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O impeachment virá pela esquerda e com o povo

Desde o início da “guerra das vacinas”, protagonizada pelo governador de São Paulo,
João Dória (o Bolsodória, de 2018), e o presidente da República, logo se viu que este
poderia ser o calcanhar de aquiles do Governo Federal, cuja atuação desde o primeiro
momento se deu no sentido de boicotar os esforços para a obtenção e a aprovação da
vacina. Após a crise ocorrida em Manaus e a morte de centenas de pessoas por falta de
oxigênio, tornou-se consenso até mesmo entre os mais desavisados que sem a vacinação
ampla da população não haverá saída para crise. Ao aprovar o uso emergencial das
vacinas da Fiocruz e do Butantan, a ANVISA, através dos pareceres técnicos, deixou
claro: não há tratamento precoce para covid-19. Acabou a festa dos negacionistas. Falar
de cloroquina e ivermectina, a partir daqui, poderá gerar graves consequências para os
responsáveis, e isso inclui o próprio Jair e seu ministro General do Exército que ocupa a
pasta da saúde.
Ao considerar o quadro em tela, não é razoável guardar qualquer ilusão de que as
investidas de Dória e da grande mídia contra Bolsonaro, por conta da condução da
pandemia, sejam devido a qualquer apreço pela vida ou pelo desenvolvimento científico
do país. O alvo de ambos é a eleição presidencial de 2022, ocasião em que disputarão o
voto do eleitor da direita. Ao considerar aquela carta aberta enviada por Tarso Genro
para João Dória, pedindo que o governador se coloque como liderança a favor do
impeachment do presidente junto aos empresários e à elite de São Paulo, há fortes
indícios de que, até aqui, parte da esquerda seguiu a reboque da direita no que tange ao
tema de livrar o Brasil de Bolsonaro.
A grande imprensa já mostrou que não quer o impeachment. Em editorial recente, o
jornal O Globo pediu a saída do chanceler Ernesto Araújo. Por sua vez, a Folha de S.
Paulo interveio criticando a presença de militares em cargos civis do governo,
essencialmente o General Pazuello, cuja incompetência envergonha o Exército e mata
brasileiros. O que nenhuma dessas posições apresentadas considera é: tanto o General
Pazuello quanto Ernesto Araújo apenas estão nos postos que atualmente ocupam devido
à bovina submissão que oferecem às alucinações de Jair. No caso do chanceler, a
vergonhosa postura de serviçal trumpista, ferindo os próprios interesses do povo e da
nação; o General ministro atua para achincalhar a saúde e abreviar a vida dos brasileiros
a partir da difusão de informações falsas e tratamentos ineficazes. Ou seja, não adianta
trocar os lacaios e permitir que o responsável pela tragédia siga incólume. E,
aparentemente, é esta a solução proposta pelos setores da direita.
Para a Burguesia e seus representantes, o fundamental é a manutenção da agenda
econômica neoliberal. Não importa se para isso será necessário que centenas de
milhares de brasileiros morram. Esta é a orientação que leva os dois jornais citados a
pedirem a saída dos ministros, sem mencionar a atuação do presidente e sua definitiva
participação e influência sobre as atitudes de seus subordinados. Vale lembrar que o
General Pazuello tentou comprar a coronavac, em outubro de 2020, mas foi
desautorizado por Jair Bolsonaro que lançou mão do “quem manda sou eu!” e cancelou
o acordo, contribuindo definitivamente para o atraso no início da imunização no Brasil.
Assim, considerando o jogo de cena praticado pela direita para entreter os incautos, está
posto que a efetivação do impeachment terá de ser através da esquerda. Os partidos,
organizações, agremiações, associações, sindicatos e movimentos sociais possuem a
hercúlea e fundamental tarefa de transformar a luta pelo impeachment de Bolsonaro
num grande movimento de massa da população, ocupando as ruas e as redes sociais,
exigindo vacinação ampla e gratuita para todos, a manutenção do auxílio emergencial e
o consequente impeachment. Dia 23, próximo, em todo o Brasil, deverá ser apenas o
início de uma luta que durará meses, será árdua, mas, com o povo e pelo povo, possui a
certeza da vitória.
O atraso na chegada dos insumos para a fabricação dos imunizantes é a prova cabal da
incompetência do governo, sua desprezível diplomacia e a homicida condução do
General ministro da saúde. No curso da pandemia, a tendência é a consequente elevação
dos números de casos e mortes devido ao atraso da vacinação e o previsível colapso do
sistema de saúde. O povo precisa estar nas ruas e nas redes sociais, pressionando o
Congresso Nacional a tomar medidas enérgicas para barrar o morticínio e proteger a
população de seus desumanos governantes do Poder Executivo. Apenas com a efetiva e
permanente pressão popular será possível realizar o impeachment e libertar o Brasil
deste que será conhecido como o mais trágico e vergonhoso momento da nossa história
republicana. Que estejamos à altura da tarefa posta.

Carla Teixeira – Doutoranda em História na UFMG.

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