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RESENHA CRÍTICA

1 OBRA
GOMES, Camila Paula de Barros. A Releitura do Foro Especial dos Parlamentares e
seu Impacto sobre a Imunidade Formal. Revista Juris UniToledo, Araçatuba, SP, v. 04,
n. 03, p.137-150, jul./set., 2019. p 137-150. Disponível em:
http://www.ojs.toledo.br/index.php/direito/article/view/3351/499. Acesso em: 05 mai.
2020.
Introdução
Falaremos muito rapidamente sobre o atual entendimento do Supremo Tribunal Federal
no que diz respeito ao foro por prerrogativa de função, primeiro é necessário que agente
lembre que o foro por prerrogativa de função por muitos chamados, sobretudo pela
população e imprensa de foro privilegiado, significa que os exercentes de determinadas
funções públicas, eles somente podem ser julgado perante os tribunais, eles não podem
ser julgados perante juízes de primeira instância, então aí é o foro por prerrogativa de
função.
Em maio de 2018, o Supremo Tribunal Federal mudou radicalmente o seu entendimento
acerca do foro por prerrogativa de função dos parlamentares federais, ocupados por
Deputados Federais e Senadores da República, diante disso sempre prevaleceu a ideia
no sentido de que os Deputados Federais e os Senadores da República, conforme diz a
Constituição em seu Art.102, I, se eles respondem respondem criminalmente perante o
Supremo Tribunal Federal.
Assim, nunca se fez diferença saber qual era a natureza do crime, em que momento o
crime tenha sido praticado, no caso, se um sujeito que não exercia nem uma função
pública, nenhum mandato eletivo, se ele vem a cometer um crime e começa uma
investigação em primeira instância, mas ele se elegia Deputado Federal, portanto esse
processo já era deslocado e essa investigação ou o processo já tivesse se iniciado, era
deslocado para o Supremo Tribunal Federal, se ele perdesse o mandato eletivo o
processo descia para a primeira instância, se ele se reelege-se o processo retornaria para
o Supremo, ou seja, não importava que tipo de crime era ou em que momento o sujeito
tenha praticado o crime depois de seu mandato eletivo ou antes disso.
Em maio de 2018 o Supremo Tribunal Federal de ideia e no julgamento de ação penal
de numero 937 de relatoria do Ministro Luís Roberto Barroso originaria do Rio de
Janeiro, foi questionado uma questão de ordem e nessa questão de ordem, o Supremo
Tribunal Federal passou a entender que, para um Deputado Federal ou um Senador da
República responder criminalmente perante o Supremo Tribunal Federal, é necessário
que estejam presentes dois requisitos, primeiro requisito, que ele tenha praticado crime
durante o exercício do mandato ou seja aqueles crimes que porventura ele tenha
praticado antes de sua diplomação, esses não podem ser considerados para a fixação da
competência perante o Supremo.
No segundo requisito, é necessário que o crime praticado tenha vínculo com a função
pública, se por exemplo o sujeito já é Deputado Federal e em um final de semana ele se
encontra embriagado dirigindo e vem a matar alguém, esse homicídio culposo ou com
dolo eventual dependendo do caso e das circunstâncias, esse crime não é julgado no
Supremo Tribunal Federal, porque foi um crime que nada tinha a ver com a função
pública que ele exercia, agora se um deputado federal for acusado pela prática de crime
de corrupção passiva aí seria diferente, porque seria um crime praticado no exercício ou
com relação a sua função pública e a partir daí eu teria a competência do Supremo
Tribunal Federal.
Nessa questão, vale salientar que nessa questão de ordem o Supremo deixou claro que
essa decisão dizia respeito a Deputados Federais e Senadores da República, não porque
o Supremo entendesse que não se aplicaria a outras autoridades públicas, mas como era
uma ação de controle difuso, o Supremo entendeu que não poderia apreciar esse tema.
Estatuto dos congressistas
O estatuto dos congressistas é um conjunto de prerrogativas de direitos, vedações que
carcam a atividade parlamentar, para que o parlamentar, Deputado ou Senador possa
exercer de forma mais isenta possível a sua atividade parlamentar. Falar sobre o estatuto
dos congressistas, é na verdade apontar uma certa proteção, uma certa garantia que a
Constituição deu aos Deputados e Senadores pra evitar uma interferência arbitrária de
outros poderes na atividade parlamentar, então o estatuto dos congressistas é esse
conjunto de prerrogativas de vedações, mas também de garantias que cercam o
exercício da atividade parlamentar.
Dentre essas prerrogativas estão as imunidades parlamentares e essas imunidades que na
verdade são um conjunto de regras que vão evitar que o parlamentar seja sujeito as
demais regras gerais que seriam aplicáveis as outras pessoas, essas imunidades são
divididas pela doutrina em dois tipos, “Imunidade Material e Imunidade Formal”. A
Imunidade Material que é chamada também de imunidade substancial, efetiva, real ou
conforme a própria Constituição estabelece, a imunidade material é a própria
inviolabilidade.
A Imunidade Material segundo a Constituição protege o Deputado e o Senador na esfera
civil e na esfera criminal por suas opiniões, palavras e votos, portanto palavras, opiniões
e votos é a própria manifestação da atividade do parlamentar, então ele está protegido
tanto na esfera civil de ser responsabilizado civilmente e penalmente por opiniões,
palavras e votos. A Imunidade Material para o Supremo Tribunal Federal dentro do
recinto do Congresso Nacional é presumida absoluta, mas fora do Congresso Nacional,
segundo a própria Doutrina e a Jurisprudência do Supremo, tem que se perquirir o nexo
com a atividade parlamentar, então o Deputado ou Senador fora do recinto do
Congresso, ele leva e traz consigo a imunidade material desde que esteja no exercício
dessa atividade parlamentar.
As imunidades parlamentares também se apresentam como Imunidade Formal, segundo
a Constituição a imunidade formal tem início a partir da diplomação, lembrando que a
diplomação é o ato do processo eleitoral que antecede a posse, a posse é o último ato do
processo eleitoral, Deputados e Senadores tomam posse quando nas seções declaratórias
antes da sessão legislativa ordinária, e a imunidade formal se apresenta em relação à
prisão e diz a Constituição desde a diplomação, Deputados e Senadores não pode ser
preso, salvo, se for em flagrante de delito de crime inafiançável, a Constituição
complementa dizendo que as demais prisões cautelares não se aplicam a Deputados e
Senadores, a única prisão que se aplica a eles, é a prisão em flagrante decorrente de
crime inafiançável, o Supremo tem o entendimento de que é possível a prisão de um
Deputado ou Senador quando for proferida sentença definitiva transitada em julgado
pelo Supremo Tribunal Federal, e a imunidade em relação ao processo que há
possibilidade na Constituição de um pro eventual processo contra parlamentar desde
que o crime tenha ocorrido após a diplomação ser suspenso antes do julgamento final no
STF, a Constituição entende aos demais parlamentares, deputados estaduais e distritais
essas mesmas imunidades, e quanto aos vereadores, segundo a Constituição eles
possuem apenas imunidade material e na circunscrição do seu município.
O foro por prerrogativa de função
É importante salientar que o texto fala sobre foro por prerrogativa de função ou
prerrogativa de foro ou mesmo de foro especial, por se tratar de um foro diferenciado,
mas nunca devemos chamar de foro privilegiado, porque não se trata de um privilégio,
mas sim de uma prerrogativa e prerrogativa não se confunde com privilégio, porque
privilégio é uma benesse que é concedida em razão da pessoa, ele tem caráter pessoal e
por isso ele é odioso na República, já a prerrogativa não, à prerrogativa é conferida em
razão da função pública exercida com a finalidade de que aquela função pública seja
exercida de modo livre e desembaraçado com independência para que sejam atingidas
as suas finalidades.
O foro por prerrogativa de função dos parlamentares está previsto na Constituição,
sabemos que a Constituição traz um estatuto dos parlamentares, com regras
diferenciadas para membros do Congresso Nacional, previsto no Art.53, §1º, e Art.102,
I, “b” da Constituição Federal.
“Art.53, §1º- Os deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão
submetidos a julgamento, perante o Supremo Tribunal Federal, aqui é o marco temporal
ou de início do foro especial dos parlamentares na expedição do diploma, serão
submetidos ao Supremo Tribunal Federal.”
“Art.102- Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da
Constituição, cabendo-lhe.
I- Processar e julgar, originariamente:
b) Nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os
membros do Congresso Nacional, seus Ministros e o Procurador-Geral da República,
primeira coisa em relação a esse inciso, é saber quais os delitos que estão abrangidos
por infrações penais comuns, diante dessa expressão, literalmente, pode ser qualquer
delito, inclusive, crime eleitoral, contravenção penal, então essas infrações penais
comuns abrangem qualquer delito penal.”
A questão mais importante é saber quando se inicia o foro especial dos parlamentares e
quando se ele se encerra, esse entendimento é importante porque o Supremo Tribunal
Federal, modificou sua jurisprudência num entendimento tradicional e passou a ter um
movo entendimento. O entendimento tradicional do Supremo dizia que uma vez
diplomado o parlamentar, aquele individuo passaria a ser julgado pelas infrações penais
comuns referente a um processo já em curso em relação à infração anterior a
diplomação. Então se o sujeito estiver sendo objeto de uma ação penal no juízo de
primeira instância e ele fosse diplomado Deputado Federal, o seu processo deveria na
situação em que se encontra-se ser remetido imediatamente ao Supremo Tribunal
Federal, porque lá seria julgado e processado.
E cessado o mandato na investidura parlamentar ele perderia também esse foro especial
e o processo seria remetido do STF para o juízo competente ordinariamente, a não ser
que, a cessação do mandato parlamentar tivesse ocorrido com o intuito de fugir da
jurisdição do Supremo Tribunal Federal, conhecido como “fuga de foro”, quando se
trata-se de uma tentativa de fuga de foro, o Supremo Tribunal Federal não perderia
competência pra julgar o processo, ainda que o mandato parlamentar não mais existisse,
ainda assim, o Supremo tinha um exercício objetivo para auxiliar se era tentativa de
fuga de foro ou não, conhecido como encerramento da instrução, se a renúncia do
mandato parlamentar ocorre-se depois da instrução, ficaria caracterizado a fuga de foro,
e o encerramento da instrução é caracterizado pela publicação da intimação para
apresentar suas alegações finais ao processo.
O novo entendimento do Supremo Tribunal Federal, “AP 937”, continua considerando a
diplomação como termo inicial do foro especial, com uma modificação, ele restringia o
foro, e dizia o seguinte, o foro por prerrogativa de função do parlamentar, só poderá ser
aplicado aos crimes que sejam cometidos depois da diplomação, sendo assim
considerados, crimes cometidos no curso do mandato, além disso, tem que ser crime
praticado, que tenha relação com o exercício da função parlamentar, se não for, o
Supremo Tribunal Federal não será competente, e o parlamentar mesmo diplomado
será julgado no juízo de primeira instância, e cessado o mandato parlamentar, o
Supremo deixaria de ser competente para prosseguir no julgamento.

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