava no âmbito da responsabilidade do director, se ultrapassava, ia
para o administrador que depois levava a CA.
A testemunha acompanhou os assuntos entre a EDP e a REN.
Saiu da REN em 2004.
Apesar de ter saído em 2004, acompanhava os relatórios e contas,
conversas com antigos colegas.
A testemunha sabe da reestruturação interna que foi a captação do
negócio do gás, verificando-se uma mudança substancial da empresa, mas não
é do seu tempo a sua concretização, o estudo é do seu tempo.
Já em 2004 andava a estudar a área estratégica.

207
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Segundo a testemunha, o José Penedos era um visionário em termos de


estratégia, de novas ideias.
A entrada do negócio do gás impactou muito o negócio da empresa, tal
como impactou o tema da privatização.
Relativamente aos terrenos, a testemunha disse que eram um activo
com peso e que a REN não estava a ser devidamente remunerada, ou seja,
era um activo omisso.
Portanto, abriu-se uma “guerra” com o regulador que não queria
reconhecer a remuneração dos terrenos,
O ministro da tutela apoiava a ideia de que deviam ser remunerados.
Acabou por haver um reconhecimento do direito à remuneração, o que
foi uma primeira vitória.
O quantum da taxa é que foi muito discutido.
Houve contratos de terrenos que ficaram para a REN, após o final da
vida útil.
Outros foram alienados após a eliminação do passivo ambiental, que
estava a cargo da REN.

Foi perguntado se os administradores da REN recebiam presentes


frequentemente.
A testemunha disse que, pela altura de Natal, era usual receber vinhos,
peças da Vista Alegre. Recebeu imensos, entre 2001/2004.
Foi dito pela testemunha que quem exerce estas funções não liga muito
a isto.
Só devolveu uma vez porque ultrapassava o razoável, um relógio de
elevado valor.
A REN também oferecia presentes, até porque havia uma lista de
autarquias, entidades de licenciamento, ONGS, a quem ofereciam prendas.
Recebeu canetas, livro de Eduardo Gageiro.

208
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Em instâncias do Dr. Shearman Macedo

A propósito da actividade de produção de resíduos, enquanto actividade


transversal, significa que todas as áreas produzem resíduos.
Algumas actividades produzem outro tipo de resíduos como a divisão de
investimento, das Obras e de exploração., que são os grandes clientes de
resíduos.
Dentro dessas divisões não havia gestor de resíduos, que foi integrado
pelo sistema de gestão de segurança e qualidade.
A gestão de resíduos era o agilizador da conformidade dos
procedimentos, de acordo com regulamentos aprovados.
Não teve conhecimento do modelo implementado para gestão futura dos
resíduos, em 2005.
Disse conhecer Vítor Baptista, um especialista em termos de CAE
(contratos de aquisição de energia), foi director da EDP e esteve envolvido
nesta negociação, pela sua capacidade na matéria.
Também conhece o Eng.º Fernando Santos, faz parte da Divisão
comercial e tem conhecimento dos contratos de aquisição de energia. Disse
que é muito boa pessoa.

Em instâncias da Dra. Isabel Catalão

Quando chegou à REN os resíduos não tinham tratamento e foi a


testemunha que deu este arranque para a valorização dos resíduos.
Recorda-se de, no seu mandato, 2001/2004, a REN ter lançado um
concurso público para selecção de operadores qualificados, fornecedores e
prestadores de serviço.
Sabe que a O2 foi uma das empresas que apresentou maior capacidade
técnica e qualificações, por isso foi seleccionada.

209
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Não sabe se, nesse concurso, foi regulado algum procedimento ou


critério definido para a pesagem de resíduos, mas duvida que tenha sido
porque a preocupação era seleccionar empresas qualificadas, a materialização
do concurso em si, não se lembra.
Foi perguntado qual era a prática, o procedimento da pesagem de
resíduos, que a testemunha disse ser feita no destino.
A grande motivação que levou a empresa a qualificar-se foi o facto da
empresa ter muitas interacções com o exterior, com entidades externas que
dessem a máxima credibilidade ao modo como a empresa operava as suas
instalações.
O descomissionamento do Alto Mira deu origem a várias questões
relacionadas com resíduos, a testemunha já tinha terminado o seu mandato,
mas antes do descomissionamento de Alto Mira nunca tinha havido um
descomissionamento com esta dimensão, nunca tinha tratado de algo desse
género.

Em instâncias do MP

Quando a testemunha saiu da REN foi para a EDP, onde é quadro há 28


anos.
Enquanto esteve na REN nunca teve contactos com Manuel Godinho,
mas já tinha ouvido falar.
Confirmou que lhe foi entregue um decantador e uma peça de cristal da
O2, foi confrontado com a lista e admitiu ter recebido.

Engenheiro José Penedos


Confirmou as suas declarações prestadas em inquérito.

Em instâncias do Dr. Shearman Macedo

210
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Até este momento não tinha sido perguntado sobre o Alto Mira.
Segundo a acusação, o Engenheiro José Penedos, em conluio com os
arguidos Vítor Baptista, Fernando Santos e Juan Oliveira, actuaram no sentido
de privilegiar a O2 na fase 1 e 2 no que diz respeito ao desmantelamento da
central de Alto Mira., mas o arguido rejeita em absoluto tal termo, até porque
nem acompanhou o descomissionamento.
A central de Alto Mira, como central de ponta, completava os ciclos de
consumo na ponta final dos diagramas de produção. Com as centrais a gás,
deu-se o seu descomissionamento. Era a central mais cara, difícil de manter,
necessitava de armazenamento significativo de gasóleo, que era muito
improdutivo, pois estava meses sem funcionar.
A tarefa de descomissionar as centrais era uma actividade que estava
cometida à SAP, mas tinham o CAE – contratos de aquisição de energia, no
fim da vida do CAE, o seu fim de vida útil era entregue à REN e depois havia
acerto de contas com a EDP.
A REN estava encarregada de fazer o descomnissionamento do terreno,
bem como da desinstalação da produção, para o terreno ficar disponível para
outra instalação.
A REN era a responsável pelo CAE.
Estava a ser reiniciado para extensão da área afecta à Divisão de
Exploração.
No âmbito da gestão dos CAE´s, a testemunha disse conhecer o Eng.º
Fernando Santos, foi convidado para ser administrador da REN TRADING, SA,
pelo seu desempenho foi escolhido, geria os contratos CAE´S.
Era o acerto interno que tratava Ada facturação mensal entre a REN e a
EDP ou entre a REN e os produtores de energia eólica.
O Eng.º. Santos dominava o giro documental das facturas e autorizava o
respectivo pagamento das facturas.
O fim da central de Alto Mira foi levado a CA e aí aprovado.

211
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Na fase 2, relativamente aos incidentes de pesagem de resíduos, foi


perguntado à testemunha se se recorda da reunião do CA, que aprovou tais
trabalhos, mas foi dito não se lembrar.

Quanto ao Eng.º Vítor Baptista, trabalhou no planeamento de centros


electroprodutores e o arguido estava no de Lisboa.
Encontravam – se nas reuniões de planeamento.
O Eng.º Vítor Baptista veio indicado pelo accionista da EDP, para
integrar a administração da REN, em Janeiro de 2001.
A REN autonomiza-se da EDP em Novembro de 2000, com compra de
70% da REN pelo Estado à EDP.
Esta autonomização tem um decreto – lei associado e dá origem ao
primeiro Conselho de Administração autónomo da EDP.
Desde 2001 serviram, com mandatos consecutivos de administradores,
a REN.
O Eng.º Vítor Baptista é Eng.º electrotécnico e o arguido também, e
como a REN era uma empresa muito técnica, naquela altura, e com o “apagão
de Maio ou da Cegonha” e, uma vez que o Eng.º Vítor Baptista era um
indivíduo neutro em termos políticos e com capacidades técnicas, profissional,
achou normal que tenha sido o escolhido
Quando o mandato chegava ao fim, havia eleição de órgãos sociais e os
accionistas continuam a confiar no Eng.º Vítor Baptista.
O Conselho foi mexido e o Ministro perguntou-lhe se a testemunha
conhecia o Eng.º Henrique Gomes, que entrou como representante do Estado,
saiu um, mas o Vítor Baptista manteve-se, em 2004.
Em 2007, o PS está no governo e esta confiança manteve-se.
Era o tempo da privatização agendada para Junho/Junho de 2007 e
entrava o Dr. Rui Cartaxo, o Eng.º Fernando Soares Carneiro e o Eng.º
Henrique Gomes Saiu, todos representantes do Estado.

212
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Quanto à forma de actuação da REN, é altamente tecnológica e


descentralizada na vertente operacional.
Muitas informações vão a Conselho de Administração para decisão.
Aprovada a matéria em Conselho, volta aos departamentos para ser
executada
Todos os contributos ficam no sistema de gestão documental.
As matérias do sistema de resíduos não eram com a testemunha, mas
não eram uma grande fonte de receita da REN. Na década de 2000 a 2009, os
resíduos representam 0.08% da receita da REN.
Não havia Divisão de Gestão de Resíduos, daí ser um assunto tratado
transversalmente pela Divisão de Exploração, EP equipamentos e exploração
equipamentos de gás, mas outras divisões também tratavam porque era um
assunto administrativo. Não há uma única matéria em que não estejam
envolvidas mais do que uma divisão da REN.
Qualquer influência de uma empresa de sucatas confrontava-se com a
estrutura da REN de forma transversal.
No que toca à consistência da matéria dos resíduos, só a divisão EP é
que estava certificada.

Foi perguntado ao arguido se se recorda do contrato de gestão de


resíduos entre a REN e três empresas após o novo modelo de gestão de
resíduos ter sido aprovado.
Recorda-se que o administrador daquele contrato fez do seu mandato
um trabalho de construção daquele tríptico: qualidade, segurança e ambiente,
para dar consistência à matéria dos resíduos, mas mais do que matéria dos
resíduos, tratava se de garantir a certificação da REN em vários domínios,
porque só tinha uma divisão certificada que era a de equipamento.

Em 2008 criaram a REN – SERVIÇOS, que ficou de tratar destes


assuntos de resíduos.

213
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Deu-se a primeira prorrogação do contrato de resíduos em 2008, que foi


aprovado pelo Eng.º Vítor Baptista e aprovado por unanimidade.
Quanto à segunda prorrogação, teve conhecimento à posteriori. Foi o
administrador da REN-SERVIÇOS, Dr. Rui Cartaxo que a aprovou sem ir ao
CA da REN.

A verdade está naquela escuta que lhe apresentaram na PJ.


A matéria de resíduos nunca foi uma matéria de que se interessasse.
O arguido diz que, tal como disse na escuta, está velho e não
acompanha a legislação em matéria de energia.

Quanto ao despacho do Eng. Vítor Baptista, que tinha a ver com


urgência na realização daquela obra, foi perguntado se esta urgência estava
relacionada com a necessidade de concentrar custos no ano de 2008, em
virtude do reflexo que teriam na tarifa a vigorar de 2009 em diante.
A testemunha disse que até faz sentido, mas é preciso conhecer a
regulação, que muda em 2008/2009 e uma das mudanças tem a ver com os
custos de exploração.
Esta matéria de saída de transformadores velhos de uma subestação,
interessava que saíssem em 2008 por causa das mudanças no regulador.
Importava que o montante de orçamento e exploração ficasse o mais libertado
possível.
A exploração é uma área crítica da REN.
Para melhor explicar a situação da necessidade de concentrar custos
em 2008, o arguido disse: “ se temos aqui luz, é porque a REN está bem, se
não tivermos, pode ser da REN o problema ou não.
A urgência estava, assim, plenamente justificada.

214
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

No que toca ao contrato da Tapada do Outeiro, havia necessidade para


a REN de ter em consideração a adequada remuneração dos activos do
terreno em que estava a central.
O activo REN tinha cerca de 10%, respeitantes a valores dos terrenos,
pois a REN era concessionária do domínio hídrico em relação aos terrenos dos
centros de produção hidroeléctrica, ninguém pensava em vender os terrenos,
mas já os terrenos dos centros de produção térmica da EDP., pensavam em
fazê-lo,
Havia um centro de produção que não era da EDP- Tapada do Outeiro,
que tinha uma central a gás que só quis comprar a parte que lhe fazia falta.
Ficou uma área que ultrapassou os 55 ha, que podiam ser expropriados pela
CCDRN, a BRISA queria fazer passar uma auto-estrada e a EDP queria-os
para fazer central de biomassa e a INDESA queria fazer uma central a gás.
Havia interesses anunciados sobre os terrenos e a REN tinha um
interesse especial comparativo com empresas europeias.
O efeito seria a degradação da REN em relação a outras empresas
europeias em10%, não há nenhuma empresa europeia de transporte de
electricidade que tenha este tipo de activos, pois 10% em 3.500 milhões de
euros era muito dinheiro.
Este activo estava sem remuneração até 2004, daí o combate que se fez
junto do Ministério de Economia, para ser reconhecido o direito de
remuneração dos terrenos.
Começou com Mário Cristina de Sousa, em Fevereiro de 2004, até ao
Eng.º Braga da Cruz, em que, na reunião participou Jorge Vasconcelos,
regulador que se oponha à remuneração, o regulador que o arguido tinha
escolhido, que era um homem competente e independente.
Feito o debate sobre a razoabilidade da remuneração, o Ministro de
economia ficou à espera da reacção do regulador que não foi capaz de mostrar
legalmente que não havia razoabilidade, mas considerava que os
consumidores não tinha de pagar um delta na facturação mensal.

215
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

O arguido, na qualidade de Presidente da REN, disse que punha o


Estado e o Regulador em Tribunal.
O ministro ficou parado, mas visivelmente constrangido com a ameaça e
disse que não era razoável e que ia tratar com o Secretário de Estado, Oliveira
Fernandes, desse assunto.
Esse assunto tem uma carta de 2001, com ordem de vender os terrenos
da REN à EDP.
A carta não teve sequência, na primeira reunião que tem com o ministro
Carlos Tavares, contou a história acima referida e disse que ia tratar disso.
Passados uns tempos , o Ministro chamou o arguido e disse que aquilo não
avançava pelo lado do Regulador, por isso ia legislar.
A questão da remuneração foi objecto de um decreto e portaria que fixa
o valor da remuneração.
Em 2007, o Ministro Manuel Pinho mandou baixar o índice dos preços
para o consumidor.
Teve uma alteração em perspectiva, mas o Ministro caiu e, apesar de
Teixeira dos Santos ter assumido o pelouro e dito que continuava com o
processo, continua tudo na mesma.
Em 2009 houve o interesse em melhorar a rendibilidade dos centros
electroprodutores.
Este dossier estava na dependência directa do Presidente da REN.
A determinada altura, O Eng.º Vítor Baptista desloca-se até à Tapada do
Outeiro, fazia sentido partilhar estas preocupações com ele, porque ele é que
acompanhava os centros de produção e tinham de ser objecto de passivo
ambiental e tinha a gestão de mercados na sua dependência, em baixo a Eng.º
Maria José Clara e o Eng.º Andrade Lopes, em termos internos e no topo
estava o Eng.º Vítor Baptista., pois tinha interesse para a REN, era sensível à
vontade de o edifício ir fazer parte de uma área museológica, a outra parte
derivava de uma faixa de 500 metros da orla ribeirinha, decorrentes da
existência de faixas de salvaguarda da albufeira de Crestuma.

216
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Havia uma ideia de preservação industrial.

Relativamente às cinzas do CTO, com piesómetros, confirma tais factos,


o que prova as preocupações ambientais da REN.
Não era pacífico na REN que estas cinzas eram consideradas como inertes,
sem qualquer perigosidade, havia esta consciência
Enfatizou nada ter a ver com a vida profissional do seu filho Paulo
Penedos, nada saber das suas disponibilidades financeiras e não ter
colaborado ou aceite agilizar assuntos pendentes na REN, no interesse dos
indicados Paulo Penedos e Manuel Godinho.

Esteve em debate com a Brisa o facto de nesse sítio passar uma Auto –
Estrada e a Brisa levava-as, uma das compensações da Brisa ou então as
cinzas eram vendidas para cimenteiras.

No tocante à carta da O2, propôs-se fazer determinadas coisa.


Surge uma auto-proposta para tratar as questões todas, alterando o objecto de
concurso.
O concurso era uma parte do problema e a decisão foi a de se manter
assim.
Até às buscas e eclodir do processo, não aconteceu mais nada.

Em instâncias da defesa do próprio arguido

No que diz respeito à segunda prorrogação do contrato de resíduos, só


teve conhecimento dela depois de ter sido decidida, porque não houve
Conselho para tratar e decidir esta decisão
O Dr. Rui Cartaxo não a levou, foi uma decisão dele no âmbito do
pelouro.
Quem acompanhava os materiais de resíduos era o Eng.º Vítor Baptista.

217
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Foi confrontado com AE12, fls.280 e ss e Volume 72, que se trata de


um concurso de venda de sucata.
Há informação sobre a retirada de sucata, por atrasos de pagamento.
As sucatas estavam concentradas em subestações. Então, o ponto aqui
em causa é o atraso de pagamentos e abertura de mercados.
Havia risco de entrada de pessoas para irem sacar sucata, há risco de
intrusão, é um risco real, a segurança das instalações é muito importante.
Das fls.282 constam uns e-mails. O terceiro refere:”solicitado pelo Dr.
PCA, o Presidente tem de estar disponível para que outros usem o seu nome,
mas não se recorda, poderia ter sido o Professor Aníbal Santos.
O professor Aníbal Santos era membro do CA, pois é ele que
despachava para o CA, com pelouro da área administrativa e financeira e da
regulação.
O arguido pode ter pedida informações, uma vez que para ele o mais
importante era a segurança nas instalações.
O arguido afirmou nunca ter tratado ou despachado directamente de
resíduos.
Esta informação foi de Outubro de 2002, não sabia o que era a O2 e
disse não saber nada de interfaces do seu filho com a O2.
Foi dito pelo arguido nunca ter recebido presentes oferecidos pela O2
fora dos que lhe foram encontrados nas buscas.
Esta informação faz uma recomendação, procurar alternativas à O2 no
mercado.
Não acha normal que não tenha sido seguida esta recomendação, a
pessoa encarregada é da Regulação e logística e a não ser seguida, haverá
incumprimento.
Admitiu não ter havido incumprimento, mas que pode ter existido hiatos
temporais de execução do que foi o entendimento adoptado.

218
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Relativamente a outro assunto, o da Tapada do Outeiro, explicou as


razões pelas quais tinha interesse na Tapada e do interesse da Endesa.
A Endesa manifestou este interesse formalmente e por carta em 2008 e
2009.
Houve uma primeira tentativa de vender à EDP, mas depois esta
desinteressou-se da compra do terreno e focaram-se no interesse da Endesa.
Mandaram avaliar o terreno.
A avaliação foi feita pela CGD e fixada em pouco mais de 20 milhões de
euro.
Esse negócio não foi em frente.
As coisas não correram bem à REN, mas não correram bem porque
deixou de haver promotor para resolver o problema dos terrenos que ainda não
está resolvido.
A proposta da O2 foi avaliada e deu-se uma resposta negativa.
Falou com o seu filho para informar se havia ou não resposta a esta
carta e quando tal ocorreu, disse-lhe que iria ter a resposta.
As relações com o seu filho Paulo foram objecto de uma exposição
longa no seu interrogatório, mas que parece uma operação de maquiavelismo
em defesa própria.
Em 2007, o desenho do perfil que agora fez do Paulo Penedos foi o
mesmo que fez à Anabela Mota Pinheiro, ao Jornal de Negócios.
Até disse ao procurador de Aveiro que o seu filho Paulo lhe dizia:” ainda
hás-de ser conhecido pelo pai do PAULOCAS”, pois tinha se candidatado a
Secretário - Geral do PS.
O arguido teve conhecimento da sua candidatura quando estava no
carro, pela rádio. E o Sr. Procurador de Aveiro, numa frase que ainda hoje lhe
martela na cabeça, disse:” nós sabemos bem quem é o Sr., Engenheiro”.
O arguido nunca se preocupou com a vida material dos seus filhos.
Fez uma espécie de contrato com eles até aos seus doutoramentos.

219
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Com o Paulo havia um problema adicional, pelo facto de se ter


candidatado à Câmara de Poiares, relacionado com a compra de uma casa
que o arguido era completamente contra e com o seu endividamento para
pagar as obras da casa, pois era contra a sua candidatura à Câmara.
Confrontado com as fls. 24614 e ss, Volume 72, no dia 27/07/8007,
entrevista a Anabela Mota Ribeiro.
Na entrevista, disse que não gostava de saber da vida material dos
filhos, nunca quis saber, em particular do Paulo, pelo seu feitio e vida social,
pouco reflectido.
Entrevista no hotel Altis, perguntaram-lhe se apoiava a candidatura do
filho. O Engenheiro respondeu que uma coisa é subscrever um acto de
cidadania e outra é voltá-la.
O seu filho Paulo escondia-lhe aspectos da vida dele, como o
endividamento da casa de Poiares, pois nunca entrou na casa de Poiares.
Falavam com frequência e estavam juntos com frequência, uma vez que
moravam no mesmo prédio.
Aquilo que disse na entrevista, mantém, com a diferença que o filho
agora lhe pede mais ajuda agora.

***

Questões envolvendo factos relacionados com a REN,


relativas aos arguidos em cima indicados

DESCOMISSIONAMENTO DA CENTRAL TERMOELÉCTRICA DE


ALTO MIRA (2005-2006) - APENSO AE 6

Sobre a 1ª fase do descomissionamento da CAM:

Tais factos encontram-se descritos em:

Artº 807º a 820º da Acusação

220
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Elementos Probatórios a que nos ativémos:

Artº Apenso AE6 – fls. 4 e 5


808º

Artº Apenso AE6 – fls. 4 e 5


809º

Artº Apenso AE 7-A – fls. 1


810º

(fls.
188)

Artº Apenso AE6 – fls. 32


812º

Artº Vol. 70 – fls. 23874 a 23875


816º

(fls.
189)

Artº Apenso AE28 – fls. 41 e 42


817º

Artº Apenso AE6 – fls. 35


819º

Neste particular e sem prejuízo da análise sincrética que é forçoso


efectuar de todos os RAI’s há que dilucidar:

RAI do arguido Juan Oliveira

221
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Aduz o arguido que, “ao elaborar a Informação CS 10/2005, de 30/12 na


qual concluiu sugerindo a adjudicação dos trabalhos à 02, o ora arguido não
recebeu para o efeito qualquer prévia indicação de quem quer que seja,
maxime dos seus superiores hierárquicos, nem actuou sob a vinculação de dar
satisfação aos interesses de Manuel Godinho ou da 02, que, até então
desconhecia por completo.”

De um trabalho ciclópico que empreendemos desde 20/12/2010 decorre


a convicção, contudo, que os elementos de prova carreados para os presentes
autos conjugados, entre si, levam-nos à afirmação indiciária do vertido na
acusação.

Na verdade, a análise técnico-económica feita pela REN, socorreu-se da


informação apresentada pela “02” para obter um valor comparável com as
restantes propostas.

Juan Oliveira elaborou a informação IF CS 10/2005 sobre a análise


técnico-económica das propostas, onde concluiu pela equivalência das
propostas no plano técnico.

Do ponto de vista económico, a análise recaiu, sobretudo, no valor


proposto por cada uma das empresas quanto à valorização dos resíduos
metálicos, sendo sugerida a adjudicação dos trabalhos à “O2”, por melhor os
valorizar e por, também, apresentar bons preços para desgaseificação,
lavagem e inertização dos tanques e para o desmantelamento dos tanques e
tubagens, sendo a única que permitia à REN ser creditada em 17.500€.

O JIC não pôde olvidar que, em anexo a esta informação, consta um


quadro analítico das propostas, sendo que numa das notas, a nota a), é

222
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

referido que a simulação dos custos de recolha dos resíduos tem como base a
estimativa da quantidade de resíduos a recolher apresentada pela “O2”.

A que propósito Juan Oliveira se serviu da quantidade prevista pela


“O2”?! Porque não de outro ou outros concorrentes?!

Porque não mediante a solicitação do auxílio de outra divisão da REN


(Consultou outras divisões para outros desideratos e nesta matéria preferiu
servir-se da estimativa da “O2”)?!
Acresce que a proposta apresentada pela “O2” era absolutamente
omissa quanto à estimativa da quantidade de resíduos a recolher!!!
A estimativa de quantidades apresentada pela “O2” não constava da sua
proposta e apenas foi remetida em Adenda, a 23 de Novembro de 2005, por
expressa demanda de Juan Oliveira – fls. 41 e 42 AE28.

Argumentaram os requerentes Juan Oliveira e Fernando Santos que um


estudo deste último demonstra que, fosse qual fosse a estimativa de
quantidades, a proposta da “O2” seria sempre a melhor.

Acontece que é o próprio Juan Oliveira que reconhece, na informação,


que “(…)Uma vez que a 02 apresenta também bons preços para a
desgaseificação, lavagem e inertização dos tanques e para o desmantelamento
dos tanques e tubagens propriamente dito, a sua proposta é a única que
permite à REN ser creditada (em cerca de 17500 €) .

Interroga-se o JIC: como?


É que o valor certo só se saberá depois de serem encontradas as
quantidades exactas dos diversos resíduos.”
Ou seja, a estimativa da quantidade de resíduos a recolher
desempenhava um papel fulcral na definição da melhor proposta.

223
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

E tanto assim foi que o suposto crédito se transformou em débito.

Aliás, se assim não fosse por que razão Juan Oliveira, técnico
competente, pediu à O2 que enviasse a estimativa da quantidade de resíduos a
recolher?
Tal estudo não instruiu a elaboração da Informação, tendo sido junto
antes do seu interrogatório, já em sede de Instrução, pelo arguido Fernando
Santos!

Indiciam ora os autos que ao invés de ter sido elaborado para sustentar
a decisão de adjudicação à O2, foi-o para sustentar, seis anos depois, a tese
da sua legalidade!

Concretizando e tomando como exemplo a proposta no valor unitário de


€294,12/ton. da CESPA para a recolha, transporte e destino final dos resíduos
gerados pela desgaseificação, lavagem, inertização e desmantelamento dos
tanques e tubagens de combustível, a mesma foi multiplicada por 60ton, que
corresponde à quantidade de resíduos estimada pela O2, resultando no valor
global de €17.647,20.
E se a CESPA estimasse a quantidade de resíduos gerados em 120t?
Ou se fosse apenas 30t?

Temos pois de concluir que os valores apurados seriam, obviamente,


diferentes e com consequências notórias na avaliação técnico-económica das
propostas, consoante os diferentes valores considerados pela variável
“quantidades de resíduos gerados”.

Deste modo, indiciam suficientemente os autos que carecem de


absoluta razão os requerentes Juan Oliveira e Fernando Santos quando
sustentam que: “Uma vez que, tendo em consideração que a escolha do

224
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

concorrente foi determinada pelo custo unitário, ainda que o cálculo


fosse mais aproximado da realidade, sempre seria a 02 a apresentar o
melhor preço final.

Nessa medida, é completamente indiferente que a Informação


preparada tenha por base as quantidades previstas pela 02.

Finalmente, o valor que efectivamente foi pago à Arguida 02 em


função das quantidades verdadeiramente movimentadas e dos trabalhos
efectuados foi mais baixo do que aquele que seria pago a qualquer outro
dos concorrentes com as quantidades inicialmente estimadas.”

Argumentam os requerentes Juan Oliveira e Fernando Santos que a


classificação de “boa qualidade” atribuída à prestação da “O2” foi colhida junto
de Rodolfo Borges.
Inexistem evidências documentais ou mesmo testemunhais que
confirmem esta invocação e asserção.

Inexistem quaisquer registos sobre o trabalho prestado pela O2, que


corroborem a classificação atribuída na IF 15/2006 de 20 de Maio, pelo arguido
Fernando Santos como de “boa qualidade”.

O JIC é forçado a reconhecer que, pese embora o acompanhamento dos


trabalhos e a consulta às empresas para os trabalhos de desmantelamento das
bacias tenham sido efectuados sob a direcção e acompanhamento do arguido
Juan Oliveira, enquanto técnico responsável, foi o arguido Fernando Santos
que assumiu a elaboração da IF 15/2006 de 20 de Maio .

Aos olhos do JIC e no juízo indiciário cabido efectuar que apenas a


vinculação de Fernando Santos aos interesses de Victor Baptista (corporizando

225
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

este os da O2, por petição de José Penedos) pode explicar que assuma
encargos que, manifestamente, não eram seus!
Adiante desenvolveremos melhor esta afirmação a propósito da Fase II!

Diga-se que a acusação não atribuiu relevância criminal, de per si, a


esta situação, emergindo como uma das situações em que se descobre o
favorecimento da 02.

Sem que nada o permita perceber – a não ser o quadro de comunhão e


vinculação que resulta evidente dos múltiplos episódios relatados na acusação
e que a seguir abordaremos – o arguido Victor Baptista levou ao conhecimento
do arguido José Penedos, a IF CSGC 22/2005, PR/ 10639, [conforme fls. 4 e 5
do apenso AE6], na qual Juan Oliveira exarou que estariam reunidas as
condições para dar início a trabalhos na Central de Alto Mira, nomeadamente a
desgaseificação, lavagem, inertização e desmantelamento dos tanques e
tubagens de combustível, assim como a recolha, transporte e destino final dos
resíduos gerados.

Victor Baptista deu a conhecer [ao Eng. Penedos] o lançamento do


concurso público, assegurando-lhe, assim, o controlo dos diferentes patamares
de decisão e fiscalização na área dos resíduos – art.ºs 682º e segs. da
acusação.

Da análise de todo o processo, incluindo a 2ª fase, constata-se que


Victor Baptista não mais repetiu este procedimento, mesmo quando foram
registados factos relevantes .

Surpreende-se, neste particular, o cumprimento de duas premissas


essenciais para José Penedos reveladas pelas escutas – manter sigilosa a sua
intervenção (daí não deixar marcas documentais – produto 5731 do alvo

226
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Namércio Cunha) e agir “by the book” (produto 383 do alvo Paulo Penedos) –
do ponto de vista das suas competências e do procedimento inexistia razão
bastante para que tomasse conhecimento de quaisquer questões relacionadas
com este assunto.

Diz o arguido Juan Oliveira que “não recebeu para o efeito qualquer
prévia indicação de quem quer que seja, maxime dos seus superiores
hierárquicos, nem actuou sob a vinculação de dar satisfação aos interesses de
Manuel Godinho ou da 02.”

Todavia, indicia-se um claro e objectivo favorecimento da “02”, não


explicável no quadro das relações interpessoais – Juan Oliveira, Fernando
Santos e Vítor Baptista nunca receberam prendas ou quaisquer quantias
monetárias de Manuel Godinho e, no período de tempo em que Manuel
Godinho e seus colaboradores estiveram sob escuta, não se registaram
quaisquer contactos com aqueles.

Então como explicar este alegado favorecimento e aquele que se


descobre na Fase II e no Acordo firmado com a O2?
Vejamos, primeiro, o acontecido na Fase II que permite ao JIC
considerar indiciado devidamente aquele favorecimento.

Artº 821º a 853º - 26 de Abril 2006 - Lançamento da consulta pública para –


Central Alto Mira –II fase

Nesta matéria, à puridade, o JIC/TCIC consigna ter analisado crítica e


conjugadamente os seguintes elementos:

227
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Artº 821º Vol. 72 – fls. 24535 – Interrogatório Complementar de Namércio


Cunha

Artº 823º Apenso AE27 – fls. 205 a 218 – Interrogatório de Juan Oliveira;
(fls.190)
Apenso AE6 – fls. 114 e 115;

Artº 827º Apenso AE6 – fls. 90 a 108


(fls.191)

Artº 830º Apenso AE 20 – fls. 48 a 82

Artº 832º Vol. 72 – fls. 24538 – interrogatório complementar Namércio Cunha –


13/10/2010

Artº 835º Vol. 72 – fls. 24538 – interrogatório complementar Namércio Cunha –


(fls.192) 13/10/2010

Artº 837º Apenso AE6 – fls. 98 a 102 e 103 a 108

Artº 838º Interrogatório Namércio Cunha – fls. 24448

Artº 839º Apenso AE28 – fls. 79 a 82

(fls. 193)

Artº 841º Apenso AE6 – fls. 114 e 115

Artº 846º (fls. Apenso AE6 – fls. 116 e 117


194)

228
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Sobre a 2ª fase do descomissionamento da CAM cumpre referir:

No que concerne a esta fase, importa separar as várias etapas, desde a


escolha do procedimento concursal, passando pela decisão de adjudicação,
acompanhamento dos trabalhos e finalmente a resolução do conflito ou
encerramento da obra.

Procedimento concursal
Flui da análise do JIC a consideração de que se indicia que, na 2ª fase,
se pretendeu proceder à adjudicação directa dos trabalhos à O2.

Na verdade, conforme afirma Namércio Cunha a fls. 24535, a ideia da 2ª


fase partiu de Manuel Godinho, que perspectivou como oportunidade de
negócio o desmantelamento das estruturas de betão existentes na Central de
Alto Mira e que a transmitiu a Paulo Penedos, sendo que este a endossou a
seu Pai, José Penedos.

Com efeito, ao contrário do sustentado pelo arguido José Penedos


asseverando a inexistência de quaisquer elementos probatórios da sua
intervenção, aquele depoimento desmente tal afirmação.

O depoimento de Namércio Cunha não é “uma voce” já que encontra


acolhimento no depoimento de Juan Oliveira, elucidando ambos que foi a O2 a
apresentar proposta sem ter havido por parte da REN uma consulta,
manifestando a necessidade daqueles trabalhos.

Quando consultou o mercado, já a proposta da O2 havia dado entrada


na REN!!! – Depoimento de Juan Oliveira.

229
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Referem os arguidos Victor Baptista, Fernando Santos e Juan Oliveira


que os trabalhos da 2ª fase resultaram de uma necessidade manifestada pela
Divisão EX.

Contudo, não há evidências documentais desta necessidade que


tenham sido presentes no inquérito, ou agora, na instrução.

A ter existido, teria de ter sido formalizada em documento interno da


REN, subscrito pela Divisão EX, expressando essa míngua.

A informação elaborada pelo arguido Fernando Santos nada refere


relativamente a esta suposta necessidade, como seria natural que o fizesse,
acaso tivesse sido essa a motivação da consulta.

Dizem os requerentes Victor Baptista e Fernando Santos: “Aliás, como


resulta do teor da Informação CSGC 5/2006 de 13 de Novembro, a
necessidade desta demolição foi expressamente manifestada pela Divisão EX
(futura responsável pelo local) que pretendia um espaço acessível e amplo
para proceder ao armazenamento de equipamentos de Alta Tensão.”

Diz a Informação 15/2006: “No dia passado dia 31 de Março, foram


dados como terminados os trabalhos de desgaseificação, lavagem, inertização
e desmantelamento dos tanques e tubagens de combustível da Central
Termoeléctrica de Alto Mira (CAM), assim como a recolha, transporte e destino
final dos resíduos gerados.

A empresa que executou a empreitada foi a 02, tendo realizado um


trabalho de boa qualidade.

230
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

No terreno afecto à antiga CAM ainda existem, para além do edifício


principal, um campo de jogos, balneários de apoio e algumas infra-estruturas
em betão armado (maciços dos grupos, bacias de retenção e depósitos de
água). Há também duas pequenas estruturas metálicas, sendo que, debaixo de
uma delas estão os equipamentos eléctricos associados ao sistema de rega
das áreas ajardinadas.

Para a conclusão das obras de descomissionamento da CAM e


adaptação do espaço para futuras utilizações (estacionamento, armazenagem
de volumes de grande dimensão, etc.), considera-se adequado a demolição de
algumas estruturas em betão, relativas às bacias de retenção, nomeadamente
paredes e bases de assentamento dos tanques de combustível.” ( fim cit.)

Onde é que se surpreende nessa informação qualquer referência,


mínima que seja, de que a necessidade desta demolição havia sido
expressamente manifestada pela Divisão EX!!!

Nem sequer o armazenamento de equipamentos de Alta Tensão é


referido.
O que mais se assemelha a uma menção que se lhe reconduza repousa
no segmento, vago e genérico, do texto “armazenagem de volumes de grande
dimensão”.

Aliás, bem elucidativo a este propósito é o RAI do arguido Juan Oliveira:


“Sabendo tão só que a necessidade de proceder a trabalhos de demolição de
algumas estruturas de betão não partiu da iniciativa do ora arguido, tendo-lhe
sido comunicada pelo seu superior hierárquico directo e Director da Divisão
Comercial, Eng. Fernando Santos.

231
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

O que o JIC corrobora é que tanto a necessidade dos trabalhos de


demolição, como a respectiva adjudicação à 02 foram justificadas pelo referido
Eng. Fernando Santos pelo facto de a 02 ainda ter máquinas e pessoal na
obra”
Ou seja, nem uma única referência zero referências à suposta
necessidade expressa pela Divisão EX!!!

Aos olhos do JIC resulta frágil e não colhe a justificação, segundo a qual
o interesse na adjudicação à O2 resultava da sua presença no local, na medida
em que os trabalhos da 1ª fase foram dados como concluídos em 31 de Março
de 2006 e a decisão de adjudicação é de 24 de Maio de 2006, ou seja, cerca
de dois meses depois.

Por outro lado, assevera Fernando Santos que: “É neste contexto, na


sequência da necessidade da Divisão EX, que foi solicitado à 02, que ainda se
encontrava em obra a terminar a Fase I dos trabalhos que apresentasse uma
proposta para que pudesse ser avaliado o custo e interesse económico da
obra.”

Esta afirmação de Fernando Santos carece de sentido, não só porque o


suposto emitente do convite – Juan Oliveira – o desmente, mas também
porque os trabalhos foram dados como finalizados em 31 de Março de 2006 e
a proposta da O2 é de 11 de Abril de 2006.

O que os autos indiciam não corrobora o afirmado.


Fernando Santos ao balizar a manifestação da necessidade perante a
O2 em momento anterior a 31 de Março de 2006 torna ainda mais inverosímil o
cenário que criou.

232
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Então a REN expressa uma necessidade à O2, que sabe que quanto
mais rapidamente apresentar a proposta mais garantias tem de adjudicação
(até por evitar a consulta de outras empresas) e a O2 demora, pelo menos,
mais de quinze dias a apresentar a sua proposta!!!

Mas, há mais:
Se foi a EX que desencadeou a necessidade da realização dos trabalhos
da 2ª fase, então somos forçados a concluir que Manuel Godinho e a “O2”
possuem dotes adivinhatórios, pois que, antes da manifestação da
necessidade dos trabalhos, pela REN, a “O2” adivinhou a míngua e apresentou
uma proposta!

Não esqueçamos que Fernando Santos diz ter sido Juan Oliveira a
contactar a O2 e que este refuta, por completo, tal afirmação!!!
Outro elemento reforça o entendimento da acusação e a convicção
indiciária do JIC, qual seja a data de entrada na REN das propostas
apresentadas pelas diferentes empresas concorrentes – 1ª proposta da 02 em
11 de Abril e das outras empresas em 27 de Abril e 02 de Maio.

Ao JIC não passou, também, desapercebida, aliás, a coincidência entre


o sucedido em Alto Mira e na Tapada do Outeiro (também aqui foi Manuel
Godinho a apresentar uma proposta de idêntico sentido de extensão dos
trabalhos solicitados pela REN) o que permite perceber o padrão de actuação.

Por outro lado, a REN conhecia o local e havia já determinado a sua


forma de utilização futura, para a qual entendeu apenas ser necessário
proceder aos trabalhos da 1ª fase.

233
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Não se tendo alterado nenhum dos pressupostos da decisão, não se


percebe – a não ser pelos motivos indicados na acusação – a razão de ser do
alargamento dos trabalhos tidos por necessários.

Caso fosse intenção inicial da REN em proceder aos trabalhos da


denominada 2ª fase, esta teria sido englobada na 1ª, a qual abarcaria o
conjunto dos trabalhos que, no final, vieram a ser realizados.

Mas, argumentam os arguidos Victor Baptista, Fernando Santos e Juan


Oliveira, se a intenção era adjudicar directamente à O2 os trabalhos da 2ª fase,
porque razão foi lançada consulta?

No juízo que foi possível ao JIC efectuar a resposta é dada pela


conjugação do produto 383 do Alvo 39263M com uma das premissas
essenciais de José Penedos revelada no produto 2772 do alvo 39263M, que
abaixo se transcrevem, na integra, para melhor se alcançarem os exactos
fundamentos do juízo de prognose a final efectuado pelo JIC/TCIC, onde Paulo
Penedos refere que – havia que agir “by the book” por forma a não serem
criadas fragilidades.

PRODUTO Nº: 383


DATA/HORA: 19:05:52 de 21/05/2009
INTERVENIENTES:
• DE – Paulo Penedos
• PARA – Namércio Cunha

NAMÉRCIO CUNHA – Boas tardes.


PAULO PENEDOS – Atão, meu caro amigo? Bem disposto?
NAMÉRCIO CUNHA – Vamos fazendo por isso, pá. Vamos fazendo por isso.
PAULO PENEDOS – Já teve algum feed-back, não?

234
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

NAMÉRCIO CUNHA – Nada, zero.


PAULO PENEDOS – Sim, mas vai ter. Não se preocupe. Eh, eh, eh!
NAMÉRCIO CUNHA – Eh pá, eu tou preocupado, já num aturo aqui o chefe. Fogo!
NAMÉRCIO CUNHA – Eh, eh, eh!
PAULO PENEDOS – O homem, todos os dias…

PAULO PENEDOS – Não. Atão, oh pá, eh, se as decisões não tivessem tomadas,
podíamos tar preocupados. Mas…
NAMÉRCIO CUNHA – Pois.
PAULO PENEDOS – Inda ho, inda hoje…
NAMÉRCIO CUNHA – Não, sabe o que é que me preocupa. É que, pronto, eh, é que
entretanto eu sei que o outro, ele está, (imp.), quer dizer,
os outros, as outras situações, que foram convidadas a ir
ao outro processo, estão, também em, a, num é? A
manter o outro processo in aberto, num é? E quanto mais
tarde isto se atrasar, se calhar depois mais se complica.
PAULO PENEDOS – Não, porque vão ser dois processos separados.
NAMÉRCIO CUNHA – Ai é?
PAULO PENEDOS – É.
NAMÉRCIO CUNHA – Pronto.
PAULO PENEDOS – Nós temos é que ganhar os dois. É pra isso…
NAMÉRCIO CUNHA – Pois.
PAULO PENEDOS – Que servem os advogados.
NAMÉRCIO CUNHA – Ok. Vamos ver então.
PAULO PENEDOS – Eh, eh, eh, eh! Esta é boa.
NAMÉRCIO CUNHA – Vamos ver então, o que é que chega.
PAULO PENEDOS – Tá bem. Não se preocupe.
NAMÉRCIO CUNHA – Logo que eu saiba alguma coisa, eu digo-lhe, pá.
PAULO PENEDOS – Tá bem. Não se preocupe.
NAMÉRCIO CUNHA – Tá bem?
PAULO PENEDOS – Não se preocupe. Vá, um abraço então.
NAMÉRCIO CUNHA – Tá. Um abraço tamém. Obrigado, obrigado.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

PRODUTO Nº: 2772


DATA/HORA: 12:43:24 de 07/06/2009
INTERVENIENTES:
• DE – Paulo Penedos
• PARA – Namércio Cunha

NAMÉRCIO CUNHA – Sim?


PAULO PENEDOS – Oh chefe, é preciso saber ler, pá!
NAMÉRCIO CUNHA – E então? O que é…
PAULO PENEDOS – Aqui diz pra uma fase posterior.
NAMÉRCIO CUNHA – Ah, sim, mas, se, se…
PAULO PENEDOS – Oh pá, eles têm que dizer isto, chefe.
NAMÉRCIO CUNHA – O quê?
PAULO PENEDOS – Têm que...
NAMÉRCIO CUNHA – Tá bem. Eu percebi, eu percebi isso.
PAULO PENEDOS – Oh, oh, oh, oh, oh!
NAMÉRCIO CUNHA – Oh, vamo lá ver, hã, não estar, hã, fechada a porta, num é?
Mas a, a carta que você, fez referência, tem a ver com isso?
Ou tem a ver já cuma situação, subsequente?
PAULO PENEDOS – Não. Esta, eh, esta, era, fó…
NAMÉRCIO CUNHA – Essa já é uma resposta à nossa, num é?
PAULO PENEDOS – Pronto. É…
NAMÉRCIO CUNHA – Pronto. Ok. Ficou…
PAULO PENEDOS – No sen, no sentido de dizer, que eles, como não estavam, como
num tinham estudado, agora, pra irem à fase seguinte, têm
que estudar. Percebe?
NAMÉRCIO CUNHA – Correcto. Sim.
PAULO PENEDOS – E por isso, ehh, é isto qu’aqui está, pá. Eu…
NAMÉRCIO CUNHA – Pois.
PAULO PENEDOS – Eh pá, isto é pa bom entendedor. Você tem aí informação
complementar a isto qu’aqui está. Isto é o, isto é o, o oficial.
Percebe? Hã…

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

NAMÉRCIO CUNHA – Certo. Hum.


PAULO PENEDOS – Pronto. E, isto são três fases, num é?
NAMÉRCIO CUNHA – Hum.
PAULO PENEDOS – Vai, vai já, o, o que estava, vai acelerar. E por isso, é preciso
responder, rapidamente. Percebe?
NAMÉRCIO CUNHA – Sim. Isso pá semana está lá.
PAULO PENEDOS – Pronto.
NAMÉRCIO CUNHA – Já, isto já está mesmo…
PAULO PENEDOS – Depois o resto, eh, é logo a seguir.
NAMÉRCIO CUNHA – Pronto. Vamos ver. Pronto.
PAULO PENEDOS – Nã, num tenha a menor dúvida.
NAMÉRCIO CUNHA – Não. Eu num, eu num entendi, ehh, eu entendi, qu’isso,
pronto, era a resposta à, à nossa. Pronto. Não fechava
portas, claramente. Ehh, e pronto, e que…
PAULO PENEDOS – E assim…
NAMÉRCIO CUNHA – Provavelmente agora viria…
PAULO PENEDOS – Oh pá, e eles agora estão…
NAMÉRCIO CUNHA – Viria alguma outra coisa.
PAULO PENEDOS – E eles agora estão, tal como eu disse, eh, a estudar a forma
d’abordar, o resto. Por isso é que foi lá um administrador
ver. Percebe?
NAMÉRCIO CUNHA – Hum, hum, hum.
PAULO PENEDOS – E agora segue uma carta pró resto.
NAMÉRCIO CUNHA – Pronto.
PAULO PENEDOS – Percebe?
NAMÉRCIO CUNHA – Certo. Aguardemos por ela.
PAULO PENEDOS – Num se preocupe, pá.
NAMÉRCIO CUNHA – Tá bem.
PAULO PENEDOS – Eh pá, até m’assustei, pá.
NAMÉRCIO CUNHA – Hã?
PAULO PENEDOS – Até m’assustei, ena. Não, isto é exactamente o que…
NAMÉRCIO CUNHA – Eu não fiquei assustado. Eu num, sinceramente, eu só, eu só
julguei é que, viesse uma outra, porque essa aí,
pronto…
PAULO PENEDOS – Pá, isto…

237
S. R.

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NAMÉRCIO CUNHA – É uma carta for…


PAULO PENEDOS – Tem que ser feito…
NAMÉRCIO CUNHA – É uma carta formal…
PAULO PENEDOS – Isto tem que ser feito sor professor, by the book.
NAMÉRCIO CUNHA – Ok.
PAULO PENEDOS – Qu’é pa num termos fragilidades. Percebe?
NAMÉRCIO CUNHA – Tá bem.
PAULO PENEDOS – Hã?
NAMÉRCIO CUNHA – Tá bem. Tá bem.
PAULO PENEDOS – Ok?
NAMÉRCIO CUNHA – Vamos aguardar, o passo seguinte.
PAULO PENEDOS – Ok. Então vá.
NAMÉRCIO CUNHA – Ok.
PAULO PENEDOS – Vá. Um abraço.
NAMÉRCIO CUNHA – Tá. Tchau. Um abraço.

A consulta serviu o propósito de conservar aparentemente imaculado o


procedimento para que não se criassem suspeições ou fragilidades, pois que
como reconhecem, agora, os arguidos tratou-se de um mero simulacro.

Na verdade, o Decreto-Lei n.º 197/99, de 8 de Junho, apenas permitia o


ajuste directo até 1.000,00€, pelo que, atento o valor do contrato, aquele
diploma legal exigia o lançamento de consulta! (não esquecer que a REN
apenas foi privatizada em 2007).

Esta circunstância fica bem evidente se atentarmos na justificação


encontrada pelos arguidos Juan Oliveira e Fernando Santos quando
confrontados com os factos.

Naquele momento, perante a evidência das irregularidades detectadas


na avaliação das propostas recebidas, reconheceram que era sua intenção
adjudicar os trabalhos à 02, sendo estranhos aos convites formulados à

238
S. R.

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MAFRIMÁQUINAS e à AMBISIDER qualquer intenção de abrir uma verdadeira


consulta, mas tão só averiguar da razoabilidade do preço proposto pela O2.

Isto é, reconheceram os arguidos que havia intenção de adjudicar


directamente os trabalhos à 02, o que a Lei não permitia, tendo procedido a
uma consulta meramente formal!

E porquê?
Aduzem os requerentes que a vontade de ajustar directamente à O2
radicou na circunstância de esta empresa se encontrar já no local.
Todavia, os trabalhos da 1ª fase foram dados como concluídos em 31 de
Março de 2006 e a decisão de adjudicação é de 24 de Maio de 2006, ou seja,
cerca de dois meses depois.

A verdadeira razão é desvendada por Namércio Cunha – Satisfação do


interesse de Manuel Godinho de quem partiu a ideia da realização dos
trabalhos.

Acresce aos olhos do JIC a ilegalidade na concretização desta vontade.


Argumentam os requerentes que não se tratou de uma consulta, mas
sim de um ajuste directo em que a consulta à MAFRIMÁQUINAS e à
AMBISIDER não teve outro intuito que não fosse avaliar do preço de mercado
da proposta da O2 e baixá-lo.

Esta argumentação a tudo o indicia o reconhecimento do cometimento


de uma ilegalidade!
Em função do valor, o procedimento a seguir teria que ser a consulta
Daí que sob a capa do procedimento formalmente imaculado, tenha sido
seguido este procedimento.

239
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

O teor da informação 15/2006, o teor dos despachos de Victor Baptista


sobre esta matéria e as subsequentes respostas de Fernando Santos revelam-
no à saciedade, em termos indiciários.

Na verdade, na Informação diz-se: “Neste sentido foram contactadas


três empresas da especialidade, às quais foram solicitadas as melhores
condições para a realização dos trabalhos referidos.”

O que se escreveu remete-nos para uma consulta paritária!


De outro passo, os despachos de Victor Baptista e as subsequentes
respostas de Fernando Santos reforçam esta convicção.

A pergunta de Victor Baptista se todas as empresas estavam


qualificadas pela REN para a execução dos trabalhos é elucidativa - Estamos,
de novo, no domínio de uma perspectiva paritária das empresas contactadas.
E o que dizer das respostas de Fernando Santos?!

Embora extrema e propositadamente omissiva, ainda assim alude a uma


das empresas contactadas, o que nos remete, de novo, para uma perspectiva
paritária das empresas contactadas.

A motivação da decisão de adjudicação enquadra-se nesta mesma ideia,


ao comparar as propostas apresentadas, discutir os seus termos e valores.

Acresce que, ouvidos os representantes legais da MAFRIMÁQUINAS e


da AMBISIDER, resulta que o pedido enviado pela REN para apresentarem
proposta foi-o nos termos de uma consulta.

Tais empresas sempre pensaram estar a concorrer à adjudicação e não


a servir de mero barómetro para o valor de mercado!

240
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Por fim, as explicações não coincidentes entre Juan Oliveira e Fernando


Santos são bem reveladoras: segundo Juan Oliveira, foi por sua insistência,
com intuito de saber se o preço apresentado inicialmente pela O2 estaria
dentro dos valores praticados pela concorrência; para Fernando Santos a
questão surgiu na sequência do contacto com a divisão EQ que disse que o
valor da O2 de €60/ton. estaria inflacionado.

Neste procedimento, emerge demonstrada a tese da consumação de


actos de corrupção , cometidos em cadeia ou em cascata, empreendida por
José Penedos para controlar os diferentes patamares de decisão e fiscalização
na área dos resíduos.

A acusação explica-a : Manuel Godinho viu a oportunidade de negócio,


transmitiu-a a Paulo Penedos, este endossou-a a José Penedos – a porta de
entrada de Manuel Godinho na REN era exclusivamente Paulo Penedos e este
asseverou não conhecer mais ninguém, nem falar com mais ninguém para
além de seu Pai na REN (vide interrogatório de Paulo Penedos – fls. 1102 a
11048 do Volume 30).

José Penedos transmitiu a Victor Baptista a vontade de Godinho – a


actuação deste na adjudicação demonstra-o (fez tudo, como a seguir melhor se
descreverá, para que não só os trabalhos fossem adjudicados à 02 como o
procedimento fosse, na aparência, impoluto).

Victor Baptista, procurando ser consequente com a vontade de Manuel


Godinho e José Penedos, transmitiu-a a Fernando Santos e este a Juan
Oliveira.

241
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Toda a actuação de Fernando Santos e Juan Oliveira em prol de Manuel


Godinho e da O2 no decurso da consulta o indicia assumiram, na sua esfera de
competências, decisões que conferiram um tratamento privilegiado e
preferencial à "02", elaboraram informações de serviço com um sentido e um
alcance capazes de fundamentar, formalmente, posteriores decisões de
adjudicação e a necessidades da celebração de contratos de prestação de
serviços na área dos resíduos.

Desde logo, a informação CS 15/2006 demonstra-o.


Senão, vejamos:
Como supra se evidenciou, resulta do depoimento de Namércio Cunha
que a ideia da 2ª fase partiu de Manuel Godinho que perspectivou como
oportunidade de negócio o desmantelamento das estruturas de betão
existentes na Central de Alto Mira e que a transmitiu a Paulo Penedos, sendo
que este a endossou a seu Pai, José Penedos.

Não obstante, Fernando Santos redigiu uma informação de serviço em


que faz radicar na REN a vontade de realização dos trabalhos.

Ou seja, se não existisse a comunhão de interesses entre José


Penedos, Victor Baptista, Fernando Santos e Juan Oliveira, por que razão é
que Fernando Santos, técnico competente, teria elaborado uma informação
falsa?!

É que nem com a sua versão do sucedido, a informação coincide!

A omissão da identificação da Divisão EX como a geradora da


necessidade de realização dos trabalhos, demonstra a falta de conformidade
da informação com a alegação dos requerentes Victor Baptista e Fernando
Santos, como supra se referiu.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Fernando Santos elaborou uma informação de serviço com um sentido e


um alcance capazes de fundamentar, formalmente, a necessidades da
celebração de um contrato de prestação de serviços na área dos resíduos.

Fernando Santos identificou uma necessidade que até então ninguém


havia identificado e empreendeu uma consulta ao mercado formalmente
intocável - veja-se o depoimento de Juan Oliveira: “Finalizados os trabalhos de
desgaseificação e desmantelamento dos tanques e tubagens, a REN identificou a
necessidade de proceder a trabalhos de demolição de algumas estruturas de betão.
Questionado, refere que essa necessidade foi-lhe transmitida superiormente pelo Eng.
Fernando Santos, depois de o ter questionado se os trabalhos não deviam ser
considerados como estando concluídos.
Em data que não consegue precisar, o Eng.º. Fernando Santos mostrou-lhe a
primeira proposta da empresa 02 para esses serviços tendo-lhe dito que havia interesse
da REN em adjudicar estes trabalhos de demolição à “02”, visto que eles tinham lá as
máquinas e pessoal em obra. Porque questionado, refere que desconhece como é que
esta proposta da “02” surgiu na REN. Face ao que lhe foi transmitido, o ora arguido,
respondeu que se "isto é para ser um ajuste directo, temos de ter noção dos valores de
mercado, neste tipo de trabalho."

Neste sentido, o ora arguido solicitou autorização, que lhe foi concedida,
para consultar o mercado, designadamente uma ou duas empresas.”

Fernando Santos afirma no seu RAI: “De forma a iniciar o procedimento


de contratação para a denominada Fase II, e uma vez que a 02 ainda se
encontrava a terminar alguns pequenos trabalhos da Fase I, e atendendo a que
o Arguido estimava que os custos da obra não deveriam ser elevados, ao ponto
de o fazer supor que a obra poderia ser realizada por ajuste directo, tomou a
iniciativa de solicitar ao Arguido Juan Oliveira que contactasse a 02 para
apresentar uma proposta para a realização das obras.”

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Juan Oliveira no seu interrogatório desmente-o, afirmando que “o Eng.º


Fernando Santos mostrou-lhe a primeira proposta da empresa 02 para esses
serviços (…) Porque questionado, refere que desconhece como é que esta
proposta da “02” surgiu na REN.”

Mas, as incongruências e contradições não se ficam por aqui.

Fernando Santos no seu RAI e no interrogatório perante o JIC assevera:


“Confrontado com aquele valor, e uma vez que o Arguido não é especialista na área de
construção civil, telefonou ao Eng. Jorge Liça (Divisão EX), o qual informou que os
valores apresentados pela 02 estavam muito acima do praticado pelo Mercado.

Foi nesta sequência que o Arguido Juan Oliveira, entretanto regressado ao


serviço, findo o período de férias, ficou incumbido, por ordem do Arguido Fernando
Santos, de consultar 1 ou 2 empresas do sector para poder aferir da bondade da
proposta apresentada pela 02.”

Mais uma vez, Juan Oliveira não confirma, antes pelo contrário “Face ao
que lhe foi transmitido, o ora arguido, respondeu que se "isto é para ser um ajuste
directo, temos de ter noção dos valores de mercado, neste tipo de trabalho."

Neste sentido, o ora arguido solicitou autorização, que lhe foi concedida, para
consultar o mercado, designadamente uma ou duas empresas.”

Curiosamente ou talvez não, esta consulta não conheceu qualquer


relevância prática, pois apesar da MAFRIMÁQUINAS ter apresentado
11,50€/ton., ou seja, o valor mais baixo, os trabalhos não lhe foram
adjudicados, o que reforça a convicção indiciária do JIC da decisão de
adjudicação à O2 ter sido previamente tomada (Inclusivamente, Juan Oliveira
afirmou-o nas suas declarações).

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Por desconhecer que na REN constava uma lista de fornecedores para a


classe de serviços na área da engenharia e da construção civil, Juan Oliveira
consultou em fontes abertas, como as páginas amarelas ou Internet as duas
empresas que vieram a ser consultadas.

Do interrogatório de Juan Oliveira, conclui-se que podendo não saber da


existência de uma lista de empresas qualificadas para a classe de fornecimento
da área da engenharia civil (construção e projecto), no mínimo, tinha
conhecimento que a divisão de Equipamento tinha mais conhecimentos sobre a
matéria, devido às competências orgânicas que na REN lhe estavam
cometidas, tanto é que, ter-se-á socorrido, como afirmou, dos aconselhamentos
do Eng. Jorge Liça para, mais tarde, em Novembro/Dezembro de 2006
encontrar uma empresa na área de projecto de engenharia civil.

Foram contactadas três empresas da especialidade para a apresentação


de propostas, a saber: MAFRIMÁQUINAS – Terraplanagens e construção civil,
Lda, AMBISIDER-Recuperações ambientais S.A. e a empresa O2 Tratamento
e limpezas ambientais S.A., sendo que esta última fez chegar à REN quatro
propostas distintas para os mesmos trabalhos.

Neste particular, surpreende-se de forma hialina o favorecimento


prestado à 02 – enquanto que a esta empresa foi oferecida a possibilidade de
apresentar quatro propostas, idêntica possibilidade não foi reconhecida às
demais concorrentes.

Este tratamento privilegiado foi concedido pelos arguidos Fernando


Santos e Juan Oliveira, responsáveis pela consulta, sendo certo que, como
supra se evidenciou, nada o explica no plano das relações interpessoais –
Nenhum dos dois recebeu prendas ou quaisquer quantias monetárias de
Manuel Godinho e, no período de tempo que Manuel Godinho e seus

245
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

colaboradores estiveram sob escuta, não se registou com aqueles qualquer


contacto.

Deste modo, há que apelar, como faz a acusação, para o quadro


enformante das relações de Manuel Godinho com a REN para perceber o
porquê deste favorecimento.
Só se compreende este favorecimento se Fernando Santos e Juan
Oliveira tiverem agido com o propósito de satisfazer uma demanda do seu
superior hierárquico.

As regras da experiência e da normalidade do acontecer, impõem que


perante os elementos de prova indicados, assim se conclua, pois que outra
razão poderia haver para este tratamento preferencial da 02 em prejuízo dos
interesses da REN?!

Sendo reconhecidos pelos seus pares como funcionários competentes


(a instrução revelou-o à saciedade), as suas qualidades só podiam ser
entorpecidas por motivos que não técnicos!

No espírito do JIC signatário indicia-se que estes radicavam na


satisfação do seu chefe!

Neste conspecto, cabe questionar, então, o que levou Victor Baptista a


solicitar-lhes tal tratamento?

A resposta é simples – Inexistindo razão bastante nas relações


interpessoais – Não recebeu prendas ou quantias monetárias de Manuel
Godinho e no período de tempo em que Manuel Godinho e seus colaboradores
estiveram sob escuta, não manteve com estes qualquer contacto – apenas a
satisfação de uma demanda do Presidente do Conselho de Administração
permite perceber tamanho favorecimento.

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TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

E porquê do Presidente do Conselho de Administração?

A única possibilidade que percute o espírito do JIC é porque era o único


que, nas relações interpessoais, tinha razões para assim proceder!

Porque era quem se achava comprometido com os interesses de Manuel


Godinho! Para além das avultadas quantias recebidas pelo seu filho de Manuel
Godinho e das prendas com que este o presenteou, as intercepções telefónicas
evidenciam-no.

Tenha-se em atenção o produto 1448 do alvo 38250PM, que abaixo se


transcreve, na integra, para melhor se alcançarem os exactos fundamentos do
juízo de prognose a final efectuado pelo JIC/TCIC, no qual Paulo Penedos
relativamente à Tapada do Outeiro diz a Namércio que “só tem que saber onde
é que ele empanca para poder agir” pois ele ”sabe que há instruções das
pessoas que estão à cabeça para abertura”

PRODUTO Nº: 1448


DATA/HORA: 20:16:41 de 12/03/2009
INTERVENIENTES:
• DE – Namércio Cunha
• PARA – Paulo Penedos

PAULO PENEDOS – Atão?


NAMÉRCIO CUNHA – Tá tudo bem consigo, ou quê?
PAULO PENEDOS – Tudo a andar.
NAMÉRCIO CUNHA – Já está recuperado, ou inda não?
PAULO PENEDOS – Porras, aquilo é mau de mais, pá.
NAMÉRCIO CUNHA – Hã. Fogo.
PAULO PENEDOS – Aqueles gajos, aqueles gajos. Se calhar, se tivessem salários
in atraso, punham-se finos.
NAMÉRCIO CUNHA – Ehh, Eu acho que é, neste momento é a melhor vitamina,
num é? Ehh.
PAULO PENEDOS – É, dá-me ideia.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

NAMÉRCIO CUNHA – (imop.) então, está tudo bem consigo, ou quê?


PAULO PENEDOS – Tudo a andar.
NAMÉRCIO CUNHA – Olhe, pode falar?
PAULO PENEDOS – Posso, posso, pode.
NAMÉRCIO CUNHA – Ehh, eu tinha aqui um mail pa lh’enviar.
PAULO PENEDOS – Sim?
NAMÉRCIO CUNHA – Ehh, eh pá, pra que mail é que l’hei-de enviar isto?
PAULO PENEDOS – Atão, pró meu. Inda tem?
NAMÉRCIO CUNHA – Eh pá, mas eu, eu num tenho aqui.
PAULO PENEDOS – paulo.
NAMÉRCIO CUNHA – Sim.
PAULO PENEDOS – Under score.
NAMÉRCIO CUNHA – Sim.
PAULO PENEDOS – penedos.
NAMÉRCIO CUNHA – Sim.
PAULO PENEDOS – Arroba.
NAMÉRCIO CUNHA – Sim.
PAULO PENEDOS – hotmail.com.
NAMÉRCIO CUNHA – Eu tou, tou-lhe a mandar um, um memo.
PAULO PENEDOS – Hum.
NAMÉRCIO CUNHA – Pra você ver. Sobre um assunto que já falámos
anteriormente, pá.
PAULO PENEDOS – Sim, senhor.
NAMÉRCIO CUNHA – E a ver como é que nós conseguíamos pôr isto a andar,
pá.
PAULO PENEDOS – Tá a falar da DESERBÁSIA?
NAMÉRCIO CUNHA – Hã?
PAULO PENEDOS – Tá a falar da DESERBÁSIA, não?
NAMÉRCIO CUNHA – Dessa inda não, mas tamém já ando a mexer com isso.
PAULO PENEDOS – Tá bem.
NAMÉRCIO CUNHA – Isso aí tamém…
PAULO PENEDOS – Porque já passou o ano, do contrato dos outros gajos, e,
você com quem é que fala, in termos regulares, na
área do ambiente, lá?

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

NAMÉRCIO CUNHA – Oh pá, isto é assim, ehhh, eu na altura falei com umas
pessoas, e tenho aí os contactos. Agora, nós (imp.)
pronto, e mandámos processo de qualificação,
depois nunca chegou a haver foi uma, uma resposta
da parte da REN. Entretanto, agora as qualificações
são feitas por uma empresa de fora. Eh, mas parece
que não são todas. Eh pá, sinceramente, é um
assunto, digamos, é uma matéria, que se tem que
retomá-la de, de raiz outra vez, pá.
PAULO PENEDOS – Prontos, eh pá…
NAMÉRCIO CUNHA – (imp.) Retomar isso de raiz outra vez, para…
PAULO PENEDOS – Porque deve estar na altura da renovação dessas coisas.
NAMÉRCIO CUNHA – Eh pá, pronto, num sei. Ehhh, aquilo você conseguia-
me…
PAULO PENEDOS – Eh pá, eu também num sei, eu, eu só estou a falar…
NAMÉRCIO CUNHA – (imp.) se me conseguir saber, só quais são as portas,
digamos, mais adequadas, num é, para… Porque,
pronto, posso recuperar aqui os, as situações
anteriores, tentar, mas eu vi que as outras pessoas
num tinham muita, muita, voz na matéria. E, qu’é
para arquitectarmos aqui também essa forma, pá,
de, de, de…
PAULO PENEDOS – Eh pá, ó, ó amigo Namércio, desculpe lá. Eh, primeiro, a
gente, ehh, deve estar na Net como é que se põe
uma candidatura, num é? E depois, ehh, em função
disso, se houver alguma ardistice, eh, logo, deixe a
intervenção, qu’é pra isso que servem os advogados,
num é.
NAMÉRCIO CUNHA – Num sei se tá na Net. Isso tá na Net?
PAULO PENEDOS – Hã?
NAMÉRCIO CUNHA – (imp.) isso tá na net?
PAULO PENEDOS – Tá na Net. Atão, tem que estar, pá!
NAMÉRCIO CUNHA – Ok. Hã, pronto. Entretanto, vou-lhe enviar então agora
essa situação…
PAULO PENEDOS – Percebe? E por isso, a minha ideia é, a minha ideia é, fazer
um processo, num é? Ver em que estado é que está. Hã,
porque o ambiente me pede… Quem é o director
d’ambiente lá?
NAMÉRCIO CUNHA – Eh pá, não sei dizer. Isso, isso num tem a ver co as outra
áreas, pá. A parte, essa, essa, esse sector, é

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S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

independente, totalmente independente da parte da


gestão dos resíduos.
PAULO PENEDOS – Ah é?
NAMÉRCIO CUNHA – É.
PAULO PENEDOS – E isso tá pendurado aonde? Na exploração, ou no
equipamento?
NAMÉRCIO CUNHA – Pff, num sei.
PAULO PENEDOS – Pois, isso é que convinha saber. Qu’é pa depois se mexer.
NAMÉRCIO CUNHA – (imp.) num tenho aqui nada, num sei. Ehh, eu sei que já
cheguei a falar com pessoal aí in Lisboa, cheguei a
falar com pessoal aqui no Porto. Ehhh, ehhh, num
tenho, aqui tava a ver, aqui não tenho. Eh, já
cheguei a falar com, com pessoas, só que é, que vi
que aquilo tava tudo muito embrulhado, aquilo era
muito, era um processo um bocado fechado. E…
PAULO PENEDOS – Mas num pode ser, pá. Porque…
NAMÉRCIO CUNHA – Pronto, Ok.
PAULO PENEDOS – As pessoas...
NAMÉRCIO CUNHA – Ó, ó Paulo, vamos agora, num é?
PAULO PENEDOS – Namércio.
NAMÉRCIO CUNHA – Reforçar as coisas.
PAULO PENEDOS – As pessoas que estão à cabeça…
NAMÉRCIO CUNHA – E fazer uma segunda, e fazer uma segunda…
PAULO PENEDOS – As pessoas que estão à cabeça disso, dão orientações no
sentido de abertura.
NAMÉRCIO CUNHA – Atão.
PAULO PENEDOS – De transparência. E por isso, se me está a dizer co processo
é fechado.
NAMÉRCIO CUNHA – É.
PAULO PENEDOS – Eu só preciso de saber onde é que ele empanca. Qu’é pra
pode ragir.
NAMÉRCIO CUNHA – Pronto. Vamos fazer uma segunda vaga, num é?
PAULO PENEDOS – Ok?
NAMÉRCIO CUNHA – Vamos fazer uma segunda vaga. É isso que vai…
PAULO PENEDOS – Porque eu inda há dias, inda há dias falei disso, e disseram-
me. Eh pá, se não nos dizem nada, é porque não há

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S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

nada. Você tá-me a dizer que nem qualificados


estamos.
NAMÉRCIO CUNHA – Num estamos, porque inda num recebemos resposta, ó
processo.
PAULO PENEDOS – Pronto. Tem que se, tem que s’ir recuperar isso, pá.
NAMÉRCIO CUNHA – De abertura. Num tivemos resposta ó processo. Hã, Ok.
Agora, pronto, eu vou-lhe mandar isto. Preste
atenção depois isto, depois podemos falar melhor.
Hããã, e pronto (imp.)
PAULO PENEDOS – Atão, pá semana vai a Lisboa?
NAMÉRCIO CUNHA – Eu vou todas as semanas a Lisboa, pá.
PAULO PENEDOS – Atão fale comigo, pá!
NAMÉRCIO CUNHA – Você é que tem sempre a agenda cheia, pá.
PAULO PENEDOS – Você num me liga nenhuma.
NAMÉRCIO CUNHA – Você é que tem sempre a agenda cheia.
PAULO PENEDOS – Hã?
NAMÉRCIO CUNHA – (imp.) você tem sempre a agenda cheia, pá.
PAULO PENEDOS – Não. Eh pá, mas p’almoçar, ou pra tomar um café, isso…
NAMÉRCIO CUNHA – É, terça-feira estou em Lisboa. Tenho qualquer, tenho já
lá umas coisas marcadas, mas em princípio deve dar
(imp.).
PAULO PENEDOS – Eh pá, nem que você vá a minha casa. Eu, eu, se Deus
quiser, serei pai no sábado, num é?
NAMÉRCIO CUNHA – Ai é.
PAULO PENEDOS – É.
NAMÉRCIO CUNHA – Ah, valente.
PAULO PENEDOS – O que vai, o que vai introduzir aí uma pequena…
NAMÉRCIO CUNHA – Claro, claro.
PAULO PENEDOS – Ehh, uma pequena alteração na minha, no meu ritmo de
vida. Eh pá, mas pela amizade que nós temos, você...
Se eu, se eu vir que num posso.
NAMÉRCIO CUNHA – Tá bem.
PAULO PENEDOS – Como, com’aquillo é na, no cruzamento da Gago Coutinho
co a Estados Unidos. Você, pra entrar ou pra sair, tem
que passar por lá.
NAMÉRCIO CUNHA – Sim, sim, sim.

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S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PAULO PENEDOS – Vai lá tomar um café a casa.


NAMÉRCIO CUNHA – Tá bem, tá bem, tá bem. Ok, nós falamos, pá.
PAULO PENEDOS – Tá bem?
NAMÉRCIO CUNHA – Analise isto, e depois de analisar, ehh, depois comente
comigo, pá. Tá bem?
PAULO PENEDOS – Ok. Você tá cá?
NAMÉRCIO CUNHA – Porque eu aqui, eu aqui, vou, vou.
PAULO PENEDOS – Ok.
NAMÉRCIO CUNHA – Dois minutos, tou (imp.). Porque eu aqui, ou se quiser,
até daqui por um bocado, depois ligue-me. Vou,
vou depois, sair da empresa. Eh, porque aqui
precisa depois de orientações suas, pá. E também
sugestões. Tá bem?
PAULO PENEDOS – Ok.
NAMÉRCIO CUNHA – Isto é ou… é também, digamos, um texto base. Mas inda
está aberto, a melhorias, de processos. Ok.
PAULO PENEDOS – Ok.
NAMÉRCIO CUNHA – Vou-lhe enviar isto, pá.
PAULO PENEDOS – Atão vá.
NAMÉRCIO CUNHA – Tá bem?
PAULO PENEDOS – Um abraço.
NAMÉRCIO CUNHA – Adeus. Até já. Obrigado

A título de exemplo e para já atente-se no produto 4556 do Alvo


1T167PM, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se alcançarem os
exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado pelo JIC/TCIC, no
qual, apesar do evidente enfado e relutância de Manuel Godinho em entregar
mais 15.000,00€ a Paulo Penedos, acaba por fazê-lo, pois, nas suas palavras,
“precisam de Paulo Penedos e não o quer ver chateado”.

PRODUTO Nº: 4556


DATA/HORA: 20-03-2009/ 10:33:07
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

• PARA – Maribel Rodrigues

MARIBEL RODRIGUES – Tou.


MANUEL GODINHO – Sim.
MARIBEL RODRIGUES – Sim.
MANUEL GODINHO – O Pedro Belo fechou agora quatro toneladas de chapa,
chapa lacada.
MARIBEL RODRIGUES – Sim.
MANUEL GODINHO – E eu, eu paguei-lhe a cento e dez euros.
MARIBEL RODRIGUES – Cento e dez?
MANUEL GODINHO – É um gajo de Braga que vem aí trazer isso, Ok?
MARIBEL RODRIGUES – Cento de dez, chapa lacada não é?
MANUEL GODINHO – Sim tá bem?
MARIBEL RODRIGUES – Tá. O Paulo Penedos já ligou para aqui.
MANUEL GODINHO – Ele o que é que quer?
MARIBEL RODRIGUES – Perguntou se já tinha falado com o Sr. Godinho. Olhe
eu, o Sr. Godinho só cá está para a semana, para o principio da semana. Então
você não me arranjou o outro cheque? Não eu não tenho cheques assinados
em branco, conforme lhe tinha dito, só tenho…
MANUEL GODINHO – E ele o que é que disse?
MARIBEL RODRIGUES – Pronto tá bem. Então eu passo aí a buscar isso.
MANUEL GODINHO – Pronto, ele vai passar a que horas?
MARIBEL RODRIGUES – Ele passou entre as três e as cinco.
MANUEL GODINHO – Entre as três e as cinco. Deveria ser mais cedo.
MARIBEL RODRIGUES – Então só se eu lhe ligar a dizer que vou ter que sair.
MANUEL GODINHO – Se pudesse vir mais cedo um bocado, porque eu fiquei
de me encontrar aí com o Sousa, está bem.
MARIBEL RODRIGUES – Eu vou-lhe ligar. Ele pode é desconfiar não é, mas eu
ligo-lhe a dizer para vir mais cedo.
MANUEL GODINHO – Pois é.
MARIBEL RODRIGUES – Ou então, tu vens e metes o carro dentro do
armazém, ele lá abaixo não vai.
MANUEL GODINHO – Exacto, eu escondo o carro.
MARIBEL RODRIGUES – Pronto.
MANUEL GODINHO – Ok.

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S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MARIBEL RODRIGUES – Ok.


MANUEL GODINHO – Tá.
MARIBEL RODRIGUES – Porque eu tenho receio de dizer e depois ele diz, não
isto deve haver…
MANUEL GODINHO – Exactamente.
MARIBEL RODRIGUES – Estás a ver e depois é muito chato.
MANUEL GODINHO – E não se pode perder.
MARIBEL RODRIGUES – Pronto. Tá. Pode ser que ele venha mais cedo, porque
eu já lhe disse que tinha pronto e podia passar a qualquer hora.
MANUEL GODINHO – Mas ele devia trocar o cheque.
MARIBEL RODRIGUES – O dos quinze.
MANUEL GODINHO – Pois.
MARIBEL RODRIGUES – Mas aguenta até à semana, eu já lhe disse que só
estavas para a semana.
MANUEL GODINHO – Pois, mas o problema é que o gajo se fica lixado comigo
não…
MARIBEL RODRIGUES – Não fica porque…
MANUEL GODINHO – Nós precisamos daquilo, não é?
MARIBEL RODRIGUES – Pois, portanto, já ele já sabe que o de vinte não está,
este.
MANUEL GODINHO – São quinze mil euros.
MARIBEL RODRIGUES – Sim.
MANUEL GODINHO – São quinze mil euros, o gajo deveria, às tantas…
MARIBEL RODRIGUES – Mas, olha uma coisa.
MANUEL GODINHO – Hum.
MARIBEL RODRIGUES – Ele, já está acordado, ele depois na segunda, se quiser
trocar, troca isso à primeira hora também.
MANUEL GODINHO – Não pode, ele devia.
MARIBEL RODRIGUES – Só que ele vai ver que estás por trás.
MANUEL GODINHO – Não interessa, mas se vir que sou eu que estou por trás
não faz mal nenhum.
MARIBEL RODRIGUES – Porque eu disse-lhe que não tinha cheques em branco
assinados, como é que de repente eu apareço.
MANUEL GODINHO – Tu dizes. Se ele me ligar eu atendo e digo que já estou
de regresso, vou tentar estar aí por volta das quatro cinco horas.

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S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MARIBEL RODRIGUES – Pronto, porque ele também disse que caso não
pudesses estar cá logo e pudesses estar cá amanhã, ele vai para Coimbra, vai
passar o fim de semana a Coimbra, porque amanhã dava cá uma saltada se
fosse preciso.
MANUEL GODINHO – Pois é o caso, pronto, se ele me ligar, se me ligar eu
atendo, Ok.
MARIBEL RODRIGUES – Ok.
MANUEL GODINHO – Tá.
MARIBEL RODRIGUES – Até já.

No juízo indiciário cabido ao JIC forçoso é concluir que acaso Paulo


Penedos não lograsse a satisfação dos interesses de Manuel Godinho, este
descartá-lo-ia de imediato, até porque a sua intermediação era paga a peso de
ouro, era um sorvedouro de dinheiro!

Tenha-se em atenção que José Penedos é um técnico respeitado e tido


pelos seus pares como muito competente.

Disso não restam ao JIC/TCIC quaisquer dúvidas.

Tenha-se em atenção que José Penedos participou e, por isso, conhecia


a deliberação do CA de Outubro de 2002 que determinou que se procurassem,
no mercado, alternativas à "02".

Leva-se em consideração que o Eng. José Penedos conhecia os


sucessivos problemas acontecidos na relação comercial da REN com a “O2”.

O JIC escrutinou em atenção que Manuel Godinho fala como se tivesse


capacidade para se relacionar pessoalmente com José Penedos – cfr. produto
8451 do Alvo 1T167PM - Manuel Godinho e de o influenciar por meio do filho o
arguido Paulo Penedos - cfr produto 2988 do Alvo 39263M, que abaixo se
transcrevem, na integra, para melhor se alcançarem os exactos fundamentos
do juízo de prognose a final efectuado pelo JIC/TCIC.

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S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PRODUTO Nº: 8451


DATA/HORA: 04/05/09 18:45:24
INTERVENIENTES:
DE – Manuel Godinho
PARA – Namércio

NAMÉRCIO – Sim.
MANUEL GODINHO – Sim, Namércio.
NAMÉRCIO – Sim. Então?
MANUEL GODINHO – O, o nosso amigo já falou contigo?
NAMÉRCIO – Não, agora ainda não.
MANUEL GODINHO – Não falou!
NAMÉRCIO – Não.
MANUEL GODINHO – Pronto. Aquilo que eu te tinha dito, ele já percebeu, já
me telefonou duas vezes
NAMÉRCIO – Ah!
MANUEL GODINHO – Eh. É fazer a carta baseada naquilo que eu tinha falado
contigo, tás a ver?
NAMÉRCIO – Sim, sim, é isso.
MANUEL GODINHO – Pronto.Eh, mandas uma minuta para ele, mas tem que
ser logo de manhã
NAMÉRCIO – Sim (imperceptível)
MANUEL GODINHO – Porque o outro senhor vai para o estrangeiro.
NAMÉRCIO – Ok. Isso, ele tem lá isso logo de manhãzinha.
MANUEL GODINHO – Pronto. Logo de manhã.
NAMÉRCIO – Vou adiantar isso.
MANUEL GODINHO – Ok. Tá bem.
NAMÉRCIO – Tá bem?
MANUEL GODINHO – Tá.
NAMÉRCIO – Olhe, outra coisa
MANUEL GODINHO – Diz.
NAMÉRCIO – Eh, é pá, eu precisava de mais um homem para por ali em Cacia
durante uma semana, para eles me acabarem, garantir que me acabam a, a
parte do fibro-cimento.

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S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Tá bem.


NAMÉRCIO – Que eu preciso de, daquilo, de libertar a, aquele pessoal para a
semana para pô-los lá em, em Setúbal.
MANUEL GODINHO – Fala
NAMÉRCIO – A trabalhar na fibro-cimento
MANUEL GODINHO – Fala co
NAMÉRCIO – Eu vou falar
MANUEL GODINHO – Fala com a Maribel
NAMÉRCIO – Com a Maribel. Ok.
MANUEL GODINHO – Para te arranjar um homem.
NAMÉRCIO – Tá bem. Tá
MANUEL GODINHO – Ok?
NAMÉRCIO – Até já. Até já.
MANUEL GODINHO – Até já.

PRODUTO Nº: 2988


DATA/HORA: 08/06/2009 - 17:04:31
INTERVENIENTES:
DE – Paulo Penedos
PARA – Godinho

GODINHO – Estou.
PAULO PENEDOS – Ele vai para o Algarve e eu só vou estar com ele Domingo,
dia 14. Podemos esperar até lá ou não?
GODINHO – Oh pá… é evidente que não! Eh pá… é que é muito chato, é uma
situação muito, muito chata… eh… e… pronto, se for assim eu desisto porque de facto
isso não tem… não faz sentido. Não é? O contrato acaba no dia 30 de Junho…
PAULO PENEDOS – Sim, mas depois vai haver novo contrato! Não é?
GODINHO – A…. oh pá…. Eu não sei! Eu acho que isto hoje é muito rápido, é
tudo muito perto, eu acho que deverias dar um saltinho lá, falar com ele para ver o
que é que se passa. Isso é uma situação grave. Não é? É que… pedem o contentor,
agora dizem para retirar o contentor sem retorno? Percebes? Estás a perceber a
situação?
PAULO PENEDOS – Eu estou a perceber mas…
GODINHO – Pronto, olha… vê lá a melhor maneira e… pronto…

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

PAULO PENEDOS – Não… eh pá… prontos, a… eh pá… eu acho que nós… a…


as coisas estão todas encaminhadas e esse tipo de…. a… de manobras que estão a
fazer não têm eficácia nenhuma em relação ao futuro que aí vem… a… Percebe? Eu sei,
ainda agora falei com ele. Eh pá…
GODINHO – Pois é, pronto… eu já mandei a CESPA reagir, a CESPA que reaja.
A CESPA que reaja! A… eh pá…
PAULO PENEDOS – É que as nossas coisas estão todas encaminhadas pá.
GODINHO – Pois é mas é que o problema, o problema é que os resíduos de
betão, os resíduos de betão faz parte do contrato da CESPA e nós fomos adjudicatários
da CESPA! Estás a perceber?
PAULO PENEDOS – Sim…
GODINHO – Pronto, ok. Olha, gere isso da melhor maneira que tu achares
melhor.
PAULO PENEDOS – Eles que reajam e o Dr. Namércio que me dê
conhecimento da reacção deles que é para eu dia 14 lhe mostrar pá!
GODINHO – Está bem, ok. Eu vou… eu vou dizer ao Namércio para tratar
disso.
PAULO PENEDOS – Que Terça… Quarta e Quinta é feriado, por isso se eles
reagirem amanhã, também… não é Sexta, porque ele está no Algarve… não é Sexta
que ele vai resolver… e eu Sábado á noite estou com ele já.
GODINHO – Está bem, ok, tá… eles que tratem. Ok… tá Paulo.
PAULO PENEDOS – Está bem?
GODINHO – ok… tá Paulo, continuação…
PAULO PENEDOS – Um abraço.

O JIC teve em atenção o auto de busca e apreensão, constante do


Apenso de Buscas A, pois que aí se consigna que, no gabinete de trabalho de
José Penedos, mais propriamente na sua secretária de trabalho, foram
encontrados os seguintes documentos:

um oficio aberto da REN para a O2, com referência à sua comunicação


de 05-05-2009 e nossa referência carta “GM 13/2009, DE 1-6-09, não
assinado;
uma carta enviada pela O2 à REN, ao cuidado de Engenheiro Andrade
Lopes, com conhecimento a Engenheiro Vítor Manuel Batista, assinado por

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Namércio Cunha, datada de 05-05-2009, sendo o assunto focado a gestão de


resíduos existentes na Tapada do Outeiro;
um documento – Informação “IF GMM-MSP 8/09, com data de 15/05,
cujo assunto focado é a gestão de resíduos existentes na Tapada do Outeiro.

Mais de 4 meses após a conclusão da consulta, José Penedos ainda


tinha na sua posse documentos relativos à consulta pública para a adjudicação
do serviço de recolha e acondicionamento dos resíduos existentes nas
instalações afectas à desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do
Outeiro! Aos olhos do JIC, no juízo indiciário demonstra que estava a
acompanhar de perto a situação da O2, o que corrobora o sentido das
intercepções a Manuel Godinho - Paulo Penedos .

Cumpre não olvidar como nos foi bastamente enfatizado nas diligências
e no debate que falamos de uma empresa – O2 – que é insignificante no
volume de negócios da REN!

O JIC estribou-se e teve em atenção o produto 2987 do Alvo , no qual


Paulo Penedos, dirigindo-se a seu Pai, e pretendendo que este perceba que
está a falar de Manuel Godinho, afirma “os nossos amigos continuam a fazer
patifarias” “ao nível dos resíduos…mas é um assunto que temos que falar
pessoalmente” E o arguido José Penedos responde “ Pois com certeza, não
pode ser por este telefone”.

Porquê, interroga-se o JIC??!

O JIC ponderou que o código de conduta da REN no seu art.º 9º dispõe


que - “Os colaboradores da REN que, no exercício das suas funções e competências,
sejam chamados a intervir em processos ou decisões que envolvam, directa ou
indirectamente, pessoas, entidades ou organizações com quem colaborem ou tenham

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S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

colaborado, devem comunicar à empresa a existência dessas relações, devendo, em


caso de dúvida no que respeita à sua imparcialidade, abster-se de participar na tomada
de decisões.
Igual obrigação impende sobre os colaboradores da REN nos casos em que
estejam ou possam estar em causa interesses financeiros ou outros do próprio
trabalhador ou de familiares e afins até ao primeiro grau ou ainda de outros
conviventes.”

Tenha-se em atenção que este código de conduta foi homologado pelo


próprio arguido José Penedos enquanto Presidente do Conselho de
Administração da REN.

Tenha-se em atenção que, não obstante o circunstancialismo


anteriormente descrito, José Penedos respondeu às demandas de Paulo
Penedos relacionadas com a O2 e nunca por nunca o aconselhou ou
desincentivou (antes pelo contrário) a cessar o seu relacionamento com
Manuel Godinho e as suas empresas.

Aliás, daqui decorre, fortemente indiciado no juízo de prognose cabido


ao JIC efectuar nesta sede também, que José Penedos para assim proceder é
porque conhecia bem as vantagens patrimoniais que advinham para o seu
filho.

Acaso não as conhecesse e conhecendo o código de conduta da REN,


José Penedos, certamente, que instruiria o seu filho a cessar o seu
relacionamento com Manuel Godinho e as suas empresas ou então exigir que
o filho não mantivesse consigo qualquer conversa envolvendo as pretensões
de Manuel Godinho.

E para tanto bastava que não mais diligenciasse em favor da O2 ou lhe


prestasse quaisquer informações.

260
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Assaz revelador do exposto é a forma como José Penedos perspectiva


o exercício das suas funções enquanto presidente do conselho de
administração e, bem assim, o seu concreto modus operandi em relação a O2,
pautado pelo exercício da sua influência tutelar, pelo secretismo da sua
actuação e pelo jogo de bastidores que se seguia na concretização de
negócios entre a REN e a O2.

Denotou frieza e calculismo, aliados a redobradas cautelas nos


contactos telefónicos que estabeleceu com o seu filho, possuindo, mesmo, um
posto telefónico oculto, tido por si como seguro, para tratar de “assuntos
profissionais” com aquele, como se indicia.

Diligenciou, quase imperceptivelmente mas de forma eficaz, pelo


favorecimento da 02, nomeadamente obtendo documentos no interior da REN
e esforçando-se por aparentar actuação irrepreensível denodadamente,
nomeadamente ao granjear pareceres jurídicos sobre questões relativas àquela
empresa de Manuel Godinho, o que diz do seu poder, do seu ascendente, da
sua influência e do seu domínio sobre a estrutura e os mecanismos de decisão
na REN.

Os documentos apreendidos na sua secretária pessoal, alcançados


muito antes do processo relativo à Tapada do Outeiro ter sido presente a
Conselho de Administração, ilustram a sua capacidade para se mover nos
“corredores” da REN, exercendo a sua preponderância /ascendente sobre os
seus subalternos.

Cumpre não olvidar que o arguido José Penedos foi Presidente do


Conselho de Administração da REN desde 2001.

261
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Para além da possibilidade de apresentar quatro propostas, a O2


beneficiou, ainda, de informação privilegiada para a sua elaboração.

Desde logo, de Paulo Penedos, por intermédio de José Penedos.

Há que atentar no facto de o contacto que Manuel Godinho tinha na


REN , era Paulo Penedos, inexistindo qualquer relacionamento de Manuel
Godinho com os arguidos Victor Baptista, Fernando Santos e Juan Oliveira.
Deverá ser considerada ainda a demanda de José Penedos a Victor Baptista e
deste a Fernando Santos e Juan Oliveira.

De acordo com estes elementos de referencia indicia-se que, a


afirmação de Namércio Cunha no seu interrogatório de que “Neste período de
negociação, o declarante dava conhecimento ao Sr. Manuel Godinho, o qual
lhe dava indicações quanto ao preço a apresentar, conforme se encontra
espelhado na respectiva proposta. Nesta fase teve a nítida sensação que o Sr.
Manuel Godinho estava a ter informação do interior da REN relativamente ao
assunto, mas não sabe com quem é que ele terá falado, isto porque nunca
assistiu a nenhuma das eventuais conversas”.

De acordo com a tese da acusação, esta asserção apenas pode ser lida
da seguinte forma:
Sendo Fernando Santos e Juan Oliveira os gestores da consulta e, como
tal, achando-se na posse das propostas apresentadas, eram os únicos em
condições de fornecer a informação delas constante, designadamente o preço.
Assim, satisfazendo a petição que Victor Baptista lhes havia endereçado
e como a O2 não havia apresentado proposta que permitisse a adjudicação,
transmitiram-lhe a informação constante das propostas dos outros concorrentes
para que a fizesse chegar à O2 em ordem à reformulação da proposta inicial.

262
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Victor Baptista, cumprindo a solicitação de José Penedos, endossou-lhe


o conhecimento obtido, sendo que este, por sua vez, o transmitiu a seu filho.

Na posse desta informação, Paulo Penedos fê-la chegar a Manuel


Godinho.

Trata-se de um raciocínio coerente, que encontra apoio nos elementos


probatórios colhidos.

Mas porquê incluir Victor Baptista nessa transmissão de elementos em


cascata?

Porque as evidências resultantes do sistema de gestão documental da


REN (atente-se nas mensagens supra aludidas reencaminhadas por Victor
Baptista para José Penedos sem justificação aparente), o sucedido em
Estarreja e as intercepções telefónicas demonstram que Victor Baptista era o
interlocutor de José Penedos na REN.

Por outro lado, os próprios Juan Oliveira e Fernando Santos negaram


quaisquer contactos com o arguido José Penedos.

Concomitantemente e como forma de satisfazer o pedido do seu


superior hierárquico, Fernando Santos forneceu a Namércio Cunha elementos
bastantes para garantir a adjudicação à 02 – Vide Interrogatório de Namércio
Cunha a fls. 24448.

Comunicou-lhe existir uma proposta mais competitiva que a da "02",


exortando-o a apresentar uma nova proposta com um valor mais baixo, bem
como o instruiu a inserir a elaboração de um plano de segurança e saúde para
a empreitada e um plano de gestão ambiental a ser cumprido em obra, o que

263
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

se veio a revelar factor decisivo na fundamentação da proposta de adjudicação


dos trabalhos à "02".

De facto, em 20 de Maio de 2006, o arguido Fernando Santos redigiu a


informação CS 15/2006, exarando que, apesar de não apresentar o valor
unitário mais baixo, a proposta da "02" era a que apresentava globalmente
melhores condições, tendo em atenção aspectos relativos à segurança e ao
ambiente (plano de segurança e saúde para a empreitada e um plano de
gestão ambiental a ser cumprido em obra, incluídos na proposta da "02" por
sua promoção – vide Interrogatório de Namércio Cunha a fls. 24448).

Revelador do favorecimento da 02 e da pré-determinação da decisão de


adjudicação foi a circunstância de Fernando Santos ter entabulado
negociações com a 02 ainda na fase de apresentação de propostas e num
momento em que a 02 não havia apresentado a proposta com o melhor preço,
nem incluído o factor que veio a ser decisivo para a adjudicação – plano de
segurança e saúde para a empreitada e um plano de gestão ambiental a ser
cumprido em obra, incluídos na proposta da "02" por sua promoção.

Mutatis mutandis, num momento em que nada colocava a 02 como


principal candidata à adjudicação ou provável adjudicatária.

Que outra razão poderia levar o responsável pela consulta a reunir com
um dos concorrentes que não o melhor posicionamento que não fosse a
vontade de lhe adjudicar a obra sem comprometer a integridade do
procedimento?

As propostas existentes eram incomparavelmente mais baixas que a da


02, o que impedia, seguindo a regra de ouro de José Penedos, – By the book- ,

264
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

referida nas intercepções, “ para não serem criadas fragilidades” , a


adjudicação à O2.

Esta é uma das premissas essenciais de José Penedos revelada no


produto 2782 do ALVO 39263M - Paulo Penedos – havia que agir “by the book”
por forma a não serem criadas fragilidades.

Por isso é que se verificou que não só o valor da proposta da O2 foi


descendo como foi integrando outros serviços capazes de aportar uma
aparência de legalidade à decisão de adjudicação (aquele princípio não
permitia um ganho desproporcionado e sem justificação aparente).

Não se olvide, também, o produto 1448 do alvo 38250PM, no qual Paulo


Penedos relativamente à Tapada do Outeiro diz a Namércio que “só tem que
saber onde é que ele empanca para poder agir” pois ele ”sabe que há
instruções das pessoas que estão à cabeça para abertura” .

Registe-se, ainda, que em resultado destas negociações, surgiu uma


quarta proposta da O2, (doc. 20 a fls. 79 do apenso AE28) com a referência
EA11040604, datada de 5 ou de 11 de Maio de 2006, que não está registada
no sistema de gestão documental da REN!

Segundo Victor Baptista, apenas a IF com a proposta de adjudicação e


os respectivos reencaminhamentos/despachos são submetidos ao
conhecimento do CA da REN para aprovação, pelo que a questão que se
coloca é a de saber qual das propostas foi aprovada pelo CA. Será a terceira
ou a quarta da empresa O2 ?

Decisão de adjudicação

265
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Neste segmento, o favorecimento da 02 ressuma vítreo e indesmentível.


Com efeito, como supra se referiu, a IF 35/2006 subscrita por Fernando
Santos com a fundamentação aí descrita, foi a forma encontrada pela Divisão
Comercial do SEP de adjudicar os trabalhos à O2.

Por outro lado, após o recepção na REN, no dia 11 de Abril, da primeira


proposta da O2 com o preço de 60€/ton, sem qualquer menção à inclusão no
preço de um plano de segurança e saúde para a empreitada e um plano de
gestão ambiental, a ser cumprido em obra, seria óbvio que a inclusão destes
planos nas propostas apresentadas a 5 e 11 de Maio se iria reflectir no preço,
elevando-o.

Ao invés, o valor diminuiu!


Ao arrepio de toda a normalidade, a mais obrigações correspondeu um
preço mais baixo.

A compreensão deste fenómeno apenas encontra amparo na convicção


da O2 na adjudicação directa dos trabalhos (veja-se o que sucedeu com os
trabalhos adjudicados pela EDP na Rua do Ouro).

Manuel Godinho convencido que ganharia o trabalho sem concorrência,


empolou o valor.

Ignorou o santo sacro princípio de José Penedos – By the book para não
serem criadas fragilidades.

Ao ter a ideia do negócio e ao ver que, por intermédio de Paulo e José


Penedos, lograra o acolhimento da sua pretensão pela REN, julgou,
erroneamente, que a adjudicação ocorreria de forma directa e pelos valores
que indicasse.

266
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

O comprometimento de Fernando Santos e Juan Oliveira revela-se,


também, num outro aspecto - Segundo os representantes da
MAFRIMÁQUINAS e AMBISIDER, em momento algum lhes foi solicitado por
Juan Oliveira que fizessem menção expressa nas suas propostas à elaboração
do plano de segurança e saúde para a empreitada e um plano de gestão
ambiental, a ser cumprido em obra, aspecto que veio a ser considerado
decisivo na decisão de adjudicação à 02 e que a O2 incluiu por expressa
indicação de Fernando Santos a Namércio Cunha – vide interrogatório de
Namércio de fls. 24448.

Em 20 de Maio de 2006, o arguido Fernando Santos redigiu a


informação CS 15/2006, exarando que, apesar de não apresentar o valor
unitário mais baixo, a proposta da "02" era a que apresentava globalmente
melhores condições, tendo em atenção aspectos relativos à segurança e ao
ambiente (plano de segurança e saúde para a empreitada e um plano de
gestão ambiental, a ser cumprido em obra, incluídos na proposta da "02" por
sua promoção).

Aduziu, igualmente, que a "02" havia já trabalhado para a REN,


nomeadamente na gestão de resíduos em Alto Mira, o que lhe conferia à
partida, mais créditos relativamente à qualidade dos serviços a prestar.
Finalizou propondo a adjudicação dos trabalhos à "02" pelo valor unitário
de 20,00€/ton + IV A e o seu acompanhamento e fiscalização por António
Nogueira.

Acontece que não só foi considerado, sem qualquer suporte documental,


que a proposta da AMBISIDER, com o valor global de 35.633,00€,
corresponderia ao valor unitário de 27,5€/ton, como a MAFRIMÁQUINAS havia,
também, realizado trabalhos para a REN na Central de Alto Mira.

267
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Em 20 de Maio de 2006, esta informação foi levada ao conhecimento do


arguido Victor Baptista.

Este solicitou informação adicional (qualificação das empresas,


estimativa de quantidades e fiscalização pela divisão EX), que visava, em
conjunto com a divisão comercial do SEP, dar maior credibilidade à proposta
de adjudicação à O2.

Procurando evitar que se criassem suspeições quanto à decisão de


adjudicação, isto é, seguindo o referido sacro santo princípio de José Penedos
– by the book para não serem criadas fragilidades -, uma vez que a
MAFRIMÁQUINAS havia apresentado a proposta de menor custo para a REN
(1l,50€/tonelada de resíduos transportados), critério definido como
prevalecente na decisão de adjudicação, o arguido Victor Baptista (fls. 116 do
apenso AE6), comungando do desiderato de favorecimento de Manuel
Godinho, de comum acordo e em conjugação de esforços com os arguidos
Fernando Santos e Juan Oliveira, pese embora fosse do seu conhecimento a
existência na REN de um lista de fornecedores qualificados para a classe de
fornecimento de serviços na área da construção civil e demolição, solicitou
informação adicional sobre se todos os concorrentes estavam qualificados pela
REN para o tipo de trabalhos pretendidos.

Solicitou, igualmente, esclarecimentos sobre a estimativa de demolições


e se seria necessário o acompanhamento pelo antigo chefe da Central ou se
seria apenas de pedir o apoio da divisão de Exploração.

Em resposta, o arguido Fernando Santos informou que a empresa


Mafrimáquinas Lda, que apresentou o preço mais baixo, era uma empresa da
área da construção civil e que não estava qualificada pela REN, não fazendo
qualquer referência às outras empresas concorrentes 02 e AMBISIDER,

268
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

nomeadamente se estavam ou não qualificadas e/ou se se enquadravam na


área da construção civil.

Ressalta, neste particular, o engajamento de Victor Baptista e Fernando


Santos, na medida em que a resposta permite desvendar o propósito da
pergunta, qual fosse o de afastar a Mafrimáquinas, que tinha apresentado o
preço mais baixo.

Fernando Santos, ao não fazer qualquer referência quer à O2, quer à


Ambisider e Victor Baptista, ao satisfazer-se com uma resposta tão incompleta
deixam a nú o objectivo que , segundo a acusação , presidiu ao pedido de
esclarecimento – adjudicar os trabalhos à 02 é o que JIC tem que
indiciariamente concluir.

É verdade que a Mafrimáquinas não se encontrava qualificada pela


REN, mas também, à data, a O2 não se encontrava para os trabalhos
pretendidos.

Com efeito, a "02" não era um fornecedor qualificado pela REN para a
classe de fornecimento de serviços na área da construção civil e demolição,
apenas se encontrando qualificada para a gestão de resíduos.

Acresce que tinha sido a própria REN a convidar a Mafrimáquinas a


apresentar proposta !

Num primeiro momento considerou-a capaz para num segundo


momento e perante a inviabilização do resultado pretendido – leia-se
adjudicação à 02 – a afastar.

269
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

A MAFRIMÁQUINAS e AMBISIDER demonstraram nos autos estarem


devidamente licenciadas para a execução dos trabalhos, à data dos factos,
apesar de não figurarem na lista de empresas qualificadas pela REN para a
classe de fornecimento de construção civil. (fls. 48 a 80 do apenso AE 20)
tendo ainda declarado que, caso lhe fossem adjudicados os trabalhos, estariam
em condições de elaborar o plano de segurança e saúde para a empreitada e
um plano de gestão ambiental, a ser cumprido em obra.

Por outro lado, também não colhe a argumentação de que “a empresa


O2 já trabalhou para a REN, nomeadamente na gestão de resíduos (de Alto
Mira) o que lhe confere à partida, mais créditos relativamente à qualidade dos
serviços a prestar”, uma vez que, pelo teor das declarações do representante
da MAFRIMÁQUINAS esta empresa já tinha efectuado, na qualidade de
subfornecedor da empresa SOMAGUE, trabalhos de demolição e remoção dos
resíduos gerados, em que o dono da obra era a REN e o local da obra foi
precisamente na Sub-Estação de Alto Mira.

Acresce que, fruto dos problemas surgidos na sua relação com a REN, o
Conselho de Administração da REN havia recomendado em 2002 a procura no
mercado de alternativas à 02.

É de salientar que Juan Oliveira e Fernando Santos consideraram, sem


qualquer suporte documental, que a proposta da AMBISIDER-Recuperações
Ambientais S.A. com o valor global de €35.633,00, correspondia ao valor
unitário de 27,50€/ton.!

Dividindo o valor global de €35.633,00 por 200t ou 300t que era a


quantidade de resíduos estimada por Fernando Santos – fls. 116 do apenso
116 – a proposta da AMBISIDER teria o valor unitário de 178,165€/t e de
118,77€/t, respectivamente!

270
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Segundo o arguido Juan Oliveira, o mencionado valor unitário foi obtido


por telefone para poder comparar todas as propostas.

Elucidativo do rigor aportado à consulta.

Acrescente-se, a propósito de rigor que, quanto à estimativa de


quantidades, apesar da dificuldade, Fernando Santos apontou para 200t a
300t, sendo que os resíduos gerados pelos trabalhos de demolição
ultrapassaram, e em muito, estes valores, o que teria um reflexo inelutável nas
propostas apresentadas, nomeadamente na da AMBISIDER que o foi em
termos globais!
O valor unitário da proposta da AMBISIDER, a ser considerada uma
estimativa próxima das quantidades efectivamente demolidas decresceria
substancialmente.

Relativamente ao aspecto da complexidade do trabalho, Fernando


Santos considerou que não lhe parecia indispensável o recurso a meios
especializados ao exterior, não se opondo à intervenção da divisão EX.

Esta questão está, desde logo, em contradição com a necessidade


expressa, na primeira questão do Administrador Victor Baptista, dos
concorrentes serem qualificados. Resumindo: se os trabalhos são simples,
porquê um operador qualificado?

Em 24 de Maio de 2006, é decidido, pelo Conselho de Administração, a


adjudicação da demolição das infra-estruturas da Central de Alto Mira à O2 –
Tratamento e Limpezas Ambientais S.A., pelo valor unitário de €20 /(vinte
euros)/ton., mais IVA.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Tal como se refere na acusação, esta decisão emerge formalmente


inatacável e é-o por força do trabalho de preparação ensaiado por Fernando
Santos e Juan Oliveira.

Para o exterior e para os restantes membros do CA, a decisão apresenta


uma fundamentação técnica que a suporta e justifica.

É aqui que, segundo a acusação, o papel de Fernando Santos e Juan


Oliveira se mostra essencial – conduzir o processo no sentido do favorecimento
da O2 (tudo sob uma capa técnica) e culminando-o elaborar informações de
serviço com um sentido e um alcance capazes de fundamentar, formalmente,
posteriores decisões de adjudicação – ver art.ºs da acusação 681º a 692º.

O acompanhamento deste trabalho ficou a cargo da divisão EX, sem


recurso a trabalho externo (cfr. fls. 117 do apenso AE 6).

Esta forma escolhida para o acompanhamento é, também, reveladora da


busca da satisfação dos interesses de Manuel Godinho.

Fernando Santos escreveu na Informação 15/2006: “Para


acompanhamento e fiscalização dos trabalhos, propõe-se a contratação em
regime de prestação de serviços, do Eng.o António Nogueira (antigo chefe da
Central de Alto de Mira), que já anteriormente trabalhou para a REN no
acompanhamento dos trabalhos de desmantelamento dos tanques e da
desmontagem dos grupos. O contrato com o Eng. Nogueira seria feito nos
mesmos moldes do anterior, ou seja, 3.000 €/mês com uma duração igual ao
tempo de demolição das infra-estruturas.”

Logo após e sem que nenhuma das premissas que o havia levado a
elaborar aquela informação se tivesse alterado, ao para tal ser questionado por

272
S. R.

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Victor Baptista, emitiu opinião no sentido de não ser indispensável o recurso a


meios especializados e externos à REN, informando ainda ser possível a
disponibilização de pessoal da divisão EX, o qual tinha competência para
exercer tais funções.

Sendo as áreas operacionais que fornecem os elementos essenciais às


tomadas de decisão pelo Conselho de Administração através de informações
técnicas, nada que não um propósito de enfraquecer os mecanismos de
fiscalização parece poder explicar tamanha modificação de pensamento é o
que o JIC pode perspectivar.

Acresce que a previsível duração da obra – 15 dias – implicava o


pagamento de, no máximo, um mês de remuneração a António Nogueira, isto
é, 3.000,00€ (se fosse esse o valor da remuneração a acordar pelas partes,
replicando a 1ª fase).

3.000,00€ é um valor que, para uma empresa como a REN, valha o


acréscimo sensível do risco de fraude, por manifesto decréscimo dos
mecanismos de fiscalização e controlo?!

A experiência da 1ª fase em que, na execução do contrato, não se


registaram quaisquer incidentes, aconselhava a repetição dos mecanismos de
controlo, se não total, pelo menos parcial (admite-se a parcialidade em vista da
menor complexidade dos trabalhos).

Acresce que a REN ao deferir as pesagens ao próprio prestador de


serviços se encontrava já numa situação de exposição ao risco de fraude
elevada, pelo que a implementação de fiscalização externa se impunha de
modo a acautelar devidamente os seus interesses.

273
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

De facto, na execução dos trabalhos da 1ª fase, tendo existido um duplo


controlo – pela empresa COBA e por António Nogueira – não se registaram
quaisquer problemas, o que, se não obrigava à repetição do procedimento,
pelo menos aconselhava-o (até tendo em vista os sucessivos problemas
verificados no passado com a O2).

Como consequência da decisão de excluir a implementação de controlo


externo, suscitaram-se inúmeros problemas.

Execução dos trabalhos


Neste particular e no que concerne aos arguidos não funcionários da
REN, por concordarmos com os factos a argumentos expostos, remetemos
para as alegações da assistente REN que o JIC escrutinou.

No mais e no que concerne aos arguidos funcionários da REN, ao JIC


cumpre afirmar, desde logo, que, no decorrer dos trabalhos de
desmantelamento das bacias de retenção da CAM, os colaboradores da equipa
local da REN tiveram uma actuação imprópria, não compatível com as suas
funções e com procedimentos a que estão obrigados.

Não se compreende como é que um funcionário de uma empresa


externa (PROSEGUR) tenha um conhecimento mais pormenorizado e
empenho sobre a execução dos termos do contrato entre a REN e o
adjudicatário, em termos de segurança e de incumprimento por fraude, superior
ao dos próprios funcionários da empresa, dona da obra.

Desde 10 de Julho de 2006, Pedro Jacinto Pereira Correia, funcionário


da PROSEGUR, começou, por sua iniciativa, e socorrendo-se de um formulário
existente na sua empresa, a registar as horas de entrada e saída das viaturas,
com tipologia do veículo e respectiva identificação dos condutores.

274
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Destarte, constatou que, para além dos camiões saírem com pouca
carga, o espaço temporal entre a sua hora de saída e a hora constante dos
talões de pesagem, apresentados pela "02" se mostrava incompatível com a
distância percorrida entre as instalações da Central de Alto Mira e as
instalações daquela empresa.

No final do mês de Julho, Pedro Correia aproveitou a visita do arguido


Juan Oliveira às instalações da Central de Alto Mira para lhe transmitir estes
factos e as suas preocupações.

Inteirado do que se passava, o arguido Juan Oliveira instruiu Pedro


Correia a continuar a registar os dados e a visualizar as cargas, pedindo, ainda,
que o fosse informando.

Ou seja, Juan Oliveira não tomou quaisquer providências – não


comunicou superiormente, nem instruiu, como podia e devia, os funcionários da
REN, designadamente os da Divisão de Exploração a intensificarem a
fiscalização.

Neste momento e perante o registado por Pedro Correia estava já


desenhada a fraude.

O que fez Juan Oliveira para evitar a continuação da actividade


fraudulenta em prejuízo da REN ? A resposta é que nada fez, tanto quanto ao
JIC foi dado constatar pela analise dos autos.

Ao invés, permitiu que a situação persistisse, rectius se agravasse.

275
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Mais uma vez se surge o seu engajamento aos interesses de Manuel


Godinho.

Relembremos que era tido por funcionário competente e isso o JIC


também não questiona.

Apenas perante a inevitabilidade de ter que o fazer, é que Juan Oliveira


agiu – quando “no dia 06 de Setembro de 2006, Raul Jorge Ribeiro Calado,
funcionário da REN da divisão Ex, pelas 09h53, enviou uma mensagem de
correio electrónico para Manuel Patrão, relatando aquilo que considerou uma
fraude para a REN, informando que "tem ( os), de algum tempo a esta parte e
depois de várias chamadas de atenção, notado que algo de estranho se
passará com estas supostas cargas, os carros tem andado (a nosso ver) a
passear dentro e fora".

A esta mensagem foi anexado um ficheiro informático Word, com


fotografias de cargas prontas a sair, praticamente vazias.

Nesse mesmo dia, pelas lOh06, este e-mail foi reencaminhado por
Manuel Patrão para o arguido Juan Oliveira.”

Surpreendentemente e não obstante o conhecimento verbal do sucedido


que já havia dado a Fernando Santos, apenas 8 dias depois comunicou via e-
mail.

Fernando Santos reencaminhou o e-mail para Victor Baptista, que o


reservou para si e para José Penedos, ocultando-o dos restantes membros do
CA.

276
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Convocando, novamente, o princípio sacrossanto de José Penedos – by


the book para não serem criadas fragilidades - a remoção de resíduos foi
interrompida, tendo sido retomada, no dia 19 de Setembro de 2009, sendo que
as pesagens passaram a ser efectuadas em Sacavém, nas instalações da
EDP.

Mas, também, aqui, à aparência não correspondeu a substância, pois


que a REN veio a firmar um acordo com a O2 sobre a quantidade de resíduos
removidos que parece ter sido substancialmente lesiva dos seus interesses.

Resolução do conflito
Alvitram os requerentes que a vontade de beneficiar a 02 não era
compatível sequer com negociações.

Novamente surge em campo uma das premissas essenciais de José


Penedos – havia que se agir “by the book” por forma a não serem criadas
fragilidades.

A detecção da fraude perpetrada pela O2 impunha que a REN não


pudesse aceitar os valores por aquela apresentados.

Sendo certo que, tal qual como aconteceu nas demais matérias em que
foi interveniente a O2, a final e depois de cumprida a necessária máscara de
legalidade, os interesses de Manuel Godinho saíram prevalecentes.

A solução encontrada para dirimir o conflito entre a REN e a O2 sobre as


quantidades demolidas passou pelo recurso a empresa (s) de consultadoria na
área do projecto da engenharia civil.

277
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Porém, o recurso às empresas QUADRANTE e CONSULGAL para a


determinação das quantidades têm justificações diferentes para os arguidos
Juan Oliveira e Fernando Santos.

Enquanto que, para Juan Oliveira, o que ficou definido na reunião de 6


de Novembro de 2006 foi que as partes acordavam recorrer a uma empresa
independente, aceitando o valor que lhes fosse apresentado, tendo sido
contactada a empresa QUADRANTE.

Só depois da O2 conhecer este estudo e de o não ter aceite é que, por


sua iniciativa e com a concordância da REN, contactou a empresa
CONSULGAL para apresentar novo estudo.

Já Fernando Santos afirmou que os termos para a resolução do conflito,


acordados na reunião foram diferentes: a REN e a O2 recorreriam a uma
empresa para que, cada uma, apresentasse um estudo sobre as quantidades
apresentadas. Se os valores fossem aproximados, dividiriam a diferença a
meio.

Ora, esta versão dos factos de Fernando Santos é depois desmentida


pelo texto do mail por si enviado, em 23-2-2007, ao arguido Namércio Cunha
afirmando “que a REN pretende única e exclusivamente pagar os valores
correctos das quantidades demolidas, movimentadas e transportadas”, não
aceitando a proposta de Namércio Cunha de um desconto comercial de 20%.

Conforme se pôde constatar pelas declarações do Eng. Ernesto


Parracho, o relatório apresentado pela CONSULGAL foi habilmente
manipulado, apresentando um valor final superior a 7.000 toneladas de betão e
terras movimentadas, não fazendo a correcta segregação entre a quantidade

278
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

de betão armado ou simples (valor que seria pago pela REN) e as terras
movimentadas (sem custos para a REN).

Segundo a empresa Quadrante-Engenharia e Consultadoria SA,


indicada pela REN, maxime o Eng. Nuno Martins que elaborou o estudo,
baseado nas peças desenhadas e escritas do projecto de construção e de duas
visitas ao local, foram demolidos 1.199.720 kg de betão simples e betão
armado. (fls. 164 do apenso AE 20).

Já de acordo com o relatório apresentado pela empresa CONSULGAL


(indicada pela O2) os materiais removidos para vazadouro foram de 7.363.060
Kg. (fls. 192 a 210 do apenso AE 21).
Conforme o JIC escrutinou sobre estes relatórios/estudos constam nos
autos, [ a fls. 134 e135 do apenso AE 6], vários comentários em mensagens
trocadas entre Juan Oliveira e Fernando Santos em que são focados os
aspectos divergentes dos dois estudos e, em especial, a análise do Eng. Nuno
Martins ao relatório da empresa CONSULGAL.

A "Quadrante-Engenharia e Consultadoria SA", na pessoa de Nuno


Miguel Batista Martins, não só reafirmou as suas conclusões, como patenteou
as incorrecções do estudo apresentado pela "CONSULGAL".
Nesta troca de mensagens, [a fls. 134 AE6], Juan Oliveira põe em causa
o estudo da CONSULGAL, arrasando-o (põe em causa 6177 toneladas das
7363 apresentadas).

Não obstante vem a subscrever um acordo com a 02 ao arrepio da


convicção que expressou nesta troca de mensagens!

Como deve o JIC aquilatar esta assintonia!?

279
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Sanciona o entendimento que só o tribunal de julgamento o poderá


fazer nas melhores condições.

Depois de recebidos os relatórios técnicos das duas empresas, não


houve o cuidado, por parte dos arguidos Juan Oliveira e Fernando Santos, em
analisá-los, de forma a determinar as quantidades exactas transportadas, como
chegou a dizer Fernando Santos que era sua intenção no mail de fls. 141 do
apenso AE6.

Aliás como admite nas suas declarações ao dizer que a quantidade de


4.985t acordadas, não corresponde ao betão demolido e transportado, tendo
inclusivamente Juan Oliveira afirmado que desconhece como se chegou ao
valor acordado.

E se dúvidas ainda persistissem, bastava ouvir o Eng. técnico da


empresa CONSULGAL, para perceber de que forma este tinha chegado às
surpreendentes 7.363,06 ton. de resíduos, (betão e terras), removidos para
vazadouro.

Perante os factos que tinham sido apurados ou levados ao


conhecimento da divisão comercial do SEP/Gestão, de contratos (CSGC),
nomeadamente as fotografias das cargas praticamente vazias, recolhidas
diligentemente por um colaborador da REN/SAM e o próprio estudo da
empresa Quadrante, a atitude prudente a tomar por aquela
divisão/departamento e partindo do pressuposto de que toda a sua conduta ao
longo do processo foi isenta e sempre defensora dos interesses da REN,
deveria ter sido, perante a intransigência da O2, a remessa do processo para
os meios contenciosos, com o eventual recurso a meios judiciais, se
necessário, não pactuando com a conduta dos responsáveis da O2.

280
S. R.

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No escrutínio do JIC, em 25 anos de tribunais, deve ter sido uma das


primeiras vezes em que o devedor se apressou a conseguir um acordo com o
credor em completo desalinho com um parecer técnico por si pedido a uma
entidade terceira e independente e que lhe era favorável.

Com efeito, a REN não tinha interesse algum num acordo que não fosse
de encontro ao parecer técnico por si pedido: cabia-lhe a obrigação de pagar e,
portanto, o protelamento jogava a seu favor, tanto mais que o parecer técnico
por si pedido apontava para quantidades bem inferiores!

Acresce que os seus funcionários, os funcionários que assinaram o


acordo, tinham reconhecido incorrecções graves no parecer técnico
apresentado pela 02.

Juan Oliveira afirmou inclusivamente desconhecer como se chegou ao


valor acordado.

Que outra justificação pode ser encontrada para a actuação de


Fernando Santos e Juan Oliveira que não a satisfação dos interesses de
Manuel Godinho?

Que outra justificação pode ser encontrada para a inflexão de Fernando


Santos e Juan Oliveira – da inicial intransigência para a aceitação posterior dos
valores - que um cumprimento da legalidade seguido da satisfação da
demanda do seu superior?

A intervenção de Paulo Penedos, a primeira documentada, permite


clarear os motivos desta alteração de comportamento.

281
S. R.

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As declarações de Namércio Cunha trazem luz à questão – “Após a


entrega do estudo da CONSULGAL, os Eng. Juan Oliveira e Fernando Santos
continuaram a opor-se aos valores apresentados pela 02, tendo apresentado o
estudo da empresa QUADRANTE.

Foram desenvolvidas negociações, sendo que o Sr. Manuel Godinho


avançou com uma proposta de desconto comercial de 20% que não foi aceite
pelos Eng. Juan Oliveira e Fernando Santos.

Esclarece que o Dr. Paulo Penedos esteve sempre dentro deste


processo negocial para resolução do conflito pelo que admite, porque
confrontado, ter enviado um e-mail ao Dr. Paulo Penedos com a proposta de
desconto de 20%.

Refere até que o Dr. Paulo Penedos sempre lhe disse que este conflito
iria ser resolvido a favor da 02, ou seja, que a REN iria aceitar os valores
apresentados pela empresa 02, pelo que deveriam manter o valor que
resultava das guias e respectivos talões de pesagem.” (vol. 72, fls. 24538).

Mas o JIC prosseguiu pacientemente o escrutínio intentando encontrar “


bona fides” nisto tudo.

O que se indicia, porém, é que após interpelar seu Pai, Paulo Penedos
instruiu Manuel Godinho a elaborar um memorandum sobre o
desmantelamento das bacias de retenção dos tanques da Central de Alto Mira,
aludindo às considerações ensaiadas pelo arguido Juan Oliveira na reunião
supra mencionada, apresentando as explicações da "02" para o sucedido e
concluindo pela sua indisponibilidade para discutir a quantidade de resíduos
recolhidos.

282
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Mais lhe assegurou que o faria chegar ao Conselho de Administração da


REN.

De imediato, Manuel Godinho ordenou a Namércio Cunha que


elaborasse um memorandum sobre o desmantelamento das bacias de
retenção dos tanques da Central de Alto Mira nos termos e com o sentido
proposto por Paulo Penedos.

Mais lhe disse para o enviar para a conta de correio electrónico de Paulo
Penedos, que este o remeteria ao Conselho de Administração da REN.

No dia 08 de Novembro de 2006, Namércio Cunha enviou para a conta


de correio electrónico de Paulo Penedos um memorandum sobre o
desmantelamento das bacias de retenção dos tanques da Central de Alto Mira
nos termos e com o sentido supra exposto.

Na posse do dito e-mail, Paulo Penedos imprimiu-o e enviou-o, via fax,


para o número em uso pelo Conselho de Administração da REN.

Na sequência, o arguido Victor Baptista, visando dar aparência


formalmente legal ao procedimento, solicitou um memorandum ao arguido
Fernando Santos sobre os factos que envolveram o processo de
desmantelamento daquela Central.

De pronto, ainda naquele dia, pelas 20h53, o arguido Fernando Santos


enviou ao arguido Victor Baptista um documento, rebatendo a argumentação
expendida pela “O2” e relatando as irregularidades detectadas na execução
dos trabalhos na Central de Alto Mira.

No dia 13 de Novembro de 2006, Juan Oliveira redigiu a informação


CSGC 5/2006, que enviou ao arguido Fernando Santos, apresentando um

283
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

relatório sobre o fim dos trabalhos relativos ao descomissionamento da Central


de Alto Mira.

Neste relatório, olvidou qualquer referência às irregularidades


detectadas, ao mesmo tempo que asseverou que “o volume dos trabalhos
acabou por ser superior ao que foi preconizado aquando da adjudicação, uma
vez que foram efectuadas demolições que não estavam previstas inicialmente,
resultantes das sugestões dadas pelas divisões da REN que acompanharam
os trabalhos, nomeadamente pela Divisão de Exploração, responsável pela
fiscalização”.

Esta informação abre a porta para o acordo, ao referir “o volume dos


trabalhos acabou por ser superior ao que foi preconizado aquando da
adjudicação”.

Inexiste qualquer suporte para esta afirmação, nem ela coincide com as
mensagens enviadas por Juan Oliveira a Fernando Santos!

Fernando Santos levou esta informação ao conhecimento de Victor


Baptista que, por sua vez, a submeteu ao Conselho de Administração, órgão
que, em 13 de Dezembro de 2006, pese embora as irregularidades supra
evidenciadas não estivessem ultrapassadas ou sanadas, declarou o fim dos
trabalhos, sem qualquer menção àquelas falhas e atribuindo à divisão de
Exploração a gestão corrente do local.

Cá está o princípio “by the book” a funcionar na prática.

Paulo Penedos, depois de auscultar seu Pai, sugeriu a Manuel Godinho


que propusesse um desconto comercial de 20% sobre o valor facturado.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Em 21 de Fevereiro de 2007, a "02" enviou uma proposta de resolução


propondo um desconto comercial de 20% sobre o valor facturado.

Em resposta, que transmitiu aos arguidos Victor Baptista e Juan Oliveira,


o arguido Fernando Santos, tendo por escopo o supra aludido objectivo de
conservar formalmente impoluto o procedimento, não aceitou a proposta da
"02", alegando pretender apenas pagar o que fosse devido pelos trabalhos
executados.

Tenha-se presente que a aceitação deste desconto implicava um quase


reconhecimento da inexistência da fraude por parte da REN, daí ser
insuficiente para cumprir o desiderato de manter formalmente imaculado o
procedimento.
Namércio Cunha reenviou o e-mail recebido de Fernando Santos para
Paulo Penedos, ao que este perscrutou junto de seu Pai o modo de superação
do diferendo.

Não obstante, o teor do relatório da "Quadrante-Engenharia e


Consultadoria SA", a evidenciação por esta entidade das incorrecções do
estudo da "CONSULGAL", o que se indicia ter sucedido foi que o arguido José
Penedos ordenou ao arguido Victor Baptista que diligenciasse pela obtenção
de um acordo que satisfizesse as expectativas da "02".

O que se indicia então é que o arguido Victor Baptista instruiu os


arguidos Fernando Santos e Juan Oliveira a harmonizarem vontades com a
"02", com prevalência dos interesses desta.

E ainda que José Penedos transmitiu, então, ao seu filho a necessidade


de ser peticionada uma reunião para pôr termo ao conflito.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Paulo Penedos levou ao conhecimento de Manuel Godinho as


informações recebidas de seu Pai.

No dia 06 de Março de 2007, pelas 12h19, Namércio Cunha, após para


tal ter sido instado por Manuel Godinho, enviou um e-mail para a conta de
correio electrónico de Fernando Santos, com conhecimento a Victor Baptista e
Juan Oliveira, solicitando a marcação de uma reunião, com a presença de
Manuel Godinho, para o dia seguinte, pelas 10h00.

Deste modo, em 7 de Março de 2007, a REN, representada pelos


arguidos Fernando Santos e Juan Oliveira, e a "02", representada pelos
arguidos Manuel Godinho e Namércio Cunha, acordaram que a quantidade
demolida havia sido de 4.560.897 Kg a facturar a 20€/ton. e que a quantidade
total transportada tinha sido de 6.910.450 Kg.

Assim, a "02" veio a receber como pagamento dos trabalhos efectuados


o valor total de 91.217.94€, conforme factura da "02", n.o 70142/07 de
16.03.2007.

Com este acordo, a "02" obteve um benefício patrimonial de, pelo


menos, 67.223,54€ e a REN um prejuízo patrimonial, pelo menos, de igual
montante, correspondente à diferença entre o valor apresentado pela
"Quadrante" e o valor acordado.

Acresce que os arguidos Fernando Santos e Juan Oliveira não possuíam


competência, não beneficiavam de qualquer delegação de competência, nem
se achavam mandatados, para vincular a REN ao acordo firmado com a "02".

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TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Este ponto é particularmente impressivo relativamente à opacidade e ao


jogo de bastidores que pauta as intervenções de Victor Baptista e José
Penedos.

Analisando os documentos internos da REN, constata-se que este


acordo não foi comunicado superiormente (quando outras questões
relacionadas com o processo o foram, designadamente o mail de Calado a
denunciar a fraude, a rejeição da proposta da 02 de 20% de desconto e a
realização da reunião na qual foi celebrado o acordo).

Não obstante, os serviços da REN pagaram.

Nunca Fernando Santos e Juan Oliveira funcionaram em roda livre.


Denotaram sempre a preocupação de comunicar superiormente os
passos que foram dando.

O silêncio documental relativamente ao acordo, em claro contra-ciclo


com a prática seguida, diz da sua danosidade para os interesses da REN.

As intercepções revelam a preocupação com o sigilo – Paulo Penedos


diz, por mais de uma vez, que a intervenção de seu Pai tem que permanecer
oculta!

A demonstração que Victor Baptista conhecia o acordo decorre, para


além do mais, das declarações de Henrique Gomes na instrução ao afirmar
que dele deu conhecimento ao CA.

Após a sua celebração e apenas para dar a aparência de que tudo


decorrera “by the book”.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Por outro lado, no âmbito do contrato de gestão de resíduos, indicia-se


que a REN pagou à "CESPA" o valor correspondente a 128 cargas tendo esta
pago à "02", na qualidade de subfornecedor, o valor relativo ao
encaminhamento para destino final dos 4.560.897 Kg, quando apenas deveria
ter sido pago a quantidade apresentada pela "Quadrante".

Deste modo, como defende a acusação os autos indiciam-se que a “O2”


recebeu e a REN pagou indevidamente, pelo menos, 246.475,10€ pelo
encaminhamento para destino final dos 4.560.897 Kg, quando apenas deveria
ter sido pago a quantidade apresentada pela “Quadrante”.

Tomando por base aqueles elementos há que assumir indiciar-se que,


no quadro da 2ª fase do descomissionamento da Central de Alto Mira, a REN
solveu indevidamente, directa ou indirectamente, à “O2” a quantia de, pelo
menos, 313.698,64€.

Sobeja que, tendo por referência a proposta apresentada pela sociedade


Mafrimáquinas para os trabalhos relativos à 2ª fase do descomissionamento da
Central de Alto Mira, empresa que evidenciou o melhor preço, a REN sofreu
um prejuízo de, pelo menos, 506.191,08€.

Para tudo quanto se afirmou, tenha-se presente o supra descrito quadro


de vinculação entre os arguidos Juan Oliveira, Fernando Santos, Victor
Baptista e José Penedos.

Outras considerações sobre o desenrolar dos factos:

Incompreensíveis surgem as declarações de Fernando Santos ao


congratular-se de que “na sequência deste processo negocial conseguiu que a
empresa O2 não conseguisse facturar quantidades de resíduos muito

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S. R.

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significativas (o total dos talões das pesagens eram à volta de 7700 toneladas,
valor coerente com as apresentadas pela CONSULGAL) tendo conseguido
encerrar o negócio por cerca de 4500 toneladas, salvaguardando, desta forma,
os interesses da REN.”(!?)
Isto quando havia um parecer técnico mandado elaborar pela REN que
apontava no sentido da “alavancagem” dos trabalhos quantidades e valores
apresentados pela O2
Na sequência da informação prestada pela REN a fls. 24 do apenso AE
29, de acordo com os respectivos estatutos (art. 17°), a REN - Rede Eléctrica
Nacional, SA, NIF 507 866673,vincula-se
a. (i) pela assinatura de dois administradores,
b. (ii) pela assinatura de um administrador no âmbito dos
poderes que lhe hajam sido delegados pelo conselho de administração e
c. (iií) pela assinatura de mandatários constituídos, nos
termos dos correspondentes mandatos.

Não consta dos arquivos da REN qualquer delegação formal de poderes


nos Engs. Fernando Manuel Santos e Juan Carlos Fernandes Oliveira no que
respeita ao acordo vertido na acta da reunião de 7 de Março de 2007.

Conclui-se pois que Engs. Fernando Manuel Santos e Juan Carlos


Fernandes Oliveira excederam as suas competências ao vincular,
externamente, a REN num acordo, sem estarem para tal mandatados.

Embora durante a instrução tivesse sido referido que tinha havido uma
autorização verbal, tal não chega para vincular a REN.

Acresce ainda que, internamente, os serviços de desmantelamento das


bacias de retenção e trabalhos de construção, suportado pela factura

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S. R.

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70142/07, foram autorizados pelo Eng. Fernando Manuel Santos - fls. 25 do


apenso AE 29.

É de realçar que as declarações prestadas pelos arguidos Juan Oliveira


e Fernando Santos são coincidentes sempre que há documentos que as
suporte.

Todavia, quando tal evidência não existe, dão versões antagónicas,


incompatíveis, chamando a si “os louros” do rigor e da seriedade. A pesagem
dos resíduos na balança da EDP depois da reportagem fotográfica do Sr.
Calado é disso exemplo, em que cada um reivindica para si a autoria da ideia
quanto a tal novo procedimento.

Até a própria O2, não se coíbe, no seu memo, de afirmar que a pesagem
foi por sua iniciativa!

Porém, sempre teremos de afirmar que, face ao detalhe dos factos


transmitidos, a junção aos autos de inúmeros documentos e os pormenores
circunstanciados supra descritos, incluindo o reconhecimento de alguns erros
em todo o processo, estamos em crer que a versão dos factos apresentada
pelo arguido Juan Oliveira será a que mais se aproximará daquilo que
efectivamente terá ocorrido ao longo do processo de descomissionamento da
Central de Alto Mira.

Por sua vez, é quase confrangedora a postura do arguido Victor


Baptista, enquanto administrador do pelouro e responsável máximo pelo
descomissionamento da Central de Alto Mira.

Com efeito, ao longo das suas declarações, demarcou-se de qualquer


responsabilidade ao afirmar que o tema estava a ser tratado pelo arguido

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Fernando Santos em quem confiava e confia, admitindo que foi sendo


informado de tudo ao longo do processo, não tendo tomado qualquer atitude
que contrariasse as pretensões da O2.

Aos olhos do JIC signatário tanto ou mais preocupante é o facto de ter


referido no seu interrogatório, já na sequência do que tinha sido aflorado pelo
arguido Paulo Penedos no produto 2782 do alvo 39263M dia 7/6 a propósito da
ex- Central da Tapada do Outeiro, de que todos factos supra descritos não
resultaram em prejuízo para REN, porquanto estes custos seriam apresentados
à ERSE – Entidade Reguladora do Sector Energético que, uma vez
reconhecidos, reflectia os valores nas tarifas pagas pelos consumidores,
procedendo ao ressarcimento da REN no mesmo montante.

Efectivamente, da informação solicitada à ERSE, constata-se que foram


reconhecidos por aquela entidade cerca de € 207.000, provenientes dos
valores apurados na 1ª e 2ª fase do descomissionamento.

Por outro lado, apesar de detectada a saída dos camiões praticamente


vazios em 6 de Setembro de 2006, foram adjudicados à O2 trabalhos de
construção nas bacias de retenção dos tanques de combustível da central de
Alto Mira, segundo a proposta apresentada a 26 de Agosto de 2006, no valor
de €29.000, que consistiram na execução de pavimento nas bases dos
reservatórios, execução de pavimento de acesso à bacia de retenção dos
tanques D1 e D2 e aplicação de varandins.

Com efeito, em 26 de Agosto de 2006, pese embora as irregularidades


detectadas, o arguido Fernando Santos, exorbitando os seus poderes e
competências (o que foi por si reconhecido), no quadro da sua vinculação aos
interesses de Manuel Godinho, adjudicou, sem previamente ter sido aberto
procedimento concursal ou de consulta e, bem assim, sem avaliação da

291
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

razoabilidade do preço proposto, contrariando os procedimentos internos de


“Aprovisionamento com Abertura Simultânea de Propostas” e “Aquisição de
Bens, Serviços e Empreitadas” – Procedimento PR-0011 de Setembro de 2005
-, directamente à “O2” serviços adicionais de construção civil, nas bacias de
retenção dos tanques de combustível da Central de Alto Mira, de acordo com o
valor apresentado na proposta da “O2” (29.000,00€).

Estes trabalhos terão sido necessariamente executados após


desmantelamento, que terá terminado apenas em Outubro de 2006, pelo que é
estranho (ou talvez não) que se tenha mantido a confiança na O2 e não tenha
existido qualquer processo de consulta ao mercado.
Só a vontade de favorecimento da O2 pode levar um funcionário
competente a assim proceder, sendo esta a perspectiva plasmada na acusação
e que o JIC, após escrutinar estes elementos, acolhe.

Outra nota bastante curiosa: em 2008, no âmbito da consulta para o


desmantelamento de transformadores, foi solicitada uma proposta para
desmantelamento da infra-estrutura civil (bacia, muros pára-fogos e caleiras)
com remoção do betão contaminado, enchimento das bacias e regularização
com gravilha em Alto de Mira, tendo a empresa O2 apresentado, por cada
transformador, o valor de €12.768. (cfr. IF EXCS-SB 123/2008).

Nos dados informáticos apreendidos no âmbito da busca às instalações


da O2, designadamente aos servidores da empresa, consta na pasta do
arguido Namércio Cunha um mail, enviado no dia 23/2/2007, pelo arguido
Namércio Cunha para o arguido Paulo Penedos, que consiste no
reencaminhamento do mail enviado pelo Eng. Fernando Santos sobre as
negociações em curso para solução do problema, contendo em anexo, uma
cópia da proposta de resolução do conflito com a REN (fls. 139 e 140 do
apenso AE6 e fls.161 a 170 do apenso AE18).

292
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Ainda com relação a outros itens do libelo.

Desclassificação e abate de 23 transformadores de potência


instalados em diversas subestações da REN espalhadas por diferentes
pontos do país
Artº 928º a 972º
Sobre esta matéria o JIC escrutinou:
Artº 928º a Apenso AE26 – fls. 3 a 5;
935º
Vol. 70 – fls. 23921 a 23925 – Fls. 184 a 188 do Relatório do Inspector
(fls. 207) Afonso Costa

Artº 936º Apenso AE26 – fls. 6 e 7

(fls. 208)

Artº 937º Apenso AE26 – fls. 9 e 10

Artº 938º Apenso AE26 – fls. 10 a 12


(fls.209)

Artº 939º a Apenso AE21 – fls. 243


942º

Artº 943º a Apenso AE26 – fls. 95 a 100


951º

Artº 952º a Apenso AE26 – fls. 101;


956º
Apenso AE6 – fls. 102
(fls.211)

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S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Artº 957º a Apenso AE26 – fls. 104 a 108


960º

(fls. 212)

Artº 961º Fls. 24498 – Interrogatório complementar de Namércio Cunha

Artº 962º a Apenso AE27 – fls. 22 e fls. 241;


972º
Apenso AE28 – fls. 167

Artº 968º Fls. 24499 – Interrogatório complementar

(fls. 213)

A justificação aventada por Victor Baptista sobre os motivos que levaram


o Conselho de Administração da REN a decidir, em Janeiro de 2008, pela
aprovação do abate patrimonial, desmantelamento e alienação dos resíduos
das 22 unidades de transformação, com indicação urgente para alienação
selectiva das sucatas, remetendo-os para a nova regulação para os custos de
operação e manutenção da actividade de transporte de electricidade, que
passaria a estar em vigor a partir de 1/1/2009 a ganhos de eficiência impostos
pelo regulador, o que implicaria tentar concentrar em 2008 este tipo de custos,
para não sobrecarregar o ano seguinte, já sujeito à nova regulação mais
restritiva, não colhe no escrutínio indiciário efectuado.

De facto, como se pode ler no documento justificativo para a revisão do


regulamento tarifário da ERSE, junto aos autos pelo arguido, o mesmo está
datado de 6 de Junho de 2008, sendo que os comentários da REN à proposta
da ERSE de revisão do regulamento tarifário são de 26 de Junho de 2008, ou
seja, muito posterior à decisão do CA sobre o abate de transformadores.

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Por outro lado, também não podemos compreender qual a razão que
levou o Eng. Jorge Martins a consultar apenas duas empresas (RSA-Abrantina
e a O2) para estes trabalhos de desmantelamento, invocando que as empresas
qualificadas para a manutenção de subestações não estavam para tal
vocacionadas.

Para além da ilegalidade de tal opção, que deveria ter sido aferida
superiormente, é notório que a consulta a duas empresas, não permitiria obter
um preço verdadeiramente competitivo em mercado concorrencial.

Acresce ainda que a O2 estaria sempre em vantagem perante as


restantes concorrentes, pois o caderno de encargos impunha que os resíduos
fossem encaminhados segundo o contrato de gestão de resíduos em vigor na
REN.

Ou seja, a O2 poderia praticar preços mais baixos, reduzir ao máximo a


sua margem de lucro, pois iria ser recompensada com o encaminhamento dos
resíduos (principalmente os metálicos) que geria, segundo contrato de gestão
de resíduos.

Aliás, isso mesmo é reconhecido pelo Eng. Jorge Martins nas


declarações que prestou, quando afirma que a RSA-Abrantina não mostrou
muito interessada por não poder gerir os resíduos resultantes do
desmantelamento. – fls. 84 do AE 27.

Pelo exposto, julgamos que, alterando as condições gerais e especiais


do caderno de encargos passando a incluir a gestão de resíduos pela empresa
a quem fosse adjudicado o trabalho de desmantelamento, desde que fossem
cumpridas as normas em vigor na REN para a qualidade ambiente e

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

segurança, permitiria obter no mercado um melhor preço do que aquele que foi
negociado com a O2, de cerca de €595.000.

Terá sido esta alegada urgência que levou os administradores Victor


Baptista e Fernando Soares Carneiro a autorizarem a adjudicação à O2, com
renegociação de preços, com indicação de que o processo de
desmantelamento teria de estar finalizado ainda nesse ano, preterindo a
hipótese colocada pelo Eng. Jorge Martins de cancelamento do concurso,
alargando a consulta a outras empresas.

Quanto à execução de contrato, verificaram-se várias situações que


indiciavam a continuação da postura eticamente reprovável da empresa O2. É
disso exemplo a tentativa de não segregação dos resíduos na subestação de
Estarreja.

Neste particular, remetemos, de novo, para a posição e as alegações da


assistente REN.

Com uma ressalva muito importante, pois que permite perceber o nível
de engajamento de Victor Baptista às petições de José Penedos.

Em 26 de Agosto de 2008, no decurso do processo de


desmantelamento, na subestação de Estarreja, cumprindo ordens e instruções
de Manuel Godinho e do arguido Pedro Laranjeira, funcionários da “O2”
retiraram uma peça intacta, contendo 565 kg de cobre, da primeira cuba do
transformador.

Quando sujeita a pesagem, foi descrita na respectiva guia como sendo


sucata de ferro.

296
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Contudo, Sónia Alexandra de Abreu Vieira apercebeu-se do sucedido e


solicitou à “O2” a devolução da peça, o que viria a acontecer no dia seguinte.
Com esta conduta, visava a O2 obter um benefício patrimonial no
montante de, pelo menos, 1.327,75€ e causar à REN um prejuízo patrimonial,
ao menos, de idêntico valor (150€/tonelada no caso do ferro e 2.500€/tonelada
no caso do cobre).
Em data não concretamente apurada, no decurso do processo de
desmantelamento, na subestação de Estarreja, cumprindo ordens e instruções
de Manuel Godinho e do arguido Laranjeira, funcionários da “O2”, contrariando
o disposto no contrato de gestão de resíduos e no caderno de encargos e
especificações técnicas da consulta de desmantelamento, procuraram remover,
por duas ocasiões, resíduos contendo cobre sem estarem devidamente
segregados.

Porque daqui resultavam prejuízos patrimoniais para a REN, foram


impedidos por funcionários desta empresa.

Logo após, Manuel Godinho fez chegar ao arguido José Penedos, por
intermédio de Paulo Penedos, queixas sobre a forma como decorriam os
trabalhos na subestação de Estarreja, designadamente alegados
constrangimentos colocados por funcionários da REN.

José Penedos solicitou a Victor Baptista que se inteirasse do sucedido e


resolvesse a situação a contento de Manuel Godinho.

Na posse desta informação, no quadro da sua vinculação aos interesses


de Manuel Godinho, de pronto, o arguido Victor Baptista, lançando mão da sua
condição de Administrador, procurou superar os obstáculos suscitados.

297
S. R.

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Neste sentido, interpelou Costa Martins sobre o sucedido, ao que este o


elucidou sobre a necessidade de serem observadas regras de cariz técnico
(qualidade e de segurança) que, inclusivamente, se encontravam previstas no
caderno de encargos e nas especificações técnicas.

Face aos argumentos invocados e para que não fossem levantadas


suspeições sobre a sua conduta, o arguido Victor Baptista cessou as suas
diligências.

Duas notas avultam neste procedimento:

Victor Baptista volta a favorecer a O2 e a colocar o seu poder de decisão


ao serviço de Manuel Godinho.

Neste particular, o depoimento de Agostinho Manuel Costa Martins,


fls. 167, Linhas 126 e segs. do Apenso AE28 – é particularmente relevante.

Victor Baptista só pode ter tido conhecimento do sucedido por José


Penedos, pois que era este que, por intermédio do seu Filho, conhecia Manuel
Godinho.

O conhecimento só pode ter partido de Manuel Godinho, na medida em


que a indagação surge na forma de remoque e insatisfação (não compatível
com conhecimento por parte de funcionário da REN, pois que o acontecido
acabou por salvaguardar os interesses daquela empresa) – “…o administrador
Eng. Victor Baptista perguntou o que é que tinha ocorrido em Estarreja que estariam a
criar dificuldades ao trabalho que estava a ser desenvolvido pela empresa 02...”

O envolvimento de José Penedos coloca-se ao nível do já anteriormente


exposto – inexistindo relações ou contactos de Manuel Godinho com Victor

298
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Baptista e assumindo-se Paulo Penedos como seu interlocutor para a REN, as


regras da experiência e da normalidade do acontecer impõem que se conclua
indiciar-se que Manuel Godinho transmitiu a Paulo Penedos o acontecido em
Estarreja e este, por sua vez, a seu Pai.

E que José Penedos transmitiu a Victor Baptista a necessidade de


intervenção e este procurou intervir.

Cessou a sua intervenção seguindo o princípio da aparência “by the


book”, para não serem criadas fragilidades.

PRORROGAÇÃO DO CONTRATO ATÉ 31-12-2009

Em 15 de Janeiro de 2008, João Sandes redige a IF 1/2008 (vidé fls. 160


do apenso AE1), referindo que os contratos de gestão de resíduos em vigor
terminariam em 31/12/2008 e, dado que o processo de consulta ao mercado é
complexo e algo moroso e atendendo ainda a alterações legislativas que foram
surgindo, que exigiriam que fossem necessários ajustamentos na metodologia
de gestão de resíduos, propunha se desse início ao processo, com a
colaboração das restantes divisões PPAB –EX,EQ,FP e SI bem como a revisão
da documentação existente e efectuando a consulta ao mercado até ao final do
mês de Julho, com a data limite para apresentação de propostas até final de
Setembro de 2008 e a adjudicação fosse feita até finais de Novembro,
permitindo algum tempo de adaptação no terreno, com o arranque em Janeiro
de 2009.

Na sequência deste pedido de colaboração e enquadrando alguns dos


factos que mais adiante passaremos a expor, ainda nesse mês, Francisco
Parada, responsável pelo departamento de ambiente (PPAB) apresenta
um estudo, solicitado pelo administrador Victor Baptista, sobre a análise

299
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

económica do contrato de gestão de resíduos, com base nos dados


conhecidos referentes aos anos de 2006 e 2007.

No preâmbulo salienta que o contrato de Gestão de Resíduos da REN


fora adjudicado por um período de três anos, finalizando a 31 Dezembro de
2008. Para a adjudicação do novo contrato seria necessário proceder a uma
consulta aos operadores de gestão de resíduos entretanto qualificados, que
deverá observar entre outras questões, os requisitos legais aplicáveis à gestão
de resíduos.

Neste ponto, referiu que a nova legislação de enquadramento da gestão


dos Resíduos de Construção e Demolição, que tinha sido aprovada
recentemente em Conselho de Ministros (que veio a ser publicada a 12 de
Março – DL 46/2008), poderia ter um especial destaque, uma vez que
poderiam ser introduzidas alterações legislativas que levassem a uma
alteração da metodologia de gestão destes resíduos que vigorava.

Desse estudo, foram retiradas duas conclusões:


1. Mais de dois terços dos resíduos não economicamente valorizáveis
produzidos pela REN, são originados em obras de construção e demolição.
Este tipo de resíduos também representa cerca de dois terços dos custos totais
que a REN tem com a gestão de resíduos.
2. A eventual revisão dos preços unitários anuais (que, assinala-se, não
estava prevista no contrato) poderia ter induzido proveitos cerca de 10%
superiores em 2006 e de cerca de 14% superiores em 2007.

Francisco Parada propõe então que sejam equacionadas as seguintes


propostas a incluir nas cláusulas do processo de consulta e do futuro
contrato com estes prestadores de serviços:

300
S. R.

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1. Estabelecimento de uma metodologia que permita a revisão anual do


preço dos resíduos economicamente valorizáveis (metais);
2. Estabelecimento de um patamar máximo para o custo por tonelada
de resíduos de construção e demolição e betão.

Por fim, fez menção que face à previsível publicação da legislação


sobre os resíduos de construção e demolição, poderiam ser
eventualmente consideradas alternativas à gestão deste tipo de resíduos
pela REN, que poderão passar, por exemplo, pela atribuição dessa
responsabilidade operacional aos prestadores de serviço nas obras, com
apoio no local das equipas de supervisão QAS contratadas pela REN.

Na sequência das suas declarações, para além de fazer juntar aos autos
este estudo, juntou também impressão das mensagens de correio electrónico,
contendo em anexo este estudo, enviadas para o administrador Vítor Baptista,
director da divisão de Produção e Planeamento, Francisco Saraiva, seu
superior hierárquico e para o director da divisão de sustentabilidade e sistemas
de gestão, Eng. Vicente Martins. (fls. 213 a 216 do apenso AE 27)

Em 21 de Outubro de 2008, por não haver qualquer desenvolvimento,


justificado, para além de outros motivos, pela reestruturação da REN (criação
da REN SGPS e REN Serviços) foi sugerido por João Sandes que fosse
equacionada a hipótese de prorrogar os contratos existentes pelo período
mínimo de 3 meses. (fls. 164 do apenso AE1).

Consultada a divisão de sustentabilidade e sistemas de gestão, o Eng.


Vicente Martins pronunciou-se no sentido de que futuro contrato de gestão de
resíduos deveria abranger todo o grupo REN, pelo que propôs a prorrogação
por 6 meses ao Dr. Gerardo Gonçalves, director da Divisão de Contabilidade e

301
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Serviços Gerais SVCS que, concordando com ela, a remeteu para o


administrador Victor Baptista que a agendou para CA.

Em reunião de 7.10.2008, o CA aprovou a prorrogação até 30 de


Junho de 2009, findo o qual deveriam estar reunidas as condições para a
celebração de novos contratos, devendo os termos do concurso estar
conclusos em Abril de 2009.

No dia 10 de Março de 2009, (3ª feira) foi interceptada uma conversa


entre Manuel Godinho e Paulo Penedos, (produto 3669 do alvo 1T167PM):
Manuel Godinho queixa-se da falta de trabalho e Paulo Penedos responde-lhe
que nesse fim-de-semana (7 e 8 de Março) teve a falar com ele, José Penedos,
sobre isso e que falou de vários assuntos. Paulo Penedos refere que ele lhe
disse que o concurso, a renovação deste concurso de longa duração, deve
estar para sair (…), que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se
alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 3669


DATA/HORA: 10/03/2009 11:53:19
INTERVENIENTES:
• DE – PAULO PENEDOS
• PARA – MANUEL GODINHO

MANUEL GODINHO – Tou?


DESCONHECIDO – Sim, Sr. Godinho. Tenho em linha o Dr. Paulo Penedos.
MANUEL GODINHO – Passa. ... Tou?
PAULO PENEDOS – Bom dia
MANUEL GODINHO – Bom dia.
PAULO PENEDOS – Tudo bem?
MANUEL GODINHO – Tá tudo.

302
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

PAULO PENEDOS – Olhe... Eu estou-lhe a ligar, ahh... pelo seguinte: Tal como
lhe tinha dito, eu vou agora almoçar com o... Chefe de Gabinete do...
Engenheiro Mário Lino. E a pergunta é: Vale a pena falar em alguma coisa, ou
não?
MANUEL GODINHO – Ahh... não, porque o nosso amigo...
PAULO PENEDOS – Sim?
MANUEL GODINHO – O nosso amigo telefonou para ele a dizer para
(imperceptível)
PAULO PENEDOS – Para...??
MANUEL GODINHO – P’ra chamar aí o senhor.
PAULO PENEDOS – Ah! Ok.
MANUEL GODINHO – Certo?
PAULO PENEDOS – Ok.
MANUEL GODINHO – Não vale a pena falar nesse assunto.
PAULO PENEDOS – Pronto, ok.
MANUEL GODINHO – Oh pá! ‘Tamos é a tratar do assunto da deservagem e a
REN nunca mais nos mandou nada...
PAULO PENEDOS – Sim?
MANUEL GODINHO – É, pá. E nós ‘tamos aflitos com o trabalho. Aflitíssimos.
PAULO PENEDOS – Ok... Ok... Eu falei no fim-de-semana, sobre isso. Aham...
não... não falei desse assunto da deservagem, falei dos outros... Aham... E ele
disse-me que o concurso... a renovação desse concurso de longa duração, que
deve estar p’ra sair. Ahamm... e... e que em relação à... à limpeza daquelas
cinzas da Central que está desactivada... aham... que também só estão à
espera de chegar a um acordo... aham... com a Brisa... aham... p’ra ver...
aham... em... pronto, em que medida é que a REN suporta parte da limpeza e a
Brisa suporta outra parte, porque parte do terreno vai ser expropriado pela
Brisa, sabia disso?
MANUEL GODINHO – Não, não sabia.
PAULO PENEDOS – Pronto. E ele disse-me que só estão à espera de chegar a
um acordo, que é para a REN não avançar sozinha com o suporte da limpeza
dessas cinzas. Aham... E... assim que estiver esse acordo feito, que também vai
avançar.
MANUEL GODINHO – Mas isso ainda está um bocado atrasado, não é?
PAULO PENEDOS – Eh pá, está em cima da mesa. Pode-se fechar a qualquer
momento. Estão as negociações em curso.
MANUEL GODINHO – Eh pá, estou aflito, oh Paulo.
PAULO PENEDOS – (sobreposto) Pronto!...

303
S. R.

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MANUEL GODINHO – Estou aflito. Aflitíssimo.


PAULO PENEDOS – Pronto!
MANUEL GODINHO – Eu não sei o que é que hei-de fazer a esta porcaria, pá.
P’ra mais saiu-me agora um Espanhol da minha beira... ... O material, daqui a
pouco é preciso a gente pagar, e ele ainda adianta outra coisa... adianta outra
coisa: não sei até que ponto é que nós podemos garantir os pagamentos... ...
Que ainda é o mais grave. ... Sabes como é que está agora o ferro? A cem
Euros a tonelada, pá. E não tem saída.
PAULO PENEDOS – É... É uma desgraça.
MANUEL GODINHO – É uma coisa!... Oh pá, eu não sei, muito honestamente,
não sei onde é que isto vai parar. É complicado. Estou super aflito. Super aflito.
... Vou ligar, telefonar p’ró nosso amigo, a ver se ele dá um empurrão aqui, um
empurrão acolá, a ver se me arranja algum trabalho, senão tou... Não sei... não
sei o que é que hei-de fazer a estes desgraçados todos, pá. ... Não sei o que
hei-de fazer a este pessoal. ... É um desespero... Esta noite não dormi nada. ...
Ah! ‘Tá aqui a minha neta à minha beira. ‘Tá a olhar p’ra mim...
PAULO PENEDOS – (ri-se) Que idade é que ela tem?
MANUEL GODINHO – Tem cinco aninhos.
PAULO PENEDOS – Cinco? ‘Tá bem.
MANUEL GODINHO – Fui buscá-la à escola. Vou almoçar com ela... Porque a
minha esposa hoje faz anos...
PAULO PENEDOS – Ah! Muito bem.
MANUEL GODINHO – ...e eu lá vou...
PAULO PENEDOS – Então parabéns.
MANUEL GODINHO – ...lá vou almoçar com o pessoal.
PAULO PENEDOS – ‘Tá bem. Olhe, e eu,... devo ser pai agora por estes dias,
também.
MANUEL GODINHO – Ahhh! Que tudo corra bem, pá, que é o que... que é o
que mais interessa.
PAULO PENEDOS – Pronto. Mas eu... mas eu... assim que tiver notícias eu ligo,
‘tá bem?
MANUEL GODINHO – ‘Tá bem.
PAULO PENEDOS – Então vá. Um abraço. Adeusinho.
MANUEL GODINHO – (sobreposto) Tá bem, Paulo. Um abraço. Um abraço,
adeus.
PAULO PENEDOS – (sobreposto) Obrigado.

304
S. R.

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Entre Março e Abril de 2009, as várias divisões e departamentos


envolvidos na consulta para celebração dos novos contratos de gestão de
resíduos ainda discutiam a nova metodologia de gestão de resíduos.

Neste contexto, o Eng.º. Francisco Parada (REN-Ambiente) enviou uma


mensagem de correio electrónico no dia 13 de Abril de 2009 para o Eng.
Vicente Martins (vidé fls. 141 a 143 do apenso AE8), em que se pronuncia
sobre a nova metodologia e onde debruça sobre a problemática da gestão de
resíduos de demolição e construção e visão global para o grupo REN e que se
acha transcrito na acusação a partir do art.º 1042º.

Assim sou de opinião que uma futura metodologia de gestão de


resíduos em todas as empresas da REN, deverá passar por uma solução
em que os resíduos do LER 17 (resíduos construção e demolição, mas
também resíduos metálicos) gerados em obras e empreitados deverão
passar a ser geridos pelos prestadores, devendo a REN garantir um
controlo efectivo e eficaz sobre o processo através de equipas de
fiscalização e supervisão internas ou externas (contratadas p.e. para
supervisão ambiental) possibilitando o cumprimento da legislação nacional
nesta matéria. Os restantes resíduos produzidos pela REN ou por outros
prestadores de serviço que não em empreitadas, continuariam a ser geridos
pela REN, mas num contrato que abrangesse todas as empresas do grupo.

Assim, concluiu que:


“Esta solução deverá ser validada pelas áreas operacionais das várias
empresas do grupo atendendo às implicações actuais e futuras que esta
metodologia poderá ter nas adjudicações já realizadas ou a realizar. Atendendo
a este facto, e à necessária definição da forma de controlo operacional da

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

gestão de resíduos de construção e demolição (código LER 17) a realizar pelos


prestadores de serviços, Sou de opinião que:
• Se deve iniciar a elaboração do Caderno de Encargos para
lançamento de um novo concurso após aprovação desta metodologia por
todas as empresas. (…)”

Como os autos documentam indiciariamente o Eng. Vicente Martins


concordou com o teor da proposta e, na mensagem enviada a 4 de Maio de
2009, para os directores das divisões da REN envolvidas (Gerardo Gonçalves;
Albino Marques; Jorge Liça; Luís Manuel Ferreira [REN Gasodutos]; António
Fonseca; Carlos Azevedo; Mota Duarte, sugere que: (fls. 140 do apenso AE8).

(…) Preparação imediata de um concurso para a prestação de serviços de gestão dos


resíduos industriais produzidos pelas várias empresas do Grupo, a partir de 1 de
Outubro à excepção dos seguintes: Resíduos gerados em obras e empreitadas
(resíduos construção e demolição e resíduos metálicos) que serão geridos pelos
empreiteiros, devendo a REN garantir um controlo efectivo do processo através da
fiscalização em obra (com ou sem apoio externo) tendo em vista a garantia do
cumprimento da legislação nacional nesta matéria. Serão incluídos nesta fileira os
resíduos pertencentes ao Capítulo 17 da Lista Europeia de Resíduos, assim como
todos os que sejam gerados em obra, à excepção dos resíduos sólidos urbanos ou
equiparados (…)

Em resposta, pode-se ler a fls. 143 e 144 do apenso AE 8 que as


posições de Jorge Liça, (director da Divisão de Equipamento, onde são
lançadas as obras e empreitadas de construção da REN e por isso produtora
da grande parte dos resíduos produzidos pela REN) e de Luís Oliveira Pinto
(responsável pelo departamento SVSG responsável pela gestão administrativa
do contrato) e vão no mesmo sentido do eng. Francisco Parada:

Jorge Liça:

306
S. R.

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“Hoje, em troca de impressões com o EQSB, falámos nas próximas


remodelações de subestações e no grande impacte que este tipo de obras poderá ter nos
custos de remoção de resíduos, sobretudo de betão. Só no caso da remodelação de
Ermesinde está prevista no ano de 2009 e 2010 a produção de mais de 11.000 m3 de
resíduos de betão (1000 camiões com resíduos). Além de Ermesinde iremos remodelar
outras subestações, conforme o PDIRT.

Uma vez que a produção de resíduos de betão irá ser muito significativa não
seria prudente olhar para o contrato de gestão de resíduos à luz desta nova realidade?
Como sabe o futuro paradigma de regulação (por preços standard) não é muito
compatível com contratos de gestão de resíduos em que os preços terão sido
estabelecidos para pequenas quantidades a remover. Sugere-se então uma reflexão
sobre os contratos existentes”.

Luís Oliveira Pinto:

“(…) Relativamente à questão colocada pelo Eng. Jorge Liça, embora estando
para além das nossas competências, pensamos que, no futuro e de acordo com a
legislação actual, a solução poderá passar por a gestão deste tipo de resíduos ser da
responsabilidade de quem executa a obra, carecendo, contudo, de um controlo
apertado por parte da gestão da obra.(…)”

Por sua vez, no dia 25 de Maio de 2009, pelas 14h23, Namércio Cunha
liga a Manuel Godinho (produto 7051 do alvo 38250PM, que abaixo se
transcreve, na integra, para melhor se alcançarem os exactos fundamentos do
juízo de prognose a final efectuado pelo JIC/TCIC) e informa-o que a REN está
a colocar nos cadernos de encargos dos concursos de empreitadas “como
aquela de Carnaxide” o encaminhamento dos resíduos ao cuidado dos
empreiteiros e a O2 foi contactada pela C.M.E. a pedir cotação para uma obra
que vão concorrer em Lisboa e no Porto.

307
S. R.

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Número de produto do alvo 7051

Alvo 38250PM

ID de Intercepção 351938959707 (Namércio Cunha)

A chamar 351938959707 (Namércio Cunha)

Hora inicial 25/05/2009 14:24:26

Destinatário (Manuel Godinho)

Voz da operadora: Aviso: está a ligar para um assinante que agora pertence à
OPTIMUS. Aguarde.
Manuel Godinho – Tou.
Namércio Cunha – Sim.Podes falar
Manuel Godinho – Sim diz.
Namércio Cunha – A REN penso que agora tá a por nos concursos, nos
concursos dos empreiteiros, das empreitadas como aquela de Carnaxide, tá a por nos
cadernos de encargos o encaminhamento dos resíduos aos cuidado dos… à
responsabilidade dos empreiteiros
Manuel Godinho – Aí é?
Namércio Cunha – E fomos contactados pela CME a pedir-nos cotações para
uma obra que eles se vão candidatar, portanto vão concorrer em Lisboa e no Porto
(imperceptível) Carnaxide.
Manuel Godinho – Mas isso é que não convinha e dizer isso já ao Paulo.
Namércio Cunha – Pronto é isso, vou…
Manuel Godinho – Telefona-lhe. Ok?
Namércio Cunha – Tou a pôr-lhe ao corrente. Tá bem.
Manuel Godinho – Tem o empreiteiro deles que num faz sentido.
Namércio Cunha – Pronto.
Manuel Godinho – E é da REN mesmo?
Namércio Cunha – É. É para uma obra da REN e tão-nos a ligar …
Manuel Godinho – Fala já.
Namércio Cunha – Tá bem. Ok. Tá até.

Manuel Godinho é claro na resposta: isso não convinha e manda


Namércio Cunha ligar ao Paulo (Penedos).

308
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Cerca de 10 minutos depois, Namércio Cunha liga a Manuel Godinho e


diz que já falou com ele e que ele agora não consegue saber, só logo, e que ia
tentar ver o que se passava. (produto 7055 do alvo 38250PM, que abaixo se
transcreve, na integra, para melhor se alcançarem os exactos fundamentos do
juízo de prognose a final efectuado pelo JIC/TCIC).

Número de produto do alvo 7055

Alvo 38250PM

ID de Intercepção 351938959707 (Namércio Cunha)

A chamar 351938959707 (Namércio Cunha)

Hora inicial 25/05/2009 14:34:50

Destinatário (Manuel Godinho)

Voz da operadora: Aviso: está a ligar para um assinante que agora pertence à
OPTIMUS. Aguarde.
Manuel Godinho – Tou.
Namércio Cunha – Sim.
Manuel Godinho – Já falaste com o indivíduo?
Namércio Cunha – Já. Ele disse que vai tentar saber alguma coisa logo.
Manuel Godinho – Logo?
Namércio Cunha – Sim, Logo (imperceptível) é que consegue saber.
Manuel Godinho – Pois. …
Namércio Cunha – Já o pus ao corrente e… e… isto não é nenhuma obra
especial… São obras iguais às que estão a ser feitas neste momento.
Manuel Godinho – Tu… Não tens nada que falar naquilo que se está a fazer.
Não és tu que tas as trabalhar directamente com a REN.
Namércio Cunha – A….
Manuel Godinho – Só tens que dizer que é uma situação que não convêm, que
não interessa…
Namércio Cunha – (imperceptível) Sim. Olhe uma empresa que trabalha na
PORTUCEL, a ATRIT (fonético) trabalha em termos de…. (imperceptível) a instalar
aqueles sistemas lá de biocombustagem, ou coisa assim do género…

309
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Godinho – Sim.


Namércio Cunha – Eles em Setúbal… consultaram-nos (imperceptível) nada de
muito especial, p’rái 30 ou 40 toneladas…
Manuel Godinho – Sim.
Namércio Cunha – Queriam-nos consultar, tipo vigas, mas não é vigas em L, é
daquelas mais leves quadradas.
Manuel Godinho – Sim, a sucata…
Namércio Cunha – Pronto. Nós para lá demos a 90, mas houve quem deu
significativamente mais. Eles agora contactaram novamente aqui para Cacia, estão agora
a fazer mesmo trabalho e em Cacia tem o mesmo género de sucata. Ah…. Prevêem eles
30 ou 40 toneladas. Que valor é que deve ser dado para aquilo?
Manuel Godinho – 150 euros.
Namércio Cunha – Ok.
Manuel Godinho – Ok.
Namércio Cunha – Tá até.
Manuel Godinho – O Engenheiro aí do Porto já disse alguma coisa?
Namércio Cunha – Não.
Manuel Godinho – Já mandaste a preço?
Namércio Cunha – Não. Temos que…
Manuel Godinho – Como é que queres que ele diga alguma coisa. Tens que
mandar o preço. Ou mandar aquela situação de zero.
Namércio Cunha – Pronto, os homens ali do… do Porto também nos
contactaram
Manuel Godinho – Quais os homens do Porto?
Namércio Cunha – (imperceptível)

Manuel Godinho – A dizer o que há…


Namércio Cunha – Eles também estão a concorrer, né?
Manuel Godinho – Até que (imperceptível)
Namércio Cunha – Eles tavam a contactar-nos no sentido de… pronto… de nós
darmos a cotação para eles apresentarem. Por acaso eu não adiantei nada.
Manuel Godinho – Não mas tu dizes conforme a gente mandou… Ok?
Namércio Cunha – Ok.
Manuel Godinho – Vá. Exactamente igual ao contrato anual diz que a mão-de-
obra, que a triagem de materiais… que é feita a custo zero.

310
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Namércio Cunha – Pronto. O que tiver a ver connosco nós fazemos assim
Manuel Godinho – Tá bem.
Namércio Cunha – Ok.

Pelas 14h48, Paulo Penedos liga a Manuel Godinho e este pergunta-lhe


se já falou com Namércio Cunha e se ele percebeu, isto é, que estão a incluir
os resíduos nas empreitadas e não pode! Assim sendo, as empresas gestoras
de resíduos não são necessárias para nada! (produto 10354 do alvo 1T167PM,
que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se alcançarem os exactos
fundamentos do juízo de prognose a final efectuado pelo JIC/TCIC).

PRODUTO Nº: 10 354


DATA/HORA: 25.05.2009 – 14.48.26
INTERVENIENTES:
• DE – Dr. Paulo Penedos
• PARA – Manuel Godinho

Manuel Godinho: Tou.

Voz desconhecida: Sim senhor Godinho, o doutor Paulo Penedos.

Manuel Godinho: Passa. Tou.

Paulo Penedos: Tou.

Manuel Godinho: Sim.

Paulo Penedos: Sim senhor Godinho.

Manuel Godinho: Haaaaa, o meu colaborador já falou contigo, não falou.

Paulo Penedos: Já, já, já, eu já, já.

Manuel Godinho: É pá.

Paulo Penedos: Já vou tentar perceber o que é que se passa.

311
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Godinho: É que isso é muito mau, isso é, quer dizer as empresas gestoras de resíduos,
então acabam.

Paulo Penedos: Já vou tentar perceber o que é que se passa, tá bem.

Manuel Godinho: Isso, acho que isso não pode ser, mas. Pronto é ver isso.

Paulo Penedos: Tá bem.

Manuel Godinho: E diz-me já alguma coisa. Tu percebeste bem, não percebeste.

Paulo Penedos: Percebi, percebi, percebi.

Manuel Godinho: Estão a incluir, estão a incluir os resíduos nas empreitadas.

Paulo Penedos: Exactamente, exactamente.

Manuel Godinho: E não pode.

Paulo Penedos: Exactamente.

Manuel Godinho: Assim as empresas gestoras de resíduos não são precisas para nada.

Paulo Penedos: Claro.

Manuel Godinho: Que é que os gajos fazem. Assumem o compromisso dos resíduos, adepois
andam a enterrá-los para aí, por qualquer sitio, e quem fica prejudicado.

Paulo Penedos: Claro.

Manuel Godinho: É a empresa.

Paulo Penedos: Claro, claro, claro, claro.

Manuel Godinho: Okai.

Paulo Penedos: Tá.

Manuel Godinho: Pronto.Vê já, e diz-me alguma coisa, tá bem.

Paulo Penedos: Okai, até já, até já.

Manuel Godinho: Tá. Até já.

312
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Paulo Penedos liga novamente a Namércio Cunha às 14h53 (produto


1048 do alvo 39263M, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se
alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC) para perceber se eles, os empreiteiros, estão a pedir cotações,
mas na prática quem continua a tratar os resíduos é a O2. Namércio Cunha
responde-lhe negativamente e elucida-o que eles estarão a preparar a
apresentação da candidatura e lhes estão a pedir cotações e que
posteriormente eles decidirem a quem entregam, podendo ser entregue a outra
empresa.

PRODUTO Nº: 1048


DATA/HORA: 14:53:53 de 25/05/2009
INTERVENIENTES:
• DE – Paulo Penedos
• PARA – Namércio Cunha

NAMÉRCIO CUNHA – Sim?


PAULO PENEDOS – Oh Dr. Namércio.
NAMÉRCIO CUNHA – Então?
PAULO PENEDOS – Esclareça-me só uma coisa. Eles tão a pedir cotação, mas na
prática, eh, quem continua a tratar os resíduos, ehh, é a O2,
num é? Ou não?
NAMÉRCIO CUNHA – Não. Não é nesse sentido.
PAULO PENEDOS – Então?
NAMÉRCIO CUNHA – Eles tão a, a pedir-nos, no sentido de. Pode, eles estarão a
fazer uma candidatura, num é? E tão a, eles tão
responsáveis por encaminhar os resíduos. Eles tão a pedir,
cotações a nós. Porque vão ser eles depois a decidir, a
decidir a quem é que entregam, num é? Eles podem
entregar a outra empresa, que não a nós. Nada, nada os,
obriga a entregar-nos a nós.
PAULO PENEDOS – Sim senhor.
NAMÉRCIO CUNHA – Aí, aí é que está o busílis da questão.

313
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PAULO PENEDOS – Tá bem. (imp.), ok, ok.


NAMÉRCIO CUNHA – Tá?
PAULO PENEDOS – Tá.
NAMÉRCIO CUNHA – Ok. Até já.
PAULO PENEDOS – Até já.

Namércio Cunha liga logo de seguida a Paulo Penedos (produto 1049 -


Alvo 39263M - 25/05/2009 14:55:16,que abaixo se transcreve, na integra, para
melhor se alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final
efectuado pelo JIC/TCIC) e diz-lhe que, o resíduo em concreto até é recolhido
por outro operador (CESPA) mas o que está em causa é que eles assim não
têm a obrigação de encaminhar os resíduos ao abrigo do contrato em vigor.

PRODUTO Nº: 1049


DATA/HORA: 14:55:16 de 25/05/2009
INTERVENIENTES:
• DE – Namércio Cunha
• PARA – Paulo Penedos

PAULO PENEDOS – Sim?


NAMÉRCIO CUNHA – Ter em atenção. Quando digo, entregar o resíduo a nós,
atenção que esse resíduo, esse, em concreto até é
recolhido, através do vosso operador, num é? Portanto a,
o que está aqui em causa, é, eh, eles num têm que,
encaminhar os resíduos, ó abrigo do contrato existente,
de gestão de resí, de gestão de resíduos.
PAULO PENEDOS – Pois. Eu isso percebi que está in vigor. Pronto.
NAMÉRCIO CUNHA – É isso.
PAULO PENEDOS – Ok.
NAMÉRCIO CUNHA – Pois. A questão é essa.
PAULO PENEDOS – Ok.Ok. Ok.
NAMÉRCIO CUNHA – Tá. Até já.

314
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Pelas 15h37 Paulo Penedos liga a Manuel Godinho (produto 10359 do


alvo 1T167PM, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se
alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC) e diz-lhe que falou com “ele”( José Penedos) e que não sabia
de nada e que até perguntou se não estariam a fazer confusão com a EDP.
Depois Paulo Penedos ter garantido que não se tratava de nenhuma confusão,
“ele” disse-lhe para mandarem um mail e argumentarem que o proposto não
está conforme os contratos de gestão de resíduos em vigor. Manuel Godinho
dá instruções para Paulo Penedos explicar o que lhe acabara de transmitir ao
Namércio Cunha.

PRODUTO Nº: 10 359


DATA/HORA: 25.05.2009 – 15.37.27
INTERVENIENTES:
• DE – Dr. Paulo Penedos
• PARA – Manuel Godinho

Manuel Godinho: Tou.

Voz desconhecida: Sim senhor Godinho tenho em linha o doutor Paulo Penedos.

Manuel Godinho: Passa. Tou.

Paulo Penedos: Tou.

Manuel Godinho: Sim

Paulo Penedos: Pronto, é pá, como eu pensava ele não sabia de nada, aaaa ainda me perguntou
se não estaríamos a fazer confusão com a EDP.

Manuel Godinho: Não.

Paulo Penedos: Não, e eu também lhe disse não há confusão nenhuma e ele disse, então mande
o, mandem já um mail a dizer que foram contactados neste sentido assim, assim e que isso não
está conforme os contratos que estão em vigor de gestão de resíduos e que.

Manuel Godinho: Olha, faz-me um favor que eu estou em viagem, explica isso ao Namércio, e
ele que faça já.

315
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Paulo Penedos: Tá bem, pronto, mas o senhor deu-me ordem para eu falar consigo e estou a
falar consigo.

Manuel Godinho: Tá bem. Faz-me o favor

Paulo Penedos: Tá bem, tá bem.

Namércio Cunha recebe a chamada de Paulo Penedos às 16H39 e diz-


lhe que vai ter que enviar um fax ou um mail a pedir um esclarecimento porque
não sabiam de nada, tendo Namércio Cunha assumido que irá tratar disso.

Porém, Paulo Penedos adianta-se e diz a Namércio Cunha que preparou


um minuta que lhe vai enviar. (produto 1076 do alvo 39263M, que abaixo se
transcreve, na integra, para melhor se alcançarem os exactos fundamentos do
juízo de prognose a final efectuado pelo JIC/TCIC).

PRODUTO Nº: 1076


DATA/HORA: 17:05:34 de 25/05/2009
INTERVENIENTES:
• DE – Namércio Cunha
• PARA – Paulo Penedos

PAULO PENEDOS – Sim?


NAMÉRCIO CUNHA – Ora bem. Atão, vamos lá a ver.
PAULO PENEDOS – Meu caro. Pode ouvir?
NAMÉRCIO CUNHA – Posso. Agora posso ouvir e falar.
PAULO PENEDOS – Então é assim. Eu escrevi aqui uma minutazinha.
NAMÉRCIO CUNHA – Sim?
PAULO PENEDOS – Eu posso-lhe li, eu vou-lhe ligar de um número fixo, porque tou
quase sem bateria. Tá bem?
NAMÉRCIO CUNHA – Tá bem. Tá, até já.

316
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PAULO PENEDOS – Só um minuto.


NAMÉRCIO CUNHA – Até já.

Às 17h35, (produto 7081 do alvo 38250PM, que abaixo se transcreve, na


integra, para melhor se alcançarem os exactos fundamentos do juízo de
prognose a final efectuado pelo JIC/TCIC) Namércio Cunha recebe uma
chamada da O2, Eng. Elsa, e aproveita para pedir para abrir caixa de correio
electrónico da empresa “Pedras Deslizantes” e reencaminhar para a Eng.ª.
Margarida um mail que lá deve estar de Paulo Penedos, pedindo-lhe para ela
ligar logo de seguida com urgência.

Número de produto do alvo 7081

Alvo 38250PM

ID de Intercepção 351938959707 (Namércio Cunha)

A chamar 351938959707 (Namércio Cunha)

Hora inicial 25/05/2009 16:35:27

Destinatário ------ (VF)

VF – Sim
Namércio Cunha – Ligaste?
VF – Sim, liguei. O que é que ficou por causa do VERCOVINA . É que a
engenheira Isa já foi chatear o Hugo. Foi acompanhar os trabalhos lá…
Namércio Cunha – Óh pá ainda não ficou… Tou a caminho de lá p’ra ver com o
Zé Maria o que é que se consegue fazer.
VF – Pronto … Ok. É preciso dizer alguma coisa.
Namércio Cunha – É pois, pois, vai ter que ser amanhã. Há-de ver o meu e-mail
das Pedras Deslizantes. Tá aí um e-mail que quero que depois me passas p’rá
Margarida, tá bem? É Paulo Penedos.
VF – Paulo?
Namércio Cunha – Penedos.
VF – E é para passar p’rá Margarida?
Namércio Cunha – Sim e ela que me ligue logo a seguir. Tá bem?

317
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

VF – Tá.
Namércio Cunha – Que é urgente.
VF – Até já.

No produto seguinte, produto 7082 do alvo 38250PM, que abaixo,


igualmente, se transcreve, Margarida Marques diz que já abriu o e-mail e
Namércio Cunha pede para passar o seu conteúdo para um fax. Entretanto
pede-lhe para lê-lo.

Número de produto do alvo 7082

Alvo 38250PM

ID de Intercepção 351938959707 (Namércio Cunha)

A chamar ------ (Margarida)

Hora inicial 25/05/2009 16:35:27

Destinatário 351938959707 (Namércio Cunha)

Namércio Cunha – Sim?


Margarida – Sim. Já recebi o e-mail
Namércio Cunha – Ahmmm, preciso que mandes um fax
Margarida – hum…
Namércio Cunha – Preciso (imperceptível) Ora lê-me lá o e-mail.
Margarida – Se eu conseguisse! Tá tão pequeno! ‘Pêre aí… (pausa) tá
pequeníssimo… Quer que eu passe isto para fax, é?
Namércio Cunha – É.
Margarida – Minuta “Pedido de esclarecimento À REN:
Exmos. Senhores:
Tendo sido contactados no dia de hoje, dia 25 de Maio pela
CME”, já não foi hoje…
Namércio Cunha – Então pronto, “ tendo sido contactados pela CME” , não
digas hoje…
Margarida – “pela CME, a dar (imperceptível) pelos nossos serviços de gestão
de resíduos da (imperceptível) de linhas subterrâneas…”

318
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Namércio Cunha – Você se quiser nem diga que é do empreiteiro, né? Tendo
sido contacto pelo vosso empreiteiro, acho que aí também… não é
Margarida – Tendo sido contactados pelo vosso empreiteiro, por um vosso
empreiteiro…
(ouve-se em som de fundo, o som de teclar)
…. a dar conta dos vossos serviços para empreitadas de resíduos de construção
de linhas subterrâneas…” Depois tem aqui entre parêntesis “ fazer referência
às linhas em causa” …
Namércio Cunha – Então pois aí,
Margarida – locais Lisboa e Porto.
Namércio Cunha – Então, pões…
(ouve-se em som de fundo, o som de folhear)
(ouve-se em som de fundo, o som de teclar)
Margarida – …Lisboa e Porto… (pausa) (imperceptível) que o destinatário da
proposta da referida empresa, ficamos surpreendidos (imperceptível) quando
o destinatário da proposta da referida empresa seria a REN. É assim, quem vai
ficar com os resíduos não é a REN
Namércio Cunha – Eu sei, mas o destinatário da proposta da CME era a
(imperceptível)
Margarida – Sim, sim…
Namércio Cunha – É nesse sentido que está aí…
Margarida – “… com efeito, estando em vigor o contrato de por nós realizado
coma (imperceptível) para a gestão de resíduos cujo âmbito abrange os
resíduos resultantes das obras citadas, ahmmm… não nós parece que seja
juridicamente possível sendo lançada consultas em que cessa a (imperceptível)
que a REN já tinha contratados com prestações de serviços especializados
(pausa)
Namércio Cunha – Mais…
Margarida – Está bem esta parte?
Namércio Cunha – “No entanto como tudo não passe de um mal entendido
inequívoco vimos solicitar pela presente o esclarecimento desta situação Pede-
se a vossa compreensão para o solicitado. Apresentamos os nossos melhores
cumprimentos.
Margarida – Pronto.
Namércio Cunha – Tire a palavra “Minuta”, não é?
Margarida – Claro.
Namércio Cunha – Pronto e vais mandar isso ao cuidado do…

319
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

(ouve-se em som de fundo, o som de teclar)


Não é do João Santos é para o… Dr. Pinto, não é?
Margarida – Não sei…
Namércio Cunha – Quem é o chefe do João Santos? Nós temos aí no processo
Margarida – Temos?
Namércio Cunha – Temos aí no processo?
Margarida –Nós não temos aqui a capa da REN, mas pronto
Namércio Cunha – Mas há comunicações para ele. Acho que é Luís Pinto.
Margarida – Mas eu vou ver no computador. Nós não temos aqui
Namércio Cunha – Mas mandas ao cuidado do Dr. João Santos, com o
conhecimento do Dr. Luís Pinto e do Eng. Vítor Batista.
Margarida – Pére aí… (pausa) Mando ao cuidado de
Namércio Cunha – Mandas para o… Dr. João Santos
Margarida – Ao cuidado dele?
Namércio Cunha – Com o conhecimento do Eng. Vítor Batista e do Dr. Luís
Pinto
Margarida – Vítor Batista, Dr. Luís Pinto (pausa) Luís Pinto
Namércio Cunha – Nós não temos… Ora vê aí nas comunicações… Houve uma
carta que ele nos mandaram a fazer prorrogação do contrato. Vê quem
assinou essa carta.
Margarida – Humm… Essa carta veio por…
Namércio Cunha – correio.
Margarida – Veio por correio? Nós não temos aqui nenhuma pasta da REN!
Namércio Cunha – Foi carta foi fax, agora também já não sei… Mas é uma
comunicação…
(pausa)
Margarida – Quem mandou a carta foi um… Geraldo Gonçalves, Geraldo
Gonçalves. Director … Director… da Contabilidade e Serviços Gerais. Agora…
andei aqui a ver e um deles tinha sido substituído…
(pausa)
Tava aqui a ver alguma coisa lá dos outros contactos, mas… (pausa) Dr. Luís
Oliveira? Não…
Namércio Cunha – Ah?
Margarida – Tá aqui um Dr. Luís Oliveira. Um fax já muito antigo…
Namércio Cunha – Não…

320
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Margarida – Não tem nada a haver…


(ouve-se em som de fundo, o som de folhear)
Não tem a certeza de ser daqueles… daqueles contactos, pois não?
Namércio Cunha – Quê?
Margarida – Não tem a certeza daqueles nomes?
Namércio Cunha – Manda então para esse Gervásio, nesse caso para esse com
conhecimento da Eng. Vítor Batista
Margarida – Então a outra listinha, então não mando?
Namércio Cunha – Não. Nem para o Santos.
Margarida – Não?
Namércio Cunha – Não.
Margarida – então mando ao cuidado do Dr. Gervásio. Com conhecimento…
Pére aí que me está a ligar o Sr. Godinho. Espere aí.
Margarida - Sim
Margarida - Sim
Margarida - Hoje não chegou nada por isso… Deixe me levar um mapa ao Sr.
Godinho… ele queria (imperceptível)
Namércio Cunha – Leva isso e leva cópia desse, desse texto para ele. Tira um
print e leva-lhe cópia disso.
Margarida – Ah… tá.
Namércio Cunha – Até já.

O JIC foi escrutinar e constata-se pois que o texto da minuta coincide


ipsis verbis com o fax enviado pela O2 no dia 25 de Maio e que consta nos
autos a fls. 27 do apenso AE 21. Exceptuam-se as duas indicações dadas por
Namércio Cunha a Margarida de colocar “empreiteiro” no lugar de “empresa
C.M.E.” e os locais onde se iriam realizar as obras – Lisboa e Porto.

Namércio Cunha dá indicações expressas para que seja enviado para


Gervásio (Gerardo) que foi quem assinou a carta de prorrogação do contrato,
com conhecimento ao Eng. Victor Baptista.

321
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

De seguida, Paulo Penedos liga a perguntar se já acedeu ao mail


(produto 7084 do alvo 38250PM, que abaixo se transcreve, na integra, para
melhor se alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final
efectuado pelo JIC/TCIC). Namércio diz que sim e que optava por não colocar
o nome do empreiteiro ao que Paulo Penedos diz que deixa isso ao seu
critério.

Dados do Produto

Número de produto do alvo 7084

Alvo 38250PM

ID de Intercepção 351938959707 (Namércio Cunha)

A chamar (Paulo Penedos)

Hora inicial 26/06/2009 17:54:33

Destinatário 351938959707(Namércio Cunha)

Namércio Cunha – Tou.


Paulo Penedos ? – Já recebeu?
Namércio Cunha – Já recebi.
Paulo Penedos ? – Pronto.
Namércio Cunha – Tá-se a ultimar p’ra se fazer seguir. Eu se calhar ia optar por
não discriminar o nome do empreiteiro… Dizia só que fomos contactados por
um empreiteiro…
Paulo Penedos ? – É pá… eu isso ao seu critério, meu caro amigo
Namércio Cunha – Pronto. Eu vou fazer seguir aquilo. Pronto… p’ra lá. Daqui
por um bocadinho tá a seguir.
Paulo Penedos ? – Pronto. Mas ponha a identificação das linhas para se
perceber o que é, não é?
Namércio Cunha – Sim, sim sim… isso vai, isso vai…
Paulo Penedos ? – Percebe?
Namércio Cunha – Vai feita a referência…
Paulo Penedos ? – OK.
Namércio Cunha – OK. UM abraço, obrigado, obrigado.

322
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Pelas 19h20, Namércio cunha diz que aquilo já seguiu (o fax foi recebido
às 18h07 do dia 25 de Maio de 2009) e que vão aguardar. Paulo Penedos
considera esquisito “como é que se pede…” ao que Namércio cunha diz que
“deve ter sido alguém por iniciativa própria”.

Paulo Penedos ainda incrédulo, pergunta se o contrato abrange aqueles


resíduos ao que Namércio Cunha responde positivamente. À pergunta feita,
Namércio Cunha informa Paulo Penedos que foi dirigido ao Eng. “Gervásio”,
porque foi ele que assinou a prorrogação do contrato e com conhecimento
“acima”, referindo – se ao Eng. Victor Baptista.

No dia seguinte, 26 de Maio, Paulo Penedos pergunta se já teve algum


“feedback”ao que Namércio Cunha responde que até ao momento nada, que
devem andar a indagar e que quando houver alguma coisa que lhe passa a
informação. (Produto 7261 do alvo 38250PM, que abaixo se transcreve, na
integra, para melhor se alcançarem os exactos fundamentos do juízo de
prognose a final efectuado pelo JIC/TCIC).

Dados do Produto

Número de produto do alvo 7261

Alvo 38250PM

ID de Intercepção 351938959707 (Namércio Cunha)

A chamar 966788386 (Paulo Penedos)

Hora inicial 26/05/2009 17:50:15

Destinatário 351938959707 (Namércio Cunha)

Namércio Cunha- Tou.


Paulo Penedos – Então, meu caro amigo?
Namércio Cunha- Tá tudo, ou quê? Desculpe lá estava aqui na Portucel, é
complicado, tou…

323
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Paulo Penedos – Não era só para saber se já tinha tido algum feedback
Namércio Cunha- Não, Nada, Niente. Até ao momento nada.
Paulo Penedos – Tá bem.
Namércio Cunha- Vamos ver, vamos aguardar. Aguardar… O pessoal é lento a
responder… Já devem andar lá a indagar… Vamos ver se amanhã já há alguma
resposta.
(pausa)
Paulo Penedos – Pronto, logo veremos.
Namércio Cunha- Se houver alguma coisa eu passo-lhe informação.
Paulo Penedos – OK. Ok. Vá então.
Namércio Cunha- Tchau. Até amanhã.

Já no dia 27 de Maio, Namércio Cunha informa Manuel Godinho que já


falou com Paulo Penedos e que “aquele fax” (fax 18h07 de 25.05.2009) está a
circular e estão a tentar saber mais pormenores sobre “aquilo”.

A resposta da REN ao fax enviado no dia 25 pela empresa O2 chegou


no dia 28 de Maio, também via fax, assinado pelo Dr. Gerardo Gonçalves, (fls.
28 do apenso AE 21). De imediato, Namércio Cunha envia a digitalização do
fax a Paulo Penedos e diz-lhe para ir ver a caixa de correio, pois
reencaminhou-lhe para lá a resposta que a REN enviou. (Produto 1543 do alvo
39263M, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se alcançarem os
exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado pelo JIC/TCIC).

PRODUTO Nº: 1543


DATA/HORA: 18:20:25 de 28/05/2009
INTERVENIENTES:
• DE – Namércio Cunha
• PARA – Paulo Penedos

PAULO PENEDOS – Sim?

324
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

NAMÉRCIO CUNHA – Sim Tá tudo bem ou quê?


PAULO PENEDOS – Atão? Tudo em ordem.
NAMÉRCIO CUNHA – Já viu o seu mail?
PAULO PENEDOS – Não.
NAMÉRCIO CUNHA – Vá la ver, que reencaminhámos, aí, a resposta da REN,
àquela…
PAULO PENEDOS – E é (imp.) má?
NAMÉRCIO CUNHA – Não é boa. Não é má.
PAULO PENEDOS – Não é boa?
NAMÉRCIO CUNHA – Não. É uma resposta defensiva da parte deles. Eles tão a, tão a
abrir o flanco pr’àquelas coisas.
PAULO PENEDOS – Essa é boa. Inda num tenho aqui. Inda…
NAMÉRCIO CUNHA – Num tem?
PAULO PENEDOS – Inda num tenho. Peraí qu’eu vou fazer um refresh.
NAMÉRCIO CUNHA – Atão, chegando ao escritório, eu verifico isso.
PAULO PENEDOS – Peraí, peraí, qu’eu vou fazer aqui um refresh.
NAMÉRCIO CUNHA – Tá bem.
Alguém diz em voz baixa – Paulo, Paulo.
PAULO PENEDOS – Não, inda num tenho. Mas, ehh, diga-me lá sinteticamente o que
é que eles dizem.
NAMÉRCIO CUNHA – Hã…
PAULO PENEDOS – Ah, peraí, peraí, peraí, peraí, peraí, peraí, peraí.
NAMÉRCIO CUNHA – Ai.
PAULO PENEDOS – Hã, tenho, tenho, Margarida. Eu tava à pó, à procura d’outra
coisa. Ora, então vamos lá ver. Hum, hum, hum, sim. Atão,
isto é verdade.
NAMÉRCIO CUNHA – Sim.
PAULO PENEDOS – Hã (imp.).
NAMÉRCIO CUNHA – Só tem que tar atento é qu’el, tão a dar aí um bocado o flanco,
num é? Comecem a…
PAULO PENEDOS – Hãã. Não, oh pá. Ehh, termina a 30 de Junho e vai ser renovado,
num é? Ehh, já foram consultados pá renovação disto?
NAMÉRCIO CUNHA – Não. (imp.) recebemos nada de…
PAULO PENEDOS – (imp.) opções pa obras, que são em 2010, não estando em
condições, não estando a ser pedidas pa serviços já

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

contratados! Pois. É, este elemento, se me tivesse dado aqui


este elemento de 2010, eh, eh, eh! Ehhhh, mas pronto. Ehh,
pronto, eles defenderam-se. Ehh, formalmente, formalmente
isto é assim. Ehh, pronto, mas, de facto aqui este elemento de
2010 tira-lhes o, tira-lhes o rabo da seringa, num é?
NAMÉRCIO CUNHA – Pois.
PAULO PENEDOS – Ehh, tira-lhes o rabo da seringa. Ehh, não, mas eu, eu num
preocupava co isto. Ehh, eu num me preocupava co isto.
NAMÉRCIO CUNHA – Ah, pronto. Ehh, pronto, eles tão-se a defender isso com 2010.
Eu agora, o, a m, a mim, só me deixa preocupado, é o
facto d’eles tarem a pensar nesses cenários, pó futuro,
num é? Portanto, é isso qu’acho que, hã, deve-se
analisar com atenção, deve-se ler, digamos, as
entrelinhas disso.
PAULO PENEDOS – Sim, oh pá. Ehh…
NAMÉRCIO CUNHA – Um bocado isso. E quem é que estará a despoletar essas
situações, num é?
PAULO PENEDOS – O…
NAMÉRCIO CUNHA – (imp.) só isso.
PAULO PENEDOS – O nós reagirmos, agora permite mostrar, mostrar essa
informação.
NAMÉRCIO CUNHA – Pois.
PAULO PENEDOS – E, e pronto.
NAMÉRCIO CUNHA – Ok.
PAULO PENEDOS – Ehh, e está…
NAMÉRCIO CUNHA – (imp.) estarmos atentos ós sinais.
PAULO PENEDOS – Tá bem. Ehh, e está, pronto, o, o que é engraçado, é, pronto, o
contrato terminar a 30 de Junho, e eles ainda não, inda num
terem dado, eh, nenhum passo no sentido da renovação,
num é? Isso é qu’eu tamém vou ver.
NAMÉRCIO CUNHA – A parte operacional disso, inda não tem, num sabe de nada?
PAULO PENEDOS – Pois.
NAMÉRCIO CUNHA – Num sabe o que é que vai acontecer?
PAULO PENEDOS – Pois.
NAMÉRCIO CUNHA – Ok.
PAULO PENEDOS – Ok. Atão vá.
NAMÉRCIO CUNHA – Reflita sobre isso. Tá?

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S. R.

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PAULO PENEDOS – Tá, tá.


NAMÉRCIO CUNHA – Tá, tá. Um abraço.

Enquanto está a ler o e-mail, i. e., o fax, Paulo Penedos diz-lhe que a
resposta corresponde à verdade. Ao ler “que o contrato termina a 30 de Junho”
Paulo Penedos continua e diz “ e vai ser renovado”, aproveitando para
perguntar se a empresa O2 já foi contactada, ao que Namércio Cunha
responde negativamente.

Paulo Penedos refere que Namércio Cunha não lhe deu esse elemento
“2010” e eles defenderam-se formalmente, porque isto é assim. Paulo Penedos
finaliza dizendo que se fosse ele não se preocupava.

Namércio Cunha realça, no entanto, que é preocupante no sentido de


que “eles, REN, estão a colocar esse cenário para o futuro” pelo que “se deve ler e
analisar com atenção”
Paulo Penedos considera “engraçado o contrato terminar a 30 de Junho e
eles ainda não ter dado nenhum passo no sentido da renovação”, tendo Namércio
Cunha retorquido que “a parte operacional ainda não sabe de nada, não sabe o que
vai acontecer”

Logo de imediato, Paulo Penedos liga novamente a Namércio Cunha e


pergunta “se nós, O2, tínhamos obrigação de saber se era para 2010”. Namércio
Cunha informa-o que não e que não estava especificado na consulta. Paulo
Penedos acabou por dizer que não vale a pena estarem a criar atrito com “os
gajos de baixo” (referindo-se aos quadros técnicos da REN, incluído
presumivelmente os directores).

Pergunta peculiar e é aquela que Paulo Penedos faz a Namércio Cunha


logo de seguida. “Este gajo é novo! Quem é?” referindo-se ao Dr. Gerardo

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Gonçalves, ao que Namércio Cunha refere que é o “que da última vez assinou o
prolongamento”
No dia seguinte, 29 de Maio de 2009, o departamento SGCS, através de
João Sandes e devido ao facto de:

 Se pretender abranger todo o grupo REN,

 Preparação da consulta se encontrar em fase embrionária,

 Se pretender elaborar uma nova metodologia de gestão de


resíduos que servirá de base ao caderno de encargos do concurso

 Existirem bastantes meios dos operadores dispersos por várias


instalações o que exige um procedimento faseado

sugere que sejam prorrogados os contratos com operadores de resíduos


(CESPA, O2, AUTO-VILA) até ao final do não de 2009.

Esta sugestão obteve a concordância superior de Luís Oliveira Pinto e


do director da divisão de sustentabilidade e sistema de gestão, Vicente Martins,
que foi consultado por iniciativa de Gerardo Gonçalves. Assim, submeteu a
proposta ao administrador Rui Cartaxo em 3 de Junho de 2009, que a autorizou
no dia 5 de Junho de 2009.

Fê-lo genericamente, sem definição dos exactos termos em que tal


deveria ocorrer, designadamente o seu âmbito.

E aqui entroncamos no art.º 1195º, o tal que foi referido no debate como
uma “vergonha” de forma assaz enfática e impressiva.
Não pode o JIC deixar de manifestar a propósito enorme perplexidade ,
face ao que escrutinou.

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Como veremos a seguir, Rui Cartaxo autorizou a prorrogação, mas nada


disse relativamente aos seus termos e âmbito. Também nem sequer o disse a
informação que lhe foi colocada para apreciação e autorização.

Aliás, o texto da informação solicitando a prorrogação apresentado


àquele administrador, não encontra coincidência no texto das missivas
enviadas pela REN aos operadores de resíduos manifestando a vontade de
prorrogação.

A maior das diferenças reside no facto de se manterem inalteradas as


condições em vigor - “Deste modo, dado que o contrato em vigor tem o seu
termo previsto para 30 de Junho de 2009, vimos solicitar o seu prolongamento
até 31 de Dezembro de 2009, mantendo-se todas as condições actualmente
em vigor.”

E este é um aspecto decisivo na demonstração do envolvimento de José


Penedos no processo de decisão, pois que corresponde ao teor e ao sentido
das intercepções telefónicas que decorreram entre 30 de Maio e 15 de Junho.

O que o JIC outrossim surpreendeu é que Manuel Godinho conseguiu


prolongar o contrato de gestão global de resíduos produzidos pela REN, nos
exactos termos anteriormente em vigor e regressar à gestão dos resíduos de
construção e demolição produzidos na obra da Subestação de Setúbal da
REN, quando as alterações legislativas introduzidas pelo Decreto-Lei n.º
46/2008 impunham que assim não sucedesse.

Advoga o requerente José Penedos que não se verificou qualquer


favorecimento da O2, pois que a prorrogação aconteceu para os três
operadores de resíduos.

329
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Mas na verdade não é assim, tanto quanto o JIC apurou.

Se relativamente aos demais resíduos não houve qualquer alteração


legislativa, já no que se reporta aos resultantes de obras de construção e
demolição, as alterações legislativas introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 46/2008
obstavam à prorrogação.

Contextualizemos a questão: O Decreto-Lei n.º 46/08, de 12 de Março,


introduziu modificações significativas na gestão dos resíduos de construção e
demolição, em cumprimento dos princípios enunciados no Código dos
Contratos Públicos.

Procurou criar condições para uma correcta gestão dos resíduos de


construção e demolição, privilegiando a prevenção da sua produção e da sua
perigosidade, o recurso à triagem na origem, à reciclagem e a outras formas de
valorização.

Neste enquadramento, a gestão dos resíduos de construção e


demolição foi entregue aos empreiteiros.

A REN adjudicou à “Abrantina” a realização de obras na Subestação de


Setúbal.

Concomitantemente, a “CESPA – Portugal, S.A.”, no âmbito da sua


parcela do contrato de gestão global dos resíduos produzidos pela REN,
subcontratou à O2 a gestão dos resíduos de construção e demolição relativos
àquela empreitada.

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Por força das alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 46/2008, a


Abrantina, enquanto empreiteira geral da obra, seguindo instruções da REN,
ordenou à O2 que abandonasse a obra.

Ao tomar conhecimento do sucedido, Manuel Godinho logo entrou em


contacto com Paulo Penedos que, por seu turno e de imediato, transmitiu o
problema a seu Pai.

Os produtos 11644, 11646, 11648, 11651, 11674, 11805 do Alvo


1T167PM; 2987, 2991, 3147, 3153, 3244 e 3245 do Alvo 39263M e 3482 do
Alvo 39263M elucidam quanto ao envolvimento de José Penedos no processo.

Quando foi espoletada pela Abrantina a situação supra descrita, achava-


se em discussão a prorrogação do contrato de gestão global de resíduos
produzidos pela REN celebrado com a O2.

Manuel Godinho manifestou perante Paulo Penedos, por diversas vezes,


o seu veemente propósito de ver prorrogado aquele contrato.

Tal desejo conheceu incremento substancial, no momento em que


Manuel Godinho soube das modificações significativas na gestão dos resíduos
de construção e demolição introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 46/08, de 12 de
Março.

Afinal, a gestão deste tipo de resíduos constituía cerca de 90% do


volume de negócios da O2 com a REN.

Manuel Godinho e Paulo Penedos discutiram pela primeira vez a


prorrogação do contrato de gestão global de resíduos produzidos pela REN

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celebrado com a O2 em 10 de Março de 2009 – produto 3669 do Alvo


1T167PM.

Viriam a retomá-la, em 25 de Maio de 2009, a propósito da alteração


legislativa introduzida pelo Decreto-Lei n.º 46/08, de 12 de Março – produtos
7051 e 7058 do Alvo 38250PM e 10354 do Alvo 1T167PM.

Nesse mesmo dia, (produto 10359 do Alvo 1T167PM) Paulo Penedos


abordou com o seu Pai o problema e, em 03 de Junho de 2009, a REN iniciou
o procedimento interno tendente à prorrogação do contrato.

Apenas e tão só após Manuel Godinho ter alertado Paulo Penedos para
a possibilidade da modificação do quadro legal poder bulir com o contrato de
gestão dos resíduos industriais produzidos pela REN, celebrado com a “O2”,
nomeadamente no que aos resíduos de construção e demolição se reportava,
é que a REN desencadeou, internamente, o processo de prorrogação.

Ainda que, em 05 de Junho de 2009, tenha havido autorização para a


prorrogação do contrato, o certo é que o foi genericamente, sem definição dos
exactos termos em que tal deveria ocorrer, designadamente o seu âmbito.

Entre esta data e 15 de Junho de 2009, ocasião em que foi


efectivamente formalizado o propósito da REN em prorrogar o contrato, foram
desenhados os contornos da prorrogação, designadamente a inclusão dos
resíduos de construção e demolição em clara e frontal ofensa à Lei.

O problema relacionado com as obras na Subestação de Setúbal


aconteceu a 08 de Junho de 2009.

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Nesse mesmo dia, Manuel Godinho telefonou a Paulo Penedos fazendo-


lhe ver a urgência na prorrogação do contrato de gestão dos resíduos
industriais produzidos pela REN.
Minutos volvidos, Paulo Penedos contactou telefonicamente o seu Pai,
dando-lhe conta da necessidade de consigo falar sobre os resíduos.

No dia 09 de Junho de 2009, Paulo Penedos contactou telefonicamente


José Penedos comunicando-lhe que lhe seria entregue, em mão, na sua
residência, uma carta sobre os resíduos.

No dia 12 de Junho de 2009, pelas 20h44, Manuel Godinho contactou


telefonicamente Paulo Penedos, ao que este lhe asseverou que o seu Pai
estava a controlar o processo relacionado com a prorrogação do contrato e as
implicações decorrentes da alteração legislativa - produto 3507 do Alvo
39263M, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se alcançarem os
exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado pelo JIC/TCIC.

PRODUTO Nº: 3507


DATA/HORA: 12/06/09 20:44:33
INTERVENIENTES:
DE – Manuel Godinho
PARA – Paulo Penedos

PAULO PENEDOS – Tou? Tou?


MANUEL GODINHO – Sim doutor?
PAULO PENEDOS – Pronto, meu caro amigo. Era só para lhe dizer que era a
última informação que tinha ficado de lhe dar…
MANUEL GODINHO – Sim.
PAULO PENEDOS – Em relação ao concurso, à renovação, eh… a pessoa não
estava… e ele diz que lhe parece que se calhar, se eles não
tiverem feito o trabalho, que ainda terá que ser
prorrogado mais uma vez, não é?
MANUEL GODINHO – Pois.

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PAULO PENEDOS – Eh… Porque ele acha muito estranho… porque ele no
último despacho dele…
* Ruído*

MANUEL GODINHO – É a minha esposa que está a falar, podes falar!


PAULO PENEDOS – Sim… não faz mal, não faz mal! Ele no último despacho
dele tinha dado orientações eh… no sentido das coisas
serem feitas a tempo, mas ele acha muito estranho que
estando a dia 15 eh… que não tenha saído a consulta, e
por isso ele diz que se calhar ainda vai ter que ser
prorrogado mais uma vez.
MANUEL GODINHO – Ah.
PAULO PENEDOS – Mas pronto, ele segunda-feira dá… já terá lá toda a gente,
porque hoje só ele é que estava na empresa. (Risos)
MANUEL GODINHO – Ai foi? É uma coisa impressionante.
PAULO PENEDOS – Isto é… (risos) Eu vim de propósito porque, pronto, porque
havia uma série de coisas que tinha que falar
pessoalmente e por isso eu… deixei a família em Coimbra
e vim… E ele era a única pessoa que estava a trabalhar.
Claro que a minha mãe tava pior que uma barata, não é?
(Risos).
MANUEL GODINHO – Pois.
PAULO PENEDOS – Mas ele tava-se nas tintas. Foi almoçar a casa a pé e só não
foi a pé prá REN outra vez porque eu lhe disse que tava
muito calor e que ele se podia sentir mal. Eh…
MANUEL GODINHO – Pois.
PAULO PENEDOS – E agora… O António Costa convidou-o para ir às marchas
de Lisboa…
MANUEL GODINHO – Ah!
PAULO PENEDOS – E ele pediu-me para eu lhe dar boleia. Eu disse que lhe
dava mas não deixei de lhe fazer a pergunta “então e o
teu motorista?” “Ópá, eu não quero pagar horas
extraordinárias”.
MANUEL GODINHO – Risos
PAULO PENEDOS – Risos
MANUEL GODINHO – É mesmo pirata!
PAULO PENEDOS – Risos
MANUEL GODINHO – Risos. Pois!

334
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PAULO PENEDOS – E… Pronto, é… é só para não se preocupar que ele está em


cima de… dos c…
MANUEL GODINHO – Mas aquilo da obra de Setúbal, o Namércio teve-me a
pintar um quadro um bocado negro.
PAULO PENEDOS – Não, não vale a pena armar…
MANUEL GODINHO – Porque é assim… porque é assim…
PAULO PENEDOS – Não vale a pena armar confusão!
MANUEL GODINHO – Não?
PAULO PENEDOS – A informação… a informação que deram ao presidente foi
que tinha havido uma alteração legal que determinava
que doravante, os resíduos de construção civil tinham que
ser recolhidos pelos construtores civis. Mas, ele tem que
ter uma informação escrita. O que ele disse foi: “não se
preocupem porque se isso for assim, como há um
contrato em curso, a empresa terá que ser compensada
de alguma maneira! Percebe?
MANUEL GODINHO – Mas em termos de futuro é uma chatice, não é?
PAULO PENEDOS – Não, se se confirmar… eh, mas eu também não estou a ver
como… eu também não estou a ver como é que se eh… dá
eh… a empreiteiros de obras de… pronto, no fundo de
obras públicas, não é, a responsabilidade de tratar
resíduos, não é?
MANUEL GODINHO – Não é tratar resíduos, saiu uma legislação…
PAULO PENEDOS – Sim?
MANUEL GODINHO – E os resíduos que pode… que possam ser aplicados na
obra, que sejam aplicados na obra.
PAULO PENEDOS – Ai a título de reciclagem, é?
MANUEL GODINHO – Exactamente.
PAULO PENEDOS – Ah… mas isso é uma coisa que os gajos vigaristas como são
vão dizer que é tudo!
MANUEL GODINHO – Não.
PAULO PENEDOS – Não?
MANUEL GODINHO – Pois, eles podem dizer, não… em princípio nós vamos
precisar de tudo e se não precisarmos fazemos o
encaminhamento e apresentamos o custo. Tas a
perceber?
PAULO PENEDOS – Pois, pois. Tem que se ver. Pronto, de qualquer maneira o
que eu lhe queria dizer era… é que o assunto está
agarrado… eh… o assunto está agarrado, ele está à espera

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porque veio-lhe uma primeira informação quer sobre esse


assunto, quer sobre o assunto da Central e não lhe
agradou a informação e ele mandou tudo para trás. Mas
disse “opá, hoje só eu é que tava a trabalhar e por isso
tive dificuldade em ter a informação toda. Segunda-feira
eh… terei o quadro completo”.
MANUEL GODINHO – Pois.
PAULO PENEDOS – Ok! Tá bem?
MANUEL GODINHO – Tá.
PAULO PENEDOS – Pronto, era só pra tar tranquilo que o assunto está
agarrado, tá bem?
MANUEL GODINHO – Tá, ok, ok!
PAULO PENEDOS – Tá.
MANUEL GODINHO – Tá.
PAULO PENEDOS – Um abraço.
MANUEL GODINHO – Um abraço.
PAULO PENEDOS – Obrigado, obrigado, obrigado.

No dia 15 de Junho, fruto de intervenção decisiva de José Penedos no


processo de decisão, como se diz na acusação, a REN prorrogou até 31 de
Dezembro de 2009 o contrato de gestão de resíduos industriais por si
produzidos celebrado com a “O2”, sendo certo que os resíduos de construção e
demolição gerados nas obras a cargo da REN continuaram a estar incluídos.

No dia 17 de Junho de 2009, pelas 20h52, Paulo Penedos contactou


telefonicamente Namércio Cunha, ao que este lhe transmitiu a prorrogação do
contrato e, bem assim, que, relativamente à obra da REN em Setúbal, tinham
sido contactados para efectuarem recolhas de resíduos de construção e
demolição.

Mutatis mutandis, configura-se um quadro de evidente coesão e


compromisso parentais, abordado ao longo da acusação, comungando José e

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S. R.

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Paulo Penedos de um mesmo desiderato – Satisfazer os interesses de Manuel


Godinho! - vide produto 9249, Alvo 38250PM, que abaixo se transcreve, na
integra, para melhor se alcançarem os exactos fundamentos do juízo de
prognose a final efectuado pelo JIC/TCIC.

Dados do Produto

Número de produto do alvo 9249

Alvo 38250PM

ID de Intercepção 351938959707 (Namércio Cunha)

A chamar 351938959707 (Namércio Cunha)

Hora inicial 17/06/2009 20:52:27

Destinatário 351966788386 (Paulo Penedos)

PAULO PENEDOS – Então senhor professor…


NAMÉRCIO CUNHA – Está tudo bem consigo, ou quê?
PAULO PENEDOS – Ah?
NAMÉRCIO CUNHA – Está tudo bem consigo ou quê?
PAULO PENEDOS – Tudo em ordem.
NAMÉRCIO CUNHA – Pode falar ou nem por isso?
PAULO PENEDOS – Força, força, força….
NAMÉRCIO CUNHA – Era só para lhe dizer que chegou hoje a carta de, de…
prorrogação do… do contrato.
PAULO PENEDOS – Ah… Ok!
NAMÉRCIO CUNHA – A… pronto eles dizem que no segundo semestre vão
fazer a consulta e a prorrogação do contrato é feita até final do ano… nesse sentido.
Entretanto lá da outra situação de Setúbal, entretanto voltaram-nos a pedir recolhas!
PAULO PENEDOS – Está a ver! (risos)
NAMÉRCIO CUNHA – Vamos ver…
PAULO PENEDOS – Já transmitiu ao chefe?
NAMÉRCIO CUNHA – Sim, sim. já tem conhecimento.
PAULO PENEDOS – Pronto…

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NAMÉRCIO CUNHA – Agora, entretanto, sei que estão a aparecer mais pedidos
de consultas de empreiteiros a pedir cotações para este tipo de resíduos, para obras de
2010.
PAULO PENEDOS – Pronto, então… se isso tem que ver com uma alteração
legal, temos que nos acomodar!
NAMÉRCIO CUNHA – Não, não tem a ver com alteração legal! Tem a ver… isto
depois é uma questão de opção da empresa, não é? Portanto a questão… o que
alterou… o que houve de alteração legal foi a classificação dos resíduos e a possibilidade
de reutilização de…
PAULO PENEDOS – Oh Dr. Namércio, oh Dr. Namércio, podemos falar
amanhã?
NAMÉRCIO CUNHA – OK.
PAULO PENEDOS – Então, falamos amanhã. Vá. Um abraço, um abraço.
NAMÉRCIO CUNHA – Um abraço. Adeus.

Conclui o JIC estar assim indiciado que a intervenção de José Penedos,


patrocinando e agindo no sentido da prossecução das petições de Manuel
Godinho, transmitidas pelo seu núncio Paulo Penedos, revelou-se
determinante.

Manuel Godinho não só logrou a prorrogação do contrato de gestão


global dos resíduos produzidos pela REN, como o conseguiu nos exactos
termos em que vigorava, não obstante as alterações na gestão dos resíduos de
construção e demolição introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 46/08, de 12 de
Março.

Mas, ainda há mais factos a referir.

Na sequência da prorrogação, a O2 regressou à gestão dos resíduos de


construção e demolição relativos às obras da Subestação de Setúbal da REN.

338
S. R.

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E fê-lo, para além do mais, porque caso contrário caberia à REN


indemnizá-la!

Com a prorrogação, a REN apenas poderia afastar a 02 da gestão dos


resíduos de construção e demolição mediante indemnização.

Por força das alterações legislativas introduzidas pelo Decreto-Lei n.º


46/08, de 12 de Março, a REN não devia ter prorrogado o contrato com a O2,
na medida em que a gestão dos resíduos de construção e demolição deixou de
ser um encargo seu!

Passou a caber aos empreiteiros a gestão de tais resíduos.

A REN ao ter prorrogado o contrato assumiu uma obrigação que já não


era sua e onerou-se duplamente.

Com efeito, o valor das empreitadas passou a contemplar os custos com


a gestão dos resíduos de construção e demolição, ao mesmo tempo que a
REN contratualizou com um terceiro a gestão de tais resíduos, com o
correspondente pagamento.

Equivale por dizer que a REN suportou a partir de então dois


pagamentos: um junto do empreiteiro e outro junto da O2.

E para uma mesma obrigação, a qual, curiosamente, não mais sobre si


impendia.

É patente que esta prorrogação, para além de ofender a lei, viola os


princípios de uma gestão racional, em termos económicos.

339
S. R.

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Acreditando nas qualidades de gestão dos quadros da REN e da sua


administração apenas o favorecimento da O2 emerge como explicação
plausível para tal prorrogação de contrato, que se mostrou prejudicial para os
interessasse da REN, é o que o JIC pode ter por indiciado.

Percebe-se a razão pela qual tal sucedeu - a gestão dos resíduos de


construção e demolição constituía cerca de 90% do volume de negócios da O2
com a REN - vide produto 3482 de 12 de Junho, Alvo 39263M, que abaixo se
transcreve, na integra, para melhor se alcançarem os exactos fundamentos do
juízo de prognose a final efectuado pelo JIC/TCIC.

PRODUTO Nº: 3482


DATA/HORA: 12/06/09 15:59:50
INTERVENIENTES:
DE – Paulo Penedos
PARA –. Manuel Godinho

**
(Ruído/ vozes de fundo) **

PAULO PENEDOS – Sim?


MANUEL GODINHO – Tou!
PAULO PENEDOS – Meu caro.
MANUEL GODINHO – Sim, sim, boa tarde!
PAULO PENEDOS – Tudo bem?
MANUEL GODINHO – Tudo!
PAULO PENEDOS – Ora bem, eh… depois de ter almoçado hoje com o nosso
presidente…
MANUEL GODINHO – Sim!
PAULO PENEDOS – E o prato principal foi os assuntos de vossa excelência…
MANUEL GODINHO – Sim.
PAULO PENEDOS – Eh… Só para dizer que… pronto, já lhe comuniquei que a
resposta à consulta eh… foi entregue terça-feira.
MANUEL GODINHO – Sim.

340
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

PAULO PENEDOS – E… e ele disse-me que a segunda parte da carta,


relativamente aos desmantelamentos metálicos e de
construção, vai ser decidida na próxima semana…
MANUEL GODINHO – Sim.
PAULO PENEDOS – E… e, em relação à… em relação à… à terceira questão que
era o contrato continuado eh…
MANUEL GODINHO – Sim.
PAULO PENEDOS – Pronto, eu comuniquei-lhe que ainda… que a empresa
ainda não tinha sido consultada para renovação do
contrato e ele ia ver, e disse que me dizia ainda hoje
qualquer coisa. E o quarto assunto, que era Setúbal, ele
disse que houve uma alteração legal, eh… que determinou
que tivesse que ser o… o empreiteiro da construção civil a
recolher os resíduos da construção civil, mas como isso
tem efeitos num contrato que já está em execução com
eh… a Cespa, não é? Que… vão encontrar uma forma de
compensar.
MANUEL GODINHO – Ok.
PAULO PENEDOS – Tá bem?
MANUEL GODINHO – Tudo bem, tudo bem.
PAULO PENEDOS – Pronto. Foi i… foi hoje o almoço foi só isso.
MANUEL GODINHO – Tá bem, ok.
PAULO PENEDOS – Tá bem?
MANUEL GODINHO – Tá. Atão diz-me alguma coisa hoje a respeito da outra
situação.
PAULO PENEDOS – Sim senhor.
MANUEL GODINHO – Tá, ok.
PAULO PENEDOS – Então vá, um abraço.
MANUEL GODINHO – Tá.
PAULO PENEDOS – Até logo.
MANUEL GODINHO – Até logo.

Mesmo contra legem havia que conservar perene a relação da 02 com a


REN.
E tal foi feito pela forma descrita.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Não obstante a entrada em vigor em Julho de 2008 de um novo regime


legal e do terminus do contrato celebrado com a O2 em Dezembro desse
mesmo ano, a REN “optou” por prolongar, por duas vezes, um contrato
absolutamente desajustado ao invés de iniciar, de imediato, um novo
procedimento concursal adequado às novas necessidades.

A reestruturação operada na REN findou em 2006, não sendo


explicação plausível para que, dois anos depois e face a alterações legislativas
entretanto ocorridas, não tivesse havido o lançamento de um novo
procedimento concursal.

Aliás, o procedimento concursal lançado pela REN com vista à


celebração de um novo contrato de gestão global dos resíduos por si
produzidos, excluiu expressamente a gestão dos resíduos de construção e
demolição.

A prorrogação nos exactos termos do contrato em vigor converteu-se,


para além do mais, numa compensação pelos prejuízos resultantes para a 02
do enquadramento legal decorrente do Decreto-Lei n.º 46/08, de 12 de Março,
relativamente aos resíduos de construção e demolição.

Com efeito, não fora esta prorrogação sem exclusão dos resíduos de
construção e demolição e a 02 veria o seu volume de negócios com a REN
reduzido em cerca de 90%.

É a esta garantia (qualificada, porque contratual) que se alude no


despacho judicial de fls. 12420 quando aí se refere “a verdade é que o contrato
acabou prorrogado até 31 de Dezembro de 2009 com a garantia para a O2 de

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S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

que seria compensada dos prejuízos eventualmente decorrentes da alteração


legislativa.”

Vejamos o teor das comunicações entabuladas e interceptadas a


este propósito:

No dia 30 de Maio, (produto 1836 do alvo 39263M, que abaixo se


transcreve, na integra, para melhor se alcançarem os exactos fundamentos do
juízo de prognose a final efectuado pelo JIC/TCIC) Dr. Paulo Penedos diz ao
seu pai, Eng. José Penedos que precisa de falar com ele ao que este responde
que vai para Abu Dhabi. Porém, Eng. José Penedos diz ao seu filho que
“apesar de ir para os Emirados Árabes Unidos, que está cá o pessoal da REN
que faz andar as coisas e que a REN não depende só dele”, querendo referir-
se ao Administrador Victor Baptista (as razões desta identificação acham-se
supra enunciadas no segmento relativo a Alto Mira. Paulo Penedos alega, no
entanto, a existência de uma relação de confiança (entre a O2 e José
Penedos).

PRODUTO Nº: 1836


DATA/HORA: 11:47:02 de 30/05/2009
INTERVENIENTES:
• DE – Paulo Penedos
• PARA – José Penedos

PAULO PENEDOS – Tou? Allô?


JOSÉ PENEDOS – Sim?
PAULO PENEDOS – Então?
JOSÉ PENEDOS – Tavas-me a chamar?
PAULO PENEDOS – Tava.
JOSÉ PENEDOS – Então?
PAULO PENEDOS – Tudo em ordem?

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

JOSÉ PENEDOS – Tá. Desligaste!


PAULO PENEDOS – Não!
JOSÉ PENEDOS – Ai não? Então diz.
PAULO PENEDOS – Era só pra…
JOSÉ PENEDOS – Também está constipado.
PAULO PENEDOS – Era só pa saber como é que estavam aí as tropas.
JOSÉ PENEDOS – Nós vamos sair agora pó casamento. O tal casamento, lá dos, dos
transmontanos.
PAULO PENEDOS – Ah, muito bem.
JOSÉ PENEDOS – É.
PAULO PENEDOS – Tá bem.
JOSÉ PENEDOS – E as meninas?
PAULO PENEDOS – Eh.
JOSÉ PENEDOS – A tua mãe é que está. Num se pode chegar à menina, num é?
PAULO PENEDOS – Não.
JOSÉ PENEDOS – Pois é.
PAULO PENEDOS – O, a Teresinha vai aqui a dormir. A Beatriz (imp.) co a Lina.
Brincar pa S. Silvestre.
JOSÉ PENEDOS – Ah!
PAULO PENEDOS – Muito bem.
JOSÉ PENEDOS – E a, e a Filipa?
PAULO PENEDOS – A Filipa vai aqui. Olha.
JOSÉ PENEDOS – Sim?
PAULO PENEDOS – Vocês no fim-de-semana dos feriados, p’onde é que vão?
JOSÉ PENEDOS – Qual é o fim-de-semana dos feriados?
PAULO PENEDOS – Nove, dez de Junho.
JOSÉ PENEDOS – Ah. Dez, eu tenho de estar no Algarve, por causa daquela história
das “seven wonder’s”.
PAULO PENEDOS – Ah. É verdade.
JOSÉ PENEDOS – E tenho d’ir lá jantar. Hã?
PAULO PENEDOS – Tá bem, já me tinhas (imp.).
JOSÉ PENEDOS – Dez, dez eu tenho d’ir lá jantar. Posso aproveitar pa ficar lá o onze
em baixo, ou não. Se tiver muito calor, não fico, a tua mãe não
aguenta.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

PAULO PENEDOS – Pois.


JOSÉ PENEDOS – Se vocês quiserem ir tamém passar esse fim-de-semana lá pra
baixo, digam-me. Porquê?
PAULO PENEDOS – Tá bem, logo se vê. Olha.
JOSÉ PENEDOS – Hum?
PAULO PENEDOS – Não, porque não sei, pronto, ainda. Não sei se, se vamos até à
Murtinheira, ou se vamos…
JOSÉ PENEDOS – Ora bem, porque não? A Murtinheira tá limpinha, tá tudo
impecável.
PAULO PENEDOS – Muito bem. Segunda nota.
JOSÉ PENEDOS – Hum, hum?
PAULO PENEDOS – Segunda nota. Eh, pá semana tás in Lisboa, ou tás…
JOSÉ PENEDOS – Estou no Abu Dhabi
PAULO PENEDOS – Quando é que vais?
JOSÉ PENEDOS – Abu Dhabi. Vou segun, vou terça de madrugada.
PAULO PENEDOS – Ah! Mas, domingo e segunda, domingo e segunda inda tás in
Lisboa?
JOSÉ PENEDOS – Oh Paulo. Domingo vou a Tonda, almoçar com o Carlos, com o,
com o Mário Loureiro.
PAULO PENEDOS – Sim senhor.
JOSÉ PENEDOS – A Tonda. Num sei onde é isso. Inda vou ver. Ehh, qu’ele acho
qu’inaugura lá a casa dos pais, ou num sei quê. Uma casa
que’ele reabilitou, pronto. Fez muita questão, a tua mãe acha
que devemos ir, e lá vou eu…
PAULO PENEDOS – Também acho que sim…
JOSÉ PENEDOS – Armado em parvo.
PAULO PENEDOS – Qu’ele é um bom amigo.
JOSÉ PENEDOS – Pronto. De maneira que lá vou. Isto é, isto é, domingo, num é? E
depois venho pra baixo. Ó fim do dia estou cá, ó fim do dia!
PAULO PENEDOS – Tá bem.
JOSÉ PENEDOS – Na segunda…
PAULO PENEDOS – E segunda…
JOSÉ PENEDOS – Eh pá, segunda num arranjes nada pra mim. Segunda é dia de
ponte.
PAULO PENEDOS – Não. Eh pá, era pa nós falarmos um bocadinho, só.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

JOSÉ PENEDOS – Eh pá, pois. Era pa falarmos um bocadinho, mas, eh, no dia de
véspera d’eu sair, que deve estar…
PAULO PENEDOS – Não. Então falamos amanhã.
JOSÉ PENEDOS – Tudo baralhado
PAULO PENEDOS – Vá. Falamos amanhã.
JOSÉ PENEDOS – Co aquele, co aquele desgraçado, daquele Ministro da Economia,
que faz uma, faz uma preparação de última hora, de coisas
destas. Eu inda num sei bem exactamente, o que é que é
preciso da REN. Tás a perceber?
PAULO PENEDOS – Sim senhor.
JOSÉ PENEDOS – Ah pois é! Sim senhor, mas é assim.
PAULO PENEDOS – Tá bem. Atão amanhã trocamos umas impressões, pá.
JOSÉ PENEDOS – Tá bem. Ó fim do dia.
PAULO PENEDOS – E depois, tás lá até quando?
JOSÉ PENEDOS – Até sexta.
PAULO PENEDOS – Pois. Tá bem. Ok.
JOSÉ PENEDOS – Vá.
PAULO PENEDOS – Tá bem. Atão vá. Um beijinho, beijinho.
JOSÉ PENEDOS – Mas tá cá, mas tá cá, ehh, o pessoal da REN que faz andar as coisas.
Num penses que…
PAULO PENEDOS – Tá bem, papá.
JOSÉ PENEDOS – Num penses que a REN, que depende só de mim.
PAULO PENEDOS – Ehh, ehh, ehh, ok.
JOSÉ PENEDOS – Tá.
PAULO PENEDOS – Atão vá. Mas a gente depois fala. Mas tá tudo bem.
JOSÉ PENEDOS – Óptimo.
PAULO PENEDOS – Mas a gente depois fala. Tá tudo bem…
JOSÉ PENEDOS – Amanhã.
PAULO PENEDOS – Porque, há uma relação de confiança. Mas, pronto!
JOSÉ PENEDOS – Amanhã.
PAULO PENEDOS – Ok. Vá, beijinhos, beijinhos.
JOSÉ PENEDOS – Até amanhã.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

No dia 3 de Junho, Paulo Penedos fala com o José Penedos que diz que
está no Dubai, (produto 2366 do alvo 39263M, que abaixo se transcreve, na
integra, para melhor se alcançarem os exactos fundamentos do juízo de
prognose a final efectuado pelo JIC/TCIC).

PRODUTO Nº: 2366


DATA/HORA: 13:17:09 de 04/06/2009
INTERVENIENTES:
• DE – José Penedos
• PARA – Paulo Penedos

PAULO PENEDOS – Sim, Sr. Engenheiro?


JOSÉ PENEDOS – Então, tá bom?
PAULO PENEDOS – Tudo bem. Eh, eh, eh!
JOSÉ PENEDOS – Dormiu bem?
PAULO PENEDOS – Dormi. Lá estivemos na saga de, resolver o problema da chave.
JOSÉ PENEDOS – A tua mãe tá-te muito agradecida.
PAULO PENEDOS – Oh! Não. Eu fiz o que tinha que fazer, pá. Atão, isso num há…
JOSÉ PENEDOS – Não. Eh pá. Pois, eu tamém acho qu’isso num tem dúvida
nenhuma, mas isso…
PAULO PENEDOS – Eh, eh, eh.
JOSÉ PENEDOS – Isto só é assim, isto só é assim…
PAULO PENEDOS – Isso num é, isso num é avaria nenhuma, pá. Atão, era o que
faltava.
JOSÉ PENEDOS – Não. Isto só é assim, porque eu, sou um gajo que tenho uma mania
de segurança, (imp.) trouxe a chave comigo. Porque desconfio
da forma como tratam as chaves lá em casa. E mais uma vez,
verificou-se essa porra.
PAULO PENEDOS – É.
JOSÉ PENEDOS – Tenho que resolver isso d’outra maneira qualquer. Olha, inda, inda
num me, d’apareceu a, a conta do alarme, da garagem.
PAULO PENEDOS – Não, porque, pronto, o senhor perguntou-me, ehh, não, não
sabia, não sabia, não sabia.
JOSÉ PENEDOS – (imp.) facturar? Ele num te facturou o teu?

347
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

PAULO PENEDOS – Ehhh, não. O meu já tava instalado.


JOSÉ PENEDOS – (imp.).
PAULO PENEDOS – O meu já tava instalado. Ó Fernando facturou directamente. Ehh,
e…
JOSÉ PENEDOS – Mas falta facturar o meu, pá.
PAULO PENEDOS – Tá bem, pronto. Mas ele vai tratar disso.
JOSÉ PENEDOS – Pronto. Tá bem. Oh Paulo, mas eu num gosto dessas confusões.
PAULO PENEDOS – Num é isso. Mas ele num tinha o teu número de contribuinte.
JOSÉ PENEDOS – Tá bem.
PAULO PENEDOS – E eu também num tenho. Ehhh…
JOSÉ PENEDOS – Dez.
PAULO PENEDOS – E num… Mas eu agora num posso, agora num posso…
JOSÉ PENEDOS – Ah, tá bem, tá bem.
PAULO PENEDOS – Tomar nota. Depois tratamos disso.
JOSÉ PENEDOS – Tás a almoçar?
PAULO PENEDOS – Não, não. Inda estou a trabalhar.
JOSÉ PENEDOS – Eu estou, eu estou hoje no Dubai.
PAULO PENEDOS – Tá bem. E tá tudo a correr bem?
JOSÉ PENEDOS – Oh Pá, digo-te uma coisa. Isto é, uma doideira. Isto é uma doideira.
Se dá aqui uma rabanada de vento, isto vai tudo abaixo, pá.
PAULO PENEDOS – Então?
JOSÉ PENEDOS – Oh pá, isto parece Nova Iorque, percebes?
PAULO PENEDOS – Sim.
JOSÉ PENEDOS – Mas é Nova Iorque feito aqui sobre a areia.
PAULO PENEDOS – Exactamente.
JOSÉ PENEDOS – Isto é, isto é uma coisa espantosa. Então, aqui, a ponte, hã, o
edifício mais alto do mundo, que está aqui em construção.
PAULO PENEDOS – Sim?
JOSÉ PENEDOS – Neste momento, estão a descobrir que está a inclinar. Ehhh…
PAULO PENEDOS – Ai é?
JOSÉ PENEDOS – Exactamente. Ehh, porquê? Ah, porque está assente, na tal de
areia, num é?
PAULO PENEDOS – Pois claro.

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S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

JOSÉ PENEDOS – Eh pá, isto é uma coisa. Os gajos num souberam ler, as, as
profecias, que diziam, aquelas coisas que diziam, “não construas
sobre areia”, num é?
PAULO PENEDOS – (imp.).
JOSÉ PENEDOS – Os gajos num lêm bem o, num lêm bem os, os, os testamentos de
Deus, num é?
PAULO PENEDOS – Eh, eh, eh!
JOSÉ PENEDOS – Os evangelhos e tal. Pronto. Ok, vá.
PAULO PENEDOS – Olha, só uma nota. E…
JOSÉ PENEDOS – Diz.
PAULO PENEDOS – E tens, tens falado co, Paulo Varela, não?
JOSÉ PENEDOS – Sim, sim. Não muito, qu’ele anda noutra, ele anda n’outra, n’outra,
caravana.
PAULO PENEDOS – Ai é?
JOSÉ PENEDOS – Nós temos, nós temos aqui várias especialidades, num é?
PAULO PENEDOS – Tá bem.
JOSÉ PENEDOS – A minha é uma caravana mais próxima, hã, do ministro, num é? Eu
tenho estado mais ou menos agarrado, mais perto ao Ministro
da Economia, num é? Tás a perceber?
PAULO PENEDOS – Tá bem.
JOSÉ PENEDOS – Pronto, mais perto…
PAULO PENEDOS – Mas tá a correr bem, num é?
JOSÉ PENEDOS – Mas tá a correr muito bem. Tá.
PAULO PENEDOS – Tá bem. Atão vá.
JOSÉ PENEDOS – (imp.) depois conto-te os pormenores. Qu’os pormenores tão, tão
deliciosos.
PAULO PENEDOS – Tá bem. Vocês vão votar, ehh, no domingo, num é?
JOSÉ PENEDOS – Vamos, vamos, claro.
PAULO PENEDOS – Tá bem, tá bem.
JOSÉ PENEDOS – Tá? Ok?
PAULO PENEDOS – Atão vá.
JOSÉ PENEDOS – Vá. Beijinhos, beijinhos.
PAULO PENEDOS – Tá. Beijinhos, beijinhos.

349
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

No dia 8 de Junho, chega ao conhecimento de Manuel Godinho que os


resíduos gerados numa obra da REN, em Setúbal, estão a ser geridos pela
empresa ABRANTINA o que vem confirmar o que já tinha sido falado aquando
do pedido de cotação da C.M.E.- Manuel Godinho liga a Paulo Penedos
(produto 11646 do alvo 1T167PM, que abaixo se transcreve, na integra, para
melhor se alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final
efectuado pelo JIC/TCIC) e transmite-lhe esta informação, dizendo-lhe que é
“uma situação grave” e “assim larga tudo, não está para ser gozado”.

PRODUTO Nº: 11646


DATA/HORA: 08/06/2009 16:59:42
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – PAULO PENEDOS - 966 788 386

PAULO PENEDOS – Então patrão.


MANUEL GODINHO – Sim.
PAULO PENEDOS – Tudo bem?
MANUEL GODINHO – Tá tudo. Ehhh...
PAULO PENEDOS – Desculpe lá que eu há bocado...
MANUEL GODINHO – Sim.
PAULO PENEDOS – ...o, tava a entrar numa reunião, e o e o Zeinal Bava começou a
falar de repente...
MANUEL GODINHO – Pois, pois.
PAULO PENEDOS – ...e eu tive que desligar, mas...
MANUEL GODINHO – Não há crise.
PAULO PENEDOS – Então?
MANUEL GODINHO – Ehhh...é pá, é o seguinte...ehhh, confirma-se aquilo que nós
tinhamos vindo a falar...ehhh, há uma obra em setúbal, que é a Abrantina que está
a fazer, que a está a fazer.
PAULO PENEDOS – Sim.
MANUEL GODINHO – Que está a fazer a gestão dos resíduos.
PAULO PENEDOS – A Abrantina.
MANUEL GODINHO – A Abrantina.

350
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PAULO PENEDOS – A Abrantina trabalha p’ra REN...


MANUEL GODINHO – Sim, ehhh, tá a fazer uma demolição e está a fazer a gestão
dos resíduos.
PAULO PENEDOS – Fo...
MANUEL GODINHO – Porque nós tínhamos lá um contentor e eles pediram a
retirada do contentor sem retorno.
PAULO PENEDOS – Tá bem.
MANUEL GODINHO – E isso é muito chato, não é.
PAULO PENEDOS – Tenho que ver, tenho que ver, tenho que falar...ehhhh, mas eu
agora só estou pessoalmente...ehhh, com ele...ehhh, nem sei quando é que estou
pessoalmente com ele. Que eu tou já outra vez a chegar a Coimbra...ehhh, mas eu,
eu trato disso, não se preocupe, eu trato disso, mas tem que ser, tenho que falar com
ele pessoalmente. Tá bem.
MANUEL GODINHO – Mas quando é que vais tratar?
PAULO PENEDOS – Ehhhh, é pá...
MANUEL GODINHO – Pois é.
PAULO PENEDOS – Tenho que...tenho que lhe perguntar quando é que ele...se ele
vem a Coimbra nestes feriados. Ehhhh, tenho que lhe perguntar...
MANUEL GODINHO – Pá...
PAULO PENEDOS – ...eu já lhe digo alguma coisa, tá bem, eu já lhe digo alguma coisa.
MANUEL GODINHO – Tu vê lá isso, porque... a situação num...
PAULO PENEDOS – Eu sei.
MANUEL GODINHO – ...é uma situação grave.
PAULO PENEDOS – Eu sei, eu sei, eu sei...eu já lhe digo...
MANUEL GODINHO – Portanto, é que se for assim, eu abdico de tudo e mando lixar
isto.
PAULO PENEDOS – Nãooo, ó chefe, calma.
MANUEL GODINHO – É pá...
PAULO PENEDOS – Calma.
MANUEL GODINHO – ...eu ser gozado é que não, ó...
PAULO PENEDOS – Nãoo, mas não é isso, ó pá...
MANUEL GODINHO – É que é muito chato...quer dizer, inicialmente pedem-nos o
contentor. Agora o empreiteiro pede a retirada do contentor sem retorno, e está a
fazer a gestão dos resíduos. Pá, p’ra isso não somos precisos p’ra nada.
PAULO PENEDOS – Calma, ok. Eu já, já lhe digo alguma coisa. Até já.
MANUEL GODINHO – Tá bem, ok, ok.

351
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Paulo Penedos diz-lhe para “ter calma” que “tem que falar pessoalmente
com ele”, talvez no fim-de-semana, quando for a Coimbra, mas que lhe vai ligar
para saber.
De seguida, Paulo Penedos liga ao seu pai e pergunta se nos feriados
(10 de Junho - dia de Camões e das comunidades portuguesas e 13 de Junho
feriado municipal de Lisboa) vai a Coimbra, ou fica em Lisboa.

Paulo Penedos diz-lhe que queria falar um bocadinho e lá “os nossos


amigos continuam a fazer patifarias ao nível da gestão de resíduos” mas que
depois logo falam porque “é um assunto que têm que falar pessoalmente”. José
Penedos confirma e diz “que não pode ser por este telefone”.

Às 17h04, (produto 2988 do alvo 39263M, que abaixo se transcreve, na


integra, para melhor se alcançarem os exactos fundamentos do juízo de
prognose a final efectuado pelo JIC/TCIC) Paulo Penedos diz a Manuel
Godinho que ele, José Penedos, vai para o Algarve e se pode esperar até dia
14 (de Junho), Manuel Godinho é peremptório: “É evidente que não!” “ é uma
situação muito chata” porque “o contrato acaba no dia 30 de Junho”. Mas Paulo
Penedos retruca “sim, mas vai haver novo contrato!”. Manuel Godinho
aconselha-o a ir a Lisboa (ele está em Coimbra) porque é uma situação grave.

PRODUTO Nº: 2988


DATA/HORA: 08/06/2009 - 17:04:31
INTERVENIENTES:
DE – Paulo Penedos
PARA – Godinho

GODINHO – Estou.
PAULO PENEDOS – Ele vai para o Algarve e eu só vou estar com ele Domingo,
dia 14. Podemos esperar até lá ou não?

352
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

GODINHO – Oh pá… é evidente que não! Eh pá… é que é muito chato, é uma
situação muito, muito chata… eh… e… pronto, se for assim eu desisto porque de facto
isso não tem… não faz sentido. Não é? O contrato acaba no dia 30 de Junho…
PAULO PENEDOS – Sim, mas depois vai haver novo contrato! Não é?
GODINHO – A…. oh pá…. Eu não sei! Eu acho que isto hoje é muito rápido, é
tudo muito perto, eu acho que deverias dar um saltinho lá, falar com ele para ver o
que é que se passa. Isso é uma situação grave. Não é? É que… pedem o contentor,
agora dizem para retirar o contentor sem retorno? Percebes? Estás a perceber a
situação?
PAULO PENEDOS – Eu estou a perceber mas…
GODINHO – Pronto, olha… vê lá a melhor maneira e… pronto…
PAULO PENEDOS – Não… eh pá… prontos, a… eh pá… eu acho que nós… a…
as coisas estão todas encaminhadas e esse tipo de…. a… de manobras que estão a
fazer não têm eficácia nenhuma em relação ao futuro que aí vem… a… Percebe? Eu sei,
ainda agora falei com ele. Eh pá…
GODINHO – Pois é, pronto… eu já mandei a CESPA reagir, a CESPA que reaja.
A CESPA que reaja! A… eh pá…
PAULO PENEDOS – É que as nossas coisas estão todas encaminhadas pá.
GODINHO – Pois é mas é que o problema, o problema é que os resíduos de
betão, os resíduos de betão faz parte do contrato da CESPA e nós fomos adjudicatários
da CESPA! Estás a perceber?
PAULO PENEDOS – Sim…
GODINHO – Pronto, ok. Olha, gere isso da melhor maneira que tu achares
melhor.
PAULO PENEDOS – Eles que reajam e o Dr. Namércio que me dê
conhecimento da reacção deles que é para eu dia 14 lhe mostrar pá!
GODINHO – Está bem, ok. Eu vou… eu vou dizer ao Namércio para tratar
disso.
PAULO PENEDOS – Que Terça… Quarta e Quinta é feriado, por isso se eles
reagirem amanhã, também… não é Sexta, porque ele está no Algarve… não é Sexta
que ele vai resolver… e eu Sábado á noite estou com ele já.
GODINHO – Está bem, ok, tá… eles que tratem. Ok… tá Paulo.
PAULO PENEDOS – Está bem?
GODINHO – ok… tá Paulo, continuação…
PAULO PENEDOS – Um abraço.

353
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Paulo Penedos assegura a Manuel Godinho que “as «nossas» coisas


tão todas encaminhadas e este tipo de manobras não têm eficácia nenhuma
para o futuro que aí vem”

Porém Manuel Godinho é bem claro e explica o problema: “os resíduos


fazem parte do contrato e a O2 é o adjudicatário da CESPA” e que já disse à
CESPA para reagir.

Paulo Penedos tem depois uma justificação para com Manuel Godinho
que o compromete a si e o seu pai, ao afirmar “que quarta e quinta é feriado,
por isso se eles reagirem amanhã, não é sexta porque ele está no Algarve, não
é na sexta que ele vai resolver…”

Ás 17h09, Paulo Penedos comunica a Manuel Godinho que “ele”, (o pai)


, ainda está no escritório nesse dia (8/6) e no dia seguinte (9/6) e que depois
vai estar no Algarve, sugerindo que uma vez que há um incumprimento
contratual e para que a empresa (REN) possa reagir, tem de enviar um fax, não
para os serviços mas directamente para o presidente do CA, cujos contactos
Namércio Cunha já possuía. Manuel Godinho diz-lhe que já apurou e quem se
está infiltrar na REN é o Grupo LENA e como está numa reunião pede que
ligue para Namércio Cunha.

Logo de imediato, Paulo Penedos liga para Namércio e fornece a


Namércio Cunha o nº de telefone directo da secretária do pai dele e o nome
dela (Anabela Moreira – 210013951, para que ele lhe ligue e peça o nº de fax).
Paulo Penedos explica a Namércio Cunha que o pai vai estar ainda a trabalhar
até ao dia seguinte (dia 9 de Junho) e que ele deve enviar um fax a explicar
“sem ser numa linguagem agressiva só com factos”, “que é para ele, (José
Penedos) intervir e pedir esclarecimentos”.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Namércio Cunha pergunta se tem que ser para ele, ao que Paulo
Penedos responde que “tem que ser, não há outra maneira de agir”. Namércio
Cunha questiona se essa será a melhor opção, pois não vale a pena fazerem
as coisas a quente e que da outra vez se enviou para as pessoas relacionadas
com o processo e responderam rápido. Refere que já teve conhecimento de
que houve saída de resíduos por outro operador pelo que Paulo Penedos diz
que a CESPA deve dar conhecimento ao seu interlocutor na REN com
conhecimento ao Eng. Victor Baptista que é o administrador do pelouro e
Namércio Cunha envia cópia para ele,. Cfr. Produtos 2990 e 2991 do Alvo
39263M, que abaixo se transcrevem, na integra, para melhor se alcançarem os
exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado pelo JIC/TCIC

PRODUTO Nº: 2990


DATA/HORA: 08/06/2009 - 17:11:32
INTERVENIENTES:
DE – Paulo Penedos
PARA –Namércio

NAMÉRCIO – Estou?
PAULO PENEDOS – Oh Dr. Namércio, bem disposto?
NAMÉRCIO – Está tudo. Então?
PAULO PENEDOS – Tudo bem.. eh pá… mas o senhor Godinho ligou-me agora
com uma situação desagradável, duma retirada de um contentor…
NAMÉRCIO – Sim…
PAULO PENEDOS – A… sem retorno e em violação, outra vez, do contrato,
não é?
NAMÉRCIO – Esta é que é um bocado concreto… o outro foi… são diferentes,
são situações diferentes.
PAULO PENEDOS – Pois… mas oh Dr. Namércio… você tem o telefone directo
da secretária do meu pai, não tem?
NAMÉRCIO – Não…
PAULO PENEDOS – Então tome nota se faz favor.
NAMÉRCIO – Espere aí então, espere aí… Ora diga.
PAULO PENEDOS – 210013951. Ela chama-se D.ª Anabela Moreira.

355
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

NAMÉRCIO – Sim…
PAULO PENEDOS – Pronto. Que ela… o meu pai ainda está hoje e amanhã a
trabalhar, não é? E o fax tinha que chegar entre hoje e amanhã de manhã, o mais
tardar…
NAMÉRCIO – Sim…
PAULO PENEDOS – Dirigido a ele, a explicar a situação, sem ser numa
linguagem agressiva, só com factos…
NAMÉRCIO – Claro, não é caso para linguagens agressivas…
PAULO PENEDOS – Não, não é isso. Pronto, só com factos a dizer passa-se
isto e isto e isto, pronto a descrever a situação que é para ele poder intervir e pedir
esclarecimentos.
NAMÉRCIO – Mas acha que é conveniente mandar directamente a ele?
PAULO PENEDOS – Tem que ser pá, não temos outra maneira de agir pá.
NAMÉRCIO – Pronto, não… eu só estou a dizer isto no sentido de…
PAULO PENEDOS – Tem que ser, tem que ser, tem que ser…
NAMÉRCIO – A… pronto… pronto. Então eu ligo só para a D.ª Anabela a pedir
o número de fax. Correcto?
PAULO PENEDOS – Fax para mandar… pronto, dirigido mesmo ao presidente.
NAMÉRCIO – Pronto, ok… está bem. Ok.
PAULO PENEDOS – Ou então manda para o Dr. Vítor Batista, com
conhecimento para ele.
NAMÉRCIO – Parece-me mais isso…
PAULO PENEDOS – A…?
NAMÉRCIO –Bem, parece-me mais isso… bem parece-me mais isso. Às vezes
não vale a pena fazer as coisas a quente e depois colocar as pessoas… porque, bem, é
assim, isto tem uma situação em que o operador directo nem somos nós…
PAULO PENEDOS – Eu sei, é a CESPA.
NAMÉRCIO – Pronto… a… portanto eu acho que se tem que se fazer já,
digamos, levantar já a situação… tem que ser que é para as pessoas intervenientes no
processo até ainda… isso vem no sentido contrário ao esclarecimento que nos deram
na outra vez, não é, portanto em que alguém tomou uma decisão inadequada, não é…
portanto… que é isso que importa responder já, não é, e levantar… a… Manda-se…
Prepara-se isto e acho que se deve fazer como da última vez que foi ao cuidado do
engenheiro Vítor, do engenheiro Vítor Batista, com conhecimento.. aliás, até foi ao
cuidado de outra pessoa com conhecimento dele e responderam rápido, são os
responsáveis directos no processo. Agora se entender que também se deve dar
conhecimento directo ao Presidente, tudo bem! Mas veja como é que… Pense nisso e
diga-me, está bem? Que eu entretanto…

356
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PAULO PENEDOS – A…
NAMÉRCIO – Estou? Estou?

PRODUTO Nº: 2991


DATA/HORA: 08/06/2009 - 17:16:25
INTERVENIENTES:
DE – Paulo Penedos
PARA –Namércio

PAULO PENEDOS – Estou, estou?


NAMÉRCIO – Sim…
PAULO PENEDOS – É assim, isto caiu! Se o contentor ainda lá está…
NAMÉRCIO – Não… o contentor ainda está lá. Nós não… nós… portanto,
recebemos indicações do empreiteiro mas a REN não nos deu ordens… as indicações
de ruptura. Portanto, directamente, a REN não disse isso. O empreiteiro é que está a
dizer isso, mas ele está a dizer isso baseado em instruções de alguém da REN.
PAULO PENEDOS – Pronto. Então vamos fazer assim…
NAMÉRCIO – Agora detectou-se, digamos pelas conversas, que já houve
saída de material.
PAULO PENEDOS – Que quê, que quê?
NAMÉRCIO – Que já houve saídas de material por outra operadora que não
era do contrato.
PAULO PENEDOS – Pronto mas é você que vai fazer isso ou é a CESPA?
NAMÉRCIO – É assim. Eu tenho que fazer… despoletar já a situação para a
CESPA…
PAULO PENEDOS – OK.
NAMÉRCIO – Que são eles os operadores desses resíduos, não é? Agora
aquilo que eu vou falar com a CESPA é que eles imediatamente reportem isto para
cima. Não significa que, paralelamente, não se possa levantar a situação, nós… mas eu
acho que aqui devia ser a CESPA, claramente, a levantar a situação… são eles o
operador destes resíduos.
PAULO PENEDOS – Então o operador que dê conhecimento a quem é o seu
interlocutor, com conhecimento ao engenheiro Vítor Batista que é o administrador do
pelouro e você depois manda para mim cópia.
NAMÉRCIO – Está bem, pois eu acho que é assim…
PAULO PENEDOS – Está bem?
NAMÉRCIO – Ok! Até já.

357
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Paulo Penedos liga, logo de seguida, (18h05) para o pai, José Penedos,
e diz-lhe que sugeriu ao cliente, empresa O2, que seguisse as “vias normais”
(as palavras são de Paulo Penedos…) e que quando tivesse acesso às
minutas técnicas lhe dava conhecimento. Mas que se trata de um
incumprimento contratual, desconhecendo se foi da iniciativa da REN ou do
empreiteiro. José Penedos pede ao filho para não o meter nisto, ao que Paulo
Penedos diz que vai ser pelas «vias normais». – cfr Produto 2994 Alvo
39263M, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se alcançarem os
exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado pelo JIC/TCIC.

PRODUTO Nº: 2994


DATA/HORA: 08/06/2009 - 18:05:02
INTERVENIENTES:
DE – Paulo Penedos
PARA – José Penedos

PAULO PENEDOS – Sim?


JOSÉ PENEDOS – Então diz.
PAULO PENEDOS – Pronto papá, eu já percebi o que é que era… a questão da gestão
de resíduos… a…. e sugeri ao meu cliente que seguisse as vias normais, pronto… a
colocação… tem que ver, tem que ver com uma coisa de retirada de contentores de um
empreiteiro… a empresa que Vexa dirige nem lhe disse nada. Por isso eu disse-lhe “Então
esclareçam as coisas pelas vias normais”. E depois quando eu tiver acesso às minutas
técnicas, depois, dou-te conhecimento.
JOSÉ PENEDOS – Está bem.
PAULO PENEDOS – Pronto, mas tem que ver… tem que ver… com alegado
incumprimento contratual mas pode ser o empreiteiro a tentar fazer uma habilidade

JOSÉ PENEDOS – Pois claro!
PAULO PENEDOS – … uma vez que a comunicação não é da empresa, é do
empreiteiro
JOSÉ PENEDOS – Pois claro! Pois… mas não me metas a mim nisso Paulo!

358
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PAULO PENEDOS – Não. É pelas vias normais da empresa, foi isso que eu
disse.
JOSÉ PENEDOS – É… os gajos estão-te a usar para uma coisa que não deviam
usar!
PAULO PENEDOS – Não pá. Têm que dar conhecimento ao advogado dele, de
violações contratuais que é o caso, ou alegadamente. Por isso tem que ser, não é?
JOSÉ PENEDOS – É… muito bem…
PAULO PENEDOS – Ai Jesus…
JOSÉ PENEDOS – Vá, até logo…
PAULO PENEDOS – E de resto, tudo a andar?
JOSÉ PENEDOS – Tudo a andar o quê?
PAULO PENEDOS – Reacções da malta!
JOSÉ PENEDOS – São reacções muito preocupadas…
PAULO PENEDOS – Ninguém estava a contar com uma coisa destas.
JOSÉ PENEDOS – Exactamente, exactamente. É, a surpresa é geral.
PAULO PENEDOS – Pois…
JOSÉ PENEDOS – E tu tens hoje alguma percepção do que se está a passar lá
na Comissão de Inquérito?
PAULO PENEDOS – Com o Constâncio?
JOSÉ PENEDOS – Sim.
PAULO PENEDOS – Não. Mas aquilo… oh pá, vamos lá ver uma coisa… aquilo
de dizerem que o Constâncio tem informação assim, assado, frito ou cozido, o
Constâncio é uma pessoa séria…
JOSÉ PENEDOS – Pois…
PAULO PENEDOS – …e antes de ir o Constâncio, acho eu, ainda tinha que ir o
administrador com pelouro da supervisão.
JOSÉ PENEDOS – Pois…
PAULO PENEDOS – E por isso a haver algum… a… menor cuidado com a
supervisão prudencial, o que eu não acredito, a… eh pá… porque é a mesma coisa
que… é a mesma coisa que as pessoas acusarem a polícia por certo tipo de burlas e
coisas que são feitas, quer dizer…
JOSÉ PENEDOS – Não, claro…
PAULO PENEDOS – … quer dizer, não podemos inverter aqui os papéis. A
supervisão tem os seus mecanismos de despistagem e de verificação…
JOSÉ PENEDOS – Sim, sim…

359
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PAULO PENEDOS – …a… por amostragem e por aí fora. Claro que quando
entramos no domínio de burlas qualificadas dessa dimensão não há…
JOSÉ PENEDOS – Tu estás sozinho em Lisboa, ou não?
PAULO PENEDOS – Não, eu já estive e agora já estou em Coimbra e vou
presidir, daqui a bocado, á Comissão Política Concelhia.
JOSÉ PENEDOS – Presidir?
PAULO PENEDOS – Sim. Eu é que presido à mesa!
JOSÉ PENEDOS – Ai é?
PAULO PENEDOS – É.
JOSÉ PENEDOS – Ai… não sabia.
PAULO PENEDOS – É…
JOSÉ PENEDOS – Então olha, felicidades.
PAULO PENEDOS – Que bem preciso, que dá-me ideia que…
JOSÉ PENEDOS – Exactamente.
PAULO PENEDOS – … dá-me ideia que o Henrique já está a patinar outra vez…
JOSÉ PENEDOS – Pronto, está bem.
PAULO PENEDOS – … isto é uma malta muito medrosa e…
JOSÉ PENEDOS – Exactamente.
PAULO PENEDOS – …e os resultados de ontem não ajudam a actos de
coragem.
JOSÉ PENEDOS – Não ajudam não. Beijinhos, até logo, até logo.

No produto 11643 do alvo 1T167PM, que abaixo se transcreve, na


integra, para melhor se alcançarem os exactos fundamentos do juízo de
prognose a final efectuado pelo JIC/TCIC, Namércio Cunha dá a conhecer a
Manuel Godinho de todas as movimentações com Paulo Penedos e refere que
vai dar um salto à CESPA e um dos assuntos que vai tratar é desta situação de
Setúbal, para que eles mandem para Lisboa. Acrescenta que não vão fazer
guerra directa mas que vão espoletar a situação.

360
S. R.

TRIBUNALPRODUTO
CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL
Nº: 11643
DATA/HORA: 08/06/2009 16:52:30
INTERVENIENTES:
NUIPC: 362/08.1JAAVR
• DE – Manuel Godinho
• PARA – NAMÉRCIO CUNHA - 938 959 707

NAMÉRCIO CUNHA – Sim.


MANUEL GODINHO – Tou?
NAMÉRCIO CUNHA – Sim.
MANUEL GODINHO – O que é que se passa com um obra de Setúbal...dos
(imperceptível).
NAMÉRCIO CUNHA – Ehhhmm, prontos...o que se passa é...o que se passa... é que
pronto. Há lá...viemos a saber de que a empresa...o empreiteiro que está lá, que
é...ehhh
MANUEL GODINHO – A Abrant...
NAMÉRCIO CUNHA – ... a Abrantina...que, terá recebido indicações para...para
encaminhar os resíduos por conta deles...
MANUEL GODINHO – Sim.
NAMÉRCIO CUNHA – Ehhhh...prontos. Esse é o que se detectou. Nós temos lá um
contentor para os resíduos de construção. Ehhhh...o pedido que nos foi feito, foi
para ir lá recolhê-lo como de substituição, portanto, no entanto, lá o homem da
Abrantina, ehhh...pronto, até está a pedir para recolher sem substituição, mas nós
não fizemos isso.
MANUEL GODINHO – Está a pedir para recolher.
NAMÉRCIO CUNHA – Sem substituição.
MANUEL GODINHO – Ai é?
NAMÉRCIO CUNHA – Em que...nos disse que o ... pronto, que oooo... os resíduos
sairiam por eles. Agora, pronto...ehhhh, vai-se fazer...eu vou num instante dar um
salto à CESPA...para tratar dos dois assuntos, um dos quais é este. E ehhh,
entretanto, acho que nós...ehhh, pronto, porque isto é...tem de ser via... o Canal (ou
Candal) tem de saber através deles. Não é? Nós enviamos...o que eu sugeria,
enviarmos uma...já uma comunicação à CESPA...a dizer que fomos confrontados com
esta situação, pelo que...agradecemos esclarecimentos. Não é? Para eles mandarem
isto para...p’ra Lisboa.
MANUEL GODINHO – Pois. Pois.
NAMÉRCIO CUNHA – Agora....isto agora já vai em contrário à última informação
que nos deram, mas pronto, não vamos fazer guerra directa, mas vamos despoletar
a situação.
MANUEL GODINHO – É fazer isso já.
NAMÉRCIO CUNHA – Tá bem.
MANUEL GODINHO – E é muita quantidade, não é?

361
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

NAMÉRCIO CUNHA – É pá, em principio de lá vai sair um bocado. Vai sair um bocado
de material, né. Eles vão lá desmantelar aquilo, ehhh...Mas eu, eu vou agora, eu vou
à CESPA.
MANUEL GODINHO – Já mandas-te os preços...os preços da...do...da...do que tratas-
te hoje...da (imperceptível).
NAMÉRCIO CUNHA – Tá afixado. Já tive com um...uma das pessoas envolvidas,
também para saber o que é que tenho que fazer e agora vou estar lá com os outros
que é para estar tudo alinhado. E a nossa...eu, a nossa já deixo lá amanhã.
MANUEL GODINHO – Já deixas amanhã, como? A proposta já devia lá estar hoje, pá.
NAMÉRCIO CUNHA – Tá...
MANUEL GODINHO – A proposta já deveria lá estar hoje, pá. Tu tens...tens que me
ver uma pessoa. É pá, tou a ver que isso tem que passar outra vez para as mãos do
(imperceptível). É que vocês demoram muito tempo a fazer qualquer coisa. É pá, eu
discordo com isso.
NAMÉRCIO CUNHA – Óó.
MANUEL GODINHO – Isso já deveria...não é ó Namércio.
NAMÉRCIO CUNHA – A questão é que...
MANUEL GODINHO – Isso...
NAMÉRCIO CUNHA – ...a questão é...desculpe lá, ó senhor Godinho. A questão não
está na produção. O papel está feito, isso é o mais fácil.
MANUEL GODINHO – Óóó, foda-se.
NAMÉRCIO CUNHA – Isso é o mais fácil, está feito.
MANUEL GODINHO – Ó, foda-se. Ai, c’um caralho...eu tou fodido com estes gajos.
NAMÉRCIO CUNHA – Tá, tá resolvido.
MANUEL GODINHO – Pá, essa merda, pá. Vocês têm que dar a volta, vocês levam à
falência essa merda de um momento p’ró outro. Se eu tiver de fechar os olhos, vocês
fodem essa merda toda em cinco tempos. Vocês não podem andar a fazer esse tipo
de coisas, pá. É só problemas, eu vejo as coisas a fugirem, a fugirem todos os dias,
todos os dias são casos.
NAMÉRCIO CUNHA – Humm.
MANUEL GODINHO – Percebe?
NAMÉRCIO CUNHA – Sim. Esse processo tá fechado. Só falta...só quero ir falar ...ao
Porto, que é para estar tudo em sintonia. Que é para as coisas correrem bem.
MANUEL GODINHO – Quando é que a proposta lá entra?
NAMÉRCIO CUNHA – Amanhã tá lá.
MANUEL GODINHO – Pronto...
NAMÉRCIO CUNHA – Entra em mão...

362
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – ... amanhã quero fazer o ponto da situação e quero saber
como é que está a proposta. Ok?
NAMÉRCIO CUNHA – Tá bem. Amanhã tá entregue. Tá.
MANUEL GODINHO – Tá, tá, tá, tá.
NAMÉRCIO CUNHA – Tá, até já.

Paulo Penedos informa também Manuel Godinho que já falou com


Namércio Cunha e que já combinaram o que vão fazer: a CESPA vai reagir
para o director, e administrador do pelouro, com conhecimento a Paulo
Penedos e que ele dará conhecimento ao presidente da empresa; sendo um
caso de incumprimento contratual, portanto, um caso jurídico, pode ser tratado
ao telefone. (produto 11674 do alvo 1T167PM, que abaixo se transcreve, na
integra, para melhor se alcançarem os exactos fundamentos do juízo de
prognose a final efectuado pelo JIC/TCIC).

PRODUTO Nº: 11674


DATA/HORA: 08/06/2009 20:11:05
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – PAULO PENEDOS - 966 788 386

PAULO PENEDOS – Meu caro amigo.


MANUEL GODINHO – Tou.
PAULO PENEDOS – Meu caro. Peço desculpa de o estar a maçar.
MANUEL GODINHO – Não, não.
PAULO PENEDOS – Não sei se o Doutor Namércio lhe disse...era só para dizer,
pronto... que nós combinámos então, ter acesso à reagir...
MANUEL GODINHO – Sim.
PAULO PENEDOS – Reage, reage p’ró Director e p’ró Administrador do pelouro...
MANUEL GODINHO – Pois.
PAULO PENEDOS – ...e ele dá-me conhecimento a mim e eu entretanto mostro ao
Presidente da empresa.

363
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Tá ok.


PAULO PENEDOS – Pronto. Está combinado, tá bem. E eu já falei com ele e...só
preciso depois de ter os elementos, ehhh...pronto, como é um caso de violação
contratual.
MANUEL GODINHO – Pois.
PAULO PENEDOS – E é um caso jurídico, pode ser tratado mesmo ao telefone.
MANUEL GODINHO – Tá bem, ok.
PAULO PENEDOS – Tá bém?
MANUEL GODINHO – Tá.
PAULO PENEDOS – Pronto, era só para lhe dar conhecimento. Tá bem?
MANUEL GODINHO – Tá, ok, ok.
PAULO PENEDOS – Vá, um abraço.
MANUEL GODINHO – Tá. Um abraço.
PAULO PENEDOS – Calma, calma...
MANUEL GODINHO – Até amanhã.

No dia seguinte, 9-6-2009, pelas 11h02, é recebido na REN um fax


proveniente da CESPA (Mónica Gandra) dirigido ao Dr. Gerardo Gonçalves,
com conhecimento ao Eng. Victor Batista, conforme fls. 12385 dos autos
principais, intitulado “Gestão de resíduos – subestação de Setúbal”.

Paulo Penedos diz ao pai que a Juliana vai levar uma carta relacionada
com o assunto de ontem, ou seja, a situação de incumprimento contratual de
Setúbal. (produto 3147 de alvo 39263M) facto que é transmitido a Manuel
Godinho, tendo Paulo Penedos acrescentado que foi entregue em mão e que
6ª feira (12/06/2009) já terão notícias. (produto 11805 do alvo 1T167PM e 3153
do alvo 39263M, que abaixo se transcrevem, na integra, para melhor se
alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC).

364
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PRODUTO Nº: 11805


DATA/HORA: 09/06/2009 12:59:09
INTERVENIENTES:
• DE – PAULO PENEDOS – 966 788 386
• PARA – Manuel Godinho

PAULO PENEDOS – Tou.


MANUEL GODINHO – Sim.
PAULO PENEDOS – Boa tarde. Tudo bem?
MANUEL GODINHO – Olá, tudo.
PAULO PENEDOS – Pronto. É só p’ra dizer que está... impressa a carta e que está
entregue...em mão.
MANUEL GODINHO – Pois. Ok.
PAULO PENEDOS – Tá bem?
MANUEL GODINHO – Tá bem.
PAULO PENEDOS – Pronto.
MANUEL GODINHO – Tá, ok.
PAULO PENEDOS – Em princípio sexta feira já estaremos no sitio. Tá bem?
MANUEL GODINHO – Tá bem, tá bem, ok. Vá...
PAULO PENEDOS – Então vá. Um abraço, obrigado.

PRODUTO Nº: 3153


DATA/HORA: 09/06/2009 - 13:19:12
INTERVENIENTES:
DE – Paulo Penedos
PARA – Juliana/José Penedos

JULIANA
– Tou?
PAULO PENEDOS – Então?
JULIANA – Já está aqui o teu pai. Apanhei…
PAULO PENEDOS – Já lhe entregaste?
JULIANA – Já! Já lhe entreguei. Achas que ia ficar com o papel?
PAULO PENEDOS – Pronto, então passa lá a ele?
JOSÉ PENEDOS – Sim?
PAULO PENEDOS – Pronto Zéquinha, já aí tens isso.

365
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

JOSÉ PENEDOS – Oh pá, não sejas chato. Deixa-me comer.


PAULO PENEDOS – Beijinhos.
JOSÉ PENEDOS – Até logo, beijinhos e bom almoço.

Pelas 20h00, Paulo Penedos liga ao pai (produto 3244 alvo 39263M, que
abaixo se transcreve, na integra, para melhor se alcançarem os exactos
fundamentos do juízo de prognose a final efectuado pelo JIC/TCIC) e percebe-
se que este recolheu informação sobre o assunto, pois afirma que “tem um
primeira reacção – recebeu logo um feedback – e tem a haver com uma
alteração da legislação dos resíduos de construção civil - resulta da entrada em
vigor do DL 46/2008 de 12 de Março, nomeadamente por força do art. 10º
“Plano de prevenção e gestão de RCD” em obras públicas - e portanto essa
resposta vai ser dada oficialmente e por escrito e pelos vistos existem
condições legais para isso ser aplicado”.

PRODUTO Nº: 3244


DATA/HORA: 09/06/2009 - 20:01:05
INTERVENIENTES:
DE – Paulo Penedos
PARA – José Penedos

Mãe de PAULO PENEDOS – Sim?


PAULO PENEDOS – Então dona Luvínia?
Mãe de PAULO PENEDOS – Olá meu querido filho, tudo bem contigo?
PAULO PENEDOS – Bem disposta?
Mãe de PAULO PENEDOS – Tou sim senhor, e tu amor?
PAULO PENEDOS – Atão já tão a caminho do Algarve?
Mãe de PAULO PENEDOS – Ah? Não filho, amanhã temos o casamento às
quatro da tarde e depois é que seguimos.
PAULO PENEDOS – Casamento de quem?
Mãe de PAULO PENEDOS – Da filha do Brito Almas. Vamos só à igreja…

366
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PAULO PENEDOS – Ah!


Mãe de PAULO PENEDOS – Que é aqui em Lisboa e depois seguimos, já
avisamos, não é?
PAULO PENEDOS – Tá bem.
Mãe de PAULO PENEDOS – Atão e as meninas, as mulheres?
PAULO PENEDOS – Tamos aqui e viemos jantar.
Mãe de PAULO PENEDOS – Ah muito bem! O teu pai também já está a jantar.
PAULO PENEDOS – Tá bem.
Mãe de PAULO PENEDOS – Sozinhinho, enquanto eu… a Vanessa meia a
dormir e eu a ouvir novamente a gravação que o teu pai não tinha ouvido o princípio
do… do presidente do Banco de Portugal. É pá… foi um massacre, Paulo. Aquele gajo…
PAULO PENEDOS – O Constâncio?
Mãe de PAULO PENEDOS – Aquele gajo do PC, então… o pai tá convidado lá
para ir às marchas e…. e meteu-me também ao barulho!
PAULO PENEDOS – Ai é?
Mãe de PAULO PENEDOS – É, queria ficar em casa sossegadinha mas…
ninguém, ninguém me dá!
PAULO PENEDOS – Muito bem! Quando é que são as marchas? Sábado?
Mãe de PAULO PENEDOS – São sexta. Não é sexta, as marchas?
PAULO PENEDOS – Ai sexta.
Mãe de PAULO PENEDOS – Exacto. Não queres vir? Vais com o teu pai?
PAULO PENEDOS – (Risos)
Mãe de PAULO PENEDOS – Não te esqueça que o nosso menino faz anos no
Domingo.
PAULO PENEDOS – Sim, nós vamos. Ou… ou vamos sexta, dependendo do
tempo, ou vamos sexta ou vamos sábado.
Mãe de PAULO PENEDOS – Pois, tá bem…
PAULO PENEDOS – Tá bem?
Mãe de PAULO PENEDOS – Tá.
PAULO PENEDOS – Então passa aí ao pai.
Mãe de PAULO PENEDOS – Eu vou passar. (Ó meu querido, o teu rico filhinho
tá aqui). Beijinho para as meninas todas.
* Ruído de fundo*
JOSÉ PENEDOS – Sim?
PAULO PENEDOS – Então vais marchar na sexta?

367
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

JOSÉ PENEDOS – Marchar como?


PAULO PENEDOS – Vais nalguma escola de samba?
JOSÉ PENEDOS – Oh pá, eu estou apenas a aceder ao convite de Sua
Excelência o Presidente…
PAULO PENEDOS – Muito bem. Fazes bem.
JOSÉ PENEDOS – … que me convida para ir lá para a tribuna.
PAULO PENEDOS – Fazes bem, fazes bem.
JOSÉ PENEDOS – Deve ter algum pedido para me fazer!
PAULO PENEDOS – (ri-se)… não sejas assim. Nós vamos sexta, em princípio
vamos sexta.
JOSÉ PENEDOS – Então se vierem atempo, se algum de vocês quiser ir
comigo, que a mãe não quer ir comigo!
PAULO PENEDOS – Não. Vão vocês, vão vocês, que a Teresinha ainda é muito
nova para ir para as marchas.
JOSÉ PENEDOS – Não, a Teresinha não é… eu não estou a convidar a
Teresinha para ir para as marchas…
PAULO PENEDOS – Só se fosse a tua neta Beatriz…
JOSÉ PENEDOS – A Beatriz também não é… a idade ainda para ir para as
marchas. A Beatriz não tem idade para ir para marchas! Deixa-a crescer que ela depois
vai ter muito tempo para ir a marchas.
PAULO PENEDOS – Então vá, olha viste aquilo ou ainda não?
JOSÉ PENEDOS – Sim. Tenho uma primeira reacção àquilo…
PAULO PENEDOS – Sim…
JOSÉ PENEDOS – … que tem a ver com a alteração da legislação sobre
resíduos de construção civil. E portanto essa resposta vai ser dada oficialmente, por
escrito.
PAULO PENEDOS – Está bem, está bem…
JOSÉ PENEDOS – Mas pelos vistos existem condições legais para isso ser
aplicado. Eu é que já sou um rapaz velho e não ligo nada a isso.
PAULO PENEDOS – Claro…
JOSÉ PENEDOS – Mas recebi logo um “feedback” de que isso era assim mas
ia ser respondido.
PAULO PENEDOS – Muito bem…
JOSÉ PENEDOS – Está bem?
PAULO PENEDOS – Está bem. Depois então, contas mais em pormenor.
JOSÉ PENEDOS – Tá.

368
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PAULO PENEDOS – Então vá. Beijinhos.


JOSÉ PENEDOS – Beijinhos, até mais logo.

Na conversa seguinte, resulta evidente que José Penedos recebeu a


informação de Victor Baptista, não podendo esclarecer a dúvida do filho sobre
se essa alteração legal determina a entrega ou a retirada do trabalho uma vez
que falara com Victor Baptista e ele não estava em condições de lhe dar mais
informação porque tinha que ir para o Porto (produto 3245 do alvo 39263M,
que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se alcançarem os exactos
fundamentos do juízo de prognose a final efectuado pelo JIC/TCIC).

PRODUTO Nº: 3245


DATA/HORA: 09/06/2009 - 20:14:48
INTERVENIENTES:
DE – Paulo Penedos
PARA – José Penedos

JOSÉ PENEDOS – Tou?


PAULO PENEDOS – Olha… só uma coisinha. Só um esclarecimento para ver se
eu percebi o que tu me disseste. Essa alteração legal determina a entrega do trabalho
ou a retirada do trabalho?
JOSÉ PENEDOS – Oh Paulo… só recebi uma informação…
PAULO PENEDOS – Com uma alteração legal…
JOSÉ PENEDOS – … à saída do Vítor Batista. Não sei se ele estava em
condições de me informar mais completamente sobre o assunto por uma razão. Ele
próprio estava a sair para o Porto, tinha de ir de carro porque não havia aviões…
PAULO PENEDOS – A sério?
JOSÉ PENEDOS – Foi hoje decretada uma greve da Portugália que afectou os
voos do fim do dia. E portanto eu não tive…
PAULO PENEDOS –Ah… ok, ok.
JOSÉ PENEDOS – Não estive a insistir com ele.
PAULO PENEDOS – Está bem, está bem.
JOSÉ PENEDOS – Na sexta-feira logo vemos isso.

369
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PAULO PENEDOS – Está bem. Olha, então só mais uma notinha. Então tu
sexta à noite vais para as marchas mas depois Sábado estão lá… estão lá em casa.
JOSÉ PENEDOS – Estamos cá em casa. Sábado é feriado, é dia de Santo
António em Lisboa!
PAULO PENEDOS – Então vá. Então não se comprometam para almoçar no
Sábado.
JOSÉ PENEDOS – Vá, beijinhos.
PAULO PENEDOS – Beijinhos.

No dia 12 de Junho de 2009, pelas 16h00 (produto do alvo 3482 do alvo


39263M, supra transcrita) na sequência da conversa que teve com o pai, Paulo
Penedos diz a Manuel Godinho que teve a falar a almoçar com ele e o tema foi
só assuntos de Manuel Godinho. Entre outros assuntos, Paulo Penedos
transmite-lhe que em relação à terceira questão que era o contrato continuado
lhe disse que a empresa ainda não tinha sido consultada e que ia ver isso e lhe
daria uma resposta hoje (12-06-2009). “Sobre Setúbal houve uma alteração
legal que determinou que tivesse que ser o empreiteiro da construção civil a
recolher os resíduos, mas como isso já tem efeitos num contrato que já está
em execução com a CESPA vão encontrar uma forma de compensar.” - Pronto,
eu comuniquei-lhe que ainda que a empresa ainda não tinha sido consultada
para renovação do contrato e ele ia ver, e disse que me dizia ainda hoje
qualquer coisa. E o quarto assunto, que era Setúbal, ele disse que houve uma
alteração legal, eh .. que determinou que tivesse que ser o ... o empreiteiro da
construção civil a recolher os resíduos da construção civil, mas como isso tem
efeitos num contrato que já está em execução com eh ... a Cespa, não é? Que
vão encontrar uma forma de compensar.” – Os referidos moldes contra-
legem em que foi determinada a prorrogação do contrato foram a forma
de compensação encontrada!

370
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Pelas 20h45, (produto 3507 do alvo 39263M, supra transcrita) tal como
tinha prometido, Paulo Penedos liga a Manuel Godinho e transmite-lhe que em
relação ao concurso à renovação, o seguinte:

“A pessoa não estava mas parece que se ainda não tiverem feito o
trabalho terá de ser prorrogado mais uma vez, porque ele (José Penedos) acha
muito estranho porque no último despacho dele tinha dado orientações para
que as coisas fossem feitas a tempo e acha muito estranho que estando a dia
15 não tenha saído a consulta por isso ele diz que, se calhar ainda vai ter que
ser prorrogado mais uma vez.”

Da análise da conversa, podemos concluir que Paulo Penedos quando


falava “no despacho dele” se estava a referir à decisão do conselho de
administração de 7-10-2010, constante a fls. 166 e 167 do apenso AE1, em faz
menção que os termos do concurso deveriam estar prontos até Abril de 2009.

No dia 15 de Junho, fruto da referida intervenção de José Penedos no


processo de decisão, a REN prorrogou até 31 de Dezembro de 2009 o contrato
de gestão de resíduos industriais por si produzidos celebrado com a “O2”,
sendo certo que os resíduos de construção e demolição gerados nas obras a
cargo da REN continuaram a estar incluídos.

A gestão dos resíduos de construção e demolição constituía cerca de


90% do volume de negócios da “O2” com a REN.
Na sequência da prorrogação, a “O2” regressou à gestão dos resíduos
de construção e demolição relativos às obras da Subestação de Setúbal da
REN.

Não obstante, a inexistência de uma resposta formal da REN à


reclamação da CESPA, a 02 regressou à gestão dos resíduos de construção e

371
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

demolição relativos às obras da Subestação de Setúbal da REN – Pois sabia o


que se passava nos bastidores.

Com a prorrogação, a REN apenas poderia afastar a “02” da gestão dos


resíduos de construção e demolição mediante indemnização.

No dia 15 de Junho são assinadas e enviadas as cartas aos operadores


de resíduos para prorrogação do contrato até ao final do ano.

No dia 16 de Junho de 2009, Paulo Penedos diz a Manuel Godinho de


que nessa semana terão resultados, sendo que no dia seguinte, Namércio
Cunha liga Manuel Godinho para lhe transmitir que tinha chegado a carta da
REN e que o contrato tinha sido prorrogado até ao final do ano (produto 12339
do alvo 1T167PM, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se
alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC). E mais tarde, pelas 20h52, liga também a Paulo Penedos a
informá-lo da carta de prorrogação e que sobre a situação de Setúbal voltaram
a pedir recolhas à O2. No entanto, Namércio Cunha informa que os
empreiteiros continuam a pedir à O2 cotações para obras de 2010.

PRODUTO Nº: 12339


DATA/HORA: 17/06/2009 11:19:32
INTERVENIENTES:
• DE – NAMÉRCIO CUNHA
• PARA – MANUEL GODINHO

MANUEL GODINHO – Tou.


NAMÉRCIO CUNHA – Sim?. Tá fora?
MANUEL GODINHO – Sim.
NAMÉRCIO CUNHA – Duas situações: Aham... Da RENA recebemos a carta a
dizer... a falar sobre a situação do contrato.
MANUEL GODINHO – Sim.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

NAMÉRCIO CUNHA – É até ao final do ano


MANUEL GODINHO – Sim.
NAMÉRCIO CUNHA – Portanto... vamos dizer ok, da nossa parte, não é?
MANUEL GODINHO – Sim.
NAMÉRCIO CUNHA – Aham... Segunda situação: REFER. Aquela questão do
pontão. É para... para apresentar proposta. Aham...
MANUEL GODINHO – Quantas toneladas é que são?
NAMÉRCIO CUNHA – Vinte toneladas
MANUEL GODINHO – Vinte toneladas... vinte toneladas, tem...
NAMÉRCIO CUNHA – (sobreposto) Eles põem aquilo no chão, nós temos que...
MANUEL GODINHO – A 140 Euros. Põe 135 Euros. Ou 140 Euros. É a mesma
coisa.
NAMÉRCIO CUNHA – Uhum.
MANUEL GODINHO – Ok?
NAMÉRCIO CUNHA – Ok.
MANUEL GODINHO – Tá.
NAMÉRCIO CUNHA – Tá. Oh, e da... aquela questão, lá em São... da OGMA?
Depois... isso é para amanha. Depois pode-se...
MANUEL GODINHO – Isso é amanhã, não é?
NAMÉRCIO CUNHA – Fazemos amanhã de manhã.
MANUEL GODINHO – (sobreposto) Fala-se mais logo.
NAMÉRCIO CUNHA – Pois. Podemos fazer de manhã...
MANUEL GODINHO – Entrega até que horas?
NAMÉRCIO CUNHA – Aham... Não tenho aqui à mão. Mas eu vejo. Se tiver...
MANUEL GODINHO – (sobreposto) Então se dá depois a gente ainda fala hoje,
ok?
NAMÉRCIO CUNHA – Tá, tá.
MANUEL GODINHO – Tá, até já.
NAMÉRCIO CUNHA – Até já.

Paulo Penedos diz-lhe que se isso resulta de uma alteração legal, têm
que se acomodar. Namércio Cunha não concorda e diz-lhe que isso é uma

373
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

questão de opção da empresa, porque o que houve foi uma alteração legal na
classificação dos resíduos.

No dia 19 de Junho, “Zé Ribeiro”, trabalhador da O2, liga a Manuel


Godinho (produto 12590 do alvo 1T167PM) e diz-lhe que “está dentro da
subestação de Setúbal da REN”, que “é um obra grande e tem trabalho para
mais de um ano!”

“Zé Ribeiro” diz ainda que está acompanhado por Laurentino, que é do
Porto e é a pessoa que vai fazer a fiscalização. “Zé ribeiro” diz a Manuel
Godinho que interessa por pouca carga nos camiões e que “ele fez um reparo,
mas que está tudo bem”.

Manuel Godinho pergunta então “se já falou com ele”, ou que este lhe
responde “que o mandou sair em Santa Maria da Feira para lhe dar um pão-de-
ló e uma ou duas garrafitas para ele levar”.

Em Agosto de 2009, João Sandes elabora a IF CSSG 16/2009, de


31/08/2009 (fls. 2 do apenso AE8) mencionando que de acordo com o
previamente estabelecido e superiormente autorizado, foram preparados os
documentos que integrarão a nova consulta ao mercado - Programa do
Procedimento, Caderno de Encargos (Especificação Técnica) e Minuta de
Carta Convite à Apresentação.

Assinala que, de acordo com a nova metodologia delineada pela SVSG,


os resíduos de construção e demolição provenientes de obras de construção
de novas infra-estruturas e/ou remodelação das infra-estruturas já existentes
detidas por cada uma das empresas, que se iniciem a partir de 1 de Janeiro de
2010 inclusive, passarão a ser geridos no âmbito das respectivas empreitadas.
Embora representando uma alteração significativa na metodologia até agora

374
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

praticada na REN Eléctrica, esta prática era já seguida noutras empresas do


Grupo. Refere-se, ainda, que a adopção desta nova metodologia reduzirá de
forma significativa a expressão do(s) próximo(s) contrato(s).

Com efeito, como se pode constatar no ponto 1, reservado ao “objecto


do concurso e entidades adjudicantes” do «programa de procedimento» (fls. 17
do apenso AE 8) mais concretamente no ponto c) estatui-se que “o concurso
inclui também o tratamento dos resíduos de construção e demolição (RCD)
gerados nas obras a cargo da REN - Rede Eléctrica Nacional, S.A., que
estejam em curso em 31 de Dezembro de 2009, excepto os RCD gerados
na obra de remodelação da Subestação de Ermesinde, que serão geridos
no âmbito da respectiva empreitada.

Logo de seguida, a REN limita o objecto do concurso e prevê que não


está abrangido por este concurso o tratamento dos resíduos de
construção e demolição (RCD), provenientes das obras de construção de
novas infra-estruturas e de remodelação e/ou desmontagem das infra-
estruturas já existentes detidas por cada uma das empresas referidas,
que se iniciem a partir de 1 de Janeiro de 2010 inclusive, os quais serão
geridos no âmbito das respectivas empreitadas.

No dia 17 de Setembro de 2010, pelas 12h20 (produto 20573 do alvo


1T167PM, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se alcançarem os
exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado pelo JIC/TCIC),
Namércio Cunha diz a Manuel Godinho que a REN vai pelo mesmo caminho
(da EDP) nos resíduos de betão (passaram a ser geridos pelos empreiteiros).
Namércio Cunha confirma ao seu interlocutor que Paulo Penedos quer saber
com ele sobre este assunto. Namércio Cunha diz que lhe vai deixar alguns
elementos e contextualizá-lo que é para ele estar por dentro.

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S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Godinho diz a Namércio Cunha para lhe dizer que “a nossa
actuação (O2) deixa de ser(…) reduz-se a 10%!

No final da conversação, Manuel Godinho pede a Namércio Cunha para


“falar com o Paulo para, pelo menos, damos a volta nisso aí”, isto é, pede a
intervenção de Paulo Penedos para tentar evitar a concretização da exclusão
dos resíduos de betão do contrato de gestão de resíduos provenientes de
empreitadas da REN.

Dados do Produto

Número de produto do alvo 20573

Alvo 1T167PM

ID de Intercepção 351917649864 (Manuel Godinho)

A chamar 351917649864

Hora inicial 17/09/2009 12:20:07

Destinatário 938959707 (Namércio Cunha)

NAMÉRCIO CUNHA – Tou.


MANUEL GODINHO – Sim.
NAMÉRCIO CUNHA – Pode falar ou nem por isso?
MANUEL GODINHO – Sim, posso. Diz.
NAMÉRCIO CUNHA – Pronto. A reunião já decorreu, acabei de sair. Ah.. Ponto
da situação: isto já é um facto sem retorno
MANUEL GODINHO – Ai é?
NAMÉRCIO CUNHA – Eles… eles lancarama s consultas p’rós… p’rós
empreiteiros já com este facto…
MANUEL GODINHO – sim…
NAMÉRCIO CUNHA – … com esta situação… Pronto eles… eles não vão, em
princípio não vão, não vão… os nossos contratos vão-se manter
MANUEL GODINHO – Sim...
NAMÉRCIO CUNHA – E obviamente as quantidades passam a ser muito
reduzidas porque é assim: eles vão continuar a ter actividade própria, né?

376
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Sim…


NAMÉRCIO CUNHA – Mas é muito reduzida,né?
MANUEL GODINHO – Sim…
NAMÉRCIO CUNHA – Pronto. Na prática provavelmente eles nem vão
cancelar contratos. Se calhar até vão renovar… Mas pronto… obviamente
dizem eles pá as quantidades vão ser muito pequenas. Em todo o caso eles
dizem que prevêem vir a trabalhar com… quem está na corrida dos
empreiteiros deles… são p’raí uns dez, onze,
MANUEL GODINHO – (imperceptível)
NAMÉRCIO CUNHA – E vamos ter que nos por à estrada, né? É ir atrás deles…
MANUEL GODINHO – E os postes?
NAMÉRCIO CUNHA – Tá… tá englobado.
MANUEL GODINHO – Ai é?
NAMÉRCIO CUNHA – Tá englobado. Muito compreensíveis, muito
interessados em nos ajudar mas… pronto com esta situação… a partir daqui
eles não podem obrigar o operador a trabalhar connosco. Sensíveis às nossa
coisas… Pá pronto… ahh vamos ter que nos por em marcha.
MANUEL GODINHO – Pois é… É uma complicação do caraças…
NAMÉRCIO CUNHA – É assim, é… o desconhecido! Obviamente muda o
cenário das coisas. Agora vamos ter que ir atrás disto, né? Ir atrás disto… Eu
vou tentar saber quem eles são… alguns já sabemos…
MANUEL GODINHO – Pois…
NAMÉRCIO CUNHA – Os outros tentar saber quem eles são, rapidamente
para tentar chegar a eles, não é? Este processo eles vão… isto é para quatro
anos
MANUEL GODINHO – Para quatro anos?
NAMÉRCIO CUNHA – Para quatro anos. Mas..
MANUEL GODINHO – Eu não percebo como é que os gajos mudam essas
merdas, pá… com (imperceptível) interesse né?
NAMÉRCIO CUNHA – Pois, pois. Acentuaram em que a relação entre custos e
benefícios foi… para eles é equivalente… Até podia estar a ter um bocadinho
mais de receitas. Mas pronto passaram isto para a nova empreitada, Querem
passar isto tudo para… tá incluída nas empreitadas, nos empreiteiros deles.
Pronto, isto é jogo de bastidor… Agora pá… Vamos ter que… eles também não
são muitos E vamos explorar, vamos explorando… vamos agora deixar, baixar
os braços. Vamos atrás deles.
MANUEL GODINHO – Pois… é complicado isso…

377
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

NAMÉRCIO CUNHA – Aí, isso é… E atenção como o outro, o outro com a REN
isso vai pelo mesmo caminho.
MANUEL GODINHO – Pois vai…(pausa) pois vai…
NAMÉRCIO CUNHA – Digamos, os empreiteiros, em principio, são os mesmos.
MANUEL GODINHO – Pois… pois é… pois é…
NAMÉRCIO CUNHA – Ó pá, vamos ter que nos adaptar…
MANUEL GODINHO – É uma chatice… então, a REN vai pelo mesmo caminho e
é só nos resíduos de betão…
NAMÉRCIO CUNHA – Sim.
MANUEL GODINHO – Né?
NAMÉRCIO CUNHA – Sim, sim , só nos resíduos de betão. Aí é só nos de
betão.
MANUEL GODINHO – É só nos de betão. Mas o Paulo o que é que quer falar
contigo…
NAMÉRCIO CUNHA – diga?
MANUEL GODINHO – O Paulo, o que é que quer falar contigo?
NAMÉRCIO CUNHA – É sobre isso.
MANUEL GODINHO – Sobre isso, é?
NAMÉRCIO CUNHA – Eh, é sobre isto, é sobre isto. Eu vou-lhe deixar aqui
alguns elementos… eeeh… e pronto é. Vou contextualizá-lo, não é? Que é para
ele estar por dentro. Que é para não deixar…
MANUEL GODINHO – E mesmo dizes que a situação na REN deixa de ter…
NAMÉRCIO CUNHA – Perfeitamente
MANUEL GODINHO – Percebe?
NAMÉRCIO CUNHA – (imperceptível) reduz a dez por cento.
MANUEL GODINHO – Exacto.
NAMÉRCIO CUNHA – Reduz a dez por cento.
MANUEL GODINHO – A EDP nunca mais mandaram pedido nenhuns, pois
não?
NAMÉRCIO CUNHA – Não, mas até é natural. Mas isso vou… vou almoçar
com… eu vou almoçar com o Sr. Fernando. Mas isso é natural, mas isso depois
na reunião eles disseram que até… tinha a ver até… eles vão procurar fazer
alguma limpeza ainda antes de entrarem em vigor o novo contrato. Portanto,
vamos ver se isto mexe… pelo menos até ao final do ano. Temos que procurar
varrer tudo.
MANUEL GODINHO – Pois.

378
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

NAMÉRCIO CUNHA – Até Janeiro, até Janeiro.


MANUEL GODINHO – Pois é.
NAMÉRCIO CUNHA – Até Janeiro tá tudo igual. (pausa) Até Janeiro, tá tudo
igual.
MANUEL GODINHO – Oh pá… temos que ir com calma.
NAMÉRCIO CUNHA – É.
MANUEL GODINHO – Vão uns aparecem outros…
NAMÉRCIO CUNHA – Desde que ninguém se aleije… Temos que nos adaptar…
Vamos À guerra e vamos ver como isto funciona…
MANUEL GODINHO – Pois. Ok. Vamos vendo.
NAMÉRCIO CUNHA – Ainda anda por cá ou já está a caminho do Norte?
MANUEL GODINHO – Já estou no Porto. Já vou… vou… já estou mesmo no
Porto.
NAMÉRCIO CUNHA – Esteve aí o.. digamos, o chefe do engenheiro Ricardo…
MANUEL GODINHO – sim…
NAMÉRCIO CUNHA – O engenheiro director.
MANUEL GODINHO – Disseram-me isso.
NAMÉRCIO CUNHA – Pronto. Mas acho que correu (imperceptível)
MANUEL GODINHO – E... foi ontem ou hoje?
NAMÉRCIO CUNHA – Agora de manhã.
MANUEL GODINHO – Foi agora de manhã?
NAMÉRCIO CUNHA – Sim. Correu bem.
MANUEL GODINHO – Disseram-me que tinha sido ontem. Ontem não foi
porque eu… E o que é que o gajo disse, não fez reparo nenhum, não disse
nada?
NAMÉRCIO CUNHA – Não, eheheh… tava satisfeito com o trabalho e…
MANUEL GODINHO – sim…
NAMÉRCIO CUNHA – E fez-se a observação que eles estão-nos a pedir para
pintar os muros de fora
MANUEL GODINHO – sim..
NAMÉRCIO CUNHA – isso da reunião em Lisboa já na altura eles nos tinham
pedido para fazermos ali alguma coisa…
MANUEL GODINHO – Pois, pois, pois…
NAMÉRCIO CUNHA – E pá…
MANUEL GODINHO – Manda-os fazer isso.

379
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

NAMÉRCIO CUNHA – Eles pintam não tem problemas.


MANUEL GODINHO – É isso manda fazer isso.
NAMÉRCIO CUNHA – É isso, não tem crise e eles ficam todos satisfeitos.
MANUEL GODINHO – Ok. Pronto… pá… Fala lá com o Paulo para ver se pelo
menos damos a volta nisso aí…
NAMÉRCIO CUNHA – É. ok.
MANUEL GODINHO – Pronto. Ok. Até já.

Ainda no mesmo dia, pelas 17h20 (produto 20612 do alvo 1T167PM,


que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se alcançarem os exactos
fundamentos do juízo de prognose a final efectuado pelo JIC/TCIC), Manuel
Godinho liga a Namércio Cunha e falam sobre a exclusão no caderno de
encargos dos resíduos de construção e demolição do futuro contrato de gestão
de resíduos. Namércio Cunha afirma que Paulo Penedos lhe disse que “ia falar
com quem de direito, mas que não havia ali muita coisa”, salientando a Manuel
Godinho a expressão de Paulo Penedos “partir do momento que isto tá
lançado”, já saiu, que é complicado”. Namércio Cunha conclui que “em todo
caso ele ia falar com a outra pessoa, mas só consegue falar com ele no fim-de-
semana.”

Dados do Produto

Número de produto do alvo 20612

Alvo 1T167PM

ID de Intercepção 351917649864 (Manuel Godinho)

A chamar 351917649864

Hora inicial 17/09/2009 17:22:53

Destinatário 938959707 (Namércio Cunha)

NAMÉRCIO CUNHA – Tou.


MANUEL GODINHO – Sim.

380
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

NAMÉRCIO CUNHA – Sim. Então?


MANUEL GODINHO – Tás aonde?
NAMÉRCIO CUNHA Tou na O2. Aqui em Ovar. Cheguei agora
MANUEL GODINHO – Ah, chegaste agora? O que é que o nosso amigo disse?
NAMÉRCIO CUNHA – Pronto é assim, ia falar com quem de direito, né? A
ver…
MANUEL GODINHO – Sim.
NAMÉRCIO CUNHA – Não havia ali muita coisa.
MANUEL GODINHO – Disse isso, foi?
NAMÉRCIO CUNHA – Não havia lai muita coisa. O que eu voltei a relembrá-lo
é daquela situação ali… dos trabalhos que tamos a acabar lá no norte, a ver
quando é que vem a segunda fase…
MANUEL GODINHO – Pois. Ele próprio disse que não havia grande
possibilidade, é?
NAMÉRCIO CUNHA – É pá, ele diz que sim. A partir deste momento em que
está lançado, né? A partir do momento em que já saiu… tá, tá escrito… É
complicado. Em todo o caso ele disse que ia falar com a outra pessoa. Mas,
acho que só consegue falar com ele no fim de semana.
MANUEL GODINHO – É isso tá tudo programado. Isso é uma maneira
simpática de ele…
NAMÉRCIO CUNHA – Pois…
MANUEL GODINHO – Não é?
NAMÉRCIO CUNHA – Pois, é verdade… É pá, eu esclareci-o que aquilo era
oitenta por cento do trabalho…
MANUEL GODINHO – Mas que oitenta porcento?!
NAMÉRCIO CUNHA – Eu acho.
MANUEL GODINHO – Noventa.
NAMÉRCIO CUNHA – Sim, eu disse oitenta porcento, pronto. Quem está a
falar é praticamente o trabalho é reduzido. Não fica…fica reduzido.
MANUEL GODINHO – Fica reduzido…hum, fica reduzido…não presta para
nada.
NAMÉRCIO CUNHA – Pois. Fica com a outra parte do…ainda temos depois a
outra parte, dos metálicos, não é?
MANUEL GODINHO – Hum
NAMÉRCIO CUNHA – Aí é ao contrário.
MANUEL GODINHO – Pois. Quer dizer na EDP ainda foi pior, não é?

381
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

NAMÉRCIO CUNHA – É pá, na EDP…he…sim prontos...na EDP tá nesse pé.


Agora nós podemos indo manter acompanhar isto…he…próximo. Por quê?
Porque depois também na conversa do almoço isso…aquilo que vão
percebendo é assim: esse é o caminho que está definido, né?
MANUEL GODINHO – Pois
NAMÉRCIO CUNHA – Mas agora eles vão receber as propostas…portanto, né?
Eles agora vão analisar se efectivamente isso lhes vai trazer as mais valias…
MANUEL GODINHO – As mais valias….
NAMÉRCIO CUNHA – …paradas, né? Portanto, agora está dependente daquilo
que os empreiteiros vão apresentar. Os empreiteiros têm que apresentar até
amanhã as propostas.
MANUEL GODINHO – É até amanhã, é?
NAMÉRCIO CUNHA – É. Termina amanhã.
MANUEL GODINHO – As propostas para quê? Para as obras?
NAMÉRCIO CUNHA – Para as empreitadas. Empreitadas.
MANUEL GODINHO – Pois.
NAMÉRCIO CUNHA – Para as empreitadas. Portanto, as empreitadas
contínuas. Chamam-lhe eles…são a…as obras de empreitada contínua para
quatro anos. São aquilo é assim…é aqueles fulanos tipo…
MANUEL GODINHO – Mudar a lâmpada…
NAMÉRCIO CUNHA – Isso. Substituir obras de substituição de linhas, aqueles
que vão colocar contadores. É tudo não é? Eles têm os serviços todos
subcontratados. Uns trabalham numa área, outros trabalham noutra, outros
trabalham em áreas semelhantes, pronto. E os empreiteiros vão apresentar as
propostas para os próximos quatro anos. Agora nessas propostas já incluem o
tratamento de resíduos. Portanto, eles agora…tanto que a previsões deles é
agora receber isso, o mês de Outubro para analisar e negociar, e, o mês de
Novembro para fechar. Isso é a previsão deles. Mas certamente que eles agora
ao analisar as propostas vão verificar se realmente vão ter mais valias com isso
ou não, não é? Se se confirmar que têm mais valias concretiza-se o processo.
Se se confirmar que afinal isso até é prejudicial para eles, provavelmente, não
avançam com essa parte né? É por isso que vamos ter que…vamos ter
que…digamos…
MANUEL GODINHO – Ele há bocado estava a conversar contigo ou recebeu
alguma chamada?
NAMÉRCIO CUNHA – Não, não, não. (pausa) Pelo que…durante este processo
vamos ter que acompanhar ambas as partes. Vamos ter que fazer agora um
forcing nos empreiteiros.
MANUEL GODINHO – Para já ainda não.
NAMÉRCIO CUNHA – Hã?

382
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Para já ainda não.


NAMÉRCIO CUNHA – Mas vamos ter de começar a aproximarmos, né? Vamos
ter de começar a aproximarmos. E…e estar atento ao outro lado. É isso que vai
ter que se fazer.
MANUEL GODINHO – Pois.
NAMÉRCIO CUNHA – Vai ser um bocado assim. Portanto…
MANUEL GODINHO – É que os gajos não salvaguardaram minimamente a
nossa posição, não é?
NAMÉRCIO CUNHA – Pronto, eles na…eles salvaguardaram-na minimamente,
que é assim a tal situação mas isso é… em termos práticos é pouco. Que é a tal
situação – nós não vamos rescindir contratos, nós não vamos não sei quê mas,
obviamente, o trabalho passa para os empreiteiros, mas pronto. Eles também
por um lado acabam por se estar a proteger caso isto correr mal têm-nos
sempre…têm-nos sempre como alternativa não é?
MANUEL GODINHO – É. Eu ainda vou ver como é que isso foi feito.
NAMÉRCIO CUNHA – Portanto, isso vai ser agora…mas pronto…aquilo da
reunião…aquilo está como um facto consumado. É pá, um gajo depois falando
e depois ouvindo outras vozes, pronto, quer dizer, ainda se calhar vai
depender. Vai depender agora das análises que eles vão…que eles vão fazer.
MANUEL GODINHO – Ok. Já começaste a ver a situação do…a situação
do…concurso…
NAMÉRCIO CUNHA – Sim, sim, sim.
MANUEL GODINHO – Da outra proposta
NAMÉRCIO CUNHA – Está-se a tratar disso. Eu vim para aqui de propósito,
por causa disso. Amanhã já lhe enviamos a…a base de trabalho para ele.
MANUEL GODINHO – Eh, vais mandar preços unitários, não é?
NAMÉRCIO CUNHA – É assim, eu não vou mandar preços nenhuns. Eu vou-lhe
dizer é: olhe, aquilo que nós sugerimos é que você faça a consulta dentro deste
tipologia, nesse formato.
MANUEL GODINHO – Exactamente. Portanto, ribes (sonoro) não é?
NAMÉRCIO CUNHA – Não…é custo hora – máquina, custo hora – pessoas,
custo – tratamento de resíduos, custos dos transportes. Prontos…ou até, alias,
custo de tratamentos de resíduos com transporte que é para simplificar.
MANUEL GODINHO – Não, mas, não é assim.
NAMÉRCIO CUNHA – À parte? Pronto mas é que os transportes…
MANUEL GODINHO – Não, não, não pode ser assim.
NAMÉRCIO CUNHA – Então?
MANUEL GODINHO – Tem que ser à tonelagem.

383
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

NAMÉRCIO CUNHA – Sim. Os tratamentos de resíduos já estão lá já.


MANUEL GODINHO – Agora… (sobreposição de vozes)… e a demolição
também.
NAMÉRCIO CUNHA – A demolição à parte?
MANUEL GODINHO – E o transporte também.
NAMÉRCIO CUNHA – A demolição é horas - homem, máquina e, horas –
homem, eh, portanto…
MANUEL GODINHO – Não, não, não, não.
NAMÉRCIO CUNHA – Então como é?
MANUEL GODINHO – Vais por exemplo…ó Namércio, foda-se…
NAMÉRCIO CUNHA – Diga. Diga.
MANUEL GODINHO – Pões assim, tanta tonelada para demolição, transporte e
tratamento. Ponto final.
NAMÉRCIO CUNHA – Ai o custo inclui tudo?
MANUEL GODINHO – Sim
NAMÉRCIO CUNHA – Pronto (pausa)
MANUEL GODINHO – Percebes?
NAMÉRCIO CUNHA – Eu percebo.
MANUEL GODINHO – Tem que ser à tonelada. Mas quem é que vai controlar
agora as horas, pá?
NAMÉRCIO CUNHA – Mas é cont… Olhe lá, eu já disse assim, a tonelada
mantém-se. A tonelada mantém-se. Agora, uma coisa é assim..você vai..uma
coisa é uma obra grande, uma coisa é uma obra pequena, os meios vão ser
mais ou vão ser menos.
MANUEL GODINHO – Não interessa. Levas um tanto por…
NAMÉRCIO CUNHA – (*)
MANUEL GODINHO – Levas um tanto para desmantelamento. Levas um tanto
para tratamento. Levas um tanto para transporte. Percebes?
NAMÉRCIO CUNHA – Pronto… e o custo de desmantelamento tá tudo
incluído?
MANUEL GODINHO – Tudo incluído.
NAMÉRCIO CUNHA – Pronto mas…
MANUEL GODINHO – Ou dizes assim: desmantelamento/tanto, triagem/tanto.
Percebes?
NAMÉRCIO CUNHA – A triagem não. O desmantelamento está incluído. O
desmantelamento/tanto, tratamento dos resíduos/tanto.

384
S. R.

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MANUEL GODINHO – Exacto. Pode ser isso.


NAMÉRCIO CUNHA – Pronto, mas o que me parece… o que me parece é
que…eh…pronto, acho que não…
MANUEL GODINHO – Isso é para mais tarde. Se ele pedir uma justificação.
Quais são os equipamentos e quais são os meios humanos…
NAMÉRCIO CUNHA – Não há equação, não há equação. Uma questão
destas…uma coisa é assim, as pessoas têm que à partida dizer quanto é que
levam para aquilo. E eles vão analisar os valores unitários e dizem assim – a
melhor proposta é esta.
MANUEL GODINHO – Mas ele não quer fazer isso.
NAMÉRCIO CUNHA – Ah, pronto.
MANUEL GODINHO – Eles não querem fazer isso. Eles querem fazer um
concurso para quatro ou cinco anos.
NAMÉRCIO CUNHA – Então isso é a mesma coisa. Nós estamos a
falar…pronto, olhe…nós estamos a falar da mesma coisa. Você está a dizer
assim: olha, eles só têm de pedir três coisas, pronto. Ou só tem de pedir duas
coisas, é a demolição e aquilo. Agora isso, da maneira como está a colocar,
certamente, a todos os concorrentes, vai obrigar os concorrentes a pedir
muitos esclarecimentos.
MANUEL GODINHO – Não interessa.
NAMÉRCIO CUNHA – Tá bem. Não lhe interessa mas estou-lhe a dizer. Vai,
portanto…tem de prever que se calhar vai ser mais difícil eles depois
implementarem. Porque as pessoas vão, não é, quem vai apresentar uma coisa
dessas vai fazer imensas perguntas. Portanto, vai haver um histórico de
situações que se calhar vai atrasar o processo…
MANUEL GODINHO – Vai haver, por exemplo, a reciclagem, hum, a
reciclagem, hum, a demolição, hum, a preparação custa tanto. Agora os meios
que nós utilizámos ou, que não utilizámos, isso já é um problema nosso.
NAMÉRCIO CUNHA – (*) prisma. Pode…vai assim…não…é assim, eu
tenho…estava-lhe a propor na mesma linha de pensamento que você está a
dizer mas de uma forma mais completa para não dar azo a que depois os
empreiteiros estejam a atrasar este processo.
MANUEL GODINHO – Não há horas para ninguém. Nem sequer fale nas
horas…
NAMÉRCIO CUNHA – Mas não há horas. Ninguém está a dizer horas. Só se
está a dizer é assim: olha, um homem custa tanto à hora ou ao dia…nem a dia,
nem a hora. Um homem custa tanto dia.
MANUEL GODINHO – Mas eu não quero isso
NAMÉRCIO CUNHA – Pronto. Ok.
MANUEL GODINHO – Mas eu não quero isso. Já te disse.

385
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NAMÉRCIO CUNHA – Pronto. Olhe, não quer, não quer. Está o assunto
resolvido.
MANUEL GODINHO – Ok.
NAMÉRCIO CUNHA – Tá.
MANUEL GODINHO – Pronto. É fazer…é fazer isso dentro daquilo que eu
estou a dizer, ok?
NAMÉRCIO CUNHA – Tá. Até já.
MANUEL GODINHO – Tá. Até já.
(*) Imperceptível

Namércio Cunha salienta a Manuel Godinho que o esclarece que aquilo


era 80% do trabalho ao que Manuel Godinho responde que é 90%! Namércio
Cunha lembra que ainda têm os (resíduos) metálicos.

No dia 1 de Outubro de 2010, a empresa CESPA enviou uma carta


dirigida ao Administrador Victor Batista contestando a metodologia de gestão
de resíduos da REN para as empreitadas, que foi junta aos autos, pelo actual
PCA. Dr. Rui Cartaxo, a quando da sua inquirição (fls. 46 do apenso AE20).

Esta carta, como se pode comprovar no correio electrónico apreendido –


apenso AE18 – foi enviada previamente pela O2, através de Namércio Cunha
para Paulo Penedos, que a terá revisto ou minutado e posteriormente remetido
para a CESPA.

Interessante, enquanto demonstrativa da posição Eng. Jorge Liça sobre


a gestão dos resíduos de construção e demolição no âmbito das empreitada, é
o seu parecer enviado por correio electrónico, sobre a resposta a dar à carta
enviada pela CESPA no dia 1 de Outubro de 2010, solicitado pelo Eng. Vicente
Martins e que passamos a transcrever: (fls. 229 do apenso AE30).

“Em termos gerais apenas refiro que nos estamos a justificar-nos em excesso.

386
S. R.

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No mundo empresarial, cada empresário assume os riscos que quiser. A REN não pode
ficar refém das expectativas que eles próprios criam, justificadamente ou não. Em
muitos outros sectores os nossos fornecedores investem em meios (e muitas vezes para
uma actividade exclusiva) e pelo facto de não terem encomendas não lhes é permitido
invocar que tem os seus meios ociosos. O risco foi deles.

O que a REN precisa é de o máximo de concorrentes em cada actividade. Sectores com


poucos concorrentes ou, de alguma forma protegidos, são de evitar. A colocação da
recolha de resíduos em concorrência num mercado alargado de construtores, trará, á
partida, melhores condições de preço.

A actividade económica é tumultuosa e é dessa agitação que os mercados criam


condições de se desenvolverem. (...Schumpeter).

Outras Considerações sobre factos envolvendo a prorrogação do


contrato:

Conclui então o JIC signatário que o teor das intercepções telefónicas é


inequívoco quanto à intervenção da O2, representada por Manuel Godinho e
Namércio Cunha, no Conselho de Administração, designadamente no então
PCA José Penedos e administrador Victor Baptista, através da actuação de
Paulo Penedos, com vista a proporcionar a prorrogação do contrato e em
solucionar os dois incidentes ocorridos em Maio e em Junho de 2009
relacionados com a gestão dos resíduos de betão.

Com efeito, foi devido à actuação dos intervenientes supra citados, a


qual culminou nos faxes de 25 Maio de 2009 e de 9 de Junho de 2009 que
permitiu à O2 continuar a gerir, na qualidade de subfornecedores, os resíduos
de construção e demolição até ao final de 2009.

Aliás, se tal não acontecesse, e como Paulo Penedos garantiu por


indicação do seu pai, a O2 teria de ser indemnizada.

387
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A prorrogação aconteceu para os três operadores, mas apenas a O2, na


qualidade de subfornecedora da CESPA, conheceu um tratamento de
privilégio, na medida em que apenas no domínio dos resíduos de construção e
demolição aconteceu uma alteração legislativa que obstava à prorrogação nos
exactos termos em vigor.

De referir ainda que Paulo Penedos mesmo antes de existir qualquer


indicação interna nesse sentido, garantiu a Namércio Cunha e a Manuel
Godinho a prorrogação do contrato que estava em vigor.

Sobre a actuação de José Penedos é de salientar que como refere


Paulo Penedos nas intercepções telefónicas, se baseiam em “intervir”, “pedir
esclarecimentos” e “de resolver”.

Para fazer prevalecer os interesses da O2 na REN, José Penedos,


recorreu comprovadamente ao administrador do pelouro, Victor Baptista, tendo
chegado a afirmar numa conversa que apesar de estar ausente, a REN não é
só ele, que estavam presentes as pessoas que fazem andar a REN, referindo-
se ao aludido administrador.

Nas últimas conversas registadas em Setembro de 2009, verifica-se que


ainda há movimentações de Manuel Godinho e de Namércio Cunha de reverter
o “facto consumado” nas palavras de Namércio Cunha da exclusão dos
resíduos de construção e demolição do contrato de gestão de resíduos.
É notória a inquietação de Manuel Godinho e de Namércio Cunha em
recorrerem a todos os meios que estavam ao seu alcance, designadamente
através de Paulo Penedos junto do seu pai, para evitarem ou reverterem o
“facto consumado” da exclusão dos resíduos de betão do contrato. Por um
lado, representavam, como diz Manuel Godinho 90% dos resíduos geridos pela

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O2, i. é. Da facturação da O2 à REN. Por outro lado, a REN representava o


principal fornecedor da empresa O2 desde 2008, substituindo a própria
REFER.

Não pode o JIC corroborar a imagem que lhe quiseram elucidar de que
Paulo Penedos é um efabulador, um megalómano e que invoca gratuitamente
o pai. Como eu compreendo agora o que me quis laconicamente referir.

ACONDICIONAMENTO DOS RESÍDUOS NA EX-CENTRAL DA


TAPADA DO OUTEIRO - APENSOS AE 3, 9, 10 e 11

O que aconteceu na Tapada do Outeiro reproduz quase integralmente o


sucedido em Alto Mira, descortinando-se um padrão de comportamento e
actuação.

O procedimento concursal do acondicionamento na ex-Central da


Tapada do Outeiro foi acompanhado desde o seu início por Paulo Penedos que
actuou de forma determinante junto do seu pai, presidente do Conselho de
Administração da REN Eng. José Penedos, obtendo informações privilegiadas
e dando instruções no sentido de satisfazer os interesses da O2 e de Manuel
Godinho na adjudicação dos trabalhos na Tapada do Outeiro.

Com efeito, Paulo Penedos após conversar com o seu pai, garante que
uma eventual proposta de desmantelamento de estruturas metálicas e de
betão, caso seja apresentada, será aprovada e que tem apenas de fazer uma
carta dirigida à REN, a mencionar a visita que a empresa fez às instalações.

Todo o processo é mediado por Paulo Penedos sendo que a sua


intervenção chega ao ponto de determinar o mais ínfimo pormenor, como a

389
S. R.

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redacção da carta ou prazo para decidir a adjudicação dos trabalhos, dando


indicações para que houvesse uma decisão antes de férias.

Por sua vez, José Penedos, enquanto presidente do Conselho de


Administração, dava conhecimento e transmitia essas mesmas instruções ao
administrador Victor Baptista que, ocultando a sua proveniência e a sua
verdadeira motivação, as transmitia aos restantes elementos da cadeia
hierárquica da divisão de Gestão de Mercados, ou seja à Directora Maria José
Clara e ao Eng. Andrade Lopes – Ponto de coincidência com as formas de
actuação verificadas em Alto Mira.

Ao mesmo tempo, José Penedos fornecia ao seu filho informação


privilegiada da REN que lhe era transmitida pelo Eng. Victor Baptista.

Convém relembrar aqui as informações sobre as negociações com os


potenciais compradores das instalações da ex-CTO que estavam
exclusivamente a cargo deste administrador, sobre a natureza dos custos
(regulados) nos trabalhos da ex-CTO ou mesmo o percurso profissional da
directora Maria José Clara (oriunda da ERSE).

Também Victor Baptista, enquanto administrador do pelouro, se


empenhou conscientemente na verificação do resultado pretendido pela O2, ou
seja, decidindo pela adjudicação dos trabalhos de acondicionamento de acordo
com o que fora proposto internamente e solicitando estudos às divisões
competentes, deixando em aberto a possibilidade de adjudicação dos trabalhos
de desmantelamento metálicos, numa fase posterior, que só não terão ocorrido
devido à revelação pública da investigação.

390
S. R.

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É de frisar que, no dia da sua decisão, Victor Baptista visitou as


instalações da ex-CTO, tal como foi reportado por Paulo Penedos e anotado
pelo Eng. Andrade Lopes.

Resulta ainda dos autos a sua decisão, aparentemente contra os


anseios de Manuel Godinho e Namércio Cunha, foi de encontro com o que era
pretendido pela O2, tal como Paulo Penedos explica numa conversa que tem
com Namércio sobre a interpretação a dar à resposta da REN.

Pelo teor das conversas, deduz-se que Manuel Godinho e Namércio


Cunha tinham a expectativa de que os trabalhos de desmantelamento de
estruturas metálicas e de betão fossem adjudicados directamente à O2.

A experiência de Alto Mira assim os autorizava a pensar. É o que


se afigura aos olhos do JIC.

Porém, é também possível perceber que, caso a REN optasse pelo


convite aos operadores qualificados de resíduos, a O2 teria fortes
probabilidades de apresentar o preço mais baixo, uma vez que, tal como refere
Namércio Cunha no interrogatório complementar, a O2 trabalhava com a
CESPA pelo que esta empresa apresentaria preços inferiores à O2 e a AUTO-
VILA também não está particularmente vocacionada para este tipo de trabalhos
e de resíduos, mais direccionada para a gestão de resíduos perigosos.

Apesar de ter sido negado pelos intervenientes, as conversas telefónicas


interceptadas entre Namércio Cunha, da O2 e Mónica Gandra, da CESPA
parecem indiciar que, no caso do acondicionamento, até poderá ter existido
algum alinhamento dos preços praticados.

391
S. R.

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Do ponto de vista do procedimento, existia uma preocupação por parte


dos intervenientes, em dar a aparência de cumprimento das normas vigentes,
ou seja, nas palavras de Paulo Penedos, “tinha que ser «by the book»”

Sobre as cinzas existentes na ex-Central Tapada do Outeiro, Manuel


Godinho pretendeu espoletar na REN a necessidade de as remover,
determinada pelo conhecimento que tinha do local quando efectuou um visita
em 2007 e pela informação, mais recente, prestada por Paulo Penedos da
existência de trabalhos da BRISA no local.

No entanto, teve que recuar perante as dificuldades associadas ao


processo e probabilidade da O2 não estar legalmente e/ou contratualmente
habilitada para gerir este tipo de resíduo.

Mas, vejamos em pormenor o que se indicia que aconteceu:

No organigrama da REN, competia à Divisão Comercial do SEP, maxime


departamento de Gestão de Contratos, desenvolver esta actividade, pelo que
Juan Oliveira, colaborador e engenheiro de formação, a exercer funções nessa
divisão, elaborou em 19 de Março de 2005, a IF CSGC 2/2007, (fls. 7 do
apenso AE 6) dando conta de que, a partir 1 de Janeiro de 2005, a REN tomou
conta das instalações afectas à Central Termoeléctrica da Tapada do Outeiro
(CTO).

A partir desta data, providenciou um conjunto de trabalhos


indispensáveis à boa gestão do local, dos quais se destacam a manutenção da
limpeza e segurança das instalações, a recolha de resíduos e o encerramento
oficial do parque de cinzas

392
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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Segundo o Eng.º. Juan Oliveira, enquanto se esperava pela autorização


do Ministério da Economia e Inovação para poder alienar estas instalações,
iam sendo necessários novos trabalhos que visam manter o local com as
condições mínimas de segurança. Assim solicitou autorização superior para :

• Reforçar os meios primários de minimização dos efeitos de


derrames de hidrocarbonetos (por solicitação à Divisão EX),
• Proceder à recolha de diversos tipos de resíduos que estão
na central, logo que as condições climatéricas o permitam,
recorrendo aos operadores licenciados que trabalham para a REN
no âmbito do contrato de gestão de resíduos (por solicitação à
Divisão FP) e
• Dar inicio ao processo de consulta para a limpeza dos
terrenos que envolvem a central nomeadamente a zona do parque
(aterro) de cinzas.
Conforme fls. 9 do apenso AE3, o Eng. Victor Baptista aprovou as
medidas solicitadas, dando indicações às divisões (Ex)ploração e Planeamento
e Produção (PP) para prestarem a colaboração necessária.

Neste contexto, a divisão PP, realizou um trabalho de campo, tendo


compilado toda a informação relevante num estudo que identifica os resíduos
armazenados na central e as necessidades de meios de actuação em caso de
derrame de hidrocarbonetos.

Foi salientado que nas visitas à ex-CTO não foi possível aceder a todos
os locais da Central, urna vez que algumas salas se encontram encerradas, o
que permitiria determinar com exactidão os tipos e quantidades de resíduos e
que a identificação das medidas de minimização do risco ambiental foi
efectuada numa perspectiva de garantir uma primeira intervenção em caso de
derrame localizado e controlável. A minimização significativa do risco só seria

393
S. R.

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conseguida com a limpeza dos principais órgãos que ainda tinham fuelóleo e
gasóleo, corno é o caso dos depósitos e das tubagens da zona das caleiras.

Todavia, as necessidades identificadas na IF CSGC 2/2007 e


consequentes trabalhos foram suspensos até 16 de Setembro de 2008, data
em que o Eng. Andrade Lopes, que substituiu o Eng. Juan Oliveira em 2007 no
departamento, envia um mail ao Dr. João Sandes, solicitando o apoio desta
divisão para a realização das referidas tarefas – fls. 57 do apenso AE 9).

Em resposta, Dr. João Sandes descreve a actuação da divisão FPLG, no


âmbito do contrato de gestão de resíduos e sugere que seja feita uma consulta
à margem do contrato existente, tal como aconteceu com o
descomissionamento da CAM, invocando que o contrato de gestão de resíduos
só prevê a recolha de resíduos devidamente segregados e contentorizados o
que, pela análise do relatório, não parece ser o caso da ex-CTO. (fls. 57-verso
do apenso AE9) indo de encontro à opinião formulada pelo Eng. Domingos
Correia (fls. 57 do apenso AE9).

Porém, em 24 de Setembro de 2008, o Eng. Andrade Lopes contacta o


antigo chefe da Central da Tapada do Outeiro, já reformado, que lhe indica a
empresa CAFLIXA para realização dos trabalhos, tendo posteriormente e para
o efeito, enviado por um mail com a identificação e quantidades dos resíduos. [
cfr. fls. 62 e 63 do apenso AE 9]. Também a Eng. Helena Azevedo, quando
contactada, informou o Eng. Andrade Lopes que esta empresa já teria prestado
serviços de recolha de resíduos para a REN na ex-CTO em 2007.

Nos dias 20, 21 e 28 de Novembro e 2 de Dezembro de 2008 foram


efectuadas várias visitas à Central pelos vigilantes, Eng. Arlindo Rodrigues,
antigo chefe da Central, Dr. Domingos Correia [fls. 70 a 76 do apenso AE9] e
pelo próprio Eng. Andrade Lopes com o objectivo de recolher e actualizar a

394
S. R.

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informação disponível para se proceder à consulta ao mercado para a


realização dos trabalhos.

Em 3 de Dezembro de 2008, a empresa CAFLIXA, envia para a REN a


proposta dos trabalhos, [conforme fls. 77 do apenso AE 9], não tendo ocorrido
qualquer desenvolvimento até Março de 2009.

Entretanto, inicia-se a investigação, tendo sido autorizada, de forma


sucessiva e simultânea, a intercepção aos telemóveis usados pelos então
suspeitos Manuel Godinho, Namércio Cunha e Paulo Penedos.

Assim, em 10/3/2009, foi interceptada uma conversa, em que são


intervenientes Paulo Penedos e Manuel Godinho, onde é abordada pela
primeira vez a ex-Central da Tapada do Outeiro. Nessa conversa Manuel
Godinho diz a Paulo Penedos que “estão a tratar do assunto da deserbagem,
que a REN nunca mais mandou nada e que estão a ficar aflitos sem trabalho”.
Paulo Penedos refere que falou com ele, (pai, Eng.º. José Penedos) e que
“sobre a limpeza das cinzas da central que está desactivada só estão à espera
de chegar a um acordo com a BRISA, para a REN avançar. (produto 3669 –
alvo 1T167PM, supra transcrito).

Dois dias depois, 12/3/2009, Manuel Godinho dá instruções a Namércio


Cunha (produto 3871 – alvo 1T167PM) para que seja recolhida uma amostra
das cinzas, da Central de Crestuma (referindo-se à ex-CTO) informando a REN
que a O2 pretende realizar um estudo com o intuito de saber se se trata de
resíduo banal ou perigoso. Inicialmente a O2 valorizará as cinzas, afirmando
posteriormente que se trata de um resíduo perigoso que necessita de rápida
intervenção e que a empresa exercerá pressão nesse sentido.

395
S. R.

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De salientar que nesta conversa, Manuel Godinho e Namércio Cunha


referem-se à Central como sendo uma “em Rio Tinto junto ao Douro”, “onde já
tinham estado por uma vez”. Efectivamente, aquando da consulta em 2006
para os trabalhos da Central de Alto Mira, também as empresas foram
consultadas para os trabalhos similares na ex-CTO, tendo sido efectuadas
visitas às instalações.

Desta forma, Manuel Godinho pretendia espoletar na REN a


necessidade de remover as cinzas, determinada pela informação prestada por
Paulo Penedos da existência de trabalhos da BRISA no local.

Ainda nesse dia, pelas 15h15, Namércio Cunha liga para Manuel
Godinho – produto 1433 do alvo 38250PM – sugerindo a elaboração de um
proposta da REN para que fosse feita uma exposição por parte da O2, “em
parceria com a REN na qualidade de prestadores de serviços na área do
ambiente”, alertando para pretensos problemas ambientais e de segurança. A
O2 propor-se-ia realizar um estudo técnico-ambiental actualizado e mais
profundo. Neste contexto, Namércio Cunha propõe contactar Paulo Penedos
para saber quem seria a pessoa indicada a quem entregar a proposta. Manuel
Godinho é peremptório dizendo-lhe “para fazer chegar ao Zé Penedos,
particularmente”, tendo inclusivamente dito “que marcaria um café com ele para
lhe entregar a proposta”.

Cujo teor abaixo se transcreve, na integra, para melhor se alcançarem


os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 1433


DATA/HORA: 15:15:23 de 12/03/2009
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – Namércio Cunha

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S. R.

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NAMÉRCIO CUNHA – Sim?


BRUNO– Sim, doutor. Vou tentar passar ao Sr. Godinho, tá bem?
NAMÉRCIO CUNHA – Tá bem.
BRUNO – Com licença.
NAMÉRCIO CUNHA – (em conversa com outra pessoa) Porque é que a seguir,
ehhhh (imp), dificulta essa situação. Pra já, torna
esse caso (imp.). (aguarde um momento –
mensagem de espera de ligação), ehhh, a registar
isso, mas, ehh, mas pronto, mas…
MANUEL GODINHO – Tou?
NAMÉRCIO CUNHA – Sim?
MANUEL GODINHO – Sim, Namércio?
NAMÉRCIO CUNHA – Pode falar ou quê?
MANUEL GODINHO – Sim, d, diz.
NAMÉRCIO CUNHA – Ehh, duas situações. Sobre aquela questão da, portanto
da tapada.
MANUEL GODINHO – Sim?
NAMÉRCIO CUNHA – Inda ando a fazer contactos pra tentar saber quem é, o
contacto pra se , pra se ir lá. Em todo o caso, tive
aqui a avaliar a situação. Eu tinha uma proposta a
fazer-lhe.
MANUEL GODINHO – Uma quê?
NAMÉRCIO CUNHA – Uma proposta a fazer-lhe, a si.
MANUEL GODINHO – Sim, diz lá.
NAMÉRCIO CUNHA – Pa, pa você penar. Que, que era, ehh, nós fazermos uma
exposição, eu tentava falar com o Paulo, pra saber
quem é a pessoa indicada.
MANUEL GODINHO – Sim?
NAMÉRCIO CUNHA – Na qual, aqui alertamos, numa questão de parceria com
eles, num é? No nosso papel de, prestador de
serviço, na área do ambiente.
MANUEL GODINHO – Sim.
NAMÉRCIO CUNHA – De que, alertamos, que estas instalações estão
abandonadas há vários anos, e que, de visitas que
nós fizemos ao local, ehhh, constata-se alguns
problemas. Nomeadamente, que, ehh, os
depósitos inda num estão descontaminados, que
há riscos de segurança, há riscos de impacto

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ambiental, que há, ehhh, suspeita-se de


escorrências...
MANUEL GODINHO – Fazes…
NAMÉRCIO CUNHA – E de na altura lembra-me… De, de escorrências que
estariam…
MANUEL GODINHO – Fazes...
NAMÉRCIO CUNHA – A contaminar o, eeh, a encosta, até ó, até ó Rio Douro. E
que, ehh, nos disponibilizávamos, ehhh, até, a fazer
um estudo, ehh, técnico, ehh, técnico ambiental,
para lhes dar um conhecimento mais, ehhh,
actualizado, num é? Mais profundo, dos reais riscos,
ambientais, que’eles estão a, a correr naquele sítio.
MANUEL GODINHO – Tu fazes isso, e fazes chegar isso ó Zé Penedos.
NAMÉRCIO CUNHA – Pronto.
MANUEL GODINHO – Particularmente, tás a ver?
NAMÉRCIO CUNHA – Pronto. Ok.
MANUEL GODINHO – Percebes?
NAMÉRCIO CUNHA – Pronto, é isso.
MANUEL GODINHO – Quando é que vais fazer isso?
NAMÉRCIO CUNHA – Já tenho isto pronto. Tenho isto, pré formatado.
MANUEL GODINHO – Atão vá, faz pra… Qu’eu marco tomar um café com ele.
NAMÉRCIO CUNHA – Sim?
MANUEL GODINHO – Entrego isso em mão.
NAMÉRCIO CUNHA – Pronto. Ok.
MANUEL GODINHO – Entrego isso em mão. Ok?
NAMÉRCIO CUNHA – Está pré formatado nisso. Fica pronto. Ehh, outro
assunto. Eh pá, eu tenho o Almeida Figueira a ligar-
me, pá. Já me ligou várias vezes. Eu tenho que le
ligar. Só me ligou todos os dias esta semana.
MANUEL GODINHO – (imp.) como é que eu hei-de resolver isso. Ó Namércio,
o, dou, eu dou-te uma resposta logo. Eu vou aqui a
caminho, de um depósito de postes, prá gente
coordenar os transportes pra lá.
NAMÉRCIO CUNHA – Hum.
MANUEL GODINHO – Ok? Eu depois, eu ligo-te.
NAMÉRCIO CUNHA – Ok.

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MANUEL GODINHO – A ver cumé qu’há-de ser isso, tá bem?


NAMÉRCIO CUNHA – Tá bem. Tá bem.
MANUEL GODINHO – Tá, até já.
NAMÉRCIO CUNHA – Tá, até já.

Às 20h16 do dia 12 de Março de 2009, (produto 1448 do alvo 38250PM)


Namércio Cunha liga a Paulo Penedos e diz-lhe que vai enviar um memo e-
mail, que este fornece (paulo.penedos@hotmail), e pergunta-lhe se é sobre a
”deservagem”, ao que o Namércio Cunha diz não é sobre isso mas que já está
a mexer nisso.

Paulo Penedos aproveita para perguntar sobre com quem é que


Namércio Cunha fala da área do Ambiente, lembrando-lhe que está na altura
da renovação destas coisas.

Na sequência da conversa, Namércio Cunha diz expressamente a Paulo


Penedos para este lhe dizer “quais são as portas mais adequadas” porque ”as
pessoas com quem falou não tinham muita voz na matéria”.

Paulo Penedos pergunta-lhe qual é o director do ambiente da REN ao


que Namércio Cunha responde que isso não tem a ver com outras áreas. Esse
sector é totalmente independente da gestão de resíduos, ao que Paulo
Penedos pergunta se é da Exploração ou do Equipamento, dizendo que isso
convinha saber para se mexer. Namércio Cunha, tentando justificar-se, diz-lhe
que já falou com gente de Lisboa e do Porto.

Esta conversa é bastante reveladora do conhecimento que Paulo


Penedos tem da estrutura organizacional da REN, apesar do nome da empresa
não ser mencionado.

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S. R.

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Por outro lado, também se confirma os dados transmitidos por Namércio


Cunha porquanto o Departamento de Ambiente da divisão PP esteve sedeado
no Porto, tendo alguns dos seus membros passado a exercer funções em
Lisboa ou simultaneamente nas duas cidades, como foi o caso do Dr.
Domingos Correia e Eng. Francisco Parada, com a criação em 2008, no âmbito
da criação da REN Serviços, da Divisão de Sustentabilidade e Sistemas de
Gestão, cujo director é o Eng. Vicente Martins.
Também resulta claro deste diálogo, qual a intenção de Paulo Penedos
e Namércio Cunha: a de “saber quais são as portas mais adequadas”.

Mais: se o processo é “fechado”, como diz Namércio Cunha, Paulo


Penedos diz-lhe que “só tem que saber onde é que ele empanca para poder
agir” pois ele ”sabe que há instruções das pessoas que estão à cabeça para
abertura”

Namércio Cunha pede ainda na conversa que Paulo Penedos “analise e


depois comente com ele, porque precisa de orientações suas, aceitando
sugestões”.

Ultrapassada a questão da password de acesso, Paulo Penedos liga no


dia seguinte, 13 de Março de 2009, dizendo que a exposição está clara e que
será entregue em mão, ao que Namércio Cunha responde que “isso está tudo
preparado para chegar oficialmente às mãos de alguém”. Paulo Penedos
tranquiliza-o dizendo-se que só vai ser entregue a uma pessoa, ficando
Namércio Cunha a “aguardar a melhor abordagem ao assunto”.

Relembremos a este propósito que Paulo Penedos asseverou no seu


interrogatório ser o seu Pai o seu único interlocutor na REN.

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Nesse mesmo dia, pelas 20h35, Paulo Penedos, presumivelmente


depois de falar com o seu pai informa que na 2ª feira (dia 16 de Março) lhe
confirmará, mas que para não serem mal interpretados será a própria empresa
a solicitar.

A confirmação de que o memo alertando para pretensos problemas


ambientais e de segurança, elaborado por Namércio Cunha e sancionado por
Paulo Penedos chegou à REN, consta a fls. 78 do apenso AE 9: no manuscrito
do Eng.º. Andrade Lopes relativo ao dia 16 de Março de 2009, este refere que
o Eng. Victor Baptista lhe ligou (15h08- fls. 79 do apenso AE9) a dizer que
apareceu lá uma carta (de alguém que não conseguiu identificar) a oferecerem-
se para fazer uma auditoria à parte dos resíduos da CTO, pois havia lá muitos
resíduos etc.

Ainda sobre o conteúdo da chamada, o Eng. Andrade Lopes assinalou


que ”ficou de enviar ao Eng. Victor Baptista um relatório de 2007 (ou seja, o
relatório já referido elaborado pelo departamento SVSG-AB) pois ainda não
tinha na sua posse a actualização de 2008 do Eng. Francisco Parada e do Dr.
Domingos Correia. Nesse mesmo dia, envia um mail para o Eng. Victor
Baptista dando conta ao administrador de tudo quanto sabia sobre os resíduos
na CTO. (fls. 79 do apenso AE9)

Conjugando estes dados com a informação vinda da REN e junta aos


autos a fls. 92 a 100 do apenso AE29 de que não existe qualquer carta da O2,
para o JIC resulta claramente indiciado de que este memo foi do conhecimento
do arguido Victor Baptista, através de José Penedos que o recebeu do seu filho
Paulo Penedos, tendo por sua vez tomado conhecimento pelo telefonema ao
Eng. Andrade Lopes de que já tinha sido feito uma estudo/relatório sobre os
resíduos da ex-CTO e que estava, à data, a ser actualizado.

Também não restam dúvidas que esta informação foi transmitida pelo
arguido Victor Baptista ao arguido Paulo Penedos, através do seu pai, que logo

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se encarregou de a comunicar a Namércio Cunha no dia 17-3-2009 pelas 9h57


(produto 1671 do alvo 38250PM) afirmando que “aquilo já está em marcha”.
Namércio Cunha reporta todos estes acontecimentos por telemóvel – produto
4404 do alvo 1T167PM – a Manuel Godinho no dia seguinte, 18-3-2009.

No dia 20 de Março, na sequência das intercepções telefónicas, é


registada a entrada e saídas de Paulo Penedos nas instalações da SCI, em
Aveiro, conforme r.d.e de fls. 2065 a 2074 dos autos.

Resulta tais diligências da entrada em vigor do DL 46/2008 de 12 de


Março, nomeadamente por força do art. 10º “Plano de prevenção e gestão de
RCD” em obras públicas.

No dia 26 de Março, a propósito de um cheque de €30.000, Paulo


Penedos liga para Manuel Godinho e este, dada a ausência de notícias,
aproveita para o questionar. Paulo Penedos afirma que ainda hoje ligou para
Madrid e que “está tudo a andar” porque “as ordens foram dadas”.

Logo, com a criteriosa ponderação das realidades da vida, o JIC não


pode concluir que P. Penedos é um efabulador. Se o for, não o será sozinho!

Em 31 de Março de 2009, o Eng. Andrade Lopes elabora a IF GMMC-


MSP 5/2009, onde solicita aprovação superior para adjudicar à empresa
CAFLIXA os trabalhos de recolha, transporte, separação e acomodação dos
resíduos que se encontravam na ex-Central da Tapada do Outeiro, por um
preço que se estimava poderem ir até quinze mil euros e que seriam mais tarde
removidos para destino final pelas empresas certificadas pela REN (CESPA,
O2 e AUTO-VILA)

De salientar que, ao submeter superiormente a sua informação, o Eng.º.


Andrade Lopes faz referência de que ”a IF surge na sequência imediata do e-
mail de 16-MAR-2009, «CTO - resíduos - ponto de situação», para o Sr.
Adm.Victor Baptista”.

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Parece existir no nosso entender e salvo opinião diversa, uma relação


inequívoca e directa entre os contactos efectuados pela O2 (Namércio
Cunha/Manuel Godinho) e Paulo Penedos e entre este e a REN, na pessoa do
PCA José Penedos e consequentemente entre este e o administrador Victor
Baptista, que leva à realização dos trabalhos na ex-CTO descritos na IF do
Eng. Andrade Lopes que, à data, apenas previa a remoção dos resíduos
acondicionados pela CAFLIXA para destino final.

Aliás, como se comprova na produto 5493 do alvo 1T167PM, no dia


seguinte, ou seja, dia 1 de Abril de 2009, Paulo Penedos informa Manuel
Godinho que já foi dada ordem para começar a parte do memorando que ele
fez, e que agora ia ser chamado.

É de referir, no entanto, que a decisão a que Paulo Penedos se referiu,


só é oficialmente dada no dia 3 de Abril de 2009, pela Eng. Maria José Clara,
directora da divisão de Gestor de Mercados, conforme se pode verificar nos
encaminhamentos no SGD e as anotações relativas ao dia 3 de Abril do Eng.º.
Andrade Lopes. (fls. 83 do apenso AE9)

Nesse mesmo dia, Paulo Penedos, a propósito de um incêndio nas


instalações da “2nd Market”, liga a Manuel Godinho e torna a confirmar que,
em relação daquilo da Central a decisão está tomada, mais dia, menos dia, é
uma questão burocrática, para não mexer”.

De acordo com os apontamentos do Eng. Andrade Lopes, no dia 6 de


Abril foi marcada uma reunião com a CAFLIXA para planear os trabalhos que
tinham sido adjudicados que ficou para o dia seguinte.

Nessa reunião o Eng.º. Moreira da Silva alertou que, perante o que viu
(v.g. salas fechadas) os trabalhos iriam durar mais tempo do que o previsto.

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Apesar destes desenvolvimentos, a empresa CAFLIXA mostrou-se


indisponível para dar resposta imediata à realização dos trabalhos de
arrumação dos resíduos devido aos compromissos que tinha assumido com a
empresa Douro Litoral Obras Especiais, ACE, para a construção da nova ponte
sobre o Rio Douro, conforme o explanado pelo Eng. Andrade Lopes no
encaminhamento de fls. 85-verso do apenso AE9.

Nesse sentido, foi decidido que ficaria sem efeito a adjudicação anterior
e que seriam contactadas as empresas qualificadas pela REN e com as quais,
esta teria contrato de recolha de resíduos. Para tal, o Eng. Andrade Lopes
pede celeridade à divisão de sustentabilidade e sistemas de gestão (Eng.
Vicente Martins) na conclusão da actualização do estudo, recebendo a
indicação do Dr. Domingos Correia que estaria finalizado na semana entre 20 e
24 de Abril, o que permitiu ao Eng. Andrade Lopes marcar as visitas das
empresa O2, CESPA e AUTO-VILA à ex-CTO para 29 de Abril e 30 de Abril, tal
como veio a acorrer. (fls. 90 frente e verso e fls 91 do apenso AE9)

De referir, todavia que, no dia 15 de Abril de 2009, 4ª feira, dada a


ausência de notícias, Paulo Penedos volta a insistir com Manuel Godinho
dizendo que “viu um e-mail sobre as instruções de consulta da Central, sobre a
despoluição e que ainda deverá ser esta semana”. (produto 6753 do
1T167PM).

Em conversa com Namércio Cunha, este diz-lhe que não recebeu e que
deverá ser um e-mail interno. (produto 6772 do alvo 1T167PM)

Com efeito, na 6ª feira, dia 17 de Abril de 2009, o Eng.º. Andrade Lopes


telefona para a Eng. Margarida Marques, da O2, para agendar a visita que
resulta da entrada em vigor do DL 46/2008 de 12 de Março, nomeadamente
por força do art. 10º “Plano de prevenção e gestão de RCD” em obras públicas
(fls. 90) para dia 29 de Abril às 14h30. Tal como lhe fora solicitado por Paulo
Penedos, Namércio Cunha liga-lhe e informa-o de que foi contactado pela REN

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para visitar o local e que mais tarde lhe seriam enviadas quantidades. (produto
4083 do alvo 38250PM)

Curiosamente e nesta conversa Paulo Penedos pergunta


expressamente se ”falou com o chefe” sobre isto, e se ele ficou satisfeito, ao
que Namércio Cunha responde que “ficou com boas expectativas”, traduzindo
as preocupações que Paulo Penedos tinha com a satisfação das pretensões de
Manuel Godinho.

Ao observar os resultados que obteve na REN com o memo de,


Namércio Cunha e a intervenção de Paulo Penedos, no dia 20 de Abril de 2009
a propósito dos transformadores na EDP, Manuel Godinho diz que esteve em
Lisboa e deu um toque para lhe arranjarem trabalho. Assim, dá indicações a
Namércio Cunha para fazer uma exposição sobre casos que “detectaram”,
“como centrais que precisam de ser descontaminadas” ou “que correm risco de
incêndio, como fez na REN, que ele depois fazer chegar isso”.

A formalização da consulta aos três operadores e marcação das visitas à


ex-CTO é feita por Andrade Lopes por via electrónica, no dia 24 de Abril de
2009, onde refere que a central encontra-se encerrada desde 2005 e que os
resíduos se encontram nos mais diversos locais, pelo que a REN solicita
orçamento para recolha e acondicionamento dos resíduos.

Antes desse pedido, é de salientar que, no dia 22 de Abril, Patrão Reto,


superior hierárquico de Andrade Lopes, solicitou a João Sandes uma previsão
de orçamento dos trabalhos para fornecer à ERSE – Entidade Reguladora do
Sector Energético. Este ponto assume particular relevância pois ele vem a ser
mencionado mais tarde pelo arguido Paulo Penedos numa conversa – produto
2782 do alvo 39263M – ao referir que “a regulação” tem de reconhecer estes
custos porque se assim não fosse os trabalhos tornar-se-iam muito
dispendiosos.

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No dia 29 de Abril de 2009, pelas 14h, deu-se início à visita, pelos


representantes da O2, designadamente, Margarida Marques, Namércio Cunha,
Hugo Godinho, João Godinho e José/Manuel Godinho) às instalações ex-CTO,
acompanhadas por Andrade Lopes. (fls. 130 e 131 do apenso AE9 e produtos
7959 e 8006 do alvo 1T167PM)

Ainda durante a visita, Manuel Godinho foi contactado por Paulo


Penedos que lhe pergunta como correu a visita, tendo aquele dito que ainda
estava no local e que tinham de falar nos termos do negócio pois o que lhe
interessava era o desmantelamento metálico. (produto 8040 do alvo 1T167PM).

Ainda nesse dia é combinado um encontro entre os dois a realizar no


dia seguinte (produto 8043 do alvo 1T167PM), tal como veio a acontecer
(produtos 8052, 8085, 8096, 8107 do alvo 1T167PM)

Ainda na sequência da visita, Namércio Cunha liga a Manuel Godinho e


este aproveita para perguntar se percebeu o que ele, Andrade Lopes pretendia,
ao que Namércio Cunha responde que ele ”da parte das cinzas só pretende
saber preços, mas que tem é que se preparar as coisas e proporcionar para
que elas sigam para cima”. A conversa roda à volta do enquadramento das
cinzas no código LER, ao que Manuel Godinho dá indicações Namércio Cunha
arranjar um código adequado para encaminhar de acordo com o contrato.

Manuel Godinho pergunta a Namércio Cunha quais as empresas que


eles, REN, vão convidar, ao que este informa que serão a CESPA e a AUTO-
VILA.

Manuel Godinho é claro: a AUTO-VILA é que não lhe agrada muito, pelo
que é de presumir de que haveria concertação de preços, pelo menos, com a
empresa CESPA.

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Das intercepções telefónicas seguintes, resulta que Manuel Godinho


apresentou, no dia 30 de Abril, na reunião em Lisboa com Paulo Penedos “uma
contraposta” no sentido do alargamento dos trabalhos na ex-CTO e que teve
“luz verde”, tendo Paulo Penedos dado instruções a Namércio Cunha no dia 3
de Maio para que fosse feita uma carta para a REN, fazendo referência à visita
(produto 5017 do alvo 38250PM).

Namércio Cunha encontra-se com Paulo Penedos junto à PT, sendo que
na reunião foram debatidos os termos da carta. (produto 5083 do alvo
38250PM). Manuel Godinho insiste com Namércio Cunha de que o que falou
com Paulo Penedos na reunião foi que a “O2 se propunha a fazer a demolição
e faziam a triagem do material e que eram entregues ao abrigo do contrato, o
betão, as cinzas, o ferro(…)”. não tendo feito qualquer referência à valorização
das cinzas.

Manuel Godinho e Namércio Cunha chegam ao consenso na conversa


telefónica (produto 8437 do alvo 1T167PM) de não incluírem a proposta das
cinzas, dando instruções para que ele faça a proposta para a REN para o
desmantelamento de betão e de estruturas metálicas da Central, entregando-a
em mão ao engenheiro (Andrade Lopes), sem no entanto, falar em nomes.

Por sua vez, no produto 8446 do alvo 1T167PM, Paulo Penedos diz
claramente a Manuel Godinho que “é preciso fazer uma cartinha a oferecer a
limpeza e a descontaminação de tudo e depois dizer que os custos são ao
abrigo dos contratos” e que “já explicou a Namércio Cunha a quem deve
entregue a carta”, referindo que ”a pessoa vai sair para o estrangeiro”.

De salientar que no dia 4, Paulo Penedos reforça a Manuel Godinho que


“ele”, já confirmou e tem “luz verde”. (produto 8450 do alvo 1T167PM)
referindo-se ao seu pai, Eng. José Penedos, tendo Manuel Godinho de
imediato transmitido essa informação a Namércio Cunha (produto 8451 do alvo
1T167PM)

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O arguido Namércio Cunha elabora a carta-proposta, dando-a a


conhecer por telemóvel a Manuel Godinho no dia 5 de Maio para que este a
comente (produto 8494 do alvo 1T167PM), enviando-a no mesmo dia para o
arguido Paulo Penedos que a corrige (produto 5191 do alvo 38250PM)
chamando a atenção a pormenores de formatação do texto.

Produtos cujo teor abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 8446


DATA/HORA: 04/05/09 18:36:13
INTERVENIENTES:
DE – Paulo Penedos
PARA – Manuel Godinho

MANUEL GODINHO – Tou!


Telefonista – Sim, senhor Godinho tenho em linha o doutro Paulo Penedos.
MANUEL GODINHO – Olha, passa lá. Tou!
PAULO PENEDOS – Tou!
MANUEL GODINHO – Sim doutor.
PAULO PENEDOS – Bem disposto? Tudo bem?
MANUEL GODINHO – Tá tudo. Tudo bem.
PAULO PENEDOS – Olhe, era só para lhe dar nota do seguinte: Eu falei com o
nosso amigo
MANUEL GODINHO – Sim
PAULO PENEDOS – Namércio, eh
MANUEL GODINHO – Sim.
PAULO PENEDOS – Mas, eh, há aqui uma questão que é assim. A pessoa
pensava que as cinzas tinham algum valor. Isto é, que se podia limpar tudo e,
eh, ainda dar uma pequena contrapartida
MANUEL GODINHO – Não
PAULO PENEDOS – À empresa.
MANUEL GODINHO – Não foi isso que eu disse, pá.

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PAULO PENEDOS – Tá bem, ok, já percebi.


MANUEL GODINHO – Sim.
PAULO PENEDOS – Já percebi.
MANUEL GODINHO – Sim.
PAULO PENEDOS – E, por isso, o que eu combinei com ele é fazer-se uma
cartinha, eh, a dizer o que, o que se quer limpar e em que termos é que pode,
podem ser acertadas as contas entre depois o prestador e a empresa.
MANUEL GODINHO – Exacto.
PAULO PENEDOS – Tá bem?
MANUEL GODINHO – O que eu, eu vou-te dizer da maneira que propôs, assim
uma coisa por alto.
PAULO PENEDOS – Sim senhor.
MANUEL GODINHO – Eu disse que fazeria a demolição e a triagem, e os
materiais sai aos abrigos dos contratos.
PAULO PENEDOS – Pois, exactamente. Pronto.
MANUEL GODINHO – É isso que eu disse.
PAULO PENEDOS – Eh.
MANUEL GODINHO – O Namércio já me ligou, a fazer uma grande confusão, já
lhe dei, já lhe dei na cabeça, que ele não percebe nada disto. Eh, porque ele
sabe perfeitamente, sabe perfeitamente que nós temos que pagar, pagar uma
taxa de, de 60,00€ a tonelada para depositar as coisas.
PAULO PENEDOS – Depositar os resíduos em causa.
MANUEL GODINHO – Exacto.
PAULO PENEDOS – Tá bem. Ok.
MANUEL GODINHO – Como é que esse gajo
PAULO PENEDOS – Mas, de qualquer maneira, de qualquer maneira, é preciso
fazer a cartinha a oferecer a limpeza e a descontaminação de tudo. Eh, e
depois dizer que os custos, pronto, são determinados em função, não avançar
nada com os custos.
MANUEL GODINHO – Ao abrigo do, dos contratos.
PAULO PENEDOS – Ao abrigo dos contratos e em função das quantidades
(imperceptível)
MANUEL GODINHO – Ao abrigo dos contratos em curso
PAULO PENEDOS – E tipos de resíduos efectivamente encontrados, não é?
Porque até se pode pensar que há lá uma coisa e haver lá outra, não é?
MANUEL GODINHO – Exactamente.

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PAULO PENEDOS – E por isso, só entrando e começando a trabalhar é que se


pode ver o que é que lá está.
MANUEL GODINHO – Exacto.
PAULO PENEDOS – E por isso
MANUEL GODINHO – E são coisas, são coisas, são coisas que, que estão a
derramar líquidos, são coisas que estão em vias de ruir, é pá, e isso tem que
ser tratado rapidamente. E a gente faz isso, propomos fazer esse trabalho,
porque não sabemos o que lá está.
PAULO PENEDOS – Claro, claro, claro.
MANUEL GODINHO – Percebes? E os manterias sairam ao abrigo, saem ao
abrigo dos contratos.
PAULO PENEDOS – Uh, uh.
MANUEL GODINHO – É bastante vantajoso para a empresa.
PAULO PENEDOS – Ok, ok. Pronto.
MANUEL GODINHO – É bastante vantajoso.
PAULO PENEDOS – Então vá. Fazende lá a cartinha. Tá bem?
MANUEL GODINHO – Eu faço a carta. Tu vais sair para o estrangeiro, é?
PAULO PENEDOS – Não, eu não, eh, o
MANUEL GODINHO – Eh, é que
PAULO PENEDOS – A pessoa em questão é que vai sair amanhã e depois só
volta sexta, mas eu não.
MANUEL GODINHO – Ah, pois. E isso deve ser encaminha p’ra?
PAULO PENEDOS – Isso eu já expliquei tudo a, ao doutor Namércio
MANUEL GODINHO – Tá bem.
PAULO PENEDOS – Tá bem?
MANUEL GODINHO – Ok. Amanhã tá lá a carta.
PAULO PENEDOS – Ok.
MANUEL GODINHO – Tá bem?
PAULO PENEDOS – Um abraço. Um abraço.
MANUEL GODINHO – Tá, ok. Um abraço.
PAULO PENEDOS – Obrigado, obrigado, obrigado.

PRODUTO Nº: 8450


DATA/HORA: 04/05/09 18:43:37
INTERVENIENTES:
DE – Paulo Penedos
PARA – Manuel Godinho
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MANUEL GODINHO – Tou.


Telefonista – Sim, senhor Godinho tenho em linha, em linha novamente o
doutor Paulo Penedos.
MANUEL GODINHO – Passa.
PAULO PENEDOS – Tou?
MANUEL GODINHO – Tou.
PAULO PENEDOS – Tou?
MANUEL GODINHO – Sim, sim.
PAULO PENEDOS – Pronto. É só para confirmar, que eu já confirmei, eh, eh,
que a interpretação é essa. Por isso as pessoas sabem que há custos, não é?
MANUEL GODINHO – Sim.
PAULO PENEDOS – Por isso é dizer que foi feita a visita, na sequência da qual
foi constatada uma realidade que ia muita para além do que foi pedido
inicialmente e que a empresa se oferece para fazer a limpeza e
descontaminação no âmbito e a preços já estipulados contratualmente.
MANUEL GODINHO – Exactamente.
PAULO PENEDOS – Sem, sem referir números, porquanto as quantidades e o
tipo de resíduos não são ainda conhecidos.
MANUEL GODINHO – Exactamente. É isso.
PAULO PENEDOS – Ok?
MANUEL GODINHO – Ok.
PAULO PENEDOS – Pronto. Mas ele que me mande uma minuta da carta para
eu olhar para ela antes.
MANUEL GODINHO – Tá bem.
PAULO PENEDOS – Tá bem?
MANUEL GODINHO – Tá bem.
PAULO PENEDOS – Que é para ser uma coisa mesmo como deve ser. Tá bem?
MANUEL GODINHO – Tá bem. Ó doutor, mas isso tem é que ser tratado
rapidamente.
PAULO PENEDOS – Chefe, já tem luz verde.
MANUEL GODINHO – É que tu e o doutor Namércio e o doutor Namércio e tu,
tendes o passo muito curtinho.

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PAULO PENEDOS – Eh, eh, eh, eh.


MANUEL GODINHO – Não é?
PAULO PENEDOS – Eu assim que me sentei com ele tratei do assunto. E agora
confirmei e temos luz verde. Tá bem?
MANUEL GODINHO – Eu vou já falar com ele, ele amanhã está-te, está-te a
mandar uma minuta.
PAULO PENEDOS – Tá bem?
MANUEL GODINHO – Ok.
PAULO PENEDOS – Vá, um abraço.
MANUEL GODINHO – Tá.
PAULO PENEDOS – Um abraço.

Dados do Produto

Número de produto do alvo 5191

Alvo 38250PM

ID de Intercepção 351938959707 (Namércio Cunha)

A chamar (Paulo Penedos)

Hora inicial 05/05/2009 12:58:08

Destinatário (Namércio Cunha)

PAULO PENEDOS – Dr. Namércio


NAMÉRCIO CUNHA – Sim.
PAULO PENEDOS – Então? Já viu o que eu lhe enviei?
NAMÉRCIO CUNHA – Não. Acabei de sair. Mas vou a caminho, vou cedo. Vou a
caminho ao chegar lá….
PAULO PENEDOS – Eeee… tá corrigida. Só temos que ter cuidado, parece que
há lá umas letras que você tem em azul e eu ficaram em preto. Por isso, é só
uniformizar
(risos)
NAMÉRCIO CUNHA – Ah! Sim. Sim.
PAULO PENEDOS – E pá, são cuidados… pá, que…
NAMÉRCIO CUNHA – Não, sim, sim, aquilo ali depois vai noutro papel, só me
preocupei em apreciar o texto.

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PAULO PENEDOS – Pronto. E pá, só dei ali um toquezinho em três sítios, mas
penso que… pronto… está diferente…
NAMÉRCIO CUNHA – Sim.
PAULO PENEDOS – Eee… é para não cairmos na questão da… de parecer que
estamos a recriminar, que os outros não fizeram o trabalho…
NAMÉRCIO CUNHA – claro…
PAULO PENEDOS – Pronto…
NAMÉRCIO CUNHA – Tá bem, tá bem…
PAULO PENEDOS – Por mim, pode seguir.
NAMÉRCIO CUNHA – Tá bem.
PAULO PENEDOS – Ok.
NAMÉRCIO CUNHA – Ok.
PAULO PENEDOS – Tá, um abraço
NAMÉRCIO CUNHA – Um abraço, obrigado.

Manuel Godinho chama a atenção de que, na sua opinião, não deveria


dizer na proposta que “a mão-de-obra está a ficar sem ocupação” porque
parece que “estão a mendigar”.

Porém, Namércio Cunha responde que tal afirmação foi uma “sugestão”
(de Paulo Penedos) e lembra que a empresa O2 está a assumir um custo
significativo pois esteve a ver no caso de Alto Mira e só para o
desmantelamento do betão foi cobrado €20/ton.

No dia seguinte, dia 6 de Maio de 2009, Namércio Cunha telefona ao


Eng. Andrade Lopes dando conta do envio e dos termos da carta da O2
propondo trabalhos de desmantelamento metálico e de betão ao abrigo do
contrato de gestão de resíduos, falando-lhe numa “proposta tentadora para a
REN” (fls. 133 do apenso AE 9).

As glosas que o Eng. Andrade Lopes fez à carta da O2 são bem


reveladoras da sua impressão inicial sobre a proposta: “O assunto merece
visita ao local para determinar o que será para desmantelar. Merece ainda uma

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consulta aos outros dois concorrentes CESPA e AUTO-VILA. Igualmente


recomenda-se uma consulta à ENDESA, TURBOGÁS e Sr. Juromel”

Ainda nesse dia, o Eng. Andrade Lopes, regista nos seus apontamentos
uma chamada da Eng.ª. Margarida Marques da O2, sobre o assunto das
cinzas. (fls. 133 do apenso AE 9)

Namércio Cunha telefona no dia 7 de Maio (produto 5461 do alvo


38250PM) a Paulo Penedos comunicando-lhe que tinha ligado ao Eng.
Andrade Lopes no anterior para ”ele não ser apanhado desprevenido” e que o
“primeiro impacto foi negativo”.

No dia 7 de Maio, a carta chega à mão do Eng.º Andrade Lopes, sem


envelope e por via correio interno de Anabela Moreira (fls. 134 do apenso AE 9)
que a manda registar no SGD.

Mais tarde e em sede de inquirição e porque perguntada, a testemunha


Maria José Clara, (fls. 151 do apenso AE 28) directora da divisão Gestor de
Mercados afirmou que ficou com a ideia que a O2 pretendia mais trabalho do
que aquele que estava a ser equacionado e que na sua opinião esta proposta
não tinha cabimento.

Aceitando esta proposta, por hipótese meramente académica, teria de


ser lançado novo concurso, com novo processo de consulta ao mercado, o que
não estava nas pretensões da divisão.

Dois dias mais, tarde (9-5-2009), Paulo Penedos liga a Namércio Cunha
para esclarecer se na proposta que fizeram, “as cinzas estavam incluídas” ao
que Namércio Cunha diz que não porque “tem custos associados”, pelo que
tem de ser “um processo à parte”, mas que ”estão interessados” .

Paulo Penedos, demonstrando que está em contacto o seu pai, informa


que “vai dizer, se nos for perguntado, que no 2º parágrafo onde é referida de
necessidade de descontaminação das infra-estruturas vai considerar o próprio

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terreno uma infra-estrutura e se for necessário avançar para a limpeza de


cinzas também há possibilidade.

No dia 11 de Maio, depois de, manifestamente, Paulo Penedos ter falado


com o seu pai, diz em conversa telefónica a Manuel Godinho que “a carta que
Namércio Cunha fez foi vista ontem e vai ter uma resposta positiva”. (produto
9009 do 1T167PM, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se
alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC) Manuel Godinho fica notoriamente satisfeito mas questiona se
“vai demorar muito”. Paulo Penedos é categórico na resposta: “vai ter uma
resposta em menos de um mês porque mete-se o Verão e depois ninguém
responde a nada, não se trata de nada(…)”

PRODUTO Nº: 9009


DATA/HORA: 11/05/2009 – 14h23m45s
INTERVENIENTES:
• DE – Paulo Penedos
• PARA – Manuel Godinho

MANUEL GODINHO – Tou?

BRUNO – Sim, Sr. Godinho. Tenho em linha o Dr. Paulo Penedos.

MANUEL GODINHO – Eh… é pá, diz-lhe que eu ando aqui com um senhor e
para… ou passa, passa…

BRUNO – Passo? Vou passar, com licença.

***

MANUEL GODINHO – Tou?

PAULO PENEDOS – Então meu caro amigo! Bem disposto?


MANUEL GODINHO – Está tudo!

PAULO PENEDOS – Olhe, é só para lhe dizer que aquela cartinha que o Dr.
Namércio lhe fez já foi vista ontem e será respondida positivamente.

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MANUEL GODINHO – Ok, porreiro.

PAULO PENEDOS – Ok?


MANUEL GODINHO – Mas vai demorar muito?

PAULO PENEDOS – É pá… eu pedi que demorasse pouco tempo. E fiz… e


perguntei “isso demora quê, um mês?” E disseram-me “não, menos de um
mês. A notificação demora menos de um mês a chegar.”
MANUEL GODINHO – Ok, porreiro.

PAULO PENEDOS – Ok?


MANUEL GODINHO – Porreiro. Ok.

PAULO PENEDOS – Porque… porque eu disse, ó pá depois mete-se o Verão,


depois ninguém responde a nada, não se trata de nada e garantiram-me “está
descansado que…”
MANUEL GODINHO – Nós estamos à rasca, não temos que dar que fazer ao
pessoal.

PAULO PENEDOS – Eu sei, eu sei, isso está lá escrito na carta. Menos de um


mês.
MANUEL GODINHO – Ok. Na quarta-feira vou ter uma reunião nos homens
da… da energia. Lá com o chefe maior.

PAULO PENEDOS – Ai aqui em Lisboa?


MANUEL GODINHO – Sim.

PAULO PENEDOS – Está bem. Então se depois quiser comer um bife ou…
MANUEL GODINHO – Está bem.

PAULO PENEDOS – Ou um peixinho diga qualquer coisa que eu telefono, em


princípio ainda tenho um dinheirinho para o convidar para almoçar.
MANUEL GODINHO – Está bem, está bem (risos). Tens saúde é o mais
importante.

PAULO PENEDOS – E amigos.


MANUEL GODINHO – Exacto. É o que interessa.

PAULO PENEDOS – Exactamente. Saúde…


MANUEL GODINHO – De resto um gajo…

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PAULO PENEDOS – Saúde e amigos verdadeiros, de resto…


MANUEL GODINHO – Exactamente, exactamente. Porque há pouco hoje, hã?

PAULO PENEDOS – Exactamente.


MANUEL GODINHO – Pronto, ok Paulo eh…

PAULO PENEDOS – Pronto era só…

MANUEL GODINHO – Depois falamos… está bem?

PAULO PENEDOS – Está bem.

MANUEL GODINHO – Eu na quarta-feira se for por aí a baixo, eu falo.

PAULO PENEDOS – Se tiver um bocadinho, é só porque tinha gosto de estar


consigo, mas está tudo bem, era só para o tranquilizar está bem?

MANUEL GODINHO – Está bem, está ok, está bem ok, ok.

PAULO PENEDOS – Um abraço

MANUEL GODINHO – Tá, um abraço.

No dia 12 de Maio, Paulo Penedos – produto 5730 do alvo 38250PM


telefona a Namércio Cunha e diz-lhe que “a carta ainda não chegou”,
aconselhando-o a ligar ao engenheiro (Andrade Lopes) sem mencionar que a
carta não chegou ao conhecimento de quem tinha que chegar”e perguntando-
lhe se já chegou a ele, explicando “que é para isso ainda ser despachado até
ao fim dos mês”. Paulo Penedos na chamada seguinte chama a atenção que
na conversa com o Eng.º. Andrade Lopes não deve revelar qualquer
conhecimento do que se está a passar. (produto 5731 do alvo 38250PM)

Resulta claro que Paulo Penedos se está a referir ao Eng. Victor


Baptista quando diz que ”ainda não chegou a quem tinha que chegar”, já que
carta foi enviada para o Eng.º. Andrade Lopes, com conhecimento ao citado
administrador.

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Na sequência da sugestão Namércio Cunha liga a testemunha Andrade


Lopes (produto 5755 do alvo 38250PM) perguntando sobre se já recebeu a
carta ao que este respondeu positivamente, retorquindo-lhe que a iria registar
na secretaria, elaborando quando fosse possível informação sobre a mesma e
submetendo-a depois à consideração superior e da Administração, apesar “de
considerar que será um pouco prematuro porque há um concorrente
interessado na compra da central e em recuperar a Central existindo ainda um
terceiro, a Turbogás, que deverá também ser consultado”, tendo ainda
Namércio Cunha frisado que “têm ali uma questão ambiental que está a
escaldar nas mãos da REN”.

À tarde, Paulo Penedos é informado por Namércio Cunha no mesmo dia


(produto 5773 do alvo 38250PM) de que a carta foi recebida e que está nos
serviços administrativos. Namércio Cunha chama a atenção de Paulo Penedos
para o facto do Eng.º. Andrade Lopes ter a preocupação de existirem
potenciais compradores havendo a possibilidade de vir a ser vendido. Neste
aspecto, é nítida a confiança de Paulo Penedos dizendo, rindo-se, que “tá
bem”, “isso é problema dele!” tendo Namércio Cunha dito que o “sensibilizou
para que deixasse as opções em aberto”.

É aqui que o giro linguístico, a entoação, o silabar relevam na análise


deste meio de obtenção de prova.

Ainda nesse dia Eng. Andrade Lopes recebeu mails da CESPA e AUTO-
VILA a pedir novas visitas que ficaram marcadas para dia 18 de Maio. Do que
percebeu, a AUTO-VILA e parafraseando o Eng. Andrade Lopes, “torceu o
nariz!” (fls. 138 e 139 do apenso AE9)

No dia 15 de Maio de 2009, Andrade Lopes elabora um IFGMMG-MSP


8/2009, intitulada “Gestão de resíduos existentes na ex – CTO” (fls. 140 do
apenso AE9) onde faz o ponto da situação mencionando que a «02 Ambiente»,
a «Auto - Vila» e a «Cespa» foram convidadas a visitar à Central, a fim de
observarem a natureza, quantidade e variedade dos resíduos, de modo a

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disponibilizarem os contentores apropriados e em quantidade suficiente, para o


acondicionamento daqueles. Simultaneamente, solicitou às empresas
orçamento para os trabalhos de acondicionamento, os quais não estão
incluídos no actual Contrato de Resíduos.

De seguida, faz referência à proposta da O2, afirmando que, por


hipótese, poderá não ser favorável aos interesses dos compradores que se
encontram em negociações com a REN, no que concerne ao desmantelamento
das infra-estruturas metálicas e de betão, pelo que deviam ser auscultados
neste particular.

Por fim, menciona questões jurídico-administrativas relacionadas com o


Plano de Ordenamento da Albufeira de Crestuma - Lever (POACL - DR, l.a
série - N.° 246 - 21DEZ2007) que abrange a ex-CTO n a medida em que a
enquadra nos edifícios dentro da zona de protecção da albufeira (faixa terrestre
de 500 m, medida na horizontal, a partir do nível de pleno armazenamento),
designadamente e numa área considerada de especial interesse cultural,
especificamente referida no Artigo 26.° do referido DR, pelo que conclui
existirem razões suficientes para se ter prudência em permitir acções de
desmantelamentos e demolições imediatas.

Assim, solicitou autorização superior para prosseguir com o


acondicionamento e recolha de resíduos prioritários, de acordo com o plano
inicialmente traçado de contenção de custos e orientação superior quanto ao
teor da resposta a dar à carta da 02.

Nesse dia 15 de Maio de 2009, ocorrem diversas conversas entre Paulo


Penedos, Manuel Godinho e Namércio Cunha.

Paulo Penedos insiste com Manuel Godinho de que, formalmente, está


tudo tratado, tendo este, por sua vez, ligado para Namércio Cunha,

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aconselhando-o a falar com o “engenheirito”, referindo-se ao Eng.º. Andrade


Lopes.

De seguida, o arguido Namércio Cunha liga para Andrade Lopes


(produto 6311 do alvo 38250PM e fls. 140-verso do apenso AE9) que informou
que já tinha elaborado uma informação (IF GMMC-MSP 8/2009 de 15/5 de fls.
140 do apenso AE9) que a submeteu à apreciação da directora, que depois
levará ao conhecimento da administração. Nessa informação, a testemunha
Andrade Lopes propõe a continuação do que estava inicialmente planeado,
alegando que poderia violar o Plano de Ordenamento da Albufeira de Crestuma
(POACL), para além de poder não ser do interesse do futuro comprador do
terreno onde estava a ex-CTO.

Na sequência, o arguido Namércio Cunha liga para o arguido Paulo


Penedos (Produto 6315 do alvo 38250PM, que abaixo se transcreve, na
integra, para melhor se alcançarem os exactos fundamentos do juízo de
prognose a final efectuado pelo JIC/TCIC) reportando a conversa antecedente,
tendo este afirmado que ”já fora despachado favoravelmente embora não
soubesse os termos exactos”, que apenas saberia no domingo à noite quando
estivesse com a pessoa presencialmente.

Dados do Produto

Número de produto do alvo 6315

Alvo 38250PM

ID de Intercepção 351938959707 (Namércio Cunha)

A chamar 966788386 (Paulo Penedos)

Hora inicial 15/05/2009 17:23:46

Destinatário 351938959707

NAMÉRCIO CUNHA – (imperceptível) já está instalado e precisam de o pôr a


trabalhar que é para depois chamar à atenção… Tou?

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PAULO PENEDOS – Tou?


NAMÉRCIO CUNHA – Então, vamo-nos candidatar ou quê?
PAULO PENEDOS – A quê?
NAMÉRCIO CUNHA – A quê?! Fogo liderar o nosso grande campeão, pá.
PAULO PENEDOS – (risos)
NAMÉRCIO CUNHA – Já que eles andam lá todos nas conversas não sei quê e
a gente aparece ali com a solução… ah?
PAULO PENEDOS – Não, eu acho que ficar entregue ao Bettencourt, fica bem
entregue.
NAMÉRCIO CUNHA – Ó, quer dizer, armam-se em esquisitos, pá… armam-se
em esquisitos, primeiro querem depois já não querem…Agora já querem
novamente… Eu, por mim, se você alinhar, vamos os dois falo aqui com…
PAULO PENEDOS – Eu isso, futebol, não…
NAMÉRCIO CUNHA – o chefe, pá… para nos dar um apoio pá…
PAULO PENEDOS – Comigo p’ra tudo menos p’ra futebol.
NAMÉRCIO CUNHA – (risos) Já tá vacinado… Olha…
PAULO PENEDOS – Já lhe ligaram?
NAMÉRCIO CUNHA – Ah, não! Era isso que eu tava a ligar para saber, eu por
acaso…
PAULO PENEDOS – Soube hoje…
NAMÉRCIO CUNHA – Eu por acaso, por acaso… só abordei lá a outra pessoa, só
p’ra saber se havia alguma… Ele só simplesmente me disse que tinha mandado
o despacho dele para cima para análise…
PAULO PENEDOS – E foi hoje em cima despachado…
NAMÉRCIO CUNHA – Sim.
PAULO PENEDOS – Favoravelmente.
NAMÉRCIO CUNHA – E lã…
PAULO PENEDOS – Eu não sei os termos exactos, porque como tenho a minha
sogra doente…
NAMÉRCIO CUNHA – Ah…
PAULO PENEDOS – Vim p’ra Coimbra… e por isso foi-me comunicado por
telefone que já estava formalmente e positivamente despachado.
NAMÉRCIO CUNHA – Ahmm, ahm…
PAULO PENEDOS – E por isso domingo à noite…
NAMÉRCIO CUNHA – Claro…

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PAULO PENEDOS – Quando estiver presencialmente com a pessoa, saberei os


termos
NAMÉRCIO CUNHA – Pois, tá bem.
PAULO PENEDOS – E depois, segundo-feira falamos.
NAMÉRCIO CUNHA – Tá bem, pá.
PAULO PENEDOS – Pronto. Até se pode dar o caso de segunda lhe ligarem
porque o objectivo de tomar uma decisão célere foi também antes do verão
para não haver desculpas…
NAMÉRCIO CUNHA – Correcto.
PAULO PENEDOS – Antes do Verão, arrancar-se já com tudo.
NAMÉRCIO CUNHA – Óptimo! É boa altura! Tá bem.
PAULO PENEDOS – Mas eu já tinha comunicado ao chefe.
NAMÉRCIO CUNHA – Ai é? E pá, eu ainda não falei hoje com ele!
PAULO PENEDOS – Eu já falei… “não sei em que termos, mas era só para lhe
dizer que tá tudo formalmente decidido” Agora em que termos, pronto penso
que será nos termos da carta, pronto…
NAMÉRCIO CUNHA – Pois…
PAULO PENEDOS – Pronto, como há ali mais umas coisinhas que ainda podem
pintar…
NAMÉRCIO CUNHA – (imperceptível)
PAULO PENEDOS – Depois, veremos mas o desfecho é positivo.
NAMÉRCIO CUNHA – Tá bom!
PAULO PENEDOS – Ok?
NAMÉRCIO CUNHA – Tá bom? Óptimo!
PAULO PENEDOS – Vá
NAMÉRCIO CUNHA – Vamos… logo que tivermos certezas, depois dê-me um
toque… mesmo que seja no Domingo…
PAULO PENEDOS – Não! Certezas tenho! Só não tenho é dos termos.
NAMÉRCIO CUNHA – (risos) Tá bem. Não, não é isso, é isso! Dos termos! Tou
a falar de certezas nos termos.
PAULO PENEDOS – Um abraço, obrigado. Obrigado.
NAMÉRCIO CUNHA – Um abraço.

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Entretanto estava a decorrer o prazo para a apresentação das propostas


no âmbito da consulta efectuada para os trabalhos de acondicionamento dos
resíduos na ex-CTO. Neste contexto é interceptada uma conversa entre
Mónica Gandra, responsável pela delegação Norte da CESPA e Namércio
Cunha em que aquela lhe diz que está a ligar por causa daquela proposta da
Tapada do Outeiro da REN, dizendo-lhe que estava interessada em que fosse
a O2 a fazer parte dos resíduos e propondo “fazer uma proposta mais ou
menos concertada, a parceria do costume”

No dia 21 de Maio de 2009, entre as 11h30 e as 13h00, o administrador


Eng. Victor Baptista visita as instalações da ex-CTO, na presença do Eng.º.
Andrade Lopes, que regista nos seus apontamentos – a fls. 165 do apenso AE
9 – e que tinha previamente sido comunicada por Fernando Pereira.

Nesse mesmo dia, o administrador Eng. Victor Baptista, no seguimento


da proposta da directora da divisão Maria José Clara de 20-5-2009, despacha
no sentido de prosseguir com o acondicionamento e recolha dos resíduos
prioritários e ordena que relativamente à proposta na carta da empresa O2 se
analise a possibilidade de separar as actividades de descontaminação e de
desmantelamento. (fls. 145 e 187 do apenso AE9) dando conhecimento ao
departamento de Ambiente (SGAB) para que este se pronunciasse.

Pelas 19h00, Paulo Penedos pergunta a Namércio Cunha se já têm


alguma resposta, ao que este responde que não. Paulo Penedos aconselha-o
novamente a “não se preocupar porque as decisões estão tomadas. (produto
383 do alvo 39263M)

Nesta medida, podemos considerar, pelo que ficou exposto que o Eng.
Victor Baptista, astutamente, não aceitou a proposta tal qual como foi
apresentada pela O2, pois seria delicado justificar esta decisão perante o
conhecimento que os intervenientes da Divisão de Gestão de Mercados tinham

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das negociações com outras entidades para a venda da ex-CTO e o próprio


parecer do eng. Andrade Lopes que invocava questões jurídico-administrativas.

Assim, admitiu a realização dos trabalhos, ao determinar que se


analisasse a possibilidade de separar as actividades de descontaminação e de
desmantelamento.

No dia 25 de Maio, Manuel Godinho pergunta a Namércio Cunha se já


falou com “o Eng.º. do Porto”, referindo-se ao Eng. Andrade Lopes, ao que este
referiu que não. Manuel Godinho a pergunta se já enviou a proposta e
Namércio Cunha diz-lhe que “têm que falar primeiro”, acrescentando que “os
homens do Porto”, (a CESPA) também contactaram. Também estão a
concorrer e contactaram no sentido de darmos a cotação para eles
apresentarem. Manuel Godinho dá indicações para ser igual ao contrato anual
e que a triagem dos materiais que é feita a custo zero.

Aliás, no dia 27 de Maio, Eng. Andrade Lopes, anota que conversou com
o administrador Victor Baptista para esclarecer a dúvida do encaminhamento
de 21/5/2009 sobre a possibilidade de separar as actividades.

No dia 28 de Maio, Paulo Penedos informa Manuel Godinho que “está


tudo a andar, está confirmado que estão só na fase burocrática” e foca
novamente que já transmitiu que tem de estar tudo pronto no próximo mês para
não haver desculpas de que está toda a gente de férias. (produto 10660 do
alvo 1T167PM).

No dia 30 de Maio, (produto 1836 do alvo 39263M) Dr. Paulo Penedos


diz ao seu pai, Eng. José Penedos que precisa de falar com ele ao que este
responde que vai para Abu Dhabi. Porém, Eng. José Penedos diz ao seu filho
que “apesar de ir para os Emirados Árabes Unidos, que está cá o pessoal da
REN que faz andar as coisas e que a REN não depende só dele”, tudo
indicando que estava a referir-se ao Administrador Victor Baptista. Paulo

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Penedos alega, no entanto, a existência de uma relação de confiança (entre a


O2 a José Penedos), como já extractámos anteriormente.

Sem qualquer justificação aparente, o Eng. Victor Batista ordenou que a


carta de resposta a enviar à empresa O2, fosse assinada pela directora da
Divisão, sendo que a este propósito a directora Maria José Clara declarou,
quando prestou declarações, que não considerou anormal, havendo ocasiões
em que assinava a correspondência e noutras ocasiões em que era o
Administrador Vítor Baptista que assinava, desconhecendo porém qual o
critério. (fls. 148 do apenso AE 9 e fls. 153 do apenso AE 28)

Entre os dias 4 e 7 de Junho, são registadas conversas entre os


arguidos Paulo Penedos, Manuel Godinho e Namércio sobre a resposta da
REN à carta da O2, que entretanto tinha sido enviada no dia 1 de Junho.
(produtos 11491, 11515 e 11517 do alvo 1T167PM e 2772 e 2782 do alvo
39263M)

É possível perceber que o arguido Manuel Godinho não estava à espera


daquela resposta.

Paulo Penedos explica a Namércio Cunha e dá a interpretação que deve


fazer da resposta da REN na carta de 1 de Junho pretende (Diz é preciso saber
ler): uma vez “que tem que ser feito «by the book», para não termos
fragilidades”. Acrescenta que “eles ainda não tinham estudado e portanto têm
que estudar” e “o que disse é aquilo que está na carta” salientando que está
bem explícito (parafraseando Paulo Penedos, “para bom entendedor)
lembrando Namércio Cunha que ele tem informação complementar.

Por outro lado, Paulo Penedos informa-o que são 3 fases: “ que a que
está, vai acelerar e por isso é preciso responder rapidamente e que depois o
resto é logo a seguir. (…) eles agora estão a estudar a forma de abordar o

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resto e foi por isso é que foi lá um administrador (Victor Baptista) ver e agora
segue uma carta para o resto.”

Após o almoço, Paulo Penedos liga novamente a Namércio Cunha e


fortalece aquilo que já lhe tinha transmitindo, mencionando que foi almoçar
como o Sr. Presidente, referindo-se ao pai Eng. José Penedos, que lhe disse
que a carta significava fazer tudo formalmente correcto e que nas outras duas
fases entraria a oferta que se iria concretizar a curto prazo e que haveria
novidades no mês seguinte: (Julho de 2009) antes do pessoal ir de férias.
Paulo Penedos, transmite mais elementos para que Namércio Cunha fique
tranquilo ao informá-lo que o resto tem implicações no ponto de vista da
regulação dos activos, pelo que a entidade reguladora tem que reconhecer
aqueles custos porque senão em muito dispendiosos, mencionado o facto da
Eng. Maria José Clara vir dessa entidade (ver inquirição de Maria José Clara).

Esta ideia é reforçada no produto 11542 do alvo 1T167PM do dia 8, em


que o arguido Paulo Penedos, afirma que falou com presidente e as coisas têm
de ser feitas assim.

Nestas conversas é possível apurar que Paulo Penedos tem


conhecimento de todos os detalhes organizacionais da empresa e eventuais
implicações das decisões tomadas ou a tomar pela REN no que toca a este
procedimento concursal, que lhe foram passadas pelo seu pai, Eng,. José
Penedos, revelando ainda o envolvimento, conhecimento e participação do
Eng. Victor Baptista nestas decisões, quando menciona a visita que este fez às
ex-CTO para preparar as fases seguintes dos trabalhos.

No dia 8 de Junho, Paulo Penedos torna a mencionar a Manuel Godinho


que falou com o “presidente” (José Penedos) e que “as coisas têm de ser feitas
assim”. Manuel Godinho dá então ordens a Namércio para entregar o quanto
antes a proposta na REN (produto 11542 e 11643 do alvo 1T167PM) Nessa

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conversa, a determinado momento, Namércio Cunha diz que “vai dar um salto
à CESPA, já falou com uma das pessoas envolvidas e agora vou estar com os
outros para estar tudo alinhado”

Esta conversa vem reforçar os comentários aos produtos 8045 do alvo


1T167PM e 6714 do alvo 38250PM quando à existência de indícios de
concertação de preços entre as várias empresas concorrentes.

Não há pois, ao ver do JIC signatário nenhum vestígio de que, por esta
altura temporal da sua vida, Paulo Penedos não tenha já “assentado jogo”
como o Dr. Jorge Sampaio exortava a seu pai o seu correligionário de tantas
lutas cívicas Eng. José Penedos.

A proposta da empresa O2, no valor de €284.000 para os trabalhos de


acondicionamento dos resíduos, datada de 8 de Junho, é entregue e recebida
na REN no dia seguinte, tendo chegado às mãos do Eng. Andrade Lopes no
dia 15 – anotação de fls. 189v do apenso AE9 e conforme fls. 182 e ss. e em
especial fls. 206 do apenso AE3 e fls. 3 a 9 do apenso AE 10 - Onde refere
que “Falei com Maria José das compras para saber quem é que tinha enviado
um envelope fechado da O2, com uma proposta. Vinha com a data de
9JUN2009 às 14h15. Parece que é da D. Maria José Vasconcelos da
Secretária. Foi ela que enviou.”

Já no dia 12 de Junho, pelas 15h52, José Penedos liga ao filho Paulo


Penedos dizendo que tem a carta escrita pela Maria José Clara e que é
intenção prosseguir com o plano inicial, e que estão à espera de uma proposta.
José Penedos afirma ainda que já tem a tal avaliação que o filho diz que é uma
vergonha não estar feita pelo Andrade Lopes mas que ainda não foi apreciada
pelos serviços e que vai ser apreciada na semana seguinte. (produto 3478 do
alvo 39263M, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se alcançarem
os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado pelo JIC/TCIC).

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PRODUTO Nº: 3478


DATA/HORA: 12/06/2009 - 15:52:53
INTERVENIENTES:
DE – José Penedos
PARA – Paulo Penedos

PAULO PENEDOS – Sim?


JOSÉ PENEDOS – Paulinho…
PAULO PENEDOS – Então?
JOSÉ PENEDOS – Há uma carta escrita pela Maria José… Maria José…
PAULO PENEDOS – Clara….
JOSÉ PENEDOS – Maria José Clara, que tem a referência GM13, 2009…
PAULO PENEDOS – Sim…
JOSÉ PENEDOS – De dia 01 de Junho. É verdade que esta merda dos feriados
pode ter complicado isto, mas diz assim: “De momento é intenção prosseguir com o
plano inicialmente traçado de acondicionamento e recolha de resíduos mais
prioritários…”
PAULO PENEDOS – Sim, sim, sim e o resto fica para depois!
JOSÉ PENEDOS – E diz assim: “Deste modo, agradecendo a gentileza da
oferta que propuseram, ficamos aguardando vossa proposta com orçamentação para
o serviço de recolha, acondicionamento e descontaminação de resíduos apresentado
no dia 29 de Abril.” Portanto… esta resposta já veio?
PAULO PENEDOS – Não sei, mas se não foi já deve estar quase pronta.
JOSÉ PENEDOS – Há aqui uma coisa que me dizem que estão á espera desta
proposta.
PAULO PENEDOS – Está bem. Ok.
JOSÉ PENEDOS – Quanto á outra, já tenho em curso, cá dentro, a tal… como
é que se diz…
PAULO PENEDOS – De avaliação.
JOSÉ PENEDOS – De avaliação do… do tal senhor…
PAULO PENEDOS – Sim…
JOSÉ PENEDOS – …só que ainda não está apreciada cá dentro pelos serviços:
Já a informação, que tu dizias ser uma vergonha não estar feita… mas o senhor
Andrade Lopes já fez essa tal de informação…
PAULO PENEDOS – Está bem…
JOSÉ PENEDOS – … estaremos aqui em condições de apreciar na próxima
semana. Está bem?

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PAULO PENEDOS – Ok.


JOSÉ PENEDOS – Beijinhos.
PAULO PENEDOS – Tão vá... beijinhos.

Logo de seguida, (15h59) Paulo Penedos liga a Manuel Godinho


dizendo que esteve a almoçar com o “nosso” presidente – José Penedos – e
que relativamente à segunda proposta da carta, dos desmantelamentos
metálicos e de construção, vai ser decidida na semana seguinte. (produto 3482
do alvo 39263M, já supra transcrito).

Entretanto, no dia 17 de Junho Namércio Cunha liga a Andrade Lopes


para saber do processo, ao que este lhe replicou que o recebera e ainda não
abrira porque estava a aguardar as respostas CESPA e AUTO-VILA.

Com efeito, a proposta da CESPA, datada de 18 de Junho, só é


recebida a 22 Junho apresentado um preço de €306.000.

A proposta da AUTO-VILA, com data de 12 de Junho (fls. 51 do apenso


AE 3 e fls. 10- 65 do apenso AE10), só chega ao Eng. Andrade Lopes no dia
25 (fls. 190 do apenso AE9) e apresenta o valor de €338.635.

Estas propostas, incluindo a da O2, também apresentam valores para os


resíduos não abrangidos pelo contrato. Porém, estes só vêm a ser apreciados
mais tarde por dificuldades de comparação dos mesmos.

Em 30 de Junho é elaborada pelo Eng. Andrade Lopes a IF GMMC-MSP


10/2009, onde solicita autorização superior para adjudicar à empresa Romão
Ibérica, Lda., a reparação e hibridização da báscula existente na ex - CTO,
para os trabalhos de acondicionamento dos resíduos que se iriam realizar, pelo
valor aproximado de €9.000 (nove mil euros).

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Em 26 de Junho são abertas a propostas conforme acta de fls. 262, do


apenso AE3 e a 6 de Julho de 2009, Andrade Lopes, elabora a IF GMMC-MSP
11/2009, propondo a adjudicação dos trabalhos de triagem, limpeza,
identificação e acondicionamento dos resíduos à empresa O2 pelo preço de
€284.000, por ter apresentado o preço mais baixo. (fls. 266 do apenso AE3 e
fls. 4 do apenso AE 11)

Nesse dia 6, a directora Maria José Clara telefonou pelas 11h, a


Andrade Lopes a pedir a IF para esse dia (fls. 4 do apenso AE 11) .

Pelas 14h43, insiste com Andrade Lopes pedindo novamente a referida


IF referindo que havia pressa muito grande em se decidir a fase dos resíduos
(acondicionamento) porque o presidente José Penedos pretendia o assunto
resolvido no dia seguinte (7/7/2009) na reunião do Conselho. (fls. 9 do apenso
AE 11), sendo que a aludida IF apenas lhe foi enviada pelas 18h05.

Praticamente em simultâneo, às 13h23 do dia 6, Manuel Godinho liga a


Namércio Cunha e pergunta se não há novidades sobre a Tapada do Outeiro,
ao que este responde que falou com o Eng.º. (Andrade Lopes) e só para a
próxima semana.

Porém, Manuel Godinho assegura-lhe que o informaram que o pedido


sairia na sexta, dia 3-7-2009, ou o mais tardar, nesse dia.

No dia 7 de Julho de 2009, a Eng. Maria José Clara liga para o Eng.º
Andrade Lopes para esclarecimentos ao administrador Victor Baptista porque
“não perceberam os resíduos não abrangidos pelo contrato” que foi
mencionado por si no encaminhamento que fez associado à IF – fls. 6 do
apenso AE 11.

Assim e coincidindo com as informações que antecedem, o


administrador Victor Baptista decide aprovar aquilo a que denominou fase I, ou
seja a triagem, limpeza, identificação e acondicionamento dos resíduos,
devendo a fase seguinte, (querendo referir-se ao desmantelamento metálicos e

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de betão propostos pela empresa O2) ser sujeita a análise mais detalhada até
final de Julho – fls. 268 do apenso AE 3, remetendo de imediato a sua decisão
para homologação pelo CA que foi obtida, na reunião que se realizou nesse
mesmo dia. (fls. 268 verso e fls. 270 do apenso AE 3).

Nesta mesma reunião do CA, foi também aprovada a IF GMMC-MSP


10/2009 de 30.06.2009 – sobre o pedido do Eng. Andrade Lopes para a
reabilitação da báscula da ex-CTO.

No dia seguinte, (8/7/2009), pelas 9h15, Paulo Penedos liga para o


Manuel Godinho (produto 6791 do alvo 39263M) dizendo que ”é uma questão
de horas”, pois está tudo tratado”.

Cerca das 10h56, Andrade Lopes liga a Namércio Cunha dizendo que a
proposta da empresa O2 fora a escolhida (produto 10798 do alvo 38250M) que
logo se encarregou de transmitir a Manuel Godinho, anunciando uma reunião
para dia 10 (sexta-feira) para programação dos trabalhos (produto 14245 do
alvo 1T167PM), cuja início se previa que fosse no dia 20, após uma reunião de
coordenação entre as várias empresas - fls. 8 do apenso AE 11.

Pelas 15h30 do dia 8, provavelmente após ter almoçado com o seu pai e
desconhecendo que o Eng.º. Andrade Lopes já tinha ligado a Namércio Cunha
a comunicar a adjudicação, Paulo Penedos liga para a SCI e deixa recado com
Bruno para avisar Manuel Godinho de que a comunicação que estava a espera
está para sair. (produto 14486 do alvo 1T167PM)

No dia 13 de Julho, Andrade Lopes envia uma mensagem de correio


electrónico para os representantes das empresas consultadas (fls. 11 do
apenso AE 11 ou fls. 272 do apenso AE3) informando que a proposta
ganhadora tinha sido a da empresa O2 e que, quanto aos resíduos não
abrangidos pelo contrato, se aguardava a resposta das empresas CESPA e
AUTO-VILA das propostas com indicação do custo do resíduos em €/ton,
incluindo no preço o custo do transporte, para que houvesse uma decisão até

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S. R.

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ao final de Julho, de acordo com aquilo fora determinado pelo administrador


Eng. Victor Baptista.

No dia 31 de Julho de 2009, último dia de trabalho da directora Maria


José Clara antes de ir de férias, teve uma reunião, de manhã, com o Eng.
Victor Baptista, tendo este dito, para além de se pronunciar sobre outras
matérias, que “agora vamos passar a uma fase seguinte, isto é, ao
desmantelamento dos tanques e das bacias de retenção, deixando um tanque
mais pequeno”, tendo aquela respondido “que esse assunto ficaria para depois
de férias”.

Maria José Clara saiu da reunião e falou com a testemunha Andrade


Lopes, [conforme fls. 46-verso do apenso AE 11], que lhe disse que o
desmantelamento não estava previsto e provavelmente o que o administrador
Victor Baptista se estava a referir era a gestão dos resíduos não abrangidos
pelo contrato de gestão em vigor. Consequentemente, a Eng. Maria José Clara
enviou um mail ao Administrador Victor Baptista (fls. 39 do apenso AE 11)
esclarecendo que “a fase II seria a remoção dos resíduos da ex-CTO, pelo que
o desmantelamento não estava ainda em curso, não estando incluído no valor
nas propostas apresentadas até à data pelas empresas consultadas, sugerindo
que posteriormente se solicitasse preços para esse efeito.

No dia 5 de Agosto de 2009, Andrade Lopes envia um mail ao


administrador Victor Baptista apresentando a comparação de preços para os
resíduos existentes na ex-CTO e que não estão abrangidos pelo contrato de
Gestão de Resíduos da REN com as empresas 02, CESPA e AUTO – VILA
que obteve a concordância do administrador do pelouro, tendo este ordenado
que formalizasse numa IF, que, entretanto, não chegou a ser elaborada.

Andrade Lopes comunica por via electrónica às três empresas a decisão


de adjudicação após a análise das propostas enviadas, tendo como critério o
preço mais baixo, para a recolha de resíduos não abrangidos pelo Contrato de
Gestão de Resíduos da REN [Conforme fls. 294 do apenso AE 3].

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Perante tudo o já explanado é bom de ver, que para Manuel Godinho a


singular mais-valia que Paulo Penedos representava eram os seus laços
parentais, os quais lhe possibilitam a prossecução dos interesses da O2 – vide
produto 4556 do Alvo 1T167PM, no qual, apesar do evidente enfado e
relutância de Manuel Godinho em entregar mais 15.000,00€ a Paulo Penedos,
acaba por fazê-lo, pois, nas suas palavras, “precisam de Paulo Penedos e não
o quer ver chateado”.

A razão de ser da necessidade é óbvia e não reside nas capacidades e


aptidões de Paulo Penedos enquanto advogado, não porque tenham sido
postas em causa, mas apenas porque inexiste um qualquer litígio jurídico entre
a O2 e a REN ou uma qualquer pretensão da O2 junto da REN que careça de
enquadramento jurídico e que estivesse a ser tratada por Paulo Penedos, na
qualidade de advogado.

Aliás Namércio diz que Paulo Penedos nunca advogou pelas empresas
em qualquer litigio.

A imprescindibilidade radicava tão só no acesso à pessoa do Presidente


da REN que significou receber informação privilegiada e influenciar e
determinar o rumo e o destino do processo decisório no sentido da satisfação
dos interesses de Manuel Godinho.

José Penedos inteirava-se de todas as questões e pormenores


relacionados com as consultas e os concursos públicos lançados pela REN na
área dos resíduos, transmitindo a par e passo a Paulo Penedos todo e
qualquer desenvolvimento verificado.

Ou seja, comunicava-lhe a informação privilegiada, por não acessível


aos demais concorrentes, que Paulo Penedos traficava com Manuel Godinho.

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E isto desde a fase prévia ao próprio anúncio público do lançamento de


consultas e concursos, passando pela fase de apresentação de propostas e
culminando na fase de adjudicação dos contratos de prestação de serviços.

Sempre na perspectiva da satisfação dos interesses da O2.

Aliás, caso não encontrasse verosimilhança nas informações que Paulo


Penedos lhe transmitia e não conhecesse resultados, leia-se adjudicações,
Manuel Godinho teria cessado a sua relação com Paulo Penedos.

O enfado que denota quando contactado por Paulo Penedos e que o JIC
escrutinou em audições dos produtos mencionados a que pacientemente como
é seu dever procedeu e a relutância que patenteia em recebê-lo ou não fossem
estas as ocasiões em que aquele lhe solicitava a entrega de avultadas quantias
monetárias, apenas eram ultrapassados pela circunstância de, nas suas
próprias palavras, “precisar de Paulo Penedos”.

José Penedos, através da influência e do poder de decisão que o cargo


de Presidente do Conselho de Administração da REN lhe conferia, exercia o
seu múnus de ascendência para determinar o curso do processo decisório.

Atente-se para tudo quanto supra se sustentou, à guisa de exemplo, nos


produtos 2987, 2994, 3147, 3153, 3244, 3245 e 3478 todos do Alvo 39263M.

Assaz impressivos quanto ao envolvimento de José Penedos nas


questões atinentes às relações comerciais da O2 com a REN são; a consulta
pública para a adjudicação do serviço de recolha e acondicionamento dos
resíduos existentes nas instalações afectas à desactivada Central
Termoeléctrica da Tapada do Outeiro; a prorrogação do contrato de gestão
global de resíduos produzidos pela REN celebrado com a O2 ; e, bem assim,
os referidos acontecimentos de Junho de 2009 em Setúbal relacionados com
as alterações legislativas introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 46/2008.

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Estes são aspectos em que se descobre o favorecimento da O2 na sua


relação comercial com a REN.

Manuel Godinho obteve informação privilegiada e logrou a adjudicação


do contrato de prestação de serviços – Tapada do Outeiro –, conseguiu
prolongar o contrato de gestão global de resíduos produzidos pela REN nos
exactos termos anteriormente em vigor e regressar à gestão dos resíduos de
construção e demolição produzidos na obra da Subestação de Setúbal da
REN, quando as alterações legislativas introduzidas pelo Decreto-Lei n.º
46/2008 impunham que assim não sucedesse.

2.1. Da Concordância e do Estímulo de José Penedos à intermediação


proposta por Manuel Godinho e aceite por Paulo Penedos ao exercer o poder
que o cargo que ocupava lhe conferia no sentido do favorecimento das
empresas de Manuel Godinho.

O produto 2987 do Alvo 39263M é assaz revelador desta concordata


entre José e Paulo Penedos, referida na acusação.

Em desespero de causa e pressionado por Manuel Godinho, Paulo


Penedos contacta José Penedos no sentido de desbloquear o problema
acontecido na Subestação de Setúbal da REN com a gestão dos resíduos de
construção e demolição da obra pelo empreiteiro.

O modo como Paulo Penedos introduz a questão é elucidativo – por


forma a contextualizar José Penedos alude aos “nossos amigos das sucatas”.

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Não só José Penedos identificou, de imediato, de quem se tratava como


fez ver a Paulo Penedos que o assunto não podia ser abordado por aquele
telefone.

Ou seja, José Penedos, conhecendo os protagonistas, percebeu o


objectivo (ilícito) do contacto e remeteu-o para uma ligação segura.

Pois é sabido que estas formas de actuação, todo o cuidado é pouco.

Por outro lado, emerge a vinculação, a coesão e o compromisso entre


José e Paulo Penedos. Como dizer que o Eng. Penedos nada sabia da vida do
filho?

Aliás, a existência de escassas comunicações interceptadas entre Paulo


e José Penedos decorre, precisamente, da utilização de um outro posto
telefónico, cujo número permaneceu ignoto e do facto de se saber que se
encontravam e falavam pessoalmente.

Paulo Penedos apenas telefonou a José Penedos para o seu número


conhecido em casos de absoluta necessidade, leia-se, quando acossado por
Manuel Godinho no sentido de obter resposta pronta aos seus desígnios – vide
produtos 2987, 2994, 3147, 3153, 3244, 3245 E 3478 do Alvo 39263M -

Comunhão esta bem evidenciada no produto 3669 do Alvo 1T167PM, de


10 de Março de 2009.

Nesta conversa, Paulo Penedos revelou a Manuel Godinho informação


privilegiada da REN, à qual apenas podia ter acedido por intermédio do seu Pai
(o arguido Paulo Penedos mostrou-se, peremptório, em asseverar desconhecer
qualquer outra pessoa na REN) - Paulo Penedos informou, com mais de um
mês de antecedência, Manuel Godinho do lançamento da consulta na Tapada
do Outeiro e assegurou, a três meses da sua efectivação, a prorrogação do
contrato de gestão global dos resíduos produzidos pela REN.

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E, também, nos produtos 5110, 6140 e 10328 do Alvo 1T167PM e, bem


assim, nos produtos 383 do Alvo 39263M, nos quais, a propósito da Tapada do
Outeiro, Paulo Penedos transmitiu a Manuel Godinho ter falado com o seu Pai
e que este lhe havia assegurado a adjudicação à O2 dos trabalhos a serem aí
realizados.

Acrescenta-se que tal decisão apenas viria a ser, formalmente, tomada


cerca de três meses depois, a 08 de Julho de 2009.

Mas, igualmente, no produto 6791 do Alvo 39263M, no qual Paulo


Penedos comunicou a Manuel Godinho a decisão de adjudicação à O2 do
serviço de recolha e acondicionamento dos resíduos existentes nas instalações
afectas à desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do Outeiro no dia
imediatamente posterior àquele em que o Conselho de Administração da REN
tomou a decisão.

Ao que tudo indica, Paulo Penedos apenas podia ter tomado


conhecimento desta informação, porque não pública, por intermédio de seu
Pai.

E, também, nos produtos 6753 e 6772 do Alvo 1T167PM, datados de 15


de Abril de 2009, em que Paulo Penedos transmitiu a Manuel Godinho
transmitindo-lhe ter lido um e-mail interno da REN sobre as condições e os
termos da consulta pública a promover por aquela empresa para adjudicação
do serviço de recolha e acondicionamento dos resíduos existentes nas
instalações afectas à desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do

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Outeiro, isto é, informação privilegiada a que Paulo Penedos acedeu por


intermédio de seu Pai, por ser o único contacto que ele tinha na REN.

Mas, tal influencia não se limitou ao que acima se referiu.

Para além de fornecer informação privilegiada, Paulo Penedos prestou,


ainda, explicações privilegiadas a Manuel Godinho, sobre a posição da REN.

A propósito da alteração legislativa introduzida pelo Decreto-Lei n.º


46/08, de 12 de Março, das suas implicações no contrato de gestão de
resíduos industriais produzidos pela REN e dos seus reflexos na situação
ocorrida na obra da Subestação de Setúbal da REN, Paulo Penedos solicitou a
José Penedos que elucidasse a questão.

José Penedos, não obstante não possua qualificações na área (afinal,


jurista é o seu filho) diligenciou no sentido de obter os necessários
esclarecimentos.

O Presidente do Conselho de Administração da REN preocupou-se com


uma questão relacionada com uma empresa sem relevo no contexto quer do
“core business” quer das relações comerciais da companhia que dirige.

O que revela uma inegável preocupação com os interesses da O2 . Aos


olhos do JIC prolator desta decisão instrutória.

De outro passo, em 12 de Março de 2009, em conversa telefónica com


Namércio Cunha, Manuel Godinho revelou mesmo ter acesso directo a José
Penedos - produto 1433, Alvo 38250PM.

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Em contexto de urgência e de extrema necessidade, Manuel Godinho


instruiu Namércio Cunha a elaborar a proposta suplementar da O2
relativamente à Tapada do Outeiro que a entregaria em mão a José Penedos.

E não se diga tratar-se de mera prosápia ou fanfarronice de Manuel


Godinho, pois que não são características de personalidade que lhe sejam
reconhecíveis no confronto com o teor das comunicações telefónicas que,
durante meses, entabulou e que nos casos apontados nesta decisão
escrutinámos.

Do Favorecimento da 02 nas suas relações com a REN

Consulta pública para a adjudicação do serviço de recolha e


acondicionamento dos resíduos existentes nas instalações afectas à
desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do Outeiro

O arguido José Penedos rejeitou qualquer envolvimento pessoal no


processo relacionado com esta consulta ou sequer ter falado com o seu filho
sobre ela.

Sucede, contudo, que, entre outros, o produto 3478 do Alvo 39263M


impõem conclusão diversa.

Senão vejamos:

“No dia 12 de Junho de 2009, pelas 15h52, José Penedos contactou


telefonicamente Paulo Penedos, informando-o da existência de uma missiva,
datada de 01 de Junho de 2009, enviada pela REN à “O2”, rejeitando a
proposta apresentada a 5 de Maio de 2009 assegurando, sem custos para a
REN, os trabalhos de descontaminação e desmantelamento das infra-

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estruturas metálicas e de betão existentes nas instalações afectas à


desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do Outeiro.

Acrescentou que o processo relativo à Tapada do Outeiro já se achava


instruído com o parecer de Andrade Lopes, pelo que estavam reunidas as
condições para a sua apreciação na semana seguinte.”

Esta comunicação embora não releve ao nível da prestação de


informação privilegiada, permite perceber o compromisso e a coesão parentais
de José Penedos com Paulo Penedos no sentido do favorecimento da 02 na
sua relação com a REN.

Por outro lado, o auto de busca e apreensão robustece esta convicção,


pois que aí se consigna que no gabinete de trabalho de José Penedos, mais
propriamente na sua secretária de trabalho, foram encontrados os seguintes
documentos:

• um oficio aberto da REN para a O2, com referência à sua


comunicação de 05-05-2009 e nossa referência carta “GM 13/2009,
DE 1-6-09, não assinado;

• uma carta enviada pela O2 à REN, ao cuidado de


Engenheiro Andrade Lopes, com conhecimento a Engenheiro Vítor
Manuel Batista, assinado por Namércio Cunha, datada de 05-05-
2009, sendo o assunto focado a gestão de resíduos existentes na
Tapada do Outeiro;

• um documento – Informação “IF GMM-MSP 8/09, com data


de 15/05, cujo assunto focado é a gestão de resíduos existentes na
Tapada do Outeiro

Mais de 4 meses após a conclusão da consulta, José Penedos ainda


tinha na sua posse documentos relativos à consulta pública para a adjudicação
do serviço de recolha e acondicionamento dos resíduos existentes nas

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instalações afectas à desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do


Outeiro!

Cumpre não olvidar que falamos de uma empresa – O2 – insignificante


no volume de negócios da REN! Como já dissemos.

Dúvidas sobre o interesse manifestado e envolvimento directo de José


Penedos nos mecanismos de decisão relativos à consulta pública para a
adjudicação do serviço de recolha e acondicionamento dos resíduos existentes
nas instalações afectas à desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do
Outeiro no sentido do favorecimento da O2, ressumam, assim, absolutamente
consumidas.

E este comprometimento resultou em evidentes benefícios para Manuel


Godinho, pois que obteve informação privilegiada e logrou a adjudicação
daquele serviço.

Paulo Penedos informou, com mais de um mês de antecedência, Manuel


Godinho do lançamento da consulta na Tapada do Outeiro - produto 3669 do
Alvo 1T167PM, de 10 de Março de 2009.

Consulta para a qual Manuel Godinho sabia vir a ser convidado a


apresentar proposta, pois que a O2 mantinha com a REN contrato de gestão
global dos resíduos por si produzidos e figurava como empresa certificada.

Revelou-lhe informações privilegiadas da REN, à qual apenas podia ter


acedido por intermédio do seu Pai (como já se referiu o arguido Paulo Penedos
mostrou-se, peremptório, em asseverar desconhecer qualquer outra pessoa na
REN).

Na verdade tais informações eram, privilegiadíssimas, pois que, para


além de violadoras das regras da confidencialidade, da transparência e da sã e
leal concorrência, permitiram à 02 elaborar uma proposta de extensão dos
trabalhos a realizar na Tapada do Outeiro, indiciando-se que ela não veio a

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merecer aprovação da REN apenas porque não se achava ainda determinado


o destino a dar às instalações da central.

Ao tempo, havia a possibilidade do seu posterior aproveitamento


turístico, com requalificação a cargo do adquirente, pelo que não iria a REN
contrair despesa sem necessidade.

O parecer técnico elaborado pelo Engenheiro Andrade Lopes foi,


precisamente, neste sentido - no produto 5755 do Alvo 38250PM, de 12 de
Maio, relativo a uma conversa entre Namércio Cunha e o Engenheiro Andrade
Lopes, este último refere ser prematuro proceder ao desmantelamento das
construções metálicas porque, pelo menos um dos interessados na compra do
imóvel, pretendia preservar a central.

De notar que, quando tratavam de alargar o âmbito dos trabalhos a


realizar na Tapada do Outeiro, Paulo Penedos teve o cuidado de telefonar a
Namércio Cunha – produto 5731 do Alvo 38250PM – para lhe relembrar que
não podia ser revelada a intervenção que estava a ser feita.

A rejeição da proposta da 02 obedeceu ao princípio enunciado por José


e Paulo Penedos segundo o qual havia que proceder “by the book” por forma a
não criar fragilidades.

Existindo um parecer técnico inviabilizante, no imediato, da aceitação da


proposta, aquele postulado obrigava à sustação das diligências em curso.

Paulo Penedos transmitiu a Manuel Godinho ter falado com o seu Pai e
que este lhe havia assegurado a adjudicação à O2 dos trabalhos a serem aí
realizados - nos produtos 5110, 6140 e 10328 do Alvo 1T167PM e, bem assim,
nos produtos 383 do Alvo 39263M.

Acrescente -se que tal decisão apenas viria a ser, formalmente, tomada
cerca de três meses depois, a 08 de Julho de 2009.

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Paulo Penedos comunicou a Manuel Godinho a decisão de adjudicação


à O2 do serviço de recolha e acondicionamento dos resíduos existentes nas
instalações afectas à desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do Outeiro
no dia imediatamente posterior àquele em que o Conselho de Administração da
REN tomou a decisão - produto 6791 do Alvo 39263M.

Paulo Penedos apenas podia ter tomado conhecimento desta


informação, porque não pública, por intermédio de seu Pai.

Paulo Penedos transmitiu a Manuel Godinho ter lido um e-mail interno


da REN sobre as condições e os termos da consulta pública a promover por
aquela empresa para adjudicação do serviço de recolha e acondicionamento
dos resíduos existentes nas instalações afectas à desactivada Central
Termoeléctrica da Tapada do Outeiro, isto é, informação privilegiada a que
Paulo Penedos acedeu por intermédio de seu Pai! (produtos 6753 e 6772 do
Alvo 1T167PM, datados de 15 de Abril de 2009).

Alega, a este propósito, o requerente de instrução que “já agora, não se


percebe por que motivo não foram divulgadas mais informações,
designadamente sobre os termos e as condições da consulta.”

O teor das intercepções telefónicas, conjugado com as regras da


experiência e a normalidade do acontecer, possibilita-nos concluir, com um
elevadíssimo grau de certeza, precisamente, o contrário.

O número de vezes em que Manuel Godinho e Paulo Penedos se


encontraram pessoalmente permite pressupor que informações mais
detalhadas terão sido transmitidas nestas ocasiões.

Os encontros pessoais foram, na sua esmagadora maioria, promovidos


por Paulo Penedos, com o intuito de pedir a Manuel Godinho somas em
dinheiro.

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Afigura-se-nos óbvio, por apelo às regras da experiência e à


normalidade do acontecer, que Paulo Penedos terá apresentado
contrapartidas.

E que contrapartidas poderia Paulo Penedos apresentar?

O único bem ao seu alcance, com interesse para Manuel Godinho- –


informação privilegiada sobre a REN e a sua influencia junto do Presidente do
CA, seu pai.

O serviço de recolha e acondicionamento dos resíduos existentes nas


instalações afectas à desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do Outeiro
foi adjudicado à 02, com base no critério do preço mais baixo.

Sucede, contudo, que esta ponderação foi realizada de modo informal e


sem recurso a evidências documentais, contrariamente ao estabelecido nos
procedimentos internos da REN relativos ao “Aprovisionamento com Abertura
Simultânea de Propostas” e “Aquisição de Bens, Serviços e Empreitadas”
(Procedimento PR-0011, de 05 de Março de 2007).

Equivale por dizer que a 02 apresentou um preço sem o demonstrar


documentalmente e, ainda assim, não obstante os procedimentos internos da
REN a tal obstassem, foi-lhe adjudicado o serviço.

Nestes termos, impossível se mostra asseverar que o preço apresentado


era justo e correspondente ao valor real de mercado.

Mais um inegável favorecimento da O2.

Da Violação do código de conduta da REN:

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Todos os referidos actos e comportamentos, para além de contrários ao


dever-ser jurídico-penal, mostram-se, igualmente, atentatórios do código de
conduta da REN, nomeadamente:

Do disposto no art.º 2º – “ No exercício das suas actividades, funções e


competências, os colaboradores da REN devem actuar, tendo em vista o
interesse da REN, com responsabilidade, transparência, lealdade,
independência, profissionalismo e confidencialidade, no conhecimento da
missão e das políticas da qualidade, do ambiente e da segurança em vigor na
REN.

Os princípios referidos no número anterior devem evidenciar-se,


nomeadamente, no relacionamento com (…) prestadores de serviços (…).”

Do disposto no art.º 5º - “Os colaboradores da REN devem guardar


absoluto sigilo e reserva em relação ao exterior de todos os factos da vida da
REN e de que tenham conhecimento no exercício das suas funções, que pela
sua natureza, possam afectar o interesse ou negócios da mesma, em especial
no que se refere a informação de carácter confidencial.

Inclui-se no número anterior, nomeadamente, dados informáticos de


âmbito pessoal ou outros considerados reservados, informação estratégica
sobre métodos de trabalho e negócios, bem como a relativa a qualquer projecto
realizado ou em desenvolvimento, quando tal for considerado como devendo
ficar obrigatoriamente limitada aos serviços ou pessoas que da mesma
necessitam no exercício das suas funções ou por causa delas.”

Do disposto no art.º 7º - “Os colaboradores da REN devem assumir um


compromisso de lealdade para com a mesma, empenhando-se em
salvaguardar a sua credibilidade, prestígio e imagem em todas as situações.
Para tal deverão agir com verticalidade, isenção, empenho e objectividade na
análise das decisões tomadas em nome da REN.

445
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No exercício das suas funções e competências, os colaboradores da


REN devem ter sempre presente o interesse da mesma, actuando com
imparcialidade e deontologia profissional, recusando tratamentos de favor,
evitando pressões e pautando as suas decisões pelo máximo de seriedade,
integridade e transparência, no conhecimento das boas práticas da REN.”

Do disposto no art.º 8º - “ A REN, através dos seus colaboradores, deve


respeitar e zelar pelo cumprimento das normas legais e regulamentares
aplicáveis às suas actividades. Os colaboradores da REN, em particular, não
devem, em nome da empresa e nas acções ao serviço desta, violar a lei geral e
a regulamentação específica aplicável às suas especialidades.”

Do disposto no art.º 9º - “Os colaboradores da REN que, no exercício


das suas funções e competências, sejam chamados a intervir em processos ou
decisões que envolvam, directa ou indirectamente, pessoas, entidades ou
organizações com quem colaborem ou tenham colaborado, devem comunicar à
empresa a existência dessas relações, devendo, em caso de dúvida no que
respeita à sua imparcialidade, abster-se de participar na tomada de decisões.

Igual obrigação impende sobre os colaboradores da REN nos casos em


que estejam ou possam estar em causa interesses financeiros ou outros do
próprio trabalhador ou de familiares e afins até ao primeiro grau ou ainda de
outros conviventes.”

Assinale-se que este código de conduta foi homologado pelo próprio


arguido José Penedos , enquanto Presidente do Conselho de Administração da
REN.

Do recebimento de contrapartidas patrimoniais e/ou não


patrimoniais por parte do arguido José Penedos

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

No período compreendido entre 2002 e 2007, sem evidências no ano de


2005, a propósito da quadra natalícia, Manuel José Ferreira Godinho entregou,
em nome das sociedades comerciais que compõem o universo empresarial,
directa ou indirectamente, por si gerido, diferentes bens, alguns de valor
considerável, a título de presentes, a José Penedos, quais sejam:

- no ano de 2002, um centro de mesa “Grand Laggon”, no valor de €


1.432,50;

- no ano de 2003, uma fruteira sem asas, no valor de € 1.897,90;

- no ano de 2004, uma jarra de prata, no valor de € 1.689;

- no ano de 2006, uma caneta marca Dupont, no valor de € 260;

- no ano de 2007, um cantil D. João II, no valor de € 330.

Alvitra o requerente a adequação social destas oferendas.

Tal não consegue percutir o espírito do signatário.

A sua desadequação quer social, quer profissional, aferida esta pelas


normas que o próprio requerente instituiu na REN é patente.

No que se reporta à desadequação social dos presentes ofertados por Manuel


Godinho a José Penedos, convocamos Paulo Pinto de Albuquerque que, na sua obra
“Comentário do Código Penal, Universidade Católica Editora, pág. 882”, afirma que
“a solicitação de uma vantagem nunca está a coberto de uma cláusula de adequação
social e, portanto, é sempre ilícita. Mas a aceitação de uma vantagem pode ser
socialmente adequada (…), desde que a vantagem seja diminuta (…) e a aceitação de
vantagens diminutas não corresponda a uma prática habitual (…) do funcionário (…).

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Por “diminuta” deve entender-se a vantagem que tem o valor não excedente a uma
unidade de conta no momento do facto, uma vez que este é o critério geral sobre o
valor patrimonial das coisas na lei penal Portuguesa.”

Ainda que se tenha a bitola do Ilustre Professor por excessiva, sempre


se terá de concluir que prendas entre 330 e 1.897,90€ nunca podem ser tidas
como meras cortesias.

O próprio requerente assim não o considerou, na medida em que


homologou em conselho de administração o código de conduta da REN, o qual
no seu art.º 10 dispõe que “Os colaboradores da REN não devem aceitar ou
recorrer a pagamentos ou favores, de clientes ou fornecedores, nem entrar em
cumplicidades para obter quaisquer vantagens e devem recusar obter
informações comerciais através de meios ilegais. Devem, ainda, abster-se de
quaisquer práticas que possam pôr em causa a irrepreensibilidade do seu
comportamento, nomeadamente, no que se refere a ofertas de ou a terceiros.

As ofertas recebidas de terceiros devem ser recusadas se a sua


aceitação for indiciadora de intenções menos claras por parte dos ofertantes.”

Isto é, o requerente foi, ainda, mais longe que Paulo Pinto de


Albuquerque e proibiu in totum o recebimento por parte dos funcionários da
REN de quaisquer ofertas.

Aliás, o arguido, por alturas do Natal, enquanto Presidente do Conselho


de Administração da REN, ordenou a entrega de livros institucionais da
empresa aos diferentes parceiros comerciais.

Aqui, sim, pode falar-se, com propriedade, em cortesia e adequação


social.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Todavia, mais do que o valor comercial da oferta, importará averiguar a


intenção que a determinou.

Ou emerge como justificável no plano das relações interpessoais ou


haverá que concluir que o desígnio que presidiu à sua entrega apresenta
relação directa com as funções exercidas pelo seu destinatário.

É, precisamente, este o caso dos autos – entre Manuel Godinho e José


Penedos não existe qualquer relação de amizade ou proximidade bastante que
levasse o primeiro a oferecer presentes ao segundo.

Manuel Godinho, ao entregar presentes a José Penedos, pretendeu


potenciar um clima de cumplicidade e de predisposição à aceitação das suas
pretensões.

Visaram tais entregas criar um clima de permeabilidade e simpatia para


posteriores diligências.

Aliás, o período de tempo em que Manuel Godinho ofereceu presentes a


José Penedos permite descortinar o propósito que lhe esteve subjacente.

Senão vejamos:

Não será, certamente, por acaso que quando dealba a cooperação de


Paulo Penedos com Manuel Godinho (2006), os presentes entregues a José
Penedos diminuíram consideravelmente de valor!

As relações comerciais entre a O2 e a REN mantiveram-se inalteradas


pelo que, caso as prendas natalícias fossem meros actos de cortesia, seria
natural que as ofertas mantivessem o seu valor.

Alguma razão houve para diminuírem e esta repousa, indubitavelmente,


na entrada em cena de um novo protagonista, qual seja Paulo Penedos.

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Modificou-se o enquadramento, alterou-se o destinatário das “prendas”.

Manuel Godinho visava a maior rentabilidade possível dos seus


investimentos e nunca por nunca se oneraria duplamente para um mesmo
resultado.

Por outro lado, parece-nos indubitável que José Penedos tinha


conhecimento e consciência que a sua actuação em benefício da O2 originava
vantagens patrimoniais para o seu filho.

Só as conhecendo se explica o favorecimento que emprestou à O2.

De que outra forma se pode compreender o tratamento de favor dado


por José Penedos à O2?

José Penedos reconduziu a sua postura enquanto Presidente do


Conselho de Administração da REN à imagem de mero participante em
decisões , sem poder concreto de intervenção nas propostas apresentadas

Segundo as suas palavras, a sua intervenção cingia-se à fase de


discussão e aprovação em conselho de administração.

O que o pode ter levado a alterar radicalmente o seu comportamento,


envolvendo-se directamente no processo de decisão da Tapada do Outeiro e
da prorrogação do contrato de gestão global de resíduos da REN, senão o
conhecimento de que esta sua actuação aportava vantagens patrimoniais ao
seu filho?

A nosso ver os autos indiciam assim fortemente que José Penedos


apenas prestou a informação privilegiada que Paulo Penedos lhe solicitou e
diligenciou no sentido da adjudicação do serviço de recolha e
acondicionamento dos resíduos existentes nas instalações afectas à

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desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do Outeiro, pela prorrogação do


contrato de gestão global dos resíduos produzidos pela REN e pelo regresso
da O2 à gestão dos resíduos de construção e demolição relativos às obras da
Subestação de Setúbal da REN, porque tinha consciência que ao assim
proceder advinham, como advieram, vantagens patrimoniais para o seu filho.

Tais vantagens encontram-se referidas na acusação do Ministério


Público.

Tudo visto e ponderado, criamos a firme convicção que se mostra


fortemente indiciado que também José Penedos, a troco de vantagens
patrimoniais para si e para o seu filho, ao arrepio dos seus deveres funcionais,
nomeadamente do código de conduta da REN, favoreceu a 02 nas suas
relações comerciais com a REN.

***

Ao JIC/TCIC não passaram despercebidos os depoimentos, bastante


enfáticos, de um conjunto de testemunhas, trazidas ao pretório, com opinião
abalizada e reputação, a justo titulo incólume, que peroraram bastamente sobre
as “salas” que tiveram recheadas de ofertas de adequação social de Estado ou
natalícia, ao longo das suas carreiras.

Não tem o JIC/TCIC qualquer veleidade ou pretensão de diferenciação


ética.

Para além de reputar serem incomparáveis as situações de altos cargos


do Estado ou da nomenclatura das autoridades que, as mais das vezes os
percebem em razão da função transitoriamente ocupada efectivamente como
num gesto de cortesia; com aqueloutras percebidas por altos responsáveis, por
quadros médios e superiores ou até por trabalhadores indiferenciados de
empresas; o certo é que não consegue o JIC discernir qual a diferenciação a

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estabelecer, em compaginação com outros casos em que os tribunais


portugueses já foram chamados a pronunciar-se.

Não pode, assim, o JIC olvidar que, no chamado caso “Brigada de


Transito” os Tribunais Superiores sancionaram o entendimento que havia sido
feito na primeira instância a respeito dos crimes de corrupção.

A esse respeito, uma cuidada leitura do Acórdão proferido no processo


1594/01.9TALRS, que correu seus termos na 3.ª Secção da 1.ª Vara Criminal
de Lisboa, proferido em 31 de Março de 2006 e que, ao que nos foi dado saber,
está agora em tramites no Tribunal Constitucional, permite surpreender,
embora com referência especifica ao crime de corrupção, passagens que, pela
sua oportunidade, não resistimos a transcrever, por admitirmos que possam
fazer luz também à matéria aqui em apreço, pelo menos para se compreender
o juízo de prognose feito pelo JIC:

(…)«A denominada corrupção (passiva) própria, dado o carácter ilícito da


conduta do funcionário, constitui um crime de dano, pois não se limita a pôr em risco a
esfera de actividade do Estado, antes importa uma efectiva violação da sua autonomia
intencional, do seu prestígio e dignidade, como pressupostos da sua eficácia ou
operacionalidade, na prossecução legítima dos interesses que lhe estão adstritos, em
face dos quais a colectividade lhe exige independência e objectividade funcional, o que
perpassa a actuação dos seus órgãos e agentes, enquanto pressupostos da sua
confiança. Visa-se, pois, a manutenção da pureza da função pública, punindo-se a
falsificação ou a adulteração da vontade do Estado (vd. A. M. Almeida Costa,
Comentário... III, p. 656 a 658).
Trata-se de um crime material ou de resultado, cuja consumação coincide com o
momento em que a solicitação ou a aceitação do suborno, ou da sua promessa, por
parte do funcionário, cheguem ao conhecimento do destinatário. É também um crime
próprio ou específico, na medida em que o seu agente tem de revestir a qualidade de
funcionário da Administração Pública (Almeida Costa, ob. cit., p. 662-663; e Acs. do
STJ, de 19-9-90, Procº. nº 40 980/3ª, e de 27-4-88, BMJ, 379, p. 385).

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É, assim, também um delito de natureza formal ou antecipada, bastando que se


verifique a solicitação, aceitação ou promessa de vantagem, o que afasta, desde logo, a
teoria da bilateralidade da corrupção, ou seja, a da infracção complexa, que supõe o
concurso de duas pessoas igualmente culpadas e igualmente puníveis (o funcionário
corrompido e o particular corruptor) – Leal Henriques/Simas Santos, Código Penal
Anotado, 2º vol., 3ª ed., p. 1600-1601
Em sede de alegações orais, assim como em algumas contestações, alguns dos
Ilustres Mandatários dos arguidos sustentaram haver uma diferença entre o regime
legal do crime de corrupção, sustentando-se nas redacções anterior e posterior à
alteração do art. 372º do Código Penal, operada pela Lei nº 108/2001, de 28 de
Novembro.
Sucede que perscrutada a Proposta de Lei nº 91/VIII (in DR, II série A, de
18.07.2001 Suplemento), que altera a redacção dos crimes de tráfico de influências e
de corrupção, na exposição de motivos, quis o legislador explicitar expressamente que
“o crime de corrupção passiva é uma infracção instantânea, que se consuma no
próprio momento da prática da conduta ilícita típica, ou seja, no momento em que a
pessoa corrupta solicita a vantagem patrimonial ou não patrimonial”, tal como já era o
melhor entendimento da Jurisprudência relativamente à redacção primitiva, conforme
o Ac do STJ de 12 de Abril de 2001, in C.J., Acs do STJ, Tomo 1, 2001, p. 245. Ainda
na exposição de motivos, o legislador explicita que a alteração da redacção se devia
essencialmente a impedir entendimentos erróneos, como aqueles que entendiam haver
dois requisitos para o crime, como a promessa ou recebimento de vantagem e a prática
do acto. Visando impedir tão errónea interpretação, explicitou-se com a actual
redacção, o que já era anterior intenção do legislador, afastando-se confusas
interpretações.
Por outras palavras, o regime jurídico do crime de corrupção em ambas as
redacções e segundo o legislador e o que era a sua vontade, revestia-se e reveste-se de
natureza de infracção instantânea, que se consuma no momento em que a pessoa
corrupta solicita a vantagem. É, por isso, inútil a discussão sobre a pretensa diferença
de regimes com base nas duas redacções do art. 372º do C.P. Por outro lado, a anterior

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redacção do art. 372º do CP, ao referir a atenuação especial, não se destinava a outra
situação que não fosse a do repúdio da vantagem depois de aceite e recusa do
funcionário a conceder benesses, ou seja, à atenuação era apenas devida quando
houvesse demonstração de que o agente tinha, como se diz popularmente, “caído em
si”, ou seja, demonstrasse arrependimento activo pelo acto praticado, o que não é
demonstradamente o caso de nenhum dos arguidos dos presentes autos.
Outra confusão, por errónea interpretação da anterior redacção do artigo 372º
do CP, é a decorrente do que se entende ser a necessidade de demonstração de que a
vantagem concedida ao corruptor activo fosse efectivamente praticada. Contra tal
entendimento se insurgiu também o legislador na referida exposição de motivos,
explicitando que tal entendimento erróneo e nunca pretendido pelo legislador levou à
eliminação do nº 2 da anterior redacção, que pretendia unicamente contemplar
situações de arrependimento activo.
Por outro lado, é irrelevante para o caso dos autos que a corrupção fosse
antecedente ou consequente. A corrupção antecedente é aquela em que a promessa ou
dádiva tem lugar antes da conduta do funcionário, como demonstradamente sucedeu no
caso dos autos, sempre que os arguidos apareciam nas empresas a solicitar vantagens
para não exercer a devida fiscalização aos veículos dos corruptores activos. A
corrupção subsequente é aquela em que a promessa ou dádiva é posterior à conduta do
funcionário, o que seria o caso dos arguidos comparecerem nas empresas a solicitar
prémio por não terem exercido a competente fiscalização, como ficou também exposto
na fundamentação da matéria de facto.»(…)

(…)«Sublinhe-se, a propósito, que no crime de corrupção passiva não está em


causa o recebimento, por parte do funcionário, de pequenas lembranças de cortesia ou
agradecimento, mormente em épocas festivas, de pequeno significado, sem qualquer
desvalor ético-jurídico, sejam elas garrafas de vinho ou de uísque, combustível,
entradas em recintos públicos ou descontos em estabelecimentos comerciais, sem
natureza discriminatória (vd. Almeida Costa, ob. cit., p. 120-121), sendo que as
vantagens obtidas pelos funcionários, acima descritas, nada têm a ver com cortesias ou

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agraciamentos, o que ressalta desde logo da natureza daquelas e dos valores em


questão mas, fundamentalmente, pelo tipo de sinalagma evidenciado – a violação dos
deveres inerentes ao cargo –.»(…)

(…)«Acrescenta-se ainda que, com sublinha Francesco Antolisei, no tipo legal


de crime de corrupção passiva, o bem protegido é “o interesse penal no regular
funcionamento da Administração Pública, interesse que é gravemente ofendido por
aquela forma de penalidade praticada pelo agente público ao trair a sua fidelidade à
mesma Administração” – cf. “Manuale di Diritto Penale”, Parte Speciale II, pág. 310,
11ª ed. 1995.
E como se retira do Ac. do Supremo Tribunal de Justiça de 12-4-2000, CJ de
Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça, pág. 248, “numa época, como a presente, de
crise geral de valores, das instituições e dos próprios Estados, em que, até nos países
ocidentais mais progressivos têm eclodido escândalos político-financeiros largamente
mediatizados, não podem os tribunais portugueses deixar de punir com a necessária
energia os casos de corrupção submetidos à sua apreciação, sempre sem perder de
vista que a pena a aplicar aos delinquentes não deve exceder a medida da sua
culpa».(…)

Ainda hoje o JIC recorda que os princípios éticos e morais por vezes não
obtêm circulação concêntrica com as regras do direito positivado.

Daí que, sendo o JIC prolator de origem humilde [com isso não cultor de
justiça de classe] lhe seja indiferente que outros cidadãos recebam presentes,
por razões de cortesia e adequação social.

Incumbido, por nomeação dos órgãos habilitados a tal na Republica


Portuguesa, a exercer funções enquanto Magistrado Judicial, na presente
decisão norteou-se pelas “leges artis” e pelo prudente escrutínio dos elementos
indiciários que lhe foram dados a conhecer.

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TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Está o JIC prolator seguro de que a sua decisão instrutória não é, hélas!
a última palavra em relação a nenhum dos actos sindicados neste juízo de
prognose.

Mas esse respaldo não o auto-exonerou de ser o mais consciencioso


possível, perante a magnitude do juízo valorativo que sobre tais factos é
assacado pela sociedade portuguesa.

É apenas com base nesse juízo e não por remissão que entende o JIC
remeter os arguidos ao tribunal de julgamento.

Destarte, deverão os arguidos Fernando Santos, Vítor Batista, Juan


Oliveira, José Penedos e Paulo Penedos ser pronunciados nos precisos
termos da acusação, por se mostrarem verificados indícios que, neste
tocante, inculcam um juízo de prognose, conducente à consideração de
que é mais forte a probabilidade das suas condenações do que a
exoneração das suas responsabilidades.

***

Veio o arguido Pedro Silva Laranjeira, notificado da acusação,


apresentar a sua defesa nos termos constantes do RAI, constante de fls.
27690 e ss, que aqui se dá por reproduzido.

Vem o arguido Pedro Miguel Silva Laranjeira acusado de ter praticado


um crime de burla qualificada e um crime de falsificação de notação técnica.

A imputação de tais crimes é feita com referência a factos relacionados


com dois "episódios" inseridos na III parte da acusação sob o titulo "DA REN" a
seguir discriminados:

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

- acontecimentos verificados na obra do Alto Mira (art.º 857° e


seguintes da acusação)

- factos ocorridos no desmantelamento da sub estação de Estarreja


(art.º 961° e seguintes da a cusação).

Como elementos para o escrutínio atentou o JIC nos seguinte:

Documentos constantes de fls. 155 e 156 do Apenso AE27,


conjugados com as declarações das testemunhas:

• Pedro Jacinto Pereira Correia – vigilante da PROSEGUR, e


que, à data, era responsável pela segurança das instalações da CAM/SAM -
cfr. fls. 113 a 119 do apenso AE 20 e as prestadas em sede de instrução;

• Raúl Jorge Ribeiro Calado, técnico de exploração na


Subestação de Alto Mira, (fls. 83 a 99 do apenso AE20); cfr- fls. 83 a 86 do
Apenso AE 20 e as prestadas em sede de instrução

• Manuel Baia Patrão – Gestor Local de Resíduos, responsável


pela SAM (divisão de exploração) e pela supervisão da obra- cfr. fls. 108 a 112
do Apenso AE20 e 248 a 253 do Apenso AE28 e as prestadas em sede de
instrução;

• Carlos Alberto Carvalho Lopes - técnico principal de exploração


da SAM, que preencheu e assinou algumas guias de acompanhamento de
resíduos-modelo A- cfr. fls. 215 a 219 do Apenso AE20;

• Luís Manuel Conceição Navalho Alves - técnico de exploração


da SAM que preencheu e assinou algumas guias de acompanhamento de
resíduos-modelo A- cfr. fls. 220 a 224 do Apenso AE20;

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• António Manuel Pereira – Electromecânico na SAM, já


reformado e que presenciou algumas cargas- cfr. fls. 225 a 228 do Apenso AE
20;

• Adelino Martins Marçal - Electromecânico na SAM, já reformado


e que terá presenciado algumas cargas- cfr. Fls. 249 a 252 do Apenso AE 30;

• João Miguel Ferreira dos Santos - Electricista de exploração, à


data, na SAM, que preencheu e assinou algumas guias de acompanhamento-
modelo A; cfr. fls. 229 a 232 do Apenso AE20

• António José Fernandes Nogueira - Eng. e último chefe da


CAM- fls. 296 a 300 do Apenso AE28

• e dos interrogatorios dos arguidos Namércio Cunha e Juan


Oliveira.

Em sede de instrução foram ouvidas as seguintes testemunhas:

Américo Rodrigues Ferreira

Manobrador de maquinas. Trabalha na O2 há 16 anos.

Aos costumes disse nada. Prestou juramento legal.

Obedecia às ordens do Sr. Laranjeira.

Carregamento normal pelo balde – 8/10 baldes.

Esclareceu que uma vez o Dr. Namércio disse para terem cuidado
porque a GNR estaria lá fora com as balanças.

Regulavam-se pelos taipais da galera.

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Andaram lá mais de três meses no desmantelamento de Alto Mira.

Não sabe nada de incidentes.

Sabe que o Laranjeira foi a uma reunião, lá na gerência, mas não sabe
para quê.

Não estava presente na zona das cargas de terra, quando os camiões


foram parados.

Não tem a certeza se estava lá quando houve problemas e parou tudo


ou no dia do camião que ficou carregado na obra do Alto Mira.

Esclareceu que iam à semana.

Não eram sempre os mesmos.

António Manuel dos Santos Alexandre Ribeiro

Trabalha na O2 há sete anos.

Conhece o Pedro Laranjeira que é chefe de equipa. Esteve no Alto


Mira a desmantelar.

O Pedro Laranjeira não deu instruções nenhumas.

Quem dava era o Dr. Namércio, não sabia nada do negócio.

Não sabe se o Pedro Laranjeira sabia.

Não havia lá balança no Alto Mira.

Era a olho com o balde da máquina regulando-se pelos taipais.

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O Dr. Namércio disso para pôr menos carga porque as balanças da


GNR estavam a acusar peso a mais.

Na reunião antes do inicio dos trabalhos estiveram presentes, o Dr.


Namércio, o Laranjeira e Engª Elsa.

O Laranjeira mandava arrancar depois de passar a guia e depois de


ele dizer que estava cheio.

Enquanto lá esteve não havia camiões semi-vazios.

Há três, quatro anos.

Quase todos os dias carregava mas não estava sempre a carregar


fazia também outras tarefas.

Não sabe para onde os camiões iam.

Oleg Kuzmun

É Russo, está em Portugal há 10 anos.

Conhece o Laranjeira, porque é seu chefe. Trabalha em Estarreja.

Lá desmontava e separava, cobre, ferro, madeira.

O pessoal da REN até filmava e fechavam à hora do almoço.

Não houve nenhum problema com peças grandes.

O pessoal da REN pesava e fazia os grupos, a REN controlava tudo.

Não sabe nada de um transformador carregado inteiro.

Viu o Manuel Godinho uma vez lá na obra.

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Tiago Manuel Gomes Rendilheiro

É montador de andaimes.

Conhece o Laranjeira porque trabalhou com ele na REN. Trabalhou


em 2009 para as empresas do Sr. Godinho durante um ano.

Em Estarreja desmontou o material e separou nos contentores, Cobre,


madeira, ferro.

O pessoal da REN vinha abrir o estaleiro, ao meio-dia fechavam


quando iam almoçar.

Estava lá tudo separado.

Foi retirada uma peça de cobre de grandes dimensões por erro da


REN.

Havia duas peças a primeira era para eles REN e levaram-na para a
sucata, a segunda ficou então para a REN.

Eram os da REN que pesavam lá os materiais.

Não sabe quem passava as guias, nem quem verificava os pesos.

Na altura disseram a todos que se tinham enganado na peça.

Não sabe bem.

Vítor Manuel Damas Fonseca

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É instalador de gás.

Conheceu o Laranjeira há dois anos atrás em Estarreja, no


desmantelamento de Estarreja.

Esteve lá um mês, todos os dias os da REN abriam os portões sempre


na presença de elementos da REN a controlar todas as fases do processo.

Não desmantelou peças de cobre, já tinha saído e ficaram outros


colegas seus.

O Laranjeira nunca lhe pediu que ficasse nada de lado.

Era muito cuidadoso, sempre a limpar o chão e a ver se fazia alguma


asneira.

As peças eram separadas e iam para um armazém mas já não era ele
que as acondicionava.

O cobre era separado do ferro.

Sabe que o cobre vale mais e ia para um contentor à parte.

Não haveria hipótese de se enganarem em relação ao cobre. Também


não sabe mais nada.

A conjugação de tais elementos com os do inquérito indicia que o


arguido Pedro Miguel Silva Laranjeira, na qualidade de encarregado de obra no
âmbito dos trabalhos de desmantelamento das bacias de retenção da Central
de Alto Mira, deu ordens aos trabalhadores da “02” e “Riberlau -
Transportes Internacionais, Lda” para que colocassem nos camiões a menor
quantidade possível de resíduos de demolição, com objectivo de ilicitamente
beneficiar a “02” e, consequentemente, lesar a REN, sendo posteriormente
apresentado a esta empresa um talão de pesagem com valores superiores à
real quantidade de resíduos retirados e transportados.

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Estes documentos fraudulentos de pesagem serviriam de base para


pagamento pela REN à 02 do valor facturado.

No que se reporta ao desmantelamento da sub-estação de Estarreja é


descrita uma actuação do arguido à qual não foi atribuída relevância criminal
autónoma.

A sua inserção serve, ao que tudo indica, a demonstrar um padrão de


actuação, enquanto funcionário da O2, mormente enquanto encarregado de
obra.

Os factos que lhe são imputados na acusação encontram assim pleno


acolhimento no depoimento do arguido Namércio Cunha, das testemunhas
indicadas e ainda Sónia Alexandra de Abreu Vieira- cfr. fls. 22 a 28 do
Apenso AE 27, Constantino Costa Pinho cfr. fls. 141 a 144 do Apenso AE27
e Agostinho Manuel Costa Martins cfr. fls. 157 a 175 do Apenso AE27, que
escrutinámos.

Assim, quanto aos factos que são imputados ao arguido Pedro Miguel
Silva Laranjeira, estribando-nos nos elementos probatórios acima referidos,
entende-se que existem indícios suficientes para pronunciar este arguido por
todos os factos que lhe são imputados.

Não tendo sido produzida qualquer prova que abale a tese da


acusação ou que nos tenha convencido da verosimilhança da sua versão dos
factos, vertida no seu RAI.

Pelo que perante as evidências probatórias constantes dos autos se


entende que existem indícios suficientes pata pronunciar o arguido Pedro
Miguel Silva Laranjeira pelos factos indicados na acusação.

463
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Destarte, deverá o arguido Pedro Laranjeira ser pronunciado nos


precisos termos da acusação, por se mostrarem verificados indícios que,
neste tocante, inculcam um juízo de prognose, conducente à
consideração de que é mais forte a probabilidade da sua condenação do
que a exoneração da sua responsabilidade.

****

Veio o arguido Ricardo José Anjos, notificado da acusação,


apresentar a sua defesa nos termos constantes do RAI, contante de fls.
27066 e ss, que aqui se dá por reproduzido.

Questões sobre factos, suscitadas no RAI apresentado pelo


arguido Ricardo Anjos

Escrutinou o JIC o alegado, assentando o decidido, em sede de


juízo de prognose, no seguinte:

A CP – Comboios de Portugal, lançou consulta para alienação de


trinta carruagens que se encontravam estacionadas na estação do Pinheiro,
como resulta da documentação junta no Apenso Documentação AC.

Dada a urgência demonstrada pela REFER, a responsável pela Área


de Alienações e Valorização de Resíduos, Dr.ª. Dália Marques, propôs
superiormente a forma de alienação, levantando a hipótese de concurso
(processo mais demorado) ou o desmantelamento imediato ao operador
adjudicado para 2009 e 2010, fls. 49 do Apenso Documentação AC.

O Director, Manuel Almeida, solicitou autorização ao Vogal do


Conselho de Administração para que o processo de alienação fosse

464
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

concretizado por consulta a três operadores licenciados, o que obteve


concordância, fls. 49 e 50 do Apenso Documentação AC.

Face à decisão tomada, foram consultados três operadores, Baptistas,


SA, Ipodec e O2 Ambiente, [fls. 15, 16 e 17 do Apenso Documentação AC],
respectivamente.

A consulta realizou-se no dia 04/08/09, e as propostas teriam de dar


entrada até 11/08/09 e apresentadas por preço global.
Responderam à consulta as empresas O2 Ambiente, com um valor de
110 550,00€ e Bastistas com um preço de 107 770,00€, [fls. 37 e 39,
respectivamente, do Apenso Documentação AC].

Perante os valores apresentados pelos concorrentes, foi elaborado,


por Ricardo Anjos, o mapa de comparação de valores, fls. 62, e proposta a
adjudicação à empresa O2 Ambiente, fls. 61, ambas do Apenso Documentação
AC.

O Director Manuel Almeida, perante as condições apresentadas,


propôs a adjudicação àquela empresa, obtendo concordância do Vogal do
Conselho de Administração, Paulo Magina.

Seguiu-se então a comunicação da adjudicação ao operador e


emissão da factura, a qual consta de fls. 45 do Apenso Documentação AC,
bem como as informações tendentes ao levantamento do material.

Todavia a hialina descrição claudica.

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S. R.

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Como conta a fls. 5 a 7. do Apenso Documentação AC, o telemóvel


916 141 100 é utilizado pelo funcionário da “CP” RICARDO JOSÉ CARVALHO
ANJOS.

Dado o teor das intercepções telefónicas e também porque o


confirmou no seu interrogatório, o arguido Namércio Cunha teve conhecimento
do valor da proposta apresentada pela empresa “Batistas” por intermédio do
arguido Ricardo Anjos, antes de ter enviado a proposta da “O2”.
Com efeito, ao contrário do que sustenta o arguido Ricardo Anjos,
alegando não ter tido acesso prévio às propostas, o certo é que o e-mail
contendo a proposta da "Batistas - Reciclagem de Sucatas, S.A.” foi
reencaminhado, pelas 16h31, para a sua conta de e-mail – Apenso AC1, fls.
34.
Advogou o arguido, quando confrontado com este reencaminhamento
que, ainda assim, não tomou conhecimento da proposta em momento prévio ao
da apresentação de proposta pela “O2”.

Sucede, contudo que, quer o arguido Namércio Cunha confessou que


o arguido Ricardo Anjos lhe deu conhecimento do valor da "Batistas -
Reciclagem de Sucatas, S.A.”, em momento anterior ao da apresentação de
proposta pela “O2”, quer o conteúdo das intercepções telefónicas,
nomeadamente os produtos 13976 e 14004 do Alvo 38250PM o confirmam
de forma que indiciariamente ao JIC não merece duvida razoável, no juízo de
prognose aqui cabido.

Produto 13976 do Alvo 38250PM


Namércio Cunha – Sim
MANUEL GODINHO – Diz
Namércio Cunha – Ainda falta chegar uma, não sei, até pode
ser que não chegue, mas é assim, para já temos que avançar com 110

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MANUEL GODINHO – 110 quê ?


Namércio Cunha – Isto é valor global
MANUEL GODINHO – 110.000 euros, é ?
Namércio Cunha – Sim
MANUEL GODINHO – 110.000 euros, pá, põe aí
Namércio Cunha – Quem tratou para já foi o Carregado
MANUEL GODINHO – Sim, oh pá, 110
Namércio Cunha – Não, eu ia com esse valor
MANUEL GODINHO – Sim, sim, então faz isso, faz isso
Namércio Cunha – Pronto, para todos os efeitos, de manhã, as
pessoas vão estar atentas logo
MANUEL GODINHO – É muito esquisito isso, pá, eles deviam
ter posto a hora
Namércio Cunha – pois mas pronto, depois de manhã vai-se já
saber
MANUEL GODINHO – Ok, estás em casa já ?
Namércio Cunha – Cheguei agora
MANUEL GODINHO – Pronto, porreiro, está ok, tchau, até
amanhã
Namércio Cunha – Até amanhã

Produto 14004 do Alvo 38250PM


NAMÉRCIO CUNHA – Tou?
VOZ MASCULINA – Então amigo?
NAMÉRCIO CUNHA – Ó leão!
VOZ MASCULINA – Estás bem?
NAMÉRCIO CUNHA – Como é que está isso?
VOZ MASCULINA – Não vais para Belém?
NAMÉRCIO CUNHA – Hã…eu estou a chegar a Lisboa, carago.

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VOZ MASCULINA – Épá, então o gajo disse-me que me tinha


enviado um e-mail. Estive eu agora com o director (*) ficamos os dois. A
tua proposta é cento e dez, não é?
NAMÉRCIO CUNHA – Sim.
VOZ MASCULINA – Ok. Tá ganho. Os outros gajos…
NAMÉRCIO CUNHA – Ai é?
VOZ MASCULINA – Tá. Os outros gajos não enviaram nada.
Estivemos os dois a falar e, a ver não sei quê…
NAMÉRCIO CUNHA – Ahã
VOZ MASCULINA – Ehh, pronto.
NAMÉRCIO CUNHA – Pronto. Ok.
VOZ MASCULINA – A não ser quê…
NAMÉRCIO CUNHA – Uh, isso já está fechado. Então não é?
VOZ MASCULINA – Já está fechado…eu ia dizer é que… A não
ser que dê para reduzir um bocadinho o valor, não é?
NAMÉRCIO CUNHA – Nada pá. A outra era aquilo que me
tinhas dito, não é?
VOZ MASCULINA – A outra é cento e sete. Para cento e dez
também não é…
NAMÉRCIO CUNHA – Não, não, não…deixa estar assim, deixa
estar assim.
VOZ MASCULINA – Deixa-te ficar assim. A IPODEC não
respondeu …
NAMÉRCIO CUNHA – Pois…
VOZ MASCULINA – Épá, ele enviou um e-mail para mim e não
tenho aqui o e-mail, raios. Ele diz ok, foi enviado um e-mail para ti e para
a Dália…e não enviou nada.
NAMÉRCIO CUNHA – Não anexou.

468
S. R.

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VOZ MASCULINA – Ou não entrou ainda ou tinha a caixa aqui


cheia ou uma merda qualquer. Épá mas ele disse-me o valor e eu vi a tua
proposta.
NAMÉRCIO CUNHA – Ok.
VOZ MASCULINA – Bem…
NAMÉRCIO CUNHA – Então hoje vais mandar a validação
disso, não é?
VOZ MASCULINA – Sim. Chegamos os dois ao mesmo tempo
eu e ele. Eu subi logo e ele já estava em frente ao e-mail e disse – épá, ó
chefe veja lá aí por causa de não sei quê néé .E ele - épá calma, calma,
calma. Qual é que é o valor? Ai é tanto. Ok. Então dê o de cento e dez,
pronto.
NAMÉRCIO CUNHA – Está arrematado.
VOZ MASCULINA – Está arrematado. Um abração.
NAMÉRCIO CUNHA – Ok, pá. Tu podes…vais mandar hoje o
despacho disso, é?
VOZ MASCULINA – Sim, sim, sim.
NAMÉRCIO CUNHA – Ou ainda tens de estar…
VOZ MASCULINA – Eu vou-me agora ausentar um bocadinho
mas eu daqui a uma hora estou cá e…
NAMÉRCIO CUNHA – Sim, sim. Não, só para saber se ainda
vão demorar a despachar ou se ele já despacha isso que é para nós
começarmos a preparar os meios.
VOZ MASCULINA – Sim.
NAMÉRCIO CUNHA – (*) começarem isso com tanta urgência,
temos de tratar disso.
VOZ MASCULINA – Ok. Depois eu digo-te alguma coisa
NAMÉRCIO CUNHA – Grande abraço, pá.
VOZ MASCULINA – Um Abraço.
NAMÉRCIO CUNHA – Porta-te bem.

469
S. R.

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VOZ MASCULINA – Ciao.


(*) Imperceptível

Para além ter dado conhecimento da proposta da "Baptistas -


Reciclagem de Sucatas, S.A.” em momento anterior ao da apresentação de
proposta pela “O2”, os produtos 13976 e 14004 do Alvo 38250PM revelam
que o arguido Ricardo Anjos informou, igualmente, da não apresentação de
proposta pela “Ipodec Portugal – Gestão de Resíduos, Ld.ª” e que, caso fosse
necessário, quando na posse do seu montante, alteraria o valor da proposta da
“O2” por forma a assegurar a adjudicação.

Alega o arguido a impossibilidade de o fazer.

Fosse ou não possível, o certo é que o arguido se dispôs a fazê-lo.


Quanto às vantagens patrimoniais que resultaram para o arguido
Ricardo Anjos, para além de ter sido presenteado, em 2004, com um balde de
gelo pequeno, no valor de 105,60€, esperava ser recompensado. O produto
14199 do Alvo 38250PM é elucidativo deste facto:

Produto 14199 do Alvo 38250PM

NAMÉRCIO CUNHA – Sim?


VOZ MASCULINA – Já recebeste?
NAMÉRCIO CUNHA – Ehh, eu não mas eu ligo para o escritório.
VOZ MASCULINA – Hum…Olha…
NAMÉRCIO CUNHA – Diz, diz.
VOZ MASCULINA – Diz lá aqui ao teu amigo…se puderes
dizer…
NAMÉRCIO CUNHA – Hã?
VOZ MASCULINA – Diz lá aqui ao teu amigo, se puderes dizer…

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

NAMÉRCIO CUNHA – Sim


VOZ MASCULINA – …quanto é que rende esta história, depois
de venderes esta sucata toda.
NAMÉRCIO CUNHA – (pausa) Não
VOZ MASCULINA – É só para ver a grandeza do negócio. É só
isso.
NAMÉRCIO CUNHA – Ah, está bem, sim.
VOZ MASCULINA – A (*) por cento e dez mil, não é?
NAMÉRCIO CUNHA – Sim.
VOZ MASCULINA – Tu vendes isto por quanto?
NAMÉRCIO CUNHA – Isso depois nós falamos.
VOZ MASCULINA – Olha! Olha-me este.
NAMÉRCIO CUNHA – Não…
VOZ MASCULINA – Olha-me o malandro (risos).
NAMÉRCIO CUNHA – Não…aqui não há espiganços. Isto são
preços altos mas eu depois informo-te disso.
VOZ MASCULINA – Ai é
NAMÉRCIO CUNHA – (*) são preços altos. São preços
esticados…isto não é…não é…não são preços baratos. Mas
nós…quando estiver contigo eu demonstro-te isso. Não…
VOZ MASCULINA – Ok
NAMÉRCIO CUNHA – Tou à vontade
VOZ MASCULINA – Tá.
NAMÉRCIO CUNHA – Estamos à vontade.
VOZ MASCULINA – Sim, sim, sim.
NAMÉRCIO CUNHA – Tá?
VOZ MASCULINA – A comer um peixinho no forno?
NAMÉRCIO CUNHA – É isso mesmo.
VOZ MASCULINA – (risos)
NAMÉRCIO CUNHA – A comer um bom peixinho. (*)
VOZ MASCULINA – …peixinho…
NAMÉRCIO CUNHA – A comer um bom peixinho.
VOZ MASCULINA – Um bom peixinho, umas amêijoas…

471
S. R.

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NAMÉRCIO CUNHA – É
VOZ MASCULINA – …o que for.
NAMÉRCIO CUNHA – Isso tem…isso…isso vai ser de certeza.
VOZ MASCULINA – Bem (*)
NAMÉRCIO CUNHA – Porta-te bem
VOZ MASCULINA – Ciao.
NAMÉRCIO CUNHA – Ciao, ciao.
VOZ MASCULINA – Adeus

Foi pungente ver o acabrunhamento da testemunha Dália Marques,


quando confrontada com tais intercepções, nelas reconhcendo, de imediato, a
voz do seu colega Ricardo Anjos.

A consulta para o desmantelamento, remoção e transporte de resíduos


resultantes de trinta carruagens estacionadas na Estação do Pinheiro viria,
assim, a ser adjudicada à O2, apesar de, à data, ter uma dívida vencida para
com a “CP” no valor de 16.699,50€, relativa à factura n.º 2091000455, emitida
em 01 de Julho de 2009 com vencimento a trinta dias, relativa à venda de
sucata resultante da demolição de veículos ferroviários dispersos, o que, nos
termos da consulta - Apenso 127, fls. 66 (Relatório da IGF à CP).

Nos termos do ponto 5 do e-mail convite, os critérios de adjudicação


repousavam no melhor preço e na ausência de dívidas à CP.

Alegou o arguido Ricardo Anjos não ser da sua competência verificar o


não cumprimento deste requisito.

É lamentável, o passivo da CP é notório e a ligeireza do arguido é,


também ela, pungente.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Dada a urgência do procedimento, em 07 de Agosto de 2009, Manuel


João de Sá Almeida, membro da Direcção Executiva da CP Serviços, designou
Ricardo Anjos para a sua condução, incumbindo-o da recepção das propostas,
da elaboração dos mapas comparativos, de submeter à aprovação a proposta
mais vantajosa e, após aprovação, comunicar ao fornecedor vencedor o
resultado da consulta.
Ou seja, afinal era da sua competência, E o arguido foi,
inclusivamente, confrontado com a existência de dívidas e com a inviabilização
da adjudicação à O2 .

Produto 6714 do Alvo 38250PM

NAMÉRCIO CUNHA – Sim doutor.


VOZ MASCULINA – Então sabichão?
NAMÉRCIO CUNHA – Então rapaz? Como é que estamos?
VOZ MASCULINA – Diz-me aí o teu e-mail ou o e-mail de
alguém para te poder enviar um e-mail a dizer a factura e enviar-te a
factura anexa.
NAMÉRCIO CUNHA – namercio.cunha
VOZ MASCULINA – Pois…eu tenho mkt…
NAMÉRCIO CUNHA – Também serve
VOZ MASCULINA – …nkt…então…
NAMÉRCIO CUNHA – mkt…
VOZ MASCULINA – Espera aí um bocadinho. (De seguida ouve-
se a mesma voz a conversar com uma terceira pessoa do sexo feminino -
Então eu tiro…tou aqui em baixo, espera aí. Isto tem segunda via. Espera
um bocadinho. Isto não tem original. Isto é duplicado? É Segunda via?
Triplicado?); (Ouve-se, em fundo, uma resposta vinda de uma voz
feminina e a seguir a mesma voz masculina fala - Ah, sim, mas eu posso
digitalizar isto e enviar para eles. Então pronto eu envio aqui o duplicado,

473
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

pronto.); (De seguida retoma conversa com Namércio Cunha) Estava aqui
a….aguenta aí um bocadinho…estou só aqui a…de resto já tudo feitinho.
Ficou-te de enviar um e-mail…digitalizar aqui a factura…
NAMÉRCIO CUNHA – Hum, hum
VOZ MASCULINA – Espera um bocadinho…já agora. Ouve lá,
disseram que tu…Tu não…
NAMÉRCIO CUNHA – Sim
VOZ MASCULINA – A O2 está cheia de dívidas e pagamentos
em atraso aqui, pá.
NAMÉRCIO CUNHA – Aí?
VOZ MASCULINA – (*)
NAMÉRCIO CUNHA – (*)Tou clean. Limpinho.
VOZ MASCULINA – Olha que não estás. Sabes que eu liguei à
financeira não sei quê – Olhe isto adjudicado à O2 não pode ser que eles
estão cheios de dívidas e não pagam e não sei quê.
NAMÉRCIO CUNHA – (*) da CP.
VOZ MASCULINA – Épá, não estou a brincar….
NAMÉRCIO CUNHA – Não pagam também há mais tempo.
Não…então…então eu fui aí limpar tudo. E não era nada de especial.
O…fui aí pagar na…no…antes disso, não é, que é para não haver
motivos, fui aí pagar trinta mil euros. Que raio de dívida é que tem?
VOZ MASCULINA – Então vamos lá ver…
NAMÉRCIO CUNHA – A sério tiveram-te com esses
comentários?
VOZ MASCULINA – A sério. A sério.
NAMÉRCIO CUNHA – Fogo. Isso… isso quem está a dizer isso
sinceramente não está actualizado. Mas depois levantaram algum
problema ou quê?

474
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

VOZ MASCULINA – Não, não. Épá mas disseram - épá isto não
pode ser um gajo…hás-de-ficar não sei quê, pessoas que têm…que têm
aqui dívidas e atrasos e não sei quê
NAMÉRCIO CUNHA – Não tem. Eles deviam ter consultado.
Não tinha, estava zero.
VOZ MASCULINA – (pausa) Em anexo..
NAMÉRCIO CUNHA – Deve ser algum benfiquista ou o caralho
que está para aí.
VOZ MASCULINA – Conhecimento do concurso…eu vou-te fazer
um e-mail é mais fácil.
NAMÉRCIO CUNHA – Sim.
VOZ MASCULINA – Conhecimento do concurso de
desmantelamento, de remoção e transporte de resíduos resultantes das
trinta carruagens estacionadas na estação do Pinheiro informamos que foi
adjudicado a vossa excelência o referido concurso. (*) e de acordo com o
ponto sete do concurso deverão proceder ao pagamento integral do
levantamento dos materiais da factura número xpto em anexo no valor de
cento e dez mil quinhentos e cinquenta euros.

A voz masculina é, mais uma vez, do Sr. Ricardo Anjos.

Foram inquiridos a este propósito as testemunhas - Manuel João de


Sá Almeida, Membro da Direcção Executiva da Unidade CP Serviços, fls. 9 a
12 do Apenso AC 1, Dália Maria Gramaço Marques, fls. 14 a 17 do Apenso AC
1.
O arguido reiterou inocência.

Ora, perante tais evidências, não nos convence a versão dos factos
apresentada pelo arguido Ricardo Anjos no seu Rai, antes se entendendo que

475
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

os factos que lhe são imputados na acusação se mostram fortemente


indiciados.

O JIC/TCIC não consegue desligar-se das evidentes dificuldades de


financiamento da CP nos mercados.

Não lhe compete “endireitar o mundo”.


No sistema da justiça temos que fazer o que nos cumpre, mas perante
estes indícios assinalados, o que resta é pronunciar o Sr. Ricardo Anjos.

Destarte, deverá o arguido Ricardo Anjos ser pronunciado nos


precisos termos da acusação, por se mostrarem verificados indícios que,
neste tocante, inculcam um juízo de prognose, conducente à
consideração de que é mais forte a probabilidade da sua condenação do
que a exoneração da sua responsabilidade.

*****

Veio o arguido Namércio Pereira da Cunha, notificado da


acusação, apresentar a sua defesa nos termos constantes do RAI,
contante de fls. 27637 e ss, que aqui se dá por reproduzido.

Nesta matéria o JIC escrunitou nos seguintes elementos:

Em sede de instrução foi o arguido ouvido, novamente, a seu pedido,


bem como ao RAI do arguido Ricardo Anjos.

Confirmou o teor das declarações já prestadas em inquérito.


Entrou para as empresas do Sr. Godinho dia 1/4/02.
Refere a acusação que o plano criminoso de Manuel Godinho se
iniciou em data anterior a 2002.

476
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Esclareceu que não conhecia Manuel Godinho antes de 2002, foi


apresentado por uma terceira pessoa, Manuel Godinho nunca lhe falou nisto,
era para si impensável que isso fosse acontecer.
Celebrou um contrato de trabalho com a empresa SCI, tendo sido
contratado como responsável comercial desta, mas sempre trabalhou na O2.
Estava lá há dez anos na empresa anterior, Teca Portuguesa. Estava
com 32 anos de idade, decidiu dar um novo rumo à sua vida profissional.
Reportava a Paulo Godinho filho de Manuel Godinho, este fez a sua
integração, deu-lhe a conhecer a O2.
Havia mais exigências na área do ambiente, certificação para
resíduos, a O2 passou a assumir os clientes do Sr. Manuel Godinho, que
provinham da empresa SEF.
A O2 era a única empresa licenciada para gerir resíduos.
Aquando do lançamento dos concursos, uma das competências da
sua equipa, era preparar os dossiers técnicos e de proposta comercial,
coordenar, os valores eram sempre avalizados pelo Sr. Manuel Godinho.
A sua equipa era constituída pela Eng. Elsa, Eng. Margarida, Eng.
Elisabete.
O seu relacionamento pessoal e profissional era normal, amistoso, nos
os 7 anos e 7 meses que lá trabalhou.
Foi uma vez a casa de Manuel Godinho, pontualmente, e Manuel
Godinho também esteve uma vez em casa do respondente, quando o Esmoriz
foi jogar à sua terra, foi lá lanchar a casa.
Respeita muito Manuel Godinho, por ser mais velho e o dono da
empresa na qual trabalhava, nunca lhe faltou ao respeito.

Referida a intercepção telefónica em que Manuel Godinho se refere a


si como o “emplastro”, ao falar com Maribel Rodrigues, respondeu que essa foi
uma das surpresas que teve, muitas vezes o alertava para requisitos, e por isso
pode não ter gostado de alguma dessas asserções.

477
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Relativamente à remuneração que auferia disse que o salário lhe era


pago ao fim do mês, por cheque entregue por Maribel, metia despesas tudo o
que tivesse a ver com almoços seus e com clientes, já que o subsidio de
alimentação não estava incluído no recibo mensal, combustível, tinha um carro
a gasolina.
Como não tinha muita disponibilidade porque passava muito tempo na
empresa e em deslocações entre clientes, não apresentava as facturas
mensalmente, sempre que arranjava algum tempo organizava os talões, e
juntava 3/4 meses de despesas, valores entre os 1.200 /1.300 euros por mês,
sendo que as despesas estão documentadas na O2.
Pediu cópias dos talões à O2, mas não lhe entregaram até à data.
Estes valores eram-lhe pagos sempre em dinheiro e periodicamente
foi-lhe pago, listagens que chegavam a ser de 7 mil e tal euros e outras de 8
mil e tal euros.

Era a D. Manuela funcionária administrativa, que contabilizava as


despesas que ele apresentava.

Quanto ao tema da lista dos presentes, disse que foi por si elaborada
em 2002, quando entrou, para ajudar no procedimento de entrega de
lembranças de Natal.
Lançou as listas organizadas e, através dessa lista, poupava tempo e
dinheiro e facilitava as compras. Nesta lista punha-se valores para se perceber
o gasto.
No primeiro ano os nomes foram fornecidos pelo Paulo Godinho, o
João ainda estava a entrar nos assuntos.
A decisão final era de Manuel Godinho que avaliava o tipo de prendas
e se queria, ainda, incluir ou excluir alguém.

478
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Confrontado com fls. 1652 e 1667 do volume V, refere que


corresponde a uma das listas, o X significa que não foi entregue por qualquer
motivo.

Perguntado em que instalações do Sr. Manuel Godinho existiam


balanças, respondeu que existiam em Ovar (a partir de 2008), Canas de
Senhorim, Aveiro, sendo Certificadas e aferidas.
Perguntado se seria possível haver manipulações, respondeu que sim
mas que nunca assistiu a nenhuma.
Tudo o que chegava à empresa era pesado e dai era emitido um talão
de pesagem que acompanhava a guia do ambiente e guia de transporte.

Após eram emitidas as facturas (em Ovar).


Toda a correspondência era aberta pela D. Maribel.

Mais recentemente, em 2008, propôs à administração, a


implementação de um software PHC só para a parte de gestão administrativa
na área de ambiente.
Toda a gente trabalhava nessa base, com passwords, mas com níveis
de acesso diferentes por parte das varias pessoas.

A validação final teria que ser feita por ele ou pelo João Godinho.

Perguntado se alguma vez viu documentos falsos, respondeu nunca


ter visto nem elaborado nenhum.
Nunca deu instruções para adulteração de pesagens, tudo o que
tivesse a ver com pesagens era a área dos operacionais.

Perguntado qual a relação da O2 com as Estradas de Portugal, disse


que não teve intervenção no contrato de gestão global de resíduos.

479
S. R.

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Facturavam eles num caso, a EP no outro – resíduos valorizáveis vs


nas valorizáveis.
Conta-corrente – saldo muitas vezes favorável à EP

Dos contratos de 2008 tratou a Elsa Almeida e Margarida, foi Manuel


Godinho quem indicou os preços, até foi confrontado com escutas em que
Manuel Godinho o repreendeu por ter dado preços sem a sua autorização.

Concursos com a EDP


O primeiro que apanhou já estava a ser executado, respeitava a
recolha e fragmentação de postes de betão, nos outros concursos já interveio
directamente, recordando-se de problemas com os transformadores e com as
pesagens (que lhe foram dirigidos por A. Serrão em representação da EDP).
Serrão não aceitava os talões, aceitou-se o que ele propôs.

Relações comerciais com a EDP – IP


O2 foi convidada segundo lhe disse Manuel Godinho para um
desmantelamento na Rua do Ouro.
Consulta que lhes fizeram através de email.
Juntamente com o Eng. Ricardo, Elsa Reis, Namércio também esteve
presente numa parte da reunião com o Eng, Paiva Nunes (EDP).
Acabaram por ser escolhidos em várias fases.
As relações com a REN já vinham de 2001/2002
Até havia problemas com atrasos de pagamento vs valores de
pesagens
Houve propostas de soluções acertos das diferenças.
Recorda-se de outro contrato de resíduos metálicos, ganho pela
CESPA para os subcontratar, após negociações.
Houve vários concursos e contratos com a REN.

480
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Perguntado se havia alguma coisa de que queira falar, respondeu que


Manuel Godinho dizia-lhe que ia haver mais consultas da REN e que a fonte
era Paulo Penedos.
Em 2007 veio a saber que Paulo Penedos iria dar apoio jurídico à O2 e
empresas do Manuel Godinho.
Em 2008/2009 veio a assistir a intervenções de Paulo Penedos, nas
relações com a REN, muitos dos papeis eram feitos com conhecimento do
próprio Paulo Penedos, mas sempre avalizados por Manuel Godinho.

Sobre diligências em concreto de Paulo Penedos na REN, por


exemplo na Tapada do Outeiro, de repente, o Paulo dizia que tudo se ia
resolver e depois as respostas não condiziam.

No caso mencionado REN Setúbal – resíduos a ser retirados por um


terceiro em violação do contrato da CESPA, Alto Vila e O2, a situação reverteu-
se, com intervenção de Paulo Penendos.
Não há papéis, foi tudo oral.

Esteve com o Paulo Penedos escassas vezes, por exemplo no funeral


da sogra dele, também estava António Gomes e um dos filhos de Manuel
Godinho.

Manteve relações com a REFER – pontuais, pois era uma área de


outros funcionários.
Ouviu falar nos jornais do “Carril Dourado”, Manuel Godinho dizia que
iria provar que tinha razão nas suas teses.

No tocante à REFER, ocorreram problemas com a fragmentação das


travessas no entroncamento.

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S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Interagiu com responsáveis da REFER – elaboração de contratos e


cadernos de encargos.
O encarregado da O2 era um Sr. António, do lado da REFER era
Helena Alves
Houve efectivamente problemas com a “O2” no Entroncamento.
Com Pesagens, talões.
No primeiro dia em que isso aconteceu vinha em viagem, telefonou Dr.
Normando (REFER), [episódio pontual do encarregado António diz o Manuel
Godinho]

Comunicou que, quando o camião foi despejado deitou terra, em vez


de betão, foi lá , falou com o António encarregado, “que se fechou” e, como não
tinha muita confiança com ele, não avançou mais, pensa que tinha instruções
nesse sentido da parte de Manuel Godinho para não explicar nada a Namércio.

Quanto ao crime de associação criminosa


Não faz parte
Ninguém combinava nada com ele
Havia incidentes com a actividade das empresas e O2, mas nunca
pensou que houvesse um esquema organizado para driblar a lei.

Quanto ao património que possui, disse ter a ajuda dos pais e viver do
seu ordenado.
Enfatizou, “Até disse ao Dr. Belchior que não aceita que o seu
património esteja arrestado” (sic.).
No caso do contrato com a CP, mencionado na acusação, assumiu as
suas responsabilidades.
Tirou uma vantagem para a O2
Desmantelar 30 carruagens – foi a Dra. Dália Marques que lhe deu
conhecimento da existência da possibilidade de consulta deste assunto.

482
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Já tinham um contrato de desmantelamento com a CP e por isso ele


até a questionou porque é que não enquadravam nesse contrato.
Ela disse que iam fazê-lo, depois disse que ia de ferias e ficaria o
Ricardo Anjos a coordenar a parte administrativa do processo.
Recepcionaram o email com o convite formal, houve contactos com o
Ricardo Anjos.
Nesses contactos teve acesso à ideia do valor de uma das propostas.
Disse isso a Manuel Godinho, naquele dia, às 8 horas da noite.
Só havia ainda uma proposta de outro consultado e mandaram esta
proposta por um email especifico (que está no processo).
Este email foi informado pelo Ricardo Anjos.

Seguiu-se o processo de adjudicação.


Tem a certeza que assegurou a liquidação da divida da O2 à CP
aquando deste contrato das carruagens – ele pagou.
Ninguém teve necessidade de o questionar, foi ele próprio que se
lembrou de anteriores ressalvas da Dra. Dália Marques da CP.
A divida referida no art. 1734 da acusação – não tem a certeza se foi
esta a factura que foi paga, mas tem absoluta certeza de que providenciou por
isto.

Pedidos de Ricardo Anjos


São brincadeiras sem piada nenhuma, conhecia já o Anjos desde 2004
quando ele trabalhava na DAC – Departamento de Aprovisionamento e
Compras.
O Anjos depois mudou de funções.
Recebia prendas nesses anos sem que tivesse qualquer interferência
em áreas da O2.
Conviviam, almoçavam, iam ao Sporting, ele em 2008 teve uma
grande perda pessoal.

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S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Uma pessoa brinca, perante aquelas expressões ficou até surpreso!


Responde, OK, nós depois almoçamos, comemos um peixinho e
falamos!
Voltaram a falar em trabalho!
Não houve nenhuma vantagem patrimonial pedida ou oferecida por ele
ao Anjos.

A instancias do mandatário da REFER esclareceu ser o responsável


comercial e de ambiente na O2.
Era o interlocutor com a REFER.
Conhecia o que constava dos cadernos de encargos.
A coordenação de trabalhos era de Paulo Godinho que reportava
nesta parte ao Sr. Manuel Godinho.

Nas declarações 8/10/2010 disse que a REFER era o cliente mais


importante até determinado momento, depois houve problemas com a O2 e
passaram a concorrer com a firma SCI.

Acompanhava a execução dos contratos com a REFER mas mais em


termos contabilísticos.
Quanto a pesagens não tinha desconfiança de que estas fossem
manipuladas.
Confrontado com declarações 28/9/2010, (sucata nos lotes) preços
elevados, mas que saiam baratos com a manipulação das pesagens, confirma-
as.
Cfr com fls 23230 lotes sucata aumento dos lotes após a adjudicação
não adianta axplicaçao.
Agora diz que foi na EMEF do Barreiro.
As palavras estão num parágrafo sobre a CP e REFER

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Duas eram na EMEF porque se lembra de um desfasamento entre a


data da consulta e o desmantelamento.
Sobre o caso 16 lotes de sucata no Norte não se recorda.
Confirma o rendimento liquido mensal 1.500 euros e despesas 1.200
euros
Tinha dinheiro de bolso que vinha de trás e, como ia sempre
recebendo ia gerindo a conta-corrente.

A instâncias de Dr. Rui Patrício esclareceu quanto às “Prendas”:


Já vinham de antes, de vários anos.
O montante global do valor destinado aos presentes e também aos
valores individuais dos presentes desceu nos últimos anos.
O Caso de Setúbal foi revertido no âmbito de um contrato mais vasto
da CESPA.

A instancias de Dr. José Paulo Dias – arguido Contradanças.


Na IDD (Alcochete) por indicação de Manuel Godinho pensa que por
indicação de António Paulo Costa (administrador da Galp) foi fazer numa
apresentação O2 e falou com um Director local, por emails.
Depois veio o pedido de consulta.
Foi lá com o Sr. Manuel Godinho ver o material que estava em causa.
Manuel Godinho é que lhe deu as cotações, não ganharam a proposta.
Houve troca de emails com Paulo Costa.

Quanto ao Dr. Contradanças, não sabia, não conhecia esta pessoa,


nunca tinha ouvido falar.

A instancias da Dra. Isabel Catalão


Prendas:
Diferenças nos valores para pessoas em posição hierárquica inferior

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

O nome do Eng. Jorge Martins foi sugerido pelo próprio arguido, por
ter tido contactos com ele e foi aceite .
Não tem a ver com a posição hierárquica de destinatários [os que
estão mais abaixo têm mais importância para as relações comerciais com a
empresa, dizia por vezes Hugo Godinho]

A instancias de Dr. Shearman de Macedo

Do caso CT Outeiro esperavam que as propostas espontâneas que a


O2 resolveu fazer à REN fossem aprovadas.
Consultas de Alto Mira e Tapada do Outeiro.
Mais tarde foi elaborada info em 2008, problema das cinzas, ao Dr.
Paulo Penedos Admite que até tenha sido a empresa a dizer.
O Paulo Penedos depois disse que o assunto foi abortado por causa
da auto-estrada.

Caso Setúbal
Reclamação foi apresentada pela CESPA, a O2 era subcontratada, por
minuta que veio da O2 e pensa que foi feita por Paulo Penedos.
A REN não respondeu.

A instancias da defesa do Eng, Paulo Costa


Alcochete: IDD – foi o Manuel Godinho que indicou Paulo Costa que
iria dar contactos para a IDD.
O Eng. Paulo Costa indicou-lhe pessoas amigas na IDD.
Trocaram até emails sobre isso.

A instancias de MP
Lista de prendas já vinha de antes.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Ficheiro Excel das prendas de 2008 está protegido por password,


disse não se recordar da password, sugeriu O2, O2 ambiente, Sporting.
Quanto à categoria, valor da prenda, relaciona-se com valor
hierárquico, utilidade para o contrato, na pratica procurava sistematizar, mas
quem definia a ordem de importância das prendas, era quem fornecia as listas,
Esta importância era uma importância para as questões comerciais.
Importância vs interesse para a empresa nas relações comerciais.
Procurava ser agradável com as pessoas.
Não está na lista de prendas Juan Oliveira, Fernando Santos, Vítor
Baptista, nalgum momento terão recebido mas depois ocorreu o conflito e é
natural.
Se tivessem sido presenteados estariam ao nível do Eng. Jorge
Martins.
Admite que ele próprio os tenha indicado.
Saiu das empresas porque se demitiu em 9 de Novembro de 2009, a
seguir ao interrogatório judicial e o vínculo terminou em 31/12/09.
De 9/11/09 a 31/12/09 deixou de trabalhar na empresa.
Há processos judiciais em que é chamado como testemunha da O2 e
comparece.
Despesas relativas a horas extraordinárias nunca apresentou, tinha
isenção de horário.
Apresentava também almoços de funcionários de outras empresas,
clientes que consigo estavam e apresentava as facturas lá na Maribel/Manuela.
Senão ia almoçar a um restaurante normal.

Perguntado se recebeu adiantamentos, respondeu que não, para


situações moderadas.
“Era para situações moderadas e não exacerbadas”.

Contactos com Paulo Costa

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S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Godinho pediu-lhe para vir a Lisboa recolher o Mercedes.


Estava doente, gripado e não lhe agradou nada.
O Mercedes topo de gama não lhe deu gozo nenhum conduzi-lo,
Mercedes preto AMG.
Para não vir um estafeta, veio ele.
Carro estava a ser utilizado pelo Eng. Paulo Costa.

Estava a ser necessário para um casamento, ficou com a sensação


que era uma desculpa.

Deu-lhe indicações para entrar em contacto com o Eng. Paulo Costa e


fez isso na 6ª, foi em frente ao Centro Comercial Vasco da Gama, para vir no
sábado.

Carro estava lavado e limpo para ser entregue.

Veio de comboio e foi para cima no carro, deixando-o nas instalações


da empresa em Aveiro.
Quanto ao telefonema com Ricardo Anjos nunca percebeu que ele
estivesse a pedir uma contrapartida.
Reconhece que, para quem ouve, dê essa impressão.

Argumenta o arguido Namércio Cunha que “em nenhum momento


(…) declarou ou demonstrou qualquer participação em associação ou grupo
que se dedicasse à prática de crimes, não aceitando nem interiorizando em
momento algum que fizesse parte de tal grupo ou associação.”

Quanto ao crime de Associação criminosa

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S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

O crime de Associação Criminosa encontra-se pp. nos termos do Artº.


299º do Código Penal, no qual se penaliza a actividade criminosa desenvolvida
por associações constituídas com o objectivo de levarem a cabo, com certo
carácter de permanência, actividades delituosas.

O bem jurídico que se pretende tutelar é, no dizer de Beleza dos Santos


“… a ofensa da tranquilidade pública e o grave perigo da prática de crimes que
oferece um agrupamento formado para a realização de ilícitos penais, com uma
cooperação que se apresenta com uma certa estabilidade ou permanência”, in
Revista de Legislação e Jurisprudência, Ano 70, pág 130.

Ou, mais recentemente, Figueiredo Dias considera ser “… a paz


pública….”, in Comentário Conimbricense do Código Penal, parte especial,
tomo II, pág. 1157.

O crime de associação criminosa estrutura-se por referência aos


seguintes elementos objectivos: a existência de uma associação que, através
de um acordo colectivo, pratique crimes.

A doutrina e a jurisprudência assentaram já há algum tempo na definição


do conceito jurídico-penal de associação.

É pacífico considerar que aquele conceito se traduz numa união de


diversas pessoas, actualmente – com um mínimo de três pessoas, para, com
um carácter de estabilidade e permanência, prosseguirem um fim comum,
através de uma actuação conjunta e concertada de cada uma delas.

E, Figueiredo Dias, diz ainda “ob. citada” – “Elemento comum a todas as


modalidades de acção que integram o tipo objectivo de ilícito é a existência de
uma associação – cujo encontro de vontades dos participantes origine

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S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

uma realidade autónoma, diferente e superior às vontades e interesses dos


singulares membros”, ou seja, “que do encontro de vontades tenha resultado
um centro autónomo de imputação fáctica das acções prosseguidas ou a
prosseguir em nome e no interesse do conjunto”.

Refere, também, que esse objectivo da prática de crimes “pode ter logo
presidido à fundação ou criação da organização ou ter somente surgido mais
tarde, como “desvio da finalidade” de uma associação legalmente constituída.

Figueiredo Dias, in Col. Jur., Ano X, tomo 4 explica, ainda “Não se exige
pois – nem tal seria possível, que a associação apareça dotada de
personalidade jurídica, nem sequer que releve juridicamente em termos, v.g, de
figurar como referência de um património autónomo.

Também – e ao contrário do que vimos suceder em períodos


ultrapassados da experiência jurídica – não se referenciam limites mínimos de
organização, hierarquização ou divisão de trabalho.

Mas do que não pode prescindir-se é de que a associação surja, nas


representações dos seus membros, nas suas experiências individuais ou de
interacção, como um centro autónomo de imputação e motivação, como uma
entidade englobante, com metas ou objectivos próprios. Objectivos a que
devem subordinar-se – pelo menos até à medida da sua integração na
associação – os objectivos pessoais dos seus membros singulares”.

É da verificação ou não, casuística, deste facto, que nos permitimos


aferir, do ponto de vista jurídico - criminal, da sua existência.

490
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Tal, tem sido a orientação do STJ e, no mesmo sentido, foi decidido,


nomeadamente, nos Acórdãos de 26.05.1993 (Ac do STJ, II, pág. 237) e de
26.05.1994 (CJ II, Tomo II, pág. 233).

Ainda com interesse, Leal Henriques e Manuel Simas Santos, no Código


Penal Anotado (3ª Edição) que diz expressamente “…, nem sequer será de
exigir o conhecimento mútuo entre todos os associados, nem a necessidade da
sua reunião, sendo indiferente o momento em que cada um aderiu ao projecto
criminoso.

Acrescenta, depois, que o crime de associação criminosa se consuma


independentemente do começo de execução de qualquer dos delitos que se
propôs levar a cabo, bastando-se com a mera organização votada e ajustada a
esse fim, sendo certo que o facto de a associação ser já de si um crime conduz
a que os participantes nela sejam responsabilizados pelos delitos que
eventualmente venham a ser cometidos no âmbito da organização, segundo as
regras da acumulação real”. (sic).

Na mesma linha e a este propósito refere Rosário Colaço, nas alegações


do proc nº. 5 293/83 – 1ª Secção da Relação de Lisboa que a associação
criminosa “funciona como um elemento integrante «renovando» o seu próprio
objectivo e finalidade em cada nova actuação delitual, por acção de cada
componente do grupo”, havendo assim “tantos crimes autónomos quantas as
actuações anti-sociais a considerar».

O facto da associação ter como objectivo funcional a prática de crimes


não oferece grandes dificuldades de delimitação, na medida em que os factos
qualificados como crimes encontram-se definidos, como tal, na lei penal.

491
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Para além disso, outro elemento relevante a considerar, prende-se com


a natureza da relação entre a já definida associação e cada um dos elementos
concretamente considerados como fazendo parte da mesma.

Isto é, se a pessoa em concreto se configura em relação àquela como


fundador, membro, apoiante, chefe ou dirigente.

Estes diferentes vocábulos exprimem distintas formas de realização do


comportamento típico substantivado pela lei penal. Não é, portanto, uma mera
circunstância modificativa da pena, o facto de alguém ser fundador, membro,
apoiante, chefe ou dirigente de uma associação criminosa.

Figueiredo Dias, no Comentário Conimbricense do Código Penal, em


anotação ao Artº. 299º, define-os, assim:

- Fundador é a pessoa que participa activamente no processo de


criação da “ideia criminosa” da organização criminosa, mesmo que não tenha
qualquer actividade subsequente nela;

- Membro é a pessoa que faz parte da associação, encontra-se


incorporado na organização, subordinando-se à vontade colectiva e
desenvolvendo uma qualquer actividade, principal ou acessória, para
prosseguimento do escopo da associação.

No que respeita à actividade a desenvolver pelo membro não será de


exigir nem a concreta participação nos crimes da associação, nem sequer o
concreto conhecimento dos crimes planeados.

Bastará – mas também será essencial – que o agente, conhecendo e


aceitando o fim criminoso da associação, desempenhe tarefas gerais no seu

492
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

seio e em prol da mesma, qualquer que seja o carácter (operacional, logístico,


ideológico, etc.) daquelas tarefas.

- Apoiante é a pessoa que presta auxílio moral ou material aos


membros da associação, não estando subordinado à vontade colectiva e, por
isso, não está à disposição da associação;

- Chefe ou Dirigente é o responsável – ou co-responsável – em


particular medida, pela formação da vontade colectiva, ou funciona como
“pivot” essencial à sua execução (centralizando informações, planeando
acções concretas, distribuindo tarefas, dando ordens). É, em suma, um
membro especialmente qualificado.

O crime de associação criminosa, ao nível do elemento subjectivo, é


punido apenas a título de dolo. Este define-se em função da questão de saber
qual o conteúdo volitivo, do facto de ser “fundador, membro, apoiante, chefe ou
dirigente” de uma associação criminosa. Isto é, o que há de cada um destes
“querer” para poder ser considerado preenchido o elemento subjectivo deste
tipo legal?

Não exigindo o tipo legal um dolo específico, o elemento subjectivo


desta infracção preencher-se-á com qualquer das formas de dolo, incluindo o
dolo eventual.

Assim, bastará, que o agente conheça, ao nível próprio das suas


representações, que é fundador, membro, apoiante, chefe ou dirigente de uma
associação que se destina à prática de “crimes” (elemento normativo do tipo) –
Neste sentido Figueiredo Dias, ob. cit) e que é ilícita a sua conduta.

493
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Não será despiciendo recordar que a noção de crime organizado se


configurou durante a «lei seca» nos anos 30, nos EUA.

Como então, no caso dos presentes autos, é inegável ser necessário


encontrar a verificação de um plano criminoso, congregador de esforços e de
vontades, tendentes à consumação dos crimes que vêm imputados aos
concretos autores.

Do que flui dos autos (vide os extensos relatórios do OPC) forçoso é


constatar que os arguidos de tal acusados não actuavam exclusivamente no
interesse deles próprios, com o fito do bom êxito da complexa actividade
delituosa em curso mas em prol de um desígnio comum.

Mas ex-abbundanti diremos, ainda:

O Acórdão do Tribunal Constitucional, proferido no Pº. 222/97-1.ª


Secção, a respeito da relevância das declarações de co-arguido, após discorrer
sobre a panóplia de garantias de defesa de que o arguido goza no hodierno
processo penal português (em estrita aplicação dos incisos constitucionais
prevenidos nos art.ºs 32.º da CRP e 61.º, n.º 1, c), 343.º, n.º 2 e 345.º, n.ºs 1 e
2, todos do CPP) postula, em síntese, que não pode valer como meio de prova,
em julgamento, o depoimento de um co-arguido, em prejuízo de outro co-
arguido quando, a instâncias deste outro, o primeiro se recusar a responder, no
exercício do direito ao silêncio (vidé também Ac. do TC 524/97; Ac. STJ
25/02/99, in CJ; Ac.s STJ, VII, 1, 229 e Ac. do TEDH Craxi vs Itália de
05/12/02).

Sendo mais uma vez um juízo de prognose indiciário, só em julgamento


se poderá concluir pela prova ou não da ocorrência do imputado crime.

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S. R.

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Não desconhecemos que, no actual processo penal português, em


consonância com os principios enformadores do Estado de Direito Democrático
e no respeito pelo efectivo direito de defesa, consagrado no art.º 32.º, n.º 1 e
210.º, n.º 1 da CRP, exige-se não só a indicação da prova ou meios de prova
que serviram para formar a convicção do Tribunal, mas, fundamentalmente, a
exposição, tanto quanto possível completa ainda que concisa, dos motivos de
facto que fundamentam a decisão.

A fundamentação ou motivação deve ser tal que, intraprocessualmente,


permita aos sujeitos processuais o exame lógico ou racional que lhe subjaz.

Mas, atentas as finalidades que a Lei comete à instrução, entendemos


que, para além das declarações de co-arguidos há outros elementos, a que
aliás fizemos alusão, quando remetemos para o relatório final e que ele
respiga, sendo facilmente alcançáveis os fundamentos de facto em que
assenta a decisão que iremos colocar no dispositivo de pronuncia.

Ex-abbundanti diz-se, ainda:

João Davin, num estudo publicado sob o título “A Criminalidade


Organizada Transnacional – A Cooperação Judiciária e Policial na EU
(Almedina p. 53/54) adianta uma definição de criminalidade organizada:

Grupo estruturado, estável e tendencialmente permanente ou vitalício


que se dedica à prática de infracções visando obter benefícios financeiros ou
materiais.

Como primeiro elemento, de cariz estrutural, referencia-se a associação


de duas ou mais pessoas, afastando-se as uniões transitórias, colocando-se o
assento tónico no surgimento de uma entidade distinta e autónoma em relação

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

a cada um dos seus «formadores» que lhe transmite um «corpo» e uma


autonomia próprias, um outro elemento, de cariz finalista, entendendo-se que a
associação deve (tem de ser) criada com o objectivo/finalidade de cometer
crimes/infracções.

Uma das características mais significativas deste tipo de criminalidade é


a procura sistematizada de uma relação óptima de custo/benefício, atendendo-
se no risco (leia-se pena aplicável ao crime em apreço) e aos possíveis
benefícios da sua prática.

Tudo isto tem de ter um carácter estável. E aqui está indiciado que o
tinha (pelo menos teve-o durante anos).

Enquanto todos os de tal acusados se aproveitaram tudo correu bem.

Havendo dissensões, como houve, por divergência de interesses


próprios, houve atrito e recíproca responsabilização. (vejam-se as declarações
do arguido Namércio Cunha).

O art.º 2.º do Tratado de Palermo, resultante da Convenção das Nações


Unidas sobre a Delinquência Organizada Transnacional, realizada no período
de 12/15 de Novembro de 2000, em Itália, prevê como organização criminosa
aquela que reúna mais de três pessoas (requisito estrutural) de forma estável
(requisito temporal) visando praticar crimes graves, com o intuito do lucro
(requisito finalístico).

Ao acrescentar finalidade económica, tal aproximação conceptual busca


adaptar-se à tendência contemporânea no plano internacional, diferenciando, no
terreno jurídico-penal, os conceitos de organização criminosa e terrorismo, ante

496
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

a prevalência, neste ultimo, do conceito ideológico (Eduardo Araújo da Silva


“Crime Organizado”, procedimento probatório, ed. Atlas Jurídico, pag. 35).

Todos os elementos em referência afigura-se-nos que se encontram


presentes na união detectada entre os arguidos.

Perante os indícios recolhidos, no juízo instrutório, que é um juízo de


probabilidade que não de condenação, a atinente asserção está suficientemente
alicerçada.

Todavia, mesmo seguindo o entendimento de alguma doutrina, nacional


e estrangeira, também é possível encontrar acórdãos e entendimentos que não
exigem, para além de um acordo de vontades dos participantes, que haja
também, uma realidade autónoma, diferente e superior às vontades e
interesses dos singulares membros.

Como bem se refere no Comentário Conimbricense – vol. II, pág. 1158,


em anotações ao artº 299º do CPP, a primeira formulação deste tipo consta do
Código Penal Napoleónico, encontrando acolhimento no nosso Código Penal
de 1852 (vidé artº 263º) depois no Código Penal reformulado de 1884; no de
1886, seguidamente no Código Penal de 1982 (artºs 287º/288º) e, agora no
presente artº 299º ou, no caso do tráfico, no artº 28º do Dec. Lei 15/93.

Os elementos constituintes foram evoluindo e, no texto de 1982, o


escopo da associação criminosa constituiu-se na prática de qualquer espécie
de crimes, não se excepcionando, como de pretérito, os crimes contra a
segurança interior e exterior do Estado.

Passou a constituir assim um tipo de crime de perigo abstracto, assente


numa altíssima e especialíssima perigosidade, derivada de um particular poder

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de ameaça e dos mútuos estímulos e contra-estímulos de natureza criminosa


que aquela cria nos seus membros (ver comentário cit. pág. 1157).

O problema mais complexo de interpretação é o de distinguir aquilo que


é já associação criminosa daquilo que não passa de mera comparticipação
criminosa.

Seguimos, neste particular, o ensinamento de Beleza dos Santos, in RLJ


- 70º, 129º e Acs. da Relação de Évora de 28/11/1984 e 31/1/1985 in CJ 5 -
1984, pág. 280 e 1-1985-329.

Veja-se no mesmo sentido:

“I- Cometem o crime de associação criminosa duas ou mais pessoas


que se juntam e acordam dedicar-se, mesmo sem qualquer organização, mas
com certa estabilidade, a uma actividade criminosa.
II- são o fim abstracto e a ideia de permanência que distinguem a
associação criminosa da comparticipação, que é simples acordo conjuntural
para cometer um crime em concreto.
III- O Dec-Lei nº 187/83, de 13 de Março, que veio rever a punição dos
delitos aduaneiros, não regulou no seu texto a associação criminosa, por
pressupor a aplicação subsidiária do CP. A associação para a prática de
infracções aduaneiras, designadamente contrabando, constitui o crime previsto
e punível pelo artº 287º do CP (ac. STJ de 23 de Abril de 1986; BMJ, 356, 136).
Em sentido idêntico, ac. STJ de 16 de Abril de 1986, mesmo boletim, 132.”
“Para verificação do crime de associação criminosa basta a existência
de uma união de vontades para a prática abstracta de crimes ou de conjunto de
crimes, independentemente da formulação do propósito de execução de um
crime determinado, pressupondo-se uma actuação conjugada e concertada dos
agentes, por forma a traduzir os seus propósitos de, em conjunto, fazerem vida

498
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

da actividade criminosa (ac. STJ de 13 de Maio de 1992; CJ, XVII, tomo 3, 15).”
(fim cit)

Ademais, não nos deixamos influenciar pela tentação de ser mais


cómodo e linear brandir o crime de associação criminosa, por este oferecer ou
não, vantagens no plano probatório, suprindo lacunas e “dispensando os
esforços necessários ao total esclarecimento dos factos e à cabal
individualização da responsabilidade dos singulares agentes”.

Entendemos, pois, que os factos suficientemente indiciados aos diversos


arguidos que se juntaram e organizaram com grau de perenidade, havendo até
distribuição de funções entre os diversos vértices da associação têm, em sede
do juízo indiciário, único cometido ao JIC, que não é um juízo condenatório, o
sentido, alcance e exigências típicas decorrentes da incriminação do artº 299º
do CP, sendo que a cada um dos arguidos de que tal vêm acusados diverge
apenas a qualidade que lhe é imputada no seio da indiciada organização .

Estão, no caso dos arguidos acusados da associação criminosa,


suficientemente indiciados os mútuos estímulos e contra estímulos da natureza
criminosa que tal actividade bem organizada, nesse sentido de bem
planificada, necessariamente comporta/exige.

Como já significámos, a este respeito remetemos para o bem fundado


do relatório final elaborado pela Policia, no qual, com abundância de
pormenores e indícios factuais está bem espelhado o entrosamento entre os
arguidos acusados, a sua articulação entre si e a repartição de tarefas.

A respeito do entrosamento e da actuação concertada dos arguidos


respigámos, aliás como procurámos fazer tanto quanto à demais prova

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S. R.

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indiciária a que nos ativémos e que estriba a presente Decisão Instrutória,


elementos de prova indiciários que documentam o supra citado.

Em nosso entender, neste caso, há elementos suficientes para se levar


estes arguidos a julgamento, também pelo mencionado ilícito, só aí se podendo
escrutinar, conclusivamente, o grau e a forma de participação dos ora
acusados nos factos delituosos sob apreciação.

Estão neste caso e no dos restantes arguidos acusados da associação


criminosa suficientemente indiciados os mútuos estímulos e contra estímulos
da natureza criminosa que tal actividade bem organizada, nesse sentido de
bem planificada, necessariamente comporta/exige.

O juízo indiciário, cabido na instrução não é um juízo de condenação,


mas de prognose da forte probabilidade de condenação deste arguido (no caso
do requerente do requerimento de abertura de instrução sob apreciação) pelo
dito crime de associação criminosa.

Namércio cunha, com muito ênfase diz que nunca participou nem sabe
de associação criminosa nenhuma.

Ora, esta alegação é, frontalmente, contrariada pela intervenção de


Namércio documentada nos autos, designadamente:
• ao sistematizar a lista de oferendas natalícias das empresas de
Manuel Godinho;
• ao ter conhecimento prévio da realização de consultas e
concursos públicos de adjudicação de contratos de compra e venda e de
prestação de serviços na área dos resíduos;
• , ao ter conhecimento prévio da sua natureza, das suas condições
e termos, ao ter conhecimento posterior da identidade dos concorrentes, das
condições, dos termos e do valor das propostas por estes apresentadas;

500
S. R.

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• ao ter conhecimento da realização de consultas públicas apenas a


empresas integrantes do universo empresarial, directa ou indirectamente, por si
gerido aquando do cumprimento formal de obrigações de consulta plural de
diferentes sociedades comerciais;
• ao ter conhecimento da criação ou indução de aparentes
necessidades da celebração de contratos de compra e venda e de prestação
de serviços na área dos resíduos;
• ao ter conhecimento da adjudicação directa de contratos de
compra e venda e de prestação de serviços na área dos resíduos;
• ao ter conhecimento da garantia da omissão dos poderes/deveres
de fiscalização, por forma a permitir a subtracção e apropriação de resíduos
nobres como se de ferrosos se tratassem, a adulteração do peso dos resíduos
recolhidos, a retirada de resíduos sem pesagem, a pesagem global dos
diferentes resíduos recolhidos ignorando a necessária segregação e a
sobrefacturação dos serviços prestados;
• ao ter conhecimento da possibilidade de apresentação de
propostas com valores mais elevados nos concursos e na consultas de
adjudicação de contratos de compra e venda e mais baixos nos concursos e na
consultas de adjudicação de contratos de prestação de serviços na área dos
resíduos, por via da garantia da obtenção ilícita de resíduos, através da
omissão dos poderes/deveres de fiscalização nos termos supra expostos.
• E tendo conhecimento das referidas situações ao colaborar em
todas as actividades descritas na acusação.
A sua actuação, confessada nos interrogatórios a que foi sujeito, nos
procedimentos concursais relativos à REFER, à REN, à EDP, à CP, à EMEF
evidencia-o à saciedade (vide art.ºs 27º, 28º, 42º, 43º, 44º, 46º, 47º, 48º, 49º,
59º, 103º, 494º, 495º, 498º, 505º, 568º, 572º, 827º, 836º, 839º, 876º, 883º, 890º,
892º,
903º,912º,917º,918º,987º,1012º,1014º,1017º,1018º,1021º,1027º,1040º,1041º,1
051º,1054º,1056º,1061º,1065º,1067º,1068º,1069º,1071º,1072º,1074º,1080º,10

501
S. R.

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81º,1082º,1084º,1086º,1091º,1092º,1093º,1095º,1100º,1101º,1102º,1103º,110
4º,1109º,1112º,1114º,1116º,1121º,1122º,1123º,1125º,1128º,1130º,1147º,1151º
,1153º,1155º,1156º,1167º,1168º,1173º,1174º,1175º,1199º,1208º,1217º,1224º,1
225º,1227º,1246º,1248º,1249º,1250º,1252º,1314º,1380º,1381º,1402º,1403º,14
08º,1409º,1413º,1414º,1440º,1442º,1443º,1445º,1475º,1524º,1525º,1535º,159
2º,1596º,1597º,1601º,1602º,1606º,1607º,1611º,1612º,1616º,1622º,1623º,1624º
,1626º,1707º,1708º,1711º,1723º,1724º,1727º,1728º,1732º,1735º,1736º,1737º)

Tudo isto inculca fortes indícios de que o Dr. Namércio tinha perfeita
noção do que se passava.

Ele e os demais de tal acusados.

Foram ainda ouvidas, a seu pedido, em sede de instrução as


testemunhas:

António Gomes
Confirmou o teor das declarações já prestadas.
É Director Financeiro da O2 há dez anos e Licenciado em
Administração e Gestão de Empresas.
Conhece o Dr. Namércio, porque já lá trabalhava quando este foi para
lá.
O Namércio estava em Ovar e ele em Aveiro.
Mas como era director comercial admite que o Namércio andasse por
fora a contactar clientes.
Admite também receber dinheiro de mão por despesas –
estacionamento, almoços, combustíveis (tinha o cartão frota) e carro da
empresa.

A Manuela ( uma funcionária de tal encarregada) pagava em


numerário essas despesas da semana anterior.
Não sabe quando tal pagamento ocorria quanto ao Namércio.

502
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Esclarece que, normalmente, abasteciam os veículos da empresa num


posto de abastecimento em Ovar e noutro em Aveiro, sendo esta uma prática
habitual e semanal pelo menos por ele.

Quanto a horas extraordinárias, não sabe, a testemunha não metia.


So intervinha na área financeira em Aveiro.
Não havia instruções para fazer abastecimentos de combustíveis nos
postos da empresa.

Maria Manuela Correia Pinho

Aos costumes disse não ter interesse no resultado do processo.


Confirmou o teor das declarações já prestadas.
Trabalha no escritório da O2 desde Janeiro de 2001, em Ovar, no
Departamento de Contabilidade e agora está em Aveiro desde há um ano –
Fevereiro de 2010.
Esclarece que o Namércio Cunha foi para lá trabalhar já depois de ela
lá estar. O Dr. Namércio metia despesas. Normalmente uma vez por semana
tira-se dinheiro da caixa e pagam-se despesas – almoços, combustíveis. E que
o Dr. Namércio não as apresentava todas as semanas e entregava-as ao cabo
de um mês, às vezes cinquenta e tal documentos, iam parar à sua mão e que
de acordo com as instruções que tinha pagava, mil e tal euros de cada vez,
porque juntava muitas.
Esclarece que o Dr. Namércio apresentava tudo muito ordenado, os
papéis também podiam ser tratados pela D. Maribel ou pelas duas juntas.
Esclarece ainda que às vezes pagavam fraccionadamente, por não terem
dinheiro suficiente no tal dinheiro de caixa.
Também apresentavam despesas os encarregados e os funcionários
que andavam fora da sede.

503
S. R.

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Durante a sua inquirição, foi confrontada com doc. 3 a fls. 6 a 24, hoje
junto pela defesa.
Esclarece que depois do Namércio ter entrado e antes de sair da
empresa, foram feitas conferências por si ou pela Maribel, não sendo ela que
processava os dados, aquilo depois ia para a contabilidade e não sabe o
tratamento que lá era dado.
Foi ainda confrontada com Doc. 4 também junto pela defesa, o qual
admitiu ser a sua letra.

Namércio Cunha (pai)

Confirmou o teor das declarações já prestadas.


Esclarece que o filho trabalhava com o Sr. Manuel Godinho, não sabe
o nome das empresas concretas.
Vivem em moradias contíguas nºs 3 e 5.
O filho andava em viagem em todo o país Viana do Castelo, Beira Alta,
Lisboa, Algarve e que ele também, na sua profissão, circulava por todo o país.
Que sempre teve carro da empresa.
Esclarece ainda que quem suportava as despesas diárias era o filho,
combustíveis, portagens, almoços, hotel.

Quanto a recibos e talões de despesas esclarece que o filho trazia


tudo na carteira, e dizia que não tinha tempo para apresentar e que ele até lhe
dizia que era bastante dinheiro e que lhe devia fazer falta.

Esclareceu também que o Namércio é filho único e que, mesmo depois


da faculdade, continuou a dar-lhe dinheiro. Que o filho fez uma moradia, entre
1996 e 2000 e que ele o ajudou, acrescentando que o mesmo foi casado e
divorciado antes de acabar a dita moradia.

504
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Esclarece que, em 2000, o filho, trabalhou para outra empresa e, nos


últimos anos, continuou a ajuda-lo mensalmente, 300, 600, 800 euros mensais,
nos aniversários 1000 euros, mil e quinhentos euros.
Em 2008 deu-lhe prendas pelo nascimento da sua neta.
Em 2009 deu-lhe prendas pelo segundo casamento e baptizado da
neta.

Paulo José da Silva

Confirmou o teor das declarações já prestadas.


Licenciado em Administração e Gestão de Empresas, Presidente da
Agência Nacional de Compras Públicas, trabalhou na CP até Março de 2010.

Para a REFER havia linha para consulta pública com actos de


urgência.
Dália Marques – Julho/Agosto – responsável directa pela gestão dos
contratos.
Era administrador do pelouro na CP.
O Ricardo Anjos – colaborador da área logística da CP, os últimos
papeis vieram assinados por ele para o Conselho de Administração.

Esclarece que houve uma consulta a três empresas certificadas pelos


departamentos do ambiente para desmantelamento de materiais ferrosos.
E que a O2 era uma dessas empresas.
Recebiam as propostas por email para um endereço institucional, por
existirem 4.000 e tais endereços não pode garantir qual deles é o mencionado,
ora por carta.

505
S. R.

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Esclarece que era condição previa não ter dividas à CP antes da


recolha do material e que não sabe a quem foi adjudicada apesar de ter sido
ele quem despachou, foram cento e trinta e tal mil euros.
Esclarece ainda que não sabe se houve alteração da proposta do
preço após entrega da proposta. Uma vez entregue de acordo com as regras
de “benchmarking” da CP, não pode ocorrer, em princípio não pode.
Receberam-se emails. Só se enviaram emails com outro valor ainda
dentro do prazo.

Esfera de intervenção de Ricardo Anjos – não tem grau de autonomia


para influenciar.

No exercício dos poderes do administrador viu as propostas, o extracto


conta-corrente, não mencionava dividas. A O2 apresentava o melhor preço e
prazo, sendo que não houve prejuízo à partida.
Sendo-lhe perguntado pela ilustre advogada da REFER Dra. Ana
Camacho, se os emails eram abertos na hora, respondeu que em teoria sim. E
disse lembrar-se disto porque havia urgência, estava no limite do prazo e não
haveria naquela semana reunião do Conselho de Administração.

Esclarece ainda que o Sistema de gestão documental está


desmaterializado e colocado na rede através de sistema SAP. É o funcionário
que trata do dossier que acompanha directamente, ao que pensa.
Não há verificação do andamento e da idoneidade dos procedimentos
por quem deles trata habitualmente.

Dália Maria Gramaça Marques


A testemunha é responsável pela área de alienações e valorização de
resíduos da CP.
Confirma as declarações prestadas em fase de inquérito.

506
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Conhece Namércio porque lidavam acerca da O2, que era um


prestador de serviços.
No processo dos vagões da estação de Pinheiro, a testemunha, de 10
a 28 de Agosto de 2009, esteve de férias.
Quando voltou, o Sr. Manuel de Almeida, um dos colaboradores,
colocou o problema de se fazer uma consulta a 2/3 firmas de um concurso de
sucatas metálicas - Batistas, O2 e Ipodec.
Admite que pode ter falado com o Namércio previamente ao
lançamento do concurso.
Não tem a certeza, mas era normal.
Foi lançada a consulta.
Ao mail cls@org.cp.pt, acede o secretariado e talvez a administração.
A testemunha é que mandou um e-mail para o departamento para ser
enviado o pedido de consulta às firmas que foi decidido contactar.
Quando foi decidido que ia de férias, deixou o processo ao colega
Ricardo Anjos, por indicação do colega Director Manuel de Almeida.
Não mais interveio neste dossier.
Não sabe se o mail é alterável.
Não sabe se a O2 tinha dívidas à CP, mas existe um sistema lá dentro,
o “SAP”, que informa.
O que é certo, é que o sistema não impede que se receba a proposta e
depois logo se vê quando for da adjudicação.
Não sabe sobre um cheque nas mãos do Namércio para pagar as
dívidas existentes.
O processo passou pela adjudicação, pela área de compras.
Não sabe quanto às rotinas dos cheques.
A adjudicação quem decidiu foi o Conselho de Administração. Ricardo
Anjos, só recebeu as propostas e encaminhou para os órgãos decisores.
Para si, Namércio, sempre foi pessoa simpática e cordial.

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S. R.

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Se tivesse conhecimento de dívidas, isso impedia que as firmas


fossem convidadas.
Quando a testemunha está de férias, o seu gabinete, está sempre de
porta aberta, onde tem um armário com os dossiers. Está tudo disponível para
o trabalho que lá está.
Fazem parte duma mesma equipa no referido piso.
Sobre Informação privilegiada pelo cls@org.cp.pt, o secretariado
recebe o acesso à sua conta de mail.
Os directores também podem aceder à sua conta de mail.
A testemunha foi confrontada com a sessão 13976 do produto
38250PM, uma conversa de Namécio e Manuel Godinho efectuada em
12/08/09, esclarece que reconhece a voz de Namércio mas que a outra voz
não reconhece, sobre uma proposta de desmantelamento de material
circulante:
“Temos que avançar com 110 mil € pá, põe aí!
Eu ia por este valor.
De manhã as pessoas vão estar atentas.”
A testemunha foi confrontada com a sessão 14081 do produto
38250PM:
“Valor que enviaste é com IVA ou sem IVA, os outros gajos 87 mil
(sem IVA).
Vê como é que os outros têm.
Estou aqui no gabinete da Dália para ver como é que ela fez os
processos anteriores”.
Esclarece que é uma conversa entre Namércio e Ricardo Anjos, em
que Ricardo Anjos estaria no seu gabinete.
A testemunha foi confrontada com a sessão 14004 do produto
38250PM:
“Os outros gajos não enviaram.
Então está entregue.

508
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

A não ser que eu corrigisse aqui um bocadinho o valor.


Não, não deixa ficar assim.
A Ipodec não respondeu.
Ok chefe veja lá aí.
Oh pá calma, calma…”
Esclarece que é uma conversa entre Namércio com Ricardo Anjos,
sobre a proposta do concurso.

Vejamos então, que dizer perante tudo isto.

O conteúdo das intercepções telefónicas às suas conversas com Paulo


Penedos e dos ficheiros informáticos que com aquele trocou permitem
perceber o grau de envolvimento de Namércio Cunha na organização de
Manuel Godinho e o nível de conhecimento da sua estrutura funcional e do seu
modus operandi.

Aliás, o conhecimento de Namércio Cunha acerca do modo de


funcionamento da estrutura delituosa criada por Manuel Godinho conhece
particular demonstração no comportamento por si adoptado na consulta para
alienação de trinta carruagens que se encontravam estacionadas na estação
do Pinheiro.

Com efeito, Namércio Cunha seguiu a “cartilha” de Manuel Godinho –


através da promessa da entrega de contrapartidas patrimoniais, arregimentou o
quadro responsável pela consulta e, assim, acedeu a informação privilegiada,
que possibilitou a adjudicação da consulta à O2.

Outro aspecto que se revela importante na infirmação do alegado


desconhecimento resulta do admitido conhecimento de ter sido por iniciativa de
Manuel Godinho, transmitida a Paulo Penedos e por este a José Penedos que
a REN procedeu aos trabalhos da Fase II de Alto Mira.

509
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Outro facto que se revela importante na infirmação do alegado


desconhecimento consiste no teor do e-mail enviado por Namércio Cunha para
a conta de correio electrónico de Juan Oliveira, com conhecimento a Fernando
Santos, aquando da detecção da fraude perpetrada pela O2 no quadro dos
trabalhos realizados na Fase II de Alto Mira.

Nesta ocasião, pese embora soubesse que a Brigada de Trânsito da


Guarda Nacional Republicana não havia realizado qualquer acção de
fiscalização de veículos pesados naquele local e data, não conheceu rebuço
em asseverar que “devido a encontrarem-se junto às Vossas instalações de
Alto Mira, as balanças da Brigada de Trânsito, foram dadas indicações ao
nosso encarregado para reduzir o peso das cargas de hoje, de forma a não se
correr qualquer risco de se ultrapassar o peso legal (…).”

Outro facto que infirma o alegado desconhecimento radica na


satisfação pronta da indicação da identidade das três empresas que deviam ser
consultadas pela EDP a propósito dos trabalhos a realizar na Rua do Ouro.

O arguido Namércio Cunha, não obstante soubesse estar a


contribuir para adulteração das regras próprias dos procedimentos
concursais e, como tal, para um favorecimento ilícito da “O2”, não
estranhou, nem hesitou em satisfazer todas as demandas de Manuel
Godinho.

Outro facto que se revela importante na infirmação do alegado


desconhecimento é a sua conversa com Hugo Godinho, na qual este o
verberou por ter apresentado uma proposta com um valor tão elevado no
quadro do concurso público para levantamento e alienação da superstrutura de
via do Ramal de Vila Viçosa entre o PK 175,870 e o PK 191,924, quando havia
consensualizado com um dos concorrentes a apresentação de uma proposta
menos competitiva, de valor superior na prestação de serviços e de valor

510
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NUIPC: 362/08.1JAAVR

inferior na alienação de materiais, naquele concurso, por forma a garantir a sua


adjudicação a Manuel Godinho.

A infirmação do alegado desconhecimento revela-se ainda no


relacionamento que o arguido Namércio entabulou com o arguido Santos
Cunha, Director do Parque Oficinal do Sul da EMEF.

Como reconheceu no seu interrogatório, o Sr. Santos Cunha oferecia-


lhe a possibilidade de apresentar mais do que uma proposta, em ordem a
assegurar a adjudicação das consultas à “O2”.

Por fim, há que salientar que, assumindo o arguido Namércio


Cunha funções nucleares na gestão comercial da “O2” como conselheiro
técnico e interlocutor privilegiado entre as empresas administradas por Manuel
Godinho e indivíduos que exercem funções de poder, detêm capacidade
pessoal de decisão, com capacidade para influenciar determinantemente o
decisor e com acesso a informação privilegiada não se mostra, sequer
plausível, que não se apercebesse da desadequação entre facturação e
volume de negócios, valores de aquisição – nos termos dos concursos – e
valores de alienação; enfim, que não se apercebesse de todas as
incongruências que se tornavam inevitáveis, atento o concreto modus operandi
da O2 no exercício do seu escopo social .

Nestes termos, julgamos estarem reunidos indícios suficientes da


comissão pelo arguido de um crime de associação criminosa, tal como se
encontra imputado na acusação.

Em nosso entender, neste caso, há elementos suficientes para se levar


este arguido a julgamento, como também pelas mesmas razões e fundamentos
que facilmente se inferem ao longo do teor da decisão no tocante aos arguidos
Manuel Godinho, Maribel Rodrigues, João Godinho, Hugo Godinho, Manuel

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S. R.

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Costa, Paulo Pereira da Costa, Mário Pinho e José Valentim, também pelo
mencionado ilícito, só aí se podendo escrutinar, conclusivamente, o grau e a
forma de participação do ora acusado nos factos delituosos sob apreciação.

É o que se decidirá a final.

No que concerne à sua indiciação pelo crime de corrupção activa para


acto ilícito, damos por reproduzidas, nesta sede, as considerações já
expendidas relativamente ao RAI do arguido Ricardo Anjos.

A CP – Comboios de Portugal, lançou consulta para alienação de


trinta carruagens que se encontravam estacionadas na estação do Pinheiro,
como resulta da documentação junta no Apenso Documentação AC.

Dada a urgência demonstrada pela REFER, a responsável pela Área


de Alienações e Valorização de Resíduos, Dr.ª. Dália Marques, propôs
superiormente a forma de alienação, levantando a hipótese de concurso
(processo mais demorado) ou o desmantelamento imediato ao operador
adjudicado para 2009 e 2010, fls. 49 do Apenso Documentação AC.

O Director, Manuel Almeida, solicitou autorização ao Vogal do


Conselho de Administração para que o processo de alienação fosse
concretizado por consulta a três operadores licenciados, o que obteve
concordância, fls. 49 e 50 do Apenso Documentação AC.

Face à decisão tomada foram consultados três operadores, Batistas,


SA, Ipodec e O2 Ambiente, fls. 15, 16 e 17 do Apenso Documentação AC,
respectivamente. A consulta realizou-se no dia 04/08/09, e as propostas teriam
de dar entrada até 11/08/09 e apresentadas por preço global.

Responderam à consulta as empresas O2 Ambiente, com um valor de


110 550,00€ e Baptistas com um preço de 107 770,00€, fls. 37 e 39,
respectivamente, do Apenso Documentação AC.

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S. R.

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Perante os valores apresentados pelos concorrentes, foi elaborado,


pelo arguido Ricardo Anjos, o mapa de comparação de valores, fls. 62, e
proposta a adjudicação à empresa O2 Ambiente, fls. 61, ambas do Apenso
Documentação AC.

O Director Manuel Almeida, perante as condições apresentadas,


propôs a adjudicação àquela empresa, obtendo concordância do Vogal do
Conselho de Administração, o Sr. Paulo Magina.

Seguiu-se então a comunicação da adjudicação ao operador e


emissão da factura, a qual consta de fls. 45 do Apenso Documentação AC,
bem como as informações tendentes ao levantamento do material.

Como conta a fls. 5 a 7. do Apenso Documentação AC, o telemóvel


916 141 100 é utilizado pelo funcionário da “CP” RICARDO JOSÉ CARVALHO
ANJOS.

Dado o teor das intercepções telefónicas e também porque o


confirmou no seu interrogatório, o arguido Namércio Cunha teve conhecimento
do valor da proposta apresentada pela empresa “Baptistas” por intermédio do
arguido Ricardo Anjos, antes de ter enviado a proposta da “O2”.

Com efeito, ao contrário do que sustenta o arguido Ricardo Anjos,


alegando não ter tido acesso prévio às propostas, o certo é que o e-mail
contendo a proposta da "Batistas - Reciclagem de Sucatas, S.A.” foi
reencaminhado, pelas 16h31, para a sua conta de e-mail – Apenso AC1, fls.
34.

Advogou o arguido quando confrontado com este reencaminhamento


que, ainda assim, não tomou conhecimento da proposta em momento prévio ao
da apresentação de proposta pela “O2”.

Sucede, contudo, que quer o arguido Namércio Cunha confessou que


o arguido Ricardo Anjos lhe deu conhecimento do valor da "Baptistas -
Reciclagem de Sucatas, S.A.” em momento anterior ao da apresentação de

513
S. R.

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proposta pela “O2”, quer o conteúdo das intercepções telefónicas,


nomeadamente os produtos 13976 e 14004 do Alvo 38250PM o confirmam.

Produto 13976 do Alvo 38250PM

Namércio Cunha – Sim

MANUEL GODINHO – Diz

Namércio Cunha – Ainda falta chegar uma, não sei, até pode ser que
não chegue, mas é assim, para já temos que avançar com 110

MANUEL GODINHO – 110 quê ?

Namércio Cunha – Isto é valor global

MANUEL GODINHO – 110.000 euros, é ?

Namércio Cunha – Sim

MANUEL GODINHO – 110.000 euros, pá, põe aí

Namércio Cunha – Quem tratou para já foi o Carregado

MANUEL GODINHO – Sim, oh pá, 110

Namércio Cunha – Não, eu ia com esse valor

MANUEL GODINHO – Sim, sim, então faz isso, faz isso

Namércio Cunha – Pronto, para todos os efeitos, de manhã, as


pessoas vão estar atentas logo

MANUEL GODINHO – É muito esquisito isso, pá, eles deviam ter


posto a hora

Namércio Cunha – pois mas pronto, depois de manhã vai-se já saber

MANUEL GODINHO – Ok, estás em casa já ?

Namércio Cunha – Cheguei agora

MANUEL GODINHO – Pronto, porreiro, está ok, tchau, até amanhã

Namércio Cunha – Até amanhã

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Produto 14004 do Alvo 38250PM

NAMÉRCIO CUNHA – Tou?

VOZ MASCULINA – Então amigo?

NAMÉRCIO CUNHA – Ó leão!

VOZ MASCULINA – Estás bem?

NAMÉRCIO CUNHA – Como é que está isso?

VOZ MASCULINA – Não vais para Belém?

NAMÉRCIO CUNHA – Hã…eu estou a chegar a Lisboa, carago.

VOZ MASCULINA – Épá, então o gajo disse-me que me tinha enviado


um e-mail. Estive eu agora com o director (*) ficamos os dois. A tua
proposta é cento e dez, não é?

NAMÉRCIO CUNHA – Sim.

VOZ MASCULINA – Ok. Tá ganho. Os outros gajos…

NAMÉRCIO CUNHA – Ai é?

VOZ MASCULINA – Tá. Os outros gajos não enviaram nada. Estivemos


os dois a falar e, a ver não sei quê…

NAMÉRCIO CUNHA – Ahã

VOZ MASCULINA – Ehh, pronto.

NAMÉRCIO CUNHA – Pronto. Ok.

VOZ MASCULINA – A não ser quê…

NAMÉRCIO CUNHA – Uh, isso já está fechado. Então não é?

VOZ MASCULINA – Já está fechado…eu ia dizer é que… A não ser


que dê para reduzir um bocadinho o valor, não é?

NAMÉRCIO CUNHA – Nada pá. A outra era aquilo que me tinhas dito,
não é?

515
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

VOZ MASCULINA – A outra é cento e sete. Para cento e dez também


não é…

NAMÉRCIO CUNHA – Não, não, não…deixa estar assim, deixa estar


assim.

VOZ MASCULINA – Deixa-te ficar assim. A IPODEC não respondeu …

NAMÉRCIO CUNHA – Pois…

VOZ MASCULINA – Épá, ele enviou um e-mail para mim e não tenho
aqui o e-mail, raios. Ele diz ok, foi enviado um e-mail para ti e para a Dália…e
não enviou nada.

NAMÉRCIO CUNHA – Não anexou.

VOZ MASCULINA – Ou não entrou ainda ou tinha a caixa aqui cheia


ou uma merda qualquer. Épá mas ele disse-me o valor e eu vi a tua proposta.

NAMÉRCIO CUNHA – Ok.

VOZ MASCULINA – Bem…

NAMÉRCIO CUNHA – Então hoje vais mandar a validação disso, não


é?

VOZ MASCULINA – Sim. Chegamos os dois ao mesmo tempo eu e


ele. Eu subi logo e ele já estava em frente ao e-mail e disse – épá, ó chefe veja
lá aí por causa de não sei quê néé .E ele - épá calma, calma, calma. Qual é que
é o valor? Ai é tanto. Ok. Então dê o de cento e dez, pronto.

NAMÉRCIO CUNHA – Está arrematado.

VOZ MASCULINA – Está arrematado. Um abração.

NAMÉRCIO CUNHA – Ok, pá. Tu podes…vais mandar hoje o


despacho disso, é?

VOZ MASCULINA – Sim, sim, sim.

NAMÉRCIO CUNHA – Ou ainda tens de estar…

VOZ MASCULINA – Eu vou-me agora ausentar um bocadinho mas eu


daqui a uma hora estou cá e…

516
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

NAMÉRCIO CUNHA – Sim, sim. Não, só para saber se ainda vão


demorar a despachar ou se ele já despacha isso que é para nós começarmos a
preparar os meios.

VOZ MASCULINA – Sim.

NAMÉRCIO CUNHA – (*) começarem isso com tanta urgência, temos


de tratar disso.

VOZ MASCULINA – Ok. Depois eu digo-te alguma coisa

NAMÉRCIO CUNHA – Grande abraço, pá.

VOZ MASCULINA – Um Abraço.

NAMÉRCIO CUNHA – Porta-te bem.

VOZ MASCULINA – Ciao.

(*) Imperceptível

Para além ter dado conhecimento da proposta da "Batistas -


Reciclagem de Sucatas, S.A.” em momento anterior ao da apresentação de
proposta pela “O2”, os produtos 13976 e 14004 do Alvo 38250PM revelam
que o arguido Ricardo Anjos informou, igualmente, da não apresentação de
proposta pela “Ipodec Portugal – Gestão de Resíduos, Ld.ª” e que, caso fosse
necessário, quando na posse do seu montante, alteraria o valor da proposta da
“O2” por forma a assegurar a adjudicação.

Alega o arguido a impossibilidade de o fazer!

Fosse ou não possível, o certo é que o arguido se dispôs a fazê-lo.

Quanto às vantagens patrimoniais que resultaram para o arguido


Ricardo Anjos, para além de ter sido presenteado, em 2004, com um balde de
gelo pequeno, no valor de 105,60€, o produto 14199 do Alvo 38250PM é
elucidativo.

Produto 14199 do Alvo 38250PM

NAMÉRCIO CUNHA – Sim?

517
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VOZ MASCULINA – Já recebeste?

NAMÉRCIO CUNHA – Ehh, eu não mas eu ligo para o escritório.

VOZ MASCULINA – Hum…Olha…

NAMÉRCIO CUNHA – Diz, diz.

VOZ MASCULINA – Diz lá aqui ao teu amigo…se puderes dizer…

NAMÉRCIO CUNHA – Hã?

VOZ MASCULINA – Diz lá aqui ao teu amigo, se puderes dizer…

NAMÉRCIO CUNHA – Sim

VOZ MASCULINA – …quanto é que rende esta história, depois de


venderes esta sucata toda.

NAMÉRCIO CUNHA – (pausa) Não

VOZ MASCULINA – É só para ver a grandeza do negócio. É só isso.

NAMÉRCIO CUNHA – Ah, está bem, sim.

VOZ MASCULINA – A (*) por cento e dez mil, não é?

NAMÉRCIO CUNHA – Sim.

VOZ MASCULINA – Tu vendes isto por quanto?

NAMÉRCIO CUNHA – Isso depois nós falamos.

VOZ MASCULINA – Olha! Olha-me este.

NAMÉRCIO CUNHA – Não…

VOZ MASCULINA – Olha-me o malandro (risos).

NAMÉRCIO CUNHA – Não…aqui não há espiganços. Isto são preços


altos mas eu depois informo-te disso.

VOZ MASCULINA – Ai é

NAMÉRCIO CUNHA – (*) são preços altos. São preços


esticados…isto não é…não é…não são preços baratos. Mas nós…quando
estiver contigo eu demonstro-te isso. Não…

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

VOZ MASCULINA – Ok

NAMÉRCIO CUNHA – Tou à vontade

VOZ MASCULINA – Tá.

NAMÉRCIO CUNHA – Estamos à vontade.

VOZ MASCULINA – Sim, sim, sim.

NAMÉRCIO CUNHA – Tá?

VOZ MASCULINA – A comer um peixinho no forno?

NAMÉRCIO CUNHA – É isso mesmo.

VOZ MASCULINA – (risos)

NAMÉRCIO CUNHA – A comer um bom peixinho. (*)

VOZ MASCULINA – …peixinho…

NAMÉRCIO CUNHA – A comer um bom peixinho.

VOZ MASCULINA – Um bom peixinho, umas amêijoas…

NAMÉRCIO CUNHA – É

VOZ MASCULINA – …o que for.

NAMÉRCIO CUNHA – Isso tem…isso…isso vai ser de certeza.

VOZ MASCULINA – Bem (*)

NAMÉRCIO CUNHA – Porta-te bem

VOZ MASCULINA – Ciao.

NAMÉRCIO CUNHA – Ciao, ciao.

VOZ MASCULINA – Adeus

A consulta para o desmantelamento, remoção e transporte de resíduos


resultantes de trinta carruagens estacionadas na Estação do Pinheiro viria,
assim, a ser adjudicada à O2, apesar de, à data, ter uma dívida vencida para
com a “CP” no valor de 16.699,50€, relativa à factura n.º 2091000455, emitida
em 01 de Julho de 2009 com vencimento a trinta dias, relativa à venda de

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

sucata resultante da demolição de veículos ferroviários dispersos, o que, nos


termos da consulta - Apenso 127, fls. 66 (Relatório da IGF à CP).

Nos termos do ponto 5 do e-mail convite, os critérios de adjudicação


repousavam no melhor preço e na ausência de dívidas à CP.

Alegou o arguido Ricardo Anjos não ser da sua competência verificar o


não cumprimento deste requisito.

Dada a urgência do procedimento, em 07 de Agosto de 2009, o Sr.


Manuel João de Sá Almeida, membro da Direcção Executiva da CP Serviços,
designou Ricardo Anjos para a sua condução, incumbindo-o da recepção das
propostas, da elaboração dos mapas comparativos, de submeter à aprovação a
proposta mais vantajosa e, após aprovação, comunicar ao fornecedor vencedor
o resultado da consulta.

Ou seja, afinal era da sua competência. E o arguido foi,


inclusivamente, confrontado com a existência de dívidas e com a inviabilização
da adjudicação à O2 .

Produto 6714 do Alvo 38250PM


NAMÉRCIO CUNHA – Sim doutor.
VOZ MASCULINA – Então sabichão?
NAMÉRCIO CUNHA – Então rapaz? Como é que estamos?
VOZ MASCULINA – Diz-me aí o teu e-mail ou o e-mail de alguém para
te poder enviar um e-mail a dizer a factura e enviar-te a factura anexa.
NAMÉRCIO CUNHA – namercio.cunha
VOZ MASCULINA – Pois…eu tenho mkt…

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

NAMÉRCIO CUNHA – Também serve


VOZ MASCULINA – …nkt…então…
NAMÉRCIO CUNHA – mkt…
VOZ MASCULINA – Espera aí um bocadinho. (De seguida ouve-se a
mesma voz a conversar com uma terceira pessoa do sexo feminino - Então eu
tiro…tou aqui em baixo, espera aí. Isto tem segunda via. Espera um bocadinho.
Isto não tem original. Isto é duplicado? É Segunda via? Triplicado?); (Ouve-se,
em fundo, uma resposta vinda de uma voz feminina e a seguir a mesma voz
masculina fala - Ah, sim, mas eu posso digitalizar isto e enviar para eles. Então
pronto eu envio aqui o duplicado, pronto.); (De seguida retoma conversa com
Namércio Cunha) Estava aqui a….aguenta aí um bocadinho…estou só aqui
a…de resto já tudo feitinho. Ficou-te de enviar um e-mail…digitalizar aqui a
factura…
NAMÉRCIO CUNHA – Hum, hum
VOZ MASCULINA – Espera um bocadinho…já agora. Ouve lá,
disseram que tu…Tu não…
NAMÉRCIO CUNHA – Sim
VOZ MASCULINA – A O2 está cheia de dívidas e pagamentos em
atraso aqui, pá.
NAMÉRCIO CUNHA – Aí?
VOZ MASCULINA – (*)
NAMÉRCIO CUNHA – (*)Tou clean. Limpinho.
VOZ MASCULINA – Olha que não estás. Sabes que eu liguei à
financeira não sei quê – Olhe isto adjudicado à O2 não pode ser que eles estão
cheios de dívidas e não pagam e não sei quê.
NAMÉRCIO CUNHA – (*) da CP.
VOZ MASCULINA – Épá, não estou a brincar….
NAMÉRCIO CUNHA – Não pagam também há mais tempo.
Não…então…então eu fui aí limpar tudo. E não era nada de especial. O…fui aí
pagar na…no…antes disso, não é, que é para não haver motivos, fui aí pagar
trinta mil euros. Que raio de dívida é que tem?
VOZ MASCULINA – Então vamos lá ver…
NAMÉRCIO CUNHA – A sério tiveram-te com esses comentários?

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

VOZ MASCULINA – A sério. A sério.


NAMÉRCIO CUNHA – Fogo. Isso… isso quem está a dizer isso
sinceramente não está actualizado. Mas depois levantaram algum problema ou
quê?
VOZ MASCULINA – Não, não. Épá mas disseram - épá isto não pode
ser um gajo…hás-de-ficar não sei quê, pessoas que têm…que têm aqui dívidas
e atrasos e não sei quê
NAMÉRCIO CUNHA – Não tem. Eles deviam ter consultado. Não
tinha, estava zero.
VOZ MASCULINA – (pausa) Em anexo..
NAMÉRCIO CUNHA – Deve ser algum benfiquista ou o caralho que
está para aí.
VOZ MASCULINA – Conhecimento do concurso…eu vou-te fazer um
e-mail é mais fácil.
NAMÉRCIO CUNHA – Sim.
VOZ MASCULINA – Conhecimento do concurso de desmantelamento, de
remoção e transporte de resíduos resultantes das trinta carruagens estacionadas na
estação do Pinheiro informamos que foi adjudicado a vossa excelência o referido
concurso. (*) e de acordo com o ponto sete do concurso deverão proceder ao
pagamento integral do levantamento dos materiais da factura número xpto em anexo
no valor de cento e dez mil quinhentos e cinquenta euros.

Foram inquiridos a este propósito as testemunhas - Manuel João de


Sá Almeida, Membro da Direcção Executiva da Unidade CP Serviços, fls. 9 a
12 do Apenso AC 1, Dália Maria Gramaço Marques, fls. 14 a 17 do Apenso AC
1.

Concluímos que perante os elementos probatórios juntos aos autos


não tem razão o arguido Namércio Cunha em qualquer das questões que
suscita a propósito dos factos que lhe são imputados, referidas no seu RAI.
Mostrando-se, de facto, indiciada a pratica dos factos pelos quais se mostra
acusado

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S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Quanto à impugnação da liquidação do património e arresto ordenado


aos seus bens, trata-se de matéria a decidir a final, em sede de julgamento.

Destarte, deverá o arguido Namércio Cunha ser pronunciado nos


precisos termos da acusação, por se mostrarem verificados indícios que,
neste tocante, inculcam um juízo de prognose, conducente à
consideração de que é mais forte a probabilidade da sua condenação do
que a exoneração da sua responsabilidade.

******

Acusação Parte II- Factos relacionados com a assistente


REFER e com os
Requerimentos de abertura de instrução dos arguidos, que aqui
se dão por integralmente reproduzidos
- João Manuel da Silva Valente
- Fernando Lopes Barreira
- Armando Vara

No seu RAI, o arguido Armando Vara requereu o seu interrogatório,


esclarecendo que confirma as declarações prestadas em Inquérito.

Em 2006, ficou combinado com Manuel Godinho, para interceder pela


resolução, diferendo entre a O2, empresa de Manuel Godinho versus REFER?
Verificaram-se vantagens não patrimoniais e donativos para o PS?
O arguido não tem notícia nem qualquer tipo de conhecimento.
Custa ao arguido Armando Vara compreender esta imputação.

No que toca à sua relação com o arguido Manuel Godinho, através das
escutas telefónicas apercebeu-se que gravitavam à volta do Sr. Godinho.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

O Sr. Godinho foi-lhe apresentado no início da década de 2000, por um


velho amigo, Lopes Barreira, já o arguido estava fora do Governo, então na
CGD.
Almoçaram algumas vezes, por iniciativa de Lopes Barreira.

Na Feira de Vinhais, conhecida como “feira dos enchidos”, convidou


alguns amigos e Manuel Godinho disse que não queria ir.
Na verdade, Manuel Godinho acabou por aparecer por lá, de surpresa,
com uma caixa de robalos e dois pães-de-ló.

O tema da REFER surge no tempo em que o arguido era administrador


da CGD, no ramo de factoring.
Era recorrente a conversa sobre o agravo da REFER e sobre o facto de
se pensar que ele, Manuel Godinho, por causa desse diferendo, não era uma
pessoa de bem.

O arguido disse não ter providenciado nada junto de Mário Lino.


Ascendente sobre Mário Lino não tem, talvez ele, Mário Lino, é que
tenha sobre si.

O arguido apressou-se a falar na Sra. Secretária de Estado, Ana Paula


Vitorino.
De facto conhecem-se, mas não têm qualquer proximidade.

Relativamente ao Presidente da REFER, o Eng.º Penedos, viu-o apenas


uma vez numa reunião na CGD para tratar de assuntos REFER/ CGD.

“Em 2009, o arguido interveio novamente junto de Mário Lino, para


destituir Ana Paula Vitorino e o Presidente do Conselho de Administração da
REFER.

524
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Recebeu contrapartidas pecuniárias por esta intervenção” diz-se na


acusação.

Na verdade recebia presentes nos Natais, os quais a sua secretária


agradecia, mas não queria saber quem tinha mandado as ofertas,
nomeadamente, caixa de garrafas de vinho, uma caneta de 60/70 euros.
O arguido disse: “uma pessoa na minha posição deixar-se corromper por
isto? Sabe o que acontece quando se entra num meio a que não se pertence?”

Foi dito pelo arguido sobre o constante da acusação ter passado a sua
vida a organizar uma lista para traficar influências, para fazer lobby.
“ Acho isto inqualificável, doentio e espero poder agir em relação a isto,
conforme a lei me permitir”.

Relativamente à relação entre banqueiro e cliente, o arguido afirmou que


podia trazer dezenas de pessoas para confirmarem onde é que desempenhou
funções profissionais.
Manuel Godinho já tinha relações anteriores com o BCP.

Sobre Manuel Godinho sabe que teve uma empresa do tempo da Expo
98, que faliu, onde era accionista maioritário, fez um plano de pagamentos,
honrou no BCP – passar movimento diário para o BCP, de um depósito de
150/200 mil euros, mais contas auditadas e aprovadas para melhorar a relação
com o Banco.

Houve conversas com Manuel Godinho acerca do tema BCP.


Depois disse-lhe que, nas circunstâncias actuais, não era possível dar
seguimento ao processo.
Disse-lho numa reunião no Porto.
É a maneira de ser e de estar próximo das pessoas.

525
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

O arguido disse: -“ Não basta andar de consciência tranquila! Estou 24


horas ao serviço do Banco! Estava a desempenhar o meu papel!”
Custou-lhe sair da CGD, onde trabalhou 25 anos, começando do mais
baixo para o mais alto.
No BCP sentiu orgulho. “ Por trás disto, está o imperdoável de um
indivíduo destes chegar ali”.

Relativamente ao tema Paiva Nunes, Manuel Godinho disse-lhe que


estava à beira de despedir 160 pessoas devido a diferendos também com a
EDP.
O Paiva Nunes era amigo do arguido, até faziam jogging.
Falou-lhe no Manuel Godinho e o arguido disse que o recebia: -“ Claro
que o recebo, mande lá o homem!”

No que toca à influência que o arguido pudesse exercer sobre Paiva


Nunes, ele responde dizendo que “ só se for de correr menos que o Paiva
Nunes”.
Ambos tinham uma boa relação.
O arguido ia perguntando ou ao Manuel Godinho, ou ao Paiva Nunes ou
até mesmo a ambos, como é que corriam as coisas entre eles.
Eles disseram que tinham corrido bem, mas não sabe de mais nada.
Não voltaram a falar sobre este assunto.
Armando Vara comentou com Paiva Nunes a busca a Manuel Godinho,
no âmbito do processo de fuga fiscal, sem daí tirarem consequências na
relação entre os três.

A 20/06/2009, Armando Vara e Lopes Barreira almoçaram em casa de


Manuel Godinho.
Falou-se em 25 mil euros para cada um? Nega.
O arguido levou o seu filho Guilherme, com 10 anos de idade.

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S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Lopes Barreira ia debilitado, pois tinha sido sujeito a intervenções


cirúrgicas.
No almoço em casa de Manuel Godinho estava presente toda a família,
filhos e noras, e uma senhora amiga da família.
Foram recebidos por toda a gente.

O arguido ia a caminho de Vinhais ver os pais.


Lopes Barreira voltou no comboio,
Foi previamente combinado que Lopes Barreira regressaria de comboio,
Nunca estiveram sozinhos.
Lopes Barreira regressaria com 25 mil euros no bolso? Não aconteceu!

Foi perguntado ao arguido sobre o caso dos dez mil euros ao que o
arguido respondeu, dizendo que Manuel Godinho saiu do alcance deles
durante uns minutos.
Foi-lhe, ainda, perguntado sobre os documentos que Manuel Godinho
queria trazer-lhe e falar-lhe pessoalmente.

É a Conversa de 28/05/2009, a conversa dos 25 Km .


Começou por não perceber o que estava em causa.
Seria uma linguagem codificada?!
Manuel Godinho confirmava pensar em contos.
Admite que não quisesse falar de escudos ao telefone.
[“tinha um telefone apenas para falar comigo”, também esta tese caiu
por terra!]

Em instâncias do Assistente REFER

Foi perguntado ao arguido se existiu apenas uma reunião sobre factoring


ou se houve mais alguma.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

O arguido disse ter havido apenas uma, a 1/07/2009, no Millenium no


Porto.
“Na viagem para Lisboa vão mais pessoas! Talvez no futuro faça essas
reuniões acompanhado por alguém.”
25 km, mais tarde falamos disso!

Apreciação de que o arguido não se chegou à frente, não incrementou a


sua relação com o Banco.
A conclusão foi do Director do factoring do Porto, pois ele, o arguido,
nunca chegou a entregar os documentos.
Foram os homens do factoring que foram lá pedir os elementos.
Nas palavras do arguido: -“A minha maneira de ser é ir a jogo!”
A conversa, isso é para mais tarde!
Depois o assunto morre na conversa em que lhe diz que não
incrementou a relação com o Banco.

Foi dito pelo arguido ter almoçado várias vezes com Manuel Godinho.
O arguido Armando Vara sempre viu nele uma pessoa simples
trabalhadora e honrada.

Em instâncias do MP

O MP perguntou ao arguido se se recorda dos problemas com a REFER,


em 2006, e se na altura Manuel Godinho também lhe falou nessa matéria.
O arguido afirmou que do Sr. Valente não tem a mínima ideia de ter
ouvido falar dele nem de ser homem das relações de Manuel Godinho.
Ana Paula Vitorino conversou com Mário Lino e este lhe falou, mas
Mário Lino diz que é uma invenção.
Só entende isto num contexto de uma vingança da Eng.º Ana Paula
Vitorino a Mário Lino.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

O arguido reafirmou a existência de reuniões, no final de 2008, tal como


disseram os administradores do BCP.
A decisão final foi entre o arguido e o Dr. Virgílio Repolho.
Manuel Godinho disse: - “ Vamos lá concretizar isso” – é o subentendido
da sua conversa com Manuel Godinho.

Teve conhecimento por uma carta onde diziam estar a escutar o


Primeiro – Ministro.
O arguido disse não ter ideia de ter, no fim de Junho, mudado ou não de
número de telemóvel.

As fugas foram sempre da acusação.


Negou usar outro número ou outro telemóvel.
Foi confrontado com a sessão 1037, alvo 1T167PM, Paiva Nunes vs
Lopes Barreira.

“Foi o nosso comum amigo que me apresentou o Homem (?)de Aveiro.


Há ali uma dupla, uma gaja do caraças, gorda como o caraças!
Tem feito bom resultado estes anos!
Como é que esta gaja continua lá! O nosso amigo Primeiro - Ministro
sabe tudo!”

O arguido afirmou que Manuel Godinho não tem nenhuma razão para
falar mal de si.
O facto de Manuel Godinho dizer que Armando Vara estava a dar os
empurrões necessários, o arguido entende que tenha sido o Dr. Lopes Barreira.
A Manuel Godinho procurou ajudá-lo.
No caso da REFER, tinha facturas para pagar.
Manuel Godinho tinha ficado prejudicado nos novos concursos, pois os
concorrentes tinham tomado conta do campo.

529
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Godinho nunca lhe pediu nada.


A cerca do acórdão do Tribunal da Relação do Porto, o arguido só disse
para ele dizer lá para a REFER, quando tivesse a decisão publicada.

Confrontado com o produto 1037, alvo 1T167PM, disse que a sua ideia é
“pôr as pessoas a falar umas com as outras”.
Produto 3669, alvo 1T167PM, do dia 10/03/2009 – Conversa de Manuel
Godinho com Paulo Penedos:

“Vou almoçar com o G. Dray.


O nosso amigo telefonou para ele para chamar o senhor!
Não vale a pena falar nisso”.

Relativamente ao assunto da Central da Tapada do Outeiro


“ Deserbagem
Negociações –“ ele já ficou aflitíssimo “ – o Paulo
“Estou super aflito, vou telefonar ao nosso amigo para ver se ele dá um
empurrão aqui, um empurrão acolá.”

[Na economia da conversa anterior também pode ser o Lopes Barreira.]

Confrontado com o produto 3758, alvo 1T167PM, conversa entre Lopes


Barreira e Manuel Godinho, a 11/03/2009:

“Lopes Barreira está doente.”


“ Foi o Dr. Vasconcelos que me disse num funeral….o nosso amigo, o
nosso amigo Armando também me disse……”
“Não posso esquecer o Mário Lino que vem todos os dias…

530
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

O nosso amigo Coelho também vem…….O Sócrates também liga


sempre!”.

Foram ainda ouvidas, nesta sede, as testemunhas:

Paulo José Ribeiro Moita de Macedo


Em relação à acusação de Armando Vara, não tem evidência de que
favorecesse os interesses de Manuel Godinho ou de qualquer outro cliente.
Não tem evidência de que o tenha feito.
Fazia os contactos, nada mais.

Virgílio Luís de Sousa Repolho é quadro do BCP.


Esclarece que houve uma reunião preliminar com a firma de Manuel
Godinho, sobre o negócio de Factoring que não se chegou a concretizar.
As condições que o Banco pretendia tinham a ver com contas
consolidadas e com outros aspectos ligados à respectiva revisão oficial de
contas.
Foi em Dezembro de 2008, que houve a reunião com 2 pessoas, uma
não se recorda e outro era o Dr. António Gomes que era o responsável
financeiro do grupo Manuel Godinho.
Esteve presente a testemunha e dois funcionários da sua equipa do
Crédito Especializado e outro senhor da Sucursal no Porto.
A ideia que lhes foi sugerida a propósito do valor de uma possível
operação, de facto era de um milhão de euros.
A Indicação que teve de que pretendiam falar foi do Dr. Vara e que já
conhecia Manuel Godinho como cliente da Caixa.

João Manuel Rainha Almeida Morais


Disse ser funcionário da Caixa Geral de Depósitos há 30 anos.
Exerce funções de gerente de balcão em Coimbra.

531
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Perguntado se entre os profissionais da banca se usam expressões para


se referirem a dinheiro, se entre essas expressões se usa “kilómetro, kilo”
respondeu que internamente já não é vocabulário que se use muito.

O “maço, tijolo, barrote” significam volumes de notas, linguagem já em


desuso que se usava na gíria intrabancária.

Tijolos de notas de 5 (seriam 5 mil escudos).

Um amigo foi pedir ao banco para entregar “uns quilogramas de


bacalhau” e depois a testemunha verificou que trazia 50 mil contos em dinheiro.

“Cinco kilos são 50 mil euros. Um kilo nunca representa a unidade,


é sempre mais qualquer coisa. 1 kilo não pode ser mil euros, é sempre
mais, nesta gíria.
As pessoas não falam em dinheiro, tem a ver com as pessoas mais
velhas e com a actividade de cada um.
Cada kilometro associaria a 10 mil euros”.

José Herculano Cerqueira Gonçalves


Tem 60 anos.
Director de recuperação de crédito da Caixa Geral de Depósitos do
Porto.
Disse trabalhar na Banca desde os 29 anos.
Referiu que subiu a pulso, chegou a director de 1º Nível.
Numa fase inicial foi gerente de Agência, Director de serviços, durante
10 anos exerceu funções de administrador executivo, na CDG em Espanha e
depois regressou ao Porto.

532
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Perguntado quanto aos procedimentos de administradores com clientes


do banco, almoços, jantares, encontros disse que a evolução da CGD nos
últimos 10, 20, 30 anos, na indústria financeira e há muita concorrência, agora
é o bancário a qualquer nível que procura que o cliente o receba e o atenda.

Almoços e jantares são comuns!


A Hierarquia visa as despesas.
Director de Crédito tem que acompanhar os clientes e, de quando em
vez, acompanhar os clientes, obsequiando-os com refeições.
Conhecia Manuel Godinho como tendo um contencioso com a REFER e
não conseguia cumprir? Foi pedir ajuda.
Respondeu que, numa relação comercial pedem-se informações de
clientes, dividas a fornecedores extra balanço, divórcios, etc.
“25 Km” é uma linguagem cifrada que procura esconder de um
potencial ouvinte o seu significado real, 25 mil euros no entender da
testemunha.
É como hoje, quando se compara com dois BI’s, que significa hoje
dois biliões de euros, 25 mios são 25 milhões, esta é uma linguagem
dentro de portas, nos bancos.
Ainda hoje esta linguagem existe, um tijolo (maço de notas de 5 mil
euros), um barrote, dizia-se aos caixas para pedir o dinheiro.
Outras expressões seriam, “tenho aqui umas rosas que queria
guardar”, para pôr dinheiro no cofre.
25 kilómetros, 25 mil euros, ou 25 mil contos, se o interlocutor estivesse
a raciocinar no tempo antigo.

Esclarece que era normal referir 1 kilo para se referir a mil contos.

Confrontado com 368º, do RAI – linguagens.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Numa relação institucional, pode falar-se directamente com a


administração.
Não é normal ir logo directo dá o exemplo de Ricardo Salgado.

Factoring até 1 milhão de euros?


É para tensões tesouraria, garantia não é exigível.
cfr. Produto 18 do alvo 39264M.
[Ele pediu-me.
Eu estava na recepção e você já estava lá em cima.
Você falou-me noutro dia em 25 Km!
Isso fica para depois!]
Responde que tem a ver com a operação que se está a montar, tem que
abrir uma conta e ser cliente do banco, não tem capacidade para dizer mais do
que isto.
Para a testemunha seriam sempre 25 mil contos ou 25 mil euros.
Cfr. com o produto 12.676, do alvo 1T1767 –[Manuel Godinho – Maribel
preciso daqueles documentos: os 50!]
Refere que em termos de gíria bancária, este termo faz parte da gíria
bancária noutro contexto, que não este.
Quanto ao Timing para decidir, entre o pedido e a resposta do banco,
refere que seria 1 semana, 15 dias para decidir.
Após Setembro de 2008 já estavam a “fechar capítulos negativos”, a
restringir crédito.

Relativamente às questões suscitadas nos RAI’s em referência,


importa apreciar o circunstancialismo concreto em que decorreram os contratos
referidos na acusação e a sucessão de factos e contactos que se verificaram,
de forma a apreciar se existem indícios probatórios suficientes para imputar
aos arguidos os factos pelos quais se encontram acusados pelo Ministério
Público, com a adesão da assistente “REFER E.P.E.”

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Do Contrato n.º 07/05/CA/AM celebrado com a "02" em 26.09.2005,


tendo por objecto a prestação de serviços de revalorização de travessas de
betão Bi-bloco concentradas no Complexo REFER do Entroncamento (fls. 901
e segs. dos autos de Inquérito 3/08.7TELSB apensos ao 362/08.1JAAVR)

Da análise dos elementos probatórios constantes dos autos


resulta que este contrato apresentava:

a) Por objecto: «a valorização de 5.000 toneladas de travessas de betão bi-


bloco consideradas não utilizáveis(…)», a executar no prazo de 7 meses, com a
possibilidade de «(…) prorrogação por um período de seis meses para a valorização de
um segundo lote de cinco mil toneladas» (fls. 907 e 997 a 1008 dos autos de Inquérito
3/08.7TELSB apensos ao 362/08.1JAAVR);

b) Um valor estimado de € 175.406,00, que poderia elevar-se aos €


335.706,00, caso a REFER decidisse «(…) prorrogar a prestação de serviços por
mais 5.000 toneladas de betão (…)» (fls. 998 e 999 dos autos de Inquérito
3/08.7TELSB apensos ao 362/08.1JAAVR);

c) Como «(…) indicador de controlo da produção de betão a composição da


travessa assente numa relação de 9 de betão para 1 de aço» (fls. 907 dos autos de
Inquérito 3/08.7TELSB apensos ao 362/08.1JAAVR);

d) Entre as várias operações contratadas, constava a separação da


fracção metálica da fracção de betão à cadência diária de 44,8 toneladas de
betão, bem como o transporte dos resíduos de betão para as instalações da
"02" em Canas de Senhorim (fls.998 dos autos de Inquérito 3/08.7TELSB
apensos ao 362/08.1JAAVR);

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Não obstante tratar-se de um contrato celebrado no âmbito da


Direcção do Ambiente (DAM), a responsabilidade pela gestão do mesmo era
partilhada pela Direcção de Aprovisionamento e Logística (DAL), visto que os
resíduos em causa (travessas de betão Bi-Bloco) se encontravam fisicamente
concentrados no Complexo Logístico da REFER, situado no Entroncamento;

Por este motivo, e embora mensalmente fossem efectuadas reuniões


com os representantes destes dois serviços da REFER e da adjudicatária,
eram da responsabilidade da DAL todos os procedimentos inerentes à
fiscalização da execução dos trabalhos, nomeadamente os relativos ao
acompanhamento das cargas de materiais no terreno, bem como à pesagem e
emissão da documentação inerente ao controlo de todo o processo (o
preenchimento dos talões de pesagem e das guias de ambiente, bem como o
das guias de remessa que deviam acompanhar as viaturas da "02" à saída, em
carga, do Complexo REFER) (fls. 907, 908, 912, 1016, 1265, 965, 972, 979 e
983 dos autos de Inquérito 3/08.7TELSB apensos ao 362/08.1JAAVR);

O arguido João Manuel Silva Valente é funcionário da REFER, desde


07 de Junho de 1997, exercendo, desde então, funções no Complexo Logístico
da REFER, sito no Entroncamento.

Foi admitido como responsável no sector de viaturas, máquinas e


equipamentos, sendo que, em 01 de Janeiro de 1998, foi transferido para o
núcleo de gestão de materiais.

Em 01 de Agosto de 1998, foi nomeado responsável pelo núcleo de


gestão de armazéns e aprovisionamentos, tendo sido transferido, em 01 de
Abril de 2002, para a Logística, departamento para o qual foi nomeado Director,
em 01 de Junho de 2003, que desempenhava funções à data dos factos
enunciados na acusação.

536
S. R.

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O Eng. João Valente, na REFER exerceu sempre funções no


complexo do Entroncamento, conforme descrito nos artigos 205.º a 208.º da
acusação (ver fls. 221 do Apenso AJ 7) e entre 31-12-2001 e 26-08-2002,
período referido no artigo 210.º da acusação, exerceu funções como
responsável pelo núcleo de gestão de armazéns e aprovisionamentos do
Entroncamento até 01-04-2002 e posteriormente como técnico do
departamento de logística do Entroncamento, pelo que há que corrigir em
conformidade o que consta do artigo 209.º “in fine” da acusação.

O Eng. João Valente alega que a importância de 52.451,90€, referida


no artigo 210.º da acusação, que reconhece que lhe foi paga pelo co-arguido
Manuel Godinho, correspondem a honorários de prestação de serviço de
assessoria técnica que lhe prestou, durante cerca de 1 ano, entre meados de
2001 e 2002, no valor acordado de 50.000 euros mais despesas que atingiram
perto de 2500 euros (artigos 7.º a 16.º do RAI a fls. 28.876).

A maior parte dos cheques não foi directamente depositada nas contas
do Eng. João Valente mas sim numa conta conjunta com os seus então sócios
na empresa Unilógica, e alguns mesmo em nome do seu sócio João Manuel
Marques Silva Oliveira, que garante que nunca teve qualquer negócio com as
empresas do Manuel Godinho, conforme adiante será melhor explicitado.

Enquanto Director do Departamento de Logística da REFER era [e é]


responsável pelo Complexo Logístico, sito no Entroncamento.

João Valente, enquanto Director do Departamento de Logística da


REFER, não definiu qual o técnico que devia supervisionar os trabalhos objecto
do contrato, tendo apenas, determinado o pessoal operacional da REFER que
ficava responsabilizado pelas funções de acompanhamento das cargas e
pesagens dos camiões ao serviço da 02 (vazios e com carga).

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S. R.

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A facturação era da responsabilidade da DAM, que mantinha um


registo que permitia comparar «(…) a quantidade de betão saído com a do betão
expectável face à produção de armadura ferrosa colocada na tulha (…), o aço que
estava na tulha e o betão que saía devia manter a proporção de 1/9, mas se havia
discrepância ou havia problemas na fragmentação ou saía material como betão que
não era betão» (fls. 983 e 984 dos autos de Inquérito 3/08.7TELSB apensos ao
362/08.1JAAVR);

A empresa "02" tinha «(…) um "pulverizer" para fragmentar as travessas,


sendo depois separado manualmente, o ferro do betão, por colaboradores da 02. O
ferro é muito mais valioso que o betão (…)» - (fls. 972 dos autos de Inquérito
3/08.7TELSB apensos ao 362/08.1JAAVR);

A "02" tinha «(…) um limite mínimo diário de cerca de 248 travessas para
fragmentar» (fls. 972 dos autos de Inquérito 3/08.7TELSB apensos ao
362/08.1JAAVR);

A facturação da "02" «(…) era com base no betão retirado do


Entroncamento» (fls. 983 dos autos de Inquérito 3/08.7TELSB apensos ao
362/08.1JAAVR);

Situação ocorrida entre 2 e 13 de Fevereiro de 2006:

Os dados obtidos nas pesagens efectuadas eram registados em base


de dados, para que a DAM, pudesse acompanhar a evolução do processo, isto
tendo por base as pesagens obtidas, relacionando a proporção dos dois
componentes das travessas (aço e betão).

538
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Dessa análise começaram a ser notadas divergências, demonstradas


nos gráficos de fls. 194 a 197 do Apenso AJ6. Conforme o JIC teve ensejo de
constatar pela compulsação dos documentos.

De acordo com o depoimento do Eng. João Morais Sarmento, da


Direcção do Ambiente da REFER (fls. 993 dos autos de Inquérito 3/08.7TELSB
apensos ao 362/08.1JAAVR):

Em Janeiro de 2006, mês em que se verificou uma paragem no


funcionamento do "pulverizer" (por avaria), «(…) começa a sair um grande volume de
betão (a situação inverte-se) porque nessa altura o volume de betão removido (pela
"02") passou a ser superior à proporção de ferro pesado (…)»;

No desenvolvimento das acções de fiscalização do contrato, em


Janeiro de 2006, o responsável da DAM pelo contrato de valorização, decidiu
fazer uma comparação das quantidades de betão saído com as quantidades
estimadas face à produção de armadura ferrosa colocada na tulha, e tendo
verificado a existência de uma divergência entre os dois valores, decidiu
efectuar uma visita ao local dos trabalhos, a qual teve lugar no dia 2 de
Fevereiro de 2006;

No decurso de visita efectuada ao local dos trabalhos por dois técnicos


da DAM, em 2 de Fevereiro seguinte, foi por eles constatado que havia
«(…)pouco betão para escoar (…), tendo sido informados «(…) pelo encarregado da
"02" que já tinha saído um camião de betão nesse dia (…)» - fls. 993 e 983 dos
autos de Inquérito 3/08.7TELSB apensos ao 362/08.1JAAVR - mas,
posteriormente, após comparação dos registos das pesagens relativos ao
período compreendido entre 2 e 10 de Fevereiro «constatou-se que a proporção
apurada era de 12,56 de betão para 1 de aço, em vez de 9 para 1, o que manifestamente
contrariava o estabelecido no contrato»;

539
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

E «(…) após verificação dos registos verificam que no dia 2 de Fevereiro,


após a saída dos três camiões da manhã, ainda tinham saído mais dois camiões, mais
um logo pela manhã do dia 3 de Fevereiro (…) (fls. 908 e 984 dos autos);

Conforme refere a então Directora da DAL – Drª Helena Neves - «(…)


entre o dia 2/02/06, data em que não havia um volume de betão que justificasse a
respectiva recolha, até ao dia 10/02/06, foram pesados 27 camiões, correspondendo a
575 ton. de betão, o que representa num período de 7 dias uma produtividade de cerca
de 70% relativamente à meta de um mês completo e uma produtividade média de 82
ton. quando a capacidade máxima indicada pelo Adjudicatário é de 44,8 ton» (fls.
1017 dos autos de Inquérito 3/08.7TELSB apensos ao 362/08.1JAAVR).
Ao se constatar que, nos dias 02 e 03 de Fevereiro , os registos
apresentavam uma quantidade de carga superior ao material existente no local,
foi decidido agendar uma reunião para dia 13 de Fevereiro.

Tal reunião foi efectivamente realizada no dia 13 de Fevereiro de 2006,


nas instalações do Entroncamento, em que estiveram presentes aqueles dois
técnicos da DAM - António Normando Maia Ramos e João Domingos A. Morais
Sarmento – e os responsáveis da DAL - Dr.ª Helena Neves (Directora), Eng.ª
Isabel Pires e arguido João Valente (fls. 984 dos autos de Inquérito
3/08.7TELSB apensos ao 362/08.1JAAVR) - «(…) foi decidido ir ao local de
execução dos trabalhos da fragmentação e carregamento para tentar perceber o que se
estava a passar. Tendo-se detectado um camião do adjudicatário a caminho da
pesagem resolveram verificar o processo de pesagem na presença de um representante
do adjudicatário. Na báscula, o Eng. Valente e o Dr. Normando subiram ao camião
para verificar o teor da carga, tendo detectado que a carga incluía blocos inteiros de
travessas de betão, sendo também visíveis armaduras de aço (…) decidiram mandar
descarregar o camião (…)verificaram a saída inicial de uma camada diminuta de
betão sendo todo o resto da carga (cerca de 4/5) constituída por terra (…),

540
S. R.

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recordando-se, ainda, que segundo o motorista, foram as pessoas da 02 quem lhe deu
ordem para efectuar o carregamento e que não estaria qualquer representante da
REFER a acompanhar a carga» - fls. 980 e 981 dos autos de Inquérito
3/08.7TELSB apensos ao 362/08.1JAAVR).

Convém destacar as declarações do Dr. Normando Maia que constam


do Apenso AJ 6 a fls. 187 e as da Dr.ª Helena Neves, na altura Directora da
Direcção de Aprovisionamento e Logística e superiora hierárquica do arguido
João Valente, que constam do Apenso AJ 6 a fls. 20 e 21 de sobre o sucedido
no dia 13-02-2006:
Dr. Normando Maia
“… O depoente decidiu verificar a carga do camião, tendo sido acompanhado
pelo Engenheiro Valente. Constatou então que a carga era composta por terra que
estava coberta por uma pequena camada de betão com armadura ferrosa. Dado que
estes factos evidenciavam que o trabalho não estaria a ser realizado conforme o
respectivo contrato, informou os presentes que deveria ser verificada toda a carga.
Nessa altura houve algum desconforto entre os presentes, nomeadamente do Eng.º
Valente.”
Dr. Helena Neves
“… O Eng. Valente e o Dr. Normando subiram ao camião e o primeiro ao
descer, transmitiu aos presentes que estaria tudo correcto com a carga. O Dr.
Normando considerou que seria correcto analisar todo o conteúdo da carga. Perante a
divergência de análise, a depoente deu indicações ao Eng. Valente para que ordenasse
a descarga do camião no local onde se procedia à desfragmentação das travessas.
Face a essa determinação, houve algum desconforto perante essa determinação por
parte do Engenheiro Valente, mas acedeu a concretizar o determinado.”

Esclarecedoras são também as fotografias colhidas nos dias


02/02/2006 e 13/02/2006 que se podem ver no Inquérito 3/08.7TELSB -Apenso
5, fls. 1010 e seguintes.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Em consequência destes acontecimentos, que a própria REFER


enquadrou como "fraude" por parte da adjudicatária (fls. 1020 dos autos de
Inquérito 3/08.7TELSB apensos ao 362/08.1JAAVR), e a empresa procedeu às
seguintes diligências:

• Imediata suspensão dos trabalhos, seguidamente


formalizada por carta de 17 de Fevereiro de 2006 (fls. 1017 e 1020
dos autos de Inquérito 3/08.7TELSB apensos ao 362/08.1JAAVR);

• Instauração de um "procedimento prévio de inquérito",


por despacho da Directora da DAL, Dr.ª Helena Neves, em 16 de
Fevereiro de 2006, cujo Relatório data de 27 de Fevereiro de 2006
(fls. 1018 e 1022 dos autos de Inquérito 3/08.7TELSB apensos ao
362/08.1JAAVR);

• Realização de uma Auditoria «aos procedimentos


desenvolvidos pelos AL no acompanhamento deste contrato», a realizar
pela Direcção de Auditoria e Qualidade, conforme despacho do
Vice-Presidente do CA (Dr. Alfredo Vicente Pereira), datado de 20
de Fevereiro de 2006, cujo Relatório foi apreciado pelo CA em 3 de
Agosto do mesmo ano (fls.1018, 1177, 1178 a 1250 e 1635-A) e
1635 dos autos de Inquérito 3/08.7TELSB apensos ao
362/08.1JAAVR);

• Rescisão do contrato, com efeitos a 16 de Fevereiro


de 2006, após ponderação das "notas de esclarecimento"
apresentadas pela "02" em 1 de Março de 2006 (fls. 1161 a 1173
dos autos de Inquérito 3/08.7TELSB apensos ao 362/08.1JAAVR),
dado que a REFER considerou ter havido violação por parte da
adjudicatária «no que concerne ao cumprimento das suas obrigações

542
S. R.

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contratuais» (fls. 1161 a 1174 dos autos de Inquérito 3/08.7TELSB


apensos ao 362/08.1JAAVR);

• Instauração de um processo de Inquérito, por


deliberação do CA de 3 de Agosto de 2006, cujo Relatório data de
9 de Novembro de 2006 (fls. 1635-A), 1635-C), 905 e 918 dos
autos de Inquérito 3/08.7TELSB apensos ao 362/08.1JAAVR)

• Exclusão da empresa "02" «(. .. ) da lista de


fornecedores qualificados da REFER», por deliberação do CA (fls.
1045, 1140, 1141, 1636 e 1637 dos autos de Inquérito
3/08.7TELSB apensos ao 362/08.1JAAVR);

• Determinação, também por esta última deliberação


de 23 de Novembro de 2006, das «(…) acções destinadas a ressarcir
a REFER dos prejuízos registados.» (fls. 1141 dos autos de Inquérito
3/08.7TELSB apensos ao 362/08.1JAAVR).

Os dois procedimentos que, sobre este mesmo assunto, foram


mandados instaurar seguidamente pelo actual CA – Processo de Auditoria,
em 20 de Fevereiro de 2006, e Processo de Inquérito, em 3 de Agosto do
mesmo ano – apresentaram conclusões idênticas e que se podem sintetizar do
seguinte modo (fls. 1182 e 1183,915 a 918 e 1025 a 1027 dos autos de
Inquérito 3/08.7TELSB apensos ao 362/08.1JAAVR):

-Inexistência de controlos implementados de forma a garantir que os


procedimentos existentes à data das ocorrências (…) fossem efectivamente cumpridos,
no que respeitava, designadamente a:

-« Não utilização das folhas de controlo (…)»

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S. R.

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-«Ausência de qualquer evidência do acompanhamento dos trabalhos de


carga e descarga por representante da REFER»

-«Deficiente controlo documental quer da documentação definida


internamente quer da documentação legalmente exigida (...)»

-«Inadequada formalização e divulgação das decisões e procedimentos


definidos pelos diferentes intervenientes no processo»;

-«Preenchimento incorrecto e incompleto das guias de remessa (…)»;

-«Hora e/ou data de emissão das guias de remessa posterior à saída das
viaturas»

«Ausência de numeração sequencial das guias de remessa emitidas»;

«Preenchimento incorrecto de talões de pesagem».

Ao arguido João Valente, enquanto Director do Departamento de


Logística da REFER, cabia-lhe zelar pelo bom cumprimento deste contrato,
tanto mais que, face às reuniões acontecidas no Entroncamento, conhecia com
precisão o seu objecto e a forma como devia ser executado.

Todavia o que os autos indiciam é uma realidade diferente. Não


cumpriu os poderes/deveres de acompanhamento e fiscalização destes
trabalhos que lhe incumbiam, isso é patente.

Com efeito, o arguido João Valente não utilizou as folhas de controlo


instituídas pela REFER, não acompanhou os trabalhos de carga e descarga de

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S. R.

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materiais, não instruiu o processo de fiscalização com os documentos


internamente definidos e os legalmente exigidos, autorizando que se
preenchesse de modo incorrecto e incompleto as guias de remessa,
designadamente consignando-se horas e/ou datas daquelas posteriores às da
saída dos camiões, a sua não numeração de forma sequencial e
preenchimento incorrecto dos talões de pesagem.

Não tomou providências para uma fiscalização efectiva em relação aos


aspectos atrás indicados que prevenisse qualquer anomalia na execução deste
contrato, como era seu dever , tanto mais que tinha conhecimento que as
quantidades pesadas dos componentes das travessas não estavam a manter a
relação proporcional inicialmente prevista.

Por outro lado, o arguido mantinha uma relação próxima do arguido


Manuel Godinho, como demonstra a conversa telefónica interceptada a que
corresponde o produto 5626 do Alvo 1T167PM (Ap. Transcrições-2 do Alvo
1T167MT, fls. 131) que se vai extratar, para melhor se compreender o sentido
da decisão instrutória :

PRODUTO Nº: 5626

DATA/HORA: 02-04-2009/ 12:15:02

INTERVENIENTES:
DE – Engº. João Valente (Refer Entroncamento)
PARA – Manuel Godinho
MANUEL GODINHO – Tou.
Engº João Valente – Tou, tou, bom dia. Está Bom?
MANUEL GODINHO – Bom dia.
Engº João Valente – João Valente.
MANUEL GODINHO – Oh engenheiro, está tudo bem ou quê,
amigo?

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Engº João Valente – Vamos indo. E o senhor como é que vai?


MANUEL GODINHO – Tou porreiro.
Engº João Valente – Óptimo. Isso é que é bom. Então os seus
diabetes, tão, tão, se, tão baixinhos
MANUEL GODINHO – Tão controlados
Engº João Valente – Tão.
MANUEL GODINHO – Tão controlados
Engº João Valente – Óptimo, então tá bem. É como eu, também,
mais ou menos.
MANUEL GODINHO – É?
Engº João Valente – É, é, tá tudo mais ou menos.
MANUEL GODINHO – Atão e como é que anda para aí?
Engº João Valente – É pá, isto anda para aqui umas
modificações sérias, eh, eh, eh!
MANUEL GODINHO – É!
Engº João Valente – Até lhe estava a telefonar para ver se você
sabia alguma coisa disto. Se já tinha ouvido falar. Não, não , ainda não
ouviu falar de nada daqui?
MANUEL GODINHO – Não, não ouvi. Daí do Entroncamento
ainda não ouvi nada.
Engº João Valente – Não, não é do Entroncamento, é de Lisboa.
Daqui não, daqui não. Daqui está tudo na mesma. Daqui está tudo
igual.
MANUEL GODINHO – É, isso Das modificações (imperceptível)
embora, não é?
Engº João Valente – Pois é, relativamente a isso. É, é aí é que
MANUEL GODINHO – Ele não se dá com o gajo, está a ver?
Engº João Valente – Pois não.
MANUEL GODINHO – Ele não se dá com o gajo e há aí
problemas muito sérios
Engº João Valente – Sim.
MANUEL GODINHO – Problemas muito sérios

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Engº João Valente – Ninguém se dá, ninguém se dá com ele.


Eh, eh, eh!
MANUEL GODINHO – Pois, ninguém se dá com um gajo
Engº João Valente – É difícil
MANUEL GODINHO – Mas a gaja é que o está a segurar, tá a
ver?
Engº João Valente – Pois é, pois é, pois é.
MANUEL GODINHO – Porque
Engº João Valente – Diga, diga.
MANUEL GODINHO – Ele era para ir corrido
Engº João Valente – Uh, uh!
MANUEL GODINHO – Foi, mandaram o processo para traz,
devolveram o processo e a gaja meteu a cabeça por ele.
Engº João Valente – Pois.
MANUEL GODINHO – Como se, como está muito próximo,
muito próximo do, daquele caso, tá a ver?
Engº João Valente – Sim, sim, sim, sim.
MANUEL GODINHO – As pessoas recuaram um bocado. Mas
ele tem a cabeça a prémio, tem.
Engº João Valente – Pois. Agora, o que a gente não sabe é
quem é quem é que vem para cá, para o sítio do Fernando. E era isso
que eu queria saber (Imperceptível)
MANUEL GODINHO – Não sei amigo. Isso num, não sei
responder.
Engº João Valente – Pois, pois.
MANUEL GODINHO – Eh!
Engº João Valente – É que aqui fala-se, já se falou vários
nomes. E falou-se agora ultimamente numa, numa moça, numa rapariga
nova que é amiga da, da, da, da, da, da Secretária, da Ana Paula.
MANUEL GODINHO – Ah! Da Ana Paula!
Engº João Valente – Pois. Fala-se para aqui de uma gaja nova,
uma gaja nova qualquer que, fala-se para lá, mas eu não sei.

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MANUEL GODINHO – Num, não me acredito muito, não me


acredito muito.
Engº João Valente – Uh, uh!
MANUEL GODINHO – Eh! Eu Sábado vou ter um almoço
Engº João Valente – Sim.
MANUEL GODINHO – Vou ter um almoço porque as pessoas
vão
Engº João Valente – Sim, sim.
MANUEL GODINHO – Vão lá para Bragança
Engº João Valente – Sim, sim, sim.
MANUEL GODINHO – E
Engº João Valente – Tá bem
MANUEL GODINHO – E vão passar aqui.
Engº João Valente – Uh, uh!
MANUEL GODINHO – Portanto
Engº João Valente – Atão, dê, dê, dê-me a dica, só pode ser que
MANUEL GODINHO – Tá bem
Engº João Valente – Que se consiga
MANUEL GODINHO – Isso aí está muito complicado, não está?
Engº João Valente – É pá, isto está com, com a chefe que a
gente tem agora é impossível, é completamente
MANUEL GODINHO – Eu sei quem é (imperceptível)
Engº João Valente – É pior que a outra. E a outra também,
também lá está, tá tudo, agora é que tá tudo, uh, aterriado.
MANUEL GODINHO – Eu sei.
Engº João Valente – Pois.
MANUEL GODINHO – Não, nós estamos, nós ganhámos o
concurso do Algarve.
Engº João Valente – Uh! Uh!
MANUEL GODINHO – Uh, ganhámos o concurso do Algarve da
Second Market

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Engº João Valente – Pois, eu sei, eu sei, eu sei. Sim, é pá, mas
é assim. Há muita coisa que podia ser feita doutra forma e que enfim, o
Fernando Silva
MANUEL GODINHO – Eh
Engº João Valente – O Fernando Silva também vos boicotava
um bocado, atenção. Por isso é que, por isso é que convinha porem lá
alguém que tivesse outra postura, pá. Por isso é que era importante.
Isto é um ponto, é um ponto chave para vocês também.
MANUEL GODINHO – Isso, o nosso problema, o nosso
problema é ele, tá a ver?
Engº João Valente – Certo. Certo, mas ele!
MANUEL GODINHO – É. Diga.
Engº João Valente – Desde que cá tenha, tenha cá por baixo
quem, quem dê uma, uma imagem diferente, o problema contorna-se.
Agora assim é que, como, como era o Fernando
MANUEL GODINHO – Eu estou, eu não estou, não estou
parado, tá a ver?
Engº João Valente – Tá bem, tá bem, tá bem.
MANUEL GODINHO – Eu não estou parado. É pá, vamos com
calma. Isto também agora está, também está próximo.
Engº João Valente – Pois, pois, pois, pois, pois, pois tá bem.
MANUEL GODINHO – Vamos com calma. Desde que não
mexam mais do que com aquilo que já mexeram
Engº João Valente – Exacto.
MANUEL GODINHO – Tá a ver?
Engº João Valente – Uh! Uh!
MANUEL GODINHO – Pá.
Engº João Valente – Tá bem.
MANUEL GODINHO – Deixe, aguente-se calmo
Engº João Valente – Pois. Ah, não. Isso tudo bem.
MANUEL GODINHO – Eu depois eu digo-lhe alguma coisa.
Engº João Valente – Tá bem. Tá ok.
MANUEL GODINHO – Ok. Um abraço.

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S. R.

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Engº João Valente – Tá, um abraço. Gosto em ouví-lo. Bom dia.

Na análise que ao JIC/TCIC é possível, à puridade, fazer, nas alusões


o “gajo” é o Engº Luís Pardal, “ a gaja” é a Engª Ana Paula Vitorino, os que vão
para Bragança são, entre outros, o Dr. Armando Vara e dizemo-lo porque tudo
isto é compatível com todos os outros elementos já escrutinados, maximé com
os depoimentos de Luís Pardal, Ana Paula Vitorino a respeito do tema REFER
e das relações com as pessoas da empresa no Entroncamento, quando
sopesado com os contactos feitos por Manuel Godinho para ultrapassar o seu
afastamento da REFER.
Tudo isto se indicia e é lamentável.

Ainda mais demonstrativo desta relação de grande entrosamento,


dependência e fidúcia e da sua durabilidade são os benefícios recebidos pelo
arguido de Manuel Godinho, que se revelam na emissão de cheques no valor
global 52 451,90€, entre 30.12.2001 a 26.08.02 – Relatório de Perícia
Financeira (Apenso 162 – fls. 112; Apenso 122 – fls. 45 e 49; Volume 2 – fls.
495). Apenso AJ7 – fls. 393 a 410 depoimento de João Manuel Marques Silva
Oliveira e docs. juntos por este).

O Eng. João Valente alega que a importância de 52.451,90€, referida


no artigo 210.º da acusação, que reconhece que lhe foi paga por Manuel
Godinho, correspondem a honorários de prestação de serviço de assessoria
técnica que prestou durante cerca de 1 ano, entre meados de 2001 e 2002, no
valor acordado de 50.000 euros mais despesas que atingiram perto de 2500
euros (artigos 7.º a 16.º do RAI a fls. 28.876).

Mas, se nada havia a esconder mal se percebe que a maior parte dos
cheques não tenha sido directamente depositada nas contas do Eng. João
Valente mas sim numa conta conjunta com os seus então sócios na empresa
Unilógica, e alguns mesmo em nome do seu sócio João Manuel Marques Silva

550
S. R.

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Oliveira, que garante que nunca teve qualquer negócio com as empresas de
Manuel Godinho (Apenso 162 – fls. 112; Apenso 122 – fls. 45 e 49; Volume 2 –
fls. 495; apenso AJ7 – fls. 393 a 410 depoimento de João Manuel Marques
Silva Oliveira e docs. juntos por este).

Tal forma de actuação, indicia que o depósito dos cheques nas contas
indicadas visava dissimular quem era o verdadeiro beneficiário das quantias
depositadas, de forma a não ser estabelecida uma relação directa entre tais
cheques e o arguido João Valente.

Nas suas declarações como arguido a fls. 301 a 309 do Apenso AJ 7 o


Eng. João Valente refere que conheceu Manuel Godinho na sequência de um
inquérito devido a um levantamento de travessas não facturado por uma das
sua empresas e que em 2001/2002 voltou a ter contactos com Manuel Godinho
“mas apenas no que respeita à facturação” já que a entrega de resíduos era
da responsabilidade de um funcionário já falecido, o que contraria a alegada
ausência de relações profissionais com Manuel Godinho. Estranho é que
nessas suas declarações não se tenha conseguido recordar de que os cheques
depositados nas suas contas no montante de mais de 50.000 euros eram o
pagamento dos honorários de um ano de prestação de serviços.

A versão carece de credibilidade tanto pela duração da actividade (não


se lembra do trabalho prestado durante todo um ano?) como pelo montante da
remuneração que foi superior ao rendimento anual declarado em 2002 pelo
Eng. João Valente (fls. 18 do Apenso 131).

O arguido Manuel Guiomar nas suas declarações a fls. 77 e 78 do


Apenso AJ 6 refere a enorme influência do Manuel Godinho no Entroncamento
e a vinculação do arguido João Valente, entre outros, aos interesses de Manuel
Godinho.

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O Engenheiro Pedro Pinto, a fls. 301 e 302 do Apenso AJ 6, dá conta


do poder e influência de Manuel Godinho no complexo do Entroncamento e
relata uma saída de carril não autorizada, ocorrida em 2004 e efectuada por
empresas de Manuel Godinho, saída que comunicou repetidamente ao
Engenheiro João Valente e que este procurou encobrir dizendo-lhe que não
havia necessidade de comunicar à Direcção.

No mesmo sentido, o Engenheiro José de Sousa refere a fls. 97 do


Apenso AJ 6 que tinha conhecimento de que as empresas de Manuel Godinho
se movimentavam com muito à vontade no complexo logístico do
Entroncamento e a fls. 90 que era do conhecimento geral que a empresa O2
não cumpria os contratos que celebrava, procurando sempre ter um “benefício”
na execução desses contratos.

Durante a instrução referiu-se à importância da influência de Manuel


Godinho no Entroncamento, entre outras, a testemunha Jorge Manuel Ribeiro
Antunes.

Sinal dessa ligação do arguido João Valente aos interesses do arguido


Manuel Godinho é o teor da conversa telefónica interceptada, onde mostra
comungar dos interesses do Manuel Godinho e apela a que este exerça a sua
influência para nomear pessoa que, mesmo apesar da oposição do Luís Pardal
ajude a contornar os entraves colocados às empresas de Manuel Godinho
como decorre da sua afirmação de que: “Desde que cá tenha, tenha cá por baixo
quem, quem dê uma, uma imagem diferente, o problema contorna-se.”

No mesmo sentido destaca-se a tentativa de encobrimento e o


constrangimento manifestado quando da verificação da carga do camião,
referidos pelo Dr. Normando Maia e pela Dr.ª Helena Neves.

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S. R.

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O Engenheiro João Valente refere-se quer no inquérito interno da


REFER, quer no seu interrogatório, à existência de travessas monobloco como
explicação para as diferenças entre o material ferroso e o betão recolhido,
porque nas tabelas monobloco a proporção será de 10 para 1 ou mesmo 11
para 1.
O arguido procurou justificar as pesagens efectuadas pela 02 apesar
de ter estado presente na reunião de 13-02-2006 – acta a fls. 189 e seguintes
do Apenso AJ6 – onde no ponto 1 se descreve com minúcia a visita do dia 2 de
Fevereiro de 2006, a inexistência de betão fragmentado cerca das 10H00 da
manhã, o que não impediu que a O2 fizesse registar a saída nesse mesmo dia
de 4 camiões com o peso global de 95 toneladas e mais 2 camiões logo pela
manhã no dia seguinte com cerca de 44 toneladas, no total de cerca de 134
toneladas, o que ultrapassa a capacidade de fragmentação seja qual for o tipo
de travessas em causa.

O JIC escrutinou os elementos contidos nos depoimentos das


testemunhas inquiridas:
Sobre tais factos foram inquiridos:
João Manuel Marques Silva Oliveira, Apenso AJ7 – fls. 393 a 410;
Manuel Fernandes Fortaleza Garcia, Operador de Infra-estruturas, PI
n.º
7545783; inquirido a fls. 14 a 16 do Apenso AJ7;
Graça Maria Rosa Bruno, Assistente de Gestão, PI n.º 1004431;
inquirida a fls. 24 a 28 do Apenso AJ 7;
Alzira Jesus Santos Lopes, Escriturária, PI n.º 7015118; inquirida a fls.
21 a 23 do Apenso AJ 7;
Isabel Alexandra de Almeida Pires, Técnico III, PI n.º 1000603;
inquirida a fls. 29 a 32 do Apenso AJ 7;

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Pedro Rafael Nunes Ferreira Lopes Pinto, Técnico II, PI n.º 1001866;
inquirido a fls. 297 a 304 do Apenso AJ 6;
Helena Maria Mourão da Eira Neves, Técnico II, PI n.º 9405044;
inquirida a fls. 15 a 24 e 214 a 216 do Apenso AJ 6;
António Normando Maia Ramos. Técnico II, PI n.º 1002500; inquirido a
fls. 185 a 188 do Apenso AJ 6;
Luís Miguel Rodrigues Genebra, Assistente de Gestão, PI
nº.º9600230; inquirido a fls. 10 a 13 do Apenso AJ 7;
José Manuel Caldeira Lagartinho, Operador de Infra-estruturas, PI n.º
7632565; inquirido a fls. 18 a 20 do Apenso AJ 7;
João Domingos Amaral de Morais Sarmento, Técnico II, PI n.º
1001577; inquirido a fls. 292 a 296 do Apenso AJ 6;
Deve aditar-se ao rol da acusação a testemunha Jorge Manuel
Ribeiro Antunes, ouvida na instrução no dia 27-01-2011 às 14:25.
Os depoimentos prestados pelos trabalhadores da REFER constituem
o Anexo IV do relatório constante dos autos de Inquérito 3/08.7TELSB apensos
ao 362/08.1JAAVR.

Por fim e para coadjuvar o exposto, convoquemos as alegações da


assistente REFER no debate instrutório:
“A testemunha ALZIRA DE JESUS SANTOS LOPES, funcionária da REFER no
Entroncamento, evidenciou um enorme comprometimento.
Filha de ferroviário, com 40 anos de REFER e sendo, nos últimos anos,
responsável pela báscula do Entroncamento, a testemunha apresentou-se como alguém
que vive num mundo isolado, alheia às preocupações dos colegas, ou desconhecedora
do enraizado hábito de alguns fornecedores oferecerem prendas pelo Natal. A
testemunha não sabia, ainda, nada do episódio do camião cheio de terra disfarçada com
uma camada de betão fragmentado, tal como, inverosimilmente, sustentava que o
arguido João Valente estava sempre no gabinete, nunca indo à báscula.

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A testemunha MANUEL FERNANDES FORTALEZAS GARCIA conta a incrível


história da inspecção relâmpago. Enquanto ele foi à casa de banho, em 10-15 minutos,
segundo o próprio, um camião acabou de ser carregado de betão fragmentado; um grupo
de pessoas abeirou-se do camião, entre as quais a Sra. Dra. Helena Neves; a Sra. Dra.
Helena Neves desconfiou do conteúdo do camião e pediu a João Valente que subisse ao
mesmo; João Valente disse que estava tudo bem; Helena Neves voltou a desconfiar e
pediu a Normando Ramos que subisse ao camião; Normando Ramos subiu e detectou
terra escondida sob uma camada de betão fragmentado; Normando Ramos desceu; o
camião iniciou a descarga; só então regressando a testemunha MANUEL FERNANDES
FORTALEZAS GARCIA, após os seus 10 a 15 minutos de ausência. O comprometimento
desta testemunha com o episódio é por demais evidente, não podendo, por isso, “pôr o
pé em ramo verde” , arriscando qualquer infidelidade para com o arguido João Valente.
Por isso, é obrigado a assumir teses difíceis de convencer. Por isso, afirma
também, como já havia feito a testemunha ALZIRA DE JESUS SANTOS LOPES, que o
arguido João Valente estava lá no seu gabinete, não andando sempre a olhar para estes
assuntos. Localmente, outros supervisionavam. E sendo certo, por outro lado, que, por
acaso, o que ele não fazia porque não lhe competia fazer, acabou por competir e ser
feito por uma superior hierárquica, vinda de Santa Apolónia, preocupada com as
pesagens. Como isto possa merecer credibilidade não se consegue ver.
Mas existem mais incongruências: qual era, então, verdadeiramente, o papel
do arguido João Valente?
Não seria certamente o de proceder à fiscalização – como lhe competia – da
execução do contrato de fragmentação das travessas bi-bloco celebrado entre a REFER
e a O2.
Parece que um dos seus “papéis” fosse o de transmitir ao arguido Manuel
Godinho as “existências” no Complexo Logístico do Entroncamento e as possibilidades
que a partir daí surgiam para as empresas integradas no universo empresarial do
primeiro arguido.
Ou, em alternativa, o de transmitir ao arguido Manuel Godinho a
impossibilidade de concretização de tais operações, em consequência do controlo

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exercido pelos directores da CPL, em Lisboa (cfr. Produto 3546, de 02-04-2009, que
contém uma intercepção telefónica entre o arguido Manuel Godinho e o arguido João
Valente e se encontra transcrita a fls. 148 e ss. do Apenso de Transcrições 2 do Alvo
1T167PIE).
Ou, ainda, por hipótese, o de elaborar, a pedido do arguido Manuel Godinho,
um plano de recuperação de equipamentos de via usados e antigos, conforme é alegado
no seu requerimento de abertura de instrução (cfr. artigos 7.º a 23.º). Tal prestação de
serviços teria sido paga através da entrega de cheques ao arguido João Valente, no
período compreendido entre Dezembro de 2001 e Agosto de 2002, perfazendo – de
acordo com a acusação – o montante total de € 52.451,90€.
A elaboração do referido plano de equipamentos de via usados e antigos
adquiridos pelo arguido Manuel Godinho e respectiva remuneração recebida pelo
arguido João Valente não deixam, porém, de suscitar algumas perplexidades:
(i) A quem se destinava o plano elaborado? O documento não o refere.
(ii) O grau de dificuldade na elaboração do documento que aparenta ser uma
compilação de instruções técnicas relativas àquele equipamento complementada por
notas manuscritas – que se supõem do arguido João Valente – justifica uma
remuneração total de mais de € 50.000,00, paga, ainda para mais, em prestações de €
2.500,00 diferidas no tempo? Isso reflectiu-se nos rendimentos declarados e constituía
mais, menos ou o mesmo que o seu rendimento anual? Não se vislumbra nas
declarações de rendimentos constantes dos autos (cfr. Apensos 91 e 131) o reflexo desse
rendimento extraordinário.
Enfim, nada do que as testemunhas vieram dizer ou do que resulta da prova
documental junta com o requerimento de abertura de instrução do arguido merece
crédito que permita infirmar a indiciação da acusação a que já aderimos.
Em suma, numa apreciação global dos autos, entendemos que o arguido
João Valente deve ser sujeito a julgamento.”

Ainda no tocante à influência exercida sobre a Secretária de Estado


Ana Paula Vitorino para defender os interesses de Manuel Godinho e das suas

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empresas no contencioso com a REFER resultante da execução do contrato de


desfragmentação das travessas bi-bloco e da necessidade de protecção do
arguido João Valente – artigos 200.º a 251.º, 626.º a 629.º (Dolo).
Conforme decorre dos depoimentos do Vice-Presidente da REFER,
Alfredo Vicente Pereira e da Dr. Helena Neves, Directora de Aprovisionamento
e Logística a fls. 25 a 31 e 214 a 216 do Apenso AJ 6, na sequência dos
incidentes ocorridos em Fevereiro de 2006 no contrato de fragmentação das
travessas bi- bloco, o Dr. Vicente Pereira solicitou à Dr.ª Helena Neves que
procedesse a um estudo para a reestruturação da Direcção de Logística
visando não só a melhoria dos procedimentos internos como a substituição do
Engenheiro João Valente na Direcção da Logística do Entroncamento, uma vez
que o mesmo era visto como responsável pelos problemas sucedidos no
contrato.
Neste contexto consta da acusação que:
“Perante o sucedido, em data não concretamente apurada, mas
posterior a 13 de Fevereiro de 2006 e anterior a Março do mesmo ano, Manuel
Godinho contactou Armando Vara e Lopes Barreira com o propósito de estes, a
troco de contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais para si e/ou para
terceiros, por si só ou em acção concertada, exercerem a sua influência junto
de titulares de cargos políticos e governativos no sentido da resolução e
superação do diferendo assim surgido entre a “O2” e a “REFER”, com
prevalência dos seus interesses e da sua empresa.
Mais lhes solicitou que, junto daqueles, diligenciassem pela alteração
do comportamento comercial da REFER e do Presidente do Conselho de
Administração desta empresa para com a “02”, por forma a que as pretensões
de Manuel Godinho conhecessem acolhimento, bem como pela manutenção do
arguido João Valente nas funções que desempenhava, pese embora a sua
actuação em notório prejuízo da REFER na execução do contrato de
valorização de 5.000 toneladas de travessas de betão bi-bloco.

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Para tanto, Manuel Godinho prometeu dar-lhes dinheiro e


contrapartidas não patrimoniais, bem como donativos para o Partido Socialista.
Nos anos de 2004, 2006 e 2007, a propósito da quadra natalícia, por
forma a, desde logo, criar e potenciar um clima de permeabilidade e
cumplicidade para posteriores diligências e de predisposição à aceitação das
suas pretensões ou mesmo com carácter remuneratório (bónus), Manuel
Godinho entregou, em nome das sociedades comerciais que compõem o
universo empresarial, directa ou indirectamente, por si gerido, diferentes bens,
a título de presentes, a Armando Vara e Lopes Barreira.
No ano de 2004, Armando Vara viu ser-lhe atribuída a categoria AAA,
a segunda mais elevada, tendo recebido um estojo com decantador, Herdade
de Prata, no valor de 685,00€; no ano de 2006, manteve aquela categoria,
tendo recebido uma caneta Mont Blanc e um relógio, no valor global não
inferior a 1.500,00€.
No ano de 2006, Lopes Barreira viu ser-lhe atribuída a categoria AAA,
a segunda mais elevada, tendo recebido um cantil português e um relógio, no
valor global não inferior a 1.500,00€; no ano de 2007, foi-lhe atribuída a
categoria A, tendo recebido uma caneta Mont Blanc, no valor de 330,00€.
Perante as contrapartidas prometidas e recebidas, Armando Vara e
Lopes Barreira aceitaram a proposta de Manuel Godinho.
Na execução do acordo celebrado com Manuel Godinho, Armando
Vara e Lopes Barreira promoveram contactos com Mário Lino, à data, Ministro
das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, no sentido da resolução e
superação do diferendo entre a “O2” e a “REFER”, com prevalência dos
interesses de Manuel Godinho e da sua empresa e, bem assim, da
necessidade da REFER alterar o seu comportamento comercial para com a
“02” e do arguido João Valente se manter no exercício das funções que
desempenhava.
Na sequência destes contactos, em Março de 2006, Mário Lino
interpelou a então Secretaria de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino,

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sob cuja tutela directa se encontrava a REFER, indagando-a sobre o


acontecido no Entroncamento e expressando-lhe que Armando Vara e Lopes
Barreira, indivíduos que qualificou como muito importantes no PS, se achavam
muito preocupados com o comportamento inflexível do Presidente do Conselho
de Administração da REFER, Luís Pardal, para com a “O2” e o funcionário da
REFER e ora arguido João Valente.
Aduziu que Luís Pardal estava a perseguir a “O2” e o arguido João
Valente por ter “boas relações” com aquela empresa, induzindo-a a resolver a
situação.
Como forma de reforçar a sua argumentação e persuadir Ana Paula
Vitorino a aceitar as suas pretensões, Mário Lino referiu-se à “O2” como “uma
empresa amiga do PS” e que Ana Paula Vitorino, enquanto membro do
Secretariado Nacional daquele partido, não podia deixar de levar esse facto em
consideração.
Não obstante, Ana Paula Vitorino repudiou, de pronto, qualquer
abordagem sobre o assunto.
No seguimento da decisão de suspensão dos trabalhos e rescisão do
contrato de valorização de travessas de betão bi-bloco, o Administrador da
REFER Vicente Pereira solicitou à Directora da Direcção de Aprovisionamento
e Logística, Helena Neves, um estudo com vista à reformulação da direcção de
Logística, na qual se incluía a substituição do seu director, o arguido João
Valente.
Helena Neves assim fez, sendo certo que, após a apresentação a
Vicente Pereira de um esquiço do documento, foi afastada das funções que
desempenhava.
Com efeito, antes de Helena Neves concluir o seu parecer, Luís Pardal
exibiu a sua própria proposta de reestruturação, a qual veio a merecer a
aprovação unânime do Conselho de Administração da REFER.
Deste modo, o arguido João Valente manteve-se no exercício das
suas funções de Director do Departamento de Logística”.

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Após todo este escrutínio paciente destas indiciadas aracnideas


relações, entendemos que a prova destes factos resulta do depoimento de fls.
24742 e seguintes da Exª Deputada Ana Paula Vitorino, na altura Secretária de
Estado, da lista de prendas de natal e documentação ali referida, de fls. 1864 a
1902 do Volume 6.º e nas inquirições de Helena Neves e Vicente Pereira já
atrás referidas, estas últimas confirmadas na instrução, e ainda, nos
depoimentos nos autos e na instrução do Engenheiro Mário Lino e Luís Pardal.

Alegam os arguidos Armando Vara e Lopes Barreira que não estão


objectivamente precisados os contornos do crime de tráfico de influências mas
dos próprios RAI, resulta que apreenderam sem dificuldade quer os factos da
imputação quer a prova que os sustenta.

Do depoimento da Ex.ª Deputada Ana Paula Vitorino resulta indiciado


que, por volta de Março de 2006, esta foi abordada pelo então Ministro
Engenheiro Mário Lino, no sentido de obstar ao comportamento inflexível do
Engº Pardal, consubstanciado na existência de problemas na execução duns
contratos com a O2 e de maus tratos a um funcionário de nome Valente, por
esse funcionário ter uma boa relação com a empresa O2, que o Engenheiro
Luís Pardal andaria a perseguir.

Na mesma ocasião, o Engenheiro Mário Lino referiu que se tratava


duma empresa amiga do PS e que havia pessoas no partido, nomeadamente
Armando Vara e Lopes Barreira, preocupados com a situação (ver respostas às
questões 3 e 15, fls. 24744 e 24748).

Os problemas com contratos e com o Engenheiro João Valente em


Março de 2006 são os resultantes da execução do contrato das travessas bi-
bloco e a planeada substituição do Engenheiro João Valente, a que acrescia o

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inquérito abreviado e auditoria que, na altura, ainda se encontravam a correr


pelo que as decisões que se procuravam obter eram:
• a não rescisão do contrato das travessas bi-bloco,
• a revogação da eliminação da O2 dos fornecedores
qualificados da REFER;
• a manutenção do Engenheiro João Valente na
Direcção da Logística do Entroncamento
• e o arquivamento do inquérito abreviado e da
auditoria sem consequências disciplinares.
A expressão “empresa amiga do PS” não tem outro entendimento que o
de empresa que contribuiu ou se dispõe a contribuir para as campanhas do PS,
não se apresentando como credível outro entendimento mais platónico.
O Engenheiro Mário Lino, ouvido na instrução, negou ter mantido tal
conversa com a então Secretária de Estado Eng.ª Ana Paula Vitorino, não
logrando obter explicação para as afirmações desta que considerou injuriosas.
A credibilidade do depoimento do Engenheiro Mário Lino tem que ser
apreciada à luz da totalidade do seu depoimento e do confronto com os
depoimentos da Engenheira Ana Paula Vitorino, do Engenheiro Luís Pardal e
do que consta dos autos relativamente ao ocorrido em 2008/2009 decorrente
das afirmações produzidas em intercepções telefónicas pelo arguido Lopes
Barreira, Manuel Godinho, Paulo Penedos, Armando Vara, Carlos Vasconcellos
e nos autos pelo arguido Manuel Guiomar.
O arguido Manuel Guiomar, por exemplo, afirma que Manuel Godinho
durante uma viagem para Setúbal onde almoçaram lhe disse que a Helena
Neves tinha sido demitida por sua indicação (embora refira que através de um
membro do anterior CA da REFER) e que ele, Manuel Godinho, tinha influência
sobre o próprio Ministro Mário Lino (ver fls. 84 do Apenso AJ 6).

Trataremos de analisar conjuntamente os factos relevantes para os


RAIs quanto aos factos ocorridos em 2008/2009:

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Influência exercida sobre entidades públicas e titulares de cargos


políticos para defender os interesses de Manuel Godinho e das suas empresas
no contencioso com a REFER em 2009 visando a destituição e substituição de
Ana Paula Vitorino e do Luís Pardal – artigos 306.º a 311.º, 323.º a 329.º, 353.º
a 355.º, 367.º e 368.º, 380.º e 381.º, 387.ºa 389.º, 411.º e 412.º, 445.º e 446.º,
449.º a 451.º, 453.º, 454.º, 460.º a 462.º, 469.º a 474.º, 478.º, 478.º a 484.º,
485.º a 488.º, 499.º, 514.º a 521.º, 565.º a 568.º, 572.º a 577.º, 643.º a 646.º
(dolo)

Com referência aos artigos da mesma a prova da acusação funda-se:


Artº 326º e 328º - Apenso AJ6 – fls. 7 a 14 – Inquirição de Luís Pardal;
Artº 326º e 327º resulta da conjugação do depoimento de Luís Pardal,
confirmado em instrução, com depoimento de Ana Paula Vitorino - fls. 24742;
Art.ºs 353.º a 355.º - Depoimento de Ana Paula Vitorino - fls. 24742;
Artº 367º - Produto 3669 do Alvo 1T167PM (Manuel Godinho);
Artº 380º - Produto 5184 do Alvo 1T167PM (Manuel Godinho);
Artº 387º - Produto 5626 do Alvo 1T167PM (Manuel Godinho);
Artº 411º - Produto 6358 do Alvo 1T167PM (Manuel Godinho);
Artº 445º - RDE – fls. 2752 a 2784 – Vol. 9;
Artº 446º - Produto 10214 do Alvo 1T167PM - Transcrições 3 pag. 116
(Manuel Godinho);
Artº 449º - RDE – fls. 2787 a 2809 – Vol. 9;
Artº 453º - Produto 18 do Alvo 39264M - Transcrições 1, fls. 9 (Manuel
Godinho);
Artº 460º - Produto 33 do Alvo 39264M - Transcrições 1, fls. 13
(Manuel Godinho);
Art.º 469.º - Produto 12223 do Alvo 1T167PM - Transcrições 4, pág 8
(Manuel Godinho);
Artº 474º - Depoimento de Ana Paula Vitorino – fls. 24750;

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Artº 478º - Produto 12649 do Alvo 1T167PM (Manuel Godinho);


Artº 480º - Produto 12676 do Alvo 1T167PM (Manuel Godinho);
Artº 482º - RDE – fls. 3228 a 3271 – Vol. 11;
Art.º 499.º - Produto 2236 do Alvo 39354PM - Transcrições 1, pág. 89
(Lopes Barreira);
Art.º 514.º - Produto 3151 do Alvo 39354PM - Transcrições 1, pág. 100
(Lopes Barreira);
Artº 516º até 521º - Inquirição de Luís Pardal – Apenso AJ6 - fls. 12;
Artº 565º - RDE – fls. 3755 a 3759 – Vol. 11;
Artº 572º - Produto 17554 Alvo 1T167PM - Transcrições 4, pág 331
(Manuel Godinho);
Artº 573.º - Produto 17748 Alvo 1T167PM - Transcrições 4, pág 334
(Manuel Godinho);
Artº 574º - Apenso AJ6 – fls. 25 a 31 – Inquirição de Vicente Pereira;

Influência exercida pelo arguido Armando Vara sobre Paiva Nunes


para promover os interesses do arguido Manuel Godinho junto da EDP
Imobiliária e da GALP – Parte IV da acusação, artigos 1294.º a 1570.º, em
especial artigos 1294.º a 1318.º, 1323.º a 1333.º, 1385.º a 1389.º, 1405.º,
1406.º, 1543.º a 1548.º (dolo).

Com referência aos artigos da mesma a prova da acusação funda-se:


Artº 1296º e 1297º - Lista de Prendas de Natal – fls. 1864 a 1920 –
Volume 6;
Artº 1301º - Produtos: 801, 805, 807, 854, 1037 do Alvo 39559PM -
Transcrições 1, fls. 7 a 18, e 22 a 29 (Paiva Nunes); Produtos: 1509 e 1524 do
Alvo 39354PM – Transcrições 1, fls. 71 e 72 (Lopes Barreira); Produto: 10758
do Alvo 1T167PM – Transcrições 3, fls.169 a 171 (Manuel Godinho); Produto:
13451 do Alvo 1T167PM - Transcrições 4, fls. 134 e 135 (Manuel Godinho);
Produto: 13806 do Alvo 1T167PM – Transcrições 4, fls. 148 e 149 (Manuel

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Godinho); Produtos: 72, 74 do Alvo 39264M – Transcrições 1, fls. 16 a 19


(Manuel Godinho);
Artº1302º - Produto 1355 do Alvo 1T167PM – Transcrições 1, fls. 107
a 110 (Manuel Godinho);
Artº 1303º - Apenso 13 do Alvo 39264M (Manuel Godinho –
912032873); Produto: 13268 do Alvo 1T167PM – Transcrições 4, fls. 124 e 125
(Manuel Godinho); Produtos: 6938, 6941 do Alvo 1T167PM – Transcrições 3,
fls. 9 e 10 (Manuel Godinho);
Artº 1304º - Produto 984 do Alvo 1T167PM – Transcrições 1, fls.68 a
71 (Manuel Godinho); Produto 3465 do Alvo 1T167PM – Transcrições 5, fls.
124 a 128 (Manuel Godinho); Produto 7118 do Alvo 1T167PM - Transcrições 2,
fls. 194 (Manuel Godinho); RDE – fls. 2752 a 2784; Produto 2 do Alvo 39264M
– Transcrições 1, fls. 4 (Manuel Godinho); Produto 1064 do Alvo 39354PM -
Transcrições 1, fls. 54 e 55 (Lopes Barreira); RDE – fls. 3228 a 3271; Produto
50 e 52 do Alvo 39264IE – Transcrições 1, fls. 17 a 19 (Manuel Godinho); RDE
– fls. 3328 a 3333 – Vol. 11; RDE – fls. 3755 a 3759;
Artº 1308º - Produto 3669 do Alvo 1T167PM - Transcrições 2, fls.38 a
40 (Manuel Godinho);
Artº 1309º - Produto 3892 do Alvo 1T167PM – Transcrições 2, fls.51 a
55 (Manuel Godinho);
Artº 1310º - Produto 7118 do Alvo 1T167PM – Transcrições 2, fls.194
(Manuel Godinho); Produto 7183 do Alvo 1T167PM – Transcrições 2, fls. 199
(Manuel Godinho); Produto 7285 do Alvo 1T167PM – Transcrições 2, fls. 202
(Manuel Godinho);
Artº 1313º - Produto 7183 do Alvo 1T167PM – Transcrições 2, fls. 199
(Manuel Godinho);
Artº 1314º - Produto 7183 do Alvo 1T167PM – Transcrições 2, fls. 199
(Manuel Godinho);
Artº 1315º - RDE – fls. 2752 a 2785 – dia 23/05/2009; Produto 3 do
Alvo 39264M – Transcrições 1, fls. 5 (Manuel Godinho);

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Artº 1323º - Produto 10197 do Alvo 1T167PM – Transcrições 3, fls.108


(Manuel Godinho);
Artº 1324º - RDE – fls. 2787 a 2809;
Artº 1329º - Produto 6 do Alvo 39264M – Transcrições 1, fls.7 (Manuel
Godinho);
Artº 1330º - Produto 18 do Alvo 39264M – Transcrições 1, fls. 8 a 10
(Manuel Godinho);
Artº 1333º - RDE – fls. 2872 a 2885;
Artº 1334º - Produto 10573 do Alvo 1T167PM – Transcrições 3, fls.
156 (Manuel Godinho); Produto 10580 do Alvo 1T167PM – Transcrições 3, fls.
157 (Manuel Godinho); Produtos 10585, 10586 do Alvo 1T167PM –
Transcrições 3, fls. 160 (Manuel Godinho); Produto 10589 do Alvo 1T167PM –
Transcrições 3, fls. 162 (Manuel Godinho); Produto 10623 do Alvo 1T167PM –
Transcrições 3, fls. 164 (Manuel Godinho);
Artº 1335º - RDE – fls. 3182 a 3227 – dia 17-06-2009 – António Paulo
Cadete Costa; Produto 12285 do Alvo 1T167PM - Transcrições 4, fls. 21
(Manuel Godinho);Produto 12317 do Alvo 1T167PM - Transcrições 4, fls. 22
(Manuel Godinho);Produto 12320, do Alvo 1T167PM - Transcrições 4, fls. 23
(Manuel Godinho);Produto 12321, do Alvo 1T167PM - Transcrições 4, fls. 24
(Manuel Godinho); Produto 12335 do Alvo 1T167PM - Transcrições 4, fls. 25
(Manuel Godinho);
Artº 1336º - Apenso D3 – fls. 50 a 55 e 221;
Artº 1338º - Apenso D4 – fls. 52 a 55; Volume 32 – fls. 11585 –
Interrogatório de António Paulo Costa;
Artº 1342º - Ver artº 1334º
Artº 1347º - Produto 18 do Alvo 39264M – Transcrições 1, fls. 8 a 10
(Manuel Godinho);
Artº 1350º - Ver artº 1338º; Produto 10746 do Alvo 1T167PM –
Transcrições 3, fls. 168 (Manuel Godinho); Produto 10758 do Alvo 1T167PM –
Transcrições 3, fls. 169 (Manuel Godinho);Produto 10781 do Alvo 1T167PM –

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Transcrições 3, fls. 172 (Manuel Godinho);Produto 11187 do Alvo 1T167PM –


Transcrições 3, fls. 183, fls. 183 (Manuel Godinho);
Artº 1352º - Produto 10781 do Alvo 1T167PM – Transcrições 3, fls.
172 (Manuel Godinho); Produto 6678 Alvo 1T167PIE – Transcrições 3, fls. 144
e 145 (Manuel Godinho);
Artº 1354º - Apenso D5 – fls. 2;
Artº 1360º - Produto 11229 do Alvo 1T167PM – Transcrições 3, fls.
190 (Manuel Godinho);Produto 11232 do Alvo 1T167PM – Transcrições 3, fls.
192 (Manuel Godinho);
Artº 1361º - RDE – fls. 2957 a 3005 – Volume 10;
Artº 1366º - Produto 11377 do Alvo 1T167PM – Transcrições 3, fls.
205 (Manuel Godinho);
Artº 1367º - Produto 11379 do Alvo 1T167PM – Transcrições 3, fls.
209 (Manuel Godinho);
Artº 1369º - Produto 11381 do Alvo 1T167PM – Transcrições 3, fls.
214 (Manuel Godinho);
Artº 1372º - RDE – fls. 3010 a 3038 – Volume 10;Produto 11565 do
Alvo 1T167PM – Transcrições 3, fls. 245 (Manuel Godinho);
Artº 1373º - RDE – fls. 3040 a 3074 – Volume 10
Artº 1374º - Apenso D3 – fls. 59
Artº 1375º - RDE – fls. 3182 a 3225 – Vol. 11
Artº 1379º - Produto 12369 do Alvo 1T167PM – Transcrições 4, fls. 29
(Manuel Godinho);
Artº 1381º - Produto 12370 do Alvo 1T167PM – Transcrições 4, fls. 30
(Manuel Godinho);
Artº 1382º - Produto 12404 do Alvo 1T167PM – Transcrições 4, fls. 33
(Manuel Godinho);
Artº 1383º - Volume 69 – fls. 23450;

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Artº 1385º - Produto 12676 do Alvo 1T167PM – Transcrições 4, fls. 64


(Manuel Godinho); Conjugar com o Produto 2606 MG, por permitir perceber o
código dos "documentos"
Artº 1387º - RDE – fls. 3228 a 3274 – Volume 11; Fls. 7478 a 7479;
167 a 172 do Apenso 18;
Artº 1391º - RDE – fls. 3286 a 3305 – Volume 11;
Artº 1394º - Inquirição de Manuel Rodrigues – fls. 6 a 10 Apenso D5;
Artº 1397º - Produto 12861 do Alvo 1T167PM – Transcrições 4, fls. 87
(Manuel Godinho);
Artº 1398º - Volume 69 – fls. 23568;
Artº 1399º - Volume 69 – fls. 23568;
Artº 1401º - Volume. 69 – fls. 23450;
Artº 1402º - Produto 13516 do Alvo 1T167PM – Transcrições 4, fls.
137 (Manuel Godinho);Produto 13536 do Alvo 1T167PM – Transcrições 4, fls.
140 (Manuel Godinho);
Artº 1403º - Produto 13572 do Alvo 1T167PM – Transcrições 4, fls.
145 (Manuel Godinho); Produto 13618 do Alvo 1T167PM – Transcrições 4, fls.
146 (Manuel Godinho);
Artº 1404º - Produto 13682 do Alvo 1T167PM – Transcrições 4, fls.
147 (Manuel Godinho);Produto 13749 do Alvo 1T167PM – Transcrições 4, fls.
147 (Manuel Godinho);Produto 1037 do Alvo 39559PM – Transcrições 1, fls. 22
(Paiva Nunes)
Artº 1405º - Produtos: 72 e 74 do Alvo 39264M – Transcrições 1, fls.
16 a 19 (Manuel Godinho); Produto 13896 do Alvo 1T167PM-Transcrições 4,
fls. 159 (Manuel Godinho) RDE – fls. 3328 a 3333 – Volume 11;
Artº 1407º - Produto 14031 do Alvo 1T167PM – Transcrições 4, fls.
172 (Manuel Godinho);
Artº 1408º - Produto 10507 do Alvo 38250PM – Transcrições 1, fls.
164 a 166 (Namércio Cunha);

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Artº 1411º - Produto 14418 do Alvo 1T167PM – Transcrições 4, fls.


195 (Manuel Godinho);
Artº 1413º - Produto 14496 do Alvo 1T167PM – Transcrições 4, fls.
201 (Manuel Godinho);
Artº 1415º - RDE – fls. 3632 – 14-07-2009;
Artº 1417º - Apenso 162 – Perícia Financeira – fls. 98 e 99;
Artº 1421º - Apenso D5 – fls. 18 a 20;
Artº 1422º - Produto 15053 do Alvo 1T167PM – Transcrições 4, fls.
238 (Manuel Godinho);Produto 15055 do Alvo 1T167PM – Transcrições 4, fls.
241 (Manuel Godinho);Produto 15078 do Alvo 1T167PM – Transcrições 4, fls.
242 (Manuel Godinho);Produto 15079 do Alvo 1T167PM – Transcrições 4, fls.
243 (Manuel Godinho);Produto 15091 do Alvo 1T167PM – Transcrições 4, fls.
244 (Manuel Godinho);
Artº 1439º - Produto 3425 do Alvo 39559PM – Transcrições 1, fls. 49
(Paiva Nunes);
Artº 1440º - Produto 16675 do Alvo 1T167PM – Transcrições 4, fls.
308 (Manuel Godinho);
Artº 1441º - Produtos 3444 e 3446 do Alvo 39559PM – Transcrições 1,
fls. 53 (Paiva Nunes);
Artº 1442º - Produto 16657 do Alvo 1T167PM – Transcrições 4, fls.
305 (Manuel Godinho);Produto 16675 do Alvo 1T167PM – Transcrições 4, fls.
308 (Manuel Godinho);Produto 16702 do Alvo 1T167PM – Transcrições 4, fls.
309 (Manuel Godinho);
Artº 1447º - Produto 16705 do Alvo 1T167PM – Transcrições 4, fls.
314 Manuel Godinho);
Artº 1448º - Produto 14031 do Alvo 1T167PM – Transcrições 4, fls.
172 Manuel Godinho);
Artº 1450º - Volume 69 – fls. 23450;
Artº 1451º - Produto 17498 do Alvo 1T167PM – Transcrições 4, fls.
327 Manuel Godinho);

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Artº 1459º - Produto 18069 do Alvo 1T167PM – Transcrições 5, fls. 3


(Manuel Godinho); Produto 4421 do Alvo 39559PM – Transcrições 1, fls. 61
(Paiva Nunes);
Artº 1469º - RDE – fls. 4714 a 4729 – Volume 15;
Artº 1470º - Produto 4723 do Alvo 39559PM – Transcrições 1, fls. 73
(Paiva Nunes);
Artº 1474º - Produto 4813 do Alvo 39559PM – Transcrições 1, fls. 77
(Paiva Nunes); Produto 4833 do Alvo 39559PM – Transcrições 1, fls. 78 (Paiva
Nunes);
Artº 1475º - Produto 4945 do Alvo 39559PM – Transcrições 1, fls. 82
(Paiva Nunes);
Artº 1477º - Produto 19486 do Alvo 1T167PM – Transcrições 5, fls. 31
Manuel Godinho);
Artº 1483º - Produto 5158, do Alvo 39559PM – Transcrições 1, fls. 86
(Paiva Nunes);Produto 5164 do Alvo 39559PM – Transcrições 1, fls. 87 (Paiva
Nunes); Produto 5169 do Alvo 39559PM – Transcrições 1, fls. 88 (Paiva
Nunes);
Artº 1486º - Produto 5192 do Alvo 39559PM – Transcrições 1, fls. 88
(Paiva Nunes);
Artº 1512º - Produto 5945 do Alvo 39559PM – Transcrições 1, fls. 100
(Paiva Nunes);
Artº 1517º - Produto 6048 do Alvo 39559PM – Transcrições 1, fls. 106
(Paiva Nunes);
Artº 1518º - Produto 6452 do Alvo 39559PM – Transcrições 1, fls. 120
(Paiva Nunes);Produto 6465 do Alvo 39559PM – Transcrições 1, fls. 125 (Paiva
Nunes);
Artº 1520º - Ver Produto 6452 PN
Artº 1521º - Ver Produto 6452 PN
Artº 1523º - Apenso D4 – fls. 111 a 113;
Artº 1524º - Apenso D4 – fls. 111 a 113

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Artº 1525º - Apenso D4 – fls. 111 a 113;


Artº 1527º - Produto 22056 do Alvo 1T167PM – Transcrições 5, fls. 76
(Manuel Godinho);
Artº 1528º - Apenso D4 – fls. 111 a 113;
Artº 1529º - Produto 7238 do Alvo 39559PM – Transcrições 1, fls. 158
(Paiva Nunes);
Artº 1530º - Produto 7240 do Alvo 39559PM – Transcrições 1, fls. 162
(Paiva Nunes);
Artº 1532º - Produto 22800 do Alvo 1T167PM – Transcrições 5, fls. 82
(Manuel Godinho);
Artº 1535º - Produto 22965 do Alvo 1T167PM – Transcrições 5, fls. 92
(Manuel Godinho);Produto 23086 do Alvo 1T167PM – Transcrições 5, fls. 94
(Manuel Godinho);

Este conjunto de factos foi já objecto de apreciação e ponderação


de facto e de direito no douto Acórdão do Tribunal da Relação do Porto
de 10 de Novembro de 2010, pronunciando-se sobre recurso interposto
pelo arguido Armando Vara que, na parte que interessa, se reproduz no
essencial:

“…3.1. O recorrente começa por defender que não existem nos autos indícios
sustentados e credíveis que permitam considerar como indiciado ter praticado os factos
que como tal vêm descritos no despacho recorrido. Em seu entender, a leitura que o
JIC faz dos elementos de prova, recolhidos é incorrecta e até arbitrária e abusiva -
porque incide apenas sobre um universo limitado de contactos estabelecidos pelo
arguido Manuel Godinho quando todos os demais, caso tivessem sido apurados,
conduziriam uma interpretação totalmente diferente dos dados constantes do processo -
, assim sucedendo nomeadamente quando no despacho recorrido se considera que o
recorrente é o "chefe" referido na intercepção telefónica daquele arguido, quando se
considera que era ao recorrente que esse arguido se referia ao transmitir que ele iria

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falar com o chefe da EDP e o tinha mandado ir lá na segunda-feira "para os gajos lhe
arranjarem algum trabalho" naquela empresa, quando se conclui que o encontro entre
o referido arguido e Paiva Nunes, promovido pelo recorrente, se destinou a arranjar
trabalho para o primeiro na EDP, quando se liga a alusão aos 25 kms aos 50
documentos mencionados em outra conversa travada entre aquele arguido e a sua
funcionária para concluir que se tratava de 50.000 € destinados a dividir por duas
pessoas, e se infere que metade desta quantia foi entregue ao recorrente por se
considerar que o dito arguido só com ele e com o arguido Lopes Barreira se teria
encontrado depois de ter saído das instalações onde aquela funcionária trabalha..

Refira-se, em primeiro lugar e como bem salienta o MºPº, que as objecções


aduzidas pelo recorrente ultrapassam em larga medida os factos que no despacho
recorrido foram considerados suficientemente indiciados tendo em conta os elementos
probatórios que constavam dos autos. De facto, como facilmente se conclui da leitura
atenta dessa peça, nela se considerou que, pese embora já existirem alguns indícios que
apontem nesse sentido, os mesmos ainda "não permitem concluir com suficiente
segurança que Armando Vara exerceu a sua influência junto do Ministro Mário LINO e
da Secretaria de Estado no sentido de o presidente da REFER ser afastado do seu lugar
em benefício de Manuel Godinho", nem que esteja suficientemente indiciada a entrega
ao recorrente, no dia 25/5/09, dos 10.000 € que aquele arguido havia pedido dois dias
antes à sua funcionária que lhe disponibilizasse, ou, sequer "os acontecimentos do dia
20 de Junho", que compreendem a entrega dos 25.000 €, em relação aos quais se
considerou serem os indícios "mais ténues, ambíguos, polivalentes" e necessitarem de
"uma melhor densificação". Daí que não tendo constituído qualquer destas situações
fundamento para a aplicação das medidas de coacção aplicadas ao recorrente e que
este pretende ver revogadas, a argumentação por ele desenvolvida para pôr em crise a
apreciação que relativamente aos contornos das mesmas ali foi feita não passe de um
exercício fútil .
Vamos, então, centrar a nossa atenção no que verdadeiramente foi
considerado como já suficientemente indiciado e que se encontra descrito na penúltima

571
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parte desse despacho, em concreto e em síntese que o arguido Manuel Godinho dirigiu
solicitação ao recorrente, por este aceite, no sentido de, a troco de contrapartidas
patrimoniais, diligenciar pelo favorecimento do. universo empresarial directa ou
indirectamente administrado pelo primeiro na adjudicação de trabalhos em várias
áreas do processamento de resíduos produzidos por empresas do sector empresarial do
Estado e concessionárias de serviços públicos, nomeadamente exercendo a sua
influência, com esse objectivo e relativamente aos concursos e consultas públicas de
adjudicação efectuados pela EDP Imobiliária e Participações, S.A, junto do arguido
Paiva Nunes que, enquanto vogal do conselho de administração da mesma, dispunha de
poder e capacidade de decisão e/ou de influenciar decisivamente um favorecimento
daquela natureza.
E, analisado todo o acervo probatório recolhido nos autos, muito em
particular aquele que vem expressamente aludido no despacho recorrido, é inegável
que a apreciação que ali foi feita não evidencia qualquer interpretação distorcida ou
distanciada do seu conteúdo. Muito pelo contrário, evidencia um exercício de
concatenação de uma pluralidade de indícios, analisados e interpretados à luz da
lógica e das regras da experiência comum - cuja incorrecção o recorrente, apoiado
numa apreciação fragmentária e ao jeito das suas conveniências, não logrou
demonstrar - e denota uma ponderação extremamente prudente e cuidada, de forma
que a factualidade ali delimitada como sendo a que se considerou suficientemente
indiciada encontra suporte adequado nos elementos de prova que para o efeito foram
indicados (2) , aliás como lapidarmente vem explanado pelo MºPº nas conclusões 5 a 8
e 10 a 17 da resposta ao recurso, que subscrevemos integralmente e, por isso; nos
dispensamos de repetir. É essa a imagem factual que resulta à saciedade da apreciação
conjugada do que se extrai -tanto do próprio teor como da sua sequência temporal -dos
encontros documentados nos RDE e das conversas telefónicas que o arguido Manuel
Godinho travou nomeadamente com o recorrente, com os arguidos Lopes Barreira e
Paiva Nunes e com a sua funcionária, a também arguida Maribel Rodrigues, sendo bem
evidentes os cuidados, umas vezes insinuados outros explícitos, de que os interlocutores
bastas vezes se rodearam para não adiantarem muitos esclarecimentos acerca da

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natureza dos assuntos abordados, com a remessa para posteriores contactos pessoais e
o recurso a meias palavras ou códigos de linguagem destinados a inviabilizar ou
dificultar a sua compreensão por terceiros, sendo ainda de salientar o facto de Manuel
Godinho utilizar exclusivamente um número de telemóvel para os contactos com o
recorrente e posteriormente também com Paiva Nunes, a quem aquele o forneceu,
conhecido apenas por esse círculo. restrito e pela referida funcionária, tudo
contribuindo para demonstrar a consciência que tinham da ilicitude das respectivas
condutas.
Assim, não é de modo algum abusiva a conclusão de que o encontro entre
Manuel Godinho e Paiva Nunes, promovido pelo recorrente, se destinou «a arranjar
trabalho» para o primeiro na EDP, pois isso mesmo se infere, nomeadamente, da
conversa entre Manuel Godinho e Namércio Cunha em 20/4/09 ( 2ª feira ), em que o
primeiro pergunta pela situação dos transformadores da EDP e se ainda havia muito
para recolher, instando o segundo a começar imediatamente a fazer o carregamento,
dando como justificação para tal o facto de ter estado no sábado em Lisboa e deduzir
haver queixas a esse respeito na medida em que, quando deu um toque para lhes
arranjarem trabalho, "o chefe (3 - Designação aliás que, na linguagem coloquial, não
significa necessariamente que o visado exerça funções de chefia e que, no contexto em
que foi utilizada, terá apenas querido qualificar a pessoa que teria capacidade para
arranjar ao suplicante o trabalho almejado.) falou nisso", resultando da conversa
travada entre Manuel Godinho e Tavares ( Finibanco ) em 21/4/09 que ele .se referia
ao recorrente, pois afirma textualmente que "eu no sábado estive a almoçar em Lisboa.
E estive com o Armando"; da conversa entre Manuel Godinho e o seu filho João, em
23/5/09 ( sábado) - logo depois de terminado o almoço em que esteve com o recorrente,
ocasião em que este esteve a analisar folhas com o logótipo de uma das empresas do
primeiro, tal como vem documentado no RDE de fls. 2752-2784 -, em que lhe diz já se
encontrar sozinho e que tem de vir 2ª feira, respondendo, a pergunta do segundo sobre
se estava tudo bem, que "está tudo, mas... temos de falar com o chefe da EDP. E ele
mandou-me vir cá segunda-feira, É preciso ir aí pra, que é para as gajos, ver se
desbloqueiam algum trabalho."; das duas conversas entre Manuel Godinho e o

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recorrente no dia 25/5/09, na primeira das quais este lhe pergunta se "já foi falar com
o homem" e, perante a resposta negativa daquele, lhe diz para ir lá "que a gente liga-
lhe daqui", e na segunda, pouco menos de 2 horas depois, aquele lhe dá conta de que
saíra nesse momento, que tinha lá estado "a conversar um bocadinho com o senhor",
que as coisas tinham corrido bem e que na 4ª feira tinha lá um almoço para ir falar
"com uma outra pessoa" ( almoço esse que, efectivamente, terá tido lugar no dia 27,
como se infere do voice mail que Paiva Nunes enviou a Manuel Godinho, dando conta
de que já se encontrava no restaurante); da conversa entre Manuel Godinho e o
recorrente no dia 28/5/09, em que, além do mais, trocam algumas palavras acerca do
modo como as coisas estavam a correr, que estava tudo a correr bem, referindo ainda o
segundo que isso mesmo lhe havia sido dito por "ele", numa alusão que não podia ser
senão a Paiva Nunes. Se a isto tudo somarmos, por um lado, as intenções de Manuel
Godinho, que resultam abundantemente evidenciadas pelo teor de inúmeras conversas
transcritas e que nem a contenção nelas utilizada consegue mascarar, e, por outro, o
facto de já ter havido pelo menos um encontro anterior, em Vinhais, no dia 7/2/09,
entre Manuel Godinho e o recorrente (a que o primeiro faz alusão nas conversas com
Fátima Godinho, Toninho e Álvaro Santos ), bem como o teor de algumas conversas,
uma das quais entre o primeiro e Paulo Penedos, no dia 10/3/09, na qual ele dá conta,
a este de que está "aflitíssimo" com o trabalho, que não sabe “até que ponto nós
podemos garantir os pagamentos" e que vai “telefonar pró nosso amigo, a ver se ele dá
um empurrão aqui, um empurrão acolá, a ver se me arranja algum trabalho",
deduzindo-se que o "amigo" a quem se refere é o recorrente até pelo facto de, no dia
11/3/09, ter contado a Lopes Barreira que tinha falado na véspera com “ o nosso
amigo Armando", e outra entre Manuel Godinho e Lopes Barreira, no dia 12/3/09, na
qual este lhe diz que "O Armando agora...com as relações com Angola e isso ... o gajo
pode arranjar umas coisas bestiais para si, pá. Eu no fim-de-semana vou-lhe
telefonar... Para ele lá ir falar comigo a casa... E vou dizer ao gajo: "Ó pá, o Sr.
Godinho tem de ser priorizado ( ...) Pois o Armando, tem que... é amigo... .tem que ser,
tem... Ó pá, ele é o Presidente… é o Presidente do Banco, pá ... Com vários negócios,
como é que 'é isso, pá? (...) Eu vou falar com ele. Hoje já... Hoje já.... telefono-lhe...

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Porque ele agora tem todas as condições, pá. Todas! (...) entretanto, eu vou falar este
fim-de-semana com o nosso amigo Armando, pá ...e... e...Eh pá... Ele tem condições
para ,fazer, pá, Pá, o Presidente de um Banco tão importante como aquele, com os
mais variados negócios, pá ... E o senhor é um homem de negócios, pá, e podia... e o
senhor pode dar um ( imperceptível) muito grande aos negócios, pá", já para nem
mencionar aquela entre Manuel Godinho e Lopes Barreira, em 10/4/09, na qual este
último faz alusões dos quais se infere que até junto do primeiro ministro o recorrente
terá intervindo a favor do primeiro e contra as posições assumidas pelo ( depreende-se)
presidente da REFER, no gajo [que] continua a lixar-nos", é forçoso concluir que o
papel do recorrente, tal como surge delineado através da soma das vários indícios, não
pode ter sido outro senão aquele que 'foi considerada no despacho recorrido. Como
bem salienta o Mº Pº, é evidente que não foi objectivo do recorrente "resolver
problemas com o grupo EDP provenientes da anterior relação do Manuel Godinho com
a EDP ao promover os contactos com o arguido Paiva Nunes" – a quem, aliás, o
apresentou dando-lhe "referências extraordinárias", como resulta claramente da
conversa entre Lopes Barreira e Paiva Nunes no dia 30/6/09, na qual o primeiro, além
do mais, explica ao segundo as razões pelas quais lhe estão a fazer "a vida negra" -
"Desde logo porque o arguido Paiva Nunes exercia funções na EDP Imobiliária, com
a qual o arguido Manuel Godinho não tinha relações", sendo ainda de realçar que o
próprio arguido Paiva Nunes alega ter referido ao arguido Armando Vara quando este
lhe falou no Manuel Godinho que não tinha trabalhos na área dos resíduos tendo
aceitado o contacto devido à especial consideração que tinha pelo arguido Armando
Vara".
Por outro lado, também há indícios de que a intervenção do recorrente não foi
desinteressada ou motivada por interesses de natureza não patrimonial. A sua
intercessão no estabelecimento de contactos com as pessoas com capacidade para
concretizar os negócios almejados por Manuel Godinho, nomeadamente Paiva Nunes, e
o exercício de influência junto delas nesse sentido ( e que culminaram, nomeadamente,
com a celebração do contrato da Rua do Ouro, no Porto, com a EDP por uma soma
muito superior à estimativa anteriormente feita) terão sido disponibilizados em troca de

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vantagens patrimoniais. Assim se infere da conjugação da conversa de 28/5/09 entre o


recorrente e Manuel Godinho com a conversa de 20/6/09 entre este último e, Maribel
Rodrigues, como se considerou no despacho recorrido, nenhuma arbitrariedade se
vislumbrando na forma como ali foi interpretada, tanto a referência, constante da
primeira, aos 25 kms, como reportando-se a uma quantia de 25.000€, solicitada pelo
primeiro ( Manuel Godinho começa por dizer que "você aqui há dias falou-me, falou-
me naquela situação" e, perante a incompreensão manifestada pelo seu interlocutor,
concretiza que “você falou-me em vinte e cinco quilómetros" ) como contrapartida
pelos seus "serviços" e que ele retorquiu que "é para depois, isso é para depois", como
a referência, constante da segunda, aos "documentos ... O cinquenta", resultando do
teor desta que Manuel Godinho ia passar no escritório nessa manhã e pediu à sua
secretária para pôr de imediato numa pasta os documentos" de que disse ir precisar.
Tendo em conta que nesse mesmo dia, em que esta segunda conversa teve lugar,
Manuel Godinho tinha combinado um almoço em sua casa com Lopes Barreira e o
recorrente - almoço esse que, efectivamente, se veio a realizar, como o confirmam o
teor das duas comunicações feitas posteriormente a meio dessa tarde por Lopes
Barreira - é perfeitamente lógico e plausível que os 25 kms (expressão que, obviamente,
não foi utilizada no seu sentido literal e que, correspondendo a 25.000 m, também não
se compreende como poderia designar um número diferente ou superior) não quisessem
significar senão 25.000 €, precisamente metade dos 50 "documentos" ( 50.000 € ) que
Manuel Godinho solicitou à sua funcionária, tudo indicando que se destinavam a ser
entregues e repartidos pelos dois convivas com quem nesse mesmo dia ia almoçar,
ambos inequivocamente empenhados no favorecimento dos negócios daquele.
Considerando o contexto envolvente, as hesitações e o esforço notório em não falar
directamente em dinheiro mas, ainda assim, fazer o seu interlocutor entender aquilo a
que se estava a referir -e ele logo demonstrou ter compreendido, mas não pretender
continuar as referências ao assunto naquele momento e por via telefónica, outra
explicação, minimamente verosímil e convincente, não se descortina, e a dissimulação é
tanto mais notória quando se surpreendem em outras conversas, relativas a assuntos
diferentes, referências expressas a montantes em dinheiro.

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Por tudo o que deixou exposto concluiu-se que nenhuma razão assiste ao
recorrente quando se insurge contra a factualidade que no despacho recorrido foi
considerada como suficientemente, indiciada.

3.2. A discordância do recorrente também incide sobre a qualificação jurídica


que dessa factualidade considerada foi feita, como integradora do crime de tráfico de
influência p. e p, pelo art. 3350 n.º 1 al. A) do C. Penal.

3.2.1. Por um lado, sustenta que o emprego, no corpo dessa norma, do


vocábulo "abuso", em vez de "uso", só ganha sentido útil se não se Iigar à ilegalidade
da decisão pretendida, que a lei pretendeu retratar por essa forma o emprego de meios
"agressivos" e "constrangedores" que não se reconduzem às ameaças ou à coacção,
que a referência expressa ao negócio supõe que o constrangimento tenha um nexo com
a situação profissional do decisor, e. que a influência prevista na norma incriminadora
se tem de revelar sobre a entidade decisora e não sobre quem nela exerça funções, e
nada disto foi demonstrado no caso.

Como tem sido salientado pela ( escassa) doutrina que sobre o tipo legal do
crime de tráfico de influência se tem debruçado, a redacção da norma incriminatória
em questão contém conceitos imprecisos, susceptíveis de gerar dificuldades de natureza
interpretativa, sendo um deles precisamente a expressão "abusar da sua influência".
No entanto, com os sucessivos alargamentos do âmbito da norma
incriminatória, operados pelas alterações que lhe foram sendo introduzidas (4),
deixaram de fazer sentido algumas objecções e entendimentos que foram expendidos à
sombra das suas anteriores redacções. Tal sucede, além do mais, não só com a
necessidade que antes se sentiu em frisar que a utilização do vocábulo "abuso" não tem
ligação com a ilegalidade da decisão pretendida ( o que resulta agora à evidência na
medida em que passou a prever-se que o fim da conduta também pode ser a obtenção
de uma decisão lícita favorável, relevando a determinação dessa natureza da decisão
pretendida apenas para efeitos de moldura penal aplicável, sendo obviamente mais

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severa a que corresponde aos casos em que essa decisão seja ilícita ), mas também, a
nosso ver, com o entendimento que, partindo da consideração de que o tipo é
preenchido "quando o agente celebra o negócio, oferecendo em troca de vantagem
recebida ou prometida a possibilidade de se aproveitar de circunstâncias que lhe
proporcionam uma situação de superioridade sobre o decisor público e que são de
molde a constranger este último a tomar a decisão ilegal pretendida", defendia que a
referência expressa ao negócio supõe "que o constrangimento tenha um nexo com a
situação profissional do decisor" ou seja, que decorra de uma posição de superioridade
que o agente detenha sobre o decisor relacionada corri a sua actividade profissional
(5) ( e isto porque foi eliminada a enumeração exemplificativa do objecto das decisões
ilegais e substituída pela fórmula mais abrangente de qualquer decisão" favorável, seja
ela lícita ou ilícita ). Parece-nos inegável que o sentido mais consentâneo com a
literalidade da norma, na redacção actualmente vigente ( que já o era à data da prática
dos factos ), e também com a intenção do legislador, é o de que a influência pode
resultar de qualquer tipo de ascendente do traficante de influência sobre o decisor, seja
de natureza familiar, profissional, creditícia, religiosa, afectiva ou outra natureza" (6).
E que o abuso dessa influência, tal como propugnado pelo Mº Pº na resposta ao
recurso, não é senão a alteração da finalidade de uma qualquer relação de influência
de um fim socialmente adequado para um fim socialmente censurável (7). Refira-se,
enfim, que a influência em questão pressupõe que o seu exercício, caso se viesse a
concretizar, incidisse (8), não sobre quem exerça um qualquer tipo de funções, mas.
sobre quem tenha capacidade de decisão -não se excluindo a configuração de hipóteses
de tráfico de influência em cascata, e, nem, tão pouco ( mas já com a convocação de
outras normas incriminatórias ), que ao próprio decisor, como contrapartida pela sua
conduta, seja prometida ou entregue uma. determinada vantagem, ou, até, que ele
próprio a solicite, o que não implica' necessariamente que essa capacidade seja
exclusiva da(s) pessoa(s) concreta(s) que dela possa(m) vir a ser alvo, podendo,
perfeitamente e como é comum competir a um órgão colegial, desde que aquele(s)
tenha(m) meios ou disponha(m) de competência para intervir de modo decisivo na sua
formação no sentido pretendido.

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Aqui chegados, estamos em condições de concluir pela falta de razão do


recorrente no que concerne à primeira parte da questão. Sendo públicas e notórias,
para além de transparecerem à evidência dos autos, não só a sua posição social e
económica, como os diversos cargos profissionais e políticos que tem ocupado, bem
como as ligações tanto de natureza política como de grande proximidade relacional
com figuras de primeiro plano ligadas ao poder, é mais do que evidente. a posição a
todos esses níveis influente de que dispunha e que, como se mostra amplamente
indiciado, acordou com o arguido Manuel Godinho, com a contrapartida de uma
quantia pecuniária, utilizar ( valendo-se dela, de forma abusiva, conforme o sentido
acima indicado ), como, aliás, efectivamente utilizou, para conseguir que o arguido
Paiva Nunes - ao tempo vogal do conselho de administração da EDP -Imobiliária e
Participações, S.A. ( sendo de notar o facto de esta empresa ser um dos accionistas,
ainda que minoritário, do BCP), pessoa que conhecia e com quem mantinha contactos e
que, pelei cargo que ocupava, tinha obviamente capacidade seja para aceder a
informação privilegiada, seja para tomar decisões ou determinar o sentido das decisões
em cuja formação também tomava parte -, e não obstante este inicialmente lhe ter
referido não ter negócios na área dos resíduos (9), aceitasse favorecer o universo de
empresas do referido Manuel Godinho ( de quem, note-se, o recorrente lhe deu
"referências extraordinárias"! ) para os efeitos por este pretendidos. Como, aliás, com
assinalável prejuízo para a EDP e, também, para outros potenciais candidatos, veio a
suceder com a adjudicação à 02 do negócio de limpeza do prédio da Rua do Ouro, no
Porto.

3.2.2. o recorrente defende, por outro lado, que a intenção do legislador não
foi a de incluir o crime de tráfico de influências nos crimes cometidas no exercício de
funções públicas, não tendo querido nem definir o seu âmbito subjectivo por referência
à qualidade de funcionário, nem, no âmbito objectivo, ir além da definição. de direito
público de entidade pública. Nessa medida, a lei restringiu as condutas puníveis à
interferência no processo decisório das entidades públicas estaduais, conceito no qual

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não se compreendem nem as empresas concessionárias de serviço público, nem mesmo


as que compõem o sector empresarial do Estado a menos que haja expressa
equiparação. legal, sendo que estas não prosseguem em exclusividade o interesse
público. E assim sucede tanto com a EDP - Energias de Portugal, S.A:, corno com a
EDP -Imobiliária e Participações, S.A., que é uma pura empresa de direito privado:
Além disso, insurge-se contra. o recurso, feito no despacho recorrido, ao conceito
alargado de "funcionário", contido no art. 386° da C. Penal, para definir o conceito de
"entidade pública", considerando que o intérprete não o pode fazer na medida em que o
legislador não quis abranger, no art. 335°, a realidade ali contemplada, e tê-lo-ia feito
de forma expressa se essa tivesse sido a sua intenção, hão se estando perante uma
lacuna que, de toda o modo e existir, não poderia Ser preenchida por a tal obstar o n.º
3 do art.º 1 do C. Penal. Decorrentemente, defende que nem as empresas em questão
são entidades públicas, nem Paiva Nunes pode Ser considerado funcionário, motivo
pelo qual não lhe pode ser imputado o crime em questão.

Embora, neste particular, acompanhemos no essencial a posição que vem


defendida no despacho recorrido, pelas razões mais desenvolvidamente explanadas
pelo Mº Pº na resposta ao recurso, que consideramos inteiramente pertinentes e aqui
damos por reproduzidas, a verdade é que -mesmo na eventualidade de se discordar da
forma como os factos foram juridicamente qualificados naquela decisão -, e como ali
também vem salientado, a ( indiciada) actuação concreta do recorrente, porque se
apresenta como decisiva e determinante no processo de corrupção da arguido Paiva
Nunes, de tal forma que, sem ela, a actividade deste em prejuízo da EDP nunca Se
poderia ter desenvolvido, sempre seria susceptível de integrar a prática (em co-autoria
) de um crime de corrupção activa p. e p. pelo art. 374º n.º 1 do C. Penal, que lhe faz
corresponder uma pena com moldura abstracta idêntica à que se encontra prevista na
aI. a) do n.º 1 do art.º 355º do mesmo diploma legal. Nessa medida, porque sempre
subsiste, e mesmo em patamar de gravidade equivalente, a ilicitude, com relevância
jurídico-penal, da conduta indiciariamente praticada pelo recorrente, entendemos que
uma melhor definição desta questão deve ser relegada para momento ulterior, em
ordem a não condicionar excessivamente. as decisões que a venham a ter directamente

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como objecto. Basta-nos, assim e por ora, reafirmar a ilicitude criminal dessa conduta
e, assente esta, dizer que a eventual e mera incorrecção da qualificação jurídica
apontada não Seria de molde a, por si só, retirar o suporte em que assenta a aplicação
das medidas de coacção, verificados que se mostrem os requisitos de que a lei a faz
depender e cujo preenchimento em seguida iremos conferir.

3.3. O recorrente insurge-se, finalmente, contra a aplicação que lhe foi feita
de outras medidas de coacção, para além do T.I.R., por as considerar violadoras dos
arts. 193° e 204º ( por lapso foi mencionado o art.194°, mas, pela transcrição que da
norma foi feita na motivação do recurso, conclui-se que o recorrente não era a este
preceito, mas sim àquele, que pretendia aludir) do C.P.P., considerando que não se
verificam, no caso, os perigos que as podem fundamentar.
No que concerne ao art. 193º a que o recorrente alude, interessam-nos apenas
para aqui os seus n.ºs 1 e 4, na medida em que os demais respeitam exclusivamente a
uma medida de coacção, a prisão preventiva, diversa das que foram aplicadas. Aí vêm
consagrados os princípios da necessidade adequação e proporcionalidade das medidas
de coacção ( as previstas na lei e só elas - cfr. n.º1 do art. 191º do mesmo diploma ),
em função das exigências cautelares e da gravidade do crime e das sanções que
previsivelmente venham a ser aplicadas no caso concreto, não devendo a sua execução
prejudicar o exercício de direitos fundamentais que não forem incompatíveis com as
exigências cautelares que "o caso requer.
Quanto ao art. 204°, este preceito faz depender o decretamento de qualquer
das medidas de coacção, com excepção do TLR., - e para além quer dos condições
gerais impostos pelo art. 192°. quer das condições específicas atinentes àquela(s) que
em concreto se perfile(m) - da verificação, em concreto, de pelo menos um dos
requisitos enunciados nas suas alíneas.
No despacho recorrido considerou-se ocorrer o perigo aludido na al. b) do
referido art. 204º ( perigo de perturbação do decurso do inquérito e, especificamente,
perigo para a aquisição, conservação ou veracidade da prova ), tendo em conta as
dificuldades concitadas pela natureza do crime em investigação e o sério risco de

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recorrente, para evitar ser acusado e/ou condenado, desenvolver esforços no sentido de
concertar com os demais arguidos estratégias de defesa que dificultem o trabalho da
investigação. Decidiu-se, por isso, aplicar-lhe para, além do T.I.R. que já havia
prestado, a obrigação de não contactar, directa ou indirectamente, com oito dos outros
arguidos, precisamente aqueles que têm ligação, conhecimento e/ou . participação nas
situações em que há indícios ou suspeitas de também estar envolvido, e, com vista a
garantir o cumprimento dessa medida, caução que foi fixada em 25.000 €.
Qualquer das medidas impostas é admissível, face à natureza da pena e
respectiva moldura abstracta que correspondem ao crime indiciariamente praticado
pelo recorrente, sendo evidente a inexistência de ofensa ao princípio da
proporcionalidade.
No que toca à verificação do perigo que fundamentou a sua aplicação - e só
este para aqui interessa - mostram-se, uma vez mais, inteiramente certeiras as
considerações que o Mº Pº teceu na resposta ao recurso ( sintetizadas nas conclusões
31ª a 34ª), nas quais se salienta o papel de charneira desempenhado pelo recorrente, a
importância que os demais arguidos lhe atribuem, a sua capacidade de influência, de
intervenção e de cobertura social, económica e política de eventuais actos ilícitos,
decorrendo dos contornos da sua actuação tal como indiciada, e, bem assim, da
própria natureza da rede alargada em que se movimentava, o risco, não meramente
hipotético, mas sério e consistente, de que ele, tal como antes procurou rodear-se das
mais variadas cautelas para dissimular a sua conduta, procure agora evitar que
relativamente à verificação e extensão da mesma sejam recolhidas e conservadas as
necessárias provas.
Não nos sofrendo dúvida, face aos elementos constantes dos autos, a
existência do perigo em questão, também se mostram adequadas as medidas de
coacção aplicadas, senão pela sua eficácia, pelo menos porque não deixarão de
exercer uma função dissuasora, tornando mais difícil e arriscado o desenvolvimento
dos contactos e movimentação de influências que se pretendem evitar.

4. Decisão
Nos termos e pelos fundamentos expostos, negam provimento ao recurso,

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mantendo integralmente a decisão recorrida.


O recorrente pagará 5 UC de taxa de justiça.
Porto, 10 de Novembro de 2010 “ (sic)

(2) Havendo apenas que assinalar que a conversa de 20 de Abril


entre Manuel Godinho e Namércio Cunha não consta como ali foi referido, do
produto 7118, mas sim do produto 7183, do. Alvo lTI67PM, e que o RDE que
documenta o almoço do dia 23/5/09 consta, tanto quanto resulta do apensos,
não de fls., 2725-2784, mas de fls. 2752-2784 .

(3) Designação aliás que, na linguagem coloquial, não significa


necessariamente que o visado exerça funções de chefia e que, no contexto em
que foi utilizada, terá apenas querido qualificar a pessoa que teria capacidade
para arranjar ao suplicante o trabalho almejado.

(4) As diferenças são bem notórias se fizermos a análise comparativa


das sucessivas redacções:
• a do DL n.º 48/95 de 15/3: "Quem obtiver, sem que lhe seja devida, para si
ou para terceiro, vantagem patrimonial ou a Sua promessa, para, abusando da sua
influência, conseguir de entidade pública decisão ilegal sobre encomendas,
adjudicações, contratos, empregos, subsídios, subvenções ou outros benefícios é punido
com pena de prisão de 6 meses a 5 anos, se pena mais grave lhe não couber por força de
outra disposição legal."
- a da Lei n.º 65/98 de 2/9: "Quem, por si ou por interposto pessoa, com o
seu consentimento ou ratificação, solicitar ou aceitar, para 'si' ou pata terceiro,'
vantagem patrimonial ou não património, ou a sua promessa, para abusar da sua
influência, real ou suposta, com o fim de obter de entidade pública encomendas,
adjudicações, contratos, empregos, subsídios, subvenções, benefícios ou outras decisões
ilegais favoráveis. é punido com pena de prisão de 6 meses a 5 anos, se. peno mais
grave lhe não couber por força de outra disposição legal";

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- a actualmente vigente introduzida pela Lei n.º 108/01 de 28/11: "1-


Quem, por si ou por interposta pessoa, com o seu consentimento ou ratificação.
solicitar ou aceitar. paro si ou para terceiro, vantagem patrimonial ou não patrimonial.
ou a sua promessa. para abusar da sua influência, real ou suposta. junto de qualquer.
entidade pública, é punido:
a) Com pena de prisão de 6 meses a 5 anos, se pena mais grave lhe não couber
por força de outra disposição legal, se o fim for o de obter uma qualquer decisão ilícita
favorável;
b) Com pena de prisão até 6 meses ou com pena de multa até 60. dias, se pena
mais grave lhe não couber por força de outra disposição legal se o fim for o de obter
uma qualquer decisão lícita favorável.
2 -Quem, por si ou por interposta pessoa, com o seu consentimento ou
ratificação, der ou prometer vantagem patrimonial ou não patrimonial às pessoas
referidas no número anterior poro. os fins previstes no alínea a) é punido
com peno de prisão até 3 anos ou com pena de multa,
(5) Assim. Pedro Caeiro, Comentário Conimbricense ao Código. Penal, t. III,
págs. 280-281, ( em face da versão. resultante da Lei nº 65/98 ) seguindo o.
entendimento defendido por Margarida Silva Pereira, no estudo a págs. 253ss ( este
1endo como objecto a versão originária da norma, antes das alterações que corrigiram
vários aspectos que ali foram alvo de criticas) das Jornadas sobre a revisão do Código
Penal, 1998, que considera serem três os pressupostos em que assenta o abuse de
influência penalmente relevante, a saber – “constrangimento ou pressão sobre entidade
pública; um constrangimento “funcional". relativo ao exercício do cargo público:
poder"' pessoal do traficante para provocar efeitos que o decisor tema - e capacidade de
constrangimento por isso".
(6) Paulo Pinto de Albuquerque, Comentário do Código Penal, pág. 810.
(7) Desta forma, o abuso de Influência quadra de forma perfeita também aos
casos em que a decisão favorável pretendida é uma decisão lícita.
(8) Note-se que “A incriminação visa atingir os comportamentos prévios ao
acto de corrupção. antecipando a tutela penal para o acto do negócio sobre o poder de

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influenciar o decisor" e que "O crime consuma-se com a solicitação ou aceitação da


vantagem pelo traficante de influência, Sendo irrelevante se o traficante de influência
efectivamente vem a exercer a sua influência junto do decisor." - cfr. P,P, de
Albuquerque. ob. cit. págs. 810-811.
(9) A ultrapassagem desta dificuldade também é susceptível de demonstrar
uma incapacidade de resistir às pressões exercidos pelo recorrente, sendo sabido que, no
meio cultural. social e político em que ambos se movimentam, as abordagens dessa
natureza por vezes até são muito subtis, sem que. por isso. deixem de ser extremamente
eficazes.

Aderimos às razões de direito do douto acórdão, cuja doutrina não se


vê motivos para abandonar e ao essencial da ponderação dos factos que
efectua com as correcções adiante assinaladas, porque foram confirmados
pela investigação posterior e não se mostram infirmados pela prova produzida
na instrução.

A prova testemunhal ouvida em instrução a requerimento do Dr.


Armando Vara procurou, mais uma vez, fornecer pistas sobre os eventuais
significados no meio bancário da referência a 25 Km. que na acusação se
interpreta como se referindo à quantia de 25.000 euros (artigos 1347.º e 1348.º
- Produto 18 do Alvo 39264M – Transcrições 1, fls. 8 a 10 - Manuel Godinho –
a 28/05/2009).
Resulta dos depoimentos em instrução que a expressão no meio
bancário poderia ter interpretações diversas, quer de 250.000 euros quer de
2.500.000 euros, mas o interesse destas interpretações é muito diminuto, uma
vez que a expressão foi usada por Manuel Godinho, que não é bancário.
O próprio arguido Dr. Armando Vara quando foi ouvido em instrução
(por volta do minuto 56) reconheceu que a utilização da expressão poderia
resultar de Manuel Godinho não querer falar abertamente em dinheiro ao
telefone, mas apesar disso continua a sustentar que a conversa se referia ao

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

contrato de “factoring” a celebrar entre o grupo de empresas de Manuel


Godinho e o BCP referindo que no dia 1 de Julho de 2009 quando se reuniu
com Manuel Godinho no Porto foi para lhe comunicar que o contrato não iria
avançar devido aos problemas das empresas, nomeadamente fiscais ( por
volta da 1H25) e que o fez depois duma reunião com o Director do BCP, Dr.
Virgílio Luís de Sousa Repolho.

Mais adiantou que não tinha conhecimento de que Manuel Godinho


reservava um número de telemóvel só para o contactar e que nunca soube que
o seu telefone estava sob escuta pelo que a reunião do dia 01-07-2009 no
Porto não se destinou a avisar Manuel Godinho dessa circunstância, nem
mudou de número de telemóvel ou de aparelho de telemóvel nessa ocasião.

O Dr. Vítor Repolho, ouvido na instrução em 12-01-2011, referiu que o


único contacto entre o BCP e o representante do grupo de empresas de
Manuel Godinho, Dr. António Gomes, ocorreu em Dezembro de 2008 por
indicação do Dr. Armando Vara, ficando o BCP a aguardar a entrega de
documentação de natureza contabilística e financeira, contacto que nunca mais
ocorreu, não tendo referido qualquer reunião posterior com o Dr. Armando Vara
nem a existência de decisão sobre o processo, pelo que não se apresenta
como credível a versão alternativa apresentada pelo Dr. Armando Vara quer
para a conversa do dia 28/05/2009, quer para a justificação da reunião do dia 1
de Julho de 2009 nas instalações do BCP no Porto referida no artigo 1405.º da
acusação e documentada pelas fotografias da RDE de fls. 3328 a 3333 –
Volume 11.

A prova que suporta os artigos 1303.º e 1405.º da acusação contraria


a nosso ver as afirmações do Dr. Armando Vara.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

O telemóvel reservado por Manuel Godinho para os contactos com


Armando Vara a que alude o artigo 1303.º da acusação tinha o número 912
032 873 e, tendo sido colocado sob escuta, foi-lhe atribuído o Alvo 39264M.
No Apenso 13 Alvo 39264M constam os relatórios das intercepções e
as tabelas das comunicações ocorridas durante o período da intercepção e,
compulsados os dados aí reunidos,constata-se que o telemóvel era utilizado,
quase exclusivamente para contactos com o arguido Armando Vara e,
posteriormente, para contactos com o arguido Paiva Nunes, por indicação de
Armando Vara.
Das mesmas tabelas de comunicações extrai-se que o telemóvel
inicialmente usado pelo arguido Armando Vara para contactar Manuel Godinho
e ser por este contactado tinha o número 963 965 760 que se encontrava
igualmente sob escuta, sob o Alvo 1X372M.
Exactamente no dia 1 de Julho de 2009, pelas 15H33, Manuel
Godinho ligou para Armando Vara para um número que até então nunca usara
– 917 018 262 – conforme consta do produto 74 (fls. 22 e tabela de fls. 23 do
Apenso 13 Alvo 39264M) onde, por coincidência, foi combinado o encontro no
Porto.
A partir dessa data, os contactos entre Armando Vara e Manuel
Godinho estabeleceram-se através do referido número 917 018 262 e também
do número 960 294 962 (Produto 88 fls. 28 e tabela de fls. 29 do Apenso 13
Alvo 39264M) mas não voltaram a ocorrer contactos com o número do Dr.
Armando Vara 963 965 760, que se encontrava sob escuta, através do Alvo
1X372M, apesar do número continuar a ser por este utilizado noutras
comunicações.
Dos produtos 72 e 74 do Alvo 39264M – Transcrições 1, fls. 16 a 19 e
13896 do Alvo 1T167PM-Transcrições 4, fls. 159, retira-se que a reunião foi
preparada com extremo cuidado, por forma a ser combinada através do
contacto com telemóvel do Dr. Armando Vara que não se encontrava sob
escuta e foi rodeada de expressas preocupações de sigilo por parte de Manuel

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Godinho, conforme resulta do teor do produto 13896 do Alvo 1T167PM, que a


seguir se reproduzem para melhor enquadramento:

PRODUTO Nº: 00072 DATA/HORA: 01/07/09 13:27:26


INTERVENIENTES:
DE – Manuel Godinho
PARA – Armando Vara

ARMANDO VARA – (imperceptível)


MANUEL GODINHO – Si, senhor doutor.
ARMANDO VARA – Sim.
MANUEL GODINHO – Tá?
ARMANDO VARA – Olá, viva, passou bem?
MANUEL GODINHO – Tudo bem, obrigado. Eh, o senhor quando
poder ligue-me, tá bem?
ARMANDO VARA – Tá bem, tá bem. Vou, ligo-lhe aí por volta das
três, três e qualquer coisa, tá bem?
MANUEL GODINHO – Tá bem. Ok. Obrigado.
ARMANDO VARA – Então vá. Um abraço
MANUEL GODINHO – Tá.

PRODUTO Nº: 00074 DATA/HORA: 01/07/09 15:33:40


INTERVENIENTES:
DE – Manuel Godinho
PARA – Armando Vara

ARMANDO VARA – Sim.


MANUEL GODINHO – Sim, senhor doutor.
ARMANDO VARA – Olá, viva.
MANUEL GODINHO – Tá tudo.
ARMANDO VARA – Tudo bem. Consigo também?
MANUEL GODINHO – (imperceptível) Também. Eh, você deve ter
lido no jornal que eu tive aqui uma busca, não sei quê, não é?
ARMANDO VARA – Sim, sim, sim.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Pronto, mas é para lhe dizer que, que eu não
tenho nada a, não tenho nada que me aponte, não é?
ARMANDO VARA – Sim.
MANUEL GODINHO – Eh.
ARMANDO VARA – Quando é, quando é que vem a Lisboa?
MANUEL GODINHO – Eh, posso ir, quando é que você tem, tem
disponibilidade?
ARMANDO VARA – Eh, eu estou no Porto, hoje.
MANUEL GODINHO – Você está no Porto?
ARMANDO VARA – Estou no Porto.
MANUEL GODINHO – Pois. E a que horas é que vem para baixo?
ARMANDO VARA – Eh, eh, o senhor está onde?
MANUEL GODINHO – Eu estou em Ovar.
ARMANDO VARA – Então, se calhar, até poderíamos, quer, tem, tem
hipótese de dar um saltinho à D. João I, hoje, ao fim da tarde?
MANUEL GODINHO – Aonde, aonde?
ARMANDO VARA – Aqui ao Porto, à D. João I.
MANUEL GODINHO – À D. João I?
ARMANDO VARA – Que é a sede do BCP.
MANUEL GODINHO – Ai, à sede do BCP.
ARMANDO VARA – Praça D. João I.
MANUEL GODINHO – Você vai ficar aí até que horas?
ARMANDO VARA – Eu estou aqui até por volta das seis e meia, sete
horas. Portanto, seis, se você tivesse oportunidade, eu, trocávamos umas
impressões às seis e meia, por, seis e meia, sete.
MANUEL GODINHO – Eh, eh, D. João I, D. João I. Ok.
ARMANDO VARA – D. João I, é a Praça D. João I.
MANUEL GODINHO – Mas você vem para baixo hoje, não vem?
ARMANDO VARA – Eu vou, eu vou para baixo sim.
MANUEL GODINHO – A que horas, por exemplo?
ARMANDO VARA – Mas, mas não estou só. Estou, vou com mais
gente, não é?
MANUEL GODINHO – Ah! Eh, pronto, eu vou aí. Seis e meia estou aí.
ARMANDO VARA – Não, é que há um assunto que eu gostava de
lhe falar, tá bem?

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S. R.

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MANUEL GODINHO – Seis horas, seis e meia estou aí, tá bem?


ARMANDO VARA – Então, seis e meia, sete, tá bem? Seis e meia.
MANUEL GODINHO – Seis e meia, sete. Ok. Tá
ARMANDO VARA – Na entrada, cá em baixo, diz que vem falar
comigo e eles mandam-no subir, tá bem?
MANUEL GODINHO – Tá bem. Ok.
ARMANDO VARA – Então vá. Até logo. Um abraço.
MANUEL GODINHO – Até logo.

PRODUTO Nº: 13896 DATA/HORA: 01/07/2009 15:38:09


INTERVENIENTES:
DE – MANUEL GODINHO
PARA – João Godinho

MANUEL GODINHO – Sim


João Godinho - Sim
MANUEL GODINHO – Ó João, eu precisava logo uma pessoa para ir
comigo, ao Porto, à Av. D. João I; onde é isso ?
João Godinho - Não faço a mínima ideia
MANUEL GODINHO – Mas precisava de lá ir à sede do BCP
João Godinho - E em quem é que estavas a pensar ?
MANUEL GODINHO – É pá, eu quero um gajo que conheça o Porto
João Godinho - Quem é capaz de conhecer bem, não se queres ir é
o (…) Costa, ele é de lá
MANUEL GODINHO – É que eu não me convinha muito; mas pode
ser isso
João Godinho - A que horas é que tens que estar lá ?
MANUEL GODINHO – tenho que lá estar às seis e meia
João Godinho - Se quiseres, se quiseres, eu vou contigo e vamos 3,
eu depois fico cá em baixo com ele e tu vais á tua vida, para ele não dizer que
está, estás a perceber ?
MANUEL GODINHO – Nem posso
João Godinho - Eu depois fico com ele cá em baixo e tu vais á tua
vida

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – portanto, convinha-me que fosse uma pessoa


no carro, no carro dele, percebes e eu depois desenrascava-me, estás a
perceber ?
João Godinho - Estou a perceber. Eu acho que aquilo fica ao pé de
um, Tivoli
MANUEL GODINHO – Pronto, pergunta onde é e às tantas ele indica-
me o caminho e depois vem à vida dele, percebes ?
João Godinho - Sim
MANUEL GODINHO – E eu fico
João Godinho - Está bem; ok
MANUEL GODINHO – tenho é que falar com a mamã por via do
jantar
João Godinho - Tu não vais jantar a casa ?
MANUEL GODINHO – Pois não posso
João Godinho - Eu vou, eu vou, eu digo-lhe a ela e ela vem jantar a
minha casa
MANUEL GODINHO – Eu vou falar com ela já, ok?
João Godinho - está bem, então; ok.
MANUEL GODINHO – está; pedi agora uma chamada para lá
João Godinho - está bem, ok
MANUEL GODINHO – ok ? Até já.

Sublinhe-se que a reunião só é marcada quando a comunicação é


efectuada para o telemóvel do Dr. Armando Vara que não está sob escuta e
que é este que refere a Manuel Godinho a necessidade de um encontro, que
sugere que se realize no Porto e acentua que existe um assunto que lhe
gostava de falar, demonstrando uma urgência que não é justificável pelo
negócio de “factoring” que se arrastava desde Dezembro de 2008 sem que,
quer o BCP quer Manuel Godinho tivessem demonstrado qualquer
preocupação ou urgência na conclusão do processo.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Na conversa com João Godinho são evidentes os cuidados que


Manuel Godinho toma para que o Paulo, que lhes indicará o caminho, não fique
a saber que o Manuel Godinho iria à sede do BCP no Porto.
Manuel Godinho rodeou sempre de extremo cuidado todas as acções
e preparativos dos contactos com o Dr. Armando Vara, como por exemplo a
referência aos “cinquenta documentos” no produto 12676 do Alvo 1T167PM –
Transcrições 4, fls. 64, em conversa com a Maribel no dia 20-09-2009 às
09H11 (artigos 480.º e 1385.º da acusação), cuidados que nem sempre tomava
como resulta, por exemplo, do produto 14164 do Alvo 1T167PM – Transcrições
4, fls. 188, que se transcreve:

PRODUTO Nº: 14164


DATA/HORA: 03/07/2009 – 09h00m28s
INTERVENIENTES:
• DE – Maribel Rodrigues
• PARA – Manuel Godinho

MANUEL GODINHO – Tou?


MARIBEL RODRIGUES – O Mário Pinho está a caminho daí de baixo...
MANUEL GODINHO – Oh, foda-se…
MARIBEL RODRIGUES – Respondo...
MANUEL GODINHO – É pá, mete-lhe, mete-lhe duzentos e cinquenta
contos num envelope e dá-lhe, que eu não o quero aturar... Olhe ó… vem aí o
Mário Pinho, diz que eu não estou… (imperceptível). Tou?
MARIBEL RODRIGUES – Sim?
MANUEL GODINHO – Mete-lhe um envelope com duzentos e
cinquenta contos e corre com o cabrão do gajo, que eu vou-me esconder aqui,
OK?
MARIBEL RODRIGUES – Tá, até já.
MANUEL GODINHO – Até já.

592
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Ou as conversações dos produtos 2606 e 2621 do Alvo 1T167PM –


Transcrições 1, fls. 176, onde se refere uma quantia em dinheiro para meter
num envelope, posteriormente referido como envelope com “documentos”:
PRODUTO Nº: 2606
DATA/HORA: 26/02/09 11:49:53
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – Maribel Rodrigues

MANUEL GODINHO – Sim?


Desconhecida – ... Maribel?
MANUEL GODINHO – Passe. Tou?
Maribel Rodrigues – Sim
MANUEL GODINHO – Maribel, meta-me 2 500,00€ num
envelope que eu preciso de pagar umas coisas, tá bem?
Maribel Rodrigues – Mas, agora ou é para depois de
almoço?
MANUEL GODINHO – Não. Para depois de almoço.
Maribel Rodrigues – Tá bem, tá bem.
MANUEL GODINHO – À hora e meia, tá bem?
Maribel Rodrigues – Tá bem, tá bem.
MANUEL GODINHO – Até já.
Maribel Rodrigues – Tá, até já.

PRODUTO Nº: 2621


DATA/HORA: 16/02/09 12:53:27
INTERVENIENTES:
• DE – Maribel Rodrigues
• PARA – Manuel Godinho

MANUEL GODINHO – Sim.


Maribel Rodrigues – Eu vou sair agora para almoçar, você
quer que deixe
MANUEL GODINHO – vai sair para almoçar, é?
Maribel Rodrigues – Diga?

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Só agora?


Maribel Rodrigues – Só agora é que vou sair?
MANUEL GODINHO – Quantas toneladas é que deu?
Maribel Rodrigues – Vinte e sete.
MANUEL GODINHO – Só?
Maribel Rodrigues – Vinte e sete e setecentos. Quinhentos o
noventa.
MANUEL GODINHO – Ok.
Maribel Rodrigues – Eh, você quer que deixe o envelopes
dos documentos ali no gabinete ou
MANUEL GODINHO – Deixe aí no gabinete. A Catarina está
aí?
Maribel Rodrigues – Está.
MANUEL GODINHO – Ou deixe à Catarina, ou a uma pessoa
qualquer. A Manuela tá?
Maribel Rodrigues – Está a Catarina e está a Manuela.
MANUEL GODINHO – Tá bem. Ok.
Maribel Rodrigues – Então, entrego a elas, o envelope?
MANUEL GODINHO – Eh, ou deixe em cima, debaixo da
minha secretária, debaixo dos papeis.
Maribel Rodrigues – Eu deixo
MANUEL GODINHO – Tá bem?
Maribel Rodrigues – Tá, até já.
MANUEL GODINHO – Tá, até já.

Como se refere no acórdão da Relação do Porto “é perfeitamente lógico


e plausível que os 25 kms (expressão que, obviamente, não foi utilizada no seu sentido
literal e que, correspondendo a 25.000 m, também não se compreende como poderia
designar um número diferente ou superior) não quisessem significar senão 25.000 €,
precisamente metade dos 50 "documentos" ( 50.000 € ) que Manuel Godinho solicitou à
sua funcionária, tudo indicando que se destinavam a ser entregues e repartidos pelos
dois convivas com quem nesse mesmo dia ia almoçar, ambos inequivocamente

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S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

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empenhados no favorecimento dos negócios daquele. Considerando o contexto


envolvente, as hesitações e o esforço notório em não falar directamente em dinheiro
mas, ainda assim, fazer o seu interlocutor entender aquilo a que se estava a referir -e
ele logo demonstrou ter compreendido, mas não pretender continuar as referências ao
assunto naquele momento e por via telefónica, outra explicação, minimamente
verosímil e convincente, não se descortina, e a dissimulação é tanto mais notória
quando se surpreendem em outras conversas, relativas a assuntos diferentes,
referências expressas a montantes em dinheiro.”

Apesar do alegado no RAI do arguido Lopes Barreira são múltiplas as


intercepções telefónicas de conversas entre o arguido Lopes Barreira e Manuel
Godinho em que este alega ir almoçar ou jantar com o Mário Lino ou a Ana
Paula Vitorino para que ambos convencessem o Pardal a desistir de se opor às
pretensões de Manuel Godinho nos conflitos que mantinha com a REFER,
nomeadamente o caso relativo à acção judicial, os contenciosos relativos à
execução do contrato das travessas bi-bloco, o afastamento da sociedade O2
da lista de fornecedores privilegiados da REFER, a exigência nos concursos da
inexistência de dívidas (ou litígios sobre dívidas) com a REFER.

Bastando-se a prática do crime de tráfico de influência com o abuso de


influência real ou suposta , verifica-se que são múltiplas as vezes em que o
arguido Lopes Barreira invoca a sua influência (sobre o Mário Lindo a Ana
Paula Vitorino e o próprio Luís Pardal) e a coloca expressamente ao serviço
dos interesses do Manuel Godinho.

A título de mero exemplo transcrevem-se partes de intercepções em


que é interveniente o arguido Lopes Barreira:

PRODUTO Nº: 6358 DATA/HORA: 2009-04-10 inicio 11:03:23


INTERVENIENTES:
DE – Lopes Barreira

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S. R.

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PARA – Manuel Godinho

MANUEL GODINHO – Sim.


LOPES BARREIRA – Tá lá.
LOPES BARREIRA – Tá. Olhe a ver se para a semana,
vamos, agente.
MANUEL GODINHO – Está bem, veja um dia que lhe
convenha, gostava de estar consigo.
LOPES BARREIRA – Também eu.
MANUEL GODINHO – Está bem.
LOPES BARREIRA – A Ana Paula vem cá almoçar comigo a
minha casa segunda-feira.
MANUEL GODINHO – Ah.
LOPES BARREIRA – Ela vem cá almoçar, eu já lhe disse a
ela, está ali aquele gajo que é um tipo altamente chato e não sei o quê e
ela disse-me havíamos de conversar um bocado. Ela foi simpática.
MANUEL GODINHO – Foi?
LOPES BARREIRA – Olhe, o Lino ía lá dia sim dia não.
MANUEL GODINHO – Mas o gajo não faz cedências
LOPES BARREIRA – Não.
MANUEL GODINHO – O gajo continua a lixar-nos.
LOPES BARREIRA – Pois continua a mim e a si, a mim e a si,
aos dois.
MANUEL GODINHO – Mas ele tem indicações de alguém, de
certeza.
LOPES BARREIRA – Eu não faço ideia. O Sócrates sabe
perfeitamente o que se passa.
MANUEL GODINHO – Pois.
LOPES BARREIRA – Sabe tudo, tanto que disseram já várias
vezes, o Armando, esteve sempre a dizer. Mas para a semana falamos
no assunto.
MANUEL GODINHO – Diga.
LOPES BARREIRA – Para a semana fala-mos.

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S. R.

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MANUEL GODINHO – Está bem é melhor falarmos


pessoalmente.
LOPES BARREIRA – Olhe, também lhe ia ligar hoje para lhe
desejar boa páscoa e para todos os seus.
MANUEL GODINHO – Está bem. Eu também ando para lhe
ligar há uns dias, mas acontece que nunca sei quando é que você está
disponível.
LOPES BARREIRA – Pois, agora estou.
MANUEL GODINHO – Pronto é isso.
LOPES BARREIRA – Olhe, Sr. Godinho.
MANUEL GODINHO – Eu para a semana, para a semana
você veja um dia que lhe convenha.
LOPES BARREIRA – É. Depois eu ligo-lhe e encontramo-nos.
MANUEL GODINHO – Eu dou ai um salto, está bem?
LOPES BARREIRA – Está bem. Está bem. Olhe.
MANUEL GODINHO – Uma boa páscoa para si.
….
PRODUTO Nº: 12721
DATA/HORA: 20-06-2009 17:33:35
INTERVENIENTES:
• DE – MANUEL GODINHO
• PARA – LOPES BARREIRA

LOPES BARREIRA – Ó Sr. Ma... Sr. Godinho


MANUEL GODINHO – Ó Sr. Dr. Então? Está a fazer boa viagem?
LOPES BARREIRA – Foi óptima, está óptima. Olhe...
MANUEL GODINHO – É?
LOPES BARREIRA – Foi... O Armando...
MANUEL GODINHO – É, mas vocês chegaram mesmo à queima, não foi?
LOPES BARREIRA – Foi, um minuto depois, veja lá, mas sem... oh, foi giro,
pá, foi giro. Agora foi muito bom, muito agradável, foi realmente, a, o almoço em sua
casa, aquele convívio, a sua senhora, fantástica, pá,
MANUEL GODINHO – Humm

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S. R.

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LOPES BARREIRA – A sua nora, aquela gente toda, os seus filhos, são
form..., olhe, o sr. tem dois filhos fantásticos, ã?
MANUEL GODINHO – É bom, são bons rapazes, às vezes, às vezes,
quando não me chateiam
LOPES BARREIRA – Não, mas Sr. Godinho, digo-lhe uma coisa, são
pessoas muito responsáveis, pá
MANUEL GODINHO – É
LOPES BARREIRA – Ã? E está tudo... e gira...
MANUEL GODINHO –São bons rapazes
LOPES BARREIRA – E gira tudo em volta do patrão, ã? Eheheh
MANUEL GODINHO – É um bocado isso, é um bocado isso
LOPES BARREIRA – O Patrão comand... É o comandante.
MANUEL GODINHO – É, eheheh
LOPES BARREIRA – Não é? Olhe...
MANUEL GODINHO – Sim, sim
LOPES BARREIRA – Aquilo que o Armando lhe disse, eu concordo, pá, que
isto não pode ficar assim, tem que se ver aí...
MANUEL GODINHO – Não, eu um dia desta semana, antes de eu reagir
LOPES BARREIRA – Mas eu queria fazer uma coisa
MANUEL GODINHO – Eu encontro-me consigo em Lisboa e a gente fala
LOPES BARREIRA – Eu até ia fazer uma coisa, ia, ia, ia, ia, pôr, pôr a
questão, fica aqui entre nós, nem diga nada ao Armando, ia pôr a questão ao
Lino, hum?
MANUEL GODINHO – Sim, é isso que eu pretendo, tá a ver?
LOPES BARREIRA – Sim, porque o Lino, o Lino está, também, está farto do,
do Vicente Pereira e do, e pá e o gajo tá ali amarrado que a Ana Paula põe-lhe ali os
(imperceptível) e portanto queria perguntar ao Lino, queria perguntar, falar com o gajo,
ver como é que, que, qual é a melhor maneira, porque isto não pode ficar incólume,
pá, porra, pá. Foi uma coisa do outro mundo, hã?
MANUEL GODINHO – Não, isso eu, um dia desta semana quando você tiver
disponível
LOPES BARREIRA – É, é, a gente, a gente encontra-se lá. É, é isso
MANUEL GODINHO – A gente encontra-se em Lisboa e conversa sobre isso

598
S. R.

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LOPES BARREIRA – É. E conversa sobre isso. Eu já vou adiantando, vou


ver se para a semana, eu vou... logo à noite ou amanhã, digo ao Lino para ele vir ter
comigo
MANUEL GODINHO – Tá bem
LOPES BARREIRA – E já começo a trocar impressões com o gajo, a ver o
que é que ele diz
MANUEL GODINHO – É isso
LOPES BARREIRA – Hã? Porque agora, vai acontecer uma coisa
MANUEL GODINHO – Humm
LOPES BARREIRA – Isto é tudo umas putas, agora o Vicen..., o Vicente
Pereira como hoje, politicamente está assim um bocado frágil
MANUEL GODINHO – Pois
LOPES BARREIRA – Vai fazer uma inversão, está a perceber? E portanto,
vai haver aí, vai haver aí
MANUEL GODINHO – Não, mas esse, esse indivíduo, esse dr. não vale
nada, ó sr. dr.
LOPES BARREIRA – Nada, nada
MANUEL GODINHO – E temos que ter cuidado com ele
LOPES BARREIRA – É evidente, mas o Lino, que o meteu lá, ainda outro
dia me disse, disse — É pá, já apanhei o gajo em tanta coisa má — Eu disse, então,
não compreendo, se apanhaste o gajo em coiso, porque é que não corres com o gajo?
— É pá, mas isto está no fim, não sei quê
MANUEL GODINHO – Está no fim, está no fim, mas ainda vai lá andar uns
meses, não é?
LOPES BARREIRA – É, é, é, mas o gajo diz... O... o Lino não toma..., eh pá,
não sei pá
MANUEL GODINHO – O Lino...
LOPES BARREIRA – É bom rapaz, pá, é bom rapaz. Ainda hoje...
MANUEL GODINHO – Quem manda, quem manda é ela, não é?
LOPES BARREIRA – É, quem manda é ela. Ela está, ela está, ela está
completamente queimada. Mas não fazem nada
MANUEL GODINHO – Ela está queimada, mas o problema
LOPES BARREIRA – Ó Sr. Godinho...

599
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Você ouviu... você ouviu o nosso amigo a dizer que
ela, que ela que ía demitir o... o Cardoso?
LOPES BARREIRA – Foi, foi
MANUEL GODINHO – Você ouviu
LOPES BARREIRA – E eu sei... Eu sabia disso
MANUEL GODINHO – Pois
LOPES BARREIRA – É que ela, repare uma coisa, eu não... há coisas que
eu não entendo, ã? O Sócrates, pá, é contra ela, que ela isto que ela aquilo. Ele diz,
diz mal dela. Não é?
MANUEL GODINHO – Pois
LOPES BARREIRA – Ela, ela diz mal do Lino, ã?
MANUEL GODINHO – Não, mas compreende-se a posição do chefe neste
momento
LOPES BARREIRA – Pois
MANUEL GODINHO – Era mais um problema, está a ver?
LOPES BARREIRA – É pois é, é isso. Ela diz mal do Lino...
MANUEL GODINHO – Porque os problemas, de problemas está o pessoal ...
LOPES BARREIRA – É. O Lino, sabe o que é que ela, o que é que ela diz
dele. Tá a perceber? Que o gajo se deixa dormir e que o gajo não sei quê. E o gajo...
Eu disse... Eu disse ao Lino várias vezes, já — Então porra pá, diz mal de ti, que tu
isto, e tu aquilo, pá, e tu que é? Como é que é? — Eu até lhe disse, até disse ao Lino
— É pá, não me digas que andas a comer a gaja
MANUEL GODINHO – Pois
LOPES BARREIRA – Eu disse ao Lino: eheheh “Dá a ideia que andas a
comer a gaja”.
MANUEL GODINHO – Também fracos gostos, que... Ela pesa para aí cento
e cinquenta quilos
LOPES BARREIRA – Eheheh, fracos gostos, ehehe
MANUEL GODINHO – É muito mais gorda que (imperceptível)
LOPES BARREIRA – Poça, ok Sr. Godinho, eheheh
MANUEL GODINHO – Essa não, é não desejar esse mal ao sr. que ele não
merece

600
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

LOPES BARREIRA – Sim, sim, ehehe, ai, ai, ai. Pois, olhe, foi um dia
estupendo, estupendo
MANUEL GODINHO – É, para a semana, veja o dia que esteja disponível
que eu almoço consigo aí em Lisboa
LOPES BARREIRA – É, ok, ok. Depois, eu ligo-lhe e encontramo-nos, está
bem?
MANUEL GODINHO – Tá, sr. dr.
LOPES BARREIRA – Olhe, um grande abraço...
MANUEL GODINHO – Tá. Continuação de boa viagem. Um grande abraço
LOPES BARREIRA – Cumprimentos para os seus filhos, cumprimentos
p’ra...para a sua senhora e para todos
MANUEL GODINHO – Tá, igualmente para vocês.
LOPES BARREIRA – E muito obrigado por tudo. Bem haja.
MANUEL GODINHO – Igualmente para vocês, obrigado

Apesar de parte dos jantares e almoços com Mário Lino e Ana Paula
Vitorino não terem ocorrido, o arguido Lopes Barreira teve encontros com os
dois e nos encontros que manteve com Ana Paula Vitorino, referenciados nos
artigos 353.º a 355.º e 474.º a 476.º da acusação, procurou convencê-la a
demover o Luís Pardal da sua atitude (que mais não era do que a defesa dos
interesses da REFER) face às empresas de Manuel Godinho.

É certo que Mário Lino não confirma qualquer abordagem dos


interesses de Manuel Godinho por parte de Lopes Barreira e nega em absoluto
ter mantido com Ana Paula Vitorino qualquer conversa de teor semelhante ao
por esta relatado, nomeadamente que as empresas do Manuel Godinho eram
“amigas do PS”.

Face à contradição dos depoimentos de Mário Lino e Ana Paula


Vitorino torna-se necessário apreciá-los face ao conjunto da prova dos autos e
das explicações fornecidas para explicar tal contradição.

601
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

O depoimento de Ana Paula Vitorino, no que diz respeito aos factos de


2006, menciona com precisão cirúrgica os problemas decorrentes da execução
do contrato das travessas bi-bloco e a planeada substituição do arguido João
Valente face à sua vinculação com os interesses do arguido Manuel Godinho e
é congruente com toda a prova existente nos autos e já atrás mencionada
relativa à forma como se suscitaram e desenvolveram tais problemas.
O depoimento de Ana Paula Vitorino, na parte relativa aos contactos
com Lopes Barreira, à ligação de Armando Vara e Lopes Barreira com os
interesses de Manuel Godinho e à pressão que este fazia para a demissão do
Engenheiro Luís Pardal, ou pelo menos, para que este invertesse a atitude da
REFER nos litígios com o grupo de empresas do Manuel Godinho é congruente
com toda a prova colhida nos autos, relativa à relação entre os arguidos
Manuel Godinho, Armando Vara e Lopes Barreira e o envolvimento destes
últimos na promoção dos interesses do arguido Manuel Godinho.
O depoimento de Ana Paula Vitorino é ainda congruente com a prova
colhida sobre a forma como o então Ministro Mário Lino intercedeu junto de
Luís Pardal a marcação da reunião de 18-08-2009 (artigos 516.º a 521.º e 572.º
a 576.º da acusação) e com o depoimento do Luís Pardal nos autos e na
instrução.
A marcação da reunião com o Presidente da REFER foi abordada na
conversa de 5 de Junho de 2009 entre Armando Vara e Manuel Godinho,
produto 33 do Alvo 39264M Transcrições, fls. 13, onde se refere que o pedido
de reunião que tinha sido acordado ficaria para depois da publicação do
acórdão da Relação do Porto (artigos 460.º a 462.º da acusação), decorrendo
do teor dessa conversa que a estratégia dos contactos com a REFER tinha
sido acordada com Armando Vara e na altura ainda se orientaria para fazer
alterar a conduta do Luís Pardal na direcção da REFER.
A estratégia acordada com Armando Vara e Lopes Barreira orientou-se
para a substituição de Ana Paula Vitorino e Luís Pardal (tudo indica que após
as eleições) conforme é referido pelo Manuel Godinho ao Manuel Guiomar, no

602
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

dia 19 e Junho de 2009 (artigo 478.º da acusação), imediatamente antes do


almoço em Ovar com Lopes Barreira e Armando Vara no dia 20 de Junho de
2009, conforme se vê do excerto da transcrição do produto 12649 do Alvo
1T167PM, Transcrições 4, página 63:
“MANUEL GUIOMAR –Atão, ó... ouve lá: Aquilo deu alguma
coisa? Algum acordo, não?
MANUEL GODINHO – Ahem... estamos agora, aham... estão
os advogados a tratar.
MANUEL GUIOMAR –Ah, tá bem.
MANUEL GODINHO – Mas eu amanhã vou ter aqui um
almoço com umas pessoas, porque... já me garantiram... que nem
ela... que nem ela, e ele, que não ficam. Tás a ver?
MANUEL GUIOMAR – Hunm? Boa, boa, boa.
MANUEL GODINHO – Nem ele nem ela.
MANUEL GUIOMAR –Pois, eu penso que isso... isso vai ser...
vai ser importante
MANUEL GODINHO – Vai, vai.
MANUEL GUIOMAR –Vai. Isso vai ser importante
MANUEL GODINHO – É que a protecção que o gajo tem,
pronto, falha.
MANUEL GUIOMAR –Acabou. Vai (imperceptível)
MANUEL GODINHO – (sobreposto) Assim está toda a gente
chateada com a situação.”

E foi esta a orientação, visando a substituição de Ana Paula Vitorino e


de Armando Vara que foi fixada no almoço de 20-06-2009, por influência de
Armando Vara, embora o arguido Lopes Barreira não tenha desistido de
pressionar Mário Lino, que já se sabia que iria abandonar o Governo, para que
obtivesse do Luís Pardal decisões favoráveis quer aos interesses do Manuel
Godinho quer aos interesses do Lopes Barreira na RAVE, conforme resulta do
teor do produto 12721 do Alvo 1T167PM, atrás transcrita, ocorrida no dia 20-
06-2009, já depois do almoço, em que o Lopes Barreira combina com o Manuel

603
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Godinho para este não ir dizer nada ao Vara, porque vai voltar a falar com o
Mário Lino.
Daí que se justifique o teor das conversas de 03-08-2009, 11-08-2009
e 13-08-2009 entre Manuel Godinho e Carlos Vasconcellos a 1.ª e a última e
entre Manuel Godinho e Namércio Cunha a 2.ª, referidas nos artigos 569.º,
572.º e 573.º da acusação, produtos 16809, 17554 e 17748 do Alvo 1T167PM
Transcrições 4 a fls. 318, 331 e 334, respectivamente, donde resulta que o
objectivo da reunião por parte de Manuel Godinho era acima de tudo arranjar
matéria que pudesse servir de fundamento à demissão de Luís Pardal,
conforme se vê dos seguintes extractos:

03-08-2009:

Carlos Vasconcelos (Refer) – Não recebeu resposta lá do


gajo

MANUEL GODINHO – Não, não recebi

Carlos Vasconcelos (Refer) – Ai o cabrão

MANUEL GODINHO – Não vai dar o gajo, não

Carlos Vasconcelos (Refer) – Não vai não, você manda


outra

MANUEL GODINHO – E depois vou mandar outro, vou


mandar outro e eh pá, pronto, temos que ver e vamos constituir um

Carlos Vasconcelos (Refer) – um dossier

MANUEL GODINHO – um dossier pra (…) os nossos


direitos, não é ?

Carlos Vasconcelos (Refer) – pois, pois, pois; é de entalar o


gajo

MANUEL GODINHO – Exactamente

604
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

11-08-2009

Namércio Cunha – Pois, em último caso, olhe eu dou-lhe a questão,


olhe, havia, o que é que havia, pra semana tem uma reunião no dia 18, às 5
horas, aqui com os seus amigos da Refer
MANUEL GODINHO – Quais
Namércio Cunha – Sim
MANUEL GODINHO – Ai os gajos mandaram marcar ?
Namércio Cunha – Já, ligou-me a secretária, a marcar para o dia 18
MANUEL GODINHO – Do pardal, é ?
Namércio Cunha – Sim
MANUEL GODINHO – E cum caralho, para o dia 18 a que horas ?
Namércio Cunha – Cinco horas
MANUEL GODINHO – Grande cabrão; no dia 18
Namércio Cunha – É terça-feira, de hoje a oito
MANUEL GODINHO – É de hoje a oito, ok, pronto, tenho que ir aí
Namércio Cunha – Fique a contar
MANUEL GODINHO – É uma hora que não me convém muito, mas
está bem
Namércio Cunha – Fique a contar para se ir lá
MANUEL GODINHO – Ok
Namércio Cunha – Você não estava à espera que respondessem,
não é ?
MANUEL GODINHO – Eu não queria que tivessem respondido
Namércio Cunha – Pois, mas também está a jogar na defensiva,
pronto, olhe, é isso
MANUEL GODINHO – Vamos com calma
Namércio Cunha – estava mais naquela que eles iam mandar algum
fax a desculparem-se, mas olha, não querem, pois mas não querem
MANUEL GODINHO – Pois que o gajo agora já está à rasca, estás a
ver
Namércio Cunha – Vamos com calma
MANUEL GODINHO – O gajo está à rasca; ok
Namércio Cunha – Está tudo bem, até já.
13-08-2009

605
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Esta semana e a outra ? Sabe que o senhor


presidente mandou-me um fax
Carlos Vasconcelos (Refer) – Ai sim e então
MANUEL GODINHO – Vou ter uma reunião com ele na terça-feira
Carlos Vasconcelos (Refer) – Pois, porque o Vicente Pereira não
está cá
MANUEL GODINHO – As 5 horas da tarde
Carlos Vasconcelos (Refer) – Boa, boa, boa
MANUEL GODINHO – Não, mas não é nada bom, digo-lhe já
Carlos Vasconcelos (Refer) – Não, você, terça-feira juntamo-nos
para conversar um bocado
MANUEL GODINHO – Mas não é nada bom, digo-lhe já
Carlos Vasconcelos (Refer) – Não sei
MANUEL GODINHO – Nesta fase do campeonato, não queria falar
com ninguém
Carlos Vasconcelos (Refer) – Está bem ,mas o gajo também é capaz
de estar morto e querer dar qualquer coisa, está a ver ? Se ele perceber que
está a ser muito pressionado, não sei
MANUEL GODINHO – Não, ele não tem mais para onde sair, está a
ver, ele fez tantas asneiras, que ninguém lhe vai perdoar
Carlos Vasconcelos (Refer) – Ai isso não, não, mas nós temos que
fazer o mesmo jogo que o gajo, não é ? Um gajo diz que sim, sim e
MANUEL GODINHO – Mas você não antecipe nada, calma
Carlos Vasconcelos (Refer) – Não antecipo nada, não antecipo nada
MANUEL GODINHO – Porque a conversa até pode correr mal, não é
?
Carlos Vasconcelos (Refer) – Eu não vou dizer nada
MANUEL GODINHO – Diga ?
Carlos Vasconcelos (Refer) –Eu não vou dizer nada, vou estar
caladinho, sossegadinho
MANUEL GODINHO – Você vai estar calado e eu vou começar por,
começar por dizer mais ou menos o que se passou, está a ver e dizer que ele
que não tem culpa nenhuma, induzido em erro e não sei e não sei mais
quantas e que os prejuízos por baixo que ascendem os seis milhões de euros,
está a perceber ? A ver qual a reacção dele

606
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Carlos Vasconcelos (Refer) – A ver qual é a reacção dele, precisa de


trabalho, precisa de trabalho e que o gajo lhe dê trabalho para pelo menos
repor um bocadinho, está a ver
MANUEL GODINHO – Exactamente, e ele e ele, não sei; nesta fase
eu não sei que é que ele quer, está ver
Carlos Vasconcelos (Refer) – Está bem, mas pelo menos há- de
querer qualquer coisa, tanto que o mandou chamar, não é ? Agora resta saber
é se vai ser ele e o outro, ou se é só ele, está a ver ?
MANUEL GODINHO – Ele e o Vicente, é ?
Carlos Vasconcelos (Refer) – Sim, sim, sim; o gajo é capaz de ter
medo e meter o Vicente lá pra dentro, está ver
MANUEL GODINHO – Mas se ele está de férias
Carlos Vasconcelos (Refer) – Está de férias mas para a semana acho
já vem, mas eu posso saber isso, se o gajo está cá na terça-feira ou não
MANUEL GODINHO – Não, mas aí eu posso dizer, olhe, isto, isto é
assim, eu aí tenho que reduzir, tenho que falar o mínimo, percebe?
Carlos Vasconcelos (Refer) – Sim, sim, você tem de ouvir, ouvir
MANUEL GODINHO – pois, é que os gajos, os gajos são muito
homens para estar de má-fé
Carlos Vasconcelos (Refer) – Pois, para serem dois pode estar de
má-fé, está a perceber? Você vai ouvir o que os gajos têm para dizer
MANUEL GODINHO – Exactamente
Carlos Vasconcelos (Refer) – Vai só ouvir
MANUEL GODINHO – Exactamente; pronto e é isso

Sublinhe-se a sugestão de Carlos Vasconcellos quando refere que


Luís Pardal pode perceber que está a ser pressionado.
O depoimento de Ana Paula Vitorino, que foi prestado por escrito, é
congruente quer com a cronologia dos contactos, quer com a forma como
foram operados, quer com o sentido das abordagens efectuadas.

O depoimento do Eng. Mário Lino em instrução começa por colocar a


1.ª reunião com Manuel Godinho em finais de 2008, princípios de 2009, a
pedido deste, efectuado para o secretariado do Ministério e que, na sequência
do mesmo, deu conhecimento das queixas à Secretária de Estado, Ana Paula

607
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Vitorino e cerca duma semana depois, encontrando-se o Luís Pardal no


gabinete da Secretária de Estado Ana Paula Vitorino, esta telefonou-lhe e
disse-lhe que o melhor era contar ao Luís Pardal o que se passara na reunião
com o Godinho, com o que concordou, tendo o Pardal e a Ana Paula Vitorino
descido até ao gabinete do Ministro, onde este relatou ao Pardal o teor das
queixas do Godinho e o que lhe respondera e lhe disse que devia receber o
Godinho.
Mais referiu que propôs a nomeação e recondução do Eng. Luís
Pardal por confiar inteiramente nele e sempre lhe demonstrou total confiança,
negando ter sido pressionado para o demitir.
O engenheiro Mário Lino, apesar de afirmar que tem uma excelente
memória, não se recorda de qualquer contacto com Manuel Godinho,
solicitando a marcação duma reunião com o Presidente da REFER, nega que
tal reunião lhe tivesse sido solicitada por terceiros pelo que admite que Manuel
Godinho lhe tenha telefonado para o Ministério a queixar-se de que o
Presidente da REFER continuava a não o receber e que, na sequência desse
telefonema tenha telefonado ao Luís Pardal dizendo-lhe que recebesse Manuel
Godinho.
Reconhece-se que o Eng. Mário Lino dificilmente admitiria que tinha
dito à Eng. Ana Paula Vitorino que as empresas de Manuel Godinho eram
amigas do PS e estavam a ser prejudicadas pelo Luís Pardal. Mas a sua
versão dos factos é contrariada não só pelo depoimento de Ana Paula Vitorino,
mas também pelo depoimento nos autos e em instrução de Luís Pardal, que,
ao contrário do afirmado pelo Eng. Mário Lino, refere que a sua recondução
como presidente da REFER não foi eufórica, tendo estado 3 meses a
aguardar a recondução – carecendo de importância a definição jurídica do
momento adequado da recondução, já que, na perspectiva que na época era
relevante se considerou que o mandato terminou em Outubro de 2008 – e que
durante esse período teve notícia de que o Dr. Lopes Barreira abordou várias
pessoas para irem ocupar o seu cargo como Presidente da REFER.

608
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Mais refere o Eng. Luís Pardal que a comunicação do Engenheiro


Mário Lino para que recebesse Manuel Godinho foi efectuada por telefone, em
meados de 2009 e não em reunião no gabinete do Ministro, reunião de que não
tem qualquer recordação, só se recorda de conversas telefónicas. Refere ainda
que embora não se sentisse pressionado, acedeu à realização da reunião,
embora não tenha percebido a sua utilidade, uma vez que a REFER nunca
tinha recusado qualquer reunião com Manuel Godinho e ainda recentemente
tinha ocorrido uma reunião com o seu Vice-Presidente Vicente Pereira.
A explicação de Mário Lino para a indicação a Luís Pardal, em meados
de 2009 para que recebesse o Manuel Godinho não só não é compatível com a
prova dos autos, que aponta no sentido de ter sido sugerida por intermédio de
Armando Vara e Lopes Barreira, como é totalmente incompatível com o modo
de proceder de Manuel Godinho, que nunca tomaria a iniciativa de telefonar
para o secretariado e para o Ministro, sem prévio contacto e autorização de
Armando Vara.
Do exposto resulta aos olhos do JIC que, atentas as contradições
entre os depoimentos de Mário Lino, Ana Paula Vitorino e Luís Pardal e,
especificamente no que respeita às matérias em contradição, a versão que
merece credibilidade e se apresenta como congruente com a prova dos autos é
a sustentada por estes últimos .

Uma última palavra para a noção que todas estas testemunhas


revelam, alegando não ter sido pressionados, como se o crime exigisse a
concretização da pressão, que não exige, (basta a influência suposta), para
fazer notar que o Eng. João Valente não foi demitido, nem sofreu punição
disciplinar, a reunião com o Presidente da REFER foi de facto realizada, a
anulada adjudicação de Vila Viçosa foi de facto atribuída de novo a empresa de
Manuel Godinho e a Engenheira Ana Paula Vitorino não foi, de facto,
reconduzida em funções governamentais.

609
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Pelas razões indicadas, entende-se que , nesta parte, existem indícios


suficientes dos factos imputados na acusação e que, consequentemente os
arguidos João Manuel da Silva Valente, Fernando Lopes Barreira e
Armando Vara devem ser pronunciados.

Para além da prova testemunhal indicada na acusação, há que


acrescentar as
Testemunhas inquiridas em sede de instrução:
- Jorge Manuel Ribeiro Antunes, ouvida na instrução no dia 27-01-
2011 às 14:25;
- Virgílio Luís de Sousa Repolho, Director do BCP, ouvido em
instrução no dia 12-01-2011 às 14:59;

Destarte, deverão os arguidos João Manuel da Silva Valente,


Fernando Lopes Barreira, Armando Vara serem pronunciados nos
precisos termos da acusação, por se mostrarem verificados indícios que,
neste tocante, inculcam um juízo de prognose, conducente à
consideração de que é mais forte a probabilidade da sua condenação do
que a exoneração das suas responsabilidades.

*******

Veio o arguido Manuel João Guiomar, notificado da acusação,


apresentar a sua defesa nos termos constantes do RAI, constante de fls.
28812 e ss, que aqui se dá por reproduzido.

No seu RAI requereu o arguido, em sede de instrução, a inquirição das


seguintes testemunhas:

Ângelo Magalhães

610
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

É especialista de compras na REFER há 4 anos.


A testemunha e Manuel Godinho são colegas da mesma área na
REFER.
O Guiomar trabalhava nas vendas, sinceramente acha que ele não
estava na área da recepção e abertura de propostas nos concursos públicos,
mas não pode dizer.
Ouvia-o dizer que estava a contar peças, conferir.
Nada sabe a respeito da sua intervenção em contratos com as
empresas de Manuel Godinho.

Jorge Manuel Ribeiro Antunes


Eestá na REFER no Departamento de Engenharia Metalúrgica desde
2007.
Veio da General Motors, aqui na EXPO, onde era Director Técnico.
O Sr. Guiomar foi seu colaborador na área de venda de resíduos.
Lista de operadores qualificados incluía a O2.
A REFER consultava quem entendesse.
Participou na alienação do ramal de Vila Viçosa.
O Guiomar estava ligado a pequenos processos de disponibilização de
travessas de madeira desactivadas.
Que tenha conhecimento, o Guiomar não interveio na elaboração da
lista de qualificação 2004-2007.
As empresas que eram qualificadas eram na ordem das 8, 10 ou 12.
Não havia a situação de monopólio.
A O2 não ganhava pelo preço que oferecia, era o mais alto, era porque
tinha a expectativa de retirar mais material que o estimado.
Um concorrente estrangeiro do Canadá quis comprar carril para
mandar para a Índia, e a testemunha disse o preço da O2.
O homem disse que tendo o mercado da Índia não conseguia praticar
os preços da O2 que era um preço ruinoso.
O responsável era o Conselho de Administração da REFER.

611
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

A determinação do Presidente da REFER era banir a O2 da lista dos


qualificados por causa de incidentes no Entroncamento.
Em Novembro de 2006, houve uma deliberação do Presidente da
REFER – Engº Pardal, nesse sentido.
A Directiva das vendas de sucata por concurso público foi por volta de
Dezembro/07.
Em Setembro/Outubro 07 ocorreu o caso do ramal de Vila Viçosa
Houve uma reclamação, via digital, da O2, do Sr. Godinho.
O Director jurídico e a testemunha preparam resposta a dizer que
estava excluída pela directiva.
A testemunha resolveu sair porque não compreendia.
Ocorreu uma alteração conceptual que a administração livremente
adoptou mas que, atentas, as funções que desempenhava, lhe pareceu que
talvez não estivesse a ver bem.
Passou para a Direcção Geral de Engenharia e Infra-estrutura em
Junho de 2008.
O Manuel Guiomar não foi ver os lotes e alguns a testemunha
acompanhou.
Houve um caso das sucatas em Campolide, provenientes das obras do
túnel do Rossio, em 2007, em que o Guiomar o acompanhou.
O departamento estava a ser posto de pé e o Guiomar acompanhou-o
desta vez.
Às vezes almoçavam juntos.
Toda a gente sabia que havia ali uma rede criada em favor da O2 em
2007, dizia-lhe o Guiomar porque até contava histórias.
A O2 não fazia parte do filme!
Houve alterações e por isso mais tarde resolveu sair.
À testemunha o Guiomar disse uma vez que “que está aí envolvido
num dossier de vendas de sucatas para o Norte que foi almoçar com o
Godinho”.

612
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

“Todos os da Unidade Operacional Norte foram”.


Existe uma cláusula de salvaguarda para que quem tivesse dividas
não podia concorrer.
Havia essa cláusula nos detalhes dos concursos de 2007.
O Guiomar esteve como vereador a tempo inteiro em Alenquer.
No Entroncamento houve um contrato de lixo, estilha, e apareceu o
camião com terra suja e mais outra que não era, foi lá para saber como é que
funcionavam e contavam-lhe logo as coisas.
A testemunha trabalhou na General Motors, na Direcção do
Departamento de Compras, é uma empresa multinacional, talvez troglodita,
mas toda a gente está inibida de receber prendas, seja de quem for.
Havia códigos éticos rígidos. Aqui não viu isso e pediu para sair desse
serviço, o que ocorreu.
Na composição de lotes há uma abordagem aproximada do seu
serviço ao tempo?
O número de lotes exacto – foi verificar todos os lotes, meia dúzia de
casos no seu tempo.
Não pode dizer como era antes.
Ouvia dizer que o camião levava outros materiais além dos do lote.
Ouvia dizer que os registos das pesagens também podiam ser
falsificados.
Os colegas do Entroncamento diziam que era por conivência de
alguém como responsabilidade de coordenação que devia adoptar
procedimentos de fiscalização.
Pesagens a 2 km de distância era possível desde que devidamente
acompanhado por alguém da REFER (quem não tem cão caça com um gato)
Em Vila Viçosa houve 3 propostas mas saiu antes de concluído porque
o dele foi cancelado e aberto outro em que foi adjudicado por preço menor.

Luís Rodrigues, é economista.


É quadro da REFER desde 1986.

613
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

No final de 2000/2001 esteve na REFER – TELECOM – operador de


telecomunicações.
Separou-se da REFER e
Os técnicos da REFER da área de telecomunicações foram
transferidos para a REFER/TELECOM.
A testemunha foi director administrativo e financeiro.
O Sr. Manuel Guiomar foi para lá em 2001, era quadro da REFER.
O Manuel Guiomar foi para a Câmara de Alenquer e mais tarde para a
REFER TELECOM.
Perguntado se Guiomar tinha influência nos concursos públicos ou nos
internos a testemunha respondeu que desconhece, ele estava nos concursos
internos.
Tinha dois superiores hierárquicos.
Quem está acima toma a responsabilidade desde que saiba. Só podia
ser responsabilizado se os de cima souberem das decisões.
O Manuel Guiomar falava das questões da empresa à hora do almoço.
Um dos superiores do Guiomar era o Dr. José Sousa.
O Guiomar dava saídas de stocks de materiais.
Não sabe nada da suspeição de Godinho.
Já ouvira falar da O2, mas nada sabe da execução dos contratos.

O arguido Manuel Guiomar fundou o seu pedido de não pronúncia na


circunstância de ter sempre cumprido de forma escrupulosa os seus deveres
enquanto funcionário da REFER.

A prova produzida em inquérito desmentia-o e a prova produzida em


instrução reforçou a convicção de que a indicação é consistente.

O recebimento de contrapartidas patrimoniais por Manuel Guiomar


entregues por Manuel Godinho acha-se indiciariamente demonstrado no

614
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

relatório de perícia financeira – Apenso 162, fls. 78 e segs. - e, bem assim, no


auto de busca de fls. 7 a 8 e 11 a 14 Apenso Buscas L.

O seu indiciado engajamento aos interesses de Manuel Godinho


resulta, desde logo, do teor dos depoimentos que prestou, no âmbito dos
interrogatórios a que foi sujeito e, bem assim, do teor das intercepções
telefónicas realizadas, mormente nos produtos que a seguir se identificam
(designadamente, 3308, 3326, 3353, 3385, 3523, 3876, 3878, 5658, 5662,
5673, 5674, 6207, 6222, 6223, 6552, 6683, 6726, 6729, 6787, 11066, 12649,
15022, 15024, 15049, 15199, 15236, 16403, 16564, 18275, 18865, 18980,
19006, 19011, 19012, 19018, 19028, 19148, 19614, 20948 e 20973 de
23/09/09, 20990 do alvo 1T167PM),bem como dos documentos juntos nos
Apensos AJ a AJ9, das testemunhas inquiridas que a seguir se identificam, do
relato de diligência externa de fls. 130 a 141 do Apenso AJ6 (exame à balança
pesa-eixos) e do relatório final da auditoria externa, promovida pela REFER.

O papel desempenhado por Manuel João Alves Espadinha Guiomar


era da maior importância para os interesses de Manuel Godinho e das suas
empresas, na medida em que lhe cabia fornecer informação antecipada sobre
concursos e as empresas concorrentes, fiscalizar no terreno os levantamentos
de material facilitando a subtracção de materiais e a viciação das pesagens.

Como tal, quer Manuel Guiomar, quer Manuel Godinho demonstravam


grande preocupação e cuidado em que a sua ligação não fosse conhecida dos
superiores hierárquicos de Guiomar.

Aliás, o arguido Manuel Godinho, por norma, sempre que tinha


necessidade de o contactar em horário de serviço, pedia ao arguido José
Valentim para lhe transmitir tal míngua.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 3261 - Alvo 1T167PM - 05/03/2009, 17:22:28 -


934098488  917649864 – José Valentim (REFER)  Manuel
Godinho
Valentim transmite a Manuel Godinho que o Eng. Sousa iria
convidar as suas empresas, que era uma questão de tempo. Manuel Godinho
interrompe e pergunta: “eles convidarem-nos e nós ganharmos?”
Manuel Godinho diz a Valentim que necessita de falar com o
Guiomar. Este diz que lhe vai ligar e pedir para ele telefonar a Manuel
Godinho.

Produto 3261, que abaixo se transcreve, na integra, para


melhor se alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a
final efectuado pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 3261


DATA/HORA: 05/03/2009 – 17:22:28
INTERVENIENTES:
• DE – Valentim (REFER)
• PARA – Manuel Godinho

MANUEL GODINHO – Tou.


Valentim (REFER) – Tou, ligou-me á bocadinho, eu estava ali no edifício 1, na
engenharia.

MANUEL GODINHO – Há.


Valentim (REFER) – Cá embaixo na cave e a gente lá na cave não tem, não
tem rede. Onde estava a Helena Neves e o …. Imperceptível…

MANUEL GODINHO – Haaaaa….


Valentim (REFER) – Sim.

MANUEL GODINHO – É pá, eu precisava de falar com o Guiomar.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Valentim (REFER) – Haaa… eu falei ontem com o gajo.

MANUEL GODINHO – Sim.


Valentim (REFER) – E o… pronto o que ele me disse e depois eu falei com o
Vasconcelos. O Vasconcelos disse que o gajo é um tretas do carago. Haaa…

MANUEL GODINHO – Sim.


Valentim (REFER) – Haa. Pronto. Haaaa por causa de ele estar a dizer que o
engenheiro Sousa iria convidar, por convite e eu disse então mas isso também
é uma questão de tempo, haaa portanto aguentem, aguentem as coisas, por
que…

MANUEL GODINHO – Eles convidaram-nos e nós, e nós ganhamos.


Valentim (REFER) – Há sim, mas o, mas o gajo estava a dizer que não tinha sido
convidado. O Guiomar. Então é o gajo que está a mentir.

MANUEL GODINHO – … Imperceptível… e a SCI.


Valentim (REFER) – Pois, eles é são, o melhor é não dizer nada, tá a ver, não
diga nada.

MANUEL GODINHO – Não, não, mas eu precisava de falar com ele.


Valentim (REFER) – Então eu vou ligar para o gajo lhe ligar.

MANUEL GODINHO – Ele que me ligue. Tá bem.


Valentim (REFER) – Tá bem, tá bem. Já ligo.

MANUEL GODINHO – Até já.


Valentim (REFER) – Até já.

Produto 3308 - Alvo 1T167PM - 05/03/2009, 19:52:17 -


964733103  917649864 – Manuel Guiomar (REFER)  Manuel
Godinho

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Manuel Guiomar diz que sente que continua a perseguição e que


anda a ser vigiado. Informa o Manuel Godinho que há uma série de coisas
novas que estão para sair.
Falam do presidente da REFER.
Manuel Godinho diz que quer almoçar amanhã com Manuel
Guiomar, em Lisboa.

Produto 3308, que abaixo se transcreve, na integra, para


melhor se alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a
final efectuado pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 3308


DATA/HORA: 05/03/2009 19:52:17
INTERVENIENTES:
• DE – Guiomar
• PARA – Manuel Godinho

MANUEL GODINHO – Tou!


GUIOMAR – Godinho?
MANUEL GODINHO – Sim.
GUIOMAR – É Guiomar. Tás bom?
MANUEL GODINHO – Oh Guiomar, então tá tudo bem meu ou quê?
GUIOMAR – Como é que tu vais?
MANUEL GODINHO – Eu tou porreiro. E tu?
GUIOMAR – Eu vou andando, vou andando.
MANUEL GODINHO – Soube que aqui há dias estiveste…estiveste com um
empregado meu.
GUIOMAR – Sei…exactamente. É pá…
MANUEL GODINHO – Eh…diz.
GUIOMAR – Em queria…queria falar contigo porque andam para aqui…isto
continua a perseguição na mesma, tás a ver? E eu…eu sinto também que ando
a…por um lado ando a ser vigiado.

618
S. R.

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MANUEL GODINHO – Não. Mas não tem problemas. As coisas estão a ficar
melhores.
GUIOMAR – Tá bem. Não. Mas eu ando a ser vigiado. Não. Mas o que é que eu
te queria dizer?
MANUEL GODINHO – Sim.
GUIOMAR – Hã…o Sousa e a Maria José Gamelas, mais pela Maria José
Gamelas…
MANUEL GODINHO – Sim.
GUIOMAR – …estão a fazer um documento…estão a fazer um
documento…e…e em vez de serem feitos por concursos é feitos por convites
para não te…pra não convidarem a “2NDMARKET”.
MANUEL GODINHO – Ah…eles não fazem isso. Não podem fazer isso.
GUIOMAR – Escute. Mas eu estou-te a dizer que é isso que está prevenido(?),
porque agora houve uma situação com a porcaria do…do vagão, que era para o
desmantelamento de um vagão em que o…houve um…funcionário da REFER
que telefonou para mim…eu percebi as coisas de que era uma questão de
ambiente…e quem ia…como, como ia ao lado o Sousa eu passei o…o…o
telefone ó Sousa. “É pá fale aqui com o engenheiro Sousa pá” e caraças aquele
caralho foi…foi…eu a dizer que era o Sousa…foi falar da história na O2 e o
catano. No dia a seguir o…o…o nosso amigo Sousa foi logo fazer queixas à
Gamelas e o raio e foi aí que eu apanhei a conversa…e porque ele depois me
disse a mim…eu fazendo o papel ao contrário…ele me disse a mim…que só
havia duas pessoas porque…hã…hã…quer a O2 quer a 2NDMARKQUET… eram
para não ser convidadas.
MANUEL GODINHO – Mas eles hoje…eles hoje…nós fomos com a…
(imperceptível)
GUIOMAR – Eu sei. Eu tive lá na abertura…que vocês ganharam duas…
MANUEL GODINHO – Nós ganhamos o que nos interessava.
GUIOMAR – Vocês ganharam dois lotes e… e os outros dois foi o…o tipo aqui
de…do Fundão.
MANUEL GODINHO – Pois, são duas toneladas.
GUIOMAR – Exactamente. E quem estava quase para ganhar era a RSA
mas…mas como eles apresentaram o preço/tonelada foram excluídos.
MANUEL GODINHO – Pois.
GUIOMAR – Eles com o preço/tonelada o valor…o valor era…era maior. E
depois houve para ali uma grande discussão…jurídico prá ali e o raio, porque
já estavam a esfregar as mãos de contentes que era uma maneira da
“2NDMARKET” não…não…não ganhar…
MANUEL GODINHO – Não…mas se fosse noutros tempos eles tinham cortado.
As coisas estão a ficar melhor, ó Guiomar.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

GUIOMAR – É pá, pronto. Ó Godinho eu não sei se estão a ficar melhor.


Portanto…há…
MANUEL GODINHO – Estão, estão.
GUIOMAR – Vamos lá a ver: há uma série de…de…de concursos que vão sair
agora…uma série de…de…vendas de materiais…
MANUEL GODINHO – Sim.
GUIOMAR – Hã…foi para lá uma engenheira…uma engenheira nova…uma
Susana…uma rapariguita nova…
MANUEL GODINHO – Tu amanhã estás em Lisboa?
GUIOMAR – Tou, tou, tou.
MANUEL GODINHO – He…senão a gente íamos almoçar.
GUIOMAR – É pá se tu andares por ali depois dás-me um toque.
MANUEL GODINHO – Eu…eu vou almoçar contigo amanhã.
GUIOMAR – Pronto. Que é para a gente conversar. É pá eu precisava de
conversar isto contigo, tas a perceber?
MANUEL GODINHO – He…eu vou aí almoçar amanhã contigo. Mas isto é
assim: isto também rapidamente vai dar uma volta porque o senhor foi
avisado, tás a ver? E só não foi agora…só não foi agora porque a senhora…a
senhora ameaçou demitir-se.
GUIOMAR – Claro.
MANUEL GODINHO – Tás a perceber?
GUIOMAR – É o que se…é a merda toda que está nesta empresa e o cabrão
está a destruir isto tudo.
MANUEL GODINHO – Está a destruir, tá. Isso está a ficar muito complicado aí.
GUIOMAR – É. Bastante, bastante.
MANUEL GODINHO – Mas a gente…a gente amanhã fala. Eu vou almoçar aí,
ok?
GUIOMAR – Atão depois dá-me um toque, tá bem?
MANUEL GODINHO – Tá bem. Ok.
GUIOMAR – Atão vá.
MANUEL GODINHO – Combinado. Um abraço.
GUIOMAR – Um abraço. Adeus.
MANUEL GODINHO – Adeus.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 3326 - Alvo 1T167PM - 06/03/2009, 10:32:15 -


964733103  917649864 – Manuel Guiomar (REFER)  Manuel
Godinho
Combinam encontrar-se.

Produto 3326, que abaixo se transcreve, na integra, para


melhor se alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a
final efectuado pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 3326


DATA/HORA:06/03/2009 10:32:15
INTERVENIENTES:
• DE – Guiomar
• PARA – Manuel Godinho

MANUEL GODINHO – Tou!


GUIOMAR – Desculpa pá, estava no comboio e não ouvi.
MANUEL GODINHO – Ah! Olha, é para te dizer…
GUIOMAR – Hã.
MANUEL GODINHO – …quando foi meio dia e um quarto…
GUIOMAR – Sim.
MANUEL GODINHO – … tou ali na ELF, na Expo. Sabes onde é?
GUIOMAR – Onde é que é isso?
MANUEL GODINHO – Ó pá…é a entrada da Expo…é de quem vai de Santa
Apolónia, não é?
GUIOMAR – Sim.
MANUEL GODINHO – Tem uma…umas bombas…umas bombas do lado
direito…
GUIOMAR – Já sei, que é da CEPSA ou da REPSOL.
MANUEL GODINHO – Da REPSOL, exactamente. Eu espero aí por ti, ok?
GUIOMAR – Tá bem, tá bem.
MANUEL GODINHO – Meio dia e um quarto…tou por aí.
GUIOMAR – Tá bem, tá bem.
MANUEL GODINHO – Tá. Ok.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

GUIOMAR – Chau. Um abraço.

Produto 3353 - Alvo 1T167PM - 06/03/2009, 12:39:54 -


917649864  964733103 – Manuel Guiomar (REFER)  Manuel
Godinho
Manuel Guiomar diz que chegou à Gare do Oriente. Manuel
Godinho diz que vai num Mercedes preto.

Produto 3353, que abaixo se transcreve, na integra, para


melhor se alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a
final efectuado pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 3353


DATA/HORA: 06/03/09 12:39:54
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – Guiomar.

GUIOMAR – Tou.
MANUEL GODINHO – Sim.
GUIOMAR – Desculpa lá. Olha, só agora é que cheguei à Gare do Oriente.
Estou a andar pé.
MANUEL GODINHO – He…atão eu vou…eu vou sair daqui…
GUIOMAR – Sim.
MANUEL GODINHO – …E…passa para o lado de cá.
GUIOMAR – Eu estou pela…sim? Tou a ver, tou …pela…na João XXI.
MANUEL GODINHO – Eu vou num Mercedes preto
GUIOMAR – Tá bem. Assim que eu vir faço-te sinal.
MANUEL GODINHO – Tá bem. Ok.
GUIOMAR – Vá. Até já.
MANUEL GODINHO – Tá.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 3385 - Alvo 1T167PM - 06/03/2009, 17:51:23 -


964733103  917649864 – Manuel Guiomar (REFER)  Manuel
Godinho
Manuel Guiomar diz que já tirou a relação do que está a ser feito e
que irá ser por concurso público, informando assim Godinho de um concurso
ainda não tornado público.

Produto 3385, que abaixo se transcreve, na integra, para


melhor se alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a
final efectuado pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 3385


DATA/HORA: 06/03/09 17:51:23
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – Guiomar

MANUEL GODINHO – Tou.


GUIOMAR – Tou. Não estava aqui.
MANUEL GODINHO – Ah! E atão? Houve alguma novidade ou não?
GUIOMAR – Não porque ele não tá cá. Nem ele nem a directora.
MANUEL GODINHO – Atão devem lá estar pra cima, não?
GUIOMAR – Não. Não eles…já…já tirei foi a relação daquilo que…que está a
ser feito… mas eu depois perguntei à rapariga e não vai…não vai ser por…
MANUEL GODINHO – Por convite.
GUIOMAR – …por convite. Não.
MANUEL GODINHO – É público?
GUIOMAR – É. Público.
MANUEL GODINHO – Pois.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

GUIOMAR – O…o…o jurídico estava a dizer era porque é que não…não era
empreitada e ela estava-me a dizer que por empreitada que havia poucas
empresas…eh…que tinham alvará para…para fazer esse tipo de trabalho
MANUEL GODINHO – Isso é público.
GUIOMAR – Pronto.
MANUEL GODINHO – E nem eles arriscavam a excluir-me.
GUIOMAR – Acho que o único…o único que tinha esse tipo de…que podia
fazer isso era a…essa a…esta aqui da Arruda ou o que é que é essa merda.
MANUEL GODINHO – A quem?
GUIOMAR – A da Arruda. Como é que se chama? Que…
MANUEL GODINHO – Ai a…a…a (imperceptível)
GUIOMAR – Exactamente. Era a única.
MANUEL GODINHO – Ah. E nós.
GUIOMAR – Pronto. Mas eu…eu aí disse assim: (…) vai ver…vai ver estras
assim assim. E ela: “Não, mas…” a…a…a “ …2NDMARKET não tem, pois não?
MANUEL GODINHO – Não tem o quê?
GUIOMAR – Para poder fazer esse tipo de trabalhos.
MANUEL GODINHO – Vamos em consórcio.
GUIOMAR – Ah! Pronto, é isso.
MANUEL GODINHO – Vamos em consórcio.
GUIOMAR – Pronto, mas…para já por convite não é.
MANUEL GODINHO – Pois. E nós é que rejeitámos, tás a ver?
GUIOMAR – Sim, sim.
MANUEL GODINHO – Nós é que rejeitámos. Não aceitámos os preços.
GUIOMAR – Claro.
MANUEL GODINHO – Tás a perceber?
GUIOMAR – Sim, sim.
MANUEL GODINHO – Ah…pá, mas depois é uma questão da gente falar.
Pronto. Tamos no caminho certo é o que interessa.
GUIOMAR – Tá.
MANUEL GODINHO – Ok?
GUIOMAR – Ok.
MANUEL GODINHO – Na certeza porém que…vamos trabalhar…vamos
trabalhar.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

GUIOMAR – Tá.
MANUEL GODINHO – Ok? Um abraço. Bom fim-de-semana.
GUIOMAR – Um abraço. Bom fim-de-semana. Obrigado.

Produto 3523 - Alvo 1T167PM - 09/03/2009, 10:32:23 -


964733103  917649864 – Manuel Guiomar  Manuel Godinho
Manuel Guiomar envia sms informando a abertura de concurso para
16 lotes de resíduos ferrosos.

Produto 3523, que abaixo se transcreve, na integra, para


melhor se alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a
final efectuado pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 3523


DATA/HORA: 09/03/2009 10:32:23
INTERVENIENTES:
• DE – Guiomar (SMS)
• PARA – Manuel Godinho

GUIOMAR – Godinho saiu o concurso para os 16 lotes residuos


ferrosos no Norte. Um abraÇo. Guiomar

Produto 3876 - Alvo 1T167PM - 12/03/2009, 08:33:58 -


917649864 964733103 – Manuel Godinho  Manuel Guiomar
Manuel Guiomar informa que vão ser feitos concursos para
levantamento da linha do Sabor e de Vila Viçosa e diz-lhe qual o nome de uma
das empresas que tem alvará para participar. Combina telefonar para
informar o nome da outra empresa.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 3876, que abaixo se transcreve, na integra, para


melhor se alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a
final efectuado pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 3876


DATA/HORA: 12/03/2009 08:33:58
INTERVENIENTES:
• DE – MANUEL GODINHO
• PARA – GUIOMAR (REFER)

MANUEL GODINHO – ‘Tou?


GUIOMAR – (imperceptível) ... Bom dia!
MANUEL GODINHO – Bom dia. ‘Tá tudo bem?
GUIOMAR – Tudo!
MANUEL GODINHO – E contigo?
GUIOMAR – (imperceptível) Vai-se andando, mais ou menos. ‘Tava p’ra te
ligar, pá., por causa da...
MANUEL GODINHO – Sim?
GUIOMAR – Oh pá... Aham... Dos concursos, que vão ser feitos, para o
levantamento da Linha do Sabor e da Linha de Vila Viçosa...
MANUEL GODINHO – Sim?
GUIOMAR – Aham... Uma das condições... que... que... que o Sousa e que a... e
a fulana vão pôr, é se têm aham... (imperceptível)... se têm aham... pá, p’ra
fazer obras... obras públicas em termos ferroviários.
MANUEL GODINHO – Ai é?
GUIOMAR – É. E... e só... e eles só encontraram ainda duas empresas que
faziam isso.
MANUEL GODINHO – Quem é?
GUIOMAR – É essa da... ali de... da Arruda...
MANUEL GODINHO – A “RECIFEMETAL”?
GUIOMAR – Exactamente.
MANUEL GODINHO – Sim.
GUIOMAR – Aham... Que eles andam... andam constantemente a pensar
nessa... Eh pá, e é uma outra. Eu... eu depois daqui a mais um bocado, já te... já

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

te posso... daqui por dez minutos, eu tiro ali da pasta o papel... que eu vou a
conduzir.. e... e já te posso dizer quem são as duas empresas.
MANUEL GODINHO – Mas os gajos continuam-nos a lixar, é?
GUIOMAR – Eh pá... Há... há uma tentativa nesse sentido. Eu... eu continuo a
perceber que há ali... ali... Eu fu... Ontem... ontem fui almoçar com a rapariga...
aham... E a rapariga armada em... em coiso... e eu ‘tive a aconselhá-la:
‘Atenção...’ ... aham... ‘Não deves pensar assim’ ... ‘As coisas não... não é
bem assim’. E eu depois até lhe disse a ela: ‘Tu queres apostar que aparece
alguém ligado à “SECOND MARKET” a... a concorrer? ‘ – “Ah, não, porque não
têm ninguém” – ‘Pois ‘tá bem, tá... Não têm ninguém, não têm ninguém...’
MANUEL GODINHO – O “Correia & Correia” tem.
GUIOMAR – Não. Não ‘tá lá, pá.
MANUEL GODINHO – Não?
GUIOMAR – Não. Não. ... Não tá. ... Não é o “Correia & Correia”. É esse que tu
disseste e mais outro. O “Correia & Correia” não... não... não tá. ... Se me deres
cinco minutos, eu ligo-te já e digo-te quais são as empresas.
MANUEL GODINHO – Tá bem. Então daqui a cinco minutos...
GUIOMAR – Tá bem.
MANUEL GODINHO – ...liga-me a dizer, tá?
GUIOMAR – Tá bem. Tá. Até... Um abraço. Adeus. Até já.

Produto 3878 - Alvo 1T167PM - 12/03/2009, 08:40:40 -


964733103  917649864 – Manuel Guiomar  Manuel Godinho
Manuel Guiomar fornece a informação que antes prometera
transmitir. Diz também que a REFER, quer num caso quer noutro, tem
expectativas de ter que pagar.
Manuel Godinho dá instruções para Manuel Guiomar não dizer a
ninguém que falou com ele, estar atento e mantê-lo informado.
Manuel Guiomar, referindo-se a Manuel Godinho, diz que lá dentro
não o conhece de lado nenhum.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 3878, que abaixo se transcreve, na integra, para


melhor se alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a
final efectuado pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 3878


DATA/HORA: 12/03/2009 08:40:40
INTERVENIENTES:
• DE – GUIOMAR (REFER)
• PARA – MANUEL GODINHO

GUIOMAR – Olha, aham, isto é... portanto é o ‘Alvará de Obras Públicas na


parte de ferrovia’. A... As que têm é a “TRANSSUCATAS – SOLUÇÕES
AMBIENTAIS” e é a “RECIFEMETAL”.
MANUEL GODINHO – Quem, quem?
GUIOMAR – TRANSSUCATAS...
MANUEL GODINHO – Sim.
GUIOMAR – ...SOLUÇÕES AMBIENTAIS, S.A., e a RECIFE... e a RECIFEMETAL.
MANUEL GODINHO – São só as duas, é?
GUIOMAR – Só.
MANUEL GODINHO – ... Pois.
GUIOMAR – Eh pá, mas... mas agora, a... aquele que tu estavas, o... como é
que era a... aquele que ganhou, do...
MANUEL GODINHO – Correia e Correia.
GUIOMAR – O “Correia e Correia”, ela nem tão pouco o tem aqui na lista da...
das que não têm. Só tem estas duas. ‘Tou agora aqui com o papel na mão, e na
verdade o “Correia e Correia” não tá aqui nada.
MANUEL GODINHO – Pois. E isso vai ser por convite, é?
GUIOMAR – Não, não, não.
MANUEL GODINHO – Vai ser concurso.
GUIOMAR – É por concurso, mas põem uma das condições que tem que ter
Alvará de Obras públicas, de...
MANUEL GODINHO – Isso arranja-se.
GUIOMAR – Que é a um... Categoria um, dois e cinco.
MANUEL GODINHO – Isso arranja-se.

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GUIOMAR – É? Então pronto.


MANUEL GODINHO – É!
GUIOMAR – Isso é... é a Linha do... do Sabor e... e a Linha de Vila Viçosa. E na
Linha de Vila Viçosa anda-se a fazer as contas e anda-se a transmitir a ideia de
que... aham... enquanto... enquanto a do Sabor, que é assumido, que vai ser só
despesa. Não...não...
MANUEL GODINHO – Sim...
GUIOMAR – O carril, que não... não... a venda do carril que não dá para nada.
Aham... E a da Linha de Vila Viçosa, que na altura com o Correia e Coreia,
aham... aquilo dava... trezentos mil euros, ou o que é que era... e que neste
momento também já não se vai fazer dinheiro nenhum, muito provavelmente,
aham... também se irá pagar.
MANUEL GODINHO – Pronto. Mas isso nós vamos arranjar... aham... vamos
arranjar isso.
GUIOMAR – Pronto. Então... é esse... é esses dois.
MANUEL GODINHO – Aham ... (imperceptível)
GUIOMAR – (sobreposto) Isso está a ser feito... Isso ‘tá a ser feito... Isso ´tá a
ser discutido com... com o jurídico.
MANUEL GODINHO – Ah, ainda está a ser discutido com o jurídico...
GUIOMAR – ‘Tá, tá. O... os cadernos estão prontos, tás a ver?
MANUEL GODINHO – Sim.
GUIOMAR – Aham... Mas o jurídico é defensor de que... aham... isto deve ter...
aham... continua a... a mesma... a mesma história que era para ver se a
“Second Market” não... não... não apareceria... para... para ser... aham...
Alvará de Obras Públicas, face a que é um levantamento de linha.
MANUEL GODINHO – Eles não podem fazer isso. Não podem fazer isso, porque
o concurso foi ganho por uma empresa...
GUIOMAR – Hum...
MANUEL GODINHO – E eles não o adjudicaram... Passado um ano e tal vieram
perguntar se aceitavam o preço...
GUIOMAR – Exactamente.
MANUEL GODINHO – E agora vão fazer o contrário?
GUIOMAR – Eh pá., é... é... Eu também acho bastante estranho tudo isso, ‘tás a
ver? Mas eu sei que é... é uma das teses que anda lá na mente daquela...
daquela gente.
MANUEL GODINHO – E achas que eles continuam... a lixar-nos, é?

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

GUIOMAR – Olha, no... a questão do va... do... da... aquilo que eu te disse do
vagão, aha... aha... ´ta a ser mesmo por convite. Mas o vagão, como tu dizes,
aquilo é uma treta, que tá ali...
MANUEL GODINHO – Quais?
GUIOMAR – Não vale nada. Os outros, não está a ser nada feito por... por
convite. É... é por concurso, por isso é que eu...
MANUEL GODINHO – (sobreposto) É tudo por concurso.
GUIOMAR – ... te disse que aquilo... É! Apareceu esse agora dos dezasseis
lotes... lá de cima do Norte... E vai aparecer, aham..., aham... mais outro,
também, que anda ao Centro, ali de... da zona de... Ramal de Cáceres e... e...
MANUEL GODINHO – Qual?
GUIOMAR – Este, e também do Sul.
MANUEL GODINHO – Ah! Pronto! Tu, põe-te atento. Não dês a perceber...
que... que nós falámos...
GUIOMAR – Não, não, não...
MANUEL GODINHO – Tás a ver? Aham... E eu vou fazer a mesma coisa. Certo?
GUIOMAR – Tá bem.
MANUEL GODINHO – Aham... Quando é que eles fazem a adjudicação aqui do
Norte?... Do Sul! Do Sul!
GUIOMAR – Aham... A qual? A do Sul... a do Sul a qual?
MANUEL GODINHO – A que nós ganhámos na semana passada.
GUIOMAR – Eh pá, deve ser mais uma semana.
MANUEL GODINHO – De hoje a uma semana?
GUIOMAR – Sim. Mais u... mais uma semana. A... o... Isso ‘tava...
MANUEL GODINHO – Mais uma semana?
GUIOMAR – Sim, Isso estava a ser tudo tratado... ainda ontem se estava a falar
nisso... aham... que se tinha de começar a... a tratar disso.
MANUEL GODINHO – Eh pá, é fazer isso.
GUIOMAR – Uma... uma... uma semana, semana e meia.
MANUEL GODINHO – Pronto, é fazer isso. Ok?
GUIOMAR – Tá bem?
MANUEL GODINHO – E vai-te pondo atento... vai-te pondo atento... aham... e
vai-me informando, tá bem?
GUIOMAR – ‘Tá. Não, Isso, eu vou-te informando, e... e... lá dentro, eu não te
conheço de lado nenhum.
MANUEL GODINHO – Exactamente. A ideia... É isso mesmo, ok?

630
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

GUIOMAR – Tá bom.
MANUEL GODINHO – Tá, um abraço.
GUIOMAR – Um abraço, pá. Adeus, obrigado.
MANUEL GODINHO – Adeus, obrigado.

Produto 5657 - Alvo 1T167PM - 02/04/2009 16:53:10 -


917649864  934098488 – Manuel Godinho  Valentim da REFER
Valentim, referindo-se a Manuel Guiomar, pergunta a Godinho se
ele lhe telefonou, pois esteve com ele em Santa Apolónia e transmitiu-lhe o
recado. Comenta também que o Guiomar tem medo.
Manuel Godinho pede a Valentim para telefonar para “o escritório”
(SCI Aveiro) e fornecer o nº do Guiomar.

Produto 5657, que abaixo se transcreve, na integra, para


melhor se alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a
final efectuado pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 5657


DATA/HORA: 02/04/2009 16:53:10
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – Valentim (Refer)

Manuel Godinho – Sim ?


Valentim – Está ?
Manuel Godinho – Sim, Valentim
Valentim – Tudo bem ou não
Manuel Godinho – Está tudo… Ehhhh…
Valentim – Diga
Manuel Godinho – O gajo ligou-lhe ?
Valentim – Diz ? Não…

631
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Godinho – Não ligou ? Telefona para o escritório e dá o nº dele…


Valentim – Sim
Manuel Godinho - que eu mando ligar do escritório.
Valentim – Está bem, está bem, está bem. Eu depois estive com ele, está a ver
? Em Santa Apolónia e disse para ligar mas o gajo é…, o gajo tem medo, o gajo
tem muito medo
Manuel Godinho – Ai é ?
Valentim – É, é… Então eu vou-lhe dizer para o gajo, para lhe ligarem para o
número dele
Manuel Godinho – Está bem
Valentim – Ele assim atende
Manuel Godinho – Está bem, ok
Valentim – Está bem, está bem, está bem
Manuel Godinho –Bá…
Valentim – Está bem, bá, está bem, até já

Produto 5658 - Alvo 1T167PM - 02/04/2009 17:03:56-


234302420  917649864 – Bruno (Telefonista) Manuel Godinho
Bruno transmite que telefonou para o Sr. Guiomar, conforme lhe
mandara o Sr. Valentim, mas que ele, de momento, não pode atender pois está
perto do Engº Sousa.

Produto 5658, que abaixo se transcreve, na integra, para


melhor se alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a
final efectuado pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 5658


DATA/HORA: 02/04/2009 17:03:56
INTERVENIENTES:
• DE – Desconhecido – telefone da SCI
• PARA – Manuel Godinho

632
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Godinho – Estou


Desconhecido – Sim, sr. Godinho, eu liguei agora para o sr. Guiomar, foi o sr
Valentim que me mandou
Manuel Godinho – Sim, sim.
Desconhecido – Ele neste momento não pode falar, diz que está perto do
engº Sousa, diz que liga de volta
Manuel Godinho – Está bem, ok
Desconhecido – Está, até já, então.
Manuel Godinho – Até já.

Produto 5662 - Alvo 1T167PM - 02/04/2009 17:18:26-


964733103  917649864 – Manuel Guiomar (REFER)  Manuel
Godinho
Manuel Guiomar envia a Manuel Godinho um SMS: “Godinho estou
junto do sousa. Saimos as 17,45 e ligo-te logo, um abraco”

Produto 5662, que abaixo se transcreve, na integra, para


melhor se alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a
final efectuado pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 5662


DATA/HORA: 02/04/2009 17:18:26
INTERVENIENTES:
• DE – Guiomar (Refer)
• PARA – Manuel Godinho

Trata-se de uma mensagem SMS, enviada para o Manuel Godinho, com o


seguinte teor (sic):
“Godinho estou junto do sousa. Saimos as 17,45 e ligo-te logo,
um abraço”

633
S. R.

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Produto 6543 - Alvo 1T167PM - 14/04/2009 09:08:52 -


234302420  917649864 – Valentim da REFER  Manuel
Godinho
Bruno, antes de transferir a chamada, anuncia que está ao telefone o
Sr. Valentim da REFER.
Manuel Godinho diz que necessita de falar com o Guiomar.
Valentim diz que lhe dá o recado.

Produto 6543, que abaixo se transcreve, na integra, para


melhor se alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a
final efectuado pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 6543


DATA/HORA: 2009-04-14 inicio 09:08:52
INTERVENIENTES:
• DE – Valentim (Refer)
PARA – Manuel Godinho

MANUEL GODINHO – Tou-


OPERADOR DE CENTRAL – Estou senhor Godinho é o senhor Valentim da
Refer.
MANUEL GODINHO – Passa. Tou.
VALENTIM (Refer) – Tou, bom dia chefe.
MANUEL GODINHO – Bom dia Valentim.
VALENTIM (Refer) – Tudo bem ou não.
MANUEL GODINHO – Tudo bem.
VALENTIM (Refer) – Está tudo a andar.
MANUEL GODINHO – Olha uma coisa.
VALENTIM (Refer) – Diga.
MANUEL GODINHO – Eu precisava de falar com o Guiomar pá.

634
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

VALENTIM (Refer) – Está bem, eu vou ligar ao gajo para ele, a ver se o gajo te
fala, está bem.
MANUEL GODINHO – Ele que me ligue que eu precisão falar com.
VALENTIM (Refer) – Está bem. Está bem. Está bem. Está bem. Até já.

Produto 5673 - Alvo 1T167PM - 02/04/2009 18:05:04 -


964733103  917649864 – Manuel Guiomar (REFER)  Manuel
Godinho
Manuel Guiomar e Manuel Godinho falam sobre possíveis
substitutos de Fernando Silva que se demitiu e sobre a atitude do chefe de
Guiomar em relação às empresas de Manuel Godinho.
Manuel Godinho pergunta quando é que o Guiomar vai ao Algarve
carregar os lotes. Este diz que está a tentar ser ele a ir lá.

Produto 5673, que abaixo se transcreve, na integra, para


melhor se alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a
final efectuado pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 5673


DATA/HORA: 02/04/2009 18:05:04
INTERVENIENTES:
• DE – Guiomar (Refer)
• PARA – Manuel Godinho

Manuel Godinho – Tou


Guiomar – Estou. É pá, desculpa lá, eu não podia mesmo falar.
Manuel Godinho – Está bem, não há problemas
Guiomar – Já percebeste?
Manuel Godinho – Eu percebi, eu percebi. Como é que isso anda para aí, pá, ?
Guiomar – Isso…, então, o Fernando foi-se embora

635
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Godinho – Eu sei


Guiomar – Agora não se sabe quem virá. Fala-se em muita porcaria mas não se
sabe quem é que…
Manuel Godinho – Mas quais são os nomes de que se fala ?
Guiomar – Fala-se na Arnalda, fala-se no Grossinho, de dentro a Arnalda, o
Grossinho e ou virá alguém de fora
Manuel Godinho – E o João Silva não se fala ?
Guiomar – Não, não.
Manuel Godinho – Esses nomes que se fala é para queimar
Guiomar – É ?
Manuel Godinho – Os nomes que se fala é para queimar
Guiomar – Eu também acho que sim, eu também acho que sim
Manuel Godinho – O Grossinho não era mau
Guiomar – O Grossinho era bom
Manuel Godinho – Qué ?
Guiomar – O Grossinho era bom
Manuel Godinho – Era bom, mas com esse individuo não sei o que é que é
possível o Grossinho fazer, não é ?
Guiomar – Eh pá, o pior, não, o que estás a falar é do meu chefe, não é ?
Manuel Godinho – Exacto
Guiomar – Éh pá, eu ainda não o consegui perceber, como é que é a moça daí
que lhe fala constantemente, a perguntar coisas e ele vai-lhe dando
informações, das coisas. Mas eu não sei…, não sei
Manuel Godinho – Mas ele (imperceptível) um tipo porreiro com nós.
Guiomar – Hã ?
Manuel Godinho – Ele está muito porreiro com nós
Guiomar – Esta história do vagão, acho que foi só para despistar; portanto
vieram 4 empresas, ele convidou 4 empresas.
Manuel Godinho – Sim
Guiomar - Que foi a Renascimento, a Ambitrena, o Batistas, a RFA e a
Transucatas…
Manuel Godinho – Sim
Guiomar - Vieram hoje e ontem vieram ver o vagão. Foi só por convite. Nas
outras, nas outras, ele comigo nem fala na, na, na… em vocês nem nada, ele só
diz, eh pá a gente interessa é que ganhe; porque eu ainda ontem lhe estava a
dizer a ele, olha os lotes do Norte, tu vais ter problemas, porque há fulanos,

636
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

porque o Batistas não concorreu, e os tipos, a RFA foi lá e viu que os lotes
estavam num sitio muito mau e também não ia concorrer, se calhar iam
apresentar preços, preços zerose não sei quantos;
Manuel Godinho – Pois…
Guiomar - E então ele depois disse-me assim, Hã, lá vai, lá vai outra vez o… ele
tem a mania de dizer o meu amigo, o meu amigo que vocês…
Manuel Godinho – (imperceptível)
Guiomar – Sim por causa de, só diz lá vai o teu amigo outra vez ganhar ao meu
amigo por causa do, do Valentim. Lá vai o teu amigo ganhar, e eu disse, quero
lá saber desde que seja da mesma maneira como tem sido até aqui.. Ah, eu
também, eu não quero saber disso para nada, a gente até suporta bem, os
tipos não levantaram ainda nunca nenhum problema. E eu fico assim sem
saber, eh, pá…
Manuel Godinho – Ele já deve ter levado um toque, estás a ver ?
Guiomar – E não se quer abrir à minha frente
Manuel Godinho – Pronto, porque o Pardal, o Pardal está flexível
Guiomar – Eh pá, então..
Manuel Godinho – Em relação a nós
Guiomar – Talvez seja , talvez seja por isso
Manuel Godinho – Pronto, pelo menos, pelo menos já não está com a
agressividade que estava, estas a ver ?
Guiomar – Sim, sim
Manuel Godinho - E estou convencido, estou convencido que daqui a 2 ou 3
meses as coisas estão alteradas
Guiomar – O pá, Deus queira que sim
Manuel Godinho – Sabes que o Fernando Silva também não se portou muito
bem com nós
Guiomar – Pois não
Manuel Godinho – Um dos objectivos dele, dele ou de outras pessoas, era que
ele, houvesse uma reconciliação entre nós
Guiomar – Quem, queria ele que houvesse… ?
Manuel Godinho – Ele, ele foi recomendado isso
Guiomar – Ah…
Manuel Godinho – E depois não fez
Guiomar – E nunca fez, ah, sim
Manuel Godinho – Exactamente.

637
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Guiomar – Exactamente
Manuel Godinho - Vamos com calma. Quando é que vais ao Algarve carregar
aqueles lotes ?
Guiomar – Eh pá, ainda ontem ele mandou, mandou-me um mail e hoje
estivemos os dois a falar disso e ele mandou-me falar com o Jorge Rodrigues
para saber como é que… O Jorge Rodrigues que é o do Algarve, que é para
saber como é que é, porque o tempo está a passar, que era para começar a
tratar disso
Manuel Godinho –Diz-me quando é que queres, diz-me quando é que queres
Guiomar – Está bem
Manuel Godinho – OK ? És tu que lá vais, é ?
Guiomar – Eu posso ir a uma parte e a outra, eu estou a fazer força para ser,
estás a ver ?
Manuel Godinho – Pronto, vê isso
Guiomar – Eu queria lá ir
Manuel Godinho – Vê isso que eu depois dou lá um salto
Guiomar – Assim que, assim que for o, o…, assim como este aqui de Casa
Branca
Manuel Godinho – Está bem
Guiomar – Está bem ?
Manuel Godinho – Está, ok. A gente vai falando, está bem ?
Guiomar – Um abraço, desculpa lá, adeus, um abraço
Manuel Godinho – Nada, nada

Produto 5674 - Alvo 1T167PM - 02/04/2009 18:24:48 -


917649864  964733103 – Manuel Godinho  Manuel Guiomar
(REFER)
Manuel Godinho transmite a Manuel Guiomar que acabou de
receber uma carta para marcarem uma reunião para tentar um acordo entre
as duas empresas. Comenta que as coisas se estarão a compor.

638
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 5674, que abaixo se transcreve, na integra, para


melhor se alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a
final efectuado pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 5674


DATA/HORA: 02/04/2009 18:24:48
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – Guiomar (Refer)

Guiomar – Diz
Manuel Godinho – Sim, ó Guiomar, nem, nem de propósito, recebi uma carta
a marcar uma reunião para o dia 16, para o dia 16 de Junho, para haver, para
tentar uma reconciliação entre a O2 e a Refer.
Guiomar – (Risos)
Manuel Godinho – Nem de propósito
Guiomar – … que carago…
Manuel Godinho – As coisas estão-se a compor, calma
Guiomar – Eh pá, ainda bem, fico contente
Manuel Godinho – As coisas vão-se compor, tem calma, não comentes nada
disto ainda
Guiomar – Eu tenho de começar, tenho de continuar a fazer tal e qual como
estou a fazer
Manuel Godinho – Exactamente, calas-te bem calado, estás a ver ? Porque as
coisas, as coisas
Guiomar – …as coisas são para acompanhar…e isso ele está…que é importante
eu ir
Manuel Godinho – Está bem
Guiomar - e isso já eu fico satisfeito
Manuel Godinho – Pronto, ok, porreiro, um abraço
Guiomar – Tchau, obrigado

639
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 6222 - Alvo 1T167PM - 08/04/2009 20:05:26 -


964733103  917649864 – Manuel Guiomar (REFER)  Manuel
Godinho
Manuel Guiomar envia a Manuel Godinho um SMS: “Godinho
parabens pelo concurso”.

Produto 6222, que abaixo se transcreve, na integra, para


melhor se alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a
final efectuado pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 6222


DATA/HORA: 2009-04-08 inicio 20:05:26
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Guiomar (REFER)
PARA – Manuel Godinho

“Godinho parabéns pelo concurso”

Produto 6223 - Alvo 1T167PM - 08/04/2009 20:05:26 -


964733103  917649864 – Manuel Guiomar (REFER)  Manuel
Godinho
Manuel Guiomar envia a Manuel Godinho um SMS: “Amanha e so a
analise das propostas, um abraco Guiomar”.

Produto 6223, que abaixo se transcreve, na integra, para


melhor se alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a
final efectuado pelo JIC/TCIC:

640
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PRODUTO Nº: 6223


DATA/HORA: 2009-04-08 inicio 20:12:57
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Guiomar (REFER)
PARA – Manuel Godinho

“Amanha e so analise das propostas, abraço Guiomar”

Isto conjuga-se com outros elementos que os autos fornecem.


A REFER lançou um concurso, A06-08-GVCP, para alienação de
quatro lotes de material ferroso, como consta de fls. 110 a 141 do Apenso
Documentação AJ 4.

O operador 2ndMarket, foi o vencedor para os lotes 3 e 4, por ter


apresentado o melhor preço, fls. 134 e 136 do Apenso Documentação AJ 4.
O material do lote 3 encontrava-se armazenado na Estação do
Livramento e ao longo da linha (Olhão), e do lote 4 na em três pontos junto de
Algoz.

O levantamento do lote 3 teve lugar nos dias 15 e 16 de Abril, quando


trabalhadores e viaturas do arguido Manuel Godinho, supervisionadas pelo
arguido Hugo Godinho, procederam ao levantamento de material.

A fiscalização, por parte da REFER, foi realizada pelo arguido Manuel


Guiomar, em representação da CPL (Direcção de Aprovisionamentos,
Procurement e Logística da REFER) e por Mário Mendes, funcionário da
REFER na Unidade Operacional Sul – Estação de Tunes.

Face às dificuldades que o Sr. Mário Mendes da REFER, que


acompanhava o levantamento, estava a colocar, foi delineada uma estratégia,
entre os arguidos Manuel Godinho, Manuel Guiomar e Hugo Godinho, para
que, ainda assim, pudessem ser subtraídos materiais.

641
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Como resulta do depoimento da testemunha Mário Mendes, os


levantamentos correram dentro da normalidade, tendo as pesagens sido
efectuadas nas balanças previamente indicadas.

O mesmo Mário Mendes referiu que o Manuel Guiomar contactou-o


para o ir buscar à Estação de Faro, ao que ele não acedeu porque os trabalhos
já tinham iniciado. Apesar de lhe ter dito que alguém da REFER o iria buscar,
ele acabou por ser transportado por Hugo Godinho.

No final dos trabalhos seguiu-se a pesagem dos camiões e emissão


dos documentos (autos de medição, guias de remessa e guia de resíduos).

O peso estimado para este lote, foi de 37,20 Toneladas. (fls. 120
Apenso Documentação AJ4)

Os documentos encontram-se de fls. 9 a 15 do Apenso Documentação


AJ. Pela sua leitura verifica-se que foram levantadas 49, 480 Toneladas, sendo
31,620, referentes à primeira carga e 17 860, da segunda. Estes valores são
coincidentes com os talões de pesagem de fls. 305 e 308 do Apenso
Documentação AJ.

Relativamente ao lote 4, o peso estimado, no procedimento, era de 49,


30 Toneladas. (fls. 120 Apenso Documentação AJ4).

O material foi levantado no dia 12/05/09, conforme documentos


constantes de fls. 153 a 162 do Apenso Documentação AJ. Pela sua leitura,
foram levantadas 55,860 Toneladas, correspondendo a duas cargas,
respectivamente, 33 920 e 21 940, valores correspondentes aos respectivos

642
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

talões de pesagem, fls. 159 e 155 do Apenso Documentação AJ,


respectivamente.

Estas cargas foram transportadas pelas viaturas com as matrículas 33-


CO-45 e 41-FB-24, as quais foram pesadas, na SCI, no dia 13/05/09,
constando os respectivos talões, com referência a “REFER ALGOZ”, a fls. 161
do Apenso Buscas S, cujo peso líquido é de 34 520 kg e 22 020 kg,
apresentando uma variação de 600 kg e 110 kg, respectivamente, isto em
relação à pesagem efectuada à saída.

Esta variação não se mostra relevante, uma vez que facilmente poderá
ser justificada pela alteração de peso dos camiões, originada pela variação de
combustível.
Por outro lado, as comunicações interceptadas aquando do
levantamento do lote anteriormente referido são bem elucidativas quanto à
forma de actuar dos arguidos, Manuel Godinho, Manuel Guiomar e Hugo
Godinho.

Este último, na conversa que manteve com Manuel Godinho, a que


corresponde o produto 6726 do alvo 1T167PM, que abaixo se transcreve, na
integra, para melhor se alcançarem os exactos fundamentos do juízo de
prognose a final efectuado pelo JIC/TCIC,informa-o de que aquilo não dá nada,
isto porque o Mário Mendes não o permite e que o Manuel Guiomar o
aconselhou a não correr riscos porque oportunidades não vão faltar.

PRODUTO Nº: 6726


DATA/HORA: 15/04/2009 13:29:08
INTERVENIENTES:
• DE – HUGO GODINHO
• PARA – MANUEL GODINHO

643
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – ‘Tou?


HUGO GODINHO – Sim.
MANUEL GODINHO – Diz, (imperceptível)
HUGO GODINHO – Hum... Eu já estou aqui com o Geomar.
MANUEL GODINHO – Com o Guiomar ?
HUGO GODINHO – Sim. Aham... Isto não dá nada. Não dá nada. O gajo que
está aqui é um boi do caralho.
MANUEL GODINHO – Ai é?
HUGO GODINHO – É. O gajo que está aqui é um boi do caralho. Ainda há um
bocado...
MANUEL GODINHO – (sobreposto – imperceptível) … é ?
HUGO GODINHO – Aham… Estão ali, os dois.
MANUEL GODINHO – Ok.
HUGO GODINHO – Aham… Eu já estive a falar com ele. E ele diz... para não
correr riscos, aqui, que oportunidades não vão faltar.
MANUEL GODINHO – Ok.
HUGO GODINHO – Aham... Este... Anda aqui o Frexes (?) a carregar em
Tunes...
MANUEL GODINHO – Sim.
HUGO GODINHO – E ele meteu outros gajos a acompanhar o Frexes, para vir
ele aqui.
MANUEL GODINHO – Mas de propósito, é?
HUGO GODINHO – Aham... Não. Anda o Frexes a carregar em Tunes.
Marcaram para o mesmo dia que nós.
MANUEL GODINHO – Pois.
HUGO GODINHO – E esse cabrão, para ser esse gajo, esse Mário Fernandes,
para ser ele a acompanhar, tem lá outro pessoal a acompanhar e veio ele
propositadamente acompanhar o nosso serviço. A mando de um tal
Engenheiro Sever Rodrigues, ou lá o que é.
MANUEL GODINHO – Ai é?
HUGO GODINHO – É.
MANUEL GODINHO – O Guiomar depois que me ligue, ok?
HUGO GODINHO – Tá bem. Aham... Eu...
MANUEL GODINHO – (sobreposto) Daqui a dez minutos.

644
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

HUGO GODINHO – Daqui a dez minutos?


MANUEL GODINHO – Sim.
HUGO GODINHO – Ok. Tá.
MANUEL GODINHO – Tá, ok.
HUGO GODINHO – Tá. Tchau.
MANUEL GODINHO – Até já

É igualmente de notar o modo, no mínimo impróprio, como se referem


ao funcionário da REFER Mário Mendes, tão-só pelo facto de ele estar a
cumprir correctamente o seu dever.

Também o arguido Manuel Guiomar, no decurso do levantamento


deste lote, informa o arguido Manuel Godinho de que a primeira carrada pesou
mais do que aquilo que estava estipulado, propondo que no dia seguinte,
iniciassem os trabalhos mais cedo, por forma a ser retirado material do lote,
como se alcança do teor da conversação a que corresponde o produto 6787
do Alvo 1T167PM, mantida entre os arguidos Manuel Godinho e Manuel
Guiomar.

Na correlação de elementos dos autos, poder-se-á concluir que


Manuel Godinho e Hugo Godinho, com participação efectiva do funcionário da
REFER, Manuel Guiomar, tinham preparado um esquema para subtraírem
material, não o tendo conseguido pôr em prática, dada a fiscalização eficaz do
outro funcionário da REFER, Mário Mendes.

No entanto, a subtracção de materiais nos lotes aquando dos


levantamentos, era procedimento sedimentado e acordado entre os arguidos
Manuel Godinho, Manuel Guiomar e Hugo Godinho, como se depreende das
conversações telefónicas anteriormente indicadas, onde o Manuel Guiomar
mostra insatisfação por não conseguir levar por diante os seus intentos.

645
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Mas, como refere o arguido Hugo Godinho, evocando o que lhe foi dito
pelo Manuel Guiomar – oportunidades não vão faltar.
Indiciam todavia os autos que efectivamente os propósitos destes
arguidos foram postos em prática, como se demonstra nos procedimentos que
seguidamente se analisam.

Em todos, Manuel Guiomar foi o responsável da REFER pela


fiscalização dos levantamentos, cabendo-lhe, para além do mais, controlar as
pesagens.

A REFER lançou um concurso para alienação de 16 lotes de material


ferroso, ao qual é atribuída a Refª. A08-09-GVCP, cujo relatório final do
procedimento e a decisão de alienação dos lotes consta de fls. 142 a 178 do
Apenso Documentação AJ 4.

Concorreram várias empresas, entre as quais se encontram a SCI –


Sociedade Comercial e Industrial de Metalomecânica, SA e 2ndMarket –
Recolha, Triagem, Reciclagem, Reutilização de Produtos Eléctricos e
Electrónicos Usados, Lda.

Como consta a fls. 156 do Apenso referido, foi proposta a adjudicação


dos lotes 11 e 16 à SCI, pelo valor de 75 850,00€ e 7 265,00€,
respectivamente; à 2ndMarket foi proposta a adjudicação dos lotes 1, 2, 6, 7, 8,
9, 10, 12, 14 e 15, no valor de 6 215,00€, 7 020,00€, 9 765,00€, 12 040,00€ 5
545,00€, 8 975,00€, 12 265,00€, 940,00€, 3 305,00€, 6 905,00€ e 14 405,00€,
respectivamente. A proposta formulada pelo júri veio a ter a concordância do
Conselho de Administração da REFER, em 30.04.09, fls. 178.

646
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apesar do número dos lotes em causa no concurso, a investigação


incidiu sobre os lotes 11, 14, 15 e 16, uma vez que, relativamente aos
restantes, não existem nos autos elementos que permitissem de alguma forma
encetar diligências com vista a averiguar os procedimentos dos levantamentos.

Por outro lado, as variações entre o peso estimado e os valores


facturados também não são de grande monta.
Relativamente ao lote 11, levantado na estação da Livração, o peso
estimado foi calculado em 327,5 toneladas, tendo sido apenas levantados 189
305Kg.
Da busca realizada na empresa SCI, resultou a apreensão de dois
talões de pesagem, referentes a outras tantas cargas, realizadas nos dia
23/07/09, na Livração, fls. 164 do Apenso Buscas S.

Tais talões são referentes às viaturas 98-90-VX e 67-96-MP, cujos


pesos líquidos são de 35 800 Kg e 32 400 Kg, respectivamente e dizem
respeito ao cliente “Refer – Livração” e a cargas de carril e sucata.
Estes registos contrariam o que consta das respectivas Guias de
Remessa, fls. 23, 26 e 27 do Apenso Documentação AJ.

Desta análise resulta que a viatura 98-90-VX, carregou na Livração, de


onde saiu pelas 12h00m, com a quantidade de 20 560Kg. A mesma viatura
veio a pesar 35 800 Kg, quando entrou na SCI.

A outra viatura, 67-96-MP, fez duas cargas no mesmo dia, 23/07/09.


Uma acompanhada pela guia de remessa de fls. 23, com o peso de 23 000 Kg,
com saida da Livração às 10h00m e outra acompanhada pela guia de remessa
de fls. 27, com o peso de 15 880 kg, com saída da Livração às 15h30m.

647
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apesar de só ter sido localizado e apreendido, na SCI, um talão de


pesagem deste mesmo dia e referente àquela viatura, o mesmo apresenta o
peso de 32 400Kg, conforme consta de fls. 164 do Apenso Buscas S, o que é
superior ao registado na Livração, em qualquer uma das cargas deste camião.

No entanto, a empresa fez chegar à REFER os talões de pesagem de


fls. 1965 e 1969 do Apenso AJ 9 V, referentes à mesma viatura, onde os pesos
são divergentes em relação aos talões apreendidos na SCI. Assim, não restam
dúvidas que os documentos entregues à REFER não mencionavam o peso
efectivo do material levantado.

Face ao exposto relativamente a este lote, o procedimento adoptado


foi em tudo semelhante ao que também colocaram em prática relativamente ao
procedimento que seguidamente se irá referir – A17-09-GVCP – referente aos
levantamentos efectuados em Caria – Belmonte, ou seja, verifica-se que era
registado um peso aquando do levantamento do material, emitindo as
respectivas guias de remessa que serviram de base ao pagamento, onde era
registado um peso, quando, na realidade o material que os camiões
transportavam era substancialmente superior.

Acresce a esta realidade que as existências de sucata na estação da


Livração eram registadas em mapas mensais pelos funcionários da REFER
que ali prestavam serviço, José Vieira de Sousa Pinto e Manuel Moreira
Pereria, os quais constam de fls. 240 a 299 do Apenso AJ 9 XXI.
Estes mapas, conforme consta das declarações destes dois
funcionários, eram remetidos a estação da Régua que os faziam chegar ao
Centro de Manutenção de Ermesinde.

Os mapas de existências remetidos por este centro, juntos aos autos


de fls. 326 a 359, são cópias dos produzidos pelos funcionários da estação da

648
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Livração, encontrando-se alguns destes ainda assinados pelo supervisor e


especialista de via, o que evidencia que os mesmos seguiram a cadeia
hierárquica. Acontece porém que estão em falta, desconhecendo-se qual o
motivo, os mapas refentes aos meses de Outubro de 2008 a a Abril de 2009.

Indiciam-se assim que os mapas elaborados pelos funcionários


reproduzem a existência de sucata, mensalmente, na estação da Livração e,
face aos valores apresentados, no concurso, como peso estimado, serviram
para cálculo deste valor.
Foram colocados a concurso 327 500 Kg de sucata ferrosa, como
consta do caderno de encargos, fls. 323 do Apenso Documentação AJ 4.

No entanto, aquando dos levantamentos apenas foi registado o peso


de 189 305 Kg.
Esta variação de peso foi justificada internamente com o facto de ter
havido carregamento de carril sucata para o Entroncamento, isto aproveitando
o trajecto de dois comboios que foram descarregar carril novo.

Efectivamente houve dois carregamentos de carril sucata, que


ocorreram em 10.09.08 (60 000Kg), fls. 487 e 23.10.08 (44 000Kg), fls. 989,
ambas do Apenso AJ 9 II. Mas estes valores foram retirados do registo dos
mapas de sucata.

Deste modo, indiciam-se que no mês de Agosto de 2008 o respectivo


mapa registava 338 560 Kg de carril (fls. 263 do Apenso AJ 9 XXI), passando
no mês de Setembro para 304 826 Kg (fls. 262 do Apenso AJ 9 XXI), o que
perfaz um diminuição ao lote de 33 734 Kg.

No entanto, como consta das declarações do funcionário Manuel


Pereira, como o mapa reporta as existências mensais, também reflecte o

649
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

material que, no mês, passou a fazer parte do lote, ou seja, foram retiradas as
60 toneladas transportadas para o Entroncamento, mas também foi
acrescentado material ao lote, pelo que no final do mês, apresentava o valor de
304 826 Kg de carril.

O carregamento de Outubro de 2008, de 44 toneladas, também se


encontra reflectido no mês de Novembro desse mesmo ano, pois em Outubro o
lote apresentava um peso de 294 050 Kg, passado para 248 986 Kg em
Novembro, tendo assim uma oscilação negativa de 45 064 Kg.

O facto da saída do mês de Outubro só ter sido abatida ao mapa no


mês de Novembro justifica-se pelo facto da carga ter ocorrido em 23.10.08 e o
mapa desse mesmo mês ter sido produzido a 19/10/08.

Pelo exposto, conclui-se que o peso estimado do lote lançado a


concurso era coincidente com o valor das existências de sucata na estação da
Livração, portanto foram levantados os 327 250 Kg, registados nos mapas de
existências do mês de Junho de 2009 e não os 189 305 Kg, registados nas
guias de remessa.

Assim, face à metodologia prevista no caderno de encargos, e dado


que o lote não atingiu o peso previsto, a empresa “SCI” veio a receber o
montante de 28 813,88€, como consta de fls. 19 do Apenso Documentação AJ.

Como a factura foi emitida para os lote 11 e 16, consta de fls. 376 a
388 do Apenso AJ 7, as contas descriminadas por lote, onde, no mapa de fls.
387 é reflectido o valor que foi devolvido à “SCI” , 28 213,88€.

650
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Pelo anteriormente evidenciado, este valor, se as pesagem tivessem


sido devidamente realizadas, não deveria ter sido devolvido, pois a sucata
existente perfazia o peso previsto para o lote.

Indiciam assim fortemente os autos que a forma de proceder


explanada anteriormente, criou um prejuízo para a REFER no montante de
28 813,88€

No que se reporta aos lotes 14 e 16, estava prevista a existência de 30


toneladas de carril, para cada um deles. No entanto, vieram a ser levantados
246 970 Kg, no lote 14 e 102 520 Kg no lote 16.

Como consta da exposição de fls. 45 do Apenso AJ 6, o peso real


superior ao estimado ficou a dever-se ao facto de, nas estações onde se
encontrava parqueada a sucata, existir carril para ser aplicado e que, face a
normativos internos que vieram a ser publicados, deixaram de ter aplicabilidade
e, por tal motivo foram acrescentados aos lotes, isto por indicação do director
da Unidade Operacional Norte, Engº. Mário Rodrigues.

Esta decisão levou a que, face a inexistência de registos relativos ao


carril que se destinava a ser reaplicado (fls. 226 e 326 do Apenso AJ 7), não
fosse possível apurar o peso real de cada lote.
Apesar disso, e no que se reporta ao lote 14, levantamento no Tua, a
viatura com a matrícula 33-CO-45, efectuou uma carga no dia 28/07/09, a que
corresponde a guia de acompanhamento de resíduos da 2ndmarket, de fls. 236
Apenso Documentação AJ) e a guia mod. A do Ministério do Ambiente, fls. 235
(Apenso Documentação AJ). Ambos os documentos apresentam a quantidade
de 17 485Kg.

651
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

A mesma viatura, pesada nesse dia na SCI, apresentou o valor de 40


580 Kg, fls. 160 do Apenso Documentação S.

Assim, podemos concluir indiciar-se fortemente que as pesagens


efectuadas no local da carga, não reflectiam a totalidade do material que as
viaturas transportavam, procedimento que se tornou habitual.

Relativamente ao lote 16, o mapa de existência de sucata no mês de


Maio e Junho de 2009, regista os valores de 92 000 Kg de carril e 6 000 Kg de
sucata miúda, fls. 346 e 348 do Apenso AJ 7, o que perfaz um total de 102 000
Kg, o que só diverge 520 Kg, em relação aos registos de levantamentos.

Portanto, poder-se-á concluir que o material existente e registado nos


mapas é equivalente ao que foi levantado.

No entanto, foram feitas referências que a este lote foi acrescentada


sucata que não fazia parte do concurso. No entanto, uma vez que a sucata
existente, evidenciada nos mapas, é de valor igual à que foi registada no
levantamento, o material que foi acrescentado não foi pesado e portanto, não
foi tido em conta para pagamento.

Relativamente ao lote 15 (estação do Pocinho), apesar de estarem


previstas para este lote 64 toneladas, acabaram por apenas ter sido levantados
50 245 Kg. No entanto, dado que os mapas de registo de existência de sucata
não se encontram preenchidos no que se reporta a este local, não se mostra
viável qualquer análise ao material levantado.
Estes levantamentos foram acompanhados pelos funcionários da
REFER identificados a fls. 388 do Apenso Documentação AJ, os quais foram
inquiridos, tendo-se apurado que a pesagem do material foi efectuada pelo
arguido Manuel Guiomar, reforçando-se assim os indicios a seu respeito.

652
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Os levantamentos a que atrás se aludiu foram concretizados entre os


dias 23 e 30 de Julho de 2009.

Quer no período que antecedeu os levantamentos, quer durante os


mesmos, foram registadas várias conversações telefónicas, que se relacionam
com os levantamentos, cujos interlocutores são, para além do arguido Manuel
Godinho, os também arguidos Manuel Guiomar, José Valentim, Maribel
Rodirgues, Hugo Godinho, João Godinho e ainda o Director da Unidade
Operacional Norte da REFER, Engº. Mário Rodrigues.

Produtos, que abaixo se transcrevem, na integra, para melhor


se alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final
efectuado pelo JIC/TCIC:

Produto 15049 - Alvo 1T167PM - 14/07/2009 14:24:20 -


934098488  917649864 – Valentim (REFER)  Manuel Godinho
Valentim diz que esteve a falar com o Guiomar e que ele lhe disse
que a “SCI” ganhou no concurso do carril de Estremoz. Manuel Godinho diz
que já sabe.
Valentim diz que o Guiomar tem a balança e queria falar com o
Godinho para combinarem as coisas.
Manuel Godinho diz que lhe ligue depois

PRODUTO Nº: 15049


DATA/HORA: 14/07/2009 – 14h24m20s
INTERVENIENTES:
• DE – Valentim - REFER
• PARA – Manuel Godinho

653
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Tou.

VALENTIM – REFER – Tou, tudo bem?

MANUEL GODINHO – Tudo, valentim.

VALENTIM – REFER – O… Tive agora aqui com o Guiomar, ele quer falar
contigo…

MANUEL GODINHO – Sim?

VALENTIM – REFER – Porque como, foi a SCI que ganhou os carris de


Estremoz...

MANUEL GODINHO – Eu sei.

VALENTIM – REFER – Pronto, ele queria hamm… Tem aqui a balança para ver
como é que... Para falar consigo depois para combinar consigo, se vai para
cima…

MANUEL GODINHO – Ele depois que ligue.

VALENTIM – REFER – Então tá bem, tá bem.

MANUEL GODINHO – Depois ligue-me, tá bem.

VALENTIM – REFER – Que ele quer ou hoje, ou amanhã, ir... Tá bem?

MANUEL GODINHO – Tá bem.

VALENTIM – REFER – Tá bem , vá até já, até já, até já, até já.

MANUEL GODINHO – Tá bem, OK.

Produto 15199 - Alvo 1T167PM - 15/07/2009 13:48:10 -


964733103  917649864 – Manuel Guiomar  Manuel Godinho
Guiomar pergunta a Manuel Godinho com quem é que fala para irem
ver no dia 22, na Livração, os lotes e combinar o levantamento (linha do
Douro).

654
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Godinho diz que vai ele “disfarçadamente”.

PRODUTO Nº: 15199


DATA/HORA: 15/07/2009 – 13h48m10s
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Guiomar - REFER
• PARA – Manuel Godinho

MANUEL GODINHO – Tou?

MANUEL GUIOMAR – REFER – Olha, com quem é que eu falo pra, pra fazer a
marcação, que é para ir no dia vinte e dois, pra estarmos na (imperceptível)
para ir ver os, os lotes e combinarmos...

MANUEL GODINHO – Estás a falar comigo?

MANUEL GUIOMAR – REFER – Tou, eu sei…

MANUEL GODINHO – Eu quero lá dar um salto contigo...

MANUEL GUIOMAR – REFER – Hã?

MANUEL GODINHO – É preciso lá dar um salto… Assim muito


disfarçadamente, tas a ver?

MANUEL GUIOMAR – REFER – Ah! Tá bem.

MANUEL GODINHO – Pronto.

MANUEL GUIOMAR – REFER – Eu estava a dizer, eu estava a dizer que já


combinei com o Onorte e é no dia vinte e dois...

MANUEL GODINHO – Sim?

MANUEL GUIOMAR – REFER – Para irmos, para estarmos na Livração, para ir


ver a linha do Douro, por causa do levantamento dos lotes…

MANUEL GODINHO – Tá bem.

MANUEL GUIOMAR – REFER – Eee...

655
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Olhe, eu estou aqui debaixo de um barulho intenso…

MANUEL GUIOMAR – REFER – Humm...

MANUEL GODINHO – Quando eu sair daqui eu ligo-lhe.

MANUEL GUIOMAR – REFER – Tá bem, tá bem.

MANUEL GODINHO – Tá bem?

MANUEL GUIOMAR – REFER – Tá bem, tá bem.

MANUEL GODINHO – Eu ligo-te depois.

MANUEL GUIOMAR – REFER – Tá, tá, um abraço.

MANUEL GODINHO – Tá.

Produto 15236 - Alvo 1T167PM - 15/07/2009 19:44:20 -


964733103  917649864 – Manuel Guiomar  Manuel Godinho
Manuel Godinho diz que se esqueceu de lhe telefonar.
Guiomar diz que já tratou de tudo e que lhe disseram que,
provavelmente, irá o Hugo.
Guiomar diz que se esqueceu de falar com a SCI e só falou com a
2NDMarket.
Manuel Godinho diz que não há problema porque é a mesma coisa.
Manuel Godinho diz que amanhã vai a Lisboa e combina almoçar
com Guiomar.

PRODUTO Nº: 15236


DATA/HORA: 15/07/2009 – 19h44m20s
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Guiomar - REFER
• PARA – Manuel Godinho

MANUEL GODINHO – Sim?

656
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GUIOMAR - REFER– Só pra te dizer que está tudo combinado, que eu
depois que eu depois falei…

MANUEL GODINHO – Tá bem. É pá desculpa lá mas esqueci-me de te ligar, pá.

MANUEL GUIOMAR - REFER– Não, não, tá tudo, tá tudo tratado.

MANUEL GODINHO – Que eu estive toda a tarde numa reunião...

MANUEL GUIOMAR - REFER– Não, mas está tudo tratado.

MANUEL GODINHO – Eu amanhã, amanhã, vou aí a Lisboa, portanto... estás aí


na hora do almoço, é?

MANUEL GUIOMAR - REFER– Tou, tou, tou, tou.

MANUEL GODINHO – Então vá, a ver se a gente vai almoçar.

MANUEL GUIOMAR - REFER– Tá, tá bem.

MANUEL GODINHO – Tá bem?

MANUEL GUIOMAR - REFER– mas está descansado que está tudo tratado, OK?

MANUEL GODINHO – OK.

MANUEL GUIOMAR - REFER– Vá.

MANUEL GODINHO – E o ramal de Estremoz?

MANUEL GUIOMAR - REFER– é pá, isso é da “STI”, ouve lá eu só falei com a


(imperceptível) ou falei com a “SCI”, é a mesma coisa.

MANUEL GODINHO – Não há crise, é a mesma coisa, é a mesma coisa.

MANUEL GUIOMAR - REFER– Pronto, é que disseram-me que provavelmente


virá o Hugo, portanto, para mim não me interessa...

MANUEL GODINHO – Pois.

MANUEL GUIOMAR - REFER– Mas se vier o Hugo tudo bem, eu depois logo…

MANUEL GODINHO – Não há problema absolutamente nenhum.

MANUEL GUIOMAR - REFER– Lá combino depois isso tudo com ele.

657
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – OK.

MANUEL GUIOMAR - REFER– Tá bom?

MANUEL GODINHO – OK. Não amanhã eu vou aí a Lisboa e almoço contigo.

MANUEL GUIOMAR - REFER– Tá, vá um abraço, até amanhã.

MANUEL GODINHO – Tá, um abraço, até amanhã.

MANUEL GUIOMAR - REFER– Adeus, chau, chau.

Produto 16048 - Alvo 1T167PM - 24/07/2009 11:22:14 -


917649864  918912472 – Manuel Godinho  Mário
Mário diz que está a viver em Vila Real.
Manuel Godinho diz que vão ter que falar urgentemente, porque
agora vao ter falar, porque, tudo indica, após as eleições as coisas vão sofrer
uma grande alteração.
Mário pergunta se para a semana já há alguma coisa.
Manuel Godinho diz que não, porque enquanto a senhora (Ana Paula
Vitorino) lá estiver não hipótese, porque ela é má, é ordinária, só tem
prejudicado as pessoas.
Manuel Godinho pede a Mário para dar uma ajuda junto do pessoal
dele para pôr o material em posição de carga, para ele não demorar muito e
não fazer asneiras.

PRODUTO Nº: 16048


DATA/HORA: 24/07/2009 11:22:14
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – Mário

MÁRIO – Tá ?

MANUEL GODINHO – oh, hum …. Mário?

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

MÁRIO – Bom dia


MANUEL GODINHO – É Godinho, bom dia.
MÁRIO – Bom dia
MANUEL GODINHO – Então pá, tá tudo bem, ou quê?
MÁRIO – Cá vou vivendo, pá. Ontem estava no dentista. Eu inda tive à noite,
mas eu estava aflito dos dentes
MANUEL GODINHO – Não, mas eu ontem à noite estive ocupado
MÁRIO – Ah, eu estive …
MANUEL GODINHO – Então, está tudo bem contigo?
MÁRIO – Tá. Eu estive aqui aflito dos dentes e eu ontem não os pude atender.
Eu vi aqui algumas chamadas
MANUEL GODINHO – Ah
MÁRIO – E sabia que havia cá mais
MANUEL GODINHO – Quando é que gente vai tomar um copo, pá ?
MÁRIO – Eh pá
MANUEL GODINHO – É que agora isso, vamos ter que falar, né, vamos ter que
falar porque, tudo indica, após as eleições, que isso vai sofrer uma grande
alteração, eh …
MÁRIO – Deus te oiça
MANUEL GODINHO – vai, vai, vai, é de certeza, isso é de certeza … eh, pronto,
tu vais para baixo quando?
MÁRIO – Não, eu agora estou em Vila Real
MANUEL GODINHO – Tas aonde?
MÁRIO – Estou a morar em Vila Real
MANUEL GODINHO – Vila Real de Trás-os-Montes?
MÁRIO – É
MANUEL GODINHO – Prá semana
MÁRIO – Prá semana já não há nada, ou há?
MANUEL GODINHO – Não, para a semana ainda não há nada. Isto é assim. Isto
é assim. Enquanto a senhora lá estiver, vai estar mais um mês e tal, … não há
hipótese
MÁRIO – Hum hum
MANUEL GODINHO – Não há hipótese porque a gaja, a gaja é má, é ordinária,
pôs o lugar dela à disposição
MÁRIO – É um monstro

659
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – É é, mas o pessoal está todo queimado com ela porque
ela só tem prejudicado, só tem prejudicado as pessoas, não é?
MÁRIO – Hum hum
MANUEL GODINHO – Mas isso é uma conversa
MÁRIO – Depois falamos
MANUEL GODINHO – Isto é uma conversa pessoalmente
MÁRIO – Tá bem
MANUEL GODINHO – Para a semana, para a semana vê se dás uma, um
saltozinho a Ovar ou
MÁRIO – Tá bem
MANUEL GODINHO – Ou eu vou aí ou qualquer coisa do género
MÁRIO – Tá bem
MANUEL GODINHO – Temos que falar urgentemente
MÁRIO – Tá bem, tá combinado
MANUEL GODINHO – Olha, tu dá uma ajuda, com o teu pessoal, para ele pôr o
material em posição de carga, pá
MÁRIO – Tá bem
MANUEL GODINHO – Mas trata já disso
MÁRIO – Mas isso já está. Ele aí, vocês estão onde? Vila Real não é
MANUEL GODINHO – Diz
MÁRIO – Estão em Vila Real não é
MANUEL GODINHO – Estamos em Vila Real, cheguei agora mesmo
MÁRIO – Aí está em posição de carga
MANUEL GODINHO – Aqui está porreiro
MÁRIO – Onde ele não estava bem era no outro lado
MANUEL GODINHO – Pronto, mas vê os sítios onde não está, que é para eu
não me demorar muito tempo com isso e não fazer asneiras
MÁRIO – Está Combinado
MANUEL GODINHO – Ok
MÁRIO – Um abraço
MANUEL GODINHO – Um abraço, adeus, bom fim-de-semana

660
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 16277- Alvo 1T167PM - 27/07/2009 21:23:06 -


917649864  918912472 – Manuel Godinho  Mário
Manuel Godinho pergunta a Mário se deu as instruções ao Vitor.
Ele diz que sim, aliás isso constava do despacho. Mário acrescenta
que têm que ir com calma porque anda muita coisa no ar.

PRODUTO Nº: 16277


DATA/HORA: 27/07/2009 21:23:06
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – Mário

MÁRIO – Tou
MANUEL GODINHO – Sim Mário.
MÁRIO – Diga
MANUEL GODINHO – É Godinho. Eh … tas a jantar
MÁRIO – Inda não pá, tou a sair agora do serviço
MANUEL GODINHO – Tas a trabalhar?
MÁRIO – Pois, que remédio
MANUEL GODINHO – Ok. Como é que está a … deste a ordens ao Victor ou
não
MÁRIO – Dei
MANUEL GODINHO – Deste?
MÁRIO – Espero transmitir as informações, aliás isso já estava no despacho de
lá de baixo, precisamente a dizer isso, pá.
MANUEL GODINHO – Havia um despacho a dizer isso?
MÁRIO – Havia. Havia um despacho na documentação
MANUEL GODINHO – A ver se as coisas começam a normalizar
MARIBEL – Aparentemente, pelo menos, parece que sim.
MANUEL GODINHO – Sim sim sim, está normal. As pessoas começam a
MÁRIO – O pessoal que está a acompanhar da parte do CPL que transmita isso
também ao pessoal de lá porque isso está lá no despacho. Eu já hoje tive o
cuidado de enviar o despacho
MANUEL GODINHO – Pois

661
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MÁRIO – A mauta às vezes esquece-se, no meio destas coisas todas


MANUEL GODINHO – Pois, pois, estou a perceber. De resto não há mais
MÁRIO – Para já não, para já não.
MANUEL GODINHO – Pois. O Cunha, o que é que tem dito?
MÁRIO – Eh pá, as coisas, aparentemente, está tudo bem, não
MANUEL GODINHO – Pronto, porreiro, mas vai sondando, vai sondando
MÁRIO – Claro, claro e com calma, muita calma, está bem?
MANUEL GODINHO – Está
MÁRIO – Anda aqui
MANUEL GODINHO – Anda aí
MÁRIO – Anda muita coisa no ar. Com alguma calma, prudência, por aí fora
MANUEL GODINHO – Ok. Vê lá um dia destes para a gente ir jantar
MÁRIO – Eu dou-lhe um toque um dia destes
MANUEL GODINHO – Um abraço
MÁRIO – Um abraço

Produto 16403 - Alvo 1T167PM - 29/07/2009 09:24:27 -


917649864
 234302425 – Manuel Godinho  Maribel Rodrigues
Manuel Godinho diz a Maribel Rodrigues para pôr mil euros em cada
um dos dois envelopes e lhos levar à rotunda do Beira-Mar, porque ele vai ter
que ir para o Alto Douro.

PRODUTO Nº: 16403


DATA/HORA: 2009-07-29 09:24:27
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – Maribel

MARIBEL – Tou
MANUEL GODINHO – Sim
MARIBEL – Bom dia

662
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Bom dia. O António Gomes ligou, né


MARIBEL – Hum. Deve ser o irmão que está …?
MANUEL GODINHO – Ah, é verdade. Então vá, mete mil euros em cada
envelope e anda-me trazer à rotunda que, nesse caso já não vou aí
MARIBEL – Quanto é que tu queres?
MANUEL GODINHO – Mil euros em cada envelope
MARIBEL – Mas quantos envelopes são?
MANUEL GODINHO – São dois
MARIBEL – Queres dois envelopes de mil, é isso?
MANUEL GODINHO – Com mil cada um
MARIBEL – Está. E vou ter a que rotunda.
MANUEL GODINHO – Anda aqui ter à rotunda do Beira-Mar
MARIBEL – É que o doutor já me perguntou se eu sabia do Sr. Godinho e eu
disse, olhe, eu hoje ainda não falei com ele
MANUEL GODINHO – Então anda aqui trazer isso num instante, que eu tenho
que ir para o Alto Douro
MARIBEL – Está, eu vou já preparar isso, até já.
MANUEL GODINHO – Está bem, até já.

Na análise que ao JIC é possivel efectuar dado que, como se alcança


dos elementos mencionados, no dia 29/07/09, estavam em curso os
levantamentos de sucata que compunham o lote 15 (Pocinho), tudo leva a crer
que os envelopes com o dinheiro tivessem como destinatários algum ou alguns
dos intervenientes no levantamento dos materiais da REFER.

A título de referência, uma vez que os movimentos financeiros dos


arguidos nos autos foram tratados em relatório pericial, no dia 29/07/09 o
arguido Manuel Guiomar efectuou depósito em numerário, em conta que titula
no banco Santander, no montante de 1 610,00€.

663
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 16564 - Alvo 1T167PM - 30/07/2009 14:59:49 -


917649864
 – Manuel Godinho  Hugo Godinho
Hugo Godinho diz que vai começar a carregar e que no dia seguinte
vão para a Régua.
Hugo almoçou com o Guiomar.

Produto 16564, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 16564


DATA/HORA: 2009-07-30 14:59:49
INTERVENIENTES:
• DE – Hugo
• PARA – Manuel Godinho

HUGO – Estou
MANUEL GODINHO – Sim
HUGO – Sim
MANUEL GODINHO – Como é que está isso aí, pá?
HUGO – Vou começar a carregar.
MANUEL GODINHO – Já está tudo no sítio?
HUGO – Ainda não, ainda não.
MANUEL GODINHO – Fogo. É muita coisa?
HUGO – Eu mandei vir quatro carros. Tenho outro carro a caminho. Depois se
tiver carga para ele tenho, se não desvio-o para outro lado. Carrega noutro
lado.
MANUEL GODINHO – Ok. Pronto. Onde é que vocês foram almoçar?
HUGO – Fomos ali ao lado.
MANUEL GODINHO – O que é que comeram?

664
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

HUGO – Eles comeram lulas e eu e o Guiomar comemos cabidela


MANUEL GODINHO – Cabidela de quê, de frango?
HUGO – De galinha, sim.
MANUEL GODINHO – Pronto. Eu ainda estou em Lisboa
HUGO – Depois amanhã vamos para a Régua, amanhã depois vamos para a
Régua
MANUEL GODINHO – Tá bem ok. Até já
HUGO – Até já.

Produto 18275 - Alvo 1T167PM - 19/08/2009 12:40:59 -


964733103  917649864 – Manuel Guiomar (REFER)  Manuel
Godinho
Manuel Guiomar dá os parabéns a Manuel Godinho pois ontem
disseram-lhe.
Manuel Godinho pergunta a Guiomar quando é que ele vem a
Aveiro.
Manuel Godinho pergunta se há alguma novidade sobre a situação de
Aljustrel. Guiomar diz que ainda não.

Produto 18275, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 18275


DATA/HORA: 19/08/2009 - 12:40:59
INTERVENIENTES:
DE – Guiomar
PARA – Manuel Godinho

(Ouvem-
se diversas vozes em fundo)
GUIOMAR – Tou.
MANUEL GODINHO – Sim
GUIOMAR – É só para dizer que fiquei satisfeito.

665
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Porquê?


GUIOMAR – Porque falaram-me ontem.
MANUEL GODINHO – Falaram-te?
GUIOMAR – Sim
MANUEL GODINHO – Ah! Eh, quando é que vens cá?
GUIOMAR – É pá, agora quando o Hugo vier ou o caraças.
MANUEL GODINHO – Então vá. Marca isso.
GUIOMAR – Que eu tenho de assinar ainda o documento, o papel, um dos
que ficou aí.
MANUEL GODINHO – Está bem, está bem.
GUIOMAR – Então vá.
MANUEL GODINHO – Ele estava a contar contigo.
GUIOMAR – Ó pá, pois…
MANUEL GODINHO – Ó pá, vê-la quando é que podes e depois diz-me.
GUIOMAR – Está bem. Tá.
MANUEL GODINHO – Não houve nenhuma novidade sobre aquela situação de
Aljustrel.
GUIOMAR – Não. Ainda está tudo parado.
MANUEL GODINHO – Pronto mas então eu ontem falei sobre isso.
GUIOMAR – Eu sei. Ele disse-me.
MANUEL GODINHO – Os gajos dizem que não sabiam, não é?
GUIOMAR – Ó pá, isso é um cinismo do caraças mas tudo bem. Isso é uma
maneira para ver se eles agora forçam para que isso vá para a frente.
MANUEL GODINHO – Exactamente.
GUIOMAR – Isso é bom.
MANUEL GODINHO – Mas a pessoa chegou a fazer o relatório, é?
GUIOMAR – Chegou, chegou. Isso foi para o jurídico…
MANUEL GODINHO – Para adjudicar a quem por exemplo?
GUIOMAR – Era a ferro via.
MANUEL GODINHO – Para adjudicar à ferro via.
GUIOMAR – Exactamente. E depois houve uma argolada porque o jurídico fez
um parecer que ia contra a própria lei e aquilo ficou anulado e agora no
dia…na segunda-feira é que vem a pessoa a ver se ela me explica bem o que é
que ficou decidido. E eu depois logo digo.

666
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Está bem. Ok


GUIOMAR – Está bem
MANUEL GODINHO – Tá.
GUIOMAR – Vá.
MANUEL GODINHO – Um abraço.
GUIOMAR – Ciao. Um abraço
MANUEL GODINHO – Adeus.
GUIOMAR – Adeus. Obrigado.

Produto 19614 - Alvo 1T167PM - 07/09/2009 10:52:45 -


964733103  917649864 – Manuel Guiomar (REFER)  Manuel
Godinho
Guiomar pergunta se pode falar.
Mediante o assentimento de Manuel Godinho, Guiomar diz que um
jornalista comunicou para a administração por causa dos levantamentos da
linha do Douro e da linha do Minho. Enumera perguntas que o jornalista
colocou e refere que o jornalista fala apenas em via estreita.
Manuel Godinho interrompe para dizer que de via estreita não foi
nada.
Guiomar diz que tem, que é a história de Livração, Vila Real e
Mirandela.
Manuel Godinho diz para eles explicarem.
Guiomar diz que é só para ele saber.

Produto 19614, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

Dados do Produto

Número de produto do alvo 19614

Alvo 1T167PM

667
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

ID de Intercepção 351917649864

A chamar 351964733103 (Guiomar)

Hora inicial 07/09/2009 10:52:45

Destinatário 351917649864 (Manuel Godinho)

MANUEL GODINHO – Tou?


Guiomar – É pá, não sei se posso falar, se não posso.
MANUEL GODINHO – Sim ,sim. Diz, diz.
Guiomar – Posso? Olha…ehh…ontem à noite o Sousa telefonou-me…
MANUEL GODINHO – Sim
Guiomar – …todo aflito e o caraças. Eu ainda não sei quem é o jornalista, nem
quem é o jornal.
MANUEL GODINHO – Sim
Guiomar – Ehh, o jornalista fez…comunicou para a administração…
MANUEL GODINHO – Sim
Guiomar – …por causa dos levantamentos dos lotes da linha do Douro e da
linha do Minho.
MANUEL GODINHO – Sim
Guiomar – Estes agora…faz perguntas de como é que foi feito o
levantamento, o peso…o que é que foi vendido. Mas ele fala apenas em
termos de via estreita. Nunca fala nas outras. É só…
MANUEL GODINHO – Via estreita não tem nada.
Guiomar – Tem ,tem. É a história de Livração, Vila Real e Mirandela.
MANUEL GODINHO – Hã.
Guiomar – Tás a ver?
MANUEL GODINHO – Então e vocês explicam.
Guiomar – Não…a gente…eu vou explicar. A explicar a dizer isso ao Sousa. A
gente vai fazer isso.
MANUEL GODINHO – Não vocês…
Guiomar – Porque o vice-presidente é que está a pedir esses elementos
agora.
MANUEL GODINHO – Então e é fazer isso. Onde é que está o problema?
Guiomar – Mas é só para tu saberes. Está bem?
MANUEL GODINHO – Está bem. Não há crise.

668
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Guiomar – Está bem. Tá?


MANUEL GODINHO – Tá. Não há crise.
Guiomar – Então vá.
MANUEL GODINHO – Como é que está a situação lá de cima?
Guiomar – Ó pá, a outra situação ainda não está despachada aquilo, hã.
MANUEL GODINHO – Ai é?
Guiomar – Ainda não está despachado isso.
MANUEL GODINHO – Ok.
Guiomar – Está bem?
MANUEL GODINHO – Está bem. Ok.
Guiomar – Então vá.
MANUEL GODINHO – Vá.
Guiomar – Um abraço.
MANUEL GODINHO – Um abraço.
Guiomar – Ciao.

A perplexidade do JIC quanto ao descaramento da vinculação aos


interesses de Godinho é evidente.

No dia 29 de Agosto, Guiomar até se deslocou a Ovar e Aveiro, tendo


almoçado com Manuel Godinho e o filho, João Godinho (Vide RDE de fls. 4694
a 4713).

Produto 18865 - Alvo 1T167PM - 14/07/2009 09:05:15 -


917649864  964733103 – Manuel Godinho  Manuel Guiomar
(REFER)
Manuel Guiomar informa Manuel Godinho que o vice foi lá falar
por causa da situação de Vila Viçosa. Manuel Godinho pergunta se as coisas
estão a correr a favor deles. Manuel Guiomar confirma, mas diz que quer falar
melhor com Manuel Godinho.
Combinam almoçar os dois no sábado (29/08).

669
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 18865, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

Dados do Produto

Número de produto do alvo 18865

Alvo 1T167PM

ID de Intercepção 351917649864 (Manuel Godinho)

A chamar 351917649864

Hora inicial 26/08/2009 20:34:09

Destinatário 964733103 (Manuel Guiomar)

MANUEL GUIOMAR – Tou.


MANUEL GODINHO – Sim, Guiomar. Tá tudo?
MANUEL GUIOMAR – É pá, tá tudo. Tás aí Sábado?
MANUEL GODINHO – Diz. diz.
MANUEL GUIOMAR – Tás aí Sábado?
MANUEL GODINHO – Tou.
MANUEL GUIOMAR – Então, aaa… Era para depois falar contigo. O vice veio
cá falar.
MANUEL GODINHO – O vice foi aí falar?
MANUEL GUIOMAR – Veio falar lá de… Vila Viçosa.
MANUEL GODINHO – E então?
MANUEL GUIOMAR – E pá, tá a andar tudo.
MANUEL GODINHO – A nosso favor?
MANUEL GUIOMAR – Sim, sim,
MANUEL GODINHO – Ok. Porreiro.
MANUEL GUIOMAR – Mas eu depois quero-te contar melhor.
MANUEL GODINHO – O gajo tá assustadíssimo, não tá?
MANUEL GUIOMAR – Tá, tá, tá.
MANUEL GODINHO – Eu tive com ele.

670
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GUIOMAR – Tá.


MANUEL GODINHO – Não há crise. Sábado eu almoço contigo.
MANUEL GUIOMAR – Então tá bem, então vá.
MANUEL GODINHO – Tá, um abraço.
MANUEL GUIOMAR – Um abraço para ti, obrigado.

Produto 18980 - Alvo 1T167PM - 29/08/2009 07:26:41 -


917649864  964733103 – Manuel Godinho  Manuel Guiomar
(REFER)
Manuel Godinho e Manuuel Guiomar combinam encontrar-se às
11h30 para depois irem almoçar.

Produto 18980, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

Dados do Produto

Número de produto do alvo 18980

Alvo 1T167PM

ID de Intercepção 351917649864 (Manuel Godinho)

A chamar 351917649864

Hora inicial 29/08/2009 07:26:41

Destinatário 964733103 (Manuel Guiomar)

MANUEL GUIOMAR – Sim?


MANUEL GODINHO – Bom dia Guiomar. Então, sempre vens aqui?
MANUEL GUIOMAR – (imperceptível)
MANUEL GODINHO – Diz?
MANUEL GUIOMAR – Tás aqui?
MANUEL GODINHO – Tá difícil? Não tou a ouvir!
MANUEL GUIOMAR – Posso ir, posso.
MANUEL GODINHO – Tá bem. Então eu espero aqui para almoçar.

671
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GUIOMAR – Tá bem.


MANUEL GODINHO – Ok?
MANUEL GUIOMAR – (imperceptível)
MANUEL GODINHO – Quando for onze e meia fico a tua espera.
MANUEL GUIOMAR – Tá ok.
MANUEL GODINHO – Tchau. Um abraço.

Produto 19006 - Alvo 1T167PM - 29/08/2009 11:40:12 -


234302425  917649864– João Godinho  Manuel Godinho
Maribel Rodrigues transfere a chamada.
Manuel Godinho pergunta se “o senhor” (referindo-se a Manuel
Guiomar), já chegou.
João Godinho diz que ainda não. A pergunta do pai, João responde
que está no armazém (O2, Ovar).

Produto 19006, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

Dados do Produto

Número de produto do alvo 19006

Alvo 1T167PM

ID de Intercepção 351917649864 (Manuel Godinho)

A chamar 351234302425 (Empresa SCI )

Hora inicial 29/08/2009 11:40:12

Destinatário 351917649864 (Manuel Godinho)

MANUEL GODINHO – Tou


VF – Sim. É o João.
MANUEL GODINHO – Ele tá aí?
VF – Não eu… Tá em linha.
MANUEL GODINHO – Tou?

672
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

JOÃO – Sim.
MANUEL GODINHO – O senhor já chegou?
JOÃO – Não.
MANUEL GODINHO – Ainda não?
JOÃO – Não.
MANUEL GODINHO – Está já no armazém?
JOÃO – Tou a chegar.
MANUEL GODINHO – Ok. Tá até já.
JOÃO – Vá até já.

Produto 19011 - Alvo 1T167PM - 29/08/2009 12:02:27 -


917649864  917768679 – Manuel Godinho  João Godinho
Manuel Godinho pergunta ao filho se ele demora. Este responde que
o homem ainda não chegou.
Manuel Godinho diz ao filho para irem ter ao “Ruca”, referindo ao
restaurante “Rucas”.
Respondendo a pergunta do filho, Manuel Godinho diz que o
“homem” vem de Abrantes.

Produto 19011, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

Dados do Produto

Número de produto do alvo 19011

Alvo 1T167PM

ID de Intercepção 351917649864 (Manuel Godinho)

A chamar 351917649864

Hora inicial 29/08/2009 12:02:27

Destinatário 917768679 (João Godinho)

673
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Godinho em voz off (não vai adiantar um ca… )


MANUEL GODINHO – Tou?
JOÃO GODINHO – Sim.
MANUEL GODINHO – É... Demoras muito?
JOÃO GODINHO – Ainda não chegou, o homem.
MANUEL GODINHO – Olha, depois venham ter ao Ruca, tá bem?
JOÃO GODINHO – Mas tu não sabes se ele vai demorar? A que horas ele ficou
de estar aqui?
MANUEL GODINHO – Ó… paneleiro do caralho… Aa…
JOÃO GODINHO – Ele vem de Lisboa ou vem aqui do norte?
MANUEL GODINHO – Ele vem da… ele vem ali… da zona de Abrantes.
JOÃO GODINHO – Eu… Eu ficava já em Aveiro. (imperceptível)
MANUEL GODINHO – Mas ele não sabe, o problema é que ele não sabe! Tás a
ver?
JOÃO GODINHO – Uhm…
MANUEL GODINHO – O proble… Oo… O Hugo que… que lhe telefone.
JOÃO GODINHO – A perguntar se ele se demora.
MANUEL GODINHO – E controla o gajo.
JOÃO GODINHO – Tá bem.Ok.
MANUEL GODINHO – Ok? E dizes-me se demora muito tempo ou se não
demora.
JOÃO GODINHO – Prontos. Eu vou ligar para ele…
MANUEL GODINHO – Eu vou ter de comer, tás a ver?
JOÃO GODINHO – Eu vou ligar para ele e já te digo alguma coisa.
MANUEL GODINHO – Tá bem. Ok.
JOÃO GODINHO – Tá até já.
MANUEL GODINHO – Tá. Até já.

Produto 19012 - Alvo 1T167PM - 29/08/2009 12:05:14 -


917768679  917649864 – João Godinho  Manuel Godinho
João Godinho informa o pai que “o homem” está a chegar agora.
Pergunta também ao pai se é para ir ter ao “Ruca”. Este confirma.

674
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 19012, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

Dados do Produto

Número de produto do alvo 19012

Alvo 1T167PM

ID de Intercepção 351917649864 (Manuel Godinho)

A chamar 917768679 (João Godinho)

Hora inicial 29/08/2009 12:05:14

Destinatário 351917649864

MANUEL GODINHO – Tou?


JOÃO GODINHO – Sim.
MANUEL GODINHO – Sim.
JOÃO GODINHO – Ele tá agora a chegar aqui a Ovar.
MANUEL GODINHO – Vá, então venham que eu entretanto vou ver o que é
que há.
JOÃO GODINHO – É para ir ter ao Ruca, é?
MANUEL GODINHO – Sim.
JOÃO GODINHO – Ok.
MANUEL GODINHO – Ok?
JOÃO GODINHO – Tá.
MANUEL GODINHO – Até já.
JOÃO GODINHO – Até já.

Produto 19018 - Alvo 1T167PM - 29/08/2009 15:10:31 -


932377103  917649864 – Maribel Rodrigues  Manuel Godinho
Manuel Godinho diz a Maribel Rodrigues que vai a Esmoriz com o
Sr. Guiomar ver as obras da casa.

675
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 19018, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

Dados do Produto

Número de produto do alvo 19018

Alvo 1T167PM

ID de Intercepção 351917649864 (Manuel Godinho)

A chamar 932377103 (Maribel)

Hora inicial 25/09/2009 15:10:31

Destinatário 351917649864

MANUEL GODINHO – Sim.


MARIBEL – (imperceptível) Diga sr. (imperceptível)
MANUEL GODINHO – (imperceptível)
MARIBEL – Diga sr. (imperceptível)
MANUEL GODINHO – Ainda não tratei… Vou aqui agora com o Sr. Guiomar a
minha casa.
MARIBEL – Tá bem.
MANUEL GODINHO – A ver como estão as obras. Pronto se não lhe disser nada
hoje. Amanhã às nove horas, já lhe digo alguma coisa.
MARIBEL – Tá bem.
MANUEL GODINHO – Mas eu tou a dar importância. Eu vou tratar, ok?
MARIBEL – Ok.
MANUEL GODINHO – Tá.

Não há como não considerar indiciado que o “homem que veio de


Abrantes” é o arguido Guiomar.

Produto 19028 - Alvo 1T167PM - 29/08/2009 15:34:32 -


917649864  932440038 – Manuel Godinho  Hugo Godinho

676
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Godinho pergunta ao Hugo se ele não ficou de se encontrar


com o Guiomar para ver “umas coisas”. Este diz que está na A29 e que
demora 5 minutos.
Manuel Godinho diz que está no armazém ( refrindo-se às instalações
da O2, em Ovar).

Produto 19028, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

Dados do Produto

Número de produto do alvo 19028

Alvo 1T167PM

ID de Intercepção 351917649864 (Manuel Godinho)

A chamar 351917649864 (Manuel Godinho)

Hora inicial 29/08/2009 15:34:32

Destinatário 932440038 (Hugo Godinho)

HUGO GODINHO – Tou.


MANUEL GODINHO –Sim, Hugo?
HUGO GODINHO – Sim, tio.
MANUEL GODINHO – Tás aonde?
HUGO GODINHO – Tou aqui na A29.
MANUEL GODINHO – Tou não ficaste de encontrar com o Guiomar para ver
umas coisas?
HUGO GODINHO – Fiquei. O João esteve lá. Ele tava consigo e pensei que ele
chegasse lá por volta das quatro e meia.
MANUEL GODINHO – Não. Tou aqui no armazém.
HUGO GODINHO – Em cinco minutos tou aí.
MANUEL GODINHO – Tá bem, tá bem.
HUGO GODINHO – Cinco minutos.
MANUEL GODINHO – Tá. Ok.

677
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 19148 - Alvo 1T167PM - 31/08/2009 18:31:17 -


917649864  964733103 – Manuel Godinho  Manuel Guiomar
(REFER)
Manuel Guiomar diz que já esteve com o Hugo.
Manuel Godinho pergunta se está tudo a correr bem, se está a tudo
correr da maneira que eles pensavam.
Manuel Guiomar diz que, para já, sim. Informa que amanhã já saberá
o resultado de certeza.

Produto 19148, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

Dados do Produto

Número de produto do alvo 19148

Alvo 1T167PM

ID de Intercepção 351917649864 (Manuel Godinho)

A chamar 351917649864

Hora inicial 31/08/2009 18:31:17

Destinatário 964733103 (Manuel Guiomar)

MANUEL GODINHO – Tou.


MANUEL GUIOMAR – Tou.
MANUEL GODINHO – Olá Guiomar, tá tudo bem?
MANUEL GUIOMAR – Tudo bem, obrigado.
MANUEL GODINHO – Não tas a trabalhar?
MANUEL GUIOMAR – Tou!
MANUEL GODINHO – Ah…
MANUEL GUIOMAR – Já estive com o Hugo, hoje e tudo.
MANUEL GODINHO – À é? Tá tudo a corre bem, ou quê?
MANUEL GUIOMAR – Tudo.
MANUEL GODINHO – Mas tá correr de maneira que a gente… pensava?

678
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GUIOMAR – E pá, pr’á já sim. Eles, ele só chegou hoje ao fim do dia.
Para eu agora me aperceber amanhã o que… o que é que foi o resultado. Se foi
despachado ou não.
MANUEL GODINHO – Pois.
MANUEL GUIOMAR – Que é para depois confirmar isso mesmo.
MANUEL GODINHO – Tá bem. Pronto
MANUEL GUIOMAR – O resto tá tudo bem.
MANUEL GODINHO – Eles andaram a trabalhar até às tantas para resolver,
não foi?
MANUEL GUIOMAR – Exactamente.
MANUEL GODINHO – Então, deve ter despachado. De certeza.
MANUEL GUIOMAR – Amanhã, sei de certeza. Assim que vir aquilo
despachado, depois eu digo logo.
MANUEL GODINHO – Tá bem. Ok. Pronto
MANUEL GUIOMAR – (imperceptível)
MANUEL GODINHO – Diz?
MANUEL GUIOMAR – Tudo bem?
MANUEL GODINHO – Tá tudo. Tá tudo bem.
MANUEL GUIOMAR – Então vá.
MANUEL GODINHO – Ok?
MANUEL GUIOMAR – Vou agora no diaaaa…. Segunda-feira. De hoje a oito
dias. É o levantamento do pontão, de Setúbal.
MANUEL GODINHO – Isso calhou a quem?
MANUEL GUIOMAR – À Recifemetal.
MANUEL GODINHO – À Recifemetal é?
MANUEL GUIOMAR – Pois, pois.
MANUEL GODINHO – Mas isso como é, é ao peso, é?
MANUEL GUIOMAR – Não foi por proposta.
MANUEL GODINHO – Aí foi um (imperceptível)?
MANUEL GUIOMAR – Foi, foi. Vocês tiveram lá.
MANUEL GODINHO – pois estou a perceber.
MANUEL GUIOMAR – Não interessava assim muito.
MANUEL GODINHO – É, é, eu tou mais ou menos a ver o que é.
MANUEL GUIOMAR – Já tas a ver?

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MANUEL GODINHO – Tou, tou.


MANUEL GUIOMAR – É. Ficaram em segundo.
MANUEL GODINHO – Tá bem.
MANUEL GUIOMAR – Tá bem?
MANUEL GODINHO – A gente fala.
MANUEL GUIOMAR – Ok. Vai.
MANUEL GODINHO – Vá, adeus, um abraço.
MANUEL GUIOMAR – Um abraço.

Pelo teor das conversações interceptadas conclui-se que o arguido


Manuel Godinho mantinha uma relação muito próxima, entre outros, com
Manuel Guiomar.

Também havia, por parte de Manuel Guiomar, uma peocupação com o


funcionamento da balança que a REFER tinha adquirido, preocupação que
José Valentim tinha conhecimento e que transmitiu a Manuel Godinho.

O arguido Manuel Guiomar, no interrrogatório de fls. 171 e 172 do


Apenso AJ 6, admitiu que era o Manuel Godinho que lhe dava a indicação de
colocação do rodado no prato da balança e que só posteriormente, já depois de
ter sido suspenso de funções, é que veio a ter conhecimento que a colocação
deficiente do rodado alterava o peso. Reconheceu também que os pesos reais
dos materiais levantados, onde foi utilizada a balança, são bastante superiores
aos que se encontram registados na REFER e que serviram de base ao
pagamento.

Esta ingenuidade alegada não consegue percutir o espirito do JIC


signatário.

A REFER lançou um concurso para alienação de um lote de resíduos e


material ferroso (REFª A17-09-GVCP), cujo programa de procedimento consta

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de fls. 230 a 247 e o respectivo caderno de encargos de fls. 248 a 264, ambas
do Apenso Documentação AJ 4.

O ponto 2.1. do caderno de encargos (fls. 259 do Apenso


Documentação AJ 4) descreve os resíduos como lote único de material ferroso
diverso, localizado na Estação de Caria da Linha da Beira Baixa e com o
peso estimado de 535 toneladas.

Ao acto foram proponentes as empresas: RSA - Reciclagem de


Sucatas Abrantina, SA, com o valor de 108 605,00€; Recifemetal –
Reciclagem de Ferros e Metais, SA, com o valor de 99 242,50€; SCI –
Sociedade Comercial e Industrial de Metalomecânica, SA, com o valor de 128
453,60€ e 2ndMarket, Lda, com o valor de 120 376,00€, conforme sumário das
propostas constante de fls. 283 do Apenso Documentação AJ 4.

Face aos valores propostos, a empresa SCI – Sociedade Comercial e


Industrial de Metalomecânica, SA foi o proponente melhor posicionado para a
alienação do lote, como consta da conclusão do relatório final, o que levou a
que fosse decidido a alienação a esta empresa, pelo valor de 128 453,60 €.

Também consta do caderno de encargos, ponto 3.2 que o preço é fixo


e não sujeito a acerto se o peso real dos resíduos ferroso não diferir, por
defeito ou por excesso, em mais de 5%. Caso excedesse esta percentagem
seria aplicada a fórmula do ponto 3.4 .

A recolha do material concretizou-se nos dias 23, 24 a 25 de Setembro


de 2009, como consta do quadro de fls. 64 Apenso Documentação AJ,
elaborado com base nos documentos que suportaram os levantamentos e o

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transporte, de fls. 65 a 79 do Apenso Documentação AJ, conforme se passa a


indicar:

DATA HORA MATRÍCULA PESO PESO


BRUTO LÍQUIDO

14H00 33-CO-46 25 340 7 055

14H30 41-FB-23 41 090 22 515

15H00 89-CP-47 30 695 12 120


23/09/09

15H30 41-FB-24 33 455 14 880

16H00 75-EL-50 37 540 18 965

16H30 89-CP-48 45 840 27 265

TOTAL DIA 213 960 102 800

15H00 33-CO-46 43 835 24 740

15H30 41-FB-23 35 695 16 870

16H00 75-EL-50 37 475 18 380


24/07/09

16H30 89-CP-48 40 235 21 140

17H00 41-FB-24 36 140 17 045

17H30 33-CO-45 34 750 15 655

18H00 89-CP-47 42 410 23 315

TOTAL DIA 270 810 137 145

15H00 99-44-EL 35 120 20 000

16H00 75-EL-50 28 615 10 330

?? 41-FB-23 39 015 20 730

17H00 33-CO-46 38 625 20 340

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25/09/09
?? 33-CO-44 50 660 32 375

18H30 89-CP-47 40 435 22 150

?? 89-CP-48 36 475 18 190

?? 41-FB-24 36 855 18 570

TOTAL DIA 305 800 162 685

TOTAL CARGAS 790 570 402 630

Face aos elementos transmitidos à Direcção de Aprovisionamentos e


Logística da REFER, foi emitida a factura de fls. 80 do Apenso Documentação
AJ , no valor de 103 094,22€.

Este valor foi encontrado pela aplicação da fórmula do caderno de


encargos, uma vez que o peso real apurado e transmitido era inferior em 5% ao
peso estimado.

Portanto, foi apurada uma diferença de 25 359,38€, isto em relação ao


valor proposto, que subtraído a este perfaz o montante facturado.

No entanto, da análise dos elementos recolhidos na investigação,


resulta que os pesos indicados para facturação divergem do peso efectivo do
lote, como podemos inferir dos factos seguintes:

No dia 23/09/09, pelas 19h00m37, Manuel Godinho é contactado pelo


filho, João Godinho, que informa a pesagem do primeiro e segundo camião que
chegaram ao estaleiro, 62.8 e 52.65, respectivamente (produto 21029 do Alvo
1T167PM, cuja transcrição consta de fls. 69 e 70 do Apenso Alvo 1T167PM
Transcrições 5).

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Portanto, atendendo à informação prestada e à percepção do


vocabulário utilizado, a primeira carga pesou 62 800Kg e a segunda 52 650Kg.
Confrontando os valores registados à saída da obra e à chegada ao
estaleiro, relativos às duas primeiras cargas, existe uma diferença de 37
460Kg e 11 560Kg, respectivamente.

No dia 25/09/09, às 14h11h47s, João Godinho informou Manuel


Godinho sobre o valor total das pesagens dos carros entrados, o que dá um
total de 462 750Kg. (produto 21187 e 21192 do Alvo 1T167PM, cuja
transcrição consta a fls. 70, 71, 73 e 74 do Apenso Alvo 1T167PM Transcrições
5).
Este valor diz respeito a peso líquido, isto atendendo aos valores das
duas primeiras cargas, anteriormente referidas, e bem assim aos montantes
totais. Se assim não fosse, nem sequer poderiam ter sido transportada a
sucata referida nos mapas da REFER.

Porquanto, entraram na empresa “SCI” 462 750Kg, enquanto que os


mapas da REFER só registam 239 945Kg, isto nos dias 23 e 24 de Setembro.

No entanto, houve ainda carregamentos no dia 25/09/09 como consta


dos respectivos documentos.

Como se depreende da intercepção da comunicação a que


corresponde o produto 21191 do Alvo 1T167PM, em 25/09/05 às 15h01m10s,
conversa mantida entre Maribel Rodrigues e Manuel Godinho, o destino das
viaturas relativas às cargas deste dia foi a “SCI”, presumindo-se que as dos
dias anteriores tiveram como destino o estaleiro de outra das empresas de
Manuel Godinho.

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Atendendo à hora da comunicação e à hora aposta na primeira guia de


remessa emitida para esse dia, 15h00 (fls. 76 do Apenso Documentação AJ),
indicia-se que o destino de todas as cargas ainda a empresa “SCI”.

Acontece também, à semelhança do que se verificou nos dois dias


antecedentes, como anteriormente já ficou expresso, que os pesos indicados à
REFER, não são coincidentes com os efectivos do material levantado.

No que se reporta ao dia 25/09/09, nas buscas realizadas na empresa


“SCI”, que tiveram lugar no dia 28/10/09 (Auto de Busca e Apreensão de fls. 4
a 8 do Apenso Buscas S) foram apreendidos talões de pesagem com a
indicação do cliente “Caria, Belmonte, Caria Belmonte”, relativos às viaturas
que transportaram o material levantado na Estação de Caria, cujos valores não
são coincidentes com os comunicados à REFER para facturação, conforme se
indica no quadro que segue:

Cargas do dia 25/09/09

Controlo efectuado em Caria/Belmonte Controlo efectuado na SCI

Matricula Hora Peso Peso Peso Peso Fls.(1)


Bruto Líquido Bruto Líquido

99-44-EL 15H00 35 120 20 000 56 910 39 710 159

75-EL-50 16H00 28 615 10 330 58 410 38 980 159

41-FB-23 ?? 39 015 20 730 58 250 39 310 159

33-CO-46 17H00 38 625 20 340 60 900 41 170 159

33-CO-44 ?? 50 660 32 375 57 340 37 440 158

89-CP-47 18H30 40 435 22 150 56 680 36 610 159

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89-CP-48 ?? 36 475 18 190 18 190 (2)

41-FB-24 ?? 36 855 18 570 18 570 (2)

TOTAL 25/09 305 800 162 685 268 980


DIA

(1) Apenso Buscas S

(2) Não foi localizado o talão de pesagem, pelo que foi assumido o
peso à saída da obra.

Assim, nos dias 23 e 24, foram levantados 462 750 Kg de carril e


transmitidos para facturação 239 945Kg e no dia 25 procederam ao
levantamento de, pelo menos, 268 980Kg tendo sido transmitidos apenas 162
685 Kg.

Pelo exposto conclui-se mostrar-se indiciado fortemente que o lote em


causa era composto por 731 730Kg de carril, o que excedia o valor inicialmente
previsto para o lote e, mais ainda, o valor que foi comunicado para facturação.

Apura-se assim que o pagamento deveria incidir sobre 731 730 Kg e


não sobre 402 630 Kg, o que acarretou um prejuízo para a REFER do
correspondente a 329 100 Kg.

Indicia-se assim que deste modo, para cálculo do valor efectivo do


lote, conforme fora acordado, deve ser aplicada a fórmula prevista na alínea b)
do ponto 3.4 do caderno de encargos (fls. 251 do Apenso Documentação AJ)
pois, pela demonstração feita, suportada nos elementos probatórios indicados,
não restam quaisquer dúvidas que o peso final do lote era de, pelo menos 731
730 Kg.

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Aplicando a fórmula indicada obtêm-se o valor 40 812,23 €, ao qual


deve acrescer a diferença entre o valor da proposta (128 453,60€) e o valor
efectivamente pago (103 094,22€), que dá um total de 25 459,38, pelo que o
prejuízo da REFER é de, pelo menos, 66 171,61€ (40 812,23 + 25 459,38€).

Também resulta dos elementos apreendidos a emissão de talões de


pesagem que se encontram juntos no conjunto de documentos relativos ao
levantamento deste lote, de fls. 2 a 169 do Apenso Buscas N1. Tais talões
apresentam pesos similares aos apurados pela balança pesa eixos da REFER
que, como já ficou demonstrado, não se mostram verdadeiros.

Por outro lado, no que se reporta ao dia 25/09/05, existem dois talões
de pesagem para os mesmos camiões, o que também não é possível, uma vez
que os motoristas que fizeram os transportes declararam que nunca
efectuaram duas vezes viagem com o mesmo camião e ainda para mais em
balanças diferentes, no mesmo dia.

Nos levantamentos do material participaram, por parte da “SCI”,


Manuel Godinho e Hugo Godinho, ambos arguidos nos autos, isto para além de
outros funcionários da empresa como se depreende das intercepções
telefónicas a que correspondem os produtos 20948 de 23/09/09, 20973 de
23/09/09, 20990 de 23/09/09, cujas transcrições constam de fls. 65 a 69 do
Apenso Alvo 1T167PM Transcrições 5.

Pela REFER, fizeram o acompanhamento: Engº Nelson Manuel M.


Pascoal, Engª Núria Catarina P. Ferreira e Manuel João Alves e Guiomar. (fls.
63 Apenso Documentação AJ).

Os dois primeiros são funcionários da empresa AFAPLAN, SA, a qual


ganhou o concurso lançado pela REFER, para fiscalização da empreitada
“Renovação Integral da Via”, entre os Pk’s 178,400 e 188,500, da Linha da

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Beira Baixa, de onde era proveniente a sucata que foi parqueada na estação
de Caria.

A participação de ambos nos levantamentos, como resulta das


inquirições, centrou-se no controlo de acesso à obra, na observância das
normas de segurança, nomeadamente no uso de equipamento apropriado a
todas as pessoas que entravam no espaço, bem como à garantia de que os
trabalhos da empreitada não eram prejudicados com aquela intervenção e
garantir que não seriam provocados danos nas edificações existentes, quer
naquelas que diziam respeito às empreitada, quer noutras.
No que se reporta ao controlo dos camiões a Engº Núria elaborou um
apontamento, que consta de fls. 150 a 156.

Quanto às pesagens, eram efectuadas por Manuel Guiomar, sendo


que os valores que anotou, foram-lhe reportados por aquele.
Também foram inquiridos os responsáveis da Direcção de
Contratualização, Procurement e Logísitca da REFER (CPL) órgão responsável
pelo lançamento do concurso, (Engºs. Maria José Gamelas e José Sousa), os
quais esclareceram os termos e condições em que em que o concurso foi
lançado e bem assim os procedimentos internos para a sua boa execução.

Verifica-se que a investigação incidiu sobre os levantamentos, pois foi


nessa fase que se verificaram os factos com relevância criminal, e neles
apenas participou, como representante da REFER, Manuel Guiomar.

No levantamento do material e para a sua pesagem, foi utilizada uma


balança pesa eixos, propriedade da REFER, cujos talões constam dos autos de
fls. 109 a 129 do Apenso AJ 6. Os valores registados por estes talões são
coincidentes com os inscritos no quadro de registo de pesos, onde foi apurado
um total de 402 630 Kg. o que, como já anteriormente ficou comprovado, não
corresponde ao total do material que compunha o lote.

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S. R.

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Para comprovar esta realidade , foi feita a diligência consignada de fls.


205 a 213, de onde resulta que, uma deficiente colocação dos rodados nos
pratos do pesa eixos resulta na discrepância acentuada do peso registado.

Por outro lado, nos referidos talões de pesagem, também é evidente


uma diferença significativa dos valores dos pesos relativos a cada roda do
mesmo eixo.

Como consta de fls. 132 a 133, da informação recolhida junto da


empresa “BARBAL”, que vendeu aquele equipamento à REFER, resulta que a
balança pesa eixos poderá registar uma diferença de cerca de 3%, admitindo
que possa atingir 5%, em condições extremas. Também relativamente às
diferenças entre os pesos das rodas do mesmo eixo foi apresentada a
possibilidade de variação em cerca de 10%.

Analisados os talões juntos aos autos, verifica-se que essa variação


excede, e muito, esta percentagem.

Face a estas constatações, poder-se-á concluir que, o deficiente


manuseamento da balança pesa eixos, operada por Manuel Guiomar, levou a
que os pesos apresentados para pagamento não correspondessem ao valor da
existência no lote, criando um prejuízo para a REFER, isto com a concorrência
de Manuel Godinho que esteve no local e que bem sabia que os pesos que
estavam a ser registados não correspondiam à realidade.

Aliás, aquando da aquisição da balança pesa eixos, a sua


manipulação já era um assunto que preocupava o Manuel Guiomar, como se
comprova pelas conversas que manteve com Manuel Godinho a esse
propósito, a que correspondem os produtos 6729 do Alvo 1T167PM de
15/04/09, cuja transcrição consta de fls. 5 a 9 do Apenso Alvo 1T167PM

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Transcrições 3, onde transmite a aquisição de uma balança ambulante por


parte da REFER e pergunta se dá para fazer alguma coisa, obtendo resposta
afirmativa por parte de Manuel Godinho.

Refere-se ainda que foi apreendida documentação relativa aos


procedimentos acima referidos, nomeadamente o A17-08-GVCP no local de
trabalho do arguido Manuel Guiomar, a qual foi junta Apenso L 2.

No entanto, trata-se da documentação que a REFER utilizou para


organização do seu processo.

Por outro lado, compreende-se agora a razão pela qual as empresas


do “grupo Manuel Godinho” apresentaram nos vários concursos preços
substancialmente superiores aos dos restantes concorrentes, [vidé Apensos AJ
3, AJ 4 e AJ 5], pois com a forma de proceder aquando do levantamento da
sucata, Manuel Godinho tinha a garantia de que iria retirar material, sem que
fosse registado para efeito de pagamento e, desse modo, para além de garantir
um benefício ilícito, compensaria o preço que tinha apresentado a concurso.

Acrescem a todos estes considerandos, a prova produzida em


instrução.
Quanto a esta, remetemos para as considerações expendidas pela
assistente REFER em sede de debate instrutório e que foram do teor seguinte:
“São, porém, por demais evidentes as diferentes versões que o arguido
Manuel Guiomar foi apresentando dos mesmos factos ao longo do inquérito e também
no seu requerimento de abertura de instrução. Para além disso, resultam igualmente
evidentes as contradições entre o alegado nesta sede e os elementos documentais
resultantes do Apenso AJ 9.
Vejamos.
Desde logo, no que respeita ao levantamento do Lote n.º 11 parqueado junto à
Estação da Livração não corresponde à verdade que todos os resíduos carregados
tivessem sido devidamente pesados – para o concluir basta confrontar as horas dos

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S. R.

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carregamentos registados nas guias de remessa emitidas com o período em que a


balança pesa-eixos esteve em reparação, tal como resulta do Relatório Final elaborado
no âmbito da auditoria externa ao concurso para alienação de dezasseis lotes de
resíduos.
Nem tão pouco que o arguido Manuel Guiomar tivesse permanecido na
Estação da Livração durante uma semana e meia ou que diariamente comunicasse ao
seu superior os resultados das pesagens e que lhe tivesse dado conta das dificuldades
sentidas na emissão da segunda via do talão de pesagem da balança pesa-eixos. Na
verdade, resulta da documentação da REFER junta aos autos (Apenso AJ 9):
(i) Que o levantamento do Lote n.º 11 decorreu apenas durante o dia 23 de
Julho de 2009 – não se justificando, por isso, a permanência do arguido neste local
pelo período alegado quando decorriam levantamentos de lotes de resíduos noutros
locais da Linha do Douro (ex. Vila Real, Tua e Pocinho, entre 27 e 30 de Julho de
2009);
(ii) O arguido Manuel Guiomar transmitiu ao seu superior hierárquico os
pesos dos lotes levantados por e-mail de 9 de Agosto de 2009 (fls. 1951 a 1953);
(iii) Apenas quando confrontado, pelo seu superior hierárquico, com a
inexistência de talões de pesagem dos resíduos juntos às respectivas guias de remessa
da REFER – o que sucedeu durante o mês de Agosto de 2009, depois de terminado o
levantamento dos lotes – lhe comunicou ter sentido dificuldades em operar com a
balança pesa-eixos (cfr. declarações do Eng.º José de Sousa, a fls. 1922 a 1932 do
Apenso AJ 9, nas quais confirmou que o arguido conheceria bem o procedimento de
gerar talões naquela balança).

O Arguido utilizava a viatura da REFER na maioria das suas deslocações


para acompanhamento e apresentava, pelo menos em parte, despesas às mesmas
correspondentes – cfr. recibos de alojamento a fls. 2614 a 2617 do Apenso AJ 9. [Ou
seja, não é verdade que o arguido nunca apresentasse despesas].
Quanto à prova testemunhal indicada pelo arguido na fase de instrução:

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Do depoimento da testemunha LUÍS BORBA RODRIGUES nada resultou que


pudesse alterar os indícios constantes da acusação, uma vez que esta testemunha
desconhecia por completo as funções que o arguido Manuel Guiomar desempenhava
junto da CPL, o funcionamento dos concursos públicos de alienação de resíduos –
designadamente quanto à eventual possibilidade de conhecimento prévio das propostas
apresentadas nos concursos realizados, por parte do arguido Manuel Guiomar –,
embora tivesse conhecimento de que eram frequentes as deslocações deste arguido
para proceder à fiscalização de stocks.
Aliás, a confirmação de que o arguido Manuel Guiomar, no âmbito das suas
funções, se deslocava para proceder à conferência de «material e peças», resultou
igualmente do depoimento prestado pela testemunha ÂNGELO BERNARDINO.
Por fim, a testemunha JORGE ANTUNES (funcionário da REFER que trabalhou
com Manuel Guiomar na Direcção de Logística, durante os anos de 2007/2008)
afirmou que o Arguido acompanhava processos menores de alienação de resíduos e
que o mesmo já antes trabalhara no domínio dos aprovisionamentos.
Esta testemunha referiu, ainda, perante este Tribunal, que a arguida “O2”
propunha sempre valores elevados para a aquisição de resíduos – circunstância que, à
partida e sem mais, se revelaria ruinosa para a viabilidade daquela empresa, só assim
não sucedendo na hipótese de a adjudicatária remover o conteúdo do lote a concurso e
algo mais fora dele...
Aliás, na sequência deste reparo, a testemunha asseverou ao Tribunal que, na
REFER, todos conheciam (era «voz corrente» na empresa) as suspeitas que recaíam
sobre a actuação da arguida “O2”, sendo que, inclusivamente, o arguido Manuel
Guiomar o alertara para esta circunstância. Não obstante, mais tarde, este arguido
reconheceu perante a testemunha que, no decurso dos levantamentos dos dezasseis
lotes de resíduos da UON, almoçara com o arguido Manuel Godinho, o que suscitou,
inclusivamente, uma censura por parte da testemunha.
Por fim, esta testemunha mencionou ter tido conhecimento, mais tarde, da
existência de alegadas práticas censuráveis imputáveis ao arguido Manuel Guiomar
enquanto este trabalhara nos aprovisionamentos.

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O que há, então, a retirar da prova produzida na instrução a requerimento do


arguido Manuel Guiomar?
Que o mesmo arguido, antes ainda de integrar a CPL, era já detentor de uma
larga experiência em matéria de aprovisionamentos, o que lhe permitia conhecer o
meio em causa – ou seja, os procedimentos a adoptar nas relações estabelecidas com
os fornecedores e prestadores de serviços da REFER, em particular no que respeita à
alienação de resíduos economicamente valorizáveis.
É, assim, pouco credível que Manuel Guiomar desconhecesse, em 2009, o tipo
de materiais a alienar, o processo de execução de um contrato de venda de resíduos, as
suspeitas que recaíam sobre as empresas integradas no universo gerido pelo Arguido
Manuel Godinho e, bem assim, a necessidade de, em face de tais suspeições, proceder a
uma fiscalização efectiva dos contratos em que aquelas interviessem, designadamente
através de um controlo efectivo das operações de pesagem dos resíduos.
O que se indicia que arguido Manuel Guiomar fez, na prática, foi totalmente
diferente: conhecedor e experimentado na matéria e sabedor destas suspeitas,
aproveitou a sua experiência profissional anterior para garantir uma aproximação ao
arguido Manuel Godinho, actuando em benefício das empresas deste último e em
prejuízo dos interesses patrimoniais da REFER, a troco de contrapartidas pecuniárias
por si efectivamente recebidas.
Assim, no que respeita ao arguido Manuel Guiomar é possível afirmar que,
chegados ao termo da presente fase de instrução, nenhuma das diligências probatórias
por este requeridas e realizadas nesta sede contradisse a indiciação dos factos
imputados na acusação deduzida e a que a REFER aderiu na qualidade de Assistente.
Pelo contrário, destas diligências resultou até sedimentada aquela
indiciação” ( fim cit)

Destarte, deverá o arguido Manuel Guiomar ser pronunciado nos


precisos termos da acusação, por se mostrarem verificados indícios que,
neste tocante, inculcam um juízo de prognose, conducente à

693
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

consideração de que é mais forte a probabilidade da sua condenação do


que a exoneração da sua responsabilidade.

*****

Veio o arguido Carlos Porral Paes de Vasconcellos, notificado da


acusação, apresentar a sua defesa nos termos constantes do RAI,
constante de fls. 29248 e ss, que aqui se dá por reproduzido.

Antes de mais e com relação aos dados de tráfego requeridos pelo


arguido, em vista da resposta enviada aos autos pela TMN a fls. 34 452
nenhum elemento foi obtido para além dos que constam dos autos.

No seu RAI o arguido arrolou cerca de duas centenas de


testemunhas, vindo a prescindir da maioria delas.

No tocante às restantes foi perguntando às mesmas se conheciam


Carlos Vasconcellos sendo que, na maioria não conheciam, realçando-se os
seguintes casos:

Alberto José Castanho Ribeiro, é engenheiro.


Trabalha na REFER, sendo Administrador.
É quadro da CP colocado na REFER.
Conheceu Vasconcellos em 2006/2007 quando ele estava afecto à
linha de Cascais e a testemunha foi lá visitar a linha.
O Conselho de Administração é no Palácio de Coimbra
O Dr. Vasconcellos também esteve lá no serviço e depois foi para o
Cais Sodré.
Só o viu dessa vez, só tendo tido esse contacto.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Godinho nunca o tentou influenciar quanto à administração


REFER nem quanto à resolução sobre questões com o Grupo Manuel
Godinho.
O grupo com intenção de destituir o Conselho de Administração, era
por parte de trabalhadores do PS.
Havia papéis do grupo de trabalhadores PS e outros.
Sempre houve comunicados dessa natureza, vem constatando isso há
20 anos.
A linha do Tua foi encerrada a seguir ao acidente em Agosto de 2008,
tendo sido nomeadas 3 comissões, uma logo a seguir ao acidente em que são
nomeados representantes da REFER e CP, uma segunda e uma terceira para
clarificar alguns aspectos que não tinham ficado bem clarificados.
As comissões depois de nomeadas não são sigilosas.

Alfredo Vicente Pereira é economista e Vice-Presidente da REFER.


Confirma as declarações prestadas no inquérito.
O Carlos Vasconcellos estava colocado na INVESFER.
Quando regressou veio para a Linha de Cascais mas não era o
principal responsável.
O Director era então Mário Olivença desde 2009 quando isto teve
desenvolvimento.
Carlos Vasconcellos pode aceder às instalações CA REFER.
As decisões do Conselho de Administração sigilosas não lhe eram
acessíveis excepto as que eram públicas.
Em Dezembro de 2008, Janeiro, Fevereiro e Abril de 2009, não houve
acidentes na linha do Tua.
Vários níveis de decisão para abertura de comissões de inquérito.
A testemunha esteve presente numa reunião com Manuel Godinho e
foi o Presidente do Conselho de Administração que o convocou.

695
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Godinho tinha tido um pequeno conflito (não verificação das


condições contratuais) por um assunto do Entroncamento por causa de
travessas de betão. Foi um incumprimento das condições técnicas de
execução do contrato de levantamento de travessas.
O Sr. Godinho propôs um encontro de contas, dado que tinham ambas
as partes processos uma contra a outra.
Na reunião com Godinho estiveram presentes, o Sr. Presidente do
Conselho e a testemunha.
“Disse que não sabia os termos da acção que ele pusera e era dele o
pelouro, em Tribunal, se for viável, nos entenderemos”.
Falou com o Director Financeiro e ele disse que a REFER não
reconhecia dívida nenhuma.
O Godinho não levava papel nenhum.
Grupos de pressão contra os entendimentos do CA, é natural haver
discordâncias.
Ouvia falar em opiniões de desagrado sobre o CA, para o substituir.
Essas opiniões eram muitas vezes expressas na página do sindicato.
Pode-se dizer que se está a falar dos trabalhadores do grupo do PS.
A tutela nunca exprimiu desagrado para com a actuação da tutela.
Entre contactos com Mário Lino e António Vitorino, é natural que
tivesse havido com o Manuel Godinho para que este fosse recebido, porque na
REFER não era recebido.
A testemunha recebeu-o quando houve o problema do Entroncamento
e depois ficou sem essa área de responsabilidade.
Transmitiram-lhe influências mas para si era-lhe indiferente.
Não sabe se entre Vasconcellos e Manuel Godinho tinham
relacionamentos pessoais, só leu nos jornais.

Carlos Alberto Clemente Frazão, é engenheiro electrotécnico, actual


Presidente da EMEF, empresa de meios ferroviários.
Está há 40 anos na ferrovia.

696
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Foi o responsável pela admissão do arguido Vasconcellos pela sua


admissão na Sociedade do Estoril.
Conhece-o há 30 anos.
O pai era o médico Pães de Vasconcellos que trabalhava para a
sociedade de comboios do Estoril.
O Vasconcelos esteve numa dependência de 2º, 3º grau da
testemunha, nunca directamente.
Vasconcellos trabalhava nos aprovisionamentos no Estoril e também
foi para os aprovisionamentos na REFER.
Em 2000/2002 esteve na REFER como Vice-Presidente.
Nada sabe da passagem de Vasconcellos pelo aprovisionamento na
REFER:
Nas preocupações a sucata não tinha lugar.
Não sabe se Vasconcellos transmitia informação confidencial, sigilosas
por exemplo: saber se iam lançar este ou aquele concurso.
Para isso é preciso haver um projecto que era aprovado no Conselho
de Administração e depois os serviços tratavam desses projectos.
Era evidente que não era para divulgar, esperava-se que os
funcionários não fossem dizer.
Não diz mal de Vasconcellos porque é seu amigo pessoal.
Promoveu-o, não o faria se não fosse bom profissional.

Carlos Alberto João Fernandes, é Vogal do Conselho de


Administração da REFER desde 2005.
Só teve conhecimento com o Vasconcelos por causa do Cais do
Sodré.
Viu-o 1 ou 2 vezes.
Não tem conhecimentos sobre influências nem sobre pressões para
destituir o Conselho de Administração.

697
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Não tem conhecimento sobre alguma acção hostil no Conselho de


Administração da REFER, nomeadamente sobre conhecimento prévio da
adjudicação.
A linha do Tua foi encerrada após o último acidente em 2008.
Houve 2/3 comissões de inquérito internas e externas.

Francisco Carapinha, está reformado há 10 anos da CP-REFER,


desde 2000.
Trabalhou 1 ano com o Carlos Vasconcellos na Direcção de
Planeamento Administrativo e Financeiro.
Nunca tratou nada sobre contratos com ele, mas sim com outros 2
responsáveis.
Foi Director Geral de Infra-estruturas em 1995 e Director Geral
Conservação e Coordenação em 1997.
No seu tempo passavam por si as vendas de sucata.
Eram feitas por concurso público.
Era aberto nos aprovisionamentos e feita a publicitação. As propostas
eram feitas por carta fechada. Nunca lhe aconteceu a situação de envelopes
viciados.
Muitos foram ganhos pela empresa do Sr. Godinho.
Nunca teve conhecimento de reclamações de outros concorrentes.
O Vasconcelos veio da linha de Cascais, e foi integrado na CP,
conhecia-o só de vista.
Nunca ninguém lhe fez queixa dele.
Não tem conhecimento sobre se Vasconcellos tinha influências.
Não tem conhecimento de problemas na execução de contratos com
as firmas de Manuel Godinho.
O Manuel Godinho arranjou máquinas para fazer aqueles trabalhos
para a CP.

698
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

O Sr. Godinho queria era mais trabalhos porque tinha lá as máquinas


paradas e tinha-as comprado por causa disso.
Quando conversava com Manuel Godinho estava sempre
acompanhado por alguém, como fazia sempre por sistema, para evitar
especulações.
Constava que o Godinho tinha muita influência.
Chamava o responsável directo para essa área até por uma questão
de transparência.
Nunca recebeu prendas de Manuel Godinho.
No Natal, em St.ª Apolónia, os empreiteiros entregavam lá os vinhos,
cabazes para as chefias e, eventualmente para a administração.
Uma vez veio um filho do Manuel Godinho, de nome Luís, falar com a
testemunha para saber se havia mais trabalho.
O Director Financeiro também contactava para ver se arranjava una
verba para poder fazer mais trabalhos.
Os contactos eram para saber se havia concursos, se havia verba.
Quando às vezes falavam já sabiam quais eram os concursos.

Francisco José Cardoso dos Reis, é o actual Presidente do


Conselho de Administração do Metropolitano de Lisboa.
Foi Presidente da REFER em 1997.
Está no quadro ferroviário há 30 anos.
Esclarece que Carlos Vasconcellos entrou para a ferrovia na
Sociedade Estoril, e depois passou para a REFER.
Vasconcellos Trabalhava na área dos aprovisionamentos.
O primeiro responsável do aprovisionamento era o Dr. Salaveça e
depois o Vasconcellos foi substituí-lo.
Vasconcellos trata do aprovisionamento, grandes vendas.
As propostas eram em carta fechada e selada.
Não houve nenhum inquérito a Vasconcellos.

699
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Em relação ao comportamento de Vasconcellos não tem nada contra


nem a favor. Não conhece com o detalhe suficiente para o abordar ou não.
É uma pessoa leal e competente.
Não teve conhecimento sobre conflitos entre Vasconcellos e o
Conselho de Administração da REFER.
Saiu da REFER em 2002, exonerado pelo Dr. Durão Barroso.

Henrique Cabral da Silva, é engenheiro, assessor da REFER,


Veio da CP.
Tudo somado está há 42 anos.
Em 1994 na Direcção de Planeamento Administrativo e Financeiro,
trabalhou juntamente com o Carlos Vasconcellos.
Superintendia a Direcção de Aprovisionamento que estava na
Direcção o Engenheiro Veiga Dias, a Direcção Financeira e a Direcção de
Planeamento.
A recepção de propostas era recebida pelo Director de
Aprovisionamentos, com carimbo de entrada no próprio envelope, integridade
do envelope, não andava a verificar.
No acto da abertura as cartas estavam fechadas, (lacrada, não pode
garantir mas admite).
Nos concursos a que assistiu não lhe ocorre que tenha havido alguma
viciada. Admite que possa ter sido enganado, contavam-se histórias de coisas,
mas não tem conhecimento.
Também houve uma história na zona do Entroncamento que entravam
camionetas com lastro.
Era possível que alguém recebesse as propostas e as guardasse até
ao dia da abertura, em tese era possível, mas acha muito difícil.
As propostas ficavam sobre a responsabilidade do Director de
Aprovisionamento, Engº Veiga Dias.

700
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Ficou até 1997 com o Vasconcellos, altura em que é formada a


REFER.
A testemunha foi para Director Geral de Exploração.
Não sabe para onde foi o Vasconcellos, mas sabe que ainda ficou lá.
Sobre transmissão de informações sigilosas e confidenciais, não sabe
o que isto pode querer significar, os concursos são públicos.
Quando à deliberação de abate de peças, componentes de comboios,
qualquer funcionário que tenha acesso sabe. Para fora não se deve dizer.
O sigilo depende do bom senso de cada um.
Não tem conhecimento de violações de sigilo profissional pelo
Vasconcellos.
Conhecia-o deste o tempo do liceu, foi colega de um dos irmãos dele
(eram 9 no total).
Funcionava como um irmão mais velho, sempre foi leal e cumpridor,
pelo menos que saiba.
Vasconcellos era competente para a função que desempenhava nos 2,
5 anos que desempenhou na Chefia.
Recorda-se que o Manuel Godinho ganhou um concurso, em
Dezembro, ano que não sabe precisar, numa venda de carril.
Só o viu uma vez.
O que o diferenciava era a apresentação, com fato completo, todo
impecável, os outros concorrentes vinham descamisados.
Houve abertura de propostas na sua presença com um colaborador,
ficou tudo mais transparente.
Nunca ouviu conversas na REFER se Manuel Godinho tinha
conhecimentos junto de pessoas com capacidade de decisão na REFER.
Sobre propostas abertas e fechadas não pode garantir, só se
estivessem à sua guarda.

701
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Antes da abertura na sessão pública quem tinha acesso prévio era o


responsável da Direcção de Aprovisionamento, que era controlada por Veiga
Dias, que até contou algumas histórias.

Jaime Filipe Marcelino Martins, trabalha na CP/REFER desde 1982.


A testemunha não sabe porque é que está aqui.
Esteve nos aprovisionamentos mas na CP, entre 1993 a 1995.
Trabalhou lá com o Vasconcellos que foi seu chefe no serviço de
compras.
Foram feitos 2 concursos anuais de sucatas com publicação de
anúncios.
A publicitação de anúncios nos jornais (isso era sagrado) era feita com
a maior transparência, nos jornais de maior tiragem.
A recepção de propostas era feita por Carlos Vasconcellos ou um
colaborador dele, não sabendo se eram guardadas no cofre ou por um outro
colaborador dele, na altura havia uma Sr.ª Graciete.
Existia um cofre no gabinete de Vasconcellos.
No gabinete de Vasconcellos havia um cofre que dava nas vistas.
Apareciam concorrentes, que tinham a porta aberta.
As propostas fechadas eram ali abertas.
Os concorrentes podiam examinar e reclamar.
Nunca teve conhecimento de reclamações sobre a idoneidade de
procedimentos.
Era feito um concurso anual para uma generalidade de sucatas, e mais
uns quantos para concretos tipos de sucata.
A testemunha só tratava da parte administrativa nos concursos.
Os contactos eram, depois, com outras pessoas do staff.
O Vasconcellos veio da linha de Cascais e não foi a testemunha que o
chamou.
Alguém disse que era bom para os aprovisionamentos.

702
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

O Vasconcellos tinha uma licenciatura numa faculdade privada e não


era ainda reconhecida pela CP. Só lhe reconheciam o grau de bacharel.
A testemunha duvidou, como superior hierárquico que tivesse as
qualidades para o cargo, mas superou as expectativas.
Fez até propostas que melhorar os serviços e a testemunha deixou
que fossem ao Director Geral.
O Vasconcellos era competente e que saiba sempre foi leal consigo e
com a empresa, sempre cumpriu com as directivas.
As propostas eram recebidas por Vasconcellos, ou por algum
colaborador dele. Vasconcellos estava na abertura das propostas, que era
vogal na comissão de abertura de propostas de sucatas.
Nunca lhe passou pela cabeça que Carlos Vasconcelos procedesse à
abertura do envelope e depois fechasse antes do acto público, que tal pudesse
acontecer.
O Dr. António Capucho também tirou um curso na mesma
Universidade.
Quem o indicou na sua opinião subjectiva, não foi de certeza a
testemunha, pensa que foi indicado pelo Director Geral, da altura, Manuel
Soares Lopes.
Também vieram mais colaboradores, nomeadamente uma Srª
chamada Ana Patacas (pessoas dinâmicas, não paradas, pessoas mexidas).
Quem geria o processo de recepção de propostas era precisamente o
Vasconcellos.
Os envelopes eram lacrados pelas empresas, com cordões e com
lacre.
Existe uma data de entrada das propostas, através de um carimbo de
entrada de recepção, com dia, hora e minutos, no envelope ou numa carta de
protocolo, pensa que existia isso.

703
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Alcindo Antunes Frasquilho é economista, licenciado nas


finanças.
Foi presidente da CP, está reformado.
Conhece Carlos Vasconcellos dos tempos da REFER, enquanto
quadro da mesma empresa.
Voltou a encontrá-lo no Gabinete do Vice-Presidente da Câmara
Municipal de Lisboa, com Carmona Rodrigues.
Foi com surpresa que soube sobre o envolvimento do Dr.
Vasconcellos.
Ouviu na imprensa que havia acusações, mas nada sabe.
Dos processos internos nada sabe.
Quando sai das empresas “desliga-se”.

Romeu Costa Reis, é vogal do Conselho de Administração da


REFER.
Não conhece pessoalmente do Dr. Vasconcellos.
Só ouviu falar pelos jornais sobre influências de Vasconcellos a
respeito dos assuntos de Manuel Godinho.
Não sabe se o Dr. Vasconcellos exerceu influências junto a outras
pessoas.
Sabe que o Vasconcellos empreendeu iniciativas tendentes à
superação do contencioso. Consta que houve notas de culpa.
Houve elementos internos que levaram também à nota de culpa.
Não sabe se o Vasconcellos tinha ou não acesso a informações
confidenciais e sigilosas em matérias do Conselho de Administração, que estão
no portal interno, outras não.
A seguir ao acidente em Agosto de 2008, na linha do Tua, foi
encerrada a parte de Mirandela, em que foi a Câmara Municipal de Mirandela
que tomou conta.

704
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Houve 4 comissões de inquérito que se foram sucedendo, todas pelo


mesmo acidente.
A nota de culpa ao aqui requerente foi posterior à acusação.
Na sequência do conhecimento da acusação houve deliberação para
instaurar procedimento prévio de averiguações.
O pelouro da testemunha era Relações Internacionais, auditoria e
assuntos jurídicos e comunicação e imagem.
Após buscas foi-lhe comunicado no próprio dia mas não participou.
As seguintes passaram por si.
Regra geral, os comunicados não passam pelo Conselho de
Administração.
Os administradores podem falar informalmente entre si.
Não tem conhecimento de grupos de trabalhadores ligados ao PS a
movimentarem-se para destituir a administração da REFER.
Russo da Silva é economista.
Confirma as declarações prestadas na fase de inquérito.
Está na REFER desde Setembro de 2001.
Vasconcellos era Director de Aprovisionamento da Logística, era o
responsável pelo pelouro das vendas.
Era elaborado um Concurso público de vendas fundamentalmente
relacionado com sucatas.
Havia um outro sector de compras com contrato.
As propostas eram recebidas em envelope fechado.
Não sabe se era posto algum carimbo.
Eram deixadas na recepção que ficavam com um funcionário, o
Valentim, que anteriormente tratava dessa matéria.
Nunca participou na abertura de propostas.
Nunca ninguém reclamou.
Não sabe da intervenção de Vasconcellos.

705
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Vasconcellos saiu daquele serviço, primeiro para a Câmara Municipal


de Lisboa, daí para uma empresa da REFER.
Vassconcellos achava que o lugar da testemunha era para ele e por
isso a relação profissional não era a melhor.
Houve uma manifestação de desagrado, tinham tradução prática, só
falou nisso uma vez.
Foi à chegada logo nas primeiras impressões numa reunião de
trabalho, cara a cara.
Não sabe nada sobre exposições escritas.

Da análise que fizemos dos autos verificou-se que os factos descritos


na acusação que sustentam a indiciação da prática pelo arguido Carlos
Vasconcellos de um crime de corrupção passiva para acto ilícito, previsto e
punido pelo art.º 372º, n.º 1 do Código Penal, repousam, exclusivamente, no
conteúdo das intercepções telefónicas que a seguir se enunciam e nas RDE´s
que abaixo também se identificam.

Uma das preocupações manifestadas por Manuel Godinho radicava


na obtenção de informação junto de fontes da própria REFER sobre o
posicionamento da administração relativamente às suas empresas.

Este papel foi exercido sobretudo por dois funcionários da REFER,


embora com funções distintas: Carlos Porral Paes de Vasconcellos e José
Domingos Lopes Valentim.

Das conversas interceptadas emerge um denominador comum entre


ambos, ancorado na consideração de terem sido afastados das funções que
anteriormente exerciam, além do mais, pelo facto de serem conotados como
tendo relações próximas com Manuel Godinho, senão exclusivamente por esse
facto.

706
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Outro aspecto comum entre ambos, que sobressai genericamente do


conteúdo das conversas telefónicas em que são intervenientes, é o facto de se
referirem a Manuel Godinho como “o chefe” e o de assumirem como um bem
próprio o vencimento dos interesses de Manuel Godinho face aos da REFER.

Em 24 de Junho de 2008, aquando da realização de buscas nas


empresas de Manuel Godinho no âmbito do NUIPC 39/08.8JAAVR, foram
apreendidas no gabinete da administração da empresa SCI, várias cartas
remetidos pela TMN à sociedade Manuel J. Godinho – Administrações
Prediais, S.A., datadas de Julho de 2007 e referentes ao envio de cartões de
telemóvel (cf. fls. 376 a 384, do apenso 23 e 34 a 80 do apenso 24).

A fls. 49 do apenso 24, consta uma carta fazendo menção do envio de


novo cartão com o n.º 934 038 887 e a indicação manuscrita de que aquele
teria sido entregue ao Dr. Carlos Vasconcellos.

Consta da lista telefónica apreendida nas instalações da empresa SCI,


em Aveiro, o registo de que o utilizador associado ao n.º 934 038887 é o
“Dr. Carlos Vasconcellos“. No mesmo registo, surge também associado a este
indivíduo o n.º de telefone da rede fixa 21 4861953, que, segundo informação
da PT, tem como assinante Carlos Porral Paes de Vasconcellos e se
encontra instalado na Av. Marechal Carmona, n.º 55, Cascais (cf. fls. 109 do
apenso 24).

Não obstante nos contactos registados entre Manuel Godinho e Carlos


Vasconcellos, este último usar o cartão com o n.º 914 008 899 e, por ora, não
se conhecer a identidade da pessoa em nome de quem este possa estar
registado, no dia 03/08/2009 foi registada uma conversa em que Carlos
Vasconcellos solicita a autorização de Manuel Godinho para pedir ao
funcionário da SCI, Bruno, um novo cartão para o seu telemóvel.

707
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 2523 - Alvo 1T167PM - 25/02/2009, 14:24:09 - 914088899


 917649864 – Carlos Vasconcellos (REFER)  Manuel Godinho
Carlos Vasconcellos deixa mensagem no voicemail do telemóvel de Manuel
Godinho, onde se identifica pelo nome: Carlos Vasconcellos.

Produto 2523, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 2523


DATA/HORA: 25/02/2009 14h24m09s
INTERVENIENTES:
• DE – Carlos Vasconcelos (Refer)
• PARA – Manuel Godinho

Mensagem de voz deixada na caixa de correio do nº 917649864


CARLOS VASCONCELOS – Tou, Godinho? Carlos Vasconcelos. Eu depois ligo-lhe
mais tarde. Um abraço. Obrigado.

Produto 16809 - Alvo 1T167PM - 03/08/2009 09:35:23 - 914008899 


917649864 – Carlos Vasconcellos (REFER)  Manuel Godinho
Carlos Vasconcellos diz que lhe roubaram ontem aquele telemóvel que ele
tinha dele e pede autorização para falar com o Bruno para pedir um cartão novo para
o telemóvel.
Manuel Godinho diz que o Bruno está de férias e que tratam disso para a
semana.

Produto 16809, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

708
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

PRODUTO Nº: 16809


DATA/HORA: 03/08/2009 09:35:23
INTERVENIENTES:
• DE – MANUEL GODINHO
• PARA – Carlos Vasconcelos (Refer)

Carlos Vasconcelos (Refer) – Bom dia, está tudo bem ?


MANUEL GODINHO – Bom dia, está tudo, doutor
Carlos Vasconcelos (Refer) – Está tudo calmo por aqui e aí também ? Anda
tudo calmo, não é ?
MANUEL GODINHO – Tudo calmo
Carlos Vasconcelos (Refer) – Não recebeu resposta lá do gajo
MANUEL GODINHO – Não, não recebi
Carlos Vasconcelos (Refer) – Ai o cabrão
MANUEL GODINHO – Não vai dar o gajo, não
Carlos Vasconcelos (Refer) – Não vai não, você manda outra
MANUEL GODINHO – E depois vou mandar outro, vou mandar outro e eh pá,
pronto, temos que ver e vamos constituir um
Carlos Vasconcelos (Refer) – um dossier
MANUEL GODINHO – um dossier pra (…) os nossos direitos, não é ?
Carlos Vasconcelos (Refer) – pois, pois, pois; é de entalar o gajo
MANUEL GODINHO – Exactamente
Carlos Vasconcelos (Refer) – Oh Godinho, também tenho a falar outra coisa,
pá ontem roubaram-me aquele telefone que eu tenho seu, eu posso pedir aí
ao Bruno um cartão novo pró telefone ?
MANUEL GODINHO – Está de férias, pá.
Carlos Vasconcelos (Refer) – Então posso pedir a quem
MANUEL GODINHO – Ora bem, esta semana vai ser difícil
Carlos Vasconcelos (Refer) – Então está bem, então deixe estar, pra semana
tratamos disso
MANUEL GODINHO – Lá pra semana, pra outra
Carlos Vasconcelos (Refer) – Eh pá, eu tinha aquilo sem bateria, tinha dentro
do carro, houve um cabrão que me roubou aquela merda, desses putos, estava
sem bateria, portanto o gajo não pode fazer chamadas que aquilo tem um PIN
tem tudo, que eu estava também com problemas é que o gajo pudesse fazer
chamadas, assim não faz chamadas nenhumas, está a ver ?

709
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – OK
Carlos Vasconcelos (Refer) – eu pra semana vejo isso
MANUEL GODINHO – Depois para a semana ou qualquer coisa, está ?
Carlos Vasconcelos (Refer) – Você agora vai de férias, é ?
MANUEL GODINHO – Pá, estamos, isto está, quer dizer não pára totalmente,
que há pessoas que não têm direito a férias, não é ? Mas está tudo um bocado
Carlos Vasconcelos (Refer) – Um bocado parado, não é ? Eu vou continuando
a ir lá se houver novidades eu vou-lhe dando, está bem ?
MANUEL GODINHO – Está bem doutor
Carlos Vasconcelos (Refer) – Um grande abraço

O JIC não pôde ignorar o indicio consistente em que nas instalações


da empresa O2, mais exactamente na secretária de Nuno Mendes Monteiro,
foram encontradas e apreendidas listas onde constam registos dos números
de telemóvel, nome do utilizador associado e o n.º de minutos gastos. Desta
listagem, entre outros, constam os nomes de Carlos Vasconcellos e Valentim
Refer (cf. fls. 263 a 273 do apenso 25).

Existem, por conseguinte, indícios fortes de que Carlos Vasconcellos ,


quadro da REFER, utilizava cartões de telemóvel fornecidos e pagos por uma
empresa de Manuel Godinho.

Decorre das conversações e relato de diligência externa, abaixo


referidos, que, no dia 26/02/2009, Manuel Godinho e Carlos Vasconcellos
encontraram-se e, após terem almoçado juntos, deslocaram-se às instalações
da SCI, em Aveiro, onde Manuel Godinho entregou àquele um envelope com
2.500,00€ em dinheiro.

Produto 2026 - Alvo 1T167PM - 18/02/2009, 14:59:56 - 914088899 


917649864 – Carlos Vasconcellos (REFER)  Manuel Godinho
Carlos Vasconcellos e Manuel Godinho combinam tomar café na próxima
semana. Falam da Secretária de Estado Ana Paula Vitorino.

710
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 2026, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 2026


DATA/HORA: 18/02/2009; 14h59m56s
INTERVENIENTES:
• DE – Carlos Vasconcelos (REFER)
• PARA – Manuel Godinho

MANUEL GODINHO – Tou.


CARLOS VASCONCELOS – Então Godinho, está tudo bem ou quê?
MANUEL GODINHO – Está tudo bem doutor.
CARLOS VASCONCELOS – É pá a tua amiga Ana Paula Vitorino, agente tanta
praga lhe roga que a gaja mandou um estouro e ficou de cama.
MANUEL GODINHO – Quem? Quem?
CARLOS VASCONCELOS – A Ana Paula.
MANUEL GODINHO – Mas mandou um estouro em quem?
CARLOS VASCONCELOS – Não. Caiu.
MANUEL GODINHO – Ela caiu, foi?
CARLOS VASCONCELOS – Estive no meu advogado de manhã e o meu
advogado era para ter uma reunião com a gaja na sexta-feira e dizia o gajo: é
pá sabes, era para ter uma reunião com a tua Secretária de Estado e ligaram-
me de lá, da Secretaria de Estado a dizer que não podia haver a reunião
porque a gaja caiu e ficou toda partida. Foda-se, é pena não ter morrido ou o
caralho.
MANUEL GODINHO – Pois.
CARLOS VASCONCELOS – E pronto, agora estava à espera de marcar nova
reunião, por causa da plataforma na logística, que o gajo pertence lá ao grupo
Lena.
MANUEL GODINHO – Ah.
CARLOS VASCONCELOS – É administrador de uma merda daquelas e … esses
cabrões.
MANUEL GODINHO – Eles deram as plataformas ao grupo Lena?
CARLOS VASCONCELOS – Não. A uma de Riachos que é do grupo Lena.
MANUEL GODINHO – Ah. Não sabia.
CARLOS VASCONCELOS – Este gajo é administrador lá, é um gajo muito bom,
muito porreiro.

711
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Quem? Quem?


CARLOS VASCONCELOS – Este administrador lá, o João Folque, está a ver?
MANUEL GODINHO – O João Ponte?
CARLOS VASCONCELOS – É o gajo é meu advogado e não me leva dinheiro
nenhum, é um gajo porreiro, está a ver?
MANUEL GODINHO – Pois, estou a perceber.
CARLOS VASCONCELOS – E estava lá com o gajo de manhã e o gajo é que me
falou dessa merda, então a secretária de estado, foda-se essa filha da puta.
MANUEL GODINHO – Ah.
CARLOS VASCONCELOS – A vaca do caralho parece um boi, diz o gajo, estive a
aturar o gajo com a historia da CP.
MANUEL GODINHO – Não sabia.
CARLOS VASCONCELOS – Ah, já comecei a trabalhar, então os gajos, é pá os
gajos são uns filhos da puta, os gajos lá da Segurança Social, é pá eu não
percebi que o cabrão me tinha cortado a baixa, agora tiraram-me nove dias do
recibo. Agora fui à minha médica e a minha médica é que me disse, olhe que
os gajos cortaram-lhe a baixa. Cortaram-me a baixa? Cortaram, está aqui. Esses
gajos nem médicos deviam ser. A gaja começou a armar a bronca, com alguns
gajos armados em fiscais, deviam ter era vergonha vocês, essa história dos
gajos … (imperceprivel)
MANUEL GODINHO – Pois, eu sei, eu sei.
CARLOS VASCONCELOS – Oh doutora deixe lá que eu vou trabalhar e já, é pa,
agora quero uns dias de férias, tenho férias do ano passado e quarta-feira já
começo a trabalhar.
MANUEL GODINHO – Mas, no mesmo sitio não é?
CARLOS VASCONCELOS – Sim, aqui no Cais do Sodré.
MANUEL GODINHO – Ah.
CARLOS VASCONCELOS – Voltei para o Cais do Sodré, agora.
MANUEL GODINHO – Os gajos não lhe dão nada?
CARLOS VASCONCELOS – É pá estou com o projecto da linha de Cascais em
que o cabrão do Mário Olivença só arranja confusões, não é? É pá e depois
leva tudo por tabela, percebe.
MANUEL GODINHO – Pois, estou a perceber.
CARLOS VASCONCELOS – O gajo quer é confusão, o Mário Olivença, está
habituado a mamar e agora não mama nada, estão os outros gajos por cima
dele a mamar, que é para saber o que o gajo faz aos outros, não é?
MANUEL GODINHO – Pois.

712
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

CARLOS VASCONCELOS – E agora anda histérico, o pota, o pota e o pota, o


pota e o pota o caralho, está no papel dele.
MANUEL GODINHO – É conversa.
CARLOS VASCONCELOS – Pois, os cabrões querem é conversa.
MANUEL GODINHO – Vamos com calma doutor, para a semana vamos tomar
um café.
CARLOS VASCONCELOS – Tá bem. Olhe lá uma coisa, não tem novidades
nenhumas, nada?
MANUEL GODINHO – Nada, nada, zero.
CARLOS VASCONCELOS – Se houver qualquer coisa, ligue-me, está bem?
MANUEL GODINHO – Tá bem. Ok doutor.
CARLOS VASCONCELOS – Tá, um abraço
MANUEL GODINHO – Um abraço.

Produto 2604 - Alvo 1T167PM - 26/02/2009, 11:34:53 - 234302420 


917649864 – Bruno (telefonista da SCI)  Manuel Godinho
Bruno informa que está lá o Dr. Carlos Vasconcellos.

Produto 2606 - Alvo 1T167PM - 26/02/2009, 11:49:53 – 234 302420 


917649864 – Maribel Rodrigues  Manuel Godinho
Manuel Godinho pede a Maribel para colocar 2500 euros num envelope, pois
precisa de pagar umas coisas. Respondendo a pergunta de Maribel, Manuel Godinho
diz que apenas precisa do dinheiro para a 13h30, depois do almoço.

Foi realizada diligência de vigilância, relatada no RDE de 26-02-2009,


fls. 2018 a 2010 onde se refere ter sido vista a viatura Mercedes CL 65 AMG,
com a matrícula 68-GV-25 e Manuel Godinho junto ao “Restaurante O Batista”,
encontrava-se acompanhado por um individuo que viria a ser identificado como
tratando-se de Carlos Vasconcellos.

713
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 2621 - Alvo 1T167PM - 26/02/2009, 12:53:27 - 234302425 


917649864 – Maribel Rodrigues  Manuel Godinho
Maribel informa quer vai sair para almoçar e pergunta onde é que Manuel
Godinho quer que ela deixe o envelope com “os documentos”. Este pede para ela
deixar o envelope em cima da secretária debaixo dos papéis.

Produto 2621, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 2621


DATA/HORA: 16/02/09 12:53:27
INTERVENIENTES:
• DE – Maribel Rodrigues
• PARA – Manuel Godinho

MANUEL GODINHO – Sim.


Maribel Rodrigues – Eu vou sair agora para almoçar, você quer que deixe
MANUEL GODINHO – vai sair para almoçar, é?
Maribel Rodrigues – Diga?
MANUEL GODINHO – Só agora?
Maribel Rodrigues – Só agora é que vou sair?
MANUEL GODINHO – Quantas toneladas é que deu?
Maribel Rodrigues – Vinte e sete.
MANUEL GODINHO – Só?
Maribel Rodrigues – Vinte e sete e setecentos. Quinhentos o noventa.
MANUEL GODINHO – Ok.
Maribel Rodrigues – Eh, você quer que deixe o envelopes dos documentos ali
no gabinete ou
MANUEL GODINHO – Deixe aí no gabinete. A Catarina está aí?
Maribel Rodrigues – Está.
MANUEL GODINHO – Ou deixe à Catarina, ou a uma pessoa qualquer. A
Manuela tá?
Maribel Rodrigues – Está a Catarina e está a Manuela.

714
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Tá bem. Ok.


Maribel Rodrigues – Então, entrego a elas, o envelope?
MANUEL GODINHO – Eh, ou deixe em cima, debaixo da minha secretária,
debaixo dos papeis.
Maribel Rodrigues – Eu deixo
MANUEL GODINHO – Tá bem?
Maribel Rodrigues – Tá, até já.
MANUEL GODINHO – Tá, até já.

No mesmo RDE fls. 2018 a 2020 - 26/02/2009 apurou-se que o


Peugeot 308, cinzento, matrícula 25-75-FZ, estava estacionado junto das
instalações da SCI, onde o arguido Carlos Vasconcellos entrou, com o arguido
Manuel Godinho pelas 13h10. Tendo abandonado as instalações pelas 14h25,
seguindo sozinho em pela A17 em direcção ao Sul.

A viatura Peugeot 308, com a matrícula 25-FZ-75 encontrava-se


registada à data em nome da Lease Plan Portugal – Comércio e Aluguer de
Automóveis e Equipamento Unipessoal (cf. fls. 2021).

De acordo com a informação obtida, a viatura 25-75-FZ foi adquirida


pela REFER (cf. fls. 2022). E era utilizada pelo arguido Vasconcellos.

Por outro lado, nas várias conversas que Manuel Godinho mantém
sobretudo com Carlos Vasconcellos, vai sendo desenvolvida a ideia de que o
presidente do CA da REFER, Engº Luís Pardal, constitui o principal obstáculo
à satisfação dos interesses daquele primeiro e das sua empresas e que tal se
resolveria com a respectiva destituição.

Produto 795 - Alvo 1T167PM - 04/02/2009, 15:36:57 - 914008899


 917649864 – Carlos Vasconcellos (REFER)  Manuel Godinho
Carlos Vasconcellos informa que na REFER está tudo na mesma, que fizeram
mais uma comissão de inquérito por causa do acidente na linha do Tua e faz
apreciações sobre Mário Olivença.

715
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Godinho pergunta-lhe se ele chegou a falar com Vicente Pereira


(presume-se que se refira a Alfredo Vicente Pereira, Vice-Presidente do Conselho de
Administração da REFER).
Carlos Vasconcellos diz que lhe ligou mas que ele não lhe respondeu e que o
Muralha também não está.
Carlos Vasconcellos diz que irá almoçar na sexta-feira com Frederico
Valsassina para ver se ele diz qualquer coisa ao Pardal (Eng. Luís Pardal, Presidente
do Conselho de Administração da REFER) e promete informar Manuel Godinho logo
que saiba de alguma coisa.

Produto 795, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 795


DATA/HORA: 04-02-2009 15:36:57
INTERVENIENTES:
• DE – CARLOS VASCONCELOS
• PARA – MANUEL GODINHO

MANUEL GODINHO – ‘Tou. ‘Tou?


CARLOS VASCONCELOS – ‘Tá tudo bem, ou quê?
MANUEL GODINHO – ‘Tá tudo, (imperceptível)
CARLOS VASCONCELOS – ‘Tá tudo na mesma merda, aqui! ‘Tive lá...
MANUEL GODINHO – (sobreposto) Ai é?
CARLOS VASCONCELOS – (imperceptível). Eh pá, não há novidades nenhumas.
Os gajos fizeram foi mais uma comissão de inquérito, lá pró desastre da linha
do Tua, não é?
MANUEL GODINHO – Pois...
CARLOS VASCONCELOS – De resto, não... Eh pá, é... é sempre a mesma merda.
Não fazem nada... Os gajos continua tudo à discussão, lá... lá no concelho...
aham... Eh pá, prontos...
MANUEL GODINHO – Mas eles dão-se bem, (imperceptível).

716
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

CARLOS VASCONCELOS – É... o... o... o coiso, o... o Mário Olivença ‘teve numa
reunião no concelho outro dia por causa de sinalização. Cada vez que há um
gajo que abre a boca o gajo atira-se ao gajo, pá...
MANUEL GODINHO – Ai é?
CARLOS VASCONCELOS – Já... Já ninguém percebe o que é que o gajo quer...
Ah! ‘Tá tudo fodido. O gajo é que sabe, o gajo é que manda, o gajo é que diz, e
pronto. É o campeão.
MANUEL GODINHO – Então... fixe.
CARLOS VASCONCELOS – ‘Tamos fodidos. ‘Tá (imperceptível)...
MANUEL GODINHO – (sobreposto) ‘Tamos fodidos, ‘tamos.
CARLOS VASCONCELOS – ‘Tá (imperceptível)...
MANUEL GODINHO – (sobreposto) Não chegou a falar com o Vicente Pereira?
CARLOS VASCONCELOS – Como?
MANUEL GODINHO – Não chegou a falar com o Vicente Pereira?
CARLOS VASCONCELOS – O gajo... o gajo não me ligou. Liguei-lhe outra vez e o
gajo continua... Não sei se o gajo não está cá. Também não tenho o Muralha,
p’ra perguntar. Mas amanhã de manhã, a ver se ligo ao gajo, porque eu vou...
vou à... à puta da Junta, na... na... no dia 14. E vou pedir alta, ‘tá a ver?
MANUEL GODINHO – Pois...
CARLOS VASCONCELOS – E... e vou falar pró gajo “Eh pá, veja lá se me arranja
outra coisa, se há alguma coisa...”
MANUEL GODINHO – Pois...
CARLOS VASCONCELOS – E... e o Frederico,... o Valssassina,... vou... almoçar
com o gajo na sexta-feira, p’ra ver se o gajo também diz qualquer coisa ao
Pardal, p’ra (imperceptível)
MANUEL GODINHO – Pois...
CARLOS VASCONCELOS – Vamos lá a ver. (imperceptível) Eu quando souber de
alguma coisa eu depois aviso, ‘tá bem?
MANUEL GODINHO – Ok, boa tarde.
CARLOS VASCONCELOS – Um abraço, adeus.
MANUEL GODINHO – Tchau. Um abraço, adeus.

Produto 1353 - Alvo - 1T167PM - 10/02/2009, 16:35:14 - 917649864 


914088899 – Manuel Godinho  Carlos Vasconcellos (REFER)

717
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Carlos Vasconcellos e Manuel Godinho conversam acerca do Vicente


Pereira.
Carlos Vasconcellos diz que irá almoçar na sexta-feira, com Frederico
Valsassina para ver se ele diz qualquer coisa ao Pardal (Eng. Luís Pardal, Presidente
do Conselho de Administração da REFER) e promete informar Manuel Godinho logo
que saiba de alguma coisa.

Produto 1353, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 1353


DATA/HORA: 10/02/2009 – 16h35m14s
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – Carlos Vasconcelos - REFER

CARLOS VASCONCELOS – Tou, Godinho, tudo bem.

MANUEL GODINHO – Imperceptível … tá tudo.

CARLOS VASCONCELOS – Isto está tudo a mesma merda, pá estes gajos não mexem,
nem atam nem desatam, nem fazem, nem fazem nada, o Vicente Pereira, tá bem, tá
bem, vamos ver, tá bem, tá bem, vamos ver, tá a ver. Eu disse ao … imperceptível …
que ia trabalhar para a semana, eu para a semana já estou bom, já vou trabalhar,
veja lá agora se com estas mexidas, o que é que vai haver, se há hipótese de me
colocar noutro sitio, por que aquilo realmente, a linha de Cascais, é pouco, não dá
para tanto, tá a ver.

MANUEL GODINHO – Pois.

CARLOS VASCONCELOS – Tá bem, tá bem, vamos ver, sabe como é que é aquela
conversa de puta do cabrão, não é.

MANUEL GODINHO – Pois, pois.

718
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

CARLOS VASCONCELOS – Não sei se vai haver alguma coisa, ou se não vai haver
nada, não é. Mas de qualquer das maneiras….

MANUEL GODINHO – Não acredito, não acredito muito pá. Nesse gajo não
acredito muito.

CARLOS VASCONCELOS – Não acredito em nenhum deles, ó Godinho, o meu


problema começa aí.

MANUEL GODINHO – Você não consegue lá pôr …..

CARLOS VASCONCELOS – Aquele, o Frederico ….

MANUEL GODINHO – Imperceptível ……..

CARLOS VASCONCELOS – Pois o Frederico …. Pinto.

MANUEL GODINHO – Aquele gajo não acredito que consiga, digo-lhe já.

CARLOS VASCONCELOS – Pois. E tem que ser o Pardal, não pode ser o gajo.

MANUEL GODINHO – Pois, tem que ser o Pardal, o gajo não manda nada.

CARLOS VASCONCELOS – O gajo tem medo do Pardal, percebe.

MANUEL GODINHO – Pois.

CARLOS VASCONCELOS – Se o Pardal propuser, o gajo avança

MANUEL GODINHO – Pois.

CARLOS VASCONCELOS – O Frederico ainda não tinha falado com o gajo, pá, é pá
ainda não consegui falar com o gajo, teve a almoçar hoje com o … imperceptível … e
o gajo ainda não conseguiu falar com ele.

MANUEL GODINHO – O … imperceptível … do caralho.

CARLOS VASCONCELOS – Na … imperceptível … só tretas

MANUEL GODINHO – Quê.

CARLOS VASCONCELOS – Aliás, sempre foi. O gajo a dizer-me que eu ficava na


Invesfer, e eu já sabia que não ficava.

719
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Na, eu estou a dizer se o Valsassina não é outro tretas.

CARLOS VASCONCELOS – Qual, Valsassina, não, não, não é um gajo porreiro. Não o
cabrão é.

MANUEL GODINHO – Não

CARLOS VASCONCELOS – Não isso é um gajo porreiro.

MANUEL GODINHO – Então, mas se ele se dá bem com o Pardal, não me diga
que o gajo não consegue.

CARLOS VASCONCELOS – O gajo já falou, ameaçou o Pardal, o cabrão do Pardal é que


lhe disse ao gajo, é pá, não, não te preocupes que o gajo agora vai ter muito
trabalho. Percebe.

MANUEL GODINHO – Ai é.

CARLOS VASCONCELOS – Pois. Não te preocupes que o gajo agora vai ter muito
trabalho, pá, não é nada assim, vais ver e tal e agora o que eu quero é que o
Valsassina diga ao gajo, é pá o gajo continua sem fazer nada, arranja-lhe lá outra
coisa, que o Valsassina é todo assim para a frente, tá a ver.

MANUEL GODINHO – Pois.

CARLOS VASCONCELOS – O Valsassina diz logo, ainda é pior do que eu, o cabrão.

MANUEL GODINHO – Pois é.

CARLOS VASCONCELOS – E … tive a almoçar com o Valsasssina, todas as terças feiras,


normalmente almoço com o gajo.

MANUEL GODINHO – Pois.

CARLOS VASCONCELOS – E o gajo está-me a tratar lá de umas merdas do prédio do


meu filho e tudo, e o gajo é um gajo porreiríssimo o gajo trata-me daquela merca
toda á borla, não é. Faz lá no atelier dele desenhos, bonecos e o caralho e não seu
quê e trata-me daquilo tudo á borla.

MANUEL GODINHO – Pois.

CARLOS VASCONCELOS –“ sobreposição de vozes”

720
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – “sobreposição de vozes”

CARLOS VASCONCELOS – No Domingo também estive com o gajo, tá a ver.

MANUEL GODINHO – E ele por que é que não consegue um almoço a três.

CARLOS VASCONCELOS – Na, na, não, isso o gajo, nem o Pardal vai nisso. Tá a ver. O
Pardal foge de mim como o diabo da cruz. Já com o. o. o cunhado do meu irmão
Chico, o … imperceptível ….

MANUEL GODINHO – Pois, pois.

CARLOS VASCONCELOS – O gajo nunca quis nada. Disse sempre ao gajo que sim
senhor, que sim senhor, que sim senhor e depois nunca me recebeu, mandou o
Fernando Silva receber-me.

MANUEL GODINHO – Pois.

CARLOS VASCONCELOS – E eu tinha dito ao ... imperceptível … ó pá, olha que eu


quero falar com o gajo, olha que eu quero falar com o gajo. Tá bem, tá bem, tá bem.
Quando chegou a altura de falar com o gajo, mandou o Fernando Silva receber-me e
no entanto o gajo fez lá negócios de certeza, que o cunhado do meu irmão quando
fez a compra do edifício do. do. do, da sede da Ferbritas, que aquilo era ao lado da,
da sogra do meu irmão e do Caldinhas, aqueles prédios.

MANUEL GODINHO – Pois.

CARLOS VASCONCELOS – Do modo que, o cabrão não quer nada connosco, percebe,
o filho de uma grande puta, pá este gajo, têm que pô-lo andar daqui para fora.

MANUEL GODINHO – Pois é.

CARLOS VASCONCELOS – E a gaja, a gaja agora atirou-se ao Sócrates, viu.

MANUEL GODINHO – Atirou-se.

CARLOS VASCONCELOS – Na história do Tua.

MANUEL GODINHO – Imperceptível …

721
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

CARLOS VASCONCELOS – Na história do Tua, disse lá ao Mexia, sim senhor, você faz
aí a barragem, mas, mas paga o caminho de ferro para cima. E era uma merda que o
Sócrates já tinha dito que queria fazer, não é.

MANUEL GODINHO – Pois. Isto é tudo combinado.

CARLOS VASCONCELOS – Ó pá, o cabrão do Sócrates tem de dar uma sticada na gaja,
agora quando é que eu não sei. O Sócrates também já deve estar farto da gaja, não é.

MANUEL GODINHO – Pois.

CARLOS VASCONCELOS – Tem é de dar uma sticada na gaja.

MANUEL GODINHO – Pois, nos vamos ter eleições quando.

CARLOS VASCONCELOS – É agora em … Outubro. As para a Câmara em Setembro, ou


é em Junho ou o caraças e os gajos é três meses depois. Deve ser nesta altura que o
gajo deve mexer nesta merda toda.

MANUEL GODINHO – Pois.

CARLOS VASCONCELOS – Vamos lá a ver. E de resto por aí, tudo calmo, não.

MANUEL GODINHO – Tudo calmo.

CARLOS VASCONCELOS – Tá uma merda do caraças. Ver passar os camionistas,


aquilo vai tudo umas coisas atrás das outras, não é.

MANUEL GODINHO – Pois é. É quer isto está de facto a entrar por um caminho
preocupante.

CARLOS VASCONCELOS – Sim, sim, sim. Tão á espera de gajos a despedir, gajos a
despedir, é pá, agora aquele gajo que, o arquitecto que fez aquela merda lá de
Aveiro, lembra-se, o gajo que é meu primo.

MANUEL GODINHO – Sim.

CARLOS VASCONCELOS – O cabrão, hoje, falou-me, é pá, anda a vender merdas, por
que não lhe pagam. E o gajo tem de pagar lá aos gajos que tem a trabalhar no atelier
dele, pá.

MANUEL GODINHO – Ai é.

722
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

CARLOS VASCONCELOS – É pá, não sei quê, tenho um relógio, ei pá, ó António eu
gostava muito, mas não tenho é dinheiro, por que. Mas anda a vender merdas a
metade do preço.

MANUEL GODINHO – Pois.

CARLOS VASCONCELOS – Um relógio de ouro, é pá tenho de vender, tenho de


vender, tenho de pagar a, não posso, não posso.

MANUEL GODINHO – Pois é uma chatice.

CARLOS VASCONCELOS – Hoje é dia dez e ainda não paguei aos gajos por que estou á
espera de receber e os outros gajos não me pagam e eu tenho de pagar. Pá, mas tu
não tens uma conta caucionada, não tens uma, é pá não e o caraças, devem-me uma
data de massa e não me pagam.

MANUEL GODINHO – “vozes sobrepostas”

CARLOS VASCONCELOS – “vozes sobrepostas”

MANUEL GODINHO – Quando começa assim, começa assim, vai tudo e não
chega a nada.

CARLOS VASCONCELOS – Olhe um dos gajos que lhe deve dinheiro é o gajo da
Teixeira Duarte.

MANUEL GODINHO – O Vaz Guedes é.

CARLOS VASCONCELOS – Não o da Teixeira Duarte.

MANUEL GODINHO – Ai o da Teixeira Duarte.

CARLOS VASCONCELOS – Pois aquilo também está tudo de pantanas, não é.

MANUEL GODINHO – Não está nada.

CARLOS VASCONCELOS – Eles não pagam a ninguém.

MANUEL GODINHO – Não está nada.

CARLOS VASCONCELOS – Tá bem, mas não pagam, quanto mais não seja não pagam
aos fornecedores.

723
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – A Teixeira Duarte, os gajos …

CARLOS VASCONCELOS – Que é para mostrar.

MANUEL GODINHO – Imperceptível … bem.

CARLOS VASCONCELOS – Pois, mas que é para mostrar que estão á rasca, não
pagam, tá a perceber.

MANUEL GODINHO – Há conversa.

CARLOS VASCONCELOS – Ai os filhos da puta, pá.

MANUEL GODINHO – Hééé´, ó doutor, isto pá …imperceptível … já.

CARLOS VASCONCELOS – É quê.

MANUEL GODINHO – Vai cair muita gente.

CARLOS VASCONCELOS – Ai vai, vai.

MANUEL GODINHO – Há muita boa gente que não vai resistir, não é.

CARLOS VASCONCELOS – Ai não vai não. Como isto está e cada vez vai ser pior, isto é
uma bola de neve.

MANUEL GODINHO – Pois é.

CARLOS VASCONCELOS – Só os mais fortes é que se aguentam. Isto é a selecção


natural desta merda.

MANUEL GODINHO – E agora vão criar, vão criar um imposto mais, para os
mais ricos, não é, para pagar a crise.

CARLOS VASCONCELOS – É pá, mas os mais ricos sempre pagaram a crise, não é por
aí, está a perceber, são os gajos é que têm a mania.

MANUEL GODINHO – Imperceptível … por que estão nas eleições, por que os
mais ricos depois mandam, mandam-nos dar uma volta

CARLOS VASCONCELOS – Pois, pois. São meia dúzia deles, tá perceber, e os outros
gajos é que são aos milhares para votarem neles.

MANUEL GODINHO – Pois.

724
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

CARLOS VASCONCELOS – Já desde o setenta e quatro, os ricos é que pagavam a crise,


sempre foi a mesma conversa, não é.

MANUEL GODINHO – Pois é. É pá, vamos com calma, vamos com calma a ver
se isto passa.

CARLOS VASCONCELOS – Tá bem, a gente vai falando para saber novidades, tá um


abraço.

MANUEL GODINHO – Um abraço.

Por sugestão de Carlos Vasconcellos, no dia 03/03/2009, Manuel


Godinho almoçou em Lisboa com, pelo menos, aquele. Em conformidade com
o acordado, e com o objectivo definido para esse encontro, nesse almoço terá
também estado presente o advogado de Carlos Vasconcellos, Dr. João Folque.

Nas conversações registadas nessa data, após o encontro, a hipótese


colocada para resolução do “problema” passaria por conseguir a destituição do
presidente do CA da REFER.

Produto 2723 - Alvo 1T167PM - 27/02/2009, 13:00:53 - 914008899 


917649864 – Carlos Vasconcellos (REFER)  Manuel Godinho
Carlos Vasconcellos diz que está com o seu advogado e que convinha falarem
acerca do processo (REFER).
Combinam almoçar os três em Lisboa na próxima 4ª feira.

Produto 2723, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 2723


DATA/HORA: 27/02/09 13:00:53
INTERVENIENTES:
• DE – Dr. Vasconcelos
• PARA – Manuel Godinho

725
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Sr. Vasconcelos – Tou?


MANUEL GODINHO – Sim doutor!
Dr. Vasconcelos – Está tudo bem consigo?
MANUEL GODINHO – Tá tudo bem doutor!
Dr. Vasconcelos – Olhe lá. Eh! Eu estou aqui com um advogado que o conhece,
pá, de Proença-a-Nova.

MANUEL GODINHO – Sim


Dr. Vasconcelos – Sabe o que é que é Proença-a_Nova, você?
MANUEL GODINHO – Proença-a-Nova? Perfeitamente. (imperceptível)
Dr. Vasconcelos – Olhe, já esteve consigo em Tribunal e tudo.
MANUEL GODINHO – Ai é?
Dr. Vasconcelos – Ah, Ah, Ah! Ele disse que
MANUEL GODINHO – Ai é esse senhor?
Dr. Vasconcelos – É.
MANUEL GODINHO – Ih, ih, ih!
Dr. Vasconcelos – (Impresceptível) Ele disse que
MANUEL GODINHO – Já conheço, já conheço.
Dr. Vasconcelos – Pronto. Com respeito ao outro processo,
MANUEL GODINHO – Eu que lhe mando um abraço.
Dr. Vasconcelos – Tá. Ele diz que lhe manda um abraço. Com respeito ao outro
processo, ele diz que vê aqui uma ou duas soluções, mas que convinha quando
você viesse cá abaixo, irmos almoçar os três.
MANUEL GODINHO – A gente vamos almoçar os três.
Dr. Vasconcelos – Quando é que você vem cá abaixo?
MANUEL GODINHO – É pá.
Dr. Vasconcelos – Que iam os almoçar os três.
MANUEL GODINHO – É pá. Hoje já não dá.
Dr. Vasconcelos – Não. Hoje não.
MANUEL GODINHO – Marque vocês para a semana. Segunda, terça, quarta-
feira.
Dr. Vasconcelos – Quarta-feira.

726
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Quarta-feira. Pode ser.


Dr. Vasconcelos – Pode ser quarta-feira, pronto.
MANUEL GODINHO – Está combinado quarta-feira
Dr. Vasconcelos – Tá, um abraço
MANUEL GODINHO – Chau, um abraço. Bom fim-de-semana.

Produto 2997 - Alvo 1T167PM - 03/03/2009, 13:07:55 - 914008899 


917649864 – Carlos Vasconcellos (REFER)  Manuel Godinho
Carlos Vasconcellos e Manuel Godinho combinam encontrar-se no Cais do
Sodré paras depois irem almoçar ao restaurante “Mercado do Peixe”, com mais duas
pessoas que irão tentar resolver o problema entre as empresas de Manuel Godinho e a
REFER.

Produto 2997, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 2997


DATA/HORA: 03/03/2009 13:07:55
INTERVENIENTES:
• DE – Carlos Vasconcelos
• PARA – Manuel Godinho

CARLOS VASCONCELOS – Tou? Então é assim, meio dia e meio, vamos lá ter ao
escritório dele e o gajo, eu acho, ele penso que tem uma solução para o seu
caso, tá a ver, mas o sócio do gajo é que está mais metido dentro desse
assunto e pediu para levar o sócio, para poderem discutir, não há problema,
pois não?
MANUEL GODINHO – Imperceptível, não há problema
CARLOS VASCONCELOS – Não há problema? O sócio do gajo é que está mais
metido da solução que o gajo está a pensar para o seu caso.
MANUEL GODINHO – A gente fala. A gente vai almoçar
CARLOS VASCONCELOS – Não há problema ir o sócio do gajo
MANUEL GODINHO – Diga

727
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

CARLOS VASCONCELOS – Não há problema de ir lá o sócio do gajo?


MANUEL GODINHO – Eu simplesmente limito-me a contar
CARLOS VASCONCELOS – Sim sim sim
MANUEL GODINHO – O que se passou
CARLOS VASCONCELOS – Evidente e depois o gajo há solução, não há solução,
tá a perceber … combinei ir ter com o gajo ao meio-dia e meio, onde é que nós
nos encontramos?
MANUEL GODINHO – Eu acho que é no mercado do peixe, … podemos ficar lá
um bocado
CARLOS VASCONCELOS – Pois, mas podemos ir buscar os gajos, tá a ver,
MANUEL GODINHO – ir buscar?
CARLOS VASCONCELOS – Sim, vamos buscar os gajos, que é preferível, né, ou
mandamos lá os gajos ir ter ao mercado do peixe
MANUEL GODINHO – É…, eu acho que eles iam lá ter e a gente falava, tá a ver
CARLOS VASCONCELOS – Tá bem, tá bem, pronto, então eu vou dizer isso
MANUEL GODINHO – Você vai comigo e eles que vão lá ter
CARLOS VASCONCELOS – Tá bem, eu vou, depois a gente encontra-se cá em
baixo. Quando estiver a vir para baixo diga, que eu estou no Cais do Sodré
MANUEL GODINHO – Tá bem, ok
CARLOS VASCONCELOS – Pronto, um abraço, adeus

Produto 3008 - Alvo 1T167PM - 03/03/2009, 14:40:17 - 914008899 


917649864 – Carlos Vasconcellos (REFER)  Manuel Godinho
Falam acerca do presidente do conselho de administração da REFER.

Produto 3008, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 3008


DATA/HORA: 03/03/2009 14:40:17
INTERVENIENTES:
• DE – Carlos Vasconcelos
• PARA – Manuel Godinho

728
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

CARLOS VASCONCELOS – Tou


MANUEL GODINHO – Tou
CARLOS VASCONCELOS – Falei com o gajo. É daquelas coisas do Fortunato, tá
a ver, aquilo é metade verdade, metade mentira, é
aquilo que o mandam escrever, não é, mas … não sei, eu tenho de
ver aquilo, a notícia, para ler bem, percebe, que o primeiro-ministro diz que o
gajo descontrolou e que vai não sei o quê, aqueles números do Fortunato
MANUEL GODINHO – Mas o primeiro-ministro é que diz é
CARLOS VASCONCELOS – Dizem eles, o Fortunato é que diz, está a ver, e o
Fortunato escreve aquilo que o Cardoso dos Reis manda escrever e o Frazão
MANUEL GODINHO – Ai é
CARLOS VASCONCELOS – É. Inda por cima agora venderam a Tex, onde o
Fortunato andava pendurado, não é
MANUEL GODINHO – Bem
CARLOS VASCONCELOS – Deixe-me ler bem a notícia que depois eu digo-lhe
qualquer coisa, tá bem?
MANUEL GODINHO – Ok tá
CARLOS VASCONCELOS – Um abraço
MANUEL GODINHO – Tchau, um abraço

Produto 3050 - Alvo 1T167PM - 03/03/2009, 20:24:47 - 917649864 


914008899– Carlos Vasconcellos (REFER)  Manuel Godinho
Falam acerca do presidente do conselho de administração da REFER.

Produto 3050, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 3050


DATA/HORA: 2009-03-03T20:24:47.400
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – Carlos Vasconcelos

729
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

CARLOS VASCONCELOS – Tou


MANUEL GODINHO – Sim boa tarde
CARLOS VASCONCELOS – Então, tá tudo bem ou quê
MANUEL GODINHO – Tá tudo, eh … houve mais algum desenvolvimento, ou
não?
CARLOS VASCONCELOS – Não. Nada nada nada
MANUEL GODINHO – Não chegou a haver nada?
CARLOS VASCONCELOS – Não não não não, aquilo, pá, aquilo, o gajo devia
querer conversa e ligou-lhe
MANUEL GODINHO – Não, diz que não, diz que está na internet
CARLOS VASCONCELOS – Sim sim, pode estar
MANUEL GODINHO – Inclusivamente que está a sair outra vez
CARLOS VASCONCELOS – Amanhã posso ver outra vez se saiu mais alguma
coisa, mas … o outro gajo, é o Fortunato a chatear o comandante, que é o
Cardoso dos Reis, tá a ver
MANUEL GODINHO – Diz que é o núcleo do Socialista
CARLOS VASCONCELOS – É, porque os gajos querem atacar o Cardoso dos Reis
e o Cardoso dos reis ataca por ali
MANUEL GODINHO – Ah, não acredito, o Cardoso dos Reis não se mete nisso
CARLOS VASCONCELOS – Então não mete. Porra, então o Fortunato e o Frazão
e não sei quê, é tudo lá da mesma escola. O senhor não se esqueça que o gajo
esteve de administrador da Tex e agora o Pardal tirou-o
MANUEL GODINHO – Pois
CARLOS VASCONCELOS – Aquilo é tudo uma cambada
MANUEL GODINHO – Não sei. Pronto, vamos com calma.
CARLOS VASCONCELOS – Vamos com calma. Você amanhã vai aparecer a que
horas?
MANUEL GODINHO – Eh pá, eu só vou estar aí à uma hora da tarde
CARLOS VASCONCELOS – Tá bem
MANUEL GODINHO – Eh… não, você diga diga que o almoço
CARLOS VASCONCELOS – É para a uma hora
MANUEL GODINHO – À uma hora
CARLOS VASCONCELOS – À uma e meia, diga a que horas você quer

730
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Não, uma hora, uma hora, porque eu às onze horas da
manhã vou sair daqui, tá a ver
CARLOS VASCONCELOS – Tá bem
MANUEL GODINHO – Duas horitas para chegar aí. Você quer que o vá buscar
ao Cais do Sodré?
CARLOS VASCONCELOS – É indiferente. Se você
MANUEL GODINHO – Eu vou lá buscá-lo, não há crise
CARLOS VASCONCELOS – O senhor vem por ali abaixo e depois seguimos,
também é, em vez de vir por cima, vem por baixo
MANUEL GODINHO – Tá bem ok
CARLOS VASCONCELOS – Tá bem
MANUEL GODINHO – Está combinado
CARLOS VASCONCELOS – Eu por volta do meio-dia, meio-dia e qualquer coisa
estou-lhe a ligar
MANUEL GODINHO – Tá bem, tá bem
CARLOS VASCONCELOS – Adeus.

Durante algum tempo Manuel Godinho, induzido por Carlos


Vasconcellos, alimenta a expectativa de que, pressionando a Secretária de
Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, o aludido diferendo seria resolvido
a seu contento.

Assim, os autos indiciam que, por intermédio de Carlos Vasconcellos,


socorre-se de dois advogados, Dr. João Folque e Dr. José Manuel Mesquita,
para que estes diligenciassem no sentido de resolver o diferendo com a
REFER, por uma via não jurídica, por sensibilização sobre a Secretária de
Estado.

Produto 3442 - Alvo 1T167PM - 07/03/2009, 14:26:37 - 917649864 


914008899 – Manuel Godinho  Carlos Vasconcellos (REFER)
Carlos Vasconcellos transmite que esteve com o “homem” e que ele vai estar
com uma pessoa que conhece muito bem “a senhora” (referindo-se à Secretária de
Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino).

731
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 3442, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 3442


DATA/HORA:
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – Carlos Vasconcelos

CARLOS VASCONCELOS – Atão Godinho, tudo bem?


MANUEL GODINHO – Sim, tudo bem doutor, tudo bem.
CARLOS VASCONCELOS – Olhe, estive com o homem esta manhã, não é?
MANUEL GODINHO – Sim.
CARLOS VASCONCELOS – Como já lhe tinha dito. Pronto. E ele em princípio
segunda ou terça-feira vai estar com um gajo que…conhece muito bem a
senhora.
MANUEL GODINHO – Ai é!?
CARLOS VASCONCELOS – É. (imperceptível)…o que é que o gajo…
MANUEL GODINHO – Isso tem que ser pela parte da senhora, é?
CARLOS VASCONCELOS – É pá, vamos tentar. Se ela dá ordem para baixo, não
é?
MANUEL GODINHO – Pois.
CARLOS VASCONCELOS – Porque…o gajo só recebe ordens daquela gaja, não
é? E…
MANUEL GODINHO – Não sei se recebe ordens daquela gaja.
CARLOS VASCONCELOS – Vamos ver, vamos ver. Temos que tentar por
qualquer lado. Eh…entretanto o… eu…o gajo falou à minha frente para o outro
gajo, não é?
MANUEL GODINHO – Sim.
CARLOS VASCONCELOS – Se não poder ser na segunda é na terça, porque o
gajo tinha um almoço ou não sei quê. Se não poder ser na segunda…
MANUEL GODINHO – Atenção…atenção que…que a gaja…é uma pessoa que é
capaz de fazer o contrário daquilo que se lhe falar, hã.
CARLOS VASCONCELOS – É pá temos que tentar, Não podemos é estar
parados, não é?

732
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Exacto.


CARLOS VASCONCELOS – Porque o outro gajo…o sócio do gajo…disse que
isto…é pá, que se vai resolver quando houver as novas eleições, tá a ver?
MANUEL GODINHO – Ele disse…
CARLOS VASCONCELOS – O sócio…eu gostei muito do sócio do gajo, hã.
MANUEL GODINHO – Pois.
CARLOS VASCONCELOS – E que em princípio, pá, que o gajo disse: “É pá isto
está tudo tão difícil, tão difícil”. Eu penso…é mais para resolver a seguir às
eleições, tá a ver? Que o gajo vai mexer em tudo, porque o gajo…
MANUEL GODINHO – Pois.
CARLOS VASCONCELOS – …tá falto da gaja e dos gajos todos…e do chefe da
gaja, tá a ver?
MANUEL GODINHO – Pois.
CARLOS VASCONCELOS – que…o chefe da gaja quer se ir embora, não é?
Aquilo nem a gaja fica. E se nem a gaja ficar…a gente depois já tem outros
esquemas(?) para resolver, tá a ver?
MANUEL GODINHO – Pois, estou a perceber.
CARLOS VASCONCELOS – Pois.
MANUEL GODINHO – Pronto, vamos ver.
CARLOS VASCONCELOS – (…) não está nada parado, hã. Eu pensei…eu
também não queria falar com o gajo por telefone e queria não sei quê. Esta
manhã estive com o gajo e disse…he…tive com o gajo, falámos…fiquei…
MANUEL GODINHO – Mas os gajos estão interessados em trabalhar com nós,
é?
CARLOS VASCONCELOS – Sim, sim, sim, sim, sim. O gajo disse que está
complicado é outro problema… o resto… (risos)
MANUEL GODINHO – O outro o quê?
CARLOS VASCONCELOS – O outro problema.
MANUEL GODINHO – Qual problema?
CARLOS VASCONCELOS – O segundo problema.
MANUEL GODINHO – Ah, não é problema nenhum.
CARLOS VASCONCELOS – Pois. O gajo diz: “É chato pá porque é uma coisa
complicada e…”
MANUEL GODINHO – Mas é uma coisa complicada o quê?
(conversação sobreposta – imperceptível)

733
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

CARLOS VASCONCELOS – Para eles…para o cliente deles. (…) Por outro lado
até é bom você conhecê-lo, tá a ver?
MANUEL GODINHO – Pois.
CARLOS VASCONCELOS – Que é p´ra…he…levar aquelas coisas mais muito
mais ligeiras do que aquilo que está, tá a ver?
MANUEL GODINHO – Não…ele tem que lhe dizer…ele tem que…
CARLOS VASCONCELOS – O que é que quer.
MANUEL GODINHO – dizer ó…dizer ó patrão dele
CARLOS VASCONCELOS – Ao cliente dele.
MANUEL GODINHO – Ao cliente dele que…ele comprou o imóvel e eu comprei
os móveis.
CARLOS VASCONCELOS – Pois.
MANUEL GODINHO – Atão o que é que ele quer?
CARLOS VASCONCELOS – Evidente, é evidente. O gajo não quer é
complicações consigo, não percebeu?
MANUEL GODINHO – Pois. Tou a perceber, tou a perceber.
CARLOS VASCONCELOS – Claro que ele não quer é complicações consigo.
Porque o gajo, o gajo é um gajo porreiro
MANUEL GODINHO – Na certeza porém…eu vou ter muito mais interesse para
ele do que a outra parte.
CARLOS VASCONCELOS – É evidente. O gajo já percebeu isso.
MANUEL GODINHO – Tá a perceber?
CARLOS VASCONCELOS – É evidente. O gajo já percebeu isso, homem.
MANUEL GODINHO – A gente vai almoçando com ele…
CARLOS VASCONCELOS – Pois.
MANUEL GODINHO – …um dia destes a gente convida-o a lá ir acima
CARLOS VASCONCELOS – Pois. O gajo comigo vai, porque o gajo é muito meu
amigo. Eu dou-me muito, muito, muito, muito, muito, muito bem com o gajo.
Mas mesmo muito bem, está a perceber?
MANUEL GODINHO – E a gente vai falando…
CARLOS VASCONCELOS – Já estive com o gajo hoje…de manhã, e se calhar
agora à tarde vou estar outra vez em casa de…lá do cunhado do gajo, tá a ver?
MANUEL GODINHO – Pois.
CARLOS VASCONCELOS – Pronto, eu dou-me muito bem com o gajo. Não há
problemas nenhuns. É pá, ouça lá, então o gajo é meu advogado, é à borla.
MANUEL GODINHO – Pois.

734
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

CARLOS VASCONCELOS – Tá a ver?


MANUEL GODINHO – Não, ele é uma pessoa simpática.
CARLOS VASCONCELOS – Não, e o gajo também gostou muito de si.
MANUEL GODINHO – Ele é uma pessoa simpática.
CARLOS VASCONCELOS – O gajo…houve ali um engano. Quando eu perguntei
o que é que era não era para mim, era… (risos)
MANUEL GODINHO – Pois, pois, pois. Pois, não no…
CARLOS VASCONCELOS – (risos) Não tenhas problemas. Ele já disse
que…podemos trabalhar juntos…queremos é trabalhar juntos. Queremos
trabalhar, o resto é conversa.
MANUEL GODINHO – Exacto. É isso.
CARLOS VASCONCELOS – Tá bem?
MANUEL GODINHO – Vá. Chau.
CARLOS VASCONCELOS – Bom fim-de-semana. Vou dando notícias, tá bem?
MANUEL GODINHO – Tá. Um abraço.
CARLOS VASCONCELOS – Obrigado, abrigado.

Produto 3842 - Alvo 1T167PM - 11/03/2009, 17:30:39 - 914008899 


917649864 – Carlos Vasconcellos (REFER)  Manuel Godinho
Carlos Vasconcellos diz que esteve a falar com “a pessoa” que conhece “a
senhora” – Ana Paula Vitorino, Secretário de Estado dos Transportes – e que ele já
terá encontrado uma solução para o problema de Manuel Godinho.

Produto 3842, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 3842


DATA/HORA: 11/03/2009 17:30:39
INTERVENIENTES:
• DE – CARLOS VASCONCELOS (REFER)
• PARA – MANUEL GODINHO

735
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – ‘Tou?


CARLOS VASCONCELOS – Sr. Godinho, então, está tudo bem?
MANUEL GODINHO – ‘Tá tudo, então?
CARLOS VASCONCELOS – Tudo, calmo, não? Eh, pá, hoje ‘tava lá... no Cais do
Sodré, entra-me o Pardal pela porta dentro. Esse cabrão...
MANUEL GODINHO – Sim...
CARLOS VASCONCELOS – Foi lá ver as instalações...
MANUEL GODINHO – Sim...
CARLOS VASCONCELOS – Estávamos lá os três à conversa. Eu, o Mário... o
Mário Olivença e o Luís Rodrigues, entra o gajo. Porque:... ‘o cabrão do Frazão
tinha aldrabado o gajo, tinha-lhe pedido as instalações p’ró museu, e o
caralho...’ E o gajo: ‘Eu assinei, mas conforme assino, também desassino. De
modo que desassino já isto, que ele não vai ficar com isto’, não sei quê...
Cabrão de merda. ‘Tá a ver o cabrão? ‘Eu conforme assino, desassino’ diz o
gajo...
MANUEL GODINHO – É...
CARLOS VASCONCELOS – Eh pá! Um presidente fez uma merda destas...
MANUEL GODINHO – Não tem palavra nenhuma.
CARLOS VASCONCELOS – Não tem palavra nenhuma. ‘Ah! Porque sinto-me
enganado...’ e tal... Este filho da puta, pá!
MANUEL GODINHO – Pois é...
CARLOS VASCONCELOS – Depois esteve lá a ver as instalações connosco,
esteve lá... porque vai ser a inauguração daquilo na segunda-feira...
MANUEL GODINHO – Pois...
CARLOS VASCONCELOS – E de modo que queria ver aquilo... Tá bem, tá... Tudo
bem, viu, foi-se embora. Puta que o pariu.
MANUEL GODINHO – (imperceptível)
CARLOS VASCONCELOS – E entretanto, falei com o outro gajo ontem ao
telefone, o gajo diz... Eh pá... Hoje ia p’ra Leiria e que ia ter uma conversa
comigo, disse que já... ‘já vi ali um caminho e tal, para avançar lá através do
outro gajo que conhece a Sra’... A ver se amanhã falo com o gajo e depois digo-
lhe qualquer coisa.
MANUEL GODINHO – Ok.
CARLOS VASCONCELOS –‘Tá bem?
MANUEL GODINHO – ‘Tá, tá.
CARLOS VASCONCELOS – Tá. Adeus, vou andando, ...
MANUEL GODINHO – (sobreposto) Tá, tá.

736
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

CARLOS VASCONCELOS – (imperceptível) ...um grande abraço, obrigado

Produto 3998 - Alvo 1T167PM - 13/03/2009 12:24:09 - 914008899 


917649864 – Carlos Vasconcellos (REFER)  Manuel Godinho
Carlos Vasconcellos pergunta se para a semana se podem encontrar para
falar com o amigo do Vasconcellos. Manuel Godinho diz que sim.
Carlos Vasconcellos diz que tinha estado na inauguração do edifício do metro
com o Mário Lino e, referindo-se à Secretária de Estado Ana Paula Vitorino, como a
“gaja”.
Informa que soube lá que quem é próximo da Secretária de Estado é um dos
administradores do metropolitano, o Morais Ferreira.
A pergunta de Carlos Vasconcellos, Manuel Godinho diz que se dá bem com
ele, mas que já não se falam desde a Expo.

Produto 3998, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 3998


DATA/HORA: 13/03/2009 12:24:09
INTERVENIENTES:
• DE – Dr. Vasconcelos
• PARA – Manuel Godinho

Manuel Godinho – Estou


Dr. Vasconcelos – Sr. Godinho? Tá, tudo a correr ou quê?
Manuel Godinho – Sim Dr. Tá tudo
Dr. Vasconcelos – Olheeee... acha que pr´a semana podemos falar? Com este
gajo meu amigo? Convinha um gajo arranjar dois ou três dias para ver qual lhe
convinha mais, tá a ver?
Manuel Godinho – Tá bem, ok
Dr. Vasconcelos – Olhe, estive aqui agora na inauguração desta porcaria
Manuel Godinho – Sim

737
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Dr. Vasconcelos – Esteve cá o Mário Lino e a gaja e aquela coisa toda


Manuel Godinho – Sim
Dr. Vasconcelos – É pá e há um ganda filho da puta que se dá muita bem com
a gaja, não sei como é que você tem relações com esse gajo que é o Morais
Ferreira, tava aqui...
Manuel Godinho – Dá bem com quem?
Dr. Vasconcelos – Com a Secretária de Estado
Manuel Godinho – E o Morais Ferreira está aí é?
Dr. Vasconcelos – Esteve aqui, mas o gajo estava todo
Manuel Godinho – Com a gaja é?
Dr. Vasconcelos – Sim, estava todo, o gajo é administrador do Metro, está a
ver?
Manuel Godinho – Ahhhhh!!!
Dr. Vasconcelos – E acharam que o gajo se dava muito bem com a gaja
Manuel Godinho – Pois
Dr. Vasconcelos – Eu não sei se você se dá bem esse gajo ou não
Manuel Godinho – Eu dou-me bem com ele, num... depois da Expo nunca mais
tive contactos com ele
Dr. Vasconcelos – Pois, mas o cabrão ficou fodido com o Toninho e com o
Manel e com o...
Manuel Godinho – Não, não, mas comigo não é nada
Dr. Vasconcelos – Pronto é isso
Manuel Godinho – Eu não tenho problemas com ele
Dr. Vasconcelos – Eu também nem sequer falei como gajo, nem dei muita
confiança, não me aproximei do gajo
Manuel Godinho – Mas ele com o Mário Lino, ele com o Mário Lino não deve
ter confiança
Dr. Vasconcelos – Ele tem confiança com ela
Manuel Godinho – Ele tem confiança com a Secretária de Estado, com a Ana
Paula, não é?
Dr. Vasconcelos – Com a Ana Paula é que ele tem muita confiança, com essa
gaja...
Manuel Godinho – Ehhhh!!!
Dr. Vasconcelos – Isso e depois fiz lá umas perguntas, a uns gajos que eu
conheço do Metro e os gajos é que me disseram, não, não, o gajo é é da gaja...
Manuel Godinho – Pois, estou a perceber

738
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Dr. Vasconcelos – Há muitos anos, já há muitos anos... temos, temos


Manuel Godinho – É uma questão de eu falar com ele
Dr. Vasconcelos – A gente agora para a semana deve, vai ter uma conversinha
com o outro gajo, para ver o que é que o outro gajo arranjou, tá a ver?
Manuel Godinho – Tá bem
Dr. Vasconcelos – Que é pra gente começar e encaminhar isso
Manuel Godinho – Veja lá, veja lá se são tipos da treta
Dr. Vasconcelos – Nem pense nisso
Manuel Godinho – E que possam lixar um gajo, está a ver?
Dr. Vasconcelos – Nem pense nisso, não, não, ó Godinho
Manuel Godinho – Veja lá, pra não haver problemas
Dr. Vasconcelos – Não, não lhe vou meter gajos da treta nas mãos, não é?
Manuel Godinho – Exactamente
Dr. Vasconcelos – Atenção que, pronto, o gajo agora vai-me dizer para a
semana quando é que a gente pode tar juntos, tá bem?
Manuel Godinho – Mas há alguma evolução ou não?
Dr. Vasconcelos – Há, há
Manuel Godinho – Há
Dr. Vasconcelos – Mas ele disse-me que havia e eu ainda não falei
directamente com ele, porque ele está à espera que o outro gajo lhe diga duas
ou três datas para a gente se poder juntar outra vez, quando você vier cá
abaixo e podermos juntar-nos porque também datas que interessem a si, está
a ver?
Manuel Godinho – Ok, não tem problema nenhum, veja lá com ele
Dr. Vasconcelos – Tá, eu depois digo qualquer coisa
Manuel Godinho – Tá, um abraço

Produto 4067 - Alvo 1T167PM - 14/03/2009 14:02:58 - 914008899 


917649864 – Carlos Vasconcellos (REFER)  Manuel Godinho
Carlos Vasconcellos combina deslocar-se na quarta-feira às 02h30 ao
escritório de um advogado.

739
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Godinho pergunta se há evoluções. Carlos Vasconcellos diz que sim e


que segundo, presume-se, a pessoa a quem se refere como “o meu amigo” lhe disse
para aguardarem mais algum tempo que eles estavam á espera de uma resposta.

Produto 4067, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 4067


DATA/HORA: 14/03/2009 14:02:58
INTERVENIENTES:
• DE – Dr. Vasconcelos
• PARA – Manuel Godinho

Manuel Godinho – Sim


Dr. Vasconcelos – Tá tudo bem ou quê?
Manuel Godinho – Tá tudo, eu vi a sua chamada, mas de manhã não tive
oportunidade de lhe ligar, diga
Dr. Vasconcelos – Não há problemas, sexta-feira às onze e meia
Manuel Godinho – Sexta-feira às onze e meia
Dr. Vasconcelos – Às onze e meia da manhã, tá bem?
Manuel Godinho – Aonde
Dr. Vasconcelos – Pá, lá no escritório do advogado
Manuel Godinho – E c´um caralho, lá no escritório
Dr. Vasconcelos – É igual a gente também não tem problemas nenhuns, vai lá,
não há problemas nenhuns e agora já é noutros
Manuel Godinho – Mas já há alguma novidade?
Dr. Vasconcelos – É, os gajos estão a tratar do assunto e os gajos, é pá, deixa
esperar até mais ao fim da semana que eles estão à espera de uma resposta
Manuel Godinho – Pois
Dr. Vasconcelos – Tá bem?
Manuel Godinho – Ok
Dr. Vasconcelos – Que é para depois nós conversarmos, depois a gente vai
falando durante a semana

740
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Godinho – Tá bem a gente vai falando, ok?


Dr. Vasconcelos – Tá, um abraço, bom fim-de-semana, obrigado

Produto 4438 - Alvo 1T167PM - 19/03/2009 09:58:12 - 914008899 


917649864 – Carlos Vasconcellos (REFER)  Manuel Godinho
Carlos Vasconcellos e Manuel Godinho combinam encontrar-se ao meio-dia
do dia seguinte.

Produto 4438, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 4438


DATA/HORA: 19-03-2009/ 09:58:12
INTERVENIENTES:
• DE – Carlos Vasconcelos
• PARA – Manuel Godinho

CARLOS VASCONCELOS – Bom dia, tudo bem?


MANUEL GODINHO – Bom dia doutor.
CARLOS VASCONCELOS – Olhe confirma tudo para amanhã?
MANUEL GODINHO – É pá, em principio confirma.
CARLOS VASCONCELOS – Tá bem, eu já disse uns gajos pá se, em principio
seria às onze e meia, mas pode ser.
MANUEL GODINHO – Mas aquilo há alguma novidade ou não?
CARLOS VASCONCELOS – Há. É pá, é evidente que se os gajos querem falar
connosco é porque há, não é? Eu também não perguntei nada pelo telefone,
nesta altura, não é?

741
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Pois.


CARLOS VASCONCELOS – Mas eu disse ao gajos, se não for aí pode ser no …,
ele vem lá de cima, vem com fome, agente aponta para aí ao meio dia, ou
qualquer coisa assim, está a ver.
MANUEL GODINHO – Pois.
CARLOS VASCONCELOS – Ele disse que não há problema nenhum, está bem?
MANUEL GODINHO – Tá. Ok. Ok.
CARLOS VASCONCELOS – Pronto, depois amanhã estou-lhe a ligar, para saber
onde é que você anda, tá bem?
MANUEL GODINHO – está bem. Ok. Ok.
CARLOS VASCONCELOS – Abraço, até amanhã.
MANUEL GODINHO – Até logo, um abraço.

Produto 4559 - Alvo 1T167PM - 20/03/2009 10:44:18 - 917649864 


932377103– Manuel Godinho  Maribel Rodrigues
Manuel Godinho, respondendo a Maribel, diz que se vai encontrar com o Dr.
Góis, com o Dr. Manuel Carvalho e com o Dr. Vasconcellos.

Produto 4559, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 4559


DATA/HORA: 20-03-2009/ 10:44:18
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – Maribel Rodrigues

MARIBEL RODRIGUES – Tou.


MANUEL GODINHO – Sim.
MARIBEL RODRIGUES – Diz.
MANUEL GODINHO – Hum.
MARIBEL RODRIGUES – Tou. Que horas são?
MANUEL GODINHO – São dez e quarenta e sete.
MARIBEL RODRIGUES – Ei cum caneco.

742
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Ora bem daqui a cinco minutos, dez minutos vou estar
ocupado.
MARIBEL RODRIGUES – Sim.
MANUEL GODINHO – Se precisares de falar comigo.
MARIBEL RODRIGUES – Falo normalmente.
MANUEL GODINHO – Ok.
MARIBEL RODRIGUES – Tá bem e vais acompanhado é isso.
MANUEL GODINHO – Vou almoçar acompanhado.
MARIBEL RODRIGUES – Eu falo-te normalmente.
MANUEL GODINHO – Está bem então.
MARIBEL RODRIGUES – Ok. O resto.
MANUEL GODINHO – O resto está tudo bem.
MARIBEL RODRIGUES – Está bem. Então vais-te encontrar com o Vasconcelos
não é?
MANUEL GODINHO – É com o Dr. Góis, com o Dr. Manuel Carvalho e o Dr.
Vasconcelos.
MARIBEL RODRIGUES – Ok.
MANUEL GODINHO – Ok.
MARIBEL RODRIGUES – Ok. Como é que está o tempo aí?
MANUEL GODINHO – O tempo aqui está bom e aí também está?
MARIBEL RODRIGUES – Aqui está calor, está sol e dão tempo bom para o fim-
de-semana.
MANUEL GODINHO – Dão!
MARIBEL RODRIGUES – Dão.
MANUEL GODINHO – Ontem anunciaram.
MARIBEL RODRIGUES – Anunciaram chuva e já não há chuva outra vez.
MANUEL GODINHO – Jesus, cabões.
MARIBEL RODRIGUES – Pois, estavam a anunciar chuva, agente até estava
naquela de domingo por causa da Serra da Estrela.
MANUEL GODINHO – Sim.
MARIBEL RODRIGUES – Porque estava programado e a chuva ia ser chato.
MANUEL GODINHO – Agora está aqui o transito parado.
MARIBEL RODRIGUES – Foi algum acidente então? Foi algum acidente.
MANUEL GODINHO – Ah.

743
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MARIBEL RODRIGUES – Dá sol para todo o lado.


MANUEL GODINHO – Ok.
MARIBEL RODRIGUES – É assim.
MANUEL GODINHO – Até já.
MARIBEL RODRIGUES – Tenho aí o Manuel Maria que quer levar uns bocados
de chapa de vinte, trinta e quarenta.
MANUEL GODINHO – Que preço é que lhe vais fazer?
MARIBEL RODRIGUES – A sessenta e cinco.
MANUEL GODINHO – Não. Faz-lhe aí…
MARIBEL RODRIGUES – A chapa grossa não desceu, desceu a fina, a grossa
não.
MANUEL GODINHO – Sessenta e cinco.
MARIBEL RODRIGUES – E ele concordou com o preço.
MANUEL GODINHO – Ok. Vê isso.
MARIBEL RODRIGUES – Tá, até já.
MANUEL GODINHO – Até já

Produto 4562 - Alvo 1T167PM - 20/03/2009 11:01:04 - 917649864 


914008899 – Manuel Godinho  Carlos Vasconcellos (REFER)
Carlos Vasconcellos pergunta onde é que Manuel Godinho está. Este informa
que se encontra na zona da Expo. Vasconcellos diz que está no Cais do Sodré.
Carlos Vasconcellos dá instruções a Manuel Godinho para, tal como no outro
dia, ele vir andando e que, por sua vez, ele irá ao encontro dele.

Produto 4562, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 4562


DATA/HORA: 20-03-2009/ 11:01:04
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho

744
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

• PARA – Carlos Vasconcelos

CARLOS VASCONCELOS – Tou, bom dia.


MANUEL GODINHO – Sim.
CARLOS VASCONCELOS – Olá. Tudo bem?
MANUEL GODINHO – Mais ou menos
CARLOS VASCONCELOS – Onde é que você anda?
MANUEL GODINHO – Eu estou aqui na zona da expo.
CARLOS VASCONCELOS – Está onde?
MANUEL GODINHO – Na zona da expo.
CARLOS VASCONCELOS – Ah. Está bem.
MANUEL GODINHO – E você está onde?
CARLOS VASCONCELOS – Estou aqui no Cais do Soudré, vou disse, só um
minuto, ah portanto, você vem andando para cá como veio no outro dia e eu
vou ao seu encontro.
MANUEL GODINHO – está bem. Ok.
CARLOS VASCONCELOS – Tá, tá. Até já.
MANUEL GODINHO – Tá.
CARLOS VASCONCELOS – Tou.

Produto 4989 - Alvo 1T167PM - 25/03/2009 12:41:21 - 917649864 


914008899 – Manuel Godinho  Carlos Vasconcellos (REFER)
Carlos Vasconcellos informa que, por enquanto, não há novidades porque a
pessoa a quem se referem tem julgamentos.
Carlos Vasconcellos e Manuel Godinho falam que, em caso de resolução do
problema de Manuel Godinho, teria como contrapartida um donativo para uma
campanha partidária.

745
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 4989, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 4989


DATA/HORA: 25/03/2009 12:41:21"
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – Carlos Vasconcelos (REFER)

CARLOS VASCONCELOS – Tou.


MANUEL GODINHO –Sim... (imperceptível)...
CARLOS VASCONCELOS – Tá tudo bem consigo ou quê?
MANUEL GODINHO – Tá tudo. Os nossos amigos disseram alguma coisa ou
não?
CARLOS VASCONCELOS – Não. Os gajos ain... por enquanto ainda não
disseram nada...e... o gajo tem tado em tribunais e o gajo quando tá em
tribunais não tem o telefone ligado tá a ver?
MANUEL GODINHO – Ah!
CARLOS VASCONCELOS – O gajo vai pra lá defender as coisas pra tribunal... a
... a ...a
MANUEL GODINHO –Mas era conveniente ver isso...
CARLOS VASCONCELOS – Era...não...não... o gajo...o gajo pra já, já tá dentro
do assunto, não é... Eu já lhe pedi ao gajo da outra vez, p’ró gajo quando
tivesse com o engenheiro (?) também...pa ... pa ... pra falar em meu favor não
é?... Ah sim senhor, sim senhor não há problema nenhum... e agora quero-lhe
dizer é a tal história da campanha do outro não é? E se quer apanhar o
gajo...(sobreposição da voz do Godinho)...
MANUEL GODINHO – Eles já perceberam ...aaa ...aaa ... eles já perceberam
isso... veja lá.
CARLOS VASCONCELOS – Pois, isso eu vou ver ... e por aí por cima tudo
calmo, não?
MANUEL GODINHO – Por aqui tudo calmo. Calmo demais.
CARLOS VASCONCELOS – Mais uma merda. O gajo mandou fechar mais uma
linha...já anda pessoas no meio da linha, já viu?
MANUEL GODINHO – Ah é?

746
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

CARLOS VASCONCELOS – Da Régua a Vila Real mandou fechar uma linha. Esta
manhã já tava tudo em frente da linha, pra não deixar passar os comboios... o
homem só faz porcaria, pá.
MANUEL GODINHO – Atão...o homem, se não é rentável porque é que há-de
estar aberto? Eu aí estou com ele... aah ...aah
CARLOS VASCONCELOS – Vamos lá a ver... vamos lá a ver
MANUEL GODINHO – Não é?
CARLOS VASCONCELOS – É.
(Falam ambos em sobreposição e só é possível perceber o Manuel Godinho a
dizer qualquer coisa sobre “comboio...passageiros...o que é que você quer?”)
CARLOS VASCONCELOS –Tá bem, mas tem é de avisar que vai fechar.
O gajo não avisou nada
MANUEL GODINHO –Ah! Ok.... Tá Dr. Veja isso e diga-me alguma coisa, tá
bem?
CARLOS VASCONCELOS – Digo alguma coisa. Um abraço.
MANUEL GODINHO – Tá. Um abraço

Produto 4993 - Alvo 1T167PM - 25/03/2009 13:24:24 - 914008899 


917649864 – Carlos Vasconcellos (REFER)  Manuel Godinho
Carlos Vasconcellos diz que já falou com “ele” que lhe disse que estavam à
espera de uma resposta e que estavam interessados em contribuir.
Manuel Godinho informa que o Tribunal já marcou uma tentativa de acordo.

Produto 5402 - Alvo 1T167PM - 31/03/2009 09:14:21 - 917649864 


914008899 – Manuel Godinho  Carlos Vasconcellos (REFER)
Carlos Vasconcellos diz que esteve a falar com o “nosso amigo João” e que
ele disse que esta semana o outro já deveria dizer mais qualquer coisa. Diz que
também que lhe falou daquilo que o Godinho queria que ele falasse, lá por causa da
campanha.

Produto 5402, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

747
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PRODUTO Nº: 5402


DATA/HORA: 31/03/2009 09:14:21 INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – Carlos Vasconcelos (REFER)

CARLOS VASCONCELOS – Bom dia, Godinho.


MANUEL GODINHO – Bom dia.
CARLOS VASCONCELOS – Eh pá, ia mesmo agora ligar-lhe...
MANUEL GODINHO – Então?
CARLOS VASCONCELOS – tava a (imperceptível)... aqui dentro do carro...
MANUEL GODINHO –Pois.
CARLOS VASCONCELOS – Eh, pá...e ontem já era para ter ligado. Tive cá com...
com o nosso amigo João, não é?
MANUEL GODINHO – Sim.
CARLOS VASCONCELOS – Teve cá a jantar em minha casa na...a jantar em
minha casa no sábado...
MANUEL GODINHO – Sim.
CARLOS VASCONCELOS – E tivemos na conversa. Ele diz que pensa
que nesta semana que já o outro gajo lhe diz mais qualquer coisa, não é? E
também reforcei a minha parte...e o gajo “É pá, tudo bem, não há problema
nenhum, antes pelo contrário e tal”... de modo que o gajo pensa que esta
semana já...já há mais qualquer coisa da parte lá do... do outro .

MANUEL GODINHO – Pois...aaaa....aaaa...


CARLOS VASCONCELOS – Diga.
MANUEL GODINHO – O Fernandinho ... aquilo parece que não está muito
bem, hem?
CARLOS VASCONCELOS – Pois não deve estar não.
MANUEL GODINHO – Eu falei-lhe no Domingo e o gajo estava no hospital
outra vez.
CARLOS VASCONCELOS – Aaa...tiraram-lhe metade do pulmão, não ouviu o
gajo dizer?
MANUEL GODINHO – Pois foi.

748
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

CARLOS VASCONCELOS – O gajo tá pendurado, não é? Aquilo com aquela


idade e pulmão...o pulmão é lixado sabe? O pulmão é muita lixado...
MANUEL GODINHO – Pois.
CARLOS VASCONCELOS –...o pulmão não perdoa, não é?
MANUEL GODINHO – É uma chatice
CARLOS VASCONCELOS – Não perdoa mesmo.
MANUEL GODINHO – Aaaa... os gajos dizem que esta semana que dizem
alguma coisa, é?
CARLOS VASCONCELOS – Eles dizem que esta semana é capaz de já saber mais
qualquer coisa, tá a ver?
MANUEL GODINHO – Pronto, vamos ver
CARLOS VASCONCELOS – Vamos ver. E ... à disse aquilo que você queria por
causa lá... da campanha, tá a ver?
MANUEL GODINHO – Pois, pois.

CARLOS VASCONCELOS – Pois, também disse ao gajo, portanto ... os gajos vão
ter uma conversa concerteza esta semana e o outro gajo já deve dizer mais
qualquer coisa, tá bem?
MANUEL GODINHO – Ok.
CARLOS VASCONCELOS – Mal eu saiba novidades ligo-lhe logo, tá bem?
MANUEL GODINHO – Ok, ok.
CARLOS VASCONCELOS – Tá, um abraço
MANUEL GODINHO – Um abraço até logo.

Produto 6824 - Alvo 1T167PM - 16/04/2009 08:58:06 - 917649864 


914008899– Manuel Godinho  Carlos Vasconcellos (REFER)
Carlos Vasconcellos e Manuel Godinho combinam encontrar-se os dois e
irem com um terceiro indivíduo ver a fábrica e que, depois, vão almoçar os três com o
Zé Manel.

Produto 6824, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

749
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PRODUTO Nº: 6824


DATA/HORA: 2009-04-16 inicio 08:58:06
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – Carlos vasconcelos

CARLOS VASCONCELOS – Sim, sim.


MANUEL GODINHO – Bom dia doutor. Ó doutor a que horas é que ficamos de
estar aí em baixo?
CARLOS VASCONCELOS – É pá, você disse que estava por volta das onze e tal,
não é?
MANUEL GODINHO – Sim.
CARLOS VASCONCELOS – Eu queria ver se ía lá à história da metalúrgica.
MANUEL GODINHO – A que horas é que ficamos de estar com o senhor?
CARLOS VASCONCELOS – Onze horas ou onze e meia. A que horas é que você
quer? Eu também altero isso, ele está lá no escritório dele.
MANUEL GODINHO – Diga.
CARLOS VASCONCELOS – Ele está lá no escritório dele, eu também lhe digo uma
hora depois.
MANUEL GODINHO – Ah. Nós vamos almoçar os dois, não é?
CARLOS VASCONCELOS – E em principio com ele, com o Zé Manel também.
MANUEL GODINHO – Vai o Zé Manel também?
CARLOS VASCONCELOS – Pois.
MANUEL GODINHO – E porque é que o gajo não vem ter connosco e eu
depois.
CARLOS VASCONCELOS – Não. Nós vamos ter com ele para irmos à fabrica e
depois vamos almoçar com ele e com o Zé Manel.
MANUEL GODINHO – Ah, tá bem. Ok.
CARLOS VASCONCELOS – É isso eu queria ir à fabrica primeiro que é para depois
de almoço você pira-se para cima.
MANUEL GODINHO – Está bem. Ok.
CARLOS VASCONCELOS – Não é?
MANUEL GODINHO – Tá. Tá.
CARLOS VASCONCELOS – Prontos, então quando estiver cá achegar mais ou
menos.
MANUEL GODINHO – São nove horas, não é?
CARLOS VASCONCELOS – Ah.

750
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – São.


CARLOS VASCONCELOS – Diga. Diga.
MANUEL GODINHO – São quase nove horas, nove horas, nove horas, eu em
duas horas, estou aí às onze horas.
CARLOS VASCONCELOS – Está bem.
MANUEL GODINHO – Por volta das onze horas devo estar por aí.
CARLOS VASCONCELOS – Por volta das onze horas eu começo a contar consigo.
MANUEL GODINHO – Está a chover muito, está a ver?
CARLOS VASCONCELOS – Está bem. Está bem.
MANUEL GODINHO – Está. Ok. Está a chover aí?
CARLOS VASCONCELOS – Aqui não. Aqui chove e passa, chove e passa.
Aguaceiros é com força.
MANUEL GODINHO – Está a chover muito mesmo.
CARLOS VASCONCELOS – Para aí calculo, para aqui é só aguaceiros.
MANUEL GODINHO – Ok. Está. Até já.
CARLOS VASCONCELOS – Até já um abraço.

Produto 6860 - Alvo 1T167PM - 16/04/2009 10:59:20 - 914008899 


917649864 – Carlos Vasconcellos (REFER)  Manuel Godinho
Manuel Godinho diz que já está em Lisboa.
Combinam voltar a falar daí a 15 minutos.

Produto 6865 - Alvo 1T167PM - 16/04/2009 11:12:53 - 914008899 


917649864 – Carlos Vasconcellos (REFER)  Manuel Godinho
Manuel Godinho diz que está nas bombas da GALP, em Santa Apolónia.
Combinam encontrar-se na Praça do Comércio, junto à Rua da Prata.
Manuel Godinho diz que está num BMW preto, num 740.

Em 16/04/2009 realiza-se a diligência relatada no auto de RDE de fls.


2121 a 2132 onde se apura que :
Manuel Godinho e Carlos Vasconcelos almoçaram no Restaurante
“Mercado do Peixe”, na Estrada Pedro Teixeira, Ajuda, Lisboa.

751
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Godinho utilizou a viatura BMW 730D, com a matrícula 49-GT-


13.
Junto à estação do Cais do Sodré, onde ficou Carlos Vasconcelos,
estava estacionada a viatura Peugeot 308, com a matrícula 25-75-FZ,
referenciada no dia 26/02/2009.

A viatura BMW 730 D, com a matrícula 49-GT-13, encontra-se


registada em nome da BMW Portugal, lda e viria a ser apreendida em
24/06/2009 na posse de Manuel José Ferreira Godinho, no âmbito das buscas
levadas a cabo no Inquérito 39/08.8JAAVR .

Produto 6914 - Alvo 1T167PM - 16/04/2009 15:45:38 - 914008899 


917649864 – Carlos Vasconcellos (REFER)  Manuel Godinho
Manuel Godinho está já a fazer a viagem de regresso.
Carlos Vasconcellos sugere que deviam voltar falar, mas que terá de ser
antes de sexta-feira porque ele se vai embora.
Manuel Godinho diz que irão voltar a falar antes disso.

Produto 7358 - Alvo 1T167PM - 21/04/2009 16:00:06 - 914008899 


917649864 – Carlos Vasconcellos (REFER)  Manuel Godinho
Carlos Vasconcellos diz que tem um papel do João para lhe entregar para
Manuel Godinho dar um valor para aquilo que foi ver (referindo-se às instalações da
DNC).
Combinam almoçar na quinta-feira.
Carlos Vasconcellos diz que esteve com o Cardoso dos Reis (presidente do
conselho de administração da CP) e que ele lhe contou que foi para a Argentina como
Frazão e com a Ana Paula Vitorino.

Produto 7358, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

752
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PRODUTO Nº: 7358


DATA/HORA: 2009-04-21 inicio 16:00:06
INTERVENIENTES:
• DE – Carlos Vasconcelos
• PARA – Manuel Godinho

MANUEL GODINHO – Tou.


CARLOS VASCONCELOS – Ó Godinho, então está tudo bem ou quê?
MANUEL GODINHO – Tá tudo em ordem, então vamos almoçar quinta-feira?
CARLOS VASCONCELOS – Quinta-feira! É que eu tenho um papel para lhe levar.
MANUEL GODINHO – Sim.
CARLOS VASCONCELOS – Do João.
MANUEL GODINHO – Sim.
CARLOS VASCONCELOS – Por causa de você dar um preço para aquilo que viu,
está a ver?
MANUEL GODINHO – Está bem. Ok.
CARLOS VASCONCELOS – Então se calhar eu falo com o Bruno para o gajo fazer
aquilo.
MANUEL GODINHO – Você entrega-me na quinta-feira.
CARLOS VASCONCELOS – Entrego está bem, pronto.
MANUEL GODINHO – Na quinta-feira dá.
CARLOS VASCONCELOS – Agente conversa acerca disso.
MANUEL GODINHO – Está bem. Ok.
CARLOS VASCONCELOS – Você aonde é que quer, aí ou cá em baixo ou onde?
MANUEL GODINHO – É pá. Falamos amanhã ao fim do dia está a ver?
CARLOS VASCONCELOS – Está bem. Está bem.
MANUEL GODINHO – falamos amanhã ao fim do dia e depois marca-se.
CARLOS VASCONCELOS – Está bem. De resto está tudo bem não está?
MANUEL GODINHO – De resto tá tudo.
CARLOS VASCONCELOS – Pronto, um abraço.
MANUEL GODINHO – Para aí há novidades ou não?
CARLOS VASCONCELOS – Não. Estive hoje com o Cardoso dos Reis, mas depois
agente conversa.
MANUEL GODINHO – E então?
CARLOS VASCONCELOS – Isto é uma confusão do caraças, o gajo agora esteve na
Argentina com o Frasão e com a Secretária de Estado, foram todos para a Argentina,
depois agente conversa com calma.

753
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Ok.


CARLOS VASCONCELOS – Tá. Um abraço.
MANUEL GODINHO – Um abraço.

Produto 7520 - Alvo 1T167PM - 23/04/2009 08:00:01 - 914008899 


917649864 – Carlos Vasconcellos (REFER)  Manuel Godinho
Manuel Godinho pergunta a Carlos Vasconcellos se ele vai manhã para
Inglaterra. Este responde que vai logo de manhã.
Manuel Godinho e Carlos Vasconcellos combinam almoçar em Aveiro.

Produto 7520, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 7520


DATA/HORA: 2009-04-23 inicio 08:00:01
INTERVENIENTES:
• DE – Carlos Vasconcelos
• PARA – Manuel Godinho

MANUEL GODINHO – Tou.


CARLOS VASCONCELOS – Bom dia Godinho, tudo bem ou quê?
MANUEL GODINHO – Bom dia doutor.
CARLOS VASCONCELOS – Então como é que vamos fazer, diga lá.
MANUEL GODINHO – Tá tudo, olhe uma coisa, você vaia amanhã para
Inglaterra é?
CARLOS VASCONCELOS – Vou logo de manhã.
MANUEL GODINHO – Logo de manhã, então venha cá almoçar pá.
CARLOS VASCONCELOS – Está bem, então vou meter.
MANUEL GODINHO – Ok venha nas calmas.
CARLOS VASCONCELOS – Tá bem. Tá bem. Ok.
MANUEL GODINHO – Ao meio dia dá perfeitamente. Ok?
CARLOS VASCONCELOS – Ok. Até já.
MANUEL GODINHO – Até já um abraço.

754
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

No dia 23/04/2009 é efectuada nova vigilância – RDE de fls. 2199 a


2206 – em Aveiro e Praia do Furadouro.è constatado que :

11h35 - Manuel Godinho, conduzindo o BMW 730 D, 49-GT-13, entra


nas instalações da SCI, em Aveiro, acompanhado de Carlos Vasconcelos.

12h15 – Chegam ao Restaurante “A Concha”, na Praia do Furadouro.

12h25 – Chega ao restaurante João Godinho, na viatura BMW, série


e, com a matrícula 17-54-VZ

A viatura BMW série 6, com a matrícula 27-54-VZ, encontra-se


registada em nome BNP – Paribas Lease Group, S.A. e viria a ser apreendida
em 24/06/2009 na posse de João Jorge da Silva Godinho, no âmbito das
buscas levadas a cabo no Inquérito 39/08.8JAAVR e consta também da
relação de apólices de seguro apreendida em 15/07/2009 nas instalações da
SCI, em Aveiro, como sendo utilizada por João Godinho (cf. fls. 2207).

Nesta matéria após paciente escrutínio tiveram-se em devida


conta os seguintes produtos:

Produto 9364 - Alvo 1T167PM - 14/05/2009 17:39:22 - 914008899 


917649864 – Carlos Vasconcellos (REFER)  Manuel Godinho
Carlos Vasconcellos pergunta se os advogados se vão reunir na terça-feira e
pede a Manuel Godinho para dizer ao Dr. Melchior Gomes de não se esquecer de dar
ao outro os elementos todos.
Manuel Godinho recorda que sempre disse que a parte jurídica é com o Dr.
Melchior.
Carlos Vasconcellos diz que o outro precisa dos elementos para “apertar”
com o Pardal (referindo-se ao presidente do conselho de administração da REFER).

Produto 9364, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

755
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PRODUTO Nº: 9364


DATA/HORA: 14/05/2009 – 17h39m22s
INTERVENIENTES:
• DE – Carlos Vasconcelos (REFER)
• PARA – Manuel Godinho

MANUEL GODINHO – Tou?


CARLOS VASCONCELOS – Tou Godinho então está tudo bem ou quê?
MANUEL GODINHO – Tá tudo.
CARLOS VASCONCELOS – Está tudo calmo, não?
MANUEL GODINHO – Está tudo calmo.
CARLOS VASCONCELOS – Olha e os gajos só vão aí na terça-feira é? Lá os
advogados?
MANUEL GODINHO – Ó pá, tentei falar com o Dr. Melchior Gomes.
CARLOS VASCONCELOS – Sim. Pronto, agora deixa estar, os gajos vão vir na
terça-feira.
MANUEL GODINHO – E ele confirmou que na terça-feira.
CARLOS VASCONCELOS – Pois… porque… Só espero é que o gajo… ó pá, você
diga lá ao gajo para o gajo dar os elementos todos que o outro gajo pedir,
porque se não é uma tourada não é? Porque segundo aquilo… informações…
MANUEL GODINHO – Ora bem. Mas eu fui bem claro, eu fui bem claro com os
gajos.
CARLOS VASCONCELOS – Sim.
MANUEL GODINHO – Eu disse que a parte jurídica que era com o Dr. Melchior
Gomes.
CARLOS VASCONCELOS – É evidente. Ele só quer, ele não quer é avançar com
uma conversa lá para os outros gajos, a parte jurídica é sempre com o Dr.
Melchior Gomes que ele que tá metido, o gajo não se vai meter na parte
jurídica. Tá a ver?
MANUEL GODINHO – Exactamente.
CARLOS VASCONCELOS – O que ele quer é informações.
MANUEL GODINHO – O que foi falado foi… foi ele tentar resolver o problema
com a REFER, evitando o Tribunal.
CARLOS VASCONCELOS – É evidente!
MANUEL GODINHO – Exactamente.

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S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

CARLOS VASCONCELOS – Agora ele precisa é de elementos do… do Melchior,


percebe? Para poder falar lá… lá com o outro gajo... eh… para apertar o Pardal.
MANUEL GODINHO – Pronto, e o Melchior agora explica-lhe como é que está a
situação e dá-lhe elementos se for necessário, não é?
CARLOS VASCONCELOS – É evidente, é evidente. Agora o que ele não queria
era ir falar…
MANUEL GODINHO – Deixe ver o que é que eles vão fazer…
CARLOS VASCONCELOS – Pois o problema é, eles têm que se entender e a
gente teve que se safar e o resto é conversa!
MANUEL GODINHO – Exactamente.
CARLOS VASCONCELOS – A malta quer é…
MANUEL GODINHO – Mas há aí uma coisa que eu depois comento… comento
quando tiver consigo.
CARLOS VASCONCELOS – Está bem.
MANUEL GODINHO – Que as coisas estão-lhe a correr muito mal, ah?
CARLOS VASCONCELOS – Estão a correr mal?
MANUEL GODINHO – Estão a correr mal para a REFER.
CARLOS VASCONCELOS – Deus queira que sim, foda-se!
MANUEL GODINHO – Estão, estão. Eh…
CARLOS VASCONCELOS – Ai, estive a almoçar com o Soares Lopes.
MANUEL GODINHO – Sim.
CARLOS VASCONCELOS – E… e o gajo conhece bem o Castanheiro Ribeiro.
MANUEL GODINHO – Sim.
CARLOS VASCONCELOS – E o gajo “é pá é assim, se tu não falas com o
Castanheiro Ribeiro se quiseres eu falo pra ele”. Está bem, fala aí e tal. Porque
eu tive ontem a tomar café com o Soares Lopes e tive hoje almoçar com o
Soares Lopes.
MANUEL GODINHO – Pois.
CARLOS VASCONCELOS – E entretanto, eu liguei pra o Castanheiro Ribeiro “É
pá, senhor Castanheiro Ribeiro, estou aqui com um amigo seu, o engenheiro
Manuel Soares Lopes e tal, eu queria falar consigo, eh… mas de qualquer das
maneiras eu vou-lhe passar o telefone, mas antes também tenho de dizer uma
coisa, eu sou… mais dia menos dia tenho de lhe meter uma cunha”. Pronto e
fiquei assim. “Agora vou-lhe passar o telefone, depois a gente fala”. Está a ver?
MANUEL GODINHO – Sim.
CARLOS VASCONCELOS – E passei o telefone ao Soares Lopes, esteve a falar
com o gajo, conhece a mulher do gajo, conhece aquilo tudo, tá a ver, portanto

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S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

há uma grande intimidade entre eles os dois. E… e sabendo o gajo que eu sou
amigo do Soares Lopes, ó pá, é evidente que o gajo, o Pardal não o deixa fazer
nada, não é, não o deixa fazer nada a ninguém, nem a ele, nem ao Vicente
Pereira nem nada. Ó pá, mas pelo menos mais uma conversa, mais um bocado
de gasolina para a fogueira, tá a ver?
MANUEL GODINHO – Pois.
CARLOS VASCONCELOS – Que é para ver se para a semana vou lá dar mais
uma palavrinha ao gajo. Quem perguntou por si foi o Soares Lopes. “O gajo tá
porreiro, tá lá com o escritório do gajo, aquelas coisas todas e tal”.
MANUEL GODINHO – Um dia destes havemos de ir lá almoçar.
CARLOS VASCONCELOS – A ver… a ver se quando você cá vier abaixo, a ver se
a gente lhe dá uma apitadela.
MANUEL GODINHO – Está bem.
CARLOS VASCONCELOS – Tá bom.
MANUEL GODINHO – Ok.
CARLOS VASCONCELOS – Pronto, a gente vai falando
MANUEL GODINHO – Tá.
CARLOS VASCONCELOS – Um abraço, tá.
MANUEL GODINHO – Tá.

Produto 9785 - Alvo 1T167PM - 19/05/2009 21:13:24 - 914008899 


917649864 – Carlos Vasconcellos (REFER)  Manuel Godinho
Carlos Vasconcellos diz a Manuel Godinho que o Zé Manel esteve a falar
com o Dr. Melchior Gomes e disse que precisava de falar com Godinho.
Manuel Godinho, referindo-se ao presidente do conselho de administração da
REFER, diz que as coisas estão a correr muito bem e que daí a duas ou três semanas
vai haver novidades, porque há muita gente chateada com Luís Pardal.
Cominam almoço para segunda-feira.

Produto 9785, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

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S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PRODUTO Nº: 9785


DATA/HORA: 19.05.2009 – 21.13.24
INTERVENIENTES:
• DE – Carlos Vasconcelos (REFER)
• PARA – Manuel Godinho

Manuel Godinho: Tou.

Carlos Vasconcelos: Boa noite Godinho, está tudo bem.

Manuel Godinho: Está tudo.

Carlos Vasconcelos: Tudo calmo. Olhe.

Manuel Godinho: Tudo calmo.

Carlos Vasconcelos: Oh. Oh. Zé teve a falar lá com o Melchior, não é.

Manuel Godinho: Sim.

Carlos Vasconcelos: E diz que desejava de falar consigo. Se você lhe dá jeito quinta-feira, não sei.

Manuel Godinho: Ha. ha. ha, quinta-feira, quinta-feira, quinta-feira.

Carlos Vasconcelos: Você veja lá, quando é que lhe dá jeito.

Manuel Godinho: Hé pá, quinta-feira não me dá muito.

Carlos Vasconcelos: Então o que é que lhe dá jeito, diga lá.

Manuel Godinho: Hee, é pá talvez na segunda-feira.

Carlos Vasconcelos: Segunda-feira.

Manuel Godinho: Sim.

Carlos Vasconcelos: Tá bem, então eu…..

Manuel Godinho: Mas tenha calma, que isto está a correr muito bem, haaa.

Carlos Vasconcelos: Está bem, a gente tem de conversar. Você não bem cá abaixo antes de segunda-
feira, pois não.

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S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Godinho: Não, não.

Carlos Vasconcelos: Tá bem.

Manuel Godinho: Haaaa, vou aí, tá a ver, mas já tenho coisas.

Carlos Vasconcelos: Já tem coisas para fazer, pronto.

Manuel Godinho: Planeadas.

Carlos Vasconcelos: Não quer falar com o Zé nessa altura.

Manuel Godinho: …imperceptível… Gomes, não falaram.

Carlos Vasconcelos: Falaram. Mas você não quer falar cu, é pá não é preciso vir almoçar, a gente
junta-se a uma hora qualquer, conversa e…. acabou.

Manuel Godinho: Pois, isso a gente almoça, não tem problema, mas…..

Carlos Vasconcelos: Veja lá o que é que o Zé quer falar consigo, tá a ver.

Manuel Godinho: Quem é o … Zé, o.

Carlos Vasconcelos: O Zé Manuel, é.

Manuel Godinho: Ai, o Zé Manuel.

Carlos Vasconcelos: Pois, foi falar com o Melchior.

Manuel Godinho: Pois e o que é que o Melchior.

Carlos Vasconcelos: É pá não sei, não sei por que eu falei agora com o João e o João disse, é pá, eu
esta semana estou muito entalado, e, mas de qualquer das maneiras, vais, vais…

Manuel Godinho: Eu também estou bastante entalado esta semana.

Carlos Vasconcelos: Pronto, vais tu falar com o, vais tu com o Zé, e com o Godinho e pronto, e
conversam aquilo que têm a conversar, você diga, ouça lá, é só para as coisas não se atrasarem
mais, você é que manda.

Manuel Godinho: Pois. As coisas estão nos a correr muito favoravelmente.

Carlos Vasconcelos: Deus queira que sim, pá.

Manuel Godinho: Há. E eu estou a, eu, é pá, isto só daqui a quinze dias, três semanas, é que as
coisas, se….

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S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Carlos Vasconcelos: Se vão notar, é.

Manuel Godinho: Vão arrebentar.

Carlos Vasconcelos: Tá bem.

Manuel Godinho: Haaaa as coisas estão, estão a se encaminhar, estão a se encaminhar, e o gajo,
está toda a gente muito chateada com o gajo.

Carlos Vasconcelos: Pois.

Manuel Godinho: Muito, toda a gente.

Carlos Vasconcelos: Mas eu não sei se o gajo quer falar disso se quer falar daquilo que falou com o
Melchior, tá a ver.

Manuel Godinho: Pois, estou a perceber. Haaa não há problema nenhum, na segunda-feira estamos
a falar e eu dou aí um salto.

Carlos Vasconcelos: Quer apontar para segunda-feira, não é.

Manuel Godinho: Aponte para segunda-feira.

Carlos Vasconcelos: Pronto, então aponto para segunda-feira, que é para a gente avisar os gajos,
que é para depois não haver confusões, ta bem.

Manuel Godinho: Tá bem. Tá bem.

Carlos Vasconcelos: Pronto e entretanto a gente vai falando de qualquer das maneiras.

Manuel Godinho: Tá a gente vai falando, a gente vai falando.

Carlos Vasconcelos: Tá

Manuel Godinho: Okai.

Carlos Vasconcelos: Um abraço, boa noite.

Produto 10073 - Alvo 1T167PM - 22/05/2009 11:36:19 - 914008899 


917649864 – Carlos Vasconcellos (REFER)  Manuel Godinho

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Carlos Vasconcellos e Manuel Godinho combinam almoçar na quarta-feira,


dia 27.

Produto 10276 - Alvo 1T167PM - 25/05/2009 08:37:54 - 934098488 


917649864 – Valentim (REFER)  Manuel Godinho
Manuel Godinho diz que estará lá pouco depois das nove.

Produto 10442 - Alvo 1T167PM - 26/05/2009 10:14:37- 914008899 


917649864 – Carlos Vasconcellos (REFER)  Manuel Godinho
Carlos Vasconcellos recorda a Manuel Godinho que amanhã têm o encontro
com os outros indivíduos.
Manuel Godinho diz que vai a Lisboa, mas já tem um almoço marcado.
Combinam encontrar-se às 11h00 do dia seguinte.
Carlos Vasconcellos diz que vai combinar tudo com os outros.

Produto 10522 - Alvo 1T167PM - 27/05/2009 08:58:05 - 917649864 


914008899 – Manuel Godinho  Carlos Vasconcellos (REFER)
Manuel Godinho pergunta para que horas é que Carlos Vasconcellos marcou
o encontro. Este responde que têm que lá estar ao meio-dia.
Manuel Godinho diz que tem que estar no Altis à 1hora.
Carlos Vasconcellos diz que o Altis é ao lado do sítio onde têm que ir.

Produto 10522, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 10522


DATA/HORA: 27/05/2009 – 08h58m05s
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – Carlos Vasconcelos (REFER)

762
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

CARLOS VASCONCELOS – Diz, diz, tudo bem?

MANUEL GODINHO – Bom dia, como está?

CARLOS VASCONCELOS – Então, já está por aí?

MANUEL GODINHO – Ainda não pá, ainda tou aqui. A que horas é que você
tinha marcado?

CARLOS VASCONCELOS – Ao meio-dia.

MANUEL GODINHO – Ora bem, ao meio-dia, eu tenho que estar no Altis à uma
hora.

CARLOS VASCONCELOS – Está bem… eh pá… onze e meia, meio dia., de modo
que… dá perfeitamente tá a ver, o Altis é ali ao lado.

MANUEL GODINHO – Está bem. Ora bem…

CARLOS VASCONCELOS – O Altis é ao lado do ali do coiso onde nós estamos…

MANUEL GODINHO – Pois. Eh… portanto…

CARLOS VASCONCELOS – Diga.

MANUEL GODINHO – Portanto, portanto, portanto… Vai ser um bocado


apertado para mim. E se for aí às duas e meia?

CARLOS VASCONCELOS – Ai não sei se o gajo tem alguma coisa à tarde não é?

MANUEL GODINHO – É que você deveria-me ter dito antes, não é?

CARLOS VASCONCELOS – Não mas eu disse-lhe… então não lhe disse?

MANUEL GODINHO – Diga?

CARLOS VASCONCELOS – Só se no dia (imperceptível). Não lhe disse, é pá, só


se eu me esqueci ó Godinho, desculpe lá. Tinha a impressão que tava tudo
confirmado.

MANUEL GODINHO – Diga? Não, não tava, não tava nada confirmado.

763
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

CARLOS VASCONCELOS – (imperceptível) Desculpe lá.

MANUEL GODINHO – Ficou de falar com os senhores e avisar-me.

CARLOS VASCONCELOS – Pois, ó pá, mas eu pensei que só íamos almoçar, tá a


ver?

MANUEL GODINHO – Claro.

CARLOS VASCONCELOS – Conversávamos antes do almoço e tudo bem.

MANUEL GODINHO – Não.

CARLOS VASCONCELOS – Então fui eu que me enganei pá.

MANUEL GODINHO – Não, não ficou combinado não.

CARLOS VASCONCELOS – Fui eu que me enganei.

MANUEL GODINHO – E como é que eu hei-de agora fazer isto? É que eu tou
aqui no escritório, ainda.

CARLOS VASCONCELOS – Então embarque por aí abaixo pá. E depois chegando


cá, a gente eh…

MANUEL GODINHO – Pois mas… eu não posso falhar pá de ver hoje.

CARLOS VASCONCELOS – Está bem, mas não falha nada. Ninguém falha nada.
Venha por aí abaixo pá. Venha nas calmas, não é… ó pá, a malta fala aquilo que
tem a falar, conversa aquilo que tem a conversar, o Altis é ali ao lado, à uma
hora você tá no Altis.

MANUEL GODINHO – Mas se fosse aí às três horas, saía daí às quatro…

CARLOS VASCONCELOS – Tá bem, mas…

MANUEL GODINHO – Três… quatro…

CARLOS VASCONCELOS – (imperceptível)

MANUEL GODINHO – Veja-me da parte da tarde ó doutor!

CARLOS VASCONCELOS – Está bem. É pá, é que o…

764
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Veja-me da parte da tarde porque eu neste momento


tenho que preparar aqui...

CARLOS VASCONCELOS – É que vou-me ver à rasca para caçar o Zé Manuel,


ah?

MANUEL GODINHO – Pois.

CARLOS VASCONCELOS – Ver, é que me vou ver à rasca…

MANUEL GODINHO – Ó pá, se não marquem para sexta-feira. Eu já levo tudo


para baixo, tá a ver?

CARLOS VASCONCELOS – Ouça lá, mas se é por causa de mim, não há


problema, tá a ver, isto não há problema.

MANUEL GODINHO – Não é problema, isso se você precisa até venho cá


amanhã, ou…

CARLOS VASCONCELOS – (sobreposição de vozes, imperceptível)

MANUEL GODINHO – (imperceptível) Eu tenho é o tempo muito limitado.

CARLOS VASCONCELOS – Godinho embarque por aí a baixo que a gente


resolve isto tudo.

MANUEL GODINHO – Eh…

CARLOS VASCONCELOS – Embarque por aí abaixo, em vez de tar


(imperceptível), venha por aí abaixo, tá bem? Eu daqui a uma hora tou-lhe a
falar que é para, pronto, a gente... a gente resolve essa merda. Não tenha
problemas!

MANUEL GODINHO – Pois, ok.

CARLOS VASCONCELOS – Tá?

MANUEL GODINHO – Pronto, eu vou tentar estar aí.

CARLOS VASCONCELOS – Tá, até já, até já.

MANUEL GODINHO – Tá, até já.

765
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 10561 - Alvo 1T167PM - 27/05/2009 11:06:56 - 917649864 


914008899 – Manuel Godinho  Carlos Vasconcellos (REFER)
Manuel Godinho diz que está a chegar, que demora 10 minutos.
Carlos Vasconcellos diz que vai andando e que estará no sítio do costume.

Produto 10561, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 10561


DATA/HORA: 27/05/2009 – 11h06m56s
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – Carlos Vasconcelos (REFER)

MANUEL GODINHO – (sobreposição de vozes, imperceptível).


CARLOS VASCONCELOS – (imperceptível).
MANUEL GODINHO – Eu tou a chegar, daqui a dez minutos tou aí.
CARLOS VASCONCELOS – Tá bem, pronto, eu vou já sair.
MANUEL GODINHO – Força! Eh… compre-me… compre-me uma caixinha de
Aulin.
CARLOS VASCONCELOS – De?
MANUEL GODINHO – Aulin.
CARLOS VASCONCELOS – Desculpe lá, não…
MANUEL GODINHO – De comprimidos para as dores de cabeça.
CARLOS VASCONCELOS – Como é que se chama?
MANUEL GODINHO – Aulin.
CARLOS VASCONCELOS – Aulin?
MANUEL GODINHO –Sim, para as dores de cabeça.
CARLOS VASCONCELOS – Aulin, dores de cabeça. Está bem.
MANUEL GODINHO – Eh… compre-me uma caixinha pá, que eu tou mesmo à
rasca da cabeça.

766
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

CARLOS VASCONCELOS – Está bem. Eu vou… vou já lá pra baixo, está?


MANUEL GODINHO – Tá!
CARLOS VASCONCELOS – Até já.
MANUEL GODINHO – Eu daqui a dez minutos, um quarto de hora tou aí.
CARLOS VASCONCELOS – Pronto, eu vou andando aí… tou no sítio do costume,
sabe?
MANUEL GODINHO – Tá, tá, até já.
CARLOS VASCONCELOS – Tá, até já.

Produto 10566 - Alvo 1T167PM - 27/05/2009, 11:22:19 - 938959707 


917649864 – Namércio Cunha  Manuel Godinho
Manuel Godinho diz que está em Lisboa, que vai agora para um escritório de
advogados e que depois vai ter um almoço no “Altis”.

Constatou o JIC pela análise dos autos que é desencadeada diligência


de vigilância no dia 27/05/2009 – RDE de fls. 2872 a 2892 - em Lisboa, onde
foi verificado que :
11h30 - Manuel Godinho, conduzindo o BMW 730 D, 49-GT-13,
recolhe Carlos Vasconcelos na Praça do Comércio, Lisboa.
11h55 – BMW entra no parque de estacionamento do Centro
Comercial Castil, na Rua Castilho.

12h05 – Manuel Godinho e Carlos Vasconcelos entram no nº 90, da


Rua Castilho, edifício onde se situam os escritórios da sociedade de
advogados “José Manuel Mesquita & Associados”.

12h35 – Abandonam o edifício e separam-se.

Após tal encontro foram mantidas as seguintes conversações sobre o


assunto:

Produto 12992 - Alvo 1T167PM - 23/06/2009 17:10:55 - 914008899 


917649864 – Carlos Vasconcellos (REFER)  Manuel Godinho

767
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Carlos Vasconcellos diz que esteve a falar com o João e que este lhe disse
que esteve com o Zé Manel (José Manuel Mesquita) e que ele já fez o telefonema e está
à espera que lhe digam quando é lá pode ir falar, presume-se que com a Secretária de
Estado, Ana Paula Vitorino.
Manuel Godinho conta a Carlos Vasconcellos que “a cabrona”, referindo-se
a Ana Paula Vitorino, na quinta-feira demitiu o Cardoso dos Reis e depois teve que
recuar.
Manuel Godinho pede ele não dizer nada.

Produto 12992, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor e


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 12992


DATA/HORA: 23-06-2009 17:10:55
INTERVENIENTES:
• DE – CARLOS VASCONCELOS (REFER)
• PARA – MANUEL GODINHO

MANUEL GODINHO – Tou?


CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Tou, boa tarde, Godinho. Tá tudo bem, ou
quê?
MANUEL GODINHO – Olá. Tá tudo.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Olhe, estive a falar agora com o João, que
ele esteve com o... com o Zé Manel...
MANUEL GODINHO – Sim.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – E... e pronto, e diz que já fez o telefonema,
está à espera agora que lhe digam quando é que ele lá pode ir falar, tá a
perceber? Já fez o telefonema para tratar do seu assunto, não é?
MANUEL GODINHO – Pois.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – E agora está à espera que lhe digam, porque
ele recebeu os documentos na Off-Shore, na quinta-feira, tá a ver?
MANUEL GODINHO – Pois.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Na quinta-feira, ele recebeu os...

768
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Pois, que ele tinha o fax avariado...


CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Pois. E... só quinta... E hoje, tinha estado a
falar com a Off-Shore, e portanto, diz que já tinha feito o telefonema, e que
está à espera agora que lhe digam.
MANUEL GODINHO – A SIC já me ligou, por via disso.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – A SIC? Boa.
MANUEL GODINHO – Sim.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – (Ri-se). É arriar a broca, agora, foda-se.
MANUEL GODINHO – Os gajos já me ligaram. O que é que eles dizem do
acórdão?
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Eu aqui não oiço nada, tá a ver? Aqui está
tudo escondido. Aqui está tudo com medo de falar, não é?
MANUEL GODINHO – Pois.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Aqui ninguém diz nada,. Agora convinha era
que o cabrão do Cipriano, não é?, viesse para os jornais dizer do acórdão, não
é? Que ainda não veio nada nos jornais.
MANUEL GODINHO – (sobreposto) (imperceptível)... ele não faz isso.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Pois não, nem o outro gajo o deixa fazer.
MANUEL GODINHO – (sobreposto) (imperceptível)... faz isso. Nem a... nem...
isso não interessa, por essa parte, não é?
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Pois. Agora, há outra coisa: Eh pá, é que isto
está tudo muita mau, hã?
MANUEL GODINHO – Pois está.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Você já viu que nesta altura, o Mário Lino a
dizer aquilo que disse? E depois a dizerem que a gaja...
MANUEL GODINHO – (sobreposto) Estava velho para ser (imperceptível)
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Hã? Pois. E depois a gaja a dizer que
(imperceptível)...
MANUEL GODINHO – (sobreposto) E você não sabe de outra. Mas não diga
nada a ninguém, hã?
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Então?
MANUEL GODINHO – Sabe que a cabrona, na quinta-feira demitiu o Cardoso
Reis?
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Eia, pá.
MANUEL GODINHO – Demitiu, e... e ó depois teve que recuar, tá a ver?

769
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

CARLOS VASCONCELOS (REFER) – A gaja... O Cardoso Reis dá-lhe cabo da


cabeça. Eu no outro dia estive a falar com o Cardoso reis, lá no gabinete do
Cardoso Reis...
MANUEL GODINHO – Pois.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Estive para aí um quarto de hora ou vinte
minutos. E dizia-me o gajo assim: “Eh pá, oh... oh Carlos Vasconcelos, eu nesta
altura não posso fazer nada, não me posso mexer”. E a gaja anda aí que nem
uma maluca. E mesmo aquela história do Cardoso reis foi mesmo a mais, e o
gajo... pensa que tenha sido a gaja que pôs aquilo tudo nos jornais, tá a ver?
MANUEL GODINHO – Pois.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – A história das carruagens, e daquilo
(imperceptível)...
MANUEL GODINHO – (sobreposto) Mas você não diga nada disso, tá a ver?
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Não.
MANUEL GODINHO – Não diga nada, porque...
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – É evidente, não interessa nada estar...
MANUEL GODINHO – Foi-me comentado... foi-me comentado... e... estava só
eu, está a ver?
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Pois. Pois. Não... eu...
MANUEL GODINHO – Cale-se com isso.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – ...eu não falo com ninguém. Eu nem quero
conhecer ninguém. Já estou como dizia o outro...
MANUEL GODINHO – A gaja, a cabrona da gaja, está doida, completamente.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Pois. E depois dizem que a gaja teve um
AVC, vêm para os jornais dizer que a gaja teve um AVC. A gaja vem a
desmentir, tá a ver? Aquilo é tudo uma confusão, não é?
MANUEL GODINHO – Pois.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Aquilo é tudo uma granda confusão.
MANUEL GODINHO – Ahaam... Eh pá, isto agora... está por dias, não é?
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Tá, tá.
MANUEL GODINHO – Essa gente está muito queimada, muito queimada.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Eu penso que isto esteja mesmo por dias. O
cabrão do ...ção também já meteu a viola no saco, j+á não quer é que falem
dele. Agoar só se vê é notícias do Cavaco, já viu?
MANUEL GODINHO – É.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Dão notícias do Cavaco nas televisões todas.
O Sócrates está quietinho, nem se quer mexer. Eh pá, isto... O gajo não pode

770
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

andar a brincar quatro anos, sem fazer uma remodelação ministerial, não é? O
Francês entrou agora, e já está a fazer. O Espanhol entrou e fez, tá a ver?
MANUEL GODINHO – Pois.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – O gajo não pode estar a aguentar estes
gajos, estas gajas, o Mário Lino, esta merda toda. E ainda por cima o cabrão do
Mário Lino (imperceptível) tá velho. Você...
MANUEL GODINHO – Que está velho, toda a gente sabe,
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Pois. O Mário Lino... o Mário Lino, da
reformas que queria, que era o aeroporto em Alcochete, que era não sei quê,
que era... o, o TGV, que era... meteu a viola no saco em tudo, hã? Já viu que o
gajo não avançou com uma?
MANUEL GODINHO – Não avança com nada.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Nada.
MANUEL GODINHO – Não avança com nada.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Tá, tudo parado.
MANUEL GODINHO – E nesta fase, avançar...
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Não pode. Nesta fase, já não pode avan...
MANUEL GODINHO – más decisões dessas, é uma bronca do caraças.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Mas por outro lado, os outros gajos que
vierem é que vão ter que as tomar, não é? Ou sim , ou não.
MANUEL GODINHO – Pois.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – E isso vai ser...
MANUEL GODINHO – Sabe que isto é logo no início da legislatura...
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – É. Isso depois é diferente.
MANUEL GODINHO – Já é diferente.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – É...Isso já édiferente.
MANUEL GODINHO – É. Como é? As sondagens dão o Pedro a ganhar, é?
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Aqui em baixo, se os gajos... se não houver
coligação, o Pedro ganha.
MANUEL GODINHO – Se não houver coligação...
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Se não houver coligação da esquerda, o
Pedro ganha. E vai ser muito difícil, porque a Roseta não quer nada com
ninguém. O gajo, o, o, o Costa, até ofereceu ao Carmona, o lugar de... de
Presidente, da... daquela coisa da... dos...
MANUEL GODINHO – (sobreposto) Da (imperceptível).
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – ... da Simtejo. Não, da SIMTEJO.

771
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Sim.


CARLOS VASCONCELOS (REFER) – P’ró... p’ró Carmona concorrer, para ver se
queimavam o Pedro.
MANUEL GODINHO – Pois, tou a ver.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – O gajo disse “Eh pá, ó Carmona...”
MANUEL GODINHO – Mas o Carmona não vai...
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – O Carmona não vai, porque o Pedro queima-
o logo.
MANUEL GODINHO – Pois.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – O gajo deixou-se embrulhar pelo Fontão e
pela Gabriela, e o Pedro não lhe perdoa, não é? Aliás ele não lhe perdoou, no
Braga Parque. Ainda não lhe perdoou uma, não é? De modo que o gajo
ofereceu-lhe o lugar de presidente da SIMTEJO. Ao Carmona. P´ró gajo
concorrer.
MANUEL GODINHO – Pois.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – E eu tive com o Carmona, agora... há quinze
dias... e o gajo disse-me que não ía concorrer.
MANUEL GODINHO – Que não ía.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Não. E nem fui eu que lhe perguntei. O gajo
é que me disse. Disse: – “Oh Professor...” – “Eh pá, oh Carlos, se me vai
perguntar se vou concorrer, não vou concorrer, hã?”, disse logo o gajo. E eu
“Oh Professor, não lhe ía perguntar nada disso, ía falar de motas” – “Não, não.
É que toda a gente me pergunta isso, de modo que eu já lhe estou a dizer”.
Dizia o cabrão. “Já lhe estou a dizer que não vou concorrer”. E depois vieram-
me dizer que o Costa ofereceu-lhe o lugar de Presidente da SIMTEJO, para o
gajo concorrer, para queimar o Santana, e o gajo disse que não concorria.
MANUEL GODINHO – Pois.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Ficou lixado. Eh pá, e presidente da
SIMTEJO, é um granda lugar.
MANUEL GODINHO – Pois é.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – É.
MANUEL GODINHO – Aham... vamos ver. Isto deve estar mesmo...
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Deve estar mesmo.
MANUEL GODINHO – Eu não me acreditio... não me acredito... que haja
mudanças agora antes das eleições.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Não, isso não há. Não há.
MANUEL GODINHO – Mas...

772
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Pode haver é o gajo deixar cair o governo, e


depois... pois agora, deixa cair o governo, agora já não interessa nada, não é?
MANUEL GODINHO – Hum. Mas ele não vai fazer isso.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Não, agora não. Agora está a três meses, pá.
MANUEL GODINHO – Deixar cair...
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Não, agora já não deixa cair nada
MANUEL GODINHO – Ele foi burro. Ele devia ter feito as eleições... antes.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Antes. Há seis meses ou sete.
MANUEL GODINHO – Pois era.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Ter feito uma remodelação, ter feito as
eleições e ter-se safo. Que assim, está a ser (imperceptível), completamente.
MANUEL GODINHO – Agora, olha, temos que esperar
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Temos que esperar. É.
MANUEL GODINHO – Pronto, olhe. Na sexta-feira, ou no máximo segunda, ...
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Segunda, talvez...
MANUEL GODINHO – A gente toma um café.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Tá bem. Eu sexta-feira, vou a Inglaterra, que
tenho lá as minhas filhas. Vou na sexta e venho no Domingo. E depois
____________ telefonar no Domingo à noite, ou na segunda de manhã.
MANUEL GODINHO – Tá bem. Na segunda-feira de manhã.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Tá bem, tá bem.
MANUEL GODINHO – Ok?
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Tá, um grande abraço.
MANUEL GODINHO – Tá, um abraço.
CARLOS VASCONCELOS (REFER) – Vá falando
MANUEL GODINHO – Tá, ok.

Produto 13560 - Alvo 1T167PM - 30/06/2009 08:44:36 - 914008899 


917649864 – Carlos Vasconcellos (REFER)  Manuel Godinho
Carlos Vasconcellos e Manuel Godinho combinam almoçar em Aveiro.
Carlos Vasconcellos diz que foi no avião com o António Mexia, que lhe disse
que o Pardal é maluco e a Secretária de Estado ainda é mais.

773
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Godinho diz a Carlos Vasconcellos que a REFER mandou a


Judiciária a casa dele. Refere que naquele dia vai ser ouvido o Paulo Costa, o dono da
Mantenverde, e que no dia seguinte será ouvido o Costa.

Produto 13560, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:
PRODUTO Nº: 13560
DATA/HORA: 30/06/2009 08:44:36
INTERVENIENTES:
• DE – Carlos Vasconcelos
• PARA – MANUEL GODINHO

MANUEL
GODINHO – Estou
Carlos Vasconcelos – Bom dia, Godinho, está tudo bem consigo ou quê ? Está
tudo a correr bem ?
MANUEL GODINHO – Está tudo como o caralho, amigo
Carlos Vasconcelos – É ? Isso é que é pior
MANUEL GODINHO – Os gajos andam-me aqui a chatear
Carlos Vasconcelos – Pois, isso é que é pior
MANUEL GODINHO – Mas podemos almoçar amanhã
Carlos Vasconcelos – Amanhã ? está bem, está bem. Então eu vou amanhã…
MANUEL GODINHO – está tudo fodido mesmo
Carlos Vasconcelos – Eu arranco logo cedinho que é para não apanharmos
muito trânsito e vou ter consigo, está bem ?
MANUEL GODINHO – Olhe uma coisa, como é que está isso praí para baixo ?
Carlos Vasconcelos – Está tudo uma grande merda; ainda agora fui com o
Mexia e com o Pinto Leite no avião, lá para Inglaterra ver as minhas filhas e eh
pá, o gajo diz que, estava-lhe a dizer eh pá o Pardal é maluco e diz o cabrão
pior do que ele é ela, a gaja é muito mais maluca do que ele e o Mário Lino
está-se cagando
MANUEL GODINHO – Pois é
Carlos Vasconcelos – É a opinião que o gajo tem
MANUEL GODINHO – Quem é que disse ?

774
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Carlos Vasconcelos – O Mexia, o gajo que é, foi presidente da Galp e agora é


presidente da EDP, sabe, o António Mexia
MANUEL GODINHO – Ah, o António Mexia, foi consigo, foi ?
Carlos Vasconcelos – Fui com o gajo, depois encontrei o gajo lá em Londres e
depois também vim com o gajo e conversei lá um bocadinho com o gajo em
Londres, depois à vinda para baixo também vinha aquele gajo do PSD o Pinto
Leite, sabe quem é ?
MANUEL GODINHO – Sei, sei
Carlos Vasconcelos – O gajo que era amigo do (imperceptível) e estivemos os 3
à conversa e diz o gajo que, isto é, os gajos nem dão opinião, está a ver, que é
para um gajo depois nem dizer, que isto está tudo fodido e que está prestes a
estoirar
MANUEL GODINHO – Isto não vai acabar bem, não
Carlos Vasconcelos – Não vai não; os gajos, eh pá, então o Mexia estava, o que
é assim, o problema o Pardal é maluco, está bem, toda a gente sabe, agora a
gaja é pior e o gajo está-se cagando, o Mário Lino
MANUEL GODINHO – pois, pois
Carlos Vasconcelos – Percebe, e o problema começa aí, o Mário Lino está-se
cagando, a gaja ainda é mais maluca deixa fazer o que quer, pronto; isto é
fodido
MANUEL GODINHO – Eh pá, outra vez, entra-me a Judiciária outra vez porta
dentro, objectivo Refer, os gajos reagiram mal, os gajos reagiram mal
Carlos Vasconcelos – E então mandaram-lhe a Judiciária
MANUEL GODINHO – Exacto, tudo que fosse Refer os gajos levaram
Carlos Vasconcelos – Pois, quer que eu diga alguma coisa ao Zé Manel ou coisa
assim
MANUEL GODINHO – A quem, a quem ?
Carlos Vasconcelos – Ao Zé Manel
MANUEL GODINHO – Não vale a pena, estou-me a foder para isso
Carlos Vasconcelos – está bem
MANUEL GODINHO – Não vale a pena, não vale a pena; hoje está a ser ouvido
o filho do Costa, que é o proprietário da Mantenverde; amanhã vai ser ouvido
o Costa; eu ontem foi chamado, quer dizer eu ontem não fui chamado, eles
entraram-me por casa dentro na 4ª feira; na quinta-feira, não, minto, na
quinta-feira, quando é que foi o S. João ? Foi no dia de S. João, pronto
Carlos Vasconcelos – 23 para 24

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S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Depois não fiz mais nada; os cabrões entregaram-me,


entregaram-me não, encontraram-me uma pistola de sucata que eu nunca a vi
na minha vida
Carlos Vasconcelos – Pois
MANUEL GODINHO – Eu nunca, eu não, eu não abria aquele cofre há mais de
10 anos, há mais de 10 anos, encontraram lá uma pistola velha que nem tem
balas nem tem nada uma pistola adaptada, sabe que é que os gajos fizeram ?
Prenderam-me e apresentaram-me ao Juiz
Carlos Vasconcelos – Foda-se
MANUEL GODINHO – Uma humilhação do caralho, oh, pá, à frente de toda a
gente, um gajo a entrar num carro as pessoas a verem e o caralho, eh pá, foda-
se
Carlos Vasconcelos – Foda-se, que grandes ordinários
MANUEL GODINHO –Eh pá, isto é um país, eu digo-lhe muito honestamente,
eu digo-lhe muito honestamente, o que mereciam era que um gajo se
estivesse a foder para isto e que tomassem conta dos empregados
Carlos Vasconcelos –Foda-se, que grandes filhos da puta
MANUEL GODINHO –É uma vergonha, é uma vergonha
Carlos Vasconcelos – Filhos de uma grande puta
MANUEL GODINHO –É, é, depois, depois, daquilo que um gajo se apercebe da
Judiciária; os gajos como pessoas não valem um caralho
Carlos Vasconcelos – Nada, nada
MANUEL GODINHO –É que não valem nada, é uma esgumalha que você nem
imagina; é que você nem imagina, eles fazem de uma pessoa um autêntico
farrapo
Carlos Vasconcelos – Filhos de uma grande puta
MANUEL GODINHO –Eles fazem de uma pessoa, chegam à casa das pessoas,
invadem os quartos, sentam-se nas camas, levam, olha levaram-me 3 relógios
em ouro, aquele relógio que eu tinha há mais de 10 anos já, que era inox e
ouro
Carlos Vasconcelos – Sim, sim, sim
MANUEL GODINHO –Levaram-me esse relógio, está avariado, levaram-me um
relógio nem trabalha nem o caramba, foi o velhote, o Cordeiro, que me
enganou com aquela porcaria, levou-me mil contos por aquilo
Carlos Vasconcelos – pois
MANUEL GODINHO – E eu fui a ver e aquilo é falso, tá a ver
Carlos Vasconcelos – Pois, pois, pois
MANUEL GODINHO – Mas olhe, até isso me levaram

776
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Carlos Vasconcelos – Os gajos são uns ordinários do caralho


MANUEL GODINHO – Levaram-me 36 garrafas de Whisky, imagine levaram-me
36 garrafas de Whisky
Carlos Vasconcelos – Relógios e garrafas de whisky ? É pá os gajos são doidos,
os gajos têm que devolver isso tudo não é ?
MANUEL GODINHO – pois é, isto é uma vergonha, é uma vergonha; vamos
com calma, vamos com calma, o ultimo a rir é o que ri melhor
Carlos Vasconcelos – A gente amanhã conversa
MANUEL GODINHO – Venha cá amanhã almoçar e a gente
Carlos Vasconcelos – Tá bem, eu vou almoçar amanhã aí, tá ?
MANUEL GODINHO – Um abraço, adeus

Produto 15097 - Alvo 1T167PM - 14/07/2009 17:34:26 - 914008899 


917649864 – Manuel Godinho  Carlos Vasconcellos (REFER)
Carlos Vasconcellos e Manuel Godinho conversam sobre a situação na
REFER e de alterações que estão a ser feitas. Diz também que esteve a almoçar com o
Folque (João Folque) e que ele lhe disse que tinha que falar com o Zé Manel para
fazer alguma coisa porque senão já não vale a pena.
Manuel Godinho diz que agora já não vale a pena. Referindo-se às eleições,
diz que agora só faltam três meses.

Produto 15097, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 15097


DATA/HORA: 14/07/2009 – 17h34m26s
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – Carlos Vasconcelos - REFER

CARLOS VASCONCELOS – REFER – Tou?

MANUEL GODINHO – Sim (imperceptível).

777
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

CARLOS VASCONCELOS – REFER – Então tá tudo bem ou quê?

MANUEL GODINHO – Tá tudo.

CARLOS VASCONCELOS – REFER – Tudo calmo, não?

MANUEL GODINHO – Tudo calmo demais...

CARLOS VASCONCELOS – REFER – Muito calmo. Vim agora aqui assim a, à… À


Refer…

MANUEL GODINHO – Sim?

CARLOS VASCONCELOS – REFER – É pá, cheguei ontem tenho estado à rasca


das costas, a puta da operação, pá, esta merda acabou por não fazer nada,
também não me operam... Entrei agora no meu gabinete, não me operam
outra vez, quero que eles se fodam, foda-se… E de modo que, vim agora aqui,
é pá isto está tudo uma caldeirada, estava-me a dizer agora este gajo que está
aqui do (imperceptível) os gajos agora continuam a mexer nas chefias desta
merda que ninguém percebe nada, é pá, a dois ou três meses de sair, este
cabrão deste Pardal continua para aqui a fazer deliberações…

MANUEL GODINHO – Continua e vai destruir tudo, não é?

CARLOS VASCONCELOS – REFER – Pois (sobreposição de vozes).

MANUEL GODINHO – Ele enquanto não queimar… As pessoas, não descansa.

CARLOS VASCONCELOS – REFER – Mas o gajo não vai a tempo de nada, mas
então o que é isto, estamos a brincar? Estava-me o (imperceptível) a dizer: Ó
pá, você veja lá a deliberação. Eu não vejo nada, quero que eles se fodam, eu
nem quero conhecer os gajos, eu quero é que passem estes três meses
depressa, não é?

MANUEL GODINHO – Pois é.

CARLOS VASCONCELOS – REFER – Quero é que isto passe depressa, entretanto


estive a almoçar com o, com o Folque e o Folque já me disse: é pá foda-se, não
pode ser, eu quinta-feira já vou almoçar com o Zé Manel e tenho que dizer: é
pá esta merda passa de tempo e depois já não merece a pena, não é?

778
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Já não merece a pena, já nem vale a pena, é que já nem
vale a pena.

CARLOS VASCONCELOS – REFER – Assim é que nem merece a pena porque


depois…

MANUEL GODINHO – Já não vale a pena fazer nada. Isso agora o que é que
vão fazer?

CARLOS VASCONCELOS – REFER – Pois, falar com o gajo, falar com os outros
gajos, falar para quê?

MANUEL GODINHO – Já não vale a pena, ó doutor.

CARLOS VASCONCELOS – REFER – Ale do mais, o Costa tá a levar no cú, não é?


O Santana vai-lhe ó cú a brincar…

MANUEL GODINHO –Eles também se puseram a jeito, eu digo-lhe muito


honestamente...

CARLOS VASCONCELOS – REFER – Eles puseram-se a jeito porque da outra vez


foi o Fernando Gomes, a Edite Estrela e o João Soares puseram-se a jeito.

MANUEL GODINHO – Pois.

CARLOS VASCONCELOS – REFER – Não saem cá para fora, não fazem


campanha não (imperceptível), não é?

MANUEL GODINHO – Eles não querem nada, pá, eles não querem nada. E
agora a lei que o primeiro pôs, das pessoas não podem ter, não podem
concorrer às câmaras, desde que tenha, desde que estejam colocadas noutros
lados, isso é mesmo para acabar.

CARLOS VASCONCELOS – REFER – Pois pois, isso é mesmo para dar o… é pá,
vamos ver ó, ó… Nós temos de aguentar agora estes dois três meses de pé
firme e não mexer, não é? E pronto e vamos ver o que é que isto vai dar.

MANUEL GODINHO – Pois é.

779
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

CARLOS VASCONCELOS – REFER – Porque isto tem que dar qualquer coisa e eu
não desisto, eu continuo, sou um lutador até ao fim, portanto não eu desisto.
À pá, os gajos dizem reformar-se, reformo é o caralho, reformem-se vocês,
foda-se.

MANUEL GODINHO – Pois.

CARLOS VASCONCELOS – REFER – Eu não me reformo, pronto e agora eles têm


que me dar aquilo a que tenho direito…

MANUEL GODINHO – Quem é que lhe disse para se reformar?

CARLOS VASCONCELOS – REFER – Os gajos aqui na Refer, dali…

MANUEL GODINHO – Os gajos é que dizem para se reformar,é?

CARLOS VASCONCELOS – REFER – Os gajos da Refer, ai você tem idade…

MANUEL GODINHO – Você diga: idade para me reformar e vou fazer o quê?

CARLOS VASCONCELOS – REFER – Eu nem, nem, nem digo isso, eu digo: eu sou
um lutador e quero trabalhar, dêem-me é trabalho, não me proponham a
reforma,

MANUEL GODINHO – Exactamente.

CARLOS VASCONCELOS – REFER – Tá a perceber? Eu quero é trabalho,


portanto eles que me deiam trabalho. Ainda agora, vim aqui tive a almoçar
com o Folque, com o meu filho, tive não sei quê e agora vim até aqui, a ver o
que tenho de novo o que não tenho de novo, amanhã venho aqui outra vez, tá
a perceber? Tudo com calma.

MANUEL GODINHO – Pois.

CARLOS VASCONCELOS – REFER – Venho a saber de umas novidades…

MANUEL GODINHO – Pois.

CARLOS VASCONCELOS – REFER – Porque isto está tudo fodido, tudo fodido.

MANUEL GODINHO – Tá tudo fodido, está.

CARLOS VASCONCELOS – REFER – E agora estes gajos têm de resolver isto.

780
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Quê?

CARLOS VASCONCELOS – REFER – E eles até, e para eles até saberem, que eu
abro o computador e os gajos sabem a que horas é que eu cá estive, quando é
que me fui embora, os gajos sabem tudo.

MANUEL GODINHO – Sabem, ai sabem?

CARLOS VASCONCELOS – REFER – Ah pois sabem, se eles forem ao meu


computador…

MANUEL GODINHO – Ai os gajos controlam isso agora, é?

CARLOS VASCONCELOS – REFER – Controlam sempre, quando os gajos querem


saber se eu cá estive ou se eu cá não estive, os gajos vêm aqui ao meu
computador e vêem a que horas é que eu abri e quando é que abri e tudo, tá a
perceber? Que é para eles saberem que são cinco e quarenta e que eu estou
aqui.

MANUEL GODINHO – Enfim!

CARLOS VASCONCELOS – REFER – Enfim.

MANUEL GODINHO – Vamos é com calma também já faltou mais.

CARLOS VASCONCELOS – REFER – É, se vier cá baixo, vamos beber um


cafezinho, diga qualquer coisa.

MANUEL GODINHO – Tá bem.

CARLOS VASCONCELOS – REFER – Mas diga, para irmos beber um cafezinho e


conversamos um bocado.

MANUEL GODINHO – Tá, tá.

CARLOS VASCONCELOS – REFER – Tá? Um abraço, obrigado, obrigado.

MANUEL GODINHO – OK…

781
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 13841- Alvo 1T167PM - 01/07/2009 08:34:00 - 917649864 


914008899 – Carlos Vasconcellos (REFER)  Manuel Godinho
Carlos Vasconcellos encontrava-se já a dirigir-se para norte. Manuel
Godinho diz que tem um almoço em Lisboa. Combinam então encontrar-se na
REPSOL, em Lisboa.

Constatou o JIC pela compulsação dos autos que no dia 01 de Julho,


Manuel Godinho encontrou-se com Carlos Vasconcellos, em Lisboa e
almoçaram juntos no restaurante “Retiro da Algodeia” (Vide RDE de fls. 3372
a 3381).

Dias depois deste encontro é mantida a seguinte conversação:

Produto 16198 - Alvo 1T167PM - 27/07/2009 14:51:31 -  917649864


– Carlos Vasconcellos (REFER)  Manuel Godinho
Manuel Godinho pergunta a Carlos Vasconcellos como é que está a situação
por lá.
Carlos Vasconcellos diz que está tudo na mesma.
Manuel Godinho interrompe para dizer que o “Pardal” agora já está
sossegado.
Combinam tomar um café na quarta-feira em Lisboa.

Produto 16198, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 16198


DATA/HORA: 27/07/2009 14:51:31
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA –

MANUEL GODINHO – Tou

782
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

DESCONHECIDO – Sr Godinho, tudo bem ou quê


MANUEL GODINHO – Diga diga
DESCONHECIDO – Está tudo bem
MANUEL GODINHO – Tá tudo e por aí
DESCONHECIDO – Também está tudo calmo por aqui
MANUEL GODINHO – Por aí o ambiente está porreiro
DESCONHECIDO – O ambiente está está a mesma merda, ninguém mexe,
ninguém faz nada, as minhas funções de gerência agora não têm que gerir
nada, porque um está de férias e o outro não está
MANUEL GODINHO – Imperceptível
DESCONHECIDO – Como?
MANUEL GODINHO – O Pardal já está parado?
DESCONHECIDO – Já, o Pardal já, em absoluto já está sossegadinho, não é?
MANUEL GODINHO – Já está
DESCONHECIDO – É preferível que o gajo esteja sossegado
MANUEL GODINHO – Imperceptível
DESCONHECIDO – Quando, não percebi quando
MANUEL GODINHO – Quarta-feira
DESCONHECIDO – Quarta-feira a ver se tomamos um café, está bem
MANUEL GODINHO – … uma reunião …
DESCONHECIDO – Ai você vem cá e tomamos cá o café, não é? Eu estou-lhe a
ligar depois quarta-feira, de manhã.
MANUEL GODINHO – Tá bem
DESCONHECIDO – Um, abraço.

A partir de determinada altura, com base na informação que lhe é


prestada sobretudo por Carlos Vasconcellos, Manuel Godinho firma a ideia de
que o presidente do CA da REFER é protegido pela Secretária de Estado dos
Transportes, passando a ver a mesma como principal obstáculo à satisfação
dos interesses das suas empresas.

783
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Mas o JIC, à puridade, sempre dirá:

Antes de referirmos as providências que Manuel Godinho toma quanto


a essa matéria, importa destacar um momento que parece assinalar uma
alteração da posição negocial adoptada por Manuel Godinho face à REFER: o
acórdão do Tribunal da Relação do Porto proferido na sequência da
interposição de recurso da decisão da 1ª instância no Processo
188/07.0TBMCD.

Com efeito, em 09/06/2009, decidiu o Colectivo revogar a decisão da


1ª instância e absolver a O2 dos pedidos contra ela formulados pela REFER.

No dia 24/06/2009, no âmbito do Inquérito 39/08/8JAAVR, foram


efectuadas buscas nas instalações da empresa SCI - Sociedade Comercial
e Industrial Metalomecânica, S.A., em Aveiro, e O2 – Tratamento e Limpezas
Ambientais, S.A., em Ovar.

Nas instalações da “SCI”, mais precisamente na sala de António


Adelino Oliveira Gonçalves Gomes, irmão do advogado José Albertino
Gonçalves Melchior Gomes, foi encontrado e apreendido um ofício com
registo, remetido pela 2ª Secção do Tribunal da Relação do Porto, bem como
um acórdão da secção Cível daquele Tribunal com o respectivo timbre, com a
identificação do processo, do relator e dos respectivos adjuntos, assinado e
com data de 09 de Junho de 2009, num total de 16 folhas (cf. fls. 379 a 384 e
389 a 405 do apenso 23).

Na sala de reuniões da empresa, foi encontrado e apreendido um fax,


datado de 17/06/2009, que terá sido enviado por José Albertino Melchior
Gomes para o advogado José Manuel Mesquita. Foi ali também apreendido o
mesmo texto do acórdão atrás citado, num total de 16 folhas, com a mesma
paginação e formatação de letra, que, no entanto, não tem o timbre do Tribunal
da Relação do Porto, nem se encontra datado e assinado (cf. fls. 81, 90 a 106
do apenso 24).

784
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Nas instalações da O 2 – Tratamento e Limpezas Ambientais, S.A.,


em Ovar, mais concretamente no gabinete de Manuel Godinho, foram
apreendidas oito das dezasseis folhas que constitutem o acórdão supracitado
(correspondem às páginas ímpares), acompanhados de um um fax, datado de
17/06/2009, que terá sido enviado por José Albertino Melchior Gomes para o
advogado José Manuel Mesquita (cf. fls. 368 a 373, 379 a 383 do apenso 24 e
2 a 4 do apenso 25).

Das conversas registadas que correspondem aos produtos abaixo


indicados, resultam indícios de que: no dia 29 de Maio de 2009, João
Godinho tinha já na sua posse o texto que viria a constar do acórdão do
Tribunal da Relação da Porto, datado, como se referiu já, de 09 de Junho;
que, Manuel Godinho, no período de tempo que mediou entre essa data e a
constante do acórdão, deu conhecimento a, pelo menos, Armando Vara,
Carlos Vasconcellos e José Valentim de que havia ganho a acção que opunha
a O2 à REFER.

Atentem-se nas seguintes conversações:

Produto 10739 - Alvo 1T167PM - 29/05/2009, 08:08:53 - 917649864 


917769679 – Manuel Godinho  João Godinho
João Godinho lê ao telefone parte do texto de uma decisão do Tribunal da
Relação relativa a uma acção em que é autora a REFER e ré a “O2 – Tratamento e
Limpezas Ambientais, S.A.”.
O filho começa por dizer que o acórdão vai no sentido que estavam à espera,
deita abaixo o “gajo” que decidiu, o juiz.
Manuel Godinho comenta que o “gajo” é uma máquina.
As partes lidas ao telefone coincidem com aquelas que constam do acórdão
do tribunal da Relação do Porto, datado de 09 de Junho de 2009, portanto, proferida
apenas onze dias depois.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 10739, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 10739


DATA/HORA: 29.05.2009 – 08.08.53
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – João Godinho

João Godinho – Tou.


MANUEL GODINHO – Sim, Joãozinho.
João Godinho – Sim. É para dizer que já estou com aquilo na mão.
MANUEL GODINHO – E então?
João Godinho – Eh, prontos, estou a ver agora isto. Eh, mas tá…pelo que eu já
li tá de acordo com aquilo que esperado.
MANUEL GODINHO – Ai é?
João Godinho – É.
MANUEL GODINHO – Eles vêm-se atirar a quem?
João Godinho – Eh, quer-se dizer, bem, logo…logo é ao gajo que decidiu.
MANUEL GODINHO – Ao juiz?
João Godinho – Sim.
MANUEL GODINHO – A dizer o quê?
João Godinho – Onde é que vem aqui logo…olha, logo o primeiro ponto -
Enferma de vícios que respeitam quer a decisão da matéria, quer a
interpretação e aplicação da regras de direito.
MANUEL GODINHO – Hum…porreiro. Porreiro.
João Godinho – Deixa-me só ver…deixa-me só ver se eu te consigo ver aqui
o…a parte final.
MANUEL GODINHO – E fala no Aroso (sonoro), não é?
João Godinho – Hã?
MANUEL GODINHO – Fala no Aroso (sonoro).
João Godinho – Deve falar…ainda não…mas tem aqui tem. Mas eu ainda não
consegui, que isto ainda são…

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – São muitas folhas?


João Godinho – São dezasseis páginas.
MANUEL GODINHO – O gajo é uma máquina do carago, não é?
João Godinho – São dezasseis. Queres que te leia a decisão?
MANUEL GODINHO – Ora lê.
João Godinho – Nestes termos se decide julgar procedente a apelação
revogando-se a decisão dos autos, julgando-se ainda procedente a excepção da
prescrição e absolvendo a ré dos pedidos contra ela formulados. Custas em
ambas as instâncias pela autora.
MANUEL GODINHO – Pois.
João Godinho – Pronto. É isto. Eh, tá porreiro.
MANUEL GODINHO – Mas ele depois vem a criticar não é?
João Godinho – Isto já é o fim. Eu ainda não vi tudo sabes.
MANUEL GODINHO – Isso é o fim?
João Godinho – Isto já é o fim. É a decisão. Agora, ainda não li isto tudo.
MANUEL GODINHO – Ah, ok.
João Godinho – Eu tenho ali o coiso à minha espera, sabes.
MANUEL GODINHO – Está bem. Ok.
João Godinho – …como eu disse que vinha guardar isto e liguei-te.
MANUEL GODINHO – Ele que espere um bocado.
João Godinho – Hã?
MANUEL GODINHO – Ele que espere. Diz?
João Godinho – Queres que leia?
MANUEL GODINHO – Ora lê.
João Godinho – São dezasseis páginas. Deixa-me ver se eu te consigo fazer um
resumo disto. Portanto, há aqui uma parte que vem falar da prescrição, que
tem razão. Hum?
MANUEL GODINHO – Sim
João Godinho – Depois vem a dizer, hum…onde é que está, onde é que está.
Portanto, vem aqui dizer…do mesmo passo que estes elementos probatórios
conduziram a uma decisão de matéria de facto no sentido de que a ré teria
levantado e carregado uma quantia de caril mal apurada. Tudo isto no lugar
(*) não sei que, não sei que mais. Consequentemente, a matéria de facto
depositada sobre (*) não poderia merecer uma decisão diferente da seguinte –
provou-se apenas (*) a ré terá carregado uma quantidade não perfeitamente
determinada de caril desactivado da linha do Tua. No mesmo passo que os

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

elementos probatórios constantes dos autos, neles incluindo os depoimentos


de testemunhos (*) Aroso (sonoro) e Vítor Araújo determinavam que a decisão
da matéria de facto (*) constantes no requisito um fosse de teor igual ou
equivalente ao seguinte – Não provado. Na verdade não há nos autos qualquer
elemento que permitisse ao tribunal a quo decidir acerca do valor da matéria
carregada pela ré nos termos da matéria quesita da base instrutória. Assim, a
decisão da matéria de facto deverá ser alterada pelo Tribunal da Relação nos
termos… uma vez que do processo constante dos elementos da prova que
serviram de base à decisão sobre os idos da matéria de facto.
MANUEL GODINHO – Pois. E é tudo?
João Godinho – Eh, não, isto são dezasseis páginas. Estou-te a ler aqui algumas
partes, sabes.
MANUEL GODINHO – Sim, sim, sim.
João Godinho – Senão tenho que ler aqui. Deixa-me ver…passar um bocadinho
mais para a frente. Aqui vem depois de um ponto – Assim não deverá manter-
se a douta sentença recorrida quer por virtude da sua reforma por erro de
julgamento da excepção peremptória da perseguição cuja procedência não é
conduzido à absolvição do pedido, à alteração da decisão da matéria de facto
no sentido sugerido das anteriores alíneas ou, se assim for entendido, ordenar
a fundamentação adequada da decisão sobre a matéria de facto relativa aos
quesitos.
MANUEL GODINHO – Pois
João Godinho – Revogação da sentença recorrida por erro de interpretação e
de aplicação dos citados processos legais de substituição por douta decisão que
julga a acção procedente.
MANUEL GODINHO – Pois
João Godinho – Ehh, são nestes termos que impugna pela procedência da
invocação da sentença… Alteração da matéria de facto… Tribunal que form… l
Aroso(*) Isto não vem…vem só aqui a comentar algumas coisas, sabes.
MANUEL GODINHO – Pois. Hum, ok.
João Godinho – Mas tá porreiro.
MANUEL GODINHO – Pronto, é isso. É isso. Tá, ok.
João Godinho – Ok. Tá. Onde estás?
MANUEL GODINHO – Tou em Aveiro.
João Godinho – Ok
MANUEL GODINHO – Tá?
João Godinho – Tá.
MANUEL GODINHO – Até já.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 33 – Alvo 39264M - 05/06/2009, 10:48:33 - 912032873


963965760 – Manuel Godinho  Armando Vara
Armando Vara pergunta a Manuel Godinho se ele já fez o pedido de reunião
com o presidente do conselho de administração da REFER. Este responde que ainda
não.
Manuel Godinho diz que foi marcado pelo juiz um encontro entre as partes
para o dia 17. Refere também que existe “uma situação”, vão ganhar a acção.
Armando Vara diz que ele já lho tinha dito, mas que tinha ficado combinado
que ele pediria a marcação da reunião. Armando Vara corrige, dizendo que teria que
deixar publicar primeiro a decisão.
Manuel Godinho corrobora dizendo que Armando Vara lhe tinha dito que era
melhor deixar sair.
Manuel Godinho convida Armando Vara para vir almoçar com ele.
Armando Vara diz que esteve a falar com o Lopes Barreira para ver se iam
almoçar com Manuel Godinho um dia destes.
Marcam almoço em Ovar de sábado a quinze dias (20/06)

Produto 33, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 00033


DATA/HORA: 05/06/09 10:48:33
INTERVENIENTES:
DE – Manuel Godinho
PARA – Armando Vara

ARMANDO VARA – Tá?


MANUEL GODINHO – Sim?
ARMANDO VARA – Olá, está bom senhor
MANUEL GODINHO – Bom dia senhor doutor, como está?
ARMANDO VARA – Tudo bem, tudo bem, então?

789
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Eu tinha aqui uma chamada não atendida, você ligou-
me?
ARMANDO VARA – Não, não, não foi agora, já foi da outra vez.
MANUEL GODINHO – Ah!
ARMANDO VARA – Já foi da outra vez.
MANUEL GODINHO – Eh!
ARMANDO VARA – Já fez lá o pedido?
MANUEL GODINHO – Pedido?
ARMANDO VARA – Lá para, lá da REFER, já, já, já fez lá a chamada?
MANUEL GODINHO –Não.
ARMANDO VARA – Eh!
MANUEL GODINHO – Falaram-lhe nisso outra vez, é?
ARMANDO VARA – Como?
MANUEL GODINHO – Falaram-lhe nisso, é?
ARMANDO VARA – Não, não. Mas não, não ia pedir uma reunião lá com o
homem?
MANUEL GODINHO – Nós temos uma reunião marcada
ARMANDO VARA – Ai já está? Pronto.
MANUEL GODINHO – Não. Isso quem marcou foi o Juiz, tá ver?
ARMANDO VARA – Sim.
MANUEL GODINHO – Eh, para o dia dezassete, salvo erro.
ARMANDO VARA – Uh!
MANUEL GODINHO – Mas há uma situação que nós, eh, a acção vamos ganhar.
ARMANDO VARA – Pois. Já me, já me tinha dito. Mas tinha ficado combinado
que, ah, mas depois de publicar, não é?
MANUEL GODINHO – Mas depois você disse-me que não, que (imperceptível)
para deixar sair.
ARMANDO VARA – Que era melhor deixar sair. Exactamente. Tá bem, tá bem.
Pronto. Tá tudo a correr bem então, não é?
MANUEL GODINHO – Está. Eh, pronto. Eh, parece que se viu agora uma luz ao
fundo do túnel.
ARMANDO VARA – Muito bem.
MANUEL GODINHO – Eh!
ARMANDO VARA – Então olhe. Eu estou fora esta semana que vem

790
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Sim.


ARMANDO VARA – Mas depois na, a partir de domingo já estou cá.
MANUEL GODINHO – Pronto, ok. Então na, veja se vem comer aqui um
leitãozinho.
ARMANDO VARA – Sim. Estive a falar com o Lopes Barreira, ele disse-me que
se estiver, esteve a combinar, esteve, que você lhe tinha dito para irmos aí, e
eu combinei com ele que depois dávamos aí uma saltadela.
MANUEL GODINHO – Eh, pode contar para sábado a oito dias?
ARMANDO VARA – Não, não, deste sábado a oito eu ainda não estou cá. Eu só,
só regresso domingo.
MANUEL GODINHO – (imperceptível)
ARMANDO VARA – Vou estar, vou estar fora a semana. Talvez no outro a
seguir, tá bem?
MANUEL GODINHO – Sábado a quinze?
ARMANDO VARA – Sim. Sábado a quinze, em princípio sim.
MANUEL GODINHO – (imperceptível)
ARMANDO VARA – Tá bem, tá bem.
MANUEL GODINHO – Pronto, ok. (imperceptível)
ARMANDO VARA – Fica combinado.
MANUEL GODINHO – (imperceptível)
ARMANDO VARA – Fica combinado.
MANUEL GODINHO – Tá bem?
ARMANDO VARA – Um abraço para si.
MANUEL GODINHO – Um grande abraço.
ARMANDO VARA – Adeus, adeus, adeus.

Produto 11528 - Alvo 1T167PM - 08/06/2009 08:36:01- 917649864 


934098488 – Manuel Godinho  Valentim (REFER)
Valentim pergunta se é hoje que começa o princípio do fim do Pardal (refere-
se ao Eng.º Luís Pardal, presidente do conselho de administração da REFER).
Manuel Godinho responde que é no dia seguinte (data do acórdão do
Tribunal da Relação do Porto – 09/06/2009).

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S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Valentim diz que pensava que era hoje. Pergunta se, em princípio, vai tudo
correr bem.
Manuel Godinho responde que sim, mas diz-lhe para se calar com isso e não
andar para aí com coisas.
Manuel Godinho diz que vai a Lisboa e combina encontrar-se com o Valentim
na zona da Expo às 11h00.

Produto 11568, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 11528


DATA/HORA: 08/06/2009 08:36:01
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – VALENTIM - 934 098 488

VALENTIM – Tou.
MANUEL GODINHO – Sim, Valentim.
VALENTIM – Sim.
MANUEL GODINHO – Bom dia.
VALENTIM – Tudo bem, ou não.
MANUEL GODINHO – Tudo.
VALENTIM – Então é hoje que começa o principio do fim do gajo, não...do paredão
MANUEL GODINHO – Possivelmente.
VALENTIM – Pois. Então a decisão é hoje. Não é?
MANUEL GODINHO – Não, não. Terça fei...amanhã.
VALENTIM – Ai, é só amanhã. Ahhhh.
MANUEL GODINHO – É dia nove. Não é?
VALENTIM – É dia...pois. Ahhh, então é amanhã. Eu pensava que era hoje.
MANUEL GODINHO – Não, não.
VALENTIM – Ai é só amanhã.
MANUEL GODINHO – É amanhã, é.
VALENTIM – Mas em principio...em principio tá tudo...

792
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Tá tudo.


VALENTIM – ....a correr bem.
MANUEL GODINHO – Tá, tá, tá.
VALENTIM – Tá bem, tá bem. Pronto. Era só, vá.
MANUEL GODINHO – Ok.
VALENTIM – Até logo, até logo.
MANUEL GODINHO – Cala-te com isso...não andes p’rai com coisas, ok.
VALENTIM – Tá bem. Sim, sim, sim. Tá bem, tá bem.
MANUEL GODINHO – Eu vou ai a Lisboa...
VALENTIM – Ehhh.
MANUEL GODINHO – Tu tás aonde?
VALENTIM – Ehhh...tou a chegar à gare do oriente.
MANUEL GODINHO – Da gare do oriente?
VALENTIM – Sim. Daqui a bocadinho.
MANUEL GODINHO – Pronto. Quando for...quando for onze horas.
VALENTIM – Sim.
MANUEL GODINHO – Esperas por mim na...na expo.
VALENTIM – Tá bem.
MANUEL GODINHO – Lá nas bombas.
VALENTIM – Tá bem, tá bem.
MANUEL GODINHO – Ok.
VALENTIM – Tá bem, tá bem.
MANUEL GODINHO – Tá, ok.
VALENTIM – Tá. Até já, então.
MANUEL GODINHO – Até já.
VALENTIM – Até já.

Produto 11690 - Alvo 1T167PM - 09/06/2009 08:01:03 - 917769679 


917649864 –João Godinho  Manuel Godinho

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S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Godinho diz ao filho para, quando chegar ao escritório, ir à internet,


à Relação, ver se ganhou ou perdeu e pede-lhe para ele depois imprimir.
João Godinho pergunta se aquilo é no Porto. Manuel Godinho confirma que é
na Relação do Porto.

Produto 11690, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 11690


DATA/HORA: 09/06/2009 08:01:03
INTERVENIENTES:
• DE – JOÃO GODINHO - 917 768 679
• PARA – Manuel Godinho

MANUEL GODINHO – Sim.


JOÃO GODINHO – Sim, paizinho.
MANUEL GODINHO – Ó João, tás em casa?
JOÃO GODINHO – Ainda estou, tou aqui a falar com a Maria João...
MANUEL GODINHO – Ahhh...
JOÃO GODINHO – ...que ela vai ter um passeio.
MANUEL GODINHO – Vai ter um passeio. Aonde?
JOÃO GODINHO – A Aveiro.
MANUEL GODINHO – Aveiro?
JOÃO GODINHO – Sim.
MANUEL GODINHO – Ei c’um caramba.
JOÃO GODINHO – Vai pela escola, vai visitar lá uns museus, e num sei quê.
MANUEL GODINHO – Ahhh. Ela tá aí?
JOÃO GODINHO – Tá.
MANUEL GODINHO – Ora passa ai.
JOÃO GODINHO – Espera ai, espera ai que ela tá lá no quarto de banho. Hoje, não há
vida que lhe pegue.
JOÃO GODINHO diz à filha: ó Maria João, anda aqui.
MARIA JOÃO (NETA) – Taouu.

794
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Bom dia.


MARIA JOÃO (NETA) – Bom dia.
MANUEL GODINHO – Onde é que tu vais hoje? Pá.
MARIA JOÃO (NETA) – Vou ao passeio da escola. Porquê?
MANUEL GODINHO – Vais ao passeio da escola?
MARIA JOÃO (NETA) – Sim.
MANUEL GODINHO – Então não me disseste nada.
MARIA JOÃO (NETA) – Ó...mas eu vou almoçar lá.
MANUEL GODINHO – É que se nos tivesses dito...
MARIA JOÃO (NETA) – Vou fazer um piquenique. Toma, tchau, beijinho.
MANUEL GODINHO – Ó...Tchau, beijinho. Já não me deixa falar...
JOÃO GODINHO – Que é...que é que estavas a dizer. Que ela num sei quê...toma
Tchau beijinho.
MANUEL GODINHO – (Risos) Pois, porque eu disse, mas então afinal tu vais e não me
disses-te nada.
JOÃO GODINHO – Ahhh.... (Risos) ela vai levar piquenique. A mãe já se teve que
levantar ás seis da manhã para fazer panados...panadinhos e isso.
MANUEL GODINHO – Ai é?
JOÃO GODINHO – É.
MANUEL GODINHO – Eu tou lixado. Ok, pronto, quando chegares ao escritório...
JOÃO GODINHO – Hummm.
MANUEL GODINHO – Vais à internet. Consegues ver?
JOÃO GODINHO – O quê?
MANUEL GODINHO – As notícias.
JOÃO GODINHO – Consigo.
MANUEL GODINHO – Pronto, vais ver o que é que saiu na Relação, para ver se
ganhaste ou perdeste.
JOÃO GODINHO – Tá bem.
MANUEL GODINHO – Tás a perceber?
JOÃO GODINHO – Tá bem.
MANUEL GODINHO – Consegues ver isso.
JOÃO GODINHO – Consigo, consigo.
MANUEL GODINHO – Depois tiras um print, não é.

795
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

JOÃO GODINHO – É, exactamente. Eu tiro...posso...se, se....é assim, se saiu nas


noticias...só se saírem no...no...eles divulgam para o Tribunal. Não é?
MANUEL GODINHO – Pois.
JOÃO GODINHO – Ehhh, se eles divulgarem no tribunal, eu consigo ir lá buscar.
Aquilo é no Porto, não é?
MANUEL GODINHO – É...na Relação.
JOÃO GODINHO – É, eu vejo já isso, eu vejo já isso.
MANUEL GODINHO – Mas consegues ver aí.
JOÃO GODINHO – Eu até posso ver aqui em casa, num instante.
MANUEL GODINHO – Ora vê-me num instante e diz-me já.
JOÃO GODINHO – Eu já te ligo, então.
MANUEL GODINHO – Tá, ok.
JOÃO GODINHO – Até já.

Produto 12191 - Alvo 1T167PM - 15/ 06/2009 12:13:51 - 934098488 


917649864 – Valentim (REFER) Manuel Godinho
Valentim diz que falou com o Vasconcellos e que lhe disse que o Godinho
tinha ganho a acção à REFER e que agora vai começar a espalhar a notícia.
Manuel Godinho aconselha-o a manter-se calado.

Produto 12191, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 12191


DATA/HORA: 15/06/2009 12:13:51
INTERVENIENTES:
• DE – VALENTIM DA REFER
• PARA – MANUEL GODINHO

MANUEL GODINHO – ‘Tou.


VALENTIM DA REFER – ‘Tá, bom dia. Está a almoçar?
MANUEL GODINHO – Não, não... (imperceptível)

796
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

VALENTIM DA REFER – Tive... O Vasconcelos ligou-me...


MANUEL GODINHO – Sim.
VALENTIM DA REFER – ...e eu tive que atender o gajo. Atendi o gajo... e disse:
“Eh pá, não estive cá, olhe. Estive de férias”, e tal, não sei quantos, “Mas já me
disseram...” – disse eu – “Já me disseram, já se consta aqui na Refer...” aham...
“...que o Godinho ganhou a... a acção em Tribunal, e agora vai, pronto, agora...
vai ser tudo regularizado, e ele... eventualmente vai pedir... alguma
indemnização, não sei como é que é isso, agora. Isso agora é os advogados, e
assim...” – “ Ah sim, pois.” Portanto o gajo agora vai começar também já a
espalhar... a... a notícia. Entretanto... veio no Correio da manhã que deu um
AVC à Ana Paula Vitorino.
MANUEL GODINHO – Deu?
VALENTIM DA REFER – Deu. Mas, agora, os gajos dizem que não foi um AVC,
portanto... No Correio da Manhã de... Sábado... Acho que era de Sábado,
aham...
MANUEL GODINHO – (imperceptível)
VALENTIM DA REFER – Deu-lhe um AVC, ‘tá a perceber?
MANUEL GODINHO – Pois.
VALENTIM DA REFER – Mas agora dizem que não, que já está melhor, e que
não... Pronto, ela era para ir para Moçambique e... aham... no... no Governo. E
já não foi.
MANUEL GODINHO – Ah!
VALENTIM DA REFER – Pronto. E agora o... o palhaço do Fortunato, disse:
“Felizmente...” aham... “já está melhor”. Tem a fotografia dela... “Felizmente já
está melhor”, “não é nada de grave”, e mais não sei quantos. Portanto não sei
até que ponto é que... O que é certo é que a gaja teve qualquer problema,
portanto...
MANUEL GODINHO – (sobreposto) Pois, pois
VALENTIM DA REFER – ... qualquer problema de saúde. Pronto. Mas os gajos
só estão a falar hoje, é na gaja.
MANUEL GODINHO – (imperceptível)
VALENTIM DA REFER – Que tinha tido um AVC ou assim. Bom, mas é preciso
é...
MANUEL GODINHO – Amanhã... Amanhã já há uma reunião...
VALENTIM DA REFER – Pois.
MANUEL GODINHO – Entre advogados, percebes?
VALENTIM DA REFER – Pois.

797
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – E... E eu vou-te dizendo alguma coisa. Mas cala-te com
isso, não andes a dizer nada.
VALENTIM DA REFER – Pois, mas isso convém... convém por um lado eles
saberem... Bom, mas para já ainda é cedo, não é?
MANUEL GODINHO – Não pode. Eles vão receber uma notificação.
VALENTIM DA REFER – Pois. Pois, mas então eles podem...
MANUEL GODINHO – (sobreposto) Cala-te com isso.
VALENTIM DA REFER – Está bem.
MANUEL GODINHO – (sobreposto) Cala-te com isso, não andes a dizer nada.
VALENTIM DA REFER – (sobreposto) Pronto. Então é melhor não dizer nada,
não é?
MANUEL GODINHO – É! Cala-te com isso.
VALENTIM DA REFER – ‘Tá bem, tá bem.
MANUEL GODINHO – ‘Tá?
VALENTIM DA REFER – ‘Tá bem, tá.
MANUEL GODINHO – Senão eles depois (imperceptível) e... levas dois
pontapés, vais p’rá rua.
VALENTIM DA REFER – Pois, pois.
MANUEL GODINHO – Ok?
VALENTIM DA REFER – Ok. Pois, pois.
MANUEL GODINHO – ‘Tá, ok.
VALENTIM DA REFER – ‘Tá bem, vá, até já.
MANUEL GODINHO – Vá, até já.

Produto 12200 - Alvo 1T167PM - 15/06/2009 13:38:06 - 914008899 


917649864 – Carlos Vasconcellos (REFER)  Manuel Godinho
Carlos Vasconcellos pergunta se o Godinho já tem o acórdão com ele.
Segundo Carlos Vasconcellos, José Manuel Mesquita quer uma cópia do
acórdão para depois ir lá falar coma “senhora”, referindo-se a Ana Paula Vitorino,
Secretária de Estado dos Transportes.

798
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 12200, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 12200


DATA/HORA: 15/06/2009 13:38:06
INTERVENIENTES:
• DE – MANUEL GODINHO
• PARA – CARLOS VASCONCELOS

CARLOS VASCONCELOS – Sr. Godinho, bom dia.


MANUEL GODINHO – Sim, doutor. Bom dia.
CARLOS VASCONCELOS – ‘Tá tudo bem?
MANUEL GODINHO – ‘Tá tudo.
CARLOS VASCONCELOS – Olhe, já tem o acórdão consigo, não tem?
MANUEL GODINHO – Tenho.
CARLOS VASCONCELOS – O... o Zé Manel disse...
MANUEL GODINHO – O Melchior...
CARLOS VASCONCELOS – Sim...
MANUEL GODINHO – O Zé Manel, de manhã... o Melchior tentou falar com ele
e não conseguiu.
CARLOS VASCONCELOS – Ah. É que ele pediu-me para mandar o acórdão, está
a ver? Que ele queria lá falar com a senhora e queria ver se levava o acórdão,
que é para não haver confusões, está a ver?
MANUEL GODINHO – Aham... Isso já está.
CARLOS VASCONCELOS – Está bem. Eu vou dizer ao... ao Zé Manel, é só para
falar com ele...
MANUEL GODINHO – (sobreposto) O Melchior tem já isso.
CARLOS VASCONCELOS – ‘Tá bem, tá bem. É preciso avançar. Ainda hoje quer
falar com a senhora.
MANUEL GODINHO – Pronto, é fazer isso.
CARLOS VASCONCELOS – ‘Tá. Pronto. O resto, tudo bem?
MANUEL GODINHO – ‘Tá tudo.
CARLOS VASCONCELOS – A gente depois fala. Um abraço.

799
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Até já. Obrigado.

Produto 12588 - Alvo 1T167PM - 19/06/2009 10:24:32 - 917649864 


– Manuel Godinho  Dr. Melchior Gomes
Manuel Godinho pede a Melchior Gomes que lhe envie para Aveiro uma
cópia do acórdão da Relação, porque amanhã tem lá um amigo (almoço com Armando
Vara e Lopes Barreira) e queria-lho mandar.
Manuel Godinho frisa que quer uma cópia do acórdão assinado.
Melchior Gomes, mostrando que compreendeu, diz que é aquele que recebeu
por registo.
Manuel Godinho volta a referir que amanhã vai ter um almoço e já se vai
aconselhar quanto ao que fazer relativamente ao assunto REFER.

Produto 12588, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 12588


DATA/HORA: 19-06-2009 10:24:32
INTERVENIENTES:
• DE – DR. MELCHIOR GOMES
• PARA – MANUEL GODINHO

DR.
MELCHIOR GOMES – Tá?
MANUEL GODINHO – Sim, sô tôr.
DR. MELCHIOR GOMES – Bom dia.
MANUEL GODINHO – Bom dia. Tá ocupado?
DR. MELCHIOR GOMES – (imperceptível) ontem seguiu. Teve de seguir por...
como é que se chama àquilo? Ahem... E-mail!
MANUEL GODINHO – Ah.
DR. MELCHIOR GOMES – Porque o... o Fax deles é que está avariado.
MANUEL GODINHO – Ai é?

800
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

DR. MELCHIOR GOMES – É. Não dá. Não dá sinal. Tentou-se duas vezes...
dava... dava negativo. Mas tinha seguido... na véspera... não sei se lá chegou.
Admito...
MANUEL GODINHO – (sobreposto) Pois.
DR. MELCHIOR GOMES – Porque... no nosso relatório dava erro.
MANUEL GODINHO – Ah... Olhe...
DR. MELCHIOR GOMES – Eu tentei ligar agora p´ra lá p´ró escritório. Ninguém
me atendeu. Há coisa de meia hora.
MANUEL GODINHO – Sim.
DR. MELCHIOR GOMES – Mas vou ligar outra vez, que eu estou... Eu estou fora
de Lisboa, neste momento. Mas...
MANUEL GODINHO – Pois
DR. MELCHIOR GOMES – Ligo p’lo telemovel.
MANUEL GODINHO – Você podia-me era fazer o favor...
DR. MELCHIOR GOMES – (sobreposto) Diga, (imperceptível)
MANUEL GODINHO – de me mandar uma cópia... da... do acordo da relação...
DR. MELCHIOR GOMES – Mando sim senhora. Pra quem?
MANUEL GODINHO – Ma... Mande para Aveiro. Que é p’ra... Eu amanhã tenho
aqui um amigo...
DR. MELCHIOR GOMES – Tá bem.
MANUEL GODINHO – E queria mandar isso.
DR. MELCHIOR GOMES – Tá bem. Mando-lho... Só lhe posso mandar lá para as
onze e meia, meio-dia.
MANUEL GODINHO – (sobreposto) O assinado, está a ver?
DR. MELCHIOR GOMES – Hã?
MANUEL GODINHO – O assinado.
DR. MELCHIOR GOMES – O... o que eu recebi por... por registo
MANUEL GODINHO – Exactamente, exactamente.
DR. MELCHIOR GOMES – Tá bem. Mando-lho por volta das onze e meia, meio-
dia, porque eu... a Teresa... a Doutora Teresa foi agora ao Tribunal...
MANUEL GODINHO – (sobreposto) Tá bem, não faz mal.
DR. MELCHIOR GOMES – ... e daqui a uma hora está outra vez no escritório.
Hum?
MANUEL GODINHO – Tá bem, tá bem. Não há crise.
DR. MELCHIOR GOMES – Pronto.

801
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Não houve reacção nenhuma, pois não?


DR. MELCHIOR GOMES – Não. Até agora, não.
MANUEL GODINHO – Aham... Nem do gajo do Porto?
DR. MELCHIOR GOMES – (sobreposto) Também é cedo. Porque...
MANUEL GODINHO – (sobreposto) O gajo do Porto deve saber, não?
DR. MELCHIOR GOMES – Hã?
MANUEL GODINHO – O gajo do Porto deve saber...
DR. MELCHIOR GOMES – (sobreposto) O gajo do Porto já recebeu quando a
mim. Portanto recebeu na terça-feira.
MANUEL GODINHO – Pois. Aham...
DR. MELCHIOR GOMES – E o outro que foi comigo lá na terça-feira ao Tribunal
também... leu. Eu dei-lho a ler.
MANUEL GODINHO – Pois
DR. MELCHIOR GOMES – Até perguntei se queria uma cópia. Mas disse “Não,
não, eu não me quero meter nisso”
MANUEL GODINHO – Eh pá, é que não está a ver... aha, pois, ele não... eles
não querem porque estão todos à rasca, não é?
DR. MELCHIOR GOMES – Olhe, mas a reacção também, só poderia surgir a
partir de ontem, não é?
MANUEL GODINHO – Pois.
DR. MELCHIOR GOMES – Aquilo chegou na terça...
MANUEL GODINHO – Pois.
DR. MELCHIOR GOMES – Não sei a que horas é que o correio, lá no escritório
do Mendes Ferreira... é distribuído. Mas por exemplo no meu... Por acaso
messe dia foi um bocadinho mais cedo. Normalmente costuma ser pelo meio-
dia, uma hora.
MANUEL GODINHO – Pois. Aham... Eh pá, temos que começar a avançar... A
pensar , ... em avançar com uma queixa... por difamação.
DR. MELCHIOR GOMES – Eu no dia vinte e seis, portanto, que é na quinta-
feira, se não estou em... não. Vinte e dois, vinte e quatro... não. É sexta-feira. É
de hoje a oito. Tenho...
MANUEL GODINHO – (sobreposto) No dia trinta.
DR. MELCHIOR GOMES – Tenho... Não. No dia vinte e seis, tenho aquela do...
da Press Livre. Do... do Correio da manhã.
MANUEL GODINHO – Ai, do Correio da Manhã.
DR. MELCHIOR GOMES – Pois. Que eu vou juntar uma cópia, hum?

802
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Pois.


DR. MELCHIOR GOMES – E... e depois no dia trinta é que eu tenho a
continuação da Refer.
MANUEL GODINHO – Mas isso do Correio da manhã não dá nada, pois não?
DR. MELCHIOR GOMES – Eu tenho a impressão que aquilo... ahaem... Eh pá,
de qualquer forma, a gente... Ali... Aliás foi... foi interessante... porque não sei
se reparou...
MANUEL GODINHO – Sim...
DR. MELCHIOR GOMES – Que eles agora... Esta história com a... com a... com
aquela empresa de Viseu, como é que se chama? A... A Visabeira...
MANUEL GODINHO – Sim.
DR. MELCHIOR GOMES – Viu que a... a notícia... hum?
MANUEL GODINHO – Sim...
DR. MELCHIOR GOMES – Foi dada, de uma forma muito mais suave
MANUEL GODINHO – Exactamente. Nem atacavam ninguém directamente.
DR. MELCHIOR GOMES – (sobreposto) Ninguém, minguem. Ninguém, quer
dizer: É uma notícia correcta.
MANUEL GODINHO – Pois, tou a ver.
DR. MELCHIOR GOMES – Ha... ha... Serve... Vai servir de termo de
comparação.
MANUEL GODINHO – Pois.
DR. MELCHIOR GOMES – Pois. Vejam lá: quer dizer, isto... É Exactamente a
mesma coisa, hum?
MANUEL GODINHO – Pois.
DR. MELCHIOR GOMES – E aqui não há bandidos, nem chefes de bandos, nem
nada, não é?
MANUEL GODINHO – Exactamente.
DR. MELCHIOR GOMES – E na outra houve.
MANUEL GODINHO – Ora bem, o... Dificilmente o Tribunal condena a... a
pagar, não é?
DR. MELCHIOR GOMES – Pois. Aham... É. Eu de qualquer forma vou levar um
exemplar do... do Correio da manhã desta., da Visabeira.
MANUEL GODINHO – Sim.
DR. MELCHIOR GOMES – Também parta juntar.
MANUEL GODINHO – Exacto.
DR. MELCHIOR GOMES – P´ra fazerem a comparação.

803
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Pois Pronto, é isso mesmo.


DR. MELCHIOR GOMES – É. É uma... é... é diferente.
MANUEL GODINHO – Pronto. Temos que começar avançar... A pensar nisso...
DR. MELCHIOR GOMES – Tá bem.
MANUEL GODINHO – Temos que pensar nisso, porque... porque nós fomos
altamente prejudicados. Não só na Refer, noutras empresas, não é?
DR. MELCHIOR GOMES – (imperceptível) Eu sei.
MANUEL GODINHO – Ahaem... Deixe ver. Eu amanhã vou ter um almoço aqui
com uma... com uns indivíduos... e... e já me vou aconselhar, tá a ver?
DR. MELCHIOR GOMES – Tá bem.
MANUEL GODINHO – E ó depois a gente fala.
DR. MELCHIOR GOMES – Diga alguma coisa. Olhe...
MANUEL GODINHO – (sobreposto) Tá.
DR. MELCHIOR GOMES – O... o Bruno que faça o favor de me dizer... De dar
uma apitadela para o telemóvel, quando receber.
MANUEL GODINHO – Tá bem , ok.
DR. MELCHIOR GOMES – Que é para eu ficar sossegado.
MANUEL GODINHO – Tá bem, ok, sô tôr.
DR. MELCHIOR GOMES – Pronto.
MANUEL GODINHO – Tá, um abraço, até logo
DR. MELCHIOR GOMES – Até logo.

Produto 12593 - Alvo 1T167PM - 19/06/2009 10:53:00 - 938959707 


917649864 – Namércio Cunha  Manuel Godinho
Manuel Godinho pede a Namércio Cunha para insistir com o Dr. Melchior
para mandar uma cópia do acórdão e dá instruções para ele mandar fazer três cópias
e colocar em envelopes separados.

Produto 12593, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

804
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PRODUTO Nº: 12593


DATA/HORA: 19-06-2009 10:53:00
INTERVENIENTES:
• DE – NAMÉRCIO CUNHA
• PARA – MANUEL GODINHO

NAMÉRCIO CUNHA – Sim?


MANUEL GODINHO – Sim.
NAMÉRCIO CUNHA – Então?
MANUEL GODINHO – Ó Namércio, ahem... depois ligas ao dou... ou mandas
ligar, ao Dr. Melchior Gomes...
NAMÉRCIO CUNHA – Sim...
MANUEL GODINHO – Que eu já falei com ele. Para mandar uma cópia, do
acórdão da Relação. E depois, mandas-me fazer duas ou três...
NAMÉRCIO CUNHA – Tá bem.
MANUEL GODINHO – Aí umas três... cópias, e metes em cima da minha
secretária
NAMÉRCIO CUNHA – Tá bem.
MANUEL GODINHO – Tás a perceber?
NAMÉRCIO CUNHA – Quer envelopes separados, não é?
MANUEL GODINHO – Sim, sim, envelopes separados
NAMÉRCIO CUNHA – Eu mando preparar três processos.
MANUEL GODINHO – Pronto, é fazer isso.
NAMÉRCIO CUNHA – Ok.
MANUEL GODINHO – Ok?
NAMÉRCIO CUNHA – Tá. Tá bom.
MANUEL GODINHO – Ahem... Já mandaste a proposta para a Figueira?
NAMÉRCIO CUNHA – Já.
MANUEL GODINHO – E atão?
NAMÉRCIO CUNHA – Aham... Estou a deixá-los, agora, analisar. Eu para já
ainda pus um custo, para eles. Pus, um... custo a... Mas agora vou falar com
eles.
MANUEL GODINHO – ok
NAMÉRCIO CUNHA – É (imperceptível) depois. Depois, aham... e
(imperceptível)

805
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Pronto, é ver isso.


NAMÉRCIO CUNHA – É, não... mais um bocado... Eu hoje, já... já vou saber
(imperceptível)
MANUEL GODINHO – Tá, ok.
NAMÉRCIO CUNHA – ok. Tá, até já.
MANUEL GODINHO – Tá, até já.

Produto 12783 - Alvo 1T167PM - 22/06/2009 09:59:01 - 917649864 


917208501 – Manuel Godinho  Dr. Melchior Gomes
Melchior Gomes informa que a REFER recorreu para o Supremo Tribunal de
Justiça.
Manuel Godinho, referido-se à REFER, pergunta se eles não conseguirão dar
a volta no Supremo. Melchior Gomes responde que pensa que não, mas que eles
também conhecem lá gente e boa.

Produto 12783, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 12783


DATA/HORA: 22-06-2009 9:59:01
INTERVENIENTES:
• DE – MANUEL GODINHO
• PARA – DR. MELCHIOR GOMES

DR.
MELCHIOR GOMES – Tá?
MANUEL GODINHO – Sim.
DR. MELCHIOR GOMES – Tou, bom dia.
MANUEL GODINHO – Bom dia, Senhor Doutor
DR. MELCHIOR GOMES – Tudo bem consigo?
MANUEL GODINHO – Tá tudo. E consigo?
DR. MELCHIOR GOMES – Óptimo. Olhe, eles interpuseram recurso.
MANUEL GODINHO – Diga?

806
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

DR. MELCHIOR GOMES – Interpuseram recurso.


MANUEL GODINHO – Eles?
DR. MELCHIOR GOMES – Ele, o... o (imperceptível) de Feira.
MANUEL GODINHO – Ai é?
DR. MELCHIOR GOMES – É. Aham, isso só... aliás, isso esperava-se, não é? Ele
não ia ficar quieto. Aham... Mas portanto, ele agora, o que fez foi apenas
atravessar o requerimento. Agora, aham.. depois de recebido, tem... tem um
caso para alegar.
MANUEL GODINHO – Pois.
DR. MELCHIOR GOMES – De qualquer forma, o recurso tem efeito meramente
devolutivo. Quer dizer: A decisão neste momento, é de que... a... o... a, a
primeira instância foi revogada, portanto, não existe nenhuma dívida nossa
para com a REFER
MANUEL GODINHO – Pois. Portanto, isso já acabou, não é? (Pausa) Tou?
DR. MELCHIOR GOMES – Tou? Tou, s...
MANUEL GODINHO – Essa parte já acabou, não é?
DR. MELCHIOR GOMES – Qual parte?
MANUEL GODINHO – A parte de... do pagamento à REFER
DR. MELCHIOR GOMES – Pronto, essa está, está...
MANUEL GODINHO – Está arrumada. Já não...
DR. MELCHIOR GOMES – Está arrumada, embora agora o... eles tenham
recorrido para o Supremo, hã?
MANUEL GODINHO – Pois. E isso no Supremo que tempo é que vai demorar?
DR. MELCHIOR GOMES – Aham... Hum... Dois meses e meio, mais ou menos.
Ai mete-se a... as férias
MANUEL GODINHO – É só (imperceptível), os gajos.
DR. MELCHIOR GOMES – É. Mete-se o mês de férias... Mas de qualquer forma,
a decisão, é... Esta decisão da Relação é defi... é... é execu... é exequível,
portanto, quer dizer: Na situação actual, em relação à Macedo de Cavaleiros,
não existe dívida.
MANUEL GODINHO – Exactamente.
DR. MELCHIOR GOMES – Prontos. Esta é que é a situação
MANUEL GODINHO – Já não existe dívida.
DR. MELCHIOR GOMES – Ou não existe!
MANUEL GODINHO – Pois. Não existe. Aham... Mesmo que o Supremo...

807
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

DR. MELCHIOR GOMES – O Supremo não altera. Não pode alterar a matéria de
facto
MANUEL GODINHO – Não?
DR. MELCHIOR GOMES – Não. Na matéria de facto provou-se... o que se prova,
hum?, é que... houve uma determinada quan... houve a... um indeterminado
levantamento ou carregamento de... de carril, cujo valor não se sabe.
MANUEL GODINHO – Pois.
DR. MELCHIOR GOMES – Este é que é os factos. Estes factos não são alterados.
MANUEL GODINHO – Pois. E a outra parte...
DR. MELCHIOR GOMES – E com... e com base... E com base na acção... foi
posta com base...
MANUEL GODINHO – Pois
DR. MELCHIOR GOMES – Num simples... num simples não locupletamento,
portanto, no princípio do enriquecimento sem causa, e esse foi considerado
que estava prescrito.
MANUEL GODINHO – Pois.
DR. MELCHIOR GOMES – E está.
MANUEL GODINHO – Está prescrito.
DR. MELCHIOR GOMES – Sim...
MANUEL GODINHO – Portanto, o Supremo aí não pode fazer nada, não é?
DR. MELCHIOR GOMES – Não, não, não.
MANUEL GODINHO – Mas os gajos não... não conseguiram dar a volta, lá no
Supremo?
DR. MELCHIOR GOMES – Eu tenho a impressão que não, mas a gente também
vai estar atenta, não é?
MANUEL GODINHO – Pois é.
DR. MELCHIOR GOMES – Nós vamos estar atentos. A gente conhece lá gente.
Muita gente. E boa.
MANUEL GODINHO – Pois. Pronto, é isso que temos que ver. Ou é
necessário... falar?
DR. MELCHIOR GOMES – Não, não. Não. É melhor
MANUEL GODINHO – Não?
DR. MELCHIOR GOMES – Não, atão aquilo primeiro que lá ... Isto vai lá só
chegar a... lá para daqui a quinze dias, três semanas. Lá mais para o princípio
de Julho. Primeira semana de Julho.

808
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Pois. O outro... senhor... aham,,, que eu mandei o


processo para analisar, diz...
DR. MELCHIOR GOMES – Mesquita?
MANUEL GODINHO – O outro senhor...
DR. MELCHIOR GOMES – (sobreposto) Ah, ah, tá bem
MANUEL GODINHO – ...que dei o processo para analisar... aham... diz-me que
não há hipótese nenhuma de recurso, não é?
DR. MELCHIOR GOMES – Quer dizer, o recurso, há...
MANUEL GODINHO – (sobreposto) Haver, há, mas...
DR. MELCHIOR GOMES – ... mas que o êxito dele é nulo.
MANUEL GODINHO – Exactamente.
DR. MELCHIOR GOMES – E tem razão. E tem razão.
MANUEL GODINHO – Exactamente.
DR. MELCHIOR GOMES – E tem razão.
MANUEL GODINHO – Aham... Mas os gajos é para protelar, não é?
DR. MELCHIOR GOMES – Sim, aham... É pra... quer dizer: Eu se tivesse na
posição deles, também interpunha o recurso, até por uma questão de... vá,
atão... tem que se interpor... mas perante a... a cliente, não é?
MANUEL GODINHO – Pois.
DR. MELCHIOR GOMES – E aquela coisa que tínhamos agora na sexta-feira,
com a ... com o Correio da Manhã...
MANUEL GODINHO – Sim.
DR. MELCHIOR GOMES – Foi adiado para o dia nove do dez.
MANUEL GODINHO – Eeeeeee...
DR. MELCHIOR GOMES – Nove de Outubro.
MANUEL GODINHO – (sobreposto) Setembro?
DR. MELCHIOR GOMES – De Outubro.
MANUEL GODINHO – (sobreposto) De Outubro? Eeeee com um carago.
DR. MELCHIOR GOMES – Por razões pessoais de ordem médica. Foi o Juíz a
falar: “Não poderei comparecer ao serviço, entre outros, no dia vinte e seis do
seis”. Isto é o Juíz. Foi adiando por... por motivo do Juíz.
MANUEL GODINHO – Ahem... Eu no Sábado tive com algumas pessoas... Que
veio muita gente para aqui para Aveiro, pró Carlos Candal...
DR. MELCHIOR GOMES – Hum hum, pró funeral, pois.

809
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Sim. E o... o que me disseram, é que nós deveríamos


rea... de reagir... deveríamos reagir, deveríamos ir para a comunicação social.
Porque, se não for assim, o gajo vaio continuar a.... (imperceptível)
DR. MELCHIOR GOMES – Pois. Agora... agora a comunicação social... Pois...
temos... temos que... encontrar... encontrar uma... uma... uma porta de... de
entrada, não é? Gente da comunicação social.
MANUEL GODINHO – Pois.
DR. MELCHIOR GOMES – Aí o... Pois, os gajos, quando foi, ladraram muito,
agora convinha que também... Quando foi do... do processo, e tudo o mais,
ladra...
MANUEL GODINHO – Pois, pois.
DR. MELCHIOR GOMES – Ladraram, ladraram, ladraram que se fartaram, não
é?
MANUEL GODINHO – E até... e até pôr... até pôr no jor... no... na comunicação
social... a intenção da O2, que é... mover um processo-crime contra o sr.
Presidente. e Vice-presidente, com pedido de indemnização de cinco milhões
de Euros.
DR. MELCHIOR GOMES – Hum hum. Temos que estudar a forma de chegarmos
lá. Ó... á Comunicação.
MANUEL GODINHO – Aham... Ora bem. Isso é fazer uma carta e mandar, não
é?
DR. MELCHIOR GOMES – Ahem... não é bem assim. Eu vou... eu vou ver qual é
a melhor maneira.
MANUEL GODINHO – Pronto...
DR. MELCHIOR GOMES – A melhor maneira... a melhor maneira de chegar lá.
MANUEL GODINHO – Pronto, é ver isso, e dizer-me a... dizer-me alguma coisa,
que é para a gente (imperceptível)
DR. MELCHIOR GOMES – Tá bem. Tá bem.
MANUEL GODINHO – Aham... O outro senhor, aquele... aquele seu colega...
DR. MELCHIOR GOMES – Mesquita?
MANUEL GODINHO – Fez-me... Exactamente. Fez uma pergunta... fez uma
pergunta que se queria ir para a comunicação social, não é?
DR. MELCHIOR GOMES – Hum hum.
MANUEL GODINHO – Eu na altura disse. “Aham, acho que nem vale a pena”,
não sei quê, não sei mais quantas.
DR. MELCHIOR GOMES – Ele, ele hoje vai falar comigo, agora ao fim da manhã,
que ele disse que me telefonava.
MANUEL GODINHO – Mas você, o que eu lhe tou a dizer, você...

810
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

DR. MELCHIOR GOMES – Sim. Faço de conta que não sei.


MANUEL GODINHO – ...você faça isso. Porque ainda na quinta-feira...
DR. MELCHIOR GOMES – Sim...
MANUEL GODINHO – Na quinta-feira... a menina... chamou o... chamou o... o
presidente da CP, e demitiu-o.
DR. MELCHIOR GOMES – Ai sim?
MANUEL GODINHO – É. Demitiu-o. E depois, o chefe, teve que ir contrariar a
gaja. Mas a gaja... continua... continua... a fazer... (imperceptível)
DR. MELCHIOR GOMES – (sobreposto) A querer o poder, não é?
MANUEL GODINHO – (sobreposto – imperceptível), tá a ver?
DR. MELCHIOR GOMES – (sobreposto) Apesar do... apesar do... Ah! Pois.
MANUEL GODINHO – Acho que diz... dizem eles que se nós não reagirmos, se
não reagirmos, que tudo vai continuar igual.
DR. MELCHIOR GOMES – Por i...
MANUEL GODINHO – E eles não nos vão dar hipótese nenhuma.
DR. MELCHIOR GOMES – Pois, tou a perceber.
MANUEL GODINHO – Que se não for... pressionados, dessa forma, que...
DR. MELCHIOR GOMES – Sim, eu estou a perceber.
MANUEL GODINHO – Está a perceber?
DR. MELCHIOR GOMES – Tou sim senhora.
MANUEL GODINHO – Portanto... nós na R... na RTP... na RTP1, na altura
vieram cá... vieram cá para nos defendermos. Aliás, a entrada deles foi e... foi
exactamente isso. Percebe?
DR. MELCHIOR GOMES – Pois.
MANUEL GODINHO – Se a gente fizesse um textozinho e mandasse para lá?
DR. MELCHIOR GOMES – É uma ideia.
MANUEL GODINHO – Tá a ver?
DR. MELCHIOR GOMES – Tou
MANUEL GODINHO – Aham... Você às tantas faça esse texto, diz...
DR. MELCHIOR GOMES – Tá bem
MANUEL GODINHO – Diz que... E a gente manda para lá.
DR. MELCHIOR GOMES – Sim senhora.
MANUEL GODINHO – E ao depois a comunicação social vai atrás disso tudo,
não é?

811
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

DR. MELCHIOR GOMES – Ah pois vai.


MANUEL GODINHO – Pronto, é isso. Tá a ver?
DR. MELCHIOR GOMES – Tou
MANUEL GODINHO – Faça esse textozinho que eu mando... mando fazer isso.
DR. MELCHIOR GOMES – Tá bom.
MANUEL GODINHO – Ok
DR. MELCHIOR GOMES – Sim senhora.
MANUEL GODINHO –Tá, ok, até já.
DR. MELCHIOR GOMES – Até já.

Produto 12494 - Alvo 38250PM - 30/07/2009 15:38:16 - 938959707


933881134 – Namércio Cunha  Elsa
Namércio Cunha pede a Elsa para enviar um fax dirigido a Eng.º Luís
Pardal, Palácio de Coimbra, solicitando a marcação de uma reunião.

Produto 12494, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

Dados do Produto

Número de produto do alvo 12494

Alvo 38250PM

ID de Intercepção 351938959707 (Namécio Cunha)

A chamar 351938959707 (Namécio Cunha)

Hora inicial 30/07/2009 15:38:16

Destinatário 351933881134 (Elsa)

ELSA – Sim? Sim?


NAMÉRCIO CUNHA – Sim.
ELSA – Sim.
NAMÉRCIO CUNHA – Ando aqui a correr por tua causa.
ELSA – Ai está uma crise…

812
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

NAMÉRCIO CUNHA – (*) se estivesses aqui já te tinham posto aqui


pendurada
ELSA – É?
NAMÉRCIO CUNHA – Olhe…duas coisas. Os telefones estão a funcionar ou
quê?
ELSA – Está, tá, tá
NAMÉRCIO CUNHA – Prontos. Segunda situação…preciso que me mandes
um fax…que me faças um fax em meu nome para mandar ao engenheiro Luís
Pardal.
ELSA – Sim…
NAMÉRCIO CUNHA – É o presidente da administração…do conselho de
administração da REFER. Vai depois à pasta, em papel ou no computador,
deve haver lá comunicações para ele, já, faxes…deve estar lá …o local onde
ele está é o Palácio de Coimbra.
ELSA – Hum
NAMÉRCIO CUNHA – Eh, se não tiver…se não encontrares o número de fax
liga ao Bruno…
ELSA – Sim
NAMÉRCIO CUNHA – …. que eles têm lá o número de fax dele…que é de
onde está o conselho.
ELSA – Sim
NAMÉRCIO CUNHA – O assunto…eh…(*) que é…portanto…solicitação de
reunião de trabalho. (pausa) Depois…eh…vais…eh…o objectivo é isto…vais
solicitar nos seguintes termos, mais ou menos, no seguimento…digamos
…tendo em conta que, eh, a importância da REFER como cliente para a nossa
empresa e depois de vários anos de trabalho conjunto com…de trabalho
conjunto e, digamos, um bom relacionamento que aconteceu durante vários
anos ou de um bom trabalho, pronto…não vamos para a parte de
relacionamento…eh, e tendo em conta o facto desde os anos mais recentes
não ter havido oportunidades…de ter havido, eh, ocorrências de trabalhos ou
não ter havido possibilidades de não nos ter sido dadas oportunidades de
podermos, eh, retomar trabalhos, pá, eh, vimos a solicitar uma reunião com
o objectivo de debater eventuais problemas entre as empresas e
oportunidades de podermos vir apresentar propostas de disponibilizar os
nossos serviços à vossa empresa. Assim aguardamos a marcação de uma
reunião tal, tal, agradecendo…pronto. Rebusca depois isso, está bem.
ELSA – Tá.
NAMÉRCIO CUNHA – E depois …eu vou entrar para uma reunião. Depois…
ELSA – Mas espere lá que eu tenho de falar consigo. É urgente.
NAMÉRCIO CUNHA – Rápido, rápido, rápido. (*) rápido (*) à minha espera.

813
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

ELSA – Eu não posso desmarcar (*) de amanhã. Eles já queriam hoje, diz que
aquilo está um caos (*)
NAMÉRCIO CUNHA – Pode ser troca de contentor?
ELSA – Hã?
NAMÉRCIO CUNHA – Pode ser troca de contentor?
ELSA – Não.
NAMÉRCIO CUNHA – Pronto, então…
ELSA – (*) buracos por todo o lado (*) a dizer O2
NAMÉRCIO CUNHA – Já falamos então. Tá? Eu ligo-te. Ciao.
ELSA – Pronto.
(*) Imperceptível

Produto 12515 - Alvo 38250PM - 30/07/2009 17:27:36 - 938959707


933881134 – Namércio Cunha  Elsa
Elsa lê o fax a enviar à REFER.

Produto 12515, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

Dados do Produto

Número de produto do alvo 12515

Alvo 38250PM

ID de Intercepção 351938959707 (Namécio Cunha)

A chamar 351938959707 (Namécio Cunha)

Hora inicial 30/07/2009 17:27:36

Destinatário 351933881134 (Elsa)

ELSA – Sim
NAMÉRCIO CUNHA – (*)
ELSA – Sim. Quer que lhe leia o fax ou posso enviar?
NAMÉRCIO CUNHA – (*) Leia lá então.

814
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

ELSA – Está muito barulho.


NAMÉRCIO CUNHA – É. Diz. Estamos aqui numa guerra.
ELSA – Numa guerra…aqui também está uma guerra. Os clientes possessos
mas pronto…
NAMÉRCIO CUNHA – Diz
ELSA – Amanhã é que vai ser bonito quando eles começarem a ligar.
NAMÉRCIO CUNHA – Diz
ELSA – A O2 Tratamento e Limpeza Ambientais como empresa de gestão de
resíduos e desmantelamento industriais que opera a nível nacional sempre
desenvolveu trabalhos diversos com a REFER que considera ser um cliente de
elevada importância nas áreas de mercado em que actua. Somos uma
empresa certificada para os serviços superiormente apresentados, tendo
desenvolvido metodologias de trabalho de forma a ir cada vez mais ao
encontro das necessidades dos seus clientes. Dado nos últimos anos não lhes
ter sido dada a possibilidade de apresentar propostas de serviço às vossas
consultas de mercado, vimos solicitar que nos seja agendada uma reunião de
trabalho onde possamos vir debater possíveis divergências existentes entre a
O2 e a REFER a fim de futuramente poder vir a apresentar propostas de
fornecimento de serviços às vossas consultas. Ficando aguardar uma data
para a reunião de trabalho, subscrevemos com elevada consideração.
NAMÉRCIO CUNHA – Ok.
ELSA – Tá?
NAMÉRCIO CUNHA – Hum…parece-me bem. Parece-me bem (*)
ELSA – Pronto, eu meti aqui pelo meio assim uns blá-blás …para não ficar…
NAMÉRCIO CUNHA – Sim, sim. Ok. Tá.
ELSA – Tá.
NAMÉRCIO CUNHA – Manda isso em meu nome. Está bem?
ELSA – Sim, sim. Está.
NAMÉRCIO CUNHA – (*) tiveste o fax dele.
ELSA – Já, já, já. Já arranjei. Tá?
NAMÉRCIO CUNHA – Tá.
ELSA – Pronto. Até já.
(*) Imperceptível

Produto 16809 - Alvo 1T167PM - 03/08/2009 09:35:23 - 914008899 


917649864 – Carlos Vasconcellos (REFER)  Manuel Godinho

815
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Godinho informa Vasconcellos que ainda não lhe responderam ao


pedido de reunião, mas que vão começar a preparar um dossiê para puxar pelos
direitos deles.
Carlos Vasconcellos diz que tem que se entalar o gajo.

Produto 16809, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 16809


DATA/HORA: 03/08/2009 09:35:23
INTERVENIENTES:
• DE – MANUEL GODINHO
• PARA – Carlos Vasconcelos (Refer)

Carlos Vasconcelos (Refer) – Bom dia, está tudo bem ?


MANUEL GODINHO – Bom dia, está tudo, doutor
Carlos Vasconcelos (Refer) – Está tudo calmo por aqui e aí também ? Anda
tudo calmo, não é ?
MANUEL GODINHO – Tudo calmo
Carlos Vasconcelos (Refer) – Não recebeu resposta lá do gajo
MANUEL GODINHO – Não, não recebi
Carlos Vasconcelos (Refer) – Ai o cabrão
MANUEL GODINHO – Não vai dar o gajo, não
Carlos Vasconcelos (Refer) – Não vai não, você manda outra
MANUEL GODINHO – E depois vou mandar outro, vou mandar outro e eh pá,
pronto, temos que ver e vamos constituir um
Carlos Vasconcelos (Refer) – um dossier
MANUEL GODINHO – um dossier pra (…) os nossos direitos, não é ?
Carlos Vasconcelos (Refer) – pois, pois, pois; é de entalar o gajo
MANUEL GODINHO – Exactamente
Carlos Vasconcelos (Refer) – Oh Godinho, também tenho a falar outra coisa,
pá ontem roubaram-me aquele telefone que eu tenho seu, eu posso pedir aí
ao Bruno um cartão novo pró telefone ?
MANUEL GODINHO – Está de férias, pá.

816
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Carlos Vasconcelos (Refer) – Então posso pedir a quem


MANUEL GODINHO – Ora bem, esta semana vai ser difícil
Carlos Vasconcelos (Refer) – Então está bem, então deixe estar, pra semana
tratamos disso
MANUEL GODINHO – Lá pra semana, pra outra
Carlos Vasconcelos (Refer) – Eh pá, eu tinha aquilo sem bateria, tinha dentro
do carro, houve um cabrão que me roubou aquela merda, desses putos, estava
sem bateria, portanto o gajo não pode fazer chamadas que aquilo tem um PIN
tem tudo, que eu estava também com problemas é que o gajo pudesse fazer
chamadas, assim não faz chamadas nenhumas, está a ver ?
MANUEL GODINHO – OK
Carlos Vasconcelos (Refer) – eu pra semana vejo isso
MANUEL GODINHO – Depois para a semana ou qualquer coisa, está ?
Carlos Vasconcelos (Refer) – Você agora vai de férias, é ?
MANUEL GODINHO – Pá, estamos, isto está, quer dizer não pára totalmente,
que há pessoas que não têm direito a férias, não é ? Mas está tudo um bocado
Carlos Vasconcelos (Refer) – Um bocado parado, não é ? Eu vou continuando
a ir lá se houver novidades eu vou-lhe dando, está bem ?
MANUEL GODINHO – Está bem doutor
Carlos Vasconcelos (Refer) – Um grande abraço

Produto 13923 - Alvo 38250PM - 11/08/2009 17:24:21 - 917649864


 938959707 – Manuel Godinho  Namércio Cunha
Namércio Cunha informa que a REFER marcou a reunião para o dia 18, às 5
horas.
Manuel Godinho diz que agora não queria que eles respondessem.

Produto 13923, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

Dados do Produto

Número de produto do alvo 13923

817
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Alvo 38250PM

ID de Intercepção 351938959707 (Namércio Cunha)

A chamar 351917649864 (Manuel Godinho)

Hora inicial 11/08/2009 17:24:21

Destinatário 351938959707 (Namércio Cunha)

Namércio Cunha – Sim


MANUEL GODINHO – Sim, Namércio; como é que está a correr
Namércio Cunha – Falta saber uma situação, falta uma
MANUEL GODINHO – Até que horas ?
Namércio Cunha – Não tem hora, não vamos ver o que é que isto dá; bem
vamos com calma, eu estou no Barreiro vou sair para ir pra cima, para depois ir
acompanhando isto, porque isto tem que ser mandado
MANUEL GODINHO – (…) meia-noite ?
Namércio Cunha – Pois, em último caso, olhe eu dou-lhe a questão, olhe,
havia, o que é que havia, pra semana tem uma reunião no dia 18, às 5 horas,
aqui com os seus amigos da Refer
MANUEL GODINHO – Quais
Namércio Cunha – Sim
MANUEL GODINHO – Ai os gajos mandaram marcar ?
Namércio Cunha – Já, ligou-me a secretária, a marcar para o dia 18
MANUEL GODINHO – Do pardal, é ?
Namércio Cunha – Sim
MANUEL GODINHO – E cum caralho, para o dia 18 a que horas ?
Namércio Cunha – Cinco horas
MANUEL GODINHO – Grande cabrão; no dia 18
Namércio Cunha – É terça-feira, de hoje a oito
MANUEL GODINHO – É de hoje a oito, ok, pronto, tenho que ir aí
Namércio Cunha – Fique a contar
MANUEL GODINHO – É uma hora que não me convém muito, mas está bem
Namércio Cunha – Fique a contar para se ir lá
MANUEL GODINHO – Ok
Namércio Cunha – Você não estava à espera que respondessem, não é ?

818
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Eu não queria que tivessem respondido


Namércio Cunha – Pois, mas também está a jogar na defensiva, pronto, olhe,
é isso
MANUEL GODINHO – Vamos com calma
Namércio Cunha – estava mais naquela que eles iam mandar algum fax a
desculparem-se, mas olha, não querem, pois mas não querem
MANUEL GODINHO – Pois que o gajo agora já está à rasca, estás a ver
Namércio Cunha – Vamos com calma
MANUEL GODINHO – O gajo está à rasca; ok
Namércio Cunha – Está tudo bem, até já.

Produto 17554 - Alvo 1T167PM - 11/08/2009 17:24:16 - 917649864 


938959707– Manuel Godinho  Namércio Cunha
Namércio Cunha informa Manuel Godinho que no dia 18 tem uma reunião
com o presidente do conselho de administração.
Manuel Godinho diz que não queria que eles tivessem respondido.

Produto 17748 - Alvo 1T167PM - 13/08/2009 10:43:55 -


917649864 914008899– Manuel Godinho  Carlos Vasconcellos (REFER)
Manuel Godinho informa Carlos Vasconcellos que vai ter uma reunião com o
presidente da REFER na terça-feira às 05h00 da tarde.
Manuel Godinho diz que, nesta fase, não queria falar com ninguém.
Carlos Vasconcellos diz que pode ser que ele queira dar alguma coisa.
Manuel Godinho diz que ele fez tanta asneira que as pessoas não lhe vão
perdoar.
Manuel Godinho diz que vai começar por contar mais ou menos o que se passou,
depois vai-lhe dizer que ele não tem culpa nenhuma, mas que os prejuízos causados
ascendem a mais de seis milhões de euros, para ver a reacção dele.

819
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 17448, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:
PRODUTO Nº: 17748
DATA/HORA: 13/08/2009 10:43:55
INTERVENIENTES:
• DE – MANUEL GODINHO
• PARA – Carlos Vasconcelos (Refer)

Carlos Vasconcelos (Refer) – Estou, bom dia Godinho


MANUEL GODINHO – Olá doutor; Bom dia
Carlos Vasconcelos (Refer) – Tudo bem
MANUEL GODINHO – Está tudo e consigo
Carlos Vasconcelos (Refer) – Também, estamos aqui parados sem fazer nada,
não é
MANUEL GODINHO – Ai é
Carlos Vasconcelos (Refer) – Tudo muito calmo, esta semana e a outra não vai
haver nada, não é
MANUEL GODINHO – Esta semana e a outra ? Sabe que o senhor presidente
mandou-me um fax
Carlos Vasconcelos (Refer) – Ai sim e então
MANUEL GODINHO – Vou ter uma reunião com ele na terça-feira
Carlos Vasconcelos (Refer) – Pois, porque o Vicente Pereira não está cá
MANUEL GODINHO – As 5 horas da tarde
Carlos Vasconcelos (Refer) – Boa, boa, boa
MANUEL GODINHO – Não, mas não é nada bom, digo-lhe já
Carlos Vasconcelos (Refer) – Não, você, terça-feira juntamo-nos para
conversar um bocado
MANUEL GODINHO – Mas não é nada bom, digo-lhe já
Carlos Vasconcelos (Refer) – Não sei
MANUEL GODINHO – Nesta fase do campeonato, não queria falar com
ninguém
Carlos Vasconcelos (Refer) – Está bem ,mas o gajo também é capaz de estar
morto e querer dar qualquer coisa, está a ver ? Se ele perceber que está a ser
muito pressionado, não sei

820
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Não, ele não tem mais para onde sair, está a ver, ele fez
tantas asneiras, que ninguém lhe vai perdoar
Carlos Vasconcelos (Refer) – Ai isso não, não, mas nós temos que fazer o
mesmo jogo que o gajo, não é ? Um gajo diz que sim, sim e
MANUEL GODINHO – Mas você não antecipe nada, calma
Carlos Vasconcelos (Refer) – Não antecipo nada, não antecipo nada
MANUEL GODINHO – Porque a conversa até pode correr mal, não é ?
Carlos Vasconcelos (Refer) – Eu não vou dizer nada
MANUEL GODINHO – Diga ?
Carlos Vasconcelos (Refer) –Eu não vou dizer nada, vou estar caladinho,
sossegadinho
MANUEL GODINHO – Você vai estar calado e eu vou começar por, começar
por dizer mais ou menos o que se passou, está a ver e dizer que ele que não
tem culpa nenhuma, induzido em erro e não sei e não sei mais quantas e que
os prejuízos por baixo que ascendem os seis milhões de euros, está a perceber
? A ver qual a reacção dele
Carlos Vasconcelos (Refer) – A ver qual é a reacção dele, precisa de trabalho,
precisa de trabalho e que o gajo lhe dê trabalho para pelo menos repor um
bocadinho, está a ver
MANUEL GODINHO – Exactamente, e ele e ele, não sei; nesta fase eu não sei
que é que ele quer, está ver
Carlos Vasconcelos (Refer) – Está bem, mas pelo menos há- de querer
qualquer coisa, tanto que o mandou chamar, não é ? Agora resta saber é se vai
ser ele e o outro, ou se é só ele, está a ver ?
MANUEL GODINHO – Ele e o Vicente, é ?
Carlos Vasconcelos (Refer) – Sim, sim, sim; o gajo é capaz de ter medo e
meter o Vicente lá pra dentro, está ver
MANUEL GODINHO – Mas se ele está de férias
Carlos Vasconcelos (Refer) – Está de férias mas para a semana acho já vem,
mas eu posso saber isso, se o gajo está cá na terça-feira ou não
MANUEL GODINHO – Não, mas aí eu posso dizer, olhe, isto, isto é assim, eu aí
tenho que reduzir, tenho que falar o mínimo, percebe?
Carlos Vasconcelos (Refer) – Sim, sim, você tem de ouvir, ouvir
MANUEL GODINHO – pois, é que os gajos, os gajos são muito homens para
estar de má-fé
Carlos Vasconcelos (Refer) – Pois, para serem dois pode estar de má-fé, está
a perceber? Você vai ouvir o que os gajos têm para dizer
MANUEL GODINHO – Exactamente

821
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Carlos Vasconcelos (Refer) – Vai só ouvir


MANUEL GODINHO – Exactamente; pronto e é isso
Carlos Vasconcelos (Refer) – Eu terça-feira
MANUEL GODINHO – A gente vai falando
Carlos Vasconcelos (Refer) – Para lhe dar um bocado de apoio
MANUEL GODINHO – Um abraço

Entendemos que, das diligências de instrução requeridas pelo arguido


Carlos Vasconcellos não resultaram quaisquer elementos que infirmem o juízo
indiciário formulado na acusação.

Na verdade, as testemunhas inquiridas foram-no com propósitos


essencialmente abonatórios.

E destas poucas foram as que ultrapassaram considerações gerais.

As que o fizeram revelaram ligações pessoais com o arguido que


enfraqueceram de sobremaneira o seu depoimento.

Uma excepção houve e em nada contribuiu para a defesa do arguido.

Muito pelo contrário.

A testemunha Marques Guedes, após alguma relutância inicial fruto da


relação de amizade que o prende ao arguido, acabou por admitir que pudesse
ter instruído Helena Neves a não atender a quaisquer pedidos feitos pelo
arguido Carlos Vasconcellos, supostamente em nome do CA da REFER.

Por todo o exposto, face aos indícios discriminados, entende-se que o


arguido Carlos Vasconcellos terá que ser pronunciado pelos factos e pela
incriminação constantes da acusação que contra si foi deduzida.

822
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Destarte, deverá o arguido Carlos Vasconcellos ser pronunciado


nos precisos termos da acusação, por se mostrarem verificados indícios
que, neste tocante, inculcam um juízo de prognose, conducente à
consideração de que é mais forte a probabilidade da sua condenação do
que a exoneração da sua responsabilidade.

******

Vieram os arguidos Paulo Pereira da Costa e Manuel Nogueira da


Costa, notificados da acusação, apresentarem a sua defesa nos termos
constantes do RAI, constante de fls. 28260 e ss, que aqui se dá por
reproduzido.

Vieram os arguidos, arrolar, no RAI, as seguintes testemunhas:

António José Oliveira Gonçalves


É sucateiro e trabalha com arguido Paulo Costa há 4/5 anos.
Não está de mal com o arguido Costa
A respeito dos factos inseridos no RAI, esclareceu que o material é
entregue nas instalações de Paulo Costa porque são os clientes que vão lá
deixar.
As guias são entregues ao Ivo, que pesa na balança e ele entrega-as à
Eng.º Elisabete, que não assiste à operação de entrega de material.
Disse não se recordar do nome da Engenheira referida acima, uma
vez que não está à beira dela, ela está lá há pouco tempo.
A testemunha disse que trabalha há 4 anos nas instalações a
descoberto e que é o Paulo Costa que lhe dá ordens, sempre ele que manda e
orienta as suas tarefas.
A testemunha nunca viu o Manuel Godinho a dar ordens a ninguém.

823
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Em instâncias do MP

A testemunha afirmou que sabem que os camiões são do Manuel


Godinho, que é dito pelo Paulo Costa com antecedência, para descarregar.
Não sabe com quem Paulo Costa negoceia e que tipo de relações tem
com Manuel Godinho.
Nunca viu o Mercedes do Manuel Costa, mas sim o BMW amarelo.
O Manuel Godinho ia de Jipe, viu-o lá umas 2 ou 3 vezes no ano.
Os filhos também lá iam para falar com o Paulo Costa.

Elisabete Pinho Santos, Engenheira do ambiente.


Trabalha para a Mantém Verde em Nogueira da Regedoura.
Disse conhecer Paulo Costa e Manuel Costa, uma vez que são os
seus patrões.
Nunca foi ouvida antes no âmbito deste processo.
A testemunha disse trabalhar na Mantém Verde há 3 anos, que
trabalha na parte do ambiente e na parte administrativa da empresa.
Também fazem reciclagem, separação do material, que são entregues
nos respectivos clientes.
Quem contacta com os clientes, no dia – a – dia é o Sr. Paulo Costa,
que toma decisão imediata, sem recorrer a outras pessoas, até – à presente
data.
Relativamente à busca domiciliária em Outubro de 2009,à sua
empresa, a testemunha disse não ter havido alteração na gestão da empresa,
antes e depois desta data, mantém tudo exactamente como estava.

A Mantém Verde situa-se em Ovar, e conta com duas instalações a


céu aberto e um armazém fechado.

824
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Disse que trabalham com Manuel Godinho a quem compram materiais


para reciclagem.
Manuel Godinho carrega e descarrega nas instalações da Mantém
Verde, as mercadorias.
Sobre a origem dela, não sabe, pois as facturas guias de remessa
apenas dizem “ nossas/ vossas instalações.

No tocante à bolsa de metais, a testemunha disse que a cotação dos


metais depende da cotação deles no mercado e evolui para cima ou para
baixo.
Paulo Costa não tem noção de onde vêm os materiais.
A testemunha também consulta a internet e dá informação a Paulo
Costa.
Disse que normalmente compram cobre, alumínio, não é verdade que
os quadros eléctricos tenham sido comprados e descarregados nas suas
instalações.
Não adquiriam a preços inferiores ao valor de mercado, senão podiam
cair em receptação.
Quando negoceiam uma carga e o resultado que aparece não é o
mesmo, mesmo após a descarga, devolvem o material.
Os documentos que acompanham as saídas são elaborados pela
TAXA.
Os materiais entram “fardados e saem “ desfardados”.

No que respeita à aquisição de quatro equipamentos caros a leasing,


estes foram adquiridos e avaliados por Paulo Costa, sem ajuda de Manuel
Godinho ou de ninguém.
Neste momento a Mantém Verde tem cerca de 7/8 trabalhadores e as
ordens são dadas apenas pelo Paulo Costa.

825
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Em instâncias do MP
Foi perguntado à testemunha o nome dos principais fornecedores da
Mantém Verde.
Foi lhe perguntado se conhecia alguns destes fornecedores: Neto
Araújo, a testemunha nunca ouviu falar.
Quanto pagamento dos fornecedores, vêm as facturas, controlam-se
os pesos e são emitidos cheques.
Também não conhece Bernardino Manuel Ramos Ferreira nem João
Reis e Manuel Reis, Luatrans, transportes, Lda, mas conhece a Axiomola, mas
apenas porque já viu facturas dessa empresa como fornecedora.
Disse que só toma contacto com a parte administrativa (não controla
as cargas).

A Mantém Verde também tem um camião e faz cargas.


Disse que às vezes vê chegar camiões.
Também afirmou não conhecer a REACHOUT, montagem e
comercialização de veículos, Sucata Aveiro, Fernando Américo de Jesus
Ferreira.
Todavia, disse conhecer a Ferricristal e Axiomola, porque já
trabalharam, só não sabe até quando, nem se depois da busca continuaram a
fazer.

Fernando Luís Baptista Ferreira Barbosa


Disse ser gerente da empresa FLB, comercialização e exportação
de sucatas, Lda., sita em Canelas, Vila Nova de Gaia.
Afirmou que concorda que a empresa que gere é uma das “ big five”
na área das sucatas.
Disse que Paulo Costa lhe fornece metais não ferrosos: Inox, alumínio,
cobre, latão.

826
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

A testemunha sabe que Paulo Costa sucedeu ao pai.


Os preços e valoração dos metais são definidos, baseados numa bolsa
de metais em Londres – LME – bolsa de commodities, os preços dependem
desta bolsa. São definidos por uma percentagem desta cotação.
“A cotação também depende da quantidade, da constância dos
fornecedores e da cedência do fornecimento, por exemplo, se vou vender 500
toneladas de alumínio, tenho de manter aquele preço até ao fim, e dos prazos
de entrega.”(sic)
No que toca a Paulo Costa, as mercadorias que são compradas são:
alumínio tipo de perfil, cafer, chapa, litografia.
Antes há uma segregação de materiais, O arguido vende-lhe os
materiais já separados.
À FLB vende, por exemplo, Cobre., é o seu fornecedor principal, tendo
uma relação intensa.
No tocante ao arguido Manuel Godinho, a testemunha disse não
conhecê-lo pessoalmente, conhecia as empresas dele de nome, ouviu falar
agora, depois da detenção, mais em pormenor.
Foi dito que a negociação do preço é exigente.
O arguido Paulo Costa tinha necessidade do “conforto” de alguém para
assinar, para concordar….
Falou quase numa base diária com o Paulo Costa e até no escritório
da TAXA.
A testemunha sempre decidiu por si, nunca disse que ia contactar, por
qualquer forma.
Paulo Costa nunca lhe pareceu ser um “ um homem de palha” de
ninguém.
Afirmou que ninguém revela as fontes, os fornecedores, porque o
número de empresas afunila até ao forno.
Se atacar os fornecedores dos fornecedores, quebra um “elo de
confiança” e nunca mais consegue compra-lhe mais nada.

827
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Em instâncias do MP
Não teve negócios com o Godinho, só uma vez há anos.
Nas empresas de Manuel Godinho entram todos os materiais, mas só
sai cobre.
Não compra cobre a Manuel Godinho, mas é um dos principais clientes
compradores de cobre, os Taxa.

João António Pereira Taxa


Empresário de resíduos – HERBAGREEN- há 2 anos, sita em Torres
Novas.

Disse conhecer Paulo Costa e Manuel Costa.


A testemunha antes teve uma empresa: ELIAS DE SOUSA TAXA, que
cessou a actividade em Novembro de 2009.
A testemunha afirmou que teve relações com as pessoas aqui
mencionadas,
Há mais de 50 anos que a empresa ELIAS trabalhava nos estaleiros
do Outeiro Pequeno em Torres Novas.
As relações acima referidas eram como fornecedor e cliente,
dependendo dos produtos que compram, tentando obter os melhores preços,
respectivamente.
Os pagamentos entre os Costa e os Taxa eram feitos por cheques,
letras.

Os camiões eram pesados à saída da Empresa TAXA e à chegada


aos Costa.
O preço era discutido em função do LME.
A empresa da testemunha trabalha com materiais não ferrosos.

828
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

A TAXA trabalha nesta actividade há mais de 32 anos e com os


Costas há mais de 20 anos.
Foi dito, ainda, pela testemunha que ainda ontem estiveram lá, nos
Costas e que estavam a descarregar em Torres Novas.
A testemunha trabalhou com o seu próprio pai e sucedeu-lhe e, no
caso dos Costas foi idêntico no tempo do pai, o Costa pedia “aval” ao pai e, por
isso, um delay entre o início da negociação e a decisão.
Disse que viu lá o Manuel Godinho como um vulgar cliente/
fornecedor.
Foi dito, também, que cada um preserva os seus contactos quanto à
origem das mercadorias, cada um preserva os seus fornecedores, uma vez que
os produtos são escassos.
Também trabalhou com o pai, Manuel Costa.

Em instâncias do MP
A testemunha disse que conhece a actividade do arguido Paulo Costa.
Viu lá alguns fornecedores.
Foram-lhe citadas algumas empresas, todavia não conhece nenhuma
delas: Neto Araújo; Ferricristal e Axiomola, Richout.

Joaquim Vieira Moreira


Trabalha como sucateiro, por conta própria, há cerca de 9 anos.
Conhece Paulo e Manuel Costa.
Como empresário que é tem relações comerciais com Manuel Costa,
vende Sucata para as empresas de Paulo Costa: Ferrovar e M5, Nogueira da
Costa

829
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

No âmbito da sua actividade o Manuel Costa vai ver o material que a


testemunha tem no estaleiro, quando não vai lá, confia na palavra da
testemunha.
O Manuel Costa dá-lhe um preço, a testemunha aceita ou não.
Quando aceita fica feito imediatamente o negócio, porque Manuel não tem de
falar com terceiras pessoas.
Há 20 anos que trabalha com Manuel Costa e sempre foi assim.
Disse Conhecer Manuel Godinho, pois viu-o umas vezes no estaleiro
do Manuel Costa, em condições normais.
Quando vendia, só falava com Manuel Costa.
A mercadoria era descarregada no estaleiro de Manuel Costa, em
camiões Joaquim Moreira e de Manuel Costa
Manuel Costa não tem logística, pois aproveita a do filho.
O pagamento é feito em numerário pelo Manuel Costa, porque a
testemunha assim o diz.
É normal o pagamento em numerário, outros clientes actuam da
mesma forma, ou seja, em numerário e não em cheque.

Em instâncias do MP
Disse saber que Manuel Costa teve problemas com dívidas e fechou
duas empresas que ele tinha: Ferrovar e a Nogueira da Costa.
Não sabe como deu a volta por cima. Não ouviu nada relacionado com
o facto de Manuel Costa ter recorrido a Manuel Godinho.
A testemunha pensava que o terreno onde está pertencia a Manuel
Costa e não Manuel Godinho.
Relativamente ao BMW 525 cinzento, pensava que era também de
Manuel Costa e não de Manuel Godinho.
O carro foi vendido e, mesmo assim, continuava a andar com ele.
Foi perguntado à testemunha se MANUEL Costa também manda na
empresa, afinal tem lá um cantinho, no perímetro à beira, aquilo é tudo junto.

830
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Quanto ao Mercedes, chegou a vê-lo na empresa, chegou a ver o


Paulo Costa nesse carro, mas não sabia se era dele ou não.

Em instâncias da Defesa de Paulo Costa


Foi perguntado à testemunha se acharia normal passar as suas coisas
para nome de terceiros para fugir aos credores.
A testemunha disse não ficar surpreendido, que isto é normal! [Esta
inversão de valores não percute o espírito do JIC].
Sabia das dificuldades de Manuel Costa, porque reduziu a actividade
comercial com a testemunha, não foi ninguém que lhe disse.
Até Outubro de 2009 tinha o Mercedes e utilizava-o no dia a dia.
Afirmou, ainda, que Manuel Costa foi visitado pelas Finanças e
fizeram-lhe fixações de impostos.

Jorge Manuel Silva Magalhães


Empregado da FLB, encarregado que recebe as mercadorias da
Mantém Verde.
Nunca foi ouvido antes no âmbito deste processo.
Nada tem contra os arguidos em causa.

A Mantém Verde é uma dos principais fornecedores da FLB.


Se for a Mantém verde, vem o motorista e identifica-se e eles recebem.
Carros da O2, a testemunha disse nunca ter vista na FLB.
Disse falar com Paulo Costa às vezes para reclamações de
mercadorias, ou seja, quando houver qualquer coisa de errado, fala com o
Eng.º Manuel Luís.
Disse passar a maior parte do tempo no armazém, pois é aí que
trabalha diariamente, mas que chegam toneladas da Mantém Verde (Paulo
Costa).
Disse ter contactado muito poucas vezes com o arguido Manuel Costa.

831
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Foi perguntado à testemunha se o arguido Paulo Costa seria uma


espécie de funcionário de Manuel Godinho.
A testemunha diz que não, até porque nas guias escreve o nome de
Paulo Costa e não de Manuel Godinho.
Afirmou que só agora é que conhece Manuel Godinho da TV e Jornais.
[O facto de constar nominalmente outra identidade, não exonera nem
preclude a hipótese de não corresponder ao verdadeiro outorgante, diz o JIC].

José Nuno Gonçalves da Silva


A testemunha é motorista de pesados.
Disse que trabalha para a Mantém Verde há 4 anos.
Antes trabalhava para o pai, Manuel Costa, durante 7 anos.
Afirmou que, de momento, está a trabalhar na máquina de triturar
alumínio.
Disse fazer sempre a pesagem do alumínio, que é leve, por causa da
tonelagem legal.
A testemunha nunca ultrapassou os limites de tonelagem legais.

A testemunha quando está presente assiste à descarga.


Costuma ver lá camiões de Manuel Godinho.
Já foi algumas vezes às instalações de Manuel Godinho, mas a maior
parte das vezes os camiões da O2 vão lá descarregar as mercadorias à
Mantém Verde.
A testemunha refere que conhece alguns dos fornecedores/ clientes de
Paulo Costa.
O Manuel Godinho é um dos fornecedores de Paulo Costa, mas não
sabe se é o maior fornecedor ou não.
Desde há um ano a esta parte que não assiste a nada na empresa, até
faz a trituração em casa porque mora em Valongo.
Ás vezes, via lá o Sr. Godinho, mas nunca lhe deu ordens.

832
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

O Paulo Costa é que dá ordens.


O pagamento é feito pelo Paulo Costa e é sempre” certinho”, tem os
ordenados em dia.

Em instâncias do MP
Foi dito pela testemunha que apenas assiste aos negócios do Paulo
Costa se estiver ali perto, fisicamente.
Disse saber que Manuel Godinho poderia ter outras empresas, mas
não conhece a BIBERLAU.
Nunca assistiu a nenhum negócio em concreto, só se estiver perto é
que ouve, porque Paulo Costa não se inibe de falar perto dos funcionários.
Disse que Paulo Costa tem um temperamento de voz um pouco
elevado.

José Rocha Gomes


Disse estar reformado desde 2003, desistiu de trabalhar.
Teve uma firma: José Rocha Gomes Unipessoal, firma de sucatas.
Afirmou conhecer Paulo e Manuel Costa.
Às vezes, ia buscar sucata no interesse de Paulo Costa, com um
camião com a matrícula 19-75-FI, da Mantém Verde.
Disse ir buscar sucata e descarregar no estaleiro de Paulo Costa.
Foi dito que vê que o arguido Paulo Costa é que está à frente daquilo
(Mantém Verde).
Afirmou conhecer Manuel Godinho, pois comprou sucata há muito
tempo a Manuel Godinho. Fez 2 ou 3 negócios.
Segundo o entender da testemunha, Manuel Godinho é uma pessoa
muito reservada, não fala dos seus negócios. “Cada um preserva os seus
negócios!” – disse a testemunha.

Em instâncias do MP

833
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Foi perguntada a matrícula do camião que a testemunha utilizava para


ir buscar sucata para o Paulo costa – 19-75-FI.
O camião pode levar cerca de 12 toneladas, legalmente.

Em Instâncias da defesa de Paulo Costa


Foi perguntado se era habituais ultrapassarem o limite da tonelagem.
A testemunha disse que, às vezes, pisavam o risco e chegavam a
levar até 40 toneladas, ultrapassando o limite legal de tonelagens.
O transporte com tonelagem a mais é feito a qualquer hora.
[Este tipo de franquezas, até com exageros visíveis, também não
logrou convencer o JIC.]

Joaquim Vieira Moreira


Trabalha em sucata, tem uma firma Unipessoal.
Conhece tanto o Paulo Costa como o Manuel Costa.
Disse trabalhar só com Manuel Costa.
A testemunha disse que não trabalha com Paulo Costa porque Paulo
Costa não compra ferro, pois trabalha com outros metais.
Vende para a M5 do Manuel Costa.
A definição de preço dos materiais é feita através de uma tabela. A
testemunha é que procura Manuel Costa para lhe vender o ferro.
Antes da testemunha lhe entregar o material, pede-lhe a cotação para
o ferro.
O camião vai à báscula, é tareado, é tareado novamente à saída e fica
lá no ticket.
Quem decide o preço é o Manuel Costa, na hora.

A testemunha falou de um caso de 85 toneladas de ferro, que vendeu


ao Manuel Costa, que disse que não lhe pagava porque a O2, a quem ele
entregou o material, disse que não lhe pagava e foram lá com a filha do Manuel

834
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Costa e o Costa, perante a divergência, ainda andou a pagar-lhe, do seu bolso,


aos bochechos.

A testemunha disse ter conhecimento das dificuldades de Manuel


Costa há cerca de 5/ 7 anos, pois ofereceu certos materiais e Manuel disse que
não tinha dinheiro para lhe pagar, logo não comprou à testemunha.
Relativamente ao BMW525 cinzento, a testemunha disse que deixou
de ver Manuel Costa com ele há quase 2 anos, mas mesmo com dificuldades e
com credores à porta, ele continuou a andar com o BMW.

A testemunha disse, ainda, conhecer Manuel Godinho parcialmente. (o


que quer que isto queira significar)
Nunca viu Manuel Godinho a utilizar o referido automóvel.

Descarregava primeiro em Grijó, há muitos anos e quando Manuel


Costa passou para Ovar, passou a descarregar lá.
Por vezes, via lá o filho, Paulo Costa, nestas instalações, mas disse
não saber se as instalações são comuns e divididas.
Quando descarrega o material para Manuel Costa, fá-lo em sítios
diferentes, depende se o material é chapa, ferro.
Afirmou que também vê nas instalações material não ferroso e acha
que as instalações pertenciam a Manuel Costa.
Segundo a testemunha via-se nas instalações mais material ferroso do
que não ferroso.

No que respeita aos arguidos Paulo Pereira da Costa e Manuel


Nogueira da Costa, diz-se na acusação:

“Ao arguido Paulo Pereira da Costa, de modo a ocultar a sua proveniência,


através da sua circulação entre empresas aparentemente autónomas e sem relações

835
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

comerciais com as empresas adjudicantes, cabia a recepção dos resíduos nobres


subtraídos como se de ferrosos se tratassem, dos não ferrosos retirados sem pesagem,
dos não ferrosos pesados globalmente ignorando a necessária segregação e dos não
ferrosos objecto de subpesagem nas instalações das empresas “Mantenverde –
Comércio de Sucatas, Ld.ª” e “Sucatas 109, Unipessoal, Ld.ª”, cuja gerência de
direito lhe incumbe.

No quadro da vinculação de Paulo Pereira da Costa a Manuel Godinho, o


terreno no qual se acham edificadas as instalações da “Sucatas 109 Unipessoal, Ld.ª”
e, bem assim, a sua residência são propriedade de Manuel Godinho.

O arguido Paulo Pereira da Costa nunca suportou qualquer renda pela


utilização daqueles prédios.

Pese embora o titular inscrito no registo de propriedade do veículo


automóvel, marca Mercedes-Benz, modelo SL500, matrícula 03-27-SQ, fosse a
empresa “Manuel J. Godinho – Administrações Prediais, S.A.”, a sua propriedade,
antes da transferência para Paiva Nunes, pertencia a Paulo Pereira da Costa.

Como forma de ressarcimento por ter abdicado daquela viatura, Manuel


Godinho entregou-lhe o veículo automóvel ligeiro de passageiros, marca Mercedes-
Benz, modelo SL500, matrícula 99-87-TM, tendo para o efeito provisionado a conta
n.º 05287273771 do Banif titulada pela empresa “Mantenverde - Comércio de Sucatas
Lda”, com o depósito do cheque n.º 9338985065 emitido sobre a conta n.º
26824888101 do Finibanco, titulada pela “O2”, no valor de 50.100,00€.

Não obstante serem formalmente detidas pelo arguido Paulo Pereira da


Costa, as empresas “Mantenverde – Comércio de Sucatas, Ld.ª” e “Sucatas 109,
Unipessoal, Ld.ª” são, por força do domínio e da ascendência que o arguido Manuel
Godinho exerce sobre aquele, efectivamente, controladas por Manuel Godinho.

836
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

As sociedades comerciais, denominadas “Mantenverde – Comércio de


Sucatas, Ld.ª” e “Sucatas 109, Unipessoal, Ld.ª” destinavam-se apenas a receber e,
deste modo, a branquear a origem ilícita dos resíduos nobres subtraídos como se de
ferrosos se tratassem, dos não ferrosos retirados sem pesagem, dos não ferrosos
pesados globalmente ignorando a necessária segregação e dos não ferrosos objecto de
subpesagem.

Ao arguido Manuel Nogueira da Costa, de forma a ocultar a sua


proveniência, através da sua circulação entre empresas aparentemente autónomas e
sem relações comerciais com as empresas adjudicantes, cabia a recepção dos resíduos
ferrosos subtraídos, dos ferrosos retirados sem pesagem, dos ferrosos pesados
globalmente ignorando a necessária segregação e dos ferrosos objecto de subpesagem
nas instalações das sociedades comerciais, denominadas “Ferrovar, Comércio Sucatas
e Reciclagens, Ld.ª” e “M5 Gestão de Resíduos Industriais, Unipessoal”, cuja gerência
de direito lhe pertence.

No quadro da vinculação de Manuel Nogueira da Costa a Manuel Godinho,


para além de, juntamente com a sua esposa, possuir um vínculo laboral com a “O2”, a
“Manuel J. Godinho – Administrações Prediais, S.A.” forneceu-lhe um cartão de
acesso ao serviço móvel terrestre, suportando os custos decorrentes da sua utilização,
e a RIBERLAU entregou-lhe o veículo automóvel, marca BMW, modelo 525TDS,
matrícula 95-63-JL, no valor de 10.000,00€.

O terreno no qual se acham edificadas as instalações da empresa “M5 Gestão


de Resíduos Industriais, Unipessoal” é propriedade de Manuel Godinho.

O arguido Manuel Nogueira da Costa nunca suportou qualquer renda pela


utilização daquele prédio.

A sociedade comercial, denominada “M5 Gestão de Resíduos Industriais,


Unipessoal” não apresenta uma estrutura empresarial autónoma do universo

837
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

empresarial, directa ou indirectamente, gerido por Manuel Godinho, não possuindo


quaisquer recursos humanos ao seu serviço.

Não obstante serem formalmente detidas pelo arguido Manuel Nogueira da


Costa, a “Ferrovar, Comércio Sucatas e Reciclagens, Ld.ª” e a “M5 Gestão de
Resíduos Industriais, Unipessoal” são, por força do domínio e da ascendência que o
arguido Manuel Godinho exerce sobre aquele, efectivamente, controladas por Manuel
Godinho.

As sociedades comerciais, denominadas “Ferrovar, Comércio Sucatas e


Reciclagens, Ld.ª” e “M5 Gestão de Resíduos Industriais, Unipessoal” destinavam-se
apenas a receber e, deste modo, a branquear a origem ilícita dos resíduos ferrosos
subtraídos, dos ferrosos retirados sem pesagem, dos ferrosos pesados globalmente
ignorando a necessária segregação e dos ferrosos objecto de subpesagem.” (sic)

Relativamente à ascendência de Manuel Godinho sobre Manuel


Nogueira da Costa e Paulo Costa, ou, dizendo de uma outra forma, a falta de
independência destes em relação ao primeiro, apercebemo-nos dos seguintes
factos que aqui se dão nota:

• O telemóvel utilizado por Manuel Nogueira da Costa até pelo


menos ao dia 17/07/2009, com o n.º 917541241, está registado e seria pago
pela sociedade Manuel J. Godinho – Administrações Prediais, S.A.;

• na residência de Paulo Manuel Pereira da Costa foi apreendido o


certificado internacional de seguro automóvel e apólice de seguro válido da
viatura Mercedes-Benz SL 500, com a matrícula 03-27-SQ;

• na posse de Manuel Nogueira da Costa foi apreendida a viatura


BMW 525TDS, com a matrícula 95-63-JL, registada em nome da RIBERLAU;

838
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

• na lista dos contactos dos funcionários das empresas de Manuel


Godinho consta o registo do mesmo n.º de telemóvel fornecido por Manuel
Nogueira da Costa quando se identificou na Polícia em 24/06;

• de acordo com o conteúdo das declarações de Paulo Manuel


Pereira da Costa, a casa onde reside e o local onde se situam as instalações
da sua empresa “SUCATAS 109” e as do seu pai, a “M5”, são propriedade de
Manuel Godinho;

• ali funcionaram também as instalações da sociedade


“FERROVAR”, de Manuel Nogueira da Costa;

• nas instalações da “SCI” foi apreendido um registo manuscrito


com registo de valores devidos por Manuel Nogueira da Costa;

• no dia 15/07 de 2008, foram apreendidos em empresas de


Manuel Godinho – salienta-se, em empresas de Manuel Godinho – um fax
enviado à REFER em nome da FERROVAR, remetendo uma resposta a um
pedido de consulta;

• um ficheiro de dados correspondente a uma relação da gestão de


resíduos da O2 referente ao ano de 2002, onde de verifica que a maior parte
dos resíduos tinha como origem empresas do sector empresarial do Estado ou
que desenvolvem a sua actividade no área dos transportes e da energia, e,
àquela época, como o destino a sociedade Nogueira da Costa Pereira, Lda;

(cf. fls.24, 46, 116 e 358 do apenso 24, 266, 269 e 277 do apenso
25, 244 a 252 do apenso 26, 52, 63 a 73, 236 do apenso 27, 52 a 124 do
apenso 28).

Produto 499 - Alvo - 1T167PM - 02/02/2009, 11:24:42 -


234302420  917649864 – Manuel Nogueira da Costa (Chamada
transferida a partir do telefone fixo da SCI)  Manuel Godinho

Nogueira da Costa e Manuel Godinho falam acerca da diferença


de peso de sucata que Nogueira da Costa lhe enviara.

839
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 589 - Alvo - 1T167PM - 03/02/2009, 10:12:23 -


917649864  932377103– Manuel Godinho  Maribel Rodrigues
Manuel Godinho informa Maribel que o Nogueira da Costa vai
mandar a filha buscar os cheques e que é para descontar 5 toneladas.
Maribel, resumindo as instruções recebidas, diz que tem que
descontar 5 toneladas e os 2 500 que o Nogueira da Costa já levou
adiantados.

Produto 1206 - Alvo - 1T167PM - 09/02/2009 13:44:39 -


234402425  917649864 – Maribel Rodrigues  Manuel Godinho
Referindo-se a Paulo Costa, Manuel Godinho pergunta a Maribel
Rodrigues como é que “o amigo” se portou.
Maribel responde que ele deixou dois cheques: um para o dia 9 e
outro para o dia 17 de Março.
Manuel Godinho diz que ele não leva mais nada e, a propósito, diz
que eles são uns espertos, que não julgue que vai ser como o pai.
Maribel informa-o que o Paulo Costa também falou de uma
situação com o seguro do Mercedes que seria para Manuel Godinho assinar.
Produto 1206, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se
alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 1206


DATA/HORA: 09/02/2009 – 13h44m39s
INTERVENIENTES:
• DE – Maribel Rodrigues
• PARA – Manuel Godinho

MANUEL GODINHO – Tou.

MARIBEL RODRIGUES – Sim.

MANUEL GODINHO – Diz.

MARIBEL RODRIGUES – Imperceptível…

MANUEL GODINHO – Tou.

MARIBEL RODRIGUES – Tu nem me ligas, nem nada. O que é que se passa…..

MANUEL GODINHO – Olha, estava á espera da tua chamada.

840
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

MARIBEL RODRIGUES – Disseste-me que ias ficar acompanhado com o


Namercio, ou que ias para Setúbal te encontrar com o Namercio.

MANUEL GODINHO – Pois.

MARIBEL RODRIGUES – Depois o….

MANUEL GODINHO – Mas tive……., muito tempo á sua espera, muito tempo.

MARIBEL RODRIGUES – Hó… chatinho… então a gente não tinha falado


quando o.. quando foi a situação do amigo.

MANUEL GODINHO – Há… tá bem.

MARIBEL RODRIGUES – Foi ou não foi.

MANUEL GODINHO – Como é que o amigo se portou.

MARIBEL RODRIGUES – Portou-se …. bem, dentro daquilo, deixou dois


cheques, um para dia nove de Março outro para o dia dezassete de Março.

MANUEL GODINHO – Pois.

MARIBEL RODRIGUES – Por que tem os outros antes.

MANUEL GODINHO – Pois é, mas o problema é que ele já não leva mais nada.

MARIBEL RODRIGUES – Ele começou a dizer foi assim que eu combinei, se


você quiser eu ligo ao senhor Godinho e falo com ele.

MANUEL GODINHO – Não foi assim que combinou, não senhora.

MARIBEL RODRIGUES – Eu disse.

MANUEL GODINHO – Eles são, eles são uns espertos. Eles são uns espertos.

MARIBEL RODRIGUES – Ele queria fazer a chamada.

MANUEL GODINHO – Mas fazer a chamada, ele disse que precisava do


dinheiro até ao dia quinze.

MARIBEL RODRIGUES – Pois o pagamento.

841
S. R.

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MANUEL GODINHO – Sim, nem sequer falei em cheques pré datados enquanto
ele não me pagar, esses, é evidente que não vou aceitar outros, ou ele julga
que vai ser como o pai.

MARIBEL RODRIGUES – É que depois começa já a ficar muitos.

MANUEL GODINHO – É, é, mas é que não vai ser nem mais nada, nem mais
nada, não lhe fio nem mais um centavo, por que esse gajo já está a entrar pelo
caminho do pai, percebes. E depois quando se der por ela, há uma porrada de
cheques lá no banco.

MARIBEL RODRIGUES – Diz que, que lhe ficava muito apertado ser para o dia
quinze, que depois que não conseguia pagar.

MANUEL GODINHO – Até aqui, até aqui tinha dinheiro, tinha que o tirar do
banco e não sei quê, era só dinheiro

MARIBEL RODRIGUES – E daí que uma…

MANUEL GODINHO – Agora já está teso.

MARIBEL RODRIGUES – Que uma bodega de, do seguro do Mercedes para o


senhor Godinho assinar por causa de um vidro que partiu, que não sei quê,
disse olhe eu não sei onde o senhor Godinho tem que assinar nem disse, leve
isso para trás. Depois ele disse que fala, que vai falar contigo.

MANUEL GODINHO – Eu assino, não tem problema nenhum. Hah, eu assino.

MARIBEL RODRIGUES – Pronto, mas eu não sei o que é que se estava a passar
ou o que é que não estava, queria-me deixar aquela bodega, diz que era para
assinar por causa de um vidro, que o carro que era dele, mas que estava em
nome do sobrinho, não sei quê, pronto.

MANUEL GODINHO – Hó … eu é que sou é burro andar a dar confiança a estes


gajos, foda-se, por via destes cabrões é que um gajo … é que um gajo tem
problemas, pá, são uns vigaristas do caralho. São uns vigaristas de merda e ó
depois … medem tudo pela mesma … bitola. Um gajo tem é que cortar com
esses gajos. Hah, portanto .. okai.

842
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MARIBEL RODRIGUES – Tá. Já almoçaste.

MANUEL GODINHO – Como é que estão as compras, já.

MARIBEL RODRIGUES – Almoçaste com quem.

MANUEL GODINHO – Sozinho.

MARIBEL RODRIGUES – Então não tinhas aí o Namércio.

MANUEL GODINHO – O Namércio deixei-o em Setúbal pá.

MARIBEL RODRIGUES – Hum, tu disseste-me que ias para Setúbal que te ias
encontrar com o Namércio, pensei que…

MANUEL GODINHO – Eu andei em Setúbal, pronto. Eu andei em Setúbal,


inclusivamente deixei o telemóvel no carro que estava sem carga.

MARIBEL RODRIGUES – Hum…

MANUEL GODINHO – E andei lá das onze ao meio dia e tal.

MARIBEL RODRIGUES – Pois.

MANUEL GODINHO – Foi para Lisboa. E agora …. acabei de almoçar agora


mesmo.

MARIBEL RODRIGUES – Há .. pensei que andasses com o Namércio.

MANUEL GODINHO – Não.

MARIBEL RODRIGUES – Aaaaaa …

MANUEL GODINHO – Não, não andava. Quer dizer, eu não almocei com o
Namércio, eu estive com o Namércio das onze ao meio dia.

MARIBEL RODRIGUES – Pois, e depois ele foi á vida dele e tu vieste á tua.

MANUEL GODINHO – Meio dia, meio dia e tal.

MARIBEL RODRIGUES – … imperceptível …

MANUEL GODINHO – E ele, foi á vida dele, e pronto e eu … e eu … estou …


aqui.

843
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

MARIBEL RODRIGUES – Há ….

MANUEL GODINHO – Daqui a um bocado vou para cima.

MARIBEL RODRIGUES – Como é que está o tempo para aí, está melhor, ou
não.

MANUEL GODINHO – Ó pá, para aqui está muitas nuvens e parece que vai dar
muita chuva, ó menos está a anunciar na televisão. Parece que vai dar o alerta
amarelo ou não sei quê.

MARIBEL RODRIGUES – Aí para baixo.

MANUEL GODINHO – Estava a correr na televisão

MARIBEL RODRIGUES – Há …..

MANUEL GODINHO – Há onze distritos em …..

MARIBEL RODRIGUES – Por aqui já dão, estão a prever melhorias a partir de


amanhã.

MANUEL GODINHO – Estão.

MARIBEL RODRIGUES – Estão. Amanhã já não dão chuva.

MANUEL GODINHO – Ainda bem. Ainda bem.

MARIBEL RODRIGUES – De amanhã até sexta, dão sol com nuvens.

MANUEL GODINHO – Quando é que é a meia … quando, quando.

MARIBEL RODRIGUES – De amanhã até sexta, a meteorologia que dá é sol com


nuvens.

MANUEL GODINHO – Sol com nuvens.

MARIBEL RODRIGUES – Sim, a chuva é só para hoje.

MANUEL GODINHO – Pronto, okai.

MARIBEL RODRIGUES – Pronto, mas eles também se enganam, não é.

MANUEL GODINHO – Exacto.

844
S. R.

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MARIBEL RODRIGUES – tosse……

MANUEL GODINHO – Okai….

MARIBEL RODRIGUES – Tá, vou ali pesar um carro.

MANUEL GODINHO – Tá, tem chegado muita coisa.

MARIBEL RODRIGUES – Sucata.

MANUEL GODINHO – Sim.

MARIBEL RODRIGUES – Ainda tem, quer dizer. Tem em quantidade carrinhas.

MANUEL GODINHO – Pois.

MARIBEL RODRIGUES – Tem quê, para aí á volta de … dez toneladas, se calhar


não tem tanto, comprado hoje.

MANUEL GODINHO – Mas deve estar a comprar aí, já pra umas quinhentas
toneladas por mês, não.

MARIBEL RODRIGUES – Hum …..

MANUEL GODINHO – Imperceptível … não, não, não, para aí trezentas.

MARIBEL RODRIGUES – Não, quinhentas é muito.

MANUEL GODINHO – Para aí trezentas. Pronto mas já é uma ajuda.

MARIBEL RODRIGUES – Pois.

MANUEL GODINHO – Já é uma ajudazinha, okai.

MARIBEL RODRIGUES – Tá. Até já.

MANUEL GODINHO – Tá, até já, um beijinho.

MARIBEL RODRIGUES – Outro para ti.

Produto 12761 - Alvo - 1T167PM - 21/06/2009, 12:01:20 -


961455923
 917649864 –Toninho (irmão de Manuel Godinho) 
Manuel Godinho

845
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Godinho e Toninho falam do outro irmão, Artur


Godinho.
A propósito de uma sociedade constituída ou a constituir entre
Artur Godinho e Nogueira da Costa, Toninho pergunta a Manuel Godinho
se já falou com o Costa. Este diz que já não fala com ele, que não lhe dá
confiança. Diz também que os problemas que teve com as Finanças foram
por causa dele.
Manuel Godinho, na sequência da conversa e referindo-se à
sociedade entre o irmão e Nogueira da Costa, diz que, se for necessário, diz
ao Costa que nesse negócio ele apenas vai servir de ponte e que não vai
ganhar dinheiro.

O episódio mais impressivo da ascendência ou melhor da falta de


independência de Paulo Pereira da Costa em relação a Manuel Godinho é o da
entrega da viatura Mercedes-Benz SL500, com a matrícula 03-27-SQ por
aquele a Paiva Nunes.

No dia 04 de Junho de 2009, no Furadouro, Ovar, Manuel Godinho


entregou a Domingos José Paiva Nunes a viatura Mercedes-Benz SL500, com
a matrícula 03-27-SQ.

Importa aqui determo-nos um pouco mais sobre as circunstâncias que


rodearam a entrega desta viatura.

Imediatamente após ter deixado as instalações do hotel, Manuel


Godinho contactou Paulo Manuel Pereira da Costa para o tentar convencer a
abdicar da posse da viatura Mercedes-Benz SL 500, com a matrícula 03-27-
SQ, registada em nome da sociedade “Manuel J. Godinho – Administrações
Prediais, S.A.” (cf. fls. 2955 do Volume 10).

De assinalar que esta mesma viatura, no dia 15/07/2008, aquando da


realização das primeiras buscas no âmbito do NUIPC 39/08.8JAAVR, se
encontrava na residência de Manuel Godinho, na Praia do Furadouro, Ovar (cf.
fls. 79 a 80 do apenso 23).

846
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

As conversas abaixo resumidas são bastante elucidativas quanto ao


supra mencionado:

- Produto 10580 - Alvo 1T167PM - 27/05/2009, Paulo Manuel Pereira Costa 


Manuel Godinho (chamada transferida a partir de telefone fixo da SCI):
Manuel Godinho pergunta a Paulo Costa se ele quer vender o Mercedes dele,
porque tem uma pessoa amiga que está muito interessada num carro desses.
Manuel Godinho, perante a resistência de Paulo Costa, insiste que, atendendo
à pessoa que é, seria importante arranjar o carro. Ainda assim, Paulo Costa diz não estar
interessado em desfazer-se do veículo. Explicando que gosta muito do carro, e que tinha
mandado montar acessórios e componentes à sua medida, acabando por suplicar a
Manuel Godinho que este não lhe retire o carro.

Produto 10580, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 10580


DATA/HORA: 27/05/2009 – 15h10m16s
INTERVENIENTES:
• DE – Paulo Costa
• PARA – Manuel Godinho

MANUEL GODINHO – Tou?


BRUNO – Sim, senhor Godinho, é o Paulo Costa.
MANUEL GODINHO – Passa.
***
MANUEL GODINHO – Tou?
PAULO COSTA – Tou Godinho, diga!
MANUEL GODINHO – Olá Paulo.

847
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PAULO COSTA – Viva!


MANUEL GODINHO – Ó Paulo…
PAULO COSTA – Diga!
MANUEL GODINHO – Eh… Tu praticamente não andas com o Mercedes, não
é?
PAULO COSTA – Ai eu vou andando, porquê?
MANUEL GODINHO – Eh… é pá, tenho uma pessoa amiga…
PAULO COSTA – Sim.
MANUEL GODINHO – Que pediu para lhe arranjar uma coisa dessas. Eh…
pronto e eu lembrei-me de ti, não é?
PAULO COSTA –Foda-se! Ainda agora gastei três mil e oitocentos euros nele,
mandei-o pintar todo!
MANUEL GODINHO – Pois.
PAULO COSTA – E… e ele queria… queria um carro desses era?
MANUEL GODINHO – Queria!
PAULO COSTA – Oh… mas… eu…
MANUEL GODINHO – Ó pá, isso para a pessoa que é, era interessante um gajo
desenrascar, tas a ver?
PAULO COSTA – Pois.
MANUEL GODINHO – Eh… isso ou depois com tempo arranja-se.
PAULO COSTA – Eu gastei tanto dinheiro nele, sei lá ou o caralho!
MANUEL GODINHO – Vê lá.
PAULO COSTA – Eu hoje ou depois, a gente resolve isso.
MANUEL GODINHO – É um… é para uma pessoa amiga. Temos que falar hoje
sobre isso.
PAULO COSTA – Oh… eh… mas… mas eu não queria nada tar a vender aquela
merda! Não, não! Eu gosto dele como o caralho, ó senhor Godinho!
MANUEL GODINHO – Então pronto, eu arranjo outro.
PAULO COSTA – Você, você sabe que eu gosto dele, não vale a pena tar aí com
coisas (imperceptível). Tou-lhe a dizer que ele chegou ontem ou antes d’ontem
da Mercedes. Gastei mais de três mil e oitocentos euros a pintá-lo todo!
MANUEL GODINHO – Pois.
PAULO COSTA – (imperceptível). Ganhei amor àquela merda, não há como
aquilo, não vale a pena. Gosto muito daquilo, não… arranje outro pá, arranje
outro.
MANUEL GODINHO – E eu vou arranjar outro.

848
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PAULO COSTA – Arranje outro, deixe ficar esse para mim, que eu gosto dele
como o caralho.
MANUEL GODINHO – Eh… pronto, é isso.
PAULO COSTA – Deixe-o ficar, deixe-o ficar. Não é… ó… eu vou ser franco
consigo, eu… eu depois que comprei-o gastei dinheiro naquilo que é um
disparate. Pronto. Você sabe bem que eu gastei. Eu meti-lhe jantes, eu meti-
lhe… para pôr aquilo à minha maneira, tá a perceber?
MANUEL GODINHO – Pois.
PAULO COSTA – E ó pá, ganhei um tal amor àquilo, não vale a pena. Gosto
mais dele do que gosto do BM.
MANUEL GODINHO – Eh… pois sim, aquilo é fodido é para a coluna, não é?
PAULO COSTA – É, pronto… tem (imperceptível) tem aquela maneira, deixe lá
que (imperceptível). Foda-se deixe tar lá, arranje outro gajo, você arranje
outro.
MANUEL GODINHO – Eu vou arranjar outro.
PAULO COSTA – É você arranje outro, deixe ficar o carrinho para mim, está
bem?
MANUEL GODINHO – Tá, não há crise.
PAULO COSTA – Tá, tá, até logo.
MANUEL GODINHO – Tá, até logo.

- Produto 10585 - Alvo 1T167PM - 27/05/2009, Manuel Godinho  Maribel


Rodrigues:
Manuel Godinho pede a Maribel Rodrigues para entrar em contacto com Paulo
Costa e para lhe transmitir que ele deve estar às 5h na SCI para fazerem a facturação.

Produto 10585, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 10585


DATA/HORA: 27/05/2009 – 15h20m40s
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – Maribel Rodrigues

849
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MARIBEL RODRIGUES – Tou?


MANUEL GODINHO – Sim.
MARIBEL RODRIGUES – Sim, diz.
MANUEL GODINHO – Eh... telefona ao Paulo Costa.
MARIBEL RODRIGUES – Hum.
MANUEL GODINHO – Que horas são?
MARIBEL RODRIGUES – São três e um quarto.
MANUEL GODINHO – Três e um quarto. Quando forem cinco horas.
MARIBEL RODRIGUES – Hum.
MANUEL GODINHO – Que esteja aí.
MARIBEL RODRIGUES – Hum.
MANUEL GODINHO – Que queres fazer a facturação.
MARIBEL RODRIGUES – Ok.
MANUEL GODINHO – Ok?
MARIBEL RODRIGUES – Ok. Eu vou ligar, então.
MANUEL GODINHO – Está, ok.
MARIBEL RODRIGUES – Até já.

- Produto 10586 - Alvo 1T167PM - 27/05/2009, 15:25:52 – Manuel Godinho 


João Godinho:
Manuel Godinho pergunta ao filho de que ano é o Porsche do irmão. João diz
que o irmão já vendeu esse carro e interroga o pai se ele quer comprar um Porsche.
Manuel Godinho diz que era para um indivíduo que está interessado e diz ao
filho que precisa de um Mercedes SL500.

- Produto 10623 - Alvo 1T167PM - 27/05/2009, Paiva Nunes  Manuel Godinho


(chamada transferida a partir de telefone fixo da SCI):
Manuel Godinho diz a Paiva Nunes que está a tratar “do assunto dele” e que
para a semana estará resolvido.
Paiva Nunes pergunta se é o dele. Manuel Godinho reforça que para a
semana tem o assunto resolvido.

850
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Paiva Nunes comenta que nessa altura vai para África e só regressará na
próxima quarta-feira.
Paiva Nunes pergunta a Manuel Godinho o que é que ele achou da pessoa que
estava com ele. Este responde que o achou porreiro e que já lhe ligara.
Paiva Nunes diz que, com toda a certeza, se vai arranjar “uma coisa porreira”.

Produto 10623, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 10623


DATA/HORA: 27/05/2009 – 18h07m24s
INTERVENIENTES:
• DE – Paiva Nunes
• PARA – Manuel Godinho

MANUEL GODINHO – Sim?


BRUNO – Sim, senhor Godinho. Tenho em linha o engenheiro Paiva Nunes.
MANUEL GODINHO – Passa.
***
MANUEL GODINHO – Tou?
PAIVA NUNES – Tá! Tá bom?
MANUEL GODINHO – Sim, senhor engenheiro, tudo bem, obrigado. Senhor
engenheiro, tou a tratar do seu assunto.
PAIVA NUNES – (risos).
MANUEL GODINHO – Não tarda temos isso resolvido, está bem?
PAIVA NUNES – Ai é?
MANUEL GODINHO – É.
PAIVA NUNES – Mas quê, mas era, é o seu?
MANUEL GODINHO – Tou a tratar do assunto, ok?
PAIVA NUNES – Ok, ok.
MANUEL GODINHO – Depois a gente fala, tá um abraço.

851
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PAIVA NUNES – Olhe eu agora, eu não sei se... se lhe disse, eu agora vou hoje
para África e só venho quarta-feira.
MANUEL GODINHO – Sim, sim você disse-me. Exacto.
PAIVA NUNES – Ok?
MANUEL GODINHO – Por isso é que eu tou-lhe a dizer que para a semana
tratamos...
PAIVA NUNES – Muito bem, muito bem.
MANUEL GODINHO – Ok?
PAIVA NUNES – Olhe e o que é que achou da... da, da pessoa que ia comigo?
MANUEL GODINHO – Porreiro, porreiro, já me ligaram.
PAIVA NUNES – Já... já lhe ligaram, é que ele já me disse, dia dois, não é?
MANUEL GODINHO – Sim, sim. Sexta-feira vou lá.
PAIVA NUNES – Tá, ok. Este é... é um tipo espectacular.
MANUEL GODINHO – Tá bem, ok.
PAIVA NUNES – É. E pode ser que se arranje... vai-se com toda a certeza fazer
aqui uma coisa porreira.
MANUEL GODINHO – Está bem, está bem.
PAIVA NUNES – Está bem?
MANUEL GODINHO – Ok! Para a semana a gente tá a falar, tá bem?
PAIVA NUNES – Ok, um abraço, muito obrigado pela atenção.
MANUEL GODINHO – Um grande abraço.
PAIVA NUNES – Ok, obrigado, obrigado.

O JIC atentou no seguinte pormenor, relativamente ao produto 10623


- alvo 1T167PM - 27/05/2009, Paiva Nunes pergunta ao Manuel Godinho se é
o dele, referindo-se à viatura Mercedes-Benz.

De facto, no dia 29 de Maio de 2009, Manuel Godinho tinha já


decidido, e os restantes intervenientes concordaram, que Paulo Manuel Pereira
da Costa entregaria viatura Mercedes SL 500, com a matrícula 03-27-SQ e que
esta, por sua vez, seria entregue a Paiva Nunes como pagamento antecipado
por atribuição de contratos futuros.

852
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

João Godinho, entretanto, encomendara à Mercedes um outro carro de


marca e modelo igual, mas que seria entregue apenas 15 dias depois. Esta
mesma viatura, de acordo com as instruções de Manuel Godinho, seria paga
através de um contrato de leasing efectuado em nome de Paulo Manuel
Pereira da Costa.

No dia 24 de Junho do mesmo ano, no gabinete de Manuel Godinho,


nas instalações da empresa O2, foram apreendidas três propostas da
Mercedes, datadas de 27 de Maio, relativas a três viaturas: dois Mercedes
SL500 e um SL350 (cf. fls. 823 a 825 do apenso 24).

- Produto 10861 - Alvo 1T167PM - 29/05/2009, Manuel Godinho  João


Godinho:
João Godinho diz que a Mercedes demora 15 dias a entregar o carro e que
custa 50 mil euros. Manuel Godinho manda comprar.
João Godinho pergunta como é que vão fazer o pagamento. Inicialmente o pai
diz-lhe para pagar tudo mas depois rectifica e diz a João Godinho para que seja feito um
contrato de leasing em nome de Paulo Costa (Paulo Manuel Pereira Costa).

Produto 10861, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 10861


DATA/HORA: 29/05/2009 – 19h27m56s
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – João Godinho

JOÃO GODINHO – Tou?


MANUEL GODINHO – Sim.
JOÃO GODINHO – Sim.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Tu ligaste-me João?


JOÃO GODINHO – Não paizinho, já liguei há muito tempo e depois já falei
contigo.
MANUEL GODINHO – Tenho aqui uma chamada não atendida. Tu estás aonde?
JOÃO GODINHO – Saí agora do Estaleiro.
MANUEL GODINHO – Ah, tá bem.
JOÃO GODINHO – E tu?
MANUEL GODINHO – Eu tou a sair de Aveiro.
JOÃO GODINHO – Tá, olha uma coisa.
MANUEL GODINHO – Diz.
JOÃO GODINHO – Eh...o Mercedes... eh... eles demoram quinze... portanto,
eles vão ter agora que fazer uma revisão a ele e não sei quê, não sei que mais.
Eles demoram cerca de quinze dias a entregá-lo.
MANUEL GODINHO – Ai é?
JOÃO GODINHO – É.
MANUEL GODINHO – E eh...
JOÃO GODINHO – E o preço final é cinquenta mil.
MANUEL GODINHO – É pá, quinze dias é muito tempo, pá.
JOÃO GODINHO – É que eles dizem que receberam o carro esta semana,
portanto que, ainda não fizeram... ainda está como o receberam, portanto
não... não tem revisão feita, não tem... querem fazer... rever a pintura, essas
coisas todas, sabes?
MANUEL GODINHO – Estão a ver a pintura e tudo.
JOÃO GODINHO – Pois, eles vão entregar o carro todo certinho, com um ano
de garantia.
MANUEL GODINHO – Pronto.
JOÃO GODINHO – Posso mandar avançar?
MANUEL GODINHO – Manda avançar.
JOÃO GODINHO – Prontos, quinze dias.
MANUEL GODINHO – Eh... mas vê se faz só oito dias.
JOÃO GODINHO – Tá bem, tá bem.
MANUEL GODINHO – Ok?
JOÃO GODINHO – Eu vou já tratar disso, tá? Diz-me só uma coisa. Depois do
pagamento disso queres só que prepare, que prepare o leasing ou como é que
queres que te faça?

854
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Oh... eu acho que é melhor pagar tudo.


JOÃO GODINHO – A pronto?
MANUEL GODINHO – Exacto.
JOÃO GODINHO – Tá, tá bem. Tá bem.
MANUEL GODINHO – Eh... ou faz-se o leasing e depois o Paulo Costa paga-o.
JOÃO GODINHO – Eh... pois, quer-se dizer...agora não sei.
MANUEL GODINHO – Pois, estás a dizer?
JOÃO GODINHO – Eu tou a perceber. Já falaste com ele?
MANUEL GODINHO – Já. Já falei com ele.
JOÃO GODINHO – Hum. Então prontos, vê isso da melhor maneira porque eu
depois... isso por agora... eu vou dizer isso ao homem que... por causa dos
prazos. Entretanto temos... no... no mínimo uma semana temos pra tratar
disso.
MANUEL GODINHO – Pronto. Falamos com... falo com o Paulo Costa amanhã e
até para ele é melhor.
JOÃO GODINHO – Tá bem. Exactamente.
MANUEL GODINHO – Tás a perceber?
JOÃO GODINHO – Exactamente.
MANUEL GODINHO – Pronto, é isso.
JOÃO GODINHO – Tá ok.
MANUEL GODINHO – Ok?
JOÃO GODINHO – Tá.
MANUEL GODINHO – Tá.
JOÃO GODINHO – Tá, até já paizinho.
MANUEL GODINHO – Até já.
JOÃO GODINHO – Até já.

Como se vê Manuel Godinho põe e dispõe, compensando depois


Paulo Costa com um veículo da mesma marca e modelo, sentindo-se com o
poder de mandar celebrar contratos em nome dele. Talvez por força já do
hábito em agir desta forma. Repare-se, que Manuel Godinho nem se dignou
perguntar se Paulo Costa concordava em assinar o contrato de leasing.

855
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Das três propostas da Mercedes, acima referidas, a escolha e posterior


aquisição recaiu sobre o Mercedes-Benz, SL 500, com a matrícula 99-87-TM,
cujo preço de venda ao público se cifrava em 52.500,00€.

Posteriormente, João Godinho delegou em Salvador Manuel Monteiro


Lourosa, funcionário das empresas do Manuel Godinho, com funções de
Técnico Oficial de Contas (TOC), a negociação da compra daquela viatura com
Rui Miguel Neves Caetano Moreira, responsável pelo departamento de usados
da empresa Mercauto – Metalomecânica de Reparação e Construção de
Automóveis, sediada em Lisboa.

- Produto 11735 - Alvo 1T167PM - 09/06/2009, – Salvador  Manuel


Godinho:
O Sr. Salvador diz que esteve a falar com o João, relativamente ao SL 500 de
Lisboa, e que na segunda-feira irão telefonar para programar a entrega do carro.
Salvador adianta também que nesse dia ficou de dizer qual a empresa a quem a viatura
iria ser facturada e de preparar o cheque.

O próprio Sr. Salvador Lourosa confirmou, aquando da sua inquirição,


esta situação (fls. 226 a 228 do Apenso E-9) – “Relativamente à sua intervenção
na aquisição da viatura da marca Mercedes, modelo SL 500, matricula 99-87-TM,
refere que, ao que se recorda, no ano transacto, o Sr. João Godinho incumbiu-lhe a
tarefa de negociar o melhor preço para a aquisição de uma viatura daquela marca e
modelo. Na altura não lhe foram referidos os motivos da aquisição daquele modelo em
particular, nem para quem seria a viatura”.

De acordo com o Salvador Lourosa este terá conseguido reduzir, um


pouco, o preço para os 50.000,00€.

Disse também que - “…forneceu os elementos do comprador, via fax, para


a emissão dos competentes documentos necessários à venda da viatura, tais como a

856
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

factura, o contrato e a declaração para o registo da viatura a favor do adquirente. O


inquirido facultou ao vendedor cópias do BI e NIF de um jovem do sexo masculino. Os
documentos identificativos desse jovem foram-lhe entregues pelo Sr. Paulo Costa. Na
altura pensou que aquele jovem fosse um filho do Sr. Paulo Costa”.

Isto foi confirmado pelo colaborador da Mercauto, o Sr. Rui Moreira, na


sua inquirição (fls. 220 a 222 do Apenso E-9) – “O veículo foi preparado para
entrega, sendo então solicitados os elementos do comprador para a emissão dos
competentes documentos necessários à venda da viatura, tais como a factura (a fls.
16342), o contrato (a fls. 16340) e a declaração para o registo da viatura a favor do
adquirente, elementos esses dados pelo Sr. Salvador Lourosa, identificando o
comprador como sendo o Sr. Ivo Bernardino Marques Ferreira, e facultadas as copias
do respectivo BI e NIF” (ver fls. 16341 do Volume 45).

De forma a ocultar o verdadeiro proprietário da viatura e a sua


proveniência, esta viria a ser registada, em 04-08-2009, em nome do Sr. Ivo
Bernardino Marques Ferreira, trabalhador da empresa “Mantenverde -
Comércio de Sucatas Lda”. e, também, da empresa “Sucatas 109 Unipessoal,
Lda”, ambas pertencentes ao Paulo Manuel Pereira Costa (cf. RDE’s de fls.
3632 a 3645 do Volume 12).

Aqui se vê a preocupação na ocultação de património por parte quer


do arguido Manuel Godinho, quer em relação ao arguido Paulo Manuel
Costa.Aliás, no RAI, os arguidos admitem a pratica de ocultação de património,
facto que implica que ambos os arguidos tenham ficado numa situação de
dependência da vontade do arguido Manuel Godinho, reforçando o que se
refere na acusação.

Em sede de inquirição, o Sr. Ivo Ferreira disse – “Em data que não se
recorda mas que julga ter sido no ano transacto, o seu patrão, Paulo Costa, pediu-lhe
para ser ele, o depoente, a assumir a propriedade de uma viatura da marca Mercedes.

857
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Perguntado o depoente desconhece qual o modelo em concreto e a matrícula da


referida viatura. A justificação dada ao depoente para a viatura constar em seu nome
tinha a ver com problemas que o Sr. Paulo Costa disse que teria, não tendo, contudo
especificado quais, nem o depoente lhe perguntou.”

O Sr. Ivo Ferreira, cuja função é proceder à triagem da sucata e dos


resíduos que são transportadas para as empresas do Paulo Costa, não
possuía nível económico para adquirir aquela viatura, nem sequer estava
habilitado a conduzir pois não tinha carta de condução de automóveis ligeiros,
como o próprio reconheceu – “O inquirido refere que nunca conduziu a viatura da
marca Mercedes acima mencionada e não possui sequer licença de condução de
automóveis. O depoente afirma que esta foi a única vez em que lhe foi solicitado
assumir a propriedade de um bem de terceiro. Refere que todas as despesas
relacionadas com o automóvel são pagas pelo Sr. Paulo Costa, nomeadamente, seguro
de automóvel, imposto de circulação, revisões, inspecções periódicas etc.”

A entrega da viatura, com a matrícula 99-87-TM, determinada pelo


arguido Manuel Godinho, ao sucateiro Paulo Costa, acabou por se realizar no
dia 14 de Julho de 2009, nas instalações da empresa O2, em Ovar, conforme
RDE’s acima mencionados.

Contrariamente ao que Manuel Godinho afirmara a João Godinho, o


pagamento não se fez através de um leasing em nome de Paulo Costa mas
sim através de um cheque sacado sobre o Banif de uma conta titulada pela
empresa Mantenverde - Comércio de Sucatas Lda., tendo sido pagos a pronto
os 50.000,00€.

O cheque que serviu de pagamento está identificado com o nº


2029792917 emitido sobre a conta 05287273771 do Banif titulada pela
empresa do Paulo Costa.

858
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Da análise pericial efectuada aquela conta, respeitante aquele período,


constata-se que a mesma foi dotada de saldo suficiente para o desconto do
cheque exactamente no dia anterior ao desconto do cheque que ocorreu no dia
16 de Julho de 2009, tendo sido efectuado um depósito de 50.100,00€ sendo
que antes deste montante a conta tinha apenas um saldo de 496,00€.

O montante de 50.100,00€ corresponde ao depósito do cheque nº


9338985065 emitido sobre a conta 26824888101 do Finibanco titulada pela
empresa O2 – Tratamento e Limpeza Ambientais, SA do arguido Manuel
Godinho.

A análise pericial conclui que o fluxo financeiro que serviu de


pagamento à viatura com matrícula 99-87-TM teve origem na empresa de
Manuel Godinho, denominada O2, tendo esta, contabilisticamente, dissimulado
a razão da emissão do cheque de 50.100,00€, uma vez que, registou a mesma
como pagamento da factura 486 da empresa de Paulo Costa, denominada
Mantenverde, Lda. (cfr. parte IX do relatório de perícia financeira).

O facto de o cheque ter sido passado por Paulo Costa, sócio-gerente


da empresa Mantenverde, surpreendeu a própria testemunha Rui Moreira que
nunca falara com ele antes do dia da entrega do carro – “O depoente refere que
ficou um bocado surpreendido com esta situação porque contava receber um cheque de
uma conta titulada pelo Sr. Ivo Bernardino. Refere que o Sr. Ivo Bernardino, durante a
entrega da viatura, limitou-se a cumprimentá-lo à chegada e à despedida, sem nunca
ter tido outro tipo de intervenção para além da assinatura dos documentos.
Inclusivamente, quem abandonou as instalações da fábrica a conduzir o Mercedes SL
500 foi o Sr. Paulo Costa.”

Portanto, desta forma, Manuel Godinho conseguiu honrar a sua parte


do acordo, entregando rapidamente a viatura 03-27-SQ a Paiva Nunes
conforme combinaram e, ao mesmo tempo, fez chegar ao Paulo Costa

859
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

50.100,00€ para que efectuasse o pagamento de uma viatura da mesma marca


e modelo (matrícula 99-87-TM).

Por sua vez, no final da tarde de 03 de Junho de 2009, a viatura


Mercedes-Benz SL 500, com a matrícula 03-27-SQ, cuja entrega a Paiva
Nunes ocorreu no dia seguinte, foi levada das instalações da empresa O2 para
a residência de Manuel Godinho, no Furadouro, em Ovar conforme RDE a fls.
2949 a 2953.

Os pormenores para se proceder à entrega da viatura foram alvo de


diversas conversações:

- Produto 11187 - Alvo 1T167PM - 03/06/2009 – Manuel Godinho  Paiva Nunes:


Manuel Godinho diz a Paiva Nunes que tem “aquilo pronto” e que queria saber
quando é que ele teria disponibilidade.
Após várias tentativas de acertarem uma data, combinam voltar a falar

- Produto 11196 - Alvo 1T167PM - 03/06/2009 – Manuel Godinho  João


Godinho:
Manuel Godinho diz ao filho que necessita de resolver o problema do
Mercedes e dá instruções para que se transmita ao Paulo Costa que têm que entregar o
carro amanhã.
Pergunta ao filho se já foi à Mercedes com o Paulo Costa. João Godinho
informa o pai que o carro está em Lisboa. Então Manuel Godinho diz ao filho para ele
acertar “as coisas” (entrega do carro) com o Paulo Costa e, se necessário for, para lhe
emprestar um carro.

Produto 11196, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

860
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

PRODUTO Nº: 11196


DATA/HORA: 03/06/2009 13:59:01
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – JOÃO GODINHO - 917 768 679

JOÃO GODINHO – Tou?

MANUEL GODINHO – Sim.

JOÃO GODINHO – Sim.

MANUEL GODINHO – Tás aonde?

JOÃO GODINHO – Tou a caminho.

MANUEL GODINHO – Ehhh. Olha uma coisa...

JOÃO GODINHO – Diz.

MANUEL GODINHO – Ó pá, eu devia resolver o problema do carro... do Mercedes.


Ehhh...às tantas falas ó... Paulo Costa.

JOÃO GODINHO – Sim.

MANUEL GODINHO – E dizes que eu que...que o temos que entregar amanhã.

JOÃO GODINHO – Tá bem.

MANUEL GODINHO – Ok.

JOÃO GODINHO – Tá bem. Eu vou ligar pra eles.

MANUEL GODINHO – E já foste à Mercedes com ele.

JOÃO GODINHO – Então. O carro está em Lisboa, paizinho. Ele ontem falou-me pra ir
ver...mas o carro está em Lisboa.

MANUEL GODINHO – Ai está?

JOÃO GODINHO – Tá.

MANUEL GODINHO – Ehhh. Pronto, diz-lhe a ele que tenho que...tenho que... Que
tenho que entregar o carro hoje ou amanhã.

861
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

JOÃO GODINHO – Tá bem.

MANUEL GODINHO – Ok.

JOÃO GODINHO – Tá bem, pra ele num...

MANUEL GODINHO – Se precisa, se precisa que lhe empreste um carro.

JOÃO GODINHO – Tá bem. Se for... para lhe emprestar um carro, que carro...queres
que lhe empreste o meu?

MANUEL GODINHO – Ehhh, e andas com o meu, é?

JOÃO GODINHO – Ahh, posso andar com a carrinha, com a três vinte.

MANUEL GODINHO – Não. Podes andar com o meu.

JOÃO GODINHO – É igual...

MANUEL GODINHO – Ou até com o meu jipe.

JOÃO GODINHO – Não...eu tenho, eu tenho a três vinte.

MANUEL GODINHO – É dois ou três dias.

JOÃO GODINHO – Eu tenho a três vinte em casa, paizinho. Não tem problemas
nenhuns.

MANUEL GODINHO – Pronto. Vê lá isso. Tu resolves isso, ok.

JOÃO GODINHO – Ehh. Prontos, empresto o meu então, não é.

MANUEL GODINHO – Tá bem, ok.

JOÃO GODINHO – Tá. Tá bem.

MANUEL GODINHO – Tchau. Até já.

JOÃO GODINHO – Tá. Até já.

- Produto 11199 - Alvo - 1T167PM - 03/06/2009 – Manuel Godinho  João


Godinho:

862
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

João Godinho informa o pai que já falou com o Paulo Costa e que este pediu
para lhe emprestar o Porsche Cayenne pois ele iria emprestar o BMW ao pai (Manuel
Nogueira da Costa).
João diz também ao pai que o Paulo Costa ficou de entregar o carro (Mercedes
SL500) ao final do dia.

Produto 11199, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 11199


DATA/HORA: 03/06/2009 14:03:41
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – JOÃO GODINHO – 917 768 679

JOÃO GODINHO – Tou?

MANUEL GODINHO – Sim.

JOÃO GODINHO – Sim paizinho. Pronto, eu já falei com ele.

MANUEL GODINHO – Sim.

JOÃO GODINHO – Mas ele pediu-me o PORCHE.

MANUEL GODINHO – O PORCHE...

JOÃO GODINHO – O Jipe...

MANUEL GODINHO – O CAYENE...

JOÃO GODINHO – O ji...o CAYENE, sim. Diz que é mais espaçoso para levar as pessoas,
num sei quê...

MANUEL GODINHO – Tá bem. E pra quando. Pra Domingo?

863
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

JOÃO GODINHO – Pra hoje.

MANUEL GODINHO – Pra hoje.

JOÃO GODINHO – Eu acho que era trocar um carro, e levar o outro. Que ele disse que
vai emprestar o outro BM á...ao pai.

MANUEL GODINHO – Ahh. Ok, pode ser isso.

JOÃO GODINHO – Prontos, ok.

MANUEL GODINHO – Pronto, empresta-lhe esse.

JOÃO GODINHO – Ok. Ele ficou de ir lá entregar o carro ao final do dia.

MANUEL GODINHO – Tá bem, ok.

JOÃO GODINHO – Tá.

MANUEL GODINHO – Tá, até já.

JOÃO GODINHO – Até já.

- Produto 11212 - Alvo 1T167PM - 03/06/2009, – Manuel Godinho  Paiva


Nunes:
Paiva Nunes diz a Manuel Godinho que no dia seguinte tem que ir ao Porto.
Este disponibiliza-se para o ir buscar a Lisboa.

- Produto 11236 – Alvo - 1T167PM - 03/06/2009, – Paiva Nunes  Manuel


Godinho:
Paiva Nunes e Manuel Godinho combinam encontrar-se às 11h na EDP em
Lisboa, para que este o vá buscar e seja feita a entrega do Mercedes.

- Produto 11238 – Alvo - 1T167PM - 03/06/2009, – Manuel Godinho  João


Godinho:
Manuel Godinho informa o filho que no dia seguinte tem que ir a Lisboa.
Pergunta-lhe se o Paulo Costa já entregou o carro.

864
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

João Godinho responde que o carro já foi entregue e que mandou o Paulo
Costa entregá-lo no estaleiro (O2 – Ovar), para evitar que ele fosse lá a casa. Diz
também ao pai que vai mandar o carro para o Furadouro.
Manuel Godinho, referindo-se a Paiva Nunes, diz que amanhã o “gajo” irá lá.

Produto 11238, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 11238


DATA/HORA: 03/06/2009 18:11:41
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – JOÃO GODINHO – 917 768 679

JOÃO GODINHO – Tou.


MANUEL GODINHO – Sim.
JOÃO GODINHO – Sim.
MANUEL GODINHO – Ó João.
JOÃO GODINHO – Diz.
MANUEL GODINHO – Como é que o cobre tem saído hoje, pá.
JOÃO GODINHO – Ehhhh. O cobre hoje iniciou a cinco mil quinhentos, cinco mil
quinhentos e tal.
MANUEL GODINHO – E com carago.
JOÃO GODINHO – É.
MANUEL GODINHO – Tá tão caro?
JOÃO GODINHO – A cinco mil não, desculpa. A três mil e quinhentos. Três mil
quinhentos e setenta.
MANUEL GODINHO – Ahhh.
JOÃO GODINHO – Fogo. Tava aqui...tava a ...
MANUEL GODINHO – Mas Euros ou ...
JOÃO GODINHO – Euros, euros, euros.
MANUEL GODINHO – Setecentos paus, então.
JOÃO GODINHO – É, é. Tá a subir o cobre.

865
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Tá a subir?


JOÃO GODINHO – Tá.
MANUEL GODINHO – Ok. Pronto, é o que interessa. Nem tudo pode ser mau.
JOÃO GODINHO – Ahhh. Exactamente (risos) nem tudo pode ser mau.
MANUEL GODINHO – Já levei aqui com uma...na mesa. Tenho um lábio aqui todo
fodido.
JOÃO GODINHO – Uma pedrada?
MANUEL GODINHO – Com um férrito...
JOÃO GODINHO – Tamb...também te metes muito perto.
MANUEL GODINHO – Pois.
JOÃO GODINHO – Também, tu pões-te a jeito...
MANUEL GODINHO – Filha da...
JOÃO GODINHO – Tás sempre a dizer pra nós afastarmos, e és pior do que nós todos
juntos.
MANUEL GODINHO – Pois é. Já estive a fazer gelo.
JOÃO GODINHO – Poisss, e tens que ter cuidado, sabes que isso...a ti demora sempre
mais a curar.
MANUEL GODINHO – Ok, pronto. Tá, até já.
JOÃO GODINHO – Vá, até já.
MANUEL GODINHO – Amanhã vou ter que ir a Lisboa. É verdade, o Paulo Costa já
entregou o carro.
JOÃO GODINHO – Já está aqui o carro.
MANUEL GODINHO – Em casa, é.
JOÃO GODINHO – Não, está aqui no estaleiro. Tenho que...vou mandar lavá-lo a
casa...
MANUEL GODINHO – Diz?
JOÃO GODINHO – Para ele não ir lá para...pra não ir para o furadouro.
MANUEL GODINHO – Tá bem.
JOÃO GODINHO – Mandei trocar aqui. Agora mando lá pôr no furadouro.
MANUEL GODINHO – Tá bem. Então, manda-o lá pôr sem falta nenhuma hoje.
Porque amanhã...o gajo vem cá.
JOÃO GODINHO – Tá bem, ok.
MANUEL GODINHO – Ok.
JOÃO GODINHO – Tá.

866
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – A ver se...tá, ok.


JOÃO GODINHO – Vá, até já, paizinho.
MANUEL GODINHO – Até já.

No dia 04 de Junho de 2009, conforme ficara acordado no dia anterior,


Manuel Godinho deslocou-se a Lisboa, encontrando-se com o arguido José
Valentim para que este lhe indicasse o caminho até à Av. José Malhoa.
Ali chegado, encontrou-se com Paiva Nunes no Hotel Mercure e
juntos, na viatura de Manuel Godinho, fizeram a viagem até Aveiro, conforme
RDE a fls. 2957 a 3005 do Volume 10.

Durante a deslocação para Lisboa, Manuel Godinho pediu ao seu filho,


João Godinho, para transmitir ao Zálio para que este fizesse uma declaração
de venda do carro e a colocasse dentro de um envelope na viatura “porque o
carro está no nosso nome.” Isto serviria para salvaguardar a posição de Paiva
Nunes face a qualquer controlo policial, uma vez que, o registo de propriedade
e o tomador do seguro da viatura 03-27-SQ encontrava-se em nome da Manuel
J Godinho Administração Prediais S.A. (Produto 11260 – Alvo 1T167PM -
04/06/2009 – Manuel Godinho  João Godinho e fls. 12 a 14 do Apenso E-1).

No Inquérito 39/08.8JAAVR, conforme resulta da certidão junta aos


presentes autos do relatório da DSIFAE, existem fortes indícios que Manuel
Godinho promoveu a constituição de uma rede integrada por um primeiro
grupo de sociedades que, tendo actividade efectiva são por ele
instrumentalizadas e que têm na relação comercial com as suas empresas o
suporte de existência, e, um segundo grupo constituído por sociedades e por
sujeitos passivos singulares que apenas têm existência formal e cumprem
somente a sua função que é a de emitir facturas ou documentos análogos

867
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

exclusivamente, no caso das sociedades, para serem deduzidas


contabilisticamente pelas empresas formalmente e de facto administradas por
Manuel Godinho e, sobretudo, por aquelas que por ele são instrumentalizadas
e que são, quase sem excepção as detidas e geridas por Manuel Nogueira da
Costa e Paulo Pereira da Costa.

A certidão extraída dos autos de Inquérito 39/08.8JAAVR,


designadamente fls. 38 e 39 e 56 a 63, evidenciam com clareza a vinculação
e a subordinação dos arguidos Manuel Nogueira da Costa e Paulo Pereira da
Costa aos ditames de Manuel Godinho.

No que concerne aos crimes de receptação, quer as intercepções


telefónicas que a seguir se enunciam, quer as aludidas a fls. 73 a 81 da
certidão extraída dos autos de Inquérito 39/08.8JAAVR, indiciam a sua
verificação tal como é descrito na acusação.

Senão vejamos!

Conforme foi exarado na Parte VI da acusação, nos dias 22 a 24 de


Abril, foram retiradas do “Parque de Sucata” da Refinaria de Sines da
PETROGAL, pelo menos, cem toneladas de cabos e fios de cobre, no valor
de 550.000,00€, um quadro eléctrico de 10 KV de marca Efacec, com 26
celas, um quadro eléctrico de 10 KV de marca, Simens, com 12 celas e
respectivos barramentos de cobre, um quadro eléctrico 3 KV de marca
Efacec composto por 14 celas e respectivos barramentos de cobre, um
quadro eléctrico de 380 V, Efacec/Amec e Alstom, com 120 gavetas e
respectivos barramentos, seis UPS, no valor global de 61.045 €.

Por outro lado, estes quadros eléctricos e UPS integravam 14.380 kg


de cobre, no valor de 79.090,00€, e 1.000 kg de alumínio, no valor de
1.800,00€.

868
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Nas buscas realizadas no âmbito do Inq.º 39/08.8JAAVR, em 24 de


Junho foram apreendidas facturas, guias de remessa e talões de pesagem
emitidos por duas das sociedades que, como já se mencionou, têm
indiciariamente como única actividade conhecida a emissão de facturas
falsas para as empresas de Manuel Godinho e Paulo Costa (cf. fls. 7756 a
7786).

Decorre da conjugação destes elementos com o conteúdo das


conversas interceptadas e que a seguir se identificam, que o cobre subtraído
da PETROGAL foi canalizado para as instalações da MANTENVERDE, de
Paulo Costa.

Produto 7307 - Alvo - 1T167PM - 21/04/2009, 10:58:13 –


917649864  932440038 – Manuel Godinho  Hugo Godinho
Manuel Godinho diz ao sobrinho, Hugo Godinho, que era
necessária uma banheira para começar a carregar os materiais para o
Paulo Costa.

Produto 7315 - Alvo - 1T167PM - 21/04/2009, 11:16:49 –


234302420  917649864 – Paulo Costa (chamada transferida a partir
do telefone fixo da SCI)  Manuel Godinho
Manuel Godinho diz a Paulo Costa que no dia seguinte de manhã
devem começar a entregar materiais. No seguimento da conversa chama a
atenção de que o preço do cobre desceu.

Produto 7416 - Alvo - 1T167PM - 22/04/2009, 10:19:02 –


917649864  917768679 – Manuel Godinho  João Godinho
Manuel Godinho pergunta ao filho se já entregou o material todo
ao Paulo Costa. João responde que sim e que deu 21 000 e pouco de
alumínio-aço.
Manuel Godinho pergunta pelo alumínio limpo. João diz que não
sabia que também era para entregar isso. Manuel Godinho dá instruções ao
filho para ver bem o que é que lá tem, para o Paulo Costa depois não vir
reclamar, e entregar-lho.

Produto 7470 - Alvo - 1T167PM - 22/04/2009, 15:37:54 –


917649864  932377103– Manuel Godinho  Maribel Rodrigues

869
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Godinho informa Maribel que ela vai receber umas cargas
com muito cobre.

Produto 7541 - Alvo 1T167PM - 23/04/2009 10:46:14 -


932440038  917649864 – Hugo Godinho  Manuel Godinho
Hugo diz ao tio que ontem deve ter tirado de Sines 70/80 toneladas
decobre, que carregou seis camiões. Diz que hoje tem que continuar

Produto 7618 - Alvo - 1T167PM - 24/04/2009, 11:27:38 –


917768679  917649864 – João Godinho  Manuel Godinho
João Godinho informa o pai que está a chegar o camião do Paulo
Costa para carregar o cobre.

Produto 7778 - Alvo - 1T167PM - 27/04/2009, 09:25:20 –


917649864  932377103– Manuel Godinho  Maribel Rodrigues
Manuel Godinho dá instruções a Maribel para ela telefonar ao
Paulo Costa e saber se ele está interessado em fazer uma proposta de preço
para comprar 30 toneladas de cobre de 2ª.

Por outro lado, verificou-se a mesma correlação entre a


emissão das mencionadas facturas e as conversas abaixo
identificadas.

Produto 638 - Alvo - 1T167PM - 03/02/2009, 15:14:58 –


234302425  917649864 – Maribel Rodrigues  Manuel Godinho
Maribel Rodrigues informa que o Paulo Costa telefonou a perguntar
quando é que podiam mandar o latão. Manuel Godinho dá-lhe instruções
para ela não dar importância.

Produto 722 - Alvo - 1T167PM - 04/02/2009, 09:07:42 –


917649864  234302425 – Manuel Godinho  Desconhecido (Telefone fixo
da SCI)
Manuel Godinho pede para lhe fazerem uma ligação para o telefone
do Paulo Costa.

870
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 727 - Alvo - 1T167PM - 04/02/2009, 09:11:17 –


917649864  234302420 – Manuel Godinho  Paulo Costa (chamada
transferida a partir do telefone fixo da SCI)
Paulo Costa diz que está nos Carvalhos. Combinam encontrar-se em
Aveiro, às 10h30.

Produto 794 - Alvo - 1T167PM - 04/02/2009, 15:33:24 - 917649864


 932377103– Manuel Godinho  Maribel Rodrigues
Manuel Godinho dá instruções a Maribel para transmitir ao Paulo
Costa para carregar o cabo todo que existir em Aveiro, bem como o
contentor, também de cabo, que está em Ovar.

Produto 800 - Alvo - 1T167PM - 04/02/2009 15:45:56 - 932377103


 917649864 – Maribel Rodrigues  Manuel Godinho
Manuel Godinho e Maribel conversam acerca de Paulo Costa.
Estava a decorrer um carregamento de sucata para o Paulo Costa e este
ainda iria fazer outro em Ovar.

Produto 850 - Alvo - 1T167PM - 05/02/2009 08:35:51 - 917649864


 932377103 – Manuel Godinho  Maribel Rodrigues
Na sequência da conversa Manuel Godinho diz que ontem foram
carregados uns materiais para o Paulo Costa.

Produto 1505 - Alvo - 1T167PM - 12/02/2009, 10:42:49 –


234302420  917649864 – Paulo Costa (chamada transferida a partir do
telefone fixo da SCI)  Manuel Godinho
Paulo Costa diz a Manuel Godinho que apenas pode dar por
“aquilo” 1.45.
Manuel Godinho manda-o ir ter com ele às suas instalações para
falarem.

Produto 1515 - Alvo - 1T167PM - 12/02/2009, 10:59:26 –


234302425  917649864 – Maribel Rodrigues  Manuel Godinho
Maribel informa preços que conseguiu para a sucata que pretendem
vender.
Manuel Godinho encontra-se acompanhado e ouve-se em voz de
fundo ele a dizer que quer vender “aquilo” sem factura.

Produto 2339 - Alvo 38249PM - 13/03/2009 15:20:25 -


917768679 917649864 – João Godinho  Manuel Godinho

871
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

João diz que está lá um camião carregado com alumínio-aço e


pergunta ao pai se ele descarrega ali.
Manuel Godinho pergunta qual a quantidade.
João diz que devem ser 15 a 16 toneladas.
Manuel Godinho dá instruções para ele mandar a carga para o
Paulo Costa.

Produto 4527 - Alvo - 1T167PM - 20/03/2009, 09:20:29 –


234302420  917649864 – Paulo Costa (chamada transferida a partir do
telefone fixo da SCI)  Manuel Godinho
Manuel Godinho dá instruções a Paulo Costa para ele começar a
levar o alumínio.
Paulo Costa lamenta-se que o pai, Manuel Nogueira da Costa, lhe
pediu para ele assinar uma letra.
Manuel Godinho diz que, como já lhe disse a ele, é preferível dar-lhe
um ordenado.

Produto 2815 - Alvo 38249PM - 20/03/2009 09:32:24 -


917768679 917649864 – João Godinho  Manuel Godinho
João Godinho diz que consegue-se arranjar contentor e meio de
cabo.
Manuel Godinho diz que vai já telefonar para o Paulo Costa para
ele lá ir carregar o cabo.

Produto 6716 - Alvo - 1T167PM - 15/04/2009, 11:51:51 –


234302420  917649864 – Paulo Costa (chamada transferida a partir do
telefone fixo da SCI)  Manuel Godinho
Manuel Godinho diz a Paulo Costa que ele tem de mandar camiões
para carregar cobre.

Produto 6746 - Alvo - 1T167PM - 15/04/2009, 14:38:13 –


917649864  932377103– Manuel Godinho  Maribel Rodrigues
Maribel informa que o camião do Paulo Costa está a chegar para
carregar o cobre.

Produto 9454 - Alvo - 1T167PM - 15/05/2009, 15:20:40 –


917649864  932377103– Manuel Godinho  Maribel Rodrigues
Maribel informa que está a chegar o camião do Paulo Costa.
Manuel Godinho esclarece que é para carregar o cobre de 1ª.

872
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 11061 - Alvo - 1T167PM - 02/06/2009, 10:21:12 –


917649864  234302425 – Manuel Godinho  Maribel Rodrigues
Manuel Godinho pede a Maribel para telefonar para o Paulo Costa
e dizer-lhe que tem lá uma carga de cabo eléctrico.

Produto 11390 - Alvo - 1T167PM - 05/06/2009, 11:52:28 –


917649864  932377103 – Manuel Godinho  Maribel Rodrigues
Manuel Godinho pergunta se o Paulo Costa está a abater a conta
dele. Maribel responde que, entre cheques e letras, deve 135.000,00€.

Produto 11767 - Alvo - 1T167PM - 09/06/2009 11:12:26 –


917649864  234302420 – Manuel Godinho  Maribel Rodrigues
Maribel Rodrigues informa Manuel Godinho que esteve na SCI o
Paulo Costa que disse que vinha ver se havia material e se o Sr. Godinho lá
estava, mas o material não estava preparado.

Produto 12245 - Alvo - 1T167PM - 16/06/2009, 09:03:30 –


917649864  234302420 – Manuel Godinho  Bruno (telefonista da
SCI)
Manuel Godinho pergunta a Bruno se o Paulo Costa já lá está para
carregar o cobre.

Produto 12247 - Alvo - 1T167PM - 16/06/2009, 09:06:46 –


932377103
 917649864 – Maribel Rodrigues  Manuel Godinho
Manuel Godinho pergunta a Maribel Rodrigues se o Paulo Costa foi
lá carregar o material. Esta responde que não. Manuel Godinho diz-lhe para
ela diligenciar nesse sentido.

Produto 12258 - Alvo - 1T167PM - 16/06/2009, 11:14:47 –


917649864  234302425 – Manuel Godinho  Maribel Rodrigues
Maribel avisa Manuel Godinho que o camião já chegou e que
acabou de carregar, mas que não conseguiu falar com o Paulo Costa porque
ele tinha o telemóvel desligado.

Produto 12361 - Alvo - 1T167PM - 17/06/2009 14:50:08 –


932377103
 917649864 – Maribel Rodrigues  Manuel Godinho
Maribel Rodrigues diz que estão na SCI os camiões do Paulo Costa
para carregarem o alumínio-aço, os metais e o alumínio limpo.

873
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

De assinalar que, mesmo após a realização pela segunda vez de


buscas nas empresas de Manuel Godinho e de Paulo Costa e da sua
constituição como arguidos e, pelo menos no caso de Paulo Costa, ter sido
sujeito a medidas de coacção diferentes de TIR, o mesmo tipo de prática
prosseguiu.

Produto 14996 - Alvo - 1T167PM - 13/07/2009 17:02:00 –


932377103
 917649864 – Maribel Rodrigues  Manuel Godinho
Maribel Rodrigues informa Manuel Godinho que o Paulo Costa quer
ir à SCI fazer contas.
Maribel, com o assentimento de Manuel Godinho, diz que vai marcar
com ele para o dia seguinte, por volta das 10h00.

Produto 15019 - Alvo - 1T167PM - 14/07/2009 08:59:16 –


917649864
 932377103 – Manuel Godinho  Maribel Rodrigues
Maribel Rodrigues informa Manuel Godinho que o Paulo Costa
ficou de estar na SCI às 10h00.

Produto 15026 - Alvo - 1T167PM - 14/07/2009 09:18:06 –


917649864
 234302420– Manuel Godinho  Maribel Rodrigues
Manuel Godinho pede a Maribel para avisar o “nosso amigo”,
Paulo Costa”, para ele, em vez de lá ir às 10hh0, ir só às 11h00 .

Produto 15040 - Alvo - 1T167PM - 14/07/2009 11:50:36 –


917649864
 – Maribel Rodrigues  Manuel Godinho
Manuel Godinho e Maribel conversam sobre carregamento de
alumínio-aço que Paulo Costa irá fazer.
Maribel diz que o Paulo Costa pediu para que os cheques que
entregasse agora para pagamento pudessem ser descontados apenas em
Setembro. Manuel Godinho concorda.

874
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 15245 - Alvo - 1T167PM - 16/07/2009 08:17:36 –


234302420
 917649864 – Bruno (Telefonista)  Manuel Godinho
Bruno avisa Manuel Godinho de que o Paulo Costa está lá.
Manuel Godinho diz que vai já.

Ora o que acima se referiu quanto aos factos imputados aos arguidos
Paulo Costa e Manuel Nogueira Costa e quanto aos meios de prova que os
indiciam, leva-nos a concluir que existem indícios suficientes dos factos e que
os mesmos são susceptíveis de integrar os crimes discriminados na acusação.

Destarte, deverão os arguidos Paulo Costa e Manuel Costa serem


pronunciados nos precisos termos da acusação, por se mostrarem
verificados indícios que, neste tocante, inculcam um juízo de prognose,
conducente à consideração de que é mais forte a probabilidade das suas
condenações do que a exoneração das suas responsabilidades.

*****

Veio o arguido António Almeida Costa, notificado da acusação,


apresentar a sua defesa nos termos constantes do RAI, constante de fls.
277583 e ss, que aqui se dá por reproduzido.

No seu RAI o arguido requereu o seu interrogatório, em sede de


instrução.

Confirmou o teor das declarações prestadas em inquérito.


Disse que foi convidado para um almoço por Paiva Nunes, em 25/5.
Nesse almoço Paiva Nunes perguntou-lhe se não lhe importava que viesse
outra pessoa almoçar com eles, apareceu o Sr. Manuel Godinho.

875
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Godinho pareceu-lhe simpático, uma pessoa que subiu a


pulso.
O Sr. Godinho falou sobre a actividade empresarial dele e falou num
concurso de desmantelamento de um parque de Sacavém.
Explicou que a GALP tinha intenção de vender o terreno
desmantelado, mas mudou de opinião.
Entendeu que a abordagem do Sr. Godinho, foi mais que uma
reclamação, o que ele estava a fazer era uma insinuação de que tinha sido
intencionalmente prejudicado.
A dado passo disse que tinha comprado um carro que gasta
estupidamente gasolina, um Mercedes, que ele não conhecia.
O Sr. Godinho sugeriu-lhe que o experimentasse.
Então aceitou experimentar o carro, os seus amigos sempre lhe diziam
que podia experimentar os carros novos que compravam.
Em 1989 entrou para a GALP, desde 2004 que não tem funções
comerciais, faz relações institucionais, “mecenato”.
Descontaminar o terreno era a cargo do comprador não lhe disse
quem era o comprador.
No dia 29 de Maio agendou-se uma reunião com o Sr. Godinho.
No ínterim telefonema de Dr. Chocolate Contradanças com o qual
tinha uma tertúlia futebolística.
Que lhe disse que tinha ido para a IDD e que estava a elaborar uma
consulta restrita lá para o material a destruir.
“Arranjos, negócios e trabalhos para Manuel Godinho, pessoas tudo
bem.
Trouxe o carro para experimentar, muito me arrependo disto.”
Consulta do batelão do Sacor 2, não discutiu com o Manuel Godinho o
assunto.
Manuel Godinho é que lhe disse que tinha sido consultado para
apresentar proposta e ele incentivou-o o a que o fizesse.

876
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Eng. Manuel Rodrigues, Eng. João Moita e Manuel Godinho, não são
pessoas ligadas à Sacor.
Assunto IDD – conhece o Contradanças há 6/7 anos.
Recebeu emails do Contradanças com a tipologia do concurso, mas
não os encaminhou para Manuel Godinho.
Se ele quisesse saber que desse corda aos sapatos e/ou num carrinho
e viesse por aí abaixo.
Dito que o Contradanças ficou a ideia que ele trabalhava com Manuel
Godinho ou para Manuel Godinho, respondeu que se ele ficou com essa ideia
terá ele que explicar porquê.
Os emails aterraram no computador e ficaram lá, ponto.
Soube pelo Jornal de Negócios que o Manuel Godinho ficou em último
lugar.
Se tivesse transferido os dados talvez o Manuel Godinho tivesse
ganho o concurso.
Eng. Manuel Rodrigues e Manuel Godinho almoçaram no pátio. Só
uma vez, aquela lá atrás.
Quanto a Sacor 2 – proposta.:
Disse ter-se deslocado ao Porto e à vinda “passei por Aveiro e acabei
por trazer uma carta de apresentação de Manuel Godinho para a GALP.”
À volta passou por lá.
No seu carro (via GALP) não no carro de Manuel Godinho passou por
Aveiro, em Lisboa meteu no correio interno, utilizando um envelope interno
normal onde escreveu o destinatário com a sua letra, não acredita que lá no
Departamento em causa soubessem a sua letra.
Pôs no canal do correio e foi parar ai site das compras.
Se entrasse na portaria o procedimento era o mesmo.
Metiam num envelope verde ou amarelo e iam colocar no canal
interno.

877
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Carro desde 17/6, mostrou aos amigos e aos colegas que gostam de
carros, não escondeu de ninguém.
Em principio de Julho quis devolver o carro, Manuel Godinho disse que
tinha lá dez carros em casa e que o levasse para férias.
Segundo erro que cometeu: Aceitou.
Levou o carro para férias, deu voltas com amigos, com a família, no
Algarve e depois esteve parado à sua porta, dias seguidos.
Não tem garagem.
Mudava-o de sitio e punha-o a trabalhar para não perder a bateria.
Em Setembro de 2009 telefonou para angariar negócios da parte do
Eng. Paiva Nunes.
Devia ter-se afastado.
Telefonou a Manuel Godinho a desculpar-se por não ter nada, foi
demasiado bem-educado.
Entende que quem ouve os telefonemas fique com alguma
perplexidade, é a sua maneira de ser.
Mas não tratou de nada.
Quanto ao email de Namércio para José Pereira Bastos com o seu
conhecimento, com a expressão “de acordo com o nosso amigo”, referindo-se
a si, perante isto não fez nada porque o que podia fazer era telefonar a
Namércio e dizer que não o conhecia de parte nenhuma. Como sabia que
aquilo não tinha influência nenhuma.
O seu insucesso (é a melhor prova de que não fez nada), vai
emoldurar esta conversa telefónica atrás da sua secretaria.
Manuel Godinho se quiser que faça boas propostas para ganhar.
Não tem que garantir sucesso a ninguém.
Há uma conversa a garantir que trata desta garantia de conseguir o
trabalho.
Em 17/10/09 – entrega do AMG a Namércio [retirado abruptamente],
sem aviso, lavagem, enceramento [?]

878
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Várias vezes quis devolver o carro no RAI falam delas.


Nunca lhe passou pela cabeça que o Sr. Godinho lhe pudesse querer
oferecer um bem de 300 mil euros.
Lavou, encerou etc…
Nunca se falou de ficar com o carro, nunca recebeu presente nenhum
do Sr. Manuel Godinho.
Perguntado se tem capacidade pessoal de decisão na GALP,
respondeu que , sim, tinha delegação de competências para pequenas
despesas em termos de direito. Quanto aos poderes de facto [capacidade de
influencia], diz que em vinte anos de carreira só teve a sua credibilidade, um
indivíduo vertical.
Tinha ambição de chegar ao CA. a empresa agora já não tem
nomeações politicas e agora são por carreira, mérito.

Ascendente sobre outros colegas na GALP, defendeu que a


representação da empresa, recebeu cartas de apresentação, encaminhou, deu
informação que não pode ser considerada privilegiada.

Não preparou, nem instrumentalizou nenhum dos processos em que


Godinho intervinha.
Cometeu vários erros, de avaliações.
Não pensou que por experimentar um carro, a personalidade de
Manuel Godinho fosse esta.
Perguntado se criou expectativas ao Godinho ao aceitar o carro,
respondeu que não devia ter aceite experimentar o carro.

A instancias da defesa do arguido Contradanças.


Não sabe o que é que era o objecto do concurso, nem se metia ??? ou
coisas com metais, com muitas toneladas de metais.

879
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Não entregou os emails do José António Contradanças porque não


tinha que andar a suprir o que Manuel Godinho tinha.

A instancias do MP
Esclareceu que o almoço de 25/5 foi por intercessão de Dr. Armando
Vara, amigo do Paiva Nunes
Segundo ele, Paiva lhe contou.

Confirmou que, ao todo, foram quatro almoços, em 25/5, este pago


pelo Paiva Nunes, pagou um almoço, outro pagou o Manuel Rodrigues os
outros dois não sabe.

Disse que se tivesse um AMG como aquele não o emprestava.


Na sua opinião Manuel Godinho nem sabia o que estava ali.

O Eng. Paiva Nunes também andou com um carro do Manuel


Godinho.
Encontraram-se cada um com o seu num encontro de quadros em
Portimão.
Recorda-se que Paiva Nunes lhe disse que estava a negociar o carro.
Levou o carro dois dias lá para a empresa colocou-o no lugar que lhe
está destinado na garagem e disse que lho tinham emprestado e saíram a dar
uma volta.
Foi ingénuo, foi imprudente.
Não cometeu nada de errado, merece ser censurado mas criminoso
não é.
A instancias de defesa de Paiva Nunes:
Percebeu que a intenção de Paiva Nunes era “ajudar o homem” mas
não se apercebeu de alguma intenção vantagem para Paiva Nunes, não se
apercebeu de nada em relação a isso.

880
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Foram ainda ouvidas as seguintes testemunhas:

Fernando Manuel dos Santos Gomes


É Administrador da GALP energia e Petrogal.
O Eng. Paulo Costa reportava a si quando lhe foi atribuído este sector
de Direcção de Relações Institucionais, a partir de 2005.
O Paulo Costa assegurava as relações com Câmaras e outras
instituições – associações, mecenato cultural.

Quando chegou à GALP recebeu boas informações sobre Paulo


Costa, ele é um director de primeira linha, foi-lhe aconselhado que o
mantivesse director dessa área, o que fez.
Quanto a adjudicações, exploração petrolífera, ele não tratava de
nada.
Quanto a contactos muitas vezes delegava em Paulo Costa a
representação da GALP em embaixadas, indo este em representação do
próprio Administrador Fernando Gomes.
Perguntado se Paulo Costa colocaria uma pessoa em posição de
vantagem, respondeu que este não tinha capacidade de intervir para isso mas
que a Galp tem muitos níveis de controlo que obviaram a isso.
Quanto à colaboração de Paulo Costa nestes cinco anos, refere que
este foi sempre leal colaborador, competente e nunca lhe chamou a atenção.
Relativamente às buscas só soube posteriormente, quando o conselho
de administração reuniu.
O CA instaurou um processo disciplinar e após deliberou na reunião
que se pronunciou sobre o processo disciplinar.
Na nota de culpa a GALP diz que não cabe nas competências de
Paulo Costa os contactos com instituições para negócios.

881
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Refere que há um código de ética, que baliza comportamentos


passíveis de lesar a imagem da GALP.
Refere que nas relações institucionais Paulo Costa reportava a si.
Nesse código, prevê-se recusar ofertas que excedam a mera cortesia
e possam ser entendidas como expectativa de melhorar os negócios da
empresa, perguntado se Paulo Costa teria o dever de recusar a utilização do
Mercedes topo de gama por três meses (por um cliente que quer alargar o seu
conjunto de negócios), respondeu que o CA decidiu pelo despedimento com
base em várias questões, esta era uma fundamental.
Refere ainda que o Paulo Costa nunca lhe falou disto, nunca viu o
carro.
Que tenha conhecimento não houve nenhum acto de prejuízo para a
GALP.
Confrontado com a decisão provisória de revogação da suspensão do
despedimento, refere que não tinha conhecimento desta.
Disse que no exercício das suas funções, Paulo Costa, não tinha
intervenção em procedimentos concursais, nem conhecimento prévio em
relação à realização de concursos, dos preços e consultas. Não assegura que
enquanto pessoa bem relacionada na GALP não o fizesse, mas no exercício
das suas funções não lhe cabia.
Disse ainda que, dentro da área de competência de Paulo Costa, não
lhe competiam poderes de fiscalização ou avaliação económica de propostas,
não tinha poderes na área especifica de negócios.

João Afonso Sequeira Pereira Bastos


É Engenheiro Agro-Industrial e trabalha na GALP.
É quadro da Direcção de Compras da GALP desde de dezassete de
Novembro de 2008 e agora coordena uma parte da Direcção de Compras,
desde Fevereiro/Março de 2009.

882
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Conheceu o Enf. Paulo Costa quando este estava na Direcção de


Operações de Postos e ele na Divisão Comercial.
Em 2005 soube que Paulo Costa tinha ido para a Direcção de
Relações Institucionais.

Refere que Paulo Costa nunca lhe pediu para favorecer o Sr. Godinho,
O2.
Paulo Costa pediu-lhe cópia de uma carta de apresentação da O2,
institucional, sem números, nem nomes e dirigida à GALP energia.
Não considera que seja habitual um quadro da GALP indicar novos
fornecedores, mas não vê mal nisso.

Confrontado com fls. 111 do Apenso D – 4, refere que não conhece


Namércio Cunha, mas recebeu um email, como está nas compras, às vezes as
pessoas obtêm o seu endereço de email e contactam-no.
Quanto à expressão “o nosso amigo” “confessa que não deu
importância, mas não estranha, muita gente nos contacta”.

Maria Sílvia Chichorro de Medeiros Fafaiol

É Directora de Compras da GALP Energia desde Abril de 2009.


É Engenheira Química.
Veio do aprovisionamento e Compras da Galp.
Conheceu o Eng. Paulo Costa quando esteve a trabalhar nos Açores.
O Eng. Paulo Costa nunca lhe falou no Sr. Godinho, não sabe se ele
falou com superiores hierárquicos.
Nunca tomou conhecimento que o Eng. Paulo Costa tivesse angariado
e fornecido informação privilegiada no tocante ao relacionamento com a O2.
Existe uma norma de compras que define os procedimentos internos e
as consultas necessárias.

883
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

A sua nomeação teve a ver com isso de se estabelecerem critérios


muito apertados e rígidos.
Ate 2009 podiam acontecer coisas em matéria de contratação, mas
hoje não.

Perguntado se conhece o desmantelamento de Sacor 2, respondeu


que foi feita uma consulta para avaliar o cenário, que não resultou favorável e
então foi encerrado. O Eng. Paulo Costa não tinha possibilidade de influenciar
as suas decisões, e mesmo que ele tentasse influenciar a decisão ela não o
consentiria.
Quanto ao desmantelamento de Sacavém, responde que ouviu falar
mas que não é do seu tempo, não acompanhou directamente o processo, mas
pensa que não foi adjudicado.
Refere que a O2 era fornecedora da GALP, já há vários anos.
Qualquer fornecedor pode apresentar uma carta de apresentação,
pedido de reunião, email, depois preenchem um questionário opcional.
Perguntada sobre o mote da sua nomeação, nomearam-lhe porque lhe
disseram de problemas do antecedente, mas sem concretizar.
O João Bastos é seu subordinado, é responsável por uma área de
compras e o José Serrano era da qualificação e gestão de fornecedores.
Perguntado se acha correcto que um director de outra área mande
cartas de apresentação e entregue-a num colaborador dela sem passar por ela.
Respondeu que nenhum fornecedor é contratado sem um processo de
consulta e ai com rigor é seleccionado.
Para consultar fornecedores também tem que ser por ela que tem
delegações de competências para isso.
Confrontada com o Apenso D – 4, a fls. 111, reencaminhamento de
vários emails.

884
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Perguntada se a O2 tinha contratos com a GALP, então já tinha


passado pelo processo de qualificação, respondeu que o processo normal seria
esse, mas nem sempre era cumprida, não sabe se a O2 estava qualificada.

Quanto a fls.111 o segundo email de Namércio Cunha para João


Bastos, com o conhecimento de Paulo Costa, na sequencia do contacto com
Paulo Costa.
Refere que o teor do email não são termos normais de uma
apresentação de candidatura, mas que não impediria dar seguimento ao email,
dependendo dos outros dados que existam.
E que se ela própria o recebesse encaminharia para arquivo, e não
teria nem mais nem menos valor por vir com referencia a um amigo. Se a
intenção era ter consequências não sabe dizer.
Refere que o processo de qualificação de fornecedores é um só mas
com as valências a que se candidata concretamente, para novas actividades
para além das iniciais é preciso actualizar a qualificação.
Qualificação difere de consulta, esta é já um possível negócio e uma
adjudicação.
Ainda em relação à carta de apresentação da O2, refere que na altura
não soube que essa carta foi entregue a um seu subordinado.
Quando é remetida uma carta de apresentação simplesmente, não há
tratamento.

Maria Teresa Serrano Silva Ramos Roque


É Jurista e responsável pela área de organização da GALP energia.
A instancias de defesa de António de Almeida Costa
Trabalha na GALP energia há vinte anos.
Conhece o Eng. António Paulo Costa já há 20 anos.
Em finais de 2008 a 2010, a sua área é uma área transversal que se
relaciona com todas as outras. O Eng. Paulo Costa era Director de Relações

885
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Institucionais e Comunicação Interna, esta era uma área corporativa, tratava de


representações institucionais com Câmaras, e outras estruturas locais.
As normas e regulamentos da empresa também tem áreas de negócio
mas essas não eram as áreas do Eng. Paulo Costa.
Não tinha sequer relação hierárquica com essas pessoas.
Havia muitas empresas ou pessoas que abordavam o Eng. Paulo
Costa.
É normal que lhe perguntem se conhece este ou aquele, no seu
segmento de actuação era o mais normal.
Nunca o Eng. Paulo Costa agenciou contactos a alguém dentro da
GALP.
Pensa que o Eng. Paulo Costa não tinha informação privilegiada
quanto a concursos, adjudicações, obras.
O Eng. Paulo Costa não tem poderes jurídicos, não sabe se tinha
poderes de facto, nem se apresentaria propostas de empresa a outros
sectores.

Relativamente ao RAI apresentado pelo arguido António Paulo


Almeida Costa, verifica-se que os factos que lhe são imputados na acusação
são os constantes dos seguintes artºs, a seguir aos quais se indicam os meios
de prova que descortinamos que sustentam as imputações efectuadas:

Artigos da Acusação:

- 81º, 83º;

- 88º - Sobre estes factos os indícios colhidos constam do Produto 192 – Alvo
39559PM - Paiva Nunes; Produto 12260 a 12538 do Alvo 1T167PM – Manuel
Godinho; do RDE de fls.3182 a 3225; e do interrogatório de António Paulo
Costa fls. 4874 a 4884, 7476);

886
S. R.

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- 298º;

- 1328º;

- 1333º ( Factos que surgem corroborados pelo RDE – fls. 2872 a 2885)

- 1335º - ( factos corroborados pelos seguintes meios de prova RDE – fls.


3182 a 3227 – no dia 17-06-2009 – António Paulo Cadete Costa; Produtos 12285,
12317, 12320, 12321, 12335 Alvo 1T167PM – Manuel Godinho)

- 1336º - (Apenso D3 – fls. 50 a 55; Apenso D3 – fls. 221)

- 1337º;

- 1338º - ( factos indiciados no Apenso D4 – fls. 52 a 55; Volume 32 – fls.


11585 – Interrogatório de António Paulo Costa)
- 1339º;

- 1347º - ( Com interesse cfr. Produto 18 do Alvo Manuel Godinho)

- 1350º - ( cfr. elementos indicados a propósito do artº 1338º e Produtos


10746, 10758, 10781, 11187 Alvo de Manuel Godinho)

- 1352º - ( Com interesse cfr. Produtos 10781 e 6678 do Alvo de Manuel


Godinho)
- 1354º - (Apenso D5 – fls. 2)

- 1357º, 1359º;

- 1360º - (Produtos 11229 e 11232 do Alvo Manuel Godinho)

- 1365º;

- 1366º - (Produto 11377 do Alvo Manuel Godinho)

- 1367º - (Produto 11379 do Alvo Manuel Godinho)

- 1369º - (Produto 11381 do Alvo Manuel Godinho)

- 1374º - (Apenso D3 – fls. 59)

- 1375º - (RDE – fls. 3182 a 3225 do Volume 11)

- 1377º, 1378º;

887
S. R.

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- 1379º - (Produto 12369 do Alvo Manuel Godinho)

- 1381º - (Produto 12370 do Alvo Manuel Godinho)

- 1384º, 1390º;

- 1391º - (RDE – fls. 3286 a 3305 do Volume 11)

- 1393º;

- 1397º - (Produto 12861 do Alvo Manuel Godinho)

- 1398º e 1399º - (Fls. 23568 do Volume 69)

- 1400º;

- 1402º - (Produtos 13516 e 13536 do Alvo Manuel Godinho)

- 1404º - (Produtos 13682 e 13749 do Alvo Manuel Godinho; Produto


1037 PN - Alvo de Paiva Nunes 39559PM)
- 1407º - (Produto 14031 do Alvo Manuel Godinho)

- 1408º - (Produto 10507 do Alvo Namércio Cunha)

- 1411º - (Produto 14418 do Alvo Manuel Godinho)

- 1412º;

- 1421º - (Apenso D5 – fls. 18 a 20)

- 1422º - (Produtos 15053, 15055, 15078, 15079, 15091 Alvo Manuel


Godinho)

- 1423º;

- 1448º - (Produto 14031 Alvo Manuel Godinho)

- 1451º - (Produto 17498 do Alvo Manuel Godinho)

- 1517º - (Produto 6048 Alvo Paiva Nunes)

- 1520º e 1521º - (Produto 6452 do Alvo Paiva Nunes)

- 1522º;

- 1524º e 1525º - (Apenso D4 – fls. 111 a 113)

888
S. R.

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- 1527º - (Produto 22056 Alvo Manuel Godinho)

- 1528º - (Apenso D4 – fls. 111 a 113)

- 1529º - (Produto 7238 do Alvo Paiva Nunes)

- 1530º - (Produto 7240 do Alvo Paiva Nunes)

- 1531º;

- 1532º - (Produto 22800 do Alvo Manuel Godinho)

- 1535º - (Produto 22965 e 23086 do Alvo Manuel Godinho)

- 1537º, 1556º, 1559º, 1562º, 1565º, 1567º, 1569º.

Indicam-se ainda os seguintes factos e elementos, com interesse


para a decisão, que se mostram demonstrados indiciariamente nos autos
e com base nos quais também formamos a convicção sobre o seguinte:

A sociedade Petróleos de Portugal – Petrogal, S.A., é uma


sociedade cuja totalidade do capital social é detido pela sociedade Galp
Energia, SGPS, S.A. Por sua vez, esta sociedade é accionista maioritária em
sociedades que exercem actividades reguladas no sector da energia (Cf. fls.
174 a 193, do apenso 1 e 165 a 181 do apenso 19).

O arguido António Paulo Cadete de Almeida Costa era


responsável, desde 24 de Abril de 2007, pelas Relações Institucionais e
Comunicação Interna da Petróleos e Portugal - Petrogal, S.A.

Assim, indiciam os autos que, na sequência dos encontros entre


Armando Vara e Manuel Godinho (cf. RDE de 23/05 a fls. 2752 a 2784) e entre
este ultimo e Paiva Nunes (cf. RDE de 25/05, a fls. 2787 a 2809), no dia
27/05, António Paulo Costa reuniu-se com Paiva Nunes e Manuel Godinho no
Hotel Altis, em Lisboa.

889
S. R.

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A viatura Mercedes-Benz, com a matrícula 33-DV-74, encontra-se


registada em nome da sociedade Lease Plan Portugal – Comércio e Aluguer de
Automóveis Unipessoal (cf. fls. 2875).

Esta mesma viatura viria a ser referenciada noutras ocasiões,


igualmente conduzida por António Paulo Cadete de Almeida Costa (cf. fls. 3286
a 3305 e 4874 a 4882).

Resulta dos elementos probatórios recolhidos que Paiva Nunes, na


sequência da solicitação que lhe fora feita por Armando Vara, promoveu a
apresentação do Eng.º Paulo Costa, quadro superior da Galp Energia, S.A e da
Petróleos de Portugal – Petrogal S.A., ao arguido Manuel Godinho, para que
também ele exercesse a sua influência e o seu poder de decisão com vista à
adjudicação de trabalhos na área dos resíduos a empresas de Manuel
Godinho.

O Eng.º Paulo Costa é, também e segundo Paulo Penedos, “amigo” de


Armando Vara, e “uma pessoa bem conceituada entre os nossos amigos”,
segundo Manuel Godinho. É o que resulta do Produto 10758 - Alvo 1T167PM -
29/05/2009 – Paulo Penedos (chamada transferida a partir do telefone fixo da
SCI) em conversa com Manuel Godinho.

Nesse mesmo telefonema, Paulo Penedos, a pedido de Manuel


Godinho, fornece o número de telemóvel do Engº Paulo Costa da GALP (962
971 903).

Manuel Godinho, justificando o pedido de contacto telefónico, diz a


Paulo Penedos que vai ter uma reunião na GALP com um indivíduo que é da

890
S. R.

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“área dele”, referindo-se a António Maria Kopke de Melo Túlio – antigo Director
de Comunicação da GALP Energia e, actualmente, administrador executivo da
Soturis – Sociedade Imobiliária e Turística S.A., cujo capital social é detido
quase na totalidade pela Petrogal S.A.

Face aos elementos apurados em inquérito, entende o JIC, à


semelhança do que sucedeu com Paiva Nunes, também António Paulo Costa
se propôs a colocar ao serviço de Manuel Godinho e das suas empresas o seu
poder de decisão e de influência, por forma a que lhe fossem atribuídas
adjudicações de obras e de contratos.

À semelhança do que ocorreu com Paiva Nunes, também António


Paulo Costa viria a receber de Manuel Godinho, como contrapartida pela
promessa de adjudicações futuras, uma viatura de alta cilindrada e de valor
comercial que superior a duas centenas de milhar de euros.

Assim, no dia 17 de Junho, Manuel Godinho entregou a viatura


Mercedes-Benz CL 65 AMG, com a matrícula 68-GV-25, a António Paulo Costa
(cf. fls. 268 a 269 do apenso 23).

Aproveitando a reunião no Hotel Altis e perante a receptividade às


suas ambições, Manuel Godinho transmitiu a António Paulo Costa que lhe
havia sido adjudicada a prestação de trabalhos de desmantelamento e
descontaminação do Parque de Sacavém da Petrogal, mas que a sua
execução se achava suspensa.

António Paulo Costa informou-o, então, que aquele Parque se


encontrava em vias de alienação, mas que lhe iria providenciar uma reunião

891
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

com o Administrador responsável pelo processo para que o inteirasse do seu


estado.

Aduziu que a Galp Energia iria lançar uma consulta pública, com vista
ao desmantelamento do batelão Sacor II, propriedade da Sacor Marítima,
empresa do Grupo Galp Energia, disponibilizando-se para diligenciar pela
adjudicação daquela prestação de serviços à "02".

Finalizou dizendo-lhe que, relativamente a outros trabalhos, seria


adequado elaborar uma carta de apresentação.

No dia 29/05, na sequência das diligências desenvolvidas pelo Eng.º


Paulo Costa a propósito da demanda de Manuel Godinho sobre a prestação de
trabalhos de desmantelamento e descontaminação do Parque de Sacavém da
Petrogal, Manuel Godinho reuniu-se no edifício da GALP, em Lisboa com
António Túlio, quadro superior daquela empresa. Em causa estaria, pelo
menos, a adjudicação de gestão de resíduos a empresas de Manuel Godinho –
vidé elementos constantes de fls. 52 a 55 do Apenso D4, fls. 2 do Apenso D5,
depoimento de António Paulo Costa a fls. 11585 do Vol. 32, produtos 6678,
10746, 10758, 10781 e 11187 do Alvo 1T167PM.

De assinalar que, da lista telefónica apreendida nas instalações da


sociedade SCI em 24/06, constam os registos manuscritos dos n.os de
telemóvel 962971903 e 962831260, associados aos utilizadores “Eng. Paulo
Costa “ e “António Tulha Galp Lisboa”, respectivamente (cf. fls.117 verso do
apenso 24).

Este trata-se do primeiro acto de que se tem conhecimento do


empenho de António Paulo Costa em favor de Manuel Godinho relativamente a

892
S. R.

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matérias que lhe interessavam, decorrentes das relações comerciais entre as


suas empresas e a Galp Energia.

Fruto da sua capacidade para influenciar o decisor, António Paulo


Costa logrou que Manuel Godinho fosse recebido por um quadro superior da
GALP, reunião esta que ele há muito ansiava.

A reunião entre Manuel Godinho, António Túlio e o Engº Paulo Costa,


ocorrida no dia 29 de Maio de 2009, só foi possível graças à influência movida
pelo Engº Paulo Costa (Produto 10781 - Alvo 1T167PM - 29/05/2009 – Engº
Paulo Costa  Manuel Godinho).

Foi dito por António Túlio, no âmbito das declarações por si prestadas
no inquérito, que – “O Eng. Paulo Costa contactou o depoente, através de um
telefonema, ocorrido 2 ou 3 dias antes da reunião do dia 29-05-2009, dizendo que tinha
acabado de estar num almoço com um senhor (Manuel Godinho) que pretendia
informações sobre o terreno do Parque de Sacavém, uma vez que, esse mesmo senhor
tinha algumas reservas relativamente ao processo do Parque de Sacavém”

O motivo pelo qual o Manuel Godinho solicitou ao Engº Paulo Costa a


marcação desse encontro foi explicado pelo próprio António Túlio – “Na altura o
Sr. Manuel Godinho transmitiu ao inquirido que tinha ganho um concurso em
Novembro/Dezembro de 2008, para o desmantelamento do Parque de Sacavém,
concurso esse lançado pela área de Logística e Compras da Galp, e nunca mais lhe
tinham dito nada. O depoente esclareceu o Sr. Manuel Godinho que esse processo de
adjudicação estava suspenso, porque havia uma proposta para a compra do Parque de
Sacavém, datado de Fevereiro de 2009, no estado em que o mesmo se encontrava, pelo
que o Comissão Executiva da Galp Energia, tinha decidido a venda nesses termos.”

Apesar desta situação não estar directa ou indirectamente ligada às


funções do Engº Paulo Costa, este proporcionou o encontro e marcou

893
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

presença na mesma conforme disse o António Túlio – “A reunião realizou-se no


dia 29-05-2009, às 11H, na Sala Faro, da Torre A, tendo estado presente o Sr. Manuel
Godinho, o depoente e o Eng. Paulo Costa. Porque perguntado esclarece que não foi
efectuado qualquer registo formal dessa reunião.” (fls.1 a 4 do Apenso D-5
GALP\Antonio Maria Kopke de Melo Tulio).

Acerca dessa reunião, Paiva Nunes, uns dias mais tarde, questionou
Manuel Godinho sobre a forma como decorreu tendo mencionado já ter
conversado com o Engº Paulo Costa sobre o mesmo assunto. (Produto 11187 -
Alvo 1T167PM - 03/06/2009 Manuel Godinho  Paiva Nunes).

Dir-se-á que deste encontro não resultou qualquer benefício para


Manuel Godinho, pois que o que se achava suspenso permaneceu.

Mas se tal é correcto, certo é, também, ser inegável o diligenciar em


prol de Manuel Godinho, consubstanciado não só na capacidade de António
Paulo Costa para, no interior da GALP, determinar o processo de decisão
(conseguiu que António Túlio se reunisse com Manuel Godinho), mas também
e predominantemente uma evidente colocação dos poderes de facto
decorrentes da funções que exercia na Galp , ao serviço de Manuel Godinho.

António Paulo Costa funcionou, tudo o indica, como núncio de Manuel


Godinho, desviando-se quer das suas funções, quer da procura da satisfação
dos interesses da GALP no exercício daquelas.

Indicia-sde, pois, que António Paulo Costa menosprezou as obrigações


inerentes às funções por si desempenhadas na GALP, ao colocar-se ao serviço
de Manuel Godinho.

894
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Exorbitou as competências e atribuições próprias da função de


responsável pelas Relações Institucionais e Comunicação Interna e
prevalecendo-se do seu cargo na hierarquia do Grupo Galp Energia, logrou a
marcação de uma reunião, no dia 29 de Maio de 2009, de Manuel Godinho
com António Túlio, Administrador da Soturis. - Sociedade Imobiliária e
Turística, S.A., empresa do Grupo Galp Energia, responsável pelo processo de
venda do Parque de Sacavém da Petrogal.

Argumenta o arguido que sendo responsável pelas Relações


Institucionais e Comunicação Interna da Petróleos e Portugal - Petrogal, S.A.
lhe cabia intermediar estes contactos – “Por tal, não era de todo estranho,
invulgar, anormal ou mesmo irregular – era antes sua função (!) - que o arguido
recebesse representantes legais de empresas e os ouvisse nas suas propostas e
planeamento de negócios, podendo mesmo (como inúmeras vezes fez) agendar reuniões
internas com o departamento competente não deixando (como era normalíssimo) de
acompanhar o processo, mas sem nunca ter nele qualquer poder de influência ou de
decisão.”

O arguido Paulo Costa identificou o quadro funcional que legitimava a


sua actuação:
“- conceber a estratégia de Relações Institucionais e Comunicação Interna
bem como coordenar a sua implementação no quadro de valores da GALP Energia, de
acordo com as directrizes gerais aprovadas pela Comissão Executiva, no sentido de
assegurar o posicionamento do grupo GALP Energia no circuito de influências das
instituições e organismos relacionados com o mercado estratégico, bem como garantir
o fluxo e a partilha transversal da informação a nível interno;
- “identificar entidades portadoras de negócios emergentes e promover a sua
integração nas unidades de negócio/empresas do grupo com o objectivo de aumentar a
cadeia de valor da GALP Energia, assim como, alavancar as relações institucionais ao

895
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

nível da sociedade (em todas as suas vertentes) traduzindo-se assim numa


concretização dos objectivos traçados pela Comissão Executiva.”

À puridade não encontramos neste descritivo de funções qualquer


fundamento para a intervenção de António Paulo Costa, na pratica dos factos
nos termos referidos e nos factos que lhe são imputados e resultam dos autos.

A referida reunião apenas serviu interesses de Manuel Godinho, não


se descortinando em que medida poderia satisfazer qualquer pretensão da
GALP, nem como se poderia inserir no quadro funcional de António Paulo
Costa.

Aliás, por alguma razão, esta reunião não conheceu registo formal.

A GALP há muito que tinha decidido suspender a prestação de


serviços de desmantelamento e descontaminação do Parque de Sacavém da
Petrogal.

Manuel Godinho, pelo contrário, ainda almejava à sua adjudicação ou,


pelo menos, a ser informado do estado do processo, informação que, sendo ou
não privilegiada, o certo é que, até então, lhe havia sido inacessível (o que
redundou numa evidente vantagem para Manuel Godinho, ao ter granjeado
informação que antes não dispunha e que para si era importante).

Mas, acresce que do encontro, resultou para Manuel Godinho um


conhecimento acrescido, qual tenha sido que o Parque de Sacavém seria
vendido e, bem assim, que competiria ao comprador o desmantelamento das
estruturas e a descontaminação do solo.

896
S. R.

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Este conhecimento colocou-o numa posição de privilégio relativamente


às demais empresas do sector, pois que soube, antecipadamente, qual o
destino consagrado pela GALP para o Parque de Sacavém, ao mesmo tempo
que lhe permitiu perscrutar a identidade do comprador, em ordem a oferecer-
lhe os préstimos da “O2”.

Aliás, se conseguiu ou não saber a identidade do comprador, foi


matéria cuja demonstração não se logrou determinar.

Na reunião no Hotel Altis, António Paulo Costa transmitiu, igualmente,


a Manuel Godinho que a Galp Energia iria lançar uma consulta pública, com
vista ao desmantelamento do batelão Sacor II, propriedade da Sacor Marítima,
empresa do Grupo Galp Energia.

Diz o arguido que não deu, nem podia dar conhecimento prévio da
realização de quaisquer concursos ou consultas públicas de adjudicação de
contratos de prestação de serviços.

Mas, como explicar então que, tendo a consulta para o


desmantelamento do batelão Sacor II sido lançada a 18 de Junho de 2009,
existam conversas entre si e Manuel Godinho sobre o assunto em data prévia,
nomeadamente os produtos 11229 e 11232 do Alvo 1T167PM ?

Não se fala directamente do assunto, mas a demanda de António


Paulo Costa permite perceber que a questão foi efectivamente abordada.

Acaso o assunto dos desmantelamentos de navios não tivesse sido


falado, que sentido faria o pedido de António Paulo Costa para que Manuel
Godinho lhe fizesse chegar “as características do estaleiro de demolição de
navios”.

897
S. R.

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Aliás, António Paulo Costa diz mesmo: “Pois, não sei, você disse
cinco mil toneladas, não é?”, ou seja, remete o enquadramento para um
encontro anterior em que a questão havia sido discutida.

Aliás, estes produtos mostram o afinco colocado por António Paulo


Costa na satisfação dos desejos de Manuel Godinho.

E isto apenas cinco dias após o ter conhecido, o que se afigura ao JIC
ser, pelo menos, um indicio de que lhe queria ser prestável.

Atente-se nos seguintes Produtos das intercepções:

Produto 11229 – Alvo - 1T167PM - 03/06/2009 – Eng. Paulo Costa 


Manuel Godinho:
Eng.º Paulo Costa diz a Manuel Godinho que precisava de saber as
características do estaleiro de demolição de navios. Este diz que não sabe, que vai
recolher os dados necessários e que depois lhe telefona. No entanto, informa-o que a
empresa se chama FRACON.

- Produto 11232 – Alvo 1T167PM - 03/06/2009 – Eng. Paulo Costa 


Manuel Godinho:
Manuel Godinho diz a Eng.º Paulo Costa, a quem passou a tratar por tu, que já
tem o alvará para mandar e pede um número de fax para lhe poder enviar o documento.
Eng. Paulo Costa fornece-lhe o número 217242976 (número registado em
nome de GALP ENERGIA e Petróleos de Portugal – Petrogal SA).
Combinam almoçar na próxima semana.

Sobre esta situação foi inquirido Luís Ourique Martins Carneiro que,
desde 2002, é administrador delegado da sociedade Sacor Marítima SA,

898
S. R.

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tratando-se de uma empresa do grupo Galp Energia que se dedica ao


transporte marítimo de produtos petrolíferos (inquirição a fls. 11 a 13 do
Apenso D-5 GALP\Luis Ourique Martins Carneiro ).

Sobre o referido navio referiu – “Existia um batelão designado Sacor II que


apresentava uma situação de construção suspensa por denúncia do contrato devido a
graves erros de construção. Foi feita a análise económica e colocou-se a questão de
abandono do projecto. Um dos limites do abandono do projecto seria vender o batelão
para sucata. Esta foi umas das possibilidades levantadas para a resolução da questão
entre outras.
Nessa medida, entre Maio e Julho, do ano transacto, não conseguindo
precisar qual o mês em concreto, a transição da análise das eventuais alternativas para
resolução do projecto do batelão, entre as quais, a sua venda para sucata, passou para
a Direcção de Compras da Galp.
Recorda-se de ter havido, pelo menos quatro propostas para sucata, entre as
quais uma da O2. Nenhuma das propostas serviu os interesses do Grupo Galp Energia
e, em Agosto do ano passado, foi decidido continuar com a reparação e finalização do
navio.”

Foi confirmado, através do ofício, datado de 01 de Outubro de 2010 e


assinado pelo Director dos Serviços Jurídicos da Galp Energia, Dr. Rui Mayer,
que o concurso “CR20/09” para venda do navio “SACOR II” foi aberto por
consulta emitida em 26 de Junho de 2009 pela Direcção de Compras da Galp
Energia SA. (cfr. fls. 23450 do Volume 69).

No decurso do escrutínio o JIC referenciou que há, inclusivamente,


uma conversa entre o Namércio Cunha e uma funcionária da O2, ocorrida no
dia 26 de Junho de 2009, onde é mencionado um concurso da Galp acabado
de chegar para a aquisição do navio “Sacor”. (Produto 9842 - Alvo 38250PM -
26/06/2009).

899
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

No âmbito do seu interrogatório complementar, Namércio Cunha


referiu, a propósito desta consulta para aquisição do navio “Sacor”, para
sucata, que a mesma ocorreu em Junho de 2009 – “Relativamente ao navio
“Sacor” ficou com a percepção de que a consulta foi no sentido “de fazer número”, ou
seja, a Galp estaria a espera de obter uma noção do valor do navio caso fosse para
abate. Isto porque não fazia sentido vender para sucata um navio novo com os
principais componentes instalados ou por instalar. Referiu que não estava, na altura,
consciente que o Engº Paulo Costa, administrador da Galp, pudesse estar por detrás
desta consulta, todavia, soube que ele conhecia a existência da consulta”. (fls. 22970 a
22974 do Volume 67 VOLUME 67\NAMÉRCIO CUNHA - INT. 16.09.2010 )

Ou seja, não considerou aquela consulta muito credível e a verdade é


que, tal como vem mencionado no ofício e referido pelo administrador da Sacor
Marítima SA, Luís Carneiro, em Agosto do ano passado foi decidido que iriam
proceder à reparação e finalização do navio.

Ainda acerca da consulta do navio Sacor, foi inquirido Francisco João


dos Ramos Augusto, funcionário que exerce funções numa das áreas da
Direcção de Compras da Galp (inquirição a fls. 14 a 16 do Apenso D-5
GALP\Francisco João dos Ramos Augusto ), pois o mesmo foi indicado pelo
Engº Paulo Costa, aquando da realização do seu primeiro interrogatório
judicial, como sendo a pessoa que lhe falou da existência desse navio para
desmantelamento (fls. 11586 do Volume 32 VOLUME 32\PAULO ALMEIDA COSTA
INT).

Mais concretamente, o Engº Paulo Costa afirmou, no seu


interrogatório, que mencionou ao Engº João Ramos que o Manuel Godinho
tinha um estaleiro para desmantelamento de navios e, foi-lhe respondido que o

900
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Godinho iria ser consultado com referência a um trabalho, dado que o
navio novo que a Galp possuía apresentava problemas.

Contudo, o Engº João Ramos, na sua inquirição, não confirma esta


versão – “Relativamente à afirmação do Engº Paulo Costa como tendo dito ao
declarante que Manuel Godinho possuía um estaleiro de desmantelamento de navios e,
que, o declarante ter-lhe-á retorquido que o Manuel Godinho iria ser consultado para
um concurso referente à venda de um navio da Galp, o declarante admite como
plausível que o Engº Paulo Costa pudesse ter mencionado que o Manuel Godinho
possuía um estaleiro mas relativamente à sua referência ao Engº Paulo Costa da
existência de um concurso para venda de um navio diz nunca ter feito tal comentário
até porque não tem acesso a essa matéria e não está no seu âmbito de actividades.”

O produto 14031 do Alvo 1T167PM evidencia também o nível de


envolvimento de António Paulo Costa com os interesses de Manuel Godinho
consubstanciado, neste particular, no conhecimento por si patenteado da
consulta pública com vista ao desmantelamento do batelão Sacor II e na
preocupação manifestada com a apresentação de proposta pela O2. :

PRODUTO Nº: 14031


DATA/HORA: 03/07/2009 – 09h24m30s
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – Eng.º Paulo Costa

ENG.º PAULO COSTA – Sim?

MANUEL GODINHO – Sim?

ENG.º PAULO COSTA – Bom dia, tá bom?

MANUEL GODINHO – Olá Sr. Engenheiro, bom dia! Tudo bem.

ENG.º PAULO COSTA – Pronto, olhe diga-me duas coisas...

MANUEL GODINHO – Diga.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

ENG.º PAULO COSTA – Chegou a mandar lá a proposta para aquilo


do navio, para o desmantelamento, ou…

MANUEL GODINHO – Mandámos. É hoje…

ENG.º PAULO COSTA – Tá bem, e diga-me uma coisa, a carta de


apresentação da empresa, também já mandou?

MANUEL GODINHO – É pá, esqueci-me ó… tenho andado com a


cabeça em água, esqueci-me disso, pá.

ENG.º PAULO COSTA – Oh carai...

MANUEL GODINHO – Esqueci-me, vou mandar, vou mandar, eu vou


falar já com o Dr. Namércio e vou mandar isso, tá bem?

ENG.º PAULO COSTA – Tá bem, OK… (sobreposição de vozes).

MANUEL GODINHO – Aquele problema…

ENG.º PAULO COSTA – Tem morada, tem tudo, não tem?

MANUEL GODINHO – Sim, sim, sim, sim. Aquele problema que


surgiu, eu já sei o que é que se passa…

ENG.º PAULO COSTA – OK, tá bem…

MANUEL GODINHO – E não é nada, nada que eu não possa resolver


nestas duas semanas.

ENG.º PAULO COSTA – Tá bem, OK.

MANUEL GODINHO – Ok?

ENG.º PAULO COSTA – Então vá…

MANUEL GODINHO – De qualquer das maneiras já falei também


com o nosso amigo.

ENG.º PAULO COSTA – É preciso é saúde.

MANUEL GODINHO – É exactamente isso, OK?

ENG.º PAULO COSTA – Tá bem, vá…

902
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Um abraço.

ENG.º PAULO COSTA – Abraços.

MANUEL GODINHO – Adeus.

Por fim, saliente-se que o próprio arguido, em sede de processo


disciplinar, reconheceu que perscrutou junto do Administrador da Sacor
Marítima, Martins Carneiro, informações sobre a consulta pública com vista
ao desmantelamento do batelão Sacor II, ficando a saber que aquele não seria
desmantelado, o que logo se apressou a transmitir a Manuel Godinho.

Na reunião no Hotel Altis, António Paulo Costa transmitiu, igualmente,


a Manuel Godinho que, relativamente a outros trabalhos, seria assisado
elaborar uma carta de apresentação.

Manuel Godinho foi incentivado a apresentar uma carta de


apresentação/currículo à Galp Energia apesar de a O2 já ser uma empresa
conhecida e qualificada pela Galp.

Das conversas mantidas retira-se a indicação que esta carta de


apresentação/currículo iria servir para uma consulta para a gestão de resíduos
perigosos que a Galp estaria a equacionar.

Veja-se o que revela o Produto 14031 – Alvo 1T167PM - 03/07/2009 -


Eng.º Paulo Costa Manuel Godinho:

Eng.º Paulo Costa pergunta se chegou a mandar a proposta para o


desmantelamento do navio. Manuel responde que enviaram.

903
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Paulo Costa pergunta se mandou também a carta de apresentação da empresa.


Manuel Godinho diz que se esqueceu, mas que vai enviar.
Manuel Godinho informa que, sobre aquele problema que surgiu, já sabe o que
é que se passa e que não é nada que ele não possa resolver nas próximas duas semanas.
No entanto, diz ele, também já falou com “o nosso amigo”.

E o Produto 14496 – Alvo 1T167PM - 08/07/2009 - Namércio Cunha 


Manuel Godinho:
Manuel Godinho dá instruções para Namércio Cunha fazer um curriculum da
“O2”, para mandar para a GALP para uma gestão global de resíduos. Este deve ser
acompanhado de uma carta. No entanto Manuel Godinho não sabia muito bem a quem
devia ser dirigida porque, segundo ele diz, “eles deram-me um papel mas eu perdi-o”.
Acabam por decidir dirigir a carta à administração da GALP.
Namércio pergunta se é para enviar e Manuel Godinho diz que ele próprio a
levará em mão no dia seguinte.
Manuel Godinho pede a Namércio para ele lhe arranjar uns cartões da “O2”
porque amanhã vai estar num almoço.

- Produto 10826 - Alvo 38250PM - 08/07/2009 – Namércio Cunha  Elsa


(O2):
Namércio Cunha dá instruções a funcionária da O2 para pôr num envelope um
company completo, com as licenças e uma carta de apresentação dirigida à
administração, GALP ENERGIA, com a morada de Lisboa (Torres…), tendo como
assunto a gestão global de resíduos.
Esta pergunta se não trabalham já com a GALP. Namércio Cunha diz que
apenas nos metálicos.
Namércio Cunha pede também para juntarem um cartão do Sr. Godinho nesse
envelope.

904
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

- Produto 14950 – Alvo 1T167PM - 13/07/2009 - Engº Paulo Costa


Manuel Godinho:
Eng.º Paulo Costa pergunta a Manuel Godinho se já tem a carta de
apresentação para lhe entregar.
Manuel Godinho diz que sim e que lha leva a Lisboa no dia seguinte.
Paulo Costa diz que amanhã vai ao Porto e sairá de lá às 04h00.
Combinam encontrar-se em Aveiro por volta das 5h00.

- Produto 15078 – Alvo 1T167PM - 14/07/2009 - Eng.º Paulo Costa 


Manuel Godinho:
Eng.º Paulo Costa diz que está a sair do Porto.
Manuel Godinho pergunta se podem encontrar junto ao estádio do Beira-Mar e
pede-lhe para ele lhe ligar quando estiver a chegar.

- Produto 15079 – Alvo 1T167PM - 14/07/2009 - Eng.º Paulo Costa


Manuel Godinho:
Eng.º Paulo Costa pergunta se o estádio do Beira-Mar é aquele novo.
Manuel Godinho diz que sim, que é no mesmo sitio onde se encontraram da
outra vez.

- Produto 15091 – Alvo 1T167PM - 14/07/2009 - Eng.º Paulo Costa 


Manuel Godinho:
Eng.º Paulo Costa diz que já está a chegar à rotunda.
Manuel Godinho diz que vai já lá ter.

Assim, no dia 14 de Julho de 2009, Manuel Godinho entregou uma


carta de apresentação e respectivo curriculum da sua empresa O2 ao Eng.º
Paulo Costa, quando se encontraram em Aveiro, junto à rotunda do estádio do
Beira-Mar (Vide RDE de fls. 3639 a 3645 do VOLUME 12\RDE 14-07
AVEIRO).

905
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Namércio Cunha, em declarações complementares considerou tratar-


se de uma situação estranha – “Percepcionou que houve outros assuntos ligados à
Galp que surgiram por influência do Engº Paulo Costa, nomeadamente, a questão da
gestão de resíduos perigos da Galp onde fez notar ao Sr. Manuel Godinho não haver
muito interesse para a O2 porque teriam sempre que os reencaminhar.

Recorda-se, também, de o Sr. Manuel Godinho, em 2009, por indicação do


Engº Paulo Costa, lhe ter solicitado que enviasse um currículo completo para a Galp.
Achou essa situação estranha porque já trabalhavam há vários anos para a Galp e
sempre que havia uma consulta relacionada com a área da O2 a Direcção de Compras
da Galp consultava-os.”

De acordo com declarações prestadas pelo Engº Paulo Costa, em


sede de primeiro interrogatório judicial, foi o Engº João Ramos (funcionário que
exerce funções numa das áreas da Direcção de Compras da Galp) que lhe
referiu, após questionado acerca da existência de trabalhos a que Manuel
Godinho se pudesse apresentar, que ele deveria enviar uma carta de
apresentação/currículo para a Galp.

O próprio Engº João Ramos confirmou esta situação em sede de


inquirição: - “Sobre a afirmação do Engº Paulo Costa em que este mencionou ter
falado com o declarante acerca da existência de trabalhos a que Manuel Godinho se
pudesse apresentar respondeu que tal ocorreu e, que, disse ao Engº Paulo Costa que o
Manuel Godinho deveria enviar para a Galp uma carta de apresentação da empresa
O2, incluindo curriculum e licenças. Esta solicitação do Engº Paulo Costa terá
ocorrido antes de ir de férias em Agosto do ano passado.”

O mesmo disse ter recebido um mail de apresentação da O2 e, que,


tratou de o reencaminhar para o responsável da gestão de fornecedores da

906
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Galp – “Em relação à afirmação, do Eng° Paulo Costa em sede de primeiro


interrogatório judicial, de que entregou, no Departamento de Compras da Galp,
documentos relativos à O2, mais concretamente, uma carta de apresentação que
recebeu do Manuel Godinho numa ocasião em que se encontrou com ele numa rotunda
existente junto ao Estádio do Beira mar, em Aveiro, o declarante respondeu que
relativamente a esta carta de apresentação física não tem qualquer conhecimento.
Todavia, o declarante recorda-se de ter recebido um mail de apresentação da empresa
O2 que provinha da secretaria da Galp Energia e que se limitou a reenviar para o
responsável da gestão de fornecedores, Sr. Serrano.
Perguntado sobre qual a razão de ter sido o declarante a receber o dito mail
de apresentação respondeu que não sabe, talvez tivesse sido indicado pelo Engº Paulo
Costa ou quem enviou achou que fosse ele a pessoa que pudesse reencaminhar ao
processo.” (ver carta de apresentação da O2 enviada por mail para a Galp a fls. 17 a
20 do Apenso D-5 GALP\Juntada carta de apresentação da O2)

O teor do mail enviado por Namércio Cunha a João Ramos e o


agradecimento de António Paulo Costa a este são, particularmente,
impressivos do exposto – Apenso D4, fls. 111 a 113.

Senão vejamos:

“Estimado Dr. João Pereira Bastos,


Na sequência de um contacto com o nosso amigo Eng. Paulo Costa, vimos por
este meio enviar o nosso Company Pro file com apresentação das áreas de actividade da
nossa empresa. Deste modo, solicitamos a oportunidade de sermos consultados para
trabalhos que venham a realizar ( ... ).

A linguagem utilizada remete-nos, de pronto, para o “amiguismo” tão


próprio da sociedade portuguesa, para abrir portas e oportunidades.

907
S. R.

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Ao JIC não compete fazer juízos morais, apenas erigir presunções


judiciais dos factos que lhe foi dado verificar.

Os produtos 14031 e 14496 do Alvo 1T167PM evidenciam o


comprometimento de António Paulo Costa com os interesses de Manuel Godinho
plasmado, neste particular, na preocupação manifestada com a apresentação da carta de
apresentação/currículo da O2 à Galp Energia.

PRODUTO Nº: 14031


DATA/HORA: 03/07/2009 – 09h24m30s
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – Eng.º Paulo Costa

ENG.º PAULO COSTA – Sim?

MANUEL GODINHO – Sim?

ENG.º PAULO COSTA – Bom dia, tá bom?

MANUEL GODINHO – Olá Sr. Engenheiro, bom dia! Tudo bem.

ENG.º PAULO COSTA – Pronto, olhe diga-me duas coisas...

MANUEL GODINHO – Diga.

ENG.º PAULO COSTA – Chegou a mandar lá a proposta para aquilo


do navio, para o desmantelamento, ou…

MANUEL GODINHO – Mandámos. É hoje…

ENG.º PAULO COSTA – Tá bem, e diga-me uma coisa, a carta de


apresentação da empresa, também já mandou?

MANUEL GODINHO – É pá, esqueci-me ó… tenho andado com a


cabeça em água, esqueci-me disso, pá.

ENG.º PAULO COSTA – Oh carai...

908
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Esqueci-me, vou mandar, vou mandar, eu vou


falar já com o Dr. Namércio e vou mandar isso, tá bem?

ENG.º PAULO COSTA – Tá bem, OK… (sobreposição de vozes).

MANUEL GODINHO – Aquele problema…

ENG.º PAULO COSTA – Tem morada, tem tudo, não tem?

MANUEL GODINHO – Sim, sim, sim, sim. Aquele problema que


surgiu, eu já sei o que é que se passa…

ENG.º PAULO COSTA – OK, tá bem…

MANUEL GODINHO – E não é nada, nada que eu não possa resolver


nestas duas semanas.

ENG.º PAULO COSTA – Tá bem, OK.

MANUEL GODINHO – Ok?

ENG.º PAULO COSTA – Então vá…

MANUEL GODINHO – De qualquer das maneiras já falei também


com o nosso amigo.

ENG.º PAULO COSTA – É preciso é saúde.

MANUEL GODINHO – É exactamente isso, OK?

ENG.º PAULO COSTA – Tá bem, vá…

MANUEL GODINHO – Um abraço.

ENG.º PAULO COSTA – Abraços.

MANUEL GODINHO – Adeus.

Atente-se também no seguinte produto:

PRODUTO Nº: 14496


DATA/HORA: 08/07/2009 – 16h40m58s

909
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

INTERVENIENTES:
• DE – Namércio Cunha
• PARA – Manuel Godinho

*Chamada transferida a partir do telefone da rede fixa da


SCI Aveiro.

MANUEL GODINHO – Tou?

BRUNO – SCI – Sim, senhor Godinho, é o Dr. Namércio!

MANUEL GODINHO – Passa… Tou?

NAMÉRCIO CUNHA – Sim, então?

MANUEL GODINHO – Ó Namércio...

NAMÉRCIO CUNHA – Diga.

MANUEL GODINHO – Vais-me fazer um currículo da “O2”.

NAMÉRCIO CUNHA – Sim.

MANUEL GODINHO – E vais escrever uma carta ao cuidado do… A…


Eu não sei qual é o órgão, eles deram-me a direcção e eu perdi…

NAMÉRCIO CUNHA – Humm.

MANUEL GODINHO – …Da “Galp”, para uma gestão global de


resíduos… O licenciamento e etc., tas a ver?

NAMÉRCIO CUNHA – Sim.

MANUEL GODINHO – Percebes.

NAMÉRCIO CUNHA – OK!

MANUEL GODINHO – (Sobreposição de conversas).

NAMÉRCIO CUNHA – E ao cuidado… Depois diz-me ao cuidado da


pessoa em específico ou…

MANUEL GODINHO – Não… Entregas-me só...

NAMÉRCIO CUNHA – Ai entrego-lhe, tá bem.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Entregas-me...

NAMÉRCIO CUNHA – OK.

MANUEL GODINHO – Que é para eu trazer isso hoje.

NAMÉRCIO CUNHA – Mas faço uma cartinha a dizer que vimos por
este meio a disponibilizarmo-nos... Para… Tá bem, tá bem.

MANUEL GODINHO – OK?

NAMÉRCIO CUNHA – OK, tá.

MANUEL GODINHO – Quanto à “Galp”, não sei qual é a área… Põe a


área do ambiente, não é?

NAMÉRCIO CUNHA – Sim, a área do ambiente, embora eu não sei se


isso passa por eles, que eles têm vários departamentos, que eles não têm um
departamento praticamente que é da, porque é assim: as refinarias, cada uma
tem um departamento…

MANUEL GODINHO – Que a?

NAMÉRCIO CUNHA – As refinarias, cada um tem um departamento,


não é? As refinarias, quer dizer, Matosinhos tem um departamento ambiente,
a...

MANUEL GODINHO – Mas isso é para mandar para Lisboa, pá, tás a
entender?

NAMÉRCIO CUNHA – Pois.

MANUEL GODINHO – Fala em questão global.

NAMÉRCIO CUNHA – Pronto, agora podemos mandar é ao cuidado


da administração... Em geral e depois…

MANUEL GODINHO – Pode ser, ao cuidado da administração, exacto.

NAMÉRCIO CUNHA – E depois eles reencaminham…

MANUEL GODINHO – Tá bem.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

NAMÉRCIO CUNHA – Tá? OK, tá bem.

MANUEL GODINHO – Entrega ao João para ele logo, amanhã de


manhã me entregar.

NAMÉRCIO CUNHA – Certo.

MANUEL GODINHO – OK, não te esqueças.

NAMÉRCIO CUNHA – Tá, não.

MANUEL GODINHO – Chau. Vá OK…

NAMÉRCIO CUNHA – Tá… Até já.

MANUEL GODINHO – Olha…

NAMÉRCIO CUNHA – Diga.

MANUEL GODINHO – Arranja-me uns cartões da “O2” que eu


amanhã, vou estar aqui num almoço…

NAMÉRCIO CUNHA – OK.

MANUEL GODINHO – E pra… Eu entregar.

NAMÉRCIO CUNHA – Tá bem, tá bem.

MANUEL GODINHO – Mete também no… No currículo.

NAMÉRCIO CUNHA – OK, tá bem, tá bem, coloco um, sim senhor.

MANUEL GODINHO – Vá…

NAMÉRCIO CUNHA – Tá, até já.

Entre as diligências encetadas por António Paulo Costa avulta,


igualmente, a apresentação do Engº Manuel Rodrigues a Manuel Godinho.

No dia 22 de Junho de 2009, Manuel Godinho encontrou-se em Lisboa


com o Eng.º Paulo Costa e, juntos, seguiram para um restaurante em Marvila,

912
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

onde se terão ido encontrar com o Eng.º Manuel Rodrigues (RDE de fls. 3286
a 3305 VOLUME 11\RDE 22.06.2009).

Veja-se o que revelam os seguintes produtos:

- Produto 12562 – Alvo 1T167PM - 19/06/2009 - Eng.º Paulo Costa 


Manuel Godinho:
Eng.º Paulo Costa combina com Manuel Godinho almoçarem na segunda-
feira.

- Produto 12778 – Alvo 1T167PM - 22/06/2009 - Manuel Godinho  Eng.º


Paulo Costa:
Manuel Godinho e Eng.º Paulo Costa combinam encontrar-se no posto da
REPSOL, da Rotunda do Relógio, às 13h00.

- Produto 12803 – Alvo 1T167PM - 22/06/2009 - Paiva Nunes  Manuel


Godinho:
Paiva Nunes diz a Manuel Godinho que não poderá ir ao almoço, mas alerta-o
para o facto de que irá estar presente uma pessoa que será fundamental em todo o
processo, que é de Aveiro, ligado à área dos portos e com ligações extraordinárias.
Paiva Nunes pergunta se já falou com o Paulo Costa (Eng.º Paulo Costa).
Paiva Nunes acrescenta que a pessoa em causa é assessor do Sr. Amorim, uma
pessoa fundamental.
Aconselha Manuel Godinho a ouvir mais do que a falar e reafirma que aquela
pessoa, que acaba por identificar como sendo Manuel Rodrigues, é fundamental.

Produto 12803, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

PRODUTO Nº: 12803


DATA/HORA: 22-06-2009 11:23:00
INTERVENIENTES:
• DE – PAIVA NUNES
• PARA – MANUEL GODINHO

MANUEL GODINHO – Tou?


PAIVA NUNES – Tá bom?
MANUEL GODINHO – Oh, Sr. Engenheiro, bom dia.
PAIVA NUNES – Como é que você está?
MANUEL GODINHO – Tá tudo bem, obrigado. E o senhor, como está?
PAIVA NUNES – É? Tá tudo ok.
MANUEL GODINHO – Tá.
PAIVA NUNES – Olhe, primeiro, é para lhe dizer que esta... tudo aquilo que lhe
a... combinei consigo, nós estamos aqui a tratar.
MANUEL GODINHO – Sim.
PAIVA NUNES – A ver se ainda esta semana lhe digo alguma coisa.
MANUEL GODINHO – Sim.
PAIVA NUNES – E a outra, tem a ver com o almoço de hoje, que eu gostaria
muito de estar consigo...
MANUEL GODINHO – Tá bem
PAIVA NUNES – ... e com as pessoas que lá vão estar, mas que tenho alguma
dificuldade, porque já tinha isto marcado. Tinha aqui uma... vou a Rio Maior,
pá. Preferia estar com vocês. Também para lhe dizer que... que a pessoa com
que vai estar, é fundamental em todo este processo. Não sei se o Paulo já lhe
falou
MANUEL GODINHO – Não sei. Não, não me falou em nomes, não falou nada.
PAIVA NUNES – Não. Não. Não, você vai estar com uma pessoa, que também é
muito meu amigo, e que é um engenheiro... É sobre Aveiro, não é?
MANUEL GODINHO – Sim.
PAIVA NUNES – É um homem ligado ó.... a essa área dos desportos. Mas é um
indivíduo com ligações extraordinárias.
MANUEL GODINHO – Sim.
PAIVA NUNES – Asse... assessor... Ouça: você não fale. Se ele falar, muito bem.
Se ele não falar, você também não diga nada, que depois tratamos do
assunto...

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Sim, sim


PAIVA NUNES – ... de outra forma. Ele é assessor do... do senhor Amorim.
MANUEL GODINHO – Ah.
PAIVA NUNES – É o confidente do senhor Amorim. Tá a ver?
MANUEL GODINHO – Pois, pois
PAIVA NUNES – E pode... pode ter outras... outras... outras hipóteses de...
outras hipóteses de negócio aí para a sua área, tá a perceber?
MANUEL GODINHO – Ok
PAIVA NUNES – Ouça, ó... ó Godinho, você,,, você ouça... ouça...
MANUEL GODINHO – Sim, sim, sim
PAIVA NUNES – Ahaem... E depois aham... podemos, ou amanhã, ou quando ,
quando entender...
MANUEL GODINHO – Tá bem.
PAIVA NUNES – Tomamos um café os dois, e...
MANUEL GODINHO – Tá bem, tá bem.
PAIVA NUNES – Tá a ver? Mas é melhor ouvir, ouvir.
MANUEL GODINHO – Tá, ok.
PAIVA NUNES – É.. é... Ouça. É uma pessoa fun-da-men-tal.
MANUEL GODINHO – Tá bem
PAIVA NUNES – Tá a ver? E o Paulo, eu disse ao Paulo: “ sim senhora, com...”
Ele chama-se Manuel Rodrigues. E disse ao Paulo “O Manel é um... um tipo
porreiro, e o Godinho é um tipo porreiríssimo, pá, pode haver aí coisas de
interesse p’ra... p´ra ambos.
MANUEL GODINHO – Pois.
PAIVA NUNES – Tá a ver? Mas ouça, e depois ehee... comente.
MANUEL GODINHO – Tá bem.
PAIVA NUNES – Tá bem?
MANUEL GODINHO – Tá bem. Olhe...
PAIVA NUNES – Se tivesse possibilidade, eu ía lá. Ainda se venho a tempo,
ainda lá vou.
MANUEL GODINHO – Tá bem.
PAIVA NUNES – Que aquilo é lá no Beato, e eu parece que marcaram lá num
restaurante lá no Beato.
MANUEL GODINHO – Sim

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

PAIVA NUNES – E eu espero, ter tempo de, de... quando vier de Rio Maior...
Ou então ainda lhe dou um toque, tá bem?
MANUEL GODINHO – Tá bem, tá bem.
PAIVA NUNES – Mas esteja à vontade...
MANUEL GODINHO – (sobreposto) Mas aquilo...
PAIVA NUNES – Mas esteja à vontade...
MANUEL GODINHO – (sobreposto) Olhe...
PAIVA NUNES – ... com eles, tá a perceber?
MANUEL GODINHO – da... Sim, sim, sim. Daquilo, de lá de baixo... o
(imperceptível) não é para já, é?
PAIVA NUNES – Não, não. Estou a tratar de tudo. Porque é preciso licença, é
preciso uma série de coisas. Mas eu estou a tratar, não se preocupe.
MANUEL GODINHO – Tá bem ok.
PAIVA NUNES – Não vai agora... se não vai hoje vai amanhã. Se não vai
amanhã, vai depois de amanhã.
MANUEL GODINHO – Tá bem. Ok
PAIVA NUNES – Mas isso não se preocupe, que eu trato-lhe disso.
MANUEL GODINHO – Tá bem.
PAIVA NUNES – E agora, eu também... está bem encaminhado lá com o Paulo,
não é?
MANUEL GODINHO – Tá bem, tá bem.
PAIVA NUNES – Está, não está?
MANUEL GODINHO – Diga, diga?
PAIVA NUNES – Lá com o... com o Paulo, está bem en... estão... as coisas estão
bem encaminhadas?
MANUEL GODINHO – Tá, tá tudo porreiro.
PAIVA NUNES – Veja lá. Se... se fosse... Se precisar de alguma coisa que eu
faça...
MANUEL GODINHO – Não. Tá tudo porreiro.
PAIVA NUNES – Eu já...
MANUEL GODINHO – Nes... Tá tudo. Eu queria é que... começasse a ver...
alguma coisa, percebe? Que eu tou um bocadito à ras... à rasca aqui com o
pessoal.
PAIVA NUNES – Pois, eu... eu... eu... eu combinei com eles “Eh pá, ou de um
lado ou do outro, tem que... tem que... tem que se arranjar”, não é?
MANUEL GODINHO – (sobreposto – imperceptível)

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PAIVA NUNES – Mas isso esteja des... Quer dizer, o problema aqui é só de
timing, tá a ver?
MANUEL GODINHO – Pois.
PAIVA NUNES – É só o timing, porque... isso...
MANUEL GODINHO – Pois.
PAIVA NUNES – ...tudop se resolve. Agora, aham... não pode é... quer dizer,
você sabe... como é que é estas coisas...
MANUEL GODINHO – Eu percebo
PAIVA NUNES – E depois...
MANUEL GODINHO – Eu percebo.
PAIVA NUNES – ... é como dizem lá na minha terra: Quere-se a cadela...
MANUEL GODINHO – Aham... Eu depois eu falo, e a gente toma um café, tá
bem?
PAIVA NUNES – Tá bem, tá bem, tá bem.
MANUEL GODINHO – Tá?
PAIVA NUNES – Tá bem, ok.
MANUEL GODINHO – Ok
PAIVA NUNES – Um abraço para si. Obrigado

- Produto 1164 – Alvo 39354M - 22/06/2009 – Eng.º Manuel Rodrigues 


Lopes Barreira:
Eng.º Manuel Rodrigues após conversar algum tempo com Lopes Barreira
passa o telemóvel a Manuel Godinho.

- Produto 12861 – Alvo - 1T167PM - 22/06/2009 - Manuel Godinho  Eng.º


Paulo Costa:
Manuel Godinho refere que só agora é que saiu de lá. Informa que já recebeu a
consulta daquilo da ID (IDD). Pede ao Eng.º Paulo Costa que “aperte” um pouco com o
amigo deles para ver se ele manda aquilo para fora.
Paulo Costa diz que o vai fazer e pede para Manuel Godinho o avisar quando
for de novo a Lisboa, pois tem uma pessoa que gostaria de almoçar com ele.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 12861, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 12861


DATA/HORA: 22-06-2009 16:22:38
INTERVENIENTES:
• DE – ENGº PAULO COSTA
• PARA – MANUEL GODINHO

ENGº
PAULO COSTA – Tou? Sim?
MANUEL GODINHO – Sim?
ENGº PAULO COSTA – Tá bom, desde há bocadinho?
MANUEL GODINHO – Tudo bem, obrigado. Aham... Só agora é que saí de lá.
ENGº PAULO COSTA – Eh, pá!
MANUEL GODINHO – Foi. Estive lá na conversa com... com o sr. Engenheiro.
ENGº PAULO COSTA – (ri-se)
MANUEL GODINHO – Pois. Aham... Recebi a consulta... recebi a consulta
daquilo que falámos.
ENGº PAULO COSTA – Tá bem, ok. Porreiro.
MANUEL GODINHO – Da... da IDA
ENGº PAULO COSTA – Tá bem.
MANUEL GODINHO – Aham... Depois vamos (imperceptível) nisso.
ENGº PAULO COSTA – Tá bem. Então agora... uma boa proposta.
MANUEL GODINHO – Não fez... não fez mal eu ter falado nisso ao senhor, pois
não?
ENGº PAULO COSTA – Não, por amor de Deus, não fez mal nenhum, então.
MANUEL GODINHO – Pronto, ok.
ENGº PAULO COSTA – (sobreposto – imperceptível)
MANUEL GODINHO – Pronto, ok.
ENGº PAULO COSTA – Não tem problema nenhum.
MANUEL GODINHO – Aham... Pá, vê se me a... se apertas um bocadinho, com
o... com o nosso amigo, a ver se ele manda...

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

ENGº PAULO COSTA – Tá bem.


MANUEL GODINHO – ... manda isso para fora.
ENGº PAULO COSTA – Tá bem. Depois há-de... há-de me dizer quando é que
vem cá outra vez, que eu tenho aqui... que eu tenho aqui também outra
pessoa que quer almoçar consigo.
MANUEL GODINHO – Diga?
ENGº PAULO COSTA – Depois há-de me dizer quando é que vem cá outra vez,
agora...
MANUEL GODINHO – Sim.
ENGº PAULO COSTA – ...que eu tenho aqui outra pessoa para almoçar
consigo.
MANUEL GODINHO – Tá bem. Aham... Amanhã já confirmamos isso.
ENGº PAULO COSTA – Tá bem?
MANUEL GODINHO – Tá.
ENGº PAULO COSTA – Ok.
MANUEL GODINHO – Ok, um abraço.
ENGº PAULO COSTA – Adeus, um abração.

- Produto 12883 – Alvo - 1T167PM - 22/06/2009 - Manuel Godinho  Lopes


Barreira:
Lopes Barreira pergunta se Manuel Godinho tem alguma dificuldade em Viana
do Castelo (presume-se que se refira aos Estaleiros Navais de Viana do Castelo), pois o
“Manel” (Eng.º Manuel Rodrigues) mexe-se bem.
Manuel Godinho diz que “aquilo” está um bocado parado.
Lopes Barreira diz que, caso ele queira pôr aquilo a funcionar outra vez, ele
fala com o Secretário de Estado que é amigo dele.

- Produto 1219 – Alvo 39354M - 22/06/2009 – Lopes Barreira  Eng.º


Manuel Rodrigues:
Eng.º Manuel Rodrigues explica que estava a almoçar com o Paulo Almeida e
Costa e com o João Moita e que se lhes juntou Manuel Godinho.
Lopes Barreira refere-se ao vasto património de Manuel Godinho e diz que se
trata de “muitos milhões”.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Rodrigues diz que, depois de falar com ele, percebeu que pode haver
ali um bom potencial de coisas em que possa ajudar.
Lopes Barreira sugere juntarem-se os três, mas que antes gostaria de falar com
Manuel Rodrigues para lhe explicar como funciona Manuel Godinho.
Manuel Rodrigues refere que lhe explicou que tinha um bom leque de
conhecimentos nas empresas, mesmo nas públicas, e que lhe sugeriu prestar-lhe uma
assessoria. Acrescenta que Manuel Godinho tinha um assunto e que ele hoje já
telefonou para umas pessoas ligadas ao Exército.
Lopes Barreira diz que irá almoçar com Manuel Godinho na próxima segunda-
feira e combina com Manuel Rodrigues encontrarem-se antes na Consulgal para
falarem.

Como decorre dos textos das ditas conversas, resulta dos produtos
supra referidos, que após o almoço no restaurante “O Pateo”, Manuel Godinho
deslocou-se até ao escritório do Engº Manuel Rodrigues, situado na mesma rua
do restaurante, tendo aí recebido a consulta da IDD.

Isto mesmo é confirmado em sede de inquirição pelo próprio Engº


Manuel Rodrigues – “Esclarece que quando refere ao Dr. Lopes Barreira que já
tinha ligado ao exército, para tratar de um assunto ligado ao Sr. Manuel Godinho, diz
que, atendendo à excelente relação que tem com o Dr. José António Contradanças
ligou-lhe dizendo que tinha estado a almoçar com um senhor chamado Manuel
Godinho e que este lhe falou num concurso ligado à EMPORDEF. Nessa medida,
telefonou ao Dr. Contradanças dizendo-lhe que tinha gostado do Sr. Manuel Godinho e
que se tratava de uma pessoa com grande simpatia.
Refere que conhece o Dr. Contradanças, uma vez que, este esteve ligado à
parte da Educação e o depoente tem um colégio há trinta anos na Costa da Caparica.”
(inquirição a fls. 6 a 10 do Apenso D-5).

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

O Engº Manuel Rodrigues, para além de “amigo” do Dr. José


Contradanças, do Engº Paulo Costa, do Engº Paiva Nunes e do Dr. Lopes
Barreira, era assessor do empresário Américo Amorim e considerado peça
fundamental, por aqueles, nas questões marítimas e portuárias.

Alias, o mesmo Engº Manuel Rodrigues chega a referir ao Lopes


Barreira que poderia criar uma “assessoria” com o Manuel Godinho.

O mesmo Lopes Barreira diz-lhe que ele poderá fazer diversos


negócios com Manuel Godinho porque é um homem de muitos milhões mas,
primeiro, queria-lhe explicar como é que ele (Manuel Godinho) funciona.
(Produto 1219 – Alvo 39354M - 22/06/2009), que abaixo se transcreve, na integra,
para melhor se alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a
final efectuado pelo JIC/TCIC:

PRODUTO N.º 1219


DATA/HORA: 22/06/2009 21:49:49
INTERVENIENTES:
• DE – Dr. Lopes Barreira
• PARA – Eng.º Manuel Rodrigues

MR – Há pessoas boas no mundo...

LB – Olá Manelinho, então como é que o amigo está?

MR – Ó meu grande amigo, estou bem, aqui na Aroeira e tal

LB – Sossegadinho, não é?

MR – Sossegadinho e tal

LB – Olhe, ligou-me o Godinho

MR – Muito boa gente, pá

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

LB – Ó pá, olhe o Godinho, você nem imagina o que é aquilo pá, não faz ideia
nenhuma

MR – Não, não faço nenhuma, eu conheci-o hoje, por simpatia, ele foi ao meu
gabinete pá e depois falou de si com tanta elevação, que eu liguei logo

LB – É pá, eu ajudei muito este tipo, ã?

MR – Ele disse, ele disse porra

LB – Muito mesmo, ã?

MR – Ele tem uma gratidão, mas uma gratidão por si que é uma c..., por isso é que eu
liguei, então eu disse — Ó pá, então já somos dois — Disse eu eheh

LB – Sim, eu ajudei este tipo, porque é um tipo sé..., é franco, tá a ver? E é um tipo de
grande gabarito, você nem imagina, este homem pá, o património deste homem, com
que, com este homem lida, ã?

MR – Ai é? Fantástico, ainda bem

LB – É pá é uma coisa louca, mas é uma coisa louca, o gajo tem... dúzias de fábricas
que comprou pá, he..., foram à falência pá, he... o gajo tem, tem... , é um mundo, ele é
em Esposende

MR – Ó pá, a gente tem que falar os dois, porque eu, é pá, passei aí um mau bocado,
com a história da..., aqui para nós dois não é? Da fábrica da EURONEIVA, os gajos
limparam-me um milhão e meio de euros em dinheiro não é? Em dinheiro, deram-me
cabo da vida, bom, não interessa, mas isso foi, pá e hoje

LB – O quê?

MR – A mim não é?

LB – O quê pá?

MR – Uns bandidos, não é? É pá, eu pus aquilo, pus dinheiro, pus dinheiro, pus
dinheiro, os gajos limparam-mo, mas mão interessa, ó pá, a vida continua. Eu estive
agora em Angola, com o meu compadre Zé Leitão, a falar aí do meu grande amigo
Rogério e da, pronto, tudo o que tem a ver com a CONSULGAL e não sei quê, os
meus filhos estão lá, a gente está lá é pá, e aparece-me hoje no almoço, eu estava
com o João Moita e o Paulo Costa, o Paulo Almeida e Costa, com este senhor pá, é

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

pá e este senhor era uma simpatia ao almoço, uma grande simpatia, uma grande
simpatia, depois convidei-o para ir ao meu gabinete pá. É pá, ele começou a falar da
LISNAVE, é pá da LISNAVE o Dr. Lopes Barreira, tenho uma dívida eterna de
gratidão, foi uma pessoa. É pá, não me diga, atão já somos dois, que é uma pessoa
que eu adoro, bom, é pá, então foi daí a razão do telefonema e ele a falar, mas a falar
com uma elevação pá, ,muito educado, um homem muito ponderado

LB – Sim, sim, sim

MR – Eu disse-lhe, é pá, olhe, no que estiver ao meu alcance, eu também gostava até
porque

LB – Você para fazer negócios com o gajo, eu até sugeri a ele, mas ele disse, ee, ele
vem falar comigo para a semana

MR – Ai é? Fantástico

LB – É para a sema... esta semana não posso, mas para a semana vem falar comigo
e eu até disse, é pá, você, Godinho, estive a falar de si, evidentemente

MR – Claro, obrigado

LB – E portanto, você com ele pode estabelecer variadíssimos negócios pá

MR – Não, quer dizer, vamos lá a ver, eu tenho, eu tenho, depois a gente tem que
falar os dois, eu tenho de uma vez por todas de deixar-me de andar a fazer favores a
to..., ao mundo inteiro

LB – Isso é verdade

MR – É pá e fico eu sempre para trás porra, quer dizer, eu

LB – Isso é verdade

MR – Eu pago, a sério ó Lopes Barreira, eu pago, eu vou para Angola, pago a viagem
do meu bolso, da minha mulher

LB – Sim, sim, sim

MR – Ando a fazer negócios para os outros e depois eu fico sempre de fora

LB – Isso não pode ser ó Manel, isso não pode ser

MR – Começa a ser chato, pá, quer dizer, é pá, começo-me a sentir utilizado

923
S. R.

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LB – Mas é verdade, eu sempre vi isso ó Manel, eu sempre vi

MR – E agora é pá, começa a ser, porra, quer dizer, eu olho para o lado e assim,
espera aí, o tempo passa, as pessoas não sei quê, é pá e o Rogério sabe bem porra
eu nunca tive, o Rogério, tudo, onde o levei para minha casa naquele dia , eu
apresento-lhe a pessoas, é pá, eu não quero nada, mas quer dizer. Com este homem
percebi que pode haver um potencial de coisas

LB – Ora bem, é isso mesmo

MR – Que estejam na minha esfera e um gajo pode-se ajudar, não é?

LB – É sim sr. mas é isso mesmo. Eu até disse a ele, para a semana, se você estiver
cá, vamos almoçar os três

MR – Estou, estou, estou cá, com muito gosto

LB – Mas eu falo consigo, antes de falar, antes do nosso almoço

MR – Agradeço-lhe muito, agradeço-lhe muito

LB – Para o pôr a par como é que é

MR – Porque é que a gente não vem aqui um dia almoçar a minha casa?

LB – Tá bem, um dia quan..., esta semana não

MR – Qual é o dia que lhe dá jeito?

LB – Esta semana não, estou, tenho a...

MR – Para a outra?

LB – Para a outra semana, para aí um dia qualquer

MR – Olhe lá, o

LB – E logo nesse dia...

MR – O Duarte Lima disse-lhe alguma coisa daquilo da leucemia?

LB – falou comigo, falou e mandou-me uns papéis, pá, quando é que é?

MR – É no dia 2 pá, eu também vou e vai o meu compadre Zé Leitão, vem de


propósito, ele fica ao meu lado, lá na tribuna de honra pá, o meu compadre Zé Leitão,
o dono da esmola, não é?

924
S. R.

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LB – Sim

MR – Gerente do Grupo GEMA que é o homem que eu quero...

LB – Eu sei, eu sei

MR – Ligar com o, com o Rogério, não é?

LB – Eu sei, eu sei

MR – É pá, por isso, no dia 2, é pá, não sei, se a gente puder estar juntos, antes, era
bom

LB – Não, temos que estar então, por esta queremos pá

MR – Bem é pá, eu

LB – Marcamos e estamos juntos

MR – Vou ter consigo, vou ter consigo segunda-feira

LB – Quando é assim, eu queria estar consigo primeiro para explicar

MR – Com muito gosto

LB – Como é que é o gajo, como é que ele funciona, como é, ã

MR – Tá bem

LB – Mas é um gajo cem por cento

MR – Não, por amor de Deus, eu percebi logo, uma pessoa boa pá

LB – Cem por cento, cem por cento, não é noventa e nove, é cem por cento

MR – É um homem bom pá

LB – É e a mim, pá, eu sempre o ajudei muito, você nem queira saber o que eu fiz por
este homem, também

MR – Ele tem uma gratidão por si, que é...

LB – Mas olhe uma coisa, mas também...

MR – Ai, se calhar o Dr. Lopes Barreira vai ficar aborrecido de eu ter-lhe dito que ele
era uma pessoa boa. Vai ficar aborrecido não, por ele não é bom, ele é óptimo, é uma
jóia pá

925
S. R.

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LB – Eh eh eh

MR – Ele é o homem que tinha os carros mais bonitos da LISNAVE

LB – Eheheh

MR – O homem ficou todo contente

LB – Mas repare uma coisa ó Manel, mas eh... portanto, eu conheço-o, este Godinho
é sensacional pá

MR – É, é

LB – E eu, repare, tenho ajudado muito, sempre, ajudei-o sempre muito, em coisas
fundamentais, ajudei o gajo

MR– Claro, claro

LB – Ajudei, sem querer qualquer recompensa ã?

MR – Nada, naturalmente, mas a vida é bonita, é isto é assim

LB – Claro

MR – Agora eu é que, eu é que, por razões do que se passou comigo, pessoais, não
é? Que fui aqui bombardeado pá, por todo o lado, não é?

LB – Sim, sim

MR – Eu tenho capacidade e disse-lhe a ele, é pá, eu tenho hoje um leque de gente


tão boa, tão boa, em todo o lado, nas empresas

LB – Sim, sim

MR – E não só, é pá, que podemos juntar-nos aqui, é pá

LB – Pois

MR – E criar-se uma assessoria, uma coisa qualquer pá

LB – Sim, sim

MR – Ele gostou, ele gostou da ideia pá

LB – Olha, quero dizer uma coisa, ele, ele, eu, enfim, ele aconselha-se sempre comigo

MR – Pois

926
S. R.

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LB – Sempre, seja o que for pá

MR – Fantástico pá

LB – Olha, ainda estive, estive a almoçar em casa dele, no, quando é que foi? No
sábado

MR – Ai, que engraçado

LB – Lá na, na, almocei em casa dele, lá no, portanto em Avei..., em Aveiro

MR – Aveiro, pois, que ele disse-me que era ali daquela zona

LB – E, e portanto, ele aconselha-se, tudo o que, pois, mas o gajo, pá, são muitos
milhões ã? Eh, eh

MR – Pois, ainda bem

LB – Muitos milhões

MR – Pá, ainda bem

LB – É uma coisa louca, louca, louca

MR – É pá, ainda bem, eu, eu

LB – Inimaginável, eu disse a ele

MR – O que eu preciso agora é de um copo de água para continuara andar tranquilo

LB – Pois

MR – E eu sei, eu não quero nada de ninguém, porque eu dou, eu dou às pessoas


tudo do melhor, quer dizer. Por amor de Deus, ele já hoje, já hoje telefonei para umas
pessoas dum assunto que ele tinha, aí ligado ao exército, é pá, já, tudo, tudo, tudo,
agora, pode-se é criar uma relação com ele mais simpática, que é bom para todos

LB – Sim

MR – E a gente fala sobre isso, eu depois dou-lhe a minha ideia a si

LB – Sim, mas ele também, ele falou comigo e eu disse-lhe, com o engenheiro Manuel
Rodrigues, quem? Só um segundinho, eu já, eu já atendo

MR – Tá, tá

927
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

LB – Mas ó Manel, eu disse a ele — Olhe, com este amigo, cem por cento — Ele quer
falar comigo, quer falar comigo depois para a semana, quer almoçar comigo esta
semana

MR – Hum, hum

LB – Mas eu não posso esta semana, portanto ele vem cá segunda-feira almoçar
comigo

MR – Fantástico, fantástico, então combine e convinha na segunda de manhã


falarmos

LB – É isso mesmo

MR – Eu ia ter consigo

LB – Ok

MR – Segunda-feira ao seu escritório, não é?

LB – Ok, ok

MR – Tá lá na CONSULGAL?

LB – Tou, tou, tou

MR – Então eu vou lá ter consigo à CONSULGAL aí tipo dez e meia, segunda-feira


está bem? agente fala um bocadinho, os dois

LB – Está bem, está bem

MR – E depois a gente fala os dois, um bocadinho, que até, olhe é uma ajuda boa
para mim, ok?

LB – Ok, um abração

MR – Obrigado por ter ligado, um abraço, um abraço, obrigado

O JIC não pode fazer mais do que ancorar-se nas regras da


experiência comum e na criteriosa ponderação das realidades da vida, ao
sopesar estes elementos indiciários.

928
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Aquando da sua inquirição, foi perguntado, ao Engº Manuel Rodrigues,


sobre este último aspecto, o qual respondeu – “O depoente refere que não chegou
a encontrar-se, posteriormente, a esta conversa, com o Dr. Lopes Barreira. Isto porque,
entretanto, meteram-se as férias e o Dr. Lopes Barreira teve um problema de saúde. O
Dr. Lopes Barreira acabou por não ter tido oportunidade de lhe explicar a forma como
funciona o Sr. Manuel Godinho.”

Ora, todas estas acções, desenvolvidas pelo Engº Paulo Costa, a favor
de Manuel Godinho (concursos, consultas, reuniões), foram graças ao seu
poder de influência e, tiveram como contrapartida, tudo o indicia, à semelhança
do que aconteceu com Paiva Nunes, a entrega, pelo menos para uso pessoal,
de uma viatura de alta cilindrada, pelo Manuel Godinho, cujo valor comercial
ultrapassa as duas centenas de milhar de euros.

Mas se dúvidas houvesse no que se reporta ao engajamento de


António Paulo Costa aos interesses de Manuel Godinho, os produtos 11377,
12369, 12370, 12404 e 22800 do Alvo 1T167PM e 6048, 6452, 7238 e 7240
do Alvo 39559PM, dissipá-las-iam por completo:

PRODUTO Nº: 11377


DATA/HORA: 05/06/2009 08:42:57
INTERVENIENTES:
• DE – Engº. PAIVA NUNES – 917 829 670
• PARA – Manuel Godinho

Engº. PAIVA NUNES – Tá bom.


MANUEL GODINHO – Olá, senhor Engenheiro. Bom dia.
Engº. PAIVA NUNES – Como é que vai.
MANUEL GODINHO – Tá tudo bem, muito obrigado.
Engº. PAIVA NUNES – Eu ontem nem...
MANUEL GODINHO – Eu tava num...
Engº. PAIVA NUNES – Diga, diga.
MANUEL GODINHO – Eu tava num jantar, amigo.

929
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Engº. PAIVA NUNES – Como?


MANUEL GODINHO – Eu tava num jantar.
Engº. PAIVA NUNES – Ahh, tá bem.
MANUEL GODINHO – Ehhh, só hoje de manhã é que vi. Estava a fazer
horas, pra lhe ligar.
Engº. PAIVA NUNES – Mas, olhe. Sabe porquê...liguei-lhe pelo seguinte,
era, era importante, ehhhh, ligar ao, ó Engenheiro Paulo Costa.
MANUEL GODINHO – Sim.
Engº. PAIVA NUNES – Porque ele já tem uma...já tem um concurso.
MANUEL GODINHO – Tá bem.
Engº. PAIVA NUNES – Isso era importante, que era para...
MANUEL GODINHO – Eu vou, eu tou a fazer horas para ligar com ele.
Porque eu tenho aqui uma chamada não atendida.
Engº. PAIVA NUNES – Pois. Porque eu também lhe disse a ele.
MANUEL GODINHO – Lá pr’as nove e meia. Lá pr’as nove e meia, não é.
Engº. PAIVA NUNES – Sim, sim, sim. Que ele tem, ele já lá tem um...as
coisas preparadas, tá a perceber.
MANUEL GODINHO – Tá bem, tá bem.
Engº. PAIVA NUNES – Olhe. Havia outra coisa que eu lhe queria pedir.
MANUEL GODINHO – Diga.
Engº. PAIVA NUNES – Sabe que depois ontem, quando vim para aqui...
MANUEL GODINHO – Sim.
Engº. PAIVA NUNES – Ainda tentei procurar lá no carro, mas deve estar
nalguns sitio que eu não conheço...
MANUEL GODINHO – Sim.
Engº. PAIVA NUNES – Ehhh, o livro de instruções. Porque depois ficou o ...
ficou com luz permanente acesa.
MANUEL GODINHO – Ficou...
Engº. PAIVA NUNES – Vermelha.
MANUEL GODINHO – Isso é um botão, diz SR, não é.
Engº. PAIVA NUNES – Ehhh, diz SRS.
MANUEL GODINHO – Pronto, isso é um botão...
Engº. PAIVA NUNES – Agora ficou sempre...não, mas agora ficou
sempre...não, mas é que eu já lá andei a me...
MANUEL GODINHO – Isso é um mau contacto, ó senhor Engenheiro.

930
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Engº. PAIVA NUNES – A mexer nos botões todos.


MANUEL GODINHO – Isso também me acontecia.
Engº. PAIVA NUNES – Ai é?
MANUEL GODINHO – É um mau contacto, não tenha medo disso.
Engº. PAIVA NUNES – Pois, eu estava com receio disso...
MANUEL GODINHO – Isso tem a ver com a tracção ou qualquer coisa.
Engº. PAIVA NUNES – Mas, olhe...mas o ... e onde é que está o livro de
instruções?
MANUEL GODINHO – O livro de instruções...o livro de instruções deve
estar pr’ai.
Engº. PAIVA NUNES – Pois é...que eu andei à procura por todo...
MANUEL GODINHO – Lá pr’a mala, ou qualquer coisa.
Engº. PAIVA NUNES – Eu andei à procura dele e não o consigo encontrar.
MANUEL GODINHO – Eu vou tentar, eu vou tentar ver onde é que está
isso.
Engº. PAIVA NUNES – Pois, é que eu estava preocupado, é que sabe, é uma
luz vermelha...é sempre...
MANUEL GODINHO – Mas não tenha problemas.
Engº. PAIVA NUNES – Não.
MANUEL GODINHO – Isso...não. Isso acontecia-me muito. Se você
carregar num botão que fica á beira do manipulo. Experimente fazer isso.
Engº. PAIVA NUNES – Mas eu já carreguei em todos.
MANUEL GODINHO – Pronto. Mas tem que estar com o dedo um
bocadinho, que isso desaparece.
Engº. PAIVA NUNES – Ai é?
MANUEL GODINHO – É. Não se preocupe com isso.
Engº. PAIVA NUNES – Só que isto...
MANUEL GODINHO – Mas, qualquer das maneiras, se for preciso fala para
a MERCEDES.
Engº. PAIVA NUNES – Pois.
MANUEL GODINHO – Tá a ver. E pergunta, e pergunta, eee resolve logo
isso.
Engº. PAIVA NUNES – Tá bem, é isso que eu queria, mas...se conseguir
depois dizer-me onde é que tem o li...onde é que imagina que esteja o livro de
instruções...
MANUEL GODINHO – Eu vou, eu vou tentar ver isso...

931
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Engº. PAIVA NUNES – Tá bem.


MANUEL GODINHO – Eu falo já com o meu filho para ver isso, tá bem.
Engº. PAIVA NUNES – Tá bem, tá bem. Depois diga-me alguma coisa,
então.
MANUEL GODINHO – Tá, tá.
Engº. PAIVA NUNES – Olhe, não se esqueça de falar lá ao Paulo, com o
Paulo...
MANUEL GODINHO – Eu falo, eu falo. Ok.
Engº. PAIVA NUNES – Tá bem.
MANUEL GODINHO – Tá. Um abraço.
Engº. PAIVA NUNES – Um abraço para si. Obrigado, obrigado.

Na verdade, nesta comunicação Paiva Nunes transmitiu a Manuel


Godinho que António Paulo Costa lhe havia já angariado uma consulta na área
dos resíduos.

PRODUTO Nº: 12369


DATA/HORA: 17/06/2009 16:07:30
INTERVENIENTES:
• DE – ENGº PAULO COSTA
• PARA – MANUEL GODINHO

MANUEL GODINHO – ‘Tou.


ENGº PAULO COSTA – Sim
MANUEL GODINHO – Sim.
ENGº PAULO COSTA – Olhe, diga-me uma coisa: (imperceptível) lá os
dois quem é a pessoa de contacto. Para depois se fazerem a... os convites.
MANUEL GODINHO – É.... É o Dr. Namércio.
ENGº PAULO COSTA – Dr. ...
MANUEL GODINHO – Namércio
ENGº PAULO COSTA – É quê? Nanércio?
MANUEL GODINHO – Na... mércio. Na... mér... cio.
ENGº PAULO COSTA – Na... mércio. Ok. Ok. Tá bem. Então tá... já tá
tudo, agora.
MANUEL GODINHO – Quando é que vocês vão fazer isso?

932
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

ENGº PAULO COSTA – Vai já. Vou já mandar isto. Já mandei... já


digitalizei aquilo, já mandei aquilo, o (imperceptível), agora faltava só o nome
do seu contacto
MANUEL GODINHO – Então vá...
ENGº PAULO COSTA – Namércio quê? Namércio quê?
MANUEL GODINHO – Namércio Cunha. Dr. Namércio Cunha.
ENGº PAULO COSTA – Ok. (imperceptível)
MANUEL GODINHO – Aham... Falaram com o outro amigo?
ENGº PAULO COSTA – Vou já, vou já. Até já.
MANUEL GODINHO – Ah, ok.
ENGº PAULO COSTA – Já vai.
MANUEL GODINHO – Tá.

PRODUTO Nº: 12370


DATA/HORA: 17/06/2009 16:09:08
INTERVENIENTES:
• DE – MANUEL GODINHO
• PARA – NAMÉRCIO CUNHA

NAMÉRCIO CUNHA – Tou?


MANUEL GODINHO – Oh Namércio...
NAMÉRCIO CUNHA – Sim.
MANUEL GODINHO – Vão entrar em contacto consigo, ou da ISA, ou
da GALP, ou da EDP...
NAMÉRCIO CUNHA – Sim.
MANUEL GODINHO – Eu dei o seu contacto para entrarem em
contacto consigo para se fazerem umas consultas.
NAMÉRCIO CUNHA – Ok. Tá bem.
MANUEL GODINHO – Percebes?
NAMÉRCIO CUNHA – Tá bem.
MANUEL GODINHO – Portanto... Se te ligarem, tu vês o que é que as
pessoas pretendem.
NAMÉRCIO CUNHA – Eu trato disso.
MANUEL GODINHO – Ok? Tá.
NAMÉRCIO CUNHA – Tá, tá.

933
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Até já.


NAMÉRCIO CUNHA – Tá, tá, até já.

PRODUTO Nº: 12404


DATA/HORA: 18/06/2009 08:05:05
INTERVENIENTES:
• DE – MANUEL GODINHO
• PARA – JOÃO GODINHO

JOÃO GODINHO – Tou. Tou?


MANUEL GODINHO – Sim.
JOÃO GODINHO – Sim, paizinho.
MANUEL GODINHO – Aham... Estás aonde?
JOÃO GODINHO – Estou no escritório, em Ovar.
MANUEL GODINHO – Ah! Estás sózinho?
JOÃO GODINHO – Hum.
MANUEL GODINHO – Ouve lá.
JOÃO GODINHO – Hum....
MANUEL GODINHO – Ontem, eu falei com a mamã...
JOÃO GODINHO – Hum....
MANUEL GODINHO – Aham... Dizendo que (imperceptível), ao teu
tio.
JOÃO GODINHO – Sim.
MANUEL GODINHO – E ela disse-me... que ele que estava para a
Checoslováquia.
JOÃO GODINHO – A trabalhar?
MANUEL GODINHO – Sim.
JOÃO GODINHO – Hum...
MANUEL GODINHO – Por conta do cunhado, não sei quê, não sei
mais quantas.
JOÃO GODINHO – Hum...
MANUEL GODINHO – Isso, é mentira de certeza. Ele não estará por
aí feito com o teu irmão?
JOÃO GODINHO – Mas ele... ele não tem nada, para lá. Nunca foi
para lá, sequer...

934
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Ele não estará por aí na Madeira ou nos


Açores, e dizem que estão na Checoslováquia?
JOÃO GODINHO – Aha... Quer dizer, pode... Hum... Mas eu não me
acredito que... que o Paulo faça isso.
MANUEL GODINHO – É que se o Paulo fizer isso, está fodido comigo.
JOÃO GODINHO – Não. Mas eu não acredito que o Paulo faça isso.
MANUEL GODINHO – Porque se o Paulo fizer isso, está fodido
comigo. Tenho a impressão... que até tudo mando para a falência. ... Se ele
fizer isso, considero uma traição e fodo esta merda toda.
JOÃO GODINHO – Não, mas ele não faz isso.
MANUEL GODINHO – Tu, informa bem isso, informa bem isso... Ele
que tenha juízo. Se ele anda a fazer esse tipo de coisas nas minhas costas, é
muito complicado.
JOÃO GODINHO – Eu vou... eu vou falar com ele.
MANUEL GODINHO – Ok.
JOÃO GODINHO – Tá. Onde estás?
MANUEL GODINHO – Eu? Estou a caminho de Lisboa.
JOÃO GODINHO – Hum...
MANUEL GODINHO – Tá?
JOÃO GODINHO – Tá.
MANUEL GODINHO – A EDP já está a tentar... Já está... a formalizar...
Não... não veio ontem, vem hoje, o pedido já para um gajo arrancar em
(imperceptível).
JOÃO GODINHO – Hum... está bem. Mas em quê? Vem por mão?
MANUEL GODINHO – Diz?
JOÃO GODINHO – Vem por mão?
MANUEL GODINHO – Vem por mail?! Não sei. Eh pá, eles ontem
telefonaram-me a dizer que já estavam a finalizar.
JOÃO GODINHO – Hum...
MANUEL GODINHO – Eu não... Fiz muitas perguntas, estás a ver?
JOÃO GODINHO – Exactamente, exactamente. Está bem então.
(imperceptível) quê? Daqui do Norte?
MANUEL GODINHO – Vai haver muita coisa.
JOÃO GODINHO – Hum.
MANUEL GODINHO – Mas isto é... Vai ser... vai ser prolongado, estás
a ver?

935
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

JOÃO GODINHO – Hum.


MANUEL GODINHO – Aqui e acolá. Estou convencido... que... vem aí
uma vaga de trabalho muito grande.
JOÃO GODINHO – Ainda bem.
MANUEL GODINHO – É. Porque se nós estivermos só dependentes
da Siderurgia, de um momento para o outro ficamos fodidos.
JOÃO GODINHO – Ai, isso é. Isso é. Isso não podemos... Isso não
pode acontecer.
MANUEL GODINHO – Eu estou... Estou a arranjar alternativas. E
vamos arranjar. E vamos arranjar. ... Ok
JOÃO GODINHO – Ok. Tá, tá.
MANUEL GODINHO – Pronto. Tu... aham... já foste tomar o
pequeno-almoço, não foste?
JOÃO GODINHO – Não. Estou a caminho.
MANUEL GODINHO – Ah, vais... estás a caminho... de S. Francisco?...
É?
JOÃO GODINHO – É, é.
MANUEL GODINHO – Tá bem, então. Tá, até já.
JOÃO GODINHO – Tá. Tchau, até já.

Dados do Produto

Número de produto do alvo 22800

Alvo 1T167PM

ID de Intercepção 351917649864 (Manuel Godinho)

Nº A chamar 351962971903 (Paulo Costa)

Hora inicial 15/10/2009 10:53:24

Destinatário 351917649864

MANUEL GODINHO – Tou.


PAULO COSTA – Bom dia.
MANUEL GODINHO – Bom dia, sr. eng.
PAULO COSTA – Tá bom, pá?
MANUEL GODINHO – Tá tudo.
PAULO COSTA – vim de S. Paulo, Peço desculpa não ter ligado antes.

936
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Não…


PAULO COSTA – Liguei ontem à noite mas já era tarde…
MANUEL GODINHO – Pois… eu ontem à noite já não estava a
atender.Tava a ver a selecção. Diga.
PAULO COSTA – (imperceptível)
MANUEL GODINHO – Diga, diga.
PAULO COSTA – Primeiro, relativamente aos dois projectos grandes
já estão, já estão a aproximar-se da conclusão final, tá quase a poder avançar.
MANUEL GODINHO – Sim.
PAULO COSTA – Primeiro… Segundo eu vou mandar-lhe daqui a
bocadinho por sms
MANUEL GODINHO – sim…
PAULO COSTA – O número de telefone do sobrinho do Sr.
Amorim… Que é o Zé luís Amorim que é o director de compras de todo grupo
Amorim.
MANUEL GODINHO – Sim.
PAULO COSTA – Ok? Que é p’ra você ligar, é o telemóvel dele
pessoal. P’ra você ligar para ele. Vai da parte do Eng. Pau…
MANUEL GODINHO – Oh Pau…
PAULO COSTA – Diga.
MANUEL GODINHO – E pá, mas o Amorim eu não tenho nada eu não
tenho lá nada, pá … tas a ver?
PAULO COSTA – Estou…
MANUEL GODINHO – Eu não vejo o que é que eles terão para mim…
PAULO COSTA – É o grupo todo, inclusive pére… inclusive é muito
amigo aqui do Sub… do director de compras aqui da GALP. Ok. Que
basicamente é um homem lá de cima da Amorim.
MANUEL GODINHO – Pois.
PAULO COSTA – Ok?
MANUEL GODINHO – Pois…
PAULO COSTA – É uma pessoa que você não perde nada em
conhecer.
MANUEL GODINHO – Ok.
PAULO COSTA – Tá bem? Nunca se perde nada, tá bem?
MANUEL GODINHO – Tá bem.
PAULO COSTA – Ok.

937
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Tá.


PAULO COSTA – Terceiro:…
MANUEL GODINHO – sim.
PAULO COSTA – Você tem, você pode exportar sucata?
MANUEL GODINHO – Se temos quê?
PAULO COSTA – Se pode exportar sua… sucata?
MANUEL GODINHO – Exportar?
PAULO COSTA – Sim.
MANUEL GODINHO – Ó pá, nós podemos exportar sucata mas o que
acontece neste momento é que a sucata desses países que a recebem, tá mais
barato que aqui.
PAULO COSTA – Quem quer comprar sucata é.. na Suécia. Há lá um
comprador… Eles vão mandar as especificações…
MANUEL GODINHO – Sim…
PAULO COSTA – Eu depois vou mandar para o Namércio. Tá bem?
MANUEL GODINHO – Tá bem. Tá bem.
PAULO COSTA – Ok?
MANUEL GODINHO – Tá.
PAULO COSTA – Qua…qua.. quarto aspecto: Temos que combinar
para lhe entregar o carro.
MANUEL GODINHO – O pá, eu amanhã tou ai em Lisboa
PAULO COSTA – Não tou… Não tou cá… eu vou para o Porto hoje.
MANUEL GODINHO – Sim.
PAULO COSTA – Tá cá um comitiva brasileira.
MANUEL GODINHO – E no Sábado?
PAULO COSTA – Num…
MANUEL GODINHO – É que eu tenho um casamento e precisava
disso, mas se num… pronto…
PAULO COSTA – Sim. Eu vou para o Porto.
MANUEL GODINHO – Sim.
PAULO COSTA – E só venho Sábado de madrugada.
MANUEL GODINHO – Ah!
PAULO COSTA – Tá bem?
MANUEL GODINHO – Ok.

938
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PAULO COSTA – Era isso que me tava aqui a preocupar.


MANUEL GODINHO – Tá bem.
PAULO COSTA – É que tá cá um comitiva da PETROBRAS. Tá a ver?
MANUEL GODINHO – Ah!
PAULO COSTA – Mais os ministros e o caraças e eu vou ter que
andar com esta rapaziada toda, portanto. Eu hoje vou ao Palácio da Ajuda às
15h, fazer uma coisa com eles, acaba o Palácio da Ajuda meto-me no carro…
MANUEL GODINHO – Tá bem.
PAULO COSTA – Vou para o Porto… E amanhã…
MANUEL GODINHO – Ok. Tá bem tá bem.
PAULO COSTA – Mas… você precisa mesmo dele no Sábado, né?
MANUEL GODINHO – No Sábado, precisava.
PAULO COSTA – É aí em cima, aí em cima?
MANUEL GODINHO – Se for preciso mando-o aí buscar.
PAULO COSTA – Ah… pa… pa… pa…
MANUEL GODINHO –Eu depois posso emprestar outra vez … mais
tarde, tás a ver?
PAULO COSTA – Sim. Pa… pa…pa… (pausa) E pá só se… E pá, no
sábado eu tou cá por volta… sei lá das dez ou isso…
MANUEL GODINHO – Onze horas?
PAULO COSTA – Sim. Tá bem pode ser.
MANUEL GODINHO – Pronto, então às onze horas eu mando-te aí…
o…
PAULO COSTA – Alguém que me dê uma apitadela… Alguém que me
dê uma apitadela
MANUEL GODINHO – Pronto eu mando aí então… à beira da… das
bombas da REPSOL
PAULO COSTA – Tá bem.
MANUEL GODINHO – Ok?
PAULO COSTA – Tá bem.
MANUEL GODINHO – Tá combinado.
PAULO COSTA – Alguém que me dê uma apitadela que depois eu…
MANUEL GODINHO – Tá bem.
PAULO COSTA – Dê o meu telemóvel…
MANUEL GODINHO – Tá bem, tá bem… Ok.

939
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PAULO COSTA – E que eu hoje e manhã… vai ser…


MANUEL GODINHO – Tá bem, não há problemas nenhuns.
PAULO COSTA – Tá daqui a bocadinho…
MANUEL GODINHO – Não há problemas nenhuns.
PAULO COSTA – (imperceptível)
MANUEL GODINHO – Depois eu torno-te a emprestar. Não tem
problemas, ok?
PAULO COSTA – Tá.
MANUEL GODINHO – Tá, um abraço.
PAULO COSTA – Daqui a bocadinho vou mandar um…
MANUEL GODINHO – Tá bem, tá bem…
PAULO COSTA – …o telefone do Zé Luís Amorim, tá bem?
MANUEL GODINHO – Ok. Ok.
PAULO COSTA – Então, vá.
MANUEL GODINHO – Até já, até já.
PAULO COSTA – Até já.
MANUEL GODINHO – Adeus.

Dados do Produto

Número de produto do alvo 6048

Alvo 39559PM

ID de Intercepção 351917829670 (Paiva Nunes)

A chamar 351917829670 (Paiva Nunes)

Hora inicial 22/09/2009 18:44:13

Destinatário 962971903 (Paulo Costa)

PAULO COSTA – Zé?


PAIVA NUNES – Então?
PAULO COSTA – Então? Estava difícil, pá.
PAIVA NUNES – Estava difícil? Não…estava a dizer, ontem estive no
Porto e lá o nosso amigo estava a dizer: Então temos (*) o engenheiro Paulo
Costa e tal ajeitamos o almoço na quarta-feira?
PAULO COSTA – Não, não…mas entretanto ele foi para fora.

940
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PAIVA NUNES – Pois. Depois telefonou-me a dizer que tinha ido


para fora.
PAULO COSTA – Mas o almoço não era contigo.
PAIVA NUNES – Ó..eu sei lá. Ele é que me disse.
PAULO COSTA – Eu disse-lhe a ele pá, temos um almoço com o
nosso amigo. Não… mais um amigo meu que não é contigo.
PAIVA NUNES – Também estranhei. Tu não me tinhas dito nada.
PAULO COSTA – Exactamente. Não é contigo. É para lhe arranjarem
um contrato muito porreiro.
PAIVA NUNES – Um contrato quê?
PAULO COSTA – Um contrato porreiro aí do…tás a perceber? Não
era contigo mas eu depois eu conto-te.
PAIVA NUNES – Está bem.
PAULO COSTA – Não estava a perceber nada da tua conversa.
Estavas a falar do almoço e eu estava a perceber que era o almoço com o João
Matias no dia trinta.
PAIVA NUNES – Pois. Isso é dia trinta. Dia trinta quando é que é? É
na próxima semana?
PAULO COSTA – Exactamente.
PAIVA NUNES – Pois. Isso é com o João. Isso sei.
PAULO COSTA – Está bem. Mas amanhã conto-te.
PAIVA NUNES – Está bem.
PAULO COSTA – Está no Porto, é?
PAIVA NUNES – Tou…não, não. Tive ontem com ele lá na obra.
PAULO COSTA – Ah, está bem.
PAIVA NUNES – É pá e já resolveste, estava preocupado. É pá nunca
mais resolvem nada e não sei quê
PAULO COSTA – Não…o gajo que tenha calma
PAIVA NUNES – Mas já fizeram o contrato ou ainda não?
PAULO COSTA – Tenha calma. Mais vale demorar um bocadinho
mais e as coisas ficar tudo porreiro do que (*) Está bem?
PAIVA NUNES – Está bem. Ok.
PAULO COSTA – Estás cá amanhã?
PAIVA NUNES – Tou.
PAULO COSTA – Então prontos. A gente amanhã encontra-se.

941
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PAIVA NUNES – Ok. Vou almoçar a Sintra.


PAULO COSTA – Está bem.
PAIVA NUNES – Ok
PAULO COSTA – Um abraço
PAIVA NUNES – Um abraço
(*) Imperceptível

Ao JIC afigura-se indiciado que Paiva Nunes e Paulo Costa estavam


vinculados aos interesses de Manuel Godinho e que a “estória” do Mercedes
não está suficientemente clarificada, para dizer o menos.

Mesmos a titulo de empréstimo, este uso da viatura de duzentos mil


euros estava condicionado aos interesses de Godinho e à “prestação” de Paulo
Costa.

É o que o JIC infere do diálogo telefónico subsequente e que, para


comodidade de quem quiser precepcionar os fundamentos a que o JIC se
arrimou, se transcreve:

Dados do Produto

Número de produto do alvo 6452

Alvo 39559PM

ID de Intercepção 351917829670 (PAIVA NUNES)

Nº A chamar 351917829670 (PAIVA NUNES)

Hora inicial 30/09/2009 17:00:28

Destinatário 912032873 (MANUEL GODINHO)

MANUEL GODINHO – Tou?


PAIVA NUNES – Então? Correu bem?

942
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Hum, ora bem, não correu…correu, correr


correu. Mas eu notei que o senhor ficou muito à rasca, tá a ver?
PAIVA NUNES – Pois.
MANUEL GODINHO – Ele ficou muito à rasca. E depois perguntou-
me quando é que eu queria que me entregasse a esferográfica .
PAIVA NUNES – Sim
MANUEL GODINHO – E eu disse, é pá…
PAIVA NUNES – Quando você quisesse.
MANUEL GODINHO – …quando você quiser.
PAIVA NUNES – Pois.
MANUEL GODINHO – E ele propôs-me para sexta. Não…ele, eh,
para sexta ou para sábado. E eu disse quando quiser.
PAIVA NUNES – Pois
MANUEL GODINHO – E ele propôs-me - então no sábado de manhã,
não sei que, não sei mais quantos. E eu disse, é pá, eu vou ter um almoço e
não vou estar mas eu mando o meu filho mais novo ter consigo.
PAIVA NUNES – Boa. Exactamente
MANUEL GODINHO – Hum, depois ele veio-me lá com o processo.
Apercebi-me que era dentro daquilo que a gente tinha falado.
PAIVA NUNES – Hum
MANUEL GODINHO – Eh, começou-me lá a dizer não sei que, não
sei mais quanto. Eh, apercebi-me…ah, eu vim para fora…
PAIVA NUNES – Sim
MANUEL GODINHO – …e o acompanhante, o acompanhante
dele…eu disse que precisava que me adjudicassem alguma coisa de imediato
que tinha pessoas paradas.
PAIVA NUNES – Claro
MANUEL GODINHO – E o senhor..
PAIVA NUNES – O que estava ao lado dele
MANUEL GODINHO – … depois o nosso amigo…
PAIVA NUNES – Sim
MANUEL GODINHO – O nosso amigo foi à casa de banho (*), é pá,
não conte, não conte porque isto está sempre muito atrasado. E o assunto já
não é com a empresa mas sim com os outros indivíduos.
PAIVA NUNES – Disse-lhe o indivíduo que estava com ele?
MANUEL GODINHO – Sim, sim.

943
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PAIVA NUNES – Pois. Então foi mais claro do que ele.


MANUEL GODINHO – Foi mais claro do que ele.
PAIVA NUNES – Pois.
MANUEL GODINHO – Depois, entretanto, eu vinha em viagem, e o
Paulo…eu disse ao Paulo…e o Paulo telefonou-me e eu disse-lhe, é pá, por
aquilo que me apercebo e aquilo que o teu amigo disse foi isto assim assim. E
ele disse – eu vou falar com ele, não sei que, não sei mais quanto. Depois
falou com ele, eu estava a almoçar, e eu retirei-me, e ele – você mata-me do
coração, não sei que, não foi bem isso que ele disse. Foi, quer dizer, tentar
virar, tá a ver?
PAIVA NUNES – Pois, pois. Mas de concreto zero, não é?
MANUEL GODINHO – De concreto zero, zero, zero. Vê-se que o
homem está completamente atrapalhado.
PAIVA NUNES – Então, quer dizer, de concreto só a esferográfica?
MANUEL GODINHO – Sim
PAIVA NUNES – Já não é mau (risos).
MANUEL GODINHO – Pronto. Vamos ver se ele conclui isso, hã.
PAIVA NUNES – Pois…não, não, não. Isso conclui.
MANUEL GODINHO – Eh, pronto, mas isso é a parte que…
PAIVA NUNES – Pois. Exactamente, claro.
MANUEL GODINHO – …menos, menos coiso…
PAIVA NUNES – Claro, claro. Eu sei, eu sei. O que interessa é aquilo
com que se compram os melões.
MANUEL GODINHO – Exacto
PAIVA NUNES – Exactamente. Pronto. Ok.
MANUEL GODINHO – Ok
PAIVA NUNES – Tive a almoçar com ele e queria, quer dizer…
MANUEL GODINHO – E ele que é que disse?
PAIVA NUNES – Tudo fácil, tudo não sei quê. Alias ele estava com
um amigo, conforme lhe disse, com um amigo que ele me apresentou e que
ele lhe resolvia de um dia para o outro.
MANUEL GODINHO – Sim, sim, sim
PAIVA NUNES – (*) olha ó Paulo tens aqui o exemplo, pá, quer
dizer, eu não prometi nada. No dia em que eu disse- é agora. É agora.

944
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Pois. E então o outro nosso amigo também


me disse que a única coisa que podia fazer era aconselhar-nos à outra
empresa.
PAIVA NUNES – Ó pá, tá bem. É verdade, isso tá tudo muito bem.
Ele também me falou mas olhe, em relação à outra empresa, eu conheço as
pessoas todas.
MANUEL GODINHO – Ai, é?
PAIVA NUNES – Todas.
MANUEL GODINHO – Não são muito certas, pois não?
PAIVA NUNES – (*) de um banco não é?
MANUEL GODINHO – Não é de um banco não.
PAIVA NUNES – É de ao lado de um banco.
MANUEL GODINHO – Isso não sei.
PAIVA NUNES – Ele disse-me. Ele falou-me.
MANUEL GODINHO – Eu sei que a pessoa, eu sei que a pessoa…
PAIVA NUNES – É de um fundo, é de um fundo.
MANUEL GODINHO – Eh, só se vier a ser formado.
PAIVA NUNES – Está bem, mas, ouça, a outra…em relação às outras
pessoas são mil cães a um gato, a um osso, está a perceber?
MANUEL GODINHO – Pois, eu sei, eu sei.
PAIVA NUNES – Ah então quer dizer. Então está ali à espera deles,
não. Tem-se que ir muitas vezes para o deserto e trabalhar e tal.
MANUEL GODINHO – Exacto.
PAIVA NUNES – Mas isso é objecto para a gente se sentar e ver
isso, tá a ver. Que eu digo-lhe logo.
MANUEL GODINHO – Tou a perceber.
PAIVA NUNES – Eu digo-lhe tudo.
MANUEL GODINHO – Eu estou convencido, estou convencido que
eles não vão concluir o negócio.
PAIVA NUNES – Mas olhe em relação à outra, nós agora quando cá
estiver, sentamo-nos os dois e eu sei logo isso tudo. E se houver hipótese, eu
conheço a pessoa, trato-a quase por tu.
MANUEL GODINHO – Está bem.
PAIVA NUNES – Olhe, está interessado no Porto.
MANUEL GODINHO – Tou.

945
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PAIVA NUNES – Não…ele, ele, ele. Essas pessoas estão interessadas


lá no Porto.
MANUEL GODINHO – Ai é?
PAIVA NUNES – Está a perceber?
MANUEL GODINHO – Pronto. Porreiro.
PAIVA NUNES – Tá a ver. Conheço…até conheço de ginjeira. Mas
ok. Então ouça lá…
MANUEL GODINHO – Vocês…vocês também têm aí, junto da Expo,
um quartel militar que é vosso, não tem?
PAIVA NUNES – Não (risos)
MANUEL GODINHO – Tem lá uma subestação…
PAIVA NUNES – Não…eu já lhe falei nisso a si.
MANUEL GODINHO – Já quê?
PAIVA NUNES – Já lhe falei nisso.
MANUEL GODINHO – Eu estou a dizer aí em Lisboa.
PAIVA NUNES – Eu sei, eu sei, eu sei.
MANUEL GODINHO – Ah. Ok.
PAIVA NUNES – Quando pusermos um café à frente a gente fala.
MANUEL GODINHO – Está bem. A gente toma um café.
PAIVA NUNES – ok
MANUEL GODINHO – Está bem.
PAIVA NUNES – ok
MANUEL GODINHO – Um abraço
PAIVA NUNES – Muito obrigado. Adeus
MANUEL GODINHO – Ciao.
(*) Imperceptível

Dados do Produto

Número de produto do alvo 7238

Alvo 39559PM

ID de Intercepção 351917829670 (Paiva Nunes)

A chamar 351917829670

Hora inicial 14/10/2009 09:42:58

946
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Destinatário 912032873 (Manuel Godinho)

MANUEL GODINHO – Tou?


PAIVA NUNES – Então?
MANUEL GODINHO – Ó Sr. Engenheiro, bom dia!
PAIVA NUNES – E pá, tinha lá a taça de champanhe, você não disse
nada!
MANUEL GODINHO – Não há crise! (risos)
PAIVA NUNES – (risos)
MANUEL GODINHO – Tá tudo bem, ou quê?
PAIVA NUNES – Tá tudo bem. Então?
MANUEL GODINHO – Quando é que você pensa vir aqui?
PAIVA NUNES – Tava… Era para ir… para ir…
MANUEL GODINHO – Amanhã há lá uma reunião. Não quer vir cá
amanhã?
PAIVA NUNES – Uma reunião, onde? Lá na obra?
MANUEL GODINHO – Sim.
PAIVA NUNES – Pá…
MANUEL GODINHO– Isso não queria dizer… depois íamos lá ver
como é que estavam a correr os trabalhos.
PAIVA NUNES – Ó pá…
MANUEL GODINHO – Mais tarde ou mais cedo…
PAIVA NUNES – Ehmmm… Deixe-me ver…
MANUEL GODINHO – ou se quiser…
PAIVA NUNES – Deixe ver…
MANUEL GODINHO – Diga…
PAIVA NUNES – Deixe-me ver isso e depois digo-lhe algumas coisa.
Tá bem?
MANUEL GODINHO – Não. Venha amanhã. Convinha que fosse.
PAIVA NUNES – É?
MANUEL GODINHO – Amanhã ou… exacto. Eu gostaria que visse
como é que estão a decorrer as coisas, tá ver?
PAIVA NUNES – Ahmm… Tá bem, tá bem. eu digo-lhe algumas coisa.
Esteja descansado. Deixe-me ver aqui…

947
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – (imperceptível)


PAIVA NUNES – Eu amanhã não posso! Tenho conselho!
MANUEL GODINHO – E sexta?
PAIVA NUNES – E sexta tenho aqui umas reuniões… e depois só se
fosse e viesse de avião, sim senhora!
MANUEL GODINHO – Pode ser isso, almoçamos aqui…
PAIVA NUNES – E… Eu digo-lhe alguma coisa, tá bem?
MANUEL GODINHO – Tá bem?
PAIVA NUNES – Tá bem?
MANUEL GODINHO – Faça os possíveis, tá bem?
PAIVA NUNES – Tá bem, tá bem.
MANUEL GODINHO – Senão, vou aí a baixo. Não há problemas!
PAIVA NUNES – Não, não…
MANUEL GODINHO – Ou então vem jantar…
PAIVA NUNES – Ok.
MANUEL GODINHO – O nosso amigo já chegou?
PAIVA NUNES – Já,. Tive com ele ontem, antes de ontem.
MANUEL GODINHO – E atão?
PAIVA NUNES – Satisfeito.
MANUEL GODINHO – Tá porreiro, é?
PAIVA NUNES –Tá, tá. Falamos lá naquilo… naquilo que você me
disse o chefe máximo.
MANUEL GODINHO – Ah!
PAIVA NUNES – Ele falou-me e disse-me “ E pá, tu entras só quando
for necessário.”
MANUEL GODINHO – Ah!
PAIVA NUNES – “Quando for necessário, entras.”
MANUEL GODINHO – Então…
PAIVA NUNES – Ele disse-me que lhe tinha falado… e tal…
MANUEL GODINHO – Eu tava a falar do outro…
PAIVA NUNES – Ah… ó…
MANUEL GODINHO – O emigrante…
PAIVA NUNES – Não, não tava a falar do amigo.

948
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – É que eu nunca mais falei, tá a ver?


PAIVA NUNES – Num… Ele também nunca mais me disse nada! Ele
já veio, ele já veio na semana passada.
MANUEL GODINHO – Pois e ele nunca mais me falou…
PAIVA NUNES – Não, nem a mim, mem a mim…
MANUEL GODINHO – eu vou ter que lhe ligar…
PAIVA NUNES – Não, num… não! Deixe estar… (pausa) Deixe tar…
Eu vou-os só apalpar e dizer “ Então…” a ver se ele me diz algumas coisa…
Depois eu digo-lhe a si… Deixe estar.
MANUEL GODINHO – Tá bem, ok. Sr. Engenheiro, um abraço.
PAIVA NUNES – Julguei que se estava referir ao verdadeiro…
MANUEL GODINHO – Não…
PAIVA NUNES – Ao verdadeiro amigo…
MANUEL GODINHO – Não, sim…Ah… Sim, sim…
PAIVA NUNES – Pois, ele falou-me no assunto…
MANUEL GODINHO – Ah, o emigrante?
PAIVA NUNES – Ah?
MANUEL GODINHO – Eu tou a falar no emigrante, tá a ver?
PAIVA NUNES – Eu sei!
MANUEL GODINHO – Pronto! Esse senhor é que nunca mais me
disse nada!
PAIVA NUNES – O das gasolinas, não é?
MANUEL GODINHO – Sim!
PAIVA NUNES – Ah, já sei! Tava-me a referir ao outro com quem
tive à noite.
MANUEL GODINHO – Ah, pois!
PAIVA NUNES – E falou-me, o amigo, é que me tava a dizer e diz “ E,
pá então, o que é que achas lá nosso amigo… do… do… norte falou-me nisto…”
MANUEL GODINHO – Pois.
PAIVA NUNES – “ do pessoal da (imperceptível)…. E eu disse-lhe
“Deixa isso tou a tratar eu sei e tal…e vou tratar lá disso se for possível eu digo
qualquer coisa”
MANUEL GODINHO – Tá bem. Ok.
PAIVA NUNES – É p’rá gente aguardar, vai guardando os cartuchos…
Senão queimamo-los todos, tá a perceber?

949
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Tá bem, tá ok. Tá.


PAIVA NUNES – Eu já dei a carta à secretária, porque ele não tá cá.
MANUEL GODINHO – Tá bem.
PAIVA NUNES – Eu disse-lhe: “ Dei-lhe isto em mão e diga-lhe que
depois eu quero falar com ele”, aquele… o big boss. Tá a ver?
MANUEL GODINHO – Tá bem, tá bem.
PAIVA NUNES – Ok?
MANUEL GODINHO – Tá.
PAIVA NUNES – Pronto.
MANUEL GODINHO – Veija-me lá isso, então. Tá bem?…
PAIVA NUNES – Um abraço para si.
MANUEL GODINHO – Um abraço, um abraço.

Dados do Produto

Número de produto do alvo 7240

Alvo 39559PM

ID de Intercepção 351917829670 (Paiva Nunes)

A chamar 351962971903 (Paulo Costa)

Hora inicial 14/10/2009 09:54:57

Destinatário 351917829670

PAULO COSTA (em off) – Precisava de negócios de gestão de


resíduos, cara...
PAIVA NUNES – Está?
PAULO COSTA – Meu querido!
PAIVA NUNES – Foda-se! Uma vida do caraças!
PAULO COSTA – Tás bom?
PAIVA NUNES – Só alguns directores da casa é que tema a tua vida…
PAULO COSTA – Uma vida dos caraças… Ouve lá tou aqui desde que
fui a S. Paulo e vim e não molhei o bico.
PAIVA NUNES – Não! Tás aí, aonde?
PAULO COSTA – Fui e vim e não molhei o bico!
PAIVA NUNES – A… isso é porque a qualidade começa a faltar…

950
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PAULO COSTA – Nunca me portei tão bem na puta da vida, caralho!


Ao que isto, chegamos…
PAIVA NUNES – Fogo!
(sobreposição de vozes)
PAIVA NUNES – Quantos dias é que lá estiveste?
PAULO COSTA – foi…. Foi de Segunda a Sábado.
PAIVA NUNES – Foda-se!
PAULO COSTA – Palavra de honra! Ninguém acredita, conto isto à
malta e ninguém acredita! Nada! Zero!
PAIVA NUNES – Então e o António?
PAULO COSTA – Zero! Também nada! (risos) Andámos os dois bem
comportados….
PAIVA NUNES – Como é que o gajo se portou?
PAULO COSTA – Nâ… Impecável!
PAIVA NUNES – Tá?
PAULO COSTA – O gajo, o gajo tava muito cansado. E sabes? Aquilo
lá estava muito mau tempo, chuva, tava…
PAIVA NUNES – E andava cansado, era?
PAULO COSTA – Tava desagradável, o gajo estava… o gajo à noite
tava todo roto… Tava todo roto pá… teve dois dias comigo. Fui jantar com o
António Ferreira e o gajo nem foi! O gajo tava completamente roto!
PAIVA NUNES –Tá. Tá bem.
PAULO COSTA – Então e tu, meu querido, como é que estás?
PAIVA NUNES – Ô pá, eu cá… para uns gajos andarem a divertir
outros tem que… tem que trabalhar, né?
PAULO COSTA – Tá bem. Tens almoço hoje?
PAIVA NUNES – E pá, tenho. E tenho dentista ao meio dia e meio,
ainda por cima, vê bem! E então?
PAULO COSTA – Nada. Era para irmos almoçar.
PAIVA NUNES – E tá a correr bem o não?
PAULO COSTA – Tá tudo porreiro?
PAIVA NUNES – Tá? E o homem do norte, já resolveste?
PAULO COSTA – Tou a resolver e tou a resolver muito bem para ele!
PAIVA NUNES – Então?
PAULO COSTA – A gente encontra-se.

951
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PAIVA NUNES –Tá bem. Então olha… Vamos tomar um café na parte
da tarde. eu tou por aqui.
PAULO COSTA – Tá bem. Eu dou-te um toque.
PAIVA NUNES – OK. Um abraco.
PAULO COSTA – Ok?
PAIVA NUNES – Tá.
PAULO COSTA – Vá até já.
PAIVA NUNES – Abraço, abraço.

Aos olhos do JIC fica claro que se indicia fortemente a vinculação de


Paulo Costa e Paiva Nunes aos interesses de Manuel Godinho.

Só em julgamento, com imediação se poderão densificar ou não os


indícios apurados no inquérito e que a instrução não abalou.

A partir destes produtos é bom de ver qual o propósito que


indiciariamente presidiu à reunião no hotel Altis, entre Paiva Nunes, António
Paulo Costa e Manuel Godinho e, bem assim, qual o seu resultado,
designadamente o acordo de vontades entre aqueles no sentido de, a troco da
entrega de duas viaturas automóveis de alta cilindrada, diligenciarem pelo
favorecimento de Manuel Godinho e das suas empresas.

Relativamente à viatura entregue ao Engº Paulo Costa, Manuel


Godinho acabou por ordenar a Namércio Cunha a recolha da viatura, uma vez
que, ainda não se tinham materializado, em algo “palpável”, as diversas acções
por ele desenvolvidas.

Com efeito, contrariamente a Paiva Nunes que lhe havia já garantido a


adjudicação de um contrato, o Engº Paulo Costa, apesar de esforçado, ainda
não tinha feito o suficiente para justificar a manutenção da viatura.

952
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Em finais de Setembro de 2009, Manuel Godinho desabafa com Paiva


Nunes dizendo-lhe que se encontrou novamente com o Engº Paulo Costa mas,
de concreto não sai nada e, que, ele se comprometeu a entregar a
“esferográfica”. Paiva Nunes concordou dizendo ao Manuel Godinho que o que
interessa é aquilo com que se compram os “melões”. (Produto 6452 – alvo
39559PM – 30-09-2009 ), que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se
alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

Dados do Produto

Número de produto do alvo 6452

Alvo 39559PM

ID de Intercepção 351917829670 (PAIVA NUNES)

A chamar 351917829670 (PAIVA NUNES)

Hora inicial 30/09/2009 17:00:28

Destinatário 912032873 (MANUEL GODINHO)

MANUEL GODINHO – Tou?


PAIVA NUNES – Então? Correu bem?
MANUEL GODINHO – Hum, ora bem, não correu…correu, correr correu. Mas
eu notei que o senhor ficou muito à rasca, tá a ver?
PAIVA NUNES – Pois.
MANUEL GODINHO – Ele ficou muito à rasca. E depois perguntou-me quando
é que eu queria que me entregasse a esferográfica .
PAIVA NUNES – Sim
MANUEL GODINHO – E eu disse, é pá…
PAIVA NUNES – Quando você quisesse.
MANUEL GODINHO – …quando você quiser.
PAIVA NUNES – Pois.
MANUEL GODINHO – E ele propôs-me para sexta. Não…ele, eh, para sexta ou
para sábado. E eu disse quando quiser.

953
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PAIVA NUNES – Pois


MANUEL GODINHO – E ele propôs-me - então no sábado de manhã, não sei
que, não sei mais quantos. E eu disse, é pá, eu vou ter um almoço e não vou
estar mas eu mando o meu filho mais novo ter consigo.
PAIVA NUNES – Boa. Exactamente
MANUEL GODINHO – Hum, depois ele veio-me lá com o processo. Apercebi-
me que era dentro daquilo que a gente tinha falado.
PAIVA NUNES – Hum
MANUEL GODINHO – Eh, começou-me lá a dizer não sei que, não sei mais
quanto. Eh, apercebi-me…ah, eu vim para fora…
PAIVA NUNES – Sim
MANUEL GODINHO – …e o acompanhante, o acompanhante dele…eu disse
que precisava que me adjudicassem alguma coisa de imediato que tinha
pessoas paradas.
PAIVA NUNES – Claro
MANUEL GODINHO – E o senhor..
PAIVA NUNES – O que estava ao lado dele
MANUEL GODINHO – … depois o nosso amigo…
PAIVA NUNES – Sim
MANUEL GODINHO – O nosso amigo foi à casa de banho (*), é pá, não conte,
não conte porque isto está sempre muito atrasado. E o assunto já não é com a
empresa mas sim com os outros indivíduos.
PAIVA NUNES – Disse-lhe o indivíduo que estava com ele?
MANUEL GODINHO – Sim, sim.
PAIVA NUNES – Pois. Então foi mais claro do que ele.
MANUEL GODINHO – Foi mais claro do que ele.
PAIVA NUNES – Pois.
MANUEL GODINHO – Depois, entretanto, eu vinha em viagem, e o Paulo…eu
disse ao Paulo…e o Paulo telefonou-me e eu disse-lhe, é pá, por aquilo que me
apercebo e aquilo que o teu amigo disse foi isto assim assim. E ele disse – eu
vou falar com ele, não sei que, não sei mais quanto. Depois falou com ele, eu
estava a almoçar, e eu retirei-me, e ele – você mata-me do coração, não sei
que, não foi bem isso que ele disse. Foi, quer dizer, tentar virar, tá a ver?
PAIVA NUNES – Pois, pois. Mas de concreto zero, não é?
MANUEL GODINHO – De concreto zero, zero, zero. Vê-se que o homem está
completamente atrapalhado.
PAIVA NUNES – Então, quer dizer, de concreto só a esferográfica?

954
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Sim


PAIVA NUNES – Já não é mau (risos).
MANUEL GODINHO – Pronto. Vamos ver se ele conclui isso, hã.
PAIVA NUNES – Pois…não, não, não. Isso conclui.
MANUEL GODINHO – Eh, pronto, mas isso é a parte que…
PAIVA NUNES – Pois. Exactamente, claro.
MANUEL GODINHO – …menos, menos coiso…
PAIVA NUNES – Claro, claro. Eu sei, eu sei. O que interessa é aquilo com que
se compram os melões.
MANUEL GODINHO – Exacto
PAIVA NUNES – Exactamente. Pronto. Ok.
MANUEL GODINHO – Ok
PAIVA NUNES – Tive a almoçar com ele e queria, quer dizer…
MANUEL GODINHO – E ele que é que disse?
PAIVA NUNES – Tudo fácil, tudo não sei quê. Alias ele estava com um amigo,
conforme lhe disse, com um amigo que ele me apresentou e que ele lhe
resolvia de um dia para o outro.
MANUEL GODINHO – Sim, sim, sim
PAIVA NUNES – (*) olha ó Paulo tens aqui o exemplo, pá, quer dizer, eu não
prometi nada. No dia em que eu disse- é agora. É agora.
MANUEL GODINHO – Pois. E então o outro nosso amigo também me disse
que a única coisa que podia fazer era aconselhar-nos à outra empresa.
PAIVA NUNES – Ó pá, tá bem. É verdade, isso tá tudo muito bem. Ele também
me falou mas olhe, em relação à outra empresa, eu conheço as pessoas todas.
MANUEL GODINHO – Ai, é?
PAIVA NUNES – Todas.
MANUEL GODINHO – Não são muito certas, pois não?
PAIVA NUNES – (*) de um banco não é?
MANUEL GODINHO – Não é de um banco não.
PAIVA NUNES – É de ao lado de um banco.
MANUEL GODINHO – Isso não sei.
PAIVA NUNES – Ele disse-me. Ele falou-me.
MANUEL GODINHO – Eu sei que a pessoa, eu sei que a pessoa…
PAIVA NUNES – É de um fundo, é de um fundo.

955
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Eh, só se vier a ser formado.


PAIVA NUNES – Está bem, mas, ouça, a outra…em relação às outras pessoas
são mil cães a um gato, a um osso, está a perceber?
MANUEL GODINHO – Pois, eu sei, eu sei.
PAIVA NUNES – Ah então quer dizer. Então está ali à espera deles, não. Tem-
se que ir muitas vezes para o deserto e trabalhar e tal.
MANUEL GODINHO – Exacto.
PAIVA NUNES – Mas isso é objecto para a gente se sentar e ver isso, tá a ver.
Que eu digo-lhe logo.
MANUEL GODINHO – Tou a perceber.
PAIVA NUNES – Eu digo-lhe tudo.
MANUEL GODINHO – Eu estou convencido, estou convencido que eles não
vão concluir o negócio.
PAIVA NUNES – Mas olhe em relação à outra, nós agora quando cá estiver,
sentamo-nos os dois e eu sei logo isso tudo. E se houver hipótese, eu conheço
a pessoa, trato-a quase por tu.
MANUEL GODINHO – Está bem.
PAIVA NUNES – Olhe, está interessado no Porto.
MANUEL GODINHO – Tou.
PAIVA NUNES – Não…ele, ele, ele. Essas pessoas estão interessadas lá no
Porto.
MANUEL GODINHO – Ai é?
PAIVA NUNES – Está a perceber?
MANUEL GODINHO – Pronto. Porreiro.
PAIVA NUNES – Tá a ver. Conheço…até conheço de ginjeira. Mas ok. Então
ouça lá…
MANUEL GODINHO – Vocês…vocês também têm aí, junto da Expo, um
quartel militar que é vosso, não tem?
PAIVA NUNES – Não (risos)
MANUEL GODINHO – Tem lá uma subestação…
PAIVA NUNES – Não…eu já lhe falei nisso a si.
MANUEL GODINHO – Já quê?
PAIVA NUNES – Já lhe falei nisso.
MANUEL GODINHO – Eu estou a dizer aí em Lisboa.
PAIVA NUNES – Eu sei, eu sei, eu sei.

956
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Ah. Ok.


PAIVA NUNES – Quando pusermos um café à frente a gente fala.
MANUEL GODINHO – Está bem. A gente toma um café.
PAIVA NUNES – ok
MANUEL GODINHO – Está bem.
PAIVA NUNES – ok
MANUEL GODINHO – Um abraço
PAIVA NUNES – Muito obrigado. Adeus
MANUEL GODINHO – Ciao.
(*) Imperceptível

Alias, o próprio Paiva Nunes refere a Manuel Godinho que já avisou o


“amigo” Engº Paulo Costa que tem de arranjar coisas concretas e para se
deixar de tretas porque têm pouco tempo para ganhar dinheiro (produto 6465 –
alvo 39559PM – 30-09-2009), que abaixo se transcreve, na integra, para melhor
se alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

Dados do Produto

Número de produto do alvo 6465

Alvo 39559PM

ID de Intercepção 351917829670

A chamar 351912032873

Hora inicial 30/09/2009 18:31:30

Destinatário 351917829670

PAIVA NUNES – Tá?


MANUEL GODINHO – Sim.
PAIVA NUNES – Tá bom? Desde há bocado?
MANUEL GODINHO – Tudo bem. Tudo bem. O nosso amigo telefonou-me,
hum, agora qual é a ideia…de eu lhe indicar outro trabalho fora do dele.
Outros trabalhos, está a ver? Tou?

957
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PAIVA NUNES – Sim tou a perec…quer dizer, tou a ouvi-lo mas não estou a
perceber.
MANUEL GODINHO – Pois. Não está a perceber. Portanto…
PAIVA NUNES – Nem você.
MANUEL GODINHO – Nem eu percebi. Percebe?
PAIVA NUNES – (risos) A indicar como? Não percebi.
MANUEL GODINHO – Outros interesses, por exemplo, há qualquer coisa
noutra empresa qualquer, não é.
PAIVA NUNES – Ó
MANUEL GODINHO – Dar-lhe trabalho a ele, tá a ver?
PAIVA NUNES – Ó Godinho. Ó.
MANUEL GODINHO – Pronto. Eu percebo.
PAIVA NUNES – Está a inverter as coisas, é?
MANUEL GODINHO – É. Eu percebi a mensagem. Prontos. Nós somos
adultos…
PAIVA NUNES – Claro. Deixe estar e diga que não sabe, que não precisa, que
não sei quê.
MANUEL GODINHO – Exactamente. Isso já lhe disse. Já lhe disse, é pá, eu
não, eu conheço as coisas. Percebe?
PAIVA NUNES – Pois, ele ficou a…quer dizer…Ele já viu que não há golpes.
MANUEL GODINHO – Exactamente.
PAIVA NUNES – O que eu disse ao almoço é muito simples – é pá, é coisas
concretas. É pá, deixem-se lá de tretas que a gente não tem muito tempo para
ganhar dinheiro.
MANUEL GODINHO – Exactamente. É isso.
PAIVA NUNES – Claro. Ou é ou não é.
MANUEL GODINHO – Exactamente. Pronto. Isto está a andar…as coisas
estão…
PAIVA NUNES – As coisas estão…
MANUEL GODINHO – Eu ontem, ontem estive lá no norte, aquilo está
porreiro.
PAIVA NUNES – Foram lá para a parte de cima ou não?
MANUEL GODINHO – Já. Já está. A parte de cima já está limpa. Só falta meter
o barraco abaixo. Estou a mudar o arquivo.
PAIVA NUNES – Sim. Óptimo.

958
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Estou a mudar o arquivo. Vou ter que ter cuidado com
o indivíduo que está a viver por cima porque…
PAIVA NUNES – Ah, veja lá.
MANUEL GODINHO – Exactamente. Inclusivamente dei ordens para levar dois
pedreiros porque há lá uns buracos na parede, percebe?
PAIVA NUNES – Ah, sim, sim, sim. A parede tem um ar de solidez não tem?
MANUEL GODINHO – Eh, tem. Tem, tem e eu vou, eu vou dar um jeito aquilo
e vou dar uma pinturazinha depois…
PAIVA NUNES – Óptimo, óptimo
MANUEL GODINHO – …depois de estar aquilo no chão, está a ver?
PAIVA NUNES – Mas ainda não começou a tirar de lá os resíduos, pois não?
MANUEL GODINHO – Os resíduos já tiramos. Tudo.
PAIVA NUNES – Ai já? Tudo?
MANUEL GODINHO – Já. Na Terça-feira o senhor vê.
PAIVA NUNES – Mas prolongue, prolongue. Está a perceber?
MANUEL GODINHO – Está bem. Atenção que o dia sete é na Quarta não na
Terça.
PAIVA NUNES – O dia sete…
MANUEL GODINHO – No dia sete…
PAIVA NUNES – É Quarta-feira é. Sabe porquê? Porque eu fiquei confuso
porque no dia cinco que é segunda-feira é feriado.
MANUEL GODINHO – Pois é.
PAIVA NUNES – E eu por acaso até estou lá em cima no Geres.
MANUEL GODINHO – E eu vou aproveitar no dia três e vou a Bilbau.
PAIVA NUNES – Pois eu vou…Ah sim?
MANUEL GODINHO – Vou.
PAIVA NUNES – Mas eu também sobre isso queria falar consigo.
MANUEL GODINHO – Está bem.
PAIVA NUNES – Tem lá alguma coisa, é?
MANUEL GODINHO – Diga.
PAIVA NUNES – Tem lá alguma coisa?
MANUEL GODINHO – Temos. Temos lá o Cervando que é um grande
industrial ao nível da Europa que trabalha bastante connosco.
PAIVA NUNES – Mas quê? Da sua área?

959
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Na minha área.


PAIVA NUNES – Então peço-lhe o seguinte, se vai lá, nós vamos construir lá
uma sede.
MANUEL GODINHO – Sim
PAIVA NUNES – E é num edifício antigo.
MANUEL GODINHO – Pois.
PAIVA NUNES – Quando é que… Ainda vem cá a Lisboa antes desse dia, não?
MANUEL GODINHO – Vou, vou. Eu no Sábado tenho aí um almoço.
PAIVA NUNES – Não mas eu no Sábado não tou cá.
MANUEL GODINHO – Ai já não está?
PAIVA NUNES – Não.
MANUEL GODINHO – Eu vou na Quarta-feira aí ao Seabra Gomes. Ao
Instituto do Coração.
PAIVA NUNES – Olhe
MANUEL GODINHO – Mas isso…
PAIVA NUNES – Esse homem é mesmo de Bilbau, é?
MANUEL GODINHO – Sim
PAIVA NUNES – Porque eu sou capaz de precisar.
MANUEL GODINHO – Está bem.
PAIVA NUNES – Sabe porquê?
MANUEL GODINHO – …marcamos um dia e se for preciso lá vamos.
PAIVA NUNES – Não…mas fique já com uma ideia que amanhã vou-lhe dar
exactamente o número da…o nome da rua.
MANUEL GODINHO – Está bem.
PAIVA NUNES – Que nós temos…compramos lá um edifício que o temos que
demolir todo por dentro..
MANUEL GODINHO – Sim
PAIVA NUNES – E deixar a fachada porque depois vamos construir um edifício
completamente novo por dentro.
MANUEL GODINHO – Está bem.
PAIVA NUNES – Você…Não era consigo mas podia esse homem ajudar-nos,
está a perceber?
MANUEL GODINHO – Pronto. Eu mando, eu mando...
PAIVA NUNES – Por isso eu digo, se você…É mesmo em Bilbau é?

960
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Sim, sim.


PAIVA NUNES – Eu digo-lhe a direcção. Você até lá vai com ele a ver o edifício.
MANUEL GODINHO – Pois
PAIVA NUNES – Isso era (*) Está a ver, a propósito da conversa do nosso
amigo. Está a ver como é que surgem as coisas. As coisas surgem assim.
MANUEL GODINHO – Exacto
PAIVA NUNES – É. Portanto. Qual é que é a actividade dele? É a sua é?
MANUEL GODINHO – É a minha.
PAIVA NUNES – Mas também faz demolições?
MANUEL GODINHO – Ora bem, se não fizer arranja um consórcio, não é?
PAIVA NUNES – Pois
MANUEL GODINHO – Se não fizer arranja um consórcio.
PAIVA NUNES – Está bem. Eu amanhã vou-lhe telefonar para dar
exactamente a direcção.
MANUEL GODINHO – Está bem. Ok.
PAIVA NUNES – E depois você passa por lá, vê e tal, e ele como é de lá pensa
nas coisas, não é?
MANUEL GODINHO – Exacto
PAIVA NUNES – É assim que começam a surgir…
MANUEL GODINHO – Está bem.
PAIVA NUNES – Porque pode ser muito útil para a gente
MANUEL GODINHO – Está bem, está bem.
PAIVA NUNES – Está bem?
MANUEL GODINHO – Está. Ok.
PAIVA NUNES – Mas olhe…hum…pois, você só cá vem sábado, não é?
MANUEL GODINHO – Na sexta talvez possa dar aí um saltozinho.
PAIVA NUNES – Não…mas eu queria aproveitar estes dias para descansar e ia
para o Geres com a família, está a perceber?
MANUEL GODINHO – Ah. Pronto ficamos…
PAIVA NUNES – Mas olhe, eu se calhar até na…no Sábado…ah, pois você no
Sábado vem vá abaixo.
(sobreposição de vozes)
MANUEL GODINHO – Diga?
PAIVA NUNES – No Sábado estou no Porto.

961
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Eu posso mandar o meu miúdo mais novo ter…


entrega-lhe.
PAIVA NUNES – Não…mas eu hei-de…eu estou a falar de eu lhe dar a
direcção.
MANUEL GODINHO – Pronto. Ok. Manda por e-mail ou por fax.
PAIVA NUNES – Exactamente. Exactamente.
MANUEL GODINHO – Ok.
PAIVA NUNES – E depois você leva lá ao homem e depois a gente vai falando.
MANUEL GODINHO – Está bem, está bem senhor.
PAIVA NUNES – Ok?
MANUEL GODINHO – Ok senhor engenheiro. Um abraço
PAIVA NUNES – Um abraço para si.
MANUEL GODINHO – Até amanhã
PAIVA NUNES – Obrigado
(*) Imperceptível

Como tal, no dia 17 de Outubro de 2009, Namércio Cunha, a pedido de


Manuel Godinho, deslocou-se a Lisboa de comboio, encontrou-se com o Engº
Paulo Costa e trouxe de volta a Aveiro a viatura Mercedes-Benz CL 65 AMG,
com a matrícula 68-GV-25 (produtos 22961 e 22965– alvo 1T167PM –
17/09/2009.)

Em declarações complementares, Namércio Cunha confirmou esta


situação – “Perguntado sobre se chegou a conhecer pessoalmente o Engº Paulo Costa
refere que apenas o conheceu numa situação que decorreu do facto de ter ido buscar
uma viatura pertencente ao Sr. Manuel Godinho, um Mercedes AMG de cor preto, que
estava na posse do Engº Paulo Costa, facto que desconhecia por completo. Recorda-se
de ter ido a zona da EXPO em Lisboa onde o Engº Paulo Costa lhe entregou o carro. O
interrogado refere que se deslocou a Lisboa de comboio e que fê-lo a pedido do Sr.
Manuel Godinho atendendo a que se tratava de um administrador da GALP.” (ver fls.
22973 do Volume 67).

962
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

No que concerne à viatura, alega o requerente que se tratou de um


“test-drive prolongado” .

Sucede, contudo, que plúrimas circunstâncias desmentem que assim


tenha sido, pelo menos na normalidade do acontecer.

Desde logo, a revisão que António Paulo Costa fez ao veículo, a


mudança de pneus e, acima de tudo, a sua não utilização quando se deslocava
para o serviço.

As testemunhas inquiridas foram, unânimes, na afirmação de nunca


terem visto o arguido na posse do veículo ou de sequer o terem visto
parqueado nas instalações da GALP, o que denota a preocupação evidenciada
de não suscitar a curiosidade dos seus colegas de trabalho sobre a
proveniência da viatura. Trata-se de um veículo desportivo de topo de gama,
que não passa despercebido.

Acaso se tratasse de um mero “test-drive” nenhum problema existiria


na sua utilização de e para o serviço.

Do tráfico de Influência sobre José António Chocolate


Contradanças e dos factos por este praticados

Outro concurso que o Engº Paulo Costa, de forma diligente, tratou de


informar Manuel Godinho, ocorreu no dia seguinte à entrega da viatura a Paiva
Nunes, ou seja, no dia 05 de Junho de 2009.

963
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Godinho liga ao Engº Paulo Costa, após ter sido previamente
alertado pelo Paiva Nunes para o facto de aquele ter um concurso preparado
para ele.

- Produto 11377 – Alvo 1T167PM - 05/06/2009 – Paiva Nunes  Manuel


Godinho:
Paiva Nunes diz a Manuel Godinho que era importante ele ligar ao Engº Paulo
Costa pois ele já tem um concurso preparado para ele.
Paiva Nunes informa Manuel Godinho que o livro de instruções não está no
Mercedes-Benz que lhe foi entregue no dia antes.

- Produto 11379 – Alvo 1T167PM - 05/06/2009 – Manuel Godinho  Eng.


Paulo Costa:
Engº Paulo Costa diz a Manuel Godinho que, ontem, lhe ligou um amigo que
vai lançar um concurso para sucata, uma coisa grande, em Lisboa. Refere que o amigo
em questão se chama José António Contradanças.
Diz também que o amigo vai telefonar para Manuel Godinho para que este
possa fornecer os dados e, assim, ser convidado.
Manuel Godinho pergunta quando é que eles vêm ao Norte e pede ao seu
interlocutor para estar atento “àquelas demolições”.

Produto 11379, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 11379


DATA/HORA: 05/06/2009 09:45:05
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – Engº. PAULO COSTA - 962971903

964
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Engº. PAULO COSTA – Bom dia.


MANUEL GODINHO – Bom dia.
Engº. PAULO COSTA – Tá bom, como vai.
MANUEL GODINHO – Tá tudo, tudo bem, obrigado.
Engº. PAULO COSTA – Olhe...
MANUEL GODINHO – Diga.
Engº. PAULO COSTA – Ontem ligou-lhe um amigo meu, não sei se viu...
MANUEL GODINHO – Sim, sim. Sim.
Engº. PAULO COSTA – Estava...
MANUEL GODINHO – Eu tive um jantar...
Engº. PAULO COSTA – Certo.
MANUEL GODINHO – Eu tive um jantar eeeee...não levei telemóvel, tá a ver.
Engº. PAULO COSTA – Pois.
MANUEL GODINHO – E só hoje de manhã é que eu vi as suas chamadas. Mas
já recebi hoje uma chamada a dizer... para lhe ligar.
Engº. PAULO COSTA – Tá bem. Mas, olhe...
MANUEL GODINHO – Diga.
Engº. PAULO COSTA – Ehhhh. Portanto, ligou-me anteontem um amigo meu, que
ele vai lançar um concurso para... pa, pra sucata, tá ver. Mas uma coisa grande...
MANUEL GODINHO – A Olaria...
Engº. PAULO COSTA – É uma...é aqui em Lisboa.
MANUEL GODINHO – Ahhhh.
Engº. PAULO COSTA – Ehh...portanto, ele queria, mas ele queria...precisava dos
seus dados, para depois fazer o convite para você participar no...no concurso.
MANUEL GODINHO – Tá bem.
Engº. PAULO COSTA – Tá bem.
MANUEL GODINHO – Tá bem.
Engº. PAULO COSTA – Portanto, ele deixou...eu acho que ele lhe deixou uma
mensagem.
MANUEL GODINHO – Sim.
Engº. PAULO COSTA – Ele chama-se José António Contradanças.
MANUEL GODINHO – Sim.

965
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Engº. PAULO COSTA – Tá a ver.


MANUEL GODINHO – Eugénio...
Engº. PAULO COSTA – Não. José António Contradanças.
MANUEL GODINHO – José António...
Engº. PAULO COSTA – Contradanças.
MANUEL GODINHO – ...António...Contravanças.
Engº. PAULO COSTA – Tá bem. Eu se calhar...eu vou, eu peço a ele para daqui a
bocadinho ligar pra si. Tá bem?
MANUEL GODINHO – Tá bem, ok.
Engº. PAULO COSTA – E você...e você dá-lhe os dados todos, que é para ele depois
lhe mandar um convite.
MANUEL GODINHO – Tá bem, tá bem.
Engº. PAULO COSTA – Tá bem?
MANUEL GODINHO – Quando é que vocês vêm cá ao Norte.
Engº. PAULO COSTA – Pá, o..olhe amanhã...hoje vou ai, vou à Figueira, amanhã...
venho para Lisboa outra vez, amanhã vou pró Porto.
MANUEL GODINHO – Ahhh. Pronto, quando tiver disponibilidade, diga...
Engº. PAULO COSTA – Pode...
MANUEL GODINHO –...que eu marco com o Paulo e a gente almoça ai, ou qualquer
coisa.
Engº. PAULO COSTA – Tá bem. Esta semana que vem, não, porque depois vou a
Paris com os miúdos. Mas na outra a seguir...
MANUEL GODINHO – Tá bem, ok.
Engº. PAULO COSTA – Tá bem?
MANUEL GODINHO – Tá.
Engº. PAULO COSTA – Tá bem, grande abraço.
MANUEL GODINHO – Esteja atente, esteja atento àquelas demolições. Está bem?
Engº. PAULO COSTA – Sim, eu sei. Não se...esteja descansado com isso. Tá bem?
MANUEL GODINHO – Tá, ok, ok. Um abraço.
Engº. PAULO COSTA – Grande abraço. Adeus.

966
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Indiciam outrossim os autos que, na sequência da mediação e


influência exercida pelo Eng.º Paulo Costa, no dia 05 de Junho de 2009, José
António Chocolate Contradanças contactou Manuel Godinho, dizendo-lhe que o
Engº Paulo Costa lhe havia transmitido que estaria interessado em ser
favorecido nos concursos e nas consultas públicas de adjudicação e, bem
assim, na adjudicação directa de contratos de prestação de serviços na área da
selecção, recolha, transporte, armazenagem, triagem, tratamento, valorização
e eliminação de resíduos produzidos pelo IDD - Indústria de Desmilitarização
e Defesa, S.A.

Saliente-se que o “amigo” José Contradanças, apresentado pelo Engº


Paulo Costa, era à data dos factos, vogal do conselho de administração da IDD
– Indústria de Desmilitarização e Defesa, S.A., adiante designada por IDD,
sociedade anónima cujo capital social é detido em 100% pela EMPORDEF –
Empresa Portuguesa de Defesa, SGPS, S.A. (sociedade gestora de
participações sociais exclusivamente públicas – tutelada pelos Ministérios da
Defesa e das Finanças) e tem instalações em Alcochete. (cf. fls. 7478 a 7479
do Volume 21 e 167 a 172 do apenso 18 Apenso 18\fls. 167 a 172 ).

- Produto 11381 - Alvo 1T167PM - 05/06/2009 – José António Contradanças


 Manuel Godinho:
José António Contradanças, o amigo do Eng.º Paulo Costa da GALP,
identifica-se e diz que o amigo lhe transmitiu que Manuel Godinho estaria interessado
em posicionar-se numa consulta para sucatas.
José Contradanças explica que a sua empresa se chama IDD – Indústria de
Desmilitarização e Defesa, S.A., detida a 100% pelo Estado e que a actividade é a
desactivação e desmantelamento de munições, bombas de avião e torpedos.

967
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Explicita também que, até agora, tem sido uma firma de Abrantes que efectua
esse serviço, mas que introduziu a questão de querer fazer uma consulta a algumas
entidades.
Manuel Godinho solicita o n.º de fax para poder enviar a identificação da sua
empresa.
Contradanças fornece o n.º 21 2308070, explicando-lhe que pode dirigi-lo a
ele ou ao director-geral.
Manuel Godinho propõe-lhe um encontro com ele. Contradanças diz que pode
escrever previamente uma carta de apresentação, o que não seria impeditivo de
combinarem encontrar-se na próxima semana.
Contradanças, respondendo a Manuel Godinho, informa que a fábrica se
localiza junto à portagem da A1, no Pinhal Novo, na estrada para Alcochete.

Produto 11381, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 11381


DATA/HORA: 05/06/2009 10:25:16
INTERVENIENTES:
• DE – JOSÉ CONTRADANÇAS - 917 261 650
• PARA – Manuel Godinho

MANUEL GODINHO – Sim?

JOSÉ CONTRADANÇAS – Tou. Muito bom dia.

MANUEL GODINHO – Bom dia.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Olhe. O meu nome é José António


Contradanças.

MANUEL GODINHO – Sim, sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – E se calhar já ouviu falar por intermédio do


Paulo.

968
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Ehhh.

MANUEL GODINHO – Tá a falar com o Godinho. Diga?

JOSÉ CONTRADANÇAS – Sim senhor. É isso que eu aqui tenho, pois.


Ehhh, olhe...ehhh, o nosso bom amigo Paulo Costa, portanto...

MANUEL GODINHO – Sim, sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – ...ontem, disse-me que provavelmente estaria


interessado em...em poder posicionar-se, portanto...

MANUEL GODINHO – Sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – ...numa consulta, por questão de sucatas.


Portanto, a empresa onde eu estou neste momento é, é a IDD, portanto,
que é uma indústria de desmilitarização e defesa...

MANUEL GODINHO – Ahhhhh.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Que é detida a cem porcento, portanto, pelo


estado e que faz tudo o que é de...desactivação, portanto,
desmantelamento de munições, desde bombas de uma tonelada
de...bombas de avião...

MANUEL GODINHO – Sim, sim, sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – ...até torpedos. Tudo isso, o senhor sabe muito


bem, prontos.

MANUEL GODINHO – Sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Aquilo produz sucatas. Talvez não tanto quanto


aquilo que às vezes a gente...há anos que produz mais, outras menos,
conforme...

MANUEL GODINHO – Sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – ...o tipo de...ehhhhhhh, e depois por outro lado,


muitas vezes, os ramos das forças armadas, quando há assim coisa mais
nobre, querem também levar o, o, o ... querem também levar o ... querem o
retorno das sucatas, pronto.

MANUEL GODINHO – Sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Mas o que é certo, é que há, e faz-se. E neste


momento há uma firma de sucatas que...ali dos lados de Abrantes, que
está, que é compradora, que leva.

969
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – E eu introduzi a questão de querer fazer uma


consulta a algumas entidades, que vai ser feita brevemente, portanto,
uma proposta. Portanto, dai que, se quiser...

MANUEL GODINHO – O senhor...

JOSÉ CONTRADANÇAS – Sim...

MANUEL GODINHO – ...o senhor dava-me o seu número de fax...

JOSÉ CONTRADANÇAS – ...eu dou-lhe um, eu dou-lhe um...

MANUEL GODINHO – Para a identificação da empresa.

JOSÉ CONTRADANÇAS – ...pois, eu até...posso lhe dar um mail ou posso


lhe dar o fax. Quer ooo fax...

MANUEL GODINHO – O fax.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Pronto, o fax é o dois um (21).

MANUEL GODINHO – Repete - Dois um (21).

JOSÉ CONTRADANÇAS – Dois, três, zero (230).

MANUEL GODINHO – Repete - Dois, três, zero (230).

JOSÉ CONTRADANÇAS – Oito, zero (80).

MANUEL GODINHO – Repete - Oito, zero (80).

JOSÉ CONTRADANÇAS – Sete, zero (70).

MANUEL GODINHO – Repete - Sete, zero (70). Ok.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Pois. Portanto, das duas uma, ou pode fazer-me


isso dirigido a mim, ou pode fazer ao Director Geral, como queira. Se
quiser fazer dirigido a mim, portanto...

MANUEL GODINHO – Eu gostava de falar consigo, tá a ver.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Tá bem.

MANUEL GODINHO – Ehhhh, que era para ver...em que moldes é que a
gente haviamos de fazer isso.

970
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

JOSÉ CONTRADANÇAS – Pois. Até pode, até pode visitar a empresa, lá ir.
Eu, ehhhh, não me importo nada e de irmos dar uma volta com o Director
Geral, ele explicar aquelas coisas. Ehhh, portant...eu tava a querer era
obviar. Porque, tá bem, que agora vai-se meter este feriado todo e isso não
vai nada, não é?

MANUEL GODINHO – Sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Porque, segunda e terça este Pais pára todo, não
é.

MANUEL GODINHO – Pois.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Mas se houvesse, ehhh...sei lá, no género


de...uma...se fizesse um fax ou uma carta a apresentar, a dizer...somos
fulanos de tais, temos uma empresa, sabemos, portanto...que a vossa
empresa produz alguns resíduos neste âmbito das sucatas.
Gostaríamos, portanto, de poder visitá-la, para além disso se fosse
realizada uma consulta, estaríamos em condições de apresentar a nossa
proposta, pelo que sensibilizamos...portanto, percebe...uma carta,
portanto, de apresentação, uma coisa assim, percebe...E, ehhh

MANUEL GODINHO – Eu mandava-lhe uma...um currículo, uma


brochura.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Claro.

MANUEL GODINHO – E a carta de apresentação.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Claro. Mas é isso. Pronto, isto obviava. E


depois...o que não impedia que nós combinássemos...Ehhh, ora, aquilo
treze é sábado... ou catorze. Pá, sei lá, logo no principio da outra semana,
eu estou lá, estou lá. P’rá outro semana, segunda e terça feira, não é.

MANUEL GODINHO – Onde é a fábrica?

JOSÉ CONTRADANÇAS – Como?

MANUEL GODINHO – A fábrica... onde é?

JOSÉ CONTRADANÇAS – Como, como, diga?

MANUEL GODINHO – A fábrica está localizada aonde?

JOSÉ CONTRADANÇAS – Está localizada ali onde era a SPEL –


Sociedade Portuguesa de explosivos, entra-se por ai. Agora é MAXSAM, mas
está a ver ali ao pé da...do...da portagem do Pinhal Novo...

MANUEL GODINHO – Ai, no Pinhal Novo...

971
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

JOSÉ CONTRADANÇAS – ...da portagem da Auto-Estrada.

MANUEL GODINHO – Sim, sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Quando, quando olha para a sua direita vê uma


estrada paralela, que era a antiga estrada que vai para o pa...para Alcochete.

MANUEL GODINHO – Sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – E depois vê ali uma firma, que é Espanhola, que


diz MAXSAM, que era onde era a antiga SPEL – Sociedade Portuguesa de
explosivos.

MANUEL GODINHO – Sim, sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – E depois entra-se por esse portão. E lá para trás,


ehhh, fica esta IDD.

MANUEL GODINHO – Pois.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Porque, prontos, são coisas de rebentamentos,


ehhh, instalações especiais, e tudo...

MANUEL GODINHO – Pois.

JOSÉ CONTRADANÇAS – São coisas, normalmente...

MANUEL GODINHO – Eu vou passar....hoje não lhe dá jeito. Porque senão


eu dava ai um salto...

JOSÉ CONTRADANÇAS – Não, hoje...tem sido assim um dia muito


conturbado. Eu tou ainda em casa, estou aqui ao computador e tal, ehhh...ás
cinco para a meia noite estava-me a morrer uma pessoa quase nos braços...

MANUEL GODINHO – Ahhhh.

JOSÉ CONTRADANÇAS – ...numa sessão. Pá, num ataque fulminante do


coração, pá. E num...num estou capaz de nada.

MANUEL GODINHO – Então, vá.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Vou passar pela empresa, mas estou assim. Dai
que, o que eu lhe pedia era, se quer fazer isso em meu nome, manda pra
mim. Portanto, e então endereça o fax...tem que m andar para alguém, não
é. Portanto...

MANUEL GODINHO – Ao cuidado do senhor José António Contradanças.


É isso?

972
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

JOSÉ CONTRADANÇAS – Claro. Administrador José António


contradanças, pronto. Ehhh, e depois diz...portanto, precisamente...somos
uma empresa tal tal, para além de fazermos esta apresentação, gostariamos
de pessoalmente de poder marcar uma reunião e uma visita à vossa
empresa. Portanto, estando nós neste âmbito de negócio, das sucatas e
sabendo que a vossa empresa, portanto, produz algumas ehhh...que
gostaria...prontos, e ehhhh, mais dizemos que gostariamos que fosse...de ser
consultados em futuras consultas. Pronto, passe o termo...

MANUEL GODINHO – Tá bem.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Tá a perceber? Bom, uma coisa assim. José


António Contradanças, para esse fax, e a empresa chama-se IDD.

MANUEL GODINHO – IDD.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Um I, um D e um D.

MANUEL GODINHO – Sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – É Industria...

MANUEL GODINHO – Sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – ...de Desmilitarização...

MANUEL GODINHO – Sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – ...e Defesa...

MANUEL GODINHO – Repete – E Defesa.

JOSÉ CONTRADANÇAS – SA. E Defesa. Indústria de Desmilitarização e


Defesa SA.

MANUEL GODINHO – E defesa...SA.

JOSÉ CONTRADANÇAS – SA. Pronto. Alcochete, ehhh...

MANUEL GODINHO – Alcochete.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Mas...como já lhe dei o fax, mande o fax.

MANUEL GODINHO – Vocês tinham ai uma quantidade muito grande de


carros blindados, ainda têm.

JOSÉ CONTRADANÇAS – De...latão. Diga? De...

MANUEL GODINHO – De carros blindados.

973
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

JOSÉ CONTRADANÇAS – Não, não, não.

MANUEL GODINHO – Já não tem.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Não, não. Aqui não.

MANUEL GODINHO – Alcochete...

JOSÉ CONTRADANÇAS – Não, os...portanto, os carros blindados, ehhh,


ehhh, portanto, só se estiverem na, no depósito ehhh, de...

MANUEL GODINHO – Estão no depósito...

JOSÉ CONTRADANÇAS – ...de Benavente...

MANUEL GODINHO – Em Benavente, exacto.

JOSÉ CONTRADANÇAS – ... lá mais à frente ao pé do campo de tiro...nós...

MANUEL GODINHO – Sim, sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Pode ser...

MANUEL GODINHO – Tem lá uma quantidade enorme disso.

JOSÉ CONTRADANÇAS – ... pois, mas...

MANUEL GODINHO – Nós temos de falar, prontos...

JOSÉ CONTRADANÇAS – Mas, se vocês...

MANUEL GODINHO – ...segunda ou terça feira...

JOSÉ CONTRADANÇAS – Tá bem, tá.

MANUEL GODINHO – ...eu falava com o senhor e dava ai um salto. Tá bem?

JOSÉ CONTRADANÇAS – Sim senhor. Tá, ok.


MANUEL GODINHO – E a gente conversava, tá bem.
JOSÉ CONTRADANÇAS – Ok. Muito obrigado.
MANUEL GODINHO – Tá. Um grande abraço.
JOSÉ CONTRADANÇAS – Obrigado, obrigado.
MANUEL GODINHO – Um bom fim-de-semana.
JOSÉ CONTRADANÇAS – Igualmente.

974
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

- Produto 11387 – Alvo 1T167PM - 05/06/2009 – Manuel Godinho  Paiva


Nunes:
Manuel Godinho comunica a Paiva Nunes que já lhe está a preparar três casos
e que na segunda-feira lhe entrega isso.
Paiva Nunes pergunta se Manuel Godinho chegou a falar com Paulo Costa e
aconselha-o a não fazer nada sem falar com ele ou com o Paulo Costa para que “as
coisas sejam encaminhadas”.

Produto 11387, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 11387


DATA/HORA: 05/06/2009 11:00:55
INTERVENIENTES: ENGº. PAIVA
• DE – Manuel Godinho NUNES – Tá.
• PARA – Engº. PAIVA NUNES – 917 829 670
MANUEL
GODINHO – Sim.
ENGº. PAIVA NUNES – Sim.
MANUEL GODINHO – Senhor Engenheiro.
ENGº. PAIVA NUNES – Caiu a chamada, não é.
MANUEL GODINHO – Caiu, caiu. Ehhhh, portanto...isso do carro está esclarecido.
ENGº. PAIVA NUNES – Sim.
MANUEL GODINHO – Ehhh...eu tou-lhe a preparar aquelas...três casos que você me
falou.
ENGº. PAIVA NUNES – Sim.
MANUEL GODINHO – E na segunda feira penso entregar-lhe isso...
ENGº. PAIVA NUNES – Tá bem.
MANUEL GODINHO – Tá bem?
ENGº. PAIVA NUNES – Tá bem. Olhe, chegou a falar com o Paulo Costa.
MANUEL GODINHO – Já falei.
ENGº. PAIVA NUNES – Pronto. Agora você...não faça nada, depois...sem falar
comigo ou com ele, tá a perceber.
MANUEL GODINHO – Tá bem, tá bem. Num, nada, nada...

975
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

ENGº. PAIVA NUNES – Que é para encaminharmos as coisas, tá bem.


MANUEL GODINHO – Zero, zero. Esteja á vontade.
ENGº. PAIVA NUNES – Ok.
MANUEL GODINHO – Tá. Um abraço.
ENGº. PAIVA NUNES – Um abraço para si. Obrigado, obrigado.
MANUEL GODINHO – Obrigado eu.

- Produto 11389 – Alvo 1T167PM - 05/06/2009 – Manuel Godinho  José


António Contradanças:
José António Contradanças, a pedido de Manuel Godinho, fornece o seu
endereço de correio electrónico: jacontradancas@idd.com.pt.
Manuel Godinho diz que a apresentação será enviada por mail.

Produto 11389, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 11389


DATA/HORA: 05/06/2009 11:03:47
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – JOSÉ CONTRADANÇAS - 917 261 650

JOSÉ CONTRADANÇAS – Estou.


MANUEL GODINHO – Senhor José António.
JOSÉ CONTRADANÇAS – Sim, sim. É o próprio.
MANUEL GODINHO – Olhe, é o Godinho novamente, desculpe lá.
JOSÉ CONTRADANÇAS – Sim, sim.
MANUEL GODINHO – Importa-se de me dar o seu... o número do seu mail.
JOSÉ CONTRADANÇAS – O mail.
MANUEL GODINHO – Sim.

976
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

JOSÉ CONTRADANÇAS – J...


MANUEL GODINHO – (Repete) J.
JOSÉ CONTRADANÇAS – .... A ...
MANUEL GODINHO – (Repete) A.
JOSÉ CONTRADANÇAS – ... Contradanças sem cedilha...contradancas. Tudo pegado,
ja, de José António...contradancas.
MANUEL GODINHO – Contradancas.
JOSÉ CONTRADANÇAS – Que é contradanças, tudo pegado, sem cedilha...
MANUEL GODINHO – (Repete)...dancas...
JOSÉ CONTRADANÇAS – Contradancas.
MANUEL GODINHO – Sim.
JOSÉ CONTRADANÇAS – Arroba (@).
MANUEL GODINHO – (Repete) – arroba (@)...
JOSÉ CONTRADANÇAS – IDD...I
MANUEL GODINHO – (Repete) – IDD.
JOSÉ CONTRADANÇAS – IDD ponto...
MANUEL GODINHO – IDD.
JOSÉ CONTRADANÇAS – ponto...
MANUEL GODINHO – (Repete) – Ponto.
JOSÉ CONTRADANÇAS – Come (com).
MANUEL GODINHO – (Repete) - Come.
JOSÉ CONTRADANÇAS – Ponto...
MANUEL GODINHO – (Repete) – Ponto.
JOSÉ CONTRADANÇAS – PT.
MANUEL GODINHO – (Repete) – PT.
JOSÉ CONTRADANÇAS – Ponto com, ponto PT. Porque às vezes esquecem-se de uma
... e este tem as duas coisas, tem o ponto come e tem o ponto pt, tá.
MANUEL GODINHO – Eu vou-lhe mandar a apresentação por...
JOSÉ CONTRADANÇAS – Sim, sim.
MANUEL GODINHO – Tá.
JOSÉ CONTRADANÇAS – Por mail, tá. Sim senhora...portanto.
MANUEL GODINHO – Ok. Muito obrigado.
JOSÉ CONTRADANÇAS – Nada. Obrigado eu.

977
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Obrigado, obrigado.

- Produto 11675 – Alvo 1T167PM - 08/06/2009 – Manuel Godinho  Eng.


Paulo Costa:
Eng.º Paulo Costa pergunta a Manuel Godinho se já falou com o amigo dele
(José Contradanças). Este responde que foi enviado um mail na passada sexta-feira
(05/06/2009).
Manuel Godinho diz que um dia destes têm que falar para fazer um ponto de
situação. Este diz que naquela semana iria estar fora.

- Produto 12330 – Alvo 1T167PM - 17/06/2009 - Eng.º Paulo Costa 


Manuel Godinho:
SMS enviado por Eng.º Paulo Costa: jacontradancas@idd.com.pt

- Produto 12369 – Alvo 1T167PM - 17/06/2009 - Eng.º Paulo Costa 


Manuel Godinho:
Eng.º Paulo Costa pergunta que é o contacto na “O2”. Este fornece o nome de
Namércio Cunha e pergunta quando é que vão “fazer aquilo”.
Eng.º Paulo Costa diz que é já, que digitalizou “aquilo” e que só precisava do
nome do contacto.
Manuel Godinho pergunta se falaram com o “outro amigo”. Paulo Costa não
responde.

- Produto 12370 - Alvo 1T167PM - 17/06/2009 – Manuel Godinho 


Namércio Cunha:
Manuel Godinho transmite a Namércio Cunha que irão entrar em contacto com
ele da IDD, da GALP ou da EDP para fazer umas consultas.

978
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

- Produto 13516 – Alvo 1T167PM - 29/06/2009 - Manuel Godinho 


Namércio Cunha:
Manuel Godinho pergunta a Namércio Cunha a que horas está marcada a visita
do dia seguinte à IDD, em Alcochete. Namércio diz que é às 10h30.
Manuel Godinho confirma se a visita é em Alcochete, porque precisa de avisar
“o nosso amigo” e adianta que irá acompanhado.

Produto 13516, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 13516


DATA/HORA: 29/06/2009 14:55:21
INTERVENIENTES:
• DE – MANUEL GODINHO
• PARA – Namércio Cunha

Namércio Cunha –Estou


MANUEL GODINHO – Sim
Namércio Cunha –Então
MANUEL GODINHO – está tudo. Ouve lá, a que horas é que está marcada a
visita à IDD amanhã
Namércio Cunha –Dez e meia
MANUEL GODINHO – Quando ?
Namércio Cunha –dez e meia
MANUEL GODINHO – às dez e meia.
Namércio Cunha –A que horas é que lhe dá jeito ?
MANUEL GODINHO – Éh pá, dez e meia, dez e meia, pronto dez e meia
Namércio Cunha –Está bom pra si ?
MANUEL GODINHO – Está. E onde é ? Em Alcochete ?
Namércio Cunha –É, é em Alcochete, pus lá a morada
MANUEL GODINHO – Que é para eu avisar o nosso amigo
Namércio Cunha –está bem
MANUEL GODINHO – Ok

979
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Namércio Cunha –depois encontramo-nos lá ?


MANUEL GODINHO – Pode ser, pode ser que eu devo de ir acompanhado
Namércio Cunha –Está bem ,pode ser na Academia de Alcochete
MANUEL GODINHO –Tu és tolo, com os nervos que eu ando
Namércio Cunha –Ali é que é bom para mandar uma pedradas, ao pessoal
MANUEL GODINHO –Pois, é mais uma pedrada; não, não me meto nesse
ambiente
Namércio Cunha –Está lá o Paulo Bento com tranquilidade
MANUEL GODINHO –Não há novidade nenhuma ?
Namércio Cunha –Para já ainda não
MANUEL GODINHO –Você nunca mais disse nada, pois não ?
Namércio Cunha –Não, eu ando a tentar falar com o Jorge, mas ele na semana
passada tinha uma desculpa que ele estava com bastantes reuniões por causa
daquele caso de pereiros, que eles vão por cá o transformador, afinal já não o
vão retirar
MANUEL GODINHO –Ai já não retiram, é ?
Namércio Cunha –Não, porque surgiu, ardeu um pé da EDP e eles vão, eles vão
trocar por aquele, eles tiram-no; no entanto eu já tive uma conversa prévia
com ele e ele vai depois ter mais, vão surgir mais situações, vamos manter o
processo em aberto, não se dá por encerrado e eles vão ter mais situações e
depois
MANUEL GODINHO –Vão ter, mas quando ?
Namércio Cunha –Pois, é isso que estou a tentar saber; pronto e ele na
semana passada, ele pediu desculpa mas ele andava lá super ocupado, espero
durante esta semana saber mais alguma coisa
MANUEL GODINHO –Pá, é ver essa porcaria; e da Tapada do Outeiro ?
Namércio Cunha –Na semana passada ainda não tinham, ainda estavam a
trabalhar naquilo, não havia desenvolvimentos nenhuns, ainda estava tudo,
pronto, digamos, em bruto
MANUEL GODINHO –Aquele senhor que nos andou a acompanhar
Namércio Cunha –Sim, sim, não, não, ele na semana passada ainda não tinha
dados nenhuns de concreto
MANUEL GODINHO –Então, mas já mandou isso pra baixo ?
Namércio Cunha –Penso que ainda está com ele.
MANUEL GODINHO –Ainda está com ele ?
Namércio Cunha –Ainda está com ele

980
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO –Pá, telefona e pergunta isso, pá.


Namércio Cunha –está bem, está bem
MANUEL GODINHO –Ok ?
Namércio Cunha –Está, ok, até já .

- Produto 13618 – Alvo 1T167PM - 30/06/2009 11:39:30 – 938959707


917649864 - Namércio Cunha  Manuel Godinho:
Manuel Godinho diz a Namércio Cunha que está a chegar a Alcochete.

- Produto 13806 – Alvo 1T167PM - 30/06/2009 16:19:41– 917649864


917649864 - Manuel Godinho  Namércio Cunha:
Eng.º Paulo Costa diz que estava a pensar nele, porque ele estava um bocado
desanimado.
Manuel Godinho desvaloriza e que hoje ao fim do dia já lhe pode dizer mais
alguma coisa.
Manuel Godinho diz que entregou “aquele papel ao nosso amigo” e pede para
Paulo Costa lhe transmitir que ”aquilo” foi entregue hoje.

De acordo com declarações complementares do Namércio Cunha, a


primeira consulta da IDD à O2 apenas ocorreu depois da entrada em cena do
Engº Paulo Costa e através do “seu amigo” José Contradanças.

A propósito desta situação referiu – “… as relações comerciais entre a O2


e o Instituto de Desmilitarização e Defesa S.A., abreviadamente designado por IDD,
refere que foram inexistentes durante o período em que exerceu funções na O2.
Recorda-se que o Sr. Manuel Godinho lhe solicitou que enviasse uma apresentação da
O2 para serem consultados pela IDD. Na sequência desse pedido, chegou a ir sozinho
às instalações da IDD onde deixou a apresentação da O2 a um Director das respectivas
instalações, cujo nome não se recorda. Porque perguntado afirma nunca ter conhecido
pessoalmente, nem conversado, com o outro arguido nos presentes autos, José António
Chocolate Contradanças.

981
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Posteriormente, receberam uma consulta da IDD para recolha e tratamento


de lotes de material que tinham acumulado no local. Deslocou-se com o Sr. Manuel
Godinho para visionarem os lotes tendo sido acompanhados na visita por uma
Engenheira cujo nome não se recorda. Apresentaram uma proposta com os preços que
foram indicados pelo Sr. Manuel Godinho, não tendo sido a O2 a ganhar esta consulta.
Esta foi a primeira e única consulta, de que se recorda, efectuada por parte da IDD.
De seguida, o produto 10084, do alvo 38250PM, ocorrido no dia 29-06-2009,
foi dado a ouvir ao declarante. O interrogado reconhece as vozes como sendo a sua e a
do Sr. Manuel Godinho. Questionado sobre quem era o amigo que o Manuel Godinho
queria avisar aquando da visita às instalações da IDD refere que deduz tratar-se do
Engº Paulo Costa, que naquele período temporal desenvolvia algumas acções tendentes
a proporcionar a contratação de serviços para a O2. (fls. 22970 22974 do Volume 67
\NAMÉRCIO CUNHA - INT. 16.09.2010)

O próprio arguido José Contradanças, confirmou, no âmbito do seu


primeiro interrogatório judicial que a consulta para a gestão de resíduos
efectuada pela IDD à O2 ocorreu a 22 de Junho de 2009 e a visita às
instalações por parte de Manuel Godinho e Namércio Cunha aconteceu a 30 de
Junho de 2009.

Ao longo dos autos foi visível a vasta teia de contactos proporcionados


pelo Engº Paulo Costa a Manuel Godinho.

Trata-se de um indivíduo, notoriamente, com “bons contactos” e


capacidade de influência, basta atentarmos nalguns nomes, por ele indicados,
para servirem como suas testemunhas abonatórias, no âmbito do procedimento
disciplinar de que foi alvo, instaurado pela Petrogal, SA, e que culminou com a
proposta de aplicação da sanção mais gravosa - despedimento com justa
causa (Apenso D3).

982
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Não pôde o JIC/TCIC ignorar o que disseram nesse procedimento


disciplinar as testemunhas por ele apresentadas que foram, entre outras, as
seguintes:

• Dr. Mário Alberto Nobre Lopes Soares (ex-Presidente da


República) [o qual em depoimento referiu que o pai do Eng.º Paulo Costa foi
seu Secretário de Estado no III Governo Constitucional]:

Conhece o arguido há cerca de quatro anos, desde que tem contactos com a
GALP. O seu pai é amigo do depoente, foi seu secretário de estado no
tempo em que presidiu ao seu 3º Governo Constitucional.

Pode dizer que considera o arguido como uma pessoa honesta e correcta e
sabe que também é assim considerado pela própria GALP, uma vez que
teve oportunidade de o constatar por várias vezes, quando almoçou com
ele e alguns dos seus responsáveis.

• Dr. António José de Carvalho Pinto de Sousa (irmão do Primeiro


Ministro, Engº José Sócrates):

Conheceu o arguido há cerca de dois anos e meio, quando, na circunstância


da sua vida profissional veio à GALP apresentar um evento designado por
“ Bike Tour”. Nessa altura desenvolveu contactos com o Eng. Paulo Costa,
Dr. Fernando Gomes e Eng. Carlos Gomes da Silva. A partir daí manteve
uma amizade com o Eng. Paulo Costa.

Por razões familiares, designadamente pelo facto de ser irmão do Sr.


Primeiro-Ministro está à vontade para poder testemunhar que tem sido
sujeito aos mais variados pedidos. Por isso avalia o comportamento do
Eng. Paulo Costa de forma positiva, pois, nunca este se lhe dirigiu a pedir
o que quer que fosse.

983
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

• Dr. António Manuel do Carmo Saleiro (ex-Deputado do PS, ex-


Presidente da ANAREC);

Conhece o Eng. Paulo Costa há muitos anos na sua actividade ao serviço


da PETROGAL, uma vez que foi concessionário desta e teve relações com
ele enquanto este desempenhou funções de Director de Rede.

• Dr. António Maria Kopke Figueiredo e Melo Túlio (administrador


executivo da Soturis) [cidadão já referenciado na exposição que fizémos];

O Eng. Paulo Costa contactou o depoente pedindo que recebesse o Sr.


Manuel Godinho, pois, ele pretendia informações sobre o terreno do
Parque de Sacavém, tinha alguma pressa porque estava a caminho do
norte.

• Engº Manuel Ferreira Rodrigues (Presidente do Conselho da


Administração da empresa Navegar e assessor do empresário Américo
Amorim).

Conhece o Eng. Paulo Costa há cerca de 30 anos, num meio em que se


preza muito o valor da amizade. Conheceu-o quando andavam os dois no
mar.

Considera o Eng. Paulo Costa como seu irmão mais novo.

O próprio depoente tem algus carros que não uso e podia ter emprestado ao
Eng. Paulo Costa. Reconhece que o Eng. Paulo Costa não devia ter andado
com o carro do Sr. que ainda por cima conhecia há pouco tempo.

Considera o depoente que o facto de promover encontros não tem qualquer


outro significado senão o de ajudar a resolver as questões e problemas que
lhe são colocados.

Em relação à última testemunha abonatória acima mencionada, Engº


Manuel Ferreira Rodrigues, sendo ele mais um “amigo” do Engº Paulo Costa, o
mesmo chegou a ser apresentado ao Manuel Godinho para lhe “arranjar
trabalho”, como já explicitámos.

984
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Não que qualquer destes amigos do Eng.º Paulo Costa não possa ser
considerado pessoa de bem.

Extratámos tais nomes e referências apenas para ilustrar a capacidade


de influência do ora arguido.

Produto 10746 - Alvo 1T167PM - 29/05/2009, 08:41:08 - 934098488 


917649864 – Valentim (REFER)  Manuel Godinho
Valentim transmite a Manuel Godinho que está com um problema por ter que
ir ao Ministério com o chefe assinar um documento e pergunta a que horas, tem Manuel
Godinho a reunião.
Manuel Godinho responde que a reunião é às 10h30 nas Torres em Lisboa, à
beira do Estádio da Luz, mas que resolve o problema sozinho.

Produto 10758 - Alvo 1T167PM - 29/05/2009, 09:36:01 - 234302420 


917649864 – Paulo Penedos (chamada transferida a partir do telefone fixo da SCI)
Manuel Godinho
Paulo Penedos, a pedido de Manuel Godinho, fornece o número de telemóvel
de Paulo Costa da GALP (962 971 903).
Manuel Godinho, justificando o pedido de contacto telefónico, diz a Paulo
Penedos que vai ter uma reunião na GALP com um indivíduo que é da “área dele”
(inferior hierárquico).

Produto 10758, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 10758


DATA/HORA: 29/05/2009 – 09h36m01s
INTERVENIENTES:
• DE – Paulo Penedos
• PARA – Manuel Godinho
985
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Tou?


BRUNO – Sim, senhor Godinho, é o Doutor Paulo Penedos.
MANUEL GODINHO – Passa.
***
MANUEL GODINHO – Tou?
PAULO PENEDOS – Bom dia!
MANUEL GODINHO – Bom dia.
PAULO PENEDOS – Bom dia.
MANUEL GODINHO – Ó Paulo, é pá, o melhor é ser hoje pá.
PAULO PENEDOS – É?
MANUEL GODINHO – Dá-te jeito ou não?
PAULO PENEDOS – Dá, a que horas quer?
MANUEL GODINHO – Eh... pode ser aí uma... aí cinco e meia.
PAULO PENEDOS – Tá bem.
MANUEL GODINHO – É que amanhã eu tenho... não sabia, não me lembrei...
PAULO PENEDOS – Tem que sair, não é?
MANUEL GODINHO – E tenho uma saída.
PAULO PENEDOS – Ok.
MANUEL GODINHO – E para não te estar a dar seca, tás a ver.
PAULO PENEDOS – Não...
MANUEL GODINHO – Ou tinhas que vir muito cedo ou depois levavas seca.
Assim...
PAULO PENEDOS – Ok. Eu estou... eu estou... eu estou aí às cinco horas.
MANUEL GODINHO – Cinco e meia.
PAULO PENEDOS – Está bem, cinco e meia.
MANUEL GODINHO – Olha outra coisa. Eh... tu conheces um indivíduo... eh...
Paulo Costa?
PAULO PENEDOS – Da Galp?
MANUEL GODINHO – Sim.

986
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PAULO PENEDOS – Conheço.


MANUEL GODINHO – Eh... pá. Precisava do... do número do telemóvel dele.
PAULO PENEDOS – Hum.
MANUEL GODINHO – Eu tinha-o, mas perdi-o.
PAULO PENEDOS – Está bem.
MANUEL GODINHO – Eh... importas-te de dar ao Bruno? Ou dá-me a mim.
PAULO PENEDOS – Tem hipótese de tomar nota?
MANUEL GODINHO – Eh... eu tomo nota no telemóvel.
PAULO PENEDOS – Então espere aí um minuto, espere aí.
MANUEL GODINHO – Mas, ouve lá.
PAULO PENEDOS – Nove, seis...
MANUEL GODINHO – Sim, mas falas com o senhor e pergunta se podes dar,
tás a ver? Não vá às vezes ele ficar chateado, não é? Eu tinha-o...
PAULO PENEDOS – Não, ó... ó... ó... ó...
MANUEL GODINHO – Ok.
PAULO PENEDOS – Tá. Não.... Nove, seis...
MANUEL GODINHO – Nove, seis... mais.
PAULO PENEDOS – Dois, nove, sete...
MANUEL GODINHO – Dois, nove, sete... mais.
PAULO PENEDOS – Um, nove...
MANUEL GODINHO – Um, nove... mais.
PAULO PENEDOS – Zero, três.
MANUEL GODINHO – Zero, três. Ok... eh... Pronto, é que eu vou hoje ter uma
reunião na Galp e pelos vistos é um indivíduo que é da área dele, tás a ver?
PAULO PENEDOS – Tá, ok.
MANUEL GODINHO – Eh... ele é um gajo bem conceituado entre os nossos
amigos não é?
PAULO PENEDOS – É, ele é amigo do Armando.
MANUEL GODINHO – De quem?
PAULO PENEDOS – Do Armando.
MANUEL GODINHO – Ah... tá bem. Eh... ok. Está, eu vou tentar falar com ele.
Tá bem?
PAULO PENEDOS – Tá bem, então cinco e meia, vá!
MANUEL GODINHO – Tá, ok.

987
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

PAULO PENEDOS – Um abraço.


MANUEL GODINHO – Xau.

Então, pode o JIC a justo titulo inferir que o próprio Dr. Paulo Penedos
também conhecia o Eng.º Paulo Costa, ao ponto de possuir o seu próprio
contacto telefónico e estar ao par das conversas.

Senão, como entender que Manuel Godinho referindo-se ao Eng.


Paulo Costa pergunte se ele é uma pessoa bem conceituada entre os “nossos
amigos”. Paulo Penedos diz que sim, acrescentando que ele é amigo do
Armando (Armando Vara)?!

Produto 10781 - Alvo 1T167PM - 29/05/2009, 10:12:18 - 962971903 


917649864 – Eng.º Paulo Costa  Manuel Godinho
Manuel Godinho diz que está a chegar e pergunta ao Eng.º Paulo Costa como
se chama o indivíduo, presume-se, com quem irá falar.
Paulo Costa informa que a pessoa em cause se chama António Túlio.
Manuel Godinho pede a Paulo Costa para falarem primeiro os dois.

Produto 10781, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 10781


DATA/HORA: 29/05/2009 – 10h12m18s
INTERVENIENTES:
• DE – Eng. Paulo Costa
• PARA – Manuel Godinho

PAULO COSTA – Tou?

988
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Sim!


PAULO COSTA – Bom dia.
MANUEL GODINHO – Bom dia senhor engenheiro.
PAULO COSTA – Tá bom? (imperceptível).
MANUEL GODINHO – Pois, eu percebi. É pá, tou a chegar aí. Como é que se
chama o senhor? É Tu...
PAULO COSTA – António..
MANUEL GODINHO – António.
PAULO COSTA – Sim. António Túlio.
MANUEL GODINHO – Túlio?
PAULO COSTA – Sim. T-U-L-I-O.
MANUEL GODINHO – Tá bem. Túlio. Ok.
PAULO COSTA – Tá bem?
MANUEL GODINHO – Eh... o senhor tá por aí?
PAULO COSTA – Tou, tou.
MANUEL GODINHO – Podemos falar cinco, dez minutos?
PAULO COSTA – Antes ou depois?
MANUEL GODINHO – Eh... antes.
PAULO COSTA – Podemos, sem problema nenhum.
MANUEL GODINHO – Está bem, falamos cinco minutos.
PAULO COSTA – Está bem.
MANUEL GODINHO – Eu procuro-o falar consigo, tá bem?
PAULO COSTA – Tá bem. Pronto, quando tiver, depois liga-me tá bem?

MANUEL GODINHO – Está bem.


PAULO COSTA – Pronto.
MANUEL GODINHO – Sim, sim.
PAULO COSTA – Ok, até já.
MANUEL GODINHO – Tá um abraço.
PAULO COSTA – Adeus.

Produto 11187 - Alvo 1T167PM - 03/06/2009, 12:25:37 – 917649864 


917829670 – Manuel Godinho  Paiva Nunes

989
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Paiva Nunes pergunta a Manuel Godinho se a reunião do outro dia tinha


corrido bem (reporta-se à reunião com o Eng.º Paulo Costa na GALP em Lisboa
ocorrida em 29.05.2009). Diz também Paiva Nunes que já falou com ele para saber.

Produto 11229 – Alvo - 1T167PM - 03/06/2009, 16:15:11 – 962971903 


917649864 – Eng. Paulo Costa  Manuel Godinho
Eng.º Paulo Costa diz a Manuel Godinho que precisava de saber as
características do estaleiro. Este diz que não sabe, que vai recolher os dados
necessários e que depois lhe telefona. No entanto, informa-o que a empresa se chama
FRACON (uma das sociedades por si detidas e administradas cuja área de actividade é
o desmantelamento de navios).

Produto 11232 – Alvo 1T167PM - 03/06/2009, 16:41:28 – 962971903 


917649864 – Eng. Paulo Costa  Manuel Godinho
Manuel Godinho diz a Eng.º Paulo Costa, a quem passou a tratar por tu, que
já tem o alvará para mandar e pede um número de fax para lhe poder enviar o
documento.
Eng. Paulo Costa fornece-lhe o número 217242976 (número registado em
nome de GALP ENERGIA e Petróleos de Portugal – Petrogal SA).
Combinam almoçar na próxima semana.

Produto 11232, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

990
PRODUTO Nº: 11232
DATA/HORA: 03/06/2009 16:41:28
INTERVENIENTES:
S. R.
• DE – ENGº. PAULO COSTA – 962 971 903
• PARA – Manuel Godinho
TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Sim.


Engº. PAULO COSTA – Sim, sim.
MANUEL GODINHO – Sim.
Engº. PAULO COSTA – Godinho, é o Costa.
MANUEL GODINHO – Olha, eu já tenho aqui o...o alvará.
Engº. PAULO COSTA – Sim.
MANUEL GODINHO – Se tivesses o número, um número de um fax para eu te
mandar isso, eu mandava.
Engº. PAULO COSTA – Ehhh... vinte e um (21).
MANUEL GODINHO – (Repete) Vinte e um (21).
Engº. PAULO COSTA – Sete, dois, quatro (724).
MANUEL GODINHO – (Repete) Sete, dois, quatro (724).
Engº. PAULO COSTA – Dois, nove (29).
MANUEL GODINHO – (Repete) Dois, nove (29).
Engº. PAULO COSTA – Sete, seis (76).
MANUEL GODINHO – (Repete) Sete, seis (76). Quando é que vens cá acima almoçar.
Engº. PAULO COSTA – Ehhh, prá semana.
MANUEL GODINHO – Marca isso e eu depois dou lá um salto contigo.
Engº. PAULO COSTA – Tá bem, ok.
MANUEL GODINHO – Tá bem?
Engº. PAULO COSTA – Tá bem.
MANUEL GODINHO – Pronto. Eu vou mandar isso pra ai, ok.
Engº. PAULO COSTA – Pronto, grande abraço, obrigado.
MANUEL GODINHO – Tá. Até logo.

Produto 11377 – Alvo 1T167PM - 05/06/2009, 08:42:57 –917829670 


917649864 – Paiva Nunes  Manuel Godinho
Paiva Nunes diz a Manuel Godinho que era importante ele ligar ao Eng.º
Paulo Costa pois ele já tem um concurso preparado para ele.

991
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 11387 – Alvo 1T167PM - 05/06/2009, 11:00:55 - 917649864 


917829670 – Manuel Godinho  Paiva Nunes
Manuel Godinho comunica a Paiva Nunes que já lhe está a preparar três
casos e que na segunda-feira lhe entrega isso.
Paiva Nunes pergunta se Manuel Godinho chegou a falar com Paulo Costa e
aconselha-o a não fazer nada sem falar com ele ou com o Paulo Costa para que “as
coisas sejam encaminhadas”.

Produto 13025 – Alvo 1T167PM - 23/06/2009, 18:25:21 – 917649864 


962971903 - Manuel Godinho  Eng.º Paulo Costa
Eng.º Paulo Costa transmite a Manuel Godinho que irá enviar no dia seguinte
uma minuta para que ele envie uma carta para a GALP, por causa da gestão de
resíduos. Acrescenta que lhe explicará como deve ser redigida a carta e a quem deve
ser dirigida.
Informa também que já falou com a pessoa e que está tudo a mexer.

Produto 13025, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 13025


DATA/HORA: 23-06-2009 18:25:21
INTERVENIENTES:
• DE – ENGº PAULO COSTA
• PARA – MANUEL GODINHO

ENGº
PAULO COSTA – Sim?
MANUEL GODINHO – Sim.
ENGº PAULO COSTA – Tá bom?
MANUEL GODINHO – Olá. Tá tudo bem?

992
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

ENGº PAULO COSTA – Tudo.


MANUEL GODINHO – Diga.
ENGº PAULO COSTA – Olhe. Amanhã...
MANUEL GODINHO – Sim.
ENGº PAULO COSTA – (imperceptível) Eu vou-lhe mandar uma... minuta de
carta...
MANUEL GODINHO – Sim.
ENGº PAULO COSTA – Pa você mandar aqui pá Galp por causa da gestão do
(imperceptível)
MANUEL GODINHO – Tá bem ok.
ENGº PAULO COSTA – Tá bem?
MANUEL GODINHO – Tá.
ENGº PAULO COSTA – Já falei aqui com... pa saber como é que é...
MANUEL GODINHO – Sim.
ENGº PAULO COSTA – Portanto, eu vou-lhe dizer pa... como é que é a carta,
pa quem é que você manda.
MANUEL GODINHO – Tá bem, ok.
ENGº PAULO COSTA – Ok?
MANUEL GODINHO – Tá.
ENGº PAULO COSTA – Tudo a mexer
MANUEL GODINHO – Tá, um... É isso mesmo.
ENGº PAULO COSTA – Tudo a mexer
MANUEL GODINHO – Tudo a mexer. Tem que ser. Um abraço.
ENGº PAULO COSTA – Vá.
MANUEL GODINHO – Tá.

Produto 13215 – Alvo 1T167PM - 25/06/2009 15:06:09 – 917649864 


962971903 - Manuel Godinho  Eng.º Paulo Costa
Manuel Godinho diz que ontem não falou com ele porque teve lá uma visita e
esteve ocupado.
Combinam tomar um café na terça-feira para fazerem o ponto da situação.
Eng.º Paulo Costa confirma que as coisas estão a andar.

993
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 13215, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 13215


DATA/HORA: 25/06/2009 15:06:09
INTERVENIENTES:
• DE – MANUEL GODINHO
• PARA – Engº Paulo Costa

Engº
Paulo Costa – Estou ?
MANUEL GODINHO – Sim senhor engenheiro
Engº Paulo Costa – Está bom, como é que vai ?
MANUEL GODINHO – Está tudo bem, obrigado. Eu ontem não lhe falei, porque
eu tive aqui umas visitas e estive ocupado; eu amanha, amanhã talvez não me
seja possível mas na terça-feira vou aí a Lisboa, tomávamos um café e fazíamos
o ponto da situação. O que é que diz ?
Engº Paulo Costa – Amanhã... pode ser na terça ?
MANUEL GODINHO – Sim, na terça
Engº Paulo Costa – Está bem, ok. Está combinado.
MANUEL GODINHO – As coisas estão a andar ou não?

Engº Paulo Costa – Está tudo a andar


MANUEL GODINHO – Está bem, ok. Um abraço
Engº Paulo Costa – Adeus

Produto 13536 – Alvo 1T167PM - 29/06/2009 17:28:21 – 962971903 


917649864 - Eng.º Paulo Costa  Manuel Godinho
Manuel Godinho diz que amanhã vai passar em Lisboa e pergunta se podem
tomar um café. Paulo Costa responde que podem almoçar.
Manuel Godinho diz que vai lá aquela empresa e que ficou de lá estar às
10h30.
Combinam almoçar juntos, no hotel Corinthia, à 1h00.

994
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 10507 - Alvo 38250PM - 03/07/2009 12:06:38 - 917649864 


938959707 – Manuel Godinho  Namércio Cunha
Godinho pergunta qual o interesse de fazerem a gestão dos resíduos perigosos
na GALP.
Namércio diz que terão sempre de os encaminhar.
Manuel Godinho diz que os gajos têm muitos resíduos. Manuel Godinho diz
que lhe deram uma direcção para mandar para lá uma carta.
Manuel Godinho diz a Namércio Cunha para não se esquecer, porque lhe
telefonaram agora.

Produto 14031 – Alvo 1T167PM - 03/07/2009 09:24:30 –


 917649864 - Eng.º Paulo Costa Manuel Godinho
Eng.º Paulo Costa pergunta se chegou a mandar a proposta para o
desmantelamento do navio. Manuel responde que enviaram
Paulo Costa pergunta se mandou também a carta de apresentação da
empresa. Manuel Godinho diz que se esqueceu, mas que vai enviar.
Manuel Godinho informa que, sobre aquele problema que surgiu, já sabe o
que é que se passa e que não é nada que ele não possa resolver nas próximas duas
semanas. No entanto, diz ele, também já falou com “o nosso amigo”.

Produto 14343 – Alvo 1T167PM - 07/07/2009 12:33:53 – 962971903


 917649864 - Eng.º Paulo Costa Manuel Godinho
Eng.º Paulo Costa pergunta se Manuel Godinho sempre vai a Lisboa.
Manuel Godinho responde que vai amanhã e, referindo-se Paiva Nunes, diz
que vai almoçar com o amigo do Paulo Costa.
Manuel Godinho diz que lhe telefona para saber se ele também quer ir ao
almoço ou, em alternativa, para tomarem um café.

995
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 14418 – Alvo 1T167PM - 08/07/2009 09:40:51 – 962971903


 917649864 - Eng.º Paulo Costa Manuel Godinho
Manuel Godinho está a dirigir-se para Lisboa.
Informa Paulo Costa combinou almoçar com o “outro senhor”, referindo-se a
Paiva Nunes, no restaurante “Sete Mares” às 12h30.
Eng.º Paulo Costa e Manuel Godinho combinam encontrarem-se no mesmo
restaurante às 11h30.

Produto 14422 – Alvo 1T167PM - 08/07/2009 09:50:33 – 234302420


 917649864 - Valentim (REFER) Manuel Godinho
Bruno (Telefonista) transfere a chamada anunciando o Sr. Valentim da
REFER.
Manuel Godinho diz a Valentim que às 11h00 está na REPSOL.

Produto 14441 – Alvo 1T167PM - 08/07/2009 11:28:47– 962971903


 917649864 - Eng.º Paulo Costa Manuel Godinho
Eng.º Paulo Costa diz que demora cinco minutos.

Produto 14496– Alvo 1T167PM - 08/07/2009 16:40:58 – 234302420


917649864 - Namércio Cunha  Manuel Godinho
Manuel Godinho dá instruções para Namércio Cunha fazer um curriculum da
“O2”, para mandar para a GALP para uma gestão global de resíduos. Este deve ser
acompanhado de uma carta. No entanto Manuel Godinho não sabia muito bem a quem
devia ser dirigida porque, segundo ele diz, “eles deram-me um papel mas eu perdi-o”.
Acabam por decidir dirigir a carta à administração da GALP.
Namércio pergunta se é para enviar e Manuel Godinho diz que ele próprio a
levará em mão no dia seguinte.
Manuel Godinho pede a Namércio para ele lhe arranjar uns cartões da “O2”
porque amanhã vai estar num almoço.

996
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 10826 - Alvo 38250PM - 08/07/2009 17:05:38 - 938959707


933881134 – Namércio Cunha  Elsa (O2)
Namércio Cunha dá instruções a funcionária da O2 para pôr num envelope
um company completo, com as licenças e uma carta de apresentação dirigida à
administração, GALP ENERGIA, com a morada de Lisboa (Torres…), tendo como
assunto a gestão global de resíduos.
Esta pergunta se não trabalham já com a GALP. Namércio Cunha diz que
apenas nos metálicos.
Namércio Cunha pede também para juntarem um cartão do Sr. Godinho nesse
envelope.

Produto 10923 - Alvo 38250PM - 09/07/2009 15:12:09 - 938959707


234302420 – Namércio Cunha  Manuel Godinho
Manuel Godinho confirma a Namércio Cunha que recebeu o envelope com a
carta de apresentação para GALP.

Produto 14560 – Alvo 1T167PM - 09/07/2009 09:42:35 – 917649864


 962971903- Manuel Godinho  Eng.º Paulo Costa
Manuel Godinho diz que tem um outro compromisso e que não pode ir
almoçar naquele dia com eles.
Diz também que aquele curriculum e aquela carta de apresentação entrega-
lha amanhã.

No dia 14/07, Manuel Godinho terá entregue uma carta de apresentação e


respectivo curriculum da sua empresa O2 ao Eng.º Paulo Costa, quando se
encontraram em Aveiro, junto à rotunda do estádio do Beira-Mar (Vide RDE de fls.
3639 a 3645).

Produto 14950 – Alvo 1T167PM - 13/07/2009 13:05:15 –


 917649864 - Engº Paulo Costa Manuel Godinho

997
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Eng.º Paulo Costa pergunta a Manuel Godinho se já tem a carta de


apresentação para lhe entregar.
Manuel Godinho diz que sim e que lha leva a Lisboa no dia seguinte.
Paulo Costa diz que amanhã vai ao Porto e sairá de lá às 04h00.
Combinam encontrar-se em Aveiro por volta das 5h00.

Produto 15078 – Alvo 1T167PM - 14/07/2009 15:58:57–  917649864 -


Eng.º Paulo Costa Manuel Godinho
Eng.º Paulo Costa diz que está a sair do Porto.
Manuel Godinho pergunta se podem encontrar junto ao estádio do Beira-
Mar e pede-lhe para ele lhe ligar quando estiver a chegar.

Produto 15079 – Alvo 1T167PM - 14/07/2009 15:59:48 –


 917649864 - Eng.º Paulo Costa Manuel Godinho
Eng.º Paulo Costa pergunta se o estádio do Beira-Mar é aquele novo.
Manuel Godinho diz que sim, que é no mesmo sitio onde se encontraram da
outra vez.

Produto 15091 – Alvo 1T167PM - 14/07/2009 16:31:24 – 962971903


 917649864 - Eng.º Paulo Costa Manuel Godinho
Eng.º Paulo Costa diz que já está a chegar à rotunda.
Manuel Godinho diz que vai já lá ter.

Produto 16859 – Alvo 1T167PM - 03/08/2009 17:05:32 – 917649864


 962971903 - Manuel Godinho  Eng.º Paulo Costa
Eng.º Paulo Costa e Manuel Godinho combinam almoçar na próxima
semana.

998
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

No prosseguimento dos contactos proporcionados por Paulo Costa e


Paiva Nunes, surge o dossier IDD.

A IDD – Indústria de Desmilitarização e Defesa, S.A., adiante


designada apenas por IDD, é uma sociedade anónima cujo capital social é
detido em 100% pela EMPORDEF – Empresa Portuguesa de Defesa, SGPS,
S.A. (sociedade gestora de participações sociais exclusivamente públicas –
tutelada pelos Ministérios da Defesa e das Finanças) e tem instalações em
Alcochete.

José António Chocolate Contradanças, é vogal conselho de


administração da IDD (cf. fls. 7478 a 7479 e 167 a 172 do apenso 18).

Na sequência da intermediação e influência exercida pelo Eng.º Paulo


Costa, no dia 05 de Junho, José Manuel Contradanças contactou Manuel
Godinho convidando-o a apresentar a sua empresa para depois beneficiar de
uma adjudicação. A apresentação de proposta terá ocorrido no dia 30 de
Junho.

Produto 11379 – Alvo 1T167PM - 05/06/2009, 09:45:05 – 917649864 


962971903– Manuel Godinho  Eng. Paulo Costa
Engº Paulo Costa diz a Manuel Godinho que, ontem, lhe ligou um amigo que
vai lançar um concurso para sucata, uma coisa grande, em Lisboa. Refere que o amigo
em questão se chama José António Contradanças.
Diz também que o amigo vai telefonar para Manuel Godinho para que este
possa fornecer os dados e, assim, ser convidado.
Manuel Godinho pergunta quando é que eles vêm ao Norte e pede ao seu
interlocutor para estar atento “àquelas demolições”.

999
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 11381 - Alvo 1T167PM - 05/06/2009, 10:25:16 – 917261650 


917649864 – José António Contradanças  Manuel Godinho
José António Contradanças, o amigo do Eng.º Paulo Costa da GALP,
identifica-se e diz que o amigo lhe transmitiu que Manuel Godinho estaria interessado
em posicionar-se numa consulta para sucatas.
Contradanças explica que a sua empresa se chama IDD – Indústria de
Desmilitarização e Defesa, S.A., detida a 100% pelo Estado e que a actividade é a
desactivação e desmantelamento de munições, bombas de avião e torpedos.
Explicita também que, até agora, tem sido uma firma de Abrantes que
efectua esse serviço, mas que introduziu a questão de querer fazer uma consulta a
algumas entidades.
Manuel Godinho solicita o n.º de fax para poder enviar a identificação da
sua empresa.
Contradanças fornece-lhe o n.º 21 2308070, explicando-lhe que pode dirigi-lo
a ele ou ao director-geral.
Manuel Godinho propõe-lhe um encontro com ele. Contradanças diz que pode
escrever previamente uma carta de apresentação, o que não seria impeditivo de
combinarem encontrar-se na próxima semana.
Contradanças, respondendo a Manuel Godinho, informa que a fábrica se
localiza junto à portagem da A1, no Pinhal Novo, na estrada para Alcochete.

Produto 11389 – Alvo 1T167PM - 05/06/2009, 11:03:49 - 917649864 


917261650 – Manuel Godinho  José António Contradanças
José António Contradanças, a pedido de Manuel Godinho, fornece o seu
endereço de correio electrónico: jacontradancas@idd.com.pt.
Manuel Godinho diz que a apresentação será enviada por mail.

1000
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 11675 – Alvo 1T167PM - 08/06/2009, 20:12:28 – 917649864 


962971903 – Manuel Godinho  Eng. Paulo Costa
Eng.º Paulo Costa pergunta a Manuel Godinho se já falou com o amigo dele
(José A. Contradanças). Este responde que foi enviado um mail na passada sexta-feira
(03/06/2009).
Manuel Godinho diz que um dia destes têm que falar para fazer um ponto de
situação. Este diz que naquela semana iria estar fora.

Produto 12330 – Alvo 1T167PM - 17/06/2009, 09:51:00 – 962971903 


917649864 - Eng.º Paulo Costa  Manuel Godinho
SMS enviado por Eng.º Paulo Costa: jacontradancas@idd.com.pt

Produto 12369 – Alvo 1T167PM - 17/06/2009, 16:07:30 – 962971903 


917649864 - Eng.º Paulo Costa  Manuel Godinho
Eng.º Paulo Costa pergunta que é o contacto na “O2”. Este fornece o nome
de Namércio Cunha e pergunta quando é que vão “fazer aquilo”.
Eng.º Paulo Costa diz que é já, que digitalizou “aquilo” e que só precisava do
nome do contacto.
Manuel Godinho pergunta se falaram com o “outro amigo”. Paulo Costa não
responde.

Produto 12370 - Alvo 1T167PM - 17/06/2009, 16:09:08 - 917649864 


938959707 – Manuel Godinho  Namércio Cunha
Manuel Godinho transmite a Namércio Cunha que irão entrar em contacto
com ele da IDD, da GALP ou da EDP para fazer umas consultas.

Produto 12562 – Alvo 1T167PM - 19/06/2009 09:08:12 – 962971903 


917649864 - Eng.º Paulo Costa  Manuel Godinho

1001
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Eng.º Paulo Costa combina com Manuel Godinho almoçarem na segunda-


feira.

Produto 13516 – Alvo 1T167PM - 29/06/2009 14:55:21– 917649864


 938959707 - Manuel Godinho  Namércio Cunha
Manuel Godinho pergunta a Namércio Cunha a que horas está marcada a
visita do dia seguinte à IDD, em Alcochete. Namércio diz que é às 10h30.
Manuel Godinho confirma se a visita é em Alcochete, porque precisa de avisar
“o nosso amigo” e adianta que irá acompanhado.

Produto 13618 – Alvo 1T167PM - 30/06/2009 11:39:30 – 938959707


 917649864 - Namércio Cunha  Manuel Godinho
Manuel Godinho diz a Namércio Cunha que está a chegar a Alcochete.

No dia 22/06, Manuel Godinho encontrou-se em Lisboa com o Eng.º Paulo


Costa e, juntos, seguiram para um restaurante em Marvila, onde se terão ido encontrar
com o Eng.º Manuel Rodrigues(Vide RDE de fls. 3286 a 3305).

Produto 12778 – Alvo 1T167PM - 22/06/2009, 09:51:34 – 917649864 


962971903 - Manuel Godinho  Eng.º Paulo Costa
Manuel Godinho e Eng.º Paulo Costa combinam encontrar-se no posto da
REPSOL, da Rotunda do Relógio, às 13h00.

Produto 12803 – Alvo 1T167PM - 22/06/2009, 11:23:00 - 917829670


917649864– Paiva Nunes  Manuel Godinho
Paiva Nunes diz a Manuel Godinho que não poderá ir ao almoço, mas alerta-
o para o facto de que irá estar presente uma pessoa que será fundamental em todo o
processo, que é de Aveiro, ligado à área dos portos e com ligações extraordinárias.
Paiva Nunes pergunta se já falou com o Paulo Costa (Eng.º Paulo Costa).

1002
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Paiva Nunes acrescenta que a pessoa em causa é assessor do Sr. Amorim,


uma pessoa fundamental.
Aconselha Manuel Godinho a ouvir mais do que a falar e reafirma que aquela
pessoa, que acaba por identificar como sendo Manuel Rodrigues, é fundamental.

Veja-se o RDE de fls. 3286 a 3304 - factos em Lisboa 22/06/2009 –


12h36 – Chegada às Bombas da REPSOL, na Rotunda do Relógio, do BMW 730 D, com a
matrícula 49-GT-13, conduzido por Manuel Godinho.
12h50 – Chegada às Bombas da REPSOL, da carrinha Mercedes, com a matrícula 33-DV-74,
conduzida por Engº Paulo Costa.
12h51 – As duas viaturas deixam o posto de abastecimento.
13h00 – As duas viaturas estacionam junto do Restaurante “O Páteo”, na Rua do Açúcar, em
Marvila.
Manuel Godinho e Engº Paulo Costa entram no restaurante

Atendeu-se ainda nas conversações interceptadas nos seguintes


produtos:

Produto 1164 – Alvo 39354M - 22/06/2009, 14:56:06 - 967021502


966787888 – Eng.º Manuel Rodrigues  Lopes Barreira
Eng.º Manuel Rodrigues após conversar algum tempo com Lopes Barreira
passa o telemóvel a Manuel Godinho.

Produto 12883 – Alvo - 1T167PM - 22/06/2009 17:40:30 – 917649864 


966787888 - Manuel Godinho  Lopes Barreira
Lopes Barreira pergunta se Manuel Godinho tem alguma dificuldade em
Viana do Castelo (presume-se que se refira aos Estaleiros Navais de Viana do Castelo),
pois o “Manel” (Eng.º Manuel Rodrigues) mexe-se bem.
Manuel Godinho diz que “aquilo” está um bocado parado.
Lopes Barreira diz que, caso ele queira pôr aquilo a funcionar outra vez, ele
fala com o Secretário de Estado que é amigo dele.

1003
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 1219 – Alvo 39354M - 22/06/2009, 21:49:49 - 966787888


967021502 – Lopes Barreira  Eng.º Manuel Rodrigues
Eng.º Manuel Rodrigues explica que estava a almoçar com o Paulo Almeida e
Costa e com o João Moita e que se lhes juntou Manuel Godinho.
Lopes Barreira refere-se ao vasto património de Manuel Godinho e diz que se
trata de “muitos milhões”.
Manuel Rodrigues diz que, depois de falar com ele, percebeu que pode haver
ali um bom potencial de coisas em que possa ajudar.
Lopes Barreira sugere juntarem-se os três, mas que antes gostaria de falar
com Manuel Rodrigues para lhe explicar como funciona Manuel Godinho.
Manuel Rodrigues refere que lhe explicou que tinha um bom leque de
conhecimentos nas empresas, mesmo nas públicas, e que lhe sugeriu prestar-lhe uma
assessoria. Acrescenta que Manuel Godinho tinha um assunto e que ele hoje já
telefonou para umas pessoas ligadas ao Exército.
Lopes Barreira diz que irá almoçar com Manuel Godinho na próxima
segunda-feira e combina com Manuel Rodrigues encontrarem-se antes na Consulgal
para falarem.

Produto 12861 – Alvo - 1T167PM - 22/06/2009, 16:22:38 – 917649864 


962971903 - Manuel Godinho  Eng.º Paulo Costa
Manuel Godinho refere que só agora é que saiu de lá. Informa que já recebeu
a consulta daquilo da ID (IDD). Pede ao Eng.º Paulo Costa que “aperte” um pouco
com o amigo deles para ver se ele manda aquilo para fora.
Paulo Costa diz que o vai fazer e pede para Manuel Godinho o avisar quando
for de novo a Lisboa, pois tem uma pessoa que gostaria de almoçar com ele.

No dia 30/06, Manuel Godinho encontrou-se em Lisboa com o Eng.º


Paulo Costa e Paiva Nunes (Vide RDE de fls. 3360 a 3371).

1004
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Produto 13749 – Alvo 1T167PM - 30/06/2009 13:04:17– 917649864


 962971903 - Manuel Godinho  Eng.º Paulo Costa
Manuel Godinho diz que já está no restaurante.
Eng.º Paulo Costa diz que também já está no restaurante, lá ao fundo.

Produto 13682 – Alvo 1T167PM - 30/06/2009 12:01:25 – 934098488 


917649864 – Valentim (REFER)  Manuel Godinho
Valentim diz que está parado numa carrinha branca na 2ª Circular, na
direcção do sitio onde depois têm que ir.

Produto 1037 – Alvo 39599M - 30/06/2009, 16:16:36 - 917829670 


966787888 – Paiva Nunes  Lopes Barreira
Paiva Nunes diz que esteve a almoçar com Manuel Godinho e, referindo-se às
buscas, menciona que ele está numa situação difícil e que estará a ser perseguido.
Lopes Barreira concorda e diz que a responsável pelo que lhe está a suceder é a
Secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, e o Presidente da REFER.
Paiva Nunes diz que quem lhe apresentou Manuel Godinho foi o “amigo”
Armando Vara.
Comunica também que no almoço esteve o Manuel Rodrigues.

Produto 13861 – Alvo 1T167PM - 01/07/2009 10:33:03 – 962971903


 917649864 - Eng.º Paulo Costa Manuel Godinho
Manuel Godinho diz a Eng.º Paulo Costa que tem em poder dele o fax que
“os nossos amigos” lhe mandaram a adiar a sessão. Pergunta a Paulo Costa se ele
quer o ver.
Paulo Costa diz que está a chegar ao escritório e que depois lhe liga para ele
lho mandar.

1005
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Paulo Costa convida Manuel Godinho para almoçar em Lisboa no dia 09.

Produto 13868 – Alvo 1T167PM - 01/07/2009 11:30:16 – 962971903


 917649864 - Eng.º Paulo Costa Manuel Godinho
Eng.º Paulo Costa fornece o n.º de fax: 21 7242976 ( n.º registado em nome
da GALP Energia e da Petrogal – Petróleos de Portugal, S.A.”

Produto 13870 – Alvo 1T167PM - 01/07/2009 11:31:04 – 917649864


 932377103 - Manuel Godinho  Maribel Rodrigues
Manuel Godinho transmite a Maribel o n.º de fax que o Eng.º Paulo lhe
fornecera e dá-lhe instruções para ela enviar o fax que a PJ lhe remeteu a adiar a
diligência.

No dia 11/08, Manuel Godinho encontrou-se em Lisboa com o Eng.º


Paulo Costa (Vide RDE de fls. 3816 a 3820).

Produto 17458 – Alvo 1T167PM - 11/08/2009 09:56:39 – 962971903


 917649864 - Eng.º Paulo Costa Manuel Godinho
Eng.º Paulo Costa e Manuel Godinho combinam encontrar-se às 12h30 no
“Mercado do Peixe”.

Produto 17474 – Alvo 1T167PM - 11/08/2009 10:18:56 – 938959707


 917649864 - Namércio Cunha Manuel Godinho
Manuel Godinho pergunta a Namércio Cunha se a Galp já disse alguma
coisa sobre aquele cobre de Sines.
Namércio Cunha responde que não, que tentou falar com a directora mas ela
estava de férias.

1006
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Godinho diz que precisava de saber porque iria estar hoje com uma
pessoa.

Produto 17498 – Alvo 1T167PM - 11/08/2009 12:16:46 – 917649864


 962971903 - Manuel Godinho  Eng.º Paulo Costa
Manuel Godinho diz que o restaurante “Mercado do Peixe” está fechado.
Combina encontrar-se com Paulo Costa na Av. José Malhoa para depois irem almoçar
juntos ao restaurante “Sete Mares”.

Produto 17499 – Alvo 1T167PM - 11/08/2009 12:17:46 – 917649864


 934098488 - Manuel Godinho  Valentim (REFER)
Manuel Godinho pede a Valentim para o acompanhar até à Av. José Malhoa.
Valentim diz que vai ter ao sítio onde Manuel Godinho o tinha deixado.

No juízo de prognose cabido efectuar pelo JIC, os produtos ora


transcritos elucidam, à saciedade, a actividade desenvolvida por António Paulo
Costa, a troco de contrapartidas patrimoniais, designadamente a entrega de um
veículo automóvel ligeiro, marca Mercedes-Benz, modelo CL 65 AMG, no valor
de 84.376,00€, no sentido do favorecimento de Manuel Godinho e da "02" e,
bem assim, do exercício da sua influência junto de indivíduos que exercem
funções de poder, que detêm capacidade pessoal de decisão, com capacidade
para influenciar o decisor e com acesso a informação privilegiada, no sentido
do seu favorecimento e da "02" nos concursos e consultas públicas de
adjudicação e, bem assim, na adjudicação directa de contratos de compra e
venda e de prestação de serviços na área dos resíduos produzidos por
empresas do sector empresarial do Estado, concessionárias de serviços
públicos e empresas privadas.

1007
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Daí que quer em relação ao arguido Paulo Costa, quer a Manuel


Godinho se entenda que, nesta parte, os autos indiciam os factos que lhes são
imputados na acusação e que consequentemente terá o mesmo que ser
pronunciado.

Serão apreciados outros factos que lhe são imputados, relacionados


com o co-arguido José Contradanças, no RAI deste.

Destarte, deverá o arguido António Paulo Almeida Costa ser


pronunciado nos precisos termos da acusação, por se mostrarem
verificados indícios que, neste tocante, inculcam um juízo de prognose,
conducente à consideração de que é mais forte a probabilidade da sua
condenação do que a exoneração da sua responsabilidade.

*****

Veio o arguido José António Chocolate Contradanças, notificado


da acusação, apresentar a sua defesa nos termos constantes do RAI,
constante de fls. 27087 e ss, que aqui se dá por reproduzido.

No seu RAI vem o arguido requerer, em sede de instrução, o seu


interrogatório.
Esclareceu que é economista.
Confirma as declarações prestadas na fase de inquérito.
Tinha acabado de chegar à IDD, veio da EID, outra empresa de indústria
de defesa.
É assessor no Gabinete do Porto de Sines.
Conheceu o Engenheiro Paulo Costa numa tertúlia de idas ao futebol,
com outras pessoas, sabia que era um quadro superior da Galp.

1008
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Havia um contrato na área de desmilitarização da produção de resíduos.


As Forças Armadas entregam, ao abrigo da lei da programação militar, material
para desmilitarizar, para desmanchar, as munições.
No meio dos resíduos existe latão sujo, cobre sujo, chumbo, e a
empresa faz concursos a 3 anos e tenta colocar no mercado, para o sucateiro
levar aquilo que não presta.
O anterior concurso tinha mais de 3 anos, era de 2005-2008, já tinha
caducado, e o arguido sugeriu no Conselho de Administração que era tempo
de procurar junto do mercado, saber se havia condições para fazer o
lançamento de uma consulta dirigida, restrita.
Nas idas ao futebol conversa puxa conversa, o arguido referiu a Paulo
Costa, que precisava de empresas, e apercebeu-se que haviam Irmãos,
cunhados, que tinham empresas de resíduos, uns chamava-se Bentos, outros
Batistas.
O Engenheiro Paulo Costa um dia telefona ao arguido a dizer “Zé
António era bom que telefonasses para saberes os dados dessa empresa para
esse Sr. Godinho das sucatas”.
O arguido ligou ao Sr. Godinho para pedir os dados para enviar à
empresa, para poder posicionar-se para ser consultado.
Esclarece que posicionar-se é “estar em condições de”, seria enviar a
documentação para ser previamente analisada e ver se tinha ou não cabimento
de entrar na consulta que se ia fazer.
Este contrato iria render cerca de 10.000€ por ano.
O ritmo de desmilitarização é expectável de acordo com a programação
LPM.
Em 2006 por exemplo foram 50 mil €.
A documentação da O2 chegou à empresa por mail, ao mail do arguido.
O Engenheiro Rogério Pina, Ana Rosa, António Mourão, na IDD é que
formaram a comissão de abertura e análise das propostas.
Mandaram os termos da consulta para Namércio Cunha.

1009
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Não esteve com Namércio Cunha e Manuel Godinho, na empresa,


antiga fábrica de explosivos – SPEL, sede da IDD.
Em 24 e 25/06/09, o arguido remeteu 2 e-mail’s para o Engenheiro Paulo
Costa. Refere que é informação que podia ser acedida por toda a gente,
maximé os concorrentes.
A O2 era uma empresa novata ali.
As outras empresas já lá andavam.
Agora algumas eram spin-offs, são filhos e cunhados.
Para melhorar os termos da proposta, deu fornecimento de elementos.
Interiorizou que o Engenheiro Paulo Costa pudesse trabalhar para o
Manuel Godinho.
Fez isto para dar a informação a que se comprometera.
“A gente para desobrigar-se lá na terra, na nossa terra!”
Faz estas coisas ou diz que faz mais do que efectivamente faz ou pode.
Se fosse um ajuste directo, fabricavam por si os preços.
Porque é que o homem da empresa O2, estava tão interessado naquilo
fez de propósito para perder o concurso?
Num outro e-mail que diz – “caro Paulo, para além de alguns dados
fornecidos ontem, consultei a resposta dada pela firma R.S.A. – reciclagem de
sucatas Abrantina S. A., e faz indicação de mais alguns valores - cobre,
chumbo, latão”, enviado pelo arguido para o Engenheiro Paulo Costa, no dia 24
e 25/06, mas a recepção das propostas, nomeadamente a proposta da
Abrantina, na IDD só entra no dia 03/07/09, via CTT, esclarece que, quando
disse “Consultei a resposta dada pela R.S.A.” queria referir-se à proposta de
2005, que até eram os que tinham ganho o triénio 2005/2008, como se tinham
esquecido dos dados de alguns metais.
Foi requerida a junção do papel vindo da sucata Abrantina.
O arguido até escreveu “não bate a bota com a perdigota”.
A equipa foi formada em 22/06/09, pelo Engenheiro Rogério Pina,
Engenheira Ana Rosa e António Mourão, em que o Engenheiro Pina fez uma

1010
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

informação interna ao Conselho, a dizer para elencar as entidades todas que


tinham sido pré-certificadas, e a pedir autorização para lançar a consulta
restrita.
Não tem quem o auxilie nas tarefas na IDD. O seu Director Financeiro, a
administrativa, a Directora de Marketing estão em Lisboa, na holding, que é a
Empordef que não tem quadros.
O Orçamento de 2011 da IDD é de 1 milhão e 200 e tal mil € para
desmilitarização de material.
A DGIE militares agora desactiva air bags.
O arguido foi confrontado com o produto 11381 do alvo 1T-167PM de
05/06/09, uma conversa telefónica com Manuel Godinho.
O arguido ensina uma carta de apresentação, isto obviava!
O arguido pede para, logo no princípio da semana que vem, para
mandar em seu nome, ao cuidado de José António Contradanças.
O arguido ensina numa carta de apresentação, isto obviava!
“Logo no princípio da semana que vem manda em meu nome ao
cuidado de José António Contradanças”.
Isto aconteceu num dia em que lhe morrera praticamente um familiar nos
braços com um avc (1 rapaz com 48 anos numa reunião na Câmara).
“Vocês tinham aí uma quantidade de carros blindados?!” – pergunta
Manuel Godinho.
“Bom, isso é em Benavente” – responde o arguido.
“Bom temos que falar” – diz Manuel Godinho.
O arguido esclarece que isso é normal, nestas circunstâncias, neste
contexto é normalíssimo.
Esclarece que a empresa “Meta Ferro”, também concorreu, mas fez
silêncio quando foi perguntado se sabe quem os representa.
Perante a sua circunspecção o advogado do arguido, esclarece que é o
advogado da Meta Ferro.

1011
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

O arguido esclarece que sabia que o advogado era o representante de


uma associação de nome “Assambra”, dos sucateiros do Seixal, incluindo Meta
Ferro.
É provável, mas não pode afirmar, que tenha dado as informações aos
outros concorrentes.
A B.G.R (Bentos), foi a empresa que ganhou o concurso, que entregou a
proposta em mão, a única que assistiu à abertura das propostas, e que não
visitaram as instalações.
O General Cordeiro e o Rogério Pina estavam lá há anos, e foi para lá o
arguido, quando essa consulta existiu.
O arguido entrou para a IDD em 23/03/09.
Em Abril, esteve numa reunião com o Conselho da Administração, em
que foi dito que era bom promover uma consulta que o concurso já tinha
ultrapassado os limites.
Em Maio, foi autorizado o lançamento da consulta.
Em Junho, foi feita a consulta a 6 empresas.
Não se recorda de dar os dados a outras empresas concorrentes.
Não era a IDD que fazia o abate dos blindados, mas sim a D. G. M.
Guerra.

Do crime tráfico de Influência cometido por Paulo Costa sobre


José António Chocolate Contradanças e do crime de corrupção passiva
para acto ilícito, cometido por este

Verifica-se que outro concurso que o Engº Paulo Costa, de forma


diligente, tratou de informar Manuel Godinho, ocorreu no dia seguinte à entrega
da viatura a Paiva Nunes, ou seja, no dia 05 de Junho de 2009.

1012
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Godinho liga ao Engº Paulo Costa, após ter sido previamente
alertado por Paiva Nunes para o facto de aquele ter um concurso preparado
para ele.

Alvitra o arguido que: “ANTÓNIO PAULO COSTA, que o contactou dando-


lhe conta da existência de uma empresa certificada, eventualmente habilitada a adquirir,
transportar e tratar, os resíduos vendidos como sucata pela sociedade com a firma "IDD
- Indústria de Desmilitarização e Defesa S.A.", da qual o ora requerente é vogal do
respectivo Conselho de Administração.”

Não sendo verdade que o arguido ANTÓNIO PAULO COSTA o tenha


contactado no sentido de favorecer MANUEL GODINHO e a "02" nos
concursos e nas consultas públicas de adjudicação de contratos de compra e
venda e de prestação de serviços na área dos resíduos produzidos pela "
IDD".”

Todavia, os elementos de prova que a seguir se transcrevem,


desmentem tais afirmações.

- Produto 11377 – Alvo 1T167PM - 05/06/2009 – Paiva Nunes  Manuel


Godinho:
Paiva Nunes diz a Manuel Godinho que era importante ele ligar ao Engº Paulo
Costa pois ele já tem um concurso preparado para ele.
Paiva Nunes informa Manuel Godinho que o livro de instruções não está no
Mercedes-Benz que lhe foi entregue no dia antes.
PRODUTO Nº: 11377
DATA/HORA: 05/06/2009 08:42:57
INTERVENIENTES:
• DE – Engº. PAIVA NUNES – 917 829 670
• PARA – Manuel Godinho

Engº. PAIVA NUNES – Tá bom.

1013
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Olá, senhor Engenheiro. Bom dia.


Engº. PAIVA NUNES – Como é que vai.
MANUEL GODINHO – Tá tudo bem, muito obrigado.
Engº. PAIVA NUNES – Eu ontem nem...
MANUEL GODINHO – Eu tava num...
Engº. PAIVA NUNES – Diga, diga.
MANUEL GODINHO – Eu tava num jantar, amigo.
Engº. PAIVA NUNES – Como?
MANUEL GODINHO – Eu tava num jantar.
Engº. PAIVA NUNES – Ahh, tá bem.
MANUEL GODINHO – Ehhh, só hoje de manhã é que vi. Estava a fazer
horas, pra lhe ligar.
Engº. PAIVA NUNES – Mas, olhe. Sabe porquê...liguei-lhe pelo seguinte,
era, era importante, ehhhh, ligar ao, ó Engenheiro Paulo Costa.
MANUEL GODINHO – Sim.
Engº. PAIVA NUNES – Porque ele já tem uma...já tem um concurso.
MANUEL GODINHO – Tá bem.
Engº. PAIVA NUNES – Isso era importante, que era para...
MANUEL GODINHO – Eu vou, eu tou a fazer horas para ligar com ele.
Porque eu tenho aqui uma chamada não atendida.
Engº. PAIVA NUNES – Pois. Porque eu também lhe disse a ele.
MANUEL GODINHO – Lá pr’as nove e meia. Lá pr’as nove e meia, não é.
Engº. PAIVA NUNES – Sim, sim, sim. Que ele tem, ele já lá tem um...as
coisas preparadas, tá a perceber.
MANUEL GODINHO – Tá bem, tá bem.
Engº. PAIVA NUNES – Olhe. Havia outra coisa que eu lhe queria pedir.
MANUEL GODINHO – Diga.
Engº. PAIVA NUNES – Sabe que depois ontem, quando vim para aqui...
MANUEL GODINHO – Sim.
Engº. PAIVA NUNES – Ainda tentei procurar lá no carro, mas deve estar
nalguns sitio que eu não conheço...
MANUEL GODINHO – Sim.
Engº. PAIVA NUNES – Ehhh, o livro de instruções. Porque depois ficou o ...
ficou com luz permanente acesa.

1014
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Ficou...


Engº. PAIVA NUNES – Vermelha.
MANUEL GODINHO – Isso é um botão, diz SR, não é.
Engº. PAIVA NUNES – Ehhh, diz SRS.
MANUEL GODINHO – Pronto, isso é um botão...
Engº. PAIVA NUNES – Agora ficou sempre...não, mas agora ficou
sempre...não, mas é que eu já lá andei a me...
MANUEL GODINHO – Isso é um mau contacto, ó senhor Engenheiro.
Engº. PAIVA NUNES – A mexer nos botões todos.
MANUEL GODINHO – Isso também me acontecia.
Engº. PAIVA NUNES – Ai é?
MANUEL GODINHO – É um mau contacto, não tenha medo disso.
Engº. PAIVA NUNES – Pois, eu estava com receio disso...
MANUEL GODINHO – Isso tem a ver com a tracção ou qualquer coisa.
Engº. PAIVA NUNES – Mas, olhe...mas o ... e onde é que está o livro de
instruções?
MANUEL GODINHO – O livro de instruções...o livro de instruções deve
estar pr’ai.
Engº. PAIVA NUNES – Pois é...que eu andei à procura por todo...
MANUEL GODINHO – Lá pr’a mala, ou qualquer coisa.
Engº. PAIVA NUNES – Eu andei à procura dele e não o consigo encontrar.
MANUEL GODINHO – Eu vou tentar, eu vou tentar ver onde é que está
isso.
Engº. PAIVA NUNES – Pois, é que eu estava preocupado, é que sabe, é uma
luz vermelha...é sempre...
MANUEL GODINHO – Mas não tenha problemas.
Engº. PAIVA NUNES – Não.
MANUEL GODINHO – Isso...não. Isso acontecia-me muito. Se você
carregar num botão que fica á beira do manipulo. Experimente fazer isso.
Engº. PAIVA NUNES – Mas eu já carreguei em todos.
MANUEL GODINHO – Pronto. Mas tem que estar com o dedo um
bocadinho, que isso desaparece.
Engº. PAIVA NUNES – Ai é?
MANUEL GODINHO – É. Não se preocupe com isso.
Engº. PAIVA NUNES – Só que isto...

1015
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Mas, qualquer das maneiras, se for preciso fala para
a MERCEDES.
Engº. PAIVA NUNES – Pois.
MANUEL GODINHO – Tá a ver. E pergunta, e pergunta, eee resolve logo
isso.
Engº. PAIVA NUNES – Tá bem, é isso que eu queria, mas...se conseguir
depois dizer-me onde é que tem o li...onde é que imagina que esteja o livro de
instruções...
MANUEL GODINHO – Eu vou, eu vou tentar ver isso...
Engº. PAIVA NUNES – Tá bem.
MANUEL GODINHO – Eu falo já com o meu filho para ver isso, tá bem.
Engº. PAIVA NUNES – Tá bem, tá bem. Depois diga-me alguma coisa,
então.
MANUEL GODINHO – Tá, tá.
Engº. PAIVA NUNES – Olhe, não se esqueça de falar lá ao Paulo, com o
Paulo...
MANUEL GODINHO – Eu falo, eu falo. Ok.
Engº. PAIVA NUNES – Tá bem.
MANUEL GODINHO – Tá. Um abraço.
Engº. PAIVA NUNES – Um abraço para si. Obrigado, obrigado.

- Produto 11379 – Alvo 1T167PM - 05/06/2009 – Manuel Godinho  Eng.


Paulo Costa:
Engº Paulo Costa diz a Manuel Godinho que, ontem, lhe ligou um amigo que
vai lançar um concurso para sucata, uma coisa grande, em Lisboa. Refere que o amigo
em questão se chama José António Contradanças.
Diz também que o amigo vai telefonar para Manuel Godinho para que este
possa fornecer os dados e, assim, ser convidado.
Manuel Godinho pergunta quando é que eles vêm ao Norte e pede ao seu
interlocutor para estar atento “àquelas demolições”.

PRODUTO Nº: 11379


DATA/HORA: 05/06/2009 09:45:05

1016
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – Engº. PAULO COSTA - 962971903

Engº. PAULO COSTA – Bom dia.


MANUEL GODINHO – Bom dia.
Engº. PAULO COSTA – Tá bom, como vai.
MANUEL GODINHO – Tá tudo, tudo bem, obrigado.
Engº. PAULO COSTA – Olhe...
MANUEL GODINHO – Diga.
Engº. PAULO COSTA – Ontem ligou-lhe um amigo meu, não sei se viu...
MANUEL GODINHO – Sim, sim. Sim.
Engº. PAULO COSTA – Estava...
MANUEL GODINHO – Eu tive um jantar...
Engº. PAULO COSTA – Certo.
MANUEL GODINHO – Eu tive um jantar eeeee...não levei telemóvel, tá a
ver.
Engº. PAULO COSTA – Pois.
MANUEL GODINHO – E só hoje de manhã é que eu vi as suas chamadas.
Mas
já recebi hoje uma chamada a dizer... para lhe ligar.
Engº. PAULO COSTA – Tá bem. Mas, olhe...
MANUEL GODINHO – Diga.
Engº. PAULO COSTA – Ehhhh. Portanto, ligou-me anteontem um amigo
meu, que ele vai lançar um concurso para... pa, pra sucata, tá ver. Mas uma coisa
grande...
MANUEL GODINHO – A Olaria...
Engº. PAULO COSTA – É uma...é aqui em Lisboa.
MANUEL GODINHO – Ahhhh.
Engº. PAULO COSTA – Ehh...portanto, ele queria, mas ele
queria...precisava dos seus dados, para depois fazer o convite para você participar
no...no concurso.
MANUEL GODINHO – Tá bem.
Engº. PAULO COSTA – Tá bem.
MANUEL GODINHO – Tá bem.

1017
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Engº. PAULO COSTA – Portanto, ele deixou...eu acho que ele lhe deixou
uma mensagem.
MANUEL GODINHO – Sim.
Engº. PAULO COSTA – Ele chama-se José António Contradanças.
MANUEL GODINHO – Sim.
Engº. PAULO COSTA – Tá a ver.
MANUEL GODINHO – Eugénio...
Engº. PAULO COSTA – Não. José António Contradanças.
MANUEL GODINHO – José António...
Engº. PAULO COSTA – Contradanças.
MANUEL GODINHO – ...António...Contravanças.
Engº. PAULO COSTA – Tá bem. Eu se calhar...eu vou, eu peço a ele para
daqui a bocadinho ligar pra si. Tá bem?
MANUEL GODINHO – Tá bem, ok.
Engº. PAULO COSTA – E você...e você dá-lhe os dados todos, que é para
ele depois lhe mandar um convite.
MANUEL GODINHO – Tá bem, tá bem.
Engº. PAULO COSTA – Tá bem?
MANUEL GODINHO – Quando é que vocês vêm cá ao Norte.
Engº. PAULO COSTA – Pá, o..olhe amanhã...hoje vou ai, vou à Figueira,
amanhã... venho para Lisboa outra vez, amanhã vou pró Porto.
MANUEL GODINHO – Ahhh. Pronto, quando tiver disponibilidade, diga...
Engº. PAULO COSTA – Pode...
MANUEL GODINHO –...que eu marco com o Paulo e a gente almoça ai, ou
qualquer coisa.
Engº. PAULO COSTA – Tá bem. Esta semana que vem, não, porque depois
vou a Paris com os miúdos. Mas na outra a seguir...
MANUEL GODINHO – Tá bem, ok.
Engº. PAULO COSTA – Tá bem?
MANUEL GODINHO – Tá.
Engº. PAULO COSTA – Tá bem, grande abraço.
MANUEL GODINHO – Esteja atente, esteja atento àquelas demolições.
Está bem?
Engº. PAULO COSTA – Sim, eu sei. Não se...esteja descansado com isso. Tá
bem?

1018
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Tá, ok, ok. Um abraço.


Engº. PAULO COSTA – Grande abraço. Adeus.

Portanto, na sequência da mediação e influência exercida pelo Eng.º


Paulo Costa, no dia 05 de Junho de 2009, José António Chocolate
Contradanças contactou Manuel Godinho dizendo-lhe que o Engº Paulo Costa
lhe havia transmitido que estaria interessado em ser favorecido nos concursos
e nas consultas públicas de adjudicação e, bem assim, na adjudicação directa
de contratos de prestação de serviços na área dos resíduos produzidos pelo
IDD - Indústria de Desmilitarização e Defesa, S.A.

Saliente-se que o “amigo” José Contradanças, apresentado pelo Engº


Paulo Costa, era à data dos factos, vogal do conselho de administração da IDD
– Indústria de Desmilitarização e Defesa, S.A., adiante designada por IDD,
sociedade anónima cujo capital social é detido em 100% pela EMPORDEF –
Empresa Portuguesa de Defesa, SGPS, S.A. (sociedade gestora de
participações sociais exclusivamente públicas – tutelada pelos Ministérios da
Defesa e das Finanças) e tem instalações em Alcochete. (cf. fls. 7478 a 7479
do Volume 21 e 167 a 172 do apenso 18.

- Produto 11381 - Alvo 1T167PM - 05/06/2009 – José António Contradanças


 Manuel Godinho:
José António Contradanças, o amigo do Eng.º Paulo Costa da GALP,
identifica-se e diz que o amigo lhe transmitiu que Manuel Godinho estaria interessado
em posicionar-se numa consulta para sucatas.

José Contradanças explica que a sua empresa se chama IDD – Indústria de


Desmilitarização e Defesa, S.A., detida a 100% pelo Estado e que a actividade é a
desactivação e desmantelamento de munições, bombas de avião e torpedos.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Explicita também que, até agora, tem sido uma firma de Abrantes que efectua
esse serviço, mas que introduziu a questão de querer fazer uma consulta a algumas
entidades.

Manuel Godinho solicita o n.º de fax para poder enviar a identificação da sua
empresa.

O arguido Contradanças fornece o n.º 21 2308070, explicando-lhe que pode


dirigi-lo a ele ou ao director-geral.

Manuel Godinho propõe-lhe um encontro com ele. Contradanças diz que pode
escrever previamente uma carta de apresentação, o que não seria impeditivo de
combinarem encontrar-se na próxima semana.

Contradança, respondendo a Manuel Godinho, informa que a fábrica se


localiza junto à portagem da A1, no Pinhal Novo, na estrada para Alcochete.

PRODUTO Nº: 11381


DATA/HORA: 05/06/2009 10:25:16
INTERVENIENTES:
• DE – JOSÉ CONTRADANÇAS - 917 261 650
• PARA – Manuel Godinho

MANUEL GODINHO – Sim?

JOSÉ CONTRADANÇAS – Tou. Muito bom dia.

MANUEL GODINHO – Bom dia.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Olhe. O meu nome é José António Contradanças.

MANUEL GODINHO – Sim, sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – E se calhar já ouviu falar por intermédio do


Paulo.

1020
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Ehhh.

MANUEL GODINHO – Tá a falar com o Godinho. Diga?

JOSÉ CONTRADANÇAS – Sim senhor. É isso que eu aqui tenho, pois. Ehhh,
olhe...ehhh, o nosso bom amigo Paulo Costa, portanto...

MANUEL GODINHO – Sim, sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – ...ontem, disse-me que provavelmente estaria


interessado em...em poder posicionar-se, portanto...

MANUEL GODINHO – Sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – ...numa consulta, por questão de sucatas.


Portanto, a empresa onde eu estou neste momento é, é a IDD, portanto, que é uma
indústria de desmilitarização e defesa...

MANUEL GODINHO – Ahhhhh.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Que é detida a cem porcento, portanto, pelo


estado e que faz tudo o que é de...desactivação, portanto, desmantelamento de
munições, desde bombas de uma tonelada de...bombas de avião...

MANUEL GODINHO – Sim, sim, sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – ...até torpedos. Tudo isso, o senhor sabe muito


bem, prontos.

MANUEL GODINHO – Sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Aquilo produz sucatas. Talvez não tanto quanto


aquilo que às vezes a gente...há anos que produz mais, outras menos, conforme...

MANUEL GODINHO – Sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – ...o tipo de...ehhhhhhh, e depois por outro lado,


muitas vezes, os ramos das forças armadas, quando há assim coisa mais nobre,
querem também levar o, o, o ... querem também levar o ... querem o retorno das
sucatas, pronto.

MANUEL GODINHO – Sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Mas o que é certo, é que há, e faz-se. E neste


momento há uma firma de sucatas que...ali dos lados de Abrantes, que está, que é
compradora, que leva.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – E eu introduzi a questão de querer fazer uma


consulta a algumas entidades, que vai ser feita brevemente, portanto, uma
proposta. Portanto, dai que, se quiser...

MANUEL GODINHO – O senhor...

JOSÉ CONTRADANÇAS – Sim...

MANUEL GODINHO – ...o senhor dava-me o seu número de fax...

JOSÉ CONTRADANÇAS – ...eu dou-lhe um, eu dou-lhe um...

MANUEL GODINHO – Para a identificação da empresa.

JOSÉ CONTRADANÇAS – ...pois, eu até...posso lhe dar um mail ou posso lhe


dar o fax. Quer ooo fax...

MANUEL GODINHO – O fax.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Pronto, o fax é o dois um (21).

MANUEL GODINHO – Repete - Dois um (21).

JOSÉ CONTRADANÇAS – Dois, três, zero (230).

MANUEL GODINHO – Repete - Dois, três, zero (230).

JOSÉ CONTRADANÇAS – Oito, zero (80).

MANUEL GODINHO – Repete - Oito, zero (80).

JOSÉ CONTRADANÇAS – Sete, zero (70).

MANUEL GODINHO – Repete - Sete, zero (70). Ok.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Pois. Portanto, das duas uma, ou pode fazer-me


isso dirigido a mim, ou pode fazer ao Director Geral, como queira. Se quiser fazer
dirigido a mim, portanto...

MANUEL GODINHO – Eu gostava de falar consigo, tá a ver.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Tá bem.

MANUEL GODINHO – Ehhhh, que era para ver...em que moldes é que a
gente haviamos de fazer isso.

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S. R.

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JOSÉ CONTRADANÇAS – Pois. Até pode, até pode visitar a empresa, lá ir.
Eu, ehhhh, não me importo nada e de irmos dar uma volta com o Director Geral, ele
explicar aquelas coisas. Ehhh, portant...eu tava a querer era obviar. Porque, tá bem,
que agora vai-se meter este feriado todo e isso não vai nada, não é?

MANUEL GODINHO – Sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Porque, segunda e terça este Pais pára todo, não
é.

MANUEL GODINHO – Pois.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Mas se houvesse, ehhh...sei lá, no género


de...uma...se fizesse um fax ou uma carta a apresentar, a dizer...somos fulanos de
tais, temos uma empresa, sabemos, portanto...que a vossa empresa produz alguns
resíduos neste âmbito das sucatas. Gostaríamos, portanto, de poder visitá-la, para
além disso se fosse realizada uma consulta, estaríamos em condições de apresentar
a nossa proposta, pelo que sensibilizamos...portanto, percebe...uma carta, portanto,
de apresentação, uma coisa assim, percebe...E, ehhh

MANUEL GODINHO – Eu mandava-lhe uma...um currículo, uma brochura.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Claro.

MANUEL GODINHO – E a carta de apresentação.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Claro. Mas é isso. Pronto, isto obviava. E


depois...o que não impedia que nós combinássemos...Ehhh, ora, aquilo treze é
sábado... ou catorze. Pá, sei lá, logo no principio da outra semana, eu estou lá, estou
lá. P’rá outro semana, segunda e terça feira, não é.

MANUEL GODINHO – Onde é a fábrica?

JOSÉ CONTRADANÇAS – Como?

MANUEL GODINHO – A fábrica... onde é?

JOSÉ CONTRADANÇAS – Como, como, diga?

MANUEL GODINHO – A fábrica está localizada aonde?

JOSÉ CONTRADANÇAS – Está localizada ali onde era a SPEL – Sociedade


Portuguesa de explosivos, entra-se por ai. Agora é MAXSAM, mas está a ver ali ao pé
da...do...da portagem do Pinhal Novo...

MANUEL GODINHO – Ai, no Pinhal Novo...

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S. R.

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JOSÉ CONTRADANÇAS – ...da portagem da Auto-Estrada.

MANUEL GODINHO – Sim, sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Quando, quando olha para a sua direita vê uma


estrada paralela, que era a antiga estrada que vai para o pa...para Alcochete.

MANUEL GODINHO – Sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – E depois vê ali uma firma, que é Espanhola, que


diz MAXSAM, que era onde era a antiga SPEL – Sociedade Portuguesa de explosivos.

MANUEL GODINHO – Sim, sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – E depois entra-se por esse portão. E lá para trás,


ehhh, fica esta IDD.

MANUEL GODINHO – Pois.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Porque, prontos, são coisas de rebentamentos,


ehhh, instalações especiais, e tudo...

MANUEL GODINHO – Pois.

JOSÉ CONTRADANÇAS – São coisas, normalmente...

MANUEL GODINHO – Eu vou passar....hoje não lhe dá jeito. Porque senão


eu dava ai um salto...

JOSÉ CONTRADANÇAS – Não, hoje...tem sido assim um dia muito


conturbado. Eu tou ainda em casa, estou aqui ao computador e tal, ehhh...ás cinco
para a meia noite estava-me a morrer uma pessoa quase nos braços...

MANUEL GODINHO – Ahhhh.

JOSÉ CONTRADANÇAS – ...numa sessão. Pá, num ataque fulminante do


coração, pá. E num...num estou capaz de nada.

MANUEL GODINHO – Então, vá.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Vou passar pela empresa, mas estou assim. Dai
que, o que eu lhe pedia era, se quer fazer isso em meu nome, manda pra mim.
Portanto, e então endereça o fax...tem que m andar para alguém, não é. Portanto...

MANUEL GODINHO – Ao cuidado do senhor José António Contradanças. É


isso?

JOSÉ CONTRADANÇAS – Claro. Administrador José António contradanças,


pronto. Ehhh, e depois diz...portanto, precisamente...somos uma empresa tal tal,

1024
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

para além de fazermos esta apresentação, gostariamos de pessoalmente de poder


marcar uma reunião e uma visita à vossa empresa. Portanto, estando nós neste
âmbito de negócio, das sucatas e sabendo que a vossa empresa, portanto, produz
algumas ehhh...que gostaria...prontos, e ehhhh, mais dizemos que gostariamos que
fosse...de ser consultados em futuras consultas. Pronto, passe o termo...

MANUEL GODINHO – Tá bem.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Tá a perceber? Bom, uma coisa assim. José


António Contradanças, para esse fax, e a empresa chama-se IDD.

MANUEL GODINHO – IDD.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Um I, um D e um D.

MANUEL GODINHO – Sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – É Industria...

MANUEL GODINHO – Sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – ...de Desmilitarização...

MANUEL GODINHO – Sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – ...e Defesa...

MANUEL GODINHO – Repete – E Defesa.

JOSÉ CONTRADANÇAS – SA. E Defesa. Indústria de Desmilitarização e


Defesa SA.

MANUEL GODINHO – E defesa...SA.

JOSÉ CONTRADANÇAS – SA. Pronto. Alcochete, ehhh...

MANUEL GODINHO – Alcochete.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Mas...como já lhe dei o fax, mande o fax.

MANUEL GODINHO – Vocês tinham ai uma quantidade muito grande de


carros blindados, ainda têm.

JOSÉ CONTRADANÇAS – De...latão. Diga? De...

MANUEL GODINHO – De carros blindados.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Não, não, não.

MANUEL GODINHO – Já não tem.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

JOSÉ CONTRADANÇAS – Não, não. Aqui não.

MANUEL GODINHO – Alcochete...

JOSÉ CONTRADANÇAS – Não, os...portanto, os carros blindados, ehhh,


ehhh, portanto, só se estiverem na, no depósito ehhh, de...

MANUEL GODINHO – Estão no depósito...

JOSÉ CONTRADANÇAS – ...de Benavente...

MANUEL GODINHO – Em Benavente, exacto.

JOSÉ CONTRADANÇAS – ... lá mais à frente ao pé do campo de tiro...nós...

MANUEL GODINHO – Sim, sim.

JOSÉ CONTRADANÇAS – Pode ser...

MANUEL GODINHO – Tem lá uma quantidade enorme disso.

JOSÉ CONTRADANÇAS – ... pois, mas...

MANUEL GODINHO – Nós temos de falar, prontos...

JOSÉ CONTRADANÇAS – Mas, se vocês...

MANUEL GODINHO – ...segunda ou terça feira...

JOSÉ CONTRADANÇAS – Tá bem, tá.

MANUEL GODINHO – ...eu falava com o senhor e dava ai um salto. Tá


bem?

JOSÉ CONTRADANÇAS – Sim senhor. Tá, ok.


MANUEL GODINHO – E a gente conversava, tá bem.
JOSÉ CONTRADANÇAS – Ok. Muito obrigado.
MANUEL GODINHO – Tá. Um grande abraço.
JOSÉ CONTRADANÇAS – Obrigado, obrigado.
MANUEL GODINHO – Um bom fim-de-semana.
JOSÉ CONTRADANÇAS – Igualmente.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

- Produto 11387 – Alvo 1T167PM - 05/06/2009 – Manuel Godinho  Paiva


Nunes:
Manuel Godinho comunica a Paiva Nunes que já lhe está a preparar três casos
e que na segunda-feira lhe entrega isso.
Paiva Nunes pergunta se Manuel Godinho chegou a falar com Paulo Costa e
aconselha-o a não fazer nada sem falar com ele ou com o Paulo Costa para que “as
coisas sejam encaminhadas”.

PRODUTO Nº: 11387


DATA/HORA: 05/06/2009 11:00:55
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – Engº. PAIVA NUNES – 917 829 670

ENGº. PAIVA NUNES – Tá.


MANUEL GODINHO – Sim.
ENGº. PAIVA NUNES – Sim.
MANUEL GODINHO – Senhor Engenheiro.
ENGº. PAIVA NUNES – Caiu a chamada, não é.
MANUEL GODINHO – Caiu, caiu. Ehhhh, portanto...isso do carro está
esclarecido.
ENGº. PAIVA NUNES – Sim.
MANUEL GODINHO – Ehhh...eu tou-lhe a preparar aquelas...três casos
que você me falou.
ENGº. PAIVA NUNES – Sim.
MANUEL GODINHO – E na segunda feira penso entregar-lhe isso...
ENGº. PAIVA NUNES – Tá bem.
MANUEL GODINHO – Tá bem?
ENGº. PAIVA NUNES – Tá bem. Olhe, chegou a falar com o Paulo Costa.
MANUEL GODINHO – Já falei.
ENGº. PAIVA NUNES – Pronto. Agora você...não faça nada, depois...sem
falar
comigo ou com ele, tá a perceber.
MANUEL GODINHO – Tá bem, tá bem. Num, nada, nada...

1027
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

ENGº. PAIVA NUNES – Que é para encaminharmos as coisas, tá bem.


MANUEL GODINHO – Zero, zero. Esteja á vontade.
ENGº. PAIVA NUNES – Ok.
MANUEL GODINHO – Tá. Um abraço.
ENGº. PAIVA NUNES – Um abraço para si. Obrigado, obrigado.
MANUEL GODINHO – Obrigado eu.

- Produto 11389 – Alvo 1T167PM - 05/06/2009 – Manuel Godinho  José


António Contradanças:
José António Contradanças, a pedido de Manuel Godinho, fornece o seu
endereço de correio electrónico: jacontradancas@idd.com.pt.
Manuel Godinho diz que a apresentação será enviada por mail.

PRODUTO Nº: 11389


DATA/HORA: 05/06/2009 11:03:47
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – JOSÉ CONTRADANÇAS - 917 261 650

JOSÉ CONTRADANÇAS – Estou.


MANUEL GODINHO – Senhor José António.
JOSÉ CONTRADANÇAS – Sim, sim. É o próprio.
MANUEL GODINHO – Olhe, é o Godinho novamente, desculpe lá.
JOSÉ CONTRADANÇAS – Sim, sim.
MANUEL GODINHO – Importa-se de me dar o seu... o número do seu mail.
JOSÉ CONTRADANÇAS – O mail.
MANUEL GODINHO – Sim.
JOSÉ CONTRADANÇAS – J...
MANUEL GODINHO – (Repete) J.
JOSÉ CONTRADANÇAS – .... A ...
MANUEL GODINHO – (Repete) A.
JOSÉ CONTRADANÇAS – ... Contradanças sem cedilha...contradancas. Tudo
pegado, ja, de José António...contradancas.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Contradancas.


JOSÉ CONTRADANÇAS – Que é contradanças, tudo pegado, sem cedilha...
MANUEL GODINHO – (Repete)...dancas...
JOSÉ CONTRADANÇAS – Contradancas.
MANUEL GODINHO – Sim.
JOSÉ CONTRADANÇAS – Arroba (@).
MANUEL GODINHO – (Repete) – arroba (@)...
JOSÉ CONTRADANÇAS – IDD...I
MANUEL GODINHO – (Repete) – IDD.
JOSÉ CONTRADANÇAS – IDD ponto...
MANUEL GODINHO – IDD.
JOSÉ CONTRADANÇAS – ponto...
MANUEL GODINHO – (Repete) – Ponto.
JOSÉ CONTRADANÇAS – Come (com).
MANUEL GODINHO – (Repete) - Come.
JOSÉ CONTRADANÇAS – Ponto...
MANUEL GODINHO – (Repete) – Ponto.
JOSÉ CONTRADANÇAS – PT.
MANUEL GODINHO – (Repete) – PT.
JOSÉ CONTRADANÇAS – Ponto com, ponto PT. Porque às vezes esquecem-
se de uma ... e este tem as duas coisas, tem o ponto come e tem o ponto pt, tá.
MANUEL GODINHO – Eu vou-lhe mandar a apresentação por...
JOSÉ CONTRADANÇAS – Sim, sim.
MANUEL GODINHO – Tá.
JOSÉ CONTRADANÇAS – Por mail, tá. Sim senhora...portanto.
MANUEL GODINHO – Ok. Muito obrigado.
JOSÉ CONTRADANÇAS – Nada. Obrigado eu.
MANUEL GODINHO – Obrigado, obrigado.

- Produto 11675 – Alvo 1T167PM - 08/06/2009 – Manuel Godinho  Eng.


Paulo Costa:

1029
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Eng.º Paulo Costa pergunta a Manuel Godinho se já falou com o amigo dele
(José Contradanças). Este responde que foi enviado um mail na passada sexta-feira
(05/06/2009).
Manuel Godinho diz que um dia destes têm que falar para fazer um ponto de
situação. Este diz que naquela semana iria estar fora.

PRODUTO Nº: 11675


DATA/HORA: 08/06/2009 20:12:28
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – ENGº. PAULO COSTA - 962 971 903

Engº. PAULO COSTA – Tou.


MANUEL GODINHO – Sim, senhor Engenheiro.
Engº. PAULO COSTA – Tá bom. Como é que vai?
MANUEL GODINHO – Tá tudo, obrigado. E o senhor.
Engº. PAULO COSTA – Tudo bem. Já falou então com o tal meu amigo.
MANUEL GODINHO – Ehh, eu mandei-lhe um e-mail na semana passada,
na sexta-feira.
Engº. PAULO COSTA – Sim.
MANUEL GODINHO – Sim.
Engº. PAULO COSTA – Tá bem, ok. Então tá tudo a ser tratado.
MANUEL GODINHO – Com a apresentação...tá tudo. Penso um dia destes
falar...falar consigo, para fazer o ponto da situação.
Engº. PAULO COSTA – Tá bem.
MANUEL GODINHO – Ok.
Engº. PAULO COSTA – Para a semana...esta semana, agora vou para fora,
mas p’ra semana estou cá.
MANUEL GODINHO – Tá bem, ok.
Engº. PAULO COSTA – Tá bem.
MANUEL GODINHO – Faça boa viagem.
Engº. PAULO COSTA – Tá bem, um grande abraço p’ra si.
MANUEL GODINHO – Tchau, um grande abraço. Adeus.

1030
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

- Produto 12330 – Alvo 1T167PM - 17/06/2009 - Eng.º Paulo Costa 


Manuel Godinho:
SMS enviado por Eng.º Paulo Costa: jacontradancas@idd.com.pt.

PRODUTO Nº: 12330


DATA/HORA: 17/06/2009 09:51:00
INTERVENIENTES:
• DE – ENGº PAULO COSTA
• PARA – MANUEL GODINHO

ENGº PAULO COSTA – (SMS) jacontradancas@idd.com.pt

- Produto 12369 – Alvo 1T167PM - 17/06/2009 - Eng.º Paulo Costa 


Manuel Godinho:
Eng.º Paulo Costa pergunta que é o contacto na “O2”. Este fornece o nome de
Namércio Cunha e pergunta quando é que vão “fazer aquilo”.
Eng.º Paulo Costa diz que é já, que digitalizou “aquilo” e que só precisava do
nome do contacto.
Manuel Godinho pergunta se falaram com o “outro amigo”. Paulo Costa não
responde.

PRODUTO Nº: 12369


DATA/HORA: 17/06/2009 16:07:30
INTERVENIENTES:
• DE – ENGº PAULO COSTA
• PARA – MANUEL GODINHO

MANUEL GODINHO – ‘Tou.


ENGº PAULO COSTA – Sim
MANUEL GODINHO – Sim.
ENGº PAULO COSTA – Olhe, diga-me uma coisa: (imperceptível) lá os
dois quem é a pessoa de contacto. Para depois se fazerem a... os convites.
MANUEL GODINHO – É.... É o Dr. Namércio.
ENGº PAULO COSTA – Dr. ...
MANUEL GODINHO – Namércio

1031
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

ENGº PAULO COSTA – É quê? Nanércio?


MANUEL GODINHO – Na... mércio. Na... mér... cio.
ENGº PAULO COSTA – Na... mércio. Ok. Ok. Tá bem. Então tá... já tá
tudo, agora.
MANUEL GODINHO – Quando é que vocês vão fazer isso?
ENGº PAULO COSTA – Vai já. Vou já mandar isto. Já mandei... já
digitalizei aquilo, já mandei aquilo, o (imperceptível), agora faltava só o nome
do seu contacto
MANUEL GODINHO – Então vá...
ENGº PAULO COSTA – Namércio quê? Namércio quê?
MANUEL GODINHO – Namércio Cunha. Dr. Namércio Cunha.
ENGº PAULO COSTA – Ok. (imperceptível)
MANUEL GODINHO – Aham... Falaram com o outro amigo?
ENGº PAULO COSTA – Vou já, vou já. Até já.
MANUEL GODINHO – Ah, ok.
ENGº PAULO COSTA – Já vai.
MANUEL GODINHO – Tá.

- Produto 12370 - Alvo 1T167PM - 17/06/2009 – Manuel Godinho 


Namércio Cunha:
Manuel Godinho transmite a Namércio Cunha que irão entrar em contacto com
ele da IDD, da GALP ou da EDP para fazer umas consultas.

PRODUTO Nº: 12370


DATA/HORA: 17/06/2009 16:09:08
INTERVENIENTES:
• DE – MANUEL GODINHO
• PARA – NAMÉRCIO CUNHA

NAMÉRCIO CUNHA – Tou?


MANUEL GODINHO – Oh Namércio...
NAMÉRCIO CUNHA – Sim.

1032
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Vão entrar em contacto consigo, ou da ISA, ou


da GALP, ou da EDP...
NAMÉRCIO CUNHA – Sim.
MANUEL GODINHO – Eu dei o seu contacto para entrarem em
contacto consigo para se fazerem umas consultas.
NAMÉRCIO CUNHA – Ok. Tá bem.
MANUEL GODINHO – Percebes?
NAMÉRCIO CUNHA – Tá bem.
MANUEL GODINHO – Portanto... Se te ligarem, tu vês o que é que as
pessoas pretendem.
NAMÉRCIO CUNHA – Eu trato disso.
MANUEL GODINHO – Ok? Tá.
NAMÉRCIO CUNHA – Tá, tá.
MANUEL GODINHO – Até já.

No dia 24 de Junho de 2009, (cfr. Vol. 69, fls. 23568) José


António Contradanças, a propósito da consulta promovida pela “IDD”
designada por “Venda de Sucata”, enviou um e-mail para o endereço de
correio electrónico de António Paulo Costa com o seguinte teor:

“Caro Paulo,
A consulta está em marcha. 5 empresas contactadas. Apresentação de
propostas e escolha das duas melhores para negociação.
Alguma ajuda necessária sobre os preços do actual contrato com a empresa
de Alferrerede (Abrantes), tendo em conta:
Factura de 2008
Sucata de aço (47.320kgx0,11651€)
Sucata de latão (538kgx1,723€)
Sucata de alumínio (265kgx1,333€)
Sucata de fios eléctricos (144kgx1,333€)
Sucata de chumbo e zamak (777kgx1,13€)
Mistura de metais (48kgx0,75€)

1033
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Sucata de aço (contentor) (4800kgx0,163€)


Factura de 2009
Sucata de latão sujo (2100kgx1,000€)
Sucata de latão limpo (1700kgx1,723€)
Sucata de alumínio sujo (2100kgx1,000€)
Sucata de alumínio limpo (215kgx1,333€)
(…)”.

No dia 25 de Junho de 2009, pelas 12h04, (Vol. 69, fls. 23568) José
António Contradanças, a propósito da consulta promovida pela “IDD”
designada por “Venda de Sucata”, enviou um e-mail para o endereço de correio
electrónico de António Paulo Costa com o seguinte teor:

“Caro Paulo,
Para além de alguns dados fornecidos ontem, consultei a resposta dada pela
firma RSA - Reciclagem de Sucatas Abrantina, SA e faz indicação de mais alguns
valores:
Cobre €2,653/kg
Chumbo €1,130/kg
Latão queimado €0,60/kg
(…)”

- Produto 13516 – Alvo 1T167PM - 29/06/2009 - Manuel Godinho 


Namércio Cunha:
Manuel Godinho pergunta a Namércio Cunha a que horas está marcada a visita
do dia seguinte à IDD, em Alcochete. Namércio diz que é às 10h30.
Manuel Godinho confirma se a visita é em Alcochete, porque precisa de avisar
“o nosso amigo” e adianta que irá acompanhado.

PRODUTO Nº: 13516


DATA/HORA: 29/06/2009 14:55:21
INTERVENIENTES:

1034
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

• DE – MANUEL GODINHO
• PARA – Namércio Cunha

Namércio Cunha –Estou


MANUEL GODINHO – Sim
Namércio Cunha –Então
MANUEL GODINHO – está tudo. Ouve lá, a que horas é que está
marcada a visita à IDD amanhã
Namércio Cunha –Dez e meia
MANUEL GODINHO – Quando ?
Namércio Cunha –dez e meia
MANUEL GODINHO – às dez e meia.
Namércio Cunha –A que horas é que lhe dá jeito ?
MANUEL GODINHO – Éh pá, dez e meia, dez e meia, pronto dez e
meia
Namércio Cunha –Está bom pra si ?
MANUEL GODINHO – Está. E onde é ? Em Alcochete ?
Namércio Cunha –É, é em Alcochete, pus lá a morada
MANUEL GODINHO – Que é para eu avisar o nosso amigo
Namércio Cunha –está bem
MANUEL GODINHO – Ok
Namércio Cunha –depois encontramo-nos lá ?
MANUEL GODINHO – Pode ser, pode ser que eu devo de ir
acompanhado
Namércio Cunha –Está bem ,pode ser na Academia de Alcochete
MANUEL GODINHO –Tu és tolo, com os nervos que eu ando
Namércio Cunha –Ali é que é bom para mandar uma pedradas, ao
pessoal
MANUEL GODINHO –Pois, é mais uma pedrada; não, não me meto
nesse ambiente
Namércio Cunha –Está lá o Paulo Bento com tranquilidade
MANUEL GODINHO –Não há novidade nenhuma ?
Namércio Cunha –Para já ainda não
MANUEL GODINHO –Você nunca mais disse nada, pois não ?

1035
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Namércio Cunha –Não, eu ando a tentar falar com o Jorge, mas ele
na semana passada tinha uma desculpa que ele estava com bastantes reuniões
por causa daquele caso de pereiros, que eles vão por cá o transformador,
afinal já não o vão retirar
MANUEL GODINHO –Ai já não retiram, é ?
Namércio Cunha –Não, porque surgiu, ardeu um pé da EDP e eles
vão, eles vão trocar por aquele, eles tiram-no; no entanto eu já tive uma
conversa prévia com ele e ele vai depois ter mais, vão surgir mais situações,
vamos manter o processo em aberto, não se dá por encerrado e eles vão ter
mais situações e depois
MANUEL GODINHO –Vão ter, mas quando ?
Namércio Cunha –Pois, é isso que estou a tentar saber; pronto e ele
na semana passada, ele pediu desculpa mas ele andava lá super ocupado,
espero durante esta semana saber mais alguma coisa
MANUEL GODINHO –Pá, é ver essa porcaria; e da Tapada do Outeiro
?
Namércio Cunha –Na semana passada ainda não tinham, ainda
estavam a trabalhar naquilo, não havia desenvolvimentos nenhuns, ainda
estava tudo, pronto, digamos, em bruto
MANUEL GODINHO –Aquele senhor que nos andou a acompanhar
Namércio Cunha –Sim, sim, não, não, ele na semana passada ainda
não tinha dados nenhuns de concreto
MANUEL GODINHO –Então, mas já mandou isso pra baixo ?
Namércio Cunha –Penso que ainda está com ele.
MANUEL GODINHO –Ainda está com ele ?
Namércio Cunha –Ainda está com ele
MANUEL GODINHO –Pá, telefona e pergunta isso, pá.
Namércio Cunha –está bem, está bem
MANUEL GODINHO –Ok ?
Namércio Cunha –Está, ok, até já .

- Produto 13618 – Alvo 1T167PM - 30/06/2009 11:39:30 – 938959707


917649864 - Namércio Cunha  Manuel Godinho:
Manuel Godinho diz a Namércio Cunha que está a chegar a Alcochete.

1036
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

PRODUTO Nº: 13618


DATA/HORA: 30/06/2009 11:39:30
INTERVENIENTES:
• DE – Engº Paulo Costa
• PARA – MANUEL GODINHO

MANUEL GODINHO –
Engº Paulo Costa – Está bom
MANUEL GODINHO –Olá, está tudo bem ? Vamos almoçar aonde ?
Engº Paulo Costa - Á uma hora no Sete Mares, já conhece ?
MANUEL GODINHO –Sete Mares ? É hotel, é?
Engº Paulo Costa - É ali na Columbano Bordalo Pinheiro, sabe qual
é? Que vai da Praça de Espanha para Sete Rios, é em frente ao hotel, àquele
hotel que eu lhe disse
MANUEL GODINHO –Ok, Sete Mares, é ?
Engº Paulo Costa - Sim
MANUEL GODINHO –Ok, se tiver alguma dificuldade eu aviso, está
bem ?
Engº Paulo Costa - Está a ver aquela avenida que vai da Praça de
Espanha a Sete Rios, rua Columbano Bordalo Pinheiro
MANUEL GODINHO –Está bem
Engº Paulo Costa - E o hotel é do lado esquerdo e o restaurante é
mesmo em frente ao hotel, é só atravessar a rua
MANUEL GODINHO –Está bem, ok
Engº Paulo Costa - Aquilo come-se muito bem aquilo é óptimo
MANUEL GODINHO –está ok.
Engº Paulo Costa - está bem ?
MANUEL GODINHO –está, até já.

- Produto 13806 – Alvo 1T167PM - 30/06/2009 16:19:41– 917649864


917649864 - Manuel Godinho  Namércio Cunha:
Eng.º Paulo Costa diz que estava a pensar nele, porque ele estava um bocado
desanimado.
Manuel Godinho desvaloriza e que hoje ao fim do dia já lhe pode dizer mais
alguma coisa.

1037
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Godinho diz que entregou “aquele papel ao nosso amigo” e pede para
Paulo Costa lhe transmitir que ”aquilo” foi entregue hoje.
PRODUTO Nº: 13806
DATA/HORA: 30/06/2009 16:19:41
INTERVENIENTES:
• DE – MANUEL GODINHO
• PARA – Engº Paulo Costa

MANUEL GODINHO – Sim, sr, engenheiro


Engº Paulo Costa - Está bom ?
MANUEL GODINHO – está tudo bem, obrigado
Engº Paulo Costa - Estava a pensar em si, que você estava um
bocado desanimado
MANUEL GODINHO – Ah, isso, ao fim do dia de (imperceptível) já lhe
posso dizer mais alguma coisita, isso é passageiro
Engº Paulo Costa - Ai é ?
MANUEL GODINHO – É; eu entreguei aquele papel ao nosso amigo,
era para lhe dizer que isso foi entregue hoje.
Engº Paulo Costa - Está bem, ok.
MANUEL GODINHO – Está a perceber ?
Engº Paulo Costa - Está bem
MANUEL GODINHO – Pronto, veja-me isso se faz favor
Engº Paulo Costa - Ok.
MANUEL GODINHO – Está, obrigado
Engº Paulo Costa - Um abraço.

De acordo com declarações complementares do Namércio Cunha, a


primeira consulta da IDD à O2 apenas ocorreu depois da entrada em cena do
Engº Paulo Costa e através do “seu amigo” José Contradanças.

A propósito desta situação referiu – “… as relações comerciais entre a O2


e o Instituto de Desmilitarização e Defesa S.A., abreviadamente designado por IDD,
refere que foram inexistentes durante o período em que exerceu funções na O2.
Recorda-se que o Sr. Manuel Godinho lhe solicitou que enviasse uma apresentação da

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

O2 para serem consultados pela IDD. Na sequência desse pedido, chegou a ir sozinho
às instalações da IDD onde deixou a apresentação da O2 a um Director das respectivas
instalações, cujo nome não se recorda. Porque perguntado afirma nunca ter conhecido
pessoalmente, nem conversado, com o outro arguido nos presentes autos, José António
Chocolate Contradanças.
Posteriormente, receberam uma consulta da IDD para recolha e tratamento
de lotes de material que tinham acumulado no local. Deslocou-se com o Sr. Manuel
Godinho para visionarem os lotes tendo sido acompanhados na visita por uma
Engenheira cujo nome não se recorda. Apresentaram uma proposta com os preços que
foram indicados pelo Sr. Manuel Godinho, não tendo sido a O2 a ganhar esta consulta.
Esta foi a primeira e única consulta, de que se recorda, efectuada por parte da IDD.
De seguida, o produto 10084, do alvo 38250PM, ocorrido no dia 29-06-2009,
foi dado a ouvir ao declarante. O interrogado reconhece as vozes como sendo a sua e a
do Sr. Manuel Godinho. Questionado sobre quem era o amigo que o Manuel Godinho
queria avisar aquando da visita às instalações da IDD refere que deduz tratar-se do
Engº Paulo Costa, que naquele período temporal desenvolvia algumas acções tendentes
a proporcionar a contratação de serviços para a O2.” (fls. 22970 22974 do Volume 67)

O próprio arguido José Contradanças, confirmou, no âmbito do seu


primeiro interrogatório judicial que a consulta para a gestão de resíduos
efectuada pela IDD à O2 ocorreu a 22 de Junho de 2009 e a visita às
instalações por parte de Manuel Godinho e Namércio Cunha aconteceu a 30 de
Junho de 2009.

Aos olhos do JIC surpreende-se um elevado grau de vinculação de


Contradanças à solicitação do seu “amigo” António Paulo Costa e, por via
deste, aos interesses de Manuel Godinho, ao ter assumido a iniciativa do
contacto com Manuel Godinho, ainda para mais num dia em que tinha
permanecido em casa em virtude de lhe ter morrido um indivíduo nos braços no
dia anterior.

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S. R.

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Não olvidemos a condição de administrador de Contradanças!

Para se “desobrigar” não é expectável tanto altruísmo.

Os mail´s que enviou a António Paulo Costa dizem bem da sua


intenção ao disponibilizar tal informação não ao directamente interessado, mas
sim ao intermediário no contacto – permitir a este alardear a sua capacidade de
influência através da traficância da informação.

À data, Contradanças tinha já na sua posse os contactos da O2!

Argumenta o requerente que se assim procedeu, foi porque a


solicitação partiu de António Paulo Costa.

Os elementos probatórios, designadamente os e-mail´s supra aludidos,


não o indiciam, na medida em que não fazem referência a qualquer petição
anterior como seria natural.

E diz do seu comprometimento com os interesses de Manuel Godinho


– não só o contactou para apresentar proposta como foi perscrutar informações
que o habilitassem a fazê-lo com competitividade.

A este propósito, diz o requerente ter prestado informação acessível


aos demais concorrentes, tendo, inclusive, garantido em sede de instrução que
a cedeu, igualmente, à empresa representada pelo seu Mandatário e amigo.

Não nos parece como os demais concorrentes podiam aceder à


informação prestada – tratava-se de informação na posse da IDD e na carta
convite não se fazia qualquer referência à possibilidade de a ela aceder.

1040
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Por outro lado, percebe-se a intenção que presidiu à sua cedência –


habilitar Manuel Godinho à apresentação de uma proposta mais competitiva
através do conhecimento dos valores em causa nas consultas anteriores.

As empresas de Manuel Godinho nunca se haviam relacionado com a


IDD, nem, como tal, com as especificidades deste sector de actividade, pelo
que aquela informação se revelava vital para a apresentação de uma proposta
dotada de suficiente competitividade.

Mas, mais.

José Contradanças revelou o número de empresas convidadas,


informação inacessível aos demais concorrentes e não despicienda para a
elaboração de uma proposta dotada de suficiente competitividade.

Argumenta o requerente que: “Na realidade, e fruto das conversas mantidas


entre o arguido e ANTÓNIO PAULO COSTA, resultou naturalmente, e como é normal
no mundo dos negócios, troca de informação entre quadros superiores de empresas
actuantes no mercado,
E foi assim que ANTÓNIO PAULO COSTA o informou da existência de
MANUEL GODINHO como operador certificado na compra de sucatas, o que na altura
o ora requerente, para além da consideração que ANTÓNIO PAULO COSTA lhe
merecia, entendeu como uma informação útil que lhe estava a ser prestada, dado que
Não abundam as empresas certificadas a puderem efectuar estes serviços,
nomeadamente no caso da "IDD", cujos resíduos vendidos como sucatas resultam da
desactivação de munições e materiais afins, o que implica especiais cuidados no
tratamento dos respectivos resíduos,”

1041
S. R.

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Sucede que foi o próprio arguido que, em sede de interrogatório nesta


instrução, asseverou ser o sector dos resíduos praticamente insignificante para
a IDD!

Aliás, aludiu quer ao montante envolvido na consulta – cerca de


10.000,00€ - e ao orçamento da IDD – cerca de 1.300.000,00€ - para ilustrar a
reduzida importância dos resíduos para a IDD.

De outro passo, tendo a consulta sido endereçada a cinco empresas


não se demonstra, antes pelo contrário, a alegada míngua de empresas
certificadas.

Aduziu, igualmente, o requerente que pretendeu aportar maior


competitividade à consulta, o que, para além do já alegado, terá justificado o
contacto com Manuel Godinho.

Contudo, não só não se vislumbra como num negócio de 10.000,00€


se poderia introduzir competitividade relevante para a IDD (relembremos o seu
orçamento de cerca de 1.300.000,00€), como as empresas acrescentadas à
consulta por Contradanças foram duas “representadas” por dois seus amigos –
a O2 “representada por António Paulo Costa e a representada pelo seu
Mandatário e amigo.

É verdade que não se indicia que Contradanças recebeu qualquer


contrapartida patrimonial ou não patrimonial de Manuel Godinho, mas não é
menos verdade que a sua conduta pautada pela “vontade de colaborar” leva-
nos a que, por apelo às regras da experiencia e à normalidade do acontecer,
tenhamos que asseverar a necessária cogitação do seu recebimento por si
e/ou por António Paulo Costa.

1042
S. R.

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Alvitra o requerente para afastar qualquer indício de favorecimento


prestado à O2 que: “a proposta apresentada pela "02", empresa de MANUEL
GODINHO, ficou em último lugar, tendo por isso sido proposta a venda das
sucatas à "BGR - Gestão de Resíduos Lda".

Para além de não se imputar na acusação qualquer favorecimento


ancorado na adjudicação desta consulta, concatenando o teor dos produtos
11379 e 11381 do Alvo 1T167PM descortina-se a mais do que provável razão
pela qual Manuel Godinho não se interessou particularmente com este
procedimento concursal.

Na verdade, António Paulo Costa garantiu a Manuel Godinho que se


tratava de “uma coisa grande”, sendo que, do contacto que Contradanças
estabeleceu consigo, Manuel Godinho firmou a convicção oposta.

De facto, Manuel Godinho, quando contactado por Contradanças e


fazendo fé naquela informação, questionou-o “Vocês tinham ai uma quantidade
muito grande de carros blindados, ainda têm?”. Contradanças esclareceu-o que
não.

Eram, pois, os blindados, que pesam dezenas de toneladas.


Esta frustração emerge como a mais do que provável razão pela qual
Manuel Godinho não se interessou particularmente com este procedimento
concursal.
A prova existente nos autos não nos deixa margem para dúvidas sobre
a existência de fortes indícios da prática dos factos imputados na acusação aos
arguidos Paulo Costa e José Contradanças, aqui referidos.

Destarte, deverá o arguido José Contradanças ser pronunciado


nos precisos termos da acusação, por se mostrarem verificados indícios

1043
S. R.

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que, neste tocante, inculcam um juízo de prognose, conducente à


consideração de que é mais forte a probabilidade da sua condenação do
que a exoneração da sua responsabilidade.

*****

Veio o arguido Manuel São José Gomes, notificado da acusação,


apresentar a sua defesa nos termos constantes do RAI, contante de fls.
27596 e ss, que aqui se dá por reproduzido.

Com interesse para o enquadramento dos factos imputados ao arguido


Manuel São José Marcos, ressaltam os seguintes factos:

Consta da lista de contactos telefónicos apreendida em 24/06, nas


instalações da empresa SCI, o registo do n.º de telemóvel 969022860
associado ao utilizador “Eng.º Manuel Gomes, Lisnave – Setúbal” (cf. fls. 117
do apenso 24).

Da lista de pessoas a serem presenteadas na época de natal dos anos


2002, 2003, 2004, 2006 e 2007, constam os nomes dos engenheiros Manuel
Gomes e Figueiredo Costa como tendo sido presenteados com ofertas de
elevado valor.

Diz-se na acusação: “de modo a conferir uma aparência de legalidade ao


relacionamento comercial entre a LISNAVE e a “O2”, Manuel Godinho e Hugo
Godinho firmaram um pacto verbal com Manuel Gomes e Figueiredo Costa nos termos
do qual:

- se comprometiam a pagar a sucata metálica recolhida ao preço, por tonelada,


de 189,00€ e as latas metálicas ao preço, por tonelada, de 30,00€;

1044
S. R.

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- como contrapartida, pela remoção e transporte dos resíduos industriais banais


existentes no parque de sucatas, sem custos directos para a LISNAVE, a “O2” podia
proceder ao levantamento de sucata.

Aquilo que aparenta legalidade, logo trataram de a perverter por forma a


concretizarem a subtracção e apropriação de resíduos metálicos como se de resíduos
industriais banais se tratassem, a incorrecta identificação dos resíduos recolhidos, a
adulteração da sua proporção, a pesagem global dos diferentes resíduos recolhidos
ignorando a necessária segregação e a sub-avaliação da sucata recolhida.

Assim, Manuel Godinho e Hugo Godinho consensualizaram com Manuel


Gomes e Figueiredo Costa um manual de procedimentos capaz de lhes possibilitar a
concretização daqueles propósitos assente em cinco premissas essenciais, quais tenham
sido:

A recolha e encaminhamento de resíduos metálicos era precedida de uma


avaliação/negociação directa entre Manuel Gomes e Manuel Godinho e Hugo Godinho,
com o objectivo de, mediante mera observação, determinarem qual a proporção de
resíduos que seriam contabilizados como sucatas ou latas;

A pesagem de cada uma das cargas apenas para obter o peso líquido total,
ignorando a necessária segregação, ainda que fossem compostas por materiais de
diferente natureza e valor;

A omissão dos poderes/deveres de fiscalização que incumbiam a Manuel


Gomes e Figueiredo Costa;

A aposição por Figueiredo Costa, com o conhecimento e o beneplácito de


Manuel Gomes, de elementos relevantes falsos nas guias de acompanhamento de
resíduos, com base nos quais o sector de gestão de ambiente elaborava os relatórios
legalmente exigíveis e que eram enviados às entidades competentes na matéria;

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A sub-avaliação da sucata levantada ancorada nas supostas compensações


supra aludidas.”

Da análise que fizemos dos autos, verificamos que estas imputações


encontram suporte probatório da conjugação dos elementos de prova
constantes de fls. 40 e 41, 180 a 183 e 225 a 227 do Apenso AI – Inquérito
Interno promovido pela Lisnave, inquirição das testemunhas Carlos Fernando
Soares Pinheiro e António Maria da Conceição Soares dos Santos –
conjugados com o teor das intercepções telefónicas, designadamente os
produtos 1295, 1296, 1390, 1393, 1477, 5716, 6013, 6035, 6037, 7040,
10075, 10077, 10093, 10274, 10278, 10318 e 12389 do Alvo 1T167PM, e a
RDE de fls. 2787 a 2809.

Escrutinando:

Verifica-se que no dia 10 de Fevereiro de 2009, Manuel Gomes e


Figueiredo Costa, de comum acordo e em conjugação de esforços, com
Manuel e Hugo Godinho contabilizaram as 179,32 toneladas de resíduos
removidos pela “O2” na proporção de 40% de sucata e 60% de latas, o que
sabiam não corresponder à verdade (igual proporção havia sido o acordo
inicial), causando um prejuízo à LISNAVE no montante de, pelo menos,
2.838,84€, correspondente à diferença entre a quantia de 19.635,54€
(resultante da valoração em idêntica proporção de sucata e latas) e a quantia
de 16.796,70€ (resultante da valoração na proporção de 40% de sucata e 60%
de latas).

Neste dia, pelas 09h17, após ter sido alcançado o supra aludido
consenso quanto à proporção, Hugo Godinho deu a conhecer a Manuel
Godinho que Figueiredo Costa lhe transmitira esperar uma compensação

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S. R.

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monetária pela sua actuação em prol dos interesses de Manuel Godinho e da


“O2”.

Tenha-se em conta as conversações constantes das seguintes


intercepções:

Produto 1295 - Alvo 1T167PM - 10/02/2009, 09:12:19 -


932440038  917649864 – Hugo Godinho  Manuel Godinho
Hugo Godinho diz ao tio que ficou nos 50/50.
Manuel Godinho diz-lhe para ele transmitir ao Eng.º Figueiredo que
tem de ser 40/60, pois esteve lá ontem e viu que aquilo tinha muitos resíduos.
Dá também instruções para o Hugo lhe dizer que, se assim não for, vai ter que
falar com o director.

Produto 1296 - Alvo 1T167PM - 10/02/2009, 09:17:34 -


932440038  917649864 – Hugo Godinho  Manuel Godinho
Hugo Godinho informa que já falou com o engenheiro e que ficou
nos 40/60. Diz também a Manuel Godinho que o engenheiro lhe disse para
ele transmitir ao tio que gosta de chocolates.

Produto 1390 - Alvo - 1T167PM - 11/02/2009, 08:20:32 -


234302420  917649864 – Eng. Manuel Gomes (chamada transferida a
partir do telefone fixo da SCI) Manuel Godinho
Manuel Godinho pede ao Eng. Manuel Gomes para ele ir ter com ele
ao parque para irem ver” aquilo”.

Produto 1393 - Alvo - 1T167PM - 11/02/2009, 08:51:12 -


917649864  932440038 – Manuel Godinho  Hugo Godinho
Manuel Godinho informa o sobrinho que está a sair de Setúbal e que
esteve a ver “aquilo” com o Director.
Dá instruções para recolherem a sucata, amontoarem-na e
cobrirem-na com lixo para depois eles pagarem o encaminhamento do lixo.

Produto 1477 - Alvo - 1T167PM - 11/02/2009, 18:49:06 -


917649864  932440038 – Manuel Godinho  Hugo (sobrinho)
Manuel Godinho diz ao sobrinho que quer que deixem 100 toneladas
de sucata para ser retirada como se de lixo se tratasse.

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S. R.

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Todavia, o JIC não se cingiu à análise e reflexão sobre as intercepções


telefónicas.

Por outro lado, da análise das cópias das guias de venda e dos
respectivos talões de pesagem constantes de fls. 7 a 18 do Apenso AI
fornecidas pela LISNAVE, resulta indiciado o seguinte:

a) no dia 11/02/2009, os tractores com as matrículas 75-EL-50, 89-


CP-47, 89-CP-48, 33-CO-45 e 41-FB-24 da empresa “RIBERLAU”, assim como
o tractor com a matrícula 52-61-XR, este da empresa “Transportes Santa
Teresa, Lda”, efectuaram carregamento de sucata de ferro e de sucata de latas
nas instalações de Setúbal da LISNAVE, que tinha como destinatário a
empresa “O2”;

b) que, nessa data, e conforme o quadro síntese seguinte, foram


carregados materiais de sucata de um e outro tipo, com o peso de total de
179, 32 toneladas;

c) que, e conforme consta dos respectivos talões de pesagem, as


viaturas foram sujeitas a duas pesagens nas instalações da LISNAVE –
P1(determinação da tara) e P2 (determinação do peso bruto);

d) que o peso da carga transportada pelas viaturas foi determinado,


apenas, pela operação de subtracção entre o peso bruto e a tara;

e) que a carga transportada pelas viaturas era composta por dois tipos
de sucata com um valor unitário substancialmente diferente – ferro (€189,00/t)
e latas (€30,00/t);

1048
S. R.

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f) que a determinação da composição da carga não foi efectuada


através de uma pesagem intermédia, como seria possível e normal, por forma
a obter o peso de cada um dos materiais de sucata que a compunha, mas
considerando que apenas 40% da carga seria valorizado como sucata de ferro
e os restantes 60% como latas; e

g) que o apuramento do peso da carga transportada pelas viaturas


com as matrículas 89-CP- 47 e 89-CP-48 foi obtido com base num único talão
de pesagem.

QUADRO RESUMO – Efectuado com base nos elementos constantes


das cópias de guias de venda e talões de pesagem – Fls. 7 a 8, 9 a 10, 11 a
12, 13 a 14, 15 a 16 e 17 a 18 – Apenso AI.

PESO
GUIA DE
TOTAL DA SUCATA VALOR LATAS VALOR
VENDAS+ TALÃO DATA MATRÍCULA
CARGA (€189,00/t) (A) (€30,00/t) (B)
PESAG.
(unid. t.)

fls. 7 a 8 11-02-2009 75-EL-51 32,15 12,8 2 419,20 € 19,29 578,70€

fls. 9 a 10 11-02-2009 52-61-XR 24,12 9,68 1 829,52 € 14,52 435,60€

fls. 11 a 12 11-02-2009 89-CP- 47 28,55 11,42 2 158,38 € 17,13 513,90€

89-CP- 47/ 89-


fls. 13 a 14 11-02-2009 34,55 13,82 2 611,98 € 20,73 621,90€
CP-48

fls. 15 a 16 11-02-2009 33-CO-45 29,85 11,94 2 256,66 € 17,91 537,30€

fls. 17 a 18 11-02-2009 41-FB-24 30,1 12,04 2 275,56 € 18,6 558,00€

TOTAL (40%/60%) 179,32 71,7 13 551,30€ 108,18 3245,40€

TOTAL A+B
16.796,70€
(40%/60%)

QUADRO RESUMO – Efectuado com base nos elementos constantes


das cópias de guias de venda, talões de pesagem e fórmula de determinação

1049
S. R.

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do peso por tipo e valorização de material que inicialmente terá sido proposta
pelo Eng.º Figueiredo Costa e aceite pelo arguido Hugo Godinho – Fls. 7 a 8, 9
a 10, 11 a 12, 13 a 14, 15 a 16 e 17 a 18 – Apenso AI.

PESO
GUIA DE SUCATA VALOR LATAS VALOR
DATA TOTAL DA CARGA
VENDAS+ TALÃO PESAG. (€189,00/t) (C) (€30,00/t) (D)
(unid. t.)

11-02- 3
fls. 7 a 8 2009 32,15 16,075 038,18 € 16,075 482,25 €
11-02- 2
fls. 9 a 10 2009 24,12 12,06 279,34 € 12,06 361,80 €
11-02- 2
fls. 11 a 12 2009 28,55 14,275 697,98 € 14,275 428,25 €
11-02- 3
fls. 13 a 14 2009 34,55 17,275 264,98 € 17,275 518,25 €
11-02- 2
fls. 15 a 16 2009 29,85 14,925 820,83 € 14,925 447,75 €
11-02- 2
fls. 17 a 18 2009 30,1 15,05 844,45 € 15,05 451,50 €

TOTAL 16 2
(50%/50%) 89,66 945,74 € 89,66 689,80 €

TOTAL 19
C+D (50%/50%) 635,54€

DIFERENÇA 2
= (C+D) - (A+B) 838,84€

Da correlação entre o conteúdo das comunicações interceptadas e das


anotações constantes dos talões de pesagem, resulta indiciado que a
proporção de um e outro material que compunham as cargas foi calculado
considerando, em resultado da vontade manifestada pelo arguido Manuel
Godinho, a intermediação do arguido Hugo Godinho e a concordância do Eng.º
Figueiredo Costa, que 60% da carga seria tida como latas e os restantes 40%
como sucata de ferro;

Caso fosse adoptada a fórmula inicialmente acordada entre Hugo


Godinho e Figueiredo Costa, a O2 teria de pagar à LISNAVE pelas 179,32

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S. R.

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toneladas de sucata retirada das instalações desta empresa no dia 11/02/2009,


a quantia de 19 635,54€.

Em resultado da fórmula adoptada, estabelecida pelos arguidos


Manuel Godinho e Hugo Godinho, com a concordância do Eng.º Figueiredo
Costa, a O2 tinha de pagar à LISNAVE pelas 179,32 toneladas de sucata
retirada das instalações desta empresa no dia 11/02/2009, a quantia de 16
796,70€, ou seja, menos 2 838,84€ (dois mil oitocentos e trinta oito euros e
oitenta e quatro cêntimos).

No dia 12 de Fevereiro de 2009, Manuel e Hugo Godinho, de comum


acordo e em conjugação de esforços com Manuel Gomes e Figueiredo Costa
retiraram 183.150 toneladas de resíduos metálicos como se de resíduos
industriais banais se tratassem, no que alcançaram um benefício patrimonial no
montante de, pelo menos, 34.615,35€, causando à LISNAVE um prejuízo
patrimonial, ao menos, de idêntico valor.

No dia 12/02/2009, ao serviço da “O2”, foram utilizadas oito viaturas


para transportar resíduos recolhidos nas instalações da LISNAVE, em
Setúbal;

a) Uma dessas viaturas (52-61-XR = 21 250) pertencia ao


transportador “Transportes Santa Teresa, lda”, empresa também citada na
conversa telefónica. As outras sete (41-FB-23, 75-EL-50, 89-CP-47, 33-CO-45,
75-EL-51, 89-CP-48 e 41-FB-24) encontravam-se ao serviço da RIBERLAU;

b) Com excepção das viaturas com as matrículas 41-FB-23 e 75-EL-50


que, de acordo com as respectivas guias, transportaram sucata de ferro e latas,
todas as outras carregaram sucata que foi integralmente retirada das
instalações como se de lixo se tratasse (89-CP-47 = 33 300kg, 33-CO-45= 33

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S. R.

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150kg , 75-EL-51= 32 200kg, 89-CP-48 = 29 450kg , 41-FB-24 = 33 800kg e


52-61-XR = 21 250kg);

c) Por conseguinte, no dia 12/02/2009, foram carregados em seis


viaturas um total de 183,150t de resíduos metálicos em estado de sucata que
foram retirados das instalações de Setúbal da LISNAVE como se de lixo se
tratasse.

d) A média das cargas foi assim de 30,525t. Ora, de acordo com


responsável pelo sector de logística ambiental da LISNAVE, o valor médio das
cargas de resíduos industriais banais (RIB) situa-se entre as 7/8 toneladas.

e) Assim, no dia 12/06/2009, em resultado do acordo estabelecido


entre Manuel Godinho, Manuel Gomes, Hugo Godinho e Figueiredo Costa,
foram retiradas das instalações da LISNAVE um total de 183,150t de resíduos
metálicos (resíduos valorizáveis) como se tratassem de RIB’S (resíduos não
valorizáveis). Tendo como referência o valor de 189,00€/t convencionado entre
os representantes das duas empresas - (O2 e LISNAVE) o valor total do
material retirado é de 34 615,35€.

Nos dias 06 e 07 de Abril de 2009, Manuel e Hugo Godinho, de


comum acordo e em conjugação de esforços com Manuel Gomes e Figueiredo
Costa retiraram 150 toneladas de sucata e 41,87 toneladas de latas, as quais
foram escrituradas como sendo 76,200 toneladas de sucata de aço e 115,670
toneladas de latas, no que alcançaram um benefício patrimonial no montante
de, pelo menos, 11.729,10€, provocando à LISNAVE um prejuízo patrimonial,
ao menos, de idêntico valor.

Produto 5716 - Alvo - 1T167PM - 03/04/2009 09:02:34 -


932440038  917649864 –Hugo Godinho  Manuel Godinho
Manuel Godinho pede ao Hugo Godinho para ir lá LISNAVE e
para lhe telefonar se compensar ir lá.

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Hugo confirma ao tio que compensa, porque esteve lá a semana


passada e já lá tinham 150 toneladas de sucata e duas ou três de “latas”.
Manuel Godinho diz que, assim sendo, vai lá.

Produto 6013 - Alvo - 1T167PM - 07/04/2009 08:53:07 -


932440038  917649864 –Hugo Godinho  Manuel Godinho
Hugo diz ao tio que o indivíduo que agora está na balança, um
velhote de bigode, está a levantar dificuldades pois faz uma fiscalização dos
camiões rigorosa e diz aos motoristas que o Godinho faz o quer e lhe apetece
do engenheiro.
Hugo diz que nem pode dizer nada ao Figueiredo, referindo-se ao
Eng.º Figueiredo, senão ele amedronta-se.
Hugo diz a Manuel Godinho que deviam aconselhar a tirá-lo de lá
para fora.
Manuel Godinho diz que isso tem que ser tratado pessoalmente com
o director, referindo-se ao Eng.º Manuel Gomes.

Produto 6013, que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se


alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 6013


DATA/HORA: 2009-04-07 inicio 08:53:07
INTERVENIENTES:
• DE – Hugo Godinho
• PARA – Manuel Godinho

HUGO GODINHO – Ah. O gajo daqui, o gajo que está agora lá na balança.
MANUEL GODINHO – Sim.
HUGO GODINHO – Ah. O gajo é um carneiro de primeira.
MANUEL GODINHO – Pois.
HUGO GODINHO – Ah. Começou aí a dar umas bocas.
MANUEL GODINHO – Sim.
HUGO GODINHO – Que agente faz o que quer e apetece e que fazemos do
engenheiro o que queremos e não sei o que mais.
MANUEL GODINHO – Sim.
HUGO GODINHO – Ah, eu não sei, mas um gajo devia aconselhar esse marreta
a tira-lo de lá para fora.
MANUEL GODINHO – Quem é esse gajo?

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S. R.

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HUGO GODINHO – É um velhote de bigode que lá está agora. O gajo sobe aos
camiões, o gajo, o gajo é do piorio mesmo.
MANUEL GODINHO – Ah. Ó pá. Ah, isso tem que ser uma conversa
pessoalmente.
HUGO GODINHO – Pois tem. Pois tem.
MANUEL GODINHO – Com o director.
HUGO GODINHO – É que eu nem posso dizer nada disso ao Figueiredo, senão
ele borra-se todo.
MANUEL GODINHO – Ui, com caralho, isso é pior, isso é pior. Ele mandou as
bocas a quem?
HUGO GODINHO – Mandou as bocas aos motoristas.
MANUEL GODINHO – Ós motoristas!
HUGO GODINHO – Sim, na pesagem.
MANUEL GODINHO – Foda-se.
HUGO GODINHO – E mandou uma boca ao Lino. Ele a mim não diz nada. Ele
vê-me e enfia o focinho no chão, mas é que eu não conheço o gajo de lado
nenhum, nunca vi o gajo.
MANUEL GODINHO – Foda-se. Bem isso é não ligar, não passar confiança
nenhuma ao gajo.
HUGO GODINHO – Exacto e você depois com tempo veja isso.
MANUEL GODINHO – Exactamente é não dar importância nenhuma ao gajo e
pronto. Ah é o xerife.
HUGO GODINHO – Ok.
MANUEL GODINHO – Ok?
HUGO GODINHO – Ok.
MANUEL GODINHO – Pronto já tens aí o cabo para carregar os metais ou não?
HUGO GODINHO – Ainda não, ainda não chegou.
MANUEL GODINHO – Pronto é ver isso. É pá foda-se, eu saí na saída de
Aljustrel e agora já vou a caminho do Cacem, de SanTiago do Cacem.
HUGO GODINHO – Santiago do Cacem!
MANUEL GODINHO – Isso é perto de Vila Nova de Milfontes, não é?
HUGO GODINHO – Sim é Santiago do Cacem, você está ainda um bocado para
trás.
MANUEL GODINHO – Ai é?
HUGO GODINHO – Você de Santiago do Cacem, você está a ir a Santiago do
Cacem, de Santiago do Cacem vem a Sines e de Sines vai por aí a baixo.

1054
S. R.

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MANUEL GODINHO – Não.


HUGO GODINHO – É, é, Santiago.
MANUEL GODINHO – Não é Santiago do Cacem. É Santiago.
HUGO GODINHO – É Santiago do Cacem do Cacem.
MANUEL GODINHO – Não é nada, então já passei Aljustrel, ainda tenho que ir
a Sines. Então já andei mais de 50 Km depois da saída, como é que.
HUGO GODINHO – Você já saiu da auto-estrada?
MANUEL GODINHO – E agora estou a ir na estrada interior a caminho de
Santiago. Exactamente, Cacem, Cacem não tem Santiago.
HUGO GODINHO – Pronto. É Santiago do Cacem, você já esta a andar para
trás.
MANUEL GODINHO – Já?
HUGO GODINHO – Já está a andar para trás, você vai a Santiago e Santiago é
ao lado de Sines.
MANUEL GODINHO – Não, mas eu não vou precisar de ir a Cacem.
HUGO GODINHO – Pois não, mas nessa estrada, você vai ter a Cacem
MANUEL GODINHO – Pronto, vai ter a Cacem, mas deve surgir já um
cruzamento, não é?
HUGO GODINHO – Não, não surge nada, não surge nada, não surge nada. Você
se calhar havia ter ido ali por mimosa, Alvalade. Deixe-me ligar ao Nuno, que
eu vou ver.
MANUEL GODINHO – O Nuno não sabe.
HUGO GODINHO – O Nuno não sabe?
MANUEL GODINHO – Já falei com ele.
HUGO GODINHO – Então eu vou ligar ao tio Gil, vou ligar ao Tio Gil.
MANUEL GODINHO – Ok.
HUGO GODINHO – Eu vou ligar ao Tio Gil.
MANUEL GODINHO – Tá.
HUGO GODINHO – Eu vou ligar ao tio Gil, que o tio Gil conhece bem essa zona
ai.
MANUEL GODINHO – Tá ok.
HUGO GODINHO – tá.

Produto 6035 - Alvo - 1T167PM - 07/04/2009 11:10:14 -


932440038  917649864 – Hugo Godinho  Manuel Godinho

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S. R.

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Hugo informa o tio que a pesagem deu 3 toneladas mais duas.


Lamenta-se novamente que o indivíduo, que se chamará Bravo, mantém um
controlo muito apertado.
A chamada é interrompida.

Produto 6037 - Alvo - 1T167PM - 07/04/2009 11:12:01 -


932440038  917649864 – Hugo Godinho  Manuel Godinho
Hugo diz que vai fazer a pesagem do material.
Manuel Godinho pergunta se o outro indivíduo mantém o controlo.
Hugo confirma e diz que ele sobe aos camiões todos.
Hugo, respondendo ao tio, que ele não estava lá e que o responsável
é o Eng.º Figueiredo com a mania da rotatividade.
Produto 6037 que abaixo se transcreve, na integra, para melhor se
alcançarem os exactos fundamentos do juízo de prognose a final efectuado
pelo JIC/TCIC:

PRODUTO Nº: 6037


DATA/HORA: 2009-04-07 inicio 11:12:01
INTERVENIENTES:
• DE – Hugo Godinho
• PARA – Manuel Godinho

MANUEL GODINHO – Tou sim.


HUGO GODINHO – Isto foi abaixo, pronto eu vou pesar isto, vou pesar isto.
MANUEL GODINHO – Pronto é pesar isso. E gajo está a acompanhar isso?
HUGO GODINHO – Sim. Sim. Não larga. O gajo não descola. É marreta, sobe
aos camiões todos.
MANUEL GODINHO – Que se foda.
HUGO GODINHO – Mas isto não é encomenda, isto é, é o gajo que é
descontrolado mesmo.
MANUEL GODINHO – Ai é?
HUGO GODINHO – É o gajo é descontrolado é marreta.
MANUEL GODINHO – Mas esse gajo não andava aí.
HUGO GODINHO – Pois não, apareceu aqui de para-quedas, o Figueiredo tem
a mania da rotatividade.
MANUEL GODINHO – Ai é.
HUGO GODINHO – É um burro vestido.
MANUEL GODINHO – Ah.

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S. R.

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HUGO GODINHO – Deixe-me meter isto lá fora.


MANUEL GODINHO – Está. Ok.

Concatenados com os elementos constantes de fls. 3 e 5 a 7 do


Apenso AI2, fls. 7 do Apenso 30 e 182 do Apenso AI2, não restam ao JIC
dúvidas sobre a forte indiciação dos atinentes factos.

No dia 7 de Abril de 2009, Hugo Godinho lamenta-se acerca da


fiscalização que um dos trabalhadores da LISNAVE faz aos camiões e às
pesagens, sugerindo a Manuel Godinho que ele fosse afastado. Este comenta
que irá tratar disso pessoalmente com o director.

Na mesma ocasião, Hugo Godinho lastima-se sobre comentários que


alguns dos trabalhadores da empresa tecem acerca dos privilégios e da
protecção de que goza a empresa de Manuel Godinho.

Dias depois, segundo Hugo Godinho, um dos trabalhadores que tecera


comentários foi afastado.

Por aqui se vê a força de influência de Manuel Godinho.

No dia 17 de Abril de 2009, pelas 14h47, Hugo Godinho transmitiu a


Manuel Godinho que Manuel Gomes lhe havia manifestado o desejo de com
ele se encontrar em Setúbal, a fim de lhe ser entregue a compensação
monetária com a qual se havia comprometido a 11 de Fevereiro.

Produto 7040 - Alvo 1T167PM - 17/04/2009 14:47:32 -


932440038  917649864 – Hugo Godinho  Manuel Godinho
Hugo Godinho diz ao tio que está na Portucel de Setúbal e que
vai dar um salto á LISNAVE. Adianta que já esteve de manhã com patrão,
presume-se que se refira ao Eng.º Manuel Gomes.
Hugo enumera a quantidade de resíduos que já retiraram e que
prevê que venham a retirar nos próximos dias. Refere que o Calado, por ter

1057
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

feito alguns comentários, vai ser retirado de lá e mandado para a


subestação de Fanhões, para ele não estar presente.
Manuel Godinho pergunta pelo cobre que terão lá na LISNAVE.
Hugo esclarece que “ele” lhe disse que não tinha, mas que andava lá
muita gente.
Manuel Godinho pergunta qual foi então o motivo pelo qual ele
chamou lá o Hugo. Este reponde que foi por causa de um contentor de
cabo eléctrico que havia mandado há quinze dias atrás e por causa dos
resíduos de construção. Hugo termina dizendo que o tio sabe perfeitamente
o que é que o outro quer.

No dia 23 de Maio de 2009, pelas 15h38, Manuel Godinho


contactou Maribel Rodrigues dizendo-lhe necessitar de 10.000,00€ para
segunda-feira, os quais lhe deveria entregar no Domingo – Produto 10207
do Alvo 17167PM.

No dia 24 de Maio de 2009, cerca das 09h00, em Estarreja,


Maribel Rodrigues entregou a Manuel Godinho os 10.000,00€ que este lhe
havia pedido - Produto 10224 do Alvo 17167PM.

Indiciam assim, os autos que, no dia 25 de Maio de 2009, cerca


das 12h20, em Setúbal, Manuel Godinho entregou a Manuel Gomes os
10.000,00€ com os quais se havia comprometido a 11 de Fevereiro.

Produto 10075 - Alvo 1T167PM - 22/05/2009 11:54:09 -


932440038  917649864 – Hugo Godinho  Manuel Godinho
Hugo Godinho pergunta ao tio se ele já falou com o director.
Ouve-se Manuel Godinho a pedir para lhe fazerem uma chamada
para o Eng.º Manuel Gomes.

Produto 10077 - Alvo 1T167PM - 22/05/2009 11:58:09 -


969022860
 917649864 – Eng.º Manuel Gomes (LISNAVE)  Manuel
Godinho
Eng.º Manuel Gomes diz a Manuel Godinho que lhe ligaram do
escritório dele.

1058
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Godinho diz que na segunda-feira de manhã iria lá, porque


também queria começar a carregar a sucata que ele tem lá.

Produto 10093 - Alvo 1T167PM - 22/05/2009 13:58:07 -


932440038  917649864 – Hugo Godinho  Manuel Godinho
Hugo Godinho pergunta ao tio se ele já falou com o director.
Manuel Godinho diz que sim, que marcou para segunda-feira.
Hugo pergunta se não seria melhor dizer alguma coisa ao
Figueiredo (Eng.º Figueiredo).
Manuel Godinho diz para ele lhe dizer que segunda-feira ele e o
Hugo irão lá.
Hugo diz que não pode e refere que lhe vai telefonar e dizer-lhe que
é para fazer as coisas na linha do anterior: 60/40.

Produto 10274 - Alvo 1T167PM - 25/05/2009 08:37:00 -


917649864  932377103 – Manuel Godinho  Maribel Rodrigues
Manuel Godinho dá instruções a Maribel para ela mandar telefonar
ao Eng.º Manuel Gomes e para lhe transferirem a chamada.

Produto 10278 - Alvo 1T167PM - 25/05/2009 08:38:34 -


234302420  917649864 – Eng.º Manuel Gomes (LISNAVE)  Manuel
Godinho
Bruno diz que tem em linha o Eng.º Manuel Gomes.
Manuel Godinho diz que tem uma reunião às 10h00 na EDP e só
poderá encontrar-se com ele por volta das 11h0/11h30.
Manuel Gomes pede-lhe para ele lhe ligar quando estiver a chegar.

Produto 10318 - Alvo 1T167PM - 25/05/2009 11:59:14 -


234302420  917649864 – Eng.º Manuel Gomes (LISNAVE)  Manuel
Godinho
Bruno diz que tem em linha o Eng.º Manuel Gomes.
Manuel Godinho diz que está a sair o edifício da EDP e pede a
Manuel Gomes para se encontrar com ele ao 12h30 “naquelas” bombas, para
tomarem um café e conversarem um bocadinho.

Indiciam ademais os autos que no dia 25/05/2009, foi efectuada a


diligência relatada no RDE de fls. 2787 a 2809, em Setúbal, pelas 12h20, na
Av. D. Pedro Álvares Cabral é detectado o BMW 730 D, com a matrícula 49-
GT-13, com Manuel Godinho e José Valentim.

1059
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Junto às Bombas da GALP, na Av. Infante D. Henrique, José Valentim


sai do BMW.

Manuel Godinho estacionou num largo junto às bombas da GALP. Do


interior do Peugeot 407, com a matrícula 21-AT-51, saiu um indivíduo que
entra no BMW.

Cinco minutos depois, este abandonou o BMW e dirigiu-se à entrada


das instalações da LISNAVE, onde chegou pelas 12h50.

O JIC prolator tem em devida conta que, de acordo com os elementos


de fls. 230 a 231 do Apenso AI , a viatura Peugeot 407, com a matrícula 21-
AT-51, foi atribuída ao Sr. Eng. Manuel Gomes.

Resumindo a nossa análise, entende-se que com base na análise dos


referidos elementos probatórios, ficamos convencidos dos indícios da prática
por parte do arguido Manuel São José Gomes dos factos que lhe são
imputados na acusação e que o mesmo deve ser pronunciado.

Destarte, deverá o arguido Manuel Gomes ser pronunciado nos


precisos termos da acusação, por se mostrarem verificados indícios que,
neste tocante, inculcam um juízo de prognose, conducente à
consideração de que é mais forte a probabilidade da sua condenação do
que a exoneração da sua responsabilidade.

*******

1060
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Veio o arguido André Barbosa Oliveira, notificado da acusação,


apresentar a sua defesa nos termos constantes do RAI, contante de fls.
28857 e ss, que aqui se dá por reproduzido.

Os factos imputados ao arguido André Oliveira, constam dos seguintes


artigos da acusação:
Artº 92º;
Artº 93º (Produtos 721, 16238, 16253, 16264, 16708, 19865, 16590
MG)
Artº 1882º
Artº1883º
Artº1884º
Artº1885º
Artº 1886º (Produtos 16238, 721, 19865, 16708 MG)
Artº 1887º (16253, 16264, 16590 MG; 3941, 3943, 3945 JG)
Artº1889º

Argumenta o arguido André Oliveira:


“Mesmo que se inferisse do teor das escutas relevância criminal, no que a
actuação do arguido diz respeito, o que só por mera hipótese de raciocínio
condescendemos, temos que ter em consideração, na sistematização do Código de
Processo Penal, que as escutas telefónicas configuram apenas meios de obtenção da
prova (vide Título III do Código Penal, por contraponto ao Título II - este sim relativo
aos meios de prova).
E estando, in casu, desacompanhadas de meios de prova que confirmem o seu
teor, por não terem sido elencados pelo Ministério Público na acusação, não podem as
aludidas escutas telefónicas, nesta circunstâncias, servir para sustentar a acusação
contra o arguido.”(sic).

1061
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

As intercepções telefónicas são, efectivamente, meios de obtenção de


prova.

Todavia, uma vez materializadas, o seu resultado constitui um meio de


prova, que é legalmente admitido em processo penal.

Tal decorre do teor literal da sua natureza – permitem obter prova.

E qual prova?

Desde logo e indubitavelmente, a decorrente da sua efectivação.

O conteúdo da intercepção de uma comunicação assume-se como o


meio de prova obtido a partir da realização daquele meio de obtenção de
prova.

Diz o arguido André Oliveira que o depoimento do arguido Namércio


Cunha não pode servir de modo algum para indiciar suficientemente a prática
pelo arguido do crime pelo qual vem acusado - "Em relação ao Arguido André
Oliveira, apenas veio a saber, posteriormente, que era casado com uma funcionária de
nome Isabel. Foi o Sr. Godinho que lhe falou da Isabel, deu-lhe o curriculum para este
lhe arranjar trabalho na empresa.
Perante a insistência do Sr. Godinho, que inclusivamente lhe chegou a dizer
que “ela tinha que entrar", colocou-a como administrativa.
Mais tarde em conversas de corredor percebeu que era mulher de um polícia,
e que era essa a razão pela qual se encontrava a trabalhar para o Sr. Godinho." (fim
cit.).

E tudo indica que nesta parte assiste razão ao arguido.

1062
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Sucede, contudo, que o teor daquele depoimento encontra


coincidência e respaldo directo no teor do produto 721 do Alvo 1T167PM –
“Ela pede ... ouve ... ela pedindo nem que seja dias de férias, nem que seja ia a meio da
tarde ... (imperceptível) ela pensa ... ela está lá ... está lá por favor, não é? Mas pensa
que ... enfim. Ele está muito preocupado é se eu vou desempregar alguém.
Hã ... o marido?
Pois.
Sabe se desempregares pode a esposa ir, não é?
Pois. Já me perguntou para aí uma dúzia de vezes.”

Nesta comunicação desvenda-se o mercadejar do cargo e das funções


em discurso directo do próprio corruptor activo.

Manuel Godinho desvenda a peita e o propósito do seu oferecimento.


Tenha-se ainda em conta a seguinte conversação:

PRODUTO Nº: 721


DATA/HORA: 04/02/2009; 09h03m05s
INTERVENIENTES:
• DE – Maribel Rodrigues
• PARA – Manuel Godinho

MARIBEL RODRIGUES – Sim.


MANUEL GODINHO – Sim. Diz.
MARIBEL RODRIGUES – Estás…estás aonde?
MANUEL GODINHO – Tou no parque.
MARIBEL RODRIGUES – Hã?
MANUEL GODINHO – Tou no parque.
MARIBEL RODRIGUES – Ah já estás ai?
MANUEL GODINHO – Tou.
MARIBEL RODRIGUES – Ok. Eu estou a sair agora do colégio.
MANUEL GODINHO – Tá bem atão.
MARIBEL RODRIGUES – Tás no…

1063
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Dá-te jeito ser agora?


MARIBEL RODRIGUES – Hã?
MANUEL GODINHO – Dá-te jeito ser agora?
MARIBEL RODRIGUES – É assim: eu lá só deixei o Afonso. Eu pesei-o em bruto. Eu
disse ao Bruno para o sariar(?). Agora ou ele…
MANUEL GODINHO – Não há crise.
MARIBEL RODRIGUES – Ou ele espera para receber ou então (…) outra carga.
MANUEL GODINHO – Pronto…e ele…ele pode sariar o outro carro, pegar o outro
carro e ópois quando tu chegares alteras.
MARIBEL RODRIGUES – Não, da Portucel?
MANUEL GODINHO – Sim.
MARIBEL RODRIGUES – O da Portucel eu pesei-o em bruto, está o problema
resolvido. Ele agora para ir sai. Eu enquanto vou e venho
MANUEL GODINHO – Mas se chegar…se chegar algum…
MARIBEL RODRIGUES – Mas não deve chegar.
MANUEL GODINHO – Tudo bem. Tás a ver? Ok?
MARIBEL RODRIGUES – Aqui o marido da Isabel deu-me agora aqui no colégio…
MANUEL GODINHO – Sim?
MARIBEL RODRIGUES – … e disse-me para te dizer que no Sábado o João também
vai. Não sei quem é mas ele disse que tu já sabias.
MANUEL GODINHO – Oh. Ele é um palhaço do caralho.
MARIBEL RODRIGUES – Prontos. Ele disse: “Olhe, diga ao senhor Godinho que no
Sábado o João também vai. Ele já sabe o que é”. Prontos.
(imperceptível)
MANUEL GODINHO – Julga que eu tenho por aí a vida dele. É não ligar.
MARIBEL RODRIGUES – Não, eu só te estou a transmitir o que ele me disse que é
para depois…
MANUEL GODINHO – Ele julga por aí que tenho…
MARIBEL RODRIGUES – Porra…apanhei agora um banho a entrar para o carro. Fogo.
MANUEL GODINHO – Ele pensa que eu tenho a vida dele.
MARIBEL RODRIGUES – É, mas segundo a mulher ele está muito doentinho. Está
muito mal.
MANUEL GODINHO – Quem?
MARIBEL RODRIGUES DRIGUES – O marido da Isabel.
MANUEL GODINHO – Porquê?

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MARIBEL RODRIGUES – Atão a Isabel ontem saiu às seis e meia da tarde e se havia
algum problema em ele sair às seis e meia. Eu disse: “Não, não há problema nenhum, poder
ir”. “Ah, é que o meu marido tá tão doente, está cheiinho de febre, está com um obcesso na
cara. Agora quando sair daqui vou ter que ir à farmácia aviar-lhe a receita e buscar o comer
que ele diz que não está em modo de fazer o comer…e ainda tenho que ir a casa de um colega
dele buscar um processo que ele tem amanhã em Tribunal e…olha é assim a minha vida”.
MANUEL GODINHO – Ó pá…mete…mete…mete fastio… faz fastio falar com essa
gente, digo-te já.
MARIBEL RODRIGUES – É que ela fala de uma maneira que até parece que o marido
está a morrer.
MANUEL GODINHO – Ah. E que o marido seja uma pessoa muito importante. É
um…é um lateiro, é um GNR.
MARIBEL RODRIGUES – Tu lhe acontece. É uma gastroenterite ou não sei que raio é
que ele disse. É um obcesso…é um obcesso num dente, é sempre cheio de febre. Poça.
MANUEL GODINHO – É, é, é. É não ligar a isso.
MARIBEL RODRIGUES – Não, eu não ligo. Ela pediu-me meia hora e eu disse: “Vai
embora”.
MANUEL GODINHO – Ela pede…ouve…ela pedindo nem que seja dias de férias, nem
que seja ia a meio da tarde… (imperceptível) ela pensa…ela está lá…está lá por favor, não é?
Mas pensa que…enfim. Ele está muito preocupado é se eu vou desempregar alguém.
MARIBEL RODRIGUES – Hã…o marido?
MANUEL GODINHO – Pois.
MARIBEL RODRIGUES – Sabe se desempregares pode a esposa ir, não é?
MANUEL GODINHO – Pois. Já me perguntou para aí uma dúzia de vezes.
MARIBEL RODRIGUES – Ok.
MANUEL GODINHO – Enfim. Olha…quando puderes pede-me dez mil euros
MARIBEL RODRIGUES – Tá. Prá amanhã?
MANUEL GODINHO – Pó caixa.
MARIBEL RODRIGUES – Tá bem.
MANUEL GODINHO – Ok?
MARIBEL RODRIGUES – Até já.
MANUEL GODINHO – Até já.

Acresce que os produtos 721, 16238, 16253, 16264, 16590, 16708 e


19865 do Alvo 1T167PM e 3941, 3943, 3945 do Alvo 38249PM conjugados
entre si permitem afiançar as imputações e o vertido na acusação.

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S. R.

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Aliás, a própria circunstancia do arguido André Oliveira dispor do


número de telefone do arguido Manuel Godinho e o contactar possibilita
descortinar o seu engajamento.
Nada no plano das relações pessoais o justifica.

Não existe, nem sequer foi alegado qualquer relacionamento pessoal


ou de amizade entre o arguido Manuel Godinho e o arguido André Oliveira.

Mas, para elucidarmos devidamente o exposto, convoquemos o teor


de outros produtos:

Produto 16238 do Alvo 1T167PM – 27 de Julho, pelas 18h28 – André


Oliveira para Manuel Godinho:
“(…)Não não. Tou, Tou de serviço que a gente anda aqui de volta de um
serviço e está-nos a ocupar noites e dias. Olhe, mas eu precisava de falar consigo, mas
olhe, faço assim, eu vou eu vou à Maribel e vou-lhe lá deixar uma indicação para lhe
dar a si, tá bem? (…)”
“É, e depois, na quarta-feira, então falava consigo
Mas é favorável ou ...
É favorável, favorável, sempre favorável.”
“Não sabia. Olhe Sr. Godinho, faça um favor, então na quarta-feira dê-me um
toquezinho para falar consigo, tá bem?
Tá bem. Deixa lá as indicações à Maribel
Tá bem tá bem, Sr. Godinho, eu amanhã de manhã passo lá e falo com ela, tá
bem?”.

PRODUTO Nº: 16238


DATA/HORA: 27/07/2009 18:28:04
INTERVENIENTES:
• DE – Oliveira
• PARA – Manuel Godinho

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MANUEL GODINHO – Tou


OLIVEIRA – Sim sr Godinho. É o Oliveira
MANUEL GODINHO – Tou
OLIVEIRA – Sim, sim, Sr. Godinho
MANUEL GODINHO – Olá Oliveira
OLIVEIRA – Está tudo bem consigo?
MANUEL GODINHO – Tá Tudo
OLIVEIRA – Não está cá por Aveiro, pois não
MANUEL GODINHO – Não pá
OLIVEIRA – Olhe, diga-me uma coisa. Amanhã, está cá por Aveiro?
MANUEL GODINHO – Amanhã também não pá, também não. Onde
é que estás hoje à noite?
OLIVEIRA – Hoje à noite eu estou aqui em Aveiro. Tou aqui em
Aveiro
MANUEL GODINHO – Mas estás em serviço?
OLIVEIRA – Não não. Tou, Tou de serviço que a gente anda aqui de
volta de um serviço e está-nos a ocupar noites e dias. Olhe, mas eu precisava
de falar consigo, mas olhe, faço assim, eu vou eu vou à Maribel e vou-lhe lá
deixar uma indicação para lhe dar a si, tá bem?
MANUEL GODINHO – Tá bem, ok.
OLIVEIRA – Tá bem e depois, na quarta-feira, você tá por aqui?
MANUEL GODINHO – Na quarta-feira eu tou. Há muito movimento
é?
OLIVEIRA – É, e depois, na quarta-feira, então falava consigo
MANUEL GODINHO – Mas é favorável ou …
OLIVEIRA – É favorável, favorável, sempre favorável.
MANUEL GODINHO – Olha uma coisa
OLIVEIRA – Diga
MANUEL GODINHO – A sogra do teu chefe faleceu ontem.
OLIVEIRA – Ai foi!
MANUEL GODINHO – Foi
OLIVEIRA – Não sabia, não sabia porque
MANUEL GODINHO – Ontem andava a jogar a bola, o funeral foi
ontem.

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OLIVEIRA – Ah. Nós, nós não temos parado nem lá dentro do serviço
temos parado, isto tem sido noite e dia, de volta de um grupo que está aí a
actuar de todas as formas, que nem notícias de lá de dentro temos, e não
sabia, por acaso não sabia, não, mas é bom saber, porque assim a gente tem
que dar os pêsames
MANUEL GODINHO – Pois, foi ontem, foi ontem
OLIVEIRA – Não sabia. Olhe Sr. Godinho, faça um favor, então na
quarta-feira dê-me um toquezinho para falar consigo, tá bem?
MANUEL GODINHO – Tá bem. Deixa lá as indicações à Maribel
OLIVEIRA – Tá bem tá bem, Sr. Godinho, eu amanhã de manhã passo
lá e falo com ela, tá bem?
MANUEL GODINHO – Tá bem
OLIVEIRA – Tá bem, até amanhã.

Esta conversa de 27 de Julho de 2009 permite perceber o nível de


envolvimento do arguido André Oliveira com Manuel Godinho.

Todavia, aduz o arguido André Oliveira que apenas estava em causa a


entrega de uma baixa médica da sua esposa.

E para tanto, chama à colação o Produto 16253 do Alvo 1T167PM –


27 de Julho, pelas 18h49:
“Entretanto ... entretanto o marido da Isabel perguntou até que horas é que eu
estava aqui.
O marido da Isabel, para vir trazer a baixa
O quem?
O marido da Isabel, para vir trazer a baixa
O quê?
Entretanto, telefonou o marido da Isabel a perguntar até que horas eu estava
aqui, para vir trazer a baixa da esposa.
Não é nada, pois, diz-lhe a ele que eu por volta das nove horas que ligo
Está bem, ok
E ele vai passar aí, é?

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Era, era, perguntou-me até que horas é que estava para deixar então a baixa
Tá bem, ... eu estou a chegar
Tá bem, ok

PRODUTO Nº: 16253


DATA/HORA: 27/07/2009 18:49:01
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – Maribel

MARIBEL – Tou
MANUEL GODINHO – Tou
MARIBEL – Sim
MANUEL GODINHO – Estou a chegar a casa.
MARIBEL – Vais para casa é?
MANUEL GODINHO – Vou para casa. … Dizes aí ao nosso amigo, que
me telefonou, que eu por volta das nove horas, sou capaz de lhe ligar
MARIBEL – É capaz de lhe ligar
MANUEL GODINHO – Sim, que passo aí
MARIBEL – Tá bem
MANUEL GODINHO – Chegou mais algum camião?
MARIBEL – Não, não chegou mais nada. Veio o Brás, com umas
máquinas da IMA, que foram descarregadas para pôr dentro do armazém com
jeito, e camiões novos, não veio mais nada.
MANUEL GODINHO – Está tudo lá para cima ainda
MARIBEL – Chegou só o Miguel
MANUEL GODINHO – Ok
MARIBEL – Pronto. Entretanto … entretanto o marido da Isabel
perguntou até que horas é que eu estava aqui
MANUEL GODINHO – O quem?
MARIBEL – O marido da Isabel, para vir trazer a baixa
MANUEL GODINHO – O quê?
MARIBEL – Entretanto, telefonou o marido da Isabel a perguntar até
que horas eu estava aqui, para vir trazer a baixa da esposa
MANUEL GODINHO – Não é nada, pois, diz-lhe a ele que eu por volta
das nove horas que ligo

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MARIBEL – Está bem, ok


MANUEL GODINHO – E ele vai passar aí, é?
MARIBEL – Era, era, perguntou-me até que horas é que estava para
deixar então a baixa
MANUEL GODINHO – Tá bem, … eu estou a chegar
MARIBEL – Tá bem, ok
MANUEL GODINHO – Tá bem. A miúda?
MARIBEL – Está ali, na sala do lado
MANUEL GODINHO – Ela que me ligue.
MARIBEL – Eu vou ver então.

Não duvidamos que o arguido André Oliveira, também, possa ter


entregue uma baixa médica da sua esposa, mas a “indicação” referida na
conversa com Manuel Godinho não se confunde com baixa médica.

Nem se compreende que se tratasse de uma simples baixa médica, o


arguido utilizasse um código para a ela se referir.

Nem se compreende que, em toda a conversa que entabulou com


Manuel Godinho, nem uma referência tenha havido à baixa médica.

Nem se compreende a necessidade que o arguido André Oliveira


expressa em falar com Manuel Godinho, nem a pergunta que este lhe lança
sobre se é favorável se se tratasse da entrega de uma baixa médica.

De outro passo, estando em causa a entrega de uma baixa médica


não se alcança qualquer sentido na insistente afirmação de Manuel Godinho
que por volta das nove horas lhe ligava.

Mas, se dúvidas ainda persistissem quanto ao propósito subjacente ao


contacto estabelecido por André Oliveira com Manuel Godinho, o produto

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S. R.

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16264 do Alvo 1T167PM – 27 de Julho, pelas 18h57 – em que são


intervenientes Manuel Godinho e Maribel, dissipá-las-ia por completo:
“Tou.
Não lhe digas nada do telefonema das nove
horas. Ouve aquilo que ele diz
Sim, e depois amanhã
E depois ligas para o telemóvel da minha esposa
Tá bem
- Não lhe digas nada das nove horas
- Tá bem, tá bem
- Até já.”

PRODUTO Nº: 16264


DATA/HORA: 27/07/2009 18:57:55
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – Maribel

MARIBEL – Tou
MANUEL GODINHO – Não lhe digas nada do telefonema
das nove horas. Ouve aquilo que ele diz
MARIBEL – Sim, e depois amanhã
MANUEL GODINHO – E depois ligas para o telemóvel da
minha esposa
MARIBEL – Tá bem
MANUEL GODINHO – Não lhe digas nada das nove horas
MARIBEL – Tá bem, tá bem
MANUEL GODINHO – Até já.

Esta comunicação é, particularmente, impressiva, na medida em que,


para além de possibilitar perceber o sentido, a natureza e o alcance da relação
entre o arguido Manuel Godinho e o arguido André Oliveira, esclarece
indiciariamente o objectivo ilícito que presidiu ao contacto.

1071
S. R.

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Acaso se tratasse de uma informação lícita ou inócua, certamente, que


Manuel Godinho não se rodearia de tamanhos cuidados.

Então se fosse para a entrega de uma mera baixa médica…

Alega o arguido que o segmento do produto supra transcrito no qual


Manuel Godinho o questiona " Mas é favorável ou ... " ao qual este responde "É
favorável, favorável, sempre favorável." não se refere senão a um caso que
andava a ser investigado pela Guarda Nacional Republicana, relativo a furto de
cofres do qual haviam sido alvo várias empresas; especificamente, o arguido
havia interpelado Manuel Godinho da hipótese de este ter conhecimento, no
âmbito do seu círculo profissional, de sucateiros ou profissionais do ramo que
pudessem estar a receptar cofres furtados, alvos do processo de investigação
que estava a ser levado a cabo, uma vez que estes estariam a aparecer na
zona de Ovar, tendo Manuel Godinho realmente prestado essa informação, que
viria de facto a confirmar-se;

Não se alcança da conversa qualquer sentido, aproximado que seja,


com a versão trazida pelo arguido.

Na verdade, que sentido faria Manuel Godinho perguntar-lhe se aquilo


que o arguido André Oliveira tinha para falar consigo era favorável se o pano
de fundo da conversa fosse uma investigação relacionada com furto de cofres
dos quais Manuel Godinho ou as suas empresas não tinham sido alvo?

Que sentido faria Manuel Godinho ter por favorável a confirmação da


informação que havia transmitido.

Sentir-se-ia um “informador” respeitável?

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S. R.

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Mas, pior – sempre favorável!

Ao invés, sempre favorável remete-nos para uma ideia de continuidade


na prestação de informações benéficas para os interesses de Manuel Godinho.

No que se reporta ao produto 16708, de 31 de Julho de 2009, pelas


18h04, temos por boa a versão do acontecido enunciado pelo arguido no seu
RAI:

“(…) em concreto na parte em que o arguido pergunta a Manuel Godinho"


Olhe, a Maribel deu-lhe o recado do que eu lhe disse? Deu?" acrescentando "Olhe,
vocês não mantenham nada dentro disso" diz respeito única e exclusivamente à já
supra mencionada investigação do furto de cofres que se fazia sentir, tendo o arguido
alertado Manuel Godinho para não guardar dinheiro, objectos valiosos e outros
valores dentro dos cofres das empresas, precisamente evitando um prejuízo muito mais
elevado caso fossem alvo da mencionada" onda" de furtos (…).”

Contudo, ignora o arguido o trecho subsequente da conversa, no qual


se surpreende, uma vez mais, a prestação de outras informações ilícitas:

“Olhe, a Maribel deu-lhe o recado do que eu lhe disse? Deu?


-Sim, sim
ANDRÉ OLIVEIRA - Olhe, vocês não mantenham nada dentro disso
- Tá bem, ok
ANDRÉ OLIVEIRA - Tá bem? Não mantenham porque a gente ainda
está em cima dos indivíduos e não é de arriscar, tá bem? Para já não é de
arriscar, tá bem?
- Tá
ANDRÉ OLIVEIRA - Eu depois na próxima semana vou falar consigo

1073
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

acerca do resto, tá bom?


- Tá bem, tá bem.”

PRODUTO Nº: 16708


DATA/HORA: 2009-07-31 18:04:31
INTERVENIENTES:
• DE – André Oliveira
• PARA – Manuel Godinho

MANUEL GODINHO – Tou?


ANDRÉ OLIVEIRA – Tou tou, senhor Godinho
MANUEL GODINHO – Sim, como está?
ANDRÉ OLIVEIRA – É o Oliveira
MANUEL GODINHO – Diz Oliveira
ANDRÉ OLIVEIRA – Olhe, eu não tive hipótese de ir aí. Ligaram de
tarde mas eu não tive hipótese que eu estava de viagem. Vim aqui à terra ver
como estava o miúdo e a Isabel
MANUEL GODINHO – Ah, tá bem
ANDRÉ OLIVEIRA – Vim ver como é que eles estavam
MANUEL GODINHO – Tá tudo a correr bem?
ANDRÉ OLIVEIRA – Tá, ele já está melhor, só que está ainda com
diarreia e febres, mas do resto está a recuperar, graças a deus
MANUEL GODINHO – Ok
ANDRÉ OLIVEIRA – Olhe, a Maribel deu-lhe o recado do que eu lhe
disse? Deu?
MANUEL GODINHO – Sim, sim
ANDRÉ OLIVEIRA – Olhe, vocês não mantenham nada dentro disso
MANUEL GODINHO – Tá bem, ok
ANDRÉ OLIVEIRA – Tá bem? Não mantenham porque a gente ainda
está em cima dos indivíduos e não é de arriscar, tá bem? Para já não é de
arriscar, tá bem?
MANUEL GODINHO – Tá
ANDRÉ OLIVEIRA – Eu depois na próxima semana vou falar consigo
acerca do resto, tá bom?
MANUEL GODINHO – Tá bem, tá bem
ANDRÉ OLIVEIRA – Tá, um abraço

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

MANUEL GODINHO – Um abraço


ANDRÉ OLIVEIRA – Um abraço, bom fim-de-semana.

Por outro lado, não se percebe como pode a conversa de 27 de Julho


ter versado a investigação do furto de cofres e nela o arguido André Oliveira
não ter alertado o arguido Manuel Godinho como o fez 4 dias depois.

Também, não se percebe o sentido emprestado ao segmento


“favorável” apresentado pelo arguido quando 4 dias depois manifesta
preocupações que antes havia ignorado.

Então, é favorável e a situação agrava-se quatro dias depois.

De outro passo, nos produtos acima citados mostra-se, evidente, a


preocupação de ambos os arguidos com a segurança dos seus contactos –
privilegiam os contactos pessoais e a utilização de postos telefónicos de
terceiros.

Se os contactos versassem matérias lícitas (tão singelas quanto


questões laborais da esposa do arguido André Oliveira) dispensar-se-iam todas
estas cautelas.

Por fim, o produto 19865 do Alvo 1T167PM, de 09 de Setembro de


2009, pelas 18h41, revela a vinculação de André Oliveira aos interesses de
Manuel Godinho.

Questiona o arguido se seria a ele que Maribel se referia.

O arguido tem que optar – não pode servir-se da expressão “Esse gajo é
um palhaço do carago” utilizada por Manuel Godinho para se defender (como o

1075
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

fez nas conclusões do debate instrutório) e colocar em causa a identidade do


indivíduo a que Maribel aludia.

É que uma e outra pessoa, são a mesma. Disso não restam quaisquer
dúvidas.

Argumenta o arguido que não podia ter dado as informações porque


nos dias referidos na acusação se achava em serviço.

Acontece que, para além de não obstar à prestação de informações,


até robustece a possibilidade de o fazer.

Se estivesse em casa ou longe do serviço, então sim ser-lhe-ia mais


difícil aceder à informação para a transmitir a Manuel Godinho.

Atente-se na seguinte conversação:

Dados do Produto
Número de produto
19865
do alvo
Alvo 1T167PM

ID de Intercepção 351917649864
351234302420 (Maribel –
A chamar
SCI)
Hora inicial 09/09/2009 18:41:24
351917649864 (Manuel
Destinatário
Godinho)

MANUEL GODINHO – Tou?


MARIBEL – Sim. Eu vou passar. Tive aqui um imprevisto.
MANUEL GODINHO – Tá.
MARIBEL – Até já.
MANUEL GODINHO – Qual foi o imprevisto?

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

MARIBEL – Foi o marido da Isabel que entrou.


MANUEL GODINHO – Ah, ok.
MARIBEL – Até já.
MANUEL GODINHO – Até já.
Jessica – Tou?
MANUEL GODINHO – Si. Buenas tardes.
Jessica – Oi.
MANUEL GODINHO – É a menina Jessica?
Jessica – Sim.
MANUEL GODINHO – Daqui é Godinho.
Jessica – Ió (sonoro)
MANUEL GODINHO – Ok.
Jessica – Yes
MANUEL GODINHO – Tá tudo bem ou quê?
Jessica – Ió (sonoro)
MANUEL GODINHO – Tá tudo bem ou quê?
Jessica – Yes
MANUEL GODINHO – Fala português chata. Eu já estou a falar
português.
Jessica – Tou. Mas eu não.
MANUEL GODINHO – Está bem então. Tá tudo bem contigo?
Jessica – Yes
MANUEL GODINHO – Pronto. Olha, estou satisfeito por saber que
vais passar o fim-de-semana no hotel.
Jessica – Está bem.
MANUEL GODINHO – Ok?
Jessica – Tá.
MANUEL GODINHO – Beijinho então.
Jessica – Beijinho.
MANUEL GODINHO – Ciao
Jessica – Ciao. Queres que eu passe à minha mãe?
MANUEL GODINHO – Sim, sim.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Jessica – Sim, sim, sim, sim. Então eu vou passar. Espera só um


minuto.
MANUEL GODINHO – Está bem. Olha (*) já estou a montar aqui os
carrinhos.
(pausa)
MARIBEL – Tou?
MANUEL GODINHO – Sim.
MARIBEL – Sim.
MANUEL GODINHO – Pronto. Está tudo.
MARIBEL – Ah, tá bem então.
MANUEL GODINHO – (*)
MARIBEL – Ok
MANUEL GODINHO – O que é que o senhor queria?
MARIBEL – É por causa dos que estiveram cá de manhã.
MANUEL GODINHO – É lenga lenga, não é?
MARIBEL – Ó.
MANUEL GODINHO – Esse gajo é um palhaço do carago. Corta-lhe a
confiança e manda-o a bardamerda
MARIBEL – Só diz para ter cuidado porque já é a segunda e na
terceira vem uma fiscalização ao local.
MANUEL GODINHO – À nossa…
MARIBEL – Mas depois que ele avisa quando ela vier.
MANUEL GODINHO – Ao nosso local é?
MARIBEL – Sim
MANUEL GODINHO – Ai do ambiente?
MARIBEL – Sim, sim.
MANUEL GODINHO – Ah, ok.
MARIBEL – Pronto.
MANUEL GODINHO – Tá. Até já.
MARIBEL – Até já.
(*) Imperceptível

Aliás, o produto 16238 do Alvo 1T167PM revela que o arguido podia


contactar e contactava Manuel Godinho quando em servico – ““(…)Não não.

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S. R.

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Tou, Tou de serviço que a gente anda aqui de volta de um serviço e está-nos a ocupar
noites e dias (…).”

De outro passo, resulta dos produtos supra transcritos que as


informações relativas aos dias foram prestadas pelo arguido André Oliveira em
momento anterior à sua verificação.

Do produto 19865 decorre que a informação prestada pelo arguido


André Oliveira aconteceu às 18h41, o que se mostra congruente com a hora
que refere ter saído de serviço.

Aliás, este produto demonstra o que supra se afirmou relativamente à


capacidade do arguido em aceder às informações com maior facilidade quando
em serviço.

Na verdade, diz o arguido que “no dia 09 de Setembro de 2009 esteve


de serviço contínuo desde as 22h do dia anterior até às 18h desse dia, primeiro
no Centro Cultural de Ílhavo, e depois na detenção em flagrante delito de
autores de roubo perpetrado nos CTT de Eixo”, o que não obstou, muito pelo
contrário, a que chegasse ao seu conhecimento que as empresas de Manuel
Godinho tinham sido alvo de uma visita.

Acresce que relativamente à acção de fiscalização levada a cabo pelo


SPENA da Guarda Nacional Republicana na Quinta dos Ananases, em Ovar,
haverá que alterar eventualmente a acusação quanto ao dia da sua verificação
- 02 de Fevereiro de 2009 -, pois que se trata do dia 02 de Abril de 2009,
conforme decorre dos produtos 3941, 3943 e 3945 do Alvo 38249PM., tendo
ocorrido manifesto lapso de escrita.

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S. R.

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Com interesse sobre a matéria em análise há que referir também as


seguintes conversações.

PRODUTO Nº: 16590


DATA/HORA: 2009-07-30 18:46:40
INTERVENIENTES:
• DE – Manuel Godinho
• PARA – Maribel

MARIBEL – Sim
MANUEL GODINHO – Manda ligar à Augusta
MARIBEL – Hum
MANUEL GODINHO – E que espere um bocado que eu que lhe vou lá assinar
as coisas, está bem?
MARIBEL – Está bem. O André, o marido da Isabel, ligou até agora. Agora não
é preciso
MANUEL GODINHO – Agora já não
MARIBEL – Ok. Até já.
MANUEL GODINHO – Até já.

Dados do Produto
Número de produto do
3941
alvo
Alvo 38249PM

ID de Intercepção 351917768679 (João Godinho)


351234302420 (SCI/Voz
A chamar
Masculina/Maribel)
Hora inicial 02/04/2009 12:06:04

Destinatário 351917768679 (João Godinho)

VOZ MASCULINA – Tou, João?

JOÃO GODINHO – Sim?

VOZ MASCULINA – A Maribel queria falar contigo, pode passar?

JOÃO GODINHO – Passa.


Olha preciso do carro hoje p’ra gente… Tá bem

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(música de espera)

Tá bem.

MARIBEL – Sim, Sr. João.

JOÃO GODINHO – Sim.

MARIBEL – Veja se tá tudo bem. Na situação das areias. Ao pé do


(imperceptível) e aí porque tá aqui uma denúncia anónima e eles vão sair p’r’ai.

JOÃO GODINHO – Não percebi.

MARIBEL – Veja se tá tudo legal.

JOÃO GODINHO – Sim…

MARIBEL – Na situação das areias

JOÃO GODINHO – Sim.

MARIBEL – Ao pé da Dolce Vita. Diz que é Ovar Norte, Onde é? É onde


vocês tão?

JOÃO GODINHO – É sim. Sim, sim.

MARIBEL – Porque há... houve uma denúncia anónima e eles vão sair p’r’ai
agora

JOÃO GODINHO – Tá bem.


MARIBEL – De extracção de areias ilegais.
JOÃO GODINHO – Ok. Eu vou já ver isso.

MARIBEL – Até já.

JOÃO GODINHO – Até já.

Dados do Produto
Número de
3943
produto do alvo
Alvo 38249PM
351917768679 (João
ID de Intercepção
Godinho)
351917649864 (Manuel
A chamar
Godinho)

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Hora inicial 02/04/2009 12:09:04


351917768679 (João
Destinatário
Godinho)

MANUEL GODINHO – Sim.

JOÃO GODINHO – Tou. Sim

MANUEL GODINHO – sim, João. Vocês não andam a tirar… a tirar areia, poi
não?

JOÃO GODINHO – Não, não, nada.

MANUEL GODINHO – Então, quem é que será?

JOÃO GODINHO – Não faço a mínima ideia. Não faço a mínima ideia! Nós
não estávamos…

MANUEL GODINHO – Pronto. O quê?

JOÃO GODINHO – Nós não estamos. Bem… não sei… Ahmm…

MANUEL GODINHO – Ok.

JOÃO GODINHO – Mas deixa-os vir.

MANUEL GODINHO – Nã, nã! Isso não é nada com nós! Manda-os dar uma
volta!

JOÃO GODINHO – é…

MANUEL GODINHO – Aaaa… O quê?

JOÃO GODINHO – Eu vou ver como é que aquilo está lá em baixo e vou…

MANUEL GODINHO – Lá em baixo, onde?! É no Dolce vita, não é lá em


baixo!

JOÃO GODINHO – Aí é?

MANUEL GODINHO – É.

JOÃO GODINHO – A Maribel disse-me que era nos dois sítios.

MANUEL GODINHO – É no Dolce Vita. Nã… nã…

1082
S. R.

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JOÃO GODINHO – Nem sequer vou para lá. Nem sequer vou para lá.

MANUEL GODINHO – É não ligar a isso!

JOÃO GODINHO – Ok. Tá.

MANUEL GODINHO – OK? Tu tás aonde?

JOÃO GODINHO – Tou aqui… tou aqui em Ovar.

MANUEL GODINHO – Tá bem.

JOÃO GODINHO – Ok. Ok.

MANUEL GODINHO – Vá. Até já.

JOÃO GODINHO –Até já.

Dados do Produto
Número de
3945
produto do alvo
Alvo 38249PM
351917768679 (João
ID de Intercepção
Godinho)
351917768679 (João
A chamar
Godinho)
Hora inicial 02/04/2009 12:13:16
917649864 (Manuel
Destinatário
Godinho)

MANUEL GODINHO – Sim.

JOÃO GODINHO – Sim.

MANUEL GODINHO – Diz.

JOÃO GODINHO – Isto… isto nem vale a pena esperar por eles, poi não? Ou achas
que vale?

MANUEL GODINHO – Por quem? Nem pode! Nem pode! Tens que fazer de conta
que não sabes que eles vão aí.

JOÃO GODINHO – Prontos. Não e… exacto…

1083
S. R.

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MANUEL GODINHO – É fechar…. Fechas o portão da quinta…

JOÃO GODINHO – Uhm.

MANUEL GODINHO – …Não, vá eles irem armados em palhaços.

JOÃO GODINHO – Exactamente.

MANUEL GODINHO – Eu acho que eles não vão, né?

JOÃO GODINHO – Exactamente.

MANUEL GODINHO – Ahm… Nem podes dar a perceber que foste avisado.

JOÃO GODINHO – Exactamente. Exactamente.

MANUEL GODINHO – Tens de fazer de conta que não sabes de nada. Fechas só À
hora de almoço e mandas foder tudo.

JOÃO GODINHO – E tam.. E também vou à minha vida, não é?

MANUEL GODINHO – É . E vais almoçar, num ligues.

JOÃO GODINHO – Ok. Tá bem.

MANUEL GODINHO - Ok. É não passar confiança a isso.

JOÃO GODINHO – Tá. Ok. Tá.

MANUEL GODINHO - Tá Até já.

JOÃO GODINHO – Até já.

Nesta conversa resulta, à evidencia, não só que era possível haver


fugas de informação sobre acções de fiscalização das forças políciais, como
estas aconteciam e eram canalizadas para conhecimento ao universo
empresarial do arguido Manuel Godinho.

E isso é que não pode ser!

1084
S. R.

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Nestes termos, com base nos elementos probatórios acima indicados,


entende-se que a versão apresentada pelo arguido não merece credibilidade,
mostrando-se de facto indiciados os factos que lhe são imputados na
acusação.

Destarte, deverá o arguido André Barbosa Oliveira ser


pronunciado nos precisos termos da acusação, por se mostrarem
verificados indícios que, neste tocante, inculcam um juízo de prognose,
conducente à consideração de que é mais forte a probabilidade da sua
condenação do que a exoneração da sua responsabilidade.

****

No tocante aos demais arguidos que não requereram a instrução, vistos


os autos, há que dizer o seguinte:
Nos termos do disposto no artº 286º nº1 do CPP a instrução visa a
comprovação judicial da decisão de deduzir acusação ou de arquivar o inquérito
em ordem a submeter ou não a causa a julgamento.
Estabelece o artº 308º nº1 do CPP que “ Se até ao encerramento da
instrução tiverem sido recolhidos indícios suficientes de se terem verificado os
pressupostos de que depende a aplicação ao arguido de uma pena ou de uma
medida de segurança, o juiz, por despacho, pronuncia o arguido pelos factos
respectivos; caso contrário, profere despacho de não pronuncia”.
Critério semelhante está igualmente consagrado no artº 283º nº 2 do
CPP ao estabelecer que: “Consideram-se suficientes os indícios sempre que
deles resulta uma possibilidade razoável de ao arguido vir a ser aplicada, por
força deles, em julgamento, uma pena ou uma medida de segurança”.
Como refere Germano Marques da Silva ( curso de Penal III, pág. 179) “
Para a pronúncia, como para a acusação, a lei não exige, pois, a prova, no
sentido de certeza moral da existência do crime, basta-se com a existência de
indícios, de sinais de ocorrência de um crime, donde se pode formar a

1085
S. R.

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convicção de que existe uma possibilidade razoável de que foi cometido o crime
pelo arguido.
Esta possibilidade é uma possibilidade mais positiva do que negativa; o
juiz só pode pronunciar o arguido quando pelos elementos de prova recolhidos
nos autos forma a sua convicção no sentido de que é mais provável que o
arguido tenha cometido o crime de que não o tenha cometido”.
E acrescenta ainda o referido autor “ A referência que o artº 301º, nº3 faz
à natureza indiciária da prova para efeitos de pronúncia inculca a ideia de
menor exigência, de mero juízo de probabilidade. Na pronuncia o juiz não julga
a causa; verifica se justifica que com as provas recolhidas no inquérito e na
instrução o arguido seja submetido a julgamento pelos factos da acusação. A lei
só admite a submissão a julgamento desde que da prova dos autos resulte uma
probabilidade razoável de ao arguido vir a ser aplicada, por força dela, uma
pena ou uma medida de segurança ( artº 283º nº2 ); não impõe a mesma
exigência de verdade requerida pelo julgamento final”.
Em suma será necessário fazer pré-juízo sobre a criminalidade e
exigência dos factos, a partir do material probatório que consta dos autos.
Estas são as linhas gerais de orientação que o juiz terá de ter presente
quanto se lhe solicita a introdução de um feito penal em juízo.
Bem, assim compulsados os elementos a que a acusação faz referência,
conjugados com todos os elementos indiciários a que, ao longo do excurso
desta decisão instrutória, nos fomos arrimando, entende o TCIC que se
mostram preenchidos os pressupostos conducentes à consideração de que,
está suficientemente indiciada a participação desses arguidos, sendo mais forte
a probabilidade de, uma vez provados em julgamento os factos que lhes são
imputados, serem os mesmos condenados pela comissão dos crimes que lhes
vêm, respectivamente, imputados na acusação, em detrimento da
probabilidade da sua absolvição, pelo que serão pronunciados nos exactos
termos daquela – art.ºs 286.º, 287.º e 308.º, n.º 1 e 3, todos do CPP.

1086
S. R.

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Do mesmo passo e com referência aos arguidos que a requereram


mas que, nessa sede, apenas colocaram questões de direito, forçoso é concluir
pela mesma forma, como decorre inexoravelmente do que se foi expondo.

****
Assim:
Face a tudo o que vem de ser exposto, para serem julgados em
processo comum, com a intervenção do Tribunal Colectivo, decido
pronunciar, pelos factos constantes da acusação (com as rectificações
aos artºs 23º, 27. 29º, 31º, 36º, 44º, 49º, 63º, 68º, 70º, 77º, 79º, 80º, 83º 88º,
104º, 283º, 284º, 305º, 312º, 404º, 433º, 434º, 475º, 513º, 545º, 554º, 557º,
567º, 569º, 596º, 605º, 607º, 609º, 611º, 613º, 615º, 617º, 619º, 621º, 625º,627º
631º, 633º, 635º, 637º, 639º, 642º, 644º, 646º, 648º, 651º, 654º, 657º, 660º,
663º, 665º, 831º, 840º, 868º, 874º, 900º, 901º, 915º, 948º, 1076º, 1254º, 1256º,
1258º, 1260º, 1262º, 1264º, 1266º, 1268º, 1270º, 1272º, 1274º, 1276º, 1278º,
1280º, 1283º, 1285º, 1287º, 1290º, 1293º, , 1300º, 1301º, 1303º, 1368º, 1458º,
1503º, 1545º, 1548º, 1551º, 1555º, 1558º, 1561º, 1564º, 1566º, 1568º, 1570º,
1637º, 1639º, 1641º, 1643º, 1645º, 1647º, 1693º, 1696º, 1698º, 1700º, 1702º,
1741º, 1743º, 1769º, 1771º, 1780º, 1801º, 1840º, 1843º, 1850º, 1852º, 1860º,
1867º, 1879º, 1881º, 1888º e 1890º), os seguintes arguidos:

1. MANUEL JOSÉ FERREIRA GODINHO, casado, industrial, nascido em


23-06-1955, natural de Esmoriz – Ovar, filho de Artur Godinho e de
Maria Lúcia Ferreira da Silva, com residência na Rua da Fonte, 424,
3885 Esmoriz

2. MARIBEL MARQUES RODRIGUES, casada, escriturária, nascida em


04-09-1975, natural da Venezuela, filha de António Augusto Marques
Couras e de Maria Augusta Rodrigues Valente dos Anjos, residente na
Urbanização da Torreirinha, nº83, 3870-366 Torreira

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S. R.

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3. NAMÉRCIO PEREIRA DA CUNHA, casado, gestor, nascido em 14-08-


1969, natural de Oliveira do Bairro, filho de Namércio da Cunha e de
Maria Helena Pereira da Silva, residente na Rua do Cemitério, nº25 –
Oliveira do Bairro

4. JOÃO JORGE DA SILVA GODINHO, casado, escriturário, nascido em


08-11-1983, natural de Esmoriz – Ovar, filho de Manuel José Ferreira
Godinho e de Maria de Fátima da Silva Magina Godinho, com residência
em Rua da Fonte, s/n, Esmoriz

5. HUGO MANUEL DE SÁ GODINHO, casado, escriturário, nascido 29-09-


1974, natural de Santa Maria da Feira, filho de Manuel Ferreira Godinho
e de Marília Rosa Sá dos Reis, residente na Rua 1º. De Maio, 23 – Rio
Meão – Santa Maria da Feira

6. MANUEL NOGUEIRA DA COSTA, casado, empresário, nascido 17-03-


1946, natural Lagares, Penafiel, filho de Fernando Rodrigues da Costa e
de Maria Barbosa Nogueira, residente na Rua Centro Social S. Salvador,
146/440, Grijó – Vila Nova de Gaia

7. PAULO MANUEL PEREIRA DA COSTA, casado, gerente de empresas,


nascido em 20-04-1967, natural de Paços de Sousa – Penafiel, filho de
Manuel Nogueira da Costa e de Francelina Celeste de Jesus Pereira,
residente na Estrada Nacional 109, s/n, Arada – 3880 Ovar

8. MÁRIO MANUEL SOUSA PINHO, casado, funcionário público, nascido


em 01-05-1954, natural de Arrifana, Santa Maria da Feira, filho de José
de Pinho e de Palmira da Conceição de Sousa, residente na Rua da
Lomba, nº295, 4520-036 Escapães

1088
S. R.

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9. JOSÉ DOMINGOS LOPES VALENTIM, divorciado, especialista na


REFER, nascido em 25-06-1953, natural de São Sebastião da Pedreira
– Lisboa, filho de José da Mata Valentim e de Irene Cristina Lopes
Valentim, residente na Rua da Juventude, nº1, 3º B, 2615-120 Alverca
do Ribatejo

10. ANTÓNIO SILVA CORREIA, casado, engenheiro civil (reformado),


nascido em 02-09-1940, natural de Urgezes – Guimarães, filho de José
Correia e de Maria da Silva, residente na Avª. Primavera, 117 – 3º Dtº.
Frente – Ermesinde

11. JOSÉ FERNANDO MAGANO RODRIGUES, casado, engenheiro civil,


nascido em 04-11-1954, natural de S. Salvador – Ílhavo, filho de Orlando
Papoilo Rodrigues e de Berta das Neves Simões Magano, residente na
Rua da Lagoa, 87, Ílhavo

12. ABÍLIO PINTO GUEDES, casado, ferroviário, nascido em 18-06-1957,


natural de Frende, Baião, Cartão de Cidadão nº. 03805039 0ZZ8, filho
de António Pinto Guedes e de Palmira de Jesus, residente na Praceta
Cooperativa O Telefone, Lote 102 – 5º. Dtº., 4430-458 Vilar de
Andorinho

13. JOÃO MANUEL SILVA VALENTE, casado, engenheiro electrónico e de


comunicações, nascido em 30-07-1948, natural de Mouriscas –
Abrantes, filho de Francisco Cordeiro Valente e de Jacinta da Silva,
residente na Rua da Caridade, 47 – 1º - Entroncamento

14. CARLOS PORRAL PAES DE VASCONCELLOS, casado, gestor,


nascido em 25-08-1947, natural de Estoril, Cascais, filho de Fernando

1089
S. R.

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Paes de Vasconcellos e de Josefina Porral Paes de Vasconcellos,


residente na Avª. Marechal Carmona, nº55, Cascais, 2750 Cascais

15. MANUEL JOÃO ALVES ESPADINHA GUIOMAR, casado, ferroviário,


nascido em 16-11-1953, natural de Domingão – Ponte de Sor, filho de
João Rodrigues Guiomar e de Maria Luísa Alves Espadinha, residente
na Rua Principal, nº88, Tramaga, 7400 Ponte de Sor

16. ARMANDO ANTÓNIO MARTINS VARA, divorciado, gestor bancário,


nascido em 27-03-1954, natural de Vinhais – Bragança, filho de Álvaro
Augusto Vara e de Júlia Adelaide Martins, residente na Avª. das Forças
Armadas, nº2, 5º Esqº., 1600 Lisboa

17. FERNANDO VÍTOR LOPES BARREIRA, divorciado, gestor de


empresas, nascido em 04-02-1937, natural de Vimioso – Bragança, filho
de Fernando Zéfiro Fernandes Barreira e de Isabel da Nazaré Lopes,
residente na Estrada da Torre, Rua Quinta do Pinhal, 1, Birre, 2750
Cascais

18. JOSÉ RODRIGUES PEREIRA DOS PENEDOS, casado, engenheiro


electrotécnico, nascido 08-10-1945, natural de Rossas – Vieira do Minho
– Braga, filho de Alfredo Pereira dos Penedos e de Cândida Rodrigues,
residente na Avª. Estados Unidos da América, nº.2 Porta 3, 6º A – São
João de Brito – Lisboa

19. JORGE PAULO MARTINS PEREIRA DOS PENEDOS, casado,


advogado, nascido em 15-10-1969, natural de Sé-Nova – Coimbra, filho
de José Rodrigues Pereira dos Penedos e de Levinda de Lurdes Martins
Pereira dos Penedos, residente na Avª. Estados Unidos da América,
Edifício 3, nº2 – 8ºA, 1000 Lisboa

1090
S. R.

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20. VICTOR MANUEL COSTA ANTUNES MACHADO BAPTISTA, casado,


director geral da REN SGPS, SA, nascido em 15-12-1952, natural de
Moçambique, filho de Laurindo Baptista e de Maria Antunes Machado
Baptista, residente na Rua Alfredo Keil, 571, 11ºA – 4150-049 Porto.

21. JUAN CARLOS FERNANDES OLIVEIRA, casado, engenheiro


electrotécnico, nascido 23-04-1965, natural de Venezuela, filho de
Martinho Fernandes Carreira e de Maria Noémi Oliveira de Castro
Carreira, com residência na Rua da Verónica, 124, 3º - 1170-387 Lisboa

22. FERNANDO MANUEL DOS SANTOS, casado, engenheiro


electrotécnico, nascido em 28-01-1957, natural de Angola, filho de José
dos Santos e de Arminda dos Santos, com residência na Rua Luís de
Camões, nº. 2, 6º Dto, 2685-219 Portela de Loures

23. PEDRO MIGUEL SILVA LARANJEIRA, casado, funcionário da “O2”,


nascido em 01-08-1974, natural de Ovar, filho de António Dias Laranjeira
e de Maria da Glória da Silva Duarte, com residência na Rua Quintas de
baixo, nº. 171, Arada, Ovar

24. JORGE PEREIRA SARAMAGO, casado, administrativo, nascido em 05-


05-1963, natural de S. João da Madeira, filho de Ramiro Marques
Saramago e de Maria Emília da Conceição Pereira Soares, residente na
Rua Visconde Santa Maria, nº. 5, 3º. Dtº., 3770-553 Arrifana, Santa
Maria da Feira

25. DOMINGOS JOSÉ PAIVA NUNES, casado, engenheiro, nascido em 07-


08-1951, natural de Cebolais de Cima – Castelo Branco, filho de

1091
S. R.

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Marcelino Nunes e de Celeste da Conceição Paiva, residente em Campo


Grande, nº.10, 5º - A, 1700-098 Lisboa

26. ANTÓNIO PAULO CADETE DE ALMEIDA COSTA, divorciado,


engenheiro, nascido em 02-09-1960, natural de S. Julião da Figueira da
Foz – Figueira da Foz, filho de António de Almeida Costa e de Maria
Orquídea Sucena e Graça Cadete de Almeida Costa, residente na Rua
Cidade da Beira, nº46, 7º C, 188-070 Lisboa

27. JOSÉ ANTÓNIO CHOCOLATE CONTRADANÇAS, divorciado,


economista, nascido em 06-02-1956, natural de Santa Eulália – Elvas,
filho de António Calhandra Contradanças e de Maria Coelho Chocolate,
residente Rua Mariano Coelho, nº30, 3º Esqº. 2900-485 Setúbal

28. JOÃO MANUEL TOMÁS TAVARES, casado, gestor de stocks, nascido


em 28-05-1952, natural de Vendas Novas, filho de Joaquim Viegas
Tavares e de Noémia de Jesus Tomás, residente no Bairro 1º de Maio,
nº48, Sines, 7520-124 Sines

29. RICARDO JOSÉ CARVALHO ANJOS, solteiro, assistente


administrativo, nascido em 21-02-1971, natural de Moçambique, filho de
José Ferreira Anjos e Gracinda Araújo Carvalho Anjos, residente na Rua
Mário Ramalhete Oliveira, 3 – 3º. Esqº. – Arrentela – 2840-616 Seixal

30. JOSÉ MANUEL DOS SANTOS CUNHA, casado, engenheiro, nascido


em 09-12-1944, natural de S. Vicente – Guarda, filho de José Cunha e
de Maria Amélia dos Santos, com residência na Rua S.I.R.B. “Os
Penicheiros”, nº9, 2º Esqº., Lavradio, Barreiro

1092
S. R.

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31. ROGÉRIO ANTÓNIO NETO NOGUEIRA, casado, técnico de produção


– desempregado, nascido em 28-04-1951, natural de Lavradio –
Barreiro, filho de Teodoro do Couto Nogueira e de Natalina Vicência
Gião Neto Nogueira, com residência na Rua Vasco Santana, nº9, 1º
Lavradio

32. MANUEL DE SÃO JOSÉ GOMES, casado, engenheiro (aposentado),


nascido em 22-09-1948, natural de Liceia – Montemor-o-Velho, filho de
Daniel Gomes Cavaleiro e de Clara de São José, residente na Rua
Vasco da Gama, nº.27 – 1º - Lavradio

33. AFONSO AGUIAR FIGUEIREDO COSTA, casado, engenheiro, nascido


em 03-11-1965, natural de Nossa Senhora de Fátima – Lisboa, filho de
José Afonso Gomes Figueiredo Costa e de Maria Adelaide Bragança
Aguiar Figueiredo Costa, residente na Rua António José Saraiva, nº64 –
Quinta do Gato Bravo – 2710-340 Feijó

34. ANDRÉ MANUEL BARBOSA DE OLIVEIRA, casado, militar da Guarda


Nacional Republicana, nascido em 29-01-1977, natural de Paredes de
Coura, filho de José Augusto de Amorim Oliveira e de Anunciação das
Dores Barbosa, residente na Praceta Mário Nascimento, Lote 5, Quinta
da Bela Vista – Esgueira – Aveiro

35. “SCI – SOCIEDADE COMERCIAL E INDUSTRIAL


METALOMECÂNICA, S.A.”, NIF 504106678, com sede na Zona
Industrial de Taboeira, lote 17, Aveiro

36. “O2 – TRATAMENTO E LIMPEZAS AMBIENTAIS, S.A.”, NIF


504628500, com sede na Avenida 16 de Maio, lote 1, Zona Industrial de
Ovar, Ovar

1093
S. R.

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Pela prática dos crimes referenciados nos correspondentes


artigos da pronuncia que se segue.

Porquanto:

PARTE I – Da Associação Criminosa: Caracterização Geral

1.º Manuel Godinho administra, directa ou indirectamente as seguintes


sociedades comerciais:

a) SCI – Sociedade Comercial e Industrial Metalomecânica,


S.A.;

b) O2 – Tratamento e Limpezas Ambientais, S.A.;

c) Manuel J. Godinho – Administrações Prediais, S.A.;

d) Pedras Deslizantes – Comércio por Grosso de Materiais de


Construção, S.A.;

e) Comércio de Sucatas Godinho, Ld.ª;

f) SEF – Sociedade de Empreitadas Ferroviárias, S.A.;

g) FRACON – Construção e Reparação Naval, Ld.ª;

h) RIBERLAU – Transportes Internacionais, Ld.ª;

1094
S. R.

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i) PC OLD – Comércio Electrónico de Produtos Eléctricos e


Electrónicos Usados, Ld.ª;

j) 2ndMarket – Recolha, triagem e reutilização de Produtos


Eléctricos e Electrónicos Usados, Ld.ª;

k) SOCANF – Sociedade de Recolha de Resíduos, S.A.

2.º No exercício do seu escopo social, o qual assenta, essencialmente, na


selecção, recolha, transporte, armazenagem, triagem, tratamento,
valorização e eliminação de resíduos, estas sociedades comerciais adquirem
materiais e prestam serviços a empresas públicas, de capitais públicos, com
participação maioritária de capital público, concessionárias de serviços
públicos e empresas privadas, designadamente:

a) REN – Redes Energéticas Nacionais, SGPS, S.A.;

b) Rede Ferroviária Nacional – REFER, E.P.E.;

c) CP - Comboios de Portugal E.P.E.;

d) EDP – Energias de Portugal, S.A.;

e) Lisnave – Infraestruturas Navais, S.A.;

f) EP – Estradas de Portugal, S.A.;

g) EMEF – Empresa de Manutenção de Equipamento


Ferroviário, S.A.;

h) APSS – Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra,


S.A.;

1095
S. R.

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i) Estaleiros Navais de Viana do Castelo, S.A.;

j) Petróleos de Portugal – Petrogal, S.A.

3.º Estas empresas no cumprimento e execução do seu objecto social


geram resíduos de diferente natureza e valor, cuja gestão entregam a
empresas especializadas na área.

4.º Por um lado, resíduos destituídos de valor comercial, os quais


importam um custo pela sua recolha e encaminhamento para destino final.

5.º Nesta situação, as empresas contratantes, caso não assegurem


procedimentos de controlo adequados ou estes sejam viciados, sujeitam-se à
possibilidade das empresas prestadoras incrementarem ilicitamente as suas
mais valias sobre facturando o serviço prestado.

6.º Por outro lado, resíduos susceptíveis de valorização mercantil.

7.º Uns ferrosos, de valor inferior, e outros nobres, de préstimo superior.

8.º Nesta situação, as empresas vendedoras, caso não assegurem


procedimentos de controlo apropriados ou estes sejam pervertidos, expõem-
se à possibilidade das empresas compradoras aumentarem ilicitamente o
seu lucro, adulterando as pesagens dos resíduos recolhidos, subtraindo e
apropriando-se de resíduos nobres como se de ferrosos se tratassem,
retirando resíduos sem pesagem e pesando globalmente os diferentes
resíduos levantados ignorando a necessária segregação.

9.º Por fim, aquelas empresas no cumprimento e execução do seu objecto


social carecem, entre outros, de serviços de desmantelamento, demolição e
desmatação, que obtêm de empresas especializadas na área.

1096
S. R.

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10.º Neste contexto, as empresas beneficiárias da prestação daqueles


serviços, caso não assegurem procedimentos de controlo apropriados ou
estes sejam desvirtuados, submetem-se ao conjunto dos riscos supra
sinalizados.

11.º Em data não concretamente apurada, mas anterior a 2002, Manuel


Godinho gizou um plano tendo por finalidade o favorecimento das empresas
por si geridas nas suas relações comerciais com empresas públicas, de
capitais públicos, com participação maioritária de capital público,
concessionárias de serviços públicos e empresas privadas, designadamente
nos concursos e nas consultas públicas de adjudicação e, bem assim, na
adjudicação directa de contratos de compra e venda e de prestação de
serviços na área dos resíduos promovidos por aquelas empresas, através da
promessa e da entrega de vantagens patrimoniais e/ou não patrimoniais, a
titulares de cargos políticos, governativos e a indivíduos que exercem
funções de poder, detêm capacidade pessoal de decisão, com capacidade
para influenciar determinantemente o decisor e com acesso a informação
privilegiada.

12.º Favorecimento este consubstanciado nas seguintes ordens de


vantagens (singular ou cumulativamente consideradas):

a) escolha dos procedimentos concursais ou afins mais


convenientes ao universo empresarial, directa ou
indirectamente, por si gerido;

b) conhecimento prévio da realização de consultas e concursos


públicos de adjudicação de contratos de compra e venda e
de prestação de serviços na área dos resíduos;

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S. R.

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c) conhecimento prévio da sua natureza, das suas condições e


termos;

d) conhecimento posterior da identidade dos concorrentes, das


condições, dos termos e do valor das propostas por estes
apresentadas;

e) realização de consultas públicas apenas a empresas


integrantes do universo empresarial, directa ou
indirectamente, por si gerido aquando do cumprimento formal
de obrigações de consulta plural de diferentes sociedades
comerciais;

f) criação ou indução de aparentes necessidades da celebração


de contratos de compra e venda e de prestação de serviços
na área dos resíduos;

g) adjudicação directa de contratos de compra e venda e de


prestação de serviços na área dos resíduos;

h) garantia da omissão dos poderes/deveres de fiscalização, por


forma a permitir a subtracção e apropriação de resíduos
nobres como se de ferrosos se tratassem, a adulteração do
peso dos resíduos recolhidos, a retirada de resíduos sem
pesagem, a pesagem global dos diferentes resíduos
recolhidos ignorando a necessária segregação e a
sobrefacturação dos serviços prestados.

i) possibilidade de apresentação de propostas com valores


mais elevados nos concursos e na consultas de adjudicação
de contratos de compra e venda e mais baixos nos concursos

1098
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

e na consultas de adjudicação de contratos de prestação de


serviços na área dos resíduos, por via da garantia da
obtenção ilícita de resíduos, através da omissão dos
poderes/deveres de fiscalização nos termos supra expostos.

13.º Na verdade, Manuel Godinho estruturou e projectou o exercício da


actividade comercial do universo empresarial, directa ou indirectamente, por
si gerido sobre um projecto delituoso, progressivamente sedimentado e
aperfeiçoado, assente em treze pilares fundamentais, quais tenham sido:

14.º - Por forma a, desde logo, criar e potenciar um clima de permeabilidade


e cumplicidade para posteriores diligências e de predisposição à aceitação
das suas pretensões ou mesmo com carácter remuneratório (bónus), a
propósito da quadra natalícia, entrega, em nome das sociedades comerciais
que compõem o universo empresarial por si gerido, de diferentes bens,
alguns de valor considerável, a título de presentes, a titulares de cargos
governativos e políticos, a titulares de cargos de direcção, a indivíduos que
detêm capacidade pessoal de decisão, com capacidade para influenciar
determinantemente o decisor, com acesso a informação privilegiada, a
funcionários com funções de supervisão e fiscalização em empresas
públicas, de capitais públicos, com participação maioritária de capital público,
concessionárias de serviços públicos e, bem assim, a chefias e funcionários
dos serviços de finanças das áreas nas quais as suas empresas detêm
interesses, a membros do executivo camarário e funcionários de Municípios
nos quais as suas empresas conhecem implantação e desenvolvem o seu
objecto social, a membros das forças de segurança e a responsáveis e
funcionários de organismos de tutela directa ou indirecta ou de fiscalização
nas áreas de actividade das suas empresas.

15.º – Promessa e entrega de vantagens patrimoniais e não patrimoniais a


titulares de cargos de direcção, a indivíduos que detêm capacidade pessoal

1099
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

de decisão, com capacidade para influenciar determinantemente o decisor e


com acesso a informação privilegiada em empresas públicas, de capitais
públicos, com participação maioritária de capital público, concessionárias de
serviços públicos e empresas privadas, por forma a eleger as suas empresas
como potenciais e, as mais das vezes, como mais do que prováveis
beneficiárias da adjudicação de contratos de compra e venda e de prestação
de serviços na área dos resíduos;

16.º - Promessa e entrega de vantagens patrimoniais e não patrimoniais a


quadros superiores e chefias intermédias de empresas públicas, de capitais
públicos, com participação maioritária de capital público, concessionárias de
serviços públicos e empresas privadas, por forma a garantir a primazia das
empresas por si administradas nos concursos e nas consultas públicas de
adjudicação e, bem assim, na adjudicação directa de contratos de compra e
venda e de contratos de prestação de serviços na área dos resíduos;

17.º - Promessa e entrega de vantagens patrimoniais e não patrimoniais a


indivíduos arrolados para o efeito ou já previamente recrutados com o
propósito de determinar a escolha dos procedimentos concursais ou afins
mais convenientes ao universo empresarial, directa ou indirectamente, por si
gerido, de obter o conhecimento prévio da natureza, das condições e dos
termos das consultas e dos concursos públicos de adjudicação de contratos
de compra e venda e de prestação de serviços na área dos resíduos, de
obter o conhecimento da identidade dos concorrentes, da natureza, das
condições, dos termos e do valor das propostas por estes apresentadas, de
garantir a consulta apenas de empresas integrantes do seu universo
empresarial e, bem assim, de criar e induzir aparentes necessidades da
celebração de contratos de compra e venda e de prestação de serviços na
área dos resíduos;

1100
S. R.

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18.º - Uma vez adjudicados ao universo empresarial, directa ou


indirectamente, por si gerido contratos de contratos de compra e venda e de
prestação de serviços na área dos resíduos, entrega de vantagens
patrimoniais e não patrimoniais a funcionários com funções de fiscalização
nas empresas públicas, de capitais públicos, com participação maioritária de
capital público, concessionárias de serviços públicos e empresas privadas
adjudicantes no sentido de permitirem a subtracção e apropriação de
resíduos nobres como se de ferrosos se tratassem, a adulteração do peso
dos resíduos recolhidos, a retirada de resíduos sem a necessária pesagem,
a pesagem global dos diferentes resíduos recolhidos ignorando a necessária
segregação e a sobrefacturação dos serviços prestados;

19.º - Se e quando na posse daqueles resíduos ilicitamente obtidos, entrega


de vantagens patrimoniais e não patrimoniais a indivíduos das suas relações
pessoais e que exercem a gerência de sociedades comerciais em débil
situação financeira ou propositadamente criadas para o efeito, por forma a
ocultar a sua proveniência, através da sua circulação entre empresas
aparentemente autónomas e sem relações comerciais com as empresas
adjudicantes;

20.º - Se e quando na posse daqueles resíduos ilicitamente obtidos, após a


sua venda e consequente introdução no circuito comercial, emissão de
facturas ou outros documentos análogos por empresas relativamente às
quais exerce uma relação de domínio e ascendência, possuindo um efectivo
controlo dos seus desígnios, por empresas desprovidas de qualquer
actividade comercial real na área dos resíduos ou por indivíduos adictos e
indigentes relativas à aquisição e venda daqueles resíduos pelas empresas
por si geridas àquelas sociedades comerciais e indivíduos, sem que estas
transacções se tenham verificado, com vista à dedução indevida do
montante de I.V.A. correspondente a tais facturas, a empolar custos para
efeitos de menor tributação de I.R.C. e, como tal, a defraudar os interesses

1101
S. R.

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patrimoniais do Estado e das Finanças Públicas em proveito próprio, a


branquear a sua origem e a suprir os hiatos documentais decorrentes da sua
procedência;

21.º - Resultando mais valias da actividade comercial lícita e ilícita do


universo empresarial, directa ou indirectamente, por si gerido, utilização
destes lucros na aquisição de veículos automóveis topo de gama e bens
imóveis com vista, entre outros desideratos, à apresentação do património
assim constituído como garantia dos empréstimos contraídos junto da banca
para financiar a gestão corrente e potenciar decisões de investimento das
suas empresas;

22.º - Por forma a ocultar a origem, constituição e dimensão do seu


património e, bem assim, como modo de transferência de capitais entre as
sociedades comerciais que integram o seu universo empresarial, criação da
sociedade comercial, denominada “Manuel J. Godinho – Administrações
Prediais, S.A.”, cujo objecto social radica na compra e venda e administração
de imóveis e revenda dos adquiridos para esse fim, a qual congrega a
totalidade do património das suas empresas;

23.º - Por forma a ocultar a identidade do seu titular, a origem, a constituição e a


dimensão do seu património e, bem assim, a eximir-se ao controlo das autoridades,
para além da simulação de alienações de bens a “pessoas da sua confiança que
funcionavam como testas-de-ferro ou homens de palha” com as subsequentes
revendas, passagem do controlo accionista da sociedade comercial, denominada
“Manuel J. Godinho – Administrações Prediais, S.A.” para a sociedade “off-shore”,
denominada “Summerline Investements Limited” por si detida e controlada;

24.º - Por forma a garantir a omissão dos seus poderes/deveres funcionais,


através do não exercício dos poderes/deveres de fiscalização públicos,
entrega de vantagens patrimoniais e não patrimoniais a chefias e

1102
S. R.

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funcionários dos serviços de finanças das áreas nas quais as suas empresas
detêm interesses, a membros do executivo camarário e funcionários de
Municípios nos quais as suas empresas conhecem implantação e
desenvolvem o seu objecto social, a membros das forças de segurança e a
responsáveis e funcionários de organismos de tutela directa ou indirecta ou
de fiscalização nas áreas de actividade das suas empresas;

25.º - Por forma a assegurar o desconhecimento da proveniência das peitas


entregues, emissão de cheques a favor de pessoas da sua inteira confiança,
geralmente funcionários das suas empresas, para que procedam ao seu
levantamento ao balcão com vista à utilização do numerário daí resultante na
entrega de vantagens patrimoniais a titulares de cargos de direcção, a
indivíduos que detêm capacidade pessoal de decisão, com capacidade para
influenciar determinantemente o decisor e com acesso a informação
privilegiada; (Vide Relatório Perícia Financeira – Ap. 162).

26.º - Por forma a conservar ignorada a origem das dádivas, utilização do


numerário decorrente da devolução, pelos emitentes das facturas e
documentos análogos supra aludidos, dos montantes inscritos nos cheques
emitidos para suportar o alegado pagamento daquelas facturas e
documentos, na entrega de vantagens patrimoniais a titulares de cargos de
direcção, a indivíduos que detêm capacidade pessoal de decisão, com
capacidade para influenciar determinantemente o decisor e com acesso a
informação privilegiada. (Vide Relatório Perícia Financeira – Ap. 162).

27.º Manuel Godinho dando corpo e execução ao plano delituoso supra


descrito, deu-o a conhecer, a partir de 2002, em diferentes momentos, pelo
menos, a Maribel Marques Rodrigues, Namércio Pereira da Cunha, João
Jorge da Silva Godinho, Hugo Manuel de Sá Godinho, Manuel , Nogueira da
Costa, Paulo Manuel Pereira da Costa, Mário Manuel Sousa Pinho e José
Domingos Lopes Valentim, com a intenção de, concertadamente, em

1103
S. R.

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actuação articulada, estruturada e continuada no tempo, o auxiliarem na sua


concretização.

28.º Maribel Rodrigues, Namércio Cunha, João Godinho, Hugo Godinho,


Manuel Nogueira da Costa, Paulo Costa, Mário Pinho e José Valentim
aceitaram, desde logo, colaborar com Manuel Godinho na concretização dos
seus propósitos, seguindo as suas ordens e instruções.

29.º Em obediência ao plano que contemplava a repartição repartição de


tarefas dentro da organização delituosa criada e idealizada por Manuel
Godinho, de acordo com as capacidades, aptidões e qualificações dos seus
membros, Maribel Rodrigues funcionava como secretária pessoal de Manuel
Godinho, pessoa da sua máxima confiança.

30.º Cabia-lhe o papel de ”tesoureira”, reunindo e disponibilizando os


quantitativos monetários entregues por Manuel Godinho a indivíduos que
exercem funções de poder, detêm capacidade pessoal de decisão, com
capacidade para influenciar determinantemente o decisor e com acesso a
informação privilegiada.

31.º Na verdade, entre 2001 e 2009, Maribel recebeu ao balcão cheques,


no montante global de 941.129,78€, cujo numerário daí resultante Manuel
Godinho utilizou para entregar àqueles indivíduos. (vide Ap. 162, fls. 6).

32.º Guardou o numerário decorrente da devolução, pelos emitentes das


facturas e documentos análogos supra aludidos, dos montantes inscritos nos
cheques emitidos para suportar o alegado pagamento daquelas facturas e
documentos, que Manuel Godinho, posteriormente, utilizou para entregar
àqueles indivíduos.

1104
S. R.

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33.º Quando as entregas aconteceram em cheque, preencheu-os,


seleccionando, neste caso, as contas a que deviam respeitar e, algumas
vezes, procedeu mesmo à sua entrega.

34.º Avultou, neste particular, o controlo dos fluxos financeiros


estabelecidos entre Manuel Godinho e Paulo Penedos.

35.º Maribel Rodrigues controlava estes movimentos bancários,


preenchendo os cheques entregues a Paulo Penedos, informando Manuel
Godinho das datas de vencimento dos cheques entregues por Paulo
Penedos e, no estrito cumprimento de instruções dadas por aquele,
transmitindo ordens às instituições bancárias para que os não
apresentassem a pagamento.

36.º Maribel Rodrigues auxiliou ainda Manuel Godinho no encaminhamento


dos resíduos nobres subtraídos como se de ferrosos se tratassem, dos
retirados sem pesagem, dos pesados globalmente ignorando a necessária
segregação e dos objecto de subpesagem para as instalações das empresas
“Mantenverde – Comércio de Sucatas, Ld.ª”, “Sucatas 109, Unipessoal, Ld.ª”
e “M5 Gestão de Resíduos Industriais, Unipessoal, Ld.ª”.

37.º Maribel Rodrigues, enquanto responsável pelas pesagens efectuadas


nas instalações da “SCI”, desempenhava papel assaz relevante na
adulteração do peso dos resíduos recolhidos, providenciando os talões de
pesagem com os valores pretendidos por Manuel Godinho.

38.º Maribel Rodrigues centralizava em si todo o processo relacionado com


a facturação dos resíduos encaminhados para a “SCI”.

39.º Com efeito, após coordenar e supervisionar as pesagens, Maribel


Rodrigues obtinha o talão de pesagem respectivo, guia de transporte,

1105
S. R.

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remessa ou venda a dinheiro, um exemplar da guia de acompanhamento de


resíduos ou, no caso do transportador ser a RIBERLAU, o exemplar verde da
guia.

40.º Na posse destes documentos, Maribel Rodrigues emitia a factura e


apresentava-a a Manuel Godinho para que este atestasse da conformidade
dos valores (preço e quantidade) nela inscritos.

41.º Aferida e validada por Manuel Godinho, cabia a Maribel Rodrigues


consensualizar com aquele o modo e o tempo do seu pagamento.

42.º Namércio Cunha assumiu-se como o principal coadjuvante de Manuel


Godinho nas diligências por si empreendidas no sentido de, a troco da
promessa e da entrega de vantagens patrimoniais e/ou não patrimoniais, as
empresas por si geridas serem favorecidas, nos termos supra citados, na
adjudicação de contratos de compra e venda e de prestação de serviços na
área dos resíduos por parte de empresas públicas, de capitais públicos, com
participação maioritária de capital público, concessionárias de serviços
públicos e empresas privadas.

43.º Com efeito, Namércio Cunha funcionou não só como conselheiro


técnico, mas também como auxiliar no estabelecimento de contactos com
indivíduos que exercem funções de poder, detêm capacidade pessoal de
decisão, com capacidade para influenciar determinantemente o decisor e
com acesso a informação privilegiada.

44.º Namércio Cunha era o ponto de contacto e o interlocutor privilegiado


entre as empresas administradas por Manuel Godinho e aqueles indivíduos,
nomeadamente com Paulo Penedos.

1106
S. R.

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45.º Manuel Godinho, para além de suscitar a sua avaliação técnica do


interesse empresarial de determinadas áreas de negócio, instruía-o a
ponderar os procedimentos concursais ou afins mais convenientes às suas
empresas e a elaborar o dossier técnico e as propostas a apresentar (com
excepção dos valores constantes destas, cuja indicação Manuel Godinho
reservou sempre para si) nos concursos e nas consultas públicas de
adjudicação de contratos de compra e venda e de prestação de serviços na
área dos resíduos por parte de empresas públicas, de capitais públicos, com
participação maioritária de capital público, concessionárias de serviços
públicos e empresas privadas.

46.º A Namércio Cunha competia, igualmente, a propósito da quadra


natalícia, organizar a lista dos indivíduos a serem obsequiados por Manuel
Godinho, os objectos a ofertar e o seu valor, tendo por referência o seu grau
de importância comercial para o universo empresarial administrado por
Manuel Godinho.

47.º De facto, pelo menos no período de tempo compreendido entre 2002 e


2007, por ocasião do Natal, Namércio Cunha sistematizava os indivíduos a
serem obsequiados, os objectos a ofertar e o seu valor, tendo por referência
o seu grau de importância comercial para o universo empresarial
administrado por Manuel Godinho.

48.º No escalonamento dos indivíduos observava-se uma classificação


criada por Namércio Cunha, a qual apresentava no seu cume a categoria
“AAAA” e no seu sopé a classe “F”.

49.º A inclusão e ordenação na relação dos destinatários das prendas


obedecia a indicação de Manuel Godinho, Namércio Cunha, João Godinho,
Hugo Godinho e dos demais quadros superiores das suas empresas.

1107
S. R.

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50.º O valor e tipo da dádiva era determinado em função da consideração


atribuída.

51.º Elaborada que fosse a lista, era sujeita à apreciação de Manuel


Godinho, que introduzia as alterações julgadas por pertinentes, mormente
quanto aos nomes inseridos (suprimindo uns e aditando outros), ao seu grau
de relevância, ao valor e tipo de objecto a oferecer.

52.º Aprovada, a entrega da generalidade dos objectos acontecia por


intermédio de funcionários de Manuel Godinho (tarefa a cargo inicialmente
de Luís Gomes e mais recentemente de Jorge Saramago).

53.º Não obstante, relativamente a determinados indivíduos tidos por


Manuel Godinho como especialmente relevantes, era este que assumia a
entrega directa das ofertas.

54.º Incluíam-se neste lote os arguidos Armando Vara e Lopes Barreira.

55.º A João Godinho cabia, para além de efectuar o controlo da entrada e


saída de resíduos dos estaleiros da “O2”, sitos em Ovar, encaminhar os
resíduos nobres subtraídos como se de ferrosos se tratassem, os retirados
sem pesagem, os pesados globalmente ignorando a necessária segregação
e os objecto de subpesagem para as instalações das sociedades comerciais,
denominadas “Mantenverde – Comércio de Sucatas, Ld.ª” e “Sucatas 109,
Unipessoal, Ld.ª” cujo sócio-gerente de direito é o arguido Paulo Costa, e
“M5 Gestão de Resíduos Industriais, Unipessoal, Ld.ª”, cujo sócio-gerente de
direito é o arguido Manuel Nogueira da Costa.

56.º João Godinho era visto por Manuel Godinho como o seu sucessor
natural.

1108
S. R.

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57.º Hugo Godinho assumiu-se como o seu operacional no terreno,


coordenando os trabalhos de selecção, recolha, transporte, armazenagem,
triagem, tratamento, valorização e eliminação de resíduos.

58.º O arguido Hugo Godinho funcionava como elemento nuclear na


subtracção de resíduos nobres como se de ferrosos se tratassem, na retirada
de resíduos sem pesagem, na sua pesagem global ignorando a necessária
segregação e na adulteração do seu peso, diligenciando pela promoção das
condições necessárias à sua efectivação.

59.º Manuel Godinho comunicava, a cada passo, a Maribel Rodrigues, a


Namércio Cunha, a João Godinho e a Hugo Godinho as iniciativas por si
encetadas no sentido de, a troco da promessa e da entrega de vantagens
patrimoniais e não patrimoniais, as empresas por si geridas serem
favorecidas, nos termos supra descritos, nas suas relações comerciais com
empresas públicas, de capitais públicos, com participação maioritária de
capital público, concessionárias de serviços públicos e empresas privadas,
designadamente nos concursos e nas consultas públicas de adjudicação e,
bem assim, na adjudicação directa de contratos de compra e venda e de
prestação de serviços na área dos resíduos promovidos por aquelas
empresas.

60.º Dava-lhes a conhecer as suas iniciativas, quer na fase prévia à


adjudicação dos contratos, quer no decurso da sua execução.

61.º Elucidava-os sobre a identidade das pessoas contactadas, os


montantes envolvidos e os concursos e as consultas públicas de adjudicação
de contratos de compra e venda e de prestação de serviços na área dos
resíduos nas quais pretendia ser favorecido.

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S. R.

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62.º Transmitia-lhes a informação privilegiada que recebia, nomeadamente


o conhecimento prévio da realização de concursos e consultas públicas, o
conhecimento prévio da sua natureza, das suas condições e termos, o
conhecimento posterior da identidade dos concorrentes, das condições, dos
termos e do valor das propostas por estes apresentadas e a realização de
consultas públicas apenas a empresas integrantes do universo empresarial,
directa ou indirectamente, por si gerido aquando do cumprimento formal de
obrigações de consulta plural de diferentes sociedades comerciais.

63.º Por fim, Manuel Godinho informava-os de ter garantido a omissão dos
poderes/deveres de fiscalização e, assim, a subtracção e apropriação de
resíduos nobres como se de ferrosos se tratassem, a adulteração do peso
dos resíduos recolhidos, a retirada de resíduos sem a necessária pesagem,
a sua pesagem global ignorando a necessária segregação e a
sobrefacturação dos serviços prestados.

64.º Ao arguido Paulo Pereira da Costa, de modo a ocultar a sua


proveniência, através da sua circulação entre empresas aparentemente
autónomas e sem relações comerciais com as empresas adjudicantes, cabia
a recepção dos resíduos nobres subtraídos como se de ferrosos se
tratassem, dos não ferrosos retirados sem pesagem, dos não ferrosos
pesados globalmente ignorando a necessária segregação e dos não ferrosos
objecto de subpesagem nas instalações das empresas “Mantenverde –
Comércio de Sucatas, Ld.ª” e “Sucatas 109, Unipessoal, Ld.ª”, cuja gerência
de direito lhe incumbe. (vide Ap. 23, fls. 55, produtos de Parte VI, fls. 20834 a
20930 e Ap. 1, fls. 245 a 253).

65.º No quadro da vinculação de Paulo Pereira da Costa a Manuel Godinho,


o terreno no qual se acham edificadas as instalações da “Sucatas 109
Unipessoal, Ld.ª” e, bem assim, a sua residência são propriedade de Manuel

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S. R.

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Godinho. (vide Ap. 24, fls. 116, Produtos 13097, 13132, 13812, 13813, 13823
e 13827 – Alvo 1T167PM, Ap. 27, fls. 69 a 73 e Ap. 23, fls. 49 a 54).

66.º O arguido Paulo Pereira da Costa nunca suportou qualquer renda pela
utilização daqueles prédios.

67.º Pese embora o titular inscrito no registo de propriedade do veículo


automóvel, marca Mercedes-Benz, modelo SL500, matrícula 03-27-SQ,
fosse a empresa “Manuel J. Godinho – Administrações Prediais, S.A.”, a sua
propriedade, antes da transferência para Paiva Nunes, pertencia a Paulo
Pereira da Costa.(confrontar Ap. 26, fls. 244 a 246).

68.º Como forma de ressarcimento por ter abdicado daquela viatura, a


pedido de Manuel Godinho, este entregou-lhe o veículo automóvel ligeiro de
passageiros, marca Mercedes-Benz, modelo SL500, matrícula 99-87-TM,
tendo para o efeito provisionado a conta n.º 05287273771 do Banif titulada
pela empresa “Mantenverde - Comércio de Sucatas Lda”, com o depósito do
cheque n.º 9338985065 emitido sobre a conta n.º 26824888101 do
Finibanco, titulada pela “O2”, no valor de 50.100,00€. (vide Ap. 162, fls. 99).

69.º Não obstante serem formalmente detidas pelo arguido Paulo Pereira da
Costa, as empresas “Mantenverde – Comércio de Sucatas, Ld.ª” e “Sucatas
109, Unipessoal, Ld.ª” são, por força do domínio e da ascendência que o
arguido Manuel Godinho exerce sobre aquele, efectivamente, controladas
por Manuel Godinho.

70.º As sociedades comerciais, denominadas “Mantenverde – Comércio de


Sucatas, Ld.ª” e “Sucatas 109, Unipessoal, Ld.ª” eram utilizadas no plano
traçado por Manuel Godinho para receber e, deste modo, branquear a
origem ilícita dos resíduos nobres subtraídos como se de ferrosos se
tratassem, dos não ferrosos retirados sem pesagem, dos não ferrosos

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pesados globalmente ignorando a necessária segregação e dos não ferrosos


objecto de subpesagem. (vide Ap. 23, fls. 137 e 138).

71.º Ao arguido Manuel Nogueira da Costa, de forma a ocultar a sua


proveniência, através da sua circulação entre empresas aparentemente
autónomas e sem relações comerciais com as empresas adjudicantes, cabia
a recepção dos resíduos ferrosos subtraídos, dos ferrosos retirados sem
pesagem, dos ferrosos pesados globalmente ignorando a necessária
segregação e dos ferrosos objecto de subpesagem nas instalações das
sociedades comerciais, denominadas “Ferrovar, Comércio Sucatas e
Reciclagens, Ld.ª” e “M5 Gestão de Resíduos Industriais, Unipessoal”, cuja
gerência de direito lhe pertence. (confrontar Ap. 28, fls. 52 a 124 e Ap. 23, fls.
55 a 58, fls. 59 a 62 e fls. 116 a 119).

72.º No quadro da vinculação de Manuel Nogueira da Costa a Manuel


Godinho, para além de, juntamente com a sua esposa, possuir um vínculo
laboral com a “O2”, a “Manuel J. Godinho – Administrações Prediais, S.A.”
forneceu-lhe um cartão de acesso ao serviço móvel terrestre, suportando os
custos decorrentes da sua utilização, e a RIBERLAU entregou-lhe o veículo
automóvel, marca BMW, modelo 525TDS, matrícula 95-63-JL, no valor de
10.000,00€. (vide Ap. 24, fls. 358 e 46, Ap. 25, fls. 266, 269 e 277 e Ap. 26,
fls. 248 a 252).

73.º O terreno no qual se acham edificadas as instalações da empresa “M5


Gestão de Resíduos Industriais, Unipessoal” é propriedade de Manuel
Godinho. (Confrontar Ap. 27, fls. 69 a 73).

74.º O arguido Manuel Nogueira da Costa nunca suportou qualquer renda


pela utilização daquele prédio.

1112
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75.º A sociedade comercial, denominada “M5 Gestão de Resíduos


Industriais, Unipessoal” não apresenta uma estrutura empresarial autónoma
do universo empresarial, directa ou indirectamente, gerido por Manuel
Godinho, não possuindo quaisquer recursos humanos ao seu serviço.

76.º Não obstante serem formalmente detidas pelo arguido Manuel


Nogueira da Costa, a “Ferrovar, Comércio Sucatas e Reciclagens, Ld.ª” e a
“M5 Gestão de Resíduos Industriais, Unipessoal” são, por força do domínio e
da ascendência que o arguido Manuel Godinho exerce sobre aquele,
efectivamente, controladas por Manuel Godinho.

77.º As sociedades comerciais, denominadas “Ferrovar, Comércio Sucatas


e Reciclagens, Ld.ª” e “M5 Gestão de Resíduos Industriais, Unipessoal” eram
utilizadas no plano traçado para receber e, deste modo, branquear a origem
ilícita dos resíduos ferrosos subtraídos, dos ferrosos retirados sem pesagem,
dos ferrosos pesados globalmente ignorando a necessária segregação e dos
ferrosos objecto de subpesagem.

78.º A Mário Pinho competia curar dos interesses de Manuel Godinho junto
da Administração Fiscal, diligenciando pela preterição de formalidades
essenciais quanto à eficácia das notificações e pela prática de nulidades
processuais insanáveis, por forma a garantir o arquivamento dos processos
fiscais movidos contra o universo empresarial, directa ou indirectamente,
gerido por Manuel Godinho.

79.º Como compensação pela sua colaboração, Manuel Godinho entregou


a Mário Pinho, pelo menos, 32.500,00€, o veículo automóvel ligeiro de
passageiros, da marca Audi, modelo A4 Avant Diesel, e com a matrícula nº
68-75-XX, no valor de 15.000,00€, e um cartão de acesso ao serviço móvel
terrestre de comunicações, suportando os custos decorrentes da sua
utilização; (vide Ap. 162, fls. 61).

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

80.º José Valentim assegurava a representação dos interesses de Manuel


Godinho na REFER, cabendo-lhe perscrutar informação privilegiada sobre o
posicionamento, o pensar e o sentir da administração da REFER
relativamente ao universo empresarial, directa ou indirectamente, por si
gerido, dar-lhe a conhecer o dia-a-dia daquela empresa, actuando como
informador, relatando-lhe acontecimentos e o posicionamento, o pensar e o
sentir de quadros superiores com funções relevantes para as suas
empresas, agir como núncio de Manuel Godinho junto de outros funcionários
da REFER e participar-lhe, previamente à sua divulgação pública, a
natureza, as condições e os termos dos concursos e das consultas públicas
de adjudicação de contratos de compra e venda e de prestação de serviços
na área dos resíduos a lançar pela REFER

81.º Por outro lado, José Valentim funcionava, também, como guia de
Manuel Godinho sempre que este se deslocava a Lisboa, nomeadamente
quando nesta Cidade se encontrava com Armando Vara, Paiva Nunes e
António Paulo Costa.

82.º Como contrapartida pela sua colaboração, Manuel Godinho entregou a


José Valentim, pelo menos, 37.973,55€, dois computadores portáteis, no
valor não inferior a 2.000,00€, e um cartão de acesso ao serviço móvel
terrestre, suportando os custos decorrentes da sua utilização; (Confrontar
com Ap. 162, fls. 76 e Ap. 25, fls. 263 a 268).

83.º Por outro lado, na prossecução do seu projecto delituoso, Manuel José
Ferreira Godinho criou uma rede tentacular integrada, entre outros, por Jorge
Paulo Martins Pereira dos Penedos, José Rodrigues Pereira dos Penedos,
Victor Manuel Costa Antunes Machado Baptista, Fernando Manuel dos
Santos, Juan Carlos Fernandes Oliveira, Fernando Vítor Lopes Barreira,
Armando António Martins Vara, Domingos José Paiva Nunes, António Paulo
Cadete de Almeida Costa, José António Chocolate Contradanças, António

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Silva Correia, José Fernando Magano Rodrigues, Carlos Porral Paes de


Vasconcellos, Manuel João Alves Espadinha Guiomar, Abílio Pinto Guedes,
José Manuel dos Santos Cunha e Ricardo José Carvalho Anjos, os quais,
pela forma adiante indicada, a troco da Aromessa e da entrega de vantagens
patrimoniais e/ou não patrimoniais para si e para terceiros consigo
relacionados, favoreciam e/ou exerciam a sua influência junto de titulares de
cargos governativos, de cargos políticos, de cargos de direcção, de
indivíduos que detêm capacidade pessoal de decisão, com capacidade para
influenciar determinantemente o decisor e com acesso a informação
privilegiada, no sentido do universo empresarial, directa ou indirectamente,
gerido por Manuel Godinho ser favorecido, nos termos supra expostos, nos
concursos e nas consultas públicas de adjudicação e, bem assim, na
adjudicação directa de contratos de compra e venda e de prestação de
serviços na área dos resíduos por parte de empresas públicas, de capitais
públicos, com participação maioritária de capital público, concessionárias de
serviços públicos e empresas privadas.

84.º Neste quadro, Manuel Godinho entregou a Paulo Penedos, pelo menos,
1.232,500,00€, sendo 490.500,00€ o saldo líquido favorável a Paulo Penedos dos fluxos
financeiros estabelecidos com Manuel Godinho; (vide Ap. 162, fls. 37).

85.º A Lopes Barreira, pelo menos, 25.000,00€; (vide Produtos 18 e 12676,


do Alvo 1T167PM e RDE de fls. 3228 a 3271).

86.º A Armando Vara, pelo menos, 25.000,00€;

87.º A Paiva Nunes, pelo menos, o veículo automóvel, marca Mercedes,


modelo SL500, matrícula 03-27-SQ, no valor de 50.000,00€; (Confrontar com
os Produtos 10580 a 10623, 11185, 11187, 11196, 11199, 11185 a 11273 e
10861 do Alvo 39559PM e RDE de fls. 2949 a 2953, RDE de fls. 2957 a
3005).

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S. R.

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88.º A António Paulo Costa, pelo menos, o veículo automóvel ligeiro, marca
Mercedes-Benz, modelo CL 65 AMG, com a matrícula nº 68-GV-25, no valor
de 284.376,00€; (vide Produto 192 do Alvo 39559PM, Produtos 12260 a
12538 e RDE de fls. 3182 a 3225).

89.º A Carlos de Vasconcellos, pelo menos, 2.500,00€ e um cartão de


acesso ao serviço móvel terrestre, suportando os custos decorrentes da sua
utilização; (vide Produto 16809 do Alvo 1T167PM e RDE de fls. 2018 a
2020).

90.º A Manuel Guiomar, pelo menos, 5.110,00€; (Confrontar com Ap. 162,
fls. 78).

91.º Celebrou com Carina Manuel Ribeiro Guedes, filha de Abílio Pinto
Guedes, um contrato de trabalho. (vide fls. 7788 a 7796).

92.º Daquela rede tentacular fazia, igualmente, parte, entre outros, André
Manuel Barbosa de Oliveira, o qual, a troco da promessa e da entrega de
vantagens patrimoniais e não patrimoniais para si e para terceiros consigo
relacionados, olvidava o exercício dos actos próprios das funções públicas
que desempenhava, praticava actos contrários aos seus deveres funcionais,
bem como exercia a sua influência para que outros os preterissem e/ou
praticassem, nomeadamente por forma a informar Manuel Godinho das
acções de fiscalização promovidas pela Guarda Nacional Republicana das
quais podiam ser alvo as empresas por si administradas.

93.º Manuel Godinho celebrou com Isabel Cristina Sousa Lucas Oliveira,
esposa de André Manuel Barbosa de Oliveira, um contrato de trabalho.
(Confrontar com Produtos 721, 16238, 16253, 16264, 16708, 19865 e 16590
do Alvo 1T167PM).

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94.º A rede tentacular criada e idealizada por Manuel Godinho incluía,


igualmente, entre outros, João Manuel Silva Valente, Manuel de São José
Gomes, Afonso Aguiar Figueiredo Costa, Rogério António Neto Nogueira e
João Manuel Tomás Tavares, os quais, a troco da promessa e da entrega de
vantagens patrimoniais e não patrimoniais, permitiam a subtracção e
apropriação de resíduos nobres como se de ferrosos se tratassem, a
subtracção e apropriação de resíduos metálicos como se de resíduos
industriais banais se tratassem, a incorrecta identificação dos resíduos
recolhidos, a adulteração do peso dos resíduos recolhidos, a retirada de
resíduos sem pesagem, a pesagem global dos diferentes resíduos recolhidos
ignorando a necessária segregação e a sobrefacturação dos serviços
prestados.

95.º Neste contexto, Manuel Godinho entregou a João Valente, pelo menos,
52.451,90€; (vide Ap. 162, fls. 112).

96.º A Manuel Gomes, pelo menos, 10.000,00€. (Confrontar com Produtos


1295, 1296, 1390, 1393 do Alvo 1T167PM e RDE de fls. 2787 a 2809).

97.º a João Tavares, pelo menos, 12.500,00€. (Vide RDE’s de fls. 2158 a
2164 e 2168 a 2191).

98.º Estes quantitativos monetários foram, essencialmente, reunidos e


disponibilizados em numerário granjeado. (vide Relatório de Pericia
Financeira – Ap. 162).

99.º Através do levantamento ao balcão por Maribel Rodrigues de cheques


emitidos sobre a conta particular de Manuel Godinho com o n.º
178182411001 do Finibanco a seu favor, perfazendo o montante global de,
pelo menos, 941.129,78 (com especial incidência no período entre 2001 e
2003);

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100.º Através do levantamento ao balcão de cheques emitidos a favor de


funcionários das suas empresas, que, em seguida, devolviam os montantes
neles inscritos, os quais totalizaram, pelo menos, 653.039,65€ (com
particular acuidade de 2003 em diante);

101.º Através da utilização do numerário decorrente da devolução, pelos


emitentes das facturas e documentos análogos supra aludidos, dos
montantes inscritos nos cheques emitidos para suportar o alegado
pagamento daquelas facturas e documentos (com relevo maior a partir de
2003);

102.º Através da emissão de cheques das contas tituladas por Manuel


Godinho (em qualquer um dos lapsos temporais identificados).

103.º Aquela teia de contactos, interesses e cumplicidades criada por Manuel


Godinho era do conhecimento de Maribel Rodrigues, Namércio Cunha, João
Godinho, Hugo Godinho, Manuel Nogueira da Costa, Paulo Costa, Mário
Pinho e José Valentim.

104.º Os arguidos Manuel Godinho, Maribel Marques Rodrigues, Namércio


Pereira da Cunha, João Jorge da Silva Godinho, Hugo Manuel de Sá
Godinho, Manuel Nogueira da Costa, Paulo Manuel Pereira da Costa, Mário
Manuel Sousa Pinho e José Domingos Lopes Valentim sabiam e quiseram
agir da forma supra descrita, agrupando-se entre si com a intenção de, por
forma concertada, em actuação articulada, estruturada e continuada no
tempo, darem concretização a um plano gizado pelo arguido Manuel
Godinho, que se assumia como líder da organização, dando ordens e
instruções, que os demais seguiam, tendo por finalidade o favorecimento,
nos termos referidos e adiante também descritos, das empresas por si
geridas nas suas relações comerciais com empresas públicas, de capitais
públicos, com participação maioritária de capital público, concessionárias de

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

serviços públicos e empresas privadas, designadamente nos concursos e


nas consultas públicas de adjudicação e, bem assim, na adjudicação directa
de contratos de compra e venda e de prestação de serviços na área dos
resíduos promovidos por aquelas empresas, através da promessa e da
entrega de vantagens patrimoniais e/ou não patrimoniais, a titulares de
cargos políticos, governativos e a indivíduos que exercem funções de poder,
detêm capacidade pessoal de decisão, com capacidade para influenciar
determinantemente o decisor e com acesso a informação privilegiada.

105.º Mais sabiam serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei, o
que quiseram.

106.º Pelo exposto, constituiu-se o arguido Manuel Godinho, co-autor


material, sob a forma consumada, de um crime de associação criminosa,
previsto e punido pelo art.º 299º, n.ºs 1 e 3 do Código Penal.

107.º Pelo exposto, constituíram-se os arguidos Maribel Marques


Rodrigues, Namércio Pereira da Cunha, João Jorge da Silva Godinho,
Hugo Manuel de Sá Godinho, Manuel Nogueira da Costa, Paulo Manuel
Pereira da Costa, Mário Manuel Sousa Pinho e José Domingos Lopes
Valentim, co-autores materiais, sob a forma consumada, de um crime de
associação criminosa, previsto e punido pelo art.º 299º, n.º 2 do Código
Penal.

PARTE II – Da Rede Ferroviária Nacional – REFER, E.P.E. e dos


arguidos Manuel José Ferreira Godinho, Maribel Marques Rodrigues,
Namércio Pereira da Cunha, João Jorge da Silva Godinho, Hugo Manuel
de Sá Godinho, Manuel Nogueira da Costa, Paulo Manuel Pereira da
Costa, Mário Manuel Sousa Pinho, José Domingos Lopes Valentim,

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

José Fernando Magano Rodrigues, António da Silva Correia, João


Manuel Silva Valente, Carlos Porral Paes de Vasconcellos, Manuel João
Alves Espadinha Guiomar, Abílio Pinto Guedes, Fernando Vítor Lopes
Barreira e Armando António Martins Vara

108.º A sociedade comercial, denominada “O2 – Tratamento e Limpezas


Ambientais, S.A.” (doravante denominada abreviadamente “O2”) é uma
sociedade anónima cujo accionista maioritário e presidente do conselho de
administração é Manuel Godinho.

109.º A sociedade comercial, denominada “SEF – Sociedade de Empreitadas


Ferroviárias, S.A.” (doravante designada abreviadamente “SEF”) é uma
sociedade anónima cujo accionista maioritário é Manuel Godinho e
presidente do conselho de administração António Adelino Oliveira Gonçalves
Gomes, irmão de José Albertino Gonçalves Melchior Gomes, advogado
pessoal de Manuel Godinho e do universo empresarial, directa ou
indirectamente, por este gerido.

110.º Ambas integram o que supra se designou de universo empresarial,


directa ou indirectamente, gerido por Manuel José Ferreira Godinho.

111.º A “O2”, pelo menos, no período de tempo compreendido entre 2004 e


2006, apresentava como seu principal fornecedor e cliente a Rede
Ferroviária Nacional – REFER, E.P.E (doravante abreviadamente designada
por REFER).

112.º A “SEF”, pelo menos, nos anos de 2004 e 2005, apresentava como seu
principal fornecedor e cliente a REFER.

113.º A REFER foi criada em 1997, pelo Decreto-Lei n.º 104/97, de 29 de


Abril, como empresa pública.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

114.º Em 22 de Julho de 2008, o Decreto-Lei n.º 141/08 alterou a


denominação da REFER para Rede Ferroviária Nacional – REFER, E.P.E,
entidade pública empresarial.

115.º A REFER encontra-se sob a tutela dos Ministérios das Finanças e das
Obras Públicas, Transportes e Comunicações.

116.º O escopo social da REFER repousa na prestação do serviço público de


gestão da infra-estrutura integrante da rede ferroviária nacional.

117.º A actividade da REFER abrange a construção, instalação e renovação


da infra-estrutura ferroviária, a gestão da capacidade da rede, o comando e
controlo da circulação e a conservação e manutenção da infra-estrutura.

118.º No período de tempo compreendido, pelo menos, entre 2002 e 2009,


lançando mão de diferentes peitas, Manuel Godinho urdiu, estimulou e
consolidou uma comunhão de interesses, conivências e cumplicidades com
funcionários da REFER com funções relevantes para o seu universo
empresarial, que lhe permitiu assegurar, em seu beneficio e em prejuízo da
REFER, o controlo dos diferentes patamares do processo de decisão e de
execução dos concursos e das consultas públicas na área dos resíduos.

119.º Esta teia de compromissos e vinculações não só possibilitou a Manuel


Godinho e às suas empresas a obtenção de avultadas mais-valias como
também lhe consentiu criar e difundir transversalmente a imagem de que
detinha capacidade pessoal para influenciar determinantemente o conjunto
dos trabalhadores e administradores da REFER nas suas acções, resoluções
e deliberações.

120.º Manuel Godinho visou e assegurou o domínio dos procedimentos


concursais e do exercício dos poderes/deveres de fiscalização.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

121.º Deste modo, alcançou a adjudicação às suas empresas de contratos


de prestação de serviços e de compra e venda na área dos resíduos, na
execução dos quais logrou a adulteração do peso dos resíduos recolhidos, a
retirada de resíduos sem pesagem, a pesagem global dos diferentes
resíduos recolhidos ignorando a necessária segregação e a sobrefacturação
dos serviços prestados.

122.º Entre o dia 29 de Novembro de 2000 e 28 de Janeiro de 2001,


condições climatéricas extremas causaram danos severos nas vias férreas
da área geográfica sob jurisdição da "Zona Operacional de Conservação do
Porto”.

123.º No dia 11 de Dezembro de 2000, caiu um bloco de pedra de grandes


dimensões na via férrea, ao Km. 85,100 da linha do Douro, junto da estação
de Ermidas, o que originou o descarrilamento do comboio n.° 4104.

124.º Face à gravidade do sucedido, à urgência na desobstrução da via e à


necessidade de realização de trabalhos de reforço de barreiras/taludes, de
molde a garantir as condições de segurança da circulação naquele local, o
Director da "Zona Operacional de Conservação do Porto”, José Moutinho,
promoveu a contratação, por "ajuste directo" das empresas "SEF" e
"Tecnasol".

125.º Por estes trabalhos, em Abril de 2001, a REFER pagou à "SEF" a


quantia de 386,909,09€ (factura n.° 30/2001, de 31. 01) correspondente aos
serviços prestados resultantes das intempéries do ano 2000 na Linha do
Douro ao Km. 85,100 na zona do acidente de Ermidas, nomeadamente para
desobstrução da via e reforço de barreiras/taludes.

126.º Sucede, contudo, que o arguido José Fernando Magano Rodrigues,


funcionário da REFER, exercendo, à data, as funções de Coordenador do

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Núcleo de Via da "Zona Operacional de Conservação do Porto”, imbuído do


propósito de favorecer a “SEF”, não cumpriu os poderes/deveres de
acompanhamento e fiscalização dos trabalhos realizados por aquela
empresa que lhe incumbiam.

127.º Assim, os valores facturados pela “SEF” foram pagos pela REFER sem
que se tenha previamente assegurado, através da medição dos trabalhos
concretamente realizados, de que o respectivo valor correspondia à
“qualidade”, “tipo” e ”quantidade” dos indicados nas facturas apresentadas a
pagamento.

128.º Com efeito, em 28 de Fevereiro de 2001, o arguido José Magano


Rodrigues e o arguido António da Silva Correia, funcionário da REFER,
exercendo, à data, as funções de Técnico do Eixo Douro e Minho, visando
beneficiar a “SEF”, apuseram a sua assinatura na factura n.° 30/2001, de
31.01, no valor de 386,909,09€, atestando a sua veracidade quanto à
“qualidade”, “tipo”, ”quantidades”, “preços” e “serviço prestado”.

129.º A emissão desta factura ancorou-se na requisição de serviços n.º 0529,


assinada pelo arguido José Magano Rodrigues, a qual, para além de ter sido
redigida em papel timbrado da “SEF”, foi elaborada em 05 de Janeiro de
2001, ocasião em que os trabalhos alegadamente efectuados pela "SEF" já
se achavam concluídos.

130.º Neste documento, o arguido José Magano Rodrigues, sem para tal
apresentar qualquer fundamentação, aceitou preços unitários para a
utilização de compressor e autobetoneira que não constavam da proposta da
“SEF”, bem como aceitou a facturação do preço unitário da mão-de-obra de
"oficiais" a 26,84€/hora quando o preço unitário constante da proposta
daquela empresa se cifrava em 16,31€/hora (o que significou um sobrecusto
de 12,629,56€).

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131.º De outro passo, tendo os trabalhos se prolongado por 25 dias (acidente


ocorreu em 11 de Dezembro de 2000 e em 05 de Janeiro de 2001 estavam
terminados os trabalhos de reparação encetados pela “SEF”), as horas de
máquinas e de mão-de-obra suportadas pela REFER corresponderiam,
nesse período, a mais de 24 horas de trabalho/dia, incluindo Sábados,
Domingos e Feriados.

132.º Aliás, a quantidade de meios alegadamente envolvidos não se mostra


ajustada à natureza da prestação de serviços, nem à exiguidade do espaço
disponível para a realização dos trabalhos.

133.º Na verdade, a “SEF” não realizou os trabalhos elencados na factura,


com suporte na utilização das máquinas e mão-de-obra referidos na
requisição.

134.º De facto, enquanto que o funcionário da REFER Alberto Aroso sindicou


e procedeu à medição dos trabalhos realizados pela “Tecnasol”, os quais
representaram o grosso da intervenção, os levados a cabo pela "SEF", que
assumiram natureza meramente residual, resumindo-se à movimentação de
pedras de maiores dimensões mediante o uso de uma máquina “Rail Route”,
não mereceram “medição” por parte do arguido José Magano Rodrigues, não
tendo sido elaborados os competentes autos.

135.º Assim, a REFER satisfez o pagamento de trabalhos não executados,


sofrendo um prejuízo patrimonial no montante de, pelo menos, 386,909,09€,
ao passo que Manuel Godinho e a “SEF” perceberam um benefício
patrimonial, ao menos, de idêntico valor.

136.º No âmbito dos serviços prestados resultantes das intempéries do ano


2000 na Linha do Douro ao Km. 85,100 na zona do acidente de Ermidas, a
"Zona Operacional de Conservação do Porto” pagou, ainda, à “SEF” a

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quantia de € 473.633.74, correspondente a seis outras facturas (n.°s 25 a 29


e 31/01), sendo que a n.º 25/01 e a n.º 31/01 respeitam a serviços que terão
sido efectuados noutros pontos da mesma linha do Douro.

137.º Também nesta factura, sem para tal apresentarem qualquer


fundamentação, visando favorecer a “SEF”, os arguidos José Magano
Rodrigues e Silva Correia aceitaram a facturação do preço unitário da mão-
de-obra de "oficiais" a 26,84€/hora quando o preço unitário constante da
proposta da “SEF” se cifrava em 16,31€/hora.

138.º Esta divergência de valores traduziu-se, desde logo, num sobrecusto


de 9.577,42€, montante, como tal, indevidamente satisfeito a Manuel
Godinho e à "SEF" pelas horas de mão-de-obra de "oficiais".

139.º Como tal, a REFER sofreu um prejuízo patrimonial no montante de,


pelo menos, 9.577,42€, sendo que Manuel Godinho e a “SEF” perceberam
um benefício patrimonial, ao menos, de idêntico valor.

140.º Em data não concretamente apurada do ano de 2002, Manuel Godinho


solicitou a Silva Correia que, enquanto responsável pela área de construção
civil da "Zona Operacional de Conservação do Porto” e Coordenador do Eixo
Douro e Minho, a troco de compensações patrimoniais e/ou não patrimoniais,
o favorecesse a si e às suas empresas nas suas relações com a REFER
preterindo os interesses desta, designadamente adjudicando directamente às
empresas integrantes do seu universo empresarial contratos de compra e
venda e de prestação de serviços na área dos resíduos, bem como criando
as condições e permitindo a adulteração do peso dos resíduos recolhidos.

141.º Para tanto, nos anos de 2002, 2004, 2005 e 2007, a propósito da
quadra natalícia, por forma a, desde logo, criar e potenciar um clima de
permeabilidade e cumplicidade para posteriores diligências e de

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predisposição à aceitação das suas pretensões ou mesmo com carácter


remuneratório (bónus), Manuel Godinho entregou, em nome das sociedades
comerciais que compõem o universo empresarial, directa ou indirectamente,
por si gerido, diferentes bens, a título de presentes, ao arguido Silva Correia.

142.º No ano de 2002, Silva Correia viu ser-lhe atribuída a categoria B, a


quinta mais elevada, tendo recebido uma garrafa de vinho “Zanzibar”, no
valor de 128,60€; no ano de 2004, recebeu um delicanter base de prata, no
valor de 465,00€; no ano de 2005, recebeu uma jarra light grande, no valor
de 131,20€; no ano de 2007, recebeu uma garrafa “OZ”, no valor 131,30€.
(vide fls. 1890 e ss. – Lista de Prendas).

143.º Perante as contrapartidas prometidas e recebidas, Silva Correia,


transaccionando com a sua qualidade de funcionário da REFER, em
flagrante violação das suas obrigações funcionais e com notório prejuízo
para a sua entidade patronal, aceitou a proposta de Manuel Godinho.

144.º Por concurso público, foi adjudicado à “SEF” o contrato n.º


06/01/CA/CN, cujo objecto radicava na recolha de terras e detritos em toda a
rede ferroviária nacional de via larga, por um período de 3 anos, com
terminus a 20 de Abril de 2004, no valor global de 947.711,02€.

145.º Nos termos deste contrato, a facturação seria emitida mensalmente


tendo por referência os trabalhos realizados no mês anterior que tivessem
sido objecto de autos de medição.

146.º Servindo-se deste contrato, o arguido Silva Correia, enquanto


responsável pela área de construção civil da "Zona Operacional de
Conservação do Porto” e Coordenador do Eixo Douro e Minho, no período de
tempo compreendido entre 29 de Abril e 28 de Dezembro de 2003, autorizou
a realização de trabalhos em diferentes linhas sob a sua jurisdição, no

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S. R.

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montante global de 1.622.140,00€, excedendo, por si só, largamente o valor


da adjudicação que vigorava ainda por mais 16 meses e conhecia âmbito
nacional e, assim, em violação dos princípios da legalidade, objectividade,
imparcialidade, independência, transparência, da livre e sã concorrência,
permitiu à “SEF” efectuar trabalhos por ajuste directo, sem se sujeitar aos
competentes procedimentos concursais.

147.º De facto, o arguido Silva Correia, para além de ter ordenado a


execução de trabalhos sem cobertura contratual, sem suporte documental,
sem projecto e sem proposta, por forma a ultrapassar os constrangimentos
decorrentes da natureza nacional do contrato, nomeadamente no que ao
valor se reportava, processou cada uma das intervenções que autorizou
como se de uma prestação de serviços isolada se tratasse.

148.º Assim, não obstante os autos de medição apresentassem campos de


preenchimento relativos aos trabalhos realizados anteriormente, estes nunca
foram preenchidos.

149.º Por outro lado, de modo a inviabilizar qualquer tentativa de verificação


dos trabalhos efectivamente realizados, não juntou aos autos de medição os
documentos que os deviam suportar, ordenou que fossem elaborados autos
de medição para trabalhos e quantidades distintas dos executados, ordenou
que fossem introduzidos em SAP autos de medição validados apenas pelo
encarregado de infra-estruturas e permitiu um volume de trabalho
incompatível com os meios humanos e materiais de que dispunha para a sua
fiscalização, o que resultou na aceitação de autos baseados, única e
exclusivamente, nas quantidades apresentadas pela “SEF”.

150.º Acresce que nos trabalhos que mereceram acompanhamento e


fiscalização, nomeadamente os realizados na Linha do Vouga, converteu os

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valores apurados relativamente aos meios empregues para que


encontrassem cabimento no contrato adjudicado à “SEF”.

151.º Destarte, sem autorização do Conselho de Administração da REFER,


exorbitando os seus poderes e competências enquanto Coordenador do Eixo
Douro e Minho, o arguido Silva Correia, de comum acordo e em conjugação
de esforços com Manuel Godinho, sob o suposto enquadramento do contrato
n.º 06/01/CA/CN, adjudicou à “SEF”, no período de tempo compreendido
entre 29 de Abril e 28 de Dezembro de 2003, a realização de trabalhos em
diferentes linhas sob a sua jurisdição, no montante global de 1.132.068,27€.

152.º Manuel Godinho, de comum acordo e em conjugação de esforços com


o arguido Silva Correia, apresentou para pagamento à REFER facturas no
montante de 1.622.140,00€, as quais sabia que, com excepção da n.º 30147,
correspondiam a trabalhos realizados mediante adjudicação do arguido Silva
Correia exorbitando a sua esfera de poderes e competências, sem
autorização do Conselho de Administração da REFER e sem qualquer
suporte contratual.

153.º A REFER, pese embora tenha devolvido algumas das facturas


emitidas, perante a realização dos trabalhos, nada mais pode fazer senão
pagar à “SEF” 1.132.068,27 €, sendo certo que apenas uma das facturas
conheceu liquidação ao abrigo do contrato n.º 06/01/CA/CN, tendo as
restantes sido satisfeitas sem cobertura contratual.

154.º Deste modo, a “SEF” e o arguido Manuel Godinho obtiveram um


beneficio ilegítimo, no montante de 1.109.097,02€, correspondente aos
trabalhos adjudicados pelo arguido Silva Correia excedendo a sua esfera de
poderes e competências, sem autorização do Conselho de Administração da
REFER e sem qualquer suporte contratual.

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155.º Por concurso público, em 20 de Fevereiro de 2002, foi adjudicada à


“O2” a venda de materiais de via – carris de ferro, travessas de madeira e
respectivos elementos de ligação/fixação - pelo período de um ano.

156.º Ao arrepio do expressamente previsto na clausula 19.1 do Programa


do Concurso, esta adjudicação não foi formalizada em título contratual
próprio, tendo sido apenas comunicada à “02” através de um oficio, sem
número, datado de 20 de Fevereiro de 2002 e assinado por João Silva,
funcionário da Direcção de Aprovisionamento e Logística, com indicação dos
preços unitários.

157.º Ao arguido Silva Correia competia, enquanto Coordenador do Eixo


Douro e Minho, a gestão dos troços desactivados das linhas do Tâmega e
Tua.

158.º Sem autorização do Conselho de Administração da REFER,


exorbitando os seus poderes e competências enquanto Coordenador do Eixo
Douro e Minho, em data posterior a Fevereiro de 2003, o arguido Silva
Correia adjudicou à “02” o desmantelamento da linha do Tua do Km 58,300
ao 65,300 e da linha do Tâmega do Km 13 ao 22,500.

159.º Deste modo, em violação dos princípios da legalidade, objectividade,


imparcialidade, independência, transparência, da livre e sã concorrência,
permitiu à “O2” efectuar trabalhos por ajuste directo, sem se sujeitar aos
competentes procedimentos concursais.

160.º Pese embora, soubesse que a adjudicação para a venda de materiais


de via havia cessado em Fevereiro de 2003 e que a adjudicação concedida
pelo arguido Silva Correia excedia a sua esfera de poderes e competências e
carecia de autorização do Conselho de Administração da REFER, Manuel
Godinho, de comum acordo e em conjugação de esforços com o arguido

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Silva Correia, instruiu funcionários da “O2” a encetarem o levantamento da


linha do Tua do Km 58,300 ao 65,300 e da linha do Tâmega entre o Km 13 e
o 22,500.

161.º Destarte, no período compreendido entre 06 e 27 de Outubro de 2003,


na linha do Tâmega entre o Km 13 e o 22,500, em Amarante, funcionários da
“O2”, seguindo ordens e instruções de Manuel Godinho, não obstante este
soubesse que a adjudicação para a venda de materiais de via havia cessado
em Fevereiro de 2003 e que a adjudicação concedida pelo arguido Silva
Correia excedia a sua esfera de poderes e competências e carecia de
autorização do Conselho de Administração da REFER, retiraram 504,240 Kg
de carril, 7,700Kg de terifons e 7,500 Kg de barretas.

162.º Findo o levantamento, Manuel Godinho e Hugo Godinho recusaram-se


a assinar as respectivas guias de remessa, alegando divergências entre as
quantidades ali apostas e as pesagens por si realizadas.

163.º Abílio Pinto Guedes, comungando do propósito de Manuel Godinho de


manipular as pesagens dos resíduos recolhidos, omitiu os poderes/deveres
que decorriam das funções que desempenhava então na REFER e permitiu
que as guias de remessa não fossem assinadas, assim criando condições
para que a “O2” viesse a apresentar valores de pesagem substancialmente
inferiores.

164.º Nas guias de remessa apresentadas pela REFER achavam-se


registadas 25 cargas, perfazendo um peso total de 501,000Kg.

165.º Ao invés, a “O2” exibiu dois valores completamente distintos, nas


pesagens que efectuou, não só nos pesos, como também no número de
cargas.

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166.º Num primeiro registo, relatou 22 cargas num total de 307,120Kg


(acresce uma inscrição manuscrita por João Godinho no sentido de serem
retirados 15% para resíduos de madeira que acompanhavam os postes e
terras).

167.º Num segundo registo, mencionou 24 cargas num total de 361,040Kg.

168.º Um e outro registo exibiam talões de pesagem distintos, provenientes


de diferentes básculas.

169.º Ainda que se tenha recusado a firmar as guias de remessa, o mesmo


já não sucedeu quanto às guias de levantamento, as quais evidenciavam um
levantamento de 519,440 Kg carril e sucata miúda.

170.º Não obstante, os documentos relativos ao levantamento realizado na


linha do Tâmega lhe tenham sido entregues em 12 de Dezembro de 2003,
com a indicação da verificação de discrepâncias entre a quantidade de
sucata existente no troço e os valores apresentados pela “O2”, o arguido
Silva Correia reteve-os e apenas os remeteu, em 14 de Abril de 2004, dois
dias antes de cessar funções como Coordenador do Eixo Douro e Minho, à
Direcção de Aprovisionamento e Logística.

171.º No período de tempo em que manteve aqueles documentos em seu


poder, o arguido Silva Correia solicitou a Manuel Godinho o envio de outros
talões de pesagem que diminuíssem as diferenças detectadas entre a
quantidade de sucata existente no troço e os valores apresentados pela
“O2”.

172.º Em 02 de Fevereiro de 2004, satisfazendo a demanda de Silva Correia,


Manuel Godinho entregou-lhe novos talões de pesagem com distintos
valores e com origem numa diferente balança (os segundos supra aludidos).

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173.º Ao enviar estes documentos à Direcção de Aprovisionamento e


Logística, o arguido Silva Correia, como forma de justificar o atraso e pese
embora soubesse que tal não correspondia à verdade, consignou ter
recebido os talões de pesagem da “O2” somente em 02 de Fevereiro de
2004.

174.º Com a recepção da documentação na Direcção de Aprovisionamentos


e Logística da REFER, foi promovida a facturação do material com base nas
quantidades indicadas pela “O2”, com a advertência de que as quantidades
seriam provisórias e, logo que possível rectificadas.

175.º Todavia, a apresentação de dois conjuntos de documentos de


pesagem pela “O2” redundaria na emissão de duas facturas.

176.º Uma suportada pelo segundo conjunto de talões de pesagem


apresentado pela “O2”, com 361,040 Kg, no valor de 60.149,26€.

177.º Outra ancorada nas primeiras pesagens apresentadas, subtraídos os


15% correspondentes à inscrição manuscrita por João Godinho, com
261,052 Kg, no montante de 43.491,26€.

178.º Assim, a REFER acabou por facturar 622,092 Kg de sucata, superando


a quantidade de carril levantado.

179.º Sucede, contudo, que, não obstante não tivesse sido removido
qualquer balastro, o arguido Silva Correia ordenou que fossem satisfeitos
pela REFER custos resultantes da sua alegada remoção ao abrigo do
contrato 06/01/CA/CN.

180.º Desta forma, a REFER suportou um prejuízo patrimonial não inferior a


5.500,00€.

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181.º Entre 22 de Dezembro de 2003 e 13 de Janeiro de 2004, na linha do


Tua do Km 58,300 ao 65,300, funcionários da “O2”, seguindo ordens e
instruções de Manuel Godinho, não obstante este soubesse que a
adjudicação para a venda de materiais de via havia cessado em Fevereiro de
2003 e que a adjudicação concedida pelo arguido Silva Correia excedia a
sua esfera de poderes e competências e carecia de autorização do Conselho
de Administração da REFER, retiraram 504,680Kg de carril.

182.º Em 02 de Março de 2004, a “O2” remeteu à REFER talões de pesagem


reflectindo a recolha de 390,670 Kg.

183.º Em 29 de Março de 2004, o arguido Silva Correia solicitou a Alberto


Aroso, funcionário da REFER, que havia pessoalmente incumbido do
acompanhamento dos trabalhos, a adulteração das quantidades de materiais
constantes das guias de remessa e do modelo 60-210, de 504,680Kg de
carril para 100,000Kg, ao que aquele recusou.

184.º Perante a recusa, o arguido Silva Correia solicitou-lhe a remessa dos


livros das guias de remessa e do modelo 60-210.

185.º No dia 15 de Abril de 2004, dia imediatamente anterior à cessação da


sua comissão de serviço enquanto Director do Eixo Douro e Minho, o arguido
Silva Correia remeteu os documentos ao Director de Conservação, com
conhecimento à Direcção de Aprovisionamentos e Logística, dando conta
das divergências dos pesos apresentados, dado enfoque à forma como
haviam sido preenchidas as guias de remessa (23 delas reportavam o
mesmo peso, nenhuma se encontrava assinada e algumas não
apresentavam a indicação da viatura encarregue do transporte).

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186.º Com a recepção da documentação, foi promovida a facturação do


material com base nas quantidades indicadas pela “O2”, seguindo a mesma
metodologia do levantamento na linha do Tâmega.

187.º Como tal, foi emitida factura pela quantidade de 390,680 Kg, no
montante de 65.087,29€.

188.º Deste modo e face aos 504.680Kg de carril a que ascendeu o


levantamento, não foram facturados 114,000Kg, no valor de 15.960,00€,
quantia de que a REFER se viu privada e da qual Manuel Godinho se
locupletou.

189.º Após estes levantamentos, em data não concretamente apurada, mas


situada entre finais de Janeiro e finais de Fevereiro de 2004, Manuel
Godinho, não obstante soubesse que para tal não dispunha de autorização
do Conselho de Administração da REFER ou suporte contratual, ordenou a
funcionários da “02”, que se deslocassem à linha do Tua entre o Km 90,500
e 94,190, em Salselas, área da Comarca de Macedo de Cavaleiros, e
retirassem e fizessem coisa sua o carril e as travessas de madeira aí
existentes.

190.º Logo após, seguindo ordens e instruções de Manuel Godinho,


funcionários da “02” deslocaram-se à linha do Tua entre o Km 90,500 e
94,190, em Salselas, área da Comarca de Macedo de Cavaleiros, e retiraram
e fizeram coisa de Manuel Godinho 3.690 metros de carril e 5.275 unidades
de travessas de madeira e respectivos elementos de ligação e fixação, no
valor global de 106.585,00€.

191.º Como consequência directa e necessária destes factos, entendeu a


REFER apresentar, em 15 de Abril de 2004 e em 24 de Abril de 2007, duas

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queixas-crime contra a “O2”, as quais vieram a dar origem aos inquéritos sob
os NUIPC´s 120/04.2GAMCD e 149/07.9TAMCD.

192.º Mais decidiu a REFER instaurar, em 16 de Abril de 2007, acção


declarativa condenatória contra a “O2”, que correu termos no Tribunal
Judicial de Macedo de Cavaleiros, sob o número 188/07/0TBMCD, e que
mereceu a designação pela comunicação social de “Carril Dourado”.

193.º Na sequência da cessação de funções do arguido Silva Correia, o


Conselho de Administração da REFER deliberou suspender todo e qualquer
levantamento e, concomitantemente, criar um grupo de trabalho para
compilação de procedimentos a adoptar na gestão de resíduos, que
obstassem ao surgimento de situações similares às acontecidas com o
arguido Silva Correia.

194.º De outro passo, de modo a regularizar a questão dos levantamentos,


decidiu, não obstante a sua cessação tivesse ocorrido em Fevereiro de 2003,
prorrogar a vigência do contrato celebrado em 2002 com a “O2” até 20 de
Abril de 2004.

195.º Fruto do trabalho daquele grupo, o Conselho de Administração da


REFER veio a aprovar a norma 01105-AM-AL, na qual condensou os
procedimentos a adoptar na gestão de resíduos.

196.º Em Outubro de 2004, o Conselho de Administração ordenou que fosse


retomada a alienação de resíduos.

197.º A partir de então, a REFER optou por realizar concursos autónomos,


lote a lote, abandonando a celebração de contratos anuais para alienação de
resíduos.

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198.º Por outro lado, os levantamentos passaram a ser acompanhados por


três funcionários da REFER – um do órgão gerador do resíduo, outro da
Direcção de Aprovisionamento e Logística e outro da Direcção de Ambiente.

199.º Simultaneamente, lançou os procedimentos para a qualificação de


operadores de resíduos, quer banais, quer perigosos.

200.º Pelo contrato n.º 07/05-CA/AM, celebrado a 26 de Setembro de 2005,


foi adjudicada à “O2” a prestação de serviços de valorização de 5.000
toneladas de travessas de betão bi-bloco consideradas não utilizáveis, a
executar no prazo de sete meses, pelo valor estimado de 175.406,00€.
(Confrontar com fls. 997 a 1008 do NUIPC 3/08.7TELSB).

201.º O clausulado deste contrato previa a possibilidade da sua prorrogação


por um período de seis meses para a valorização de um segundo lote de
5.000 toneladas de travessas de betão bi-bloco consideradas não utilizáveis,
o que a acontecer acarretaria um acréscimo do montante estimado para
335.706,00€.

202.º Apresentava como indicador de controlo de produção a composição da


travessa assente numa relação de 9 de betão para 1 de aço.

203.º A fracção de betão seria removida e a de aço restava na posse da


REFER.

204.º Estas travessas de betão bi-bloco consideradas não utilizáveis


achavam-se concentradas no Complexo Logístico da REFER, sito no
Entroncamento. (Confrontar com fls. 42 do NUIPC 3/08.7TELSB).

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205.º O arguido João Manuel Silva Valente é funcionário da REFER, desde


07 de Junho de 1997, exercendo, desde então, funções no Complexo
Logístico da REFER, sito no Entroncamento. (vide Ap. AJ7, fls. 221).

206.º Foi admitido como responsável no sector de viaturas, máquinas e


equipamentos, sendo que, em 01 de Janeiro de 1998, foi transferido para o
núcleo de gestão de materiais.

207.º Em 01 de Agosto de 1998, foi nomeado responsável pelo núcleo de


gestão de armazéns e aprovisionamentos, tendo sido transferido, em 01 de
Abril de 2002, para a Logística, departamento para o qual foi nomeado
Director, em 01 de Junho de 2003, funções que ainda desempenha.

208.º Enquanto Director do Departamento de Logística da REFER era e é


responsável pelo Complexo Logístico, sito no Entroncamento.

209.º Em 30 de Dezembro de 2001, Manuel Godinho solicitou a João Valente


que, a troco de compensações patrimoniais e/ou não patrimoniais, omitisse
os poderes/deveres de fiscalização públicos que lhe incumbiam no
desempenho das suas funções enquanto Director do Departamento de
Logística da REFER.

210.º Para tanto, no período compreendido entre 30 de Dezembro de 2001 e


26 de Agosto de 2002, Manuel Godinho entregou a João Valente, pelo
menos, 52.451,90€.

211.º Nos anos de 2002, 2004 e 2006, a propósito da quadra natalícia, por
forma a, desde logo, criar e potenciar um clima de permeabilidade e
cumplicidade para posteriores diligências e de predisposição à aceitação das
suas pretensões ou mesmo com carácter remuneratório (bónus), Manuel
Godinho entregou, em nome das sociedades comerciais que compõem o

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universo empresarial, directa ou indirectamente, por si gerido, diferentes


bens, alguns de valor considerável, a título de presentes, a João Valente.

212.º No ano de 2002, João Valente viu ser-lhe atribuída a categoria B, a


quinta mais elevada, tendo recebido uma garrafa de vinho “Zanzibar”, no
valor de 128,60€; no ano de 2004, foi-lhe atribuída a categoria A, a quarta
mais elevada, tendo recebido um delicanter base Madeira, no valor de
183,00€; no ano de 2006, recebeu um centro de castiçais ritual, no valor de
1.100,00€. (Vide fls. 1864 a 1902 – 6º Vol – Lista de Prendas).

213.º Perante as contrapartidas prometidas e recebidas, João Valente,


mercadejando com a sua qualidade de funcionário da REFER, em flagrante
violação das suas obrigações funcionais e com notório prejuízo para a sua
entidade patronal, aceitou a proposta de Manuel Godinho.

214.º A gestão do contrato de prestação de serviços de valorização de 5.000


toneladas de travessas de betão bi-bloco consideradas não utilizáveis foi
partilhada pela Direcção do Ambiente e pelo Departamento de Logística.
(Confrontar com fls. 42 do NUIPC 3/08.7TELSB).

215.º Ao Departamento de Logística cabia assegurar os procedimentos


inerentes à fiscalização da execução dos trabalhos, nomeadamente os
relativos ao acompanhamento das cargas de materiais no terreno e, bem
assim, à pesagem e emissão da documentação inerente ao controlo de todo
o processo. (Confrontar com fls. 42 do NUIPC 3/08.7TELSB).

216.º Para controlo da execução do contrato eram realizadas reuniões


mensais, estando presentes responsáveis da Direcção de Logística – arguido
João Valente -, Direcção de Ambiente e da “O2”. (Confrontar com fls. 42 do
NUIPC 3/08.7TELSB).

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217.º Todavia, o Departamento de Logística, na pessoa do seu Director, o


arguido João Valente, não cumpriu os poderes/deveres de acompanhamento
e fiscalização destes trabalhos que lhe incumbiam.

218.º Com efeito, o arguido João Valente não utilizou as folhas de controlo
instituídas pela REFER, não acompanhou os trabalhos de carga e descarga
de materiais, não instruiu o processo de fiscalização com os documentos
internamente definidos e os legalmente exigidos, preencheu de modo
incorrecto e incompleto as guias de remessa, designadamente consignando
horas e/ou datas daquelas posteriores às da saída dos camiões, não as
numerou de forma sequencial e preencheu de forma incorrecta os talões de
pesagem. (Confrontar com fls. 48 e 49 do NUIPC 3/08.7TELSB.

219.º Nos termos deste contrato, para além da “02” se ter comprometido com
um limite mínimo diário de fragmentação de 248 travessas, a proporção entre
betão e aço devia situar-se numa relação de 9 para 1 e a separação da
fracção metálica da fracção de betão devia ocorrer à cadência diária de 44,8
toneladas de betão (capacidade máxima indicada pela “O2”). (vide Ap. AJ6,
fls. 292 a 296 e Fls. 997 a 1008 do NUIPC 3/08.7TELSB).

220.º No dia 02 de Fevereiro de 2006, António Normando Maia Ramos e


João Domingos Morais Sarmento, técnicos da Direcção do Ambiente,
realizaram uma visita ao local dos trabalhos, tendo constatado que havia
pouco betão para escoar. (vide Ap. AJ6, fls. 185 a 188 e 292 a 296).

221.º Não obstante, no período de tempo compreendido, entre os dias 2 e 10


de Fevereiro de 2006, apurou-se uma proporção de 12,56 de betão para 1 de
aço e foram pesados 27 camiões, correspondendo a 575 toneladas de betão.
(Confrontar com fls. 44 e 45 do NUIPC 3/08.7TELSB).

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222.º Esta quantidade de betão representava uma produtividade média diária


de 82 toneladas quando a capacidade máxima diária afirmada pela “02” era
de 44,8 toneladas. (Confrontar com fls. 44 e 45 do NUIPC 3/08.7TELSB).

223.º Sucede que funcionários da “02”, seguindo ordens e instruções de


Manuel Godinho, pelo menos, neste período, carregaram aqueles camiões
com uma carga composta por 4/5 de terra e apenas 1/5 de betão.
(Confrontar com fls. 44 e 45 do NUIPC 3/08.7TELSB).

224.º Face às suspeitas suscitadas pela produtividade evidenciada, no dia 13


de Fevereiro de 2006, realizou-se uma reunião no Complexo Logístico da
REFER, sito no Entroncamento, entre António Normando Maia Ramos e
João Domingos Morais Sarmento, em representação da Direcção do
Ambiente, e Helena Neves, Isabel Pires e o arguido João Valente, em nome
da Direcção de Aprovisionamento e Logística. (Confrontar com fls. 44 e 45
do NUIPC 3/08.7TELSB).

225.º Na sequência desta reunião, deslocaram-se aqueles técnicos ao local


de execução dos trabalhos de fragmentação e carregamento de forma a
descortinar o sucedido.

226.º Logo após, tendo detectado um camião da “O2” prestes a ser pesado,
decidiram verificar o processo de pesagem na presença de um representante
daquela empresa.

227.º De imediato, na báscula, o arguido João Valente e António Normando


Maia Ramos subiram ao camião para verificar o teor da carga.

228.º Aí, constataram que a carga incluía blocos inteiros de travessas de


betão e armaduras de aço. (Confrontar com fls. 1010 a 1013 do NUIPC
3/08.7TELSB).

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229.º Como tal, ordenaram o descarregamento do camião, ao que


verificaram a saída inicial de uma camada diminuta de betão (1/5 da carga),
sendo a restante carga composta por terra (4/5 da carga).

230.º Em 10 de Março de 2006, após cálculos efectuados com base nos


registos de pesagens de betão, na razão contratualizada de betão e ferro
presente nas travessas – 9 para 1 – e considerando a tolerância de perda de
armadura ferrosa admitida no contrato – 1% - apurou a REFER um prejuízo
de 10.558,79€. (Confrontar com fls. 46 do NUIPC 3/08.7TELSB).

231.º Como consequência do acontecido, a REFER classificou como


fraudulenta a conduta da “02”, ordenando a imediata suspensão dos
trabalhos, seguidamente formalizada por carta de 17 de Fevereiro de 2006, e
a rescisão do contrato, com efeitos reportados a 16 de Fevereiro de 2006.
(Confrontar com fls. 46 do NUIPC 3/08.7TELSB).

232.º Mais foi determinada a realização de um inquérito à gestão do contrato


e uma auditoria interna. (Confrontar com fls. 46 do NUIPC 3/08.7TELSB).

233.º Nos dias 22 e 23 de Fevereiro de 2006, na presença de representantes


da REFER e da “O2” procedeu-se à pesagem da armação ferrosa existente
no Entroncamento resultante da fragmentação do betão tendo-se apurado o
peso de 87.660 kg o que adicionado ao material ferroso vendido e retirado
em Janeiro de 2006, com o peso de 150,800 kg, perfaz o montante de
238.460 kg (238,46 toneladas), pelo que o betão que na proporção de 1 para
9 corresponderia a tal quantidade de material ferroso seria apenas de
2.146,14 toneladas e não as 3.153,61 toneladas que a “O2” fizera passar nas
pesagens efectuadas como se de betão se tratasse, constatando-se existir
uma diferença de 1.007,47 toneladas. (Confrontar com fls. 1038 do NUIPC
3/08.7TELSB).

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234.º Caso a “O2” por força da actuação dos arguidos lograsse que lhe fosse
paga a fragmentação e valorização das 1.007,47 toneladas que fez passar
nas pesagens como betão fragmentado, lograria locupletar-se com a quantia
total de 34.314,43€ correspondentes à multiplicação das 1007,14 toneladas
pelo preço da fragmentação e valorização fixados no contrato (1.007,14 X
34,06 €).

235.º Devido à suspensão da execução e posterior rescisão do contrato, não


foram pagas à “O2” as 622,13 toneladas extraídas em Fevereiro de 2006,
pelo que a “O2” por força da actuação dos arguidos só logrou locupletar-se
com a importância de 13.124,68€, correspondentes às remanescentes
385,34 toneladas (1007,14 - 622,13 = 385,34) que já tinham sido facturadas
pela “O2” até final de Janeiro de 2006.

236.º Perante o sucedido, em data não concretamente apurada, mas


posterior a 13 de Fevereiro de 2006 e anterior a Março do mesmo ano,
Manuel Godinho contactou Armando Vara e Lopes Barreira com o propósito
de estes, a troco de contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais para si
e/ou para terceiros, por si só ou em acção concertada, exercerem a sua
influência junto de titulares de cargos políticos e governativos no sentido da
resolução e superação do diferendo assim surgido entre a “O2” e a “REFER”,
com prevalência dos seus interesses e da sua empresa.

237.º Mais lhes solicitou que, junto daqueles, diligenciassem pela alteração
do comportamento comercial da REFER e do Presidente do Conselho de
Administração desta empresa para com a “02”, por forma a que as
pretensões de Manuel Godinho conhecessem acolhimento, bem como pela
manutenção do arguido João Valente nas funções que desempenhava, pese
embora a sua actuação em notório prejuízo da REFER na execução do
contrato de valorização de 5.000 toneladas de travessas de betão bi-bloco.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

238.º Para tanto, Manuel Godinho prometeu dar-lhes dinheiro e


contrapartidas não patrimoniais, bem como donativos para o Partido
Socialista.

239.º Nos anos de 2004, 2006 e 2007, a propósito da quadra natalícia, por
forma a, desde logo, criar e potenciar um clima de permeabilidade e
cumplicidade para posteriores diligências e de predisposição à aceitação das
suas pretensões ou mesmo com carácter remuneratório (bónus), Manuel
Godinho entregou, em nome das sociedades comerciais que compõem o
universo empresarial, directa ou indirectamente, por si gerido, diferentes
bens, a título de presentes, a Armando Vara e Lopes Barreira. (Vide fls. 1864
a 1902 – Lista de Prendas).

240.º No ano de 2004, Armando Vara viu ser-lhe atribuída a categoria AAA, a
segunda mais elevada, tendo recebido um estojo com decantador, Herdade
de Prata, no valor de 685,00€; no ano de 2006, manteve aquela categoria,
tendo recebido uma caneta Mont Blanc e um relógio, no valor global não
inferior a 1.500,00€.

241.º No ano de 2006, Lopes Barreira viu ser-lhe atribuída a categoria AAA,
a segunda mais elevada, tendo recebido um cantil português e um relógio,
no valor global não inferior a 1.500,00€; no ano de 2007, foi-lhe atribuída a
categoria A, tendo recebido uma caneta Mont Blanc, no valor de 330,00€.

242.º Perante as contrapartidas prometidas e recebidas, Armando Vara e


Lopes Barreira aceitaram a proposta de Manuel Godinho.

243.º Na execução do acordo celebrado com Manuel Godinho, Armando


Vara e Lopes Barreira promoveram contactos com Mário Lino, à data,
Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, no sentido da
resolução e superação do diferendo entre a “O2” e a “REFER”, com

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

prevalência dos interesses de Manuel Godinho e da sua empresa e, bem


assim, da necessidade da REFER alterar o seu comportamento comercial
para com a “02” e do arguido João Valente se manter no exercício das
funções que desempenhava.

244.º Na sequência destes contactos, em Março de 2006, Mário Lino


interpelou a então Secretaria de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino,
sob cuja tutela directa se encontrava a REFER, indagando-a sobre o
acontecido no Entroncamento e expressando-lhe que Armando Vara e Lopes
Barreira, indivíduos que qualificou como muito importantes no PS, se
achavam muito preocupados com o comportamento inflexível do Presidente
do Conselho de Administração da REFER, Luís Pardal, para com a “O2” e o
funcionário da REFER e ora arguido João Valente.

245.º Aduziu que Luís Pardal estava a perseguir a “O2” e o arguido João
Valente por ter “boas relações” com aquela empresa, induzindo-a a resolver
a situação.

246.º Como forma de reforçar a sua argumentação e persuadir Ana Paula


Vitorino a aceitar as suas pretensões, Mário Lino referiu-se à “O2” como
“uma empresa amiga do PS” e que Ana Paula Vitorino, enquanto membro do
Secretariado Nacional daquele partido, não podia deixar de levar esse facto
em consideração.

247.º Não obstante, Ana Paula Vitorino repudiou, de pronto, qualquer


abordagem sobre o assunto.

248.º No seguimento da decisão de suspensão dos trabalhos e rescisão do


contrato de valorização de travessas de betão bi-bloco, o Administrador da
REFER, Vicente Pereira solicitou à Directora da Direcção de
Aprovisionamento e Logística, Helena Neves, um estudo com vista à

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S. R.

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reformulação da direcção de Logística, na qual se incluía a substituição do


seu director, o arguido João Valente.

249.º Helena Neves assim fez, sendo certo que, após a apresentação a
Vicente Pereira de um esquiço do documento, foi afastada das funções que
desempenhava.

250.º Com efeito, antes de Helena Neves concluir o seu parecer, Luís Pardal
exibiu a sua própria proposta de reestruturação, a qual veio a merecer a
aprovação unânime do Conselho de Administração da REFER.

251.º Deste modo, o arguido João Valente manteve-se no exercício das suas
funções de Director do Departamento de Logística.

252.º Por deliberação de 23 de Novembro de 2006, o Conselho de


Administração da REFER decidiu excluir a “O2” da lista de fornecedores
qualificados da REFER. (Confrontar com fls. 47 do NUIPC 3/08.7TELSB).

253.º Em Fevereiro de 2008, de modo a inviabilizar a participação da “O2”


nos procedimentos concursais lançados pela REFER, Maria José dos Santos
Gamelas, directora de Contratualização, Procurement e Logística, impôs que
os concorrentes apresentassem uma declaração de não dívida à REFER,
sob pena de exclusão.

254.º No âmbito da acção declarativa condenatória que correu termos no


Tribunal Judicial de Macedo de Cavaleiros, sob o número 188/07/0TBMCD,
por sentença proferida em 17 de Dezembro de 2008, foi a “O2” condenada
ao pagamento à REFER da quantia de 105.000,00€. (Vide Ap. 23, fls. 390 a
405).

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255.º Fruto da relevância comercial da REFER no universo empresarial,


directa ou indirectamente, por si gerido, Manuel Godinho procurou por todas
as vias superar o contencioso judicial e extra-judicial que opunha a “O2” à
REFER.

256.º Aliás, no quadro desta contenda extra-judicial e judicial com a REFER,


Manuel Godinho julgava-se prejudicado nas relações do universo
empresarial, directa ou indirectamente, por si administrado e aquela
empresa.

257.º Na verdade, Manuel Godinho via no actual Presidente do Conselho de


Administração da REFER, Luís Filipe Melo e Sousa Pardal, o principal
obstáculo à reconquista pela “O2” de posição primacial na adjudicação de
contratos de compra e venda e de prestação de serviços na área dos
resíduos produzidos pela REFER.

258.º A inflexibilidade de Luís Pardal em relação à acção judicial que opunha


a REFER à “O2”, pugnando pelos interesses da empresa a que presidia e,
assim, revelando indisponibilidade para a obtenção de um acordo extra-
judicial, e as suas deliberações no sentido de aportar maior rigor à gestão
dos resíduos e de excluir a “O2” da lista de fornecedores qualificados da
REFER, transformaram-no aos olhos de Manuel Godinho num entrave, que
urgia remover.

259.º No entender de Manuel Godinho o presidente em exercício de funções


do Conselho de Administração da REFER ordenaria, para além do mais,
uma fiscalização assaz intensa aos trabalhos de gestão de resíduos
adjudicados às suas restantes empresas e uma vigilância a todos os
funcionários da REFER conotados como lhe sendo próximos.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

260.º Igual observação de censura merecia Ana Paula Vitorino, à data,


Secretária de Estado dos Transportes, a qual, na opinião de Manuel
Godinho, caucionava a actuação de Luís Pardal em desfavor dos seus
interesses e da “O2”.

261.º Manuel Godinho perspectivou como essencial à superação do conflito


com a REFER a declaração judicial de exclusão de responsabilidades suas e
da “O2” no sucedido na Linha do Tua.

262.º Neste contexto, afigurou-se vital a Manuel Godinho obter informação


privilegiada junto de fontes da própria REFER sobre o posicionamento do
Conselho de Administração daquela empresa relativamente ao universo
empresarial, directa ou indirectamente, por si gerido.

263.º De outro passo, Manuel Godinho perspectivou como crucial conservar


e estimular uma rede de contactos que lhe permitisse obter o conhecimento
prévio da natureza, das condições e dos termos dos concursos e das
consultas públicas de adjudicação de contratos de compra e venda e de
prestação de serviços na área dos resíduos a lançar pela REFER e, bem
assim, o conhecimento da identidade dos concorrentes, da natureza, das
condições, dos termos e do valor das propostas por estes apresentadas.

264.º Mais viu como essencial assegurar que aquela rede diligenciasse pela
criação de aparentes necessidades da celebração de contratos de prestação
de serviços na área dos resíduos pela REFER, bem como consentisse e
promovesse as condições necessárias à adulteração do peso dos resíduos
recolhidos, à retirada de resíduos sem pesagem e à sobrefacturação dos
serviços prestados.

265.º Com vista à concretização destes desideratos, Manuel Godinho


contactou Carlos Porral Paes de Vasconcellos, José Domingos Lopes

1147
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Valentim, Manuel João Alves Espadinha Guiomar e Abílio Pinto Guedes,


funcionários da REFER, e, bem assim, Fernando Vítor Lopes Barreira e
Armando António Martins Vara.

266.º Manuel Godinho intercedeu junto de Carlos Porral Paes de


Vasconcellos, no sentido de, por si só ou em acção concertada com José
Domingos Lopes Valentim e Manuel João Alves Espadinha Guiomar, a troco
de compensações patrimoniais e não patrimoniais, lhe revelar o
posicionamento, o sentir e o pensar da Administração da REFER
relativamente ao universo empresarial por si gerido, bem como diligenciar
por convencer os membros do conselho de Administração da REFER da
bondade das suas pretensões e pela superação do conflito existente entre a
“O2” e a REFER com vencimento dos interesses de Manuel Godinho.

267.º Para tanto, Manuel Godinho prometeu dar-lhe dinheiro e contrapartidas


não patrimoniais, as quais se viriam a concretizar na entrega de, pelo menos,
2.500,00€ em numerário e um cartão de acesso ao serviço móvel terrestre,
suportando os custos decorrentes da sua utilização.

268.º Perante as contrapartidas prometidas e recebidas, Carlos Vasconcellos


aceitou a proposta de Manuel Godinho.

269.º Assim, mercadejando com a sua qualidade de funcionário da REFER,


em flagrante violação das suas obrigações funcionais e com notório prejuízo
para a sua entidade patronal, na execução do acordo celebrado com Manuel
Godinho,

270.º Carlos de Vasconcellos forneceu-lhe informação privilegiada sobre o


posicionamento, o pensar e o sentir da administração da REFER
relativamente ao universo empresarial, directa ou indirectamente, por si
gerido, nomeadamente relatando-lhe as resoluções cogitadas e assumidas

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

pelo Conselho de Administração da REFER relativamente aos


acontecimentos da Linha do Tua;

271.º Diligenciou pelo convencimento dos membros do Conselho de


Administração da REFER da bondade das pretensões de Manuel Godinho;

272.º Exerceu a sua influência junto de indivíduos com capacidade para


influenciar determinantemente os membros do Conselho de Administração
da REFER no sentido de os persuadir a acolherem os propósitos de Manuel
Godinho;

273.º Empreendeu iniciativas tendentes à superação do contencioso judicial


e extra-judicial que opunha a “O2” à REFER.

274.º Manuel Godinho solicitou a Manuel João Alves Espadinha Guiomar


que, por si só ou em acção concertada com Carlos de Vasconcellos e José
Domingos Lopes Valentim, a troco de compensações patrimoniais e não
patrimoniais, lhe revelasse o posicionamento, o sentir e o pensar da
Administração da REFER e da direcção de Contratualização, Procurement e
Logística relativamente ao universo empresarial por si gerido, o
conhecimento prévio da adjudicação, da natureza, das condições e dos
termos dos concursos e das consultas públicas de adjudicação de contratos
de compra e venda e de prestação de serviços na área dos resíduos a lançar
pela REFER, o conhecimento da identidade dos concorrentes, da natureza,
das condições, dos termos e do valor das propostas por estes apresentadas,
permitisse a adulteração do peso dos resíduos recolhidos, a retirada de
resíduos sem pesagem, e a sobrefacturação dos serviços prestados.

275.º Para tanto, Manuel Godinho prometeu dar-lhe dinheiro e contrapartidas


não patrimoniais, as quais se viriam a materializar na entrega de, pelo
menos, 6.110,00€ em numerário.

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

276.º Perante as contrapartidas prometidas e recebidas, Manuel Guiomar


aceitou a proposta de Manuel Godinho.

277.º Deste modo, transaccionando com a sua qualidade de funcionário da


REFER, em flagrante violação das suas obrigações funcionais e com notório
prejuízo para a sua entidade patronal, na execução do acordo celebrado com
Manuel Godinho,

278.º Manuel Guiomar forneceu-lhe informação privilegiada sobre o


posicionamento, o pensar e o sentir da administração da REFER
relativamente ao universo empresarial, directa ou indirectamente, por si
gerido, nomeadamente relatando-lhe as resoluções cogitadas e assumidas
pelo Conselho de Administração da REFER relativamente aos
acontecimentos da Linha do Tua;

279.º Esclareceu-o sobre o posicionamento, o pensar e o sentir da Direcção


de Contratualização, Procurement e Logística face às suas empresas,
mormente de José Sousa e de Maria José Gamelas;

280.º Deu-lhe conhecimento prévio à sua divulgação pública da natureza,


das condições e dos termos dos concursos e das consultas públicas de
adjudicação de contratos de compra e venda e de prestação de serviços na
área dos resíduos a lançar pela REFER, nomeadamente do concurso público
para a alienação de 16 lotes de resíduos dispersos por diferentes estações
sob a jurisdição da Unidade Operacional Norte, do concurso público para
levantamento do Ramal do Sabor, do concurso público para levantamento e
alienação da superstrutura de via do Ramal de Vila Viçosa entre o PK
175,870 e o PK 191,924, do concurso público para levantamento do Ramal
de Cáceres, do concurso público para o levantamento de sucata ferrosa,
constituída por carril e material de fixação, na linha da Beira Baixa, na
Estação de Caria;

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

281.º Transmitiu-lhe o conhecimento da identidade dos concorrentes, da


natureza, das condições e dos termos das propostas por estes
apresentadas, designadamente no que concerne aos concursos públicos
para levantamento do Ramal do Sabor e para levantamento e alienação da
superstrutura de via do Ramal de Vila Viçosa entre o PK 175,870 e o PK
191,924;

282.º Participou-lhe, previamente à sua divulgação pública, a adjudicação a


uma das suas empresas dos concursos públicos para levantamento e
alienação da superstrutura de via do Ramal de Vila Viçosa entre o PK
175,870 e o PK 191,924 e do Ramal de Estremoz;

283.º Manuel Guiomar omitiu, enquanto elemento da Direcção de


Contratualização, Procurement e Logística encarregue do controlo do
levantamento de materiais, os poderes/deveres de fiscalização que lhe
incumbiam e, assim, permitiu a adulteração do peso dos resíduos recolhidos
e a retirada de resíduos sem a necessária pesagem, mormente nos
levantamentos efectuados no âmbito do concurso público para a alienação
de 16 lotes de resíduos dispersos por diferentes estações sob a jurisdição da
Unidade Operacional Norte e do concurso público para o levantamento de
sucata ferrosa, constituída por carril e material de fixação, na linha da Beira
Baixa, na Estação de Caria;

284.º E intermediou os contactos necessários à entrega por parte de Manuel


Godinho de vantagens patrimoniais a funcionários da REFER para que
possibilitassem a adulteração do peso dos resíduos recolhidos e a retirada
de resíduos sem a necessária pesagem, nomeadamente no levantamento
acontecido no Pocinho no quadro do concurso público para a alienação de
16 lotes de resíduos dispersos por diferentes estações sob a jurisdição da
Unidade Operacional Norte.

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S. R.

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285.º Manuel Godinho contactou José Domingos Lopes Valentim, funcionário


da REFER, para que, por si só ou em acção concertada com Carlos de
Vasconcellos e Manuel Guiomar, a troco de compensações patrimoniais e
não patrimoniais, lhe revelasse o posicionamento, o sentir e o pensar da
administração da REFER relativamente ao universo empresarial por si
gerido, bem como o conhecimento prévio da adjudicação, da natureza, das
condições e dos termos dos concursos e das consultas públicas de
adjudicação de contratos de compra e venda e de prestação de serviços na
área dos resíduos a lançar pela REFER.

286.º Para tanto, Manuel Godinho prometeu dar-lhe dinheiro e contrapartidas


não patrimoniais, as quais se viriam a densificar na entrega de, pelo menos,
37.973,55€, dois computadores portáteis, no valor não inferior a 2.000,00€, e
um cartão de acesso ao serviço móvel terrestre, suportando os custos
decorrentes da sua utilização.

287.º Nos anos de 2004 e 2006, a propósito da quadra natalícia, por forma a,
desde logo, criar e potenciar um clima de permeabilidade e cumplicidade
para posteriores diligências e de predisposição à aceitação das suas
pretensões ou mesmo com carácter remuneratório (bónus), Manuel Godinho
entregou, em nome das sociedades comerciais que compõem o universo
empresarial, directa ou indirectamente, por si gerido, diferentes bens, a título
de presentes, a José Domingos Lopes Valentim.

288.º No ano de 2004, José Valentim viu ser-lhe atribuída a categoria B, a


quinta mais elevada, tendo recebido um cabaz e uma garrafa de Whisky 20
anos, no valor de 72,75€; no ano de 2006, recebeu um cabaz e uma garrafa
de Whisky 18 anos, no valor de 70,00€. (vide fls. 18087 e ss. – Lista de
Prendas).

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S. R.

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289.º Perante as contrapartidas prometidas e recebidas, José Valentim


aceitou a proposta de Manuel Godinho.

290.º Fruto da sua relação com Manuel Godinho e do contencioso judicial e


extra-judicial que opunha a “O2” à REFER, José Valentim foi afastado das
funções que antes exercia na área operacional e transferido para a área
informática daquela empresa pública.

291.º A partir daquele momento, José Valentim passou a relacionar-se com


Manuel Godinho como se de um superior hierárquico se tratasse e a agir
imbuído do propósito de satisfazer os seus interesses em detrimento dos da
REFER.

292.º Destarte, traficando com a sua qualidade de funcionário da REFER, em


flagrante violação das suas obrigações funcionais e com notório prejuízo
para a sua entidade patronal, na execução do acordo celebrado com Manuel
Godinho,

293.º José Valentim forneceu-lhe informação privilegiada sobre o


posicionamento, o pensar e o sentir da administração da REFER
relativamente ao universo empresarial, directa ou indirectamente, por si
gerido;

294.º Deu-lhe a conhecer informação privilegiada sobre o dia-a-dia da


REFER, actuando como se de uma agência noticiosa se tratasse, relatando-
lhe acontecimentos e o posicionamento, o pensar e o sentir de quadros
superiores da REFER com funções relevantes para as suas empresas;

295.º Participou-lhe, previamente à sua divulgação pública, a adjudicação a


uma das suas empresas dos trabalhos na área dos resíduos a realizar no
ramal de Estremoz;

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296.º De modo a conservar sigilosa a relação entre ambos, José Valentim


funcionava, igualmente, como núncio de Manuel Godinho se e quando este
pretendia contactar Manuel Guiomar, especialmente em horário laboral.

297.º José Valentim conhecia a actuação de Manuel Guiomar em prol da


prossecução dos interesses do universo empresarial gerido por Manuel
Godinho, mormente no que se reportava à adulteração do peso dos resíduos
recolhidos e à retirada de resíduos sem a necessária pesagem.

298.º Por outro lado, José Valentim funcionava, também, como guia de
Manuel Godinho sempre que este se deslocava a Lisboa, nomeadamente
quando nesta Cidade se encontrava com Armando Vara, Paiva Nunes e
António Paulo Costa.

299.º Manuel Godinho intercedeu junto de Abílio Pinto Guedes para que, a
troco de compensações patrimoniais e não patrimoniais, para si e para
terceiro, lhe revelasse o conhecimento prévio da natureza, das condições e
dos termos dos concursos e das consultas públicas de adjudicação de
contratos de compra e venda e de prestação de serviços na área dos
resíduos a lançar pela REFER e, bem assim, omitisse os poderes/deveres de
fiscalização que lhe incumbiam na identificação das existências e no
acompanhamento dos levantamentos efectuados na Linha do Tâmega e no
âmbito concurso público para a alienação de 16 lotes de resíduos dispersos
por diferentes estações sob a jurisdição da Unidade Operacional Norte.

300.º Para tanto, Manuel Godinho celebrou com Carina Manuel Ribeiro
Guedes, filha de Abílio Pinto Guedes, um contrato de trabalho.

301.º Em 09 de Junho de 2008, Carina Manuel Ribeiro Guedes iniciou a


prestação de trabalho para as empresas de Manuel Godinho.

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S. R.

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302.º Perante as contrapartidas prometidas e recebidas, Abílio Pinto Guedes


aceitou a proposta de Manuel Godinho.

303.º Assim, mercadejando com a sua qualidade de funcionário da REFER,


em flagrante violação das suas obrigações funcionais e com notório prejuízo
para a sua entidade patronal, na execução do acordo celebrado com Manuel
Godinho,

304.º Abílio Pinto Guedes deu-lhe conhecimento prévio à sua divulgação


pública da natureza, das condições e dos termos dos concursos e das
consultas públicas de adjudicação de contratos de compra e venda e de
prestação de serviços na área dos resíduos a promover pela REFER,
nomeadamente do concurso público para o desmantelamento de linhas
encerradas e sua reconversão em eco-pistas, bem como relativo à alienação
de 16 lotes de resíduos dispersos por diferentes estações sob a jurisdição da
Unidade Operacional Norte.

305.º E omitiu os poderes/deveres de fiscalização que lhe incumbiam na


identificação das existências e no acompanhamento dos levantamentos
efectuados na Linha do Tâmega e no âmbito concurso público para a
alienação de 16 lotes de resíduos dispersos por diferentes estações sob a
jurisdição da Unidade Operacional Norte.

306.º Manuel Godinho contactou, igualmente, tal como já o havia feito em


2006, Armando Vara e Lopes Barreira com o propósito de estes, a troco de
contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais para si e/ou para terceiros, por
si só ou em acção concertada, exercerem a sua influência junto de titulares
de cargos políticos e governativos no sentido de os convencerem da
bondade das suas pretensões e, deste modo, da necessidade de Ana Paula
Vitorino e Luís Pardal serem destituídos dos cargos que ocupavam e da
REFER modificar o seu comportamento comercial para com a “02”, desde

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logo, pondo termo ao contencioso que as opunha com satisfação dos


interesses de Manuel Godinho.

307.º Para tanto, Manuel Godinho prometeu dar-lhes dinheiro e


contrapartidas não patrimoniais, as quais se viriam a materializar na entrega
a cada um de, pelo menos, 25.000,00€.

308.º Mais lhes prometeu a entrega de donativos para o Partido Socialista.

309.º Perante as contrapartidas prometidas e recebidas, Armando Vara e


Lopes Barreira aceitaram a proposta de Manuel Godinho.

310.º Na execução do acordo celebrado com Manuel Godinho, Armando


Vara e Lopes Barreira promoveram contactos com Mário Lino, Ministro das
Obras Públicas, Transportes e Comunicações, no sentido de o persuadir da
bondade das pretensões de Manuel Godinho e, bem assim, da necessidade
de Ana Paula Vitorino e Luís Pardal serem destituídos dos cargos que
ocupavam.

311.º Lopes Barreira encetou, igualmente, contactos com Ana Paula Vitorino,
Secretária de Estado dos Transportes sob cuja tutela directa se achava a
REFER, no sentido de lhe fazer crer da bondade das pretensões de Manuel
Godinho e, bem assim, da necessidade de Luís Pardal ser destituído do
cargo que ocupava.

312.º Neste contexto, ocorreram os seguintes contactos e diligências.

313.º Em Janeiro de 2009, José Valentim contactou Manuel Guiomar


fazendo-lhe sentir que Manuel Godinho tinha interesse em com ele se reunir.

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S. R.

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314.º Alguns dias depois, Manuel Godinho e Manuel Guiomar encontraram-


se num posto de abastecimento de combustíveis da REPSOL, sito em
Lisboa.

315.º Nessa ocasião, deslocaram-se a Setúbal, onde almoçaram num


restaurante junto ao Estádio do Bonfim,

316.º Durante o trajecto, Manuel Godinho questionou Manuel Guiomar sobre


a vida interna da REFER, nomeadamente sobre as características de
personalidade de José Sousa, Maria José Gamelas e Helena Neves.

317.º Quando se achavam perto de completar a viagem, Manuel Godinho


sugeriu a Manuel Guiomar que, exercendo ele funções na direcção de
Contratualização, Procurement e Logística, podiam, juntos, ganhar muito
dinheiro.

318.º Durante o almoço, Manuel Godinho fez ver a Manuel Guiomar que, em
breve, o iria mimosear com gratificações venais e não patrimoniais para que
lhe revelasse o posicionamento, o sentir e o pensar da Administração da
REFER e da direcção de Contratualização, Procurement e Logística
relativamente às suas empresas, o conhecimento prévio da adjudicação, da
natureza, das condições e dos termos dos concursos e das consultas
públicas de adjudicação de contratos de compra e venda e de prestação de
serviços na área dos resíduos a lançar pela REFER, o conhecimento da
identidade dos concorrentes, da natureza, das condições, dos termos e do
valor das propostas por estes apresentadas, permitisse a adulteração do
peso dos resíduos recolhidos e a retirada de resíduos sem a necessária
pesagem.

319.º De imediato, Manuel Guiomar aceitou colaborar nos termos supra


descritos com Manuel Godinho.

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320.º Perante a abertura manifestada por Manuel Guiomar, Manuel Godinho,


nos meses de Janeiro e Fevereiro de 2009, indagou-o, por diversas vezes,
sobre o posicionamento, o sentir e o pensar da Administração e da direcção
de Contratualização, Procurement e Logística relativamente às suas
empresas, mormente sobre Luís Pardal e José Sousa, bem como sobre
concursos e consultas lançadas e a lançar pela REFER na área dos
resíduos.

321.º No dia 04 de Fevereiro de 2009, pelas 15h36, Carlos de Vasconcellos


informou Manuel Godinho que a REFER havia constituído mais uma
comissão de inquérito a propósito do acidente na linha do Tua. (Confrontar
com Produto 795 do Alvo 1T167PM).

322.º Acrescentou que iria almoçar, na sexta-feira seguinte, com Frederico


Valsassina no sentido de o convencer do bom fundamento das pretensões
de Manuel Godinho e de as transmitir a Luís Pardal.

323.º No dia 07 de Fevereiro de 2009, Manuel Godinho almoçou, em Vinhais,


com Armando Vara.

324.º Nesta ocasião, Manuel Godinho narrou a Armando Vara o


circunstancialismo enquadrante do contencioso judicial e extra-judicial que
opunha a “O2” à REFER, fazendo-lhe sentir que se julgava prejudicado nas
relações comerciais do universo empresarial, directa ou indirectamente, por
si administrado e aquela empresa.

325.º Mais lhe solicitou que influísse no sentido da resolução daquele


diferendo, a qual, no seu entender, apenas seria possível com a destituição
de Luís Pardal das suas funções de Presidente do Conselho de
Administração da REFER

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

326.º Em data não concretamente apurada, mas posterior a 07 de Fevereiro


de 2009, Armando Vara e Lopes Barreira contactaram Mário Lino fazendo-
lhe saber que o Presidente do Conselho de Administração da REFER havia
adoptado uma postura penalizadora da “02” nos concursos e nas consultas
públicas de adjudicação de contratos de compra e venda e de prestação de
serviços na área dos resíduos.

327.º Mais o procuraram persuadir da conveniência em destituir Luís Pardal


das suas funções de Presidente do Conselho de Administração da REFER e,
bem assim, em resolver o diferendo entre a REFER e a “02”.

328.º Em data não concretamente apurada, mas posterior a 07 de Fevereiro


de 2009, Mário Lino contactou Luís Pardal dando-lhe conta que lhe havia
chegado a informação que a REFER tinha adoptado uma postura
penalizadora para com a “02” nos concursos e nas consultas públicas de
adjudicação de contratos de compra e venda e de prestação de serviços na
área dos resíduos.

329.º Mais o instou a modificar o comportamento da REFER para com a “02”,


mormente a procurar a resolução do contencioso que as opunha.

330.º No dia 10 de Fevereiro de 2009, pelas 16h35, Manuel Godinho e


Carlos Vasconcellos discutiram assuntos relacionados com a vida interna da
REFER, mormente o futuro enquadramento profissional de Carlos
Vasconcellos naquela empresa, e perspectivaram a saída, após as eleições
legislativas seguintes, de Ana Paula Vitorino das funções de Secretária de
Estado dos Transportes. (Confrontar com Produto 1353 do Alvo 1T167PM).

331.º No dia 18 de Fevereiro de 2009, pelas 14h59, Carlos Vasconcellos,


para além de informar Manuel Godinho que iria retomar a sua actividade
laboral na REFER, teceu um conjunto de comentários depreciativos

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relativamente a Mário Olivença, quadro superior da REFER. (Confrontar com


Produto 2026 do Alvo 1T167PM).

332.º No dia 19 de Fevereiro de 2009, o Conselho de Administração da


REFER deliberou autorizar a anulação do procedimento de consulta para
levantamento e alienação da superstrutura de via do Ramal de Vila Viçosa
entre o PK 175,730 e o PK 191,919 e, bem assim, o lançamento de
procedimento público com o mesmo objecto e fim.

333.º No dia 26 de Fevereiro de 2009, cerca das 11h35, Carlos de


Vasconcellos deslocou-se às instalações da “SCI – Sociedade Comercial e
Industrial Metalomecânica, S.A.”, sitas na Zona Industrial da Taboeira, onde
se encontrou com Manuel Godinho. (Vide RDE de fls. 2018 a 2020).

334.º Pelas 11h49, Manuel Godinho pediu a Maribel Rodrigues para colocar
2.500,00€ num envelope. (Confrontar com Produto 2606 do Alvo 1T167PM).

335.º Cerca das 12h00, Manuel Godinho e Carlos de Vasconcellos


almoçaram no “Restaurante O Batista”, sito na Rua das Areias, Vilar, em
Aveiro.

336.º Findo o repasto, fazendo-se transportar no veículo automóvel marca


Mercedes, modelo CL 65 AMG, matrícula 68-GV-25, Manuel Godinho e
Carlos de Vasconcellos dirigiram-se para as instalações da “SCI – Sociedade
Comercial e Industrial Metalomecânica, S.A.”, onde chegaram cerca das
13h10.

337.º Uma vez no interior, Manuel Godinho entregou a Carlos de


Vasconcellos 2.500,00€ para que este lhe continuasse a fornecer informação
privilegiada sobre o posicionamento, o pensar e o sentir da administração da
REFER relativamente ao universo empresarial, directa ou indirectamente, por

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

si gerido, exercesse a sua influência junto de indivíduos com capacidade


para influenciar determinantemente os membros do Conselho de
Administração da REFER no sentido de os persuadir a acolherem os
propósitos de Manuel Godinho e, bem assim, para que prosseguisse as suas
diligências tendentes à superação do conflito existente entre a “O2” e a
REFER com vencimento dos interesses de Manuel Godinho.

338.º Em data não concretamente apurada, mas anterior a 27 de Fevereiro


de 2009, no quadro da sua vinculação aos interesses de Manuel Godinho e
das iniciativas por si empreendidas com vista à superação do conflito
existente entre a “O2” e a REFER com vencimento das pretensões daquele,
Carlos Vasconcellos contactou João Folque e José Manuel Mesquita,
advogado da sociedade “José Manuel Mesquita & Associados”, à data,
assessor jurídico de António Costa na Câmara Municipal de Lisboa e
membro do Secretariado de Lisboa do Partido Socialista, para que
diligenciassem pela resolução do contencioso judicial e extra-judicial
existente entre a “O2” e a REFER por um via não jurídica, exercendo
pressão sobre Ana Paula Vitorino no sentido de destituir Luís Pardal das
funções de Presidente do Conselho de Administração da REFER.
(Confrontar com Produto 2997 do Alvo 1T167PM).

339.º No dia 03 de Março de 2009, Manuel Godinho almoçou com Carlos de


Vasconcellos, João Folque e José Manuel Mesquita, no Restaurante
“Mercado do Peixe”, sito na Estrada Pedro Teixeira, na Ajuda, em Lisboa,
tendo acordado que aqueles causídicos iriam procurar resolver o contencioso
judicial e extra-judicial existente entre a “O2” e a REFER por um via não
jurídica, exercendo pressão sobre Ana Paula Vitorino no sentido de destituir
Luís Pardal das funções de Presidente do Conselho de Administração da
REFER. (Confrontar com os Produtos 2997, 4438, 4993, 6244, 6552, 6824,
9364, 10522, 10566, todos produzidos pelo Alvo 1T167PM, Fls. 368 a 373,
379 a 383 do Ap. 24, fls. 2 a 4 do Apenso 25 e RDE de fls. 2872 a 2892).

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340.º No dia 03 de Março de 2009, pelas 14h40, Carlos de Vasconcellos e


Manuel Godinho coscuvilharam notícias internas da REFER dando conta de
problemas entre Luís Pardal e o Primeiro-Ministro, José Sócrates. (confrontar
com o Produto 3008 do Alvo 1T167PM).

341.º No dia 03 de Março de 2009, pelas 14h23 e pelas 20h22, José


Valentim transmitiu a Manuel Godinho a vontade de quadros da REFER
afectos ao PS, designadamente do núcleo dos trabalhadores socialistas
daquela empresa, em verem Luís Pardal destituído. (Confrontar com os
Produtos 3004, 3049 e 9285 do Alvo 1T167PM).

342.º Aludiu, igualmente, ao mau relacionamento entre Luís Pardal e o


Primeiro-Ministro, por alegadamente o Presidente do Conselho de
Administração não ter acatado uma ordem emanada daquele.

343.º Em seguida, pelas 20h24, Carlos de Vasconcellos pôs Manuel Godinho


ao corrente do rumor posto a circular na REFER, que José Valentim lhe
acabara de dar a saber. (Confrontar com Produto 3050 do Alvo 1T167PM).

344.º No dia 04 de Março de 2009, pelas 10h01, Paulo Penedos e Manuel


Godinho abordaram a destituição do Presidente do Conselho de
Administração da REFER como extremamente positiva para os interesses de
Manuel Godinho e das suas empresas. (Confrontar com Produto 1948 do
Alvo 1T167PM).

345.º No dia 05 de Março de 2009, o Conselho de Administração da REFER


aprovou, sob proposta da direcção de Contratualização, Procurement e
Logística, o lançamento de concurso público para a alienação de 16 lotes de
resíduos dispersos por diferentes estações sob a jurisdição da Unidade
Operacional Norte. (Confrontar com fls. 142 a 178 do Ap. AJ4)

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346.º Cada lote constituía uma fracção autónoma sendo o critério de


adjudicação, para as propostas admitidas, o preço mais elevado atribuído a
cada um dos lotes pelos proponentes.

347.º Conforme havia sido estipulado, em Fevereiro de 2008, por Maria José
dos Santos Gamelas, directora de Contratualização, Procurement e
Logística, de modo a inviabilizar a participação da “O2” nos procedimentos
concursais lançados pela REFER, foi estabelecido, para além do mais, um
requisito essencial para admissão dos proponentes neste concurso público,
qual tenha sido

348.º Não serem devedores à REFER, relativamente a quaisquer obrigações


pecuniárias vencidas, independentemente da origem das mesmas, de
montante indeterminado ou determinável, mediante declaração a apresentar.

349.º Não obstante esta imposição, Manuel Godinho contornou-a,


apresentando propostas através da “2nd Market” e da “SCI”.

350.º Ainda assim, nas propostas juntas pela “SCI” e que viriam a merecer
adjudicação, a “O2” foi apresentada e assumiu-se como destino final de
valorização dos resíduos por si recolhidos, nomeadamente no que aos lotes
n.ºs 11 e 16 se reportou.

351.º A constituição dos 16 lotes de resíduos que integravam este concurso


público decorreu sob a égide da Unidade Operacional Norte e obedeceu ao
levantamento que precedeu e suportou, em 30 de Julho de 2008, a
solicitação daquela Unidade para o lançamento de um concurso público para
alienação de resíduos.

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S. R.

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352.º Como tal, a quantidade de resíduos que compunha cada um dos lotes
não correspondia, por defeito, à efectivamente existente em cada uma das
localizações.

353.º Em data não concretamente apurada, do início do ano de 2009, Lopes


Barreira encontrou-se com Ana Paula Vitorino.

354.º Neste encontro, afiançou-lhe que, fruto do “feitio lixado” de Luís Pardal,
a sua posição enquanto Presidente do Conselho de Administração da
REFER estava muito fragilizada, uma vez que os empresários, como, por
exemplo, Manuel Godinho, se queixavam frequentemente dele.

355.º De pronto, Ana Paula Vitorino retorquiu que o Presidente do Conselho


de Administração da REFER tinha todo o seu apoio em todas as decisões
que tomasse em nome do interesse público e da REFER, acrescentando que
se pretendia a substituição de Luís Pardal, melhor seria aproveitar para
reclamar, também, a sua.

356.º No dia 05 de Março de 2009, pelas 17h22, José Valentim deu conta a
Manuel Godinho que, em breve, a REFER, na pessoa do Engenheiro José
Sousa, Director-Adjunto da Direcção de Contratualização, Procurement e
Logística, iria lançar consultas públicas nas quais iria convidar empresas
integrantes do universo empresarial, directa ou indirectamente, por si gerido
para realizar trabalhos na área dos resíduos. (Confrontar com Produto 3261
do Alvo 1T167PM).

357.º De imediato, Manuel Godinho questionou-o: “eles convidam-nos e nós


ganhamos?”.

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358.º Momentos depois, pelas 19h52, Manuel Guiomar informou Manuel


Godinho que a REFER iria lançar um conjunto de consultas públicas de
alienação de materiais. (Confrontar com Produto 3308 do Alvo 1T167PM).

359.º Sublinhou que a opção pela realização de consultas seria para que as
suas empresas, nomeadamente a “O2”, não fossem convidadas a apresentar
proposta.

360.º No dia 06 de Março de 2009, Manuel Godinho e Manuel Guiomar


encontraram-se em Lisboa, tendo abordado o posicionamento, o sentir e o
pensar da Administração da REFER e da direcção de Contratualização,
Procurement e Logística relativamente às empresas de Manuel Godinho.
(Confrontar com os Produtos 3326 e 3356 do Alvo 1T167PM).

361.º Nesta reunião, Manuel Guiomar transmitiu a Manuel Godinho que a


REFER iria lançar consulta para a alienação de 16 lotes de resíduos
dispersos por diferentes estações sob a jurisdição da Unidade Operacional
Norte.

362.º Acrescentou que a quantidade de resíduos que compunha cada um


dos lotes não correspondia, por defeito, à efectivamente existente em cada
uma das localizações e elucidou-o dos locais em que tais discrepâncias eram
mais acentuadas.

363.º Mais tarde, pelas 17h51, Manuel Guiomar comunicou a Manuel


Godinho ter-se inteirado dos projectos da REFER na área dos resíduos,
sendo certo que, ao contrário do que lhe havia dito na véspera, a sua
concretização seria através de concurso público. (Confrontar com Produto
3385 do Alvo 1T167PM).

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S. R.

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364.º Em data não concretamente apurada, mas posterior a 03 de Março e


anterior a 07 de Março de 2009, Carlos Vasconcellos, no quadro do seu
empreendimento em prol da superação das divergências judiciais e extra-
judiciais entre a “O2” e a REFER com vencimento dos interesses de Manuel
Godinho, reuniu-se com João Folque e um indivíduo, cuja identidade não se
logrou apurar, das relações próximas de Ana Paula Vitorino.

365.º No dia 07 de Março de 2009, Carlos Vasconcellos transmitiu a Manuel


Godinho ser convicção de José Manuel Mesquita que, após as eleições
legislativas, se iria verificar uma remodelação no Ministério das Obras
Públicas, Transportes e Comunicações, a qual importaria uma subsequente
alteração na composição do Conselho de Administração da REFER,
mormente na sua Presidência. (Confrontar com Produto 3442 do Alvo
1T167PM).

366.º No dia 09 de Março de 2009, pelas 10h23, Manuel Guiomar informou,


via SMS, Manuel Godinho da abertura pela REFER do concurso público
relativo à alienação de 16 lotes de resíduos ferrosos dispersos por diferentes
estações sob a jurisdição da Unidade Operacional Norte. (Confrontar com
Produto 3523 do Alvo 1T167PM).

367.º No dia 10 de Março de 2009, pelas 11h53, Paulo Penedos indagou


Manuel Godinho se desejava que abordasse o diferendo que opunha a “O2”
à REFER no almoço que iria ter com o chefe de gabinete de Mário Lino,
Guilherme Dray. (Confrontar com Produto 3669 do Alvo 1T167PM).

368.º Manuel Godinho declinou a oferta, afirmando que o assunto estava a


ser tratado por Armando Vara, que teria já falado com Mário Lino no sentido
de o induzir a acolher as suas pretensões e, bem assim, da necessidade de
Luís Pardal ser destituído do cargo que ocupava.

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369.º No dia 11 de Março de 2009, pelas 17h30, Carlos de Vasconcellos


relatou a Manuel Godinho acontecimentos da vida interna da REFER
relacionados com Luís Pardal, desdenhando o seu carácter. (Confrontar com
Produto 3842 do Alvo 1T167PM).

370.º No dia 12 de Março de 2009, pelas 08h33, Manuel Guiomar avisou


Manuel Godinho do lançamento de concursos públicos para levantamento do
Ramal do Sabor e para levantamento e alienação da superstrutura de via do
Ramal de Vila Viçosa entre o PK 175,870 e o PK 191,924, esclarecendo ser
necessário dispor de alvará de obras públicas para ferrovia para participar.
(Confrontar com Produto 3876 do Alvo 1T167PM).

371.º Logo a seguir, pelas 08h40, Manuel Guiomar elucidou Manuel Godinho
quanto às empresas possuidoras de alvará de obras públicas para ferrovia -
“Transsucatas – Soluções Ambientais” e “Recifemetal”. (Confrontar com
Produto 3878 do Alvo 1T167PM).

372.º Mais lhe disse que, em breve, seria lançado concurso público para o
levantamento do Ramal de Cáceres.

373.º No dia 13 de Março de 2009, pelas 12h24, Carlos Vasconcellos propôs


e Manuel Godinho aceitou encontrarem-se, na semana seguinte, com o
indivíduo, cuja identidade não se logrou apurar, das relações próximas de
Ana Paula Vitorino. (Confrontar com Produto 3998 do Alvo 1T167PM).

374.º Carlos Vasconcellos mais o informou que Morais Ferreira, um dos


administradores do Metropolitano e indivíduo com o qual Manuel Godinho
tinha boas relações, era próximo de Ana Paula Vitorino.

375.º No dia 14 de Março de 2009, pelas 14h02, Carlos Vasconcellos contou


a Manuel Godinho as diligências por si empreendidas com vista à superação

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S. R.

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dos problemas com a REFER, aduzindo ter recebido indicação de João


Folque e José Manuel Mesquita de que aguardavam uma resposta.
(Confrontar com Produto 4067 do Alvo 1T167PM).

376.º No dia 20 de Março de 2009, pelas 09h28, Abílio Pinto Guedes pediu a
João Godinho que informasse o seu Pai que a REFER iria lançar concursos
públicos para o desmantelamento de linhas encerradas e sua reconversão
em eco-pistas (Estremoz, Borba e Vila Viçosa), bem como relativo à
alienação de 16 lotes de resíduos dispersos por diferentes estações sob a
jurisdição da Unidade Operacional Norte. (Confrontar com Produto 2814 do
Alvo 38249PM).

377.º Instantes depois, pelas 09h32, João Godinho fez chegar a Manuel
Godinho a conversa, que acabara de manter com Abílio Pinto Guedes.
(Confrontar com Produto 2815 do Alvo 38249PM).

378.º No dia 20 de Março de 2009, por iniciativa de Carlos Vasconcellos,


Manuel Godinho, Carlos de Vasconcellos, João Folque e José Manuel
Mesquita almoçaram em Lisboa.

379.º No dia 25 de Março de 2009, pelas 12h41, Manuel Godinho transmitiu


a Carlos de Vasconcellos que, caso fosse por si tido por necessário à
superação do seu problema com a REFER, entregaria como contrapartida
um donativo para uma campanha partidária. (Confrontar com Produto 4989
do Alvo 1T167PM).

380.º No dia 27 de Março de 2009, pelas 14h43, Lopes Barreira deu conta a
Manuel Godinho que, por sua iniciativa e de Armando Vara, iria ocorrer, no
dia seguinte, uma reunião em sua casa com Mário Lino versando a contenda
judicial e extra-judicial que opunha as suas empresas à REFER. (Confrontar
com Produto 5184 do Alvo 1T167PM).

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S. R.

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381.º Mais lhe disse que havia já abordado o assunto com Mário Lino no
sentido de o elucidar sobre a falsidade das notícias que imputavam a Manuel
Godinho a subtracção de carris.

382.º No dia 31 de Março de 2009, pelas 09h14, Carlos Vasconcellos deu a


conhecer a Manuel Godinho ter transmitido a João Folque a sua
disponibilidade para contribuir para uma campanha partidária. (Confrontar
com Produto 5402 do Alvo 1T167PM).

383.º Acrescentou ter obtido de João Folque a crença de que José Manuel
Mesquita teria novidades no decurso daquela semana.

384.º No dia 02 de Abril de 2009, pelas 08h20, José Valentim informou


Manuel Godinho que a saída do Presidente do Conselho de Administração
da REFER estava complicada, fruto da protecção sobre ele exercida por Ana
Paula Vitorino. (Confrontar com Produto 5572 do Alvo 1T167PM).

385.º Acrescentou que no interior da REFER, os quadros superiores Maria


José Gamelas, José Sousa e Helena Neves, agiam imbuídos do propósito de
prejudicar as empresas de Manuel Godinho, sendo certo que bastaria uma
alteração na composição do Conselho de Administração, designadamente ao
nível do seu Presidente, para que a sua atitude se alterasse.

386.º Manuel Godinho finalizou a conversa, manifestando a necessidade de


falar com Manuel Guiomar e solicitando a José Valentim que lhe transmitisse
tal míngua.

387.º No dia 02 de Abril de 2009, pelas 12h15, o arguido João Valente


indagou junto de Manuel Godinho a identidade do substituto de Fernando
Silva, Director da Direcção Geral de Organização e Desenvolvimento, ao que

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Manuel Godinho lhe asseverou ignorar. (Confrontar com Produto 5626 do


Alvo 1T167PM).

388.º Aduziu estar a diligenciar, afincadamente, pela destituição de Luís


Pardal, por intermédio de Armando Vara e Lopes Barreira.

389.º João Valente retorquiu que seria do interesse de Manuel Godinho a


substituição de Fernando Silva por alguém que convencesse o Presidente do
Conselho de Administração da REFER da bondade das suas pretensões e
diligenciasse pela superação do conflito existente entre a “O2” e a REFER
com vencimento dos interesses de Manuel Godinho.

390.º No dia 02 de Abril de 2009, pelas 16h53, José Valentim, para além de
aludir ao receio que havia sentido em Manuel Guiomar, comunicou a Manuel
Godinho ter-lhe transmitido a sua vontade em falar com ele. (Confrontar com
Produto 5657 do Alvo 1T167PM).

391.º Manuel Godinho pediu-lhe que telefonasse para as instalações da


“SCI”, fornecendo o número do posto telefónico móvel de Manuel Guiomar.

392.º De pronto, José Valentim satisfez o peticionado por Manuel Godinho.

393.º Instantes depois, pelas 17h03, Manuel Godinho, através do telefonista


da “SCI”, procurou contactar telefonicamente Manuel Guiomar para o seu
posto telefónico móvel, sendo que este de pronto asseverou estar
impossibilitado de com ele falar por estar junto de José Sousa, seu superior
hierárquico. (Confrontar com Produto 5658 do Alvo 1T167PM).

394.º Uma quarto de hora depois, de modo a tranquilizar Manuel Godinho e a


reforçar a sua vinculação aos seus interesses, Manuel Guiomar enviou-lhe
uma SMS reiterando a sua presença junto de José Sousa, razão pela qual se

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S. R.

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via forçado a postergar o contacto entre ambos para ocasião posterior.


(Confrontar com Produto 5662 do Alvo 1T167PM).

395.º Pelas 18h05, livre da presença de José Sousa, seu superior


hierárquico, Manuel Guiomar informou Manuel Godinho de ter discutido com
aquele os concursos públicos a lançar pela REFER na área dos resíduos.
(Confrontar com Produto 5673 do Alvo 1T167PM).

396.º Manuel Godinho indagou-o sobre quem seriam os candidatos à


sucessão de Fernando Silva, membro do Conselho de Administração da
REFER.

397.º Concluíram pela necessidade de iniciar o levantamento, carregamento


e transporte de resíduos ferrosos a realizar no Algarve, Estações do
Livramento e Algoz, lotes 3 e 4 do procedimento A06-08-GVCP para a
alienação de quatro lotes de resíduos ferrosos que havia sido adjudicado à
“2nd Market”, e de ser Manuel Guiomar o funcionário da REFER encarregue
do acompanhamento.

398.º Neste mesmo dia, pelas 18h24, Manuel Godinho participou a Manuel
Guiomar que acabara de receber uma carta comunicando-lhe a marcação de
uma reunião para o dia 16 de Junho com vista à obtenção de um eventual
acordo entre a REFER e a “O2”. (Confrontar com Produto 5674 do Alvo
1T167PM).

399.º Pelas 18h52, Lopes Barreira por forma a alardear e demonstrar a sua
influência, fez saber a Manuel Godinho que Ana Paula Vitorino iria almoçar a
sua casa. (Confrontar com Produto 5687 do Alvo 1T167PM).

400.º Manuel Godinho informou-o da saída de Fernando Silva do Conselho


de Administração da REFER.

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S. R.

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401.º No dia 08 de Abril de 2009, pelas 15h40, deu-se início à abertura das
propostas apresentadas relativamente ao concurso público para a alienação
de 16 lotes de resíduos dispersos por diferentes estações sob a jurisdição da
Unidade Operacional Norte. (Vide Ap. AJ4, fls. 142 a 178).

402.º Prevalecendo-se da informação que Manuel Guiomar lhe havia cedido,


que a quantidade de resíduos que compunha cada um dos lotes não
correspondia, por defeito, à efectivamente existente em cada uma das
localizações, com indicação dos locais em que tais diferenças eram mais
significativas,

403.º Bem como, sabedor que aquele se e quando chamado a acompanhar


os levantamentos, omitiria o exercício do poderes/deveres de fiscalização
que lhe incumbiam,

404.º Manuel Godinho, através das sociedades “2nd Market” e da “SCI”, não
encontrou dificuldades em apresentar propostas com valores
substancialmente mais elevados que os demais concorrentes para os lotes
em que a diferença entre o estimado e o real assim o justificava.

405.º No dia 08 de Abril de 2009, Paulo Godinho comunicou a Manuel


Godinho que, com excepção dos lotes n.º 3 e 5, situados em Esmoriz, Ovar,
Granja e Gaia, lhes haviam sido adjudicados os demais lotes integrantes do
concurso público promovido pela REFER relativo à alienação de 16 lotes de
resíduos ferrosos dispersos por diferentes estações sob a jurisdição da
Unidade Operacional Norte para o qual Manuel Guiomar o havia alertado em
09 de Março de 2009. (Confrontar com Produto 6207 do Alvo 1T167PM).

406.º Na verdade, a desconformidade entre a quantidade de resíduos


efectivamente existentes nos lotes n.º 3 e 5 e o inventário de Julho de 2008
não era suficientemente significativa.

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407.º Pelas 20h05, Manuel Guiomar enviou SMS a Manuel Godinho


felicitando-o pela conquista do concurso público para a alienação de 16 lotes
de resíduos dispersos por diferentes estações sob a jurisdição da Unidade
Operacional Norte. (Confrontar com Produto 6222 do Alvo 1T167PM).

408.º Pelas 20h12, enviou uma outra SMS, asseverando-lhe que o dia
seguinte seria consagrado apenas à análise das propostas. (Confrontar com
Produto 6223 do Alvo 1T167PM).

409.º No dia 09 de Abril de 2009, concluiu-se o acto público de abertura das


propostas apresentadas relativamente ao concurso público para a alienação
de 16 lotes de resíduos dispersos por diferentes estações sob a jurisdição da
Unidade Operacional Norte. (Vide fls. 142 a 178 do Ap. AJ).

410.º No dia 09 de Abril de 2009, pelas 09h29, Carlos Vasconcellos deu nota
a Manuel Godinho que João Folque e José Manuel Mesquita continuavam a
diligenciar pela resolução do diferendo com a REFER. (Confrontar com
Produto 6244 do Alvo 1T167PM).

411.º No dia 10 de Abril de 2009, pelas 11h03, Lopes Barreira, visando


ostentar perante Manuel Godinho o exercício do seu ministério de influência
ancorado na sua capacidade para influir decisores, comunicou-lhe que iria ter
um almoço com Ana Paula Vitorino e que lhe havia feito notar que o
Presidente do Conselho de Administração da REFER constituía um estorvo.
(Confrontar com Produto 6358 do Alvo 1T167PM).

412.º Por fim, aduziu ao conhecimento que Armando Vara, Mário Lino e José
Sócrates tinham do assunto.

413.º No dia 14 de Abril de 2009, pelas 09h08, Manuel Godinho fez sentir a
José Valentim a necessidade de entrar em contacto com Manuel Guiomar.

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José Valentim garantiu que lhe transmitiria essa necessidade. (Confrontar


com Produto 6543 do Alvo 1T167PM).

414.º No dia 15 de Abril de 2009, pelas 09h13, Hugo Godinho informou


Manuel Godinho que Manuel Guiomar seria um dos funcionários da REFER
a acompanhar o levantamento de carril a realizar na Estação do Livramento,
que havia sido objecto de conversa entre aqueles no dia 02 de Abril de 2009,
pelas 18h05. (Confrontar com os Produtos 6683 e 5673 do Alvo 1T167PM).

415.º Com efeito, em data não concretamente apurada, mas anterior a 15 de


Abril de 2009, a REFER havia determinado que os levantamentos de carril a
realizar nas Estações do Livramento e Algoz seriam acompanhados por
Manuel Guiomar, em representação da direcção de Contratualização,
Procurement e Logística, e Mário Alberto Lopes Mendes, em nome da
Unidade Operacional Sul.

416.º Nos dias 15 e 16 de Abril de 2009, ocorreu o levantamento,


carregamento e transporte de resíduos ferrosos na Estação do Livramento,
lote 3 do procedimento A06-08-GVCP para a alienação de quatro lotes de
resíduos ferrosos, que havia sido adjudicado à “2nd Market”. (Vide Ap. AJ4,
fls. 110 a 141).

417.º Este levantamento resultou na recolha de 49,480 Toneladas de


resíduos, valor coincidente com os respectivos talões de pesagem. (Vide Ap
AJ, fls. 9 a 15).

418.º De facto, a presença de Mário Alberto Lopes Mendes inviabilizou a


retirada de resíduos sem a necessária pesagem e a adulteração do peso dos
resíduos recolhidos.

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419.º No dia 15 de Abril de 2009, pelas 13h29, Hugo Godinho deu a


conhecer a Manuel Godinho que se encontrava na companhia de Manuel
Guiomar, mas que a retirada de resíduos sem a necessária pesagem e a
adulteração do peso dos resíduos recolhidos não se mostrava viável face à
presença de Mário Mendes. (Confrontar com Produto 6726 do Alvo
1T167PM).

420.º Apenas três minutos depois, Manuel Guiomar fez comunicação de


idêntico teor a Manuel Godinho, acrescentando que a subtracção e
adulteração ocorreria no dia seguinte e mediante a utilização de uma outra
balança. (Confrontar com Produto 6729 do Alvo 1T167PM).

421.º Mais o informou ter sido decidido na REFER adquirir uma balança
móvel para efectuar as pesagens.

422.º Logo após, questionou-o sobre a possibilidade de adulterar o peso dos


resíduos recolhidos com tais instrumentos.

423.º Manuel Godinho sossegou-o respondendo afirmativamente, tendo-lhe,


acto contínuo, comunicado que, no dia seguinte, iria ter uma reunião com
vista à resolução dos problemas da “O2” com a REFER.

424.º No dia 15 de Abril de 2009, pelas 17h45, Manuel Guiomar comunicou a


Manuel Godinho que, uma vez que uma das cargas apresentava um peso
superior ao estipulado, a retirada de resíduos sem a necessária pesagem e a
adulteração do peso dos resíduos recolhidos na Estação do Livramento
apenas seria possível caso os funcionários de Manuel Godinho efectuassem
o carregamento e o transporte na alvorada do dia seguinte. (Confrontar com
Produto 6787 do Alvo 1T167PM).

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425.º No dia 16 de Abril de 2009, no período de tempo compreendido entre


as 12h00 e as 14h55, por iniciativa de Carlos Vasconcellos, Manuel Godinho
almoçou com Carlos de Vasconcellos, João Folque e José Manuel Mesquita,
no Restaurante “Mercado do Peixe”, em Lisboa. (Vide RDE de fls. 2121 a
2132 e Produtos 6244, 6552 e 6824 do Alvo 1T167PM).

426.º No dia 20 de Abril de 2009, pelas 11h53, José Valentim informou


Manuel Godinho que o arguido João Valente lhe transmitira que Manuel
Godinho tinha as portas fechadas na REFER. (Confrontar com Produto 7207
do Alvo 1T167PM).

427.º No dia 21 de Abril de 2009, pelas 16h00, Carlos de Vasconcellos disse


a Manuel Godinho ter estado com Cardoso dos Reis, Presidente do
Conselho de Administração da CP, que lhe transmitiu ter-se deslocado à
Argentina na companhia de Ana Paula Vitorino e Carlos Frazão, membro do
Conselho de Administração da REFER. (Confrontar com Produto 7358 do
Alvo 1T167PM).

428.º Mais lhe garantiu que, presencialmente, lhe cederia a informação que
obtivera.

429.º No dia 23 de Abril de 2009, no período de tempo compreendido entre


as 12h15 e as 13h20, Manuel Godinho, João Godinho e Carlos de
Vasconcellos almoçaram no Restaurante “A Concha”, sito na Praia do
Furadouro, em Ovar. (Vide RDE de fls. 2199 a 2206).

430.º Pelas 13h20, Manuel Godinho e Carlos de Vasconcellos dirigiram-se às


instalações da “O2”, sitas em Ovar.

431.º Pelas 13h40, Manuel Godinho e Carlos de Vasconcellos abandonaram


as instalações da “O2”e dirigiram-se para as instalações da “SCI”, sitas na

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Zona Industrial de Taboeira, lote 17, em Aveiro, nas quais permaneceram até
cerca das 14h40.

432.º No dia 30 de Abril de 2009, o Conselho de Administração da REFER


aprovou a proposta de atribuição dos 16 lotes de resíduos dispersos por
diferentes estações sob a jurisdição da Unidade Operacional Norte. (Vide Ap.
AJ4, fls. 142 a 178).

433.º À sociedade “2nd Market” foram adjudicados os lotes situados nas


Estações de Santa Maria da Feira, Albergaria-a-Velha e Mouriscas do Vouga
(lote 1 – material ferroso, carril), Ovar e Valadares (lote 2 – material ferroso,
carril), Gaia (lote 4 – cobre e outras ligas), Valença (lote 6 – material ferroso,
carril e material miúdo), Caminha e Viana do Castelo (lote 7 – material
ferroso, carril e material miúdo), Nine (lote 8 – material ferroso, carril e
material miúdo), Leixões e S.Gemil (lote 9 – material ferroso, carril e material
miúdo), São Bento e Midões (lote 10 – acumuladores de chumbo), Régua
(lote 12 – material ferroso, carril e material miúdo), Tua e Mirandela (lote 14 –
material ferroso, carril e material miúdo), Pocinho (lote 15 – material ferroso,
carril e material miúdo).

434.º À sociedade “SCI” foram adjudicados os lotes situados nas Estações


da Livração e Vila Real (lotes 11 e 16 – material ferroso, carril e material
miúdo).

435.º No dia 12 de Maio de 2009, aconteceu o levantamento, carregamento e


transporte de resíduos ferrosos na Estação de Algoz, lote 4 do procedimento
A06-08-GVCP para a alienação de quatro lotes de resíduos ferrosos, que
havia sido adjudicado à “2nd Market”. (Vide Ap. AJ, fls. 153 a 162).

436.º Este levantamento resultou na recolha de 55,860 toneladas de


resíduos, valor coincidente com os respectivos talões de pesagem.

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437.º Com efeito, a presença de Mário Mendes frustrou a retirada de


resíduos sem a necessária pesagem e a adulteração do peso dos resíduos
recolhidos.

438.º No dia 14 de Maio de 2009, pelas 08h43, José Valentim noticiou a


Manuel Godinho uma reunião havida entre o núcleo dos trabalhadores
socialistas da REFER e Ana Paula Vitorino, na qual aqueles teriam
expressado o seu descontentamento com a conduta de Luís Pardal enquanto
Presidente do Conselho de Administração e exigido a tomada de
providências. (Confrontar com Produto 9285 do Alvo 1T167PM).

439.º Mais lhe transmitiu que lhe haviam subtraído o seu computador portátil
e que tinha pedido a Paulo Godinho um outro computador para o substituir e
que este já lho havia entregue.

440.º Manuel Godinho afirmou ter dado o seu consentimento à oferenda.

441.º Em data não concretamente apurada, mas posterior a 14 de Maio de


2009 e anterior a 19 de Maio de 2009, Melchior Gomes reuniu-se com José
Manuel Mesquita. (Confrontar com Produto 9364 do Alvo 1T167PM).

442.º Neste encontro, Melchior Gomes, após para tal ter sido instado,
entregou a José Manuel Mesquita o conjunto dos elementos relativos ao
diferendo entre a “O2” e a REFER na sua posse para que este pudesse
exercer pressão sobre Luís Pardal.

443.º No dia 19 de Maio de 2009, pelas 21h13, Carlos de Vasconcellos


manifestou a Manuel Godinho a necessidade de José Manuel Mesquita em
com ele se encontrar. (Confrontar com Produto 9785 do Alvo 1T167PM).

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444.º Manuel Godinho aduziu que, fruto das suas diligências, do mau
ambiente e da contestação em torno de Luís Pardal, existiriam novidades
favoráveis às suas pretensões entre duas a três semanas.

445.º No dia 23 de Maio de 2009, no período de tempo compreendido entre


as 13h00 e as 14h15, Manuel Godinho almoçou com Armando Vara no
restaurante “Mercado do Peixe”, sito na Estrada Pedro Teixeira, na Ajuda,
em Lisboa. (Vide RDE de fls. 2752 a 2784).

446.º De seguida, pelas 16h56, Manuel Godinho solicitou a José Valentim


que o conduzisse até à Avenida José Malhoa, em Lisboa, onde teria uma
reunião na segunda-feira seguinte, dia 25, nas instalações da EDP.
(Confrontar com Produto 10214 do Alvo 1T167PM).

447.º José Valentim informou-o da realização de uma reunião entre Hilário


Teixeira, Ana Paula Vitorino, Mário Lino e Luís Pardal, na qual a actuação de
Luís Pardal enquanto Presidente do Conselho de Administração da REFER
teria sido criticada.

448.º Acrescentou ter falado com Mário Rodrigues, funcionário da REFER,


Director da Zona Operacional de Conservação Norte, que lhe teria dito que
Luís Pardal o havia instado a assumir a responsabilidade pelo sucedido na
linha do Tua (vide art.ºs 190º e 191º).

449.º No dia 25 de Maio de 2009, José Valentim conduziu Manuel Godinho à


Avenida José Malhoa, em Lisboa. (vide RDE de fls. 2787 a 2809).

450.º Pelas 10h10, Manuel Godinho encontrou-se com Armando Vara no seu
gabinete nas instalações do Millenium BCP, sitas no n.º 19 da Avenida José
Malhoa, em Lisboa. (Confrontar com Produto 5 do Alvo 1T167PM).

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451.º Em data não concretamente apurada, mas anterior a 28 de Maio de


2009, Armando Vara solicitou a Manuel Godinho 25.000,00€ como
compensação pelas diligências por si empreendidas e a empreender em
favor das suas empresas.

452.º No dia 27 de Maio de 2009, Manuel Godinho, acompanhado de Carlos


de Vasconcellos, reuniu-se com João Folque e José Manuel Mesquita nos
escritórios da sociedade de advogados “José Manuel Mesquita &
Associados”, sita na Rua Castilho, n.º 90, em Lisboa. (Confrontar com
Produto 10566 do Alvo 1T167PM, fls. 368 a 373, 379 a 383 do Ap. 24, fls. 2
a 4 do Ap. 25 e RDE de fls. 2872 a 2892).

453.º No dia 28 de Maio de 2009, pelas 15h33, Manuel Godinho questionou


Armando Vara se seria ocasião para lhe entregar os 25.000,00€ que lhe
havia solicitado. (Confrontar com Produto 18 do Alvo 39264M).

454.º Armando Vara postergou a entrega para momento ulterior.

455.º No dia 29 de Maio de 2009, pelas 08h08, João Godinho leu a Manuel
Godinho o texto do Acórdão do Venerando Tribunal da Relação do Porto,
que conheceria datação e publicidade a 09 de Junho de 2009, absolvendo a
“O2” na contenda judicial que a opunha à REFER. (Confrontar com Produto
10739 do Alvo 1T167PM).

456.º No dia 29 de Maio de 2009, José Valentim deu conta a Manuel


Godinho da necessidade sentida por Manuel Guiomar em o contactar.
(Confrontar com Produto 10746 do Alvo 1T167PM).

457.º No dia 02 de Junho de 2009, pelas 10h46, Hugo Godinho informou


Manuel Godinho que seria Manuel Guiomar a acompanhar os levantamentos
dos lotes de resíduos dispersos por diferentes estações sob a jurisdição da

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Unidade Operacional Norte adjudicados à “2nd Market” e à “SCI”. (Confrontar


com Produto 11066 do Alvo 1T167PM).

458.º No dia 03 de Junho de 2009, pelas 18h07, Manuel Godinho pediu a


José Valentim que o conduzisse até à Avenida José Malhoa, em Lisboa,
onde teria uma reunião no dia seguinte, nas instalações da EDP. (Confrontar
com Produto 11237 do Alvo 1T167PM).

459.º No dia 04 de Junho de 2009, José Valentim conduziu Manuel Godinho


às instalações da EDP, sitas na Avenida José Malhoa, em Lisboa, onde se
encontrou com Paiva Nunes. (Vide RDE de fls. 2957 a 3005).

460.º No dia 05 de Junho de 2009, pelas 10h48, Armando Vara indagou


Manuel Godinho sobre se havia já solicitado a marcação de uma reunião
com o Presidente do Conselho de Administração da REFER. (Confrontar
com Produto 33 do Alvo 39264M).

461.º Manuel Godinho respondeu-lhe negativamente, acrescentado que o


Tribunal da Relação havia absolvido a “O2” dos pedidos contra ela
formulados pela REFER.

462.º Armando Vara disse-lhe, então, ser melhor esperar pelo conhecimento
público da decisão para agirem.

463.º No dia 08 de Junho de 2009, a REFER deu notícia pública, por


publicação em Diário da República e nos jornais “Diário de Notícias” e
“Correio da Manhã”, da abertura de concurso público para levantamento e
alienação da superstrutura de via do Ramal de Vila Viçosa entre o PK
175,870 e o PK 191,924. (vide AP AJ4, fls. 314).

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464.º Nos dias 08 e 09 de Junho de 2009, José Valentim conduziu Manuel


Godinho ao Hotel Mercure, sito na Avenida José Malhoa, em Lisboa, onde se
reuniu com Paiva Nunes. (Vide RDE de fls. 3010 a 3038 e RDE de fls. 3040
a 3074).

465.º Em data não concretamente apurada, mas posterior a 29 de Maio de


2009 e anterior a 15 de Junho de 2009, Carlos Vasconcellos comunicou a
José Manuel Mesquita que o Tribunal da Relação do Porto absolvera a “O2”
dos pedidos contra ela formulados pela REFER.

466.º Acto contínuo, José Manuel Mesquita pediu-lhe uma cópia do acórdão
para o apresentar numa reunião a marcar com Ana Paula Vitorino.

467.º Em data não concretamente apurada, mas posterior a 29 de Maio de


2009 e anterior a 15 de Junho de 2009, Carlos Vasconcellos pôs a circular
na REFER que Manuel Godinho tinha tido ganho de causa no pleito judicial
que opunha a “O2” àquela empresa pública e que iria pedir uma
indemnização.

468.º No dia 15 de Junho de 2009, pelas 13h38, Carlos de Vasconcellos,


procurando satisfazer a petição de José Manuel Mesquita, rogou a Manuel
Godinho uma cópia do acórdão, esclarecendo ser necessária para
apresentar numa reunião a marcar com Ana Paula Vitorino. (Confrontar com
Produto 12200 do Alvo 1T167PM e RDE de fls. 2872 a 2892).

469.º No dia 15 de Junho de 2009, pelas 16h54, Manuel Godinho informou


Lopes Barreira que a “O2” havia sido absolvida pelo Tribunal da Relação dos
pedidos contra si formulados pela REFER. (Confrontar com Produto 12223
do Alvo 1T167PM).

470.º De pronto, Lopes Barreira disse ir transmitir tal facto a Mário Lino.

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471.º Manuel Godinho alvitrou ser, agora, possível a pacificação da sua


relação com a REFER, tendo Lopes Barreira afirmado ser não uma
possibilidade, mas sim um imperativo.

472.º Lopes Barreira aludiu a um telefonema de Luís Pardal convidando-o


para almoçar.

473.º Por fim, Manuel Godinho rogou a Lopes Barreira que transmitisse a
Armando Vara o ganho de causa da “O2”.

474.º De seguida, em data não concretamente apurada, Lopes Barreira deu


a conhecer a Ana Paula Vitorino a absolvição da “O2” e a satisfação de
Armando Vara por tal facto.

475.º Aproveitando a ocasião, expressou-lhe ser já tempo de Luís Pardal


modificar a sua atitude e o seu comportamento para com a sociedade “O2”.

476.º Acto contínuo, Ana Paula Vitorino pôs termo à conversa, não sem
antes reafirmar tudo quanto lhe havia dito no encontro entre ambos
acontecido no início do ano.

477.º Em data não concretamente apurada, mas posterior a 29 de Maio de


2009 e anterior a 18 de Junho de 2009, José Valentim publicitou junto dos
demais funcionários e quadros da REFER o ganho de causa de Manuel
Godinho no Tribunal da Relação, por forma a que a desconfiança em relação
à sua pessoa e às suas empresas cessasse.

478.º No dia 19 de Junho de 2009, pelas 18h32, Manuel Godinho contou a


Manuel Guiomar que iria almoçar no dia seguinte com Armando Vara e
Lopes Barreira, os quais já lhe haviam garantido que Luís Pardal, Presidente
do Conselho de Administração da REFER, e Ana Paula Vitorino, Secretária

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S. R.

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de Estado dos Transportes, seriam destituídos dos cargos que ocupavam.


(Confrontar com Produto 12649 do Alvo 1T167PM).

479.º No dia 20 de Junho de 2009, pelas 11h21, Lopes Barreira e Mário Lino
combinaram almoçar na semana seguinte. (Confrontar com Produto 1051 do
Alvo 39354PM).

480.º No dia 20 de Junho de 2009, pelas 09h11, Manuel Godinho solicitou a


Maribel Rodrigues que reunisse 50.000,00€.(Confrontar com Produto 12676
do Alvo 1T167PM).

481.º De seguida, nas instalações da SCI, em Aveiro, em hora não


concretamente apurada, mas posterior às 09h11 e anterior às 13h13, Maribel
Rodrigues entregou a Manuel Godinho os 50.000,00€.

482.º No dia 20 de Junho de 2009, no período de tempo compreendido entre


as 14h06 e as 15h45, Armando Vara e Lopes Barreira almoçaram com
Manuel Godinho, na residência deste, sita no Furadouro, em Ovar. (Vide
RDE de fls. 3228 a 3271).

483.º Durante o almoço, Manuel Godinho entregou a Armando Vara os


25.000,00€ a que aludira na conversa que com ele mantivera a 28 de Maio
de 2009.

484.º Idêntico montante foi entregue a Lopes Barreira.

485.º No dia 20 de Junho de 2009, pelas 17h22, Lopes Barreira deu conta a
Manuel Godinho que iria abordar com Mário Lino a contenda judicial e extra-
judicial que opunha as suas empresas e a REFER. (Confrontar com Produto
1063 do Alvo 39354PM).

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486.º Mais tarde, pelas 17h33, reiterou-lhe tal propósito, ao mesmo tempo
que teceu comentários depreciativos relativamente a Alfredo Vicente Pereira,
membro do Conselho de Administração da REFER. (Confrontar com Produto
1066 do Alvo 39354PM).

487.º Lopes Barreira expressou, igualmente, a sua estranheza pela


manutenção em funções de Ana Paula Vitorino, na medida em que José
Sócrates criticava o seu comportamento e Ana Paula Vitorino criticava o de
Mário Lino.

488.º Manuel Godinho compadeceu-se com a atitude de José Sócrates, pois


a saída de Ana Paula Vitorino acarretaria mais problemas à governação.

489.º No dia 23 de Junho de 2009, pelas 17h10, Carlos de Vasconcellos


informou Manuel Godinho que José Manuel Mesquita tinha diligenciado por
marcar um encontro com Ana Paula Vitorino. (Confrontar com Produto 12992
do Alvo 1T167PM).

490.º No dia 30 de Junho de 2009, pelas 08h44, Carlos de Vasconcellos


transmitiu a Manuel Godinho que, em conversa com António Mexia,
Presidente do Conselho de Administração da EDP, este se havia referido a
Luís Pardal e a Ana Paula Vitorino como “malucos”. (Confrontar com Produto
13560 do Alvo 1T167PM).

491.º No dia 01 de Julho de 2009, Manuel Godinho e Carlos de Vasconcellos


almoçaram no restaurante “Retiro da Algodeia”, em Lisboa. (Vide RDE de fls.
3372 a 3381).

492.º No dia 02 de Julho de 2009, pelas 16h01, a “SCI” apresentou a sua


proposta no quadro do concurso público para levantamento e alienação da

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superstrutura de via do Ramal de Vila Viçosa entre o PK 175,870 e o PK


191,924. (Vide Ap. AJ4, fls. 218).

493.º No dia 03 de Julho de 2009, pelas 10h30, realizou-se o acto público de


abertura de propostas relativo àquele concurso público. (Vide Ap. AJ4, fls.
219).

494.º A “SCI” fez-se representar por Zálio Couceiro, que, após tomar
conhecimento do valor das propostas apresentadas pelos diferentes
concorrentes, deu a conhecer a Namércio Cunha ser a da “SCI” a que exibia
melhor valor.

495.º Pelas 11h52, Hugo Godinho verberou Namércio Cunha por ter
apresentado uma proposta com um valor tão elevado no quadro do concurso
público para levantamento e alienação da superstrutura de via do Ramal de
Vila Viçosa entre o PK 175,870 e o PK 191,924, quando havia conseguido
que o mais capaz dos seus competidores apresentasse uma proposta menos
competitiva, de valor superior na prestação de serviços e de valor inferior na
alienação de materiais, naquele concurso, por forma a garantir a sua
adjudicação a Manuel Godinho e às suas empresas. (Confrontar com
Produto 10497 do Alvo 38250PM).

496.º Na verdade, em data não concretamente apurada, mas anterior a 03 de


Julho de 2009, Hugo Godinho, seguindo ordens e instruções de Manuel
Godinho, contactou o mais capaz dos concorrentes àquele concurso, cuja
identidade não se logrou apurar, propondo-lhe a entrega de uma
determinada quantia em dinheiro, cujo montante não se determinou, em
troca da apresentação de uma proposta menos competitiva, de valor superior
na prestação de serviços e de valor inferior na alienação de materiais,
naquele concurso, por forma a garantir a sua adjudicação a Manuel Godinho.

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497.º Aquele concorrente aceitou e apresentou uma proposta menos


competitiva, de valor superior na prestação de serviços e de valor inferior na
alienação de materiais, no quadro do concurso público para levantamento e
alienação da superstrutura de via do Ramal de Vila Viçosa entre o PK
175,870 e o PK 191,924.

498.º Instantes volvidos, pelas 12h06, Namércio Cunha informou Manuel


Godinho que a proposta apresentada pela “SCI” no quadro do concurso
público para levantamento e alienação da superstrutura de via do Ramal de
Vila Viçosa entre o PK 175,870 e o PK 191,924 era a que evidenciava o
melhor valor. (Confrontar com Produto 10507 do Alvo 38250PM).

499.º No dia 08 de Julho de 2009, Lopes Barreira comunicou a Manuel


Godinho que se iria reunir com Ana Paula Vitorino para analisarem o modo
de superação do contencioso que opunha as suas empresas à REFER.
(Confrontar com Produto 2236 do Alvo 39354PM).

500.º No dia 13 de Julho de 2009, pelas 16h57, José Valentim transmitiu a


Manuel Godinho que o Presidente do Conselho de Administração da REFER
havia suspendido a passagem de serviço até Outubro. (Confrontar com
Produto 14994 do Alvo 1T167PM).

501.º Aduziu que, não obstante aquela decisão, no último conselho de


administração havia sido adjudicada, por 13 milhões de Euros, a duas
empresas a substituição de carril 54 por 60 no troço entre o Setil e o
Entroncamento.

502.º Concluiu afirmando ser uma situação favorável a Manuel Godinho, pois
que, assim, o Entroncamento iria ficar repleto de carril 54.

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503.º No dia 14 de Julho de 2009, pelas 09h05, Manuel Guiomar assegurou


a Manuel Godinho a adjudicação a uma das suas empresas dos concursos
públicos para levantamento e alienação da superstrutura de via do Ramal de
Vila Viçosa entre o PK 175,870 e o PK 191,924 e do Ramal de Estremoz.
(Confrontar com Produto 15022 do Alvo 1T167PM).

504.º Mais o informou que iria ser lançado concurso público para o
levantamento de sucata ferrosa, constituída por carril e material de fixação,
na linha da Beira Baixa, na Estação de Caria, e, bem assim, que iria falar
com o responsável pela Unidade Operacional Norte, António Vasconcelos,
para combinarem o início do levantamento dos lotes que haviam sido
adjudicados ao universo empresarial administrado por Manuel Godinho no
quadro do concurso público para a alienação de 16 lotes de resíduos
dispersos por diferentes estações sob a jurisdição da Unidade Operacional
Norte.

505.º Três minutos volvidos, Manuel Godinho deu nota a Namércio Cunha da
adjudicação às suas empresas do concurso público para levantamento e
alienação da superstrutura de via do Ramal de Vila Viçosa entre o PK
175,870 e o PK 191,924. (Confrontar com Produto 15024 do Alvo 1T167PM).

506.º No dia 14 de Julho de 2009, pelas 14h24, José Valentim informou


Manuel Godinho que iriam ser adjudicados à “SCI” os trabalhos na área dos
resíduos a efectuar na via férrea de Estremoz. (Confrontar com Produto
15049 do Alvo 1T167PM).

507.º Acrescentou que Manuel Guiomar desejava abordar consigo os termos


em que ocorreria a adulteração das pesagens dos resíduos recolhidos nos
lotes adjudicados à “2nd Market” e “SCI” no âmbito do concurso público para
a alienação de 16 lotes de resíduos dispersos por diferentes estações sob a

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jurisdição da Unidade Operacional Norte, na medida em que já se achava na


posse da balança peso-eixos adquirida pela REFER para o efeito.

508.º Momentos após, pelas 17h34, Manuel Godinho discutiu com Carlos de
Vasconcellos a vida interna da REFER, designadamente as sucessivas
deliberações tomadas por Luís Pardal. (Confrontar com Produto 15097 do
Alvo 1T167PM).

509.º Carlos Vasconcellos comunicou-lhe que João Folque iria contactar


José Manuel Mesquita no sentido de este apressar as suas diligências, ao
que Manuel Godinho afirmou não ser já possível reverter a situação a três
meses das eleições.

510.º No dia 15 de Julho de 2009, pelas 13h48, Manuel Godinho informou


Manuel Guiomar da sua presença, ainda que dissimulada, no dia 22 de
Junho de 2009, na Livração para acertarem os termos e as condições do
levantamento dos resíduos ferrosos a efectuar naquela Estação no âmbito do
concurso público para a alienação de 16 lotes de resíduos dispersos por
diferentes estações sob a jurisdição da Unidade Operacional Norte.
(Confrontar com Produto 15199 do Alvo 1T167PM).

511.º Em 17 de Julho de 2009, a REFER lançou concurso público, A17-09-


GVCP, para a alienação de sucata ferrosa constituída por carril e material de
fixação, existente na Estação de Caria da Linha da Beira Baixa, com o peso
estimado de 535 toneladas. (Vide Ap. AJ4, fls. 230 a 247).

512.º Ao acto foram proponentes as empresas “RSA - Reciclagem de


Sucatas Abrantina, SA”, com o valor de 108 605,00€; “Recifemetal –
Reciclagem de Ferros e Metais, SA”, com o valor de 99 242,50€; “SCI”, com
o valor de 128 453,60€” e “2ndMarket”, com o valor de 120 376,00€”.

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513.º No dia 20 de Julho de 2009, pelas 22h37, Lopes Barreira instruiu a sua
secretária de nome Maria Domingas da Conceição Charrua da Costa
Almeida a entrar em contacto com Ana Paula Vitorino para marcar um jantar.
(Confrontar com Produto 3079 do Alvo 39354PM).

514.º No dia 21 de Julho de 2009, pelas 18h51, Lopes Barreira reafirmou a


Manuel Godinho ter abordado com Mário Lino o contencioso da “O2” com a
REFER. (Confrontar com Produto 3151 do Alvo 39354PM).

515.º Mais lhe disse que Ana Paula Vitorino lhe tinha solicitado um almoço,
mas que decidiu ir adiando a sua concretização.

516.º Em data não concretamente apurada, mas anterior a 30 de Julho de


2009, Armando Vara e Lopes Barreira contactaram Mário Lino transmitindo-
lhe que a REFER prosseguia o seu comportamento lesivo da “02” nos
concursos e nas consultas públicas de adjudicação de contratos de compra e
venda e de prestação de serviços na área dos resíduos.

517.º Mais o procuraram persuadir da conveniência em destituir Luís Pardal


das suas funções de Presidente do Conselho de Administração da REFER e,
bem assim, em superar a contenda entre a REFER e a “02”.

518.º Em data não concretamente apurada, mas anterior a 30 de Julho de


2009, Mário Lino contactou Luís Pardal dando-lhe conta que lhe havia
chegado a informação que a REFER continuava a prejudicar a “02” nos
concursos e nas consultas públicas de adjudicação de contratos de compra e
venda e de prestação de serviços na área dos resíduos.

519.º Urgiu-o a modificar o comportamento da REFER com a “02”, mormente


a procurar a resolução do contencioso que as opunha, tendo-o, a este
propósito, induzido a aceitar uma reunião com Manuel Godinho.

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520.º Perante a demanda do Ministro da tutela, Luís Pardal aquiesceu à


realização da reunião com Manuel Godinho.

521.º Em data não concretamente apurada, mas anterior a 30 de Julho de


2009, Mário Lino comunicou a Armando Vara e Lopes Barreira ter ordenado
a Luís Pardal que se reunisse com Manuel Godinho com vista à resolução do
diferendo que opunha a REFER à “O2”.

522.º A 23 de Julho de 2009 aconteceu o levantamento dos resíduos


ferrosos existentes na Estação da Livração (lote 11) no âmbito do concurso
público para a alienação de 16 lotes de resíduos dispersos por diferentes
estações sob a jurisdição da Unidade Operacional Norte. (Vide Ap. AJ4, fls.
142 a 178).

523.º Abílio Pinto Guedes, não obstante conhecesse as quantidades de


material que compunham este lote – 327,000Kg – não comunicou tais
existências à REFER, por forma a permitir a Manuel Godinho e à “SCI” a
viciação das quantidades recolhidas.

524.º A REFER havia determinado que o levantamento a realizar na Estação


da Livração, como os demais que compunham o concurso público para a
alienação de 16 lotes de resíduos dispersos por diferentes estações sob a
jurisdição da Unidade Operacional Norte, seria acompanhado por Manuel
Guiomar, em representação da direcção de Contratualização, Procurement e
Logística, competindo-lhe, para além do mais, a pesagem dos resíduos
recolhidos.

525.º Mais ordenou que as pesagens deste levantamento, como dos demais
integrados no concurso público para a alienação de 16 lotes de resíduos
dispersos por diferentes estações sob a jurisdição da Unidade Operacional

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Norte, fossem realizadas fazendo uso da balança pesa eixos adquirida em


Maio de 2009. (Vide fls. 130 a 141 do Ap. AJ6).

526.º Com efeito, em data não concretamente apurada do mês de Maio de


2009, a REFER adquiriu, para a pesagem dos resíduos no momento do seu
levantamento, uma balança pesa eixos, modelo DFWKR, com duas
plataformas ligadas a um display/visor digital e a uma impressora, não
dispondo de memória de dados, mas emitindo dois talões de pesagem. (Vide
Ap. AJ6 de fls. 209 a 213).

527.º Esta balança é constituída por dois pratos (plataforma onde é colocado
o rodado para a pesagem) e uma unidade central de dados, composto por
visor e sistema de impressão.

528.º A ligação da unidade central aos pratos é efectuada por cabos de


transmissão de dados.

529.º O registo da pesagem pode ser feito por eixo ou individualizado por
roda, sendo o primeiro o comummente utilizado.

530.º O registo individualizado por roda apenas é utilizado em situações


específicas, quando haja que determinar o peso distribuído por cada roda do
respectivo eixo.

531.º Esta balança, mesmo homologada, é apenas um mecanismo de


controlo e referência, não podendo os seus resultados ser considerados para
efeitos de facturação.

532.º Com efeito, existem diferenças nos resultados das pesagens


dependendo da metodologia utilizada.

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533.º A pesagem de todos os eixos de um veículo não coincide com a soma


das pesagens dos seus eixos, numa décalage entre os 3 e os 5%.

534.º Manuel Godinho, de modo a aportar garantias acrescidas de


adulteração do peso dos resíduos recolhidos, fez não só questão de marcar
presença no levantamento de todos os lotes, com excepção do sito na
Estação de Midões, como de indicar a colocação dos eixos dos camiões nos
pratos.

535.º Na verdade, a colocação incorrecta dos rodados nas plataformas onde


se encontram os sensores distorce os registos de pesagem.

536.º Manuel Godinho, de comum acordo e em conjugação de esforços com


Manuel Guiomar, nas pesagens dos resíduos recolhidos, colocou os rodados
parcialmente fora do local estipulado, sendo que, assim, os sensores da
balança apenas registaram parte do peso efectivo da carga, não dando
qualquer mensagem de erro e assumindo o valor detectado.

537.º Por outro lado, cargas houve que nem sequer foram objecto de
pesagem.

538.º De facto, tal sucedeu, ao menos, no dia 23 de Julho de 2009, ocasião


em que ocorreu uma avaria num dos cabos de ligação da balança pesa-eixos
às placas onde se colocam os eixos dos veículos, a qual obstou à utilização
deste equipamento, pelo menos, durante a manhã. (vide Ap. AJ8, fls. 59).

539.º Não obstante, durante este período, foram registados diversos


carregamentos e suas alegadas pesagens através daquela balança pesa-
eixos. (Vide Ap. AJ8, fls. 60 e 61).

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540.º A tudo isto acresce a sobreavaliação das taras dos veículos


encarregues do transporte dos resíduos recolhidos. (vide fls. 70 a 73 do Ap.
AJ8).

541.º Na verdade, quer por não terem sido pesados, quer por declaração
distinta, por excesso, do resultado da pesagem, quer por a sua pesagem ter
sido realizada com os veículos parcialmente cheios, as taras declaradas
foram-no em medida superior às constantes dos seus documentos de registo
automóvel.

542.º Por fim, pese embora esta balança emita dois talões de pesagem, um
para acompanhar a carga e outro para ser junto ao processo de
acompanhamento do levantamento existente na REFER e para permitir um
posterior cruzamento de dados,

543.º Manuel Guiomar, de comum acordo e em conjugação de esforços com


Manuel Godinho, com excepção do levantamento relativo ao lote 9 sito nas
Estações de Leixões e S. Gemil, apenas emitiu um talão de pesagem, o qual
acompanhou a guia de remessa respectiva. (Vide Ap. AJ6, fls. 89 a 100).

544.º Com esta actuação, Manuel Godinho, de comum acordo e em


conjugação de esforços com Manuel Guiomar e Abílio Pinto Guedes,
recolheu na Livração 327,5 toneladas de resíduos, sendo que declarou à
REFER apenas 189,305 toneladas, no que alcançou um benefício
patrimonial de, pelo menos, 28.213,88€, causando à REFER um prejuízo, ao
menos, de idêntico valor. (Vide fls. 23582 a 23594).

545.º Em obediência às regras de repartição de tarefas dentro da


organização delituosa criada e idealizada por Manuel Godinho, de acordo
com as capacidades, aptidões e qualificações dos seus membros, Maribel
Rodrigues canalizou os resíduos assim subtraídos para as instalações da

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sociedade comercial, denominada “M5 Gestão de Resíduos Industriais,


Unipessoal”, cuja gerência de direito cabe a Manuel Nogueira da Costa.

546.º Nos dias 24 e 27 de Julho ocorreu o levantamento dos resíduos


ferrosos existentes na Estação de Vila Real (lote 16) no âmbito do concurso
público para a alienação de 16 lotes de resíduos dispersos por diferentes
estações sob a jurisdição da Unidade Operacional Norte.

547.º A este lote, que inicialmente registava uma existência de 92,000Kg de


carril e 6,000 Kg de sucata miúda foi acrescentada sucata, em quantidade
não inferior a 70,000Kg, por decisão do Director da Unidade Operacional
Norte, Mário Rodrigues. (vide Ap. AJ6, fls. 45).

548.º Esta junção mereceu conhecimento por parte de Abílio Pinto Guedes e
Manuel Guiomar por força das funções que desempenhavam na REFER.

549.º No entanto, Abílio Pinto Guedes, no quadro da prossecução dos


interesses de Manuel Godinho, não reflectiu, como devia, nos mapas de
registo de existências a sucata que foi aditada.

550.º Os funcionários da “SCI”, seguindo ordens e instruções de Manuel


Godinho, recolheram a totalidade da sucata existente – a inicial e a
acrescentada –.

551.º Contudo, Manuel Guiomar, agindo em prol dos interesses de Manuel


Godinho, omitiu os poderes/deveres de fiscalização do levantamento que lhe
incumbiam e, assim, não procedeu à pesagem dos resíduos acrescentados.

552.º Deste modo, os valores de sucata recolhida apresentados por Manuel


Godinho, em nome da “SCI”, à REFER cingiram-se aos evidenciados nos

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mapas de registo de existências, os quais Abílio Pinto Guedes não actualizou


após a decisão de Mário Rodrigues.

553.º Destarte, Manuel Godinho, de comum acordo e em conjugação de


esforços com Manuel Guiomar e Abílio Pinto Guedes, os quais omitiram os
poderes/deveres de fiscalização do levantamento que lhes incumbiam,
recolheu a sucata junta por decisão de Mário Rodrigues sem pesagem,
obtendo, como tal, um benefício patrimonial não inferior a 16.000,00€ e
causando à REFER um prejuízo, ao menos, de semelhante jaez.

554.º Em obediência às regras de repartição de tarefas dentro da


organização delituosa criada e idealizada por Manuel Godinho, de acordo
com as capacidades, aptidões e qualificações dos seus membros, Maribel
Rodrigues canalizou os resíduos assim subtraídos para as instalações da
sociedade comercial, denominada “M5 Gestão de Resíduos Industriais,
Unipessoal”, cuja gerência de direito cabe a Manuel Nogueira da Costa.

555.º Em data não concretamente apurada, mas anterior a 28 de Julho de


2009, Manuel Guiomar, seguindo ordens e instruções de Manuel Godinho,
contactou dois funcionários da REFER, cujo identidade não se logrou apurar,
no sentido de o auxiliarem na viciação das pesagens e na subtracção de
resíduos da Estação do Pocinho aquando do seu levantamento no dia 29 de
Julho de 2009.

556.º No dia 28 de Julho de 2009, Manuel Godinho, de comum acordo e em


conjugação de esforços com Manuel Guiomar, o qual omitiu, uma vez mais,
os poderes/deveres de fiscalização que lhe incumbiam, adulterando as
pesagens do modo supra descrito, recolheu 40,580 Kg de resíduos no
levantamento dos resíduos ferrosos integrantes do lote 14 (Linha do Tua) do
concurso público para a alienação de 16 lotes de resíduos dispersos por
diferentes estações sob a jurisdição da Unidade Operacional Norte, sendo

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que declarou à REFER apenas 17,485Kg, no que obteve um benefício


patrimonial de, pelo menos, 5.903,00€, causando à REFER um prejuízo, ao
menos, equivalente. (vide Ap. AJ6, fls. 45 e fls. 23582 a 23594).

557.º Em obediência às regras da repartição de tarefas dentro da


organização delituosa criada e idealizada por Manuel Godinho, de acordo
com as capacidades, aptidões e qualificações dos seus membros, Maribel
Rodrigues canalizou os resíduos assim subtraídos para as instalações da
sociedade comercial, denominada “M5 Gestão de Resíduos Industriais,
Unipessoal”, cuja gerência de direito cabe a Manuel Nogueira da Costa.

558.º No dia 29 de Julho de 2009, pelas 09h24, Manuel Godinho ordenou a


Maribel Rodrigues que colocasse 1.000,00€ em cada um de dois envelopes
e que lhos levasse à rotunda do Beira-Mar, uma vez que tinha de se deslocar
ao Alto Douro. (Confrontar com Produto 16403 do Alvo 1T167PM).

559.º No dia 29 de Julho, em hora não concretamente apurada, mas


posterior às 09h24, Manuel Godinho deslocou-se ao Pocinho, local em que
entregou os ditos envelopes contendo 1.000,00€ cada a Manuel Guiomar.
(vide Ap. 162, fls. 78 a 80).

560.º Na ocasião, esclareceu-o que deveria entregar 200,00€ a cada um dos


funcionários da REFER, cujo identidade não se logrou apurar, que o iriam
auxiliar na viciação das pesagens e na subtracção de resíduos da Estação
do Pocinho, guardando para si a restante quantia.

561.º Na posse dos envelopes, Manuel Guiomar retirou de cada um 800,00€,


ao que os entregou aos funcionários da REFER, cujo identidade não se
logrou apurar, que o iriam auxiliar na viciação das pesagens e na subtracção
de resíduos da Estação do Pocinho.

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562.º Logo após, procedeu ao depósito na sua conta dos 1.600,00€, que
Manuel Godinho lhe destinara.

563.º A 29 e 30 de Julho de 2009 realizou-se o levantamento dos resíduos


ferrosos existentes nas Estações do Pocinho e de Mirandela,
respectivamente, no âmbito do concurso público para a alienação de 16 lotes
de resíduos dispersos por diferentes estações sob a jurisdição da Unidade
Operacional Norte.

564.º No dia 30 de Julho de 2009, Hugo Godinho almoçou com Manuel


Guiomar. (Confrontar com Produto 16564 do Alvo 1T167PM).

565.º No dia 30 de Julho de 2009, Manuel Godinho, acompanhado de Carlos


de Vasconcellos, encontrou-se com Armando Vara nas instalações do
Millenium BCP, sitas na Avenida José Malhoa, em Lisboa. (vide RDE de fls.
3755 a 3759).

566.º Armando Vara comunicou-lhes que Mário Lino tinha ordenado a Luís
Pardal que se reunisse com Manuel Godinho com vista à resolução do
diferendo que opunha a REFER à “O2”.

567.º E instruiu Manuel Godinho a solicitar a marcação de uma reunião com


o Presidente do Conselho de Administração da REFER.

568.º Na sequência deste encontro, Manuel Godinho solicitou a Namércio


Cunha que formalizasse um pedido de reunião com o Presidente do
Conselho de Administração da REFER, o que aquele, de imediato, fez.

569.º No dia 03 de Agosto de 2009, pelas 09h35, Manuel Godinho, perante a


perda por Carlos Vasconcellos do telemóvel que aquele lhe havia entregue e
cujos custos de utilização cabiam à “O2”, garantiu-lhe que, na semana

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seguinte, asseguraria a sua substituição. (Confrontar com Produto 16809 do


Alvo 1T167PM).

570.º Acrescentou não ter ainda obtido resposta ao pedido de reunião que
formulara à REFER e que iria preparar um dossier para fazer valer os seus
direitos resultantes da absolvição da “O2”.

571.º Carlos de Vasconcellos afirmou ser necessário “entalar” Luís Pardal.

572.º No dia 11 de Agosto de 2009, pelas 17h24, Namércio Cunha informou


Manuel Godinho que a REFER havia designado o dia 18 de Agosto de 2009,
pelas 17h00, para a realização da reunião que havia solicitado por fax no dia
30 de Julho de 2009. (Confrontar com Produto 17554 do Alvo 1T167PM).

573.º No dia 13 de Agosto de 2009, pelas 10h43, Manuel Godinho


comunicou a Carlos Vasconcellos a data designada para a realização da
reunião com a administração da REFER, descrevendo-lhe a estratégia que
iria adoptar, designadamente que iria enfatizar os prejuízos por si sofridos
por forma a conhecer a reacção de Luís Pardal. (Confrontar com Produto
17748 do Alvo 1T167PM).

574.º No dia 18 de Agosto de 2009, pelas 17h00, realizou-se uma reunião


entre Manuel Godinho, Luís Pardal, Presidente do Conselho de
Administração da REFER, e Vicente Pereira, Administrador da REFER com o
pelouro das finanças.

575.º Manuel Godinho iniciou este encontro mencionando o ganho de causa


que a “O2” obtivera no Tribunal da Relação do Porto no pleito que a opunha
à REFER, propondo, em seguida, que a conta corrente dos pagamentos
reclamados quer pela “O2” quer pela REFER relativos a contratos
desenvolvidos em administrações anteriores ficasse saldada, isto é, ambas

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as empresas deixariam de peticionar os valores a que consideravam ter


direito e que se achavam pendentes de resolução.

576.º Luís Pardal remeteu a apreciação da proposta para os advogados da


REFER, por se encontrarem na posse dos elementos capazes de possibilitar
a concretização de um acordo.

577.º Por fim, Manuel Godinho abordou questões relacionadas com o


concurso público relativo ao levantamento e alienação da superstrutura de
via do Ramal de Vila Viçosa entre o PK 175,870 e o PK 191,924,
nomeadamente a inexistência de uma decisão de adjudicação, pois que
sabia que uma das suas empresas ocupava posição precedente aos demais
proponentes.

578.º Em data não concretamente apurada, mas posterior a 18 de Agosto de


2009 e anterior a 26 do mesmo mês e ano, Vicente Pereira instou a direcção
de Contratualização, Procurement e Logística a concluir o procedimento
concursal para o levantamento e alienação da superstrutura de via do Ramal
de Vila Viçosa entre o PK 175,870 e o PK 191,924.

579.º No dia 26 de Agosto de 2009, pelas 20h43, Manuel Guiomar deu a


conhecer a Manuel Godinho a interpelação de Vicente Pereira à direcção de
Contratualização, Procurement e Logística e o propósito que lhe esteve
subjacente. (Confrontar com Produto 18865 do Alvo 1T167PM).

580.º Concluiu asseverando o andamento favorável às pretensões de Manuel


Godinho do concurso público para o levantamento e alienação da
superstrutura de via do Ramal de Vila Viçosa entre o PK 175,870 e o PK
191,924 de Vila Viçosa.

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581.º No dia 29 de Agosto de 2009, Manuel Godinho, Manuel Guiomar e


João Godinho almoçaram juntos no Restaurante Rucas. (vide RDE de fls.
4694 a 4713).

582.º Logo após, Manuel Godinho contactou Hugo Godinho, ordenando-lhe


que se reunisse com Manuel Guiomar com vista a coordenarem o modo
como se processaria a adulteração do peso dos resíduos recolhidos nos
levantamentos seguintes, mormente no a realizar na Estação de Caria.
(Confrontar com Produto 19028 do Alvo 1T167PM).

583.º Perante as propostas apresentadas, em 04 de Setembro de 2009, o


Conselho de Administração da REFER adjudicou o concurso público, A17-
09-GVCP, para a alienação de sucata ferrosa constituída por carril e material
de fixação, existente na Estação de Caria da Linha da Beira Baixa, à “SCI”,
pelo valor de 128 453,60 €. (vide Ap. AJ4, fls. 283 a 289).

584.º Nos termos do caderno de encargos, o preço era fixo e não sujeito a
acerto se o peso real dos resíduos ferrosos não diferisse, por defeito ou por
excesso, em mais de 5%. (vide Ap. AJ4, fls. 230 a 247).

585.º Caso excedesse esta percentagem seria aplicada a fórmula do ponto


3.4 daquele caderno de encargos.

586.º No dia 07 de Setembro de 2009, pelas 10h52, Manuel Guiomar


transmitiu a Manuel Godinho que um jornalista havia interpelado a
administração da REFER sobre os levantamentos realizados pelas suas
empresas na linha do Douro e do Minho, nomeadamente na Livração, Vila
Real e Mirandela. (Confrontar com Produto 19614 do Alvo 1T167PM).

587.º No período de tempo compreendido entre 23 e 25 de Setembro de


2009 foi efectuado o levantamento do lote de resíduos que integrava o

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concurso público para a alienação de sucata ferrosa, A17-09-GVCP,


constituída por carril e material de fixação, existente na Estação de Caria.

588.º Manuel Guiomar foi designado pela REFER para o acompanhamento


do levantamento daquele lote, sendo que as pesagens foram realizadas
fazendo uso da balança pesa eixos supra descrita.

589.º Neste procedimento, Manuel Guiomar, de comum acordo e em


conjugação de esforços com Manuel e Hugo Godinho, por forma a permitir a
adulteração das pesagens, colocou a balança a cerca de 2 Km do local de
carregamento dos resíduos e efectuou as pesagens individualizadas por
roda.

590.º Com efeito, como José Sousa o havia advertido, em finais de Agosto
de 2009, da necessidade de emitir duas vias dos talões de pesagem, Manuel
Guiomar e Manuel Godinho viram-se na contingência de alterar o modo
como adulteravam os registos das pesagens.

591.º Uma vez que a colocação incorrecta dos rodados nas plataformas onde
se encontram os sensores distorce os registos de pesagem, a pesagem
individualizada por roda permitia uma adulteração mais substancial daqueles.

592.º Todavia, por mais complexa e morosa, exigiu a colocação da balança a


cerca de 2 Km do local de carregamento dos resíduos.

593.º Manuel Godinho, de comum acordo e em conjugação de esforços com


Manuel Guiomar, nas pesagens dos resíduos recolhidos, colocou os rodados
parcialmente fora do local estipulado, sendo que, assim, os sensores da
balança apenas registaram parte do peso efectivo da carga, não dando
qualquer mensagem de erro e assumindo o valor detectado.

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594.º Com esta actuação, Manuel Godinho, de comum acordo e em


conjugação de esforços com Manuel Guiomar, pese embora tenha retirado
731.730 Kg de carril, apenas transmitiu para facturação 402.630Kg. (Vide fls.
23594 a 23603).

595.º Deste modo, atingiu um benefício patrimonial que, por aplicação da


fórmula do ponto 3.4 do caderno de encargos, se cifrou em, pelo menos,
66.171,61€, causando um prejuízo patrimonial à REFER, ao menos, de igual
montante.

596.º De acordo com as regras de repartição de tarefas estabelecidas dentro


da organização delituosa criada e idealizada por Manuel Godinho, de acordo
com as capacidades, aptidões e qualificações dos seus membros, Maribel
Rodrigues canalizou os resíduos assim subtraídos para as instalações da
sociedade comercial, denominada “M5 Gestão de Resíduos Industriais,
Unipessoal”, cuja gerência de direito cabe a Manuel Nogueira da Costa.

597.º No dia 28 de Setembro de 2009, pelas 11h45, Manuel Godinho enviou


um fax ao Presidente do Conselho de Administração da REFER asseverando
ter apresentado a proposta mais vantajosa no concurso público para
levantamento e alienação da superstrutura de via do Ramal de Vila Viçosa
entre o PK 175,870 e o PK 191,924 e solicitando urgência na execução dos
trabalhos.

598.º Na mesma data, os serviços administrativos da “SCI” enviaram um fax


à direcção de Contratualização, Procurement e Logística, ao cuidado de José
Sousa, indagando da data provável de adjudicação do concurso público para
levantamento e alienação da superstrutura de via do Ramal de Vila Viçosa
entre o PK 175,870 e o PK 191,924.

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599.º No dia 29 de Setembro de 2009, o júri do concurso público para


levantamento e alienação da superstrutura de via do Ramal de Vila Viçosa
entre o PK 175,870 e o PK 191,924 apresentou o relatório preliminar de
análise de propostas, no qual decidiu, por unanimidade, considerar mais
favorável para a REFER a proposta da “SCI”, no valor total de 60.168,76€.

600.º No dia 08 de Outubro de 2009, o Conselho de Administração da


REFER tomou conhecimento daquele relatório preliminar e ordenou que se
procedesse à audiência prévia dos concorrentes.

601.º No dia 14 de Outubro de 2009, o júri do concurso público para


levantamento e alienação da superstrutura de via do Ramal de Vila Viçosa
entre o PK 175,870 e o PK 191,924 enviou aos concorrentes o relatório
preliminar de análise de propostas para efeitos de audiência prévia.

602.º Em data não concretamente apurada, mas anterior a 28 de Outubro de


2009, Manuel Godinho entregou a Manuel Guiomar 3.500,00€ em numerário.
(vide Ap. 162, fls. 78 a 80).

603.º Por decisão do Conselho de Administração da REFER, posterior a 28


de Outubro de 2009, foram anulados os concursos e as consultas em que
haviam intervindo e vencido empresas do universo empresarial, directa ou
indirectamente, gerido por Manuel Godinho.

604.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir da forma supra descrita,
logrando convencer a REFER que os trabalhos elencados na factura n.°
30/2001 haviam sido, efectivamente, realizados, levando-a, assim, a pagá-
los à “SEF”, bem sabendo que, deste modo, percebia um benefício
patrimonial a que sabia não ter direito, pelo menos, no montante de
386,909,09€, e que, como tal, causava à REFER um prejuízo, ao menos, de
valor equivalente.

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605.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e apesar
disso agiu livre e voluntariamente.

606.º Os arguidos José Magano Rodrigues e Silva Correia sabiam e


quiseram agir da forma supra mencionada, violando a fidelidade reclamada
pela sua qualidade de funcionários da REFER e infringindo exigências de
legalidade, objectividade, imparcialidade e independência que devem nortear
o desempenho de funções públicas, ao praticarem os supra mencionados
actos contrários aos seus deveres, ao omitirem os actos próprios das suas
funções, ao se desviarem dos poderes inerentes aos seus cargos e dos
poderes de facto decorrentes do seu exercício, com o propósito de que
Manuel Godinho e a “SEF” percebessem, como perceberam, os benefícios
patrimoniais supra identificados a que sabiam não ter direito, não obstante
conhecessem que ofendiam interesses patrimoniais da REFER cuja
administração, fiscalização, defesa e realização os cargos por si
desempenhados faziam sobre si impender e, assim, lhe causavam prejuízos,
ao menos, de valor equivalente.

607.º Mais sabiam serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei
Penal, e apesar disso agiram livre e voluntariamente.

608.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir da forma supra descrita,
violando a autonomia intencional do Estado, prometendo e entregando
contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais ao arguido Silva Correia,
funcionário da REFER, para que praticasse actos contrários aos seus
deveres, omitisse os actos próprios das suas funções e se desviasse dos
poderes inerentes ao seu cargo e dos poderes de facto decorrentes do seu
exercício e, assim, o favorecesse a si e às suas empresas, designadamente
adjudicando directamente às empresas integrantes do seu universo
empresarial contratos de compra e venda e de prestação de serviços na área

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dos resíduos, bem como criando as condições e permitindo a adulteração do


peso dos resíduos recolhidos.

609.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e apesar
disso agiram livre e voluntariamente.

610.º O arguido Silva Correia sabia e quis agir do modo supra descrito,
violando a autonomia intencional do Estado e infringindo exigências de
legalidade, objectividade, imparcialidade e independência que devem nortear
o desempenho de funções públicas, a troco da promessa e da entrega de
contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais, que sabia não lhe serem
devidas, ao mercadejar com a sua qualidade de funcionário da REFER,
praticando os supra citados actos contrários aos seus deveres, omitindo os
actos próprios das suas funções e desviando-se dos poderes inerentes ao
cargo e dos poderes de facto decorrentes do seu exercício, subordinando a
sua vontade, as suas iniciativas e as suas decisões pelas peitas prometidas
e recebidas, no sentido do favorecimento de Manuel Godinho e das suas
empresas, designadamente adjudicando directamente às empresas
integrantes do seu universo empresarial contratos de compra e venda e de
prestação de serviços na área dos resíduos, bem como criando as condições
e permitindo a adulteração do peso dos resíduos recolhidos.

611.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e apesar
disso agiram livre e voluntariamente.

612.º Os arguidos Manuel Godinho, Silva Correia e Abílio Pinto Guedes


sabiam e quiseram agir da forma supra descrita, de comum acordo e em
conjugação de esforços, logrando convencer a REFER que a quantidade de
resíduos removidos na linha do Tâmega entre o Km 13 e o 22,5 havia sido a
evidenciada nos talões de pesagem apresentados pela “O2”, levando-a,
assim, a aliená-los à “O2” naquela medida, bem sabendo que, deste modo,

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Manuel Godinho e a “O2” percebiam um benefício patrimonial a que sabiam


não ter direito, pelo menos, no montante de 5.500,00€, e que, como tal,
causavam à REFER um prejuízo, ao menos, de valor equivalente.

613.º Mais sabiam serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei
Penal, e apesar disso agiram livre e voluntariamente.

614.º Os arguidos Manuel Godinho e Silva Correia sabiam e quiseram agir


da forma supra descrita, de comum acordo e em conjugação de esforços,
logrando convencer a REFER que a quantidade de resíduos removidos na
linha do Tua do Km 58,3 ao 65,3 havia sido a exibida nos talões de pesagem
apresentados pela “O2”, levando-a, assim, a aliená-los à “O2” naquela
medida, bem sabendo que, deste modo, Manuel Godinho e a “O2” percebiam
um benefício patrimonial a que sabiam não ter direito, pelo menos, no
montante de 15.960,00€, e que, como tal, causavam à REFER um prejuízo,
ao menos, de valor equivalente.

615.º Mais sabiam serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei
Penal, e apesar disso agiram livre e voluntariamente.

616.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir da forma supra descrita
com o intuito concretizado de retirar e fazer coisa sua 3.690 metros de carril
e 5.275 unidades de travessas de madeira e respectivos elementos de
ligação e fixação da linha do Tua entre o Km 90,500 e 94,190, no valor global
de 106.585,00€, bem sabendo que eram pertença da REFER e que agiam
contra a sua vontade.

617.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e apesar
disso agiu livre e voluntariamente.

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618.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir da forma supra descrita,
violando a autonomia intencional do Estado, prometendo e entregando
contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais ao arguido João Valente,
funcionário da REFER, para que praticasse actos contrários aos seus
deveres, omitisse os actos próprios das suas funções e se desviasse dos
poderes inerentes ao seu cargo e dos poderes de facto decorrentes do seu
exercício e, assim, o favorecesse a si e às suas empresas, designadamente
omitindo os poderes/deveres de fiscalização públicos que lhe incumbiam no
desempenho das suas funções.

619.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e apesar
disso agiram livre e voluntariamente.

620.º O arguido João Valente sabia e quis agir do modo supra descrito,
violando a autonomia intencional do Estado e infringindo exigências de
legalidade, objectividade, imparcialidade e independência que devem nortear
o desempenho de funções públicas, a troco da promessa e da entrega de
contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais, que sabia não lhe serem
devidas, ao mercadejar com a sua qualidade de funcionário da REFER,
praticando os supra referidos actos contrários aos seus deveres, omitindo os
actos próprios das suas funções e desviando-se dos poderes inerentes ao
cargo e dos poderes de facto decorrentes do seu exercício, subordinando a
sua vontade, as suas iniciativas e as suas decisões pelas peitas prometidas
e recebidas, no sentido do favorecimento de Manuel Godinho e das suas
empresas, designadamente omitindo os poderes/deveres de fiscalização
públicos que lhe incumbiam no quadro da execução do contrato n.º 07/05-
CA/AM relativo à prestação de serviços de valorização de 5.000 toneladas de
travessas de betão bi-bloco pela “O2” à REFER.

621.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e apesar
disso agiu livre e voluntariamente.

1208
S. R.

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622.º Os arguidos Manuel Godinho e João Valente sabiam e quiseram agir


da forma supra descrita, de comum acordo e em conjugação de esforços,
com o intuito de convencerem a REFER que a quantidade e natureza dos
resíduos removidos no âmbito da valorização de 5.000 toneladas de
travessas de betão bi-bloco havia sido a declarada nos talões de pesagem e
nas guias de remessa, por forma a levarem-na a pagá-los à “O2” naquela
medida, com o propósito de que Manuel Godinho e a “O2” percebessem um
benefício patrimonial a que sabiam não ter direito, pelo menos, no montante
de 34.314,43€, e de causar à REFER um prejuízo, ao menos, de valor
equivalente.

623.º Mais sabiam serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei, o
que quiseram.

624.º Os arguidos Manuel Godinho e João Valente sabiam e quiseram agir


da forma supra descrita, de comum acordo e em conjugação de esforços, no
quadro de uma mesma resolução criminosa, não obstante soubessem que
ao fazerem constar dos talões de pesagem e das guias de remessa
quantidades e tipos de resíduos removidos que não correspondiam às e aos
efectivamente recolhidos, punham em causa a confiança e credibilidade das
pessoas na exactidão e genuinidade merecidas por aquelas notações
técnicas, visando obter para Manuel Godinho e para a “O2” um benefício
patrimonial a que sabiam não ter direito, no montante de, pelo menos,
34.314,43€, e causar à REFER um prejuízo, ao menos, de valor equivalente.

625.º Mais sabiam serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei
Penal, e apesar disso agiram livre e voluntariamente.

626.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir da forma supra descrita,
violando a autonomia intencional do Estado, prometendo e entregando
contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais a Armando Vara, Lopes

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S. R.

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Barreira e a terceiros com estes relacionados, para que Armando Vara e


Lopes Barreira exercessem a sua influência junto de entidades públicas com
o fito de alcançar decisões ilícitas favoráveis às suas aspirações e das suas
empresas, designadamente junto de Mário Lino, Ministro das Obras Públicas,
Transportes e Comunicações, no sentido da resolução e superação do
diferendo surgido entre a “O2” e a “REFER” a propósito do sucedido na
execução do contrato de valorização de 5.000 toneladas de travessas de
betão bi-bloco, com prevalência dos seus interesses e da sua empresa e,
bem assim, da alteração do comportamento comercial da REFER e do
Presidente do Conselho de Administração desta empresa para com a “02”,
por forma a que as suas pretensões conhecessem acolhimento, e da
manutenção do arguido João Valente nas funções que desempenhava, pese
embora a sua actuação em notório prejuízo da REFER na execução daquele
contrato.

627.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e apesar
disso agiu livre e voluntariamente.

628.º Os arguidos Armando Vara e Lopes Barreira sabiam e quiseram agir da


forma supra descrita, violando a autonomia intencional do Estado, a troco da
promessa e da entrega de contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais
para si e para terceiros consigo relacionados, que sabiam não lhe serem
devidas, para exercerem a sua influência junto de entidades públicas com o
fito de obterem decisões ilícitas favoráveis aos desideratos de Manuel
Godinho e das suas empresas, designadamente junto de Mário Lino, Ministro
das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, no sentido da resolução e
superação do diferendo surgido entre a “O2” e a “REFER” a propósito do
sucedido na execução do contrato de valorização de 5.000 toneladas de
travessas de betão bi-bloco, com prevalência dos seus interesses e da sua
empresa e, bem assim, da alteração do comportamento comercial da REFER
e do Presidente do Conselho de Administração desta empresa para com a

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S. R.

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“02”, por forma a que as pretensões de Manuel Godinho conhecessem


acolhimento, e da manutenção do arguido João Valente nas funções que
desempenhava, pese embora a sua actuação em notório prejuízo da REFER
na execução daquele contrato.

629.º Mais sabiam serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei
Penal, e apesar disso agiram livre e voluntariamente.

630.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir da forma supra descrita,
em seu nome e em representação e no interesse da “O2”, violando a
autonomia intencional do Estado, prometendo e entregando contrapartidas
patrimoniais e não patrimoniais aos arguidos Carlos de Vasconcellos, Manuel
Guiomar, José Valentim e Abílio Pinto Guedes, funcionários da REFER, para
que praticassem actos contrários aos seus deveres, omitissem os actos
próprios das suas funções e se desviassem dos poderes inerentes aos seus
cargos e dos poderes de facto decorrentes do seu exercício e, assim, o
favorecessem a si e à “O2”na sua relação comercial com a REFER com
sacrifício dos interesses desta, designadamente fornecendo-lhe informação
privilegiada sobre o posicionamento, o pensar e o sentir da Administração da
REFER e da direcção de Contratualização, Procurement e Logística
relativamente ao universo empresarial por si gerido, dando-lhe conhecimento
prévio à sua divulgação pública da natureza, das condições e dos termos dos
concursos e das consultas públicas de adjudicação de contratos de compra e
venda e de prestação de serviços na área dos resíduos a lançar pela
REFER, transmitindo-lhe o conhecimento da identidade dos concorrentes, da
natureza, das condições e dos termos das propostas por estes
apresentadas, participando-lhe, previamente à sua divulgação pública, a sua
adjudicação às suas empresas, bem como criando as condições e permitindo
a adulteração do peso dos resíduos recolhidos e a retirada de resíduos sem
a necessária pesagem.

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S. R.

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631.º Mais sabia serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei Penal,
e apesar disso agiu livre e voluntariamente.

632.º O arguido Carlos de Vasconcellos sabia e quis agir do modo supra


descrito, violando a autonomia intencional do Estado e infringindo exigências
de legalidade, objectividade, imparcialidade e independência que devem
nortear o desempenho de funções públicas, a troco da promessa e da
entrega de contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais, que sabia não lhe
serem devidas, ao mercadejar com a sua qualidade de funcionário da
REFER, praticando os supra aludidos actos contrários aos seus deveres,
omitindo os actos próprios das suas funções e desviando-se dos poderes
inerentes ao seu cargo e dos poderes de facto decorrentes do seu exercício,
subordinando a sua vontade, as suas iniciativas e as suas decisões pelas
peitas prometidas e recebidas, no sentido do favorecimento de Manuel
Godinho e da “O2” na sua relação comercial com a REFER em detrimento
dos interesses desta, designadamente fornecendo-lhe informação
privilegiada sobre o posicionamento, o sentir e o pensar da administração da
REFER relativamente ao universo empresarial por si gerido, exercendo a sua
influência junto de indivíduos com capacidade para influenciar
determinantemente os membros do Conselho de Administração da REFER
no sentido de os persuadir a acolherem os propósitos de Manuel Godinho e
empreendendo iniciativas tendentes à superação do contencioso judicial e
extra-judicial que opunha a “O2” à REFER com vencimento dos interesses
de Manuel Godinho.

633.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e apesar
disso agiu livre e voluntariamente.

634.º O arguido Manuel Guiomar sabia e quis agir da forma supra descrita,
violando a autonomia intencional do Estado e infringindo exigências de
legalidade, objectividade, imparcialidade e independência que devem nortear

1212
S. R.

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o desempenho de funções públicas, a troco da promessa e da entrega de


contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais, que sabia não lhe serem
devidas, ao mercadejar com a sua qualidade de funcionário da REFER,
praticando os supra mencionados actos contrários aos seus deveres,
omitindo os actos próprios das suas funções e desviando-se dos poderes
inerentes ao seu cargo e dos poderes de facto decorrentes do seu exercício,
subordinando a sua vontade, as suas iniciativas e as suas decisões pelas
peitas prometidas e recebidas, no sentido do favorecimento de Manuel
Godinho e da “O2” na sua relação comercial com a REFER em prejuízo dos
interesses desta, designadamente fornecendo-lhe informação privilegiada
sobre o posicionamento, o pensar e o sentir da Administração da REFER e
da direcção de Contratualização, Procurement e Logística relativamente ao
universo empresarial por si gerido, dando-lhe conhecimento prévio à sua
divulgação pública da natureza, das condições e dos termos dos concursos e
das consultas públicas de adjudicação de contratos de compra e venda e de
prestação de serviços na área dos resíduos a lançar pela REFER,
transmitindo-lhe o conhecimento da identidade dos concorrentes, da
natureza, das condições e dos termos das propostas por estes
apresentadas, participando-lhe, previamente à sua divulgação pública, a sua
adjudicação às suas empresas, bem como criando as condições e permitindo
a subtracção e apropriação de resíduos nobres como se de ferrosos se
tratassem, a adulteração do peso dos resíduos recolhidos, a retirada de
resíduos sem a necessária pesagem e a sobrefacturação dos serviços
prestados.

635.º Mais sabia serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei Penal,
e apesar disso agiu livre e voluntariamente.

636.º O arguido José Valentim sabia e quis agir da forma supra descrita,
violando a autonomia intencional do Estado e infringindo exigências de
legalidade, objectividade, imparcialidade e independência que devem nortear

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o desempenho de funções públicas, a troco da promessa e da entrega de


contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais, que sabia não lhe serem
devidas, ao mercadejar com a sua qualidade de funcionário da REFER,
praticando os supra referidos actos contrários aos seus deveres, omitindo os
actos próprios das suas funções e desviando-se dos poderes inerentes ao
seu cargo e dos poderes de facto decorrentes do seu exercício,
subordinando a sua vontade, as suas iniciativas e as suas decisões pelas
peitas prometidas e recebidas, no sentido do favorecimento de Manuel
Godinho e da “O2” na sua relação comercial com a REFER postergando os
interesses desta, designadamente fornecendo-lhe informação privilegiada
sobre o dia-a-dia da REFER, sobre o posicionamento, o pensar e o sentir da
Administração e de quadros superiores da REFER relativamente ao universo
empresarial por si gerido, participando-lhe, previamente à sua divulgação
pública, a adjudicação a uma das suas empresas de uma consulta pública
promovida pela REFER.

637.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e apesar
disso agiu livre e voluntariamente.

638.º O arguido Abílio Pinto Guedes sabia e quis agir da forma supra
descrita, violando a autonomia intencional do Estado e infringindo exigências
de legalidade, objectividade, imparcialidade e independência que devem
nortear o desempenho de funções públicas, a troco da promessa e da
entrega de contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais, que sabia não lhe
serem devidas, ao mercadejar com a sua qualidade de funcionário da
REFER, praticando os supra aludidos actos contrários aos seus deveres,
omitindo os actos próprios das suas funções e desviando-se dos poderes
inerentes ao cargo e dos poderes de facto decorrentes do seu exercício,
subordinando a sua vontade, as suas iniciativas e as suas decisões pelas
peitas prometidas e recebidas, no sentido do favorecimento de Manuel
Godinho e da “O2” na sua relação comercial com a REFER preterindo os

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interesses desta, designadamente dando-lhe conhecimento prévio à sua


divulgação pública da natureza, das condições e dos termos dos concursos e
das consultas públicas de adjudicação de contratos de compra e venda e de
prestação de serviços na área dos resíduos a promover pela REFER e, bem
assim, omitisse os poderes/deveres de fiscalização que lhe incumbiam na
identificação das existências e no acompanhamento dos levantamentos
efectuados na Linha do Tâmega e no âmbito concurso público para a
alienação de 16 lotes de resíduos dispersos por diferentes estações sob a
jurisdição da Unidade Operacional Norte.

639.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e apesar
disso agiu livre e voluntariamente.

640.º Os arguidos Manuel Godinho e Manuel Guiomar sabiam e quiseram


agir da forma supra descrita, de comum acordo e em conjugação de
esforços, violando a autonomia intencional do Estado, prometendo e
entregando contrapartidas patrimoniais a dois funcionários da REFER, cuja
identidade não se logrou apurar, para que praticassem actos contrários aos
seus deveres, omitissem actos próprios das suas funções e se desviassem
dos poderes inerentes ao seu cargo e dos poderes de facto decorrentes do
seu exercício e, assim, o favorecessem a si e à “O2” na sua relação
comercial com a REFER desconsiderando os interesses desta,
designadamente criando as condições e permitindo a adulteração do peso
dos resíduos recolhidos no levantamento acontecido no Pocinho no âmbito
concurso público para a alienação de 16 lotes de resíduos dispersos por
diferentes estações sob a jurisdição da Unidade Operacional Norte.

641.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir em seu nome e em


representação e no interesse da “O2”.

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642.º Mais sabiam serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei
Penal, e apesar disso agiram livre e voluntariamente.

643.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir da forma supra descrita,
em seu nome e em representação e no interesse da “O2”, violando a
autonomia intencional do Estado, prometendo e entregando contrapartidas
patrimoniais e não patrimoniais a Armando Vara, a Lopes Barreira e a
terceiros com estes relacionados, para que Armando Vara e Lopes Barreira
exercessem a sua influência junto de entidades públicas com o fito de
alcançar decisões ilícitas favoráveis às suas aspirações e da “O2”,
designadamente junto de titulares de cargos políticos e governativos no
sentido de os convencerem da bondade das pretensões de Manuel Godinho
e, assim, da necessidade de Ana Paula Vitorino e Luís Pardal serem
destituídos dos cargos que ocupavam e da REFER modificar o seu
comportamento comercial para com a “02”, desde logo, pondo termo ao
contencioso que as opunha com satisfação dos seus interesses.

644.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e apesar
disso agiu livre e voluntariamente.

645.º Os arguidos Armando Vara e Lopes Barreira sabiam e quiseram agir da


forma supra descrita, violando a autonomia intencional do Estado, a troco da
promessa e da entrega de contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais
para si e para terceiros consigo relacionados, que sabiam não lhe serem
devidas, para exercerem a sua influência junto de entidades públicas com o
fito de obterem decisões ilícitas favoráveis aos desideratos de Manuel
Godinho e da “O2”, designadamente junto de titulares de cargos políticos e
governativos no sentido de os convencerem da bondade das pretensões de
Manuel Godinho e, assim, da necessidade de Ana Paula Vitorino e Luís
Pardal serem destituídos dos cargos que ocupavam e da REFER modificar o
seu comportamento comercial para com a “02”, desde logo, pondo termo ao

1216
S. R.

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contencioso que as opunha com satisfação dos interesses de Manuel


Godinho.

646.º Mais sabiam serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei
Penal, e apesar disso agiram livre e voluntariamente.

647.º Os arguidos Manuel e Hugo Godinho sabiam e quiseram agir da forma


supra descrita, de comum acordo e em conjugação de esforços, em seu
nome e em representação e no interesse da “SCI”, conseguindo, a troco da
entrega de uma contrapartida patrimonial, que o mais capaz dos seus
competidores apresentasse uma proposta menos competitiva, de valor
superior na prestação de serviços e de valor inferior na alienação de
materiais, no concurso público para levantamento e alienação da
superstrutura de via do Ramal de Vila Viçosa entre o PK 175,870 e o PK
191,924, por forma a garantir a sua adjudicação a Manuel Godinho e à “SCI”.

648.º Mais sabiam serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei
Penal, e apesar disso agiram livre e voluntariamente.

649.º Os arguidos Manuel Godinho, Abílio Pinto Guedes e Manuel Guiomar


sabiam e quiseram agir da forma supra descrita, de comum acordo e em
conjugação de esforços, logrando convencer a REFER que a quantidade de
resíduos removidos na Livração havia sido a apresentada pela “SCI”,
levando-a, assim, a aliená-los à “SCI” naquela medida, bem sabendo que,
deste modo, Manuel Godinho e a “SCI” percebiam um benefício patrimonial a
que sabiam não ter direito, pelo menos, no montante de 28.213,88€, e que,
como tal, causavam à REFER um prejuízo, ao menos, de valor equivalente.

650.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir em seu nome e em


representação e no interesse da “SCI”.

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S. R.

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651.º Mais sabiam serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei
Penal, e apesar disso agiram livre e voluntariamente.

652.º Os arguidos Manuel Godinho, Abílio Pinto Guedes e Manuel Guiomar


sabiam e quiseram agir da forma supra descrita, de comum acordo e em
conjugação de esforços, logrando convencer a REFER que a quantidade de
resíduos removidos em Vila Real havia sido a apresentada pela “SCI”,
levando-a, assim, a aliená-los à “SCI” naquela medida, bem sabendo que,
deste modo, Manuel Godinho e a “SCI” percebiam um benefício patrimonial a
que sabiam não ter direito, pelo menos, em montante não inferior a
16.000,00€, e que, como tal, causavam à REFER um prejuízo, ao menos, de
valor equivalente.

653.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir em seu nome e em


representação e no interesse da “SCI”.

654.º Mais sabiam serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei
Penal, e apesar disso agiram livre e voluntariamente.

655.º Os arguidos Manuel Godinho e Manuel Guiomar sabiam e quiseram


agir da forma supra descrita, de comum acordo e em conjugação de
esforços, logrando convencer a REFER que a quantidade de resíduos
removidos na Linha do Tua no quadro do concurso público para a alienação
de 16 lotes de resíduos dispersos por diferentes estações sob a jurisdição da
Unidade Operacional Norte havia sido a apresentada pela “SCI”, levando-a,
assim, a aliená-los à “SCI” naquela medida, bem sabendo que, deste modo,
Manuel Godinho e a “SCI” percebiam um benefício patrimonial a que sabiam
não ter direito, pelo menos, no montante de 5.903,00€, e que, como tal,
causavam à REFER um prejuízo, ao menos, de valor equivalente.

1218
S. R.

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656.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir em seu nome e em


representação e no interesse da “SCI”.

657.º Mais sabiam serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei
Penal, e apesar disso agiu livre e voluntariamente.

658.º Os arguidos Manuel Godinho e Manuel Guiomar sabiam e quiseram


agir da forma supra descrita, de comum acordo e em conjugação de
esforços, logrando convencer a REFER que a quantidade de resíduos
removidos em Caria havia sido a apresentada pela “SCI”, levando-a, assim, a
aliená-los à “SCI” naquela medida, bem sabendo que, deste modo, Manuel
Godinho e a “SCI” percebiam um benefício patrimonial a que sabiam não ter
direito, pelo menos, no montante de 66.171,61€, e que, como tal, causavam
à REFER um prejuízo, ao menos, de valor equivalente.

659.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir em seu nome e em


representação e no interesse da “SCI”.

660.º Mais sabiam serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei
Penal, e apesar disso agiu livre e voluntariamente.

661.º Os arguidos Manuel Godinho e Manuel Guiomar sabiam e quiseram


agir da forma supra descrita, de comum acordo e em conjugação de
esforços, não obstante soubessem que ao colocarem os rodados dos
camiões destinados ao transporte dos resíduos recolhidos na Livração e na
Linha do Tua no quadro do concurso público para a alienação de 16 lotes de
resíduos dispersos por diferentes estações sob a jurisdição da Unidade
Operacional Norte, bem como no âmbito do concurso público para a
alienação de sucata ferrosa, A17-09-GVCP, constituída por carril e material
de fixação, existente na Estação de Caria, parcialmente fora do local
estipulado, de modo a que os sensores da balança apenas registassem parte

1219
S. R.

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do peso efectivo da carga e, assim, aquele aparelho emitisse um talão de


pesagem com resultados adulterados, punham em causa a confiança e
credibilidade das pessoas na exactidão e genuinidade merecidas por aquelas
notações técnicas, visando obter para Manuel Godinho e para a “SCI” um
benefício patrimonial a que sabiam não ter direito no montante de, pelo
menos, 100.288,49€, e causar à REFER um prejuízo, ao menos, de valor
equivalente.

662.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir em seu nome e em


representação e no interesse da “SCI”.

663.º Mais sabiam serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei
Penal, e apesar disso agiu livre e voluntariamente.

664.º O arguido Manuel Nogueira da Costa sabia e quis agir da supra


referida forma, recebendo os resíduos removidos à REFER sem declaração
pela “SCI” com o propósito logrado de obter para si vantagem patrimonial,
não obstante soubesse que haviam sido daquele modo subtraídos àquela
empresa.

665.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e apesar
disso agiu livre e voluntariamente.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Manuel Godinho, em concurso


real e efectivo:

- autor material, sob a forma consumada, de seis crimes de


corrupção activa para acto ilícito, previsto e punido pelo art.º 374º, n.º 1 do
Código Penal;

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- co-autor material, sob a forma consumada, de dois crimes de


corrupção activa para acto ilícito, previsto e punido pelo art.º 374º, n.º 1 do
Código Penal;

- autor material, sob a forma consumada, de quatro crimes de tráfico


de influência, previsto e punido pelo art.º 335º, n.º 2 do Código Penal;

- autor material, sob a forma consumada, de um crime de furto


qualificado, previsto e punido pelos art.ºs 203º, n.º 1 e 204º, n.º 2, al. a) ambos
do Código Penal.

- co-autor material, sob a forma consumada, de quatro crimes de


burla qualificada, previsto e punido pelos art.ºs 217º, n.º 1 e 218º, n.º 1 ambos
do Código Penal;

- co-autor material, sob a forma consumada, de dois crimes de burla


qualificada, previsto e punido pelo art.º 217º, n.º 1 e 218º, n.º 2, al. a) ambos
do Código Penal;

- autor material, sob a forma consumada, de um crime de burla


qualificada, previsto e punido pelo art.º 217º, n.º 1 e 218º, n.º 2, al. a) ambos
do Código Penal;

- co-autor material, sob a forma tentada, de um crime de burla


qualificada, previsto e punido pelos art.ºs 23º, n.ºs 1 e 2, 217º, n.º 1 e 218º, n.º
2, al. a) todos do Código Penal;

- co-autor material, sob a forma consumada, de quatro crimes de


falsificação de notação técnica, previsto e punido pelo art.º 258º, n.ºs 1 e 2
do Código Penal;

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- co-autor material, sob a forma consumada, de um crime de


perturbação de arrematações, previsto e punido pelo art.º 230º do Código
Penal.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Silva Correia, em concurso real


e efectivo:

- co-autor material, sob a forma consumada, de dois crimes de


participação económica em negócio, previsto e punido pelo art.º 377º, n.º 1
do Código Penal;

- autor material, sob a forma consumada, de um crime de corrupção


passiva para acto ilícito, previsto e punido pelo art.º 372º, n.º 1 do Código
Penal;

- co-autor material, sob a forma consumada, de dois crimes de burla


qualificada, previsto e punido pelos art.ºs 217º, n.º 1 e 218º, n.º 1 ambos do
Código Penal.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido José Magano Rodrigues, em


concurso real e efectivo:

- co-autor material, sob a forma consumada, de dois crimes de


participação económica em negócio, previsto e punido pelo art.º 377º, n.º 1
do Código Penal.

1222
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Abílio Pinto Guedes, em


concurso real e efectivo:

- autor material, sob a forma consumada, de um crime de corrupção


passiva para acto ilícito, previsto e punido pelo art.º 372º, n.º 1 do Código
Penal;

- co-autor material, sob a forma consumada, de um crime de burla


qualificada, previsto e punido pelas disposições conjugadas dos art.º 217º, n.º
1, 218º, n.º 1 ambos do Código Penal;

- co-autor material, sob a forma consumada, de um crime de burla


qualificada, previsto e punido pelo art.º 217º, n.º 1, 218º, n.º 2, al. a) do Código
Penal.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido João Valente, em concurso real


e efectivo:

- autor material, sob a forma consumada, de um crime de corrupção


passiva para acto ilícito, previsto e punido pelo art.º 372º, n.º 1 do Código
Penal;

- co-autor material, sob a forma tentada, de um crime de burla


qualificada, previsto e punido pelos art.ºs 23º, n.ºs 1 e 2, 217º, n.º 1 e 218º, n.º
2, al. a) todos do Código Penal;

- co-autor material, sob a forma consumada, de um crime de


falsificação de notação técnica, previsto e punido pelo art.º 258º, n.ºs 1, 2 e 4
do Código Penal.

1223
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Carlos Vasconcellos, autor


material, sob a forma consumada, de um crime de corrupção passiva para
acto ilícito, previsto e punido pelo art.º 372º, n.º 1 do Código Penal.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido José Valentim, autor material,


sob a forma consumada, de um crime de corrupção passiva para acto
ilícito, previsto e punido pelo art.º 372º, n.º 1 do Código Penal.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Manuel Guiomar, em concurso


real e efectivo:

- autor material, sob a forma consumada, de um crime de corrupção


passiva para acto ilícito, previsto e punido pelo art.º 372º, n.º 1 do Código
Penal;

- co-autor material, sob a forma consumada, de dois crimes de


corrupção activa para acto ilícito, previsto e punido pelo art.º 374º, n.º 1 do
Código Penal;

- co-autor material, sob a forma consumada, de dois crimes de burla


qualificada, previsto e punido pelo art.º 217º, n.º 1, 218º, n.º 1 do Código
Penal;

- co-autor material, sob a forma consumada, de dois crimes de burla


qualificada, previsto e punido pelo art.º 217º, n.º 1, 218º, n.º 2, al. a) do Código
Penal.

1224
S. R.

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- co-autor material, sob a forma consumada, de três crimes de


falsificação de notação técnica, previsto e punido pelo art.º 258º, n.ºs 1, 2 e 4
do Código Penal;

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Armando Vara, autor material,


sob a forma consumada, em concurso real e efectivo, de dois crimes de
tráfico de influência, previsto e punido pelo art.º 335º, n.º 1, al. a) do Código
Penal.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Lopes Barreira, autor material,


sob a forma consumada, em concurso real e efectivo, de dois crimes de
tráfico de influência, previsto e punido pelo art.º 335º, n.º 1, al. a) do Código
Penal.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Manuel Nogueira da Costa,


autor material, sob a forma consumada, em concurso real e efectivo, de quatro
crimes de receptação, previsto e punido pelo art.º 231º, n.º 1 do Código
Penal.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Hugo Godinho, co-autor


material, sob a forma consumada, de um crime de perturbação de
arrematações, previsto e punido pelo art.º 230º do Código Penal.

1225
S. R.

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Pelo exposto, constituiu-se a arguida “O2”, em concurso real e


efectivo:

- autora material, sob a forma consumada, de quatro crimes de


corrupção activa para acto ilícito, previsto e punido pelas disposições
conjugadas dos art.ºs 11º, n.º 2, al. a), 90º A e 374º, n.º 1 do Código Penal;

- autora material, sob a forma consumada, de dois crimes de tráfico


de influência, previsto e punido pelas disposições conjugadas dos art.ºs 11º,
n.º 2, al. a), 90º A e 335º, n.º 2 do Código Penal.

Pelo exposto, constituiu-se a arguida “SCI”, em concurso real e


efectivo:

- autora material, sob a forma consumada, de dois crimes de burla


qualificada, previsto e punido pelas disposições conjugadas dos art.ºs 11º, n.º
2, al. a), 90º A e 217º, n.º 1 e 218º, n.º 1 ambos do Código Penal;

- autora material, sob a forma consumada, de dois crimes de burla


qualificada, previsto e punido pelas disposições conjugadas dos art.ºs 11º, n.º
2, al. a), 90º A e 217º, n.º 1 e 218º, n.º 2, al. a) ambos do Código Penal;

- autora material, sob a forma consumada, de três crimes de


falsificação de notação técnica, previsto e punido pelas disposições
conjugadas dos art.ºs 11º, n.º 2, al. a), 90º A e 258º, n.ºs 1 e 2 do Código
Penal;

1226
S. R.

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PARTE III – Da REN – Redes Energéticas Nacionais, SGPS, S.A. e dos


arguidos Manuel José Ferreira Godinho, Maribel Marques Rodrigues,
Namércio Pereira da Cunha, João Jorge da Silva Godinho, Hugo Manuel
de Sá Godinho, Manuel Nogueira da Costa, Paulo Manuel Pereira da
Costa, Mário Manuel Sousa Pinho, José Domingos Lopes Valentim, José
Rodrigues Pereira dos Penedos, Jorge Paulo Martins Pereira dos
Penedos, Victor Manuel Costa Antunes Machado Baptista, Fernando
Manuel dos Santos, Juan Carlos Fernandes Oliveira, Pedro Miguel Silva
Laranjeira e Jorge Pereira Saramago

666.º A REN – Redes Energéticas Nacionais, SGPS, S.A. (doravante


abreviadamente designada REN) é uma sociedade anónima de capitais
maioritariamente públicos, cuja actividade se enquadra nos sectores da
electricidade, do gás natural e, complementarmente, das telecomunicações.
(vide fls. 23737 a 23738).

667.º A “O2”, no período de tempo compreendido entre os anos de 2003 a


2007, apresentava como um dos seus principais fornecedores e cliente a
REN.

668.º A partir de 2008, a REN assumiu-se como o principal fornecedor e


cliente da “O2”, suplantando a REFER.

669.º No período de tempo compreendido entre 2002 e 2009, a REN


adjudicou à “02” os seguintes contratos:

a) Em 2002, contrato de venda de sucata;

b) Em 2003, contrato de gestão global dos resíduos produzidos


pela REN;

1227
S. R.

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c) Em 2004, contrato para a triagem de resíduos de contentores


metálicos, no valor de 5.925,00€, contrato para o
desmantelamento de transformadores de potência, no valor
de 369.457,00€, e contrato para a gestão de reservas de
óleos isolantes, no valor de 22.700,00€.

d) Em 2005, contrato de gestão de resíduos industriais da REN


e contrato para o desmantelamento da central de Alto Mira –
Fase I, no valor de 92.669,00€;

e) Em 2006, contrato para o desmantelamento da central de


Alto Mira – Fase II, no valor de 120.218,00€, contrato para a
remoção de cabos dos painéis de grupo de 60 KV da central
de Alto Mira, no valor de 10.000,00€, e contrato para o
transporte de óleo de Ferreira do Alentejo para Sacavém, no
valor de 2.750,00€;

f) Em 2007, contrato para o transporte de óleo isolante entre


Palmela e Sacavém, no valor de 1.750,00€;

g) Em 2008, contrato para o desmantelamento de


transformadores de potência, no valor de 486.213,00€,
contrato para o transporte de óleo da subestação de
Vermoim para a subestação de Ermesinde, no valor de
1.568,00€, e contrato para a reconstrução de cubas de
transformadores desmantelados para armazenagem de óleo,
no valor de 39.500,00€;

h) Em 2009, contrato para a gestão global dos resíduos das


antigas instalações da central da Tapada do Outeiro, no valor
de 271.757,00€. (Vide Ap. AE21, de fls. 218 e 219).

1228
S. R.

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670.º O arguido José Rodrigues Pereira dos Penedos foi Presidente do


Conselho de Administração da REN de 2001 a 2010. (vide fls. 23737 a
23738).

671.º O arguido Victor Manuel Costa Antunes Machado Baptista tomou


posse, em Janeiro 2001, como Administrador da REN, cargo em que se
manteve durante três mandatos até Março de 2010.

672.º Enquanto administrador partilhou com o arguido José Penedos, entre


outros, os pelouros da divisão comercial do SEP e da Exploração. (vide Fls.
23739 a 23741).

673.º O arguido Fernando Manuel dos Santos é funcionário da REN desde a


sua criação, exercendo, então, funções de chefe do Departamento de
Gestão de Contratos.

674.º Em 2004, assumiu as funções de Director da Divisão Comercial, onde


permaneceu até Maio de 2007, ocasião em que foi investido no cargo de
administrador da REN – Trading, S.A.

675.º Enquanto director da Divisão Comercial, o arguido Fernando Santos


dependia directamente do arguido Victor Baptista.

676.º O arguido Juan Carlos Fernandes Oliveira iniciou funções na REN em


Novembro de 1996, tendo sido colocado na Direcção dos Serviços
Comerciais mais concretamente no Departamento de Facturação e
Estatística, relacionadas com contagens e com as compras e vendas de
energia.

1229
S. R.

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677.º Quando em 1999, foi criada a Divisão Comercial do Sistema Eléctrico


Público, o arguido Juan Oliveira foi integrado nesta divisão na área de gestão
de contrato.

678.º O arguido Fernando Santos foi seu superior hierárquico directo de 1999
a 2007.

679.º No período compreendido entre 2002 e 2007, com excepção do ano de


2005, a propósito da quadra natalícia, por forma a, desde logo, criar e
potenciar um clima de permeabilidade e cumplicidade para posteriores
diligências e de predisposição à aceitação das suas pretensões ou mesmo
com carácter remuneratório (bónus), Manuel Godinho entregou, em nome
das sociedades comerciais que compõem o universo empresarial, directa ou
indirectamente, por si gerido, diferentes bens, alguns de valor considerável, a
título de presentes, a José Penedos. (vide fls. 1864 a 1902 – Lista de
Prendas).

680.º No ano de 2002, José Penedos viu ser-lhe atribuída a categoria AAA, a
segunda mais elevada, tendo recebido um centro de mesa “Grand Lagoon”,
no valor de 1.432,50€; no ano de 2003, foi-lhe atribuída a categoria AAAA, a
mais elevada, tendo recebido uma fruteira sem asas, no valor de 1.897,90€;
no ano de 2004, manteve aquela categoria, tendo recebido uma jarra em
prata, no valor de 1.689,00€; no ano de 2006, conservou aquela categoria,
tendo recebido uma caneta, marca Dupont, no valor de 260,00€; no ano de
2007, foi-lhe atribuída a categoria AA, tendo recebido um cantil D. João II, no
valor de 330,00€.

681.º A partir de então, José Penedos, através da influência e do poder de


decisão que o cargo de Presidente do Conselho de Administração da REN
lhe conferia, exerceu o seu ministério de ascendência para determinar o

1230
S. R.

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curso do processo decisório em proveito de Manuel Godinho nos assuntos


relacionados com a área dos resíduos.

682.º Nesta conformidade e com vista à gratificação plena das aspirações e


interesses de Manuel Godinho, José Penedos assegurou o controlo dos
diferentes patamares de decisão e fiscalização na área dos resíduos.

683.º Para tanto, servindo-se do ascendente resultante da sua condição de


Presidente do Conselho de Administração da REN e das consequentes
compensações não patrimoniais que daí podiam resultar para Victor Baptista
enquanto membro daquele Conselho e fazendo-lhe ver que da sua conduta
em prol de Manuel Godinho adviriam vantagens patrimoniais e não
patrimoniais para si e para terceiros consigo relacionados, propôs a Victor
Baptista que, em actuação concertada, articulada, estruturada e continuada
no tempo, o auxiliasse na concretização daquele propósito, designadamente

684.º Recolhendo e reunindo informação privilegiada, por inacessível


externamente, relativa aos concursos e às consultas públicas de adjudicação
de contratos de compra e venda e de prestação de serviços na área dos
resíduos a lançar pela REN,

685.º Fornecendo-lhe prévio conhecimento da natureza, das condições, dos


termos daqueles concursos e consultas públicas, da identidade dos
concorrentes, da natureza, das condições, dos termos e do valor das
propostas por estes apresentadas,

686.º Propondo ao Conselho de Administração e sustentando nas suas


reuniões deliberativas a adjudicação à “O2” de contratos de compra e venda
e de prestação de serviços na área dos resíduos,

1231
S. R.

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687.º Escolhendo os procedimentos concursais ou afins mais convenientes à


“O2”,

688.º Criando aparentes necessidades da celebração de contratos de


compra e venda e de prestação de serviços na área dos resíduos,

689.º Recrutando quadros da REN, seus subordinados hierárquicos, com


funções na área dos resíduos que os ajudassem no favorecimento de
Manuel Godinho e suas empresas, nomeadamente assumindo, na sua
esfera de competências, decisões que conferissem um tratamento
privilegiado e preferencial à “O2”, elaborando informações de serviço com
um sentido e um alcance capazes de fundamentar, formalmente, posteriores
decisões de adjudicação e a necessidades da celebração de contratos de
compra e venda e de prestação de serviços na área dos resíduos, bem como
omitindo o exercício dos poderes/deveres de fiscalização públicos que lhes
incumbissem.

690.º Victor Baptista, tendo em consideração que se tratava do Presidente do


Conselho de Administração e que, como tal, reforçava a vinculação e a
consideração profissional daquele para consigo e, bem assim, percebendo
que da sua conduta em prol de Manuel Godinho adviriam vantagens
patrimoniais e/ou não patrimoniais para José Penedos ou para terceiros com
ele relacionados, aceitou, desde logo, colaborar com José Penedos na
materialização do seu desiderato, seguindo as suas ordens e instruções.

691.º No quadro do pacto celebrado, Victor Baptista, servindo-se do


ascendente resultante da sua condição de Membro do Conselho de
Administração da REN e de superior hierárquico de Fernando Santos e Juan
Oliveira e das consequentes compensações não patrimoniais que daí lhes
podiam advir enquanto funcionários da REN e fazendo-lhes ver que da sua
conduta em prol de Manuel Godinho resultariam vantagens patrimoniais e

1232
S. R.

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não patrimoniais para si e para terceiros consigo relacionados, contactou os


arguidos Fernando Santos e Juan Oliveira para que o assistissem no
favorecimento de Manuel Godinho e das suas empresas, nomeadamente
assumindo, na sua esfera de competências, decisões que conferissem um
tratamento privilegiado e preferencial à “O2”, elaborando informações de
serviço com um sentido e um alcance capazes de fundamentar, formalmente,
posteriores decisões de adjudicação e a necessidades da celebração de
contratos de compra e venda e de prestação de serviços na área dos
resíduos, bem como omitindo o exercício dos poderes/deveres de
fiscalização públicos que lhes incumbissem.

692.º Fernando Santos e Juan Oliveira, tendo em consideração que se


tratava de um membro do Conselho de Administração da REN e do seu
superior hierárquico e que, como tal, reforçavam a vinculação e a
consideração profissional daquele para consigo e, bem assim, percebendo
que da sua conduta em prol de Manuel Godinho adviriam vantagens
patrimoniais e não patrimoniais para Victor Baptista ou para terceiros com ele
relacionados, assentiram, de pronto, colaborar com Victor Baptista,
norteando o seu exercício funcional nos termos propostos, seguindo as
ordens e instruções daquele.

693.º A partir de 31 de Janeiro de 2006, Manuel Godinho para reforçar os


laços de vinculação de José Penedos aos seus interesses e petições, bem
como para aportar garantias acrescidas de recato e confidencialidade ao seu
relacionamento. (vide Ap. 162, fls. 37 a 55).

694.º Entregou a Paulo Penedos contrapartidas patrimoniais e não


patrimoniais para que exercesse a sua influência junto de seu Pai, José
Rodrigues Pereira dos Penedos, no sentido do universo empresarial, directa
ou indirectamente, por si administrado ser favorecido, nos termos supra
expostos, nos concursos e nas consultas públicas de adjudicação e, bem

1233
S. R.

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assim, na adjudicação directa de contratos de prestação de serviços na área


dos resíduos produzidos pela REN.

695.º Esta intermediação proposta por Manuel Godinho e aceite por Paulo
Penedos era do conhecimento de José Penedos, merecendo não só a sua
concordância, como o seu estímulo, ao persistir no exercício do poder que o
cargo que ocupava lhe conferia no sentido do favorecimento das empresas
de Manuel Godinho.

696.º Emergiu um evidente compromisso e coesão parental de José


Penedos com Paulo Penedos visando dar preferência às empresas de
Manuel Godinho na sua relação com a REN.

697.º José Penedos tinha conhecimento e consciência que a sua actuação


em benefício da “O2” originava vantagens patrimoniais para o seu filho.

698.º José Penedos, a troco de vantagens patrimoniais para si e para o seu


filho, ao arrepio dos seus deveres funcionais, nomeadamente do código de
conduta da REN, favoreceu a “02” nas suas relações comerciais com a REN.

699.º De 31 de Janeiro de 2006 a Outubro de 2009, Manuel Godinho


entregou a Paulo Penedos, pelo menos, 1.232,500,00€, sendo 490.500,00€
o saldo líquido favorável a Paulo Penedos dos fluxos financeiros
estabelecidos com Manuel Godinho.

700.º Paulo Penedos nunca desempenhou funções próprias de advogado


para o universo empresarial, directa ou indirectamente, gerido por Manuel
Godinho.

1234
S. R.

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701.º Para Manuel Godinho a singular mais-valia de Paulo Penedos eram os


seus laços parentais, os quais lhe possibilitavam a prossecução dos
interesses da “O2”.

702.º A sua imprescindibilidade radicava tão só no acesso à pessoa do


Presidente do Conselho de Administração da REN, que significou receber
informação privilegiada e influenciar e determinar o rumo e o destino do
processo decisório no sentido de priorizar e satisfazer os interesses de
Manuel Godinho.

703.º José Penedos, através da influência e do poder de decisão que o cargo


de Presidente do Conselho de Administração da REN lhe conferia, continuou
a exercer o seu ministério de ascendência para determinar o curso do
processo decisório.

704.º Deste modo, José Penedos inteirou-se de todas as questões e


pormenores relacionados com as consultas e os concursos públicos
lançados pela REN na área dos resíduos, transmitindo a par e passo a Paulo
Penedos todo e qualquer desenvolvimento verificado.

705.º Comunicou-lhe informação privilegiada, por não acessível aos demais


concorrentes, que Paulo Penedos traficou com Manuel Godinho.

706.º E isto desde a fase prévia ao próprio anúncio público do lançamento de


consultas e concursos, passando pela fase de apresentação de propostas e
culminando na fase de adjudicação dos contratos de prestação de serviços.

707.º Envolveu-se directamente nos mecanismos de decisão relativos à


consulta pública para adjudicação do desmantelamento da central de Alto
Mira – Fase I e II –, induzindo a criação da aparente necessidade de
realização dos trabalhos relativos à Fase II, assegurando a adjudicação

1235
S. R.

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daqueles trabalhos à “O2” e diligenciando pela obtenção de um acordo


quanto às quantidades de resíduos removidos com prevalência dos
interesses da “O2”.

708.º Envolveu-se directamente nos mecanismos de decisão relativos à


consulta pública para abate patrimonial, desmantelamento e alienação dos
resíduos de 22 unidades de transformação, em benefício da “O2”,
determinando a renegociação de preços, mas sem impor, ao contrário do
sugerido pelos serviços, qualquer limite mínimo ou máximo e aportando uma
nota de urgência na realização dos trabalhos para que fosse afastada a
hipótese de cancelamento da consulta e alargamento do espectro de
empresas a consultar, por forma a inviabilizar o surgimento de proposta ou
propostas com melhores preços dos que os apresentados pela “O2”.

709.º Envolveu-se directamente nos mecanismos de decisão relativos à


consulta pública para a adjudicação do serviço de recolha e
acondicionamento dos resíduos existentes nas instalações afectas à
desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do Outeiro no sentido do
favorecimento da “O2”.

710.º Assim, Paulo Penedos logrou informar, com mais de um mês de


antecedência, Manuel Godinho do lançamento desta consulta e, bem assim,
assegurar-lhe, com cerca de três meses de antecedência, a adjudicação
daquela prestação de serviços.

711.º Mais lhe possibilitou conhecer as condições e os termos daquela


consulta pública, as negociações em curso para alienação daquelas
instalações, a natureza dos custos dos trabalhos a realizar e transmitir tais
informações a Manuel Godinho, quer nas ocasiões em que se encontraram
pessoalmente, quer nos contactos telefónicos que entabularam.

1236
S. R.

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712.º Mais permitiu à “O2”, em flagrante violação das regras da


confidencialidade, da transparência e da sã e leal concorrência, elaborar uma
proposta de extensão dos trabalhos a realizar na Tapada do Outeiro, cuja
aprovação, ignorando as negociações em curso para alienação daquelas
instalações, as medidas de protecção legal a que estavam sujeitas e o
parecer técnico de Andrade Lopes, diligenciou por acontecer, deixando-a em
aberto quando, podia e devia, tê-la, desde logo, inviabilizado.

713.º Por outro lado, patrocinou e assumiu a prossecução das petições de


Manuel Godinho, transmitidas pelo seu núncio Paulo Penedos, no processo
decisório que conduziu à prorrogação do contrato de gestão global de
resíduos produzidos pela REN no sentido do favorecimento da “O2”.

714.º Apenas após Manuel Godinho ter alertado Paulo Penedos que as
alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 46/2008, de 12 de Março, bulia
com o contrato de gestão dos resíduos industriais produzidos pela REN
celebrado com a “O2” ao entregar a gestão dos resíduos de construção e
demolição aos empreiteiros, é que a REN espoletou, internamente, o
processo de prorrogação.

715.º Não obstante, aquelas modificações ao quadro legal e, assim, em clara


e frontal ofensa à Lei, fruto da intervenção decisiva de José Penedos no
processo de decisão, a REN prorrogou até 31 de Dezembro de 2009 o
contrato de gestão de resíduos industriais por si produzidos celebrado com a
“O2”, sendo certo que os resíduos de construção e demolição gerados nas
obras a cargo da REN continuaram a estar incluídos.

716.º Manuel Godinho não só logrou a prorrogação do contrato de gestão


global dos resíduos produzidos pela REN, como o conseguiu nos exactos
termos em que vigorava, não obstante as alterações na gestão dos resíduos

1237
S. R.

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de construção e demolição introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 46/08, de 12 de


Março.

717.º Por fim, com a prorrogação, solucionou a contento da “O2” os


acontecimentos de Junho de 2009 em Setúbal relacionados com as
alterações legislativas introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 46/2008.

718.º Na sequência da prorrogação, a “O2” regressou à gestão dos resíduos


de construção e demolição relativos às obras da Subestação de Setúbal da
REN quando as alterações legislativas introduzidas pelo Decreto-Lei n.º
46/2008 impunham que assim não sucedesse.

719.º Com a prorrogação, a REN não só assumiu uma obrigação que já não
era sua, onerando-se duplamente, como o afastamento da “O2” da gestão
dos resíduos de construção e demolição passou a implicar responsabilidades
indemnizatórias.

720.º No dia 19 de Dezembro de 2001, o Conselho de Administração da REN


deliberou lançar concurso público para alienação de sucatas. (vide Ap. AE12,
fls. 3).

721.º O objecto do concurso repousava em dois lotes, um composto por


sucata diversa (lote 1) e outro por óleo usado (lote 2).

722.º Mostrava-se necessário proceder ao depósito de uma garantia no


montante de 2500€ para o lote 1 e no valor de 10% do total das propostas
apresentadas para o lote 2.

723.º O levantamento dos materiais teria que ser realizado nas diferentes
instalações, nos 20 dias úteis seguintes à data do documento comprovativo

1238
S. R.

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do pagamento, sendo da conta do adjudicatário o carregamento e transporte


da sucata.

724.º Findo aquele prazo, a REN não mais se responsabilizaria pela guarda
ou conservação dos materiais, reservando-se o direito de debitar as
correspondentes taxas de armazenamento.

725.º Caso o levantamento não ocorresse nos 30 dias úteis seguintes ao


pagamento, considerava a REN que o adjudicatário havia desistido do direito
à sucata.

726.º Quando o valor do material levantado excedesse o valor depositado, o


comprador teria de efectuar um reforço de depósito, no próprio local onde se
processava o levantamento, para o poder prosseguir.

727.º Em 27 de Fevereiro de 2002, o Conselho de Administração da REN


adjudicou o lote 1 à “O2” e o lote 2 à “SORPOL”.

728.º Apesar do concurso de venda de sucata ter sido da responsabilidade


do departamento de logística da divisão FP, o seu levantamento processou-
se com a colaboração operacional da divisão de Exploração para o controlo
das quantidades efectivamente levantadas e respectivos valores, sendo que,
nos termos do concurso, quando o valor do material levantado excedesse o
valor depositado, o comprador teria de efectuar um reforço, no próprio local
onde se processava o levantamento, para o continuar.

729.º Em 12 de Março de 2002, a REN comunicou à “O2” a adjudicação do


lote 1, advertindo-a da obrigação de solver o preço proposto, antes de
proceder ao seu levantamento.

1239
S. R.

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730.º Em 08 de Maio de 2002, devido à construção e uprating de novas


linhas e consequente produção de novas sucatas, obtida que foi a
concordância informal da “O2”, o Conselho de Administração da REN
autorizou o aditamento daquelas sucatas às que haviam sido levadas a
concurso.

731.º Em 29 de Maio de 2002, a REN, através do departamento de logística,


comunicou à “O2” o levantamento de uma quantidade de sucata superior ao
valor inicialmente depositado (em 39.000,00€), sendo certo que, naquele
momento, restavam ainda por recolher 408 toneladas de cabo de
alumínio/aço, 204 toneladas de cabos de aço e 68 toneladas de isoladores,
que corresponderiam ao valor global de 284.844,00€.

732.º No dia 07 de Junho de 2002, a REN reiterou esta posição, transmitindo


à “O2” a suspensão dos levantamentos até pagamento dos montantes em
dívida. (vide Ap. AE12, fls. 244).

733.º Na sequência de uma reunião entre representantes das duas


empresas, a “O2” comprometeu-se a pagar até 13 de Agosto e a reiniciar a
recolha de sucata a partir de 25 de Agosto de 2002. (vide Ap. AE12, fls. 230
a 242).

734.º Em 16 de Setembro de 2002, registou-se o pagamento de 105.955,07€


relativo a sucata levantada e não paga, sendo que apenas dez dias depois
foi enviado fax à “O2” dando conta de novo incumprimento dos termos e das
condições do concurso e aludindo aos inconvenientes, para ambas as
empresas, decorrentes da interrupção dos levantamentos.

735.º Em 2 de Outubro de 2002, foram liquidados 80.681,55€ relativos a


levantamentos de cerca de 290 toneladas de sucata efectuados entre o dia
23 e 25 de Setembro de 2002.

1240
S. R.

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736.º Neste mesmo dia e pese embora os sucessivos incumprimentos, a


“O2” enviou uma carta de apresentação, dirigida ao Conselho de
Administração da REN, manifestando a disponibilidade para uma futura
gestão global de resíduos produzidos por aquela empresa. (vide Ap. AE30,
fls. 150).

737.º Não obstante, naquele momento, as relações comerciais entre a REN e


a “O2” se cingirem ao contrato, em execução, de alienação de um lote de
sucata, a “O2” fez constar daquela carta de apresentação ser a REN sua
cliente há vários anos.

738.º Em 09 de Outubro de 2002, o Conselho de Administração da REN, sob


proposta do Administrador Aníbal Santos, aprovou as seguintes
recomendações:

a) maior rigor no controlo dos levantamentos e respectivo


pagamento;

b) procura, no mercado, de alternativas à “O2”. (vide Ap. AE12,


fls. 283).

739.º Em 15 de Outubro de 2002, a missiva de apresentação da “O2” foi


remetida pelo Administrador Escada da Costa aos directores das divisões de
Planeamento e Produção e de Equipamento para consideração em futuro
processo de qualificação, no âmbito do sistema de gestão Ambiental.

740.º Neste ínterim, pese embora o Administrador do Pelouro fosse Aníbal


Santos, numa ocasião em que os incumprimentos da “O2” se encontravam
sanados, sem que nada o justificasse ou fizesse prever, José Penedos
solicitou a João Sandes um ponto da situação sobre os levantamentos de
sucata. (vide Ap. AE12, fls. 282).

1241
S. R.

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741.º No dia 7 de Novembro de 2002, João Sandes redigiu a IF FPLG


17/2002, relatando pormenorizadamente os incumprimentos supra descritos
e imputando às dificuldades económicas sentidas pela “O2” a sua razão de
ser.

742.º Mais consignou que não se verificaram levantamentos no período de


tempo compreendido entre 05 de Junho e 23 de Setembro de 2002,
asseverando estarem por concretizar levantamentos de sucata em doze
subestações.

743.º Em 07 de Fevereiro de 2003 e como a “O2” persistia em inadimplir, os


levantamentos foram, uma vez mais, suspensos até ao pagamento de
663,73€ em falta.

744.º Em 13 de Fevereiro de 2003, João Sandes, enquanto gestor do


procedimento, informou superiormente que apesar da “O2” ter satisfeito o
valor em falta, tinha procedido ao levantamento de sucatas nos dias
antecedentes (11 e 12 de Fevereiro), que superavam o valor pago.

745.º Concluiu propondo uma nova suspensão do processo.

746.º Em 17 de Fevereiro de 2002, Luís Oliveira Pinto propôs ao director


Coelho da Silva, que autorizou, o encerramento do processo, com a inclusão
da sucata por recolher existente em Vermoim (25,6 toneladas) no contrato de
gestão de resíduos que estava a ser preparado. (vide Ap. AE12, fls. 301).

747.º O processo veio a ser encerrado em 18 de Março de 2003, tendo sido


elaborada a IF FPLG 1/2003, descrevendo os diferentes e reiterados
incumprimentos da “O2” no desenrolar do procedimento. (vide Ap. AE12, fls.
303).

1242
S. R.

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748.º Os resíduos recolhidos no quadro deste procedimento foram objecto de


pesagem obedecendo à seguinte metodologia:

749.º Os camiões destinados ao seu transporte foram, previamente, tareados


em básculas existente nas instalações onde o material se encontrava, ou na
sua falta, onde a REN o determinou, na presença das duas partes.

750.º Logo após, recebiam autorização para entrarem nas instalações e aí


levantarem os resíduos.

751.º Acto contínuo, acompanhados por um funcionário da REN,


deslocavam-se novamente à báscula na qual haviam sido tareados para se
obter o peso dos resíduos removidos.

752.º A “O2” procedeu, igualmente, nas suas instalações, à pesagem dos


resíduos removidos, tendo enviado, posteriormente, à REN, cópia da guia de
acompanhamento e do talão de pesagem.

753.º Da comparação destes registos não se evidenciaram discrepâncias


significativas.

754.º Em 27 de Abril de 2003, a REN lançou concurso público para a


selecção de operadores de resíduos, devidamente licenciados, para a gestão
global de um conjunto de resíduos industriais em diversas localizações de
Portugal (recolha, armazenamento, transporte, valorização e eliminação)
para o período compreendido entre 18 de Agosto de 2003 e 18 de Agosto de
2005. (vide Ap. AE19, fls. 3).

755.º A REN elegeu como critérios de adjudicação:

1243
S. R.

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a) Procedimentos apresentados para a recolha, transporte e


armazenamento por tipo de resíduo;

b) Destino final apresentado cada tipo de resíduo;

c) Apresentação de soluções ambientalmente sustentadas par a


gestão de resíduos;

d) Preço unitário fixo para a duração do contrato;

e) Curriculum da empresa na gestão de resíduos industriais e


da constituição da equipa técnica em Portugal;

f) Certificação de SIG da Qualidade e Ambiente (ISO 9001 e


ISO 14001). (vide Ap. AE19, fls. 90).

756.º A REN reservou-se ainda o direito de efectuar adjudicações parciais


por tipo ou conjunto de resíduos ao(s) operador(es) seleccionado(s) dada a
abrangência do concurso na que respeita às características dos resíduos
incluídos.

757.º A REN definiu, igualmente, em termos técnicos, o conjunto de


operações de recolha, transporte, armazenamento tratamento valorização
e/ou eliminação de resíduos, bem como a validade do contrato,
penalizações, acompanhamento, preço e condições de pagamento,
legislação aplicável, extinção do contrato e contencioso.

758.º Por outro lado, os serviços prestados seriam remunerados pelo preço
unitário fixo, que seria válido por um ano, independente das variações que,
durante esse período, se viessem a verificar no mercado.

1244
S. R.

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759.º No final do ano, os preços poderiam ser revistos, sendo que, não
havendo acorda das partes, seriam revistos segundo o índice de preços ao
consumidor.

760.º O pagamento seria efectuado mediante a apresentação de factura, que


revestiria a característica de documento definitivo de débito, de acordo com
os preços apresentados pelo adjudicatário e de acordo com a pesagem
realizada no momento da carga nas instalações da REN, ou, não existindo
essa possibilidade, noutro local a indicar por aquela.

761.º Por fim, a REN reservou-se o direito de indicar um colaborador como


interlocutor para cada instalação definida como local de recolha.

762.º Àquele colaborador caberia o acompanhamento da recolha, pesagem e


entrega dos resíduos ao adjudicatário e encarregar-se-ia do preenchimento
das guias de acompanhamento – modelo A, no campo da responsabilidade
do produtor.

763.º No âmbito deste procedimento concursal foram recebidas propostas


das empresas “Cespa” (Resin); “Auto-Vila”; “Quimitécnica”; “Recifemetal”;
“Ambicare Industrial”; “O2”; “Transucatas”; “Triu”; “Triu/Indaver” e “Ekonor”.
(vide Ap. AE19, fls. 97).

764.º Em Julho de 2003, a REN, através da comissão de avaliação,


composta por Luís Oliveira Pinto, João Sandes Alberto Costa, Francisco
Parada (190 a 198 – Apenso AE) Tiago Andrade Arménio Olo e Helena
Azevedo, analisou as propostas apresentadas sob o prisma dos critérios de
adjudicação supra referidos, aos quais aditou aspectos relacionados com a
“abrangência da proposta” e as “condições de pagamento”.

1245
S. R.

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765.º Todavia, não obstante dois dos critérios de adjudicação radicassem no


curriculum da empresa na gestão de resíduos industriais e respectiva
constituição da equipa técnica em Portugal e nas condições de pagamento,
correspondendo a 50 % da notação técnica, a comissão de avaliação não os
ponderou como podia e devia. (vide Fls. 23788 e 23789).

766.º Na verdade, pese embora a pudesse e devesse ter considerado, esta


comissão de avaliação ignorou a recomendação do Conselho de
Administração datada de 09 de Fevereiro de 2002 e olvidou os incidentes e
os incumprimentos assinalados na execução do antecedente contrato de
alienação de sucata e, assim,

767.º Propôs a adjudicação à “O2” da gestão global dos resíduos


correspondentes ao LER 1201 – resíduos de moldagem e do tratamento
físico e mecânico de superfície de metais e plásticos – LER 1502 –
absorventes, materiais filtrantes, panos de limpeza e vestuário de protecção
– e LER 1704 – metais incluindo ligas (construção e demolição).

768.º Fazendo tábua rasa da sua própria recomendação de 09 de Fevereiro


de 2002 e olvidando os incidentes e os incumprimentos assinalados na
execução do antecedente contrato de alienação de sucata, o Conselho de
Administração da REN adjudicou à “O2” a gestão global dos resíduos
correspondentes ao LER 1201 – resíduos de moldagem e do tratamento
físico e mecânico de superfície de metais e plásticos – LER 1502 –
absorventes, materiais filtrantes, panos de limpeza e vestuário de protecção
– e LER 1704 – metais incluindo ligas e resíduos de construção e demolição.

769.º Em 18 de Agosto e 30 de Setembro de 2003, a REN celebrou com a


“O2” os contratos decorrentes daquela adjudicação, cujo terminus deveria
ocorrer em 18 de Agosto de 2005.

1246
S. R.

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770.º Contudo, em 14 de Janeiro de 2005, por decisão do Conselho de


Administração da REN de 22 de Dezembro de 2004, foram estes contratos
prorrogados até 31 de Dezembro de 2005, na medida em que, de acordo
com o relatório dos serviços da REN IF PPAB 21/2004, de 30 de Novembro,
relativo à avaliação da extensão do contrato com fornecedores, “caso
viessem a ser celebrados contratos com operadores diferentes, isso
implicaria movimentações logísticas de grande dimensão num período
habitualmente crítico para as empresas dado coincidir com o mês de eleição
de férias dos colaboradores.”

771.º Em 2004, foram identificados resíduos que não integravam a lista inicial
dos constantes no processo de concurso, para os quais era necessário
assegurar a recolha, transporte e destino final adequado.

772.º Assim, a REN decidiu alargar o âmbito dos contratos firmados e, por
adenda a estes, lançou consulta pública para a contratação de serviços
adicionais junto das empresas inicialmente proponentes, estabelecendo o dia
13 de Dezembro de 2004, pelas 17h00, como data limite para a recepção de
propostas nas suas instalações, independentemente da data da sua
expedição.

773.º Acontece que a proposta da “02” relativa à adenda de serviços


adicionais à proposta inicial foi entregue, no dia 13 de Dezembro de 2004,
pelas 18h55, sendo certo que tal omissão não implicou, como devia, a sua
desconsideração e exclusão pela comissão de avaliação composta por Luís
Pinto, João Sandes e Francisco Parada.

774.º Deste modo, em 08 de Junho de 2005, o Conselho de Administração


da REN adjudicou à “O2” a gestão global dos resíduos correspondentes ao
LER 130507 – água com óleo – 160103 – pneus usados – 160211 –
equipamentos refrigeração contendo CFC, HCFC, HFC – 160507 – Sílica-

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S. R.

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gel azul – 160509 – massas e silicone – 170204 – madeiras e plásticos


contaminados com substâncias perigosas – 170409 – resíduos metálicos
com substâncias perigosas – 200121 – relés com mercúrio – 200114 –
ácidos -.

775.º Através de anúncio publicado em 24 de Junho de 2005, a REN lançou


concurso público para qualificação de fornecedores, tendo sido atribuída à
“02” tal qualidade. (vide Ap. AE1, fls. 9).

776.º Em 25 de Julho de 2005, a REN lançou consulta pública, limitada aos


fornecedores antes qualificados, para a selecção de operadores de resíduos,
devidamente licenciados, para a gestão global de um conjunto de resíduos
industriais em diversas localizações de Portugal (recolha, armazenamento,
transporte, valorização e eliminação) para o período compreendido entre 1
de Janeiro de 2006 e 31 de Dezembro de 2008.

777.º Por decisão do Conselho de Administração da REN, em 16 de


Dezembro de 2005, foi adjudicada à “O2” a gestão global dos resíduos
correspondentes ao LER 0801 – resíduos de fabrico, formulação, distribuição
e utilização de revestimentos e remoção de tintas e vernizes – LER 1201 –
resíduos de moldagem e do tratamento físico e mecânico de superfície de
metais e plásticos – LER 1502 – absorventes, materiais filtrantes, panos de
limpeza e vestuário de protecção – LER 160509 – produtos de laboratório
diversos – LER 1704 – metais incluindo ligas e resíduos de construção e
demolição – LER 1706 – materiais de isolamento e materiais de construção,
contendo amianto e resíduos de construção e demolição – e LER 2003 –
lamas de fossas sépticas. (vide Ap. AE1, fls. 151 a 157).

778.º Em Julho de 2006, Manuel Godinho e a “O2” apresentaram um talão de


pesagem de 900 Kg referente a uma carga de cobre relativamente à guia de
acompanhamento modelo A n.º 6021214. (vide Ap. AE21, fls. 131 a 142).

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S. R.

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779.º Este resíduo havia sido recolhido em Vermoim no quadro do contrato


de gestão global de resíduos firmado entre a REN e a “O2”. (vide Fls. 265 a
267).

780.º Aí pesado, apresentou 1.700Kg.

781.º Com esta conduta, Manuel Godinho e a “O2” procuraram obter um


benefício patrimonial de, pelo menos, 2.000,00€ e causar à REN um
prejuízo, ao menos, equivalente.

782.º Ainda naquele mês, Manuel Godinho e a “O2” apresentaram um talão


de pesagem de 1.120 Kg relativamente à guia de acompanhamento modelo
A n.º 6021211 referente a aparas metálicas ferrosas.

783.º Este resíduo havia sido recolhido em Vermoim no quadro do contrato


de gestão global de resíduos firmado entre a REN e a “O2”.

784.º Aí pesado, apresentou 200Kg.

785.º Com esta conduta, Manuel Godinho e a “O2” procuraram obter um


benefício patrimonial de, pelo menos, 128,80€ e causar à REN um prejuízo,
ao menos, equivalente.

786.º Ainda naquele mês, Manuel Godinho e a “O2” apresentaram um talão


de pesagem de 800 Kg relativamente à guia de acompanhamento modelo A
n.º 6021213 referente a cabos isolados sem substâncias perigosas.

787.º Este resíduo havia sido recolhido em Vermoim no quadro do contrato


de gestão global de resíduos firmado entre a REN e a “O2”.

788.º Aí pesado, apresentou 300Kg.

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S. R.

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789.º Com esta conduta, Manuel Godinho e a “O2” procuraram obter um


benefício patrimonial de, pelo menos, 550,00€ e causar à REN um prejuízo,
ao menos, equivalente.

790.º Ainda naquele mês, Manuel Godinho e a “O2” Manuel Godinho e a


“O2” apresentaram um talão de pesagem de 610Kg relativamente à guia de
acompanhamento modelo A n.º 2877411 referente a uma carga de sucata de
zinco.

791.º Este resíduo havia sido recolhido em Sacavém no quadro do contrato


de gestão global de resíduos firmado entre a REN e a “O2”.

792.º Aí pesado, apresentou 2.800Kg.

793.º Com esta conduta, Manuel Godinho e a “O2” procuraram obter um


benefício patrimonial de, pelo menos, 1.971,00€ e causar à REN um
prejuízo, ao menos, equivalente.

794.º Em 15 de Janeiro de 2008, João Sandes redigiu a informação 1/2008,


dando conta que os contratos de gestão de resíduos em vigor terminariam
em 31/12/2008. (vide Ap. AE1, fls. 160 e 161).

795.º Acrescentou que, em vista da complexidade e morosidade do processo


de consulta ao mercado e das alterações legislativas surgidas, propunha
fosse dado início ao processo com a colaboração das restantes divisões
PPAB – EX, EQ, FP e SI, efectuando a consulta ao mercado até ao final do
mês de Julho, com a data limite para apresentação de propostas até final de
Setembro de 2008 e com a adjudicação até finais de Novembro.

796.º Na sequência deste pedido de colaboração, Francisco Parada,


responsável pelo departamento de ambiente, apresentou um estudo,

1250
S. R.

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solicitado por Victor Baptista, sobre a análise económica do contrato de


gestão de resíduos com base nos dados conhecidos referentes aos anos de
2006 e 2007. (vide Ap. AE28, fls. 190 a 198).

797.º Neste estudo, enfatizou que para a adjudicação do novo contrato seria
necessário proceder a uma consulta aos operadores de gestão de resíduos
entretanto qualificados, que deveria observar entre outras questões, os
requisitos legais aplicáveis à gestão de resíduos.

798.º Neste ponto, referiu que a nova legislação de enquadramento da


gestão dos Resíduos de Construção e Demolição, que veio a ser publicada a
12 de Março – DL 46/2008, poderia introduzir alterações que conduzissem a
uma alteração da metodologia de gestão destes resíduos.

799.º Propôs que fossem equacionadas as duas propostas a incluir nas


cláusulas do processo de consulta e do futuro contrato, quais tenham sido:

800.º Estabelecimento de uma metodologia que permitisse a revisão anual


do preço dos resíduos economicamente valorizáveis (metais) e o
estabelecimento de um patamar máximo para o custo por tonelada de
resíduos de construção e demolição e betão.

801.º Por fim, fez menção que, face à previsível publicação de legislação
sobre os resíduos de construção e demolição, poderiam ser, eventualmente,
consideradas alternativas à gestão deste tipo de resíduos pela REN, que
poderiam passar, por exemplo, pela atribuição dessa responsabilidade
operacional aos prestadores de serviço nas obras, com apoio no local das
equipas de supervisão QAS contratadas pela REN.

802.º Entre outros, este estudo foi enviado a Victor Baptista.

1251
S. R.

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803.º Em 21 de Outubro de 2008, por não haver qualquer desenvolvimento,


justificado, para além de outros motivos, pela reestruturação da REN (criação
da REN SGPS e REN Serviços), João Sandes sugeriu a prorrogar dos
contratos existentes pelo período mínimo de 3 meses.

804.º Consultada a divisão de sustentabilidade e sistemas de gestão, Vicente


Martins pronunciou-se no sentido de que o futuro contrato de gestão de
resíduos deveria abranger todo o grupo REN, pelo que propôs a prorrogação
por 6 meses a Gerado Gonçalves, director da Divisão de Contabilidade e
Serviços Gerais SVCS, que concordando com ela, a remeteu para Victor
Baptista.

805.º Victor Baptista, dando o seu assentimento à proposta, agendou-a para


Conselho de Administração.

806.º Em 07 de Outubro de 2008, o Conselho de Administração aprovou a


prorrogação até 30 de Junho de 2009, findo o qual deveriam estar reunidas
as condições para a celebração de novos contratos, devendo os termos do
concurso estar conclusos em Abril de 2009. (vide Ap. AE1, fls. 164 a 170).

807.º A Central de Alto Mira foi uma central de produção eléctrica integrante
do sistema produtor térmico da EDP, que no final dos contratos de aquisição
de energia (CAE) celebrados entre a REN e a EDP em 2003 e 2005, passou
para a dependência daquela empresa, enquanto entidade responsável pela
manutenção das infra-estruturas e gestão dos respectivos sítios.

808.º Em 2 de Novembro de 2005, o arguido Juan Oliveira redigiu a


informação CSGC 22/2005, na qual exarou que estariam reunidas as
condições para dar início a trabalhos na Central de Alto Mira, nomeadamente
a desgaseificação, lavagem, inertização e desmantelamento dos tanques e

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S. R.

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tubagens de combustível, assim como a recolha, transporte e destino final


dos resíduos gerados. (vide Ap. AE6, fls. 4 e 5).

809.º Esta informação foi, depois de passar a definitiva, enviada para


conhecimento ao arguido Victor Batista que, por sua vez, a reencaminhou
para o arguido José Penedos. (vide Ap. AE6, fls. 4 e 5).

810.º A Divisão comercial do SEP, maxime departamento de gestão de


contratos, procedeu ao envio de cartas de consulta para várias empresas
devidamente licenciadas para a desgaseificação, lavagem, inertização e
desmantelamento dos tanques e tubagens de combustível e dos circuitos de
águas e espumas de combate a incêndios da Central do Alto Mira, bem
como recolha, transporte e destino final dos resíduos, com indicação
expressa da valorização da chapa resultante do desmantelamento dos
tanques e tubagens, quais foram “HidroQuimica”, “Europrol”, “Koch”, “O2”,
“CESPA”, “Auto-Vila”. Apenas a “Koch” não apresentou proposta para os
trabalhos a realizar. (vide Ap. AE7-A, fls. 1).

811.º Em 23 de Novembro de 2005, procedeu-se à abertura das propostas


apresentadas, tendo sido elaborada a acta FPLG-IM 110/2005, na qual
constam os valores unitários para cada um dos trabalhos.

812.º Em 30 de Dezembro de 2005, o arguido Juan Oliveira, no quadro da


sua vinculação à satisfação dos interesses do arguido Manuel Godinho e da
“O2”, dando aplicação prática à combinação celebrada com Victor Baptista,
elaborou a informação CS 10/2005, tendo concluído pela equivalência das
propostas no plano técnico. (vide Ap. AE6, fls. 32).

813.º Acrescentou que, do ponto de vista económico, a proposta da “02”,


para além de ser a que melhor valorizava os resíduos metálicos, apresentava
bons preços para desgaseificação lavagem e inertização dos tanques e para

1253
S. R.

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o desmantelamento dos tanques e tubagens, assumindo-se como a única


que permitia à REN ser creditada em 17.500€.

814.º Concluiu sugerindo a adjudicação dos trabalhos à “O2”.

815.º Ainda nesta informação, para além de sugerir a indicação de António


Nogueira, antigo responsável pela Central, para a supervisão e controlo da
qualidade da obra, promoveu que os serviços de supervisão,
acompanhamento ambiental e de supervisão e coordenação de segurança
da obra fossem assegurados pela empresa “COBA”.

816.º Sucede, contudo, que as propostas não haviam sido apresentadas de


modo uniforme, sendo umas em valores unitários e outras em globais. (vide
fls. 23874 e 23875).

817.º Acresce que, ao arrepio de princípios de legalidade, objectividade,


imparcialidade, transparência e de livre e sã concorrência, a comparação
efectuada teve por base uma simulação dos custos de recolha dos resíduos
ancorada em quantidades alegadamente estimadas pela “O2”. (vide Ap.
AE28, fls. 41 e 42).

818.º Acontece que na proposta da “O2” não constava a previsão de


quaisquer quantidades.

819.º Não obstante, por decisão do Conselho de Administração da REN,


sustentada na informação elaborada por Juan Oliveira, em 04 de Janeiro de
2006, foi adjudicada à “O2” a supra aludida prestação de serviços. (vide Ap.
AE6, fls. 35).

820.º Em 31 de Março de 2006, foram dados como findos os trabalhos de


desgaseificação, lavagem, inertização e desmantelamento dos tanques e

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tubagens de combustível, assim com a recolha, transporte e destino final dos


resíduos gerados.

821.º Concluídos estes trabalhos, Manuel Godinho perspectivou como


oportunidade de negócio o desmantelamento das estruturas de betão
existentes na Central de Alto Mira.

822.º Procurando ser consequente com esta vontade, transmitiu-a ao arguido


Paulo Penedos, que a endossou a José Penedos, que, de pronto, a veiculou
ao arguido Victor Baptista, fazendo-lhe sentir a necessidade da sua
satisfação.

823.º O arguido Victor Baptista, de comum acordo e em conjugação de


esforços com o arguido José Penedos, no quadro da sua vinculação à
satisfação dos interesses do arguido Manuel Godinho e da “O2”, a propósito
dos trabalhos de desgaseificação, lavagem, inertização e desmantelamento
dos tanques e tubagens de combustível, recolha, transporte e destino final
dos resíduos gerados na Central de Alto Mira, determinou o arguido
Fernando Santos a elaborar, em 20 de Maio de 2006, a informação CS
15/2006. (vide Ap. AE6, fls. 114 e 115)

824.º Nesta informação, para além de sustentar ter a “O2” realizado um bom
trabalho (não obstante inexistissem registos sobre o trabalho prestado e ter
sido o arguido Juan Oliveira o responsável pelo acompanhamento),
consignou que, para a conclusão dos trabalhos de descomissionamento da
Central do Alto Mira e adaptação do espaço a futuras utilizações, entendia
adequado a demolição de algumas estruturas em betão, relativas às bacias
de retenção, nomeadamente paredes e bases de assentamento dos tanques
de combustível.

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S. R.

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825.º Nesta conformidade, instruiu o arguido Juan Oliveira a consultar, via


telefone, as empresas AMBISIDER, MAFRIMÁQUINAS e “O2” para que
apresentassem propostas para aquela prestação de serviços.

826.º Assim, em Abril de 2006, a REN lançou consulta pública para a Fase II
de desmantelamento da Central de Alto Mira, designadamente para a
demolição de algumas estruturas de betão, como fossem as bacias de
retenção para que pudessem ser utilizadas como apoio à subestação de Alto
Mira ao nível de estacionamento e armazenagem de volumes.

827.º Em 11 de Abril de 2006, a “O2” apresentou proposta com uma cotação


de 60,00€/tonelada de resíduos transportados, subscrita por Namércio
Cunha, em representação de Manuel Godinho e sem qualquer referência.
(vide Ap. AE6, fls. 90 a 108).

828.º Esta proposta abrangia as operações de desmantelamento das infra-


estruturas, triagem, acondicionamento dos resíduos e a terraplanagem do
local dos trabalhos, sendo que, de acordo com a descrição do serviço de
desmantelamento, os resíduos produzidos seriam integrados no sistema de
gestão de resíduos da REN, que os encaminharia a destino final adequado.

829.º Deste modo, a gestão seria efectuada pela própria “O2” na qualidade
de subfornecedora do operador qualificado “CESPA-Portugal S. A.”, à qual
fora atribuída a gestão deste resíduo no âmbito do contrato de gestão de
resíduos celebrado em 2006.

830.º Em 27 de Abril de 2006, a AMBISIDER apresentou uma proposta com


o valor global de 35.633,00€, na qual incluiu, para além das operações de
desmantelamento das infra-estruturas de betão, o transporte dos resíduos
para retomadores (recicladores e aterro), cumprindo as normas de
segurança e de ambiente em obra. (vide Ap. AE20, fls. 48 a 82).

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831.º Em 02 de Maio de 2006, a sociedade MAFRIMÁQUINAS apresentou


uma proposta no valor de 11,50€/tonelada de resíduos transportados,
abarcando o trabalho de demolição, transporte dos resíduos para aterro
licenciado e respectiva taxa.

832.º Na posse das propostas apresentados pela AMBISIDER e


MAFRIMÁQUINAS, os arguidos Fernando Santos e Juan Oliveira, de comum
acordo e em conjugação de esforços, dando corpo e execução ao seu
propósito de beneficiar Manuel Godinho, por forma a garantirem a
adjudicação da pretendida prestação de serviços à “O2”, transmitiram a
Victor Baptista a identidade dos concorrentes, a natureza, as condições, os
termos e o valor das propostas por estes apresentadas.

833.º Victor Baptista cedeu esta informação a José Penedos.

834.º Logo após, José Penedos, por intermédio de Paulo Penedos, deu a
conhecer a Manuel Godinho a identidade dos concorrentes, a natureza, as
condições, os termos e o valor das propostas por estes apresentadas.

835.º Concomitantemente e não obstante não tivesse sido ainda tomada


qualquer decisão de adjudicação, o arguido Fernando Santos, de comum
acordo e em conjugação de esforços com os arguidos Juan Oliveira, Victor
Baptista e José Penedos, encetou negociações directas com a “O2” sobre o
modo como devia ser reformulada a proposta inicial apresentada pela “O2”.

836.º Nestas negociações, para além do mais, Fernando Santos comunicou


a Namércio Cunha existir uma proposta mais competitiva que a da “O2”,
exortando-o a apresentar uma nova proposta com um valor mais baixo.

837.º Sabedor da identidade dos concorrentes, da natureza, das condições,


dos termos e do valor das propostas por estes apresentadas, a “O2”

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reformulou a sua proposta inicial e, em 05 de Maio de 2006, apresentou duas


propostas com referências sequenciais n.ºs EA11040602 e EA11040603, a
primeira no valor de 28,00€/tonelada de resíduos transportados e a segunda
de 20,00€/tonelada de resíduos transportados. (vide Ap. AE6, fls. 98 a 102 e
103 a 108).

838.º Nestas propostas, por sugestão do arguido Fernando Santos alvitrada


no decurso dos contactos supra aludidos, a "O2" inseriu a elaboração de um
plano de segurança e saúde para a empreitada e um plano de gestão
ambiental a ser cumprido em obra, o que se veio a revelar factor decisivo na
fundamentação da proposta de adjudicação dos trabalhos à “O2”.

839.º A “O2” apresentou, ainda, uma quarta proposta com a referência


EA11040604, datada de 5 ou de 11 de Maio de 2006, que não conheceu
registo no sistema de gestão documental da REN, sem variação no preço,
mas apenas com alteração na descrição dos trabalhos a realizar de acordo
com as indicações fornecidas pelo arguido Fernando Santos nas
negociações que entabulou com Namércio Cunha. (vide Ap. AE28, fls. 79 a
82).

840.º Não obstante tal constituir uma violação dos procedimentos internos de
“Aprovisionamento com Abertura Simultânea de Propostas” e “Aquisição de
Bens, Serviços e Empreitadas” – Procedimento PR-0011 de Setembro de
2005 -, os arguidos Victor Baptista, Fernando Santos e Juan Oliveira, de
comum acordo e em conjugação de esforços, aceitaram as propostas
apresentadas pela “O2”, sendo que semelhante possibilidade não
reconheceram às demais empresas concorrentes.

841.º Em 20 de Maio de 2006, o arguido Fernando Santos redigiu a


informação CS 15/2006, exarando que, apesar de não apresentar o valor
unitário mais baixo, a proposta da “O2” era a que apresentava globalmente

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melhores condições, tendo em atenção aspectos relativos à segurança e ao


ambiente (plano de segurança e saúde para a empreitada e um plano de
gestão ambiental a ser cumprido em obra, incluídos na proposta da “O2” por
sua promoção). (vide Ap. AE6, fls. 114 e 115).

842.º Aduziu, igualmente, que a “O2” havia já trabalhado para a REN,


nomeadamente na gestão de resíduos em Alto Mira, o que lhe conferia à
partida, mais créditos relativamente à qualidade dos serviços a prestar.

843.º Finalizou propondo a adjudicação dos trabalhos à “O2” pelo valor


unitário de 20,00€/ton + IVA e o seu acompanhamento e fiscalização por
António Nogueira.

844.º Acontece que não só foi considerado, sem qualquer suporte


documental, que a proposta da AMBISIDER, com o valor global de
35.633,00€, corresponderia ao valor unitário de 27,50€/ton, como a
MAFRIMÁQUINAS havia, também, realizado trabalhos para a REN na
Central de Alto Mira.

845.º Em 20 de Maio de 2006, esta informação foi levada ao conhecimento


do arguido Victor Baptista.

846.º Procurando evitar que se criassem suspeições quanto à decisão de


adjudicação, uma vez que a MAFRIMÁQUINAS havia apresentado a
proposta de menor custo para a REN (11,50€/tonelada de resíduos
transportados), critério definido como prevalecente na decisão de
adjudicação, o arguido Victor Baptista, comungando do desiderato de
favorecimento de Manuel Godinho, de comum acordo e em conjugação de
esforços com os arguidos Fernando Santos e Juan Oliveira, pese embora
fosse do seu conhecimento a existência na REN de um lista de fornecedores
qualificados para a classe de fornecimento de serviços na área da

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construção civil e demolição, solicitou informação adicional sobre se todos os


concorrentes estavam qualificados pela REN para o tipo de trabalhos
pretendidos. (vide Ap. AE6, fls. 116 e 117).

847.º Solicitou, igualmente, esclarecimentos sobre a estimativa de


demolições e se seria necessário o acompanhamento pelo antigo chefe da
Central ou se seria apenas de pedir o apoio da divisão de Exploração.

848.º Em resposta, visando dar aparente fundamentação e justificação à


decisão de adjudicação à “O2”, que havia sido já previamente concertada, o
arguido Fernando Santos elaborou informação adicional, referindo não estar
a MAFRIMÁQUINAS qualificada pela REN, sendo certo que omitiu qualquer
referência às demais empresas concorrentes.

849.º Mais previu uma quantidade de 200 a 300 toneladas de resíduos, muito
inferior ao que se veio a verificar, e que não se opunha à fiscalização por
parte da divisão de Exploração.

850.º Assim, não obstante houvesse sido a REN a tomar a iniciativa de


consultar a MAFRIMÁQUINAS, o certo é que depois desta empresa ter
apresentado a sua proposta, a de menor custo para a REN (11,50€/tonelada
de resíduos transportados), o arguido Victor Baptista desconsiderou-a com o
argumento de não ser um fornecedor qualificado.

851.º Sucede, contudo, que a MAFRIMÁQUINAS, no ano de 2002, tinha já


efectuado, na qualidade de subfornecedor da “SOMAGUE, S.A.”, trabalhos
de demolição e remoção de resíduos na Central de Alto Mira.

852.º Aliás, foi mesmo esta prestação de serviços que levou a REN a
convidar a MAFRIMÁQUINAS a apresentar proposta.

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853.º Por outro lado, a “O2” não era um fornecedor qualificado pela REN
para a classe de fornecimento de serviços na área da construção civil e
demolição, apenas se encontrando qualificada para a gestão de resíduos.

854.º Em 24 de Maio de 2006, o Conselho de Administração da REN,


suportado nas informações do arguido Fernando Santos, adjudicou a
demolição de algumas estruturas de betão da Central de Alto Mira à “O2”,
designadamente as bacias de retenção para que pudessem ser utilizadas
como apoio à subestação de Alto Mira ao nível de estacionamento e
armazenagem, pelo valor unitário de 20,00€/ton., mais IVA sendo que o
acompanhamento deste trabalho ficaria a cargo da divisão de Exploração,
sem recurso a trabalho externo como fora proposto, dada a simplicidade da
tarefa.

855.º No dia 14 de Junho de 2006, pelas 14h30, realizou-se, na subestação


de Alto Mira, uma reunião preparatória do início dos trabalhos, entre a REN,
representada pelo arguido Juan Oliveira, da divisão CS, e a "O2". (vide Ap.
AE27, fls. 150).

856.º Antes do início dos trabalhos, ficou definido que a divisão CS se


manteria como responsável pela gestão do contrato adjudicado e que
caberia à divisão de Exploração, através da equipa local, o acompanhamento
operacional da obra, nas várias vertentes técnica, segurança e ambiente
solicitando, sempre que considerasse necessário, apoio ao gestor, caso
houvesse alteração ao estipulado no contrato ou ao resultado daquela
reunião. (vide Ap. AE6, fls. 118).

857.º Decidiu-se, ainda, que os trabalhos começariam no dia 19 de Junho de


2006, com os inerentes procedimentos de abertura de obra, estando previsto
o prazo de 15 dias (2 semanas) para a realização das obras, recorrendo a
cinco trabalhadores. (vide Ap. AE27, fls. 150 a 157).

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858.º Por fim, determinou-se que as pesagens dos resíduos recolhidos


aconteceriam nas instalações da “O2”. (vide Ap. AE21, fls. 236 a 238).

859.º O arguido Juan Oliveira representaria a divisão CS e Manuel Patrão -


Gestor Local de Resíduos – a divisão de Exploração.

860.º Na execução do contrato, a REN não cumpriu os poderes/deveres de


acompanhamento e fiscalização destes trabalhos que lhe incumbiam.

861.º Conhecedor desta omissão, Pedro Laranjeira, enquanto funcionário da


“O2” encarregado de obra, executando um mandado de Manuel Godinho,
instruiu os demais funcionários da “O2” e da “RIBERLAU” a colocarem a
menor quantidade possível de resíduos de demolição nos veículos
destinados ao seu transporte para que, posteriormente, fossem
apresentados à REN talões de pesagem, que serviriam de base aos
pagamentos a efectuar à “O2”, com valores superiores à real quantidade de
resíduos recolhidos e transportados.

862.º A medição e pesagem dos resíduos, mediante a qual foi aferida a sua
valorização, foi realizada nas instalações da “02”, inexistindo quaisquer
mecanismos de controlo por parte da REN para a sua validação.

863.º As quantidades de resíduos transportados, utilizadas para efeitos de


cálculo dos custos finais com recolha e transporte foram efectuadas com
base nas medições e pesagens realizadas nas instalações da “02”, sem
acompanhamento externo da REN.

864.º Deste modo, os valores apresentados pela “02” foram aceites pela
REN sem que se tenha previamente assegurado, através da medição e
pesagem dos resíduos, de que o respectivo valor correspondia à quantidade
dos indicados pela “02”.

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865.º A divisão Exploração apenas garantiu o preenchimento e a assinatura


das guias modelo A de acompanhamentos de resíduos, sendo certo que os
funcionários daquela divisão, por não sindicarem as cargas, no campo
correspondente ao tipo, volume e peso da carga, exaravam o volume de
resíduos que lhes era indicado pelo motorista dos camiões.

866.º Adjuve-se que a REN não implementou um sistema de avaliação prévia


e sistemática do volume dos resíduos removidos de forma a aferir
posteriormente da razoabilidade das quantidades declaradas pela “02” e das
discrepâncias registadas em favor da “02”.

867.º No dia 19 de Junho de 2006, conforme acordado, iniciaram-se os


trabalhos.

868.º Desde 10 de Julho de 2006, Pedro Jacinto Pereira Correia, funcionário


da sociedade PROSEGUR, começou, por sua iniciativa, e socorrendo-se de
um formulário existente na sua empresa, a registar as horas de entrada e
saída das viaturas com tipologia do veículo e respectiva identificação dos
condutores.

869.º Destarte, constatou que, para além dos camiões saírem com pouca
carga, o espaço temporal entre a sua hora de saída e a hora constante dos
talões de pesagem apresentados pela “02” se mostrava incompatível com a
distância percorrida entre as instalações da Central de Alto Mira e as
instalações daquela empresa.

870.º No final do mês de Julho, Pedro Correia aproveitou a visita do arguido


Juan Oliveira às instalações da Central de Alto Mira para lhe transmitir estes
factos e as suas preocupações.

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871.º Inteirado do que se passava, o arguido Juan Oliveira instruiu Pedro


Correia a continuar a registar os dados e a visualizar as cargas, pedindo,
ainda, que o fosse informando.

872.º Neste período, Pedro Correia vistoriou camiões que à saída das
instalações da Central de Alto Mira apresentavam cargas muito reduzidas,
sendo que os respectivos talões de pesagem juntos pela “02” correspondiam
a cargas cheias.

873.º No dia 06 de Setembro de 2006, Raul Jorge Ribeiro Calado,


funcionário da REN da divisão Ex, pelas 09h53, enviou uma mensagem de
correio electrónico para Manuel Patrão, relatando aquilo que considerou uma
fraude para a REN, informado que “tem(os), de algum tempo a esta parte e
depois de várias chamadas de atenção, notado que algo de estranho se
passará com estas supostas cargas, os carros tem andado (a nosso ver) a
passear dentro e fora”. (vide Ap. AE6, fls. 120 a 124).

874.º A esta mensagem foi anexado um ficheiro informático Word, com


fotografias de cargas prontas a sair, com camiões praticamente vazios.

875.º Nesse mesmo dia, pelas 10h06, este e-mail foi reencaminhado por
Manuel Patrão para o arguido Juan Oliveira.

876.º Ainda nesta data, pelas 11h21, após para tal ter sido prevenido, como
forma de justificar os relatos supra aludidos, Namércio Cunha enviou um e-
mail para a conta de correio electrónico de Juan Oliveira, com conhecimento
a Fernando Santos, com o seguinte teor:

“Estimados Senhores,
Vimos por este meio esclarecer que, devido a encontrarem-se junto às
Vossas instalações de Alto Mira, as balanças da Brigada de Trânsito, foram

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

dadas indicações ao nosso encarregado para reduzir o peso das cargas de


hoje, de forma a não se correr qualquer risco de se ultrapassar o peso legal
(…).” (vide Ap. AE27, fls. 202).

877.º A Brigada de Trânsito da Guarda Nacional Republicana não realizou


qualquer acção de fiscalização de veículos pesados naquele local e data.
(vide Ap. AE29, fls. 4).

878.º No dia 14 de Setembro de 2009, pelas 16h35, o arguido Juan Oliveira


reencaminhou o e-mail recebido de Manuel Patrão para o arguido Fernando
Santos.

879.º O arguido Fernando Santos, pese embora já lhe houvesse dado conta
do sucedido de forma verbal e informal, reenviou-o para o arguido Victor
Baptista, o qual reservou a informação para si e para o arguido José
Penedos, ocultando-a dos demais membros do Conselho de Administração.
(vide Ap. AE27, fls. 184).

880.º Por determinação do arguido Juan Oliveira, a remoção de resíduos foi


interrompida, tendo sido retomada, no dia 19 de Setembro de 2009, sendo
que as pesagens passaram a ser efectuadas em Sacavém, nas instalações
da EDP. (vide Ap. AE6, fls. 129 a 131).

881.º A partir do momento em que os camiões passaram a ser pesados em


Sacavém, as cargas médias desceram de 31 para 24 toneladas. (vide Ap.
AE6, fls. 126 a 128).

882.º No dia 23 de Outubro de 2006 finalizaram as cargas, sendo que a “O2”


apresentou registos correspondentes a 234 cargas, correspondentes a mais
de 6.800 toneladas de resíduos removidos.

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S. R.

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883.º No dia 06 de Novembro de 2006, perante as evidências e procurando


manter uma aparência imaculada, decorreu uma reunião entre os arguidos
Manuel Godinho, Namércio Cunha, Juan Oliveira, Fernando Santos, e Luís
Oliveira Pinto e João Sandes com o intuito de comunicar à “O2” que a REN
não aceitava os valores apresentados por aquela empresa. (vide Ap. AE28,
fls. 92 a 97).

884.º Nesta reunião, o arguido Juan Oliveira exibiu a impressão de um


ficheiro informático EXCEL com o registo e análise de todas as cargas e
pesagens, guias de acompanhamento preenchidas, respectivos talões de
pesagem desde o início da obra e ainda as anotações feitas pelo vigilante da
PROSEGUR no local.

885.º Finda esta reunião, Manuel Godinho deu conta do seu resultado a
Paulo Penedos.

886.º Paulo Penedos assumiu, então, a resolução do conflito com ganho de


causa para a “O2”, asseverando a Manuel Godinho que a REN iria acabar
por aceitar os valores apresentados pela “O2”, pelo que não deveria abdicar
dos montantes inscritos nas guias e respectivos talões de pesagem.

887.º Mais lhe disse ir contactar seu Pai sobre a forma de dirimir a contenda
em favor da “O2”.

888.º Após interpelar seu Pai, Paulo Penedos instruiu Manuel Godinho a
elaborar um memorandum sobre o desmantelamento das bacias de retenção
dos tanques da Central de Alto Mira, aludindo às considerações ensaiadas
pelo arguido Juan Oliveira na reunião supra mencionada, apresentando as
explicações da “O2” para o sucedido e concluindo pela sua indisponibilidade
para discutir a quantidade de resíduos recolhidos.

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889.º Mais lhe assegurou que o faria chegar ao Conselho de Administração


da REN.

890.º De imediato, Manuel Godinho ordenou a Namércio Cunha que


elaborasse um memorandum sobre o desmantelamento das bacias de
retenção dos tanques da Central de Alto Mira nos termos e com o sentido
proposto por Paulo Penedos.

891.º Mais lhe disse para o enviar para a conta de correio electrónico de
Paulo Penedos, que este o remeteria ao Conselho de Administração da
REN.

892.º No dia 08 de Novembro de 2006, Namércio Cunha enviou para a conta


de correio electrónico de Paulo Penedos um memorandum sobre o
desmantelamento das bacias de retenção dos tanques da Central de Alto
Mira nos termos e com o sentido supra exposto. (vide Ap. AE21, fls. 213 e
214).

893.º Na posse do dito e-mail, Paulo Penedos imprimiu-o e enviou-o, via fax,
para o número em uso pelo Conselho de Administração da REN. (vide Ap.
AE29, fls. 5).

894.º Na sequência, o arguido Victor Baptista, visando dar aparência


formalmente legal ao procedimento, solicitou um memorandum ao arguido
Fernando Santos sobre os factos que envolveram o processo de
desmantelamento daquela Central. (vide Ap. AE6, fls. 129 a 134).

895.º De pronto, ainda naquele dia, pelas 20h53, o arguido Fernando Santos
enviou ao arguido Victor Baptista um documento rebatendo a argumentação
expendida pela “O2” e relatando as irregularidades detectadas na execução
dos trabalhos na Central de Alto Mira. (vide Ap. AE28, fls. 100 e 101).

1267
S. R.

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896.º No dia 13 de Novembro de 2006, Juan Oliveira redigiu a informação


CSGC 5/2006, que enviou ao arguido Fernando Santos, apresentando um
relatório sobre o fim dos trabalhos relativos ao descomissionamento da
Central de Alto Mira. (vide Ap. AE6, fls. 155 a 159).

897.º Neste relatório, olvidou qualquer referência às irregularidades


detectadas, ao mesmo tempo que asseverou que “o volume dos trabalhos
acabou por ser superior ao que foi preconizado aquando da adjudicação,
uma vez que foram efectuadas demolições que não estavam previstas
inicialmente resultantes das sugestões dadas pelas divisões da REN que
acompanharam os trabalhos, nomeadamente pela Divisão de Exploração,
responsável pela fiscalização”.

898.º Fernando Santos levou esta informação ao conhecimento de Victor


Baptista que, por sua vez, a submeteu ao Conselho de Administração, órgão
que, em 13 de Dezembro de 2006, pese embora as irregularidades supra
evidenciadas não estivessem ultrapassadas ou sanadas, declarou o fim dos
trabalhos, sem qualquer menção àquelas falhas e atribuindo à divisão de
Exploração a gestão corrente do local. (vide Ap. AE6, fls. 159 e 160).

899.º Ainda assim, perante o acontecido, as divergências quanto ao peso


dos resíduos recolhidos e a obrigação de proceder ao pagamento da
prestação de serviços realizada, a REN, para que não se criassem
debilidades, propôs e a “O2” aceitou, solicitar a uma terceira entidade,
independente, da área de projecto de engenharia civil que determinasse as
quantidades demolidas.

900.º A solicitação da REN, a sociedade “Quadrante-Engenharia e


Consultadoria SA”, na pessoa de Nuno Miguel Batista Martins, elaborou um
estudo baseado nas peças desenhadas e escritas do projecto de construção
e de duas visitas ao local, em que concluiu que foram demolidos 1.199.720

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kg de betão simples e betão armado. (vide Ap. AE20, fls. 164 e Ap. AE6, fls.
134).

901.º Inconformada com este relatório, a “O2” solicitou um estudo à


sociedade CONSULGAL, Consultores de Engenharia e Gestão, SA, na
pessoa do arguido Lopes Barreira.

902.º Na reunião preparatória realizada nas instalações da CONSULGAL,


sitas em Oeiras, marcaram presença o arguido Lopes Barreira, dois técnicos
daquela empresa e o arguido Juan Oliveira, que, na ocasião, entregou os
desenhos do projecto da Central de Alto Mira.

903.º Nas diligências subsequentes, Namércio Cunha, em cumprimento de


ordens expressas de Manuel Godinho, transmitiu ao técnico da
CONSULGAL responsável pelo estudo a intransigência de Manuel Godinho
quanto às quantidades inicialmente apresentadas à REN.

904.º Para tanto, não se coibiu de empolar as dimensões de algumas


estruturas intervencionadas, nomeadamente de sapatas/maciços que
afirmou serem superiores ao constante do projecto.

905.º Em 29 de Dezembro de 2006, a CONSULGAL veio a elaborar um


relatório, no qual concluiu que os materiais removidos para vazadouro teriam
ascendido a 7.363.060 Kg. (vide Ap. AE21, fls. 193 a 210).

906.º Na posse deste relatório, os arguidos Fernando Santos e Juan Oliveira


instaram a “Quadrante-Engenharia e Consultadoria SA” a pronunciar-se
sobre o estudo apresentado pela “CONSULGAL”. (vide Ap. AE6, fls. 134).

907.º Em 06 de Janeiro de 2007, a “Quadrante-Engenharia e Consultadoria


SA”, na pessoa de Nuno Miguel Batista Martins, não só reafirmou as suas

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conclusões, como patenteou as incorrecções do estudo apresentado pela


“CONSULGAL”.

908.º Como as discrepâncias persistiam, foram feitos vários contactos no


sentido de solucionar o diferendo entre a REN e a “O2”.

909.º Neste ínterim, Paulo Penedos, depois de auscultar seu Pai, sugeriu a
Manuel Godinho que propusesse um desconto comercial de 20% sobre o
valor facturado. (vide Ap. AE6, fls. 139 e 140).

910.º Em 21 de Fevereiro de 2007, a “O2” enviou uma proposta de resolução


propondo um desconto comercial de 20% sobre o valor facturado. (vide Ap.
AE6, fls. 140).

911.º Em resposta, que transmitiu aos arguidos Victor Baptista e Juan


Oliveira, o arguido Fernando Santos, tendo por escopo o supra aludido
objectivo de conservar formalmente impoluto o procedimento, não aceitou a
proposta da “O2”, alegando pretender apenas pagar o que fosse devido
pelos trabalhos executados. (vide Ap. AE6, fls. 141).

912.º Namércio Cunha reenviou o e-mail recebido de Fernando Santos para


Paulo Penedos, ao que este perscrutou junto de seu Pai o modo de
superação do diferendo. (vide Ap. AE18, fls. 166).

913.º Não obstante, o teor do relatório da “Quadrante-Engenharia e


Consultadoria SA”, a evidenciação por esta entidade das incorrecções do
estudo da “CONSULGAL”, o arguido José Penedos ordenou ao arguido
Victor Baptista que diligenciasse pela obtenção de um acordo que
satisfizesse as expectativas da “O2”.

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S. R.

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914.º O arguido Victor Baptista instruiu os arguidos Fernando Santos e Juan


Oliveira a harmonizarem vontades com a “O2”, com prevalência dos
interesses desta.

915.º José Penedos transmitiu, então, ao seu filho Paulo Penedos, a


necessidade de ser peticionada uma reunião para pôr termo ao conflito.

916.º Paulo Penedos levou ao conhecimento de Manuel Godinho as


informações recebidas de seu Pai.

917.º No dia 06 de Março de 2007, pelas 12h19, Namércio Cunha, após para
tal ter sido instado por Manuel Godinho, enviou um e-mail para a conta de
correio electrónico de Fernando Santos, com conhecimento a Victor Baptista
e Juan Oliveira, solicitando a marcação de uma reunião, com a presença de
Manuel Godinho, para o dia seguinte, pelas 10h00. (vide Ap. AE6, fls. 144).

918.º Deste modo, em 7 de Março de 2007, a REN, representada pelos


arguidos Fernando Santos e Juan Oliveira, e a “O2”, representada pelos
arguidos Manuel Godinho e Namércio Cunha, acordaram que a quantidade
demolida havia sido de 4.560.897 Kg a facturar a 20€/ton. e que a
quantidade total transportada tinha sido de 6.910.450 Kg. (vide Ap. AE6, fls.
145 a 150).

919.º Assim, a “O2” veio a receber como pagamento dos trabalhos


efectuados o valor total de 91.217.94€, conforme factura da “O2”, n.º
70142/07 de 16.03.2007. (vide Ap. AE6, fls. 150).

920.º Com este acordo, a “O2” obteve um beneficio patrimonial de, pelo
menos, 67.223,54€ e a REN um prejuízo patrimonial, pelo menos, de igual
montante, correspondente à diferença entre o valor apresentado pela
“Quadrante” e o valor acordado.

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S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

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921.º Acresce que os arguidos Fernando Santos e Juan Oliveira não


possuíam competência, não beneficiavam de qualquer delegação de
competência, nem se achavam mandatados, para vincular a REN ao acordo
firmado com a “O2”. (vide Ap. AE 29, fls. 24).

922.º Por outro lado, no âmbito do contrato de gestão de resíduos, a REN


pagou à “CESPA” o valor correspondente a 128 cargas tendo esta pago à
“O2”, na qualidade de subfornecedor, o valor relativo ao encaminhamento
para destino final dos 4.560.897 Kg, quando apenas deveria ter sido pago a
quantidade apresentada pela “Quadrante”.

923.º Deste modo, a “O2” recebeu e a REN pagou indevidamente, pelo


menos, 246.475,10€ pelo encaminhamento para destino final dos 4.560.897
Kg, quando apenas deveria ter sido pago a quantidade apresentada pela
“Quadrante”.

924.º Como tal, no quadro da 2ª fase do descomissionamento da Central de


Alto Mira, a REN solveu indevidamente, directa ou indirectamente, à “O2” a
quantia de, pelo menos, 313.698,64€.

925.º Sobeja que, tendo por referência a proposta apresentada pela


Mafrimáquinas para os trabalhos relativos à 2ª fase do descomissionamento
da Central de Alto Mira, empresa que evidenciou o melhor preço, a REN
sofreu um prejuízo de, pelo menos, 506.191,08€.

926.º Na factura da “O2”, n.º 70142/07 de 16.03.2007, foi incluído o valor de


29.000,00€ relativo a trabalhos de construção nas bacias de retenção dos
tanques de combustível da Central de Alto Mira, que consistiram na
execução de pavimento nas bases dos reservatórios, execução de
pavimento de acesso à bacia de retenção dos tanques Dl e D2 e aplicação
de varandins. (vide Ap. AE18, fls. 124 a 134 e Ap. AE6, fls. 150).

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927.º Com efeito, em 26 de Agosto de 2006, pese embora as irregularidades


detectadas, o arguido Fernando Santos, exorbitando os seus poderes e
competências, no quadro da sua vinculação aos interesses de Manuel
Godinho, adjudicou, sem previamente ter sido aberto procedimento concursal
ou de consulta e, bem assim, sem avaliação da razoabilidade do preço
proposto, contrariando os procedimentos internos de “Aprovisionamento com
Abertura Simultânea de Propostas” e “Aquisição de Bens, Serviços e
Empreitadas” – Procedimento PR-0011 de Setembro de 2005 -, directamente
à “O2” serviços adicionais de construção civil nas bacias de retenção dos
tanques de combustível da Central de Alto Mira, de acordo com o valor
apresentado na proposta da “O2” (29.000,00€).

928.º Em 30 de Janeiro de 2008, Jorge Filipe Martins elaborou a IF EXCS-SB


22/2008 propondo a desclassificação e abate de 23 transformadores de
potência instalados em diversas subestações da REN espalhadas por
diferentes pontos do país. (vide Ap. AE26, fls. 3 e 5).

929.º Sugeriu o desmantelamento controlado e subsequente eliminação dos


transformadores de potência, como resíduos e respectiva valorização, no
âmbito da metodologia de gestão de resíduos da REN, com separação dos
vários tipos de materiais, consoante os respectivos códigos LER, como
previsto no SIGQAS da REN.

930.º Asseverou a valorização muito significativa dos metais associados à


construção de transformadores, nomeadamente da chapa magnética
resultante do seu desmantelamento.

931.º Estimou que o desmantelamento pudesse gerar como resíduos


principais cerca de 300 toneladas de aço, 650 de chapa magnética e 40 de
cobre.

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932.º Avaliou em 300.000,00€ os encargos relacionados com os trabalhos,


quantia a que acresceriam os custos associados à eliminação de alguns
resíduos não valorizáveis.

933.º Por fim, propôs a alienação dos resíduos decorrentes do


desmantelamento no quadro do contrato de gestão de resíduos em vigor,
com excepção da chapa magnética e, bem assim:

934.º Abertura de processo de consulta para desmantelamento dos 23


transformadores de potência instalados em diversas subestações da REN
espalhadas por diferentes pontos do país, com a inerente segregação dos
vários tipos de resíduos, com formulação de convites à “O2” e à “RSA –
Reciclagem de Sucatas Abrantina, SA”;

935.º Alienação da chapa magnética resultante dos desmantelamentos, com


envio de convites à “O2”, “RSA – Reciclagem de Sucatas Abrantina, SA”,
“EFACEC Energia, SA” e “SIEMENS, SA”.

936.º Esta informação foi colocada à consideração superior de Costa


Martins, que concordando, a remeteu a Albino Marques que, após indicação
da Divisão de Planeamento de Rede que retirou um dos transformadores de
4 pólos da lista para abate e consequente desmantelamento, a submeteu à
apreciação de Victor Baptista e José Penedos. (vide Ap. AE26, fls. 6 e 7).

937.º Após prévio agendamento por Victor Baptista, o Conselho de


Administração da REN aprovou o abate patrimonial, o desmantelamento e a
alienação dos resíduos das 22 unidades de transformação, conforme
proposto, com indicação urgente para alienação selectiva das sucatas. (vide
Ap. AE26, fls. 9 a 19).

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938.º Esta indicação expressa de urgência na alienação selectiva das


sucatas foi transmitida na cadeia hierárquica, de Costa Martins a Jorge
Martins. (vide Ap. AE26, fls. 10 a 12).

939.º Não obstante os valores envolvidos nesta prestação de serviços


impusessem a aplicação dos procedimentos impostos pelo Código da
Contratação Pública, pelo Decreto-Lei n.º 197/99, de 8 de Junho, e pela
Directiva 2004/17/CE, de 31 de Março, a REN não os observou. (vide Ap.
AE21, fls. 243).

940.º Não foram, igualmente, satisfeitos os procedimentos internos de


“Aprovisionamento com Abertura Simultânea de Propostas” e “Aquisição de
Bens, Serviços e Empreitadas” – Procedimento PR-0011 de Setembro de
2005.

941.º Na verdade, não foi, desde logo, organizado o “Programa de


Concurso/Procedimento”, nos termos do art.º 40º do Código da Contratação
Pública, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 197/99, de 8 de Junho, e dos
procedimentos internos de “Aprovisionamento com Abertura Simultânea de
Propostas” e “Aquisição de Bens, Serviços e Empreitadas” – Procedimento
PR-0011 de Setembro de 2005.

942.º Acresce que no processo de definição das empresas a consultar,


seleccionaram-se apenas duas sociedades – “02” e “RSA – Reciclagem de
Sucatas Abrantina, S.A.” – quando o quadro legal aplicável – art.º 119º do
Código da Contratação Pública, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 197/99, de 8
de Junho – exigia a consulta de cinco, excepto se fosse demonstrado que
um número inferior assegurava as condições mínimas de carácter
profissional, capacidade técnica e económicos exigidos, o que não se
verificou.

1275
S. R.

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943.º Em 16 de Junho de 2008, após o prazo estipulado para a recepção das


propostas, foi elaborada a informação 123/2008 sobre a análise técnico-
económica, concluindo-se pela necessidade de solicitar às empresas
concorrentes a discriminação dos valores afectos ao desmantelamento
simples, ao aluguer de gruas telescópicas para auxílio do desmantelamento
e aos serviços de recondicionamento da chapa magnética, de forma a
possibilitar uma análise detalhada e correcta dos valores recebidos. (vide Ap.
AE26, fls. 95 a 100).

944.º A “O2” satisfez o conjunto das solicitações, enquanto a “RSA –


Reciclagem de Sucatas Abrantina, SA” não apresentou qualquer
discriminação.

945.º Depois da discriminação efectuada pela “O2”, Jorge Martins concluiu


que a “O2” havia inflacionado os preços para desmantelamento de
transformadores de potência de 2003 para 2008 em 30%, sem qualquer
razão que o justificasse.

946.º O mesmo sucedeu nos preços para a contentorização local e


transporte de resíduos, os quais conheceram um acréscimo superior a 40%
entre os preços praticados pela “O2” em 2003 e a proposta apresentada
neste concurso.

947.º Mais propôs a eliminação da valorização da chapa magnética do


caderno de encargos, por o melhor preço, atenta a estimativa, não cobrir as
despesas calculadas com o tratamento e acondicionamento da chapa (este
resíduo acabaria por conhecer gestão conjunta com os demais resíduos
gerados pelo desmantelamento).

1276
S. R.

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948.º Perante o quadro supra descrito, Jorge Martins colocou para


apreciação superior três cenários em alternativa, quais tenham sido: (Vide
Ap. AE26, fls. 95 a 98).

949.º A adjudicação da obra à “O2”, pelo valor global de 657.779,00€, que


incluía o desmantelamento, contentorização, o aluguer de gruas e as obras
de regularização de bacias que se considerassem necessárias e com valores
aceitáveis e excluía a valorização da chapa magnética;

950.º A negociação com a “O2”, propondo uma redução de 25% nos itens
relacionados com o desmantelamento e contentorização convergindo para
um valor global de 546.574,75€ (permitindo garantir a concretização máxima
da obra durante o ano de 2008).

951.º O cancelamento do concurso, propondo o alargamento do mercado a


consultar.

952.º Esta informação foi remetida a Albino Marques, merecendo a sua


aprovação e conhecendo remessa, em 16 de Junho de 2008, para os
arguidos José Penedos e Victor Baptista. (vide Ap. AE26, fls. 101 e 102).

953.º Na posse daquela informação, os arguidos José Penedos e Victor


Baptista, ainda e sempre procurando dar guarida às pretensões de Manuel
Godinho, consensualizaram a adjudicação à “O2” com renegociação de
preços, sem que, contudo, fosse imposto, como sugerido, qualquer limite
mínimo ou máximo.

954.º Mais acordaram aportar uma nota de urgência ao processo de


desmantelamento para que fosse afastada a hipótese de cancelamento do
concurso e alargamento do espectro de empresas a consultar, por forma a

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S. R.

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inviabilizarem o surgimento de proposta ou propostas com melhores preços


dos que os apresentados pela “O2”.

955.º No dia imediatamente seguinte, o arguido Victor Baptista autorizou, no


que obteve o consenso do administrador Fernando Soares Carneiro, a
adjudicação à “O2” com renegociação de preços, sendo certo que não
impôs, como sugerido, qualquer limite mínimo ou máximo.

956.º Mais acrescentou que o processo de desmantelamento deveria estar


finalizado ainda no ano de 2008.

957.º Esta decisão foi agendada para Conselho de Administração, para


efeitos de homologação. (vide Ap. AE26, fls. 104 a 108).

958.º Logo após, foram encetadas negociações com a “O2”, tendo o valor da
adjudicação decrescido em 14%, cifrando-se em 595.504,62€.

959.º Em 02 de Julho de 2008, o Conselho de Administração da REN


homologou a decisão de Victor Baptista, adjudicando à “O2” o
desmantelamento e a alienação dos resíduos de 22 transformadores de
potência instalados em diversas subestações, no valor de 595.504,62€.

960.º Esta decisão foi unicamente comunicada à “O2”.

961.º Em data não concretamente apurada, mas anterior a 26 de Agosto de


2008, Manuel Godinho ordenou ao arguido Pedro Laranjeira que, no decurso
do processo de desmantelamento, na subestação de Estarreja, instasse os
funcionários da “O2” a retirarem resíduos sem a necessária segregação.

962.º Em 26 de Agosto de 2008, no decurso do processo de


desmantelamento, na subestação de Estarreja, cumprindo ordens e

1278
S. R.

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instruções de Manuel Godinho e do arguido Pedro Laranjeira, funcionários da


“O2” retiraram uma peça intacta, contendo 565 kg de cobre, da primeira cuba
do transformador.

963.º Quando sujeita a pesagem, foi descrita na respectiva guia como sendo
sucata de ferro.

964.º Contudo, Sónia Alexandra de Abreu Vieira apercebeu-se do sucedido e


solicitou à “O2” a devolução da peça, o que viria a acontecer no dia seguinte.

965.º Com esta conduta, visava obter um benefício patrimonial no montante


de, pelo menos, 1.327,75€ e causar à REN um prejuízo patrimonial, ao
menos, de idêntico valor (150€/tonelada no caso do ferro e 2.500€/tonelada
no caso do cobre).

966.º Em data não concretamente apurada, no decurso do processo de


desmantelamento, na subestação de Estarreja, cumprindo ordens e
instruções de Manuel Godinho e do arguido Laranjeira, funcionários da “O2”,
contrariando o disposto no contrato de gestão de resíduos e no caderno de
encargos e especificações técnicas da consulta de desmantelamento,
procuraram remover, por duas ocasiões, resíduos contendo cobre sem
estarem devidamente segregados.

967.º Porque daqui resultavam prejuízos patrimoniais para a REN, foram


impedidos por funcionários desta empresa.

968.º Logo após, Manuel Godinho fez chegar ao arguido José Penedos, por
intermédio de Paulo Penedos, queixas sobre a forma como decorriam os
trabalhos na subestação de Estarreja, designadamente alegados
constrangimentos colocados por funcionários da REN.

1279
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

969.º José Penedos solicitou a Victor Baptista que se inteirasse do sucedido


e resolvesse a situação a contento de Manuel Godinho.

970.º Na posse desta informação, no quadro da sua vinculação aos


interesses de Manuel Godinho, de pronto, o arguido Victor Baptista, lançando
mão da sua condição de Administrador, procurou superar os obstáculos
suscitados.

971.º Neste sentido, interpelou Costa Martins sobre o sucedido, ao que este
o elucidou sobre a necessidade de serem observadas regras de cariz técnico
(qualidade e de segurança) que, inclusivamente, se encontravam previstas
no caderno de encargos e nas especificações técnicas.

972.º Face aos argumentos invocados e para que não fossem levantadas
suspeições sobre a sua conduta, o arguido Victor Baptista cessou as suas
diligências.

973.º No dia 25 de Setembro de 2008, antes da saída de quaisquer resíduos,


Manuel Godinho deslocou-se à subestação de Alto Mira para preparar o
processo de desmantelamento do transformador aí existente.

974.º Após abandonar a viatura em que se fazia transportar, pelas 10h50,


Manuel Godinho, quando se dirigia para o local onde estava a ser
desmontado o transformador, denominado “parque de linhas”, interpelou
Pedro Correia, vigilante da PROSEGUR, que já conhecia dos trabalhos
realizados na Central de Alto Mira pela “O2” em 2006 por ter denunciado as
“irregularidades” então acontecidas.

975.º No momento em que Pedro Correia se aproximou de si, Manuel


Godinho estendeu-lhe a mão e, no acto de o cumprimentar, colocou-lhe uma
nota de 20,00€ na mão, por forma a que se abstivesse dos comportamentos

1280
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

delatores que tinha assumido em 2006 e, assim, não reportasse a entrada de


camiões com carga.

976.º Pedro Correia repudiou, de imediato, a atitude de Manuel Godinho e,


de pronto, deu conhecimento do sucedido ao seu superior na PROSEGUR,
Hugo Costa, e a. Pedro Rodrigues, engenheiro do departamento de
conservação de subestações da REN.

977.º De seguida, reuniu-se com Hugo Costa, Pedro Rodrigues e Manuel


Patrão, coordenador de área, gestor local de resíduos, dando-lhes
conhecimento pessoal e verbal do que se tinha passado, entregando a nota
a Pedro Rodrigues e dizendo-lhe que iria encaminhar o assunto
superiormente.

978.º No dia seguinte, redigiu o relatório 7515970-4 A da PROSEGUR,


relatando o acontecido. (vide Ap. AE20, fls. 138 a 140).

979.º Acto contínuo, entregou-o a Manuel Patrão, tendo-lhe solicitado duas


fotocópias, uma para si e outra para entregar na PROSEGUR.

980.º Pedro Rodrigues transmitiu o sucedido a Jorge Martins, responsável


pelo departamento de conservação de subestações, que o instruiu a recolher
a nota e o relatório elaborado por Pedro Correia.

981.º Na posse desta informação, Jorge Martins reuniu com Albino Marques,
director da divisão de exploração, e Costa Martins, subdirector da divisão de
exploração – responsável pelo departamento de subestações.

982.º Albino Marques e Costa Martins decidiram não dar conhecimento


superior do sucedido e enviaram uma carta a Manuel Godinho, repudiando a

1281
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

sua conduta e impedindo-o de entrar nas instalações da REN, sem solicitar,


antecipadamente, autorização ao responsável pela instalação.

983.º No dia 05 de Fevereiro de 2009, pelas 11h47, Paulo Penedos rogou


25.000,00€ a Manuel Godinho. (Confrontar com Produto 882 do Alvo
1T167PM).

984.º No dia 19 de Fevereiro de 2009, pelas 10h53, Manuel Godinho deu


nota a Paulo Penedos de não ter sido convidado para estar presente na
cerimónia de apresentação do plano de investimentos da REN. (Confrontar
com Produto 2073 do Alvo 1T167PM).

985.º No dia 19 de Fevereiro de 2009, em hora não concretamente apurada,


mas situada entre as 10h53 e as 11h11, Paulo Penedos solicitou a seu Pai o
envio de convite para Manuel Godinho estar presente na cerimónia de
apresentação do plano de investimentos da REN.

986.º No dia 19 de Fevereiro de 2009, em hora não concretamente apurada,


mas posterior às 11h11 e anterior às 17h04, Manuel Godinho recebeu o
convite para a apresentação do plano estratégico de investimentos da REN.

987.º No dia 20 de Fevereiro de 2009, Manuel Godinho, Namércio Cunha,


João Godinho e Paulo Godinho marcaram presença na cerimónia de
apresentação do plano estratégico de investimentos da REN, que se realizou
em Sacavém. (vide o Ap. Clipping de Imprensa, fls. 4).

988.º No dia 20 de Fevereiro de 2009, pelas 11h13, finda a cerimónia de


apresentação do plano estratégico de investimentos da REN, Manuel
Godinho expressou a Paulo Penedos a sua satisfação pelos números
apresentados e por ter tido oportunidade de cumprimentar o seu Pai.
(Confrontar com Produto 2196 do Alvo 1T167PM).

1282
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

989.º Acrescentou restar-lhe apenas saber se lhe iriam ser adjudicados


algum dos investimentos apresentados.

990.º Paulo Penedos retorquiu ter sido importante a sua presença na


cerimónia, até porque o seu Pai havia ficado particularmente satisfeito com a
sua comparência.

991.º A Central da Tapada do Outeiro foi uma central termoeléctrica com


funcionamento a carvão e fuelóleo, tendo sido desactivada a 31 de
Dezembro de 2004.

992.º Da sua laboração resultaram vários resíduos, designadamente cinzas


provenientes da queima de carvão.

993.º De facto, no terreno da Central da Tapada do Outeiro existe um aterro


de cinzas composto por dois montes, vulgarmente designados por monte 1 e
monte 2.

994.º Por decisão do Ministério do Ambiente, em Agosto de 2007, a CCDR


Norte selou aquele aterro, fazendo, desde então, o controlo anual do seu
estado, mediante os dados fornecidos pela REN.

995.º A conservação do aterro de cinzas é responsabilidade da REN, sendo


que as intervenções aí a efectuar carecem de avaliação e autorização da
CCDR Norte, estando, desde logo, sujeitas a uma dilação de cinco anos
contados de Agosto de 2007, data da sua selagem.

996.º Em 01 de Janeiro de 2005, na sequência da extinção dos contratos de


aquisição de energia, a EDP transmitiu a sua propriedade para a REN. (vide
Ap. AE3, fls. 7 a 28).

1283
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

997.º A partir desta data, Juan Oliveira providenciou um conjunto de


trabalhos relacionados com a gestão do local, nomeadamente a manutenção
da limpeza e segurança das instalações, a recolha de resíduos e o
encerramento oficial do parque de cinzas.

998.º Em 19 de Março de 2007, Juan Oliveira redigiu a informação CSGC


2/2007, solicitando, para além do mais, autorização superior para reforçar os
meios primários de minimização dos efeitos de derrames de hidrocarbonetos,
para proceder à recolha de diversos tipos de resíduos que se encontravam
na central, recorrendo aos operadores licenciados que trabalhavam para a
REN no âmbito do contrato de gestão de resíduos, e para iniciar o processo
de consulta para a limpeza dos terrenos que envolvem a central
nomeadamente a zona do parque (aterro) de cinzas.

999.º Victor Baptista aprovou as medidas solicitadas, dando indicações às


divisões de Exploração e Planeamento e Produção para prestarem a
colaboração necessária.

1000.º Neste contexto, a divisão Planeamento e Produção realizou um


trabalho de campo, tendo compilado toda a informação relevante num estudo
em que identificou os resíduos armazenados na central e as necessidades
de meios de actuação em caso de derrame de hidrocarbonetos.

1001.º Todavia, as necessidades elencadas na informação CSGC 2/2007


e respectivos trabalhos foram suspensos até 16 de Setembro de 2008, data
em que Andrade Lopes enviou um e-mail a João Sandes solicitando o seu
apoio para a realização das aludidas tarefas. (vide Ap. AE9, fls. 57).

1002.º Andrade Lopes é funcionário da REN desde a sua criação em


1995, desempenhando funções no Departamento Monitorização do Sistema
Produtor, desde Outubro de 2007.

1284
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

1003.º No âmbito das suas competências e atribuições é, desde Outubro


de 2007, responsável único pela manutenção da Central da Tapada do
Outeiro.

1004.º João Sandes sugeriu a realização de uma consulta à margem do


contrato de gestão de resíduos existente, tal como havia sucedido com o
descomissionamento da Central de Alto Mira. (vide Ap. AE9, fls. 58).

1005.º Em 24 de Setembro de 2008, o antigo chefe da Central da


Tapada do Outeiro indicou a Andrade Lopes a empresa “CAFLIXA” para
realização dos trabalhos pretendidos, dado que, em 2007, ali havia prestado
serviços de recolha de resíduos para a REN. (vide Ap. AE9, fls. 60 a 64 e 70
a 76).

1006.º Nos dias 20, 21 e 28 de Novembro e 2 de Dezembro de 2008,


Andrade Lopes, Arlindo Rodrigues e Domingos Correia realizaram diversas
visitas à Central da Tapada do Outeiro com o objectivo de recolher e
actualizar a informação disponível para se proceder à consulta ao mercado
para a realização dos trabalhos.

1007.º Em 3 de Dezembro de 2008, a empresa “CAFLIXA” enviou à REN


a proposta dos trabalhos a encetar. (vide Ap. AE9, fls. 76 e 77).

1008.º Contudo, até Março de 2009, o processo de consulta não


conheceu qualquer desenvolvimento.

1009.º Em data não concretamente apurada, mas posterior a 20 de


Fevereiro de 2009 e anterior a 10 de Março de 2009, no quadro do
compromisso supra desenhado, José Penedos granjeou de Victor Baptista a
informação que a prorrogação do contrato de gestão dos resíduos industriais
da REN celebrado com a “O2” estaria para breve e, bem assim, que a REN

1285
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

iria lançar uma consulta pública para uma prestação de serviços nas
instalações afectas à desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do
Outeiro.

1010.º Em data não concretamente apurada, mas posterior a 20 de


Fevereiro de 2009 e anterior a 10 de Março de 2009, no quadro do
compromisso e coesão parental de José Penedos com Paulo Penedos
visando dar preferência às empresas de Manuel Godinho na sua relação
com a REN, Paulo Penedos obteve de José Penedos a informação que a
prorrogação do contrato de gestão dos resíduos industriais da REN
celebrado com a “O2” estaria para breve e, bem assim, que a REN iria lançar
uma consulta pública para uma prestação de serviços nas instalações
afectas à desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do Outeiro.

1011.º De seguida, no dia 10 de Março de 2009, pelas 11h53, Paulo


Penedos, alardeando a sua capacidade de alcançar informação privilegiada
através de seu Pai, mercadejou esta informação, transmitindo-a a Manuel
Godinho. (Confrontar com Produto 3669 do Alvo 1T167PM).

1012.º Na posse da informação veiculada por Paulo Penedos, Manuel


Godinho, de comum acordo e em conjugação de esforços com Namércio
Cunha, arquitectou um modo de acrescentar mais valias suplementares
àqueles trabalhos.

1013.º Com efeito, alegando um problema ambiental relacionado com


uma pretensa contaminação das 200 mil toneladas de cinzas existentes nas
instalações afectas à desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do
Outeiro, Manuel Godinho pretendia propor à REN o alargamento da
prestação de serviços à recolha e descontaminação daqueles resíduos.

1286
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

1014.º No dia 12 de Março de 2009, pelas 15h15, Namércio Cunha deu a


conhecer a Manuel Godinho o teor da proposta a apresentar à REN
alertando para um problema ambiental e de segurança relacionado com uma
pretensa contaminação das 200 mil toneladas de cinzas existentes nas
instalações afectas à desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do
Outeiro. (Confrontar com Produto 1433 do Alvo 38250PM).

1015.º E revelando interesse e disponibilidade para uma prestação de


serviços de recolha e descontaminação daquelas cinzas.

1016.º Mais lhe transmitiu a sua intenção de contactar Paulo Penedos no


sentido de este o elucidar sobre quem seria a pessoa mais indicada para
entregar a proposta, sendo que, de pronto, Manuel Godinho lhe ordenou que
elaborasse a proposta que ele próprio a faria chegar em mão a José
Penedos.

1017.º No dia 12 de Março de 2009, Namércio Cunha enviou um e-mail a


Paulo Penedos com a proposta da “02”.

1018.º No dia 13 de Março de 2009, pelas 17h20, Paulo Penedos


assegurou a Namércio Cunha que a proposta que lhe enviara seria entregue,
em mão, a seu Pai. (Confrontar com Produto 1518 do Alvo 38250PM).

1019.º Neste mesmo dia, em hora não concretamente apurada, mas


posterior às 17h20 e anterior às 20h35, Paulo Penedos entregou a seu Pai a
proposta da “O2”. (vide Ap. AE29, fls. 92 a 100 e Ap. AE9, fls. 78).

1020.º Na posse da proposta, José Penedos discutiu-a com Victor


Baptista, tendo concluído que, de modo a que não se colocassem quaisquer
conjecturas desfavoráveis sobre a sua probidade e imparcialidade, deveria

1287
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

ser a REN a tomar a iniciativa de empreender uma consulta pública com o


alcance e nos termos propostos.

1021.º Logo após, pelas 20h35, Paulo Penedos transmitiu a Namércio


Cunha que, de modo a que não se suscitassem suspeições, seria a REN a
tomar a iniciativa de empreender uma consulta pública com o alcance e nos
termos propostos pela “O2”. (Confrontar com Produto 1537 do Alvo
38250PM).

1022.º No dia 16 de Março de 2009, pelas 15h08, Victor Baptista, sem


referir o proponente, deu a conta a Andrade Lopes de ter chegado ao seu
conhecimento uma proposta para avaliar os resíduos existentes na Central
da Tapada do Outeiro. (vide Ap. AE9, fls. 78).

1023.º Andrade Lopes comprometeu-se a enviar-lhe um relatório de 2007


sobre os resíduos existentes na Central da Tapada do Outeiro, pois ainda
não tinha na sua posse a actualização de 2008 elaborada por Francisco
Parada e Domingos Correia.

1024.º Momentos depois, Andrade Lopes enviou um e-mail a Victor


Baptista contendo o relatório de 2007 sobre os resíduos existentes na
Central da Tapada do Outeiro e demais elementos de que dispunha sobre o
assunto.

1025.º Na posse daquele documento e demais elementos, Victor Baptista


transmitiu-os a José Penedos, que, por sua vez, os endossou a Paulo
Penedos.

1026.º No dia 17 de Março de 2009, pelas 09h57, Paulo Penedos


asseverou a Namercio Cunha estar em marcha a apreciação e consideração

1288
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

da proposta apresentada pela “O2”. (Confrontar com Produto 1671 do Alvo


38250PM).

1027.º Na posse desta informação, no dia seguinte, pelas 17h53,


Namércio Cunha deu-a a conhecer a Manuel Godinho. (Confrontar com
Produto 1833 do Alvo 38250PM).

1028.º No dia 18 de Março de 2009, Paulo Penedos solicitou 15.000,00€


a Manuel Godinho. (Confrontar com Produto 4424 do Alvo 1T167PM).

1029.º No dia 20 de Março de 2009, no período de tempo compreendido


entre as 16h46 e as 17h56, Manuel Godinho e Paulo Penedos estiveram
reunidos nas instalações da “SCI”, sitas na Zona Industrial de Taboeira, em
Aveiro, espaço temporal no qual Manuel Godinho lhe entregou um cheque no
valor de 15.000,00€. (vide RDE de fls. 2065 a 2070).

1030.º No dia 26 de Março de 2009, em hora não concretamente


apurada, mas anterior às 15h09, José Penedos garantiu a Paulo Penedos ter
ordenado que fosse iniciada a apreciação e consideração da proposta
apresentada pela “O2” relativa à Central da Tapada do Outeiro.

1031.º No dia 26 de Março de 2009, pelas 15h09, Paulo Penedos


asseverou a Manuel Godinho ter alcançado junto de seu Pai a certeza do
começo da apreciação e consideração da proposta apresentada pela “O2”
relativa à Central da Tapada do Outeiro. (Confrontar com Produto 5110 do
Alvo 1T167PM).

1032.º No dia 28 de Março de 2009, em hora não concretamente apurada,


mas anterior às 12h11, Manuel Godinho encontrou-se com Paulo Penedos,
em Aveiro, ocasião em que lhe entregou um cheque no valor de
30.000,00€.(Confrontar com os Produtos 5110 e 5228 do Alvo 1T167PM).

1289
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

1033.º No dia 31 de Março de 2009, na sequência dos contactos que havia


entabulado com Victor Baptista, Andrade Lopes elaborou a informação
GMMC-MSP 5/2009, solicitando aprovação superior para adjudicar à
empresa “CAFLIXA” os trabalhos de recolha, transporte, separação e
acomodação dos resíduos que se encontravam na Central da Tapada do
Outeiro, por um preço estimado até quinze mil euros, os quais seriam,
posteriormente, removidos para destino final pelas empresas certificadas
pela REN (CESPA, O2 e AUTO-VILA). (vide Ap. AE9, fls. 82 a 85).

1034.º Em data não concretamente apurada, mas situada entre o dia 31


de Março e as 09h00 do dia 01 de Abril de 2009, Victor Baptista comunicou a
José Penedos aquela informação, o qual, por sua vez, de pronto, a cedeu a
Paulo Penedos.

1035.º No dia 01 de Abril de 2009, pelas 09h00, Paulo Penedos transmitiu a


Manuel Godinho a novidade que o seu Pai lhe anunciara, acrescentando que
agora iria ser consultado. (Confrontar com Produto 5493 do Alvo 1T167PM e
Ap. AE9, fls. 71 a 120 e Relatório da PJ de fls. 23935 e ss.).

1036.º No dia 03 de Abril de 2009, Maria José Clara, directora da divisão de


Gestor de Mercados, autorizou a realização dos trabalhos para os quais
Andrade Lopes havia suscitado aprovação. (vide Ap. AE9, fls. 85 a 87).

1037.º No dia 07 de Abril de 2009, realizou-se uma reunião preparatória do


início dos trabalhos com a “CAFLIXA”. (vide Ap. AE9, fls. 83).

1038.º Contudo, em data não concretamente apurada, mas anterior a 15 de


Abril de 2009, a “CAFLIXA” veio a revelar a sua indisponibilidade para dar
satisfação imediata à realização dos trabalhos de arrumação dos resíduos
devido aos compromissos que tinha assumido com a Douro Litoral Obras

1290
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Especiais, ACE, para a construção da nova ponte sobre o Rio Douro. (vide
Ap. AE9, fls. 85vº)

1039.º Perante a indisponibilidade manifestada, foi decidido dar sem


efeito a adjudicação anterior e, bem assim, consultar as empresas com as
quais a REN possuía contratos de recolha de resíduos.

1040.º No dia 08 de Abril de 2009, pelas 09h36, Manuel Godinho instruiu


Namércio Cunha a oferecer, por ocasião da Páscoa, um pão de ló a José
Penedos, o qual devia enviar por intermédio de Paulo Penedos. (Confrontar
com Produto 6150 do Alvo 1T167PM).

1041.º Logo após, Namércio Cunha elucidou Manuel Godinho que não
iria enviar idêntica oferenda para António Mexia, pois que apenas se
destinava a “quem estava mais próximo”, ao que aquele concordou.

1042.º No dia 13 de Abril de 2009, Francisco Parada enviou um e-mail a


Vicente Martins com o seguinte teor:

“Existem dois tipos de abordagens na REN sobre a responsabilidade na


gestão de resíduos:
Responsabilidade da REN sobre todos os resíduos gerados nas suas
actividades, incluindo obras.
Esta é a metodologia é utilizada pela Rede Eléctrica Nacional e REN
Serviços (…), e que é corporizada através de um contrato de gestão de
resíduos de gestão administrativa centralizada na CSSG e cujo término se
perspectiva para Junho de 2009.
Este contrato de gestão de resíduos sofreu várias adaptações ao longo dos
anos, em particular na sua abrangência em termos de locais de recolha e
resíduos a recolher.

1291
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Neste momento os resíduos de construção e demolição (LER 17 ou aqueles


produzidos em obras de construção e demolição) estão incluídos neste
contrato, celebrado no final de 2005.
O controlo operacional sobre os resíduos gerados em obra é actualmente
assegurado pelas equipas de supervisão contratadas para o efeito, ou
colaboradores da REN.
A Rede Eléctrica Nacional reporta todos estes resíduos no SIRAPA (Sistema
Informático de Registo da APA) pois é responsável pela sua gestão em
qualquer circunstância.
Responsabilidade da REN sobre todos os resíduos gerados nas suas
actividades, excluindo os gerados em prestações de serviços e obras que
são responsabilidade do prestadores de serviços e empreiteiros.
Nesta situação, os prestadores de serviço ou empreiteiros são responsáveis
pela gestão dos resíduos gerados nas actividades que desenvolvem para a
REN (ex: as Guias de Acompanhamento de Resíduos – GAR - são
preenchidas em nome do empreiteiro/prestador de serviços).
O controlo operacional sobre a gestão dos resíduos produzidos nestas
circunstâncias é assegurada pelos prestadores de serviços/empreiteiros,
cuja actuação é fiscalizada para as grandes obras de construção por
equipas autónomas de supervisão ambiental que são contratadas para o
efeito.
A REN Gasodutos não tem informação quantitativa sobre os resíduos
produzidos em contexto de empreitada e prestação de serviço, e por essa
razão não os regista no SI RAPA (só regista os resíduos produzidos na sua
actividade gerados pelos seus colaboradores), mas também não podia pois
estes são registados como produzidos pela entidade executante.
Esta distinta realidade existente na empresa apresenta vantagens e
desvantagens:
Gestão centralizada de todos os resíduos (opção Rede Eléctrica Nacional)

1292
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Vantagem: Melhor controlo operacional e garantia de conformidade legal do


destino final adequado para cada resíduo (situação várias vezes referida por
exemplo pelas equipas auditoras da APCER).
Desvantagem: Ocupação elevada de tempo e recursos com a gestão do
contrato, a que acresce o aumento de custos directamente relacionada com
o aumento de resíduos produzidos em obra.
Gestão dos resíduos de obras por parte dos empreiteiros (opção REN
Gasodutos)
Vantagem: redução da ocupação de recursos internos com a gestão dos
resíduos gerados em obra, e uma "aparente" não consideração dos custos
com a gestão dos resíduos nos custos ambientais da REN (aparente porque
o custos de gestão de resíduos pelos empreiteiros poderá estar incorporado
noutros custos relacionados com as empreitadas ou prestações de serviço)
Desvantagem: menor controlo operacional sobre o destino final dos resíduos
geridos em obra, em particular quando estes obras ou empreitadas não são
acompanhadas em permanência por colaboradores da REN ou equipas de
fiscalização contratadas para o efeito.
Desde 2005, altura em que foi adjudicado o contrato de gestão de resíduos
actualmente em vigor, vários factos foram surgindo:
Publicação de nova legislação relativa aos resíduos de construção e
demolição (resíduos código LER 17 ou gerados em empreitadas) que obriga,
por exemplo, à elaboração de um Plano de Prevenção e Gestão dos
resíduos de construção e demolição logo em fase de projecto;
Aumento significativo de operadores de resíduos licenciados para diversas
fileiras de resíduos, alguns dos quais em sistemas de gestão unificados
como por exemplo a SOGILUB para os óleos usados (sociedade gestora
que a REN já utiliza), cuja recolha não tem encargos para a REN;
Aumento do número de obras com equipas de supervisão/fiscalização de
ambiente contratadas pera REN para este efeito;

1293
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Aumento muito significativo dos resíduos de construção e demolição


gerados em obra (grandes remodelações e instalação de cabos
subterrâneos), representando mais de 90% da quantidade total de resíduos
produzidos pela Rede Eléctrica Nacional, e um menor contributo dos
resíduos metálicos e consequente diminuição dos proveitos económicos com
a sua gestão.”
Prosseguiu recordando o sentido do parecer que havia emitido aquando da
anterior prorrogação do contrato e sugerindo que “(…) uma futura
metodologia de gestão de resíduos em todas as empresas da REN, deverá
passar por uma solução em que os resíduos do LER 17 (resíduos
construção e demolição, mas também resíduos metálicos) gerados em obras
e empreitados deverão passar a ser geridos pelos prestadores, devendo a
REN garantir um controlo efectivo e eficaz sobre o processo através de
equipas de fiscalização e supervisão internas ou externas (contratadas p.e.
para supervisão ambiental) possibilitando o cumprimento da legislação
nacional nesta matéria. Os restantes resíduos produzidos pela REN ou por
outros prestadores de serviço que não em empreitadas, continuariam a ser
geridos pela REN, mas num contrato que abrangesse todas as empresas do
grupo”.
Concluiu que “Esta solução deverá ser validada pelas áreas operacionais
das várias empresas do grupo atendendo às implicações actuais e futuras
que esta metodologia poderá ter nas adjudicações já realizadas ou a
realizar. Atendendo a este facto, e à necessária definição da forma de
controlo operacional da gestão de resíduos de construção e demolição
(código LER 17) a realizar pelos prestadores de serviços, sou de opinião que
se deve iniciar a elaboração do Caderno de Encargos para lançamento de
um novo concurso após aprovação desta metodologia por todas as
empresas (…).” (vide Ap. AE8, fls. 141 a 143).

1294
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

1043.º Em data não concretamente apuradas, mas posterior a 07 de Abril


e anterior a 15 de Abril de 2009, Victor Baptista transmitiu a José Penedos
um e-mail interno da REN sobre as condições e os termos da consulta
pública a promover por aquela empresa para adjudicação de uma prestação
de serviços nas instalações afectas à desactivada Central Termoeléctrica da
Tapada do Outeiro.

1044.º Em data não concretamente apuradas, mas posterior a 01 de Abril


de 2009 e anterior a 15 de Abril de 2009, José Penedos deu a conhecer a
Paulo Penedos um e-mail interno da REN sobre as condições e os termos da
consulta pública a promover por aquela empresa para adjudicação de uma
prestação de serviços nas instalações afectas à desactivada Central
Termoeléctrica da Tapada do Outeiro.

1045.º No dia 15 de Abril de 2009, pelas 15h21, Paulo Penedos fez


saber a Manuel Godinho ter acedido e lido o e-mail supra aludido.
(Confrontar com Produto 6753 do Alvo 1T167PM).

1046.º No dia 17 de Abril de 2009, pelas 19h41, Namércio Cunha deu


conta a Paulo Penedos de ter recebido um telefonema da REN informando-o
que, na semana seguinte, iriam enviar as condições e os termos da consulta
pública para adjudicação de uma prestação de serviços de recolha e
acondicionamento dos resíduos existentes nas instalações afectas à
desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do Outeiro, bem como do dia
designado para a realização de uma visita àquelas instalações. (vide Ap.
AE9, fls. 90).

1047.º Paulo Penedos afirmou estar já ciente daqueles


desenvolvimentos.

1295
S. R.

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1048.º No dia 24 de Abril de 2009, a REN, por intermédio de Andrade


Lopes, enviou um e-mail à “O2”, “CESPA” e “Auto-Vila”, empresas por si
qualificadas e com as quais mantinha contratos de gestão de resíduos,
solicitando a apresentação de orçamentos para uma prestação de serviços
de recolha e acondicionamento dos resíduos existentes nas instalações
afectas à desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do Outeiro. (vide
Ap. AE3, fls. 28 a 35).

1049.º As propostas deviam ser enviadas para o edifício da REN em


Sacavém.

1050.º No dia 27 de Abril, cerca das 08h30, Paulo Penedos deslocou-se


às instalações da “SCI”, sitas na Zona Industrial de Taboeira, em Aveiro.
(Confrontar com Produto 7839 do Alvo 1T167PM).

1051.º No dia 29 de Abril 2009, Manuel Godinho, Namércio Cunha e


João Godinho deslocaram-se à Tapada do Outeiro, tendo realizado uma
visita às instalações da REN aí existentes na companhia de Andrade Lopes,
a fim de observarem a natureza, quantidade e variedade dos resíduos, de
modo a disponibilizarem os contentores apropriados e em quantidade
suficiente para o seu acondicionamento. (Confrontar com os Produtos 7959 e
8006 do Alvo 1T167PM).

1052.º Idênticas visitas foram efectuadas pelos responsáveis pelas


demais empresas convidadas – CESPA e Auto-Vila.

1053.º Nesse mesmo dia, pelas 16h46, Manuel Godinho, instado por
Paulo Penedos sobre o modo como havia decorrido a visita à Tapada do
Outeiro, manifestou-lhe o seu interesse em acrescentar aos trabalhos que a
REN se propunha adjudicar a demolição das infra-estruturas metálicas e de
betão ali existentes. (Confrontar com Produto 8040 do Alvo 1T167PM).

1296
S. R.

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1054.º Mais tarde, pelas 18h37, Namércio Cunha transmitiu a Manuel


Godinho estar convicto que Andrade Lopes não estaria na disposição de
alargar o âmbito da consulta relativa às instalações afectas à desactivada
Central Termoeléctrica da Tapada do Outeiro, por forma a nela incluir a
prestação de serviços de recolha e descontaminação das cinzas e a
demolição das infra-estruturas metálicas e de betão ali existentes.
(Confrontar com Produto 8045 do Alvo 1T167PM).

1055.º Manuel Godinho retorquiu estar na posse de informação veiculada por


Paulo Penedos de sentido contrário.

1056.º Por fim, discutiram os termos da proposta a apresentar, tendo


Namércio Cunha aludido a uma eventual dificuldade decorrente da não
habilitação legal das empresas de Manuel Godinho para receber as cinzas,
ao que Manuel Godinho lhe disse para as classificar com um código LER
para cuja recepção estivessem habilitados.

1057.º Mais lhe deu a conhecer a identidade das empresas consultadas no


âmbito dos trabalhos que a REN se propunha realizar na Tapada do Outeiro
– CESPA e Auto-Vila.

1058.º No dia 30 de Abril de 2009, cerca das 10h30, Manuel Godinho e


Paulo Penedos encontraram-se num Posto de Abastecimento de
Combustíveis da REPSOL, sito em Lisboa, tendo discutido os termos da
proposta a apresentar pela “02” relativamente às instalações da REN na
Tapada do Outeiro, mormente quanto à prestação de serviços de recolha e
descontaminação das cinzas e à demolição das infra-estruturas metálicas e
de betão ali existentes. (Confrontar com Produto 8096 do Alvo 1T167PM).

1059.º Em data não concretamente apurada, mas posterior a 30 de Abril de


2009 e anterior a 03 de Maio de 2009, Victor Baptista assegurou a José

1297
S. R.

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Penedos a viabilidade da proposta de extensão da prestação de serviços a


realizar na Tapada do Outeiro apresentada por Manuel Godinho.

1060.º Em data não concretamente apurada, mas posterior a 30 de Abril de


2009 e anterior a 03 de Maio de 2009, José Penedos garantiu a Paulo
Penedos a sua adesão à proposta de extensão da prestação de serviços a
realizar na Tapada do Outeiro apresentada por Manuel Godinho.

1061.º No dia 03 de Maio de 2009, pelas 22h58, Paulo Penedos comunicou a


Namércio Cunha a aceitação por seu Pai da pretensão de Manuel Godinho
em incluir a prestação de serviços de recolha e descontaminação de
resíduos e a demolição das infra-estruturas metálicas e de betão existentes
nas instalações da REN na Tapada do Outeiro. (Confrontar com Produto
5017 do Alvo 38250PM).

1062.º Mais lhe solicitou um encontro para lhe transmitir os termos em que
devia redigir a proposta a apresentar à REN.

1063.º No dia 04 de Maio de 2009, Vicente Martins concordando com o teor


da proposta que Francisco Parada lhe enviara a 13 de Abril de 2009, na
mensagem que remeteu aos directores das divisões da REN envolvidas na
gestão de resíduos, sugeriu a preparação imediata de um concurso para a
prestação de serviços de gestão dos resíduos industriais produzidos pelas
várias empresas do Grupo, a partir de 1 de Outubro, com excepção dos
resíduos gerados em obras e empreitadas (resíduos construção e demolição
e resíduos metálicos), os quais passariam a ser geridos pelos empreiteiros,
tendo em vista a garantia do cumprimento da legislação nacional nesta
matéria. (vide Ap. AE8, fls. 140).

1064.º Esta sugestão mereceu acolhimento por parte de Jorge Liça, director
da Divisão de Equipamento, a partir da qual são lançadas as obras e

1298
S. R.

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empreitadas de construção da REN e, como tal, geradora de grande parte


dos resíduos produzidos pela REN, e de Luís Oliveira Pinto, responsável
pelo departamento SVSG responsável pela gestão administrativa do
contrato. (vide Ap. AE8, fls. 143 e 144).

1065.º No dia 04 de Maio, cerca das 16h00, Paulo Penedos encontrou-se


com Namércio Cunha nas instalações da PORTUGAL TELECOM, sitas em
Lisboa. (Confrontar com os Produtos 5083, 5095, 5140 e 5191 do Alvo
38250PM).

1066.º Nesta reunião, ao abordarem os termos da proposta a apresentar à


REN, Paulo Penedos apercebeu-se que as cinzas seriam sempre um custo
para aquela empresa, por inexistir valorização pela sua recepção.

1067.º Nesse momento, deu nota a Namércio Cunha que o seu Pai havia
aceite a inclusão da prestação de serviços de recolha e descontaminação de
resíduos no pressuposto da obtenção pela REN de mais-valias com as
cinzas.

1068.º Perante a alteração das premissas que tinham fundado o parecer


de seu Pai, informou Namércio Cunha que carecia de com ele falar, por
forma a aquilatar da melhor forma de enquadrar a proposta de extensão
apresentada por Manuel Godinho.

1069.º Logo após, pelas 17h11, Namércio Cunha transmitiu a Manuel


Godinho a conversa que entabulara com Paulo Penedos. (Confrontar com
Produto 5095 do Alvo 38250PM).

1070.º Face ao teor daquela conversação, discutiram a inserção das


cinzas na proposta a apresentar, tendo concluído que na ignorância da

1299
S. R.

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natureza daquele resíduo e, como tal, da sua habilitação legal para o seu
encaminhamento, seria preferível ponderar mais demoradamente a questão.

1071.º Namércio Cunha sugeriu, ainda, a Manuel Godinho a elaboração


da proposta e o seu envio, posterior, a Paulo Penedos para que este a
colocasse à consideração e apreciação de seu Pai.

1072.º Em hora não concretamente apurada, mas posterior às 16h00 e


anterior às 18h36, Paulo Penedos relatou a José Penedos o encontro que
mantivera com Namércio Cunha, dando-lhe a conhecer que as cinzas
constituiriam sempre um custo para a REN.

1073.º Acto contínuo, suscitou-lhe a possibilidade do envio de uma


proposta assegurando, sem custos para a REN, a descontaminação e
desmantelamento das infra-estruturas metálicas e de betão, assim como a
recolha e acondicionamento dos resíduos, sendo os resíduos daí resultantes
encaminhados ao abrigo do contrato de gestão global de resíduos celebrado
entre a REN e a “O2”.

1074.º Após aquilatar junto de Victor Baptista da sua exequibilidade,


José Penedos deu o seu assentimento ao envio da proposta naqueles
termos e condições.

1075.º Mais tarde, pelas 18h36, dando-lhe conta de para tanto ter obtido
o acordo de seu Pai, Paulo Penedos instruiu Manuel Godinho a apresentar
uma proposta assegurando, sem custos para a REN, a descontaminação e
desmantelamento das infra-estruturas metálicas e de betão, assim como a
recolha e acondicionamento dos resíduos, sendo os resíduos daí resultantes
encaminhados ao abrigo do contrato de gestão global de resíduos celebrado
entre a REN e a “O2”. (Confrontar com Produto 8446 do Alvo 1T167PM).

1300
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

1076.º Face à ida do arguido José Penedos para o estrangeiro no dia


seguinte, Manuel Godinho asseverou-lhe o encaminhamento da proposta
antes daquela ausência.

1077.º Sete minutos volvidos, Paulo Penedos confirmou a Manuel


Godinho ter obtido de seu Pai anuência para o envio da proposta nos termos
e condições por si anteriormente sugeridos. (Confrontar com Produto 8450
do Alvo 1T167PM).

1078.º Logo após, narrou-lhe o texto da proposta, o qual devia aludir à


visita realizada às instalações da REN na Tapada do Outeiro, na sequência
da qual e por ter sido constatada a necessidade de uma intervenção mais
profunda que a solicitada, a “O2” se propunha realizar uma prestação de
serviços assegurando, sem custos para a REN, a descontaminação e
desmantelamento das infra-estruturas metálicas e de betão, assim como a
recolha e acondicionamento dos resíduos, sendo os resíduos daí resultantes
encaminhados ao abrigo do contrato de gestão global de resíduos celebrado
entre a REN e a “O2”.

1079.º Dois minutos volvidos, Manuel Godinho ordenou a Namércio


Cunha que redigisse, com urgência, até à manhã do dia seguinte, tal qual
Paulo Penedos lhe havia ditado, a proposta de prestação de serviços a
apresentar pela “O2”, uma vez que José Penedos iria para o estrangeiro no
dia seguinte e apenas regressaria no dia 08 de Maio de 2009. (Confrontar
com Produto 8451 do Alvo 1T167PM).

1080.º No dia 05 de Maio, cerca das 11h25, Namércio Cunha enviou um


e-mail para a conta de correio electrónico de Paulo Penedos com o conteúdo
da proposta a apresentar pela “O2” relativamente à prestação de serviços a
realizar nas instalações da Tapada do Outeiro assegurando, sem custos para
a REN, a descontaminação e desmantelamento das infra-estruturas

1301
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

metálicas e de betão, assim como a recolha e acondicionamento dos


resíduos, sendo os resíduos daí resultantes encaminhados ao abrigo do
contrato de gestão global de resíduos celebrado entre a REN e a “O2”.

1081.º Paulo Penedos, após introduzir as correcções que entendeu


necessárias, em hora não concretamente apurada, mas posterior às 11h25 e
anterior às 12h58, reenviou a proposta assim modificada para Namércio
Cunha. (Confrontar com os Produtos 5191 e 5461 do Alvo 38250PM e
produto 8494 do Alvo 1T167PM).

1082.º De imediato, Namércio Cunha enviou à REN, na pessoa de


Andrade Lopes, com conhecimento a Victor Baptista, proposta da “O2”
revelando disponibilidade para assegurar, sem custos para aquela empresa,
uma prestação de serviços, a realizar nas instalações da Tapada do Outeiro,
de descontaminação e desmantelamento das infra-estruturas metálicas e de
betão, assim como a recolha e acondicionamento dos resíduos. (vide Ap.
AE9, fls. 134).

1083.º Aduziu que os resíduos resultantes daqueles trabalhos seriam


encaminhados ao abrigo do contrato de gestão global em vigor firmado entre
a “O2” e a “REN”.

1084.º No dia seguinte, Namércio Cunha, conhecedor que Andrade


Lopes seria chamado a pronunciar-se tecnicamente sobre o proposto, deu-
lhe conta do envio e dos termos da proposta apresentada pela “O2”
manifestando disponibilidade para assegurar, sem custos para aquela
empresa, uma prestação de serviços, a realizar nas instalações da Tapada
do Outeiro, de descontaminação e desmantelamento das infra-estruturas
metálicas e de betão, assim como a recolha e acondicionamento dos
resíduos, sendo os resíduos daí resultantes encaminhados ao abrigo do

1302
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

contrato de gestão global de resíduos celebrado entre a REN e a “O2”. (vide


Ap. AE9, fls. 133).

1085.º Por forma a cativar a sua simpatia para o proposto, concluiu


qualificando como “tentadora” para a REN a sugestão apresentada.

1086.º No dia 09 de Maio de 2009, pelas 17h26, Namércio Cunha, para


tal indagado por Paulo Penedos, garantiu-lhe que, na conversa que
mantivera com Andrade Lopes, não mencionara a remoção das cinzas, mas
que a “O2” permanecia interessada na prestação daquele serviço no quadro
de uma outra consulta. (Confrontar com Produto 5626 do Alvo 38250PM).

1087.º Paulo Penedos revelou-lhe, ainda, que na conversa que pretendia


ter com o seu Pai, o iria esclarecer que quando se aludia na proposta
enviada à descontaminação das infra-estruturas se incluía o próprio terreno
onde aquela se achava implantada, bem como que, caso fosse necessário
avançar para a remoção das cinzas, a “O2” estava disponível.

1088.º No dia 10 de Maio de 2009, em hora não concretamente apurada,


José Penedos e Victor Baptista examinaram a proposta de extensão da
prestação de serviços apresentada pela “O2”, ao que concluíram pela
inexistência de obstáculos à sua aprovação.

1089.º No dia 11 de Maio de 2009, pelas 14h23, Paulo Penedos garantiu a


Manuel Godinho que o seu Pai analisara, no dia anterior, a proposta de
extensão da prestação de serviços apresentada pela “O2” e que iria merecer
resposta positiva. (Confrontar com Produto 9009 do Alvo 1T167PM).

1090.º Em data e hora não concretamente apuradas, mas situadas entre as


14h23 de 11 de Maio e as 10h37 do dia 12 de Maio de 2009, José Penedos

1303
S. R.

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transmitiu a Paulo Penedos que a proposta enviada pela “O2” ainda não
chegara a Victor Baptista.

1091.º No dia 12 de Maio de 2009, pelas 10h37, Paulo Penedos solicitou a


Namércio Cunha que indagasse junto de Andrade Lopes do recebimento da
proposta, conquanto ainda não havia sido presente a Victor Baptista para
apreciação formal. (Confrontar com Produto 5730 do Alvo 38250PM).

1092.º No dia 12 de Maio de 2009, pelas 10h39, Paulo Penedos alertou


Namércio Cunha para o carácter absolutamente sigiloso da sua intervenção
e da de seu Pai no processo relativo à Tapada do Outeiro, nomeadamente
que não os referisse nos contactos com Andrade Lopes. (Confrontar com
Produto 5731 do Alvo 38250PM).

1093.º No dia 12 de Maio de 2009, pelas 15h06, Namércio Cunha indagou


Andrade Lopes sobre a recepção da proposta da “O2”, ao que este lhe disse
sobre ela ir elaborar parecer para, posterior, apreciação pelo Conselho de
Administração, sendo certo que a considerava prematura por existir interesse
na aquisição e recuperação da Central, para além da necessidade de
consultar a “Turbogás” sobre o assunto. (Confrontar com Produto 5755 do
Alvo 38250PM).

1094.º Namércio Cunha apelou para que o seu parecer não inviabilizasse a
proposta da “O2”.

1095.º Mais tarde, pelas 17h09, Namércio Cunha relatou a Paulo Penedos a
conversa mantida com Andrade Lopes. (Confrontar com Produto 5773 do
Alvo 38250PM).

1096.º No dia 15 de Maio de 2009, Andrade Lopes emitiu parecer sobre a


proposta da “02”. (vide Ap. AE9, fls. 140).

1304
S. R.

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1097.º Neste documento, informação GMMG-MSP 8/2009, Andrade Lopes


mencionou negociações em curso com vista à alienação das instalações
afectas à desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do Outeiro, sendo
que entendia ser de auscultar os compradores quanto ao seu interesse no
desmantelamento das infra-estruturas metálicas e de betão.

1098.º Mais aludiu às medidas de protecção legal a que estão sujeitas


aquelas instalações no âmbito do Plano de Ordenamento da Albufeira de
Crestuma – Lever, após a sua qualificação, em 21 de Dezembro de 2007,
como de especial interesse cultural, as quais aconselhariam prudência na
permissão de acções de desmantelamentos e demolições imediatas.

1099.º Na verdade, a Resolução do Conselho de Ministros n.º 187/2007, de


21 de Dezembro, determinou que as áreas afectas à central termoeléctrica
da Tapada do Outeiro deviam ser objecto de um projecto integrado de
recuperação do espaço, sendo permitidas as obras de edificação que
visassem a reconversão do espaço em unidades museológicas,
nomeadamente obras de reconstrução e de conservação das edificações
existentes em função do novo uso e, bem assim, de requalificação do espaço
exterior, através da construção de acessos e parques de estacionamento,
bem como de intervenções de integração paisagística. (vide DR, 1ª Série, nº
246 – Resolução do Conselho de Ministros nº 187/07, de 21/12).

1100.º No dia 15 de Maio de 2009, pelas 17h01, Manuel Godinho afiançou a


Namércio Cunha ter obtido de Paulo Penedos a garantia da aceitação da
proposta. (Confrontar com Produto 6305 do Alvo 38250PM).

1101.º Namércio Cunha narrou-lhe a conversa travada com Andrade Lopes,


ao que Manuel Godinho o instruiu a falar com aquele engenheiro aquilatando
do sentido do seu parecer.

1305
S. R.

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1102.º Seguidamente, pelas 17h09, cumprindo os ditames de Manuel


Godinho, Namércio Cunha contactou telefonicamente Andrade Lopes, ao
que este lhe confidenciou que havia já emitido parecer sobre a proposta da
“02” e lhe narrou o seu conteúdo. (Confrontar com Produto 6311 do Alvo
38250PM).

1103.º No dia 15 de Maio de 2009, pelas 17h23, Paulo Penedos comunicou a


Namércio Cunha o acolhimento da proposta da “O2”, sendo certo que, no dia
17 de Maio de 2009, se iria encontrar com seu Pai para saber os exactos
termos daquela decisão. (Confrontar com Produto 6315 do Alvo 38250PM).

1104.º No dia 19 de Maio de 2009, pelas 18h36, Mónica Gandra,


funcionária da “CESPA”, propôs a Namércio Cunha que concertassem, como
habitualmente, as propostas a apresentar na consulta a promover pela REN
relativamente à prestação de serviços de recolha e acondicionamento dos
resíduos existentes nas instalações afectas à desactivada Central
Termoeléctrica da Tapada do Outeiro. (Confrontar com Produto 6714 do Alvo
38250PM).

1105.º No dia 21 de Maio de 2009, entre as 11h30 e as 13h00, Victor


Baptista visitou as instalações da Central da Tapada do Outeiro, na
companhia de Andrade Lopes. (vide Ap. AE9, fls. 165).

1106.º Neste mesmo dia, em hora não concretamente apurada, mas


anterior às 19h05, após previamente consensualizar o seu conteúdo com
José Penedos, Victor Baptista exarou despacho no sentido do
prosseguimento do acondicionamento e recolha dos resíduos prioritários.
(vide Ap. AE9, fls. 145 e 187).

1107.º Mais ordenou que, relativamente à proposta da “O2”, não


obstante o parecer de Andrade Lopes e o conhecimento que os membros da

1306
S. R.

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Divisão de Gestão de Mercados tinham das negociações com outras


entidades para a alienação das instalações da Central da Tapada do Outeiro,
fosse dado início ao processo, analisando a possibilidade de separar as
actividades de descontaminação e desmantelamento, dando conhecimento
ao departamento de ambiente para que se pronunciasse.

1108.º Logo após, em hora não concretamente apurada, mas anterior às


19h05, José Penedos deu a conhecer o sentido da decisão de Victor
Baptista.

1109.º Pelas 19h05, Paulo Penedos, elucidando-o que seriam dois


processos distintos, reiterou a Namércio Cunha quer a aceitação da proposta
de extensão, quer a adjudicação da consulta relativa à prestação de serviços
de recolha e acondicionamento dos resíduos existentes nas instalações
afectas à desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do Outeiro.
(Confrontar com Produto 6943 do Alvo 38250PM).

1110.º No dia 23 de Maio de 2009, João Godinho deslocou-se ao funeral


da sogra de Paulo Penedos, ocasião em que, seguindo ordens e instruções
de Manuel Godinho, fez questão de cumprimentar pessoalmente José
Penedos.

1111.º No dia 25 de Maio de 2009, pelas 12h18, Paulo Penedos


revalidou a Manuel Godinho quer a aceitação da proposta de extensão, quer
a adjudicação da consulta relativa à prestação de serviços de recolha e
acondicionamento dos resíduos existentes nas instalações afectas à
desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do Outeiro. (Confrontar com
Produto 10328 do Alvo 1T167PM).

1112.º Pelas 14h23, Namércio Cunha deu conta a Manuel Godinho que a
REN, por força da alteração legislativa introduzida pelo Decreto-Lei n.º 46/08,

1307
S. R.

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de 12 de Março, estava a integrar a gestão dos resíduos de construção e


demolição nos cadernos de encargos das empreitadas por si promovidas,
cabendo aos empreiteiros subcontratar as empresas habilitadas para aquela
gestão. (Confrontar com Produto 7051 do Alvo 38250PM).

1113.º Manuel Godinho manifestou o seu profundo desagrado e ordenou-lhe


que contactasse, de imediato, Paulo Penedos.

1114.º Pelas 14h34, Namércio Cunha informou Manuel Godinho que havia já
transmitido a Paulo Penedos que a aludida alteração legislativa lesava os
interesses das suas empresas. (Confrontar com Produto 7055 do Alvo
38250PM).

1115.º Pelas 14h48, Manuel Godinho transmitiu a Paulo Penedos que a


mencionada alteração legislativa punha em causa a sobrevivência das suas
empresas. (Confrontar com Produto 10354 do Alvo 1T167PM).

1116.º Pelas 14h55, Namércio Cunha esclareceu que os resíduos de


construção e demolição eram recolhidos pela CESPA, mas que a ser
adoptada esta solução cessaria a obrigação de os encaminhar ao abrigo do
contrato de gestão global de resíduos em vigor. (Confrontar com Produto
7059 do Alvo 38250PM).

1117.º Com efeito, a REN adjudicou à CESPA o contrato relativo à gestão


global dos resíduos de construção e demolição por si produzidos, a qual, por
sua vez, subcontratou à “02” a prestação de serviços de recolha e
encaminhamento.

1118.º De pronto, em hora não concretamente apurada, mas posterior às


14h48 e anterior às 15h37, Paulo Penedos indagou junto de seu Pai quais os
efeitos da alteração legislativa introduzida pelo Decreto-Lei n.º 46/08, de 12

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de Março, no contrato de gestão global de resíduos produzidos pela REN


celebrado com a “O2”.

1119.º José Penedos afirmou desconhecer a citada alteração legislativa.

1120.º Não obstante, instruiu-o a dar a conhecer, formalmente, o problema à


REN através do envio de um e-mail sustentado que a entrega da gestão dos
resíduos de construção e demolição aos empreiteiros se achava
desconforme com o contrato de gestão global de resíduos.

1121.º Em seguida, pelas 15h37, Paulo Penedos narrou a Manuel Godinho a


conversa tida com seu Pai, ao que aquele lhe pediu que contactasse
Namércio Cunha. (Confrontar com Produto 10359 do Alvo 1T167PM).

1122.º Pelas 16h39, Paulo Penedos, seguindo a sugestão de seu Pai,


instruiu Namércio Cunha a enviar um fax ou um e-mail à REN dando conta
do sucedido e solicitando esclarecimentos. (Confrontar com os Produtos
1070 e 1076 do Alvo 39263M).

1123.º Logo após, não obstante as instruções que havia dado a Namércio
Cunha, Paulo Penedos redigiu uma minuta a ser enviada à REN pela “O2”,
expondo o acontecido, sustentado que a entrega da gestão dos resíduos de
construção e demolição aos empreiteiros se achava desconforme com o
contrato de gestão global de resíduos e solicitando esclarecimentos. (vide
Ap. AE21, fls. 27).

1124.º Em hora não concretamente apurada, mas posterior às 17h05 e


anterior às 18h07, Paulo Penedos enviou um e-mail para a caixa de correio
electrónico da empresa “Pedras Deslizantes” com a minuta supra referida.

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1125.º Namércio Cunha, tendo sido alertado por Paulo Penedos para o envio
daquele e-mail, solicitou a Elsa Almeida que o reencaminhasse para
Margarida Marques. (Confrontar com Produto 7081 do Alvo 38250PM).

1126.º Em seguida, pediu a Margarida Marques que lhe lesse o conteúdo e,


acto contínuo, após introduzir duas alterações meramente circunstanciais,
rogou-lhe que o vertesse para um fax a enviar à REN, na pessoa de Gerardo
Gonçalves, com conhecimento a Victor Baptista. (Confrontar com os
Produtos 7082 e 7084 do Alvo 38250PM).

1127.º Seguindo a sugestão de José Penedos, pelas 18h07, a “O2” enviou


um fax à REN, dirigido a Gerardo Gonçalves, com conhecimento a Victor
Baptista, expondo o acontecido, sustentado que a entrega da gestão dos
resíduos de construção e demolição aos empreiteiros se achava
desconforme com o contrato de gestão global de resíduos e solicitando
esclarecimentos.

1128.º Em data não concretamente apurada, mas posterior a 26 de Maio e


anterior a dia 28 de Maio de 2009, após no dia anterior ter sido informado por
Namércio Cunha que ainda não obtivera resposta ao fax enviado à REN,
Paulo Penedos obteve de seu Pai a certeza do seu recebimento e que
encetara diligências tendentes a perceber o que tinha sucedido. (Confrontar
com Produto 7261 do Alvo 38250PM).

1129.º No dia 28 de Maio de 2009, a REN, em resposta ao fax de 25 de


Maio, enviou um outro à “O2”, subscrito por Gerardo Gonçalves,
asseverando que a entrega da gestão dos resíduos de construção e
demolição aos empreiteiros respeitava a obras cujo arranque ocorreria
apenas em 2010, data em que o contrato de gestão global de resíduos
firmado entre a REN e a “O2” se acharia já findo (30 de Junho de 2009).
(vide Ap. AE21, fls. 28).

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1130.º De pronto, Namércio Cunha digitalizou este fax e enviou-o, via e-mail,
para Paulo Penedos. (Confrontar com o Produto 1543 do Alvo 39263M).

1131.º Após se inteirar do seu conteúdo, Paulo Penedos desvalorizou-o,


reconduzindo-o a uma mera defesa formal, à qual não deviam reagir, sob
pena de criarem aborrecimentos desnecessários com quadros intermédios
da REN.

1132.º Mais aproveitou o ensejo para assegurar a prorrogação do contrato de


gestão global de resíduos. (Confrontar com o Produto 1543 do Alvo
39263M).

1133.º No dia seguinte, João Sandes devido ao facto de se pretender


abranger todo o grupo REN, a preparação da consulta se encontrar em fase
embrionária, se pretender elaborar uma nova metodologia de gestão de
resíduos que serviria de base ao caderno de encargos do concurso e
existirem bastantes meios dos operadores dispersos por várias instalações,
sugeriu a prorrogação dos contratos com operadores de resíduos (CESPA,
O2, AUTOVILA) até ao final do ano de 2009. (vide Ap. AE1, fls. 172).

1134.º No dia 29 de Maio de 2009, cerca das 17h30, Manuel Godinho e


Paulo Penedos estiveram reunidos nas instalações da “SCI”, sitas na Zona
Industrial de Taboeira, em Aveiro. (Confrontar com Produto 10758 do Alvo
1T167PM).

1135.º Em Junho de 2009, a “O2” apresentou um talão de pesagem de 5.600


Kg referente a uma carga de cobre relativamente à guia de
acompanhamento modelo A n.º 11067213. (vide Ap. AE20, fls. 189 e 190 e
fls. 35).

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1136.º Este resíduo havia sido recolhido em Vermoim no quadro do contrato


de gestão global de resíduos firmado entre a REN e a “O2”.

1137.º Aí pesado, apresentou 9.000Kg.

1138.º Com esta conduta, Manuel Godinho e a “O2” causaram à REN um


prejuízo de 8.500,00€, relativo à diferença de peso valorizada a
2.500,00€/tonelada. (Vide Ap. AE20, fls. 189 e 190 e 35).

1139.º No dia 01 de Junho de 2009, a REN enviou à “O2” uma missiva,


firmada por Maria José Clara, manifestando o propósito de prosseguir com o
plano inicialmente traçado de acondicionamento e recolha de resíduos,
remetendo para momento posterior os trabalhos de descontaminação e
desmantelamento das infra-estruturas metálicas e de betão propostos pela
“O2”. (vide Ap. AE9, fls. 147vº e 148).

1140.º Esta carta foi assinada por Maria José Clara em obediência a
ordens expressas nesse sentido de Victor Baptista. (vide Ap. AE9, fls. 147vº
e 148, Ap. AE3, fls. 49 e Ap. AE28, fls. 153).

1141.º Em data não concretamente apurada, mas posterior a 01 de


Junho de 2009 e anterior a 13 de Junho do mesmo ano, José Penedos
entrou na posse desta missiva, a qual conservou até 28 de Outubro de 2009.
(vide Apenso Buscas A, de fls.12 e ss. ).

1142.º No dia 03 de Junho de 2009, a proposta de prorrogação do


contrato de gestão global de resíduos foi submetida à apreciação do
Administrador Rui Cartaxo, que, em 5 de Junho de 2009, a autorizou. (vide
Ap. AE8, fls. 152).

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1143.º Fê-lo genericamente, sem definição dos exactos termos em que


tal deveria ocorrer, designadamente o seu âmbito.

1144.º No dia 05 de Junho de 2009, pelas 21h47, José Penedos asseverou a


Paulo Penedos ter obtido de Vítor Baptista a informação de ter sido enviada
pela REN uma missiva de resposta à proposta de extensão apresentada pela
“02” sobre a Tapada do Outeiro. (Confrontar com Produto 2612 do Alvo
39263M).

1145.º No dia 06 de Junho de 2009, pelas 15h28, Paulo Penedos transmitiu


a Manuel Godinho ter sido enviada pela REN uma missiva de resposta à
proposta de extensão apresentada pela “02” sobre a Tapada do Outeiro.
(Confrontar com Produto 2655 do Alvo 39263M).

1146.º No dia 07 de Junho de 2009, a “O2” recebeu a missiva da REN supra


aludida, assinada por Maria José Clara.

1147.º Logo após, pelas 12h43, Namércio Cunha transmitiu a Paulo Penedos
o descontentamento de Manuel Godinho face ao conteúdo da carta recebida
da REN. (Confrontar com Produto 2772 do Alvo 39263M).

1148.º De imediato, Paulo Penedos reiterou-lhe o que lhe afirmara em 21 de


Maio de 2009 (pelas 19h05), fazendo-lhe sentir que a aceitação da proposta
apenas havia sido postergada e alertando-o para a necessidade manifestada
por seu Pai de serem observados os formalismos indispensáveis à não
criação de fragilidades. (Confrontar com Produto 383 do Alvo 39263M).

1149.º Acrescentou que a prestação de serviços a realizar na Tapada do


Outeiro seria constituída por três fases (na segunda e terceira entraria a
proposta da “O2”), sendo certo que José Penedos e Victor Baptista estariam

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a estudar a melhor forma de abordar as demais etapas e que para tanto


Victor Baptista se tinha deslocado à Tapada do Outeiro.

1150.º Concluiu assegurando-lhe a adjudicação à “O2” da consulta


relativa à prestação de serviços de recolha e acondicionamento dos resíduos
existentes nas instalações afectas à desactivada Central Termoeléctrica da
Tapada do Outeiro.

1151.º Pelas 16h21, Paulo Penedos contactou, de novo, Namércio


Cunha, asseverando-lhe ter estado a almoçar com o seu Pai, que lhe havia
confirmado tudo quanto lhe dissera pelas 12h43. (Confrontar com Produto
2782 do Alvo 39263M).

1152.º Aduziu ser necessário a entidade reguladora do sistema


energético reconhecer os custos com a proposta apresentada pela “O2”, sob
pena daquela prestação de serviços se assumir como um encargo muito
dispendioso para a REN.

1153.º No dia seguinte, pelas 09h00, Namércio Cunha informou Manuel


Godinho que ainda não haviam enviado a proposta da “O2” relativa à
prestação de serviços de recolha e acondicionamento dos resíduos
existentes nas instalações afectas à desactivada Central Termoeléctrica da
Tapada do Outeiro, sendo certo que os demais concorrentes já o tinham
feito.

1154.º Pelas 09h03, Paulo Penedos reafirmou a Manuel Godinho que a


aceitação da proposta de extensão apenas havia sido postergada, alertando-
o para a necessidade manifestada por seu Pai de serem observados os
formalismos indispensáveis à não criação de fragilidades. (Confrontar com
Produto 11542 do Alvo 1T167PM).

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1155.º Pelas 16h52, Namércio Cunha deu conta a Manuel Godinho que,
numa obra a realizar numa subestação da REN em Setúbal, a empresa
“Abrantina” enquanto empreiteira, tinha assumido o encaminhamento
daqueles resíduos, nos termos do regime jurídico instituído pelo Decreto-Lei
n.º 46/08, de 12 de Março. (Confrontar com Produto 11643 do Alvo
1T167PM).

1156.º Cinco minutos volvidos, perante a resposta negativa de Namércio


Cunha sobre se a REN já os havia interpelado quanto à prorrogação do
contrato de gestão dos resíduos industriais por si produzidos, cujo terminus
acontecia em 30 de Junho de 2009, Manuel Godinho manifestou a sua
estranheza e a necessidade de contactar Paulo Penedos. (Confrontar com
Produto 11644 do Alvo 1T167PM).

1157.º Dois minutos depois, Manuel Godinho transmitiu a Paulo Penedos


que, nos termos do regime jurídico instituído pelo Decreto-Lei n.º 46/08, de
12 de Março, numa obra a realizar numa subestação da REN em Setúbal, a
gestão dos resíduos de construção e demolição havia sido assumida pelo
empreiteiro, a empresa “Abrantina”, tendo sido ordenado à “O2” a retirada,
sem retorno, do contentor que ali tinha instalado no âmbito da sua sub-
contratação pela CESPA. (Confrontar com Produto 11646 do Alvo
1T167PM).

1158.º Paulo Penedos comprometeu-se a falar, com a máxima urgência, com


o seu Pai, por forma a resolver o sucedido.

1159.º Três minutos depois, Paulo Penedos disse a José Penedos carecer
de falar consigo sobre os resíduos, uma vez que Manuel Godinho continuava
a “fazer patifarias”. (Confrontar com Produto 2987 do Alvo 39263M).

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1160.º José Penedos esclareceu ir para o Algarve, sendo que Paulo


Penedos afirmou a necessidade de se encontrarem pessoalmente.

1161.º José Penedos retorquiu que, obviamente, a conversa entre ambos


não podia acontecer através dos postos telefónicos que se achavam a
utilizar.

1162.º Dois minutos volvidos, Paulo Penedos comunicou a Manuel Godinho


que apenas iria estar pessoalmente com o seu Pai no dia 14 de Junho de
2009. (Confrontar com Produto 2988 do Alvo 39263M).

1163.º Manuel Godinho instou-o a deslocar-se ao Algarve para falar


pessoalmente com seu Pai, até porque o contrato de gestão dos resíduos
industriais produzidos pela REN findava no dia 30 de Junho de 2009.

1164.º Paulo Penedos sossegou-o, garantindo-lhe a prorrogação do contrato


de gestão dos resíduos industriais produzidos pela REN nos exactos termos
em que havia sido celebrado, sem reflectir o regime jurídico instituído pelo
Decreto-Lei n.º 46/08, de 12 de Março.

1165.º Manuel Godinho comunicou-lhe ter dado instruções à CESPA para


enviar uma reclamação pelo acontecido à REN.

1166.º Cinco minutos depois, Paulo Penedos aconselhou Manuel Godinho a


enviar um fax directamente para o Presidente do Conselho de Administração
da REN a expor a situação, na medida em que o seu Pai ainda estaria a
trabalhar no dia seguinte. (Confrontar com Produto 2989 do Alvo 39263M).

1167.º Manuel Godinho disse-lhe para falar com Namércio Cunha.

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1168.º Dois minutos volvidos, acossado pela urgência manifestada por


Manuel Godinho, Paulo Penedos forneceu a Namércio Cunha o número de
telefone directo da secretária do seu Pai, por forma a que junto dela
obtivesse o número de fax. (Confrontar com Produto 2990 do Alvo 39263M).

1169.º Acrescentou que o seu Pai apenas se ausentaria no dia seguinte e


que a CESPA devia enviar o fax ao seu interlocutor na REN, com
conhecimento a Victor Baptista.

1170.º Acrescentou que devia, igualmente, remeter-lhe uma cópia, para que
pudesse dar conhecimento a seu Pai e, assim, este ficasse capaz de intervir.

1171.º Pelas 18h05, Paulo Penedos deu conta a José Penedos do sucedido
e dos procedimentos que havia aconselhado Manuel Godinho a adoptar.
(Confrontar com Produto 2994 do Alvo 39263M).

1172.º José Penedos manifestou a necessidade de serem observados os


formalismos indispensáveis à não criação de fragilidades, designadamente
que não fosse envolvido o seu nome.

1173.º Mais tarde, pelas 20h11, Paulo Penedos deu a conhecer a Manuel
Godinho o modo como havia instruído Namércio Cunha a proceder.
(Confrontar com Produto 3034 do Alvo 39263M).

1174.º No dia seguinte, pelas 11h02, seguindo instruções de Namércio


Cunha, a CESPA enviou um fax à REN, dirigido a Gerardo Gonçalves, com
conhecimento a Victor Baptista, intitulado “Gestão de resíduos – subestação
de Setúbal, relatando o ali sucedido (este fax nunca mereceu qualquer
resposta, sendo certo que a “O2” viria a regressar à obra). (vide fls. 12385).

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1175.º Em hora não concretamente apurada, mas anterior às 12h53,


Namércio Cunha enviou a Paulo Penedos uma cópia deste fax.

1176.º No dia 09 de Junho de 2009, pelas 12h53, Paulo Penedos comunicou


a José Penedos que lhe seria entregue, em mão, na sua residência, uma
carta sobre o sucedido na obra da REN em Setúbal, cujos contornos tinham
sido objecto da conversa que haviam mantido no dia anterior. (Confrontar
com Produto 3147 do Alvo 39263M).

1177.º José Penedos asseverou-lhe a sua apreciação.

1178.º Seis minutos depois, Paulo Penedos garantiu a Manuel Godinho a


entrega da carta em mão a seu Pai. (Confrontar com Produto 3148 do Alvo
39263M).

1179.º Vinte minutos após, José Penedos confirmou a Paulo Penedos estar
na posse da carta. (Confrontar com Produto 3153 do Alvo 39263M).

1180.º Em hora não concretamente apurada, mas posterior às 12h53 e


anterior às 20h01, José Penedos deu a conhecer a Victor Baptista o teor
daquela carta, suscitando-lhe que o esclarecesse sobre o assunto.

1181.º Pelas 20h01, José Penedos transmitiu a Paulo Penedos ter recolhido
junto de Victor Baptista informação no sentido de que, uma vez que tinha
existido uma alteração legislativa, a resposta teria que ser dada oficialmente
e por escrito. (Confrontar com Produto 3244 do Alvo 39263M).

1182.º Aduziu que Victor Baptista lhe assegurou existirem condições legais
justificantes do procedimento adoptado pelo empreiteiro.

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1183.º Pelas 20h14, José Penedos reiterou a Paulo Penedos não dispor de
mais informações sobre as repercussões do regime jurídico instituído pelo
Decreto-Lei n.º 46/08, de 12 de Março, na gestão dos resíduos de construção
e demolição do que aquelas que lhe havia prestado, pois que as tinha
recebido de Victor Baptista numa ocasião em que este estava com pressa.
(Confrontar com Produto 3245 do Alvo 39263M).

1184.º Neste mesmo dia, pelas 14h15, a “O2”, ao contrário das demais
concorrentes, entregou, em mão, em envelope fechado, no edifício-sede da
REN, na Avenida dos EUA, em Lisboa, a sua proposta relativamente aos
trabalhos de recolha e acondicionamento dos resíduos existentes nas
instalações afectas à desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do
Outeiro, no valor de 284.000,00€. (vide Ap. AE3, fls. 182 a 208, Ap. AE10,
fls. 3 a 9 e Ap. AE9, fls. 189vº).

1185.º O mencionado envelope veio a conhecer reencaminhamento para o


edifício da REN em Sacavém, onde deu entrada apenas no dia 15 de Junho
de 2009, pelas 09h30.

1186.º No dia 12 de Junho de 2009, José Penedos almoçou com Paulo


Penedos, tendo discutido a questão da Tapada do Outeiro, a prorrogação do
contrato de gestão global dos resíduos produzidos pela REN e as
repercussões do regime jurídico instituído pelo Decreto-Lei n.º 46/08, de 12
de Março, na gestão dos resíduos de construção e demolição.

1187.º Quanto à prorrogação do contrato de gestão global dos resíduos,


José Penedos garantiu a Paulo Penedos ir inteirar-se ao assunto e que,
ainda naquele dia, lhe noticiaria o estado do processo.

1188.º Acrescentou que, relativamente ao acontecido em Setúbal, a


alteração legal introduzida pelo Decreto-Lei n.º 46/08, de 12 de Março,

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determinou a entrega aos empreiteiros da recolha dos resíduos de


construção e demolição, sendo certo que produzindo esta modificação
efeitos na execução do contrato celebrado com a CESPA, a REN iria
encontrar uma forma de ressarcimento.

1189.º Findo o almoço, pelas 15h52, José Penedos deu a conhecer a Paulo
Penedos estar na posse da missiva, datada de 01 de Junho de 2009,
enviada pela REN à “O2” manifestando o propósito de prosseguir com o
plano inicialmente traçado de acondicionamento e recolha de resíduos,
remetendo para momento posterior os trabalhos de descontaminação e
desmantelamento das infra-estruturas metálicas e de betão. (Confrontar com
Produto 3478 do Alvo 39263M).

1190.º Mais lhe transmitiu ter indicação que a “O2” ainda não tinha
apresentado proposta relativamente aos trabalhos de recolha e
acondicionamento dos resíduos existentes nas instalações afectas à
desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do Outeiro.

1191.º Acrescentou que o processo relativo à Tapada do Outeiro já se


achava instruído com o parecer de Andrade Lopes, pelo que estavam
reunidas as condições para a apreciação na semana seguinte da proposta
de descontaminação e desmantelamento das infra-estruturas metálicas e de
betão.

1192.º Sete minutos depois, Paulo Penedos comunicou a Manuel Godinho


ter estado a discutir com o seu Pai a proposta de descontaminação e
desmantelamento das infra-estruturas metálicas e de betão existentes na
Central da Tapada do Outeiro e, bem assim, a prorrogação do contrato de
gestão dos resíduos industriais produzidos pela REN, sendo certo que, ainda
naquele dia, após se inteirar do estado do processo, lhe daria novas sobre o
assunto. (Confrontar com Produto 3482 do Alvo 39263M).

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1193.º Acrescentou que, uma vez que a alteração legislativa introduzida pelo
Decreto-Lei n.º 46/08, de 12 de Março, se repercutia num contrato em
execução, a REN iria encontrar uma forma de compensação.

1194.º Neste mesmo dia, pelas 20h44, Paulo Penedos afiançou a Manuel
Godinho que o seu Pai estava a controlar o processo relacionado com o
contrato de gestão global dos resíduos produzidos pela REN, sendo muito
provável a sua prorrogação nos precisos termos em vigor. (Confrontar com
Produto 3507 do Alvo 39263M e Ap. AE1, fls. 166 e 167).

1195.º No dia 15 de Junho, fruto de intervenção decisiva de José Penedos


no processo de decisão, a REN prorrogou até 31 de Dezembro de 2009 o
contrato de gestão de resíduos industriais por si produzidos celebrado com a
“O2”, sendo certo que os resíduos de construção e demolição gerados nas
obras a cargo da REN continuaram a estar incluídos. (vide Ap. AE8, fls. 153
a 165).

1196.º A gestão dos resíduos de construção e demolição constituía cerca


de 90% do volume de negócios da “O2” com a REN.

1197.º Na sequência da prorrogação, a “O2” regressou à gestão dos


resíduos de construção e demolição relativos às obras da Subestação de
Setúbal da REN.

1198.º Com a prorrogação, a REN apenas poderia afastar a “02” da


gestão dos resíduos de construção e demolição mediante indemnização.

1199.º No dia 17 de Junho de 2009, pelas 11h19, Namércio Cunha informou


Manuel Godinho da prorrogação do contrato de gestão de resíduos
industriais produzidos pela REN até final do ano. (Confrontar com Produto
9125 do Alvo 38250PM).

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1200.º Mais tarde, pelas 20h52, transmitiu a Paulo Penedos a prorrogação


do contrato e, bem assim, que, relativamente à obra da REN em Setúbal,
tinham sido contactados para regressarem e efectuarem recolhas de
resíduos de construção e demolição. (Confrontar com Produto 9249 do Alvo
38250PM).

1201.º No dia 19 de Junho de 2009, pelas 10h36, José Ribeiro descreveu a


Manuel Godinho a elevada dimensão da obra a realizar na subestação da
REN em Setúbal, a qual não ficaria concluída em menos de um ano.
(Confrontar com Produto 12590 do Alvo 1T167PM).

1202.º Acrescentou estar a diligenciar para que o indivíduo encarregue da


fiscalização, de seu nome Laurentino Silva, a troco de vantagens
patrimoniais e não patrimoniais, omitisse os seus deveres funcionais e,
assim, fosse possível a adulteração do peso e da natureza dos resíduos
recolhidos.

1203.º No dia 22 de Junho de 2009, deu entrada, no edifício da REN em


Sacavém, a proposta da CESPA relativamente aos trabalhos de recolha e
acondicionamento dos resíduos existentes nas instalações afectas à
desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do Outeiro, no valor de
306.000,00€. (vide Ap. AE10, fls. 32vº, 34vº, 223 e Ap. AE3, fls. 31).

1204.º No dia 25 de Junho de 2009, deu entrada, no edifício da REN em


Sacavém, a proposta da Auto-Vila relativamente aos trabalhos de recolha e
acondicionamento dos resíduos existentes nas instalações afectas à
desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do Outeiro, no valor de
338.635,00€. (vide Ap. AE3, fls. 51, Ap. AE10, fls. 10 a 65 e Ap. AE9, fls.
190).

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

1205.º No dia 26 de Junho de 2009, pelas 10h00, a REN, na pessoa dos


seus funcionários Andrade Lopes, Vassalo Santos e Anabela Silva, procedeu
à abertura das propostas apresentadas pelas empresas consultadas no
âmbito dos trabalhos de recolha e acondicionamento dos resíduos existentes
nas instalações afectas à desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do
Outeiro. (vide Ap. AE3, fls. 262).

1206.º No dia 30 de Junho, Andrade Lopes elaborou a informação


GMMC-MSP 10/2009, solicitando autorização superior para adjudicar à
empresa “Romão Ibérica, Ld.ª”, a reparação e hibridização da báscula
existente na Central da Tapada do Outeiro para os trabalhos de
acondicionamento dos resíduos que se iriam realizar, pelo valor aproximado
de 9.000,00€. (vide Ap. AE28, fls. 176 a 182).

1207.º No dia 06 de Julho de 2009, pelas 11h00, Maria José Clara


contactou telefonicamente Andrade Lopes instando-o a enviar-lhe, nesse
mesmo dia, a informação contendo a sua proposta de adjudicação dos
trabalhos de recolha e acondicionamento dos resíduos existentes nas
instalações afectas à desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do
Outeiro. (vide Ap. AE11, fls. 4).

1208.º Pelas 13h23, Manuel Godinho transmitiu a Namércio Cunha que


Paulo Penedos o havia informado que a consulta relativa à Tapada do
Outeiro conheceria decisão naquele dia. (Confrontar com Produto 14245 do
Alvo 1T167PM).

1209.º Pelas 14h43, Maria José Clara insistiu com Andrade Lopes pela
informação, alegando urgência na decisão da fase de recolha e
acondicionamento dos resíduos, na medida em que José Penedos havia
manifestado a intenção de ver o assunto resolvido na reunião do Conselho
de Administração que se realizaria no dia seguinte. (vide Ap. AE11, fls. 9).

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1210.º Pelas 18h05, Andrade Lopes remeteu a Maria José Clara a


informação GMMC-MSP 11/2009, solicitando autorização superior para
serem adjudicados à “O2”, por ter sido a empresa que apresentou a proposta
com menores custos para a REN, os trabalhos de recolha e
acondicionamento dos resíduos existentes nas instalações afectas à
desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do Outeiro, pelo preço de
284.000,00€. (vide Ap. AE3, fls. 266 e Ap. AE11, fls. 4).

1211.º Sucede, contudo, que esta ponderação foi realizada de modo


informal e sem recurso a evidências documentais, contrariamente ao
estabelecido nos procedimentos internos da REN relativos ao
“Aprovisionamento com Abertura Simultânea de Propostas” e “Aquisição de
Bens, Serviços e Empreitadas” (Procedimento PR-0011, de 05 de Março de
2007). (vide Ap. AE21, fls. 249).

1212.º No dia 07 de Julho de 2009, Victor Baptista aprovou o parecer de


Andrade Lopes e remeteu-o ao Conselho de Administração para
homologação. (vide Ap. AE3, fls. 268 a 270).

1213.º Mais consignou que a proposta de extensão apresentada pela “O2”


(que designou de fase seguinte) devia ser sujeita a análise mais detalhada
até final de Julho.

1214.º No dia 07 de Julho de 2009, o Conselho de Administração da REN


homologou a adjudicação do serviço de recolha e acondicionamento dos
resíduos existentes nas instalações afectas à desactivada Central
Termoeléctrica da Tapada do Outeiro pelo valor de 284.000,00€.

1215.º Nesta mesma reunião, foi, igualmente, aprovado o pedido de Andrade


Lopes para reabilitação da báscula.

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1216.º No dia 08 de Julho de 2009, pelas 09h15, Paulo Penedos


informou Manuel Godinho da decisão de adjudicação à “O2” do serviço de
recolha e acondicionamento dos resíduos existentes nas instalações afectas
à desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do Outeiro. (Confrontar com
Produto 6791 do Alvo 39263M).

1217.º Pelas 10h58, Andrade Lopes deu conta a Namércio Cunha da


adjudicação à “O2” do serviço de recolha e acondicionamento dos resíduos
existentes nas instalações afectas à desactivada Central Termoeléctrica da
Tapada do Outeiro. (Confrontar com Produto 10798 do Alvo 38250PM).

1218.º No dia 13 de Julho de 2009, pelas 15h17, Andrade Lopes enviou um


e-mail às empresas consultadas no âmbito do serviço de recolha e
acondicionamento dos resíduos existentes nas instalações afectas à
desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do Outeiro, comunicando
formalmente a sua adjudicação à “O2”. (vide Ap. AE3, fls. 272, Ap. AE11, fls.
11).

1219.º No dia 15 de Julho, a REN determinou que o acompanhamento dos


trabalhos a realizar na Tapada do Outeiro seria realizado através de visitas
semanais do SGAB, a realizar por Domingos Correia preferencialmente às
6a feiras, e do GMMC-MSP, a realizar por Andrade Lopes eventualmente às
2ªs feiras. (vide Ap. AE11, fls. 8).

1220.º Durante o período de férias as visitas seriam realizadas uma vez por
semana. (vide Ap. AE3, fls. 272 e Ap. AE11, fls. 11).

1221.º No dia 20 de Julho de 2009, realizou-se uma reunião com Jorge


Pereira Saramago e Margarida Marques, em representação da “O2”, para
planeamento das tarefas, tendo, no dia seguinte, ocorrido o

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acompanhamento da entrada desta empresa nas instalações para início dos


trabalhos. (vide Ap. AE11, fls. 21 e 22).

1222.º Neste encontro, definiu-se, ainda, que todos os resíduos seriam


pesados, pelo que só sairiam quando a báscula fosse reparada e estivesse
certificada.

1223.º Sucede, contudo, que, alcançada a adjudicação dos trabalhos a


realizar na Tapada do Outeiro, Manuel Godinho havia, desde logo, planeado
a adulteração do peso e da natureza dos resíduos recolhidos.

1224.º No cumprimento deste desiderato e como sabia que a balança


existente nas instalações se achava sem utilização há dez anos,
necessitando como tal de reparação e certificação, instou Namércio Cunha a
manifestar a Andrade Lopes urgência no início da prestação de serviços.

1225.º No dia 31 de Julho de 2009, após uma reunião em que estiveram


presentes Namércio Cunha, Margarida Marques, Jorge Saramago e Andrade
Lopes, na qual foram debatidos o preenchimento e o circuito das guias de
resíduos de construção e demolição RCD e das guias de acompanhamento
modelo – Modelo A, Namércio Cunha, seguindo ordens e instruções de
Manuel Godinho, expressou a Andrade Lopes urgência no início da
prestação de serviços. (vide Ap. AE11, fls. 46).

1226.º Todavia, Andrade Lopes não abdicou de condicionar o início dos


trabalhos à prévia reabilitação da balança, de modo a que os resíduos
recolhidos fossem pesados à saída das instalações da Tapada do Outeiro.

1227.º Pelas 13h08, Namércio Cunha deu nota a Manuel Godinho de não ter
conseguido demover Andrade Lopes da utilização da balança para a
pesagem dos resíduos recolhidos na Tapada do Outeiro, sendo certo que

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apenas na semana seguinte estaria apta a funcionar. (Confrontar com


Produto 12634 do Alvo 38250PM).

1228.º Manuel Godinho sustentou a necessidade de ser aportada rapidez à


recolha, por forma a lograr adulterar ao máximo o peso dos resíduos
recolhidos.

1229.º No dia 31 de Julho de 2009, a propósito dos trabalhos a realizar na


Central Termoeléctrica da Tapada do Outeiro, Victor Baptista comunicou a
Maria José Clara que iria determinar o início do desmantelamento dos
tanques e das bacias de retenção, deixando um tanque mais pequeno. (vide
Ap. AE28, fls. 148 a 156).

1230.º Imediatamente depois, Maria José Clara contactou Andrade Lopes


que esclareceu não estar previsto qualquer desmantelamento. (vide Ap.
AE11, fls. 46vº).

1231.º Na posse desta informação, Maria José Clara enviou um e-mail a


Victor Baptista dando-lhe conta que a fase II consistiria na remoção dos
resíduos existente na Central Termoeléctrica da Tapada do Outeiro, pelo que
o desmantelamento não estava previsto, nem, como tal, incluído no valor das
propostas apresentadas até à data pelas empresas consultadas. (vide Ap.
AE11, fls. 39).

1232.º Terminou, sugerindo que, posteriormente, se solicitassem preços para


esse efeito.

1233.º Como última tentativa de dissuadir Andrade Lopes, Manuel Godinho


instruiu Jorge Saramago, funcionário da “O2” a convidá-lo a visitar as
instalações desta sua empresa, sitas em Ovar, por forma a constatar o bom

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funcionamento da balança aí existente e, assim, a transigir na pesagem dos


resíduos recolhidos naquelas instalações.

1234.º No dia 03 de Agosto, Andrade Lopes, acompanhado do chefe de


vigilância João Paulo e do funcionário da “O2” Jorge Saramago, deslocou-se
às instalações da “O2”, sitas em Ovar.

1235.º Todavia, tal visita não o persuadiu a modificar a sua intenção de


utilizar a balança existente na Tapada do Outeiro para a pesagem dos
resíduos aí recolhidos.

1236.º Reparada a báscula, no dia 07 de Agosto de 2009, dealbaram os


trabalhos na Tapada do Outeiro.

1237.º Na execução dos trabalhos, Manuel Godinho instruiu o funcionário da


“O2” Jorge Saramago a iludir a fiscalização de modo a valorizar como
material eléctrico e electrónico a madeira recolhida.

1238.º Os veículos destinados ao transporte dos resíduos recolhidos deviam


entrar nas instalações da Tapada do Outeiro carregados com material
eléctrico e electrónico que seria, posteriormente, distribuído pelas diferentes
cargas.

1239.º Com efeito, os veículos entravam nas instalações sem serem


tareados, na medida em que a REN dispunha já do peso dos contentores
vazios.

1240.º A madeira seria carregada na parte inferior dos camiões, sendo


que quando as galeras se achassem praticamente cheias, seriam cobertas
por uma fina camada de resíduos eléctricos e electrónicos para que, quando

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os funcionários da REN sindicassem a composição das cargas, as


valorizassem como material eléctrico e electrónico.

1241.º Com esta conduta, Manuel Godinho imputou à REN a recolha de, pelo
menos, 125,36 toneladas de resíduos eléctricos e electrónicos que, na
verdade, eram madeira.

1242.º Deste modo, logrou que a REN lhe pagasse 59.607,42€, que não
lhe eram devidos.

1243.º No dia 31 de Agosto de 2009, a REN desencadeou o processo de


consulta para celebração de novo contrato de gestão de resíduos por si
produzidos, com validade de três anos e início a 01 de Janeiro de 2010. (vide
Ap. AE8, fls. 2 a 40).

1244.º Por força da alteração legislativa introduzida pelo Decreto-Lei n.º


46/08, de 12 de Março, os resíduos de construção e demolição resultantes
de obras de construção de novas infra-estruturas e/ou remodelação de infra-
estruturas já existentes, iniciados a partir de 01 de Janeiro de 2010, foram
excluídos do objecto de tal contrato, passando a ser geridos no quadro das
respectivas empreitadas.

1245.º Todavia, os resíduos de construção e demolição gerados em obras a


cargo da REN, em curso a 31 de Dezembro de 2009, foram ainda incluídos
no contrato.

1246.º No dia 17 de Setembro de 2009, pelas 12h20, Namércio Cunha


transmitiu a Manuel Godinho a irreversibilidade da transferência para os
empreiteiros da gestão dos resíduos de construção e demolição. (Confrontar
com Produto 20573 do Alvo 1T167PM).

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S. R.

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1247.º Manuel Godinho instrui-o a informar Paulo Penedos que a confirmar-


se aquela alteração, a actividade das suas empresas na REN perdia
relevância, reduzindo-se para 10%.

1248.º Acrescentou que Namércio Cunha devia tentar junto de Paulo


Penedos evitar a consumação da transferência.

1249.º Cumprindo o mandado que Manuel Godinho o incumbira, Namércio


Cunha contactou Paulo Penedos, ao que este o informou que pouco havia a
fazer, até porque a consulta havia já sido lançada, o que poderia criar
suspeições e fragilidades, mas que falaria com o seu Pai sobre o assunto no
fim de semana seguinte.

1250.º Pelas 17h22, Namércio Cunha relatou a Manuel Godinho a


informação granjeada junto de Paulo Penedos. (Confrontar com Produto
20612 do Alvo 1T167PM).

1251.º No dia 1 de Outubro de 2010, a “CESPA” enviou uma carta dirigida a


Victor Baptista contestando a metodologia de gestão de resíduos da REN
para as empreitadas. (vide Ap. AE18, fls. 244, Ap. AE20, fls. 46 e Ap. AE30,
fls. 229).

1252.º Esta carta foi, previamente, encaminhada por correio electrónico por
Namércio Cunha para Paulo Penedos, que, depois de a rever e minutar, lha
devolveu.

1253.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir da forma supra


descrita, violando a autonomia intencional do Estado, prometendo e
entregando contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais aos arguidos José
Penedos e Paulo Penedos, para que José Penedos, Presidente do Conselho
de Administração da REN, praticasse actos contrários aos seus deveres,

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

omitisse os actos próprios das suas funções e se desviasse dos poderes


inerentes ao seu cargo e dos poderes de facto decorrentes do seu exercício
e, assim, o favorecesse a si e à “O2” na sua relação comercial com a REN
em detrimento dos interesses desta, designadamente assegurando o
controlo dos diferentes patamares de decisão na área dos resíduos em seu
proveito, criando aparentes necessidades da celebração de contratos de
compra e venda e de prestação de serviços na área dos resíduos,
escolhendo os procedimentos concursais ou afins mais convenientes às suas
empresas, fornecendo-lhe informação privilegiada consubstanciada no
conhecimento prévio à sua divulgação pública do lançamento, da natureza,
das condições, dos termos, da identidade dos concorrentes, da natureza, das
condições, dos termos e do valor das propostas por estes apresentadas na
consulta pública para a Fase II de desmantelamento da Central de Alto Mira,
fornecendo-lhe informação privilegiada consubstanciada no conhecimento
prévio à sua divulgação pública do lançamento, da natureza, das condições,
dos termos e da adjudicação da consulta pública relativa ao serviço de
recolha e acondicionamento dos resíduos existentes nas instalações afectas
à desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do Outeiro, permitindo-lhe
apresentar e asseverando-lhe a aprovação da proposta de extensão dos
trabalhos a realizar na Tapada do Outeiro, garantindo-lhe a adjudicação à
“O2” da prestação de serviços a efectuar na Tapada do Outeiro,
assegurando-lhe a prorrogação do contrato de gestão de resíduos industriais
celebrado com a “O2” com inclusão dos resíduos de construção e demolição
e, bem assim, o regresso da “O2” à gestão dos resíduos de construção e
demolição relativos às obras da Subestação de Setúbal da REN.

1254.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

1255.º O arguido José Penedos sabia e quis agir da forma supra


descrita, violando a autonomia intencional do Estado e infringindo exigências

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S. R.

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de legalidade, objectividade, imparcialidade e independência que devem


nortear o desempenho de funções públicas, a troco da promessa e da
entrega de contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais para si e para
Paulo Penedos, que sabia não lhe serem devidas, ao mercadejar com a sua
condição de Presidente do Conselho de Administração da REN, praticando
os supra mencionados actos contrários aos seus deveres, omitindo os actos
próprios das suas funções e desviando-se dos poderes inerentes ao cargo e
dos poderes de facto decorrentes do seu exercício, subordinando a sua
vontade, as suas iniciativas e as suas decisões às peitas prometidas e
recebidas, no sentido do favorecimento de Manuel Godinho e da “O2” na sua
relação comercial com a REN com prejuízo para os interesses desta,
designadamente assegurando o controlo dos diferentes patamares de
decisão na área dos resíduos em seu proveito, criando aparentes
necessidades da celebração de contratos de compra e venda e de prestação
de serviços na área dos resíduos, escolhendo os procedimentos concursais
ou afins mais convenientes às suas empresas, fornecendo-lhe informação
privilegiada consubstanciada no conhecimento prévio à sua divulgação
pública do lançamento, da natureza, das condições, dos termos, da
identidade dos concorrentes, da natureza, das condições, dos termos e do
valor das propostas por estes apresentadas na consulta pública para a Fase
II de desmantelamento da Central de Alto Mira, fornecendo-lhe informação
privilegiada consubstanciada no conhecimento prévio à sua divulgação
pública do lançamento, da natureza, das condições, dos termos e da
adjudicação da consulta pública relativa ao serviço de recolha e
acondicionamento dos resíduos existentes nas instalações afectas à
desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do Outeiro, permitindo-lhe
apresentar e asseverando-lhe a aprovação da proposta de extensão dos
trabalhos a realizar na Tapada do Outeiro, garantindo-lhe a adjudicação à
“O2” da prestação de serviços a efectuar na Tapada do Outeiro,
assegurando-lhe a prorrogação do contrato de gestão de resíduos industriais

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

celebrado com a “O2” com inclusão dos resíduos de construção e demolição


e, bem assim, o regresso da “O2” à gestão dos resíduos de construção e
demolição relativos às obras da Subestação de Setúbal da REN.

1256.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

1257.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir da forma supra


descrita, violando a autonomia intencional do Estado, prometendo e
entregando contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais a Paulo Penedos,
para que usasse a sua influência junto de seu Pai com o propósito deste
exercer o poder que o cargo que ocupava lhe conferia no sentido do seu
favorecimento e da “O2” na sua relação comercial com a REN preterindo os
interesses desta, designadamente assegurando o controlo dos diferentes
patamares de decisão na área dos resíduos em seu proveito, criando
aparentes necessidades da celebração de contratos de compra e venda e de
prestação de serviços na área dos resíduos, escolhendo os procedimentos
concursais ou afins mais convenientes às suas empresas, fornecendo-lhe
informação privilegiada consubstanciada no conhecimento prévio à sua
divulgação pública do lançamento, da natureza, das condições, dos termos,
da identidade dos concorrentes, da natureza, das condições, dos termos e
do valor das propostas por estes apresentadas na consulta pública para a
Fase II de desmantelamento da Central de Alto Mira, fornecendo-lhe
informação privilegiada consubstanciada no conhecimento prévio à sua
divulgação pública do lançamento, da natureza, das condições, dos termos e
da adjudicação da consulta pública relativa ao serviço de recolha e
acondicionamento dos resíduos existentes nas instalações afectas à
desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do Outeiro, permitindo-lhe
apresentar e asseverando-lhe a aprovação da proposta de extensão dos
trabalhos a realizar na Tapada do Outeiro, garantindo-lhe a adjudicação à
“O2” da prestação de serviços a efectuar na Tapada do Outeiro,

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assegurando-lhe a prorrogação do contrato de gestão de resíduos industriais


celebrado com a “O2” com inclusão dos resíduos de construção e demolição
e, bem assim, o regresso da “O2” à gestão dos resíduos de construção e
demolição relativos às obras da Subestação de Setúbal da REN.

1258.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

1259.º O arguido Paulo Penedos sabia e quis agir da forma supra


descrita, violando a autonomia intencional do Estado, a troco da promessa e
da entrega de contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais, que sabia não
lhe serem devidas, para exercer a sua influência junto de seu Pai com o
propósito deste exercer o poder que o cargo que ocupava lhe conferia no
sentido do favorecimento de Manuel Godinho e da “O2” na sua relação
comercial com a REN postergando os interesses desta, designadamente
assegurando o controlo dos diferentes patamares de decisão na área dos
resíduos em seu proveito, criando aparentes necessidades da celebração de
contratos de compra e venda e de prestação de serviços na área dos
resíduos, escolhendo os procedimentos concursais ou afins mais
convenientes às suas empresas, fornecendo-lhe informação privilegiada
consubstanciada no conhecimento prévio à sua divulgação pública do
lançamento, da natureza, das condições, dos termos, da identidade dos
concorrentes, da natureza, das condições, dos termos e do valor das
propostas por estes apresentadas na consulta pública para a Fase II de
desmantelamento da Central de Alto Mira, fornecendo-lhe informação
privilegiada consubstanciada no conhecimento prévio à sua divulgação
pública do lançamento, da natureza, das condições, dos termos e da
adjudicação da consulta pública relativa ao serviço de recolha e
acondicionamento dos resíduos existentes nas instalações afectas à
desactivada Central Termoeléctrica da Tapada do Outeiro, permitindo-lhe
apresentar e asseverando-lhe a aprovação da proposta de extensão dos

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trabalhos a realizar na Tapada do Outeiro, garantindo-lhe a adjudicação à


“O2” da prestação de serviços a efectuar na Tapada do Outeiro,
assegurando-lhe a prorrogação do contrato de gestão de resíduos industriais
celebrado com a “O2” com inclusão dos resíduos de construção e demolição
e, bem assim, o regresso da “O2” à gestão dos resíduos de construção e
demolição relativos às obras da Subestação de Setúbal da REN.

1260.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

1261.º O arguido José Penedos sabia e quis agir da forma supra


descrita, violando a autonomia intencional do Estado, servindo-se do
ascendente resultante da sua condição de Presidente do Conselho de
Administração da REN e das consequentes compensações não patrimoniais
que daí podiam resultar para Victor Baptista enquanto membro daquele
Conselho e fazendo-lhe ver que da sua conduta em prol de Manuel Godinho
adviriam vantagens patrimoniais e não patrimoniais para si e para terceiros
consigo relacionados, para que aquele o auxiliasse na concretização do seu
propósito de favorecer Manuel Godinho e a “O2” na sua relação comercial
com a REN preterindo os interesses desta, praticando actos contrários aos
seus deveres, omitindo os actos próprios das suas funções, desviando-se
dos poderes inerentes ao seu cargo e dos poderes de facto decorrentes do
seu exercício, designadamente recolhendo e reunindo informação
privilegiada, por inacessível externamente, relativa aos concursos e às
consultas públicas de adjudicação de contratos de compra e venda e de
prestação de serviços na área dos resíduos a lançar pela REN, fornecendo-
lhe prévio conhecimento da natureza, das condições, dos termos daqueles
concursos e consultas públicas, da identidade dos concorrentes, da
natureza, das condições, dos termos e do valor das propostas por estes
apresentadas, propondo ao Conselho de Administração e sustentando nas
suas reuniões deliberativas a adjudicação à “O2” de contratos de compra e

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venda e de prestação de serviços na área dos resíduos, escolhendo os


procedimentos concursais ou afins mais convenientes à “O2”, criando
aparentes necessidades da celebração de contratos de compra e venda e de
prestação de serviços na área dos resíduos, permitindo a adjudicação directa
à “O2” de contratos de compra e venda e de prestação de serviços na área
dos resíduos e recrutando quadros da REN, seus subordinados hierárquicos,
com funções na área dos resíduos que os ajudassem no favorecimento de
Manuel Godinho e suas empresas, nomeadamente assumindo, na sua
esfera de competências, decisões que conferissem um tratamento
privilegiado e preferencial à “O2”, elaborando informações de serviço com
um sentido e um alcance capazes de fundamentar, formalmente, posteriores
decisões de adjudicação e a necessidades da celebração de contratos de
compra e venda e de prestação de serviços na área dos resíduos, bem como
omitindo o exercício dos poderes/deveres de fiscalização públicos que lhes
incumbissem.

1262.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

1263.º O arguido Victor Baptista sabia e quis agir da forma supra


mencionada, violando a autonomia intencional do Estado e infringindo
exigências de legalidade, objectividade, imparcialidade e independência que
devem nortear o desempenho de funções públicas, ao aceitar auxiliar José
Penedos na concretização do seu propósito de beneficiar Manuel Godinho e
a “O2” na sua relação comercial com a REN desconsiderando os interesses
desta, a troco do reforço da vinculação e da consideração profissional de
José Penedos para consigo e, bem assim, da entrega de contrapartidas
patrimoniais e não patrimoniais para José Penedos e para terceiros com ele
relacionados, que sabia não lhe serem devidas, ao mercadejar com a sua
qualidade de membro do Conselho de Administração da REN, praticando os
supra citados actos contrários aos seus deveres, omitindo os actos próprios

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das suas funções e desviando-se dos poderes inerentes ao seu cargo e dos
poderes de facto decorrentes do seu exercício, subordinando a sua vontade,
as suas iniciativas e as suas decisões às peitas prometidas e recebidas,
designadamente recolhendo e reunindo informação privilegiada, por
inacessível externamente, relativa aos concursos e às consultas públicas de
adjudicação de contratos de compra e venda e de prestação de serviços na
área dos resíduos a lançar pela REN, fornecendo-lhe prévio conhecimento
da natureza, das condições, dos termos daqueles concursos e consultas
públicas, da identidade dos concorrentes, da natureza, das condições, dos
termos e do valor das propostas por estes apresentadas, propondo ao
Conselho de Administração e sustentando nas suas reuniões deliberativas a
adjudicação à “O2” de contratos de compra e venda e de prestação de
serviços na área dos resíduos, escolhendo os procedimentos concursais ou
afins mais convenientes à “O2”, criando aparentes necessidades da
celebração de contratos de compra e venda e de prestação de serviços na
área dos resíduos, permitindo a adjudicação directa à “O2” de contratos de
compra e venda e de prestação de serviços na área dos resíduos e
recrutando quadros da REN, seus subordinados hierárquicos, com funções
na área dos resíduos que os ajudassem no favorecimento de Manuel
Godinho e suas empresas, nomeadamente assumindo, na sua esfera de
competências, decisões que conferissem um tratamento privilegiado e
preferencial à “O2”, elaborando informações de serviço com um sentido e um
alcance capazes de fundamentar, formalmente, posteriores decisões de
adjudicação e a necessidades da celebração de contratos de compra e
venda e de prestação de serviços na área dos resíduos, bem como omitindo
o exercício dos poderes/deveres de fiscalização públicos que lhes
incumbissem.

1264.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

1337
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

1265.º O arguido Victor Baptista sabia e quis agir da forma supra


descrita, violando a autonomia intencional do Estado, servindo-se do
ascendente resultante da sua condição de Membro do Conselho de
Administração da REN e de superior hierárquico de Fernando Santos e Juan
Oliveira e das consequentes compensações não patrimoniais que daí lhes
podiam advir enquanto funcionários da REN e fazendo-lhes ver que da sua
conduta em prol de Manuel Godinho resultariam vantagens patrimoniais e
não patrimoniais para si e para terceiros consigo relacionados, para que
aqueles o assistissem na concretização do seu propósito de favorecer
Manuel Godinho e a “O2” na sua relação comercial com a REN desprezando
os interesses desta, praticando actos contrários aos seus deveres, omitindo
os actos próprios das suas funções, desviando-se dos poderes inerentes ao
seu cargo e dos poderes de facto decorrentes do seu exercício,
designadamente assumindo, na sua esfera de competências, decisões que
conferissem um tratamento privilegiado e preferencial à “O2”, elaborando
informações de serviço com um sentido e um alcance capazes de
fundamentar, formalmente, posteriores decisões de adjudicação e a
necessidades da celebração de contratos de compra e venda e de prestação
de serviços na área dos resíduos, bem como omitindo o exercício dos
poderes/deveres de fiscalização que lhes incumbissem.

1266.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

1267.º Os arguidos Fernando Santos e Juan Oliveira sabiam e quiseram


agir da forma supra descrita, violando a autonomia intencional do Estado e
infringindo exigências de legalidade, objectividade, imparcialidade e
independência que devem nortear o desempenho de funções públicas, ao
aceitarem assistir Victor Baptista na concretização do seu desiderato de
beneficiar Manuel Godinho e a “O2” na sua relação comercial com a REN
menosprezando os interesses desta, a troco do incremento da vinculação e

1338
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

da consideração profissional de Victor Baptista para consigo e, bem assim,


da entrega de contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais a Victor
Baptista e para terceiros com ele relacionados, que sabiam não lhe serem
devidas, ao mercadejar com a sua qualidade de funcionários da REN,
praticando os supra citados actos contrários aos seus deveres, omitindo os
actos próprios das suas funções e desviando-se dos poderes inerentes ao
seu cargo e dos poderes de facto decorrentes do seu exercício,
subordinando a sua vontade, as suas iniciativas e as suas decisões às peitas
prometidas e recebidas, designadamente assumindo, na sua esfera de
competências, decisões que conferissem um tratamento privilegiado e
preferencial à “O2”, elaborando informações de serviço com um sentido e um
alcance capazes de fundamentar, formalmente, posteriores decisões de
adjudicação e a necessidades da celebração de contratos de compra e
venda e de prestação de serviços na área dos resíduos, bem como omitindo
o exercício dos poderes/deveres de fiscalização que lhes incumbiam.

1268.º Mais sabiam serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei
Penal, e apesar disso agiram livre e voluntariamente.

1269.º Os arguidos José Penedos, Victor Baptista, Fernando Santos e


Juan Oliveira sabiam e quiseram agir da forma supra descrita, de comum
acordo e em conjugação de esforços, violando a fidelidade reclamada pela
sua qualidade de membros do Conselho de Administração e de funcionários
da REN, respectivamente, infringindo exigências de legalidade,
objectividade, imparcialidade e independência que devem nortear o
desempenho de funções públicas, ao praticarem actos contrários aos seus
deveres, ao omitirem os actos próprios das suas funções, ao se desviarem
dos poderes inerentes aos seus cargos e dos poderes de facto decorrentes
do seu exercício na decisão de adjudicação à “O2” da consulta pública
relativas à Fase II de desmantelamento da Central de Alto Mira, com o
propósito de que Manuel Godinho e a “O2” percebessem, como perceberam,

1339
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

benefícios patrimoniais a que sabiam não ter direito, não obstante


conhecessem que ofendiam interesses patrimoniais da REN cuja
administração, fiscalização, defesa e realização aqueles cargos faziam sobre
si impender e, assim, lhe causavam prejuízos, ao menos, no valor de
506.191,08€.

1270.º Mais sabiam serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei
Penal, e apesar disso agiram livre e voluntariamente.

1271.º Os arguidos José Penedos, Victor Baptista, Fernando Santos e


Juan Oliveira sabiam e quiseram agir da forma supra descrita, de comum
acordo e em conjugação de esforços, violando a fidelidade reclamada pela
sua qualidade de membros do Conselho de Administração e de funcionários
da REN, infringindo exigências de legalidade, objectividade, imparcialidade e
independência que devem nortear o desempenho de funções públicas, ao
praticarem actos contrários aos seus deveres, ao omitirem os actos próprios
das suas funções, ao se desviarem dos poderes inerentes aos seus cargos e
dos poderes de facto decorrentes do seu exercício no acordo celebrado com
a “O2” sobre as quantidades de resíduos removidos na Fase II de
desmantelamento da Central de Alto Mira, com o propósito de que Manuel
Godinho e a “O2” percebessem, como perceberam, benefícios patrimoniais a
que sabia não terem direito, no valor de 313.698,64€, não obstante
conhecessem que ofendiam interesses patrimoniais da REN cuja
administração, fiscalização, defesa e realização aqueles cargos faziam sobre
si impender e, assim, lhe causavam prejuízos, ao menos, de montante
idêntico.

1272.º Mais sabia serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei
Penal, e apesar disso agiram livre e voluntariamente.

1340
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

1273.º Os arguidos Manuel Godinho e Pedro Laranjeira sabiam e


quiseram agir da forma supra descrita, de comum acordo e em conjugação
de esforços, logrando convencer a REN que a quantidade de resíduos
demolidos e transportados na Fase II de desmantelamento da Central de Alto
Mira havia sido a evidenciada nas pesagens apresentadas pela “O2”,
levando-a, assim, a pagá-los à “O2” naquela medida, bem sabendo que,
deste modo, Manuel Godinho e a “O2” percebiam um benefício patrimonial a
que sabiam não ter direito, pelo menos, no montante de 313.698,64€, e que,
como tal, causavam à REN um prejuízo, ao menos, de valor equivalente.

1274.º Mais sabiam serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei
Penal, e apesar disso agiram livre e voluntariamente.

1275.º Os arguidos Manuel Godinho e Pedro Laranjeira sabiam e


quiseram agir da forma supra descrita, de comum acordo e em conjugação
de esforços, não obstante soubessem que ao fazerem constar dos talões de
pesagem quantidades de resíduos demolidos e transportados que não
correspondiam às efectivamente recolhidas, punham em causa a confiança e
credibilidade das pessoas na exactidão e genuinidade merecidas por aquelas
notações técnicas, visando obter para Manuel Godinho e para a “O2” um
benefício patrimonial a que sabiam não ter direito, pelo menos, no montante
de 313.698,64€, e causar à REFER um prejuízo, ao menos, de valor
equivalente.

1276.º Mais sabiam serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei
Penal, e apesar disso agiram livre e voluntariamente.

1277.º O arguido Fernando Santos sabia e quis agir da forma supra


descrita, exorbitando os seus poderes e competências enquanto funcionário
da REN, infringindo exigências de legalidade, objectividade, imparcialidade e
independência que devem nortear o desempenho de funções públicas, ao

1341
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

adjudicar à “O2”, sem previamente ter sido aberto procedimento concursal ou


de consulta, sem avaliação da razoabilidade do preço proposto, contrariando
os procedimentos internos de “Aprovisionamento com Abertura Simultânea
de Propostas” e “Aquisição de Bens, Serviços e Empreitadas” –
Procedimento PR-0011 de Setembro de 2005, serviços adicionais de
construção civil nas bacias de retenção dos tanques de combustível da
Central de Alto Mira, com o propósito de que Manuel Godinho e a “O2”
percebessem, como perceberam, benefícios patrimoniais a que sabia não
terem direito, no valor de 29.000,00€, não obstante conhecesse que ofendia
interesses patrimoniais da REN cuja administração, fiscalização, defesa e
realização o cargos que desempenhava na REN fazia sobre si impender e,
assim, lhe causava prejuízos, ao menos, de montante idêntico.

1278.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

1279.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir da forma supra


descrita, não obstante soubesse que ao fazer constar dos talões de pesagem
das cargas de cobre, aparas metálicas ferrosas e cabos isolados sem
substâncias perigosas recolhidas em Vermoim e da carga de sucata de zinco
removida em Sacavém pesos que não lhes correspondiam, punha em causa
a confiança e credibilidade das pessoas na exactidão e genuinidade
merecidas por aquelas notações técnicas, visando obter para Manuel
Godinho e para a “O2” benefícios patrimoniais a que sabiam não ter direito, e
causar à REN prejuízos, ao menos, de valor equivalente.

1280.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

1281.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir da forma supra


descrita, logrando convencer a REN que a carga de cobre recolhida em

1342
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Vermoim no quadro do contrato de gestão global de resíduos tinha o peso


exibido no talão de pesagem apresentado pela “O2”, levando-a, assim, a
valorizá-la e aliená-la naquela medida, bem sabendo que, deste modo,
Manuel Godinho e a “O2” percebiam um benefício patrimonial a que sabiam
não ter direito, pelo menos, no montante de 8.500,00€, e que, como tal,
causavam à REN um prejuízo, ao menos, de valor equivalente.

1282.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir em seu nome e em


representação e no interesse da “O2”.

1283.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

1284.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir da forma supra


descrita, em seu nome e em representação e no interesse da “O2”, não
obstante soubesse que ao fazer constar do talão de pesagem da carga de
cobre recolhida em Vermoim um peso que não lhe correspondia, punha em
causa a confiança e credibilidade das pessoas na exactidão e genuinidade
merecidas por aquela notação técnica, visando obter para Manuel Godinho e
para a “O2” um benefício patrimonial a que sabiam não ter direito, pelo
menos, no montante de 8.500,00€, e causar à REN um prejuízo, ao menos,
de valor equivalente.

1285.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

1286.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir da forma supra


descrita, em seu nome e em representação e no interesse da “O2”,
entregando contrapartidas patrimoniais a Pedro Correia, funcionário da
PROSEGUR em serviço na Central de Alto Mira, para que praticasse actos
contrários aos seus deveres, omitisse os actos próprios das suas funções e

1343
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

se desviasse dos poderes inerentes ao seu cargo e dos poderes de facto


decorrentes do seu exercício e, assim, se abstivesse de reportar a entrada
de camiões com carga no decurso do processo de desmantelamento do
transformador existente na Central de Alto Mira.

1287.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

1288.º Os arguidos Manuel Godinho e Jorge Saramago sabiam e quiseram


agir da forma supra descrita, de comum acordo e em conjugação de
esforços, logrando convencer a REN que haviam sido levantadas 125,36
toneladas de resíduos eléctricos e electrónicos na Tapada do Outeiro,
levando-a, assim, a pagá-los à “O2” enquanto tal, bem sabendo que, deste
modo, Manuel Godinho e a “O2” percebiam um benefício patrimonial a que
sabiam não ter direito, pelo menos, no montante de 59.607,42€, e que, como
tal, causavam à REN um prejuízo, ao menos, de valor equivalente.

1289.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir em seu nome e em


representação e no interesse da “O2”.

1290.º Mais sabiam serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei
Penal, e apesar disso agiram livre e voluntariamente.

1291.º Os arguidos Manuel Godinho e Jorge Saramago sabiam e


quiseram agir da forma supra descrita, de comum acordo e em conjugação
de esforços, no quadro de uma mesma resolução criminosa, não obstante
soubessem que ao fazerem constar dos talões de pesagem a recolha de
125,36 toneladas de resíduos eléctricos e electrónicos que, na verdade,
eram madeira, punham em causa a confiança e credibilidade das pessoas na
exactidão e genuinidade merecidas por aquelas notações técnicas, visando
obter para Manuel Godinho e para a “O2” um benefício patrimonial a que

1344
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

sabiam não ter direito, pelo menos, no montante de 59.607,42€, e causar à


REN um prejuízo, ao menos, de valor equivalente.

1292.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir em seu nome e em


representação e no interesse da “O2”.

1293.º Mais sabiam serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei
Penal, e apesar disso agiram livre e voluntariamente.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Manuel Godinho, em concurso


real e efectivo:

- autor material, sob a forma consumada, de um crime de corrupção


activa para acto ilícito, previsto e punido pelo art.º 374º, n.º 1 do Código
Penal;

- autor material, sob a forma consumada, de um crime de tráfico de


influência, previsto e punido pelo art.º 335º, n.º 2 do Código Penal;

- autor material, sob a forma consumada, de um crime de corrupção


activa no sector privado, previsto e punido pelo art.º 9º, n.ºs 1 e 2 da Lei n.º
20/08, de 21 de Abril;

- co-autor material, sob a forma consumada, de dois crimes de burla


qualificada, previsto e punido pelo art.º 217º, n.º 1, 218º, n.º 2, al. a) do Código
Penal;

- autor material, sob a forma consumada, de um crime de burla


qualificada, previsto e punido pelo art.º 217º, n.º 1, 218º, n.º 1 do Código
Penal;

1345
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

- co-autor material, sob a forma consumada, de dois crimes de


falsificação de notação técnica, previsto e punido pelo art.º 258, n.º 1, al. c)
do Código Penal.

- autor material, sob a forma consumada, de cinco crimes de


falsificação de notação técnica, previsto e punido pelo art.º 258, n.º 1, al. c)
do Código Penal.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido José Penedos, em concurso


real e efectivo:

- autor material, sob a forma consumada, de um crime de corrupção


passiva para acto ilícito, previsto e punido pelo art.º 372º, n.º 1 do Código
Penal;

- autor material, sob a forma consumada, de um crime de corrupção


activa para acto ilícito, previsto e punido pelo art.º 374º, n.º 1 do Código
Penal;

- co-autor material, sob a forma consumada, de dois crimes de


participação económica em negócio, previsto e punido pelo art.º 377º, n.º 1
do Código Penal.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Paulo Penedos, autor material,


sob a forma consumada, de um crime de tráfico de influência, previsto e punido
pelo art.º 335º, n.º 1, al. a) do Código Penal.

1346
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Victor Baptista, em concurso


real e efectivo:

- autor material, sob a forma consumada, de um crime de corrupção


passiva para acto ilícito, previsto e punido pelo art.º 372º, n.º 1 do Código
Penal;

- autor material, sob a forma consumada, de dois crimes de


corrupção activa para acto ilícito, previsto e punido pelo art.º 374º, n.º 1 do
Código Penal;

- co-autor material, sob a forma consumada, de dois crimes de


participação económica em negócio, previsto e punido pelo art.º 377º, n.º 1
do Código Penal.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Fernando Santos, em concurso


real e efectivo:

- autor material, sob a forma consumada, de um crime de corrupção


passiva para acto ilícito, previsto e punido pelo art.º 372º, n.º 1 do Código
Penal;

- co-autor material, sob a forma consumada, de dois crimes de


participação económica em negócio, previsto e punido pelo art.º 377º, n.º 1
do Código Penal;

- autor material, sob a forma consumada, de um crime de abuso de


poder, previsto e punido pelo art.º 382º do Código Penal.

1347
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Juan Oliveira, em concurso real


e efectivo:

- autor material, sob a forma consumada, de um crime de corrupção


passiva para acto ilícito, previsto e punido pelo art.º 372º, n.º 1 do Código
Penal;

- co-autor material, sob a forma consumada, de dois crimes de


participação económica em negócio, previsto e punido pelo art.º 377º, n.º 1
do Código Penal;

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Pedro Laranjeira, em concurso


real e efectivo:

- co-autor material, sob a forma consumada, de um crime de burla


qualificada, previsto e punido pelo art.º 217º, n.º 1, 218º, n.º 2, al. a) do Código
Penal;

- co-autor material, sob a forma consumada, de um crime de


falsificação de notação técnica, previsto e punido pelo art.º 258, n.º 1, al. c)
do Código Penal.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Jorge Saramago, em concurso


real e efectivo:

- co-autor material, sob a forma consumada, de um crime de burla


qualificada, previsto e punido pelo art.º 217º, n.º 1, 218º, n.º 2, al. a) do Código
Penal;

1348
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

- co-autor material, sob a forma consumada, de um crime de


falsificação de notação técnica, previsto e punido pelo art.º 258, n.º 1, al. c)
do Código Penal.

Pelo exposto, constituiu-se a arguida “O2”, em concurso real e


efectivo:

- autora material, sob a forma consumada, de um crime de corrupção


activa no sector privado, previsto e punido pelas disposições conjugadas dos
art.ºs 4 e 9º, n.ºs 1 e 2 da Lei n.º 20/08, de 21 de Abril;

- autora material, sob a forma consumada, de um crime de burla


qualificada, previsto e punido pelas disposições conjugadas dos art.ºs 11º, n.º
2, al. a), 90º A e 217º, n.º 1, 218º, n.º 2, al. a) do Código Penal;

- autor material, sob a forma consumada, de um crime de burla


qualificada, previsto e punido pelas disposições conjugadas dos art.ºs 11º, n.º
2, al. a), 90º A e 217º, n.º 1, 218º, n.º 1 do Código Penal;

- autora material, sob a forma consumada, de dois crimes de


falsificação de notação técnica, previsto e punido pelas disposições
conjugadas dos art.ºs 11º, n.º 2, al. a), 90º A e 258, n.º 1, al. c) do Código
Penal.

PARTE IV – Da EDP-Imobiliária e Participações, S.A., da Petróleos de


Portugal – Petrogal, S.A., da IDD – Indústria de Desmilitarização e Defesa,
S.A. e dos arguidos Manuel José Ferreira Godinho, Maribel Marques

1349
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Rodrigues, Namércio Pereira da Cunha, João Jorge da Silva Godinho,


Hugo Manuel de Sá Godinho, Manuel Nogueira da Costa, Paulo Manuel
Pereira da Costa, Mário Manuel Sousa Pinho, José Domingos Lopes
Valentim, Armando António Martins Vara, Domingos José Paiva Nunes,
António Paulo Cadete de Almeida Costa e José António Chocolate
Contradanças

1294.º No almoço do dia 07 de Fevereiro de 2009, realizado em Vinhais


com Armando Vara, Manuel Godinho solicitou-lhe, igualmente, que, a troco
de contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais, exercesse a sua
influência junto de indivíduos que exercem funções de poder, que detêm
capacidade pessoal de decisão, com capacidade para influenciar
determinantemente o decisor e com acesso a informação privilegiada, no
sentido do seu favorecimento e da “O2” nos concursos e nas consultas
públicas de adjudicação e, bem assim, na adjudicação directa de contratos
de compra e venda e de prestação de serviços na área dos resíduos
promovidos por empresas públicas, de capitais públicos, com participação
maioritária de capital público, concessionárias de serviços públicos e
empresas privadas. (Confrontar com os Produtos 984, 1047, 1067, 1092,
1099, 1355 e 3465 do Alvo 1T167PM).

1295.º Para tanto, Manuel Godinho prometeu e entregou a Armando


Vara, pelo menos, 25.000,00€.

1296.º Nos anos de 2004, 2006 e 2007, a propósito da quadra natalícia,


por forma a, desde logo, criar e potenciar um clima de permeabilidade e
cumplicidade para posteriores diligências e de predisposição à aceitação
das suas pretensões ou mesmo com carácter remuneratório (bónus),
Manuel Godinho entregou, em nome das sociedades comerciais que
compõem o universo empresarial, directa ou indirectamente, por si gerido,
diferentes bens, a título de presentes, a Armando Vara e Lopes Barreira.

1350
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

1297.º No ano de 2004, Armando Vara viu ser-lhe atribuída a categoria


AAA, a segunda mais elevada, tendo recebido um estojo com decantador,
Herdade de Prata, no valor de 685,00€; no ano de 2006, manteve aquela
categoria, tendo recebido uma caneta Mont Blanc e um relógio, no valor
global não inferior a 1.500,00€. (vide fls. 1864 a 1920 – Lista de Prendas)

1298.º Perante as contrapartidas prometidas e recebidas, Armando Vara


deu o seu assentimento à proposta de Manuel Godinho.

1299.º Armando António Martins Vara era, em 2009, Vice-Presidente do


Conselho de Administração Executivo do Millennium BCP, Presidente do
Conselho de Administração do Banco de Investimento Imobiliário, Vice-
Presidente do Conselho de Administração da Fundação Millennium BCP,
Gerente da BII Internacional SGPS, Ld.ª, Gerente da VSC – Aluguer de
Viaturas sem Condutor, Ld.ª, Presidente do Conselho de Administração do
Banco Millennium Angola, S.A., Vice-Presidente do Conselho de
Administração do Banco Internacional de Moçambique, S.A.

1300.º Manuel Godinho perspectivava Armando Vara como uma pessoa


influente e reverenciada, que lhe poderia ser útil para agilizar contactos no
sector empresarial do Estado e na Banca.

1301.º Armando Vara, exerceu funções ministeriais, políticas e bancárias


e, por via delas, adquiriu um extenso conjunto de contactos e relações
pessoais, capazes de lhe permitir influenciar e, eventualmente, determinar,
o curso do processo decisório em empresas públicas, de capitais públicos,
com participação maioritária de capital público, concessionárias de serviços
públicos e empresas privadas. (confrontar com os Produtos 801, 805, 807,
854, 1037 do Alvo 39559M, 1509 e 1524 do Alvo 39554PM, 10758, 13451 e
13806 do Alvo 1T167PM e 72 e 74 do Alvo 39264M).

1351
S. R.

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1302.º Sempre que as condições de mercado se revelavam mais


adversas às suas empresas e o trabalho escasseava, Manuel Godinho
recorria a Armando Vara para que, no exercício da sua ascendência,
determinasse o decisor público e/ou privado a, prima facie, criar aparentes
necessidades da celebração de contratos de compra e venda e de
prestação de serviços na área dos resíduos e, num segundo momento, a
adjudicá-los às empresas, directa ou indirectamente, administradas por
Manuel Godinho. (Confrontar com Produto 1355 do Alvo 1T167PM).

1303.º Em vista da relevância que lhe atribuía e por forma a assegurar


garantias acrescidas de sigilo e confidencialidade, Manuel Godinho adquiriu
e reservou o telefone com o nº 91 203 28 73 essencialmente para os
contactos por esta via estabelecidos com Armando Vara. (Confrontar com
Produto 13268, 6938 e 6941 do Alvo 1T167PM).

1304.º Entre 07 de Fevereiro de 2009 e 31 de Julho do mesmo ano,


Manuel Godinho encontrou-se, presencialmente, por oito vezes com
Armando Vara:

a) No dia 07 de Fevereiro de 2009, Manuel Godinho deslocou-


se a Vinhais para almoçar com Armando Vara; (Confrontar
com Produto 984 do Alvo 1T167PM).

b) No dia 07 de Março de 2009, Manuel Godinho almoçou, em


Lisboa, com Armando Vara. (Confrontar com Produto 3465
do Alvo 1T167PM).

c) No dia 18 de Abril de 2009, Manuel Godinho e Armando Vara


almoçaram no Restaurante “Mercado do Peixe”, em Lisboa;
(Confrontar com Produto 7118 do Alvo 1T167PM).

1352
S. R.

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d) No dia 23 de Maio de 2009, Manuel Godinho e Armando Vara


almoçaram no Restaurante “Mercado do Peixe”, em Lisboa;
(vide RDE de fls. 2752 a 2784 e produto 2 do Alvo 39264M).

e) No dia 25 de Maio de 2009, Manuel Godinho encontrou-se


com Armando Vara no seu gabinete nas instalações do
“Millenium BCP”, sitas em Lisboa;

f) No dia 20 de Junho de 2009, Armando Vara e Lopes Barreira


almoçaram com Manuel Godinho, na residência deste, em
Ovar; (confrontar com Produto 1064 do Alvo 39354PM e RDE
de fls. 3228 a 3271).

g) No dia 01 de Julho de 2009, Manuel Godinho reuniu-se com


Armando Vara nas instalações do “Millenium BCP”, sitas no
Porto; (vide RDE de fls. 3328 a 3333).

h) No dia 30 de Julho de 2009, Manuel Godinho, acompanhado


por Carlos Vasconcellos, encontrou-se com Armando Vara no
seu gabinete nas instalações do “Millenium BCP”, sitas em
Lisboa; (Confrontar com os Produtos 50 e 52 do Alvo
39264IE e RDE de fls. 3755 a 3759).

Neste contexto,

1305.º No dia 07 de Março de 2009, em Lisboa, Manuel Godinho


almoçou com Armando Vara.

1306.º Neste encontro, Manuel Godinho reiterou a míngua de trabalho


que assolava as suas empresas, rogando, uma vez mais, a Armando Vara
que o auxiliasse na superação desta situação de carência.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

1307.º Armando Vara garantiu-lhe que o faria, sendo certo que, desde
logo, o convidou para a realização de negócios em Angola.

1308.º No dia 10 de Março de 2009, Manuel Godinho fez sentir a Paulo


Penedos a necessidade de contactar Armando Vara para que, no exercício
da sua influência junto de indivíduos que exercem funções de poder, que
detêm capacidade pessoal de decisão, com capacidade para influenciar
determinantemente o decisor e com acesso a informação privilegiada,
lograsse o seu favorecimento e da “O2” nos concursos e nas consultas
públicas de adjudicação e, bem assim, na adjudicação directa de contratos
de compra e venda e de prestação de serviços na área dos resíduos por
parte de empresas públicas, de capitais públicos, com participação
maioritária de capital público, concessionárias de serviços públicos e
empresas privadas. (Confrontar com Produto 3669 do Alvo 1T167PM).

1309.º No dia 12 de Março de 2009, pelas 11h05, Lopes Barreira


transmitiu a Manuel Godinho ir interceder junto de Armando Vara para que
lhe angariasse contratos de compra e venda e de prestação de serviços na
área dos resíduos com empresas públicas, de capitais públicos, com
participação maioritária de capital público, concessionárias de serviços
públicos e empresas privadas. (Confrontar com Produto 3892 do Alvo
1T167PM).

1310.º No dia 18 de Abril de 2009, Manuel Godinho almoçou com


Armando Vara no Restaurante “Mercado do Peixe”, sito na Estrada Pedro
Teixeira, na Ajuda, em Lisboa. (Confrontar com os Produtos 7118, 7183 e
7285 do Alvo 1T167PM).

1311.º Nesta ocasião, como permaneciam perenes as dificuldades


sentidas pelas empresas por si geridas, Manuel Godinho expos a Armando
Vara a necessidade de diligenciar pela adjudicação de contratos de compra

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e venda e de prestação de serviços na área dos resíduos promovidos por


empresas do sector empresarial do Estado, concessionárias de serviços
públicos ou empresas privadas.

1312.º Armando Vara, dando cumprimento ao acordo celebrado em 07


de Fevereiro de 2009 em Vinhais, aquiesceu à solicitação de Manuel
Godinho.

1313.º No entanto, deu-lhe conta que, das iniciativas por si já


empreendidas, havia tomado conhecimento de queixas relacionadas com a
falta de cumprimento atempado por parte das empresas de Manuel Godinho
das suas obrigações contratuais para com a EDP, mormente no que à
valorização de resíduos de transformadores daquela empresa se reportava.
(Confrontar com Produto 7183 do Alvo 1T167PM).

1314.º Perante tal informação, facultada por Armando Vara, no dia 20 de


Abril de 2009, pelas 09h38, Manuel Godinho ordenou a Namércio Cunha
que se inteirasse da situação dos transformadores da EDP e que iniciasse,
imediatamente, a sua recolha. (Confrontar com Produto 7183 do Alvo
1T167PM).

1315.º No dia 23 de Maio de 2009, no período de tempo compreendido


entre as 13h00 e as 14h15, Manuel Godinho almoçou com Armando Vara
no restaurante “Mercado do Peixe”, sito na Estrada Pedro Teixeira, na
Ajuda, em Lisboa. (Confrontar com Produto 3 do Alvo 39264M e RDE de 23-
05-2009).

1316.º Neste encontro e como tinha já decorrido mais de um mês da


última reunião presencial entre ambos, Manuel Godinho voltou a questionar
Armando Vara sobre o andamento das diligências que se havia

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S. R.

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comprometido a encetar em diferentes ocasiões tais como nos almoços de


07 de Fevereiro e 18 de Abril de 2009.

1317.º Armando Vara comunicou-lhe, então, que havia contactado


Domingos José Paiva Nunes no sentido deste, enquanto vogal do Conselho
de Administração da “EDP-Imobiliária e Participações, S.A.” com poder e
capacidade pessoal de decisão, com capacidade para influenciar
determinantemente o decisor e com acesso a informação privilegiada, o
favorecer a si e à “O2” nos concursos e nas consultas públicas de
adjudicação e, bem assim, na adjudicação directa de contratos de compra e
venda e de prestação de serviços na área dos resíduos produzidos por
aquela empresa.

1318.º Acrescentou estar já designada uma reunião a realizar na


segunda-feira seguinte (dia 25 de Maio de 2009) nas instalações da “EDP”,
sitas na Avenida José Malhoa, em Lisboa, entre si e Paiva Nunes para que
se conhecessem e acertassem as contrapartidas patrimoniais e não
patrimoniais a oferecer por Manuel Godinho pelo seu favorecimento e da
“O2”, designadamente pela adjudicação de contratos de compra e venda e
de prestação de serviços na área dos resíduos produzidos pela “EDP”.

1319.º Por deliberação de 19 de Junho de 2006, Paiva Nunes foi


designado vogal do Conselho de Administração da “EDP-Imobiliária e
Participações, S.A.” para o período de tempo compreendido entre 2005 e
2007.

1320.º Por deliberação de 27 de Março de 2008, Paiva Nunes foi


designado vogal do Conselho de Administração da “EDP-Imobiliária e
Participações, S.A.” para o período de tempo compreendido entre 2008 e
2010.

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1321.º A “EDP-Imobiliária e Participações, S.A.” é uma empresa detida a


100% pela “EDP – Energias de Portugal, S.A.”, concessionária do serviço
público de distribuição de electricidade.

1322.º O seu objecto social repousa no estudo, concepção,


desenvolvimento e comercialização, por conta própria ou alheia, de
projectos imobiliários e turísticos e a realização de todas as operações
relacionadas com as actividades de promoção imobiliária, de exploração e
administração de bens imóveis próprios ou por conta de outrem, incluindo
arrendamento, compra e venda de imóveis e revenda dos adquiridos para
esse fim, bem como a gestão de carteira própria de participações sociais,
títulos de credito e outros valores mobiliários, nomeadamente obrigações,
aplicações financeiras, comissões e consignações.

1323.º Findo o repasto, pelas 14h27, Manuel Godinho deu conta a João
Godinho de se ter reunido com Armando Vara e de o ter instado a angariar-
lhe trabalhos na área dos resíduos. (Confrontar com Produto 10197 do Alvo
1T167PM).

1324.º No dia 25 de Maio de 2009, pelas 10h10, Manuel Godinho


encontrou-se com Armando Vara no seu gabinete nas instalações do
Millenium BCP, sitas no n.º 19 da Avenida José Malhoa, em Lisboa, ocasião
em que contactaram Paiva Nunes. (vide RDE de fls. 2787 a 2809).

1325.º Neste contacto telefónico, Paiva Nunes convidou Manuel Godinho


a dirigir-se às instalações da “EDP”, sitas na mesma artéria que as do
Millenium BCP, ao que este acedeu.

1326.º De imediato, pelas 10h20, Manuel Godinho entrou nas instalações


da “EDP”, sitas na Avenida José Malhoa, em Lisboa, onde se reuniu com
Paiva Nunes até às 11h50.

1357
S. R.

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1327.º Nesta reunião, Manuel Godinho propôs a Paiva Nunes que, a


troco de contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais, o favorecesse a si e
à “O2” e/ou exercesse a sua influência junto de indivíduos que exercem
funções de poder, que detêm capacidade pessoal de decisão, com
capacidade para influenciar decisivamente o decisor e com acesso a
informação privilegiada, no sentido do seu favorecimento e da “O2” nos
concursos e consultas públicas de adjudicação e, bem assim, na
adjudicação directa de contratos de compra e venda e de prestação de
serviços na área dos resíduos produzidos por empresas do sector
empresarial do Estado, concessionárias de serviços públicos e empresas
privadas, nomeadamente na empresa da qual era administrador.

1328.º Paiva Nunes aceitou a proposta de Manuel Godinho, tendo


combinando encontrar-se, novamente, no dia 27 de Maio de 2009, no Hotel
Altis, em Lisboa, para acertarem as contrapartidas patrimoniais a oferecer
por Manuel Godinho e para que este conhecesse António Paulo Cadete de
Almeida Costa, responsável, desde 24 de Abril de 2007, pelas Relações
Institucionais e Comunicação Interna da Petróleos de Portugal – Petrogal,
S.A., sociedade cuja totalidade do capital social é detido pela Galp Energia,
SGPS, S.A., indivíduo integrante da rede de contactos e da esfera de
influência de Armando Vara e com capacidade pessoal de decisão, com
capacidade para influenciar determinantemente decisores e com acesso a
informação privilegiada.

1329.º De imediato, pelas 11h54, Manuel Godinho informou Armando


Vara do sucesso do seu encontro com Paiva Nunes, ao que aquele
comungou da sua satisfação. (Confrontar com Produto 6 do Alvo 39264M).

1330.º Logo após, Paiva Nunes adoptou idêntico procedimento, tendo,


igualmente, rogado a Armando Vara que lhe fornecesse o número de

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S. R.

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telefone por si utilizado para comunicar com Manuel Godinho. (Confrontar


com Produto 18 do 39264M).

1331.º Armando Vara, de pronto, satisfez o solicitado por Paiva Nunes,


dando-lhe o número de telefone por si utilizado para comunicar com Manuel
Godinho.

1332.º Em data não concretamente apurada, mas anterior a 28 de Maio


de 2009, Armando Vara solicitou a Manuel Godinho 25.000,00€ como
compensação pelas diligências por si empreendidas e a empreender em
seu favor e da “O2”.

1333.º No dia 27 de Maio de 2009, entre as 13h34 e as 15h10, Manuel


Godinho almoçou com Paiva Nunes e António Paulo Costa, no Hotel Altis,
sito na Rua Castilho, em Lisboa. (vide RDE de fls. 2872 a 2885).

1334.º Neste encontro, Manuel Godinho reiterou a proposta que havia


formulado a Paiva Nunes, no dia 25 de Maio de 2009, ao mesmo tempo que
materializou a contrapartida patrimonial que estava disposto a entregar-lhe,
qual fosse um veículo automóvel, marca Mercedes, modelo SL500, no valor
de 32.050,00€.(Confrontar com os Produtos10573, 10580, 10585, 10586,
10589 e 10623 do Alvo 1T167PM).

1335.º De outro passo, lançou similar repto a António Paulo Costa para
que, a troco de contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais,
designadamente um veículo automóvel ligeiro, marca Mercedes-Benz,
modelo CL 65 AMG, no valor de 284.376,00€, o favorecesse a si e à “O2”
e/ou exercesse a sua influência junto de indivíduos que exercem funções de
poder, que detêm capacidade pessoal de decisão, com capacidade para
influenciar decisivamente o decisor e com acesso a informação privilegiada,
no sentido do seu favorecimento e da “O2” nos concursos e consultas

1359
S. R.

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públicas de adjudicação e, bem assim, na adjudicação directa de contratos


de compra e venda e de prestação de serviços na área dos resíduos
produzidos por empresas do sector empresarial do Estado, concessionárias
de serviços públicos e empresas privadas. (Confrontar com os Produtos
12285, 12317, 12320, 12321 e 12335 do Alvo 1T167PM e RDE de 17-06-
2009).

1336.º António Paulo Costa era responsável, desde 24 de Abril de 2007,


pelas Relações Institucionais e Comunicação Interna da Petrogal,
competindo-lhe, para além do mais, propor a política de gestão de
participações em associações nacionais e internacionais do Grupo Galp
Energia, contribuir junto das entidades institucionais na preparação de
quadros legislativos e na difusão interna de conhecimento; assegurar a
gestão da representação de interesses e da participação em organismos
públicos e associações nacionais e internacionais; assegurar e manter os
contactos institucionais com a Administração Pública e Local; coordenar a
organização de eventos de Relações Públicas; coordenar a definição e
elaboração do plano de comunicação Interna; assegurar o desenvolvimento
dos projectos e acções com o objectivo de contribuir para a integração das
Relações Institucionais na estratégia e actividades operacionais do Grupo
Galp Energia; colaborar com as áreas de negócio sempre que impliquem
relação com a Administração Pública e Local, bem como a identificação de
entidades portadoras de negócios emergentes com o objectivo de facilitar
as relações estabelecidas e aumentar a cadeia de valor do Grupo Galp
Energia; promover parcerias públicas e privadas, alavancar as relações
institucionais; coordenar o desenvolvimento da política de Responsabilidade
Social e coordenar os recursos humanos afectos à sua área de
responsabilidade. (vide Ap. D3, fls. 50 a 55 e fls. 221).

1337.º Perante as peitas prometidas, Paiva Nunes e António Paulo Costa


aceitaram, de pronto, a proposta de Manuel Godinho.

1360
S. R.

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1338.º Aproveitando o ensejo e perante a receptividade às suas


ambições, Manuel Godinho transmitiu a António Paulo Costa que lhe havia
sido adjudicada a prestação de trabalhos de desmantelamento e
descontaminação do Parque de Sacavém da Petrogal, mas que a sua
execução se achava suspensa.

1339.º António Paulo Costa informou-o, então, que aquele Parque se


encontrava em vias de alienação, mas que lhe iria providenciar uma reunião
com o Administrador responsável pelo processo para que o inteirasse do
seu estado.

1340.º Aduziu que a Galp Energia iria lançar uma consulta pública com
vista ao desmantelamento do batelão Sacor II, propriedade da Sacor
Marítima, empresa do Grupo Galp Energia, disponibilizando-se para
diligenciar pela adjudicação daquela prestação de serviços à “O2”.

1341.º Finalizou dizendo-lhe que, relativamente a outros trabalhos, seria


assisado elaborar uma carta de apresentação.

1342.º Por forma a satisfazer a pretensão de Paiva Nunes, Manuel


Godinho, não obstante as reticências iniciais manifestadas por Paulo
Pereira da Costa, logrou convencê-lo a abdicar da posse do veículo
automóvel, marca Mercedes-Benz, modelo SL500, matrícula 03-27-SQ,
registado em nome da sociedade Manuel J. Godinho – Administrações
Prediais, S.A. (vide Produtos referenciados no artº 1334º)

1343.º Como modo de ressarcir Paulo Pereira da Costa pela sua perda,
Manuel Godinho instruiu João Godinho a encomendar uma outra viatura de
igual marca e modelo para lhe ser entregue.

1361
S. R.

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1344.º Para tanto, João Godinho obteve três propostas da “Mercauto –


Metalomecânica de Reparação e Construção de Automóveis”, sediada em
Lisboa, sendo que a escolha e posterior aquisição recaiu sobre o Mercedes-
Benz, SL 500, com a matrícula 99-87-TM, cujo preço de venda ao público
ascendia a 52.500,00€.

1345.º João Godinho veio a delegar em Salvador Manuel Monteiro


Lourosa, funcionário das empresas de Manuel Godinho, com funções de
Técnico Oficial de Contas, a negociação da aquisição daquela viatura com
Rui Miguel Neves Caetano Moreira, responsável pelo departamento de
usados da “Mercauto”.

1346.º Fruto da negociação encetada, Salvador Lourosa conseguiu


reduzir o preço para 50.000,00€.

1347.º Por forma a controlar o êxito das suas iniciativas e a conhecer o


grau de satisfação de Manuel Godinho, no dia 28 de Maio de 2009, pelas
15h33, Armando Vara indagou-o sobre o modo como tinha decorrido o
encontro com Paiva Nunes e António Paulo Costa, aduzindo ter já falado
com Paiva Nunes sobre o mesmo assunto. (Confrontar com Produto 18 do
Alvo 39264M).

1348.º Na ocasião e perante o bom resultado da reunião, Manuel


Godinho viu no contacto uma forma implícita de Armando Vara o relembrar
dos 25.000,00€ que lhe havia peticionado pelas diligências por si
empreendidas e a empreender em seu favor e da “O2”.

1349.º Como tal, questionou-o se seria o momento para lhe conceder


aquele quantitativo monetário, ao que Armando Vara postergou a entrega
para momento ulterior.

1362
S. R.

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1350.º Observando e dando cumprimento ao acordo alcançado, António


Paulo Costa, exorbitando as competências e atribuições próprias da função
de responsável pelas Relações Institucionais e Comunicação Interna,
prevalecendo-se do seu cargo na hierarquia do Grupo Galp Energia, logrou
a marcação de uma reunião, no dia 29 de Maio de 2009, de Manuel
Godinho com António Túlio, Administrador da Soturis - Sociedade
Imobiliária e Turística, S.A., empresa do Grupo Galp Energia, responsável
pelo processo de venda do Parque de Sacavém da Petrogal. (Confrontar
com os Produto 10746, 10758, 10781 e 11187 do Alvo 1T167PM).

1351.º Desta como das suas demais iniciativas em prol de Manuel


Godinho e da “O2” deu nota a Paiva Nunes.

1352.º No dia 29 de Maio de 2009, cerca das 10h30, nas instalações da


Galp Energia, sitas em Lisboa, Manuel Godinho reuniu-se com António
Paulo Costa com vista à preparação da reunião que iria manter com António
Túlio. (Confrontar com os Produtos 6678 e 10781 do Alvo 1T167PM).

1353.º Ali discutiram os termos e as condições mediante as quais se


podia efectivar o favorecimento de Manuel Godinho e da “O2” nos
concursos e nas consultas para a adjudicação de contratos de compra
venda e de prestações de serviços na área dos resíduos promovidas pelo
Grupo Galp Energia.

1354.º Seguidamente, cerca das 11h00, na “Sala Faro” da Torre A, em


Lisboa, Manuel Godinho, acompanhado por António Paulo Costa, reuniu-se
com António Túlio.

1355.º Nesta conferência, que não conheceu registo formal, António


Túlio deu a conhecer a Manuel Godinho que o Parque de Sacavém seria

1363
S. R.

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vendido e, bem assim, que competiria ao comprador o desmantelamento


das estruturas e a descontaminação do solo.

1356.º Perante o que ouviu, Manuel Godinho solicitou que o informassem


sobre a identidade do comprador e se este estaria interessado em recorrer
aos serviços das suas empresas.

1357.º No dia 03 de Junho de 2009, António Paulo Costa contactou José


António Chocolate Contradanças no sentido de este favorecer Manuel
Godinho e a “O2” nos concursos e nas consultas públicas de adjudicação e,
bem assim, na adjudicação directa de contratos de compra e venda e de
prestação de serviços na área dos resíduos produzidos pela IDD – Indústria
de Desmilitarização e Defesa, S.A. (doravante abreviadamente designada
“IDD”). (vide fls. 167 a 172 do Ap. 18).

1358.º José António Chocolate Contradanças era, desde 23 de Março de


2009, Vogal do Conselho de Administração da IDD – Indústria de
Desmilitarização e Defesa, S.A., cujo capital social é detido a 100% pela
EMPORDEF – Empresa Portuguesa de Defesa, SGPS, S.A. (sociedade
gestora de participações sociais exclusivamente públicas – tutelada pelos
Ministérios da Defesa e das Finanças).

1359.º José Contradanças, representando que como consequência


necessária da sua conduta em prol de Manuel Godinho adviriam vantagens
patrimoniais e/ou não patrimoniais para si e/ou para António Paulo Costa,
aceitou a proposta, dispondo-se a interpelar Manuel Godinho expressando-
lhe a sua receptividade.

1360.º No dia 03 de Junho de 2009, pelas 14h52 e 16h41, Manuel


Godinho forneceu a António Paulo Costa as características do estaleiro da
FRACON – Construção e Reparação Naval, Ld.ª, de modo a possibilitar

1364
S. R.

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àquele o favorecimento e/ou o exercício da sua influência no sentido de


Manuel Godinho e a “O2” serem beneficiados na prestação de serviços na
área naval, designadamente na adjudicação do desmantelamento do
batelão Sacor II. (Confrontar com os Produtos 11229 e 11232 do Alvo
1T167PM).

1361.º No dia 04 de Junho de 2009, pelas 15h22, na sua residência, sita


na Avenida do Emigrante, n.º 759, Praia do Furadouro, Ovar, Manuel
Godinho procedeu à entrega a Paiva Nunes do veículo automóvel, marca
Mercedes, modelo SL500, matrícula 03-27-SQ, tal como se havia
comprometido no almoço realizado no dia 27 de Maio de 2009, no Hotel
Altis. (vide RDE de fls. 2957 a 3005).

1362.º Logo após, pelas 15h25, Manuel Godinho, fazendo-se transportar


no veículo automóvel, marca Mercedes, modelo CL 65AMG, matrícula 68-
GV-25, e Paiva Nunes no veículo automóvel, marca Mercedes, modelo
SL500, matrícula 03-27-SQ, dirigiram-se para a Rua do Ouro, no Porto, por
forma a dar a conhecer a Manuel Godinho uma das prestações de serviço
na área dos resíduos que Paiva Nunes lhe iria proporcionar como
contrapartida pela entrega da viatura.

1363.º Com efeito, Paiva Nunes, enquanto Vogal do Conselho de


Administração da EDP Imobiliária, achava-se a negociar com a Câmara
Municipal do Porto a celebração de um protocolo de dação em cumprimento
daqueles terrenos.

1364.º Neste ensejo, Paiva Nunes solicitou a Manuel Godinho que


elencasse três concursos e/ou consultas públicas nas quais devia favorecer
ou exercer a sua influência para que a “O2” obtivesse primazia.

1365
S. R.

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1365.º No dia 04 de Junho de 2009, António Paulo Costa informou Paiva


Nunes das diligências por si empreendidas junto de José Contradanças.

1366.º Visando comprazer Manuel Godinho e expor a sua comunhão de


interesses, no dia 05 de Junho de 2009, pelas 08h42, Paiva Nunes
transmitiu a Manuel Godinho que António Paulo Costa lhe havia já
angariado uma consulta na área dos resíduos. (Confrontar com Produto
11377 do Alvo 1T167PM).

1367.º Alcançada a adesão de José Contradanças, no dia 05 de Junho


de 2009, pelas 09h45, António Paulo Costa informou Manuel Godinho da
disponibilidade manifestada por aquele em o favorecer a si e à “O2” e, bem
assim, de que o iria procurar para recolher os elementos necessários à
concretização daquele tratamento preferencial. (Confrontar com Produto
11379 do Alvo 1T167PM).

1368.º Fazendo valer a harmonia de interesses granjeada com a


promessa da entrega para utilização do veículo automóvel ligeiro, marca
Mercedes-Benz, modelo CL 65 AMG, Manuel Godinho não desperdiçou a
oportunidade para lhe recordar para não perder de vista umas “demolições”
cuja adjudicação cobiçava.

1369.º Concretizando a sua aptidão para colocar o seu poder de decisão


em prol do favorecimento de Manuel Godinho e da “O2”, após contacto de
António Paulo Costa fazendo-lhe ver a necessidade e o seu interesse em
assim proceder, no dia 05 de Junho de 2009, pelas 10h25, José
Contradanças instou Manuel Godinho a enviar-lhe, por fax, uma carta de
apresentação da “O2”, manifestando o propósito de realizar trabalhos na
área dos resíduos, por forma a ultrapassar os trâmites burocráticos e a
permitir o seu posicionamento para uma consulta a lançar, em breve, pela
“IDD” naquela área. (Confrontar com Produto 11381 do Alvo 1T167PM).

1366
S. R.

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1370.º Manuel Godinho, para além de lhe assegurar a remessa do


pretendido, propôs-lhe encontrarem-se pessoalmente para definirem os
exactos e concretos termos do acordo visando a consideração primacial das
suas empresas.

1371.º José Contradanças anuiu.

1372.º No dia 08 de Junho de 2009, no período de tempo compreendido


entre as 11h50 e 12h23, Manuel Godinho e Paiva Nunes reuniram-se no
Hotel Mercure, sito na Avenida José Malhoa, em Lisboa, ocasião em que
Manuel Godinho entregou a Paiva Nunes um documento contendo a
enunciação dos três concursos e/ou consultas públicas que aquele lhe havia
pedido no dia 04 de Junho de 2009. (Confrontar com Produto 11565 do Alvo
1T167PM e RDE de fls. 3010 a 3038).

1373.º No dia 09 de Junho de 2009, no período de tempo compreendido


entre as 08h13 e as 08h30, Manuel Godinho e Paiva Nunes reuniram-se no
Hotel Mercure, sito na Avenida José Malhoa, em Lisboa, momento em que
Manuel Godinho entregou a Paiva Nunes documentos que o habilitavam a
favorecê-lo e/ou a diligenciar pelo seu favorecimento e da “O2” junto de
indivíduos com capacidade pessoal de decisão, com capacidade para
influenciar determinantemente decisores e com acesso a informação
privilegiada nos concursos e nas consultas públicas de adjudicação e, bem
assim, na adjudicação directa de contratos de compra e venda e de
prestação de serviços na área dos resíduos produzidos por empresas do
sector empresarial do Estado, concessionárias de serviços públicos e
empresas privadas, mormente naquela em que era administrador. (vide
RDE de fls. 3040 a 3074).

1367
S. R.

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1374.º No dia 16 de Junho de 2009, António Paulo Costa ordenou ao seu


subordinado, Alexandre Teixeira, que o conduzisse, no dia seguinte, na sua
viatura, a Aveiro.

1375.º No dia 17 de Junho de 2009, pela manhã, conforme lhe havia sido
determinado, Alexandre Teixeira conduziu António Paulo Costa no veículo
automóvel ligeiro de passageiros, marca Alfa Romeo, modelo 159, matrícula
47-BI-98, à Rotunda existente nas cercanias do Estádio Municipal de
Aveiro, local onde estacionaram. (vide RDE de fls. 3182 a 3225).

1376.º Uma vez lá chegados, pelas 09h01, surgiu o veículo automóvel


ligeiro de passageiros, marca BMW, modelo 730D, matrícula 49-GT-13,
tripulado por Manuel Godinho.

1377.º Acto contínuo, António Paulo Costa abandonou o veículo em que


se fazia transportar e entrou na viatura conduzida por Manuel Godinho, não
sem antes instruir Alexandre Teixeira a esperá-lo na primeira estação de
serviço da Auto-Estrada A17, o que este fez.

1378.º No dia 17 de Junho, pelas 09h50, na sua residência, sita na


Avenida do Emigrante, n.º 759, Praia do Furadouro, Ovar, Manuel Godinho
entregou a António Paulo Costa o veículo automóvel ligeiro de passageiros,
marca Mercedes-Benz, modelo CL 65 AMG, matrícula 68-GV-25, tal como
se havia comprometido no almoço realizado no dia 27 de Maio de 2009, no
Hotel Altis.

1379.º Logo após, pelas 16h07, de modo a reiterar o seu engajamento


com Manuel Godinho e a reunir os elementos necessários à materialização
do seu favorecimento, António Paulo Costa solicitou-lhe que indicasse o
ponto de contacto da “O2” habilitado a acompanhar os trâmites dos
concursos e das consultas públicas nas quais iria diligenciar pelo tratamento

1368
S. R.

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preferencial de Manuel Godinho e da “O2”. (Confrontar com o Produto


12369 do Alvo 1T167PM).

1380.º Manuel Godinho indicou Namércio Cunha.

1381.º Manuel Godinho percebendo que lograra colocar ao seu serviço e


da “O2” o poder de decisão e/ou de influência de Paiva Nunes e António
Paulo Costa, no dia 17 de Junho de 2009, pelas 16h09, alertou Namércio
Cunha para a circunstância de ir ser contactado pela IDD, GALP ou EDP
para apresentar propostas em consultas para trabalhos na área dos
resíduos produzidos por aquelas empresas. (Confrontar com o Produto
12370 do Alvo 1T167PM).

1382.º Por outro lado, no dia 18 de Junho de 2009, pelas 08h50, Manuel
Godinho deu a conhecer a João Godinho ser sua convicção avizinhar-se
uma grande vaga de trabalho, até porque a EDP formalizara já o pedido
para as empresas por si geridas iniciarem umas obras. (Confrontar com o
Produto 12404 do Alvo 1T167PM).

1383.º No dia 18 de Junho de 2009, a Comissão Executiva do Conselho


de Administração da Galp Energia autorizou a abertura de consulta pública
(CR 20/09) para o desmantelamento do batelão Sacor II, propriedade da
Sacor Marítima, empresa do Grupo Galp Energia. (vide fls. 23450).

1384.º No dia 19 de Junho de 2009, Manuel Godinho e António Paulo


Costa almoçaram juntos.

1385.º No dia 20 de Junho de 2009, pelas 09h11, Manuel Godinho


solicitou a Maribel Rodrigues que reunisse 50.000,00€ em notas do BCE.
(Confrontar com os Produtos 2606 e 12676 do Alvo 1T167PM).

1369
S. R.

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1386.º De seguida, nas instalações da SCI, em Aveiro, em hora não


concretamente apurada, mas posterior às 09h11 e anterior às 13h13,
Maribel Rodrigues entregou a Manuel Godinho os aludidos 50.000,00€.

1387.º No dia 20 de Junho de 2009, no período de tempo compreendido


entre as 14h06 e as 15h45, Armando Vara e Lopes Barreira almoçaram com
Manuel Godinho, na residência deste, sita no Furadouro, em Ovar. (vide
RDE de fls. 3228 a 3274).

1388.º Durante o almoço, Manuel Godinho entregou a Armando Vara os


25.000,00€ a que aludira na conversa que com ele mantivera a 28 de Maio
de 2009.

1389.º Idêntico montante foi entregue a Lopes Barreira.

1390.º Em data não concretamente apurada, mas anterior a 22 de Junho


de 2009, numa demonstração da colocação do seu cargo e do seu poder de
influência sob os ditames dos interesses de Manuel Godinho e, bem assim,
da sua aptidão para aceder a indivíduos que detêm capacidade pessoal de
decisão, capacidade para influenciar determinantemente o decisor e a
informação privilegiada, António Paulo Costa perscrutou e apurou a quem e
como dirigir uma carta de apresentação ao Grupo Galp Energia revelando o
propósito de prestar serviços na área dos resíduos.

1391.º No dia 22 de Junho de 2009, exercendo o seu ministério de


influência, visando apresentar Manuel Godinho a indivíduos que detêm
capacidade pessoal de decisão, capacidade para influenciar
determinantemente o decisor e com acesso a informação privilegiada,
António Paulo Costa promoveu e participou num almoço entre Manuel
Godinho, Manuel Rodrigues e João Moita no Restaurante “O Páteo”, sito na
Rua do Açúcar, em Marvila, Lisboa. (vide RDE de fls. 3286 a 3305).

1370
S. R.

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1392.º Manuel Rodrigues era assessor de Américo Amorim, possuindo


vastos conhecimentos em questões navais e portuárias.

1393.º Nesta ocasião, António Paulo Costa deu a conhecer a Manuel


Godinho a forma e o conteúdo das cartas de apresentação dirigidas ao
Grupo Galp Energia.

1394.º Findo o almoço, Manuel Godinho dirigiu-se ao escritório de


Manuel Rodrigues, sito na mesma rua do Restaurante “O Páteo”.

1395.º Nesta ocasião e como Manuel Godinho lhe havia referido a


consulta encetada pela “IDD” na área dos resíduos, Manuel Rodrigues
contactou José António Contradanças tecendo os mais rasgados elogios à
pessoa de Manuel Godinho.

1396.º No dia 22 de Junho de 2009, a “IDD” enviou convite à “O2” para


apresentação de proposta no âmbito de uma consulta por si promovida na
área dos resíduos, internamente designada por “Venda de Sucata”.

1397.º De imediato, pelas 16h22, Manuel Godinho informou António


Paulo Costa do recebimento daquele convite. (Confrontar com o Produto
12861 do Alvo 1T167PM).

1398.º No dia 24 de Junho de 2009, no quadro do seu engajamento à


prossecução das aspirações de Manuel Godinho, José António
Contradanças, a propósito da consulta promovida pela “IDD” designada por
“Venda de Sucata”, enviou um e-mail para o endereço de correio electrónico
de António Paulo Costa com o seguinte teor:

“Caro Paulo,

1371
S. R.

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A consulta está em marcha. 5 empresas contactadas. Apresentação de


propostas e escolha das duas melhores para negociação.
Alguma ajuda necessária sobre os preços do actual contrato com a empresa
de Alferrerede (Abrantes), tendo em conta:
Factura de 2008
Sucata de aço (47.320kgx0,11651€)
Sucata de latão (538kgx1,723€)
Sucata de alumínio (265kgx1,333€)
Sucata de fios eléctricos (144kgx1,333€)
Sucata de chumbo e zamak (777kgx1,13€)
Mistura de metais (48kgx0,75€)
Sucata de aço (contentor) (4800kgx0,163€)
Factura de 2009
Sucata de latão sujo (2100kgx1,000€)
Sucata de latão limpo (1700kgx1,723€)
Sucata de alumínio sujo (2100kgx1,000€)
Sucata de alumínio limpo (215kgx1,333€)
(…)”. (vide fls. 23569).

1399.º No dia 25 de Junho de 2009, pelas 12h04, ainda e sempre dando


execução ao seu propósito de beneficiar Manuel Godinho, José António
Contradanças, a propósito da consulta promovida pela “IDD” designada por
“Venda de Sucata”, enviou um e-mail para o endereço de correio electrónico
de António Paulo Costa com o seguinte teor:

“Caro Paulo,
Para além de alguns dados fornecidos ontem, consultei a resposta dada pela
firma RSA - Reciclagem de Sucatas Abrantina, SA e faz indicação de mais
alguns valores:
Cobre €2,653/kg
Chumbo €1,130/kg

1372
S. R.

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Latão queimado €0,60/kg


(…)” (vide fls. 23569).

1400.º Na posse destas informações, António Paulo Costa transmitiu-as


a Manuel Godinho.

1401.º No dia 26 de Junho de 2009, a Direcção de Compras da Galp


Energia formalizou o procedimento de consulta para o desmantelamento do
batelão Sacor II, enviando pedido de propostas, entre outros, à “O2”. (vide
fls. 23450).

1402.º No dia 29 de Junho de 2009, de modo a prevenir António Paulo


Costa, Manuel Godinho indagou Namércio Cunha sobre a hora designada
para a visita a realizar no dia seguinte às instalações da “IDD”. (Confrontar
com os Produtos 13510 e 13536 do Alvo 1T167PM).

1403.º No dia 30 de Junho de 2009, no período de tempo compreendido


entre as 10h40 e as 11h41, Manuel Godinho e Namércio Cunha visitaram
as instalações da IDD, sitas em Alcochete. (Confrontar com os Produtos
13572 e 13618 do Alvo 1T167PM).

1404.º No dia 30 de Junho de 2009, Manuel Godinho almoçou com


António Paulo Costa e Manuel Rodrigues no Restaurante “Sete Mares”, sito
na Rua Columbano Bordalo Pinheiro, em Lisboa. (Confrontar com os
Produtos 13682 e 13749 do Alvo 1T167PM e Produto 1037 do Alvo
39263M).

1405.º No dia 01 de Julho de 2009, no período de tempo compreendido


entre as 18h20 e as 19h05, Manuel Godinho reuniu-se com Armando Vara

1373
S. R.

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nas instalações do Millenium BCP, sitas na Praça Dom João I, no Porto.


(vide RDE de fls. 3328 a 3333).

1406.º Pelas 19h10, João Godinho e Hugo Godinho encontraram-se com


Manuel Godinho no exterior daquelas instalações.

1407.º No dia 03 de Julho de 2009, pelas 09h24, por forma a avaliar das
diligências que teria de levar a cabo, António Paulo Costa indagou junto de
Manuel Godinho se este havia apresentado proposta na consulta relativa ao
desmantelamento do batelão Sacor II, bem como enviado a carta de
apresentação revelando o propósito de prestar serviços na área dos
resíduos para o Grupo Galp Energia. (Confrontar com o Produto 14031 do
Alvo 1T167PM).

1408.º Momentos depois, pelas 12h06, Manuel Godinho questionou


Namércio Cunha sobre se as suas empresas teriam interesse em gerir os
resíduos perigosos produzidos pela Galp Energia. Aduziu saber que a Galp
Energia produz muitos resíduos e que António Paulo Costa o havia
aconselhado a enviar uma carta de apresentação. (Confrontar com o
Produto 10507 do Alvo 38250PM).

1409.º Logo após, pelas 12h20, Namércio Cunha entregou, em mão, nas
instalações da “IDD”, a proposta da “O2” relativa à consulta designada por
“Venda de Sucata”, sendo que os valores nela inscritos foram,
pessoalmente, indicados por Manuel Godinho.

1410.º Ainda nesta data, a “O2” apresentou proposta na consulta relativa


ao desmantelamento do batelão Sacor II.

1411.º No dia 08 de Julho de 2009, Manuel Godinho almoçou com Paiva


Nunes e António Paulo Costa, no “Restaurante Sete Mares”, sito na Rua

1374
S. R.

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Columbano Bordalo Pinheiro, em Lisboa. (Confrontar com o Produto 14418


do Alvo 1T167PM).

1412.º Neste repasto, face ao não suprimento por parte de Manuel


Godinho da omissão de envio da carta de apresentação, António Paulo
Costa instou-o, uma vez mais, a remediar tal lacuna.

1413.º Findo o almoço, pelas 16h40, Manuel Godinho ordenou a


Namércio Cunha que elaborasse uma carta de apresentação da “O2”,
acompanhada do curriculum da empresa e da manifestação do propósito de
prestar serviços na área dos resíduos para o Grupo Galp Energia.
(Confrontar com o Produto 14496 do Alvo 1T167PM).

1414.º No dia 09 de Julho de 2009, Namércio Cunha fez chegar a


Manuel Godinho o dossier que aquele lhe tinha solicitado.

1415.º No dia 14 de Julho de 2009, nas instalações da “O2”, sitas em


Ovar, como forma de ressarcimento por ter abdicado do veículo automóvel,
marca Mercedes-Benz, modelo SL500, matrícula 03-27-SQ, João Godinho,
cumprindo ordens e instruções de Manuel Godinho, entregou a Paulo Costa
o veículo automóvel ligeiro de passageiros, marca Mercedes-Benz, modelo
SL500, matrícula 99-87-TM. (vide RDE de fls. 3632)

1416.º Visando ocultar o seu verdadeiro proprietário e a sua


proveniência, Ivo Bernardino Marques Ferreira, funcionário das sociedades
comerciais, denominadas “Mantenverde - Comércio de Sucatas Lda” e
“Sucatas 109 Unipessoal, Ld.ª”, cuja gerência pertence ao arguido Paulo
Costa, pese embora não possua documento que o habilite a conduzir
veículos automóveis ligeiros de passageiros, foi inscrito como titular no
registo de propriedade daquela viatura.

1375
S. R.

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1417.º Para pagamento do preço do veículo, foi emitido o cheque n.º


2029792917 emitido sobre a conta n.º 05287273771 do Banif titulada pela
empresa “Mantenverde - Comércio de Sucatas Lda”, no valor de
50.000,00€. (Vide Ap. 162, fls. 98 e 99).

1418.º Sucede, todavia, que, no dia anterior ao desconto do cheque, que


ocorreu a 16 de Julho de 2009, Manuel Godinho provisionou aquela conta
com o depósito do cheque n.º 9338985065 emitido sobre a conta n.º
26824888101 do Finibanco, titulada pela “O2”, no valor de 50.100,00€.

1419.º Antes deste depósito, aquela conta apresentava um saldo de


apenas 496,00€.

1420.º A “O2” dissimulou, contabilisticamente, a razão da emissão


daquele cheque, registando-a como pagamento da factura n.º 486 da
“Mantenverde - Comércio de Sucatas Lda”, datada de 31-07-2009.

1421.º Em data não concretamente apurada, mas anterior a 14 de Julho


de 2009, António Paulo Costa indagou junto de João Ramos, funcionário do
Grupo Galp Energia, com funções no Departamento de Compras, da
existência de trabalhos a que Manuel Godinho se pudesse apresentar, ao
que aquele lhe disse que Manuel Godinho deveria enviar para a Galp uma
carta de apresentação da “O2”, acompanhada do respectivo curriculum e
licenças. (vide Ap. D5, fls. 18 a 20).

1422.º No dia 14 de Julho de 2009, junto da Rotunda existente nas


cercanias do Estádio Municipal de Aveiro, em Taboeira, Aveiro, Manuel
Godinho entregou a António Paulo Costa um envelope destinado à Direcção
de Compras do Grupo Galp Energia, contendo um dossier completo sobre a
“O2”, acompanhado de um cartão pessoal de Manuel Godinho, da indicação
dos resíduos que se achava habilitada a gerir e de uma carta de

1376
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

apresentação manifestando o propósito de prestar serviços na área dos


resíduos para o Grupo Galp Energia. (Confrontar com os Produtos 15053,
15055, 15078, 15079 e 15091 do Alvo 1T167PM).

1423.º Na posse destes documentos, António Paulo Costa deu-lhes


entrada na Direcção de Compras do Grupo Galp Energia.

1424.º No dia 17 de Julho de 2009, numa reunião na Câmara Municipal


do Porto a propósito da celebração de um protocolo de dação em
cumprimento dos terrenos da Rua do Ouro, Paiva Nunes revelou a Manuel
Pinto Teixeira, Chefe de Gabinete do Presidente daquela edilidade e ali
presente em sua representação, a disponibilidade da EDP para limpar o
terreno da Rua do Ouro, sendo certo que teria que ser notificada para tanto,
com nota de urgência, pela Câmara Municipal, de modo a invocar razões de
saúde pública e segurança para intervir.

1425.º Pelas 19h06, Manuel Pinto Teixeira enviou um e-mail para a conta
de correio electrónico de Aníbal António Caldas Lousa, Director do
Departamento de Gestão Urbanística e Fiscalização da Câmara Municipal
do Porto, dando-lhe conta da disponibilidade da EDP para limpar o terreno
da Rua do Ouro e solicitando-lhe que a notificasse, com nota de urgência,
de modo a habilitá-la a invocar razões de saúde pública e segurança para
intervir.

1426.º No dia 21 de Julho de 2009, o Conselho de Administração da


“IDD” adjudicou à BGR – Gestão de Resíduos, Ld.ª” a consulta por si
promovida designada “Venda de Sucata”.

1427.º No dia 22 de Julho de 2009, pelas 10h05, Aníbal Caldas


reencaminhou o e-mail recebido de Manuel Pinto Teixeira para Duarte
Manuel de Sá Guimarães Soares Lema, Chefe de Divisão Municipal de

1377
S. R.

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Fiscalização de Obras Particulares, e António Manuel Nunes de Sá Codeço,


Técnico Superior na Divisão Municipal de Fiscalização de Obras
Particulares, classificando-o de urgente e ordenando a realização de uma
inspecção urgente ao terreno da Rua do Ouro.

1428.º Pelas 10h35, António Codeço solicitou ao especialista principal


Carlos Santos a realização de uma inspecção urgente ao terreno da Rua do
Ouro.

1429.º Efectuada que foi a inspecção ao local, o especialista principal


Carlos Santos sugeriu a realização de obras imprescindíveis, com inicio até
30 dias após o conhecimento da notificação e a concluir no prazo de 90
dias, com a finalidade de eliminar o perigo iminente para a segurança e
saúde pública ou de pessoas e bens, nos prédios do Fundo de Pensões da
EDP, sitos na Rua do Ouro, no Porto, que se encontravam num estado
avançado de degradação.

1430.º Aquele técnico julgou indispensável a realização das seguintes


obras: Remoção a vazadouro próprio dos lixos, entulhos e escombros
resultantes dos desmoronamentos/desmantelamentos dos “corpos”
dispersos pelo terreno e que constituíam a unidade fabril, incluindo as
partes restantes dos não desmoronados, bem como dos “objectos”
domésticos fora de uso comum utilizados pelos intrusos para
“acampamentos” e limpeza com corte geral da densa vegetação, incluindo a
existente (vegetação) no interior do “pavilhão” contíguo ao edifício
confinante com a via pública – Rua do ouro/Rua Mocidade da Arrábida;
Entaipamento/fecho adequado dos vão dos dois (2) edifícios confinantes
com a via publica – Rua do Ouro/Calçada do Ouro e Rua do Ouro/Rua
Mocidade da Arrábida – a fim de eliminar/evitar a intrusão de estranhos,
originários de focos de marginalidade; Vedação da propriedade, incluindo
consolidação/reparação dos muros confinantes com as artérias públicas

1378
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

onde se encontra inserido a unidade fabril, a fim de evitar a intrusão de


estranhos e posterior deposição/acumulação de lixos.

1431.º Omitiu qualquer referência à necessidade de descontaminação do


terreno.

1432.º Mais consignou que pelo incumprimento do sugerido incorreria a


PensõesGere – Sociedade Gestora de Fundos de Pensões, S.A. e a EDP –
Imobiliária, S.A., enquanto proprietárias do terreno, numa coima até
250.000,00€, para além da Câmara Municipal do Porto poder tomar a posse
administrativa do prédio para executar as obras impostas, ficando a cargo
da EDP as despesas realizadas com a sua execução coerciva.

1433.º Este parecer mereceu o despacho favorável de António Manuel


Nunes de Sá Codeço, em substituição de Duarte Manuel de Sá Guimarães
Soares Lema, que se encontrava em gozo de férias, e de Aníbal Caldas.

1434.º Em 30 de Julho de 2009, a Câmara Municipal do Porto enviou um


fax à advogada, Luísa Filipa Ramalho Vilhena Mesquita, que assessorava
Paiva Nunes nas negociações com aquela autarquia, dando-lhe conta do
parecer supra aludido.

1435.º De imediato, aquela causídica transmitiu o conteúdo do fax


recebido a Paiva Nunes.

1436.º Nestes termos, no dia 31 de Julho de 2009, a Câmara Municipal


do Porto notificou a PensõesGere – Sociedade Gestora de Fundos de
Pensões, S.A. e a EDP – Imobiliária, S.A., enquanto proprietárias do
terreno, informando-as do teor do parecer técnico subscrito pelo especialista
principal Carlos Santos e concedendo-lhes o prazo de 15 dias úteis para
sobre aquele se pronunciarem.

1379
S. R.

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1437.º Face a esta notificação, no dia 31 de Julho de 2009, Vaz Branco,


técnico que havia acompanhado trabalhos similares efectuados
anteriormente nestas instalações, propôs os fornecedores a consultar -
Faustino Sousa, Construção Civil, Ld.ª, Elísio e Azevedo, Carvalho & Leal,
Ld.ª e Piso Verde, Construção Civil de Valverde, Ld.ª -, tendo elaborado as
minutas das cartas a solicitar propostas para os trabalhos a realizar.

1438.º Logo após, enviou estes documentos para Pedro Néu e para
Paiva Nunes.

1439.º Dando execução e cumprimento ao seu desígnio de conferir


verosimilhança de legalidade à consulta para adjudicação de trabalhos na
área dos resíduos a levar a efeito na Rua do Ouro, no Porto, neste mesmo
dia, pelas 12h53, Paiva Nunes solicitou a Manuel Godinho que indicasse o
nome das três empresas que pretendia ver convidadas. (Confrontar com o
Produto 3425 do Alvo 39559PM).

1440.º Logo após, pelas 13h08, por forma a satisfazer a demanda de


Paiva Nunes, Manuel Godinho ordenou a Namércio Cunha que indicasse e
enviasse, via fax, para as instalações da “SCI” o nome das três empresas
que pretendia ver consultadas no âmbito da consulta para adjudicação de
trabalhos na área dos resíduos a levar a efeito na Rua do Ouro, no Porto.
(Confrontar com o Produto 16675 do Alvo 1T167PM).

1441.º Cerca das 17h00, após tentativa falhada de remessa dos


elementos solicitados via fax, Manuel Godinho enviou SMS a Paiva Nunes
indicando as sociedades comerciais, denominadas “O2 – Tratamento e
Limpezas Ambientais, S.A.”, “2ndMarket – Recolha, triagem e reutilização
de Produtos Eléctricos e Electrónicos Usados, Ld.ª” e o empreiteiro António
Guilherme como as empresas que pretendia ver consultadas. (Confrontar
com os Produtos 3444 e 3446 do Alvo 39559PM).

1380
S. R.

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1442.º Após este contacto, Manuel Godinho instruiu Namércio Cunha a


elaborar a proposta a apresentar pela “O2”. (Confrontar com os Produtos
16657, 16675 e 16702 do Alvo 1T167PM).

1443.º Namércio Cunha, auxiliado por Elsa, funcionária da “O2” e técnica


especializada na área, apresentou a Manuel Godinho uma proposta no valor
de 300.000,00€.

1444.º Manuel Godinho, depois de a analisar e como tinha garantias


prévias de adjudicação dos trabalhos à “O2”, decidiu alterar aquele
montante para 780.000,00€.

1445.º Logo após, Manuel Godinho ordenou a Namércio Cunha que


entrasse em contacto com Paula Monterroso, funcionária da “2ndMarket –
Recolha, triagem e reutilização de Produtos Eléctricos e Electrónicos
Usados, Ld.ª” e técnica responsável daquela empresa pelas propostas a
apresentar em consultas públicas, e o empreiteiro António Guilherme para
que, quando convidados para tal, apresentassem propostas de valor
superior ao da “O2”.

1446.º Na realização deste propósito, quando interpeladas para tal, a


“2ndMarket – Recolha, triagem e reutilização de Produtos Eléctricos e
Electrónicos Usados, Ld.ª” deveria apresentar uma proposta no valor
950.000,00€, e o empreiteiro António Guilherme no valor de 1.150.000,00€.

1447.º Em vista do beneficio de Manuel Godinho e das suas empresas,


no dia 31 de Julho de 2009, pelas 17h37, Paiva Nunes informou-o que, em
breve, iria encetar no Pocinho, em Vila Nova de Foz Côa, nuns terrenos
propriedade do Grupo EDP, um procedimento semelhante ao por si
adoptado na Rua do Ouro. (Confrontar com o Produto 16705 do Alvo
1T167PM).

1381
S. R.

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1448.º Ainda e sempre no quadro da sua sujeição aos interesses de


Manuel Godinho, em data não concretamente apurada, mas anterior a 5 de
Agosto de 2009, António Paulo Costa, excedendo as competências e
atribuições próprias da função de responsável pelas Relações Institucionais
e Comunicação Interna, prevalecendo-se do seu cargo na hierarquia do
Grupo Galp Energia, colheu junto de Martins Carneiro, Administrador da
Sacor Marítima, S.A., a certeza que o batelão Sacor II não seria
desmantelado. (Confrontar com o Produto 14031 do Alvo 1T167PM).

1449.º Na posse desta notícia, endossou-a, de pronto, a Manuel


Godinho.

1450.º No dia 05 de Agosto de 2009, a Comissão Executiva do Conselho


de Administração da Galp Energia deliberou anular a consulta promovida
para o desmantelamento do batelão Sacor II, por ter concluído que
nenhuma das propostas apresentadas se revelava vantajosa. (vide fls.
23450).

1451.º No dia 11 de Agosto de 2009, Manuel Godinho almoçou com


António Paulo Costa no Restaurante “Sete Mares”, sito na Rua Columbano
Bordalo Pinheiro, em Lisboa. (Confrontar com o Produto 17498 do Alvo
1T167PM).

1452.º No dia 16 de Agosto de 2009, Vaz Branco entrou em gozo de


férias.

1453.º No dia 17 de Agosto de 2009, Paiva Nunes assinou e enviou as


minutas das cartas redigidas por Vaz Branco, em 31 de Julho de 2009, a
solicitar propostas para uma prestação de serviços de limpeza, demolições,
desmatação e remoção de resíduos, a realizar nas instalações da EDP,
sitas na Rua do Ouro, no Porto.

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1454.º Sucede, contudo, que, colocando o seu poder de decisão ao


serviço da prossecução dos interesses de Manuel Godinho e das suas
empresas, ao invés de as dirigir aos fornecedores seleccionados por aquele
técnico, endereçou-as às entidades indicadas por Manuel Godinho – “O2”,
“2ndMarket – Recolha, triagem e reutilização de Produtos Eléctricos e
Electrónicos Usados, Ld.ª” e o empreiteiro António Guilherme.

1455.º As cartas enviadas não mencionavam a necessidade de trabalhos


de descontaminação, não descreviam a forma como as propostas deveriam
ser apresentadas, não estabeleciam critérios de adjudicação, nem faziam
referência à existência de um Programa de Concurso e de um Caderno de
Encargos.

1456.º Aliás, numa derradeira tentativa de conferir uma aparência de


legalidade ao processo, o programa de concurso e o caderno de encargos
apenas viriam a ser preparados em Setembro de 2009,
contemporaneamente à elaboração do contrato de prestação de serviços.

1457.º Pese embora a notificação da Câmara Municipal do Porto nada


referisse relativamente à necessidade de descontaminação do terreno, até
porque esta entidade proibira a realização de quaisquer desaterros,
escavações ou movimento de terras, Paiva Nunes, por forma a maximizar
as mais-valias resultantes para Manuel Godinho e a garantir um mínimo de
verosimilhança dos preços a propor, incluiu na prestação de serviços a
descontaminação dos solos.

1458.º No dia 24 de Agosto de 2009, em representação da EDP –


Imobiliária e Participações, S.A., procuradora da sociedade PensõesGere –
Sociedade Gestora de Fundos de Pensões, S.A., Paiva Nunes enviou um
fax à Câmara Municipal do Porto expressando a sua concordância ao
parecer técnico do especialista principal Carlos Santos e aduzindo ter

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S. R.

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promovido um concurso com carácter urgente a fim de respeitar o prazo


concedido por aquela autarquia para a realização das obras.

1459.º Nos dias 18 e 26 de Agosto de 2009, Manuel Godinho encontrou-


se com Paiva Nunes, em Lisboa. (Confrontar com o Produto 18069 do Alvo
1T167PM e Produto 4421 do Alvo 39559PM).

1460.º Assim e tal como previamente acordado com Paiva Nunes, No dia
28 de Agosto de 2009, a “O2” apresentou uma proposta no valor de
780.000,00€ para a prestação de serviços de limpeza, demolições,
desmatação e remoção de resíduos a vazadouro, a realizar nas instalações
da EDP, sitas na Rua do Ouro, no Porto,

1461.º A “2ndMarket – Recolha, triagem e reutilização de Produtos


Eléctricos e Electrónicos Usados, Ld.ª” uma no montante de 950.000,00€

1462.º E o empreiteiro António Guilherme outra no valor de


1.150.000,00€.

1463.º Inexiste registo da data de recepção das propostas, da forma


como foram entregues na EDP Imobiliária e, bem assim, acta da sua
abertura.

1464.º Em Maio de 2004, a EDP havia realizado junto de quatro


empresas de demolição uma consulta para prestação de serviços de
demolição das construções já parcialmente demolidas, limpeza,
desmatação e, bem assim, de remoção e transporte para vazadouro dos
produtos da demolição nas suas instalações, sitas na Rua do Ouro.

1384
S. R.

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1465.º Em resposta ao convite formulado, para um prazo de execução de


30 dias, a empresa “Douro Jardim” apresentou uma proposta no valor de
34.450,00€ e a “Elísio & Azevedo” de 55.210,00€.

1466.º Sem consignar qualquer prazo de execução, a empresa “António


Babo & Cª” apresentou uma proposta no montante de 58.200,00€. A todas
acrescia IVA à taxa de 19%.

1467.º Não obstante, não foi dado qualquer andamento ao processo.

1468.º Em Julho de 2005, a EDP adjudicou a desmatação dos terrenos


da Rua do Ouro, por 7.600,00€, mais IVA.

1469.º No dia 31 de Agosto de 2009, Manuel Godinho, acompanhado por


Hugo Godinho e José Valentim, deslocou-se ao Hotel Mercure, em Lisboa,
onde se encontrou com Paiva Nunes. (vide RDE de fls. 4714 a 4729).

1470.º No dia 01 de Setembro de 2009, manejando com o poder de


decisão de Paiva Nunes, Manuel Godinho fez-lhe sentir a necessidade de
iniciar no mês de Setembro a prestação de serviços na área dos resíduos a
realizar na Rua do Ouro. (Confrontar com o Produto 4723 do Alvo
39559PM).

1471.º No dia 02 de Setembro de 2009, o Engenheiro Ricardo Santos,


não obstante desconhecesse as instalações e ignorasse a dimensão dos
trabalhos de que carecia, apenas com base na informação nelas contida,
analisou as propostas e elaborou um mapa comparativo onde indicou, para
cada fornecedor consultado, os valores das propostas, o prazo de
execução, o tipo de alvará, a existência de certificação ambiental, de
autorização de gestão de resíduos e de ficha de procedimentos de
segurança.

1385
S. R.

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1472.º Lançando mão do critério do preço mais baixo, concluiu ser a


proposta apresentada pela “O2” a mais vantajosa para a EDP.

1473.º Assumindo-se a proposta da “O2” como a mais baixa, a melhor


fundamentada e a única que possuía todos os alvarás, certificações e
autorizações necessárias à execução dos trabalhos, Paiva Nunes,
perseverando no fito de aportar uma aparência de legalidade ao
procedimento, solicitou uma reunião à “O2” com vista à prestação de
esclarecimentos e revisão da sua proposta.

1474.º Ainda neste dia, pelas 14h17, Manuel Godinho, aludindo a


deficientes condições de salubridade, saúde e segurança pública existentes
na Subestação da EDP, sita no Campo 24 de Agosto, no Porto, expressou a
Paiva Nunes o seu interesse na adjudicação de uma prestação de serviços
naquele local idêntica à da Rua do Ouro. (Confrontar com os Produtos 4813
e 4833 do Alvo 39559PM).

1475.º No dia 03 de Setembro de 2009, realizou-se uma reunião entre


Paiva Nunes, o Engenheiro Ricardo Santos, Namércio Cunha e Elisabete
Duarte, na qual foram solicitados esclarecimentos, informação técnica
adicional e revisão da proposta. (Confrontar com o Produto 4945 do Alvo
39559PM).

1476.º Comungando do propósito de conservar imaculado na aparência


o procedimento, nos dias 04 e 07 de Setembro de 2009, a “O2” apresentou
novas proposta no valor de 746.424,00€ e 740.000,00€, respectivamente.

1477.º No dia 04 de Setembro de 2009, pelas 11h50, Manuel Godinho


ordenou a Hugo Godinho que recolhesse fotografias da Subestação da
EDP, sita no Campo 24 de Agosto, no Porto, para as exibir a Paiva Nunes.
(Confrontar com o Produto 19486 do Alvo 1T167PM).

1386
S. R.

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1478.º Nos dias 07 e 08 de Setembro de 2009, o Engenheiro Pedro Néu


enviou e-mails a Paiva Nunes alertando-o para a discrepância dos valores
das propostas que haviam sido apresentadas relativamente a propostas
recebidas de outros fornecedores em 2004 para trabalhos similares nas
mesmas instalações (da ordem de vinte vezes mais), para uma parte dos
trabalhos e aos trabalhos similares realizados em 2005 para a outra (da
ordem de quinze vezes mais).

1479.º Mais consignou não alcançar a necessidade de incluir na


prestação de serviços a descontaminação do terreno, até porque a Câmara
Municipal do Porto proibira, taxativamente, a realização de quaisquer
escavações e a única contaminação expectável seria em profundidade.

1480.º Aduziu desconfiar de conluio entre os três fornecedores, dado que


eram da mesma região e só meia dúzia de km's os separavam e que, como
engenheiro, conhecendo a propriedade, os meios aplicáveis e o seu custo,
podia afirmar que o trabalho a efectuar não ascendia aos valores
apresentados pelos fornecedores.

1481.º Concluiu pela necessidade de instar os fornecedores a reverem


as propostas apresentadas.

1482.º Na posse desta informação e de modo a que os interesses de


Manuel Godinho e das suas empresas não fossem postos em causa, Paiva
Nunes ocultou-a dos demais membros do Conselho de Administração (os
quais dela vieram a ter conhecimento apenas no dia 28 de Outubro de
2009).

1483.º No dia 08 de Setembro de 2009, sentindo-se acossado pelos e-


mails do Engenheiro Pedro Néu, Paiva Nunes encontrou-se com Manuel
Godinho, em Lisboa, ocasião em que, persistindo no firme propósito de

1387
S. R.

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conferir verosimilhança de legalidade à consulta, corrigiu, definitivamente, a


proposta apresentada pela “02” através da introdução do faseamento dos
trabalhos. (Confrontar com os Produtos 5158, 5164 e 5169 do Alvo
39559PM).

1484.º Manuel Godinho aproveitou para lhe entregar as fotografias


relativas à Subestação da EDP, sita no Campo 24 de Agosto, no Porto.

1485.º Materializando o desiderato de não criação de fragilidades, no dia


09 de Setembro de 2009, a “O2” apresentou uma proposta final, no valor
global de 719.500,00€, dividindo os trabalhos a executar em três fases,
quais fossem:

Fase 1 - Serviço de Limpeza e Desmatação, com um valor de 94.500 €;

Fase 2 - Serviço de Desmantelamento, Triagem e Remoção de Resíduos,


com um valor de 275.000 €;

Fase 3 - Serviço de Descontaminação, Remoção e Tratamento de Resíduos,


com um valor de 350.000 €.

1486.º No dia 09 de Setembro de 2009, Paiva Nunes contactou Luís


António Marques Ferreira, Director da Plataforma de Negociação e Compras
da EDP Valor, informando-o que, por iniciativa da Câmara Municipal do
Porto, tinha necessidade de fazer uma demolição urgente na Rua do Ouro,
cuja solução iria levar à aprovação do Conselho de Administração a realizar
no dia seguinte. (Confrontar com o Produto 5192 do Alvo 39559PM).

1487.º Aduziu que a obra teria o valor de 90.000.00€ e que iria ser
adjudicada à “O2”, tendo o processo sido preparado por Ricardo Santos, da
equipa de Francisco Nogueira.

1388
S. R.

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1488.º Luís Ferreira retorquiu que não havia necessidade de se estar a


adjudicar outro contrato à “O2”, pois já existia um a que podiam recorrer
para a realização daqueles trabalhos, qual fosse o celebrado, em 01 de
Abril de 2008, entre a “EDP” e a “O2” para a Recolha e
Valorização/Eliminação de Resíduos de Postes de Betão.

1489.º A 10 de Setembro de 2009, com nota de urgência, dado que o


prazo concedido pela Câmara Municipal do Porto para o inicio das obras
terminava no dia seguinte, Paiva Nunes, sem previamente proceder ao seu
registo no sistema corporativa SINERGIE, como estava obrigado,
apresentou ao Conselho de Administração da EDP-Imobiliária e
Participações, S.A. proposta de deliberação relativa à consulta para a
“Demolição e Desmatação das Instalações do Ouro – Porto” com o seguinte
teor:

“As Instalações da Sociedade Gestora do fundo de Pensões do Grupo EDP


(PENSOESGERE) localizadas no Ouro no Porto, encontram-se num estado
avançado de degradação, sendo frequentemente utilizadas por intrusos para
actividades pouco adequadas à imagem da EDP.
O terreno apresenta-se como um foco de marginalidade e de vandalismo.
Potenciado pela densa vegetação existente e os resíduos urbanos que se
encontram espalhados no seu interior, existe um elevado risco de
propagação de incêndio, com consequência imprevisíveis.

1490.º Em resultado da situação descrita a PENSOESGERE foi


notificada pela Câmara Municipal do Porto para a realização de obras
mínimas e indispensáveis a fim de eliminar o perigo iminente para a
segurança e saúde pública ou de pessoas e bens, a iniciar até 30 dias após
o conhecimento da notificação e a concluir no prazo de 90 dias. Com o
incumprimento do solicitado na notificação, a EDP incorre numa coima entre
1.500 e 250.00 euros, além de a Câmara Municipal do Porto poder tomar a

1389
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

posse administrativa do imóvel para executar as obras impostas, ficando a


cargo da EDP as despesas realizadas com a execução coerciva.

1491.º Em resposta à notificação referida a EDP enviou à Câmara


Municipal do Porto uma carta comprometendo-se a cumprir o exigido na
mesma.

1492.º Acresce ainda, que o estado de contaminação dos solos tem sido
o principal obstáculo, referido pelos possíveis interessados, à
comercialização do terreno em causa.

1493.º Neste contexto, foram convidadas empresas com comprovada


experiência na área, a apresentar propostas para a Demolição,
Desmatação, Remoção de Resíduos e Descontaminação dos Solos. No
quadro seguinte, apresentam-se os resultados do concurso e das
negociações subsequentes com os concorrentes:

Empresas Valor (Euros)

2ndmarket 950.000

António Guilherme 1.150.000

O2 740.000

Proposta:

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S. R.

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Contratação da empresa O2 – Tratamento e Limpezas Ambientais para


execução dos trabalhos de Demolição, Desmatação, Remoção de Resíduos
e Descontaminação dos Solos.”

1494.º Paiva Nunes, de modo a que permanecesse ignoto dos restantes


membros do Conselho de Administração a inexistência de qualquer
exigência da Câmara Municipal do Porto relacionada com a
descontaminação dos solos e, assim, a satisfação plena dos interesses de
Manuel Godinho não perigasse, apenas lhes deu a conhecer a
documentação que instruía o processo de consulta no próprio dia da
reunião do Conselho de Administração, bem como

1495.º Subtraiu àquela documentação a folha da notificação da Câmara


Municipal do Porto na qual eram descritos e mencionados os trabalhos tidos
por necessários a realizar na Rua do Ouro, no Porto.

1496.º Não obstante, antes do início da reunião do Conselho de


Administração, o Administrador Joaquim Pedro de Macedo Santos detectou
a omissão e solicitou a folha em falta, assim defraudando e frustrando a
intenção de ocultação de Paiva Nunes da desnecessidade de realização de
trabalhos de descontaminação.

1497.º O Conselho de Administração da “EDP-Imobiliária e


Participações, S.A.” era, à data, constituído pelo Presidente, Nuno Maria
Pestana de Almeida Alves, e pelos Vogais, Paiva Nunes e Macedo Santos.

1498.º Nesse mesmo dia, o Conselho de Administração da “EDP-


Imobiliária e Participações, S.A.” adjudicou à “O2” contrato de prestação de
serviços a realizar na Rua do Ouro no Porto englobando os trabalhos
correspondentes à 1ª e 2ª fases da proposta apresentada por aquela
empresa, quais fossem:

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S. R.

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1499.º Limpeza, desmatação, separação, selecção, tratamento e


remoção a vazadouro dos resíduos existentes no terreno, resultantes de
demolição, integrados na planta anexa, incluindo pintura do muro da
vedação, no valor 94.500,00€;

1500.º Desmantelamento total, separação, selecção, tratamento e


remoção a vazadouro dos resíduos resultantes na totalidade do terreno, no
montante de 275.000,00€.

1501.º Não mereceu aprovação daquele Conselho de Administração a 3ª


fase correspondente a trabalhos de descontaminação, remoção, tratamento
em destino final, licenciado dos resíduos industriais e respectiva gestão
documental de modelos do Ministério do Ambiente comprovativos do
correcto tratamento dos resíduos, no valor de 350.000,00€.

1502.º No dia 11 de Setembro de 2009, a EDP-Imobiliária e


Participações, S.A., em carta assinada por Paiva Nunes, deu a conhecer à
“O2” a adjudicação do contrato de prestação de serviços a realizar na Rua
do Ouro no Porto.

1503.º Todavia e para que Manuel Godinho não se apercebesse do não


satisfação total da sua pretensão, naquela missiva olvidou qualquer
referência ao valor global da adjudicação e que apenas haviam sido
adjudicadas as duas primeiras fases.

1504.º No dia 11 de Setembro de 2009, após aprovação da adjudicação


pelo Conselho de Administração da EDP-Imobiliária e Participações, S.A.,
Noémia Carvalho informou, por e-mail, Cândida Almeida (da Pensões Gere
- Sociedade Gestora de Fundo de Pensões SA) da notificação da Câmara
Municipal do Porto e solicitou autorização para adjudicar à “O2” a execução

1392
S. R.

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dos trabalhos de Demolição, Desmatação, Remoção de Resíduos, a 1ª fase


no valor de 94.500,00€ e a 2ª no valor de 275.000,00€.

1505.º No mesmo dia, pela mesma via, Cândida Almeida autorizou a


adjudicação nos termos propostos.

1506.º Com data de 14 de Setembro de 2009, foi celebrado o contrato de


prestação de serviços entre a “O2” e a EDP-Imobiliária e Participações,
S.A., representada esta por Paiva Nunes, sem participação de qualquer
outro administrador, actuando como procurador da Pensões Gere, embora
não dispusesse de poderes para o efeito.

1507.º A prestação de serviços deveria, nos termos daquele contrato,


decorrer entre 14 de Setembro e 31 de Outubro de 2009.

1508.º Apesar de o Conselho de Administração apenas ter aprovado as


duas primeiras fases, Paiva Nunes incluiu a 3ª fase dos trabalhos no
contrato como uma prestação de serviços eventual, a qual teria início e
termo em data a designar por carta a enviar à “O2”.

1509.º O processo de contratação, desde a consulta até à assinatura do


contrato com a O2 foi desenvolvido pela EDP-Imobiliária e Participações,
S.A., como procuradora da Pensões Gere.

1510.º No entanto, a procuração passada, em 16 de Agosto de 2007, aos


administradores Macedo Santos e Paiva Nunes não conferia poderes
bastantes para esta contratação.

1511.º No dia 15 de Setembro de 2009, Manuel Godinho deu início à


prestação de serviços na Rua do Ouro, no Porto.

1393
S. R.

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1512.º No dia 21 de Setembro de 2009, pelas 11h45, Paiva Nunes


comunicou a Emílio Mesquita, então presidente da Câmara Municipal de
Vila Nova de Foz Côa, que lhe iria enviar o projecto hoteleiro da EDP para
terrenos seus no Pocinho, aduzindo que seria interessante para si proceder,
desde já, à demolição da estrutura ali existente, pois que, deste modo,
transmitiria a sensação de já se terem iniciado as obras previstas para
aquele local. (Confrontar com o Produto 5945 do Alvo 39559PM).

1513.º Emílio Mesquita concordou, ao que Paiva Nunes lhe sugeriu que
a Câmara Municipal por si presidida enviasse uma carta ao Conselho de
Administração da “EDP Imobiliária e Participações, S.A.”, com
conhecimento a si, descrevendo um cenário de urgência na limpeza
daquela zona.

1514.º Entretanto, Paiva Nunes instruiu Ricardo Santos a preparar uma


consulta pública para “Empreitada contínua de desmatação, demolição,
descontaminação e remoção de detritos a vazadouro”, que seria lançada
pela “EDP Valor”.

1515.º Ricardo Santos, seguindo ordens e instruções de Paiva Nunes,


reuniu com Luís Fernando Cadete Martins e Susana Maria Soares
Rodrigues de modo a preparar o lançamento daquela consulta.

1516.º Nesta reunião, Ricardo Santos, seguindo ordens e instruções de


Paiva Nunes, manifestou a vontade da “EDP Imobiliária e Participações,
S.A.” em ver incluída a “02” na lista de empresas a consultar.

1517.º No dia 22 de Setembro de 2009, pelas 18h44, denotando o seu


comprometimento com os interesses de Manuel Godinho, António Paulo
Costa asseverou a Paiva Nunes que, pese embora a demora, iria conseguir

1394
S. R.

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adjudicações para as empresas de Manuel Godinho. (Confrontar com o


Produto 6048 do Alvo 39559PM).

1518.º No dia 30 de Setembro de 2009, pelas 18h31, Manuel Godinho


informou Paiva Nunes do terminus da prestação de serviços na Rua do
Ouro. (Confrontar com os Produtos 6452 e 6465 do Alvo 39559PM).

1519.º Não obstante, por forma a justificar o elevado montante a que


havia ascendido aqueles trabalhos e, bem assim, a que não se criassem
suspeições, Paiva Nunes exortou Manuel Godinho a prolongá-los.

1520.º No dia 30 de Setembro de 2009, António Paulo Costa desculpou-


se perante Manuel Godinho pela delonga na concretização da adjudicação
ao universo empresarial por si gerido de contratos de prestação de serviços
na área dos resíduos. (Confrontar com o Produto 6452 do Alvo 39559PM).

1521.º Nesse mesmo dia, pelas 17h00, Manuel Godinho lamentou-se a


Paiva Nunes pela falta de materialização das promessas de adjudicações
que António Paulo Costa lhe fizera. (Confrontar com o Produto 6452 do Alvo
39559PM).

1522.º Momentos depois, em hora não concretamente apurada, mas


posterior às 17h00 e anterior às 18h31, perante as dificuldades por si
sentidas em assegurar a adjudicação às empresas de Manuel Godinho de
contratos de prestação de serviços na área dos resíduos, António Paulo
Costa solicitou a Manuel Godinho que lhe indicasse outros e diferentes
ramos de actividade em que pretendesse ser beneficiado.

1523.º Mais lhe forneceu o endereço de correio electrónico de João


Pereira Bastos, quadro do Grupo Galp Energia com funções no
Departamento de Compras, instando-o a enviar-lhe um e-mail apresentando

1395
S. R.

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a “O2” e solicitando ser consultado nas prestações de serviço na área dos


resíduos a promover pelo Grupo Galp Energia. (vide Ap. D4, fls. 111 a 113).

1524.º No dia 02 de Outubro de 2009, pelas 10h23, Namércio Cunha


enviou a João Pereira Bastos, com conhecimento a António Paulo Costa,
um e-mail com o seguinte teor:

“Estimado Dr. João Pereira Bastos,


Na sequência de um contacto com o nosso amigo Eng. Paulo Costa, vimos
por este meio enviar o nosso Company Profile com apresentação das áreas
de actividade da nossa empresa.
Deste modo, solicitamos a oportunidade de sermos consultados para
trabalhos que venham a realizar (…).” (Vide Ap. D4, fls. 111 a 113).

1525.º No dia 05 de Outubro de 2009, pelas 19h06, João Pereira Bastos


enviou a Namércio Cunha, com conhecimento a António Paulo Costa, um e-
mail com o seguinte teor: (vide Ap. D4, fls. 111 a 113).

1526.º “(…) Desde já agradecemos o Vosso contacto, que iremos


aproveitar em próximas consultas em que o âmbito se ajuste à Vossa
actividade (…).”

1527.º No quadro da vinculação de António Paulo Costa aos interesses


de Manuel Godinho e suas empresas, no dia 06 de Outubro de 2010, pelas
17h17, persistindo nas diligências tendentes a conseguir adjudicações às
empresas de Manuel Godinho na área dos resíduos, António Paulo Costa
instruiu Manuel Godinho a entrar em contacto com Jorge Nascimento,
quadro da Galp com funções no sector das compras, para com ele abordar
o estado de uma consulta relacionada com cobre existente na Refinaria de
Sines. (Confrontar com o Produto 22056 do Alvo 1T167PM).

1396
S. R.

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1528.º No dia 12 de Outubro de 2009, pelas 10h29, António Paulo Costa


enviou a João Pereira Bastos um e-mail agradecendo-lhe pela
disponibilidade revelada no contacto com a “O2”. (vide Ap. D4, fls. 111 a
113).

1529.º No dia 14 de Outubro de 2009, pelas 09h42, Manuel Godinho


lastimou a Paiva Nunes a circunstância de António Paulo Costa não mais
ter dado notícias sobre as suas iniciativas com vista à adjudicação às suas
empresas de prestações de serviços na área dos resíduos. (Confrontar com
o Produto 7238 do Alvo 39559PM).

1530.º Uma vez que havido sido ele quem tinha apresentado e
intermediado os contactos entre Manuel Godinho e António Paulo Costa,
nesse mesmo dia, pelas 09h54, Paiva Nunes indagou António Paulo Costa
sobre as diligências por si empreendidas no sentido de assegurar a
adjudicação às empresas de Manuel Godinho de prestações de serviços na
área dos resíduos. (Confrontar com o Produto 7240 do Alvo 39559PM).

1531.º António Paulo Costa sossegou-o, afirmando estar a diligenciar


afincadamente com tal propósito.

1532.º Sentindo que a indagação de Paiva Nunes reflectia o mal-estar de


Manuel Godinho pela ausência de resultados concretos, leia-se,
adjudicações, no dia 15 de Outubro de 2009, pelas 10h53, António Paulo
Costa deu nota a Manuel Godinho de se acharem em fase de conclusão
duas consultas nas quais a sua intervenção garantiria a sua adjudicação às
suas empresas, (Confrontar com o Produto 22800 do Alvo 1T167PM).

1533.º forneceu-lhe o contacto telefónico pessoal de José Luís Amorim,


director de compras do Grupo Amorim, para que lhe ligasse anunciando

1397
S. R.

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estar interessado em trabalhos na área dos resíduos produzidos por aquele


grupo e, bem assim,

1534.º que iria ser interpelado no sentido de vender sucata para a


Suécia.

1535.º No dia 17 de Outubro de 2009, face à ausência de resultados,


leia-se adjudicações, decorrentes da acção de António Paulo Costa em prol
dos seus interesses, Namércio Cunha, seguindo ordens e instruções de
Manuel Godinho, deslocou-se a Lisboa de comboio, local em que recolheu a
viatura Mercedes-Benz CL 65 AMG, com a matrícula 68-GV-25, que se
achava na posse de António Paulo Costa. (Confrontar com os Produtos
22965 e 23086 do Alvo 1T167PM).

1536.º Acto contínuo, conduziu-a até Aveiro, onde a devolveu a Manuel


Godinho.

1537.º No dia 09 de Novembro de 2009, o Conselho de Administração da


Sociedade Petróleos de Portugal - PETROGAL, S.A., decidiu instaurar
procedimento disciplinar e suspender provisoriamente António Paulo Costa
por violação dos deveres profissionais a que estava obrigado,
designadamente de probidade, zelo, diligência e lealdade.

1538.º No dia 12 de Novembro de 2009, pelas 20h00, a Assembleia-


Geral da “EDP – Imobiliária e Participações, S.A.”, deliberou suspender
temporariamente o arguido Paiva Nunes do exercício de funções de vogal
do Conselho de Administração da EDP-Imobiliária e Participações, S.A.
para o triénio de 2008 a 2010, por existirem indícios sérios e fundados da
prática de actos de gestão lesivos do interesse social, nomeadamente no
que respeita à regularidade dos procedimentos adoptados e à adequação

1398
S. R.

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das condições negociais aceites na contratação de serviços de gestão de


resíduos.

1539.º No dia 13 de Novembro de 2009, a “O2” deu por finda prestação


de serviços na Rua do Ouro, no Porto.

1540.º No dia 27 de Novembro de 2009, a Assembleia-Geral da “EDP –


Imobiliária e Participações, S.A.”, deliberou destituir o arguido Paiva Nunes
do cargo de vogal do Conselho de Administração, com justa causa e efeitos
imediatos, por violação grave dos deveres de actuação diligente e de
lealdade consagrados no art° 64° do Código de Socie dades Comerciais.

1541.º Por cartas datadas de 30 de Dezembro de 2009, recebidas a 07


de Janeiro de 2010 pela “EDP – Imobiliária e Participações, S.A.”, a O2
remeteu para pagamento as facturas n.ºs 759 e 760, emitidas a 30 de
Dezembro de 2009 e com data de vencimento a 29 de Janeiro de 2010, nos
montantes de 443,400,00€ e 13,650,00€, respectivamente, relativas à 1ª e
2ª fases da prestação de serviços na Rua do Ouro, no Porto.

1542.º Em 22 de Janeiro de 2010, a “EDP – Imobiliária e Participações,


S.A.” devolveu, sem pagamento, à “O2” as facturas apresentadas com
fundamento nos factos supra descritos.

1543.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir da forma supra


descrita, em seu nome e em representação e no interesse da “O2”, violando
a autonomia intencional do Estado, prometendo e entregando
contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais a Armando Vara, para que
exercesse a sua influência junto de entidades públicas no sentido do seu
favorecimento e da “O2” nos concursos e nas consultas públicas de
adjudicação e, bem assim, na adjudicação directa de contratos de compra e
venda e de prestação de serviços na área dos resíduos produzidos por

1399
S. R.

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empresas do sector empresarial do Estado, concessionárias de serviços


públicos e empresas privadas.

1544.º Mais sabia que aquele favorecimento, por violar os princípios da


legalidade, igualdade, transparência, objectividade, imparcialidade,
independência e da sã e leal concorrência, visava e era apto a colocá-lo a si
e à “O2” numa situação de privilégio em relação às demais empresas do
sector e, como tal, a provocar uma perversão das regras próprias do
mercado, distorcendo a concorrência e causando prejuízo patrimonial aos
seus competidores, o que quis.

1545.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

1546.º O arguido Armando Vara sabia e quis agir da forma supra


descrita, violando a autonomia intencional do Estado, a troco da promessa e
da entrega de contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais, que sabia não
lhe serem devidas, para exercer a sua influência junto de entidades públicas
no sentido de Manuel Godinho e da “O2” serem favorecidos nos concursos
e nas consultas públicas de adjudicação e, bem assim, na adjudicação
directa de contratos de compra e venda e de prestação de serviços na área
dos resíduos produzidos por empresas públicas, de capitais públicos, com
participação maioritária de capital público, concessionárias de serviços
públicos empresas do sector empresarial do Estado e concessionárias de
serviços públicos, nomeadamente junto de Paiva Nunes, vogal do Conselho
de Administração da “EDP-Imobiliária e Participações, S.A.”, empresa detida
a 100% pela “EDP – Energias de Portugal, S.A.”, concessionária do serviço
público de distribuição de electricidade, no sentido de criar aparentes
necessidades da celebração de contratos de compra e venda e de
prestação de serviços na área dos resíduos e assegurar a sua adjudicação
a Manuel Godinho e à “O2”.

1400
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

1547.º Mais sabia que aquele favorecimento, por violar os princípios da


legalidade, igualdade, transparência, objectividade, imparcialidade,
independência e da sã e leal concorrência, visava e era apto a colocar
Manuel Godinho e a “O2” numa situação de privilégio em relação às demais
empresas do sector e, como tal, a provocar uma perversão das regras
próprias do mercado, distorcendo a concorrência e causando prejuízo
patrimonial aos seus competidores, o que quis.

1548.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei, Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

1549.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir da forma supra


descrita, em seu nome e em representação e no interesse da “O2”, violando
a autonomia intencional do Estado, prometendo e entregando
contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais ao arguido Paiva Nunes,
Vogal do Conselho de Administração da EDP-Imobiliária e Participações,
S.A., para que praticasse actos contrários aos seus deveres, omitisse os
actos próprios das suas funções e se desviasse dos poderes inerentes ao
seu cargo e dos poderes de facto decorrentes do seu exercício e, assim, o
favorecesse a si e à “O2” nos concursos e nas consultas públicas de
adjudicação e, bem assim, na adjudicação directa de contratos de compra e
venda e de prestação de serviços na área dos resíduos produzidos pela
EDP-Imobiliária e Participações, S.A

1550.º Mais sabia que aquele favorecimento, por violar os princípios da


legalidade, igualdade, transparência, objectividade, imparcialidade,
independência e da sã e leal concorrência, visava e era apto a colocá-lo a si
e à “O2” numa situação de privilégio em relação às demais empresas do
sector e, como tal, a provocar uma perversão das regras próprias do
mercado, distorcendo a concorrência e causando prejuízo patrimonial aos

1401
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

seus competidores, bem como à EDP-Imobiliária e Participações, S.A., o


que quis.

1551.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

1552.º O arguido Paiva Nunes sabia e quis agir da forma supra descrita,
em seu nome e em representação e no interesse da “O2”, violando a
autonomia intencional do Estado e infringindo exigências de legalidade,
objectividade, imparcialidade e independência que devem nortear o
desempenho de funções públicas, a troco da promessa e da entrega de
contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais, que sabia não lhe serem
devidas, ao mercadejar com a sua qualidade de Vogal do Conselho de
Administração da EDP-Imobiliária e Participações, S.A., praticando os supra
citados actos contrários aos seus deveres, omitindo os actos próprios das
suas funções e desviando-se dos poderes inerentes ao seu cargo e dos
poderes de facto decorrentes do seu exercício, subordinando a sua
vontade, as suas iniciativas e as suas decisões pelas peitas prometidas e
recebidas, no sentido do favorecimento de Manuel Godinho e da “O2” nos
concursos e nas consultas públicas de adjudicação e, bem assim, na
adjudicação directa de contratos de compra e venda e de prestação de
serviços na área dos resíduos produzidos pela “EDP-Imobiliária e
Participações, S.A.”, nomeadamente criando a aparente necessidade da
celebração de um contrato de prestação de serviços na área dos resíduos
na Rua do Ouro, no Porto, e garantindo a sua adjudicação à “O2”.

1553.º Mais sabia que aquele favorecimento, por violar os princípios da


legalidade, igualdade, transparência, objectividade, imparcialidade,
independência e da sã e leal concorrência, visava e era apto a colocar
Manuel Godinho e a “O2” numa situação de privilégio em relação às demais
empresas do sector e, como tal, a provocar uma perversão das regras

1402
S. R.

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próprias do mercado, distorcendo a concorrência e causando prejuízo


patrimonial aos seus competidores, bem como à EDP-Imobiliária e
Participações, S.A., o que quis.

1554.º Mais sabia que, ao praticar os supra referidos actos contrários aos
seus deveres, ao omitir os actos próprios das suas funções, ao se desviar
dos poderes inerentes ao seu cargo e dos poderes de facto decorrentes do
seu exercício na adjudicação à “O2” do contrato de prestação de serviços a
realizar na Rua do Ouro, no Porto, incluindo o serviço de descontaminação,
remoção e tratamento de resíduos, violava a fidelidade reclamada pela sua
qualidade de membro do Conselho de Administração da “EDP-Imobiliária e
Participações, S.A.”, infringindo exigências de legalidade, objectividade,
imparcialidade e independência que devem nortear o desempenho de
funções públicas, com o propósito de que Manuel Godinho e a “O2”
percebessem benefícios patrimoniais a que sabiam não terem direito, no
valor de 719.500,00€, não obstante conhecesse que ofendia interesses
patrimoniais da “EDP-Imobiliária e Participações, S.A.” cuja administração,
fiscalização, defesa e realização aquele cargo fazia sobre si impender e,
assim, lhe causava prejuízos, ao menos, de montante idêntico.

1555.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

1556.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir da forma supra


descrita, em seu nome e em representação e no interesse da “O2”,
prometendo e entregando contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais ao
arguido Paiva Nunes, que sabia não lhe serem devidas, para que, no
exercício da sua influência, participasse do seu propósito de determinar
António Paulo Costa à prática de actos contrários aos seus deveres, à
omissão dos actos próprios das suas funções e a desviar-se dos poderes
inerentes ao seu cargo e dos poderes de facto decorrentes do seu

1403
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

exercício, beneficiando Manuel Godinho e a “O2” nas suas relações


comerciais com o grupo GALP ENERGIA, SGPS, S.A. postergando os
interesses deste, nomeadamente nos concursos e nas consultas públicas
de adjudicação e, bem assim, na adjudicação directa de contratos de
compra e venda e de prestação de serviços na área dos resíduos
promovidos por aquele grupo.

1557.º Mais sabia que aquele favorecimento, por violar os princípios da


legalidade, igualdade, transparência, objectividade, imparcialidade,
independência e da sã e leal concorrência, visava e era apto a colocar
Manuel Godinho e a “O2” numa situação de privilégio em relação às demais
empresas do sector e, como tal, a provocar uma perversão das regras
próprias do mercado, distorcendo a concorrência e causando prejuízo
patrimonial aos seus competidores, o que quis.

1558.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

1559.º O arguido Paiva Nunes sabia e quis agir da forma supra descrita,
de comum acordo e em conjugação de esforços com o arguido Manuel
Godinho, prometendo ambos e entregando o arguido Manuel Godinho
contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais ao arguido António Paulo
Costa, que sabia não lhe serem devidas, para que praticasse actos
contrários aos seus deveres, omitisse os actos próprios das suas funções e
se desviasse dos poderes inerentes ao seu cargo e dos poderes de facto
decorrentes do seu exercício e, deste modo, beneficiasse Manuel Godinho
e a “O2” nas suas relações comerciais com o grupo GALP ENERGIA,
SGPS, S.A. prejudicando os interesses deste, nomeadamente nos
concursos e nas consultas públicas de adjudicação e, bem assim, na
adjudicação directa de contratos de compra e venda e de prestação de

1404
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

serviços na área dos resíduos promovidos pelo grupo GALP ENERGIA,


SGPS, S.A.

1560.º Mais sabia que aquele favorecimento, por violar os princípios da


legalidade, igualdade, transparência, objectividade, imparcialidade,
independência e da sã e leal concorrência, visava e era apto a colocar
Manuel Godinho e a “O2” numa situação de privilégio em relação às demais
empresas do sector e, como tal, a provocar uma perversão das regras
próprias do mercado, distorcendo a concorrência e causando prejuízo
patrimonial aos seus competidores, o que quis.

1561.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

1562.º O arguido António Paulo Costa sabia e quis agir da forma supra
descrita, a troco da promessa e da entrega de contrapartidas patrimoniais e
não patrimoniais, que sabia não lhe serem devidas, praticando os supra
citados actos contrários aos seus deveres, omitindo os actos próprios das
suas funções e desviando-se dos poderes inerentes ao seu cargo e dos
poderes de facto decorrentes do seu exercício, subordinando a sua
vontade, as suas iniciativas e as suas decisões pelas peitas prometidas e
recebidas, no sentido de favorecer Manuel Godinho e a “O2” nas suas
relações comerciais com o grupo GALP ENERGIA, SGPS, S.A. em
detrimento dos interesses deste, nomeadamente nos concursos e nas
consultas públicas de adjudicação e, bem assim, na adjudicação directa de
contratos de compra e venda e de prestação de serviços na área dos
resíduos promovidos pelo grupo GALP ENERGIA, SGPS, S.A.

1563.º Mais sabia que aquele favorecimento, por violar os princípios da


legalidade, igualdade, transparência, objectividade, imparcialidade,
independência e da sã e leal concorrência, visava e era apto a colocar

1405
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Manuel Godinho e a “O2” numa situação de privilégio em relação às demais


empresas do sector e, como tal, a provocar uma perversão das regras
próprias do mercado, distorcendo a concorrência e causando prejuízo
patrimonial aos seus competidores, o que quis.

1564.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

1565.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir da forma supra


descrita, em seu nome e em representação e no interesse da “O2”, violando
a autonomia intencional do Estado, prometendo e entregando
contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais a António Paulo Costa, para
que exercesse a sua influência junto de entidades públicas no sentido do
seu favorecimento e da “O2” nos concursos e nas consultas públicas de
adjudicação e, bem assim, na adjudicação directa de contratos de compra e
venda e de prestação de serviços na área dos resíduos produzidos por
empresas do sector empresarial do Estado, concessionárias de serviços
públicos e empresas privadas.

1566.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

1567.º O arguido António Paulo Costa sabia e quis agir da forma supra
descrita, violando a autonomia intencional do Estado, a troco da promessa e
da entrega de contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais, que sabia não
lhe serem devidas, para exercer a sua influência junto de entidades públicas
no sentido de Manuel Godinho e da “O2” serem favorecidos nos concursos
e nas consultas públicas de adjudicação e, bem assim, na adjudicação
directa de contratos de compra e venda e de prestação de serviços na área
dos resíduos produzidos por empresas do sector empresarial do Estado,
concessionárias de serviços públicos e empresas privadas, nomeadamente

1406
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

junto de José Chocolate Contradanças, vogal do Conselho de


Administração da IDD – Indústria de Desmilitarização e Defesa, S.A.

1568.º Mais sabia serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei
Penal, e apesar disso agiu livre e voluntariamente.

1569.º O arguido José Chocolate Contradanças sabia e quis agir da


forma supra descrita, violando a autonomia intencional do Estado e
infringindo exigências de legalidade, objectividade, imparcialidade e
independência que devem nortear o desempenho de funções públicas, a
troco da promessa e da entrega de contrapartidas patrimoniais e não
patrimoniais para si e/ou para António Paulo Costa, as quais representou
que lhe adviriam como consequência necessária da sua conduta em prol de
Manuel Godinho e que sabia não lhe serem devidas, ao mercadejar com a
sua qualidade de vogal do Conselho de Administração da IDD – Indústria de
Desmilitarização e Defesa, S.A., praticando os supra mencionados actos
contrários aos seus deveres, omitindo os actos próprios das suas funções e
desviando-se dos poderes inerentes ao seu cargo e dos poderes de facto
decorrentes do seu exercício, subordinando a sua vontade, as suas
iniciativas e as suas decisões às peitas que configurou como
necessariamente prometidas e recebidas, no sentido do favorecimento de
Manuel Godinho e da “O2” nas suas relações comerciais com a “IDD”,
mormente convidando-os, no exercício de poderes discricionários em
relação aos quais se determinou pelas compensações patrimoniais e/ou não
patrimoniais que cogitou que lhe adviriam como consequência necessária
da sua conduta em prol de Manuel Godinho, assumindo decisão diversa da
que teria tomado acaso aquela cogitação não tivesse acontecido, a
apresentar proposta no âmbito de uma consulta promovida por aquela
empresa na área dos resíduos, internamente designada por “Venda de
Sucata”.

1407
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

1570.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Manuel Godinho, em concurso


real e efectivo:

- autor material, sob a forma consumada, de dois crimes de tráfico


de influência, previsto e punido pelo art.º 335º, n.º 2 do Código Penal;

- autor material, sob a forma consumada, de um crime de corrupção


activa para acto ilícito, previsto e punido pelo art.º 374º, n.º 1 do Código
Penal;

- co-autor material, sob a forma consumada, de um crime de


corrupção activa no sector privado, previsto e punido pelo art.º 9º, n.ºs 1 e 2
da Lei n.º 20/08, de 21 de Abril;

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Armando Vara, autor material,


sob a forma consumada, de um crime de tráfico de influência, previsto e
punido pelo art.º 335º, n.º 1, al. a) do Código Penal.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Paiva Nunes, em concurso real


e efectivo:

1408
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

- autor material, sob a forma consumada, de um crime de corrupção


passiva para acto ilícito, previsto e punido pelo art.º 372º, n.º 1 do Código
Penal;

- autor material, sob a forma consumada, de um crime de


participação económica em negócio, previsto e punido pelo art.º 377º, n.º 1
do Código Penal;

- co-autor material, sob a forma consumada, de um crime de


corrupção activa no sector privado, previsto e punido pelo art.º 9º, n.ºs 1 e 2
da Lei n.º 20/08, de 21 de Abril.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido António Paulo Costa, em


concurso real e efectivo:

- autor material, sob a forma consumada, de um crime de corrupção


passiva no sector privado, previsto e punido pelo art.º 8º, n.ºs 1 e 2 da Lei n.º
20/08, de 21 de Abril;

- autor material, sob a forma consumada, de um crime de tráfico de


influência, previsto e punido pelo art.º 335º, n.º 1, al. a) do Código Penal.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido José António Contradanças,


autor material, sob a forma consumada, de um crime de corrupção passiva
para acto ilícito, previsto e punido pelo art.º 372º, n.º 1 do Código Penal.

1409
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Pelo exposto, constituiu-se a arguida “O2”, em concurso real e


efectivo:

- autora material, sob a forma consumada, de dois crimes de tráfico


de influência, previsto e punido pelas disposições conjugadas dos art.ºs 11º,
n.º 2, al. a), 90º A e 335º, n.º 2 do Código Penal;

- autora material, sob a forma consumada, de um crime de corrupção


activa para acto ilícito, previsto e punido pelas disposições conjugadas dos
art.ºs 11º, n.º 2, al. a), 90º A e 374º, n.º 1 do Código Penal;

- autora material, sob a forma consumada, de um crime de corrupção


activa no sector privado, previsto e punido pelas disposições conjugadas dos
art.ºs 4 e 9º, n.ºs 1 e 2 da Lei n.º 20/08, de 21 de Abril;

PARTE V – Da EMEF – Empresa de Manutenção de Equipamento


Ferroviário, S.A. e dos arguidos Manuel José Ferreira Godinho, Maribel
Marques Rodrigues, Namércio Pereira da Cunha, João Jorge da Silva
Godinho, Hugo Manuel de Sá Godinho, Manuel Nogueira da Costa, Paulo
Manuel Pereira da Costa, Mário Manuel Sousa Pinho, José Domingos
Lopes Valentim, José Manuel Santos Cunha e Rogério António Neto
Nogueira

1571.º A EMEF – Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário,


S.A. (doravante abreviadamente designada EMEF) foi constituída em
Dezembro de 1992, iniciando a sua laboração a 30 de Janeiro de 1993 como
sociedade anónima, detida a 100% pela CP – Caminhos de Ferro
Portugueses E.P.E.

1410
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

1572.º A EMEF dedica-se à reparação, manutenção e reabilitação de


locomotivas, automotoras, carruagens, vagões, máquinas pesadas e ligeiras
de manutenção de via e, bem assim, ao fabrico de vagões.

1573.º A 1 de Fevereiro de 2009 foi criada, por absorção do Grupo Oficinal


do Barreiro e da Manutenção Sul, a Unidade do Parque Oficinal do Sul.

1574.º José Santos Cunha é funcionário da EMEF, sendo Director do


Parque Oficinal do Sul, sito no Barreiro.

1575.º Em data não concretamente apurada, mas anterior a 2002, Manuel


Godinho solicitou a José Manuel Santos Cunha que, a troco de
compensações patrimoniais e/ou não patrimoniais, lhe garantisse a
adjudicação e lhe revelasse a natureza, as condições e os termos dos
concursos e das consultas públicas de adjudicação de contratos de compra e
venda e de prestação de serviços na área dos resíduos a lançar pela “EMEF”
e, bem assim, o conhecimento da identidade dos concorrentes, da natureza,
das condições, dos termos e do valor das propostas por estes apresentadas.

1576.º Para tanto, prometeu-lhe e entregou-lhe contrapartidas patrimoniais e


não patrimoniais.

1577.º No período compreendido entre 2002 e 2007, com excepção dos


anos de 2003 e 2005, a propósito da quadra natalícia, por forma a, desde
logo, criar e potenciar um clima de permeabilidade e cumplicidade para
posteriores diligências e de predisposição à aceitação das suas pretensões
ou mesmo com carácter remuneratório (bónus), Manuel Godinho entregou,
em nome das sociedades comerciais que compõem o universo empresarial,
directa ou indirectamente, por si gerido, diferentes bens, a título de
presentes, a José Manuel Santos Cunha.

1411
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

1578.º No ano de 2002, Santos Cunha viu ser-lhe atribuída a categoria C, a


sexta mais elevada, tendo recebido um balde de gelo pequeno “Zanzibar”, no
valor de 79,00€; no ano de 2004, foi-lhe atribuída a categoria A, a quarta
mais elevada, tendo recebido um balde de gelo grande “Zanzibar” e quatro
copos, no valor de 133,50€; no ano de 2006, manteve aquela categoria,
tendo recebido uma garrafa Spirit e uma garrafa de Whisky de 18 anos, no
valor não inferior a 150,00€; no ano de 2007, conservou aquela categoria,
tendo recebido um delicanter base madeira, no valor de 198,00€. (vide a
referida Lista de Prendas).

1579.º Perante as contrapartidas prometidas e recebidas, José Santos


Cunha, traficando com a sua qualidade de funcionário da EMEF, em
flagrante violação das suas obrigações funcionais e com evidente prejuízo
para a sua entidade patronal, aceitou a proposta.

1580.º Rogério Nogueira foi, até Maio de 2009, funcionário da EMEF


(ocasião em que rescindiu, por mútuo acordo, o vínculo laboral), exercendo
funções de Técnico Oficinal – Chefe do Planeamento do Parque Oficinal do
Sul.

1581.º Em data não concretamente apurada, mas anterior a 2004, Manuel


Godinho solicitou a Rogério Nogueira que, a troco de compensações
patrimoniais e/ou não patrimoniais, permitisse a subtracção e apropriação de
resíduos das instalações da EMEF.

1582.º Para tanto, Manuel Godinho prometeu-lhe e entregou-lhe


contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais.

1583.º Nos anos de 2004 e 2006, a propósito da quadra natalícia, por forma
a, desde logo, criar e potenciar um clima de permeabilidade e cumplicidade
para posteriores diligências e de predisposição à aceitação das suas

1412
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

pretensões ou mesmo com carácter remuneratório (bónus), Manuel Godinho


entregou, em nome das sociedades comerciais que compõem o universo
empresarial, directa ou indirectamente, por si gerido, diferentes bens, a título
de presentes, a Rogério António Neto Nogueira.

1584.º No ano de 2004, Rogério Nogueira viu ser-lhe atribuída a categoria


F, tendo recebido um cabaz e uma garrafa de Whisky de 20 anos, no valor
de 72,75€; no ano de 2006, recebeu um cabaz e uma garrafa de Whisky de
18 anos, no valor de 50,00€.

1585.º Perante as contrapartidas prometidas e recebidas, Rogério Nogueira,


traficando com a sua qualidade de funcionário da EMEF, em flagrante
violação das suas obrigações funcionais e com evidente prejuízo para a sua
entidade patronal, aceitou a proposta.

1586.º A Rogério Nogueira competia a gestão dos resíduos depositados no


denominado "Parque de Sucata" do Parque Oficinal do Sul da EMEF, sito no
Barreiro.

1587.º Quando estes resíduos atingiam um volume considerável, Rogério


Nogueira alertava o seu superior hierárquico, José Santos Cunha, para a
necessidade de se proceder à abertura de consulta pública para a sua
remoção por lotes.

1588.º Nestas ocasiões, José Santos Cunha delegava em Rogério Nogueira


a selecção das empresas a convidar.

1589.º Em Junho de 2004, a EMEF lançou consulta pública de adjudicação


da alienação de um lote de sucata ferrosa e sobras de cabos eléctricos,
tendo convidado a apresentar propostas a “O2” e “André Mendes da
Agostinha – Armazenista de Sucata”.

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S. R.

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1590.º “André Mendes da Agostinha – Armazenista de Sucata” apresentou


proposta no valor de 2.000,00€, montante superior ao apresentado pela “O2”.

1591.º Em vista da sua vinculação aos interesses de Manuel Godinho e da


“O2”, José Santos Cunha revelou o teor da proposta apresentada pela
“André Mendes da Agostinha – Armazenista de Sucata” a Namércio Cunha,
ao mesmo tempo que lhe ofereceu a possibilidade de apresentar uma nova
proposta de valor superior.

1592.º Namércio Cunha assim fez e apresentou em nome da “O2” uma


proposta no valor de 2.500,00€.

1593.º Seguindo o critério do preço mais alto, a EMEF adjudicou à “O2” a


alienação de um lote de sucata metálica com cabos, pelo valor de 2.500,00€.

1594.º Em Outubro de 2004, a EMEF lançou consulta pública de


adjudicação da alienação de dois lotes de sucata ferrosa e não ferrosa, tendo
apresentado propostas a “O2” e “André Mendes da Agostinha – Armazenista
de Sucata”.

1595.º “André Mendes da Agostinha – Armazenista de Sucata” apresentou


proposta no valor de 10.000,00€, montante superior ao apresentado pela
“O2”.

1596.º Em vista da sua vinculação aos interesses de Manuel Godinho e da


“O2”, José Santos Cunha revelou o teor da proposta apresentada pela
“André Mendes da Agostinha – Armazenista de Sucata” a Namércio Cunha,
ao mesmo tempo que lhe ofereceu a possibilidade de apresentar uma nova
proposta de valor superior.

1414
S. R.

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1597.º Namércio Cunha assim fez e apresentou em nome da “O2” uma


proposta no valor de 11.920,00€.

1598.º Seguindo o critério do preço mais alto, a EMEF adjudicou à “O2” a


alienação de dois lotes de sucata ferrosa e não ferrosa, pelo valor de
11.920,00€. (conferir factura nº 2410002972, de 16-11-2004 da EMEF, a fls.
78).

1599.º No início do ano de 2005, a EMEF lançou consulta pública de


adjudicação da recolha, transporte e tratamento de diversos resíduos
existentes nas suas instalações, tendo apresentado propostas a “Auto Vila,
S.A.”, “Lobbe Derconsa, S.A.”, “Quimitécnica, S.A.”, “Correia & Correia, S.A.”
e “O2”.

1600.º Propostas houve que mostravam preços mais competitivos que a


apresentada pela “O2”.

1601.º Em vista da sua vinculação aos interesses de Manuel Godinho e da


“O2”, José Santos Cunha revelou o teor daquelas propostas a Namércio
Cunha, ao mesmo tempo que lhe ofereceu a possibilidade de apresentar
uma nova proposta de valor superior.

1602.º Namércio Cunha assim fez e apresentou em nome da “O2” uma


proposta no valor de 2.150,88€.

1603.º Seguindo o critério do preço mais baixo, a EMEF adjudicou à “O2” a


recolha, transporte e tratamento de diversos resíduos existentes nas suas
instalações, pelo valor de 2.150,88€.

1604.º Em Junho de 2005, a EMEF lançou consulta pública de adjudicação


da alienação de um lote de sucata metálica com cabos, tendo convidado a

1415
S. R.

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apresentar propostas a “O2” e “André Mendes da Agostinha – Armazenista


de Sucata”.

1605.º “André Mendes da Agostinha – Armazenista de Sucata” apresentou


proposta no valor de 7.000,00€, montante superior ao apresentado pela “O2”.

1606.º Em vista da sua vinculação aos interesses de Manuel Godinho e da


“O2”, José Santos Cunha revelou o teor da proposta apresentada pela
“André Mendes da Agostinha – Armazenista de Sucata” a Namércio Cunha,
ao mesmo tempo que lhe ofereceu a possibilidade de apresentar uma nova
proposta de valor superior.

1607.º Namércio Cunha assim fez e apresentou em nome da “O2” uma


proposta no valor de 7.600,00€.

1608.º Seguindo o critério do preço mais alto, a EMEF adjudicou à “O2” a


alienação de um lote de sucata metálica com cabos, pelo valor de 7.600,00€.

1609.º No início do ano de 2008, a EMEF lançou consulta pública de


adjudicação da recolha, transporte e tratamento de diversos resíduos
existentes nas suas instalações, tendo apresentado propostas a
“Quimitécnica, S.A.”, “Correia & Correia, S.A.” e “O2”.

1610.º Propostas houve que mostravam preços mais competitivos que a


apresentada pela “O2”.

1611.º Em vista da sua vinculação aos interesses de Manuel Godinho e da


“O2”, José Santos Cunha revelou o teor daquelas propostas a Namércio
Cunha, ao mesmo tempo que lhe ofereceu a possibilidade de apresentar
uma nova proposta de valor inferior.

1416
S. R.

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1612.º Namércio Cunha assim fez e apresentou em nome da “O2” uma


proposta no valor de 1.403,60€.

1613.º Seguindo o critério do preço mais baixo, a EMEF adjudicou à “O2” a


recolha, transporte e tratamento de diversos resíduos existentes nas suas
instalações, pelo valor de 1.403,60€.

1614.º Em 15 de Maio de 2008, a EMEF lançou consulta pública de


adjudicação da alienação de um lote de sucata constituído por duas pontes
rolantes desmontadas e respectivos acessórios, tendo convidado a
apresentar propostas a “O2”, a “AGUF”, a “Marcovil – Metalomecânica de
Viseu, S.A.” e “José Maria de Sousa Vieira e Filhos, Ld.ª”.

1615.º Os concorrentes deviam apresentar as suas propostas até ao dia 28


de Maio de 2008.

1616.º No dia 26 de Maio de 2008, José Santos Cunha transmitiu a


Namércio Cunha que a “Marcovil – Metalomecânica de Viseu, S.A.” havia
apresentado uma proposta no valor de 18.750,00€, ao passo que as
restantes empresas convidadas se haviam abstido de apresentar proposta.

1617.º Na posse desta informação, de modo a assegurar a adjudicação, no


dia 27 de Maio de 2008, a “O2” apresentou uma proposta no valor de
23.000,00€.

1618.º Seguindo o critério do preço mais alto, a EMEF adjudicou à “O2” a


alienação de um lote de sucata constituído por duas pontes rolantes
desmontadas e respectivos acessórios pelo valor de 23.000,00€.

1619.º A “O2” procedeu ao levantamento daquela sucata no dia 05 de


Setembro de 2008.

1417
S. R.

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1620.º Em 16 de Janeiro de 2009, a EMEF lançou consulta pública de


adjudicação da alienação de um lote de sucata ferrosa diversa, tendo
convidado a apresentar propostas a “O2”, a “Serralharia Sovieira, Ld.ª”, a
“Marcovil – Metalomecânica de Viseu, S.A.” e “José Maria de Sousa Vieira e
Filhos, Ld.ª”.

1621.º Os concorrentes deviam apresentar as suas propostas até ao dia 04


de Fevereiro de 2009.

1622.º No dia 03 de Fevereiro de 2009, pelas 17h44, uma vez que no dia
seguinte terminava o prazo estabelecido para a apresentação de propostas
no âmbito da supra aludida consulta, Manuel Godinho, por forma a garantir a
adjudicação à “O2”, instruiu Namércio Cunha a indagar José Santos Cunha
sobre os preços constantes das propostas apresentadas pelos demais
concorrentes. (Confrontar com o Produto 657 do Alvo 1T167PM).

1623.º Namércio Cunha acrescentou que, caso viesse a ser necessário face
aos valores apresentados pelos restantes concorrentes, José Santos Cunha
alteraria os valores constantes da proposta a apresentar pela “O2”.

1624.º No dia 04 de Fevereiro de 2009, em hora não concretamente


apurada, mas posterior às 09h11, José Santos Cunha transmitiu a Namércio
Cunha que a “Serralharia Sovieira, Ld.ª” havia apresentado uma proposta no
valor de 1.950,00€ e a “José Maria de Sousa Vieira e Filhos, Ld.ª” no
montante de 2.632,50€.(Confrontar com o Produto 723 do Alvo 1T167PM).

1625.º Na posse desta informação, de modo a assegurar a adjudicação, a


“O2” apresentou uma proposta no valor de 2.843,75€.

1418
S. R.

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1626.º Como forma de manter formalmente imaculado o procedimento,


Namércio Cunha datou a proposta da “O2” de 02 de Fevereiro de 2009 e
entregou-a, em mão, a José Santos Cunha.

1627.º Seguindo o critério do preço mais alto, a EMEF adjudicou à “O2” a


alienação de um lote de sucata ferrosa diversa pelo valor de 2.843,75€.

1628.º A “O2” procedeu ao levantamento de 16,250 toneladas de sucatas


ferrosas no período de tempo compreendido entre os dias 03 e 16 de Abril de
2009.

1629.º Inexistindo balança no Parque Oficinal do Sul, esta quantidade foi


apurada a partir dos talões de pesagem apresentados pela “O2”.

1630.º No dia anterior ao dealbar dos trabalhos, no quadro da sua


vinculação aos interesses de Manuel Godinho e das suas empresas, Rogério
Nogueira deu nota a Hugo Godinho da possibilidade de subtraírem do
Parque Oficinal do Sul da EMEF, sito no Barreiro, pelo menos, quarenta
toneladas de sucata metálica, constituída por aço e ferro fundido, no valor
não inferior a 7.000,00€.

1631.º De pronto, Hugo Godinho transmitiu aquela informação a Manuel


Godinho, o qual, de imediato, o instruiu a retirar e fazer coisa sua a dita
sucata metálica. (Confrontar com o Produto 5713 do Alvo 1T167PM).

1632.º Acto contínuo, Hugo Godinho sugeriu a entrega de uma


compensação monetária a Rogério Nogueira, sendo que Manuel Godinho a
remeteu para momento ulterior.

1633.º No dia 03 de Abril de 2009, de comum acordo e em conjugação de


esforços com Rogério Nogueira, Hugo Godinho dirigiu a retirada do "Parque

1419
S. R.

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de Sucata" do Parque Oficinal do Sul da EMEF de, pelo menos, quarenta


toneladas de sucata metálica, constituída por aço e ferro fundido, no valor
não inferior a 7.000,00€, a qual fez coisa de Manuel Godinho.

1634.º No decurso da subtracção, Hugo Godinho informou Manuel Godinho


do seu andamento, frisando ter garantido a Rogério Nogueira uma
compensação monetária, não obstante este ter asseverado que, desta feita,
não desejava qualquer contrapartida patrimonial, por considerar que Manuel
Godinho já o havia ajudado muito.

1635.º Em obediência ao princípio da repartição de tarefas dentro da


organização delituosa criada e idealizada por Manuel Godinho, de acordo
com as capacidades, aptidões e qualificações dos seus membros, Maribel
Rodrigues canalizou os resíduos assim subtraídos para as instalações da
sociedade comercial, denominadas “M5 Gestão de Resíduos Industriais,
Unipessoal”, cuja gerência de direito incumbe a Nogueira da Costa.

1636.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir da forma supra descrita,
violando a autonomia intencional do Estado, prometendo e entregando
contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais ao arguido José Santos
Cunha, funcionário da EMEF, para que praticasse actos contrários aos seus
deveres, omitisse os actos próprios do cargo que desempenhava, se
desviasse dos poderes inerentes ao seu cargo e dos poderes de facto
decorrentes do seu exercício e, assim, o favorecesse a si e às suas
empresas na sua relação comercial com a “EMEF” preterindo os interesses
desta, designadamente lhe garantisse a adjudicação e lhe revelasse a
natureza, as condições e os termos dos concursos e das consultas públicas
de adjudicação de contratos de compra e venda e de prestação de serviços
na área dos resíduos e, bem assim, o conhecimento da identidade dos
concorrentes, da natureza, das condições, dos termos e do valor das
propostas por estes apresentadas naqueles concursos e consultas.

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S. R.

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1637.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

1638.º O arguido José Santos Cunha sabia e quis agir do modo supra
descrito, violando a autonomia intencional do Estado e infringindo exigências
de legalidade, objectividade, imparcialidade e independência que devem
nortear o desempenho de funções públicas, a troco da promessa de
contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais, que sabia não lhe serem
devidas, ao mercadejar com a sua qualidade de funcionário da EMEF,
praticando os actos contrários aos seus deveres supra citados, desviando-se
dos poderes inerentes ao seu cargo e dos poderes de facto decorrentes do
seu exercício, subordinando a sua vontade, as suas iniciativas e as suas
decisões pelas peitas prometidas, no sentido do favorecimento de Manuel
Godinho e das suas empresas na sua relação comercial com a “EMEF”
postergando os interesses desta, nomeadamente garantindo-lhe a
adjudicação e revelando-lhe a natureza, as condições e os termos dos
concursos e das consultas públicas de adjudicação de contratos de compra e
venda e de prestação de serviços na área dos resíduos e, bem assim, o
conhecimento da identidade dos concorrentes, da natureza, das condições,
dos termos e do valor das propostas por estes apresentadas naqueles
concursos e consultas.

1639.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

1640.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir da forma supra descrita,
violando a autonomia intencional do Estado, prometendo e entregando
contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais ao arguido Rogério Nogueira,
funcionário da “EMEF”, para que praticasse actos contrários aos seus
deveres, omitisse os actos próprios do cargo que desempenhava, se
desviasse dos poderes inerentes ao seu cargo e dos poderes de facto

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decorrentes do seu exercício e, assim, o favorecesse a si e às suas


empresas na sua relação comercial com a “EMEF” prejudicando os
interesses desta, designadamente criando as condições e permitindo a
subtracção e apropriação de resíduos das instalações da “EMEF”.

1641.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

1642.º O arguido Rogério Nogueira sabia e quis agir da forma supra


descrita, violando a autonomia intencional do Estado e infringindo exigências
de legalidade, objectividade, imparcialidade e independência que devem
nortear o desempenho de funções públicas, a troco da promessa e da
entrega de contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais, que sabia não lhe
serem devidas, ao mercadejar com a sua qualidade de funcionário da EMEF,
praticando os actos contrários aos seus deveres supra citados, omitindo os
actos próprios da função que desempenhava, desviando-se dos poderes
inerentes ao seu cargo e dos poderes de facto decorrentes do seu exercício,
subordinando a sua vontade, as suas iniciativas e as suas decisões pelas
peitas prometidas e recebidas, no sentido do favorecimento de Manuel
Godinho e das suas empresas na sua relação comercial com a “EMEF”
desconsiderando os interesses desta, nomeadamente criando as condições
e permitindo a subtracção e apropriação de resíduos das instalações da
“EMEF”.

1643.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

1644.º Os arguidos Manuel Godinho, Hugo Godinho e Rogério Nogueira


sabiam e quiseram agir da forma supra descrita, de comum acordo e em
conjugação de esforços, com o intuito concretizado de retirarem do "Parque
de Sucata" do Parque Oficinal do Sul da “EMEF” e fazerem coisa de Manuel

1422
S. R.

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Godinho e da “O2” as aludidas quarenta toneladas de sucata metálica,


constituída por aço e ferro fundido, no valor não inferior a 7.000,00€, bem
sabendo que eram pertença daquela empresa e que agiam contra a sua
vontade.

1645.º Mais sabiam serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei
Penal, e apesar disso agiram livre e voluntariamente.

1646.º O arguido Manuel Nogueira da Costa sabia e quis agir da supra


referida forma, recebendo as aludidas quarenta toneladas de sucata
metálica, constituída por aço e ferro fundido, no valor não inferior a
7.000,00€, com o propósito logrado de obter para si vantagem patrimonial,
não obstante soubesse que haviam sido subtraídas do "Parque de Sucata"
do Parque Oficinal do Sul da “EMEF”.

1647.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Manuel Godinho, em concurso


real e efectivo:

- autor material, sob a forma consumada, de dois crimes de


corrupção activa para acto ilícito, previsto e punido pelo art.º 374º, n.º 1 do
Código Penal;

- co-autor material, sob a forma consumada, de um crime de furto


qualificado, previsto e punido pelo art.º 203º, n.º 1, 204º, n.º 1, al. a) do Código
Penal.

1423
S. R.

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Pelo exposto, constituiu-se o arguido José Santos Cunha, autor


material, sob a forma consumada, de um crime de corrupção passiva para
acto ilícito, previsto e punido pelo art.º 372º, n.º 1 do Código Penal.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Rogério Nogueira, em concurso


real e efectivo:

- autor material, sob a forma consumada, de um crime de corrupção


passiva para acto ilícito, previsto e punido pelo art.º 372º, n.º 1 do Código
Penal;

- co-autor material, sob a forma consumada, de um crime de furto


qualificado, previsto e punido pelo art.º 203º, n.º 1, 204º, n.º 1, al. a) do Código
Penal.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Hugo Godinho, co-autor


material, sob a forma consumada, de um crime de furto qualificado, previsto
e punido pelo art.º 203º, n.º 1, 204º, n.º 1, al. a) do Código Penal.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Manuel Nogueira da Costa,


autor material, sob a forma consumada, de um crime de receptação, previsto
e punido pelo art.º 231º, n.º 1 do Código Penal.

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S. R.

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PARTE VI – Da Petróleos de Portugal – Petrogal, S.A. e dos arguidos


Manuel José Ferreira Godinho, Maribel Marques Rodrigues, Namércio
Pereira da Cunha, João Jorge da Silva Godinho, Hugo Manuel de Sá
Godinho, Manuel Nogueira da Costa, Paulo Manuel Pereira da Costa,
Mário Manuel Sousa Pinho, José Domingos Lopes Valentim e João
Manuel Tomás Tavares

1648.º A Petróleos de Portugal – Petrogal, S.A. (doravante designada


PETROGAL) é uma empresa detida a 100% pela Galp Energia, que se
dedica entre outras actividades, à refinação, produção, distribuição e venda
de combustíveis petrolíferos e produtos afins.

1649.º A PETROGAL é proprietária do chamado Complexo Industrial de


Sines (Refinaria de Sines).

1650.º Nesta refinaria, para além de todos os equipamentos destinados ao


seu funcionamento, existem diversos armazéns, destinados alguns à guarda
e manutenção de equipamentos e, bem assim,

1651.º um denominado "Parque de Sucata", a céu aberto, situado numa


zona distante da área Administrativa e dos Serviços.

1652.º João Manuel Tomás Tavares foi admitido como funcionário da


PETROGAL em 15 de Janeiro de 1979, exercendo, desde então, a sua
actividade profissional no Armazém, sito na Refinaria de Sines.

1653.º Até 30 de Junho de 2009, data em que foi alterada a estrutura da


Refinaria de Sines, a João Tavares, enquanto chefe de armazém da
PETROGAL, competia coordenar a actividade do Armazém de materiais da
Refinaria de Sines.

1425
S. R.

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1654.º Entre outras actividades, competia-lhe colaborar na identificação e


eliminação de artigos obsoletos, pela sua venda ou abate, bem como
participar no registo informático dos movimentos do armazém,
proporcionando as contabilizações correspondentes.

1655.º Para além do mais, João Tavares era responsável pelo designado
"Parque de Sucata", dispondo da chave do portão, que abria e fechava
quando necessário, designadamente aquando do depósito ou da retirada de
material.

1656.º Neste âmbito, competia-lhe coordenar as operações de


acompanhamento das entradas e saídas de sucata, procedendo, em caso de
venda, ao preenchimento dos formulários, incluindo as guias de venda a
dinheiro que serviriam de suporte à elaboração dos documentos de
contabilidade, designadamente notas de débito.

1657.º Em 15 de Setembro de 2008 e por um período de três anos, a


PETROGAL celebrou com a “O2” o Acordo-Quadro para Valorização de
resíduos metálicos - Processo de Venda n.º 313/08 -, nos termos do qual a
“O2” assumiu a prestação de serviços de recolha, transporte e valorização
dos resíduos metálicos que a PETROGAL lhe solicitasse.

1658.º No quadro da execução daquele acordo, quando se achavam


atestados os contentores onde eram depositados os resíduos, materiais e
equipamentos ali existentes sem qualquer aproveitamento, o arguido João
Tavares contactava com a “02”.

1659.º Nessas ocasiões, funcionários da “O2” deslocavam-se a Sines,


procedendo ao levantamento daquele tipo de material no "Parque de
Sucata", sendo obrigação do arguido João Tavares acompanhar o

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S. R.

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carregamento da sucata, fazer a sua segregação, pesagem e emissão de


guias com a designação das sucatas enviadas.

1660.º Para se apurar das quantidades de resíduos adquiridos pela “02”, os


veículos destinados ao seu transporte eram pesados, vazios à entrada e
carregados à saída.

1661.º No dia 17 de Janeiro de 2009, ocorreu nas instalações da Central de


Utilidades, no interior da área da Refinaria de Sines, um incêndio que causou
estragos significativos em diferentes materiais e equipamentos, mormente
em:

- Três quadros eléctricos de 10KV, que compunham a secção A1-BI, de


marca Efacec, com 26 celas, um outro que compunha a secção A2-B2 de
marca ABB com 12 celas, e ainda um outro que compunha a secção A3-B3
com 12 celas de marca Siemens;
- Um quadro eléctrico 3 KV de marca Efacec composto por 14 celas;
- Um quadro eléctrico de 380 V, Efacec/Amec e Alstom, com 120 gavetas;
- Um quadro eléctrico 3 KV de marca Efacec composto por 14 celas;
- Um quadro eléctrico de 380 V, Efacec/Amec e Alstom, com 120 gavetas;
- barramentos de cobre provenientes da ligação do quadro ABB para o
Siemens e do quadro Efacec;
- Seis UPS;
- todos os cabos eléctricos removidos da Central.

1662.º Feito o rescaldo do incêndio, os materiais e equipamentos


consumidos pelas chamas, por insusceptíveis de reutilização ou reparação,
foram considerados sucata e, como tal, depositados no denominado "Parque
de Sucata".

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S. R.

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1663.º Não obstante a sua deterioração, Amaral da Luz, superior hierárquico


do arguido João Tavares, deu-lhe conta de que os materiais e equipamentos
supra enunciados não podiam ser retirados do "Parque de Sucata", pois que
aguardavam a conclusão de procedimento concursal autónomo para a sua
venda.

1664.º Na verdade, pretendia a Petrogal retirar dos materiais e


equipamentos destruídos o alumínio e o cobre que os compunha, com vista à
sua posterior alienação.

1665.º Quanto à restante sucata existente no "Parque de Sucata", a João


Tavares cabia aplicar as condições financeiras constantes do Acordo-Quadro
para Valorização de resíduos metálicos.

1666.º Assim, competia-lhe proceder à segregação ou separação dos vários


materiais/resíduos, por forma a aplicar-lhes o preço correspondente e
indicado na tabela constante das aludidas condições financeiras.

1667.º Fruto do Acordo-Quadro para Valorização de resíduos metálicos


celebrado pela PETROGAL com a “O2” e da difusão noticiosa da ocorrência
do incêndio naquelas instalações, Manuel Godinho ordenou aos seus
funcionários que recolhessem registos fotográficos dos materiais e
equipamentos danificados e depositados no “Parque de Sucatas”.

1668.º João Tavares, enquanto responsável pelo “Parque de Sucatas” e


pela boa execução daquele Acordo-Quadro, estabeleceu uma relação de
proximidade com Manuel Godinho.

1669.º No dia 18 de Março de 2009, ao final da tarde, João Godinho,


seguindo ordens de Manuel Godinho, colocou num envelope 2.500,00€ e as
fotografias que retractavam os materiais e equipamentos danificados em

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S. R.

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resultado do incêndio de 17 de Janeiro de 2009 e depositados no “Parque de


Sucatas”. (Confrontar com o Produto 2743 do Alvo 38249PM).

1670.º No dia 19 de Março de 2009, nas instalações da Refinaria de Sines,


Manuel Godinho entregou a João Tavares o tal envelope contendo 2.500,00€
e as fotografias que retractavam os materiais e equipamentos danificados em
resultado do incêndio de 17 de Janeiro de 2009 e depositados no “Parque de
Sucatas”, para que, enquanto responsável pelo designado "Parque de
Sucata", omitisse os seus poderes/deveres de fiscalização e, assim,
consentisse e promovesse as condições necessárias à subtracção e
apropriação de resíduos sem a necessária facturação e pesagem e, bem
assim, de resíduos nobres como se de ferrosos se tratassem, mormente os
materiais e equipamentos danificados em resultado do incêndio de 17 de
Janeiro de 2009 e depositados no “Parque de Sucatas”.

1671.º Mais lhe prometeu a entrega de 10.000,00€ quando se aproximasse


o momento de efectivar a subtracção.

1672.º Perante as contrapartidas recebidas e prometidas, João Tavares


aceitou a proposta de Manuel Godinho.

1673.º No dia 17 de Abril de 2009, Hugo Godinho informou Manuel Godinho


que João Tavares, não obstante houvesse já garantido autorização superior
para que, no âmbito do Acordo-Quadro, se procedesse à retirada e
transporte dos resíduos existentes no “Parque de Sucatas”, que não os
resultantes do incêndio de 17 de Janeiro de 2009, necessitava de afastar
alguns trabalhadores que não interessava estarem presentes aquando do
carregamento.

1429
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

1674.º No dia 21 de Abril de 2009, Manuel Godinho almoçou com João


Tavares, no Restaurante “Bom Petisco”, sito em São Torpes, Sines. (vide
RDE de fls. 2158 a 2167).

1675.º Neste encontro, Manuel Godinho entregou a João Tavares os


10.000,00€ com os quais se havia comprometido, em 19 de Março de 2009.

1676.º No âmbito do acordo entre eles alcançado, Manuel Godinho, Hugo


Godinho e João Tavares arquitectaram uma forma de retirar os resíduos
nobres como se de ferrosos se tratassem existentes no “Parque de Sucatas”.

1677.º Os resíduos nobres seriam carregados na parte inferior dos camiões,


sendo que quando as galeras se achassem praticamente cheias, seriam
cobertos por uma fina camada de resíduos ferrosos para que, como tal,
fossem valorizados.

1678.º Deste modo, para além de iludirem qualquer controlo administrativo


ou policial que sobre os camiões viesse a incidir, logravam a pesagem da
totalidade dos resíduos como se de ferrosos se tratassem.

1679.º Nos dias 22, 23 e 24 de Abril de 2009, João Tavares, dando


execução ao pacto firmado com os arguidos Manuel Godinho e Hugo
Godinho, acompanhou a saída de sucata entregue à “O2”, em diferentes
carregamentos de camiões.

1680.º Como lhe competia, preencheu as respectivas guias de saída que


acompanham a guia de transporte da empresa a que se destina a
mercadoria (no caso a sucata), a guia de acompanhamento de resíduos,
modelo A, do Ministério do Ambiente e ainda o impresso GALP ARL, saída
de material, destinada à segurança da portaria da Refinaria.

1430
S. R.

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1681.º No dia 22 de Abril de 2009, preencheu 6 impressos GALP ARL,


saída de material, nos quais comunicou a saída de diversa sucata metálica,
sem discriminação, nos seguintes camiões de matrícula 89-CP-47, 41-FB-23,
33-CO-44, 75-EL-51, 75-EL-50, 41-FB-24, 75-EL-50 e 33-CO-45.

1682.º No dia 23 de Abril de 2009, preencheu 3 impressos GALP ARL,


saída de material, nos quais comunicou a saída de diversa sucata metálica,
sem discriminação, nos seguintes camiões de matrícula 75-EL-51, 33-CO-46,
33-CO-44 e 41-FB-24.

1683.º No dia 24 de Abril de 2009, preencheu 4 impressos GALP ARL,


saída de material, nos quais comunicou a saída de diversa sucata metálica,
sem discriminação, nos seguintes camiões de matrícula 33-CO-44, 75-EL-50,
33-CO-45, 75-EL-51, 89-CP-47 e 41-FB-24.

1684.º Acontece, todavia, que neste período de tempo, Hugo Godinho, sem
para tal estar autorizado, de comum acordo e em conjugação de esforços
com Manuel Godinho e João Tavares, dirigiu a retirada do “Parque de
Sucata” da Refinaria de Sines da PETROGAL de, pelo menos, cem
toneladas de cabos e fios de cobre, no valor de 550.000,00€, um quadro
eléctrico de 10 KV de marca Efacec, com 26 celas, um quadro eléctrico de
10 KV de marca, Siemens, com 12 celas e respectivos barramentos de
cobre, um quadro eléctrico 3 KV de marca Efacec composto por 14 celas e
respectivos barramentos de cobre, um quadro eléctrico de 380 V,
Efacec/Amec e Alstom, com 120 gavetas e respectivos barramentos, seis
UPS, no valor global de 61.045 €.

1685.º Por outro lado, estes quadros eléctricos e UPS integravam 14.380 kg
de cobre, no valor de 79.090,00€, e 1.000 kg de alumínio, no valor de
1.800,00€.

1431
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

1686.º Como tal, todo este material seria valorizado como se de resíduos
ferrosos se tratassem.

1687.º Todavia, pese embora tenha elaborado a respectiva guia de venda a


dinheiro à “O2”, João Tavares não a remeteu ao serviço competente para
que procedesse à emissão da nota de débito, de que aquela guia e
respectiva informação dela constante seria suporte, mantendo-a em arquivo
no seu posto de trabalho.

1688.º Assim, nem os carregamentos que documentou como saídas de


sucata metálica, sem discriminação, foram objecto de facturação à “O2”,
nomeadamente 25.000 kg de folhanga, no valor de 9.250,00€.

1689.º Destarte, Manuel Godinho retirou do “Parque de Sucata” da Refinaria


de Sines da PETROGAL e fez coisa sua e da “O2” os materiais e
equipamentos supra descritos, no valor global de 701.185,00€, causando um
prejuízo, ao menos, de idêntico montante à Petrogal.

1690.º Em obediência ao princípio da repartição de tarefas dentro da


organização delituosa criada e idealizada por Manuel Godinho, de acordo
com as capacidades, aptidões e qualificações dos seus membros, Maribel
Rodrigues canalizou os resíduos assim subtraídos para as instalações da
sociedade comercial, denominada “Mantenverde – Comércio de Sucatas,
Ld.ª”, cuja gerência de direito cabe a Paulo Pereira da Costa. (Confrontar
com os Produtos 7307, 7315, 7416, 7470, 7541, 7624, 7778, 12361, 12245,
12247, 12258, 638, 722, 727, 794, 800, 1505, 1515, 4527, 6716, 6746, 9454,
11061, 11390 e 11767 do Alvo 1T167PM e Produtos 2339 e 2815 do Alvo
38249PM).

1691.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir da forma supra descrita,
em seu nome e em representação e no interesse da “O2”, prometendo e

1432
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

entregando contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais ao arguido João


Tavares para que praticasse actos contrários aos seus deveres, omitisse os
actos próprios das suas funções e se desviasse dos poderes inerentes ao
seu cargo e dos poderes de facto decorrentes do seu exercício e, assim, o
favorecesse a si e à “O2” na sua relação comercial com a “PETROGAL”
preterindo os interesses desta, designadamente para que, enquanto
responsável pelo designado "Parque de Sucata", omitisse os seus
poderes/deveres de fiscalização e, assim, consentisse e promovesse as
condições necessárias à subtracção e apropriação de resíduos sem a
necessária facturação e pesagem e, bem assim, de resíduos nobres como se
de ferrosos se tratassem, mormente os materiais e equipamentos
danificados em resultado do incêndio de 17 de Janeiro de 2009 e
depositados no “Parque de Sucatas” da Refinaria de Sines da Petrogal.

1692.º Mais sabia que aquele favorecimento, por violar os princípios da


legalidade, igualdade, transparência, objectividade, imparcialidade,
independência e da sã e leal concorrência, visava e era apto a colocá-lo a si
e à “O2” numa situação de privilégio em relação às demais empresas do
sector e, como tal, a provocar uma perversão das regras próprias do
mercado, distorcendo a concorrência e causando prejuízo patrimonial aos
seus competidores e à PETROGAl, o que quis.

1693.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente..

1694.º O arguido João Tavares sabia e quis agir da forma supra descrita, a
troco da promessa e da entrega de contrapartidas patrimoniais e não
patrimoniais, que sabia não lhe serem devidas, praticando os actos
contrários aos seus deveres supra citados, omitindo os actos próprios da
função que desempenhava e desviando-se dos poderes inerentes ao seu
cargo e dos poderes de facto decorrentes do seu exercício, subordinando a

1433
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

sua vontade, as suas iniciativas e as suas decisões pelas peitas prometidas


e recebidas, no sentido de beneficiar Manuel Godinho e a “O2” na sua
relação comercial com a “PETROGAL” desconsiderando os interesses desta,
designadamente para que, enquanto responsável pelo designado "Parque de
Sucata", omitisse os seus poderes/deveres de fiscalização e, assim,
consentisse e promovesse as condições necessárias à subtracção e
apropriação de resíduos sem a necessária facturação e pesagem e, bem
assim, de resíduos nobres como se de ferrosos se tratassem, mormente os
materiais e equipamentos danificados em resultado do incêndio de 17 de
Janeiro de 2009 e depositados no “Parque de Sucatas” da Refinaria de Sines
da Petrogal.

1695.º Mais sabia que aquele favorecimento, por violar os princípios da


legalidade, igualdade, transparência, objectividade, imparcialidade,
independência e da sã e leal concorrência, visava e era apto a colocar
Manuel Godinho e a “O2” numa situação de privilégio em relação às demais
empresas do sector e, como tal, a provocar uma perversão das regras
próprias do mercado, distorcendo a concorrência e causando prejuízo
patrimonial aos seus competidores, o que quis.

1696.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

1697.º Os arguidos Manuel Godinho, Hugo Godinho e João Tavares sabiam


e quiseram agir da forma supra descrita, de comum acordo e em conjugação
de esforços, com o intuito concretizado de retirarem do "Parque de Sucata"
da Refinaria de Sines da PETROGAL e fazerem coisa de Manuel Godinho os
materiais e equipamentos supra descritos, no valor global de 701.185,00€,
bem sabendo que eram pertença daquela empresa e que agiam contra a sua
vontade.

1434
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

1698.º Mais sabiam serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei
Penal, e apesar disso agiram livre e voluntariamente.

1699.º O arguido João Tavares quis agir da forma supra descrita, no quadro
de uma mesma resolução criminosa, não obstante soubesse que, ao fazer
constar das guias e dos impressos supra aludidos a recolha de sucata
metálica quando haviam sido removidos resíduos nobres, punha em causa a
confiança e credibilidade das pessoas na exactidão e genuinidade merecidas
por aqueles documentos, visando, assim, obter para Manuel Godinho e para
a “O2” um benefício patrimonial a que sabiam não ter direito, pelo menos, no
montante de 701.185,00€, e causar à PETROGAL um prejuízo, ao menos,
de valor equivalente.

1700.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

1701.º O arguido Paulo Pereira da Costa sabia e quis agir da supra referida
forma, recebendo os mencionados materiais e equipamentos, no valor global
de 701.185,00€, com o propósito logrado de obter para si vantagem
patrimonial, não obstante soubesse que haviam sido subtraídos do "Parque
de Sucata" da Refinaria de Sines da Petrogal.

1702.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Manuel Godinho, em concurso


real e efectivo:

1435
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

- autor material, sob a forma consumada, de um crime de corrupção


activa no sector privado, previsto e punido pelo art.º 9º, n.ºs 1 e 2 da Lei n.º
20/08, de 21 de Abril;

- co-autor material, sob a forma consumada, de um crime de furto


qualificado, previsto e punido pelo art.º 203º, n.º 1, 204º, n.º 2, al. a) do Código
Penal.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido João Tavares, em concurso real


e efectivo:

- autor material, sob a forma consumada, de um crime de corrupção


passiva no sector privado, previsto e punido pelo art.º 8º, n.ºs 1 e 2 da Lei n.º
20/08, de 21 de Abril;

- co-autor material, sob a forma consumada, de um crime de furto


qualificado, previsto e punido pelo art.º 203º, n.º 1, 204º, n.º 2, al. a) do Código
Penal;

- autor material, sob a forma consumada, de um crime de falsificação


de documento, previsto e punido pelo art.º 256º, n.º 1, al. d) do Código Penal.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Hugo Godinho, em concurso


real e efectivo:

- co-autor material, sob a forma consumada, de um crime de furto


qualificado, previsto e punido pelo art.º 203º, n.º 1, 204º, n.º 2, al. a) do Código
Penal.

1436
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Paulo Pereira da Costa, autor


material, sob a forma consumada, de um crime de receptação, previsto e
punido pelo art.º 231º, n.º 1 do Código Penal.

Pelo exposto, constituiu-se a arguida “O2”, em concurso real e


efectivo:

- autora material, sob a forma consumada, de um crime de corrupção


activa no sector privado, previsto e punido pelas disposições conjugadas dos
art.ºs 4 e 9º, n.ºs 1 e 2 da Lei n.º 20/08, de 21 de Abril;

PARTE VII – Da CP - Comboios de Portugal E.P.E e dos arguidos


Manuel José Ferreira Godinho, Maribel Marques Rodrigues, Namércio
Pereira da Cunha, João Jorge da Silva Godinho, Hugo Manuel de Sá
Godinho, Manuel Nogueira da Costa, Paulo Manuel Pereira da Costa,
Mário Manuel Sousa Pinho, José Domingos Lopes Valentim e Ricardo
José Carvalho Anjos

1703.º A CP - Comboios de Portugal E.P.E. é, desde de Junho de 2009,


uma entidade publica empresarial, detida a 100% pelo Estado Português.

1704.º A CP - Comboios de Portugal, E.P.E. (doravante abreviadamente


designada CP) é responsável pela prestação de serviços de transporte
ferroviário nacional e internacional de passageiros.

1437
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

1705.º Ricardo José Carvalho Anjos é funcionário da “CP”, exercendo a


actividade de Assistente Administrativo na CP Serviços. (vide Ap. AC, fls. 5 a
7).

1706.º Encontrava-se e encontra-se colocado no Departamento de


Compras, Logística e Serviços.

1707.º Em data não concretamente apurada do ano de 2004, Namércio


Cunha, de comum acordo e em conjugação de esforços com Manuel
Godinho, solicitou a Ricardo José Carvalho Anjos que, a troco de
compensações patrimoniais e não patrimoniais, lhe revelasse o
conhecimento prévio da adjudicação, da natureza, das condições e dos
termos dos concursos e das consultas públicas de adjudicação de contratos
de compra e venda e de prestação de serviços na área dos resíduos a lançar
pela “CP” e, bem assim, o conhecimento da identidade dos concorrentes, da
natureza, das condições, dos termos e do valor das propostas por estes
apresentadas naqueles concursos e consultas.

1708.º Para tanto, Namércio Cunha, de comum acordo e em conjugação de


esforços com Manuel Godinho, prometeu-lhe a entrega de contrapartidas
patrimoniais e não patrimoniais.

1709.º Em 2004, a propósito da quadra natalícia, por forma a, desde logo,


criar e potenciar um clima de permeabilidade e cumplicidade para posteriores
diligências e de predisposição à aceitação das suas pretensões ou mesmo
com carácter remuneratório (bónus), Manuel Godinho entregou, em nome
das sociedades comerciais que compõem o universo empresarial, directa ou
indirectamente, por si gerido, a título de presente, a Ricardo José Carvalho
Anjos, atribuindo-lhe a categoria C, a quinta mais elevada, um balde de gelo
pequeno, no valor de 105,60€. (vide a referenciada Lista de Prendas).

1438
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

1710.º Perante as contrapartidas recebidas e prometidas, Ricardo Anjos


aceitou a proposta.

1711.º Deste modo, mercadejando com a sua qualidade de funcionário da


“CP”, em flagrante violação das suas obrigações funcionais e com notório
prejuízo para a sua entidade patronal, na execução do acordo celebrado com
Namércio Cunha e Manuel Godinho,

1712.º Em data não concretamente apurada, mas posterior a 01 de Julho e


anterior a 04 de Agosto de 2009, Ricardo Anjos deu-lhes conhecimento
prévio à sua divulgação pública da natureza, das condições e dos termos da
consulta pública de adjudicação do desmantelamento, de remoção e
transporte de resíduos resultantes de trinta carruagens estacionadas na
Estação do Pinheiro.

1713.º Em 01 de Julho de 2009, os serviços da “CP Frota” propuseram o


abate das carruagens estacionadas na Estação do Pinheiro, com
salvaguarda dos bogies, rodados e tampões de choque. (vide Ap. AC, fls.
55).

1714.º Em 07 de Julho de 2009, a Direcção Executiva da “CP Frota”


suscitou junto do Conselho de Administração proposta de coincidente teor e
sentido. (Ap. AC, fls. 24 e 28).

1715.º Em 16 de Julho de 2009, o Conselho de Administração da “CP”


deliberou autorizar o abate ao imobilizado da empresa de trinta carruagens
de via larga, para posterior venda para sucata, estacionadas na Estação do
Pinheiro, com salvaguarda dos bogies, rodados, tampões de choque,
distribuidores e acoplamentos pneumáticos.

1439
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

1716.º Em 04 de Agosto de 2009, a "CP", por intermédio de Dália Marques,


responsável pela área de Alienação e Valorização de Resíduos da CP
Serviços, lançou consulta pública de adjudicação do desmantelamento, de
remoção e transporte de resíduos resultantes de trinta carruagens
estacionadas na Estação do Pinheiro, tendo convidado a apresentar
propostas os três operadores por si licenciados para metais ferrosos para os
anos de 2009 e 2010 - "Batistas - Reciclagem de Sucatas, S.A.”, “Ipodec
Portugal – Gestão de Resíduos, Ld.ª” e “O2".

1717.º Este procedimento foi classificado como urgente, devendo os


operadores apresentar as suas propostas, até 11 de Agosto de 2009, para o
endereço de e-mail “cls@org.cp.pt” e iniciar o desmantelamento até 28 de
Agosto de 2009.

1718.º Nos termos do ponto 5 do e-mail convite, os critérios de adjudicação


repousavam no melhor preço e na ausência de dívidas à CP.

1719.º Sucede, contudo, que, entretanto, Dália Marques entrou em gozo de


férias.

1720.º Dada a urgência do procedimento, em 07 de Agosto de 2009, Manuel


João de Sá Almeida, membro da Direcção Executiva da CP Serviços,
designou Ricardo Anjos para a sua condução, incumbindo-o da recepção das
propostas, da elaboração dos mapas comparativos, de submeter à
aprovação a proposta mais vantajosa e, após aprovação, comunicar ao
fornecedor vencedor o resultado da consulta.

1721.º No dia 11 de Agosto de 2009, pelas 16h21, a "Batistas - Reciclagem


de Sucatas, S.A.” apresentou proposta para o desmantelamento, remoção e
transporte de resíduos resultantes de trinta carruagens estacionadas na
Estação do Pinheiro, no montante de 107.770,00€.

1440
S. R.

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1722.º Pelas 16h31, foi aquele e-mail reencaminhado para o arguido


Ricardo Anjos, que, nesse instante, tomou conhecimento do valor da
proposta apresentada pela "Batistas - Reciclagem de Sucatas, S.A.”. (vide
Ap. AC1, fls. 34).

1723.º Logo após, Ricardo Anjos informou Namércio Cunha que a proposta
da "Batistas - Reciclagem de Sucatas, S.A.” se cifrava em 107.770,00€.

1724.º No dia 11 de Agosto de 2009, pelas 20h25, Namércio Cunha fez


saber a Manuel Godinho que a proposta a apresentar pela “O2” para o
desmantelamento, remoção e transporte de resíduos resultantes de trinta
carruagens estacionadas na Estação do Pinheiro, face ao valor apresentado
pela "Batistas - Reciclagem de Sucatas, S.A.”, tinha que ascender a, pelo
menos, 110.000,00€. (Confrontar com os Produtos 13966, 13974 e 13976 do
Alvo 38250PM).

1725.º Acrescentou que a “Ipodec Portugal – Gestão de Resíduos, Ld.ª”


ainda não tinha apresentado a sua proposta, mas que, caso fosse
necessário, Ricardo Anjos, quando na posse do seu montante, alteraria o
valor da proposta da “O2” por forma a assegurar a adjudicação.

1726.º Obtido o consenso de Manuel Godinho, pelas 20h41, Namércio


Cunha enviou para o endereço de e-mail “cls@org.cp.pt” a proposta da “O2”
para o desmantelamento, remoção e transporte de resíduos resultantes de
trinta carruagens estacionadas na Estação do Pinheiro, no valor de
110.550,00€.

1727.º No dia 12 de Agosto de 2009, pelas 09h11, Ricardo Anjos transmitiu


a Namércio Cunha que a “Ipodec Portugal – Gestão de Resíduos, Ld.ª” não
havia apresentado proposta, pelo que estava garantida a adjudicação à “O2”
da consulta pública para o desmantelamento, remoção e transporte de

1441
S. R.

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resíduos resultantes de trinta carruagens estacionadas na Estação do


Pinheiro.(Confrontar com o Produto 14004 do Alvo 38250PM).

1728.º No dia 12 de Agosto de 2009, pelas 10h36, Namércio Cunha


asseverou a Manuel Godinho que, pese embora ainda não tivesse conhecido
formalização, a consulta promovida pela “CP” para o desmantelamento,
remoção e transporte de resíduos resultantes de trinta carruagens
estacionadas na Estação do Pinheiro havia sido adjudicada à “O2”.
(Confrontar com o Produto 14036 do Alvo 38250PM).

1729.º No dia 12 de Agosto de 2009, pelas 15h54, Ricardo Anjos enviou e-


mail a Sílvia Bento propondo a adjudicação à “O2” da consulta promovida
pela “CP” para o desmantelamento, remoção e transporte de resíduos
resultantes de trinta carruagens estacionadas na Estação do Pinheiro.
(Confrontar com o Produto 14081 do Alvo 38250PM e Ap. AC, fls. 61).

1730.º Pelas 15h57, Sílvia Bento enviou a Manuel João de Sá Almeida um


e-mail de idêntico sentido. (vide Ap. AC, fls. 60).

1731.º Pelas 17h37, Manuel João de Sá Almeida enviou a Paulo José da


Silva Magina, Vogal do Conselho de Administração da “CP”, um e-mail
propondo a adjudicação à “O2” da consulta promovida pela “CP” para o
desmantelamento, remoção e transporte de resíduos resultantes de trinta
carruagens estacionadas na Estação do Pinheiro. (vide Ap. AC, fls. 47).

1732.º Mais tarde, pelas 18h14, Ricardo Anjos deu conta a Namércio Cunha
de ter enviado um e-mail ao seu director propondo a adjudicação à “O2” e
que este, por sua vez, já o tinha remetido à Administração da “CP” com
semelhante proposta. (Confrontar com o Produto 14104 do Alvo 38250PM).

1442
S. R.

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1733.º Pelas 19h51, Paulo Magina autorizou a adjudicação à “O2” da


consulta promovida pela “CP” para o desmantelamento, remoção e
transporte de resíduos resultantes de trinta carruagens estacionadas na
Estação do Pinheiro. (vide Ap. AC, fls. 47).

1734.º Acontece, todavia, que, à data, a “O2” tinha uma dívida vencida para
com a “CP” no valor de 16.699,50€, relativa à factura n.º 2091000455,
emitida em 01 de Julho de 2009 com vencimento a trinta dias, relativa à
venda de sucata resultante da demolição de veículos ferroviários dispersos.
(vide Ap. 127, fls. 66).

1735.º No dia 13 de Agosto de 2009, entre as 18h29 e as 18h51, em


cumprimento do despacho de Paulo Magina, Ricardo Anjos enviou para o
endereço de correio electrónico de Namércio Cunha a factura e a
confirmação da adjudicação à “O2” da consulta promovida pela CP para o
desmantelamento, remoção e transporte de resíduos resultantes de trinta
carruagens estacionadas na Estação do Pinheiro. (Confrontar com o Produto
14193 do Alvo 38250PM e Ap. AC, fls. 44 e 45).

1736.º De seguida, pelas 18h51, Ricardo Anjos indagou Namércio Cunha


sobre as contrapartidas patrimoniais que lhe adviriam pela sua intervenção
no sentido do favorecimento da “O2” na consulta promovida pela CP para o
desmantelamento, remoção e transporte de resíduos resultantes de trinta
carruagens estacionadas na Estação do Pinheiro. (Confrontar com o Produto
14199 do Alvo 38250PM).

1737.º Namércio Cunha remeteu a sua determinação para ocasião posterior


em que estivessem presencialmente juntos. (vide Ap. AC, fls. 36 e 38).

1738.º No dia 21 de Agosto de 2009, a “O2” procedeu ao pagamento do


valor da adjudicação. (vide Ap. 127, fls. 67).

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S. R.

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1739.º O desmantelamento, remoção e transporte de resíduos resultantes


de trinta carruagens estacionadas na Estação do Pinheiro, Alcácer do Sal,
ocorreu entre os dias 24 de Agosto e 01 de Outubro de 2009.

1740.º Os arguidos Namércio Cunha e Manuel Godinho sabiam e quiseram


agir da forma supra descrita, de comum acordo e em conjugação de
esforços, em seu nome e em representação e no interesse da “O2”, violando
a autonomia intencional do Estado, prometendo e entregando contrapartidas
patrimoniais e não patrimoniais ao arguido Ricardo Anjos, funcionário da CP,
para que praticasse actos contrários aos seus deveres e se desviasse dos
poderes inerentes ao seu cargo e dos poderes de facto decorrentes do seu
exercício e, assim, favorecesse Manuel Godinho e as suas empresas na sua
relação comercial com a CP em detrimento dos interesses desta,
designadamente lhes revelasse a adjudicação, a natureza, as condições e os
termos dos concursos e das consultas públicas de adjudicação de contratos
de compra e venda e de prestação de serviços na área dos resíduos a lançar
pela CP, e, bem assim, o conhecimento da identidade dos concorrentes, da
natureza, das condições, dos termos e do valor das propostas por estes
apresentadas naqueles concursos e consultas.

1741.º Mais sabiam serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei
Penal, e apesar disso agiram livre e voluntariamente.

1742.º O arguido Ricardo Anjos quis agir do modo supra descrito, violando a
autonomia intencional do Estado e infringindo exigências de legalidade,
objectividade, imparcialidade e independência que devem nortear o
desempenho de funções públicas, a troco da promessa e da entrega de
contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais, que sabia não lhe serem
devidas, ao mercadejar com a sua qualidade de funcionário da CP,
praticando os actos contrários aos seus deveres supra citados e desviando-
se dos poderes inerentes ao cargo e dos poderes de facto decorrentes do

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S. R.

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seu exercício, subordinando a sua vontade, as suas iniciativas e as suas


decisões às peitas prometidas, no sentido do favorecimento de Manuel
Godinho e das suas empresas na sua relação comercial com a CP
prejudicando os interesses desta, nomeadamente dando-lhe conhecimento
prévio à sua divulgação pública da natureza, das condições e dos termos da
consulta pública de adjudicação do desmantelamento, de remoção e
transporte de resíduos resultantes de trinta carruagens estacionadas na
Estação do Pinheiro, transmitindo-lhe o conhecimento da identidade dos
concorrentes, da natureza, das condições e dos termos das propostas por
estes apresentadas naquela consulta e participando-lhe, previamente à sua
divulgação pública, a sua adjudicação à “O2”.

1743.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e apesar
disso agiu livre e voluntariamente.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Manuel Godinho, co-autor


material, sob a forma consumada, de um crime de corrupção activa para
acto ilícito, previsto e punido pelo art.º 374º, n.º 1 do Código Penal.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Namércio Cunha, co-autor


material, sob a forma consumada, de um crime de corrupção activa para
acto ilícito, previsto e punido pelo art.º 374º, n.º 1 do Código Penal.

1445
S. R.

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Pelo exposto, constituiu-se o arguido Ricardo Anjos, autor material,


sob a forma consumada, de um crime de corrupção passiva para acto
ilícito, previsto e punido pelo art.º 372º, n.º 1 do Código Penal.

PARTE VIII – Dos arguidos Manuel José Ferreira Godinho, Maribel


Marques Rodrigues, Namércio Pereira da Cunha, João Jorge da Silva
Godinho, Hugo Manuel de Sá Godinho, Manuel Nogueira da Costa, Paulo
Manuel Pereira da Costa, José Domingos Lopes Valentim e Mário Manuel
Sousa Pinho

1744.º Mário Manuel de Sousa Pinho é chefe do serviço de finanças de São


João da Madeira desde Agosto de 2007.

1745.º Manuel Godinho intercedeu junto de Mário Pinho no sentido de, a


troco de compensações patrimoniais e/ou não patrimoniais para si e para
terceiro, praticar actos contrários aos seus deveres funcionais, omitir actos
próprios das suas funções e, bem assim, exercer a sua influência para que
outros os praticassem e omitissem, nomeadamente preterissem formalidades
essenciais quanto à eficácia das notificações e incorressem em nulidades
processuais insanáveis, por forma a garantir o arquivamento dos processos
fiscais movidos contra o universo empresarial, directa ou indirectamente,
gerido por Manuel Godinho.

1746.º Para tanto, Manuel Godinho entregou a Mário Pinho, pelo menos,
32.500,00€, o veículo automóvel ligeiro de passageiros, marca Audi, modelo
A4 Avant Diesel, matrícula 68-75-XX, no valor de 15.000,00€, e um cartão de
acesso ao serviço móvel terrestre, suportando os custos decorrentes da sua
utilização;

1446
S. R.

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1747.º Perante as contrapartidas recebidas e prometidas, Mário Pinho


aceitou a proposta de Manuel Godinho.

1748.º Mário Pinho iniciou o seu percurso profissional, em 1974, no serviço


de finanças de Ferreira do Zêzere e, entre 1975 e 1985, esteve colocado em
Santa Maria da Feira.

Em 1986, esteve na Direcção de Finanças de Aveiro.


Entre finais de Dezembro de 1986 e Junho de 2001, trabalhou no
Serviço de Finanças de Esmoriz.
Entre Junho de 2001 e Janeiro de 2003, trabalhou no Serviço de
Finanças de Alcácer do Sal.
Entre Janeiro de 2003 e Setembro de 2003, trabalhou na
Repartição de Finanças Feira 4, que engloba as freguesias de Paços de
Brandão, Nogueira da Regedora, São Paio de Oleiros e Lamas.

1749.º Em Setembro de 2003, entrou de baixa, ocasião em que dealbou a


sua colaboração formal com Manuel Godinho, tendo estabelecido vínculo
laboral com a “O2”.

1750.º Em Abril de 2006, não obstante tenha conservado perene a sua


relação com Manuel Godinho, retomou funções públicas na Direcção de
Finanças de Aveiro, onde permaneceu até finais de Setembro de 2006.

1751.º Em Outubro de 2006, ingressou no Serviço de Finanças de Feira 4,


onde se manteve até à sua colocação em São João da Madeira.

1752.º Assim, mercadejando com a sua qualidade de funcionário público,


em flagrante violação das suas obrigações funcionais e com notório prejuízo
para o Estado, na execução do acordo celebrado com Manuel Godinho,

1447
S. R.

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1753.º No Processo de Execução Fiscal n.° 3760199801005995 , não


obstante os bens móveis apresentados como garantia se revelassem
insuficientes, Mário Pinho logrou que fosse proferido despacho dispensando
a prestação de garantia suplementar.

1754.º Por outro lado, não obstante tal isenção haja sido concedida a título
precário e, como tal, sujeita a reavaliação constante, Mário Pinho conseguiu
obstar à prática de diligências no sentido da reapreciação da situação.

1755.º No Processo de Execução Fiscal n.° 3760199901006002 , Mário


Pinho diligenciou para que fosse omitida a notificação para o exercício do
direito de audição antes da liquidação.

1756.º Por decisão, de 21 de Maio de 2008, do Tribunal Central


Administrativo Norte foi julgada procedente a impugnação apresentada
naquele Processo de Execução Fiscal, com fundamento na violação do
direito de audição antes da liquidação ancorado na ausência de notificação
para o exercício desse direito, verificando-se, assim, a sua caducidade.

1757.º No Processo de Execução Fiscal n.º 3760200701000470, Mário


Pinho conseguiu que fosse olvidada a notificação da liquidação, o que
conduziu à sua caducidade.

1758.º No Processo de Execução Fiscal n.º 3760199801007106 e apensos


(22 processos), Mário Pinho logrou mantê-lo, sem movimentação, na
Direcção de Finanças de Aveiro, entre 11 de Março de 1998 e 19 de Outubro
de 2000.

1759.º Por sentença do Tribunal Administrativo e Fiscal de Viseu, datada de


27 de Setembro de 2007, foram consideradas prescritas as dívidas

1448
S. R.

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exequendas constantes daquele processo e apensos, no valor global de


269.579,78€.

1760.º No Processo de Execução Fiscal n.º 3760200701003313, Mário


Pinho conseguiu que fosse olvidada a notificação da liquidação, o que
conduziu à sua caducidade.

1761.º Nos Processos de Execução Fiscal n.°s 3760200701004 123 e


3760199801000470, Mário Pinho logrou que para o mesmo bem móvel
(máquina escavadora de rastos) fossem atribuídos, em auto de penhora,
valores distintos (91.000,00€ e 68.000,00€, respectivamente) ajustados ao
valor necessário para efeitos de garantia daqueles processos litigados.

1762.º No Processo de Execução Fiscal n.º 3760200701003399, Mário


Pinho conseguiu que fosse olvidada a notificação da liquidação, o que
conduziu à sua caducidade.

1763.º Por Sentença do Tribunal Administrativo e Fiscal de Viseu, datada de


22 de Setembro de 2008, foi julgada procedente a oposição apresentada e
julgada extinta a execução fiscal, com fundamento na falta de notificação do
tributo dentro do prazo de caducidade.

1764.º No Processo de Execução Fiscal n.° 2585200701003291 e apenso


(n.°2585200701005878), Mário Pinho conseguiu a sua suspensão, pese
embora o valor dos imóveis nomeados fosse manifestamente insuficiente
para garantir a dívida exequenda.

1765.º No Processo de Execução Fiscal n.° 3760200709000742 , Mário


Pinho conseguiu que fosse olvidada a notificação da liquidação, o que
conduziu à sua caducidade.

1449
S. R.

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1766.º No dia 19 de Fevereiro de 2009, pelas 18h59, Manuel Godinho


informou João Godinho do arquivamento de um processo fiscal relativo à
“SCI”. (Confrontar com o Produto 2146 do Alvo 1T167PM).

1767.º No dia 20 de Fevereiro de 2009, pelas 08h55, Mário Pinho transmitiu


a Manuel Godinho que havia exercido a sua influência junto de Peixoto,
chefe do Serviço de Finanças de Ovar, e, assim, havia conseguido que fosse
olvidada a notificação da liquidação, o que conduziu à sua caducidade e ao
arquivamento do processo fiscal movido contra a “SCI”, objecto da conversa
que mantivera com João Godinho no dia anterior. (Confrontar com o Produto
2175 do Alvo 1T167PM).

1768.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir da forma supra descrita,
violando a autonomia intencional do Estado, prometendo e entregando
contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais ao arguido Mário Pinho,
funcionário público, para que praticasse actos contrários aos seus deveres,
omitisse actos próprios das suas funções, se desviasse dos poderes
inerentes ao seu cargo, dos poderes de facto decorrentes do seu exercício e,
bem assim, exercesse a sua influência para que outros os praticassem e
omitissem e, deste modo, garantisse o arquivamento dos processos fiscais
movidos contra o universo empresarial, directa ou indirectamente, gerido por
Manuel Godinho.

1769.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

1770.º O arguido Mário Pinho quis agir do modo supra descrito, violando a
autonomia intencional do Estado e infringindo exigências de legalidade,
objectividade, imparcialidade e independência que devem nortear o
desempenho de funções públicas, a troco da promessa de contrapartidas
patrimoniais e não patrimoniais, que sabia não lhe serem devidas, ao

1450
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

mercadejar com a sua qualidade de funcionário público, praticando os actos


contrários aos seus deveres supra citados, omitindo actos próprios das suas
funções, exercendo a sua influência para que outros os praticassem e
omitissem, desviando-se dos poderes inerentes ao cargo, dos poderes de
facto decorrentes do seu exercício, subordinando a sua vontade, as suas
iniciativas e as suas decisões às peitas prometidas e recebidas, no sentido
de garantir o arquivamento dos processos fiscais movidos contra o universo
empresarial, directa ou indirectamente, gerido por Manuel Godinho.

1771.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Manuel Godinho, autor


material, sob a forma consumada, de um crime de corrupção activa para
acto ilícito, previsto e punido pelo art.º 374º, n.º 1 do Código Penal.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Mário Pinho, autor material, sob


a forma consumada, de um crime de corrupção passiva para acto ilícito,
previsto e punido pelo art.º 372º, n.º 1 do Código Penal.

PARTE IX – Dos arguidos Manuel José Ferreira Godinho, Maribel


Marques Rodrigues, Namércio Pereira da Cunha, João Jorge da Silva
Godinho, Hugo Manuel de Sá Godinho, Manuel Nogueira da Costa, Paulo
Manuel Pereira da Costa, Mário Manuel Sousa Pinho e José Domingos
Lopes Valentim

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S. R.

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1772.º Em 26 de Novembro de 2007, a EDP Valor, Gestão Integrada de


Serviços, S.A celebrou com a “O2” o contrato n.º 005370907PIC/PNC-AA de
prestação de serviços de Recolha, Transporte e Valorização dos resíduos de
transformadores de potência (sem óleo).

1773.º Este contrato entrou em vigor a 02 de Janeiro de 2008, pelo período


de um ano, renovável por igual período, até um prazo máximo de quatro
anos, desde que nenhuma das partes o denunciasse com uma antecedência
de 30 dias.

1774.º Nos termos do clausulado deste Acordo-Quadro, o cobre que


compunha aqueles transformadores seria valorizado a 1220,00€/tonelada.

1775.º A José Mário Ferreira Serrão, Chefe de Secção de Manutenção,


Planeamento e Controlo, competia proceder à extracção do óleo existente
nos transformadores e, em seguida, fiscalizar o seu levantamento.

1776.º Pese embora esta extracção, obedecendo a indicações do fabricante


do transformador, a EDP admitia a imputação de mais 10% em relação ao
recolhido.

1777.º Uma vez efectuado o levantamento, José Serrão, nos termos do


Acordo-Quadro firmado, acompanhava o veículo destinado ao transporte do
transformador até à empresa de Manuel Godinho mais próxima.

1778.º Lá chegados, os transformadores eram pesados.

1779.º Acto contínuo, era comunicado a José Serrão o peso apurado, ao


que este o apunha na guia de acompanhamento de resíduos.

1452
S. R.

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1780.º No dia 11 de Fevereiro de 2009, funcionários da “O2”, auxiliados por


meios de transporte da sociedade “Riberlau”, sob a supervisão de Hugo
Godinho procederam à recolha e transporte de um transformador da
subestação de Mogofores, Anadia, da EDP – Distribuição de Energia, S.A.
para as instalações da “SCI”, sitas em Aveiro.

1781.º Após o levantamento do transformador, Manuel Godinho instruiu


Maribel Rodrigues a adulterar as pesagens a serem realizadas nas
instalações da SCI, indicando-lhe o peso que devia constar do talão de
pesagem do camião carregado, 40,5 toneladas, por forma a que, quando
fosse sujeito a pesagem descarregado, fosse apurado um peso líquido do
transformador manifestamente inferior ao real.

1782.º Pretendia, assim, Manuel Godinho alcançar um benefício patrimonial,


no montante de 14.640,00€, correspondente à diferença entre o peso líquido
real do transformador recolhido e o seu peso assim manipulado.

1783.º De pronto, Maribel Rodrigues elaborou um talão de pesagem nos


termos pretendidos por Manuel Godinho.

1784.º No cumprindo das suas obrigações funcionais, José Serrão escoltou


o transformador até àquelas instalações.

1785.º Lá chegados, Manuel Godinho remeteu José Serrão para a parte


reservada aos serviços administrativos.

1786.º Acto contínuo, o camião destinado ao transporte do transformador foi


pesado, sem que José Serrão tenha tido oportunidade de assistir à
operação.

1453
S. R.

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1787.º Logo após, foi-lhe comunicado que o peso líquido do transformador


era de 13,950 Kg, ao que José Serrão o apôs na guia de acompanhamento
de resíduos.

1788.º Sucede, contudo, que, desde logo, desconfiou da veracidade


daquele peso, pois que haviam sido recolhidos 14.000 litros de óleo do seu
interior.

1789.º Passado algum tempo, quando chamado a elaborar o relatório da


sua actividade, José Serrão constatou que nas tabelas de cadastros que
possuía, o peso daquele transformador, sem óleo, seria de 26,000Kg.

1790.º Assim, procedeu ao preenchimento de uma outra guia de


acompanhamento de resíduos na qual fez constar aquele peso.

1791.º Depois de várias e repetidas insistências, em Setembro de 2009, a


“O2” remeteu à EDP uma guia rectificativa e satisfez o preço de acordo com
os 26,000Kg.

1792.º No dia 13 de Fevereiro de 2009, funcionários da O2 – Tratamento e


Limpezas Ambientais, S.A., auxiliados por meios de transporte da Riberlau –
Transportes Internacionais, Ld.ª, sob a supervisão de Hugo Godinho
procederam à recolha e transporte de um transformador da subestação de
Atouguia da Baleia, Peniche, da EDP – Distribuição de Energia, S.A. para as
instalações da SCI – Sociedade Comercial e Industrial Metalomecânica, S.A.,
sitas em Aveiro.

1793.º Após o levantamento do transformador, Manuel Godinho instruiu


Maribel Rodrigues a adulterar as pesagens a serem realizadas nas
instalações da SCI, indicando-lhe o peso que devia constar do talão de
pesagem do camião carregado, 36,05 toneladas, por forma a que, quando

1454
S. R.

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fosse sujeito a pesagem descarregado, fosse apurado um peso líquido do


transformador manifestamente inferior ao real.

1794.º Pretendia, assim, Manuel Godinho alcançar um benefício patrimonial,


no valor de 3.037,80€, correspondente à diferença entre o peso líquido real
do transformador recolhido e o seu peso assim manipulado.

1795.º De pronto, Maribel Rodrigues elaborou um talão de pesagem nos


termos pretendidos por Manuel Godinho.

1796.º No cumprindo das suas obrigações funcionais, José Serrão escoltou


o transformador até àquelas instalações.

1797.º Lá chegados, Manuel Godinho não conseguiu ocultar de José Serrão


a pesagem do camião e, assim, viu os desígnios frustrados.

1798.º Estando presente, José Serrão inteirou-se que o peso líquido do


transformador era de 19,290Kg.

1799.º Os arguidos Manuel Godinho e Maribel Rodrigues sabiam e


quiseram agir da forma supra descrita, de comum acordo e em conjugação
de esforços, no quadro de uma mesma resolução criminosa, em seu nome e
em representação e no interesse da “O2”, procurando convencer a EDP que
os transformadores recolhidos em instalações suas, sitas em Mogofores e na
Atouguia da Baleia, apresentavam como peso 13,950 Kg e 16,800Kg,
respectivamente, quando, na verdade, pesavam 26,000Kg e 19,290 Kg,
respectivamente, de modo a valorizá-los e aliená-los à “O2” naquela medida,
bem sabendo que, deste modo, Manuel Godinho e a “O2” percebiam um
benefício patrimonial a que sabiam não ter direito, pelo menos, no montante
de 17.677,80€, e que, como tal, causavam à “EDP” um prejuízo, ao menos,
de valor equivalente.

1455
S. R.

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1800.º Os arguidos Manuel Godinho e Maribel Rodrigues quiseram agir da


forma supra descrita, de comum acordo e em conjugação de esforços, no
quadro de uma mesma resolução criminosa, em seu nome e em
representação e no interesse da “O2”, não obstante soubessem que, ao
fazerem constar dos talões de pesagem supra aludidos valores não
coincidentes com o peso real dos camiões destinados ao transporte dos
transformadores recolhidos em instalações da “EDP”, sitas em Mogofores e
na Atouguia da Baleia, punham em causa a confiança e credibilidade das
pessoas na exactidão e genuinidade merecidas por aquelas notações
técnicas, visando, assim, obter para Manuel Godinho e para a “O2” um
benefício patrimonial a que sabiam não ter direito, pelo menos, no montante
de 17.677,80€, e causar à “EDP” um prejuízo, ao menos, de valor
equivalente.

1801.º Mais sabiam serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei
Penal, e apesar disso agiram livre e voluntariamente.

Pelo exposto, constituíram-se os arguidos Manuel Godinho e


Maribel Rodrigues, co-autores materiais, sob a forma tentada, de um crime
de burla qualificada, previsto e punido pelos art.ºs 23º, n.º 1, 217º, n.º 1 e
218º, n.º 1 do Código Penal, em concurso real e efectivo, sob a forma
consumada, com um crime de falsificação de notação técnica, previsto e
punido pelo art.º 258º, n.º 1, al. c) do Código Penal.

Pelo exposto, constituiu-se a arguida “O2”, autora material, sob a forma


tentada, de um crime de burla qualificada, previsto e punido pelas
disposições conjugadas dos art.ºs 11º, n.º 2, al. a), 90º A e 217º, n.º 1 e 218º,
n.º 1 do Código Penal, em concurso real e efectivo, sob a forma consumada,
de um crime de falsificação de notação técnica, previsto e punido pelas

1456
S. R.

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disposições conjugadas dos art.ºs 11º, n.º 2, al. a), 90º A e 258º, n.º 1, al. c) do
Código Penal.

PARTE X – Da Lisnave, Estaleiros Navais, S.A. e dos arguidos Manuel


José Ferreira Godinho, Maribel Marques Rodrigues, Namércio Pereira da
Cunha, João Jorge da Silva Godinho, Hugo Manuel de Sá Godinho,
Manuel Nogueira da Costa, Paulo Manuel Pereira da Costa, Mário Manuel
Sousa Pinho e José Domingos Lopes Valentim, Manuel de São José
Gomes e Afonso Aguiar Figueiredo Costa

1802.º A LISNAVE, Estaleiros Navais, S.A. (doravante abreviadamente


designada LISNAVE) é uma sociedade anónima de capitais maioritariamente
privados, cujo objecto social radica na exploração de estaleiros navais para a
construção e reparação de navios, para o exercício de indústria, comércio,
bem como o desenvolvimento de actividade com esta conexas e afins. (vide
Ap.1, fls. 214 a 215 e Ap. 101, fls. 3 a 20).

1803.º A LISNAVE tem a sua sede social em Mitrena, Setúbal.

1804.º Pelo menos, desde 2001, a LISNAVE contratualizou com a “O2” a


recolha dos resíduos metálicos por si produzidos.

1805.º Entre 2001 e 2008, a LISNAVE assumiu-se, quer em termos relativos


quer em termos absolutos, como uma das principais fornecedoras da “O2”.
(vid Ap. 92, fls. 21 a 45).

1806.º A sucata metálica e as latas de tinta produzidos pela LISNAVE, em


Setúbal, eram contentorizadas e removidas para os respectivos parques de

1457
S. R.

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resíduos do estaleiro até ao seu levantamento para encaminhamento para


destino final adequado.

1807.º Manuel Gomes é funcionário da LISNAVE, tendo sido designado, em


2001, director do departamento de aprovisionamento. (vide Ap. AI, fls. 3 e 4,
24, 202 e 203, Ap. 24, fls. 107, Ap. Buscas S, fls. 140 e 141).

1808.º Em data não concretamente apurada do ano de 2002, Manuel


Godinho solicitou a Manuel Gomes que, a troco de compensações
patrimoniais e não patrimoniais, praticasse actos contrários aos seus deveres
funcionais, omitisse os actos próprios das suas funções e se desviasse dos
poderes inerentes ao seu cargo e dos poderes de facto decorrentes do seu
exercício e, assim, o favorecesse a si e à “O2” na sua relação comercial com
a “LISNAVE” preterindo os interesses desta, por forma a permitir a
subtracção e apropriação de resíduos metálicos como se de resíduos
industriais banais se tratassem, a incorrecta identificação dos resíduos
recolhidos, a adulteração da sua proporção, a pesagem global dos diferentes
resíduos recolhidos ignorando a necessária segregação e a sub-avaliação da
sucata recolhida.

1809.º Para tanto, Manuel Godinho prometeu e entregou a Manuel Gomes


contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais, as quais se vieram a
densificar na entrega, para além do mais, de, pelo menos, 10.000,00€.

1810.º No período compreendido entre 2002 e 2007, com excepção do ano


de 2005, a propósito da quadra natalícia, por forma a, desde logo, criar e
potenciar um clima de permeabilidade e cumplicidade para posteriores
diligências e de predisposição à aceitação das suas pretensões ou mesmo
com carácter remuneratório (bónus), Manuel Godinho entregou, em nome
das sociedades comerciais que compõem o universo empresarial, directa ou

1458
S. R.

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indirectamente, por si gerido, diferentes bens, alguns de valor considerável, a


título de presentes, a Manuel Gomes.

1811.º No ano de 2002, Manuel Gomes viu ser-lhe atribuída a categoria AA,
a terceira mais elevada, tendo recebido um estojo com delicanter base de
prata, no valor de 373,00€; no ano de 2003, foi-lhe atribuída a categoria AAA,
a segunda mais elevada, tendo recebido um estojo com decantador
“Herdade de Prata”, no valor de 685,00€; no ano de 2004, manteve aquela
categoria, tendo recebido um centro de mesa “Bahia”, no valor de 404,50€;
no ano de 2006, recebeu um centro castiçais ritual, no valor de 1.100,00€; no
ano de 2007, foi-lhe atribuída a categoria AAA, tendo recebido um cantil D.
João II, no valor de 330,00€, e um cantil português, no mesmo montante.

1812.º Perante as contrapartidas prometidas e recebidas, Manuel Gomes,


traficando com a sua qualidade de funcionário da LISNAVE, em flagrante
violação das suas obrigações funcionais e com notório prejuízo para a sua
entidade patronal, aceitou a proposta.

1813.º Figueiredo Costa é funcionário da LISNAVE, sendo responsável,


desde 01 de Junho de 2005, pelo sector de gestão de stocks e armazéns.
(vide fls. 17852 e Ap. AI1, fls. 202, 203 e 224 a 231).

1814.º O sector de gestão de stocks e armazéns mostra-se estruturalmente


integrado no departamento de aprovisionamento, sendo que Figueiredo
Costa depende hierarquicamente de Manuel Gomes.

1815.º Enquanto responsável pelo sector de gestão de stocks e armazéns,


compete a Figueiredo Costa controlar os resíduos metálicos expedidos pelo
estaleiro, assegurar o controlo dos pesos dos resíduos levantados e
assegurar o preenchimento das guias de acompanhamento de resíduos.

1459
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

1816.º Em data não concretamente apurada do ano de 2006, Manuel


Godinho solicitou a Figueiredo Costa que, a troco de compensações
patrimoniais e não patrimoniais, praticasse actos contrários aos seus deveres
funcionais, omitisse os actos próprios das suas funções e se desviasse dos
poderes inerentes ao seu cargo e dos poderes de facto decorrentes do seu
exercício e, assim, o favorecesse a si e à “O2” na sua relação comercial com
a LISNAVE postergando os interesses desta, por forma a permitir a
subtracção e apropriação de resíduos metálicos como se de resíduos
industriais banais se tratassem, a incorrecta identificação dos resíduos
recolhidos, a adulteração da sua proporção, a pesagem global dos diferentes
resíduos recolhidos ignorando a necessária segregação e a sub-avaliação da
sucata recolhida.

1817.º Para tanto, Manuel Godinho prometeu e entregou a Figueiredo Costa


contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais.

1818.º Nos anos de 2006 e 2007, a propósito da quadra natalícia, por forma
a, desde logo, criar e potenciar um clima de permeabilidade e cumplicidade
para posteriores diligências e de predisposição à aceitação das suas
pretensões ou mesmo com carácter remuneratório (bónus), Manuel Godinho
entregou, em nome das sociedades comerciais que compõem o universo
empresarial, directa ou indirectamente, por si gerido, diferentes bens, a título
de presentes, a Afonso Aguiar Figueiredo Costa.

1819.º No ano de 2006, Figueiredo Costa recebeu uma garrafa de Whisky


de 30 anos, no valor de 166,38€; no ano de 2007, recebeu uma garrafa
“Zanzibar” e um balde de gelo grande “Zanzibar”, no valor de 253,40€.

1820.º Perante as contrapartidas recebidas e prometidas, Figueiredo Costa,


traficando com a sua qualidade de funcionário da LISNAVE, em flagrante

1460
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

violação das suas obrigações funcionais e com evidente prejuízo para a sua
entidade patronal, aceitou a proposta.

1821.º Na verdade, de modo a conferir uma aparência de legalidade ao


relacionamento comercial entre a LISNAVE e a “O2”, Manuel Godinho e
Hugo Godinho firmaram um pacto verbal com Manuel Gomes e Figueiredo
Costa nos termos do qual (vide Ap. AI, fls. 40, 41).

1822.º se comprometiam a pagar a sucata metálica recolhida ao preço, por


tonelada, de 189,00€ e as latas metálicas ao preço, por tonelada, de 30,00€;

1823.º como contrapartida, pela remoção e transporte dos resíduos


industriais banais existentes no parque de sucatas, sem custos directos para
a LISNAVE, a “O2” podia proceder ao levantamento de sucata.

1824.º Alcançada uma máscara de legalidade, logo trataram de a perverter


por forma a concretizarem a subtracção e apropriação de resíduos metálicos
como se de resíduos industriais banais se tratassem, a incorrecta
identificação dos resíduos recolhidos, a adulteração da sua proporção, a
pesagem global dos diferentes resíduos recolhidos ignorando a necessária
segregação e a sub-avaliação da sucata recolhida.

1825.º Assim, Manuel Godinho e Hugo Godinho consensualizaram com


Manuel Gomes e Figueiredo Costa um manual de procedimentos capaz de
lhes possibilitar a concretização daqueles propósitos assente em cinco
premissas essenciais, quais tenham sido:

- A recolha e encaminhamento de resíduos metálicos era precedida de


uma avaliação/negociação directa entre Manuel Gomes e Manuel
Godinho e Hugo Godinho, com o objectivo de, mediante mera

1461
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

observação, determinarem qual a proporção de resíduos que seriam


contabilizados como sucatas ou latas;

- A pesagem de cada uma das cargas apenas para obter o peso líquido
total, ignorando a necessária segregação, ainda que fossem compostas
por materiais de diferente natureza e valor;

- A omissão dos poderes/deveres de fiscalização que incumbiam a


Manuel Gomes e Figueiredo Costa;

- A aposição por Figueiredo Costa, com o conhecimento e o beneplácito


de Manuel Gomes, de elementos relevantes falsos nas guias de
acompanhamento de resíduos, com base nos quais o sector de gestão de
ambiente elaborava os relatórios legalmente exigíveis e que eram
enviados às entidades competentes na matéria;

- A sub-avaliação da sucata levantada ancorada nas supostas


compensações supra aludidas. (vide Ap. AI, fls. 186 a 218).

1826.º Assim, em 10 de Fevereiro de 2009, Manuel Gomes e Figueiredo


Costa, de comum acordo e em conjugação de esforços, com Manuel e
Hugo Godinho contabilizaram as 179,32 toneladas de resíduos removidos
pela “O2” na proporção de 40% de sucata e 60% de latas, o que sabiam
não corresponder à verdade (igual proporção havia sido o acordo inicial),
causando um prejuízo à LISNAVE no montante de, pelo menos, 2.838,84€,
correspondente à diferença entre a quantia de 19.635,54€ (resultante da
valoração em idêntica proporção de sucata e latas) e a quantia de
16.796,70€ (resultante da valoração na proporção de 40% de sucata e 60%
de latas). (Confrontar com os Produtos 1295 e 1296 do Alvo 1T167PM, Ap.
AI, fls. 7 a 18 e Ap. AI2, fls. 3 e 5 a 7).

1462
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

1827.º Neste dia, pelas 09h17, após ter sido alcançado o supra aludido
consenso quanto à proporção, Hugo Godinho deu a conhecer a Manuel
Godinho que Figueiredo Costa lhe transmitira esperar uma compensação
monetária pela sua actuação em prol dos interesses de Manuel Godinho e
da “O2”. (Confrontar com o Produto 1296 do Alvo 1T167PM).

1828.º Em obediência ao princípio da repartição de tarefas dentro da


organização delituosa criada e idealizada por Manuel Godinho, de acordo
com as capacidades, aptidões e qualificações dos seus membros, Maribel
Rodrigues canalizou os resíduos assim subtraídos para as instalações da
sociedade comercial, denominada “M5 Gestão de Resíduos Industriais,
Unipessoal”, cuja gerência de direito incumbe a Manuel Nogueira da Costa.
(vide Produtos indicados no artº 1690º).

1829.º No dia 11 de Fevereiro de 2009, Manuel Godinho prometeu a


Manuel Gomes a entrega de 10.000,00€.(Confrontar com os Produtos 1390,
1393, 1477 do Alvo 1T167PM e Ap. AI2, fls. 3, Ap. 36, fls. 156, 162, 265,
287 e 294).

1830.º No dia 12 de Fevereiro de 2009, Manuel e Hugo Godinho, de


comum acordo e em conjugação de esforços com Manuel Gomes e
Figueiredo Costa retiraram 183.150 toneladas de resíduos metálicos como
se de resíduos industriais banais se tratassem, no que alcançaram um
benefício patrimonial no montante de, pelo menos, 34.615,35€, causando à
LISNAVE um prejuízo patrimonial, ao menos, de idêntico valor. (Confrontar
com o Produto 1477 do Alvo 1T167PM e Ap. AI2, fls. 5 a 7, 34 a 36, Ap. AI3,
fls. 4 a 9 e 13 a 30).

1831.º De acordo com as regras de repartição de tarefas dentro da


organização delituosa criada e idealizada por Manuel Godinho, de acordo
com as capacidades, aptidões e qualificações dos seus membros, Maribel

1463
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Rodrigues canalizou os resíduos assim subtraídos para as instalações da


empresa “M5 Gestão de Resíduos Industriais, Unipessoal”, cuja gerência de
direito incumbe a Manuel Nogueira da Costa. (vide produtos indicados no
artº 1690º).

1832.º Nos dias 06 e 07 de Abril de 2009, Manuel e Hugo Godinho, de


comum acordo e em conjugação de esforços com Manuel Gomes e
Figueiredo Costa retiraram 150 toneladas de sucata e 41,87 toneladas de
latas, as quais foram escrituradas como sendo 76,200 toneladas de sucata
de aço e 115,670 toneladas de latas, no que alcançaram um benefício
patrimonial no montante de, pelo menos, 11.729,10€, provocando à
LISNAVE um prejuízo patrimonial, ao menos, de idêntico valor. (vide Ap.
AI2, fls. 3 e 5 a 7, Ap. 30, fls. 7).

1833.º Em obediência ao princípio da repartição de tarefas dentro da


organização delituosa criada e idealizada por Manuel Godinho, de acordo
com as capacidades, aptidões e qualificações dos seus membros, Maribel
Rodrigues canalizou os resíduos assim subtraídos para as instalações da
sociedade comercial, denominada “M5 Gestão de Resíduos Industriais,
Unipessoal”, cuja gerência de direito incumbe a Manuel Nogueira da Costa.
(vide Produtos indicados no artº 1690º).

1834.º No dia 17 de Abril de 2009, pelas 14h47, Hugo Godinho transmitiu


a Manuel Godinho que Manuel Gomes lhe havia manifestado o desejo de
com ele se encontrar em Setúbal a fim de lhe ser entregue a compensação
monetária com a qual se havia comprometido a 11 de Fevereiro. (Confrontar
com o Produto 7040 do Alvo 1T167PM).

1835.º No dia 23 de Maio de 2009, pelas 15h38, Manuel Godinho


contactou Maribel Rodrigues dizendo-lhe necessitar de 10.000,00€ para

1464
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

segunda-feira, os quais lhe deveria entregar no Domingo. (Confrontar com o


Produto 10207 do Alvo 1T167PM).

1836.º No dia 24 de Maio de 2009, cerca das 09h00, em Estarreja,


Maribel Rodrigues entregou a Manuel Godinho os 10.000,00€ que este lhe
havia pedido. (Confrontar com o Produto 10224 do Alvo 1T167PM).

1837.º No dia 25 de Maio de 2009, cerca das 12h20, em Setúbal, Manuel


Godinho entregou a Manuel Gomes os 10.000,00€ com os quais se havia
comprometido a 11 de Fevereiro. (Confrontar com os Produtos 10318,
10075, 10077, 10093, 10274, 10278 do Alvo 1T167PM e RDE de fls. 2787
a 2809 e Ap. AI, fls. 230 e 231).

1838.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir da forma supra


descrita, em seu nome e em representação e no interesse da “O2”,
prometendo e entregando contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais
aos arguidos Manuel Gomes e Figueiredo Costa para que praticassem
actos contrários aos seus deveres funcionais, omitissem os actos próprios
das suas funções e se desviassem dos poderes inerentes ao seu cargo e
dos poderes de facto decorrentes do seu exercício e, assim, o
favorecessem a si e à “O2” na sua relação comercial com a LISNAVE
preterindo os interesses desta, criando as condições e permitindo a
subtracção e apropriação de resíduos metálicos como se de resíduos
industriais banais se tratassem, a incorrecta identificação dos resíduos
recolhidos, a adulteração da sua proporção, a pesagem global dos
diferentes resíduos recolhidos ignorando a necessária segregação e a sub-
avaliação da sucata recolhida.

1839.º Mais sabia que aquele favorecimento, por violar os princípios da


legalidade, igualdade, transparência, objectividade, imparcialidade,
independência e da sã e leal concorrência, visava e era apto a colocá-lo a si

1465
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

e à “O2” numa situação de privilégio em relação às demais empresas do


sector e, como tal, a provocar uma perversão das regras próprias do
mercado, distorcendo a concorrência e causando prejuízo patrimonial aos
seus competidores e à LISNAVE, o que quis.

1840.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

1841.º Os arguidos Manuel Gomes e Figueiredo Costa sabiam e


quiseram agir da forma supra descrita, a troco da promessa e da entrega de
contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais, que sabiam não lhe serem
devidas, praticando os supra citados actos contrários aos seus deveres,
omitindo os actos próprios dos cargos que desempenhavam, desviando-se
dos poderes inerentes aos seus cargos e dos poderes de facto decorrentes
do seu exercício, subordinando a sua vontade, as suas iniciativas e as suas
decisões às peitas prometidas e recebidas, no sentido de beneficiarem
Manuel Godinho e a “O2” na sua relação comercial com a LISNAVE
prejudicando os interesses desta, designadamente criando as condições e
permitindo a subtracção e apropriação de resíduos metálicos como se de
resíduos industriais banais se tratassem, a incorrecta identificação dos
resíduos recolhidos, a adulteração da sua proporção, a pesagem global dos
diferentes resíduos recolhidos ignorando a necessária segregação e a sub-
avaliação da sucata recolhida.

1842.º Mais sabiam que aquele favorecimento, por violar os princípios da


legalidade, igualdade, transparência, objectividade, imparcialidade,
independência e da sã e leal concorrência, visava e era apto a colocar
Manuel Godinho e a “O2” numa situação de privilégio em relação às demais
empresas do sector e, como tal, a provocar uma perversão das regras
próprias do mercado, distorcendo a concorrência e causando prejuízo
patrimonial aos seus competidores e à LISNAVE, o que quiseram.

1466
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

1843.º Mais sabiam serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei
Penal, e apesar disso agiram livre e voluntariamente.

1844.º Os arguidos Manuel Godinho, Hugo Godinho, Manuel Gomes e


Figueiredo Costa sabiam e quiseram agir da forma supra descrita, de
comum acordo e em conjugação de esforços, logrando convencer a
LISNAVE que os resíduos removidos pela “O2” o haviam sido na proporção
de 40% de sucata e 60% de latas, levando-a, assim, a valorizá-los e aliená-
los à “O2” enquanto tal, bem sabendo que, deste modo, Manuel Godinho e
a “O2” percebiam um benefício patrimonial a que sabiam não ter direito,
pelo menos, no montante de 2.838,84€, e que, como tal, causavam à
Lisnave um prejuízo, ao menos, de valor equivalente.

1845.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir em seu nome e em


representação e no interesse da “O2”.

1846.º Os arguidos Manuel Godinho, Hugo Godinho, Manuel Gomes e


Figueiredo Costa sabiam e quiseram agir da forma supra descrita, de
comum acordo e em conjugação de esforços, logrando convencer a Lisnave
que haviam sido levantadas 183.150 toneladas de resíduos industriais
banais, levando-a, assim, a valorizá-los e aliená-los à “O2” enquanto tal,
bem sabendo que, deste modo, Manuel Godinho e a “O2” percebiam um
benefício patrimonial a que sabiam não ter direito, pelo menos, no montante
de 34.615,35€, e que, como tal, causavam à Lisnave um prejuízo, ao
menos, de valor equivalente.

1847.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir em seu nome e em


representação e no interesse da “O2”.

1848.º Os arguidos Manuel Godinho, Hugo Godinho, Manuel Gomes e


Figueiredo Costa sabiam e quiseram agir da forma supra descrita, de

1467
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

comum acordo e em conjugação de esforços, logrando convencer a Lisnave


que haviam sido removidas 76,200 toneladas de sucata de aço e 115,670
toneladas de latas, levando-a, assim, a valorizá-los e aliená-los à “O2”
enquanto tal, bem sabendo que, deste modo, Manuel Godinho e a “O2”
percebiam um benefício patrimonial a que sabiam não ter direito, pelo
menos, no montante de 11.729,10€, e que, como tal, causavam à Lisnave
um prejuízo, ao menos, de valor equivalente.

1849.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir em seu nome e em


representação e no interesse da “O2”.

1850.º Mais sabiam serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei
Penal, e apesar disso agiram livre e voluntariamente.

1851.º O arguido Manuel Nogueira da Costa sabia e quis agir da supra


referida forma, recebendo os supra mencionados resíduos, no valor não
inferior a 49.183,29€, com o propósito logrado de obter para si vantagem
patrimonial, não obstante soubesse que haviam sido subtraídos do modo
supra descrito das instalações da LISNAVE, sitas em Mitrena, Setúbal.

1852.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Manuel Godinho, em concurso


real e efectivo:

- autor material, sob a forma consumada, de dois crimes de


corrupção activa no sector privado, previsto e punido, à data dos factos,

1468
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

pelo art.º 41º-C, n.º 1 do Decreto-Lei n.º 28/84, de 20 de Janeiro, e agora pelo
art.º 9º, n.ºs 1 e 2 da Lei n.º 20/08, de 21 de Abril;

- co-autor material, sob a forma consumada, de um crime de burla


qualificada, previsto e punido pelo art.º 217º, n.º 1, 218º, n.º 1 do Código
Penal;

- co-autor material, sob a forma consumada, de um crime de burla


qualificada, previsto e punido pelo art.º 217º, n.º 1, 218º, n.º 2, al. a) do Código
Penal.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Manuel Gomes, em concurso


real e efectivo:

- autor material, sob a forma consumada, de um crime de corrupção


passiva no sector privado, previsto e punido, à data dos factos, pelo art.º 41º-
B, n.º 1 do Decreto-Lei n.º 28/84, de 20 de Janeiro, e agora pelo art.º 8º, n.ºs 1
e 2 da Lei n.º 20/08, de 21 de Abril;

- co-autor material, sob a forma consumada, de um crime de burla


qualificada, previsto e punido pelo art.º 217º, n.º 1, 218º, n.º 1 do Código Penal

- co-autor material, sob a forma consumada, de um crime de burla


qualificada, previsto e punido pelo art.º 217º, n.º 1, 218º, n.º 2, al. a) do Código
Penal.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Figueiredo Costa, em concurso


real e efectivo:

1469
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

- autor material, sob a forma consumada, de um crime de corrupção


passiva no sector privado, previsto e punido, à data dos factos, pelo art.º 41º-
B, n.º 1 do Decreto-Lei n.º 28/84, de 20 de Janeiro, e agora pelo art.º 8º, n.ºs 1
e 2 da Lei n.º 20/08, de 21 de Abril;

- co-autor material, sob a forma consumada, de um crime de burla


qualificada, previsto e punido pelo art.º 217º, n.º 1, 218º, n.º 1 do Código Penal

- co-autor material, sob a forma consumada, de um crime de burla


qualificada, previsto e punido pelo art.º 217º, n.º 1, 218º, n.º 2, al. a) do Código
Penal.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Hugo Godinho, em concurso


real e efectivo:

- co-autor material, sob a forma consumada, de um crime de burla


qualificada, previsto e punido pelo art.º 217º, n.º 1, 218º, n.º 1 do Código Penal

- co-autor material, sob a forma consumada, de um crime de burla


qualificada, previsto e punido pelo art.º 217º, n.º 1, 218º, n.º 2, al. a) do Código
Penal.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Manuel Nogueira da Costa,


autor material, sob a forma consumada, de três crimes de receptação,
previsto e punido pelo art.º 231º, n.º 1 do Código Penal.

1470
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Pelo exposto, constituiu-se a arguida “O2”, em concurso real e


efectivo:

- autora material, sob a forma consumada, de dois crimes de


corrupção activa no sector privado, previsto e punido, à data dos factos,
pelos art.ºs 3º, n.º 1 e 41º-C, n.º 1 do Decreto-Lei n.º 28/84, de 20 de Janeiro, e
agora pelos art.ºs 4º e 9º, n.ºs 1 e 2 da Lei n.º 20/08, de 21 de Abril;

- autora material, sob a forma consumada, de um crime de burla


qualificada, previsto e punido pelas disposições conjugadas dos art.ºs 11º, n.º
2, al. a), 90º A e 217º, n.º 1, 218º, n.º 1 do Código Penal;

- autora material, sob a forma consumada, de um crime de burla


qualificada, previsto e punido pelas disposições conjugadas dos art.ºs 11º, n.º
2, al. a), 90º A e 217º, n.º 1, 218º, n.º 2, al. a) do Código Penal.

PARTE XI – Da EP - Estradas de Portugal, S.A. e dos arguidos Manuel


José Ferreira Godinho, Maribel Marques Rodrigues, Namércio Pereira da
Cunha, João Jorge da Silva Godinho, Hugo Manuel de Sá Godinho,
Manuel Nogueira da Costa, Paulo Manuel Pereira da Costa, Mário Manuel
Sousa Pinho e José Domingos Lopes Valentim

1853.º A EP - Estradas de Portugal, S.A. é uma sociedade anónima de


capitais exclusivamente públicos (doravante abreviadamente designada
EP).

1471
S. R.

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1854.º Por deliberação do Conselho de Administração da EP, de 11 de


Julho de 2008, foi adjudicada à “O2” a alienação, recolha, tratamento e
limpeza de todos os bens da EP considerados como sucata, existentes na
sede e serviços desconcentrados, por uma anuidade, renovável até ao
limite de três.

1855.º No âmbito desta prestação de serviços, a Delegação Regional de


Viseu da EP solicitou à “O2” a recolha de sucata de ferro (valorizada a
0,48€/Kg), pneus (valorizados a 0,02€/Kg), embalagens contaminadas
(valorizadas a 0,20€/Kg) e plástico (valorizado a 0,075€/Kg).

1856.º Determinou aquela Delegação Regional que, uma vez realizadas


as recolhas daqueles materiais, os veículos destinados ao seu transporte
seriam pesados numa báscula existente na empresa “Felmica”, sita em
Travassós de Baixo.

1857.º Os talões de pesagem desta forma obtidos seriam posteriormente


confrontados com os apresentados pela “O2”.

1858.º A “O2” efectuou as recolhas nos dias 23 e 26 de Fevereiro de


2009 e 04 de Março do mesmo ano.

1859.º No dia 23 de Fevereiro de 2009, em hora não concretamente


apurada, mas posterior às 09h11 e anterior às 10h58, no parque de
materiais da Delegação de Viseu da EP, Hugo Godinho, de comum acordo
e em conjugação de esforços com João Godinho, prometeu e entregou a
um funcionário da EP, cujo identidade não se logrou determinar, quantia
não concretamente apurada para que consentisse na viciação do peso dos
resíduos recolhidos.

1472
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

1860.º Perante as contrapartidas prometidas e recebidas, o funcionário


da sociedade Estradas de Portugal, cujo identidade não se logrou
determinar, aceitou a proposta.

1861.º Em cumprimento do determinado pela Delegação Regional de


Viseu da EP, os veículos destinados ao transporte dos materiais recolhidos
foram pesados numa báscula existente na empresa “Felmica”, sita em
Travassós de Baixo.

1862.º Acontece, todavia, que, na execução do acordo supra desenhado,


o foram de forma global, sem a necessária e devida segregação dos
resíduos recolhidos, de modo a permitir à “O2” imputar aos materiais de
menor valorização os pesos mais elevados.

1863.º Acresce que, após a pesagem dos camiões, o funcionário da EP,


cujo identidade não se logrou determinar, reteve os respectivos talões de
pesagem e entregou-os a Hugo Godinho para que este adulterasse o peso
dos resíduos recolhidos.

1864.º Terminada a recolha, a “O2” apresentou os seus talões de


pesagem, os quais, por comparação com os resultantes das pesagens
realizadas na báscula existente na empresa “Felmica”, evidenciavam uma
discrepância de uma tonelada relativamente ao carregamento efectuado em
26 de Fevereiro de 2009.

1865.º Esta conduta importou um prejuízo patrimonial para a EP, em


montante que a pesagem indiferenciada dos resíduos recolhidos obstou a
que fosse possível apurar.

1866.º Os arguidos Hugo e João Godinho sabiam e quiseram agir da


forma supra descrita, de comum acordo e em conjugação de esforços,

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S. R.

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violando a autonomia intencional do Estado, prometendo e entregando


contrapartidas patrimoniais a um funcionário da EP, para que praticasse
actos contrários aos seus deveres, omitisse os actos próprios da função que
desempenhava e se desviasse dos poderes inerentes ao seu cargo e dos
poderes de facto decorrentes do seu exercício e, assim, favorecesse
Manuel Godinho e as suas empresas, nomeadamente criando as condições
e permitindo a viciação do peso dos resíduos recolhidos em instalações
daquela empresa.

1867.º Mais sabiam serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei
Penal, e apesar disso agiram livre e voluntariamente.

Pelo exposto, os arguidos João e Hugo Godinho constituíram-se, co-


autores materiais, sob a forma consumada, de um crime de corrupção activa
para acto ilícito, previsto e punido pelo art.º 374º, n.º 1 do Código Penal.

PARTE XII – Dos arguidos Manuel José Ferreira Godinho, Maribel


Marques Rodrigues, Namércio Pereira da Cunha, João Jorge da Silva
Godinho, Hugo Manuel de Sá Godinho, Manuel Nogueira da Costa, Paulo
Manuel Pereira da Costa, Mário Manuel Sousa Pinho e José Domingos
Lopes Valentim e Lopes Barreira

1868.º Manuel Godinho solicitou, igualmente, a Lopes Barreira que, a


troco de contrapartidas patrimoniais e/ou não patrimoniais, exercesse a sua
influência junto de titulares de cargos políticos, governativos e de indivíduos
que exercem funções de poder, que detêm capacidade pessoal de decisão,
com capacidade para influenciar determinantemente o decisor e com
acesso a informação privilegiada, no sentido do seu favorecimento e da
“O2” nos concursos e nas consultas públicas de adjudicação e, bem assim,

1474
S. R.

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na adjudicação directa de contratos de compra e venda e de prestação de


serviços na área dos resíduos por parte de empresas públicas, de capitais
públicos, com participação maioritária de capital público e concessionárias
de serviços públicos.

1869.º Para tanto, Manuel Godinho entregou a Lopes Barreira, pelo


menos, 25.000,00€.

1870.º Perante as contrapartidas prometidas e recebidas, Lopes Barreira


deu o seu assentimento à proposta de Manuel Godinho.

1871.º Neste contexto, no dia 12 de Março de 2009, pelas 11h05, Lopes


Barreira transmitiu a Manuel Godinho ir interceder junto de Armando Vara e
de Jorge Coelho para que lhe angariassem contratos de compra e venda e
de prestação de serviços na área dos resíduos com empresas públicas, de
capitais públicos, com participação maioritária de capital público,
concessionárias de serviços públicos e empresas privadas. (Confrontar com
o Produto 3896 do Alvo 1T167PM).

1872.º No dia 20 de Junho de 2009, pelas 09h11, Manuel Godinho


solicitou a Maribel Rodrigues que reunisse 50.000,00€.(Confrontar com o
Produto 1050 do Alvo 39354PM).

1873.º De seguida, nas instalações da SCI, em Aveiro, em hora não


concretamente apurada, mas posterior às 09h11 e anterior às 13h13,
Maribel Rodrigues entregou a Manuel Godinho os 50.000,00€.

1874.º No dia 20 de Junho de 2009, no período de tempo compreendido


entre as 14h06 e as 15h45, Armando Vara e Lopes Barreira almoçaram com
Manuel Godinho, na residência deste, sita no Furadouro, em Ovar. (vide
RDE de fls. 3228 a 3274).

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1875.º Durante o almoço, Manuel Godinho entregou a Lopes Barreira


25.000,00€.

1876.º No dia 22 de Junho de 2009, pelas 17h40, Lopes Barreira


disponibilizou-se a Manuel Godinho para contactar o Secretário de Estado
que tutelava os Estaleiros Navais de Viana do Castelo, sociedade anónima
de capitais maioritariamente públicos, do qual afirmou ser amigo pessoal, no
sentido de espoletar o favorecimento das suas empresas nas suas relações
comerciais com os Estaleiros Navais de Viana do Castelo, nomeadamente
nos concursos e nas consultas públicas de adjudicação e, bem assim, na
adjudicação directa de contratos de compra e venda e de prestação de
serviços na área dos resíduos produzidos por aquela empresa. (Confrontar
com o Produto 1194 do Alvo 39354PM).

1877.º Mais tarde, pelas 21h49, Lopes Barreira propôs a Manuel


Rodrigues que se associassem no exercício de influência junto de titulares
de cargos políticos, governativos e de indivíduos que exercem funções de
poder, que detêm capacidade pessoal de decisão, com capacidade para
influenciar determinantemente o decisor e com acesso a informação
privilegiada, com vista ao favorecimento das empresas de Manuel Godinho
nos concursos e nas consultas públicas de adjudicação e, bem assim, na
adjudicação directa de contratos de compra e venda e de prestação de
serviços na área dos resíduos. (Confrontar com o Produto 1219 do Alvo
39354PM).

1878.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir da forma supra


descrita, violando a autonomia intencional do Estado, prometendo e
entregando contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais a Lopes Barreira,
para que exercesse a sua influência junto de entidades públicas no sentido
do universo empresarial, directa ou indirectamente, por si gerido ser
favorecido nos concursos e nas consultas públicas de adjudicação e, bem

1476
S. R.

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assim, na adjudicação directa de contratos de compra e venda e de


prestação de serviços na área dos resíduos produzidos por empresas do
sector empresarial do Estado e concessionárias de serviços públicos.

1879.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

1880.º O arguido Lopes Barreira sabia e quis agir da forma supra


descrita, violando a autonomia intencional do Estado, a troco da promessa e
da entrega de contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais, que sabia não
lhe serem devidas, para exercer a sua influência junto de entidades públicas
no sentido do universo empresarial, directa ou indirectamente, por si gerido
ser favorecido nos concursos e nas consultas públicas de adjudicação e,
bem assim, na adjudicação directa de contratos de compra e venda e de
prestação de serviços na área dos resíduos produzidos por empresas
públicas, de capitais públicos, com participação maioritária de capital
público, concessionárias de serviços públicos empresas do sector
empresarial do Estado e concessionárias de serviços públicos,
designadamente junto dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo.

1881.º Mais sabia serem as suas condutas proibidas e punidas por Lei
Penal, e apesar disso agiram livre e voluntariamente.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Manuel Godinho, autor


material, sob a forma consumada, de um crime de tráfico de influência,
previsto e punido pelo art.º 335º, n.º 2 do Código Penal.

1477
S. R.

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Pelo exposto, constituiu-se o arguido Lopes Barreira, autor material,


sob a forma consumada, de um crime de tráfico de influência, previsto e
punido pelo art.º 335º, n.º 1, al. a) do Código Penal.

Pelo exposto, constituiu-se a arguida “O2”, autora material, sob a


forma consumada, de um crime de tráfico de influência, previsto e punido
pelas disposições conjugadas dos art.ºs 11º, n.º 2, al. a), 90º A e 335º, n.º 2 do
Código Penal.

PARTE XIII – Dos arguidos Manuel José Ferreira Godinho, Maribel


Marques Rodrigues, Namércio Pereira da Cunha, João Jorge da Silva
Godinho, Hugo Manuel de Sá Godinho, Manuel Nogueira da Costa, Paulo
Manuel Pereira da Costa, Mário Manuel Sousa Pinho, José Domingos
Lopes Valentim e André Oliveira

1882.º André Manuel Barbosa de Oliveira é Militar da Guarda Nacional


Republicana, exercendo funções no Núcleo de Investigação Criminal de
Aveiro.

1883.º Em data não concretamente apurada, mas anterior a Janeiro de


2008, Manuel Godinho intercedeu junto de André Oliveira no sentido de, a
troco de compensações patrimoniais e não patrimoniais para si e para
terceiros consigo relacionados, o informar das acções de fiscalização
promovidas pela Guarda Nacional Republicana das quais podiam ser alvo
as empresas por si administradas.

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1884.º Para tanto, em Janeiro de 2008, Manuel Godinho celebrou com


Isabel Cristina Sousa Lucas Oliveira, esposa de André Oliveira, um contrato
de trabalho, com os rendimentos e benefícios daí decorrentes.

1885.º Perante as contrapartidas prometidas e recebidas, André Oliveira,


traficando com a sua qualidade de Militar da Guarda Nacional Republicana,
em flagrante violação das suas obrigações funcionais, nomeadamente das
exigências de legalidade, objectividade, imparcialidade, lisura e
independência que devem nortear o desempenho de funções públicas,
aceitou a proposta.

1886.º Na execução do acordo firmado entre ambos, pelo menos, no


período de tempo compreendido entre Janeiro de 2008 e 09 de Setembro
de 2009, por quatro vezes, André Oliveira forneceu informações sobre as
acções de fiscalização encetadas pela Guarda Nacional Republicana das
quais podiam ser alvo o universo empresarial, directa ou indirectamente,
gerido por Manuel Godinho, nomeadamente no dia 02 de Abril de 2009,
relativamente a uma acção de fiscalização levada a cabo pelo SPENA da
Guarda Nacional Republicana na Quinta dos Ananases, em Ovar, e, no dia
27 de Julho de 2009, na semana de 03 a 07 de Agosto de 2009 e no dia 09
de Setembro de 2009. (Confrontar com os Produtos 721, 16238, 16708 e
19865 do Alvo 1T167PM).

1887.º O arguido Manuel Godinho sabia e quis agir da forma supra


descrita, violando a autonomia intencional do Estado, prometendo e
entregando contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais a André Oliveira,
Militar da Guarda Nacional Republicana, e à sua esposa, para que
praticasse actos contrários aos seus deveres, omitisse actos próprios das
suas funções, se desviasse dos poderes inerentes ao seu cargo e dos
poderes de facto decorrentes do seu exercício e, assim, o informasse das
acções de fiscalização promovidas pela Guarda Nacional Republicana das

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S. R.

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quais podiam ser alvo as empresas por si administradas. (Confrontar com


os Produtos 16253 e 16264 do Alvo 1T167PM e Produtos 3941, 3943 e
3945 do Alvo 38249PM).

1888.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente..

1889.º O arguido André Oliveira quis agir do modo supra descrito,


violando a autonomia intencional do Estado e infringindo exigências de
legalidade, objectividade, imparcialidade e independência que devem
nortear o desempenho de funções públicas, a troco da promessa e da
entrega de contrapartidas patrimoniais e não patrimoniais para si e para a
sua esposa, que sabia não lhe serem devidas, ao mercadejar com a sua
qualidade de Militar da Guarda Nacional Republicana, praticando actos
contrários aos seus deveres, omitindo os actos próprios das suas funções,
desviando-se dos poderes inerentes ao seu cargo e dos poderes de facto
decorrentes do seu exercício, subordinando a sua vontade, as suas
iniciativas e as suas decisões às peitas prometidas e recebidas, no sentido
de prevenir Manuel Godinho das acções de fiscalização promovidas pela
Guarda Nacional Republicana das quais podiam ser alvo as empresas por si
administradas.

1890.º Mais sabia ser a sua conduta proibida e punida por Lei Penal, e
apesar disso agiu livre e voluntariamente.

Pelo exposto, constituiu-se o arguido Manuel Godinho, autor


material, sob a forma consumada, de um crime de corrupção activa para
acto ilícito, previsto e punido pelo art.º 374º, n.º 1 do Código Penal.

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S. R.

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Pelo exposto, constituiu-se o arguido André Oliveira, autor material,


sob a forma consumada, de um crime de corrupção passiva para acto
ilícito, previsto e punido pelo art.º 372º, n.º 1 do Código Penal.

Em resumo, os arguidos constituíram-se, autores ou co-autores, dos


seguintes crimes:

- O arguido MANUEL GODINHO,


um crime de associação criminosa, previsto e punido pelo art.º 299º, n.ºs
1 e 3 do Código Penal;
quinze crimes de corrupção activa para acto ilícito, previsto e punido
pelo art.º 374º, n.º 1 do Código Penal;

três crimes de corrupção activa no sector privado, previsto e punido


pelo art.º 9º, n.ºs 1 e 2 da Lei n.º 20/08, de 21 de Abril.
dois crimes de corrupção activa no sector privado, previsto e punido, à
data dos factos, pelo art.º 41º-C, n.º 1 do Decreto-Lei n.º 28/84, de 20 de
Janeiro, e agora pelo art.º 9º, n.ºs 1 e 2 da Lei n.º 20/08, de 21 de Abril;
oito crimes de tráfico de influência, previsto e punido pelo art.º 335º, n.º 2
do Código Penal;
dois crimes de furto qualificado, previsto e punido pelos art.ºs 203º, n.º 1
e 204º, n.º 2, al. a) ambos do Código Penal;
um crime de furto qualificado, previsto e punido pelo art.º 203º, n.º 1,
204º, n.º 1, al. a) do Código Penal;
sete crimes de burla qualificada, previsto e punido pelos art.ºs 217º, n.º 1
e 218º, n.º 1 ambos do Código Penal;

1481
S. R.

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sete crimes de burla qualificada, previsto e punido pelo art.º 217º, n.º 1 e
218º, n.º 2, al. a) ambos do Código Penal;
sob a forma tentada, um crime de burla qualificada, previsto e punido
pelos art.ºs 23º, n.º 1, 217º, n.º 1 e 218º, n.º 1 todos do Código Penal;
doze crimes de falsificação de notação técnica, previsto e punido pelo
art.º 258º, n.ºs 1 e 2 do Código Penal;
um crime de perturbação de arrematações, previsto e punido pelo art.º
230º do Código Penal.

A arguida MARIBEL RODRIGUES,


um crime de associação criminosa, previsto e punido pelo art.º 299º, n.º 2
do Código Penal;
sob a forma tentada, um crime de burla qualificada, previsto e punido pelo
art.º 217º, n.º 1 e 218º, n.º 1, ambos do Código Penal;
um crime de falsificação de notação técnica, previsto e punido pelo art.º
258º, n.º 1, al. c) do Código Penal.

O arguido NAMÉRCIO CUNHA,


um crime de associação criminosa, previsto e punido pelo art.º 299º, n.º 2
do Código Penal;
um crime de corrupção activa para acto ilícito, previsto e punido pelo
art.º 374º, n.º 1 do Código Penal.

O arguido JOÃO GODINHO,


um crime de associação criminosa, previsto e punido pelo art.º 299º, n.º 2
do Código Penal;
um crime de corrupção activa para acto ilícito, previsto e punido pelo
art.º 374º, n.º 1 do Código Penal.

O arguido HUGO GODINHO,

1482
S. R.

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um crime de associação criminosa, previsto e punido pelo art.º 299º, n.º 2


do Código Penal;
um crime de corrupção activa para acto ilícito, previsto e punido pelo
art.º 374º, n.º 1 do Código Penal;
um crime de furto qualificado, previsto e punido pelo art.º 203º, n.º 1,
204º, n.º 1, al. a) do Código Penal;
um crime de furto qualificado, previsto e punido pelo art.º 203º, n.º 1,
204º, n.º 2, al. a) do Código Penal;
um crime de burla qualificada, previsto e punido pelos art.ºs 217º, n.º 1 e
218º, n.º 1 ambos do Código Penal;
um crime de burla qualificada, previsto e punido pelo art.º 217º, n.º 1 e
218º, n.º 2, al. a) ambos do Código Penal;
um crime de perturbação de arrematações, previsto e punido pelo art.º
230º do Código Penal:

O arguido MANUEL NOGUEIRA DA COSTA,


um crime de associação criminosa, previsto e punido pelo art.º 299º, n.º 2
do Código Penal;
oito crimes de receptação, previsto e punido pelo art.º 231º, n.º 1 do
Código Penal.

O arguido PAULO PEREIRA DA COSTA,


um crime de associação criminosa, previsto e punido pelo art.º 299º, n.º 2
do Código Penal;
um crime de receptação, previsto e punido pelo art.º 231º, n.º 1 do Código
Penal.

O arguido MÁRIO PINHO,


um crime de associação criminosa, previsto e punido pelo art.º 299º, n.º 2
do Código Penal;

1483
S. R.

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um crime de corrupção passiva para acto ilícito, previsto e punido pelo


art.º 372º, n.º 1 do Código Penal;

O arguido JOSÉ VALENTIM,


um crime de associação criminosa, previsto e punido pelo art.º 299º, n.º 2
do Código Penal;
um crime de corrupção passiva para acto ilícito, previsto e punido pelo
art.º 372º, n.º 1 do Código Penal;

O arguido SILVA CORREIA,


um crime de corrupção passiva para acto ilícito, previsto e punido pelo
art.º 372º, n.º 1 do Código Penal;
dois crimes de participação económica em negócio, previsto e punido
pelo art.º 377º, n.º 1 do Código Penal;
dois crimes de burla qualificada, previsto e punido pelos art.ºs 217º, n.º 1
e 218º, n.º 1 ambos do Código Penal.

O arguido JOSÉ MAGANO RODRIGUES,


dois crimes de participação económica em negócio, previsto e punido
pelo art.º 377º, n.º 1 do Código Penal;

O arguido ABÍLIO PINTO GUEDES,


um crime de corrupção passiva para acto ilícito, previsto e punido pelo
art.º 372º, n.º 1 do Código Penal;
um crime de burla qualificada, previsto e punido pelas disposições
conjugadas dos art.º 217º, n.º 1, 218º, n.º 1 ambos do Código Penal;
um crime de burla qualificada, previsto e punido pelo art.º 217º, n.º 1,
218º, n.º 2, al. a) do Código Penal.

O arguido JOÃO VALENTE,

1484
S. R.

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um crime de corrupção passiva para acto ilícito, previsto e punido pelo


art.º 372º, n.º 1 do Código Penal;
sob a forma tentada, um crime de burla qualificada, previsto e punido
pelos art.ºs 23º, n.ºs 1 e 2, 217º, n.º 1 e 218º, n.º 2, al. a) todos do Código
Penal;
um crime de falsificação de notação técnica, previsto e punido pelo art.º
258º, n.ºs 1, 2 e 4 do Código Penal.

O arguido CARLOS VASCONCELLOS,


um crime de corrupção passiva para acto ilícito, previsto e punido pelo
art.º 372º, n.º 1 do Código Penal.

O arguido MANUEL GUIOMAR,


um crime de corrupção passiva para acto ilícito, previsto e punido pelo
art.º 372º, n.º 1 do Código Penal;
dois crimes de corrupção activa para acto ilícito, previsto e punido pelo
art.º 374º, n.º 1 do Código Penal;
dois crimes de burla qualificada, previsto e punido pelo art.º 217º, n.º 1,
218º, n.º 1 do Código Penal;
dois crimes de burla qualificada, previsto e punido pelo art.º 217º, n.º 1,
218º, n.º 2, al. a) do Código Penal.
três crimes de falsificação de notação técnica, previsto e punido pelo
art.º 258º, n.ºs 1, 2 e 4 do Código Penal;

O arguido ARMANDO VARA,


três crimes de tráfico de influência, previsto e punido pelo art.º 335º, n.º
1, al. a) do Código Penal.

O arguido LOPES BARREIRA,

1485
S. R.

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três crimes de tráfico de influência, previsto e punido pelo art.º 335º, n.º
1, al. a) do Código Penal.

O arguido JOSÉ PENEDOS,


um crime de corrupção passiva para acto ilícito, previsto e punido pelo
art.º 372º, n.º 1 do Código Penal;
um crime de corrupção activa para acto ilícito, previsto e punido pelo
art.º 374º, n.º 1 do Código Penal;
dois crimes de participação económica em negócio, previsto e punido
pelo art.º 377º, n.º 1 do Código Penal.

O arguido PAULO PENEDOS,


um crime de tráfico de influência, previsto e punido pelo art.º 335º, n.º 1,
al. a) do Código Penal.

O arguido VICTOR BAPTISTA,


um crime de corrupção passiva para acto ilícito, previsto e punido pelo
art.º 372º, n.º 1 do Código Penal;
dois crimes de corrupção activa para acto ilícito, previsto e punido pelo
art.º 374º, n.º 1 do Código Penal;
dois crimes de participação económica em negócio, previsto e punido
pelo art.º 377º, n.º 1 do Código Penal.

O arguido FERNANDO SANTOS,


um crime de corrupção passiva para acto ilícito, previsto e punido pelo
art.º 372º, n.º 1 do Código Penal;
dois crimes de participação económica em negócio, previsto e punido
pelo art.º 377º, n.º 1 do Código Penal;
um crime de abuso de poder, previsto e punido pelo art.º 382º do Código
Penal.

1486
S. R.

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O arguido JUAN OLIVEIRA,


um crime de corrupção passiva para acto ilícito, previsto e punido pelo
art.º 372º, n.º 1 do Código Penal;
dois crimes de participação económica em negócio, previsto e punido
pelo art.º 377º, n.º 1 do Código Penal;

O arguido PEDRO LARANJEIRA,


um crime de burla qualificada, previsto e punido pelo art.º 217º, n.º 1,
218º, n.º 2, al. a) do Código Penal;
um crime de falsificação de notação técnica, previsto e punido pelo art.º
258, n.º 1, al. c) do Código Penal.

O arguido JORGE SARAMAGO,


um crime de burla qualificada, previsto e punido pelo art.º 217º, n.º 1,
218º, n.º 2, al. a) do Código Penal;
um crime de falsificação de notação técnica, previsto e punido pelo art.º
258, n.º 1, al. c) do Código Penal.

O arguido PAIVA NUNES,


um crime de corrupção passiva para acto ilícito, previsto e punido pelo
art.º 372º, n.º 1 do Código Penal;
um crime de participação económica em negócio, previsto e punido pelo
art.º 377º, n.º 1 do Código Penal;
um crime de corrupção activa no sector privado, previsto e punido pelo
art.º 9º, n.ºs 1 e 2 da Lei n.º 20/08, de 21 de Abril.

O arguido ANTÓNIO PAULO COSTA,


um crime de corrupção passiva no sector privado, previsto e punido
pelo art.º 8º, n.ºs 1 e 2 da Lei n.º 20/08, de 21 de Abril;

1487
S. R.

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um crime de tráfico de influência, previsto e punido pelo art.º 335º, n.º 1,


al. a) do Código Penal.

O arguido JOSÉ ANTÓNIO CONTRADANÇAS,


um crime de corrupção passiva para acto ilícito, previsto e punido pelo
art.º 372º, n.º 1 do Código Penal.

O arguido JOSÉ SANTOS CUNHA,


um crime de corrupção passiva para acto ilícito, previsto e punido pelo
art.º 372º, n.º 1 do Código Penal.

O arguido ROGÉRIO NOGUEIRA,


um crime de corrupção passiva para acto ilícito, previsto e punido pelo
art.º 372º, n.º 1 do Código Penal;
um crime de furto qualificado, previsto e punido pelo art.º 203º, n.º 1,
204º, n.º 1, al. a) do Código Penal.

O arguido JOÃO TAVARES,


um crime de corrupção passiva no sector privado, previsto e punido
pelo art.º 8º, n.ºs 1 e 2 da Lei n.º 20/08, de 21 de Abril;
um crime de furto qualificado, previsto e punido pelo art.º 203º, n.º 1,
204º, n.º 2, al. a) do Código Penal.

O arguido RICARDO ANJOS,


um crime de corrupção passiva para acto ilícito, previsto e punido pelo
art.º 372º, n.º 1 do Código Penal.

O arguido MANUEL GOMES,

1488
S. R.

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um crime de corrupção passiva no sector privado, previsto e punido, à


data dos factos, pelo art.º 41º-B, n.º 1 do Decreto-Lei n.º 28/84, de 20 de
Janeiro, e agora pelo art.º 8º, n.ºs 1 e 2 da Lei n.º 20/08, de 21 de Abril;
um crime de burla qualificada, previsto e punido pelo art.º 217º, n.º 1,
218º, n.º 1 do Código Penal
um crime de burla qualificada, previsto e punido pelo art.º 217º, n.º 1,
218º, n.º 2, al. a) do Código Penal.

O arguido FIGUEIREDO COSTA,


um crime de corrupção passiva no sector privado, previsto e punido, à
data dos factos, pelo art.º 41º-B, n.º 1 do Decreto-Lei n.º 28/84, de 20 de
Janeiro, e agora pelo art.º 8º, n.ºs 1 e 2 da Lei n.º 20/08, de 21 de Abril;
um crime de burla qualificada, previsto e punido pelo art.º 217º, n.º 1,
218º, n.º 1 do Código Penal
um crime de burla qualificada, previsto e punido pelo art.º 217º, n.º 1,
218º, n.º 2, al. a) do Código Penal.

O arguido ANDRÉ OLIVEIRA,


um crime de corrupção passiva para acto ilícito, previsto e punido pelo
art.º 372º, n.º 1 do Código Penal.

A arguida “O2”,
cinco crimes de corrupção activa para acto ilícito, previsto e punido
pelas disposições conjugadas dos art.ºs 11º, n.º 2, al. a), 90º A e 374º, n.º 1 do
Código Penal;
três crimes de corrupção activa no sector privado, previsto e punido
pelas disposições conjugadas dos art.ºs 4 e 9º, n.ºs 1 e 2 da Lei n.º 20/08, de
21 de Abril;
dois crimes de corrupção activa no sector privado, previsto e punido, à
data dos factos, pelos art.ºs 3º, n.º 1 e 41º-C, n.º 1 do Decreto-Lei n.º 28/84, de

1489
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

20 de Janeiro, e agora pelos art.ºs 4º e 9º, n.ºs 1 e 2 da Lei n.º 20/08, de 21 de


Abril;
cinco crimes de tráfico de influência, previsto e punido pelas disposições
conjugadas dos art.ºs 11º, n.º 2, al. a), 90º A e 335º, n.º 2 do Código Penal;
dois crimes de burla qualificada, previsto e punido pelas disposições
conjugadas dos art.ºs 11º, n.º 2, al. a), 90º A e 217º, n.º 1, 218º, n.º 1 do
Código Penal;
dois crimes de burla qualificada, previsto e punido pelas disposições
conjugadas dos art.ºs 11º, n.º 2, al. a), 90º A e 217º, n.º 1, 218º, n.º 2, al. a) do
Código Penal;
sob a forma tentada, um crime de burla qualificada, previsto e punido
pelas disposições conjugadas dos art.ºs 11º, n.º 2, al. a), 90º A e 217º, n.º 1 e
218º, n.º 1 do Código Penal;
três crimes de falsificação de notação técnica, previsto e punido pelas
disposições conjugadas dos art.ºs 11º, n.º 2, al. a), 90º A e 258, n.º 1, al. c) do
Código Penal.

A arguida “SCI”,
dois crimes de burla qualificada, previsto e punido pelas disposições
conjugadas dos art.ºs 11º, n.º 2, al. a), 90º A e 217º, n.º 1 e 218º, n.º 1 do
Código Penal;
dois crimes de burla qualificada, previsto e punido pelas disposições
conjugadas dos art.ºs 11º, n.º 2, al. a), 90º A e 217º, n.º 1 e 218º, n.º 2, al. a) do
Código Penal;
três crimes de falsificação de notação técnica, previsto e punido pelas
disposições conjugadas dos art.ºs 11º, n.º 2, al. a), 90º A e 258º, n.ºs 1 e 2 do
Código Penal;
*

PROVA:

1490
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Por Escuta Telefónica: a dos autos, designadamente:

. Conversações e/ou Comunicações interceptadas e gravadas cuja


transcrição foi ordenada relativas ao alvo 1T167PM, designadamente os
produtos 6, 11, 84, 118, 178, 207, 305, 309, 313, 315, 499, 543, 589, 638, 655,
657, 716, 717, 721, 722, 723, 727, 753, 794, 795, 800, 822, 824, 826, 850, 882,
931, 944, 949, 984, 1047, 1067, 1092, 1099, 1159, 1188, 1206, 1295, 1296,
1338, 1353, 1355, 1390, 1393, 1410, 1445, 1477, 1494, 1495, 1498, 1505,
1515, 1612, 1634,1635, 1645, 1707, 1845, 2009, 2026, 2073, 2076, 2115,
2116, 2144, 2146, 2170, 2173, 2175, 2184, 2196, 2403, 2523, 2578, 2604,
2606, 2621, 2723; 2803, 2805, 2871, 2985, 2997, 3004, 3008, 3049, 3050,
3068, 3153, 3234, 3236, 3237, 3243, 3248, 3261, 3271, 3272, 3308, 3326,
3353, 3385, 3442, 3465, 3479, 3523, 3604, 3669, 3758, 3842, 3871, 3876,
3878, 3892, 3935, 3940, 3998, 4067, 4284, 4370, 4404, 4414, 4424, 4426,
4527,4438, 4540, 4556, 4559, 4562, 4575, 4595, 4605, 4606, 4611, 4989,
4993, 5110, 5184, 5228, 5278, 5402, 5493, 5571, 5572, 5599, 5606, 5620,
5622, 5623, 5626, 5657, 5658, 5662, 5673, 5674, 5687, 5713, 5716, 5904,
6013, 6035, 6037, 6140, 6150, 6207, 6222, 6223, 6244, 6358, 6388, 6543,
6552, 6683, 6716, 6719, 6726, 6729, 6746, 6753, 6772, 6787, 6824, 6860,
6865, 6914, 6938, 6941, 7040; 7118, 7181, 7183, 7207, 7285, 7300, 7303,
7304, 7307, 7315, 7329, 7331, 7334, 7358, 7416, 7421, 7424, 7426, 7470,
7520, 7541, 7565, 7618, 7624, 7643, 7644, 7778, 7839, 7959, 8006, 8040,
8043, 8045, 8052, 8085, 8096, 8107, 8280, 8356, 8437, 8446, 8450, 8451,
8494, 8723, 9009, 9231, 9269, 9271, 9285, 9364, 9454, 9456, 9463, 9482,
9488, 9518; 9785, 10073, 10075, 10077, 10093, 10167, 10192, 10197, 10198,
10207, 10214, 10224, 10254, 10255, 10274, 10276, 10278, 10289, 10315,
10318, 10328, 10354, 10359, 10442, 10513, 10522, 10561, 10566, 10571,
10573, 10580, 10585, 10586, 10589, 10623, 10660, 10665, 10739, 10746,
10758, 10781, 10861, 11061, 11066, 11113, 11180, 11185, 11187, 11196,
11199, 11212, 11229, 11232, 11236, 11237, 11238, 11260, 11273, 11350,

1491
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

11377, 11379, 11380, 11381, 11387, 11389, 11390, 11472, 11474, 11475,
11491, 11515, 11517, 11528, 11539, 11542, 11545, 11556, 11565, 11599,
11603, 11633, 11643, 11644, 11646, 11648, 11651, 11674, 11675, 11677,
11680, 11690, 11735, 11767, 11797, 11805, 11812, 11813; 12191, 12200,
12223, 12245, 12247, 12258, 12260, 12261, 12283, 12285, 12317, 12320,
12321, 12330, 12335, 12339, 12361, 12369, 12370, 12389, 12404, 12410,
12432, 12445, 12536, 12538, 12562, 12588, 12590, 12593, 12638, 12645,
12649, 12676, 12702, 12719, 12721, 12761, 12778, 12783, 12803, 12861,
12883, 12992, 13025, 13097, 13132, 13140;13215, 13222, 13228, 13268,
13282, 13306, 13324, 13334, 13390, 13400, 13451, 13506, 13515, 13516,
13536, 13560, 13572, 13618, 13682, 13749, 13806, 13812, 13813, 13823,
13825, 13827, 13841, 13861, 13868, 13870, 13896, 13911, 13967, 14005,
14024, 14031, 14061, 14087, 14148, 14152, 14164, 14167, 14245, 14343,
14411, 14418, 14422, 14438, 14441, 14486, 14496, 14560, 14603, 14648,
14724, 14732, 14734, 14912, 14950, 14994, 14996, 15013, 15019, 15022,
15024, 15025, 15026, 15029, 15040, 15046, 15048, 15049, 15053, 15055,
15078, 15079, 15091, 15097, 15199, 15236, 15245, 15278, 15404, 15423,
15452, 15460, 15745, 16048, 16135, 16154, 16156, 16198, 16208, 16238,
16253, 16264, 16277, 16396, 16403, 16510, 16512, 16528, 16546, 16559,
16564, 16590, 16657, 16675, 16702, 16703, 16705, 16708, 16809, 16859,
17449, 17450, 17458, 17467, 17473, 17474, 17493, 17498, 17499, 17500,
17554, 17563, 17594, 17748, 17768; 18067, 18069, 18272, 18275, 18473,
18504; 18770, 18865, 18980, 19006, 19011, 19012, 19018, 19028, 19085,
19101, 19103, 19104, 19141, 19148, 19301, 19486;19574, 19614, 19865;
20319, 20573, 20581, 20612, 20719, 20845; 20863, 20948, 20973, 20990,
21029, 21187, 21191, 21192, 21585; 22056, 22059, 22062, 22078, 22800,
22961, 22965, 23086, 23408; 23616, 23628, 23651, 23633, 23638, 23653,
23654 e 23667;

1492
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

. Conversações e/ou Comunicações interceptadas e gravadas cuja


transcrição foi ordenada relativas ao alvo 1T167PIE, designadamente os
produtos 2, 6, 61, 82, 116, 136, 196, 198, 200, 202, 335, 386, 416, 426, 427,
465, 466, 468, 469, 470, 472, 489, 517, 518, 520, 535, 536, 538, 552, 573, 605,
611, 615, 638, 645, 679, 692, 709, 750,769, 780, 835, 836, 863, 872, 873, 896,
908, 931, 952, 965, 966, 967, 972, 978, 1035, 1048, 1049, 1057, 1096, 1196,
1297, 1308, 1337, 1338, 1363, 1364, 1380, 1382, 1399, 1401, 1402, 1407,
1416, 1540, 1610, 1645, 1660, 1661, 1667, 1727, 1776, 1824, 1898, 1905,
1910, 1913, 1935, 1936, 1948, 2002, 2050, 2052, 2053, 2056, 2058, 2064,
2068, 2069, 2086, 2098, 2117, 2137, 2173, 2187, 2197, 2226, 2274, 2315,
2379, 2430, 2449, 2453, 2454, 2462, 2480, 2484, 2519, 2565, 2695, 2757,
2778, 2782, 2785,2792, 2794, 2801, 2857, 2863, 2875, 2877, 2879, 2885,
2897, 2903, 2904, 2906; 3136, 3138, 3216, 3263, 3294, 3325, 3403, 3463,
3513, 3514, 3529, 3534, 3543, 3544, 3545, 3546, 3563, 3564, 3566, 3573,
3574, 3580, 3601, 3604, 3719, 3784, 3799, 3800, 3860, 3869, 3910, 3920,
3921, 3936, 3998, 4017, 4119, 4124, 4204, 4229, 4230, 4249, 4254, 4265,
4274, 4300, 4321, 4324, 4341, 4424, 4465, 4467, 4505, 4507, 4522, 4568,
4577, 4579, 4580, 4582, 4587, 4597, 4598, 4600, 4615, 4653, 4656, 4658,
4659, 4682, 4718, 4730, 4745, 4780, 4784, 4797, 4798, 4235, 4236, 4357,
4884, 4917, 4992, 5020, 5038, 5040, 5041, 5044, 5067, 5073, 5081, 5191,
5228, 5284, 5290, 5292, 5293, 5320, 5469, 5657, 5807, 5832, 5833, 5841,
5891, 5943, 5944, 5949, 5962, 5965, 5981, 6147, 6329, 6330, 6331, 6343,
6385, 6402, 6406, 6407, 6413, 6418, 6423, 6439, 6440, 6453, 6454, 6455,
6463, 6474, 6476, 6482, 6501, 6504, 6554, 6604, 6607, 6653, 6658, 6665,
6678, 6835, 6838, 6869, 7502, 7518, 7531, 7532, 7539, 7541, 7542, 7559,
7560, 7580, 7582, 7583, 7589, 7593, 7596, 7613, 7617, 7618, 7630, 7641,
7646, 7708, 7710, 7726, 7750, 7755, 7758, 7776, 7792, 7803, 7805, 7823,
7834, 7838, 7873, 7941, 7989, 8001, 8008, 8044, 8048, 8052, 8069, 8078,
8108, 8114, 8143, 8151, 8184, 8220, 8225, 8226, 8237, 8291, 8342, 8387,
8422, 8427, 8428, 8433, 8435, 8436, 8446, 8459, 8465, 8466, 8482, 8494,

1493
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

8530, 8553, 8565, 8614, 8615, 8622, 8624, 8672, 8728, 8771, 8775, 8777,
8778, 8789, 8812, 8845, 8932, 9024, 9071, 9080, 9084, 9086, 9087, 9088,
9089, 9092, 9103, 9104, 9105, 9107, 9109, 9121, 9182, 9201, 9206, 9219,
9263, 9279, 9300, 9306; 9674, 9737, 9751, 9752, 9764, 9794, 9840, 9844,
9906, 9907, 9915, 9928, 9934, 9952, 9996, 10002, 10019, 10020, 10021;
10085, 10117, 10506, 10529, 10530, 10536, 10539, 10543, 10544, 10556,
10560, 10561, 10594, 10600, 10621, 10724, 10738, 10905, 10906, 11026,
11028, 11143, 11159; 11327, 11386, 11460, 11477, 11481, 11482, 11486,
11490, 11528, 11538, 11539, 11540, 11564, 11568, 11662; 11841, 11869 e
12030;

. Conversações e/ou Comunicações interceptadas e gravadas cuja


transcrição foi ordenada relativas ao alvo 38249PM, designadamente os
produtos 5, 8, 98, 99, 102, 221, 223, 258, 259, 260, 344, 372, 1016; 2339,
2743, 2814, 2815; 3519; 3941, 3943, 3945, 5139, 5520, 5703 e 5887;

. Conversações e/ou Comunicações interceptadas e gravadas cuja


transcrição foi ordenada relativas ao alvo 38249PIE, designadamente os
produtos 20, 21, 23,79, 80, 99, 100, 101, 151, 165; 500; 1213, 1445, 1490,
1491, 1891, 2118, 2119, 2120, 2784, 2981, 3087 e 3214;

. Conversações e/ou Comunicações interceptadas e gravadas cuja


transcrição foi ordenada relativas ao alvo 38250PM, designadamente os
produtos 329, 1361, 1397, 1433, 1448, 1455, 1518, 1537, 1671, 1833, 2502,
2957, 4083, 4125, 4148, 4158, 4799, 4852, 5017, 5083, 5095, 5140, 5191,
5461, 5626, 5730, 5731, 5755, 5773, 5960, 5970, 6305, 6311, 6315; 6714,
6943, 7051, 7055, 7058, 7059, 7069, 7073, 7081, 7082, 7084, 7100, 7261,
7320, 7534, 9125, 9167, 9249, 9842, 10067, 10084, 10141, 10188, 10228,
10257, 10497, 10507, 10656, 10712, 10798, 10824, 10826, 10923, 11256,

1494
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

11887, 12494, 12515, 12634, 12643, 13048, 13679, 13787, 13923, 13976,
14004, 14036, 14081, 14104, 14193 e 14199;

. Conversações e/ou Comunicações interceptadas e gravadas cuja


transcrição foi ordenada relativas ao alvo 38250PIE, designadamente os
produtos 228, 1051, 1124, 1188, 1207, 2052, 2469, 2800, 3296, 3420, 4055,
4098,
4545, 4868, 5208, 5854, 7965, 8708, 8742, 8814, 9034, 9172, 9240, 9311,
9337, 9339, 9426, 9746, 9975, 10426, 10447, 10563, 10572, 10965, 11507,
11569, 11574, 11597 e 11652;

. Conversações e/ou Comunicações interceptadas e gravadas cuja


transcrição foi ordenada relativas ao alvo 39263M, designadamente os
produtos 218, 379, 383, 398, 1027, 1047, 1048, 1049, 1070, 1076, 1198, 1241,
1441, 1511, 1543, 1545, 1602, 1753, 1836, 2366, 2378, 2412, 2516, 2518,
2544, 2559, 2612, 2638, 2640, 2641, 2643, 2644, 2655, 2772, 2782, 2880,
2986, 2987, 2988, 2989, 2990, 2991, 2994, 3034, 3147, 3148, 3153, 3244,
3245, 3342, 3478, 3482, 3489, 3507, 4023, 4041, 4044, 4584, 4599, 4710,
5074, 5076, 5186, 5409, 5412, 5442, 5722, 5855, 5979, 6144, 6791, 6864,
7455, 7511, 7544, 7545, 7555, 7751, 7924, 8177, 9034 e 9035, 10084 e 10086;

. Conversações e/ou Comunicações interceptadas e gravadas cuja


transcrição foi ordenada relativas ao alvo 39263IE, designadamente os
produtos 301, 304, 763, 780, 794, 933,1089, 1141, 2936, 3030, 3034, 3058,
4373, 4569, 4695, 4804, 4833, 5167, 5987, 6156, 7191, 7192;

. Conversações e/ou Comunicações interceptadas e gravadas cuja


transcrição foi ordenada relativas ao alvo 39264M, designadamente os
produtos 1, 2, 3, 5, 6, 7, 18, 33, 60, 61, 72, 74, 77, 83 e 88;

1495
S. R.

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. Conversações e/ou Comunicações interceptadas e gravadas cuja


transcrição foi ordenada relativas ao alvo 39264IE, designadamente os
produtos 1, 2, 3, 4, 11, 16, 32, 39, 41, 43, 47, 50 e 52;

. Conversações e/ou Comunicações interceptadas e gravadas cuja


transcrição foi ordenada relativas ao alvo 39354PM, designadamente os
produtos 105, 111, 224, 249, 250, 288, 311, 706, 764, 860, 976, 994, 1002,
1009, 1050, 1051, 1056, 1063, 1064, 1066, 1164, 1194, 1219, 1509, 1524,
1546, 1554, 1576, 1669, 1704, 1726, 1731, 1732, 2236, 3079, 3124, 3151,
5029 e 5033;

. Conversações e/ou Comunicações interceptadas e gravadas cuja


transcrição foi ordenada relativas ao alvo 1X372M, designadamente os
produtos 53, 305, 800, 845, 1000, 1054, 1129, 1214 e 2069;

. Conversações e/ou Comunicações interceptadas e gravadas cuja


transcrição foi ordenada relativas ao alvo 39559PM, designadamente os
produtos 192, 696, 785, 801, 805, 807, 854, 946, 959, 985, 1037, 1112;1443,
1541, 1745, 1752, 1781, 1782, 1825, 1849, 2007, 3425, 3441, 3442, 3443,
3444, 3446, 3447, 4086, 4088, 4110, 4118, 4421, 4455, 4472, 4478, 4487,
4490, 4624, 4639, 4640, 4666, 4710, 4713, 4723, 4749, 4762, 4813, 4833,
4856, 4945, 5114, 5146, 5158, 5164, 5169, 5192, 5319, 5372, 5375, 5899,
5919, 5922, 5945, 6048, 6193, 6338, 6370, 6452, 6465; 6913, 6914, 6926,
6933, 6965, 7140, 7155, 7238, 7240; 7723, 7844, 7950, 7951, 8129 e 8194;

. Conversações e/ou Comunicações interceptadas e gravadas cuja


transcrição foi ordenada relativas ao alvo 40037M, designadamente o produto
608;

1496
S. R.

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. Conversações e/ou Comunicações interceptadas e gravadas, cuja


audição foi requerida em sede de instrução;

. Transcrições constantes dos Apensos 1, 2, 3, 4 e 5 relativas ao Alvo


1T167PM;

. Transcrições constantes dos Apensos 1, 2, 3 e 4 relativas ao Alvo


1T167PIE;

. Transcrições constantes do Apenso 1 relativas ao Alvo 39264M;

. Transcrições constantes do Apenso 1 relativas ao Alvo 39264 IE;

. Transcrições constantes do Apenso 1 relativas ao Alvo 38249PM;

. Transcrições constantes do Apenso 1 relativas ao Alvo 38249 PIE;

. Transcrições constantes do Apenso 1 relativas ao Alvo 38250PM;

. Transcrições constantes do Apenso 1 relativas ao Alvo 38250 PIE;

. Transcrições constantes do Apenso 1 relativas ao Alvo 39263M;

. Transcrições constantes do Apenso 1 relativas ao Alvo 39263IE;

. Transcrições constantes do Apenso 1 relativas ao Alvo 39354 PM;

. Transcrições constantes do Apenso 1 relativas ao Alvo 1X372M;

. Transcrições constantes do Apenso 1 relativas ao Alvo 40037M;

1497
S. R.

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. Transcrições constantes do Apenso 1 relativas ao Alvo 39559M;

Autos de Intercepção e Gravação, respectivos Relatórios e registos de


facturação detalhada “on-line”, relativa às comunicações “de” e “para” (registo
“trace back”) constantes de fls. 2286 a 2292, 2293 a 2348, 2352 a 2360, 2363 e
2364, 2365 a 2387, 2473 a 2477, 2479 a 2508, 2513 a 2526, 2529, 2530 a
2547, 2551 a 2558, 2561 a 2563, 2564 a 2581, 2585 a 2601 do Volume VIII,
8561 a 8562, 8563 a 8608 do Volume XXIV.

Autos de Intercepção e Gravação, respectivos Relatórios e registos de


facturação detalhada “on-line”, relativa às comunicações “de” e “para” (registo
“trace back”) constantes de fls. 8683 a 8693 do Volume XXIV

Autos de Intercepção e Gravação, respectivos Relatórios e registos de


facturação detalhada “on-line”, relativa às comunicações “de” e “para” (registo
“trace back”) constantes de fls. 9194 a 9228 do Volume XXVI

Autos de Intercepção e Gravação, respectivos Relatórios e registos de


facturação detalhada “on-line”, relativa às comunicações “de” e “para” (registo
“trace back”) constantes de fls. 11206 a 11229 do Volume XXXI

Autos de Intercepção e Gravação, respectivos Relatórios e registos de


facturação detalhada “on-line”, relativa às comunicações “de” e “para” (registo
“trace back”) constantes de fls. 11902 a 11909 do Volume XXXIII

Registos de facturação detalhada “on-line”, relativa às comunicações “de”


e “para” (registo “trace back”) e Registos de localização celular constantes de
fls. 12646 a 12703 do Volume XXXV

1498
S. R.

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Autos de Intercepção e Gravação, respectivos Relatórios e registos de


facturação detalhada “on-line”, relativa às comunicações “de” e “para” (registo
“trace back”) constantes de fls. 12888 a 12902 do Volume XXXVI

Autos de Intercepção e Gravação, respectivos Relatórios e registos de


facturação detalhada “on-line”, relativa às comunicações “de” e “para” (registo
“trace back”) constantes de fls. 13113 a 13115 do Volume XXXVII

Apenso 2 - Autos de Intercepção e Gravação relativos ao Alvo 1T167PM,


1T167PIE, 1T166PM, 1T166IE, 38249 PIE, 38250PM, 38250PIE e demais
documentos relacionados com as intercepções telefónicas a estes alvos;

Apenso 3 – Autos de Intercepção e Gravação, respectivos Relatórios e


registos de facturação detalhada “on-line”, relativa às comunicações “de” e
“para” (registo “trace back”) o Alvo 1T166M;

Apenso 4 – Autos de Intercepção e Gravação, respectivos Relatórios e


registos de facturação detalhada “on-line”, relativa às comunicações “de” e
“para” (registo “trace back”) o Alvo 1T166IE;

Apenso 5 – Autos de Intercepção e Gravação, respectivos Relatórios e


registos de facturação detalhada “on-line”, relativa às comunicações “de” e
“para” (registo “trace back”) o Alvo 1T167PM;

Apenso 5A – Autos de Intercepção e Gravação, respectivos Relatórios e


registos de facturação detalhada “on-line”, relativa às comunicações “de” e
“para” (registo “trace back”) o Alvo 1T167PM;

1499
S. R.

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Apenso 5B - Autos de Intercepção e Gravação, respectivos Relatórios e


registos de facturação detalhada “on-line”, relativa às comunicações “de” e
“para” (registo “trace back”) o Alvo 1T167PM;

Apenso 6 – Autos de Intercepção e Gravação, respectivos Relatórios e


registos de facturação detalhada “on-line”, relativa às comunicações “de” e
“para” (registo “trace back”) o Alvo 1T167 PIE;

Apenso 6A – Autos de Intercepção e Gravação, respectivos Relatórios e


registos de facturação detalhada “on-line”, relativa às comunicações “de” e
“para” (registo “trace back”) o Alvo 1T167 PIE;

Apenso 7 – Autos de Intercepção e Gravação, respectivos Relatórios e


registos de facturação detalhada “on-line”, relativa às comunicações “de” e
“para” (registo “trace back”) o Alvo 38249PM;

Apenso 8 – Autos de Intercepção e Gravação, respectivos Relatórios e


registos de facturação detalhada “on-line”, relativa às comunicações “de” e
“para” (registo “trace back”) o Alvo 38249 PIE;

Apenso 9 - Autos de Intercepção e Gravação, respectivos Relatórios e


registos de facturação detalhada “on-line”, relativa às comunicações “de” e
“para” (registo “trace back”) o Alvo 38250PM;

Apenso 9A - Autos de Intercepção e Gravação, respectivos Relatórios e


registos de facturação detalhada “on-line”, relativa às comunicações “de” e
“para” (registo “trace back”) o Alvo 38250PM;

1500
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenso 10 - Autos de Intercepção e Gravação, respectivos Relatórios e


registos de facturação detalhada “on-line”, relativa às comunicações “de” e
“para” (registo “trace back”) o Alvo 38250PIE;

Apenso 10 A – Autos de Intercepção e Gravação, respectivos Relatórios


e registos de facturação detalhada “on-line”, relativa às comunicações “de” e
“para” (registo “trace back”) o Alvo 38250 PIE;

Apenso 11 – Autos de Intercepção e Gravação, respectivos Relatórios e


registos de facturação detalhada “on-line”, relativa às comunicações “de” e
“para” (registo “trace back”) o Alvo 39263M;

Apenso 11A – Autos de Intercepção e Gravação, respectivos Relatórios e


registos de facturação detalhada “on-line”, relativa às comunicações “de” e
“para” (registo “trace back”) o Alvo 39263M;

Apenso 12 – Autos de Intercepção e Gravação, respectivos Relatórios e


registos de facturação detalhada “on-line”, relativa às comunicações “de” e
“para” (registo “trace back”) o Alvo 39263IE;

Apenso 13 – Autos de Intercepção e Gravação, respectivos Relatórios e


registos de facturação detalhada “on-line”, relativa às comunicações “de” e
“para” (registo “trace back”) o Alvo 39264M;

Apenso 14 - Autos de Intercepção e Gravação, respectivos Relatórios e


registos de facturação detalhada “on-line”, relativa às comunicações “de” e
“para” (registo “trace back”) o Alvo 39264IE;

1501
S. R.

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Apenso 15 – Autos de Intercepção e Gravação, respectivos Relatórios e


registos de facturação detalhada “on-line”, relativa às comunicações “de” e
“para” (registo “trace back”) o Alvo 39354PM;

Apenso 16 – Autos de Intercepção e Gravação, respectivos Relatórios e


registos de facturação detalhada “on-line”, relativa às comunicações “de” e
“para” (registo “trace back”) o Alvo 1X372M;

Apenso 17 – Autos de Intercepção e Gravação, respectivos Relatórios e


registos de facturação detalhada “on-line”, relativa às comunicações “de” e
“para” (registo “trace back”) o Alvo 39559M;

Apenso 20 – Autos de Intercepção e Gravação, respectivos Relatórios e


registos de facturação detalhada “on-line”, relativa às comunicações “de” e
“para” (registo “trace back”) o Alvo 40037M;

Apenso 21 – Autos de Intercepção e Gravação, respectivos Relatórios e


registos de facturação detalhada “on-line”, relativa às comunicações “de” e
“para” (registo “trace back”) o Alvo 40039M;

Apenso 22 – Autos de Intercepção e Gravação, respectivos Relatórios e


registos de facturação detalhada “on-line”, relativa às comunicações “de” e
“para” (registo “trace back”) o Alvo 40039IE;

Apenso 30 - Registos de facturação detalhada “on-line”, relativa às


comunicações “de” e “para” (registo “trace back”) nº. de telemóvel 932 440 038,
no período compreendido entre 01 de Janeiro e 27 de Agosto de 2009;

1502
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenso 31 - Registos de facturação detalhada “on-line”, relativa às


comunicações “de” e “para” (registo “trace back”) nº. de telemóvel 933 500 180,
no período compreendido entre 01 de Janeiro e 27 de Agosto de 2009;

Apenso 32 - Registos de facturação detalhada “on-line”, relativa às


comunicações “de” e “para” (registo “trace back”) nº. de telemóvel 932 377 103,
no período compreendido entre 01 de Janeiro e 27 de Agosto de 2009;

Apenso 33 - Registos de facturação detalhada “on-line”, relativa às


comunicações “de” e “para” (registo “trace back”) nº. de telemóvel 934 098 488,
no período compreendido entre 01 de Janeiro e 27 de Agosto de 2009;

Apenso 34 - Identificação do titular e chamadas efectuadas a partir do


nº. de telemóvel 932 231 727, no período compreendido entre 27 de Janeiro e
20 de Agosto de 2009;

Apenso 35 - Impressão em excel dos ficheiros "20090525" (BCP) e


"Tráfego 20100126_234302425" contidos no CD ONI - Refª.25/GJR, de 05-02-
2020 - FICHEIROS DIGITAIS 2;

Pericial: a dos autos, nomeadamente:

Volume XXV – fls. 8935 a 8941

Volume LVIII – fls. 20174 a 20189

Apenso 122 – Unidade de Perícia Financeira e Contabilística (UPFC) –


Informações e relatórios Periciais da UPFC (cópia da informação pericial
constante de fls. 13.833 a 13.872 do Volume 40; e informações periciais II e III
a que se refere a informação de serviço de 29-06-2010)

1503
S. R.

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Apenso 162 – Relatório Perícia Financeira e Contabilística;

Apenso 163 – Relatório Perícia Financeira e Contabilística - Anexos;

Vítor Marques, Especialista Superior da Polícia Judiciária, id. no Apenso


162 e 163;

Exame Forense NAI 2734766 – Três exames a material informático


apreendido a José Domingos Lopes Valentim (contém 2 CD’s e 2 DVD’s com
correio electrónico);

Exame Forense NAI 2735767 – Três exames a material informático


apreendido a Manuel João Alves Espadinha Guiomar (contém 1 DVD com
ficheiros de imagem);

Exame Forense NAI 2734777 – Um exame a material informático


apreendido a Carlos Porral Paes de Vasconcellos (contém 2 CD’s, um deles
contém registos da aplicação SKYPE);

Exame Forense NAI 2732991 – Um exame a material informático


apreendido a José Rodrigues Pereira dos Penedos (contém 2 CD’s, um deles
contém registos);

Exame Forense NAI 2732997 – Um exame a material informático


apreendido a Jorge Paulo Martins Pereira dos Penedos (contém 2 CD’s);

Exame Forense NAI 2733002 – Um exame a material informático


apreendido a Armando António Martins Vara (contém 5 CD’s (2+2+1));

1504
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Exame Forense NAI 2734775 – Um exame a material informático


apreendido a Fernando Vítor Lopes Barreira (um CD + um DVD);

Exame Forense NAI 2735760 – Um exame a material informático


apreendido na empresa “O2”, utilizado por Namércio Pereira da Cunha (2
DVD’s +1 DVD com correio electrónico);

Exame Forense NAI 2735762 – Um exame a material informático


apreendido na empresa “2ndMarket” (1 DVD + 1 DVD com correio electrónico);

Exame Forense NAI 2735769 – Um exame a material informático


apreendido na empresa “O2” (Um CD);

Exame Forense NAI 2734772 – Quatro exames a material informático


apreendido a Domingos José Paiva Nunes (Um CD + sete DVD’s com correio
electrónico);

Apenso 135 - Impressão do relatório do exame forense constante do CD


FICHEIROS DIGITAIS 33, realizado ao cartão SIM com o ICCID
89351060000213559584 (938 959 707) encontrado e apreendido na posse do
arguido NAMÉRCIO PEREIRA DA CUNHA (Cf. Fls. 11 a 16, 23 e 24 - Apenso
Buscas N);

Apenso 136 - Impressão do relatório do exame forense constante do CD


FICHEIROS DIGITAIS 33, realizado ao cartão SIM com o ICCID
89351060000210363196 (961 737 303) e ao telemóvel IMEI
352924024470671, encontrado e apreendido na posse do arguido JOÃO
JORGE DA SILVA GODINHO (Cf. Fls. 11 a 16, 23 e 24 - Apenso Buscas N);

1505
S. R.

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Apenso 137 - Impressão do relatório do exame forense constante do CD


FICHEIROS DIGITAIS 33, realizado ao cartão SIM com o ICCID
89351060000210363196(961 737 303) e ao telemóvel IMEI 352924024470671,
encontrado e apreendido na posse do arguido JOÃO JORGE DA SILVA
GODINHO (Cf. Fls. 11 a 16, 23 e 25 - Apenso Buscas N);

Apenso 138 - Impressão do relatório do exame forense constante do CD


FICHEIROS DIGITAIS 23, realizado ao cartão SIM com o ICCID
89351012004430934 17, inserido no telemóvel IMEI 351549007911135,
encontrado e apreendido na posse do arguido FERNANDO VÍTOR LOPES
BARREIRA (Cf. Fls. 10 a 12 - Apenso Buscas F1);

Apenso 139 - Impressão do relatório do exame forense constante do CD


FICHEIROS DIGITAIS 24, realizado ao cartão SIM com o IMSI
268030201856568, apreendido com o telemóvel com o IMEI
353191039328901, encontrado e apreendido na posse do arguido MANUEL
JOSÉ FERREIRA GODINHO;

Apenso 140 - Impressão do relatório do exame forense constante do CD


FICHEIROS DIGITAIS 21, realizado ao cartão SIM com os ICCID's
89351060000149369389 (963 965 760 - IMEI 352924023078459),
100841065399 (910 507 162) - IMEI 351845037183855) e
89351060000210378087 (961 738 792 - IMEI 357616005998077), que se
encontravam na posse do arguido ARMANDO ANTÓNIO MARTINS VARA;

Apenso 141 - Impressão do relatório do exame forense constante do CD


FICHEIROS DIGITAIS 31, realizado ao cartão SIM com o ICCID
8935103120116754145 (933 970 439) e ao telemóvel IMEI 356400028413096,
encontrado e apreendido na posse do arguido MANUEL NOGUEIRA DA
COSTA (Cf. fls. 9 a 10, 19 - Apenso Buscas R);

1506
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenso 155 – Exame telemóvel – FICHEIROS DIGITAIS 35;

Apenso 156 – Exame telemóvel – FICHEIROS DIGITAIS 36;

Apenso 157 – Exame telemóvel – FICHEIROS DIGITAIS 37;

Apenso 158 – Exame telemóvel – FICHEIROS DIGITAIS 21;

Apenso 159 – Exame telemóvel – FICHEIROS DIGITAIS 23;

Apenso 160 – Exame telemóvel – FICHEIROS DIGITAIS 44;

Ficheiros Digitais 21 – Telemóveis Armando António Martins Vara –


Exame Forense aos SIM card’s dos telemóveis 963 965 760, 910 507 160 e
961 738 792, em CD;

Ficheiros Digitais 22 – Telemóveis Jorge Paulo Martins Pereira dos


Penedos – Exame Forense aos SIM card’s dos telemóveis Nokia 6300 e
Blackberry com os cartões com o n.º966 788 386, em CD;

Ficheiros Digitais 23 – Telemóvel Fernando Vítor Lopes Barreira –


Exame Forense ao SIM card de telemóvel Nokia 631-Oi, n.º966 787 888, em
CD;

Ficheiros Digitais 24 – Telemóvel Manuel José Ferreira Godinho –


Exame Forense ao SIM card de telemóvel Nokia 6300, com o IMEI
353191039328901, em CD;

1507
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Ficheiros Digitais 32 – Telemóvel Manuel Nogueira da Costa – Exame


Forense – Telemóvel Nokia 6500, IMEI 356400028413096S e SIM ICCID
8935103120116754145 (933 970 439), em CD;

Ficheiros Digitais 33 – Telemóveis Namércio Cunha (IMEI


352924024473840) e João Godinho (IMEI’s 352924024470671 e
35835301109818401) – Exame Forense – Telemóveis HTC T7272 (IMEI
35835301109818401); Nokia E71 (IMEI 3529240244706719); e Nokia E71
(IMEI 352924024473840), em CD;

Ficheiros Digitais 35 A – Telemóvel de José Domingos Lopes Valentim –


Exame Forense – Telemóvel Nokia N73, 353546026484969 e cartão TMN
n.º934 098 488, em CD;

Ficheiros Digitais 36 – Telemóvel de Manuel João Alves Espadinha


Guiomar – Exame Forense – Telemóveis Nokia 5310, 5630, 6303, em CD;

Ficheiros Digitais 37 – Telemóvel de Carlos Porral Paes de Vasconcellos


– Exame Forense – Telemóvel Nokia 6230i, com o IMEI 357616002277020, em
CD;

Ficheiros Digitais 41 – José Rodrigues Pereira dos Penedos – Apenso


Buscas A – Um CD – Relatório exame forense ao portátil apreendido Toshiba
PPR50E-03V061EP, com o n.º de série Y7859604G –
“report200910281018327374”, em CD;

Ficheiros Digitais 44 – Telemóvel Mário Manuel de Sousa Pinho –


Exame Forense – Telemóvel Nokia 5070, com o IMEI 354824013305839,
cartão TMN SIM 89351060000219777289, com o n.º916 616 336, em CD;

1508
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Documental: a dos autos, nomeadamente:

Volume I – fls. 9 a 403;

Volume II – fls. 408 a 804;

Volume III - fls.809 a 1164;

Volume IV – fls.1070 a 1461;

Volume V – fls.1464 a 1794;

Volume VI – fls. 1799 a 1801, 1803 a 1902, 1904 a 1912, 1941 a 1954,
1974 a 1986, 1998, 2013, 2015 a 2022;

Volume VII - fls. 2065 a 2074, 2090 a 2093, 2121 a 2132, 2158 a 2217,
2218 a 2329;

Volume VIII - fls.2277(A) a 2281 (A), 2403 a 2412, 2413 a 2425;

Volume VIX - 2652, 2752 a 2810;

Volume X - fls. 2841 a 2870, 2872 a 2895, 2947 a 3005, 3008 a 3076,
3087 a 3088;

Volume XI - fls. 3182 a 3274, 3286 a 3312, 3327 a 3339, 3360 a 3385,
3392 a 3515;

Volume XII - fls. 3632 a 3648, 3711 a 3748, 3755 a 3762, 3788 a 3790,
3814, 3815, 3816 a 3820, 3826, 3828 a 3850, 3866 a 3868;

1509
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Volume XIII - fls.3874 a 3889, 3990, 3994, 4028 a 4312;

Volume XIV - fls. 4315 a 4682;

Volume XV - fls. 4694 a 4729, 4778, 4779 a 4781, 4795 a 4833, 4836 a
4871, 4874 a 4884, 4885 a 4948;

Volume XVI - fls. 5963 a 6364;

Volume XVII - fls. 5964 a 6451;

Volume XVIII- fls. 6454 a 6779;

Volume XIX - fls. 6782 a 7106;

Volume XX – fls.7109 a 7429;

Volume XXI – fls. 7436 a 7474, 7476 a 7481, 7494 a 7514, 7518 a 7748;

Volume XXII- fls. 7753 a 7796;

Volume XXIII – fls. 8108 a 8196, 8438 a 8462;

Volume XXIV – fls. 8556 a 8559, 8609 a 8610, 8672 a 8673, 8677 a 8678,
8680, 8801 a 8802, 8808 a 8809, 8814 a 8821, 8829;

Volume XXV – fls. 8881, 8895 e 8896, 8903, 8904 a 8934, 8942;

1510
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Volume XXVI – fls. 9158, 9159 a 9161, 9168 a 9170, 9174, 9175, 9184 a
9185, 9191 a 9194, 9300, 9323, 9398 a 9407;

Volume XXVII – fls. 9412 a 9463;

Volume XXVIII – fls. 10180 a 10182, 10260 a 10262, 10263 a 10273,


10279 a 10283, 10284 a 10285, 10355 a 10370;

Volume XXIX – fls. 10372 a 10511, 10529 a 10539, 10668 a 10669,


10676 a 10683, 10685 a 10710;

Volume XXX – fls. 10839 a 10859, 10881 a 10906;

Volume XXXI – fls. 11369 a 11407;

Volume XXXIII – fls. 11724 a 11726, 11829 a 11830, 11884 a 11901;

Volume XXXIV – fls. 12077 a 12391;

Volume XXXV – fls. 12575 a 12643;

Volume XXXVI – fls. 12713 a 12717, 12733 a 12734, 12736;

Volume XXXVII – fls. 13006 a 13016, 13084;

Volume XXXVIII – fls. 13189 a 13198;

Volume XXXIX – fls. 13670 a 13677, 13780 a 13810;

Volume XL – fls. 13825 a 13832, 13876, 13988 a 13992, 14130 a 14145;

1511
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Volume XLI – fls. 14249, 14432 a 14442, 14443 a 14444, 14492 a 14502;

Volume XLII – fls. 15621, 15622 a 15624, 15649, 15657 a 15660, 15661,
15667 a 15696;

Volume XLIII – fls. 15757, 15759, 15760, 15786 a 15814;

Volume XLIV – fls. 15924 a 15938, 15943 a 15981, 15982 a 15983,


15984 a 15997, 16005, 16007, 16037, 16121 a 16316

Volume XLV – fls. 16338 a 16343, 16396, 16419, 16447 a 16529, 16595
a 16629;

Volume XLVI – fls. 16635 a 16642, 16656 a 16662, 16732 a 16749,


16775, 16792, 16812 e 16813;

Volume XLVII – fls. 16900, 16911, 16919, 16920, 16924 a 16926, 16954,
17042 a 17048;

Volume XLVIII – fls. 17086, 17087 a 17088, 17113, 17131 a 17133,


17234, 17235 a 17237, 17272;

Volume XLIX – fls. 17472 a 17512, 17513 a 17530, 17622, 17643, 17654,
17668 a 17670, 17671, 17678, 17679 a 17681, 17686 a 17688, 17689 a 17692,
17693 a 17701, 17705, 17707 a 17708, 17712 a 17714, 17717 17718, 17719 a
17725, 17726 a 17727, 17728 a 17732, 17733 a 17734, 17735, 17736 a 17737,
17739, 17740, 17753, 17754 a 17757;

1512
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Volume L – fls. 17760 a 17786, 17787, 17791 a 17793, 17794 a 17796,


17798, 17804, 17848 a 17850, 17851 a 17852, 17856, 17857 a 17877, 17878 a
17906, 17939, 17944, 18019;

Volume LI – fls. 18083 a 18101, 18107, 18114, 18123 a 18288, 18289;

Volume LII – fls. 18322, 18327, 18335, 18384 a 18387, 18393, 18399 a
18417, 18431 a 18433, 18497 a 18498;

Volume LIII – fls. 18570 a 18589, 18594 a 18597;

Volume LV – fls. 19274, 19275, 19276, 19277 a 19279, 19280, 19281,


19282 a 19283, 19284, 19288 e 19289, 19290 a 19293, 19294, 19303 a 19308,
19309, 19317, 19318 a 19322, 19323, 19324, 19325, 19326, 19327 a 19330,
19331 e 19332, 19333 a 19337, 19338 a 19345, 19346 e 19347, 19348 a
19352, 19353, 19354, 19355, 19356, 19357, 19358 a 19361, 19362, 19363,
19364, 19365, 19366 e 19367, 19368 a 19371, 19372 a 19374, 19379 e 19380,
19382, 19383, 19391 a 19393, 19394, 19395, 19396, 19398, 19400 a 19410,
19411, 19413, 19430 a 19434;

Volume LVI – fls. 19473, 19579 a 19580, 19581, 19582, 19583 a 19586,
19592, 19593, 19594, 19596, 19599, 19618 a 19622, 19623, 19624, 19627 a
19629 a 19630, 19639 a 19640, 19675 a 19676, 19677 a 19679;

Volume LVII – fls. 19895, 19896, 19897, 19898, 19899, 19900 a 19906,
19907 e 19908, 19909, 19910, 19911 e 19912, 19913, 19914 e 19915, 19918,
19935, 19950 a 19955, 19957 a 19974;

Volume LVIII – fls. 20261, 20262 a 20265;

1513
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Volume LIX – fls. 20303 a 20305, 20306, 20307, 20308 e 20309, 20310 e
20311, 20312, 20313, 20314, 20315, 20326, 20334 e 20335, 20336, 20337 a
20340, 20351, 20352, 20353 a 20355, 20356, 20358 a 20360, 20361, 20362,
20363, 20539 a 20543, 20545 e 20546, 20635 a 20638, 20639;

Volume LX – fls. 20677 a 20685, 20686 a 20699, 20700 a 20720, 20821;

Volume LXI – fls. 20834 a 20930, 20973 a 20975, 21000, 21025 a 21028,
21029, 21038 a 21043, 21044 a 21045, 21046, 21088 a 21090, 21091 a 21094,
21095, 21105, 21106, 21108 a 21110, 21114, 21123 a 21139 21140 e 21141,
21148 e 21149;

Volume LXII – fls. 20184 e 20185, 20186 a 20193, 20218, 20239 e


20240, 20241, 20242, 20300, 20309;

Volume LXIII – fls. 21449, 21464 e 21465, 21466 a 21473, 21479 a


21484, 21540 a 21595, 21600, 21601, 21602 a 21605, 21606 a 21607, 21608,
21609, 21610 a 21614, 21615, 21616, 21617 a 21619, 21620 a 21622, 21623;

Volume LXIV – fls. 21695, 21724 a 21728, 21729, 21731, 21732 a


21733, 21734, 21735 a 21741, 21742, 21743, 21744, 21745 a 21746, 21747,
21748 e 21749, 21750, 21752 a 21763, 21764, 21765, 21766, 21767, 21768 a
21770, 21771, 21788 e 21789, 21819 a 21820, 21887, 21888, 21889 e 21890,
21891, 21892 e 21893, 21894, 21895 e 21896, 21897 e 21898, 21899, 21900,
21901 e 21902, 21903, 21904, 21905, 21906 a 21908, 21909, 21910, 21911 e
21918, 21919, 21949;

Volume LXV – fls. 22037, 22039 e 22040, 22041 a 22049, 22052,


22109, 22110, 22113, 22116, 22119, 22122, 22125, 22133, 22137, 22150,
22153, 22156 a 22158, 22160 a 22163, 22175 a 22176, 22179 e 22180, 22183,

1514
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

22186, 22189, 22191, 22196 a 22199, 22200, 22201 a 22203, 22204 a 22207,
22208, 22209, 22210, 22211, 22212, 22213, 22214, 22215, 22216, 22217,
22218, 22219, 22220, 22222, 22223, 22224, 22231, 22232, 22233, 22234,
22235, 22236, 22237, 22238 a 22242, 22243, 22244 a 22246, 22247, 22248,
22249, 22250 e 22251, 22252, 22253, 22254 e 22255, 22256 e 22257, 22258,
22259, 22260, 22262, 22263e 22264, 22265 a 22267, 22268;

Volume LXVI – fls. 22237 a 22329, 22343 a 22349, 22373, 22374, 22375
a 22377, 22378, 22379 a 22382, 22383 a 22386, 22387 a 22389, 22390 a
22393, 22394 a 22398, 22399, 22400 e 22401, 22402, 22432, 22433, 22441 a
22443;

Volume LXVII – fls. 22814 a 22816, 22983, 22984, 22985 e 22986,


22987, 22988, 22989 e 22990, 22991, 22992, 22993, 22994 e 22995, 22996,
22997, 22998, 22999, 23000, 23001, 23002, 23003, 23004, 23005, 23006 e
23007, 23031, 23032, 23037, 23079, 23080 a 23089;

Volume LXVIII – fls. 23100 e 23101, 23129 a 23132, 23137, 23146 a


23149, 23174 a 23185, 23323 a 23325, 23362 a 23365, 23380;

Volume LXIX – fls. 23445 a 23448, 23450, 23451, 23531 a 23535, 23564
a 23577;

Volume LXXIV – fls. 25068 e segs. da certidão

Todos os Apensos juntos aos autos em fase de inquérito e agora, na


fase de instrução, designadamente:

Apenso designado por CLIPPING, contendo documentos respeitantes a


IMPRENSA/E-GOVERNMENT/REDES SOCIAIS;

1515
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenso 1 - documentos relativos ao Registo de Pesquisa às Sociedades


Comerciais: SCI; O2; Manuel J. Godinho; Pedras Deslizantes; Comércio de
Sucatas Godinho; SEF; Fracon; Riberlau; PC OLD; 2ndmarket; REN; REFER;
EMEF; APSS; Estaleiros Navais de Viana do Castelo; CP - Caminhos de Ferro;

Apenso 18 - Registo de pesquisa na página Internet da Direcção-Geral


de Tesouro e Finanças relativo às seguintes empresas: Administração dos
Portos de Setúbal e Sesimbra, S.A.; Arsenal de Alfeite, S.A.; C.P.; CTT;
EMPORDEF; IDD; Parpública; REFER; CGD;

Apenso 19 - Registo de pesquisa na página Internet da Direcção-Geral


de Tesouro e Finanças relativo às seguintes empresas: EP - Estradas de
Portugal, S.A.; APA - Administração do Porto de Aveiro, S.A.; EDP.;

Apenso 23 - Certidão dos autos de Inquérito sob o NUIPC


39/08.8JAAVR;

Apenso 24 - Certidão dos autos de Inquérito sob o NUIPC


39/08.8JAAVR;

Apenso 25 - Certidão dos autos de Inquérito sob o NUIPC


39/08.8JAAVR;

Apenso 26 - Certidão dos autos de Inquérito sob o NUIPC


39/08.8JAAVR;

Apenso 27 - Certidão dos autos de Inquérito sob o NUIPC


39/08.8JAAVR;

1516
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenso 28 - Certidão dos autos de Inquérito sob o NUIPC


39/08.8JAAVR;

Apenso 29 - Certidão dos autos de Inquérito sob o NUIPC


39/08.8JAAVR;

Apenso 36 - Registos de VIA VERDE;

Apenso 37 - Documentação Bancária: Conta nº.17817117 10 001 -


Finibanco - "SCI (Aveiro); Conta nº.26363353 10 001 - Finibanco - Manuel J.
Godinho - Administrações, S.A.;

Apenso 38 - Documentação Bancária: Conta nº.26824888 10 001 -


Finibanco - "O2"; Conta nº.118.10.000498-5 - Montepio - "O2"; Conta
nº13307505 - BPN - "O2";

Apenso 39 - Documentação Bancária: Conta nº.38609924 - Banif - "O2";


Conta nº27727623 10 001 - Finibanco - "Riberlau"; Conta nº.29006050 10 001 -
Finibanco - "Sporting Clube de Esmoriz"; Conta nº33629079 10 001 -
Finibanco - "Pedras Deslizantes"; Conta nº23634162 - BPN - "Pedras
Deslizantes"; Conta nº19253024 10 001 - Finibanco - "Areivar"; Conta
nº27814278 10 001 - Finibanco - "Comércio de Sucatas Godinho, Lda"; Conta
nº118.10.000930-7 - Montepio - "Comércio de Sucatas Godinho, Lda"; Conta
nº.027700200012841 31 - Santander Totta - "SCI - Aveiro"; Conta nº.13501578
- BPN - "SCI Aveiro"; Conta nº. 000 40507312001/2 - Santander Totta -
"Sociedade de Empreitadas Ferroviárias, Lda".

Apenso 39A - Documentação Bancária: Conta nº.5-2025150-000-001 -


BPI - "O2"; Conta nº. 6-2639476-000-001 - BPI - "O2"; Conta nº.43242342 -

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

BCP - Manuel José Ferreira Godinho; Conta nº. 0432193 - BCP - Manuel José
Ferreira Godinho e Maria de Fátima da Silva Magina Godinho;

Apenso 40 - Documentação Bancária: Conta nº17818241 10 001 -


Finibanco - Manuel José Ferreira Godinho; Conta nº. 100008374 - Montepio -
João Jorge da Silva Godinho; Conta nº. 100017631 - Montepio - Maria João
Pereira Godinho; Conta nº.096-200003636 - BBVA - Rui Lopes de Sousa
Miranda; Conta nº. 0153 1270 0137 - BES - Susana Alves Teixeira; Conta nº.
0139 1370 0177 - BES - Susana Alves Teixeira; Conta nº. 39927912 - BPN -
Susana Alves Teixeira; Conta nº. 6072 9081 0006 - BES - "Sociedade de
Empreitadas Ferroviárias, Lda; Conta nº. 6072 9082 0001 - BES - Comércio de
Sucatas Godinho, Lda"; Conta nº.3-1545467 - BPI - Manuel José Ferreira
Godinho; Conta nº.6-1849159 - BPI - João Jorge Silva Godinho e Marco Paulo
Silva Godinho; Conta nº.4-1646967-000-001 - BPI - Comércio de Sucatas
Godinho, Lda; Conta nº. 49204359 - BCP - Hugo manuel de Sá Godinho.

Apenso 40A - Documentação Bancária: Extracto da Conta nº43242342 -


Millennium BCP - Manuel José Ferreira Godinho (Janeiro de 2001 a Dezembro
2006).

Apenso 41 - Documentação Bancário: Conta nº.25408371 10 001 -


Finibanco - Jorge Paulo Martins Pereira dos Penedos; Cópias de Cheques
emitidos sobre a Conta nº. 0000.30450950001 do Santander Totta, titulada por
Jorge Paulo Martins Pereira dos Penedos; Conta nº. 0000.30450950001 -
Santander Totta - Jorge Paulo Martins Pereira dos Penedos; Conta nº.
0002.06774064001 - Santander Totta - Jorge Paulo Martins Pereira dos
Penedos; Conta nº. 0000.24683802001 - Santander Totta - "REN - Redes
Energéticas Nacionais, SGPS, S.A."; Conta nº. 20214076 0007 - BES -
Levinda lurdes Martins Pereira; Conta nº. 1767598610 001 - BPN - "REN -

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Rede Eléctrica Nacional, S.A."; Conta nº. 0000.30450950001 - Santander Totta


- Jorge Paulo Marins Pereira dos Penedos;

Apenso 41A - Documentação Bancária: Conta nº45205910459 - BCP -


Jorge Paulo Martins Pereira dos Penedos; Conta nº. 45329772863 - BCP -
Jorge Paulo Martins Pereira dos Penedos; Conta nº. 45282946695 - BCP -
Jorge Paulo Martins Pereira dos Penedos;

Apenso 41B - Documentação Bancária: Conta nº. 0035/0239013217700


- CGD - Jorge Paulo Martins Pereira dos Penedos (documentação bancária de
suporte aos movimentos e extracto bancário 16/07/2009 a 08/02/2009);
Extracto bancário da conta nº. 0239 0178649 30 - CGD - Jorge Paulo Martins
Pereira dos Penedos (01/01/2008 a 31/01/2010);

Apenso 41C - Documentação Bancária: Jorge Paulo Martins Pereira dos


Penedos (documentação de suporte);

Apenso 41D – Documentação Bancária: Documentação de suporte de


contas relacionadas com Jorge Paulo Martins Pereira dos Penedos;

Apenso 41E – Documentação Bancária: Documentação de suporte de


contas relacionadas com Jorge Paulo Martins Pereira dos Penedos;

Apenso 41F – Documentação Bancária: Documentação de suporte de


contas relacionadas com Jorge Paulo Martins Pereira dos Penedos;

Apenso 42 - Documentação Bancária: Conta nº. 11564860 10 001 -


Finibanco - António Paulo Cadete Almeida Costa; Conta nº 011.060.0905.05
(015620100121 - BNC) - Banco Popular - António Paulo Cadete Almeida
Costa; Conta nº. 011.060.0075989 (131085.001.070 - BNC) - Banco Popular -

1519
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

António Paulo Cadete Almeida Costa; Conta nº. 8-3295088-000-001 - BPI -


António Paulo Cadete Almeida Costa; Conta nº. 8-3295088-000-001 -
Santander Totta - "IDETEX GEST - Gestão de Áreas de Serviço, S.A.".

Apenso 42A - Documentação Bancária (continuação) - António Cadete


Almeida Costa.

Apenso 43 - Documentação Bancária: Conta nº.16609833 10 001 -


Finibanco - "Nogueira da Costa & Pereira, Lda"; Conta nº 0277.00200006603 -
Santander Totta - "Nogueira da Costa & Pereira, Lda"; Conta nº. 23395137 10
001 - Finibanco - "Ferrovar - Comércio Sucatas e Reciclagens, Lda"; Conta nº.
42432436 10 001 - Finibanco - Manuel Nogueira da Costa; Conta nº.
0000.40491936001 - Santander Totta - "Ferrovar - Comércio Sucatas e
Reciclagem, Lda"; Conta nº. 23710846 - BPN - Manuel Nogueira da Costa;
Conta nº. 0277.00200006611 - Santander Totta - Manuel Nogueira da Costa;
Conta nº. 38710217 10 001 - Finibanco - "M5 - Gestão de Resíduos Industriais,
Unipessoal Lda"; Conta nº. 157-200000178 - BBVA - "M5 - Gestão de
Resíduos Industriais, Unipessoal, Lda"; Conta nº. 38124560 - BPN -
"Manténverde - Comércio de Sucatas, Lda"; Conta nº. 20137988 - BPN -
"Socanf - Sociedade de Recolha de Resíduos, S.A."; Conta nº. 342601.001.74
(182.060.02066.66) - Banco Popular - "Manténverde - Comércio de Sucatas,
Lda"; Conta nº. 6072 9733 0018 - BES - "Ferrovar - Comércio Sucatas e
Reciclagem, Lda"; Conta nº. 0277.00200006611 - Santander Totta - "Nogueira
da Costa & Pereira, Lda";

Apenso 43A - Documentação Bancária: Conta nº. 8 3957865 000 001 -


BPI - Paulo Manuel Pereira da Costa; Conta nº. 8 3287105 - BPI - Paulo
Manuel Pereira da Costa; Conta nº. 1 3472137 000 001 - BPI - Sucatas 109;
Conta nº. 8 3665956 000 001 - BPI - Manténverde - Comércio de Sucatas,
Lda; Conta nº. 5 3938128 000 001 - BPI - "Zonalarga, Reciclagem, Lda";

1520
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Conta nº. 8 1849063 000 001 - BPI - Manuel Nogueira da Costa; Conta nº. 5
3383925 000 001 - BPI - Manuel Nogueira da Costa; Conta nº. 9 2602384 000
001 - BPI - Nogueira da Costa e Pereira, Lda;

Apenso 43B - Documentação bancária: Conta nº. 101016771 -


Millennium BCP - Paulo Manuel Pereira da Costa; Conta nº. 149997888 -
Millennium BCP - Manuel Nogueira da Costa;

Apenso 44 - Documentação Bancária: Conta nº. 29100592 10 001 -


Finibanco - Maribel Marques Rodrigues; Conta nº.27183230 10 001 -
Finibanco - Jéssica Marques Valente; Conta nº. 0003 9719 1624 - BES -
Agnelo Santos Valente; Conta nº. 25160948 - BPN - Jéssica Marques Valente;
Conta nº. 6240 4720 0001 - BES - Maribel Marques Rodrigues; Conta nº.
45251399579 - Millennium BCP - Maribel Marques Rodrigues; Conta
nº.138842212 - Millennium BCP - Maribel Marques Rodrigues.

Apenso 46 - Documentação Bancária: Conta nº. 100025131 - Montepio -


Armando António Martins Vara; Conta nº. 45350619812 - Millennium BCP -
Armando António Martins Vara;

Apenso 46A – Documentação Bancária – Conta n.º0001007796730 –


CGD – IMOCAIXA Gestão Imobiliária, S.A.;

Apenso 46B - Documentação Bancária – Conta n.º0001007796730 –


CGD – IMOCAIXA Gestão Imobiliária, S.A.; Conta n.º0001026155530 – CGD -
IMOCAIXA Gestão Imobiliária, S.A.; Conta n.º2159002916330 – CGD -
IMOCAIXA Gestão Imobiliária, S.A.; Conta n.º2169026104730 – CGD -
IMOCAIXA Gestão Imobiliária, S.A.;

1521
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenso 46C – Documentação Bancária – Conta n.º0001023086230 –


CGD – CAIXATEC Tecnologias Comunicação, S.A.; Conta n.º0001025865130
– CGD – CAIXATEC Tecnologias Comunicação, S.A.; Conta nº.
0802001677030 – CGD – CAIXATEC Tecnologias Comunicação, S.A.;

Apenso 47 - Documentação Bancária: Conta nº. 0694.006913.900 -


CGD - Mário Manuel Sousa Pinho; Conta nº. 83/5290442 - Banif - Mário
Manuel Sousa Pinho; Conta nº. 38101025 - Banif - Mário Manuel Sousa Pinho.

Apenso 48 - Documentação Bancária: Conta nº. 003-200046243 - BBVA


- Carlos Porral Paes de Vasconcellos; Conta nº. 063-200018493 - BBVA -
ASPIDUS, Lda; Conta nº. 0000-31720079001 - Santander Totta - Lispolis,
Associação para o Pólo Tecnologico de Lisboa; Conta nº. 0000-35187876001 -
Santander Totta - Lispolis, Associação para o Pólo Tecnológico de Lisboa;
Conta nº. 23095559 - BPN - Invesfer, Promoção e Comercialização de
Terrenos e Edifícios, S.A.; Conta nº. 9-0642234-000-001 - BPI - Maria
Madalena Fernandes Pinto Paes de Vasconcellos; Conta nº. 3-0642268-000-
002 - BPI - Maria Madalena Fernandes Pinto Paes de Vasconcellos; Conta nº.
5-0642365-000-02 - BPI - João Carlos Fernandes Pinto Paes de Vasconcellos;

Apenso 48 A - Documentação Bancária: Conta nº. 2-5395801-000-001 -


BPI - Maria Madalena Fernandes Pinto Paes de Vasconcellos; Conta nº. 2-
4125960 - BPI - ASPIDUS, Lda;

Apenso 49 - Documentação Bancária: Contas nºs. 086-200006648; 086-


600001939; 086-800001844, 086-800003014, 086-800003022, 086-800004111
e 102-200000178 - BBVA - José António Chocolate Contradanças; Conta nº.
8-0187197-000-001- BPI - EID - Empresas de Investigação e Desenvolvimento
de Electronica, S.A.; Conta nº. 2980022547 - Millennium BCP - José António

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Chocolate Contradanças; Conta nº. 2980013157 - Millenium BCP - António


Calhandra Contradanças; Conta nº. 2980015354 - Millennium BCP - Maria
Coelho Chocolate; Conta nº. 45297654029 - Millennium BCP - Maria Coelho
Chocolate; Conta nº. 5529342500 - Banco BIG - José António Chocolate
Contradanças;

Apenso 49A – Documentação Bancária – Documentação de suporte de


contas relacionadas com José António Chocolate Contradanças;

Apenso 50 - Documentação Bancária: Contas nºs. 0003.17589953020,


0003.17224015020,0003.17589805020, 0003.17589821020 - Santander Totta -
CONSULGAL, Consultores de Engenharia, S.A.; Conta nº. 0-1324543-000-001
- BPI - CONSULGAL, Consultores de Engenharia, S.A.; Conta nº.
0003.17589808020 - Santander Totta - MOTTCONSULT, Consultores de
Engenharia, Lda; Conta nº. 3-2045836 - BPI - MOTTCONSULT, Consultores
de Engenharia, Lda; Conta nº. 0-2045838 - BPI - SISAQUA, Sistemas de
Saneamento Básico, Lda; Conta nº. 1-2045840-135-001 - BPI - CARGOGAL,
Transportes Internacionais, Lda;

Apenso 50A - Documentação Bancária: Conta nº. 6501620 - Millennium


BCP - Fernando Vítor Lopes Barreira; Conta nº. 45326799231 - Millennium
BCP - Fernando Vítor Lopes Barreira; Conta nº. 50047789328 - Millennium
BCP - Norberto Augusto Lopes Barreira.

Apenso 50 B – Documentação Bancária – Documentação de suporte de


contas relacionadas com Fernando Vítor Lopes Barreira;

Apenso 51 - Documentação Bancária: Conta nº. 0003.116593212020 31


- Santander Totta - Manuel João Alves Espadinha Guiomar; Conta nº.
0000.02135348001 - Santander Totta - Manuel João Alves Espadinha Guiomar;

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S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenso 52 - Documentação Bancária: Conta nº. 0003 19517887020 -


Santander Totta - João Manuel Tomás Tavares; Conta nº. 00005276962001 -
Santander Totta - João Manuel Tomás Tavares; Conta nº. 0000 40379462001
- Santander Totta - Helder Nuno Cardoso Tavares; Conta nº. 45317167907 -
Millennium BCP - António Joaquim Tomás Tavares.

Apenso 53 - Documentação Bancária: Conta nº. 40111179389 - CCAM -


Domingos José Paiva Nunes; Conta nº. 40183179613 - CCAM - Quinta do
Amendoal, Lda; Conta nº. 1435116 - Millennium BCP - Domingos José Paiva
Nunes; Conta nº. 17242333 - Millennium BCP - Maria Cristina Sousa
Carrasqueiro Paiva Nunes;

Apenso 54 - Documentação Bancária: Conta nº.40187910434 - CCAM -


José Domingos Lopes Valentim; Conta nº. 289807.001.86 - Banco Popular -
José Domingos Lopes Valentim; Conta nº. 0-5485878 - BPI - José Domingos
Lopes Valentim; Conta nº. 45339350643 - Millennium BCP - José Domingos
Lopes Valentim.

Apenso 55 - Documentação Bancária de suporte aos movimentos


(2004/2005) - Conta nº. 1781824110001 - Finibanco - Manuel José Ferreira
Godinho.

Apenso 56 - Documentação Bancária: Conta nº. 0003.16140303020 -


Santander Totta - REN, Rede Eléctrica Nacional, Lda, S.A. - Conta nº.
0003.21135256020 - Santander Totta - REN, Gasodutos, S.A.; Conta nº.
0000.22058096001 - Santander Totta - APS, Administração Porto de Sines,
S.A.; Conta nº. 0000.36822887001 - Santander Totta - APS, Administração
Porto de Sines, S.A.

1524
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenso 56A - Documentação Bancária: Conta nº. 331276.001.48 -


Banco Popular - REN ATLÂNTICO, Terminal de GNL, S.A.; Conta nº.
1331900.001.51 - Banco Popular - REN, Redes Energéticas Nacionais, S.A.,
Conta nº. Conta nº. 2021 4076 0007 - BES - Levinda de Lourdes Martins
Pereira dos Penedos; Conta nº. 0003.16140303020 - Santander Totta - REN,
Rede Eléctrica Nacional, S.A.; Conta nº. 0003.21135256020 - Santander Totta
- REN, Gasodutos, S.A.; Conta nº. 0000.24683805001 - Santander Totta -
REN, Redes Energéticas Nacionais SGPS, S.A.;Conta nº. 0000.06774064001
- Santander Totta - José Rodrigues Pereira dos Penedos; Conta nº. 7078673 -
Millennium BCP - José Rodrigues Pereira dos Penedos; Conta nº. 208773683 -
Millennium BCP - Aníbal Rodrigues Vilela.

Apenso 57 - Documentação Bancária: Conta nº. 1781824110001 -


Finibanco - Manuel José Ferreira Godinho (documentação bancária de suporte
aos movimentos - 2008/2009) ; Conta nº. 61812128 000.5 - BES - Vitor Nuno
Godinho Mendes; Conta nº. 0001 9749 5943 - BES - Maria Teresa Ludovice
Gama Lança Tamm; Conta nº. 0000.30450950001 - Santander Totta - Jorge
Paulo Martins Pereira Penedos; Conta nº. 0277.00200007940 - Santander
Totta - Moisés Joaquim Dias de Sousa; Conta nº. 0000.30450950001 -
Santander Totta - Jorge Paulo Martins Pereira dos Penedos; Conta nº.
7425028873 - Banif - Manuel José Ferreira Godinho.

Apenso 57A - Documentação Bancária: Conta nº. 1781824110001 -


Finibanco - Manuel José Ferreira Godinho (documentação bancária de suporte
aos movimentos - 2006/2007); Conta nº. 104.200039327 - Barclays - António
Manuel Vitória Lopes;

Apenso 57B - Documentação Bancária: Conta nº.1781824110001 -


Finibanco - Manuel José Ferreira Godinho (documentação bancária de suporte

1525
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

aos movimentos - 2004/2005); Documentação de suporte e informação dos


respectivos titulares de contas bancárias associadas;

Apenso 57C - Documentação Bancária: Conta nº. 1781824110001 -


Finibanco - Manuel José Ferreira Godinho (documentação bancária de suporte
aos movimentos);

Apenso 57 D – Documentação Bancária: Documentação de suporte de


contas relacionadas com Manuel José Ferreira Godinho, João Jorge Silva
Godinho e Hugo Manuel de Sá Godinho;

Apenso 57E - Documentação Bancária - (continuação) - Documentação


de suporte de contas bancárias tituladas por Manuel José Ferreira Godinho;
João Jorge Silva Godinho; “Pedras Deslizantes - Comércio por Grosso de
Materiais de Construção, S.A.”;

Apenso 58 - Documentação Bancária: Conta nº.0-1740477 - BPI -


Namércio Pereira da Cunha; Conta nº. 50120422928 - Millennium BCP -
Namércio Pereira da Cunha.

Apenso 59 - Documentação Bancária: Conta nº. 0072-1570 0215 - BES -


Elisabete Maria F. de Amorim Bernardes; Conta nº. 50120422928 - Millennium
BCP - Namércio Pereira da Cunha.

Apenso 61 - Documentação Bancária: Conta nº. 3960 3285 0003 - BES -


Afonso Aguiar Figueiredo Costa; Conta nº. 0221 8457 0009 - BES - Afonso
Aguiar Figueiredo Costa; Conta nº. 2273 7419 0008 - BES - Tecor, Tecnologia
Anti Corrosão, S.A.; Conta 0222 1341 0002 - BES - Afonso Aguiar Figueiredo
Costa; Conta nº. 0002 3848 9827 - BES - Lisnave, Estaleiros Navais, S.A.;
Conta nº. 0000.38774940001 - Santander Totta - Lisnave, Estaleiros Navais,

1526
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

S.A.; Conta nº. 0003.11976008020 - Santander Totta - Afonso Aguiar


Figueiredo Costa;

Apenso 61A - Documentação Bancária: Conta nº. 3-0896403 - BPI -


Manuel São José Gomes; Conta nº. 0-8921577 - BPI - Lisnave, Estaleiros
Navais, S.A.

Apenso 61B – Documentação Bancária – Lisnave – Estaleiros Navais,


S.A. (documento de suporte); Conta nº. 049.10.018326 – Montepio – Manuel
São José Gomes; Conta nº. 043.10.043460 – Montepio – Lisnave – Estaleiros
Navais, S.A.; Conta nº. 043.10.040035 – Montepio – Tecor-Tecnologia
Anticorrosão, S.A.;

Apenso 61C – Documentação Bancária – Conta nº. 0222 1341 0002 –


BES – Afonso Aguiar Figueiredo Costa; Conta nº. 0221 8457 0000 – BES –
Afonso Aguiar Figueiredo Costa;

Apenso 61D – Documentação Bancária – Conta nº. 2633 2722 0008 –


BES – Afonso Aguiar Figueiredo Costa; Conta nº. 3960 3285 0003 – BES
Afonso Aguiar Figueiredo Costa;

Apenso 61 E – Documentação Bancária: Conta nº. 0000.36484295001 –


Santander Totta – TECOR, S.A. (ficha de assinaturas e extracto); Conta nº.
0000.387749400001 – Santander Totta – Lisnave – Estaleiros Navais, S.A.
(extractos de conta);

Apenso 61F – Documentação Bancária: Conta nº. 0-8921577-000-001


LISNAVE;

1527
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenso 61G – Documentação Bancária: Conta nº. 0-8921577-000-001 –


LISNAVE;

Apenso 61H - Documentação Bancária (continuação) - LISNAVE -


Estaleiros Navais, S.A.; Manuel São José Gomes e Afonso Aguiar Figueiredo
Costa;

Apenso 61I – Documentação Bancária – Documentação bancária de


contas relacionadas com Manuel de São José Gomes e Afonso Aguiar
Figueiredo Costa;

Apenso 61 J – Documentação Bancária – Documentação Bancária de


contas relacionadas com Manuel de São José Gomes e Afonso Aguiar
Figueiredo Costa;

Apenso 62 – Documentação Bancária negativa;

Apenso 62 A – Documentação Bancária negativa;

Apenso 62 B – Documentação Bancária negativa;

APENSO 63 - Jorge Paulo Martins Pereira dos Penedos - NIF 213 990
059 - síntese cadastral e relações interpessoais, declarações de IRS,
referentes aos anos de 2004 a 2008, património imobiliário;

Apenso 64 - José Rodrigues Pereira Penedos - NIF 105 599 077 -


síntese cadastral e relações interpessoais, declarações de IRS, referentes aos
anos de 2004 a 2008, património imobiliário;

1528
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenso 65 - Armando António Martins Vara - NIF 103 638 547 - síntese
cadastral e relações interpessoais, declarações de IRS, referentes aos anos de
2004 a 2008, património imobiliário;

Apenso 66 - Fernando Vítor Lopes Barreira - NIF 112 204 716 - síntese
cadastral e relações interpessoais, declarações de IRS, referentes aos anos de
2004 a 2008, património imobiliário;

Apenso 67 - Domingos José Paiva Nunes - NIF 105 741 272 - síntese
cadastral e relações interpessoais, declarações de IRS, referentes aos anos de
2004 a 2008, património imobiliário;

Apenso 68 - António Paulo Cadete Almeida Costa - NIF 126 163 499 -
síntese cadastral e relações interpessoais, declarações de IRS, referentes aos
anos de 2004 a 2008, património imobiliário;

Apenso 69 - José António Chocolate Contradanças - NIF 127 103 503 -


síntese cadastral e relações interpessoais, declarações de IRS, referentes aos
anos de 2004 a 2008, património imobiliário;

Apenso 70 - Carlos Porral Paes de Vasconcellos - NIF 128 479 990 -


síntese cadastral e relações interpessoais, declarações de IRS, referentes aos
anos de 2004 a 2008, património imobiliário;

Apenso 71 - Manuel José Ferreira Godinho - NIF 171 534 883 - síntese
cadastral e relações interpessoais, declarações de IRS, referentes aos anos de
2004 a 2008, património imobiliário;

Apenso 71 A – Dados Fiscais de Manuel José Ferreira Godinho;

1529
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenso 71 B – Dados Fiscais de Manuel José Ferreira Godinho;

Apenso 72 - João Jorge da Silva Godinho - NIF 233 682 465 - síntese
cadastral e relações interpessoais, declarações de IRS, referentes aos anos de
2004 a 2008, património imobiliário;

Apenso 73 – Hugo Manuel de Sá Godinho - NIF 209 961 642 - síntese


cadastral e relações interpessoais, declarações de IRS, referentes aos anos de
2004 a 2008, património imobiliário;

Apenso 74 - Maribel Marques Rodrigues - NIF 202 643 670 - síntese


cadastral e relações interpessoais, declarações de IRS, referentes aos anos de
2004 a 2008, património imobiliário;

Apenso 75 - Mário Manuel de Sousa Pinho - NIF 113 309 910 - síntese
cadastral e relações interpessoais, declarações de IRS, referentes aos anos de
2004 a 2008, património imobiliário;

Apenso 76 - Namércio Pereira da Cunha - NIF 193 443 309 - síntese


cadastral e relações interpessoais, declarações de IRS, referentes aos anos de
2004 a 2008, património imobiliário;

Apenso 77 - José Domingues Lopes Valentim - NIF 142 417 564 - síntese
cadastral e relações interpessoais, declarações de IRS, referentes aos anos de
2004 a 2008, património imobiliário;

Apenso 78 - Manuel João Alves Espadinha Guiomar - NIF 121 347 613 -
síntese cadastral e relações interpessoais, declarações de IRS, referentes aos
anos de 2004 a 2008, património imobiliário;

1530
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenso 79 - João Manuel Tomás Tavares - NIF 154 636 118 - síntese
cadastral e relações interpessoais, declarações de IRS, referentes aos anos de
2004 a 2008, património imobiliário;

Apenso 80 - Manuel Nogueira da Costa - NIF 162 257 023 - síntese


cadastral e relações interpessoais, declarações de IRS, referentes aos anos de
2004 a 2008, património imobiliário;

Apenso 81 - Paulo Manuel Pereira da Costa - NIF 188 683 461 - síntese
cadastral e relações interpessoais, declarações de IRS, referentes aos anos de
2004 a 2008, património imobiliário;

Apenso 82 - Paulo Manuel Moreira da Rocha - NIF 188 683 461- síntese
cadastral e relações interpessoais, declarações de IRS, referentes aos anos de
2004 a 2008, património imobiliário;

Apenso 83A – Documentação Bancária: Conta nº.


0000.32287604001/300/301 – Santander Totta – João Manuel Silva Valente
(ficha de assinaturas e extracto);

Apenso 85 – Documentação Bancária – Conta nº. 3740 0429 0006 –


BES – João Manuel Silva Valente e João Manuel Marques da Silva de Oliveira;
Conta nº. 3740 2027 0006 – BES – João Manuel Silva Valente e João Manuel
Marques da Silva de Oliveira; Conta nº. 000386324037710 – BANIF – João
Manuel Marques da Silva de Oliveira;

Apenso 85A – Documentação Bancária: Conta nº.


0000.32287604001/300/301 – Santander Totta – João Manuel Silva Valente
(ficha de assinaturas e extracto); Conta nº. 0000.35186987001/300 –
Santander Totta – João Manuel Silva Valente (ficha de assinaturas e extracto);

1531
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Conta nº. 0000.35645222001/300 – Santander Totta – João Manuel Silva


Valente (ficha de assinaturas e extracto); Conta nº. 0000.356938970001/300 –
Santander Totta – João Manuel Silva Valente (ficha de assinaturas); Conta nº.
0000.370114200001 – Santander Totta – João Manuel Silva Valente (ficha de
assinaturas e extracto); Conta nº. 0002.02062999001 – Santander Totta –
João Manuel Silva Valente (ficha de assinaturas);

Apenso 85B – Documentação Bancária: Contas n.ºs. 0-8426179-000-


001, 0-3717849-000-001 e 0-3710769-000-002 - BPI - João Manuel Marques
Silva Oliveira;

Apenso 85C - Documentação Bancária (continuação) - João Manuel Silva


Valente;

Apenso 87 – Manuel São José Gomes – NIF 162 805 454 – Síntese
cadastral e relações interpessoais, declarações de IRS, referentes aos anos de
2004 a 2009, património imobiliário;

Apenso 88 – Afonso Aguiar Figueiredo Costa – NIF 164 942 521 -


Síntese cadastral e relações interpessoais, declarações de IRS, referentes aos
anos de 2004 a 2009, património imobiliário;

Apenso 91 – João Manuel da Silva Valente – NIF 117 652 083 - Síntese
cadastral e relações interpessoais, declarações de IRS, referentes aos anos de
2004 a 2009, património imobiliário;

Apenso 92 – Volume de negócios, vendas e compras declarados pelas


sociedades: Comércio de Sucatas Godinho, Lda; SCI (Aveiro) – Sociedade
Comercial Industrial Metalomecânica, S.A.; Sociedade de Empreitadas
Ferroviárias, S.A.; Socanf – Sociedade de Recolha de Resíduos, S.A.;

1532
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenso 93 – REN – Redes Energéticas Nacionais, SGPS, S.A. (NIF 503


264 032) – Teor da matrícula e inscrições em vigor na Conservatória do
Registo Comercial;

Apenso 94 – REN – Rede Eléctrica Nacional, S.A. (NIF507 866 673) –


Teor da matrícula e inscrições em vigor na Conservatória do Registo
Comercial;

Apenso 95 – EP – Estradas de Portugal, S.A. (NIF 504 598 686) – Teor


da matrícula e inscrições em vigor na Conservatória do Registo Comercial;

Apenso 96 – GALP Energia, SGPE, S.A. (NIF 504 499 777) – Teor da
matrícula e inscrições em vigor na Conservatória do Registo Comercial;

Apenso 97 – GALP Energia, S.A. (NIF 505 060 515) – Teor da matrícula
e inscrições em vigor na Conservatória do Registo Comercial;

Apenso 98 – Petróleos de Portugal – Petrogal, S.A. (NIF500 697 370) –


Teor da matrícula e inscrições em vigor na Conservatória do Registo
Comercial;

Apenso 99 – EDP – Energias de Portugal, S.A. (NIF 500 697 256) – Teor
da matrícula e inscrições em vigor na Conservatória do Registo Comercial;

Apenso 100 – EDP – Imobiliária e Participações, S.A. (NIF 503 529 524)
– Teor da matrícula e inscrições em vigor na Conservatória do Registo
Comercial;

1533
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenso 101 – LISNAVE – Estaleiros Navais, S.A. (NIF 503 847 151) –
Teor da matrícula e inscrições em vigor na Conservatória do Registo
Comercial;

Apenso 102 – IDD – Indústria de Desmilitarização e Defesa, S.A. (NIF


503 939 668) – Teor da matrícula e inscrições em vigor na Conservatória do
Registo Comercial;

Apenso 103 – CP – Comboios de Portugal, E.P.E. (NIF 500 498 601) –


Teor da matrícula e inscrições em vigor na Conservatória do Registo
Comercial;

Apenso 104 – Rede Ferroviária Nacional – REFER, E.P.E. (NIF 503 933
813) – Teor da matrícula e inscrições em vigor na Conservatória do Registo
Comercial;

Apenso 105 – EMEF – Empresa de Manutenção de Equipamento


Ferroviário, S.A. (NIF 502937 327) – Teor da matrícula e inscrições em vigor na
Conservatória do Registo Comercial;

Apenso 106 – Manuel J. Godinho – Administrações Prediais, S.A. (NIF


505 977 150) – Teor da matrícula e inscrições em vigor na Conservatória do
Registo Comercial;

Apenso 107 – O2 Tratamento e Limpezas Ambientais, S.A. (NIF 504 628


500) – Teor da matrícula e inscrições em vigor na Conservatória do Registo
Comercial;

1534
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenso 108 – SCI (Aveiro) – Sociedade Comercial e Industrial de


Metalomecânica, S.A. (NIF 504 106 678) – Teor da matrícula e inscrições em
vigor na Conservatória do Registo Comercial;

Apenso 109 – Riberlau – Transportes Internacionais, Lda (NIF 505156


300) – Teor da matrícula e inscrições em vigor na Conservatória do Registo
Comercial;

Apenso 110 – Sociedade de Empreitadas Ferroviárias, S.A. (NIF 503 013


455) – Teor da matrícula e inscrições em vigor na Conservatória do Registo
Comercial;

Apenso 111 – SOCANF – Sociedade de Recolha de Resíduos, S.A. (NIF


507 042 816) – Teor da matrícula e inscrições em vigor na Conservatória do
Registo Comercial;

Apenso 112 – Comércio de Sucatas Godinho, Lda (NIF 502 485 876) –
Teor da matrícula e inscrições em vigor na Conservatória do Registo
Comercial;

Apenso 113 – FRACON – Construção e Reparação Naval, Lda (501 842


608) – Teor da matrícula e inscrições em vigor na Conservatória do Registo
Comercial;

Apenso 114 – STRONG MANAGEMENT, S.A. (NIF505 575 248) e


2NDMARKET – Recolha, Triagem, Reciclagem e Reutilização de Produtos
Eléctricos Usados, Lda (NIF 505 575 248) – Teor da matrícula e inscrições em
vigor na Conservatória do Registo Comercial;

1535
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenso 115 – PC OLD – Comércio Electrónico de Produtos Eléctricos e


Electrónicos Usados, Lda (NIF 505 582 210) – Teor da matrícula e inscrições
em vigor na Conservatória do Registo Comercial;

Apenso 116 – M5 – Gestão de Resíduos Industriais, Unipessoal, Lda


(507 538 943) – Teor da matrícula e inscrições em vigor na Conservatória do
Registo Comercial;

Apenso 117 – FERROVAR – Comércio Sucatas e Reciclagens, Lda (NIF


504 823 051) – Teor da matrícula e inscrições em vigor na Conservatória do
Registo Comercial;

Apenso 118 – Sucatas 109 – Unipessoal, Lda (NIF 507 108 272) – Teor
da matrícula e inscrições em vigor na Conservatória do Registo Comercial;

Apenso 119 – MANTÉNVERD3E – Comércio de Sucatas, Lda (NIF 507


656 180) – Teor da matrícula e inscrições em vigor na Conservatória do
Registo Comercial;

Apenso 120 – SUCATAVEIRO – Comércio de Sucatas, Lda (NIF 507 359


763), SUCATARMIQUE – Compra e Venda de Sucatas, Lda (NIF 503 760
480), Sociedade Aveirense de Leilões, Lda (NIF 504 283 251), Queirós &
Figueira, Lda (NIF 501 908 722) – Teor da matrícula e inscrições em vigor na
Conservatória do Registo Comercial;

Apenso 121 – Estaleiros Navais de Viana do Castelo, S.A. (NIF 500100


527) – Teor da matrícula e inscrições em vigor na Conservatória do Registo
Comercial;

1536
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenso 125 – IGF – Inspecção-Geral de Finanças (Auditoria aos


Procedimentos de contratação em Empresas que integram o SEE – Relatórios
Diversos – FICHEIROS DIGITAIS 27;

Apenso 126 - IGF – Inspecção-Geral de Finanças (Auditoria aos


Procedimentos de contratação em Empresas que integram o SEE – Relatórios
Diversos – FICHEIROS DIGITAIS 27;

Apenso 127 - IGF – Inspecção-Geral de Finanças (Auditoria aos


Procedimentos de contratação em Empresas que integram o SEE – CP e
EMEF – FICHEIROS DIGITAIS 28;

Apenso 131 - João Manuel da Silva Valente - NIF - 117 652 083 -
Síntese cadastral e relações interpessoais, declarações de IRS, referentes aos
anos de 2001 a 2008, património imobiliário;

Apenso 132 - João Manuel Marques Silva Oliveira - NIF 127 932 755 -
Síntese cadastral e relações interpessoais, declarações de IRS, referentes aos
anos de 2001 a 2008, património imobiliário;

Apenso 134 - Documentação Bancária - Contas de Funcionários e


Outros com Fluxos Financeiros de Manuel Godinho;

Apenso 134A - Documentação Bancária - Contas de Funcionários e


Outros com Fluxos Financeiros de Manuel Godinho;

Apenso 134 B – Documentação Bancária - Contas de Funcionários e


Outros com Fluxos Financeiros de Manuel Godinho;

1537
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenso 142 – Índice de contratos: 2000/306; 2000/311; IF 2/06/PCG;


13003//CAAL; Processo Pocinho (elementos adicionais); Docs. Relativos à
recolha e valorização de resíduos de equipamentos electrónicos;

Apenso 143 – Índice de contratos: 1752002; APMN1882004; 002730509;


6390.04.03/PAL; IF 44/05/PAL/NG – Processo Ouro (Contrato de Prestação de
Serviços);

Apenso 144 – Consulta nº.002660407: Valorização e Eliminação de


Armários em Fibra;

Apenso 145 – Concurso nº. 003931007: Recolha de Resíduos Postes de


Betão;

Apenso 146 – Consulta nº. 002150307 (Cancelado): Valorização de


Consumíveis de Impressão;

Apenso 147 – Consulta nº. 002630407: Valorização de Resíduos


Isoladores Cerâmicos;

Apenso 148 – Consulta nº. 002430508: Valorização de Transformadores


com óleo;

Apenso 149 – Nº. do Processo: AQ 13003/CAAL Prestação de Serviços


de Recolha e Tratamento de Resíduos;

Apenso 150 – Consulta nº. 006271107:Alienação de Grua;

Apenso 151 – Consulta nº. 005370907: Valorização de Resíduos


Transformadores sem óleo;

1538
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenso 152 – Consulta nº. 005390907: Valorização de Resíduos de


Cabos;

Apenso 153 – Documentação enviada relativa à Contratação de Serviços


de Limpeza, Demolições, Desmatação e Remoção de Resíduos a Vazadouro.

Apenso 154 – EDP Pocinho;

Apenso 161 – Mapas – Rendimentos declarados, património imobiliário e


viaturas registados em nome dos arguidos;

Apenso 166 – Impressão do correio electrónico de vários arguidos;

Apenso Buscas A - arguido José Penedos - Residência, veículos e


domicílio profissional;

Apenso Buscas B1 - arguido Paulo Penedos - Domicílio profissional;

Apenso Buscas B2 - arguido Paulo Penedos - Residência;

Apenso Buscas B3 - arguido Paulo Penedos - Veículos;

Apenso Documentação (B1;B3) - AA - arguido Paulo Penedos -


Domicílio profissional e veículos;

Apenso Documentação (B1;B3) – AB - arguido Paulo Penedos;

Apenso Buscas C1 – arguido Armando Vara - Domicílio profissional;

1539
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenso Buscas C2 - arguido Armando Vara - Residência e veículos;

Apenso Buscas D1 - arguido António Paulo Cadete Costa - Residência


e veículos;

Apenso Buscas D2 - arguido António Paulo Cadete Costa - Domicílio


profissional;

Apenso D3 - Procedimento Disciplinar instaurado pela PETROGAL ao


arguido António Paulo Cadete Costa;

Apenso D4 - Procedimento Disciplinar instaurado pela PETROGAL ao


arguido António Paulo Cadete Costa;

Apenso Buscas E1 – arguido Domingos José Paiva Nunes - Residência


e veículos;

Apenso Buscas E2 - arguido Domingos José Paiva Nunes - Domicílio


profissional;

Apenso Buscas E3 - arguido Domingos José Paiva Nunes; Continuação


do Apenso E2 - Domicílio profissional;

Apenso Buscas E4 - arguido Domingos José Paiva Nunes; Continuação


do Apenso E2 - Domicílio profissional;

Apenso Buscas E5 - arguido Domingos José Paiva Nunes; Continuação


do Apenso E2 - Domicílio profissional;

1540
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenso Buscas E6 - arguido Domingos José Paiva Nunes; Continuação


do Apenso E2 - Domicílio profissional;

Apenso Buscas E7 - arguido Domingos José Paiva Nunes; Continuação


do Apenso E2 - Domicílio profissional;

Apenso Buscas E8 - arguido Domingos José Paiva Nunes; Continuação


do Apenso E2 - Domicílio profissional;

Apenso Documentação E9 – Inquirições e Documentação;

Apenso Documentação E10 – Porto – Ouro – Docs’s Gerais;

Apenso Documentação E11 – Projecto Hotel Pocinho (Foz Côa);

Apenso Buscas F1 – arguido Fernando Vítor Lopes Barreira - Residência


e veículos;

Apenso Buscas F2 - arguido Fernando Vítor Lopes Barreira - Domicílio


profissional;

Apenso Buscas G - arguido Carlos Porral Paes de Vasconcellos –


Residência, veículos e domicílio profissional;

Apenso Buscas H – arguido José Domingos Lopes Valentim -


Residência; veículos e domicílio profissional;

Apenso Buscas I1 – arguido João Manuel Tomás Tavares - Residência e


veículos;

1541
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenso Buscas I2 - arguido João Manuel Tomás Tavares - Domicílio


profissional;

Apenso Buscas I3 - arguido João Manuel Tomás Tavares - Domicílio


profissional;

Apenso Buscas I4 - arguido João Manuel Tomás Tavares - Domicilio


profissional;

Apenso I5 - Procedimento Disciplinar instaurado pela PETROGAL ao


arguido João Manuel Tomás Tavares;

Apenso I6 - Procedimento Disciplinar instaurado pela PETROGAL ao


arguido João Manuel Tomás Tavares;

Queixa apresentada e demais documentos constantes do Inquérito


n.º 143/10.2T3STC;

Apenso Buscas J1 – arguido Mário Manuel de Sousa Pinho - Domicílio


profissional;

Apenso Buscas J2 - arguido Mário Manuel de Sousa Pinho -


Continuação do Apenso J2 - Domicílio profissional;

Apenso Buscas J3 - arguido Mário Manuel de Sousa Pinho - Residência;

Apenso Buscas J4 - arguido Mário Manuel de Sousa Pinho - Veículos;

Apenso Buscas L - arguido Manuel João Espadinha Guiomar –


Residência, veículos e domicílio profissional;

1542
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenso L1 - Impressão dos ficheiros informáticos extraídos do


computador do arguido Manuel João Espadinha Guiomar;

Apenso L2 - Documentação apreendida a Manuel João Alves Espadinha


Guiomar – Numerado de fls. 01 a 265;

Apenso L3 - Documentação apreendida a Manuel João Alves Espadinha


Guiomar – caderno A5;

Apenso Buscas M – arguido José António Chocolate Contradanças -


Residência, veículos e domicílio profissional;

Apenso Buscas N - "O2 - Tratamento de Limpezas Ambientais, S.A

Apenso Buscas N1 - "O2 - Tratamento de Limpezas Ambientais, S.A.”;

Apenso Buscas N2 - "O2 - Tratamento de Limpezas Ambientais, S.A.”;

Apenso Buscas N3 - "O2 - Tratamento de Limpezas Ambientais, S.A.”;

Apenso Buscas N4 - "O2 - Tratamento de Limpezas Ambientais, S.A.”;

Apenso Buscas N5 – “ O2 – Tratamentos de Limpezas Ambientais, S.A.”;

Apenso Buscas N6 – “O2 – Tratamento de Limpezas Ambientais, S.A.”;

Apenso Buscas O - arguido Namércio Pereira da Cunha - Residência;

1543
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenso Buscas P – arguido Hugo Manuel de Sá Godinho - Residência e


veículos;

Apenso Buscas Q - “2ND MARKET”;

Apenso Buscas Q1 – Dossier de cor amarela com os dizeres “REFER


Concursos”; Contém documentação relativa aos seguintes Concursos:
- Refª. A14-09-GVCP (Alienação de um lote de resíduos ferrosos);
- Refª. A09-09-GVCP (Alienação de sete lotes de resíduos ferrosos);
- Refª. AV08-09-GVCP (Alienação de dezasseis lotes de resíduos);
- Refª. AV06-08-GVCP (Alienação de quatro resíduos ferrosos);
- Refª. AV05-08-GVCP (Alienação de seis lotes de resíduos ferrosos);
- Refª. A02-08-GVCP (Alienação de três lotes de resíduos);
- Refª. A03-08-GVCP (Alienação de lotes de transformadores e
disjuntores)
- Refª. AV04-08-GVCP (Alienação de resíduos ferrosos – Estação
Setúbal)

Apenso Buscas Q2 – Pasta de cor verde com a indicação “REFER”;


Contém documentação relativa ao seguinte Concurso:
- Refª. A01-08-GVCP (Alienação de três lotes: cobre, acumuladores de
chumbo e material ferroso);

Apenso Buscas Q3 – Pasta de cor verde com a indicação “REFER II”;


Contém documentação relativa aos seguintes Concursos:
- Refª. A05-08-GVCP (Alienação de seis lotes de resíduos ferrosos);
- Refª. A02-08-GVCP (Alienação de três lotes de resíduos: Ferrosos
combotas em perfil HEB, material plástico, ferrosos tubos de enfilagem e
ferrosos combotas em perfil HEB;
- Refª. A04-08-GVCP (Alienação de resíduos ferrosos – Estação Setúbal)

1544
S. R.

TRIBUNAL CENTRAL DE INSTRUÇÃO CRIMINAL

NUIPC: 362/08.1JAAVR

- Refª. A03-08-GVCP (Alienação de lotes de transformadores e


disjuntores)

Apenso Buscas Q4 – Pasta de cor verde com a indicação “AV-08-


09GVCP – A06-08-GVCP – 4 lotes resíduos ferrosos”; Contém documentação
relativa aos seguintes Concursos:
- Refª. AV08-09-GVCP (Alienação de dezasseis lotes de resíduos);
- Refª. AV06-08-GVCP (Alienação de quatro lotes de resíduos ferrosos);

Apenso Buscas Q5 – Pasta de cor amarela com a indicação


“REFER+EDP”; Contém documentação relativa a:
- Consulta da EDP Imobiliária, S.A., para a 2nd Market, a solicitar
proposta para a demolição e desmatação e bem como a proposta desta última
empresa (a documentação em causa já consta do inquérito);
- Refª. A19-09-GVCP (REFER), Alienação de três lotes de resíduos
ferrosos;
- Refª. A17-06-GVCP (REFER);

Apenso Buscas Q6 – Pasta de cor amarela com a indicação “REFER I”;


Contém documentação relativa aos seguintes Concursos:
- Refª. A09-09-GVCP (Alienação de sete lotes de resíduos ferrosos);
- Refª. A14-09-GVCP (Alienação de um lote de resíduos ferrosos);

Apenso Buscas Q7 – Pasta de cor preta, da marca “FERMUS”, contendo


uma etiqueta na lombada referente a diversos concursos da EDP:
- Concurso nº 002150307PIC/PNC – Prestação de Serviço de Recolha e
Valorização de Consumíveis de Impressão Usados (Foi adjudicada à empresa
2ndMarket);

1545
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

- Consulta nº 002660407PIC/PNC AA – Recolha e valorização/Eliminação


de resíduos de Invólucros de armários de distribuição em Poliéster reforçado a
fibra de vidro (a 2nd Market não apresentação proposta);
- Consulta nº 002630407PIC/PNC AA – Recolha e valorização/Eliminação
de resíduos de isoladores cerâmicos e de vidro (a 2nd Market não possuía
autorização prévia para o resíduo em causa);

Apenso Buscas Q8 – Pasta de cor preta, da marca “fegol”, contendo na


lombada referência a diversos concursos da EDP:
- Concurso referente à prestação de serviços de recolha e valorização de
resíduos de equipamento eléctrico da EDP (foi adjudicada à empresa 2nd
Market);
- Concurso nº 002430508 – Valorização de resíduos de transformadores
AT7MT e MT/MT com óleo (sem indicação de que terá sido adjudicada à
2ndMarket)
- Concurso 002730509 – Valorização transformador G4 Sines (foi
arrebatada);

Apenso Buscas Q9 – Dossier de cor amarela, da marca “AMBAR”,


contendo uma etiqueta na lombada referente a concursos de transformadores e
cabos da EDP:
- Concurso nº003770708 – Prestação de Serviços de recolha, Transporte,
Valorização e/ou Eliminação de Resíduos equiparados a urbanos (A 2ndMarket
veio afirmar que este tipo de serviços não se enquadra no seu âmbito de
actividade);
- Concurso nº005390907PIC/PNC AA – Valorização de Resíduos de
Cabos (A 2ndMarket não apresentou revisão da sua proposta inicial);
- Concurso nº 005370907PIC/PNC AA – Valorização dos resíduos de
Transformadores (A 2ndMarket foi preterida no concurso);

1546
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenso Buscas Q10 – Dossier de cor verde, da marca “AMBAR”,


contendo uma etiqueta na lombada referente a concursos de transformadores e
cabos da EDP:
- Concurso nº 005341008 – Prestação de serviços de Recolha, Transporte
e Valorização e/ou Eliminação de resíduos nas Instalações de empresas do
Grupo EDP (A 2ndMarket veio afirmar que não reúne as melhores condições
para o respectivo concurso);
- Concurso nº 004811008 – Valorização de Resíduos de Ferro, Eléctrico,
Eléctricos e Electrónicos (A EDP cancelou o concurso em virtude de o serviço ir
ser integrado no âmbito da prestação de serviços da empreitada contínua);

Apenso Buscas R - arguido Manuel Nogueira da Costa - Residência e


veículos;

Apenso Buscas S - “SCI - Zona Industrial da Taboeira”;

Apenso Buscas T1 - arguido Manuel José Ferreira Godinho - Residência


e veículos;

Apenso Buscas T2 - arguido Manuel José Ferreira Godinho - Residência


e veículos;

Apenso Buscas S - SCI; Zona Industrial da Taboeira;

Apenso Buscas V1 - arguido Paulo Manuel Pereira da Costa -


Residência;

Apenso Buscas V2 - arguido Paulo Manuel Pereira da Costa - Veículos;

Apenso Documentação AA - Documentação recolhida na EMEF;

1547
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenso Documentação AA1 - Documentação recolhida na EMEF;

Apenso Documentação AA2 - Documentação recolhida na EMEF;

Apenso AA3 Auditoria realizada pela IGF aos procedimentos da EMEF –


Empresa de manutenção de Equipamento Ferroviário, S.A. em matéria de
contratação.

Apenso Documentação AC - Documentação recolhida na C.P.;

Apenso Documentação AD - Documentação recolhida na E.P. -


Estradas de Portugal, S.A.;

Apenso Documentação AD1 - Documentação recolhida na E.P. -


Estradas de Portugal, S.A.;

Apenso Documentação AD2-A - Documentação recolhida na E.P. -


Estradas de Portugal, S.A.;

Apenso Documentação AD2-B - Documentação recolhida na E.P. -


Estradas de Portugal, S.A.;

Apenso Documentação AD3-A - Documentação recolhida na E.P. -


Estradas de Portugal, S.A.;

Apenso Documentação AD3-B - Documentação recolhida na E.P. -


Estradas de Portugal, S.A.;

1548
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenso Documentação AD4 - Documentação recolhida na E.P. -


Estradas de Portugal, S.A.;

Apenso Documentação AD5 - Documentação recolhida na E.P. -


Estradas de Portugal, S.A.; Certidão do Inquérito do Gabinete de Auditoria-
Geral da E.P. - Estradas de Portugal S.A.

Apenso Documentação AE - Documentação recolhida na REN;

Apenso Documentação AE1 - Documentação recolhida na REN;

Apenso Documentação AE2 - Documentação recolhida na REN;

Apenso Documentação AE3 - Documentação recolhida na REN;

Apenso Documentação AE4 - Documentação recolhida na REN;

Apenso Documentação AE5 - Documentação recolhida na REN;

Apenso Documentação AE6 - Documentação recolhida na REN;

Apenso Documentação AE7 - Documentação recolhida na REN;

Apenso Documentação AE8 - Documentação recolhida na REN;

Apenso Documentação AE9 - Documentação recolhida na REN;

Apenso Documentação AE10 - Documentação recolhida na REN;

Apenso Documentação AE11 - Documentação recolhida na REN;

1549
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenso Documentação AE12 - Documentação recolhida na REN;

Apenso Documentação AE13 - Documentação recolhida na REN;

Apenso Documentação AE14 - Documentação recolhida na REN;

Apenso Documentação AE15 - Documentação recolhida na REN;

Apenso Documentação AE16 - Documentação recolhida na REN;

Apenso Documentação AE17 - Documentação recolhida na REN;

Apenso Documentação AE18 - Documentação recolhida na REN;

Apenso Documentação AE19 – Documentação recolhida na REN;

Apenso Documentação AE20 - Documentação recolhida na REN;

Apenso Documentação AE21 - Documentação recolhida na REN;

Apenso Documentação AE22 - Documentação recolhida na REN;

Apenso Documentação AE23 - Documentação recolhida na REN;

Apenso Documentação AE24 - Documentação recolhida na REN;

Apenso Documentação AE25 - Documentação recolhida na REN;

1550
S. R.

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Apenso Documentação AE26 - Desmantelamento e abate de


transformadores de 2008 – Impressão de todos os ficheiros informáticos
contidos na pasta “proc.8”, relativos ao desmantelamento e abate de
transformadores de 2008 compilados durante a auditoria aos procedimentos de
contratação em empresas do sector empresarial do Estado, onde se inclui a
REN, elaborada pela IGF;

Apenso Documentação AE27 – outras diligências relacionadas e


conexionadas com a REN, ou com algumas das suas empresas participadas;

Apenso Documentação AE28 – outras diligências II relacionadas e


conexionadas com a REN, ou com algumas das suas empresas participadas;

Apenso Documentação AE29 – pedidos de informação II, elementos


solicitados às entidades públicas e privadas, conexionadas com a REN –
Redes Energéticas Nacionais, SGPS – SA, ou com algumas das suas
empresas participadas.
Cópia do ofício enviado pelo Gabinete do Comandante-Geral da GNR,
com a informação solicitada pelo of. Nº145 de 15-06-2010, da P.J. de Aveiro.
Documentação enviada pela REN em anexo aos ofícios CT SVJR
28/2010 e CT SVJR 41/2010, composto por guias de acompanhamento, actas
de reuniões do CA, delegações de competência e documentos associados ao
SGD PR/57128.
Cópia da CONSULGAL com a identificação do responsável pela
elaboração do relatório apresentado por aquela empresa à REN sobre as
quantidades removidas para o vazadouro na CAM.

Apenso Documentação AE30 – outras diligências III, todas relacionadas


e conexionadas com a REN, ou com algumas das suas empresas participadas,
a partir de 14 de Julho de 2009.

1551
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenso Documentação AE31 – Relatório Preliminar da IGF e resposta


da REN;

Apenso Documentação AE32 – Documentação da REN;

Apenso Documentação AF - Documentação recolhida na IDD - Indústria


de Desmilitarização e Defesa, S.A.;

Apenso Documentação AG - Documentação recolhida no Finibanco


Holding, G.G.P.S., S.A.;

Apenso Documentação AH - Documentação recolhida na GALP


Energia, SGPS, S.A.;

Apenso Documentação AH 1 - Documentação recolhida na GALP


Energia, SGPS, S.A.;

Apenso Documentação AI - Documentação recolhida na LISNAVE;

Apenso AI 1 – LISNAVE – Estaleiros Navais, S.A. (LEN) – Cópia integral


do processo de Inquérito mandado instaurar pela administração da LISNAVE;

Apenso AI 2 – LISNAVE – Documentação;

Apenso AI 3 – LISNAVE – Documentação;

Apenso Documentação AJ - Documentação recolhida na REFER –


Documentos relacionados com o levantamento de carril no Algarve, realizados
nos dias 15 e 16 de Abril de 2009; Documentos relacionados com o

1552
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

levantamento de carril na Livração, realizados nos dias 29 e 30 de Julho de


2009; Documentos relacionados com o levantamento de carril na Estação da
CP de Caria-Belmonte, realizados nos dias 15 e 16 de Abril de 2009; Linha do
Sabor (despachos);

Apenso Documentação AJ1 - Documentação recolhida na REFER


(numerado de fls. 2 a 302) – Documentação Procedimento Concursal para
Alienação da Super-Estrutura do ramal de Vila Viçosa;

Apenso Documentação AJ2 - Documentação recolhida na REFER


(numerado de fls. 2 a 280) – Documentação Procedimento Concursal para
Alienação da Super-Estrutura do ramal de Vila Viçosa;

Apenso Documentação AJ3 - Documentação retirada das pastas


enviadas pela REFER ao DIAP:
Pasta 1 – Venda de Detritos de Balastro – Linha do Norte;
Pasta 2 – Venda de 510 Ton de Carril – Entroncamento;
Pasta 3 – Venda de Resíduos-35,46 Ton Carril – Alcântara – AN
18/04/DAL;
Pasta 4 – Venda de Resíduos – Postes de Catenária – AN 21/04/DAL;
Pasta 5 – Venda de Resíduos – Sucata Ferrosa – Campolide – AN
22/04/DAL;
Pasta 6 – Venda de Resíduos – Material Sinalização Entroncamentos –
AN 19/04/DAL;
Pasta 7 – Vendas de Resíduos – Material Escritório – AN 20/04/DAL;
Pasta 8 – Venda de 76,5 Ton Fio de Cobre Entroncamento;
Pasta 9 – Venda de 280 Ton Carril Entroncamento;
Pasta 10 – Venda de 630 Ton Carril Entroncamento;
Pasta 11 – Venda Sucata – 70 Ton Pntões – Linha do Norte – AN
23/04/AL;

1553
S. R.

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Pasta 12 – Sucata Metálica – Estação Aveiro AN 01/05/DAL;


Pasta 13 – Venda 820 Ton Sucata de Carril – Entroncamento –
02/05/DAL;
Pasta 14 – Venda Resíduos – 32 Ton Cobre – AN 03/05/DAL;
Pasta 15 – Venda 180 - Ton Postes Catenária – Entroncamento;
Pasta 16 – Venda de Resíduos – 800 Ton de Carril – Entroncamento AN
05/05/DAL;
Pasta 17 – Venda de Resíduos – 400 Ton Ferrosos – Entroncamento –
AN 06/05/AL;
Pasta 18 – Venda de Resíduos – 9 Ton Cabos de Aço – AN 08/05/DAL;
Pasta 19 – Venda de Resíduos – 2 Ton de Alumínio com ALMC – AN
09/05/DAL;
Pasta 20 – Venda Resíduos – 8 ton Sucata Ferrosa – Alcântara – AN
10/05/DAL;
Pasta 21 – Venda de Resíduos – 300 Ton Sucata Ferrosa – AN
12/05/DAL;
Pasta 22 – Venda Sucata – 40 Ton Resíduos Fio Cobre AN 13/05/DAL –
fls.120 a 124;
Pasta 23 – Venda Resíduos – 400 Ton Carril – Entroncamento AN
14/05/DAL – 125 a 129;
Pasta 24 – Venda de Resíduos – 40 Ton Topos Metálicos AN 16/05/DAL
– fls. 130 a 134;
Pasta 25 – Venda de Resíduos – 140 Ton Carril – Estação Albergaria AN
19/05/DAL – fls. 135 a 139;
Pasta 26 – Venda de Resíduos – 240 Ton Sucata Ferrosa –
Entroncamento AN 20/05/DAL – fls. 140 a 144;
Pasta 27 - Venda de resíduos – 40 Ton Topos Metálicos – AN 25/05/DAL
– fls. 145 a 149;
Pasta 28 – Venda de Resíduos – 570 Ton Sucata Carril – Entroncamento
AN 27/05/DAL – fls. 150 a 154;

1554
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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Pasta 29 – Venda de Resíduos – 85 Ton Pontões Metálicos –


Entroncamento AN 28/05/DAL – fls. 155 a 159;
Pasta 30 – Venda de Resíduos – 550 Ton Sucata Ferrosa –
Entroncamento AN 29/05/DAL – fls. 160 a 164;
Pasta 31 – Venda de Resíduos – 50 Ton Sucata Catenánia AN 30/05/DAL
– fls. 165 a 169;
Pasta 32 – Venda de Resíduos – 150 Ton Armaduras Travessas Betão –
AN 32/05/DAL – fls. 170 a 174;
Pasta 33 – Venda de Resíduos – 80 Ton Poste de Carril – Estação Évora
AN 33/05/DAL – fls. 175 a 179;
Pasta 34 – Venda de Resíduos – 120 Ton Sucata de Carril – Estação
Olhão AN 37/05/DAL – fls. 180 a 184;
Pasta 35 – Venda de Resíduos – 55 Ton Sucata de Carril AN 38/05/DAL –
fls. 185 a 189;
Pasta 36 – Venda de Resíduos – 500 Ton Sucata Carril – Paços Brandão
AN 01/06/DAL – fls. 190 a 194;
Pasta 37 – Venda de Resíduos – 520 Ton Sucata Carril – Entroncamento
AN 02/06/DAL – fls. 195 a 199;
Pasta 38 – Venda de Resíduos – 620 Ton Sucata Carril – Entroncamento
AN 04/06/DAL – fls. 200 a 204;
Pasta 39 – Venda de Resíduos – 60 Ton Resíduos Fio Cobre
Entroncamento AN 06/06/DAL – fls. 205 a 209;
Pasta 40 – Venda de Resíduos – 20 Ton Sucata Fixação – Portalegre AN
07/06/DAL – fls. 210 a 216;
Pasta 41 – Venda de Resíduos – 1000 Ton Sucata Carril – Estação Évora
AN 08/06/DAL – fls. 217 a 223;
Pasta 42 – Venda de Resíduos – 450 Ton Sucata Carril – Estação Casa
Branca AN 09/06/DAL – fls. 224 a 230;

1555
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenso Documentação AJ4 - Documentação retirada das pastas


enviadas pela REFER ao DIAP:
Pasta 43 – Venda de Resíduos – 75 Ton Sucata Fixação – Estação Évora
AN 10/06/DAL – fls. 2 a 9;
Pasta 44 – Venda de Resíduos – 40 Ton Sucata Fixação – Estação Casa
Branca AN 11/06/DAL – fls. 10 a 17;
Pasta 45 – Venda de Resíduos – 300 Ton Postes Catenária –
Entroncamento AN 12/06/DAL – fls. 18 a 24;
Pasta 46 – Venda de Resíduos – 42 Ton de Sucata Ferrosa – Linha
Algarve AN13/06/DAL – fls. 25 a 29;
Pasta 47 – Venda de Resíduos – 75 Ton Sucata Carril – Estação Braço
Prata AN14/06/DAL – fls. 30 a 37;
Pasta 48 – Venda de Resíduos – 6 Ton Cabos Eléctricos com Alma de
Aço AN15/06/DAL – fls. 38 a 42;
Pasta 49 – Venda de Resíduos – 20 Ton Cabos Eléctricos Isolados –
Entroncamento AN16/06/DAL – fls. 43 a 47;
Pasta 50 – Venda de Resíduos – 105 Ton Resíduos Armaduras Betão
Entroncamento AN17/06/DAL – fls. 48 a 52;
Pasta 51 – Venda de Resíduos – 51 Ton pontões Metálicos – Casa
Branca AN19/06/DAL – fls. 53 a 57;
Pasta 52 – Venda de Resíduos – 450 Ton Sucata Carril – Entroncamento
AN20/06/DAL – fls. 58 a 64;
Pasta 53 – Venda de Resíduos – 20 Ton Fio Cobre – Entroncamento
AN21/06/DAL – fls. 65 a 69;
Pasta 54 – Pedido Venda de Carril Pela O2 – fls. 70 a 73;
Pasta 55 – Alienação de 3 lotes de resíduos ferrosos A01-08-GVCP – fls.
74 a 83;
Pasta 56 – Alienação de 3 lotes ferrosos e plásticos A02-08-GVCP – fls.
84 a 91;

1556
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Pasta 57 – Alienação do lote de resíduos de transformadores e


disjuntores A03-08-GVCP – fls. 92 a 98;
Pasta 58 – Alienação de Um lote único de resíduos ferrosos A04-08-
GVCP – fls. 99 a 104;
Pasta 59 – Alienação de seis lotes de resíduos ferrosos A05-08-GVCP –
fls. 105 a 109;
Pasta 62 – Alienação de 4 lotes de resíduos ferrosos A06-08-GVCP – fls.
110 a 141;
Pasta 64 – Alienação de 16 lotes de resíduos ferrosos A08-04-GVCP –
fls. 142 a 178;
Pasta 74 – Alienação de 7 lotes de resíduos ferrosos A09-09-GVCP – fls.
179 a 202;
Pasta 79 – Levantamento e alienação da Super estrutura – Ramal Vila
Viçosa A13-09-GVCP – fls. 203 a 222;
Pasta 80 – Alienação de um lote de resíduos ferrosos – Pontão metálico
A14-09-GVCP – fls. 223 a 228;
Pasta 81 – Alienação de um lote de resíduos ferrosos A17-09-GVCP – fls.
229 a 290;
Pasta 82 – Alienação de 3 lotes de travessas de madeira usadas A18-09-
GVCP – fls. 291 a 293;
Pasta 83 – Alienação de 3 lotes de resíduos ferrosos A19-09-GVCP – fls.
294 a 301;

Apenso Documentação AJ5 - Documentação retirada das pastas


enviadas pela REFER ao DIAP:
Pasta 84 – Concurso Público para Adjudicação de Sucata para o Ano de
2002 – fls. 2 a 206;
Pasta 125 – Prestação de Serviços de Carga, …Acondici. De Trave.
Usadas AN36/05/DAL – fls. 207 a 218;

1557
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Pasta 127 – Contrato 02/04/CA/AL - Reciclagens de Travessas de Betão


não Reciclável – fls. 219 a 221;
Pasta 128 – Contrato 07/03/CA/AL – Reciclagens de Restos de Madeira
Creosotada – fls. 222 a 247;
Pasta 129 – Fragmentação de Travessas de Madeira Usada –
Entroncamento 0004/04/CA/AM – fls. 248 a 269;
Pasta 130 – Valorização de Travessas de Betão Bibloco Contrato
07/05/CA/AM – fls. 270 a 319;

Apenso AJ8 - Relatório Final do Inquérito instaurado pela REFER – Rede


Ferroviária Nacional, relativamente à alienação de 16 lotes de resíduos, com a
referência A08-09-GVCP;

Apenso Documentação AJ9 I – REFER – Inquérito LIVRAÇÃO;

Apenso Documentação AJ9 II – REFER – Inquérito LIVRAÇÃO;

Apenso Documentação AJ9 III – REFER – Inquérito LIVRAÇÃO;

Apenso Documentação AJ9 IV – REFER – Inquérito LIVRAÇÃO;

Apenso Documentação AJ9 V – REFER – Inquérito LIVRAÇÃO;

Apenso Documentação AJ9 VI – REFER – Inquérito LIVRAÇÃO;

Apenso Documentação AJ9 VII – REFER – Inquérito LIVRAÇÃO;

Apenso Documentação AJ9 VIII – REFER – Inquérito LIVRAÇÃO;

1558
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenso Documentação AJ9 IX – REFER – Inquérito LIVRAÇÃO;

Apenso Documentação AJ9 X – REFER – Inquérito LIVRAÇÃO;

Apenso Documentação AJ9 XI – REFER – Inquérito LIVRAÇÃO;

Apenso Documentação AJ9 XII – REFER – Inquérito LIVRAÇÃO;

Apenso Documentação AJ9 XIII – REFER – Inquérito LIVRAÇÃO;

Apenso Documentação AJ9 XIV – REFER – Inquérito LIVRAÇÃO;

Apenso Documentação AJ9 XV – REFER – Inquérito LIVRAÇÃO;

Apenso Documentação AJ9 XVI – REFER – Inquérito LIVRAÇÃO;

Apenso Documentação AJ9 XVII – REFER – Inquérito LIVRAÇÃO;

Apenso Documentação AJ9 XVIII – REFER – Inquérito LIVRAÇÃO;

Apenso Documentação AJ9 XIX – REFER – Inquérito LIVRAÇÃO;

Apenso Documentação AJ9 XX – REFER – Inquérito LIVRAÇÃO;

Apenso Documentação AJ9 XXI – REFER – Inquérito LIVRAÇÃO;

Apenso Documentação AJ9 XXII – REFER – Inquérito LIVRAÇÃO;

1559
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Apenso Documentação AJ10 – Documentação remetida pela REFER,


que serviu de base à emissão das facturas constantes de fls. 54, 55 e 56 do
Apenso AJ7;

DOCUMENTOS constantes do Inquérito 149/07.9TAMCD – Queixa


apresentada pela REFER CONTRA “O2 – Tratamento e Limpezas Ambientais,
S.A.” e Manuel José Ferreira Godinho pelo crime furto qualificado;

DOCUMENTOS constantes do Inquérito 3/08.7TELSB – Queixa


apresentada pela IGOPTC contra desconhecidos pelo crime de corrupção
passiva para acto ilícito;

DOCUMENTOS constantes Inquérito 3/08.7TELSB – Apenso I –


IGOPTC – Processo 472/06-AV – volume I;

DOCUMENTOS constantes Inquérito 3/08.7TELSB – Apenso II –


IGOPTC – Processo 472/06-AV – volume II;

DOCUMENTOS constantes Inquérito 3/08.7TELSB – Apenso III –


IGOPTC – Processo 472/06-AV – volume III;

DOCUMENTOS constantes Inquérito 3/08.7TELSB – Apenso IV –


IGOPTC – Processo 472/06-AV – volume IV;
´
DOCUMENTOS constantes Inquérito 3/08.7TELSB – Apenso V –
IGOPTC – Processo 472/06-AV – volume V;

DOCUMENTOS constantes Inquérito 3/08.7TELSB – Apenso VI –


IGOPTC – Processo 472/06-AV – volume VI;

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

DOCUMENTOS constantes Inquérito 3/08.7TELSB – Apenso VII –


IGOPTC – Processo 472/06-AV – volume VII;

DOCUMENTOS constantes Inquérito 3/08.7TELSB – Apenso VIII –


IGOPTC – Processo 472/06-AV – volume VIII;

DOCUMENTOS constantes Inquérito 3/08.7TELSB – Apenso IX –


IGOPTC – Processo 472/06-AV – volume IX;

DOCUMENTOS constantes Inquérito 3/08.7TELSB – Apenso X –


IGOPTC – Processo 472/06-AV – volume X;

DOCUMENTOS constantes Inquérito 3/08.7TELSB – Apenso XI A –


IGOPTC – Processo 571/08-AV – volume I;

DOCUMENTOS constantes Inquérito 3/08.7TELSB – Apenso XI B –


IGOPTC – Processo 571/08-AV – volume I;

DOCUMENTOS constantes Inquérito 3/08.7TELSB – Apenso XII –


IGOPTC – Processo 571/08-AV – volume II;

DOCUMENTOS constantes Inquérito 3/08.7TELSB – Apenso XIII –


IGOPTC – Processo 571/08-AV – volume III;

Ficheiros Digitais 1 – Via Verde Portugal (of. refª.VVP/017/OP) – Fichas


de clientes, Listagens de Passagens e Registos Fotográficos) em CD;

Ficheiros Digitais 2 – ONI COMMUNICATIONS (refª.0025/GJR) – Lista


de comunicações 234 302420, 234 302425 e n.º activos em 25-05-2009, no
BCP da Avª. José Malhoa, n.º 19, Lisboa, em CD;

1561
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NUIPC: 362/08.1JAAVR

Ficheiros Digitais 3 – Banco Bilbao & Vizcaya – BBVA – Contas


003.2000046243 (Carlos Vasconcellos); 063.2000018493 (ASPIDUS, Lda);
086.2000006648 (J. Contradanças); e 157.200000178 (M5, Lda), em CD;

Ficheiros Digitais 4 – Apenso Documentação (B1;B3) – AA – “Ficheiros


do computador de Paulo Penedos na PT – Despacho de 16-11”, em CD;

Ficheiros Digitais 5 – Apenso Documentação AE5 (fls.2) – Documento 4


– REN, em CD;

Ficheiros Digitais 6 – Apenso AE20 REN – Ficheiros entregues por Raul


Jorge Ribeiro Calado, em CD;

Ficheiros Digitais 7 – Apenso AE20 REN – Ficheiros entregues por


Pedro Jacinto Pereira Correia, em CD;

Ficheiros Digitais 8 – Direcção de Finanças de Aveiro – of. n.º8203920,


de 26-04-2010 da D.F. de Aveiro – Resposta ao of. 6486948 de 12-01-2010 –
Ficheiros – Lista de Relações (fornecedores, clientes e volume de negócios),
em Pen Drive;

Ficheiros Digitais 9 – Apenso Buscas A – REN SGPS (Gabinete José


Penedos) – Ficheiros – correio electrónico do mail josé.penedos.@ren.pt (cf.
auto de busca e apreensão a fls. 12 a 15 do Apenso Buscas A), em CD;

Ficheiros Digitais 10 – Apenso Buscas A – REN SGPS (Gabinete José


Penedos) – Ficheiros – “ADMJC”, “Secretários da REN SGPS” e “Areatrab” (cf.
auto de busca e apreensão a fls. 12 a 15 do Apenso Buscas A), em CD;

1562
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Ficheiros Digitais 11 – Ofício Millennium BCP – Refª. DAU/AJA/0145/10,


de 05-03-2010 – Contas e Titulares:45317167907_Antonio_Joaquim_Tomas-
Tvares;45339350643_Maria_Jose_A_Nogueira_Valentim;
45350619812_Armando_Antonio_Martins_Vara;
50120422928_Namercio_Perera_Cunha, em CD;

Ficheiros Digitais 12 – Ofício Millennium BCP – Ref.ªDAU/AJA/0173/10,


de 17-03-2010 – Contas: Fernando Vítor Lopes Barreira; Hugo Manuel Sá
Godinho; Paulo Manuel Costa Pereira; Nogueira Costa & Pereira, Lda; Agnelo
Santos Valente; Manuel Nogueira Costa;…, em CD;

Ficheiros Digitais 13 – Ofício Millennium BCP – Ref.ªDAU/AJA/0178/10,


de 25-03-2010 – Contas e Titulares: 1435116 Domingos Paiva Nunes; 7078673
José R P Penedos; 17242333 Maria Cristina S C Paiva Nunes; 208773683
Aníbal Rodrigues Vilela, em CD;

Ficheiros Digitais 14 – Ofício Millennium BCP – Ref.ªDAU/AJA/0247/10,


de 28-04-2010 – Conta e Titulare: 50120422928_2002_2007 (Namércio
Cunha), em CD;

Ficheiros Digitais 15 – REN – Apenso AE20 – Testemunho Pedro


Rodrigues, Fls. 248 – Ficheiros entregues pela testemunha Pedro Miguel
Gorgulho Rodrigues, em CD;

Ficheiros Digitais 16 – TMN (Of. 160520094272, 17/05/2010 – fls. 18957


a 18974 – Vol. 57) – Lista de Comunicações, em Disquete;

Ficheiros Digitais 17 – IGF – Inspecção-Geral de Finanças – Auditoria


aos procedimentos de contratação em empresas do SEE, em DVD;

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Ficheiros Digitais 18 – AG – António Guilherme Marques Rodrigues –


Orçamentos elaborados pela empresa “AG” – Terreno Ouro EDP;

Ficheiros Digitais 19 – Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva


Associados – CD – Dirigido à Comarca do Baixo Vouga – DIAP – 1.ª Secção,
em CD;

Ficheiros Digitais 20 – Vodafone – Of. Ref.ª MV/MP, 01.03.2010 –


Detalhes de Tráfego, em CD;

Ficheiros Digitais 26 – TMN – Detalhes de Tráfego 914 866


183…(01.11.2009 a 01.06.2010) – Detalhes de Tráfego TMN – of.
16052009472, de 01.07.2010 – cf. fls. 20821 – Vol. 60), em CD;

Ficheiros Digitais 27 – IGF – Inspecção-Geral de Finanças – IGF –


Inspecção-Geral de Finanças (Auditoria aos procedimentos de contratação em
empresas que integram o SEE – Relatórios diversos), em CD;

Ficheiros Digitais 28 – IGF – Inspecção-Geral de Finanças – IGF –


Inspecção-Geral de Finanças (Auditoria aos procedimentos de contratação em
empresas que integram o SEE – CP e EMEF), em CD;

Ficheiros Digitais 29 – REN – Apenso AE29 – of. Ref.ª CT SV JR


46/2010, 12.07.2010 – Projecto de encerramento e manutenção po’s –
encerramento do aterro de cinzas da CTO, em CD;

Ficheiros Digitais 30 – REN – Juan Oliveira – Ficheiros diversos


entregues pela Dr.ª Isabel Catalão, em CD;

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Ficheiros Digitais 31 – REN – Central Alto Mira (Apenso AE30 – Fls.


202) – Fotografias entregues pelo arguido Fernando Santos, em CD;

Ficheiros Digitais 34 – Caixa Geral de Depósitos – DSO – VSO 2.6,


DC134-09 – Contém as pastas DC134-09 e DC 134-09 (2) – remetido em
anexo ao ofício da CGD 02610004375-8, em CD;

Ficheiros Digitais 38 – Apenso Buscas G – Carlos Porral Paes de


Vasconcellos – CD#1 – Correio electrónico, em CD;

Ficheiros Digitais 39 – Apenso Buscas G – Carlos Porral Paes de


Vasconcellos – CD#2 – Correio electrónico, em CD;

Ficheiros Digitais 40 – Segurança Social – UIQC, Centro Distrital de


Aveiro – Extracto de remunerações pagas – ficheiro:PJ_Aveiro(1).xls, em CD;

Ficheiros Digitais 42 – Armando António Martins Vara – Apenso Buscas


C1 – Um (1) DVD identificado com o n.º de processo (362/08.1JAAVR), data
(28.10.2009) e local da diligência (Ficheiros copiados do computador do Dr.
Armando Vara, existente no gabinete pertencente ao buscado no edifício da
administração do Millennium BCP, em DVD;

Ficheiros Digitais 43 – Armando António Martins Vara – Apenso Buscas


C2 – Ficheiros digitais extraídos do computador portátil da marca e modelo
Acer Aspire One D150-OBGK/KAV10, com o n.º série
LUS610B0189163DF061601, em DVD;

1565
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Ficheiros Digitais 45 – Moisés Joaquim Dias de Sousa – Apenso Buscas


S – Três DVD’s contendo ficheiros extraídos do computador utilizado por
Moisés Joaquim Dias Sousa, em DVD;

Ficheiros Digitais 46 – BCP – DAU/AJA/0570/10, de 07.10.2010 –


Informação bancária António Lopes, João Valente, Manuel São José Gomes e
Narana Coissoró, em CD;

Testemunhal:

1) Rui Carvalho, Inspector da Polícia Judiciária;


2) António Veiga, Inspector da Polícia Judiciária;
3) Afonso Costa, Inspector da Polícia Judiciária;
4) Carlos Maciel, Inspector da Polícia Judiciária;
5) Carlos Barata, Inspector da Polícia Judiciária;
6) Adolfo Santos, Inspector da Polícia Judiciária;
7) Benjamim Monteiro, Inspector Tributário;
8) Filipe Daniel Castro Soares, Inspector Tributário;
9) Cristina Neves, id. a fls. 51 do Apenso 3/08.7TELSB
10) Alberto Manuel Feio Vasques de Sousa Aroso, 127 a 139 - Apenso
AJ 7 id. a fls. 16.598 dos autos;
11) José Joaquim Fernandes Moutinho, 77 a 81 - Apenso AJ 7;
12) Manuel Joaquim Nunes Madureira, id. a fls. . 267 a 272 – Apenso AJ
7.;
13) João Luís Martins da Costa, id. a fls. . 210 a 212 – Apenso AJ 7.;
14) Fernando Manuel Soares Martins Pereira, id. a fls. . 117 a 120 -
Apenso AJ 7;
15) João Manuel Russo Silva, id. a fls. 182 do Apenso AJ7;
16) José Manuel Fernandes Rente, id. a fls. . 213 a 215 – Apenso AJ 7;
17) Mário Cruz Neto, id. a fls. . 236 a 239 – Apenso AJ 7;

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18) Manuel Marques Pedrosa, id. a fls. 73 do Apenso AJ7;


19) Rui Manuel Pires da Silva Carneiro, id. a fls. 178 do Apenso AJ6;
20) Vítor Manuel de Amorim Araújo, id. a fls.16.597 dos autos;
21) Rui Mendes Ferreira, id. a fls. 202 do Apenso AJ6;
22) Armindo da Silva Ferreira, id. a fls. 411 do Apenso AJ7;
23) António Bentes Correia Alemão, id. a fls. . 231 a 235 – Apenso AJ 7;
24) Júlio Duarte dos Santos Arroja, id. a fls. 321 do Apenso AJ7;
25) Luís de Queirós Ferraz Teixeira, id. a fls. 16.600 dos autos;
26) António João Alves Trovisco, id. a fls. 16.601 dos autos;
27) Alfredo Chimeno Preto, id. a fls. 16.603 dos autos;
28) Valentim Sá dos Santos, id. a fls. 59 do Inquérito nº. 149/07.9TAMCD
apenso aos presentes autos;
29) Alberto Manuel de Almeida Diogo, id. a fls. 317 a 320 - do Apenso
AJ6;
30) José Roque de Pinho Marques Guedes, id. a fls. 2 do Apenso AJ7;
31) José Osório da Gama e Castro, id. a fls. 6 do Apenso AJ7;
32) José de Sá Bramcaamp Sobral, id. a fls. 317 do Apenso AJ7;
33) Luís Miguel dos Reis Silva, id. a fls. 313 do Apenso AJ7;
34) João Manuel Marques Silva Oliveira, id. a fls. 393 do Apenso AJ7;
35) João Domingos Amaral de Morais Sarmento, id. a fls. 292 do Apenso
AJ6;
36) António Normando Maia Ramos, id. a fls. 185 do Apenso AJ6;
37) Luís Miguel Rodrigues Genebra, id. a fls. 10 do Apenso AJ7;
38) Manuel Fernandes Fortalezas Garcia, id. a fls. .14 a 16 do Apenso
AJ7;
39) José Manuel Caldeira Lagartinho, id. a fls. 18 do Apenso AJ7;
40) Graça Maria Rosa Bruno, id. a fls. 24 do Apenso AJ7;
41) Pedro Rafael Nunes Ferreira Lopes Pinto, id. a fls. 297 do Apenso
AJ6;
42) Isabel Alexandra de Almeida Pires, id. a fls. 29 do Apenso AJ7;

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S. R.

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43) Helena Maria Mourão Gonçalves da Eira Neves, id. a fls. . 15 a 24 e


214 a 216 do Apenso AJ6;
44) Alfredo Vicente Pereira, id. a fls. 25 do Apenso AJ6;
45) Luís Filipe Melo e Sousa Pardal, id. a fls. 7 a 14 do Apenso AJ6;
46) Ana Paula Mendes Vitorino, id. a fls. 24762, Deputada à Assembleia
da República;
47) Mário Lino Soares Correia, id. a fls. 227 do Apenso AJ7;
48) Maria José dos Santos Gamelas, id. a fls. . 58 a 65 do Apenso AJ6;
49) José da Silva Sousa, id. a fls. . 89 a 100 do Apenso AJ6;
50) Mário Alberto Lopes Mendes, id. a fls. . 2 a 6 do Apenso AJ6;
51) Virgílio Inácio Moreira da Cunha, id. a fls. 106, do Apenso AJ7;
52) Manuel Hermenegildo Pinto Garcia, id. a fls. 110 a 111 do Apenso
AJ7;
53) António José Borges de Vasconcelos, id. a fls. 112 do Apenso AJ7;
54) Mário Luís Rodrigues, id. a fls. 121 do Apenso AJ7;
55) Carla Alexandra Afonso Farinha, id. a fls. 194 do Apenso AJ7;
56) José Vieira de Sousa Pinto, id. a fls. 365 do Apenso AJ7;
57) Manuel Moreira Pereira, id. a fls. 365 do Apenso AJ7;
58) Núria Catarina Pedrosa Ferreira, id. a fls. 142 do Apenso AJ6;
59) Nelson Manuel Marques Pascoal, id. a fls. 147 do Apenso AJ6;

60) José Luís Andrade Lopes, id. a fls. 11.819 dos autos;
61) Maria José Menéres Duarte Pacheco Clara, id. a fls. 148 do Apenso
AE28;
62) Aníbal Durães dos Santos, id. a fls. 139 do Apenso AE30;
63) Rui Manuel Janes Cartaxo, id. a fls. 9 do Apenso AE20;
64) Agostinho Costa Martins, id. a fls. 157 do Apenso AE28;
65) Jorge Filipe Pinheiro Martins, id. a fls. 74 e 122 do Apenso AE27;
66) Luís Manuel Coelho de Oliveira Pinto, id. a fls. 111 do Apenso AE27;

1568
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

67) João António Travanca Sandes, id. a fls. 100 do Apenso AE20 e a fls.
170 do Apenso AE30;
68) Gerardo Gonçalves, id. a fls. 137 do Apenso AE28;
69) Jorge Manuel Pais Marçal Liça, id. a fls. 111 do Apenso AE30;
70) Manuel Maria Cunha Coelho da Silva, id. a fls. 144 do Apenso AE30;
71) Diana Mónica Gonçalves Bezerra Martins Gandra, id. a fls. 3 do
Apenso AE20;
72) Luís José Araújo dos Santos, id. a fls. 13 do Apenso AE27;
73) Sónia Alexandra de Abreu Vieira, id. a fls. 22 do Apenso AE27;
74) Tiago Branco Andrade, id. a fls. 170 do Apenso AE20;
75) Jorge Fernando Ribeiro Constante, id. a fls. 183 do Apenso AE20;
76) João Afonso da Silva Lucas Guincho, id. a fls. 198 do Apenso AE20;
77) Domingos António Morais Correia, id. a fls. 203 do Apenso AE20;
78) Pedro Miguel Gorgulho Rodrigues, id. a fls. 249 do Apenso AE20;
79) Manuel Luís Marques Batista, id. a fls. 142 do Apenso AE28;
80) Rui Manuel Vicente Martins, id. a fls. 3 do Apenso AE30;
81) Nuno Miguel Batista Martins, id. a fls. 142 do Apenso AE20;
82) Isabel Maria Domingues Lopes da Costa Ferrão, id. a fls. 166 do
Apenso AE20;
83) Jorge de Oliveira Silva, id. a fls. 48 do Apenso AE20;
84) Vítor Eugénio Sousa e Brito Cardoso, id. a fls. 61 do Apenso AE20;
85) Raul Jorge Ribeiro Calado, id. a fls. 83 do Apenso AE20;
86) Manuel Baía Patrão, id. a fls. 108 do Apenso AE20;
87) Pedro Jacinto Pereira Correia, id. a fls. 113 do Apenso AE20;
88) Carlos Alberto Carvalho Lopes, id. a fls. 215 do Apenso AE20;
89) Luís Manuel Conceição Navalho Alves, id. a fls. 220 do Apenso AE20;
90) António Manuel Pereira, id. a fls. 225 do Apenso AE20;
91) João Miguel Ferreira dos Santos, id. a fls. 229 do Apenso AE20;
92) José António Valério Valente, id. a fls. 69 do Apenso AE30;
93) Ernesto Manuel Pina Parracho, id. a fls. 132 do Apenso AE30;

1569
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

94) João Paulo Soares da Silva, id. a fls. 7 do Apenso AE27;


95) José Eduardo Marques Sousa, id. a fls. 20.501 do Volume 59;
96) Bernardino Marques de Sousa, id. a fls. 20.497 do Volume 59;
97) Manuel Oliveira da Silva, id. a fls. 20.520 do Volume 59;
98) Joaquim Pereira Pinheiro, id. a fls.20.518 do Volume 59;
99) Manuel de Matos Teixeira, id. a fls. 20.513 do Volume 59;
100) Bruno Fernando da Rocha Moreira, id. a fls. 20.506 do Volume 59;
101) José Carlos Nunes Soares, id. a fls. 20.523 do Volume 59;
102) João Miguel Resende Cunha Ferreira, id. a fls. 20.530 do Volume 59;
103) Sérgio Paulo Ferreira da Silva, id. a fls. 20.509 do Volume 59;
104) Lino Manuel de Oliveira Soares, id. a fls. 21.056 do Volume 61;
105) José Luís Vaz Branco, id. a fls. 30 do Apenso E9;
106) Joaquim Pedro Matos Néu, id.a fls. 103 do Apenso E9;
107) Ricardo José Neves Ferreira dos Santos, id. a fls. 117 do Apenso E9;
108) Joaquim Pedro de Macedo Santos, id. a fls. 109 do Apenso E9;
109) Manuel Pinto Teixeira, id. a fls. 94 do Apenso E9;
110) Aníbal António Caldas Lousa, id. a fls. 49 do Apenso E9;
111) António Manuel Nunes de Sá Codeço, id. a fls. 91 do Apenso E9;
112) Luís António Marques Ferreira, id a fls. 133 a 136 e 230 a 231 do
Apenso E9;
113) Noémia Maria Angerinho de Carvalho, id. a fls. 127 do Apenso E9;
114) Luísa Filipa Ramalho Fernandes Vilhena Mesquita, id. a fls. 98 do
Apenso E9;
115) António Guilherme Marques Domingues, id. a fls. 10.670 dos autos;
116) Luís Fernando Cadete Martins, id. a fls. 174 a 176 do Apenso E9;
117) Susana Maria Soares Rodrigues, id. a fls. 170 do Apenso E9;
118) Maria Teresa Isabel Pereira, id. a fls. 37 do Apenso E9;
119) Azucena Vinuela Hernández, id. a fls. 40 do Apenso E9;
120) Carlos Domingos de Sousa Santos, id. a fls. 47 do Apenso E9;

1570
S. R.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

121) Duarte Manuel de Sá Guimarães Soares Lema, id. a fls. 52 do Apenso


E9;
122) Francisco Hélder da Silva Nogueira, id. a fls. 113 do Apenso E9;
123) Ernesto Correia, id. a fls. 193 do Apenso E9;
124) José Leal Babo, id. a fls. 199 do Apenso E9;
125) Elísio Magalhães Ferreira, id. a fls. 205 do Apenso E9;
126) Rui Miguel Neves Caetano Moreira, id. a fls. 220 do Apenso E9;
127) Ivo Bernardino Marques Ferreira, id. a fls. 223 do Apenso E9;
128) Nuno Maria Pestana de Almeida Alves, id.a fls. 226 do Apenso E9;
129) Cândida Maria Pires de Almeida, id. a fls. 235 do Apenso E9;
130) Salvador Manuel Monteiro Lourosa, id. a fls. 226 do Apenso E9;
131) Emílio António Pessoa Mesquita, id. a fls. 214 do Apenso E9;
132) António Maria Kopke de Melo Túlio, id. a fls. 1 do Apenso D5;
133) Manuel Ferreira Rodrigues, id. a fls. 6 do Apenso D5;
134) Luís Ourique Martins Carneiro, id. a fls. 11 do Apenso D5;
135) Francisco João Ramos Augusto, id. a fls. 14 do Apenso D5;
136) Baudílio António Marques Macedo, id. a fls. 35 do Apenso
Documentação AA;
137) Rui Américo Rodrigues Sabino, id. a fls. 51 do Apenso Documentação
AA;
138) Rui Maria Diniz Mayer, id. a fls. 115 do Apenso I 4
139) Paulo Emanuel Antunes Martins Ferreira, id. a fls. 9 do Volume 1 do
Inquérito nº. 143/10.2T3STC apenso aos presentes autos;
140) Amaral da Luz Marques, id. a fls. 9 do Volume 1 do Inquérito nº.
143/10.2T3STC apenso aos presentes autos;
141) Eugénio Oliveira Rodrigues, id. a fls. 9 do Volume 1 do Inquérito nº.
143/10.2T3STC apenso aos presentes autos;
142) André Dinis Correia, id. a fls. 76 do Apenso I 4
143) Filipe Alexandre Ferreira Guerra, id. a fls. 79 do Apenso I 4
144) Hélder Carvalho Costa, id. a fls. 82 do Apenso I 4

1571
S. R.

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145) Celso Filipe Gonçalves da Vinha, id. a fls. 85 do Apenso I 4


146) Nuno Miguel Martins Rosado, id. a fls. 88 do Apenso I 4
147) António Augusto da Silva Lopes Sabido, id. a fls. 90 do Apenso I 4
148) Ricardo Jorge Gonçalves Gamito, id. a fls. 92 do Apenso I 4
149) Jorge Taveira Domingues, id. a fls. 103 do Apenso I 4
150) Abel Pereira Delgado, id. a fls. 106 do Apenso I 4
151) Joaquim Fernando dos Reis Almeida, id. a fls. 110 do Apenso I 4
152) Bernardino Barão de Jesus da Silva, id. a fls. 113 do Apenso I 4
153) Rui Jorge de Matos Vidal, id. a fls. 121 do Apenso I 4
154) Manuel João de Sá Almeida, id. a fls. 9 do Apenso AC1;
155) Dália Maria Gramaço Marques, id. a fls. 14 do Apenso AC1;
156) José Mário Ferreira Serrão, id. a fls. 2 do Apenso E9;
157) Carlos Fernando Soares Pinheiro, id. a fls. 180 do Apenso AI
158) António Maria da Conceição Soares dos Santos, id. a fls. 225 do
Apenso AI
159) Ana Maria Albuquerque Tavares Salvado, id. a fls. 1 do Apenso AD6;
160) Joel Armando Dias da Costa, id. a fls. 5 do Apenso AD6;
161) Fernando Correia do Couto, id. a fls. 9 do Apenso AD6;
162) Carlos Alberto Mendes Lopes, id. a fls. 14 do Apenso AD6;
A que acresce a produzida em sede de instrução, nomeadamente:
163) Jorge Manuel Ribeiro Antunes, id. nos autos,
164) Virgílio Luís de Sousa repolho, id nos autos.

***
Estatuto processual

Atentos os elementos constantes do processo e às medidas de coacção


propostas pelo Ministério Público, a final da acusação, pensamos que o tribunal
de julgamento estará em melhores condições para sopesar e decidir sobre a
aplicação, àqueles arguidos de cauções, pelo que se remete para o Exmº Juiz
que presidirá ao julgamento.

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NUIPC: 362/08.1JAAVR

No demais, por se não mostrarem alterados os pressupostos de facto e


de direito que estiveram subjacentes à aplicação das medidas de coacção
vigentes aos arguidos, outrossim se mostrando tais fundamentos reforçados,
com a prolação da presente decisão instrutória, que pronuncia os arguidos
supra mencionados pelos crimes de que estão acusados, mantêm-se as
medidas de coacção vigentes aos mesmos aplicadas.

***

Sobre o Tribunal competente para o julgamento:

A territorialidade é um dos princípios basilares de aplicação da lei penal


no espaço, cujas regras gerais se encontram plasmadas no artigo 19º do CPP.
Estabelece o nº 1 que é competente para conhecer do crime, o tribunal
em cuja área se tiver consumado. É o chamado locus delicti ou, se se preferir,
a sede do delito. Tal preferência tem que ver, como refere Jorge Figueiredo
Dias in Direito Penal, Questões Fundamentais, A doutrina Geral do Crime, p.
199, com as necessidades de punição e de cumprimento das suas finalidades,
pois que, como o próprio refere “ é a comunidade onde o facto teve lugar que
viu a sua paz jurídica por ele perturbada e que exige, por isso, que a sua
confiança no ordenamento jurídico e as suas expectativas na vigência da
norma sejam estabilizadas através da punição”
Não obstante importa atentar na especificidade dos tipos de crimes em
presença pois que, tal como resulta dos subsequentes números da referida
norma, dela dependerão as regras da competência territorial a aplicar.
Os presentes autos, declarados de excepcional complexidade, abarcam
a prática de variados tipos de crimes, imputados a alargado número de
arguidos, verificando-se delitos que se prolongaram no tempo e em diversos
pontos do território nacional, que se foram consumando até que ocorreu a
acção que lhes pôs termo, isto é, até que aconteceu a intervenção das
entidades policiais e das autoridades judiciárias.

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S. R.

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Concretamente iniciaram-se os autos na área da comarca de Ovar, local


onde primeiro houve a notícia do crime com a comunicação ao Tribunal de
Ovar por parte da Polícia Judiciária, sendo que a actividade criminosa
delimitada nos termos da acusação, que assim define o seu objecto do
processo, sendo que as decisões ora sob escrutínio judicial foram, em alguns
casos, tomadas em Lisboa e ai produziram os seus efeitos jurídicos.
Nesta conformidade, ao abrigo do disposto no artigo 19º nº 3 – 2ª parte
do CPP, ponderado ainda o disposto no artigo 21º do mesmo diploma legal, é
competente para a realização da audiência de discussão e julgamento dos
autos o Tribunal do Baixo Vouga, para onde se determina a oportuna remessa
dos mesmos.
Notifique-se.

Lisboa, 14 de Março de 2011,

O Juiz de Instrução Criminal,

_________________________

Carlos Manuel Lopes Alexandre

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S. R.

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