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GOVERNO BOLSONARO

PF identifica Carlos Bolsonaro como articulador em


esquema criminoso de fake News

Investigação sigilosa é conduzida em inquérito no STF


(Supremo Tribunal Federal)
o

25.abr.2020 às 16h31 Leandro Colon


BRASÍLIA

Em inquérito sigiloso conduzido pelo STF (Supremo Tribunal Federal), a PF


identificou o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro,
como um dos articuladores do esquema criminoso de fake news.
O presidente Jair Bolsonaro e seu filho Carlos, vereador do Rio -
Um dos quatro delegados que atuam no inquérito é Igor Romário de Paula,
que coordenou a Lava Jato em Curitiba quando Sergio Moro, agora ex-
ministro da Justiça, era o juiz da operação.
Maurício Valeixo, diretor da PF demitido por Bolsonaro, foi
superintendente da polícia no Paraná no mesmo período e escalado por
Moro para o comando da polícia.
Dentro da Polícia Federal, não há dúvidas de que Bolsonaro pressionou
Valeixo, homem de confiança de Moro, porque tinha ciência de que a
corporação havia chegado ao seu filho, chamado por ele de 02 e vereador do
Rio de Janeiro pelo partido Republicanos.
Para o presidente, tirar Valeixo da direção da PF poderia abrir caminho para
obter informações da investigação do Supremo ou inclusive trocar o grupo
de delegados responsáveis pelo caso.
Não à toa, na sexta-feira (24), logo após Moro anunciar publicamente sua
demissão do Ministério da Justiça, o ministro Alexandre de Moraes, relator
do inquérito no Supremo, determinou que a PF mantenha os delegados no
caso.
O inquérito foi aberto em março do ano passado pelo presidente do STF,
Dias Toffoli, para apurar o uso de notícias falsas para ameaçar e caluniar
ministros do tribunal.
Carlos é investigado sob a suspeita de ser um dos líderes de grupo que monta
notícias falsas e age para intimidar e ameaçar autoridades públicas na
internet. A PF também investiga a participação de seu irmão Eduardo
Bolsonaro, deputado federal pelo PSL de SP.
Procurado por escrito e por telefone, o chefe de gabinete de Carlos não
respondeu aos contatos da reportagem.
Para o lugar de Valeixo, no comando da PF, Bolsonaro escolheu Alexandre
Ramagem, hoje diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).
Ramagem é amigo de Carlos Bolsonaro, exatamente um dos alvos do
inquérito da PF que tramita no STF.
Os dois se aproximaram durante a campanha eleitoral de 2018, quando
Ramagem atuou no comando da segurança do então candidato presidencial
Bolsonaro após a facada que ele sofreu em Juiz de Fora (MG).
Carlos foi quem convenceu o pai a indicá-lo para o lugar de Valeixo. Os dois
ficaram ainda mais próximos quando Ramagem teve cargo de assessor
especial no Planalto nos primeiros meses de governo. Carlos é apontado
como o mentor do chamado "gabinete do ódio", instalado no Planalto para
detratar adversários políticos.
Segundo aliados de Moro, ao mesmo tempo que a PF avançava sobre o
inquérito das fake news, Bolsonaro aumentava a pressão para trocar
Valeixo.
Nos últimos meses, o presidente pediu informações sobre os trabalhos da
polícia, em reuniões e por telefone, de Valeixo. Segundo a Folha apurou,
Valeixo ignorava os pedidos sobre dados sigilosos.
Bolsonaro enviou mensagem no início da manhã de quinta-feira (23) a Moro
com um link do site Antagonista com uma notícia sobre o inquérito das fake
news intitulada "PF na cola de 10 a 12 deputados bolsonaristas".
"Mais um motivo para a troca", disse o presidente a Moro se referindo à sua
intenção de tirar Valeixo.
Moro respondeu a Bolsonaro argumentando que a investigação, além de não
ter sido pedida por Valeixo, era conduzida por Moraes, do STF.
O mesmo grupo de delegados do inquérito das fake news comanda a
investigação aberta na terça-feira (22), também por Moraes, para apurar os
protestos pró-golpe militar realizados no domingo passado e que contaram,
em Brasília, com a participação de Bolsonaro.
Assim como no caso das fake news, o ministro do STF determinou que os
delegados não podem ser substituídos. O gesto é uma forma de blindar as
apurações dos interesses pessoais e familiares do presidente da República.
Há uma expectativa dentro do Supremo de que os dois inquéritos, das fake
news e dos protestos, se cruzem em algum momento. Há suspeita de que
empresários que financiaram esse esquema de notícias falsas também
estejam envolvidos no patrocínio das manifestações.
Coincidentemente, Bolsonaro apertou o cerco a Valeixo após a abertura
dessa nova investigação.
Dentro do STF, pessoas próximas a Moraes avaliam que ele deve encerrar
logo a investigação das fake news para se dedicar à dos protestos.
O inquérito foi aberto a pedido do procurador-geral, Augusto Aras, e
envolveria pelo menos dois deputados apoiadores de Bolsonaro.
O objetivo de Aras é apurar possível violação da Lei de Segurança Nacional
por "atos contra o regime da democracia brasileira por vários cidadãos,
inclusive deputados federais, o que justifica a competência do STF".
Interlocutores do procurador-geral afirmam que, inicialmente, Bolsonaro
não será investigado. Alertam, porém, que, caso sejam encontrados indícios
de que o chefe do Executivo ajudou a organizar as manifestações, ele pode
vir a ser alvo do inquérito.
Em sua decisão, Moraes cita a Constituição e salienta que o ato, como
descrito pelo PGR, "revela-se gravíssimo, pois atentatório ao Estado
Democrático de Direito brasileiro e suas Instituições republicanas".

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criminoso-de-fake-news.shtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=comptw

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