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Como o governo Bolsonaro é composto de idas e vindas, ainda é cedo para

dizer se Moro pediu demissão e essa foi aceita ou não. É uma tática da
extrema-direita, logo também de Bolsonaro, afirmar algo de maneira
aparentemente peremptória e, depois, voltar e desdizer. Portanto, devemos
esperar o desenrolar de tudo isso.
A crise de hoje (23/04/2020) é marcada, segundo o que foi noticiado pela
mídia em geral, pelo fato de Jair Bolsonaro informar a Moro que
substituiria o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo. Maurício
Leite Valeixo é o braço direito de Sérgio Moro, foi chefe da Polícia Federal
do Paraná durante a Lava Jato e amigo de longa data de Moro (1).
Segundo Merval Pereira, a paciência de Bolsonaro se esgotou quando
soube que Valeixo manteve no inquérito aberto pelo procurador-geral da
República, Augusto Aras, para apurar as manifestações antidemocráticas, o
mesmo grupo que investiga o inquérito sobre fake news e o STF e que está
chegando, com essas investigações, até o vereador Carlos Bolsonaro, filho
do presidente (2). Ainda, segundo esse mesmo artigo de O Globo, Moro
ameaçou sair em função da perda que sua imagem terá com a demissão do
diretor-geral da PF, além da diminuição evidente de seu poder em Brasília.
Para Merval, Moro não pode sequer pedir uma vaga no Supremo, uma vez
que esse “escambo” feriria de vez sua imagem política (3). Portanto, a
conclusão do colunista do Globo é que Moro deve sair atirando.
Os colunistas da Globonews, hoje, fizeram questão de levantar a hipótese
de que essa rusga entre Moro e Bolsonaro possa ter influência do Centrão
(4). Políticos como Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB, e
Valdemar da Costa Neto (PL), ambos condenados pelo chamado
Mensalão, estão em negociação para estruturar um novo apoio político a
Bolsonaro no Congresso, em troca de cargos no governo. Em função de
suas práticas nada republicanas, esses políticos desejariam, também, o
afastamento de Valeixo.
A imprensa tradicional também faz questão de afirmar que Bolsonaro está
se sentido “forte”, uma vez que demitiu um ministro muito popular, Luiz
Henrique Mandetta, e nada aconteceu. Entretanto, penso que aqueles que
comandam Bolsonaro percebem exatamente o contrário. O comandante do
Executivo está enfraquecido, com uma série de problemas com o STF e
com o Congresso, além de ter caído seu apoio popular. Nesse momento,
seria interessante resguardar Moro, possível candidato das forças de
extrema-direita para as eleições presidenciais de 2020. Não há razão de
queimar Moro junto com Bolsonaro. Estrategicamente, fica evidente a
necessidade de, em algum momento, descolar Moro de Bolsonaro, pois se
Bolsonaro conseguir escapar de todas essas confusões e se fortalecer, então
para que serve Moro? Por outro lado, se ele não conseguir, Moro será
apresentado como aquele candidato que rompeu com Bolsonaro; simples
questão de estratégia.

Alexandre L Silva

NOTAS

(1) https://veja.abril.com.br/politica/quem-e-o-diretor-da-pf-que-virou-
pivo-da-crise-entre-moro-e-bolsonaro/

(2) https://blogs.oglobo.globo.com/merval-pereira/post/irritacao-de-
bolsonaro-chegou-ao-apice-por-investigacao-de-fakenews.html

(3) Ibid. Também, Merval afirma que é impossível confiar em Bolsonaro.

(4) Grupo tradicional de políticos de direita, conhecidos por seu


envolvimento em casos de corrupção.

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